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Vitória
2016
PEDRO GABRIEL BONELLA DE OLIVEIRA
Vitória
2016
(Biblioteca Nilo Peçanha do Instituto Federal do Espírito Santo)
À minha família, meus pais Hinton e Rita, e meu irmão Tiago, por serem minha maior
motivação e estarem sempre me apoiando nos momentos mais difíceis.
Aos meus tios Queiroz e Fátima, e minhas primas Alana e Nathânia, por me
acolherem em Vitória como parte da família.
Aos professores do PROPEMM. Ao técnico Ricardo Boldrini pelo auxílio nos ensaios
de tração. À engenheira Maiara Martins pela realização dos ensaios de desgaste.
Aos engenheiros Bruno Camara Vieira e Suzana Souza da Silva Scardua que deram
início a este projeto. Ao professor João Batista Ribeiro Martins e à Engenheira
Joelma Krugel Brites e o tecnólogo Wagner Monteiro de Souza pelas valiosas
discussões e contribuições com o software FactSage e microestruturas. Agradeço
também a todos que de alguma forma torceram e contribuíram para o sucesso deste
trabalho.
RESUMO
ABSTRACT
Controlled rolling is the most usual way for fabrication of steels used in the oil and
gas industry, however, this process is unsuitable to produce complex geometry tools,
such as joints and connections. Forging presents as a viable option to manufacture
this kind of components, allowing a wider diversity of conformation. Considering the
development of microalloyed steels forgings, the objective of this work is to study the
influence of niobium and molybdenum on mechanical properties, microstructural
characteristics and carbide precipitation of two alloys with different contents of these
elements. In this context, the steels were forged in the shape of square bars,
posteriorly submitted to annealing, quenching and tempering heat treatments were
performed using different temperatures and cooling rates. Samples for
microstructural analysis, tensile and charpy mechanical tests and abrasive wear tests
were extracted from the bars. Prediction of alloy carbide precipitation was performed
using FactSage software. Results show that niobium and molybdenum present
similar effects on phase transformation of steels, promoting an acicular ferrite/bainite
microstructure, desired for this kind of application. Besides, it could be observed that
while molybdenum has dominant effect on solid solution strengthening,
microstructural analysis and thermodynamic simulations indicates that niobium is the
main responsible for grain refinement and secondary hardening.
Figura 1 - Evolução dos aços API após 1950, conforme os valores da tensão de
escoamento. ............................................................................................. 21
Figura 2 - Diferentes fases formadas pela decomposição da austenita. .................. 23
Figura 3 - Ferrita alotriomórfica e idiomórfica. .......................................................... 24
Figura 4 - Exemplo de microestrutura constituída de ferrita poligonal em aço
microligado. .............................................................................................. 25
Figura 5 - Ferrita de Widmanstätten (grãos grandes brancos alongados) formados
em ARBL. ................................................................................................. 25
Figura 6 - Ferrita quasi-poligonal formada em um aço ultrabaixo carbono. ............. 26
Figura 7 - Ilustrações esquemáticas das principais morfologias de bainita. a) bainita
superior. b) bainita inferior. ....................................................................... 27
Figura 8 - Sistema de classificação de bainita proposto por Bramfitt e Speer. ........ 28
Figura 9 - Exemplo de microestrutura de ferrita acicular em aço baixo carbono. ..... 29
Figura 10 - Ilustração esquemática das diferenças de nucleação entre a ferrita
acicular e a bainita. ................................................................................ 29
Figura 11 - Representação esquemática da transição de bainita para ferrita acicular
devido a formação de ferrita alotriomórfica no contorno de grão. .......... 30
Figura 12 - Ferrita granular formada em resfriamento contínuo de um aço baixo
carbono. ................................................................................................. 31
