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PARAHYBA

INFORMATIVO DO INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO DO ESTADO DA PARAÍBA - IPHAEP


Joã o Pessoa/PB - 2019- Ano IV - Nº 04

Bananeiras

PATRIMÔNIO CULTURAL DA PARAÍBA


IPHAEP Como surgiu
GOVERNO DO ESTADO DA PARAIBA
João Azevedo Lins Filho O Informativo Parahyba é uma iniciativa do Governo
VICE-GOVERNADORA DO ESTADO DA PARAIBA do Estado, através do Instituto do Patrimônio Histórico e
Ana Lígia Costa Feliciano
Artístico do Estado da Paraíba. Sua inalidade é divulgar
SECRETARIA ESTADUAL DE CULTURA assuntos e ações relacionadas à preservação, conservação
Damião Ramos Cavalcanti
DIRETORIA EXECUTIVA DO IPHAEP
e restauração dos bens culturais e patrimoniais, a
Cassandra Figueiredo Dias proteção dos Centros Históricos e a salvaguarda de bens
CORPO TÉCNICO E APOIO - Sede do Iphaep - João Pessoa móveis e imóveis dos municípios.
Assessoria da Direção Com o compromisso de estreitar os laços com a
Thyago Henriques de Oliveira Madruga Freire sociedade paraibana, o Iphaep utiliza-se da Educação
Coordenadoria Administrativa/Financeira Patrimonial, por meio da Legislação, da História e da
Priscilla dos Anjos Ré gis A rq u i t e t u ra p ro m o v e n d o o co n h e c i m e n t o e a
Francisca Liete Ferreira
Francisco Assis dos Santos conscientização social.
Iná cio Roberto da Silva Dantas
Lucinaldo Lins de Castro
Maria Marcella Medeiros Melo Uma ótima leitura!
Maria Lucinda Pires
Sharlyne Nunes Pereira
Coordenadoria de Arquitetura e Ecologia
Gú bio Mariz Timó teo de Sousa
O que você vai encontrar?
Anıb ́ al Victor de Lima e Moura Neto História
Artur Medeiros Veiga Rodrigues Momentos decisivos da Histó ria de Bananeiras..................... 03
Breno Vieira Crispim
Carlos Alberto Farias de Azevedo Centro Histórico
Jé ssica Arisla Rodrigues de França
Aspectos Arquitetô nicos do Centro Histó rico de Bananeiras
Luiz Carlos Kerhle
Otá vio Cá ssio Olimpio Maia .......................................................................................................................05
Perlla de Almeida Gó is
Piedade Farias Arquitetura
Nathá lia Marques de Almeida Lima Miranda Cidade Cená rio: o risco de perda da autenticidade de
Rosane Coutinho Pereira Lacet Bananeiras ...............................................................................................08
Sé rgio Prado Machado
Patrimônio Natural
Estagiá rios(as) Para alé m da Pedra e Cal: o Patrimô nio ambiental de
Ana Cecıĺia Ré gis Alves Bananeiras ...............................................................................................10
Anna Luıśa Dantas Gualberto e Silva
Creuza Larissa Micena da Silva
Heloıśa Barbosa Literatura
Lidiane Elaine Ferreira da Silva
Bananeiras é o novo Paıś de Sã o Saruê .......................................11
Natá lia Vieira Carneiro
Gastronomia
Coordenadoria de Assuntos Históricos, Artísticos e Culturais Guloseimas de Bananeiras ...............................................................12
Má rcia de Albuquerque Alves
Edvaldo da Cunha Lira Memória
Rafaella Soares de Souza Lá vem o trem... .....................................................................................14
Assessoria Jurídica
Sandra Suellen França de Oliveira Macedo Economia
Assessoria de Comunicação
Empreendedorismo e o desenvolvimento: a Economia
Thamara Maria Maia Duarte Patrimonial em Bananeiras ............................................................ 16
CORPO TÉCNICO E APOIO - Núcleo do Iphaep - Campina Grande Arte & Cultura
Jú lia Araú jo de Melo Dança do Lesô : ritmo, verso e poesia Patrimô nio Imaterial
Maria do Socorro Barbosa Reges Nunes de Bananeiras ........................................................................................19
Terezinha de Figueiredo Silva
Legislação
Colaboradores O porquê de preservar: Patrimô nio Cultural de Bananeiras à
luz da Legislaçã o Estadual .............................................................. 20
Márcia de Albuquerque Alves - Direção
Thamara Duarte (DRT/PB-550/85) - Jornalista e Revisora
Centro Histó rico de Bananeiras - Equipe Iphaep
Educação Patrimonial
Cassandra Figueiredo Dias - Arte & Cultura Educaçã o e Patrimô nio: Lugares de memó ria em Bananeiras
Edvaldo Lira e Carlos Azevedo - História .......................................................................................................................21
Gabriela Pontes - Arquitetura
Jé ssica Arisla e Anna Luıśa Dantas - Memória Fique ligado!
Jú lia, Socorro, Terezinha e Gú bio - Educação Patrimonial Atividades do Iphaep ..........................................................................23
Maria Marcella - Patrimônio Natural
Piedade Farias - Literatura de Cordel
Rosane Lacet - Gastronomia Contatos, informações e sugestões:
Sandra Suellen e Vitó ria Regina - Legislação IPHAEP - SEDE JOÃO PESSOA - Av. Joã o Machado, n.º 348, Jaguaribe
Thyago Henriques - Economia IPHAEP - NÚCLEO CAMPINA GRANDE - Casa da Cidadania, R. Dr. Severino Cruz, 283 - Centro
E-mail: administracao@iphaep.pb.gov.br - Fone: (83) 3208-1400
Incentivo Cultural
Loteria do Estado da Paraíba - Lotep
Superintendente Sebastiã o Alberto Câ ndido da Cruz
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.02
História
Edivaldo Lira | Carlos Azevedo
Historiador Antropólogo

Momentos decisivos da História de Bananeiras


Pesquisar sobre o Brejo nã o é fá cil. A historiogra ia
municipal da Paraı́ba produziu muitos textos, mas a
maioria deles é repetitivo. Uns descritivos, outros
pretensiosos e vazios; embasados numa metodologia
positivista que, de maneira nenhuma, contribui para uma
nova interpretaçã o da histó ria do Brejo paraibano.
Sentimos muita di iculdade no que diz respeito à
coleta de dados para elaborar um estudo crıt́ico relativo à
histó ria de Bananeiras. Tivemos de recorrer aos autores
clá ssicos da historiogra ia municipal que trataram da
nossa zona brejeira: Horá cio de Almeida (1957),
ACERVO: IPHAEP

Humberto Nó brega (1968), Celso Mariz (1985), Manoel


Luiz da Silva (1997), entre outros.
Casarão de Estevam José da Rocha, filho do Barão de Araruna - Bananeiras-PB
Recorremos, ainda, a outras fontes, os autores mais
modernos e que deram enfoques bastante diferentes:
O BREJO: TERRA IGNOTA? viram o Brejo em sua totalidade, como microrregiã o
uniforme, sem departamentalizar, sem salientar nichos
A ocupaçã o territorial do Brejo foi lenta e cheia de ecoló gicos diferenciados. Ou seja, tiveram uma visã o
holıśtica das terras brejeiras, a, exemplo de Zé lia Almeida
con litos. O relevo era muito abrupto, e havia a presença
(2010), em Bem-estar e Riqueza no Brejo de Areia.
de povos indıǵenas hostis à conquista territorial pelo
invasor, isto é , o colonizador. Esses povos nã o admitiam
elementos estranhos (leia-se colonizadores) em seus
misteriosa, ainda nã o povoada pelo colonizador. Esse
vastos territó rios. Toda historiogra ia tradicional (Irineu
conceito ainda persiste em muitos trabalhos, estudos de
Pinto, Maximiano Machado, Irineu Jof ily, Coriolano de
cunho regional.
Medeiros) menciona esses fatores como obstá culos à
Em 1923, José Amé rico de Almeida lançou «A Paraıb ́ a
colonizaçã o do Brejo. e seus problemas». Exatamente o primeiro capıt́ulo do
No fundo, o temor era devido ao imenso territó rio livro é Terra Ignota. E uma deixa para falar do nosso
ainda bravio e completamente desconhecido. Mas, de territó rio ainda desconhecido, exó tico – sujeito a vá rias
certa forma, esse Sertã o (de sertã o) atraia alguns leituras por parte de historiadores e ensaıśtas sociais.
aventureiros, que estavam à procura de riqueza, de ouro e Outro autor paraibano, també m do Brejo, utiliza o
pedras preciosas. E tanto que Elias Herckmans, conceito Terra Ignota: Horá cio de Almeida (1957). Em
governador da Capitania da Paraıb ́ a durante a invasã o «Brejo de Areia. Memó rias de um municıp ́ io», ele inicia
holandesa, empreendeu uma entrada pelo Brejo: seu texto com o Sertã o de Bruxaxá (Terra Ignota), cujo
capıt́ulo narra a ocupaçã o territorial de Areia.
Partindo do conceito Terra Ignota como terra
Maurı́cio de Nassau em 1641, deu ordens a Elias
Herckmans, governador da Paraıb ́ a, para penetrar o desconhecida, terra a ser descoberta, conquistada, é que
interior, a im de descobrir minas de ouro. Herckmans, se explica a ocupaçã o do territó rio de Bananeiras e de
acompanhado de 113 homens, andou dois meses
abaixo e acima, com grandes trabalhos e perigos, outros territó rios do Brejo. Muitas vezes o fato histó rico
havendo percorrido e ultrapassado o territó rio de está envolto por uma aura (lenda?); um fato à s vezes
Areia, sem nada descobrir (ALMEIDA, 1980, p.2).
edi icante de cará ter religioso, que dá um recorte todo
especial ao heró i civilizador – o fundador do arraial, do
Vá rios historiadores se referem à expediçã o de
povoado, da futura cidade. Como foi o caso de Gregó rio da
Herckmans pelo Brejo paraibano no sé culo XVII. Essa Costa Soares, o desbravador das terras (ignotas) de
expediçã o chegou até à Cupaoba, nã o indo mais alé m da Bananeiras, fundador da povoaçã o de Bananeiras.
serra. O fato é que Elias Herckmans devassou a Terra Gregó rio Soares mandou construir uma capela votiva, a
Ignota. capela de Nossa Senhora do Livramento. O fato heró ico,
Mais uma vez a historiogra ia local usa e abusa do inuscitado – um milagre? -, foi narrado atravé s dos
conceito Terra Ignota: desertã o, sertã o. Terra distante, tempos e registrado pela histó ria local.
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.03
História
Edivaldo Lira | Carlos Azevedo
Historiador Antropólogo

