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RESUMO
Novas tecnologias construtivas para promover a estanqueidade dos pisos de edifícios
estão disponíveis no mercado. A execução do contrapiso com uma argamassa de
cimento Portland e areia na qual são adicionados polímeros durante a mistura é uma
dessas tecnologias e vem sendo amplamente utilizada pelas empresas construtoras,
no Brasil.
Buscando conhecer melhor o comportamento dessas argamassas, este trabalho
apresenta as suas características de resistência à compressão, módulo de deformação
e resistência à tração na flexão, quando produzidas com diferentes relações
cimento/agregado, bem como, com diferentes teores de polímeros, sendo que os
polímeros utilizados são o estireno - acrílico, o estireno - butadieno (SBR) e o acetato
de polivinila (PVAc).
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1. INTRODUÇÃO
Atualmente, estão sendo empregadas no mercado de construção de edifícios diversas
tecnologias construtivas através das quais se busca proporcionar uma maior
estanqueidade aos pisos do pavimento tipo.
Dentro desse contexto, a adição de polímeros à argamassa convencional, composta
de cimento Portland e areia, é uma dessas tecnologias e vem sendo largamente usada
pelas empresas atuantes nesse mercado, no Brasil. Nessa tecnologia, a argamassa é
aplicada como camada de contrapiso, em áreas molháveis do pavimento tipo de
edifícios, com o objetivo de melhorar o desempenho do mesmo quanto à
estanqueidade, à aderência e à capacidade de absorver deformações.
Por se tratar de uma tecnologia de uso ainda recente no Brasil, ao contrário do
exterior onde, segundo o AMERICAN CONCRETE INSTITUT (ACI, 1997),
existem casos de sua aplicação que datam de 1933 na Alemanha, e por inexistirem
estudos disponíveis, as empresas construtoras não conhecem o desempenho do
contrapiso produzido com este tipo de argamassa. E, embora venham empregando
esse contrapiso em suas obras, têm manifestado dúvidas quanto ao tipo e teor de
polímero a serem utilizados, quanto ao traço da argamassa e também quanto às
técnicas de preparação da base.
Em conseqüência desse desconhecimento, as técnicas que vêm sendo utilizadas são
empíricas, ora originando um aumento do custo de produção e do desperdício, ora
apresentando um deficiente desempenho, aumentando os custos de manutenção e
reparo.
Neste sentido, este trabalho tem como objetivo apresentar algumas características
importantes dos polímeros enquanto produtos para aplicação em argamassa, o
mecanismo de modificação das propriedades mecânicas e por fim, os resultados
obtidos em um programa experimental, onde foram realizados ensaios de resistência
à compressão, de módulo de deformação e de resistência à tração na flexão, sendo
para isso estudadas argamassas compostas de cimento e areia nos traços 1:3 e 1:5 em
volume e com dois teores de polímeros, de 5% e 10% em relação à massa de cimento
(p/c).
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sua relação com o peso de cimento. Há ainda que se considerar a água na
composição do látex, que é de aproximadamente 50%.
Cabe aqui destacar que alguns distribuidores comercializam látices com teor de
sólidos bastante inferiores àqueles. No Japão, a JIS A 6203 (OHAMA, 1984)
estabelece como importante requisito de qualidade para os látices um teor de sólidos
mínimo de 35%, com uma tolerância de 1% em torno do valor especificado pelo
fabricante. No Brasil, entretanto, não existe ainda um norma nacional que balize a
qualidade dos látices disponíveis no mercado.
Outra importante característica a ser observada nos látices é a temperatura mínima
para formação de filme (TMFF). Principalmente para regiões mais frias, a
temperatura mínima é crítica para que ocorra a formação do filme, isto é, se o
polímero for aplicado em um ambiente com temperatura inferior à TMFF, não haverá
formação do filme. Cada tipo de polímero possui uma TMFF, característica do
material.
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c) Terceira etapa
Por fim, após a remoção completa da água como descrito na etapa anterior, as
partículas de polímero agrupadas sobre o cimento hidratado, coalescem em um filme
ou membrana contínua, a qual une o cimento hidratado para formar uma estrutura
monolítica em que a fase do polímero interpenetra pela fase do cimento hidratado.
Tal estrutura atua como uma matriz para as AMP, onde os agregados estão
aglomerados por esta matriz.
A pasta de cimento, quando endurecida, compõe-se essencialmente de uma estrutura
aglomerada de silicato de cálcio hidratado e hidróxido de cálcio, interligados por
forças fracas de Van der Waals. Consequentemente, ocorrem facilmente
microfissuras na pasta sob tensão, resultando em uma baixa resistência à tração da
argamassa de cimento Portland.
