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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

JULIANO MARQUES FIORANI


LUÍS GUSTAVO FABRIN DA SILVA
MARIA LUIZA GARCIA PELISSON

ANÁLISE DE FALHA EM UNIDADES DE PRODUÇÃO DE FERTILIZANTES

CURITIBA - PR

2023
JULIANO MARQUES FIORANI
LUÍS GUSTAVO FABRIN DA SILVA
MARIA LUIZA GARCIA PELISSON

ANÁLISE DE FALHA EM UNIDADES DE PRODUÇÃO DE FERTILIZANTES

Trabalho apresentado ao curso de Graduação em


Engenharia Química, Setor de Tecnologia,
Universidade Federal do Paraná, como requisito
parcial à aprovação na disciplina Resistência dos
Materiais.

Orientador: Prof. Dr. Haroldo de Araújo Ponte

CURITIBA - PR
2023
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO 4

2. MOTIVAÇÃO 4

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 5

4. DESCRIÇÃO DO SISTEMA 6
4.1 Primeiro Caso 6
4.2 Segundo Caso 6
4.3 Terceiro Caso 7

5. ANÁLISE DE FALHA 7
5.1 Primeiro Caso 7
5.2 Segundo Caso 9
5.3 Terceiro Caso 12

6. RECOMENDAÇÕES 12

7. CONCLUSÃO 13

REFERÊNCIAS 14
1. INTRODUÇÃO

A corrosão é um tipo de deterioração que pode ser facilmente encontrada em


obras metálicas e é uma das principais causas de falhas em equipamentos e
tubulações. Essas falhas prejudicam o processo, atrasam o cronograma operacional
de produção, geram altos custos de manutenção, além de promoverem riscos à
saúde e ao meio ambiente. É necessário um monitoramento das corrosões internas
dos dutos para direcionar e gerenciar as ações a serem tomadas no caso de um
agravamento de um processo corrosivo.
Fertilizantes são produtos químicos amplamente utilizados e podem ser
encontrados em diversas formulações. Esses produtos são corrosivos,
especialmente em seu estado líquido, reagindo entre si e gerando produtos
agressivos e que diminuem o pH do sistema, afetando o material metálico em
contato (SANCHES, 2017).
A corrosão causada pelos fertilizantes nos metais já é um problema
conhecido. Uma planta industrial de insumos fertilizantes, apresenta dentre vários
equipamentos máquinas misturadoras, alimentadores, funis para descarga e outros
maquinários, que mantém contato contínuo com os fertilizantes, em condições
extremamente agressivas para as superfícies metálicas.
Para evitar prejuízos econômicos e ambientais é necessário avaliar de forma
precisa os defeitos de corrosão. Assim, a análise de caso de falha é uma etapa de
suma importância na manutenção industrial.

2. MOTIVAÇÃO

O engenheiro químico trabalha com a extração de matérias-primas e com a


transformação físico-química de materiais para o desenvolvimento dos mais diversos
produtos do cotidiano. Ele pode atuar, por exemplo, no desenvolvimento de novas
tecnologias para a produção de pisos cerâmicos, supervisionar o processo produtivo
de medicamentos, planejar a construção de uma usina de mineração e também no
sistema de tratamento de gases e líquidos em uma indústria de fertilizantes. É uma
atribuição do engenheiro químico tornar viável a produção em escala industrial de
produtos químicos.
O custo de produção é de extrema importância pois afeta diretamente o lucro,
sendo que o processo industrial deve ser energeticamente eficiente, consumir o
mínimo de matéria-prima e insumos, e também gerar o mínimo de efluentes e
impacto ambiental.
Portanto, é de competência da engenharia química atuar na pesquisa e
desenvolvimento de novos equipamentos industriais e novos processos químicos
industriais, bem como no projeto de um processo industrial, sua implantação, sua
operação e posterior adaptação e/ou otimização.
Nesse contexto, estudar as características da corrosão é uma das
responsabilidades do engenheiro químico pois é um importante fator para reduzir os
custos gerados pelo problema.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A corrosão, por definição, se trata do processo espontâneo de degradação de


um material, normalmente metálico, devido à ação do meio em que se encontra. O
metal corroído perde suas qualidades, tornando-se inútil para o uso. É possível que
a corrosão ocorra tanto na presença quanto na ausência de água.
Quimicamente, a corrosão ocorre por uma reação de oxirredução, uma
reação na qual ocorre a transferência (ganho e perda) de elétrons.
Um exemplo de oxidação pode ser visto na Figura 01:

Figura 01: exemplo de uma reação de oxirredução

Fonte: Atkins et al. (2023)


Nos casos analisados neste trabalho, o primeiro se deu por corrosão a baixa
temperatura (cerca de 70 ºC) e na presença de água. O segundo caso, também com
presença de água, por fim, o terceiro se deu na ausência de água.