Figura 13 - Martensita em forma de ripas em aço baixo carbono. ............................ 32
Figura 14 - Processamento termomecânico típico de aços microligados. ................. 33
Figura 15 - a) Conexão e b) redução fabricadas por forjamento e utilizadas na união
de tubos na construção de dutos. .......................................................... 34
Figura 16 - Válvula com corpo forjado para controle de pressão em bombas. ......... 34
Figura 17 - Efeito de elementos de liga na temperatura de recristalização da
austenita em um aço baixo carbono com 1,4% em peso de manganês. 36
Figura 18 - Produtos de solubilidade para diversos carbonetos e nitretos de
elementos de liga. .................................................................................. 37
Figura 19 - Diagrama esquemático das temperaturas de transformação A 1 e A3. .... 39
Figura 20 - Influência do tamanho e da fração volumétrica de precipitados na
resistência mecânica de aços baixo carbono. ........................................ 42
Figura 21 - Resultado típico para simulação termodinâmica realizada com o software
FactSage. ............................................................................................... 44
Figura 22 - Perda de massa por desgaste em relação ao tamanho de grão de aços
ferríticos-perlíticos (A, B, C e F) e martensíticos (D e E). ....................... 46
Figura 23 - Regiões do lingote após o corte com peso aproximadamente igual de 20
Kg. .......................................................................................................... 47
Figura 24 - Desenho esquemático do processamento termomecânico das barras
dos aços microligados. ........................................................................... 48
Figura 25 - Tratamentos de têmpera com resfriamento em água seguido de
revenimento............................................................................................ 49
Figura 26 - Etapas do tratamento de têmpera com resfriamento em óleo. ............... 50
Figura 27 - Dimensões do corpo de prova para ensaio de tração. Unidades em
milímetros. .............................................................................................. 51
Figura 28 - Máquina de ensaios Emic DL 10000....................................................... 51
Figura 29 - Dimensões do corpo de prova para ensaio de impacto Charpy. ............. 52
Figura 30 - Equipamento para ensaio de desgaste. Vista lateral. ............................. 52
Figura 31 - Equipamento para ensaio de desgaste. Vista frontal. ............................. 53
Figura 32 - Calota formada na superfície da amostra utilizada em ensaio de
desgaste. A seta indica a medida em milímetros (MOC). ...................... 54
Figura 33 - Barras obtidas após o forjamento. .......................................................... 55
Figura 34 - Microestruturas dos aços recozidos a 930 °C. a) aço 0,08 Nb e b) aço
0,01 Nb. .................................................................................................. 56
Figura 35 - Ferrita poligonal (FP) e martensita (M) no aço 0,08 Nb temperado a 855
°C. .......................................................................................................... 57
Figura 36 - Ferrita poligonal e bainita (B) no aço 0,01 Nb temperado a 885 °C. ....... 57
Figura 37 - Ferrita alotriomórfica (FA), ferrita acicular (FAc) e bainita do aço 0,08 Nb
temperado a 900 °C (Nital 2% – MEV). .................................................. 58
Figura 38 - Ferrita alotriomórfica, ferrita acicular e bainita do aço 0,01 Nb com
têmpera a 900 °C (Nital 2% – MEV). ...................................................... 59
Figura 39 - Microconstituinte M/A no aço 0,08 Nb. Têmpera a 900 °C (Lepera –
MOC). ..................................................................................................... 59
Figura 40 - a) Ferrita alotriomórfica e ferrita acicular no aço 0,08 Nb e b) Ferrita
alotriomórfica e bainita aço 0,01 Nb com têmpera a 900 °C e
revenimento a 450 °C (Nital 2% - MOC). ............................................... 60
Figura 41 - Micrografias obtidas para a) liga 0,08Nb e b) liga 0,01Nb com têmpera a
