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CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS – UNILESTE

Curso de Engenharia Química

Letícia Santiago Sales

RELATÓRIO DE ESTÁGIO:
CIÊNCIA FORENSE NA BUSCA POR EVIDÊNCIAS PARA SOLUÇÃO DE
CRIMES ABORDANDO CONHECIMENTO ADQUIRIDO NO CURSO DE
ENGENHARIA QUÍMICA

Coronel Fabriciano – MG
2020
Letícia Santiago Sales

CIÊNCIA FORENSE NA BUSCA POR EVIDÊNCIAS PARA SOLUÇÃO DE CRIMES


ABORDANDO CONHECIMENTO ADQUIRIDO NO CURSO DE
ENGENHARIA QUÍMICA

Relatório apresentado como conclusão do


Estágio Obrigatório ao curso de Engenharia
Química.

Professor Orientador: Jaqueline Lacerda da


Silva

Período: Fevereiro a Junho de 2020

Coronel Fabriciano – MG
2020
RESUMO

O presente relatório descreve as atividades desenvolvidas no estágio obrigatório, como


parte do curso de Engenharia Química, realizado no período de cinco meses na 1ª
Delegacia da Polícia Civil de Ipatinga, localizada no estado de Minas Gerais. Através
dos trabalhos realizados foi possível acompanhar e realizar os exames toxicológicos
definitivos em substâncias entorpecentes (maconha, cocaína e crack), com utilização
de técnicas colorimétricas, de precipitação e cromatografias por camadas delgadas
(CCD). Atuar na preparação dos reagentes químicos necessários aos exames
toxicológicos, bem como na realização de exames químicos metalográficos, entre
outros. O objetivo do seguinte estágio é vivenciar a atuação de um Engenheiro
Químico na perícia, atuando no desenvolvimento de atividades relacionadas a química
forense. Conhecer a estrutura, organização e competência da Polícia Civil do Estado
de Minas Gerais. Compreender e aplicar as técnicas, métodos, equipamentos e
reagentes químicos utilizados na química legal, empregados na investigação de
crimes. Durante o período vigente de estágio, foi possível executar e acompanhar
exames de perícias criminais necessárias à instituição processual penal nos termos e
normas constitucionais e legais em vigor, exercendo as atribuições nos setores
periciais de: balística forense, toxicologia forense, química, locais de crime contra
pessoa, locais de crime contra o patrimônio, resultado final das substâncias ilícitas,
entre outras.

Palavras-chave: Relatório. Estágio. Engenharia Química. Perícia Criminal. Química


Forense.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Laboratório de Perícia da Polícia Civil de Ipatinga...........14

Figura 2: Estoque de reagentes.......................................................14

Figura 3: A perícia criminal e os seus principais públicos................16

Figura 4: Fluxograma de análise de drogas apreendidas em um


laboratório forense............................................................................19

Figura 5: Estruturas químicas dos principais canabinoides


Presentes na Cannabiss ativa..........................................................20

Figura 6: Teste Duquenois-Levine....................................................21


Figura 7: Planta de Maconha............................................................22
Figura 8: Fórmula estrutural da cocaína...........................................22

Figura 9: Teste scott e Mayer...........................................................23

Figura 10: Teste com Tiocianato de Cobalto....................................24

Figura 11: Esquema da fita de imunoensaio para pesquisa


de cocaína........................................................................................25

Figura 12: Resultado positivo e negativo do teste de


Imunoensaio.....................................................................................25
Figura 13: Especificação para desenho da cromatoplaca...............26

Figura 14: Placa de silica gel............................................................27

Figura 15: Análise de CCD feita em cromatoplaca...........................27

Figura 16: Isômeros de LSD e suas respectivas configurações.......28

Figura 17: Teste ehrlich para confirmação de LSD..........................28

Figura 18: Fórmula estrutural do Ecstasy.........................................29

Figura 19: Teste de confirmação de ecstasy....................................29


Figura 20: Luminol em busca de sangue........................................30

Figura 21: Estrutura da munição.....................................................31

Figura 22: Locais de coletas de resíduos de disparo de arma


de fogo............................................................................................33

Figura 23: Série Numérica do chassi antes do exame


metalográfico..................................................................................34

Figura 24: Série Numérica do chassi após exame metalográfico..34


LISTA DE ABREVIATURAS E SILGAS

QF QUÍMICA FORENSE

PCMG POLÍCIA CIVIL DE MINAS GERAIS

CONSEP CONSELHO COMUNITÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA

CPC CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL

PPI POSTO DE PERÍCIA INTEGRADO

CREA CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA E AGRONOMIA

THC TETRA-HIDROCANABINOL

CCD CROMATOGRAFIA DE CAMADA DELGADA

MDMA METILENODIOXIMETANFETAMINA
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................9

1.1 Objetivo.................................................................................................................10

1.1.1 Objetivo Geral.................................................................................................10

1.1.2 Objetivos Específicos....................................................................................10

2 DESENVOLVIMENTO...............................................................................................11

2.1 Caracterização da Empresa.................................................................................11

2.1.1 Polícia Civil de Minas Gerais.......................................................................11

2.1.2 Posto de Perícia Integrado (PPI)...............................................................13

2.1.3 Laboratório de Drogas da Delegacia Regional de Ipatinga....................13

2.1.4 Proposta de Melhoria.................................................................................14

2.2 Cronograma das Atividades................................................................................15

2.3 Atividade Pericial..................................................................................................16

