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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS – UNIFAL-MG

Campus Poços de Caldas


Engenharia Química

LUIS OTÁVIO SILVA PEREIRA LEMOS

TRATAMENTO DE DRENAGEM ÁCIDA DE MINAS

Poços de Caldas/MG

2015
LUIS OTÁVIO SILVA PEREIRA LEMOS

TRATAMENTO DE DRENAGEM ÁCIDA DE MINAS

Trabalho de Conclusão de Curso II


apresentado como parte dos requisitos
para a conclusão do curso de
Engenharia Química da Universidade
Federal de Alfenas (UNIFAL) - Campus
Poços de Caldas.
Orientadora: Profa. Dra. Giselle Patrícia
Sancinetti

Poços de Caldas/MG

2015
FICHA CATALOGRÁFICA

L557t Lemos, Luis Otávio Silva Pereira.


Tratamento de drenagem ácida de minas. / Luis Otávio Silva Pereira
Lemos.

Orientação de Giselle Patrícia Sancinetti. Poços de Caldas: 2015.


35 fls.: il.; 30 cm.
Inclui bibliografias: fls. 28 - 31

Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Química) –


Universidade Federal de Alfenas– Campus de Poços de Caldas, MG.

1. Drenagem ácida de minas. 2. Reator UASB. 3. Precipitação de metais.


I. Sancinetti, Giselle Patrícia. (orient.). II. Universidade Federal de Alfenas –
Unifal. III. Título.

CDD 622.5
RESUMO

A geração de drenagem ácida de minas (DAM) é um importante impacto


ambiental decorrente de atividades mineradoras, que através de lavras, depósitos
de rejeitos e pátios de armazenamento de minério beneficiado, intensificam a
produção de efluentes caracterizados por apresentar baixo pH e elevada
concentração de sulfato e metais. Como consequência desse processo, tem-se o
risco associado à contaminação de solos e de recursos hídricos que impactam
de maneira negativa nas características naturais da região. O presente trabalho
apresenta a contextualização do problema juntamente com suas diferentes formas
de remediação, e apresenta um método que foi utilizado para o tratamento deste
efluente. O objetivo do trabalho foi utilizar um sistema composto por um reator
UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket) e bactérias redutoras de sulfato (BRS)
para tratar efluentes oriundos de DAM utilizando soro de leite como fonte de
carbono, e assim avaliar a remoção de sulfato e a possível precipitação de metais.
A operação do projeto teve a duração de 30 dias, a relação DQO/SO 42- utilizada foi
1 e o tempo de detenção hidráulica (TDH) foi 16 horas. Além dessas condições, foi
adicionado ao meio de alimentação, respectivamente, 100, 20 e 5 mg/l de ferro,
zinco e cobre, para que assim pudesse ser feita a análise de remoção desses
metais. Após o período de operação do sistema, obteve-se 62,7% de remoção de
sulfato e 85,5% de DQO, além disso, o tratamento atingiu seu objetivo precipitando
o ferro com uma remoção média de 99,3% e diminuindo a acidez do efluente
gerado.

PALAVRAS-CHAVE: Drenagem ácida de minas (DAM), reator UASB, bactérias


redutoras de sulfato (BRS), DQO, precipitação de metais.
ABSTRACT

The generation of acid mine drainage (AMD) is a detrimental environmental


impact from mining activities. The production of wastewater is intensified through
mines, tailings deposits, and processed ore storage yards as a result of a low pH
and the high sulfate and metal concentrations. As a result of this process, there is
the associated risk of soil and water resource contamination which negatively
impacts the natural characteristics of the region. This paper presents the context of
the problem along with its different ways of remediation, and also presents a method
that was used for the treatment of this effluent. The objective was to use a system
composed of an upflow anaerobic sludge blanket (UASB) reactor and sulphate-
reducing bacteria (SRB) to treat effluents from AMD using whey as a carbon source,
and then the removal of sulfate and any possible metal precipitates can be
evaluated. The project operation lasted 30 days with the COD/SO42- ratio equal to 1
and the hydraulic retention time (HRT) being 16 hours. With these conditions, 100,
20 and 5 mg/l of iron, zinc and copper was added to the input feed, respectively, so
that the analysis could be performed to remove these metals. After the system
operating period, 62.7% of sulphate removal and 85.5% of COD removal was
observed. In addition, the treatment reached its goal by precipitating the iron with a
removal percentage of 99.3% and reducing the acidity of the effluent generated.

KEY-WORDS: Acid mine drainage (AMD), UASB reactor, sulphate-reducing


bacteria (SRB), COD, metals precipitation.
SUMÁRIO

1. Introdução ............................................................................................................... 7
2. Objetivos ................................................................................................................. 8
2.1 Objetivos gerais ................................................................................................. 8
2.2 Objetivos específicos ......................................................................................... 9
3. Revisão Bibliográfica ............................................................................................... 9
3.1 Drenagem Ácida de Minas .............................................................................. 9
3.2 Tipos Convencionais de Tratamento de DAM .............................................. 11
3.3 Tratamento Biológico de DAM ...................................................................... 12
3.4 Reator UASB ................................................................................................ 13
3.5 Precipitação de Metais.................................................................................. 14
4. Materiais e Métodos ........................................................................................... 15
4.1 Materiais ....................................................................................................... 15
4.2 Métodos ........................................................................................................ 17
5. Resultados e Discussões ...................................................................................... 19
5.1 Avaliação da remoção de sulfato e de DQO .................................................... 19
5.2 Avaliação do sulfeto ......................................................................................... 22
5.3 Variação do pH ................................................................................................ 23
5.4 Alcalinidade e Ácidos Voláteis Totais............................................................... 24
5.5 Avaliação da precipitação de metais ................................................................ 26
6. Conclusão ............................................................................................................. 28
7. Sugestões para trabalhos futuros.......................................................................... 29
Referências Bibliográficas ......................................................................................... 28
Anexo .........................................................................................................................32
Apêndice ....................................................................................................................33
7