900 °C e revenimento a 600 °C (Nital 2% - MEV). ................................. 60
Figura 42 - Ferrita Widmanstätten (FW) no aço 0,08 Nb temperado a 1000 °C. ...... 61
Figura 43 - Ferrita alotriomórfica (AF) e ferrita acicular (AcF) no aço 0,08 Nb com
têmpera a 1000 °C (Nital 2% – MOC). ................................................... 61
Figura 44 - Ferrita acicular (AcF) e bainita (B) do aço 0,01 Nb com têmpera a 1000
°C (Nital 2% – MOC). ............................................................................. 62
Figura 45 - Ferrita alotriomórfica, ferrita acicular e bainita em aço temperado a 900
°C com resfriamento em óleo (Nital 2% - MOC). .................................... 62
Figura 46 - Patamar de escoamento do aço 0,08 Nb após resfriamento em óleo.... 65
Figura 47 - Coeficientes de desgaste dos aços após têmpera a 900 °C e têmpera
seguida de revenimento a 450 e 600 °C. ............................................... 67
Figura 48 - Simulação termodinâmica realizada no aço 0,08 Nb. ............................. 68
Figura 49 - Simulação termodinâmica realizada no aço 0,01 Nb. ............................. 68
Figura 50 - Precipitados do tipo MX no aço 0,08 Nb. ................................................ 69
Figura 51 - Precipitados do tipo MX no aço 0,01 Nb. ................................................ 70
LISTA DE TABELAS
- Ferrita
- Austenita
σe - Tensão limite de escoamento
σf - Resistência à tração máxima
A1 - Temperatura inferior de transformação ferrita - austenita
A2 - Ponto de Curie
A3 - Temperatura superior de transformação ferrita - austenita
A4 - Temperatura de transformação austenita - ferrita delta
Ac1 - Temperatura inferior de transformação ferrita - austenita no aquecimento
Ac3 - Temperatura superior de transformação ferrita - austenita no aquecimento
Ar1 - Temperatura inferior de transformação ferrita - austenita no resfriamento
Ar3 - Temperatura superior de transformação ferrita - austenita no resfriamento
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................... 16
2 OBJETIVOS ................................................................................................... 19
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................... 20
3.1 AÇOS DE ALTA RESISTÊNCIA E BAIXA LIGA (ARBL) ................................ 20
3.2 CARACTERÍSTICAS DAS MICROESTRUTURAS DOS AÇOS ..................... 22
3.2.1 Ferrita alotriomórfica e idiomórfica............................................................. 23
3.2.2 Ferrita poligonal ou equiaxial ...................................................................... 24
3.2.3 Ferrita de Widmanstätten ............................................................................. 25
3.2.4 Ferrita quasi-poligonal ou ferrita massiva .................................................. 26
3.2.5 Bainita ............................................................................................................ 27
3.2.6 Ferrita acicular .............................................................................................. 28
3.2.7 Ferrita granular ............................................................................................. 30
3.2.8 Martensita ...................................................................................................... 31
3.3 PROCESSAMENTO TERMOMECÂNICO DOS AÇOS ARBL ........................ 32
3.4 FORJAMENTO DE AÇOS ARBL .................................................................... 33
3.5 EFEITO DE ELEMENTOS DE LIGA ............................................................... 35
3.6 TEMPERATURAS CRÍTICAS DE TRANSFORMAÇÃO NOS AÇOS ............. 38
3.7 PRECIPITAÇÃO DE CARBONETOS ............................................................. 41
3.7.1 As diferentes morfologias dos carbonetos ................................................ 41
3.7.2 Métodos de identificação e quantificação de carbonetos nos aços ......... 43
3.8 TENACIDADE À FRATURA ........................................................................... 44
3.9 DESGASTE NOS AÇOS ARBL ...................................................................... 45
4 MATERIAIS E MÉTODOS .............................................................................. 47
