Você está na página 1de 29

PREFEITURA MUNICIPAL DE IGARAPÉ-MIRI

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO – SEMED


ESCOLA MUNICIPAL DE ENSINO FUND. ARISTÓTELES EMILIANO DE CASTRO

ELOISE CRISTINY QUINTAL FERREIRA


OSCAR CABRAL PARAGUASSU

ANIMA LENDAS: UM RESGATE DO IMAGINÁRIO DO MUNICÍPIO DE IGARAPÉ-


MIRI/PA ATRAVÉS DA ADAPTAÇÃO DE NARRATIVAS ORAIS PARA
PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS

IGARAPÉ-MIRI/PA
2021
ELOISE CRISTINY QUINTAL FERREIRA
OSCAR CABRAL PARAGUASSU

ANIMA LENDAS: UM RESGATE DO IMAGINÁRIO DO MUNICÍPIO DE IGARAPÉ-


MIRI/PA ATRAVÉS DA ADAPTAÇÃO DE NARRATIVAS ORAIS PARA
PRODUÇÕES AUDIOVISUAIS

Pesquisa desenvolvida com alunos a Escola


Municipal Aristóteles Emiliano de Castro
(Ginásio), sob orientação do acadêmico em
História pela Universidade Federal do Pará
(UFPA), Railson Wallace Rodrigues dos
Santos.

IGARAPÉ-MIRI/PA
2021
A Benedita Araújo de Carvalho (Vovó Didita), in
memoriam.
Pensar, falar, escrever, pesquisar
sobre o folclore é sempre muito prazeroso
porque se trata de vivências, antigas ou atuais,
compartilhadas ao longo de gerações.
(Câmara Cascudo, 1954).
AGRADECIMENTOS

Às famílias dos alunos pesquisadores - Eloíze Cristine Quarema Ferreira e


Oscar Cabral Paraguassu por permitirem que estes participem do projeto, pela
compreensão e parceria.
Aos senhores e senhoras entrevistados durante a pesquisa de campo do
projeto – Sra. Ana Baía, Sr. Zenito Souza, Sr. Gelffson Lobo, Sra. Maria dos Santos,
Sr. José Brandão, Sr. Venâncio Pinheiro, Sra. Rosa Moraes, Sra. Maria Benedita e
Sra. Ruth Pureza; obrigado pela confiança, generosidade e ensinamentos.
À Direção da Escola Municipal Aristóteles Emiliano de Castro (Ginásio),
professoras Claudiana Pinheiro e Osvaldina, pela amizade, competência e
dedicação ao não medirem esforços para que a pesquisa caminhasse.
E em especial, à Benedita Araújo de Carvalho (Vovó Didita), in memoriam, avó
do orientador deste projeto, pois foi através de seus relatos, que este projeto teve
início.
RESUMO

Esta pesquisa consiste no levantamento, registro e divulgação através de


adaptações de lendas amazônicas com ênfase no município de Igarapé-Miri,
localizado na região nordeste do Estado do Pará. Como método, utilizamos uma
didática lúdica, através de concepções modernas de educação proporcionando a
divulgação em massa desses relatos orais (como se é de costume nas culturas dos
povos de origem ribeirinha), que são coletadas através de entrevistas. Em uma
sociedade cada vez mais conectada, com modernos aparelhos tecnológicos
lançados a todo momento, deve-se buscar novas maneiras de incentivar o interesse
da população local nas lendas regionais, e criar novos métodos para o registro
desse material, permitindo assim, que as futuras gerações possam ter acesso ao
objeto da pesquisa. Aí está a importância do uso das redes sociais e da produção de
material audiovisual, recursos tecnológicos que podem auxiliar na divulgação desses
relatos orais, fazendo com que as lendas de Igarapé-Miri se tornem cada vez mais
atraentes, principalmente para o público mais jovem. O projeto fundamenta-se em
levantamento bibliográfico e coleta de depoimentos na modalidade oral das
comunidades tradicionais no fortalecimento do discurso regional e fomento da
disseminação destes conteúdos, há alguns esquecidos pela própria comunidade.
Em resultados parciais o ANIMA LENDAS percebeu o interesse pelas estórias e
causos lendários da região através da produção audiovisual, e dos canais de
comunicação do projeto, a saber, as redes sociais e demais recursos. Tal
repercussão comprova-se nos convites para exposição do projeto e seu resgate das
lendas nos mais diversos eventos e ocasiões no município de Igarapé-Miri. A forma
como o conteúdo do trabalho foi abordado, provocou olhares e chamou atenção
atingindo o objetivo principal deste projeto.

