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A CAL &Cal
Material Conservação & Reabilitação
tradicional
e inovador
ENTREVISTA
Saberes tradicionais,
inovação e Património
À conversa com Rosário Veiga
SAÚDE
Revestimentos saudáveis.
O papel da cal
Revista digital gratuita | Ano XVIII - Nº 61 | Julho > Dezembro 2016 | Publicação Semestral
Parque da Boavista
Avenida do Cávado nº160
4700-690 Braga
Tel. +351 253 263 614
www.AOF.pt
Nº 61 | 2.º Semestre
Julho > Dezembro 2016
46. saúde
Revestimentos saudáveis
O papel da cal
64. Profissões antigas
A cal e os seus ofícios
O tempo dos caeiros
PAGINAÇÃO | Joana Torgal - Canto Redondo
06
Salavessa, Mário Mendonça de Oliveira, Paulo
EM ANÁLISE 59 Artes da cal
Lourenço, Soraya Genin, Teresa de Campos Coelho
A Cal Uso e tradição
Material milenar e inovador COLABORADORES | Abílio Guerra, Ana Fragata, Ana
64 Profissões antigas Isabel Marques, Ana Rita Santos, Ana Velosa, Antero
09 ESTUDO
Magra 3
DE CASO A cal e os seus ofícios
O tempo dos caeiros
Leite, Antonin Fabbri, António Santos Silva, Daniel
Vale, Fátima de Llera, Fionn McGregor, Indira Leão,
João Gomes Ferreira, João Mascarenhas Mateus,
Um complexo industrial de João Ribeiro da Silva, Jorge de Brito, Lúcia Miguel,
María del Mar Barbero Barrera, Maria do Rosário
produção de cal em época romana
70 PATRIMÓNIO IMATERIAL Veiga, Marta Santos, Martha Tavares, Paulina Faria,
Vila Real Paulo Candeias, Pedro Braga, Regis Barbosa, Sandro
12 Revestimentos exteriores
tradicionais na Terra Fria Transmontana
O processo de confecção da Botas, Sofia Malanho, Tânia Simões, Vítor Cóias
louça preta de Bisalhães
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16 Os stuccos exteriores
na região do Algarve 76 opinião
Canto Redondo
www.cantoredondo.eu
Alojamento local geral@cantoredondo.eu
20
Tel.: 96 908 66 93
Emboço ventilado para edifícios Berlim e outras cidades impõem limites,
antigos sujeitos a humidade Lisboa e Porto deviam fazer o mesmo. GECoRPA - Grémio do Património
ascensional e sais solúveis
78 Associativismo SEDE DE REDAÇÃO
24 INVESTIGAÇÃO
Caracterização de argamassas de
Sociedade Portuguesa de Estudos
de História da Construção
GECoRPA - Grémio do Património
Avenida Conde Valbom, 115 - 1 Esq.º
1050-067 Lisboa
cal utilizadas em paredes de alvenaria Tel.: 213 542 336
resistentes pertencentes a edifícios “de placa” 79 Comunicado de imprensa www.gecorpa.pt
info@gecorpa.pt
Revisão do Código dos Contratos Públicos
29 O papel dos agregados naturais na
durabilidade das argamassas de cal
O GECoRPA toma posição DEPÓSITO LEGAL 128444/00
46 saúde
Revestimentos saudáveis
Fórum do Património 2017
Unir as ONG em defesa
© Sergiy Scheblykin | iberianlandscapes@gmail.com
50 ENTREVISTA
Saberes tradicionais, inovação e Património
86 NOTÍCIAS cal parda no coroamento das canhoeiras, e caiação
final de uma guarita com cal aérea em pasta.
Dono de Obra: Município de Elvas
À conversa com Rosário Veiga
88 Empresas associadas do Projeto de Conservação e Restauro: In Situ, Lda.
Empreiteiro Geral: RRC, S.A.
GECoRPA - Grémio do Património
O regresso à cal
Vítor Cóias | Diretor da Pedra & Cal
1 – Experiência 6 – Informação
Os associados têm a oportunidade de contactar O GECoRPA – Grémio do Património procede à re-
com outras empresas e profissionais do segmento colha e divulgação de informação técnica sobre o
da reabilitação, e trocar experiências e conheci- tema da reabilitação, conservação e restauro do
mentos úteis. O Grémio constitui, por essa razão, edificado e do Património.
um fórum para discussão dos problemas do setor.
7 – Gestão da Qualidade
2 – Representatividade O Grémio do Património proporciona apoio à im-
O GECoRPA – Grémio do Património garante uma plementação de sistemas de gestão da qualidade
maior eficácia na defesa dos interesses comuns e e à certificação, oferecendo aos sócios condições
uma maior capacidade de diálogo nas relações vantajosas.
com as entidades oficiais para melhor defesa da
especificidade do setor. 8 – Publicações
Agora em formato digital e de distribuição gratuita,
3 – Concorrência Leal a Pedra & Cal é uma revista semestral editada pelo
O Grémio do Património bate-se pela sã concor- GECoRPA há 18 anos, que tem como missão divul-
rência entre os agentes que operam no mercado, gar as boas práticas neste setor e evidenciar a neces-
defendendo a transparência, o preço justo e a não sidade de qualificação das empresas e profissionais.
discriminação.
9 – Publicidade e Marketing
4 – Referência O GECoRPA – Grémio do Património distingue as
Muitos donos de obra procuram junto do Grémio empresas associadas em todas as suas atividades.
os seus fornecedores de serviços e produtos. Per- Os sócios beneficiam de condições vantajosas na
tencer ao GECoRPA – Grémio do Património cons- publicidade da Pedra & Cal e no Anuário do Patri-
titui, desde logo, uma boa referência. mónio, onde podem publicar notícias, estudos de
caso e experiências da sua atividade.
5 – Formação
Os sócios têm prioridade na participação e des- 10 – Presença na Internet
contos na inscrição das ações de formação e di- O sítio web da associação constitui um prestigia-
vulgação promovidas pelo Grémio do Património. do centro de informação das atividades, soluções
e serviços de cada associado na área da conser-
vação e da reabilitação do património construído.
Av. Conde Valbom, 115 - 1.º Esq. | 1050-067 Lisboa | Tel.: 213 542 336 | Tlm: 918 266 247
info@gecorpa.pt | www.gecorpa.pt | www.facebook.com/gecorpa
A Cal
Material milenar e inovador
“
É portanto um exemplo completo da economia
circular de que hoje tanto se fala, num ciclo que, se
quisermos, pode não ter desperdício e pode resultar
na total reutilização. Como tal, deve ser considerado
um material sustentável. A este potencial ecológico
podemos adicionar a capacidade de fixar o dióxido de
carbono da atmosfera, reduzindo a sua concentração
no ar que respiramos.
“
A CAL como material rio, por calcinação a temperaturas da ordem 2 | Trabalhos decorativos em cal.
durável, ecológico e saudável de 900ºC, originando a cal viva, que é em 3 | Estrutura de pavimento
seguida hidratada (“apagada”) por adição de romano no sítio de Pisões.
Muitas estruturas milenares feitas com base água, resultando em cal apagada – em pó, em
em cal estão ainda em bom estado de con- pasta ou sob a forma de leite de cal, conforme
servação e em Portugal são muito visíveis, a quantidade de água adicionada –, é usada
por exemplo, em numerosos sítios do período em argamassas e pinturas sob essa forma, e cionar a capacidade de fixar o dióxido de car-
romano (com cerca de 2 000 anos) e do perío- em seguida, ao longo do tempo vai carbona- bono da atmosfera, reduzindo portanto a sua
do islâmico (com cerca de 1 500 anos) (fig. 3) tando, por fixação do dióxido de carbono do concentração no ar que respiramos.
[2,3]. Estes exemplos, continuados por toda ar, num processo lento, que tende a reconsti-
uma história construtiva com argamassas e tuir o material original: o carbonato de cálcio A cal – as argamassas e as pinturas de cal – são
pinturas de cal até meados do século XX, que é o constituinte da pedra calcária [4]. muito permeáveis ao vapor de água, portanto,
demonstram a durabilidade deste material, quando aplicadas nos paramentos exteriores
que paradoxalmente é hoje associado a fraca É portanto um exemplo completo da econo- das paredes, permitem a fácil evaporação da
resistência mecânica e baixa durabilidade. mia circular de que hoje tanto se fala, num ci- água acumulada no interior das alvenarias e a
clo que, se quisermos, pode não ter desperdí- eliminação do vapor de água produzida no in-
O processo de transformação da cal, designa- cio e pode resultar na total reutilização. Como terior dos edifícios pelas actividades normais
do por ciclo da cal, explica essa durabilidade: tal, deve ser considerado um material susten- dos utentes, reduzindo os riscos de concen-
o material provém da transformação do calcá- tável. A este potencial ecológico podemos adi- tração de humidade nos espaços interiores.
Os materiais baseados em cal são também potenciais, visando contribuir para a evolu-
muito higroscópicos, ou seja, absorvem a água ção do conhecimento deste material e, princi-
“
sob a forma de vapor. Assim, quando usada palmente, potenciar a sua utilização, quer na
no revestimento dos paramentos interiores, conservação de edifícios históricos, quer na
em estuques só de cal ou de misturas de cal reabilitação, quer na inovação da construção
e gesso e em pinturas de cal, favorece, nos e das indústrias ligadas à construção.
períodos húmidos, a adsorção da humidade As propriedades
em excesso do ar, e, nos períodos secos, a Foram abrangidos cinco temas:
libertação dessa humidade, funcionando como específicas da cal 1. A cal como material histórico
um regularizador da humidade interior. Deste 2. A cal como material tradicional
modo, as propriedades específicas da cal re- reduzem os riscos de 3. A cal como material ecológico e saudável
duzem os riscos de humidade em excesso, 4. A cal como material inovador
condensações e fungos nos espaços inte- humidade em excesso, 5. A cal na conservação e reabilitação
riores, contribuindo para a salubridade do am-
biente interior dos edifícios.
condensações e fungos Os artigos seleccionados das V Jornadas da
nos espaços interiores, Cal para publicação no presente número da
revista Pedra & Cal contemplaram todos os
A CAL como contribuindo para a temas tratados e foram adaptados às carac-
material inovador terísticas da revista, dirigindo-se assim a um
salubridade do ambiente público muito vasto.
Mas a cal é também um material com grande
capacidade de adaptação à inovação tecnoló-
gica, fazendo hoje parte de muitas soluções
avançadas: os materiais nanoestruturados com
“
interior dos edifícios. Espera-se que esta edição da revista seja
mais um instrumento do conhecimento deste
material em todas as suas vertentes e, prin-
base em cal, de que se destacam os consoli- cipalmente, um potenciador do seu uso na
dantes vulgarmente designados por nanocais prática.
(fig. 4) [5]; as argamassas líquidas; as argamas-
sas de isolamento térmico; as argamassas de
cal aditivadas como componentes de sistemas BIBLIOGRAFIA
de isolamento térmico pelo exterior, entre outras. 1. Bentur, A. – Cementitious Materials – Nine Millennia
possibilidades quase infinitas de estudo, e do and A New Century: Past, Present, and Future. Journal
of Materials in Civil Engineering, 14 (1), (2002), 2-22.
As capacidades estéticas e a importância da- número crescente de trabalhos de investiga-
2. Velosa, A; Coroado, J.; Veiga, M. R.; Rocha, F. – Cha-
da hoje à sustentabilidade e às questões li- ção que se debruçam sobre este material nas racterization of roman mortars from Conímbriga with
gadas à saúde fazem também com que a cal suas variadas vertentes, a cal e os materiais respect to their repair. Materials Characterization, 11-12
(58), Elsevier, (2007), 1208-1216.
esteja no centro de novos projetos arquitetó- com base em cal continuam a ter muitos
3. Borges, C.; Santos Silva, A.; Veiga, M. R. – Durability
nicos inovadores. mistérios por desvendar, colocando à ciên- of ancient lime mortars in humid environment. Construc-
cia e ao engenho da comunidade técnica e tion and Building Materials, 66, (2014), 606-620. DOI:
científica uma diversidade de novos desafios. 10.1016/j.conbuildmat.2014.05.019.
A contribuição das 4. Cizer, O.; Van Balen, K; Elsen, J.; Van Gemert, D. –
Magra 3
Um complexo industrial de produção de cal em época romana
Lúcia Miguel | Arqueóloga, Era – Arqueologia, Gestão e Conservação do Património | luciareginamiguel@gmail.com
Pedro Braga | Conservador-restaurador, Era – Arqueologia, Gestão e Conservação do Património | pedrobraga@era-arqueologia.pt
3 5
Os fornos foram directamente escavados no É possível encontrar exemplares deste tipo 1 | Vista geral dos contextos
intervencionados.
substrato rochoso e apresentavam uma for- de actividade em todos os pontos do antigo
ma cilíndrica, com uma média de 3 m de diâ- Império Romano, associados sempre a gran- 2 | Pormenor de afloramento explorado.
Técnicas de produção
de cal no período romano A cal e a sua utilização
durante o período romano
Os fornos de produção de cal de cronologia
romana do sítio do Magra seguem as reco- A utilização da cal e das suas propriedades
mendações feitas pelos autores clássicos, co- durante o período romano é um assunto am-
mo é o caso de Catão. plamente desenvolvido por Vitruvio. O estudo
das obras deste autor clássico tem permitido
A solução adaptada no caso do Magra 3 aos investigadores o conhecimento sobre o ti-
parece ter correspondido a um tipo de labo- po de mistura a ser usada e quais as propor-
ração intermitente, na qual a divisão entre a ções de cal indicadas para cada tipo de opus
pedra e o combustível se faria através da es- consoante a sua finalidade. Este autor mencio-
truturação das pedras no interior do forno até na, ainda, o tipo de aditivos a serem utilizados
formar uma falsa cúpula, com a colocação da para aumentar a resistência das argamassas,
lenha na depressão existente na base (Mar- tais como, argila cozida triturada ou mesmo
tins, 2012). cinza vulcânica (Álvarez Galindo et al, 1995).
