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Paisagens Culturais Paulistas - A história do Estado de São Paulo contada pela Paisagem - Erika M. Robrahn González (Org.

)
Paisagens
Culturais
Paulistas

A história do Estado de São Paulo


Apoio
contada pela Paisagem

Erika M. Robrahn González

Colaboradores

Desenvolvimento
Erika M. Robrahn González

Paisagens Culturais Paulistas


A história do Estado de São Paulo
contada pela Paisagem
Apoio

Colaboradores

Desenvolvimento
Mensagem da AES Tietê
A partir de 2009, a AES Tietê, juntamente com as demais empresas que
compõem o Grupo AES Brasil, buscou alinhar as práticas socioambientais à sua
estratégia de negócio com um objetivo claro: contribuir para um modelo de
desenvolvimento sustentável, que levou à criação de uma política e de compromissos
e metas que consideram o equilíbrio econômico, social e ambiental nas decisões
diárias, posicionando a sustentabilidade no centro do planejamento estratégico.
Essa decisão não poderia ser diferente pelo fato de o Grupo prestar um serviço
essencial à sociedade, seja na geração ou na distribuição de energia elétrica. A
relevância do Grupo em seu setor traz oportunidades inovadoras de trabalhar em
prol do interesse comum de todos os seus públicos.
Procuramos desenvolver nossos negócios de forma que preservemos os
recursos naturais e respeitemos as comunidades onde atuamos, garantindo a
valorização do seu patrimônio histórico e cultural, proposta presente no Programa
de Gestão do Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural dos Onze Aproveitamentos
Hidrelétricos da AES Tietê S/A.
O programa, desenvolvido e implementado pela empresa Documento
Arqueologia e Antropologia, é fundamentado em três eixos básicos de atuação:
Preservação do Patrimônio; Utilização de Valores Científicos e Culturais; Educação
Patrimonial.
Durante as pesquisas históricas, foram identificados 122 sítios arqueológicos
nas margens dos reservatórios da AES Tietê, nas bacias dos rios Tietê, Grande e
Pardo. As descobertas evidenciam ocupações indígenas e históricas de grande
importância para a compreensão dos modos de vida das regiões em que se
encontram.
Este livro relaciona as descobertas realizadas pelo Programa, que representam
não só grande interesse regional, mas possuem também relevância para o País, por
apresentar uma nova perspectiva ao explicar a história, a arqueologia e a cultura
dessas localidades.
Essa é a forma do Grupo AES Brasil de fazer negócios, buscando inovar para
gerar valor compartilhado a toda a sociedade.

Ítalo Freitas
Vice-presidente de Operações da Geração

8 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 9


Artefato Lítico
encontrado
nas medições
da UHE Nova
Avanhandava

Mensagem da AES Tietê ..................................................... 6


Prefácio ................................................................................ 11
Apresentação ...................................................................... 17
Paisagens e Tradição .......................................................... 21
Bacia do Tietê ....................................................................... 23
Bacia do Rio Grande ............................................................. 27
Bacia do Rio Pardo ............................................................... 31
Modos de Vida ..................................................................... 39
Cultivadores e Ceramistas .................................................... 41
Tradição Itararé ..................................................................... 43
Tradição Tupi-Guarani........................................................... 47
Tradição Aratu-Sapucaí......................................................... 49
Colonização .......................................................................... 61
Imigrantes ............................................................................. 79
Cafeicultura ........................................................................... 93
Ferrovias ............................................................................... 99
Quilombolas .......................................................................... 109
Sociedade e Cultura Artística ................................................ 113
São José do Rio Pardo a Terra de Euclides da Cunha ......... 121
A Cultura Caipira ................................................................... 123
Poços de Caldas ................................................................... 127
Ficha Técnica ...................................................................... 135
Bibliografia .......................................................................... 136
Agradecimentos .................................................................. 141
UHE Ibitinga
Acervo: AES Tietê
Prefácio
Os projetos desenvolvidos neste trabalho de constante preservação dos protegido, restaurado e preservado pelo IPHAN – Instituto do Patrimônio
patrimônios histórico, arqueológico e cultural brasileiros estão inseridos no Programa Histórico e Artístico Nacional. Vinculado ao Ministério da Cultura, ele é
de Manejo Arqueológico Aproveitamentos Hidrelétricos, realizado nos estados de responsável por preservar a diversidade das contribuições dos diferentes
São Paulo e Minas Gerais. elementos que compõem a sociedade brasileira e seus ecossistemas,
Nestas regiões, foram construídas dez Usinas Hidrelétricas (UHEs) distribuídas preservando, divulgando e fiscalizando os bens culturais brasileiros, bem
no vale do rio Tietê (UHEs Nova Avanhandava, Promissão, Ibitinga, Bariri e Barra como assegurando a permanência e usufruto desses bens para a atual e as
Bonita); no vale do rio Grande (UHE Água Vermelha) e no vale do rio Pardo futuras gerações.
(compreendendo as UHEs Limoeiro, Caconde, Euclides da Cunha e a Pequena Para isso, o Programa de Manejo Arqueológico Aproveitamentos
Central Hidrelétrica em Mogi Guaçu). Hidrelétricos segue todas as diretrizes executivas impostas pelo IPHAN, que
Todos os empreendimentos abrangem, principalmente, municípios do estado traz regulamentos para os parques nacionais brasileiros e também para os
de São Paulo, mas dois deles, as UHEs Água Vermelha e Caconde, estão localizados processos de educação patrimonial fornecidos pelo International Finance
em trechos de rios que fazem divisa com Minas Gerais. Por essa razão, os projetos (IFC).
também englobam cidades do estado mineiro. Paisagens Culturais Paulistas - A história do Estado de São Paulo
Os empreendimentos já estão em operação e foram inicialmente implantados contada pela Paisagem.
pela CESP (Companhia Energética de São Paulo) a partir da década de 60. Durante A participação efetiva das comunidades impactadas pelos
os processos de privatização, a responsabilidade pela manutenção e operação das empreendimentos é fundamental na preservação do patrimônio arqueológico
usinas foi transferida para a AES Tietê, empresa que atua no Brasil desde 1999. e cultural existentes. Durante todo o Programa, as ações de educação
Entre as prioridades da companhia está a implantação de um modelo de patrimonial realizadas em parceria com a DOCUMENTO Ecologia e Cultura
desenvolvimento sustentável voltado à preservação do meio ambiente. (empresa brasileira especializada em Programas, Planejamento e Gestão de
Em 2011, a AES Tietê investiu R$ 19,5 milhões em pesquisa e desenvolvimento, Patrimônio Cultural) promove a conscientização pela valorização dos
sendo 39% em melhorias de planejamento e de operação e 18% em fontes patrimônios nacionais, em projetos que unem ciência e tradição.
renováveis ou alternativas de geração de energia. As usinas hidrelétricas da AES Este trabalho de manejo já conta com a participação de mais de 5.000 pessoas
Tietê estão localizadas em um dos mais importantes depositários da biodiversidade em atividades destinadas ao reconhecimento da identidade local, com a realização
do planeta: a Mata Atlântica. Para contribuir com sua preservação, a companhia de exposições oficinas, entrevistas, descrição de práticas tradicionais e
participa de várias frentes, em parceria com a Comissão Interministerial de Mudança compartilhamento de informações científicas e culturais. Além dos trabalhos
do Clima, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, o Fórum Paulista de Mudança presenciais, plataformas multimídia exclusivas como blogs, sites, redes
do Clima e Biodiversidade, o Banco Mundial, a Fundação SOS Mata Atlântica, entre sociais, twitter e ferramentas criadas especialmente para o Programa, como
outras instituições.Diante desta perspectiva de atuação, a empresa vem trabalhando o Museu Virtual (que expõe todo o acervo arqueológico resgatado) e o
na regularização dos licenciamentos ambientais para a operação das usinas deste Arqueo@ Parque, ambiente que fornece acesso aos estudos, pesquisas e
trabalho. Dentre eles, destaca-se o Programa de Manejo do Patrimônio Arqueológico equipes, serão utilizadas como forma de unir, ainda mais, os processos
existente nas bordas dos reservatórios. A criação de Reservas Arqueológicas no científicos e tecnológicos aos sociais.
estado de São Paulo, a utilização de valores científicos e culturais através da A identificação e caracterização das diversas culturas que ocuparam os
implantação de pesquisas e levantamentos, além da realização de programas de locais contemplados pelo Programa, assim como a sua inserção em contextos
educação patrimonial são os principais eixos estratégicos utilizados no modelo arqueológicos e históricos são algumas das premissas deste trabalho de
sustentável de desenvolvimento. manejo. Para isso, é necessário compreender os espaços geográfico,
No Brasil, o Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural é fiscalizado, ambiental e temporal dos sítios arqueológicos, estudar os remanescentes da

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cultura material resgatados nas localidades, além de colher testemunhos de Suas particularidades e o ambiente social formado pelos grupos de pessoas que,
sociedades que habitaram as regiões, em tempos passados. ao mesmo tempo valorizam, preservam e destroem seu patrimônio devem ser conteúdos
Todo e qualquer elemento que caracterize a presença humana nas de pesquisa das diversidades culturais existentes.
áreas dos empreendimentos, independente do período cronológico a que se A garantia de uma correta abordagem dos diversos assuntos envolvidos é
relaciona, também será considerado como vestígio arqueológico neste indispensável para que se alcance a sustentabilidade deste Programa. É desta
trabalho. Com isso, não serão tratados apenas sítios arqueológicos mais maneira que ampliamos o interesse da sociedade sobre o seu patrimônio e
antigos, mas também os vestígios históricos, associados às diferentes fases criamos, paralelamente, a sustentação necessária para as suas medidas de
de formação da sociedade nacional, de acordo com a definição da legislação preservação.
atendida para este Programa.
A história dos povos que ocuparam as localidades contempladas neste
trabalho será sempre pesquisada e estudada em conjunto com toda a
comunidade. A relação dessas sociedades com o espaço, a paisagem natural
que foram construindo, toda história que viveram e os vestígios que deixaram
terão um trabalho contínuo de estudo e de preservação.
Sempre é importante relembrar que a comunidade moradora dessas
regiões também participa das mudanças destes cenários. O conceito de
Arqueologia Pública, o qual enfatiza o relacionamento entre a pesquisa e o
manejo de bens culturais e dos grupos sociais interessados, é base de todo o
Programa. O foco é promover a constante participação da sociedade na gestão
de seus Patrimônios Arqueológico, Histórico e Cultural, pois consiste em um dos
atores principais na construção dos bens nacionais.
A perspectiva transdisciplinar é aplicada no processo de desenvolvimento
neste Programa de Manejo Arqueológico Aproveitamentos Hidrelétricos realizado
em São Paulo e nos municípios mineiros. Em um período de oito anos, foram
realizadas a caracterização e a definição de um Zoneamento Arqueológico para
as áreas de estudo, até a análise, o monitoramento e o controle de processos
erosivos ocorridos sobre os sítios. Algumas ferramentas como análises de
imagens de satélites, criação e alimentação de sistemas de informação (GIS),
por exemplo, estão inclusos nas responsabilidades de nosso trabalho.
As demandas da sociedade em geral, ligadas à gestão e manejo de seus
bens culturais, implicam na construção de uma conduta compartilhada. Os
impactos sobre o Patrimônio Cultural ocorrem em ritmo acelerado, e a sua
concepção necessita sempre ser renovada de forma a contemplar as atuais
percepções de valor. Isso significa que não basta preservar monumentos e bens
históricos ou arqueológicos, mas também direcionar um olhar apurado nas
paisagens e na amplitude de contextos onde os patrimônios estão inseridos.

