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PRODUÇÃO DE CARVÃO ATIVADO A PARTIR DA CASCA DE PEQUI E SUA

APLICAÇÃO NO PROCESSO DE ADSORÇÃO

Ana Carolina Tolentino Brandão1; Vânia Queiroz da Silva 1; Stephanie Froes Veloso1 ; Ramon Geraldo
Campos Silva2

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Acadêmico(a) de Engenharia Química - IFNMG/Montes Claros; Professor do curso de Engenharia
Química – IFNMG/Montes Claros

Resumo
O presente estudo tem por objetivo a produção de carvão ativado a partir da casca de pequi, visando
sua aplicação para a adsorção do corante de Azul de Metileno e do Fenol em soluções aquosas. Foi
preparado carvão ativado quimicamente, utilizando com agente ativante o ácido fosfórico, à 700°C e
tempo de duas horas. A partir dos testes de adsorção, verificou-se que o material apresentou uma
capacidade de remoção de Fenol e de Azul de metileno, correspondente a 67,57 e 40,16 mg.g-1,
respectivamente. E que o processo de adsorção do corante e do Fenol foram favoráveis já que o valor
de RL encontrado foi entre zero e um.

Palavras-chave: Adsorção; Azul de Metileno; Carvão Ativado.

Introdução
O carvão ativado é um material carbonáceo, poroso e que apresenta alta capacidade de adsorção. O
processo de produção do mesmo envolve as etapas de ativação (química ou física) e a carbonização.
Além disso, o carvão ativado tem sido frequentemente utilizado como adsorvente para remoção de
compostos orgânicos e espécies tóxicas de efluentes industriais (De Lima, L. S, et al., 2010). O fruto
do pequizeiro (Caryocar brasiliense Camb.) é cultivado, apreciado e muito consumido principalmente
na região Centro Oeste, Sudeste e parte do Nordeste (Oliveira et al., 2008). A casca de pequi, apesar
de possuir algumas aplicações, como adubo orgânico, grande parte da mesma ainda é desprezada.
Sendo assim, visto a elevada quantidade de resíduos gerada pelo pequi e a possibilidade de
reaproveitá-los para a produção de material de maior valor agregado, o presente trabalho objetiva a
produção de carvão ativado quimicamente a partir da casca de pequi, visando a sua aplicação para a
remoção do corante azul de metileno e do Fenol em soluções aquosas.

Metodologia
As cascas de pequi utilizadas no trabalho foram coletadas a partir de um vendedor ambulante,
localizado na Cidade de Montes Claros – MG que após retirar o fruto para comercialização, as
mesmas seriam descartadas em lixo urbano.
A. Preparação do material precursor
As cascas de pequi foram inicialmente imersas em água, para a retirada dos contaminantes, e secas
por exposição ao sol por cerca de 10 horas para perda de umidade. Em seguida, foram trituradas para
uma menor granulometria e colocadas na estufa a 70°C durante 24 horas.
B. Produção de Carvão Ativado
Para a produção de Carvão ativado, optou-se pelo processo de ativação química, onde foi
utilizado o ácido fosfórico (H3PO4) como agente ativante, adotando-se uma temperatura de
700°C e tempo de duas horas.
Inicialmente, o material precursor triturado foi impregnado com agente ativante em uma
concentração de 10% (v/v) em uma proporção de 1,5g da amostra para 1ml da solução do
ácido. Em seguida, a amostra impregnada foi coberta com um filme plástico, permanecendo em
repouso por duas horas. Posteriormente, na etapa de pirólise (carbonização), a amostra foi
alocada em um forno mufla onde foi submetida à 700ºC com tempo de residência de duas
horas. Após a ativação, o carvão ativado foi lavado com água deionizada, até pH neutro, para a
remoção do agente ativante e desobstrução dos poros formados.

C. Teste de Adsorção
Os estudos de adsorção foram realizados com soluções aquosas do azul de metileno e do
fenol, os quais são bastante comuns em efluentes industriais.
No que diz respeito ao azul de metileno, 200 mg do material adsorvente foi colocado em
contato com 25 ml das soluções aquosas de azul de metileno nas concentrações de 100, 200,
300, 500, 600, 800 e 1000 mg/L. As misturas foram mantidas em agitação por duas horas à
temperatura ambiente. Após a etapa da filtração, a solução remanescente foi submetida à um
espectrofotômetro UV-Vis no comprimento de onda 645nm. Para análise do Fenol, utilizou-se
como norma a ASTM D 3860-79, de tal modo que foram pesadas 0,05; 0,1; 0,2; 0,5; 0,8 e 0,9g
da amostra de adsorvente produzido e colocadas em contato com 50 ml da solução de fenol de
112mg/L. As misturas foram submetidas à agitação por 30 minutos. Após a filtração, foi lida as
absorbâncias das soluções remanescentes em 270nm.

