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I SIMPÓSIO IBERO-AMERICANO DE SOLOS

Agricultura em Solos Frágeis da


América Latina e Europa
05 a 08 de outubro de 2021

AVALIAÇÃO DA LIBERAÇÃO DE METAIS ALCALINOS DE ROCHAS


SILICÁTICAS EM FUNÇÃO DO TEMPO E DA METODOLOGIA

Evaluation of alkali metal release from silicate rocks as a function of time and
methodology

Ricardo de Castro DIAS1; João Augusto Dourado LOIOLA2; Paulo César


TEIXEIRA3 & Everaldo ZONTA4
1
Doutorando do Programa de Pós-graduação em Agronomia – Ciência do Solo (UFRRJ). E-mail:
ricradodiasrcd@hotmail.com
2
Estudante de graduação em Agronomia (UFRRJ). E-mail:joaoaugustodourado@gmail.com
3
Pesquisador da empresa Embrapa Solos (EMBRAPA). E-mail: paulo.c.teixeira@embrapa.br
4
Professor do Departamento de Solos (UFRRJ). E-mail: ezonta@ufrrj.br

Resumo: O presente trabalho teve como objetivo avaliar a solubilidade de dois


metais alcalinos provenientes de diferentes assembleias minerais em função do
tempo e da metodologia adotada. O ensaio foi conduzido em delineamento
inteiramente casualizado, em esquema fatorial 3 x 5 x 2, sendo 3 pós de rocha
(Serpentinito, rocha potássica composta principalmente por feldspatos, e granilto) 5
tempos de extração (0,5; 2; 8; 24 e 48 horas) e duas metodologias distintas (utilizada
por Souza (2013) e por Silva (2017)). O modelo logarítmico foi aquele que
apresentou melhor ajuste para as concentrações de sódio e potássio em todas as
condições de pó de rocha e metodologia. O pó de rocha potássica apresentou as
maiores concentrações de potássio e sódio em solução. A metodologia proposta por
Silva (2017) acarretou maiores concentrações de potássio, enquanto a metodologia
proposta por Souza (2013) proporcionou maiores concentrações de sódio.

Palavras-chave: cinética, remineralizador, solubilidade.

Abstract: The present work aimed to evaluate the solubility of two alkali metals from
different mineral assemblages as a function of time and adopted methodology. The
test was carried out in a completely randomized design, in a 3 x 5 x 2 factorial
scheme, with 3 rock powders (Serpentinite, potassic rock composed mainly of
feldspars, and granite) 5 extraction times (0.5; 2; 8; 24 and 48 hours) and two
different methodologies (used by Souza (2013) and by Silva (2017)). The logarithmic
model was the one that showed the best fit for sodium and potassium concentrations
in all rock dust conditions and methodology. Potassium rock powder had the highest
concentrations of potassium and sodium in solution. The methodology proposed by
Silva (2017) resulted in higher potassium concentrations, while the methodology
proposed by Souza (2013) provided higher sodium concentrations.

Keywords: kinetics, remineralizer, solubility.

Introdução
A mineração consiste na extração de recursos minerais, induzindo em
impactos ambientais nas áreas mineradas e em suas proximidades. Geralmente, os
subprodutos da mineração de rochas são descartados em aterros ou dispostos em

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áreas sem nenhum tipo de tratamento. Assim, a aplicação de subprodutos da


mineração de rochas vulcânicas como remineralizador de solo vem sendo estudada,
com o intuito de minimizar os impactos ambientais causados pela atividade agrícola
e de mineração (RAMOS et al., 2020).
O estudo da cinética de dissolução de minerais é necessário para determinar
adequadamente a capacidade de fornecimento de nutrientes pela rocha aos solos,
otimizar sua eficiência como fertilizante e desenvolver diretrizes para o descarte
seguro e adequado destes subprodutos (PLATA et al., 2021).
Muitas metodologias e equações têm sido usadas para determinar e
descrever a liberação de metais por parte de pó de rochas silicática. Diante do
exposto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar a solubilidade de dois metais
alcalinos provenientes de diferentes assembleias minerais em função do tempo e da
metodologia adotada.

Material e Métodos
O ensaio foi conduzido em delineamento inteiramente casualizado, em
esquema fatorial 3 x 5 x 2, sendo 3 pós de rocha (Serpentinito, rocha potássica
composta principalmente por feldspatos, e granilto) 5 tempos de extração (0,5; 2; 8;
24 e 48 horas) e duas metodologias distintas (utilizada por Souza (2013) e por Silva
(2017), com 4 repetições.
Previamente à execução do experimento, as amostras de rocha foram
caracterizadas por Monte et al. (2021). Os teores de óxidos foram obtidos através da
análise de fluorescência de raios X (FRX) e a composição mineralógica através da
análise de difratometria de raios X (DRX). A caracterização é apresentada pela
Tabela 1.

Tabela 1. Caracterização química das rochas utilizadas no experimento.

