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RESÍDUO DE SABUGO DE MILHO EMPREGADO PARA SÍNTESE DE

CARVÃO ATIVADO: SUPORTE NA IMOBILIZAÇÃO DE ENZIMA

OLIVEIRA TP1*, BORGES JF1, SANTOS MPF1, BRITO MJP2, VELOSO CM3
1
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Discente do Programa de Pós-
Graduação em Engenharia e Ciência de Alimentos.
2
Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Ciência de Alimentos (UESB)
3
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Docente do Departamento de
Ciências Naturais.
*E-mail para contato: thay.oliveira14@hotmail.com

RESUMO – Sabugo de milho foi empregado na síntese de carvão ativado e a matriz


obtida foi utilizada na imobilização de lipase. Para determinar as melhores condições
de imobilização, o pH e temperatura da solução de imobilização foram avaliados. A
partir das análises realizadas, verificou-se que o carvão obtido é classificado como
micro-mesoporoso, com ponto de carga na zero na região de pH 4,5. No processo de
imobilização da lipase verificou-se que as melhores condições de pH e temperatura
foram 4,0 e 30ºC, respectivamente. Os valores obtidos para a atividade demonstram o
potencial do carvão ativado como suporte para imobilização de lipase.
Palavras-chave: Adsorção; Lipase; Atividade hidrolítica.

CORN COB WASTE EMPLOYED FOR ACTIVATED CARBON


SYNTHESIS: SUPPORT IN ENZYME IMMOBILIZATION
ABSTRACT – Corn cob was used in the synthesis of activated carbon and the matrix
obtained was used in the immobilization of lipase. To determine the best immobilization
conditions, the immobilization solution pH and temperature were evaluated. From the
analyzes carried out, it was found that the carbon obtained is classified as micro-
mesoporous, with a zero charge point in the pH 4.5 region. In the lipase immobilization
process it was found that, the best pH and temperature conditions were 4.0 and 30ºC,
respectively. The values obtained for the activity demonstrate the potential of activated
carbon as a support for lipase immobilization.
Keywords: Adsorption; Lipase; Hydrolytic activity.

1. INTRODUÇÃO
A imobilização de enzimas pode ser definida como a ligação de enzimas livres ou
solúveis a diferentes tipos de suportes, resultando na sua redução ou perda da mobilidade.
Essa técnica tornou-se uma alternativa utilizada para aumentar a produtividade e estabilidade
operacional da enzima, além de facilitar a sua reutilização, superando assim, desvantagens
associadas à utilização na sua forma livre, pois o processo acaba se tornando mais econômico
e eficiente (Fopase et al., 2020).

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Dentre os diversos métodos utilizados para a imobilização, a adsorção é o mais simples
e parâmetros como temperatura, pH, força iônica, composição do tampão; tamanho da
molécula; polaridade, carga e morfologia da superfície do adsorvente podem influenciar no
processo (Rabe et al., 2011).

A escolha do suporte ao qual a enzima será imobilizada também desempenha um papel


importante no processo, visto que este deve fornecer uma área superficial adequada para que
possa reter a enzima e consequentemente sua atividade biológica, sem alteração das suas
propriedades conformacionais e funcionais (Khan e Alzohairy, 2010).

Assim, o carvão ativado é uma matriz sólida adequada e que vem sendo empregado para
o transporte de enzimas, visto que cumpre com os requisitos descritos por Zucca e Sanjust
(2014): alta área superficial, inerte nas condições enzimáticas operacionais, baixo custo de
produção, resistência térmica, química e mecânica.

Dessa forma, o trabalho teve como objetivo sintetizar carvão ativado a partir do resíduo
de sabugo de milho e determinar as melhores condições de pH e temperatura para aplicação
na imobilização de lipase.

2. MATERIAL E MÉTODOS
O sabugo de milho foi empregado como material precursor para a síntese do carvão
ativado e este foi caracterizado em relação ao teor de cinzas (AOAC, 1995), lignina, celulose
e hemicelusose, segundo a metodologia descrita por Silva e Queiroz (2002). O resíduo foi
impregnado com ácido fosfórico (H3PO4), na razão de impregnação de 1,5:1 (massa de
ativante/massa de precursor) e seco em estufa a 105 °C por 48h. Posteriormente, o material
foi carbonizado em forno mufla, sob fluxo de nitrogênio (50 mL.min-1) com taxa de
aquecimento de 5°C.min-1, até a temperatura final de 500°C, mantida constante por 60min.
Posterirormente, a amostra obtida foi lavada com água até que o pH 7,0 fosse alcançado. Em
seguida, foram secos em estufa a 105 °C por 24h e peneirados em uma peneira de 40 mesh.