Revestimentos exteriores
tradicionais na Terra Fria
Transmontana
Daniel Vale | Programa de Doutoramento em Arquitectura, Faculdade de Arquitectura, Univ. do Porto, Portugal | fernandesvale@hotmail.com
reabilitação, o que contribuiu para a Em Dine, dos sete fornos que se conservavam,
interiorização de uma imagem errada dois estão em ruína e cinco foram objecto de
intervenção de reabilitação em 2000, por parte
de que a arquitectura vernacular da da Junta de Freguesia de Fresulfe e da Câmara
Terra Fria Transmontana não tinha Municipal de Vinhais. Localizam-se na encos-
ta oriental do cabeço do castro, local onde se
revestimentos exteriores. Este artigo situa a Lorga de Dine1, num enquadramento
privilegiado sobre o vale do rio Tuela que se
pretende demonstrar que, não só a estende para sul da aldeia. “Destes fornos saía
maioria dos edifícios era revestida quase exclusivamente cal parda para a cons-
trução, mas também se produziam pequenas
pelo exterior, como apresentava quantidades de cal branca com a pedra extraí-
da nas pedreiras (...) situadas em baldios da
ornamentação ou pintura. aldeia.” (Redentor, 2003). Chegaram a produzir
cal de uma forma intensiva durante praticamente
ou trabalhador mais experiente no ofício, que madas “eram constituídas por argamassas de só a maioria dos edifícios era revestida pelo
sabia reconhecer as pedras mais adequadas areia e cal, com eventuais adições minerais e exterior, como apresentava ornamentação ou
para a cal que pretendiam obter. aditivos orgânicos. Normalmente, as camadas pintura. Por norma, os edifícios localizados no
internas tinham granulometria mais grosseira centro das aldeias, perto ou nas imediações
que as externas e a deformabilidade e a poro- da igreja matriz2, apresentam um maior cuida-
A aplicação da cal sidade iam aumentando das camadas internas do de composição arquitectónica dos alçados,
nos revestimentos exteriores para as externas, promovendo assim um bom sobretudo ao nível dos revestimentos exterio-
comportamento às deformações estruturais e res. No entanto, por essa mesma razão, são
O abandono dos fornos de cal da região nos à água” (Veiga, 2003, p. 1). A segunda camada, também esses edifícios do centro das aldeias,
anos sessenta do século passado coincidiu de protecção, acabamento e decoração era que se apresentam mais descaracterizados
com o aumento significativo da emigração das constituída pelo barramento, ou guarnecimen- pelas “melhorias” que foram sofrendo. Os úni-
gentes transmontanas para outras paragens, o to, que era a camada de acabamento normal- cos exemplos de técnicas decorativas mais
que ditou, na maior parte dos casos, o aban- mente constituída “por massas finas de pasta elaboradas foram encontrados em edifícios
dono das aldeias e de todas as actividades as- de cal (...) aplicadas em várias subcamadas, cuja funcionalidade se tinha alterado ou em al-
sociadas ao mundo rural. Por outro lado, a com finura crescente das mais interiores para çados secundários, naquilo que podemos ca-
produção tradicional de cal era feita em mol- as mais exteriores” (Veiga, 2003, p. 2); a pintu- racterizar como a arquitectura da rua de trás.
des artesanais e a sua distribuição não era ra, geralmente com base em cal aditivada com
sequer motorizada, uma vez que muitos dos pigmentos; e os ornamentos (stuccos, fingi- De uma maneira geral, denota-se uma maior
fornos se encontravam em locais de difícil dos, esgrafitos, etc.). Esse princípio construti- preocupação decorativa no piso superior dos
acesso. Por último, trata-se de um período de vo, de sobreposição de sucessivas camadas, edifícios habitacionais, normalmente com dois
generalização do uso das argamassas à base terá sofrido algumas adaptações na Terra Fria pisos, com a aplicação de barramentos e si-
de cimento que ditou o progressivo abandono Transmontana onde, por norma, essa segunda mulação dos elementos estruturais em pedra,
da cal aérea como ligante das argamassas camada, de ornamento, seria constituída por como os cunhais, embasamentos, frisos e
para construção. não mais do que uma subcamada. A relativa beirais através de pintura ou esgrafitos. Era aí
escassez de matéria-prima e as próprias ca- que se localizava a habitação e era essa zona
No entanto, verifica-se que essa substituição racterísticas da arquitectura vernacular assim que importava destacar. O piso térreo, onde se
das argamassas não foi devidamente acaute- o justificaram. alojavam os animais, recebia normalmente as
lada. As argamassas de cal proveniente dos camadas de regularização e protecção (embo-
fornos da Terra Fria Transmontana, na sua Contrariamente a uma imagem que se interio- ço e reboco). Os edifícios que se destinavam
maioria de cal parda, seriam tradicionalmente rizou, motivada pelo abandono das edificações à recolha de alfaias agrícolas ou arrecadações
aplicadas na construção em assentamento e pela generalização das intervenções de “rea- não tinham normalmente revestimento exte-
de alvenarias de pedra, emboços e rebocos, bilitação” que se foram efectuando na região, rior, ficando com o aparelho da pedra à vista.
como camada visível e sacrificial de todo o alterando ou removendo totalmente os reves- Em termos decorativos, encontram-se ainda
sistema construtivo tradicional. timentos, a arquitectura tradicional da Terra vários exemplos de execução de fingidos, es-
Fria Transmontana tinha revestimentos exte- grafitos e molduras esgrafitadas.
Tradicionalmente, os revestimentos exteriores riores em argamassas de cal. Como camada
eram constituídos por duas camadas princi- sacrificial e exposta ao exterior, naturalmente
pais, com funções e espessuras distintas. A que, em caso de abandono e degradação do Nota final
primeira, de regularização e protecção, era edifício, o revestimento era o primeiro elemen-
constituída pelo emboço, mais grosseiro, que to a desaparecer. Por outro lado, existe uma No contexto da Terra Fria Transmontana, em
estabelecia o contacto com a parede e cons- associação da cor das casas à cor da pedra que a vida sempre dependeu dos rigores do
tituía uma base de aplicação às camadas se- extraída na região, sejam granitos ou xistos, clima e do que dava a terra, com uma arqui-
guintes; depois pelo reboco, que era a camada que são actualmente a face mais visível da tectura tradicional que se pode caracterizar por
intermediária de regularização, e pelo esboço, sua arquitectura. Não obstante, conforme se um certo pragmatismo e resignação, parece-
de preparação para o acabamento. Estas ca- pode verificar pelas imagens recolhidas, não nos extraordinário o aparecimento de esgrafitos
BIBLIOGRAFIA
em Vilarinho (fig. 9), ou de paramentos inteiros actividade industrial do passado, mas que é
Aguiar, José (2005). Cor e cidade histórica, Edições
cobertos com fingidos de pedra em Sernande um valor em si mesmo e deve ser exponen- FAUP, Porto.
(fig. 6). Mais ainda atendendo à actual falta de ciado, urge definir estratégias de intervenção Duarte, Milene Gil (2009). A conservação e Restauro da
cuidado e de sensibilidade para a conservação para a construção e reabilitação da arquitectu- pintura mural nas fachadas alentejanas: estudo científico
e salvaguarda desse património. ra tradicional na Terra Fria Transmontana, que dos materiais e tecnologias antigas da cor, Universidade
Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências e Tecnologia,
passem pela reutilização da cal como ligante Lisboa.
Numa região desertificada, onde a aposta pa- das argamassas, ultrapassando, dessa forma, Margalha, Maria Goreti (2008). Materiais e o seu com-
rece residir nos empreendimentos turísticos as resistências e preconceitos dos vários inter- portamento. Seminário “Construção e recuperação de
edifícios em taipa”, Almodôvar.
em espaço rural, com os aparelhos de pedra venientes actuais que derivam, na maior parte
Redentor, Armando (2003). A produção tradicional de cal
a brilhar de tão polidos e as argamassas de dos casos, de mero desconhecimento. no extremo setentrional dos concelhos de Vinhais e Bra-
cimento a tentar esconder as manchas provo- gança: contributo para o seu estudo, in Brigantia, revista
cadas pelos sais solúveis, que futuro para este de cultura, volume XXIII, n.º 3/4, Bragança.
património? Como mantê-lo vivo? Sobretudo * Artigo redigido ao abrigo do antigo acordo Veiga, Maria do Rosário (2003). As argamassas na con-
servação, in Actas das 1ªs Jornadas de Engenharia Civil
se tivermos em consideração que “não é por ortográfico. da Universidade de Aveiro. Avaliação e Reabilitação das
ser tradicional que devemos considerar (a cal) Construções existentes, Lisboa.
também um material de futuro, mas sim por ter NOTAS Veiga, Maria do Rosário (2006). Os revestimentos anti-
gos e a identidade dos edifícios, in Arquitectura Ibérica.
demonstrado ao longo dos séculos ser um ma- 1. Classificada como Imóvel de Interesse Público, por
Despacho de Março de 1975, publicado no Decreto n.º Reabilitação, n.º 12.
terial de grande qualidade” (Margalha, 2008).
67/97, de 31 de Dezembro. Veiga, Maria do Rosário; Aguiar, José (2002). Revesti-
2. O centro da aldeia em sentido literal, como centro mentos de paredes em edifícios antigos, Cadernos Edifí-
Nesse sentido, para além do interesse patri- onde eram tomadas decisões da comunidade no “con- cios, n.º 2, LNEC, Lisboa.
monial dos próprios fornos, cuja vocação ac- selho” dos homens da aldeia e, simultaneamente, sim- Veiga, Maria do Rosário; Aguiar, José; Silva, António
bólico, como centro espiritual, local das questões que Santos; Carvalho, Fernanda (2004). Conservação e re-
tual não poderá ir muito além da sua fruição e transcendem o mundano. Nesse sentido, local de extre- novação de revestimentos de paredes de edifícios anti-
conhecimento enquanto testemunho de uma ma importância na vida da comunidade local. gos, LNEC, Lisboa.
Os stuccos exteriores
na região do Algarve
Marta Santos | Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa, Doutoranda em Arquitectura, Conservação e Restauro
marta.rodrigues.santos@gmail.com
As técnicas de execução da ornamentação em A partir deste inventário, e segundo a revisão bilidosos na arte da ornamentação, distan-
relevo são diversas e integram os variados con- bibliográfica e documental desenvolvida, tem ciando-se de outros executantes que se ocu-
textos históricos da construção e da arte orna- sido possível interpretar esta arte ornamental pariam na fixação dos elementos mais sim-
mental, indo desde a modelação de forma livre e a produção artística que envolveu a arqui- ples executados em bancadas e posteriormen-
executada directamente sobre o paramento tectura doméstica do Algarve, e as influências te aplicados na obra.
da construção, até à modelação com recurso e fixação da mesma ao longo da região, em
a moldes, executada em obra ou em oficina. particular entre o último quartel do século XIX Nos exemplares identificados até ao momen-
Estas técnicas seriam desenvolvidas desde a e as primeiras décadas do século XX. to na região do Algarve são reconhecidos
mais elementar actividade de ornamentação da conjuntos ornamentais na centúria de Sete-
habitação e de forma artesanal, até à especiali- centos, com propostas ornamentais invulga-
zação profissional e com técnicas artísticas de As técnicas de execução res e que se identificam com a técnica de mo-
oficinas de estucadores e escultores. e modelação encontradas delação directa sobre a obra. Entre estes re-
na região gistamos a obra do mestre arquitecto-artífice
Artífices e mestres estucadores e escultores Diogo Tavares de Ataíde (Faro, 1711 – Lagoa,
seleccionariam as técnicas de modelação de A investigação in situ e a recolha de testemu- 1765) que intervém em diversas estruturas ar-
acordo com o seu contexto de aplicação, das nhos junto de mestres artesãos ainda prati- quitectónicas na região, ficando notabilizado
condições de estaleiro e dos repertórios de- cantes desta técnica ancestral de ornamen- pelos diversos trabalhos em pedra, ornatos
corativos das oficinas. Integrariam a seu tem- tação arquitectónica, têm permitido identificar em relevo e trabalhos de massa (fig. 2).
po os vários avanços tecnológicos da época, diferentes técnicas de modelação e contribuir
em contexto pré-industrial e industrial, e que para o entendimento da sua predominância A modelação em estampilhas
viria a introduzir alterações nas técnicas de cronológica na região, e também para esclare-
modelação e de reprodução dos ornamentos. cer a propagação destas tecnologias de reves- O recurso a estampilhas, stencils e escanti-
timento na arquitectura do Sul de Portugal. lhões para a modelação de ornatos em relevo
Uma “geografia” dos stuccos no Algarve configura outra das técnicas de modelação.
A modelação livre à lanceta Dependem do uso de pranchas, preferencial-
A investigação dos stuccos exteriores na mente executadas em chapa de zinco, sendo
arquitectura a decorrer no Algarve1 tem per- Mestres estucadores desenvolviam a mode- usadas também em madeira com tratamento
mitido o registo sistemático de exemplares lação da argamassa directamente sobre o pa- a óleo de linhaça e em cartão com protecção
existentes na região, integrando em inventá- ramento, e cuja técnica de execução requeria de cera de abelha. O motivo seria desenhado
rio um número significativo de exemplares conhecimento de desenho de ornato e figura, e trespassado para a prancha e, finalmente,
distribuídos por 35 centros urbanos algarvios, e o acesso a um conjunto de repertórios de- recortado e modelado.
enquadrados quer em contexto urbano, quer corativos, sendo por isso uma das técnicas de
em áreas periféricas e rurais da região (fig. 1). modelação reservada para mestres mais ha-
3 4
5 6
7 8
Directamente na superfície a ornamentar, se- ou de um padrão. Apresentam-se geralmente O módulo do elemento relevado pode ser re-
ria marcado o negativo do motivo a modelar, em baixo-relevo, com poucos centímetros de produzido apenas numa direcção, dando ori-
auxiliado pela marcação dos vazios das es- vazado relativamente à camada externa do aca- gem a um friso, ou reproduzido em duas direc-
tampilhas, transferindo com precisão o or- bamento final (fig. 3). A iconografia observada ções, formando um padrão, através de isome-
namento, auxiliando o modelador no traçado concentra-se nos motivos geométricos simples trias simples com processos de translação,
base do elemento a relevar. ou compostos, conjugando-se para a criação rotação ou reflexão. Através da interpretação
do motivo final. A localização é reservada para da estrutura geométrica do padrão ou do friso
Alguns exemplares de stuccos identificados in- elementos de preenchimento do paramento da do elemento relevado é possível identificar o
tegram o uso de estampilha, de forma preferen- platibanda e na zona de entablamento de rema- módulo base da composição assim como as
cial, para a execução de ornamentação em friso te entre a cimalha e a cobertura. regras geométricas aplicadas.
Ensaios de
Quadro 2 | Formulação das camadas de revestimento
dissolução-cristalização de sais
Camada de
Formulação Após três meses de cura foi desenvolvida a
revestimento
campanha experimental, em laboratório em
ambiente não condicionado, para simular
al Cal aérea tradicional
a ação severa da água. Em cada ciclo a
absorção durante 2 meses, através da imer-
Cal em pasta; adição pozolânica; são parcial da alvenaria em solução salina
f1
mistura de areia de granulometria fina e média (1+3)
(concentração de 27 g/l NaCl similar à agua
do mar (Auger, 1990)) com uma lâmina líquida
Cal em pasta com hidrófugo; adição pozolânica; constante de 10 cm de altura, foi seguida de
f1h
mistura de areia de granulometria fina e média (1+3) 6 meses de secagem.
FACE B FACE B
1 | Alvenaria – face B.
a. Execução dos
revestimentos (esquerda).
b. Aparência final dos
revestimentos (direita).