Palavras-chave: Lendas; Igarapé-Miri; Audiovisual; Resgate; Narrativas.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8

2 PROBLEMÁTICA .................................................................................................. 11

3 HIPÓTESES .......................................................................................................... 13

4 OBJETIVOS .......................................................................................................... 14
4.1 Objetivo geral ..................................................................................................... 14
4.2 Objetivos específicos .......................................................................................... 14

5 METODOLOGIA ................................................................................................... 15
5.1 A pesquisa de campo ......................................................................................... 15
5.2 Transcrição dos relatos e edição dos vídeos de entrevistas .............................. 18
5.3 Ilustrações das lendas ........................................................................................ 19
5.4 As peças teatrais ................................................................................................ 20
5.5 Livro Lendas e Assombrações de Igarapé-Miri .................................................. 21
5.6 Blog do Projeto Anima Lendas ........................................................................... 21
5.7 Curta-metragem Lobisomem .............................................................................. 22
5.8 Novos curtas-metragens .................................................................................... 26

6 RESULTADOS ...................................................................................................... 27

7 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 28
LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Mapa da região do Baixo-Tocantins, em destaque o município de


Igarapé-Miri, Pará ....................................................................................................... 8

Figura 02: Mapa administrativo do município de Igarapé-Miri, Pará ......................... 9

Figura 03: Entrevista com a Sra. Ana Baía Pereira (78 anos) ................................ 16

Figura 04: Entrevista com o Sr. Zenito Gomes de Souza (76 anos) ....................... 16

Figura 05: Entrevista com o Sr. Venâncio Pinheiro (85 anos) ................................ 17

Figura 06: Entrevista com o Sr. Gelffson Brandão Lobo (68 anos) ......................... 17

Figura 07: Edição no Programa TechSmith Camtasia 2021 ................................... 18

Figura 08: Vídeo de entrevista publicado no canal do Projeto Anima Lendas ........ 19

Figura 09: Vídeo de entrevista publicado no canal do Projeto Anima Lendas ........ 19

Figura 10: Apresentação teatral do Projeto Anima Lendas ..................................... 20

Figura 11: Capa do livro do Projeto Anima Lendas ................................................. 21

Figura 12: Blog do Projeto Anima Lendas ............................................................... 22

Figura 13: Gravação do curta-metragem no Balneário Jatuíra ............................... 23

Figura 14: Gravação de cena do curta-metragem ................................................... 23

Figura 15: Equipe de atores e filmagens no local de gravação .............................. 24

Figura 16: último dia de filmagem do curta-metragem ............................................ 25

Figura 17: Cartaz de divulgação do curta-metragem .............................................. 25


1 – INTRODUÇÃO

Com uma população estimada em 63.367 habitantes (IBGE 2021), Igarapé-


Miri é um município amazônico do Estado do Pará, no Brasil, que pertence à região
de integração do Baixo-Tocantins (municípios localizados na foz do grande rio
Tocantins). A maioria da população é formada por povos tradicionais ribeirinhos que
residem nas margens dos rios, igarapés e furos da zona rural de Igarapé-Miri.
Conhecida como a "Capital Mundial do Açaí", por ser o maior produtor e
exportador desse fruto no mundo, título confirmado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), que em estudo divulgado no ano de 20191, aponta que
o município Igarapé-Miri chega a produzir 400 mil toneladas de açaí, o que equivale a
mais de 30% da produção nacional (ou mundial) desse fruto.
Com uma extensão territorial de 1.996,790 km², Igarapé-Miri limita-se com os
seguintes municípios: ao Norte com Abaetetuba, a Leste com Moju, ao Sul com
Mocajuba e a Oeste com Cametá e Limoeiro do Ajuru, conforme mostra a figura.

Figura 01: Mapa da região do Baixo-Tocantins, em


destaque o município de Igarapé-Miri, Pará.