2.4 Engenharia Legal..................................................................................................17

2.5 Química Forense...................................................................................................18

2.6 Toxicologia Forense.............................................................................................18

2.7 Técnicas instrumentais no contexto forense......................................................19

2.8 Relato e análise das Atividades Desenvolvidas.................................................20

2.8.1 Toxicologia - Teste de Maconha (THC)........................................................20

2.8.2 Toxicologia - Teste de presença de Cocaína e Crack................................22

2.8.3 Toxicologia - Teste de presença de dietilamina do ácido lisérgico


(LSD)............................................................................................................................28

2.8.4 Toxicologia - Teste de Ecstasy (MDMA)......................................................29


2.8.5 Teste presuntivo para detecção de sangue (Luminol)..............................30

2.8.6 Balística Forense..........................................................................................31

2.8.7 Perícia veicular - Exame Metalográfico.......................................................33

2.8.8 Emissão de Laudos toxicológicos..............................................................35

3 CONCLUSÃO........................................................................................................36

REFERÊNCIAS...........................................................................................................37

FICHA DE AVALIAÇÃO DO ESTAGIÁRIO PELA EMPRESA..................................41


1 INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, o uso do conhecimento científico como ferramentas não apenas
coadjuvante, porém muitas vezes decisiva, na elucidação de crimes, tem se
intensificado. Assim a ciência forense, estabeleceu-se de forma definitiva. Nela, a
química forense tem um papel de grande importância. Como o próprio nome indica, a
química forense é a utilização ou aplicação dos conhecimentos da ciência química aos
problemas de natureza forense. Define-se como o ramo da química que se ocupa da
investigação forense no campo da química especializada, afim de atender aspectos de
interesse judiciário (FARIAS et al, 2008).

Uma vez que que as atividades em QF continuem-se, no mais das vezes, na realização
de análises, entendem alguns autores, entre esses Suzanne Bell (2006, apud FARIAS,
2008), que a química forense é, ou pode ser definida como, química analítica aplicada.
De uma forma mais completa e apropriada, podemos definir química forense como a
aplicação dos conhecimentos da ciência química á atividade forense, como especial
ênfase na interdisciplinaridade.

No Brasil, o Cientista Forense é o Perito Criminal cuja vinculação profissional se


enquadra no serviço público. O objetivo de seu trabalho é auxiliar a Justiça e, para tal,
busca, analisa e interpreta vestígios, relacionando-os à infração penal, fomentando
conclusões acerca de delitos. O procedimento pericial é objetivo e, portanto, emprega o
conhecimento técnico-científico de várias áreas, como Física, Química, Biologia,
Odontologia, Engenharia, etc. O produto final do trabalho é a elaboração de um
documento técnico, chamado Laudo Pericial Criminal (TONIETTO et al, 2013).

De acordo com FARIAS (2008), química forense não está apenas vinculada a
ocorrências policias, como assassinatos. Embora essa seja a primeira associação que
vem a mente quando pensamos em QF, é bom relatar que a aplicação dos
conhecimentos da química pode se dar a outras esferas em questões trabalhista
(atividades perigosas ou salubres), ou questões relacionadas ao meio ambiente. Assim
o profissional tem possíveis atuações que pode ocorrer em diversa áreas, e não
apenas no âmbito dos crimes contra a vida. Entre as diversas áreas de atuação
podemos citar: Pericias policias, pericias trabalhista, pericias industrias (alimentos,
medicamentos etc.), pericias ambientais, doping desportivo.

Visando o aprendizado e o conhecimento na prática, o presente trabalho possui o


objetivo de mostrar a aplicação do conhecimento adquirido ao longo do curso de
Engenharia Química, através do programa de estágio. Ao longo do desenvolvimento do
relatório irá ocorrer a descrição das atividades executadas durante o estágio na 1°
Delegacia Regional de Polícia Civil, no setor do Posto de Perícia Integrado (PPI).
1.1 OBJETIVO

1.1.1 Objetivo Geral

Vivenciar a atuação de um Engenheiro Químico na perícia, atuando na engenharia


legal. Conhecer a estrutura, organização e competência da Polícia Civil do Estado de
Minas Gerais. Compreender e aplicar as técnicas, métodos, equipamentos e reagentes
químicos utilizados na química legal, empregados na investigação de crimes.

1.1.2 Objetivos Específicos

 Acompanhar e executar a função pericial específica, acompanhando atividades


de natureza técnica, cientifica e especializada;
 Compreender a natureza jurídica, atividades realizadas, ingresso na carreira;
 Analisar as substancias que foram apreendidas pela polícia com intuito forense,
utilizando os reagentes, os exames químicos e os equipamentos utilizados no dia
a dia pela Perícia Técnica da Polícia Civil;
 Listar os testes mais comuns utilizados pela perícia técnica da polícia civil para
detecção de presença de entorpecentes;
 Elaborar laudos periciais dos exames de acordo com a padronização
estabelecida em regulamento, procedimento operacional padrão e legislação
processual.
2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Caracterização da Empresa

2.1.1 Polícia Civil de Minas Gerais

Aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte em 22 de setembro de 1988 e


promulgada em 5 de outubro de 1988, a Constituição da República Federativa do Brasil
de 1988 é a lei fundamental e suprema do Brasil, servindo de parâmetro de validade a
todas as demais espécies normativas, situando-se no topo do ordenamento
jurídico. Pode ser considerada a sétima ou a oitava constituição do Brasil e a sexta ou
sétima constituição brasileira em um século de república.

O Setor de Perícia da Polícia Civil de Minas Gerais é uma empresa do setor público
que investiga crimes, coletando dados essenciais para cada caso e emitindo resultados
com a finalidade de constatar e qualificar os crimes de toda natureza, ajudando assim a
justiça a punir criminosos e a determinar a pena de cada um deles.

Legislação Mineira:

Art. 1º Esta Lei Complementar organiza a Polícia Civil do Estado de Minas Gerais -
PCMG -, define sua competência e dispõe sobre o regime jurídico dos integrantes das
carreiras policiais civis.

