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Vitória
2021
ELTON VOLKERS DO ESPÍRITO SANTO
Vitória
2021
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)
1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 7
1 INTRODUÇÃO
Cerca de 70 a 90% do enxofre presente no ferro gusa provém do coque utilizado nos
altos-fornos, que pode ocorrer na forma orgânica, de sulfetos ou de sulfatos. Pode
ainda estar presente nos minérios de ferro, na forma de sulfetos, e no calcário
utilizado com fundente. No alto-forno a retirada de enxofre do ferro gusa é ocorre
devido às condições redutoras do reator, porém, não é suficiente para atender aos
requisitos mínimos de enxofre nos aços, que nos últimos anos se tornaram cada vez
mais rigorosos (GHOSH, 2001; BISWAS; SARKAR, 2020).
Também do ponto de vista ambiental, é consabido que resíduos sólidos são gerados
em larga escala anualmente pela indústria siderúrgica. Nas últimas décadas,
esforços têm sido feitos para reintroduzir esses rejeitos nos processos industriais
como substitutos de matérias-primas virgens, de modo a reduzir custos de produção,
diminuir o volume de escória gerado e propor uma destinação mais adequada aos
mesmos. A recirculação de escória de KR como parte da matéria-prima da mistura
dessulfurante têm sido estudada nos últimos anos. Contudo, a quantidade de
escória que pode ser “reciclada” é limitada devido ao acúmulo de enxofre e à
possibilidade de ressulfuração (AHMED et al., 2016; MATSUI et al., 2017).
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
De acordo com Sener, Hüsken e Cappel (2012), a presença de enxofre no ferro gusa
ocorre em decorrência da utilização de matérias-primas que contém esse elemento. A
carga metálica do alto-forno tem menor contribuição (6,2%, de acordo com a Tabela 1)
para a incorporação de enxofre no metal. Em contrapartida, são os combustíveis
utilizados responsáveis pelas maiores fontes de enxofre na siderurgia (coque, finos de
carvão mineral e óleo). A Tabela 1 mostra dados de entrada e saída de enxofre de um
alto-forno de uma usina alemã.
Entrada de enxofre %
Saída de enxofre %
(4,40 kg/t de gusa)
Sínter 5,1 Escória 82,4
Pelota 1,0 Ferro gusa 12,6
Aditivos 0,1 Gás de topo 3,6
Poeira 0,7
Coque 60,2 Lama 0,5
Óleo 33,6 Poeira (Casa de corrida) 0,2
Total 100,0 Total 100,0
Fonte: Sener, Hüsken e Cappel (2012), adaptado
Como pode ser visto, coque e óleo são as principais fontes. Sener, Hüsken e Cappel
(2012) ressaltam que o teor de enxofre no coque e no carvão mineral está entre 0,8
e 1,2%, enquanto que no óleo esse valor fica entre 1,3 e 2,0%. Aproximadamente
95% da entrada de enxofre no processo ocorre por meio dos combustíveis
empregados. Devido à atmosfera redutora nos processos de redução de minério de
ferro em alto-forno, mais de 80% do enxofre que entra é eliminado pela escória,
havendo um remanescente de 12% no ferro gusa. De acordo com os dados da
tabela, esse teor no metal equivale a 0,055% em massa.
Segundo Colpaert (2008), o enxofre está presente nos aços principalmente na forma
de sulfeto de manganês (MnS), que tem ponto de fusão e estabilidade
suficientemente altos para impedir que se precipite na forma de películas ao fim da
solidificação, evitando a fragilidade a quente causada pelo sulfeto de ferro (FeS).
Porém, as partículas de MnS compõem um tipo comum de inclusões não metálicas
deformáveis no aço durante a laminação a quente, que se alongam na direção de
deformação, resultando em baixa tenacidade transversal e fragilização por corrosão
sob tensão em aços planos. Tais inclusões têm sua morfologia modificada por
tratamento com cálcio no refino secundário para evitar esses problemas (SHAO et
al., 2015; LINO et al., 2016).
efeito final é o aumento da vida útil o ferramental, fabricação mais rápida e melhor
acabamento superficial (ARAÚJO, 1997; COLPAERT, 2008).
Pode-se notar que carbono e silício são os elementos que mais aumentam o
coeficiente de atividade do enxofre no banho, ou seja, aumentam a atividade desse
elemento. Isso significa que no ferro gusa o enxofre fica mais disponível para reagir
em relação ao aço.
De acordo com Kirmse (2006), uma vez carregado com ferro gusa, o carro torpedo é
transferido para a estação de dessulfuração, onde uma lança refratária na posição
vertical ou inclinada é introduzida dentro do banho através da “boca” do mesmo.
Assim, a injeção do agente dessulfurante é realizada mediante arraste físico por um
gás, normalmente nitrogênio ou argônio. Em relação a esse agente, deve ser
utilizado um material que minimize a formação de uma cobertura nas paredes
refratárias, que reduziria o volume interno e, consequentemente, a capacidade de
transporte de ferro gusa. Além disso, o agente deve formar sulfetos sólidos estáveis
e ter com custo atrativo para o processo.
processo. Foi desenvolvido na década de 1980 pela Nippon Steel e hoje tem seu
uso difundido devido ao bom custo-benefício (WENG, 2009).
Existe ainda, de acordo com Rizzo (2005), um método mais primitivo para
eliminação de enxofre. Conhecido como “carbocal”, consiste em um processo em
que o basculamento do ferro gusa do carro torpedo na panela de transferência
durante sua pesagem fornece a energia necessária para a agitação do sistema
composto por mistura dessulfurante e o próprio ferro gusa. Inicialmente, uma mistura
geralmente composta por carbonato de sódio (Na 2CO3) e calcário (basicamente
CaCO3) é adicionada no fundo da panela vazia. A partir do contado desta com o
ferro gusa as reações se iniciam. O gás gerado pela decomposição dos carbonatos
também auxilia na agitação do processo. Caiu em desuso devido aos problemas de
emissão ambiental e desgaste do refratário da panela.
MO(s) + S = MS(s) + O
Sendo “M” um metal. O traço sob os elementos indica que estes estão dissolvidos
no metal. A afinidade química metal/enxofre e a estabilidade do sulfeto formado são
requisitos termodinâmicos imprescindíveis para a dessulfuração. Cálcio e bário
formam CaS e BaS, respectivamente, enquanto o cério forma diversos sulfetos,
sendo o CeS o mais estável sob as condições de uma aciaria. Todos os compostos
citados são sólidos sob as temperaturas de trabalho. Além disso, no estado padrão,
esses metais formam tanto sulfetos quanto óxidos estáveis, sendo bons
dessulfurantes e desoxidantes (GHOSH, 2001).
Misturas à base de CaO: CaO; CaO + Mg; CaO + Al; CaO + Na 2CO3 e CaO +
CaF2.
Misturas à base de CaC2: CaF2.
Misturas à base de Na2CO3: Na2CO3.
Misturas à base de Mg: Mg; Mg + CaO e Mg + CaC2.
Oeters (1985), Freismuth (1997) e Magnelöv et al. (2014) apontam que a reação de
dessulfuração pelo carbureto de cálcio é a seguinte (Equação 5).
20
Material com boa eficiência, porém com custo elevado. Seu manuseio é perigoso,
pois forma gás acetileno em contato com a água, sendo esse inflamável. A
Equação 6 demonstra a reação citada. Portanto, ele é comumente utilizado em
sistemas de injeção de mistura e é carregado nos silos por caminhões pressurizados
(KIRMSE, 2006).