Em contraste, na argamassa modificada com polímeros, as microfissuras são
sobrepassadas por filmes ou membranas do polímero que previnem a propagação das
fissuras e simultaneamente, desenvolvem uma ligação mais forte entre o cimento
hidratado e os agregados (OHAMA, 1987).
Esse fenômeno é mais acentuado quando se aumenta o conteúdo de polímero,
elevando a resistência à tração da argamassa. Entretanto, segundo esse último autor,
o excesso de polímero e a entrada de ar podem causar descontinuidades na estrutura
monolítica formada, cuja resistência à compressão acaba reduzida.
Em geral, as AMP apresentam um notável aumento na resistência à tração na flexão
e na resistência à compressão, comparadas às argamassas de cimento. Este fenômeno
explica-se em termos da contribuição da elevada resistência à tração do filme de
polímero propriamente dito e na melhoria como um todo da aderência entre o
cimento e os agregados.
4. PROGRAMA EXPERIMENTAL
Neste trabalho foram ensaiadas argamassas cujas dosagens resultaram da
combinação de dois traços (1:3 e 1:5 de cimento e areia, em volume de materiais
secos) e de dois fatores polímero/cimento (p/c) de 5 e 10%:
Argamassas de cimento:
• REF3 (1:3 - cimento e areia - em volume)
• REF5 (1:5 - cimento e areia - em volume).
Argamassas de cimento, areia e estireno – butadieno:
• SB1 (1:3 e 5% de polímero/cimento);
• SB2 (1:3 e 10% de polímero/cimento);
• SB3 (1:5 e 5% de polímero/cimento);
• SB4 (1:5 e 10% de polímero/cimento).
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Argamassas de cimento, areia e estireno – acrílico:
• AC1 (1:3 e 5% de polímero/cimento);
• AC2 (1:3 e 10% de polímero/cimento);
• AC3 (1:5 e 5% de polímero/cimento);
• AC4 (1:5 e 10% de polímero/cimento).
Argamassas de cimento, areia e acetato de polivinila:
• PVA1 (1:3 e 5% de polímero/cimento);
• PVA2 (1:3 e 10% de polímero/cimento);
• PVA3 (1:5 e 5% de polímero/cimento);
• PVA4 (1:5 e 10% de polímero/cimento).
As argamassas são produzidas em laboratório, à partir dos traços em massa de
materiais secos convertidos dos traços em volume, considerando-se as características
dos materiais, previamente determinadas. Ao longo de toda a pesquisa, foram
mantidos inalterados a areai e o cimento. A mistura é feita em um misturador
planetário com capacidade de 20 litros.
A seqüência de mistura empregada é adaptada da NBR 7215 (ABNT, 1982).
Adiciona-se primeiro todo o látex, a água e o cimento, misturando-se em velocidade
baixa durante 30 segundos, em seguida e sem parar, adiciona-se a areia nos próximos
30 segundos e mistura-se tudo por mais 1 minuto, sempre em velocidade baixa. Após
1 minuto e 30 segundos de descanso, a argamassa é novamente misturada por mais 1
minuto em velocidade alta.
A consistência das argamassas medida através da mesa de consistência de acordo
com o procedimento definido na NBR 9287 (ABNT, 1986) foi fixada em 180 ± 5
mm, buscando-se determinar o teor de umidade necessário para esta consistência
“padrão”. Esta consistência foi definida em função da sua aplicação em canteiros de
obras, onde normalmente é lançada “semi seca” para ser compactada em seguida;
segundo BARROS (1991), a argamassa “semi seca” possui teor de umidade entre 10
e 12,5%.
Todos os corpos de prova de argamassa são curados sob condições naturais de
temperatura e umidade, encontradas dentro do laboratório. Esta condição
corresponde às condições de cura normalmente aplicadas em obra, onde não é feita a
cura úmida.
A seguir é feita uma descrição sucinta dos procedimentos adotados para os ensaios
que fazem parte deste programa experimental. A idade para realização dos ensaios, é
de 7, 14 e 28 dias.
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4.2. Ensaio de módulo de deformação
Não há, entre as normas brasileiras, uma que seja específica para determinação do
módulo de deformação de argamassas. Portanto, foi feita uma adaptação,
empregando-se o plano de carregamento tipo 2, definido pela NBR 8522 (ABNT,
1984) e velocidade de aplicação de carga de 4 tf/min. Foram moldados 6 corpos de
prova cúbicos de 10cm de lado, dos mesmos utilizados no ensaio de determinação da
resistência à compressão, para cada condição.
