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INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE

TECNOLOGIA, INFRAESTRUTURA E
TERRITÓRIO (ILATIT)

ENGENHARIA QUÍMICA

PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO A PARTIR DE CIGARROS


APREENDIDOS NA TRÍPLICE FRONTEIRA

LUAN MATHEUS GONÇALVES TORRES


MARCOS VINICIUS KONOPKA
RENER LUCAS SANTOS LOPES

Foz do Iguaçu
2022
INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE
TECNOLOGIA, INFRAESTRUTURA E
TERRITÓRIO (ILATIT)

ENGENHARIA QUÍMICA

PRODUÇÃO DE ETANOL DE SEGUNDA GERAÇÃO A PARTIR DE CIGARROS


APREENDIDOS NA TRÍPLICE FRONTEIRA

LUAN MATHEUS GONÇALVES TORRES


MARCOS VINICIUS KONOPKA
RENER LUCAS SANTOS LOPES

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Instituto Latino-Americano de Tecnologia, Infraestrutura
e Território da Universidade Federal de Integração
Latino-Americana, como requisito parcial à obtenção
do título de Bacharel em Engenharia Química.

Orientação: Dra. Andréia Cristina Furtado


Coorientação: Dra. Caroline da Costa Silva Gonçalves

Foz do Iguaçu - PR
2022
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RESUMO

No Brasil, o contrabando de cigarros é um sério problema econômico e social, pois afeta a


arrecadação de impostos que poderiam ser revertidos para a população. Além disso, não há um
controle, pelos órgãos de vigilância, do tipo e qualidade das matérias-primas que são usadas na
produção destes, acarretando problemas de saúde pública, além de causar grandes prejuízos ao
erário. Segundo a Receita Federal do Brasil, somente no ano de 2021 foram incineradas mais de
9,2 mil toneladas de cigarros apreendidos, sendo este número 35% maior em relação ao ano
anterior. Pensando nisso, este trabalho tem como objetivo analisar a viabilidade da produção do
etanol de segunda geração - bioetanol 2G, a partir da polpa celulósica feita com o tabaco e do filtro
do cigarro composto por acetato de celulose, extraídos de cigarros apreendidos pela Receita Federal
do Brasil no município de Foz do Iguaçu, agregando valor e uma destinação sustentável a esses
produtos de contrabando ou mercadorias apreendidas.

Palavras-chave: Etanol 2G, Cigarro, Acetato de celulose, Celulose.

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ABSTRACT

In Brazil, cigarette smuggling is a serious economic and social problem, as it affects the collection
of taxes that could be reverted to the population, and there is also a lack of control, by the
surveillance agencies, of the type and quality of the raw materials that are used in their production,
resulting in health problems, in addition to causing great damage to the treasury. According to the
Federal Revenue of Brazil, just in 2021, more than 9,200 tons of seized cigarettes were incinerated,
which is 35% higher than the previous year. With that in mind, this work aims to analyze the
feasibility of producing second-generation ethanol - 2G bioethanol, from cellulosic pulp made from
tobacco and a cigarette filter composed of cellulose acetate, extracted from cigarettes seized by the
Federal Revenue of Brazil. Brazil in the municipality of Foz do Iguaçu, adding value and a
sustainable destination to these contraband products or seized goods.

Keywords: 2G Ethanol, Cigarette, Cellulose Acetate, Cellulose.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Estrutura molecular da Celulose. .................................................................................. 11


Figura 2. Estrutura molecular da Hemicelulose. .......................................................................... 11
Figura 3. Estrutura molecular da Lignina de eucalipto. ............................................................... 12
Figura 4. Esquema das etapas envolvidas na produção de etanol de segunda geração (E2G). .... 14
Figura 5. Frações representativas na composição da biomassa lignocelulósica. ......................... 15
Figura 6. Esquema simplificada da fermentação alcoólica da glicose ......................................... 20
Figura 7. Fluxograma descrevendo as etapas do Projeto. ............................................................ 21
Figura 8. Cronograma do Projeto. ................................................................................................ 26

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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 7
2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................................... 9
2.1 BIOMASSA ......................................................................................................................... 10
2.1.1 Biomassa lignocelulósica ..................................................................................................... 10
2.2 BIOETANOL ....................................................................................................................... 13
2.2.1 Produção de etanol de segunda geração (2G) ....................................................................... 13
3. OBJETIVOS ....................................................................................................................... 20
3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................................ 20
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ............................................................................................... 20
4. JUSTIFICATIVA............................................................................................................... 21
5. METODOLOGIA .............................................................................................................. 21
5.1 CARACTERIZAÇÃO DO TABACO E DO FILTRO DO CIGARRO .............................. 22
5.1.1 Caracterização do Tabaco .................................................................................................... 22
5.1.2 Caracterização do Filtro de acetato de celulose ................................................................... 22
5.2 PRODUÇÃO DA POLPA CELULÓSICA ......................................................................... 23
5.3 CARACTERIZAÇÃO DA POLPA CELULÓSICA ........................................................... 23
5.4 HIDRÓLISE DA POLPA CELULÓSICA E DO ACETATO DE CELULOSE ................. 24
5.4.1 Quantificação da glicose ...................................................................................................... 24
5.5 FERMENTAÇÃO ................................................................................................................ 24
5.6 DESTILAÇÃO ..................................................................................................................... 25
5.7 CARACTERIZAÇÃO DO ETANOL PRODUZIDO ......................................................... 25
6. RESULTADOS ESPERADOS .......................................................................................... 25
7. CRONOGRAMA ............................................................................................................... 26
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................. 27