1a 1b
Quadro 3 | Avaliação após 0, 30 e 120 dias na fase de secagem (1.º e 2.º ciclos) – superficie exterior
AL RH H NH RNH
++ + + ++ ++
• • • • •
30
120
+++
++ ++ ++ ++
•••
• •• ••• •••
30
120
Notação usada:
Quantidade de eflorescências: (-) sem; (+) quase sem; (++) algumas; (+++) significativas; (++++) muitas.
Severidade da degradação: (•) pouca – alguma perda de coesão; (••) moderada – perda de coesão; (•••) intensa – delaminação;
(••••) severa – pulverulência e delaminação generalizada; (•••••) muito severa – pulverulência generalizada e destacamento.
2a 2b 2c 2d
Ensaio de medição da
velocidade de propagação
de ultrassons
3a 3b
O módulo de elasticidade dinâmico das arga-
massas foi estimado através de ensaios de me-
dição da velocidade de propagação de ultras-
sons, realizados de acordo com as formula-
ções indicadas na norma NP EN 12504-4 (IPQ,
2007), utilizando o método indireto.
Quadro 3 | Resultado dos ensaios para a determinação de absorção Quadro 4 | Resultado dos ensaios para a determinação
de água por capilaridade e avaliação do comportamento à secagem da porosidade aberta e da massa volúmica aparente
Argamassa de Argamassa de
0,34 4 revestimento 31,7 1703
revestimento
Argamassa de Argamassa de
0,49 2 assentamento 33,5 1615
assentamento
Conclusões argamassas de assentamento. Os resultados IPQ – Instituto Português da Qualidade. (setembro de 2008).
Métodos de ensaio para pedra natural; Determinação das
obtidos para porosidade aberta e massa volú- massas volúmicas real e aparente e das porosidades total
Os resultados obtidos mostram que as duas mica aparente são concordantes com o tipo e aberta. NP EN 1936: 2008-pt. Caparica.
argamassas são do mesmo tipo, com ligante de argamassas de cal utilizadas nesta época, IPQ – Instituto Português da Qualidade. (2007). Ensaios
com porosidades muito elevadas. do betão nas estruturas Parte 4: Determinação da velo-
de cal e agregado essencialmente quartzítico,
cidade de propagação dos ultra-sons. NP EN 12504-4:
provavelmente provenientes de areeiro, como 2007-pt. Caparica.
se verifica pela presença de caulinite. Magalhães, A.; Veiga, M. R. (2009). Physical and mechani-
Agradecimentos cal characterisation of ancient mortars. Application to the
evaluation of the state of conservation. Materiales de Cons-
As argamassas apresentam resistências mo- trucción, (295), Vol 59: 61-77. doi: 10.3989/mc.2009.41907.
deradas e deformações na rotura relativamen- Este trabalho insere-se no Projeto de Investi-
Veiga, M. R.; Fragata, A.; Velosa, A. L.; Magalhães, A. C.;
te elevadas, como expetável neste tipo de ma- gação e Inovação 2013-2020 do LNEC “REuSE Margalha, M. G. (2010). Lime-based mortars: viability for
use as substitution renders in historical buildings. Inter-
terial (Veiga, et al., 2010 e Magalhães & Veiga, - Revestimentos para Reabilitação: Segurança
national Journal of Architectural Heritage. (2) Vol. 4, pp.
2009). Os valores dos módulos de elasticidade e Sustentabilidade”. Os autores agradecem a 177-195. Abril-Junho 2010. Philadelphia: Taylor e Francis.
dinâmicos são característicos de uma argamas- colaboração da empresa de estudos e projetos Paulo B. Lourenço e Pere Roca eds. Special Issue. ISSN
A2P Consult, Lda., e das empresas Coporgest 1558-3058. DOI: 10.1080/15583050902914678.
sa de cal em bom estado de conservação e
e HCI Construções, S.A. Veiga, M. R.; Magalhães, A.; Bosiljkov, V. (julho de 2004).
sem anomalias relevantes. Capillarity tests on historic mortar samples extracted from
site. Methodology and compared results. 13th International
As argamassas são bastante permeáveis à Masonry Conference. Comunicação COM 110. Amsterdam.
mento a camada de acabamento reduz a velo- CEN - Comité Europeu de Normalização. (1999). Methods
of test for mortar for masonry - Part 11: Determination of
cidade de absorção, traduzindo-se num coefi- flexural and compressive strength of hardened mortar. EN
ciente de capilaridade mais baixo que para as 1015-11: 1999. Bruxelas.
Trabalho experimental
Os principais factores para a Foram preparadas diversas formulações com
durabilidade e bom desempenho base em cal aérea hidratada em pó CL90-S
(NP EN 459-1:2015) e usadas cinco areias de
das argamassas de cal estão naturezas mineralógicas distintas: duas areias
relacionados com a qualidade siliciosas, sendo uma rolada (AL) e outra bri-
tada (Sb); uma areia calcária (C); uma areia
da cal e dos agregados usados, a basáltica (B); e uma areia granítica (G) (fig. 1).
De modo a minimizar a variável da distribui-
proporção adequada da mistura, ção granulométrica, as areias foram calibra-
a granulometria dos agregados e das conforme a distribuição granulométrica
da areia de referência CEN, definida na NP
o cuidado posto na preparação da EN 196-1:2006 (Santos et al., 2016).
Resultados e discussão 360 dias, à excepção da composição com cia é também verificada no ensaio de poro-
areia basáltica que inverte esta tendência dos sidade aberta, que mostra que a argamassa
Argamassas no estado fresco 28 para os 90 dias, e a composição com areia com areia basáltica é a que apresenta maior
siliciosa britada (Ca SB CP) que aumenta este percentagem de volume de vazios. Os valores
Com a trabalhabilidade fixa, as argamassas valor dos 90 para os 360 dias. Verifica-se de coeficiente de capilaridade aumentam, em
com areia calcária foram as que apresentam ainda que as argamassas com areia basálti- geral, dos 28 para os 90 dias, e diminuem dos
uma menor razão água/ligante. Ao contrário ca são as que têm maiores valores de massa 90 para os 360 dias, à excepção das com-
do que seria de esperar, a maior superfície es- volúmica aparente (fig. 3). posições com areia calcária e areia granítica.
pecífica do grão calcário não obrigou à adição Este facto pode estar associado a alterações
de maior quantidade de água de amassadura No que se refere às resistências mecânicas, da estrutura porosa e da microestrutura das
para obter a mesma trabalhabilidade. Estes os valores de Rc e Rt evidenciam um aumen- argamassas que ocorrem durante o processo
resultados estão em geral de acordo com os to dos 28 para os 90 dias; dos 90 para os 360 de carbonatação.
de Quiroga e Fowler (2004), que concluíram dias a Rc (fig. 4a) também aumenta, com ex-
que quando são empregues finos de natureza ceção das composições com areia calcária
calcária a quantidade de água de amassadu- e granítica, e a Rt (fig. 4b) diminui em todas Conclusões
ra é menor do que quando são usados finos as composições. Verifica-se que a composi-
de natureza basáltica ou granítica. A arga- ção com areia basáltica (Ca B CP) é a mais Em termos dos diferentes tipos de areias, ve-
massa com areia basáltica foi a que apresen- deformável (menor módulo de elasticidade), rificou-se que as argamassas de cal aérea
tou maior valor de massa volúmica aparente enquanto a argamassa com areia calcária é a com areia calcária, seguidas das de areia sili-
no estado fresco (quadro 1), indiciando uma mais rígida (fig. 5). ciosa britada, foram as que apresentaram os
menor porosidade e também, possivelmente, valores mais elevados de resistência mecâni-
devido ao maior teor de ferro que estas areias Em termos do comportamento à água (coefi- ca. Relativamente ao comportamento à água
têm na sua composição. ciente de capilaridade e valores máximos de não se verificaram grandes diferenças entre
absorção de água) (fig. 6) verifica-se que a os vários tipos de areias ensaiadas.
Argamassas no estado endurecido composição com areia basáltica (Ca B CP) é
a que apresenta, em termos médios, a maior As composições com areia basáltica também
Em termos gerais, verifica-se um aumento da velocidade de absorção e que a argamassa apresentam resultados globais equilibrados ao
massa volúmica aparente dos 28 para os 90 com areia siliciosa britada (Ca Sb CP) a que longo do tempo da cura. O facto de terem na
dias e uma diminuição dos 90 dias para os apresenta a menor velocidade. Esta tendên- sua composição minerais de argila expansivos
Agradecimentos
Os autores agradecem a colaboração das 4b
empresas Lena Agregados, S.A. e Lusical,
S.A., e do LNEC através do Projeto de Investi-
gação e Inovação “PRESERVe – Preservação
de revestimentos do património construído
com valor cultural”.
BIBLIOGRAFIA
Arizzi, A.; Cultrone, G. (2012). The difference in beha-
viour between calcitic and dolomitic lime mortars set un-
der dry conditions: The relationship between textural and
physical–mechanical properties. Cement and Concrete
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gregate-cement paste interface. II: Influence of aggrega-
te physical properties. Cement and Concrete Research,
vol. 28 (10), 1453-1465.
6
Desempenho de
argamassas de cal
em sistemas de
isolamento térmico
Sofia Malanho | LNEC, Portugal | smalanho@lnec.pt
Maria do Rosário Veiga | LNEC, Portugal | rveiga@lnec.pt
3 4
1 | Colagem das placas ao suporte. Quadro 1 | Características mecânicas dos sistemas sem acabamento submetidos a ciclos higrotérmicos e
2 | Isolante térmico (EPS e ICB) colado das respetivas argamassas (da camada de base)
sobre o suporte.
3 | Incorporação da rede de fibra de
vidro na camada de base.
Ensaio sobre o sistema Ensaio sobre os provetes prismáticos
4 | Ensaios mecânicos sobre as (sem acabamento) das argamassas (2:NHL; 3: CL; 4:C ou 5:C)
argamassas para a execução da
camada de base.
Aderência
da camada
Designação Resistência ao choque
de base ao
dos sistemas isolante Map (kg/ Rtf Rc (N/ Efr Teor de
Rtf/Rc
m3) (N/mm2) mm2) (MPa) resina
Apresentação e σ
3 J – Ømossa 10 J –
5 | Correlação entre os valores da resistência Os quatro sistemas analisados obtiveram ten- Correlações entre
à tração por flexão e os valores de resistência sões de aderência superiores a 0,08 N/mm2 os resultados
à compressão. ou tipologia de rotura coesiva no isolante
6 | Correlação entre os valores da resistência (PR: C), cumprindo, portanto, o requisito pre- Nas figs. 5 a 8 apresentam-se as correlações
à tração por flexão e os valores do módulo
de elasticidade dinâmico por frequência de
visto no ETAG 004 (EOTA, 2013). Os valores efetuadas entre os valores obtidos nos diver-
ressonância. mais elevados foram obtidos nos sistemas sos ensaios.
7 | Correlação entre os valores obtidos da com argamassa de cimento (sistemas 4 e 5),
resistência à compressão e do módulo de mas como os resultados de uma forma geral Conclui-se que existe uma boa correlação en-
elasticidade dinâmico por frequência de
deram rotura coesiva no seio do isolante, estes tre os dois tipos de resistências mecânicas
ressonância.
valores poderão depender da resistência à tra- (tração por flexão e compressão), a massa
8 | Correlação entre os valores dos diâmetros
das mossas após ensaio de choque de 3 J e ção e do módulo de elasticidade transversal volúmica aparente e o módulo de elasticida-
da relação entre Rtf/Rc . de cada isolante. de dinâmico por frequência de ressonância,
5 6
7 8
Contributo de betões de
cânhamo na regulação
passiva da humidade
no interior dos edifícios
Tânia Simões | Dep. de Engenharia Civil da Universidade NOVA de Lisboa, Portugal | ts.simoes@campus.fct.unl.pt
Fionn McGregor | LGCB-LTDS, UMR 5513 CNRS, École Nationale de Travaux Publics de l´Etat, França | fionnmcgregor@entpe.fr
Antonin Fabbri | LGCB-LTDS, UMR 5513 CNRS, École Nationale de Travaux Publics de l´Etat, França | antonin.fabbri@entpe.fr
Paulina Faria | CERIS e Dep. de Engenharia Civil da Universidade NOVA de Lisboa, Portugal | paulina.faria@fct.unl.pt
V erifica-se um crescimento no in-
teresse do uso de materiais de construção
Contudo, estes benefícios dependem do clima
da região e condições interiores do edifício,
herméticas com ambiente estabilizado com so-
luções salinas. Foi ainda testada a permeabi-
amigos do ambiente, tais como o betão de dado que a exposição do material a HR alta lidade ao vapor de água de acordo com a EN
cânhamo, devido à necessidade de minimizar durante um longo período de tempo poderá ISO 12572 [8] utilizando o método da “cápsula
o impacto ambiental do sector da construção levar ao desenvolvimento de fungos. húmida”, em que as amostras de cada betão
nas mudanças climáticas [1] [2]. O betão de com 5 cm de espessura e 16 cm de diâmetro
cânhamo possui reduzida energia incorpora- foram preparadas como ilustrado na fig. 2.
da durante o processo de fabrico devido à Desenvolvimento
sua composição: elevado teor de fibras de experimental Para a definição das trocas dinâmicas entre o
cânhamo, um ligante e água que formam uma ar e a amostra e a caracterização do contri-
pasta que aglutina as fibras. O quadro 1 sintetiza as condições de produ- buto do material para o equilíbrio da HR em
ção e proporções utilizadas nas misturas das dado ambiente foi realizado o ensaio de MBV
Este material é geralmente usado na constru- três formulações em estudo, com três ligan- seguindo o protocolo Nordtest [9]. Para este
ção para enchimento de estruturas de madei- tes distintos [6]. fim, foram utilizados provetes cilíndricos com
ra, como placas de revestimento e isolamen- 16 cm de diâmetro e diferentes espessuras
to pré-fabricadas e na forma de blocos de Foram realizados ensaios em regime estacio- (5, 10 e 15 cm). Através deste ensaio obteve-
alvenaria leve [3] [4]. Devido à sua elevada nário para caracterização das amostras, como -se a valor de MBVprático calculado segundo o
capacidade higroscópica pode ser utilizado as curvas de adsorção isotérmica segundo o método Nordtest [10]. A relação entre as pro-
como regulador passivo de HR podendo trazer procedimento experimental da EN ISO 12571 [7] priedades dinâmicas e estacionárias foi obtida
vantagens a nível de economia energética, com amostras com mais de 10g, como exem- através do modelo desenvolvido no protocolo
bem como da saúde e conforto térmico dos plifica a fig. 1, expostas a seis níveis diferentes Nordtest [10], denominado MBVideal.
habitantes do espaço onde é aplicado [2] [5]. de HR (23, 43, 59, 75, 85 e 97%), em caixas
Massa volúmica a
780 700 -
fresco (kg/m3)
Produção Apiloado (no molde) Apiloado (no molde) Por projeção (no molde)
1a 2
1b
1c
120
Calco
PF70
100
NL
w(kg/m3)
80
60
40
20
-‐
0
20
40
60
80
100
HR
(%)
3
Outra informação que se pretende aferir está Contudo, este facto não é considerado um pro- 3 | Curvas de adsorsão dos
betões Calco, PF70 e NL.