Momentos decisivos da História de Bananeiras


DO POVOADO À CIDADE lavoura aristocrá tica em Bananeiras, como frisou Celso
Mariz. Na verdade, nã o foi apenas o mal da praga, mas
O fato “milagroso”, mencionado acima, deu-se em també m o empobrecimento da terra, os fatores que
levaram a economia cafeeira ao rendimento decrescente,
1762 e foi posteriormente registrado em Itinerá rio
ou seja, rendimento nulo.
Histó rico da Paraıb
́ a: Apesar do café ter tido muita importâ ncia na
Neste ano (1762) teria ocorrido o fato milagroso que economia do Brejo, nã o se pode falar de um ciclo do café
propiciou a fundaçã o da cidade de Bananeiras. Conta a nas terras brejeiras. Foi somente um episó dio de
tradiçã o que Gregó rio da Costa Soares, indo à caça caiu
prisioneiro dos indıǵenas Sucurus, que o iam matar. relevâ ncia econô mica e social para a regiã o, e nã o
Nesse transe teria ele invocado N.S. do Livramento propriamente um ciclo.
para livrá -lo do im que via pró ximo, teria sido
atendido, fugindo milagrosamente da prisã o. Em
Depois da crise do café em 1925, a cana-de-açú car
reconhecimento pela proteçã o recebida, resolveu volta a ocupar seus espaços, como notou Antô nio
fazer doaçã o do terreno onde assenta a cidade para Augusto de Almeida (1994). O que quer dizer que o café
nele ser erguida a igreja sob a invocaçã o da sua
padroeira (LEAL, 1986: 96). foi substituıd ́ o por uma antiga atividade econô mica que
fora por muitos anos, a vocaçã o agrıćola do Brejo.
Alguns historiadores, entre eles Humberto O que nos interessa é à quela atividade - a cultura do
Nó brega(1968), tentam provar a existê ncia do episó dio, café -, que “foi capaz de criar um episó dio original de
mostrando o documento no qual Gregó rio Soares, em civilizaçã o econô mica” – no dizer de Celso Mariz.
gratidã o, doou um terreno para edi icaçã o da capela Houve crescimento econô mico no municı́pio pela
notó ria acumulaçã o de capital, gerando renda e,
votiva na antiga povoaçã o de Bananeiras.
consequentemente, investimentos produtivos e
Os acontecimentos seguintes sã o de cará ter
improdutivos na regiã o. Foi um perıo ́ do de bem-estar
histó rico, obedecem à uma cronologia e fazem parte, social para a burguesia cafeeira – burguesia comercial e
hoje, da histó ria o icial de Bananeiras: agrá ria, conforme a classi icaçã o de Sé rgio Silva (1981).
Vê -se, nessa é poca, uma intensa vida cultural nas cidades
1827 - A povoaçã o de Bananeiras, fundada por de Bananeiras e Areia, graças aos investimentos
Gregó rio da Costa Soares, passou a pertencer à Vila de
Sã o Miguel da Baıá da Traiçã o que, segundo Nó brega, improdutivos gerados pela acumulaçã o de capital em
tinha uma vasta á rea territorial. 1833 - Elevou-se à Vila toda regiã o do Brejo (ALMEIDA, 2006: 97).
e icou sob a jurisdiçã o da Vila Real do Brejo de Areia.
1879 - Tornou-se cidade. Sua maioridade polıt́ica foi
Com isso, a cidade de Bananeiras, foi bene iciada, seu
dada pelo Presidente José Rodrigues Pereira Jú nior, patrimô nio ambiental urbano enriqueceu por conta de
quando sancionou a Lei nº 690. novas e belas edi icaçõ es, como um claro indicador de
progresso econô mico, gerado pela cultura do café que
E s s e s “ a c i d e n t e s ” h i s t ó r i c o s e p o l ı́ t i c o s possibilitou o aparecimento de uma burguesia
aparentemente sem muita importâ ncia sã o “acidentes” esclarecida e de muito bom gosto, consumindo produtos
que assinalam os avanços no territó rio, as conquistas importados e apostando, sempre, no bem-estar social,
sociais e o amadurecimento polı́tico do povo. En im, ena qualidade de vida local.
O que se pretende preservar sã o “todos aqueles
à quelas datas signi icam, entre outras coisas, a ixaçã o do
assentamentos humanos, fortemente condicionados por
homem na antiga Terra Ignota, produzindo riqueza, uma estrutura fıśica, proveniente do passado”, como reza
dominando a natureza e conquistando o direito à cidade, a Declaraçã o de Quito (1977).
para deixar as marcas de sua historicidade. O Instituto do Patrimô nio Histó rico e Artıśtico do
Estado da Paraı́ba (IPHAEP) protege desde 2010, a
A BURGUESIA CAFEEIRA E SEU PATRIMÔNIO cidade de Bananeiras, atravé s do tombamento de seus
AMBIENTAL URBANO bens imó veis – o patrimô nio ambiental urbano –, para
que o seu passado tenha futuro.

Como era Bananeiras antes e depois do café ? Até


1925, a cidade foi o maior centro de produçã o de café da
Paraı́ba, segundo informaçã o de Horá cio de Almeida
(1980: 109). No entanto entre os anos de 1922 e 1923,
uma praga surgida na fazenda Gamelas. Conhecida como
ACERVO: IPHAEP

Cerococcus Parahybensis, ela começou a devastar a


cultura de café no Brejo. Foi entã o decretada a morte da
Patrimônio Cultural-Bananeiras-PB
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.04
Centro Histórico
Equipe Iphaep

Centro Histórico de Bananeiras: aspectos arquitetônicos


Para a caracterizaçã o de uma cidade é necessá rio
considerar diversos aspectos fıśicos, histó ricos e só cio-
econô micos, inclusive seu papel na regiã o em que esta se
encontra inserida, pois essas relaçõ es sã o de inidoras da
estrutura espacial de um nú cleo urbano.
Considerando que a paisagem urbana trata da
manifestaçã o humana na produçã o e materializaçã o do Foto aérea de final do século XX Foto de satélite de 2016.
1 Igreja Nossa Senhora do Livramento Google Earth
espaço urbano, onde há representaçõ es de um tempo 2 Colégio das Dorotéias

recente ou remoto, pode-se concluir que esta paisagem


Na metade do sé culo XIX Bananeiras era um dos
assume aspectos formais e visuais desse processo de
maiores produtores de Café da regiã o. Com o capital
formaçã o e desenvolvimento, associado à s relaçõ es que a
obtido nesta produçã o eram construıd ́ os os casarõ es
sociedade cria em cada momento histó rico.
senhoriais, que geralmente eram implantados no centro
Dessa forma, para a presente aná lise da estrutura e da cidade, nas proximidades da Igreja Matriz.
paisagem urbana da cidade de Bananeiras é preciso
avaliar suas caracterı́ s ticas geográ icas (local de
implantaçã o, clima, recursos naturais existentes), seus
aspectos histó ricos de ocupaçã o (origem e etapas de
crescimento), suas funçõ es e necessidades ( luxo e
vocaçã o) e per il da populaçã o que a habita ou a ocupa.
O municıp
́ io de Bananeiras está inserido no Planalto
da Borborema, localizado na Microrregiã o do Brejo
ACERVO: IPHAEP

paraibano, que por sua vez se insere na Mesorregiã o


Agreste do Estado da Paraıb
́ a.
Exemplo de Casarões presentes em Bananeiras - PB
Veri ica-se seu relevo ondulado recortado por rios
perenes, com presença de vales profundos, estreitos e Esses casarõ es apresentam elementos decorativos de
dissecado (PAULINO, 2007). Assim, Bananeiras se diversos estilos, caracterizando-os como eclé ticos e
encrava no relevo do Planalto da Borborema, se demonstrando a profusã o de referê ncias artıśticas, tıp ́ ica
formando por serras e planaltos, como també m por da manifestaçã o arquitetô nica da transiçã o do sé culo XIX
grandes á reas de vá rzeas. para o XX.
Apesar de, na é poca, ainda se caracterizar como um A grande maioria dessas edi icaçõ es possuem porã o
municıp
́ io rural, há registros de que em 1966 a cidade já alto, elevando-as do nıv́el da rua. Foram projetadas com
contava com uma estrutura urbana com 850 edi icaçõ es, amplas janelas, em que se aplicavam, muitas vezes,
distribuı́ d as em 03 praças e 25 ruas (sendo 10 material importado, principalmente nos guarda-corpos
pavimentadas) e com uma rede escolar com 35 unidades de ferro das sacadas.
Ainda hoje podemos perceber em Bananeiras, no
distribuıd
́ as na zona urbana e rural (PAULINO, 2007).
espaço urbano, e també m no rural, edi icaçõ es que
Pode-se observar, a partir das imagens a seguir que
demonstram um perı́ o do de prosperidade em
houve uma grande expansã o da á rea urbana de
decorrê ncia da economia cafeeira.
Bananeiras nas ú ltimas dé cadas. Considerando que as
Mas, apesar do destaque do municıp ́ io na produçã o de
cidades, de modo geral, possuem em seu traçado urbano
café , o transporte era precá rio, o que impedia a vazã o do
e em suas formas arquitetô nicas a representaçã o de
produto em demanda nacional. A estaçã o de trem só foi
signi icados e valores do processo de formaçã o e inaugurada quando a economia cafeeira já havia entrado
evoluçã o, identi ica-se na cidade de Bananeiras os em declı́ n io, em decorrê ncia da praga do bicudo
sı́mbolos que contam a histó ria de um passado de (Cerococus paraibensis), que contaminou as plantaçõ es
opulê ncia de uma aristocracia rural. no ano de 1923.
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.05
Centro Histórico
Equipe Iphaep

Centro Histórico de Bananeiras: aspectos arquitetônicos


O conjunto de edi icaçõ es da Estaçã o Ferroviá ria e A Igreja encontra-se implantada em um local
Armazé m foi inaugurado em 1925, pela Great Western. E, privilegiado, tirando partido da topogra ia acentuada da
somente em 1967, o trem deixou de circular pelo ramal cidade, se destacando na paisagem urbana como um
de Bananeiras, sendo o icialmente desativado em 1970. marco, e podendo ser vista dos mais diversos â ngulos e
Atualmente as edi icaçõ es da antiga Estaçã o Ferroviá ria posiçõ es.
foram restauradas e estã o voltadas para a economia do O nú cleo composto pelas edi icaçõ es religiosas, pela
imagem escultó rica e pela praça, ainda cumpre a funçã o
turismo, onde funciona uma pousada e um restaurante.
de ponto de convergê ncia diá ria, em que as ruas
principais da cidade se articulam e se direcionam a este
espaço pú blico de socializaçã o religiosa.
ACERVO: IPHAEP

Estação de Bananeiras em 1925 e atualmente, com requalificação aprovada pelo


IPHAEP

O conjunto arquitetô nico da Estaçã o Ferroviá ria de


Bananeiras é tombado pelo IPHAEP, atravé s do Decreto
Estadual n.° 22.082/2001.
ACERVO: IPHAEP

Alé m do casario e da estaçã o ferroviá ria, Bananeiras


conta com outras edi icaçõ es histó ricas, tais como o
pré dio dos Correios e telé grafos, de 1835, que permanece
atualmente com a mesma estrutura arquitetô nica e Perspectivas da Cidade de Bananeiras demonstrando a importância da Igreja de
Nossa Senhora do Livramento como marco e elemento simbólico de sua paisagem
funçã o. També m encontramos o colé gio das Doroté ias, urbana

que funcionava como internato feminino, e que se A histó ria de Bananeiras é expressa em seu casario
manté m com funçã o de colé gio. antigo, igreja-matriz, estaçã o ferroviá ria, ruas e praças. A
imagem e paisagem processadas como informaçã o nos
mostram um modo de viver a partir da percepçã o
ambiental urbana.
ACERVO: IPHAEP

Assim, a formaçã o e evoluçã o do espaço em


Bananeiras foram determinadas pelas relaçõ es que se
Prédio dos Bananeiras - PB Colégio das Dorotéias Bananeiras - PB
estabelecem entre seus moradores e os visitantes, pelo
manejo de sım ́ bolos e có digos comuns.
Como exemplar religioso, o patrimô nio da Igreja Para o estudo de tombamento da cidade de
Matriz de Nossa Senhora do Livramento, com sua Bananeiras foi levado em consideraçã o o nú cleo principal
caracterı́ s ticas arquitetô nicas, retrata um perı́ o do
de sua formaçã o urbana, onde há a maior concentraçã o
histó rico da vida religiosa de Bananeiras.
de edi icaçõ es de valor histó rico, artıśtico e cultural.
Fo i r e a l i z a d o , a i n d a u m i n v e n t á r i o , p e l a
Coordenadoria de Arquitetura e Ecologia (CAE) do
IPHAEP, levantando informaçõ es té cnicas de cada imó vel
localizado nas principais ruas e praças da cidade .
ACERVO: IPHAEP

A partir desses estudos, foi de inida a delimitaçã o das


á reas a serem preservadas. Foram divididas em Area de
Preservaçã o Rigorosa e Area de Preservaçã o de Entorno,
Igreja Nossa Senhora do Livramento em Bananeiras - PB
conforme mapa a seguir.
Em frente à Igreja encontra-se erguida uma está tua de
Por im, apó s aprovaçã o do tombamento pelo
Nossa Senhora das Graças, colocada em 1952, em
Conselho de Proteçã o de Bens Histó ricos e Culturais
substituiçã o à s palmeiras imperiais que foram retiradas a
(CONPEC), a decisã o foi homologada atravé s da
pedido dos moradores. A colocaçã o dessa imagem publicaçã o, no Diá rio O icial do Estado da Paraıb ́ a, do
reconstruiu a paisagem local, con igurando-se em um Decreto Estadual n.º 31.842, de 03 de dezembro de 2010,
signo portador de mensagens religiosas de fé . que tomba a Cidade de Bananeiras.
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.06
Centro Histórico
Equipe Iphaep

Centro Histórico de Bananeiras: aspectos arquitetônicos


ACERVO: IPHAEP

A necessidade de se realizar o tombamento de um Centro Histó rico se dá pela importâ ncia de preservar as
caracterıśticas do conjunto urbano como um todo, presentes nã o apenas nas edi icaçõ es isoladas, mas no traçado das
ruas e praças, que re letem toda a dinâ mica histó rica e social.
A divisã o das á reas de preservaçã o, em rigorosa e de entorno, é determinada pelos conceitos presentes no Decreto
Estadual N.º 33.816, de 05 de abril de 2013, em que a Area de Preservaçã o Rigorosa (APR), se caracteriza como uma
á rea com grande densidade de bens de valor, e na qual o conjunto desses bens possui continuidade, harmonia e
uniformidade de edifıćios signi icativos. Já a Area de Preservaçã o de Entorno (APE) é de inida como aquela que
contorna a á rea rigorosa, como um cinturã o, garantindo a visibilidade da mesma. E importante por formar um setor de
transiçã o entre a á rea de preservaçã o e a á rea de expansã o da cidade contemporâ nea.
Essas medidas tê m como base estudos e instrumentos presentes em recomendaçõ es internacionais (Cartas
Patrimoniais) elaboradas por estudiosos da á rea de arquitetura, urbanismo, histó ria e patrimô nio cultural. Deve-se
manter a harmonia do conjunto, evitando que se construam pró ximo aos bens de valor cultural, novas edi icaçõ es que
impeçam ou reduzam a visibilidade desses, conforme se encontra exposto no Artigo 20, do Decreto Estadual
7.819/1978.
Ressaltamos no entanto que no Decreto Estadual N.º 33.816/2013, que apresenta as normativas té cnicas para
intervençõ es em á reas sob proteçã o do IPHAEP, ica evidente que nem todas as edi icaçõ es inseridas nas á reas de
preservaçã o, ou seja, em Centros Histó ricos sã o consideradas de valor cultural.
Ou seja, os imó veis considerados de conservaçã o devem sim ser mantidos em sua forma original, ou recuperados de
acordo com seus aspectos primitivos, enquanto que os de renovaçã o nã o possuem obrigatoriedade de serem
preservados, sendo inclusive passıv́eis de demoliçã o, desde que seja apresentado ao IPHAEP um projeto da nova
construçã o em consonâ ncia com os parâ metros té cnicos da normativa patrimonial vigente.
Considerando a cidade como um conjunto de elementos fıśicos inter-relacionados à vida humana, pode-se
considerá -la como produto da dominaçã o dos espaços pelos homens no tempo, o qual eterniza momentos da histó ria,
tornando-os parte da memó ria coletiva da populaçã o que ali habita.
Portanto, torna-se imprescindıv́el a preservaçã o do Centro Histó rico do municıp
́ io de Bananeiras, que possui
inestimá vel valor para a histó ria do Estado da Paraıb
́ a, devendo os instrumentos legais de proteçã o serem respeitados
de acordo com o que é previsto na legislaçã o.
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.07
Arquitetura
Gabriela Pontes Monteiro
Arquiteta & Urbanista