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1. INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, a sociedade tem como uma das principais matrizes energéticas o petróleo,
porém, em razão do seu caráter de recurso limitado e não renovável, existe uma demanda constante
pela migração para matrizes energéticas de fontes renováveis (RECEITA FEDERAL DO BRASIL,
2022).
A produção de etanol a partir da cana-de-açúcar no Brasil teve tração em meados de 1975,
em razão do incentivo por parte do governo através do Programa Nacional do Álcool (Proálcool)
(BASSO; BASSO; ROCHA, 2011)
O etanol é o biocombustível líquido mais utilizado no Mundo, sendo produzido a partir da
fermentação de açúcares. A maior parte da produção comercial de etanol é de cana-de-açúcar ou
beterraba sacarina, pois amidos e biomassa celulósica geralmente requerem um pré-tratamento que
inviabiliza a produção economicamente. O álcool é usado como fonte de combustível de energia
renovável, bem como para a fabricação de cosméticos, fármacos e para a produção de bebidas
alcoólicas (DEMİRBAŞ, 2005).
No Brasil devido à grande abundância da cana-de-açúcar, esta se tornou a maior fonte de
produção de etanol de primeira geração (E1G). Consequentemente, há a necessidade do
reaproveitamento dos resíduos da cana-de-açúcar - palha, bagaço - para a produção de outros
produtos ou de mais etanol, conhecido como etanol de segunda geração (E2G), assim, este último
vem sendo produzido desde 2010 utilizando os resíduos lignocelulósicos do processo de produção
do E1G (MILANEZ et al., 2015).
A produção de bioetanol 1G teve um aumento considerável nos últimos anos, saltou de
pouco mais de 10 bilhões de litros no início dos anos 2000 para 27,5 bilhões de litros em 2009
(BRAGION; DOS SANTOS, 2012).
Atualmente, a produção do E2G é apontada como uma excelente opção para aumentar a
produção de etanol pelo mundo. No caso do Brasil, a produção de etanol pode ser dobrada com a
adoção da tecnologia de E2G (GROSSI, 2015).
Biomassa pode ser definida de uma forma geral como qualquer matéria orgânica de origem
vegetal ou indiretamente animal, em decorrência do processo de fotossíntese. A biomassa armazena
uma pequena quantidade de energia solar que incide sobre a terra. Essa energia pode ser liberada
por meio de processos termoquímicos, quebrando as ligações moleculares orgânicas (GROSSI,
2015).
7
O etanol celulósico é o álcool extraído das fibras de um vegetal. Analisando a cana-de-
açúcar, insumo utilizado comumente no Brasil para a produção de etanol, o E2G é obtido através
do processamento do bagaço após a extração do caldo ou da palha. Através de um processo
denominado de hidrólise – que liquefaz as fibras de uma biomassa com o uso de ácidos ou
determinadas enzimas – o bagaço e a palha são reaproveitados, produzindo-se mais etanol (até 50%
mais) a partir desse caldo hidrolisado. Como aproximadamente metade da glicose e da energia da
cana-de-açúcar estão contidas nas suas fibras lignocelulósicas (bagaço e palha), é possível produzir
muito mais etanol com a mesma quantidade de biomassa e área plantada. Isso coloca o E2G como
uma solução otimista a diversas problemáticas contemporâneas, como a busca por alternativas
energéticas renováveis que não resultem no aquecimento global, alternativa aos derivados do
petróleo e a dependência externa que vários países têm dele (LORENZI; ANDRADE, 2019).
Por se tratar de um material lignocelulósico, a produção de etanol a partir dos componentes
do cigarro, como o tabaco e o filtro, pode ser dada por quatro etapas básicas: polpação, hidrólise
ácida, fermentação e destilação (CARASCHI et al., 1996).
Segundo dados da Receita Federal do Brasil, somente no ano de 2021, mais de 9,2 mil
toneladas de cigarros foram apreendidas. Isso resultou em um aumento de 35% em relação ao ano
anterior. Isso acarreta uma grande evasão fiscal aos cofres do Brasil. A fumaça do cigarro, reúne
mais de quatro mil componentes, dentre eles: mais de quarenta cancerígenos, a exemplo o benzeno
e níquel, e irritantes, como a amônia, óxidos de nitrogênio e dióxido de enxofre, monóxido de
carbono e a nicotina.
As taxas de emissão de partículas por cigarro fumado, variam de acordo com as marcas e a
forma como é fumado. Entretanto, essas taxas são muito altas e suficientes para ter impacto na
poluição atmosférica, por exemplo, a fumaça do cigarro é responsável por 1% da concentração de
partículas finas em Los Angeles, EUA (SEELIG; CAMPOS; CARVALHO, 2005). Dispondo de
uma norma regulatória para o assunto, em total alinhamento com a Política Nacional de Resíduos
sólidos (PNRS), sempre - na medida do cabível - deve adotar-se medidas de destruição que gerem
resíduos que possam ser reciclados e reutilizados com viabilidade econômica.
Além dos malefícios que o consumo habitual do cigarro traz à saúde e da agressão ao solo
causada pelo uso extensivo de agrotóxicos no cultivo do tabaco, existe outro problema atrelado aos
cigarros: a poluição originada a partir do descarte incorreto das guimbas ou bitucas. Esse lixo,
aparentemente insignificante, polui o solo, águas, entope vias fluviais e também é visto como o
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principal causador de incêndios nas margens das estradas em épocas de seca, além de ser
classificado como micro lixo tóxico (MARCHI; MACHADO; TREVISAN, 2014). Entretanto, há
tecnologias disponíveis para o tratamento dos resíduos gerados pelos cigarros, de maneira a
diminuir os impactos causados ao meio ambiente, transformando-os em substitutos a matérias-
primas tradicionais para desenvolvimento de produtos feitos a partir da reciclagem. As bitucas de
cigarro, por exemplo, são compostas de materiais recicláveis e ainda pouco exploradas com essa
finalidade. Nesse escopo, torna-se relevante agregar técnicas e desenvolver processos que, com
finalidades diferentes, assumem em paridade um caráter de complementariedade. Associar novas
tecnologias a pressupostos da sustentabilidade, incorporar novos conceitos e responsabilidades aos
processos já praticados no que diz respeito a este assunto, podem lograr avanços benéficos para
colaborar com a busca de soluções a essa (MARCHI; MACHADO; TREVISAN, 2014).
Sendo assim, este trabalho busca viabilizar uma maneira mais sustentável e inovadora
para dar outro fim a este produto, que não seja a mera incineração ou o próprio descarte no meio
ambiente, através da produção de etanol de segunda geração pelo reaproveitamento do cigarro.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
A crise do petróleo que se instaurou nas últimas décadas, aliada ao aumento da demanda
por combustíveis e à crescente preocupação com o meio ambiente, preconizou a busca por fontes
alternativas de energia no Brasil e no mundo. Os biocombustíveis despontam como uma boa
alternativa para amenizar os efeitos da poluição atmosférica. Esses combustíveis alternativos,
também chamados de biocombustíveis, são obtidos a partir da transformação de diferentes matérias
orgânicas (biomassa) de maneira renovável, podendo ser produzidos através de diferentes
processos térmicos, químicos e bioquímicos (LUZ JR et al., 2009).
As pesquisas têm se concentrado no desenvolvimento de novos insumos básicos, de caráter
renovável, para a produção de combustíveis que possam substituir os derivados de petróleo, o que
coloca a biomassa em um papel de destaque, em razão da sua natureza renovável, ampla
disponibilidade, biodegradabilidade e baixo custo (SUAREZ et al., 2009).
Duas variáveis influenciam diretamente no valor agregado do etanol e consequentemente
em sua produção: a queda do preço do petróleo e o pequeno interesse internacional pelo etanol. E
seis variáveis indiretamente: vendas de veículos flexfuel, acordos de redução de emissões de
dióxido de carbono para conter o aquecimento global que estão motivando a substituição do álcool