relacionada com a espessura de material que blema, pois num edifício não é comum a exis-
está ativa durante os ciclos diários de moistu- tência de HR tão elevadas durante tão longos
re buffering. Esta espessura é designada por períodos de tempo.
profundidade de penetração de humidade e
pode ser avaliada através de dois modelos As curvas de adsorção dos três betões apre-
analíticos dp,1% e d1/e [11] . sentam a mesma tendência (fig. 3). Contudo, Foram feitas algumas correções nos resulta-
o Calco apresenta teor em água superior para dos experimentais do método da “cápsula hú-
HR superior a 60%. mida” [11] de modo a obter resultados consi-
Resultados e discussão derados mais realistas (quadro 2). No quadro 2
Embora os três betões caracterizados apre- observa-se que os betões PF70 e NL tiveram
No decorrer do ensaio das curvas de adsorção sentem grande histerese [6], para efeitos de comportamento semelhante, enquanto o Calco
todos os betões em estudo demoraram, apro- cálculo considerou-se unicamente a capacida- foi ligeiramente mais permeável ao vapor de
ximadamente, dois meses para estabilizar em de de retenção de humidade calculada atra- água.
cada nível de HR, exceto a 97% de HR. Para vés das curvas de adsorção para HR entre
esta HR as amostras estiveram um período 23% e 75%. Portanto, a capacidade de reten- Na fig. 4 apresentam-se os resultados de cap-
de tempo ainda mais prolongado a estabilizar, ção de humidade do Calco, PF70 e NL foi tação e libertação de humidade durante três
o que levou ao desenvolvimento de fungos, de 110.2 kg/m3, 56.5 kg/m3 e 70.3 kg/m3, dias/ciclos para as amostras de Calco, PF70
inviabilizando o equilíbrio destas amostras. respetivamente. e NL, respetivamente, com espessuras diferen-
tes (5, 10 e 15 cm). NL apresenta uma ligeira
diferença entre a amostra de 15 cm e as res-
tantes. Contudo, a diferença máxima ocorre
Quadro 2 | Valores médios de permeabilidade ao vapor de água e
factor de resistência ao vapor de água dos betões de cânhamo no último ciclo entre 15 cm e 10 cm (≈ 8%).
Nos resultados do ensaio de MBV para PF70
a máxima diferença ocorre no último ciclo e foi
13%, aproximadamente, entre 5 cm e 15 cm.
δ µ (-) Será importante observar que os resultados
obtidos para todas as espessuras ensaiadas
(kg/s.m.Pa) Valor médio Desvio padrão
de Calco obtiveram valores de captação de
Calco 3.09E-11 6.15 0.15 humidade distintos. Como se poderá observar
no quadro 3 o MBVprático obtido para o Calco
PF70 2.36E-11 8.07 0.50 foi superior em relação às restantes formula-
ções. A espessura que obteve maior MBV foi
NL 2.38E-11 7.98 0.36
a maior e este foi diminuindo com a redução
das espessuras. O quadro 3 faz o resumo dos
MBV (g/(m².%RH))
15 3.21 0.34
Calco 10 2.23 0.18
5 1.98 0.09
15 1.75 0.02
PF70 10 1.71 0.05
5 1.56 0.05
15 1.65 0.07
NL 10 1.53 0.04
5 1.60 0.07
Calco PF70 NL
PF70
15cm
130
PF70
10cm
PF70
5cm
Δm/A
(g/m²)
80
30
-‐20
160
140
NL
15cm
120
NL
10cm
100
NL
5cm
80
60
40
20
0
-‐20
-‐
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
t
(dias)
4
Argamassas para
(re)aplicação de
azulejos antigos
Um passo para a Normalização
As argamassas das fachadas As argamassas devem ser compatíveis com os O uso do cimento e
antigas e requisitos das materiais preexistentes de modo a não contri- argamassas cimentícias
argamassas de substituição buírem para a sua degradação, promoverem
a empregar nas fachadas a proteção dos elementos preexistentes e As argamassas são materiais porosos usados
contribuírem para a durabilidade do conjunto em diversos tipos de aplicação em constru-
Em finais do século XIX as argamassas usa- (Veiga, 2012; Lawrence et al, 2007). ções. O seu variado espetro de utilização faz
das para o assentamento de azulejos eram A compatibilidade neste tipo de materiais de- com que seja necessária uma boa compre-
argamassas ordinárias de cal aérea e areia, ve ser analisada segundo três aspectos: ensão do seu comportamento de modo a
geralmente com traço volumétrico ligante/ 1) Compatibilidade física; cumprir as exigências para as quais foram
agregado de 1:1 a 1:4. Em alguns casos intro- 2) Compatibilidade mecânica; definidas. O aparecimento do cimento como
duziam-se outros materiais na mistura, como 3) Compatibilidade química (Veiga, 2002). ligante levou ao seu uso repentino e excessi-
materiais pozolânicos e/ou argilosos para con- vo na maioria das vertentes da construção,
ferir uma melhor aderência dos azulejos ao As novas argamassas devem apresentar uma incluindo a conservação e a reabilitação.
suporte. A fig. 1 apresenta uma fachada azu- boa durabilidade de modo a que não sejam
lejada assente com argamassa de cal aérea. necessárias novas intervenções a curto prazo. As argamassas de cimento apresentam incom-
A premissa “durabilidade” reforça a ideia de patibilidade química e mecânica em relação
A maioria das argamassas apresenta uma boa uso de argamassas de composição semelhan- aos suportes antigos, têm uma elevada rigi-
aderência com outras argamassas, porém a te às preexistentes. De facto, a maioria das ar- dez, dão origem à libertação de sais solúveis e
aderência com a chacota do azulejo, em algu- gamassas de assentamento de azulejos che- apresentam ainda uma menor vida útil em rela-
mas situações, não é satisfatória. São, por gou em bom estado aos dias de hoje apesar ção às argamassas de cal (Botas et al, 2010).
vezes, observados pequenos nódulos de cal e do seu longo tempo de vida (em alguns casos
agregados de tamanho médio e grosso de grãos 200 anos) (Ferreira, 2008). O uso de cimento ou dos modernos cimen-
subarredondados. tos-cola na (re)aplicação de azulejos antigos
Qualquer argamassa nova usada na conser- é completamente inadequado. Para além das
O emprego de argamassas nas intervenções vação de edifícios antigos deve proporcionar consequências anteriormente apresentadas,
de conservação de edifícios antigos deve res- a reversibilidade da intervenção de modo a a sua baixa permeabilidade ao vapor de água
peitar alguns requisitos como: compatibilida- possibilitar a alteração das soluções usadas pode provocar a mudança dos percursos
de, durabilidade e reversibilidade. por diversas razões: verificação de incompa- naturais de transporte de água no interior da
tibilidades física e química posteriormente à parede. Esta mudança, conjuntamente com o
Todos estes requisitos devem ser respeita- sua aplicação, aparecimento de novas solu- transporte de sais libertados por estas arga-
dos preservando a autenticidade do edifício, ções no mercado ou, por indicação de estu- massas, pode levar a consequências gravosas
total ou parcialmente, consoante o seu valor dos científicos, descobertas soluções mais nas zonas de intervenção e zonas circundan-
histórico. adequadas. tes, degradando os próprios azulejos (fig. 2).
2 | Anomalia
provocada pelo uso
de uma argamassa de
ligante hidráulico no
assentamento de um
painel azulejar.
3 | Esquema do provete
do ensaio de aderência.
4 | Provete ensaiado.
Disposições legais para um processo não industrial para renovar de Argamassas de reaplicação
aplicação de materiais de forma adequada obras de construção oficial- de azulejos antigos
assentamento de azulejos mente protegidas como parte de determina-
do ambiente ou devido ao seu especial valor Método de ensaio da tensão de
Norma de colas para ladrilhos arquitectónico ou histórico, nos termos da aderência à tração azulejo/argamassa
EN 12004:2007+A1:2012 legislação aplicável.”
A avaliação da tensão de aderência de arga-
A Norma Europeia aplicável aos materiais de O ponto c) do artigo 5.º do documento per- massas é em geral realizada com base num
assentamento de azulejos é a EN 12004:2007+ mite enquadrar legalmente a comercializa- ensaio de pull-off. Os valores limite requeridos
A1:2012 – Colas para ladrilhos. Requisitos, ava- ção de produtos destinados à (re)aplicação em várias situações sintetizam-se no quadro 1.
liação da conformidade, classificação e desig- de azulejos antigos sem obrigatoriedade de
nação. A referida norma aplica-se a colas ci- cumprimento dos requisitos da norma EN Em ensaios já realizados (Botas et al, 2012)
mentícias, colas de dispersão e colas de resi- 12004:2007+A1:2012. Este aspeto é funda- foi adotada a norma EN 1015-12:2000 para a
na de reação para a aplicação de ladrilhos cerâ- mental, pois, como visto anteriormente, os determinação da aderência azulejo/argamas-
micos em instalações interiores e exteriores produtos de (re)aplicação de azulejos antigos sa. Os resultados não foram satisfatórios pois
nas paredes e pavimentos, não sendo, portan- não cumprem os requisitos nela definidos. o método de ensaio não se revelou eficaz pa-
to, aplicável a este tipo de produtos de (re) ra o tipo de materiais usados.
aplicação de azulejos antigos.
Placa metálica
Cola
Azulejo
Argamassa
Azulejo
Cola
Placa metálica
3 4
Revestimentos saudáveis
O papel da cal
Ana Velosa | Universidade de Aveiro, Departamento de Engenharia Civil, RISCO, Geobiotec, Portugal | avelosa@ua.pt
As medições da qualidade do ar, interior e exte- efeito de regulação superior do ambiente inte- massas de cal tradicionais com a proporção
rior, e a relação da concentração de poluentes rior. Para argamassas de cal aérea, o coefi- 1:3 é de 1,14 a 1,58 kg/m2.m0,5, superior à
com efeitos nefastos para a saúde tem sido ciente de resistência à difusão do vapor de gama de valores apresentada para argamas-
amplamente estudada (Ginja et al, 2012; Hou água (µ) é de cerca de 10, menor do que o sas de cal hidráulica (Colen e Brito, 2013).
et al, 2016). No entanto, é raro o estabeleci- valor preconizado para argamassas de cal Embora outros fatores, como por exemplo a
mento de uma relação causa-efeito em relação e cimento (µ=20) ou argamassas apenas de mudança de agregado, influenciem o com-
aos parâmetros utilizados para controle da cimento (µ entre 15 e 41) (Colen e Brito, 2013), portamento dos revestimentos, os resultados
qualidade do ar no interior dos edifícios. Alguns evidenciando a “respirabilidade” superior dos apresentados pelos vários trabalhos citados evi-
autores (Brown et al, 2015; Viegas e Prista, revestimentos com ligante aéreo. Da mesma denciam o papel relevante do ligante cal aérea
2011) procuram interligar o nível de poluentes forma, o coeficiente de capilaridade de arga- na regulação higrométrica.
no interior das habitações com os materiais de
construção utilizados (fig. 2).
Os revestimentos e as
características termo-higrométricas
Das diversas intervenções em edifícios históricos, destaca-se a realizada, em 2015, no Forte da Graça de Elvas, uma
fortificação classificada desde 2012 como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, que devido à forte
necessidade de preservação, entrou para a lista bienal do World Monuments Watch.
Saberes tradicionais,
inovação e Património
À conversa com Maria do Rosário Veiga
Entrevista | Regis Barbosa, Indira Leão
“
“brainstorming” sobre o tema, que é algo que
me interessa muito em congressos. Fizemos
um esforço para atrair empresas, quer como
patrocinadoras quer como participantes, e fo-
mos bastante bem-sucedidos nesse esforço,
pelo que foi possível contribuir para alargar a
No caso específico da cal, notamos que o
informação das empresas e a sua capacidade factor humano é absolutamente determinante.
de participar com as suas competências pró-
prias neste mercado. Contribuiu também para Há argamassas antigas com uma elevada
mostrar à comunidade ibero-americana o que
se faz em Portugal nesta área, quer na ciência, resistência que, mesmo hoje, são difíceis de
quer nas empresas, e consideramos os resul-
tados muito positivos. obter. Daí ressalta a necessidade de uma
O Fórum Ibérico da Cal constituiu-se, em Es-
grande atenção na aplicação e execução, algo
panha, por iniciativa de empresários e cien-
tistas, precisamente com estes objectivos,
de divulgação e valorização da Cal e foi dos
“
que tradicionalmente existia.
espanhóis a iniciativa de o alargar a Portugal,
que de resto pela designação (ibérico) faria à
partida todo o sentido ser incluído. Tem havido
contactos com Fóruns da Cal de outros países
e conjuntos de países (Reino Unido, Itália, Paí-
ses Nórdicos, etc.) e iniciou-se um processo
de estabelecimento de ligações, para reforçar
as capacidades.