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UHE Bariri
Acervo: AES Tietê
Apresentação
Desde sempre, as sociedades humanas organizam-se em determinados Com a fundação da WAC (World Archaeological Congress) em 1986, a
espaços e constroem relações recíprocas, constituindo comunidades que Arqueologia tem tratado de forma mais sistemática o relacionamento entre a
compartilham costumes e propósitos entre si. Ainda que esses grupos sejam pesquisa, o manejo de bens culturais e os grupos sociais interessados,
devastados por questões políticas e culturais, ou pela intervenção do homem e pela amadurecendo, nas discussões estratégicas, a relevância do caráter público da
inevitabilidade dos fatores ambientais, os vestígios de sua história permanecem disciplina e sua importância social.
vivos por meio de restos materiais e valores imateriais. Seus costumes, modos de Este movimento vem sendo internacionalmente denominado “Arqueologia
vida, fragmentos de objetos construídos com intuitos de caça, utilidades domésticas Pública”, voltada ao relacionamento entre a pesquisa e o manejo de bens culturais
ou artefatos religiosos se mantêm registrados naquele local, indestrutíveis mesmo com os grupos sociais, de forma a promover a participação da sociedade na gestão
com a ação do tempo. de seu patrimônio arqueológico e histórico.
Essas lembranças, memórias e tradições que impactam, indubitavelmente, a Um dos benefícios públicos da Arqueologia está justamente em contribuir
construção da identidade das sociedades atuais são denominados Patrimônios para o fortalecimento dos vínculos existentes entre a comunidade e seu passado,
Culturais. Cada nação, comunidade ou grupo étnico- social possuem expressões, ampliando o interesse da sociedade sobre o Patrimônio Cultural e criando medidas
criações artísticas, científicas e tecnológicas, obras, construções urbanas e sítios de sustentação permanentes dos registros de sua história. A opção em trabalhar
arqueológicos de valores histórico, paisagístico e artístico próprios. com plataformas eletrônicas de organização e disponibilização de dados se insere
Os patrimônios representam mais do que as heranças materiais de uma nesta discussão, na busca de garantir o acesso, participação e troca de conhecimento
sociedade: eles contribuem também para a formação de identidades sociais. Por dos diversos grupos envolvidos. Desta forma, é possível atingir o objetivo de se
isso, sua conservação é de interesse tanto do poder público quanto da comunidade. estimular nas comunidades a busca pelo conhecimento de sua história, ampliando
Contar a respeito dos trabalhos de preservação e o manejo dos Patrimônios novas perspectivas de tratamento patrimonial.
Culturais existentes nas bordas dos dez empreendimentos, contemplados no Pela sua própria natureza e característica, o Programa de Manejo Arqueológico
Programa de Manejo Arqueológico dos Aproveitamentos Hidrelétricos é o objetivo Aproveitamentos Hidrelétricos realizado nos estados de São Paulo e Minas Gerais
deste livro. não é um produto fechado ou acabado. Sua elaboração inclui o conceito de melhoria
Realizado desde agosto de 2006, o Programa está sob a responsabilidade da continuada, permitindo ajustes permanentes para incorporar as evoluções e
AES Tietê pela manutenção e operação das usinas hidrelétricas localizadas nos aprofundamento do conhecimento sobre as áreas onde as dez hidrelétricas estão
estados de São Paulo e Minas Gerais. Os empreendimentos estão distribuídos no localizadas.
vale do rio Tietê (UHEs Nova Avanhandava, Promissão, Ibitinga, Bariri e Barra A utilização de valores científicos e culturais, com a implantação de programas
Bonita); no vale do rio Grande (UHE Água Vermelha) e no vale do rio Pardo interpretativos e a educação patrimonial, são as bases fundamentais deste trabalho
(compreendendo as UHEs Limoeiro, Caconde, Euclides da Cunha e a Pequena de valorização do Patrimônio Cultural.
Central Hidrelétrica em Mogi Guaçu). A Arqueologia é, em essência, a busca dos Nesta obra, o leitor não irá apenas conhecer quais são as reservas
vestígios de experiências humanas, uma história de ideias e de descobertas, de arqueológicas existentes nas regiões. Os conteúdos aqui descritos também irão
formas de olhar o passado. E cada olhar constitui um reflexo ou produto de seu aprofundar os conhecimentos sobre as civilizações antigas que habitaram as
próprio tempo. Se no início podíamos chamar de “arqueólogo” aquele que registrava localidades, além de fatos históricos que marcaram as sociedades para sempre.
cenas de sua cultura em paredes de pedra, hoje este cientista é aquele que se vale Uma viagem aos meandros paisagísticos e aos costumes tradicionais das populações
de modernos conceitos teóricos, técnicas sofisticadas e grandes organizações de moradoras dos municípios serão revisitados, tanto por meios dos textos quanto
trabalho para explicar a história humana. pelas imagens fotográficas, verdadeiras obras de arte criadas pela natureza.

Boa leitura.

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UHE Barra Bonita
Acervo: AES Tietê
Paisagens e tradição

Vista do entardecer nas mediações da UHE Barra Bonita


Bacia do Tietê
O Tietê é um rio geologicamente novo, com idade aproximada de 12 milhões de anos. das terras planaltinas paulistas e o estabelecimento da vila – depois cidade – de São Paulo.
Já foi chamado de “Anhembi”, segundo o topônimo empregado pelos indígenas antes da A história da ação colonizadora no planalto paulista pode ser compreendida pelo esforço
chegada dos portugueses em terras tropicais. Suas águas nascem no município de contínuo em abrir caminhos e estabelecer áreas de influência cada vez mais distantes do
Salesópolis, cidade interiorana do estado de São Paulo, em meio à cadeia de montanhas núcleo irradiador da cidade.
da Serra do Mar e a 22 km do Oceano Atlântico. Por se tratar de um marco histórico para o A vila de São Paulo nasceu em 1554,com a construção do Colégio de São Paulo
estado pela importância do rio durante o processo de colonização do país, sua nascente de Piratininga (hoje,resguardado no Pateo do Collegio, no centro da cidade ). Tornou-se
está protegida pelo Parque Estadual Nascentes do Rio Tietê, principal atração turística da sede da Capitania de São Vicente em 1681 e, em 1711, com a alteração do nome da
cidade de Salesópolis e que diariamente recebe visitantes. Capitania para São Paulo, a cidade homônima consolidou sua condição de ponto de
A extensão do Tietê é de cerca de 1.100 km, atravessando a cidade de São Paulo, e referência para a Capitania ao desempenhar, concomitantemente, as funções:
desembocando no rio Paraná, na divisa de Mato Grosso do Sul, entre os municípios de evangélico-religiosa, desde a fundação do colégio dos jesuítas à motivação da criação
Itapura, Ilha Solteira e Castilho. dos aldeamentos indígenas próximas ao núcleo inicial; político-administrativa, além de
Ao todo, o rio banha 62 municípios brasileiros e possui sub-bacias hidrográficas: o Alto se tornar cada vez mais o elo político da Capitania com a Corte no final do século XVII
Tietê, que abrange a área de seu nascimento e a região metropolitana da cidade; a Bacia e no delinear do XIX; e militar.
do Médio Tietê, compreendendo trecho que vai desde o reservatório de Pirapora até a A história de São Paulo é também a que o historiador brasileiro Capistrano de
Barragem de Barra Bonita, numa extensão de 367 km. Neste trecho, seus principais Abreu contou em “Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil”, uma de suas obras
afluentes são os rios Piracicaba, Capivari, Jundiaí (pela margem direita) e o rio Sorocaba mais importantes, na qual descreve os movimentos de povoamento, os avanços para o
(pela margem esquerda). Cidades mineiras como Extrema, Itapeva, Toledo e Camanducaia sertão e os principais centros de penetração durante o período colonial. Diante desta
também são banhadas pelo rio nesta divisão. Por fim, há o Baixo Tietê composto por parte perspectiva de integração, as águas do rio Tietê continuaram sendo, entre os séculos
das microrregiões de Araçatuba, Bauru, Campinas, Central e de São José do Rio Preto. XVI, XVII e XVIII, a principal referência paisagística de ocupação do espaço e transporte
Montanhas e colinas, de média declividade, são marcantes nas paisagens das de mercadorias, pessoas, mão-de-obra e conhecimentos.
regiões Centro e Centro-Oeste paulista, com formações rochosas esparsas. As bases Pode-se dizer que a expansão das lavouras de café no Oeste Paulista, na metade
geológicas do Médio Tietê, nas bordas das cuestas basálticas (formas de relevo que não do século XIX, se tornou o elemento crucial para a aceleração do processo de ocupação
são assimétricas) são constituídas por uma terra roxa, composta por piçarras (mistura feita do Tietê. A produção agrícola modificou o cenário paisagístico de sua vegetação nativa,
com pedra, areia e terra) e linhas de cascalho. substituída por áreas de cultivo que, a cada década, se ampliavam.
A vegetação é de floresta ombrófila densa, representada pelos domínios da Mata A região ocupada pela cidade de São Paulo jamais deixou de ser ponto de
Atlântica, com árvores de folhas largas e de um verde vivo. As altas temperaturas oferecem passagem quase obrigatório para o comércio, a defesa e a ampliação da ocupação
um ar cálido ao desenho da paisagem, alternando com períodos chuvosos bem distribuídos colonial. De meados do século XIX em diante, o transporte fluvial pelo rio Tietê só foi
durante o ano, praticamente sem secas. levado a cabo por expedições turísticas ou científicas. Houve, também, iniciativas de
Há pelo menos 9 mil anos, os povos indígenas iniciaram o manejo deste ambiente. ordem estratégico-militar que objetivaram estabelecer um caminho alternativo para se
Historicamente, são conhecidas antigas trilhas que uniam diferentes núcleos de ocupação alcançar a bacia do Paraná por meio da região do Pantanal, procura essa que foi
a regiões distantes, como o Planalto Central ou o Sul do Brasil. Estas trilhas (dentre as quais alavancada principalmente durante a Guerra do Paraguai. Com o passar dos séculos,
a mais conhecida é a do Peabiru) utilizavam os cursos dos rios e as altas cristas de divisores paulatinamente, a cidade de São Paulo foi estabelecendo meios de comunicação que
de águas como traçado em suas rotas. Tanto os jesuítas como os bandeirantes se valeram, favoreceu a ocupação do sertão paulista. Longe de terem se constituído como núcleos
em grande parte, destes mesmos caminhos para suas incursões ao interior do rio Tietê. de povoamentos meramente isolados, estas áreas fizeram parte de um movimento
Ao se buscar reconstruir a história da ocupação das bacias do Médio e Baixo Tietê, é histórico em que o conhecimento do território permeou toda a formação dessa sociedade
necessário ter em mente um aspecto específico que marcou todo o processo de povoamento que teve na cidade de São Paulo o seu ponto de partida.

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Serra de Botucatu, interior de São Paulo

Vegetação característica nas mediações da UHE Nova Avanhandava Patrimônio Paisagístico presente nas mediações da UHE Barra Bonita
Bacia do Rio Grande
A Bacia do Rio Grande é o principal formador do Rio Paraná, um dos maiores
rios sul-americanos. Sua nascente desemboca na vertente continental da Serra da
Mantiqueira, próximo do município mineiro Bocaina de Minas. Em uma extensão de
aproximadamente 700 km, o Rio Grande percorre o território de Minas Gerais onde
recebe, como contribuição principal, em sua margem direita, o Rio das Mortes,
importante meio de transporte durante a expansão colonialista.
Pela margem esquerda do Rio Grande, está o afluente Rio Sapucaí, águas
batizadas com esta denominação por conta das sapucaias, árvores com flores
arroxeadas e perfumadas (provenientes da Floresta Pluvial Atlântica) que crescem
em suas margens.
No seu curso inferior, o rio Grande constitui a divisa natural entre os estados
de Minas Gerais e São Paulo. Campos e regiões de serras com relevo ondulado
compõe o traçado da bacia, com áreas de topos e cristas, características
predominantes da geologia da Serra da Mantiqueira. A fauna local apresenta
riquezas de espécies, como o macaco-prego, tamanduá-mirim, lobo-guará, jiboia,
jararaca, tucanos, papagaios e preguiças.
O clima tropical úmido predomina por quase toda a bacia. Em uma pequena
área que corresponde à porção Sudeste do rio, contemplando os municípios de
Ariranha, Fernando Prestes, Monte Alto, Pirangi, Taiaçu e os seus entornos, a
sensação é de um clima quente, úmido, com invernos não muito frios.
A fertilidade da terra, acompanhando o curso dos rios, propiciou aos municípios Arqueólogos em monitoria no Síto Pontal - UHE Água Vermelha
banhados por suas águas o desenvolvimento de várias atividades econômicas,
estreitando a relação existente entre as paisagens e a ocupação humana. O sítio
arqueológico Água Vermelha 3 apresentou datação com esta antiguidade, colocando
a região entre as mais antigas do estado de São Paulo.
Enquanto área de ligação entre o Planalto Meridional (ao sul), o Planalto
Central (a oeste) e os campos gerais (ao norte), a bacia do rio Grande traz vestígios
de ocupações ceramistas diversificadas, inseridas pelos arqueólogos nas tradições
Tupi-Guarani, Itararé e Aratu-Sapucaí, modos de vida que veremos nos próximos
capítulos desta obra.
Esta área teria sido densamente ocupada quando da chegada do colonizador
europeu, que ali ocorreu entre os séculos XVII e XVIII.

30 Paisagens Culturais Paulistas


Visão Geral do Sítio Viçosa - UHE Água Vermelha
Vista do
entardecer nas
mediações da UHE
Barra Bonita
Bacia do Rio Pardo
A nascente da bacia hidrográfica do Rio Pardo aponta na Serra do Cervo, no Devido às suas condições geológicas e topográficas, com a predominância de
município mineiro de Ipuiuna, cidade cujo nome em Tupi-Guarani significa “olho de campos nativos, o chamado sul de Minas (que contemplava o Termo de São João
água escura”. É de lá que surgem as águas de coloração turva desse rio, que tem Del-Rei, Jacui, Baependi e Tamanduá) se acostumou a desenvolver, simultaneamente,
entre os seus principais afluentes os rios Capivari e Guaxupé (pela margem direita), as atividades de mineração e de agropecuária, sendo esta uma vocação tanto para
e os rios Grande, Verde e Lambari, pela sua margem esquerda. o consumo interno de subsistência como para o comércio.
Localizada ao sudeste do País, a bacia abrange pequena área do Planalto Sul As próprias condições de produção da pecuária regional explicitavam uma
de Minas e da porção nordeste do estado de São Paulo. Pertence à Bacia do Alto estruturação produtiva para o mercado. Os currais, por exemplo, possuíam uma
Paraná em virtude de ser o Pardo afluente do rio Grande, um dos formadores do rio dependência à parte, a fim de que fosse aproveitado o leite e feito o tão famoso
Paraná. queijo de Minas; a utilização de cercas de pau-a-pique, valos e muros de pedra
Percorre 100 km das terras mineiras, contraforte da Serra da Mantiqueira, mostrava a organização do espaço e das atividades; os pastos recebiam melhores
numa região de topografia acidentada. A Bacia do Rio Pardo ingressa no estado de cuidados, sendo geralmente divididos em partes para aperfeiçoar a alimentação do
São Paulo pelo município de Caconde, cortando São José do Rio Pardo, cidade gado.
onde escritor Euclides da Cunha viveu e trabalhou durante vários anos. A história de As influências da imigração italiana no Vale do Rio Pardo, que começou em
“Os sertões’’, obra clássica da literatura brasileira, traz por meio de sua história um 1890, são marcantes no ambiente sociocultural na região. Os imigrantes chegavam
pouco da alma do povo rio-pardense. de trem até Rio Pardo e seguiam viagem de carroça até chegarem às fazendas de
Ao entrar em terras paulistas, percorre aproximadamente 58,5 km até a café. Gradativamente, com o crescimento das cidades, os italianos expandiram
barragem de Euclides da Cunha. Desta barragem percorre mais e 200 km até suas atividades nas áreas urbanas e rurais, influenciando, portanto, a cultura e
desaguar no rio Grande, no município de Colômbia. arquitetura regionais.
Com características muito diversificadas regionalmente, a bacia hidrográfica
do Rio Pardo abrange diferentes modos de vida e aspectos históricos e culturais. Na
comunidade de Caconde, por exemplo, é possível vivenciar a tradição quilombola e
o resgate da copeira como mecanismo integrador de uma identidade cultural,
símbolo de luta ao sistema escravagista.
A Mata Atlântica do Interior é a vegetação nativa da bacia do Rio Pardo. Há
animais terrestres, como capivaras e preás, mas as aves são as predominantes.
Espécies como canário-da-terra, tico-tico, beija-flor, bem-te-vi, andorinhas e pica-paus
compõem os cenários natural e sonoro da bacia.
Ao longo dos séculos, o avanço da ocupação e das atividades humanas trouxe a
necessidade de proteção e recuperação das águas da bacia do Rio Pardo. As andanças
de roceiros e donos de estalagens à procura de ouro foram comuns entre esses homens,
que privilegiaram em suas buscas os afluentes do rio Grande e as encostas da Serra da
Canastra, áreas que atualmente compõem os limites territoriais entre os estados de São
Paulo e Minas Gerais. Depois de anos de descobertas e explorações, uma jazida de
ouro foi encontrada nas cabeceiras do rio Pardo, em 1765. Com a descoberta foi criada
a primeira freguesia paulista localizada ao norte do rio Pardo, a Nossa Senhora da
Conceição das Cabeceiras do Rio Pardo - hoje, a atual Caconde.