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pela gasolina, novas tecnologias como: uso de bagaço de cana para a produção de álcool e energia
elétrica. A adição de álcool à gasolina em vários países do mundo e interesse internacional pelo
etanol brasileiro, que não existiam anteriormente, estão sustentando o crescimento da produção do
bioetanol atualmente no Brasil (SANTOS et al., 2012).

2.1 BIOMASSA
Segundo Miura et al. (2011), a biomassa pode ser definida como toda matéria orgânica
derivada de plantas de conversão fotossintética ou de animais que podem ser reservatórios
temporários de energia química. Uma vez que a biomassa passe pela transformação, ela pode ser
utilizada na geração de energia elétrica e térmica, produção de biocombustíveis e de biogás.

Pode-se dizer que a biomassa é uma forma de armazenamento de uma pequena


fração da energia solar que incide na superfície da Terra. Essa energia é armazenada na forma de
ligações moleculares orgânicas e, por sua vez, é transformada e liberada por processos biológicos
e termoquímicos. Ao contrário da energia dos combustíveis fósseis, a biomassa é renovável
(MIURA et al., 2011).

2.1.1 Biomassa lignocelulósica


As biomassas lignocelulósicas têm despertado interesse para o aproveitamento energético,
visto que são matérias-primas abundantes no planeta, são facilmente acessíveis, possuem ampla
variedade tipológica, são renováveis, são de baixo custo e não competem com a produção de
alimentos (BROWN; HAWKINS; DORAN-PETERSON, 2017).
Os principais componentes da lignocelulose presente no material lignocelulósico são a
celulose (35- 50%), a hemicelulose (20-35%) e a lignina (10-25%), além de pequenas quantidades
de minerais (cinzas), extrativos e outras substâncias. As características químicas e estruturais das
cadeias lignocelulósicas são específicas para cada biomassa. Tais características atribuem
recalcitrância à estrutura da biomassa, o que dificulta o acesso enzimático e microbiológico aos
açúcares presentes na sua composição (GUERI et al., 2021).

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2.1.1.1 Celulose

A celulose (C6H10O5) é um dos principais componentes da parede celular das plantas, e um


dos biopolimeros mais abundantes no planeta, podendo ser encotrada em diversas bioformas como
plantas, protozóarios, fungos. é constituída por β-D-glicopiranose unidas por ligações glicosídicas
β-(1→4) (DONINI et al., 2010). Na figura 1 é apresentada a estrutura moloecular da celulose.

Figura 1. Estrutura molecular da Celulose.

Fonte: Santos et al., 2012.

2.1.1.2 Hemicelulose

As hemiceluloses constituem cerca de 28 a 30 % da biomassa lignocelulósica. Ao contrário


da celulose, as hemiceluloses não são cristalinas, possuem cadeias mais curtas e são ramificadas,
como pode ser visto na Figura 2. A quantidade e os tipos de ramificação variam dependendo da
fonte da matéria-prima. As hemiceluloses são heteropolissacarídeos constituídos por
monossacarídeos, como pentose (D-arabinose e D-xilose), hexoses (D-galactose, D-manose e D-
glicose), açúcares acetilados e ácidos urônicos. Os diversos tipos podem variar amplamente em
diferentes plantas. O tipo de hemicelulose mais abundante é o xilano, embora sua composição varie
entre as espécies (NAIDU; HLANGOTHI; JOHN, 2018).