Fonte: biblioteca.ibge.gov.br

O Município de Igarapé-Miri, além da sede que é a cidade de mesmo nome,


possui várias vilas e povoados, a maioria localizados nas margens de rios, igarapés,

1
Açaí - Ranking Municipal (10 principais) quanto a quantidade produzida - Estado do Pará - 2019. Fonte
IBGE/PAM 2020 (ano de referência 2019) / Elaboração SEDAP-NUPLAN-ESTATÍSTICA.
8
ramais e rodovias. Algumas são consideradas vilas de maior porte e possuem grande
influência na região onde estão localizadas, são as vilas: Maiauatá, Santa Maria do
Icatu e Menino Deus do Anapu. Outras vilas menores, também são importantes para
a sua região, porém são menos influentes, são elas: Vila Cacau do Panacauera, Vila
Suspiro, Vila Igarapezinho do Caji, Vila Santo Antonio do Caji e outros povoados
menores, alguns são bem antigos, outros são formações mais recentes.
O município de Igarapé-Miri possui apenas dois distritos oficiais (Igarapé-Miri e
Maiauatá), mas devido a grandeza de seu território e pelas diferenças regionais, a
prefeitura miriense divide o território municipal em várias áreas administrativas
(Igarapé-Miri, Maiauatá, Anapu, Alto Meruu, Panacauera, Caji, Meruu-Açu e
Pindobal), algumas dessas áreas possuem administradores regionais que geralmente
são pessoas que residem nas vilas sedes de cada região.

Figura 02: Mapa administrativo do município de


Igarapé-Miri, Pará.

Fonte: Prefeitura de Igarapé-Miri

O estuário do grande rio Tocantins é uma região da Amazônia caracterizada


por elementos naturais como os rios, igarapés e florestas, cenários que cultivam a
imaginação dos povos que aqui habitam. Ao entardecer ou nas noites de lua cheia,
criaturas fantásticas revelam-se para os moradores, e é nas narrativas orais, que esta
9
população perpetua essas crenças, estes são os povos que vivem às margens do
gigante rio Tocantins e seus afluentes.
Os rios possuem suas características e peculiaridades registradas nestas
narrativas e entrelaçam-se num emaranhado de sentidos que o ambiente proporciona
para a construção e revelação destas histórias (ou estórias). Aspectos como as
estruturas dos rios, das florestas, dos céus, das noites e dos fenômenos naturais desta
região guardam sobre si tantos segredos, sendo estes revelados a poucos. E é este
cenário, que se torna pano de fundo da comunidade amazônico-ribeirinha que muito
produz em termos de conhecimentos, saberes e fazeres tradicionais. Há de se
considerar, que as lendas são narrativas que enfeitam e caracterizam o lugar,
acompanhadas de mistérios, suspense e medo, elas acompanham fatos e
acontecimentos comuns, ilustradas por cenários exóticos. Muitas vezes são fatos
verídicos acrescentados de novos dados ou até mesmo recriados, podendo ser muito
confundida com os mitos.
Para RODRIGUES (2004), o conceito de lenda, trata de uma narrativa
antiquíssima, geralmente breve. Etimologicamente é o significado do substantivo
“legend”’, forma gerundiva do verbo legere (ler) do latim, hoje lenda. Ela consiste em
relatar acontecimentos caracterizados pela presença do maravilhoso e do imaginário
que superam o histórico e o verdadeiro. É transmitida e conservada pela tradição oral,
visando explicar acontecimentos misteriosos ou sobrenaturais, geralmente mescla
fatos reais com supostos imaginários ou fantasiosos, e que vão se modificando
através do tempo. É também ligada a certo espaço geográfico.
AFONSO ARINOS em Lendas e Tradições Brasileiras (1917) compreende a
conceituação de lenda neste sentido, como: Lenda que vem de “ler”, como “legenda”
descendente do termo latino “legere”; e o que deve ser lido”.
No sentido deste acompanhamento de acontecimentos considerando que a
ação de narrar ou contar histórias ou estórias está presente em quaisquer culturas e
nos mais diversos cotidianos, dos mais plurais povos em todas as sentenças
temporais apresentamos este projeto que destaca a importância das narrativas orais
na difusão de conhecimentos, crenças e valores das comunidades e o resgate sócio-
histórico do município de Igarapé-Miri, dando protagonismo a personagens até então
excluídos, ouvindo estas pessoas, que tem muitas histórias para contar.