1. Introdução

Atualmente, é crescente a preocupação mundial com a conservação e uso


racional dos recursos naturais, bem como com o desenvolvimento de
tecnologias que causem menor impacto no meio ambiente. Acadêmicos,
pesquisadores e a própria sociedade buscam alternativas que possam
estabelecer um modelo capaz de atender demandas econômicas e ambientais, ou
seja, estabelecer um equilíbrio entre o desenvolvimento da sociedade e o uso
correto do meio ambiente (RIZZO, 2004).
Muitas indústrias utilizam o ácido sulfúrico em seus processos industriais, e
esses são responsáveis pelo aumento da quantidade de sulfato em águas
residuárias. Dentre as indústrias que produzem direta ou indiretamente o ácido
citado destacam-se as mineradoras. A mineração é uma atividade extremamente
importante para o desenvolvimento social e econômico de uma sociedade, sendo
responsável pelo crescimento de diversos setores produtivos. Os recursos naturais
são fundamentais para os processos de produção e estão associados ao
atendimento do mercado e ao poder de competição que determinado país tem no
cenário econômico mundial (SILVA, 2010).
Sabendo da importância dessa atividade e de suas consequências, pode-se
afirmar que a mineração é objeto de muito estudo e discussão. Em relação aos
principais problemas decorrentes do setor mineral destaca-se a poluição da água,
do ar, sonora e subsidência do terreno. E nesse contexto, a drenagem ácida de
minas (DAM) é considerada um dos problemas ambientais mais graves associados
à extração mineral (SILVA, 2010).
A drenagem ácida de minas (DAM) é o resultado da oxidação natural de
minerais sulfetados, na presença de bactérias, quando expostos ao oxigênio e à
água. Efluentes são gerados e se caracterizam por apresentar elevada acidez e
altas concentrações de sulfato e de metais dissolvidos (em composições e
concentrações que dependem de condições geológicas específicas). Esses
efluentes comprometem a qualidade dos solos e dos recursos hídricos em regiões
próximas a mineração (MENEZES et al., 2004).
8

Em decorrência dos problemas causados pela DAM, seu controle e


tratamento são de grande importância para órgãos fiscalizadores e das próprias
mineradoras. Sabe-se que seu controle é muito difícil, assim os tratamentos se
tornam muito importantes e necessários para esse problema. Na remediação são
utilizados tratamentos, ativos ou passivos, os quais se diferenciam pelo fato da
existência ou não da necessidade de introduzir energia no sistema para inicializar e
continuar o processo. O tratamento físico-químico é o mais utilizado para DAM,
porém os custos operacionais são elevados e a eficiência na remoção não é
satisfatória de acordo com os parâmetros estabelecidos pela lei (BLOWES et al.,
2003).
Esse contexto justifica a procura e estudo de novos métodos para a
recuperação dessas áreas e conservação dos ambientes que estiverem em contato
com essas áreas. Dentre esses métodos destaca-se a biorremediação que consiste
em um tratamento que compreende bactérias redutoras de sulfato (BRS) capazes
de utilizar sulfato como aceptor final de elétrons reduzindo este composto a sulfeto.
Essa redução ocorre na presença de um doador de elétrons e consome a acidez do
meio, aumentando assim sua alcalinidade e possibilitando que o sulfeto gerado
reaja com os metais dissolvidos na solução precipitando sulfetos metálicos. Através
desse tipo de tratamento é possível a remoção de sulfato e matéria orgânica,
diminuição da acidez e a recuperação de metais.

2. Objetivos

2.1 Objetivos gerais

O presente trabalho teve como objetivo principal o estudo da eficiência da


remoção de sulfato, demanda química de oxigênio (DQO) e a precipitação de
metais presente em efluente sintético de DAM utilizando soro de leite como fonte de
carbono a partir da utilização das BRS em reator UASB (Upflow Anaerobic Sludge
Blanket).
9

2.2 Objetivos específicos

Operar o sistema com as seguintes condições:

 Período de operação: 30 dias;


 Tempo de detenção hidráulica (TDH): 16 horas;
 Concentrações iniciais de sulfato e DQO: 1500 mg/l;
 Concentrações iniciais de ferro, zinco e cobre: 100, 20 e 5 mg/l
respectivamente.

3. Revisão Bibliográfica

3.1 Drenagem Ácida de Minas

A drenagem ácida de minas é produzida quando materiais compostos de


sulfeto são expostos ao gás oxigênio, água e microrganismos presentes no
ambiente. Embora esse processo ocorra naturalmente, a mineração é responsável
por aumentar a quantidade de sulfetos expostos à atmosfera e assim intensificar a
geração de DAM. É importante ressaltar que os efluentes oriundos da mineração
podem ser gerados em depósitos de rejeitos de minas, pátios de armazenamento
de minério beneficiado e em lavras de céu aberto e subterrânea. Pelo fato da
mineralogia e outros fatores que influenciam diretamente na DAM variarem de
acordo com o local da mina, prever o seu potencial e a viabilidade das ações que
devem ser tomadas para reduzir ou remediar o seu impacto são difíceis. Sabendo
disso, as mineradoras apresentam um papel muito importante no sentido de se
responsabilizar em obter conhecimentos e ferramentas necessárias para identificar
técnicas que minimizarão e/ou evitarão os efeitos da DAM (BLOWES et al, 2003).
Existem vários materiais compostos de sulfeto que podem gerar efluentes de
DAM. O sulfeto presente nesses materiais sofre oxidação, forma íons sulfato e
10

