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ACESSIBILIDADE
CULTURAL NO
AMAPÁ
Emerson de Paula
José Flávio Gonçalves da Fonseca
(Orgs.)
2
Emerson de Paula
José Flávio Gonçalves da Fonseca
(Organizadores)
ACESSIBILIDADE
CULTURAL NO
AMAPÁ
São Paulo
e-Manuscrito
2021
3
Acessibilidade Cultural no Amapá
e-Manuscrito
www.emanuscrito.com.br
emanuscrito@uol.com.br
Tels: (11) 5978-4547 /
(11) 97171-3871
CNPJ: 18.353.444/0001-76
DOI 10.29327/552204
ISBN 978-65-86723-31-1
1. Acessibilidade Cultural 2. Amapá 3. Pessoa com Deficiência
CDD 308
CDU 304
CONSELHO EDITORIAL
Profa. Dra. Angela Maria Roberti Martins (UERJ) Prof. Dr. Leandro Pereira Gonçalves (UFJF/MG)
Prof. Dr. Antonio Castillo Gómez (UAH/Madrid) Prof. Dr. Luis Balkar Peixoto Pinheiro (UFAM)
Prof. Dr. Antonio Otaviano Vieira Junior (UFPA) Prof. Dr. Luiz Carlos Barreira (UNISANTOS)
Prof. Dr. Antonio Rago Filho (PUC/SP) Prof. Dr. Manolo Garcia Florentino (UFRJ)
Prof. Dr. Azemar dos Santos Soares Júnior (UFRN) Profa. Dra. Maria Cristina Dadalto (UFES)
Profa. Dra. Cristina Scheibe Wolff (UFSC) Profa. Dra. Maria Izilda Santos de Matos (PUC/SP)
Prof. Dr. Fernando de Sousa (CEPESE/Portugal) Profa. Dra. Meize Regina de Lucena Lucas (UFCE)
Prof. Dr. Francisco Alcides do Nascimento (UFPI) Prof. Dr. Oswaldo Truzzi (UFSCar)
Profa. Dra. Glaura T. Nogueira Lima (UFTM/MG) Profa. Dra. Tania Regina de Luca (UNESP/Assis)
Prof. Dr. Henrique Alonso Pereira (UFRN) Profa. Dra. Valéria Aparecida Alves (UECE)
Prof. Dr. Iranilson Buriti (UFCG/PB) Prof. Dr. Vitorio Capelli (UNICAL/Itália)
Profa. Dra. Iara Beleli (UNICAMP) Profa. Dra. Yvone Dias Avelino (PUC/SP)
Prof. Dr. João do Prado F. de Carvalho (UNIFESP)
Esta publicação foi financiada com recursos do Edital nº 01/2021 - PROPESPG/UNIFAP - Chamada
Interna do Programa de Auxílio ao Pesquisador - PAPESQ/UNIFAP - 2021 e do Programa Nacional
de Apoio à Geração de Empreendimentos Inovadores 2020 na Modalidade Bolsa de Desenvolvimento
Tecnológico Industrial DTI - B via Convênio CNPq e Fundação de Amparo à Pesquisa do Amapá -
FAPEAP.
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SUMÁRIO
Apresentação..................................................................... 09
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Dedicamos este livro a Giulia Dominick Diniz da Silva,
licencianda em Teatro na UNIFAP,
não só por estrelar a capa desta obra,
mas por promover a transformação das epistemologias
da prática artística e pedagógica em Teatro
a partir de seu direito de estar onde ela quiser.
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Apresentação
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LABAC e os desafios para a efetivação da
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fruir das Artes e de participar do progresso científico e de
seus benefícios.” Nesse sentido, promover a acessibilidade
nos espaços culturais para Pessoas com Deficiência não é
prestar um favor para esse público, e sim garantir o que lhes
é de direito.
A Lei n° 10.098 de dezembro de 2000, mais conhecida
como Lei da Acessibilidade, busca estabelecer em seu Artigo
1° as normas gerais e os critérios básicos para promover
a acessibilidade de todas as pessoas com deficiência ou
que apresentam mobilidade reduzida, independentemente
de qual seja essa deficiência (visual, motora, auditiva etc.),
abordando a eliminação dos obstáculos e barreiras existentes
nas vias públicas, na reforma e construção de edificações,
no mobiliário urbano e ainda nos meios de comunicação
e transporte. Normas essas que devem ser direcionadas
também aos equipamentos e instituições promotoras de
Cultura.
Pessoas com Deficiência muitas vezes deixam de
ocupar espaços culturais por falta de acessibilidade, deixando
de usufruir de seus direitos devido à existência de barreiras
arquitetônicas. A falta de rampas, piso tátil, audiodescrição,
Libras e afins impossibilita o acesso à Cultura de muitas
Pessoas com Deficiência, ocasionando um distanciamento
das produções e formações artísticas. Mas barreiras
arquitetônicas não são as únicas a serem quebradas. É
preciso atentar ainda para as barreiras atitudinais.
As barreiras atitudinais se caracterizam por atitudes
que impedem o pleno acesso a espaços e atividades pelas
Pessoas com Deficiência. Isso ocorre porque existem
maneiras de se comportar que podem inibir, coibir, oprimir,
desencorajar e restringir ações e permanências nos espaços
por essas pessoas a partir das pessoas que não possuem
deficiências. Conforme Sassaki (1997, p. 28), essas barreiras
podem ser:
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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de oportunidades como as demais pessoas e não deverá
sofrer nenhuma espécie de discriminação. Sendo assim,
essa comunidade precisa participar de forma ativa nas
tomadas de decisão, seja na esfera de políticas públicas, nos
planejamentos educacionais, nos editais culturais e afins,
sem que sua autonomia e seus direitos sejam negligenciados.
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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iniciando-se no segundo semestre de 2021 as primeiras
práticas em caráter remoto. O projeto atualmente conta com
dois bolsistas do Curso de Teatro da UNIFAP, selecionados
via Edital, sendo cadastrado na Pró-Reitoria de Extensão e
Assuntos Comunitários (PROEAC/UNIFAP).
Em 2020, o Projeto sofreu uma pausa devido à
necessidade de isolamento social e se reestruturou para
que em 2021 pudesse realizar suas ações a partir do
novo contexto social. Neste ano de 2021, duas ações se
efetivaram. O Grupo de Estudos em Acessibilidade Cultural -
GEAC desenvolve estudos na área da cultura, acessibilidade
e inclusão, buscando através das pesquisas, diálogos e
debates fomentar a discussão da Acessibilidade Cultural
para/com/a partir das Pessoas com Deficiência, pensando
em práticas inclusivas nos espaços de Cultura e evidenciando
a importância da autonomia e do acesso dessas pessoas
nesses espaços. Seus encontros são quinzenais, com várias
temáticas a respeito, como a definição e utilização das
tecnologias assistivas. Nesses encontros são convidados/
as palestrantes que pesquisem, vivenciem ou estudem sobre
as temáticas apresentadas, sejam eles/elas Pessoas com
Deficiência ou não.
Em 2021, as temáticas de estudo do grupo foram
desde a conceituação de Acessibilidade Cultural até o
acesso das Pessoas com Deficiência visual aos espaços
culturais, passando por pesquisas sobre o uso da Libras no
Terreiro, discutindo a Acessibilidade Cultural nos espaços de
culto afro-brasileiro, as experiências de inclusão nas artes
circenses em Macapá, chegando a discussões sobre o que é
tecnologia assistiva e audiodescrição, contando sempre com
profissionais, estudiosos/as e pesquisadores/as do estado do
Amapá.
Os encontros contam com a participação ativa, em sua
audiência, de professores/as, alunos/as, pesquisadores/as,
Pessoas com Deficiência, proporcionando, quando de sua
realização em caráter remoto, o intercâmbio com pessoas
de outros estados, facilitando e ampliando diálogos sobre
a efetivação da Acessibilidade Cultural, buscando refletir
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Gráfico 2 – Tipos de deficiência
Fonte: Cadastro de Artistas com Deficiência (PcD) Amapaenses (LABAC).
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Gráfico 6 – Grupo ou instituição cultural
Fonte: Cadastro de Artistas com Deficiência (PcD) Amapaenses (LABAC).
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Algumas considerações
Referências
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ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração
Universal dos Direitos Humanos. 1948. Disponível em:
<https://www.unicef.org/brazil/declaracao-universal-dos-
direitos-humanos>. Acesso em: 02 de set. 2021.
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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Inclusão no Meio do Mundo: relato pessoal de
uma ação de Acessibilidade Cultural
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Licenciada e Bacharela em Sociologia pela Universidade Federal do
Amapá - UNIFAP. Servidora pública estadual. Atualmente exerce o cargo de
Chefe da Divisão de Saúde da Pessoa com Deficiência e Doenças Raras na
Secretaria de Saúde de Macapá SEMSA/Prefeitura Municipal de Macapá.
Presidente do IMM - Instituto Inclusão no Meio do Mundo e radialista na Web
Rádio Inclusão no Meio do Mundo. Contato: kersiacelimary@hotmail.com
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lutas que travamos todos os dias. Nós existimos, estamos
aqui e, se cada um fizer a sua parte, teremos um lugar melhor
para viver.
Sempre fui ávida por conhecimento, e desde muito
cedo busquei estudar sobre as Pessoas com Deficiências,
não apenas porque sou Pessoa com Deficiência, mas porque,
principalmente no Brasil, existe a necessidade de projetos
e políticas públicas voltadas para as PcD’s. Precisamos de
um país mais acessível, uma cidade mais acessível, e por
isso criei o IIMM para transmitir informação, conscientização,
entretenimento e, dessa forma, adquirirmos visibilidade para
lutar pelos nossos direitos.
Neste breve relato pessoal, concentro-me agora
em minha jornada na criação do Instituto, começando pela
escolha do seu nome. Moramos em Macapá, uma cidade
que fica exatamente no meio do mundo, tendo o Monumento
Marco Zero como referência. Assim, busquei algo que
abrangesse esse contexto remetendo ao estado do Amapá,
à inclusão e ao mundo para que tudo pudesse se explicar em
uma simples frase, em um só contexto: Instituto Inclusão no
Meio do Mundo.