10
2 - PROBLEMÁTICA

A tradição de contar estórias que complementam a vivência do ribeirinho


amazônico com suas crenças e cultura numa perspectiva fantástica, deixou de possuir
tanta recorrência em relação ao tempo da não utilização de tantos aparatos
tecnológicos no interior amazônico, visto que em tempos passados os pais, filhos,
netos e avós reuniam-se a beira da ponte (nas zonas ribeirinhas), bem como ao redor
de fogueiras para conversar sobre os grandes “causos” e histórias que viveram em
suas juventudes e mesmo nos seus períodos maduros. Esta atividade com o passar
do tempo foi sendo esquecida, principalmente pelas populações mais jovens pelo fato
de possuírem “coisas mais interessantes a fazer” do que ouvir histórias sobrenaturais.
O mundo contemporâneo apresenta outros modelos de entretenimento.
As redes sociais, jogos virtuais, telenovelas, filmes e séries enfaticamente de
ficção científica, tomam todo tempo do jovem nas relações interpessoais. As redes
que a princípio integrariam e aproximariam as pessoas acabou possuindo efeito
reverso afastando ainda mais pais de filhos, avós de netos e por diante. A arte da
narrativa perdeu seu espaço, o contar e ouvir histórias ou estórias se perdeu.
Com o não registro dessas lendas e o natural envelhecimento da população
miriense, várias narrativas, algumas em versões únicas, deixaram de existir, pois
quando um senhor ou uma senhora falece, morrem junto, várias histórias, causos,
várias versões lendárias amazônicas, é como que se fosse queimada uma grande
biblioteca viva. A pandemia do coronavírus (SARS-CoV-2), mostrou a importância do
registro, pois muitos idosos faleceram em nosso município, sem antes terem a
oportunidade de compartilharem um pouco do que conheciam do imaginário regional.
Em nossas pesquisas bibliográficas, encontramos poucas produções literárias
sobre as lendas do povo miriense, alguns são livros bem antigos e que já não possuem
exemplares a venda ou disponíveis em versão digital na internet. As poucas obras que
encontramos sobre o tema, são: Igarapé-Miri à luz do folclore (Eládio Lobato, 1984),
A Fêmea do Cupim (Eládio Lobato, 2003), A Lenda do Açaí de Igarapé-Miri (Dorival
Galvão, 2007), Narrativas Orais Amazônicas: Memória, Identidade, Cultura e
Linguagem (Almir Pantoja 2004) e Prismas sobre Educação e Cultura em Igarapé-Miri
no século XX (Cesarina Lobato e Crisálida Soares, 2001) este último nem chega a
registrar as lendas do município, apenas cita seus nomes de forma superficial, sem
abordá-las através de relatos.

11
Perpetuar é a missão! Então, como aliar moderno e tradicional na sociedade
contemporânea? Como reaproximar o jovem deste conhecimento nativo? O que fazer
para associar a velocidade dos novos meios de comunicações e a tradição das
narrativas orais? Essas e outras perguntas nortearam e deram forma a estrutura
organizacional e ideológica deste projeto.

12
3 - HIPÓTESES

A adaptação de lendas regionais do Município de Igarapé-Miri, tornou-se um


desafio para o projeto ANIMA LENDAS, tendo em vista o declínio deste conhecimento
por parte da população, principalmente os mais jovens e o abandono dessas
narrativas e fazeres tradicionais da região.
Como hipótese, vislumbramos uma reanimação destes conteúdos, contudo a
forma como isto se dá é a proposta deste projeto. O Anima Lendas trata essas
narrativas orais, não como conteúdos arcaicos, sem vida ou desinteressantes, porém
com uma nova abordagem estas podem voltar a vigorar e percorrer os corredores das
instituições de ensino de nosso município, bem como atender a uma demanda de
resgate sócio-cultural e histórico do Município de Igarapé-Miri.
Atividades lúdicas, livros, desenhos, vídeos de entrevistas, curtas-metragens e
publicações em redes sociais e blogs traçam o caminho desta hipótese com
estratégias de registro, gerenciamento e disseminação. Assim, o presente trabalho
poderá trazer possibilidade de reflexão sobre a importância da preservação das
lendas regionais, além da retomada da disseminação desses conteúdos através da
oralidade, em união ao desenvolvimento tecnológico.
Estes privilegiados do misticismo amazônico que o Projeto ANIMA LENDAS
com a sua equipe de pesquisadores entrevistou na perspectiva do fortalecimento
cultural e das crenças tradicionais nas lendas regionais.

