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BASEADO EM SONOCRISTALIZAÇÃO
1. INTRODUÇÃO
A lactose pode ser definida como um dissacarídeo encontrado no leite e produtos lácteos,
constituindo-se como a principal fonte de carboidrato sintetizada nas células das glândulas mamárias
(CAMPOS et al., 2014). É largamente utilizada como excipiente em indústria farmacêutica,
particularmente na formulação de produtos de medicamentos tanto para uso inalatório e oral, na
indústria de alimentos; na fabricação de diversos produtos: pães, sorvetes e farinha (KOUGOULOS et
al., 2010). Essa diversidade de aplicações tem despertado o interesse da indústria no que se refere ao
aprimoramento e desenvolvimento de técnicas de recuperação
Uma das formas para separar os produtos orgânicos a partir de soluções aquosas é a adição de
compostos não-solvente que reduzem a solubilidade do soluto, sem a criação de uma nova fase
líquida. Portanto, é possível imaginar que a formação de cristais irá ocorrer de maneira diferente,
quando um dos solventes é alterado (PATEL e MURTHY, 2010).
A cristalização é o principal método utilizado na indústria de lacticínios para recuperar lactose a
partir de soro de queijo, tendo como principais etapas a nucleação e crescimento de cristais (SHI e
ZHONG, 2014).
Utilização de ondas de ultrassom para controlar o processo de recuperação da lactose por meio
de cristalização, é conhecida como sonocristalização. A sonocristalização consiste em utilizar ondas
sonoras de alta intensidade que ao passar através de soluções geram uma cavitação, proporcionando o
surgimento e crescimento de bolhas que irão implodir na solução (DINCER et al., 2014).
Estes efeitos ultrassônicos conferem uma série de benefícios significativos para o processo de
cristalização, por exemplo, redução do tamanho do cristal, rápida indução de nucleação, inibição da
principal aglomeração e manipulação da distribuição de tamanho do cristal (PATEL e MURTHY,
2012).
2. MATERIAIS E MÉTODOS
Neste estudo foi utilizado no processo de cristalização o padrão de α-lactose e o etanol grau
absoluto HPLC, ambos obtidos da Sigma Aldrich. O ultrassom utilizado foi o modelo ECO-SONICS
com frequência de 25 kHZ.
Fatores Nível
-1 0 1
(mL) (min)
1 40 10
2 60 10
3 40 60
4 60 60
PC1 50 35
C2 50 35
*
Ponto Central (PC)
2.3. Métodos de caracterização morfológica e físico-química da lactose
A caracterização do padrão de lactose e dos cristais de lactose recuperados, foi realizada pelos
seguintes ensaios: análise estrutural por Espectrometria na Região do Infravermelho com
Transformada de Fourier (FTIR), análise térmica com o objetivo de identificar as transições térmicas
ocorridas durante a queima das amostras, por meio da interpretação das curvas de TGA.
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
1 40 10 39,50
2 60 10 71,81
3 40 60 55,12
4 60 60 86,33
PC1 50 35 78,99
PC2 50 35 78,86
Já o fato do período de aplicação dos pulsos de ultrassom ter apresentado menor influência no
processo de recuperação da lactose, foi explicado por Bund e Pandit (2007) que observaram que as
ondas de ultrassom exercem uma maior influência na fase de nucleação, considerada como fase inicial
do processo de cristalização.
Após esta análise, foi obtido o modelo estatístico, baseado no método de regressão dos mínimos
quadrados para a estimação dos parâmetros, conforme a Equação 1.
Total 29666,33
*Ftabelado=9,28 R2=0,90
Figura 2 – Efeito do volume de etanol e do período de aplicação dos pulsos sobre a recuperação da
lactose.
4.2 Espectroscopia no infravermelho (FTIR)
Os espectros de FTIR do padrão de lactose e dos cristais de lactose recuperados são
apresentados na Figura 3. Essas curvas mostram que as amostras recuperadas apresentaram perfis
similares a amostra padrão de lactose, indicando semelhanças na composição dos materiais e a não
interferência do solvente no processo de recuperação.
Figura 3 – Espectros de FTIR do padrão de α lactose e dos cristais de lactose obtidos através do
processo de cristalização.