4. DESCRIÇÃO DO SISTEMA

4.1 Primeiro Caso

O primeiro caso se trata de um trocador de calor numa planta de produção de


fertilizantes nos Estados Unidos. O trocador era alimentado com um inibidor de
corrosão à base de fosfato (PO4). Por ser difícil de controlar, o fosfato corroía e se
depositava no trocador de calor, devido ao excesso de alimentação do inibidor. Por
conta da corrosão, era detectado em correntes a presença de ferro e cobre na torre
da planta. Em relação à deposição que ocorria no trocador de calor, a eficiência do
processo diminuía com o tempo.
Em decorrência deste problema, era necessário interromper a produção para
que fosse realizada a limpeza do equipamento, o que afetava o desempenho geral
da planta.
A empresa contratada para solucionar o problema, trocou o inibidor, passando
a utilizar um sem a presença de fosfato e zinco.

4.2 Segundo Caso

Liu, et al em 2022, analisou um caso em uma planta de produção de


fertilizantes, a falha ocorreu logo após uma torre de condensação, composta de
2-etil-2-hexeno, hidróxido de sódio e água. A produção dessa indústria ocorreu por
cerca de 18 anos sem nenhum problema, após a falha a tubulação foi trocada de
aço carbono para aço inoxidável, porém a falha voltou a acontecer. As condições da
tubulação são de 100°C e 0,8 MPa. Para entender o motivo da falha, foi realizado
diversos testes, Composição química, Metalografia, morfologia da falha,
propriedades mecânicas, análise dos produtos da corrosão e Surface relative nobility
A falha pode ser visualizada na Figura 02, (a). Imagens da falha,
internamente e externamente, podem ser visualizadas em (b) a (h).
Figura 02: falha em torre de condensação

Fonte: (LIU; ZHANG; CHAI; GUO; DU; LIU; SUN; FAN; SHANG; LI, 2022)

4.3 Terceiro Caso

O trabalho de Sanches, 2017, trás o estudo da corrosão de alumínio por


fertilizantes, pois o alumínio é o material utilizado para tanto o transporte,
armazenamento e usos como na irrigação. Neste caso, o estudo foi contratado por
uma empresa que queria confirmar se a corrosão em suas caçambas de alumínio
ocorrera devido ao transporte de fertilizantes mistos.

5. ANÁLISE DE FALHA

5.1 Primeiro Caso

Como mencionado anteriormente, a planta sofria tanto de corrosão quanto de


deposição de fosfato nos trocadores de calor. A Figura 03 mostra o estado do
trocador de calor após operação à base de fosfato.

Figura 03: Trocador de calor após operação com fosfato


Fonte: pt.chemtreat.com (2020)

Com a tecnologia empregada pela empresa, é perceptível na Figura 04 que o


trocador de calor apresenta uma melhor situação.

Figura 04: trocador de calor em melhor estado de operação

Fonte: pt.chemtreat.com (2020)


Outra melhoria foi na diminuição da quantidade de ferro e cobre presente na
torre da planta. No gráfico presente na Figura 05, percebe-se a queda dos materiais
ao decorrer do tempo.

Figura 05: presença de ferro e cobre na torre da planta

Fonte: pt.chemtreat.com (2020)

5.2 Segundo Caso

Depois de diversas análises e fotos da morfologia da falha, caracterizou-se a


falha como corrosão cáustica, isto é que o hidróxido de sódio é o principal
contribuidor para a falha. A falha foi caracterizada como interparticular, com falhas
ocorrendo na zona de fusão. O mecanismo de quebra é devido ao hidróxido de
sódio, enxofre e íons cloreto, esse mecanismo foi esquematizado na Figura 06.
Figura 06. Esquema do processo de falha

Fonte: (LIU; ZHANG; CHAI; GUO; DU; LIU; SUN; FAN; SHANG; LI, 2022)

A composição da camada de ferrugem gerada foi analisada por XPS, e


confirmando que a corrosão é alcalina. Os espectros de XPS, podem ser
visualizados na Figura 07.

Figura 07: Espectro XPS

Fonte: (LIU; ZHANG; CHAI; GUO; DU; LIU; SUN; FAN; SHANG; LI, 2022)
A morfologia das falhas foi realizada para as duas falhas, e as imagens
microscópicas estão nas Figuras 08 a 10.
Figura 08: Morfologia da fissura 1.

Fonte: (LIU; ZHANG; CHAI; GUO; DU; LIU; SUN; FAN; SHANG; LI, 2022)

Figura 09: fratura da superfície 1.