4.1 ELABORAÇÃO DO AÇO E COMPOSIÇÃO QUÍMICA ................................... 47
4.2 FORJAMENTO E USINAGEM DAS BARRAS ................................................ 47
4.3 DETERMINAÇÃO DAS TEMPERATURAS DE TRANSFORMAÇÃO............. 48
4.4 TRATAMENTO TÉRMICO E CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL .... 49
4.5 MEDIDAS DE DUREZA .................................................................................. 50
4.6 ENSAIOS DE TRAÇÃO .................................................................................. 51
4.7 ENSAIOS DE IMPACTO CHARPY ................................................................. 51
4.8 ENSAIOS DE DESGASTE ............................................................................. 52
4.9 SIMULAÇÃO TERMODINÂMICA COM O SOFTWARE FACTSAGE ............. 54
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO ..................................................................... 55
5.1 ELABORAÇÃO DO AÇO E COMPOSIÇÃO QUÍMICA ................................... 55
5.2 FORJAMENTO DAS BARRAS ....................................................................... 55
5.3 CÁLCULO DAS TEMPERATURAS DE TRANSFORMAÇÃO AUSTENÍTICA 55
5.4 TRATAMENTO TÉRMICO E CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL .... 56
5.5 MEDIDAS DE DUREZA .................................................................................. 63
5.6 ENSAIOS DE TRAÇÃO .................................................................................. 63
5.7 ENSAIO DE IMPACTO CHARPY ................................................................... 66
5.8 ENSAIOS DE DESGASTE ............................................................................. 66
5.9 SIMULAÇÃO TERMODINÂMICA COM O SOFTWARE FACTSAGE ............. 67
6 CONCLUSÕES .............................................................................................. 71
7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................. 72
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 73
16
1 INTRODUÇÃO
O aumento da malha dutoviária brasileira requer novos aços que atendam aos
requisitos para fabricar os diversos componentes utilizados na indústria
petroquímica. Dutos soldados podem falhar na região próxima à união, por defeitos
de soldagem ou por excessiva concentração de tensões residuais além dos efeitos
da corrosão associada ao ambiente salino e à atmosfera de enxofre do petróleo
extraído. Com o contínuo crescimento da indústria do petróleo e da demanda
energética, as indústrias do setor iniciaram a exploração, refino e transporte de
petróleos mais pesados.
Este processo, muito utilizado na indústria automotiva, permite uma ampla faixa de
dimensões e formas, com controle da microestrutura e propriedades mecânicas.
Atualmente, as conexões fornecidas pela Vallourec utilizadas em tubulações são
fabricadas por meio de forjamento.
17
2 OBJETIVOS
Objetivo geral:
Objetivos específicos:
Realizar a previsão dos tipos de precipitados formados nos aços por meio de
simulação termodinâmica.
20
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Figura 1 - Evolução dos aços API após 1950, conforme os valores da tensão de escoamento.
Atualmente, os graus mais utilizados para dutos em terra são os X70 (482 MPa) e
X80 (550 MPa), embora outros são desenvolvidos, porém com menor aplicação
comercial. Os aços são fabricados por laminação controlada e apresentam teores de
carbono muito baixos e adições de molibdênio, cromo, níquel, cobre e
ocasionalmente boro (GRAY e SICILIANO, 2009).
Ainda com relação à norma API 5L há dois tipos de especificação, onde o PSL 1
determina o grau de qualidade padrão para dutos e o PSL 2 engloba requisitos
obrigatórios de composição química, tenacidade ao impacto e resistência mecânica
(API, 2008). Para o nível PSL 1 as especificações das propriedades mecânicas
estão apresentadas na Tabela 1.
22
𝐴xc 0,2
εmin = 𝐶 (1)
𝑈 0,9
Onde:
Um alotriomorfo de ferrita tem uma forma que não reflete a simetria cristalina interna,
pois nucleia nos contornos de grão austeníticos, formando camadas orientadas. Um
idiomorfo, por outro lado, tem um formato que reflete a simetria do cristal em que
24
3.2.5 Bainita
Figura 10 - Ilustração esquemática das diferenças de nucleação entre a ferrita acicular e a bainita.