Resultados e discussão
A. Produção de Carvão Ativado
A amostra ativada com H3PO4 obteve um rendimento de 25%. E esse valor obtido
experimentalmente corrobora com os valores encontrados na literatura.
B. Teste de Adsorção
A partir dos dados experimentais dos testes de adsorção, foi possível a confecção das
isotermas de adsorção do corante azul de metileno e de Fenol (Figura 1). Os dados obtidos
foram ajustados no modelo de Langmuir. Na tabela 1, constam as equações linearizadas para o
respectivo modelo assim como o R² e os valores das constantes obtidos.
A constante da equação de Langmuir, qm,é um indicativo da capacidade máxima de adsorção
na monocamada. Os valores encontrados de qm para a adsorção de Azul de metileno e de Fenol,
foram respectivamente 40,16 e 67,57mg.g-1. Em relação ao Azul de metileno autores como
Pezoti Junior et al. (2014) encontram qm de 274,62mg.g-1 para carvão de casca de buriti ativado
com ZnCl2 enquanto que Reffas et al. (2010) ao avaliarem o carvão ativado obtido de borra de
café e ativado com H3PO4, verificaram que os valores de qm aumentaram de 96,10 a 181,8mg.g-
1
ao aumentar a proporção de agente ativante. Para o Fenol, Moletta (2011) encontrou qm de
103,09 e 33,56mg.g-1, respectivamente, para os carvões de mandioca e de batata ativados com
H3PO4 10% (m/v). Quando se compara estes valores obtidos neste trabalho, pode-se afirmar
que a elevada capacidade de adsorção encontrada pelos referidos autores, pode ser relacionada
à elevada área superficial do carvão obtido, sendo influenciada pelo agente ativante, modo de
ativação e a natureza do adsorvente.
Há ainda a constante adimensional denominada por RL, que apresentou valores entre zero e
um, o que significa que o processo de adsorção para a amostra foi favorável e que o modelo de
Langmuir se ajusta satisfatoriamente aos fenômenos de adsorção de Azul de Metileno e de
Fenol nas condições estudadas.

Conclusão
Diante dos resultados obtidos, conclui-se que a casca de pequi pode ser uma matéria prima
promissora para a produção de carvão ativado com capacidade máxima de adsorção do corante
Azul de Metileno (qm=40,16mg.g-1) e de Fenol (qm=67,57mg.g-1) expressivas e condizentes
com a literatura. Além disso, o ajuste da isoterma segundo o modelo de Langmuir, evidencia
que o processo de adsorção de ambos os compostos se mostrou favorável do ponto de vista
termodinâmico.

Referências
DE LIMA, Liliane S.; ARAUJO, Marcus D. M.; QUINÁIA, Sueli P.; MIGLIORINE, Douglas W.; GARCIA,
Jarem R. Adsorption modeling of Cr, Cd and Cu on activated carbon of different origins by using fractional
factorial design. Chemical Engineering Journal, v.166, p.881–889, 2011.
MOLETTA, Nathalia R. Caracterização e aplicação de carvão ativado produzido a partir de biomassa
amilácea. 2011. 62f. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2011.
OLIVEIRA et al. Aspectos agronômicos e de qualidade do pequi. Fortaleza, CE: Embrapa, 2008. 33p.
(Embrapa Documentos 113).
PEZOTI JUNIOR, O.; CAZETTA, A.L.; SOUZA, I.P.A.F.; BEDIN, K.C.; MARTINS, A.C.; SILVA, T.L.;
ALMEIDA, V.C. Adsorption studies of methylene blue onto ZnCl2-activated carbono produced from buriti
shells (Mauritia flexuosa L.). Journal of Industrial and Engineering Chemistry, v. 20, 4401–4407, 2014.
REFFAS, A.; BERNARDET, V.; DAVID, B.; REINERT, L.; BENCHEIKH LEHOCINE, M.; DUBOIS, M.;
BATISSE, N.; DUCLAUX, L. Carbons prepared from coffee grounds by H3PO4 activation: Characterization
and adsorption of methylene blue and Nylosan Red N-2RBL. Journal of Hazardous Materials, v. 175, 779–
788, 2010.

50 60,00
40
qe (mg.g-1)

qe (mg.g-1)

30 40,00
20
20,00
10
0 0,00
0 200 400 600 800 0,00 20,00 40,00 60,00 80,00
Ceq (mg.L-1) Ceq (mg.L-1)
(A) (B)

Figura 1. Isotermas de Adsorção: do Azul de Metileno (A), do Fenol (B).

Tabela 1. Regressão linear, constantes e coeficientes de correlação para o modelo de Langmuir .


Adsorção Equação R² Constantes
Azul de Metileno y=0,0512x+0,0249 0,9961 b=0,49 qm=40,16 RL= 0,02
Fenol y=0,5252x+0,0148 0,9541 b=0,03 qm=67,57 RL= 0,24

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