Escola de Engenharia da Universidade Federal de Minas
Gerais Curso de Especialização em Engenharia de Recursos Minerais
BRENDA DANILE REIS DOS SANTOS
MINERALOGIA APLICADA A TECNOLOGIA
MINERAL
Belo Horizonte 2023
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Liberação no processamento de minérios
Há três preceitos básicos e fundamentais no processamento de concentração
mineral: a liberação do mineral de interesse do mineral não útil (ganga), a separabilidade dinâmica e a propriedade diferenciadora (PERES, 2007).
O conceito de liberação foi definido por A.M. Gaudin em 1939 e consiste na
técnica e/ou operação de se dividir (cominuir) minérios e outras matérias-primas minerais, até que uma parte das partículas resultantes seja constituída por um único mineral: partículas liberadas.
As demais partículas serão compostas por uma mistura de minerais, onde o
mineral econômico tem um determinado volume, em relação aos minerais de ganga: partículas mistas.
Na concentração de minérios, é necessário usar uma propriedade
diferenciadora para separar-se os minerais valiosos (mineral-minério) dos minerais sem valor ou de valor secundário (mineral de ganga).
Esta propriedade separadora pode ser:
densidade ou massa específica → separação gravitativa;
susceptibilidade magnética → separação magnética; propriedades de superfície → flotação; etc.
Tipos de associação dos grãos:
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Uma característica importante no tratamento de qualquer mineral é o seu grau de
liberação. O grau de liberação, ou espectro de liberação, nada mais é do que a distribuição de composições de partículas em uma população (SCHNEIDER et al., 2010). Na maioria dos minérios várias fases estarão presentes, e pelo menos, uma fase terá valor econômico e uma outra fase constituirá ganga. Partículas que contém apenas uma fase são chamadas partículas liberadas. Todas as outras partículas que contém mais do que uma fase são chamadas partículas compostas ou não liberadas.
A eficiência da recuperação do mineral de interesse na usina depende do seu
grau de liberação. Medir o espectro de liberação não é tarefa fácil, senão esta medida seria praxe em qualquer planta de processamento de minérios. Existem métodos diretos e indiretos para a determinação do grau de liberação.
A técnica usada tradicionalmente, por ser de fácil aplicação, é a do gradiente
de densidade obtido a partir de diferentes líquidos pesados, um dos métodos mais rápidos para estabelecer a liberação dos minerais granulares de um minério ou de produtos específicos (Müller, 1971).
O material classificado em diversas faixas granulométricas, quando
efetivamente liberado, assume na coluna de gradiente o lugar correspondente a sua densidade. São utilizados líquidos imiscíveis de diferentes densidades e, como consequência, tem-se a formação de faixas horizontais bem definidas. A liberação das espécies mineralógicas segundo simples observação visual é facilmente detectada. Uma das limitações deste método é a impossibilidade de preparar-se gradientes com densidades superiores a 4,3 (solução de Clerici).
Na Figura abaixo. são representados quatro tubos de ensaios utilizados na
separação densitária, visando observar a liberação do mineral-minério nas diferentes granulometrias. Os tubos são preenchidos por líquidos com densidades variadas (d = 2,6 - 3,3), e, dependendo da granulometria de liberação e da densidade do mineral de interesse, ele irá ocupar a faixa do gradiente correspondente a sua densidade. Na figura, os tubos de ensaios utilizados no estudo de liberação de um material 4
contendo quartzo, dolomita, fluorita e sulfetos.
Em substituição à técnica de líquido denso, tem-se o método de Gaudin. Este
método consiste em identificar o mineral do qual se quer determinar o grau de liberação e contar todas as partículas liberadas e mistas desse mineral em uma amostra. O procedimento é repetido para as faixas granulométricas de interesse, obtendose o grau de liberação para cada uma delas.
Só é possível aplicar o método quando a cor do mineral de interesse difere-se
da ganga. Apesar de simples, o método de Gaudin pode exibir resultados bastante confiáveis. Porém, a contagem das partículas no procedimento requer uma grande demanda de tempo, por ser totalmente manual.
Grau de liberação pelo método de Gaudin: exemplo
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♦ número total de partículas contadas: 900
♦ número de partículas liberadas no mineral A: 350 ♦ número de partículas mistas, com 50% (em média) de volume do mineral A: 250 ♦ outras partículas (sem o mineral A): 300
As técnicas de caracterização combinadas com microscopia óptica são
bastante usadas, pois permitem uma análise de amostras em grãos sem a necessidade de montar seções polidas ou delgadas, ao contrário da Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV). O MEV, por ser um equipamento de alto custo e exigir um tratamento das amostras com polimentos e recobrimento com carbono grafite pode inviabilizar as análises quando não se quer uma precisão tão grande.
Na caracterização tecnológica e na mineralogia de processo os métodos mais
empregados para a identificação das fases minerais são a microscopia ótica (microscópio estereoscópico, microscópio de luz refletida e de luz transmitida), a Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) e a Difração de Raios-X (DRX). No nível da tecnologia atual somado à necessidade de melhorar a assertividade das análises 6
microscópicas, juntamente com a automatização das mesmas, entra-se em um
campo chamado microscopia digital. A microscopia digital é a “integração entre microscópio e computador oferecendo aquisição digital de imagens, automação do microscópio e análise de imagens” (PACIORNIK, 2009, p. 7)6 .
Existe atualmente no mercado um sistema automatizado de análise de
imagens e mineralogia quantitativa, conhecido como Mineral Liberation Analyzer (MLA), que conjuga o MEV, um espectrômetro de raios-x dispersivo em energia e um software de análise de imagens digitais. Ele consegue fornecer automaticamente informações sobre a composição mineralógica da amostra e o grau de liberação mineral.