Estes pontos de nucleação para a ferrita acicular são inclusões não-metálicas que
podem ser formados de diferentes tipos de fases cristalinas ou amorfas. Não é
30
Há outras correlações que mostram a analogia entre ferrita acicular e bainita. Por
exemplo, a remoção de inclusões por processos de refusão a arco sob vácuo
promove imediata mudança na microestrutura de ferrita acicular para bainita. O
efeito contrário também pode ser obtido ao tornar os contornos de grão inefetivos
como pontos de nucleação com a formação de camadas de ferrita alotriomórfica nos
mesmos, conforme mostrado na Figura 11 (BABU e BHADESHIA, 1991).
3.2.8 Martensita
O objetivo principal da utilização dos elementos de liga nos aços ARBL é melhorar a
resistência mecânica de forma direta, por meio do refino de grão, solução sólida e
endurecimento por precipitação, ou indiretamente, por aumento de temperabilidade
e modificação das microestruturas de transformação.
Outros elementos como alumínio e titânio também contribuem com o refino de grão
em temperaturas acima da austenitização, pois se apresentam na forma de
carbonetos, nitretos e carbonitretos distribuídos homogeneamente na matriz e
estáveis em altas temperaturas (PORTER et al., 2009).
Ainda nestes aços, o cromo atua no aumento de resistência mecânica pela formação
de ferrita acicular ou bainita em condições de resfriamento acelerado, enquanto o
níquel aumenta a tenacidade (MALCOLN, 2007).
Ac1 = 723 - 7,08Mn + 37,7Si + 18,1 Cr + 44,2Mo + 8,95Ni + 50,1V + 21,7Al + 3,18W
+ 297S - 830N - 11,5C.Si - 14Mn.Si - 3,1Si.Cr - 57,9C.Mo - 15,5Mn.Mo - 5,28C.Ni -
6Mn.Ni + 6,77Si.Ni - 0,8Cr.Ni - 27,4C.V + 30,8Mo.V - 0,84Cr2 - 3,46Mo2 - 0,46Ni2 -
28V2 (2)
Ar3 = 910 – 230C – 21Mn – 15Ni + 32Mo + 45Si +13W + 104V (4)
41
Figura 21 - Resultado típico para simulação termodinâmica realizada com o software FactSage.
Sendo assim, nos aços microligados, os tratamentos térmicos que alteram a matriz e
a dispersão de carbonetos têm uma influência fundamental na resistência ao
desgaste abrasivo. A remoção dos carbonetos primários e a precipitação de
46
No caso do tamanho de grão, resultados da literatura indicam que nos aços com
microestrutura similar, há uma relação linear entre a diminuição no tamanho de grão
e a perda de massa por desgaste.
Figura 22 - Perda de massa por desgaste em relação ao tamanho de grão de aços ferríticos-perlíticos
(A, B, C e F) e martensíticos (D e E).
4 MATERIAIS E MÉTODOS
Na Figura 23 são mostradas as três partes cortadas do lingote que deram origem às
barras forjadas
Figura 23 - Regiões do lingote após o corte com peso aproximadamente igual de 20 Kg.
O lingote obtido após o vazamento foi cortado em três partes com pesos similares,
aquecido a 1050 °C e forjado em três barras com secção quadrada de
aproximadamente 38 mm de aresta e 1500 mm de comprimento. Os últimos passes
foram realizados com a temperatura mínima de 850 °C para refinar o grão.
Posteriormente foi realizado o reaquecimento das barras a 930 °C por duas horas,
seguido de resfriamento no forno, para homogeneizar a microestrutura. Após o
tratamento térmico as barras foram fresadas com 30 mm de lado. O processamento
termomecânico das barras é observado na Figura 24.