Cidade Cenário: o risco de perda da autenticidade de Bananeiras


Reconhecida como cidade histó rica e tombada como
tal, Bananeiras guarda em sua estrutura urbana, aspectos
da paisagem que a caracteriza por dé cadas, desde o
perı́odo de sua formaçã o. Em seu casario eclé tico,
sobrados suntuosos rememoram tempos de grande
riqueza da regiã o.
Contudo, nos ú ltimos anos, a cidade tem assistido a
uma crescente descaracterizaçã o dessa paisagem. Com o
advento do desenvolvimento econô mico, impulsionado
principalmente pela atividade turıśtica, a cidade vem

ACERVO: IPHAEP
sofrendo diversas intervençõ es em seus bens culturais.
Sabe-se que é natural que a paisagem urbana seja
constantemente alterada em funçã o da urbanizaçã o, com Descaracterização do sítio histórico de Bananeiras-PB
espaços sendo construıd ́ os e reconstruıd ́ os e com novos a memó ria da cidade. Isto porque, muitas vezes, as açõ es
elementos sendo inseridos ou suprimidos. Nesse podem manipular negativamente paisagens naturais e
contexto, as formas antigas permanecem como pré dios histó ricos.
recordaçõ es, se contrapondo à s novas, gerando lugares E importante destacar que a paisagem de uma cidade
cuja paisagem visualizada torna-se uma mescla de histó rica nã o pode ser entendida apenas como um
formas homogê neas e heterogê neas. cená rio para uso exclusivo do turista. Ela precisa ser
percebida como a essê ncia do habitante e que, mantendo
Considerando que o conceito atual de paisagem
seus há bitos cotidianos e as relaçõ es em sua forma de
engloba a essê ncia do lugar – para alé m do conjunto de
viver, acaba por interessar o turista, que busca o
formas fı́sicas e de aspectos visuais e da aparê ncia, diferencial do que lhe é habitual.
incluem-se elementos sociais, psicoló gicos e imaginá rios Destaca-se entã o, a contraposiçã o entre o turismo
que fazem parte da construçã o do espaço –, os processos cultural de fato, cujo objetivo é promover o conhecimento
urbanı́ s ticos podem trazer mudanças bruscas e a partir da valorizaçã o da diversidade, e o turismo
irreversıv́eis na paisagem e na vida das pessoas. predató rio, em que estes mesmos elementos sã o
Essas modi icaçõ es podem ser intensas e chegar ao simpli icados e reconvertidos em objetos de consumo.
Geralmente, a atividade turıśtica de uma determinada
ponto de serem prejudiciais ao ambiente e à pró pria
localidade está diretamente relacionada à exploraçã o
sociedade local. Cada elemento urbano agrega
comercial dos elementos ali presentes, como as
valorizaçã o imobiliá ria e status, que trazem consigo edi icaçõ es histó ricas, suas estruturas urbanas e o modo
p e r s p e c t i v a s , o p o r t u n i d a d e s , e t a m b é m , de vida de sua populaçã o, que sã o vendidos como
descaracterizaçã o dos lugares. “culturais”, mas que, sem o devido planejamento e
O processo de descaracterizaçã o da paisagem urbana participaçã o direta dos moradores, podem vir a causar
ocasiona consequê ncias para a identidade cultural e grande desocupaçã o da á rea, tornando-a exclusivamente
de per il comercial e colocando em risco a legitimidade
do local.
E preciso ainda se atentar para a tendê ncia de
reconstruir e “renovar” edi icaçõ es, na tentativa de criar
imitaçõ es e pastiches (colagem indiferenciada de
referê ncias esté ticas de diferentes origens), criando,
assim, cená rios urbanos voltados exclusivamente à
indú stria turıśtica. Essa tendê ncia segue uma linha pó s-
moderna mundial, de reproduçã o de arquiteturas do
passado com ê nfase no aspecto esté tico e visual, e que
adota a representaçã o de um patrimô nio destituıd ́ o de
valores e legitimidade.
ACERVO: IPHAEP

Observa-se um comportamento em Bananeiras que


segue uma tendê ncia mundial de promoçã o das cidades,
Descaracterização do sítio histórico de Bananeiras-PB em que Areas Centrais Histó ricas participam de um
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.08
Arquitetura
Gabriela Pontes Monteiro
Arquiteta & Urbanista

Cidade Cenário: o risco de perda da autenticidade de Bananeiras


E preciso tomar cuidado com a imposiçã o de modelos
de intervençã o urbana que ignoram o signi icado do
Patrimô nio Cultural e os vın ́ culos estabelecidos atravé s
das formas de sociabilidade cotidiana, rede inindo assim
a cultura, pautada pela uniformidade, homogeneidade,
repetiçã o e neutralidade cultural e esté tica ditada por
princıp ́ ios arquitetô nicos que sã o submetidos aos ciclos
do capital e da moda.
ACERVO: IPHAEP

A apropriaçã o de porçõ es do territó rio por grupos


sociais especı́ icos e a diferenciaçã o entre as classes
sociais e estilos de vida reforçam a constituiçã o de
Patrimônio Cultural de Bananeiras-PB
fronteiras e a segregaçã o social no espaço urbano.
processo de empresariamento da produçã o da cidade, Con igura-se, dessa forma, um processo de privatizaçã o
que transformam seus espaços e elementos em que compromete as relaçõ es de sociabilidade locais.
mercadoria. Dessa forma, as atividades exercidas nesses O tipo de turismo predató rio, muitas vezes
locais sã o direcionadas ao setor turıśtico que, ao invé s de quali icado como cultural, apenas apropria-se do
promover a diversidade de usos, prioriza aqueles discurso da cultura, no sentido de validar a exploraçã o
vinculados ao comé rcio, serviços e lazer, reduzindo (ou econô mica das mesmas, transformando-as em um
até mesmo eliminando) a habitaçã o e demais atividades cená rio espetacularizado e controlado, para o qual
ligadas ao cotidiano, gerando uma segregaçã o de contribui o tratamento diferenciado do entorno e a
territó rios da cidade. O cará ter pú blico dessas á reas reduçã o do conjunto de funçõ es urbanas anteriormente
també m ica comprometido, já que se tornam segregadas ali estabelecidas.
do entorno e transformadas em espaços para consumo. Nesse contexto, assistimos o patrimô nio histó rico e
Como parte do processo de mercantilizaçã o da cultural de Bananeiras perder aos poucos sua
cultura, há a reconversã o dos aspectos culturais em autenticidade, ao ver sua paisagem ser transformada em
objetos de consumo, e as caracterıśticas do Patrimô nio funçã o de interesses econô micos, em desrespeito à s
Cultural sã o adaptadas a um novo pú blico, no qual os usos legislaçõ es e normativas de planejamento e controle de
relacionados à habitaçã o e outras atividades que se intervençõ es que visam evitar a descaracterizaçã o de
constituıám como parte do cotidiano do morador sã o centros histó ricos tombados.
deixadas de lado. Novos usos e novas dinâ micas sã o E contraditó rio que as intervençõ es efetuadas em
estabelecidos, pautados pelo consumo, impondo novos Bananeiras, que buscam atender, em grande medida, ao
comportamentos, comprometendo a apropriaçã o do turista, descaracterizem sua paisagem e transformem
espaço como forma de construçã o identitá ria e a criaçã o negativamente a dimensã o visual da cidade, que é um
de vın ́ culos e interaçã o entre os diversos grupos sociais fator determinante para qualquer atividade turı́stica.
envolvidos. Faz-se necessá ria, portanto, adotar novos modelos de
Contraditoriamente, na tentativa de promover as intervençã o urbana, evitando implementar um processo
cidades atravé s de seus aspectos culturais locais, as Areas que cria paisagens sem relaçã o com as particularidades
Centrais Histó ricas acabam passando por processos de locais e que possam in luenciar positivamente o turismo
descaracterizaçã o, sofrendo intervençõ es diversas para cultural real.
adequaçã o de usos. Muitas vezes irregulares perante os E preciso re letir sobre buscar o verdadeiro valor
ó rgã os de preservaçã o patrimonial, essas á reas acabam desta cidade, cuidá -la, conservá -la, e, a partir de boas
perdendo assim aspectos particulares locais e sua prá ticas, preservá -la. Ainda há tempo de despertar a
autenticidade enquanto patrimô nio cultural. verdadeira vocaçã o do municıp ́ io, direcionando esforços
Há entã o, o risco da cidade se transformar em um para a preservaçã o e conservaçã o do seu patrimô nio
cená rio, onde os elementos passam a ser cada vez mais cultural material e imaterial.
arti iciais, contribuindo para uma experiê ncia
espetacularizada de tradiçõ es inventadas, na criaçã o de
prá ticas que buscam uma continuidade com o passado,
instituindo uma memó ria fabricada, que manipula o
passado visando determinados ins. Esse passado ictıćio
ACERVO: IPHAEP

impõ e açõ es que sã o repetidas e formalizadas, com o


propó sito de transmitir costumes, que de tanto se repetir,
passa a ser reconhecido como legıt́imo. Casarão que apresenta introdução de balcões remetendo ao falso histórico.
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.09
Patrimônio Natural
Maria Marcella Medeiros Mello
engenheira Ambiental

Para além da Pedra e cal: o Patrimônio Ambiental de Bananeiras


Localizada na Serra da Borborema, a cidade de Bananeiras se destaca, alé m de seu valor histó rico e charmosa
arquitetura, por seus inú meros atributos naturais. Inserida no alto curso da bacia do rio Curimataú , Bananeiras possui
rios de cará ter predominantemente intermitente, ou seja, secam durante os meses mais secos do ano. Com uma altitude
mé dia acima de 500 metros, a cidade faz parte dos chamados Brejos de Altitudes Nordestinos, regiõ es serranas que
apresentam climas mais amenos e que sã o ideais para os amantes do frio. Esta é a caracterıśtica que difere Bananeiras
do semiá rido, onde a cidade está inserida. Suas formaçõ es lorestais sã o diversas, contendo componentes dos biomas
Mata Atlâ ntica e Caatinga, resultando em regiõ es de grande biodiversidade. A fauna é rica em espé cies de aves e
mamıf́eros de pequeno porte, enquanto a lora é especialmente representada pelas famosas bananeiras, que deram
nome ao municıp
́ io, á rvores como as belas sapucaias, alé m de frutas como manga, caju e araçá .
Com o objetivo de conservar o meio ambiente e, ao mesmo tempo, promover seu uso sustentá vel, foram criadas
unidades de conservaçã o, ou seja, á reas protegidas e abertas para visitaçã o que permitem o uso direto de recursos. Um
exemplo é a Area de Relevante Interesse Ecoló gico (ARIE) de Goiamunduba, criada por meio de Decreto Estadual no
ano de 2002 com a inalidade de proteger o ecossistema local e promover seu uso sustentá vel. Ao longo de uma á rea
aproximada de 67,5 hectares, podem ser encontradas diversas nascentes e olhos d'á gua protegidos pela ARIE, que é
dividida em trê s porçõ es nã o contın
́ uas: Mata da Bica, onde está inserida a bela Lagoa do Encanto; Boqueirã o e Cumbre.
Alé m de seus belos predicados naturais, na ARIE Goiamunduba estã o as ruın
́ as da Casa do Senhor de Engenho e a Casa
da Farinha, possibilitando uma agradá vel excursã o que combina fatores histó ricos, culturais e ambientais.

