Você está na página 1de 37

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA


Curso de Graduação em Engenharia de Materiais

LUIZ AUGUSTO DE OLIVEIRA RODRIGUES

ELABORAÇÃO DE UMA EQUAÇÃO MULTILINEAR

PARA A PREVISÃO DAS PERDAS TÉRMICAS

EXISTENTES NO PROCESSO DE REFINO

SECUNDÁRIO DO AÇO.

Lorena
2014
LUIZ AUGUSTO DE OLIVEIRA RODRIGUES

ELABORAÇÃO DE UMA EQUAÇÃO MULTILINEAR

PARA A PREVISÃO DAS PERDAS TÉRMICAS

EXISTENTES NO PROCESSO DE REFINO

SECUNDÁRIO DO AÇO.

Trabalho de graduação apresentado ao


Curso de Engenharia de Materiais da
Universidade de São Paulo, como
requisito parcial à obtenção do título de
Engenheiro de Materiais.

Orientador: Prof. Dr. Messias Borges Silva


Co-Orientador: Thiago Augusto Ávila

Lorena
2014
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 1
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .................................................................................. 2
2.1 ACIARIA ELÉTRICA .......................................................................................... 2
2.1.1 Refino primário............................................................................................. 2
2.1.2 Refino secundário ........................................................................................ 3
2.1.3 Lingotamento ............................................................................................... 3
2.2 CONTROLE DA TEMPERATURA DO AÇO LÍQUIDO ...................................... 5
2.3 DEFEITOS RELACIONADOS À TEMPERATURA DE LINGOTAMENTO ......... 6
2.4 PERDAS TÉRMICAS EXISTENTES NA PANELA............................................. 9
2.4.1 Etapa de pré-aquecimento de panela ........................................................ 10
2.4.2 Etapa de espera para vazamento .............................................................. 12
2.4.3 Etapa de desgaseificação .......................................................................... 13
2.5 INFLUÊNCIA DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA NA TEMPERATURA DO AÇO ... 14
2.6 ANÁLISE DOS DADOS ................................................................................... 15
2.6.1 Modelos de regressão linear ...................................................................... 15
2.6.2 Pressupostos para a elaboração de uma equação linear adequada ......... 16
2.6.2.1 Coeficiente de correlação linear de Pearson (R) ................................. 16
2.6.2.2 Coeficiente de determinação (R²) ........................................................ 17
2.6.2.3 Coeficiente de determinação ajustado (R²aj) ....................................... 18
2.6.2.4 Teste de hipóteses .............................................................................. 18
2.6.2.5 Região crítica ....................................................................................... 19
2.6.2.6 Nível de significância ........................................................................... 19
2.6.2.7 P-Valor................................................................................................. 19
2.6.2.8 Análise de resíduos ............................................................................. 20
3 METODOLOGIA ................................................................................................... 22
3.1 MONITORAMENTO DA TEMPERATURA ....................................................... 22
3.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA .................................................................................. 23
3.3 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS ANALISADAS .................................................. 23
4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................................... 25
5 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 30
6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .................................................... 31
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 32
1

1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento do setor automobilístico mundial traz consigo uma


crescente demanda por grandes quantidades de aço. Neste cenário, se inserem as
indústrias siderúrgicas, que buscam aprimorar seus produtos para continuarem
presentes neste mercado de crescente exigência por alta qualidade e baixo custo.

A introdução da metalurgia de panela, ou de refino secundário, contribuiu


fundamentalmente para o atendimento deste aumento de qualidade exigido.
(CHRIST, 2001). Porém, com uma nova etapa de refino inserida no processo, o
tempo de residência do aço na panela foi prolongado. A consequência direta deste
maior tempo de processamento foi o aumento das perdas térmicas ao longo do
processo. Assim, o entendimento dos fatores que controlam as perdas térmicas do
aço líquido se tornou de fundamental importância para que se pudessem atingir os
níveis de qualidade adequada ao material fabricado.

Diversas técnicas e ferramentas vêm sendo implantadas para este controle do


processo. Como exemplos, podem ser citados vários trabalhos de monitoramento de
temperaturas e modelamentos matemáticos para previsão e controle da temperatura
do aço líquido durante o processo de refino secundário no forno panela.

O presente trabalho, desenvolvido juntamente à Gerdau – Aços Especiais


Pindamonhangaba, tem como objetivo geral a identificação dos fatores que
acarretam em perdas térmicas no processo de refino secundário, visando prever a
temperatura que o aço líquido apresentará ao final do processo do refino secundário.

Ao final do trabalho, foi proposto um modelo matemático para previsão da


temperatura de liberação do aço para o lingotamento contínuo. Com o conhecimento
das variáveis do processo, é possível se prever uma temperatura ótima de liberação,
diminuindo a dispersão das temperaturas na fabricação do aço.
2

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 ACIARIA ELÉTRICA

Primeiramente, será apresentado ao leitor o ciclo básico de produção do aço


em uma aciaria elétrica, para que este se localize no cenário em que este trabalho
se insere.
Um modelo básico do processo é apresentado por Bradaschia (1986) e um
maior detalhamento sobre os processos presentes em uma aciaria elétrica pode ser
encontrado na referência bibliográfica Fruehan (1998).

2.1.1 Refino primário

Etapa onde se é feita a fusão da matéria-prima, basicamente sucata de aço,


seguida de adições de ligas para o refino. Este refino primário tem como principal
objetivo o acerto dos teores de carbono, manganês, silício e fósforo do aço líquido.
O processo de refino primário pode ser dividido em três operações básicas:

Carregamento

A sucata de aço é distribuída em cestos de forma criteriosa em função de seu


tipo e densidade, visando à diminuição do impacto gerado pelo contato da carga
com os refratários e o atendimento da composição química exigida para cada
qualidade de aço. Em seguida, estes cestos abastecem um Forno Elétrico a Arco
(FEA) para que este funda esta sucata.

Fusão

Nesta etapa é formada a carga líquida de aço. A fusão da carga de sucata se


dá devido à energia liberada pelo arco elétrico estabelecido entre a carga metálica e
os eletrodos de grafite.

Oxidação

Nesta fase, ocorre a insuflação de oxigênio no banho metálico com o objetivo


principal de se reduzir as quantidades de carbono e fósforo do mesmo. Ao fim desta
etapa, toda a escória formada é retirada a fim de se evitar a reversão de fósforo para
o banho nas etapas que se seguem.
3

2.1.2 Refino secundário

Etapa que consiste num ajuste fino de composição química e acerto de


temperatura para o lingotamento. As operações de refino secundário podem ser
divididas em dois principais equipamentos:

Forno Panela

Nesta etapa, a própria panela é utilizada como reator para as operações de


refino. Dentre as principais operações realizadas nesta etapa estão a dessulfuração,
onde se é retirado o enxofre do banho metálico, a adição de elementos de liga para
o ajuste da composição química do aço em questão e o acerto da temperatura de
liberação para a etapa de lingotamento.

Desgaseificador

Nesta etapa, o aço líquido é submetido a um sistema de vácuo com o objetivo


de eliminar gases dissolvidos no banho, como nitrogênio, oxigênio e principalmente
o hidrogênio.

2.1.3 Lingotamento

Após o refino, o aço é então solidificado. Esta solidificação pode ser feita de
duas maneiras:
 Lingotamento Convencional;
 Lingotamento Contínuo.

Lingotamento Convencional

O vazamento do aço é feito diretamente da panela para a lingoteira e mantido


aí até que esteja solidificado. Segundo CHRIST (2001), a grande aplicação deste
tipo de lingotamento se deve à simplicidade da operação e a um mínimo de controle
da temperatura de lingotamento exigido.
4

Lingotamento Contínuo

Neste tipo de lingotamento, a solidificação do aço se dá de forma contínua. O


aço da panela é transferido a um distribuidor através de um canal refratário e este
distribuidor distribui o aço líquido em moldes em veios de lingotamento. A extração
contínua do aço é possibilitada devido à solidificação rápida do aço dentro do molde.
Esta solidificação rápida gera uma “casca” sólida que apresenta propriedades
mecânicas suficientes para que seja tracionada.

Portanto, como visto, após o vazamento do aço no refino primário, todas as


ações subseqüentes são executadas com aço líquido dentro da panela. No passado,
como apresentado por Volkova (2003), as panelas eram utilizadas apenas para o
transporte do aço líquido e atualmente, estas atuam como reatores versáteis, onde
são realizadas operações de homogeneização, dessulfuração e ajustes térmicos e
químicos. Para exemplificar, a figura 1 apresenta um ciclo básico de uma aciaria
elétrica.

Figura 1. Ciclo de produção de aço de uma aciaria elétrica

ADAPTADO: \\gerdau.com.br (2005)


5

2.2 CONTROLE DA TEMPERATURA DO AÇO LÍQUIDO

A busca incessante pelo aumento do rendimento metálico e pela redução das


perdas por sucateamento no processo de lingotamento foi o principal motivo da
substituição do método de lingotamento convencional pelo lingotamento contínuo,
segundo Reis e Chevrand (1998). Este método contínuo de lingotamento apresenta
as seguintes vantagens em relação ao lingotamento convencional: (CHRIST, 2001)

 Facilidade de controle de processo;


 Melhor Rendimento;
 Economia de energia;
 Economia de mão-de-obra;
 Melhoria do controle de qualidade do produto;
 Redução dos níveis de estoque.

Em contrapartida a estas vantagens de processamento, no lingotamento


contínuo a temperatura de lingotamento é de extrema importância para a qualidade
final do produto lingotado e seu controle deve ser muito mais rigoroso se comparado
ao lingotamento convencional.

A temperatura de lingotamento é função da temperatura líquidus de cada


qualidade de aço, ou seja, a temperatura abaixo da qual o aço começa a se
solidificar. É acrescentado a esta temperatura líquidus um sobreaquecimento para
que as perdas térmicas existentes no processo sejam compensadas. Este
sobreaquecimento, quando inadequado, pode gerar perdas em diferentes aspectos,
como aspectos metalúrgicos e econômicos.

Com isso, é importante que o processo de aquecimento do aço antes do


lingotamento seja bem controlado e preciso para que o sobreaquecimento esteja
adequado aos padrões exigidos, garantindo assim a qualidade de aço.
6

2.3 DEFEITOS RELACIONADOS À TEMPERATURA DE LINGOTAMENTO

Solidificação
O comportamento da solidificação do aço dentro do molde no lingotamento
contínuo é bastante influenciado pela temperatura. Pode ser observada a formação
de três diferentes zonas no material solidificado. A primeira zona a se formar, a zona
coquilhada, é formada por grãos pequenos e equiaxiais provenientes da rápida troca
térmica entre o aço líquido e o molde refrigerado. A zona colunar é formada em
seguida e é caracterizada por grãos maiores e mais alongados, que são solidificados
alinhados à extração do calor. A última zona formada é a zona equiaxial. Esta zona
é formada por grãos equiaxiais maiores que os da zona coquilhada, porém, menores
que os grãos da zona colunar. A representação da estrutura de solidificação pode
ser visualizada na figura 2. De acordo com Lopes (2007), esta estrutura influencia
significativamente a qualidade do produto lingotado, sendo um produto com maior
zona colunar mais sensível à formação de defeitos e macrosegregação.

Figura 2. Desenho esquemático da estrutura de solidificação.

ADAPTADO: SZEKERES, 2005.

Lait (1982) avaliou o efeito da temperatura de lingotamento com o


crescimento da zona colunar. Os resultados são exibidos na figura 3. Pode se notar
que maiores temperaturas resultam em uma maior zona colunar, o que
consequentemente gera um material com qualidade inferior.
7

Figura 3. Comportamento das zonas de solidificação em função da temperatura.

ADAPTADO: LAIT et al., 1982, p. 5.

Trincas

Como visto anteriormente, uma maior temperatura de lingotamento origina um


material com maior zona colunar em sua estrutura de solidificação. O comprimento
da zona colunar também é determinante para o surgimento de trincas internas. Uma
estrutura com longa zona colunar tende a aumentar a severidade da segregação e
da porosidade. Logo, a temperatura de lingotamento deve ser a menor possível para
se obter um produto isento de trincas. (SCHWERDTFEGER, 2006)

Limpidez do aço

O nível de limpeza de um aço é caracterizado pela quantidade presente em


sua estrutura de fases na forma de óxidos, sulfetos e oxisulfetos, chamadas de
inclusões. Segundo Ferreira (2000), estas inclusões podem ser geradas em várias
etapas do processamento do aço, desde o forno elétrico, onde podem ser
transferidas na passagem de escória para o forno panela, até o distribuidor, onde
podem ser geradas devido a algum ponto em que o aço entre em contato com o
ambiente, provocando sua reoxidação. A limpeza do aço é controlada por práticas
como o controle da passagem de escória do forno elétrico para o forno panela, a
injeção de gás inerte para se promover a flotação das inclusões, a eliminação dos
pontos de reoxidação, entre outras práticas que são citadas por Zhang et al (2002).
Porém, embora a maioria das partículas de óxidos flotem durante o
borbulhamento com gás inerte, parte delas são levadas para o molde. O número de
partículas removidas é também função da temperatura de processamento, segundo
o estudo de Kitamura et al (1987).
8

Matos et al (1983) avaliou a relação entre o índice de inclusões e a


temperatura de lingotamento. Os resultados do estudo estão apresentados na figura
4. Pode ser notado que existe uma temperatura ótima de lingotamento onde se é
atingido o índice de máxima limpidez. O aumento do índice de inclusões em baixas
temperaturas é devido ao incremento da viscosidade do aço, o que dificulta a
flotação das inclusões. Já em altas temperaturas, este aumento se deve a maior
cinética das reações entre o aço e os refratários. (LOPES, 2007).

Figura 4. Relação entre o índice de macroinclusões e a temperatura de lingotamento.

ADAPTADO: MATOS et al (1983)

Um maior detalhamento sobre a geração e as conseqüências destes defeitos


na produção do aço podem ser encontrados em Matos et al. (1983), Irving (1993),
Brimacombe (1999), Szekeres (1999) e Schrewe (1987).

Sobre o aspecto econômico, o sobreaquecimento desnecessário acarreta um


maior consumo de eletrodo e energia. Segundo Ferreira (2000), uma maior
temperatura do aço na panela também gera um maior consumo de refratário, tanto
pela elevação da cinética de reação do aço e da escória com os refratários, quanto
pelo ataque do arco elétrico.

Ainda segundo Ferreira (2000), o controle da temperatura implica na redução


das dispersões do processo, como dispersões de temperatura no Forno Panela, no
Desgaseificador e principalmente na temperatura do Lingotamento Contínuo o que
pode reduzir a incidência dos defeitos citados acima. Portanto, são de fundamental
importância o conhecimento e o controle dos parâmetros e das perdas térmicas
existentes, para se evitar tais dispersões no decorrer do processo.
9

2.4 PERDAS TÉRMICAS EXISTENTES NA PANELA

Devido ao grande tempo de permanência do aço líquido na panela para


processamento, as perdas térmicas existentes nesta etapa tornam-se significativas.
O ciclo das panelas em uma aciaria pode ser dividido em duas etapas: o
tempo com aço, ou seja, o tempo em que a panela está efetivamente processando
aço líquido em seu interior, que consiste das operações de vazamento, refino
secundário e lingotamento, e o tempo sem aço, onde a panela está vazia
aguardando o próximo vazamento, que consiste das operações de preparo de
panelas, aquecimento e espera para o vazamento. O ciclo é apresentado na figura 5
adaptada de Christ (2001).

Figura 5. Possíveis ciclos de uma panela de aciaria.


Fonte: CHRIST (2001)

Durante o processamento, existem duas frentes de perdas térmicas para o


aço líquido: a perda térmica por radiação para a escória e a perda térmica por
condução para o refratário. As perdas geradas pela escória apresentam pequena
variabilidade e foram quantificadas anteriormente por Szekely e Evans (1969). Já as
perdas térmicas para a camada refratária podem chegar a 80% do total das perdas
dependendo do estado térmico das panelas (OTOMANI, 1983).
10

Devido à maior importância das perdas térmicas existentes nas camadas


refratárias, no presente trabalho serão investigados os fatores geradores de perdas
térmicas relacionados com o estado térmico da panela e seus refratários.

2.4.1 Etapa de pré-aquecimento de panela

O objetivo fundamental do pré-aquecimento das panelas é de se minimizar o


delta de temperatura existente entre o refratário e o aço líquido, visando assim se
obter uma menor perda térmica convectiva do aço para as camadas refratárias. A
equação de Fourier rege o comportamento desta perda térmica e é apresentada na
fórmula (1) citada por Barrosa (2004).

𝑑𝑇
𝑞𝑘 = −𝑘. 𝐴 𝑑𝑥 (1)

Onde qk representa a quantidade de calor transmitida por condução, k


representa a condutividade térmica, A representa a área da seção através da qual o
calor flui por condução e dT/dx representa o gradiente de temperatura na seção.

Um estudo feito por Tetrault et al (2004) comparou o comportamento da


temperatura do aço líquido em diferentes condições de pré-aquecimento da panela.
Os resultados estão apresentados na figura 6. Pode se notar que maiores
temperaturas de pré-aquecimento implicam em menores taxas de perda térmica
para o aço líquido em processamento.
11

Figura 6. Influência das condições de aquecimento na temperatura do aço.

ADAPTADO: TETRAULT et al (2004)

Considerando portanto que o aço líquido apresenta uma menor taxa de perda
térmica ao longo do processo com um pré-aquecimento efetivo, a temperatura com
que este é vazado do Forno Elétrico a Arco pode ser reduzida, segundo Perkins et
al. (2004)
Hlinka e Miller (1970) avaliaram esta influência de temperatura de pré-
aquecimento na temperatura de vazamento do aço líquido. Os resultados estão
apresentados na figura 7. Pode se notar que um pré-aquecimento de
aproximadamente 1538ºC faz com que a temperatura de vazamento do aço possa
ser decrescida em 55ºC se comparada com a temperatura de vazamento de um aço
em uma panela sem pré-aquecimento.

Figura 7. Relação entre o pré-aquecimento e a temperatura de vazamento


Fonte. HLINKA, 1970, p.128.
12

A influência do tempo de aquecimento na quantidade de energia térmica


armazenada pela camada refratária foi investigada por Austin et al (1972). Os
resultados deste estudo estão apresentados na figura 8. Os autores concluem que o
tempo de pré-aquecimento necessário para o refratário atingir 90% de sua energia
térmica total é de 13h e um nível de 95% de energia total é obtido em 18h de pré-
aquecimento. Com isto, os autores concluem que este índice de encharque depende
fundamentalmente do tempo de aquecimento e muito pouco do fluxo de calor
fornecido pela chama do aquecedor.

Figura 8. Influência do tempo de aquecimento na energia térmica armazenada pelo refratário


ADAPTADO: AUSTIN, 1992, p. 319.

Tomazin et al (1986) também obtiveram os mesmos resultados para o pré-


aquecimento de panelas. Os autores concluíram que o índice de 90% da energia
total absorvida pela parede refratária é atingido em 12h de aquecimento e independe
da temperatura da chama.

2.4.2 Etapa de espera para vazamento

A influência do tempo em que a panela fica vazia aguardando o vazamento do


aço líquido também é alvo de muitos estudos sobre perdas térmicas, visto que a
panela vazia se resfria continuamente até que seja posicionada para vazamento. A
alta temperatura do revestimento refratário em contato com o ar frio faz com que a
13

panela perca calor para o ambiente por radiação. Portanto, quanto maior o tempo
desta espera, maior será a perda térmica dos refratários da panela.
Devido a este comportamento, Thorildsson (1973) recomenda que o pré-
aquecimento da panela seja finalizado imediatamente antes do vazamento,
especialmente para altas temperaturas de aquecimento.
O comportamento da temperatura do aço líquido em função do tempo de
espera da panela para vazamento também foi alvo de estudos para Lopes (2007) e
está mostrado na figura 9. Com os resultados obtidos, o autor infere que para um
tempo de espera de 30 min, a perda de temperatura do aço é de aproximadamente
15ºC e quando este tempo é reduzido para 5 min, esta perda é reduzida para 3ºC.

Figura 9. Relação entre a perda térmica do aço líquido a o tempo de espera da panela para
vazamento.
Fonte: LOPES (2007)

2.4.3 Etapa de desgaseificação

O objetivo fundamental desta etapa do processo é a redução dos gases


dissolvidos no aço líquido através da exposição do banho a um sistema de vácuo.
Este processo é usado em usinas que produzem aços especiais, com o objetivo de
se eliminar principalmente o hidrogênio dissolvido.
14

Segundo Ferreira (2000), a grande perda térmica do aço líquido ocorre


durante o processo de menores pressões, onde a maior agitação do aço provoca
grandes perdas por radiação pelo topo da panela e um aumento da perda para os
refratários devido ao aumento do fator convectivo.
Portanto, justifica-se assim a investigação da influência do tempo em que o
aço líquido está em condições de baixas pressões na diminuição da temperatura de
liberação do forno panela.

2.5 INFLUÊNCIA DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA NA TEMPERATURA DO AÇO

A temperatura de lingotamento é especificada para cada qualidade de aço, de


acordo com sua temperatura liquidus. A temperatura liquidus é a temperatura abaixo
da qual se principia a solidificação do aço, onde começam a aparecer os primeiros
cristais sólidos no aço líquido. A medida com que a composição do aço é
modificada, sua temperatura liquidus também é alterada. Devido ao ponto eutético
presente no diagrama de fases ferro-carbono, mostrado na figura 10, a adição de
carbono no aço faz com que sua temperatura liquidus decresça.

Figura 10. Diagrama de fases ferro-carbono

ADAPTADO: CALLISTER (2002)


15

Trevisan (2008) apresenta uma equação linear que prevê a temperatura


líquidus em função da quantidade de carbono presente no aço.

𝑇𝐿𝑖𝑞𝑢𝑖𝑑𝑢𝑠 ℃ = −77,037 %𝐶 + 1534,39 (2)

A temperatura líquidus não depende somente do teor de carbono da liga, mas


também dos outros elementos presentes no aço, como explica Kulkarni (2005).
Portanto, é necessário que esta temperatura seja calculada em função da
composição química do aço para que seja expressa a influência de cada elemento
químico no valor desta temperatura.
Thomas (1987) utiliza uma equação empírica em seu estudo para calcular a
temperatura líquidus, apresentada abaixo na equação (3).

𝑇𝐿í𝑞𝑢𝑖𝑑𝑢𝑠 ℃ = 1537 − 88 %𝐶 − 25 %𝑆 − 5 %𝐶𝑢 − 8 %𝑆𝑖 − 5 %𝑀𝑛 −


2 %𝑀𝑜 − 4 %𝑁𝑖 − 1,5 %𝐶𝑟 − 18 %𝑇𝑖 − 30 %𝑃 − 2(%𝑉) (3)

Segundo Wolf (1991) a influência destes elementos se dá através de suas


concentrações equivalentes. Para aços ao carbono, este efeito pode ser descrito em
termos de Carbono Equivalente (Ceq), seguindo equação (4):

𝐶𝑒𝑞 = %𝐶 + 0,02 %𝑀𝑛 + 0,04 %𝑁𝑖 − 0,1 %𝑆𝑖 − 0,04 %𝐶𝑟 − 0,1[%𝑀𝑜] (4)

2.6 ANÁLISE DOS DADOS

Deste modo, considerando que existam perdas térmicas exercidas pelo


refratário da panela e que a composição química pode modificar a temperatura
liquidus do aço, interferindo assim na temperatura de liberação do forno panela, a
análise de regressão verificou a dependência desta temperatura de liberação com
estes fatores.

2.6.1 Modelos de regressão linear

A análise de regressão estuda a dependência de uma variável resposta Y em


relação a uma ou mais variáveis explicativas X, com o objetivo de estimar e/ou
16

prever a variável dependente em termo dos valores conhecidos ou fixos das


variáveis explicativas. (REIS, 2007). Um modelo genérico de regressão linear segue
a equação (5):

𝑌 = 𝛽0 + 𝛽1 𝑋1 + 𝛽2 𝑋2 + ⋯ + 𝛽𝑖 𝑋𝑖 + 𝜀 (5)

Onde β0 é a ordenada na origem, β1... βi é o coeficiente de regressão, X é o


fator analisado e ε é o erro aleatório.

Para ajustar um modelo de regressão, os valores de β 0, β1, β2,..., βi são


estimados de modo que a soma dos quadrados dos erros (SQE) seja a menor
possível, de acordo com a equação (6):

𝑛 2 𝑛
𝑆𝑄𝐸 = 𝑖=1 𝜀𝑖 = 𝑖=1[𝑦𝑖 − 𝛽0 + 𝛽1 𝑋1 + 𝛽2 𝑋2 + ⋯ + 𝛽𝑖 𝑋𝑖 ]² (6)

2.6.2 Pressupostos para a elaboração de uma equação linear adequada

De acordo com Reis (2007), um bom modelo de regressão linear pressupõe


alguns fatores que devem ser respeitados. Como principais fatores, uma equação
linear deve conter um coeficiente de determinação ajustado (R² aj) mais próximo
possível de 100%, deve ser significativa, ou seja, ter fatores que representem
significativamente a variável resposta e os resíduos desta equação devem
apresentar distribuição normal, valor médio nulo, variâncias iguais e serem
independentes.

2.6.2.1 Coeficiente de correlação linear de Pearson (R)

O coeficiente de correlação linear de Pearson quantifica o grau de correlação


entre duas variáveis. Esta correlação pode ser positiva, negativa ou pode não existir.
Se R = 100%, as variáveis apresentam correlação perfeita positiva, se R = -100%,
as variáveis apresentam correlação perfeita negativa e se R = 0, as variáveis são
independentes linearmente. A representação visual desta correlação é feita em
gráficos onde são plotados os valores obtidos para a variável resposta Y com os
17

valores utilizados para a variável X. Um exemplo de gráficos de correlações entre


variáveis é dado por Reis (2007) e evidenciado na figura 11.

Figura 11. Representação gráfica da correlação existente entre duas variáveis


ADAPTADO: REIS (2007)

2.6.2.2 Coeficiente de determinação (R²)

Este coeficiente pode ser interpretado como o quanto da variabilidade de Y


passa a ser explicada quando as variáveis Xi são acrescentadas ao modelo. Um
modelo com R² = 100% indica que a variação de Y é explicada totalmente pela
variação de X, e um modelo com R² = 0 indica que a variação de X não contribui em
nada para explicar a variação da variável Y.
18

2.6.2.3 Coeficiente de determinação ajustado (R²aj)

A inclusão de inúmeras variáveis, mesmo que tenham muito pouco poder


explicativo sobre a variável dependente, aumentarão o valor de R². Para que isto
não ocorra, é utilizado o coeficiente de determinação ajustado (R²aj) como alternativa
do coeficiente de determinação. Como evidenciado pela fórmula (7), apresentada
por Reis (2007), este coeficiente não altera significativamente seu valor com a
adição de variáveis pouco explicativos.

2 𝑛 −1
𝑅𝑎𝑗 =1− 1 − 𝑅² (7)
𝑛−(𝑘+1)

Onde (k + 1) representa o número de variáveis explicativas mais a constante.

2.6.2.4 Teste de hipóteses

Em algum momento na análise de regressão, pode-se suspeitar que a


influência de uma variável explicativa particular X sobre a variável dependente Y não
seja significativa. Para verificar esta influência, testamos a hipótese de que o
coeficiente β para esta variável é nulo. Esta será a hipótese nula do teste.

Kato (2012) nos mostra os passos para a realização de um teste de


hipóteses.

Hipótese, em estatística, é uma suposição formulada a respeito dos


parâmetros de uma distribuição de probabilidade de uma população.

A hipótese nula (H0) é o valor suposto para um determinado parâmetro,


enquanto a hipótese alternativa (H1), é uma hipótese que contraria a hipótese nula,
complementar a H0. O teste de hipótese nos leva a aceitação ou rejeição de H0.

Esta hipótese será somente será rejeitada se o resultado da amostra for


claramente improvável de ocorrer quando a hipótese for verdadeira.
19

2.6.2.5 Região crítica

Região onde os valores da estatística dos testes levam à rejeição da hipótese


nula. A sua área é igual ao nível de significância α do teste, e sua direção é a
mesma da hipótese alternativa. Esta região está representada na figura 12.

Figura 12. Representação da região crítica de rejeição da hipótese nula

ADAPTADO: KATO (2012)

2.6.2.6 Nível de significância

Não se pode ter completa certeza de que a hipótese nula deva ser rejeitada
ou aceita. Portanto na tomada de decisões são adotadas as seguintes regras,
citadas por D’Hainaut (1997):

- Caso haja mais de 5% de possibilidades da diferença observada ser devida


ao acaso, considera-se a hipótese nula e diz-se que a diferença não é significativa.

- Caso haja 5% de possibilidades, ou menos, da diferença ser devida ao


acaso, rejeita-se a hipótese nula e diz-se que esta diferença é significativa.

2.6.2.7 P-Valor

O valor P, em estatística, indica a probabilidade de que, mesmo sendo a


hipótese H0 verdadeira, X assuma um valor na região que leva à rejeição de H0. Este
p-valor é calculado e então comparado ao nível de significância adotado
20

anteriormente. Se p-valor for menor ou igual ao nível de significância, rejeitamos a


hipótese nula H0.

2.6.2.8 Análise de resíduos

O Resíduo de cada observação é a diferença entre o valor observado na


amostra e o valor previsto pelo modelo.
Para confirmarmos se o modelo de regressão é valido, devemos verificar
todas as suposições listadas abaixo sobre os erros.
1. Tem média zero e a mesma variância desconhecida.
2. São não correlacionados, ou seja, o valor de um erro não depende de
qualquer outro erro.
3. Os erros têm distribuição normal.
O Minitab® nos fornece quatro gráficos que demonstram o comportamento
dos resíduos da equação. Oliveira (2010) nos mostra um exemplo dos gráficos que
devem ser exibidos pelo Minitab® para que os resíduos atendam as pressuposições
exigidas para um modelo de equação adequado. Este exemplo está apresentado na
figura 13.

Figura 13. Gráficos de comportamento de resíduos

Fonte: OLIVEIRA (2010)


21

Gráfico de probabilidade normal

Usado para verificar se os resíduos se comportam de acordo com a


distribuição Normal. Se os resíduos provêm de uma distribuição Normal, os pontos
devem estar ao longo de uma linha reta. Baseando-se neste gráfico, é razoável não
rejeitarmos a hipótese nula de que os resíduos provêm de uma distribuição Normal.

Histograma

Caso a amostra seja razoavelmente grande e se concluirmos que os resíduos


provêm de uma distribuição Normal, o histograma deverá também indicar esta
normalidade.

Resíduos versus valores ajustados

Usado para verificar se não está faltando nenhum termo quadrático no


modelo, se a variância é constante ao longo de todos os valores ajustados e se não
existe nenhum outlier. Se observarmos a existência de qualquer padrão não
aleatório neste gráfico, é sinal que algumas das suposições foram violadas.

Resíduos versus valores ordenados

Representa a ordem na qual os valores foram coletados e é usado para


verificarmos a independência dos resíduos. Se não existir nenhum efeito devido à
ordem de coleta dos dados, os resíduos estarão espalhados aleatoriamente em
torno do zero.
22

3 METODOLOGIA

Neste capítulo serão abordados as técnicas e métodos utilizados para a


verificação das variáveis do processo que ocasionam perdas térmicas ao aço líquido
no refino secundário.

3.1 MONITORAMENTO DA TEMPERATURA

Para o monitoramento de temperatura, foi definido como ponto inicial de


monitoramento, “TobjFP”, o começo do processo de desgaseificação no forno panela.
Esta etapa do processo foi definida, visto que o aquecimento do aço líquido só é
feito até o início desta etapa. Após o início da desgaseificação, a temperatura do aço
líquido somente decresce, até a sua liberação para o lingotamento contínuo,
“TobjVD”, justificando assim, a necessidade de um modelo matemático para a
previsão desta perda térmica. O comportamento da variação da temperatura no
processo é evidenciado pela Figura 14.

Figura 14. Comportamento típico da temperatura do aço líquido

ADAPTADO: FERREIRA (2000)


23

3.2 ANÁLISE ESTATÍSTICA

Neste intervalo selecionado, foram analisados os fatores escolhidos


anteriormente, dentre eles dados referentes às panelas, como o tempo de
aquecimento, tempo de metal e tempo sem metal, tempo de tratamento de vácuo e
composição química do aço, que poderiam acarretar em perdas de temperatura.
Esta análise estatística foi realizada no software Minitab®.
Dentre as ferramentas disponíveis no programa, foi utilizada a ferramenta
Regression Analysis, que nos permite verificar qual a influência dos fatores
analisados na variável resposta e avaliar sua significância estatística.

3.3 DEFINIÇÃO DAS VARIÁVEIS ANALISADAS

Tempo sem metal

O tempo sem metal, como visto anteriormente, é o tempo onde a panela está
vazia aguardando o próximo vazamento, que consiste das operações de preparo de
panelas, aquecimento e espera para o vazamento. O tempo sem metal utilizado na
análise foi todo o tempo em que a panela se encontrava vazia, se subtraindo o
tempo em que esta ficou em etapa de aquecimento, pois este tempo caracteriza a
variável “Tempo de aquecimento”.

Tempo de aquecimento

A variável “tempo de aquecimento” foi definida como o tempo total em que as


panelas eram submetidas ao aquecimento por maçaricos.

Tempo de Metal

O tempo de metal é caracterizado como o tempo em que a panela está


efetivamente processando aço líquido em seu interior, que consiste das operações
de vazamento, forno-panela e lingotamento.
24

Tempo de vácuo

O “tempo de vácuo” foi definido como sendo o tempo em que o material


esteve submetido a pressões menores que 1torr, desconsiderando o tempo
necessário para que se atingisse tal condição.

Composição química

A análise química do aço líquido foi realizada imediatamente antes ao


processo de desgaseificação, em 136 amostras de diferentes qualidades de aços
pelo método de espectrometria. Esta condição foi selecionada para que realmente
fosse verificada a influência dos elementos presentes no aço neste momento nas
perdas térmicas que viessem a ocorrer após o tratamento de vácuo.
25

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os 136 dados coletados foram utilizados na análise de regressão realizada


pela ferramenta Regression Analysis do software estatístico Minitab®.

Os resultados obtidos para a regressão estão apresentados na figura 15.

Figura 15. Regressão multilinear preliminar avaliando o nível de significância de cada fator

Esta tabela nos mostra os fatores que estão presentes na equação elaborada
e seus respectivos valores P, que nos mostram sua significância em relação a
variável resposta. Os fatores que apresentam p-valor maior que o nível de
significância α selecionado, 0,05, exercem uma influência explicativa em relação à
variável dependente Y não significativa. Com isto, os fatores foram sendo retirados
um a um e a regressão foi feita novamente a cada retirada, para verificar os novos
valores de p para os fatores restantes.

Ao final do processo de análise de significância das regressões obtidas, foi


obtida uma equação multilinear contendo somente fatores que representam
significativamente a variável resposta “Temperatura de Liberação”. Estes fatores
estão apresentados na equação da figura 16.
26

Figura 16. Regressão multilinear com todos os fatores significantes .

Pode ser observado que somente os fatores “Temperatura de início”,


“Porcentagem de Mn no aço” e “Porcentagem de C no aço” têm influência explicativa
significativa na variável resposta “Temperatura de liberação”. Nota-se também que a
temperatura inicial é diretamente proporcional a temperatura de liberação, já os
elementos C e Mn exercem influência inversamente proporcional a temperatura de
liberação. Isto ocorre devido ao fato, explicado anteriormente, de que na medida em
que o carbono presente no aço é aumentado, sua temperatura líquidus decresce em
função do comportamento de seu diagrama de fases. O efeito do Mn é devido a sua
grande quantidade presente nos aços produzidos que exerce uma grande influência
na equação que calcula o carbono equivalente destes. Diminuindo a temperatura
líquidus, a temperatura de liberação do aço é reduzida.

A não significância de outros fatores citados anteriormente pode ser explicada


devido ao fato de que outros elementos químicos estão presentes em uma pequena
parcela dos aços analisados e estes não exercem grande influência na equação do
carbono equivalente.

Com relação aos tempos de aquecimento, sem metal, de metal e de vácuo,


sua não significância neste estudo pode ser explicada pelo fato de que estes tempos
apresentam baixa dispersão, não se alterando muito desde quando a perda térmica
é elevada ou quando esta é pequena, caracterizando assim sua não influência na
variável resposta.
27

Na figura 17, estão apresentados os resultados para a análise de resíduos


apresentada pelo Minitab®. Nota-se que todos os pressupostos para os resíduos
foram atendidos.

Figura 17. Gráficos de resíduos obtidos pela equação elaborada

A figura 18 representa a correlação obtida entre a temperatura prevista pelo


modelo e a temperatura real obtida. Nota-se que a dispersão entre as duas
temperaturas é baixa e o coeficiente de correlação é alto.
28

Figura 18. Correlação entre a temperatura real obtida e a temperatura prevista pelo modelo

A eficácia da equação foi então testada comparando os resultados da


temperatura de liberação real de 40 corridas com os resultados previstos pela
equação elaborada. A tabela 1 apresenta uma parcela dos resultados obtidos e a
diferença entre as duas temperaturas. A figura 19 mostra o comportamento da
dispersão existente entre a temperatura de liberação real e a temperatura prevista
pelo modelo.

Tabela 1. Verificação da eficácia de previsão do modelo.

Temperatura Real de Temperatura Prevista


Corrida Diferença
Liberação (ºC) pelo Modelo (ºC)
1 1600 1599 -1
2 1603 1603 0
3 1581 1585 4
4 1577 1577 0
5 1569 1573 4
6 1596 1600 4
7 1599 1601 2
8 1594 1593 -1
9 1611 1611 0
10 1582 1584 2
11 1597 1597 0
12 1583 1581 -2
13 1586 1583 -3
14 1575 1579 4
15 1581 1581 0
29

Figura 19. Comportamento da dispersão existente entre a temperatura de liberação real e a


temperatura prevista pelo modelo.

Após o processo de elaboração do modelo matemático, foi desenvolvido um


sistema que foi enviado para a produção. Este sistema informa aos colaboradores a
temperatura que o processo de desgaseificação deve ser iniciado para que seja
obtida a temperatura de liberação especificada para a qualidade de aço a ser
produzida. Esta temperatura de liberação é prevista pelo modelo matemático
produzido com o presente trabalho. O sistema é apresentado na figura 20.

Figura 20. Sistema de cálculo da temperatura inicial de desgaseificação


30

5 CONCLUSÕES

Com os resultados apresentados neste trabalho pode-se concluir que foram


investigados diversos fatores que a literatura consultada indicara serem fontes de
perdas térmicas para o aço líquido.

A significância de cada fator foi testada juntamente com sua influência


explicativa em relação à variável resposta. Com os fatores significativos e
representativos, foi elaborada uma equação com fatores que explicam 94,4% da
“Temperatura de Liberação”, um valor considerado ótimo pela literatura.

A significância da equação como um todo também se mostrou efetiva, devido


ao valor p da equação obtido ser igual a 0,000.

Foi então comprovada a eficácia de previsão da equação gerada comparando


seu resultado de previsão com o real resultado obtido na aciaria. Nota-se que a
diferença entre os resultados não ultrapassa dos 5ºC, sendo que somente quatro
pontos alcançam este patamar, e que a dispersão média é igual a zero, o que faz
com que o modelo seja considerado bom e aceitável de acordo com os padrões da
empresa.

A análise de resíduos também comprova que a equação gerada é adequada


para uma equação de previsão, visto que os resíduos apresentaram distribuição
normal e independência entre si, obedecendo todos os pressupostos para que se
obtenha uma equação adequada.
31

6 SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS

Este trabalho pode ser usado como uma base para trabalhos complementares
em um processo de monitoramento.
Sendo assim, outros trabalhos podem ser realizados com os objetivos de, por
exemplo, determinar a eficiência térmica dos aquecedores. Outro importante
trabalho a ser realizado é determinar qual é a temperatura de equilíbrio térmico entre
os aquecedores e as panelas e quais são os tempos necessários para atingir este
equilíbrio com as panelas novas e panelas já no ciclo.

Naturalmente, para que estes trabalhos levassem a resultados mais precisos


e reais, o ideal seria aplicar uma metodologia mais específica. O uso de termopares
instalados nas panelas e equipamentos de aquisição de dados mais eficientes e
precisos daria condições para análises mais específicas e resultados de maior
exatidão que poderiam ser usados no desenvolvimento de modelos matemáticos
para monitorar as panelas durante o seu ciclo na aciaria.
32

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AUSTIN, P. R.; CAMPLIN, J. M.; HERBERTSON, J.; TAGGART, I. J. Mathematical


Modelling of Thermal Stratification and Drainage of Steel Ladles. ISIJ International,
v.32, n.2, p. 196-202, 1992

BARROSA, M. R. Princípios Fundamentais da Transferência de Calor. São Paulo,


2004. 48p, Universidade de São Paulo.