48
Ac1 = 723 - 7,08Mn + 37,7Si + 18,1Cr + 44,2Mo + 8,95Ni + 50,1V + 297S - 830N -
11,5C.Si - 14Mn.Si - 3,1Si.Cr - 57,9C.Mo - 15,5Mn.Mo - 5,28C.Ni - 6Mn.Ni +
6,77Si.Ni - 0,8Cr.Ni - 27,4C.V + 30,8Mo.V - 0,84Cr2 - 3,46Mo2 - 0,46Ni2 - 28V2 (5)
Ac3 = 912 - 370C - 27,4Mn + 27,3Si - 6,35Cr - 32,7Ni + 95,2V + 190Ti + 64,5Nb +
332S + 276P + 485N + 16,2C.Mn + 32,3C.Si + 15,4C.Cr + 48C.Ni + 4,32Si.Cr -
17,3Si.Mo - 18,6Si.Ni + 4,8Mn.Ni + 40,5Mo.V + 174C2 + 2,46Mn2 - 6,86Si2 +
0,322Cr2 + 9,9Mo2 + 1,24Ni2 - 60,2V2 (6)
O tamanho de grão dos aços recozidos foi determinado por meio da Equação 5 da
norma ASTM E112:
𝑛𝑎 = 2(𝐺−1) (8)
Foram realizadas medidas de dureza dos aços após todas as etapas de tratamento
térmico em um durômetro com escala Rockwell B com carga de 100 Kg. Foram
obtidas cinco medidas em cada condição.
51
Corpos de prova das amostras retiradas na seção longitudinal das barras foram
usinados de acordo com a norma ASTM E8/E8M (Figura 27). Os ensaios de tração
foram realizados na máquina de ensaios universal Emic DL 10000 do IFES (Figura
28).
Foram realizados ensaios de impacto Charpy de acordo com a norma ASTM E23-
16a nos Laboratórios da ArcelorMittal Tubarão. A escolha do tratamento térmico
utilizado para realização dos ensaios foi feita de acordo com os requisitos descritos
52
no item 3.6 com relação à temperatura Ac3. Os corpos de prova usinados a partir de
material retirado da secção longitudinal das barras foram temperados a 900 °C e
revenidos a 450 °C e 600 °C. Os ensaios foram feitos nas temperaturas de 25, 0 e -
20 °C.
V
𝐾= (9)
L.Fn
𝜋.𝑏4
𝑉≅ (10)
32𝜙
Figura 32 - Calota formada na superfície da amostra utilizada em ensaio de desgaste. A seta indica a
medida em milímetros (MOC).
O banco de dados utilizado foi o FSteel. As fases escolhidas foram Liquid, FCC_A1,
BCC_A2, Cementite, M23C6, M7C3 e M3C2, devido a reincidência delas em todas
as simulações realizadas, sendo as demais desconsideradas no montante das fases
principais. A variação de temperatura foi de 10ºC a 1 atm, considerando sólidos
puros somente.
55
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após recozimento os aços apresentam uma matriz de ferrita poligonal com ilhas de
perlita. É possível observar o efeito de refino de grão no aço com maior teor de
nióbio. De acordo com a Equação 5, o tamanho de grão ASTM para o aço 0,08 Nb
foi 10 ± 1 e para o aço 0,01 Nb foi 8 ± 1.
Figura 34 - Microestruturas dos aços recozidos a 930 °C. a) aço 0,08 Nb e b) aço 0,01 Nb.
Na têmpera a 855 °C, segundo o modelo de Kasatkin, o aquecimento dos aços foi
realizado no interior da zona intercrítica. Nesta condição há o enriquecimento de
carbono na austenita que favorece a formação da martensita após resfriamento
brusco. O aço com 0,08 Nb apresenta uma estrutura bifásica de ferrita poligonal
(FP) e martensita (M), como se observa na Figura 35.
57
Figura 35 - Ferrita poligonal (FP) e martensita (M) no aço 0,08 Nb temperado a 855 °C.