CACHOEIRA DO RONCADOR Distante cerca de 13 km do centro de Bananeiras,


está localizada outra unidade de conservaçã o: a Area de
Proteçã o Ambiental (APA) do Roncador. Com
deslumbrantes exemplares da Mata Atlâ ntica
distribuı́dos em uma extensã o aproximada de 6.000
hectares, a APA do Roncador foi criada por meio de
Decreto Estadual em 2006, com o objetivo de proteger a
cachoeira de mesmo nome e seu entorno. A queda
d´á gua, que possui uma altura aproximada de 40 metros,
tem sua origem no campus da UFPB de Bananeiras. Com
á gua fria e cristalina, a APA do Roncador consiste em um
ACERVO: MOPCHILEIROS.COM

dos principais destinos naturais no estado da Paraıb


́ a,
atraindo famı́ l ias e grupos de amigos que podem
descansar e desfrutar de um ambiente tranquilo. O local é
especialmente atrativo durante os perıo ́ dos chuvosos,
entre os meses de abril e junho, quando o volume de á gua
Patrimônio Natural de Bananeiras-PB
se eleva.

Em razã o de suas belezas naturais e de possuir exemplares de vegetaçã o ainda conservados, apesar do avanço
da urbanizaçã o, o municıp
́ io de Bananeiras apresenta elevado potencial para o ecoturismo, oferecendo boas opçõ es
para os amantes do meio ambiente, que apreciam o turismo de contemplaçã o, e praticantes de atividades ao ar livre,
que podem usufruir de trilhas ecoló gicas e praticar atividades como o rapel e camping.

2019 - Ano IV - Nº 04 - P.10


Literatura
Piedade Farias
Restauradora

Bananeiras é o novo País de São Saruê


Comadre Florzinha vaga
Nas matas do “Roncador”...
Na cidade, a lua cheia
Vagueia com seu amor
Pelos cé us de Bananeiras
Derramando nas ladeiras
Os clarõ es de seu fulgor...

Ai, janelas com jarro e lor


Aguardando serenatas...
Ai, os santos e as toalhas
A procissã o que passava...
ACERVO: IPHAEP

Ai, os bilhetes chegando,


As brejeiras acenando
Nas janelas debruçadas...
Patrimônio Cultural de Bananeiras-PB

O paıś de Sã o Saruê Mesmo sonho que bordava


Só existe nas “estó rias” Em lenço branco a saudade
Onde os rios sã o de mel Tramava també m progressos
E os dias sã o de gló rias Com suas facilidades
A brisa desce a serra E assim Só lon de Lucena
Acariciando a terra Sonhou um dia com a cena
Que só conhece vitó rias. Do trem chegando à cidade...

Se puxar pela memó ria E olhando a di iculdade


Assim mesmo é Bananeiras Na altitude das serras,
Que desenha sobre a Serra Disse: - O trem chega aqui
Da Borborema uma estrela. Nem que seja sob a terra!
Venha andar pelas calçadas E foi erguida a Estaçã o
Ver as casas alinhadas E o tú nel da Viraçã o
Que nem bilros de rendeiras... Feito com blocos de pedra.

Desde Domingos Vieira Nas histó rias dessa terra


E Zacarias de Melo Encontramos as Carmelitas
Conheceu muita riqueza E també m as Doroté ias
Teve importâ ncia no Brejo... Com oraçõ es e cantigas
A cana verde e o café , Manoel Luiz Silva contou
Donzela em seu cabriolé No livro que publicou
Com cortinado singelo. Suas histó rias antigas...

Diante do cé u tã o belo Digo sem contar mentiras


Sobre o nobre pedestal Se duvidar, venha ver
A Virgem do Livramento Que Bananeiras é mesmo
De candura sem igual Uma nova “Sã o Saruê ”
Abençoa esta cidade Ai, as festas de Sã o Joã o
O que chega, o que parte Deixando no coraçã o
Com doçura maternal. Vontade de nã o esquecer.

A igreja monumental Pois igual nã o há de ter


As platibandas das casas Integrando histó ria e arte
Janelas que abrem à s ruas Entre as serras, o casario
Varandas em balaustradas Desenha a antiga cidade...
Contadoras de histó rias Ah, é nosso patrimô nio!
Preservam sua memó ria Dá longas asas ao sonho
Em narrativa encantada. Entoando eternidades.
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.11
Gastronomia
Rosane Lacet
Bibliotecária e Educadora

GULOSEIMAS DE BANANEIRAS
Esta cidade, de agradá vel clima europeu, ainda se tornará importante rota turıśtica.
(ALMEIDA MACHADO, 1984, p.09 )

Faz 45 anos que o ministro Paulo de Almeida Machado visitou a cidade de Bananeiras. As palavras, nos dias de hoje,
podem ser lidas como ditas por um visioná rio. Posto que Bananeiras é uma cidade encravada na Serra da Borborema,
na regiã o do Brejo paraibano, com um clima mais ameno que a mé dia do Agreste, brindando os bananeirense e
visitantes no Verã o com uma temperatura mé dia de 28º C, e no Inverno com 10º C. Uma das caracterıśticas do Brejo de
altitude , lá chegando a 526 metros. A princıp
́ io, a produçã o do café na regiã o chegou a ser a maior da Paraıb
́ a e
segunda do Nordeste, transformando Bananeiras em uma das mais ricas da regiã o. Riquezas, estas, demonstradas na
bela arquitetura dos seus casarõ es e atravessando o tempo.
ACERVO: IPHAEP

Patrimônio Cultural de Bananeiras-PB

Durante dé cadas, o municıp ́ io passou por um desenvolvimento em vá rios campos: no econô mico, no social, na
educacional e no turıśtico. No caminho do progresso, os que ocuparam o Poder Executivo na cidade souberam
aproveitar o que a natureza ofereceu o clima à situaçã o geográ ica - propriamente dita. Destacamos, també m, a histó ria
da cidade e a arquitetura, como pontos importantes para o desenvolvimento só cio econô mico e cultural de Bananeiras.
O municıp ́ io atrai turistas de vá rios cantos do paıś, no estado da Paraıb
́ a e de estados adjacentes para as suas festas
juninas. A cidade é decorada com motivos da é poca, onde sã o homenageados os santos - Antô nio, Joã o e Pedro, nos dias
12, 24 e 28, respectivamente. Nã o signi ica, necessariamente, que as festas só aconteçam nestes dias. As comemoraçõ es
se estendem-se até o ultimo dia das festividades. E durante os festejos juninos que a cidade recebe o maior nú mero de
turistas, que vê em de vá rios lugares e sobem a serra, para participar das festividades. Ja Rota Cultural Caminhos do Frio
teve inicio no ano em 2005, sendo Bananeiras sua idealizadora, mas hoje agregando, també m, as cidades
circunvizinhas : Areia, Pilõ es, Matinhas, Solâ nea, entre outras, e tendo como promotor do evento o Fó rum e Turismo do
Brejo. Neste ano de 2019, as comemoraçõ es começaram em Bananeiras, no dia 05 de junho, com o encerramento
programado para o dia 11 de agosto.

Dentre os atrativos
turıśticos de Bananeiras
encontramos a criativa
gastronomia. Entre as
delıćias encontramos
vá rios tipos de suspiros,
ACERVO: IPHAEP

dentre eles, o suspiro


recheado com doce de
leite e o suspiro no palito.
Patrimônio Cultural de Bananeiras-PB

2019 - Ano IV - Nº 04 - P.12


Gastronomia
Rosane Lacet
Bibliotecária e Educadora

GULOSEIMAS DE BANANEIRAS
Por conta do seu rico patrimô nio e apó s estudos realizados pelos té cnicos do Instituto do Patrimô nio Artıśtico e
Histó rico do Estado da Paraıb
́ a/IPHAEP, a cidade foi agraciada pelo do Governo do Estado da Paraıb ́ a, com o
tombamento do seu Centro Histó rico por meio do decreto Nº 31.842 em 03 de dezembro de 2010.
De uma maneira geral, como em todas as festas, cada cidade oferece comidas com caracterıśticas pró prias. E, em
Bananeiras, nã o poderia ser diferente! Alé m das comidas, peculiares à é poca das festas juninas, a banana é o
principal produto da economia da bananeirense. O comé rcio oferece um cardá pio de apetitosas iguarias, que tem
como seu principal ingrediente, a banana. Elas sã o servidas durante todo o ano, como diz a cançã o do potiguar
Junduhy Finizola, Bananeira Mangará: «Tá no tempo de plantar Bananeira mangará/ Plantando vai ter que dar/
Bananeira mangará !»
A cançã o foi imortalizada na voz de Marinê s. E, assim, durante todo ano, a fruta da banana faz a festa em
Bananeiras.
As iguarias vã o de doces a doce e salgado, num só quitute; biscoitos de vá rios sabores e suspiros.

- A Cartola servida como sobremesa, no


restaurante Flor de Mangará . E feita com banana,
leite condensado, canela e queijo de manteiga. Uma
cartola serve, bem, até 4 pessoas;
- Os Pastéis sã o recheados com banana, doce de
leite e queijo de coalho. Depois de fritos, eles sã o
pulverizados com açú car e canela.
Pastel - Acervo IPHAEP Pastel - Acervo IPHAEP
- A Tapioca o Cordel Bananeiras é feita com
goma, carne de sol na nata, banana assada e
inalizada com mel de engenho.
- A Peteca de Banana, composta de banana
inglesa, farinha de trigo e açú car cristalizado é
assada. Servida com sorvete de creme coberta com
mel de engenho. O quitute é patrimô nio imaterial
da cidade. Tanto a Peteca como a Tapioca sã o
criaçõ es da Tapioca do Serginho.
Já a Lanchonete Pastellarim, da Chef Karol, está
localizada no Distrito de Roma, em Bananeiras.
Peteca - Acervo IPHAEP Biscoito de fécula de mandioca - Acervo IPHAEP Alé m das delicias oferecidas num lanchonete, você
tem o prazer de montar seu pró prio pastel. Sã o 4
sabores: carne, frango, queijo e ingredientes, como
tomate e cebola. O acompanhamento, també m, é a
gosto, podendo ser molho de coentro, molho de
barbecue - a base de rapadura - e a gelé ia de
pimenta, todos fabricados artesanalmente.
- A Tapioca de Tilápia é feita com goma
recheada com tilá pia assada e doce de banana.
Os biscoitos e suspiros sã o delicias à parte.
Tapioca com queijo coalho, doce de leite e mel Tapioca com queijo coalho Produzidos artesanalmente, pelo casal Miriam e
Acervo IPHAEP Acervo IPHAEP Paulo e assim confeccionados. Os biscoitos sã o
Na retina ica a beleza da produzidos com fé cula de mandioca, açú car e
paisagem: graciosa, campestre e manteiga, com sabores diversi icados: nata, coco,
banana e canela.
urbana, posto que no alto da
- Os suspiro sã o de cor natural, coloridos ou
cidade vemos o bananal que
recheados de doce de leite condensado. Existe
circula a cidade. Nos nossos poros
també m o pirulito de suspiro.
i c a a t e m p e r a t u r a f r i a e
O guia turıśtico Washington Cunegundes Filho
prazerosa. No olfato, o aroma do
Cartola - Acervo IPHAEP foiquem nos ciceroneou, durante toda a nossa visita
mel da cana de açúcar, dos doces e
Não e à toa que quem visita à quele municı́pio. Foi ele quem nos mostrou a
biscoitos dos tempos da infância!
Bananeiras parte de lá levando, na cidade de Bananeiras, seus encantos e guloseimas.
bagagem, lembranças que serão E p a r a v i v e n c i a r e s t a e x p e r i ê n c i a , s e u
suas para sempre. Boa viagem! Bom apetite!
Contato/WhatsApp é (83) 99855-9197.
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.13
Memória
Jéssica Arísla rodrigues Anna Luísa Dantas
Arquiteta e Urbanista Arquiteta e Urbanista

