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INSTITUTO SUPERIOR TUPY - IST

MESTRADO EM ENGENHARIA MECÂNICA

INFLUÊNCIA DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA


NA MICROESTRUTURA E NAS PROPRIEDADES DE
AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS CF8M (AISI 316)

GILMAR SILVINO DA CUNHA

JOINVILLE
2009
ii

GILMAR SILVINO DA CUNHA

INFLUÊNCIA DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA


NA MICROESTRUTURA E NAS PROPRIEDADES DE
AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS CF8M (AISI 316)

Dissertação apresentada ao Instituto


Superior Tupy como pré-requisito para
obtenção do título de Mestre em Engenharia
Mecânica.

Área de Concentração: Metalurgia Física e


Engenharia de Superfícies.

Orientador:
Prof. Dr. Marcio Ferreira Hupalo

JOINVILLE
2009
iii

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho:

À memória de minha mãe Inês Hildebert da Cunha, que foi quem me propiciou
chegar até esta etapa da minha vida.
À memória de meu pai Amadeu Silvino da Cunha, que sempre me incentivou a
levar os estudos adiante, mesmo nos momentos de maior dificuldade.
A meus filhos Jean Carlo e Andrey Yves, para que possa servir de incentivo e
busquem atingir seus grandes sonhos.
Em especial a minha esposa Neiva, que sempre contribuiu com seu amor e
dedicação ao meu lado em todas as principais etapas da minha vida.
iv

AGRADECIMENTOS

Ao professor orientador Dr. Marcio Ferreira Hupalo pelo grande


incentivo, contribuição técnica, orientação, confiança, paciência e formação
dada durante a realização deste trabalho.

Aos professores do mestrado: Adriano Fagali de Souza, Modesto


Hurtado Ferrer, Salete Martins Alves, João Batista Rodrigues Neto e Sueli
Fischer Beckert, que me propiciaram a formação acadêmica necessária para a
conquista desta dissertação.

À empresa Vega do Sul – ArcelorMittal Brasil, pelas análises por


microscopia eletrônica de varredura e análises químicas.

Ao Prof. Dr. Osvaldo Mitsuyuki Cintho, da Universidade Estadual de


Ponta Grossa, pelo auxílio na realização de análises químicas.

Ao Prof. Dr. Angelo Fernando Padilha, da Escola Politécnica da USP,


por disponibilizar a técnica de ferritoscopia.

Aos acadêmicos Marcio Rossi e Alexandra Kuss Dezanet, pelo auxílio


na realização de análises quantitativas.

À Prof. Ms Lilian Raquel Moretto Ferreira pelo suporte nas análises


eletroquímicas.

Aos colegas das áreas de fundição, tratamentos térmicos e laboratórios


da Sociesc, especialmente a amiga Terezinha Pires Martins, que muito
contribuíram para a realização deste trabalho.

Aos colegas acadêmicos que comigo enfrentaram este desafio e


participaram em várias etapas deste projeto.
v

RESUMO

INFLUÊNCIA DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA NA MICROESTRUTURA E NAS


PROPRIEDADES DE AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS CF8M (AISI 316)

Os aços inoxidáveis austeníticos são materiais que apresentam excelente


resistência à corrosão em diversos meios. As ligas CF8M (AISI 316) são
normalmente aplicadas em componentes submetidos a ambientes corrosivos
em meios líquidos agressivos, possuindo uma matriz austenítica contendo
quantidades variáveis de ferrita delta. Nesta dissertação foram estudadas
quatro ligas da classe CF8M, com teores de cromo variando entre 18 e 21% e
de níquel entre 9 e 12%. Um estudo detalhado da microestrutura de
solidificação das ligas é apresentado. O efeito da quantidade de ferrita nas
propriedades mecânicas das ligas foi estudado por ensaios de tração e dureza.
A dissolução de ferrita delta foi investigada por tratamentos de solubilização
nas temperaturas de 1050, 1150 e 1250ºC, em tempos variando entre 1 e 64
horas. O efeito da precipitação da fase a’ nas propriedades mecânicas e de
corrosão foi estudado após tratamentos térmicos de envelhecimento a 475ºC,
em tempos de até 900 horas. A caracterização microestrutural das ligas foi feita
com auxílio das técnicas de microscopia óptica com análise de imagens,
ferritoscopia e microscopia eletrônica de varredura com microanálise química
(MEV/EDS). A resistência à corrosão das ligas foi avaliada por ensaios de
imersão em cloreto férrico e de polarização potenciodinâmica cíclica em
solução PBS. As frações volumétricas de ferrita delta variaram entre 2 e 21% e
apresentaram boa correlação com os valores previstos pelo diagrama de
Schoefer. Para relações Creq/Nieq crescentes a morfologia da ferrita variou de
interdendrítica, na forma vermicular, para dendrítica na forma de rede e/ou
lamelar. A dissolução de ferrita delta se mostrou fortemente dependente da
fração volumétrica inicial. Menores quantidades iniciais de ferrita favoreceram o
processo de dissolução. O aumento de dureza da fase ferrítica devido à
formação da fase a’ foi maior para amostras contendo maior fração volumétrica
de ferrita e para tempos de envelhecimento mais longos. A formação da fase a’
resultou na redução da resistência à corrosão das ligas, bem como na
diminuição da tenacidade.

Palavras chave: aços inoxidáveis austeníticos CF8M, fundição, microestrutura,


corrosão, tratamentos térmicos.
vi

ABSTRACT

INFLUENCE OF CHEMICAL COMPOSITION IN MICROSTRUCTURE AND


PROPERTIES OF CF8M (AISI 316) AUSTENITIC STAINLESS STEELS

Austenitic stainless steels present excellent corrosion resistance. CF8M (AISI


316) alloys are generally applied in components subjected to aggressive liquid
media and possess an austenitic matrix containing variable volume fractions of
delta ferrite. In this work four CF8M alloys were obtained, with chromium
content from 18 to 21% and nickel from 9 to 12%. A detailed study of
solidification microstructures is presented. The effect of delta ferrite on
mechanical properties was studied by tensile and hardness tests. The delta
ferrite dissolution was investigated by solution heat treatments at 1050, 1150
and 1250oC, in times from 1 to 64 hours. The effect of alpha prime precipitation
in the mechanical and corrosion properties was studied by aging heat
treatments at 475oC, up to 900 hours. Microstructural characterization was
conducted by optical microscopy and image analysis, magnetic measurements
and scanning electron microscopy with chemical microanalysis (SEM/EDX).
The corrosion resistance was investigated by ferric chloride immersion and
electrochemical potentiodynamic reactivation (EPR) tests in PBS solution. The
volume fractions of delta ferrite varied from 2 to 21% e showed good agreement
with values predicted by Schoefer diagram. For increasing Creq/Nieq ratios the
delta ferrite changes from skeletal to lathy or acicular morphology. The delta
ferrite dissolution shows strong dependence with its initial volume fraction.
Smaller amounts of ferrite have favored the dissolution process. Aging
treatments at 475oC resulted in hardness increase of the ferritic phase. This
effect was more pronounced for longer aging times and higher initial volume
fractions of ferrite. Precipitation of alpha prime phase caused a reduction in the
corrosion resistance and toughness of CF8M alloys.

Key words: CF8M austenitic stainless steels, casting, microstructure, corrosion,


heat treatment.
vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Ilustração esquemática de algumas etapas de produção de aços


inoxidáveis [2] .......................................................................................... 5
Figura 2 – Diagrama ferro-cromo [9] .................................................................. 7
Figura 3 – Seção do diagrama ternário Fe-Cr-Ni para 65% (em peso) de ferro
[9]............................................................................................................. 8
Figura 4 – Padrão ACI de Cr e Ni para aços fundidos resistentes ao calor e a
corrosão [11]............................................................................................ 9
Figura 5 – Seção transversal do diagrama de fase Fe-Ni-Cr com 19% Cr
mostrando os modos de solidificação [6]............................................... 14
Figura 6 – Diagrama dos modos de solidificação propostos por Allan [6]. ....... 15
Figura 7 – Linhas de varreduras esquemáticas para fundidos classificados
pelos modos de solidificação [6]. ........................................................... 17
Figura 8 – Esquema proposto para os cinco tipos de microestruturas que
atenderiam aos modos de solidificação: a) austenítico; b) austenítico-
ferrítico; c) ferrítico-austenítico; d) ferrítico-austenítico e e) ferrítico [18].
............................................................................................................... 20
Figura 9 – Diagrama de Schaeffler para relações de cromo e níquel
equivalentes [3]...................................................................................... 21
Figura 10 – Diagrama de DeLong [23]. ............................................................ 22
Figura 11 - Diagrama de Schoefer esquemático para estimar o teor de ferrita de
aços inoxidáveis [1]. .............................................................................. 23
Figura 12 – Diagrama WRC para a previsão de microestruturas de aços
inoxidáveis [5]. ....................................................................................... 24
Figura 13 - Tensão de escoamento e resistência à tração versus a
porcentagem de ferrita para ligas CF8 e CF8M. Curvas são valores
médios de 277 corridas de CF8 e 62 corridas de CF8M [1]. ................. 26
Figura 14 – Micrografias de MEV de uma amostra laminada mostrando a ferrita
em rede em três dimensões [25]. .......................................................... 27
Figura 15 - Microestrutura da fase sigma após tratamento isotérmico a 700°C
por 168 e 1000h [30].............................................................................. 29
Figura 16 – Influência do tempo e temperatura de envelhecimento no teste de
impacto da liga AISI 310 na temperatura ambiente. Material de partida
recozido com 89J [1].............................................................................. 30
Figura 17 – Mecanismo de precipitação da fase a`a partir da fase ferrítica para
uma liga CF8M [31]. .............................................................................. 31
Figura 18 – Micrografia de MET de um aço DIN 1.4575 recozido e envelhecido
a 475°C por ão e b) no
limite do grão [32]. ................................................................................. 32
Figura 19 – Curvas de dureza para tempo e temperaturas constantes, em uma
liga Fe-30%Cr, após envelhecimentos feitos entre 430 e 540°C.
Amostras laminadas a 900°C, com dureza inicial de 195 a 205 HV [11].
............................................................................................................... 32
Figura 20 – Influência do tempo de envelhecimento a 475ºC na dureza de ligas
ferro-cromo contendo de 15 a 56%Cr [11]............................................. 33
Figura 21 – Corrosão intergranular em aços inoxidáveis CF8M; a) mecanismo
de sensitização intergranular e b) amostra que sofreu corrosão
intergranular – MO [45].......................................................................... 38
viii

Figura 22 – Morfologia da superfície de uma liga envelhecida a 475°C por 300h


por MEV após medidas eletroquímicas em solução de cloreto férrico a
10%, a 60°C [49].................................................................................... 39
Figura 23 - Tensão necessária para produzir trinca por tensão-corrosão em
vários aços fundidos resistentes a corrosão com quantidades variadas
de ferrita [1]............................................................................................ 41
Figura 24 – Representação esquemática do princípio do método de reativação
eletroquímica potenciostática [56]. ........................................................ 42
Figura 25 – Aço fundido AISI 347 estabilizado ao nióbio e envelhecido a 600°C
por 48 horas; a) curva de EPR apresentando uma relação de Ir/Ia = 0,10
evidenciando sensitização e b) microestrutura mostrando intensa
precipitação de Cr23C6 em contorno de grão [57]. ................................. 43
Figura 26 - Ilustração esquemática das análises e ensaios realizados nas ligas
CF8M..................................................................................................... 44
Figura 27 – Corpos de provas fundidos para retirada das amostras................ 45
Figura 28 – Aspecto dendrítico das amostras brutas de fundição, ataque
eletrolítico com solução de ácido oxálico a 10%, MO............................ 57
Figura 29 – Resultados da fração volumétrica de ferrita utilizando-se três
métodos de medição. ............................................................................ 58
Figura 30 - Correlação entre os resultados de fração volumétrica de ferrita
obtidos por ferritoscopia e diagrama de Schoefer. ................................ 59
Figura 31 – Correlação entre os resultados de fração volumétrica de ferrita
obtidos por ferritoscopia e diagrama de Schaeffler................................ 60
Figura 32 - Micrografias das ligas brutas de fundição, caracterizando a
morfologia da ferrita delta, ataque eletrolítico com KOH, 10%. ............. 62
Figura 33 – Microanálise química realizada por MEV/EDS em intervalos de
1,38µm na liga 3 no estado bruto de fundição....................................... 64
Figura 34 – Resultados da fração volumétrica de ferrita da liga 4 solubilizada a
1150°C por três técnicas de metalografia quantitativa........................... 65
Figura 35 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta da liga 1 em função
do tempo de solubilização, para as temperaturas de 1050, 1150 e
1250ºC. Resultados de ferritoscopia. .................................................... 66
Figura 36 – Microestruturas de amostras da liga 1 solubilizadas a 1050°C, em
tempos variando entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.
.................................................................. Erro! Indicador não definido.
Figura 37 - Microestruturas de amostras da liga 1 solubilizadas a 1150°C, em
tempos variando entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.70
Figura 38 - Microestruturas de amostras da liga 1 solubilizadas a 1250°C, em
tempos variando entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.71
Figura 39 – Variação da fração dissolvida de ferrita delta na liga 1, em função
do tempo de tratamento (t1/2) e temperaturas de solubilização,
mostrando uma relação linear. .............................................................. 72
Figura 40 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta da liga 4 em função
do tempo de solubilização, para as temperaturas de 1050, 1150 e
1250ºC. Resultados de ferritoscopia. .................................................... 73
Figura 41 - Microestruturas de amostras da liga 4 solubilizadas a 1050°C, em
tempos variando entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.75
Figura 42 - Microestruturas de amostras da liga 4 solubilizadas a 1150°C, em
tempos variando entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.76
ix

Figura 43 - Microestruturas de amostras da liga 4 solubilizadas a 1250°C, em


tempos variando entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.77
Figura 44 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta da liga 3 em função
do tempo de solubilização, para as temperaturas de 1050, 1150 e
1250ºC. Resultados de ferritoscopia. .................................................... 78
Figura 45 - Microestruturas de amostras da liga 3 solubilizadas a 1050°C, em
tempos variando entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.80
Figura 46 - Microestruturas de amostras da liga 3 solubilizadas a 1150°C, em
tempos variando entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.81
Figura 47 - Microestruturas de amostras da liga 3 solubilizadas a 1250°C, em
tempos variando entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.82
Figura 48 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta das ligas 1, 3 e 4
em função do tempo de solubilização a 1050ºC. Resultados de
ferritoscopia. .......................................................................................... 84
Figura 49 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta das ligas 1, 3 e 4 em
função do tempo de solubilização a 1150ºC. Resultados de ferritoscopia.
............................................................................................................... 84
Figura 50 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta das ligas 1, 3 e 4 em
função do tempo de solubilização a 1250ºC. Resultados de ferritoscopia.
............................................................................................................... 85
Figura 51 - Resultados de dureza Vickers na fase ferrítica nas ligas CF8M
envelhecidas a 475°C............................................................................ 87
Figura 52 - Resultados de dureza Vickers na fase ferrítica nas ligas CF8M
envelhecidas a 800°C............................................................................ 90
Figura 53 – Microestrutura de amostra da liga 3 envelhecida a 800°C– MO: a)
por 1 hora e b) por 12 horas .................................................................. 91
Figura 54 - Microestrutura de amostra da liga 1 envelhecida a 800°C por 6
horas – MO. ........................................................................................... 92
Figura 55 - Exemplos de regiões analisadas pela técnica de MEV/EDS,
mostrando o interior de um grão ferrítico contendo fase sigma: a) liga 4 e
b) liga 3.................................................................................................. 93
Figura 56 - Micrografia obtida em MEV da liga 4 envelhecida a 800°C por 12h
mostrando a precipitação da fase sigma dentro do grão ferrítico. ......... 94
Figura 57 - Micrografia obtida em MEV da liga 3 envelhecida a 800°C por 12h
indicando a orla eutetóide na ferrita....................................................... 94
Figura 58 - Valores de propriedades mecânicas obtidas tração em função da
fração volumétrica de ferrita delta.......................................................... 96
Figura 59 – Resultados de dureza Brinell em função da fração volumétrica de
ferrita delta............................................................................................. 97
Figura 60 – Energia absorvida em amostras da liga 3 após envelhecimento a
475°C..................................................................................................... 98
Figura 61 – Micrografias de amostras das ligas 1, 3 e 4, envelhecidas a 475°C
em tempos de 150, 500 e 900 horas e ensaiadas segundo ASTM G48-A.
MO, com contraste adequado a quantificação da fração de área corroída
(regiões escuras). ................................................................................ 100
Figura 62 – Micrografias de amostras envelhecidas a 475°C, após ensaio de
imersão em cloreto férrico a 10% em água: a) liga 1 - 500h; b) liga 3 -
150h; c) liga 4 - 900h e d) liga 3 - 500h. MO. ...................................... 102
x

Figura 63 – Variação da área corroída (%) com o tempo de envelhecimento a


475°C, para amostras das ligas 1, 3 e 4, após ensaios segundo ASTM
G48...................................................................................................... 103
Figura 64 – Curvas de polarização anódica de amostras da liga 3 envelhecida a
475°C por 100, 300 e 700 horas e amostra sem envelhecimento. ...... 104
Figura 65 - Micrografias de amostras da liga 3 após ensaio de polarização
anódica em solução PSB. Notar a maior incidência de pites de corrosão
nas amostras envelhecidas a 475ºC por 300 e 700h. ......................... 105
xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Principais elementos de liga do aço, concentrações são dadas em %


de peso [67]........................................................................................................ 6
Tabela 2 – Composição química e microestrutura de alguns aços inoxidáveis
fundidos segundo classificação ACI [26]. ......................................................... 11
Tabela 3- Especificação da composição química para a liga CF8M (AISI 316).
......................................................................................................................... 12
Tabela 4 – Relação de Creq/Nieq para estabelecer modos de solidificação
conforme [1] após [9]........................................................................................ 16
Tabela 5 - Relação de Creq/Nieq para estabelecer modos de solidificação
conforme [4]. .................................................................................................... 18
Tabela 6 - Carbonetos típicos encontrados em aços inoxidáveis [23].............. 28
Tabela 7 – Coeficientes de difusão de diversos elementos de liga na ferrita (a)
e austenita (g) [63]. ........................................................................................... 29
Tabela 8- Propriedades mecânicas de uma liga CF8M após solubilização [27].
......................................................................................................................... 35
Tabela 9 – Efeito da fração volumétrica de ferrita nas propriedades de tração
das ligas CF8M [5]............................................................................................ 36
Tabela 10:–Composições químicas das ligas que foram vazadas (% em peso).
......................................................................................................................... 45
Tabela 11: Comparativo dos resultados das análises químicas realizadas em
diferentes Laboratórios..................................................................................... 53
Tabela 12 – Análise estatística dos resultados e avaliação de desempenho -
Escore Z. .......................................................................................................... 54
Tabela 13 – Resultados obtidos utilizando as equações 1 a 12, para
determinação dos modos de solidificação e dos valores estimados da fração
volumétrica de ferrita delta. .............................................................................. 55
Tabela 14 – Técnicas de metalografia quantitativa utilizadas para determinação
da fração volumétrica de ferrita delta residual, nas ligas brutas de fundição de
CF8M................................................................................................................ 57
Tabela 15 – Resultados de microanálise química por EDS nas ligas
solubilizadas a 1150°C/1h. ............................................................................... 63
Tabela 16 – Resultados de microanálise química via EDS em ligas
envelhecidas a 800°C por 12 h. ....................................................................... 93
Tabela 17 - Efeito da fração volumétrica de ferrita delta nas propriedades de
tração e dureza Brinell (HB) das ligas CF8M. .................................................. 95
Tabela 18 – Valores de relação Creq/Nieq e de PRE para as ligas estudadas. . 99
xii

LISTA DE EQUAÇÕES

Equação 1 - Creq = % Cr + 1,37(%Mo) + 1,5(%Si) + 2(%Nb) +3(%Ti)............. 15


Equação 2 - Nieq = %Ni + 22(%C) + 14,2(%N) +0,31(%Mn) +%Cu................ 15
Equação 3 - Creq = % Cr + (%Mo) + 1,5(%Si) + 0,5(%Nb).............................. 18
Equação 4 - Nieq = %Ni + 30(%C) + 30(%N) +0,5(%Mn) ............................... 18
Equação 5 - Creq = %Cr + 1,5(%Si) + (%Mo) + 0,5(%Nb) ................................ 20
Equação 6 - Nieq = %Ni + 30(%C) + 0,5(%Mn)................................................. 20
Equação 7 - Creq = % Cr + %Mo + 1,5(%Si) + 0,5(%Nb) + 3(%Ti).................. 22
Equação 8 - Nieq = %Ni + 30(%C) + 30(%N) + 0,5(%Mn) ................................ 22
Equação 9 - Creq = %Cr + 1,5(%Si) + 1,4(%Mo) + %Nb – 4,99........................ 22
Equação 10 - Nieq = %Ni + 30(%C) + 0,5(%Mn) + 26(%N – 0,02) + 2,77......... 22
Equação 11 - Creq = %Cr + (%Mo) + 0,7(%Nb)................................................ 23
Equação 12 - Nieq = %Ni + 35(%C) + 0,25(%Cu) + 20(%N) ............................. 23
Equação 13 - PRE = %Cr + 3,3 x %Mo + (16 ou 30) x %N.............................. 40
(x - x ** ) ............................................................................... 52
Equação 14 - Z = i **
s
xiii

LISTA DE SÍMBOLOS E ABREVIATURAS

ASTM – “American Society of Testing and Materials”.