libera prótons no meio. O efluente, por apresentar características ácidas, age como
agente lixiviante sendo capaz de dissolver metais provenientes do solo ou rocha, e
assim acaba se tornando um grave problema ambiental (JOHNSON; HALLBERG,
2005).
Durante o processo de geração da drenagem ácida algumas reações
químicas ocorrem; cada drenagem depende de fatores que variam entre as minas,
porém para melhor entendimento do trabalho foram utilizadas as reações que
ocorrem com a pirita (AKCIL; KOLDAS, 2006). A primeira etapa do processo é a
oxidação do mineral.

FeS2 (s) + O2 (g) + H2O (l) → Fe2+ (aq) + 2SO42- (aq) + 2H+ (aq) (Reação I)

A segunda etapa do processo ocorre em ambientes oxidantes, ou seja,


depende de fatores como concentrações de O 2, pH e atividade bacteriana, e ela é
representada pela oxidação do íon ferroso.

Fe2+ (aq) + H+ (aq) + O2 (g) → Fe3+ (aq) + H2O (l) (Reação II)

A terceira etapa é representada pela formação do precipitado hidróxido de


ferro, cuja etapa é responsável pela redução da quantidade de Fe 3+ na solução e
elevação da acidez do meio.

Fe3+ (aq) + 3H2O (l) → Fe(OH)3 (s) + 3H+ (aq) (Reação III)

Os íons Fe3+, que ainda estão presentes na solução, após formação do


hidróxido de ferro podem ainda oxidar a pirita, através da reação:

FeS2 (s) + 14Fe3+ (aq) + 8H2O (l) → 15Fe2+ (aq) + 2SO42- (aq) + 16H+ (aq) (Reação IV)

As etapas do processo de efluente de DAM podem ser catalisadas pela ação


de espécies bacterianas quando o pH da solução é inferior a 4,0 (RUBIO,
1998a, 1998b).
11

3.2 Tipos Convencionais de Tratamento de DAM

Os efluentes gerados por DAM, usualmente, são tratados de duas


maneiras: (i) através dos sistemas ativos, que são os mais utilizados, e (ii) através
dos sistemas passivos.
O tratamento ativo mais utilizado é o tratamento químico que envolve
processos de neutralização e precipitação. A neutralização ocorre com a adição de
compostos químicos, como cal hidratada (Ca(OH)2), cal virgem (CaO), soda
cáustica (NaOH), amônia (NH3), entre outros, em que cada reagente possui
diferentes características técnicas e econômicas que influenciam na sua
utilização. Com a neutralização da solução, íons hidroxila são liberados e reagem
com os íons metálicos que, por sua vez, precipitam em hidróxidos e tornam sua
remoção mais fácil através de agitadores mecânicos e tanques de
sedimentação. O tratamento citado apresenta fatores que devem ser considerados:
preço dos reagentes, custo operacional, investimento inicial em equipamentos,
quantidade de lodo formada, necessidade de tratamento desse lodo e a ineficiência
na remoção de sulfato do efluente (POSSA; SANTOS, 2003).
Os tratamentos passivos que podem ser utilizados são: instalação de
barreiras reativas permeáveis, processo pelo qual efluentes de DAM
atravessam essas barreiras que funcionam como canais de drenagem e retém
contaminantes; poços produtores de alcalinidade, em que a neutralização e
precipitação dos metais ocorrem através do contato com o calcário no interior do
poço, entre outras. Porém as tecnologias citadas apresentam limitações como a
neutralização não completa de efluentes muito ácidos, área necessária para a
construção de bacias de contenção e dificuldade de tratar grandes volumes
(SOARES; TRINDADE, 2003).
12

3.3 Tratamento Biológico de DAM

Sabe-se que os tratamentos ativos de DAM são mais eficientes na remoção


dos metais dissolvidos, porém apresentam elevados custos associados aos seus
processos. Diante deste contexto e da necessidade do tratamento desses
efluentes torna- se viável o estudo e desenvolvimento de tratamentos passivos que
possam apresentar menos limitações e, assim, serem vantajosos no sentido
econômico e na recuperação desses efluentes (SAMPAIO, 2015).
Portanto, os sistemas de tratamento com processos microbiológicos que
objetivam remediar a acidez e metais dissolvidos apresentam grande importância
no tratamento de águas residuárias. Dentre eles o sistema que utiliza biorreatores
juntamente com BRS apresenta características interessantes no sentido de
redução de sulfato, em meio anaeróbio, e na produção de alcalinidade como fonte
de precipitação dos metais dissolvidos nos efluentes (SHEORAN et al., 2010).
Para dar início a explicação do método que foi utilizado, primeiramente é
necessária a apresentação das BRS. A utilização dessas bactérias em
tratamentos de efluentes tem se mostrado uma alternativa biotecnológica, que se
deve ao fato desses microrganismos serem capazes de produzir sulfeto de
hidrogênio a partir da redução metabólica do sulfato num processo conhecido
como redução dissimilativa de sulfato. Para que essa redução ocorra é necessário
um doador de elétrons para estimular o metabolismo das BRS, e esse doador será
dependente de alguns fatores do processo, como a disponibilidade, custo e a
geração de alcalinidade. É importante saber que um fator importante que influencia
na escolha do doador é a competição das BRS com as bactérias acidogênicas,
acetogênicas e metanogênicas. A competição pode ocorrer por fontes de carbono
e elétrons. O resultado dessa competição é como irá ocorrer a formação de sulfeto
e metano no sistema, sendo que as BRS são responsáveis pela produção do
sulfeto e as demais do metano. Essa competição é dependente da concentração
de íons sulfato, da DQO do afluente e da razão DQO/SO4, sendo que quanto
maior for essa razão mais os outros microrganismos prevalecem em relação às
BRS, e quanto mais essa razão se aproxima de valores estequiométricos mais as
BRS prevalecem e consequentemente a produção de sulfeto é maior (MIZUNO
13

