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1. INTRODUÇÃO
Os sistemas de revestimento argamassados são de extrema importância para o
desempenho das edificações. Os mesmos cumprem o papel de proteção contra a
penetração de chuva, poeiras, gases e ventos. Portanto, afeta a durabilidade das
edificações. Além disso, garantem também a valorização da construção, pois para o leigo,
o revestimento representa uma avaliação global equivocada das condições da edificação,
embora a infiltração de água propiciada por um revestimento fissurado pode comprometer
outros componentes do sistema construtivo. No entanto, para os revestimentos
argamassados alcançarem esse desempenho é necessário que atendam os seguintes
requisitos [1]:
- capacidade de absorver deformações (movimento térmico, higroscópico e diferencial
entre os componentes);
- aderência à base (capacidade de absorver deformações sem descolar, rugosidade e
preparo da base);
- baixa permeabilidade ou impermeabilidade à água.
O problema é tão significativo que a construtora Inpar [2], devido a grande quantidade de
manifestações patológicas em revestimentos de argamassa, motivou a mobilização de
diversos agentes do setor. O objetivo era obter respostas para diversos problemas e tentar
estabelecer padrões mínimos para os procedimentos de projeto à execução.
Embora, atualmente, se tenha dado um salto no conhecimento, são muitas as lacunas, uma
vez que a atenção dada à pesquisa no tema é recente. O revestimento em argamassa deve
ser visto como um sistema constituído das seguintes camadas: base de revestimento
(alvenaria ou qualquer tipo de vedação vertical) e argamassas de preparo da base
(chapisco), de regularização (emboço) que pode constituir-se num revestimento de
camada única e de acabamento (reboco). O desempenho do sistema depende da escolha
adequada destas argamassas em relação à base, ao meio externo e à localização da
edificação.
Para Cincotto [4] e John [5] tem-se carência de critérios de seleção de argamassas para as
diferentes funções que o revestimento deve cumprir (proteção, impermeabilização,
acabamento decorativo, etc.), bem como de compatibilização com as solicitações a que
estará exposto (vento, chuva e agentes poluentes). É também insuficiente o conhecimento
da formulação de argamassas para as diferentes funções desejadas e do emprego de
aditivos ou adições que melhorem as suas propriedades. A inadequação do produto aliada
à falta de controle pode afetar o desempenho das argamassas de revestimento tanto no
estado fresco quanto no endurecido.
2. PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL
O programa experimental para estudo das argamassas foi dividido em duas partes.
Inicialmente foi realizado um delineamento de misturas, através de seis composições de
cimento, cal e areia, em porcentagem do peso (considerando a massa unitária da areia igual a
1460 kg/m3, da cal igual a 660 kg/m3, e do cimento igual a 1070 kg/m3), com o objetivo de
obter a relação adequada ao uso. Estes seis traços utilizados em porcentagem, pode ser
visualizado na Figura 1, e abrangem os traços de argamassas utilizados no canteiro de obras
(1:0,5:4,5 – 1:1:6 – 1:2:9 / cimento:cal:areia – em volume). A quantidade de água requerida
para a consistência adequada de cada mistura foi determinada em laboratório através da
mesa de consistência ou flow-table, mantendo-se um índice constante de 260 ± 10 mm.
Foram realizados estudos das propriedades das argamassas no estado fresco: consistência
e massa específica; e no estado endurecido: resistência de aderência à tração e absorção de
água por capilaridade.
0,6
0,5
A
0,4 B
Limite (superior-norma)
0,3
2
C
1
0,2
D
0,1
E
0,0
15.5.80 10.10.80 10.15.75 10.5.85 7,5.7,5.85 5.10.85 5.15.80
Ao realizar uma comparação entre os dois traços de argamassas com cal, verifica-se uma
tendência de aumento de resistência para a mistura com um menor consumo de cimento,
ocorrida em função da redução da relação água/aglomerante (de 1,15 para 1,10),
proporcionada, provavelmente, pelo maior teor de cal da mistura.
0,7
Traço 1 - 10:5:85 (%-ci:cal:areia) / 10:90:0,4 (%-ci:areia:aditivo)
Traço 2 - 7,5:7,5:85 (%-ci:cal:areia) / 12,5:87,5:0,4 (%-ci:areia:aditivo)
0,6
Resistência de Aderência à Tração (MPa)
0,5
Arg. Industrializada
0,4
0,3
0,2
0,1
Cal Aditivo A Aditivo B
Tipo de Argamassa
Pode-se observar na Figura 5, para argamassa com aditivo A, que o traço mais rico em
cimento (12,5%) influencia na capacidade de aderência em torno de 20% superior (0,42
para 0,51MPa). Com relação as argamassas produzidas com o aditivo B, pode-se verificar
para o traço 1, a mesma resistência de aderência. No entanto, no traço 2, ela apresentou
uma resistência superior de maneira pontual. Contudo, para verificar este possível efeito
diferenciado foi realizada toda caracterização por ensaios mecânicos com menores
variações normais de ensaios, bem como deverá ser replicado especificamente este traço.