AOD – “Argon-oxygen Descarburization” (descarburação por argônio e
oxigênio).
CCC – estrutura cúbica de corpo centrado.
CFC – estrutura cúbica de face centrada.
PRE – “pitting resistance equivalent”.
AISI – “American Iron and Steel Institute”.
VOD – “Vacuum-oxygen Descarburization” (descarburação por oxigênio e
vácuo).
Fe a – fase alotrópica do ferro – ferrita.
Fe g – fase alotrópica do ferro – austenita.
Fe d – fase alotrópica do ferro – ferrita delta.
a’ – fase precipitada na ferrita (fragilização de 475°C) rica em cromo.
g* – austenita secundária, produto da decomposição eutetóide da ferrita.
s – fase intermetálica frágil precipitada nos aços inoxidáveis entre 550 e 950°C.
c – fase intermetálica composta por Fe36Cr12Mo10.
h – Fase de Laves – fase intermetálica composta por Fe2Mo.
Creq – cromo equivalente – equação com participação dos elementos
alfagênicos.
Nieq – níquel equivalente – equação com participação dos elementos
gamagênicos.
MO – microscopia óptica.
MEV/EDS – microscopia eletrônica de varredura com microanálise química.
CF8M – aço inoxidável austenítico fundido, classificado segundo a ACI (Fe-
19%Cr-9%Ni-0,08% C-2 a 3%Mo) para aplicação em meios corrosivos líquidos
SFSA – “Steel Founders Society of America”.
ACI – “Alloy Casting Institute”.
AIA – Aços inoxidáveis austeníticos.
FEA – Forno elétrico a arco.
FEI – Forno elétrico de indução.
WRC – “Welding Research Council”.
xiv

EPR-DL – “Electrochemical Potentiodynamic Reactivation – Double Loop” -


polarização eletroquímica de reativação cíclica.
PBS – “Phosphate Buffered Solution” – Solução tampão de fosfato.
Escore Z – média de três medições de cada laboratório obtido pela estatística
robusta.
VV – fração volumétrica.
AA – fração de área.
PP – fração de pontos.
TTT – diagrama de tempo temperatura e transformação.
EAI – energia absorvida em impacto.
xv

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................... 1
1.1 JUSTIFICATIVAS............................................................................................ 1
1.2 OBJETIVOS .................................................................................................... 3
2 REVISÃO DA LITERATURA............................................................................. 4
2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS AÇOS INOXIDÁVEIS................................................. 4
2.2 AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS - AIA................................................... 5
2.2.1 Composição química dos AIA....................................................................... 6
2.2.2 Diagrama Fe-Cr-Ni (pseudo-binário) ............................................................ 7
2.3 AÇOS INOXIDÁVEIS FUNDIDOS................................................................... 9
2.3.1 Aços Inoxidáveis CF8M .............................................................................. 12
2.4 SOLIDIFICAÇÃO DOS AIA ........................................................................... 13
2.4.1 Modos de solidificação ............................................................................... 13
2.4.2 Os Diagramas de Solidificação................................................................... 20
2.5 SOLIDIFICAÇÃO DOS AÇOS CF8M ............................................................ 24
2.5.1 Microestrutura dos aços CF8M................................................................... 25
2.5.2 Outras fases dos CF8M.............................................................................. 27
2.5.2.1 Carbonetos ............................................................................................... 27
2.5.2.2 Fase sigma (s) ........................................................................................ 27
2.5.2.3 Fase alfa linha (a’)................................................................................... 31
2.6 TRATAMENTOS TÉRMICOS ....................................................................... 34
2.7 PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS AÇOS CF8M ..................................... 34
2.8 RESISTÊNCIA À CORROSÃO DOS AÇOS CF8M....................................... 36
2.8.1 Ensaios de corrosão ................................................................................... 41
3 MATERIAIS E MÉTODOS............................................................................... 44
3.1 MATERIAIS ................................................................................................... 44
3.1.1 Composição química dos aços CF8M ........................................................ 44
3.2 MÉTODOS EXPERIMENTAIS ...................................................................... 46
3.2.1 Fusão das ligas CF8M................................................................................ 46
3.2.2 Análise da composição química ................................................................. 46
3.2.3 Tratamentos térmicos ................................................................................. 48
3.2.4 Análise microestrutural ............................................................................... 49
xvi

3.2.5 Ensaios mecânicos..................................................................................... 50


3.2.6 Ensaios de corrosão ................................................................................... 51
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO....................................................................... 52
4.1 ANÁLISE QUÍMICA ....................................................................................... 52
4.1.1 Comparativo entre laboratórios................................................................... 52
4.2 MODOS DE SOLIDIFICAÇÃO E FRAÇÕES VOLUMÉTRICAS DE
FERRITA DELTA .......................................................................................... 54
4.2.1 Morfologia da ferrita.................................................................................... 60
4.2.2 Distribuição de elementos de liga ............................................................... 63
4.3 TRATAMENTOS TÉRMICOS DE SOLUBILIZAÇÃO .................................... 65
4.3.1 Tratamentos de solubilização da liga 1....................................................... 66
4.3.2 Tratamentos de solubilização da liga 4....................................................... 73
4.3.3 Tratamentos de solubilização da liga 3....................................................... 78
4.3.4 Efeito da temperatura na solubilização das ligas........................................ 83
4.4 ENVELHECIMENTO A 475°C....................................................................... 86
4.5 ENVELHECIMENTO A 800°C....................................................................... 89
4.6 ENSAIOS MECÂNICOS................................................................................ 95
4.6.1 Ensaios de impacto .................................................................................... 97
4.7 ENSAIOS DE CORROSÃO........................................................................... 98
4.7.1 Ensaios eletroquímicos............................................................................. 104
5 CONCLUSÕES.............................................................................................. 107
6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ............................................ 109
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 110
8 ANEXOS........................................................................................................ 117
1

1 INTRODUÇÃO

1.1 JUSTIFICATIVA

Os aços inoxidáveis, de forma geral, são classificados em função da sua


microestrutura primária em ferríticos, austeníticos, martensíticos e duplex. Os aços
inoxidáveis austeníticos são caracterizados por conterem em sua composição
química, elevados teores de cromo, níquel e molibdênio. Mesmo tendo austenita
como matriz básica estes aços não são temperáveis, podendo formar martensita
somente pelo processo de deformação a frio. Contudo, eles podem conter
quantidades variáveis de ferrita delta junto à matriz austenítica, em função de sua
composição química e do histórico térmico da liga. Algumas das características
destes materiais são: elevada resistência à corrosão, alta resistência à fadiga,
soldabilidade e elevada tenacidade, mesmo em temperaturas negativas, o que
possibilita utilizá-los em aplicações criogênicas que envolvem choques térmicos e
impactos. Estes aços são classificados também em função do produto, em ligas
trabalhadas mecanicamente, na forma de chapas, barras e perfis, laminados e
forjados. Os aços inoxidáveis trabalhados são conhecidos na designação AISI
como classe 300; enquanto as ligas fundidas são conhecidas como classes C
(resistentes à corrosão) ou H (resistentes à oxidação). As ligas fundidas e
trabalhadas podem ser aplicadas de forma conjunta, por meio da obtenção de
componentes soldados, em função das boas propriedades de soldabilidade destes
materiais. Os aços inoxidáveis austeníticos são amplamente utilizados em
equipamentos da indústria química, farmacêutica, têxtil, petrolífera e de papel e
celulose, além de construção naval, em função da alta resistência à corrosão em
ambientes industriais, especialmente em meios aquosos.
Dentre os aços inoxidáveis austeníticos fundidos, um que merece destaque é
a liga CF8M, possuindo entre 18 e 21%Cr, 9 a 12%Ni e 2 a 3%Mo. Esta liga tem
como principal característica a aplicação industrial em meios líquidos corrosivos.
Em função da sua composição química estes materiais podem conter quantidades
de ferrita delta variáveis, que também dependem do processo de fundição e das
condições de solidificação. A presença de ferrita delta pode acarretar redução da
trabalhabilidade a quente e diminuição da resistência à corrosão. Esta fase também
2

introduz um caráter ferromagnético aos aços austeníticos, o que pode restringir sua
aplicação. Sendo assim, a produção de aços inoxidáveis austeníticos de alta
qualidade geralmente envolve tratamentos térmicos de dissolução da ferrita delta.
Por outro lado, a ferrita delta possui efeitos benéficos durante a soldagem de aços
inoxidáveis, prevenindo o surgimento de trincas a quente durante a solidificação.
As quantidades de elementos estabilizadores de ferrita (alfagênicos), como cromo,
molibdênio, silício, nióbio e titânio, participam de um parâmetro denominado de
cromo equivalente (Creq); assim como os estabilizadores de austenita
(gamagênicos), entre eles níquel, carbono, manganês e nitrogênio, contribuem para
o valor de outro parâmetro, denominado de níquel equivalente (Nieq). A relação
entre estes equivalentes possibilita prever, com auxílio de diagramas de
solidificação, os diferentes modos de solidificação, bem como as quantidades
teóricas de ferrita e austenita. Desta forma é possível controlar a microestrutura,
especialmente a quantidade de ferrita delta.
A fase ferrítica contendo elevados teores de cromo e molibdênio é sujeita à
formação de fases indesejáveis, que podem comprometer as propriedades
mecânicas e de corrosão, ocorrendo tanto durante o processo de solidificação como
pelo uso em diferentes faixas de temperaturas. Dentre as transformações de fase
indesejáveis nos aços inoxidáveis podem ser citadas a formação de carbonetos em
contornos de grão e interfaces, a precipitação das fases sigma (s), qui (c) e de
Laves, entre as temperaturas de 600 e 900°C; ou ainda a fragilização de 475ºC
devida à formação da fase alfa linha (a’). Estas fases geralmente ocasionam
reduções consideráveis de tenacidade, resistência à fadiga e resistência à corrosão.
Em função das características descritas acima, o estudo dos aços inoxidáveis
austeníticos fundidos, da classe CF8M, contendo quantidades variáveis de ferrita
delta, pode contribuir de maneira significativa para o entendimento de vários dos
fenômenos metalúrgicos envolvidos nas diversas etapas de obtenção e
processamento destes materiais. Os aços CF8M fundidos são comumente tratados
termicamente e/ou soldados, durante a montagem de componentes industriais. A
possibilidade de controle da quantidade de ferrita presente na microestrutura após a
solidificação, pelo uso dos diagramas de solidificação, bem como o efeito dos
tratamentos térmicos de solubilização sobre a microestrutura destes aços, são
exemplos de aspectos metalúrgicos pouco explorados na literatura, para esta classe
de ligas fundidas. Vale mencionar que esta dissertação está inserida em um
3

esforço institucional maior, no sentido de aprimorar as variáveis de processo


envolvidas na obtenção destes materiais, que atualmente são produzidos na
SOCIESC.

1.2 OBJETIVOS

O objetivo geral do presente trabalho é contribuir para o entendimento da


metalurgia física dos aços inoxidáveis fundidos da classe CF8M. O principal
aspecto estudado é o efeito da composição química sobre o processo de
solidificação, que pode ocorrer segundo diferentes modos, gerando diferentes
microestruturas. Desta forma, optou-se pela elaboração de ligas CF8M com quatro
diferentes relações Creq/Nieq. Buscou-se o auxílio dos diagramas de solidificação
para o planejamento experimental, com o objetivo de confrontar as teorias de
solidificação e os métodos de previsão da microestrutura com os resultados
experimentais.
Visando atender ao objetivo geral, os seguintes objetivos específicos foram
propostos:
a) definir diferentes composições químicas, variando-se os teores de cromo e
níquel (dentro da especificação da classe CF8M), que permitissem a
obtenção de quantidades variáveis de ferrita delta na microestrutura de
solidificação;
b) realizar detalhada caracterização microestrutural das ligas fundidas, de modo
a comparar os resultados experimentais com as previsões da literatura
(modos de solidificação e proporções entre fases);
c) avaliar a influência da microestrutura (quantidade de ferrita) sobre as
propriedades mecânicas das ligas CF8M, com auxílio de ensaios de tração e
dureza;
d) realizar tratamentos térmicos de solubilização, em diferentes temperaturas e
tempos, com o objetivo de avaliar o comportamento das ligas fundidas;
e) estudar o fenômeno de fragilização de 475ºC e sua influência sobre a
resistência à corrosão e tenacidade à fratura das ligas; e
f) realizar estudo prospectivo da precipitação de fase sigma por meio de
tratamentos térmicos de envelhecimento a 800ºC.
4

2 REVISÃO DA LITERATURA

2.1 CLASSIFICAÇÃO DOS AÇOS INOXIDÁVEIS

Os aços inoxidáveis são classificados segundo a microestrutura que


apresentam à temperatura ambiente em três grandes grupos:
· I – Aços inoxidáveis martensíticos ou endurecíveis;
· II – Aços inoxidáveis ferríticos - não endurecíveis;
· III– Aços inoxidáveis austeníticos - não endurecíveis;
Os grupos I e II são basicamente ligas de ferro e cromo, já o grupo III são ligas que
contêm, além do ferro e do cromo, elevados teores de níquel. Estes aços são de
uso mais generalizado, contudo outros tipos de aços resistentes à corrosão, com
características importantes, vêm sendo empregados em condições especiais:
· aços inoxidáveis duplex (com cerca de 50% de ferrita e austenita);
· aços inoxidáveis endurecíveis por precipitação (com adições de cobre);
· aços inoxidáveis de alto nitrogênio.
Os produtos fabricados em aços inoxidáveis podem advir dos processos
siderúrgicos, sendo posteriormente trabalhados mecanicamente ou de processos de
fusão convencional, para obtenção de peças fundidas com aplicações
complementares aos produtos obtidos pelos processos de transformação mecânica.
Desta forma os aços inoxidáveis podem ser classificados em ligas trabalhadas e
ligas fundidas. De uma maneira geral, os aços inoxidáveis de ligas trabalhadas ou
fundidas possuem características e propriedades similares para meios corrosivos, o
que de certa forma, permite sua utilização conjunta. Contudo, as propriedades
mecânicas das ligas fundidas podem apresentar maior amplitude de variação e
serem inferiores às das ligas trabalhadas, devido à existência de granulação
dendrítica mais grosseira, maior incidência de fases intergranulares e intensa
segregação de elementos de liga [1].
Os aços inoxidáveis podem ser produzidos pelas usinas integradas através da
redução do minério de ferro nos altos fornos, passando pela aciaria para o pré-
tratamento do ferro gusa, forno elétrico de redução para preparação da liga base de
FeCr, forno elétrico a arco para fusão de sucata de aço inox, indo para os
5

conversores nos processos VOD (Vacuum Oxygen Decarburization) ou AOD (Argon


Oxygen Decarburization), para posterior descarburação e desgaseificação.
Finalmente, o metal líquido é encaminhado para o forno-panela para ajustes finais
de composição química e posterior lingotamento. A Figura 1 mostra um esquema
básico da produção de ligas de aços inoxidáveis.
Após o lingotamento, os aços são geralmente processados mecanicamente por
laminação, para a produção de chapas, tiras e perfis diversos [2,3].

Figura 1 – Ilustração esquemática de algumas etapas de produção de aços inoxidáveis [2]

3.1 AÇOS INOXIDÁVEIS AUSTENÍTICOS – AIA

Os aços inoxidáveis austeníticos (AIA) formam o grupo mais numeroso e


utilizado dos aços inoxidáveis em todo o mundo, com cerca de 70% da produção
mundial. Possuem teores de níquel entre 6 e 22%, cromo entre 16 e 30% e menos
de 0,3% de carbono, com um total de elementos liga de no mínimo 26%. Embora
possuam alta resistência mecânica e elevada ductilidade à temperatura ambiente
possuem baixo limite de escoamento [1,4,5]. Os AIA não podem ser endurecidos
por tratamento térmico, embora sua resistência mecânica e dureza possam ser
aumentadas por encruamento durante deformação a frio. Apresentam também a
característica de não serem ferromagnéticos.
6

Estes aços estão entre os inoxidáveis de melhor soldabilidade e resistência


geral à corrosão e oxidação. São várias suas aplicações na indústria química,
alimentícia, de refino de petróleo e de papel e celulose, especialmente onde se
necessita de boa resistência à corrosão e oxidação, facilidade de limpeza e ótimas
características de fabricação [1,2,4].

3.1.1 Composição química dos AIA

Os elementos químicos comumente presentes na composição química das


principais classes de AIA são ferro, cromo, níquel, manganês, silício e carbono.
Outros elementos têm merecido destaque em algumas ligas, especialmente o
molibdênio, nióbio e nitrogênio [1,4,5,6].
Convém lembrar que estes elementos são estabilizadores de diferentes
estruturas cristalinas e possuem diferentes níveis de solubilidade nas estruturas
CCC e CFC do ferro. Além disso, tendo o ferro como solvente, eles podem formar
soluções sólidas intersticiais, no caso de carbono e nitrogênio, ou soluções sólidas
substitucionais, como cromo, níquel e molibdênio. Estas informações são
resumidas na Tabela 1.

Tabela 1 - Principais elementos de liga dos aços inoxidáveis (% de peso) [7].


Element Raio Estrutura Peso Solubilidade máxima (%) em Tipo de
o atômico atômico Fe a (CCC) e em Fe g (CFC) solução sólida
(Å) (g)
Fe 1,26 CCC/CFC 55,85 - - Substitucional
C 0,77 C. Diam. 12,01 0,02 2,06 Intersticial
N 0,75 Complexa 14,01 0,1 2,8 Intersticial
Mn 1,26 CFC 54,94 3,5 100 Substitucional
Si 1,11 C. Diam. 28,09 14,5 2,15 Substitucional
Cr 1,27 CCC 52,00 100 12,5 Substitucional
Ni 1,24 CFC 58,71 8,0 100 Substitucional
Mo 1,39 CCC 95,94 37,5 1,6 Substitucional
W 1,39 CCC 183,85 33 3,2 Substitucional
Nb 1,46 CCC 92,91 1,8 1,4 Substitucional
Ti 1,47 HC/CCC 47,90 7,0 0,65 Substitucional
Cu 1,28 CFC 63,54 2,1 8,5 Substitucional

Neste processo o elemento cromo adquire um papel especial no


comportamento das ligas inoxidáveis. Quando se analisa o processo de
solidificação, com auxílio do diagrama Fe-Cr da Figura 2 [9], o início se dá pela
formação de uma fase cúbica de corpo centrado, denominada de ferrita delta (d),
7

onde o cromo tem solubilidade máxima. O cromo tem efeito ferritizante, sendo
denominado de alfagênico, por reduzir o campo de formação da austenita (g),
estabilizando desta forma a ferrita para teores maiores que 13%. Este elemento é o
principal responsável pela família das ligas de aços inoxidáveis ferríticos. Assim, o
campo de existência da austenita fica limitado a uma faixa de temperaturas entre
850 e 1400ºC e para teores inferiores a 12% de cromo. Fora desta faixa de
composição, em qualquer temperatura, haverá a presença de ferrita delta. Diversos
autores [1,4,5,6,8] comentam que a adição de alguns elementos fortemente
gamagênicos, como o carbono e o nitrogênio, podem ampliar o campo restrito da
austenita, assim como o campo de transição (a + g) já que estes elementos têm
maior solubilidade na austenita, como destacado na Tabela 1.

Figura 2 – Diagrama ferro-cromo [9]

3.1.2 Diagrama Fe-Cr-Ni

Quando se adiciona níquel ao sistema Fe-Cr têm-se os aços inoxidáveis


resistentes ao calor e com matriz austenítica, já que este elemento apresenta
solubilidade total na austenita. Entretanto, estas ligas podem apresentar matriz
parcialmente ferrítica. A influência do teor de níquel nos aços inoxidáveis
austeníticos pode ser entendida com auxílio do diagrama Fe-Cr-Ni da Figura 3 [9].
8

Observa-se neste diagrama que para teores de níquel inferiores a 2,5% o material
pode apresentar uma estrutura completamente ferrítica, para qualquer temperatura
entre a ambiente e a de fusão. Para teores maiores de níquel existe uma faixa de
temperaturas em que a liga é bifásica, com a presença de austenita e ferrita, e que
se amplia com o aumento do teor desse elemento. Para valores de níquel acima de
aproximadamente 8% é possível manter a estrutura austenítica à temperatura
ambiente, tendo-se os aços inoxidáveis austeníticos. Vale destacar que as ligas
mais utilizadas são as 18%Cr-10%Ni.

Figura 3 – Seção do diagrama ternário Fe-Cr-Ni para 65% (em peso) de ferro [9].

O molibdênio é tido como elemento fortemente alfagênico (ferritizante), pois


colabora para a estabilização da ferrita e apresenta maior solubilidade nesta fase
que na austenita, o que se constata na Tabela 1. Todavia, pode provocar o
aparecimento de fases intermetálicas como a fase de Laves (h) – Fe2Mo – e a fase
qui (c) – Fe36Cr12Mo10. Além disso, o molibdênio estabiliza o carboneto M6C,
9

colabora no aumento da resistência em altas temperaturas e melhora a resistência à


corrosão em meios redutores [1,4,10].
O carbono promove a formação de austenita, contudo pode levar ao
aparecimento de carbonetos, especialmente os de cromo, podendo causar a
corrosão intergranular (sensitização). O manganês, por sua vez, estabiliza a
austenita à temperatura ambiente, onde apresenta maior solubilidade, mas pode
formar ferrita em temperaturas elevadas. O silício aumenta a resistência à
formação de carepa e promove a formação de ferrita, já que apresenta maior
solubilidade nesta fase que na austenita, além de ser utilizado também como
elemento desoxidante nos aços.

3.2 AÇOS INOXIDÁVEIS FUNDIDOS

Os aços inoxidáveis fundidos tiveram suas denominações dadas pela Steel


Founders Society of America (SFSA), que seguiu a classificação da Alloy Casting
Institute (ACI) como aços fundidos de alta liga. Assim, a primeira letra indica que a
liga foi idealizada para trabalhar em meio líquido corrosivo (C), ou para trabalho em
altas temperaturas (H). A segunda letra se refere aos teores típicos de cromo e
níquel da liga, que são definidos segundo a Figura 4, podendo ir de A até Z. Já o
número que vem após as letras indica o teor máximo de carbono; número que
dividido por 100 resulta no percentual de carbono da liga. Finalmente, se qualquer
outro elemento químico estiver presente este será indicado pela adição de uma ou
mais letras. A composição química típica de algumas ligas fundidas pode ser
verificada na Tabela 2 [11].

Figura 4 – Padrão ACI de Cr e Ni para aços fundidos resistentes ao calor e a corrosão [11]
10

Os processos para obtenção de peças fundidas em ligas de aços inoxidáveis


podem empregar o forno elétrico a arco (FEA), para fusão de sucata de aço
inoxidável e adição de elementos liga, tais como cromo, molibdênio, níquel, para
correção de composição química. Após a fusão, o aço líquido é transferido para
equipamentos de refino secundário, como unidades VOD e AOD, para correção e
ajuste final da liga, seguido pelo posterior vazamento em moldes com a geometria
final da peça [12]. O forno elétrico a indução (FEI) pode ser utilizado para fusão da
sucata de aços inoxidáveis, nos quais o posterior ajuste da liga é realizado no
próprio forno. Neste caso, o processo de desoxidação é geralmente realizado
durante o processo de transferência do metal do forno para a panela de vazamento
[2,12].
11

Tabela 2 – Composição química e microestrutura de alguns aços inoxidáveis fundidos segundo classificação ACI [11].