De acordo com Irons e Guthrie (1981), por possuir ponto de vaporização de 1107 °C,
o magnésio, ao entrar em contato com o ferro gusa líquido, imediatamente vaporiza,
o que resulta na formação de bolhas. A reação de dessulfuração entre o magnésio
vapor e o enxofre próximo à fronteira das fases (magnésio vapor e ferro gusa
líquido) ocorre na superfície das bolhas. Essa reação é acompanhada pela difusão
do magnésio para o banho, onde ocorre a dessulfuração entre magnésio e enxofre
dissolvidos. Assim, a dessulfuração pode ocorrer tanto por reação do enxofre com o
magnésio vapor (Equação 7) quanto por reação com o magnésio dissolvido
(Equação 8).
𝑀𝑔 𝑣 + 𝑆 = 𝑀𝑔𝑆 𝑠 (7)
𝑀𝑔 + 𝑆 = 𝑀𝑔𝑆(𝑠) (8)
21
A baixa energia livre associada à formação do óxido e sulfeto de cálcio sugere que
pode haver uma competição entre a formação desses compostos (CHOUDHARY;
GHOSH, 2008). Assim, o requisito de baixo potencial de oxigênio no banho é
23
Oeters (1985) demonstra que a reação geral de dessulfuração pela cal é a seguinte
(Equação 9):
𝑆 𝑚𝑒𝑡𝑎𝑙 + 𝑂2− 2−
𝑒𝑠𝑐 ó𝑟𝑖𝑎 = 𝑂 𝑚𝑒𝑡𝑎𝑙 + 𝑆(𝑒𝑠𝑐 ó𝑟𝑖𝑎 )
Da expressão, tem-se:
K = constante de equilíbrio;
ho e hS = atividade henriana de oxigênio e enxofre no metal líquido;
aS2- e aO2- = atividade dos íons S2- e O2- na escória líquida;
fO e fS = coeficiente de atividade henriana de oxigênio e enxofre no metal líquido;
%O e %S = porcentagem de oxigênio e enxofre no metal líquido.
𝐽
𝐶𝑎𝑂(𝑠) + 𝑆 = 𝐶𝑎𝑆(𝑠) + 𝑂 ∆𝐺 0 = 109910 − 28,87𝑇 (𝑚𝑜𝑙 ) (11)
25
𝐽
𝐶𝑎𝑂(𝑠) + 𝑆 + 𝐶 = 𝐶𝑎𝑆(𝑠) + 𝐶𝑂(𝑔) ∆𝐺 0 = 87550 − 68,50𝑇 (𝑚𝑜𝑙 ) (12)
𝐽
𝐶𝑎𝑂(𝑠) + 𝑆 + 𝐶(𝑠𝑎𝑡 ) = 𝐶𝑎𝑆(𝑠) + 𝐶𝑂(𝑔) ∆𝐺 0 = 28550 − 29,40𝑇 (𝑚𝑜𝑙 ) (13)
−∆𝐺 0
𝑎 𝐶𝑎𝑆 × 𝑃𝐶𝑂 𝑎 𝐶𝑎𝑆 × 𝑃𝐶𝑂
𝐾=𝑒 𝑅𝑇 = = (14)
𝑎 𝐶𝑎𝑂 × 𝑎 𝐶 × 𝑆 𝑎 𝐶𝑎𝑂 × 𝑎 𝐶 × %𝑆 × 𝑓𝑆
Da expressão, tem-se:
K = constante de equilíbrio;
aCaS e aCaO = atividade do CaS e CaO na escória;
PCO = pressão parcial de CO;
hS = atividade henriana do enxofre no ferro gusa;
aC = atividade do carbono no ferro gusa;
fS = coeficiente de atividade do enxofre no ferro gusa;
%S = porcentagem de enxofre no ferro gusa.
𝑆𝑖 + 2𝑂 = 𝑆𝑖𝑂2(𝑠) (15)
𝐽
4𝐶𝑎𝑂(𝑠) + 2𝑆 + 𝑆𝑖 = 2𝐶𝑎𝑆(𝑠) + 2𝐶𝑎𝑂·𝑆𝑖𝑂2(𝑠) ∆𝐺 0 = −488680 + 161,26𝑇 (𝑚𝑜𝑙 ) (17)
Normalmente o teor de silício no ferro gusa pode flutuar entre 0,2 e 0,8%,
dependendo de outros parâmetros como temperatura de operação e qualidade das
matérias-primas empregadas (XIANG-MI et al., 2011). Diante do exposto, pode-se
afirmar que a dessulfuração de ferro gusa é um processo exotérmico.
Estudos realizados por Fruehan (1978) e Mitsuo et al. (1982) mostraram que a
dessulfuração de ferro gusa é aprimorada pela adição prévia de alumínio ao metal.
Tais autores atribuem esse fato à diminuição da atividade de oxigênio no banho, o
que aumenta a força motriz termodinâmica da reação.
𝐽
4𝐶𝑎𝑂(𝑠) + 3𝑆 + 2𝐴𝑙 = 3𝐶𝑎𝑆(𝑠) + 𝐶𝑎𝑂·𝐴𝑙2 𝑂3 ∆𝐺 0 = −898964 + 291,5𝑇 (𝑚𝑜𝑙 ) (19)
Sosinsky e
22690 − 54640𝛬
Sommerville 𝑙𝑜𝑔𝐶𝑆 = + 43,6𝛬 − 25,2
𝑇
(1986)
Capacidade
11710
de Sulfeto Young (1991) 𝑙𝑜𝑔𝐶𝑠 = −13,913 + 42,84𝛬 − 23,82𝛬2 − − 0,02223%𝑆𝑖𝑂2
𝑇
(CS) Λ < 0,8 − 0,02275%𝐴𝑙2 𝑂3
Aguiar et al. (2012) e Grillo (2015) relatam que esses modelos podem levar a
conclusões errôneas acerca da eficiência de dessulfuração, uma vez que os
31
Por ser tratar de uma reação heterogênea, a dessulfuração de ferro gusa pela cal
possui um mecanismo que envolve diversas etapas, que envolvem tanto a
transferência de massa dos reagentes e produtos como a reação química em si.
32
Ao mesmo tempo, o silício do ferro gusa se difunde juntamente com o enxofre até a
superfície externa, onde encontram o oxigênio e cálcio iônicos liberados pela reação
da Equação 35. Ali reagem de acordo com a Equação 36.
As duas fases sólidas formadas, como já dito, formam conjuntamente uma camada
entre o banho e a partícula de CaO. Dessa forma, o processo é definido como uma
reação heterogênea do modelo de núcleo não reagido, em que os produtos se
aderem à partícula. No estágio inicial da reação tais camadas são extremamente
finas, sendo a taxa de reação determinada pelo transporte do enxofre e do silício no
metal líquido (OETERS; STROHMENGER; PLUSCHKELL, 1973).
𝑑[%𝑆] 𝐴
− = 𝑘𝑚 + 𝑘𝑠 𝐿𝑆 + 𝑘𝑓 × × ([%𝑆]𝑡 − [%𝑆]𝑒𝑞 ) (38)
𝑑𝑡 𝑉𝑚
Da expressão, tem-se:
Segundo Choi, Kim e Lee (2001), cada um dos termos dentro do somatório (km +
ks.LS + kf) representa uma das resistências à ocorrência do processo. Como não se
sabe ao certo o peso de cada uma delas, podem ser representadas em conjunto
como k’ (coeficiente aparente da taxa de reação). Os autores observaram que esse
termo é dependente da temperatura e composição da escória. Assim, a Equação 39
representa a nova equação cinética.