Metodologia:
obtém-se a imagem de elétrons retroespalhados da partícula, utilizando os
vários tons de cinza para distinguir os diversos minerais, examinados em secções polidas; a seguir, cada grão mineral identificado é analisado pelo microanalisador EDS; com estas duas informações, o sistema mapeia e quantifica as partículas poligranulares da amostra do minério estudado; uma vez definidas as condições de análise, o sistema, que é totalmente automatizado, efetua um grande número de análises, em milhares de partículas (de 1500 a 5000), e realiza o tratamento matemático dos dados, com grande significado estatístico. 7
Problemas no MLA
♦ há vários, normalmente casos específicos;
♦ exemplo: a distinção entre magnetita e hematita é muito difícil, chegando a ser impraticável em muitas situações.
Técnicas Auxiliares:
Espectroscopia no Infravermelho
A espectroscopia no infravermelho é uma técnica analítica muito útil na
caracterização de substâncias químicas, fornecendo dados sobre a identidade e constituição estrutural de um composto puro ou sobre a composição qualitativa e quantitativa de misturas. No campo da mineralogia costuma ser uma técnica subestimada, embora além de fornecer informações complementares à difratometria de raios X, permite em certos casos, melhores identificações nos minerais de baixa cristalinidade, com altos índices de substituições no retículo, ou materiais amorfos (Estep-Barners, 1977, Bessler, 1983). O método utilizado para obtenção de espectros no infravermelho dos materiais sólidos é o da pastilha com brometo de potássio prensada. Um espectro de infravermelho compõe-se de bandas de 8
absorção intrinsecamente relacionadas aos movimentos moleculares, principalmente
vibrações. Assim, os minerais mais facilmente caracterizados pelos seus espectros de infravermelho são aqueles que contém oxiânions isolados (carbonatos, sulfatos, fosfatos, etc.). Os espectros dos oxiânions condensados (silicatos em maioria) geralmente apresentam-se sob formas complexas. Os minerais contendo o grupo hidroxila (argilominerais entre outros) mostram vibrações características de alta intensidade e, portanto, de fácil detecção.
Espectrometria Mössbauer
O fato da espectrometria Mössbauer estar relacionada às medidas de
ressonância em sólidos, faz desta técnica a ferramenta adequada para investigação dos materiais sólidos naturais inorgânicos como rochas, sedimentos e solos (Herzenberg e Riley, 1970). A técnica é usada para estudo da estrutura dos minerais e identificação de fases minerais em agregados polifásicos. É possível semiquantificar o ferro em seus diferentes estados de oxidação, principalmente a razão ferro ferroso e ferro férrico (Fe+2 e Fe+3).
Análises Térmicas
Estão agrupadas em análises térmicas as técnicas que medem a variação
dos parâmetros físicos de uma substância com a temperatura. As técnicas mais utilizadas pela mineralogia aplicada são as análises termodiferencial (ATD) e termogravimétrica (ATG). Na análise termodiferencial são estabelecidas as diferenças de temperatura entre uma substância e um padrão constituído de material de referência inerte quando estas duas espécimes estão sujeitas a idênticos regimes de aquecimento ou resfriamento. Estes efeitos fornecem informações a respeito das reações exotérmicas e endotérmicas ocorridas no material examinado (MacKenzie, 1970, Neumann, 1977). As reações exotérmicas são atribuídas aos processos de oxidação, recristalização ou colapso das estruturas defeituosas. As reações endotérmicas envolvem mudanças de fase, desidratação, decomposição e inversão de cristalinidade. Estas informações, por vezes, típicas de um determinado mineral, podem ser utilizadas para identificá-lo e ainda fornecer uma estimativa de sua proporção na amostra. 9
É especialmente indicado para o estudo de minerais com baixa cristalinidade
ou amorfos. Na análise termogravimétrica, as mudanças no peso da amostra são medidas em função de um aquecimento constante e atmosfera controlada. A perda de massa da amostra pode ser consequência da remoção de misturas adsorvidas, grupos hidroxilas ou substâncias voláteis. Já o ganho no peso é atribuído ao processo de oxidação. A gama de minerais que podem ser estudados por esta técnica, está limitada aos argilominerais e aqueles contendo água, hidroxila, matéria orgânica, enxôfre, carbonato, etc.
Ultravioleta
A fluorescência sob radiação ultravioleta, quando presente, é um método
determinístico para identificação de minerais. Embora haja limitações quanto ao uso da luz ultravioleta, pois são poucos os minerais econômicos que apresentam fluorescência, é possível obter informações sobre crescimento de cristais, zonação ou inclusões que não se distingue por outros métodos. A maior parte dos minerais que apresentam fluorescência é devido às impurezas, também denominadas ativadores. Os elementos como o manganês, urânio e terras raras induzem uma fluorescência nos minerais. Segundo Hutchison (1974), os minerais que sempre apresentam fluorescência são: scheelita, hidrozincita, willemita, autunita, malaquita, escapolita e fluorita. Entre os minerais que podem apresentar ou não fluorescência, dependendo dos ativadores, estariam incluídos: calcita, anglesita, wollastonita, nefelina, diamante e zirconita. Uma relação completa dos minerais fluorescentes é encontrada em Gleason (1977). 10
Referencias:
CETEM - Caracterização Mineralógica de Minérios – Parte I
Material de apoio – Mineralogia Aplicada a Tecnologia Mineral.
Construção de espectrofotômetro UV-VIS multicanal e aplicações no estudo da cinética de reações químicas: uma proposta de plataforma analítica e educacional