Composição Serpentinito Rocha potássica Granilto


química Teor (%)
Quartzo 9,9 2,1 11,9
Microclina 4,8 32,3 2,3
Hornblenda 24,8 0,0 3,9
Muscovita 19,9 23,1 5,2
Ortoclásio 1,3 34,3 5,7
Biotita 11,6 1,1 4,9
Talco 14,6 0,0 0,0
SB 26,34 14,15 14,54
K2O 4,0 12,64 1,94
Na2O 0,11 0,48 3,2
SiO 50,2 57,8 56,60
SB: soma das bases CaO, MgO e K2O.

Na metodologia adotada por Souza (2013), as unidades experimentais


constituíram-se de erlenmeyers com capacidade de 125 mL, contendo 10 g de pó de
rocha (Ø < 0,300 µm) e 100 mL de água deionizada (proporção 1:10 de soluto em
relação ao solvente). Nos tempos estabelecidos, uma alíquota de 5 mL foi pipetada,
transferida para balão volumétrico de 50 mL e, após adição de água deionizada até
a marca de aferição, foi filtrada em papel filtro com porosidade média de 8 µm.

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Na metodologia proposta por Silva (2017), as unidades experimentais


constituíram-se de tubos cônicos tipo Falcon com capacidade de 50 mL, contendo 5
g de pó de rocha (Ø < 0,300 µm) e 50 mL de água deionizada (proporção 1:10 de
soluto em relação ao solvente). Nos tempos estabelecidos, os tubos foram
transferidos para centrífuga em mantidos a 3.500 rpm durante 10 minutos. Em
seguida, o sobrenadante foi coletado e procedeu-se com a reposição de água
deionizada dos tubos (50 mL).
O experimento foi conduzido em mesa agitadora orbital, a 150 rpm e
temperatura de 24 ± 1,5 °C. Após coletadas as amostras, procedeu-se com a
determinação das concentrações de potássio e sódio através de fotômetro de
chama.
Os resultados foram submetidos ao teste de Bartlett para verificação da
homogeneidade das variâncias e teste de Shapiro-Wilk para a verificação da
normalidade da distribuição dos resíduos. Quando infringidas as suposições, os
dados foram transformados através de x 0,5, sendo “x” a variável dependente. Em
seguida, procedeu-se com a análise de variância através do teste F, a 5% de
probabilidade. Os fatores qualitativos foram comparados através do teste de Tukey
(α < 0.05). O fator quantitativo foi submetido a análise de regressão, sendo
ajustados os modelos linear, quadrático, cúbico, raiz quadrática e logarítmico. O
melhor modelo foi escolhido com base na estatística de teste (t) para os coeficientes
e nos coeficientes de determinação (R2).

Resultados e Discussão
A apresenta o resumo da análise de variância das variáveis dependentes em
função dos tratamentos, num esquema fatorial triplo. Foi constatada a tripla
interação entre os fatores.

Tabela 2. Resumo da análise de variância das concentrações de K e Na em


função de diferentes pós de rocha em tempos crescentes e diferentes metodologias.

Fonte de variação Valor de F


[K]0,5 [Na]0,5
Rocha (R) 161,04* 4621,30*
Tempo (T) 370,85* 345,72*
Método (M) 38,13* 793,07*
RxT 2,94* 29,74*
RxM 7,57* 161,44*
TxM 13,05* 5,71*
RxTxM 4,74* 9,54*
CV 5,54 3,49*
*: significativo a 1% de probabilidade; 0,5: dados transformados através da raiz quadrada.

Constatou-se que, dentre os modelos de regressão propostos, o que teve


melhor ajuste para a concentração de potássio foi o modelo logarítmico, para todos
os tratamentos (Figura 1). Quando se procedeu com a centrifugação e substituição
do sobrenadante por água deionizada, maiores concentrações de potássio foram
obtidas, exceto no caso do Serpentinito. Entretanto, em ambas as metodologias o
comportamento foi semelhante, havendo um rápido aumento na concentração nas

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primeiras 8 horas. Após esse período, o aumento na concentração foi mitigando em


função do tempo . A rocha potássica obteve maiores médias, quando comparada
com as demais.

a b

*: (p<0,001); °: (p<0,05) pelo teste t.

Figura 1. Concentração de potássio obtidas pela solubilização de pó de rocha (quadrados representam


serpentinito, círculos representam a rocha potássica, triângulos representam granilto) em água destilada
adotando duas diferentes metodologias (Silva (2017) representado por marcadores preenchidos; Souza (2013)
representado por marcadores vazios) em função do tempo de agitação. Dados transformados em raiz
quadrada(a) e dados sem transformação (b). As equação 1, 2 e 3 são referentes aos resultados de serpentinito,
rocha potássica e granilto, respectivamente, obtidos pela metodologia proposta por Silva (2017). As equação 3, 4
e 5 são referentes aos resultados de serpentinito, rocha potássica e granilto, respectivamente, obtidos pela
metodologia proposta por Souza (2013).