Ligas Ligas Microestrutura final Composição química (% em peso)


fundidas trabalhadas
Cr Ni Mo Si Mn P S C
- ACI - AISI
CA-15 410 Martensita 11,5-14,0 1,00 0,50 1,50 1,00 0,04 0,04 0,15
CA-40 410 Martensita 11,5-14,0 1,00 0,50 1,50 1,00 0,04 0,04 0,20-0,40
CB-30 431, 442 Ferrita + carbonetos 18,0-21,0 2,00 --- 1,50 1,00 0,04 0,04 0,30
CC-50 446 Ferrita + carbonetos 26,0-30,0 4,00 --- 1,50 1,00 0,04 0,04 0,50
CF-3 304L Ferrita em austenita 17,0-21,0 8,00-12,0 --- 2,00 1,50 0,04 0,04 0,03
CF-8 304 Ferrita em austenita 18,0-21,0 8,00-11,0 --- 2,00 1,50 0,04 0,04 0,08
CF-20 302 Austenita 18,0-21,0 8,00-11,0 --- 2,00 1,50 0,04 0,04 0,20
CF-3M 316L Ferrita em austenita 17,0-21,0 9,00-13,0 2,00-3,00 1,50 1,50 0,04 0,04 0,03
CF-8M 316 Ferrita em austenita 18,0-21,0 9,00-12,0 2,00-3,00 1,50 1,50 0,04 0,04 0,08
CH-20 309 Austenita 22,0-26,0 12,0-15,0 --- 2,00 1,50 0,04 0,04 0,20
CK-20 310 Austenita 23,0-27,0 19,00-22,0 --- 1,75 1,50 0,04 0,04 0,20
HC 446 Austenita 26,0-30,0 4,00 0,50 2,00 1,00 0,04 0,04 0,50
HD 327 Austenita 26,0-30,0 4,00-7,00 0,50 2,00 1,50 0,04 0,04 0,50
HF 302B Austenita 18,0-23,0 8,00-12,0 0,50 2,00 2,00 0,04 0,04 0,20-0,40
HH 309 Austenita 24,0-28,0 11,0-14,0 0,50 2,00 2,00 0,04 0,04 0,20-0,50
HK 310 Austenita 24,0-28,0 18,0-22,0 0,50 2,00 2,00 0,04 0,04 0,20-0,60
HT 330 Austenita 15,0-19,0 33,0-37,0 0,50 2,00 2,50 0,04 0,04 0,35-0,75
12

3.2.1 Aços Inoxidáveis CF8M

As ligas CF8M são aços inoxidáveis austeníticos fundidos, de


composição química similar à classe AISI 316 (SAE 30316), contendo cromo,
níquel e molibdênio como principais elementos de liga. A microestrutura bruta
de fusão é tipicamente austenítica, com frações volumétricas de ferrita delta (d)
variando normalmente entre 5 e 20%, podendo chegar a 40% [11]. A
proporção entre fases na microestrutura é função da composição química e do
balanço dos elementos de liga, além dos parâmetros do processo de
fabricação, tais como temperatura de vazamento, velocidade de resfriamento e
tratamentos térmicos subseqüentes. Os elementos de liga são geralmente
classificados em estabilizadores da fase ferrítica (alfagênicos) ou
estabilizadores da fase austenítica (gamagênicos). Maiores detalhes em
relação ao efeito da composição na proporção entre fases presentes na
microestrutura de aços inoxidáveis serão fornecidos no decorrer do texto.
A classificação da liga CF8M, segundo a ACI (ver Figura 4), indica que
este aço é utilizado em ambientes onde se exige alta resistência à corrosão
(C), e a letra (F) resulta dos valores de cromo e níquel, respectivamente,
19%Cr-9%Ni. O número 8 indica que esta liga contém no máximo 0,08% de
carbono. Por fim, a letra M se refere à presença de molibdênio na composição
química, conforme pode ser verificado na Tabela 3 [11].
A combinação de alta resistência à corrosão e soldabilidade faz com que
os aços CF8M sejam extensivamente utilizados nas indústrias químicas,
nucleares e de processamento de papel e celulose. Também em
componentes como carcaças de bombas e válvulas, juntas, adaptadores, anéis
e tubos de resfriamento primário de equipamentos que trabalham com meios
líquidos agressivos.

Tabela 3- Especificação de composição química para a liga CF8M, % em peso [11].


C Si Mn P S Cr Ni Mo
Máx. 0,08 Máx.1,5 Máx. 1,5 Máx. 0,04 Máx. 0,04 18,0-21,0 9,0-12,0 2,0 - 3,0
13

A presença de molibdênio contribui para uma maior resistência à corrosão na


presença de cloretos. A liga CF8M é considerada, dentre as ligas CF, a de
melhor desempenho em meios corrosivos diversos [2, 13].

3.3 SOLIDIFICAÇÃO DOS AIA

3.3.1 Modos de solidificação

A solidificação dos AIA pode iniciar-se com a formação de ferrita e/ou


austenita, dependendo da composição química. Vários autores [4,6,8,14]
identificaram quatro modos possíveis de solidificação:
- modo A - Líquido ® L + d ® d;
- modo B - Líquido ® L + d ® L + d + g ® d + g;
- modo C - Líquido ® L + g ® L + g + d ® g+ d;
- modo D - Líquido ® L + g ® g.

Modo A – A ferrita (d) é a única fase formada na solidificação, tendo-se


formação posterior de austenita (g), somente no estado sólido.
Modo B – A ferrita (d) é a primeira fase a se solidificar, na forma de dendritas.
A austenita (g) forma-se posteriormente na interface ferrita/líquido, por
intermédio de uma reação peritética (L+d ® g) ou, dependendo das condições
de solidificação, de uma reação eutética envolvendo as fases (L ® d+g). Após
a nucleação, a austenita cresce em direção à ferrita e para o líquido, com a
conseqüente segregação de elementos que promovem a ferrita, tanto em
direção ao interior da dendrita como para o líquido. Podendo, desta forma,
estabilizar a austenita no eixo da dendrita e, ainda, causar sua formação nos
espaços interdendríticos.
Modo C – A solidificação inicia-se com a formação de dendritas de austenita
(g), ocorrendo em seguida a formação de ferrita (d) entre os braços das
dendritas, por efeito de segregação de elementos que promovem a formação
de ferrita.
Modo D - O início da solidificação ocorre com a formação de dendritas de
austenita (g), completando-se com a formação apenas desta fase.
14

No estado sólido, a ferrita delta (d) pode se transformar em austenita


secundária e ferrita secundária (d ® gs + ds), ou ainda decompor-se em
austenita mais carbonetos, provenientes de uma reação eutetóide (d ® g +
carbonetos). Outra possibilidade é a decomposição desta ferrita em austenita
e fase sigma (d ® g + s). Maiores detalhes sobre as transformações de fases
em aços inoxidáveis austeníticos serão abordados mais adiante.
Estes modos de solidificação são ilustrados esquematicamente através
da seção vertical do diagrama Fe-Ni-Cr da Figura 5 [4,6,8]. Segundo a
literatura, a seqüência de solidificação e as subseqüentes características de
transformação seriam determinadas pelos níveis de segregação de elementos
de liga e pela distribuição de ferrita delta. A ferrita presente poderia ser
dendrítica ou interdendrítica dependendo do modo de solidificação. A
segregação seria mais danosa em aços que solidificam com austenita primária
(modos C e D acima), desde que a segregação em contorno de grão não fosse
redistribuída pela transformação do estado sólido, tal como os modos A e B.

Figura 5 – Seção transversal do diagrama de fase Fe-Ni-Cr com 19% Cr mostrando os


modos de solidificação [6].

A previsão dos modos de solidificação estabelecidos para os aços


inoxidáveis austeníticos, bem como as características de transformação no
estado sólido, mesmo para composições químicas complexas, pode ser
15

realizada pela simplificação dos sistemas ternários Fe-Ni-Cr, utilizando-se


níquel equivalente (Nieq) e cromo equivalente (Creq) [1,4,6,8,14]. Isto equivale
a separar os elementos químicos em dois grandes grupos denominados de
alfagênicos (elementos ferritizantes) e gamagênicos (elementos
austenitizantes), representados por valores de cromo equivalente (Creq) e
níquel equivalente (Nieq) respectivamente.
Utilizando-se das equações 1 e 2, para o cálculo dos valores de Creq e
Nieq, respectivamente, alguns autores [1,4,6,8] têm encontrado relações entre
os modos previstos e os valores determinados experimentalmente para
solidificação de ligas de aços inoxidáveis fundidas, com destaque para a
proposta por Jernkontoret [15].

Equação 1 - Creq = % Cr + 1,37(%Mo) + 1,5(%Si) + 2(%Nb) + 3(%Ti)


Equação 2 - Nieq = %Ni + 22(%C) + 14,2(%N) + 0,31(%Mn) + %Cu

A Figura 6 apresenta o diagrama para os modos de solidificação de


aços inoxidáveis austeníticos [6]. Observa-se que os modos de solidificação
podem variar de A a D. Considerando as composições químicas equivalentes
às dos aços inoxidáveis AISI 304 e AISI 316 (similar ao CF8M), ambos
solidificariam pelo modo B, com formação de ferrita primária [6].

Figura 6 – Diagrama dos modos de solidificação propostos por Allan [6].


16

O diagrama da Figura 6 mostra que as ligas com teores de cromo


superiores a 21%, onde a relação de Creq/Nieq = 1,5; podem ser usados para
definir o limite entre os aços inoxidáveis com solidificação primária ferrítica,
modos A e B, e solidificação primária austenítica, referente aos modos C e D.
Segundo Allan [6], outros autores, utilizando as composições equivalentes das
equações 1 e 2, encontraram boa relação com o modo previsto e os
determinados experimentalmente na solidificação unidirecional da fusão de
soldas. Desta forma, os modos encontrados para as equações acima podem
ser definidos pelas relações entre o Creq e o Nieq obtendo valores de acordo
com a Tabela 4.

Tabela 4 – Relação de Creq/Nieq para estabelecer modos de solidificação conforme [6]


após [15].

MODOS RELAÇÃO Creq/Nieq FASES


A > 2,00 d
B 1,5 – 2,0 d-g
C 1,38 – 1,5 g-d
D < 1,38 g

Os modos de solidificação para os aços inoxidáveis austeníticos, vistos


acima, são: modos A e B, primariamente ferríticos, e modos C e D,
primariamente austeníticos. A Figura 7 mostra linhas de varreduras
esquemáticas para os fundidos classificados pelo modo de solidificação [6],
onde se verifica que no modo D a solidificação é completamente austenítica,
indicando que todos os elementos apresentam distribuições similares, sendo
relativamente empobrecidos nos centros das dendritas. Os espaços
interdendríticos são enriquecidos em todos os elementos, por segregação,
sendo que o nível de segregação também depende do refinamento da
estrutura.
17

Figura 7 – Linhas de varreduras esquemáticas para fundidos classificados pelos modos


de solidificação [6].

Já no modo C, que tem solidificação primária austenítica e ferrita


interdendrítica, os centros das dendritas foram empobrecidos em todos os
elementos. A nucleação da ferrita, nos espaços interdendríticos, é garantida
pelos elevados níveis de formadores desta fase, especialmente cromo, na sua
grande parte, advindo do empobrecimento das dendritas de austenita durante a
solidificação. No líquido final ocorre a formação de ambas as fases, sendo
que os formadores de austenita estão presentes em maiores quantidades que
os de ferrita.
Para o modo B de solidificação a fase primária é a ferrita, ao passo que
a fase interdendrítica é a austenita. Neste caso, os centros das dendritas são
empobrecidos em níquel e enriquecidos em cromo, levando à nucleação de
ferrita primária. Entre as dendritas primárias de ferrita ocorre a nucleação e o
crescimento de dendritas de austenita, por enriquecimento em níquel e
18

empobrecimento em cromo. A partir do líquido final, suficientemente


enriquecido em formadores de ferrita, haverá a formação de novas áreas de
ferrita. Isto indica que, neste estágio da solidificação, a austenita começa a se
formar como uma fase independente, separada da ferrita, ao passo que esta
última continua a nuclear e crescer [6].
Ma et al [14,16] definem os modos de solidificação por meio da relação
Creq/Nieq, cujos valores são calculados a partir das equações 3 e 4.

Equação 3 - Creq = % Cr + (%Mo) + 1,5(%Si) + 0,5(%Nb)


Equação 4 - Nieq = %Ni + 30(%C) + 30(%N) + 0,5(%Mn)

Desta forma, os modos de solidificação seriam os especificados pela


Tabela 5. Um exemplo de seqüência de solidificação pode ser dado para a
liga AISI 304 (similar ao CF8), com Creq = 18,77 e Nieq = 10,59, que resulta
numa relação de Creq/Nieq = 1,77. Assim, o modo de solidificação para esta
liga seria o B, com formação de ferrita primária, seguida da reação envolvendo
as fases (L+ d + g) e de uma posterior reação no estado sólido. A
microestrutura final desta liga poderia ser descrita pela presença de ferrita
interdendrítica, em forma de “esqueleto”, em uma matriz austenítica [14,16].

Tabela 5 - Relação de Creq/Nieq para estabelecer modos de solidificação conforme [14].

MODOS RELAÇÃO Creq/Nieq FASES


A > 1,95 d
B 1,48 – 1,95 d-g
C 1,25 – 1,48 g-d
D < 1,25 g

De acordo com Ma et al [14], o processo de solidificação desta liga (AISI


304) pode ser classificado em quatro estágios principais. No primeiro ocorre a
nucleação das dendritas primárias de ferrita, diretamente do líquido. Então,
grandes quantidades de colônias de células eutéticas e colunares se formam
entre as dendritas primárias de ferrita na reação das três fases (L+ d + g).
Com o prosseguimento da solidificação direcional, diversas colônias de eutético
19

desaparecem gradualmente, em função da transformação no estado sólido


(d ® g). Por fim, quase todas as colônias desaparecem, restando somente
uma microestrutura final denominada de “esqueleto” de ferrita [14]. Umeda
[17] estudando a solidificação direcional de ligas Fe-Cr-Ni também encontrou
microestruturas com formações similares.
O processo de transformação no estado sólido descrito por Fu et al [16]
tem um importante efeito na evolução da microestrutura e na morfologia da
ferrita. Durante a transformação no estado sólido, a austenita cresce dentro
de finas lamelas de ferrita, fenômeno que é acompanhado pela rejeição de
cromo e solubilização de níquel. Sabe-se que este processo é controlado pela
difusão de elementos de liga e são limitados pelas condições de resfriamento.
O processo de transformação no estado sólido (d ® g) é incompleto. As
ferritas deltas resultantes do processo podem apresentar diferentes
morfologias, nas formas de esqueleto, em redes, lamelares ou mistas.
Suutala et al [18] propõem cinco tipos de microestruturas que
atenderiam aos modos de solidificação propostos acima. Estes tipos de
microestruturas são apresentados, de maneira esquemática, na Figura 8. Os
autores comentam que os tipos (a) e (b) teriam estruturas totalmente
austenítica e austenítica-ferrítica, respectivamente, e que poderiam atender aos
modos D e C de solidificação. No caso do tipo (b) a ferrita se formaria a partir
do líquido restante, com morfologia vermicular. Já os tipos (c) e (d) indicam
estruturas ferríticas-austeníticas, que poderiam atender ao modo B de
solidificação. Para estes últimos tipos, a ferrita é a fase principal e a austenita
se solidificaria a partir do líquido restante. As morfologias apresentadas
seriam do tipo vermicular e esqueleto (em forma de rede ou não) para o tipo
(c), e o tipo (d) poderia apresentar ainda ferrita em forma de lamelas. Por fim,
no tipo (e) a fase primária formada é a ferrita, ao passo que a formação de
austenita ocorreria por transformações no estado sólido. Neste caso, o modo
de solidificação seria A e a morfologia da ferrita seria lamelar ou acicular.
20

Figura 8 – Esquema proposto para os cinco tipos de microestruturas que atenderiam aos
modos de solidificação: a) austenítico; b) austenítico-ferrítico; c) ferrítico-austenítico;
d) ferrítico-austenítico e e) ferrítico [18].

3.3.2 Os Diagramas de Solidificação

Para verificar os efeitos da composição química sobre os aços


inoxidáveis, Schaeffler, amplamente citado na literatura [4,19,20-22],
desenvolveu um diagrama aplicado especialmente para materiais soldados,
onde é possível prever as microestruturas após a solidificação das ligas nas
regiões fundidas. Para tanto, separou os elementos químicos em dois grandes
grupos denominados de alfagênicos e os gamagênicos, representados por
cromo equivalente (Creq) e níquel equivalente (Nieq), que podem ser calculados,
respectivamente, pelas equações 5 e 6.

Equação 5 - Creq = %Cr + 1,5(%Si) + (%Mo) + 0,5(%Nb)


Equação 6 - Nieq = %Ni + 30(%C) + 0,5(%Mn)

O método proposto por Schaeffler pode ser considerado uma avaliação


grosseira da microestrutura em função da composição química, pois não leva
em conta o efeito da taxa de resfriamento e do tempo de envelhecimento [10].
No entanto, o diagrama de Schaeffler pode ser construído a partir da liga base
que se deseja analisar e permite observar as microestruturas obtidas em
função da composição química, conforme ilustrado pela Figura 9. O diagrama
de Schaeffler permite observar não somente a faixa de formação de ferrita, em
21

função das relações de Creq e Nieq, mas as possibilidades de formação de


outras fases como austenita ou martensita, para diferentes tipos de aços
inoxidáveis.
Muitos autores [1,4,8,20-22] têm utilizado os equivalentes de cromo e de
níquel para determinar a transição da solidificação primária, com formação de
austenita ou ferrita, bem como o intervalo em que ambas as fases coexistem.
Todavia, a principal transformação ocorre no estado sólido para os aços
inoxidáveis austeníticos. Já a dissolução de ferrita pode ocorrer tanto durante
o resfriamento, como pela aplicação de tratamentos isotérmicos.

Figura 9 – Diagrama de Schaeffler para relações de cromo e níquel equivalentes [3].

A transformação durante o resfriamento raramente é completa e resulta


em ferrita na estrutura à temperatura ambiente. Diversos pesquisadores
desenvolveram vários métodos para a previsão da quantidade de ferrita, sendo
estes baseados em diagramas desenvolvidos após Schaeffler e DeLong [1,4,6].
Embora estes diagramas tenham sido desenvolvidos originalmente para solda,
são usados com sucesso na produção de aços inoxidáveis fundidos.
O diagrama de DeLong [23], mostrado na Figura 10, consiste em uma
série de linhas retas indicando os valores de ferrita residual. As linhas
tracejadas no canto inferior esquerdo do diagrama representam aços onde a
22

martensita é estável. Os valores de Creq e Nieq, para uso no diagrama de


DeLong, podem ser calculados a partir das equações 7 e 8.

Equação 7 - Creq = % Cr + %Mo + 1,5(%Si) + 0,5(%Nb) + 3(%Ti)


Equação 8 - Nieq = %Ni + 30(%C) + 30(%N) + 0,5(%Mn)

Figura 10 – Diagrama de DeLong [23].

O diagrama de Schoefer, apresentado na Figura 11, é útil para calcular


ou prever a fração volumétrica de ferrita se a composição de liga for conhecida;
para valores nominais fixos ou elementos individuais.
Este diagrama também pode ser utilizado quando se deseja estimar o custo de
produção de uma liga fundida, a partir da faixa especificada de quantidade de
ferrita. Para os aços CF8M, Blair [1] propõe aos fundidores o uso do diagrama
de Schoefer para prever a microestrutura em função da composição química da
liga. O diagrama de Schoefer é derivado do diagrama de Schaeffler e também
utiliza a relação entre os valores de Creq e Nieq, que podem ser calculados a
partir das equações 9 e 10 [1].

Equação 9 - Creq = %Cr + 1,5(%Si) + 1,4(%Mo) + %Nb – 4,99


Equação 10 - Nieq = %Ni + 30(%C) + 0,5(%Mn) + 26(%N – 0,02) + 2,77
23

Figura 11 - Diagrama de Schoefer esquemático para estimar a quantidade de ferrita na


microestrutura de aços inoxidáveis fundidos [1].

O diagrama da WRC (Welding Research Council), apresentado na ,


também pode ser utilizado para prever as quantidades de ferrita dos aços
inoxidáveis fundidos. Para este diagrama, o cálculo dos equivalentes de
cromo e níquel deve ser feito pelo emprego das equações 11 e 12 [5]. É
importante observar que os elementos silício e manganês não aparecem
nestas equações. Contudo, o cobre e o nióbio, além do nitrogênio, também
exercem forte influência nos valores de Creq.e Nieq.

Equação 11 - Creq = %Cr + (%Mo) + 0,7(%Nb)


Equação 12 - Nieq = %Ni + 35(%C) + 0,25(%Cu) + 20(%N)

Cabe lembrar que os diagramas por ora apresentados são apenas


orientativos, já que diversas variáveis (de não equilíbrio), sobretudo as
relacionadas ao processo de obtenção dos aços inoxidáveis fundidos, podem
24

influenciar a proporção entre fases na microestrutura final, levando a desvios


em relação as quantidades previstas.

Figura 12 – Diagrama WRC para a previsão de microestruturas de aços inoxidáveis [5]

3.4 SOLIDIFICAÇÃO DOS AÇOS CF8M

As relações de Creq/Nieq, calculadas a partir das equações propostas no


item anterior, permitem identificar a primeira fase formada na solidificação dos
aços inoxidáveis. Assim sendo, os aços CF8M, cujas relações de Creq/Nieq
calculadas com auxílio das equações 5 e 6 (Schaeffler) estariam na faixa de
1,3 a 1,6; apresentam a possibilidade da solidificação iniciar com a formação
de austenita ou ferrita. Aços com relações de Creq/Nieq inferiores a 1,2 teriam
a austenita como a primeira fase formada na solidificação. Por outro lado,
aços cujas relações são superiores a 1,6 iniciariam o processo de solidificação
com a formação de ferrita.
Os aços inoxidáveis CF8M apresentam grande susceptibilidade à
formação de trincas térmicas no processo de solidificação. Relações de
Creq/Nieq superiores a 1,5; aliadas a teores de fósforo e enxofre (somados)
inferiores a 0,020%, podem garantir a estes aços menor tendência à formação
destes defeitos. A influência negativa do fósforo e do enxofre se relaciona ao
25

fato destes segregarem para o último líquido a se solidificar, formando


compostos de baixo ponto de fusão [4].

3.4.1 Microestrutura dos aços CF8M

A microestrutura dos aços inoxidáveis austeníticos fundidos é


basicamente formada por uma matriz austenítica, com certa quantidade de
ferrita distribuída aleatoriamente, podendo conter carbonetos. Além de possuir
estrutura CFC a austenita (g) é não magnética. Sua formação é favorecida por
elementos gamagênicos como carbono, níquel, nitrogênio e manganês. Este
fato pode ser verificado no diagrama de Schoefer (Figura 11) pela relação
Creq/Nieq, que indica a quantidade relativa das fases ferrita/austenita na
microestrutura. A fase austenítica garante aos aços inoxidáveis da classe
CF8M, além de alta resistência à corrosão, uma elevada tenacidade, mesmo
em aplicações criogênicas [1,4,6].
As ligas de aços inoxidáveis austeníticos fundidas podem conter de 5 a
20% de ferrita em sua matriz, dependendo da composição química da liga. A
fase ferrítica possui estrutura CCC e é magnética à temperatura ambiente. A
presença de ferrita pode ser benéfica ou prejudicial [1]. É benéfica no sentido
de reduzir a susceptibilidade a trincas a quente, durante a solidificação da poça
de fusão nos processos de soldagem, e de maximizar a resistência à corrosão
em ambientes agressivos. A presença de ferrita nas ligas CF também
contribui para o aumento da resistência à formação de trincas no processo de
corrosão sob tensão e também na corrosão intergranular. A presença de
ferrita na matriz austenítica dificulta a propagação de trincas. Outro benefício
é a possibilidade da precipitação de carbonetos no interior da ferrita, ao invés
do contorno de grão austenítico, o que reduz a susceptibilidade à corrosão
intergranular pelo mecanismo de sensitização.
Por outro lado, a ferrita pode ser prejudicial em aplicações em baixas
temperaturas, por reduzir a tenacidade dos aços inoxidáveis austeníticos. No
entanto, a literatura [1,3-5,9] destaca que a maior preocupação com a fase
ferrítica se deve às transformações de fases que podem decorrer de sua
aplicação em determinadas faixas de temperaturas. Entre estas se podem
26

destacar a formação de carbonetos, formação de fases intermetálicas como qui


(c) ou sigma (s). Há ainda o fenômeno de fragilização de 475ºC, causada pela
formação da fase alfa linha (a’). A presença destas fases na microestrutura
pode levar à reduções consideráveis de propriedades mecânicas como
tenacidade, ductilidade e resistência à fadiga, bem como diminuição da
resistência à corrosão [5,24]. A Figura 13 mostra que a quantidade de ferrita
nas ligas CF8M tende a aumentar as propriedades mecânicas, especialmente o
limite de resistência à tração e o limite de escoamento.

Figura 13 - Tensão de escoamento e resistência à tração versus a porcentagem de ferrita


para ligas CF8 e CF8M. Curvas são valores médios de 277 corridas de CF8 e 62 corridas
de CF8M [1].