Diferente do aço com maior teor de nióbio, após têmpera a 855 °C do aço 0,01 Nb, a
microestrutura apresenta ferrita poligonal, ferrita alotriomórfica (FA), ferrita acicular
(FAc) e bainita (B). A presença de ferrita poligonal remanescente indica que o aço
não estava completamente austenitizado nesta temperatura. Neste caso, o maior
teor de molibdênio tem efeito predominante na cinética de transformação de fase,
favorecendo a formação de bainita e ferrita acicular (ISASTI et al., 2013). Os demais
tratamentos foram conduzidos na região em que o material está totalmente
austenítico.
Figura 36 - Ferrita poligonal e bainita (B) no aço 0,01 Nb temperado a 885 °C.
Figura 37 - Ferrita alotriomórfica (FA), ferrita acicular (FAc) e bainita do aço 0,08 Nb temperado a 900
°C (Nital 2% – MEV).
Figura 38 - Ferrita alotriomórfica, ferrita acicular e bainita do aço 0,01 Nb com têmpera a 900 °C (Nital
2% – MEV).
Figura 39 - Microconstituinte M/A no aço 0,08 Nb. Têmpera a 900 °C (Lepera – MOC).
Figura 41 - Micrografias obtidas para a) liga 0,08Nb e b) liga 0,01Nb com têmpera a 900 °C e
revenimento a 600 °C (Nital 2% - MEV).
Após têmpera a 1000 °C do aço 0,08 Nb, com o aumento do intervalo acima da
temperatura Ar3, há maior difusão do carbono e formação de ferrita alotriomórfica.
Assim, a formação e crescimento da ferrita de Widmanstätten é favorecida (Figura
42). Apesar de ser um constituinte de elevada resistência mecânica, pode ser
prejudicial à tenacidade, pois as agulhas favorecem a formação de trincas no
material (BABU e BHADESHIA, 1991). No aço 0,08 Nb é observada qualitativamente
maior formação de ferrita alotriomórfica e nucleação de ferrita acicular que no aço
com 0,01 Nb, conforme observado na Figura 43.
61
Figura 43 - Ferrita alotriomórfica (AF) e ferrita acicular (AcF) no aço 0,08 Nb com têmpera a 1000 °C
(Nital 2% – MOC).
Figura 44 - Ferrita acicular (AcF) e bainita (B) do aço 0,01 Nb com têmpera a 1000 °C (Nital 2% –
MOC).
Figura 45 - Ferrita alotriomórfica, ferrita acicular e bainita em aço temperado a 900 °C com
resfriamento em óleo (Nital 2% - MOC).
Tabela 5 - Valores médios de dureza Rockwell B (HRB) dos aços, após recozimento (Rcz), têmpera
(T) e revenimento (R) em cada condição.
Temperatura (°C) 0,08 Nb 0,01 Nb
Rcz 930 52 ± 2 52 ± 1
T 855 100 ± 4 100 ± 2
T 900 84 ± 2 105 ± 2
T 900 + R 450 79 ± 2 101 ± 2
T 900 + R 600 82 ± 1 97 ± 2
T 1000 95 ± 1 97 ± 2
Fonte: Autor, 2016.
Após o recozimento, as durezas nas três direções de forjamento são similares nos
dois aços. Com a têmpera o aço 0,01 Nb apresenta valores superiores ao 0,08 Nb,
devido à formação da ferrita acicular e bainita. Isto sugere que o efeito endurecedor
do molibdênio em solução sólida é dominante, pois promove a formação de
constituintes com alta densidade de discordâncias após o resfriamento rápido
(MORBACHER, 2014; MILITZER et al., 2014).
Os resultados dos ensaios de tração mostram que na maioria dos casos, o aço 0,01
Nb apresenta resistência mecânica superior. A têmpera a 855 °C é uma exceção,
pois a microestrutura mista de ferrita poligonal e martensita no aço 0,08 Nb é
responsável pelos maiores valores de limite de escoamento (σe) e resistência
máxima à tração (σf). Com relação ao aço 0,01 Nb é provável que as estruturas
aciculares sejam responsáveis pelo maior valor de alongamento.