𝑑[%𝑆] 𝐴
− = 𝑘′ × × ([%𝑆]𝑡 − [%𝑆]𝑒𝑞 ) (39)
𝑑𝑡 𝑉𝑚
𝐴
O primeiro termo da equação, 𝑘′ × , é a contribuição cinética da equação de
𝑉𝑚
𝑑[%𝑆]
− = 𝑘 × ([%𝑆]𝑡 − [%𝑆]𝑒𝑞 ) (40)
𝑑𝑡
[%𝑆]𝑖 −[%𝑆]𝑒𝑞
𝑙𝑛 = 𝑘𝑡 (41)
[%𝑆]𝑡 −[%𝑆]𝑒𝑞
Da expressão, tem-se:
36
Lindström e Sichen (2015) também avaliariam a formação dessas fases via análise
microscópica por EDS. Os autores estudaram o crescimento delas em função do
tempo tendo como agentes dessulfurantes a cal (CaO) e o carbureto de cálcio
(CaC2). Para partículas finas de CaO (entre 50 e 100 μm) foi observada a completa
transformação das mesmas em CaS, para longos tempos de reação. O mapeamento
dos elementos via EDS está apresentado na Figura 11.
Quando esse tempo foi reduzido para 30 segundos, os autores notaram a presença
de uma camada de CaS ao redor da cal. Enquanto a partícula original de CaO tinha
100 μm de diâmetro a camada de CaS tinha 30 μm. A Figura 12 mostra o
mapeamento dos elementos para o referido caso.
38
Observa-se pela Figura 14b que a taxa de dessulfuração aumenta com o aumento
do teor de alumínio até 0,23%. Acima desse valor a taxa cai consideravelmente
devido à possível formação de aluminatos de cálcio ricos em alumina e, portanto,
têm alto ponto de fusão, precipitando-se sobre a superfície do CaO e diminuindo a
taxa.
Anos mais tarde, Takahashi et al. (2012) estudaram a influência do CaO sólido e da
escória líquida na reação de dessulfuração. Os autores executaram experimentos
envolvendo o uso de escória líquida, CaO sólido e a combinação de escória líquida e
CaO sólido. Neste caso, o CaO sólido utilizado foi uma haste de CaO sinterizado
que foi mergulhada no banho. Três tipos de escórias líquidas foram utilizados:
escória A e escória S são do sistema CaO-SiO2-Al2O3 e de composição próxima da
saturação das fases silicato dicálcico e aluminato tricálcico, respectivamente. Já a
escória C é do sistema CaO-SiO2-MgO-Al2O3 e de composição próxima da
saturação do CaO. Os experimentos foram realizados a 1450 ºC para as escórias A
e C e a 1400 ºC para a escória S.
Observa-se pela Figura 16a que a taxa de dessulfuração obtida com a utilização da
escória A com o CaO sólido foi relativamente rápida, enquanto a taxa utilizando
apenas o CaO sólido foi bastante lenta. Já a taxa utilizando apenas a escória A foi
intermediária. Pela Figura 16b nota-se que para as escórias A e C a taxa de
dessulfuração aumenta quando as hastes de CaO são imersas. No entanto, para a
escória S a taxa diminui.
A Figura 17 mostra imagens feitas por um micro analisador por sonda de elétrons da
superfície da haste de CaO sem a presença de escória líquida e com a presença
das escórias S, A e C. O tempo de imersão foi de 10 minutos para a escória S e de
20 minutos para os demais casos.
43
Figura 17 – Superfície da haste de CaO após imersão no ferro gusa. a) sem escória
líquida; b) com escória S; c) com escória A e d) com escória C. (C: CaO, S: fase rica
em enxofre, CA: aluminato de cálcio, CS: silicato de cálcio e L: fase líquida)
Na Figura 17a pode-se observar uma fase rica em enxofre na superfície da haste de
CaO. Na Figura 17b a formação de uma densa camada de silicato dicálcico pode ser
observada. Na Figura 17c observa-se a formação dendrítica de aluminato de cálcio
44
Nos processos de injeção a cal deve ser fina o suficiente para fluir mais facilmente
pelo sistema de injeção. Por outro lado, em plantas com agitação mecânica (KR), a
cal é adicionada no topo do banho e deve ter um tamanho de partícula
suficientemente grande para evitar aglomeração (MCFEATERS; FRUEHAN, 1993).
Por análises de EDX, Nakai et al. (2010) constataram que mesmo a 700 rpm de
velocidade, houve coalescimento das partículas. Os autores utilizaram cal de
granulometria menor ou igual a 1 mm, sendo que a análise microscópica forneceu
tamanho médio de 1,4 mm dos aglomerados. A Figura 21 ilustra a análise da escória
final.
Observa-se que nas técnicas de adição contínua e por jateamento existe menor
tendência de agregação das partículas. Nesse sentido, o rendimento da cal aumenta
49
Figura 23 – Variação da relação [S]/[S]i pelo tempo para cada método de adição
2.7.1 Fluorita
Nota-se que a 1350 ºC a taxa aumenta para teores de CaF 2 até 10%. A 1450 ºC
ocorre um efeito similar, porém, 5% de CaF 2 foi suficiente. Os autores argumentam
52
2.7.2 Sodalita
Quanto à dessulfuração de ferro gusa, Grillo et al. (2013) utilizaram misturas à base
de cal com adições de 5 e 10% de fluorita e sodalita, separadamente. As misturas
com fluorita apresentaram eficiências de dessulfuração de 96,4 e 97,1%, enquanto
as misturas com sodalita apresentaram eficiências menores, de 85,9 e 74,6%,
respectivamente. As fases presentes nas misturas foram determinadas por
termodinâmica computacional, sendo constatado que as misturas contendo sodalita
formaram fases sólidas como 3CaO·SiO2 e 3CaO·Al2O3 e baixo teor de fase líquida
quando comparadas às misturas com fluorita.
54
Zhang, Liu e Jiang (2020) testaram o efeito da borra de alumínio de modo diferente
dos autores acima. Com o objetivo de reaproveitar o teor metálico de ferro na lama
vermelha advinda do processo Bayer durante o pré-tratamento de ferro gusa, os
55
autores adicionaram ao banho uma mistura composta por lama vermelha pré-
reduzida (PRRD), CaO puro e duas fontes de Al2O3, sendo Al2O3 puro e borra de
alumínio (AD) a 1300 ºC. Além disso, foi preparada uma mistura CaO-10%CaF2 para
comparar os resultados. A Figura 26 mostra a variação de enxofre com o tempo para
as três misturas.
Figura 26 – Variação de enxofre pelo tempo para as misturas de Zhang, Liu e Jiang
(2020)
Após 60 minutos, o poder dessulfurante das misturas contendo lama vermelha foi
similar ao da mistura CaO-CaF2. Até 15 minutos, a mistura contendo borra de
alumínio alcançou menor teor de enxofre devido à presença de alumínio metálico,
que em pouco tempo reduz os óxidos de ferro presentes na lama vermelha,
diminuindo o poder oxidante da escória e promovendo maior dessulfuração. A
mistura PRRD-CaO-AD (com borra de alumínio) alcançou teor final de enxofre de
0,004%, com eficiência de 94,3% e recuperação ferrosa de 86,4%.
Na Figura 27a observa-se que as duas maiores proporções de CaO nas misturas
levou a um menor teor de enxofre, sendo as taxas de reação de ambas muito
próximas. Os autores detectaram a formação de uma camada de escória líquida de
baixo ponto de fusão do sistema CaO-Al2O3-FeO(Fe2O3) para a proporção de 80:20,
tendo essa camada alta solubilidade de enxofre, ou seja, ela funciona como um
caminho preferencial para a difusão do enxofre até a partícula de CaO. O mesmo
efeito foi observado quando alumínio é previamente adicionado ao metal na
dessulfuração utilizando apenas CaO. Pode-se observar na Figura 27b que para o
mesmo consumo específico de CaO a adição de alumínio promove aumento da
eficiência entre 20 e 30%.
Por outro lado, Moreira, Silva e Silva (2018) obtiveram resultado de eficiência de
48,15% após 30 minutos utilizando 10% de borra de alumínio e 90% de cal, valor
abaixo dos 73,79% de eficiência utilizando 6% de fluorita e 94% de cal.