34 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 35


Plantação de
café em
Botelhos, Bacia
do Rio Pardo
Praça Pedro Sanches - Poços de Caldas Vista do Sítio Caconde 6 - Próximo à área de pasto

Sitio Caconde 6 - Caconde Amanhecer em Poços de Caldas


UHE Euclides
da Cunha
Acervo: AES Tietê
modos de vida
Cultivadores e Ceramistas
Os cultivadores e ceramistas foram grupos que construíram grandes aldeias
no período pré-colonial há milhares de anos, alguns antes da era cristã. Com uma
economia baseada no cultivo de mandioca, milho e tubérculos, estes grupos eram
canoeiros e suas aldeias formadas próximas aos rios, em áreas de colinas e
florestas. Os vestígios de cerâmicas, que podem ser lisas ou com pinturas
decorativas, são as principais lembranças deixadas pela ocupação desses grupos
no Brasil.
Mas, em São Paulo, ainda é bastante incompleto o conhecimento sobre a
passagem dos grupos cultivadores e ceramistas no estado. Atualmente, são
identificados cerca de 300 sítios arqueológicos, porém, este número está longe de
corresponder à sua verdadeira totalidade. Uma das justificativas seria o fato de
termos grandes extensões territoriais praticamente desconhecidas, como é o caso
das regiões nordeste, norte, noroeste e central do país, áreas diretamente tratadas
por este Programa de Manejo.
Também há a hipótese de considerarmos o estado de São Paulo como uma
terra de fronteiras que, apenas a partir dos últimos séculos a.C., os grupos de
cultivadores e ceramistas começaram a ocupa-lo. Isso significa dizer que cada
unidade classificatória analisada das tradições ceramistas não foi estabelecida
neste estado, mas sim em outras regiões brasileiras, que teriam constituído suas
bases centrais de ocupação.
As evidências de grupos ceramistas em São Paulo apontam para contextos
arqueológicos bastante distintos, apresentando uma série de especificidades locais.
Sendo assim, transformações nas produções cerâmicas permitiram a definição de
três grandes unidades classificatórias dessas tradições: a Tupi-Guarani, a Itararé e
a Aratu-Sapucaí.

44 Paisagens Culturais Paulistas Tigela de cerâmica pintada em área de escavação


Tradição Itararé
Em poucos séculos, o planalto sul-brasileiro passou a ser palco de uma grande sítios do estilo de casas subterrâneas, como uma adaptação a áreas de clima frio,
concentração de grupos ceramistas cultivadores, que ocuparam toda a região. Isso com a presença de árvores de araucárias, que forneceriam coleta de pinhão.
foi há cerca de 1,8 mil anos, por volta do ano mil d.C. Sítios com características A cerâmica constitui o principal vestígio material destes sítios, com vasilhames
bastante peculiares estão localizados na porção centro-sul de São Paulo, e sua pequenos, em sua maioria, além de médios e grandes. Das nove formas
indústria cerâmica foi relacionada, tanto no vale do Ribeira quanto no vale do Itararé reconstituídas, três têm formato direto, simples, e seis são infletidas, com contornos
(alto vale do Paranapanema), à tradição Itararé. semielípitcos, esféricos, cônicos e cilíndricos. Pode-se notar que a técnica de
A civilização está muito associada aos povos da língua indígena “Jê”, falada manufatura predominante para a construção das peças foi a de roletes, embora os
neste período na região sul-brasileira, onde sua maior concentração esteve presente vasilhames pequenos e as suas bases tenham sido visivelmente modelados. A
nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná, onde os sítios são matéria-prima para a confecção dos artefatos foi o antiplástico mineral que, em
extremamente numerosos. geral, são os cacos moídos, areia e carvão mineral.
Na porção centro-sul de São Paulo, e no vale do Ribeira, o grupo deve ter No vale do Ribeira de Iguape, pequenas variações na cerâmica ocorrem em
permanecido até o período da colonização europeia, entre os séculos XV e XVII. sítios do médio vale (no rio Betari) e no baixo vale (próximo à cidade de Eldorado),
Nestas áreas, até o momento, o maior número de sítios está no vale do Ribeira de onde há datações mais recentes. Lá, os artefatos são sempre grandes, pesados,
Iguape, onde pesquisas identificaram 128 deles. Os sítios a céu aberto apresentam feitos principalmente em fragmentos de bloco, detritos, seixos e grandes lascas. Os
pequenas dimensões (área média de 550 m2) e estão localizados em todas as suportes não apresentam uma forma específica, mas tamanho e peso comuns e um
situações topográficas existentes. bordo naturalmente presente que se adapta ao uso desejado.
Nesses sítios, as variações de tamanho e morfologia, por exemplo, refletem Ao contrário do que se observa aos sítios relacionados à tradição Tupi-Guarani,
uma hierarquia social de seus ocupantes, sugerida pelas diferenças de tamanho os vestígios das cerâmicas pertencentes à Itararé estão mais concentrados pelo
das sepulturas encontradas nos sítios cemitério. Já a estrutura do assentamento estado, e sugerem maior homogeneidade de traços culturais, remetendo a um
seria formada por diferentes agrupamentos, distribuídos ao longo dos afluentes de contexto de ocupação notadamente diverso.
relevo.
Indícios científicos também revelam que pode ter havido uma forte interação
entre os habitantes: a proximidade dos sítios, a homogeneidade nos padrões de
implantação e distribuição tornam difícil conceber a ideia de isolamento. Muito pelo
contrário. Os vestígios deixados por esse povo sugere uma vivência interligada com
a intensa circulação de informações, objetos e pessoas por toda a extensão do
território do assentamento.
Quanto às atividades econômicas, análises indicam que a tradição Itararé
realizava intensa exploração de produtos de cultivo. Esta atividade parece ter sido
explorada individualmente pelos membros integrantes de cada habitação. Entretanto,
a exploração de recursos nas matas foi desenvolvida de forma coletiva e em áreas
relativamente distantes (aproximadamente 10 km dos sítios habitação).
Além dos sítios a céu aberto e cemitério, também foram identificados no vale
do Ribeira sítios em abrigo, possivelmente cerimoniais, e sítios oficina, onde eram
intensivamente realizadas atividades de lascamento lítico (a ação de lascar
estruturas de pedra). Já no vale do Itararé, no alto Paranapanema, estão presentes

46 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 47


Vestígio
Cerâmico
coletado nas
mediações da UHE
Promissão.
Tradição Tupi-Guarani
Por volta de 3,5 mil anos atrás, em algum ponto da Amazônia Central por sítios como os aldeamentos jesuítas, no Paranapanema, e por vestígios
(provavelmente no baixo vale do rio Madeira), especula-se que teria surgido uma encontrados em diferentes cidades do litoral: Peruíbe, Iguape, Praia Grande e
nova unidade cultural, cujos sítios foram enquadrados na tradição Tupi-Guarani. Ubatuba.
Sua origem estaria vinculada aos grupos da tradição Polícroma Amazônica, definição As datações obtidas indicam uma ocupação em São Paulo de grupos
científica para os vestígios de cerâmicas que datam da pré-história sul-americana. portadores de cerâmica Tupi-Guarani por mais de 1,7 mil anos, período em que
Pesquisas revelam que uma expansão de amplitude “nacional” teria partido da certamente ocorreram diversas variações nos assentamentos. Na maioria dos
Amazônia Central e, em pouco mais de mil anos, se espalhou continuamente pelo estudos realizados, há modificações, por exemplo, nos tipos decorativos da
território. Neste período, um dos movimentos se dirigiu da Amazônia, em direção cerâmica. No vale do Tietê, a diversidade na decoração entre os 25 sítios identificados
leste, descendo pela costa do Oceano Atlântico e formando uma larga faixa que se traz a hipótese da presença de dois agrupamentos distintos: um no baixo vale e
estende do Maranhão até São Paulo. Seus sítios foram relacionados à sub-tradição outro no médio vale. O mesmo foi observado no vale do rio Pardo (englobando a
Tupinambá. bacia de Mogi-Guaçu), onde as proporções entre as cerâmicas pintadas e as
Um outro movimento, contudo, partiu para a direção sul, desceu pelo rio produzidas com outras matérias- primas variariam significativamente. Outra ressalva
Madeira-Guaporé, passou pelos rios Paraguai e Paraná e, finalmente, subiu ao importante está no vale do Peixe, onde há mais de uma dezena de sítios dispersos,
longo da costa até algum ponto próximo à atual divisa dos estados de São Paulo e sendo que as cerâmicas apresentam decorações plásticas e pintadas. Na região de
Paraná. Seus sítios foram relacionados à sub-tradição Guarani. Durante os Paranapanema, alguns sítios têm grande quantidade de peças corrugadas e
deslocamentos, as áreas eram incorporadas dentro de um processo de expansão unguladas (incluindo urnas funerárias), enquanto em outros sítios predominam
territorial. peças pintadas, com grande diversidade.
De um modo geral, este movimento acompanhou as áreas tropicais brasileiras, E no médio Paranapanema de Piraju (que faz parte da Província da Depressão
indicando uma ocupação especializada no manejo deste ambiente. Os grupos Periférica) há ocupação de vertentes suaves, com declividade ao redor, e uma capa
seguiram diversas rotas, tanto a rede hidrográfica quanto uma vasta rede terrestre de colúvio cobrindo os vestígios arqueológicos. Já no Pontal do Paranapanema
de caminhos. O mais famoso deles é o Peabiru, que partia de Cananéia, no sul de (que faz parte do Planalto Ocidental) os sítios cerâmicos estão em amplos terraços
São Paulo, até a cidade de Assunción, no Paraguai. marginais associados às cascalheiras.
Em Campos de Piratininga, região próxima à cidade de São Paulo, há Também ocorrem variações na morfologia dos sítios, que podem medir de 100
indicações de aldeias Tupi-Guarani no século XVI, e também indícios de cerâmica X 50m (sítio Nunes) a 400 X 200m (sítio Prassévichus).
da etnia em alguns de seus bairros. De resto, boa parte do território paulista foi Com todas essas informações coletadas por pesquisadores, cientistas e
imensamente ocupado por grupos Tupi-Guarani na época do descobrimento, arqueólogos, a conclusão a que chegamos é a de que os sítios com cerâmica Tupi-
principalmente em sua porção litorânea e em extensa faixa central. Guarani, centralizados no estado de São Paulo, estão bem longe de uma unidade
Os sítios mais antigos dessa tradição estão localizados no estado de São histórica e cultural. Ao contrário disso, os indícios de peças e vestígios fornecem
Paulo, fato que indica a primeira ocupação ceramista da região. O mais clássico importantes especificidades locais e regionais.
deles está no vale do Tietê, com idade aproximada de 250 aC. Os demais ocorrem
a partir do início do século V, após a era cristã, com datas de 400 dC, para o sítio
Franco de Godoy (vale do Pardo) e 410 dC para o sítio Jango Luís (vale do
Paranapanema). O mais recente deles, com idade de 1.480 dC, é o sítio Almeida,
também no vale do Paranapanema.
A permanência destes ceramistas no estado, até meados dos séculos XVI e
XVII, período em que já havia contato com os colonizadores, pode ser comprovada

50 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 51


Tradição Aratu-Sapucaí
Primeiros aldeões de que se tem conhecimento em território brasileiro, a UHE Barra Bonita
tradição Aratu-Sapucaí ocupou regiões dos estados de Minas Gerais e Goiás, e Acervo: AES Tietê
grande parte do nordeste do país. Cultivadores de tubérculos, feijão, algodão e
milho, esses povos confeccionavam vasilhames de tamanhos diversos, e a matéria-
prima para a produção das peças era a argila.

