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ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA E DE PETRÓLEO
Niterói
2/2016
ANA LUIZA DE PAULA SALGADO
DEBORAH ALVES GUIMARAES AZEVEDO
ORIENTADORES
Niterói
2/2016
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Engenharia e Instituto de Computação da UFF
CDD 620.11223
v
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Antônio Alves Salgado e Maria Vicentina de Paula Salgado, por
sempre acreditarem em mim e me apoiarem;
À minha dupla, Deborah Alves Guimarães Azevedo, que ao longo desses cinco anos
se tornou uma grande amiga e parceira. Agradeço por toda a dedicação e empenho que
colocou nesse trabalho;
Aos meus orientadores, Prof. Ana Carla da Silveira Lomba Sant’Ana Coutinho (D.Sc.)
e Prof. Fernando Benedicto Mainier (D.Sc.), pelo voto de confiança depositado e apoio
durante a execução desse trabalho e pelos ensinamentos durante toda a faculdade;
Ao meu namorado, Marcos Henrique Policarpo Neves, por todo apoio e suporte
durante esses cinco difíceis anos;
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, Bárbara Alves Menezes e Roberto Guimarães Azevedo, pelo apoio
durante toda minha vida acadêmica;
À minha dupla, Ana Luiza de Paula Salgado, pela parceria, sintonia e enorme
dedicação ao desenvolvimento deste trabalho;
RESUMO
ABSTRACT
Current society is highly dependent on petroleum products and, since this industry
keeps increasing its complexity, continuous researches are required for innovation and
improvements of equipments and processes involved. Among them is the development of
flexible pipes for oil production. The usage of flexible pipes have been growing since its
beginning, mainly in offshore production, due to its advantages compared with rigid pipes in
this environment. Although material selection takes care of the specific efforts the pipe will
suffer during operation, flexible pipes are not immune to corrosion processes. The present
study aims to analyze the various corrosion processes that can attack the pipeline metallic
layers. Besides, it aims to identify the corrosion causes, which can be related to inherent oil
components, to marine environment, to operational parameters or to some failure. The failures
may initiate in project phase, in material specification, in manufacture, in assembly or during
operation. Finally, it will be presented many studies whose goals include a better
understanding about corrosion processes, operational conditions and the materials. Nowadays,
one of the most challenging topics is related to the annular space, between pipeline layers,
which presents highly specific characteristics. These studies were conducted in order to fill
knoledgments gaps and optimize the steel specification so flexible pipes are able to follow the
oil and gas industry requirements. From these studies, it was concluded that despite the
presence of corrosive compounds and water, some factors such as the low ratio between water
volume and metal surface area and the saturation by iron ions can reduce the corrosion
process in the armors. It was also concluded that while flexible pipelines bring a lot of
technology into their design, qualification, manufacturing, installation and monitoring, there
are still a number of challenges in order to make it more efficient, safe and consistent with
current and future demands.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 2.1 –Top 20 países com as maiores reservas de óleo (% global). ................................ 19
Figura 2.2 –Relação entre grau API, densidade e viscosidade ................................................ 21
Figura 2.3 –Top 20 países com maior produção e consumo de óleo (% global) .................... 23
Figura 2.4 – Primeiro poço produtor de petróleo no Brasil, em Lobato, na Bahia. ................ 25
Figura 2.5 – Distribuição das fases em uma rocha reservatória de uma típica dobra geológica
convexa em direção aos estratos mais recentes. ............................................................... 28
Figura 2.6 –Instalações para produção de óleo e gás .............................................................. 29
Figura 2.7 – FPSO Cidade de Saquarema ............................................................................... 29
Figura 2.8 – Produção petróleo e gás no Brasil ao longo dos anos. ........................................ 34
Figura 3.1- Camadas de um duto rígido .................................................................................. 40
Figura 3.2 - Método de instalação J-Lay e S-Lay, respectivamente ........................................ 41
Figura 3.3 - Riser, flowline e jumper. ...................................................................................... 43
Figura 3.4 – Composição típica de um flexível ....................................................................... 45