et al., 1994). Além desses fatores que determinarão a escolha do doador de


elétrons, o processo é diretamente influenciado pelo tipo de reator, tipo
de inoculo, concentração de sulfato e de metais, temperatura de operação, pH e
tempo de detenção hidráulica (KAKSONEN; PUHAKKA, 2007).
Sendo assim, o tratamento biológico fundamentado em técnicas
biotecnológicas destaca-se por apresentar baixo custo de instalação e operação,
necessitar de pequena área para implantação, gerar pequenas quantidades de lodo
e gerar biogás que poderá ser utilizado na precipitação de metais dissolvidos em
efluentes (LENS et al., 1998).

3.4 Reator UASB

O reator anaeróbio de fluxo ascendente e de manta de lodo (UASB) é um


tipo de sistema biológico utilizado para o tratamento de efluentes na ausência
de oxigênio, e realiza funções de um decantador primário, reator biológico,
decantador secundário e um digestor de lodo (PASSEGGI et al. ,2012).
O afluente é alimentado pelo fundo do reator, onde se encontra a biomassa
denominada de leito de lodo, o contato entre os microrganismos e o substrato do
afluente permite a biodegradação e digestão da matéria orgânica, gerando biogás e
novas células microbianas. O biogás gerado proporciona um maior grau de mistura
no sistema ao realizar a movimentação da biomassa, porém ao seguir o fluxo
ascendente do reator carrega sólidos para o topo. Por isso é disposta na parte
superior do reator um mecanismo denominado separador trifásico, em que placas
defletoras são responsáveis pela separação das fases sólida, líquida e gasosa, que
permite a coleta dos gases e o retorno da biomassa para o leito do reator, região de
digestão. O efluente tratado deixa o sistema no topo, onde existem calhas que
auxiliam essa saída (RIZZO; LEITE, 2004). Modelos de reatores UASB são capazes
de garantir que, através do contato intenso entre o material orgânico e o lodo
(através do escoamento ascendente que passa pelo leito de lodo), e através do
movimento de retorno da massa microbiana ao reator, ocorra uma digestão
eficiente (OLIVA, 1997).
14

Segundo NAGPAL e CHUICHULCHERM (2000), para a utilização de


reatores UASB juntamente com BRS, alguns fatores devem ser considerados
como: utilização de substratos carbônicos e de sulfato e produção de biomassa,
síntese de sulfeto, de substratos carbônicos secundários ou de dióxido de carbono,
dissociação/associação de espécies dissolvidas, transferência de massa gás/líquido
de compostos voláteis, precipitação de metais como sulfetos metálicos, e
características hidrodinâmicas adequadas ao tipo de reator que será utilizado.

3.5 Precipitação de Metais

Como alternativa para a remoção de metais dissolvidos em efluentes


oriundos de DAM, a precipitação desses metais na forma de sulfetos é um
mecanismo com alta viabilidade ambiental. Através do tratamento do efluente,
sabe-se que ocorre a geração de biogás.
Os sulfetos metálicos formados são altamente insolúveis e menos
biodisponíveis quando comparados com outras espécies de metais, e o processo de
precipitação se torna eficiente no processo de remoção de cádmio, cobre, mercúrio,
zinco e ferro em baixa concentração (SHEORAN et al., 2010).
Sabe-se que a maior parte do enxofre reduzido pelas bactérias é liberada na
forma de sulfeto (ELLIOT et al., 1998), e esse sulfeto por apresentar características
redutoras fortes será responsável pela precipitação dos metais. A reação a seguir
representa essa precipitação onde M indica o íon metálico.

M2+ + H2S → MS↓ +2H+ (Reação V)

Percebe-se que há a formação de íons H+ com a precipitação, podendo


fornecer características ácidas ao efluente tratado. Para corrigir essa acidez, é
necessário que o excesso de sulfato seja reduzido de forma que os íons
bicarbonato possam diminuir o pH da solução (ELLIOT et al., 1998).
15

Sabendo disso e da necessidade da remoção dos metais dos efluentes de


DAM, o processo de precipitação através de sulfeto apresenta boas condições
de ser realizado.

4. Materiais e Métodos

4.1 Materiais

4.1.1 Reator

Operou-se um reator em acrílico projetado para o presente estudo com o


volume de 10.4l. Pode-se dividir o reator utilizado em dois diferentes
compartimentos, sendo o primeiro de digestão que apresenta 15 cm de diâmetro
interno, 62 cm de altura e possui 11 pontos para amostragem, o segundo
compartimento conhecido como de decantação apresenta 18 cm de diâmetro interno
e 21 cm de altura possuindo 3 pontos para amostragem. O gás gerado no processo
foi separado na parte superior do reator com a utilização de um funil de vidro
invertido posicionado no defletor de gás do sistema. O reator foi mantido em
temperatura de 30 ± 5 ⁰C dentro de uma câmara termostática da marca
Ethiktechnology®.
16

Figura 4.1 – Reator operado durante o projeto.


