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AULA 13

Materiais de Construção I

Cálculo da Composição do Betão

1.1 Introdução

O problema da composição e fabricação de um betão reduz-se essencialmente à obtenção de um


material que possua boa resistência, e eventualmente uma determinada impermeabilidade, com uma
adequada trabalhabilidade e o menor preço de custo possível.

Este objectivo consegue-se a partir de escolhas minuciosas das matérias-primas e das suas proporções.

É de facto importante que na ocasião da betonagem o betão possua propriedades de consistência e


plasticidade tais que lhe permitam não só, encher facilmente todos os cantos e ângulos da peça,
tomando a forma que se deseje com o mínimo de custo de colocação e de acabamento, mas também
o envolvimento perfeito das armaduras, sem segregação, mantendo por toda parte uma
homogeneidade perfeita.

Em geral, a resistência, a impermeabilidade e a trabalhabilidade aumentam com a dosagem de


cimento, mas para a mesma dosagem de cimento, quando a resistência cresce, a trabalhabilidade
diminui, e inversamente.

Como por razões económicas e técnicas não se pode aumentar a dosagem de cimento além de certos
limites estabelecidos pela experiência, a questão da escolha de um, betão reside num compromisso
entre a resistência e a permeabilidade por um lado, e a trabalhabilidade por outro.

As operações essenciais a fazer para se obter a composição de um betão consistem na determinação


do arranjo granulométrico ideal do inerte e da dosagem de água, já que a dosagem de cimento é
normalmente estabelecida à partida como um dado da composição.

Inicialmente é preciso conhecer alguns elementos relacionados com a natureza e tipo da obra, meios
de colocação e compactação do betão, armaduras e moldes, e exigências do caderno de encargos
relativas à classe e tipo de betão desejado, bem como as condições ambientais previstas.

Surgirão então como parâmetros fundamentais inerentes à definição da composição do betão, os


seguintes:
a) Dosagem do cimento (Kg/m3) e sua natureza;
b) Composição do inerte (granulometria e máxima dimensão);
c) Massas volúmicas dos componentes;
d) Relação Água/Cimento;
e) Volume de vazios e;
f) Trabalhabilidade.

A composição deverá ser expressa em Kg/m3 de betão, e a quantidade de água de amassadura,


atendendo a que há parcelas de água necessárias, quer para a hidratação do cimento, quer para
molhagem do cimento e sua saturação, quer para a plasticidade da massa, deve ser referida como a
que serve para molhar a superfície do inerte saturado mas com a superfície seca, supondo-se que o
referido inerte não irá absorver qualquer fracção da água da amassadura.

A quantidade de cada classe de inerte deve ser indicada pelo seu peso saturado, em Kg/m 3 de betão,
suposto devidamente compactado. O cimento é expresso também pelo peso, em Kg/m 3 de betão e a
quantidade de água em litros/m3.
As quantidades de adjuvante são estabelecidas em percentagem do peso de cimento, e a relação
Água/Cimento é expressa em litros de água por Kg de cimento.

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Quanto à quantidade de ar introduzido deliberadamente no betão, exprime-se em percentagem do
volume deste, e o ar introduzido acidentalmente, em litros por m 3, podendo exprimir-se também em
percentagem do volume.

Salientar que a granulometria é determinante no binómio Qualidade-Custo, devendo ser estudada por
técnicos competentes, de maneira a obter-se um betão compacto, resistente e fácil de trabalhar, com
o menor número de espaços vazios possível.

Há no entanto que não olvidar que se o fim dos estudos granulométricos é procurar a maior
compacidade compatível com a dosagem, há também que atender aos casos do Betão Armado, em que
a influência das armaduras e dos moldes é condicionante – Efeito de Parede.

1.2 Fórmula fundamental do cálculo da composição do betão

Como se sabe, o betão é composto por inertes, cimento, água e um certo volume de ar introduzido pelo
próprio cimento e pelas partículas do inerte, em geral intercalado entre as partículas mais finas e que é
difícil ou impossível de retirar por melhor que seja a compactação.