Figura 3.5 – Perfil da carcaça metálica de um flexível ........................................................... 45
Figura 3.6 – Perfil Zeta da Armadura de pressão de um flexível ............................................ 47
Figura 3.7 –Detalhamento das camadas presentes nos dutos flexíveis ................................... 49
Figura 3.8 – Definição do espaço anular de um futo flexível ................................................. 50
Figura 3.9 – Ilustração de um end fitting típico....................................................................... 51
Figura 3.10 – Máquina de fabricação da carcaça .................................................................... 55
Figura 3.11 – Exemplo do processo de extrusão da barreira de pressão ................................. 55
Figura 3.12 – Máquina de fabricação da armadura de pressão ............................................... 56
Figura 3.13 – Máquina de fabricação da armadura de tração .................................................. 57
Figura 3.14 – Navio de lançamento e bobinas com dutos flexíveis. ....................................... 58
Figura 3.15 - Exemplificação do uso de risers flexíveis e rígidos........................................... 62
Figura 4.1 – Diferença entre corrosão uniforme e por pite ..................................................... 65
Figura 4.2 – Corrosão por placas em chapa de aço carbono ................................................... 66
Figura 4.3 – Fratura intergranular devido a corrosão sob tensão ............................................ 67
Figura 4.4 – Ilustração de uma pilha eletroquímica típica. ..................................................... 69
Figura 4.5 – Ilustração do mecanismo eletroquímico na parede de uma tubulação. ............... 69
Figura 5.1 – Fratura da carcaça por fadiga .............................................................................. 80
Figura 5.2 – Dano na capa externa do duto flexível ................................................................ 84
Figura 5.3 – Corrosão causada pelo dano na capa externa do duto flexível ........................... 84
xi
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
1.1 INTRODUÇÃO
1.2 OBJETIVO
2 INDÚSTRIA DO PETRÓLEO
2.1 O PETRÓLEO
2.1.1 Origem
A palavra petróleo origina-se da junção do Latim petra e oleum significando óleo da
pedra. Essa nomenclatura faz referência direta a sua formação que ocorre, basicamente, em
rochas sedimentares. A crosta terrestre é dividida em camadas ordenadas por sua idade. Essa
categorização é feita com base no reconhecimento de resíduos, como fósseis e minerais, que
indicam a idade relativa de cada camada. Sabe-se que substâncias carbonadas, como o
petróleo, podem ocorrer em todas as camadas desde a Pré-Cambriana até a atual (SPEIGHT,
2007).
Há duas teorias chaves para a formação do petróleo. Uma delas defende a origem
abiogênica, a partir de substâncias inorgânicas. Essa teoria propõe que o petróleo seria
originado a partir de grandes quantidades de carbono, provenientes da formação do planeta
Terra, depositados em altas profundidades. Entretanto, a teoria atualmente mais aceita defende
a origem biogênica (SPEIGHT, 2007).
A teoria biogênica propõe que a origem do petróleo vem da deposição de matéria
orgânica na Terra que sofreu compressão e aquecimento através do tempo em escala
geológica. Os hidrocarbonetos constituintes do petróleo são 20% provenientes de sínteses de
organismos vivos e, o restante, de processos bacteriológicos, como diagênese, catagenêse e
metagênese nas rochas sedimentares. Apesar dessa teoria ser amplamente aceita, detalhes da
transformação da matéria prima em petróleo e gás natural e detalhes da migração da rocha
formadora ao reservatório ainda não foram totalmente esclarecidos (SPEIGHT, 2007).
Uma das etapas de formação do petróleo e do gás natural é a migração da rocha
original até rochas mais porosas e permeáveis, as rochas reservatórias, onde ficam
armazenados. As rochas que circundam o reservatório tem poros muito mais finos fazendo
com que sejam impermeáveis ao óleo e ao gás impedimento o escape do petróleo. Uma vez
que esses produtos, líquidos e gasosos, acumulam-se nas rochas reservatórias acredita-se que
há o predomínio de forças gravitacionais provocando a separação de fases devido a diferença
de densidade (SPEIGHT, 2007).
O acúmulo de rochas contendo petróleo é chamado de reservatório. Uma série de
reservatórios com uma estrutura rochosa em comum ou reservatórios vizinhos são
denominados campos petrolíferos. Por fim, os campos são encontrados em um ambiente
19
30 25,5
25
20
15 11,1
9,2 9,5
10 7,8
5 6,2
5 2,2 2,6 2,6 2,9
0,6 0,6 0,7 0,8 1 1,3 1,4 1,5
% Global
0
Omã
Kuwait
Iraque
Brasil
Nigéria
Líbia
Irã
Angola
Catar
EUA
China
México
União Europeia
Noruega
Algeria
Rússia
Venezuela
Emirados Árabes Unidos
Arábia Saudita
benzeno, naftaleno e fenantreno que podem ser ligados por anéis de naftaleno ou
cadeias parafínicas.