Fonte: Do autor.

4.1.2 Inoculo, Soro de leite e DAM sintética

Como inoculo foi utilizado lodo na forma de grânulos originado de reator


anaeróbio de manta de lodo e escoamento ascendente (UASB), tratando água
residuária de abatedouro de aves da empresa Avícola Dacar localizada na cidade de
Tietê, São Paulo. É importante mencionar que o volume da manta de lodo no início
da operação do reator foi aproximadamente 30% do volume útil do reator.
O soro de leite utilizado é uma fonte de carbono por ser um substrato orgânico
que influencia positivamente na atividade das BRS (HAO et al., 2014) e por ser uma
fonte que apresenta uma vertente ambiental importante pelo fato de ser gerado em
alguns processos e muitas vezes disposto de maneira inadequada. Para o
tratamento proposto nesse projeto o soro de leite foi preparado através do soro de
leite em pó comercial da marca Alibra® que apresentava concentrações de
nitrogênio de 22,2 mg/g de soro e de fósforo de 12000mg/g de soro.
A composição da DAM sintética utilizada no projeto baseou-se no estudo de
Kaksonen (2007), conforme pode ser observado na Tabela 4.1.
17

Tabela 4.1 – Composição da DAM sintética.


Composições Concentrações (mg/l)
Na2SO4 1572,4
MgSO4.7H2O 660,0
FeSO4.7H2O 496,4
ZnCl2 41,5
NH4Cl 115,4
NaH2PO4 68,2
CuSO4.7H2O 19,7
Sulfato Total 1500,0
Fonte: Do autor.

4.2 Métodos

4.2.1 Condições Operacionais do Reator

No reator foram adicionados os metais com o objetivo de avaliar


posteriormente suas remoções assim como se haveria algum tipo de influência
desses metais na remoção de sulfato e DQO. A relação DQO/SO4-2 foi 1 e o TDH 16
horas. Para melhor entendimento dessas diferentes condições foi elaborada a
Tabela 4.2 a seguir.

Tabela 4.2 - Condições de Operação do Reator.


Concentrações (mg/l)
Relação DQO/SO42- TDH (h)
SO42- DQO Metais
100 de Fe
1 16 1500 1500 20 de Zn
5 de Cu
Fonte: Do autor.
18

4.2.2 Preparação do meio

A preparação do meio foi realizada anteriormente sua entrada no reator.


Primeiramente deu-se a preparação da DAM sintética conforme Tabela 4.1 e em
seguida correção do seu pH com solução de HCl 4M, o valor corrigido do pH foi em
torno de 4. A etapa seguinte consistiu em preparar o soro no qual apresentou
concentração de 1350 mg/l nas condições do projeto. Juntamente com a DAM
sintética e o soro de leite adicionou-se água para diluir o meio e completar sua
preparação. Utilizou-se uma bomba da marca Grundfos® para a alimentação do
meio no reator que já continha cerca de 30% do seu volume total preenchido com
inoculo.

4.2.3 Análises físico-químicas

As análises foram realizadas no afluente e no efluente do reator para que


pudesse ser avaliada a eficiência de remoção de sulfato de metais pesados. Os
parâmetros de análise utilizados nesse projeto foram baseados nos métodos
definidos em Standard Methods for the Examination of Water and Wastewater
(APHA, 2012) e foram os seguintes: pH, DQO, sulfato, sulfeto, ferro, zinco e cobre. A
única diferença das análises de entrada e saída foi a não realização da análise de
sulfeto na entrada pelo fato da mesma não apresentar valores significantes. Além
dessas análises e métodos, também foi realizada a análise de alcalinidade através
do método de Ripley (RIPLEY; BAYLE, 1986) e de ácidos voláteis pelo método de
Dillalo e Albertson (DILALLO; ALBERTSON, 1961).
19

5. Resultados e Discussões

A realização desse projeto foi uma continuação da operação do reator


utilizado em outro projeto anteriormente, dissertação de mestrado, assim a
adaptação da biomassa e do sistema como um todo já tinha ocorrido e, portanto o
presente trabalho de conclusão de curso avaliou a remoção de sulfato e de DQO
além da precipitação de metais desde a condição de inserção dos metais ao
sistema. Como efeito de comparação os dados obtidos nessa etapa do projeto
foram analisados juntamente com a etapa equivalente (condição 4) na dissertação
de Sampaio (2015). Nesta seção foram feitos gráficos para a melhor representação
dos resultados obtidos, e durante o desenvolvimento desses resultados foi possível
observar que houve um intervalo maior durante os dias 10 e 19. Tal fato se deve a
um problema ocorrido com a bomba de alimentação do sistema que teve que ser
trocada.
.

5.1 Avaliação da remoção de sulfato e de DQO

Como já foi dito, o reator foi operado durante 1 mês e as análises realizadas
de 2 em 2 dias, portanto, no período determinado, onze análises foram realizadas.
Para sulfato e DQO os dados estão apresentados a seguir. Na Figura 5.1 pode-se
observar as concentrações de sulfato do afluente e do efluente do reator.
20

2500

Concentração de sulfato (mg/l)


2000

1500

sulfato afluente
1000
sulfato efluente

500

0
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo acumulado (dias)

Figura 5.1 – Concentração de sulfato em função do tempo de operação.