57
adição de 4% de CaF2 à escória, o teor final de enxofre ficou entre 50 e 80 ppm para
uma relação CaO/Al 2O3 muito mais estreita, entre 1,2 e 3,0. Ou seja, o uso de B 2O3
mostrou-se mais eficiente na dessulfuração que o uso de CaF 2 para as referidas
escórias.
Nesse mesmo sentido, Coleti et al. (2021) estudaram o efeito do B2O3 em escória
dessulfurantes de aço do sistema CaO-Al2O3-MgO-SiO2 nas proporções de 3, 5 e
7%. Os mesmos experimentos foram feitos adicionando CaF 2 nas mesmas
proporções. Os autores verificaram que a eficiência do processo foi maior para as
escórias contendo B2O3 em todas as proporções. Para 5% de fluxante, a escória
com B2O3 alcançou a maior eficiência entre todas, com 68,8% contra 58,8% para a
escória com CaF2.
Neste tópico será abordada apenas a aplicação dos resíduos utilizados neste
trabalho, que são: escória de KR e finos de calcário.
2.8.1 Escória de KR
A reação acima ocorre por volta de 900 ºC e é acompanhada por intensa geração de
gás (CO2), que promove aumento da turbulência do sistema, ocasionando maior
interação entre metal e escória. Ademais, é considerado que o calor do metal
rapidamente é conduzido para as partículas de CaCO 3, o que promove sua
62
decomposição instantânea e abrupta após adição ao banho. Isso gera uma quebra
das partículas, o que aumenta a interface de reação e fomenta a reação entre o CaO
gerado e o enxofre (SESHADRI; SILVA; SILVA, 2002; VUOLIO et al., 2018).
Vuolio et al. (2018) alcançaram eficiências entre 80 e 95% utilizando até 10% de
CaCO3 em misturas dessulfurantes industriais. Contudo, o aumento da eficiência de
dessulfuração sob adição de calcário ou CaCO 3 só ocorre até certa medida.
Seshadri, Silva e Silva (2002) argumentam que não há alteração significativa na
eficiência quando as proporções de 10, 20 e 30% de CaCO3 são usadas na mistura.
Segundo os autores, a natureza endotérmica da reação de calcinação causa quedas
de temperatura no sistema, o que prejudica a cinética do processo e anula os efeitos
positivos desse insumo quando se aumenta demais sua quantidade na mistura.
63
3 MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia para execução deste trabalho foi dividida entre as seguintes etapas:
O óxido de boro (B2O3) foi obtido a partir da decomposição térmica do ácido bórico
(H3BO3) a 200 ºC por 2 horas em forno do tipo mufla de acordo com a Equação 43
(AGHILI; PANJEPOUR; MERATIAN, 2018).
Para cada material utilizado foi criada uma sigla a fim de facilitar a identificação das
misturas dessulfurantes. Tabela 4 apresenta as composições químicas das matérias-
primas utilizadas, que foram fornecidas pelas empresas provedoras.
Tabela 4 – Composição química das fontes de CaO e fluxantes utilizados nos testes
de dessulfuração
Finos Finos
Cal Escória Fluxante Óxido Borra de
Matéria-prima de de Fluorita Sodalita
calcítica de KR padrão de boro alumínio
calcário calcário
Sigla C FC FC* E F P S B A
CaO 98,84 55,78 98,27 36,19 3,87 3,80 0,00 0,00 0,00
SiO2 0,67 0,38 1,08 8,06 12,04 26,80 51,95 0,00 1,50
Al2O3 0,05 0,03 0,09 3,67 5,79 22,37 22,73 0,00 62,00
CaF2 0,00 0,00 0,00 0,00 72,12 0,00 0,00 0,00 0,00
Fe2O3 0,08 0,05 0,09 0,00 4,34 0,00 3,79 0,00 0,00
Composição Química (%)
MgO 0,21 0,12 0,22 1,64 0,00 1,74 1,08 0,00 0,00
K2 O 0,00 0,00 0,00 0,03 1,83 3,06 6,39 0,00 0,00
FeO 0,00 0,00 0,00 45,92 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
B2O3 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 100,00 0,00
MnO 0,00 0,00 0,00 1,07 0,00 0,32 0,00 0,00 0,00
Na2O 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 26,37 14,07 0,00 0,00
S 0,08 0,05 0,14 1,43 0,00 0,03 0,00 0,00 0,00
C 0,00 0,00 0,00 1,89 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
P 0,06 0,03 0,10 0,10 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Al 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 15,51 0,00 0,00 36,50
CO2 0,00 43,57 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
A Tabela 4 mostra que a fluxante padrão tem a presença de vários óxidos, com
destaque para: SiO2 (26,80%), Na2O (26,37%) e Al2O3 (22,37%), além de alumínio
65
O ferro gusa usado para os testes tem sua composição mostrada na Tabela 5.
O primeiro grupo foi definido para testar a substituição da cal pelas fontes
alternativas de CaO, que são os finos de calcário e a escória de KR. Nessas
misturas, foi usado o fluxante padrão, sempre em 12% para fixar sua influência no
processo. A Tabela 6 apresenta os materiais usados nessas misturas, bem como
suas proporções.
4 C82E6P12 82 - 6 - 12
5 C74FC8E6P12 74 8 6 - 12
6 C73FC15P12 73 15 - - 12
Fonte: Elaborado pelo autor (2021)
Tabela 7 - Proporção dos materiais utilizados para testes do efeito dos fluxantes
Quantidade (%)
Teste Mistura Óxido
Cal Finos de Escória Borra de
Fluorita Sodalita de
calcítica calcário de KR alumínio
boro
1 C95F5 95 - - 5 - - -
7 C81FC8E6F5 81 8 6 5 - - -
8 C81FC8E6B5 81 8 6 - - 5 -
9 C69FC15E6S5F5 69 15 6 5 5 - -
10 C69FC15E6S5B5 69 15 6 - 5 5 -
11 C67FC15E6S6A6 67 15 6 - 6 - 6
12 C67FC15E6S4A4F4 67 15 6 4 4 - 4
13 C67FC15E6S4A4B4 67 15 6 - 4 4 4
Fonte: Elaborado pelo autor (2021)
67
Por fim, a mistura do teste 3, C80FC8P12, foi testada em três faixas granulométricas:
menor que 2,0 milímetros, de 0,1 a 2,0 milímetros e de 0,5 a 2,0 milímetros,
mantendo-se a composição química fixa, assim como a temperatura de 1350 ºC. As
partículas mais finas foram removidas para verificar a influência da aglomeração das
partículas na eficiência de dessulfuração. A Tabela 8 apresenta a distribuição
granulométrica da cal para as três faixas citadas acima.
A mistura C80FC8P12 foi escolhida para os testes acima porque inicialmente essa
mistura seria aplicada industrialmente para avaliação da adição de 8% de finos de
calcário em um processo real de dessulfuração em KR.
Para obtenção das fases formadas em cada mistura dessulfurante, estas foram
simuladas na temperatura utilizada nos testes, que foi de 1350 ºC. Teoricamente, o
resultado dessa simulação mostra a condição inicial das misturas para reagir com o
banho metálico. Já o teor de enxofre de equilíbrio foi obtido mediante simulação
entre as misturas e o ferro gusa. A Tabela 9 mostra a composição química em
porcentagem em massa das misturas, obtida por balanço de massa, já considerando
a proporção dos materiais utilizados.
A composição química em massa das misturas está presente na Tabela 10. Essa
composição foi utilizada como dado de entrada no software.