Os ajustes obtidos para a concentração de sódio seguiram o mesmo padrão


daqueles obtidos para potássio. Em todos os casos, o modelo de regressão
logarítmica foi aquele que melhor se ajustou. Entretanto, a qualidade do ajuste para
sódio foi inferior à qualidade obtida para potássio, principalmente quando foi utilizada
a metodologia proposta por Souza (2013). Inversamente ao que foi observado para
potássio, a metodologia proposta por Silva (2017), que envolve a centrifugação e
substituição do sobrenadante por água nos intervalos estabelecidos. Apresentou
menor tendência em solubilizar sódio, a rocha que proporcionou as maiores
concentrações de sódio foi a rocha potássica.

a b

*: (p<0,001); ´: (p<0,01); °: (p<0,05); ¨: não significativo pelo teste t (p > 0,05).

Figura 2. Concentração de sódio obtidas pela solubilização de pó de rocha (quadrados representam serpentinito,
círculos representam a rocha potássica, triângulos representam granilto) em água destilada adotando duas
diferentes metodologias (Silva (2017) representado por marcadores preenchidos; Souza (2013) representado por

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marcadores vazios) em função do tempo de agitação. Dados transformados em raiz quadrada(a) e dados sem
transformação (b). As equação 1, 2 e 3 são referentes aos resultados de serpentinito, rocha potássica e granilto,
respectivamente, obtidos pela metodologia proposta por Silva (2017). As equação 3, 4 e 5 são referentes aos
resultados de serpentinito, rocha potássica e granilto, respectivamente, obtidos pela metodologia proposta por
Souza (2013).

A cinética de dissolução de minerais geralmente diminui do valor inicial se


observadas durante longos períodos. A dissolução não estequiométrica pode
explicar parcialmente a variação na taxa de dissolução no decorrer do tempo.
Durante a dissolução, pode haver a formação de uma camada superficial
empobrecida em íons mais solúveis, como K e Na. Essa camada pode apresentar
milhares de Angstrons de espessura, resultando em uma camada de depleção.
Adicionalmente, a rápida dissolução inicial pode ser atribuída à pequenas partículas
aderidas eletrostaticamente a superfície das partículas do pó de rocha (BRANTLEY;
OLSEN, 2013).
Os resultados mostram a baixa solubilidade de K e Na nas primeiras 24 h,
corroborando com resultados obtidos por Bakken et al. (1997). Segundo os autores,
a superfície específica das partículas apresenta forte relação com a disponibilidade
de K. Ainda concluem que os custos financeiros e energéticos devem ser
considerados no emprego de rochas silicática cominuídas como fonte de nutrientes.

Conclusões
O modelo de regressão logarítmico foi aquele que apresentou melhor ajuste
para as concentrações de sódio e potássio em todas as condições de pó de rocha e
metodologia.
O pó de rocha potássica apresentou as maiores concentrações de potássio e
sódio em solução.
A metodologia proposta por Silva (2017) acarretou em maiores concentrações
de potássio, enquanto que a metodologia proposta por Souza (2013) proporcionou
maiores concentrações de sódio.

Agradecimentos
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – (CAPES).

Referência Bibliográfica
BAKKEN, A. K.; GAUTNEB, H.; MYHR, K. Plant available potassium in rocks
and mine tailings with biotite, nepheline and K-feldspar as K-bearing minerals. Acta
Agriculturae Scandinavica Section B: Soil and Plant Science, v. 47, n.
3, p. 129–134, 1997.

BRANTLEY, S. L.; OLSEN, A. A. Reaction Kinetics of Primary Rock-Forming


Minerals under Ambient Conditions. In: Treatise on Geochemistry: Second
Edition. [s.l: s.n.]. v. 7p. 69–113.

MONTE, M. B. DE M. et al. Levantamento de Resíduos e Rejeitos e o


Potencial de Diversificação de Produtos da Atividade Mineral na Região
Centro-Oeste para Agrominerais. Rio de Janeiro: [s.n.].

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PLATA, L. G. et al. Release kinetics of multi-nutrients from volcanic rock


mining by-products: Evidences for their use as a soil remineralizer. Journal of
Cleaner Production, v. 279, 10 jan. 2021.

RAMOS, C. G. et al. Evaluation of Soil Re-mineralizer from By-Product of


Volcanic Rock Mining: Experimental Proof Using Black Oats and Maize Crops.
Natural Resources Research, v. 29, n. 3, p. 1583–1600, 1 jun. 2020.

SILVA, C. C. A. DA. Avaliação da Liberação de potássio de rochas


silicáticas por extrações seletivas. [s.l.] Universidade de Brasília, 2017.

SOUZA, I. C. DE A. Influência do tamanho de partícula na dissolução do


íon potássio da rocha flogopitito. [s.l.] Universidade Federal do Rio de Janeiro,
2013.

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