Lá vem o trem...
Entre os diversos aspectos da identidade contemporâ nea, é a
memó ria o mecanismo principal para a construçã o da
identidade social e local de um povo. A identidade se constró i em
um indivıd
́ uo a partir de visõ es de mundo, ideologias polıt́icas e
experiê ncias histó ricas em comum com o grupo social em que
vive, aliado a representaçõ es simbó licas.
A memó ria compõ e um fator de identi icaçã o humana; é a
marca ou o sinal de sua cultura. A sua relaçã o com a Histó ria está
na preservaçã o e retençã o do tempo, dando suporte para a
organizaçã o do saber histó rico. Portanto, o ser humano pode
buscar subsıd
́ ios na Histó ria para encontrar sua identidade, seu
O túnel em 1922, em construção.
Fonte: www.estacoesferroviarias.com.br/paraiba/tunel-bananeiras.html grupo social e sua maneira de viver.
Devido à aceleraçã o da Histó ria, cada vez mais o cotidiano
afasta-se das vivê ncias da tradiçã o e do costume, fazendo com
que a memó ria deixe de ser encontrada no pró prio tecido social.
Portanto, tratar bem a memó ria é dar ao cidadã o a chance de se
identi icar com o lugar onde mora.
Em um perı́odo em que se veri ica um crescimento do
fascın
́ io turıśtico pelas cidades histó ricas, compreender suas
formas arquitetô nicas e urbanı́sticas é , ao mesmo tempo,
entender que essas representam signi icados e valores de ser
processo de formaçã o e transformaçã o. E Bananeiras, por toda
O túnel em 1922, já com trilhos. sua contribuiçã o e desenvolvimento, torna-se exponencial de
Fonte: Foto Revista Ilustração Brasileira, setembro de 1922
destaque social e cultural na Paraıb
́ a.
A cidade ainda guarda resquıćios de um passado muito
produtivo, que teve um processo de colonizaçã o ao longo de
muitos anos, no qual seus povoadores se alicerçaram, se
tornando a maior produtora de café da Paraıb
́ a e a segunda do
Nordeste. Em 1852, o café de Bananeiras rivalizava em
qualidade e aceitaçã o com o de Sã o Paulo, produzindo-se cerca
de um milhã o de sacas ao ano.
Foi à riqueza vivida pela aristocracia cafeeira com forte
in luê ncia na tradiçã o religiosa a grande responsá vel para a
composiçã o arquitetô nica da cidade, com a construçã o de
Estação de Bananeiras no dia de sua inauguração em 1925.
Fonte: www.ramalholeite.com.br
palacetes e casarõ es no centro da á rea urbana e rural. Ressalta-
se que, apesar da pujança econô mica da regiã o, o transporte na
As linhas férreas que conectavam cidades e diminuíam as é poca era precá rio. E o trem só chegou a Bananeiras em 1922,
apó s a construçã o do tú nel da Serra da Viraçã o.
distâncias entre as pessoas foram, durante o início do século XX,
Bananeiras foi uma das cidades da Paraıb
́ a a ser agraciada
um dos principais marcos do desenvolvimento tecnológico a com uma belıśsima estaçã o ferroviá ria. A chegada do trem já era
chegar no Brejo paraibano. Até então, utilizavam-se apenas de um exemplo de evoluçã o, mas fazê -lo passar por dentro da
rocha, atravé s de um tú nel, foi um desa io aceito no inıćio da
estradas de barro escorregadias e que inundavam em épocas
dé cada de 1920. Até hoje, o trem de Bananeiras encanta
chuvosas.
moradores e visitantes.
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.14
Memória
Jéssica Arísla rodrigues Anna Luísa Dantas
Arquiteta e Urbanista Arquiteta e Urbanista

Lá vem o trem...
Enquanto Bananeiras era destaque na produçã o cafeeira desde 1850, a construçã o da Estaçã o Ferroviá ria
acontece apenas em 1922, pouco tempo apó s uma praga acabar com os cafezais que durante muitos anos foram o
principal meio econô mico da cidade. O intuito de escoar o café nascido em Bananeiras, atravé s do trem, nã o chegou
a vingar de fato.
Os primeiros quilô metros de estrada de ferro chegaram ao estado já no inıćio do sé culo XX e se expandindo nos
anos seguintes. A linha fé rrea, que pertencia à Great Western do Brasil e cortava a Paraıb́ a de norte a sul, previa um
ramal que deveria chegar até o municıp ́ io de Picuı,́ mas os 35 km de estrada de ferro entre Bananeiras e Picuı,́
nunca chegou a ser construıd ́ o.
Em 1910, estava pronta a construçã o do primeiro trecho do referido ramal, que só chegou a Bananeiras em
1922, recebido em grande festa pelos cidadã os bananeirenses. Na é poca o entã o presidente do estado, Soló n de
Lucena, entregou o trecho concluıd ́ o até a parada de “Bocca do Tunel”, localizada pouco antes do tú nel da Serra da
Viraçã o.
O trem já havia chegado e o tú nel estava quase pronto, mas sem trilhos. Apenas em 1925 aconteceu a entrega
o icial, juntamente com o trecho até a Estaçã o Ferroviá ria de Bananeiras, sua parada inal. O caminho de 202
metros de comprimento perfurou a pedra maciça, possibilitando a passagem do trem até a estaçã o concebida nos
conceitos arquitetô nicos do ecletismo. A Estaçã o está conservada até os dias de hoje.

Vista da cidade e da estação (ao centro) nos anos 1950. A estação de Bananeiras, em 1922 sem trilhos. A estação nos anos 1950.
Fonte: Autor desconhecido. Fonte: Foto da revista Ilustração Brasileira Fonte: Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, 1958.

Com o im da cultura cafeeira, inicia-se a fase infra-estrutural que, alé m de conexõ es de vias fé rreas, també m trouxe
a Bananeiras a construçã o de uma hidrelé trica em Borborema, possibilitando a energizaçã o de Bananeiras. Houve,
també m, a inauguraçã o do canal coletor da rede de esgotos, entre outras modernizaçõ es que contribuıŕam para o
desenvolvimento da cidade.
E o trem? Continuou a levar cana-de-açú car, fumo, arroz, algodã o, sisal, pessoas, notıćias e todas as novidades que
anteriormente eram tã o difıćeis de transitar.
Os comboios cargueiros chegavam à calada da noite e da madrugada, fazendo barulho. No entanto, raramente
transitavam cargas à luz do dia: quando acontecia, era uma festa! As oito da noite chegava o trem, vindo da capital,
trazendo estudantes de fé rias, comerciantes, polıt́icos e visitantes. Mesmo com a construçã o da rodovia “Anel do Brejo”,
as pessoas ainda preferiam usar o trem, por questõ es econô micas e pela aventura de cruzar a pedra numa má quina de
ferro.
O ú ltimo trem de ferro sobreviveu até 1973, quando a linha foi desativada, mas o tú nel e a estaçã o sã o atraçõ es
turıśticas imperdıv́eis para quem conhecer Bananeiras. A beleza da Estaçã o Ferroviá ria, junto ao misterioso tú nel de
temperaturas frias, permeia geraçõ es; e resiste na memó ria de um povo!

“O trem de ferro, que despertava a cidade do seu torpor nas horas mornas, levava e
trazia pessoas, cargas e notícias, está mudo, de fogo morto como os banguês e
engenhos dos romances da decadência da aristocracia canavieira de José Lins do
Rego. Ele foi tudo para todos. O elo com o mundo. A esperança do jovem, a incerteza
da mocinha casadoira, os anseios da família a espera da visita do ilho estudante,
compondo a paisagem humana de novas caras e novas perspectivas, fumacento e
ACERVO: IPHAEP

escandaloso, bufando no desa io das alternâncias de níveis, cobreando no verde


permanente dos campos.”
Iveraldo Lucena
Patrimônio Cultural de Bananeiras-PB
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.15
Economia
Thyago Henriques Freire
Contador

Empreendedorismo e o desenvolvimento: a Economia Patrimonial em Bananeiras


A histó ria do processo de transformaçã o econô mica Relevante destacar que o Art. 4º da Lei Municipal nº
de Bananeiras é instigante. No passado, a cidade que foi a 313/2005 torna a cidade atrativa para a criaçã o de novos
segunda maior produtora de Café do Nordeste e a empreendimentos no Centro Histó rico de Bananeiras,
segunda em qualidade do paıś, com grande destaque na conforme vejamos:
produçã o de rapadura e cachaça, alé m do cultivo do fumo, Art. 4º - Os proprietá rios de imó veis urbanos tombados
arroz e sisal, o que a fez conhecida como um dos por ó rgã os de preservaçã o de Patrimô nio Histó rico,
Geográ ico, Artı́ s tico ou Natural, poderã o receber
municıp ́ ios mais ricos da Paraıb ́ a. Nos dias de hoje, temer restituiçã o do IPTU efetivamente pago, a partir do
o turismo cultural como protagonista, em face do seu exercı́cio de 2006, respeitadas as condiçõ es a seguir
potencial natural, cultural e arquitetô nico, atraindo enumeradas: I. comprovaçã o de que aplicou, no mın ́ imo o
turistas nacionais e estrangeiros para investimentos em mesmo valor do IPTU pago na manutençã o e conservaçã o
do imó vel no exercı́cio anterior; II. apresentaçã o de
residê ncias, comé rcio e serviços, que vê m dando uma atestado do ó rgã o responsá vel pelo tombamento do
nova identidade econô mica ao municıp ́ io. Tem ainda a imó vel de que as caracterıśticas arquitetô nicas originais
piscicultura, como uma atividade em ascensã o: o cultivo estã o preservadas e o imó vel em perfeitas condiçõ es de
da tilá pia, por exemplo, levou Bananeiras a se tornar a uso; III. inexistê ncia de dé bito junto a fazenda Municipal;
IV. existê ncia de dotaçã o orçamentá ria especı́ ica.
maior produtora do Estado.
A isençã o iscal ixada na Lei Municipal nº 313/2005, Na riqueza de estilos arquitetô nicos, presentes em
para os empreendimentos voltados à á rea de turismo e seu portfólio, percebe-se a presença de linguagens
lazer, alavancou o setor imobiliá rio privado, com a diversas: neoclá ssico, neogó tico, art-déco e art noveau, o
construçã o de loteamentos e condomın ́ ios residenciais. que destaca o turismo cultural como atrativo e interatua
Tratamento iscal de forma quantitativa, impactou com outras facetas do ludambulismo da regiã o brejeira
positivamente no ciclo econô mico do municı́ p io, paraibana, com destaque para o turismo religioso, o
principalmente apó s ser sancionada a Lei Municipal nº turismo ecoló gico e de aventura, as pinturas rupestres, o
366/2007, que estabeleceu a contrapartida aos tú nel, a Cachoeira do Roncador, entre outros atrativos.
bene iciá rios de isençã o iscal e ixou a criaçã o da taxa de Vá rios atores atuam no fomento do turismo do
turismo. municıp ́ io. O poder pú blico, o Sebrae, a Igreja Cató lica,
alé m de empresá rios e ativistas culturais, que colocaram
A realidade dos condomı́ n ios residenciais de
Bananeiras nos roteiros turıśticos: Caminhos do Frio,
Bananeiras vem causando uma grande modi icaçã o
Caminhos do Padre Ibiapina, Caminhos dos Engenhos,
espacial e econô mica, com a geraçã o de novos postos de
Corrida de Jipeiros, Corrida em Trilha, Corrida de
trabalho. O investimento pujante na educaçã o e a Moutain bike e Cavalgada de Santana.
priorizaçã o da quali icaçã o té cnica sã o alternativas para Detentora de um catá logo repleto de arte, crenças,
que a populaçã o local possa ultrapassar a barreira dos costumes e há bitos que constituem a cultura dos
empregos primá rios. Agora, os habitantes de Bananeiras bananeirenses, a cidade paraibana guarda incrustadas
e s t ã o a p t o s p a ra o p r o v i m e n t o d e m e l h o r e s nos seus casarõ es, tombados pelo Instituto do
o p o r t u n i d a d e s , q u e a n t e s e r a m o c u p a d a s , Patrimô nio Histó rico e Artıśtico do Estado da Paraıb ́ a -
prioritariamente, por pessoas de fora do municıp ́ io. IPHAEP, a memó ria, o afeto, o relacionamento, o lugar, o
Nas referidas legislaçõ es os proprietá rios dos parentesco, a comunidade, a satisfaçã o emocional e o
empreendimentos tê m direito 10 (dez) anos de isençã o prazer intelectual, comunicada e ou imitada por meio de
do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e a 5 suas paredes, estruturas, telhados e porõ es, repletos de
(cinco) anos de isençã o do Imposto Sobre Serviço de elementos arquitetô nicos e conservando o Patrimô nio
Qualquer Natureza (ISS). Em contrapartida, eles estã o Social do Brejo da Paraıb ́ a.
obrigados a empregar pelo menos 70% (setenta por O economista paraibano Celso Furtado a irmou,
cento) de mã o de obra local na construçã o do imó vel. Nas certa vez, que a atividade cultural deveria brotar da
atividades hoteleiras e negó cios de restaurante incidem sociedade civil ao assumir a responsabilidade pelas
sobre as contas uma taxa de turismo, a ser ixada por propostas dos projetos, sobretudo em um perıo ́ do de
Decreto no inal de cada exercıćio inanceiro, devendo abertura polıt́ica no qual a liberdade desses projetos
vigorar no perıo ́ do subseqü ente. signi icavam um aspecto-chave para o desenvolvimento:
A cultura consiste em elemento fundamental para a
elevaçã o da qualidade de vida, pois o aumento da
produtividade do trabalho nã o signi icou aumento da
elevaçã o do espıŕito de vida da populaçã o (...) O processo
de mudança social que chamamos de desenvolvimento só
se aprende cabalmente quando o relacionamos com a
ACERVO: IPHAEP

ideia de criatividade. Desenvolvimento é a utilizaçã o de


um excedente, o qual abre um horizonte de opçõ es, vale
dizer, um excedente adicional cria um desa io à
inventividade (...)
Restaurante da Pousada Estação Bananeiras-PB
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.16
Economia
Thyago Henriques Freire
Contador

Empreendedorismo e o desenvolvimento: a Economia Patrimonial em Bananeiras


Nesse contexto, defendido pelo visioná rio Celso
Furtado, o conceito de empreendedorismo se encaixa
como uma luva, no que tange ao processo criativo e à
i n v e n t i v i d a d e e n q u a n t o p r o p u l s o r e s d o
desenvolvimento nas polıt́icas culturais.
O professor americano, pioneiro nos estudos sobre o
empreendedorismo, Jeffry A. Timmons, conceitua que