Em São Paulo, os vestígios dessa civilização, normalmente organizada em


disposição circular, em espaços abertos, estão representados por três sítios do
estilo aldeia: Água Vermelha 2, Maranata e Água Limpa. Todos se localizam no
extremo norte do estado e ainda estão em processo de estudos.

Pesquisas realizadas recentemente, tanto na bacia do rio Grande quanto nas


proximidades do reservatório de Água Vermelha, identificou uma extensa aldeia de
grupos ceramistas com aproximadamente 400 metros de diâmetro. O material
cerâmico, ainda em estudo, tem mostrado diversas semelhanças com a cerâmica
da tradição Aratu-Sapucaí, como a presença de vasilhames cônicos,
predominantemente sem decoração, formas duplas e fusos. Perto dessa aldeia está
sendo escavado um sítio que, além de apresentar cerâmica por toda a estratigrafia, Vestígio Cerâmico coletado nas mediações da UHE Ibitinga
possui grande quantidade de material lítico lascado e polido, além de vários
sepultamentos e restos de fauna.

Entre as bacias do Grande e Tietê (na altura do município de Olímpia), está o


sítio Maranata, e que pode ter associação com a tradição Aratu-Sapucaí, sobretudo
pelas formas reconstituídas dos vasilhames. As primeiras impressões dos
arqueólogos em seu trabalho de campo apontam para a hipótese da aldeia ter
possuído vasta dimensão. Grande quantidade de material ósseo humano também
foi uma das descobertas dos cientistas, sugerindo sepultamento de povos desta
tradição.

O sítio Água Limpa, situado no vale do Grande (no município de Monte Alto)
parece remeter à tradição Aratu pela morfologia de seus vasilhames cerâmicos. Sua
morfologia é desconhecida, embora pesquisas tenham evidenciado nove manchas
escuras, interpretadas como estruturas habitacionais, onde materiais cerâmicos,
líticos, faunísticos e vestígios de fogueiras estão concentrados. Materiais esparsos,
algumas estruturas de fogueira e vestígios de sepultamento foram também
encontrados pelos arqueólogos.

Vestígio Cerâmico coletado nas mediações da UHE Promissão


52 Paisagens Culturais Paulistas
UHE Nova
Avanhandava
Acervo: AES Tietê
Arqueólogo em atividade de prospecção nas mediações da UHE Nova Avanhandava Arqueólogo em atividade de prospecção nas mediações da UHE Caconde

Vestígio Cerâmico coletado nas mediações da UHE Nova Avanhandava Arqueólogo em atividade de registro fotográfico nas mediações da UHE Caconde
Colonização
Como o leitor já acompanhou anteriormente, no capítulo Paisagem e Tradição, tanto para abastecer a região do planalto – pontuada de trigais e outras lavouras –
no início desse livro, o processo de ocupação das bacias do Baixo e Médio Rio Tietê quanto para serem comercializados para regiões distantes, como no nordeste
(atualmente composta por parte das microrregiões de Araçatuba, Bauru, Campinas, açucareiro. No entanto, mesmo quando as expedições tinham sucesso, havia uma
Central e de São José do Rio Preto) nos revelou como os movimentos históricos baixa lucratividade do negócio, visto que a grande maioria dos capturados morria
acontecem a partir da interferência do homem em seu meio, e onde os fatores antes sequer de chegar à vila para serem comercializados.
naturais e culturais articulam-se conforme as necessidades da cada época. Mas, por meio de suas andanças pelos sertões, estes exploradores se
Quanto à ação colonizadora, é importante enfatizar que o processo ocorre no depararam com descobertas de metais preciosos, o que levou à criação de centros
cotidiano, com populações que precisam garantir dia após dia as condições mineradores em Minas Gerais, Cuiabá e na Vila Boa do Goiás. As claras divisões
essenciais para sua sobrevivência. entre as bandeiras de apresamento e de busca de metais e pedras preciosas
A história da ação colonizadora no Planalto Paulista, por exemplo, pode ser escondiam uma “economia das oportunidades”, que mesclava as múltiplas
compreendida pelo contínuo esforço em abrir caminhos e estabelecer áreas de possibilidades de lucro.
influência cada vez mais distantes do núcleo irradiador de São Paulo. Em relação ao setor econômico, o interesse do colonizador moldou as normas,
No entanto, a cidade jamais deixou de ser ponto de passagem quase determinou a política a ser seguida e conseguiu, por meio disso, os benefícios
obrigatório para a difusão do comércio, ampliações de estratégias militares e à possíveis. Neste contexto, a intervenção do governo português na América foi
ocupação colonial. São Paulo também serviu de ponte para a conquista gradativa bastante variada, oscilando entre o rigor de interferência e o desinteresse quase
dos sertões paulista, desempenhando, desde sua fundação, a atividade de ponto que total de acordo com a região em pauta, criando, assim, modelos administrativos
intermediário na ligação entre o planalto e o litoral, especialmente com o porto de distintos para as Capitanias desenvolvidas.
Santos. As duas primeiras vilas da Capitania foram São Vicente (de 1532 ou 1534) e
Durante os séculos XVI e XVII a ocupação humana na região se valeu de Santos (de 1545), estruturadas inicialmente no litoral. Mas a colonização da
percorrer os sertões em busca de indígenas para mão-de-obra, movimento bastante Capitania de São Vicente logo se mostrou ineficiente. Além de estreito, dificultando
difundido pelo “bandeirante paulista”. A atividade bandeirante seguiu o roteiro o povoamento da região, o litoral vicentino apresentava terrenos baixos, pantanosos
estabelecido pelos padres da Companhia de Jesus, que se internaram muito e repletos de mangues. Com o surgimento da produção açucareira nordestina na
precocemente nos sertões com fins catequizadores. Num primeiro momento, a ação metade do século XVI, de melhor qualidade e mais próxima do mercado consumidor
dos jesuítas se ateve às cercanias da vila de São Paulo, estabelecendo aldeamentos europeu, a economia de São Vicente se tornou bastante frágil.
nas regiões de Santo Amaro, Nossa Senhora dos Pinheiros, Carapicuíba e algumas Ao contrário do litoral santista, o planalto logo surgiu, aos olhos do colonizador
um pouco mais distantes. como um local favorável para ser povoado: havia terras altas e salubres, ambientadas
Ainda no século XVI, aldeamentos eram criados em diversas regiões nas por um clima temperado muito mais agradável para o europeu e descampados
margens do Rio da Prata, em território espanhol nas Américas. As regiões hoje propícios para a instalação humana. As vias naturais de ocupação, como o rio Tietê,
compreendidas pelo Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina e mesmo pelo propiciavam a expansão para outras regiões planaltinas. E a existência de numerosas
Paraguai e Uruguai foram profundamente envolvidas pela ação evangelizadora tribos indígenas, localizadas há milhares de anos naquele espaço, significava aos
jesuítica entre os índios Guarani. No planalto, a grande maioria dos indígenas, colonizadores portugueses novas fontes de mão- de-obra.
embora houvesse cada vez mais etnias representadas, era de Guaianazes, dando Apesar do rio Paraíba do Sul ter importância fundamental no processo de
origem a missões de proporções gigantescas, com dezenas de milhares de indígenas ocupação de todo o vale Paraíba, foi a partir do rio Tietê que as primeiras incursões
retirados de suas aldeias, atraídos para os centros jesuítas e reorganizados sob dos sertanistas paulistas começaram. De mobilidade fácil e sem maiores imposições,
uma lógica espiritual de governo. Esses agrupamentos de indígenas representavam a navegação no Rio Tietê provocou (antes mesmo do fim do século XVI) núcleos
uma oportunidade singular aos bandeirantes ocupados na captura de mão-de-obra, populacionais significativos, como os aldeamentos de Guarulhos, Itaquaquecetuba

64 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 65


e São Miguel, a povoação de Mogi das Cruzes e São José do Parahyba (cujo nome Com a ascensão do estadista português Marquês de Pombal ao posto de
foi alterado, em 1871, para São José dos Campos). “homem forte do governo de D. José I”, a política territorial recebeu uma atenção
Ao mesmo tempo, o Oeste Paulista se tornou palco das primeiras investidas que jamais houvera possuído. A própria extinção da capitania de São Paulo, em
colonizadoras no planalto vicentino em direção ao sertão após a fundação da vila de 1748, ao mesmo tempo à criação das capitanias de Mato Grosso e Goyaz, tivera
São Paulo de Piratininga. Mas, com os seus terrenos planos e cobertos de florestas como foco melhorar a defesa das fronteiras da América Portuguesa.
densas, o Oeste Paulista não assistiu a uma ocupação sistemática até pelo menos No rio Piracicaba, por exemplo, implantou-se um arraial fixo, que ficou sob a
por volta de 1700. Aliás, mesmo no final do século XVIII, das 17 vilas existentes na responsabilidade do capitão português Antônio Correia Barbosa. A ideia era
Capitania de São Paulo, somente 9 estavam situadas no planalto, sendo as mais transformar o Tietê num eixo de penetração para os sertões do planalto paulista,
habitadas localizadas no vale do Paraíba. Já os vales dos rios Tietê, como Atibaia, regiões ainda não totalmente asseguradas pela administração portuguesa.
Piracicaba e Pardo, demoraram para receber um afluxo populacional significativo. E O povoamento das imediações dos saltos de Avanhandava e Itapura iniciou-
a descoberta de metais preciosos nas Minas Gerais, no final do século XVII, não se em 1778. Assim, a ocupação efetiva das margens do Tietê ocorreu a partir do
alterou muito seu perfil de ocupação. século XX, quando, inclusive, alternativas para esta estratégia foram buscadas. Um
Ao longo do século XVIII e nas primeiras décadas do XIX surgiram as dos problemas enfrentados foi a ausência de famílias capazes de se deslocar para
chamadas Monções, expedições fluviais com objetivos comerciais, colonizadores e as fronteiras sem promover o esvaziamento das áreas de origem. Questões
com tarefas oficiais, como delimitação de fronteiras ou patrulhas preventivas. Assim, demográficas continuavam marcando os entraves para a ocupação produtiva do território.
foi por meio das Monções que teve início o primeiro movimento de ocupação das Assim, na colônia como um todo, especialmente a partir de 1750, começou a
bacias do Baixo e Médio Tietê. haver uma busca mais intensa por terras, já que elas se tornaram mais valiosas
Organizada por Rodrigo César de Menezes, capitão-general de São Paulo, devido ao incentivo metropolitano à produção colonial. Porém, essa disputa pela
uma das maiores Monções partiu em 1726, de Araritaguaba (hoje, o município de terra não ficou restrita apenas às “elites”. Incentivos fiscais como a isenção do
Porto Feliz), estruturada por 308 canoas e cerca de 3 mil viajantes, entre soldados, pagamento de impostos por aqueles que plantassem café, chá e especiarias
lavradores, tripulação e aventureiros em direção à Cuiabá. Neste período, as coroas proporcionaram aos pequenos e médios proprietários meios para se consolidarem
de Portugal e Espanha estavam em constante disputa nas Américas pela definição economicamente na sociedade colonial.
e posse de territórios, o que promoveu processos de conflitos e negociações Por volta de 1765, a cultura canavieira assumiu a condição de atividade
diplomáticas durante todo o século. agrícola de exportação, inserindo São Paulo na lógica comercial do eixo Atlântico-
No extremo sul colonos portugueses haviam estabelecido a colônia de Sul do império português. A interferência de Lisboa na Capitania de São Paulo
Sacramento, na margem esquerda do Rio da Prata, em frente a Buenos Aires dos provocou, já na segunda metade do século XVIII, o enriquecimento de diversos
espanhóis. Embora a colônia tenha sido atacada de pronto pelos colonos espanhóis setores da sociedade paulista.
ela se reestabeleceu e, ainda que tenha finalmente passado às mãos castelhanas A consolidação das lavouras de cana-de-açúcar incrementou o conhecimento
em 1705, foi recuperada por Portugal em 1715 pelo Tratado de Utrecht - a rota que e a ocupação da Bacia do Tietê, ainda que não causasse grandes alterações no
ligava esta região a São Paulo manteve sua importância como principal via de perfil de povoamento da região. Isso porque a atividade se situou no chamado
acesso, ainda que a navegação de cabotagem complementasse a comunicação “quadrilátero do açúcar”, abrangendo Campinas, Itu, Jundiaí e Piracicaba. Em 1769,
entre as duas regiões. os habitantes do bairro do Jundiaí pleitearam a condição de Freguesia de Campinas,
A região do Centro-Sul do Brasil ganhou uma importância fundamental nas o que de fato ocorreu em 1774. Por volta de 1785, instituiu-se o núcleo de Capivari.
estratégias geopolíticas da coroa portuguesa. Para a Capitania de São Paulo, por Piracicaba, fundada na década de 1760, floresceu nos decênios seguintes com o
exemplo, foram atribuídas algumas funções essenciais para a dinamização do desenvolvimento das lavouras de cana. Já no fim do século, mais precisamente em
Centro-Sul e da manutenção do território português frente às ameaças espanholas. 1797, criaram-se as vilas de Campinas, Porto Feliz e o povoado de Indaiatuba.