A morfologia da ferrita pode variar com a composição química, ou seja,


com a relação Creq/Nieq. Como abordado anteriormente, a ferrita presente na
microestrutura de aços inoxidáveis austeníticos pode apresentar diferentes
morfologias, entre elas a vermicular, a acicular, a colunar ou a celular eutética.
A morfologia vermicular pode ser ainda caracterizada pelo aspecto de
esqueleto (interdendrítico), ou em forma de redes ou favos. Para quantidades
de ferrita mais elevadas, geralmente acima de 13%, a ferrita pode apresentar
características das morfologias colunar e acicular [18,19,25]. Kim et al [25],
utilizando uma solução de 3,6N de H2SO4 e 0,1N NH4SCN, em ataque
eletrolítico com 80mV durante 10 minutos, conseguiu dissolver totalmente a
27

austenita, revelando somente a ferrita em três dimensões, que pode ser


observada na Figura 14.

Figura 14 – Micrografias de MEV de uma amostra laminada mostrando a ferrita em rede


em três dimensões [25].

3.4.2 Fases secundárias na microestrutura dos aços CF8M

3.4.2.1 Carbonetos

A presença do carbono em solução sólida contribui fortemente para a


estabilização da austenita. Entretanto, teores acima da saturação da austenita
acabam levando à formação de carbonetos com outros elementos presentes na
composição química dos aços inoxidáveis, com destaque para os carbonetos
de cromo (Cr23C6). Os carbonetos podem se formar tanto durante a
solidificação, com formação de carbonetos complexos de composição eutética,
contendo cromo e/ou outros elementos, como por precipitação no estado sólido
[4]. Os carbonetos podem se localizar em regiões interdendríticas ou em
filmes contornando a estrutura dendrítica. A formação de redes de carbonetos
pode ocorrer em ligas com teores de carbono mais elevados, preferencialmente
em regiões interdendríticas, devido à segregação de carbono e elementos
formadores de carbonetos para estas regiões. Na Tabela 6 são apresentados
os carbonetos tipicamente encontrados em aços inoxidáveis [26].
Especial atenção deve ser dada aos carbonetos do tipo M23C6, que
contêm em sua estrutura cristalina (CFC) 92 átomos metálicos e 24 átomos de
carbono. O parâmetro de rede da estrutura cristalina do carboneto de cromo é
de 10,638 Å [26]. Estes carbonetos geralmente precipitam preferencialmente
28

nos contornos de grãos da austenita e da ferrita, mas ocorrem também nas


interfaces ferrita-austenita.

Tabela 6 - Carbonetos típicos encontrados em aços inoxidáveis [26].

Tipo Fórmula Faixa de temperatura - ºC Célula unitária


M7C3 (Cr, Fe, Mo)7C3 950-1050 Pseudo-hexagonal
M23C6 (Cr, Fe, Mo)23C6 600-950 CFC
M6C (Cr, Fe, Mo)6C 700-950 CFC

3.4.2.2 Fase Sigma (s)

A fase sigma (s) em ligas ferro-cromo foi descoberta em 1907 pela


observação de uma interrupção térmica em curvas de resfriamento. O
primeiro registro desta fase nestas ligas foi feito em 1927, sendo chamada de
constituinte frágil e registrada como corindo duro [1].
O nome sigma teve origem num trabalho feito em 1936. Ela tem uma
estrutura cristalina tetragonal com 30 átomos por célula unitária e uma relação
de c/a de cerca 0,52. Possui dureza equivalente a 68 HRC e devido à sua
fragilidade ela geralmente quebra durante o corte para preparação
metalográfica. À temperatura ambiente não é magnética e seus efeitos de
fragilização são maiores nesta temperatura [1].
Vários estudos [4,27] foram realizados com o intuito de verificar em
quais temperaturas e com que composições a fase sigma (s) se formaria. Em
geral, esta fase se forma por exposição em temperaturas na faixa de 565 a
980ºC. A fase sigma (s) pode se formar em todos os aços inoxidáveis e é a
fase que tem maior impacto sobre as propriedades mecânicas e de corrosão
[28]. O aumento nos teores de cromo e molibdênio desloca o início da
precipitação desta fase para tempos mais curtos e temperaturas mais altas, já
que estes elementos apresentam maior coeficiente de difusão na ferrita que na
austenita, como se constata na Tabela 7.
Para uma liga com 17% de cromo e 2% de molibdênio, a precipitação da
fase sigma (s) a 600ºC ocorre completamente em apenas 200 horas.
29

2
Tabela 7 – Coeficientes de difusão (cm /s) de diversos elementos na ferrita (a) e
austenita (g) [9].
Elemento Ferro a / d Ferro g
Temperatura (°C) Temperatura (°C)
20 400 800 1100 1400 20 400 800 1100 1400
-46 -19 -12 -9 -7 -53 -22 -14 -11 -9
Fe a - g 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
-17 -8 -5 -4 -27 -13 -8 -6
C 10 10 10 10 - 10 10 10 10 -
-42 -18 -11 -9 -7 -37 -18 -13 -11 -9
Cr 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
-53 -22 -14 -11 -9
Mn - - - - - 10 10 10 10 10
-46 -18 -11 -9 -7 -49 -21 -13 -11 -9
Mo 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
-17 -8 -6 -5 -31 -13 -8 -7
N 10 10 10 10 - 10 10 10 10 -
-13 -11 -9
Nb - - - - - - - 10 10 10
-45 -18 -11 -9 -54 -23 -15 -11 -9
Ni 10 10 10 10 10 10 10 10 10
-47 -19 -12 -9 -7 -49 -21 -13 -11 -9
Ti 10 10 10 10 10 10 10 10 10 10
-12 -9 -7 -14 -11 -9
V - - 10 10 10 - - 10 10 10

A formação da fase sigma (s) promove o empobrecimento de cromo e


molibdênio nas regiões adjacentes da matriz, levando à redução da resistência
à corrosão. Além disso, a formação de sigma resulta em diminuição da
tenacidade e da ductilidade dos aços inoxidáveis [11,26,28,29]. A morfologia
típica da fase sigma (s) pode ser observada na Figura 15, na microestrutura de
um aço inoxidável duplex estudado por Wong et al [30]. Observa-se que as
lamelas de ferrita foram totalmente decompostas pela formação da fase sigma
(s). A formação preferencial de sigma na ferrita está associada tanto à maior
difusividade do cromo e do molibdênio nesta fase, (vide Tabela 7) como
também pela maior concentração destes elementos.

Figura 15 - Microestrutura da fase sigma (฀) após tratamento isotérmico a 700°C por 168
e 1000h [30].
30

Geralmente todos os elementos que estabilizam a ferrita promovem a


formação de fase sigma (s) Para aços inoxidáveis austeníticos ou ferríticos, o
silício, mesmo em quantidades pequenas, acelera a formação de sigma. O
molibdênio tem um efeito semelhante. Teores maiores de cromo também
favorecem a formação desta fase. Adições de carbono diminuem a formação
de sigma, pois estes favorecem a formação de carbonetos de cromo, levando à
redução do teor de cromo em solução sólida. Adições de tungstênio, vanádio,
titânio e nióbio, também promovem a formação de sigma [1].
A fase sigma (s) se forma mais rapidamente na ferrita que na austenita.
Por outro lado, a composição de sigma na austenita é mais complexa que na
ferrita [3,27]. Blair [1], analisando, com auxílio de MEV/EDS, a fase sigma (s)
presente em amostra de um aço AISI 316, envelhecida durante 3000h a 815ºC,
encontrou uma composição aproximada de 11%Mo-29%Cr-55%Fe-5%Ni.
Em ligas completamente austeníticas, a fase sigma (s) se formará ao
longo dos contornos de grãos. Quando a ferrita delta está presente na liga
austenítica, a formação de sigma é mais rápida e acontece dentro da própria
ferrita [3]. Segundo alguns autores [3,27,30], a propriedade mais importante e
sensível à formação da fase sigma (s) é a energia absorvida no ensaio de
impacto. Observa-se no gráfico da Figura 16 que a formação de sigma reduz
sensivelmente a tenacidade do aço AISI 310, até temperaturas em torno de
870°C.

Figura 16 – Influência do tempo e temperatura de envelhecimento no teste de impacto da


liga AISI 310 na temperatura ambiente. Material de partida recozido com 89J [1].
31

3.4.2.3 Fase alfa linha (a’)

A fase ferrítica contendo cromo acima de 13%, quando envelhecida


entre 300 e 550ºC, são sujeitas à precipitação de uma fase coerente, de
estrutura CCC, rica em cromo, de dimensões muito reduzidas e com um
parâmetro de rede ligeiramente maior que a matriz ferrítica. Esta fase foi
denominada de alfa linha (a’). Svoboda [11], estudando a fase alfa linha (a’)
formada em um liga Fe-27%Cr, envelhecida entre 10.000 e 34.000h a 480ºC,
encontrou diâmetros médios de 15 a 30 nm (150 a 300 Å). A fase alfa linha
(a’) é não magnética e contém cerca de 80% Cr. Na Figura 17 é apresentada
uma ilustração esquemática do mecanismo de decomposição da ferrita durante
a formação da fase alfa linha (a’) [27,31].

Figura 17 – Mecanismo de precipitação da fase alfa linha (a’) a partir da fase ferrítica
para uma liga CF8M [31].

Terada et al [32], analisando um aço inoxidável superferrítico DIN


1.4575, recozido e envelhecido a 475°C por 811h, obteve micrografias em um
MET da fase alfa linha (a’), apresentadas na Figura 18. Neste caso, a autora
reporta que os precipitados de alfa linha (a’) apresentam tamanhos entre 0,5 a
30 nm.
32

A fase alfa linha (a’) reduz a tenacidade e a resistência à corrosão dos


aços inoxidáveis, aumentado a resistência à tração e a dureza [10,13,33,27].
Tal efeito pode ser observado na Figura 19, que mostra curvas de resfriamento
contínuo para uma liga Fe-30%Cr, envelhecida entre 430 e 540ºC. Observa-
se que os máximos valores de dureza ocorrem para temperaturas em torno de
480ºC. Já a influência do tempo de envelhecimento a 475°C, na dureza de
ligas ferrosas contendo de 15 a 56%Cr, pode ser verificada na Figura 20. Para
tempos crescentes de envelhecimento, os valores de dureza variam
proporcionalmente aos teores de cromo.

Figura 18 – Micrografia de MET de um aço DIN 1.4575 recozido e envelhecido a 475°C por
811h mostrando alfa linha (a’) a) dentro do grão e b) no limite do grão [32].

Figura 19 – Curvas de dureza para tempo e temperaturas constantes, em uma liga Fe-
30%Cr, após envelhecimentos feitos entre 430 e 540°C. Amostras laminadas a 900°C,
com dureza inicial de 195 a 205 HV [11].
33

Figura 20 – Influência do tempo de envelhecimento a 475ºC na dureza de ligas ferro-


cromo contendo de 15 a 56%Cr [11].

A precipitação da fase alfa linha (a’) pode ocorrer através da


decomposição espinodal ou por nucleação e crescimento, dependendo da
temperatura de envelhecimento e da composição da liga [34,35]. A
decomposição espinodal é a geração de uma nova fase com mesma estrutura
da fase original (a em a’), embora com composições diferentes [36]. Para
Svoboda [11], a matriz ferrítica de uma liga Fe-30%Cr será decomposta em
precipitados ricos em cromo pelo processo de decomposição espinodal, em
temperaturas próximas a 475ºC, formando precipitados esféricos. Já para
temperaturas mais elevadas, em torno de 550°C, a fase alfa linha (a’)
apresenta a forma de discos. Segundo o mesmo autor uma liga Fe-20%Cr se
decomporá por nucleação e crescimento a 470ºC, enquanto para ligas com 30,
40 ou 50%Cr o mecanismo esperado é a decomposição espinodal. Adições de
elementos formadores de carbonetos como molibdênio, vanádio, titânio ou
nióbio, aumentam a fragilização de 475ºC, especialmente para teores de cromo
mais altos. Maiores teores de carbono e nitrogênio também contribuem para o
fenômeno de fragilização de 475°C.
Os mecanismos de formação de outras fases intermetálicas nos aços
inoxidáveis, tais como qui (c) e Laves (h), e seus efeitos na microestrutura e
34

nas propriedades destes materiais, são descritos em diversos trabalhos da


literatura [3,4,10,26].

3.4.3 Tratamentos térmicos de solubilização

O controle da microestrutura de aços inoxidáveis fundidos geralmente


envolve tratamentos térmicos de solubilização, cujo principal objetivo é
dissolução, tanto de carbonetos formados durante a solidificação, como da
ferrita delta. O tratamento térmico de solubilização geralmente é realizado
pelo aquecimento em temperaturas na faixa de 1040 a 1120ºC, por um tempo
que é definido em função da espessura da peça, seguido do resfriamento em
água [9]. No caso de ocorrência de carbonetos a peça deve ser mantida na
temperatura até sua completa dissolução e somente depois resfriada em água.
Ritoni, Martins e Mei [37], realizando testes de recozimento em aços
superausteníticos a 1240ºC, observaram que não foi possível dissolver
completamente os precipitados eutéticos formados durante a solidificação da
liga.
Já para Svoboda [11], as temperaturas de recozimento para os aços
inoxidáveis austeníticos, devem estar entre 1040 e 1205ºC, pois desta forma,
garantirão a completa solubilização dos carbonetos e de outras fases
secundárias, como qui (c) e sigma (s), que possam se formar em aços
inoxidáveis de alta liga. Temperaturas mais elevadas não são comumente
utilizadas, para evitar o crescimento exagerado de grãos e a oxidação
superficial das ligas.

3.5 PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS AÇOS CF8M

As propriedades dos aços podem ser alteradas ou melhoradas por


diversos mecanismos de endurecimento. Os mais comuns são endurecimento
por solução sólida, por encruamento e por contornos de grãos. Padilha &
Guedes [4] dividem a influência dos elementos na variação do limite de
escoamento, classificando como de maior influência os elementos que ocupam
posições intersticiais na rede cristalina da austenita, como nitrogênio, carbono
35

e boro. Em seguida os elementos substitucionais alfagênicos entre eles o


molibdênio, vanádio, tungstênio e silício, e, por último, os elementos
substitucionais gamagênicos, entre eles o manganês, níquel e cobalto.
Outro mecanismo utilizado é o encruamento por deformação a frio,
podendo gerar inclusive a formação de martensita em muitas ligas. Os
processos de solidificação ultra-rápida levam a maior solubilidade dos
elementos de liga na austenita trazendo ganhos reais às propriedades
mecânicas. A presença de ferrita delta na microestrutura de aços inoxidáveis
austeníticos contribui para o aumento da resistência mecânica, tanto pelas
características de escorregamento desta fase, como pela presença de maiores
quantidades de elementos alfagênicos, que endurecem por solução sólida
[4,38]. Os aços inoxidáveis austeníticos da classe AISI 316, após
solubilização, apresentam dureza na casa dos 160HB [38]. Na Tabela 8
pode-se verificar valores típicos de propriedades mecânicas de um aço
inoxidável CF8M após solubilização.

Tabela 8- Propriedades mecânicas de uma liga CF8M após solubilização [38].


Limite de resistência - MPa Limite de escoamento - MPa Alongamento - %
> 485 > 205 > 30

A importância das propriedades mecânicas na seleção dos aços


fundidos resistentes à corrosão é estabelecida pela aplicação dos fundidos. A
base para a seleção de ligas de inoxidáveis é normalmente a sua resistência a
um meio corrosivo específico ou ao ambiente de trabalho. Neste caso, as
propriedades mecânicas dos aços inoxidáveis muitas vezes exercem um papel
secundário.
Na Tabela 9 pode-se observar o efeito da quantidade de ferrita nas
propriedades mecânicas de um aço inoxidável CF8M, tanto em temperatura
ambiente como na temperatura de 355°C. Observa-se que há um ganho real
dos limites de resistência e escoamento, em detrimento do alongamento e
estricção, à medida que se tem maior fração volumétrica de ferrita delta na liga
para a temperatura ambiente. Já para a temperatura de 355ºC se verifica que
36

ocorre redução do limite de resistência, escoamento e alongamento para estas


ligas.

Tabela 9 – Efeito da fração volumétrica de ferrita nas propriedades de tração das ligas
CF8M [1].
Fração Limite de Limite de Alongamento Estricção
volumétrica Resistência – Escoamento – em 50 mm – –%
de ferrita – % MPa MPa %
Ensaios à temperatura ambiente
3 465 216 60,5 64,2
10 498 234 61,0 73,0
20 584 296 53,5 58,5
41 634 331 45,5 47,9
Ensaios a 355ºC
3 339 104 45,5 63,2
10 350 109 43,0 69,7
20 457 183 36,5 47,5
41 488 188 33,8 49,4

3.6 RESISTÊNCIA À CORROSÃO DOS AÇOS CF8M

Passividade é a propriedade típica de certos metais e ligas metálicas de


permanecerem inalteradas no meio, gerando o mecanismo de resistência à
corrosão [39]. Neste processo o cromo é o elemento mais importante nos
aços inoxidáveis, e em teores acima de 10% é o mais eficiente de todos,
embora quando combinado com outros elementos pode não conferir resistência
em certos meios, como ácido clorídrico. Esta camada é formada por óxidos
hidratados de Cr e Fe e apresenta-se de forma contínua, insolúvel e não-
porosa, formando uma barreira entre o metal e o meio evitando sua corrosão.
Se, por alguma razão, a camada protetora for interrompida, esta se restabelece
rapidamente (repassivação). As condições mais propícias para uma boa
passivação são aquelas em que a superfície da liga está isenta de qualquer
contaminação e o meio de exposição seja oxidante. Porém, caso a camada
passiva seja destruída e as condições do meio não permitam a repassivação,
as taxas de corrosão podem ser elevadas.
Os principais tipos de corrosão em aços inoxidáveis são: corrosão
intergranular; corrosão por pites e corrosão sob tensão, que serão relatadas
37

mais adiante, com maior ênfase nos processos de corrosão por pites e
intergranular.
O níquel também tem um papel importante na melhoria da resistência à
corrosão dos aços inoxidáveis, sobretudo quando presente em teores acima de
7%. O molibdênio aumenta a estabilidade da camada passiva e a resistência
à corrosão em ácido sulfúrico e na água do mar (resistência a corrosão por
pite). Por outro lado, favorece a formação de ferrita, da fase sigma, fase qui e
Fe2Mo. Assim, os aços inoxidáveis austeníticos, que contém tanto cromo
como níquel e molibdênio, são considerados os melhores tipos de aços
resistentes à corrosão, mas nem por isto não merecem alguns cuidados para
garantir esta condição. Atualmente mais, de 60% de toda produção mundial é
de aços inoxidáveis austeníticos. As ligas mais populares e produzidas são as
CF8 e CF8M, conhecidas como 18-8 e 19-9 da classe fundida e as do tipo AISI
304 e 316 das ligas trabalhadas, e o teor de carbono mantido para estas ligas
geralmente é de no máximo 0,08% [1].
O carbono, embora em teores inferiores a 0,08%, é o responsável por
aumentar a resistência mecânica do aço e estabilizar a austenita, contudo
contribui, por efeito clássico, na redução da resistência à corrosão intergranular
dos aços inoxidáveis. O carbono leva à formação de carbonetos,
particularmente de cromo, (M23C6 e M7C3) precipitando preferencialmente nos
contornos de grãos, interfaces a/g e na fase ferrítica. Átomos de cromo desta
região, que se encontram em solução sólida no aço, difundem-se para os
contornos de grão e interfaces, formando carbonetos nestas regiões e
diminuindo a resistência à corrosão. Este processo é conhecido por
sensitização dos aços inoxidáveis, ou seja, as regiões circunvizinhas aos
carbonetos ficam empobrecidas em cromo e se tornam (sensíveis) ou sujeitas
ao ataque por corrosão intergranular [3,39,40,41]. A Figura 21 mostra
esquematicamente o mecanismo de sensitização dos aços inoxidáveis (a), e
um caso real de uma liga CF8M que sofreu ataque (b). Em função destas
dificuldades foram criadas as ligas CF3M e AISI 316L com teores de carbono
inferiores a 0,03%; que são menos susceptíveis à corrosão intergranular. Um
bom método para garantir boa resistência à corrosão intergranular nas ligas
CF8M pode ser o uso de elementos que tenham maior afinidade pelo carbono
38

que o cromo, como titânio, nióbio e tântalo, que irão formar carbonetos
preferencialmente ao cromo, deixando este livre para a passivação [1,4,6,42].
Algumas ligas também são menos susceptíveis a corrosão intergranular,
sobretudo quando o cromo é superior a 25%. Segundo Fritz [43] isto se deve
ao fato de que elevados teores de cromo possuem altas taxas de difusão na
ferrita, favorecendo os mecanismos de passivação e proteção das ligas.

(a) (b)

Figura 21 – Corrosão intergranular em aços inoxidáveis CF8M; a) mecanismo de


sensitização intergranular e b) amostra que sofreu corrosão intergranular – MO [45].

A presença de ferrita na austenita pode ser considerada benéfica,


melhorando a resistência à formação de trincas associadas ao fenômeno de
corrosão sob tensão, pois a ferrita interfere na propagação de trincas. Por
outro lado, ferritas com elevados teores de cromo favorecem a precipitação de
fases intermetálicas como sigma e Laves, além alfa linha (fragilização de
475°C) [11,44,45].
A corrosão por pites é uma forma de corrosão localizada que consiste na
formação de cavidades de pequena extensão e razoável profundidade, que
ocorre em determinados pontos da superfície onde a camada passivada é
rompida, enquanto que o restante pode permanecer sem ataque [4,39,46]. É
um tipo de corrosão de difícil acompanhamento quando ocorre no interior de
equipamentos e instalações em serviço, já que o controle da perda de
espessura não caracteriza o desgaste verificado. Nos materiais passiváveis a
39

quebra da passividade ocorre em geral pela ação dos chamados íons


halogênicos (Cl-, Br-, I-, F-) especialmente cloretos [47,48]. Uma grandeza
importante neste caso é o potencial onde há a quebra de passividade, o que
ocorre é a alteração na curva de polarização anódica. A presença dos íons
halogenetos provoca alteração nas curvas de polarização anódica, tornando a
quebra da passividade mais provável. Outro aspecto importante é o
mecanismo de formação dos pites já que a falha se inicia em pontos de
fragilidade da película passivante (defeitos de formação) e o pH no interior do
pite se altera substancialmente no sentido ácido, o que dificulta a restituição da
passivação inicial. Resulta daí que a pequena área ativa formada diante de
uma grande área catódica provoca a corrosão intensa e localizada, podendo
levar a perfuração da peça. Partículas de segunda fase, tais como óxidos,
sulfetos, inclusões e fases intermetálicas como sigma, qui (c) e Laves podem
levar à formação de pites, pois geralmente estão associadas à regiões
empobrecidas em cromo. A influência de sigma e alfa linha nas propriedades
dos aços inoxidáveis foi descrita no item 2.4.2.
Park e Kwon [49] realizando um ensaio eletroquímico em um aço
inoxidável duplex envelhecido a 475°C por 300 horas constataram a presença
de pites se originando na fase ferrítica, conforme pode ser verificado na Figura
22. Os autores relatam que a corrosão localizada na ferrita se deve a
presença de alfa linha nesta fase.