Em geral, observa-se que quanto maior o peso molecular do óleo, menor a quantidade
de hidrocarbonetos parafínicos e maior a de aromáticos e heteroátomos (SPEIGHT, 2007).
A composição do petróleo é fortemente influenciada tanto pela natureza e quantidade
relativa de seus precursores nas rochas sedimentares quanto pelas condições de pressão e
temperatura as quais foram submetidos (TISSOT; WELTE, 1984). Consequentemente, é
compreensível a grande variação nos tipos de óleo encontrados em poços de localização e
idades diferentes. Portanto, o petróleo pode variar em tipo e em peso molecular, de um campo
para outro, de um poço para outro e, até mesmo, de uma profundidade para outra em um
mesmo poço. Essas variações fazem com que suas propriedades físicas assumam uma ampla
faixa de valores (SPEIGHT, 2007).
Dentre as propriedades comumente analisadas no petróleo estão: Grau API,
viscosidade, coloração, ponto de ebulição, volatilidade, teor de enxofre, distribuição de
carbono, UOP e ponto de fluidez1 (SPEIGHT, 2007).
O petróleo, em geral, apresenta coloração desde verde amarronzada até preto, possui
grau API na faixa de 10º a 57º e pontos de ebulição desde 20ºC até 350ºC, acima disso
provoca-se decomposição com formação de coque (SPEIGHT, 2007).
Genericamente pode-se classificar o óleo cru em dois grupos, os óleos leves e os óleos
pesados. São considerados leves os óleos que apresentam maior teor de hidrocarbonetos de
baixa massa molecular, que fluem facilmente através do poço e das tubulações e, quando
refinados, dão origem a grandes quantidades de combustíveis para transporte, como gasolina,
diesel e querosene de aviação. Já os óleos pesados apresentam predomínio de hidrocarbonetos
de alta massa molecular, requerem procedimentos adicionais para serem recuperados do poço
e, quando refinados, dão origem a óleos de aquecimento e apenas pequenas porções de
combustível (REDDA, 2010).
Uma das propriedades mais observadas na análise do óleo é o grau API, propriedade
que fornece uma escala para medição da densidade do óleo. Quanto maior a densidade do
composto, menor será seu grau API. Seu valor indica, a princípio, variações na composição
mas pode ser relacionado a outras características como, por exemplo, a viscosidade e ao teor
de enxofre, conforme visto na Figura 2.2 (SPEIGHT, 2007).
1
Ponto de fluidez: indica a temperatura mais baixa, ao ser refrigerado, na qual o óleo é capaz de fluir. É uma
propriedade importante no que tange o escoamento do óleo nas condições do reservatório e a definição da
necessidade de processos adicionais para recuperação, como o aquecimento (SPEIGHT, 2007).
21
O petróleo talvez seja a substancia mais consumida na sociedade atual atuando como o
centro de funcionamento da indústria moderna. Os combustíveis derivados do petróleo
atendem de 30 a 50% da demanda mundial de energia, abastecem o transporte rodoviário,
aéreo e hidroviário e fornecem aquecimento a construções residenciais e comerciais. Seus
derivados também atuam como matéria-prima para fabricação de fibras sintéticas de roupas,
plásticos, tintas, fertilizantes, inseticidas, borracha e sabonetes (SPEIGHT, 2007). A Figura
2.3 apresenta os 20 países com maior produção e consumo de óleo no mundo.
23
Figura 2.3 –Top 20 países com maior produção e consumo de óleo (% global)
Em 1904, pela primeira vez, foram realizados pelo governo estudos para avaliar a
existência de petróleo no Brasil. Entretanto, esses estudos não obtiveram resultado positivo,
uma vez que foi descartada a possibilidade de exploração na região pesquisada (MORAIS,
2013).
Com medo de depender integralmente de combustíveis importados, o governo entrou
diretamente na atividade exploratória ao final da Primeira Guerra Mundial. Entre 1919 e 1933
o governo atuou no setor petrolífero por meio do SGMB, Serviço Geológico e Mineralógico
do Brasil, porém devido aos baixos orçamentos foram realizadas poucas perfurações em
relação a extensão do país e com isso os resultados ficaram muito abaixo das necessidades da
época. Nesse período não foi encontrado nenhum poço comercialmente favorável (MORAIS,
2013).