13
4 - OBJETIVOS

4.1 - Objetivo geral

Pesquisar, registrar e disseminar as lendas ocorrentes em Igarapé-Miri/PA, a


partir de métodos tecnológicas e artísticas, numa perspectiva educacional diferente,
com o compromisso de despertar na sociedade igarapémiriense, o interesse nesse
conteúdo adormecido pelo crescimento da utilização das mídias atuais, transformando
esses aparatos tecnológicos que antes eram o problema, em solução, passando
agora, a serem utilizados como ponte entre os anciões e a população jovem local.
Divulgar as lendas registradas, por meio das redes sociais e canais de vídeos
on-line, dando protagonismo ao nossos “contadores de histórias”, e perpetuando
assim, um material que por muito tempo ficou esquecido, atingindo não somente a
sociedade atual, mas também, as novas gerações que terão à sua disposição, várias
narrativas em peças teatrais, escritas, ilustradas, contadas em vídeos gravados com
os próprios contadores, e através de curtas-metragens baseados nos relatos colhidos
durante a pesquisa de campo do projeto.

4.2 - Objetivos específicos

 Registrar e divulgar narrativas sobre as lendas do município de Igarapé-Miri;

 Retomar a importância das lendas amazônicas por parte da população local,


bem como destacar a cultura das populações tradicionais por meio da
oralidade como fator de identidade de um povo;

 Adaptar as lendas para peças teatrais, livros, vídeos, ilustrações, curtas-


metragens e postagens em rede virtual, para que se tornem mais atraentes,
mas tudo desenvolvido, sem alterar a versão contada pelo entrevistado,
mudando em algumas ocasiões, apenas o nome dos personagens;

 Utilizar as redes sociais e outros recursos tecnológicos como aliados na


divulgação desses relatos e disseminação das histórias ou estórias;

 Praticar as expressões orais por meio de relatos de experiências;

 Registrar e disseminar lendas de todos os distritos do Município de Igarapé-


Miri/PA, descentralizando da cidade e abrangendo a zona rural.
14
5 – METODOLOGIA

5.1 – A pesquisa de campo

O projeto Anima Lendas é desenvolvido, com base principalmente nos relatos


coletados em entrevistas realizadas com idosos, moradores do Município de Igarapé-
Miri/PA. As conversas foram agendadas e gravadas pelos próprios alunos
pesquisadores, e são usadas em todas as etapas e desdobramentos da pesquisa.
Antes do início da pesquisa de campo, a equipe do projeto realizou um
levantamento bibliográfico sobre as lendas do Município de Igarapé-Miri. Neste viés
as obras analisadas foram Igarapé-Miri à luz do folclore (Eládio Lobato, 1984), A
Fêmea do Cupim (Eládio Lobato, 2003), A Lenda do Açaí de Igarapé-Miri (Dorival
Galvão, 2007), Narrativas Orais Amazônicas: Memória, Identidade, Cultura e
Linguagem (Almir Pantoja 2004) e Prismas sobre Educação e Cultura em Igarapé-Miri
no século XX (Cesarina Lobato e Crisálida Soares, 2001).
Na pesquisa de campo, etapa principal do projeto, ocorreu a coleta dos relatos,
sendo antes realizada a escolha dos materiais e equipamentos a serem utilizados nas
entrevistas: uma câmera Nikon D3100, um tripé semiprofissional, um microfone de
lapela, dois cartões memória 8 Gb cada.
Após a escolha dos equipamentos, demos início as entrevistas realizadas
durante a pesquisa de campo, com os seguintes procedimentos:

1) Agendamento de entrevistas com idosos que residem no Município de Igarapé-


Miri (cidade e interiores). Na zona rural, a equipe conta com a ajuda de algum
morador da localidade a ser visitada, este morador é a ponte entre Anima
Lendas e os idosos da região, pois por conhecer a localidade é o responsável
por marcar as entrevistas.

2) Ida até à casa do idoso ou local marcado e gravação das entrevistas, com o
auxílio dos equipamentos tecnológicos selecionados pela equipe do projeto.

3) Entrega e assinatura do termo de autorização de uso de imagem e áudio do


entrevistado.

15
4) Adaptação das lendas coletadas durante a pesquisa de campo, para os
formatos trabalhados pelo Projeto Anima Lendas: vídeos, ilustrações e
postagens na internet.

Figura 03: Entrevista com a Sra. Ana Baía Pereira (78 anos).