Figura 2. Estrutura molecular da Hemicelulose.

Fonte: Santos et al., 2012.


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2.1.1.3 Lignina
Denomina-se lignina o componente responsável pela resistência mecânica da parede celular
das plantas, um polímero orgânico, amorfo, de natureza bastante complexa e aromática (Figura 3).
A lignina é responsável por aproximadamente 30% de todo o carbono encontrado na natureza.
Também é bastante utilizada para fins energéticos, devido a sua estrutura molecular complexa. A
lignina pode ser isolada e utilizada como matéria prima para outros produtos (NORONHA et al.,
2017).

Figura 3. Estrutura molecular da Lignina de eucalipto.

Fonte: Santos et al., 2012.


Portanto, a identificação de parâmetros como o índice de cristalinidade, área superficial,
grau de polimerização, composição química, distribuição da lignina e da hemicelulose são de
grande importância para o aproveitamento destes resíduos em processos biológicos, uma vez que
12
as comunidades microbianas decompõem mais facilmente cadeias químicas de tamanhos menores
e estruturas mais simples (MONTGOMERY; BOCHMANN, 2014).

2.2 BIOETANOL
Como produto alternativo e de origem renovável, surge o bioetanol ou etanol de segunda
geração (E2G), combustível obtido a partir da fermentação controlada e da destilação de resíduos
vegetais (biomassa), que pode ser de cana-de-açúcar, trigo, milho, beterraba etc. (LUZ JR et al.,
2009). Em geral, para a produção do E2G é utilizado matéria-prima lignocelulósica (RODRIGUES
et al., 2015).
O bioetanol pode ser produzido a partir da reação de gaseificação da biomassa (processo
termoquímico) ou fermentação dos açúcares que compõem a estrutura da biomassa (processo
bioquímico). No processo termoquímico, a gaseificação da biomassa produz o gás de síntese (H2 e
CO) que é enviado a fermentadores especiais, para a conversão em etanol (DEMİRBAŞ, 2005).
A reação de conversão do gás de síntese em etanol pode ocorrer em reatores químicos com
catalisadores, podendo produzir etanol diretamente (gás para metanol ou etanol), contudo esse
processo não é muito empregado, devido aos custos elevados para o processamento (LUZ JR et al.,
2009). Tendo em vista essa observação, a produção é feita predominantemente por fermentação e
após realizado o pré-tratamento, a fermentação e destilação são iguais que na produção do etanol
de primeira geração (1G).

2.2.1 Produção de etanol de segunda geração (2G)


Pode-se dizer de uma maneira simples que a obtenção de etanol de segunda geração - 2G
envolve quatro etapas, conforme o esquema apresentado na Figura 4. A primeira etapa consiste no
pré-tratamento da biomassa, visando a remoção da lignina e das hemiceluloses e diminuição da
cristalinidade da celulose. A segunda etapa envolve a hidrólise da celulose para produção de
glicose. Nas etapas três e quatro ocorrem os processos de fermentação e destilação,
respectivamente, como acontecem no processo clássico de produção de etanol a partir do caldo da
cana-de-açúcar.

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Figura 4. Esquema das etapas envolvidas na produção de etanol de segunda geração (E2G).

Fonte: Os Autores, 2022.

2.2.1.1 Pré-tratamentos
Segundo Grossi (2015), os processos de pré-tratamentos dos materiais lignocelulósicos
representam uma etapa imprescindível na rota de produção de etanol, pois objetiva separar a matriz
de lignina, solubilizar a hemicelulose e reduzir a cristalinidade da celulose para que ela fique mais
acessível às hidrólises biológicas e químicas. Para ser considerado eficaz, o pré-tratamento deve
diminuir o grau de polimerização das moléculas de celulose, ser capaz de eliminar a lignina para
evitar formação de subprodutos inibidores do processo de fermentação e, principalmente, ser
economicamente viável.
A aplicação de um pré-tratamento na lignocelulose tem por objetivo disponibilizar os
açúcares fermentescíveis a partir da celulose (glucose) e da hemicelulose (xilose, arabinose,
glucose, manose e galactose), frações representativas na composição da biomassa lignocelulósica,
além de outras moléculas menores (Figura 5), tornando o material muito mais atraente para
aplicações em processos fermentativos (GUERI et al., 2021).

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Figura 5. Frações representativas na composição da biomassa lignocelulósica.

Fonte: GUERI et al. (2021).


Existem diversos tipos de pré-tratamentos, com diferentes rendimentos e efeitos distintos
sobre a biomassa e consequente impacto nas etapas subsequentes. Os métodos de pré-tratamento
são divididos em diferentes categorias: físicos (moagem e trituração), físico-químicos (pré-
tratamento a vapor/auto hidrólise, hidrotérmicos e oxidação úmida), químicos (alcalino, ácido
diluído, os agentes oxidantes, e solventes orgânicos), biológicos, ou uma combinação deles
(GROSSI, 2015).

a) Pré-tratamentos físicos
O pré-tratamento físico, não há inserção de compostos adicionais tais como produtos
químicos, enzimas ou fungos, pois, trata-se de uma técnica para melhorar o rendimento do produto
desejado. O pré-tratamento físico aumenta a área de superfície de contato do substrato, permitindo
uma melhor interação entre o substrato e os microrganismos. O tamanho reduzido das partículas
dos substratos causa uma redução benéfica da viscosidade para uma mistura mais coesa e redução
das camadas flutuantes no reator (NAKAEMA, 2021).