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Compressão (MPa) Flexão (MPa) Módulo Sec_0,5 (Mpa)
Idade
(dias) 7 14 28 7 14 28 7 14 28
REF3 18,549 21,199 19,135 5,096 6,497 4,570 5100,10 4402,21 5691,53
D.P. 0,562 1,153 1,229 0,472 0,636 0,464 1598,16 858,36 582,81
C.V.% 3,03 5,44 6,42 9,26 9,80 10,15 31,34 19,50 10,24
REF5 6,686 8,148 9,466 2,430 3,043 2,811 2616,26 2947,40 3101,12
D.P. 0,308 0,495 0,558 0,214 0,168 0,300 460,71 1146,78 859,46
C.V. % 4,61 6,07 5,90 8,81 5,52 10,67 17,61 38,91 27,71
SB1 22,746 25,818 29,641 5,758 7,162 8,393 11217,50 6636,29 5754,84
D.P. 0,508 1,092 0,113 0,254 0,610 0,405 2529,42 1050,60 566,63
C.V. % 2,23 4,23 0,38 4,42 8,51 4,82 22,55 15,83 9,85
SB2 28,264 29,548 36,615 7,710 9,988 10,658 8870,61 5914,68 7197,56
D.P. 0,851 3,477 0,141 0,467 0,468 0,512 3337,93 695,60 1751,94
C.V. % 3,01 11,77 0,38 6,05 4,68 4,81 37,63 11,76 24,34
SB3 7,590 9,337 11,459 2,548 3,398 3,600 3677,28 3549,49 2660,23
D.P. 0,085 0,561 1,043 0,131 0,189 0,218 1115,67 533,41 615,42
C.V. % 1,12 6,01 9,10 5,13 5,57 6,06 30,34 15,03 23,13
SB4 7,856 11,264 16,414 3,649 4,509 5,971 3206,03 6079,82 4702,41
D.P. 0,396 0,131 0,542 0,185 0,208 0,279 1167,41 777,37 1412,48
C.V. 5,04 1,17 3,30 5,07 4,61 4,67 36,41 12,79 30,04
AC1 21,839 25,429 25,522 4,990 7,153 6,330 9179,64 9421,92 6443,40
D.P. 1,726 1,966 0,380 0,270 0,260 0,498 2482,49 2466,46 1883,07
C.V. % 7,90 7,73 1,49 5,42 3,63 7,86 27,04 26,18 29,22
AC2 * 11,805 16,140 * 4,649 5,226 * 4322,07 5901,77
D.P. 1,625 0,791 0,379 0,135 1330,07 839,62
C.V. % 13,76 4,90 8,16 2,58 30,77 14,23
AC3 6,964 8,076 * 2,131 3,098 * 3745,42 3033,23 *
D.P. 0,108 0,391 0,097 0,590 1090,10 1135,22
C.V. % 1,55 4,84 4,54 19,03 29,10 37,43
AC4 * 13,183 14,059 * 4,919 4,063 * 6689,49 5270,12
D.P. 1,161 1,063 0,147 0,157 565,34 2213,52
C.V. % 8,81 7,56 3,00 3,87 8,45 42,00
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PVA1 11,537 15,624 24,380 3,972 5,412 6,147 5658,32 7431,90 9311,51
D.P. 0,541 0,439 0,336 0,175 0,425 0,756 1592,63 854,03 3254,97
C.V. % 4,69 2,81 1,38 4,41 7,86 12,30 28,15 11,49 34,96
PVA2 8,297 * 3,774 * * 4032,81 *
D.P. 0,718 0,425 551,53
C.V. % 8,65 11,28 13,68
* ensaio ainda não concluído
Tabela 1 Resultados dos ensaios de compressão, de tração na flexão e de módulo
de deformação.
Acredita-se que foram provavelmente as condições não controladas de temperatura e
umidade ambiente, relacionadas ao procedimento de cura adotado, que provocaram
os coeficientes de variação por vezes altos, principalmente os do ensaio de módulo.
É importante salientar que os resultados aqui apresentados limitam-se aos materiais
empregados nesta pesquisa. Especificamente, os látex empregados possuem cada um
uma formulação característica que varia muito de um distribuidor para outro e que
pode influir muito nos resultados.
Por fim, é importante salientar que esta pesquisa está em andamento e que estão
sendo realizados outros ensaios, inclusive ligados à permeabilidade e retração das
argamassas e às técnicas de preparação da base, cujos resultados serão
posteriormente divulgados.
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