Criamos um Instituto com registro, representação e
personalidade jurídica para formalizar nossas ações, tendo
a participação de Pessoas com Deficiência em sua direção
e sendo protagonistas do processo. Com determinação e
persistência, o sonho virou realidade, contando com o apoio
de pessoas que acreditaram e acreditam até hoje nesse
projeto, pessoas essas não só do estado do Amapá, mas
também de fora dele.
O Instituto refletiu sobre a existência de projetos
audiovisuais que abrangem as Pessoas com Deficiência, ou
seja, programas de televisão, rádios FM/AM, Web Rádios,
assim como as plataformas de streaming que trazem
acessibilidade de áudio e vídeo englobando a audiodescrição,
janela de Libras (Linguagem Brasileira de Sinais) e legendas
no idioma de origem do usuário ou estrangeiro. Em vista
disso, há cerca de seis anos, começamos a apresentar
o programa Inclusão no Meio do Mundo, que viria trazer a
Acessibilidade Cultural não só para o Amapá, mas também
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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Em conjunto com o áudio, passamos a fazer
transmissões de vídeo ao vivo, trazendo um novo olhar,
quebrando barreiras tanto longitudinais como atitudinais,
assim como inúmeros paradigmas através do audiovisual.
Dando um novo formato à maneira de apresentar programas
no Amapá, trazemos um novo conceito em se tratando de
unificar o áudio e o vídeo com um modelo de programa de
rádio existente em nosso estado há décadas.
O programa inicialmente permaneceu na Rádio Novo
Tempo por oito meses na frequência FM e na Web. Após
esse período, fomos à Rádio Difusora de Macapá, agora
na frequência AM, seguindo com o mesmo formato, em
conjunto com as redes sociais. Era aos domingos, das 14h30
às 15h30. Os quadros continuaram. E por mais oito meses
permanecemos na Difusora.
Após esse período, o programa Inclusão no Meio do
Mundo ganhou outras proporções. Foi criado o Instituto IMM
e me tornei presidente da entidade. E o primeiro projeto
que colocamos em prática foi a criação de uma Web Rádio,
também de mesmo nome do Instituto. Tal projeto foi criado
pelo fato de que não havia viabilidade em outras empresas
para continuarmos com o programa, pois tentamos nos
comunicar com vários empresários desse ramo, mas não
obtivemos nenhuma resposta positiva para continuarmos,
por falta de apoio financeiro e de crédito na importância da
proposta do projeto, num reflexo de não entenderem a Pessoa
com Deficiência como consumidora não só de Cultura, mas
como geradora no campo da economia criativa. Sendo
assim, tivemos a decisão de criar a Web Rádio como primeiro
projeto do Instituto pelo fator primordial do encanto que o
rádio sempre trouxe a nós, Pessoas com Deficiência visual,
e seguimos modernizando esse contexto trazendo a imagem
em conjunto com o áudio. Para tanto, o programa Inclusão no
Meio do Mundo veio a se tornar o carro-chefe da Web Rádio,
promovendo um programa gestado, coordenado, executado
com Pessoas com Deficiência visual, ressaltando assim a
criação de uma forma de comunicação da Acessibilidade
Cultural numa rádio que literalmente pertence à comunidade
a que se destina.
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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Dudu Braga e a doutora Maria Isabel Loureiro Maior. São
muitas outras entrevistas, todas com sua marca, trazendo
um conteúdo sem segregação e com muita informação e
entretenimento para quem nos acompanha.
Através do Instituto e do programa específico que
apresento, aprendi e confirmei que as Pessoas com Deficiência
podem ir muito além do que a sociedade nos impõe, nos nega
ou segrega. As dificuldades por que passamos até hoje não
nos fizeram desistir desse projeto. Ainda nos entristece saber
que nosso trabalho é pouco conhecido no estado do Amapá.
Por outro lado, somos conhecidos internacionalmente por
esse trabalho que gira o mundo, levando o entretenimento/
informação a quem precisa. Esperamos que essa situação se
reverta e que possamos de forma igualitária trabalhar nesse
meio tão competitivo no Amapá que é a comunicação.
Apesar da pequena estrutura que temos, estando nossa
sede estabelecida no momento na casa do apresentador
Carlos Manulo da Silva Costa, o Instituto Inclusão no Meio
do Mundo, através do projeto da Web Rádio, mostra para
sua equipe e para as pessoas que nos acompanham e que
acreditam nesse projeto que não devemos desistir de lutar
por nosso direito de ter e fazer Cultura. Apesar de não termos
sede própria, foi doado ao Instituto um terreno com cerca
de quatro hectares localizado no assentamento Raimundo
Osmar, próximo à cidade de Macapá. O terreno está situado
numa localidade rural, por isso pretendemos, além de todos
os projetos citados, trazer um subsídio para que futuramente
as pessoas possam aprender com a terra, ou seja, retirar da
natureza seu alimento e aprender com ela uma nova forma
de viver, oportunizando às Pessoas com Deficiência e sem
deficiência a empregabilidade, para evitar que fiquem no
ostracismo e na ociosidade, trazendo mais qualidade de vida.
Nosso próximo passo é a criação da Web TV Inclusão
no Meio do Mundo, levando nosso conteúdo para outras
telas. São novos passos na luta não somente pelas Pessoas
com Deficiência, mas em prol de um viver numa sociedade
mais justa e igualitária onde o princípio da isonomia passe a
valer, trazendo para todos um ambiente realmente acessível.
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Artes Circenses e inclusão: de uma
experiência de Acessibilidade Cultural a uma
Acessibilidade Sensível
Introdução
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trazendo muitas modificações para as práticas circenses,
como: o rompimento com a escritura dramática do Circo
Clássico, o não uso de animais em seus espetáculos, o
uso de novos espaços e modificações de sua estrutura
tradicional; e adoção de uma nova estética circense para
atender às exigências do modelo econômico vigente. Esse
novo modelo de Circo traz como foco de sua formatação
o elemento humano e o cruzamento com as demais artes,
como a Dança e a Música.
Partindo do pressuposto de que a assimilação
da diversidade humana sem preconceitos ou rejeições,
apresentada por Camus (2004, apud TUCUNDUVA,
MOLINARI, 2010), é um elemento presente no ideário
circense, buscamos contribuir para o debate sobre a
Acessibilidade Cultural por meio das Artes Circenses como
um processo de emancipação da pessoa com deficiência.
Desse modo, o objetivo central da pesquisa aqui relatada foi
estudar o Circo numa perspectiva inclusiva e o processo de
desenvolvimento das Artes Circenses no espaço escolar como
uma ferramenta lúdica, de estimulação e fortalecimento do
pensar e do fazer pedagógico para a pessoa com deficiência,
visando sua autonomia e inclusão sociocultural. Esse estudo,
portanto, focou em uma experiência realizada pela Secretaria
Municipal de Educação de Macapá (SEMED), em parceria
com o Circo Roda Ciranda, na cidade de Macapá, capital do
estado do Amapá.
Nesse contexto, apresentaremos como é possível
pensar as Artes Circenses como uma possibilidade de unir
uma Educação Inclusiva com o que passa além dos muros
das escolas, possibilitando relações interpessoais entre
os educandos, oferecendo condições do pensar e sentir,
facilitando a realização de atividades criadoras.
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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Integrantes de um grupo de nômades atores que vão de um povoado a
outro fazendo exibições de circo e comédia, em troca de dinheiro ou comida
ou hospedagem. Mais informações em: www.dicionarioformal.com.br.
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A atividade circense propicia um diálogo, pois parte
de uma singularidade para a coletividade, valorizando
os múltiplos olhares, a sensibilização e o cuidado como
elementos enriquecedores do desenvolvimento pessoal e
social tanto de alunos como de educadores que vivenciam as
aulas práticas. Com isso, a argumentação sobre a validade
do Circo como atividade inserida na educação formal, como
atividade lúdica ou de extensão é irrefutável, especialmente
para as pessoas com deficiências, que por longos anos
estiveram segregadas e afastadas do convívio social, da
escola e da Cultura.
É nesse contexto que percebemos que a Arte Circense
como atividade pedagógica possui valores imensuráveis,
pois, além de um completo desenvolvimento corporal,
agregam-se valores do conhecimento artístico e cultural. O
saber circense ultrapassa o conhecimento técnico e, dentro
de uma experiência itinerante e cooperativa, transforma-se
em filosofia de vida. Fundamentados nessas bases teóricas,
percebemos que é importante ressaltar a necessidade de
contextualizarmos o debate acerca da diversidade cultural
para a superação dos padrões homogeneizadores de se
pensar em fazer política educacional, a fim de responder
às prioridades de seu contexto, história, cultura e tradição
educativa.
Entendendo que a escola deve ser um dos principais
meios de ensino/aprendizagem e produção de Cultura,
destacamos uma experiência que alavancou a discussão
em torno da necessidade e relevância da Acessibilidade
Cultural no município de Macapá: a iniciativa experimental
inclusiva de uma associação cultural denominada Circo Roda
Ciranda, que, entre inúmeras ações, propiciou a inclusão de
alunos com deficiência da rede regular de ensino por meio
da Arte Circense, através de uma parceria com a Secretaria
Municipal de Educação de Macapá (SEMED) por meio do
Programa Federal Mais Educação.
Fomentar reflexões e debates no campo das
políticas culturais, além de orientar e implementar
conteúdos, ferramentas e tecnologias de acessibilidade que
proporcionem fruição estética, artística e cultural é cada vez
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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experiência realizada pela Associação Cultural Circo Roda
Ciranda no ano de 2013, através de uma parceria com a
Secretaria de Educação de Macapá (SEMED), por meio do
Programa Mais Educação, revelando novas possibilidades
de acesso não somente à Educação, mas também à Cultura.
O referido estudo foi realizado inicialmente por meio
de uma pesquisa qualitativa bibliográfica acerca das obras
de diversos teóricos que se debruçaram sobre a temática
das Artes Circenses no âmbito escolar para a pessoa
com deficiência, considerando a pluralidade de aspectos
envolvidos (físico, humano, material, social, econômico
e cultural), assim como mediante pesquisa empírica com
entrevistas semiestruturadas.
A pesquisa teve continuidade com visita (marcada em
um contato anterior) às dependências do Circo Roda Ciranda,
onde foi possível conhecer os membros que compõem
a associação e agendar entrevista semiestruturada com
registro em vídeo para data posterior. No dia da entrevista,
iniciamos dando informações sobre a pesquisa, seu objetivo
geral, objetivo específico e metodologia a ser utilizada. A
entrevista foi realizada com a família fundadora da Associação
Cultural Roda Ciranda, denominada nesta pesquisa de P1
(mãe), P2 (pai), P3 (filha) e P4 (filho), os quais assinaram
autorização de filmagem. Após a entrevista, foi feita visita às
demais dependências do Circo Roda Ciranda com registros
fotográficos.
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O Programa Mais Educação, instituído pela Portaria Interministerial nº
17/2007 e pelo Decreto n° 7.083, de 27 de janeiro de 2010, integra as ações
do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE), como uma estratégia do
Governo Federal para induzir a ampliação da jornada escolar e a organização
curricular na perspectiva da Educação Integral (MEC, 2013).
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contribuir para a formação de cidadãos, pois proporcionam
a experimentação dessas relações sociais por meio das
artes circenses, de forma lúdica, prazerosa, divertida, que
sensibiliza muito mais a criança com ou sem deficiência,
que vai tomar para si, vai internalizar esse valor através da
ludicidade e da experimentação da arte muito mais fácil do
que você só dizer para ela”. P2, por sua vez, destaca que
“neste projeto não há disputa, rivalidade ou competição entre
os alunos ou escolas, não existe divisão menino e menina, é
uma proposta educacional não sexista”. P4, filho de P1 e P2,
enfatiza que “a arte circense é como um ato coletivo de ajuda
mútua, pois as crianças também aprendem a compartilhar e
a ajudarem umas às outras”.
Baseado nesses princípios, o Circo Roda Ciranda,
através do Projeto Picadeiro Cidadão, que intitula a parceria
com a SEMED, concentra suas atividades nos valores
familiares e culturais e na ampliação de novos conhecimentos
através da realização de oficinas de Arte Circense com
acrobacias (rolamento, pirâmides humanas), malabarismos
(bolinhas, claves, lenços), equilíbrio (corda bamba, perna
de pau, rolo e aparelhos específicos) e a palhaçaria, além
de iniciação musical (flauta e percussão) e Educação do
Ser (trabalhando valores como confiança, segurança, ética,
formação de plateia, meio ambiente etc.), que colaboram
para a construção de ideias inovadoras, pois o Circo, com
seu caráter itinerante e plural, prima pela criatividade e uma
enorme capacidade de adaptação. Assim, a fim de contribuir
para a inclusão social, o projeto visa, principalmente, o
fortalecimento e a construção de um estado verdadeiramente
cidadão.
Sendo assim, o Circo Roda Ciranda atuou na
comunidade do município de Macapá através das escolas de
ensino fundamental da rede municipal envolvidas no Programa
Mais Educação, favorecendo a formação integral dos seus
alunos por meio da Arte Circense. A inclusão de crianças
com deficiência teve início com a parceria firmada com a
SEMED. Não foi nada programado ou planejado. Segundo
P2, as crianças com deficiência passaram a frequentar o
projeto, pois frequentavam o ensino regular das escolas
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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solidarizaram com os colegas com deficiência e se tornaram
mais sensíveis às particularidades daqueles que possuem
alguma limitação, seja de ordem sensorial, intelectual e/ou
física. A preocupação era que ninguém ficasse de fora e
todos participassem.
Várias experiências foram realizadas com pessoas
com deficiência, entre elas uma aluna com deficiência visual
realizou atividade de andar com perna de pau em ambiente
aberto sem obstáculos; um aluno autista rodou prato; uma
aluna cadeirante executou malabares; uma aluna com baixa
visão utilizou o swing (objeto que faz necessário coordenar
movimentos); um aluno com síndrome de Down rodou
perfeitamente a bandeira e também o prato, e o fez de maneira
mais complexa, pois a atividade consiste em segurar a ponta
de uma vara e com ela girar um prato, e o aluno segurou
essa vara pelo meio, ou seja, ele criou a melhor maneira
para a execução da atividade; um aluno surdo realizou quase
todas as atividades, pois aprendeu visualizando os gestos,
movimentos e expressões, além de ter demonstrado um
grande potencial para fazer mímicas.
Em entrevista, os fundadores do Circo Roda Ciranda
enfatizaram que a deficiência não é o definidor da atividade
a ser desenvolvida, a criança passa por um processo de
experimentação da atividade em si e sua habilidade é que
define se uma determinada atividade pode ser realizada por ela
ou não. Um ponto positivo observado pelo grupo diz respeito
à participação, pois a criança, com ou sem deficiência, sente-
se valorizada ao participar de uma atividade, experimentar,
se descobrir, mesmo que ela não conclua sua execução, mas
só o fato de ela tentar a impulsiona a experimentar numa
próxima vez.
Indagados sobre a importância da Arte Circense
para o desenvolvimento humano, acrescentaram que, “de
acordo com as experiências realizadas, é essencial para a
autoestima das crianças, o se sentir capaz é fundamental,
assim como o crescimento pessoal não somente dos alunos,
mas dos coordenadores, monitores e professores envolvidos
no projeto, pela questão social, uma vez que o Circo está
aberto a todos, e todos têm o seu lugar dentro da lona”.
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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estende para a discussão acerca de como atua o estético
sob os diversos domínios da vida cotidiana, desde a política
até a mídia. Desse modo, a autora salienta que a relação
entre Ética e Estética se torna necessária na Educação.
Essa relação reestabelece os vínculos entre o racional e o
sensível e possibilita a relação com o outro em sua alteridade.
Alteridade que, nesse caso, recebe novas configurações,
pois, segundo Hermann (2006, p. 32):
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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atividade proporcionam a Arte Circense não só como um
mecanismo de alegria, mas como espaço de socialização da
Cultura, passada de geração a geração por uma família.
A Associação também criou diversos projetos,
pensando na ampliação da Acessibilidade Cultural, alguns
exemplos são o Projeto Picadeiro Cidadão (em parceria
também com a SEMED), Circo Escola e Clube do Gibi
(parceria com o Governo do Estado do Amapá - GEA por meio
do Museu Sacaca) e a Palhaceata, passeata que acontece
anualmente no dia 10 de dezembro em homenagem ao
Dia do Palhaço, com a participação de toda a comunidade
circense amapaense (grupos de artistas circenses, grupos
de teatro, grupos culturais e admiradores da Arte). Segundo
relatos dos sujeitos, o projeto Picadeiro Cidadão realizava
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Acessibilidade Cultural no Amapá
Considerações finais
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Essa prática se deu de diversas formas nos diferentes
contextos históricos, ora transformando suas deficiências
em espetáculos, ora oportunizando uma interação numa
experiência de inclusão por meio das Artes Circenses, como
foi a experiência realizada no município de Macapá por
alunos com e sem deficiência.
Nesse contexto, a realização desta pesquisa nos
possibilita concluir que, na experiência de inclusão e
Acessibilidade Cultural do Circo Roda Ciranda, os alunos
com deficiência participaram das atividades circenses dentro
das suas possibilidades, tendo suas limitações respeitadas
e suas potencialidades valorizadas. O Circo Roda Ciranda
desenvolveu, além do Projeto Picadeiro Cidadão, outros
projetos em parceria com o Governo do Estado do Amapá,
constituindo, em seus promotores, uma filosofia de vida
que desenvolve seus projetos de forma agregadora,
não sexista, respeitando a diversidade, pautada numa
perspectiva inclusiva, apresentando ainda as contribuições
das Artes Circenses para o desenvolvimento da pessoa com
deficiência no âmbito escolar. Podemos considerar que essa
é uma real possibilidade lúdica de aprendizagem, aumento
da autoestima, desenvolvimento das habilidades físicas,
motoras e funções superiores, além de proporcionar inclusão
social e cultural de toda e qualquer pessoa.
No que diz respeito às barreiras encontradas para
o pleno desenvolvimento do Projeto Picadeiro Cidadão,
destacamos a falta de acessibilidade arquitetônica nas
dependências internas e externas do Circo e a falta de
transporte adaptado para cadeirantes; quanto às barreiras
pedagógicas, enfatizamos a necessidade de recursos
humanos capacitados e materiais pedagógicos adaptados;
quanto às barreiras financeiras e sociopolíticas, percebemos
algumas fragilidades, sendo a demanda a ser atendida
maior que o financiamento do Programa, e considerando
que essa parceria, à época, encontrava-se em um estágio
de construção de articulações políticas e sociais para sua
melhor implementação. Dessa forma, constatamos que o
acesso à Cultura ainda é um campo de possibilidades a ser
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Acessibilidade Cultural no Amapá
Referências
50
DUARTE, R. H. Noites circenses: espetáculos de circo e
teatro em Minas Gerais no século XIX. Campinas: UNICAMP,
1995.
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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Políticas de Acessibilidade Cultural:
uma análise do Centro de Pesquisas
Museológicas Museu Sacaca da cidade de
Macapá - AP
Introdução
8
Pedagoga e Especialista em Políticas Educacionais - CEPE/UNIFAP.
Contato: priscyllalopes@gmail.com
9
Pedagoga e Psicóloga. Doutora em Psicologia na área Evolutiva e
Educação. Docente do curso de Pedagogia e da Especialização em Políticas
Educacionais - CEPE/UNIFAP. Contato: leila_feio@unifap.br
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Acessibilidade Cultural no Amapá
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Museu Sacaca (oficialmente Centro de Pesquisas Museológicas Museu
Sacaca) é uma instituição cultural e científica localizada na cidade de Macapá
- AP. Administrado pelo Instituto de Pesquisas Cientificas e Tecnológicas do
Estado do Amapá (IEPA). Foi inaugurado no ano de 1997, com o objetivo de
promover ações museológicas de pesquisa, preservação e comunicação,
abrangendo o saber científico e o saber popular do povo amazônico, além
de exposições e atividades didáticas.
54
com ênfase nas pessoas com deficiência, atendendo assim
às disposições da legislação vigente.
O presente estudo ancora-se nos seguintes objetivos
específicos: a) discutir o contexto das funções dos museus
nos aspectos cultural e pedagógico; b) analisar as bases
legais que sustentam as garantias de direito da Acessibilidade
Cultural; e por fim, c) fazer apontamentos acerca da
Acessibilidade Cultural no âmbito do Museu Sacaca.
Buscou-se apresentar considerações acerca dos
direitos já conquistados por pessoas com deficiência
através de políticas públicas de acessibilidade a espaços
culturais como os museus, sob aspectos sociais e culturais.
Como aporte legislativo foram consideradas as seguintes
legislações: Lei Brasileira de Inclusão - LBI nº 13.146/2015
(Estatuto da Pessoa com Deficiência) e Plano Nacional de
Cultura - PNC nº 12.343/2010.
55
Acessibilidade Cultural no Amapá
12
O Museu Integral tem como ênfase o homem e sua relação com o meio.
13
A Museologia Ativa reconhece as experiências com base nos referenciais
do Movimento da Nova Museologia, construindo através das propostas
museais participativas dos ecomuseus, dos museus comunitários a
elaboração de uma nova concepção de espaço museológico.
56
diálogo e da reflexão as pessoas se educam em comunhão.
Diante dessa perspectiva, a proposta museológica do Museu
Sacaca surge como uma forma nova de compreender o
Museu, o papel social e o conceito de patrimônio cultural,
implicando entender as ações museológicas e educativas
como processo que se realiza na coletividade, na troca de
conhecimentos e diferentes concepções sobre o mundo que
constituem o patrimônio cultural.
O Centro de Pesquisas Museológicas Museu Sacaca
surge da unificação de duas exposições: o Museu de História
Natural Costa Lima e o Museu de Plantas Medicinais Waldemiro
Gomes, na década de 1990, quando foi criado o Instituto de
Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Estado do Amapá
(IEPA). Com a configuração do conceito de sustentabilidade
defendido pela gestão administrativa, o museu passou a ser
chamado de Museu Sacaca do Desenvolvimento Sustentável
(OLIVEIRA, 2013). O nome do espaço é uma homenagem
conferida ao Mestre curandeiro e representante de tradições
culturais do Estado Raimundo Santos Souza14. No ano de
2002, um novo espaço do Museu Sacaca foi inaugurado, com
exposição a céu aberto e com uma área de 20 mil metros
quadrados, considerando o referencial teórico-metodológico
da Nova Museologia, com temáticas relacionadas aos
espaços culturais, históricos, sociais e científicos do estado
do Amapá e da região amazônica.
A partir da reestruturação do museu, a proposta
museológica realizada na época foi a idealização e realização
da Exposição a Céu Aberto15, um local preparado para
14
Raimundo dos Santos Souza, homem negro, profundo conhecedor das
plantas e ervas da floresta amazônica, contador de histórias e folião, sendo
Rei Momo do carnaval amapaense, contribuiu nas pesquisas de fitoterápicos
do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas (IEPA). Sendo
homenageado ao ter seu nome no museu da cidade, que faz referência ao
seu apelido popularmente conhecido: Sacaca.
15
É um espaço de histórias vivas que promove ações museológicas de
pesquisa, de preservação e de comunicação do nosso patrimônio cultural. A
Exposição a Céu Aberto do Museu Sacaca foi construída com a participação
de comunidades indígenas, ribeirinhas, extrativistas e produtoras de
farinha e abrange: acervo zoobotânico, Bosque do açaí, Casa da farinha,
Casa Palikur, Casa Wajãpi, castanheiros, Movimento Marabaixo, Praça do
Sacaca, Praça das etnias, Regatão, Ribeirinhos e Sítio arqueológico.
57
Acessibilidade Cultural no Amapá
58
a fruição de todas as pessoas, independentemente de suas
dificuldades ou não, e essa fruição perpassa não somente
por “fatores físicos espaciais” (SARRAF, 2012, p. 44), mas
também aspectos políticos, sociais e culturais.
Para avançarmos na discussão sobre acessibilidade e
fruição cultural em espaços culturais, a pesquisa baseou-se
na Meta 29 do Plano Nacional de Cultura - PNC (BRASIL,
2010)16, a qual estabelece que:
16
É um conjunto de princípios, objetivos, diretrizes e metas que devem
orientar o poder público na formulação de políticas culturais.
59
Acessibilidade Cultural no Amapá
Resultados e discussão
60
Tabela 1 – Informações do entrevistado no Museu Sacaca
61
Acessibilidade Cultural no Amapá
62
um cadeirante, por exemplo, as pessoas que estiverem no
local podem ajudar no acesso carregando-o. O caso relatado
de prestação de auxílio pode parecer, de certa forma,
solidário, mas não contempla a autonomia do indivíduo, que
está prevista na Lei nº 13.146/2015, que garante os direitos
e as liberdades fundamentais às pessoas com deficiência.
63
Acessibilidade Cultural no Amapá
64
Foi relatado pelo entrevistado que, para atender os
visitantes com surdez, existem mediadores capacitados para
se comunicar por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
A pesquisa mostrou que alguns mediadores possuíam
formação ou fluência em Libras adquirida por conta própria,
não atrelada a cursos ofertados pela instituição, apesar da
existência de cursos de capacitação oferecidos pela Escola
de Treinamento do Governo do Estado do Amapá.
Outro achado no estudo se refere a algumas placas
em braile que foram identificadas na área da “Exposição
a céu aberto”, sendo uma próxima ao monumento do
Marabaixo, e outras sinalizando placas visuais dispostas
no trajeto da exposição, sendo insuficientes para a leitura
autônoma do contexto museal por um cego. Não foram
identificados recursos que auxiliem a mobilidade de pessoas
com deficiência, como cadeiras de rodas, bases móveis ou
qualquer outro veículo utilizado na melhoria da mobilidade
pessoal. Também não existem equipamentos que promovam
a inclusão de pessoas com deficiência auditiva, como
aparelhos para surdez, telefones com teclado, entre outros.
Em relação às ações desenvolvidas especificamente
pelo setor educativo do Museu Sacaca, foi observado que
a instituição direciona suas ações para o atendimento das
escolas formais da região, públicas e privadas, conforme
agendamentos via contato telefônico ou e-mail. Nesse
contato prévio entre escola e museu, o setor educativo tem
a preocupação de verificar se no grupo visitante há algum
aluno ou aluna que precise de atendimento especializado.
No entanto, questionado a respeito do procedimento diante
da presença de visitantes com deficiência que demandem
alguma adaptação para sua visita, ou se o museu possui ações
específicas elaboradas para e com pessoas com deficiência,
o entrevistado reportou que é de responsabilidade da escola
ter um intérprete de Libras no caso de um aluno surdo que
queira visitar o museu, por exemplo.
Esse resultado contradiz o que consta na legislação,
especificamente na Lei nº 13.146/2015, no que se refere ao
direito à cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer, em seu
artigo 42, § 2o, que informa:
65
Acessibilidade Cultural no Amapá
66
nos animais com a supervisão do servidor, sendo então
proporcionada uma experiência sensorial.
Considerações finais
67
Acessibilidade Cultural no Amapá
Referências
68
______. Ministério da Cultura. Metas do Plano Nacional de
Cultura. Brasília, dez. 2011.
69
Acessibilidade Cultural no Amapá
70
TIacessa: cultura acessível ao seu alcance
Emerson de Paula17
Jodoval Farias da Costa18
José Flávio Gonçalves da Fonseca19
Nelma Socorro Lima da Silva20
DOI - 10.29327/552204.1-5
71
Acessibilidade Cultural no Amapá
21
Para mais informações sobre o Plano Nacional de Cultura, acessar: http://
pnc.cultura.gov.br/
72
O mercado inicial da proposta é o Estado do Amapá,
devido a toda a sua questão geográfica, sua particularidade
e à necessidade de atender o público diverso que o constitui,
principalmente as particularidades em ser uma Pessoa com
Deficiência na Região Norte do país. No que tange à tendência
de mercado, podemos dizer que ações semelhantes são
poucas, em sua maioria se concentrando na Região Sudeste,
praticamente inexistindo ações de Acessibilidade Cultural
nos espaços públicos da Região Norte, sobretudo no Estado
do Amapá, uma vez que PcD’s ainda se encontram como
público esquecido junto a diversas áreas de atuação pública,
em especial na área cultural.
O produto em questão também vai ao encontro das
necessidades dos gestores dos espaços públicos de Cultura,
seus fazedores e promotores. Mais do que acesso físico, as
Pessoas com Deficiência precisam de Acessibilidade Cultural,
que passa pela Acessibilidade Comunicacional e Atitudinal,
uma vez que esse público também é consumidor de Cultura
e precisa ter oportunidade para exercer esse direito.
Em consultas a um grupo focal de Pessoas com
Deficiência Visual para construção desse WebApp, constatou-
se que o desejo de ter acesso aos equipamentos culturais,
adentrar os espaços e poder fruir a obra de arte a partir de
recursos informacionais que estimulem a compreensão e
fruição estética de forma autônoma é um tão patente quanto
o desejo de inclusão social ou educacional.
Nesse sentido, esse projeto, executado pela startup
de cultura NUTEA, tem no desenvolvimento da tecnologia de
informação sua área principal. O TIacessa é um produto de
inovação tecnológica ligado ao mercado da acessibilidade,
em específico ao mercado da tecnologia assistiva, em diálogo
com o mercado cultural, promovendo a abertura do mercado
de/da Acessibilidade Cultural. A marca do aplicativo leva seu
próprio nome, TIacessa, e contém as letras T e I colocadas
em caixa-alta e juntas, representando tanto a sigla de
Tecnologia da Informação como o pronome pessoal oblíquo
da segunda pessoa do singular “Ti”, comumente utilizado no
português coloquial falado nos estados da Região Norte do
Brasil, mais especificamente no Pará e no Amapá. A junção
73
Acessibilidade Cultural no Amapá
74
Termo citado pela primeira vez por Clayton Christensen,
em 1995 (e depois aprofundado por ele mesmo em muitos
artigos recentes), disrupção é a capacidade de criar um novo
produto/serviço que rompa com o status quo do mercado,
desestabilizando os concorrentes tradicionais. A startup
NUTEA, frente ao seu principal objetivo, procura então causar
esse impacto consolidando a Acessibilidade Cultural também
enquanto mercado.
75
Acessibilidade Cultural no Amapá
22
Disponível em tiacessa.com.br
76
implementar alguns recursos que possibilitam uma
excelente experiência de usuário, entre eles adotar um
bom contraste de cores, publicar todas as informações na
página sem a necessidade de acesso a páginas secundárias
ou a necessidade de realização de downloads, uso de
combinações de cores, formas e textos com um layout linear
lógico, com responsividade, visão total das funções na tela
e recurso screen reader, que converte um texto em um
discurso sintetizado, permitindo ao usuário ouvir em vez de
ler o conteúdo da internet, priorizando sistemas que permitem
o uso do teclado, ou seja, o usuário não precisa utilizar o
mouse, além de trazer links e cabeçalhos descritivos. Em sua
nova versão, além da manutenção e do aprimoramento das
funções anteriormente mencionadas, o Web App transforma
a proposta da funcionalidade de Visita Guiada em Visita
Sonora, contando com recursos de um audioguia, mas
dialogando com a capacidade sensorial do recurso sonoro
ao retratar o espaço, sua singularidade e função, sem intervir
na fruição do usuário.
Contudo, todos esses protocolos, apesar de
estabelecerem uma série de padrões que visam uma
experiência ideal de toda e qualquer pessoa que deseje
usufruir da informação acerca do equipamento cultural
que o projeto em questão focaliza, não superam o diálogo
estabelecido entre desenvolvedores e usuários, que nesse
caso englobam o público específico de Pessoas com
Deficiência. Diversas iniciativas estão empenhadas na
elaboração de aparatos tecnológicos que buscam sanar
problemáticas da vida cotidiana, mas o resultado satisfatório
se constrói a partir do momento em que o público-alvo deixa
de ser visto apenas como consumidor final e passa a integrar
o próprio processo de construção.
Nesse processo de validação, nem sempre a mais
sofisticada solução tecnológica surte efeito, pois ela só será
útil se for testada e considerada necessária pela comunidade
a que se destina, mesmo que muitas vezes às vistas de
outros públicos configure-se um aparente obsoletismo.
77
Acessibilidade Cultural no Amapá
78
barreiras nos espaços e ambientes pode dificultar, em
maior ou menor grau, o livre exercício das tarefas da
rotina diária das Pessoas com Deficiência. Ou seja, o
conceito da deficiência está diretamente vinculado aos
espaços e recursos inadequados do que propriamente
ao déficit sensorial, mental, intelectual, motor ou múltiplo
identificado nessas pessoas. Assim, com base nessa
percepção de pessoa e de sociedade, entendo que houve
um avanço significativo na valorização da autoimagem e
autoestima das pessoas com deficiência, haja vista que
os estigmas depreciativos que outrora as caracterizavam
passam a perder sentido à medida que as modificações
necessárias de adequação e acessibilidade busquem
estimular autonomia e emancipação para elas, sendo
gradativamente transferidas para o meio físico, restando
considerar suas diferenças como parte essencial da sua
condição humana.
79
Acessibilidade Cultural no Amapá
80
pessoas cegas e com baixa visão no que se refere à aceitação,
reconhecimento e fortalecimento da sua identidade e da sua
condição. Tivemos a ousadia de sonhar com um espectro
social inclusivo, com espaços e ambientes sem quaisquer
tipos de barreiras, possibilitando assim que as Pessoas
com Deficiência visual exerçam o seu direito de ir e vir com
autonomia e independência.
Por fim, pudemos sistematizar num aplicativo
específico, porém de grande significado a materialidade prática
e funcional do objetivo de conduzir os usuários ao mundo das
expressões artísticas e suas diversas vertentes, favorecendo
assim a autoestima e o senso de pertencimento coletivo.
Portanto, o aplicativo TIacessa Teatro das Bacabeiras, como
toda ação efetiva de acessibilidade e inclusão, necessita da
colaboração de diversos atores, principalmente do Poder
Público, a fim de garantir a remoção de todas as barreiras
que impeçam a livre circulação das pessoas com deficiência
visual em igualdade de condições com as demais pessoas,
bem como a disponibilização e consequente atualização
periódica da agenda de eventos do Teatro das Bacabeiras,
possibilitando informar o público-alvo sobre suas atrações,
que talvez seja a principal função do aplicativo.
Conclusões?
81
Acessibilidade Cultural no Amapá
todos nós, que é algo latente que pode ser aprimorado, mas
não precisa ser adquirido, pois é inerente a nós: a capacidade
atitudinal de viver de forma coletiva e igualitária.
Referências
82
A audiodescrição disseminando
a Cultura dos Gestos
23
Pedagoga (UNIFAP), Especialista em Educação Especial (FSF/MA) e
Atendimento Educacional Especializado (UFCE). Mestra em Planejamento
e Políticas Públicas (UECE). Professora da Educação Especial na rede
pública do Estado do Amapá - Centro de Apoio Pedagógico à Pessoa com
Deficiência Visual - CAP/AP. Contato: elzaveira@gmail.com
24
Pedagoga (UNIFAP), Especialista em Educação Especial (FSF/MA).
Professora da Educação Especial na rede pública do Estado do Amapá -
Centro de Apoio Pedagógico à Pessoa com Deficiência Visual - CAP/AP.
Contato: rosenildafcosta@gmail.com
83
Acessibilidade Cultural no Amapá
a) Cegueira
É considerado cego aquele que apresenta ausência de
distinguir objetos através da visão, o que pode incluir ou
não a perda da percepção luminosa.
b) Baixa Visão (também chamada de Visão Subnormal)
Uma pessoa com baixa visão é aquela que apresenta
desde a capacidade de perceber luminosidade até o
grau em que a deficiência visual interfira ou limite seu
desempenho. (UFRJ, 2021, p. 21-22)
84
devem ser adquiridos para melhor interação da pessoa com
deficiência visual com o espaço e com o outro.
Visando aprofundar o conhecimento na área da DV,
cabe buscar informações mais técnicas, oficiais, acerca
desses conceitos:
85
Acessibilidade Cultural no Amapá
86
enorme variedade de linguagens que se constituem em
sistemas sociais e históricos de representação do mundo.
Esta gama de linguagens pode ser ilustrada desde os
desenhos nas grutas de Lascaux; os rituais de tribos
primitivas; das danças, músicas, jogos e cerimoniais até a
codificação alfabética, criada e estabelecida no ocidente
a partir dos gregos, ou mesmo os hieróglifos, pictogramas
que são formas diferentes da linguagem alfabética
articulada que se assemelham mais ao desenho. Por
outro lado, também podem se constituir como linguagens
as produções de arquitetura se consideradas como fato
de comunicação, mesmo sem delas serem excluídas a
funcionalidade assim como os objetos relativos às formas
de criação da Arte: pintura, escultura, poética, etc. O
período pós-revolução industrial amplia ainda mais essas
possibilidades de expressão e linguagem do ser humano
através de invenções de máquinas capazes de produzir,
armazenar e difundir linguagens como: a fotografia, o
rádio, o cinema, os meios de impressões gráficas, entre
outras, que permeiam nosso cotidiano e fazem parte
desta intrincada gama de linguagens, de formas sociais
de comunicação e significação. (SANTAELLA, 1983, apud
MESQUITA, 1997, p. 156)
87
Acessibilidade Cultural no Amapá
88
e a TV acessíveis para pessoas com deficiência visual.
Trata-se de uma narração adicional que descreve a ação,
a linguagem corporal, as expressões faciais, os cenários
e os figurinos. A tradução é colocada entre os diálogos
e não interfere nos efeitos musicais e sonoros. (ENAP,
2020, p. 6)
89
Acessibilidade Cultural no Amapá
90
Oficina de Gestos
91
Acessibilidade Cultural no Amapá
92
em slides pela equipe do Núcleo de Convivência. Os gestos
foram: aperto de mãos, high five (toca aqui), saudação
romana, joquempô, o infame, o soquinho (com a mão em
punho, dar soquinho), o “V” (mão fechada, estendendo apenas
os dedos indicador e médio para cima), o polegar para cima
ou para baixo (joinha), a continência, espalmar a mão, chifre
feito com os dedos indicador e mínimo, dedos cruzados, mão
em forma de figa, mãos no bolso, dedos indicador e polegar
tocando-se em forma de círculo, dedos indicador e polegar
apontados para cima, indicador e polegar levantados com o
polegar mais relaxado, chamar alguém com o indicador e o
hang loose. Percebe-se que os gestos são os mais variados,
sendo conhecidos no Brasil e no exterior, mesmo que em
contextos diferenciados. Algo que foi também discutido foi
a variedade da comunicação falada dentro do Brasil, sendo
que o mesmo ocorre com os gestos em outros países.
Importante colocar que, durante a oficina, duas
pessoas com cegueira adquirida lembraram dois gestos
e, inclusive, compartilharam com os outros. Um deles foi
o gesto apresentado como “bem feito”: a mão fica à altura
da cintura, as pontas dos dedos polegar e médio se juntam
pressionando-se, como no movimento de pinça. Dedos
mínimo e anelar encurvados, pressionados sobre a palma da
mão. E o dedo indicador permanece livre, enquanto a mão
faz movimentos acelerados e curtos, para cima e para baixo.
Assim o dedo indicador é jogado várias vezes sobre o escudo
formado pelos dedos polegar e médio, provocando o som
“tec, tec, tec, tec...”, quantas vezes o remetente indicar “bem
feito” para alguém ou alguma situação. Outro gesto lembrado
foi o “banana”, inclusive considerado obsceno. Em pesquisa,
descobriu-se então que:
93
Acessibilidade Cultural no Amapá
Considerações finais
94
Referências
95
Acessibilidade Cultural no Amapá
96
A prática pedagógica em Teatro e a inclusão:
uma reflexão dessa relação na formação
do licenciando em Teatro a partir dos
estágios supervisionados
97
Acessibilidade Cultural no Amapá
98
Muito é cobrado, mas se tem poucos auxílios e recursos
metodológicos.
Pensar em uma aula para trabalhar com pessoas com
deficiência já é complexo pelo fato de ser necessário ponderar
sobre cada momento das atividades que serão desenvolvidas
e se estarão aptas para que o aluno com deficiência possa
participar. Quando se tem de fazer esse trabalho numa aula
de Teatro sem um referencial teórico específico de jogos para
pessoas com deficiência, fica mais complexo ainda, pois,
além da precariedade da infraestrutura, temos as condições
materiais para o trabalho artístico-pedagógico junto com
essas pessoas. Nascimento (2009, p. 2) explica que:
99
Acessibilidade Cultural no Amapá
100
realidades da área da educação. Momento esse que é
essencial para motivar o processo dialético de reflexão do
futuro professor, proporcionando uma vivência que contribui
para sua formação de identidade docente e até mesmo
enquanto pessoa. Pelozo (2007, p. 2) afirma que:
101
Acessibilidade Cultural no Amapá
102
Dificuldade de comunicação - caracterizada pela
dificuldade em utilizar com sentido todos os aspectos
da comunicação verbal e não verbal. Isto inclui gestos,
expressões faciais, linguagem corporal, ritmo e modulação
na linguagem verbal.
103
Acessibilidade Cultural no Amapá
104
experiência conjunta, pudessem juntos aprender a conviver
e compartilhar seus aprendizados. Para isso, sempre se
buscou a consciência de ambos durante esse fazer teatral,
para que estivessem significativamente envolvidos com as
atividades e fossem guiados pelas orientações, sabendo por
que estavam fazendo determinadas atividades. Ramaldes e
Camargo (2017, p. 77), ainda sobre o ato de experienciar,
explicam:
105
Acessibilidade Cultural no Amapá
106
com dedos mais curtos, prega palmar única e orelhas
pequenas.
107
Acessibilidade Cultural no Amapá
108
música calma como som ambiente, e algumas luzes foram
apagadas, no intuito de auxiliar no processo de relaxamento
e concentração dos participantes. Com isso, foi um jogo que
atendeu os alunos autistas, pela questão da tranquilidade
e do silêncio; atendeu os alunos cadeirantes, pelo fato de
que puderam sentar no chão para massagear seus colegas;
atendeu os alunos com síndrome de Down e deficiência
intelectual, pela questão de ser um comando simples e
objetivo; e, por último, atendeu a aluna surda, uma vez
que, em sintonia e de forma simultânea com seus colegas,
conseguiu compreender o jogo, mesmo sendo importante e
necessário o comando em Libras.
O Teatro é uma linguagem da Arte que é ampla e
tem a capacidade de atender a todos os públicos. Nesse
caso, foi investigada a inclusão enquanto experiência a
partir do fazer teatral proposto. Entre tantos corpos, cada
um com suas particularidades, foi possível um momento de
interação e compartilhamento de conhecimentos na vivência
da experiência. Sobre essa relação, Ramaldes e Camargo
(2017, p. 132) nos explicam que:
109
Acessibilidade Cultural no Amapá
110
pensar em um plano de ensino que atenda à diversidade e
particularidade de cada um desses indivíduos com deficiência.
Um corpo não anula o outro. Eles se completam e
têm histórias, vivências e conhecimentos para partilharem
entre si. Tornar nossos alunos seres inclusivos e capazes
de entender e reconhecer o outro, de ter prazer em conviver
e compartilhar vivências diferentes, é fundamental para o
estabelecimento de uma prática pedagógica inclusiva em
Teatro. A importância de se trabalhar nesse contexto de
Acessibilidade Cultural reside no fato de que uma instituição
de ensino é o reflexo da vida, e muitos alunos descobrem
o mundo a partir desse lugar. O grande ganho para todos é
viver a experiência da diferença.
Os jogos aqui descritos foram os primeiros a serem
aplicados e que levaram à reflexão sobre qual prática
pedagógica em Teatro poderia ser estabelecida. Inicialmente
foram trabalhadas as potencialidades lúdicas, relacionais e
corporais a partir de jogos que estimulassem conceitos do
fazer teatral, para que depois pudessem ser estabelecidos
jogos mais elaborados, como jogos de improvisação.
Nesse caminho, metodologias sobre o jogo teatral
propostas por teóricos como Ricardo Japiassu e Viola Spolin
foram utilizadas. Entretanto, buscou-se aqui registrar não
fórmulas prontas e receituários de exercícios, mas entender
como os jogos teatrais podem ser adaptados para pessoas
com deficiência, bem como ressaltar que o mais significativo
é que a inclusão faça parte da prática pedagógica do docente
em Teatro, uma vez que o fazer teatral é por si só uma
experiência única que é coletivizada e capaz de promover
em quem a vivencia a transposição de todo o processo de
aprendizagem para a vida diária.
Referências
111
Acessibilidade Cultural no Amapá
MELLO, Ana Maria S. Ros de. Autismo: guia prático. 5ª. ed.
São Paulo: Corde, 2007.
112
O ensino de Teatro junto/com pessoas com
deficiência no Centro Educacional Raimundo
Nonato Dias Rodrigues: um relato de
experiência
26
Mestra em Planejamento e Políticas Públicas (UECE); Especialista em
Educação Especial e Inclusiva (IESAP); Pós-graduanda em Estudos Teatrais
Contemporâneos (UNIFAP); Docente vinculada ao Centro Raimundo
Nonato Dias Rodrigues - Macapá-AP na área de Artes Cênicas. Contato:
amlidbarreto@hotmail.com
113
Acessibilidade Cultural no Amapá
114
entre as salas de atendimento, conforme estágios de
observação que vivenciamos nos cursos de magistério.
Minhas experiências em Teatro amador, iniciadas nos
grupos da igreja, e depois como coordenadora do Grupo
Teatral do Museu Sacaca (importante espaço cultural e
de educação ambiental em Macapá - AP) me subsidiaram
para o ingresso na vaga devido à carência, à época, de
profissional nessa área. Com minha trajetória artística e as
certificações em vários cursos e oficinas de curta e média
duração, fui designada para ser professora de Artes Cênicas,
atendendo nos três primeiros horários de trabalho os alunos
do atendimento educacional especializado (individual) e
nos dois horários restantes, os alunos das Salas Ambientes
Temáticas, perfazendo os cinco horários de atividades
pedagógicas destinados ao público em questão na instituição.
O primeiro dia de atendimento efetivamente dentro
da sala de aula como professora de Teatro na Educação
Especial foi com um aluno com síndrome de Down de 8
anos, em que consegui desenvolver uma atividade simples
de avaliação diagnóstica. No segundo horário estava com
um aluno autista que apenas entrou, sentou, abaixou a
cabeça sobre a mesa e adormeceu. Tentei acordá-lo, mas
não obtive sucesso. Através de relato do responsável, fui
informada de que ele fazia uso de medicações receitadas
pelo médico que o acompanhava que o deixavam sonolento.
Após esses atendimentos, resolvi verificar todos os
relatórios dos anos anteriores antes de iniciar os próximos.
Aprendi a importância de conhecer o histórico de cada um,
além da avaliação diagnóstica. De qualquer forma, dentro
desse Centro, experimento situações, posicionamentos e
atitudes diferenciadas das vividas por mim há anos, além
de conceitos de acessibilidade, inclusão, oportunidade para
todos, sentimento de pertencimento e encorajamento para
mudanças de fato.
Durante duas semanas realizei atividades atendendo
individualmente em exercícios que objetivavam desenvolver a
atenção, a desenvoltura e a oralidade. Passado exato um mês,
iniciei o atendimento dos grupos. Os alunos eram separados
aleatoriamente de modo a equilibrar o quantitativo: eram seis
115
Acessibilidade Cultural no Amapá
116
a etapa de planejar, buscando metodologias, métodos,
experimentações, trabalhos e outras questões que
pudessem suprir as questões levantadas anteriormente.
Assim, se aplica o proposto em planejamento e se
avalia a proposta que foi aplicada e assim, dá-se início
novamente a este ciclo, onde a partir da avaliação, é
necessário diagnosticar e perceber novas questões.
Assim, foi essencial para transformar o chão da sala de
aula em territórios de descobertas.
117
Acessibilidade Cultural no Amapá
118
mas também promover a socialização, a comunicação,
o movimento das mãos e do corpo, em que “todo o jogo
realizado no entrelaçamento dos sentidos óticos e hápticos
acontece por intermédio delas. O que toca no dedo é algo
como o excesso” (BETHIELLE, 2020, p.45). Isso foi me
mostrando que, mais do que a prática teatral, os alunos
entenderam que no horário de Artes Cênicas estavam num
momento em que a liberdade, criatividade e autoexpressão
eram o mais importante. Por isso, buscando entender o
público com o qual trabalhava, não ignorei outros fazeres
artísticos, uma vez que o grupo, em sua maioria, estivera há
anos alijado do seu direito à Cultura.
Um exemplo de exercício proposto foi quando trabalhei
movimento e lateralidade utilizando sucata de pneu, com o
intuito de criar uma ação de expressão corporal a partir de uma
sequência de movimentos. Coloquei para cada aluno na sala
a situação proposta, sendo que para o aluno com deficiência
física utilizei papel com o desenho do pneu e um pincel de
pelo, e por meio de comando de voz e visual direcionava
(dentro/fora/circulando) sua pintura, incentivando-o a realizar/
montar/experimentar uma sequência de ações. Nesse
sentido, devo frisar que essas propostas não foram adaptadas
ou reinventadas, e sim elaboradas de forma a possibilitar a
participação de todos, atingindo um dos objetivos principais
quando se trabalha com pessoas com deficiência.
119
Acessibilidade Cultural no Amapá
120
superação dessa relação. (SILVA, MATTOSO, 2016, p.
219)
121
Acessibilidade Cultural no Amapá
122
uma equipe multidisciplinar para a realização de ações de
Acessibilidade Cultural.
Esse despertar para o direito à Cultura das PcD’s
ocorreu e abrangeu um evento organizado pelos professores
das SAT’s, em conjunto com os diversos profissionais, tendo
em vista a Semana Nacional da Pessoa com Deficiência
Intelectual e Múltipla, instituída pela Lei 13.585/2017, sendo
comemorada entre os dias 21 e 28 de agosto de cada ano, cujo
objetivo é “promover ações de inclusão social e de combate
ao preconceito e à discriminação contra as pessoas com
deficiência”27. Essa Semana trata-se apenas da formalização
de uma data que já é celebrada por entidades e associações
há muito tempo.
Para sensibilizar e dar visibilidade à temática da
Acessibilidade Cultural, organizamos uma programação
possibilitando momentos de palestras e de visitações aos
espaços culturais amapaenses, como Museu Sacaca, Teatro
das Bacabeiras, Praça Floriano Peixoto, oficinas de contação
de história e um Luau Inclusivo, onde cantores locais como
Mayara Braga, Nitai Santana, Mauro Cotta e Eunice Sales
contribuíram para o evento. Os discentes passaram então
a ser espectadores e prestigiar momentos e espaços
culturais, mesmo adentrando locais sem a menor percepção
sobre acessibilidade: alunos com deficiência física eram
carregados e com deficiência visual, conduzidos por espaços
inadequados, reafirmando que:
27
Para mais informações, acesse: https://www.ijc.org.br/pt-br/noticias/
Paginas/lei-institui-semana-nacional-da-pessoa
123
Acessibilidade Cultural no Amapá
124
metodologias para um Teatro Inclusivo foram surgindo, numa
ação em conjunto com os bolsistas do LABAC UNIFAP, as
quais em outro relato de experiência serão descritas.
O que fica de todo esse processo é que um ensino de
Teatro Inclusivo é possível, mas a prática teatral não está
dissociada de seu estudo teórico e sua aplicação pedagógica.
E, nessa trajetória de evolução do eu-professora, mobilizações
foram feitas a partir de um ponto fundamental: o direito à
Cultura das pessoas com deficiência e a presença dessas
em processos artísticos, pois com elas é que poderemos
criar processos em que o fazer teatral possa realmente ser/
ter uma ação de Acessibilidade Cultural.
Referências
125
Acessibilidade Cultural no Amapá
126
Acessibilizar é se afetar para acolher e
sensibilizar: relato de experiência no Grupo
de Estudo em Acessibilidade Cultural28
127
Acessibilidade Cultural no Amapá
Sobre o GEAC
128
física do indivíduo, estabelecendo trocas afetivas e rompendo
com os preconceitos que causam estranhamentos e visões
distorcidas sobre a capacidade das pessoas com deficiência.
Primeiros diálogos
129
Acessibilidade Cultural no Amapá
130
A princípio, pensamos em uma obra bidimensional,
uma pintura figurativa que trouxesse a imagem de mãos
e braços em posições que sugerissem tal acolhimento, e
depois acessibilizaríamos essa obra transformando-a em
uma obra tridimensional ou em alto-relevo, de modo que
deixasse claro para o público a possível comunicação com
a diferença, atribuindo outras formas de interação a partir de
uma postura educativa e sensível.
Logo após, começamos a ponderar sobre a posição
dos braços e das mãos, já que vamos focar nessas únicas
partes do corpo, sendo elas escolhidas porque passarão a
sensação de afeto, seja através do abraço, do toque das
mãos, do acolhimento, observando o espaço, a distância de
um elemento para o outro, para poder começar a pensar nas
cores para a pintura. Nesse momento, em vez de “Mãos que
veem”, passamos a chamar o projeto de “Mãos que acolhem”,
para passar essa ideia de abrigo.
No entanto, a constituição da obra foi se modificando do
seu princípio para a produção de uma obra já acessibilizada,
ou seja, chegamos à ideia de que a pintura já poderia ser
acessível, uma imagem que atendesse o olhar de forma
universal, mas que não perdesse o senso estético, artístico
de uma obra que tem de fazer pensar e ser provocativa.
Até então, pensávamos na materialização da obra
acessível com materiais como gesso para modelar os braços
e mãos, tinta para preparar a parede que iria receber a
intervenção, mas foi dialogando com outras pessoas sobre
a durabilidade da obra que conhecemos o trabalho de
impressão em 3D realizado pelos acadêmicos do curso de
Matemática e pela coordenação do projeto Robótica Tucuju,
da UNIFAP, e fomos verificando a possibilidade de fazer a
impressão em 3D dos braços e mãos.
Feito esse contato, começamos a organizar o processo
de experimentação em impressão 3D em etapas. Assim,
na primeira etapa, o grupo Robótica Tucuju disponibilizou
os materiais para fazermos o processo de escaneamento
no corpo de uma das integrantes do GEAC na galeria do
Departamento de Letras e Artes da UNIFAP (DEPLA).
131
Acessibilidade Cultural no Amapá
132
Na segunda etapa, tivemos contato com a primeira
impressão e verificação da proporção dos membros
escaneados, os quais precisavam de ajustes para que
tivessem um tamanho considerado interessante para dispor
na parede.
133
Acessibilidade Cultural no Amapá
134
Resolvidas essas etapas, passamos a focar o modo
como se poderia ter acesso à obra. Para a acessibilidade de
cadeirantes, por exemplo, seria preciso pensar no acesso por
rampa e na altura da obra (cerca de 1,40 m); para a pessoa
com deficiência visual, na possibilidade de usar baixo-relevo
e/ou texturas, objetos que se sobrepõem à obra; para quem
tem baixa visão, foi cogitado o contraste das cores e a
dimensão dos objetos; para quem tem deficiência auditiva,
a possibilidade de uso de QRCode para remeter a uma
apresentação de vídeo da obra em Libras e audiodescrição,
para contemplar as pessoas com deficiência visual.
Nesse momento, pensávamos na complexidade
dessa relação Teatro e Robótica a partir da criação de uma
pintura acessível que enfatizasse a importância de partes
significativas do corpo como as mãos e os braços. Mãos e
abraços que tocam o outro, que aproximam.
A tecnologia foi um recurso pensado para fins práticos,
mas não se resumiu a isso. Pode ser poético esse encontro
de diferentes linguagens em busca do objetivo de promover a
Acessibilidade Cultural inicialmente na UNIFAP, podendo se
estender para a comunidade.
Ações do GEAC
135
Acessibilidade Cultural no Amapá
Considerações finais
136
Figura 6 – Logomarca aprovada em grupo.
137
Acessibilidade Cultural no Amapá
Referências
138
Formação em Teatro no Amapá e a
Acessibilidade Cultural:
encontros e revisões
Emerson de Paula31
José Flávio Gonçalves da Fonseca32
DOI - 10.29327/552204.1-10
31
Professor Adjunto do Curso de Teatro da Universidade Federal do Amapá
- UNIFAP. Líder do Grupo de Pesquisa NECID - Núcleo de Estudos em
Espaços Culturais, Inclusivos e Deliberativos - CNPq. Coordenador do
Projeto de Extensão LABAC - Laboratório de Acessibilidade Cultural em
Macapá do Curso de Teatro da UNIFAP. Integrante da startup NUTEA.
Contato: emersondepaulaubuntu@gmail.com
32
Professor Adjunto do Curso de Teatro da Universidade Federal do Amapá
- UNIFAP. Vice-Líder do Grupo de Pesquisa NECID - Núcleo de Estudos em
Espaços Culturais, Inclusivos e Deliberativos - CNPq. Integrante da startup
NUTEA. Contato: flavio.g.f@gmail.com
139
Acessibilidade Cultural no Amapá
140
em espaços, ações e eventos culturais, podendo ter acesso
ao conteúdo, proposta e estética em questão. Ainda sobre
o conceito, podemos entender que a Acessibilidade Cultural
se “encontra na fronteira da acessibilidade e da cultura”,
estabelecendo “diálogo entre o universo das pessoas com
deficiência e políticas públicas de cultura, unindo demandas
do movimento social junto à legislação brasileira” (SILVA,
MATTOSO, 2016, p. 223).
Trazer o conceito de Acessibilidade Cultural para a
formação em Teatro é fazer com que, para além da presença
de uma disciplina específica sobre a temática, aconteça a
reformulação das disciplinas de formação de/em Teatro
existentes no currículo das graduações, promovendo o
debate sobre como o tema em questão se aplica/atende
às pessoas com deficiência. As práticas pedagógicas em
Teatro precisam pensar para além da experiência do Teatro
como metodologia de inclusão. A história do Teatro precisa
falar dos artistas e coletivos de artistas com deficiência. O
estudo sobre dramaturgia precisa pensar as PcD’s em suas
produções, entendendo como autoras e autores abordam o
tema, se é pelo viés do estereótipo ou uma ação de castigo.
É preciso rever a concentração dessa discussão para
além da área da Saúde, Assistência Social ou Educação.
Faz-se necessário discutir a presença e participação dessas
pessoas no fazer artístico, pensando o universo das pessoas
com deficiência enquanto prática e conteúdo.
O que buscamos aqui não é ignorar as tecnologias
assistivas, como Libras, audiodescrição, braile, entre outras,
que necessitam existir nas instituições de ensino e fazer
parte das graduações e seus processos formativos, mas
sim pensar o Teatro para as pessoas com deficiência, o
Teatro com as pessoas com deficiência e a deficiência como
elemento constitutivo da estética de um processo teatral.
As pessoas com deficiência foram incluídas no
programa de cotas de instituições federais de Educação
Superior (IES), que já contempla estudantes vindos
de escolas públicas, de baixa renda, negros, pardos e
indígenas, a partir da Lei 13.409/2016, sancionada em
28/12/2016. Nessa perspectiva, esse público, usando de
141
Acessibilidade Cultural no Amapá
142
do Amapá, mas também se dá a partir da demanda de uma
classe de artistas da cena local, que por anos almejaram a
oferta de uma formação em nível acadêmico. Esse desejo
se materializou após inúmeras negociações entre classe
artística e gestão superior da UNIFAP, quando em 12 de
novembro do ano de 2013, após ter o auditório onde ocorria
a sessão ordinária do Conselho Universitário - CONSU
ocupado por artistas de diversos segmentos, no intuito de
sensibilizar os conselheiros, o Projeto Pedagógico do Curso
(PPC) de Teatro foi aprovado, sendo implantado no ano de
2014.
A partir desse marco histórico, o curso de Teatro
da UNIFAP acaba se tornando um local importante para
estudantes de vários municípios do estado e da região, que
buscam maiores aprofundamentos em relação ao Teatro em
nível de Ensino Superior. Esse primeiro Projeto Pedagógico
de Curso, apesar de apresentar uma matriz curricular
composta buscando suprir a necessidade formativa de um
estudante de Teatro em nível de graduação, articulando
inúmeras habilidades e competências do fazer teatral,
também demonstra preocupação com o diálogo com o
contexto sociocultural do estado do Amapá, propondo, no rol
de componentes curriculares, a disciplina de Artes Cênicas
no Amapá, que, entre outros aspectos, volta o olhar para
as performances culturais amazônicas, como o Batuque, o
Marabaixo e a encenação centenária da batalha de Mouros
e Cristãos na localidade de Mazagão Velho - AP, bem como
reflete sobre o panorama do Teatro Amapaense no âmbito
da história, dos autores, encenadores e atores, além de
catalogar espaços teatrais nos diversos locais do estado.
Após a última avaliação in loco do curso feita pelo
MEC, quando foi possível identificar com maior precisão
as necessidades de adequação desse curso às diretrizes
curriculares dos cursos de Licenciatura, foram realizadas
reuniões com o Núcleo Docente Estruturante (NDE), com os
estudantes e com o colegiado do curso visando a elaboração
de metas a serem conquistadas. Iniciou-se um processo de
reformulação do PPC, que atualmente tramita nas instâncias
da Universidade, na expectativa de sua aprovação.
143
Acessibilidade Cultural no Amapá
144
A presença e participação de PcD’s no Curso de Teatro
da UNIFAP
145
Acessibilidade Cultural no Amapá
146
saber melhor a função de nossa abordagem inicial, colocar
suas questões, apresentar laudo médico, se necessário, e
nos contar sobre seu histórico escolar, apresentando PDI’s
que porventura possam ter sido realizados em outras fases
escolares, contando sempre com a presença e fala do/a
aluno/a em questão.
Portanto, é o corpo, seja como esse for, que vem
pautando a nossa prática pedagógica e artística em Teatro na
UNIFAP. É a leitura desse corpo e a sua reverberação nesse
espaço que nos mostram e ensinam os caminhos formativos
em Teatro que precisamos seguir. A Acessibilidade Cultural
não pode ser ignorada num local em que corpos diversos estão
presentes e vivos, pois ela oportuniza e mobiliza saberes que
descolonizam olhares, questionando o próprio fazer teatral
calcado na Arte do Corpo em Cena, que precisa demonstrar
uma performance em que a superação do movimento é a
tônica, pautando quem tem aptidão e habilidade artística,
fazendo ecoar a lógica de um padrão normativo para como
deve ser um “bom desempenho” de um/a artista de Teatro.
Isso nos mostra que, para além da necessária inclusão
escolar, é preciso pensar a inclusão na área cultural, que é
uma área que proporciona apreciações estéticas com fruição
de forma autônoma. Esse processo aqui relatado tem nos
mostrado, por exemplo, a necessidade de criação de um
dicionário de termos teatrais em Libras, uma vez que se
torna essencial estabelecer sinais específicos para códigos
conceituais da área, não se pautando pelo uso de sinais
gerais já existentes associados aos códigos teatrais, mas por
aproximações contextuais.
Ainda carecemos de mais publicações específicas na
área, principalmente sobre a presença de PcD’s nos cursos
de formação em Teatro, mas já encontramos trabalhos que
lidam com metodologias, por exemplo, do fazer teatral, porém
promovem adaptações às mesmas para o trabalho com as
Pessoas com Deficiência.
147
Acessibilidade Cultural no Amapá
Conclusões inconclusas
Referências
148
SILVA, Emerson de Paula; MATTOSO, Verônica de Andrade.
Arte/Educação e acessibilidade cultural: uma encruzilhada
epistemológica. In: OLIVEIRA, Francisco Nilton Gomes de;
HOLANDA, Gerda de Souza; DORNELES, Patrícia Silva;
MELO, Juliana Valéria de (Orgs.). Acessibilidade Cultural
no Brasil: narrativas e vivências em ambientes sociais. Rio
de Janeiro: Multifoco, 2016, p. 213-247.
149
Acessibilidade Cultural no Amapá
150
Índice remissivo
Acessibilidade Cultural, 4, 5, 6, 9, 11, 12, 15, 16, 17, 18, 25, 26, 27, 29, 32, 33, 35, 37,
38, 45, 46, 47, 48, 49, 53, 54, 55, 59, 60, 66, 68, 69, 71, 72, 73, 75, 79, 81, 97, 111,
114, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 135, 136, 138, 139, 140, 141, 142,
144, 145, 147, 148, 149, 151, 152.
Acessibilidade Sensível, 5, 33, 44, 45, 46, 48, 50, 151.
Acessibilidade universal, 54, 58.
Acesso à Cultura, 12, 39, 89, 128.
Acolhimento, 26, 116, 130, 131, 145, 146.
Arte(s) circense(s), 34, 37, 39, 40, 41, 43, 44, 45, 47, 48, 50.
Artes Cênicas, 113, 114, 115, 116, 119, 120, 121, 143, 151.
Audiodescrição, 5, 13, 17, 27, 72, 80, 83, 88, 89, 90, 94, 135, 141.
Autista, 43, 76, 98, 103, 114, 115.
Autonomia, 11, 15, 16, 17, 26, 30, 35, 59, 63, 64, 79, 81, 128.
151
Acessibilidade Cultural no Amapá
Jogo teatral/ jogos teatrais, 98, 100, 110, 111, 112, 122, 152.
LABAC - Laboratório de Acessibilidade Cultural em Macapá, 5, 11, 15, 16, 18, 19, 20,
21, 22, 71, 122, 125, 127, 139, 145, 152.
Lazer, 26, 53, 58, 61, 65, 91.
LBI - Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, 69.
Lei n° 10.098 / Lei da Acessibilidade, 13.
Liberdades fundamentais, 14, 63.
Libras, 13, 16, 17, 27, 33, 65, 92, 108, 109, 135, 136, 140, 141, 147, 152.
Licenciatura em Teatro, 11, 99, 122, 139, 142, 146, 148, 152.
Linguagem corporal, 88, 89, 96, 103.
Metodologia de inclusão, 102, 141.
Movimento da Nova Museologia / Nova Museologia, 56, 58.
Museu(s), 54, 55, 57, 58, 60, 61, 62, 64, 65, 66, 67, 68, 69, 136.
“Nada sobre nós sem nós”, 14, 59, 75, 79, 129, 130, 152.
NUTEA - Núcleo Tecnológico de Informação e Comunicação, 71, 73, 74, 75, 78, 79,
139, 152.
Oficina de Gestos, 91, 92, 152.
Pandemia, 16, 66, 80, 124.
Pessoa com Deficiência visual, 68, 85, 88, 91, 95, 129, 130, 135.
Plano Nacional de Cultura, 15, 54, 55, 59, 60, 67, 68, 69, 72, 152.
Pedagogia, 56, 110, 112.
Políticas de acessibilidade, 44, 45, 53.
Políticas públicas, 9, 12, 15, 18, 22, 27, 34, 48, 54, 55, 60, 66, 68, 141.
Prática pedagógica, 5, 97, 98, 106, 111, 116, 124, 144, 146, 147, 148.
Preconceitos, 14, 25, 35, 48, 129.
152
Programa/ sistema de cotas, 145.
Projeto Político-Pedagógico, 113, 125, 152.
Projeto Pedagógico, 56, 143, 144, 153.
Projeto Robótica Tucuju, 131.
Sensibilização, 34, 37, 67, 121, 130, 135.
Síndrome de Down, 42, 43, 97, 106, 108, 109, 114, 115, 121, 128.
Sistema de cotas, 145, 152.
Teatro das Bacabeiras, 72, 75, 79, 80, 81, 123, 153.
Teatro-Educação, 97, 120, 124.
Teatro Inclusivo, 122.
Tecnologia/ tecnologia(s) assistiva(s), 17, 73, 74, 81, 88, 90, 96, 140.
Universidade Federal do Amapá / UNIFAP, 9, 11, 25, 71, 97, 122, 127, 128, 139, 142,
144, 153.
Web Rádio, 26, 29, 30, 31, 32, 153.
WebApp, 72, 73, 74, 76, 78, 80, 81, 153.
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www.emanuscrito.com.br
Formato do livro - 14cm x 21cm
1ª edição
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