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FLOTAÇÃO COMO MÉTODO DE PRÉ-CONCENTRAÇÃO DE OURO EM UMA

MINA DA REGIÃO SUL DO PARÁ

SILVA, F.M.S.1, OLIVEIRA, T.R.B.2, RIBEIRO, D.F.3, COSTA, D.S.4

1
Graduando em Engenharia de Minas e Meio Ambiente (UNIFESSPA), Instituto de Geociências e
Engenharia, Laboratório de Tratamento de Minérios. e-mail: felipe.manoel@unifesspa.edu.br
2
Graduando em Engenharia de Minas e Meio Ambiente (UNIFESSPA), Instituto de Geociências e
Engenharia, Laboratório de Tratamento de Minérios. e-mail: ricieri.thiagobo@gmail.com
3
Graduando em Engenharia de Minas e Meio Ambiente (UNIFESSPA), Instituto de Geociências e
Engenharia, Laboratório de Tratamento de Minérios. e-mail: davi.feliciano@unifesspa.edu.br
4
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, Instituto de Geociências e Engenharia, Laboratório
de Tratamento de Minérios. e-mail: denilson@unifesspa.edu.br

RESUMO
O ouro, mineral de alto valor, possui uma gama de métodos de beneficiamento, dos mais
simples, aos mais complexos. Este trabalho objetivou avaliar a flotação como método de pré-
concentração para um possível aproveitamento de uma nova frente de lavra em uma mina
pertencente à empresa Grão Pará Mineradora, da região sul do Pará. Os testes foram feitos
em triplicata, em uma célula de flotação em bancada, com cuba de 2250mL. Em todos os
testes a rotação, vazão de ar e porcentagem de sólidos foram mantidas constantes. Os
coletores escolhidos foram o Amil Xantato de Potássio (PAX) e o Isobutil Ditiofosfato de Sódio,
e os espumantes foram a base de álcool e glicol, de nomes comerciais 102 e 626, ambos da
fabricante Interfusão. Nos testes foram avaliadas a influência da proporção de reagentes e do
pH na recuperação e no teor de ouro no concentrado. Os valores de pH avaliados foram: 7,5
(natural), 8, 9, 10 e 11. A mistura de coletores com 60% de xantato e 40% de ditiofosfato (3:2),
e mistura de espumantes com 80% de 102 e 20% de 626 (4:1) em pH natural (7,5) apresentou
maior recuperação metalúrgica média (96,2%) e maior teor de ouro (17 ppm).
PALAVRAS-CHAVE: concentração, reagentes, flotação de ouro, rota de processamento.

ABSTRACT
Gold, a high value mineral, has a range of processing methods, from the simplest to the most
complex. This work aimed to evaluate flotation as a pre-concentration method for a possible
use of a new mining front in a mine belonging to the Grão Pará Mineradora company, in the
southern region of Pará. The tests were done in triplicate, in a bench flotation cell, with a
2250mL vat. In all tests the rotation, air flow and solids percentage were kept constant. The
collectors chosen were Potassium Amyl Xanthate (PAX) and Sodium Isobutyl Dithiophosphate,
and the foaming agents were alcohol and glycol based, commercial names 102 and 626, both
from the manufacturer Interfusion. In the tests the influence of the proportion of reagents
and pH on the recovery and gold content in the concentrate were evaluated. The pH values
evaluated were: 7.5 (natural), 8, 9, 10 and 11. The mixture of collectors with 60% xanthate
and 40% dithiophosphate (3:2), and the mixture of frothers with 80% of 102 and 20% of 626
(4:1) at natural pH (7.5) showed higher average metallurgical recovery (96.2%) and higher gold
content (17 ppm).
Silva, F.M.S.; Oliveira, T.R.B.; Ribeiro, D.F., Costa, D.S.

KEYWORDS: concentration, reagents, gold flotation, processing route.