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O pré-tratamento físico também fornece celulose do substrato com maior acesso a atividade
microbiana aumentando sua área de superfície. Por outro lado, a contrapartida deste método é seu
alto consumo energético. Mesmo que o pré-tratamento físico tenha um efeito positivo na produção
de bioquímicos, a porcentagem de ganho do rendimento varia dependendo dos tipos de substratos,
devido a suas estruturas particulares (NAKAEMA, 2021).

b) Pré-tratamentos químicos
Os processos químicos são aqueles que dependem de reações oxidativas. Os pré-
tratamentos químicos mais comumente aplicados são a ozonização e a adição de produtos químicos
(TORRES; GUERI; FURTADO, 2021).
Os pré-tratamentos químicos utilizam de uma ampla variedade de ácidos, bases ou
solventes orgânicos, que promovem alterações na estrutura física e química da lignocelulose. Essa
tecnica pode degradar as estruturas complexas dos carboidratos, proteínas e lipídeos, melhorar
ainda mais a disponibilidade de açúcares fermentescíveis, remover a lignina e diminuir o grau de
polimerização e cristalinidade da celulose (HERNÁNDEZ-BELTRÁN et al., 2019).
Um exemplo de pretatamento quimico é o pretratamento com acido diluido, que é um
método que tem se destacado por ser eficiente, rápido e simples. Como consequência, o substrato
pré-tratado apresenta um escurecimento em relação ao material in natura. Esse escurecimento pode
estar associado à formação de produtos da degradação de carboidratos, devido à catálise ácida.
Neste pré-tratamento, ocorre a quebra das ligações glicosídicas alterando a estrutura da
parede celular vegetal, favorecendo a acessibilidade das enzimas para a hidrólise subsequente da
celulose (SILVA JÚNIOR, 2019).
De acordo com Silva Júnior (2019), o pré-tratamento ácido hidrolisa a hemicelulose e
solubiliza parte da celulose, provavelmente grande parte da celulose amorfa ou de baixa
cristalinidade, e torna a fração celulósica remanescente mais susceptível à ação das celulases. O
pré-tratamento com ácido diluído tem a vantagem de não apenas solubilizar a hemicelulose, mas
também de convertê-la em açúcares fermentescíveis, o que elimina ou reduz a necessidade de se
utilizar hemicelulases nos complexos enzimáticos durante a etapa de hidrólise enzimática.

c) Pré-tratamentos biológicos
O pré-tratamento biológico é o método que envolve organismos vivos, direta ou
indiretamente, no mecanismo de solubilização dos açúcares da biomassa. A principal função
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deste pré-tratamento, por meio da ação de enzimas e exoenzimas, é a degradação parcial
dos materiais insolúveis e a quebra das ligações cruzadas entre as estruturas da biomassa. Para
a remoção da lignina, a aplicação de micróbios, enzimas ou pré-tratamento com fungos
podem apresentar melhores resultados. Ele tem a vantagem de degradar a lignina e a
hemicelulose, possui a necessidade de uma baixa energia requerida. Sua desvantagem é que a taxa
de hidrólise é pequena e a velocidade é baixa (GUERI et al., 2021).
A grande vantagem desta técnica frente aos pré-tratamentos químicos e térmicos, é que
no pré-tratamento biológico é possível operar em baixas temperaturas e sem a adição de agentes
químicos. Por outro lado, esta técnica pode levar mais tempo para alcançar valores
equivalentes quanto à solubilização dos açúcares da biomassa (MONTGOMERY; BOCHMANN,
2014).

d) Combinação dos pré-tratamentos


Estudos indicam que a combinação de pré-tratamentos apresenta melhores resultados
se comparados a aplicação de um único tipo de pré-tratamento. A combinação de pré-tratamentos
é bastante interessante para a remoção efetiva tanto da hemicelulose quanto da lignina. Portanto,
devido a essa forma de pré-tratamento utilizar-se de vários mecanismos, não pode ser categorizada
como físico, químico ou biológico, pois usa de ambos os mecanismos para alcançar a solubilização
dos substratos (GUERI et al., 2021).
A seguir a Tabela 1 mostra os diferentes tipos de pré-tratamento do material
lignocelulósico, com suas vantagens, desvantagens e efeitos sobre a celulose, hemicelulose e
lignina do material.
Tabela 1. Tipos de pretratamentos: vantagens e desvantagens
Pré- Caracterísiticas composicionais
Vantagens Desvantagens
tratamento Celulose Hemicelulose Lignina
Intensiva
Moinho de diminuição do Redução de Alto consumo
Físico Não remove Não remove
bolas grau de cristanilidade de energia
estabilidade
Difícil
Pouca
Condições recuperação
remoção, mas
Pouca 80-100% de médias, alta do ácido,
Ácido diluído ocorre
despolimerização remoção produção de corrosivo e
mudança da
Químico xilose relativamente
estrutura
custoso
Considerálvel Remoção
Hisróxido de Inchação Considerável Reagente
solubilização, efetiva de
sódio significativa solubilidade caro,
>50% éteres