O aumento da dependência do Brasil nos derivados do petróleo no início dos anos
1930 ocasionou uma necessidade de mudança por parte do governo federal. Em 1934, o
governo transferiu para o recém-criado DNPM, Departamento Nacional da Produção Mineral,
a responsabilidade de aumentar as prospecções da produção de petróleo. Nesse mesmo ano, a
legislação do setor mineral sofreu grandes mudanças permitindo que as riquezas minerais
encontradas no subsolo passassem a ser consideradas propriedades da União. A partir disso,
tornou-se necessária uma autorização especial do governo para que fosse realizada a
exploração de petróleo (MORAIS, 2013).
Segundo Moura e Carneiro (apud MORAIS, 2013), devido à alta demanda de gasolina
no país e a incerteza quanto a importação de combustíveis, devido da Segunda Guerra
Mundial, o então presidente da república Getúlio Vargas assinou em 1938 o Decreto-Lei no
395 no qual determinou o controle sobre a importação, a exportação, o transporte, a
implantação de oleodutos e o comércio de petróleo e seus derivados por parte do governo
federal. Foi criado também em 1938 o CNP, Conselho Nacional do Petróleo, com o objetivo
de regularizar a nacionalização da atividade industrial do petróleo, entre outras. Esse
Conselho, com o auxílio do DNPM, passou então a controlar as decisões sobre as explorações
do petróleo.
Finalmente em janeiro de 1939 foi descoberta a primeira acumulação de petróleo no
país, em Lobato, Bahia. Devido à baixa produção, os poços perfurados no local acabaram
sendo considerados não comerciais (Figura 2.4) (MORAIS, 2013).
25
2.3.2 Petrobras
A PETROBRAS iniciou suas operações com a produção de apenas 2.663 barris/dia de
petróleo e teve como primeiro desafio diminuir a dependência do Brasil quanto a importação
do petróleo. Para isso, sua missão inicial foi aumentar as atividades exploratórias e construir
novas refinarias, além de melhorar a infraestrutura de toda a rede referente a indústria do
petróleo. Desde sua criação até os dias atuais, a PETROBRAS tem como sua maior missão
tornar o Brasil autossuficiente na produção de petróleo (MORAIS, 2013).
Em 1961 foi fundada a primeira refinaria construída pela empresa, a REDUC,
Refinaria de Duque de Caxias que é, até hoje, a mais completa da PETROBRAS. A REDUC
27
produz óleo doces para lubrificantes, diesel, gasolina, GLP, nafta, querosene de aviação,
parafinas, óleo combustível, entre outros. Graças a essa refinaria, o Brasil passou a ser, nesse
ano, autossuficiente na produção dos principais derivados. Ainda em 1961, a empresa deu
início à procura de petróleo no mar, inicialmente na plataforma continental 2 (PETROBRAS,
2016b).
Foi apenas em 1968 que ocorreu a primeira descoberta de petróleo no mar, em
Sergipe. Ainda nesse ano, entrou em operação a primeira plataforma de perfuração construída
no Brasil, a P-1, e foi criado o CENPES, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento, com o
objetivo de desenvolver novas tecnologias auxiliando a expansão e o fortalecimento da
PETROBRAS. No início da década de 70, o país apresentava uma alta taxa de
desenvolvimento com o PIB acima dos 10% ao ano e, visando contribuir com esse
desenvolvimento, a PETROBRAS criou a Petrobras Distribuidora. Desde 1975 essa empresa
é a líder no segmento de distribuição de petróleo no Brasil (PETROBRAS, 2016b).
A Bacia de Campos, atual responsável por mais de 80% da produção nacional do
petróleo foi descoberta em 1974. Lá foram descobertos diversos campos para a exploração
nos anos seguintes, fazendo com que toda a atenção fosse deslocada para esse local
(PETROBRAS, 2016b).
Em 1986 foi criado o Procap, Programa de Capacitação Tecnológica em Águas
Profundas, com o objetivo de desenvolver novas tecnologias para a produção de petróleo a
400 metros de profundidade ou mais. Nessa época a PETROBRAS trabalhava com poços na
faixa de 150 metros e visava expandir suas operações para profundidades muito maiores. Hoje
a empresa é líder mundial na área de exploração em águas profundas (PETROBRAS, 2016b).
Foi em 2006 com o início das operações da P-34 e P-50 que o Brasil passou a ser
autossuficiente na produção de petróleo e gás, com uma média diária de 1,9 milhão barris/dia.
Apenas um ano depois, em 2007, a PETROBRAS anunciou a descoberta de uma grande
concentração de petróleo e gás em seções de pré-sal. Tal descoberta foi de grande
importância, pois representou um acréscimo de até 50% das reservas de óleo e gás no Brasil
(PETROBRAS, 2016b).
O início da produção no pré-sal ocorreu em 2009, desde então a PETROBRAS vem
desenvolvendo novas tecnologias e expandindo a sua produção.
2
Plataforma continental é a porção dos fundos marinhos pouco profunda, até 200m, localizada nas margens de
um continente. Pode ser definida também como a orla dos continentes banhada pelos mares, onde a água é pouco
profunda, até 200m.
28
Figura 2.5 – Distribuição das fases em uma rocha reservatória de uma típica dobra
geológica convexa em direção aos estratos mais recentes.
As instalações para perfuração e extração do petróleo dos poços podem ser de diversas
formas, conforme a Figura 2.6.
29
3
1 barril de óleo possui 0,158983m³ (REDDA, 2010).
31
4
Campo gigante: recuperação maior que 80 milhões de m³ ou 0,5 bilhões de bpd; campo super gigante:
recuperação maior que 800 milhões m³ ou 5 bilhões de bdp (TISSOT; WELTE, 1984).
32
conectados a plataforma e, além disso, pode ser utilizado para permitir que vários poços
compartilhem do mesmo sistema de injeção de água e gás (PETROBRAS, 2016a).
Os flowlines, linhas flexíveis no leito marinho, são os dutos empregados em todo o
sistema submarino de coleta e escoamento. Conduzem os fluidos produzidos pelo poço para
as unidades de produção. Podem ser utilizados para interligar uma unidade a outra, para
injeção ou descarte de fluidos em reservatórios ou para exportação da produção para a terra.
Em suas extremidades possuem acessórios conectores que ligam as Árvores de Natal a
Manifolds ou risers. Os risers, por sua vez, são dutos rígidos ou flexíveis suspensos que
interligam as linhas de produção submarina a plataforma (PETROBRAS, 2016a).
São aplicados os procedimentos de recuperação primária, secundária e terciária ao
longo da vida do poço. Dependendo das condições, podem ser necessários métodos de
recuperação avançados (terciários) já na fase inicial a fim de estimular o fluxo de óleo e elevar
o percentual de recuperação da reserva (REDDA, 2010).
Quando o poço se torna pouco produtivo e perde a lucratividade ele é abandonado.
Nesse processo, as tubulações são removidas e seções do núcleo do poço são fechadas com
cimento, tanto para isolar o fluxo entre as zonas de gás e de água uma da outra quanto para
isolá-las da superfície. O preenchimento completo do núcleo do poço com cimento não é
necessário e possui um custo proibitivo (REDDA, 2010).
Todos esses procedimentos e equipamentos necessários tornam a produção offshore
mais cara e extremamente mais complexa do que a onshore. Esses fatores representaram um
grande desafio quando extensas jazidas de petróleo foram descobertas no fundo do mar. Tais
complexidades se dão principalmente devido a três fatores principais: as condições climáticas
no ambiente marinho e as condições nas rochas no fundo do oceano, as grandes distâncias
entre os poços no fundo do mar e as plataformas e por fim, devido a invisibilidade nas
operações (MORAIS, 2013).
Por esses motivos, as empresas petroleiras viram a necessidade de investir em novas
tecnologias e com isso, trabalhar em conjunto com universidades, instituições de pesquisas,
empresas industriais e fornecedoras de serviços. Com essa junção foi possível o
desenvolvimento de equipamentos mais aprimorados e a criação de novos sistemas de
exploração e produção offshore. Empresas passaram também a criar seus próprios centro de
P&D (MORAIS, 2013).
No Brasil, temos como exemplo o CENPES, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento
da PETROBRAS, que foi fundado em 1968 com o objetivo de desenvolver novas tecnologias
e auxiliar a empresa no seu funcionamento. Foi nesse ano em que se descobriu o primeiro
33
2105,4
Milhares de barris/dia
2000
1748
1500
1292,8
1000
782,4
500 555,5
81,1 213,4
0 0,9
1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
Ano
3 DUTOS SUBMARINOS
Os primeiros relatos do uso de dutos para transporte de óleo cru datam de 1859 nos
Estados Unidos. Com o passar dos anos, o transporte dutoviário de óleo e gás se mostrou
como sendo o meio mais eficiente, confiável e barato (GUO et al., 2005).
Devido a quantidade de descobertas de extensas reservas de petróleo nos oceanos, os
dutos submarinos vêm assumindo grande importância em garantir a produção desses campos
(AZEVEDO, 2009). GUO e colaboradores (2005) afirmam que apesar da indústria de
tubulações submarinas ser relativamente nova, existe uma série de regras que devem ser
seguidas para otimizar o desenvolvimento de projetos de tubulações e garantir a
funcionalidade do duto, com segurança, durante seu tempo de vida.
Os requerimentos operacionais incluem, basicamente, a definição da capacidade do
sistema em conduzir uma certa quantidade de fluido em uma determinada faixa de
temperatura e as condições de serviço e manutenção do sistema. Os requerimentos funcionais
incluem uma avaliação de segurança e acessos para inspeção. A base para um projeto é
conhecer os parâmetros operacionais, como: o volume transportado, a composição, a
temperatura e a pressão do fluido (REDDA, 2010).
Sabe-se que as condições no ambiente marítimo sofrem variações de lugar para lugar.
Todas essas variações externas e de parâmetros de projeto exigem um estudo prévio de
diversos fatores para o desenvolvimento e escolha da tubulação que será utilizada para aquele
específico local e aplicação. Entre os fatores deverão ser analisados estão (GUO et al., 2005):
Performances do reservatório: Deve ser levado em consideração o comportamento do
reservatório durante toda a vida útil do campo. A vazão dos fluidos irá variar ao longo
desse tempo, ocasionando diferentes comportamentos dos fluidos dentro das
tubulações. A pressão, temperatura e formação geológica do reservatório também
interferem na construção e operação dos dutos. Uma das mais importantes análises a
ser realizada para o dimensionamento dos dutos é o perfil de produção. A partir desse
dado é possível estimar as vazões de óleo, gás e água ao longo dos anos e com isso,
pode-se desenvolver uma tubulação que trabalhe próxima da capacidade máxima mas
que também tenha uma operação fácil durante toda a vida útil do campo.
Composição do fluido e da água: A presença de compostos contaminantes no petróleo,
como gás sulfídrico e dióxido de carbono podem provocar variados tipos de corrosão.
Por esse motivo, inibidores de corrosão ou materiais resistentes a corrosão devem ser
incluídos no design da tubulação. A água do mar também é um composto
36
avaliados quanto às tensões térmicas. Esses esforços podem causar efeitos de upheaval,
formação de alça vertical, e efeitos de snarking, formação de alça horizontal, devido à
expansão térmica combinada com outros fatores, como a pressão interna, as cargas
provenientes das curvaturas decorrentes das irregularidades do solo e da instalação, das cargas
nos vãos livres5 (freespan), das tensões residuais, etc. Esses fenômenos podem causar tensões
excessivas e levar a ruptura da tubulação. Para mitigar o efeito térmico pode-se introduzir
curvaturas de expansão ou pontos preferenciais de expansão (triggers) ao longo da rota do
duto, por exemplo (AZEVEDO, 2009).
A manutenção da temperatura do fluido também é importante pois minimiza a
formação de hidratos, a deposição de parafinas e o aumento da viscosidade de óleos pesados.
Atualmente há dois sistemas de isolamento molhado, aplicado em casos que requerem
resistência térmica moderada, e o isolamento seco, utilizados quando alta resistência térmica é
necessária (AZEVEDO, 2009).
5
Vãos livres: a rigidez dos tubos no leito marinho gera pontos de apoio preferenciais formando os vãos livres.
Essas regiões implicam em tensões adicionais, que sob a ação das correntes marinhas, podem vibrar causando
fadiga que, por sua vez, pode causar a fratura do duto.
40
Na movimentação do duto ao solo marinho a tubulação assume uma forma de “S” devido a
tração estabelecida pela tensionadeira. Utiliza-se um stringer para minimizar as tensões as
quais o duto está submetido e garantir a segurança da tubulação.