2 3 4
“
Notamos que em determinadas situações estudo e divulgação das técnicas tradicionais
os materiais tradicionais apresentam van- da cal. Vamos colaborando noutras acções
tagens face aos materiais industrializados. com o mesmo sentido. Além disso, vamos sa-
Há alguma superioridade dos materiais bendo de outras iniciativas em determinados
tradicionais face aos materiais sintéticos Há um desinteresse locais com o intuito de preservar os conheci-
utilizados actualmente na construção? mentos tradicionais sobre a cal e também so-
dos mais jovens em bre a arquitectura em terra. Existe, portanto,
Não podemos ser demasiado radicais nes- um ressurgimento do interesse, que contraria
tas leituras, alguns materiais têm certas van- aprender estas técnicas, a tendência ao esquecimento.
tagens, outros terão outras. Se falarmos de
impermeabilizações, conseguimos resultados pois investem em outros Sabemos que a cal é um material com uma
muito bons com os materiais actuais. No en-
tanto, temos que ver se, ao aplicarmos estes
conhecimentos que longa tradição, basta pensarmos nas ca-
sas caiadas alentejanas. Aliás, o uso da cal
materiais no edifício, não estaremos a criar eventualmente poderão remete para um passado milenar, o que é
desvantagens ao nível de outros aspectos, atestado por vestígios arqueológicos do
como por exemplo falta de higroscopicidade,
isto é, não absorverem a humidade do ar, sob
a forma de vapor. Quando falamos em edifí-
“
dar-lhes mais vantagens. período romano. Mas, a cal também pode
ser vista como um material inovador?
cios antigos e ao trocarmos certos materiais Sim, é verdade, mas quando se fala nas ca-
por outros, precisamos de ter em atenção o sas caiadas alentejanas como exemplo do
comportamento global. Se não deixarmos en- uso da cal, gosto sempre de lembrar que a cal
trar água, mas também não deixarmos sair a não é só um acabamento, é também o ma-
água que existe já no interior das paredes ou Havendo, portanto, um conhecimento em- terial base das argamassas que constituem
a que é gerada no interior dos espaços, aí já pírico e tradicional responsável pela gran- as alvenarias dos edifícios antigos. Ou seja,
não estaremos a ser eficientes. É necessário de qualidade e durabilidade do Património faz parte da estrutura dos edifícios e estará lá
compreender o comportamento físico global construído, este conhecimento está a per- enquanto eles existirem, mesmo que as caia-
do edifício e das soluções usadas e intervir der-se? ções desapareçam!
com base nesse conhecimento, respeitando o
existente. É a isso que chamamos “interven- Pode perder-se, aliás existem grandes pos- Actualmente, a cal faz parte de muitos pro-
ções compatíveis”. Os materiais tradicionais sibilidades de se perder. Isto porque não tem dutos inovadores. Alguns deles são produtos
foram produzidos e aplicados, de modo geral, havido uma passagem dos conhecimentos especialmente vocacionados para tratamento
com um grande conhecimento empírico. No dos mestres, pertencentes a uma geração de edifícios antigos. Por exemplo as nanocais
caso específico da cal, notamos que o factor mais velha, para as gerações mais novas. Há (produtos nanoestruturados com base em
humano é absolutamente determinante. Há um desinteresse dos mais jovens em apren- hidróxido de cálcio), para consolidação de
argamassas antigas com uma elevada resis- der estas técnicas, pois investem em outros rebocos, pinturas murais e outros sistemas
tência que, mesmo hoje, são difíceis de obter. conhecimentos que eventualmente poderão carbonatados; ou as argamassas líquidas in-
Daí ressalta a necessidade de uma grande dar-lhes mais vantagens. Em termos institu- jectáveis (“grouts”) com base em cal e aditi-
atenção na aplicação e execução, algo que cionais temos um protocolo com a Câmara vos, para restituição da aderência. Outros são
tradicionalmente existia. Municipal de Beja, que visa o levantamento, novos produtos para a construção actual, ou
“
... a cal não é só um acabamento, é
também o material base das argamassas
que constituem as alvenarias dos edifícios
antigos. Ou seja, faz parte da estrutura dos
edifícios e estará lá enquanto eles existirem,
mesmo que as caiações desapareçam!
“
2 | Sala de ensaios do Núcleo de para a reabilitação de edifícios recentes, que do tempo, vai lentamente voltando à composi-
Revestimentos e Isolamentos do LNEC. aproveitam as vantagens da cal e reduzem os ção original, ou seja, carbonato de cálcio. Por-
3 e 4 | Vista geral da nave do Núcleo de seus aspectos menos favoráveis através de tanto, temos um exemplo de material que, se
Revestimentos e Isolamentos do LNEC.
adjuvantes ou de misturas com outros ma- quisermos e se montarmos um sistema que o
5 | Amostras de argamassas antigas em ensaio.
teriais. Por exemplo existem actualmente ar- permita, seria totalmente reciclável, favorecen-
6 | Provetes de azulejos antigos
gamassas de isolamento térmico de cal com do a regeneração e reaplicação sem produção
preparados para ensaio.
agregados isolantes e camadas de base de de resíduos. Infelizmente, não aproveitamos
7 | Testes de revestimento de cal.
argamassa de cal aditivada para sistemas de muito este potencial… Mas é claro que todo
isolamento térmico pelo exterior. esse ciclo produz impactos, nomeadamente
a nível energético: é sempre preciso calcinar.
Do ponto de vista ambiental a exploração No entanto, se pensarmos que o ligante que
do calcário, assim como qualquer activida- usamos actualmente em substituição da cal é
de mineradora, gera impactos que, por ve- o cimento, verificamos que o cimento também
zes, podem ser bastante consideráveis. No é produzido a partir da calcinação de misturas
entanto, como pode a cal ser um material de calcário e argila e a temperaturas muito su-
amigo do ambiente? periores. De facto, a cal aérea é produzida a
cerca de 900 ºC enquanto que o cimento exige
A cal tem um ciclo completo, em que é extraí- temperaturas de cerca de 1400 ºC. Portanto,
da a sua matéria-prima (a rocha calcária), cal- temos algumas vantagens energéticas! Outra
cinada, apagada, aplicada e depois, ao longo questão é que o endurecimento da argamassa
“
A investigação científica na área da
cal precisa de dialogar com os saberes
tradicionais e de entender a sua linguagem,
porque muitas vezes estes têm a chave para
problemas que a ciência ainda não conseguiu
resolver, embora não saiba explicar porquê.
“
de cal após aplicação se dá com fixação do marcados por uma grande separação. No 8 | Estação de Envelhecimento
dióxido de carbono do ar, portanto gastando caso da cal esta barreira existe? A inves- Natural de Revestimentos de
Paredes do LNEC.
um componente do ar que contribui para o tigação científica de ponta ganha algo em
9 | Painéis de revestimento
efeito de estufa e favorecendo um bom am- dialogar com os saberes tradicionais? azulejados e envelhecimento
biente. No entanto, é claro que durante a cal- natural.
cinação há libertação desse mesmo gás. Ou Sim, a barreira existe, as linguagens são dife- 10 | Células exteriores para
seja, podemos considerar a cal um material rentes, e é importante que seja ultrapassada ensaio de sistemas de
isolamento térmico.
amigo do ambiente, mas sempre de uma for- porque o diálogo tem grandes vantagens para
ma relativa e não absoluta, por comparação ambos os lados. A investigação científica na
com outros materiais. área da cal precisa de dialogar com os sabe-
res tradicionais e de entender a sua linguagem,
Por vezes a investigação científica e o uso porque muitas vezes estes têm a chave para
de técnicas tradicionais pelas populações problemas que a ciência ainda não conseguiu
em geral constituem mundos estanques, resolver, embora não saiba explicar porquê.
8 9
Por exemplo, como era possível ter uma boa Estes produtos novos desenvolvidos a par- mos esta visão. Há todo este esforço, mas
impermeabilização dos edifícios usando um tir de técnicas tradicionais são aplicados sentimos que não é suficiente. Às vezes sinto
material poroso como a cal? Isso tem a ver também de modo tradicional? que falamos para quem já está, pelo menos
com o modo como era aplicada e, também parcialmente, convencido. Há algumas pes-
em alguns casos, com determinadas misturas Por exemplo as nanocais são produzidas por soas que pensam desta maneira, mas há
usadas. Por outro lado, porque a investigação síntese e não por calcinação como as cais outras que procuram uma abordagem mais
precisa de se manter ligada à realidade para tradicionais, e são aplicadas para consolida- pragmática, não voltada para a inovação.
ser útil, precisa de saber o que precisa de re- ção e não para construção. Esta aplicação
solver, quais são as questões a estudar, e as é adequada a estes produtos e actividades. Ainda no que concerne à inovação, o cru-
populações, os utilizadores, são determinan- Mas se pensarmos em produtos feitos com zamento de conhecimentos de áreas di-
tes para identificar essas questões. base em cal mas com aditivos para terem, por ferentes parece ser fundamental. A inter-
exemplo, um endurecimento mais rápido ou disciplinaridade é uma constante aqui no
É possível coadunar as necessidades e o para serem mais impermeáveis, aí é preciso LNEC, correto?
ritmo do sector da construção civil às téc- algum cuidado com estas modificações, pois
nicas tradicionais? Ou temos campos mais podem gerar a perda de algumas das vanta- De certa forma temos a vantagem de já con-
ou menos separados? gens originais. Entretanto, há alguns produtos tarmos, nesta casa, com alguma interdiscipli-
inovadores que não têm as perdas que referi naridade e de estarmos muito habituados a
Acho que são enquadramentos diferentes, e que podem estar adaptados às formas de trabalhar em conjunto com pessoas de várias
não vejo a aplicação destas técnicas tradicio- execução actuais. áreas disciplinares. Temos no LNEC pessoas
nais na grande indústria da construção civil, de áreas como a engenharia civil, a química,
mas vejo, sim, uma aplicação na conserva- Neste sentido, julga que há uma aplicação a geologia e as ciências sociais. Independen-
ção do Património construído, tanto do mo- na indústria da construção civil do que é temente disto, temos parcerias com outras
numental como do vernacular. Não quero di- investigado aqui no LNEC? instituições, nacionais e internacionais. Há
zer que não se possa ganhar vantagens com ainda outras áreas específicas com as quais
o conhecimento destas técnicas e materiais Essa é uma questão crucial, esforçamo-nos necessitamos estabelecer parcerias, nomea-
tradicionais, mesmo a grande indústria pode imenso para fazer com que isso aconteça. damente com instituições da área da saúde.
ganhar vantagens que se perderam ao longo Por exemplo, no meu caso todos os meses Podemos concluir, sem dúvida, que a vontade
do tempo, no entanto falamos da aplicação falo duas ou três vezes para o público, os é fundamental para podermos avançar nesta
de alguns aspectos dos saberes tradicionais. meus colegas também o fazem. Procuramos investigação multidisciplinar, isto facilita mui-
Alias há inovação no âmbito destas técnicas sensibilizar as pessoas para estas questões, to, pelo que o facto de um parceiro estar em
de origem tradicionais. e ao elaborarmos pareceres também passa- outra instituição pode não ser uma barreira.
10
Cal y
Arquitectura Vernácula
María del Mar Barbero Barrera | Dr.ª Arquitecta, Profesora Ayudante Doctor, Escuela Técnica Superior de Arquitectura,
Universidad Politécnica de Madrid | mar.barbero@upm.es
escasos los estudios realizados sobre los paralicen esta circunstancia. Al mismo tiempo,
el resurgimiento del interés por la arquitectura
materiales empleados en las mismas. vernácula así como su conocimiento y difusión
para su valorización (Ramos & Vela, 2012) ha
En este artículo se plantea una reflexión del permitido que se inicie un debate imprescindi-
uso de la cal en la arquitectura vernácula, ble sobre los criterios de mantenimiento y con-
servación para su adaptación a las nuevas ne-
analizándose distintos ejemplos de la cesidades y requerimientos técnicos y funcio-
nales que aseguren su continuidad en el tiempo
geografía española y el carácter que dicho (Barbero, Gil & Maldonado, 2014). Basándonos
material ha impreso en ellos. en esta premisa, el artículo analiza y reflexiona
el uso de la cal en la arquitectura vernácula es-
pañola, especialmente en revestimientos.
El uso de la cal en la
arquitectura vernácula
El uso de la cal en la arquitectura vernácula de-
pende no sólo de la función asignada al mismo
sino también del tipo de soporte de que se
disponga. En general, la cal se empleaba tanto
en morteros de junta y de rejuntado donde la
resistencia y la durabilidad de la fábrica queda-
ba definida por las características del mortero
empleado y su compatibilidad con el material
que “unía” [Fontenay, 1858). No obstante, su
principal aplicación fue en morteros de revesti-
miento (Fontenay, 1858), cuya función era la de 2
proteger al soporte (Robador...), comportándo-
se como elemento de sacrificio que había de 3
ser renovado periódicamente. Al mismo tiem-
po, dicho revestimiento proporcionaba la es-
tética deseada y mejoraba el comportamiento
térmico del sistema constructivo en el que se
inscribía, como ha sido comprobado por Lu-
xan et al (2014).
para generar dos planos distintos, jugando no parte, modificando las políticas de actuación BIBLIOGRAFÍA
sólo con la diferencia de texturas sino también hacia unas que tengan contacto directo con los Barbero-Barrera, M. M. (2012). Mejora del comporta-
miento térmico de los morteros de cal aditivados y su
con el color, el relieve y contraste de luces y usuarios y contratistas locales, formando espe-
empleo en la rehabilitación de inmuebles. Madrid, UPM.
sombras. Finalmente, en el de tres tendidos se cialistas conocedores y sensibles con los ma-
Barbero-Barrera, M. M.; Gil-Crespo, I. J.; Maldona-
incorpora una capa intermedia, del mismo co- teriales y técnicas tradicionales, y aportando do-Ramos, L. (2014). Historical development and envi-
lor que el primer tendido, que evita la mezcla ayudas económicas que incentiven su implan- ronment adaptation of the traditional cave-dwellings in
Tajuna’s valley, Madrid, Spain. Build & Environ 82, p.
de los colores de las dos capas. En todos los tación, dado que este tipo de patrimonio se en- 536-545.
casos, los motivos decorativos son común- cuentra en manos de propietarios individuales. Castelli, M. (1944). Construcciones Rurales de M. Gimé-
mente de tipo geométrico y son frecuentes los nez. Barcelona, Gustavo Gili.
trazados libres, esto es, sin plantilla de base. Fontenay, M. de (1858). Construcciones rústicas o guía
Conclusiones para los habitantes del campo y los operarios en las
construcciones rurales. Madrid, Calleja, López y Riva-
A pesar de la importancia de los revestimientos denevra Ed.
aún, hoy en día, sigue siendo un elemento am- La arquitectura vernácula es el máximo ex- Guinea, M. J. (1990). Consolidación, mejora y nuevas
pliamente infravalorado. En la última década, ponente de adaptación a los condicionantes técnicas de construcción con tierra. Jornadas de restau-
ración. Madrid, Ministerio de Cultura, p.135-141
un gran número de construcciones han sufrido sociales, económicos, culturales y ambienta-
Luxán García de Diego, M.; Gómez Muñoz, G.; Román,
la pérdida de este rico elemento del patrimo- les. La cal fue uno de los materiales más im- E.; Barbero-Barrera, M. M. (2014). Consecuencias cons-
nio vernáculo tanto de la mano de propietarios portantes en las construcciones vernáculas, tructivas y energéticas de una mala práctica. Arquitec-
siendo su uso más destacable el destinado a turas desolladas. Madrid, Congreso Internacional de
como de profesionales (Guinea, 1990), incen-
Eficiencia Energética y Edificación Histórica.
tivados, en ocasiones, por las propias munici- los revestimientos que abarcan desde las le-
Maldonado Ramos, L.; Vela Cossío, F. (2012). Declara-
palidades. Entre las razones que promueven chadas de cal hasta los enlucidos, revocos y ción de Boceguillas: principios para el estudio, la pro-
dicha destrucción se encuentran la defensa de esgrafiados. tección y la conservación de la arquitectura tradicional.
Buenos Aires, Nobuko.
lo “auténtico” y de lo “rústico”, con una actitud
Robador Gonzalez, M. D.; Gonçalves Silva Braga, A. M.
romántica y destructiva del mundo rural. A esta La fragilidad de este tipo de construcciones (2006). Tierra y Cal. Jornadas Sobre Investigación en Ar-
práctica que, desgraciadamente, está muy ex- vernáculas dependientes de la pérdida, en al- quitectura y Urbanismo. Iau 06. Sant Cugat del Vallés.
tendida en nuestra geografía, hay que añadir la gunos casos, irreversible de los materiales y 2006.
ya iniciada en los años 60, de revestir los so- técnicas constructivas tradicionales, exige la Ruiz Alonso, R. (1992). El esgrafiado en Segovia. Ma-
drid, UCM.
portes tradicionales con mortero de cemento. adopción de medidas urgentes. La importan-
cia de tal circunstancia exige que la adminis-
En este sentido, el conocimiento sobre el com- tración aplique su papel de tutela y protección
portamiento y las actuaciones requeridas para favoreciendo, no sólo la recuperación del sa-
la conservación y el mantenimiento de la arqui- ber hacer, sino, también, formando a profesio-
tectura vernácula, lamentablemente, no suele nales sensibles con este tipo de construccio-
llegar a los usuarios últimos. Desde una pers- nes y aportando soluciones que permitan la
pectiva actual, la administración debe respon- adaptación a las necesidades y usos actuales
sabilizarse de este tipo de patrimonio, por una de la sociedad.