Fonte: Do autor.
Foi considerado erro experimental de 15%.

A Figura 5.2 apresenta as concentrações de DQO do afluente e do efluente.

3000
Concentração de DQO (mg/l)

2500

2000

1500
dqo afluente
1000 dqo efluente

500

0
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo acumulado (dias)

Figura 5.2 – Concentração de DQO em função do tempo de operação.


Fonte: Do autor.
Foi considerado erro experimental de 9,6%.

A partir dos resultados obtidos foi possível realizar gráficos representando as


remoções obtidas tanto para sulfato como para DQO. As Figuras 5.3 e 5.4 retratam
as remoções de sulfato e DQO respectivamente.
21

90
80

Remoção de sulfato (%)


70
60
50
40
30
20
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo acumulado (dias)

Figura 5.3 – Percentual de remoção de sulfato em função do tempo de operação.


Fonte: Do autor.
Foi considerado erro experimental de 15%.

120

100
Remoção de DQO (%)

80

60

40

20

0
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo acumulado (dias)

Figura 5.4 – Percentual de remoção de DQO em função do tempo de operação.


Fonte: Do autor.
Foi considerado erro experimental de 9,6%.

SAMPAIO (2015) utilizou um reator com as mesmas condições do presente


trabalho, porém com um TDH 24 horas. O projeto teve 4 diferentes condições sendo
a primeira com concentrações iniciais de 500 mg/l tanto para DQO quanto para
sulfato obtendo 84% e 38% de remoção respectivamente. Na segunda condição do
projeto foi aumentada as concentrações para 1000 mg/l tendo 74% de remoção
para ambos compostos. Na terceira condição aumentou-se as concentrações para
22

1500 mg/l a eficiência diminui tendo removido 68% de DQO e 63% de sulfato. Na
quarta e última condição, metais foram adicionados ao afluente e as taxas de
remoção sofreram mudanças positivas sendo 79% para DQO e 71% para sulfato e
tendo 99% de remoção dos metais inseridos.
Através dos dados e das Figuras 5.3 e 5.4 viu-se que a média do percentual
de remoção de sulfato foi 62,7% e de DQO foi 85,5%. Comparando dados obtidos
na condição 4 de SAMPAIO (2015) pode-se concluir que a utilização de um TDH
menor influenciou positivamente na remoção de DQO e negativamente na remoção
de sulfato. Sabe-se que o TDH influencia na competição entre BRS e
metanogênicas e de uma maneira geral para uma melhor atividade das produtoras
de sulfeto de hidrogênio o TDH deve variar entre 20 e 30 horas. (SIPMA et al., 2007;
POLO; BEWTRA; BISWAS, 2006). A partir dessas análises é possível perceber que
um TDH de 16 horas diminui a atividade das BRS, ou seja, diminuiu a remoção de
sulfato e a produção de sulfeto e consequentemente a precipitação de metais, porém
por outro lado um TDH menor possibilitou uma maior remoção de carga orgânica do
sistema. SAMPAIO (2015) mostrou através das diferentes condições do seu projeto
que a remoção de DQO não variou de maneira significativa indicando a boa
assimilação do soro pelos microrganismos e justificando a possibilidade de uma
maior remoção utilizando um menor TDH.

5.2 Avaliação do sulfeto

As BRS são responsáveis por reduzir o sulfato do meio para sulfeto, e


durante o processo esses níveis de sulfeto foram identificados. A Figura 5.5
apresenta a concentração desse composto.
23

160

Concentração de sulfeto (mg/l)


140
120
100
80
60
40
20
0
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo acumulado (dias)

Figura 5.5 – Concentração de sulfeto em função do tempo de operação.


Fonte: Do autor.
Foi considerado erro experimental de 15%.

É importante mencionar que esse sulfeto gerado pelas BRS é consumido


posteriormente para a precipitação dos metais inseridos e que sua geração
comprova a atividade e funcionalidade do tratamento proposto.

5.3 Variação do pH

Através da Figura 5.6 pode-se analisar a variação do pH tanto do afluente


como do efluente durante os dias de operação do reator.
24

8.00
7.00
6.00
5.00
pH

4.00
pH afluente
3.00
pH efluente
2.00
1.00
0.00
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo acumulado (dias)

Figura 5.6 – Variação do pH em função do tempo de operação.


Fonte: Do autor.
Foi considerado erro experimental de 5%.

Com o objetivo de analisar a remoção de sulfato e DQO e a precipitação de


metais era necessário manter o mesmo pH para os afluentes. Após o processo de
tratamento, ou seja, no efluente do reator é verificado o aumento do pH em relação
ao afluente, o que pode ser caracterizado como um dos objetivos do projeto tendo
em vista que a drenagem que foi tratada era ácida e mantendo o pH do efluente
com média 6.65 atingimos o objetivo de reduzir a acidez e produzir alcalinidade a
fim de precipitação dos metais.

5.4 Alcalinidade e Ácidos Voláteis Totais

Outro parâmetro importante na análise de tratamento de efluentes é a


alcalinidade que é definida como a capacidade de neutralizar ácidos. Sabe-se que
alguns íons são responsáveis pela alcalinidade do meio, no caso do sistema
estudado o íon HCO3- é o responsável. Na seção 3.5 foi citado que para corrigir a
acidez é necessário que o excesso de sulfato seja reduzido de forma que os íons
bicabornato possa diminuir o pH da solução. As reações a seguir demonstram a
produção desse íon, a precipitação do sulfeto metálico e formação do íon de
hidrogênio e a neutralização da acidez como foi comprovado na seção 5.3.
25

Doador de elétrons + SO42- → H2S + HCO3- (Reação VI)


M2+ + H2S → MS↓ +2H+ (Reação VII)
HCO3- + H+ → H2O + CO2 (Reação VIII)

O valor de alcalinidade é definido em termo de mg CaCO3/l. A Figura 5.7


apresenta como a alcalinidade variou durante os dias de operação do reator.