No estudo do ponto de carga zero (pHPCZ) do carvão ativado foi realizado o


“experimento dos 11 pontos”, o qual consistiu em colocar 50 mg da amostra em contato com
50mL de solução de cloreto de sódio 0,10 mol.L-1 em diferentes valores de pH (1 a 11),
permanecendo sobre agitação constante durante 24 h. O pH de cada solução foi ajustado com
solução de ácido clorídrico 0,50 mol.L-1 ou hidróxido de sódio 0,50 mol.L-1. Ao final de 24 h
o pH foi medido e plotado o gráfico do pH final versus pH inicial. O pHPCZ corresponde à
faixa onde o pH final se mantém igual pH inicial, ou seja, a superfície comporta-se como um
tampão. As isotermas de adsorção e dessorção do carvão ativado foram obtidas em um
equipamento Micromeritcs modelo ASAP 2420, utilizando aproximadamente 0,20 g de
amostra submetidas a um pré-tratamento. Através delas foi possível determinar a área
superficial específica, a distribuição de poros e o volume de microporos do carvão
funcionalizado.

Com o intuito de avaliar a influência do pH do meio reacional no processo de


imobilização de lipase no carvão ativado, uma solução com concentração inicial de 6000
mg/L foi preparada utilizando lipase comercial de pâncreas de porco (Lipase from porcine
pâncreas type II da Sigma, 40% de proteína e atividade específica de 100-500 U/mg). Os

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valores de pH inicial das soluções de lipase foram 3.0, 4.0, 5.0, 6.0, 7.0 e 8.0, onde, para tal,
foi utilizado solução tampão acetato de sódio (0,1 mol.L-1) para valores de pH 3,0 a 5,0 e
fosfato de sódio (0,1mol.L-1) para os valores de pH 6,0 a 8,0. Alíquotas de 5mL da solução de
lipase, em cada pH avaliado foram adicionadas em tubos contendo 0,1g do suporte. Os tubos
foram mantidos sob agitação constante de 20rpm, em um agitador orbital, na temperatura de
30°C, com auxílio de uma BOD, por 2h. Após esse tempo, os tubos foram centrifugados e o
sobrenadante obtido teve sua concentração de proteína determinada pelo método de Bradford
(1976). A partir da diferença entre a quantidade inicial e final de proteínas, determinou-se a
capacidade adsortiva do carvão, utilizando-se a Equação 1.

(1)

Em que: q é a capacidade adsortiva (mg.g-1), V é o volume de solução (mL), Cin


concentração inicial da solução (mg.L-1), C é a concentração da solução no equilíbrio (mg.L-1)
e mads é a massa do adsorvente (g).

Foi avaliado o efeito da temperatura (25ºC, 30ºC, 35ºC, 40ºC e 45ºC) e do pH (3,0, 4,0,
5,0, 6,0, 7,0 e 8,0) de imobilização na atividade da lipase imobilizada. A atividade hidrolítica
das enzimas solúveis e imobilizadas foi determinada pelo método de hidrólise da emulsão de
azeite de oliva conforme descrito em Brito et al. (2017).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O farelo do sabugo de milho foi caracterizado e apresentou um teor de cinzas de 2,12%,
em relação a sua composição lignocelulósica o mesmo apresentou um maior teor de celulose
(47,99%), sendo lignina de 24,88% e hemicelulose 13,60%.

Na Tabela 1 são apresentados os resultados das caracterizações do carvão sintetizado,


onde se observa que seu diâmetro médio de poros se encontra na faixa de 2 a 50nm,
permitindo classifica-lo como mesoporoso (Oubagaranadin e Murthy, 2011). O pH do ponto
de carga zero (pHPCZ), definido como o pH em que a superfície do carvão apresenta uma
carga neutra, situa-se na região de pH 4,5. Segundo Perilli et al. (2014), o pHPCZ permite
predizer interações eletrostáticas (repulsão ou atração) que ocorrem entre a molécula e o
suporte, de forma que o valor do pH pode favorecer ou não o processo de adsorção.