1. INTRODUÇÃO

O minério de ouro possui valor de mercado relativamente estável e preço geralmente


superior aos demais bens minerais, portanto, o beneficiamento do material deve ocorrer da
maneira mais completa e coesa para a maneira que o mesmo se encontra. Dentre os métodos
de beneficiamento, o ouro possui uma gama de possibilidades, desde processos simples a
mais complexos (Peres et.al, 2002).
A rota pode ser confinada a apenas preparação e adequação física, como britagem
para adequação granulométrica, e chegar a rotas de hidrometalurgia subsequentes a estágios
de concentração, seja gravimétrica ou química. Para as rotas de concentração as propriedades
examinadas se referem a hidrofobicidade e densidade, em ambos os casos, o minério passa
por atividades de preparação, como britagem, moagem e peneiramento (Peres et.al, 2002).
O método de flotação, de maneira generalizada trata misturas de partículas sólidas em
polpa. Este processo explora as diferenças nas superfícies das partículas presentes nessa
mistura. O meio que permite a seletividade nesse processo de apenas um componente
específico, são os graus que cada partícula apresenta de hidrofobicidade, que é o conceito das
partículas terem menos “molhabilidade” pela água. Dentre os processos de concentração
mineral, a flotação é um dos métodos mais usados atualmente devido a sua grande
flexibilidade perante os minerais (Chaves, 2006).
Durante a flotação, três fases são necessárias e estão sempre presentes: sólida, líquida
e gasosa. A fase gasosa, em sua grande maioria é o ar, cuja função é carregar as partículas
hidrofóbicas para a superfície, no entanto, nem sempre a passagem de um fluxo de ar simples
é o suficiente para arrastar as partículas, dessa forma, é necessário a inserção de um reagente,
o espumante (Chaves, 2006).
O processo de flotação ainda pode ser dividido em etapas, sendo estas: Rougher (etapa
inicial, que recebe todo o material), Scavanger (recebe o afundado Rougher) e Cleaner (recebe
o concentrado Rougher). Esse sistema garante que o máximo de concentração possa ser
alcançado.
A empresa Grão Para Mineração opera no município de Santa Maria da Barreiras, na
região Sul do Pará, processando o “rejeito” de ouro deixado por um antigo garimpo. Este
material não precisa passar pelo processo de britagem, visto que já se encontra com
granulometria adequada para alimentar a moagem. Após moagem e classificação, o material
com P75 de 75 m (200#) alimenta o processo de lixiviação. No entanto, devido este “rejeito”
estar exaurindo, novas frentes de lavra estão em estudo para possível aproveitamento.
Este trabalho teve como objetivo avaliar a flotação como método de pré-concentração
para um possível aproveitamento de uma nova frente de lavra em uma mina pertencente à
empresa Grão Pará Mineração. Foram avaliadas a influência da proporção de reagentes e do
pH na recuperação e no teor de ouro no concentrado. Assim, a pesquisa diz respeito aos testes
de flotação em bancada para identificar qual a melhor combinação de reagentes e pH para
concentrar o minério em valores satisfatórios de recuperação e teor. Ressalta-se que o P75
utilizado atualmente na empresa não pôde ser modificado pelo fato do circuito de
cominuição, classificação e lixiviação estar configurado para 200# (75µm).
XXIX Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa
Armação dos Búzios-RJ, 25 a 28 de setembro de 2022

2. MATERIAL E MÉTODOS

O minério foi cedido pela empresa Grão Pará Mineração e apresentava-se previamente
britado, com a mesma distribuição de tamanhos que alimenta o moinho presente no site da
empresa. Por meio de homogeneização e quarteamento, alíquotas de minério foram obtidas,
com aproximadamente 1100 gramas cada, sendo 1000 gramas para os testes de flotação em
bancada e 100 gramas para a determinação do teor de alimentação (análise química por
absorção atômica). Para a homogeneização, o material foi quarteado em pilha cônica e, em
seguida, cada parte do quarteamento foi passado para uma pilha alongada, de
aproximadamente 12m de comprimento. Para garantir uma vazão constante do minério
durante a construção da pilha, foi construído um “homogeneizador” a partir de um carrinho
de mão, com a inserção de um segundo pneu e um funil que liga o fundo do carrinho à base
de construção da pilha (Figura 1).

Figura 1. “homogeneizador”.