Através dos espectros da Figura 3, é possível observar que a banda característica para α-
lactose foi localizada em 920 cm-1 e a banda de β-lactose está entre 950 cm-1 e 833 cm-1 (KIRK et
al., 2007; LISTIOHADI et al., 2009). O aparecimento de todos os picos característicos de α e β-
lactose nos espectros de FTIR, provavelmente estão associados à mutarrotação da lactose em
solução aquosa. Além disso, a Figura 3 mostra que todos os espectros obtidos possuem bandas
características de grupos funcionais presentes na lactose, destacando-se as bandas a 3600-3200
cm-1 associadas à frequência de vibração do alongamento do grupo OH, e as bandas fracas em
1656 cm-1 e entre 1200 cm-1 e 1070 cm-1, que correspondem respectivamente, à deformação
angular dos grupos OH da água, e ao estiramento assimétrico da ligação C-O-C (ISLAM et al.,
2010).
A partir das curvas térmicas obtidas conforme a Figura 4 foi possível determinar a região onde o
material é termicamente estável até o momento em que toda fase orgânica é consumida.
118℃
154℃
231 ℃
344 ℃
5. CONCLUSÃO
O processo de recuperação da lactose por cristalização assistida por ultrassom apresentou uma
boa eficiência e uma rápida cristalização. Por meio do estudo das variáveis foi possível perceber que o
volume de etanol exerce uma maior influência na eficiência de recuperação, sendo as ondas de
ultrassom responsáveis por acelera à fase de nucleação na formação dos cristais. A partir desses
resultados será possível avaliar o efeito dessas ondas na morfologia e distribuição dos tamanhos dos
cristais de lactose com o intuito de direcionar a sua aplicação comercial.
6. REFERÊNCIAS
BUND, R. K.; PANDIT, A. B. Rapid lactose recovery from buffalo whey by use of “anti-solvent,
ethanol”. Journal of Food Engineering, v. 82, n. 3, p. 333–341, 2007.
DINCER, T. D.; ZISU, B.; VALLET, C. G. M. R.; JAYASENA, V.; PALMER, M.; WEEKS, M.
Sonocrystallisation of lactose in an aqueous system. International Dairy Journal, v. 35, n. 1, p. 43–
48, 2014.
ISLAM, M.I.U., LANGRISH, T.A.G. An investigation into lactose crystallization under high temperature
conditions during spray drying. Food Research International, 43, 46-56, 2010.
KIRK, J.H., DANN, S.E., BLATCHFORD, C.G. Lactose: A definitive guide to polymorph
determination. International Journal of Pharmaceutics, 334, 103-114, 2007.
KOUGOULOS, E.; MARZIANO, I.; MILLER, P. R. Lactose particle engineering: Influence of
ultrasound and anti-solvent on crystal habit and particle size. Journal of Crystal Growth, v. 312, n. 23,
p. 3509–3520, 2010.
LISTIOHADI, Y., HOURIGAN, J.A., SLEIGH, R.W., STEELE, R.J. Thermal analysis of amorphous
lactose and α-lactose monohydrate. Dairy Science & Technology, 89, 43-67, 2009.
PATEL, S. R.; MURTHY, Z. V. P. Waste valorization: Recovery of lactose from partially
deproteinated whey by using acetone as anti-solvent. Dairy Science & Technology, 2010.
PATEL, S. R.; MURTHY, Z. V. P. Lactose Recovery Processes from Whey: A Comparative Study
Based on Sonocrystallization. Separation & Purification Reviews, v. 41, n. 4, p. 251–266, 2012.
PITCHAYAJITTIPONG, C., PRICE, R.; SHUR, J.; KAERGER, J.S; EDGE, S. Characterisation and
functionality of inhalation anhydrous lactose. International Journal of Pharmaceutics, 390, 134-141,
2010.
SHI, X.; ZHONG, Q. Enhancing lactose crystallization in aqueous solutions by soluble soybean
polysaccharide. Food Research International, v. 66, p. 432–437, 2014.
WONG, S. Y.; HARTEL, R. W. Crystallization in Lactose Refining-A Review. Journal of Food
Science, v. 79, n. 3, p. 257–272, 2014.