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AULA 12

Materiais de Construção I

1.1 Água da amassadura

Na generalidade todas as águas potáveis podem ser utilizadas na amassadura de betões, sem preocupações.
Quando apresentem turvação, sabor ou cheiro, então é necessário investigar.

A água da amassadura compreende três funções essenciais:

1) Hidratação do Cimento;
2) Molhagem dos inertes;
3) Definição da trabalhabilidade dos betões.

O excesso de água não é benéfico para o betão dado que, pode provocar enfraquecimento das ligações
introduzidas pelo cimento, afectando a resistência do betão e a sua durabilidade.

Como factor expedito de relacionamento da água com a dosagem de cimento, temos o chamado factor
Água/Cimento: A/C.

A influência da água nas propriedades do betão não depende contudo, apenas da quantidade, mas também
da tipologia das substâncias em suspensão e em solução.

De um modo geral, visto o inerte e a água serem substâncias naturais, todas as impurezas a que se fez
referência a propósito dos inertes, poderão estar contidas na água, onde, devido ao poder dissolvente desta,
atingem concentrações mais elevadas.

— Substâncias em suspensão

As substâncias que normalmente se encontram em suspensão na água são o Silt (2 a 60 μm) e a argila (até 2
μm) que, podem afectar a compacidade e especialmente o crescimento cristalino dos produtos da hidratação
do cimento.

A quantidade máxima admissível de substâncias em suspensão, segundo normas francesas, corresponde a 5


g/l.

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— Substâncias em solução

A acção das substâncias dissolvidas afecta as resistências mecânica e química do betão e das armaduras e
pode ser classificada em três categorias:

1) iões que alteram as reacções de hidratação com o cimento, isto é, a presa e endurecimento (Ex.:
Ca2+, Mg2+, CO32-, CO3H-);
2) iões que podem levar a expansões a longo prazo, que põem em risco a estabilidade do sólido (Ex.:
sulfatos SO42- e álcalis Na+, K+);
3) iões capazes de promover a corrosão das armaduras (Ex.: Cl-, S2-, NH4+ e NO3-).

Em Portugal, o valor limite aceite para o teor de sais dissolvidos numa água potável é de 500 mg/l.

— Influências do pH, gases dissolvidos e substâncias orgânicas

O pH das águas que se encontram na natureza não tem praticamente influência na amassadura do betão,
pois, praticamente tais águas têm pH superior a 4 e o ácido e rapidamente neutralizado pelo contacto com o
cimento.

Apenas, no caso de cimentos de escórias, um pH igual a 4 para a água da amassadura retardaria a presa e
reduziria as tensões de rotura finais.

Quanto aos gases dissolvidos, a sua acção na água da amassadura pode dizer-se que é nula pois as
quantidade são muito reduzidas.

As substâncias orgânicas podem retardam a presa do betão e fundamentalmente, reduzir as tensões de


rotura, se, existirem em mais de 10% da massa do cimento.

— Águas residuais das indústrias

No caso de águas resultantes de processos industriais é, evidentemente, impossível dar a lista dos iões que
nelas podem existir, dependendo da indústria, devendo-se analisar caso a caso.

— Água do mar

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Sumariamente, pode dizer-se que a água do mar se utiliza sem qualquer precaução no betão simples e só
deverá usar-se quando A/C é menor ou igual a 0,7 no betão armado conservado permanentemente imerso,
como nas obras marítimas, e não deve ser empregada no betão pré-esforçado.

No betão armado em estruturas ao ar livre não é recomendável a não ser em casos excepcionais de locais
secos, em betão de muito boa qualidade, com dosagem de cimento elevada, bem compactado e não
fissurado.

— Eflorescências

Os sais dissolvidos na água da amassadura, em particular no caso da água do mar, podem dar origem a
eflorescências na superfície do betão ou das argamassas se as condições para a sua formação forem
propícias.

A existência de uma certa humidade no interior do betão, e de um ritmo de evaporação adequado à


superfície, faz com que os cloretos, sulfatos e carbonatos alcalinos e alcalino-terrosos possam cristalizar na
superfície, formando as conhecidas eflorescências.

Apesar do aspecto desagradável, as mais das vezes são inofensivas, excepto quando se depositam
exclusivamente nos poros superficiais do betão donde podem resultar expansões quando o fissuram ou
quando tendam arrancar o revestimento superficial que o betão porventura possua.

Tem-se tentado incorporar vários aditivos no betão ou na argamassa mas, dificilmente se consegue evitar as
eflorescências.

Exemplo de duas paredes sobre efeito de eflorescência em que, no primeiro há destacamento do


revestimento superficial e no segundo um saída de sais esbranquiçados

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1.2 Condições que deve obedecer a água da amassadura

O teor tolerável de sais de uma água depende da quantidade de cimento com que ela vai ser misturada e por
isso a concentração máxima iões que a água de amassadura pode conter é dada em percentagem da massa
do cimento.

Para se passar do teor de sais de uma água, t, em g/l, para a percentagem de p em relação à quantidade de
cimento, basta calcular a relação:

t A
p%  
10 C

Onde: A – dosagem de água de betão, em l/m3


C – dosagem de cimento do betão, em Kg/m3
t – teor do ião na água de amassadura, em g/l
p – percentagem do ião em relação à massa do cimento, %.

O que importa, no entanto, é limitar a quantidade de certos iões de que se conhecem com certo rigor os seus
efeitos perniciosos ao betão e as armaduras.

Teores máximos de impurezas toleráveis na água de amassadura

Teores máximos admissíveis na água


Impurezas de amassadura, g/l
Simples Armado Pré-esforçado
Resíduo de matérias
5,0 2,0 2,0
em suspensão
Resíduo de matérias
3,5 3,5 1,0
em solução

Limites da substâncias nocivas na água de amassadura

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Limites, % do ião em relação a massa
Iões derivados das
do cimento
substâncias dissolvidas
Simples Armado Pré-esforçado
Sulfatos (SO42-) 0.5 0.5 0.5
2-
Sulfuretos (S ) 0,2 0,2 0,0
-
Cloretos (Cl ) - 1,3 0,0
Álcalis (Na+ e K+) 0,6 0,6 0,6

No caso de se utilizar uma água suspeita, mesmo depois de satisfeitos todos ou quase todos o limites
indicados, é sempre conveniente fazer ensaios comparativos do tempo de presa, da tensão de rotura e, se
necessário, de variações volumétricas da pasta, argamassa, ou betão com a água em estudo e com água
potável.

— Exemplos

1) Admita que numa análise química de água para amassadura de betão obtiveram-se os seguintes
resultados dos iões: SO42- = 3,2 g/l e Cl- = 22,5 g/l. Sabendo que o m3 de betão era constituído por:
400 kg de Cimento, 600 kg de areia, 1200 kg de brita e 400 litros de água. Estará a água em
condições para produzir betão para estruturas de betão armado?

2) Analise a possibilidade de usar a seguinte água do mar para fabricar betões: Cl- =1,898%, Br- =
0,006%, SO42- = 0,265%, Mg2+ = 0,127%, Ca2+ = 0,040%, Sr2+ = 0,001%, K+ = 0,038% e Na+ =
1,056%.

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