Artes da cal
Uso e tradição
Fátima de Llera | In Situ, Lda. | fatimallera@insitu.pt
Abílio Guerra | Maxical, Lda. | abilio@maxical.pt
Martha Tavares | In Situ, Lda. | martha.insitu@gmail.com
A produção sendo para isso necessário que o núcleo fami- Viseu, chegando o produto a grandes obras
liar de produção se mantivesse semanas a fio como o Santuário Nossa Senhora de Fátima,
Em Portugal, os fornos de cal estavam pre- junto ao forno. o Palácio da Justiça e Comércio de Lisboa e
sentes por todo o país, sempre que existisse o Casino Figueira da Foz, entre outras.
uma bolsa de pedra calcária, calcário margoso Já nos finais dos anos 70 apareceram os
ou dolomítico à superfície e a lenha e o mato primeiros fornos edificados em tijolo refra- A produção de cal na família Maxical, natural
necessários para o fogo da cozedura. A cal tário, denominado na altura “tijolo de burro”, da Maxieira, Fátima, remonta aos anos 30.
era produzida localmente para a construção, sendo notória uma evolução significativa na A empresa familiar, com quase 90 anos a
diferenciando a cal de obra da cal para acaba- produção. Foi possível produzir várias forna- produzir cal em processos pouco mecani-
mentos. Os meios de transporte eram escas- das sem haver necessidade de reconstruir as zados, ainda mantém a sua produção em
sos e os processos de produção rudimenta- paredes. Isto permitiu fixar o forno a um local, fornos artesanais, apostando na diferencia-
res. Os fornos eram poços de área reduzida dando início a uma mecanização do processo ção pela qualidade do produto, com um
com formato cilíndrico e paredes construídas com a introdução de tratores e pequenos comportamento estável e ótimo envelheci-
pela própria pedra a calcinar, erguendo-se camiões para o transporte de pedra e madei- mento, diferenciando-se de outras cales pro-
numa abóboda, onde, no seu interior, se intro- ra deixando a produção de ser feita junta à duzidas industrialmente em fornos contínuos.
duzia a lenha e o mato para a cozedura, que matéria-prima. Durante anos, a produção de Atualmente, a pedra calcária de elevado grau
se prolongava durante semanas consecutivas cal foi uma atividade de elevada importância de pureza e abundante na região de Fátima,
até à desidratação da pedra estar concluída. O local devido à quantidade de mão-de-obra permite que esta seja selecionada criteriosa-
mestre forneiro nunca abandonava a boca do necessária para todo o processo, levando mente na origem, ou seja, nas pedreiras. A
forno, garantindo, assim, que o fogo não amai- também o nome da região de produção calcinação em forno artesanal prolonga-se
nava para não haver variação no processo de a diversos destinos do país como Lisboa, durante 4 a 5 dias consecutivos, utilizando
cozedura. A alimentação do fogo era contínua, Figueira da Foz, Guarda, Castelo Branco e combustíveis ecológicos (serradura e pó de
Esmaecimento da cor e lacunas na Reintegração pictórica com cal e pigmento (pintura mural interior e
camada pictórica exterior)
cortiça) que dão origem a uma cal viva de num curto espaço de tempo. No entanto, também estéticas e históricas, formando um
grande qualidade. Após a calcinação, a cal selecionam-se barricas de 120 litros que documento de identidade das tecnologias e
é retirada do forno e encaminhada para ficarão em repouso (maturação) de 1 a 4 anos materiais. Os revestimentos de cal são utiliza-
os processos de transformação e seleção. de forma a obter uma cal aérea em pasta dos nas camadas de regularização (emboço,
Uma parte é embalada em pedra, destinada envelhecida de grande qualidade, utilizada reboco e esboço) ou de acabamento liso
principalmente aos caiadores do Alentejo para pintura a cal ou trabalhos de conser- ou decorativo (barramento, stuccos, pintura
e Algarve, outra passará pelo processo de vação de frescos. Tendo em conta que este mural, fingido, esgrafito), tanto pelo interior
moagem, para micronizar e embalar com processo de maturação origina a decantação, como pelo exterior do edifício. A aplicação
destino às obras, e outra será transformada ou seja, a libertação da água existente na cal, da cal estende-se ao restauro das superfícies
em pasta, segundo o processo de imersão, produz-se água de cal que é comercializada pétreas, pictóricas e azulejares, sendo ainda
utilizada pelo mercado da conservação e e utilizada para processos de consolidação. um material fundamental na arquitetura verna-
restauro e, cada vez mais, para a reabilitação. cular para a conservação das casas tradicio-
A pasta “ainda quente” é passada por uma A conservação de nais de taipa e adobe onde, devido à permea-
malha fina que retira as pederneiras (nós de revestimentos antigos em cal bilidade da cal, se torna o material ideal para
pedra não cozida ou mal apagada), repousa e o revestimento destas paredes.
arrefece totalmente para depois ser embala- Os revestimentos antigos na sua grande maio-
da em barricas. Por ser de mais baixo custo, ria tinham como principal ligante a cal aérea, Os revestimentos com o tempo sofrem agres-
a maioria da cal é comercializada e aplicada não apenas devido a questões técnicas, como sões externas e a falta de manutenção conduz
4 5
à aceleração do envelhecimento natural e à Artes da cal – salvaguarda da produção dos antigos fornos de cal em
sua degradação. Removê-los e substituí-los e valorização Portugal, nomeadamente o saber-técnico tra-
por outros, ainda que semelhantes, é perder dicional dos caleiros, sendo crucial sensibilizar
esses testemunhos, por vezes raros, de técni- Em Portugal, até meados do século XX, foi a opinião pública sobre o valor da produção
cas antigas. Nesse sentido, opta-se cada vez utilizada a cal como principal ligante, contra- artesanal da cal e, em especial, valorizar o uso
mais por conservar os revestimentos antigos riando a tradição oral em pronunciar que todos da cal para a conservação e restauro dos edi-
de cal através da aplicação das técnicas os revestimentos de finais do século XIX e XX fícios antigos e para a construção sustentável.
da conservação e do restauro, garantindo a eram constituídos por cimento. São inúme-
compatibilidade entre os materiais novos e os ros os edifícios portugueses que conservam A imagem poética de muitas cidades portu-
antigos conforme as orientações das diversas as suas paredes cobertas por revestimentos guesas está associada à cal: uma tradição
Cartas Internacionais do Património. A esco- em cal lamentando que, grande parte des- que marca a arquitetura de forma singular e
lha do tipo de cal é muito importante para a ses acabamentos, mesmo que estando em caracteriza a identidade e a paisagem locais;
qualidade final de um revestimento, nomea- bom estado de conservação, sejam removidos simples texturas conferidas pela aplicação de
damente; cal aérea cálcica (CaCo3) no formato indiscriminadamente devido à falta de conhe- sucessivas camadas de cal transmitem ao
cal viva em pedra ou micronizada, cal apagada cimento de alguns técnicos que intervém no edifício mais singelo uma riqueza impossível
em pasta ou cal hidratada; cal dolomítica património sobre os materiais, as técnicas de obter com outros materiais. A cal faz parte
(MgCO3) em pedra (viva) ou em pó (hidratada); de construção e as metodologias para a sua do nosso património material e imaterial. Para
cal hidráulica natural NHL2, NHL3,5, NHL5. A conservação e recuperação. Nesse sentido, a preservar essa arte milenar teremos de conti-
cal em pasta apresenta excelentes resultados conservação dos edifícios antigos deve passar nuar focados na valorização e reconhecimento
a longo prazo pois tem a vantagem de ser pela compreensão, valorização e recuperação dos produtos da cal produzidos artesanalmen-
um ligante que não perde qualidade com o dos materiais e das técnicas tradicionais. te pois, para além de serem parte integrante
armazenamento (comparativamente com a da nossa cultura, são elementos diferencia-
cal aérea em pó hidratada) dado que a pre- A cal, paulatinamente, retoma a importância dores, ecológicos e únicos que tornam a cal
sença da água (H20) impede o processo de que conheceu nos primórdios da civilização, polivalente e dificilmente igualável.
carbonatação com o ar (O2). No entanto, a notando-se incentivos às ações de restauro
escolha do tipo de cal dependerá da tipologia pela preservação da arquitetura de cal e a
BIBLIOGRAFIA
do revestimento, do seu estado de conserva- sua utilização devido à compatibilidade, físi-
Tavares, M. (2011). A conservação e o restauro de
ção e da sua localização. Para se garantir um ca, química e estética com os revestimentos
revestimentos exteriores de edifícios antigos – uma
bom resultado nas obras realizadas com cal é originais e ainda devido ao seu forte potencial metodologia de estudo e reparação. Teses e Programas
recomendável o recurso a artífices experientes ecológico e desenvolvimento sustentável. Não de Investigação, TPI 67, LNEC, Lisboa, ISBN 978-972-
49-2220-1.
nas artes da cal. As diferentes fontes de cal, os obstante, muito ainda necessita ser feito para
Margalha, M.; Goreti L. B. (1997). O uso da cal em arga-
processos de hidratação, mistura, técnica de a preservação dessa prática tradicional que massas no Alentejo, Mestrado em Recuperação do Pa-
aplicação, espessura de camadas e tempos está a desaparecer rapidamente no nosso trimónio Arquitetónico e Paisagístico, Universidade de
de espera irão influir no resultado final da obra. país. Urge criar incentivos para a permanência Évora, Évora.
4 | Recuperação da Igreja do
Santíssimo Sacramento, Lisboa.
5 | Recuperação do Jardim do Paço
Episcopal, Castelo Branco.
6 | Tanque dos Frades, Jardim do
Palácio da Pena.
8 | Capela de São Bento, Jardim
Botânico de Coimbra.
9 | Capela de N.ª Sr.ª da Conceição
no Horto do Paço dos Henriques,
Alcáçovas.
7 | Vista de uma das alas do Reduto
Central do Forte de N.ª Sr.ª da
Graça, Elvas.
9
Alguns donos de fornos de cal, depois desta D. Sebastião e estabelece o modo como se Como outros meios de produção no Antigo
produzida, não a vendiam logo motivando deviam hierarquizar as fases em que se dividia Regime, a exploração de pedreiras e fornos
reclamação dos compradores. Isso acontecia a vida profissional: aprendiz, obreiro, oficial de cozer cal estava abrangida por contrato de
em Lisboa, pelo que em 5 de Julho de 1468, examinado e mestre (CRUZ, 1981-I, p. 164). arrendamento dos terrenos onde se situavam,
os almotacés da cidade ordenaram aos donos obrigando ao pagamento de prestações de
desses fornos que a vendessem imediatamen- A idade mínima para admissão de um apren- acordo com o que se produzia. Aconteciam,
te após a cozedura quer à saída do forno ou já diz era de 14 anos e tinha de estar inscrito por vezes, casos de exigências dos senhorios
carregada em moios, pois caso não o fizessem no livro de matrícula do mestre e completar ultrapassando o que estava convencionado.
ficavam com a cal penhorada (AML-AH, CC, quatro, cinco ou seis anos de aprendizagem
LPA, doc. 68). (Idem, ibidem). Em 29 de Outubro de 1711 e 23 de Outubro
de 1714, José da Costa, Manuel Luís, Manuel
Ameaçados de pesadas sanções municipais, A passagem a oficial exigia a realização de Ferreira, João Simões e João Gonçalves,
os produtores da cal recorriam por vezes ao um exame, e se ficasse aprovado, recebia a proprietários de fornos e fabricantes de cal,
Rei como fizeram os caeiros e telheiros de carta de examinação reconhecendo-lhe a com- enviam petições ao Senado queixando-se
Lisboa, pedindo a intervenção de D. Manuel I petência para o exercício do ofício. Contudo, da alteração do pagamento da pensão das
para lhes valer, pois tinham sido vítimas de tinha de servir mais algum tempo como obrei- cozeduras da cal, por ordem do rendeiro da
pesada pena imposta pela Câmara de Lisboa. ro para compensar o mestre do ensino minis- Maçaria (AML-AH, CR,DJV. 87-97).
trado e para adquirir maior prática no ofício
O Rei Venturoso, em 18 de Julho de 1499, or- (Idem-IV, p. 432). O terramoto de Lisboa e a necessidade de
dena a suspensão da pena aplicada pela Câ- reconstruir a cidade induziu a construção de
mara de Lisboa aos caeiros e telheiros, man- Além disso, o oficial examinado só poderia mais fornos de cal e o aumento da laboração
dando-a substituir por multa pecuniária (AML- dedicar-se à profissão depois de estar ins- dos existentes.
-AH, CR, LDM, 40). crito na respectiva corporação. Ascenderia a
mestre com a aprovação no exame de maes- Em 3 de Novembro de 1756, Sebastião José
Cristóvão Rodrigues de Oliveira, em 1554 pu- tria podendo então dirigir uma loja ou oficina. Carvalho e Melo, a requerimento de Guilherme
blica o seu Svmmario inventariando os Ofícios Eram-lhe também concedidos direitos políti- Stephens, concede-lhe a faculdade de fabricar
Mecânicos existentes em Lisboa. À categoria cos e ser eleito para representar o seu ofício cal de pedra de Alcântara, pelo prazo de
Pedreiro, a mais representativa, pois tinha 291 na Casa dos Vinte e Quatro e mesmo ascen- quinze anos durante o qual nenhuma pessoa
trabalhadores, seguiam-se outros mesteres: 24 der à representação junto das câmaras dos nacional, ou estrangeiro, poderá mandar vir
taipeiros, 4 calceteiros, 206 oleiros, 16 telheiros, concelhos (Idem-IV, p. 432). de fora o material, de que o supplicante se
20 tijoleiros, 32 ladrilhadores, 20 cabouqueiros, pretende servir para cozer a cal, ou mandá-la
24 coveiros e 13 caeiros (OLIVEIRA, 1554). Em 1661, no rescaldo dos motins contra o vir de fora fabricada sob pena de perdimento
papel selado, a Casa dos Vinte e Quatro é do material, ou da cal, que for introduzida, a
De 1569 a 1572, Duarte Nunes de Leão execu- extinta, mas sete anos depois é restaurada favor do supplicante ficando contudo livre aos
ta a reforma dos Regimentos a mando do Rei (Idem-IV, p. 516). Vassallos de V. Majestade, que actualmente
3 | Preto caiador e
vendedora de tremoços10.