Tabela 6 - Limite de escoamento (σe), resistência máxima à tração (σf) e alongamento (ε) dos aços
após têmpera em água a 855, 900 e 1000 °C.
Aço Tratamento Resfriamento σe (MPa) σf (MPa) ε (%)
0,08 Nb T855 Água 833 ± 11 1071 ± 10 12,5 ± 0,4
0,01 Nb T855 Água 596 ± 06 789 ± 08 17,2 ± 0,3
0,08 Nb T900 Água 630 ± 11 885 ± 10 9,0 ± 1,5
0,01 Nb T900 Água 670 ± 08 935 ± 10 9,3 ± 0,6
0,08 Nb T1000 Água 425 ± 06 617 ± 08 21,7 ± 0,9
0,01 Nb T1000 Água 511 ± 09 649 ± 10 17,7 ± 0,6
Fonte: Autor, 2016.
Tabela 7 - Limite de escoamento, resistência máxima à tração e alongamento dos aços temperados
em água a 900 °C e revenidos a 450 e 600 °C.
Após revenimento a 450 °C, os baixos valores de alongamento indicam que não é
possível a eliminação da fase M/A nesta temperatura. Os elevados valores de σe e σf
para o aço 0,08 Nb indicam um possível endurecimento secundário nesta
temperatura.
Com relação aos aços temperados em óleo e revenidos, os resultados dos ensaios
de tração são mostrados na Tabela 8.
Tabela 8 - Limite de escoamento, resistência máxima à tração e alongamento dos aços temperados
em óleo a 900 °C e revenidos a 450 e 600 °C.
Aço Tratamento Resfriamento σe (MPa) σf (MPa) ε (%)
0,08 Nb T900+R450 Óleo 424 ± 04 521 ± 04 16,1 ± 0,3
0,01 Nb T900+R450 Óleo 464 ± 09 571 ± 07 14,1 ± 0,5
0,08 Nb T900+R600 Óleo 417 ± 07 516 ± 05 17,8 ± 0,6
0,01 Nb T900+R600 Óleo 467 ± 08 565 ± 09 18,7 ± 0,7
Fonte: Autor, 2016.
Tabela 9 - Energia absorvida e porcentual de ductilidade a -20 °C para os aços, após têmpera em
água a 900 °C e revenimentos a 450 e 600 °C.
Aço Tratamento Energia (J) Ductilidade (%)
0,08 Nb T900/R450 149 ± 6 90
0,01 Nb T900/R450 13 ± 1 0
0,08 Nb T900/R600 117 ± 5 56
0,01 Nb T900/R600 7,5 ± 1 0
Fonte: Autor, 2016.
A maior tenacidade apresentada pelo aço 0,08 Nb é justificada pelo menor tamanho
de grão. Em especial, a presença de ferrita acicular tem grande influência na
tenacidade, uma vez que a característica desta estrutura atua como uma barreira a
propagação de trincas a baixas temperaturas (SHIN, HWANG, et al., 2007). Além
disso, estudos apontam que o maior refinamento dos grãos da ferrita alotriomórfica e
das lamelas de ferrita acicular favorecem a ductilidade do aço (WANG, YANG, et al.,
2004).
Figura 47 - Coeficientes de desgaste dos aços após têmpera a 900 °C e têmpera seguida de
revenimento a 450 e 600 °C.
Nos aços, a formação de carbonetos dos tipos M3C2, M7C3 e M23C6, em geral com
cromo e molibdênio, ocorre nas faixas de temperaturas de 300 a 800 °C. Os
precipitados do tipo MX se apresentam em menor quantidade e são mostrados
separadamente nas Figuras 50 e 51.
6 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS