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II WORKSHOP DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA EM ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS DO

PROPEMM – IFES, VITÓRIA-ES, 30-31 AGOSTO DE 2012

PARÂMETROS TERMODINÂMICOS E CINÉTICOS DA DESSULFURAÇAO ATRAVÉS DE


RESÍDUO DE MÁRMORE
Felipe Nylo de Aguiar1 Heitor Cristo Clem de Oliveira2 Sayd Farage David1 Henrique Silva Furtado3 José
Roberto de Oliveiar1*
1
, Propemm, Instituto Federal do Espírito Santo - IFES, Vitória, ES, 2 Metalurgia e Materiais, Instituto Federal
do Espírito Santo - IFES, Vitória, ES, 3 Controle de Processo de Siderurgia, ArcelorMittal Tubarão - AMT,
Serra, ES,
* Autor para correspondência (jroberto@ifes.edu.com.br)

Resumo: Este trabalho apresenta uma análise cinética e termodinâmica da utilização de misturas à base de
resíduo de mármore na dessulfuração de ferro-gusa. Para a realização da dessulfuração foram utilizados: cal,
resíduo de mármore, fluorita, e ferro-gusa. Diferentes misturas destes materiais foram adicionadas em um banho
de ferro-gusa a 1.450°C. Amostras do metal foram retiradas através de amostradores a vácuo nos tempos de 5,
10, 15, 20 e 30 minutos e feitas suas análises para checar a variação de enxofre. Com base nos resultados das
análises químicas do metal e da mistura dessulfurante utilizadas, foi calculada a capacidade de sulfeto das
misturas, o coeficiente de partição de enxofre e os valores do coeficiente de transporte de massa do enxofre. Os
resultados obtidos mostraram a viabilidade técnica da utilização do resíduo como agente dessulfurante.

Palavras-chave: Resíduo de mármore; Florita; Dessulfuração de ferro-gusa

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1 Introdução cinética de dessulfuração são importantes. Estes


parâmetros são quantidade de líquido da escória e a
No gusa líquido a reação de dessulfuração é através
presença ou não de composto sólidos.
da cal (CaO), que é o agente dessulfurante mais
utilizado. Ela ocorre com a formação do sulfeto de A cinética da reação global de dessulfuração
cálcio (CaS) e liberação de oxigênio, que reage com consiste de diferentes etapas de transporte de massa,
(1,4,5)
o carbono (Equação 1) ou silício (Equação 2) do e pode ser descrita pela Equação 6.
metal líquido.(1) d [%S ]
  k  [%S 0  %S eq ] (6)
[S] + CaO (s) + [C] = CaS (s)  CO (g) (1) dt
(2) Onde k a constante de velocidade da reação S0 é o
CaO (s) + [S] + ½[Si] = CaS (s) + ½(SiO 2 )
teor de enxofre inicial, e St é o teor de enxofre de
O teor de equilíbrio do enxofre com o CaO a equilíbrio.
1.450°C chega a 4 ppm (0,0004%). Sendo este teor Nita(6) relata que ocorre uma intensificada
não atingido, conclui-se que isso é devido a uma transferência do enxofre nos estágios iniciais do
limitação cinética do processo. processo, devido ao maior teor inicial de enxofre no
Para estimar a eficiência de dessulfuração de uma metal líquido. Kirmse(7) diz que k interfere
mistura os seguintes parâmetros são usados: significativamente sobre a eficiência global dos
basicidade ótica (Λ), A capacidade de sulfeto (CS),(2) processos químicos, pois, maiores níveis de agitação
e o coeficiente de partição (LS). do banho resultam em maiores valores de k, que
A basicidade ótica (Λ), compara a capacidade de levam a maiores taxas de dissolução de partículas
doação de elétrons de um certo óxido em relação ao sólidas na escória de topo e maiores chances de
CaO. Os valores de basicidade ótica usados são: emulsificação.
CaO= 1; MgO= 0,78; SiO2= 0,47; CaF2= 0,67. Estudos tem sido realizados para estudar a influência
da agitação e consequentemente de k na
Young et al.(3) apresentam uma relação da dessulfuração.(8-10)
Capacidade de Sulfeto e da basicidade ótica
mostrada nas Equações 3 e 4, válidas para A<0,8 e Chushao e Xin(11) mostram que k também aumenta
A>0,8, respectivamente. com o aumento de CaF2 em mistura com o CaO na
faixa de 0% a 10%. Quando essa quantidade é maior
11710
log C S  13,913  42,84  23,822   que 10%, contudo, o valor de k não aumenta com
T (3) CaF2, sendo então adequado a adição de até 10% de
 0,02223  (%SiO 2 )  0,02275  (% Al 2 O3 ) CaF2.
log C S  0,6261  0,4808  0,71972  Ohya(12) aponta que quando 15% de cada partícula
1697 2587 (4) de CaO é convertida em CaS, o poder dessulfurante
   0,0005144  (% FeO ) deste reagente é praticamente anulado. Isso porque
T T
essa camada de CaS é sólida, reduzindo a velocidade
A capacidade de sulfeto (CS),(2) mede a capacidade
da difusão do enxofre a níveis industrialmente
termodinâmica de uma escória ou mistura de
insignificantes. Entretanto, com a adição de CaF2,
remover enxofre do metal líquido.
essa camada se torna líquida, favorecendo a
Então, utilizando-se estas equações termodinâmicas dessulfuração. Niedringhaus e Fruehan,(13) em seus
é possível encontrar o teor de enxofre de equilíbrio e experimentos, mostram que a formação de fase
a partição de enxofre entre escória e metal (LS = líquida é crítica para a efetiva dessulfuração.
(%S)/[%S]).
Finalmente, devido aos altos teores de CaO, além de
log LS  log
%Seq    935  1,375  log C  MgO, o qual as vezes é usado para diminuir o
%Seq  T
S
(5) desgaste do refratário da panela, presentes no
 log f S  log hO resíduo de mármore, este apresenta potencialidade
para sua utilização na fabricação de aço como agente
Porém estes parâmetros determinam a eficiência
dessulfurante. Então, o objetivo deste estudo é
termodinâmica das misturas, mas nem sempre uma
avaliar a viabilidade técnica da utilização deste
mistura com melhores propriedades termodinâmicas
resíduo no processo de dessulfuração de ferro-gusa.
são as que apresentam menores teores de enxofre
pras os tempos indústrias de dessulfuração. Neste 2 Materiais e Métodos
caso parâmetros da escória que podem influir na

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Os materiais usados para a realização dos resíduo foi de aproximadamente 69 pm, possuindo
experimentos foram: resíduo de mármore cal virgem, uma distribuição granulométrica heterogênea, onde
barrilha, fluorita e ferro-gusa. O resíduo foi quase 43% das partículas tem tamanho até 38 pm..
homogeneizado através de um misturador rotativo 4 Caracterizado o resíduo, foram então preparadas as
horas. Em seguida, foi retirada uma amostra de 1 kg misturas. A definição da massa de CaO a ser usada
de resíduo e encaminhada para uma análise através nos experimentos foi feita com base em dados
de difração a laser em um Malvern. industriais da operação do KR da AMT e foi igual a
As análises químicas foram realizadas em um 9,62 kg/ton, ou 0,962% da massa do gusa. Com esse
espectrômetro por fluorescência de raio-X Axios consumo de CaO, foi atingida uma média de retirada
Advanced da PANalytical. A composição química de enxofre de 92%. Nos experimentos realizados
do resíduo de mármore usado foi CaCO3= 70.5%; neste estudo, foram feitas os quatro tipos de adições
MgCO3= 24.8%; SiO2= 3.3%; e a do ferro-gusa foi apresentados na Tabela 1. É importante deixar claro
de C= 5%; Si= 0.27%; Mn= 0.38%; P= 0.065%; S= que, mesmo através dessas diferentes adições, a
0.025%. Considerando a decomposição dos quantidade de CaO sempre foi proporcional à massa
carbonatos quando estes atingem o banho, a do gusa. Também com dados fornecidos pela AMT,
composição da escória formada pelo resíduo é: quando o CaF2 foi utilizado juntamente com o CaO,
CaO= 72,7%; MgO= 21,2%; SiO2= 6,1%. Além de a proporção destes materiais foi de 92% de CaO e
72,7%CaO, o resíduo também apresenta um teor de 8% de CaF2. Então, na realização dos experimentos,
cerca de 21% de MgO, o qual é normalmente foram usadas massa de 750 g de gusa, sendo feitas
adicionado à escória para reduzir o desgaste do as considerações acima no cálculo da quantidade de
refratário da panela, sendo desnecessário quando do agente dessulfurante. Os materiais utilizados neste
uso do resíduo. O tamanho médio das partículas do trabalho foram adicionados na forma de pó.
Tabela 1. Adições utilizadas neste trabalho em gramas e em porcentagens.
Adições CaO MgO SiO2 CaF2 Total
1) C 7,22g - 100,0% 7,22g
2) CF 6,64g - 92,0% 0,58g - 8,0% 7,22g
3) R 7,22g - 68,7% 2,61g - 24,8% 0,60g - 5,7% 10,50g
4) RF 6,64g - 65,0% 2,40g - 23,6% 0,56g - 5,5% 0,58g - 5,7% 10,18g

Fig. 1: Esquema do forno usado.


Para o caso de R e RF foram gerados 7,64 e 7,03 realização dos experimentos. Nestes, o ferro-gusa foi
gramas de CO2 respectivamente; (C) CaO puro; (CF) carregado em cadinhos de grafite de alta pureza e
CaO e CaF2 ; (R) resíduo; (RF) resíduo e CaF2. então iniciado o aquecimento, que por sua vez, foi
feito em um forno resistência Maitec, modelo FEE-
Para o caso de R e RF foram gerados 7,64 g e 7,03 g
1700/V (Figura 1).
de CO2 respectivamente. Após a caracterização do
resíduo e preparação das misturas, foi procedida a
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Foi feita a injeção de argônio com a finalidade de a rotação fixada em 1.200 rpm, pois com esta
deixar o ambiente inerte dentro do forno, sendo para rotação se formado um vórtice próximo a haste.
este fim usado argônio comercial a uma vazão de Além dos experimentos com 1.200 rpm, foi feito um
aproximadamente 6 Nl/min. Em nenhum dos experimento com uma rotação de 1.800 rpm com a
experimentos foi observada a formação de escória adição da mistura Resíduo + CaF2.
antes da adição das misturas, o que comprovou que Feitos os experimentos, foi determinada a variação
o ambiente estava inerte. do teor de enxofre no metal por meio de análise
Uma vez atingida a temperatura de trabalho, química por combustão direta infravermelho em um
1.450°C, foi verificada a completa fusão do gusa e, Leco, modelo CS-444 LS. Essa análise foi feita na
em seguida, feitas as adições dos materiais AMT.
dessulfurantes. O tempo de reação passou a ser 3 Resultados e Discussão
contado imediatamente após o carregamento. A
retirada de amostras foi feita antes das adições e nos 3.1 Resultados
tempos de 5, 10, 15, 20 e 30 minutos após as
adições. 3.1.1 Realização dos experimentos
Em cada um dos experimentos a agitação do banho Feitos os experimentos citados, chegou-se aos
foi feita através de um agitador mecânico resultados mostrados na Tabela 2. Esta tabela
posicionado em cima do forno, com a agitação apresenta os teores iniciais e finais para cada
interrompida a cada retirada de amostra e, logo após, experimento, os quais foram usados para calcular o
reiniciada. grau de dessulfuração (ηS) de cada experimento.
Para definir a velocidade de rotação do agitador, foi
feita uma simulação com água em um Becker, sendo
Tabela 2. Resultado dos experimentos.

Fig. 2: (a) Variação do teor de enxofre em relação ao tempo de tratamento; (b) Grau de dessulfuração (η S) em
cada mistura.
A Equação 7 mostra a forma de cálculo de nS e a apenas de CaO ou Resíduo, sendo que a adição de
Figura 2b este parâmetro em cada experimento. Resíduo + CaF2 obteve maior ηS. A basicidade ótica
%S i   %S t   100 de cada mistura usada neste estudo (Tabela 3) foi
S  calculada de acordo com a Equação 8.
%S i  (7)

 mistura  
ni  X i   i 
n
A variação do teor de enxofre nos diferentes tempos (8)
i  Xi
de tratamento é mostrada na Figura 2a.
Analisando a Figura 2, podemos observar que as A relação entre a CS e a A para misturas com A >
misturas CaO + CaF2 e Resíduo + CaF2 0,8 é descrita pela Equação 4. Como neste estudo
apresentaram resultados melhores que as adições todas as misturas apresentaram A > 0,8, foi usada

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esta equação para calcular a CS de cada mistura,


sendo os resultados também apresentados na Tabela %S0  +  WS W   %S 

%S  =  
0
M
3. (8)
1 + L S   S 
eq
W
Conhecendo os valores de CS e utilizando a  WM 
Equação 4, é possível calcular a partições de enxofre
Onde: [%Seq]= teor de enxofre de equilíbrio; [%So] =
de equilíbrio (LS através da Equação 5, para as
teor de enxofre inicial; Ws = peso da escória, Wm =
diferentes misturas, que é outra maneira de mostrar a
peso do metal; Ls = coeficiente de partição.
eficiência da dessulfuração, sob o ponto de vista
termodinâmico. Entretanto para usar esta equação é O teor de equilíbrio mostrado na Tabela 3 é menor
preciso definir a atividade do oxigênio. que o valor alcançado nos experimentos, o que
Considerando um aço desoxidado ao alumínio com comprova que o equilíbrio não foi atingido.
10 ppm de oxigênio (0,001%), chega-se aos 3.1.3 Cálculos de k
resultados apresentados na Tabela 3. Os valores de A partir da Equação 6, é possível calcular k, através
basicidade ótica Cs e Ls e Porcentagem de Enxofre da Equação 9, então, substituindo valores nesta
de Equilíbrio são apresentados na Tabela 3. equação chega-se aos valores apresentados na
Tabela 3. Basicidade Ótica, Capacidade de Sulfeto, Tabela 4.
Coeficiente de Partição de Equilíbrio e porcentagem
[%S t ]  [%S eq ] 
de Enxofre de Equilíbrio. ln    k t (9)
 [%S 0 ]  [ S eq ] 
A Tabela 4 mostra também os valores dos termos
[%St - %Seq], e da velocidade média para cada
experimento.
Pela análise da Tabela 4, nota-se que as misturas
O método de cálculo da porcentagem de Enxofre de (experimentos) que proporcionaram menores teores
Equilíbrio será mostrado a seguir. de equilíbrio, não foram as que tiveram os maiores
3.1.2 Cálculos de equilíbrio valores de k e consequentemente maiores
Conhecendo-se as análises do ferro-gusa e escória é velocidades. Isto ocorreu porque as mistura que
possível calcular o teor de enxofre de equilíbrio tiveram menores teores de equilíbrio, provavelmente
através da equação (9).(14) tiveram uma maior quantidade de líquido, o que
causou uma melhoria nas condições cinéticas dos
experimentos.
Tabela 4. Valores de k, %Seq, (%So-%Seq) e -dS/Seq para cada experimento.

3.2 Discussão deste óxido, ficando entre 0,872 e 1,005. Por ser este
básico, pode-se considerar que as misturas também
3.2.1 Análise da variação da basicidade ótica,
são básicas, possuindo maior reatividade no banho
capacidade de sulfeto e coeficiente de partição
metálico devido ao elevado processo difusional que
Como já citado, para comparar a eficiência os constituintes destas escórias possuem. Como a
termodinâmica das diferentes misturas/escórias na dessulfuração é dependente de um processo de
dessulfuração, usa-se Cs. Entretanto, para calculá-la difusão, essas escórias são favoráveis a este
é preciso conhecer a basicidade ótica (Λ) de cada processo. (4) Os valores de basicidade ótica Cs e Ls,
mistura (Tabela 3). Porcentagem de Enxofre de Equilíbrio e Equilíbrio e
Pela análise desta tabela, nota-se que devido à Porcentagem de Enxofre final são apresentados na
grande quantidade de CaO em cada mistura, o qual tabela 5.
tem ΛCaO = 1, os valores das basicidades
apresentaram valores próximos aos da basicidade

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Tabela 5. Basicidade ótica, capacidade de sulfeto, coeficiente de partição de equilíbrio, porcentagem de enxofre
de equilíbrio e porcentagem de enxofre final.

Os resultados de CS confirmam os resultados sofreu alteração com a agitação provocada pela


encontrados nos experimentos, mostrando que as decomposição dos carbonatos presentes no resíduo e
misturas que tiveram uma maior CS foram as que agitação mecânica.
tiveram também maior LS. Também segundo Ohya,(12) quando 15% de cada
Entretanto devido limitações cinéticas estas misturas partícula de CaO é convertida em CaS na ausência
não obtiveram os melhores resultados reais de de CaF2, o poder dessulfurante do CaO é
dessulfuração. Estes resultados indicam que nas praticamente anulado, chegando-se aos resultados
condições do presente trabalho, a influência do apresentados.
transporte de massa na dessulfuração é Neste caso, o que prevaleceu com a adição do
preponderante à influência do teor de enxofre de Resíduo no lugar do CaO, foi a maior redução de
equilíbrio, respeitando o limite no qual a Energia temperatura causada pela decomposição dos
Livre de Gibbs (ΔGo) da reação seja negativo. É carbonatos e também pela maior massa de Resíduo
importante observar também, que as misturas feitas em relação ao CaO. A queda de temperatura foi de
com o resíduo de mármore obtiveram uma partição 25°C para a adição do Resíduo e de 10°C para a
bastante próxima daquelas conseguidas com adição do CaO. Mesmo a temperatura se
misturas à base de cal, a qual é usada recuperando rapidamente (em 5 minutos e 2,5
industrialmente. minutos, respectivamente), houve uma diminuição
Comparando os teores de enxofre de equilíbrio na porcentagem de dessulfuração, pois uma
[%Seq] com os teores de enxofre real [%Sreal], diminuição na temperatura é prejudicial à reação em
conforme mostrado na Tabela 5, é possível notar que questão.
em nenhum dos experimentos foi atingido o Outro motivo para este resultado, é a capacidade de
equilíbrio termodinâmico, devido às limitações sulfeto do Resíduo (CS=1,05) que é menor que a do
cinéticas citadas anteriormente. CaO (CS=1,14). Uma diminuição na temperatura e
3.2.2 Adições apenas de resíduo e apenas de CaO na CS aumenta o teor de enxofre de equilíbrio,
diminuindo -d[%S]/dt) e, consequentemente, ηS. O
Analisando a Figura 2, podemos observar que os
piores resultados foram obtidos com as adições coeficiente de transferência de massa de enxofre (k),
apenas de Resíduo ou apenas de CaO. A Figura 2a não sofreu alteração nos dois casos.
apresenta a variação do teor de enxofre em relação Além disto, no caso da adição apenas de Resíduo, a
ao tempo e a Figura 2b, ηS em cada um dos presença de SiO2, pode ter levado à formação de
experimentos. algum cálcio-silicato, que segundo Mitsuo et al.,(14)
Os piores resultados do Resíduo em relação ao CaO tem baixa solubilidade de enxofre e alto ponto de
podem ter ocorrido, porque o transporte de massa do fusão, que obstruem a transferência dos íons S2+ e
enxofre do seio do metal até a partícula de CaO, que retardam a dessulfuração.
é favorecido pela agitação provocada pela 3.2.3 Adições de CaO + CaF2 e resíduo + CaF2
calcinação do CaCO3 e CaMg(CO3)2 e pela agitação As misturas CaO + CaF2 e Resíduo + CaF2
mecânica, não era a etapa controladora da reação de apresentaram resultados melhores que as adições
dessulfuração. Este fato concorda com as afirmações apenas de CaO ou Resíduo, sendo que a adição de
de Ohya(12) e Niedringhaus e Fruehan,(13) que Resíduo + CaF2 obteve maior ηS (Figura 2).
afirmam que na ausência de CaF2, a etapa Estes resultados foram conseguidos, pois com a
controladora não é o transporte de massa do enxofre adição de CaF2, a camada sólida de CaS formada
do metal até a interface com o CaO, e sim o quando da adição apenas de Resíduo ou CaO, não
transporte de massa do enxofre através da camada de ocorre, o que favorece a reação de dessulfuração,
CaS sólida que se forma em volta das partículas de levando a um melhor resultado.(12,13) O CaF2 reduz o
CaO. Estes resultados indicam que esta camada não ponto de fusão da mistura CaO + CaF2, fazendo com
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que haja maior quantidade de fase líquida e, mostram que com a utilização do resíduo houve uma
consequentemente, o transporte de massa seja melhoria nas condições de transporte de massa do
facilitado, favorecendo a dessulfuração. Além de enxofre, enquanto que as condições termodinâmicas
reduzir o ponto de fusão da mistura, o CaF2 também pioraram muito pouco, não sendo que esta piora não
reduz a viscosidade da escória formada e também foi determinante na cinética da reação.
não ocorre a formação de um possível cálcio-silicato 4 Conclusões
que retardaria o processo de dessulfuração.
Através dos resultados dos experimentos realizados
O resultado superior da mistura Resíduo + CaF2 podemos chegar às seguintes conclusões:
pode ser atribuído à existência do SiO2 no resíduo no
 As adições de CaO e Resíduo puros
teor de 3,3%, que juntamente com o CaF2, agem no
apresentaram os piores graus de
sentido de aumentar a quantidade de fase líquida.
dessulfuração deste estudo, sendo o Resíduo
Este processo facilita então a transferência de massa
puro pior que o CaO puro. Isto ocorreu, por
do CaS formado na escória, favorecendo assim a
que na ausência de CaF2, a etapa
dessulfuração.(13) Estes autores ainda mostram
controladora não é o transporte de massa do
através de cálculos que 5% de CaF2 a 1.450°C,
enxofre do metal até a interface com o CaO,
formam 20% de fase líquida, que é suficiente para
e sim o transporte de massa do enxofre
evitar a precipitação de silicato tricálcico (Ca3SiO5),
através da camada de CaS sólida que se
o qual forma uma carapaça sólida em torno da
forma em volta das partículas de CaO;
partícula de CaO, ou se precipita no estado sólido
em uma escória, prejudicando a dessulfuração.  as adições de CaO + CaF2 e Resíduo + CaF2
3.2.4 Análise da variação da constante de conseguiram maiores graus de dessulfuração
velocidade e da velocidade de dessulfuração (46,15% CaO + CaF2 e 48,28% Resíduo +
CaF2), pois com a adição de CaF2, não
Pela análise da Tabela 4, nota-se que outro fator que ocorre a formação da camada sólida de CaS;
aumenta o k, além da agitação do banho, é a
quantidade de fase líquida, e consequentemente, a  o maior grau de dessulfuração obtido com a
viscosidade da escória, pois as misturas com maiores mistura Resíduo + CaF2 com relação à CaO
valores de k foram os que tiveram provavelmente + CaF2 pode ser atribuído à existência de
maior quantidade de líquido. (13) SiO2 no resíduo no teor de 3,3%, que
juntamente com o CaF2, agem no sentido de
Pode-se observar ainda, que as misturas RF e CF aumentar a quantidade de fase líquida,
obtiveram maiores valores de k que as misturas aumentando a dissolução do CaS;
R e C ( 1 1 , 7 3 . 10-3/s e 9,95.10-3/s contra 3,06.10-
3
/s e 6,06.10-3/s, respectivamente). Através destes  um aumento de 50% na rotação do agitador
resultados é possível afirmar que a fluorita e o SiO2, (de 1.200 rpm para 1.800 rpm) provocou um
na quantidade usada favorece cinética da aumento de 29,5% na dessulfuração (de
dessulfuração, mesmo que desfavoreça a reação 48,28% para 77,78%), tendo o experimento
termodinamicamente, como é mostrado pela com 1.800 rpm o melhor resultado deste
diminuição de Basicidade Ótica, Capacidade de estudo;
Sulfeto, Coeficiente de Partição de Equilíbrio,  as misturas Resíduo + CaF2 e CaO + CaF2
Porcentagem de Enxofre de Equilíbrio e Equilíbrio e obtiveram maiores valores de k que as
Porcentagem de Enxofre final. Os valores de k misturas feitas com Resíduo e CaO
conseguidos neste estudo estão de acordo com os (11,73.10-3/s e 9,95.10-3/s contra 3,06.10-3/s
apresentados por Ghosh,(4) que relata valores entre e 6,06.10-3/s, respectivamente).
3.10-3/s e 15.10-3/s para um processo de  então, através dos resultados obtidos neste
dessulfuração com emulsificação. estudo, pode-se dizer que na dessulfuração
Substituindo-se os valores de k e %Seq na Equação 6, ocorre a prevalência das condições cinéticas
para cada experimento, chega-se aos valores de sobre as termodinâmicas; e
velocidade apresentadas na Tabela 4. Através dos  finalmente, diante do exposto neste estudo,
valores de -d[%S]/dt médio, pode-se observar que as o resíduo de mármore em mistura com a
maiores velocidades de dessulfuração foram Fluorita reúne características interessantes
encontradas nos experimentos que obtiveram tanto do ponto de vista termodinâmico,
maiores valores de k, mesmo que os valores [%St - como cinético à sua utilização no processo
%Seq] não fossem os maiores. Estes resultados

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de dessulfuração de ferro-gusa. Por se tratar CaO-CaF2 based fluxes. ISIJ


de um resíduo, podemos inferir também que International, 1081-1083, 1992.
este apresenta características interessantes [12] OHYA, T. Desulfurization of Hot
do ponto de vista econômico à sua utilização
Metal with Burnt Lime. Steelmaking
como dessulfurante.
Proceedings. Vol. 60, 1977.
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[2] ANDERSON, M.; JONSSON, P.; Transactions B, 261-268, 1988.
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