Art. 2º A PCMG, órgão autônomo, essencial à segurança pública, à realização da


justiça e à defesa das instituições democráticas, fundada na promoção da cidadania,
da dignidade humana e dos direitos e garantias fundamentais, tem por objetivo, no
território do Estado, em conformidade com o art. 136 da Constituição do Estado, dentre
outros, o exercício das funções de:
I - proteção da incolumidade das pessoas e do patrimônio;
II - preservação da ordem e da segurança públicas;
III - preservação das instituições políticas e jurídicas;
IV - apuração das infrações penais e dos atos infracionais, exercício da polícia
judiciária e cooperação com as autoridades judiciárias, civis e militares, em assuntos
de segurança interna.

Art. 3º A PCMG reger-se-á pelos princípios constitucionais da legalidade,


impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e deve ainda observar, na sua
atuação:
I - a promoção dos direitos humanos;
II - a participação e interação comunitária;
III - a mediação de conflitos;
IV - o uso proporcional da força;
V - o atendimento ao público com presteza, probidade, urbanidade, atenção, interesse,
respeito, discrição, moderação e objetividade;
VI - a hierarquia e a disciplina;
VII - a transparência e a sujeição a mecanismos de controle interno e externo, na forma
da lei;
VIII - a integração com órgãos de segurança pública do Sistema de Defesa Social.

Art. 4º Além dos princípios referidos no art. 3º, orientam a investigação criminal e o
exercício das funções de polícia judiciária, a indisponibilidade do interesse público, a
finalidade pública, a proporcionalidade, a obrigatoriedade de atuação, a autoridade, a
oficialidade, o sigilo e a imparcialidade, observando-se ainda:
I - a investidura em cargo de carreira policial civil;
II - a inevitabilidade da atuação policial civil;
III - a inafastabilidade da prestação do serviço policial civil;
IV - a indeclinabilidade do dever de apurar infrações criminais;
V - a indelegabilidade da atribuição funcional do policial civil;
VI - a indivisibilidade da investigação criminal;
VII - a interdisciplinaridade da investigação criminal;
VIII - a uniformidade de procedimentos policiais;
IX - a busca da eficiência na investigação criminal e a repressão das infrações penais e
dos atos infracionais.

Art. 6º A investigação criminal tem caráter técnico-jurídico-científico e produz, em


articulação com o sistema de defesa social, conhecimentos e indicadores
sociopolíticos, econômicos e culturais que se revelam no fenômeno criminal.

Art. 7º O exercício da investigação criminal tem início com o conhecimento de ato ou


fato passível de caracterizar infração penal e se encerra com a apuração da infração
penal ou ato infracional ou com o exaurimento das possibilidades investigativas,
compreendendo:
I - a pesquisa técnico-científica a respeito de autoria, de materialidade, de motivos e de
circunstâncias da infração penal;
II - a articulação ordenada dos atos notariais do inquérito policial e demais
procedimentos de formalização da produção probatória da prática de infração penal;
III - a minimização dos efeitos do delito e o gerenciamento da crise dele decorrente.

Art. 8º A investigação criminal se destina à apuração de infrações penais e de atos


infracionais, para subsidiar a realização da função jurisdicional do Estado, e à adoção
de políticas públicas para a proteção de pessoas e bens para a boa qualidade de vida
social.

Art. 9º A função de polícia judiciária consiste, precipuamente, no auxílio ao sistema de


justiça criminal para a aplicação da lei penal e processual, bem como nos registros e
fiscalização de natureza regulamentar.
2.1.2 Posto de Perícia Integrado (PPI)

O PPI é uma unidade de ação programática com funções definidas e missões de


caráter permanente. É um órgão de natureza técnico-científica, com atribuições no
Estado de Minas Gerais. Tem por objetivo, proceder a trabalhos periciais, por meio dos
Peritos Criminais, com o intuito de elucidar tecnicamente o modo como ocorreram os
fatos delituosos, com as circunstâncias que o cercaram, colhendo as provas materiais
pelas quais se torne possível à identificação do autor ou autores do delito e o Modus
operandi.

Localizado na cidade de Ipatinga, o PPI atende cerca de 96 municípios atualmente,


abrangendo o território de Vale do aço e algumas cidades vizinhas, como Caratinga. É
um órgão de natureza técnico-científica, com atribuições no Estado de Minas Gerais.
Nele são realizadas atividades investigativas referentes à identificação veicular,
exames laboratoriais (laboratório Toxicológico), forense, análises de instrumentos,
perícias em áudio e vídeo, balística forense, informática forense, e perícias de crimes
contra a propriedade material.

O Posto de Perícia Integrado atende requisições de exames da Polícia Civil, da Polícia


Militar, do Ministério Público e do Poder Judiciário do Estado de Minas Gerais.

2.1.3 Laboratório de Drogas da Delegacia Regional de Ipatinga

Em 2016 com atuação do Concelho Comunitário de Segurança Pública (CONSEP) do


setor quatro, foi criado o laboratório de perícia, tendo como coordenador o perito
criminal Roberto Ferreira Correia. As análises que antes eram enviadas para Belo
Horizonte, levando cerca de trinta dias para os laudos serem finalizados. Com a
criação do laboratório em Ipatinga, as análises são emitidas em até em uma semana,
facilitando assim, o trabalho da polícia civil.

Dentro do laboratório do PPI são realizados os exames laboratorial, sendo feitas as


análises preliminares e definitivas de drogas ilícitas, apreendidas dentro das regiões
atendidas pelo posto. Após feitas as análises das amostras de substâncias
entorpecentes que são apreendidas e encaminhadas para o laboratório, adquire-se um
resultado para a posterior preparação dos laudos toxicológicos de acordo com cada
requisição.