Considerando a unidade de volume de betão facilmente se verifica que:

1 i  e  c  v

Onde: i – a soma dos volumes dos inertes;


e – o volume de água;
c – volume de cimento;
v – volume de ar.

Os volumes do inerte e do cimento são dados pelos quocientes das usas massas I e C na unidade de
volume do betão, pelas massas volúmicas respectivas δI e δC.

Tomando para unidade de volume o m 3 e para unidade de massa o Kg, a expressão anterior transforma-
se em:

Ii C
1    A  Vv
i C
→ Equação Fundamental para o cálculo da quantidade dos componentes por m3 do betão.
O volume de vazios é uma quantidade difícil de conhecer, sendo seus valores médios, função apenas da
máxima dimensão do inerte (Dmáx).

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Existe outra forma de definir a máxima dimensão do inerte, devida a Faury, de aplicação muito útil e é a
seguinte:

D  d1  d1  d 2 
x
y
Sendo:
d0 – abertura do primeiro peneiro, da série usada na análise granulométrica, que ainda deixa passar
todo o material;
d1 – maior abertura do peneiro no qual já se recolhem as maiores partículas;
d2 – abertura do peneiro seguinte a d1;
x – percentagem do peso das partículas retidas no peneiro d1;
y - percentagem do peso das partículas que passaram através de d 1 e ficaram retidas em d2.

A máxima dimensão da classe do mais grosso é a máxima dimensão do inerte do betão.

— Efeito de Parede

A noção do efeito de parede resulta do facto de junto a uma superfície limite qualquer do betão, seja a
armadura ou a face do molde, se verificar uma camada de partículas finas (argamassa) que só é possível
à custa do empobrecimento da massa do interior betão em tais partículas.

A parede ou superfície limite influi na compacidade, pois a quantidade de argamassa necessária para
encher os espaços entre as partículas maiores do inerte e a parede é maior do que no interior da massa.

Portanto, é preciso prever excesso de argamassa no betão sujeito a estas condições sendo tanto mais
acusado quanto maior for a relação entre a superfície da peça e o seu volume.

Temos pois três parâmetros que caracterizam o efeito de parede: D (máxima dimensão do inerte), R
(raio médio do molde) e ρ (raio médio das armaduras), sendo:

Volumea encherde betao V


R 
Area total das paredese armadurasdo molde AABCD

e,
Area abertada malhaonde penetrao betao S
 
Perimetroda respectiva abertura P

A escolha de D é pois condicionada por R e ρ, para que o inerte grosso possa passar sem segregação
entre as armaduras e a parede do molde, evitando a criação de “Chochos”.

Portando, se R/D aumenta, a quantidade de inerte grosso aumentará e; se há moldes com muitas
armaduras, é preciso pôr inerte mais fino. A experiência mostra que D deve ser inferior a R no limite
4 R D D
D  R ou  0,75 e 1,4 e 1,2 , para inerte rolado e britado, respectivamente.
3 D ρ ρ

Normalmente, e quando não há conhecimento directo de R, considera-se por segurança, para cálculo
R
de composições de betões, o valor 1,00 .
D

1.3 Métodos de Cálculo da Composição do Betão

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Os métodos usados para o cálculo da composição do betão são os seguintes:

— Método das Misturas Sucessivas


— Método das Curvas de Referência

— Método das Misturas Sucessivas

É um método expedito baseado na mistura de dois ou mais inertes num processo que termina quando
se obtém a máxima compacidade entre os inertes baseado no ponto de máximo peso da mistura
compactada.

— Método das Curvas de Referência

Neste método parte-se do princípio que a curva granulométrica óptima é dada por uma certa curva,
que já foi estabelecida experimentalmente por investigadores.

Por outras palavras, a aproximação da curva real da mistura ao andamento de tal curva é o objectivo
desejado, já que conduz à dosificação de um betão com a maior homogeneidade e compacidade
possível, para o menor índice de vazios compatível com a trabalhabilidade pretendida para a aplicação
em causa.

As curvas mais conhecidas e mais importantes são as de Fuller, Bolomey, Joisel e Faury, sendo este
último, sem dúvida, o investigador que estabeleceu um critério mais aperfeiçoado e ajustado às
necessidades práticas e correntes da indústria do betão.