17
recuperação
alcalina
Recuperação
Menor que 5% de ~50% de ~70% de Efetiva alcalina,
ARP
despolimerização solubilidade solubilização deslignificação relativamente
caro
Menor
Efetiva efetividade
Solubilização
Hidróxido de Pouca Significativa remoção de devido a
parcial
cálcio depolimerização solubilização lignina e acetil, pouca
(~40%)
baixo custo solubidade do
cal
Efetiva Caro,
Não e observada Pouca Solubilização deslificação em necessidade
Ozonólise
depolimerização solubilização acima de 70% sondições de mais
suaves ozônio
Significativo, Alta produção
Significativo, Recuperação
Considerável pode ser de xilose,
Organosolvente quase de solvente
inchação quase efetiva
completa cara
completa deslificação
Baixo
Perda de
Acima de requeriemento
20-30% de ~40% de celulose,
Biológico Biológico 80% de de energia,
despolimerização deslignificação baixa taxa de
solubilização efetiva
hidrólise
delignificação
Poouca Energia Degradação
Explosão a Pouca 80-100% de remoção, mas eficiente, da xilana
vapor despolimerização remoção ocorre mudança nenhum custo como produto
da estrutura de reciclagem inibitório
Recuperação
Combinado
Menor perda de amônia,
Diminuição do grau Acima 60% de 10-20% de de xilanas, não não é efetivo
AFEX
de cristanilidade solubilidade solubilização formação de para alata
inibidores concentração
de lignina
Fonte: Adaptado de Santos et al., 2012.
Dentre estas técnicas de pré-tratamento da biomassa lignocelulósica, pode-se destacar a
explosão a vapor, AFEX e utilização de ácido diluído como os métodos mais promissores no
processo de obtenção de etanol a partir da biomassa lignocelulósica (SANTOS et al., 2012).

2.2.1.2 Hidrólise
Hidrólise é o processo em que bactérias fermentativas hidrolíticas convertem materiais
complexos como polímeros (proteínas, lipídeos e carboidratos) em compostos solúveis simples e
monômeros por meio da ação de exoenzimas. As proteínas são convertidas em aminoácidos; os
lipídios solúveis em ácidos graxos voláteis; e os carboidratos em açúcares simples. Nesta fase,
qualquer alteração do meio (pH e temperatura) pode inviabilizar a velocidade do processo e
interromper a atividade dos microrganismos envolvidos (TORRES; GUERI; FURTADO, 2021).

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De acordo com Grossi (2015), as cadeias poliméricas de celulose podem ser degradadas
pelo processo de hidrólise química sob diversas condições e apresentando resistência ou não a
reação. Normalmente, esta deterioração é acompanhada por uma modificação química da molécula
de celulose, bem como um aumento no poder de redução e o desenvolvimento de grupos reativos
ao longo da cadeia polimérica. A estrutura microcristalina caracteriza a resistência e boa
estabilidade à cadeia celulósica. Já a celulose amorfa é intermediária ao ataque químico. Portanto,
a susceptibilidade a deterioração aumenta com a diminuição do grau de polimerização.
Os processos de hidrólise ácida de material lignocelulósico se dividem em dois principais
grupos: processos que utilizam ácidos concentrados e processos que utilizam ácidos diluídos.
Nestas condições podem-se empregar distintos ácidos incluindo o ácido sulfúrico, clorídrico,
fluorídrico, fosfórico, nítrico e fórmico. Os processos que envolvem ácidos concentrados são
operados em baixas temperaturas e produzem maiores rendimentos de hidrólise, porém as grandes
quantidades de ácidos usadas causam problemas associados com a corrosão do equipamento, além
dos custos de recuperação e/ou neutralização do ácido serem altos (GROSSI, 2015).
A hidrólise por ácido diluído tem a vantagem de se utilizar menor concentração do ácido.
Entretanto, devido a elevada cristalinidade da celulose, para melhorar a eficiência da reação de
hidrólise, altas temperaturas são requeridas para a obtenção de taxas de conversão aceitáveis.
Adicionalmente, as altas temperaturas empregadas aumentam também as taxas da decomposição
dos açúcares liberados e de corrosão dos equipamentos. Os produtos da degradação do açúcar
podem também causar a inibição no estágio subsequente da fermentação (GROSSI, 2015).

2.2.1.3 Fermentação
Para Moreira (2015), a fermentação consiste num processo de obtenção de energia a partir
de moléculas de glicose presentes no açucar. A glicose é quebrada para a formação de moléculas
mais simples como o ácido pirúvico, com produção de ATP. A Glicólise é a via metabólica comum
a praticamente todos os seres vivos, e é resultado da oxidação incompleta da glicose em piruvato,
ocorrendo no citosol das células. Ocorre na presença ou ausência de oxigênio por meio de dez
reações que convertem a molécula de glicose com 6 átomos de carbono (6C) em duas moléculas
de piruvato com 3C, com produção de 2 ATPs e redução de 2 NAD+ em NADH + H+, como mostra
na Figura 6.

19
Figura 6. Esquema simplificada da fermentação alcoólica da glicose

Fonte: Rocha, 2006

2.2.1.4 Destilação
A destilação consiste num processo de separação de misturas através da diferença dos
pontos de ebulição dos compostos presentes na mistura. Este processo é subsídiado pelo
mecanismo do equílibro líquido/vapor. Durante o fornecimento de calor para uma mistura, se
promovido uma vaporização parcial, obtem-se duas fases, uma líquida e outra de vapor, que
apresentarão composições diferentes, resultantes de diferentes volatilidades. Quanto maior a
diferença de volatilidade entre os os componentes, mais fácil é a separação dos compostos (LEAL,
2015).