Fonte: Acervo do Projeto Anima Lendas

Figura 04: Entrevista com o Sr. Zenito Gomes de Souza (76 anos).

Fonte: Acervo do Projeto Anima Lendas


16
Figura 05: Entrevista com o Sr. Venâncio Pinheiro (85 anos).

Fonte: Acervo do Projeto Anima Lendas

Figura 06: Entrevista com o Sr. Gelffson Brandão Lobo (68 anos).

Fonte: Acervo do Projeto Anima Lendas

17
É importante ressaltar que ao término das entrevistas, todos os contadores de
histórias assinaram um termo de autorização de uso de imagem em fotos ou filme,
para que este material possa ser utilizado pelo projeto ANIMA LENDAS. A autorização
abrange o uso da imagem em todo território nacional e no até mesmo no exterior.

5.2 – Transcrição dos relatos e edição dos vídeos de entrevistas

Após a pesquisa de campo, a equipe do projeto inicia a transcrição dos relatos


coletados e edição dos vídeos, procedimento realizado com auxílio de um notebook
Dell Inspiron 15 e um fone de ouvido. A preparação dos vídeos é realizada através do
TechSmith Camtasia Studio 2021, um software de criação de vídeos.

Figura 07: Edição no Programa TechSmith Camtasia 2021.

Fonte: Reprodução TechSmith Camtasia

Após a edição, os vídeos das entrevistas são publicados no canal do YouTube


do Projeto Anima Lendas e ali ficam disponíveis para qualquer pessoa que tenha
interesse em acessar este material. Assim, além das adaptações feitas pelo projeto,
os jovens ou quem acessa esta plataforma, também poderá conhecer as pessoas que
contam essas estórias, dando protagonismo aos “guardiões do folclore miriense”,
essas pessoas que dificilmente seriam conhecidas além da região onde moram,
passam a serem vistas em todo o município de Igarapé-Miri e até mesmo em outras
regiões do Brasil ou em outros países do mundo.
18
Figura 08: Vídeo de entrevista publicado no canal do Projeto Anima Lendas.

Fonte: Reprodução YouTube

5.3 – Ilustrações das lendas

Foram produzidas também as Ilustrações, é como se a lenda ganhasse vida com


a criação desse material. As imagens são criadas através do Corel Draw, um software
de ilustração para design gráfico que possibilita a criação de desenhos artísticos.

Figura 09: Vídeo de entrevista publicado no canal do Projeto Anima Lendas.

Fonte: Reprodução Corel Draw


19
As ilustrações levam em consideração a época em que a história é narrada,
buscando sempre retratar com fidelidade as características do local, no tempo em que
a história teria acontecido, segundo o entrevistado.

5.4 – As peças teatrais

Baseadas nos materiais colhidos durante a pesquisa de campo, a equipe do


projeto Anima Lendas elabora também as peças teatrais que são apresentadas por
componentes do projeto e outros alunos da escola. Com o avanço da pesquisa de
campo, novas peças teatrais sobre outras lendas, ainda serão criadas, todas
baseadas em relatos orais dos entrevistados do projeto.
As peças são apresentadas em eventos públicos e os cenários das
apresentações são baseados em paisagens regionais que retratam as características
do interior do Município de Igarapé-Miri. O projeto já se apresentou em vários eventos
públicos que aconteceram cidade.

Figura 10: Apresentação teatral do Projeto Anima Lendas.

Fonte: Darley Ferreira

O grupo é composto somente por crianças, algumas fazem parte da equipe de


apoio do projeto e auxiliam os atores mirins nas apresentações, ajudando na
montagem dos cenários e na hora de vestirem ou trocarem de fantasias.
20
5.5 – Livro Lendas e Assombrações de Igarapé-Miri

Com as lendas coletadas através da pesquisa de campo, estamos escrevendo


o livro “Lendas e Assombrações de Igarapé-Miri”, que tem como base, os relatos dos
idosos entrevistados pela equipe do projeto. Ao todo já são trinta e cinco lendas
catalogadas, mas o número deve crescer após a realização de novas entrevistas com
idosos moradores da cidade e zona rural do município.
No livro, as lendas serão divididas por região, dando ênfase aos contos de
localidades do interior do município. As Vilas Igarapezinho do Caji e Suspiro já foram
visitadas pela equipe do Projeto Anima Lendas. Localidades como: Menino Deus do
Anapu, Santa Maria do Icatu, Cacau do Panacauera e Maiauatá ainda serão visitadas.