— Curva de Referência de Faury

A curva de referência é constituída por dois segmentos de recta num diagrama em que as ordenadas e
as abcissas têm o significado habitual nas curvas granulométricas. As ordenadas têm uma escala linear;
as abcissas, que vão de 0.0065mm até D, têm uma escala proporcional à raiz quinta das dimensões das
partículas.

100
MATERIAL QUE PASSA, %

80

60
P
40
20

0
d= 0 .0 0 6 5 D/2 D
ABERTURA DA MALHA DOS PENEIROS, mm

Conhecida a ordenada p do ponto da abcissa D/2, ponto de encontro dos dois segmentos de recta, é
fácil traçar a curva. A ordenada do ponto de abcissa D/2 é:

B
pD / 2  A 17 5 D 
R
 0 .75
D

O índice de vazios do betão, segundo Faury, pode-se determinar a partir da fórmula seguinte:

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K K/
I 
5
D R  0 .75
D
Sendo o valor absoluto de matéria sólida no betão, igual a S, ou seja S 1 I e, onde A, B, K e K’ são
parâmetros que dependem da trabalhabilidade e da potência de compactação, cujos valores estão
indicados nas tabela apresentadas a seguir:

VALORES DOS PARÂMETROS A, B, K e K’ DA CURVA DE FAURY


Valores de A e K
Natureza dos inertes
Meios de
Valores
Trabalhabilidade compactação que se Areia rolada Areia britada de B e K'
podem empregar
Inerte grosso
Inerte grosso britado
rolado
Vibração muito
potente e possível ≤ 18 e ≤ 19 e ≤ 20 e
Terra húmida 1 e 0.002
compressão (Pré- ≤ 0.24 ≤ 0.25 ≤ 0.27
fabricação)
Vibração potente 20 a 21 e 0.25 a 21 a 22 e 0.26 a 22 a 23 e 0.28 1 a 1,5 e
Seca
(Pré-fabricação) 0.27 0.28 a 0.30 0.003
21 a 22 e 0.26 a 23 a 24 e 0.28 a 25 a 26 e 0.30 1,5 e
Plástica Vibração média
0.28 0.30 a 0.34 0.003

28 e 30 e 32 e 2 e 0,003
Mole Apliloamento
0,34 a 0,36 0,36 a 0,38 0,38 a 0,40

Espalhamento e
32 e 34 e 38 e
Fluida Compactação pelo 2 e 0,004
≥ 0,36 ≥ 0,38 ≥ 0,40
peso próprio

VALORES DA TRABALHABILIDADE

Métodos de medição da Trabalhabilidae


Trabalhabilidade Meios de compactação
Graus Vêbê (s) Cone de Abrams (cm)

Vibração muito potente e possível


Terra húmida > 30 ---
compressão (Pré-fabricação)

Seca Vibração potente (Pré-fabricação) 30 a 10 ---

Plástica Vibração média 10 a 2 0a4


Mole Apliloamento --- 4 a 15
Espalhamento e Compactação pelo
Fluida --- > 15
peso próprio

Exemplo de Aplicação

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1. Calcular a composição de um betão com base nos seguintes dados:

a) Análise granulométrica dos inertes

Abertura da Material retido no peneiro (g)


malha (mm) Brita 1 Brita 2 Areia
38,1 - - -
25,4 337.0 - -
19,1 671.8 - -
12,7 2135.4 112.1 -
9,52 1627.2 379.5 -
4,76 156.1 337.6 4.9
2,38 67.6 117.5 16.5
1,19 4.9 32.4 27.7
0,595 - 18.1 96.5
0,297 - 2.8 44.9
0,149 - - 7.6
0,075 - - 1.9

b) Massas volúmicas dos componentes:


Britas, partículas saturadas com superfície seca: 2,70 kg/dm3
Areia, partículas saturadas com superfície seca: 2,60 kg/dm3
Cimento: 3,15 kg/dm3

c) Trabalhabilidade pretendida para o betão: suponhamos que se pretende que ele tenha um
abaixamento do cone de Abrams de 8 a 10 cm (betão mole).
Dosagem de cimento, 300 kg/m3.

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