Com o objetivo de garantir um P75 de 200# (75 m), mesmo valor que alimenta
atualmente o circuito de lixiviação da empresa e possivelmente possuir grau de liberação
adequado à flotação em bancada, construiu-se uma curva de moagem a partir de testes em
um moinho de bolas, usando os tempos de 5, 10, 15 e 20 minutos. As especificações dos
parâmetros utilizados nos testes de moagem estão listadas na Tabela 1. Para cada teste foi
usado 1000 gramas de minério. Por meio de análise granulométrica por peneiramento do
produto de cada teste, verificou-se que o P75 desejado foi alcançado com 15 minutos de
moagem, conforme pode ser visto na Figura 2.

Tabela 1. Parâmetros usados na moagem.


Rotações (rpm) Quantidade de corpos Tamanho dos corpos (mm) Tempos de moagem (m)
55 343 15 – 40 5, 10, 15 e 20
Silva, F.M.S.; Oliveira, T.R.B.; Ribeiro, D.F., Costa, D.S.

Figura 2. Curvas de moagem para 5, 10, 15 e 20 minutos.

Nos testes de flotação em bancada, feitos em triplicata, foi utilizada uma célula
automática de flotação em bancada da empresa Brastorno, com cuba de 2250 mL. Em todos
os testes a rotação, vazão de ar e porcentagem de sólidos foram mantidas constantes e os
valores usados estão mostrados na Tabela 2. Em cada teste foi usado uma massa de minério
de 1000 gramas e aproximadamente 1500 ml de água, necessários para atingir 40% de sólidos
e completar o volume útil da cuba (2250 mL), conforme mostrado na Figura 3.

Tabela 2. Parâmetros usados na flotação.


Rotação (RPM) Vazão de ar (L/min) % de sólidos
1000 7 40

Por meio de testes preliminares de flotação, definiu-se os reagentes a serem utilizados


e suas dosagens. Os coletores escolhidos foram o Amil Xantato de Potássio (PAX) e o Isobutil
Ditiofosfato de Sódio, e os espumantes foram a base de álcool e glicol, de nomes comerciais
102 e 626, ambos da fabricante Interfusão. Nos testes de flotação foram avaliadas a influência
da proporção de reagentes e do pH na recuperação e no teor de ouro no concentrado. As
proporções de coletores avaliadas, xantato e ditiofosfato, foram de 3:2 e 2:3, e as proporções
de espumantes, 102 e 626, foram de 4:1 e 1:4, na dosagem total fixa, para ambos (coletores
e espumantes), de 50g/t em cada etapa rougher (Tabela 3). Para uma maior exatidão da
medida foi usada uma micropipeta, tal qual mostra a Figura 4. Os valores de pH foram: 7,5
(natural), 8, 9, 10 e 11. Para regular o pH foi utilizado cal diluído à 10%.
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Armação dos Búzios-RJ, 25 a 28 de setembro de 2022

Figura 3. Cuba de flotação cheia. Figura 4. Dosagem de reagentes.

Tabela 3. Reagentes e dosagens.


Reagentes Dosagem (g/t)
PAX – Interfusão
Coletores 50
isobutil ditiofosfato de sódio
Espumantes 102 - Interfusão
50
626 - Interfusão

Nos testes de flotação em bancada, simulou-se 3 etapas rougher, com adição de


coletor e espumante 3 vezes, sendo então, um total de 150g/t de ambos, coletor e espumante.
O processo completo foi conduzido por um tempo total de 17 minutos cada teste, distribuído
da seguinte forma: um minuto de condicionamento a cada acréscimo de coletor e mais um
minuto a cada acréscimo de espumante, um minuto para a etapa rougher 1, seis minutos para
a rougher 2 e quatro para a rougher 3. Para cada teste foram utilizados o pH e a proporção de
reagentes desejada, conforme mostra a Tabela 4. Os valores do teor de ouro na alimentação,
concentrado e rejeito dos testes de flotação foram determinados por espectrometria de
absorção atômica. A recuperação metalúrgica de cada teste foi calculada a partir desses
teores.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Tabela 4 apresenta os seis testes de flotação realizados, o pH, a proporção