Figura 11: Capa do livro do Projeto Anima Lendas.

Fonte: Acervo do Projeto Anima Lendas

5.6 – Blog do Projeto Anima Lendas

O blog do Projeto Anima Lendas é uma página on-line, atualizada com


frequência, usada somente para divulgar as lendas coletadas na pesquisa de campo
em formato de texto e ilustrações (criadas pela equipe do projeto). A plataforma

21
utilizada é o Blogger que é um serviço oferecido gratuitamente pelo Google, que
possui ferramentas fáceis para edição e gerenciamento de blogs.
O Blog Anima Lendas possui quase 33 mil visualizações e trinta e cinco
publicações referentes a lendas do folclore miriense e pode ser acessado
gratuitamente através do link animalendas.blogspot.com.

Figura 12: Blog do Projeto Anima Lendas.

Fonte: Reprodução Blogger

Além das lendas em texto e ilustrações, o blog possui também algumas abas
com informações e fotos da equipe do projeto e dados para contato.

5.7 – Curta-metragem Lobisomem

Em fevereiro do ano de 2021, o Anima Lendas foi um dos projetos aprovados


no edital Culturas Populares da Lei de Emergência Cultural ou Lei Aldir Blanc que foi
criada pela Lei nº 14.017 de 29 de junho de 2020 elaborada pelo Congresso Nacional
com a finalidade de atender ao setor cultural do Brasil, maior afetado com as medidas
restritivas de isolamento social impostas em razão da pandemia de Covid-19. O edital
Culturas Populares foi gerido pela FIDESA (Fundação Instituto para o
Desenvolvimento da Amazônia) e Governo do Pará, que foram os responsáveis pela
escolha dos projetos e repasse do recurso.

22
Com o valor repassado ao projeto, investimos na compra de equipamentos de
filmagens, fantasias, objetos para o cenário e decidimos gravar um curta-metragem
com o título de "LOBISOMEM".
Figura 13: Gravação do curta-metragem no Balneário Jatuíra.

Fonte: Acervo do Projeto Anima Lendas

Figura 14: Gravação de cena do curta-metragem.

Fonte: Acervo do Projeto Anima Lendas

23
O filme foi gravado no Bairro do Jatuíra, próximo à entrada do famoso balneário.
O local foi escolhido por ser um espaço bem arborizado, muito bonito, e por ter casas
com traços regionais, que retratam muito bem as características interiorianas da
região amazônica. As gravações iniciaram no dia 15 de julho de 2021 e foram
concluídas em agosto do mesmo ano.

Figura 15: Equipe de atores e filmagens no local de gravação.

Fonte: Acervo do Projeto Anima Lendas

O curta-metragem Lobisomem é baseado em relatos de moradores idosos do


município de Igarapé-Miri e conta a história de uma família que em uma noite de lua
cheia, foi atacada e perseguida por uma criatura que em sua aparência misturava as
características de um lobo e de um homem. Este fato teria acontecido em um pequeno
povoado do interior do município, no ano de 1963.
Todo o elenco de atores do curta-metragem são crianças, alunos da Escola
Municipal de Ensino Fundamental Aristóteles Emiliano De Castro Ginásio (Ginásio).
Para a adaptação do filme, foi realizada uma pesquisa sobre a religiosidade, o
modo de se vestir, equipamentos que eram utilizados e outros costumes da época,
objetivando retratar com o máximo de fidelidade o período em que o curta-metragem
retrata.

24
Figura 16: último dia de filmagem do curta-metragem.

Fonte: Acervo do Projeto Anima Lendas

O curta-metragem contou ainda em sua trilha sonora, com a canção “O


Lobisomem” do músico miriense Pim, que autorizou o uso de sua música, cantada
em ritmo de carimbó.
Figura 17: Cartaz de divulgação do curta-metragem.

Fonte: Acervo do Projeto Anima Lendas


25
Ao todo, o nosso primeiro filme já possui mais de 3.400 visualizações no
Facebook e quase 2.000 visualizações em nosso canal do Youtube, além de ser
transmitido em TV aberta para toda a Cidade de Igarapé-Miri, através da TV Açaí
Canal 12, filiada da Record TV Belém.
Você pode assistir o filme Lobisomem em nosso canal do Youtube através do
link https://www.youtube.com/watch?v=N3v7qcRiLeM.

5.8 – Novos curtas-metragens

A equipe do Projeto Anima Lendas, já trabalha na conclusão do roteiro do


próximo curta-metragem, que vai abordar uma das mais enigmáticas lendas do
folclore amazônico, a Matinta Perera, um ser assustador que se esconde nas trevas
das matas da Amazônia, e que é o terror da infância de quem nasce na região. As
gravações devem iniciar no mês de dezembro, com local a definir.
Após a conclusão do curta-metragem "Matinta Perera" o Projeto Anima Lendas
já decidiu o tema da próxima produção e vai fazer uma viagem para a Freguesia de
Sant'Ana de Igarapé-Miri, nos anos de 1835 e 1836 (período do Brasil Império -
Regência), para conhecer uma história lá do tempo da Cabanagem.
Baseado nos escritos do Tenente Coronel Agostinho Monteiro Gonçalves em
"Chrônicas de Igarapé-Miry" o curta-metragem "O Tesouro enterrado dos Cabanos" é
uma narrativa contada em 1899, por um ex-cabano já idoso, que sobreviveu ao fim da
revolução e passou a residir no Rio Santo Antonio, interior de nosso município. Esta
será uma das viagens mais longas já feitas pela nossa equipe e a produção deve
iniciar no ano de 2022. Após essas, outras produções também acontecerão.

26
6 - RESULTADOS

Trabalhar com um tema tão abrangente como o Folclore com a intenção de


divulgar e conhecer as tradições orais do Município de Igarapé-Miri, parecia um
desafio exaustivo e impraticável, mas, a partir do momento em que iniciamos a
pesquisa de campo, percebemos que é um conteúdo prazeroso e que prende a
atenção daqueles que escutam os relatos orais compartilhados pelos mais velhos.
Após o início das ações do projeto, percebemos o interesse pelas estórias e
causos lendários da região através dos canais de comunicação, a saber, as redes
sociais e demais recursos. Tal repercussão comprova-se nos números de acessos em
nossas redes e canais de vídeos. A forma como o conteúdo foi abordado provocou
olhares e chamou atenção atingindo o objetivo deste projeto.
Com as pesquisas e produções, os mais jovens que tiveram contato com o
material produzido a partir dos relatos orais, mostraram entusiasmo de estarem vendo
o resgate de lendas que são muito antigas, mas que para eles, eram novidades.
Ao buscar o resgate dessas lendas, algumas quase centenárias, ficou claro que
estas ainda estavam vivas na memória das pessoas mais velhas e durante a
realização deste estudo ficou evidente a importância dessas fábulas regionais como
elementos que tem a finalidade de preservar a cultura popular miriense.
Desta forma, a investigação prática destes conhecimentos resultou neste
trabalho amplo permitindo conhecer uma gota do oceano lendário de tradições,
estórias e vivências ribeirinhas colaborando no saber científico através de diversas
áreas do conhecimento, utilizando-se de diferentes recursos artísticos e tecnológicos
no município de Igarapé-Miri/PA.

27
7 - REFERÊNCIAS

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 3ª Ed. Brasília:


Ministério da Educação e Cultura/Instituto Nacional do Livro. 1972.

FRANCO, Afonso Arinos de Melo. Lendas e tradições brasileiras (póstuma). São


Paulo: Tipografia Levi, 1917.

GALVÃO, Dorival Pereira. A lenda do Açaí de Igarapé-Miri (A Capital Mundial do Açaí).


Belém: Gráfica G4, 2007.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Cidades e Estados


IBGE, 2021. Cidades. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/igarape-
miri>. Acesso em: 24 de out. de 2021.

LOBATO, Eládio. A Fêmea do Cupim no Mundo do Folclore. Belém: Gráfica Sagrada


Família, 2003.
LOBATO, Eládio. Igarapé-Miri à Luz do Folclore. Belém. 1984.
LOBATO E SOARES, Cesarina Corrêa e Crisálida Pantoja. Prismas sobre educação
e cultura em Igarapé-Miri no Século XX. Belém: Editora IGE, 2001.
OLIVEIRA, Agostinho Monteiro Gonçalves d'. Chronica de Igarape'-Miry. Belém: Typ.
da Imprensa Official do Estado, 1899.
PANTOJA. Almir. Narrativas Orais Amazônicas: Memória, Identidade, Cultura e
Linguagem. Igarapé-Miri, 2004.

28

Você também pode gostar