70
C95F5 15,35 0,20 0,05 0,59 0,05 0,03 0,01 0,00 0,00 0,00 0,00 0,01 0,00 0,01 0,00 16,31
C88P12 14,21 0,62 0,44 0,00 0,01 0,06 0,06 0,00 0,00 0,01 0,51 0,01 0,00 0,01 0,30 16,25
C80FC8P12 14,91 0,65 0,47 0,00 0,01 0,07 0,06 0,00 0,00 0,01 0,54 0,01 0,00 0,01 0,32 17,06
C82E6P12 13,56 0,69 0,48 0,00 0,01 0,08 0,06 0,45 0,00 0,02 0,51 0,03 0,02 0,01 0,30 16,20
C74FC8E6P12 14,21 0,73 0,50 0,00 0,01 0,08 0,06 0,47 0,00 0,02 0,54 0,03 0,02 0,01 0,32 16,99
C73FC15P12 15,54 0,69 0,49 0,00 0,01 0,07 0,07 0,00 0,00 0,01 0,56 0,01 0,00 0,01 0,33 17,79
C81FC8E6F5 15,40 0,29 0,10 0,62 0,05 0,05 0,02 0,47 0,00 0,01 0,00 0,03 0,02 0,01 0,00 17,06
C81FC8E6B5 15,60 0,19 0,05 0,00 0,01 0,05 0,00 0,48 0,87 0,01 0,00 0,03 0,02 0,01 0,00 17,31
C69FC15E6S5F5 15,15 0,76 0,30 0,64 0,08 0,06 0,07 0,49 0,00 0,01 0,12 0,03 0,02 0,01 0,00 17,76
C69FC15E6S5B5 15,12 0,66 0,25 0,00 0,05 0,06 0,06 0,49 0,89 0,01 0,13 0,03 0,02 0,01 0,00 17,77
C67FC15E6S6A6 14,84 0,77 0,96 0,00 0,05 0,06 0,07 0,49 0,00 0,01 0,15 0,03 0,02 0,01 0,39 17,85
C67FC15E6S4A4F4 14,83 0,66 0,69 0,51 0,07 0,06 0,06 0,49 0,00 0,01 0,10 0,03 0,02 0,01 0,26 17,80
C67FC15E6S4A4B4 14,88 0,58 0,65 0,00 0,04 0,06 0,05 0,49 0,72 0,01 0,10 0,03 0,02 0,01 0,26 17,90
Como pode ser observado, a massa de CaO das misturas é bem próxima. A
simulação das misturas foi feita até a temperatura de 1350 ºC a pressão de 1 atm.
Vale ressaltar que as misturas contendo finos de calcário foram simuladas já
considerando a perda de massa por calcinação. Após obtenção dos resultados das
simulações os testes laboratoriais foram realizados.
Já o ferro gusa foi esmerilhado para retirar a camada de óxidos a fim de não levar
fontes de oxigênio ao forno. Caso contrário, seria formada sobre a superfície do
metal líquido uma escória contendo FeO, que oxidaria o banho.
As matérias-primas foram pesadas antes dos testes com o auxílio de uma balança
semi-analítica. O consumo específico de mistura dessulfurante variou entre 8 e 9
g/kg de ferro gusa. A maior massa de algumas misturas foi definida para compensar
a perda por calcinação.
Foi utilizada uma entrada para colocar um tubo de alumina para a injeção de argônio
com a finalidade de deixar o ambiente inerte dentro do forno, de modo a evitar
oxidação do banho. Foi usado argônio comercial (99,997% Ar) com vazão de
aproximadamente 4 Nl/min. Em nenhum dos experimentos foi observada a formação
de escória antes da adição dos agentes dessulfurantes, o que evidencia que o
ambiente estava inerte.
análise química. O teor de enxofre nas amostras foi determinado por combustão
direta e detecção por infravermelho em um equipamento LECO modelo CS-444 LS.
[%𝑆]𝑖 −[%𝑆]𝑓
𝜂 % = × 100 (44)
[%𝑆]𝑖
𝑑[%𝑆]
− = 𝑘 × ([%𝑆]𝑡 − [%𝑆]𝑒𝑞 ) (40)
𝑑𝑡
[%𝑆]𝑖 −[%𝑆]𝑒𝑞
𝑙𝑛 = 𝑘𝑡 (41)
[%𝑆]𝑡 −[%𝑆]𝑒𝑞
A Equação 41 pode ser lida como uma equação de reta em que o termo à esquerda
é a variável dependente e o tempo (t) é a variável independente, sendo a constante
de velocidade (k) o coeficiente angular da reta. Desse modo, os valores das
constantes de velocidade dos testes foram obtidos por meio da regressão linear dos
pontos relativos à relação apresentada pela Equação 41, já que tanto os valores do
teor de enxofre inicial e final quanto os valores do teor de enxofre de equilíbrio são
conhecidos. A regressão linear foi realizada pelo software Excel.
𝑑[%𝑆] −𝑘𝑡
− = 𝑘 × ([%𝑆]𝑡 − %𝑆 𝑒𝑞 )𝑒 (46)
𝑑𝑡
Para todas as equações acima os valores do teor de enxofre de equilíbrio são muito
pequenos (da ordem de 0,00002%) e podem, portanto, ser considerados iguais a
zero.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados foram colocados de forma gráfica na Figura 32, que está dividida de
acordo com a adição dos resíduos para melhorar a visualização das curvas. Na
Figura 32a estão representadas todas as misturas; na Figura 32b, apenas as
misturas para avaliar a adição de finos de calcário; na Figura 32c, apenas as
misturas para avaliar a adição de escória de KR, enquanto que na Figura 32d estão
representadas as misturas para avaliar a adição simultânea de finos de calcário e
escória de KR.
eficiência ao fim do processo. Isso foi feito porque em cada teste o teor de enxofre
inicial é diferente. Fazendo-se essa relação todos os experimentos partem do
mesmo ponto.
Pode-se observar na Figura 32a que a mistura composta por cal e fluorita, C 95F5,
teve a maior eficiência entre todas (80,70%). Observa-se uma tendência de
diminuição da eficiência conforme a proporção de cal calcítica foi reduzida. Contudo,
as misturas contendo finos de calcário, C80FC8P12 e C73FC15P12, obtiveram
eficiências de 75,56 e 76,00%. Por se tratar de calcário, uma possível explicação
para esse resultado se encontra na liberação dos gases gerados pela calcinação do
carbonato de cálcio durante o teste. A agitação gerada provavelmente aumentou a
cinética de dessulfuração. Além disso, a reação de calcinação promove a quebra
das partículas de calcário, aumentando a superfície de reação. Autores como
Seshadri, Silva e Silva (2002) e Vuolio et al. (2018) justificam o aumento da
eficiência de dessulfuração com a utilização de CaCO 3 por esse mesmo princípio.
química da escória leva em conta que o elemento presente está em sua forma mais
estável, que no caso é o CaO. Porém, é provável que a maior parte desse óxido já
esteja na forma de CaS e 3CaO·SiO2 porque se trata do resíduo do processo de
dessulfuração, então o CaO já reagiu e tem as fases citadas acima já formadas ao
seu redor. Tong et al. (2016) caracterizaram a escória de KR por difração de raios-X
e determinaram as principais fases presentes. A Figura 33 mostra as fases
encontradas.
Nota-se na Figura 33 a presença das fases CaS e 3CaO·SiO2. Além disso, o CaO
que ainda pode estar presente nessa escória provavelmente tem reatividade menor
que de uma cal virgem pois já pode estar sinterizada ou hidratada. Apesar de
utilizarem metodologias diferentes, os resultados deste trabalho podem ser
comparados aos de Nakai et al. (2009) e Tong et al. (2016). Os autores utilizaram a
escória de KR de forma total como agente dessulfurante. Nakai et al. (2009)
apontam que esse resíduo ainda tem potencial dessulfurante, porém esse potencial
é menor que o da mistura CaO-5%CaF2 devido à formação de fases sólidas em
torno da partícula de CaO. Do mesmo modo, Tong et al. (2016) obtiveram no
máximo 34,5% de eficiência utilizando escória de KR a 1400°C. Ou seja, a literatura
mostra que esse resíduo ainda é capaz de dessulfurar, porém, espera-se que a
81
eficiência diminua. Isso indica que seu reaproveitamento na mistura deve ser
limitado para não comprometer o processo.