O espaço do laboratório conta com uma balança analítica de precisão, capela, estoque
de reagentes, vidrarias, alguns equipamentos de proteção e aparatos. Na figura 1 e 2 é
possível visualizar o laboratório de perícia da Polícia Civil de Ipatinga.
Figura 1: Laboratório de Perícia da Polícia Civil de Ipatinga

Fonte: Autor, 2020.

Figura 2: Estoque de reagentes

Fonte: Autor, 2020.

2.1.4 Proposta de Melhoria

Uma sugestão de melhorias seria com relação ao descarte apropriado dos reagentes e
soluções, que em suma maioria são de natureza orgânica. Outra sugestão seria na
adição de equipamentos de proteção coletiva no laboratório, com lava- olhos e
chuveiro de emergência, devido à presença de reagentes ácidos e orgânicos.
2.2 Cronograma das Atividades
2.3 Atividade Pericial

No âmbito do processo civil, a atividade pericial está regulada pelo Código de Processo
Civil (CPC). O termo perícia se origina do latim “peritia” e significa “conhecimento
adquirido pela experiência”. A NBR 13752 define perícia como atividade que envolve
apuração das causas que motivaram determinado evento ou da asserção de direitos.

A perícia técnica tem por objetivo auxiliar o juiz com um conhecimento especializado
do qual ele não detém, de modo que sirva de bases concretas para que o juiz tome a
melhor decisão possível, formando seu convencimento a partir do esclarecimento
técnico de questões controvertidas.

A perícia criminal lida com diversos públicos. A seguir, os principais públicos da perícia
criminal foram mapeados, conforme ilustrada na Figura 3.

Figura 3. A perícia criminal e os seus principais públicos.

Fonte: Rodrigues, Silva e Truzzi, 2008.

O laudo pericial é essencial para que os promotores de justiça peçam o arquivamento


do inquérito policial, ou ofereçam denúncia contra alguém, pois a denúncia depende da
prova de que o crime existiu (materialidade) e indícios de autoria. Como os peritos
criminais e os promotores de justiça são de instituições distintas, estes são
destinatários externos do serviço.

Dentre os públicos da Figura 2, ressalta-se o papel do juiz de direito, um destinatário


externo do serviço. O juiz dirige o ciclo judicial e profere a sentença e, portanto, entrega
o valor final desta rede interorganizacional. Para que a tarefa do juiz seja cumprida, ele
precisa de informações estruturadas para aplicar a lei ao caso concreto e a perícia
criminal contribui com as provas materiais, legitimadas pela ciência.

A sociedade como um todo tem interesse em uma Justiça Criminal que encontre e
puna os responsáveis por delitos cometidos (ou inocente aqueles erroneamente
acusados), e ao mesmo tempo respeite os direitos humanos. A perícia contribui para
este anseio da sociedade com provas científicas que ajudam a Polícia e a Justiça
Criminal, respectivamente, a identificar e julgar os verdadeiros autores dos delitos.

2.4 Engenharia Legal

A Engenharia Legal é o ramo de especialização da engenharia que atua na interface


das ciências Direito-Engenharia, colaborando com juízes, advogados e as partes, para
esclarecer aspectos técnicos e legais envolvidos em demandas. A Engenharia legal
vem se tornando progressivamente, um instrumento imprescindível nas tomadas de
decisões para solucionar fatos no meio jurídico na elucidação de conflitos.

A Engenharia Legal compreende todas as atividades do engenheiro que tendem a


solucionar problemas jurídicos que devem ser submetidos a conhecimentos técnicos,
dos quais normalmente não são inerentes aos advogados e magistrados, traduzindo
especialmente a função do perito judicial em matéria de engenharia.

A expressão “Engenharia Legal” surgiu com o Decreto nº 23.569/1937 que


regulamentou o exercício da profissão de engenheiro. A NBR 14653-1 (ABNT, 2001)
especifica que a engenharia legal é a “parte da engenharia que atua na interface
técnico-legal envolvendo avaliações e toda espécie de perícias relativas a
procedimentos judiciais”. A NBR 13752 que fixa as diretrizes básicas, conceitos,
critérios e procedimentos relativos às perícias de engenharia na construção civil, define
a Engenharia Legal como ramo de especialização da engenharia dos profissionais
registrados no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (CREA), que atuam na
interface direito-engenharia, colaborando com juízes, advogados e as partes, para
esclarecer aspectos técnico-legais envolvidos em demandas.

Assim, faz-se necessário a atuação da Engenharia Legal na colaboração com a ciência


do Direito para a resolução das lides, principalmente no que tange à produção de
provas periciais.
2.5 Química Forense

A química forense é o ramo das ciências forenses voltado para a produção de provas
materiais para a justiça, através da análise de substâncias diversas em matrizes, tais
como drogas lícitas e ilícitas, venenos, acelerantes e resíduos de incêndio, explosivos,
resíduos de disparo de armas de fogo, combustíveis, tintas e fibras. Embora a química
forense seja um tema muito importante e que desperte cada vez mais interesse
perante a sociedade científica, a sua aplicação no campo da criminalística ainda
constitui uma nova linha de pesquisa no Brasil (ROMÃO et al, 2011).

A química forense é uma área muito importante, pois faz parte do processo de
investigação criminal no Brasil e com as metodologias empregadas como o teste
colorimétrico, de turbidez e as técnicas cromatográficas é possível solucionar inúmeros
crimes que muitas vezes são considerados sem resposta. Assim, com o avanço da
tecnologia e o desenvolvimento nos estudos correlatos ocorreu à expansão do termo
forense que é conhecido atualmente, divulgando as técnicas aplicadas para a
identificação das substâncias ilícitas (CAMARGOS, 2018).

Muitos trabalhos tem demostrado à importância da Química na solução de crimes.


Neste contexto, Oliveira (2006) através de procedimentos experimentais de química
forense, estudou as reações químicas empregadas nas análises de disparos de armas
de fogo e na identificação de adulterações em veículos. Através desse trabalho foi
possível concluir que as reações químicas constituem importantes ferramentas
utilizadas no campo das ciências forenses, na elucidação de crimes.

2.6 Toxicologia Forense

Toxicologia forense é a área da toxicologia que se aplica a propósitos legais, tem


objetivo principal fornecer respostas às questões que surgem durante investigações
criminais. É utilizada como ferramenta para análises toxicológicas, que são
requisitadas com a finalidade de se detectar a presença de substâncias exógenas,
determinar sua concentração, e, por fim, relacioná-las aos seus efeitos tóxicos no
organismo, a fim de se estabelecer se houve ou não a intoxicação que recai sob
suspeita. Os resultados gerados por essas análises devem ser inequívocos, e o laudo
irrefutável (NEGRUSZ; COOPER, 2008).

A toxicologia forense no Brasil é basicamente realizada em laboratórios dos Institutos


de Criminalística e Médico Legais (IML), que realizam análises toxicológicas de
material biológico apreendido pelo aparato policial, em nível de estado, já a nível
Federal, são realizados apenas análises em material apreendido pela polícia, não
sendo feitas análises em material biológico (OGA; CAMARGO; BATISTUZZO, 2008).

Com a auto administração de substâncias ilícitas, as pessoas veem buscando


sensações de efeitos prazerosos. Nos últimos dez anos tornou-se crescente, em todo o
mundo, o uso abusivo de substâncias psicoativas, destacando-se entre elas a cocaína.
No Brasil, o uso dessa substância se expandiu devido ao aumento da produção ilícita,
intenso tráfico e a crescente popularidade da droga usada de maneira recreativa.
(LIMA; SILVA, 2007).

A toxicologia forense tem sido muito importante para a sociedade, que tem efetuado
enormes esforços no sentido de iniciar e implantar os procedimentos analíticos de uma
forma credível em termos forenses, como auxílio na tomada de decisões sobre a
relação causa e efeito entre um determinado composto e um efeito adverso observado
(KLAASSEN; WATKINS III, 2001).

Portando de acordo com Johansen e Bhatia (2007), na toxicologia forense é importante


ter uma análise específica e sensível para a quantificação de drogas lícitas e ilícitas em
matrizes biológicas.

2.7 Técnicas instrumentais no contexto forense

Esta situação envolve os índices de apreensões de drogas em conjunto á sua


crescente utilização, apresenta um desafio para autoridades policiais e aos laboratórios
forenses em termos técnicas e científicos para a análise e identificação dessas
substâncias.

A identificação de determinada substância apreendida passa primeiramente por um


teste presuntivo, geralmente colorimétrico, que idêntica se determinada droga
provavelmente está presente ou não. A partir desta informação prossegue-se com um
teste confirmatório, realizado majoritariamente em laboratórios, com uma etapa
precursora essencial, que é a extração e preparo de amostras.

Essas análises envolvem técnicas instrumentais, cujas metodologias são


recomendadas pela literatura e a escolha daquele para ser aplicada depende da
disponibilidade de equipamentos de cada laboratório. A partir desses resultados, pode-
se ter uma análise qualitativa e quantitativa da substância. O esquema abaixo ilustra
resumidamente este fluxograma de testes sobre a droga apreendida.

Figura 4: Fluxograma de análise de drogas apreendidas em um laboratório forense.

Fonte: OIYE, 2015.


2.8 Relato e Análise das Atividades Desenvolvidas

2.8.1 Toxicologia - Teste de Maconha (THC)

A maconha está ligada à planta Cannabis sativa L. Os canabidiol é um dos princípios


ativos presente na maconha. Os outros que estão presente na maconha são os
canabinóico e, o mais efetivo princípio ativo tetrahidocanabinol.

A Lei nº 11.343 de 23/08/2006, faz parte da legislação vigente sobre drogas, define
crimes e estabelece normas de repressão à produção não autorizada e ao tráfico ilícito
de drogas.

Esses e outros canabinoides possuem efeitos aditivos, sinérgicos ou antagônicos em


relação ao THC (tetra-hidrocanabinol), quando a planta é fumada.

Figura 5: Estruturas químicas dos principais canabinoides presentes na Cannabis


sativa.

Fonte: Blucher, 2018.


 Teste duquenois-Levine

Os testes colorímetros são utilizados amplamente em laboratórios de química, como


por exemplo, na investigação de entorpecentes. O Duquenois- Levine consiste em uma
solução de 2,5 mL de acetaldeído e 2,0 gramas de vanilina em 100 ml de etanol 95%
(CAMARGOS, 2018).

Este procedimento tem como objetivo a identificação de Cannabis sativa Linnaeus que
estejam presentes na amostra, utilizando reagente de Duquenois- Levine.

São conduzidos para o laboratório, tabletes de maconha, que são analisados da


seguinte forma: adicionar cerca de 0,05 g em um tubo de ensaio em seguida adiciona-
se ½ conta gotas de duquenóis Levine e agitar. Sobre as paredes do tubo, adicionar
lentamente ½ conta gotas de ácido clorídrico concentrado. Observa-se a formação de
um anel com uma coloração violeta na presença de canabinóides na amostra
constatando positivo para a substancia analisada.

Para realizar a distinção de outros extratos vegetais, como de café torrado, óleo de
Patchouli e chá (folhas), é adicionado aproximadamente 1mL de clorofórmio para
extração do complexo e observa-se a coloração das fases. Cor violeta na fase de baixo
(orgânica) demonstrado na Figura 6 e coloração azulada na fase aquosa indicam a
presença de canabinóides provenientes da Cannabis sativa. Não se observa coloração
violeta na fase de clorofórmio com outros produtos.

Figura 6: Teste Duquenois-Levine.

Fonte: Autor, 2020.


 Teste Morfológico

Caso a maconha chega em sua forma original, ou seja, na forma de planta, como
mostra a Figura 7, uma pequena amostra, cerca de 7 cm deve ser dissolvida em éter
de petróleo, e logo em seguida feita o teste Duquenois-Levine.

Figura 7: Planta de Maconha

Fonte: Autor, 2020.

2.8.2 Toxicologia - Teste de presença de Cocaína e Crack

Entre os alcaloides ilícitos mais conhecidos está a cocaína (benzoilmetilecgonina), um


alcaloide tropânico, que constitui-se no principal alcaloide contido na Erythroxylum
Coca Lamarck.

Figura 8: Fórmula estrutural da cocaína.

Fonte: FARIAS, 2008.


 Teste de Tiocianato de Cobalto Modificado (Scott Modificado) e Mayer

O reagente de Scott original é composto por tiocianato de cobalto a 2% e glicerina. Em


1986 Fasanello e Higgins alteraram o reagente adicionando ácido clorídrico em sua
composição para uma melhor eficácia do teste (CALIGIORNE E MARINHO, 2016).

No laboratório da perícia, são feitos os exames preliminares e definitivos de crack e


cocaína que são enviados para a análise. Para o teste adiciona-se em um tubo de
ensaio cerca de 0,02 g a 0,05 g de amostra, em seguida é adicionado 0,5 mL de
Tiocianato de Cobalto modificado (Scott Modificado) e cerca de 2 gotas de Ácido
Clorídrico 1:5. Por fim é adicionado 0,5 mL de Diclorometano.

Caso dê positivo para o teste, observa-se a formação de uma coloração azul, como
demonstra a Figura 9 abaixo. Em seguida, é feito o teste Mayer (tetraiodomercurato II
de potássio), segundo Caligiorne e Marinho (2016), este ensaio é muito utilizado para
identificação de alcaloides em vegetais, possui alta sensibilidade, detectando assim a
presença de cocaína na substância analisada.

Porém, este teste possui baixa seletividade, reagindo com outros compostos como a
lidocaína, sildenafil, dipirona, ecstasy e outros. Ao adicionar o Mayer, é formado um
precipitado branco flocoso indicando a presença de cocaína na substancia analisada,
como demonstra a Figura 9.

Figura 9: Teste scott e Mayer

Fonte: Autor , 2020.


 Teste de Tiocianato de Cobalto

Esse teste possui a finalidade de constatação preliminar de presença de cocaína a


partir da análise com Tiocianato de Cobalto concentrado. A análise ocorre adicionando
uma pequena quantidade de amostra em uma placa de porcelana, em seguida e
adicionada algumas gotas do reagente Tiocianato de cobalto, caso a amostra
apresente resultado positivo, surgirá uma coloração azul turquesa como mostrado na
Figura 10. Em seguida é necessário encaminhar a amostra para teste definitivo.

Figura 10: Teste com Tiocianato de Cobalto.

Fonte: Autor, 2020.

 Teste de Imunoensaio Cromatográfico rápido

A fim de obter resultados mais fidedignos para amostras muito diluídas ou para
confirmar resultados duvidosos obtidos nos testes citados anteriormente, a
imunocromatografia pode ser utilizada como técnica de triagem também para drogas
brutas.

O procedimento do teste é baseado na extração da droga em meio aquoso sob


agitação vigorosa, principalmente para as drogas pouco hidrofílicas (ex.: maconha,
crack).

Seguido de imersão da fita do imunoensaio na solução e, após cinco minutos, a leitura


é realizada. O desenvolvimento de uma linha na região do controle indica que a eluição
da amostra ocorreu de forma adequada, e a ausência de uma linha na região do teste
indica a presença da droga na amostra, devendo o analista atentar para esta
característica do teste.
Figura 11: Esquema da fita de imunoensaio para pesquisa de cocaína.

Fonte: PPI – Ipatinga, 2016.

Figura 12: Resultado positivo e negativo do teste de Imunoensaio.

Fonte: Autor, 2020.


 Cromatografia em Camada Delgada (CCD)

As técnicas cromatográficas são técnicas de separação de misturas de amostras por


processos físicos e químicos. Neste procedimento, a amostra da droga é extraída com
um solvente orgânico de alta miscibilidade (ex.: metanol para o cloridrato de cocaína e
clorofórmio ou éter etílico para o crack), sendo o solvente aplicado num suporte
contendo uma fase estacionária como cromatoplaca de silica gel, que é colocada
dentro de uma cuba de vidro contendo uma fase móvel constituída de uma mistura de
solventes realizando uma mistura de 25 mL do solvente acetona P.A., 75 mL de
Clorofórmio P.A e 0,4 mL de hidróxido de amônio (NH 4OH).

Com o auxílio de tubos capilares retira-se algumas gotas de solução de cada uma das
amostras e é feita a aplicação na cromatoplaca, todos seguindo uma mesma linha na
parte inferior da placa. Em seguida a placa é colocada dentro da cuba onde entra em
interação com a fase móvel, e a cuba é tampada deixando correr até que o solvente
atinja a altura desejada. Finalizada essa parte, a placa é retirada e colocada para secar
no canto da capela e após a secagem aplica-se revelador Dragendorff borrifando sobre
a placa que reagirá com a molécula da cocaína desenvolvendo uma cor alaranjada
como mostra a figura 13. Conforme vão aparecendo as manchas observa-se a
coloração e altura destas fazendo comparação com a amostra padrão de referência.