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL


3.2 Este trabalho tem como objetivo desenvolver um processo de produção de etanol de segunda
geração, a partir da polpa celulósica e do filtro de acetato de celulose obtidos de cigarros
contrabandeados, apreendidos e cedidos pela Receita Federal do Brasil, na cidade de Foz do
Iguaçu - PR, na fronteira Brasil - Paraguai. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

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• Realizar a caracterização das propriedades físico-químicas do tabaco e do filtro do cigarro;
• Aplicar metodologias de pré-tratamento e hidrólise nas matérias-primas selecionada;
• Produzir a polpa celulósica a partir do tabaco;
• Verificar as propriedades da polpa celulósica obtida;
• Produzir o etanol de segunda geração
• Avaliar o etanol produzido
4. JUSTIFICATIVA
Cotidianamente, grandes quantidades de cigarros são apreendidas pela Receita Federal do
Brasil em Foz do Iguaçu. Estes produtos normalmente são incinerados, de modo que um grande
potencial de reaproveitamento está sendo desperdiçado. Por este motivo, este projeto objetiva
viabilizar o processo de produção de etanol de segunda geração, a partir destes produtos
apreendidos, contribuindo com o meio ambiente, a sustentabilidade e com a sociedade.

5. METODOLOGIA

Para a produção de etanol 2G a partir de cigarros contrabandeados será empregada a


metodologia composta de 3 etapas, conforme o fluxograma apresentado na Figura 7.

Figura 7. Fluxograma descrevendo as etapas do Projeto.

Fonte: Os Autores, 2022.

21
Na 1ª etapa do projeto será feito uma revisão bibliográfica sobre o tema, com artigos e
outras publicações relacionadas a de produção de E2G a partir de materiais lignocelulósico, com
ênfase na celulose e no acetato de celulose. Nesta mesma etapa será realizada a coleta do cigarro
apreendido pela Receita Federal e a logística deles para a preparação das amostras.
Na 2ª etapa será feito a caracterização das amostras de celulose e acetato de celulose
primeiramente, depois a obtenção da polpa celulósica, na terceira fase será realizado a hidrólise
ácida com a polpa celulósica e o acetato de celulose, seguida da fermentação do hidrolisado, e pôr
fim a destilação para obtenção do etanol.
Na 3ª etapa o etanol 2G produzido será caracterizado, a fim de determinar o teor alcoólico
e o índice de acidez. E por fim será feita uma análise dos resultados obtidos.

5.1 CARACTERIZAÇÃO DO TABACO E DO FILTRO DO CIGARRO


5.1.1 Caracterização do Tabaco
Será realizada a caracterização físico-química do tabaco, utilizando espectroscopia de
absorção atômica para determinação de metais pesados presentes. Para observar as impurezas será
feita análise gravimétrica, e microscopia eletrônica de varredura para analisar a estrutura do
material, além de outras técnicas de caracterização de acordo com a necessidade do projeto

5.1.2 Caracterização do Filtro de acetato de celulose


5.1.2.1 Determinação do grau de substituição (GS)
Para determinação do grau de substituição (GS) do acetato de celulose, será realizado uma
reação de saponificação, baseando-se no procedimento descrito por Filho et al. (2000). Utilizando
hidróxido de sódio 0,25 mol.L-1, etanol a 0,100 g de acetato de celulose, ácido clorídrico 0,25
mol.L-1 e para a titulação hidróxido de sódio padronizado com Biftalato de potássio e a fenolftaleína
como indicador. O procedimento será realizado em triplicata.

5.1.2.2 Espectroscopia de Infravermelho com Transformada de Fourier (FTIR)


Será feita a análise por Espectroscopia na região do Infravermelho com Transformada de
Fourier (FTIR) no equipamento Spectrum 100S da PerkinElmer com detector de DLATGS,
utilizando pastilhas de KBr, e será feito varreduras com resolução de 4 cm -1, na região de 4000 a
400 cm-1.

22
5.1.2.3 Análise termogravimétrica (TG) e análise termogravimétrica diferencial (DTG)
A análise será feita no equipamento modelo STA 8000 - PerkinElmer. As amostras serão
aquecidas de 30°C até 600°C com velocidade de aquecimento de 10°C.min-1, e atmosfera de
nitrogênio a 50 cm3.min-1.

5.1.2.4 Difração de raios X (DRX)


A análise da difração de raios X da celulose e do acetato de celulose será realizada em
difratômetro de raios X XRD - 7000 (Shimadzu). A configuração do equipamento será para o
monocromador com fendas (1, 1, 0, 3), operando a 40 kV e uma corrente de 20 mA. A velocidade
utilizada será de 1°/min, ângulo 2q, variando de 5 a 60°, e a radiação de Cu - Ka e o comprimento
de onda de 0,15418 nm.
A cristalinidade da celulose será determinada segundo o método de Segal et al. (2016) que
utiliza a Equação 1.

𝐼 (~22/23°) − 𝐼 (18°)
𝐾 = × 100 Equação 1
𝐼 (~22/23°)

5.2 PRODUÇÃO DA POLPA CELULÓSICA


A polpa celulósica será obtida utilizando meio alcalino sob aquecimento, seguindo a
metodologia descrita por Teixeira (2016). O processo utilizará tabaco, água potável, hidróxido de
sódio (NaOH), sob temperatura e pressão controladas. Após o cozimento e esfriamento da polpa,
será feita a filtragem do material, para separar a polpa dos resíduos. Os indicadores reacionais da
polpa serão feitos a partir da determinação do teor de lignina, da glicose e xilose, e serão feitos
testes de rendimento da conversão do processo e de hidrólise, seguindo a metodologia de Moryama
(2019).