Vila Real
O processo de confecção da louça preta de Bisalhães
João Ribeiro da Silva | Coordenador técnico da candidatura, Câmara Municipal de Vila Real | joaorsilva@cm-vilareal.pt
3 | Mulher a decorar a louça. de outras regiões para a tarefa de construção via a quase totalidade do tráfego rodoviário
© Paulo Araújo (2015). dos muros, socalcos e plantação das vinhas desviou-se da antiga estrada, afastando os
4 | Desenfornar as peças. que caracterizam a mais antiga região vinha- clientes da louça preta. Os postos de venda
© Duarte Carvalho (anos 90). teira demarcada do mundo. construídos pela Câmara Municipal de Vila Re-
al, à entrada norte da cidade, foram a solução
A actividade de confecção do barro no cen- encontrada e que se mantém até hoje.
tro olárico do termo de Vila Real persistiu ao
longo do século XIX e primeira metade do
século XX, ainda que gradualmente se tenha O processo de confecção
vindo a restringir à localidade de Bisalhães. da louça preta de bisalhães
Desde o último quartel do século XIX há re- De facto, e ao contrário do que muitos pos-
louça aí produzida. Não obstante, estes da- gistos fotográficos que mostram a estreita liga- sam pensar, não foi a loiça preta em si – ou
dos necessitam de investigação e análises ção entre a celebração do São Pedro e a louça seja, as peças, os objectos – que foi classifi-
posteriores que confirmem esta relação. de Bisalhães. Aliás, não é por acaso que à fes- cada: foi, isso sim, o processo de confecção,
tividade se chama, não poucas vezes, a Feira isto é, o conhecimento (imaterial) que é posto
O estudo das fontes documentais permite dos Pucarinhos. em prática nas várias fases necessárias à
dar conta do significativo número de oleiros confecção de uma peça de barro, desde o
em actividade em Mondrões e Lordelo. Um Ao longo do século XX os oleiros foram pau- tratamento da matéria-prima à cozedura dos
inquérito paroquial, datado de 1706, dá conta latinamente abandonando as feiras (excepto a objectos. Esse património é transmitido oral-
da muita louça que se produzia em Lordelo. A de S. Pedro, no centro de Vila Real) e a venda mente, de pessoa para pessoa, normalmente
“Relação de Vila Real e seu termo”, de 1721, pelas aldeias do Alto Douro, fixando postos de de pai para filho ou de avô para neto, e mesmo
refere a produção e comercialização de louça confecção e venda na Estrada Nacional 15, que dentro da comunidade local (no que concerne
na freguesia de Mondrões. liga o Porto a Vila Real, e que era a principal via às tarefas mais comuns, menos específicas).
rodoviária da região. Com o incremento do trá-
Em 1890 refere-se, num Inquérito Industrial, a fego rodoviário e a chegada de mais forasteiros Se actualmente os oleiros vão buscar a maté-
existência de cinquenta oficinas de olaria, ca- à região, estes pontos de venda localizados na ria-prima a Chaves (onde, até há bem pouco
da uma com o seu forno. Ainda que nem todas estrada, nas proximidades de Vila Real torna- tempo, era também característica a louça pre-
laborassem todo o ano, metade fazia-o. ram-se numa imagem turística disseminada ta de Vilar de Nantes, agora praticamente de-
em cartazes e postais alusivos a este território. saparecida), até há 20 ou 30 anos o barro
A criação da Região Demarcada do Douro era retirado nas proximidades de Bisalhães,
pelo Marquês de Pombal, em 1756, deu um No início dos anos 90 do século XX, com a nomeadamente em barreiras (ainda hoje) exis-
considerável impulso à produção e comér- construção e abertura ao público do Itinerário tentes em Parada de Cunhos. Era um pro-
cio do centro olárico do termo de Vila Real, Principal (IP4), que se constituiu como alterna- cesso muito duro, trabalhoso, que não raras
devido à necessidade de suprimir as neces- tiva à velha Estrada Nacional 15, o processo vezes fazia vítimas mortais, soterradas nos
sidades da enorme quantidade de pessoas de venda da olaria de Bisalhães sofreu outra túneis ou galerias que escavavam à procura
que afluíram à região do Douro provenientes alteração substancial. Com a abertura da nova dos melhores veios.
Depois de transportado o barro para a oficina palmente quando são conseguidos por acres- de mais giestas e carqueja no topo da louça
de cada oleiro, guarda-se no “caleiro”, sepa- cento de barro – os “verdugos” das talhas, cozida, para avivar o lume, iniciando logo de
rando-se o barro mais forte do mais fino, a por exemplo, cintas ou cordões que também seguida a lançar terra negra (de outras coze-
utilizar consoante o tipo de peças a realizar. ajudam a proteger, e os “bicos”, pequenos duras anteriores) por cima de tudo, dando con-
Vai depois para o “pio”, onde é picado (esma- cones de barro colocados aos pares nos bor- tinuidade à cozedura (pois o fogo continua vi-
gado) ao bater-se com um “pico” de madeira. dos dos alguidares. vo). O oleiro deixa apenas um orifício no topo
Terminada esta tarefa é peneirado para uma do forno, que funciona como chaminé, e que
“gamela”, onde se mistura com água – quan- A cozedura da louça é um dos aspectos que fruto do seu conhecimento conseguido pela
do tem a consistência desejada formam-se mais tornam única a olaria de Bisalhães. É prática de décadas (de séculos, diríamos) de-
as “péis” de barro, que são guardadas húmi- durante este processo que a louça adquire cide tapar com terra, ao mesmo tempo que
das e onde o oleiro vai buscar o barro, que a característica cor negra, e é também este se tapa também a boca do forno (por onde
“coldra” (ou seja, amassa mais ainda e retira um dos momentos em que o conhecimento se carrega a câmara de combustão). Durante
o excesso de ar no interior) com as mãos. intrínseco mais se aplica. A escolha do dia mais de duas horas a tarefa das pessoas à
Consegue assim o “embolado”, pedaço que em que se vai cozer é determinante, pois volta do forno é garantir que não há fuga de
coloca com mestria no centro da roda baixa, pode pôr em causa toda a quantidade de fumo (e de oxigénio do interior), pois é precisa-
que faz rodar com a mão. Para além da perí- peças que se coloca no forno. Este é dife- mente isso que faz com que as peças fiquem
cia necessária no trabalho manual, o oleiro rente de há umas décadas: se, antes, não completamente negras. Após decisão dos
utiliza vários utensílios, como o augueiro (va- havia uma separação física entre a câmara de oleiros as peças começam então a ser desen-
silha com água, para humedecer as mãos), os combustão e a câmara de enfornamento (era fornadas, limpando-as depois de arrefecidas,
fanadouros (pequenas talas de madeira, que construída uma separação provisória, com estando então prontas para ser vendidas.
servem para levantar a peça da roda, para recurso às “roncas”, ou seja, peças maiores
diminuir a espessura do barro ou para alisar e defeituosas), desde há cerca de 20 anos se
as peças) ou a cega (pequena corda, linha ou incluiu essa separação. Normalmente o forno A inscrição do processo de
mesmo cabelo – para peças mais pequenas constrói-se num local inclinado, permitindo confecção no Inventário
– usada para separar a peça da roda, depois colocar-se a louça por um lado e adicionar o Nacional do PCI
de terminada). combustível por outro.
A 5 de Março de 2015 publicava-se em
A decoração das peças, característica das O primeiro lume que se acende mantém-se Diário da República (II.ª Série, n.º 45, anún-
últimas décadas, é feita quase sempre pelas brando, com o objectivo de tirar a humidade cio n.º 36/2015) a inscrição do processo de
mulheres dos oleiros, que começam por “go- do interior do forno. Depois, num trabalho co- confecção da louça preta de Bisalhães no
gar” a superfície, ou seja, alisam-na com pe- lectivo, começam a acastelar-se as peças maio- Inventário Nacional do Património Cultural
quenas pedras ou gogos, fazendo depois os res, de “boca” para baixo, e em cima des- Imaterial (PCI)3. Era o culminar de um proces-
desenhos (flores, folhas, espirais, segmentos tas as mais pequenas. Concluída esta tarefa so iniciado meses antes, fruto de uma saudá-
de recta paralelos, verticais ou oblíquos, entre atiça-se o lume, para que toda a louça exis- vel provocação feita ao Município de Vila Real
outros motivos) enquanto a louça está ainda tente no forno possa cozer. Num determinado pelo Dr. João Luís Sequeira Rodrigues que,
“meio seca”. Os oleiros também podem acres- momento, decidido pelo oleiro, procede-se ao no âmbito de um trabalho académico, preen-
centar motivos decorativos nas peças, princi- “abafamento”, que começa com a colocação chera a ficha-tipo de inventário de património
imaterial dedicando-se precisamente a esta A inscrição na Lista instituições, que procuraram manter viva a tra-
temática. Procurando um apoio institucional dição; procurou-se perceber quais as medidas
que garantisse a apresentação formal de can-
de Património Cultural que tiveram sucesso e quais as que não resul-
didatura à inscrição no Inventário Nacional do Imaterial que Necessita taram; e, finalmente, delineou-se um plano de
PCI, e após aceitação, por parte do Município, de Salvaguarda Urgente salvaguarda para o período compreendido
do repto lançado constituiu-se uma equipa da UNESCO entre a apresentação da candidatura e 2020,
de trabalho que promoveu o enriquecimento com um conjunto ambicioso de medidas divi-
do trabalho inicial, com recurso, entre outros Concomitantemente, o Município de Vila Real didas em várias áreas, discutidas previamente
elementos, a imenso material anteriormente encetou todos os esforços diplomáticos no com os oleiros e com os indispensáveis par-
recolhido e publicado pelo Município de Vila sentido de garantir a escolha, por parte ceiros institucionais, entre os quais podemos
Real4. O acesso ao acervo fotográfico do do Estado, da sua candidatura à inscrição destacar a Junta de Freguesia de Mondrões, a
Museu do Som e da Imagem, em Vila Real, na Lista de Património Cultural Imaterial Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
permitiu a recolha de variadíssima iconogra- que Necessita de Salvaguarda Urgente da ou o NERVIR – Associação Empresarial de Vila
fia, que se juntou à entretanto recolhida, que UNESCO. No dia 20 de Março foi apresen- Real, entre outros.
pretendia mostrar o processo de confecção tado na Assembleia da República o Voto
da louça preta de Bisalhães nos dias de hoje. n.º 260/XII/4.ª, de saudação à candidatu- Desta forma, foi definida a aplicação de me-
Todo o trabalho de preenchimento da ficha de ra do processo de confecção da Louça didas no que diz respeito ao apoio aos olei-
inventário do PCI foi acompanhado de perto Preta de Bisalhães à “Lista de Património ros existentes; no que concerne à educação
pelo Dr. Paulo Costa, da Direcção-Geral do Cultural Imaterial que necessita de salvaguar- e formação de novos praticantes; quanto à
Património Cultural, um dos responsáveis pela da urgente (UNESCO)”, voto esse aprovado estimulação do valor económico desta activi-
concretização do objectivo de apresentação, por unanimidade5; tinham-se já realizado dade; e no que se relaciona com o aumento
pela parte do Município, da proposta de inclu- diversas reuniões de trabalho, nomeada- de conhecimento científico e patrimonial. Pa-
são deste valioso elemento patrimonial no mente com a Direcção-Geral do Património ra a aplicação de todas as medidas previstas
Inventário Nacional do PCI. Cultural, a Secretaria de Estado da Cultura e para o cumprimento destes quatro objectivos
a Comissão Nacional da UNESCO6. globais o Município de Vila Real prevê um
Graças a um trabalho rigoroso, que incluiu, investimento de cerca de trezentos e setenta
para além do preenchimento de forma mais Avaliada a importância da manifestação cul- mil euros. A acompanhar o tipo de medidas
exaustiva da ficha de inventário, a recolha tural imaterial, bem como o avançado estado a aplicar e a sua concretização estará uma
de mais de 200 fotografias, registos de vídeo de elaboração da documentação necessária, Comissão Científica constituída para o efeito,
e a actualização da bibliografia existente, a procedeu-se à finalização do preenchimento a par de uma Comissão de Honra criada com
equipa de trabalho terminou o processo no do formulário de candidatura e à sua tradução, o duplo objectivo de garantir maior visibilidade
final do ano de 2014, com o incansável bem como de outros elementos obrigatórios para a louça preta de Bisalhães e de assegu-
apoio da equipa técnica da Direcção-Geral (de que é exemplo o registo no inventário rar um maior empenhamento político para a
do Património Cultural, tendo o Município nacional do PCI), assim como à obtenção de salvaguarda do seu processo de confecção.
de Vila Real submetido o referido processo registos fotográficos e de vídeo mais actua-
com sucesso, vendo finalmente a inscrição lizados sobre o processo de confecção da A candidatura promovida pelo Município de
no Inventário Nacional do PCI concluída em louça preta de Bisalhães. Fez-se ainda atura- Vila Real e apresentada pelo Estado Português
Março de 2015, com a publicação no Diário do trabalho de recolha de todas as iniciativas à UNESCO pode considerar-se imaculada. De
da República supra referido. concretizadas nos últimos anos, por várias facto, não foi alvo de qualquer proposta de
Alojamento local
Berlim e outras cidades impõem limites.
Lisboa e Porto deviam fazer o mesmo.
Vítor Cóias | Presidente da Direção do GECoRPA
O estudo, feito na Alemanha antes
desta mudança da legislação, revelou que
comprar apartamentos e alugá-los a turistas –
através de agências on-line como a Airbnb e a
Wimdu – se tinha transformado num negócio
altamente rentável. Em parte como resultado
deste novo negócio, Berlim, que antes tinha
um excesso de habitações – encontra-se ago-
ra a braços com uma grave e crescente escas-
sez. As autoridades berlinenses esperam que,
com esta lei, cerca de 20 000 habitações que
estão atualmente a ser exploradas para o alo-
jamento local (AL) libertem para arrendamento
regular uma área capaz de satisfazer a procura
correspondente a um ano.