Figura 22 – Morfologia da superfície de uma liga envelhecida a 475°C por 300h por MEV
após medidas eletroquímicas em solução de cloreto férrico a 10%, a 60°C [49].
40

No caso particular dos aços inoxidáveis, algumas expressões


matemáticas relacionam a influência dos elementos de liga na resistência à
corrosão por pites. Os elementos de liga que ditam o comportamento são Cr,
Mo e N. O equivalente de resistência a pite ou PRE (pitting resistance
equivalent) é a fórmula mais usada industrialmente. Trata-se de uma
expressão simples que permite comparar, de maneira genérica, a resistência à
corrosão de diferentes aços inoxidáveis [43,47].
O valor de PRE pode ser calculado com auxílio da Equação 13:

Equação 13 - PRE = %Cr + 3,3 x %Mo + (16 ou 30) x %N

Onde o coeficiente 30 é usado para os aços inoxidáveis austeníticos, enquanto


16 é usado para os aços inoxidáveis duplex. Os elementos de liga são
expressos em % em peso.
A corrosão sob tensão acontece quando um material, submetido a um
estado de tensão qualquer (aplicada ou residual), é colocado em contato com
um meio corrosivo específico. Nos aços inoxidáveis austeníticos, os dois íons
mais indesejáveis com respeito à corrosão sob tensão são Cl- e OH-. Íons de
Cl têm maior efeito na resistência à corrosão sob tensão que íons de OH
[4,39,43,45,50]. Geralmente este tipo de corrosão ocorre associada à
corrosão intergranular ou à corrosão localizada (pites). As condições da
microestrutura do material, como dureza, encruamento, fases presentes,
defeitos e inclusões, são fatores freqüentemente decisivos [1,4,51]. A Figura
23 mostra que uma maior quantidade de ferrita é benéfica para a resistência à
corrosão sob tensão para ligas CF8M. Neste tipo de corrosão formam-se
trincas no material, que podem ser intergranulares ou transgranulares [5,39].
Não existe um mecanismo geral para explicar o fenômeno de corrosão sob
tensão, cada par, material-meio específico, apresenta suas particularidades.
De um modo geral, as combinações resultam na ruptura do filme passivo
levando a corrosão por pite ou por corrosão intergranular, favorecendo a
propagação das trincas até a falha catastrófica. Peças soldadas podem
apresentar áreas sensitizadas, que são mais susceptíveis à falhas.
41

Figura 23 - Tensão necessária para produzir trinca por tensão-corrosão em vários aços
fundidos resistentes a corrosão com quantidades variadas de ferrita [1].

3.6.1 Ensaios de corrosão

A resistência à corrosão pode ser avaliada por ensaios de corrosão


específicos, divididos na sua maioria entre imersão e eletroquímicos. Os
ensaios de imersão mais utilizados para aços inoxidáveis CF8M e suas
respectivas normas são:
· Ensaios práticos para detecção de susceptibilidade de ataque
intergranular em aços inoxidáveis austeníticos (ASTM A 262- 2A) [52];
· Métodos de teste para resistência à corrosão de aços inoxidáveis
por pite e fenda e ligas correlatas pelo uso de solução de cloreto férrico
(ASTM G 48 – 03) [53 ];
· Ensaio prático para operação de Salt Spray (névoa salina) aparelhos
(ASTM B117 – 07A) [54].
A maioria das avaliações dos ensaios de corrosão por imersão é
realizada por exame visual ou com auxílio de imagens das superfícies das
amostras, para caracterizar o tipo de corrosão, densidade, tamanho ou
profundidade. A perda de massa das amostras também pode ser utilizada
como parâmetro de avaliação em ensaios por imersão ou por corrosão
eletrolítica, de acordo com orientação das normas técnicas supracitadas.
42

Os ensaios eletroquímicos visam determinar o potencial de corrosão


(onde uma liga, que sofre corrosão numa dada solução de baixa resistividade
elétrica, assume um potencial característico), por meio da utilização de
equipamentos denominados de potenciostatos, galvanostatos e células
eletrolíticas [55]. Os ensaios mais conhecidos utilizam a técnica do EPR-DL
(Electrochemical Potentiodynamic Reactivation – Double Loop) ou ensaio de
polarização eletroquímica de reativação cíclica; onde as curvas de polarização
são obtidas através de um potenciostato que possui ligado a si três eletrodos,
sendo um eletrodo de trabalho - ET (amostra), um eletrodo de referência - ER e
um contra-eletrodo - CE, todos imersos em um eletrólito (solução). A Figura 24
apresenta esquema de funcionamento de uma célula de reativação
eletroquímica potenciostática. O potenciostato impõe ao eletrodo de trabalho
o potencial desejado em relação ao eletrodo de referência, medindo a corrente
de polarização e gravando os dados em um registrador.

Figura 24 – Representação esquemática do princípio do método de reativação


eletroquímica potenciostática [56].

Durante o levantamento das curvas de polarização se tem um fluxo de


corrente entre eletrodo de trabalho e contra-eletrodo, estabelecendo um
gradiente de potencial entre ambos. A curva de polarização (anódica ou
catódica) é representativa do efeito global de todas as reações que ocorrem
simultaneamente sobre o eletrodo de trabalho (amostra) [56].
Tavares et al. [57] estudando um aço AISI 347 estabilizado ao nióbio,
realizaram ensaios de polarização eletroquímica de reativação cíclica (EPR-
43

DL), em uma solução 0,5 M H2SO4 + 0,01 M KSCN, obtiveram uma curva após
envelhecimento a 600°C por 48 horas, comprovando a ocorrência de
sensitização. Conforme pode ser observado na Figura 25 (a). O ensaio
consiste em realizar uma varredura de potencial no sentido anódico a partir do
potencial de circuito aberto (potencial de corrosão, Ecorr.) até 0,3V, quando a
varredura passa a ser no sentido catódico até retornar ao Ecorr. Em todos os
ensaios a velocidade de varredura adotada foi 1 mV/s, nos sentidos anódico e
catódico. O grau de sensitização medido por este ensaio é dado pela relação
Ir/Ia, sendo Ir a corrente máxima do pico de reativação e Ia a corrente máxima
do pico de ativação e neste caso foi de 0,10 [57]. A Figura 25 (b) mostra a
microestrutura do aço ensaiado acima, evidenciando a ocorrência de
carbonetos de cromo em contorno de grão quando este foi envelhecido a
600°C por 48h diretamente do estado bruto de fundição.

(a) (b)
Figura 25 – Aço fundido AISI 347 estabilizado ao nióbio e envelhecido a 600°C por 48
horas; a) curva de EPR apresentando uma relação de Ir/Ia = 0,10 evidenciando
sensitização e b) microestrutura mostrando intensa precipitação de Cr23C6 em contorno
de grão [57].

Terada, et al [32], realizando ensaio de polarização potenciodinâmica usando


solução de PBS (8,77g/l de NaCl; 1,42g/l de Na2HPO4 ; 1,72g/l de KH2PO4 e
pH 7), em amostras do aço inoxidável superferrítico DIN 1.4575 envelhecidas a
475°C, comprovaram que a formação de alfa linha afeta a resistência à
corrosão. As soluções utilizadas nos ensaios de polarização cíclica
geralmente são a base de cloretos de sódio, cloretos férricos ou similares.
44

4 MATERIAIS E MÉTODOS

As atividades experimentais desenvolvidas no presente trabalho podem


ser visualizadas de maneira esquemática com auxílio do organograma
mostrado na Figura 26. Após a definição das relações Creq/Nieq necessárias à
obtenção de microestruturas com diferentes quantidades de ferrita delta, foram
realizados os cálculos de carga para o processo de fusão de quatro ligas
distintas. Após a fusão das ligas, os pinos foram limpos, seccionados e
identificados para realização de análises químicas, tratamentos térmicos,
caracterização microestrutural, ensaios mecânicos e de corrosão. No decorrer
do texto estas etapas serão descritas em maiores detalhes.

Figura 26 - Ilustração esquemática das análises e ensaios realizados nas ligas CF8M.

4.1 MATERIAIS

4.1.1 Composição química dos aços CF8M

Neste trabalho foram estudadas quatro ligas de aços inoxidáveis


austeníticos, elaboradas a partir da composição química de referência da liga
CF8M (vide Tabela 3). O objetivo foi obter composições químicas que
pudessem levar à valores de cromo equivalente (Creq) e níquel equivalente
45

(Nieq) diferentes. Variações nos valores da relação Creq/Nieq resultariam em


diferentes frações volumétricas de ferrita delta para cada liga, conforme suas
composições químicas. Para tanto, variou-se somente os teores de cromo e
níquel, que são os elementos de maior peso nos valores de Creq e Nieq,
respectivamente. Na Tabela 10 são indicadas as composições químicas
previstas para as quatro ligas estudadas.

Tabela 10–Composições químicas das ligas que foram vazadas (% em peso).


Relações
Ligas C Mn Si Cr Ni Mo P S
Creq/Nieq *
1 1,06 0,08 1,03 0,55 18,00 10,00 2,00 Máx. 0,04 Máx. 0,04
2 0,94 0,08 1,03 0,55 18,00 12,00 2,00 Máx. 0,04 Máx. 0,04
3 1,34 0,08 1,03 0,55 21,00 9,00 2,00 Máx. 0,04 Máx. 0,04
4 1,18 0,08 1,03 0,55 21,00 11,00 2,00 Máx. 0,04 Máx. 0,04
* Segundo o diagrama de Schoefer.

Foram vazados corpos de prova cilíndricos de diâmetro 30 por 150 mm


de altura em moldes de areia com resina denominado de cura a frio. Cada
molde continha três pinos, sendo vazados cinco moldes para cada liga a ser
estudada. A Figura 27 se refere ao molde utilizado e os pinos fundidos para a
extração das amostras. Observa-se que no topo do molde existe um
massalote para alimentação adequada dos pinos fundidos.

Figura 27 – Corpos de provas fundidos para retirada das amostras.


46

4.2 MÉTODOS EXPERIMENTAIS

4.2.1 Fusão das ligas CF8M

As ligas dos aços inoxidáveis austeníticos com composição química de


referência do CF8M foram fundidas em um forno elétrico a indução de média
freqüência, instalado na Fundição da SOCIESC, modelo Inductotherm Mike 4,
com capacidade para 350 quilos. A matéria-prima utilizada na fusão foi
composta basicamente de sucata de aço inoxidável CF8, retorno de fundição
da liga CF8M e complementada com a utilização de ferros liga e níquel puro.
A desoxidação foi realizada com 0,15% de CaSi na transferência do metal
líquido do forno para a panela de vazamento. Durante o processo de fusão
realizou-se o controle de composição química das ligas por meio da técnica de
espectrometria de emissão óptica. As correções de composição química
foram realizadas no forno de fusão. A temperatura de vazamento se situou em
torno de 1620ºC. As panelas de vazamento tinham capacidade para 60 quilos
de metal líquido e foram pré-aquecidas antes do vazamento.
Ressalta-se que o foco deste estudo, foi obter relações de cromo e
níquel equivalentes, diferentes para se conseguir frações volumétricas de
ferrita proporcionais a variação das relações. Para tanto, trabalhou-se com
variação da composição química somente dos elementos de maior influência
na relação, respectivamente cromo e níquel, procurando posicionar os mesmos
dentro do limite especificado para a liga CF8M. Desta forma os elementos
cromo e níquel foram utilizados nos extremos da especificação para conseguir
a maior variação nas relações equivalentes, sendo estas relações baseadas no
diagrama de Schoefer.

4.2.2 Análise da composição química

As ligas fundidas tiveram suas composições químicas analisadas em um


espectrômetro de emissão óptica instalado na área de Fundição da SOCIESC,
após preparação adequada e calibração do equipamento utilizado.
Para efeito de comparação, amostras das ligas estudadas foram
analisadas em outros três laboratórios. Dois destes laboratórios utilizaram a
47

técnica de espectrometria de emissão óptica, enquanto o terceiro realizou a


análise química por espectrometria de fluorescência por raios X. Os teores de
nitrogênio das ligas fundidas foram determinados em um equipamento LECO,
modelo TC 600, instalado no Laboratório de Controle de Qualidade da empresa
Vega do Sul, unidade do grupo ArcelorMittal.
Para efeito comparativo entre os laboratórios, os resultados foram
analisados por meio do método estatístico denominado como “estatística
robusta” [58]. Este método é baseado nas diretrizes da norma ISO/DIS 13528
– “Statistical Methods for use in Proficiency Testing by Interlaboratory
Comparisons”.
Para avaliação de desempenho de cada laboratório participante nas
análises foi utilizado o Escore Z, que é obtido da média de três medições de
cada laboratório, pela :

Equação 14 - Z =
(x i - x ** )
s **

Onde:
xi é a média aritmética dos resultados obtidos pelo laboratório;
x** é o valor da média do conjunto das novas médias dos laboratórios,
calculadas em xi* conforme metodologia descrita no anexo I; e
s** é do desvio do grupo calculado.
Os desempenhos dos laboratórios podem ser classificados como satisfatório,
questionável ou insatisfatório, para cada um dos parâmetros em análise,
conforme o valor do Escore Z., segundo a faixa de valores abaixo:

|Z| satisfatório;
2 < |Z| <3 questionável;
|Z| insatisfatório.

Para a análise do Escore Z entre os laboratórios, somente os elementos cromo,


níquel e molibdênio foram analisados.
48

4.2.3 Tratamentos térmicos

Foram realizados estudos de tratamentos térmicos de solubilização em


três diferentes temperaturas, com o objetivo de verificar a cinética de
dissolução da ferrita delta na microestrutura do aço inoxidável austenítico
CF8M. As amostras foram solubilizadas nas temperaturas de 1050, 1150 e
1250ºC, durante 1, 2, 4, 8, 16, 32 e 64 horas.
Os estudos dos tratamentos térmicos de solubilização foram realizados
em um forno tubular Jung, modelo O213, com temperatura máxima de 1300oC.
Para tanto as amostras foram encapsuladas a vácuo em tubos de quartzo.
Após o término do tratamento as cápsulas (amostras) foram resfriadas em
água à temperatura ambiente, para estabilização de sua microestrutura e
análises posteriores. Já os tratamentos térmicos de envelhecimento a 475ºC
foram realizados em um forno tipo Mufla microprocessado da Quimis, modelo
Q-318M, com resistência elétrica e sem atmosfera controlada. Os tempos de
tratamento variaram de 1 hora a 900 horas, sendo tratadas as liga 1, 3 e 4. O
objetivo do envelhecimento a 475ºC era constatar a precipitação da fase
secundária alfa linha (a’), dentro da fase ferrítica.
Também foram realizados tratamentos térmicos de envelhecimento a
800ºC, realizado no equipamento citado anteriormente, sem atmosfera
controlada. Os tempos de envelhecimento foram de 1, 6 e 12 horas na
temperatura, sendo tratadas as ligas 1, 3 e 4. O objetivo do envelhecimento a
800ºC era constatar a precipitação da fase sigma (s), dentro da fase ferrítica.
Todas as amostras envelhecidas, logo após terem seu ciclo de tempo
completado, foram resfriadas em água à temperatura ambiente para garantir a
permanência da microestrutura de cada condição estudada.
As amostras utilizadas nos tratamentos térmicos de envelhecimento
foram previamente solubilizadas a 1150°C por 1 hora. Vale salientar que a liga
2 não foi utilizada nos tratamentos térmicos de envelhecimento, tanto a 475°C
quanto a 800°C, em função de apresentar uma quantidade de ferrita inferior à
da liga 1.
49

4.2.4 Análise microestrutural

A técnica de microscopia óptica foi utilizada para análise de amostras


nos seguintes estados: bruto de fundição, após solubilização e envelhecimento
a 475ºC e 800°C e após ensaios de corrosão. A preparação metalográfica foi
realizada segundo procedimentos convencionais, que envolveu o corte
refrigerado dos pinos fundidos, embutimento em resina fenólica (baquelite),
lixamento até a grana 1200 e polimento com pasta de diamante de 1mm. Para
revelação da microestrutura dos aços inoxidáveis austeníticos brutos de
fundição foi realizado ataque eletrolítico em solução de ácido oxálico a 10%.
Já as amostras tratadas termicamente foram atacadas eletroliticamente com
solução de KOH a 10%.
A quantificação das frações volumétricas de ferrita delta foi realizada
empregando-se um analisador de imagens Image-ProPlus®, versão 1.3, em
conjunto com o módulo MaterialsPro, versão 1.1, a partir de imagens em
campo claro obtidas pela técnica de microscopia óptica. Utilizou-se também o
método de contagem manual, por meio da aplicação de grades de pontos. As
medidas de metalografia quantitativa envolveram a análise de no mínimo dez
campos por amostra. A quantificação de ferrita delta também foi realizada por
meio de medidas magnéticas, com auxílio de um ferritoscópio Fischer, modelo
FE8e3. Foram feitas 20 medidas por amostra.
A técnica de microscopia eletrônica de varredura (MEV/EDS) foi utilizada
para obtenção de imagens nos modos de elétrons secundários e
retroespalhados. Posteriormente foram feitas análises pela técnica de
microanálise química (EDS), para determinação das composições químicas de
microrregiões das fases ferrita, austenita e sigma. As análises foram
realizadas em amostras das ligas 1, 3 e 4, no estado bruto de fundição e após
tratamentos térmicos de solubilização e envelhecimento. Foi utilizado um MEV
da marca JEOL, modelo JSM 6360, instalado no Laboratório de Metalurgia da
empresa Vega do Sul.
50

4.2.5 Ensaios mecânicos

As propriedades mecânicas das ligas fundidas foram determinadas por


meio de ensaios de tração. Após a solubilização dos pinos fundidos a 1150ºC
por 1 hora, foram usinados três corpos-de-prova de cada liga, segundo a
norma DIN 50125, tipo C, com diâmetro útil de 14mm. Os ensaios foram
realizados em uma máquina universal da marca Emic, modelo D30000, com
uma velocidade constante de 10mm/min. Ensaios de dureza Brinell foram
realizados em amostras das quatro ligas. Foi utilizado um durômetro da marca
Wolpert, com carga de 750kgf e esfera de aço temperada de 5,00mm.
A influência da precipitação da fase alfa linha (a’) na tenacidade dos
aços fundidos CF8M foi estudada com auxílio de ensaios de impacto. Como
esta fase se forma apenas na ferrita, escolheu-se a liga 3 para a realização do
estudo, pelo fato de ter apresentado a maior quantidade de ferrita delta.
Foram confeccionados corpos-de-prova de impacto do tipo Charpy A, conforme
a norma ASTM E-23. Após solubilização a 1150ºC por 1 hora, estes corpos-
de-prova foram envelhecidos a 475ºC durante 75, 150 e 300 horas. Os
ensaios foram realizados em uma máquina universal de ensaios de impacto
(martelo pendular) da marca Wolpert, modelo TW30/15K, com martelo de
30kgf, instalada no Laboratório Metalúrgico da Indústria de Fundição Tupy.
Ensaios de microdureza Vickers foram realizados em amostras das ligas
CF8M, tanto no estado bruto de fundição como após tratamentos térmicos de
solubilização e envelhecimento. Utilizou-se um microdurômetro modelo
Wolpert Tukon 2100B, com carga de 50gf e penetrador de base piramidal de
diamante. Para o estudo de amostras envelhecidas a 475 e 800ºC, as
medidas de microdureza Vickers foram realizadas apenas sobre a fase ferrítica.
Foram realizadas em média 10 medidas por amostra.
51

4.2.6 Ensaios de corrosão

O efeito da exposição à 475ºC na resistência à corrosão das ligas CF8M


foi estudado por meio de ensaios eletroquímicos e de imersão. Os ensaios
eletroquímicos foram realizados em amostras envelhecidas até 700 horas.
Estas foram lixadas até a grana 1200, sendo posteriormente lavadas em água
destilada, secas e imersas em solução PBS, composta de 8,77g/l de NaCl;
1,42g/l de Na2HPO4; 1,72g/l de KH2PO4 e com pH 7. As amostras
permaneceram imersas nesta solução por 24 horas, antes das medidas
eletroquímicas. Os ensaios foram realizados em uma célula feita de Plexiglas,
com um orifício circular (revestido de teflon) na parede lateral. As amostras
foram comprimidas contra este orifício e, assim, as superfícies das amostras
foram expostas à solução. A área de exposição foi estipulada em 1cm2. A
célula eletroquímica com três eletrodos, sendo um de platina, que funcionou
como contra eletrodo, e um de calomelano saturado (ECS), como eletrodo de
referência. Para a realização e aquisição dos dados das medidas
eletroquímicas foi empregado um potenciostato Voltalab 10, da marca
Radiometer Analytical, modelo PGZ 301, controlado pelo software Voltamaster
4. Todas as medidas de polarização foram iniciadas depois de estabilizado o
potencial de circuito aberto de cada amostra. A polarização potenciodinâmica
foi realizada partindo-se do potencial de circuito aberto para 1,2mV acima
deste, com uma velocidade de varredura de 1,0mV/s. Após os testes de
polarização, a morfologia, quantidade e distribuição dos pites de corrosão
foram analisadas com auxílio de microscopia óptica e análise de imagens.
Amostras envelhecidas a 475°C, em tempos de até 900 horas, foram
submetidas também ao ensaio de corrosão por imersão, segundo a norma
ASTM G 48 método A, em solução de cloreto férrico a 10%. As amostras
foram imersas na solução de cloreto férrico, aquecida a 50°C, durante 72
horas. Logo após foram lavadas e neutralizadas. A fração de área corroída
foi determinada com auxílio de análise de imagens, a partir de micrografias
obtidas por microscopia óptica. Foram avaliados 10 campos por amostra.
52

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1 ANÁLISE QUÍMICA

As composições químicas das ligas fundidas foram determinadas em


quatro laboratórios diferentes e os resultados são apresentados na Tabela 11.
Cabe lembrar que foram utilizadas as técnicas de espectrometria de emissão
óptica e espectrometria de fluorescência por raios X. Os resultados obtidos
apresentam uma natural variação, que pode ser atribuída às diferentes técnicas
empregadas, bem como a fatores relacionados com as rotinas de calibração
dos diferentes laboratórios e amostragem. Uma análise mais aprofundada é
feita no item seguinte. A composição química correspondente ao laboratório
“A” será considerada como referência para os cálculos dos valores da relação
Creq/Nieq apresentadas no decorrer deste capítulo. A análise da composição
de referência permite concluir que o processo de fusão foi bem conduzido,
resultando em pequena dispersão em relação aos valores inicialmente
planejados (vide Tabela 10).

5.1.1 Comparativo entre laboratórios

Os resultados mostrados na Tabela 11 apresentaram variações


inferiores a 3%, para os elementos cromo e níquel. Os fabricantes dos
equipamentos de análise química relatam variações aceitáveis em torno de 5%.
As análises realizadas pela técnica de espectrometria de fluorescência por
raios X, em comparação com a técnica de espectrometria de emissão óptica,
apresentaram maior variação para os mesmos elementos.
Os resultados da análise pelo método de estatística robusta, realizada a partir
dos valores de composição química da Tabela 11, para a avaliação de
desempenho dos laboratórios, podem ser observados na Tabela 12. Esta
tabela mostra os valores obtidos pelo Escore Z, onde os
desempenhos dos laboratórios podem ser classificados como satisfatório ( |Z|
2) questionável (2 < |Z| <3) ou insatisfatório ( |Z| ).
53

Tabela 11: Comparativo dos resultados das análises químicas realizadas em diferentes laboratórios.

