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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

Campus Universitário — Trindade


CEP 88.040-900 — Florianópolis — Santa Catarina
FONE (48) 3721-9286 — FAX: (48) 3721-9751

Discente: Paloma de Souza do Vale


Docente: Orlando Ferretti
Disciplina: Biogeografia Básica

Prática como componente curricular (PCC) - PLANO DE AULA - Agricultura Urbana:


Os quintais como espaço de memória

Professora: Paloma de Souza do Vale


Turma/ano: Anos finais 6º, 7º, 8º, 9º.
Conteúdo/Tema (e subtemas): Agricultura Urbana: Os quintais como espaço de memória

Interdisciplinaridade: Ciências - Entendimento do Desenvolvimento das plantas - Fases


da Lua - Língua Portuguesa: Interpretação de texto - Matemática: Resoluções de
problemas com a temática do PCC.

Objetivos (com no mínimo dois objetivos): Resgatar os saberes tradicionais sobre os


quintais, via oralidade com os mais velhos; Compreender a importância da agricultura
urbana/periurbana.
Metodologia: Para introduzir o assunto em sala de aula será iniciada com roda de conversa
com os estudantes (em círculo), trazendo algumas perguntas suleadoras para entender qual o
conhecimento prévio que os estudantes e os estudantes têm sobre o assunto. E a exibição do
vídeo “A tradição dos quintais e a agricultura urbana” Ângela Medeiros - disponível no
youtube.
As perguntas para iniciar o debate são;
A sua casa tem quintal? Se sim qual a sua relação com ele?
O que tem plantado nos quintais da sua vizinhança?
Quem cuida destes quintais?
O que é agricultura urbana pra você?
O que você entendeu sobre o vídeo exibido em aula?
A partir deste diagnóstico em formato de roda de conversa teremos subsídios para aprofundar
o tema conforme os saberes de cada estudante. Assim inicia-se uma conversa sobre os temas
abordados na conversa.

Continuamos o debate com o seguinte texto “Os quintais e seus saberes (in)visibilizados”,
construído com um intuito de trazer elementos para trabalhar em sala de aula os assuntos
proposto no planejamento que é a agricultura urbana e os saberes ancestrais. Texto baseado
no artigo SABERES “INVISÍVEIS” NA CIDADE : DA SEGREGAÇÃO SÓCIO-
ESPACIAL ÉTNICA À CONSTRUÇÃO DA JUSTIÇA AMBIENTAL.
autoras: GOMES Ângela Maria da Silva, Centro Universitário de Belo Horizonte-UNI-
BH, WAKISAKA, Maria Lúcia Yoshico, Centro Universitário de Belo Horizonte-UNI-
BH.

Os quintais e seus saberes (in)visibilizados

Percebe-se que a população pobre e periférica sempre agiu de maneira autônoma para
superar os problemas de planejamento urbano que estão presentes na sua localidade. Já que o
Estado se nega a atender as necessidades dessa população. Quando pesquisamos o histórico
do Planejamento Urbano ofertado pelo governo brasileiro, encontramos registros que seu uso
e aplicação sempre foi empregado para gerar capital e conforto para quem tem dinheiro, essa
realidade é ainda presente nos dias de hoje, perpetuando a segregação social e racial.
Deixando assim a população pobre, preta e periférica na marginal das “cidades modelos”. É
importante dizer que a população periférica nunca ficou apática por não ter a presença dos
aparatos públicos nos seus territórios, esses sujeitos buscaram nos seus saberes tradicionais e
ancestrais dos povos ameríndios e africanos e afro-brasileiros modos de bem viver sem a
lógica capitalista. Tornando esses lugares em verdadeiros refúgios dessas cidades que
segregam, mata corpos não homogêneos a lógica tóxica do capitalismo.
A tradição dos quintais que estão situados nos arredores das moradias seja nos bairros,
morros, vilas e favelas por toda a América Latina. Entretanto vamos realizar um recorte mais
específico podemos ver essas realidades aqui em Florianópolis no Maciço do Morro da Cruz,
neste território observamos ver que a maioria das habitações possuem um quintal. Nestes
quintais geridos em sua maioria por mulheres matriarcas da família tem espaço para tudo,
puro planejamento urbano/estratégico de seus territórios, encontramos hortas para alimentar
a família, ervas ancestrais que cuidam da saúde física, aos manejos agroecológicos que são
por exemplo: as árvores frutíferas plantadas em algumas encostas dos morros para evitar seu
deslizamento em caso de chuvas. Esses saberes foram marginalizados historicamente por não
estar contido nos moldes da ciência colonial eurocêntrica. Os saberes desses povos estão
contidos na oralidade que essas vozes e corpos carregam, com conhecimentos que vem da
base dos povos originários e os povos de matrizes africanas.

A agricultura urbana que só agora começa a ganhar “voz” nos meios institucionais,
sempre existiu (e por isso resistiu) nestes quintais periféricos. Alimentando e nutrindo essas
famílias em localidades urbanas e/ou periurbana. Reconhecer essas vozes é dar protagonismo
aos verdadeiros precursores desta prática ancestral.

No próximo encontro será feita uma roda de conversa com os mais velhos da comunidade
(griôs) falando sobre seus conhecimentos tradicionais que perpassam desde técnicas
tradicionais de plantio, a importância de não usar agrotóxicos, fases da lua e sua influência no
plantio, quintais e agricultura urbana nos quintais. E suas vivências com os quintais urbanos.
Por fim será construído um roteiro de saída de campo da comunidade, uma articulação entre a
comunidade e a escola.

No terceiro encontro será realizada a saída de campo para visitar os quintais da comunidade
com o roteiro feito no encontro passado com os mais velhos.
A proposta é que essa saída seja interdisciplinar e dialogue com as diversas áreas do
conhecimento.

Materiais utilizados em campo: Bússola para georeferenciar os/as estudantes no trajeto da


saída de campo(esse apenas a professora levará para utilizar com os estudantes), caderneta de
campo para anotações, celular para realizar os registros em campo e água.
Objetivos da saída de campo: Que os/as estudantes ressignifique seus olhares sobre seu
território, valorizar os conhecimentos locais transmitidos via oralidade pelos mais velhos,
entender a importância da agricultura urbana/periurbana, que o/a estudante seja encorajado
em ser agente de transformação na sua realidade, construir um senso de pertencimento do
sujeito na sua realidade, unir escola e comunidade criando um elo cada vez mais forte, unir os
conhecimentos científicos e tradicionais na formação do sujeito, investigar quais são as
espécies de plantas mais cultivadas naquele território e descobrir através da conversa com a
comunidade o motivo de ter aquela espécie na comunidade.

As fotos a seguir são de minha autoria em uma saída de campo para visitação dos quintais no
Morro do Mocotó Queimada com a Educação de Jovens e Adultos da Educação Escolar
Quilombola.
Na

caderneta de campo cada estudante anotará informações passadas pelos moradores sobre os
quintais visitados, e os/ as estudantes farão algumas perguntas para os moradores.
Perguntas suleadoras
Nome do/a morador/a?
Idade?
Quais plantas são cultivadas no seu quintal?
Quem cuida da manutenção do quintal?
Quando começou a cultivar plantas no seu quintal e motivo?
Qual a importância da agricultura urbana pra você?
Com quem você aprendeu a cultivar?

Após as entrevistas voltamos a escola e se encerra a saída de campo.

No quarto encontro falamos sobre a saída de campo e as impressões sobre as/os estudantes do
campo e começamos a dialogar sobre o relatório de campo e as entrevistas feita com os
moradores, mapeando quais plantas mais utilizadas na comunidade, pesquisando o nome
científico destas espécies assim unindo os conhecimentos científicos e acadêmico. O
desdobramento dessa atividade vai acontecer em dois encontros.

Finalizando esse PCC com uma cartilha das plantas encontradas nos quintais da comunidade
com seus usos tradicionais bem como seu nome científico e por fim a ilustração de cada
espécie. Podendo ser construído em dupla ou sozinho essa cartilha, essa será a atividade
avaliativa deste planejamento, para além da avaliação processual.

Avaliação: A avaliação será processual com o desenvolvimento de cada estudante bem como
a elaboração da cartilha com as plantas encontradas no quintas da comunidade.

Referências Bibliográficas:
Santa Catarina. Governo do Estado. Secretaria de Estado da Educação. Política de
educação escolar quilombola / Estado de Santa Catarina, Secretaria de Estado da
Educação. – Florianópolis : Secretaria de Estado da Educação, 2018.
POLÍTICA DE EDUCAÇÃO ESCOLAR QUILOMBOLA - SC
A tradição dos quintais e a agricultura urbana” Angela Gomes -
https://www.youtube.com/watch?v=wysDL0wEA5M&t=928s
SABERES “INVISÍVEIS” NA CIDADE : DA SEGREGAÇÃO SÓCIO-ESPACIAL
ÉTNICA À CONSTRUÇÃO DA JUSTIÇA AMBIENTAL.
autoras: GOMES Ângela Maria da Silva, Centro Universitário de Belo Horizonte-UNI-
BH, WAKISAKA, Maria Lúcia Yoshico, Centro Universitário de Belo Horizonte-UNI-
BH.
Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/historico/
BNCC_EnsinoMedio_embaixa_site_110518.pdf
Rotas e diálogos de saberes da etnobotânica transatlântica negro-africana:
Terreiros, Quilombos, Quintais da Grande BH Autora: Angela Maria Gomes

Apontamentos para Interdisciplinaridade: É possível trabalhar com a história, assim


teremos o aspecto histórico da comunidade na saída de campo, interligando com as vivências
e o contexto da comunidade hoje. Matemática pode agregar para trabalhar a medição dos
canteiros dos quintais, utilizando do sistema de medidas.
Cronograma: Serão necessários 5 encontros em sala de aula podendo ser estender para 6
encontros e 1 uma manhã de sábado para a saída de campo para visitação dos quintais.

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