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Capítulo 28
Argamassas
Helena Carasek 1
Universidade Federal de Goiás
28.1 Introdução
28.2. Classificações
Figura 2 - Interação entre argamassa de assentamento e os blocos em uma alvenaria (adaptada de GAllEGOS, 1989).
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Figura 4 - diferentes alternativas de revestimento de parede: (a) emboço + reboco + pintura (sistema mais antigo,
atualmente pouco utilizado); (b) camada única + pintura; (c) revestimento decorativo monocamada (RdM).
Quadro 3 - limites de resistência de aderência à tração (Ra) para revestimentos de argamassa de paredes
(emboço e camada única), segundo a NbR 13749 (AbNT, 1996).
* Obs.: O termo consistência plástica pode gerar alguma confusão entre os conceitos das propriedades consistência
e plasticidade. Poder-se-ia, então, propor o termo consistência adequada para substituir consistência plástica. No
entanto, isso não é feito, pois nem sempre a consistência adequada para uma argamassa é a plástica, como é o caso
das argamassas de contrapiso que são elaboradas com uma consistência seca, para permitir a sua compactação.
Quadro 7 - Influência do teor de finos (partículas < 0,075 mm) da mistura seca na plasticidade das argamassas
(lUHERTA VARGAS; MONTEVERdE COMbA, 1984 apud CINCOTTO, SIlVA, CARASEK, 1995).
5 Um detalhamento deste assunto enfocando argamassas pode ser obtido, dentre outras, nas seguintes referências:
Cardoso, Pileggi e John (2005), Souza (2005) e bauer (2005).
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Figura 7 - Correlações encontradas entre a consistência pela penetração do cone e a relação água/materiais secos
para uma argamassa industrializada. (CASCUdO; CARASEK, CARVAlHO, 2005).
Uma proposta mais recente e mais completa que surge no campo de avaliação
da trabalhabilidade das argamassas é o método do Squeeze-Flow (Figura 8). Este
método baseia-se na medida do esforço necessário para a compressão uniaxial de
uma amostra cilíndrica do material entre duas placas paralelas, sendo tal esforço
emprendido normalmente por uma máquina universal de ensaios. O ensaio
permite a variação da taxa de cisalhamento e também da magnitude das
deformações, sendo, portanto, capaz de detectar pequenas alterações nas
características reológicas dos materiais e, ao contrário dos ensaios tradicionais,
fornece não apenas um valor medido, mas um perfil do comportamento reológico
de acordo com as solicitações impostas (CARdOSO, PIlEGGI, JOHN, 2005). O
método tem como vantagem possibilitar a simulação de diversas situações reais
de aplicação das argamassas, idendificando com clareza os parâmetros reológicos
(tensão de escoamento e viscosidade). No entanto, como limitação, tem-se a
necessidade de um equipamento relativamente caro, além de se restringir ao uso
em laboratório.
Figura 10 - Relação entre densidade de massa e teor de ar das argamassas no estado fresco.
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28.4.2 Retração
Figura 11 - Classificação das areias quanto à distribuição granulométrica e sua influência na retração plástica.
Figura 12 - (a) Gráfico mostrando a relação água/cimento necessária para obtenção de uma consistência plástica e
trabalhável para argamassas de revestimento preparadas com finos de diferentes naturezas: argila - saibro; silicosos
- micaxisto e granulito; e calcário, com um traço de referência 1:1:6 (cimento:cal:areia, em volume, fazendo as
substituições de parte da areia pelos finos. (b) Valores de retração após 12 semanas de secagem, para as argamassas
com teores máximos de finos. (ANGElIM, ANGElIM, CARASEK, 2003)
6 Alguns aspectos da fissuração por retração são complementados no texto que consta do Cd, sobre patologia dos
revestimentos.
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Quadro 12 - Retração de algumas argamassas e uma pasta, aos 7 e 28 dias (adaptado de FIORITO, 1994).
28.4.3 Aderência
Figura 13 - (a) Superfície de um bloco cerâmico após a separação (descolamento) da camada de argamassa de
revestimento, vista em uma lupa estereoscópica (observe-se a pasta aglomerante remanescente sobre o bloco). (b)
Imagem no microscópio eletrônico de varredura obtida pela ampliação (17.000 x) de um ponto da superfície do
bloco contendo pasta aglomerante, em que se pode ver a etringita, principal responsável pelo intertravamento da
argamassa ao bloco (SCARTEzINI, 2002).
8 Antunes (2005) encontrou uma relação inversamente proporcional entre a resistência de aderência e a taxa de
macrodefeitos na interface. O conceito de taxa de macrodefeitos na interface nada mais é do que o inverso da extensão
de aderência.
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Figura 14 - Fatores que exercem influência na aderência de argamassas sobre bases porosas.
A cal, além de ser um material aglomerante, possui, por sua finura, importantes
propriedades plastificantes e de retenção de água. dessa forma, as argamassas
contendo cal preenchem mais facilmente e de maneira mais completa toda a
superfície do substrato, propiciando maior extensão de aderência. Por sua vez, a
durabilidade da aderência é proporcionada pela habilidade da cal em evitar fissuras
e preencher vazios, o que é conseguido através da reação de carbonatação que se
processa ao longo do tempo. Esse aspecto particular da cal, conhecido como
restabelecimento ou reconstituição autógena, representa uma das vantagens do uso
desse aglomerante nas argamassas de revestimento e assentamento.