ACERVO: HOTÉIS.COM
"empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será
para o século XXI mais do que a Revolução Industrial foi
para o século XX".
Antigo Casarão das Meninas e atual Divino Casarão Restaurante
A revoluçã o silenciosa, asseverada por Timmons, é
No resgate da memó ria de Bananeiras, que serviu de
perceptı́ v el em Bananeiras e comunga com os
inspiraçã o para a arte literá ria, cenográ ica e televisiva,
pensamentos de Celso Furtado. E bastante veri icar o
encontra-se o Casarã o. O investidor norteriogradense
aumento no nú mero de hoté is, restaurantes e outros
Vicente Damasceno e sua companheira Christiane da
empreendimentos, que se abrigaram no entorno dos
Silva quase desistiram do empreendimento, por
imó veis histó ricos da cidade e que, nos dias atuais, acreditar que o fato do bem ser tombado haveria
revolucionam a percepçã o da populaçã o: de antes julgar inú meras di iculdades para reformar o local
um imó vel como velho, ultrapassado, sem valor e sem O proprietá rio procurou, entã o, o IPHAEP. Em reuniã o
utilidade, para a conscientizaçã o de que a edi icaçã o é um com a diretora executiva, Cassandra Figueirê do, e com os
patrimô nio ú nico, importante forma coletiva e té cnicos do ó rgã o, foi mostrado a total viabilidade do
individual, no aspecto de preservaçã o da memó ria e na restaurante, que deveria seguir algumas recomendaçõ es
geraçã o de renda local. para nã o descaracterizar o patrimô nio histó rico.
Nã o sã o poucos os exemplos que podemos destacar Atualmente o Divino Casarão Restaurante é um
da economia patrimonial se desenvolvendo, atravé s do ambiente de descontraçã o e lazer, num cená rio é pico,
efeito das polıt́icas culturais de restauraçã o de imó veis com mú sica ao vivo e com uma gastronomia espetacular.
histó ricos tombados pelo IPHAEP. Entre eles, destacam-
se 2(dois) casos que, pela relevâ ncia histó rica e
arquitetô nica dos imó veis, sã o referê ncias nos sites,
revistas e agê ncias de turismo, culiná ria e hospedagem
nacional e internacional.
As reformas intervencionistas foram executadas
requali icando os imó veis, dando um novo uso, o que
assegurou a preservaçã o do Patrimô nio Cultural,
ACERVO: IPHAEP

seguindo atentamente todas as orientaçõ es do IPHAEP:


os conceitos mais novos de conservaçã o de bens
tombados e , por conseguinte, protegidos pela Lei. Equipe Iphaep e o Proprietário do atual Divino Casarão Restaurante
O primeiro é o Divino Casarão Restaurante, O segundo caso é a Pousada Estação Bananeiras,
localizado na Rua Cô nego Cristovã o, 447, na subida da localizada na Rua Alcides Bezerra, 160, onde funcionava a
Igreja Matriz de Nossa Senhora do Livramento. O Casarã o antiga Estação Ferroviária de Bananeiras. Nascida pela
que antes era conhecido como Casarão das Meninas, onde necessidade de melhor transportar o café que era
moravam as ilhas do Barã o de Araruna (Estê vã o José da produzido em Bananeiras, a Estaçã o só foi inaugurada em
Rocha), que tinha como atividade econô mica o cultivo 1925, pela empresa ferroviá ria inglesa The Great Western
of Brazil Railway Company Limited, que construiu e
do café , desenvolvida pelo trabalho escravo. O Barã o
explorou ferrovias no Nordeste do Brasil.
virou igura da obra de icçã o "Sinha Moça". Publicado em Atualmente, a Pousada Estação Bananeiras é de
1950, o romance de autoria da jornalista e escritora propriedade do pernambucano (com mais de 30 anos
Maria Dezonne Pacheco Fernandes foi depois retratado morando na Paraıb ́ a), George Amado e de sua esposa, a
na novela da Rede Globo, sendo sucesso em 1986 e no areiense Karina Amado. Eles investiram no turismo
remake em 2006. cultural e já tem conseguido respostas muito positivas.
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.17
Economia
Thyago Henriques Freire
Contador

Empreendedorismo e o desenvolvimento: a Economia Patrimonial em Bananeiras


O banho na Bica dos Cocos, a comida do restaurante
rural (rota da gastronomia do Brejo Paraibano), o Sıt́io
Pré -Histó rico de Bananeiras "Pedra Preta" (que tem o
melhor por do sol do brejo) sã o convites tentadores para
se hospedar na pousada.
Os bens tombados onde funcionam o Divino Casarã o
Restaurante e a Pousada Estaçã o Bananeiras nasceram
ACERVO: HOTÉIS.COM

com o dinheiro do café e, hoje, permanecem com o


dinheiro do turismo.
Duas é pocas, duas economias, usos distintos.
Antiga Estação Ferroviária atual Estação Bananeiras Contudo suas caracterı́ s ticas arquitetô nicas e sua
histó ria permanecem como testemunhas de uma cidade
As intervençõ es no pré dio da Estaçã o, bem como o
aconchegante; e de um povo acolhedor.
anexo onde funcionava o antigo armazé m, foram
supervisionadas pelo IPHAEP, tendo o primeiro a
requali icaçã o estrutural adequada, tornando-se um
restaurante, com comida contemporâ nea de destaque
nacional, atraindo, inclusive, turistas estrangeiros. O
imó vel da antiga Estaçã o conserva, em si, o fato de ser um
patrimô nio histó rico de grande relevâ ncia e por guardar
a memó ria de forma material daquela é poca. Já o
Armazé m recebeu uma estrutura nos fundos, o que
ampliou a pousada para 12 leitos, com banheira de
hidromassagem, camas 2x2 e, entre os dois, uma
ACERVO: HOTÉIS.COM

exuberante piscina.
A pousada e o restaurante estã o numa á rea de
encontro da natureza com a beleza arquitetô nica do
Pousada Estação Bananeiras
inıćio do sé culo XX. Em seu entorno acontecem passeios
que fomentam o turismo ecoló gico de aventura e Fontes: Biblioteca Virtual da UEPB (Percepçã o da Populaçã o
do Municıp ́ io de Bananeiras - PB sobre Gestã o Participativa E
cultural: seja no jipã o e ou quadriciclo, na estrada de
Sustentabilidade Turıśtica); Revista eletrô nica do laborató rio
barro que leva aos engenhos, ou até mesmo numa
de Arqueologia e Paleontologia da UEPB (Sıt́ios Pré -Histó rics
caminhada até o histó rico tú nel que foi manchete no
de Bananeiras); Site do IBGE (Bananeiras); Site Estaçõ es
Diário de Pernambuco por trazer a viagem inaugural,
Ferroviá rias do Brasil (Bananeiras); (Revista Latinoamericana
do trecho concluıd ́ o de Borborema até a parada de "Boca
de Comuncació n (Celso Furtado. Cultura e polı́ t ica
de Tú nel", um pouco antes da Serra da Viraçã o, onde o
cinematográ ica); Site Centro Celso Furtado (Uma polıt́ica de
Presidente do Estado, Dr. Só lon de Lucena, entregou o desenvolvimento para o Nordeste) Revista Acadê mica -
tú nel que foi perfurado em pedra maciça e que ica a 800 Observató rio de Inovaçã o e Turismo (Empreendedorismo e o
metros da pousada. desenvolvimento do turismo na cidade de Tiradentes); Anais
do Museu Paulista: Histó ria e Cultura Material (O Programa de
Cidades Histó ricas, o turismo e a "viabilidade econô mica" do
patrimô nio (1973-1979); Site da Universidade Caxias do Sul
(Proposta de planejamento de turismo cultural em uma
comunidade de interior: o bairro de bela aliança em Rio do Sul -
SC); Revista Brasileira de Educaçã o e Cultura (Uma Aná lise
Literá ria Sobre o Conceito de Cultura); Revista de
ACERVO: HOTÉIS.COM

E m p r e e n d e d o r i s m o , I n o v a ç ã o e T e c n o l o g i a
(Empreendedorismo: Conceitos e De iniçõ es); Cadernos do
D E S E N V O LV I M E N T O ( E c o n o m i a p a t r i m o n i a l e
desenvolvimento: efeitos das polıt́icas culturais de restauraçã o
Antiga Estação Ferroviária atual Pousada Estação Bananeiras
de monumentos histó ricos no estado do Rio de Janeiro).
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.18
Arte & Cultura
Cassandra Figueiredo
Arte Educadora

Dança do Lesô: ritmo, verso e poesia - Patrimônio imaterial de Bananeiras


Partimos pra Bananeiras eu, Má rcia e Thyago. Tın
́ hamos um encontro com Josenildo, guerreiro da cultura, que nos
apresentou à professora, pesquisadora e també m guerreira cultural Leidiane. A mestra nos guiava até o povoado
Gruta de Antonia Luzia, a 4 quilô metros de Bananeiras, e lá entraria em contato com uma dança de nome esquisito
que, no primeiro momento, me remeteu a um nome francê s. Seria: LESEAU? Bom, mais tarde eu entenderia!

Chegamos na Gruta e lá fomos recebidos por Dona Antonia e Seu


Nanã . Um casal de idosos muito animado, que nos recebeu em sua mais
fascinante simplicidade, no seu Terreiro de chã o batido, debaixo da
sombra de uma á rvore que parecia um pé de cajarana. Sentamos e
iniciamos uma conversa informal sobre essa curiosa dança, pouco
conhecida e, aos poucos, esquecida pela populaçã o, mas que faz parte da
histó ria desse povoado. Eis a minha primeira pergunta: - Qual o
signi icado do nome Lesô ? Dona Antonia, numa sinceridade muito
ACERVO: IPHAEP

peculiar, respondeu: - Sei nã o! E deu uma risada que traduziu e


resigni icou o meu olhar sobre o nascedouro das coisas simples,
necessá rias e belas.
Patrimônio Cultural de Bananeiras-PB Fiquei a escutar a histó ria do Lesô primeiramente pelas suas
mú sicas; versos populares, de rima fá cil, engraçadas e com um leve
toque de "enxerimento", cantaroladas por Dona Antô nia. Nesse versinho
que transcrevo vi um certo ar de "encabulamento" de Seu Nanã quando
Dona Antô nia começou a cantarolar com satisfaçã o:

" Abra a roda minha gente


Ou tiu, tiu, tiu
Que é pra gente vadiar
Ou tiu,tiu, tiu
ACERVO: IPHAEP

Roda, Roda cavalheiro


Ou tiu, tiu, tiu
Patrimônio Cultural de Bananeiras-PB
todo mundo em seu lugar
Ou tiu, tiu, tiu.
Aplantei mas não nasceu
Ou tiu, tiu, tiu
Carrapicho no vestido
Ou tiu, tiu, tiu
A coisa que tenho mais raiva
Ou tiu, tiu, tiu
É homem casado enxerido
Ou tiu, tiu, tiu.»
ACERVO: IPHAEP

Como toda dança popular, as formas e os estilos do Lesô sã o pró prios
da regiã o, realizados em momentos felizes e que acompanha a histó ria
Patrimônio Cultural de Bananeiras-PB
daquele povoado por meio de vá rias geraçõ es. E uma dança circular, com
Sei que a dança nos acompanha em participaçã o de homens e mulheres, ao ritmo dos versos cantarolados e
todos os tempos, em formas diversas, em puxados por um lıd ́ er, com resposta dos demais participantes. Nã o há
diferentes espaços e situaçõ es da vida. Ela instrumentos musicais: os participantes podem dar as mã os ou bater
é expressã o de um povo, presença palmas, arrastando os pé s enquanto circulam. Em cada verso um
constante na histó ria da humanidade. As cavalheiro ou uma dama sã o retirados ou colocados ao centro da roda
pessoas dançam por um propó sito, por com essa cantiga:
vontade, necessidade ou, simplesmente,
pelo prazer de dançar. Dona Antô nia e Seu "Vamos vadiar, Lesô passou
Nanã provaram que essa dança é registro Vamos vadiar, passou Lesô
de vivê ncias e seu signi icado é memó ria Cavalheiro tire Dama.
viva, que resiste ao tempo: pela vontade e Vamos vadiar, Lesô passou
pela necessidade de se manter. Vamos vadiar, passou Lesô
A dança do Lesô é patrimô nio nosso! Cavalheiro pegue Dama."
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.19
Legislação
Sandra Suelen | Vitória Régia
Advogada Graduanda em Direito