Figura 13: Especificação para desenho da cromatoplaca

Fonte: PPI – Ipatinga (2016)


Figura 14: Placa de silica gel.

Fonte: Autor, 2020.

Figura 15: Análise de CCD feita em cromatoplaca.

Fonte: Autor, 2020.


2.8.3 Toxicologia - Teste de presença de dietilamina do ácido lisérgico (LSD)

LSD – Abreviatura usada para denominar, em alemão, Liserg Saure Diethylamid.


Subastância resultante da reação entre o ácido lisérgico e a dietilamina, sintetizada, em
1938, por Albert Hoffman (FARIAS, 2008).

Com apenas 30 mg da droga o usuário passa a ter violentas alucinações que duram,
em média, 2 horas. Fisicamente, provoca a dilatação das pupilas, vômitos e rubor
facial.
Figura 16: Isômeros de LSD e suas respectivas configurações.

Fonte: OIYE, 2015.

O procedimento do teste é através da utilização do reagente EHRLICH, adiciona-se


algumas gotas de solução na amostra. Em seguida aguarda de 3 a 5 minutos para que
ocorra a reação, após esse tempo caso a amostra apresente resultado positivo, surgirá
uma coloração roxa. Na figura 17 o resultado foi negativo.

Figura 17: Teste EHRLICH para confirmação de LSD.

Fonte: Autor, 2020.


2.8.4 Toxicologia - Teste de Ecstasy (MDMA)

Denominada farmacologicamente como 3,4 - metilenodioximetanfetamina e abreviada


por MDMA, o ecstasy é uma substância fortemente psicoativa.

Figura 18: Fórmula estrutural do Ecstasy.

Fonte: FARIAS, 2008.

O procedimento do teste é baseado na extração da droga em meio aquoso sob


agitação vigorosa. Em seguida é introduzido a fita do imunoensaio na solução e, após
três minutos, a leitura é realizada. O desenvolvimento de uma linha na região do
controle indica que a eluição da amostra ocorreu de forma adequada, ou seja, a
amostra é positivo como mostrado na figura 19. Caso haja um desenvolvimento de
duas linhas na região do controle indica que a eluição não foi efetiva, ou seja, a
amostra é negativo.
Figura 19: Teste de confirmação de ecstasy

Fonte: Autor, 2020.


2.8.5 Teste presuntivo para detecção de sangue (Luminol)

O que se chama de luminol durante os trabalhos periciais, na verdade, é uma mistura


do luminol propriamente dito ( C8H7O2N3) com uma substância á base de peróxido de
hidrogênio (água oxigenada). A grande importância da substância é a sua aplicação
mesmo em locais qua já foram lavados ou limpos, inclusive com o propósito de se
eliminar os vestígios. Em tecidos, por exemplo, suas fibras absorvem partes do
composto de ferro que mesmo após sua lavagem ainda brilham em uma cor azul
fluorecente em contato com o luminol.

Após a pulverização da mistura nos locais onde se procura por vestígios de sangue
tem-se início, caso a suspeita se confirme, a reação de oxidação do luminol. É
importante resaltar que a reação apenas identifica uma presença de possíveis vestígios
de sangue, na sequência é fundamental exames complementares, como o de DNA,
para identificações mais exatas.

O luminol apresenta elevada eficiência e sensibilidade que asseguram a identificação


de sangue letente, mesmo em baixas concentrações ou ainda expostos no local há
diversos anos.

Figura 20: Luminol em busca de sangue.

Fonte: Autor, 2020.


2.8.6 Balística Forense

A Balística Forense estuda as armas de fogo, sua munição e os efeitos dos tiros por
elas produzidos. Sempre que tiver nexo causal com crimes, ela procura identificar a
dinâmica, a materialidade e autoria dos fatos. A identificação da arma de fogo é
extremamente importante. Descobrir qual arma foi usada em um delito, identidade de
quem a disparou e o proprietário da arma são requisitos relevantes para se elucidar um
crime identificando todos os envolvidos. Segundo o Artigo 158 do Código de Processo
Penal, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo
supri-lo a confissão do acusado.

 Identificação da arma pelo projétil

A munição se divide em 4 partes: O projetil, o estojo (responsável por manter todas as


peças juntas), o propelente (pólvora) e a espoleta, de acordo com a Figura 21.

Figura 21: Estrutura da munição.

Fonte: ALVES, 2017.

Geralmente o projétil encontra-se no corpo da vítima ou no local do crime, sendo mais


comum o primeiro caso. Em qualquer das hipóteses, o perito balístico irá examinar o
projétil, verificando seu peso, formato, comprimento, diâmetro, composição, calibre,
raiamento, estriações laterais finas e deformações. O calibre da arma serve para
demonstrar a medida do cano, a raiação indica o tipo de arma e a estriação lateral fina
individualiza a arma.
 Classificação e calibre das armas de fogo

Quanto à alma do cano as armas podem ser de alma lisa, raiada e de alma mista.

A. Arma de alma lisa – canos sem sulcos. Exemplo: espingardas;

B. Arma de alma raiada – canos com sulcos paralelos e helicoidais, chamados de


raias. Exemplo: pistolas, revolveres, submetralhadoras;

C. Arma de alma mista - apresentam-se com alma lisa e raiada. Exemplo: modelo
Apache da Rossi com cano superior raiado e inferior liso (BITTAR, 2009).

 Exame metalográfico

Destina-se a recuperação das numerações de série destruídas. A metodologia utilizada


consiste em polir a área a ser investigada e em seguida aplicar os reagentes químicos
apropriados para a revelação da numeração (IGP, 2019).

 Resíduos de arma de fogo

Onde houve produção de tiro, lesão corporal ou morte por arma de fogo, há a chance
de se encontrar resíduos do disparo na própria arma, em roupas, em anteparos ou Uso
da balística forense na elucidação de crimes 191 Acta de Ciências e Saúde Número 05
Volume 02 2016 em partes descobertas do corpo. “É possível encontrar resíduos nas
mãos do atirador ou suspeito de ter efetuado o disparo” (TOCCHETTO, 2009).

No momento do tiro são expelidos, além do projétil, diversos resíduos sólidos partículas
constituídas pelos elementos antimônio (Sb), bário (Ba) e chumbo (Pb), provenientes
de explosivos como sais de chumbo, bário e antimônio, além da composição da liga de
projéteis e cartuchos. Parte desses resíduos sólidos permanecem dentro do cano, ao
redor do tambor e da câmara de percussão da própria arma. Porém, o restante é
projetado para fora, atingindo mãos, braços, cabelos e roupas do atirador, além de se
espalharem pela cena do crime.

As pistolas semi-automáticas, por sua própria constituição, não expelem resíduos na


mesma quantidade dos revólveres. Os resíduos gerados saem pela janela do extrator e
pelo próprio cano. Outros tipos de arma longas, como espingardas, carabinas
metralhadoras, além dos resíduos nas mãos, deixam vestígios em outras partes do
corpo e nas vestes do atirador.

O ideal é que a perícia seja realizada assim que a ocorrência for conhecida. Isso é
importante pois a demora pode acarretar o desaparecimento dos vestígios e prejudicar
a apuração dos fatos. O procedimento de coleta consiste primeiramente lavar suas
mãos com água e sabão e utilizar luvas de procedimento.

Para a coleta, o swab deve ser embebido em solução diluída de EDTA a 2% por um
período de dois minutos. Após esse período, o swab é esfregado nas quatro regiões
distintas da mão do possível atirador por um minuto, de acordo com Figura 22. As
extremidades dos cotonetes ou swabs são armazenadas em tubos devidamente
identificados, contendo cerca de 2 mL de ácido nítrico 5% v/v.

Figura 22: Locais de coletas de resíduos de disparo de arma de fogo.

Fonte: REBOLEIRA, 2013.

2.8.7 Perícia veicular - Exame Metalográfico

O exame metalográfico destina-se à recuperação de gravações que foram suprimidas


em superfícies metálicas.

Nesse tipo de crime a série do chassi é retirada por meio de processo abrasivo para
dificultar a identificação do veículo. O infrator lixa a lataria onde está localizado o
número do chassi, removendo parcialmente ou totalmente a série numérica, e em
seguida gravam uma nova sequência.

Para identificar a gravação do chassi original, os peritos utilizam o reagente BESMANN


– HAEMERS, composto por 120 ml de ácido clorídrico, 30g de cloreto férrico, 80g de
cloreto cúprico e 1000 ml de álcool metílico.

O procedimento acontece da seguinte forma: primeiramente o local onde será aplicado


o reagente deve ser limpo com solvente ou acetona, em seguida com um pedaço de
algodão aplica-se o reagente na superfície da peça e deixa agir por um tempo. O
processo é repetido quantas vezes necessário, até ser revelado o chassi original. A
Figura 23 demonstra a série numérica antes do exame. Já a Figura 24 ilustra a
superfície após a aplicação do reagente, observa-se os caracteres da numeração
original do chassi, sendo constatada a seguinte série original: 9BD57837SGB056498.

Portanto, conclui-se que a numeração do chassi foi alvo de adulteração, sendo que a
numeração original foi lixada e gravada outra numeração no local.

Figura 23: Série Numérica do chassi antes do exame metalográfico.

Fonte : Autor, 2020.

Figura 24: Série Numérica do chassi após exame metalográfico.

Fonte: Autor, 2020.


2.8.8 Emissão de Laudos Toxicológicos

Após serem cumpridas as vistorias e exames de acordo com as necessidades, que


nada mais são do que diligências, havendo a convicção do perito e confirmações de
exames, ele então trata de redigir o laudo pericial. O Perito deve ter a cautela de redigir
o laudo da forma mais objetiva possível, pois o juiz declara os efeitos jurídicos dessas
circunstâncias descritas pelo perito e das conclusões destas tendo como base este
documento. O Laudo de análise toxicológica deve conter os dados a seguir:
identificação do processo ou inquérito e da entidade requisitante; método analítico
utilizado e referências à técnica de isolamento empregada; data da recepção das
amostras e da conclusão dos exames; amostras analisadas; especialista responsável
pela execução das análises; níveis de detecção e quantificação; estado das amostras
analisadas, dentre outros dados pertinentes à elucidação das conclusões (ALVES,
2005).
3. CONCLUSÃO

Durante o período de estágio os objetivos descritos foram cumpridos com êxito, visto
que todas as atividades previstas foram realizadas. Pode-se perceber a importância do
perito para a sociedade, e observou-se que o engenheiro químico pode contribuir nas
atividades de um perito criminal, ajudando a solucionar crimes, que requerem
conhecimento da química forense, como as análises nos entorpecentes, os exames
metalográficos e até mesmo na preparação das soluções para esses tipos de testes.
Esta experiência teve grande contribuição para o estagiário, pois além de prática na
área estudada, pode-se ter uma noção de mercado de trabalho partindo da
versatilidade que o curso possibilita.
REFERÊNCIAS

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APÊNDICE

FICHA DE AVALIAÇÃO DO ESTAGIÁRIO PELA EMPRESA

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