66 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 67


UHE Limoeiro
Acervo: AES Tietê
Um pouco mais tarde, cidades importantes nasceram em decorrência da A proximidade com as minas de ouro e a rentabilidade modesta das atividades
consolidação da cultura canavieira em São Paulo. Araraquara, por exemplo, surgiu ali desenvolvidas estimulou os roceiros e donos de estalagens a também se
como freguesia de São Bento, em 1817, passando à categoria de município em interessarem pela possibilidade de encontrarem novas jazidas. Assim, as andanças
1833. Limeira, por sua vez, nasceu em 1830, fruto da construção de uma estrada à procura de ouro foram comuns entre esses homens, que privilegiaram em suas
feita para escoar a produção açucareira dos engenhos da região. O território de Rio buscas os afluentes do rio Grande e as encostas da Serra da Canastra, áreas que
Claro foi fundado em 1827, tornando-se município em 1845. atualmente compõem os limites territoriais entre os estados de São Paulo e Minas
A lavoura canavieira comercial proporcionou as bases econômicas que Gerais. Após anos de pequenas explorações foi encontrada, em 1765, uma jazida
acolheriam o café como principal atividade produtiva e grande elemento de ocupação de ouro nas cabeceiras do rio Pardo. Desta descoberta foi criada Nossa Senhora da
do planalto paulista ao longo do século XIX, o que veremos mais adiante, nos Conceição das Cabeceiras do Rio Pardo, atual município de Caconde, a primeira
próximos capítulos deste livro. freguesia paulista localizada ao norte do rio Pardo, desmembrada de Mogi Guaçu
Na região do atual estado de Santa Catarina três núcleos coloniais haviam se em 1775.
estabelecido desde finais do século XVII: São Francisco, Desterro – ou Ilha de Santa Assim, as estradas e caminhos para as minas tornaram-se os principais eixos
Catarina - e Laguna. Também entre Laguna e Sacramento se manteve sistemática de ocupação das áreas dos chamados “sertões” por meio do estabelecimento de
comunicação neste período, o que incluía ainda os assentamentos na área do atual pousos e arraiais. A ocupação inicial do Nordeste Paulista esteve intimamente ligada
Paraná: Nossa Senhora da Luz dos Pinhais (Curitiba), fundada por volta de 1690, à implementação desses caminhos para as regiões mineradoras, notadamente para
Paranaguá, no litoral e Guaratuba, criada por volta de 1714, depois tornada Antonina. um deles, o Caminho de Goiás (chamado originalmente de o Caminho do
Fora desses núcleos pouco mais havia além dos famosos Sete Povos das Missões Anhanguera) que ligava a cidade de São Paulo às minas de Goiás.
– São Borja, São Nicolau, São Lourenço, São João Batista, São Miguel, São Luiz Em 1682, o bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva trouxe dos sertões para
Gonzaga e Santo Ângelo – localizados na fronteira entre as possessões portuguesa São Paulo a notícia de que havia minas de ouro na região do chamado “Sertão de
e espanhola. Goyaz”. E a exploração do precioso mineral dividiu-se entre as duas regiões que
A história da região Nordeste do planalto paulista – que atualmente é ocupada compunham a Capitania, a Norte e a Sul. Na porção meridional, situavam-se nas
por municípios como Caconde, Mococa, Tapiratiba, São José do Rio Pardo, altas cabeceiras do Tocantins e Araguaia, e nas dos afluentes da margem direita do
Divinolândia e São Sebastião da Grama – constitui mais um exemplo de lacuna nos Parnaíba. De menor proporção, a exploração de ouro ocorreu nos distritos de São
registros históricos brasileiros. Segundo informações recentes, a histórica da região José, Santa Rita, Cachoeira e Conceição.
está vinculada às expedições bandeiristas para a cidade de Batatais em busca de A proliferação da notícia sobre a descoberta de ouro em Goiás promoveu um
mão-de-obra indígena, a fim de comporem as lavouras de cereais no planalto. aceleramento na ocupação das áreas situadas no Caminho de Goiás. Em decorrência
Na primeira metade do século XVIII, com a expansão das áreas mineradoras, do aumento da circulação de tropas e contingentes populacionais diversos nessa
as relações de mercado entre essas regiões e a população mais antiga intensificaram- rota, as administrações local e metropolitana determinaram algumas medidas
se. Com isso, as velhas trilhas indígenas e sertanistas ganharam importância e se voltadas para uma ocupação da região que atendesse, na medida do possível, tanto
sedimentaram. Tanto negociantes, tropeiros, sertanistas como simples viajantes aos interesses dos colonos como os da Coroa Portuguesa.
passaram a circular em tais caminhos com uma frequência cada vez maior, Sendo assim, o primeiro movimento de povoamento das regiões circunvizinhas
contribuindo para que as estradas fossem ocupadas geralmente por roceiros, ao Caminho de Goiás foi composto tanto por famílias que, de forma esparsa, já
rancheiros e donos de estabelecimentos como estalagens e pousos. Apesar do moravam nessas áreas – e que se ocupavam, sobretudo, às roças de subsistência
caráter humilde, esses moradores desempenharam uma função essencial no – como também por grupos humanos mobilizados a partir do descobrimento do ouro
povoamento e na articulação das áreas intermediárias dos caminhos, uma vez que de Goiás.
suas atividades se relacionavam com o abastecimento das regiões mineradoras. Durante o mesmo período, uma nova componente de importância decisiva

70 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 71


para a ocupação do Sertão do Rio Pardo veio à tona: a migração de pessoas vindas,
em sua maioria, do Sul de Minas. Essas áreas passaram a receber, especialmente
a partir do fim século XVIII, grande número de famílias desgarradas de suas terras
após a crise da mineração nas Minas Gerais.
Os grupos mineiros impuseram ao Sertão do Rio Pardo novas formas de
organização espacial, que até então não tinham se consolidado entre os antigos
habitantes daquelas terras. Enquanto a maioria dos pousos não passava de
aglomerações populacionais precárias e com pouco poder de expansão, as
freguesias se constituíam como germes de núcleos urbanos, onde as igrejas e as
vendas tinham papel fundamental na arregimentação da população local.
É justamente nesse período que surgiu uma toponímia estritamente vinculada
às formas de representação mineira: Capela de Santa Rita do Paraíso (Igarapava),
Capela do Carmo de Franca (Ituverava), Freguesia de Nossa Senhora da Conceição
de Franca, Freguesia do Bom Jesus da Cana Verde dos Batatais, Espírito Santo da
Cana Verde (Nuporanga), Mato Grosso dos Batatais (Altinópolis), entre outros.
Em critérios macroeconômicos, a migração mineira para o Sertão do Rio
Pardo não proporcionou grandes lucros se comparados aos núcleos canavieiros, A utilização do Rio Tietê como caminho para o Mato Grosso era dificultada pelas corredeiras e cachoeiras existentes
mas ainda assim alterou significativamente o alcance e a forma de ocupação da Foto retirada do Livro: Botucatu: cidade dos bons ares e das boas escolas, 2007
região:
“À medida que avançava a ocupação das terras do Nordeste Paulista, os
antigos posseiros iam perdendo suas roças e uma situação adquirida através do
trabalho realizado no decorrer do século XVIII. Enquanto o Sertão do Rio Pardo era
apenas um espaço que se interpunha entre a cidade de São Paulo e Vila Boa de
Goiás, seus moradores paulistas puderam plantar para o seu sustento em terras
próprias e alheias. Com o crescimento populacional e a chegada de famílias mineiras
possuidoras de escravos e grandes rebanhos de gado, a pressão sobre a ocupação
das terras foi sentida tanto por antigos proprietários que reafirmavam o seu direito
sobre as áreas já ocupadas, assim como por posseiros e agregados que eram
destituídos de suas roças”. (BACELLAR; BRIOSCHI, 1999: 70).

72 Paisagens Culturais Paulistas Colégio Jesuíta de São Paulo, 1860


Foto retirada do Livro: Botucatu: cidade dos bons ares e das boas escolas, 2007
Exemplo de Colonos recém chegados no interior de São Paulo
Fonte:http://static.panoramio.com/photos/large/18476018.jpg
O quadro de
Debret, Interior
de casa cigana
(c. 1820)

A obra retrata a relação entre ciganos e escravos no Brasil colonial


Fonte:http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/c/c7/Debret_casa_ciganos.jpg
Carta da
Capitania de
São Paulo,
em 1766.

Foto retirada do Livro: Botucatu: cidade dos bons ares e das boas escolas, 2007
UHE Caconde
Acervo: AES Tietê
Imigrantes
Atraídos pelos centros urbanos que se desenvolviam no Brasil, milhares de localizada no Bairro do Gonzaga, em Promissão, e foi inaugurada pelos colonizadores
imigrantes europeus escolheram o país como rota para novas perspectivas de em 1938.
vida. Entre a segunda década no século XIX e meados do século XX, após a Os 60 anos de Uetsuka foram dedicados a trabalhos ininterruptos pela causa
Segunda Guerra Mundial, italianos, portugueses, espanhóis, alemães, austríacos, de sua comunidade. Em 1918, adquiriu as matas virgens da estação Hector Legru,
franceses e russos viajaram pelas águas do Atlântico e aqui desembarcaram, localizada na região Noroeste do município, instalando o primeiro núcleo de
tornando-se parte do processo de ocupação de diversas regiões, entre elas, a bacia colonização japonesa. Ali, encabeçou a construção de escolas, a abertura de
do rio Tietê. estradas, a contratação de médicos e fundou associações, as quais tinham o dever
Se no período do Primeiro Reinado no país, a vinda de imigrantes esteve de zelar pela segurança dos moradores e prestar auxílio aos menos favorecidos.
principalmente atrelada aos centros urbanos, especialmente ao Rio de Janeiro, que Conforme as informações registradas pelas comunidades de Promissão,
carecia de profissionais como engenheiros, médicos, ferreiros, boticários etc., ao Uetsuka foi o responsável por iniciar a colonização pela região, pois no local havia
longo do Segundo Reinado e, sobretudo, com a Proclamação da República, a poucas doenças, em virtude de ter sido habitada anteriormente somente por índios.
imigração ganhou no Brasil contornos específicos. A ideia foi receber mão-de-obra Uetsuka faleceu em 1935, e seu corpo foi sepultado no Cemitério Municipal de
estrangeira para, num primeiro momento, atender às necessidades da expansão da Promissão. Em tributo aos seus feitos à cidade, já foram prestadas várias
agricultura e especialmente da lavoura cafeeira. Posteriormente, a estratégia homenagens ao colonizador, dentre elas, a instituição da Praça Shuhei Uetsuka e a
objetivava preencher as vagas de trabalho oferecidas pelas fábricas inauguradas Vicinal Shuhei Uetsuka que levam o seu nome.
nos centros em processo de industrialização. No momento do 60º Aniversário da Imigração da Japonesa no Brasil e 50º
As influências da imigração italiana no vale do Rio Pardo, por exemplo, que Aniversário da colonização japonesa em Promissão, em 1968, foi erguido na Praça
começou em 1890, são marcantes no ambiente sociocultural na região. Os imigrantes Shuhei Uetsuka um monumento. No local, há também um templo, o Templo Komyo
chegavam de trem até Rio Pardo e seguiam viagem de carroça até chegarem às Kwannondo, cuja luz, que não se apaga nunca, é mantida ou por energia elétrica ou
fazendas de café. Gradativamente, com o crescimento das cidades, os italianos por vela.
expandiram suas atividades nas áreas urbanas e rurais, influenciando, portanto, a
cultura e arquitetura regionais.
Em São Paulo, com a expansão econômica da região, acentuada em 1880, os
grandes movimentos migratórios estiveram interligados ao processo de consolidação
da cafeicultura no país. Já no final do período imperial, setores da sociedade foram
articulados para estabelecer uma política de recrutamento de imigrantes. Foi quando
houve a criação do sistema de colonato que, em relação à antiga estratégia de
parcerias, oferecia algumas vantagens. O novo sistema era baseado num programa
de remuneração misto, calculado com base em comissões nas vendas do produto
agrícola, além de um salário anual, e oferecia ao colono incentivos fiscais para o
transporte e necessidades básicas.
O município de Promissão, localizado na porção Oeste do estado, ficou
conhecido como o berço da colonização japonesa no Brasil. Em 1908, o navio
Kasato Maru chegou ao porto de Santos, trazendo, entre os viajantes, um grupo de
japoneses dirigido pelo Dr. Shuhei Uetsuka, hoje um ícone da cidade.
A primeira igreja católica construída no Brasil por imigrantes japoneses está

82 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 83


Imigrantes no pátio central da Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo - Fonte:http://tinyurl.com/osfqgf2 Construção da primeira Igreja de Promissão pela Colônia Japonesa

Imigrantes italianos recem chegados em São Paulo


Construção da primeira Igreja de Promissão pela Colônia Japonesa
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/fc/Italians_Sao_Paulo.jpg
Fotos Históricas de Imigrantes retiradas do Livro: Botucatu: cidade dos bons ares e das boas escolas, 2007 Representação por desenho do Navio Kasato Maru, que em 1908 trouxe os primeiros Imigrantes Japoneses - Fonte: http://tinyurl.com/ns2lttq
O Imigrante -
1908 - Estradas
de Ferro do
Interior de SP
Comunidade Japonesa em apresentação de Taikô no Museu de Lins Exemplo de Patrimônio Edificado em São José do Rio Pardo, destaque para o estilo construtivo Europeu trazido pelos imigrantes

Ponte bastante utilizada por imigrantes para travessia do Rio Pardo Exemplo de Patrimônio Edificado em Caconde, destaque para o estilo construtivo Europeu trazido pelos imigrantes
Foto Histórica de
Imigrantes
em sua chegada à
SãoPaulo na década
de 1970.