BRADASCHIA, C. Siderurgia para não siderurgistas. 1. Ed., volume 1, ABM 1986

BRIMACOMBE, J. K. Brimacombe Continuous Casting Course. v.1, Canadá, 1999.

CALLISTER, W. D. Jr.; Ciência e Engenharia de Materiais – Uma Introdução,


5a edição, pág. 189, fig. 9.22, 2002.

CHRIST, F. S. Melhorias no Aquecimento de Panelas em uma Aciaria Elétrica. Porto


Alegre: 2001. 77p. Dissertação de Mestrado em Engenharia – Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Metalúrgica e dos Materiais, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul.

D-HAINAULT, L. Conceitos e Métodos da Estatística. Volume I | Uma variável a uma


dimensão. 2ª edição. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian;1997.p.16-17; 25; 162-
163.

FERREIRA, N. F. Controle da Temperatura do Aço Líquido em uma Aciaria. Porto


Alegre: 2000. 141 p. Tese de Doutorado em Engenharia - Programa de Pós-
Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e dos Materiais - PPGEM,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

FRUEHAN, R. J. The Making, Shaping and Treating of Steel. 11th Edition


Steelmaking and Refining Volume, Pittsburgh: The AISE Steel Foundation, 1998.

HLINKA, J. W., et al. Modeling for Predicting the Thermal History of a Ladle of Steel.
In: 68th Steelmaking Conference Proc. Iron & Steel Society, 1985.

IRVING, W. R. Continuous Casting of Steel. Cambridge: The University Press, 1993.


207 p.
33

KATO, S.; Teste de Hipótese. Pontíficia Universidade Católica, Faculdade de


Matemática. Porto Alegre,2012.

KITAMURA, S. Y.; MIYAMURA, K.; FUKUOKA, I. Precipitation behavior of MnS and


Ca-containing inclusions in Ca-added CC slab.Transactions of the Iron and Steel
Institute of Japan, v.27, n 5, 1987.

KULKARNI, M. S.; BABU, S. Managing Quality in Continuous Casting Process Using


Product Quality Model and Simulated Annealing. Journal of Materials Processing
Technology, v. 166, Nº2, p.294-306, 2005.

LOPES, H. L. P. Modelo para Previsão da Condição Térmica de Panelas de Aciaria.


Belo Horizonte: 2007. 97p Dissertação de Mestrado em Engenharia - Curso de Pós-
Graduação em Engenharia Metalúrgica e de Minas, Universidade Federal de Minas
Gerais.

MATOS, M.; CARVALHO, J. L. R.; ETRUSCO, G.; ANDRADE, S. L.; RAMOS, H. N.


O. Tecnologia de Fabricação do Aço Líquido. 2.ed. Belo Horizonte: UFMG, 1983. 5v.
v.4.

OLIVEIRA, D.; Curso de Minitab. Ouro Preto: Universidade Federal de Ouro Preto,
2010. 15 Slides: color. Slides Gerados a partir do software Power Point.

OTOMANI, M. A.; HEASLIP, L. J.; McLEAN, A. Ladle Temperature Control During


Continuous Casting. I&SM, p. 29-35, 1983.

PERKINS, A., et al. Improvements to Liquid Steel Temperature Control in the Ladle
and Tundish. Scaninject IV, Lulea, Junho, 2004

REIS, I. A.; Curso de especialização em Estatística: Regressão Linear I. Belo


Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2007. 24 Slides: color. Slides
Gerados a partir do software Power Point.

REIS, G. O. N.; CHEVRAND, L. Curso de Lingotamento Contínuo de Blocos e


Tarugos. 2. Ed. São Paulo: Associação Brasileira de Metais, 1998, 196 p.

SCHREWE, H. F. Continuous Casting of Steel – Fundamental Principles and


Practice. Germany; Stahl Eisen, 1987. 194 p.
34

SCHWERDTFEGER, K. Enhancing fundamental knowledge end industry practice for


the world Iron and Steel Industry: 4th independent model – Overview of metallurgical
phenomena in the mould for billet, bloom, round and slabs. Belo Horizonte: RS
Consultants, 2006.

SZEKERES, E. S. Strand Solidification. 1999: The University of British Columbia –


Brimacombe Continuous Casting Course, vol. 2.

SZEKERES, E. S. Strand Solidification: Part I – Shell Development. Brimacombe


Continuous Casting Course, Volume II, May 2005.

TETRAULT, C., et al. CFD Analysis of Thermal Behavior of Refractory in Steel Ladle
Cycling. AISTech 2004 Proceedings, Volume I, 2004

TREVISAN, L.; Estudo Comparativo entre Microestrutura e Parâmetros de


Solidificação em Aços Produzidos por Lingotamento Contínuo. Porto Alegre: 2008.
94p. Dissertação de Mestrado em Engenharia – Programa de Pós-Graduação em
Engenharia de Minas, Metalúrgica e dos Materiais - PPGEM, Universidade Federal
do Rio Grande do Sul.

THOMAS, B. G.; Samarasekera, I. V.; Brimacombe, J. K.; Metallurgical Transactions.


V. 18B, p.119-130, 1987.

TOMAZIN, C. E.; UPTON, E. A. The Effect of Laddle Refractories and Practices on


Steel Temperature Control. I&SM, junho-1986, p.28-34.

VOLKOVA, O., JANKE, D. Modelling of Temperature in Refractories Ladle Lining for


Steelmaking. ISIJ International, Volume 43, p.1185-1190, March 2003

ZHANG, L.; THOMAS, B.G.; WANG, X.; CAI, K. Evaluation And Control Of Steel
Cleanliness - A Review, 85th Steelmaking Conference Proceedings, ISS-AIME,
Warrendale, PA, 2002.

Disponível em <http://pt.scribd.com/doc/18855716/6-Analise-de-Regressao>. Acesso


em: 29 abril 2014

Você também pode gostar