A SPEHC
Sociedade Portuguesa
de Estudos de História
da Construção
João Mascarenhas Mateus | Vice-Presidente da Direcção da SPEHC | geral@spehc.pt
D
esde a sua constituição em 21 de
Maio de 2015, a Sociedade Portuguesa de
Estudos de História da Construção (SPEHC)
tem vindo a desenvolver e a apoiar iniciati-
vas relacionadas com esta área do conhe-
cimento, a saber: conhecer e analisar como
se construiu numa determinada localização e
num dado momento ou período histórico. A
nível mundial, trata-se da sexta sociedade a
ser criada no âmbito desta disciplina, depois
da britânica Construction History Society –
CHS (1983), da espanhola Sociedad de Histo-
ria de la Construcción – SEHC (1997), da afi-
liada norte americana da CHS, a Construction
History Society of America – CHSA (2007), da
francófona Association Francophone d’His-
toire de la Construction – AFHC (2012) e da
germanófona Gesellschaft für Bautechnikge-
schichte (2012). Os investigadores que se de- trução reside nas sinergias decorrentes da trução “Culturas Partilhadas” (organizado pela
dicam às problemáticas históricas de como integração de diferentes disciplinas e campos Faculdade de Arquitectura da Universidade do
se construiu em Portugal e em países com profissionais. A associação conta, por isso, Porto, de 14 a 16 de Setembro de 2016). No
experiências históricas comuns, no âmbito da com investigadores, académicos e profissio- ano passado, a SPEHC organizou igualmente
administração dos seus territórios, dispõem, nais provenientes não apenas das áreas da o seu primeiro ciclo anual de conferências. O
assim, de uma associação que promove es- Arquitectura, da Engenharia Civil e dos vários segundo ciclo, a desenvolver em 2017, conta
tes interesses de investigação e que procura ramos da História, como também da Arqueo- já com um programa próprio. A SPEHC está
estabelecer relações científicas com as asso- logia, da Conservação do Património Cultural aberta a admitir como associados todos os
ciações congéneres estrangeiras. e de áreas afins da Ciência e Tecnologia. investigadores com curriculum nesta área e
profissionais relacionados com aspectos his-
De facto, a SPEHC pretende contribuir não só Entre outras iniciativas, a SPEHC apoiou a tóricos da actividade da construção em âmbi-
para o estudo histórico e integrado dos fenó- realização da “2.ª Conferência sobre História to lusófono. Convidamos os leitores da Pedra
menos das culturas construtivas, mas tam- da Construção em Portugal – Consolidação & Cal a consultarem o site online da SPEHC e
bém para a complexidade da história da acti- de uma Disciplina” (organizada pelo CIAUD a estarem atentos à sua secção de notícias e
vidade de engenheiros, arquitectos e constru- – Faculdade de Arquitectura da Universidade iniciativas em www.spehc.pt.
toras, assim como, também, para a reflexão de Lisboa no Centro de Informação Urbana
crítica dos métodos de construção de hoje. de Lisboa, 6 de Novembro de 2015) e o 2.º * Artigo redigido ao abrigo do antigo acordo
Um dos pontos fortes da história da cons- Congresso Internacional de História da Cons- ortográfico.
Revisão do Código
dos Contratos Públicos
O GECoRPA toma posição
Vítor Cóias | Presidente da Direção do GECoRPA - Grémio do Património
D
e entre os vários objetivos enuncia-
dos para a revisão do CCP atualmente em an-
“
O GECoRPA considera necessário contemplar
no Anteprojeto medidas claras que permitam,
teprojeto e cuja consulta pública recentemente
terminou, incluem-se alterações no procedi-
nas intervenções de reabilitação e de
mento de ajuste direto, a introdução de um
novo tipo de procedimento – a consulta pré-
salvaguarda do património cultural construído,
via – e, também, no regime de adjudicação de nomeadamente os edifícios com elevado valor
contratos sob a forma de lotes. Estas altera-
ções terão impacto na atividade de empresas histórico e artístico, já classificado ou em vias
especificamente vocacionadas para a execu-
ção de empreitadas destinadas à salvaguar- de classificação, agilizar os processos urgentes e
da estrutural e artística do património cultural
construído, para as quais, segundo o GECoRPA
– Grémio do Património, se legitimam critérios
“
assegurar a qualidade do resultado final.
de escolha de procedimento particulares.
Para quem deseja conhecer melhor a zona cularidades como o carácter pluridisciplinar do seria construído o Cais Real - com evidentes
ribeirinha de Lisboa acabou de ser publicado estudo, que conjuga conhecimentos de áreas semelhanças com o Cais das Colunas. A nar-
um livro que narra a evolução histórica desta tão diversas como a História, o Urbanismo, a rativa sobre a construção destes cais é brilhan-
área, com um especial enfoque nos cais da Arquitetura, a História da Arte, a Arqueologia, e temente apresentada na obra, sendo referidas
Pedra do Terreiro do Paço, anteriores ao ter- a Conservação e Restauro. as obras e os planos, executados ou não, para
ramoto de 1755, e no cais Real em Belém. Em o porto de Lisboa.
Cais da Pedra e Cais Real. Planos Joaninos A história do Cais da Pedra é indissociável
para a Marinha de Lisboa, publicado pela edi- do movimento, iniciado por D. Manuel, de ex- A autora de Cais da Pedra e Cais Real. Planos
tora Canto Redondo, são apresentados docu- pansão do terreiro fronteiro ao Paço Real em Joaninos para a Marinha de Lisboa, Alexan-
mentos escritos, cartográficos e iconográficos direção ao Tejo. Foi com a transferência do dra de Carvalho Antunes, é investigadora do
que se articulam numa trama iniciada ainda Paço Real da Alcáçova para o Paço da Ribeira, ARTIS-IHA da Faculdade de Letras da Univer-
antes do reinado de D. Manuel e que termina dando origem ao até hoje chamado Terreiro do sidade de Lisboa e do GeoBioTec da Univer-
com o advento do terramoto de 1755. A auto- Paço, que se criaram as condições para o iní- sidade de Aveiro. É doutora em Arquitetura e
ra, Alexandra de Carvalho Antunes, consegue, cio da construção do Cais de Pedra. Igualmen- mestre em Arte, Património e Restauro. A sua
assim, criar uma obra que alia um grande rigor te, a intensificação da navegação mercantil, atividade profissional abrange investigação,
científico a uma escrita fluída, permitindo fácil fruto do aperfeiçoamento da tecnologia naval docência, estudos, projetos e intervenções
leitura a todos os públicos. e do aprofundamento das relações coloniais em domínios como a História da Arquitetura
entre Portugal e diferentes áreas do globo, e Construção, História Social, Caracterização
O lançamento de Cais da Pedra e Cais Real foram responsáveis pelo surgimento de uma de Materiais e Patologia e Conservação de
decorreu no dia 14 de Dezembro na Faculdade necessidade de melhoria dos meios existentes Monumentos e Edifícios Históricos.
de Letras da Universidade de Lisboa. A obra para embarque e desembarque de pessoas e
foi apresentada por Vitor Serrão, professor mercadorias, nomeadamente os equipamen- Este livro é um prelúdio para a obra monográ-
catedrático da Faculdade de Letras da Univer- tos portuários. É neste contexto que, no rei- fica sobre o Cais das Colunas, em preparação,
sidade de Lisboa, prefaciador do livro, Maria nado de D. João V, são concebidos planos e que versa sobre a Lisboa reconstruída pelo
Ramalho, presidente do ICOMOS-Portugal e projetos não só para o Terreiro do Paço, como Marquês de Pombal, D. Maria I e D. João VI e
Alexandre Sarrazola, arqueólogo da empresa para toda a Lisboa ribeirinha. Nestes se inclui a em particular o monumental embarcadouro da
Era Arqueologia. Ali, foram evidenciadas parti- zona de Belém onde, ainda antes do terramoto, Praça do Comércio.
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80 | P&C 61 | Julho > Dezembro 2016
O primeiro livro de histórias
Método de iniciação à leitura
Capa dura
80 páginas com ilustrações
16,5 x 20,5 cm
O intuito deste livro é ensinar as crianças a este tempo, transformou-se e adaptou-se às dão à aprendizagem das primeiras palavras
ler. Assim, O primeiro livro de histórias pro- mudanças de conceitos de ensino e progra- escritas. Tudo isto dá à obra um carácter qua-
cura despertar o gosto pela leitura com uma mas didáticos. se artesanal, onde a marca da autora se faz
originalidade única. A obra é resultado da lon- presente em cada página, estabelecendo uma
ga experiência de docência que teve Maria O livro foi inteiramente escrito à mão, um ma- ponte entre as gerações ensinadas há mais
José Saraiva. Foram mais de 30 anos como nuscrito no qual as ilustrações foram feitas tempo e aquelas que agora começam a dar os
professora do Magistério Primário. O método pela própria autora. Também estão presentes primeiros passos nas letras.
apresentado foi concebido ao longo de todo as lenga-lengas intemporais, que tanta graça
PATRIMA_2016
Congresso Ibero-Americano “Património, suas matérias e imatérias”,
LNEC, Lisboa, 2-3 de novembro de 2016
Marluci Menezes, Dória Costa, João Manuel Mimoso | Representantes da Comissão Organizadora
maio julho
Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom Seg Ter Qua Qui Sex Sab Dom Seg Ter Qua
27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 22 23 24 25 26 27 28 29 30 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
29 e 30 de maio 2017
IPERION CH
International conference 29 e 30 de julho 2017
on the values of tangible Congresso da Reabilitação
heritage – IMaTTe 2017 do Património (CREPAT)
LNEC, Lisboa Sala de Atos da Universidade de Aveiro,
Aveiro
2 a 5 de julho 2017
MARE.17 - Materials and Techniques for the Restoration of Monuments
Compatibility, Durability, Sustainability and Economy issues in Retrofitting
Heritage Structures
Sítio Arqueológico de Dion, Universidade Aristóteles de Salonica, Grécia
E xiste em Portugal um número ele-
vado de organizações não governamentais
ciação Portuguesa dos Amigos dos Castelos,
a Associação Portuguesa das Casas Antigas e
II. Os desafios das ONG do
Património e como superá-los
Identificar os principais problemas e desafios
(ONG) vocacionadas para a defesa do pa- a Associação Portuguesa para a Reabilitação que se colocam às ONG do Património, de
trimónio cultural e, em particular, do Patrimó- Urbana e Proteção do Património. modo a polarizá-las em torno de objetivos co-
nio Cultural Construído (PCC)1, havendo van- muns, bem definidos. Detetar formas de juntar
tagens na coordenação dos seus esforços Finalmente, o facto de 2017 ter sido dedicado esforços para uma mais eficaz defesa do PCC
e iniciativas. A realização de um Fórum que pelas Nações Unidas ao Turismo Sustentável, e referenciar, com esta finalidade, soluções
congregue uma parte significativa dessas or- integrando-o na Agenda 2030 para o Desen- para a rentabilização dos investimentos para
ganizações e onde se discutam abertamente volvimento Sustentável, sublinha a pertinên- a sua recuperação e manutenção, incluindo o
as suas questões mais relevantes, é uma das cia e oportunidade desta iniciativa. acesso a fu undos comunitários.
formas possíveis de promover tal coordenação
e potenciar a sua capacidade de intervenção. Subtemas:
Temas de reflexão 1. Formas de atuação das ONG do Património;
É com este enquadramento que, em colabo- 2. As ONG do Património na mudança de
ração com o ICOMOS Portugal e com o seu O Fórum tem como grande objetivo pôr as comportamentos face ao Património;
apoio expresso, surge a iniciativa das cinco as- ONG do Património a falar a uma só voz a 3. ONG do Património e a Educação para o
sociações promotoras: o GECoRPA – Grémio favor da salvaguarda do património cultural Património;
do Património, que coordena, a Associação construído e da sua utilização sustentável, 4. Plataformaas de divulgação e troca de in-
Portuguesa de Arqueologia Industrial, a Asso- constituindo uma alternativa credível à abor- formação entre ONG do Património.
Subtemas:
1. O PCC, público e privado, como valor a
preservar. Avaliação da situação atual;
2. O PCC como fator de geração sustentável
de riqueeza – oportunidades e riscos;
3. Formação técnica do setor da construção
na área do PCC;
4. Os perigos da turistificação.
2 4
3 5
1 | Vista exterior
da Rue Richelieu.
© Takuji Shimmura / BnF
2 | Vestíbulo Labrouste.
© Takuji Shimmura / BnF
3 | Armazém central.
À direita, a máquina
pneumática de
encaminhamento de
pedidos que esteve em
funcionamento até 1990
e foi agora renovada.
© BnF
4 e 5 | Sala Labrouste.
© Agathe Lautréamont,
2017
Grupo I Grupo IV
Projeto, fiscalização e consultoria Fabrico e/ou distribuição
de produtos e materiais
Construção de edifícios.
Conservação e reabilitação de construções antigas.
Grupo II
Levantamentos, inspeções e ensaios
Estudo e valorização do património histórico móvel
e imóvel. Projetos de reabilitação e de conservação
e restauro. Consultoria sobre o património cultural e
controle técnico de obras. Levantamentos técnicos
do património construído, estudo e diagnóstico
Produção e comercialização de
de anomalias para projetos de conservação e
materiais para construção.
restauro. Recuperação do património arquitetónico e
arqueológico. Intervenção de conservação e restauro
do património histórico integrado, móvel e imóvel.
Levantamentos.
Inspeções e ensaios não destrutivos.
Estudo e diagnóstico.
Engenharia e construção.
Gabinete de estudos e projetos
Reabilitação de edifícios
Restauro e conservação do património
arquitectónico construído
Pedra
&Cal
Conservação & Reabilitação
O patrimóniO
e O futurO
Preço: 5.00€ ( IVA incluído ) | Ano XVIII - Nº 60 | Janeiro > Junho 2016 | Publicação Semestral
Entrevista
O futuro e o presente do património
a opinião de maria ramalho
Qualificação
Qualificação profissional na construção
revisitar o passado para projetar o futuro
E S:
U ÇÕ NS:
S TR TIO
Com mais de 25 20 anos de experiência e detentora da Marca de Qualidade LNEC e da
O N UC
Certificação ISO 9001:2008, a Oz está em condições de prestar um conjunto de
E C TR
serviços de elevada especificidade, numa área de grande exigência, de forte
D N S
componente tecnológica e de constante inovação.
I C O CO
Ó ST OF
The company's 25 20 years of experience, LNEC's Quality Mark
G N TIC
and ISO 9001:2008 Certification are a guarantee
D IA OS
E GN
of quality services in a field with high standards,
TO DIA
a strong technological component
Entre estes serviços, destacam-se:
and under constant innovation.
N
E ND Services provided include:
M
N TA Y A Monitorização de deformações e movimentos das estruturas
VA V E Monitoring and follow-up of structural motion
LE SU R
O N,, Avaliação da segurança estrutural e do risco sísmico de construções
Ã
Ç IO Assessment of structural safety and seismic risk of buildings
C
E CT
S P E Vistoria de edifícios e outras estruturas com identificação e registo de anomalias
N
I NS P Survey of buildings and other structures and anomaly identification and record
I
Levantamento da geometria e constituição dos elementos estruturais e fundações
Survey of geometry, layout and constitution of structures and foundations
Ensaios para caracterização da resistência e estado de conservação dos materiais e elementos estruturais
Tests for characterisation of strength and condition of materials and structural components
Ensaio de macacos planos numa parede: Observação endoscópica do arco duma Extracção de carote na laje de cobertura de
medição de deslocamentos com alongâmetro. ponte antiga. um edifício, para caracterização do material.
Flat jack tests: measurement of strain. Boroscopic observation of the interior of a Core extraction from building’s roof layer in
masonry bridge. order to characterise the material.