Laboratórios A B C D
Elementos
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
(% de peso)
C 0,038 0,043 0,047 0,053 ND ND ND ND 0,054 0,050 0,054 0,052 0,054 0,053 0,056 0,058

Si 0,49 0,47 0,49 0,47 0,35 0,31 0,27 0,30 0,487 0,467 0,488 0,457 0,50 0,48 0,49 0,47

Mn 1,04 1,03 0,89 0,87 1,17 1,12 ND ND 0,98 0,96 0,84 0,81 1,00 1,00 0,87 0,84

Cr 17,59 17,38 20,87 20,44 18,95 19,25 22,79 22,68 17,91 17,68 21,31 20,91 17,40 17,15 20,79 20,23

Ni 10,52 11,51 9,00 10,62 9,14 9,88 7,76 9,38 10,28 11,28 8,51 10,31 10,37 11,50 8,34 10,59

Mo 2,13 2,09 1,99 1,95 2,06 2,03 1,97 1,87 2,35 2,26 2,20 2,12 2,25 2,21 2,11 2,06

Cu 0,20 0,19 0,18 0,18 0,19 ND 0,18 0,20 0,21 0,20 0,19 0,19 0,33 0,33 0,33 0,33

N* 0,047 0,047 0,050 0,048 ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND ND

Fe Bal. Bal. Bal. Bal. Bal. Bal. Bal. Bal. Bal. Bal. Bal. Bal. Bal. Bal. Bal. Bal.

Creq/Nieq 1,04 0,95 1,35 1,17 ND ND ND ND 1,06 0,99 1,43 1,24 1,02 0,94 1,39 1,16

Laboratório A – Espectrômetro de emissão óptica. Composição química de referência, obtida logo após a fusão;
Laboratório B – Espectrômetro de fluorescência por raios X;
Laboratório C – Espectrômetro de emissão óptica;
Laboratório D – Espectrômetro de emissão óptica;
ND – Não determinado;
*Teores determinados com auxílio de aparelho (LECO) para análise de gases em aço por fusão da amostra.
54

Tabela 12 – Análise estatística dos resultados e avaliação de desempenho - Escore Z por


liga.
Laboratórios/ Elementos químicos avaliados – Escore Z
Ligas Cr Ni Mo
1 2 3 4 1 2 3 4 1 2 3 4
A -0,5 -0,4 -0,6 -0,5 1,0 0,7 1,0 0,8 -0,4 -0,4 -0,6 -0,4
B 2,6 3,5 3,5 3,2 -5,3 -7,1 -1,1 -3,8 -1,0 -1,0 -0,8 -1,0
C -0,9 -0,9 -0,8 -0,9 -0,1 -0,4 0,2 -0,4 1,0 0,9 1,1 0,9
D 0,2 0,2 0,3 0,3 0,3 0,7 -0,1 0,7 0,4 0,5 0,3 0,5

Os resultados indicam que para os valores relativos aos teores de


molibdênio todos os laboratórios atendem satisfatoriamente o Escore Z.
Quanto aos teores de níquel, o laboratório B atende satisfatoriamente somente
a liga 3; já os demais laboratórios atendem satisfatoriamente a todas as ligas.
O laboratório B não atende satisfatoriamente a nenhuma das ligas quando o
elemento analisado é o cromo, ao passo que os outros laboratórios atendem
satisfatoriamente a este elemento. Estes resultados indicam que o laboratório
B apresenta maiores desvios de resultados em relação aos teores analisados
de cromo e níquel para as ligas CF8M. Vale ressaltar que estes resultados
não necessariamente representam a maior ou menor precisão de uma ou outra
técnica, para a determinação dos teores dos elementos de liga analisados.
Outros fatores, tais como amostragem, qualidade da preparação das amostras,
calibração do equipamento utilizado e número de queimas realizadas em cada
amostra, também podem interferir nos resultados.

5.2 MODOS DE SOLIDIFICAÇÃO E FRAÇÕES VOLUMÉTRICAS DE


FERRITA DELTA

Como visto na revisão bibliográfica os aços inoxidáveis austeníticos


podem se solidificar de modos diferentes. A maioria dos autores [4,6,8,14,16]
classifica os modos de solidificação em quatro tipos, modo A, B,C e D.
Basicamente os modos A e B tem solidificação primariamente ferrítica e os
modos C e D tem solidificação primariamente austenítica, divisão esta feita por
uma relação Creq/Nieq igual a 1,5 [4,6,8,14,16].
55

Utilizando os resultados das análises químicas obtidas das ligas CF8M


fundidas, pode-se avaliar os modos de solidificação destas em função das
equações das relações de cromo e níquel equivalentes de acordo com a
Tabela 13. Empregando-se as equações 1 e 2 se verifica que as relações de
Creq/Nieq para as ligas 1, 2, 3 e 4 seriam respectivamente 1,69; 1,54; 2,18 e
1,84; o que pela classificação dada por Jernkontoret [15] poderiam ser
dispostos como sendo modos B e B/C para as ligas 1 e 2 com menores teores
de ferrita, e modos A e B para as ligas 3 e 4 com maiores teores de ferrita.

Tabela 13 – Resultados obtidos utilizando as equações 1 a 12, para determinação dos


modos de solidificação e dos valores estimados da fração volumétrica de ferrita delta.
Autores Itens Ligas do aço CF8M 2
Equações R
(diagramas) analisados 1 2 3 4
Creq / Nieq 1,69 1,54 2,18 1,84 -
Jernkontoret 1-2
Modo B B/C A B -
Creq / Nieq 1,49 1,36 1,91 1,63 -
J.C.Ma 3-4 Modo B/C C B B -
% ferrita 3 1 28 21 0,97107
Creq / Nieq 1,68 1,52 2,17 1,83 -
Schaeffler 5-6
% ferrita 8 4 32 25 0,97195
Creq / Nieq 1,50 1,37 1,91 1,63 -
DeLong 7-8
% ferrita 7 2 22 15 0,98515
Creq / Nieq 1,04 0,95 1,35 1,17 -
Schoefer 9-10
% ferrita 4,6 2,1 19,6 11,4 0,99959
Creq / Nieq 1,53 1,39 1,96 1,66 -
WRC 11-12
% ferrita 5 2 26 14 0,99974
PLANEJADO Creq / Nieq 1,06 0,94 1,34 1,18 -
9-10
(Schoefer)* % ferrita 2-8 0-5 13-25 8-15 -
*Relações Creq/Nieq planejadas experimentalmente e obtidas após ajuste das composições químicas das
ligas antes do processo de fusão.

Estes resultados são muito similares ao que encontrou Alan [6] quando
estudou vinte e duas ligas de aços inoxidáveis, especialmente nas ligas 304 e
316, que apresentaram modos de solidificação B em ligas com teores de
nitrogênio inferiores a 0,15% e modos de solidificação C e D para aços com
teores de nitrogênio acima de 0,16%. Indicando que o teor de nitrogênio
56

colabora na formação da austenita em detrimento da ferrita, o que também foi


comprovado por diversos autores [4,8,14,16].
Para Alan [6] o modo de solidificação B tem como principal característica
a presença da ferrita com morfologia dendrítica e o modo de solidificação C
apresenta a ferrita delta com morfologia interdendrítica. A Figura 28 mostra o
aspecto dendrítico das ligas fundidas. Especialmente nas ligas 2 e 1 é
possível comprovar que a ferrita delta se encontra dispersa preferencialmente
entre as dendritas. Contudo, para a liga 4, se observa que a solidificação da
ferrita delta apresenta morfologia dendrítica, tendo como principal
característica, sua distribuição nos centros das dendritas, formando um aspecto
de rede. Já a liga 3 apresenta uma microestrutura do tipo celular ou celular
dendrítica, em função da sua maior relação de Creq/Nieq = 2,18 e modo de
solidificação A, segundo Jernkontoret [15], apresentando microestrutura de
grãos grosseiros. Por outro lado, as equações 3 e 4 de Ma [14] resultaram em
relações de Creq/Nieq para as ligas 1, 2, 3 e 4 de 1,49; 1,36; 1,91 e 1,63; cujos
modos poderiam ser classificados em B/C e C para as ligas 1 e 2 e modo B
para as ligas 3 e 4.
Os teores de ferrita delta das ligas fundidas foram estimados pelo
diagrama de Schoefer em função das relações de Creq/Nieq obtidos conforme
as composições químicas das ligas, estes valores podem ser encontrados no
final da Tabela 13. Para se verificar os valores da fração volumétrica de ferrita
foram utilizadas as equações 3 a 12 devidas aos autores dos diagramas,
constantes da Tabela 13, onde também se podem observar os resultados das
frações volumétricas de ferrita delta.
Utilizando as equações de Ma [14] obteve-se quantidades de ferrita delta
de 3, 1, 28 e 21%, respectivamente para as ligas 1 a 4. Estes resultados são
coerentes com os demais modelos, que também indicam a presença de
menores quantidades de ferrita para as ligas 1 e 2 e valores mais elevados
para as ligas 3 e 4. As frações volumétricas de ferrita delta foram avaliadas
em todas as ligas por três técnicas de metalografia quantitativa, como grade de
pontos, software e ferritoscopia. Os resultados podem ser observados na
Tabela 14.
57

a) liga 1 b) liga 2

c) liga 3 d) liga 4
Figura 28 – Aspecto dendrítico das amostras brutas de fundição, ataque eletrolítico com
solução de ácido oxálico a 10%, MO.

As técnicas de metalografia quantitativa baseadas na aplicação de


grades de pontos e análise de imagens (software), apresentam valores
comparativamente maiores que os obtidos pela técnica de ferritoscopia, o que
pode ser justificado pela diferença da técnica de medição.

Tabela 14 – Técnicas de metalografia quantitativa utilizadas para determinação da fração


volumétrica de ferrita delta residual, nas ligas brutas de fundição de CF8M.
TÉCNICA DE QUANTIFICAÇÃO LIGAS FUNDIDAS
1 2 3 4
Grade Pontos 7,2 ± 2,0 5,6 ± 1,5 30,9 ± 3,4 19,4 ± 4,8
Software 7,1 ± 0,8 5,2 ± 0,5 33,2 ± 2,2 18,9 ± 0,9
Ferritoscopia 4,4 ± 0,2 2,2 ± 0,2 21,4 ± 0,7 12,1 ± 0,5
58

Cabe destacar que a ferritoscopia é uma técnica volumétrica, enquanto


as medidas de metalografia quantitativa (grade de pontos e software) se
baseiam em imagens de superfícies. Os valores obtidos a partir de imagens
da microestrutura (fração de área – AA ou fração de pontos – PP) são
extrapolados para fração em volume (VV) [7].
Para efeito de análise dos valores de fração volumétrica de ferrita delta
previstos pelas equações da Tabela 13, foram utilizados os resultados obtidos
pela técnica de ferritoscopia, que estão apresentados na Tabela 14.
No gráfico da Figura 29 é possível verificar os resultados da quantificação
da fração volumétrica de ferrita delta nas ligas brutas fundidas de CF8M.
Indicando que as ligas 1 e 2 apresentam valores de ferrita delta muito similares,
ao passo que as ligas 3 e 4.se constata diferenças maiores independentemente
da técnica utilizada para quantificação da fração de ferrita delta.

Figura 29 – Resultados da fração volumétrica de ferrita utilizando-se três métodos de


medição.

Uma análise preliminar dos resultados, permite concluir, que a utilização


de diagramas para a previsão de ferrita delta leva a resultados satisfatórios.
Entretanto, com o objetivo de averiguar com maior profundidade os aspectos
relacionados à confiabilidade das teorias de solidificação estudadas, fez-se
59

uma análise de correlação entre os valores de fração volumétrica de ferrita


obtidos por ferritoscopia e os previstos pelos modelos utilizados, resultados
constam na Tabela 13.
Dentre os modelos analisados destaca-se o diagrama de Schoefer, com
uma ótima correlação, representada por um R2 = 0,99959 quando comparado
com os resultados de ferritoscopia. A Figura 30, além de mostrar a correlação
entre o método do diagrama de Schoefer e a técnica de ferritoscopia, também
possibilita observar os limites de confiança para 95% dos resultados. O
método do diagrama de WRC também apresentou excelente correlação nos
seus resultados. Um pouco abaixo estão os métodos dos diagramas de
DeLong, Ma e Schaeffler. Este último, por sua vez, apresentou uma
correlação representada por um R2 = 0,97195 cujos limites de confiança de
95% indicam uma dispersão um pouco maior dos seus resultados, conforme
pode ser observado no gráfico da Figura 31. A menor precisão do método do
diagrama de Schaeffler pode ser atribuída à ausência do elemento nitrogênio
em suas equações, já que este pesquisador foi o precursor de todos os
demais, e não havia estudado o efeito do nitrogênio em suas equações
preliminares.

Figura 30 - Correlação entre os resultados de fração volumétrica de ferrita obtidos por


ferritoscopia e diagrama de Schoefer.
60

Figura 31 – Correlação entre os resultados de fração volumétrica de ferrita obtidos por


ferritoscopia e diagrama de Schaeffler.

Estes resultados indicam que é possível se utilizar qualquer um dos


diagramas indicados nas literaturas para estudar as ligas CF8M. Contudo, é
importante observar a presença de elementos que possam ser adicionados às
ligas como Nb, N, Cu, Ti, entre outros, para poder se empregar as equações
mais adequadas e assim obter maior precisão nos resultados

5.2.1 Morfologia da ferrita

A morfologia da ferrita delta geralmente está vinculada ao modo de


solidificação da liga. Como visto anteriormente, pode-se ter solidificação
primariamente austenítica para os modos C e D ou solidificação primariamente
ferrítica para os modos A e B. Desta forma, a ferrita, quando presente numa
solidificação primariamente austenítica, se solidifica nas regiões
interdendríticas, ou seja, entre os braços das dendritas de austenita e a sua
morfologia mais característica é a vermicular [14,18,19,25]. As ligas 2 e 1
apresentam este comportamento, como pode ser observado na Figura 32.
61

a) liga 1

b) liga 2

c) liga 3
62

d) liga 4

Figura 32 - Micrografias das ligas brutas de fundição, caracterizando a morfologia da


ferrita delta, ataque eletrolítico com KOH, 10%.

A liga 1 mesmo possuindo o dobro da fração volumétrica de ferrita da


liga 2, apresenta também a morfologia vermicular. Segundo Takalo et al
[18,19] a microestrutura de ligas com até 6% de ferrita pode ser classificada
como de morfologia vermicular. Outra denominação apresentada nas
literaturas [14,25] é a morfologia em forma de esqueleto ou colméia, tal como
verificado na Figura 14 [25]. Pode-se classificar a liga 4 como sendo desta
morfologia, onde toda a ferrita se apresenta em forma de rede e a solidificação
ocorreu em forma dendrítica, como pode ser observado na Figura 32.
Para Takalo et al [18,19] ligas com 6 a 12% de ferrita podem apresentar
esta morfologia em forma de rede conjugada ou não com outra morfologia
denominada de lamelar. Estas são conhecidas como morfologias mistas. A
morfologia lamelar (eutético colunar ou celular de ferrita e austenita) pode ser
observada na liga 3 da Figura 32. Geralmente está associada a altas
quantidades de ferrita e modos de solidificação B ou A. Os mesmos autores
afirmam que frações volumétricas de ferrita acima de 13% geralmente podem
apresentar a morfologia lamelar e são caracterizadas por grãos grosseiros nas
microestruturas dos aços CF8M.
63

5.2.2 Distribuição de elementos de liga

As composições químicas de microrregiões de ferrita e austenita foram


determinadas com auxílio da técnica de microanálise química por dispersão de
energia (MEV/EDS) e os resultados para as ligas 1, 3 e 4 são apresentados na
Tabela 15. Observa-se que as regiões de ferrita (d) são mais ricas em cromo
e molibdênio, ao passo que a austenita (g) é mais rica em níquel e ferro.

Tabela 15 – Resultados de microanálise química por EDS nas ligas solubilizadas a


1150°C/1h.
ELEMENTOS (% em peso)
LIGAS FASES
Cr Ni Mo Fe
g 18,3 ± 0,8 10,0 ± 0,7 1,9 ± 0,2 69,3 ± 0,7
1
d 23,0 ± 0,3 6,3 ± 0,6 3,3 ± 0,1 66,9 ± 0,8
g 20,3 ± 0,3 9,4 ± 0,4 1,6 ± 0,1 68,5 ± 0,8
3
d 24,2 ± 0,4 6,6 ± 0,8 2,4 ± 0,2 66,3 ± 0,9
g 20,3 ± 0,5 11,4 ± 0,7 1,6 ± 0,2 66,8 ± 0,7
4
d 24,9 ± 0,3 7,0 ± 0,6 2,5 ± 0,3 65,4 ± 1,0

Outra característica importante das microestruturas, além de sua


morfologia, é a distribuição ou partição dos principais elementos químicos na
microestrutura dos aços CF8M. Neste sentido foram realizadas algumas
análises (perfis de concentração, line scan) via EDS para verificar como estão
distribuídos os elementos cromo, níquel e molibdênio entre as fases ferrita e
austenita. Os resultados podem ser observados no gráfico da Figura 33, que
apresenta as interfaces entre as fases austenita-ferrita-austenita. Observa-se
claramente que na fase austenítica os teores de cromo ficam na faixa de 21%
subindo para cerca de 27% quando se entra na fase ferrítica. O mesmo
comportamento se verifica com os teores de molibdênio. O níquel tem papel
inverso, estando presente em teores entre 9 e 13% na austenita e em torno de
5% na ferrita. Outro aspecto interessante é o perfil de concentração a partir das
interfaces ferrita/austenita. As curvas da Figura 33 mostram que as regiões
centrais da ferrita são mais ricas em cromo e molibdênio. À medida que se
aproximam das interfaces estes vão diminuindo. O mesmo ocorre com os
teores de níquel na austenita.
64

Figura 33 – Microanálise química realizada por MEV/EDS em intervalos de 1,38µm na liga


3 no estado bruto de fundição.

Suutala et al [20,21,22], estudando vários aços inoxidáveis, relatam este


mesmo comportamento para a classe 300, especialmente em ligas CF. Os
autores constataram a presença de uma matriz austenítica empobrecida em
cromo e molibdênio, mas com elevados teores de níquel. Lewis et al [59]
estudando uma liga CF8M encontraram resultados semelhantes, dando grande
destaque para a enorme variação verificada nos teores de molibdênio, que
oscilou em torno de 2% na austenita, chegando teores superiores a 6% na
ferrita. Já Fu [16] analisando o comportamento das fases durante a
solidificação de uma liga CF8 concluiu que durante a solidificação da liga o
líquido resultante entre as dendritas de austenita e a ferrita eutética é
enriquecido em cromo e níquel e que resultaria em austenita sólida. Alguns
autores [25,60,61] sustentam que nas interfaces dos grãos de ferrita (d) e
austenita (g) ocorre maior variação nos elementos químicos e à medida que se
vai indo para o interior do grão a composição tende ao equilíbrio.
65

5.3 TRATAMENTOS TÉRMICOS DE SOLUBILIZAÇÃO

Para estudo do tratamento térmico de solubilização somente as ligas 1,


3 e 4 foram analisadas, já que a liga 2 apresenta uma fração volumétrica de
ferrita delta muito próxima dos valores da liga 1. Após cada tratamento
térmico de solubilização as amostras foram preparadas para análise da
morfologia da ferrita, bem como para quantificação da fração volumétrica
resultante em cada uma das condições de solubilização.
Quando se compara as três técnicas de quantificação da fração
volumétrica de ferrita delta, o que pode ser feito com auxílio da Figura 34, se
nota que a técnica de ferritoscopia é a que apresenta os menores desvios-
padrão, sempre em torno de 5%. Este comportamento foi observado em todas
as condições analisadas. Por este motivo, o estudo do comportamento das
ligas durante os tratamentos de solubilização foi feito com base nos resultados
obtidos por ferritoscopia. Glownia et al [62] avaliaram as quantidades de ferrita
delta em aços duplex com altos teores de nitrogênio pelas mesmas três
técnicas utilizadas no presente trabalho e observaram pequena variação nos
resultados.

Figura 34 – Resultados da fração volumétrica de ferrita da liga 4 solubilizada a 1150°C


por três técnicas de metalografia quantitativa.
66

Os resultados do estudo de solubilização das ligas serão apresentados


em separado para cada uma das ligas (1, 4 e 3, nesta ordem). Primeiramente
serão apresentados gráficos de variação da fração volumétrica de ferrita em
função do tempo de solubilização, para as três temperaturas estudadas. Em
seguida é apresentada uma seqüência de micrografias pertinentes às
condições estudadas, com o intuito de mostrar a evolução microestrutural
durante os tratamentos de solubilização.

5.3.1 Tratamentos de solubilização da liga 1

A evolução da fração volumétrica de ferrita delta durante os tratamentos


de solubilização da liga 1 é apresentada no gráfico da Figura 35. A fração de
ferrita inicial desta liga é de 4,4%, sua morfologia é vermicular e sua
distribuição interdendrítica. Para a temperatura de 1050°C, os resultados
indicam um acréscimo da fração volumétrica de ferrita delta da ordem de 20%
para 1h, chegando a 40% para 2h. Observa-se que a dissolução de ferrita se
inicia a partir de 2h de tratamento térmico.

Figura 35 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta da liga 1 em função do tempo


de solubilização, para as temperaturas de 1050, 1150 e 1250ºC. Resultados de
ferritoscopia.
67

O aumento inicial na quantidade de ferrita pode estar associado à


difusão de elementos como Cr e Mo (alfagênicos) em solução sólida na
austenita, nas regiões próximas à interface ferrita/austenita [9]. Outra causa
provável é dissolução de carbonetos de cromo (Cr23C6) formados durante a
solidificação e preferencialmente dispostos nas interfaces, com a conseqüente
incorporação de cromo à ferrita. Porém, vale mencionar que durante a
caracterização microestrutural das amostras brutas de fundição não foram
observadas quantidades significativas de carbonetos de cromo.
Para a temperatura de 1150°C com apenas 1h de tratamento térmico já
se verifica que ocorreu uma dissolução em torno de 20% da fração volumétrica
de ferrita delta, chegando a 60% em apenas 2 horas. Neste caso, a
dissolução quase completa de ferrita ocorre para um tempo de 16h. Para
1250°C nota-se que a completa dissolução de ferrita ocorre para um tempo
aproximado de apenas 4h. Estes resultados indicam que o fenômeno de
dissolução de ferrita na liga 1 obedece a uma lei do tipo Arrhenius, pois há uma
cinética de dissolução mais rápida para temperaturas mais elevadas, como é
habitual para fenômenos termicamente ativados. Nas temperaturas de 1150 e
1250ºC não foram verificados aumentos na quantidade de ferrita para tempos
mais curtos de tratamento, como descrito para a temperatura de 1050ºC.
Trabalhos anteriores [25,63,64] reportam que a dissolução de ferrita
delta é governada pela difusão do cromo da ferrita para a austenita, a partir da
interface ferrita/austenita. Neste caso, espera-se que o processo de
dissolução de ferrita seja rápido no início e que a taxa de dissolução diminua
gradualmente durante o processo. Os resultados apresentados no gráfico da
Figura 35 são coerentes com estas observações, apesar do fenômeno de
aumento da quantidade de ferrita, observado para a temperatura de 1050ºC,
para tempos curtos de solubilização.
As micrografias da Figura 36, para os tratamentos de solubilização da
liga 1 a 1050ºC, mostram que para os tempos de 1, 2 e até mesmo para 4
horas, ocorreu um aumento no tamanho dos veios de ferrita delta, o que pode
estar relacionado com o já relatado aumento na fração de volumétrica de ferrita
para tempos curtos de tratamento. Já a partir de 4 horas se observa mais
claramente, o início do processo de dissolução que se caracteriza pela
68

fragmentação dos veios seguida de esferoidização. A partir de 8 horas de


tratamento térmico já se pode observar uma microestrutura composta por áreas
de ferrita de formato próximo ao esférico. Para tempos maiores, de 16, 32 e
64 horas se observa uma lenta e gradual diminuição da quantidade de ferrita.
Mesmo para o maior tempo de tratamento, de 64 horas, não ocorre a completa
dissolução.
Observa-se na Figura 37 que já para 2 horas se nota uma considerável
fragmentação e esferoidização da ferrita. Os resultados indicam que para 8
horas de tratamento há uma redução de cerca de 90% da fração volumétrica
de ferrita. A partir de 16 horas de solubilização praticamente toda a ferrita já
foi dissolvida. Observa-se na Figura 38 que a maior ativação térmica a
1250ºC faz com que o processo de dissolução seja ainda mais rápido. Já para
o tempo de 1 hora de solubilização a fração volumétrica de ferrita é reduzida
em torno de 80%. A dissolução quase que completa da ferrita pode ser
observada a partir de 4 horas de tratamento.
Nas temperaturas de 1150 e 1250ºC, para o menor tempo de
solubilização utilizado, de 1 hora, não se observa o mesmo fenômeno de
aumento da quantidade de ferrita constatado para a temperatura de 1050ºC.
Estudos complementares, utilizando tempos de solubilização inferiores à 1
hora, podem ajudar a esclarecer este fato.
69

Figura 36 - Microestruturas de amostras da liga 1 solubilizadas a 1050°C, em tempos entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.
70

Figura 37 - Microestruturas de amostras da liga 1 solubilizadas a 1150°C, em tempos entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.
71

Figura 38 - Microestruturas de amostras da liga 1 solubilizadas a 1250°C, em tempos entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.
72

A fração dissolvida de ferrita delta (DV/Vo) foi plotada em função da raiz


quadrada do tempo de solubilização (t1/2), para as três temperaturas utilizadas.
Os resultados são apresentados na Figura 39. A escala de fração dissolvida
apresenta valores negativos em função do aumento da quantidade de ferrita no
estágio inicial. Uma relação linear foi escolhida para correlacionar os valores
de fração dissolvida com a raiz quadrada do tempo. A inclinação das retas
pode ser interpretada como um parâmetro que representa a taxa de dissolução,
que varia em função da temperatura de solubilização. Como esperado,
observa-se que temperaturas mais elevadas produzem uma dissolução mais
rápida de ferrita (retas mais inclinadas). Considerando-se o valor de 0,5 de
fração dissolvida, pode-se estimar um tempo cerca de seis vezes maior para a
temperatura de 1050ºC em relação à 1250ºC. Wits [65], estudando
transformações de fases em diversas ligas de aços inoxidáveis, também
observou, como esperado, uma maior inclinação (taxa de transformação) para
temperaturas mais elevadas.