Fonte: (LIU; ZHANG; CHAI; GUO; DU; LIU; SUN; FAN; SHANG; LI, 2022)
Figura 10: Morfologia da fissura 2
Fonte: (LIU; ZHANG; CHAI; GUO; DU; LIU; SUN; FAN; SHANG; LI, 2022)

5.3 Terceiro Caso

Feitos os testes em laboratório, foi constatado que a liga de alumínio AA1100


possui uma excelente resistência à corrosão causada por fertilizantes NPK
(fertilizantes mistos compostos por nitrogênio, fósforo e potássio). Foi aventado que
a principal causa da corrosão nas caçambas dos caminhões fosse associada a
esforços mecânicos e não ao transporte dos fertilizantes.
Para mitigar a possibilidade de corrosão, poderia ser aplicada uma tinta
anticorrosiva (primer) nas caçambas, conferindo mais uma camada de proteção
(além da passiva) ao material (SANCHES, 2017).

6. RECOMENDAÇÕES

Tanto para o primeiro caso quanto para o segundo, é possível perceber que a
interação entre os materiais utilizados nos equipamentos e os produtos utilizados na
produção era prejudicial. Atualmente, com a quantidade de relatórios e artigos
disponíveis, e tendo a possibilidade de realizar de ensaios em laboratório e em
escala piloto, uma recomendação - de certa forma óbvia - é a realização de um
estudo da viabilidade e do comportamento dos equipamentos frente à ação dos
produtos que serão utilizados.
Outra recomendação é o constante monitoramento de certos parâmetros na
produção, a fim de detectar possíveis falhas nos equipamentos. Como visto no
primeiro caso, havia presença de ferro e cobre na torre da planta, indicando que algo
não estava de acordo com o esperado. Também no primeiro caso, era perceptível no
trocador de calor a queda do rendimento, indicando a deposição de material nos
tubos do equipamento.
Para o segundo caso, como a corrosão ocorre devido a alta concentração de
NaOH no sistema, diminuir sua quantidade é a melhor opção, cuidar para que não
ocorra sobrecarga de produção e adicionar um inibidor de corrosão são ótimas
soluções. Ter um melhor controle de sulfetos e enxofre na produção, da soldagem e
até a substituição de aço inoxidável da tubulação para mais resistentes como aço
inoxidável austenítico.
Ademais, como exposto no primeiro e no terceiro caso, o revestimento com
tintas apropriadas também ajudam a conter a propagação da corrosão nos
equipamentos.

7. CONCLUSÃO

O presente trabalho teve como objetivo avaliar casos em que o contato com
fertilizantes promoveu a corrosão de trocadores de calor, torres de condensação e
caminhões. O estudo possibilitou concluir que para a produção, transporte e
armazenamento de fertilizantes é necessário o estudo do comportamento dos
equipamentos frente à ação química dos fertilizantes a fim de evitar a corrosão do
maquinário.
Tendo em vista as complicações ambientais e os transtornos econômicos que
a corrosão pode causar às indústrias, é de vital importância realizar a fiscalização
dos equipamentos bem como fazer os investimentos necessários para a confecção
de equipamentos resistentes para operar em contato com produtos quimicamente
agressivos.
REFERÊNCIAS

Material de aula, disciplina ENQ 063 - Resistência dos Materiais.

GENTIL, Vicente. Corrosão. Rio de Janeiro: Grupo GEN, 2022.

MAIOR CONFIABILIDADE E LUCRATIVIDADE EM UMA PLANTA QUÍMICA DA COSTA DO


GOLFO DOS EUA COM A TECNOLOGIA FLEXPRO®. cheamtream.com, 2020. Disponível
em: <
https://pt.chemtreat.com/improved-reliability-and-profitability-at-a-gulf-coast-chemical-plant-wi
th-flexpro-technology-case-study/>

LIU, Menghao; ZHANG, Ziyang; CHAI, Peilin; GUO, Chuang; DU, Cuiwei; LIU, Zhiyong;
SUN, Meihui; FAN, Endian; SHANG, Xueliang; LI, Xiaogang. Caustic corrosion cracking
of the octene tube in the fertilizer industry. Engineering Failure Analysis, [S.L.], v. 133,
p. 105953, mar. 2022. Elsevier BV.
http://dx.doi.org/10.1016/j.engfailanal.2021.105953.

TARTARINI SANCHES, Fernanda. ESTUDO DA SUSCEPTIBILIDADE À


CORROSÃO DA LIGA DE ALUMÍNIO AA1100 EM FERTILIZANTES MISTOS. TCC
- UTFPR. Londrina - PR, 2017

ATKINS, Peter; JONES, Loretta; LAVERMAN, Leroy. Princípios de química:


questionando a vida moderna e o meio ambiente. Porto Alegre: Grupo A, 2018.

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