Tabela 1 – Caracterizações do carvão ativado obtido a partir do sabugo de milho


(CASM).

Amostra pHPCZ Sg(m2/g) Dp (nm) Vmeso (cm3/g) VMicro (cm3/g)

CASM 4,5 1135 4,35 0,586 0,115

A fim de melhorar a eficiência do processo de imobilização, foi realizado um estudo


sobre o efeito do pH (Tabela 2), visto que esse parâmetro permite definir a carga líquida da
proteína e determinar a contribuição das interações eletrostáticas entre a enzima e o suporte
durante o processo de imobilização. É possível observar que a maior capacidade adsortiva
obtida (276,46 mg.g-1) correspondeu ao pH 4,0

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Tabela 2 – Estudo do efeito do pH na imobilização e na atividade da lipase em CASM a
30ºC e no tempo de 120min.

Atividade da
-1 Atividade inicial da
pH q (mg.g ) enzima imobilizada
solução (U)
(U/g)
3,0 275,54 27,00 270,00
4,0 276,46 27,15 271,22
5,0 267,64 20,70 206,69
6,0 258,88 5,25 52,37
7,0 262,35 2,70 27,00
8,0 266,94 1,80 18,00

O ponto isoelétrico (pI) da lipase ácida está entre pH 4,0 e 5,0 e isso significa que acima
desses valores de pH a enzima apresentará cargas negativas e abaixo desses valores carga
positiva. De acordo com Binhayeeding et al. (2020) próximo ao seu pI a enzima tende a
formar, de forma espontânea, agregados menos ativos e valores de pH mais extremos pode
acarretar em uma desnaturação irreversível. Como já foi apresentado, a maior capacidade
adsortiva se deu próximo ao pI da enzima (pH 4,0), onde a mesma apresenta carga neutra e
possui máxima hidrofobicidade.

A enzima na sua forma livre apresentou maior valor de atividade em pH 6,0, o qual
correspondeu a 32,4 U. Ainda na Tabela 2 se verifica que a maior atividade para a enzima
imobilizada também foi obtida em pH 4,0, sendo equivalente a atividade da enzima livre
(28,8 U). A alteração do pH ótimo, quando se compara a atividade da enzima imobilizada e
livre, indica possíveis mudanças estruturais e conformacionais na enzima, bem como,
alterações de sua densidade de carga (Binhayeeding et al., 2020).

Para o efeito da temperatura no processo de imobilização (Tabela 3) foi verificado que a


enzima apresentou maior atividade a 30ºC e a partir do aumento desse parâmetro era
decorrente uma redução da atividade da lipase. A atividade ótima da lipase é situada na faixa
de 30ºC e segundo Brito et al. (2017), a ligação entre a enzima e o suporte pode ser reduzida
ao se utilizar temperaturas mais altas, visto que a desnaturação proteica pode ser favorecida.

Tabela 3 – Estudo do efeito da temperatura na avaliação da atividade da lipase


imobilizada em CASM utilizando solução de lipase em pH 4,0.

Temperatura Atividade inicial da Atividade da enzima


(ºC) solução (U) imobilizada (U/g)
25 51,60 515,50
30 59,85 597,88
35 48,45 483,55
40 44,85 448,27
45 46,50 464,76

4. CONCLUSÃO
Foi possível obter um carvão ativado, com distribuição média de poros na faixa de

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mesoporoso, a partir do resíduo de sabugo de milho, o qual foi aplicado na imobilização de
lipase por adsorção. A maior capacidade adsortiva do carvão foi obtida em pH 4,0 e a melhor
atividade da enzima imobilizada foi obtida aplicando as condições de pH 4,0 e temperatura de
30ºC. Os valores de atividade obtidos comparado à da enzima na forma livre demonstra que o
carvão ativado é um suporte promissor para imobilização de lipase.

5. REFERÊNCIAS
AOAC (Association of Official Analytical Chemistry). Official methods of analysis. 16.ed.
Arlington: AOAC International, 1995.
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and opportunities of enzyme immobilization on porous silicon for biosensing applications.
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Properties and Applications. Nova Science Pub Inc, USA, p. 239-266, 2011.
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