O porquê de preservar:
Patrimônio Cultural de Bananeiras à luz da Legislação Estadual
Saberes, fazeres, expressõ es e prá ticas sã o produtos de um povo e remetem à histó ria, à identidade e à memó ria. A
coleçã o de todos esses elementos constitui o seu Patrimô nio Cultural. Ou seja, Patrimô nio é a herança do passado que
oportuniza o conhecimento, construindo a identidade de um povo.
A Constituiçã o Federal de 1988 resguarda e elucida a essencialidade de proteçã o do Patrimô nio Cultural,
enquanto: os modos de criar, viver e fazer, as criaçõ es cientı́ icas, tecnoló gicas e artıśticas, obras, documentos,
edi icaçõ es e espaço destinados à s expressõ es artıśtico-culturais, dentre outros.
A cidade de Bananeiras manté m, até os dias atuais, marcas expressivas de seu passado, permitindo-nos apreciar a
arquitetura de seus casarõ es coloniais, suas paisagens naturais e demais bens tombados. E necessá rio que nã o
permitamos que os encantos do passado se desfaçam no tú nel do tempo. Assim, por meio dos Decretos Estaduais
31.842/2010 e 22.082/2001, o Instituto do Patrimô nio Histó rico e Artıśtico do Estado da Paraıb ́ a (Iphaep) confere uma
maior proteçã o a esses bens.
O conhecimento crıt́ico e a tomada consciente de conhecimento pela comunidade acerca do seu patrimô nio sã o
elementos essenciais para a preservaçã o desses bens, juntamente com a consolidaçã o dos sentimentos de identi icaçã o
e cidadania.
E primordial que o indivıd ́ uo entenda o seu passado para que, hoje, possa fazer a leitura do mundo que o cerca e
compreender o meio do qual faz parte. O reforço e a valorizaçã o histó rico-cultural brasileira estã o intrinsecamente
ligados a esse processo.
Fortalecer ainda mais a preservaçã o sustentá vel dos bens patrimoniais de Bananeiras é consolidar a grandiosa
histó ria que essa cidade possui, permitindo que diversas geraçõ es possam apreciar cada vez mais o Patrimô nio Cultural
estadual.
ACERVO: IPHAEP

Patrimônio Cultural de Bananeiras-PB


LEGISLAÇÃO:
Lei 9.040/09 - Dispõ e sobre o IPHAEP.
Decreto 7.819 de 24/10/1978 - Dispõ e sobre o Cadastramento e Tombamento.
Decreto 21.435 de 31/10/2000 - Dispõ e sobre a aplicaçã o de sançõ es administrativas pelo IPHAEP e a inscriçã o na divida
ativa das multas devidas ao instituto, e dá outras providencias.
Decreto 23.453 de 10/10/2002 - Modi ica o Art. 14 do Decreto 21.435 de 31/10/2000 e dá outras providencias.
Decreto 14.569 de 12/07/1992 - Aprova o Regimento Interno do IPHAEP.
Decreto 23.721 de 11/12/2002 - Aprova Regimento Interno do Conselho de Proteçã o - CONPEC.
Decreto 22.082 de 04/08/2001 - Tombamento Temá tico das Estaçõ es Ferroviá rias da Paraıb ́ a.
Decreto 31.842 de 04/12/2010 - Tomba a cidade de Bananeiras e aprova a delimitaçã o das poligonais rigorosas e de entorno.
Decreto 33.816 de 06/04/2013 - Aprova as normativas té cnicas para as á reas sob proteçã o do IPHAEP.
Lei Federal 9.605/1998 (Lei Ordinária) 12/02/1998 - ver art. 62 até 65. - Dispõ e sobre as sançõ es penais e administrativas
derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providê ncias.
Decreto n° 6.514 de 22 de julho de 2008 - Ver art. 72 até 75 - Dispõ e sobre as infraçõ es e sançõ es administrativas ao meio
ambiente, estabelece o processo administrativo federal para apuraçã o destas infraçõ es, e dá outras providê ncias.
Decreto nº 3.551, de 4 de agosto de 2000 - Institui o Registro de Bens Culturais de Natureza Imaterial que constituem
patrimô nio cultural brasileiro, cria o Programa Nacional do Patrimô nio Imaterial e dá outras providê ncias.
Decreto-Lei nº 25, de 30 de novembro de 1937 - Organiza a proteçã o do patrimô nio histó rico e artıśtico nacional.
Lei n.º 7.347/1985 (Lei Ordinária) de 24de Julho de 1985 - Ver: art. 5°, III e IV e §6 - Disciplina a açã o civil pú blica de
responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artıśtico, esté tico, histó rico,
turıśtico e paisagıśtico.
Lei Municipal n.º 366/2007 - Estabelece contrapartida aos bene iciá rios de isençã o iscal, cria taxa de turismo e dá outras
providê ncias.
Lei Municipal n.º 313/2005 - Concede tratamento iscal especial a empreendimentos voltado à oferta de meios de
hospedagem para turismo e lazer e dá outras providê ncias.

2019 - Ano IV - Nº 04 - P.20


Educação Patrimonial
Gúbio Mariz | Júlia Araújo | Socorro Nunes | TerezinhaPedagoga
de Figueiredo
Arquiteto e Historiador Professora de Biologia Pedagoga

Educação e Patrimônio: Lugares de memória em Bananeiras


ACERVO: IPHAEP

Patrimônio Cultural, material e imaterial de Bananeiras-PB

Apó s renovaçõ es nos Parâ metros Curriculares Poucos lugares possuem um ambiente tã o propıćio à
Nacionais (PCNs), no inal da dé cada de 1990, os plena imersã o na realidade histó rica e que fazem uso
professores foram levados a repensar a prá tica disso na busca de estreitar os laços entre comunidade e
p e d a g ó g i c a , s a i n d o d o r e p a s s a r c o n t e ú d o s identidade. Um desses é a cidade de Bananeiras –
sistematizados aos estudantes para metodologias mais rodeada por serras, morros e chapadõ es do Brejo
complexas e que envolvem a extraçã o e problematizaçã o paraibano.
de conteú do a ser desenvolvido em sala de aula, a partir
A cidade de Bananeiras é reconhecida pelo seu
da realidade local. Duas dessas metodologias possuem
potencial natural, arquitetô nico e cultural. Num passado
estreitos laços com o Patrimô nio: o Estudo do Meio e a
de gló ria e riquezas, destacou-se pela produçã o da cana-
Educaçã o Patrimonial.
A primeira delas tem como importante base os de-açú car, depois como a maior produtora do café na
estudos da autora Circe Bittencourt (2004) e aponta para Paraıb
́ a e a segunda do Nordeste, chegando a competir
um mé todo investigativo, atravé s do qual o aluno é em qualidades e aceitaçã o com o estado de Sã o Paulo, no
instigado a problematizar sua realidade, coletar e ano de 1852. Tornou-se cidade pela lei provincial de Nº
analisar dados sobre ela e desenvolver noçõ es de como 690, de 16 de outubro de 1879.
intervir no contexto estudado. Sendo assim, os alunos Considerada a cidade mais rica da regiã o do Brejo
sã o orientados a buscar respostas, a ativar a curiosidade paraibano, é possuidora de uma admirá vel beleza
sobre o assunto, a registrar e ter contato com ele e ainda a
arquitetô nica no seu Centro Histó rico, com a presença de
procurar soluçõ es ou intervençõ es acerca do estudo
“ casario ”, que reú ne cerca de oitenta construçõ es
levantado.
A segunda metodologia tem como base a autora preservadas e tombadas pelo IPHAEP, desde julho de
Maria Horta, a qual busca nos lugares de memó ria – que 2010.
vã o de museus a qualquer objeto cultural (vasos, Há edi icaçõ es de diversas linguagens arquitetô nicas
pinturas, instrumentos musicais, roupas, entre outros) – que compõ em a histó ria urbana de Bananeiras:
sobre os quais os alunos observam, realizam registros, neoclá ssica, eclé tica, art-dé co, protomodernistas, dentre
pesquisam em fontes complementares e, por im, outras –, resultado da opulê ncia vivida pela aristocracia
promovem a ressigni icaçã o dele atravé s da apropriaçã o,
rural. Com a veiculaçã o do dinheiro do café , foram
isto é , da releitura do objeto sob a sua ó tica e do contexto
construı́ d as palacetes com elementos importados,
em que está inserido.
formando um conjunto de objetos culturais conservados
As duas metodologias abraçam a realidade local,
realçando a trı́ a de identidade-memó ria-cidadania, que proporcionam oportunidades diversas (e em
atravé s dos objetos culturais, notadamente presentes em diversos nı́ v eis de escolarizaçã o) para atuaçã o
centros histó ricos preservados. pedagó gica atravé s das metodologias apresentadas.
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.21
Educação Patrimonial
Gúbio Mariz | Júlia Araújo | Socorro Nunes | TerezinhaPedagoga
de Figueiredo
Arquiteto e Historiador Professora de Biologia Pedagoga

Educação e Patrimônio: Lugares de memória em Bananeiras


Rica em memó ria, Bananeiras apresenta diversos Estes foram alguns exemplos de lugares de memó ria
lugares de interesse, destacando-se o Tú nel da Serra da que possibilitam “ao indivıd ́ uo fazer a leitura do mundo
Viraçã o, construıd ́ o em 1922, no governo de Só lon de que o rodeia, levando-o à compreensã o do universo
Lucena, ilustre ilho da terra, que viabilizou a chegada da
só cio-cultural e da trajetó ria histó rico- temporal em que
estrada de ferro: motivo de grande transformaçã o e
está inserido” (HORTA, GRUNBERG e MONTEIRO, 1999,
modernizaçã o da cidade.
p. 4).
A Estaçã o Ferroviá ria Bananeiras era conhecida
como ponta de linha do ramal de Bananeiras. Em 1967, a No processo educativo é necessá rio conhecer sobre a
estaçã o foi desativada e transformada em hotel, contudo histó ria educacional de Bananeiras, sua cultura,
foi preservada a estrutura. Assim, quem visitar a Estaçã o memó rias, lugares, objetos, há bitos, instrumentos de
Bananeiras faz uma viagem no passado e contempla o trabalho, costumes e fazeres das pessoas que
presente, no qual o patrimô nio e a so isticaçã o se tornam construıŕam e constituıŕam conhecimentos no decorrer
uma obra de arte. de sua trajetó ria.
A Igreja Matriz de Nossa Senhora do Livramento é Dentro do contexto educacional, podemos registrar o
patrimô nio religioso e cultural da cidade, como també m a quanto Bananeiras proporciona aos seus docentes,
Praça Epitá cio Pessoa, localizada na entrada da cidade e discentes e a populaçã o em geral temá ticas interativas de
d e s t a c a d a p o r t rê s b a n a n a s , q u e a p re s e n t a m
conhecimentos, apropriaçã o e valorizaçã o de sua
instrumentos de referê ncia no forró pé -de-serra, cujo
herança cultural, fomentando vivê ncias de forma
evento cultural da cidade conhecido como melhor Sã o
interdisciplinar, numa perspectiva que aponta uma
Joã o Pé -de-Serra acontece no perıo ́ do do inverno.
O Correios e Telé grafos construıd ́ o em 1835 e com postura diante do conhecimento e requer mudança de
170 anos de existê ncia foi o primeiro estabelecimento do atitude dentro do processo de construçã o global,
Nordeste a empregar o serviço do escravo carteiro. evitando-se, assim, a fragmentaçã o do conhecimento.
O Museu Desembargador Semeã o Canané ia, Todo este arcabouço cultural é palco para diversas
localizado no complexo da Estaçã o Velha do Municıp ́ io, possibilidades de metodologia de ensino, principalmente
na antiga residê ncia do chefe da estaçã o de trem, foi o Estudo do Meio e a Educaçã o Patrimonial, as quais se
inaugurada no dia 30 de julho de 1925, trê s anos apó s da entendem como um processo mais amplo e complexo de
chegada do trem a Bananeiras, em 15 de novembro de
formaçã o do sujeito-cidadã o que se ocupa em
1922.
desenvolver as habilidades necessá rias para que os
A paisagem natural exuberante da Cachoeira do
Roncador atrai turistas praticantes de trilhas ecoló gicas. sujeitos interpretem e deem signi icado ao mundo que os
Encontramos, ainda, a Bica do Gato, um dos principais cerca (PACHECO, 2009).
locais reservados à prá tica de rapel, e a Bica dos Cocos,
referê ncia em lazer e gastronomia. Eles fazem parte da Referências:
Rota Caminhos do Frio e outros eventos, que contribuem BRASIL. Secretaria de Educaçã o Media e Tecnoló gica.
para o crescimento e fortalecimento econô mico da Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Mé dio.
cidade. Brasıĺia: MEC, 1999.
A atividade canavieira destacou-se na regiã o devido
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de
ao solo fé rtil e pró prio para o cultivo da cana-de-açucar,
favorecendo a formaçã o de vá rios engenhos: dentre eles, História: Fundamentos e Métodos. Sã o Paulo: Cortez,
o Engenho Goiamunduba, produtor da Cachaça Rainha e 2004.
o Engenho da Cascavel. PACHECO, Ricardo de Aguiar. O ensino de histó ria com
O sistema educacional de Bananeiras iniciou-se com base na Educaçã o Patrimonial e no Estudo do Meio. IN:
a edi icaçã o do Colé gio Sagrado Coraçã o de Jesus, Espaço de memó ria: abordagens e prá ticas – Cadernos
conhecido como Colé gio das Doroté ia, fundado em 1918, do CEOM v. 22, n. 31, 2009 (p.145-156). Acesso em
pelas irmã s de Santa Doroté ia. maio/2019:
De grande imponê ncia arquitetô nica, o imó vel se
http://bell.unochapeco.edu.br/revistas/index.php/rcc/
destaca na esté tica patrimonial do Centro Histó rico de
article/view/539/361
Bananeiras por sua arquitetura eclé tica, sendo tombado
pelo IPHAEP em 03 de dezembro de 2010. Educou a “elite HORTA, M.L.P.; GRUNBERG, E.; MONTEIRO, A.Q. Guia
feminina” de boa parte da Paraıb ́ a e do Nordeste, em Básico de Educação Patrimonial. Brasília, IPHAN, Museu
regime de internato, até a dé cada de 1960. Imperial, 1999,65 pp.
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.22
Fique Ligado!
Editorial

Uma iniciativa do Governo do Estado da Paraıb ́ a, por meio do Instituto do Patrimô nio Histó rico e Artıśtico do Estado

FÓRUM da Paraıb́ a - Iphaep. Com mais de uma dé cada de atuaçã o, se destina a ser espaço de debate, abordando temas no
â mbito da Educaçã o Patrimonial e contemplando estudantes, pesquisadores, cientistas e as mais variadas entidades
PERMANENTE pú blicas. Acontecem durante o ano quatro Fó runs. Este ano, em março abordou a atuaçã o dos «Saberes e Fazeres das
DE CIÊNCIA E Artesãs Paraibanas» e, em agosto, continuamos o projeto sobre o A Feira do Mercado Central. Alé m do Fó rum «A
CULTURA prostituição em Centros Históricos: o caso da rua da Areia (Joã o Pessoa - PB) e outro referente ao Mê s da
Consciê ncia Negra.