400
Alcalinidade (mg/l como CaCO3)

350
300
250
200
150
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo acumulado (dias)

Figura 5.7 – Concentração da alcalinidade em termos de CaCO 3 em função do tempo de


operação.
Fonte: Do autor.
Foi considerado erro experimental de 5%.

Também como parâmetro de controle foi realizado a análise de ácidos


voláteis totais. Durante o processo um aumento na concentração dos compostos
iniciais e gerados ou vazão podem aumentar a quantidade de ácidos voláteis. Como
foi detalhado na seção 3.3 há uma competição entre as BRS e outros tipos de
bactérias por fonte de carbono e elétrons e, portanto, deve-se controlar o sistema
para que as BRS prevaleçam e aumentem a produção de sulfeto. A Figura 5.8
apresenta os dados para ácidos voláteis totais.
26

140

Ácidos Voláteis Totais (mg/l como HAc)


120

100

80

60 AVT afluente
AVT efluente
40

20

0
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo acumulado (dias)

Figura 5.8 – AVT em termos de HAc em função do tempo de operação.


Fonte: Do autor.
Foi considerado erro experimental de 5%.

Percebe-se que a concentração dos ácidos voláteis totais do efluente foi


menor em quase todas as análises, fato que comprova a elevação do pH do sistema
porque como vimos o pH do efluente foi sempre maior quando comparado ao
afluente, e assim pode-se afirmar que alcalinidade gerada foi responsável por
neutralizar os AVT iniciais e gerados durante o processo. Pode-se ver também que
pelo fato das concentrações de ácidos voláteis do efluente (média 60,3 mg HAc/l)
serem menores que as alcalinidades do efluente (231,2 mg CaCO3/l) isto indica que
as BRS reduziram a matéria orgânica predominantemente a CO 2 em relação ao
acúmulo de ácidos (HAO et al., 2014).

5.5 Avaliação da precipitação de metais

A reação de precipitação apresentada na seção 3.5 indica que com a


presença de metais e sulfeto produzido pelas BRS, o sistema seria capaz de
precipitar os metais através do consumo de sulfeto diminuindo sua concentração.
Conforme Sampaio (2015) apresentou em sua dissertação, as maiores
precipitações iriam ocorrer com ferro devido a sua solubilidade em função do pH. A
Figura 5.9 ilustra essas precipitações em relação do pH do sistema.
27

Figura 5.9 – Concentração de metais solúveis em função do pH.


Fonte: VEEKEN et al. (2003).

Pode-se perceber que em seguida do ferro, dos metais adicionados ao


sistema os que mais precipitariam seriam zinco e em seguida cobre. Através dos
experimentos realizados foi possível a realização da Figura 5.10.

140

120
Concentração de ferro (mg/l)

100

80

60 ferro alfuente
ferro efluente
40

20

0
0 5 10 15 20 25 30 35
-20
Tempo acumulado (dias)

Figura 5.10 – Concentração de ferro em função do tempo de operação.


Fonte: Do autor.
Foi considerado erro experimental de 13,3%.
28

O eixo y ou eixo da concentração de ferro foi estendido no sentido negativo


para melhor visualização das baixas concentrações obtidas no efluente do reator.
Assim como foi realizado com sulfato e DQO também foi feito o gráfico
representando a remoção de ferro durante o processo de tratamento da drenagem.

120

100
Remoção de ferro (%)

80

60

40

20

0
0 5 10 15 20 25 30 35
Tempo acumulado (dias)

Figura 5.11 – Percentual de remoção de ferro em função do tempo de operação.


Fonte: Do autor.
Foi considerado erro experimental de 13,3%.

A média do percentual para a remoção de ferro foi 99.3%. Para os demais


metais, como as análises dos mesmos não são realizadas no laboratório de
Biotecnologia da Universidade Federal de Alfenas os dados não foram
disponibilizados a tempo de serem apresentados no relatório.

6. Conclusão

Através da revisão bibliográfica realizada pode-se aprofundar o


conhecimento no processo de drenagem ácida de minas, seus efluentes e seus
possíveis impactos, além de realizar estudos sobre os diferentes tipos de
tratamento. Foi possível avaliar que o tratamento biológico apresenta vantagens
econômicas e ambientais, e assim alta viabilidade de operação. Após essa análise
fundamentada em artigos, relatórios e revistas especializadas na área foi possível
29

efetuar a operação do reator escolhido juntamente com todas as condições


necessárias para uma avaliação correta dos dados obtidos.
Como objetivos principais, o presente projeto se mostrou eficiente na correção
da acidez assim como na remoção de sulfato, DQO e na consequente precipitação
de metais presentes no meio utilizado para alimentação. O pH médio dos afluentes
foi em torno de 3,9 enquanto que dos efluentes girou em torno de 6,7. O percentual
médio de remoção de sulfato foi 62,7% e em relação à carga orgânica ou DQO o
sistema apresentou uma alta taxa de remoção tendo um percentual médio de 85,5%.
Para a precipitação de metais como já foi dito não foi possível a obtenção dos dados
de remoção de todos os metais inseridos no processo, porém para o ferro o
tratamento proposto atingiu um percentual médio de remoção de 99,3% sendo muito
eficiente.
A partir de todos os resultados experimentais obtidos pode-se afirmar que o
processo correspondeu positivamente às expectativas durante sua fase inicial
atingindo assim os objetivos estabelecidos.