Comportamento similar foi obtido por Seshadri, Silva e Silva (2002). A Figura 35
ilustra a taxa de dessulfuração obtida pelos autores.
Os autores mostram que não houve alteração tanto na taxa quanto na eficiência
quando as proporções de 10, 20 e 30% de CaCO 3 foram usadas em misturas à base
de cal. O caráter endotérmico da reação de decomposição do carbonato de cálcio é
apontado pelos autores como a provável razão pela qual não houve diferença na
taxa de dessulfuração. Quanto maior é a proporção de CaCO 3 na mistura, maior é a
queda de temperatura, o que leva a uma maior formação de fases sólidas e a um
menor transporte de massa do enxofre. Esses fatores compensam a maior superfície
de reação e maior agitação causadas pela decomposição do carbonato de cálcio.
Já as Figuras 32c e 32d mostram que houve diminuição da eficiência com a adição
de 6% de escória de KR e com a adição conjunta de 8% de finos de calcário e 6%
de escoria de KR.
83
Nota-se pela Tabela 13 que a mistura de maior eficiência, C 95F5, foi a que teve
menor formação de fases sólidas que se formam em torno da cal. Ao mesmo tempo,
as piores misturas quanto à eficiência foram aquelas com maior formação dessas
fases, principalmente o silicato tricálcico (3CaO·SiO2). McFeaters e Fruehan (1993)
indicam que essa fase é limitadora da cinética de reação por precipitar ao redor da
partícula de CaO e retardar a difusão do enxofre. Nota-se que as misturas com
escória de KR foram aquelas que formaram maior quantidade da fase 3CaO·SiO2. Já
as misturas C73FC15P12, C80FC8P12 e C88P12 tiveram formação dessa fase sólida bem
próxima em quantidade. Vale ressaltar que as misturas com adição de finos de
calcário obtiveram maior eficiência por conta de fatores cinéticos já discutidos,
apesar de terem formado 3CaO·SiO2 em quantidade ligeiramente maior que a
mistura C88P12.
As misturas com menores eficiências são aquelas que também têm maior
quantidade de fase líquida e menor quantidade de CaO sólido. Nesses casos parte
do CaO é usada para formar a escória líquida e as fases sólidas, diminuindo a
quantidade disponível para reagir com o enxofre. O teor de enxofre de equilíbrio não
mostrou ter relação com a eficiência, o que indica que a dessulfuração é mais
dependente de fatores que afetam a cinética.
84
Tabela 14 – Variação da %S pelo tempo e eficiências das misturas com adição dos
fluxantes
Variação da %S pelo tempo (min) Eficiência
Mistura
0 3 6 9 12 15 25 (25min)
C69FC15E6S5B5 0,0290 0,0200 0,0160 0,0092 0,0083 0,0069 0,0022 92,41
C67FC15E6S4A4B4 0,0440 0,0390 0,0240 0,0220 0,0160 0,0110 0,0039 91,14
C67FC15E6S4A4F4 0,0310 0,0260 0,0160 0,0120 0,0093 0,0075 0,0032 89,68
C67FC15E6S6A6 0,0270 0,0200 0,0160 0,0120 0,0092 0,0067 0,0036 86,67
C95F5 0,0570 0,0400 0,0340 0,0240 0,0220 0,0200 0,0110 80,70
C69FC15E6S5F5 0,0680 0,0560 0,0480 0,0470 0,0360 0,0250 0,0150 77,94
C81FC8E6B5 0,0460 0,0390 0,0340 0,0280 0,0220 0,0210 0,0130 71,74
C81FC8E6F5 0,0510 0,0400 0,0340 0,0290 0,0280 0,0250 0,0200 60,78
Fonte: Elaborado pelo autor (2021)
Os resultados foram colocados de forma gráfica na Figura 36, que está dividida de
acordo com a adição dos fluxantes para melhorar a visualização das curvas. Na
Figura 36a estão representadas todas as misturas; na Figura 36b, apenas as
misturas para avaliar a adição de fluorita ou óxido de boro na presença de 8% de
finos de calcário e 6% de escória de KR; na Figura 36c, apenas as misturas para
avaliar a adição de fluorita ou óxido de boro na presença de 5% de sodalita, 15% de
finos de calcário e 6% de escória de KR, enquanto que na Figura 36d estão
representadas as misturas para avaliar a adição de borra de alumínio na presença
de fluorita ou óxido de boro e na ausência deles.
85
Observa-se na Figura 36a que a mistura com maior eficiência foi a C69FC15E6S5B5
(92,41%). Todas as misturas com borra de alumínio e a mistura citada acima tiveram
resultados de eficiência melhores que a mistura base de cal e fluorita, o que sugere
que a associação de vários fluxantes implica em melhor efeito que o uso somente de
fluorita. Deve-se apontar que essas misturas tiveram adição de 15% de finos de
calcário, o que, como já discutido anteriormente, também favorece a cinética por
conta da agitação promovida pela liberação dos gases provenientes da calcinação e
por conta da maior superfície de reação. Quando se analisa as misturas cuja única
diferença é o teor de fluorita e óxido de boro (C81FC8E6F5 e C81FC8E6B5,
C69FC15E6S5F5 e C69FC15E6S5B5, C67FC15E6S4A4F4 e C67FC15E6S4A4B4), nota-se que
86
aquelas com óxido de boro obtiveram eficiências maiores. Isso pode indicar que
para essa combinação de matérias-primas o óxido de boro atua de modo mais eficaz
na dissolução das fases sólidas formadas ao redor da partícula de CaO por diminuir
a viscosidade e temperatura de fusão da escória. Wang et al. (2011) estabelecem
que o B2O3 tem poder fluidificante superior ao do CaF 2, ao mesmo tempo que
promove maior redução da temperatura de fusão da escória por formar compostos
eutéticos de temperaturas de fusão inferiores àqueles formados pelo CaF 2.
Consequentemente, é possível alcançar menores teores de enxofre mediante
utilização do óxido de boro como fluxante em escórias dessulfurantes. Esse
comportamento é refletido nas misturas deste trabalho.
Tabela 15 – Fases formadas na simulação das misturas com adição dos fluxantes a
1350°C
% Fases sólidas Eficiência
Mistura % Liq % Sol %Seq
CaO CaS MgO 3CaO·SiO2 3CaO·B2O3 (%)
C69FC15E6S5B5 31,45 68,56 67,71 0,29 0,00 0,00 0,00 2,17E-05 92,41
C67FC15E6S4A4B4 33,87 66,13 60,49 0,00 0,00 5,64 0,00 2,14E-05 91,14
C67FC15E6S4A4F4 28,78 71,22 70,88 0,34 0,00 0,00 0,00 2,15E-05 89,68
C67FC15E6S6A6 28,58 70,76 70,76 0,00 0,00 0,00 0,00 2,15E-05 86,67
C95F5 8,6 91,4 90,99 0,1 0,19 0,00 0,00 2,16E-05 80,79
C69FC15E6S5F5 23,61 76,39 75,69 0,36 0,13 0,00 0,00 2,22E-05 77,94
87
C81FC8E6B5 11,94 88,06 76,24 0,36 0,00 0,00 9,48 2,21E-05 71,74
C81FC8E6F5 14,76 85,24 84,44 0,36 0,21 0,00 0,00 2,17E-05 60,78
Fonte: Elaborado pelo autor (2021)
Pode-se observar na Tabela 15 que apesar das menores quantidade de CaO sólido
geradas nas misturas C69FC15E6S5B5 e C67FC15E6S4A4B4, elas obtiveram as maiores
eficiências (92,41 e 91,14%). De modo geral, nota-se ainda que praticamente não
houve formação de fases sólidas que limitam a difusão do enxofre, o que indica que
a combinação dos fluxantes utilizados preveniu a formação desses compostos (CaS
e 3CaO·SiO2). A exceção está na mistura C67FC15E6S4A4B4, que, embora tenha
alcançado alta eficiência (91,14%), formou 5,64% de 3CaO·SiO2. Esse fato sugere
que a formação dessa fase não tenha afetado a eficiência do processo.