No entanto, nos ensaios já concluídos, e que não poderão ser apresentados apenas neste
artigo, verifica-se uma tendência de comportamento semelhante entre os dois aditivos.
Também pode-se observar na Figura 5, o comportamento semelhante da argamassa tipo
industrializada (0,42MPa) com relação as argamassas aditivadas (0,42MPa) do traço 1 –
aditivo B.
0,48
0,46
0,44
0,42
0,40
0,38
0,36
0,34
0,32
0,30
0,28
0,26
0,24
0,22
0,20
Cal Aditivo A Aditivo B
Tipo de Argamassa
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
Cal Cal Hidráulica Aditivo 1
Tipo de Argamassa
Finalizando esta etapa da pesquisa e, apresentando uma das principais propriedades das
argamassas de revestimento, a resistência de aderência à tração, ainda é importante
considerar para escolha de determinado tipo de argamassa, os custos dos materiais
constituíntes.
Pode-se verificar na Figura 8, os custos para produção de um metro cúbico das respectivas
argamassas, sendo que o custo dos materiais utilizados foi retirado da revista Construção e
Mercado (Dezembro de 2006), considerando os valores médios para o estado de Santa
Catarina. O valor encontrado para o traço 10:5:85 (cimento:cal:areia) foi convertido para
porcentagem e tomado como referência para os demais. Observa-se que os dois primeiros
traços das argamassas de cal apresentam valores similares, pois apesar de reduzir o
consumo de cimento de maneira significativa (44kg/m3), a cal hidratada (CH-II) apresenta
valores próximos ao cimento igualando os custos finais. Ao considerarmos o custo das
argamassas aditivadas podemos observar além de uma redução do consumo de cimento,
com relação ao traço 1, uma redução significativa dos custos em torno de 30%. Esta
diferença acentuada explica-se, mesmo com um consumo de cimento aproximado para um
dos traços, pelas argamassas aditivadas apresentarem uma densidade bastante reduzida
pelo efeito da incorporação de ar causada pelo aditivo (1700 kg/m3 aditivada – 2100 kg/m3
de cal).
140
119,1
120
100,0 98,7
Valor Total (%/m³)
100
77,1
80 70,4
60
40
20
0
Cal-10:5:85 Cal-7,5:7,5:85 Aditivo- Aditivo- Industrializada
(187Kg/m³) (143Kg/m³) 10:90:0,4 12,5:87,5:0,4 (33 sacos)
(151Kg/m³) (185Kg/m³)
Traço de Argamassa (em %) - Consumo de Cimento (m³)
4. CONCLUSÕES
Os sistemas de revestimentos argamassados, são responsáveis pela proteção, valorização e
gastos com manutenção das construções. Atualmente, a especificação das argamassas de
revestimento é realizada de forma empírica, sem avaliar suas propriedades, e sem testar os
vários tipos de argamassa que se encontram disponíveis no mercado.
Embora hajam poucos índices de desempenho que limitam a utilização das argamassas,
quanto melhor o desempenho atingido, mediante vários requisitos, maior será a
durabilidade do sistema construtivo. De uma maneira geral, todos os traços, das
argamassas de cal e com aditivos químicos, atingiram um desempenho mínimo. No
entanto, ao considerar todas as propriedades avaliadas, são as argamassas com aditivos
incorporadores de ar que apresentam melhor desempenho.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
[1] CEOTTO, Luiz Henrique, BANDUK, Ragueb C., NAKAKURA, Elza Hissae.
Revestimentos de Argamassas. 1.ed. Porto Alegre: Habitare, 2005. 96 p.
[2] BARROS, Mércia Bottura. Fachadas e paredes estão doentes. Téchne, São Paulo, n.
58, p. 48-52, 11 jul. 2003. Entrevista concedida a Ubiratan Leal.
[3] SABBATINI, Fernando Henrique. Construção Crítica. Téchne, São Paulo, n. 99, p.
24-29, 13 jun. 2005. Entrevista concedida a Heloísa Medeiros.
[4] CINCOTTO, Maria Alba et al. Massa Crítica pela Qualidade. Téchne, São Paulo, n.
41, p. 68-72, 8 jul/ago. 1999.
[5] JOHN, V. M. ROCHA, J. C. Utilização de Resíduos na Construção Habitacional.
Metodologia para Desenvolvimento de Reciclagem de Resíduos – capítulo 2. Coletânea
Habitare, vol 4. 2003.
[6] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13528: Revestimento
de Paredes e Tetos de Argamassas Inorgânicas – Determinação da Resistência de
Aderência À Tração. Rio de Janeiro, 1995.
[7] ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 13749: Revestimento
de paredes e tetos de argamassas inorgânicas – Especificação. Rio de Janeiro, 1996.