Figura 39 – Variação da fração dissolvida de ferrita delta na liga 1, em função do tempo


1/2
de tratamento (t ) e temperaturas de solubilização, mostrando uma relação linear.
73

5.3.2 Tratamentos de solubilização da liga 4

A evolução da fração volumétrica de ferrita delta da liga 4 em função do


tempo de solubilização é mostrada na Figura 40. Observa-se que a liga 4,
quando tratada a 1050°C, apresenta o fenômeno de aumento da fração
volumétrica de ferrita, que passa de 12% para aproximadamente 15% na
primeira hora de solubilização; ou seja, um acréscimo em torno de 28%. Para
esta temperatura o processo de dissolução se inicia a partir de 2 horas de
tratamento, chegando próximo ao valor inicial em torno de 8 horas. A partir daí
a dissolução prossegue até uma fração volumétrica aproximada de ferrita de
5%, após 64 horas de solubilização, o que corresponde a uma redução de
cerca de 60%.

Figura 40 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta da liga 4 em função do tempo


de solubilização, para as temperaturas de 1050, 1150 e 1250ºC. Resultados de
ferritoscopia.

Quando se analisa o comportamento da liga 4 na temperatura de


1150°C pode-se concluir que o processo de dissolução, em relação à 1050°C,
é cerca de 4 vezes mais rápido. Além disso, nesta temperatura se observa,
em termos de valores médios de fração volumétrica, um aumento em torno de
8% na quantidade de ferrita na primeira hora de tratamento. Para 64 horas de
74

solubilização, a quantidade de ferrita cai para apenas 2%, representando uma


redução de aproximadamente 80%.
Para a temperatura de 1250°C o processo de dissolução se inicia
rapidamente e apresenta uma cinética mais acentuada que a da temperatura
de 1150ºC, para tempos de até 4 horas. A partir deste ponto a cinética de
dissolução torna-se mais lenta que a observada a 1150ºC, alcançando uma
menor redução (68%) da quantidade de ferrita (3,9%) após 64 horas de
solubilização. Vale destacar que na liga 4, contendo uma fração volumétrica
de ferrita delta três vezes maior que a liga 1, não foi possível dissolver
totalmente esta fase, para os tempos e temperaturas utilizados. Este resultado
pode estar associado tanto a aspectos cinéticos como termodinâmicos, ou seja,
de saturação das regiões austeníticas em elementos de liga ferritizantes.
Estes aspectos voltarão a ser discutidos em maior profundidade no decorrer do
presente texto.
As microestruturas de amostras da liga 4, solubilizadas a 1050ºC, são
apresentadas na Figura 41. Entre a condição inicial e o tempo de
solubilização de 2 horas, há um aumento na quantidade de ferrita delta,
acompanhado de um espessamento dos veios de ferrita. A partir de 4 horas
de solubilização se percebe mais claramente o início dos processos de
fragmentação e esferoidização, que ocorrem simultaneamente à dissolução da
ferrita.
As micrografias da Figura 42 e os dados de ferritoscopia, para amostras
solubilizadas a 1150ºC, indicam que não houve aumento significativo na fração
volumétrica de ferrita delta para os tempos mais curtos de solubilização.
Merece destaque a micrografia da amostra solubilizada durante 4 horas, que já
apresenta uma considerável esferoidização das áreas de ferrita. As
micrografias para tempos superiores a 8 horas ressaltam a ocorrência dos
fenômenos de coalescimento e esferoidização das áreas de ferrita. As
micrografias da Figura 43 mostram que a temperatura de 1250ºC favorece o
fenômeno de coalescimento das áreas de ferrita, o que pode justificar a
dissolução menos eficiente em relação à temperatura de 1150ºC, em função da
menor área superficial disponível para o fenômeno de difusão e migração de
elementos de liga para austenita.
75

Figura 41 - Microestruturas de amostras da liga 4 solubilizadas a 1050°C, em tempos entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.
76

Figura 42 - Microestruturas de amostras da liga 4 solubilizadas a 1150°C, em tempos entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.
77

Figura 43 - Microestruturas de amostras da liga 4 solubilizadas a 1250°C, em tempos entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.
78

5.3.3 Tratamentos de solubilização da liga 3

A liga 3 tem como principal característica a fração volumétrica de ferrita


delta mais alta entre as ligas estudadas, chegando a aproximadamente 21%, o
que equivale a um valor quase 5 vezes maior que o da liga 1 e praticamente o
dobro do da liga 4. Vale lembrar também que sua morfologia é
predominantemente lamelar e sua granulação mais grosseira que as
observadas nas demais ligas. Os resultados de solubilização da liga 3 são
apresentados no gráfico da Figura 44.

Figura 44 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta da liga 3 em função do tempo


de solubilização, para as temperaturas de 1050, 1150 e 1250ºC. Resultados de
ferritoscopia.

Na análise do seu comportamento durante a solubilização se observa


que os resultados para 1050 e 1150ºC são bastante semelhantes. Nas duas
primeiras horas ocorre o fenômeno de aumento da fração volumétrica de
ferrita, que sobe de 21,4% para valores acima de 25%. Contudo, estes
valores vão diminuindo gradativamente até se aproximarem da quantidade de
ferrita da condição inicial. Vale ressaltar que para a temperatura de 1050°C se
79

observa que as frações volumétricas de ferrita se mantêm um pouco inferiores


em comparação com os obtidos para a temperatura de 1150°C.
As amostras da liga 3 solubilizadas a 1250°C apresentaram um
comportamento bastante diferente em relação às demais condições. A fração
volumétrica de ferrita tem um incremento inicial em torno de 43%, aumentando
de 21,4% na condição inicial para 30,7% após a primeira hora de solubilização.
Nas temperaturas de 1050 e 1150ºC este incremento ficou em torno de 20%.
Estes resultados podem ser atribuídos a um efeito combinado da maior
ativação térmica a 1250ºC e da quantidade inicial de ferrita delta na forma de
lamelas. Isto favorece a difusão de elementos das regiões próximas à
interface ferrita/austenita para o interior da ferrita, que apresenta uma
difusividade consideravelmente maior que a austenita. Após
aproximadamente 16 horas de solubilização a 1250ºC, a quantidade de ferrita
se mantém constante, em torno de 32%.
A análise das microestruturas revela que à medida que os tempos de
tratamento térmico aumentam, as lamelas de ferrita delta tendem a engrossar e
coalescer, como mostra a seqüência de micrografias da Figura 45, para a
temperatura de 1050°C. As amostras da liga 3 solubilizadas a 1150ºC (vide
Figura 46) apresentam comportamento similar. As micrografias da Figura 47
mostram que para a temperatura de 1250ºC ocorre o coalescimento gradual
das lamelas de ferrita, fenômeno que se torna bastante nítido para os tempos
de tratamentos térmicos mais longos, de 32 e 64 horas.
80

Figura 45 - Microestruturas de amostras da liga 3 solubilizadas a 1050°C, em tempos entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.
81

Figura 46 - Microestruturas de amostras da liga 3 solubilizadas a 1150°C, em tempos entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.
82

Figura 47 - Microestruturas de amostras da liga 3 solubilizadas a 1250°C, em tempos entre 1 e 64 horas. MO, ataque eletrolítico com KOH.
83

5.3.4 Efeito da temperatura na solubilização das ligas

Há uma discussão na literatura [25, 4 de 25, 22 de 25] sobre a existência


ou não do fenômeno de aumento da quantidade inicial de ferrita delta no início
do tratamento de solubilização. Para fins de esclarecimento deste fenômeno,
será feita uma análise mais detalhada dos resultados de solubilização para
tempos de até 16 horas, para cada uma das temperaturas de solubilização
utilizadas.
Na análise do comportamento das ligas em função das temperaturas de
solubilização, verifica-se que para a temperatura mais baixa utilizada, de
1050°C, ocorre o já comentado aumento da fração volumétrica de ferrita delta
para tempos curtos de solubilização, conforme se observa na Figura 48. Este
fenômeno levou a incrementos na fração volumétrica de ferrita de cerca 40%
para a liga 1, 28% para a liga 4 e 19% para a liga 3 e aparentemente
independe da fração inicial de ferrita delta.
Após o incremento inicial, o processo de dissolução prossegue.
Assim como demonstrado pelos dados apresentados anteriormente, para a liga
1 se observa uma dissolução mais eficiente, ao passo que na liga 3 quase não
há variação da quantidade de ferrita em relação à condição inicial.
Quando se analisa a temperatura de 1150°C (vide Figura 49), se
observa que a liga 1 não apresenta aumento da fração volumétrica de ferrita
para tempos curtos, sendo ainda perceptível para a liga 4. Já na liga 3 este
efeito é bastante pronunciado. Verifica-se também que para a temperatura de
1150°C a dissolução da ferrita é mais efetiva para as ligas 1 e 4, em
comparação com a liga 3.
Para a temperatura de 1250°C, observa-se no gráfico da Figura 50 que
apenas a liga 3 apresenta aumento na fração volumétrica de ferrita delta em
tempos curtos de tratamento. Os resultados da liga 1 indicam que a
velocidade de dissolução da ferrita é elevada. Por outro lado, mesmo para
tempos longos a liga 4 não apresenta dissolução completa da ferrita.
84

É provável que a composição da austenita já não permita que mais elementos


possam enriquecer sua estrutura por difusão, levando o sistema ao equilíbrio.

Figura 48 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta das ligas 1, 3 e 4 em função


do tempo de solubilização a 1050ºC. Resultados de ferritoscopia.

Figura 49 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta das ligas 1, 3 e 4 em função do


tempo de solubilização a 1150ºC. Resultados de ferritoscopia.
85

No caso da liga 3, o fenômeno de aumento da quantidade de ferrita é


mais acentuado para a maior temperatura de solubilização, de 1250ºC. Neste
caso, há um incremento de mais de 40% na fração volumétrica de ferrita.
Outra particularidade mostrada na Figura 50 é que a fração volumétrica de
ferrita continua aumentando, fenômeno que é acompanhado pelo
coalescimento das áreas de ferrita, como observado nas imagens da Figura 47.
Estes resultados indicam que durante a exposição da liga 3 à temperaturas
elevadas, a busca pela condição de equilíbrio termodinâmico envolve a
formação de maiores quantidades de ferrita, e não a sua dissolução.

Figura 50 - Evolução da fração volumétrica de ferrita delta das ligas 1, 3 e 4 em função do


tempo de solubilização a 1250ºC. Resultados de ferritoscopia.

Os resultados apresentados no presente trabalho são coerentes com as


observações de Kinoshita et al [4 de 25], que reportam um aumento da fração
volumétrica de ferrita delta no estágio inicial do tratamento de solubilização de
aços inoxidáveis AISI 304. Kajihara et al [22 de 25] relatam fenômeno
semelhante em ligas do sistema ternário Fe-Cr-Ni. Estes autores explicam que
o aumento da quantidade de ferrita no início do tratamento de solubilização
está relacionado à maior velocidade de difusão dos átomos de cromo e níquel
na ferrita, sendo pelo menos 30 vezes maior do que na austenita. Eles
86

também consideram que a composição química na interface entre as fases


ferrita e austenita, que mantêm equilíbrio termodinâmico, pode variar ao longo
das linhas de ligação do sistema ternário Fe-Cr-Ni. Entretanto, no estágio
inicial, a dissolução seria controlada pela difusão de átomos na fase ferrítica.
Kim et al [25] estudando a cinética de dissolução de ferrita delta no aço
inoxidável AISI 304, obtido pelo processo de fundição de tiras, não observaram
o aumento inicial na quantidade de ferrita durante os tratamentos de
solubilização. Os autores atribuem este resultado à pequena espessura da
ferrita delta presente nas amostras, da ordem de 1,0µm, sem variações nos
perfis de concentração que justificassem a ocorrência de difusão na ferrita.

5.4 ENVELHECIMENTO A 475°C

O envelhecimento realizado na temperatura de 475°C por períodos que


variaram de 1 a 900 horas teve como principal objetivo acompanhar a
precipitação da fase denominada de alfa linha (a’). Como esta fase é de difícil
visualização e identificação, tanto por técnicas diretas de observação tais como
microscopia óptica e eletrônica de varredura, como pela técnica de difração de
raios X, em virtude de semelhanças nas amplitudes de espalhamento de Fe e
Cr; um dos meios utilizados para seu estudo é o incremento de dureza
provocado na fase ferrítica. Em função disto foram realizados ensaios de
microdureza Vickers (na ferrita) em todas as amostras estudadas. No gráfico
da Figura 51 são apresentadas curvas de variação de dureza em função do
tempo de envelhecimento a 475ºC, para as três ligas fundidas.
Observa-se que a precipitação de alfa linha (a’) promove aumento de
dureza da fase ferrítica para as três ligas ensaiadas em função do tempo de
envelhecimento. As dispersões nos valores de dureza são apresentados nas
curvas na forma de barras de erro (desvios-padrões) na Figura 51. Esta
dispersão pode ser atribuída, principalmente à distribuição e morfologia da fase
ferrítica. A liga 3 apresenta valores de dureza um pouco superiores aos da
liga 4, assim como esta em relação à liga 1. Este comportamento pode ser
atribuído à maior fração volumétrica de ferrita delta das ligas 3 e 4 em relação a
liga 1, bem como às diferenças de composição química nas áreas de ferrita
87

presentes nas ligas, especialmente os valores de cromo e níquel. Como visto


anteriormente (Tabela 15) os resultados de microanálise química via EDS
mostram que os teores de cromo da ferrita nas ligas 3 e 4 são superiores aos
da liga 1. Padilha et al [9] mencionam que ligas contendo de 25 a 30%Cr
chegam a dobrar os valores de dureza, ligas com 21%Cr aumentam até 80% e
ligas com até 18%Cr chegam a 50% de aumento dos valores de dureza. No
presente estudo, após 300 horas de envelhecimento a 475°C, o aumento de
dureza para a liga 1 foi de 84%, para a liga 3 de 104% e para a liga 4 de 84%.
Estes incrementos de dureza são superiores aos relatados pelos autores
citados anteriormente.

Figura 51 - Resultados de dureza Vickers na fase ferrítica nas ligas CF8M envelhecidas a
475°C

A precipitação da fase alfa linha (a’) pode ocorrer por nucleação e


crescimento ou por decomposição espinodal, o que, segundo alguns autores
[3,9,49,66], depende fundamentalmente da composição química e da
temperatura de transformação. Em função da composição pode-se atribuir
que as ligas 3 e 4 com maiores teores de cromo apresentam maiores valores
de dureza que a liga 1 conforme pode ser observado pelas curvas do gráfico da
Figura 51. As mesmas curvas também indicam que a liga 3 apresenta maior
88

cinética de envelhecimento que as demais ligas, pois com 10 horas de


tratamento térmico já são alcançados valores de dureza significativamente
maiores. Outro fator que pode favorecer a precipitação de fase alfa linha (a’) é
a maior difusividade da maioria dos elementos, especialmente o cromo, na
ferrita que na austenita, conforme pode ser comprovado na Tabela 7.
Como visto anteriormente, os teores de cromo das ligas 3 e 4 são
superiores ao da liga 1, favorecendo a cinética de envelhecimento, bem como a
obtenção de maiores valores de dureza. Este comportamento também foi
observado por Folkhard [3], estudando ligas com teores crescentes de cromo,
de 16,3; 19,9; 23,4 e 30,4%; e realizando o envelhecimento a 475°C por 500
horas. Este autor não observou aumento significativo de dureza para a liga
com o menor teor de cromo, sendo que obteve ganhos mais expressivos para
os maiores teores de cromo das demais ligas; também comprovou que quanto
maior o tempo de envelhecimento, maiores são os valores de dureza para aços
contendo de 26 a 30% de cromo.
Avaliando o início e o fim do processo de fragilização de 475°C, com
auxílio de diagramas TTT, Folkhard [3] verificou que para uma liga com 18% de
cromo e 2% de molibdênio o início da transformação se dá em torno de 20
minutos de tratamento térmico; ao passo que o final do processo ocorre em
tempos pouco superiores a 10 horas. Contudo, vale mencionar que o aço
estudado não continha níquel. Os resultados obtidos no presente trabalho não
condizem com o descrito pelo referido autor. Mesmo para tempos superiores
a 300 horas ainda não se observa tendência à estabilização da dureza da liga
1. Por outro lado, valores maiores de dureza para a liga 1 foram registrados
somente para tempos superiores a 150 horas, o que de certa forma vem de
encontro ao relatado por Folkhard [3].
Sahu et al [67] também observaram que uma liga de ferro contendo 45%
de cromo apresentou menores valores de dureza Vickers que outra semelhante
com adição de 5% de níquel. Kwon et al [66], envelhecendo um aço CF8M a
430°C por até 3600 horas, constataram que a dureza na ferrita subiu até
aproximadamente 300 horas e se estabilizou para tempos maiores. No
presente trabalho, apesar dos picos de dureza encontrados para tempos
próximos a 300 horas, não se observa tendência de estabilização dos valores
89

de dureza para tempos de até 900 horas. Estudos complementares,


envolvendo envelhecimentos por tempos mais longos, poderão ajudar a
esclarecer estes aspectos.

5.5 ENVELHECIMENTO A 800°C

Amostras das ligas 1, 3 e 4 foram envelhecidas a 800ºC em tempos de


1, 6 e 12 horas, com o objetivo de estudar de maneira prospectiva a
precipitação da fase sigma (s). As amostras foram previamente solubilizadas
a 1150ºC durante 1 hora. Os resultados do ensaio de microdureza Vickers
podem ser observados no gráfico da Figura 52. Observa-se que a formação
de sigma promove um contínuo incremento de dureza nas três ligas, para os
tempos de envelhecimento utilizados. Após 12 horas de envelhecimento, as
ligas 3 e 4 apresentam aumentos mais significativos de dureza em relação à
liga 1. Especialmente para as ligas 3 e 4 se observa que os valores de dureza
aparentemente ainda não estão estabilizados, ao passo que na liga 1 não há
variação significativa nos valores de dureza entre 6 e 12 horas. Vale
mencionar que os valores de microdureza Vickers apresentados foram obtidos
por meio de medidas na fase ferrítica. Isto se deve ao fato da formação de
sigma ocorrer primeiro na ferrita, em função da maior difusividade da estrutura
CCC e dos maiores teores de cromo e molibdênio nesta fase.
Os ganhos de dureza nas amostras envelhecidas a 800°C por 12 horas,
em função da precipitação da fase sigma, para as ligas 1, 3 e 4,
comparativamente às amostras somente solubilizadas, foram respectivamente
de 48, 130 e 106% em relação aos valores de dureza iniciais da fase ferrítica.
Estes dados indicam que as ligas com maior fração volumétrica de ferrita delta
também apresentam maiores valores de dureza após a formação de fase
sigma.
Segundo Folkhard [3] o tempo para início da precipitação da fase sigma,
depende da composição química e da microestrutura da liga, podendo ser
inferior a 1 hora. Contudo, a faixa de tempo mais comum para o término desta
90

transformação se situa entre 10 e 100 horas. Kwon et al [66], investigando as


transformações de fase da liga CF8M a 700°C, relatam que os valores de
dureza Vickers geralmente aumentam rapidamente até aproximadamente 15
horas, tendendo à estabilização para tempos mais longos de envelhecimento.

Figura 52 - Resultados de dureza Vickers na fase ferrítica nas ligas CF8M envelhecidas a
800°C

A evolução da precipitação da fase sigma (s) para a liga 3 pode ser


verificada nas micrografias da Figura 53. Observa-se que entre 1 e 12 horas
há um aumento na quantidade de fase sigma precipitada, resultado que é
coerente com a variação dos valores de dureza apresentada no gráfico da
Figura 52. Fica evidenciado que a fase sigma se forma rapidamente na ferrita
e promove a sua decomposição, que segundo a literatura [9,68,69] ocorre por
uma reação do tipo eutetóide envolvendo a formação de uma austenita
secundária. Em aços inoxidáveis contendo ferrita e austenita, a precipitação
da fase sigma se inicia nas interfaces entre ferrita e austenita e caminha em
direção ao interior dos grãos ferríticos [9].
91

(a)

(b)
Figura 53 – Microestrutura de amostra da liga 3 envelhecida a 800°C– MO: a) por 1 hora e
b) por 12 horas

Para tempos maiores de envelhecimento espera-se também a formação


de sigma na fase austenítica, que ocorre inicialmente nos contornos de grão da
austenita. Na micrografia da Figura 54, obtida em amostra da liga 1
envelhecida a 800°C por 6 horas, observa-se a presença de partículas de
92

segunda fase precipitadas nos contornos de grãos da austenita (regiões


indicadas por setas). Estas partículas podem ser associadas à fase sigma (s);
entretanto, um estudo mais detalhado utilizando a técnica de microscopia
eletrônica de varredura (MEV) seria necessário para esta confirmação.

Figura 54 - Microestrutura de amostra da liga 1 envelhecida a 800°C por 6 horas – MO.