Conforme visto no Capítulo 22, as cales podem ser classificadas, segundo a sua
composição química, em cálcica, magnesiana e dolomítica. Alguns estudos
indicam a existência de uma relação direta entre a proporção de hidróxido de
magnésio presente na cal hidratada e a resistência de aderência. Assim, uma
argamassa preparada com cal dolomítica apresenta aderência superior a uma
argamassa com mesmo traço preparada com cal cálcica. Tal fato, em parte, pode
ser atribuído à diferença na retenção de água das argamassas; a argamassa
constituída de cal dolomítica apresenta retenção superior àquela observada com cal
cálcica.
Com relação ao proporcionamento dos materiais, as argamassas com elevado
teor de cimento, em geral, apresentam elevada resistência de aderência, mas
podem ser menos duráveis, uma vez que possuem maior tendência a desenvolver
fissuras. Por outro lado, argamassas contendo cal possuem alta extensão de
aderência, tanto em nível macro como em nível microscópico. Sendo mais
plásticas, têm maior capacidade de “molhar” a superfície e preencher as cavidades
do substrato; microscopicamente levam a uma interface com estrutura mais densa,
contínua e com menor incidência de microfissuras, do que a interface da argamassa
somente de cimento. Assim, as argamassas “ideais” são aquelas que reúnem as
qualidades dos dois materiais, ou seja, são as argamassas mistas de cimento e cal.
Melhorias tanto na extensão como no valor da resistência de aderência podem
ser obtidas pela adição de pequenas porções de cal às argamassas de cimento
Portland. O efeito favorável na aderência propiciado pela adição de pequena
quantidade de cal hidratada ficou comprovado no estudo de Carasek (1996), onde
foram comparadas duas argamassas semelhantes, de traços, em volume, 1:3
(cimento e areia úmida) e 1:0,25:3 (cimento, cal e areia úmida). A segunda
argamassa, contendo apenas 6% de cal em relação à massa dos constituintes secos,
resultou, de uma forma geral, em um valor maior de resistência de aderência à
tração quando ela foi aplicada sobre diferentes blocos de alvenaria. A contribuição
da cal foi mais marcante no caso das argamassas aplicadas sobre blocos de
concreto celular autoclavado, onde foram observados aumentos superiores a 70%
nos valores da tensão de aderência. Além da ação aglomerante, a cal propiciou um
acréscimo da capacidade da retenção de água e uma melhoria da trabalhabilidade,
resultando em um ganho na extensão de aderência (comprovado através de
observação de amostras na lupa estereoscópica, ilustrada na Figura 15), o que, por
sua vez, refletiu na resistência da ligação.
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Figura 15 - Fotografias obtidas na lupa estereoscópica com ampliação de 20 vezes; (a) argamassa 1:3 (cimento e
areia, em volume) aplicada sobre bloco cerâmico; (b) argamassa 1:1/4:3 (cimento, cal e areia, em volume) aplicada
sobre o mesmo tipo de bloco cerâmico empregado em (a) (CARASEK, 1996).
12 Isso foi comprovado também por Paes (2004) que, empregando sensores de umidade, estudou o fluxo de água de
argamassas aplicadas a blocos cerâmicos e de concreto e obteve como resultado que a argamassa elaborada com a
areia mais fina foi a que apresentou maior resistência interna ao fluxo de água no sentido argamassa-substrato,
principalmente nos primeiros 60 minutos.
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Figura 17 - Algumas propostas de métodos existentes para a avaliação da resistência de aderência de juntas de
assentamento.
*Norma antiga: a versão atual AbNT NbR 7200:1998 não apresenta proposições de traços de argamassa.
15 Salienta-se que o caulim e o arenoso são saibros amplamente empregados na região de Salvador e, se bem dosados,
geralmente não apresentam manifestações patológicas.
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(Equação 1)
ou
(Equação 2)
Cp = Cc.p (Equação 3)
Cq = Cc.q (Equação 4)
onde:
p = traço da cal (ou outro plastificante), em massa
q = traço do agregado, em massa
a/c = relação água/ cimento
Cc = consumo de cimento
Cp = consumo de cal
Cq = consumo de areia
␥arg = massa específica da argamassa
ar = teor de ar (%)
␥c = massa específica do cimento
␥p = massa específica da cal
␥q = massa específica do agregado
(Equação 5)
onde:
p = traço da cal (ou outro plastificante), em massa
q = traço do agregado, em massa
␦c = massa unitária do cimento, em kg/m3
␦p = massa unitária da cal, em kg/m3
␦q = massa unitária do agregado, em kg/m3
28.6.1. Cimento
Figura 20 – Revestimento apresentando fissuração em mapa, típica de argamassas com alta retração, fissuras estas que
posteriormente tornam-se pontos de movimentação devido às ações térmicas e higroscópicas sobre os revestimentos.
17
É importante lembrar que grande parte dos aspectos abordados a seguir serve também para a compreensão das
manifestações patológicas que ocorrem com outras argamassas aplicadas, por exemplo as juntas de assentamento de
alvenaria e contrapiso.
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28.6.2. Cal
18
A Associação brasileira dos Produtores de Cal (AbPC) mantém, desde 1995, o Programa da Qualidade da Cal
Hidratada para a Construção Civil, que monitora a qualidade das marcas de cal existentes no mercado, sendo
fornecidos relatórios, a cada três meses, para o Ministério das Cidades, que gerencia o Programa brasileiro de
Qualidade e Produtividade no Habitat (PbQP-H). Os resultados destes relatórios podem ser obtidos em:
www.abpc.org.br.
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28.6.3. Agregados
28.6.4. Adições
28.6.5. Aditivos
Figura 22 - (a) influência do teor de ar incorporado na resistência de aderência de revestimentos de argamassa (AlVES,
2002); (b) imagem na lupa estereoscópica mostrando a presença de vazios (bolhas de ar) na interface (CARASEK, 1996).
28.6.7. Eflorescências
28.7. Normalização
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