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ct1ntro de estudos de hi8'6rla municipal


NAZARE1
TIRRA E GENTE
MONL PETRONILO PIDROSA

biblioteca pernambucana de

história municipal 11
NAZARÉ, TERRA E GENTE
Pedrosa, Mons . Petronilo

Nazaré, terra e gente . Recife , Centro de Estudos de


História Municipal/FIAM, 1983 .

172 p . (Biblioteca pernambucana de história munici·


cipal , 11) .

1 - Nazaré, PE - história . 1 - FIAM/CEHM , Reci fe .


li - Título .

C . D.U . 981 . 342 Nazaré da Mata FIAM / 01 / DDRR /SD



N A ZARE,
TERRA E GENTE
Mons. PETRONILO PEDROSA

bibliotectt pernambucana de história municipal 11


CENTRO DE ESTUDOS
DE HISTÓRIA MUNICIPAL
RECl'FE - 1983
Governador do Estado de Pernambuco

ROBERTO MAGALHÃES MELO

Secretário de Planejamento

AGUINALDO VIRIATO DE MEDEIROS FILHO

Diretor da Fundação de Desenvolvimento Municipal do Interior de Pernambuco

GILBERTO MARQUES PAULO


CURRICULUM VITAE

Mons. PETRONILO PEDROSA

- CURSOS

Primário em escolas públicas de Timbaúba.


Ginasial no Seminário Menor de Nazaré da Mata.
Cursos de Filosofia e Teologia no Seminário de Olinda .
Revalidação do curso de seminário de acordo com o De-
creto-Lei n.º 1051 de 21 de 1O de 1969 e Bacharelato em
Filosofia na Universidade Federal de Santa Catarina.
Mestrado em História na Universidade Federal de Per-
nambuco .

2 ~ ATIVIDADES

a) - Docentes

Professor de História Antiga e Medieval na Facul-


dade de Formação de Professores de Nazaré da
Mata
Ex-professor de Psicologia Educacional e História
da Educação no Colégio Santa Cristina em Nazaré
da Mata
Ex-professor de História Econômica e Administra-
tiva do Colégio Comercial Pio X no Carpina e no
Colégio São José em Nazaré da Mata
Ex-professor de Português e História Geral no Co-
légio Santa Cristina em Nazaré da Mata

b) - Administrativas

Ex-Diretor do Ginásio Industrial D . Carlos Coelho


(Estadual) em Nazaré da Mata
Primeiro Coordenador da Faculdade de Formação
de Professores de Nazaré da Mata

7
Ex-Gerente e Ex-Diretor da Gazeta de Nazaré
É registrado na Diretoria de Ensino Secundário do
MEC sob n.º D 11 240 e na Diretoria do Ensino Co-
mercial sob n.º 4752

e) - Religiosas

Capelão de Aliança e vigário da Paróquia de Alian-


ça
Vigário da Paróquia de N . S . da Conceição de Na-
zaré
Pró-pároco de Carpina
Capelão do Colégio Santa Cristina e da Usina Ali-
ança .

e
DEDICATÓRIA

Ao nazarenc Paulo Guerra,

que soube ser,


bom político,
bom amigo,
bom esposo,
bom pai .

9
PALAVRA DE EXPLICAÇÃO

O trabalho que estou apresentando é uma contribuição


à História de Nazaré. Estou certo de que estas páginas valem
como começo de caminhada. Um primeiro passo, pois, até ago-
ra, nada foi feito neste sentido . Nazaré, com quase dois sécu-
los de existência, possui história rica de fatos e de valores hu-
manos . Mas essa riqueza ainda está por ser explorada e des-
coberta . Os elementos estão escondidos e dispersos nos car-
tórios e arquivos. Estão esperando por alguém que disponha
de tempo e paciência para trazê-los a público , selecionando-os
e ordenando-os . O presente trabalho pode ser um ponto de par.
tida, devendo ser ampliado , completado e aperfeiçoado por quem
· tenha "engenho e arte" .
Estimulado por alguns amigos a escrever esta história.
só me dispus a fazê-lo depois que recebi a orientação nas aulas
de Técnica e Pesquisa Histórica do Curso de Mestrado em His·
tória, ministrado pelo professor Armando Souto Maior . Seria
cair num lugar comum dizer que muitas fontes primárias já da-
sapareceram e tantas outras ainda não são conhecidas. Por is-
so tive que recorrer a fontes secundárias e referências biblio-
gráficas. A coleção da Gazeta de Nazaré, jornal que circulou
durante 50 anos, registrando fatos , empreendendo campanhas,
referindo-se a pessoas, enfim fotografando a vida da cidade nu-
ma fase importante de sua história, me forneceu uma série de
fatos preciosos ocorridos de 1917 para cá . De muitas ocorrên·
cias verificadas depois de 1930 tive conhecimento direto . Ain-
da as guardo na memória porque convivi com esses fatos e com
as pessoas a eles ligadas . Para escrever sobre as famílias na-
zarenas, muitas de passado já remoto, tive que recorrer a notas
de jornais da época , testamentos de cartórios e, principalmente
a pessoas ligadas a essas famílias .
São informações orais, mas merecedoras de absoluta
confiança . Para o capítulo sobre a vida forense dispus de pou-
cas fontes . Recorri à documentação do Arquivo Público Esta-
dual sobre o assunto, particularmente ao M. S . Correspondên-
cia dos Juízes e à consulta aos processos nos Cartórios da ci

11
dade. Para organizar a relação dos vigários que desempenha·
ram o munus pastoral antes da criação da Diocese, foi neces·
sário consultar os livros de assentamento de batizados e casa-
mentos existentes no arquivo da paróquia . Daí a imprecisão das
datas relativas ao período de governo de alguns vigários, um:'!
vez que o Livro de Registro de provisões da Cúria de Olinda e
Recife, que seria a fonte mais segura, não foi encontrado . De-
pois da criação da Diocese , o trabalho foi mais fácil porque es-
ses dados estão devidamente registrados nos livros competen-
tes que são conservados no arquivo da Cúria Diocesana .
Sobre a nomeação dos Prefeitos no período conhecido
como Estado Novo, recorri às coleções de Leis existentes no
Arquivo Público Estadual e na Biblioteca da As-
sembléia Legislativa . Na Biblioteca Pública e Câmara Mu-
nicipal desta cidade ainda se encontram alguns livros de Atas
com dados preciosos sobre a vida política e administrativa do
município e sobre a criacão de alqumas instituições de nature-
za cultural , como a própria biblioteca, já quase centenária . Pa-
ra conhecimento de fatos mais antigos fui às fontes clássicas
da historiografia pernambucana: Anais Pernambucanos de Pe-
reira da Costa e "Diccionário Choroqráfico, Histórico e Estatís-
tico de Pernambuco" de Sebastião Vasconcelos Galvão .
Reunindo esses fatos sobre a vida administrativa , reliqio·
sa, judiciária , cultural, econômica e social , procurei ordená-l os
em capítulos para que se possa ter uma visão mais completa
do que foi Nazaré e do que seus filhos realizaram em seu fa-
vor .
• * •
Nazaré, objeto do presente estudo, compreende a área ter-
ritorial na dimensão que tinha antes da divisão administrativa
ocorrida em 1928 e 1963, quando abrangia os seis municípios
atuais: Nazaré, Carpina, Tracunhaém, Buenos-Aires, Vicência e
Aliança (mapa 1) . Poucas referências faremos a Nazaré do tem-
po de sua autonomia administrativa, de 1833, quando incluía os
territórios dos atuais municípios de São Vicente Férrer e Ma-
caparana.
O território do município de Nazaré está encravado nos
vales dos rios Sirigi e Tracunhaém . A sua riqueza foi extraída
da terra . A aqro-indústria açucare ira foi a base de seu desen-
volvimento . Nazaré nasceu e cresceu à sombra dos canaviais .
Os homens o•Je fizeram a su::i hic::tória foririram o r.aráter nas
lides diárias do campo e no manejo de instrumentos aarícolas .
Os líderes oolític.os . os capiti'íes dA indústria e os homens de
letras qu::ise semnrn sairnrn do amhient~ r(ic::tir.o dns Pnof'nl--ns
A da .<:OrPhrn ::ir.olherlor;:i nas r.::is::is rir::inrlP.s M:::is eSSP,S senhn-
res não ficaram isolados nas suas orooriedades , contemplando
12
a ondulação verde dos canav1a1s e embriagando-se com o chei-
ro do melaço, fechados no seu egoísmo, apenas acumulando
riquezas a custo de sangue e suor da submissa escravaria.
Mesmo sem o brilho das letras, souberam se comunicar e ma·
nifestar o bom senso feito de experiência e de bem viver. Fo-
ram unir-se aos concidadãos, levando a contribuição da inteli-
gência, a capacidade de trabalho e o espírito de iniciativa para
o desenvolvimento da vida urbana . A povoação , a princípio, a
vila, depois a cidade, foi crescendo batida pelo vento dos cana-
viais e pelo labor construtivo de seus filhos .
Aquelas estruturas básicas da vida urbana colonial de
que fala o escritor americano Howard P. Chudacoff (1) quais
sejam os comerciantes , investidores ricos e governo, recebiam
os influxos diretos dos líderes ru rais , porque era o dinheiro pro-
veniente da venda do açúcar que alimentava o comércio e sus-
tentava as estruturas governamentais . Dessa influência econô-
mica, porque eram eles os criadores de riqueza , nascia a influ-
ência política e social . Eram ao mesmo tempo os líderes polí-
ticos, que dispunham de prestíg io e de força e mais ligados às
autoridades da província . Nazaré, mais, do que qualquer outro
municípi o, viveu à sombra da aristocrac ia do açúcar .
Não estou canoni zando os senhores de engenho . Afir-
mar que eles foram os forjadores de nossa vida econôm ica não
si g:iif ica negar injustiças e desumanidades da parte de muitos.
A própria escravidão ern que se baseava o regime de trabalho
de então e o mandonismo da épocB explicam, embora não jus-
tifiquem, certas atitudes. Não faltaram, entretanto, os justos e
humanos .
Os homens da lavou ra contribuíram direta e indiretamen-
te para o desenvolvimento da cidade . Vida rural e vida urbana
foram cousas que sempre estiveram em mútua dependência .
As feiras como troca de mercadorias e as prestações de servi-
ço estão na origem de muitas cidades, como afirma Toynbee (2).
Nazaré não fugiu a este princípio . A cidade nasceu e cresceu
como fruto do trabalho dos que povoaram e cultivaram suas
terras .
Outro elemento que muito contribu iu para congregar as
pessoas e assegurar o desenvolvimento urbano foi a pequena
ermida dedicada a Nossa Senhora da Conceição de Nazaré .
"Quando se buscam as origens da cidade, encontram-se antes
de tudo a aldeia e o santuário", diz Lewis Munford (3). "O pri-
meiro germe da cidade , continu a o mesmo autor, é o ponto de
encontro cerimonial que serve de meta para a peregrinação".
A vida religiosa que se desenvolveu em torno da capela e em
função de uma devoção foi elemento dinâmico para a constru-
ção desse povo .
13
REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 * Chudacoff, Howard P.
A evolução da sociedade urbana - pg. 29
Biblioteca de Ciências Sociais - Zahar Editores - Rio .
2 * Toynbee, Arnold,
Ciudades de Destino - pg. 13 - Aguillar .
3 * Munford, Lewis
A Cidade na História - pg . 13-19
Editora ltatiaia Ltda .

15
PREFÁCIO

As histórias municipais andam , a esta altura , bastante


difundidas . Grande número de municípios as possuem, via de
regra de bom quilate . Quase todas receberam o influxo de um
homem como Luiz Delgado que apoiava decididamente tudo
quanto se referisse à vida das cidades e municípios interiora·
nos . Com o seu falecimento, assumiu lugar de comando, no es·
t ímulo dispensado, o seu filho José Luiz Delgado, graças a quem
prosseguem, em franca caminhada, as histórias municipais. Se·
gundo Luiz Delgado, os Estados terão história codificada quan.
do a maioria dos municipalistas escreverem sobre suas comunas.
E ele se propunha à difusão, pela imprensa, de todas as tenta·
tívas, fossem históricas ou até mesmo ensaios que se tentas.
sem sobre as comunas interioranas , por julgá-las trabalho vá-
lido na codificação de uma completa história de Pernambuco
muito bem iniciada por Oliveira Lima .
O Padre Petronilo Pedrosa escreveu belíssima narrativa
dos fatos históricos de sua terra a que deu o nome muito su·
gestivo de NAZARÉ - TERRA E GENTE, propondo-se contar o
começo, o meio e a contempo rane idade dos fatos ligados a es-
se município . E o que posso afirmar é que atingiu o objetivo
colimado . Seu trabalho, ele o diz , não é completo . Faltou , co-
mo faltaram a ou t ros historiadores mun icipais, fonte de onde
extrair elementos para uma mais densa história da terra nazarc·
na rica de acontecimentos que enfeitam este trabalho de fôle-
go do Padre Petronilo Pedrosa .
Nazaré é uma terra doce pela amenidade do seu clima,
pela bondade do seu povo e pela fumaça chei rosa dos seus en·
genhos bangüês num tempo em que não havia o avassalamen·
to das usinas ceifadoras de uma fonte de riqueza tradicional
como era o açúcar bruto de fabricação dos 239 engenhos, num
tempo em que o solo nazareno não havia sofrido tantas mutila-
ções benéficas ditadas pelo progresso . Isto é o que se propôs
revelar o autor de NAZARÉ - TERRA E GENTE num trabalho de
pesquisa laboriosa .
17
A mim, me é particularmente grato este trabalho do his-
toriador nazareno. Nele vou encontrar Padres a que estive inti-
mamente ligado: João Firmino, meu vigário em Lajedo; João da
Mata Amaral conterrâneo e benfeitor ; Fernando Passos, que foi
meu vig ário de Limoeiro e um orientador na minha juventude
quando vim ensinar no ginásio de Limoeiro; e Padre Nicolau Pi-
mentel, outro figurante na lista de sacerdotes que exerceram o
paroqu iato em Nazaré.
O Padre Petronilo explicita a vida de Dom Ricardo Vile-
la, sob cuja batuta trabalhei no Ginásio de Nazaré, ao lado de
uma figura humana de muita grandeza e saber, o Dr . Costa Por-
to . Encontro, também dois juizes de Direito: Felisberto dos San-
tos Pereira, pai de Dulce e Clóvis, que foram meus companhei-
ros de infância quando, levado pelas mãos do Padre João da Ma-
ta Amaral, freqüentei, no ano de 1926, o Ateneu Nazareno dos
irmãos Adarico, Adauto, Alaíde e Amélia; e Djalma Tavares da
Cunha Melo, que celebrou meu casamento civil com a nazare-
na Eva Ida Rodrigues .
Tudo me é evocativo neste livro do Padre Petronilo . O
Banco Popular me faz recordar a figura do maior administrador
que ele já teve: Hélio Coutinho Correia de Oliveira . Outra evo-
cação: o Condor Esporte Clube do ano de 36, fundado pela per-
sistência do Padre Távora, de Joel de Lima e Alfredinho Rodri-
gues . A sociedade teve seus estatutos calcados no do Colom-
bo de Limoeiro . Lembro-me das reuniões preliminares na casa
de Joel de Lima para a fundação do Condor . Do entusiasmo de
seus integrantes , do Campo do Juá, do nome para homenagear
o musicista Carlos Gomes .
Já não me refi ro ao Ginásio de Nazaré, instalado no ca-
sarão de Lagoa Dant a, para onde vim, inexperiente, saído de
um seminário de padres, para ensinar primeiras letras na terra
nazarena . Uma terra a que estou ligado por muitos laços afeti·
vos, como sejam meu casamento e o nascimento do filho único
Marcos Vilaça . Enfim , tudo é um pouco de evocação pessoal
neste livro do Padre Petronilo, muito bem escrito e documen-
tado como poderá se r visto à luz da bibliografia citada, numero-
sa e escolhida nas melhores fontes históricas .
Minhas ligações com Nazaré estão devidamente explici-
tadas no meu LIVRO MEMÓRIA, cujo maior capítulo é sobre a
terra e a gente nazarena num período a partir do ano de 26 quan-
do eu ali fiz o aprendizado das primeiras letras sob a batuta de
Alaíde Negromonte, a conhecida Irmã Clara do Ginásio de San-
ta Cristina. De lá até hoje , minha ligação com Nazaré tem si-
do amiudada pelo que , este livro do Padre Petronilo me é ex-
tremamente agradável e penso o será com relação a todos os
nazarenos, pelo nascimento ou pela afetividade o que vem dar
18
nâ mesma coisa pelo menos em relação a mim que continuo um
enamorado de sua paisagem física e humana.
Poderá parecer que me ative muito a fatos pessoais. Não
poderia ser diferente, tantos são os laços que me prendem a
Nazaré . Poderá parecer também que me afastei muito da tarefa
a que me propus aceitando a incumbência de meu amigo e ex-
colega de seminário. Mas deixo que o leitor, lendo, se capaci-
te da competência do historiador sobre o ponto de vista lingüís'
tico e histórico.
É de esperar-se que o trabalho do Padre Petronilo Pedro-
sa não pare nesta história. Ele, cultor das boas letras, dedica·
do humanista e professor de ensino superior, tem todas as con-
dições para, de futuro prosseguir o seu t rabal ho iniciado com o
ENGENHO BANGÜÊ e continuado com este NAZARÉ - TERRA
E GENTE que passa às mãos dos leitores e estudiosos como ri-
ca fonte de ensinamento e que se tornou um ponto de partida
para a mais alta elucubração neste terreno histórico tão bem
desbravado por este cultor de ciências e letras na terra naza-
rena .

Antônio Vilaça

Limoeiro, agosto de 1978 .

19
CAPITULO 1

NASCEM AS INSTITUIÇÕES

A primeira questão que se apresenta a quem busca as


raízes históricas de Nazaré é a que diz respeito a seu nome .
Os documentos mais antigos referentes à região falam da Ses-
maria de Lagoa d'Anta. Só posteriormente o nome de Nazaré
começa a aparecer . As duas expressões eram usadas indife·
rentemente com o mesmo sentido. Posteriormente o nome Na·
zaré passou a designar a povoação e Lagoa d'Anta, as terras,
onde se construiu o engenho. A Sesmaria de Lagoa d' Anta foi
doada a Manuel Bezerra da Cunha a 18 de junho de 1781 . Eis o
texto da doação:

"José César de Menezes do Conselho de Sua Ma·


jestade Fidelíssima, seu Governador e Capitão Gene-
ral de Pernambuco, Paraíba e mais Capitanias anexas,
etc. Faço saber aos que por esta carta de Sesmaria
virem que por parte de Manuel Bezerra da Cunha, mo-
rador em Alagoa Danta, termo da Vila de lgarassu,
que entre a propriedade do suplicante sita na mesma
Lagoa Danta e da viúva que ficou do defunto Jerônimo
Lopes, se acham umas terras de sobra sem conhecer
senhorio ou quem as domine , cujas sobras estão pú ·
blicas, entestam com as terras do suplicante e da dita
viúva, para o que requer a V. Exa. se sirva proceder
a informação da Câmara respectiva com devida ela
reza e à vista dela mandar passar a carta de sesma-
ria e data na forma de estilo ... pelo que ordeno aos

21
Ministros da Fazenda e da Justiça e mais pessoas a
quem tocar, cumpram e façam cumprir esta carta de
dat a de sesmaria, como nela se contem e fazendo dar
ao suplicante posse real e atual na forma costumada
debaixo das clausulas referidas. Manuel Barbosa da
Silva Garcia, Oficial Mor da Secretaria do Governo
a fez em o Recife de Pernambuco aos 18 de junho de
1781 . O Secretário do Governo, Manuel de Carvalho
Paes de Andrade a fez escrever. José César de Me·
nezes" . ( 1)

A coroa Portuguesa costumava fazer doações de terras,


por intermédio dos Capitães-Mores ou Governadores das Pro-
víncias , àquelas pessoas que se comprometiam desbravá-las,
cuidando da lavoura ou da criação de gado, garantindo melhor
a posse da terra e conseqüentes vantagens econômicas para a
referida coroa . Partindo do litoral pelas matas a dentro, os pri-
meiros colonos iam povoando o solo, semeando núcleos habi-
tacionais e, sem mais a ilusão do ouro fácil, criando novas e es-
perançosas fontes de riqueza . Às margens dos rios ou em va-
les úmidos foram construindo as fábricas de fazer açúcar, abrin·
do horizontes de nova civilização. O sistema de açúcar que im-
plantavam era "toda uma organização de vida , não só de ordem
econômica , como igualmente social , política e cultural. Um sis ·
tema de cultura - o do açúcar - e não restritamente um gê-
nero de produção" . (2)
Muitas foram as famílias portuguesas que , levadas pele
espírito de conquista e pela miragem da riqueza , trocaram as
suas casas comerciais e a vida da povoação pela dureza da
conquista, pela luta contra o indígena e pelo amanho da terra
inculta ... Com o título de posse de alguma "sesmaria", foram
esses colonos portugueses, derrubando matas e abrindo cla-
reiras , que prepararam os verdadeiros caminhos do progresso .
Urbano Pereira da Silva foi um imigrante português que
no começo do século XVIII se fixou no Recife e pelo casamen-
to se ligou à fa mília de Vida! de Negreiros. Dele, diz Pereira
da Costa, " ter ostentado muita bravura em todos os combates
travados com o inimigo durante as guerras de 171 O" (3) . Seu
filho , Urbano Pereira da Silva Júnior, no último quartel do sé-
culo XVIII, comprara juntamente com seu cunhado João Manuel
a Sesmaria que ia do Tracunhaém até o Ribeiro Grande que pas-
sa por Lagoa Seca . Esta propriedade fora dividida em duas par-
tes , ficando Urbano Pereira com a do sul, onde se instalaram
posteriormente os engenhos Lagoa d'Anta, Macaco, Camarazal

22
e Várzea Grande e o seu cunhado com a parte norte, onde por
sua vez se construíram os engenhos Terra Nova, Ventura, Espe-
rança e Teimoso (4) . Todos esses engenhos ainda existem nas
proximidades de Nazaré .
Felipa da Costa Coutinho, esposa de Urbano Pereira, fe z
doação de partes de suas terras do engenho Lagoa d' Anta pa-
ra a formação de um patrimônio , onde se construiu uma peque-
na ermida dedicada a Nossa Senhora da Conceição de Nazaré .
Nesse mesmo patrimônio construiu-se depois o cemitério e a
capela dedicada a São Sebastião (5) . Esta doação foi feita por
escritura pública segundo notas do Tabelião José Ayres de Mi-
randa Henriques da Vila de Goiana , passada a 4 de abril de 1804 .
Tão logo, se fez sentir o interesse da popul ação, que foi nomea-
da uma comissão para tratar da construção dessa Ermida . A
construção não demorou muito, pois em janeiro de 1806 nela já
era ministrado um batismo, segundo o livro de reg istro da pa·
róquia de Tracunhaém .
Foi em derredor dessa ermida que se desenvolveu a po-
voação primitivamente conhecida pelo nome de Lagoa d'Anta,
por estar encravada em terras da sesmaria desse nome e que
aos poucos passou a ser conhecida apenas por Nazaré em ra-
zão da invocação dada à ermida. O viajante inglês , Henry Kos-
ter que por aqui passou em 1812 diz ser Lagoa d'Anta ou Na-
zaré "uma vila grande e de considerável importância". Povoa-
ção, onde se realizavam semanalmente feiras que se tornaram
famosas pelos distúrbios que aí se verificavam (6) . Vivendo,
pois, do pequeno comércio local e da feira para venda de pro-
dutos agrícolas indispensáveis ao abastecimento das famílias
ali residentes , a pequena povoação foi adquirindo certo desen-
volvimento e "aquel a considerável importância" de que falava
o viajante inglês . É a lei geral que preside ao aparecimento das
cidades . Os seus habitantes, escreve Toynbee , são obrigados
a importar alimentos dos campos vizinhos e a produzir determi-
nadas mercadorias e prestar serviços. Mercadorias e serviços
que os camponeses aceitam em troca de víveres de que os ci-
dadãos precisam (7) .
O nome Nazaré, portanto , está ligado a essa povoação
como decorrência da primitiva capela dedicada a Nossa Senho-
ra da Conceição de Nazaré , manifestação da piedade e devoção
de sua benfeitora Felipa da Costa Coutinho, doadora das ter-
ras destinadas a seu patrimônio . A história não registra o no-
me de quem construiu a capela . Mas é lícito concluir que foi
essa senhora que estimulou e patrocinou a sua construção . Co ..
mo aconteceu com tantos outros aglomerados humanos, foi o

23
templo religioso que serviu de origem a esse centro urbano .
Foi o sentimento de fé que atraiu famílias , criando uma comu-
nidade , co mo outrora , tantas cidades surgiram à sombra de ca-
tedrais e mosteiros .
Poucos anos foram decorridos e Nazaré mostrava consi -
derável progresso a ponto de merecer a atenção dos poderes
públicos . Assim, o Conselho do Governo Provincial em Sessão
Ordinária reali zada a 17 de maio de 1833 elevou esta povoação
à categoria de Vila, transformando-a em sede de unidade admi -
nistrativa e judiciária , independente da Vila de lgaraçu .

"Ata da Sessão Ordinária do Conselho do Gover-


no em 17 de maio de 1833, presidida pelo Exmo . Sr .
Manuel Zeferino dos Santos, sendo presentes os Srs .
Conselheiros Francisco de Paula Cavalcanti de Albu-
querque, Desembargador Tomaz Antônio Maciel Mon-
teiro, Félix José Tavares de Lira, Joaquim José de Mi-
randa e Rvd . Luiz José de Albuquerque Cavalcanti
Uns .

Em observância do artigo 3.'1, do Código de Pro-


cesso Criminal fica esta Província de Pernambuco di-
vidida em nove Comarcas, cujas cabeças serão: Ci-
dade do Recife, Vila de Goiana, Vila de Nazaré, Vila
de Limoeiro, Vila de Santo Antão, Vila de Rio Formo-
so, Vila de Bonito, Vila do Brejo e Vila de Flores .

Artigo 3.° - A Comarca de Nazaré abrangerá o


termo de Nazaré e de Pau d'Alho . Parágrafo 1.0 - Fi-
ca criada Vila a Povoação de Nazaré da Mata e o seu
termo compreenderá as freguesias de Tracunhaém e
Laranjeiras". (8)
Quando em 1943 surgiu a ameaça de Nazaré perder a sua
antiga denominação em virtude da lei que proibia a existência
de duas cidades com o mesmo nome no país, as lideranças po-
líticas e religiosas se movimentaram em busca de solução . Fo-
ram meses bem intensos de debates e de sugestões numa de-
monstração bem eloqüente do espírito de patriotismo de nos-
sa gente . Venceu a permanência do antigo nome , acrescentan-
do-se o termo Mata, indicativo da localização geográfica . Esta

24
idéia sugerida e aprovada pelos poderes competentes na época
se baseava no texto da resolução que deu autonomia a Nazaré.
O Ato do Conselho do Governo diz textualmente: "fica criada
Vila a povoação de Nazareth da Matta". Em muitos processos
cíveis ou crimes que se encontram nos nossos cartórios até o
ano de 1850, mais ou menos, usava-se a expressão Nazaré da
Mata. Depois de sua elevação à categoria de cidade em 1850,
foi se esquecendo a palavra "da Mata", prevalecendo apenas
Nazaré. As decisões tomadas em 1943 vieram apenas ressus-
citar o primitivo e verdadeiro nome de Nazaré de Pernambu-
co, Nazaré da Mata.

Criada vila, foi solenemente instalada a 9 de outubro do


mesmo ano de 1833, em sessão pública realizada na capela da
povoação, presentes as autoridades locais e da freguesia de
Tracunhaém , quando foram empossados os membros do Conse-
lho Municipal . Foram as seguintes as pessoas componentes
da primeira representação administrativa da nova unidade mu-
nicipal: Francisco da Cunha Machado, Francisco Gomes de A-
raújo Lima, Amaro José Lopes Coutinho, João Batista Bezerra
Coutinho, João de Andrade Lima de Azevedo, João Batista Paes
Barreto e Francisco de Paula Borges Uchoa. (9) Algumas medi-
das foram logo tomadas pelos novos administradores, como a
elaboração do código de posturas que os orientasse no gover-
no das coisas públicas e a divisão do território em distritos .
Foram criados inicialmente 14 distritos: JACU, hoje sede do
município com o nome de Buenos Aires, TRACUNHAÉM, tam-
bém sede de município, MAROTOS e COTUNGUBA, engenhos
do município de Tracunhaém, LAGOA DO CARRO e ANGÚS-
TIAS, respectivamente vila e engenho do município de Carpina,
ANGÉLICAS e TRIGUEIRO, vilas de Vicência , LARANJEIRAS e
POÇO COMPRIDO, respectivamente usina e engenho de Vicên·
eia , SÃO VICENTE, hoje sede de município e os engenhos MON·
TE ALEGRE e PINDOBA do município de Macaparana, além da
Sede. (10)
Outras medidas foram igualmente tomadas, como a no-
meação dos encarregados do poder judiciário . Em sessão de 5
de novembro foram designados os primeiros juízes nazarenos:
José de Holanda de Albuquerque Maranhão, juiz municipal;
Amaro José Lopes Coutinho, juiz de órfãos e José Porfírio Lobo
de Andrade, promotor público. A administração municipal du-
rante o império cabia exclusivamente aos Conselhos Munici-
pais que acumulavam as funções hoje diversificadas em poder
executivo , legislativo e judiciário, atribuídas respectivamente a

25
prefeitos, vereadores e magistrados diretamente vinculados ao
governo do Estado.
Pode-se concluir que povo e governo se empenharam no
desenvolvimento da nova comuna que, dezessete anos depois,
a 11 de junho de 1850, a Vi la de Nazaré era elevada à catego-
ria de cidade, segundo lei provincial .

"Lei n.º 258 de 11 de junho de 1850 .

José Ildefonso de Sousa Ramos, Presidente da


Província de Pernambuco . Faço saber a todos os seus
habitantes que a Assembléia Legislativa decretou e
eu sancionei a seguinte lei: Artigo único: ficam ele·
vadas à categoria de cidade as Vilas de Rio Formoso
e Nazaré . Revogam-se as disposições em contrá-
rio". (11)

Assim, Nazaré ao chegar ao fim do período republicano


já havia atingido certa escala de promoção, prova de seu natu-
ral desenvolvimento: povoação, vila e como tal, sede de muni-
cípio e de comarca; pouco tempo depois, sede de freguesia, ci-
dade e sede de distrito eleitoral e sede de Diocese .

26
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - Documentação Histórica de Pernambuco - Recife -


1959 .
Sesmarias - vol li - página 257 ; vol . IV - páginas
69/70 .
li - M. Diégues Júnior .
O Bangüê em Pernambuco no século XIX - in Revis-
ta do Arquivo Público - nºs . de IX a XII .
Ili - Pereira da Costa.
Anais Pernambucanos - Edição do Arquivo Público
Estadual .
1965-vof. V-pág . 216 .
IV - Documento "Povoamento de Nazaré" . Domingos Ra-
mos de Andrade Lima ao completar 81 anos de ida-
de a 14 de agosto de 1919 fez um resumo sobre o po-
voamento de Nazaré, de acordo com as tradições de
família e confiou ao sobrinho Aprígio Ramos de An-
drade Lima .
Este documento foi entregue ao Instituto Arqueológi-
co, Histórico e Geográfico Pernambucano .
V - Ainda existe em Nazaré uma senhora , tetraneta de Fe-
lipa da Costa, com 87 anos de idade, em plena luci·
dez, professora Maria das Mercês Barros que fala
desta doação para a construção da Capela de N . S.
da Conceição . Este fato também se baseia na tradi-
ção.
VI - Henry Koster .
Tradução e notas de Luís da Câmara Cascudo - pá-
ginas 226 / 227 .
Edição da Cia. Editora Nacional - 1942 .

27
VII - Arnold Toynbee - Obra citada .
VIII - Livro de Atas do Conselho do Governo .
M. S . do Arquivo Público Estadual - Recife .
IX - Sebastião de Vasconcelos Galvão .
Dicionário Chorográfico, Histórico e Estatístico de Per-
nambuco - verbete - Nazaré - Edição da Imprensa
Oficial - Rio de Janeiro - 1908 .
X - Luiz Inácio de Andrade Lima .
Artigo da Revista "Nazaré Autônoma" .
Edição comemorativa do centenário - 9 . 1O . 1933 .
XI - Leis Provinciais - vol . li - A . E. P. - Recife .