Amostras envelhecidas a 800°C por 12 horas também foram analisadas


com auxílio de MEV, para obtenção de imagens e determinação da
composição química de microrregiões. Um exemplo de região analisada é
apresentado na Figura 55.
Os resultados de microanálise química (MEV/EDS) podem ser
observados na Tabela 16. A fase sigma possui elevados teores de cromo e
molibdênio e níquel mais baixo, em comparação com a austenita secundária
(g*), que é a fase circunvizinha à fase sigma. Os resultados de composição
química mostram que a fase sigma formada na liga 3 é ligeiramente mais rica
em cromo e molibdênio que a formada na liga 4. Deve-se mencionar que a
fase sigma formada em amostras da liga 1 não teve sua composição química
determinada em função de suas reduzidas dimensões.
93

(a) (b)
Figura 55 - Exemplos de regiões analisadas pela técnica de MEV/EDS, mostrando o
interior de um grão ferrítico contendo fase sigma: a) liga 4 e b) liga 3.

Wong, et al [30] realizando a microanálise química em um aço duplex,


contendo 25% Cr e 8% Ni, envelhecido a 800°C por 168 horas, relatam a
existência de uma fase sigma com 40% Cr e 4,4%.Ni. Os teores de níquel na
fase sigma encontrados no presente trabalho são coerentes com os reportados
na literatura [30,69]. No entanto, as regiões de sigma analisadas por EDS, nas
condições de tratamento térmico estudadas neste trabalho, apresentam teores
de cromo e molibdênio menores que os descritos na literatura [69]. Entretanto,
cabe salientar que os valores crescentes de dureza do gráfico da Figura 52,
indicam que provavelmente a transformação de ferrita em fase sigma (s) ainda
não tenha se completado.

Tabela 16 – Resultados de microanálise química via EDS em ligas envelhecidas a 800°C


por 12 h.

Ligas Fases Composição química – (% em peso)


Cr Ni Mo
3 s 27,9 ± 0,8 4,0 ± 0,6 4,4 ± 0,8
g* 21,7 ± 1,7 5,9 ± 0,2 1,9 ± 0,2
4 s 25,8 ± 1,3 4,8 ± 0,7 3,5 ± 0,4
g* 22,5 ± 1,9 7,1 ± 1,7 1,9 ± 0,5
g* - austenita secundária, produto da decomposição eutetóide da ferrita.
94

Na micrografia da Figura 56 são apresentados detalhes das diferentes


morfologias encontradas na fase sigma. Pode-se observar a formação de um
“halo” na interface austenita/ferrita, com a precipitação da fase sigma iniciando
como um eutetóide de aspecto lamelar, transformando-se em um eutetóide
massivo na região central do grão ferrítico. Este fenômeno é descrito por
outros autores [66,70] e foi observado nas ligas estudadas.

Figura 56 - Micrografia obtida em MEV da liga 4 envelhecida a 800°C por 12h mostrando
a precipitação da fase sigma dentro do grão ferrítico.

Figura 57 - Micrografia obtida em MEV da liga 3 envelhecida a 800°C por 12h indicando a
orla eutetóide na ferrita.
95

Características similares podem ser observadas na micrografia da Figura


57, de amostra da liga 3 envelhecida durante 12 horas. Neste caso, o interior
da antiga fase ferrítica apresenta regiões de fase sigma com aspecto massivo.
Pode-se notar a presença de trincas provavelmente resultantes da etapa de
preparação metalográfica. Assim como na micrografia da Figura 56, observa-
se a presença da interface d/g e de certa quantidade do eutetóide lamelar
característico do início do processo de precipitação da fase sigma (junto à
interface). Nesta micrografia também são indicadas as regiões contendo a
fase austenítica secundária (g*), que constituem regiões empobrecidas em
cromo e molibdênio, o que pode ser constatado pelos resultados de EDS da
Tabela 16.
A fase sigma é um composto intermetálico de elevada dureza e
fragilidade. Diversos trabalhos [3,30,68,70] relatam o efeito prejudicial da fase
sigma nas propriedades mecânicas, tais como tenacidade e alongamento, além
da diminuição da resistência à corrosão, pois a formação de sigma resulta no
empobrecimento da matriz em cromo.

5.6 ENSAIOS MECÂNICOS

5.6.1 Ensaios de tração e dureza

Os corpos de prova das ligas fundidas foram solubilizados a 1150°C por


uma hora, sendo posteriormente usinados. Os principais resultados dos
ensaios de tração e dureza são apresentados na Tabela 17.

Tabela 17 - Efeito da fração volumétrica de ferrita delta nas propriedades de tração e


dureza Brinell (HB) das ligas CF8M.
VV – Limite de Limite de Alongamento Estricção Dureza -
ferrita Escoamento - Resistência – -% -% HB
delta - % MPa MPa
2,2 247 ± 1 473 ± 2 54 ± 3 62 ± 4 124 ± 1
4,4 253 ± 5 488 ± 2 54 ± 2 52 ± 1 130 ± 1
12,1 287 ± 3 535 ± 2 38 ± 1 46 ± 1 157 ± 1
21,4 350 ± 3 610 ± 4 37 ± 4 45 ± 1 170 ± 4
96

Os valores dos ensaios de tração da Tabela 17 são apresentados


graficamente na Figura 58. Os resultados indicam que os valores de limite de
escoamento e de limite de resistência à tração aumentam para valores
crescentes de fração volumétrica de ferrita. Como esperado, os valores de
alongamento e de estricção variam de forma inversa em relação aos limites de
escoamento, limite de resistência à tração e de dureza. Observa-se no gráfico
da Figura 58 que à medida que se aumenta a fração volumétrica de ferrita
delta, os valores de alongamento e de estricção tendem a diminuir.
Comparando os valores de resistência das ligas com menores e maiores teores
de ferrita, o ganho foi da ordem de 40% no limite de escoamento e 29% para o
limite de resistência à tração. Em relação aos dados da especificação da
Tabela 8, para ligas do aço inoxidável CF8M, somente a liga com 2,2% de
ferrita delta apresentou o valores de resistência à tração um pouco abaixo do
especificado (mínimo de 485MPa). Todos as demais ligas atendem à
especificação. Valores de limites de escoamento e limites de resistência
crescentes com a fração volumétrica de ferrita também foram relatados por
Blair [1], estudando ligas das classes CF8 e CF8M (ver Figura 13).

Figura 58 - Valores de propriedades mecânicas obtidas de tração em função da fração


volumétrica de ferrita delta.
97

Os resultados de dureza Brinell em função da fração volumétrica de


ferrita delta são apresentados na Figura 59. Estes indicam que há uma
correlação clara entre a quantidade de ferrita e os valores de dureza, pois à
medida que se aumenta a quantidade de ferrita os valores de dureza Brinell
também sobem. A liga 2, contendo aproximadamente 2,2% de ferrita delta,
apresenta uma dureza de 124 HB, ao passo que para a liga 3 (21% de ferrita)
este valor chega a 170 HB.

Figura 59 – Resultados de dureza Brinell em função da fração volumétrica de ferrita


delta.

5.6.2 Ensaios de impacto

O fenômeno de fragilização de 475°C foi estudado com auxílio de


ensaios de impacto, realizados em corpos-de-prova da liga 3. Esta liga foi
escolhida pelo fato de conter uma fração volumétrica de ferrita
consideravelmente maior que as ligas 1 e 4. Vale lembrar que a fase alfa linha
se forma apenas na ferrita. O gráfico da Figura 60 mostra os resultados de
energia absorvida em impacto (EAI) da liga 3, em função do tempo de
envelhecimento a 475°C, bem como os limites de controle para uma
confiabilidade de 95%.
98

O gráfico indica que os valores de energia absorvida diminuem à medida


que se aumenta o tempo de envelhecimento da liga a 475°C. Alguns autores
[24,31,71] também encontraram resultados similares quando testaram ligas
CF8M após envelhecimento nesta temperatura. Sahu [67] relata uma grande
redução na tenacidade de um aço inoxidável duplex DIN 1.4462 envelhecido a
475ºC.

Figura 60 – Energia absorvida em amostras da liga 3 após envelhecimento a 475°C.

Os valores de energia absorvida variaram de 200J no estado inicial (sem


envelhecimento) para aproximadamente 8J após exposição a 475ºC durante
100 horas.

5.7 ENSAIOS DE CORROSÃO

Utilizando-se a fórmula do equivalente de resistência a pite ou PRE


(Pitting Resistance Equivalent) através da equação 13 foi possível calcular a
resistência à corrosão das ligas dos aços inoxidáveis CF8M. Os resultados
podem ser observados na Tabela 18. Estes indicam a grande influência do
teor de cromo, mostrando que as ligas 1 e 2 com menor teor deste elemento
99

apresentam menor resistência à corrosão (PRE) que as ligas 3 e 4 com


maiores teores de cromo. Verifica-se também que os valores de PRE são
equivalentes às relações de Creq/Nieq. Convém lembrar que os valores de
PRE são válidos para aços inoxidáveis solubilizados, pois a presença de
carbonetos, nitretos e outras fases intermetálicas geralmente causam redução
dos teores de cromo, molibdênio e nitrogênio em solução sólida [24,32,49].
Senatore et al [47] obteve índices de PRE para aços 304L de 18, 316L de 24
(ambos na austenita) e para um super duplex S32750 de 43, comenta ainda
que é importante considerar a resistência à corrosão por pite nas duas fases,
mesmo porque há diferenças dos elementos de liga na austenita e ferrita.

Tabela 18 – Valores de relação Creq/Nieq e de PRE para as ligas estudadas.


Liga Creq/Nieq PRE
1 1,04 25,36
2 0,96 25,07
3 1,34 28,23
4 1,18 27,65

O efeito da fragilização de 475°C na resistência à corrosão das ligas


CF8M foi estudado com auxílio de ensaios de corrosão específicos. Este
estudo se justifica pelo fato de que a formação de alfa linha (a’) causa
considerável empobrecimento da ferrita em cromo. Neste caso, a ferrita passa
a apresentar precipitados (a’) ricos em cromo podendo chegar a 80% Cr
[3,9,31], e regiões pobres em cromo. Estas últimas podem se tornar
susceptíveis ao fenômeno de corrosão localizada (pitting).

5.7.1 Ensaios de imersão

Para avaliar o comportamento das amostras envelhecidas a 475°C, para


os tempos de 150, 500 e 900 horas, foi empregado o ensaio segundo a norma
ASTM G48- método A [53]. Dentre os parâmetros de avaliação recomendados
pela norma, adotou-se a medição da fração de área corroída, que foi realizada
com auxílio das técnicas de microscopia óptica e análise de imagens.
100

A sequência de micrografias apresentadas na Figura 61 ajuda a


demonstrar a evolução do processo de corrosão com o tempo de
envelhecimento a 475°C para a ligas estudadas. Cabe salientar que estas
imagens foram obtidas com nível de contraste adequado à determinação da
fração de área corroída (regiões escuras) e não permitem a individualização
das fases ferrita e austenita presentes na microestrutura. Isto será possível
com auxílio de outras imagens apresentadas adiante. Os resultados da Figura
61 mostram que o fenômeno de corrosão torna-se mais intenso com aumento
do tempo de envelhecimento a 475ºC.

t (h) Liga 1 Liga 3 Liga 4

150

500

900

Figura 61 – Micrografias de amostras das ligas 1, 3 e 4, envelhecidas a 475°C em tempos


de 150, 500 e 900 horas e ensaiadas segundo ASTM G48-A. MO, com contraste adequado
a quantificação da fração de área corroída (regiões escuras).
101

Verifica-se também que na condição inicial, sem envelhecimento, as


amostras apresentam características bastante semelhantes, com a presença
de alguns poucos pites de corrosão em locais isolados. Nas micrografias
obtidas de amostras envelhecidas durante 150 horas, se observa a presença
de algumas áreas corroídas, sendo estas constituídas por agrupamentos de
cavidades de corrosão.
Entre 500 e 900 horas de envelhecimento a 475°C se observa que o
fenômeno de corrosão se intensifica. Após 900 horas de envelhecimento, as
microestruturas das ligas apresentam baixa resistência à corrosão,
promovendo a formação de uma grande quantidade de cavidades de corrosão
ao longo de toda a extensão das amostras. As micrografias da Figura 62
revelam que o início do processo de corrosão invariavelmente se dá nas
regiões de ferrita, em função dos menores teores de cromo em solução sólida
resultantes do processo de precipitação de alfa linha nesta fase. Este
comportamento foi verificado em todas as amostras envelhecidas, tornando-se
mais intenso com o aumento do tempo de envelhecimento.
Nas amostras não envelhecidas não foi possível atribuir a origem dos
pites de corrosão à fase ferrítica. Vale mencionar que o fenômeno de corrosão
se mostrou bastante heterogêneo, o que também pode ser constatado nas
micrografias da Figura 62. Observa-se que, em certos casos, a ferrita
apresenta-se totalmente corroída, gerando cavidades semelhantes à sua forma
original. Em outros casos, são observadas grandes cavidades de corrosão,
englobando tanto regiões adjacentes de ferrita, como a matriz austenítica.
Park e Kwon [49] realizando um ensaio eletroquímico em amostras de aço
inoxidável duplex, envelhecidas por 100, 300 e 1000 horas a 475°C, também
constataram que a incidência de pitting ocorreu preferencialmente na fase
ferrítica.
A evolução da área corroída (%) com o tempo de envelhecimento a
475ºC, para as ligas 1, 3 e 4, é apresentada no gráfico da Figura 63. De uma
forma geral, se observa que as áreas totais corroídas das ligas aumentam com
o tempo de envelhecimento a 475°C. As maiores amplitudes dos desvios-
padrão, representadas no gráfico por barras de erro, demonstram a grande
heterogeneidade do processo de corrosão.
102

Considerando o maior tempo de envelhecimento utilizado (900h), a liga 1


apresenta área corroída consideravelmente menor que a das ligas 3 e 4,
provavelmente em função de sua menor quantidade de ferrita e também menor
teor de cromo. Este resultado é coerente com as observações anteriores, de
que a formação de alfa linha pode comprometer a resistência à corrosão de
aços inoxidáveis contendo ferrita, pois a mesma se forma apenas nesta fase.
Sendo assim, poder-se-ia afirmar que quanto maior a quantidade de ferrita,
maior seria a parcela da microestrutura susceptível à corrosão. Entretanto as
ligas 3 e 4 apresentam comportamento semelhante, como mostra o gráfico da
Figura 63, mesmo possuindo a liga 3 quase o dobro da quantidade de ferrita da
liga 4.

(a) (b)

(c) (d)

Figura 62 – Micrografias de amostras envelhecidas a 475°C, após ensaio de imersão em


cloreto férrico a 10% em água, evidenciando a corrosão preferencial em áreas de ferrita:
a) liga 1 - 500h; b) liga 3 - 150h; c) liga 4 - 900h e d) liga 3 - 500h. MO.
103

O comportamento à corrosão pode, neste caso, estar associado aos


teores de cromo em solução sólida, que são bastante semelhantes nas duas
ligas.
O gráfico da Figura 63 mostra ainda que a intensidade de corrosão das
ligas 1, 3 e 4 é muito similar para tempos de até 500 horas de envelhecimento.
As diferenças de comportamento descritas anteriormente são notadas apenas
para o tempo de 900 horas, o que pode indicar que a influência da fase alfa
linha, em empobrecer a matriz em cromo, ganha importância apenas para
tempos longos de exposição a 475ºC. Para tempos mais curtos, os teores de
cromo em solução sólida parecem controlar a resistência à corrosão. Estas
observações são coerentes com os resultados de microdureza em amostras
envelhecidas apresentados no gráfico da Figura 51, onde se observa que o
aumento de dureza devido a alfa linha é mais intenso para tempos mais longos
de envelhecimento. Fritz [43] afirma que a fase alfa linha, rica em cromo, não
possui grande impacto sobre as propriedades de corrosão, mas sua formação
pode levar a uma perda substancial de tenacidade. Por este motivo o
fenômeno é conhecido como fragilização de 475ºC.

Figura 63 – Variação da área corroída (%) com o tempo de envelhecimento a 475°C, para
amostras das ligas 1, 3 e 4, após ensaios segundo ASTM G48.
104

Mariano et al [72] estudando o efeito da taxa de resfriamento na


corrosão de aços inoxidáveis martensíticos, por imersão em meio marinho
sintético a 60°C após 672 horas, observaram a ocorrência de corrosão
localizada e concluíram que a densidade de pites por área aumenta em função
da taxa de resfriamento.

5.7.2 Ensaios eletroquímicos

Amostras da liga 3 envelhecidas a 475ºC por 100, 300 e 700 horas


foram submetidas ao ensaio de corrosão eletroquímica. Os resultados podem
ser observados no gráfico da Figura 64.

Figura 64 – Curvas de polarização anódica de amostras da liga 3 envelhecidas a 475°C


por 100, 300 e 700 horas e amostra sem envelhecimento.

Observa-se neste gráfico que a amostra sem envelhecimento não


apresentou variação na densidade de corrente, o que permite supor que não
houve corrosão significativa nesta amostra. A amostra envelhecida por 100
horas apresentou comportamento similar à sem envelhecimento até o potencial
de 0,6V; a partir do qual se observa uma pequena inclinação, indicando leve
aumento da densidade de corrente a partir deste ponto, o que pode ser
atribuído à ocorrência de pitting. Para as amostras envelhecidas por 300 e
105

700 horas se observa considerável elevação da densidade de corrente a partir


de aproximadamente 0,6V, indicando a ocorrência de dissolução anódica
efetiva do metal (pitting). As curvas relativas a estas amostras apresentam
uma região de transição entre 0,6 e 0,8V, caracterizada pela rápida elevação
da densidade de corrente, sendo este fenômeno mais intenso para a amostra
envelhecida durante 700h. A partir de aproximadamente 0,8V as curvas
passam a apresentar comportamento bastante similar. A amostra sem
envelhecimento apresenta menor densidade de corrente que as amostras
envelhecidas, o que indica maior taxa de corrosão destas em relação à
primeira. As micrografias das amostras submetidas ao ensaio de corrosão
eletroquímica são apresentadas na Figura 65.

(a) (b)
Sem envelhecimento 475ºC/100h

(b) (b)
475ºC/300h 475ºC/700h

Figura 65 - Micrografias de amostras da liga 3 após ensaio de polarização anódica em


solução PBS. Notar a maior incidência de pites de corrosão nas amostras envelhecidas
a 475ºC por 300 e 700h.
106

Observa-se que a densidade de pites de corrosão aumenta com o tempo


de envelhecimento a 475ºC, resultado que é coerente com as curvas de
polarização anódica, apresentadas no gráfico da Figura 64. Pode-se associar
a menor resistência à corrosão das amostras envelhecidas por 300 e 700 horas
com a precipitação da fase alfa linha (a’), que foi verificada pela variação dos
valores de dureza nestas amostras, conforme se pôde constatar na Figura 66.
Terada et al [32], estudando a resistência à corrosão dos aços DIN 1.4575 e
MA 956 envelhecidos a 475°C, por meio de ensaios eletroquímicos, também
relatam um aumento da densidade de pites com o tempo de envelhecimento.
107

6 CONCLUSÕES

As principais conclusões do presente trabalho são as seguintes:

1) O diagrama de Schoefer mostrou ser uma ferramenta adequada para


a previsão da quantidade de ferrita na microestrutura de aços inoxidáveis
fundidos CF8M. Os resultados de quantificação de ferrita pelo método de
ferritoscopia apresentaram boa correlação com os valores previstos por este
diagrama;

2) Relações Creq/Nieq crescentes favorecem a obtenção de maiores


frações volumétricas de ferrita delta após solidificação, com morfologias
variando de interdendrítica (esqueleto) para dendrítica em forma de rede e/ou
lamelar. Maiores quantidades de ferrita delta proporcionam elevação dos
limites de resistência à tração, de escoamento e dos valores de dureza, com
conseqüente redução no alongamento total e estricção;

3) Para as condições de solubilização utilizadas neste trabalho


observou-se completa dissolução de ferrita delta para a liga 1. Neste caso, a
taxa de dissolução foi mais elevada para temperaturas mais altas. Na liga 4
houve dissolução parcial de ferrita, acompanhada de intensa fragmentação e
esferoidização da mesma. Para as menores temperaturas de solubilização, não
se observou dissolução significativa de ferrita para a liga 3. Contudo, a
solubilização a 1250ºC resultou no aumento da fração volumétrica de ferrita
delta, acompanhada por intenso coalescimento das lamelas desta fase;

4) Durante a solubilização das ligas observou-se o aumento da


quantidade de ferrita na fase inicial do tratamento. De uma maneira geral, este
fenômeno foi mais intenso para temperaturas mais altas e frações volumétricas
de ferrita maiores. Atribui-se este resultado à maior difusividade de elementos
de liga na ferrita e às variações de composição química ao longo das interfaces
ferrita/austenita;
108

5) O envelhecimento das ligas CF8M a 475°C resultaram no aumento de


dureza da fase ferrítica. Este efeito foi mais intenso para maiores tempos de
envelhecimento e para as ligas contendo frações volumétricas de ferrita delta
mais elevadas. O fenômeno de fragilização de 475ºC foi constatado por meio
de ensaios de impacto e de corrosão. Maiores tempos de envelhecimento
resultaram em menor tenacidade ao impacto e na redução da resistência à
corrosão das ligas;

6) O envelhecimento a 800°C das ligas CF8M resultou na formação de


fase sigma, precipitada preferencialmente a partir das interfaces
ferrita/austenita, em direção ao interior da fase ferrítica. A fase sigma
apresentou aspecto de um eutetóide lamelar próximo à interface e massiva no
centro.
109

7 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

1) Realizar mapeamentos de MEV/EDS em amostras brutas de fundição e


solubilizadas, visando estudar a segregação de elementos de liga e sua
influência nos mecanismos de solubilização de ferrita;

2) Estudar o fenômeno de fragilização de 475°C com auxílio de ensaios de


tenacidade à fratura e de resistência à fadiga;

3) Aprofundar o estudo da resistência à corrosão das ligas por meio de ensaios


eletroquímicos em amostras no estado bruto de fundição e após tratamentos
térmicos de envelhecimento a 475°C e a 800°C.
110

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9 ANEXOS

ANEXO I - ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS E AVALIAÇÃO DE


DESEMPENHO

Segundo a norma ISO/DIS 13528 – Statistical methods for use in proficiency


testing b y interlaboratory coparisons.

O Escore Z da media das três medições de cada laboratório, foi obtido pela
equação:

Fórmula para cálculo do Escore Z:


( xi - x ** )
Z=
s **
Onde: xi é a média aritmética dos resultados obtidos pelo
participante;
x ** é o valor da média do conjunto das novas médias dos
participantes, calculadas em xi;
s ** é o desvio do grupo calculado.

Roteiro para os cálculos intermediários:

1) Cálculo da estimativa da média robusta: x * = (mediana) xi (i=1,2,3...,p)

[
2) Cálculo do desvio robusto: s * = 1,483 × mediana xi - x * ]
3) Cálculo da correção dos valores: d = 1,5 × s *

4) Cálculo das novas médias para cada participante:

xi * = x * - d , se xi < x * - d
xi * = x * + d , se xi > x * + d
xi * = xi caso contrário

5) Cálculo da média robusta e desvio robusto (que serão utilizados para o


cálculo do Z):
x ** = å xi * p

s ** = 1,134 × å ( xi *
- x ** ) 2 /( p - 1)

Os desempenhos dos laboratórios são classificados como satisfatório,


questionável ou insatisfatório, para cada um dos parâmetros em análise,
conforme o valor do Escore Z:
118

Se: Z £2 Resultado satisfatório


2< Z <3 Resultado questionável
Z ³3 Resultado insatisfatório

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