5.3 CARACTERIZAÇÃO DA POLPA CELULÓSICA


A caracterização da polpa celulósica será a partir da avaliação das propriedades físico-
químicas do material, por Microscopia Eletrônica de Varredura, Difração de Raios-X, Análise por
infravermelho, índice de acidez, dentre outras técnicas de caracterização que se julgar necessárias.

23
5.4 HIDRÓLISE DA POLPA CELULÓSICA E DO ACETATO DE CELULOSE
Para as reações de hidrólise serão utilizados a celulose microcristalina (Merck), ácido
sulfúrico (H2SO4) 95-98% (PA), acetato de celulose, que é usado na produção de filtros de cigarros,
e a polpa de celulose produzida do tabaco de cigarros fornecidos pela Receita Federal de Foz do
Iguaçu - PR.
A hidrólise será realizada em sistema fechado, utilizando uma autoclave com a pressão de
vapor do sistema, com temperatura de 120°C, variando a concentração de ácido sulfúrico e tempo
da reação. Após a reação, a solução será retirada e resfriada em banho de gelo, e centrifugada para
separar a fração líquida da sólida. Com a fração líquida do material hidrolisado, a polpa celulósica,
será feita as quantificações.

5.4.1 Quantificação da glicose


Para quantificar a glicose, será utilizado no espectrofotômetro UV-vis a glicose
monoreagente (BIOCLIN) onde a glicose será oxidada enzimaticamente pela glicose oxidase. Para
analisar os hidrolisados no CLAE (cromatografia líquida de alta eficiência) será utilizado o ácido
sulfúrico (H2SO4). Os padrões que serão utilizados são: D-glicose, acetato de sódio anidro, álcool
etílico absoluto 99,8% UV/HPLC, 2-hidroximetilfurfural e 2-furfuraldeído, será priorizado que
seja de grau cromatográfico.

5.5 FERMENTAÇÃO
Após a obtenção da glicose, será realizada a conversão desta em etanol por meio de
fermentação. Para realizar essas análises será necessário preparar os volumes da solução
hidrolisada com solução de H2SO4 5,0% (v/v). E ser operada em uma autoclave na temperatura de
120°C, durante 180 minutos. Após esse processo, será realizada a fermentação do hidrolisado. A
levedura que será utilizada para a produção de etanol é a Saccharomyces cerevisiae (linhagem Cat
1). O crescimento da levedura será em meio de cultura sólida em placas de Petri, utilizando o meio
mínimo YNB - yeast nitrogen base, que contém 5 g.L-1 de sulfato de amônio e será adicionado 2%
de glicose de ágar. Este mesmo meio de cultura será utilizado como pré inóculo, porém sem adição
de ágar. Os meios serão autoclavados a 120°C por 20 minutos. A glicose é autoclavada
separadamente e depois misturada com o YNB e o ágar no meio sólido.
Após 3 dias de crescimento da levedura na placa em meio YNB sólido, o pré inóculo será
feito em um Erlenmeyer de 1 litro. O crescimento celular será por aproximadamente 20 horas em
24
um shaker com agitação de 200 rpm a 28°C. A fermentação será com a metodologia seguida por
Grossi (2015) e Silva Júnior (2019), e ocorrerá em biorreator do tipo erlenmeyers de 5 litros, a
temperatura de 40°C e agitação constante no shaker sob regime descontínuo. O tempo de
fermentação será até ser observada o término do crescimento exponencial celular.

5.6 DESTILAÇÃO
Como na produção de etanol ocorre a produção de CO2 também, será feita a destilação para
uma maior conversão do produto. O processo será feito em um sistema composto por: balão de
fundo redondo de 5 litros, condensador, manta para aquecimento, termômetro e mangueiras. A
destilação ocorrerá até que seja alcançado a conversão maxima do etanol como descrito por Silva
Júnior (2019).

5.7 CARACTERIZAÇÃO DO ETANOL PRODUZIDO


Para caracterizar o E2G será utilizada a metodologia empregada por Ribeiro e Junior
(2016), onde será feita cromatografia gasosa ou líquida para determinação de ésteres totais e álcoois
superiores. A determinação do grau alcóolico será pelo método densimétrico, baseado na separação
do álcool por destilação da amostra e sua posterior quantificação de acordo com a densidade
relativa do destilado a 20°C, realizando um leitura posterior na tabela de grau alcóolico real
(Densidade x Grau alcóolico) expressa em %vol a 20°C. E o grau de acidez volátil será determinada
através do método de titulação dos ácidos voláteis das amostras por arraste de vapor d’agua
(BRASIL, 2005)

6. RESULTADOS ESPERADOS
A partir dos resultados obtidos, espera-se contribuir com o estudo da viabilidade do uso de
cigarros apreendidos - produto que na maior parte das vezes é incinerado - como matéria-prima
para a obtenção de etanol de segunda geração, proporcionando alternativas para a produção de
energias mais limpas e renováveis.
Também visa-se propor formas para mitigar, mesmo que de forma indireta, as
consequências do contrabando de cigarros na Tríplice Fronteira de Foz do Iguaçu, provocando
evasão fiscal, problemas de saúde pública, danos ao erário, entre outras.
Pretende-se por outro lado deixar contribuições no âmbito da ciência e das pesquisas
relacionadas com o etanol de segunda geração, podendo publicar os resultados como capítulo de

25
livro ou artigo, apresentar em congressos científicos, e assim que este trabalho seja fonte de
referência ou inspiração para outros autores posteriormente.

7. CRONOGRAMA

A Figura 8 mostra o cronograma do projeto, com a duração de cada etapa e o prazo máximo
para a realização do trabalho.
Figura 8. Cronograma do Projeto.

Fonte: Os Autores, 2022.

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8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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