(porcentagem) dos coletores (PAX e Ditio) e espumantes (102 e 626) e os resultados de
recuperação (mássica e metalúrgica) média da triplicata de cada teste. Verifica-se que tanto
o pH quanto a proporção de reagentes influenciaram os valores de teor e recuperação de
ouro. O teste 4, feito em pH natural (7,5), usando a mistura de coletores com 60% de xantato
e 40% de ditiofosfato (3:2), e a mistura de espumantes com 80% de 102 e 20% de 626 (4:1),
foi a que apresentou maior recuperação metalúrgica média de ouro (96,2%). Verifica-se
também que em pH maiores a recuperação metalúrgica do ouro reduz.
Silva, F.M.S.; Oliveira, T.R.B.; Ribeiro, D.F., Costa, D.S.

Tabela 4. Recuperação mássica e metalúrgica por teste.


Teste pH Coletor (%) Espumante (%) Rec. Mássica (%) Rec. Metalúrgica (%)
60 PAX 80 102
1 9,0 38,5 93,6
40 Ditio 20 626
40 PAX 20 102
2 11,0 40,8 87,1
60 Ditio 80 626
60 PAX 80 102
3 11,0 30,1 88,9
40 Ditio 20 626
60 PAX 80 102
4 7,5 33,4 96,2
40 Ditio 20 626
60 PAX 80 102
5 10,0 37,0 92,7
40 Ditio 20 626
60 PAX 80 102
6 8,0 35,0 95,5
40 Ditio 20 626

Figura 5. Teor de ouro (ppm) na alimentação, concentrado e rejeito.

Analisando os resultados do teor de ouro na alimentação, concentrado e rejeito,


apresentados na Figura 5, é possível notar maiores teores para valores de pH mais baixos,
sendo o maior teor obtido em pH natural de 7,5, sem adição de cal, e o segundo menor teor
no rejeito dentre todos os testes, ainda que não tenha o menor teor de ouro na alimentação.
XXIX Encontro Nacional de Tratamento de Minérios e Metalurgia Extrativa
Armação dos Búzios-RJ, 25 a 28 de setembro de 2022

4. CONCLUSÕES

A mistura de coletores com 60% de xantato e 40% de ditiofosfato (3:2), e a mistura de


espumantes com 80% de 102 e 20% de 626 (4:1) em pH natural (7,5) apresentou maior
recuperação metalúrgica média de ouro (96,2%).
A flotação em valores maiores de pH a recuperação metalúrgica do ouro reduziu
significativamente.
Em valores mais baixos de pH o concentrado da flotação apresentou maiores teores,
sendo o maior teor obtido (aproximadamente 17 ppm) em pH natural de 7,5, sem adição de
cal, o que pode simbolizar significativa economia com a compra de reagentes reguladores de
pH.
Considerando que neste trabalho foi aplicada somente a etapa rougher de flotação no
minério, entende-se que é viável a aplicação do processo de flotação para a nova frente de
lavra da mina da Grão Pará como uma rota do processo.
Apesar dos resultados, se faz necessário estudos mais aprofundados de flotação,
aplicando a etapa Cleaner por exemplo, onde será possível uma análise com maior
representatividade no que diz respeito a concentração de ouro.

5. AGRADECIMENTOS

À Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas do Pará - FAPESPA, pelo apoio


financeiro. À empresa Interfusão pela cessão alguns dos reagentes utilizados. À empresa Grão
Pará Mineradora, pelo minério, análise em laboratório e suporte durante o projeto.

6. REFERÊNCIAS

Baltar, C. A. M. Flotação no Tratamento de Minérios. 2a. ed. Recife: Departamento de Engenharia de Minas/
UFPE, 2010.
Chaves, A. P. Teoria e prática do tratamento de minério: Flotação. 1a. ed. São Paulo: Signus editora; 2006.
Peres, A. E. C; Chaves, A. P; Lins, F. A. F; Torem, M. L., Extração de ouro: princípios, tecnologia e meio ambiente.
Rio de Janeiro: CETEM/MCT, 2002. Cap. 2, Beneficiamento de Minério de Ouro, p. 18-50.

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