Provavelmente, a razão disso se deu em decorrência da fração de fase líquida
formada. A mistura em questão apresentou o maior teor de fase líquida (33,87%).
Isso indica que para essa situação a dessulfuração também ocorre mediante reação
entre o ferro gusa e a escória líquida. Assim, há reação entre dois líquidos, em que o
transporte de massa do enxofre é favorecido. Taniguchi e Seetharaman (2012)
apontam que a tensão interfacial entre a escória líquida e o ferro gusa, bem como a
tensão interfacial entre a escória líquida e o CaO sólido são menores que a tensão
superficial do ferro gusa e do CaO sólido. Nesse sentido, as interações físico-
químicas são favorecidas nesse sistema quando há presença de quantidade
suficiente de fase líquida. Dessa forma, parte da dessulfuração ocorre pela reação
com o CaO dissolvido na escória líquida, uma vez que sua atividade é igual a 1
(para todas as misturas houve formação de CaO sólido, isto é, a fase líquida está
saturada em CaO). De acordo com Takahashi et al. (2012), para um sistema de
reação composto por ferro gusa, escória líquida e CaO sólido, a escória líquida é
responsável pela dessulfuração ao passo que o CaO sólido atua indiretamente no
processo, servindo como mantenedor do suprimento de CaO à fase líquida,
mantendo esta sempre saturada em CaO.
Os testes para avaliar esse parâmetro tiveram como base o uso da mistura
C80FC8P12 nas seguintes faixas granulométricas: menor que 2,0 milímetros, de 0,1 a
2,0 milímetros e de 0,5 a 2,0 milímetros. Os testes foram realizados a 1350 ºC. Os
resultados da variação de enxofre pelo tempo foram organizados na Tabela 16 para
as três misturas envolvidas, listadas por ordem decrescente de eficiência de
dessulfuração em 25 minutos.
0,5 a 2,0 mm 0,049 0,041 0,036 0,029 0,028 0,026 0,019 61,22
Fonte: Elaborado pelo autor (2021)
Observa-se na Figura 37 que a mistura mais eficiente foi aquela com cal de
granulometria menor que 2,0 mm, chegando a 110 ppm de enxofre e 75,56% de
eficiência de dessulfuração, seguida pela cal entre 0,1 e 2,0 mm (100 ppm e 73,68%
de eficiência) e pela cal entre 0,5 e 2,0 mm (300 ppm e 61,22% de eficiência). Nota-
se, então, que quanto menor a faixa granulométrica e quanto maior o tamanho da
partícula de cal, menor é a eficiência de dessulfuração. Isso ocorreu na medida em
que o aumento do tamanho da partícula resulta em menor superfície específica, ou
seja, menor área disponível para reação. Ao mesmo tempo, perde-se rendimento da
cal para maiores granulometrias uma vez que os produtos sólidos da dessulfuração
se aderem às partículas. Assim, uma quantidade maior de cal não participa da
reação já que a difusão de enxofre até seu interior fica limitada.
90
No entanto, autores como McFeaters e Fruehan (1993) apontam que a cal deve ter
uma granulometria suficientemente grande para evitar que as partículas de cal
sofram aglomeração quando adicionadas ao banho por batelada. Quando as
partículas são muito finas ocorre coalescimento, o que causa diminuição da
superfície específica. Nakai et al. (2010) utilizaram cal de tamanho igual ou menor
que 1 mm e, apesar da agitação de 700 rpm, foi detectada a aglomeração das
partículas. Grillo et al. (2017) também observaram sinterização das partículas de cal
menores que 100 µm.
Os testes para avaliar esse parâmetro tiveram como base o uso da mistura
C80FC8P12 nas temperaturas de 1250, 1350 e 1400 ºC, todos com granulometria da
cal menor que 2,0 milímetros. Os resultados da variação de enxofre pelo tempo
foram organizados na Tabela 17 para as três misturas envolvidas, listadas por
ordem decrescente de eficiência de dessulfuração em 25 minutos.
As misturas estudadas neste trabalho são diferentes quanto aos materiais utilizados
em sua formulação. Portanto, para a análise do fator de dessulfuração foi feita a
divisão delas em grupos de modo que as semelhantes entre si sejam analisadas em
conjunto. O FDeS leva em conta a composição química utilizada, de modo que fatores
que afetam a cinética não podem ser diferentes entre as misturas em que essa
análise está sendo feita. No presente trabalho, finos de calcário e escória de KR são
insumos que afetam a cinética de dessulfuração. O primeiro foi utilizado na maioria
dos testes e em diferentes proporções (15%, 8% e 0%). Como a decomposição dos
carbonatos afeta diretamente a cinética do processo e esse ponto não pode ser
mensurado termodinamicamente pela formação das fases, a eficiência não pode ser
devidamente relacionada ao fator de dessulfuração considerando todas as misturas
numa mesma análise. Ao mesmo tempo, há misturas com presença de escória de
KR e outras não. A composição apresentada na Tabela 4 mostra que esse insumo
tem aproximadamente 36% de CaO. A análise química da escória leva em conta que
o elemento presente está em sua forma mais estável, que no caso é o CaO. Porém,
é provável que a maior parte desse óxido já esteja na forma de CaS e 3CaO.SiO 2
porque se trata do resíduo do processo de dessulfuração, então o CaO já reagiu e
94
tem as fases citadas acima já formadas ao seu redor. Além disso, o CaO que ainda
pode estar presente nessa escória provavelmente tem reatividade menor que de
uma cal virgem pois já pode estar sinterizada ou hidratada. Isso afeta a
determinação das fases. Portando, as misturas foram agrupadas nessa análise
tendo sempre os mesmos teores tanto de finos de calcário quanto de escória de KR,
para que não haja diferença na influência desses insumos no fator de dessulfuração.
Os testes utilizados para avaliação da variação da granulometria da cal e para
avaliação da variação da temperatura não estão relacionados nessa análise por
conta de motivos já citados. Desse modo, três grupos foram definidos:
A Equação 47 para foi usada para determinar o F DeS das misturas dos grupos 1 e 2.
A Tabela 19 mostra o FDeS e a eficiência delas.
Pode-se observar que quanto maior o FDeS, maior foi a eficiência para as misturas de
ambos os grupos. Portanto, a Equação 45 pode ser aplicada para avaliar a eficiência
das misturas com as características dos grupos 1 e 2.
95
A maior eficiência das misturas do grupo 3 pode indicar que o CaO presente na
parte líquida tem condições de dessulfurar o ferro gusa, sendo que a atividade do
CaO nesta parte líquida é 1. Porém, nos casos em que a parte liquida é pequena
(até 20%), ela deve participar pouco do processo, sendo a parte sólida responsável
pela dessulfuração. Assim, foi proposto um novo fator de dessulfuração para
misturas cujo percentual de fase líquida seja maior que 20%. A Equação 48
demonstra esse novo fator, chamado de fator de dessulfuração parcial (FP DeS). O
FPDeS considera a porcentagem de CaO líquido (%CaO(L)).
Esse resultado incitou a busca por um modelo que seja representativo para as
misturas com as características em questão. Dessa forma, foi adicionado um novo
termo ao fator de dessulfuração parcial. Ao multiplicar o FPDeS pela fração mássica
de líquido (𝑁𝐿𝑖𝑞 ), chegou-se ao fator de dessulfuração para misturas com formação
de líquido acima de 20%, chamado de fator de dessulfuração total (FT DeS). A
Equação 49 apresenta essa nova expressão.