7. Sugestões para trabalhos futuros

Como sugestões para futuras atividades mantendo as condições utilizadas


neste trabalho tem-se o aumento da concentração de metais tendo em vista que a
taxa de remoção de ferro foi alta. Através dessa mudança pode-se avaliar a
eficiência de reator estudado. Para outros trabalhos de pesquisas nessa área
sugere-se que a variação das condições de operação tanto das condições iniciais de
sulfato, DQO e metais quanto do tipo de fonte de carbono e do tempo de detenção
hidráulica do reator. É importante a realização dessas variações para poder
identificar qual a melhor condição e forma de adaptação do sistema para o
tratamento de drenagem ácida de minas.
28

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32

ANEXO 1 – Equações utilizadas para cálculo de alcalinidade e ácidos voláteis


totais.

Alcalinidade Total (mg/l, como CaCO3) através do método de Ripley (RIPLEY;


BAYLE, 1896).

V x N ácido x 50.000
A total =
V amostra

Em que:

V = V1 + V2, sendo que V1 é o volume necessário para titular (através da solução de


H2SO4) a amostra até pH 5,75 e V2 é o volume necessário para titular a amostra até
pH 4,30;

N ácido = molaridade da solução de H2SO4;

50.000 = equivalente-grama do CaCO3 em mg/l, cujo mol é de 100,0 g;

V amostra = volume utilizado da amostra.

Ácidos Voláteis Totais (mg/l, como HAc) através do método de Dillalo e


Albertson (DILALLO; ALBERTSON, 1961).

V x N base x 60.000
A ácidos voláteis =
V amostra
Em que:

V = volume necessário para titular (através da solução de NaOH) a amostra até pH


7,00;

N base = molaridade da solução de NaOH;

60.000 = equivalente-grama do HAc (ácido acético) em mg/l.

V amostra = volume utilizado da amostra.


33

APÊNDICE A – Tabelas com os dados obtidos no projeto.

Tabela 1 – Dados de entrada e saída para sulfato e DQO.


Concentrações (mg/l)
Análises Sulfato DQO
Afluente Efluente Afluente Efluente
1 1827,8 600,7 1566,0 191,7
2 1394,2 513,4 1559,3 213,0
3 1514,7 609,8 1666,0 274,4
4 1635,1 453,2 1559,3 269,0
5 1623,1 544,5 2606,0 93,0
6 1309,9 549,6 1452,6 194,4
7 1442,4 568,6 1639,3 207,7
8 1466,5 585,7 1546,0 295,7
9 1370,1 562,6 1526,0 247,7
10 1358,1 552,6 1521,6 255,7
11 1273,8 465,2 1439,3 255,7
Fonte: Do autor.

Tabela 2 – Porcentagem de remoção de sulfato e DQO.


% de remoção
Análises
Sulfato DQO
1 67,1 87,8
2 63,2 86,3
3 59,7 83,5
4 72,3 82,7
5 66,5 96,4
6 58,0 86,6
7 60,6 87,3
8 60,1 80,9
9 58,9 83,8
10 59,3 83,1
11 63,5 82,2
Fonte: Do autor.
34

Tabela 3 – Dados de saída para sulfeto.


Análises Concentração de sulfeto (mg/l)
1 101,3
2 96,9
3 87,1
4 86,8
5 73,8
6 60,1
7 93,3
8 93,8
9 82,8
10 62,8
11 117,6
Fonte: Do autor.

Tabela 4 – Dados de pH para entrada e saída.


pH
Análises
Afluente Efluente
1 3,9 6,7
2 3,9 6,6
3 4,1 6,7
4 3,9 7,0
5 3,9 6,9
6 4,0 6,6
7 3,8 6,4
8 3,8 6,5
9 3,9 6,5
10 4,0 6,8
11 3,8 6,4
Fonte: Do autor.
35

Tabela 5 – Dados de saída para alcalinidade e de entrada e saída para ácidos voláteis
totais.
Concentrações (mg/l)
Análises Alcalinidade Ácidos Voláteis Totais
Efluente Afluente Efluente
1 246,0 78,0 57,6
2 251,0 84,0 61,2
3 204,0 70,2 24,0
4 207,0 66,6 23,4
5 327,0 68,4 110,4
6 166,0 71,4 45,6
7 160,0 69,0 37,2
8 296,0 69,6 112,8
9 230,0 72,6 61,2
10 235,0 74,4 74,4
11 221,0 80,4 55,8
Fonte: Do autor.

Tabela 6 – Dados de entrada e saída para o ferro.


Concentrações (mg/l)
Análises % de remoção
Afluente Efluente
1 98,6 0,8 99,2
2 94,8 1,7 98,2
3 83,5 0,2 99,7
4 91,1 0,3 99,6
5 80,1 0,3 99,6
6 89,0 0,2 99,8
7 105,1 1,1 98,9
8 109,7 1,0 99,1
9 108,0 0,8 99,2
10 92,4 -0,2 100,3
11 98,3 -0,3 100,3
Fonte: Do autor.

Observa-se na Tabela 6 que os dois últimos dados apresentam


concentrações negativas o que sabemos não ser possível, tal fato pode ter ocorrido
provavelmente pela baixa concentração de metais que ocasionou uma grande
porcentagem de remoção.

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