Fonte: http://www.bibliotecavirtual.sp.gov.br/fotos/saopaulo-historia-hospedariadosimigrantes.jpg
PCH Mogi-Guaçu
Acervo: AES Tietê
Cafeicultura
Foram nas fazendas do Rio de Janeiro, em meados do século XVIII, que Um alastramento das lavouras cafeeiras tomou conta, entre 1850 e 1880, das
ocorreram as primeiras tentativas de se cultivar o café em terras brasileiras. regiões localizadas nas cabeceiras do rio Pardo. Além da expansão do café, a
Posteriormente, a cultura cafeeira se expandiu, atingindo os estados de Minas alteração da estrutura fundiária no Brasil obteve uma nova organização sistemática
Gerais e, sobretudo, São Paulo, onde concentrou suas lavouras no norte do vale do das políticas públicas ao acesso da terra no país. Com a instituição da Lei de Terras,
Paraíba, especialmente nas cidades de Areias, Guaratinguetá e Lorena. promulgada por D. Pedro II em 1850 (uma das soluções mais incisivas para a
No século XIX, o cultivo se espalhou pelo Oeste Paulista, tornando-se nessa transição da mão-de-obra escrava para o trabalho livre), teve início a proibição de
época a principal atividade econômica da região, e primordial para o Império no qualquer tipo de aquisição de terras devolutas que não fosse o da própria compra,
ramo da exportação. O elemento chave para o processo de ocupação do Tietê, por acabando por barrar o acesso a terra por parte de posseiros e arrendatários.
exemplo, foram as lavouras de café. Elas abrangiam, de modo geral, desde a região Nesse modelo, caso um posseiro cultivasse suas culturas em terras de
do Oeste Paulista (indo de Campinas, Rio Claro e São Carlos até Araraquara e Sesmaria (instituto jurídico português), a área era de sua posse, já que o “regime
Catanduva) até o Nordeste da Província. sesmarial” legitimava o trabalho como elemento gerador do direito de propriedade.
Para se ter ideia, só entre 1888 e 1900, 42 novos municípios foram instaurados Deste modo, a partir de 1850 houve uma ampla modificação legal da estrutura
na Província de São Paulo, sendo alguns deles situados no Baixo e Médio Tietê, fundiária do país, ocasionando agravamento das já desfavoráveis condições dos
como Jaú, Dois Córregos, São Manuel do Paraíso, Mineiros do Tietê, Ibitinga, Bariri, pequenos roceiros sitiantes.
Pederneiras, Bocaina e Anhembi. Alguns distritos também foram instituídos, tais A estabilização da lavoura cafeeira e a implementação da Estrada de Ferro
como os de Conchas, Barra Bonita e Itapuí. Mogiana, em 1872, consolidaram a ocupação do Nordeste Paulista, região que
A expansão da lavoura cafeeira pelo Planalto Paulista protagonizou alterações deixou de ser vista como um “sertão” a ser desbravado. Sua política administrativa
significativas na ocupação e acesso às terras do Nordeste Paulista. Seus habitantes, ganhou rapidez e rendimentos consideráveis, fato constatado, por exemplo, pela
acostumados a privilegiar as áreas de pasto, começaram a visualizar novas formas criação da Vila de Caconde, em 1864, que, no ano seguinte, transformou-se em
de exploração dos solos formados por terra roxa, mais propícia ao cultivo do café. município incorporando as atuais cidades de Sapecado, Mococa, São José do Rio
Mesmo assim, as plantações de lavouras cafeicultoras não ocorreram de maneira Pardo, São Sebastião da Grama, Tapiratiba e Barrânia.
homogênea nesta região, já que as condições topográficas e climáticas de Dez anos depois, em 1874, criou-se a Comarca de Caconde por meio de lei
determinadas terras contribuíram para um desenvolvimento desigual da economia sancionada pelo Presidente da Província de São Paulo, João Teodoro Xavier. Em
regional. 1883 Caconde foi elevada à cidade mediante lei aprovada pelo então Presidente da
Assim, enquanto boa parte das localidades da chamada Alta Mogiana (como Província, Francisco de Carvalho Soares Brandão.
as cidades de Ribeirão Preto, São Simão, Batatais e Franca) apresentavam O café permaneceu como base da economia paulista até por volta de 1930,
características topográficas e climáticas adequadas para o plantio do café, áreas da período em que o segmento começou a sofrer oscilações no mercado.
Baixa Mogiana que faziam fronteira com Minas Gerais (como aquela ocupada por A Grande Depressão, ou crise de 1929, abalou a importância da cafeicultura
Caconde) tiveram mais dificuldades na implementação dessa cultura devido ao e promoveu uma aceleração no processo de diversificação não apenas no setor
relevo acidentado e solo menos fértil. agrícola, mas na economia paulista como um todo. O café foi perdendo a sua
Pode-se dizer que os principais canalizadores para a expansão da cultura importância a partir dos anos 30 e culturas de algodão, pecuária, arroz e cana-de-
cafeeira pelo Planalto Paulista foram as estradas de ferro que, a partir de 1860, açúcar foram avançando pelo País.
substituíram os antigos caminhos de terra. Neste sentido, a crescente malha A reestruturação econômica sofrida pelo Nordeste Paulista ao longo das
ferroviária aumentou a qualidade da interligação entre a cidade de São Paulo, o décadas compôs, aos poucos, o panorama atual da região. Nas áreas cafeicultoras
porto de Santos e as localidades próximas à Capital da Província, além de ampliar principais (Franca e Ribeirão Preto) a existência do capital necessário para o
as áreas de povoamento de territórios planaltinos longínquos. redirecionamento econômico foi fundamental às novas empreitadas no decorrer da

96 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 97


segunda metade do século XX. Os municípios de Sertãozinho e Igarapava, por
exemplo, tornaram-se importantes polos canavieiros; a região de Orlândia, por sua
vez, estabeleceu atividades ligadas à agroindústria do algodão e do arroz; Franca
consolidou-se como um dos principais fabricantes de calçados do país; as cidades
de Morro Agudo, Guairá e Batatais formaram um centro regional de pecuária;
Ribeirão Preto, por fim, tornou-se um grande polo industrial principalmente nos
ramos de alimentos, bebidas, produtos químicos.

Por outro lado, as áreas atualmente ocupadas pelos municípios de Caconde,


Mococa, Tapiratiba, São José do Rio Pardo e Divinolândia tiveram que retornar às
suas atividades mais tradicionais, especialmente àquelas vinculadas à pecuária
leiteira e aos alimentos de subsistência, como feijão e arroz.

Hoje, Caconde também configura como parte significativa do setor de turismo


ecológico e esportivo, buscando compor, juntamente com a cidade mineira de Poços
de Caldas, um polo turístico regional.

98 Paisagens Culturais Paulistas Foto Histórica das Plantações de Café no Interior de São Paulo
Fonte: http://fazendasjm.com.br/albuns/da225fddf96cb0977b71e6a1cd88f362/foto%201.jpg
Manifestação popular em comemoração à Revolução Constitucionalista de 1932 na cidade de Jaú-SP no ano de 1935. Jaú enviou voluntários
para a causa paulista - Fonte:http://cafehistoria.ning.com/photo/comemora-o-revolu-o-1932-em-1935-na-cidade-de-ja-sp

Praça Jorge Tibiriça Ibitinga SP - Fonte: http://tinyurl.com/nh5nljz Praça Matriz de Ibitinga - Fonte: http://static.panoramio.com/photos/large/18017049.jpg
Ferrovias
A expansão da cultura cafeeira pelo planalto paulista teve, entre os seus antigo Mato Grosso ao Sudeste Brasileiro, a extensa NOB foi alvo de inúmeros
aceleradores, a construção das estradas de ferro pelo país. A partir de 1860, os discursos enaltecedores, grande parte vinculados às ideologias dominantes da
antigos caminhos de terra atravessados pelas tropas de mulas começaram a ser, época.
gradativamente, substituídos pelas ferrovias. Se por um lado a crescente malha Longe de ser uma solução pontual circunscrita ao início do século XX, a ideia
ferroviária aumentou a qualidade da interligação entre a cidade de São Paulo, o de criar uma estrada de ferro que ligasse o Mato Grosso ao litoral Atlântico brasileiro
porto de Santos e as localidades próximas à Capital da Província, também ampliou remete a meados do século XIX. Seja por meio de textos de viajantes da época ou
as vias de comunicação e as áreas de povoamento de territórios planaltinos através das informações de relatórios administrativos, a discussão sobre o melhor
longínquos. aproveitamento de uma área “tão rica”, porém pouco explorada, se deparava com a
Com a implantação da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí (1867), a malha necessidade de se ampliar as vias de comunicação com a região. Além disso, a
ferroviária de São Paulo atingiu o Nordeste Paulista com a Estrada de Ferro Mogiana, utilização dos rios Paraná e Paraguai pelo Brasil, embora fornecesse uma via de
fundada em março de 1872. A estabilização do café e a construção da Mogiana acesso mais rápida e prática, esbarrava nos interesses dos países vizinhos, em
consolidaram, definitivamente, a ocupação do Nordeste Paulista, que deixou de ser especial Argentina e a República do Paraguai.
encarado como um “sertão” a ser desbravado. Em 1875, a estrada se alastrou para Assim, já em 1851, houve a discussão de um projeto de lei autorizando o
os municípios de Mogi Mirim e Amparo, seguindo para Campinas e, três anos depois, governo imperial a conceder exclusividade a uma companhia para a construção de
para Casa Branca. Após disputas envolvendo as companhias de trem em relação às uma ferrovia que ligasse o Rio de Janeiro à cidade de Vila Bela da Santíssima
alternativas para a ampliação da malha ferroviária do Noroeste Paulista, a Mogiana Trindade (MT), passando pelas localidades de São João d’El Rei, Goiás e Cuiabá.
assegurou a concessão para estender seus trilhos até Ribeirão Preto. Anos depois, No entanto, não eram apenas aspectos de ordem econômica que influenciaram a
partiu ainda mais para o norte, passando por Franca (1887) até atingir o Porto criação da ferrovia. No plano político, a ideia da construção de uma linha férrea
Jaguará (1888), no rio Grande. concordava com três dos principais pilares de uma “nação moderna”: as ações
Até o início de 1900, boa parte do Baixo e Médio Tietê (atualmente, pertencente integradoras sobre o próprio território, ação social que garantisse redes de apoio e
aos municípios de Glicério, Coroados, Buritama, Zacarias, Penápolis, Barbosa etc) flexibilidade, e o desenvolvimento das forças militares e terrestre.
era ocupada por populações indígenas dispersas. O principal grupo que habitava a Em outras palavras, a construção da ferrovia garantiria, segundo a ótica dos
região durante a chegada do colonizador eram os kaingangs, que também viviam grupos dirigentes, a integridade territorial do Brasil diante dos interesses dos vizinhos
em áreas dos atuais estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A platinos e das potências imperialistas, uma vez que o Mato Grosso representava
Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB) constitui um objeto de reflexão histórica historicamente uma região de difícil controle por parte do Estado.
não apenas sobre as áreas diretamente relacionadas com a ferrovia (os antigos Em junho de 1904, a Companhia de Estradas de Ferro Noroeste do Brasil foi
Estados do Mato Grosso e de São Paulo), mas também pelo próprio processo de fundada, com o objetivo inicial de construir uma ferrovia entre Uberaba e Coxim.
ocupação do território brasileiro ao longo dos séculos XIX e XX. Mas logo após a aquisição da concessão da obra, a empresa alterou o projeto para
A criação do Instituto Histórico e Geográfico (1837) exemplifica muito bem a construção de uma via férrea que ligasse as cidades de Bauru e Cuiabá, passando
essa intenção, suplantada por aparatos ideológicos que tinham como função por Itapura, na divisa entre os estados do Mato Grosso e de São Paulo.
formular políticas e discursos legitimadores da construção da nação, com base na A despeito das inúmeras dificuldades relacionadas à construção da via férrea,
integridade territorial do Brasil. Apesar de ter possuído diversas fases, esse modelo tais como a presença do grupo indígena kaingangs, os problemas oferecidos pela
nunca abandonou a ideia de “civilizar o país”, tendo como alvos o sertão, os índios, região pantaneira do sul-mato-grossense, além das precárias condições de trabalho,
os posseiros, enfim, todos aqueles indivíduos ou espaços não inseridos na lógica da a ferrovia foi sendo implantada até 1907, quando o governo federal não só determinou
civilização. a mudança no destino final da ferrovia (que passou a ser Corumbá), como também
Sendo a primeira e - por muito tempo - a única ferrovia a ligar o território do iniciou alterações nas condições contratuais da obra.