A Tabela 20 apresenta os valores dos três modelos para as misturas, bem como os
dados de fração mássica de líquido (𝑁𝐿𝑖𝑞 ) e teor de CaO líquido (%𝐶𝑎𝑂(𝐿) ).
Embora as misturas grupo 3 sejam mais eficientes que as misturas dos grupos 1 e 2,
os valores de FTDeS são menores que os valores de F DeS presentes na Tabela 19,
fato este que não está de acordo com o propósito de criação desse parâmetro:
quanto maior é o fator, maior é a eficiência. Considerando que uma padronização da
expressão do fator de dessulfuração deva ser feita, ou seja, que a mistura com
maior fator sempre resultará em maior eficiência, é proposto um modelo geral para
misturas com formação de fase líquida acima ou abaixo de 20%. O fator de
dessulfuração global (FGDeS) é apresentado pela Equação 51.
98
Sendo que:
Desse modo, o maior valor do FGDeS resulta em maior eficiência para todas as
misturas, como pode ser visto na Figura 41.
[%𝑆]𝑖 −[%𝑆]𝑒𝑞
Neste item serão apresentados os gráficos 𝑙𝑛 × 𝑡 . A partir deles foi
[%𝑆]𝑡 −[%𝑆]𝑒𝑞
Observa-se que as retas estão bem ajustadas para as três misturas, com
coeficientes de determinação acima de 0,9. Desse modo, as constantes de
velocidade das misturas C88P12, C80FC8P12 e C73FC15P12 são, respectivamente,
0,047, 0,055 e 0,056 min-1. Já as taxas de dessulfuração foram calculadas em
relação ao tempo inicial. A Tabela 21 mostra os valores da constante de velocidade
(k), da taxa de dessulfuração (d[%S]/dt), da eficiência de dessulfuração (η(%)) em 25
minutos e do teor de enxofre inicial ([%S] i).
Nota-se na Figura 43 que a correlação entre as variáveis foi crescente para todas as
situações. Tanto a taxa quanto a eficiência de dessulfuração em 25 minutos
aumentaram com o aumento da constante de velocidade. A constante de velocidade
e a taxa de reação também aumentaram com o aumento do teor de enxofre inicial.
Observa-se que as retas não estão tão bem ajustadas quanto aquelas do tópico
anterior. Porém, ainda contam com coeficientes de determinação acima de 0,9.
Desse modo, as constantes de velocidade das misturas C88P12, C82E6P12 e
C74FC8E6P12 são, respectivamente, 0,047, 0,046 e 0,038 min-1. Já as taxas de
dessulfuração foram calculadas em relação ao tempo inicial. A Tabela 22 mostra os
valores da constante de velocidade (k), da taxa de dessulfuração (d[%S]/dt), da
eficiência de dessulfuração (η(%)) em 25 minutos e do teor de enxofre inicial ([%S] i).
Observa-se que as retas não estão tão bem ajustadas quanto aquelas com adição
de finos de calcário. Porém, ainda contam com coeficientes de determinação acima
de 0,9. Desse modo, as constantes de velocidade das misturas C95F5, C81FC8E6B5 e
C81FC8E6F5 são, respectivamente, 0,063, 0,051 e 0,036 min-1. Já as taxas de
dessulfuração foram calculadas em relação ao tempo inicial. A Tabela 23 mostra os
valores da constante de velocidade (k), da taxa de dessulfuração (d[%S]/dt), da
eficiência de dessulfuração (η(%)) em 25 minutos e do teor de enxofre inicial ([%S] i).
Nota-se na Figura 51 que a correlação entre as variáveis foi crescente para todas as
situações. Tanto a taxa quanto a eficiência de dessulfuração em 25 minutos
aumentaram com o aumento da constante de velocidade. A constante de velocidade
e a taxa de reação também aumentaram com o aumento do teor de enxofre inicial.
Corresponde às misturas com granulometria da cal menor que 2,0 mm, 0,1 a 2,0 e
0,5 a 2,0 mm. A Figura 52 mostra a variação do 𝑙𝑛(𝐴) com o tempo de experimento
e a regressão linear desses pontos.
110
Observa-se que as retas não estão tão bem ajustadas quanto aquelas com adição
de finos de calcário. Porém, ainda contam com coeficientes de determinação acima
de 0,9. Desse modo, as constantes de velocidade das misturas a 1400°C, 1350°C e
1250°C são, respectivamente, 0,028, 0,022 e 0,011 min-1. Já as taxas de
dessulfuração foram calculadas em relação ao tempo inicial. A Tabela 27 mostra os
valores da constante de velocidade (k), da taxa de dessulfuração (d[%S]/dt), da
eficiência de dessulfuração (η(%)) em 25 minutos e do teor de enxofre inicial ([%S]i).
Pode-se observar na Figura 56a que existe uma tendência de aumento da taxa de
reação quando o valor da constante de velocidade aumenta. O coeficiente de
determinação de 0,547 ilustra que essa tendência corresponde à maioria dos dados,
porém, ainda nota-se que há uma dispersão notável dos mesmos. Quando se
analisa os grupos de misturas, nota-se que para alguns casos essa correlação foi
crescente e para outros foi decrescente. Essa tendência de aumento pode ser
verificada na Equação 40, que mostra que a taxa é diretamente proporcional à
constante de velocidade. Todavia, a taxa de dessulfuração no instante inicial
também depende do teor de enxofre inicial, que variou bastante entre os
experimentos (de 270 a 690 ppm). Caso esses valores fossem próximos ou iguais,
provavelmente a correlação de aumento da taxa em relação à constante de
velocidade seria mais evidente no gráfico e teria coeficiente de determinação mais
próximo de 1.
115
Pela Figura 57, nota-se que para as misturas deste trabalho o aumento do teor
inicial de enxofre não resultou em aumento da eficiência. Por mais que a taxa de
dessulfuração seja proporcional ao teor de enxofre inicial, o cálculo da eficiência
116
considera tanto o teor inicial quanto o final. Uma mistura mais eficiente não é
necessariamente aquela que remove maior quantidade de enxofre, mas sim a que
remove uma proporção maior em relação ao teor inicial. Por exemplo, a mistura
C95F5 removeu 460 ppm de enxofre do banho, ao passo que a mistura
C67FC15E6S4A4F4 removeu 278 ppm de enxofre. Porém, a segunda teve eficiência de
89,68%, enquanto que a primeira chegou aos 80,70% de eficiência. Desse modo,
uma mistura eficiente é aquela que é capaz de dessulfurar mesmo que a
disponibilidade de enxofre seja baixa, isto é, que seu teor seja baixo no metal.
Já a Figura 56d mostra que não houve correlação entre o teor de enxofre inicial e a
taxa de dessulfuração. Os dados estão dispersos no gráfico e o coeficiente de
determinação foi praticamente nulo. Isso indica que para os experimentos realizados
neste trabalho a constante de velocidade teve mais influência na taxa de reação que
o teor de enxofre inicial. Por outro lado, quando a análise é feita considerando a taxa
de reação em 25 minutos, ou seja, ao final do processo, o cenário é outro. A figura
59 ilustra essa correlação. A taxa em 25 minutos foi calculada por meio da Equação
46.
iniciou com menos enxofre que o primeiro. Não necessariamente a mistura de menor
teor final terá maior eficiência e vice versa. Caso todas as misturas tivessem o
mesmo teor inicial, o menor teor final resultaria sempre em maior eficiência. Assim,
quanto maior é o teor de enxofre inicial, maior é a taxa de dessulfuração ao final do
processo uma vez que a força motriz da reação é maior nesse estágio, como mostra
a Equação 40.
119
5 CONCLUSÃO
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