,... ..
28
,.
CAPITULO li
I
ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL NO PERfODO REPUBLICANO

Com a proclamação da República e promulgaç&.o da lei


de organização municipal, lei n.9 52 de 3 de agosto de 1892, os
municípios passaram a ter maior autonomia administrativa. O
poder executivo adquiriu maior dimensão com eleição de pre-
feito.
· Em razão de deficiência de meios de comunicação, só
depois de dias e meses é que os Estados e os municípios fo-
ram tomando conhecimento da implantação do novo regime po-
lítico e se adaptando às necessárias modificações . A 22 de ja-
neiro de 1890 a Junta Governativa Estadual decretou a dissolu-
ção dos conselhos municipais, nomeando uma comissão que pro-
visoriamente deveria cuidar da administração dos municípios )
até que fossem tomadas as medidas definitivas de implanta-
ção no país, do regime republicano. Esta comissão ficou sen- )
do conhecida pelo nome de ConselhQ_de n e d-ncia. A que foi \
nomeada para o município de azaré tomou posse a 29 de ja- r
neiro desse ano, sendo composta dos seguintes cidadãos: Ca-
pitão Manuel Dionísio Pereira, Antônio José Lopes de Albuquer-
que Júnior e Antônio Xavier Carneiro de Moura (1).
Com a promulgação da nova Constituição, a 24 de feve-
reiro de 1891, e eleição do Presidente da República, o país ca-
minhou para normalização política . A 26 de dezembro de 1891,
a Junta Governativa do Estado estabeleclà por decreto o dia 21
de fevereiro do ano seguinte para a realização de eleições a
fim de que fossem escolhidos os Senadores, Deputados, Prefei-
tos e Subprefeitos , além dos componentes das Câmaras muni-
cipais . Por um novo decreto de 18 de fevereiro de 1892 foi de·

29
terminado que as ele ições deveriam ser apuradas 20 dias após
a sua realização e a posse dos eleitos deveria se proceder a 25.
de março desse ano . (2) Em obediência a essas determinações
emanadas da autoridade competente, realizaram-se as eleições
no dia fixado nos diversos distritos , seguindo-se as exigências
de praxe.
A 25 de março, em Sessão Extraordinária do Conselho
de Intendência, fez-se a apuração dos votos , dando-se em se-
guida posse ao prefeito, subprefeito e conselheiros municipais,
cuja eleição fora legalmente reconhecida . Foi desta forma ele i-
ta e solenemente empossada a primeira representação do go-
verno municipal no recém-implantado regime republicano . Pre·
feito: Pe . Anísio Torres Bandeira, vigário da freguesia ; subpre-
feito: Major Domingos Ramos de Andrade Lima ; presidente do
Conselho: Capitão João de Moura Vasconcelos ; conselhei ros:
João Libório Carneiro de Morais, Major Joaquim Nunes Macha·
do Coutinho, José Francisco Gonçalves Guerra, Albino Gonçal-
ves Fernandes, Tenente Belarmino Al coforado Pereira de Lira,
Fabrício Gomes Pereira de Andrade, Francisco Salustiano Cor-
reia e Capitão João Antônio Pessoa Guerra . Serviu de Secretá·
rio o sr . Francisco Salustiano Correia . (3)
Embora Nazaré fosse se adaptando às novas circunstân-
cias políticas por que passava a nação , não deixou de sofrer a
influência dos acontecimentos ocorridos no âmbito federal . Por
isso, em ~ decorrência da lei de organização dos municípios pro·
mulgada a 3 de agosto de 1892, ou por razões de ordem mera·
mente política, o Governador do Estado, Barbosa Lima decretou
a ..dissolu,Ção dos governos municipais a 23 de agosto desse ano,
nomeando Pàra substitui-los até a realização de novas eleições
marcadas para 30 de setembro, um novo Conselho de Intendên-
cia . Esse Conselho que deveria gerir os negócios públicos da
comuna nazarena era composto dos cidadãos: Dr . Antônio Ca-
\/alcanti Pina, Álvaro da Cunha Morais Pinheiro, Antônio Falcão
de Mello Cavalcanti, Luiz lgnácio Pessoa de Melo e Christóvâo
de Araújo Gonçalves Guerra .
Realizadas as eleições, foram eleitos os novos compo-
nentes da administração municipal os quais foram empossados
solenemente a 8 de novembro de 1892 . Prefeito: Dr . Hercula-
no Bandeira de Melo ; subprefeito : Major Domingos José da Cos-
ta Braga; presidente do Conselho: Dr . Antônio Cavalcanti Pi-
na; conselheiros: Fernando Barata da Silva, Manuel de Mace-
do, João Gonçalves da Silva Brasil, Lourenço Bezerra Cavalcan-
ti, Antonio da Silva Cabral , Antero da Cunha Moraes Pinheiro
e Antonio Falcão de Moraes Cavalcanti . (4)

30
O fato de ter havido duas eleições para prefeito e con-
selheiros num mesmo ano, levou alguns historiadores a se en-
ganarem a respeito do primeiro prefeito de Nazaré . Assim , Se-
bastião de Vasconcelos Galvão no seu Dicionário Chorográfico,
Histórico e Estatístico de Pernambuco, no verbete sobre Naza-
ré , diz que o município adquiriu a autonomia a 14 de março de
1893, sendo a primeira administração liderada por Herculano
Bandeira de Melo . Na realidade, segundo as Atas existentes
no Arquivo da Câmara de Vereadores de Nazaré, o primeiro pre-
feito foi Pe . Anísio Torres Bandeira que tomou posse a 25 de
março de 1892 . Herculano Bandeira foi o segundo prefeito em-
possado a 8 de novembro desse mesmo ano .
Até 1930, período que se convencionou chamar de Pri-
meira República , Nazaré teve 14 prefeitos eleitos segundo as
normas vigentes, saídos das classes liberais, particularmente
da agricultura. Cada um deixou traço de sua administração na
construção de mercado, escolas , estradas, praças, edifícios pú-
blicos e outros serviços de interesse da comunidade . Nessa
época o período governamental era de três anos, realizando-se
as eleições a 30 de setembro e a posse a 15 de novembro . Fo-
ram os seguintes os prefeitos que governaram Nazaré no pe-
riodo de 1892 a 1930:
·A 25 de março de 1892 foi empossado o primeiro prefei-
to no regime republicano, depois de eleito por uma maioria ab-
soluta de votos, Pe . Anísio Torres Bandeira que já se encontra-
va à frente dos destinos espirituais da freguesia . Exerceu o pa-
roquiato durante vinte e cinco anos . Como Subprefeito foi igual-
mente empossado, Domingos Ramos de And rade Lima, proprje-
tário rural e de família tradicionalmente ligada ao município.
Essa primeira representação do governo municipal foi dissolvi-
da a 3 de agosto desse ano, procedendo-se a novas eleições
a 30 de setembro . No dia 8 de novembro foi empossado o no-
vo governo municipal, sendo prefeito Dr . Herculano Bandeira
de Melo e subprefeito Domingos José da Costa Braga, os quais
exerceram o mandato regimentar até 15 de novembro de 1895.
Para o novo período foram eleitos Fernando Barata da Silva, co-
mo prefeito e Lourenço Bezerra Cavalcanti , como subprefeito
que governaram o município até 15 de novembro de 1898. Nes-
ta data assumiu pela segunda vez a prefeitura o Dr . Herculano
Bandeira de Melo que posteriormente exerceu os mandatos de
Senador Federal e Governador do Estado . Como subprefeito foi
eleito Manuel Estelita de Oliveira Melo . No período de 1901 a
1904 foram prefeitos e subprefeitos respectivamente, FernançJo
Barata da Silva , pela segunda vez, e Francisco Dourado da Cos-

31
ta Azevedo . De 1904 a 1907, Joaquim Dias Bandeira de Melo
e Cel . Victor Vieira de Melo . De 1907 a 191 O, Luiz Inácio Pes-
soa de Melo e João Dourado da Costa Azevedo. De 1910 a 1913,
Fernando Barata da Silva, pela terceira vez, e Antônio Ferreira
da Costa Azevedo . De 1913 a 1916, José Lourenço da Mota e
Francisco Salustiano Correia . De 1916 a 1919, Benjamin de Oli
veira Costa Azevedo e Fabrício Gomes Pereira. De 1919 a 1922,
José Ranulfo da Costa Queiroz e Antônio Borba de Albuquer·
que Maranhão . De 1922 a 1925, Fernando Wilson Afonso Fer·
reira e Joaquim Gomes Correia de Andrade . De 1925 a 1928,
Belarmino Luiz Pessoa de Melo e Bento Franco Romeiro. De
1928 a 1930, Cel . Victor Vieira de Melo e João Pessoa Guerra
Já ao encerrar-se este triênio, vence a revolução defla
grada a 4 e vitoriosa a 24 de outubro pelos políticos que forma·
vam a Aliança Liberal, trazendo profundas modificações ao ce·
nário político nacional . Em Nazaré os revolucionários assumi·
ram o poder que foi confiado a uma Junta Governativa, campos·
ta de Flávio Pessoa Guerra , Benjam im de Oliveira da Costa Aze
vedo e Antônio Borba de Albuquerque Maranhão . (5)
Novos horizontes se descortinavam na vida político-ad-
ministrativa do país, trazendo sérias implicações ao Estado e
ao município com a vitória desse movimento revolucionário .

32
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - Livro de Atas do Conselho Municipal - 1889


foi . 9
Arquivo da Câmara Municipal de Nazaré da Mata

2 Leis Estaduais
Arquivo Público Estadual - Recife

3 - Livro de Atas do Conselho Municipal - 1889 - foi .


10
Arquivo da Câmara Municipal de Nazaré da Mata

4 Livro de Atas do Conselho Municipal


Arquivo da Câmara Municipal de Nazaré da Mata

5 - Coleção da Gazeta de Nazaré .

33
CAPITULO 111

NOVOS RUMOS DA ADMINISTRAÇÃO MUNICIPAL

A intensa movi mentação política que se verificou no ano


de 1930 em todo o país, comandada pela Aliança Liberal e que
resultou na revolução vitoriosa a 24 de outubro, trouxe como
conseqüência a transformação radical na vida administrativa do
país. Os erros do regime anterior deposto, tão combatidos e
postos em evidência pelos adversários da situação, a queda rá-
pida dos líderes políticos e dos responsáveis pela administra·
ção criaram nos novos líderes um certo grau de responsabili-
dade e maior preocupação pelo bem-estar do povo . Os triun-
fadores estavam, então, possuídos de novos ideais e maior dose
de boa vontade . Um clima de euforia reinava em todos os qua-
drantes. Na real idade , novos rumos e novas perspectivas se
abriam à vida político-administrativa do país .

Em Nazaré a mudança do regime se processou de manei-


ra quase pacífica, uma vez que a oposição não podia acusar o
governo de desacertos administrativos, pois à frente da admi-
nistração estava um homem que se impunha pe la honestidade,
por virtudes cívicas e bons serviços prestados desinteressada-
mente à comunidade : Cel . Victor Vieira de Melo . Os compo-
nentes do Conselho Municipal, na maioria proprietários rurais,
de independência econômica, apolíticos, estavam a serviço do
bem pú blico: Joaquim Correia de Andrade, João Deocleciano de
Araúj o Lima, Cristóvão de Hol anda Cavalcanti , Jessé de Holan-
da , Joaquim Canuto da Silva, Laurino Gomes de Morais Vascon-
celos, Joaquim Manuel Vieira de Melo, Antônio Gomes de Araú-
jo Pereira e Antônio Fabrício Praia.

35
Proclamada a vitória da revolução, assume a prefeitura
uma Junta Governativa composta dos senhores: Flávio Pessoa
Guerra, Benjamim de Oliveira Costa Azevedo e Antônio Borba
de Albuquerque Maranhão . Sem ódios e sem perseguições pes-
soais, o governo revolucionário procurou dar continuidade à vi -
da administrativa do município, aguardando as medidas que pu-
dessem ser tomadas pelas autoridades estaduais e federais.
Poucos dias depois, a 14 de outubro, por Ato n.° 42, o In-
terventor Federal no Estado, Carlos de Lima Cavalcanti, nomeia
para a função de prefeito a Antônio Borba Maranhão, já bastan-
te conhecedor dos problemas, que tinha a enfrentar, uma vez
que já ocupava o cargo de subprefeito no triênio 1919/1922.
Empenhou-se com decisão e boa vontade na procura de solução
de alguns problemas que vinham afetando a vida da cidade dois
dos quais de maior importância : abastecimento d'água e ilumi-
nação pública.
Querendo concorrer às eleições para prefeito constitu-
cional, solicitou exoneração do cargo que vinha exercendo, sen-
do substituído pelo bacharelando Ernesto Gurgel Valente que
governou o município por pouco tempo, mas gozando de sim-
patia e apoio da população. Deixou a função em março de 1936
por ter que ocupar outro cargo na Secretaria de Agricultura,
sendo substituído pelo sr . Manuel de Oliveira e Silva, senhor·
de-engenho e bastante acatado pelas virtudes de que era por-
tador . A 15 de agosto de 1936 reassume a prefeitura como pre·
feito eleito, Antônio Borba Maranhão . Foi a primeira eleição
realizada depois da revolução de 1930, quando se punha na prá-
tica o voto secreto. Com o prefeito constitucional foi igualmen·
te empossada a Câmara de Vereadores: Dr . Domingos de Abreu
Azevedo Vasconcelos, Dr . Manuel Neto Carneiro Campelo JLl-
nior, snta. Maria do Carmo Calabria, Braz da Rocha Perrelli.
Agripino Coelho, Joel de Lima, Hélio Coutinho, Dr . Manuel Pai-
va Sobrinho e Dr . Joaquim Correia .
Com o golpe de 1O de novembro de 1937 e a implanta-
ção do chamado Estado Novo, o país volta a situação de anor-
mal idade jurídica. Nazaré passa a sentir os reflexos deste no-
vo regime político, tendo uma série de prefeitos nomeados pe-
lo Interventor Federal no Estado. O primeiro a ser nomeado foi
José Vieira de Vasconcelos por Ato n.º 270 de 6 de dezembro
de 1937 . Dirigiu o município até 25 de abril de 1940, quando
foi substituído por Dr. Antônio Vieira de Vasconcelos, nomea-
do pelo Ato n.º 715. A sua ação à frente da Prefeitura durou até
31 de agosto desse ano, sendo, então nomeado Major Severino
Mendes de Araújo Pere ira por Ato n.º 1307 . Militar reformado

36
e com experiência de administração pública realizada em outro
município, dedicou-se à reforma administrativa e organização
das finanças. Consagrou especial atenção à melhoria e conser-
vação das estradas e à educação. Criou a Escola Granja Presi-
dente Vargas que posteriormente passou a ser administrada pe-
lo Estado. A 27 de julho de 1943 foi nomeado outro prefeito na
pessoa de Joel de Lima, por Ato n.º 1136 . Voltou seus cuidados
para o calçamento da Praça da Catedral e de outras ruas, para
melhoria das escolas do interior e principalmente para o servi-
ço de iluminação pública, sempre a desafiar as outras adminis-
trações . O seu mandato durou até 19 de dezembro de 1946,
quando foi substituído por Francisco Porfírio de Andrade Lima,
nomeado pelo Ato n.9 2928 . Até 15 de novembro de 1947, quan
do tomou posse o prefeito constitucional, Nazaré teve ainda
três outros prefeitos nomeados e que governaram por pouco
tempo: Hermínio José Arouxa, Major Carlos Afonso e Henrique
Xavier (1) .
Com a volta do país à normalidade constitucional, de-
pois do período chamado Estado Novo, Nazaré teve os seguin-
tes prefeitos eleitos para o prazo de quatro anos , sendo que a
partir de 1951 era eleito também o vice-prefeito. (2) Para o
primeiro período 1947 /1951 foi eleito o sr . Manuel Barbosa de
Vasconcelos. Para o segundo período 1951 /1955 foram eleitos
Antônio Germano Ribeiro, prefeito e Pedro Alcides de Figuei-
redo Lima, vice-prefeito . Em 1955 foi eleito o industrial Benja-
mim Azevedo Filho, cujo governo foi exercido na maior parte
pelo vice-prefeito, AI cedo de Oliveira Lira. Além dos serviços
urbanos de rotina, a prefeitura fez doação de terreno para cons-
trução de 50 casas na Vila Popular Juscelino Kubitschek, graças
à atuação de José Lamartine Távora, então funcionário do
l.A.P.C . Neste período foi inaugurada na cidade a energia elé -
trica da Chesf, resolvendo em definitivo o grande problema de
iluminação pública para cujo empreendimento muito trabalhou
o bispo diocesano, Dom João de Sousa Lima. De 1959 a 1963
governaram o município, Dr. Marcelo Nogueira que se tornara
muito popular no exercício da medicina e o acadêmico José Ger-
mano Ribeiro . Eleitos pela coligação P. T . B . e P. S. T . e graças
ao apoio do seu antecessor Dr. Marcelo Nogueira, assumiram
a prefeitura Torquato Ferreira Lima e Antônio Gomes Pereira
Júnior. Este período prolongou-se até 31 de janeiro de 1969 em
razão de modificação havida na legislação eleitoral . Nessa ad-
ministração foi construído o novo Mercado Público; no local do
antigo mercado construiu-se a Estação Rodoviária; foi amplia-
do e reformado o edifício da Prefeitura Municipal e construído

37
o Parque Infantil . Foram doados terrenos para construção do
Quartel do 2.º Batalhão da Polícia Militar, do Núcleo de Supervi-
são Pedagógica e Estação da Micro Onda . Várias ruas recebe-
ram iluminação com lâmpadas de mercúrio . Vencendo as elei -
ções pela legenda da ARENA, depois de agitada campanha polí-
tica, governaram o município de 1969 a 1973 Alcides Vieira de
Vasconcelos como prefeito e José Gomes Pereira como vice-
prefeito. Entre outras realizações , reformou e ajardinou a Pra-
ça João XXIII (praça da Catedral) e comprou à Diocese o prédio
do Ginásio São José, nele instalando as escolas municipais que
receberam o nome de Escolas Reunidas Aníbal Fernandes , em
homenagem a este nazareno. No seguinte quadriênio - 1973/
1977 foi substituído pelo Cel . Álvaro do Rego Barros, militar
reformado e José Vieira de Melo . Nesses quatro anos a Prefei-
tura reconstruiu a ponte que liga o bairro da estação, alguns
anos antes destruída pela enchente do Tracunhaém, ajardinou
um trecho da estrada BR-PE 408 na entrada da cidade e cons-
truiu três centros diversionais nos bairros operários da cidade .
A 31 de janeiro de 1977, assumiram a prefeitura Torquato Fer-
reira Lima Filho e George Negromonte, depois de agitada ca m-
panha política entre ARENA e MDB, vencendo esses candida-
tos da oposição.
No salão Nobre da Prefeitura há uma galeria de retratos
de todos os prefeitos. Todos eles, eleitos pelo povo em regime
democrático ou nomeados pelo governo estadual na fase da di-
tadura, desempenharam o seu mandato com maior ou menor
eficiência, deixando sempre algum traço de sua atuação na v i-
da pública . Pode-se, entretanto observar que a maioria dos pre-
feitos deixam-se envolver pela rotina administrativa e por preo~
cupações de natureza meramente política, sem a visão de tra
balhos de maior vulto que possam assegurar uma real modifi··
cação na vida econômica e social . O município se ressente de
verdadeiros líderes e de uma política agressiva e mais dinâmi·
ca no sentido do bem-estar público .

38
REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - Leis Estaduais - Arquivo Público Estadual - Recife


Biblioteca da Assembléia Legislativa - Recife .

2 - Coleção da Gazeta de Nazaré .

39
CAPITULO IV

SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E TERRITÓRIO

A cidade de Nazaré, situada à margem esquerda do rio


Tracunhaém, está distante da capital do Estado 52 Km, em linha
reta, 65 Km pela estrada pavimentada BR-PE 408 que liga o Es-
tado de Pernambuco ao da Paraíba e 72 Km pela linha férrea da
Rede Ferroviária do Nordeste, ramal norte que faz ligação com
os Estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará e 64 Km
da fronteira do Estado da Paraíba . As coordenadas geográficas
são: 7° e 45' de latitude sul e 35°, 13' e 50" de longitude WG
na direção NO. A sua altitude é de 52 met ros. Está edificada
numa região ligeiramente acidentada, não contando, todavia, com
elevações consideráveis .
A região é densamente povoada, ficando Nazaré a pou-
ca distância de outros centros urbanos, hoje politicamente inde-
pendentes, mas até poucos anos atrás integrantes de sua área
territorial . Está ligada a esses centros por boas estradas, qua-
se todas pavimentadas. Assim, está distante de Aliança 16 km;
de Vicência 19 km; de Buenos Aires 12 km; de Tracunhaém 6
km; de Carpina 12 km e de ltaquitinga 22 km . A população ab-
soluta é de 26 . 145 hs e a relativa é de 231 hs por km2 o que
mostra densidade bastante elevada. A sede tem a população de
16 . 806 . Estes números são estimativas baseadas no recensea-
mento de 1980 . O município está situado no vale do Tracu-
nhaém, rio que corre de sul para nordeste . As suas terras são
de grande fertilidade utilizada no cultivo de mandioca, cereais
e principalmente cana-de-açúcar, principal fonte de riqueza e es-
tão localizadas na micro-região mata seca do Estado, segundo
classificação do IBGE . O clima é quente e úmido com atempe-

41
ratura máxima de 31 º graus no verão e 18,5º graus no inverno .
Atualmente há 295 propriedades rurais devidamente cadastra-
das no INCRA com área cultivada de 12 . 422 ha .
A cana-de-açúcar constitui a base de sua vida econom1-
ca. Até uns 25 anos atrás, cada engenho era uma pequena in-
dústria que fabricava o seu próprio açúcar conhecido como açú-
car bruto, sendo o centro industrial conhecido como engenho
bangüê . O engenho ficou reduzido à parte agrícola, sendo as
canas levadas para as Usinas. O título de senhor-de-engenho,
outrora sinônimo de nobreza e aristocracia, foi substituído pelo
de fornecedor de cana . Há no município uma única usina, a Ma-
ta ri . As canas são conduzidas para outras usinas, como Alian-
ça, Barra, Petribu , Tiúma, Mussurepe e São José.
Quando Nazaré obteve a autonomia administrativa, o seu
território era bem maior do que atualmente, uma vez que abran-
gia o atual município de São Vicente Férrer e parte do de Ma-
caparana. Os documentos referentes à sua primitiva divisão ad-
ministrativa falam de São Vicente, hoje município autônomo e
de engenhos pertencentes ao município de Macaparana que fo.
ram distritos nazarenos . A divisão de seu território começou
a 30 de abril de 1864 quando, por Lei Provincial n.º 581 foi cria-
da a freguesia de São Vicente, desmembrando-a de Nazaré, bem
como os dois distritos que deveriam integrar no futuro o mu-
nicípio de Macaparana, Pindoba e Monte Alegre . Com esse des-
membramento o seu território ficou reduzido ao dos seis muni-
cípios que continuaram a integrar a área geográfica até a nova
divisão ocorrida em 1928 (mapa n.º 1) .
A Lei Estadual n.º 1931 de 11 de setembro de 1928 criou
os municípios de Vicência, Ali ança e Carpina tirados quase to·
talmente de Nazaré . Carpi na recebeu pequena parte de Pauda-
lho, e Aliança, de Goiana . Com a criação dessas novas unida-
des administrativas o que na realidade foi de considerável im-
portância social e econômi ca, Nazaré ficou com o seu território
bastante reduzido . Nova divisão veio ocorrer a 20 de dezem-
bro de 1963, quando da criação dos municípios de Tracunhaém
e Buenos Aires em virtude da Lei Estadual n.9 4951 . A sua área
ficou reduzida à superfície de 125 km2, tornando-se um dos me-
nores municípios do Estado (mapa n.° 2) .
Registrando este fato, reconhecemos ser isto fenômeno
natural de desenvolvimento dos povos . Uma mais racional di-
visão territorial facilita a administração e concorre para a me
lhoria de condições sociais para a população. O desenvolvimen·
to que as cidades de Aliança e Carpina, por exemplo, alcança-
ram, mostra bem que essa divisão lhes foi proveitosa enquanto

42
para Nazaré não houve desvantagem. São seus limites atuais:
ao norte: Aliança; a leste: Tracunhaém e ltaquitinga; a oeste:
Buenos Aires e ao sul : Carpi na.
Nazaré foi sempre um município de importância pela pro·
dução açucareira e pelo grande número de engenhos que pos·
suía. Em 1854 tinha o maior número de engenhos, 187 . Número
superior a Escada com 186 engenhos, que era também dos maio-
res do Estado. Já em 1914 possuía 147 engenhos a vapor e 42
a animais e alguns poucos movidos a água . (1)
Daremos em seguida a relação de todos os engenhos de
cada uma das unidades administrativas que integravam a área
territorial de Nazaré até 1928, no total de 239, de acordo com
os dados fornecidos pelas unidades municipais de cadastramen·
to do Incra . Este número certamente é bem menor do que o de
antigamente , uma vez que muitos engenhos foram divididos em
pequenas propriedades .

Engenhos de Nazaré

Ventura, Santa Fé, Santa Teresa, Canadá, Diamante , Ca-


pricho, Várzea Grande, Oratório, Lagoa d'Anta, Camarazal, Co·
queira, Tamataúpe, Alcaparrinha, Guanabara , Junco, Morojó, Ma·
nimbu, Santa Matilde, São João, Pedregulho, Lagoa do Ramo de
Baixo, Brejo, Pagi, São José, Pedra Furada, Salgado, Veludo, Lar-
ge, Teimoso, Bonito, Boa Sorte, Longal, Pirapora, Cumbe, Alca-
parra, Japaranduba . Total 36.

Engenhos do município de Carpina, que anteriormente


pertenciam a Nazaré. (Não citamos os que pertenciam ao mu·
nicípio de Paudalho).

Limeira Grande, Canadá, Floresta, Serraria , Brejinho, São


Francisco, Limeirinha, Cordeiro , Campo Grande, São João Batis-
ta, Angústias, Caramuru, Açude do Meio , Serra do Fonte, Rosá-
rio, Retiro, Santa Cruz. Total 17 .

Engenhos de Tracunhaém

Papicu , Dependência, Juá, Massangana , Mundo Novo, Ta ·


quara, São Pedro, Penedo Velho, Bringas, Primavera , Gutiubinha ,
Prado , Pasta, Brilhante, Ribingudo, Açude Grande, Cotunguba,
Saguim , Gambá, Abreus, Trapuá, Penedinho, Caraú , Olho d' Água ,
Santos Mendes, Bom Recreio, Progresso, Maroto, Limeirinha,
Calumbi, Cancela . Total 31 .

43
Engenhos de Buenos Aires

Boa Fé, Mundo Novo, Agua Branca, Conceiçao, Areia Bran-


ca, Belo Horizonte, Bandeirante, Tamataúpe de Flores, Cavalcan-
ti, Criméia, Boa Vista, Vasconcelos, Oratório, Jacaré, Mulata.
Total 15 .

Engenhos de Aliança

Albuquerque, Agua Comprida, Agua Nova, Agicé , Ajudan-


te, Agua Branca, Beleza, Baraúna, Borges, Brejo, Bela Vista, Bai-
xa Verde , Boa Vista, Curupaiti, Capibaribe, Cuieiras, Caetés, Ca-
já, Cipoal, Camaleões, Caricé, Cangaú, Cangauzinho, Cumbeba.
Cana Brava, Conceição, Cipó Branco, Esperança, Fortaleza, Fal-
cão, Gameleira, Gami leirinha, Guararapes, Humaitá, Jaguamirim ,
Jardim, Jaguaribe, Jucá, lagamar, limeira, Laureano, lagoa Seca
de Baixo, Mata limpa, Nova Vida, Maribondo, Maré, Monte Cla-
ro, Macacos, Matarizinho, Monte Alegre, Niterói, Natal, Pendên-
cia, Paraná, Paraguassu , Pindoba, Palmeira, Passagem, Poço Ca-
pibaribe, Ribeiro Grande, Retiro, Republicano, Rebelde, Regalia,
São Bento, Sítio Novo, Santo Antônio, São João, São Luís , Terra
Nova, Tabajara, Tupá, União, Vazante, Vertentes, Varzão, Pirauá,
Titara, Sirigi . Total 81.

Engenhos de Vicência

Montividéu, Tri gueiro, Acerto , Beleza, Ribeirão, São José.


Parós, Maltez, Sossego, Buraré, Ribeira , Pilão, Suruagi, Barra ,
laranjeiras, Sambaquim , lmbu , União, Jundiá, Firmeza, Taman-
duá, Belmonte, Salão, Viração, Bom Viver, Revira, Mulata, Jucá,
Vertentes, Teitanduba, Pombal , Ribeiro Grande, Trauíras, Taba-
tinga, Liberdade, Chã Grande, Poço Comprido, Ferro Velho, Mon-
tezuma, Bela Vista, Araticuns , Onça , Violento, Vicencinha , Aguas
Belas, Independência, lguape, Nova Vida, Canavieira, Jatobá,
Campina Verde, Pagi, Concórdia, Firmativo, Guanabara, Cachoei-
ra, Macaíba, Agua Doce . Total 59 .

44
REFER ÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Gaspar Perez e Apolônio Perez


A Indústria Açucareira em Pernambuco
Imprensa Industrial Neri da Fonseca - Recife - 1915 .

2 Informações colhidas nas Unidades Municipais de Ca-


dastramento do INCRA .

45
CAPITULO V

FASES DA VIDA RELIGIOSA

A - A Paróquia e seus vigários

Os moradores da Sesmaria de Laboa d'Anta de início per-


tenciam à freguesia de Goiana . Em razão da distância em que
se encontravam os fiéis da sede da freguesia e para maior co-
modidade dos mesmos quanto ao cumprimento dos deveres re-
ligiosos, passaram a depender da freguesia de Tracunhaém , em
vista do acordo firmado entre os respectivos vigários com a de-
vida anuência do bispo diocesano, D . Tomás da Encarnação Cos-
ta Lima .
Em 1790 foi construída uma capela na propriedade Laran-
jeiras, dedicada a São Joaquim, (foto 1) pelo seu proprietário
José Joaquim Velho de Melo que criou o respectivo patrimônio .
Essas terras, situadas na ribeira do Sirigi, tinham sido doadas
em sesmaria, por carta datada de 15 de fevereiro de 1701 pelo
Capitão Mor, Jerônimo Cavalcanti de Albuquerque Lacerda, Go-
vernador de ltamaracá em favor do Padre Manuel Lopes Guer-
ra e João Lopes Barbalho . Esta carta ratificou a doação que ha-
via sido feita ilegalmente pelo Governador de Pernambuco, Ber-
nardo Miranda Henrique em 1690, julgando que tais terras esti-
vessem encravadas em sua Capitania .
A povoação de Laranjeiras se desenvolveu, graças ao tra-
balho construtivo de seus moradores e à fertilidade das terras
do vale do Sirigi. Achando esses moradores a considerável dis·
tância da sede da freguesia e a população em franco crescimen-
to, resolveram as autoridades criar uma outra freguesia nessa
povoação . Assim, pela resolução de consu lta de 17 de dezem-

47
bro de 1821 foi criada a freguesia de Laranjeiras com território
desmembrado de Tracunhaém e de Bom Jardim . Foi nomeado
para exercer as funções de vigário, mediante concurso, o Pe .
Martinho Caetano Pegado que, apesar de desentendimentos com
o proprietário, José Francisco Belém, fez valer a sua provisão,
instalando a freguesia em 1825 na Capela de São Joaquim da
referida localidade que canonicamente foi elevada à categoria
de matriz . (1) Por razões não muito conhecidas, por falta de do·
cumentação adequada, as funções religiosas eram realizadas em
outras capelas da freguesia, até que em 30 de abril de 1839,
por Lei Provincial n.º 75, assinada pelo Presidente Francisco do
Rego Barros foi criada a freguesia de Nossa Senhora da Con-
ceição da Vila de Nazaré, extinguindo-se a de Laranjeiras . A
lei fixava os limites da nova freguesia, devolvendo parte do ter-
ritório a Tracunhaém.

Foto n." 1 - Capela do Engenho Laranjeiras - Foi restaurada


pela Usina Laranjeiras a que pertence .

48
Capela do Engenho Laranjeiras - Já foi restau rada pela Usina Laranjeiras
a que pertence
Matriz de Nazaré construída em 1858
Catedral de Nazaré da Mata
Tópicos de Ata do Conselho de Governo que cri ou a Vila e Comarca de
Nazaré
Franciscô <lo Hego Barros, Presiclecte ~ª.Província de
Pernambuco. Faço Sllber a ,\:)dos os seus IJab1iaotes 1 qu_c 1
.A6sembléa Legi~laliva Provincial Decretou 1 .e eu S,111cc10•
11ei a ResoluÇão segainte •.
· Art. 1. F1c<J ~reáJa uma Parochia na Cape1\a de N. Se-
nl1cra da Conceiç:iõ da Villa ele N'ai.arc:lh, fpnJo pot· limi-
le do N~scente o Rio Tracuu~em desde a f,:z rJo. 1:iacho .\'Ia.
tari até a passagem du me~ mo Rio, entr~ rs E11gf-11l10s Dia·
mante e ílreio; aQ Snl a Estrad!l que ~ep.ue <l'aqueJla passa-
~em pelos Enge:1hos _P.igi, e ~lol'<ij ó, Agoa branca, Angc-
licas, Poç~ cnm1w1 do , e la hal i11g,, ; "º Potnle ~ Not·te
servil'fo os m ·:sm :>s limites da Freguezia de La rangeiras,
que fica suppri lllÍ<la.
Art. '!, fica pertenrendo a Fregonia de Tracunhem
tocla a porçaõ da Freguer.ia de Laraugeiras, que estiver d<>
Sul e PJente <l'aqllella Esti:ada, .a qu al seguin do os pon--
tos notad os em o Ar t. ar.tece<lenh.• servirá por f'Sse Indo ele
<leman:~açaõ entre as duas Frf'guezias tlc Nalareth e Tracu-
nhern até onde encontrar terl"f·no da Frcgueiia do Bom Jar-
dim, continuanrlo a ficar lia comprehea~nõ da Freguezia
de Tracnnh em toda a parte do Nasccnle , e lado direilo <lo
me~ mo Rio , que lhe serve de devisaõ J esd e a passagem do
Diamanl~ , e Brejo , alé encontrar terreno de Goianna,.
guardan<lo·se por todos os outros lados as posses , e devi·
6Õt!s exist cn l~.
Art. 3. O aclual Vigario de Larangeira1 continuará na
Emprego de Parocho em a nova Faeguezia de Nazareth •
sem dependencia de mais ·: \pl'esentaçaõ , percebendo a mes-
ma cong ru a : · e mais direitos Parochiacs.
Art. 4. Ficão revdgadas &s Di~po~ições em c-ontrario.
l\fantlo por tanto a todas as A uthoridades a quem oco•
nhecimento e e:o::ecuçio da referida Reiolução pertencer que
a cumprão , e f.1ção cumprir tio inteiramente como nella se
contem. Q Secretario desta Pro vincia a laça imprimir ,
public.ar, e correr. Cidade do Recife de Pernambuco 3()
de Abril de 1839. DecÍIU•J oitavo da lndependencia e do Im-
perio.

L. s: Francisco ào Rego Barro1;

Texto da Lei que criou a freguesia de Nazaré


"Lei n.9 75 de 30 de abril de 1839:

Francisco do Rego Barros, Presidente da Provín-


cia de Pernambuco. Faço saber a todos os seus habi-
tantes que a Assembléia Legislativa Provincial decre-
tou e eu sancionei a resolução presente:

Artigo 1 - Fica criada uma paróquia na Capela


de Nossa Senhora da Conceição da Vila de Nazaré,
tendo por limite do nascente o rio Tracunhaém, desde
a foz do riacho Matary até a passagem do mesmo rio
entre os engenhos Diamante e Brejo; ao sul, a estra·
da que segue daquela passagem pelos engenhos Pagi
e Morojó, Água Branca, Angélicas, Poço Comprido e
Tabatinga; ao poente e norte servirão os mesmos li-
mites da freguesia de Laranjeiras que fica suprimi-
da.

Artigo li - Fica pertencendo à freguesia de Tra-


cunhaém toda a porção da freguesia de Laranjeiras
que estiver ao sul e poente daquela estrada , a qual se-
guindo os pontos notados no artigo anterior servirá
para esse lado de demarcação entre as duas fregue-
sias de Nazaré e Tracunhaém, até onde encontrar ter-
reno da freguesia de Bom Jardim, continuando a fi-
car na compreensão da freguesia de Tracunhaém
toda a parte nascente e lado direito do mesmo rio
que serve de divisão desde a passagem de Diamante
e Brejo, até encontrar terreno de Goiana, guardando-
se por todos os lad os as posses e divisões existen-
tes.

Artigo Ili - O atual vigário de Laranjeiras conti-


nuará no emprego de pároco de Nazaré, sem depen-
dência de mais apresentação, perceben do a mesma
côngrua e mais direitos paroquiais .

Artigo IV - Ficam revogadas as disposições em


contrário . Mando, portanto, a todas as autoridades a
quem o conhecimento da referida resolução perten-
cer que cumpram e façam cumprir t ão intei ramente
como nela se contam. O secretário desta Província a
faça imprimir, publicar e correr . Cidade do Recife de
Pernambuco, 30 de abril de 1839, décimo oitavo da In-
dependência do Império". (2)

49
A nova freguesia teve logo depois novo vigário na pessoa
do Pe . Cristovão de Holanda Cavalcanti que exerceu o múnus
até o ano de 1856. Uma vez instalada a paróquia, foi canonica-
mente elevada à categoria de matriz a pequena ermida dedica-
da a N . S . da Conceição de Nazaré, construída em terras de
Lagoa d' Anta. Em 1839 esta povoação já era de considerável
importância, "contava com 208 prédios, tinha muita animação e
um comércio assaz desenvolvido, constando de uns cinqüenta
estabelecimentos e com feira semanal abundante e concorridís·
si ma". Em 1858 esta matriz não mais atendia às necessidades
espirituais da população, sendo construído no mesmo local ou-
tro templo pelo missionário capuchinho , Frei Caetano de Mes-
sina . (foto 2) Este templo se rviu à família nazarena até 1924,
quando foi reformado, dando lugar à atual catedral. (foto 3) O
mesmo missionário construiu também a capela de São Sebas-
ti ão junto ao ce m itério, a qual foi reformada em 1882 por outro
missionário, Frei Venâncio de Ferrara . (3)
Segue-se a relação dos vigários que exerceram o paro-
quiato desde a criação canônica, 30 de abril de 1839 até o pre-
sente.

Pe . CRISTÓVÃO DE HOLANDA CAVALCANTI E ALBU·


QUERQUE, o primeiro vigário, a quem coube instalar a nova fre-
guesia e tomar as primeiras medidas de ordem administrativa .
Dirigiu a freguesia desde sua criação, 30 de abril de 1839 a ju-
lho de 1856 .

Pe . JERôNIMO JOSÉ PACHECO DE ALBUQUERQUE MA·


RANHÃO, pertencente à nobre linhagem dos Albuquerque Ma-
ranhão, já radicada em Nazaré . Em razão de sua avançada ida-
de, teve como pró-pároco para lhe ajudar nas lides pastoriais
o Pe . Zeferino Dornelas Câmara . Esteve à frente da freguesia
de julho de 1856 a outubro de 1870 .

Cônego Dr . LUIZ FERREIRA NOBRE PELINCA, de outubro


de 1870 a novembro de 1873 . Era possuidor de notável cultura
e governou a paróquia nos dias agitados da questão religiosa,
decorrente da luta entre a Igreja e a Maçonaria, da qual resul-
tou a prisão e condenação do Bispo D . Vital .

Pe . ANíSIO DE TORRES BANDEIRA que governou a fre-


guesia por quase 25 anos , de novembro de 1873 a fevereiro de
1898. Foi eleito o primeiro prefeito do município, após a pro·
clamação da República, função que exerceu por poucos meses,

50
em razão de problemas políticos de âmbito nacional . Na prefei-
tura se conserva uma casula, peça usada na celebração da mis·
sa, que pertenceu a ele .

Cônego MANUEL DEUSDETE DE ARAUJO PEREIRA - Es-


teve à frente da paróquia por pouco tempo, de abril de 1898 a
março de 1900 .

Pe. FREDERICO ANTôNIO DE OLIVEIRA - Realizou efi-


ciente paroquiato, desfrutando de bastante simpatia de seus pa-
roquianos. No seu governo foi instalada a Pia União das Filhas
de Maria , a 8 de dezembro de 1902 . Esteve à frente da paró-
quia de setembro de 1900 a maio de 1913 .

Pe. ZACARIAS BARTOLOMEU DE SOUSA E SILVA que


regeu a freguesia de maio de 1913 a abril de 1916 .

Pe . JOÃO FIRMINO CABRAL DE ANDRADE, de abril de


1916 a julho de 1917 .

Pe . VIRG(NIO STANISLAU AFONSO, cujo paroquiato foi


de dezembro de 1917 a março de 1920. A ele coube a missão
de presidir as comissões encarregadas do levantamento do pa-
trimônio necessário à instalação da Diocese e tomar as medi-
das para a sua erecção canônica e recepção do primeiro Bispo .
Posteriormente foi vigário de Timbaúba, onde proferiu sermões
inflamados contra a maçonaria local .

Depois de criada a Diocese , a paróquia foi dirigida pelos


Padres ALBERTO DE ALBUQUERQU E AZEVEDO e EUGÊNIO DE
MEDEIROS VILANOVA.

A partir de 1923 assumiu a paróquia o Pe . JOÃO DA MA-


TA AMARAL, o primeiro padre ordenado por D . Ricardo Vilela
a que se ligou por profunda amizade e dedicação filial . O Pe .
Mata que exerceu também a função de Secretário do Bispado
e Reitor do Seminário Menor, realizou eficiente e proveitoso
paroquiato. Adquiriu para a Diocese a tipografia da Gazeta de
Nazaré . Foi posteriormente transferido para a paróquia de Bom
Jardim onde foi eleito bispo de Cajazeiras na Paraíba. Dessa
Diocese foi para a de Niterói, onde faleceu .
Em janeiro de 1929 foi nomeado vigário o Pe. FERNAN-
DO PASSOS que continuou a obra apostólico-missionária do Pe .
Mata . Sempre se distinguiu pela palavra fluente e admirável

51
eloqüência . Exerceu ainda o paroquiato em També, Goiana e
Limoeiro, onde faleceu .
Por poucos meses foi vigário Pe. JÚLIO BARBOSA DE
MOURA, logo substi t uído pelo Pe. SEVERINO MARIANO DE A·
GUIAR que também exerceu a função de Diretor Espiritual do
Seminário . Foi tempo depois para Campina Grande na Paraíba,
onde foi eleito bispo dessa Diocese, transferido posteriormen-
te para a Diocese de Pesqueira, onde renunciou .

De 1933 a 1936 foi vigário o Pe. JOSÉ PEREIRA DE AS·


SUNÇÃO que teve como cooperador o Pe . Gentil Diniz Barre·
to que exerceu o paroquiato em També, Orobó, Vertentes e Li-
moeiro e é hoje bispo de Mossoró no Rio Grande do Norte . Foi
e Pe. Assunção que presidiu as solenidades comemorativas do
primeiro centenário de Nazaré, em 1933 . Hoje é pároco de San-
ta Cruz do Capibaribe .
Sucedeu-lhe no paroquiato o Pe . José Vicente Távora que
transferido para Goiana dedicou-se ao apostolado operário. Por
isto foi para o Rio de Janeiro como Assistente Nacional do Mo-
vimento, onde foi eleito Bispo Auxiliar do Rio e depois Bispo
Diocesano de Aracaju, onde faleceu.
A 25 de maio de 1938 assumiu a paróquia o Pe. JOÃO
JOSÉ DA MOTA E ALBUQUERQUE que dedicou muito trabalho
pe la construção da Igreja Catedral. Promoveu as solenidades
comemorativas do primeiro centenário da paróquia, ocorrido a
30 de abril de 1939 . Por questão de saúde, deixou a paróquia,
dedicando-se ao magistério. Na direção do Ginásio São José
prestou relevante serviço à cultura e vida social da mocidade
da região e da comunidade. A 12 de janeiro de 1957 foi eleito
Bispo da Diocese de Afogados da lngazeira, donde foi transfe-
rido para a Diocese de Sobral, estando hoje à frente da Arqui-
diocese de São Luiz do Maranhão. A 28 de março de 1941 o Pe .
Mota foi substituído pelo Pe . LUIZ FERREIRA LIMA que entre
outras atividades, terminou as obras de construção da Catedral.
Obteve de influentes filhos de Naza ré va liosas doações como
o piso em marmorite do presbitério, os altares , grade da comu-
nhão e púlpitos em mármore e as portas em madeira talhada .
Foi em 1945 transferido para a paróquie1 de Surubim, onde rea-
lizou grandes obras para a vida social e religiosa daquela cida-
de do Agreste . Assim, construiu Hospital, Posto de Puericultu-
ra , Escola Profissional , Ginásio, Casa Paroquial e Matriz . Foi
por duas vezes prefeito desse município . Exerceu o mandato
de Deputado Estadual e de Suplente de Deputado Federal . Ho-
je é Cura da Catedral de Brasília .

52
Em 1946 foi nomeado v1gano o Pe . OTTO SAILER, ale·
mão que fora ordenado sacerdote nesta Diocese. Indo para a
paróquia de Taquaretinga, teve como sucessor o Pe . ANTôNIO
LEITÃO DE MELO que, entre outras cousas adaptou um salão
existente na Rua Joaquim Nabuco em Residência Paroquial e
organizou as solenidades de posse do novo Bispo D. Carlos
Coelho . Nomeado para outra paróquia foi substituído pelo Pe .
PETRONILO PEDROSA, que, além das atividades paroquiais, ini-
ciou a construção da capela de São José do bairro do Sertãozi-
nho. Nomeado pró-pároco de Carpi na, ficou em seu lugar o Pe.
CARLOS NEVES CALÁBRIA em cujo paroquiato celebrou-se o
cinqüentenário da Pia União das Filhas de Maria e o Jubileu Sa-
cerdotal do Bispo de então, D . João de Sousa Lima .
Em seguida exerceu o paroquiato o Pe . MÁRIO TAVARES
LEITÃO que teve a missão de comandar as solenidades de re-
cepção e posse do 4.0 e 5. 0 Bispos, respectivamente D . Manuel
Pereira da Costa e D. Manuel Lisboa de Oliveira . Exerceu gran-
de atividade na organização dos sindicatos dos trabalhadores
rurais. Foi em fevereiro de 1979 nomeado para a paróquia de
Vertes, ficando em seu lugar o Pe . José Aragão da Silva que
também exerce as funções de coordenador da Pastoral Dioce-
sana .
Em muitas ocasiões vigários de paróquias vizinhas, co-
mo Tracunhaém e Lagoa Seca atuaram como vigários substitu-
tos. Outros padres aqui residentes, como Petrônio Barbosa,
Odilon Pedrosa, João Machado de Sousa e Otacílio Pimenta
também prestaram serviços à paróquia .
Longa é pois a relação de sacerdotes que de alguma ma-
neira colaboraram nos serviços paroquiais desta comunidade
nestes 143 anos de sua existência.

B- A Diocese e suas realizações

Fato de suma importância para a vida de Nazaré foi a sua


elevação à sede de Diocese . Criada a nova circunscrição ecle-
siástica, cujo território fora desmembrado da Arquidiocese de
Olinda e Recife, Nazaré passou a ser teatro de acontecimentos
que imprimiram novos rumos à sua história . Várias circunstân-
cias devem ter influído na sua escolha de preferência a outras
cidades que pleitearam esse privilégio . Em primeiro lugar, de-
ve ter contribuído a situação geográfica, por ser Nazaré ce n-
tro dessa região hoje chamada mata-norte do Estado . Out ra ra-
zão mais forte era a posição social e econômica que desfruta-
va então, como município açucareiro de maior importância . Ra-

53
zão outra mais íntima e que deve ter passado bastante foi o fa-
to de ser o Secretário particular de D . Sebastião Leme, Arce-
bispo de Olinda e Recife a quem competia executar o proces-
so de criação da nova Diocese, Pe. Virgílio Lapenda, de famí-
lia nazarena e que muit o se empenhou pela escolha de sua ci-
dade.

A 2 de março de 1918, D. Sebastião Leme visitou Naza-


ré, falando aos líderes sobre as medidas a serem tomadas pa-
ra a concretização desse objetivo , criando-se uma comissão pa-
ra levantamento de recursos necessários à formação do patri-
mônio. A idéia foi recebida com satisfação e entusiasmo, mo-
vimentando-se neste sentido t odas as famílias nazarenas . A 2
de agosto desse ano de 1918 foi recebida com imenso jubilo a
notícia da criação da Diocese pela " Bula Archidioecesis Olin-
densis Recifensiis" do Papa Bento XV . Para regê-la foi escolhi-
do a 3 de abril de 1919, Pe . Ricardo Ramos de Castro Vilela
que exercia o paroquiato na cidade pernambucana de Gravatá.
A 7 de setembro desse mesmo ano, na velha Catedral de Olin-
da era sagrado o primeiro Bispo de Nazaré. Nessa mesma oca-
sião era sagrado igualmente o primeiro Bispo de Garanhuns D .
João Tavares de Moura, de família nazarena. D. Ricardo tomou
posse do sólio episcopal a 19 de outubro . A sua atuação no go-
verno diocesano foi das mais eficientes. Várias instituições fo-
ram surgindo graças a seu trabalho. Percorreu todas as paró-
quias num trabalho constante de evangelização; criou várias
paróquias novas para melhor atender ao bem espiritual de seu$
diocesanos; reconstruiu a catedral; construiu o Salão Bento XV
que prestou valioso serviço à vida sacio-educacional da cidade;
dedicou especial atenção à formação do clero diocesano, ::ibrin-
do para isto o Seminário Menor; influiu diretamente na criação
de vários educandários em diversas cidades da diocese, como
Timbaúba, Carpina, Surubim e Bom Jardim; apoiou a aquisição
do jornal "A Gazeta de Nazaré" que passou a ser órgão de ori-
entação católica. Governou a Diocese 27 anos até que a doen-
ça o impeliu a apresenta r renúncia. No Recife , onde desempe-
nhou a função de capelão militar, faleceu a 7 de agosto de 1958.
Pelo seu porte aristocrático, pela imponência que sabia impri-
mir às cerimônias religiosas que presidia, pela eloqüência e
cultura de que era portador, pela consciência bem viva de sua
missão apostólica e espírito de empreendimento, D . Ricardo
ocupa um lugar de real destaque na galeria dos que fizeram a
história de Nazaré. Ordenou mais de 30 sacerdotes dos quais
6 foram eleitos bispos.

54
Aceita a renúncia que havia sido enviada à Santa Sé e
achando-se vaga a Diocese, foi escolhido pelos Consultores Dio-
cesanos para a função de Vigário Capit ular Pe . José Marques
da Fonseca, pároco de Timbaúba. Em janeiro de 1948 foi eleito
o segundo bispo na pessoa do Pe . Carlos de Gouveia Coelho
do clero da Arquidiocese de João Pessoa e que então desem-
penhava a função de Secretário da Educação do Estado da Pa-
raíba . Foi sagrado a 16 de maio desse ano na Catedral de .João
Pessoa, tomando posse de sua Diocese a 25 de maio . Iniciou
seu trabalho o lema da caridade - ln caritate Christi - pro-
curou restaurar as finanças da Diocese, reorganizou adminis-
trativamente as paróquias , incentivou o ensino religioso nas
escolas, organizou proveitosas semanas catequéticas diocesa-
nas e construiu o prédio da Escola Profissional .

Depois de 7 anos de governo , cuja ação se mani f estou


tanto na vida religiosa, através de visitas past orais reali zadas
num novo estilo, como em atividades promocionais , estimulan-
do a criação de órgãos específicos , chamados Aç ão Paroquial
de Assistência e Postos de Puericultura, foi t ransferido para a
Diocese de Niterói e posteriormente para Olinda e Recife, on-
de faleceu . Com a nova vacância, assumiu o governo interino
como Vigário Capitular o Pe . José Marques da Fonseca já en-
tão agraciado com o título de monsenhor .
A 12 de fevereiro de 1955 foi eleito o terceiro Bispo, D .
João de Sousa Lima, pernambucano de Tacaratu , ordenado pa-
dre na Diocese de Pesqueira e então Bispo Auxi liar da Dioce-
se mineira de Diamantina. Sua posse verificou-se a 19 de maio
desse ano . Inspirado no movimento "por um mundo melhor",
empenhou-se na rea lização de obras de caráter social, presi-
dindo e incentivando a celebração de semanas ruralistas e ca-
tequéticas . Participou de reuniões de prefeitos da região, le-
vando-os a obter ajudas oficiais para as respectivas comunas .
Muito contribuiu para a instalação da energia da Chesf em Na-
zaré . Com apenas 4 anos de administração, foi nomeado Arce-
bispo de Manaus, de cujo governo se afastou por motivo de do-
ença . Pela terceira vez foi escolhido Vigário Capitular Mons .
José Marques da Fonseca, pároco de Timbaúba . Com quase
cinqüenta anos de paroquiato nessa cidade, Mons . Marq ues
continua à frente dos trabalhos paroquiais , merecendo est ima
e admiração de todos . E uma das mais venerandas figuras do
clero diocesano, admirado pela sua cultura jurídica e pelo zelo
por tudo que diz respeito ao bem espiritual dos seus paroquia-
nos.

55
O quarto bispo foi o Exmo. Sr . Bispo D . Manuel Perei-
ra da Costa, na época Vigário Capitular da Arquidiocese de João
Pessoa . Tomou posse a 4 de outubro de 1959 . A su a permanên-
cia no sóli do epi scopal de Nazaré foi de pouco tempo, indo pa-
ra a Diocese de Campina Grande. Dest a vez foi el eito Vig ário
Capitular Pe . Carlos Neves Cal ábria que ocupava o cargo de se-
cretário geral do bi spado .
A 2 de março de 1963 foi eleito o quinto Bispo na pes-
soa de Pe . Manuel Lisboa de Oliveira que ocupava o cargo de
secretário do bispado de Bonfim, cidade do sertão baiano . Foi
sagrado a 26 de maio na Igreja do Mosteiro de São Bento em
Salvador, tomando posse a 16 de junho . Entre outras realiza-
ções adquiriu uma propriedade em Carpina, onde construiu uma
Escola Profissional , Centro de Treinamento e Casa de Retiro .
Na sede da Diocese construiu a residência episcopal .
Nos anos que se seguiram à criação da Diocese, Naza-
ré experimentou um surto de progresso com o aparecimento
de agremiações sócio-religiosas e de instituições de natureza
econômica e educacional.

C - Os templos religiosos

Neste capítulo referente à vida religiosa é conveniente


ressaltar um fato que comprova o sentimento de profunda re-
ligiosidade dos antepassados : a existência de capelas ou tem-
plos religiosos não somente nas povoações e muitas delas fo-
ram primitivamente simples engenhos , nas localidades que se
conservaram como pequenos aglomerados humanos, ainda ho-
je existentes com o nome de engenho. Era o triângulo de que
falava Gilberto Freyre: casa grande, capela e engenho (casa on-
de se instalava a máquina de moer cana e fazer açúcar).
Ainda hoje são essas capelas ponto de reunião da gen-
te do campo , centro de vida espiritual, onde se faz o trabalho
de evangelização, se celebra o culto divino e se administram os
sacramentos. E sobretudo nessas missas de capela, celebra·
das mensal ou periodicamente que o vigário se encontra com
o povo da zona rural .
Duas destas capelas existentes nesta região foram tom-
badas pelo Patrimônio Histórico Nacional pela sua antiguidade
e valor artístico: as Capelas do Engenho Poço Comprido e do
Engenho Bonito . Outras há que se não tão valiosas artistica-
mente, são mais do que centenárias, como a do Engenho Ca-
ciculé construída em 1763; do Engenho Laranjeiras em 1790;
da Usina Matari em 1872 e do Engenho Junco em 1874. Muitas

56
outras são também antigas, embora não seja possível precisar
a data de construção, como as dos engenhos: Primavera, Can-
gaú, Veludo, Pasta, Terra Nova, Tupá, Caraú, Bringas, Cotungu-
ba, Maroto, Manimbu, Rosário, Conceição, Tabatinga, Morojó,
Criméia, Japaranduba, Nova Vida , Cipoa l, Tamataúpe, Lagoa
d' Anta , Usina Aliança e Usina Barra. Em outros engenhos exis-
tem capelas menores e de construção mais recente . Em alquns
não havia capelas , mas havia santuários no recanto do alpen-
dre, como nos engenhos Acerto e Taquara, ou na própria sala
de visitas , como no engenho Juá .
Essas capeléls e oratórios falam de uma maneira bem elo-
qüente do sentimento de religiosidade dos antepassados, do es-
pírito de piedade e de fé que plasmaram as nossas famílias ao
longo da história, inspirando sempre aquele clima de respeito
que envolvia a casa grande e toda a vida rural . Pois, era nes-
sas capelas que se celebravam as festas religiosas , casamen-
tos e batizados que serviam para estreitar os vínculos de união
entre as famílias .

57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - Pereira da Costa - Anais Pernambucanos - vai V.


pg . 24

2 Leis Provinciais - Arquivo Público Estadual - Recife

3 Pereira da Costa - Anais Pernambucanos - Vai . IX


- pgs . 528/ 529

4 - Livros de Assentamentos de bat izados e casamento~


das paróquias de Laranjeiras e Nazaré - Arquivo da
Paróquia de Nazaré

5 - Livro de Registro de Provisões da Cúria Diocesana -·-


Nazaré da Mata

6 - Coleção da Gazeta de Nazaré .

59
CAPITULO VI
VIDA JUDICIARIA

Elevada à categoria de Vila, Nazaré fo r pelo mesmo Ato


do Conselho do Governo constitu ída sede de Comarca , adqui-
rindo não somente autonomia político-administrativa, como ju·
diciária . A sua jurisdição se estendia ao território do próprio
município integrado pelas freguesias de Tracunhaém e Laranjei·
ras e mais o termo da Vila de Paudalho . As primeiras autorida-
des encarregadas da administração da justiça foram cidad ãos
d'esta comunidade escolhidos pelo Conselho Municipal . Os pri-
meiros eleitos foram : juiz municipal, José de Holanda Albuquer-
que Maranhão; juiz de órfãos, conselheiro Amaro José Lopes
Coutinho e promotor público, José Porfírio Lobo de Andrade .
1 Não me foi possível fixar a data do início e do término

do l}landato de cada juiz, uma vez que foram imprecisas as in-


fol-mações colhidas nas repartições competentes . As datas
apresentadas na relação abaixo se referem ao período médio do
mandato de cada um, exercendo a sua funçãa um pouco antes
e um pouco depois . Esses dados foram obtidos revendo os vá·
rios processos dos Cartórios e a Correspondência dos Juizes,
M . S . do Arquivo Público Estadual - Recife , Não figuram nes-
ta relação os daqueles que atuaram no Forum nazareno como
juiz interino ou substituto, muitas vezes de cidades vizinhas.
Houve tempo em que havia na Comarca juiz de Direito e juiz
Munic ipal, além de juizes de Paz nos distritos .
Juizes houve que não se limitaram a exercer o seu man·
dato com integridade moral e absoluta isenção de espírito, mas
se integraram perfeitamente na vida da cidade. Como exemplo
vale citar o caso de Dr . Felisberto dos Santos Pereira que, além

61
de juiz, exerceu o magistério em vários estabelecimentos de
ensino da cidade, foi diretor de colégios e membros de agre-
miações de caráter religioso e social . Outro caso de influência
bem ampla na vida do município foi o do Dr . Djalma Tavares
d.a Cunha Melo que conseguiu apoio das classes produtoras,
obtendo recursos para a construção do edifício do Forum .

Eis a relação dos magistrados que atuaram na Comarca


de Nazaré:

Em 1833 - José de Holanda de Albuquerque Mara-


nhão
Em 1836 - João Batista Paes Barreto
Em 1840 - Dr. Joaquim Manuel Vieira de Melo
Em 1842 - Dr . José Bandeira de Melo
Em 1851 - Dr . João Francisco Duarte Júnior
Em 1860 - Dr . Herculano Antônio Pereira da Cunha
Em 1875 - Dr. João Hircano Alves Maciel
Em 1883 - Dr . Hisbelo Florentino Correia de Melo
Em 1886 - Dr . Carlos Augusto Vaz de Oliveira
Em 1898 - Dr . Abdias de Oliveira
Em 1907 - Dr . Pedro Camilo
Em 1908 - Dr . Pedro Luiz Pessoa de Melo
Em 1915 - Dr. Timo leão Augusto de Albuquerque
Maranhão
Em 1917 - Dr. Fiácrio de Oliveira
Em 1922 - Dr . Felisberto dos Santos Pereira
Em 1930 - Dr. Renato Barbosa da Fonseca
Em 1934 - Dr. Djalma da Cunha Melo
Em 1940 - Dr. Sócrates Gonçalves de Medeiros
Em 1942 - Dr . Agrício da Silva Brasil
Em 1948 - Dr. Benedito Marques
Em 1955 - Dr . Adelson Antão de Carvalho
Em 1960 - Dr . Salustiano Cavalcanti de Albuquet·
que
Em 1964 - Dr . Clodoaldo Peixoto de Oliveira
Em 1965 - Dr. Carlos Xavier Paes Barreto
Em 1968 - Dr . Valdir Barbosa
Em 1978 - Dr. Joaquim Rodrigues de Castro .

JUSTIÇA TRABALHISTA

A criação da Organização Internacional do Trabalho


(O . 1. T . ) órgão ligado à Liga das Nações que surgiu depois da

62
primeira grande guerra por sugestões de Wilson, Presidente dos
Estados Unidos da América do Norte, marcou uma fase decisi-
va no mundo do trabalho e nas relações entre patrões e operá-
rios . No Brasil foi a partir da década de 30 que começaram a
aparecer as leis trabalhistas e as instituições de previdência
social . Nesses cinqüenta anos essas leis foram-se multiplican-
do e as instituições aperfeiçoando-se . Toda legislação a respei-
to acha-se condensada na Consolidação das Leis Trabalhistas
(C . L . T .) . E como as questões relativas ao campo do trabalho
foram se avolumando, fez-se necessário a criação de um tribu-
nal específico, desligado do civil e do crime, o que deu origem
à justiça trabalhista . A partir de 1960 os Tribunais de Justiça
do Trabalho localizados nas Capitais tiveram suas atividades des-
centralizadas com a criação das Juntas de Conciliação e Julga-
mento .

A lei federal n.9 4088 de 12 de julho de 1962 criou a Jun-


ta de Nazaré que foi instalada na primeira audiência realizada
a 14 de junho de 1963 . No momento de sua criação , a Junta de
Nazaré tinha jurisdição sobre os seguintes municípios : Pauda-
lho, Carpina, Limoeiro, Bom Jardim, João Alfredo, Orobó, Passi-
ra , Cumaru, Lagoa de ltaenga, Aliança , Tracunhaém , Buenos Ai-
res, Vicência, Timbaúba, Macaparana e São Vicente Férrer . Co-
mo os trabalhos se avolumassem, particularmente nesse perío-
do de 60 a 64, foi por Lei n.º 5650 de 11 de dezembro de 1970
criada a Junta de Conciliação e Julgamento de Limoeiro, fican-
do essa Junta com jurisdição sobre Paudalho, Lagoa de ltaenga,
Carpi na, Passira , Bom Jardim, Orobó , Cumaru e João Alfredo .
Os outros municípios continuaram sob a jurisdição da Junta de
Nazaré . De início essa Junta funcionava num prédio cedido pe-
la Prefeitura Municipal, onde estava instalado o motor que for-
necia energia elétrica à cidade, antes da Chesf. Daí o dizer-se
quando alguém ia tratar de algum negócio na justiça trabalhis-
ta : " ia para o motor velho" . O primeiro juiz titular foi Dr . Cló-
vis Valença Alves que exerceu suas funções numa fase de mui-
ta agitação na vida rural , em razão da atuação das Ligas Cam-
ponesas e dos Sindicatos Rurais e quando iam surgindo as pri-
meiras leis de amparo aos trabalhadores da lavoura . Demons•
trou bastante autoridade e energia em dirimir as questões e
julgar os processos . A ele seguiram-se outros titulares: Dr . He-
ráclito Buarque Cesar Melo, Dr . Manuel de Barros Neto e Dra .
Ana Maria Schler Gomes. Outros juízes desempenharam idên-
ticas funções nessa Junta, mas por pouco tempo , no impedi-
mento dos titulares .

63
É atualmente seu titular Dr. Francisco Ozanir Lavor .
Desde a instalação da Junta desempenhou a função de
Diretor do Expediente até o ano de 1979, quando se aposentou
o bacharel Lauro Moura Maranhão.

CARTÓRIOS

Quatro Cartórios integram a vida forense da comarca:


O 1.° - Primeiro Cartório, privativo de registro
de imóveis, títulos e documentos . É seu titular Da .
Judite Veras Trajano .

O 2.0 - Cartório, privativo de protestos, tem co-


mo titular Da. Maizia Caminha Vieira de Melo.

O 3.º - Cartório, privativo de órfãos, tem como


titular o sr . José Veiga Pessoa . Aos três cartórios
são distribuídos os demais processos e atividades fo-
renses. O Cartório Eleitoral tem as suas funções de-
sempenhadas periodicamente por um dos três referi-
dos Cartórios.

Além desses há o Cartório de Registro de Nas-


cimento, Casamentos e óbitos que está sendo ocupa-
do pela escrivã Sra . Lindomar do Monte Magalhães .

POLICIA MILITAR

A fim de melhor atender ao policiamento do Estado, fo-


ram, no governo Paulo Guerra, construídos quartéis e localiza-
dos batalhões da Polícia Militar em várias cidades , centros de
determinadas regiões . Assim que em Nazaré foi também cons-
truído um desses Quartéis, cuja inauguração se verificou a 1O
de dezembro de 1966, instalando-se o 2.0 Batalhão com área de
atuação constante de 36 municípios: Aliança, Buenos Aires,
Bom Jardim, Carpina, Chã de Alegria, Cumaru, Camutanga, Con-
dado, Feira Nova, Frei Miguelinho, Ferreiros, Glória do Goitá,
ltambé, ltamaracá, lgarassu, ltaquitinga, João Alfredo, Lagoa de
ltaenga, Machados, Macaparana, Orobó , Passira, Paudalho, Su-
rubim, Salgadinho, Santa Maria de Cambucá, São Vicente Fér-
rer, São Lourenço da Mata, Timbaúba , Taquaritinga do Norte.
Tracunhaém , Vertentes e Vicência . Nazaré da Mata que é a se-
de e os municípios de Limoeiro e Goiana onde estão locali za-
das a 2a . e 3a . CPMs, respectivamente .

64
O seu efetivo é de 900 homens distribuídos pelos desta-
camentos dos diversos municípios de sua atuação, incluindo ofi -
ciais e soldados . Foram Comandantes desse Batalh ão desde a
sua instalação : Tenentes Coronéis Dagoberto Rodrigues de Mou-
ra , José Mariano Bezerra, Propércio de Moraes Serrano, João
de Alencar Monteiro, Cícero Laurinda de Sá, Francisco Leovigil ~
do de Albuquerque Maranhão Neto, Pitágoras Pacheco Duque,
José Fernando Pontes Soares Filho, Marcos Venício Loureiro de
Oliveira, Aldivas Batista dos Santos , João Machado de Gouveia ,
Eloi Moury Fernandes e o atual Otmar Barros Xavier .

65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - M . S . Correspondência dos Juizes


Arquivo Público Estadual - Recife

2 - Processos e Documentos existentes nos Cartórios da


Cidade

3 Coleção da Gazeta de Nazaré

4 Arquivo da Junta de Conciliação e Julgamento e do 2.q


BPM de Nazaré da Mata .

67
CAPITULO VII

INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS

Uma das paginas mais densas de espírito público e de


serviço prestado à comunidade é a que diz respeito à educa-
ção. Os diversos estabelecimentos de ensino que foram sur··
gindo em épocas diferentes mostram bem esta preocupação
ce servir e de ajudar ao próximo . Essas instituições traduzem
de um lado certa ânsia de cultura, base de verdadeiro progres-
so; de outro lado, a receptividade e a aceitação por parte da-
queles em benefício de quem eram criadas . Se na realidade
muitas escolas existiram e desapareceram ao longo dos anos,
não deixaram de produzir alguns bons frutos, fixando marcos
na caminhada da vida da comunidade . De escolas e de mestres
testemunha a história, referindo-se aos seus feitos e à sua
ação construtiva. Escolas e mestres houve, todavia, que Fica-
ram no anonimato, cujos nomes não ficaram em páginas de jor-
nais, nem em folhas de arquivo . Não passaram à história . Mas
as suas lições e os seus feitos ficaram bem gravados na men-
te de muitos que, também no anonimato e no silêncio, fizeram
bastante pela sua terra. As pessoas antigas de Nazaré se re-
cordam dos nomes de pessoas, cujas lições de saber e de vir-
tude foram transmitidas menos por palavras do que pela vivên-
cia, deixando exemplos bem marcantes .
No frontispício de um educandário de 1.0 Grau desta ci·
dade está gravado o nome de Dom Vieira . Nome que lembra
figura simples e modesta, quase imobilizada por defeito físi-
co, mas portadora de admirável força moral . Dona Dom, na sa-
la de sua própria residência , alfabetizava inúmeros meninos das
melhores famílias nazarenas . Sem os requisitos da pedagogia
moderna, ela foi na verdade uma mestra .

69
Sá Cila, cujo nome era Felicidade Maria de Sousa, foi ou-
tra autêntica mestra . Sua escola se chamava "a marinha naza-
rena" porque para ela eram encaminhados os meninos peraltas
d3 cidade . Embora preta e de condição humilde, sabia prend er
a atenção de seus alunos e mantê-los disciplinados em longos
e estreitos mesões no difícil trabalho de "desasná-los", ensi -
nando-lhes a desenhar as primeiras letras e abrindo as suas in-
teligências para outras caminhadas no domínio da cultura . Da .
Marocas, Maria José Farias e Da . Inês Matutina são dois no·
mes que figuram com destaque na galeria do magistério primá-
rio estadual . Sua ação não se fazia sentir somente na sala de
aula . Participava ativamente da vida da comunidade, como mem-
bros integrantes de agremiações sócio-religiosas . O Prof. Cons·
tantino, dirigindo o Maciel Monteiro, estava sempre preocupa·
do com bibliotecas, clubes agrícolas e festas escolares a fim
de despertar a boa vontade dos alunos e a confiança dos pais .
O Prof . Cavalcanti e o Prof . Brandão à frente de colégios par-
ticulares prestaram valioso serviço na formação de várias ge-
rações. O Prof . Lucena, espécie de professor andante, talvez
o último exemplar de professor particular contratado para dar
aulas nas casas grandes dos engenhos, estava sempre às vol·
tas com frases sonoras e português rebuscado . O Prof . Targi-
no consagrava as horas que lhe sobravam do ensino a tocar a
sua flauta e a ensaiar peças dramáticas, a fim de proporcionar
aos outros horas de agradável passatempo.
A primeira escola que existiu nesta região foi "criada
em Lagoa d' Anta, Vila de lgarassu , por Ato da Junta do Governo
a 8 de março de 1822 . ( 1) Outra escola foi fundada pelo Clube
Popular Republicano em sessão extraordinária realizada a 3 de
maio de 1891, indicando-se expressamente que tal escola se
destinava, a "ensinar a quem quisesse se alistar como elei·
tor" . (2) O país entrava numa nova forma de governo, a repú,
blica, fazendo-se necessário que os cidadãos se preparassem
para melhor participação na vida pública, usando do direito do
voto. No período de 1822 a 1891 outras escolas deveriam ter
sido criadas por instituições públicas ou privadas . Mas, a do-
cumentação a respeito nos é desconhecida .
Em 1891 existia o Colégio Luso-Brasileiro, de José Peixe
Sobrinho . Sabemos de sua existência por uma carta do diretor
desse estabelecimento ao Presidente do Centro Recreativo e
Literário Nazareno justificando o não comparecimento a uma
reunião festiva desse Centro e parabenizando-o pelo aconteci-
mento (3) . Em 1926 este colégio foi adquirido pelo Prof . Ada.
rico Negromonte que o transformou em Ateneu Nazareno .

70
Em 1917 fundou-se a Liga Nazarena Contra o Analfabe-
tismo, cuja primeira diretoria era formada dos seguintes cida-
dãos : presidente, Dr . Benjamim Azevedo ; vice-presidente, Fer-
nando Barata da Silva; secretário, Abílio Clementina Bezerra e
Dr . José Mota; tesoureiro, Victor Vieira de Melo e orador , Dr .
Carlos Pereira da Costa . Esta associação devia fazer funcionar
a partir do dia 15 de novembro uma escola noturna para rapa-
zes e moças . Já naquela época havia a preocupação de ensino
para adulto . Nesse mesmo ano de 1917, Dr . Carlos Pereira da
Costa que exercia a função de promotor público , fundava o seu
colégio, chamado Ginásio Nazareno .

A partir de 1920, Nazaré começou a experimentar surto


de maior desenvolvimento econômico e social . A exportação
de açúcar trouxe maior circulação de riqueza, estimulando a ini·
ciativa privada nos diversos setores. A elevação à sede de Dio·
cese favoreceu a criação de instituições no campo da educação
e da vida sócio-religiosa.

A 13 de fevereiro de 1923 fundava-se, graças ao esforço


do bispo diocesano, D . Ricardo Vilela , o Colégio Santa Cristi·
na. Era dirigido pelas Damas da Instrução Cristã, religiosas que
já vinham atuando no Colégio de Ponte d'Uchoa do Recife . A
primeira diretora foi Madre Maria Inês . Com modestas instal a·
ções , iniciaram as Damas os cursos infantil e prim ário , a fim
de atender à formação da juventude feminina . O colégio se foi
ampliando e já em 1928 se iniciava o Curso Comercial . A fim
de melhor atender ao mercado de trabalho da regi ão, este cur·
so foi, anos depois, substituído pelo Curso Normal Rural, des-
tinado à formação de professoras . Em 1938 iniciou-se o Curso
Ginasial devidamente equiparado e em 1946 a Direção do Santa
Cristina obtinha a necessária aprovação para o funcionamento
do Curso Normal Oficial ou Curso de Formação de Professoras
Primárias . O Colégio Santa Cristina vem se adaptando às nor-
mas vigentes do ensino no país . Atualmente mantém os cur-
sos maternal , jardim de infância e preliminar, primeiro e segun-
do ciclos com as seguintes profissionalizações : curso de ma·
gistério e custo técnico de contabilidade. Com a matrícula de
cerca de 350 alunos de ambos os sexos , funciona nos turnos
da manhã e da noite . O bom nível do ensino administrado , a
escolha dos professores que integram o seu corpo docente e o
cuidado quanto à formação moral e religiosa dos alunos o tor-
nam aceito e procurado pelas famílias nazarenas e das cidades
circunvizinhas.

71
Em 1921 a Diocese instalava no Salão Bento XV recém-
construído , o Colégio Bento XV que foi inicialmente dirigido pe-
lo Pe . José Marques da Fonseca e logo depois pelo Dr . Felis-
berto dos Santos Pereira, juiz de Direito da Comarca .
No ano de 1926 o Prof. Adarico Negromonte adq11iriu o
antigo Colégio Luso-Brasileiro, transformando-o em Ateneu Na-
zareno e adaptando-o às normas do ensino moderno. A preocu-
oação com a formação espiritual e cultural do seu clero e o
interesse em despertar novas vocações para o sacerdócio . le-
varam D . Ricardo Vilela a fundar o Seminário Menor a que deu
o nome de Nossa Senhora da Conceição, cuja instalação teve
lugar a 11 de fevereiro de 1928 . O Seminário funcionou na Ca-
sa Grande do engenho Lagoa D'Anta, bem próximo à cidade, até
o fim do ano de 1932 .
Mas não era somente o ensino de letras que merecia a
atenção dos que dirigiam a comunidade nazarena . O ensino
profissional teve tam bém a sua oportunidade . No começo de
1930 as Irmãs de Caridade que haviam deixado o serviço de en··
fermagem do Hospita l Ermírio Coutinho em razão de desinteli·
gências com a direção dessa instituição , se estabeleceram no
Salão Bento XV cedido pela Diocese e fundaram a Escola São
Vicente de Paulo . Além das primeiras letras, ministrava-se
o ensino de artes domésticas, como corte e costura .
Já existia desde fevereiro de 1929 o Colégio Brasil diri-
gido por José Libânio Bezerra com curso primário, secundário
e colegial, além de aulas noturnas para rapazes e moças. No
ano de 1931 apareceu também o Colégio Nazareno fundado pe-
lo Prof. Antônio Bezerra, portador de bastante experiência por
idênticüs serviços já prestados em outros colégios de Carpina
e Timbaúba .
No velho casarão onde funcionara o Seminário foi insta-
lado a 3 de fevereiro de 1933 o Ginásio de Nazaré, dirigido pe-
lo Pe . Nicolau Pimentel e prof . José Antônio da Costa Porto .
Este ginásio serviu de campo de experimentação para muitos
da nova geração que se iniciavam no magistério . Nesta mesmo
década de 30 funcionou t ambém com regular matrícula a Escola
Batista , mantida pela Congregação Batista da cidade , seguindo
os moldes do Colégio Batista do Recife.
Ao lado do Santa Cristina, o estabelecimento de maior
duração e que maior influência exerceu na vida cultural da re-
gião foi o São José. Os seus fundadores, imbuídos dos mais
nobres objetivos se consagraram à formação moral e intelec-
tual da juventude masculina . Fundado a 19 de março de 1938
pelo prof . Aluísio Pereira, foi depois dirigido pelo Pe . Carlos

72
Neves Cal ábria e em 1940 passou à direção do Pe . João Mota .
Sob sua direção o Ginásio tomou novas dimensões, continuan -
do com os cursos primário e complementar . Em 1943 obteve a
equiparação ao curso ginasial. Como as instalações do Bento
XV não mais atendessem ao crescente número de alunos, o Pe .
Mota iniciou em agosto de 1942 a construção de novo prédio,
apesar do clima de pessimismo e de dificuldade financeira de-
corrente do estado de guerra em que o país e o mundo se en-
contravam. A 20 de junho do ano seguinte, em ambiente de ale-
gria e de intenso júbilo foram inauguradas as novas instala-
ções . Além do externato para os alunos da cidade, mantinha
internato para alunos vindos de outros municípios, inclusive do
Estado da Paraíba . Com sua Banda Marcial o Ginásio São José
participou de festas e paradas cívicas de Nazaré e de outras ci-
dades . Com bom corpo docente, o Ginásio prestou valioso ser-
viço na formação moral e intelectual da mocidade nas décadas
de 40 e 50 . Numa época em que a coeducação era olhada com
certas restrições, já o Pe . Mota levava os seus alunos para
festas do Ginásio Santa Cristina, favorecendo a aproximação
entre rapazes e moças . Introduzindo novo conceito de discipli-
na , aceitava no internato alunos problemas , estabelecendo en-
tre educandos e mestres ambiente de compreensão e de ami-
zade. Com a eleição do Pe . Mota para o episcopado em janei-
ro de 1957, o Ginásio teve alguns diretores , posteriormente sen-
do adquirido pela Diocese . Razões diversas o levaram a encer-
rar as suas atividades, sendo o prédio ven dido à Prefei tura Mu·
nicipal para funcionamento de escolas de pri meiro grau.
Uma outra escola , embora modest a, mas merecedora de
destaque especial é a Escola de Dat ilografi a Santa Terezinh a,
fundada a 1O de abril de 1939 e mantida até hoje pela profes sa-
m Maria das Mercês Barros . Ministrando o que modernamente
se chama ensino profissional, a escola vem preparando anual -
mente dezenas de jovens para a vida prática .
Nos primeiros anos da década de 40 funcionou uma ou-
tra escola, a Academie Française de Commerce do prof .
Charles Koury. Mantinha o curso de comércio com aulas no-
turnas, administrando o ensino de três línguas, português , fran-
cês e ingl ês, além das disciplinas específicas do curso . O prof .
l\oury ainda ensinou francês em outros estabelecimentos de
ensino da cidade.
Mas não foi somente através desses estabelecimentos
de ensino j á enumerados, Escola de Datilografia , Escola Profis-
sional São Vicente de Paulo e Academie de Commerce que os
líderes desta comunidade mostraram a preocupação com o en-

73
sino voltado para a vida . Desde 1936 que o Sindicato Agrícola
debatia a questão da necessidade de uma escola rural, conside-
rando-se ser Nazaré um município essencialmente agrícola . Em
muitas oportunidades Secretários da Agricultura e Líderes Sin-
dicais foram chamados à cidade a debater e estudar este as-
sunto.
Finalmente a 19 de abril de 1941 o Prefeito do município,
Major Severino Mendes mediante decreto-lei n.º 17 e devida-
mente autorizado pelo Departamento Administrativo do Estado,
cujo presidente era o nazareno Dr . Domingos de Abreu Azeve-
do Vasconcelos, criou a Escola Granja a que se deu o nome de
Getúlio Vargas em homenagem ao então Presidente da Repú-
blica. A Escola deveria funcionar em convênio com o Sindi-:;a-
to Agrícola e com o Ginásio São José que cederia uma de suas
salas de aula . A primeira professora nomeada foi Maria José
Veiga.
Em 1943 foram construídas instalações próprias em ter-
reno cedido pelo Sindicato e com recursos fornecidos pela
Cooperativa Central dos Bangüezeiros, sendo os trabalhos diri-
gidos pela Cooperativa Agro-Pecuária de Nazaré . A Escola de-
ve ria funcionar ministrando aos alunos noções práticas de agri-
cultura, avicultura, horti cultu ra e adubação, tornando-os aptos
para assumir a direção dos trabalhos dos engenhos . A adminis-
tração seria confiada ao Estado que manteria um engenheiro-
agrônomo e professoras ruralistas . Deve-se a criação desta Es-
cola, chamada Escola Granja Getúlio Vargas ao esforço e à ini-
ciativa de Dr. Domingos de Abreu Vasconcelos e do Sr . Hélio
Coutinho . Atualmente é uma simples escola de 1.0 grau do Es-
tado .
A Diocese no governo de D . Carlos Coelho construiu
um prédio para Esco las Profissionais com cursos de marcena-
ria, serraria, sapataria e letras de primeiro grau . Anos depois,
mediante convênio, a administração passou para o Estado que
fez instalar o curso Ginasial. Como as instalações não mais
comportassem o número de alunos, foi no governo Paulo Guer-
ra construído outro prédio com instalações mais amplas . A 11
de maio de 1976 passou a se chamar Escola D . Carlos Coelho
de 1.º Grau e por decreto n.9 4043 foi elevada à categoria de
Escola de 2.0 Grau com alguns cursos profissionalizantes.
Com o objetivo de descentralizar os trabalhos da Secre-
taria de Educação, o Estado foi dividido em regiões para fins de
educação, criando-se nas sedes dessas regiões Núcleos de Su-
pervisão Pedagógica . Esses núcleos criados por Decreto n." ..
1 . 039 de 28 de fevereiro de 1965 têm como objetivo: fazer ob-

74
servar a legislação de ensino e as diretrizes da Secretaria de
Educação, orientar e assistir tecnicamente o professorado da
região e influir na comunidade local através de atividades cul-
turais e artísticas . O Núcleo de Supervisão de Nazaré foi cons-
truído e inaugurado a 5 de maio de 1965, abrangendo a área de
atuação de 24 municípios da mata norte do Estado , ficando de-
po is esta área reduzida para 16 municípios com a criação do
Núcleo de Limoeiro . A primeira Coordenadora foi a professora
Sebastiana Nóbrega que foi substituída pela primeira supervi-
sora Maria do Carmo de Andrade Lima Vasconcelos .
Foram ai nda Supervisoras Maria Em i lia Cavalcanti , Aure-
ci Bione e atualmente Amaro Barbosa . Esses Núcleos passa-
ram depois a se chamar DERE, Departamento Regional de Edu-
cação.
Uma nova instituição foi idealizada, visando melhoria do
ensino primário do Estado . Foram os Centros de Aperfeiçoa-
mento do Magistério Prim ário do Estado (CAMP) criados por de-
creto n.º 1430 de 12 de julho de 1967 . Tinham como objetivo
elevar o nível técnico e cultural das professoras primárias e
dar às professoras não tituladas, chamadas leigas, um mínimo
de conhecimentos gerais indispensáveis à execução da tarefa
de dirigente de classe . O Centro foi instalado a 18 de outubro
de 1967, trabalhando com o professorado de 73 municípios, re a-
lizando reuniões, encontros, seminários, simpósios, jornadas ,
semanas pedagógicas , cursos e encontros diversos . Em razão
das novas modificações introduzidas na legislação de ensino o
Centro de Aperfeiçoamento do Magistério Prim ário (CAMP) pas-
sou a ser Centro de Aperfeiçoamento do Magistério de Per-
nambuco (CAMPE), tendo o seu programa maior dimensão . Des-
de a sua fundação é Coordena dora a profe ssora Elizete Doura-
do. Esta institui ção se chama CEDEPE .
A necessidade de ate nder à expa nsão da rede de ens ino
de 1.º e 2.0 ciclos no inte rio r do Estad o e melhorar o professo-
rado técni ca e culturalmente levou o Governo do Estado a criar
escola s de nível superior . Assim , por decreto n.º 1 . 357 de 28
de dezembro de 1966 foi criada a Faculdade de Formação de Pro·
fessores de Nazaré da Mata . Analisado e estudado o proce sso
de criação e as condições exigidas , foi o seu funcionamento au -
torizado pelo Conselho Est adu al de Educação por resolução n.º
9 de 7 de mai o de 1937, sendo a 22 de maio do mesmo ano so-
lenement e inst al ada, proc essan do-se regularmente os exames
vestibulares . O primeiro coordenador nomeado pelo Ato de 2
de janeiro de 1967 do Governador do Est ado, foi o Pe . Petronl-
lo Pedrosa . E pelos Atos nºs . 1678, 1679 e 1681 de 31 de janei-

75
ro de 1967 foram designados os seguintes professores para in-
tegrar o seu corpo docente : Aluisio Teles de Menezes, Matemá-
tica ; Clóvis Antunes Carneiro de Albuquerque , Bioquímica, Bo-
tâni ca e Elementos de Geologia; Luiz Coimbra, Desenho; Cleo-
nice Tenório Cavalcanti , Prática de Ensino ; Algedy Ubiracy de
Souza, História Antiga e Medieval ; Potiguar Figueiredo Matos,
História do Brasil; Carlos José Caldas Uns, Geografia Física e
Geral e do Brasil; Fernando de Oliveira Mota Filho, Geografia
Humana Geral e do Brasil ; Roberto Mauro Cortez Mota, Funda-
mentos de Ciências Sociais ; Ederval Gomes de Novais , Histó-
ria Moderna e Contemporânea ; Itamar de Abreu Vasconcelos,
Didática Geral; Merval de Almeida Jurema, Elementos de Ad-
ministração Escolar; Aluísio de Andrade Pereira , Literatura Por-
tuguesa; Lucilo Avila Pessoa, Língua Latina; Manoel Olimpio
Resende, Língua Estrangeira Moderna; Leônidas Câmara , i...ite-
ratura Brasileira; Alan Magalhães da Costa , Literatura da Lín-
gua Estrangeira .
A Faculdade foi reconhecida pelo Conselho Federal de
Educação por Decreto n .º 73 . 959 de 18 de abri 1 de 1974. O se-
gundo Coordenador foi o prof . Walter de Oliveira . Posterior-
mente realizada eleição pelo Conselho de Professores para
composição da lista trípli ce e cum pridas as exigênci as legais,
fo i nomeado pelo Presidente da FESP como Primeiro Diretor o
Prof . Leônidas Câmara e Vi ce-Diretor Prof. M anoel Oli mpio Re-
sende . O prof . Leônidas Câmara renu nciando à Di reção, as-
sumiu o Vice-Diretor até o fim do mandat o. Const an do o . :>eu
nome na lista tríp lice para o segundo período, foi o Prof . Ma-
noel Olimpio Resende nomeado Diret or e reconduzido ao mes-
mo cargo no terceiro período, fica ndo como Vice-Di retor o prof .
Francisco do Amaral Lopes . Desde os primeiro s anos de fun-
cionamento é titular da cadeira de Quími ca o prof . Júlio dos
Santos Selva Júnior que além de exercer o magistério, vem pres-
tando valiosa colaboração na orga nização do Laboratório de Fí-
sica, Química e História Natural. A Faculdade está com uma
matrícula de 1. 300 alunos nas três licenciaturas de Letras, Es-
tudos Sociais e Ciências. Localizada na região mata-norte do
Estado , ela recebe alunos de cerca de 20 municípios vizinhos .
O problema educacional de Nazaré apresenta o seguin-
te quadro: 1 Escola de Ensino Superior que é a Faculdade de
Formação de Professores, integrante da FESP (Universidade de
Pernambuco). 2 Escolas de 2.9 grau, a Escola D . Carlos Coelho
com a matrícula de cerca de 500 alunos e o Colégio Santa Cris-
tina com 350 alunas . A rede estadual compreende 5 escolas
de 1.º grau : Escola Dom Vieira com 885 alunos; Maciel Montei-

76
ro com 736 alunos; Irmã Guerra com 373 alunos; D. Ricardo
Vilela com 647 alunos e Capitão Plínio com 382 alunos .
O Município mantém as Escolas Reunidas Aníbal Fernan-
des com 993 alunos e uma rede de escolas na zona rural com
1 . 115 alunos.
O total de alunos matriculados no corrente ano no pri-
meiro, segundo e terceiro graus é de cerca de 7 . 346 .

77
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1 - Pereira da Costa - Anais Pernambucanos - vol . IX


- pg . 528

2 - Livro de Atas - Arquivo da Biblioteca Municipal -


Nazaré da Mata

3 ~ Correspondência conservada na Biblioteca Municipal


- Arquivo dos respectivos estabelecimentos de ensi-
no, do DERE e CEDEPE .

79
·1 . ...'<f

CAPITULO VIII

INSTITUIÇÕES BANCARIAS E ASSOCIAÇÕES DE CLASSES

A vida econômica de Nazaré se baseia desde as origens


no cultivo da terra. Seus primitivos habitantes não tiveram o
brilho do ouro a motivar a sua entrada pelas matas a de,ntro e
a encorajá-los na luta contra o indígena . Depois de abrir clarei-
ras com a derrubada do pau-brasil que era arrastado para o lito-
ral, aguardando o momento do embarque, se voltaram para a la-
voura de subsistência e o cultivo da cana-de-açúcar. E os pri·
meiros engenhos que hoje chamamos de atrasados e primitivos,
foram na realidade as máquinas valiosas de produzir riquezas,
espremendo a cana para tirar o caldo e apurando o mel nas ta-
chas de barro ou de ferro.
O açúcar foi por vários séculos o principal produto de
exportação, fonte primária de nosso desenvolvimento econômi-
co . Com o correr dos anos, os engenhos foram-se multiplican-
do, instalando-se nos vales úmidos e nas quebradas, onde se
pudesse contar com água e lenha com fartura, porque terras
férteis havia por toda parte. Os bueiros dos engenhos e as ca·
sas grandes foram pontilhando todo o território do vale do Tra-
cunhaém e do Sirigi. Nazaré se tornou até a metade deste sé-
culo um dos municípios de maior produção açucareira do Es-
tado e, a cidade, um dos grandes empórios de comercialização
desse produto.
Um fator que certamente muito concorreu para esse de-
senvolvimento comercial foi a construção da estrada de ferro,
ramal da estrada Recife-Limoeiro . Esta estrada foi autorizada
por decreto do Governo Imperial n.º 6746 de 17 de novembro

81
de 1877 . A sua construção foi iniciada a 16 de abril de 1881,
partindo da Chã do Carpina , sendo concluída e aberta ao tráfe-
go a 15 de setembro de 1882 . Este trecho tem a extensão de
14. 498 mts . e custou a importância de 634 . 011 $540 (seiscen·
tos e trinta quatro mil e onze contos e quinhentos quarenta
réis) . Foi construída pela companhia inglesa Great Western
que se encarregou de sua exploração até poucos anos atrás . ( 1)
O movimento de transporte de açúcar em carros de boi
e em cavalos para os armazéns das imediações da estação da
rede ferroviária, armazéns que ainda hoje existem desocupados
e ociosos, onde o produto aguardava o embarque para o Reci
fe, mostra bem aos que viram esse movimento nas décadas de
30 e 40, a importância desse comércio . Negociantes e correto-
res da praça do Recife vinham continuamente, principalmente
aos sábados para encontro com os senhores de engenho, a fim
de realizarem suas compras . Este movimento de compra e ven-
da de açúcar intensificou-se na década de 30 com a fundação
da Cooperativa Central dos Bangüezeiros que mantinha entre-
posto aqui em Nazaré . A colocação do açúcar bruto, como se
chamava o açúcar fabricado pelo engenho Bangüê no mercado
internacional nos anos que se seguiram à primeira grande guer-
ra, foi fator que muito concorreu para o desenvolvimento sócio·
econômico de Nazaré .
O açúcar como produto de exportação desde o tempo da
colônia, sempre esteve sujeito às interferências do comércio
externo e condicionado à oscilação de preço decorrente dessas
interferências. Daí as crises permanentes que sempre atingi-
ram a agro-indústria açucare ira . Outros fatores internos tam-
bém contribuíram para esse estado de crise . Apesar da boa
reputação de que sempre gozaram os senhores de engenho, in-
tegrantes quase todos da aristocracia dominante na esfera po-
lítica e administrativa, nem sempre desfrutavam de boa situa-
ção econômico-financeira . A atividade agrícola e industrial se
baseava em métodos rotineiros e, portanto, pouco rendosos .
Lento foi o progresso e relativamente pequena foi a modifica-
ção introduzida no engenho durante os longos anos de sua exis·
tência . Só depois de 1817 começou-se a substituir a força ani -
mal por força motriz na moagem de cana. Só anos depois é
que essa medida foi sendo generalizada. Da montagem do pri-
meiro engenho a vapor até a generalização dessa medida de-
correu muito tempo . O valor da montagem não animava o se.
nhor de engenho a fazê-lo. Em 1854 eram apenas 5 engenhos
a vapor contra 101 a água e 426 a animais em todo o Estado .
A partir desse ano é que começa a crescer o número de enge-

82
nhos funcionando à força motriz . (2) Por volta de 1850 o Pre·
sidente da Província contratou técnicos estrangeiros para es·
tudar melhorias a serem introduzidas na fabricação de açúcar .
Algumas dessas medidas visavam à melhoria de rendimento .
Foi introduzido o uso de moendas de ferro com três tambores
em posição vertical, passou·se a usar sacos em lugar de cai-
xas de madeira para o transporte de açúcar e empregar baga·
ço como combustível em vez de lenha . (3) Além desses e de
outros melhoramentos introduzidos na parte industrial, a situa·
ção não era ainda de todo favorável . Havia o problema da mão-
de-obra escrava que cada ano se tornava mais difícil . As leis
anti-escravagistas que iam sendo promulgadas não deixavam
de causar forte impacto na lavoura canav ieira tão carente de
braços e trazer certo clima de apreensão aos proprietários ru··
rais .
Nos cartórios de Nazaré encontram-se numerosas escri·
turas de hipotecas de engenhos. Muitas vezes os bens penha·
rados eram os escravos. Isso na última metade do século XIX .
Sinal de que as cousas não eram lá muito boas . A maior esta-
bilidade na política nacional e desenvolvimento geral do país
na primeira metade deste século teve seus reflexos positivos
na vida de Nazaré . A partir dos anos de 1920 a elevação do
preço do açúcar garantiu uma fase de melhoria na vida dos en·
genhos . Esse desafogo econômico contribuiu para o apareci·
menta de várias instituições bancárias .
Um dos estabelecimentos de natureza econom1ca que
maior influência exerceu na vida da região foi sem dúvida o
Banco Popular de Nazaré. Fundado dentro dos princípios que
regiam o cooperativismo, segundo o sistema Luzzati , prestou
relevantes serviços à agricultura e à pecuária bem como a mui ·
tas instituições culturais e religiosas, oferecendo empréstimos
a juros módicos para o desenvolvimento de suas atividades .
Instalado a 3 de julho de 1926, deveu a sua fundação a pessoas
de real destaque desta sociedade. Entre os seus fundadores so-
bressaem: Victor Vieira de Melo e Dr . Joaquim Bandeira de
Melo . Foi sua primeira diretoria: diretor presidente, Dr . José
Gonçalves Guerra; secretário, Aprígio Ramos de Andrade Lima;
gerente, Victor Vieira de Melo; fiscais , Dr . Walfredo Pessoa de
Melo, Dr . Fernando Wilson A . Ferreira e Dr . Benjamim Aze-
vedo . A 28 de fevereiro de 1943, graças à atuação do sr. Hé-
lio Coutinho, então diretor gerente , foram construídas e inau·
guradas novas e amplas instalações . A partir de 1945 fatores
de ordem política começaram a interferir nas suas atividades ,
obrigando-o a encerrar as suas atividades o que ocorreu em

83
1948 . No mesmo prédio instalou-se em 1964 a Agência do Ban-
co de Desenvolvimento de Pernambuco (Bandepe) que continua
a prestar bons serviços à comunidade .
Outra instituição que trouxe sua contribuição à vida só-
cio-econômica de Nazaré, estimulando o espírito de poupança
e de economia foi a Caixa Econômica Federal de Pernambuco,
cuja Agência foi inaugurada a 20 de março de 1937 . Teve como
primeiro gerente Dinamérico Fay de Andrade e como tesourei -
ro , Pedro dos Santos Dias . A Agência funciona atualmente em
prédio próprio com amplas e modernas instalações .
Durante vários anos prestou bons serviços neste setor
a Ag ência do Banco do Povo que depois se transformou em
Banco da Bahia, encerrando suas atividades anos atrás.
O espírito de cooperativismo e de associação soprou co-
mo vento benéfico em Nazaré nessa época . Assim, a 23 de
março de 1937 fundava-se a Cooperativa Agro-Pecuária com o
objetivo de prestar assistência aos agricultores e criadores da
regi ão, oferecendo-lhes recursos indispensáveis às suas ativi-
dades . À solenidade de instalação compareceram os Secretá-
rios de Agricultura e Fazenda , além de líderes cooperativistas
da região . A primeira diretoria era composta dos seguintes ci-
dadãos : Dr. Domingos de Abreu Vasconcelos; vice-presidente,
lsacio Cunha; secretário, Manuel de Oliveira e Silva ; .diretor,
Oscar Moura . A Cooperativa exerceu suas funções até poucos
anos atrás, quando em razão das modificações introduzidas no
sistema econômico, tornou-se impossível a sua sobrevivência .
Outras instituições ocupam lugar de importância na his -
tória de Nazaré, as quais não sendo de natureza especificamen-
te econômica serviram de estímulo e de suporte às que tinham
tal natureza . Entre elas avulta em primeiro lugar o Sindicato
Agrícola Regional de Nazaré e Timbaúba . Fundado a 1 de agos-
to de 1903, o Sindicato tinha como objetivos : promover, estu-
dar e defender os interesses de seus associados , fundando-se
na união de classe; aproveitar as forças comuns para o desen-
volvimento da lavoura e facilidade das transações a ela refe-
rentes ; servir de intermediário na aquisição de sementes, ins-
trumentos agrários, máquina e qualquer outro objeto útil ao de-
senvolvimento agrícola . O Sindicato reunia os agricultores de
Naza ré e Timbaúba . Para mostrar o quanto de esperança e boas
perspectivas essa associação inspirava no momento, assinaram
os estatutos 78 pessoas de maior influência nesses dois muni-
cípios . A primeira diretoria era composta dos seguintes cida-
dãos : presidente , Plínio Augusto Cavalcanti de Albuquerque; 1.º
vice-presidente, Fernando Barata da Silva; 2.º vice-presidente ,

84
Dr. Joaquim Pessoa Guerra; 3.° vice-presidente, Dr . Benjamim
Azevedo; 1.<1 secretário, Alfredo Coutinho; 2. 0 secretário, Victor
Vieira de Melo; tesoureiro, Dr. Domingos de Abreu Vascon-
celos . Em razão das modificações verificadas na legislação
trabalhista, o Sindicato se transformou depois em Associação
Agrícola de Nazaré, continuando com os mesmos objetivos de
reunir os agricultores da região para defesa de seus interes-
ses profissionais . Essa modificação ocorreu em sessão de as-
sembléia geral realizada a 16 de setembro de 1944 . (4)
Nos anos da década de 60 o Ministério do Trabalho co-
meçou a reconhecer os sindicatos rurais que foram surgindo
em vários pontos do país, visando à defesa dos trabalhadores
da lavoura. Como quase inexistente na época era a legislação
trabalhista em relação a esses trabalhadores, as reivindicações
de classe deram lugar a choque entre camponeses e proprietá-
rios. Em muitos lugares esses sindicatos foram apoiado s pela
Igreja em oposição às Ligas Camponesas , de orientação mar-
xista que se multiplicaram pregando a luta de classe . Os sindi·
catos dos trabalhadores rurais nasceram num clima de luta. Em
razão da legislação apropriada que foi aparecendo, o espírito
de combatividade foi se arrefecendo, conservando o sentido de
defesa jurídica dos associados. O Sindicato dos Trabalhadores
. Rurais de Nazaré foi fundado a 21 de novembro de 1961 .
Aqui no Brasil ecoou o movimento de defesa da classe
operária dentro do espírito cristão e evangéli co que com eçou
na Bélgica sob a orientação do Pe . Cardyn . No sul do país es-
te movimento se desenvolveu e tomou maiores proporções sob
a bandeira do jesuita Pe . Leopoldo Brentano . Em Pernambuco
foi o Pe . José da Costa Carvalho que liderou por muitos ::tnos
esta organização com o nome de Círculo Operário . Em Nazaré
o Círculo Operário foi fundado com o apoio do então bispo dio-
cesano, D . Carlos Coelho , a 21 de junho de 1961 . Em sessão
solene realizada no Salão Bento XV foi empossada a primeira
diretoria composta de : Antonio Moura de Andrade , José Carlos
de Araújo, Pedro Moura de Oliveira, Arlindo José da Silva e Pau-
lo José de Oliveira, respectivamente , presidente, vice-presiden-
te , secretário, tesoureiro e orador . O Círculo Operário atual-
mente tem sede própria e continua a prestar assistência a bom
número de associados . (5)
Outro grupo de pessoas que teve igualmente a sua as so-
ciação de classe, foram as empregadas domésticas . Antes
mesmo de serem amparadas por legislação específica, elas ti·
veram em Nazaré uma associação com a finalidad e de ampara·
las e protegê-las: Sociedade de Santa Zita . A Sociedade conH

85
nua sob a orientação da paróquia e mantém escola de primeiras
letras e curso de artes domésticas, com secção de corte e cos-
tura, arte culinária e decoração do lar . Promove festas e reu·
niões de caráter educativo e diversional . Foi fundada a 26 de
junho de 1949 e vem até hoje sendo dirigida por Maria José dos
Prazeres, portadora de senso apostólico e verdadeiro espírito
de 1iderança. (6)

86
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

M . S . Estrada de Ferro de Limoeiro


Arquivo Público Estadual - Recife

2 - M. Diégues Júnior
O Bangüê em Pernambuco no século XIX
in Revista do Arquivo Público - Anos de VII a IX -
nºs. IX e XII

3 Gaspar Peres e Apolônio Peres


A Indústria Açucareira em Pernambuco
Imprensa Industrial Néri da Fonseca - 1915 -
Recife

4 - Livro de Atas e Estatutos


Arquivo da Associação Agrícola de Nazaré

5 Livro de Atas do Círculo Operário - Nazaré da Mata

6 Livro de Atas da Associação de Santa Zita -


Nazaré da Mata .

87
CAPITULO IX

IMPRENSA E INSTITUIÇÕES CULTURAIS

Analisando-se as instituições de natureza cultural, há de


fazer-se referência em primeiro lugar à imprensa. Desde o dis·
tante 1843 que Nazaré vem contando ao longo de sua história
com jornais que têm servido não apenas como meio de infor·
.mação, mas como instrumento de divulgação e de propaganda
dos princípios liberais que sempre encontraram nestas terras
campo propício para germinar e florescer . lléias de natureza
religiosa e política , de caráter social e econômico sempre en-
contraram acolhida nas páginas de seus jornais . O primeiro que
aqui circulou, "O Nazareno" já trazia em suas páginas: " ... te-
mos uma devoção quase fanática pela ordem, pela paz, pela li-
berdade . . . é a única revolução que desejamos ver consumada ,
a revolução liberal".
O primeiro jornal aqui aparecido foi "O Nazareno", im·
pressa na Tipografia Social Nazarena de propriedade do Pe .
luiz Inácio de Andrade lima que era também seu diretor e ti·
nha como redator-chefe o jornalista Antônio Borges da Fonse·
ca. Este jornal começou a circular a 24 de maio de 1843, publi-
cando-se em Nazaré até o n.º 54, continuando a ser publicado
no Recife, por mais algum tempo . (1) Tinha feição republica·
na e fazia oposição ao ministério da monarquia. Nesse período
de intensa movimentação de idéias liberais que vieram eclodit
com a Revolução Praieira, circularam ainda o Foguete, o Rege·
nerador Brasileiro, o Espelho e a Verdade . Nos anos seguintes
e até o fim da monarquia circularam alguns outros como o Cor·
reio de Nazaré no ano de 1878 . De 1879 a 1884 existiu o Ther·

89
mômetro e em seguida o Quinto Distrito e o Pândego . (2) Pro·
clamada a república circularam A Luta e depois o Município, am·
bos dirigidos por Manuel Rio Jordão Chaves, nome que esteve
liaado a muitas outras instituições . A Luta foi fundada a 23 de
julho de 1892 e trazia em editorial: "O nosso objetivo é dizer
que a despeito de todos os obstáculos, conseguimos levar a
efeito a idéia que de há muito era, por assim dizer, a nossa úni·
ca preocupação, a fundação neste município, de um periódico.
Aí temos a Luta. Ela não será órgão de paixões e de cores
políticas; será um propagandista, embora modesto, dos direitos
do povo, das liberdades dos oprimidos e um propagandista das
grandes idéias" . .. Sob a direção de Abílio Clementino Bezer·
ra e gerência de Severino Leal publicou-se de 1898 a 1901 o Se·
te de Setembro; de 1901 a 1903 o Planeta . A 26 de setembro de
1903 fundava-se a CIDADE, direção e propriedade do Dr . Ar-
quimedes de Oliveira que então exercia a função de promotor
público da comarca e depois foi Prefeito do Recife . Era reda·
tor·chefe da CIDADE o Dr. Wlisses Costa e gerente Victor Vi-
eira de Melo . Todos esses jornais eram políticos e tinham o
objetivo mais de informar fatos sociais e comerciais , trazendo
não raro colunas literárias .
Com feição nitidamente política foi a Semana, fundada
em 1913, tendo como redator-chefe Dr. Artur de Moura . O edi·
torial do primeiro número dizia o seguinte : "Será combatente
e tolerante. Combatente porque é movimentado por velhos que
se viciaram ao trabalho e por moços que não podem descançar.
Tolerante, porque aqui se pratica e se aprende o conselho · su·
blime do profeta de Deus : é melhor deixar o joio entre o trigo,
do que com o zelo de tirar o joio, fazer perecer o trigo. Politi-
camente milita nas fi leiras do Partido Republicano Conservador
que reconhece como chefe o Exmo . Governador do Estado, Ge·
neral Dantas Barreto" (3).
A 17 de fevereiro de 1917 aparece a Gazeta de Nazaré de
propriedade de Severino Mitre de Amorim e sob a direção de
Abílio Clementino Bezerra, homem de bastante experiência jor-
nalística e ligado a outras instituições nazarenas. Em 1926 a
Gazeta passou a pertencer à Diocese, tornando-se órgão de ori-
entação católica e passando a circular em todas as paróquias
dessa circunscrição eclesiástica . Exerceu durante 50 anos de
existência grande influência em toda região por estar sempre
a empreender campanhas e a apoiar iniciativas de interesse co-
letivo. Na Gazeta atuaram nomes de expressão na vida jorna-
1ística, quer como diretores: Pe . Alvaro Negromonte, Pe . Odi-
lon Pedrosa, Pe . José Távora, Pe . Otávio Aguiar e Pe. Daniel

90
Lima; quer como redatores, Costa Porto, Gomes Maranhão,
Mauro Mota, Cônego Xavier Pedrosa.
Nos anos de 1919 e 1920 J . M . Vieira de Melo, Henrique
Xavier e outros faziam o Nazaré Jornal. Em 1929 começou a cir-
cular a Voz de Nazaré dirigida por Dr . Fernando Ferreira , ten·
do como redatores: J. M . Vieira de Melo e Dr . Domingos de
.l\breu.

• * •
Aos 27 de janeiro de 1881, num ambiente festivo e cheio
de puro idealismo , fundava-se o Centro Literário e Recreativo
Nazareno . A solenidade de instalação se efetuava num dos sa-
lões da prefeitura municipal, empossando-se então a primeira
diretoria: presidente, Manuel Rio Jordão Chaves; vice-presiden-
te, Manuel Clementina Bezerra de Menezes; secretário, Fran-
cisco Pacheco de Albuquerque Maranhão; tesoureiro, Adolfo
Bessono; procuradores , Armínio Aureliano Ferreira Pinto e Fa-
brício Álvaro de Albuquerque Cardoso; vogal, Victor Emanuel
Vieira de Melo . A 28 de setembro do mesmo ano o Centro ins-
talava sua biblioteca . (4) Já centenária a Biblioteca ainda con-
serva a primitiva estante e alguns livros de sua fundação . 0 os-
sui algumas coleções de valor, embora esteja desatualizada .
Em 1934 foi instalada em prédio mais amplo e moderno, graças
ao esforço do sr . Hélio Coutinho . Esteve praticamente fecha-
da por vários anos . O Centro com sociedade deixou de existir
e a Biblioteca passou a funcionar sob os auspícios da Prefei-
tura Munici p31.

•*•
Nos anos de 1883 e 1884 um grupo de nazarenos se em-
penhou em reunir recursos para a construção de um teatro . Era
uma outra forma de cultura e de lazer que começava a mere-
cer a aten ção . Esse ideal ia aos poucos se concretizando . A
seis de dezembro de 1883 fundava-se a Sociedade Construtora
do Teatro de Nazaré, levantando meios materiais para esse em-
preend imento . O jornal da época "O Thermômetro", cujo pro-
prietário redator-chefe era Luiz José da Silva Filho, no n." 46,
edição de sábad o, 3 de maio de 1844, publicava a seguinte no-
tícia : " Novo Teatro - Realizou-se domingo, como fora anun-
ciado pela respectiva comissão , colocação da pedra da soleira
da porta principal do teatro que se vai construir nesta cidade .
Ao meio dia, diante de concurso regular de homens e algumas

91
mulheres, o sr . Presidente da Comissão declarou aberta a ses-
são .. . Usaram da palavra pelo Clube Dramático Familiar Na-
zareno Paulo Barreto Coutinho e pelo Centro Literário Recrea-
tivo Nazareno Abílio Clementino Bezerra" .

* * •
A 9 de março de 1844 instalava-se o Clube Familiar Na-
zareno , cuja primeira diretoria era a seguinte: diretor, Francis-
co Horôncio de Araujo Lima; vice-diretor, Manuel Marinho Fal-
cão; secretários, Alberto Meireles e Jerônimo Olímpio; procu-
radores, Carlos Borromeu e Victor Emanuel. Várias peças fo-
ram encenadas pelo Clube, como a Cruz do Julgamento; Gas·
par, o Serralheiro; Uma Noiva Masculina, etc . Como as duas
sociedades tivessem objetivos culturais idênticos, resolveram
as diretorias fundí-las numa única entidade . Por isso em ses-
são extraordinária realizada a 4 de março de 1888, presentes
as diretorias de ambas as sociedades , o Clube Dramático Naza-
reno e o Centro Literário e Recreativo passaram a constituir
uma única sociedade sob a denominação da última com a fina-
lidade de manter a Biblioteca e promover reuniões literárias,
fe stivais artísticos e outros movimentos de natureza promocio·
nal (5).

* * *

Duas Lojas Maçônicas existiram em Nazaré . A primeira


chamada Loja Vigilante , de caráter nitidamente político fo i fun-
dada no ano de 1844, ligada ao grupo que mantinha o jornal "O
Nazareno" e que obedecia à direção do Pe . Luiz Inácio de An-
drade Lima e do jornalista Antônio Borges da Fonseca. Deve
ter desaparecido com a revolução praieira , em 1848. A segun-
da foi fundada a 8 de janeiro de 1894 com o nome de Loja Ma·
çônica Obreiros do Porvir, de rito escocês, teve a seguinte pri·
meira diretoria: Venerável, Orlando Miquelino de Almeida; 1.0
0
vigilante, Dr. José Gonçalves Guerra; 2. , Dr . Flávio Pessoa
Guerra; orador, Dr. Abdias de Oliveira ; secretário, Abílio Cle-
mentina Bezerra; tesoureiro, Albino Gonçalves Fernandes; chan-
celer, Dr. Francisco Porfírio de Andrade Lima; 1.0 experto, Joa-
quim Ferreira de Barros Lobo; 2.°, Américo Gomes A . Pereira;
0
3. , Nestor Gomes de Araujo; 1.9 diácono , José Luiz P. de Li-
ra; 2.0 , José Teotônio de M . Pinheiro; Mestre de cerimônias,
Francisco Vilar B. Coutinho; hospitaleiro, Laurentino Montei-

92
ro de Farias; porta bandeira, Abílio Antônio Galvão; cobridor,
João de Morais Pinheiro; arquiteto, Alfredo Jansen Ferreira; ad-
junto de orador, Hugolino Machado; adjunto de tesoureiro, João
Gonçalves Brasil ; adjunto de mestre de cerimônias, Heliodoro
de Paulo Rabelo; representante, João Daisson; deputado Gene-
ral Vasquez . (5) A Maçonaria teve seus períodos de progresso
e de depressão . Construiu sede própria que até poucos anos
existia à rua Joaquim Nabuco . Na década de 30 manteve escola
de primeiras letras, cuja professora, Esterlina Caminha que ain-
da vive em nossos dias. Em épocas passadas a Maçonaria vi-
veu em estado de guerra com a Igreja Católica e em Nazaré es-
te estado se traduziu em polêmicas acirradas através dos dois
jornais Gazeta de Nazaré e Voz de Nazaré . No seu tempo áureo
a Maçonaria reunia em seu quadro social pessoas do mais alto
nível social da regi ão.

* * *
Três bandas de músicas participaram ativamente da vi·
da social de Nazaré ao longo de sua história . A primeira foi a
Euterpina Comercial Juvenil Nazarena, denominação decorren-
te do fato de ser composta de jovens do comércio local . Con-
serva até hoje o nome de Euterpina Juvenil Nazarena . Foi fun-
dada a 1.9 de janeiro de 1888. Entre os sócios fundadores des-
tacam-se Abílio Clementina Bezerra, Pedro de Sousa Pacheco,
Joaquim Coutinho Maranhão, José Inácio de Andrade Lima, Fran·
cisco Salustiano Corrêa e Bernadino Lira . A este último deve-
se a construção da sede ainda existente à Praça Herculano
Bandeira . Pessoas do comércio , da indústria e da agricultura
e das classes liberais sempre prestaram sua colaboração à Eu-
terpina, quer integrando sua Diretoria, quer compondo seu qua-
dro social, como simples sócio . Realizou várias tocatas , em di-
versas cidades e mesmo na Capital do Estado, participando
com êxito de competições, como "Salve a Retreta", patrocina-
da pela Argus Industrial S . A. de São Paulo, há alguns anos
passados . Alguns de seus regentes gozaram de certo nome nos
meios artísticos , como Mestre Joquinha (João Alves Cantali·
ce) e Mestre Zuzinha (Capitão José Lourenço da Silva) . A tu·
terpina é conhecida pelo nome popular Capa Bode .
A segunda banda musical é a "Sociedade 5 de Novem·
bro" . Foi fundada a 5 de novembro de 1914 em razão de dissi-
dência havida entre o regente e membros da diretoria da Euter-
pina . O mestre Joquinha e alguns músicos que o acompanha-
ram fundaram outra agremiação similar que por isso passou a

93
chamar-se "Revoltosa" . Os seus primeiros dirigentes foram:
Francisco Salustiano Corrêa , Antônio Borba Maranhão , Licurgo
de Araújo Almeida , Afonso Osório Amorim , Manuel G . da Cunha
Morais, Abílio Clementina Bezerra, Dr . Manuel Firmo da Costa,
João Dornelas Câmara e o regente João Alves Cantalice , conhe-
cido por Mestre Joquinha . A "5 de Novembro" tem tamb ém se-
de própria à Praça Carlos Gomes , ambas continuam a prestar
valiosa colaboração à vida social da comunidade , participan-
do de festas cívicas e religiosas .
Uma terceira sociedade musical ainda existiu pouco tem-
po, tendo desaparecido há anos atrás . Foi a "22 de Novembro"
que tinha o nome popular de Cabeluda .
Duas instituições de natureza cultural foram fundadas em
1930, uma a 11 de janeiro com o nome de Centro Nazarer.o de
Estudantes e a outra 29 de setembro, A Colônia Nazarena ele Es-
tudantes . Eram integradas por estudantes que freqüentavam co-
légios e faculdades do Recife e que durante as férias procura-
vam um ambiente mais sadio e pass atempo mais consentâneo
com as suas atividades estudantis . Foram de existência passa-
geira, mas demonstravam certo idealismo e boas intenções da
parte dos jovens de então . (6)

94
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Pereira da Costa
Anais Pernambucanos - vol . IX - pg . 528

2 - Pesquisa feita por José Morais, Agente do IBGE e pu-


blicada na Gazeta de Nazaré de 16 . 2 . 1957

3 - Jornais diversos - vols . 1 - 3 - 5- 34 - 73 - Ar-


quivo Público Estadual - Recife

4 - Livro de Atas conservado na Biblioteca Pública de


Nazaré

5 Livro de Atas da Maçonaria

6 Gazeta de Nazaré - Coleção da .


CAPÍTULO X

INSTITUIÇÕES FILANTRÓPICAS

O espírito de amor ao prox1mo, seja motivado pela cari-


dade cristã, seja pelo simples sentimento de filantropia, sem-
pre existiu na família nazarena. Através de sua história não fal-
tam demonstrações desta virtude, quer no plano individual , quer
no plano social . Instituições várias foram surgindo, dando sen-
tido dé organização e de ação comunitária a essa prova de gran-
deza do coração humano .
Uma das mais antigas instituições desta natureza foi a
Sociedade Beneficente Nazarena, fundada graças à iniciativa de
Inácio Vieira de Melo a 31 de janeiro de 1887 . Quando ;\inda
não havia assistência médica por estas plagas e a ação dos mé-
dicos se limitava a simples consulta, muitas vezes, sem a pre-
sença do paciente, ouvindo pes soas interessadas que presta-
vam informações, a Sociedade Beneficente fundava em Nazaré,
a "Casa do Socorro" com a finalidade de prestar assistência
mais completa aos necessitados. Era o primeiro hospital que se
fundava. Para maior eficiência do serviço a Casa foi confiada
aos cuidados de Irmãs de Caridade . Com o desenvolvimento
que esses serviços hospitalares foram tomando, impôs-se a ne-
cessidade de construção de um hospital mais amplo e bem <1pa-
relhado . Em 1930 foi construído esse hospital que recebeu o
nome de Ermírio Coutinho em homenagem ao médico nazareno
que tantos serviços havia prestado à comunidade . Posterior-
mente esta instituição foi incorporada à rede hospitalar do Es-
tado . Passando a funcionar em outro prédio de instalações mais
amplas e mais modernas, atende a toda a região e 8 um dos
mais bem aparelhados do interior do Estado .

97
Outra sociedade com objetivo modesto , mas não menos
benéfico foi a União Beneficente dos Artistas de Nazaré que,
por iniciativa de João Cabral, operário marceneiro, foi funda-
da a 8 de dezembro de 1905 e solenemente instalada no Salão
do Centro Literário e Recreativo Nazareno a 14 de janeiro de
1906 . Foi seu prime iro presidente Emídio Machado . Vários na-
zarenos, ocupando a presidência ou apenas integrando o seu
quadro social, lhe de ram boa parcela de trabalho , garantindo sua
manutenção por vários anos . Com contribuições dos sócios e
com subvenções dos poderes públicos a União Beneficente con-
seguiu construir sede própria e prestar aos sócios necessita-
dos auxílio de natureza diversa . Entre seus benfeitores se des-
tacam : Manuel Raposo, Afonso Amorim , Severino Martins e
Joel de Lima . As leis previdenci árias introduzidas no país tor-
naram insustentável a permanência de sociedades dessa natu-
reza .
Entre as instituições de caráter assistencial se destaca
pelos serviços que ainda vem prestando à comunidade nazare-
na , a Casa Imaculada Conceição, conhecida por Casa Irm ã Guer-
ra , como homenagem à fundadora e primeira superiora , Irmã
Josefina Guerra , de família nazarena . Elas chegaram a 8Sta ci -
dade a 15 de setembro de 1928, graças à atuação do bispo dio-
cesano , D . Ricardo Vilela, com o objetivo de dirigir os serviços
de enfermagem da Casa de Socorro, depois Hospital Ermírio
Coutinho de propriedade da Sociedade Beneficente de Nazaré.
Em razão de desentendimentos havidos entre as Irmãs e a Di-
reção dessa instituição, elas não puderam continuar com seu
apostolado junto aos hospitalizados, fundaram, então, uma co-
munidade no Salão Bento XV de propriedade da diocese, inician-
do a Escola Profissional São Vicente de Paulo e os trabalhos
de assistência aos mendigos, no ano de 1930 .
Em março desse ano, a pequena comunidade composta de
Irmã Guerra e mais duas religiosas, se instalava em casa pró-
pria, doada por João Antônio Pessoa Guerra, iniciando escolas
para crianças e ampliando os serviços iniciados de assistên-
cia aos pobres e escolas de corte e costura . Tempos depois
construia-se a residência das Irmãs, salão de teatro, onde, em
ambiente mais amplo passaram a funcionar as classes de jar-
dim de infância e curso prim ário . Como semente lançada em
terreno f értil , em breve construia-se Capela para os serviços
religosos, Abrigo para os velhos, Salão para escola profissio-
nal. Para manutenção e ampliação dessas obras não fal t aram
ajuda dos poderes públicos e a generosa cooperação das famí-
li as nazarenas , particularmente da família Guerra . Em 1966, gra-

98
ças à atuação do Governador Paulo Guerra, foi construído em
ierreno cedido pela Associação Agrícola de Nazaré, um amplo
e moderno Grupo Escolar que funciona com matrícula de cerca
de 400 alunos. Além desse Grupo Escolar, a Casa Irmã Guerra
mantém abrigo para velhos, patronato para moças, assistência
dentária e tem matriculadas mais de 300 famílias pobres da ci-
dade , que recebem alimento, reiupa e remédio .

99
CAPrTULO XI

INSTITUIÇÕES DIVERSIONAIS

Os clubes sociais e as institu ições de natureza esporti·


va e diversional tiveram também o seu lugar na vida de Nazaré .
Além das preocupações com negócios mais sérios, de caráter
econômico, político ou cultural , os nazarenos voltaram também
as suas vistas para outras organizações que lhes propo1 donas·
sem momentos de lazer e de bem-estar. Assim de 1920 para
cái quando pudemos dispor de documentos sobre o assunto;
foram aparecendo instituições diversas dessa natureza . Com
maior ou menor duração , destacavam-se entre outras : Ni:: zaré
Foot-Ball Clube , Ypiranga Foot-Ball Clube , Central Esporte Clu·
be e Associação Nazarena de Atletismo (ANA) .
Uma assôciação que teve relativa du ração foi o Centro
3 de Julho. Fundada a 7 de setembro de 1930, recebeu este no-
me em homenagem ao bispo diocesano, O . Ricardo Vilela que
nesse dia celebrava o aniversário natalício e que na data de 7
de setembrb comemorava o 11 .° anivefsário de sua posse
nesta diocese . Este centro congregava os jovens de certo
nível social, promovia jogos com equipes de outras cidades, ga-
rantindo tardes festivas .
Mas, a associação que conseguiu superar os obstáculos
qlle impediram a sobrevivência das outras congêneres , podendo
chegar até nossos dias , já tendo celebrado seus 46 anos de ati·
vidades, foi o Condor Esporte Clube . Fundada a 26 de julho de
1936 com o nome de Sociedade Esportiva de Nazaré, teve essa
denominação mudada para a de Condor Esporte Clube por 5u-
gestão do sócio Joel de Lima em homenagem à época de Car-

101
los Gomes , cujo centenário se comemorara no dia anterior, reu-
niu de início um grupo de pessoas animadas de bom propósito,
oferecendo garantia de vitória . Além de diretoria de honra, com-
posta de autoridades locais, foi organizada a seguinte diratoria
executiva: Oscar Moura, presidente; Joel de Lima , vice-presi-
dente; orador, Pe. José Távora; vice-orador, Francisco Sirnplí-
cio; 1.0 secretário, Hildebrando Spinelli Pacheco; 2.° secretário,
José Veiga; tesoureiro, Alfredo Rodrigues Júnior; diretor de es-
porte, Luiz Neves Calábria; vice-diretor de esporte, Clóvis Ra-
mos; fiscal geral, João Manuel de Araujo; Juiz, Clóvis Ramos.
Foi organizada uma comissão para angariar donativos e outra
composta de Joel de Lima, Alfredo Rodrigues e Rômulo 3ran-
dão para elaborar os estatutos . O Condor possui campo de es-
porte e sede social, onde se celebram festas e recepções .
Outro tipo de esporte que mereceu a atenção nos tem-
pos idos de 1930 foi o Jockei Clube. As corridas de cavalo no
campo de Pedregulho e depois no de Babilônia atraíram muita
gente nas tardes domingueiras. Assim, nas tardes de domingo e
de dias santos as famílias nazarenas tinham seu lugar de en-
contro para instantes de lazer .
Além dessas instituições de caráter nitidamente espor-
tivo, não faltou a empresa cinematográfica, oferecendo outro ti-
po de diversão . O espírito criativo e a vontade de servir de Ber-
nadino Lira, Aprígio Ramos e Joel Lima conseguiram dotar a ci-
dade desta forma de diversão . A 15 de novembro de 1923 era
inaugurada a casa de projeção cinematográfica que recebi .a o
nome de Cine-Lux .
Nos anos de 1954 e 55, algumas pessoas que olhavam o
cinema não apenas sob o aspecto de diversão, mas de cultura,
instalaram um Cine-Clube, com máquina de projeção de 16mm.
para apresentação de filmes selecionados . O Cine-Clube fun-
cionava no Salão Bent o XV depois que passou por reforma, dis-
pondo de ampla sala de festa e palco para teatro.
Uma outra instituição que aliava a diversão à cultura foi
o Aéro-Clube . Foi fundado a 26 de fevereiro de 1943 na Casa
Grande do Engenho Pedreg ulho . Sua primeira diretoria era com-
posta de Hélio Coutinho, presidente; Arquimedes Bandeira, vi-
ce-presidente; Joel de Lima, secretário; Oscar Moura, tesourei-
ro; Laura Moura Ma ranhão, diretor de propaganda . O Aéro-
Clube teve período de bastante animação, graças ao interesse
e à verdadeira paixão pela aviação de alguns sócios, como Os-
valdo Neves Maranhão, Artur Vieira de Vasconcelos, João Cor-
reia de Andrade, Luiz Maranhão e a senhorita Luci Azevedo .
No campo de Babilôn ia operavam dois aviões de treinamento.

102
Sua escola de pilotagem dirigida em certo tempo pelo piloto
aviador Nestor Teodomiro da Silva , habilitou vários nazarenos
e jovens de outras cidades para a aeronáutica civi 1, dando-lhes
o brevê de piloto-aviador . Apesar da boa vontade dos que esta-
vam à frente desta instituição, teve que encerrar as suas ativi -
dades por falta de apoio de Departamento de Aeronáutica Ci-
vi I (D. A . C . ) . O seu campo não tinha sido devidamente homo-
logado pelas autoridades competentes, dada a precariedade de
suas instalações e, principalmente em razão da nova legislação
sobre o assunto, proibindo a existência de campo de pouso com
menos de 100 km de distância de outro . O de Nazaré, próximo
do Recife teria que desaparecer . Foi o que aconteceu .
Várias foram as instituições surgidas ao longo de sua his-
tória, visando especificamente atividades sociais e diversionais ,
num misto de bem-estar físico e espiritual que bem mostram
o espírito de iniciativa e de criatividade de nossa gente . O fato
de muitas delas terem curta duração mostra as dificuld ades en-
contradas e, o aparecimento de outras, sinal de força de vonta-
de em superá-las. O espírito de iniciativa e a perseverança com
que muitos nazarenos souberam se haver no trato das coisas
públicas e na busca do bem-estar para a comunidade é um tra-
ço bem marcante na vida de muitos que honram as nossas tra-
dições .

103
CAPrTULO XII

PARTICIPAÇÃO DE NAZARÉ NAS CAMPANHAS LIBERAIS

1 - 171 O - Guerra dos Mascates

A ação de muitos nazarenos nos diversos movimentos


que agitaram a nossa pátria é uma herança do espírito de nati-
vismo que lhes legaram os antepassados . Nessas terras encon-
traram ressonância a decisão e a coragem indômita daqueles
vultos heróicos que se empenharam na luta contra o jugo por-
tuguês, quando já ia se tornando insuportável , ou contra funcio-
nários que exorbitavam de suas funções , indispondo os pernam-
bucanos contra as autoridades portuguesas . Os interesses da
pátria o be111-e star da coletividade e a segurança dos compatrio-
tas foram sempre motivos que levaram muitos nazarenos a
abandonar a paz de seus lares , a tranqüilidade e o bucolismo
dos campos para, empunhando as armas, abraçar a luta com to-
das as incertezas do amanhã .
As primeiras lições de heroismo vieram daqueles que po-
voaram as terras da antiga freguesia de Tracunhaém, as quais
integraram posteriormente o município de Nazaré . Ligados à no-
breza pernambucana, sentiram-se impelidos à luta que agitou a
Província nos anos de 1710 e seguintes , quando perseguidos pe-
los mascates então defensores da autonomia do Recife em de-
trimento da soberania de Olinda .
Três nomes podemos destaca r entre os moradores dessa
freguesia, que deixaram à posteridade o exemplo de idealismo
e de desprendimento . Um deles, Francisco Cavalcanti de Albu-
querque, Capitão de Ordenanças da freguesia de Tracunh aém .
Escandalizado e irritado com os mascates que obtiveram a au-

105
torização oficial para ereção do pelourinho no Recife, se Jispôs
a lutar contra eles à frente de sua companhia, defendendo os
interesses da nobreza olindense . Sentindo-se fracassado nos
seu s propósitos e temendo a condenação e a dura sentença que
haveria de atingi-lo, fugiu embrenhando-se nas matas de Tracu-
nhaém . Só depois de dois anos de privações e de sofrimentos
é que lhe veio o perdão , podendo voltar com segurança as ati -
vidades normais . (1)
Um seu genro, Leão Falcão d'Eça, também lutou ao !ado
da nobreza contra os mascates . Derrotado e perseguido fugiu
igualmente para as matas . Com a intenção de ajudar os com-
patriotas que sofriam os mesmos dissabores e enquanto aguar-
davam as medidas emanadas da corte, pondo termo às perse-
guições , colocou-se à frente de um movimento armado que pas-
sou à história com o nome de Liga de Tracunhaém . Desta for-
ma puderam arregimentar 400 homens, detendo a incursão dos
adversários e protegendo um pouco os companheiros de infor-
túnio nos seus esconderijos (2) .
O terceiro personagem dessa fase histórica é o Padre
Antônio Jorge Guerra que se tornou notável pelas virtudes re-
ligiosas , eloqüência e patriotismo . "Pernambucano e digníssi-
mo sace rdote, entregou-se com a mais ativa generosidade ao
serviço dos enfermos, feridos e moribundos" (3), quando volun-
tariamente prestou serviços de Capel ão na Estância da Boa Vis-
ta, durante a luta contra os mascates . Quando se viu pe,.dido
e sem possibilidade de segurança optou pela fuga, indo para a
sua casa e retornando as atividades agrícolas nas im ediações
de Tracunhaém . Unindo-se a outros companheiros aguerridos e
inconformados com a situaç ão, f undou a Li ga de Tracunhaém,
cuj a direção passou a Leão Falcão na esperan ça de continuar a
resistência . Não conseguiu proteger-se de todo contra os adver-
sários, pois tempos passados fo ram seus bens se qüestrados .
Dois irmãos foram presos e ele conseguiu escapar (4) .
Esses e muitos outros pernambucanos desbravadores e
povoadores dessas terras situadas nas imediações de Nazaré
as quais passaram a depender de sua administração, quando
incorporadas ao seu município, ilustraram suas primeiras pági-
nas de história com exemplo de bravura e puro nativismo .

2 - 1817 - Revolução Pernambucana

Da Revolução de 1817 participou ativamente a figura de


Pe. João Ribeiro Pessoa de Melo Montenegro . Era natural de
Tracunhaém, de gente muito boa, mas carente de recursos . De-

106
veu sua educação ao naturalista Arruda Câmara que nele des-
cobr iu qualidades extraordinárias, tomando-o sob sua proteção .
Acompan hando o mestre em excursões científicas, adquiriu bas-
tante conhecimentos, tornando-se perito em desenho . Sentin-
do o despertar da vocaç ão sacerdotal, ingressou no Seminário
de Olinda , donde seguiu para Lisboa a fim de concluir os estu-
dos eclesiásticos (5) . Segundo Tolenare , era homem inteligen-
te com quem podia contar um viajante desejoso de informações .
Não cessava de adquirir novos conhecimentos no domínio das
ciências naturais e físicas, como no da filosofia (6).
Impregnado das idéias liberais de que o Seminário de
Olinda era então centro de irradiação, partic ipou ativamente do
movimento revolucionário de 1817, tornando-se membro do go-
verno provisório. Quando teve consciência do fracasso da re-
voluçã.o, procurou inspirar confiança e calma aos seus compa-
nheiros . Abandonou o Recife com suas tropas, não tanto para
evitar a crueldade dos realistas a que bem sabia estar exp.Js-
to, mas para tomar parte nos perigos que ameaçavam tantos ci-
dadãos beneméritos, de poder mais de perto confortá-los . E
quando experimentou o peso da fuga vergonhosa, perdida a es-
perança que até então nutria de ver a república triunfante, en-
fastiado dos homens e desgostoso da própria existência, resol-
veu finalizá-la . (7) O Pe . João Ribeiro nascera a 2 de fevereiro
de 1766, filho de Manuel de Melo Montenegro e Genebra Fran-
cisca Pessoa e faleceu no engenho Paulista em 1817 (8) .

3 - 1821 - Convenção de Beberibe

O ano de 1821 foi de intensa efervescência política no


Brasil em razão dos acontecimentos havidos em Portugal com
a revolução constitucionalista do Porto . Em Pernambuco essa
situação era ainda mais tensa em razão da ressonância que es-
sas idéias liberais encontravam nos revolucionários de 1817,
saídos das prisões da Bahia e, particularmente por causa das
medidas por demais severas tomadas pelo Governador da Pro-
víncia, Luiz do Rego . As Cortes Portuguesas depois da vitória
alcançada com a volta de D . João VI, haviam autorizado as Pro·
víncia, Luiz do Rego. As Cortes Portuguesas depois da vitória
dos componentes das Juntas Governativas, se desligando da au-
toridade do [\·f:1cipe Regente . Diante das atitudes dúbias do
Governador, alguns resolveram tomar medidas mais decisivas .
Encabeçou o movimento Felipe Mena Calado da Fonseca, por-
tuguês de origem, mas bastante entrosado nesta Provínci a e na
àa Paraíba . Saído da prisão da Bahia, onde cumprira pena pela

107
participação na revolução de 1817, dedicou-se ao estudo das ci-
ências naturais e à prática da medicina . Sabendo da situação
reinante em Pernambuco sob o governo de Lui z do Rego e t e-
mendo que depois da prisão dos 42 implicados no atentado de
que fora vítima , os ex-presos da Bahia no meio dos quais se
encontrava , viessem a ser inquietados, concebeu o plano de or-
ganizar o Governo Temporário , de acordo com as instruções
vindas da Corte (9) .

Foi com esse propósito que muitos idealistas, à frente


Mena Calado , se reuniram no engenho Cangaú de propriedade
do sargento-mor Joaquim Martins da Cunha Souto e lá durante
dois meses e com a maior cautela prepararam em completo si-
gilo a conspiraç ão, cujas ramificações se estenderam a Paraí-
ba (10) . A iniciativa do movimento que passou à história com
o nome de Movimento de Goiana , partiu de Nazaré . O primei-
ro convidado a participar do levante tramado em Cangaú foi o
tenente coronel de milícias , Manuel Inácio Bezerra de Melo, se-
nhor-do-engenho Tamataúpe . Daí foram expedidos estafetas a
aliciarem outras forças para se levar a cabo a elei ção do gover-
no provisório , no espírito, como se dizia , das ordens emanadas
d'EI Re i D . João VI . Goia na fo i o ponto ma rc ado para o .rncon-
t ro das tropas . Me na Calado começou a ler o man ife sto e pe-
las 15 horas da ta rde partiram de Naza ré cerca de 600 homens
a pé e a cava lo (11) .
No dia 29 de ag osto de 1821, as fo rças armadas de . ser-
tan ejos formados pe la nobreza, povo e militares vindos das Vi-
las de Pauda lho e Li moe iro e freguesia de Tracunhaém ~ n t ra­
ram em Goiana, confraternizando-se com habitantes e autori-
dades . Estava nitidamente conf igurada a revolução . Grande
ass emblé ia de militares , clero , nobreza e povo teve lugar, se-
gui da de convocação do senado e eleição do governo consti tu-
cio nal temporár io da Prov íncia . O governo eleito fi cou conheci-
do como Junta de Goiana, t endo como pres ide nte Francisco de
Paula Gomes dos Santos e secretário Felipe Mena Calado da
Fonseca (12) . Constituída a Junta Governativa com apoio dos
revolucionários, trataram estes de entrar em entendimento com
o governo da Província que naturalmente não a reconheceu . De-
pois de choques armados, chegou-se a um acordo entre as duas
juntas governativas , a revolu cionária e a encabeçada pelo go-
vernador da Provínci a . Este aco rdo que fi cou conhecido com o
nome de Convenção de Beberibe foi celebrado a 5 de outubro
de 1821 , dando a Pernambuco um governo eleito pelo povo , an-
tecipando a própria procl amação da Independência .

.108
4 - 1824 - Confederação do Equador

Pode-se dizer que a revolução de 1824 foi em certo sen·


tido continuação da de 1817 . Foi o mesmo espírito de nativis-
mo, a insatisfação reinante diante da falta de interesse do go-
verno imperial em relação à província , agravada com os exces-
sos praticados pelas autoridades locais e, particularmente, a re-
volta provocada pela atitude do Imperador dissolvendo a Cons-
tituinte que prepararam um clima favorável à fermentação das
idéias liberais e revolucionárias . O manifesto dos deputados à
Constituinte, que regressaram às suas províncias, retomando
suas atividades normais, criou um estado de exaltação patrióti-
ca e de predisposição psicológica para qualquer movimento que
se esboçasse de oposiç ão ao governo . Os espíritos liberais e
os partidários dos princípios republicanos aproveitaram o cli -
ma de mal estar reinante para infiltrar essas idéias através dos
jornais como o Tifis Pernambucano . Um dos mais ardentes de-
fensores desses ideais de renovação foi o religioso carmelita,
Frei Joaquim do Amor Divino Caneca que sentindo a frustração
de seus intentos e o fracasso da revolução iniciada, abandonou
o Recife, percorrendo o vale do Sirigi, indo se hospedar na Ca-
sa Grande do Engenho Poço Comprido, naquele tempo municí-
pio de Nazaré. A Casa Grand e e a Capela desse engenho for-
mam um belo conjunto arqu itetônico tombado pelo Patrimônio
Histórico Nacional (foto 4) . Na parede dianteira da Capela há
uma placa de bronze comemorativa da passagem do sesquicen-
tenário dessa revolução, colocada pelo Governo do Estado .

5 - 1848 - Revolução Praieira

A revolução praieira de 1848 teve raízes também em Na-


zaré. Jornal de grande influência nesse movimento foi "O Na-
zareno" que começou a circular a 24 de maio de 1843, impresstt
em oficinas próprias, a "Tipografia Social Nazarena" de proprie-
dade do Padre Luiz Inácio de Andrade Lima. Este era nazareno
de nascimento, político militante do partido liberal e deputado
à Primeira Constituinte Brasileira . Foi um dos signatários do
Manifesto à Nação depois da dissolução da Constituinte (13).
Era redator-chefe o jornalista Antônio Borges da Fonseca, que
fazia desse jornal a tribuna para pregação de seus ideais repu-
blicanos e de oposição ao então ministério da monarquia (14) .
Os praieiros ocuparam a Vila de Nazaré às 16 horas do
dia 13 de novembro de 1848 com a ajuda das tropas do capitão
Leandro Cesar Paes Barreto, comandante da brigad a do exérci-

109
to liberal em Nazaré. Era comandante do destacamento que
guarnecia a Vila, o capitão Antônio de Albuquerque Maranhão.
A 28 do mesmo mês deu-se a retomada pelas forças governis-
tas chefiadas pelo tenente-coronel e comandante geral das ope-
rações contra os revolucionários praieiros, José Maria Ildefon-
so Jácome da Veiga Pessoa . Chefiava o destacamento depois
de aderir aos revolucionários o tenente da guarda nacional Gon-
çalves Guerra (15) . Participou também desse movimento um
outro nazareno, nascido no engenho Caraúbas da freguesia de
Tracunhaém, Manuel Pereira de Moraes . Este tomou parte ati-
va nos embates travados em Goiana e Cruangi. Já fora revo•
lucionário de 17 a 24 (16).

6- 1865 - Guerra do Paraguai

Nazaré não poderia faltar à grande convocação de 1865


para responder com altivez à ousadia do caudilho paraguaio
Francisco Sol ano Lopez . Disse prese :-:te a esse apelo na pes-
soa de Afonso de Holanda de Albuquerque Maranhão, de uma
das mais ilustres famílias , descendente em linha reta dos Al-
buquerqu e Maranhão .
Afonso de Ho landa participou da Guerra do Paraguai co·
mo Capitão do 51.9 Batalhão, tendo sido nomeado pela ordem
do dia n.º 233 de 17 de julho de 1868 para comandar a segunda
brigada provisória na divisão expedicionária do Chaco . Foi de-
pois promovido a Major e condecorado no teatro da guerra por
atos de bravura . Terminada a guerra, recebeu a Comenda da
Ordem da Rosa que lhe foi conferida pelo próprio Imperador Pe-
dro li , em razão dos serviços prestados durante essa campa-
nha. As medalhas e os documentos referentes a essas comen-
das encontram-se em poder de um neto e de uma bisneta . Afon-
so de Holanda de Albuquerque Maranhão nasceu no engenho
Caciculé, próximo a Nazaré, filho de Lourenço Pacheco de Al-
buquerque Maranhão e era sexto neto de Jerônimo de Albuquer-
que Maranhão (17) . (Ver capítulo XIII, pg . 100) .

7 - 1888 - Abolição da escravidão

A campanha abolicionista foi outro movimento cívico que


mereceu dos nazarenos adesão decisiva . Apesar do regime es-
cravocrata ser na época a base da vida agrícola e os escravos
negros constituírem elementos indispensáveis para atividade
rural e peças importantes do patrimônio do senhor-de-engenho,
a adesão à campanha em prol da abo lição da escravatura se fez

11 o
sentir em diversos setores . O espírito de humanidade e o sen-
timento de caridade se manifestaram de mu itas maneiras . Nos
cartórios desta comarca encontram-se numerosas escrituras de
concessão de cartas de alforria, no período de 1860 a 1888 . Os
proprietários rurais libertavam seus escravos, velhos, moços e
até crianças, homens ou mulheres, sem nenhuma remuneração,
às vezes . Era o sentimento de gratidão que ditava esta atitu-
de. Em algumas escrituras se lê: "pelos bons serviços presta-
dos à minha mãe". E ainda "por ter sido bom e fiel" . Alguns
exigiam o pagamento de 300$000, às vezes mais , ou menos .
Mas, dava-se a carta de alforria. Senhor-de-engenho houve que
antes da lei áurea deu liberdade a todo s os seus escravos, co-
mo o Capitão João de Moura do engenho Juá. É evidente que
havia exce ções .
Em 1886 fundou-se em Nazaré a Soc iedade Humanitária
e Emancipadora Nazarena, nos moldes da que existia no Reci-
fe e em outras Proyíncias com a finalidade de defender as cnu-
sas dos escravos e fazer prop aganda dos ideais abolicionis-
tas (18) . Não somente os proprietários rurais mostravam seu
interesse pela libertação dos escravos , mas as classes liberais
e demais componentes da sociedade . Testemunho eloqüente é
o que diz um jornal da época "O Thermômetro" na edição de 17
de maio de 1884: "A onda cresce e cresce volumosamente .
Nesse mar de peitos brasileiros revoltados e alterosos , cava-
se o abismo que vai deglutir o barco podre da escravid ão . O
movimento é largo e francamente desenvo lvido . Todos traba-
lham: a criança e a mulher simbolizam a grandeza e a honesti-
dade da luta ; e o braço másculo do emancipador se apoia na
base do direito . Todos os esforços por quebrar a aguilhão da
escravidão estão sendo empregados; tudo é lícito para tão glo-
riosa luta desde a esmola até o imposto; desde o livro de ouro
onde se inscreve a generosidade, até o livro de talão donde se
extrai o coupom de quitação do possuidor de escravo".
Mas, ação eficiente e definitiva foi a campanha política
que levou Joaquim Nabuco ao Parlamento . Contestada a sua
eleição no pleito de 1885, por injunções po líticas, Joaquim Na-
buco se inscreveu para a eleição complementar pelo 5.º distri-
to do qual Nazaré era município integrante . Além do prestígio
pessoal do candidato, acrescida com a atitude injusta de sua
rejeição, outro motivo que contribuiu para a sua eleição maci -
ca no 5. 0 distrito eleitoral foi a renúncia que Ermírio Coutinho
fez de sua candidatura em favor de Joaquim Nabuco . Assim o
político nazareno se dirigia aos seus eleitores com a seguinte
proclamação : "Venho à imprensa declarar solenemente que to-

111
mei a resolução firme e inabalável de sacrificar minhas aspira-
ções políticas em favor do grande pernambucano Joaquim Au-
rélio Nabuco de Araújo . Digo mal . Não é em favor de uma in-
dividualidade , é no altar de uma campanha de que Joaquim Na-
buco é a incarnação que faço o sacrifício de minhas aspira-
ções . Retiro-me , pois , inclinando-me respeitoso diante do ho-
mem que conduz o sacrossanto estandarte da redenção dos es-
cravos" (19). Em 7 de junho de 1885 Nabuco era eleito brilhan-
temente com maioria em todas as secções . "Jamais, dizia jor-
nal do Rio de Janeiro, outro candidato penetrou no Parlamento
com mais força moral e cercado de maior prestígio" .
Tempo depois ele voltou a Nazaré para agradecer a sua
eleição. No livro de visitas do Centro Recreativo e Literário dei-
xou escritas estas palavras: "Cada vez que me acho de novo
entre o povo nazareno é uma data na minha vida . Que fique-
mos um e outro sempre fiéis aos grandes ideais da liberdade
pernambucana é meu ardente desejo". Quando Joaquim Nabu-
co acompanhado de José Mariano veio a Nazaré para falar na
campanha política se hospedou no engenho Babilônia, indo pa-
ra a cidade em carro de boi. Falou ao povo da janela de um pré-
dio que existia na praça da catedral, cuja fachada revestida de
azulejo, foi derrubada por incúria do poder público .

8 - 1930 - Revolução liberal

O último dos movimentos cívicos de que Nazaré partici-


pou foi a Revolução de 1930, deflagrada no país pela Aliança
Liberal . A frente dessa campanha revolucionária estava um se-
nhor-de-engenho, Antônio Borba de Albuquerque Maranhão, da
linhagem dos Albuquerque Maranhão e já bastante integrado
na vida da comunidade . Em Nazaré a revolução não teve gra-
ves ocorrênci as, como em outras cidades . A coluna revolucio-
nária, vindo da Paraíba, chefiada pelo tenente Juarez Távora,
recebeu logo o apoio da cidade . Na chefia do município estava
a figura venerando e acatada do Cel . Victor Vieira de Melo . Vi-
toriosa a revolução, foi entregue a Prefeitura a uma junta go-
vernativa composta dos senhores Flávio Pessoa Guerra, Benja-
mim de Oliveira Costa Azevedo e Antonio Borba Maranhão . Es-
ta junta dirigiu o município até que o Interventor Federal no Es-
tado nomeasse o prefeito para o município na pessoa de Antô-
nio Borba, continuando a cidade com as suas atividades normais .
Vivendo num clima de trabalho e de paz, construindo ri-
queza e assegurando o bem-estar para si e para a comunidade,
as famílias nazarenas sempre estiveram prontas ao chamado da

112
pátria e aos imperativos do dever c1v1co . Quando foi necessá-
rio trocar o lar pela caserna, o trabalho pela guerra, o silêncio
da família pelo troar dos canhões , o fizeram com decisão e bra-
vura . Integrando as forças armadas, militando na política ou na
administração pública, trabalhando no jornalismo, na magistra-
tura ou no magistério ou em qualquer outra profissão , os naza-
renos de hoje, seguindo a tradição dos antepassados , cont inuam
a doar-se pela grandeza de sua terra e de sua gente .

113
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Pe . Joaquim Dias Martins


Os Mártires Pernambucanos - pg . 10
Reedição da Assembléia Legislativa de Pernambuco

2 - Idem - pg . 168
Antônio José Victoriano Borges da Fonseca

Nobiliarquia Pernambucana - 2 vais . - Biblioteca N:i·


cional do Rio de Janeiro - 1935 - Vai . pg . 217

3 - Pereira da Costa
Anais Pernambucanos - vai . V - pg . 216

4 - Pe . Joaquim Dias Martins


Os M ártires Pernambucanos - pg . 214
Pereira da Costa
Dicionário Biográfico de Pernambucanos Célebres -
pg . 121

5 - Oliveira Lima
Nota XIV à História da Revolução Pernambucana de
1817 do Pe . Francisco Muniz Tavares - Edição come ·
morativa do 1.º centenário

6 Ibidem

7 Pe. Francisco Muniz Tavares


História da Revolução Pernambucana de 1817 - PCJ
CCXLIX

,1 '15
Edição comemorativa do 1.0 centenário

8 - Pereira da Costa
Dicionário Biográfico de Pernambucanos Célebres -
pg . 477

9 - Pe . Joaquim Dias Martins


Os Mártires Pernambucanos - pg . 197

10 - Oliveira Lima
O Movimento da Independência - O Império Brasilel·
ro - pg . 87
Edições Melhoramentos - São Paulo - 1922

11 - Ibidem - pg . 99

12 - Valdemar Valente
- Antecipação de Pernambuco no Movimento da ln·
dependência :
Testemunho de uma inglesa . Capítulo: Maria Graham
e a Revolução Pernambucana de 1918 - pg . 76 - Edi·
ção do 1. J . N . P . S . - 1974

13 -'"' Francisco Pacífico do Amaral


Escavações - pg . 81 e segs.
Edição do A . P. E. - Recife. 1974

14 - Pereira da Costa
Anais Pernambucanos - vol . IX - pg. 529

15 - Ulisses Brandão
Confederação do Equador - Rev . do lnst . Arqueoló-
gico e Histórico de Pernambuco - 1924 - n9 s . 123-
126

16 - Edson Carneiro
A Insurreição Praieira (1848-1849)
Editora Conquista - Rio de Janeiro - 1960

17 - Pereira da Costa
Dicionário Biográfico de Pernambucanos Célebres

18 - João de A lbuquerque Maranhão


História da Casa de Cunhaú

116
Rev. do Arquivo Público - Anos VII a X - nºs . IX a
XI 1 - 1952-1956

19 - Pereira da Costa
Anais Pernambucanos - vol. X - pg . 428

20 - Carolina Nabuco
A Vida de Joaquim Nabuco - vol. 1 - pg. 219

117
CAPITULO XIII

ELES FIZERAM NAZAR~

Muitas foram as famílias que , nascidas no território per-


tencente ao município de Nazaré, ou em outras plagas, mas
aqui radicadas e incorporadas às suas atividades, prestaram
valiosa colaboração ao seu desenvolvimento . Consagradas , qua-
se sempre aos trabalhos do campo, uma vez que a agricultura
foi sempre a fonte principal de riqueza, se não construíram gran-
des fortunas, deixaram patrimônio que continua a ser adminis-
trado por filhos e netos . E mais do que patrimônio material,
deixaram grande exemplo de capacidade administrativa, de hon ·
radez, de virtudes cristãs e de dedicação ao bem comum .
Muitos chefes de família souberam conciliar suas ativi ·
dades agrícolas e de interesse privado com funções públicas,
ocupando cargos na política e na administração municipal ou
estadual . Das casas grandes dos engenhos saíram conselhei-
ros municipais, prefeitos, governadores de Estado, deputados e
senadores . Muitos engenhos se transformaram em verdadeiros
parques industriais, como é o caso das Usinas Aliança, Barra,
Matari e Laranjeiras, para falar somente das que estão locali-
zadas na área que integrava o município de Nazaré. Desses
solares tão acolhedores e marcados por autêntico espírito de
família saíram padres, bispos, magistrados, cientistas e tantos
outros profissionais que deram o melhor de si mesmos ao bem
da comunidade. Outros vivendo na cidade dedicaram-se ao co-
mércio ou outras atividades liberais, contribuindo igualmente
pela iniciativa e pelo trabalho para o desenvolvimento e bem-
estar da terra e da gente .

119
O trabalho agrícola foi uma grande escola de formação
de caráte r, de honestidade e de capacidade administrativa. Em
nossos dias toma-se o senhor-de-engenho sob aspecto pejora-
tivo e de uma maneira distorcida . Tomam-se os erros e as in-
justiças de uns como se fossem de toda classe . Julgam-se os
acontecimentos e as atitudes de um tempo passado à luz da
justiça social e da mentalidade atual . Confunde-se a sua ima-
gem com a de um senhor de escravo, gritando do alpendre da
casa grande e mandando para o tronco o negro desobediente .
Poucos o consideram de acordo com as circunstâncias históri·
cas e o contexto social de então . Na realidade, pela posição
que ocupava numa sociedade carente de qualquer organi zação
jurídico-administrativa; pelo poder econômico de que dispunha
e pela influência que exercia no seu meio, era o senhor-de-en-
genho que aplicava a justiça, mantinha a ordem e garantia o res-
peito e a segurança nos seus domínios . À semelhança dos an-
t igos "caudilhos" hispano-americanos , era para eles que se ape-
lava nas horas difíceis; era à sua sombra que se abrigavam os
desprotegidos da sorte . Muitos para maior garantia de sua au-
toridade dispunham de uma patente da guarda nacional . Os tí- ·
tulos de major, coronel e tenente-coronel que ostentavam com
certo orgulho, eram prova de privilégio político de que gozavam
a garantia da autoridade que exerciam .
Os "coronéis" que até pouco existiam no âmbito da polí-
tica, exercendo mandonismo num município ou numa região , são
rem ini scências daquela força moral e social de que desfrutavam
os senhores-de-engenho . Mas, se todo aquele arcabouço mate-
rial desapareceu por força da técnica e do progresso; e se a pró-
pria estrutura social marcada pelo patriarcalismo foi substitu í-
da pelas modernas organizações jurídico-administrativas, há ai- ·
guma cousa que não desapareceu de todo. Ainda perdura em
algumas famílias certo padrão moral e senso de honestidade ,
virtudes plasmadas no ambiente simples e bucólico dos antigos
engenhos . A casa grande não foi apenas o ambiente de rela-
ções amorosas com escravas a que se referem alguns soció-
logos . Foi sempre o símbolo de autoridade e ambiente onde as .·
novas gerações aprenderam , menos por palavras do que por
exemplo, as lições de trabalho, de serviço, de respeito e de ho-
nestidade.
Ao lado do senhor-de-engenho, conhecido como "o pa-
trão" achava-se não raro "a patroa" que exercia verdadeiro apos-
tolado junto às famílias dos trabalhadores. Verdadeiras conti-
nuadoras das matronas romanas, sabiam amenizar o arrebata-
mento e a violência a que às vezes eram levados seus maridos,

120
propondo soluções mais humanas e mais benignas. Foram ver-
dadeiramente precursoras da assistência social aos trabalhado-
res do campo . Quem em Nazaré não se lembra da bondade de
Da. Naninha da Babilônia, de Da . Luizinha de Tupá, de Da . La-
lu de Morojó, para citar apenas algumas? Ainda em nossos dias
há tantas dessas senhoras que continuam com essa ação bené-
fica junto às famílias dos trabalhadores dos engenhos .
Ainda me lembro de quando criança acompanhava mamãe
nas visitas que fazia, em tardes de domingo, às moradeiras (as-
sim se chamavam as mulheres dos trabalhadores) para levar-
lhes alguma ajuda ou simplesmente para visitá-las porque esta-
vam de "resguardo" (períoJo em que ficavam acamadas por te-
rem dado a luz). E com que satisfação eram recebidas essas
visitas . Na sala havia apenas um tamborete ou uma mala que
eram forrados com toalha branca para que as visitas se sentas-
sem . Além da ajuda que se levava, quantos pedidos eram sa-
tisfeitos na casa grande . Quase sempre chegava alguém à por-
ta da cozinha pedindo uma galinha para fazer um caldo, porque
tal pessoa estava doente ou simplesmente estava de resguar-
do . Lá em casa havia de reserva um cesto com pratos e talhe-
res que se emprestavam quando havia festa de casamento em
casa de algum trabalhador . Era sempre à casa grande que to-.
dos recorriam . E isto não era caso isolado . Era quase comum .
As patroas estavam sempre prontas para ajudar e servir . E o
faziam com espírito humanitário e verdadeiro desprendimento.
Acho que uma das causas que tenham contribuído para a agi-
tação nos campos no período de 58 a 64 foi a ausência de mui-
tas senhora::;-de-engenho . A fuga para a cidade e o abandono
da casa grande causaram no trabalhador rural a sensação de
abandono e de desprezo .
Neste capítulo pretendo focalizar algumas famílias e al-
gumas pessoas em particular, destacando sua participação em
funções públicas, o exemplo que deixaram e a influência que
continua m t er na pessoa de seus descendentes . Não se trata
de uma catalogação, nem da biografia dessas famílias ou pes-
soas. Não foi possível também fazer referência a todas as fa-
mílias influentes no município nestes dois séculos de existên-
cia . Muitas continuam e continuarão no anonimato, apesar do
muito que tenham realizado . Procurei na medida do possível
destacar aq uc!c::i que mais se destinguiram na participação, na
vida pública e na colaboração prestada às instituições, sem por
isso desconhecer o valor de tantos outros , cujos nomes não
foram registrados . A falta de dados foi a causa da não referên-
cia a essas famílias ou pessoas . Ficaria muito grato se as pes-

121
soas ligadas , por alguma forma a essas aqui focalizadas ou a
outras que não foram lembradas, me oferecessem dados para
completar essas informações e enriquecer a relação de pes-
soa s, cuja atuação deixaram marcas de real importância na his-
tória nazarena .
Merecem referência especial algumas famílias italianas
que no fim do século passado e no começo deste aqui se fize-
ram e se entrosaram, ligando-se aos da terra pelo casamento e
se entregando às atividades agrícolas, industriais e comerciais .
Foram elas: Famílias Calábria, Lapenda, Perrelli, Bellifanti, Spi-
nelli, Orengo e Peixe, cujos descendentes continuam em Naza-
ré ou em outros lugares a prestar serviços à comunidade . Dei-
xo de falar de alguns tipos populares e de aspectos humorísti-
cos pelo que eles encerram de anedótico e de característico,
como o foram Terto Campos, Papi, Antônio do Bispo e tantos
outros porque este assunto será tratado por Mauro Mota em
suas "Memórias Nazarenas" como já o foram pelo prof. Vilaça
no recente "Livro Memória" .
Nesta relação não há ordem cronológica, nem preferên-
cia quanto ao valor das pessoas ou importância das famílias .
Apresento os dados, ficando o leitor com direito de fazer o juí-
zo que convier.

1 - JOSÉ JERÕNIMO PACHECO DE ALBUQUERQUE MA·


RANHAO

Uma das mais tradicionais famílias nazarenas é sem dú-


vida a dos Albuquerque Maranhão . E descendente em linha re-
ta de Jerônimo de Albuquerque, cunhado de Duarte Coelho Pe-
reira, primeiro Donatário da Capitania de Pernambuco e da li-
nhagem de Afonso de Albuquerque, governador das índias no
tempo do Rei D . Manuel de Portugal . Segundo o escritor portu-
guês Hernani Cidade no livro Cultura Portuguesa , essa família
"era viveiro de grandes navegadores e valorosos capitães de
mar e terra" .
Jerônimo de Albuquerque foi o fundador do primeiro en-
genho de Pernambuco, N . S. da Ajuda nos arredores de Olinda
e se casara com a filha do Cacique Arco Verde, que depois veio
tomar o nome de Maria do Espírito Santo Arco Verde . Depois
que se empenhou na luta contra os franceses conquistando-lhes
éi província do Maranhão, em memória dessa vitória acrescen-
tou Maranhão a seu nome . Fundou depois o Engenho Cunhaú
no Rio Grande do Norte . José Jerônimo Pacheco de Albuquer-
que Maranhão, ligado à história de Nazaré e filho de outro José

122
Jerônimo, Capitão do Terço da Capitania de ltamaracá, era o 5.9
neto de Jerônimo de Albuquerque (1) . Veio de São José de Mi-
pibu no Rio Grande do Norte no ano de 1761 e se estabeleceu
no engenho Junco, casando-se com Ana Francisca de Araujo
Vasconcelos, possivelmente filha de Urbano Pereira da Silva e
Catarina de Freitas, antigos proprietários do engenho Lagoa
d'Anta .
Filho de José Jerônimo Pacheco de Albuquerque Mara-
nhão foi Lourenço Pacheco de Albuquerque Maranhão, proprie-
tário do Engenho Caciculê e que se casara com Josefa Alexan-
drina de Al bu querque Maranhão . Nesse engenho situado a uns
3 kms de Nazaré há uma Capela dedicada a Santo Antônio e
construída em 1763 . Esta data está esculpida no frontispício da
capela . Foram filhos de Lourenço, o Padre Jerônimo José Pa-
checo Maranhão que foi vigário de Nazaré de 1856 a 1870 e
Afonso Holanda de Albuquerque Maranhão , herói da Guerra do
Paraguai (pg . 91) . Afonso deixou vários filhos que tiveram des-
tacada atuação na vida de Nazaré . Entre eles José Ageu, casa-
do com Laura Carneiro de Moura, da família Carneiro de Moura
do engenho Teimoso (pg . 104) e que foi tabelião público em
Nazaré . É pai de Dr . Laura Moura Maranhão, ex-funcionário da
.Justiça do Trabalho (2) . Tarcila, casada com Artur Neves Ma-
ranhão , antigo farmacêutico e proprietário da Farmácia Neves
e pai do Dr . Osvaldo Neves Maranhão que exerceu a Medicina
com verdadeiro desprendimento e espírito humanitário, nome
que está merecendo dos poderes públicos uma justa homena-
gem (3) . Nicéias, casada com Severino Gomes Saraiva de An-
drade, pai do Dr . Afonso Maranhão , func ionário da Secreta-
ria do Interior e Justiça do Estado (4) . Teutonila, casada que foi
com o prof. José Libânio, diretor do Colégio Brasil, fundado
nesta cidade em 1929.
Desses Albuquerques dos engenhos Junco e Caciculê des-
cendem de nu meros as fam ílias que se entrelaçaram umas com
as outras , dando origem às famílias Mou ra Maranhão. Borba
Maranh ão , Gomes Maranhão e tantas outras fundadoras e pro-
prietárias de numerosos engenhos desta região .
Dentre esses descendentes podemos destacar:

a) - João Borba Maranhão, filho de Luiz de Andra-


de de Albuquerque Maranhão e Josefa Tereza
de Jesus . Foi casado em primeiras núpcias
com Júlia Gomes de Moraes e em segundas
núpcias com Constantina Borba Maranhão . Fci
proprietário de vários engenhos e dos mais

123
destacados líderes políticos do município de
Aliança, depois de sua emancipação, do qual
foi prefeito . Falece_u aos 92 anos de id.ade, dei-
xando os seguintes filhos (1) Manuel Gomes
Maranhão, jornalista, ex-Secretário da Agricul-
tura no Estado , ex-Presidente do 1. A . A ., dire-
tor da Revista Cruzeiro e do Jornal do Comér-
cio do Rio de Janeiro . (2) Luiz . (3) Ernesto e
(4) José , agricultores . (5) Maria das Dores, ca-
sada com Luiz Mariz de Albuquerque. agricul-
tor . (6) Cecília, casada com o prof . Antônio
Mariano de Aguiar . (7) Maria da Penh::i, casada
com Dr . Geraldo Magalh ães , ex-Prefeito da
Capital e (8) Maria Tereza .

b) - Antônio Borba de Albuquerque Maranhão, pro-


prietário do engenho Cumbe , tendo exercido
grande atuação na vida política de Mazaré. Foi
subprefeito no triênio 1919-1922, integrou a jun-
ta governativa do município na revolução de
1930, foi prefeito nomeado pelo Interventor Fe-
deral do Estado após a revolução e prefeito ,:)lei-
to em 1935 . A ele Nazaré deve muitos empre-
endimentos .

c) - José Romualdo de Albu querqu e Maranhão que


foi proprietário do engenho Mussumbu e fun-
dador da Usina Matari . Nessa Família há pes-
soas de real importância na indú stria , na udmi-
nistração pública nas letras e no jornalismo,
como: Metódio Maranhão , Enock e Gil Mara-
nhão, Zilde e Lui z Maranhão .

2 - ALFREDO DE MORAES COUTINHO

Outra família também numerosa e de não meno~ impor-


t ância foi a família Coutinho . Um dos seus antepassados foi o
Gel . Antônio Aureliano Lopes Coutinho , casado com Rita Nunes
Machado, irmã do desembargador Joaquim Nunes de Goiana e
proprietário dos engenhos Lagoa d' Anta e Várzea Grande . Ca-
sou-se em terceiras núpcias com uma senhora da família Cesar
Albuquerque de cujo consórcio deixou entre outros filhos: 1)
Dr . Sinfrônio Coutinho que se dedicou à Medicina , Ghegando
a clinicar em Berlim e foi grande propagandista das proprieda-

124
des terapêuticas do "jaborandi", planta de nossa flora. 2) Dr.
Ermírio Coutinho que exerceu a Medicina em Nazaré com ex-
traordinário desprendimento . Consagrou-se também à política,
tendo exercido o mandato de senador estadual e presidente do
Senado . Quando pleiteava uma cadeira no Parlamento Federal,
renunciou a sua candidatura em favor de Joaquim Nabuco o que
permitiu que este se elegesse e levasse à frente a campanha
abolicionista . 3) Dr . Joaquim Aureliano Cesar Coutinho , cujos
filhos vêm se dedicando ao exercício da medicina e ao ensino
superior, como Dr . Oscar Coutinho no Recife e outros no Rio .
4) Alfredo de Moraes Coutinho que freqüentou a Faculdade de
Medicina até o 4.° ano, mas que exerceu a profiss·ão médica
com extraordinário devotamento .
Alfredo de Moraes Coutinho era casado com Joana Uns
de Moraes Coutinho. Proprietário do Engenho Lagoa d' Anta ,
exerceu profunda influência na vida política e social de Nazaré.
- Sem se descuidar de suas atividades de senhor-de-engenho,
exerceu a medicina com eficiência e espírito profundamente
humanitário, particularmente como clínico e parteiro. Atendia
aos pacientes, principalmente pessoas pobres em qualquer ho-
ra e lugar, a quem além da receita gratuita dava também JS re-
médios . Foi o 1.º secretário do Sindicato Agrícola de Nazaré .
Deixou numerosos filhos que continuam a ocupar lugares de
destaque na vida profissional e na administração pública . En-
tre os seus filhos se destacam: (1) Alfredo e (2) Clóvis de Mo-
raes Coutinho, médico; (3) Rodolfo, engenheiro militar e escri-
tor; (4) Nelson que foi Secretário do Interior e Justiça do Esta-
do e é funcionário do 1. A . A . ; (5) AI cedo, também médico e
político. Exerceu o mandato de Deputado Federal, qua"ndo apre-
sentou o projeto, transformado em lei, criando o fundo de par-
ticipação dos municípios . Entre as filhas: (6) Maria Dolores,
casada com Dr . Joaquim Correia de Oliveira , pai do sr. Hélio
Coutinho Correia de Oliveira; (7) Edite, casada com o negoci-
ante Antônio Monteiro Ferreira de Oliveira, pais do Sr . Clóvis
Monteiro, atualmente proprietário do engenho Lagoa d'Anta e
alto negociante do Recife; (8) Helena, casada com o advogado
Artur Moura , filho do sr. João de Moura Vasconcelos do enge-
nho Juá .
Dos netos de Alfredo Coutinho podemos destacar o Sr.
Hélio Coutinho Correia de Oliveira que teve grande atuação na
vida política e social de Nazaré . Da linhagem dos Correia de
Oliveira de Goiana, casou-se com Da . Dinorah, da família Guer-
ra, foi proprietário dos engenhos Pedregulho, Cotunguba e San-
ta Fé . Faleceu há pouco como Tabeli ão Público no Recife . Em

125
Nazaré foi gerente do Banco Popular, de cuja atuação dependeu
a construção do prédio desse Banco, da Biblioteca e da Escola
Granja Presidente Vargas . Foi um dos fundadores do A ero-C lu-
be de Nazaré, Presidente da Cooperativa dos Bangüezeiros, su-
plente de Senador e Chefe da Administração do Porto do Reci-
fe . São seus filhos : Joaquim Coutinho, ex-deputado federal, Jo-
sé Alfredo, deputado estadual, Hélio Coutinho Filho, economis-
ta Rodolfo Luiz, Ana Dolores, Eliane, Dinorah e Sérgio .

3 - JOAQUIM GONÇALVES GUERRA

Os mais longínquos ascendentes da família Gonçalves


Guerra pelo que me foi possível conhecer são de origem por-
tuguesa . Cristovão das Mercês Gonçalves Guerra e sua mulher
Ana Francisca de Jesus foram os possuidores da Sesmari a de
Poço Com prido no vale do Sirigi .
Um de seus filhos , Joaquim Gonçalves Guerra, foi o fun-
dador do engenho Tabatinga, desmembrado da Sesmaria de Po-
ço Comprido. Construiu a casa grande desse engenho, por oca-
sião de seu casamento, sobrado de arquitetura portuguesa, ain-
da hoje existente (foto n.º 5) . Era tenente-coronel da guarda na-
cional e chefe do partido liberal no município . Comandava o
destacamento da Vi la de Nazaré quando essa praça foi retorna-
da pelas tropas lega l istas por ocasião da revolução praieira . En-
frentando as forças do governo, foi derrotado , tendo que fugir
para Paraíba. Era conhecido como "cavaleiro da esperança" .
Casou-se em segundas núpcias com Ana Francisca das Neves
Gaião de cujo consórcio deixou várias filhas. Uma delas, Jose·
fina que se casara com Manuel Cavalcanti de Albuquerque Van-
derlei , proprietário do engenho Cavalcanti e filho de João Mau-
rício Cavalcanti de Albuquerque Vanderlei , Barão de Tracu-
nhaém , de descendência holandesa . O Barão de Tracunha ém
era chefe do partido conservador e, portanto, adversário políti-
co de Joaquim Guerra . Esse casamento se fizera com o intuito
de apaziguar essas duas famílias .
O único filho varão desse casal foi José Gonçalves Guer-
ra que para fazer a vontade do pai fez o curso de direito . Al ém
de agricultor como proprietário do engenho Limeira Grande, te-
ve grande atuação na vida social do município . Em Nazaré foi
um dos fundadores e primeiro diretor-presidente do Banco Po-
pular . Era casado com Da. Ana Pessoa Guerra , filha do Cel .
João Antônio Pessoa Guerra do engenho Babilônia . Desse ca-
samento deixou doze filhos (1) Matilde e (2) Anhita, ambas ca-
sadas em primeiras e segundas núpcias com Dr . Walfredo Pes-

126
soa de Melo, filho de Luiz Inácio Pessoa de Melo do engenho
Maré; (3) José, agricultor e proprietário do engenho Tabatinga ;
Dinorah. casada com sr . Hélio Coutinho Correia de Oliveira; (4)
Dolores e (5) Noemi , religiosas Dorotéias; (6) Eurico , médico e
proprietário da Fazenda Campo Alegre; (7) Antônio , engenhei -
ro e funcionário público; (8) Joaquim , engenheiro, proprietário
do engenho Limeira Grande , casado com Da . Gesilda, filha do
Dr. Murilo Silva, médico em Carpi na; (9) Heloisa e (1 O) Terezi-
nha , casada com o médico Dr . Clóvis Novais . (11) Otávio , pro-
prietário do engenho Canad á e ca sado com Da . Alzira , filh a do
Dr . Joaquim Gomes Correia de Andrade do engenho Tamataú-
pe . São seus filhos : Joaquim, bach arel e agricultor, casado com
Marta Oliveira e M aria Dolores, casada com o magistrado Raul
Farias .
4 - PAULO PESSOA GUERRA

Intimamente ligada à família Gonçalves Guerra é a Pes·


soa Guerra que teve igualmente muita atu ação na vida social e
política de Nazaré . O seu antepassado é João Antônio Pessoa
Guerra, descendente da família Pessoa de Tracunhaém , o qual
tendo ficado órfão pelo falecimento de seus pais , vítimas de có·
lera, foi adotado por Cristóvão das Mercês Guerra, vindo da í o
sobrenome Guerra que passou a toda família . João Antônio ca·
sou-se com Joaquina Gai ão do engenho Poço Comprido . Deste
casal descendem: (1) Fl ávio Pessoa Guerra, proprietário do en·
genho lguape , bacharel e político . Integrou a junta governativa
que assumiu a prefeitura de Nazaré após a revolução de 30.
Foi deputado estadual . (2) Joaquim Pessoa Guerra, engenhei -
ro, agricultor e político . Participou ativamente da campanha dan-
tista e foi prefeito da Capital . (3) João Antônio Pessoa Guerra ,
herdeiro do Engenho Babilônia e (4) Josefina, religiosa da Con-
gregação Filhas de São Vicente de Paulo que fundou em Nazaré
a Casa de Caridade Imaculada Conceição. Foi na casa grande
do engenho Babilônia em que se hospedaram Joaquim Nabuco
e José Mariano quando vieram a Nazaré na campanha política
em favor de sua candidatura ao Parlamento .
Dr . Paulo Pessoa Guerra é filho de João Antônio Pessoa
Guerra e Maria Gaião . Formou o seu caráter de homem públi -
co e de exemplar chefe de família ao calor das virtudes cristãs
do solar do engenho Babilônia . Bacharel em Direito, entregou-
se logo à vida política . Foi prefeito de Orobó, Diretor da Peni -
tenciária Agrícola de ltamaracá, Deputado Estadual em várias
legislaturas, Presidente da Câmara Estadual , Deputado Federal
e Senador . Eleito Vice-Governador do Estado assumiu a .-;hefia

127
do Poder Executivo logo após a revolução de 1964, substituindo
o Governador Miguel Arraes . Nazaré foi altamente beneficia-
da pela sua presença no governo . Assim , nesses dois anos fez
construir o Quartel do 2.º Batalhão da Polícia Militar, o Núcleo
de Supervisão Pedagógica , os Grupos Escolares , D . Vieira, D.
Ricardo Vilela e Irmã Guerra , o Ginásio Industrial D . Carlos
Coelho; reformou e ampliou o Grupo Maciel Monteiro ; criou a
Faculdade de Formação de Professores ; ampliou as instalações
do Hospital Ermírio Coutinho, dotando-o de moderna Maternl-
dade; contribuiu para a instalação da Agência do Bandepe e fez
pavimentar a estrada de Carpina a Timbaúba, PE-62 , hoje BR-PE-
408 . Além de suas atividades de homem público, cuidou com
admirável bom senso de suas empresas particulares , sendo um
dos maiores pecuaristas do Estado . Era casado com Da . Vir-
gínia Borba de família timbaubense . Faleceu no desempenho
eficiente do mandato de Senador . Deixou treze filhos, muitos
dos quais já vêm demonstrando na vida privada e pública o
bom exemplo recebido . São seus filhos: 1 - João Domingos,
bacharel em Direito, ex-secretário da Agricultura do Estado, ca-
sado com Maria Guiomar Pessoa Guerra, da família Pessoa de
Melo; 2 - Maria Zulmira, bacharel em Ciências Naturais, ca-
sada com o engenheiro José Gaspar Cavalcanti Uchoa; 3 -
Paulo Pessoa Guerra Filho, bacharel em Direito, casado com
Maria Auxiliadora Farias Pessoa Guerra ; 4 - Flávio Pessoa
Guerra, médico, casado com Lígia Maria Carvalho Pessoa Guer -
ra; 5 - Joaquim Pessoa Guerra , engenheiro , deputado federal,
casado com Maria Sousa Leão Pessoa Guerra; 6 - Fernando
Pessoa Guerra, médico; 7 - Evandro Pessoa Guerra, estudan-
te de Direito; 8 - Juarez Pessoa Guerra , estudante de agrono-
mia; 9 - Maria Virgínia, estudante de Direito, casada com o
médico Dr . Roberto Lucas de Siqueira ; 10 - Arabela e 11 -
Maria Cristina , estudantes de arquitetura ; 12 - Maria Madale-
na e 13 - Romero , estudantes de veterinária .

5 - HERCULANO BANDEIRA DE MELO

Era casado com Da . Tereza de Moraes Bandeira de Me-


lo . Foi proprietário do engenho Conceição . Além das ativida-
des agrícolas e do cuidado com a administração de seus bens,
pois deixou bom patrimônio para a família, dedicou-se à polfti··
ca . Foi prefeito de Nazaré em dois períodos : 1892/ 1895 e 1898/
1901 . Foi Senador Federal e Governador do Estado . Dei xou os
seguintes filhos : 1 - Raul Bandeira de Melo, conhecido por
Senhor Bandeira, casou-se em primeiras e segundas núpcias

128
respectivamente com Tereza e Alice, filhas de Luiz Inácio Pes-
soa de Melo do engenho Maré . 2 - Herculano Bandeira de Me·
lo, casado com Da. Maria Augusta, filha do Dr. Fernando Bara-
ta da Silva, pessoa muito ligada à vida social de Nazaré. Foi
por algum tempo rendeiro do engenho Japaranduba . 3 - Rita de
Cássia, casada com Dr . Arquimedes de Oliveira que exerceu a
função de promotor público em Nazaré e depois foi Prefeito do
Recife. 4 - Dr . Joaquim Dias Bandeira de Melo, proprietário
do engenho Ventura . Exerceu o mandato de Deputado Estadual
e Secretário da Agricultura no Estado . Foi proprietário da Usi-
na Salgado . Era casado com Da . Júlia Berardo Carneiro da
Cunha. 5 - Ana Joaquina . 6 - Alfredo Bandeira de Melo, ca-
sado com Da. Ercília Bezerra, filha do ex-Governador Dr . José
Bezerra . Foi um dos fundadores da Usina São José . 7 - Ar-
quimedes Bandeira de Melo, proprietário do engenho Babilônia
e também fundador da Usina São José . Era casado com Da.
Ana Bandeira de Melo . 8 - Terezita, casada com Manuel Car-
valho Neves . 9 - Tancredo Bandeira de Melo, também funda-
dor da Usina São José e casado com Da . Lurdes Bezerra. 1O -
Dulce, casada com Severino Vaz de Ol iveira . Herculano Ban-
deira e seus filhos He rcu lano e Rau l fundara m em 1911 a Usina
Mussurepe que continua a ser administrada por seus sobrinhos
e netos . Os três irmãos, Arqui medes, Tancredo e Alfredo fun-
daram a Usina São Jos é e Joaqu im depois de abandonar a po-
lítica comprou a Usina Salgado .

6 - LUIZ INÃCIO PESSOA DE MELO

Conhecido por Lulu de Maré , engenho de sua proprieda-


de, fora casado com Da . Maria Se rafina Pessoa de Melo . Além
de cuidar da administração de seus bens particulares e de ze-
lar pela sua família, pois deixou sólida herança material, esme-
rada educação e honradez, exerceu algumas funções públicas.
Foi membro do Conselho de Intendência nomeado pelo Gover-
nador Barbosa Lima em substituição ao primeiro governo muni-
cipal republicano de Nazaré, dissolvido pelo Ato de 30 de agos-
to de 1892, o qual deveria governar o município até a eleição
e posse da nova representaç ão a se realizar em novembro des-
se ano . Foi ainda prefeito do município no triênio 1907 i 191 O.
Deixou os seguintes filhos: 1 - Dr . Pedro Luiz Pessoa de Me-
lo, juiz de Direito em Nazaré no período de 1908 a 1914 . 2 -
Belarmino Luiz Pessoa de Melo, principal fundador da Usina
Aliança hoje um dos maiores parques industriais do Estado.
Foi prefeito de Nazaré no período de 1925/ 1928, quando cons-

129
truiu o Mercado Público na Vila de Aliança , a estrada que ~ iga
a estação da antiga Great Western ao centro da cidade, em Na-
zaré, com arrimo e calçamento , via pública que tomou o nome
de Rua Cel . Luiz Inácio e o nome popular de Estrada Nova .
Atualmente esta rua tem três nomes : Cel. Luiz Inácio, Guerra
de Holanda e D . Ricardo Vilela . Era casado com Da . Evange-
lina, irmã de José Ermírio Barroso de Moraes . 3 - Dr . Walfre-
do Pessoa de Melo , co-proprietário da Usina Alian ça . Exerce u
as funções de Senador Estadual e Pref eito de Aliança logo após
a sua emancipação, onde construiu o prédio da prefeitura muni-
cipal e a Igreja Mat riz . Era casado com Da . Anita da família
Guerra . 4 - Cel . Serafim Pessoa de Melo, proprietário do en-
genho Gutiúba, foi prefeito de Goiana no período de 1928/ 1930 .
Era casado com Da . Ana Moura, da família Tavares de l\/loura
do engenho Juá. 5 - Maria Digna, casada com Dr . João Joa-
quim de Melo Filho . 6 - Helena, casada com o industrial pa-
rai bano João Ursulo Ribeiro Coutinho . 7 - Te reza e 8 - Ma-
ria Alice, casadas respectivamente em primeiras e segundas
núpcias com Raul Bandeira de Melo, filho de Herculano Bandei-
ra de Melo . A Usina Aliança ainda continua pertencendo à fi r-
ma Pessoa de Melo, estando à frente Dr . Carlos Pessoa de Me-
lo, casado com Da . Leda Dourado Pessoa de Melo, com os seus
filhos que por sua vez são filhos e netos de Major Belarmino.

7 - JOSÉ ERMíRIO BARROSO DE MORAES

Nasceu a 21 de janeiro de 1900 no engenho Santo Antô-


nio, próximo de Lagoa Seca, hoje Upatininga, munic ípi o de Al i-
ança, filho de Ermírio Barroso de Moraes e Francisca Jesuina
Pessoa de Albuquerque . Seu pai falecera quando tinha apenas
18 meses. Foi educado por sua mãe que co ntinuou à fren t e do
engenho . Freqüentou em Upatininga a esco la de pr imeiras le-
tras de Da . Tecla, indo depois para o Colégio Ale mão no Reci -
fe. Nos Estados Unidos freqüentou o Colorado School of Mines .
Chegando dos Estados Unidos como engenheiro de minas, ob-
teve sua nomeação para o cargo de engenheiro de minas da Se-
cretaria de Agricultura de Minas Gerais encarregado de fazer
o levantamento das riquezas minerais e traçar o perfil geoló-
gico do Estado . Para isso teve de percorrer todo o Estado, ven-
cendo inúmeras dificuldades . Em 1922 deixa este serviço, en-
trando para a Ste . John dei Rey Mining Co . Depois de um ano
de trabalho nessa empresa vem para a Usina Aliança de seu
cu nhado, Belarmino Pessoa de Melo .

130
Viajando a Europa e se demorando numa estação d'água
para tratamento de saúde de sua sobrinha, conheceu o indus-
trial pau lista, de origem portuguesa, Antônio Pereira Inácio . Des-
se encontro com o industrial e da amizade que então nasceu
com sua filha Helena, surgiram novos rumos para a vida de .Jo-
sé Ermírio . Ligando-se à família de Antônio Pereira Inácio, di-
retor da Votorantim de São Paulo, em razão de seu casamento
com Helena , consagrou-se ao desenvolvimento das indústrias
j á existentes e à criação de novas . A indústria têxti 1, a de ci-
mento e a nitro-química foram os novos rumos tomados pela
empresa . Já gozando de prestígio no mundo da indústria, José
Ermírio passou a ocupar vários cargos, como a Presidência da
Beneficência Portuguesa, do Rotary , de Federação das Indús-
trias de São Paulo. A sua capacidade de trabalho e visão admi-
nistrativa o levou a estender o parque industria l a Pernambuco,
onde instalou diversas indústrias . Em 1962 entrou para a polí-
tica, elegendo-se Senador . Em 1963 foi nomeado Ministro da
Agricultura, empenhando-se no fomento à agricultura, particu-
larmente à cultura do trigo . Não consegui u reeleger-se Sena-
dor , o que concorreu para abalar sua saúde. Faleceu a 9 de
agosto de 1973 . A sua empresa continu a em pleno funciona-
mento. sob a direção de seus filhos : José, diretor da empresa,
Antônio Ermírio e Maria Helena .

8 - ANTôNIO FERREIRA DA COSTA AZEVEDO

Nome que ocupa lugar de destaque na galeria dos indus-


triais pernambucanos é sem dúvida o de Antônio Ferreira da
Costa Azevedo, conhecido por Tenente, tanto pela sua capacida-
de administrativa como pelo espírito de criatividade. Nasceu
a 16 de fevereiro de 1882 no engenho Trapuá, filho de Domin-
gos Ferreira de Sousa Azevedo e Josefa Maria de Sousa Aze-
vedo . Cursou as primeiras letras com o prof. Sizino em Tracu-
nhaém . Como o jovem Antônio não mostrava muito interesse
pela escola e preferia ficar pelos caminhos montando um bode,
puxado pelos meninos do engenho, o prof . Sizino aconselhou
ao Gel . Domingos tirá-lo da escola para não perder tempo e
dinheiro. Deixando a escola que foi a primeira e única o Antô-
nio aos 14 anos se fizera feitor do engenho Trapuá, entregan-
do-se de corpo e alma aos trabalhos da cana . Aos 20 anos se
casara com Da. Ana Malta. Diante dos compromissos que as-
sumira como novo chefe de família , lhe foi confiado o engenho
Diamante de seu primo e cunhado João Antônio da Costa Aze-
vedo, onde passou a trabalhar como rendeiro . Em 1904 arren-

131
dou também o engenho Camarazal pertencente ao negociante
nazareno João Hermógenes, onde em troca do arrendamento de
alguns anos, montou a maquinaria do engenho, deixando-o mo-
ente.
Poucos anos depois comprou os engenhos Utinga e Ro-
dísio no município de Paudalho. Vendendo-os, comprou a Usi-
na Cumbe , cujo nome mudou para Santa Rita, no vale do Paraí-
ba, a qual vendeu em 1922 a Flávio Ribeiro Coutinho . Desde
1920 que se fizera sócio da Usina Catende. Em 1922 assume
a direção da empresa, tornando-se pouco depois único proprie-
tário, onde demonstrou extraordinária capacidade administra-
tiva e espírito inventivo . Iniciou trabalho pioneiro, visando maior
produtividade com aplicação de novas técnicas no plantio de
cana e empregando novos métodos de adubagem e de irriga-
ção . A sua preocupação foi sempre a agricultura. Voltou-se
temporariamente para a política e administração pública quan-
do impelido pela pressão de amigos e o bem-estar da comuni-
dade. Foi assim que, quando senhor-de-engenho de Camarazal
e Diamante, se tornou subprefeito de Nazaré no triênio de 191 O/
1913. E como o prefeito Fernando Barata da Silva que exercia
o mandato pela 3a . vez e se sentisse desprestigiado em razão
da reviravolta política com a vitória de Dantas Barreto, Tenente
teve que assumir a prefeitura . De espírito profundamente de-
mocrático, apoiou a campanha em prol da redemocratização do
país em 1945 . Faleceu a 20 de março de 1950, deixando os se-
guintes filhos : 1 - João, bacharel em Direito que assumiu a
direção da empresa com a morte do pai. Aposentado da dire-
ção da Usina, é proprietário do engenho Diamante, distribuindo
o seu tempo entre a residência do Recife e o bucolismo da ca-
sa grande do engenho Trapu á . i; casado com Da. Maria de Lur-
des Ferreira Azevedo da família Colaço, da Usina Caxangá . 2 ·
- Maria José, casada com o advogado e jornalista Antiógenes
Chaves . 3 - Domingos , industrial e co-proprietário da Usina
Catende e casado com Da . Consuelo, filha de Arquimedes Ban-
deira de Melo . 4 - Maria Dolores, casada com Dr . Aluísio Ta-
vares de Moura, f ilho de José Tavares de Moura, descendente
da família Moura do engenho Juá . 5 - Juraci, casada com o co-
mendador Alfredo de Figueiredo . 6 - Helena, casada com o en-
genheiro químico, José Pinheiro Bastos. 7 - Pedro - casado
·com Da. Ivone Barata da Costa Azevedo .

9 - JOÃO DE MOURA VASCONCELOS

Nasceu no município de Bom Jardim, a 16 de junho de

132
1847 . Com dois anos de idade veio para Nazaré com seus pais .
Integrou-se na vida da cidade , desempenhando algumas funções
públicas, como delegado de polícia e presidente do Conselho
Municipal. Consagrou-se à agricultura, tornando-se proprietá-
rio do engenho Juá . Era casado com Da . Davina Tavares de
Moura . Faleceu em setembro de 1921, deixando os seguintes
filhos: 1 - João Tavares de Moura, negociante no Recife . 2 -
D. João Tavares de Moura, primeiro bispo de Garanhuns . 3 -
Dr. Victor Tavares de Moura , médico . 4 - Francisco Tavares
de Moura , agricultor . 5 - Dr. Artur Tavares de Moura, advo-
gado, redator-chefe do jornal "A Semana" que circulou nesta
cidade . Era casado com Da . Helena de Moraes Coutinho, filha
de Alfredo Coutinho . 6 - An a Pessoa de Melo, casada com
Cel . Serafim Pessoa de Melo do engenho Gutiúba e filho de
Luiz Inácio Pessoa de Melo . 7 - Julia , casada com Adolfo de
Albuquerque Azevedo, filho do Cel . Camilo Albuquerque do en-
genho Varzão . O Cel . Moura , como era conhecido. se fez cer-
car de vasto círculo de amizade e de admiração . A casa gran-
de Juá era centro de reuniões e de festas familiares . Dois anos
antes da lei áurea deu carta de alforria a todos os seus escra-
vos .

10 - LAURINO GOMES DE MORAES VASCONCELOS

Filho de Joaquim Manuel de Moraes e Maria José de Mo-


raes , proprietários do engenho Pag i, onde nascera a 2 de abril
de 1868, casando-se com Maria Coelho de Moraes Andrade.
Tornou-se proprietário do engenho Criméia, onde criou seus 10
filhos . Exerceu grande influência entre os demais senhores de
engenho da região pela correição moral e capacidade de tra-
balho. Era muito procurado principalmente pelas classes po-
bres que batiam às suas portas em busca de consulta e remé-
dio para seus males. Deixou os seguintes fi lhos : 1 - Otávio,
engenheiro agrônomo e depois professor da Escola de Agrono-
mia, dedicando-se com extraordinário interesse às pesquisas
agronômicas , tendo por isso recebido homenagem especial do
Moinho Recife . Era casado com Da . Maria Cândida da família
Martins de Almeida de Escada . 2 - Eugênio, médico, dentista
e farmacêutico, casado com Da . Maria Eulália de família de Bom
Cansei ho . 3 - Jaci, casada com Francisco de Moraes Couti-
nho, negociante em Nazaré . 4 - Diógenes, médico e agrôno-
mo, casado com Da . Vanda de Moura, da família Moura do en-
genho Ventura . 5 - Isaura, casada com Joaquim de Moraes

133
Coutinho, comerciário em Nazaré. 6 - Laurin~. médico. 7 ·-
Alaíde . 8 - Nelsina . 9 - Cecília .

Para administrar as primeiras letras aos filhos mantinha-


se escola no próprio engenho, confiada ao prof . Natanael . To-
dos os filhos homens freqüentaram cursos superiores no Reci-
fe. Laurino Gomes era Conselheiro Municipal no período ante-
rior à Revolução de 30.

11 - LUIZ INÃCIO DE BARROS LIMA

Uma pessoa que com sua cultura e eficiência profissio-


nal soube tanto elevar o nome de sua terra e glorificar sua gen-
te foi Dr . Luiz Inácio de Barros Lima . Nascido numa casa gran-
de de engenho, conservou aquela têmpera e firmeza de cará-
ter, bebidas na rudeza do campo, e, ao mesmo tempo, aquela
bondade e fineza de tratamento adquiridas na vivência de uma
família rural cristã . Filho de Manuel de Barros Lima e Ana de
Andrade de Barros Lima, nasceu no engenho Papicu no dia 24
de novembro de 1897 . Fez o curso de humanidades nos Colé-
gios Diocesano , Porto Carreiro e Carneiro Leão do Recife. Em
1913 passou a cursar a Faculdade de Medicina de Salvador, Ba··
hia, onde se formou a 22 de novembro de 1919, obtendo o grau
de distinção na tese de doutoramento . Voltando ao Recife se
dedicou inteiramente à sua profissão de médico . Não se limi-
tou a seguir os caminhos práticos e rotineiros. Dedicou:se às
pesquisas científicas, iniciando verdadeira renovação do campo
da ortopedia e da cirurgia. Foi, membro ativo de várias Socie-
dades de Medicina, participando de Congressos e de mesas exa-
minadoras para livre docência em várias Universidade do país
e do estrangeiro. Apresentou centenas de trabalhos científicos,
freqüentou centros de estudos médicos na Argentina, e Uruguai
e grandes cidades européias, como Paris, Lion, Berlim, Viena e
Bolonha . A sua ânsia de saber e a preocupação de melhor de-
sempenhar a sua profissão o levou ao magistério superior, sub-
metendo-se a concurso para livre docência da Faculdade de Me-
dicina do Recife . Atuou de maneira extraordinária nos diversos
hospitais e desempenhou cargos de direção na Saúde Pública
do Estado e em várias instituições médicas . As numerosas con-
decorações recebidas e as homenagens que lhe foram presta-
das por ocasião do cinqüentenário de magistério na Faculdade
de Midicina mostram eloqüentemente a sua extraordinária in-
fluência como professor, como cientista, como médico e como
amigo .

134
12 - DOMINGOS DE ABREU AZEVEDO VASCONCELOS

Era filho de João Antônio da Costa Azevedo, proprietá-


rio do engenho Monte Claro e, de sua esposa, A na de Abreu de
Araujo Vasconcelos. Pelo lado materno era bisneto de Domin-
çios de Abreu de Araujo Vasconce los do en genho Mani mbu e
pelo lado paterno, bisneto de Matias Ferreira da Costa Azeve-
do, do engenho Trapuá . Domingos de Abreu nasceu no enge-
nho Monte Claro a 30 de março de 1893 e casou-se com Antô-
nia de Barros Lima, da família do en genho Papicu . Formou-se
em medicina, integrando a prim eira t urma da Faculdade de Me-
dicina de São Paulo . Era também farmacêutico . Exerceu a me-
dicina em Nazaré, tendo sido Diretor do Hospital Regional Er-
mírio Coutinho . Foi presidente do sindicato Agrícola de Naza-
ré e Presidente do Departamento Administrat ivo do Estado, ór-
gão que existiu no período chamado Estado Novo e, como tal,
substituiu o Governador do Estado em algumas oportunidades .
Teve atuação decisiva na criação da Escola-Granja Presidente
Vargas. Faleceu a 1 de agosto de 1966 de ixando dois filhos:
Itamar, professor universitário e casado com Da . Diva Fonte
Bastos e Dagmar, médico, casado com Da. Adalgisa Rosa e Sil-
va .

13 - ANTôNIO XAVIER CARNEIRO DE MOURA

Era casado com Da . Secundina Infância de Oliveira Me-


lo , da família Oliveira Melo do engenho Canavieiras . Foi pro-
prietário e fundador do engenho Teimoso, cujo nome lembra dis-
cussão havida entre ele e o proprietário do engenho Ventura,
Herculano Bande irn de Melo, por ocasião da demarcação dos
limites entre os dois engenhos . Deixou numerosa família: 1 -
Ulisses que viveu toda a vida em Nazaré . 2 - Davi . 3 - An-
tônio, ambos agricultores em Vicência . 4 - João Carneiro, avô
de Washington e Achiles de Moura Amorim , respectivamente
professor universitário e político no Recife . 5 - Rodolfo, pro-
prietário do engenho Retiro e pai de Geneton Carneiro de Mo·
raes, agricultor no município de Aliança . 6 - Odilon , herdeiro
do engenho Teimoso e proprietário também do engenho Teitan-
duba, pai do médico Nelson Moura e de Oscar Moura que foi
gerente da Cooperativa Agro-Pecuária de Nazaré e um dos fu n·
dadores do Aero-Clube . É pai do advogado e funcionário públi-
co dr . José Luiz de Moura . 7 - Arcelino, agricultor e chefe
político em Machados e pai de Zaqueu Mou ra, proprietário em
Nazaré. 8 - Samuel, proprietário do engenho Alcaparrinha e

135
pai do jornalista João Malta de Moura . 9 - Acid álio, negocian-
te em Ti mbaúba . 10 - Euzélia, casada com o deputado fede-
ral Erasmo de Macedo . 11 - Laura , casada com José Ageu de
Albuquerque Maranhão, tabelião público em Nazaré e pai do Dr.
Laura Moura Ma ranh ão, funcionário da Justiça do Trabalho .

14 - BENJAMIM OLIVEIRA DA COSTA AZEVEDO

Ficando órfão nos primeiros anos de vida, foi criado pe-


lo tio e padrinho Ant onio Vicente da Costa Azevedo, proprietá-
rio do engenho Barra . Casou-se com Da. Adelina da Costa Aze-
vedo da família Barreto Coutinho de Li moe iro . Formou-se em
Direito pela Faculdade de Direito do Recife . Recebendo por he-
ra nça o engenho Barra , dedicou-se à agr icultura , fundando em
1923 a Usina Barra . Sem prejuízo de suas atividades pri vadas
e voltadas para o campo, entregou-se à vida pública, exercendo
as funções de Prefeito de Nazaré no triênio 1916/ 1919 e Depu-
tado Estadual . Integrou a Junta Governativa que as sumiu a c:!i-
reção do mu nicípio após a revolução de 1930 . Foi 3.0 vice-presi-
dente do Sindicato Agrícola de Nazaré , integrante da primeira
diretoria do Banco Popular e presidente do Sindicato dos Usi-
neiros de Pernambuco , órgão que se transformou depois em Coo-
perativa dos Usineiros . Deixou os seguintes filhos: 1 - Dulce,
casada com o médico Dr . Rômulo Cavalcanti . 2 - Maria, ca-
sada com Dr . Fernando Queiroz , proprietário da Usina Cruangi.
3 - Dacy, casada com Dr . Luciano Gomes de Melo , funcioná-
rio do Banco do Brasil . 4 - Benjamim, bacharel , casado com
Da. Bruneilda, filha de Dr . Amaro Gomes Pedrosa e fundador .
da Usina Laranjeiras, anteriormente Gerente da Usina Barra .
Foi prefeito de Nazaré no quad riênio 1955/1959 . 5 - Alvaro ,
industrial , diretor-gerente da Usina Barra e casado com Da. Ce-
cília, da família Brito de Pesqueira. 6 - Maria Adelina, casa-
da com o industrial Luiz Maranhão, propriet ário da Usina Mata-
ri . 7 - Almerinda , casada com Dr . João Dourado Cavalcanti e
8 - Lucy, co-proprietário da Usina Barra.

15 - APRíGIO RAMOS DE ANDRADE LIMA

Nasceu no engenho Araticuns a 22 de novembro de 1885,


de propriedade de seus pais, José Francisco de Andrade Lima
e de sua primeira esposa , Francisca Maria de Andrade , ambos
dos Andrade Lima. Em 1907, José Francisco adquiriu o enge-
nho Morojó que passou por herança a seu filho Aprígio Ramos,
onde veio constituir família e tirar o sustento necessário para

136
educá-la . Casou-se aos 23 anos de idade com uma Andrade Li-
ma , Laura Ramos, filha de Antônio de Barros Lima e Maria Bar-
bosa de Andrade Lima , neta de Domingos Ramos de Andrade
Lima do engenho Manimbu pelo lado materno e descendente
pelo lado paterno dos Barros Lima do engenho Papicu .
Dotado de admirável clarividência e espírito inventivo,
esteve sempre à frente de muit os empreendimentos urbanos,
como constru ção do prédio do Cin e-Lux e montagem da empre-
sa de energia elétrica. Integrou na qualidade de secretário a
primeira diretoria do Banco Popular de Nazaré e participou de
outras entidades de classe. Apesar de suas atividades agríco-
las e sociais, encontrava sempre tempo para se dedicar ao cul-
tivo das letras . Sem possuir cursos universitários, era um dos
homens letrados de sua época. Faleceu a 22 de novembro de
1930, deixando os seguintes filhos : 1 - Eolo , professor univer-
sitário e funcion ário público , casado com Da . Eunice Rodrigues .
2 - Evane , casada com José Antônio da Costa Porto , ex-Depu-
tado Federal , ex- Ministro da Agricultura , jornalista, escritor e
professor universitário . 3 - Ernani, engenheiro agrônomo e
agricultor, casado com Da . Maria José Costa, proprietário do
engenho Camarazal . 4 - Edécimo, agricultor, proprietário do
engenho Coqueiros, casado com Da . Tal ma Correia . 5 - Eléa .
6 - Enona .

16 - DR . FLORENTINO OlíMPIO DOS SANTOS

Era f il ho de Faustino Ferreira dos Santos e Olímpia Fer-


reira dos S ~:i to s , proprietári o do engenho Buraré . Dr. Florenti-
no era irmão do M ons . João Olímpia dos Santos que foi pároco
da Pied ade e Vigário Geral dé:l A rquidiocese de Olinda e Recife
por vári os anos e de Severino Ol ím pi a dos Santos , pai de Eugê-
nio Ba ndeira dos Santos , proprietário do engenho Tamataúpe e
Cerâm ica A lvorada . Formado em Direito , foi Senador Estadual
e President e do Senado , Consultor Jurídico da Delegacia Fiscal
no Estado . Assumiu o governo do Estado por algum tempo de-
pois da revolu ção de 30 . Foi advogado e promotor público .

17 - LAURINDO TEOBALDO DE AZEVEDO

Casado com Da . Josefa Viei ra de Azevedo , foi proprietá -


rio do engen ho Japara nduba . Deixou os seguintes filhos: 1 -
João, casado com Da . Maria José da família Calábria, agricul-
tor e pecu arista . Foi deputado estadua l em vá rias legislaturas
e prefe ito de Carpi na . Otacíl io , vereador no Recife . 3 - Alei-

137
des, agricultor e pecuarista, foi prefeito em Nazaré no quadrié-
nio 1969/ 1973, casado com Da . Tereza Lapenda . 4 - Nelson ,
engenheiro agrônomo , funcion ário da Secretaria de Agricultu-
rn. 5 - Auta, casada com Maviael Araújo , proprietário do en-
uenho Santa Fé . 6 - Natércia, casada com o prof . Aluisio Pe-
reira, funcionário da Secretaria de Educação e membro do Con-
selho Estadual de Educação . 7 - Al aíde e 8 - Maria Rita .

18 - VICTOR VIEIRA DE MELO

Foi pessoa muito conhecida em Nazaré durante a primei-


ra metade deste século e de muita influência na vi da social da
comunidade . O nome do Cel. Victor, na int imidade, Bibi Vie ira ,
esteve ligado a numerosas institu ições. Sempre acolhedor e
prestativo , estava atento a tudo que dizia respe ito ao bem da
cidade. Filho do velho tabeli ão público, Inácio Vieira de Melo
de quem herdou o cartóri o e de Capitu lina Cavalcanti Vie ira de
Melo , nasceu em Barreiro a 6 de março de 1864, vindo para Na-
zaré pouco depois, onde se batizou a 16 de julho de 1865 . Par-
ticipou ativamente da vida da cidade , desempenhando funções
de caráter judiciário, adm inistrativo e cultural . Foi secret ári o
do Sindicato Agrícol a, tesoureiro da Liga contra o Analfabetis-
mo, Gerente do Banco Popular, dirigiu por muito tempo com ca-
ri nho e zel o o Centro Literário e Recreativo, sociedade mante-
nedo ra da Biblioteca, de cujas instituições fora fundador . Foi
também diretor do jornal "A Semana" , subprefeito do municí-
pio no período de 1904/1 907 e prefeito no período de 1928/
1930 . Era Tenente-Coronel da Guarda Nacional, patente de que
muito se ufanava, usando sua vistosa farda nas festas cívicas
e relig iosas . Faleceu a 19 de setembro de 1954 com 91 anos
de idade .

19 - ABfLIO CLEMENTINO BEZERRA

Outro nazareno que sempre esteve pres ente aos movi-


mentos cívicos e culturais fo i Abílio Cle mentina Bezerra . Em
1884 já falava de público por ocasi ão do lançamento da primei-
ra pedra do Teatro em construção na cid ade. Em 1894 era se-
cretário da Loja Maçônica Obreiros do Porvir; foi sócio funda-
dor da Euterpina Juvenil Nazarena, diretor dos jornais " Sete de
Setembro" e "Planeta" e redator da "Gazeta de Naza ré". De
muitas maneiras prestou sua colaboração às organizações da
cidade. A sua influência se manifestou sobretudo no exercício
do magistério .

138
longa seria a relação dos filhos de Nazaré que honraram
e continuam honrar o seu nome nos diversos campos de ativi·
dade . Registraremos alguns poucos nomes: Aníbal Fernandes,
professor, jornalista , por muitos anos Diretor do Diário de Per·
nambuco . General Manuel Arão Gonçalves de luna, general re·
formado do Exército . Jarbas Maranhão, ex-Senador e membro
do Tribunal de Contas . Médico Nilson Resende e Marcos Vini-
cius Vilaça , membro da Academia Pernambucana de letras , da
qual foi presidente, escritor, professor de Direito Internacional
e funcionário de categoria na esfera federal . A pintora ladjane
Bandeira e o mae"tro José Menezes. Cel . Ivo Barbosa .

139
REFER~NCIAS BIBLIOGRÁFICAS

João de Albuquerque Maranhão


História da Casa de Cunhaú
Revista do Arquivo Público do Estado - Anos VII a X
- Nºs . IX a XII - 1972 - 1976 - Recife

2 - Antônio José Victoriano Borges da Fonseca


Nobiliarquia Pernambucana
2 vols . - Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro

3 - Barros Lima
Livro comemorativo do seu jubileu de ouro no magisté-
rio da Faculdade de M9dicina do Recife
Imprensa Universitária - 1967

4 - Testamentos - Cartórios de Nazaré .


CAPÍTU LO XIV

NAZARÉ DE MOJE

Encerrando estas pag inas sobre a história de Nazaré de-


vo fazer referência a sua atual si tuação . As est ruturas econô-
micas de maneira geral passaram por profundas transforma-
ções. Os problemas sociais se agravaram, tomando rumos bem
diferentes dos de antigamente. Todos percebem que Nazaré
não é mais aquela cidade atuante e de influência política como
era há tri nta anos passad os . Que causas contr"buíram para es-
sa transfo rmação? Nazaré é hoje uma cidade decadente?
Uma análise mesmo su perficial dessa situaç ão, sem apro-
fundamento das imp licações sociológicas que o caso possa ter,
mostra que a cidade não est á propriamente num estado de de-
cadência, mas nu m estado de estacionamento. Há paralisaç ão
na vida social, não apa rec imento de novas instituições, falta de
mercado de trabalho para as novas gerações e falta de dinamis-
mo em outros setores em razão de uma causa mais importan-
te, a causa econômica.
Nazaré sempre viveu à sombra dos canaviais . A sua ri-
queza se baseava na monocultura canavieira . Qu ando os enge·-
nhos bangüês eram centros de atividade agrícola e industrial,
até os anos de 1940 mais ou menos, havia uma maior distribui -
ção de riqueza que repercutia na v ida da cidade . Com o desa-
parecimento completo dos bangüês, os engenhos perderam su a
atividade industrial, ficando reduzidos à atividade puramente
agrícola que é naturalmente menos rentáve l . Os senhores-de-
engenho se tornaram de um dia para outro em meros vendedo-
res de cana às Usinas e sujeitos às suas exigê nc ias . A vida

143
econõmíca da região ficou centralizada nas Usinas . Os enge-
nhos foram perdendo a sua autonomia . De vendedores com cer-
ta autonomia , de seus produtos, passaram a mend igar favores
e oportunidades para moer suas canas.
Um outro fato r que contribuiu para o empobrecimento da
região foi o desgaste da própria terra . A não aplicação de téc·
nicas e falta de mecanização fizeram com que as atividades
agrícolas se tornassem cada vez menos prod utivas e os homens
que trabalham mais desiludidos .
É evidente que esta situação econômica poderia ter si-
do contornada em parte se os que estavam à fre nte das insti-
tuições dispusessem de um pouco mais de visão para empre-
gar novas técnicas agrícolas, se tivessem tido a coragem de
correr o risco, empregando o seu capital em novos empreendi-
mentos; se animados pelo espírito de verdadeiro cooperat ivis-
mo, un issem seus esforços e experiências na reformulação de
novos métodos de trabalho em busca de novas fontes de rique-
za . Ficou-se a lamentar o passado, a guardar as reservas finan-
ceiras nos bancos da capital e a esperar-se por soluções mági-
cas. Veio o marasmo de que todos se ressentem .
Isto não significa que Nazaré tenha parado de todo . Ins-
tituições educacionais, hospitalares , bancárias, serviços urba-
nos continuam ainda com sua vitalidade . Nazaré está se res-
sentindo de liderança política e de dinamismo por parte dos que
se acham à frente de suas instituições .

144
FONTES PRIMÁRIAS

Documentação Histórica de Pernambuco - Sesmarias


A . P. E. - Recife - 1959

2 - Livro de Atas do Conselho do Governo - 1833 -


A . P. E. - Recife

3 Leis Provinciais - Vai. 11 - A . P. E. - Recife

4 Livro de Atas do Conselho Municipal de Nazaré - Ar-


quivo da Câmara

5 - Leis Estaduais - A.P . E. - Recife


Biblioteca da Assembléia Legislativa do Estado - Re-
cife

6 Coleção da Gazeta de Nazaré de 1917 a 1967

7 Livro de registro de Batizados e Casamentos das Fre-


guesias de Laranjeiras e Nazaré - Arquivo da Paró-
quia de Nazaré

8 - Livro de Registro de Provisões da Cúria Diocesana -


Nazaré

9 - M . S . Correspondência dos Juízes - A . P. E. - Re-


cife

1O - Processos e Livros de Registro de Escrituras dos Car-


tórios de Nazaré

145
11 - Livro de Atas e Correspondências
Biblioteca Municipal de Nazaré

12 - M . S . Estrada de Ferro de Limoeiro - A . P. E. - Re-


cife
13 - Coleção do jornal "O Nazareno" - A. P. E. - Recife
14 - Números do jornal "O Thermômetro" encontrados em
processos do Cartório .

FONTES SECUNDÁRIAS

1 - PEREIRA DA COSTA
Anais Pernambucanos - Edição do A. P. E. - Recife
- Pernambuco - 1935
2 - SEBASTIÃO VASCONCELOS GALVAO
Diccionário Chorográfico, Histórico e Estatístico de
Pernambuco - Edição da Imprensa Oficial - Rio de
Janeiro - 1908
3 - HENRY KOSTER
Viagens ao Nordeste do Brasil - Notas e Tradução de
Luís da Câmara Cascudo - Edição da Cia . Editora Na-
cional - Coleção Brasiliana - 1942
4 - GASPAR PERES e APOLôNIO PERES
A Indústria Açucareira em Pernambuco
Imprensa Industrial Néri da Fonseca - Recife - 1915
5 - Pe. JOAQUIM DIAS MARTINS
Os Mártires Pernambucanos (1710-1817)
Reedição da Assembléia Legislativa de Pernambuco

6 - ANTôNIO JOSÉ VICTORIANO BORGES DA FONSECA


Nobiliarquia Pernambucana
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro - 2 vais.
1935

7 - Pe . FRANCISCO MUNIZ TAVARES


História da Revolução Pernambucana de 1817 - 3a .
edição
Edição comemorativa do 1.º centenário , revista e ano-
tada por Oliveira Lima - Imprensa Industrial - Re-
cife - 1917

146
8 - OLIVEIRA LIMA
O Movimento da Independência - O Império Brasilei-
ro - 7.9 volume da História do Brasil de Francisco Adol-
fo de Varnhagen - Edições Me lhoramentos - São
Paulo - 1962

9 - VALDEMAR VALENTE
Antecipação de Pernambuco no Movimento da Indepen-
dência - Testemunho de uma inglesa: capítulo : Maria
Graham e a Revolução Pernambucana de 1817

10 - FRANCISCO PACÍFICO DO AMARAL


Escavações - Edição do A . P. E. - Recife - 1974

11 ULISSES BRANDÃO
Confederação do Equador - ln Revista do Instituto Ar-
queológico de Pernambuco - 1924 - nºs . 123-126

12 - EDSON CARNEIRO
A Insurreição Praieira (1848-1849)
Editora Conquista - Rio de Janeiro - 1960

13 - CAROLINA NABUCO
A Vida de Joaquim Nabuco - Amemeric-Edit .
2 vais .

14 - M . Dll~ GUES JUNIOR


O Bangüê em Pernambuco no século XIX
Em Revista do Arquivo Público Estadual - Recife
Anos de VII a IX - nºs . IX e XII .

147,
DATAS SIGNIFICATIVAS NA
HISTÓRIA DE NAZARÉ

18 . 06 . 1871 - Doação da Sesmaria de Lagoa d'Anta

08 . 03. 1822 - Criação da primeira escola na região

17 . 05 . 1833 - Criação da Vila e Comarca de Nazaré da Mata

30 . 04 . 1839 - Criação da Freguesia na Capela de Nossa Se-


nhora da Conceição da Vila de Nazaré

24 . 05 . 1843 - Fundação do primeiro jornal "O Nazareno"

11 . 06 . 1850 - Elevação da Vila de Nazaré à categoria de cida-


de

27 .01 .1881 - Fundação do Centro Literário e Recreativo Na-


zareno e de sua Biblioteca

15 . 09 . 1882 - Inauguração da Estrada de Ferro da Great Wes-


tern

31 . 01 . 1887 - Fundação da Sociedade Beneficente Nazarena,


mantenedora do futuro Hospital Ermírio Couti-
nho

01 . 01 . 1888 - Fundação da Sociedade Musical Euterpina Juve-


nil Nazarena

25.03 . 1892 - Posse do primeiro prefeito, subprefeito e Con-


selho Municipal no regime republicano

1.49
01 . 08. 1903 - Fundação do Sindicato Agrícola de Nazaré

05 . 11 . 191 4 - Fundação da Sociedade Musical "5 de Novem-


bro" - Revoltosa

17 . 02 . 1917 - Fundação do jornal "Gazeta de Nazaré"

02 . 08 . 1918 - Criação da Diocese de Nazaré

07 . 09 . 1919 - Sagração do Primeiro Bispo da Diocese

13 . 02 . 1923 - Fundação do Ginásio Santa Cristina

03 . 07 . 1926 - Fundação da primeira casa de crédito, Banco Po-


pular de Nazaré
11 . 09 . 1928 - Nazaré perde grande parte de seu território

25 . 03 . 1930 - Instalação da Casa Imaculada Conceiç ão das Ir-


mãs de Caridade
26 . 03 . 1936 - Fundação do Condor Esporte Clube

20 . 03 . 1937 - Instalação da Caixa Econômica Federal - Agên-


cia Nazaré
23 . 03 . 1937 - Fundação da Cooperativa Agro-Pecuária

19 . 03 . 1938 - Fundação do Ginásio São José

19. 04 . 1941 - Fundação da Escola Granja Presidente Vargas

10 . 10 . 1963 - Criação do Ginásio Industrial D. Carlos Coelho

22 . 12 . 1963 - Nova divisão territorial do município de Nazaré

05 . 05 . 1965 - Inauguração do Núcleo de Supervisão Pedagógi-


ca (hoje DERE)
1O . 12. 1966 - Inauguração do Quartel do 2.0 Batalhão da Polí-
cia M ilitar
28 . 12 . 1966 - Criação da Faculdade de Formação de Professo-
res

18 . 1O.1967 - Criação do Centro de Aperfeiçoamento do Ma-


gistério de Pernambuco (hoje CEDEPE) .

150
PALESTRA proferida pelo Mons .
Petronilo Pedrosa no auditório do Gi-
násio Santa Cristina , na noite do dia
17 de maio de 1982 no PRIMEIRO CI-
CLO DE PALESTRAS SOBRE PESSOAS
ILUSTRES DE NAZARÉ, patrocinado
pela Juventude Democrática Nazare ·
na.

151
DOM RICARDO VILELA

BISPO MISSIONÁRIO

1 - CRIAÇÃO DA DIOCESE

POSSE DO PRIMEIRO BISPO

O 2 de março de 1918 foi um dia de movimentação dife-


rente e de intenso júbilo para a comunidade nazarena . Uma
multidão integrada por pessoas de todas as classes soci ais acor-
rera à gare da estação ferrovi ária para receber S . Exa . Rvdma .
D . Sebasti ão Leme , Arcebispo de Olinda e Recife que estava
a chegar no trem "interestadual das 10 horas", segundo a ex-
pressão da época.
S . Exa . vinha visitar a cidade e reunir as lideranças lo-
cais a fim de tratar da cri ação da Di ocese e tra ça r proç:irama
referente ao levantam ento de meios fi nanceiros para constitui-
ção do patrimônio exi gido para a cria ção do referido empreen-
dimento .
Nazaré se afigurava como favorita entre as demais cida-
des da região , como Timbaúba , Goiana, Limoeiro e até Floresta
dos Leões. Esta preferência era não tant o pela sua posição
geográfica, sendo a mais central em rela ção às demais cidades
que haveriam de compor a nova circunscr ição eclesiástica; e,
era também de f ácil acesso ao Recife , por se encontrar à mar-
gem da estrada ferroviária ; mas, sobretudo, por ser o municí-
pio de maiores possibilidades econômicas , como possuidor de
maior número de engenhos de açúcar . Na realidade, a socieda-
de nazarena era formada por notável aristocracia rural que se

153
distinguia quanto ao número e quanto ao poder econômico. Is-
to se pode concluir pelo número de pessoas que formaram as
várias comissões organizadas na sede e nas vilas do município
pnrn cuidar da arrecadação de meio, e pela quantia que se ar-
recadou em pouco tempo para essa finalidade : cinqüenta mil
contos de réis (50 . 000) .

Uma razão que me parece ponderável na preferência de


Nazaré para sede da nova Diocese , foi o fato de ser o Pe . Vir-
gílio Lapenda, filho desta cidade, secretário particular de D .
Leme .
S . Exa . chegou às 10 horas da manhã daquele dia , sen-
do recebido com entusiasmo e sinais de viva alegria, como se-
jam: banda de música, fogos, discursos e repicar de sinos . Hos-
pedou-se na residência do vigário , Pe . Virgínio Estanislau Afon-
so, onde recebeu várias manifestações . No dia seguinte, 3 de
março, dia de domingo, oficiara missa pontifical pela manhã e
às 13 horas presidiu sessão solene, quando explicou o objetivo
principal de sua visita, recebendo integral apoio das autorida-
des e pessoas outras de influência na comunidade. Foi neste
momento constituída a comissão central destinada a providen-
ciar a obtenção de meios para a constituição do patrimônio . A
comissão ficou assim constituída: o vig ário da paróquia, Pe .
Virgínio Estanislau Afonso, Drs . Fernando Ferreira. Florentino
Olympio dos Santos , José Gonçalves Guerra , Timoleão Mara-
nhão, Bernadino Pontual Junior, Tenente José Pascoal Spinelli,
Coronéis Luiz Inácio Pessoa de Melo , Odom Velho Pessoa de
Melo , Manuel Cavalcanti de Albuquerque Vanderley , Ângelo Vi-
tal, Francisco Dourado e Victor Vieira de Melo ; Major Bento
Franco Romeiro e Srs . João Pessoa Guerra e Aprígio Ramos de
Andrade Lima . Além destas comissões foram criadas outras
auxiliares, ou subcomissões que deviam atuar em Nazaré , no
Recife , em Carpina, Tracunhaém, Lagoa do Carro , Vicência, La-
goa Seca, Aliança e Buenos Aires .
O número de pessoas integrantes das várias comissões
e das que subscreveram os donativos, mostra bem o entusias-
mo com que todos aderiram à idéia e o propósito de realizá-la
com a maior brevidade .
Assim a Gazeta de Nazaré, alguns meses depois já anun-
ciava a compra da casa destinada à residência episcopal . E a
escolha de Nazaré para sede da Diocese era cousa vitoriosa,
pois o jornal "SERRA" de Timbaúba num editorial já felicitava
a família nazarena por este acontecimento e reconhecia as ra-
zões dessa preferência.

154
Enquanto o vigário da paróquia e as várias comissões tra-
balhavam na realização de suas tarefas, o povo aguardava an-
sioso a promulgação do ato oficial da Santa Sé, criando a Dio-
cese.
A 2 de agosto desse mesmo ano, 1918, foi promulgada
em Roma a Bula Arquidiocesis Recifensis Olindensis que pôs
fim à esta expectativa , criando a Diocese de Nazaré e de Ga-
ranhuns , desmembradas ambas do território da Arquidiocese de
Olinda e Recife . A Bula foi assinada pelo então Pontífice Ro-
mano, Papa Bento XV.
Somente a 3 de julho do ano seguinte , 1919, foi anuncia-
da a eleição do vigário de Gravatá, Pe . RICARDO VILELA, para
ocupar o sólio da nova Diocese pernambucana .
O novo prelado nascido a 3 de abril de 1887 na cidade de
Olinda , era filh o do Tenente Manuel José de Castro Vilela e de
Da . Amélia da Silva Vilela . Fez os estudos eclesiásticos no
Seminário daquela cidade , recebe ndo as ordens sacras das mãos
do Arcebispo D . Luiz Raimundo da Silva Brito, sendo ordenado
sacerdote a 20 de novembro de 191 O.
Depois de quase dez anos de paroquiato em que teve
oportunidade de manifestar seu zelo pasto ra l e exercitar suas
qualidades de orador sacro, foi cham ado a outro campo mais
vasto e de ho rizontes mai s largos para suas 11:últipl as ativida-
des . A Diocese estava loca li zad a na regi ão norte do Estado,
compreendendo as pa róqui as de Nazaré, Goiana. ltambé , Nos-
sa Senhora do ó, transferida para Condado, Lagoa Seca, trans-
ferida para Aliança, São Vi ce nte Férrer, Vicên cia, Carpina , Li-
moeiro, Bom Jardim , Queimadas, hoj e Orobó, Su rubim , Taquari-
t inga e Sant a Cruz do Capibar ibe, com uma população calcula-
da na época de 600 . 000 habitantes .
· A solenidad e de sagração ep iscopal t eve lugar no dia 7
de setembro de 1919 na Sé de Olinda , revestida da pompa do
ritual litúrgica . Foi sagra nte o então A rce bispo M etropolitano,
D. Seba sti5 o Leme e co nsag rantes os Srs . Bispos de Floresta.
D . José de Oliveira Lopes e de Sobral, D . José Tupinambá da
Frota.
Nazaré viveu no dia 19 de outubro desse ano o dia mais
feliz de sua história sócio-religiosa . Reuniam-se em perfeita
harmonia os sentimentos de religiosidade e de nativismo, quan-
do católicos e não católicos experimentaram as mesmas explo-
sões de alegria e de certo orgulho pela realização de um sonho
que se vinha alimentando quase há dois anos: a implantação da
nova Diocese . A chegada e a posse do primeiro bispo de Na-
zaré se apresentava como um acontecimento de real importân-

155
eia para a vida social e religiosa dessa cidade e de toda a re··
gião . É que os sentimentos de independência e de reconheci-
mento de seu valor é alguma cousa que está sempre oculta ntJ
coração humano e que pode explodir a atear fogo ao cantata de
qualquer centelha .
Todas as entidades religiosas , políticas, econômicas <::
sociais do município, pessoas de todas as classes se irmana-
ram para prestar ao seu novo pastor as homenagens de carinho,
respeito e testemunhar-lhe provas de confiança . E assim, na
manhã do dia 19 de outubro , na velha matriz construída nos ido~
de 1850, já ostentando o trono episcopal, realizava-se a soleni -
dade de posse e o primeiro pontifical do primeiro Príncipe da
Igreja nazarena. A oração congratulatória foi proferida pelo Cô-
nego Pereira Alves, o mais renomado orador sacro da época.

* * *

Vamos analisar sumariamente os vários setores da vida


sócio-religiosa da Diocese que rec eberam a benéfica influência
desse Pastor que se entregou inteiramente ao bem espirituai
de seu povo .

2 - BISPO MISSIONÁRIO

Para se aquilatar a dimensão deste espírito mission ário


consideremos algumas de suas palavras, extraídas de um dis-
curso proferido no dia 7 de setembro de 1932 na solenidade co-
memorativa de sua sagração episcopal . Palavras que valem co-
mo um perfil de sua alma apostó lica . Comentando o texto do
Pontifical Romano na parte referente à sagração de Bispo, quan-
do diz: "recebe o evangel ho, vai e prega . . . ele dizia receber
o evangelho é receber o espírito do Mestre, é votar-se à re-
núncia de si mesmo, é dar-se ao sacrifício, à cruz . É instruir os
pequeninos, doutrinar os pobres, amparar os que caem , salvai
os que periclitam . É semear bênçãos , é espalhar risos , é co··
lher lágrimas . Recebe o evange lho e vai .. . ao apóstolo não é
lícito parar . Caminheiro divino , só lhe é dado ir-se , embrenhar-
se pela selva ínvia, partir para longe .. . Caminheiro da Cruz,
ele a leva à mansarda do pobre, aos que vivem e aos que mor-
rem. Caminheiro da Luz, ele a faz brilhar na treva da ignorân-
cia na penumbra da inteligência, cuja f é agoniza . Cami nheiro
do Amor, ele oferece ao ingrato perdoando , ao decaído soer-
guendo-o . Vai e prega ... Pregar é necessário ao apóstolo . Pre-
gar é anunciar que Deus é Onipotente e bom . Bom e pleno de

156
justiça . De justiça e de amor . Ele é o Homo Dei que está ao
lado do pobre, do operário, do campônio, na rnisérrima choupa-
na , nos salões dos magnatas , ao pé dos que agonizam ; no tem-
plo , no púlpito , na confissionário, na imprensa , nas organizações
sociais" .
No cumprimento deste programa que ele tinha não co-
mo um simples dever social , mas como um imperativo de cons-
ciência , um munus pastoral , percorreu toda a Diocese, muitas
vezes a cavalo, visitando todas as paróquias, tanto as matrizes
como as capelas , realizando visitas pastorais e missões popu-
lares no trabalho da catequese e administração dos sacramen-
tos . Quase sempre era ele mesm o pregador, usando de elo-
qüência, mas de linguagem bem acessível aos ouvintes. Fazia-
se acompan har de re lig iosos e sacerd otes de seu clero que o
ajud avam nes sas tarefas . Muitas veze s ce lebrava os atos da se-
mana santa em outras paróquias da diocese, dando oportuilida-
de aos seus queridos diocesanos de sent ir de perto a beleza e
o esplendor da liturgia católica .
Em três ocasiões particul ares a Diocese foi extraordi-
nariamente movi mentada, diri a mesmo sacudida por intensa
ação mi ssionária, ce lebrando-se em todas as paróquias Sema-
nas Eucarísticas , Congress os Euca rísti co-Marianas , Semanas
Marianas, Sessões Solenes, quando se fa ziam ouvir não ape-
nas ec lesiásticos, mas leigos de ren omad a cultura e posição so-
c ial . Lembro-me do Con gresso Eucarístico Mariano de Timbaú-
ba, quando foi vivamente apl audido o Senador Novais Filho, um
dos últimos grandes oradores populares de Pernambuco. Isto
ocorreu em 1922, qu ando foi procl amada Nossa Senhora da Con-
ceição, Padroeira de tod a a Diocese . A segunda oportunidade
foi em 1935, na comemoração das bodas de prata sacerdotais
do Bispo Dioces ano . E a terceira foi em 1944 na celebração do
jubileu de prata da criação da Diocese.
Quer ocorressem motivos extraordinários, quer não, o
Bispo Diocesano estava sempre a visitar as comunidades paro-
quiais do litoral , da regi ão da mata ou do agreste, porque o ter-
ritório da Diocese ia das praias de Goiana à Serra de Taquari-
tinga, do vale do Capibaribe aos limites da Paraíba. la, levando
sua palavra de ensino, de orientação e de estímulo . A sua ação
pastoral se fazia, sobretudo com a atuação pessoal . Ele já rea-
lizava nesse tempo o que o Papa João Paulo li pedia , numa exor-
tação dirigida ao episcopado franc ês há alguns meses atrás: a
presença do bispo no meio do povo .
Como prova disto lemos numa not a da Gazeta de Nazaré
do di a 2 de abril de 1938, not iciando a volta de su a excel ência

157
de várias paróquias: "Não se conta uma só paróquia que não
haja sido missionada de maneira eficiente por meio de prega-
ções doutrinárias e morais com que se busca levar o povo pelo
caminho tranqüilo da justiça, do amor cristão, robustecendo os
laços da família, as tradições e os bons costumes" . Na edição
de 5 de dezembro desse mesmo ano, dizia ainda a Gazeta: "A
Diocese de Nazaré vem demonstrando nas suas realizações prá -
ticas a capacidade de ação do nosso bispo . As suas atividades
apostólicas têm se concentrado em dois pontos que constituem
a grandeza de seu pontificado : o problema da juventude o qual
vem recebendo as melhores provas de carinho e a difusão da fé
por meio de trabalhos missionários atrav és de toda a Diocese .
S . Exa . vem percorrendo num trabalho insano de evang eliza-
ção as vilas insignificantes, os lugarejos mais humi ldes , bem
como os centros de maior concentração demográficas e de im-
portânci n social . Todos têm recebido indisti ntamente a ação be-
néfica de sua ação pastoral".

3 - ORGANIZAÇÕES SOCIO-CULTURAIS

As suas atividades não se limitavam a um trabalho de


massa, não se preocupava apenas com o aplauso das multidões
e tantas foram as multidões que o aplaudiram com entusiasmo,
mas tratou desde o início de seu pontificado de arregimentar
os grupos, de form ar as elites . Antes mesmo de se cuidar de
associações de ação católica no Brasil e nos demais países da
cristandade, já D . Ricardo fundava em Nazaré a Associação de
Homens Católicos, nucleando os homens da comunidad e em vi s-
ta de uma vida cristã mais intensa . Para as reuniões mensais
trazia quase sempre do Recife pessoas de elevado nível cultu-
ral . Na sede, como nas demais paróquias multiplicaram sob sua
inspiração e bênção os núcleos da Liga Jesus, Maria e José, da
União de Moços Católicos que tanta atuação tiveram naquela
época, Congregações Marianas, Associações de Mães Cristãs.
Deu grande impulso e pleno apoio à Pia União das Filhas de Ma-
ria já existente . Muitas vezes por ocasião da Festa da Concei-
ção promovia Concentrações e Semanas Marianas de âmbito
diocesano.
Mas, não foram somente essas associações de caráter
estritamente religioso que mereceram suas atenções . Suas vis-
tas se voltaram para outras organizações de caráter social, pro-
fissional e diversional. Um dos primeiros atos ao assumir o go-
verno foi a criação do Patronato de Moças Pobres com aulas de
letras e trabalhos manuais, que funcionou numa casa da atual

158
rua Joaquim Nabuco, onde é hoje a residência paroquial . O NG-
cleo 3 de Julho comandou as atividades esportivas da cidade,
realizando excursões a cidades vizinhas , atraindo clubes a esta
cidade e promovendo torneios de futebol . A Diocese participa-
va at ivamente das co memorações cívi cas . Sempre estimulou
as solenidades externas da Festa da Conceição. Foi ela que pla-
nejou as solenidades comemorativas do Centenário da Indepen-
dência .

Quando a Diocese comprou a tipografia da Gazeta de Na-


zaré, graças à iniciativa e cooperação do sempre lembrado Pe.
João Mata no ano de 1925, com eçaram a ser celebradas festas
extern as com o obj etivo de angari ar donativos para ajudar a ma-
nutenção da boa imprensa, o jo rnal diocesan o . Essas festas que
eram ce lebradas todos os anos, não so mente na sed e, como nas
outras cidades da Diocese, durante um bom período, con stavam
de barracas de prendas, tão a gosto da época, leil ões , rifas e
sorteios que traziam gra nde movim entação social .

Nos primeiros meses, após sua cheg ad a a esta cidade ,


promoveu campanha para substituir o pis o da M atri z, j á então
t ra nsfo rmada em catedral . Não satisfe ito com isto , iniciou em
1924 campanha de maior ampli t ude, v isando a reforma comple ·
ta da catedral. Trabalho este que lhe roubou muitas energias e
lhe impôs muitos sac ri fíc ios . Depoi s de algum tempo os vig á-
rios da paróquia assumiram a responsabilidade da direção des-
se trabalho de construç ão . O Pe . Otto Sai ler deu bom prosse-
guimento a essas obras . O Pe. João Mota se esgotou fisica-
mente, lutando com uma bolsa na mão, pedindo esmolas nos
dias de feira e correndo atrás dos ônibus e automóveis . Assim
ele conseguiu rebocar a parte externa e concluir o piso em gra-
0
nito , preparando a catedral para as celebrações da festa do 1.
centenário da paróquia a 30 de abril de 1939 . Mas, foi o Mons .
Luiz Ferreira Lima que conseguiu concluir os trabalhos com a
colaboração do construtor Manoel José de Timbaúba . Modificou
um pouco a estrutura da capela-mor, terminou a fachada, colo-
cando a imagem de Nossa Senhora e dos Anjos . Conseguiu
substanciosa ajuda de alguns nazarenos , como os Irmãos Joa-
quim e Arquimedes Bandeira e adquiriu o conjunto de mármo-
re do altar-mor e altares laterais, grade da comunhão e púlpi·
tos, além dos vitrais . Assim depois de 20 anos de trabalhos e
de esforços Nazaré pode ostentar su a Catedral de fachada im-
ponente e de rara bel eza arqui t etônica .

159
Uma preocupação que na realidade marcou seu governo
à frente desta Diocese foi a educação da juventude . Numa vi-
são admirável de pastor voltou logo suas vistas para a solução
deste problema. Assim a 31 de outubro de 1920, logo depois do
primeiro ano de governo, convocou uma reunião das principais
famílias da comunidade para tratar da criação de dois colégios
para rapazes e moças . Seus planos não ficaram no papel . Em
1921 começava a funcionar o Colégio Bento XV sob a direção
do Pe. João Mata. Anos depois assumia a direção desse edu-
candário o Pe. José Marques da Fonseca. E como tives8e de
assumir a paróquia de Queimadas, hoje Orobó, passou a dire-
ção ao Dr . Felisberto dos Santos Pereira , Juiz de Direito da Co-
marca . Em fevereiro de 1923 abria-se o Colégio de Santa Cris·
tina, dirigido pelas Madres da Instrução Cristã . Em 1925 a Dio-
cese comprou as instalações de outro Colégio existente na ci-
dade, Colégio Luso-Brasileiro de José Pei xe Sobrinho, entregan-
do a direção ao prof . Ada rico Negromonte que mudou o nome
para Ateneu Nazareno .
Quando em 1930 as Irmãs de São Vicente de Paulo dei-
xaram o serviço de enfermagem do Hospital Ermírio Coutinho
em razão da incompatibilidade com a direção do hospital, D .
Ricardo cedeu as instalaçõe s do Bento XV para que elas ini-
ciassem um serviço de escolas e de assistência aos pobres .
No ano seguinte a fam ília Pessoa Guerra fazia a doação de uma
casa, onde se insta lou definitivamente a Casa Imaculada Con-
ceição, a conhecida Casa Irmã Guerra que por muitos anos foi
dirigida pela Irmã Josefina Guerra , nazarena de boa estirpe e a
quem Nazaré muito deve. Nessa Casa foram instaladas esco-
las para crianças pobres, patronato para moças, Escolas de Cor-
te e Costura, Dispensário e Abrigo para velhos. Ainda sob ins-
piração diocesana, fundou-se em 1933 o Ginásio São José que
obedeceu inicialmente à direção do Pe . Nicolau Pimentel e
prof . José da Costa Porto, no velho casarão onde funcionou o
Seminário. Este Ginásio teve a direção posterior de Prof . Aluí-
sio Pereira, do Pe . Carlos Calábria e consolidou-se na direção
do Pe. João Mota . Na década de 40 o Ginásio São José adqui -
riu instalações próprias, atingindo uma fase de grande prospe-
ridade.
Não foi somente a cidade episcopal que recebeu esses
benefícios . Em Limoeiro foi fundado o Colégio Regina Coe li sob
a direção das Madres Beneditinas, sendo posteriormente con-
fiado às Madres Franciscanas da Congregação Maris Stela, che-
gadas da Alemanha. Em Timbaúba instalou-se o Colégio Santa
Maria que foi dirigido por algum tempo pelas Madres da lnstru-

160
ção Cristã e depois pelas Mad res Franciscanas da Congrega-
ção Ma ris Stela, também alemãs. Em Surubim abriu-se o Colé-
gio Nossa Senhora do Amparo , confiado às Irmãs de Nossa Se-
nhora do Amparo .

Em Bom Jardim abriu-se o Colégio Santana sob a direção


das Madres Beneditinas. Em Carpi na instalou-se o Patronato
Santa Inês, confiado às Irmãs Servas da Ca ridade, congregação
fundada por Pe . Venâncio . Todos esses educandários funda-
dos direta ou indiretamente pela autoridade diocesana, cuida-
vam da formação cristã da juventude, elevando consideravel-
mente o nível cultural e profissional do nosso magistério pri-
mário . Com exceção do Ginásio São José e do Patronato San-
ta Inês, todos os demais estabelecimentos continuam ainda em
nossos dias cumprindo sua missão educativa . E através dessas
casas de ensino aquelas sementes benfazejas lançadas outrora
vão se multiplicando em todos os recantos da Diocese perpe-
tuando a ação providencial do sábio pastor.

4 - CRIAÇÃO DE NOVAS PARóQUIAS

Conhecendo a extensão territorial de algumas paróquias


de que se compunha a circunscrição confiada à sua direção e
vendo a impossibilidade de seus vigários de atender às neces-
sidades dessas comunidades, tratou logo que as circunstâncias
o permitiram , de criar novas paróquias . Assim foram criadas
no seu governo : 1.Q a paróquia de Vertentes, desmembrada da
Taquaritinga e Surubim; 2.º a paróquia de Macaparana, desmem-
brada de Timbaúba e São Vicente; 3." João Alfredo, desmembra-
0
da de Bom Jardim; 4.º Cumaru, desmembrada de Limoeiro e 5.
Santa Maria do Cambucá , de Surubim . A sede da antiga paró-
quia de Nossa Senhora do ó, localizada nessa Vila, hoje Tupaó-
ca, foi transferida para a cidade de Condado. A de Lagoa Seca,
hoje Upatininga, foi transferida para a cidade de Aliança. As
três antigas paróquias de Cruangi, Tracunhaém e São Louren-
ço de Tejucupapo ficaram anexas respectivamente a Timbaúba,
Nazaré e Goiana . O território da Diocese foi modificado depois
de D . Ricardo com a passagem das paróquias de Taquaritinga
e Santa Cruz do Capibaribe para a nova Diocese de Caruaru, re-
cebendo em compensação da Arquidiocese de Olinda e Reci-
fe, as paróquias de Paudalho, Chã de Alegria e Glória de Goitá .
Conta atualmente a Diocese com 20 paróquias regidas e três
anexas .

161
5 - O SEMINARIO

A Diocese localizada numa região de relativa densidade


demográfica e considerável extensão territorial oferecia um de-
safio ao bispo diocesano . Com quantos padres contava para as
tarefas apostólicas? Para atender às necessidades espirituais
do povo cristão? para suscitar e alimentar as energias vitais
nas pessoas que se mostravam sequiosas do bem e da verda·
de? para substituir a religiosidade natural e muitas vezes su-
persticiosa por uma fé autêntica e vitalizante? Era urgente o
despertar de vocações para o apostolado . A juventude estava
aí, aguardando o chamado .
Os candidatos ao sacerdócio que iam aparecendo eram
enviados a cursar os seminários de Olinda e Paraíba. Mas, is-
so não parecia bastante ao dinamismo do novo bispo . Ele que-
ria imprimir pessoalmente sua orientação aos seus seminaris-
tas . Queria tê-los ao seu lado . Para isto fundou o seu Seminá-
rio . A 11 de fevereiro de 1982 inaugurou-se o Seminário Menor
de Nossa Senhora da Conceição na antiga Casa Grande do En-
genho LAGOA D'ANTAS, existente entre o Colégio Santa Cris-
tina e o Cemitério de São Sebastião . A primeira direção do Se-
minário foi formada pelo Pe . João da Mata Amaral , reitor; Pe .
Dr. Odilon Alves Pedrosa , diretor espiritual e Pe . Severino Ma-
riano de Aguiar, ecônomo . Para iniciar as atividades do novo
seminário trouxe os seminaristas que já estudavam em Olinda
e Paraíba . Os mais adiantados ajudavam no ensino e na disci-
plina.
Foram os seguintes os seminaristas com que se abriu o
Seminário Menor de Nazaré, uns já iniciados em outros seminá-
rios e outros dando os primeiros passos na carreira eclesiásti-
ca : Petrônio Barbosa, José Pereira de Assunção , José Vicente
Távora, Otávio Barbosa de Aguiar, João da Mota e Albuquerque,
Carlos Neves Calábria, Ernandes Rodrigues da Silva, Raul de
Oliveira, Antônio Farias , Otávio Trigueiro Marinho, Aluísio de
Andrade Pereira, Luiz Gonzaga Vieira de Melo, Antônio Barbosa
Júnior, Cláudio Ferreira de Sena, Daniel dos Santos Lima, Eu-
valdo Spinelli Pacheco e Luiz Bezerra . Iniciando-se com esse
número de 17 alunos já no ano seguinte a matrícula atingia o
número de 32 aspirantes ao sacerdócio, enchendo de alegria e
de esperanças o Bispo Diocesano . Apesar da boa vontade e dos
esforços empregados, o Seminário teve que fechar suas portas
no fim do ano letivo de 1933, indo os seminaristas para Olinda .
Não obstante uma vida curta , valeu a pena tão feliz iniciativa,

162
porque daquele punhado de jovens saíram muitos padres que
prestaram e ainda continuam prestando valiosos serviços à lgre·
ja nesta e em outras dioceses do país .

6 - PADRES ORDENADOS POR D. RICARDO

O maior título de glória , quase o coroamento de suas li-


des apostólicas foi o número e a qualidade dos padres por ele
formados. Deles, seis (6) foram ch amados ao episcopado . Eis
a relação dos padres por ele ordenados , como súditos desta
Diocese, porque outros foram por ele orde nados , mas perten-
centes a outras Dioceses e a Congregações Religiosas, duran-
te os quase 27 anos em que ocupou o sólio episcopal .
1 - Pe . JOÃO DA MATA AMARAL, o primeiro padre por ele
ordenado . Recebeu o presbiterato a 20 de março de 1921 .
Exerceu várias funções , entre elas a de Diretor do Colé-
gio Bento XV, reitor do Seminário, Secretário do Bispa-
do, Capelão da Usina Aliança , Vigário de Nazaré e de Bom
Jardim, donde saiu como Bispo de Cajazeiras na Paraíba.
Dessa diocese paraibana foi transferido para a Diocese
de Manaus e daí para Niterói, onde fa leceu .
2 Pe. JOSÉ MARQUES DA FONSECA, ordenou-se a 25 de
maio de 1923 e celebrou a primeira missa em Aliança.
Era natural da vila de Lagoa Seca . Exerceu as seguintes
funções : diretor do Colégio Bento XV , vigário de Quei-
madas, hoje Orobó e pároco de Timbaúba, cargo que ocu-
pou por mais de 50 anos . Foi por duas vezes eleito Vi-
gário Capitular na vacância da Diocese pela renúncia de
O . Ricardo Vilela e transferência de D . Carlos Coelho .
3 - Pe. ANTôNIO GONÇALVES DE SOUSA , recebeu a orde-
nação sacerdotal a 24 de fevereiro de 1924 e celebrou a
primeira missa em Timbaúba , de onde era natural . Foi vi-
gário de várias paróquias , como São Vicente, Santa Cru z
do Capibaribe, Queimadas , Taquaretinga , Surubim e Bom
Jardim, onde faleceu .
4 - Pe. FERNANDO PASSOS, ordenado a 19 de março de
1924 na matriz de Surubim . Foi vig ário de Nazaré, de
Goiana, de ltambé e de Limoeiro. Era considerado o
maior orador sacro na época . O " Gigante Negro", como
chamava Agamenon Magalhães.
5 - Pe . ÁLVARO NEGRO MONTE , foi ordenado a 8 de junho
de 1924 . Celebrou a primeira missa na matriz de Cruan-
gi de cujo distrito era natural . Trabalhou por alguns anos

163
nesta ci dade, indo depois por moti vo de saúd e para Belo
Horizonte e posteriormente para o Rio de Janeiro onde
realizou um grande trabalho, de âmbito nacional, em pro l
da renovação dos métodos catequét icos . A qui mesmo
na Diocese deu sua colaboração na realização das se-
manas catequét icas .

Pe . Dr . ODILON ALVES PE DROSA , ordenou-se em Roma,


onde cursou a Universidade Gregoriana, no ano de 1925.
Foi reitor do Seminário e Diretor da Gazeta de Nazaré.
Transferindo-se para Paraíba, foi Diretor do diário católi -
co "A Imprensa" . É hoje pároco de Sapé da Arqui dioce-
se de João Pessoa .

6 - Pe . SEVERINO MARIANO DE AG UI AR, f ez o curso de


teologia no Seminário de São Leopo ldo, no Rio Grand e
do Sul. Ordenou-se a 23 de novembro de 1928 . É natu-
ral da cidade do Orobó . Foi vigário de Nazaré e diret or
espiritual do Seminário . Transferiu-se para a cidade de
Campina Grande , onde exerceu as funçõ es de vi gá rio .
Foi eleito primeiro bispo dessa nova diocese paraibana,
donde foi transfer ido para a diocese de Pe sque ira ond e
por motivo de saúde renunciou ao gove rno da diocese .
Reside na cidade de Arcoverde .

7 - Pe . JÚLIO BARBOSA DE MOURA, orden ou-se a 23 de ju-


nho de 1929 e celebrou no dia seguinte sua primeira mis-
sa em Timbaúba, de onde é natural . Foi vigári o de Na-
zaré, de Bom Jardim e Limoeiro . Deixou a Diocese e foi
vigário geral da Diocese de Campos no Estad o do Rio .
Faleceu há alguns anos .

8 - Pe . RENATO GUEDES, ordenou-se em Go iana de ond e


era natural, no dia 15 de agosto de 1929 . Foi ecônomo
do Seminário, vigário de São Vicente e de Vertente s on-
de faleceu .

9 - Pe. NICOLAU ADAUTO PIMENTEL, ordenou-se a 15 de


agosto de 1931 . Consa grou toda sua vida ao magi stério .
Foi diretor do Ginásio São José em Nazaré, fu ndador e
diretor até hoje do Ginásio de Lim oei ro .

10 - Pe . JOSÉ PEREIRA DE ASSUNÇÃO. Ordenou-se a 23 de


junho de 1933 . Foi vigário de Macaparana e ainda hoje

164
exerce as funções de Vigário de Santa Cruz do Cap iba-
ribe .

11 Pe . GENTIL DINIZ , foi ordenado a 23 de junho de 1933 .


Regeu as paróquias de Goiana , Vertentes, Orobó e Limo-
eiro, donde saiu como bispo de Mossoró .

12 - Pe. MANUEL GOMES . Ordenado também a 23 de junho


de 1933 . De há muitos anos é vigário de Pilar da Arqui-
diocese de João Pessoa.
13 Pe . PETRôNIO BARBOSA . Ordenou-se no dia 23 de ju-
nho de 1933 . Foi secretário do Bispado, vigário de Su-
rubim e de Santa Cruz do Capibaribe, onde secu larizou-
se .

14 - Pe . OTAVIO BARBOSA DE AGUIAR, natural de Orobó,


ordenou-se a 28 de abril de 1935 . Foi diretor da Gazeta
de Nazaré, capelão da Usina Aliança e vigário de Limo-
eiro, onde foi sagrado bispo . Primeiramente foi bispo
coadjutor de São Luiz do Maranhão, depois bispo dioce-
sano de Campina Grande e de Palmeira dos fndios, onde
renunciou . Atualmente trabalha na cidade de Macei ó .

15 - Pe. JOÃO DA MOTA E ALBUQUERQUE . Ordenou-se tam-


bém a 28 de abril de 1935. Foi vigário de Nazaré, deixan-
do o serviço paroquial por motivo de saúde, dedicando-
se ao magistério, realizando magnífica obra educativa na
Direção do Ginásio São José . Foi nomeado bispo de Afo-
gados da lngazeira, donde foi transferido para a diocese
de Sobral e posteriormente para a Arquidiocese de São
Luiz do Maranhão .

16 - Pe. ERNANDES RODRIGUES, de família nazarena, foi or-


denado na matriz de Lagoa Seca a 2 de fevereiro de 1937 .
Exerceu o paroquiato em São Vicente onde secularizou-
se.

17 - Pe. CARLOS NEVES CALABRIA , de família também na-


zarena, recebeu o presbiterato a 28 de novembro de 1937 .
Foi vigário de Macaparana, Goiana e Nazaré. Exerceu
por vários anos a função de Secretário do Bispado. Foi
vigário Capitular duas vezes na vacância da Diocese com
a transferência de D . Manuel Pereira para Campina Gran-
de e de João de Sousa Lima para Manaus.

165
18 - Pe . EURICO CAVALCANTI . Ordenou-se a 29 de junho de
1937 . Foi vigário de Limoeiro e de Cumaru . De há vários
anos trabalha no Rio de Janeiro .

19 - Pe . OTTO SAI LER, de nacionalidade alemã . Ordenou-se


a 16 de abril de 1938 . Foi capelão do Colégio Santa Ma-
ria de Timbaúba, vigário de Nazaré e de Taquaretinga .
Depois de vários anos de eficiente paroquiato, voltou pa-
ra sua pátria .

20 - Pe . LUIZ FERREIRA LIMA . Natural da paróquia de Lagoa


Seca, ordenou-se a 7 de julho de 1938 . Foi vigário de Na-
zaré, quando concluiu as obras de construção da Cate-
dral e depois de Surubim onde construiu a Igreja Matriz,
o Hospital , a Casa Paroquial , o Posto de Puericultura e o
Ginásio . Renunciou a paróquia para assumir a cadeira de
Deputado Estadual . Depois desse mandato foi para Bra-
sília como suplente de Deputado . Deixando a câmara .
foi nomeado Cura da Catedral de Brasília, onde ainda ho-
je se encontra .

21 - Pe . LUIZ GONZAGA VIEIRA DE MELO, ordenou-se tam-


bém no dia 7 de julho de 1938 . Foi vigário de Macapa-
rana, coadjutor de Nazaré . Hoje é vigário numa paróquia
da Diocese de Afogados da lngazeira .

22 - Pe . PETRONILO DA CUNHA PEDROSA . Ordenou-se a 15


de agosto de 1939, celebrando sua primeira missa em
Timbaúba . É natural da paróquia de Cruangi . Foi Geren-
te da Gazeta de Nazaré, capel ão de Aliança e depois vi-
gário de Nazaré, pró-pároco de Carpi na . Voltou para Na-
zaré como Diretor da Gazeta , entregando-se ao magisté-
rio no Colégio Santa Cristina e na Faculdade de Profes-
sores da qual foi o primeiro coordenador .

23 - Pe . JOÃO MACHADO DE SOUSA, ordenou-se a 3 de de·


zembro de 1939 . É natural da paróquia de Vicência , on-
de celebrou a primeira missa . Exerceu o paroquiato em
São Vicente, onde secularizou -se.

24 - Pe . ANTôNIO BARBOSA JÚNIOR . Natural da paróquia de


Surubim , ordenou-se também a 3 de dezembro de 1939 .
Exerceu o paroquiato nas paróquias de També e Verten-
tes desta Diocese e em Lagedo na Diocese de Gara-

166
nhuns . Ultimamente foi vigário de Glória de Goitá , dei-
xando por motivo de doença .

25 - Pe . DANIEL DOS SANTOS LIMA, natural de Timbaúba,


onde celebrou sua primeira missa . Foi diretor da Gazeta
de Nazaré e exerceu o magistério no Ginásio São José
e Santa Cristina . Hoje exerce o magistério superior na
Universidade Federal de Pernambuco . Ordenou-se a 25
de maio de 1939.

26 - Pe . ÉRICO RATH , de nacionalidade alemã, ordenou-se a


22 de maio de 1940 . Foi Capelão do Colégio Santa Ma-
ria de Timbaúba, voltando anos depois para sua pátria.

27 - Pe . TEODORO GERHARDUS, de nacionalidade alemã .


Foi ordenado a 20 de novembro de 1940, tendo exercido
o paroquiato em Macaparana e Cumaru , voltando depois
para sua pátria.

28 - Pe . ANTôNIO LEITÃO DE MELO, natural de Macaparana,


exerceu o paroquiato em Timbaúba, Condado, ltambé, San-
ta Maria de Cambucá , Nazaré , Carpina , estando hoje em
Bom Jardim . Ordenou-se a 29 de junho de 1941 .

29 - Pe . JONAS MENEZES, natural de Taquaretinga, ordenou-


se a 21 de setembro de 1942 . Foi vigário de Macapara-
na, Santa Maria de Cambucá , estando hoje em João Al-
fredo. Exerce também as funções de diretor das voca-
ções e do Pré-Seminário da Diocese .

30 - Pe . GUILHERME MENEZES, foi ordenado a 1 de novem-


bro de 1942. Exerceu o paroquiato em Macaparana . Se-
cularizou-se, exercendo hoje o magistério no sul do país .

31 - Pe . LUIZ CRESC~NCIO , ordenou-se a 26 de julho de 1942 .


Foi secretário do Bispado e vigário de Condado , onde se-
cularizou-se .

Foram 31 padres e mais um ordenado em Roma que for-


maram o clero diocesano nesses quase 27 anos de seu pontifi-
cado . Desses 6 padres foram elevados ao episcopado, dos quais
2 já faleceram : D . João da Mata e D . José Távora; 2 renunc ia-
ram as atividades episcopais por motivo de doença : D. Seve-
rino Mariano e D . Otávio Aguiar e outros dois continuam à fren-

167
te do governo de suas Dioceses: D . João Mota e D . Gent il Bar-
reto .
Aqui estão alguns traços da vida e das atividades de D .
Ricardo Ramos de Castro Vilela, primeiro bispo de Naza ré que
figurará na história como bispo missionário, pois com sua pa-
lavra ardente de pregador do evangelho, com seus gestos de
condutor de almas, com sua inteligência e coração abertos às
grandes iniciativas , deixou marcas bem profundas e inapagávei s
nesta porção do reino de Deus.
Depois de 1940 seu entusiasmo começou a se arrefecer
abatido pela doença, pela fadiga de tantas caminhadas e pelos
sofrimentos oriundos das incompreensões humanas . Em 1946
encaminha à Santa Sé pedido de renúncia a qual lhe foi conce-
dida a 28 de agosto desse ano . No dia segu inte, os Consult o-
res Diocesanos, seguindo as prescrições do Direito Canônico,
elegeram o Vigário Capitular na pessoa do Pe . José Marques
da Fonseca, pároco de Timbaúba, para reger os destinos da Di o-
cese até a posse do novo Bispo . Nesse dia encerrou-se a açã o
pastoral de S. Exa . nesta diocese, passando a res idir no Reci -
fe , onde exerceu as funções de Capelão da Polícia Militar do Es-
tado. D . Ricardo faleceu a 7 de agosto de 1958, repou sando
seus restos mortais na nave esquerda da catedral de Nazaré
que ele mesmo construiu e sob os olhares maternais da Virgem
da Conceição a quem consagrou toda sua vid a, co m especial
devoção .

168
* * *

DATAS IMPORTANTES DE SUA VIDA

03.04 . 1887 - nascimento

19 . 11 . 1905 - primeira tonsura

17 . 11 . 1907 - ordens menores

22 . 11 . 1908 - subdiaconato

21 . 11 . 1909 - diaconato

20. 11 . 191 O - ordenação sacerdotal

21 . 11 . 1910 - primeire. missa

03 . 07 . 1919 - eleição para bispo de Nazaré

07 . 09 . 1919 - sagração episcopal

19 . 10 . 1919 - posse da Diocese

28 . 08 . 1946 - renúncia ao governo da Diocese

07 . 08 . 1958 - falecimento .

169
INDICE
Págs .

Palavra de Explicação . . . . . . . . . . . . . ... 11

Prefácio 17

CAPITULO 1
Nascem as 'Instituições 21

CAPITULO li
Admin istração Municipal no Período Republicano . . . . . . . . . . . . . . 29

CAPITULO Ili
Novos Rumos da Administração Municipal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35

CAPITULO IV
Situação Geográfica e Território 41

CAPITULO V
Fases da Vida Religiosa 47

CAPITULO VI
Vida Judiciária .. .. 61

CAPITULO VII
Instituições Educacionais 69

CAPITULO VIII
Instituições Bancárias e Associações de Classes . . . . . . . . . . . . . . 81

CAPITULO IX
Imprensa e Instituições Culturais . . . . .... .... .... .... .... 89

CAPITULO X
Instituições Filantrópicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . • 97
CAPITULO XI
Instituições Diversionais
101

CAPITULO XII
Participação de Nazaré nas Campanhas Liberais . . . . . . . . . . . . . . 105

CAPITULO XIII
Eles Fizeram Nazaré . . . .. . 119

CAPITULO XIV
Nazaré de Hoj e .. 143

Datas Significativas na Histó ria de Nazaré 149

Dom Ricardo Vilela . . . . . . . . . . . . . . . . . ... 153


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