102 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 103


Vinculado originalmente a um acordo contratual único, a estrada de ferro grandes empreendedores para seu potencial econômico eminentemente
dividiu-se em duas ferrovias distintas: a E.F. Bauru-Itapura, atrelada ao regime mercadológico, as famílias de pequenos agricultores desempenharam importante
vigente de concessões, e a E. F. Itapura-Corumbá, declarada como propriedade da papel no povoamento da região, a partir de sua busca por solos férteis no entorno
União, mas que seria construída pela Companhia Noroeste. das estações ferroviárias. Nesse âmbito, vale ressaltar as atuais localidades de
Contudo, devido às ordens político-administrativas envolvendo a Companhia Cafelândia, Guaiçara e Promissão, surgidas entre as primeiras décadas do século
Noroeste e o governo federal, ambas as estradas de ferro (que em 1914 concretizaram XX.
a ligação Porto Esperança-Bauru) passaram a ser propriedade da União que, em Em relação às cidades atingidas direta ou indiretamente pela NOB, é pertinente
1918, inaugurou a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Operando por décadas notar que a ferrovia foi a principal responsável pela alteração do escopo original dos
entre os eixos Bauru-Porto Esperança, a NOB foi incorporada à Rede Ferroviária povoados. Grande parte das estações foi transformada em centros urbanos e polos
Federal (RFFSA) em 1957, tornando-se uma empresa privada em 1996, por meio de escoamento de café.
de um consórcio envolvendo empresas europeias e norte- americanas.
Em 1998 a ferrovia novamente mudou de mãos, ficando sob controle do grupo
empresarial brasileiro FERROPASA (Ferronorte Participações S.A.), e em 2002
substituída por outra holding, a Brasil Ferrovias.
Vítima de sucessivas reordenações administrativas, a NOB e o seu grandioso
patrimônio histórico-cultural, tem contado, nos últimos anos, com um pequeno
esforço das autoridades governamentais em relação à recuperação e preservação
da ferrovia.
O trecho paulista da NOB conviveu com condições infraestruturais muito
desfavoráveis ao longo de sua instalação. Dentre os locais mais afetados, está o
trecho entre os municípios de Araçatuba e Itapura. O aspecto brejoso do solo da
região demandava altos investimentos em obras de drenagem e conservação, além
de ser um ambiente altamente propício para o desenvolvimento da malária, doença
responsável pela morte de muitos operários que trabalharam na construção da
NOB.
Os altos custos necessários para a conservação desse trecho levaram a
direção da NOB a construir uma nova linha que o substituísse e proporcionasse a
ligação com a porção mato-grossense da ferrovia. O novo trecho ficou conhecido
como Araçatuba-Jupiá, e, diferentemente da linha anterior, prosseguiu em direção
às terras mato-grossenses pelo espigão separador dos rios Tietê e Aguapeí. No
entanto, apesar do projeto ter sido aprovado em 1922, a linha começou a ser
construída somente quatro anos depois, e concluída apenas em agosto de 1937.
A implementação da NOB afetou sensivelmente o cenário de ocupação do
Baixo e Médio Tietê, em cidades como Presidente Alves, Balbinos, Guarantã,
Cafelândia, Lins, Guaiçara, Promissão, Penápolis, Glicério e Coroados.
Se por um lado a paulatina instalação da ferrovia chamava a atenção dos

104 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 105


Estação Histórica de Trem no Interior de São Paulo - Fonte:http://tinyurl.com/o6zd6de

Foto Histórica de Inauguração de Ferrovia no Interior de São Paulo - Fonte: http://tinyurl.com/p2wvhlu Vagão de Primeira Classe do Trem de Aço da Companhia Paulista de Estradas de Ferro - Fonte: http://tinyurl.com/pw7wmmz
Locomotiva Restaurada e Exposta no Município de Promissão.

Estação Ferroviária desativada em São João da Boa Vista.


Quilombolas
No idioma banto, grupo etnolinguístico africano que originou diversas outras escravagista.
línguas do continente, a palavra “quilombo” significa “povoação”. No Brasil, surgiu Conforme André Luiz Gonçalves, professor de capoeira do município, dizem
como símbolo de resistência à escravidão como núcleos habitacionais e comerciais que Caconde foi um quilombo grande, quase do tamanho do de Palmares. Ele
que abrigavam escravos fugidos e alforriados das grandes propriedades. As também destaca o bairro do Redentor, local onde os negros se refugiavam na época
comunidades rurais negras do período da abolição também são conhecidas pelo da escravidão. “As casas da cidade têm estes vestígios, como a escola Dr. Candido
nome de “mocambos”, terras de pretos, comunidades negras isoladas ou Lobo, construída pelas mãos dos escravos. Trabalho com capoeira tradicional que
remanescentes de quilombos. De acordo com um levatamento feito em 2012, no é a regional do mestre Bimba, uma capoeira bem primitiva, estilo angola, desenvolvida
Brasil, existem cerca de 1.800 comunidades, sendo 375 apenas na Mata Atlântica. pelo Mestre Pastinha. Com esse trabalho procuro tirar os jovens das ruas e ensinar
Nestes grupos, cada família possui um sítio demarcado, onde normalmente existem para eles um pouco da cultura do Brasil”, enfatizou Gonçalves.
as terras de uso, como áreas de capuavas (descanso do solo para lavoura) e A organização política dos quilombolas passou a ser um instrumento
também onde a vegetação é mantida e são realizadas atividades de extrativismo. fundamental para a defesa de seus direitos. Com o passar do tempo, atividades
As comunidades quilombolas foram constituídas a partir de uma grande econômicas promovidas por empresas, fazendeiros e garimpeiros que cobiçam as
diversidade de processos, incluindo a ocupação de terras livres e geralmente riquezas em recursos naturais, fertilidade do solo e qualidade da madeira das áreas
isoladas, mas também por meio de heranças e recebimentos de terras aos escravos desses povos, começaram a avançar os limites das terras dessas comunidades.
como pagamento de serviços prestados ao Estado, e da compra de terras, tanto Por isso, foi principalmente com a Constituição Federal de 1988 que a questão
durante a vigência do sistema escravocrata quanto após sua abolição. quilombola entrou na agenda das políticas públicas do país. Fruto da mobilização
No Brasil, na época colonial, o mais famoso quilombo foi o de Palmares, do movimento negro, o Artigo 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias
liderado por Zumbi dos Palmares, grande representante na luta pela resistência do (ADCT) legitima que: “Aos remanescentes das comunidades dos quilombos que
povo negro. Criado no final de 1590 a partir de um pequeno refúgio de escravos estejam ocupando suas terras é reconhecida a propriedade definitiva, devendo o
localizado na Serra da Barriga, em Alagoas, Palmares chegou a reunir quase 30 mil Estado emitir-lhes os respectivos títulos”.
pessoas, transformando-se em um estado autônomo. O quilombo suportou Outra maneira de lidar com esse problema das invasões de terras foi a criação
firmemente os ataques dos colonizadores holandeses, portugueses e bandeirantes de associações de quilombos, que atuam no processo de seu reconhecimento
paulistas, mas foi destruído em 1716. Contudo, até hoje, o local ainda resiste como coletivo como descendentes de escravos e perpetuam sua ocupação do espaço
um memorial simbólico dessa luta, preservado pelo Instituto do Patrimônio Histórico segundo as especificidades dos ambientes em que habitam.
e Artístico Nacional. Chamado de Parque Memorial Quilombo dos Palmares, o sítio
arqueológico é considerado pelo Iphan, desde 1985, como Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico.
Um levantamento da Fundação Cultural Palmares (FCP) mapeou mais de 1,8
mil comunidades quilombolas existentes no Brasil. Estima-se que 114 mil de 34,5
mil famílias quilombolas vivam nestas comunidades.
Há diversos quilombos existentes na Bacia do Rio Pardo, posicionados
estrategicamente na parte alta da serra. No meio da densa floresta, o Quilombo de
Campo Grande abrigava refugiados de diferentes regiões do país.
No município de Caconde, por exemplo, a tradição quilombola é forte na
região e destacada por seus habitantes. Nas comunidades da cidade, o resgate da
capoeira é visto como um mecanismo integrador, além de símbolo de luta ao sistema

112 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 113


Palmares contra o
exército

Pintura Representativa de Autor desconhecido - Fonte: http://tinyurl.com/obvptcq


Sociedade e Cultura Artística
As manifestações artísticas e vestígios materiais de uma determinada três pinheiros, todos no cercado em madeira. Em entrevistas com a comunidade
sociedade são compreendidos, antropologicamente, como Patrimônios Culturais. local, constatou-se que o uso de imagens associado à navegação é costumeiro.
Ainda que o tempo exerça o seu papel, onde o esquecimento é um dos seus Há também a Capela de Nossa Senhora dos Navegantes, projeto arquitetônico
atributos, certos valores de identidade e tradição permanecem enraizados na cultura em estilo moderno, com linhas plásticas em concreto. A capela está localizada no
das civilizações, mesmo com o passar dos séculos. Em relação ao Tietê, por bairro do Rio Bonito, no município de Botucatu, e abriga a imagem de Nossa Senhora
exemplo, a primeira análise a fazer é que o próprio rio deve ser considerado dos Navegantes, capitã das procissões terrestre e fluvial, realizadas pelas
patrimônio. Durante séculos, o “rio de verdade”, conforme sua etimologia tupi (Ti = comunidades no mês de outubro. Da capela, após a missa, o cortejo segue por terra
rio e etê = de verdade) foi via de comunicação na região que hoje compreende o até o Córrego da Mina. Neste ponto, a imagem segue escoltada por embarcações
estado de São Paulo. A singularidade de seu curso favoreceu a penetração enfeitadas, com comemorações e fogos de artifício, até o ponto onde se inicia a
colonizadora portuguesa durante os séculos XVII, XVIII e XIX, sem contar, festa popular.
obviamente, a sua utilização pela ocupação indígena há, pelo menos, 9 mil anos. Nas localidades do Tietê, os ranchos de pesca atualmente ocupam instalações
Com o desdobramento desses processos, poucas cidades surgiram na bacia precárias, confeccionadas com sobras de materiais e reaproveitamento de chapas
do Tietê. Ainda assim, o rio, como um espaço histórico significativo, não se modifica. de zinco, lonas e aglomerados. A pesca tradicional persiste como profissão, exercida
Sem ser um universo cultural predominantemente caipira, como são as regiões autonomamente ou sob o controle de associações, como a existente no Bairro
entre os estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, formadas a partir do Matão, em Botucatu. Os equipamentos desses ranchos são compostos por fogões
influxo da mineração no final do século XVIII, nem um espaço originalmente a lenha e a gás, redes, colchonetes e vasilhames. Embora representem um modo
minerador, as cidades da margem do Tietê têm em sua cultura e história, a expansão cultural regional, a forma de ocupação das margens do rio é irregular.
do café e as imigrações italiana e japonesa. A distância de grandes polos e o menor Realizada há mais de 150 anos, a Festa do Divino Espírito Santo, que ocorre
volume de recursos fez com que as cidades se tornassem nichos arquitetônicos na cidade de Anhembi, nasceu com uma promessa de ribeirinhos para acabar com
tradicionais. Assim, nestas localidades, podem ser identificados resquícios no modo um surto de febre amarela na região. Com a graça obtida, famílias saíam em
de construir, com casas de beiral direto para a rua, água prolongada para os fundos peregrinação, todos os anos, em louvor ao Divino Espírito Santo. Nesta jornada,
das estruturas e fachadas sem recuo. Elementos com influência do eclético recebiam pouso e alimentação de anfitriões. Com o tempo, a festa ganhou mais
(arquitetura do café), além de nuances de um art déco tardio, também foram adeptos: o município, que possui cerca de 6 mil habitantes, chega a receber 35 mil
reconhecidos. visitantes no período da festa. Uma irmandade foi criada e, hoje, consiste no principal
Resultado do sucateamento e da falta de investimento, uma a uma das antigas evento religioso de Anhembi.
paradas ferroviárias foi desativada, até o seu derradeiro funcionamento na década Na cidade de Dois Córregos, em uma das pequenas grutas situadas no sopé
de 80. Hoje restaram em pequenas cidades ao entorno, as antigas vilas ferroviárias da Pedra Branca, há uma lenda local que afirma ser a morada de Unhudo. Apesar
e estações, verdadeiros monumentos de estrutura “palacial”, muitas vezes em do medo que desperta, todos acreditam que este ser mitológico presta grande ajuda
ruínas. na preservação das matas, pois não aceita que as pessoas colham jabuticabas
Em Barra Bonita, destaca-se o Oratório a Nossa Senhora Aparecida, edificação silvestres nem orquídeas da região. A criatura, segundo a crença, possui dois metros
construída em alvenaria de tijolos cerâmicos, em duas águas, com revestimento de de altura, cabelos longos e garras, além de usar um chapéu de abas largas desfiadas.
reboco, piso com cerâmico vidrado, cobertura em telhas cerâmicas em duas águas Quando alguma boiada passa perto de Pedra Branca, Unhudo se esconde atrás de
e frechal de madeira. um tronco de árvore e repete a sonoridade do aboio que os boiadeiros costumam
No seu interior, existem quatro imagens de Nossa Senhora Aparecida em fazer com a sua cantoria tradicional. Se alguém o desafia, a lenda conta que esta
gesso, dois mochos que servem como pequenos altares, arranjo floral artificial e pessoa leva um tapa da criatura, e a sua força consegue arremessar o indivíduo
vestígios de velas votivas. O oratório é cercado por flores primaveras e ladeado por para o outro lado do rio Tietê.

116 Paisagens Culturais Paulistas Paisagens Culturais Paulistas 117


Em Ibitinga, região que desde 1992 possui o status de “estância turística”
graças à prosperidade do turismo comercial, a indústria do bordado é economicamente
bem consolidada. A atividade foi levada para a cidade pela portuguesa Dioguina
Martins Sampaio Pires que, para reforçar o orçamento doméstico, adquiriu uma
máquina de bordar, onde confeccionava enxovais para noivas e recém-nascidos.
Como a demanda pelos bordados aumentou, ela teve de contratar moças para
ajudá-la, disseminando, assim, o ofício do bordado para aprendizes.
Com isso, o “Salão de dona Dioguina”, na Rua 13 de maio, se tornou famoso.
Desde então, em meados de 1940, Ibitinga passou a ser conhecida como um bom
lugar para as noivas prepararem seus enxovais. O trabalho era manual e a matéria-
prima utilizada, o linho, revelava verdadeiras obras de arte, com bordados em crivo
e rechilieu.
Com a primeira Feira de Bordado, em 1974, a indústria do bordado em Ibitinga
começou a se consolidar, aumentando significativamente a oferta de mão-de-obra
local. Devido a crescente demanda, a atividade deixou de ser exclusivamente
artesanal para se tornar, posteriormente, confeccionada por um sistema de
maquinário industrial.
A arte do bordado também obteve relações culturais com outros eventos da
cidade. Na festa de Corpus Christi, por exemplo, as bordadeiras ocupam vários dias
confeccionando bordados para enfeitar as ruas. Dezenas de quarteirões são Oratório de Nossa Senhora em Barra Bonita
entapetados com bordados diversos para a procissão. Depois, essas obras são
doadas para a Associação Senhor do Bom Jesus, cujos lucros são destinados às
atividades assistenciais da paróquia local.