PROJETO:
Este projeto tem como objetivo a regularização da Publicidade de acordo com a normativa
estadual. A primeira cidade foi Campina Grande, mas a açã o teve inicio na capital paraibana, em Joã o
Pessoa. O Iphaep esteve presente com seus té cnicos no Auditó rio da APL para uma Educaçã o
Patrimonial, na qual comentou a cerca da legislaçã o e orientaçã o para o uso adequado das placas. Apó s AÇÃO PUBLICITÁRIA
o prazo, os té cnicos seguirã o com vistoria e orientaçã o. NOS CENTROS HISTÓRICOS
O nú cleo objetiva proporcionar formaçã o teó rica-prá tica referentes à competê ncia e à atuaçã o do Iphaep na
NÚCLEO DE preservaçã o e na proteçã o do patrimô nio histó rico-cultural edi icado, sobretudo no â mbito da antropologia
visual. Promove um diá logo constante entre o Iphaep e sociedade civil, por meio de atividades de cunho
ANTROPOLOGIA VISUAL educativo e artıśtico, de forma a garantir uma compreensã o do trabalho realizado por este Instituto ao pú blico.

DO IPHAEP Em 2019 vem se dedicando à pesquisa da Feira do mercado Central e alé m de promover debates como o
Movimento Bauhaus e a Imaginaçã o Socioló gica de Jessé Souza.

TERMO DE PARCERIA AÇÕES DA CAE & CAHAC


IPHAEP & LABHIS IPHAEP & SOCIEDADE
As Coordenaçõ es de Arquitetura e Histó ria deste Instituto
O Termo de Parceria entre o IPHAEP e o LABHIS/UFCG, tem
desempenham aná lise de projetos de intervençõ es em edifıćio histó ricos
executado o Projeto de Inventá rio dos Imó veis para delimitaçã o
e tombamento no Centro Histó rico de Itabaiana, com a pú blicos e privados; atendimento ao pú blico; orientaçõ es té cnicas;
participaçã o dos alunos do Curso de Histó ria. estudos arquitetô nico e histó ricos para tombamento; iscalizaçõ es de
obras; coordenaçã o de projetos resultantes de cooperaçõ es té cnicas;
elaboraçã o de projetos educacionais e culturais; entre outros.
TERMO DE PARCERIA
IPHAEP & PREFEITURAS
O Termo de Parceria entre o Iphaep e as Prefeituras de cidades PALESTRA: EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
paraibanas, com Centro Histó rico protegido, objetiva estabelecer
diá logo, tornando a gestã o do patrimô nio cultural dessas á reas mais
IPHAEP & REDES DE ENSINO BÁSICO E SUPERIOR
O Iphaep atua na á rea de Educaçã o Patrimonial ministrando palestras
e iciente, construıd
́ a de forma compartilhada. sobre Patrimô nio Histó rico, Artıśtico e Cultural em escolas,
universidades, instituiçõ es em geral. Atende anualmente a pedidos das

TERMO DE PARCEIRA demais Secretarias de Educaçã o e Cultura que venham a solicitar.

IPHAEP & UNIPÊ


O Termo de Parceria entre o IPHAEP e o UNIPE, pelo segundo ano
IMÓVEIS TOMBADOS
consecutivo, tem executado o Projeto de Inventá rio de Bens IPHAEP & OS CENTROS HISTÓRICOS
Imó veis tombados no Centro Histó rico de Joã o Pessoa, com a Os imóveis abandonados, que fazem parte da á rea de tombamento
participaçã o dos alunos do Curso de Arquitetura e Urbanismo. Ao do Centro histó rico e de propriedade particular vê m sendo
todo, já foram inventariados aproximadamente 60 imó veis com vistoriados. Entre eles, existem inú meras açõ es civis pú blicas na
tombamento isolado pelo IPHAEP. justiça, cobrando a «preservaçã o e manutençã o do bem».

Outro projeto contemplado é o de atualizaçã o cartográ ica, atravé s


de georreferenciamento via saté lite dos 16 municıp ́ ios protegidos CARAVANA ARIANO SUASSUNA:
pelo ó rgã o em todo Estado. PATRIMÔNIO NOSSO!
Alé m dos mapas, o geoprocessamento possibilita uma gestã o mais Projeto de educação patrimonial itinerante que fez homenagem ao
e iciente do patrimô nio cultural paraibano. ilustre paraibano Ariano Suassuna, foi uma iniciativa do Governo do
Estado da Paraıb ́ a, por meio do IPHAEP em parceria com a Cia Boca de
Cena, constituıd́ o de formaçõ es e apresentaçõ es de Teatro de Boneco,
TERMO DE PARCEIRA buscando promover o conhecimento, valorizaçã o e preservaçã o dos
bens culturais nos municıp ́ ios de Alagoa Grande, Areia, Bananeiras,
Em 2018 o IPHAEP assinou termo de Parceria com o CAU, CREA, Mamanguape, Pilar, Remigio, Rio Tinto, Sã o Joã o do Cariri, Cajazeiras,
UNIPE, LABHIS/UFCG, os quais vem atuando na preservaçã o, Pombal, Princesa Isabel, Sã o Joã o do Rio do Peixe e Sousa.
valorizaçã o, vistorias, iscalizaçã o e avaliaçõ es té cnicas sobre
imó veis do Centro Histó rico de Joã o Pessoa e outras cidades,
visando as medidas emergenciais a serem tomadas.

V SEMANA DO PATRIMÔNIO
CULTURAL DA PARAÍBA
INVENTÁRIO DAS IGREJAS DE SANTA RITA Em comemoraçã o ao Dia Nacional do Patrimô nio, dia 17 de
Em parceria, IPHAEP, IPHAN, Ministé rio Pú blico e Prefeitura de agosto, o Iphaep promove uma semana de atividades com
Santa Rita, está em processo de conclusã o o Inventá rio das
atendimentos, orientaçõ es e formaçõ es sobre Patrimô nio
Igrejas de Santa Rita, protegidos por este Instituto.
Histó rico nas cidades de Joã o Pessoa e Bananeiras.
Quer saber mais? Envie suas dúvidas, sugestões e contribuições: administracao@iphaep.pb.gov.br
2019 - Ano IV - Nº 04 - P.23
Fique Ligado!
Editorial

O Empreender Centro Histó rico é uma iniciativa do A LOTERIA DO ESTADO DA PARAÍBA - LOTEP é uma
Governo do Estado da Paraı́ b a, por meio de uma autarquia do Governo do Estado da Paraıb ́ a vinculada à
Secretaria de Estado do Turismo e Desenvolvimento
pareceria entre o Instituto do Patrimô nio Histó rico e
Econô mico - SETDE, responsá vel pela administraçã o,
Artıśtico do Estado da Paraıb ́ a - IPHAEP e a Secretaria gerenciamento e iscalizaçã o de jogos em todos os
Executiva de Empreendedorismo do Estado da Paraıb ́ a - municıp ́ ios do Estado. Criada pelo entã o governador José
Empreender PB. Visa o fomento de cré dito para Amé rico de Almeida, em 02 de abril de 1955, atravé s da
atividades comerciais, prestaçã o de serviços e produçã o Lei nº 1.192 e em 1956 foi rati icada pelo presidente
Juscelino Kubitschek, por intermé dio do Decreto nº
e desenvolvimento de produtos com tecnologia 40.549 de 12 de dezembro de 1956.
inovadora nos Centros Histó ricos do Estado da Paraıb ́ a De acordo com o Superintendente Sebastião Alberto
protegidos pelo IPHAEP. Cândido da Cruz a principal missã o da Lotep é contribuir
As linhas de cré dito que participam do Empreender para as açõ es sociais do Governo do Estado atravé s dos
repasses dos valores provenientes da arrecadaçã o com a
Centro Histó rico sã o divididas em dois grupos, sendo: venda dos produtos loté ricos, entre eles, destaca-se o
Empreender Artesanato; Empreender Cultural; Bilhete Tradicional “Sorte Sua”, onde parte desses
Empreender Motociclista Pro issional; Empreender recursos é destinada à assistê ncia social, fomento ao
Mulher; Empreender Pessoa Fı́ s ica; Empreender esporte e lazer, incentivo à cultura e a segurança pú blica.
A Lotep sempre desempenhou um importante papel
Pro issional Liberal; Empreender Pro issional Liberal
para o desenvolvimento social, econô mico e ambiental,
Juventudes; para pessoas fı́sicas. Já o Empreender oferecendo credibilidade em suas açõ es junto à sociedade
Cooperativas; Empreender Cultural; Empreender paraibana atravé s das contribuiçõ es à s entidades de
Inovaçã o Tecnoló gica; Empreender Pessoa Jurı́dica; ilantropia, de apoio ao esporte, cultura e lazer, na
capacitaçã o e orientaçã o para o trabalho de jovens e
Empreender Prefeituras estã o destinados à s pessoas
adultos e na geraçã o de oportunidades de emprego e
jurıd
́ icas. renda. A autarquia manté m convê nios com vá rias
Em 2018 o governo estadual disponibilizou Joã o entidades de ilantropia, como o Cendac, Casa da Criança
Pessoa aproximadamente R$ 841.000,00 (oitocentos e com Câ ncer, Amem, entre outras.
quarenta e um mil reais), em investimento inanceiro A Loteria do Estado da Paraı́ba vem procurando
desenvolver novas formas para a implementaçã o de
para 73 bene iciá rios, entre pessoas fıśicas e jurıd ́ icas nas melhores prá ticas de Responsabilidades Sociais e
linhas de cré dito existentes no Empreender PB. Ambiental alé m de assumir o compromisso de estabelecer
B a n a n e i ra s fo i a c i d a d e c o n te m p l a d a c o m o conceito de jogo responsá vel que consiste no
Empreender Centro Histó rico para o ano de 2019, desenvolvimento de polıt́icas e prá ticas voltadas para
prevenir o jogo compulsivo e proteçã o de pessoas
devendo o programa ser iniciado neste mê s de agosto. O vulnerá veis, como menores de idade, dos potenciais danos
crité rio primordial para seleçã o dos bene iciá rios é que associados aos jogos loté ricos amparados pela legislaçã o.
sejam empreendedores no Centro Histó rico do Atualmente a Loteria do Estado da Paraıb ́ a, alé m de
municıp ́ io, nas referidas linhas. O cré dito é destinado alimentar os sonhos dos inú meros apostadores, tem sido
um importante instrumento do Governo do Estado que
para os que já executam alguma atividade inanceira,
tem orientado suas polıt́icas de forma integrada para a
como també m para os que almejam investir no consolidaçã o das açõ es sociais, visando o enfrentamento
empreendedorismo local, nesse ú ltimo a condiçã o é já ter da pobreza e o provimento de condiçõ es mın ́ imas para
o imó vel onde será exercida a atividade, independente de atender à s contingê ncias sociais e à universalizaçã o dos
direitos do cidadã o.
ser pró prio ou alugado.
Comprando o Bilhete Loté rico o cliente concorre à
Maiores informaçõ es: diversas premiaçõ es, tais como: Carros, motos, dinheiro
https://empreender.pb.gov.br/ em espé cie, TVs de led, celulares, dentre outras. As vendas
dos Bilhetes estã o disponı́veis em diversos pontos
espalhados ao longo do Estado da Paraıb ́ a.
INSTITUTO DO PATRIMÔNIO
SECRETARIA DE HISTÓRICO E ARTÍSTICO APOIO CULTURAL:
ESTADO CULTURA DO ESTADO DA PARAÍBA
IPHAEP

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