118 Paisagens Culturais Paulistas Capela de Nossa Senhora em Anhembi


Praça Central em Dois Córregos Transporte Fluvial utilizado em Barra Bonita e também para Festa do Divino

Compras na Cidade de Ibitinga Atividade Turística da Região


UHE Nova
Avanhandava
Acervo: AES Tietê
São José do Rio Pardo
a terra de Euclides da Cunha
O escritor Euclides da Cunha, autor de “Os sertões”, é um patrimônio de forte
relevância na alma do povo rio- pardense. Foi em São José do Rio Pardo que ele
viveu e trabalhou durantes muitos anos, escrevendo uma de suas obras mais
importantes. “É através dele que exprimimos ao Brasil e ao mundo nossa verdadeira
identidade, a de que não nos conformamos com as mazelas sociais e culturais em
que nosso país vive, já denunciadas pelo autor”, disse Lúcia Helena Vitto, diretora
do Museu e Casa de Cultura Euclides da Cunha, espaço dedicado a expor
documentos e imagens sobre a vida e obra do escritor.
A Casa também abriga uma exposição temática sobre Canudos, diversas
versões de “Os sertões”, além de informações sobre a Tragédia da Piedade, episódio
relacionado à morte do autor.
Dentre as atividades culturais do município, a que mais se destaca é a “Semana
Euclidiana”, promovida todos os anos. O evento tem início em 9 de agosto, com um
desfile que leva centenas de rio-pardenses às ruas anunciando o início das
comemorações. Tudo aquilo que rememora Euclides da Cunha acontece durante a
Semana, como ciclos de palestras, conferências e estudos, onde se discute história,
filosofia, geografia, literatura, língua portuguesa e psicologia. Apresentações
musicais, espetáculos de dança, teatro, oficinas e “jogos Euclidianos” complementam
a programação das atividades.

Bordados Artesanais em Ibitinga

124 Paisagens Culturais Paulistas


Colégio Euclides da Cunha em São José do Rio Pardo
A cultura caipira
Lento, preguiçoso e com um capim assentado no canto da boca, Jeca Tatu, de uma cultura híbrida, que gerava sentimentos bastante paradoxais entre o restante dos
consagrado personagem criado por Monteiro Lobato, se tornou uma das figuras mais colonizadores portugueses. O processo de formação dessa cultura caipira começa já nas
fortes do imaginário do caipira brasileiro. De pé descalço, fala confusa e mal arrumada características fundamentais da própria cultura estabelecida no planalto paulista, no contato
no português, com um chapéu de palha na cabeça, a imagem composta por Lobato íntimo entre os portugueses e indígenas, principalmente os da etnia Tupiguarani.
conseguiu não só se perpetuar como se desdobrou, partindo dos filmes de Amâncio Portanto, o que se viu formar no decorrer do tempo foi uma cultura distinta, nem
Mazzaropi, até o personagem dos quadrinhos de Maurício de Souza, Chico Bento. europeia, nem indígena, uma cultura que a partir de certo momento se tornou tão diversa de
Porém, entre o ser e o representar há um largo espaço que ainda guarda vários suas matrizes que não poderia mais ser tratada nem como uma apropriação colonial (como
equívocos sobre o que foi essa cultura caipira, em verdade bastante específica, ainda insistiu uma parte da historiografia) nem como uma cafrealização. São nestas questões que
que estendida a quase toda área que não seja metrópole na região sudeste. reside a singularidade da cultura criada no planalto paulista.
Nas beiras dos rios amazônicos a cultura interiorana passou a ser chamada de Pela própria geologia das áreas de mineração nas Minas Gerais, Goiás e São Paulo,
“cabocla”, embora esse termo também tenha sido largamente empregado para e também pela ineficiência das técnicas de mineração, a atividade mineradora tendeu a ser
interioranos de todo o território. Nas áreas de pastoreio do interior de Pernambuco, de curta duração. As reservas minerais eram descobertas e rapidamente exauridas. Até
Alagoas, Ceará, Bahia, Paraíba, Piauí, o termo criado foi o de “sertanejo”, cultura ligada mesmo nas regiões de Ouro Preto e Vila Rica, a atividade sobreviveu por menos de 100
às atividades de criação nas áreas de extensão da caatinga. Já no extremo sul, nas anos. Aos milhares de mineiros que se deslocaram para essas áreas, lhes restavam
áreas de pampas e coxilhas, hoje ocupadas pelo Rio Grande do Sul, Uruguai, Argentina somente algumas alternativas quando as jazidas acabavam: buscar novas áreas de
e trechos do Paraguai, a denominação foi a de “gaúcho”, cultura também associada à mineração, retornar às terras natais, investir os cabedais amealhados durante os anos de
criação de gado. atividade mineradora, ou, por fim, juntar o pouco de recurso que sobrara para virar um
As imagens criadas do caipira, embora sejam fantasiosas, não são completas pequeno produtor rural. É neste ponto que o perfil da cultura caipira começou a surgir.
“inverdades”. O caipira, tal como o imaginado e difundido por Lobato e, posteriormente, Devido à ausência de capital suficiente para estabelecer unidades agrícolas produtivas de
seus sucessores é, na realidade, uma contraposição aguda entre alguém que, na excedente, as que foram possíveis de serem construídas (constantemente chamadas de
mentalidade de um escritor em plena efervescência das primeiras décadas do século “sítios”) primaram por sua modéstia e pela produção de subsistência.
XX, representa o passado agrário da nação, rural, interiorano, retrógrado, e os desejos A distância do mundo rural para o universo urbano incentivou a união desses grupos
de se industrializar, urbanizar. A figura do caipira, assim como as do sertanejo, do gaúcho (os “caipiras”) para a realização de diversas atividades. Assim, uma carga religiosa, mas
e do caboclo, somente é possível num país no qual sua história se desenvolveu entre também de diversão, de sociabilidade, de elaboração de acordos e estreitamento de laços,
dois polos: o litoral, quase que monopolizando o poder e o contato com o restante do como convites para batizados ou apadrinhamentos, se tornaram momentos de grande
mundo, e os interiores, durante muito tempo, isolados nas terras desprovidas da importância neste universo.
ocupação colonial do europeu. A chamada culinária “caipira” ou “mineira”, com alterações muito sutis, tornou-se um artigo
As regiões compreendidas pelas capitanias de São Paulo (que integrava o cultural de comercialização. As bases do gosto característico caipira primaram, inicialmente, pelo
Paraná), Mato Grosso (que incluía o atual Mato Grosso do Sul), Goiás (com parcelas do milho, a mandioca (também herdada das matrizes Tupi), algumas verduras, como a serralha, a
atual Tocantins), as Minas Gerais e os interiores do Rio de Janeiro e Espírito Santo, couve, o feijão, e frutos como o marmelo e a goiaba, os quais se tornaram famosos por conta da
compõem o que se pode chamar de área cultural caipira. doçaria caipira. A criação de gado leiteiro foi sendo introduzida com o tempo, com destaque para
A formação desse universo cultural e, especificamente, do tipo humano definido a região do sul de Minas Gerais, e os desdobramentos alimentícios do leite, como os queijos, os
como caipira é indissociável do processo de expansão da colonização portuguesa a doces e a manteiga. Depois, chegaram a cana-de-açúcar, a garapa, o açúcar escuro, a rapadura
partir de São Paulo e das atividades econômicas desenvolvidas pelos colonos ao longo e as aguardentes, produzidas artesanalmente ainda hoje. As galinhas e os porcos, além da caça,
dos séculos de atividades nos sertões. O isolamento relativo dos paulistas em sua vila, técnica também herdada dos indígenas do planalto paulista, passaram a também integrar a
implantada no meio de uma área densamente ocupada por indígenas, favoreceu a formação culinária tradicional caipira.

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Caipira picando
fumo quadro de
Almeida Jr de 1893
Poços de Caldas
O município de Poços de Caldas é composto por um único distrito e tem como Benedito, em 1905, a festa ganhou força e permanece até hoje. De modo geral, de
limites outras oito cidades: Botelhos e Bandeira do Sul (ao Norte); Caldas (a Leste); 1 a 13 de maio são armadas pequenas barracas em torno da igreja, com muitas
Andradas (ao Sul); Águas da Prata, São Sebastião da Grama, Caconde e Divinolândia comidas e bebidas. A programação da festa ainda inclui apresentações de grupos
(a Oeste), sendo esses quatro últimos pertencentes ao estado de São Paulo. Desde de congos e caiapós e procissões.
o início da década de 60, Poços de Caldas apresenta crescimento demográfico As técnicas de fabrico de cristais e de produções artesanais são dois dos
significativo. Até 1990, período em que o aumento da população obteve maior patrimônios imateriais de Poços de Caldas. A primeira, cuja origem remonta à
intensidade, o número de habitantes cresceu cerca 177%, saltando de 38.843 para Veneza, por volta do século XIII, constituiu pauta atual do Museu Histórico e
110.123, conforme o Censo Demográfico do IBGE. Geográfico da cidade, que visa tombá-la como patrimônio cultural do município,
O setor industrial de Poços de Caldas passou a ter força no decorrer de 1960, dado a sua especificidade ante as demais formas de fabrico de vidro artístico,
e atividades mais tradicionais do município – como a indústria de refratários, de inclusive os italianos. A segunda está centrada na produção de artigos regionais de
alimentos (doces, bebidas e carne), confecções de roupas, cristais e das mineradoras modo tradicional, tais como farinha de milho, aguardente, doces, queijos, café
pioneiras – passaram a conviver com novos empreendimentos, tais como a torrado, biscoitos etc. Esses artigos recuperam antigas práticas culturais relativas à
mineração de fibras químicas para a indústria têxtil e a fabricação de cabos elétricos existência de unidades agrícolas de subsistência, típicas do universo cultural caipira.
de cobre e alumínio. Ainda sim, as culturas do café e batata se mantiveram.
Após a proibição dos cassinos no Brasil, Poços de Caldas passou a ser
conhecida como a “cidade dos namorados”, a “cidade das noivas” ou até mesmo a
“cidade dos cristais”. Mas, entre as atividades econômicas presentes no município,
o turismo talvez seja aquela que melhor traduza a relação estabelecida entre a
cidade e o seu patrimônio.
Dentre eles, está a Capela de Santa Cruz, tombada pelo decreto nº 3389/85.
Construída no final do século XIX, no morro que faz fronteira à Praça Senador
Godoy, a igreja proporcionava, além de seus ritos litúrgicos, a festa de Santa Cruz,
uma das mais tradicionais comemorações religiosas de Poços de Caldas realizadas
no final de 1800 e nas primeiras décadas do século XX.
Também há no município a Estação Ferroviária Fepasa (Complexo Ferroviário
da Antiga Mogiana, incluindo casas funcionais, galpões e demais edificações), que
foi inaugurada em 22 de outubro de 1886, em cerimônia que contou com as
presenças de D. Pedro II e da Imperatriz D. Tereza Cristina, além da Igreja Santo
Antonio. Inicialmente uma capela, construída em 1881, a igreja só levou o nome de
Santo Antonio após sucessivas solicitações feitas pela colônia italiana de Poços de
Caldas junto ao bispado, já na segunda metade do século XX.
As exigências integravam a vinda de uma imagem do santo, vinda de Pádua,
que havia sido trazida para o município, em 1907. A igreja foi remodelada a partir da
década de 60, já que sua estrutura apresentava graves problemas.
Celebrada em diversas partes do país, a Festa de São Benedito é um dos eventos
mais importantes de Poços de Caldas. Após a construção da primeira capela de São

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Relógio Natural em Poços de Caldas MG Palace Cassino em Poços de Caldas MG
Produção de Cristais, Cristais São Marcos em Poços de Caldas MG
UHE Água Vermelha
Acervo: AES Tietê
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.Viagem à província de Goiás. São Paulo/ Belo Horizonte: Edusp/Itatiaia, 1975. Expressamos nossos agradecimentos às comunidades dos 88 municípios
. Viagem à província de São Paulo. São Paulo/ Belo Horizonte: Edusp/Itatiaia, 1976. SANTOS, Lúcio José dos. História de Minas Gerais. Belo Horizonte:
Imprensa Oficial, 1972.
tratados por este Programa. Sem elas, sua memória e seu apoio constante às
SANT’ANA, Nuto, São Paulo Histórico, aspectos, lendas, costumes, 6 vol,São Paulo: Departamento de Cultura, 1937. equipes, este trabalho certamente não alcançaria seus resultados.
SAMPAIO, Teodoro. “São Paulo no século XIX”. Revista do Instituto Histórico Nossos agradecimentos se estendem às empresas AES Tietê que, com seu
SCHMITZ, Pedro Ignácio, S.J. Caçadores e coletores da Pré-história do Brasil. São Leopoldo, Instituto Anchietano de Pesquisãs, 1984 . constante apoio e estímulo, fizeram com que o Programa abrangesse a totalidade
. Prehistoric Hunters and Gatherers of Brazil. Journal of World Prehistory 1(1):53-126, 1987. de ações científicas e sociais para pleno atendimento ao Patrimônio Cultural local e
SCIENTIA CONSULTORIA CIENTÍFICA. Relatório final: Levantamento arqueológico na faixa de depleção do Reservatório da UHE Caconde, SP/MG. São às atividades de Educação Patrimonial desenvolvidas.
Paulo, 2004. 132p + anexos.
Espera-se que a geração presente e futura aprecie o trabalho e seus resultados,
SEVCENKO, Nicolau. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na Primeira República. São Paulo: Brasiliense, 1985.
e os incorpore à Memória Nacional e de seus povos.
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