• J-Lay: método surgiu da necessidade de instalação de dutos em altas profundidades
e, como o anterior, tem ampla utilização. A diferença para o S-Lay é que nesse método o duto
assume a forma de “J” no trajeto ao solo marinho, ou seja, não apresenta curvatura superior o
que é uma vantagem em relação ao método anterior. Outras vantagens incluem a facilidade de
realizar curvas e os menores vãos livres existentes. Uma desvantagem é a impossibilidade de
lançar dutos em águas de profundidade inferior a 150 metros.
Apresentam vantagens relacionadas a alta resistência a cargas axiais, radiais e a flexão. Além
disso, a configuração rígida possibilita dutos de grandes diâmetros, largamente empregados
em águas profundas. Apresentam também fabricação relativamente simples mas, por outro
lado, geram maiores dificuldades de manuseio, armazenagem, transporte e instalação
(MUNIZ,2013).
6
Pig: dispositivos que deslocam-se no interior dos dutos, impulsionados pelo próprio fluido, realizando uma
tarefa predeterminada relacionada a inspeção das tubulações (CARMERINI; SOUZA, 2009).
45
3.2.2.1 Carcaça
Camada metálica feita a partir de uma fita de aço inoxidável conformada, enrolada em
espiral e intertravada (DOLINSKI, 2009). Apresenta o perfil conforme ilustrado na Figura 3.5
abaixo:
7
Anular é o espaço radial entre o diâmetro externo da barreira de pressão até o diâmetro interno de uma camada
estanque subsequente, em geral a capa externa (DOLINSKI, 2009).
47
Suas principais funções são auxiliar nos esforços compressivos (REDDA, 2010),
resistir ao colapso devido aos esforços radiais provocados pela pressão interna, pela armadura
de tração quando o duto é tensionado na instalação, por equipamentos auxiliares montados no
flexível e prover resistência adicional à carcaça quando há exposição a pressão externa devido
a danos na capa externa (DOLINSKI, 2009).
Nos end fittings há uma sistema de ventilação de gás projetado a fim de dissipar os
gases acumulados no espaço anular devido a permeação através da barreira de pressão
polimérica. Esse sistema é composto, normalmente, por três válvulas e visa aliviar a pressão
acumulada no anular evitando que a capa externa estoure (BRAESTRUP et al., 2005).
Além dos end fittings para terminação do duto há uma série de acessórios que podem
ser instalados com diversas funções, entre eles estão os conectores, os enrijecedores e
restritores de curvatura, boias, dispositivos de fixação, hang-off, entre outros (API 17J, 2008).
Enrijecedores de curvatura tem como função garantir que o duto não ultrapasse os
valores máximos de curvatura permitidos por sua estrutura quando submetidos aos efeitos
dinâmicos de operação e instalação. Dessa forma, realizam uma transição suave de rigidez na
extremidade do duto conectado à unidade flutuante (DOLINSKI, 2009). São utilizados
comumente para dutos sujeitos a efeitos dinâmicos, os risers. Já os restritores de curvatura
tem a mesma função dos enrijecedores, porém são aplicados geralmente em flowlines,
estruturas estáticas (API 17J, 2008).
As boias submarinas são utilizadas para se obter a configuração desejada do riser. Os
dispositivos de fixação são aplicados para conectar componentes auxiliares no duto, como as
boias e restritores de curvaturas mencionados anteriormente. Os hang-offs são empregados
para suspender a conexão de topo do riser da estrutura de suporte (API 17J, 2008).
52
Segundo a norma API 17J (2008) os materiais metálicos utilizados devem ser
escolhidos levando em consideração os ataques corrosivos que irão sofrer ao longo da vida
útil da tubulação. Os materiais usados ou expostos a proteção catódica devem possuir
comprovada resistência contra fragilização por hidrogênio. Nos dutos flexíveis são usados
materiais metálicos na carcaça, nas armaduras de pressão e de tração e no end fitting.
Características como resistência à corrosão, força mecânica e preço são os fatores mais
importantes para a definição do material a ser usado na carcaça (PALMER; KING, 2006).
Além desses fatores, a escolha do material a ser utilizado nessa camada está diretamente
ligada a composição do fluido que passará internamente e do uso que este duto terá. Devem
ser levados em consideração para essa escolha de fatores como temperatura do fluido, teor de
CO2, H2S e O2. O aço carbono é um material muito utilizado para ambientes não corrosíveis
enquanto para ambientes corrosíveis podem ser utilizados aços inoxidáveis de alta liga. Aços
inoxidáveis austeníticos também são bastante resistentes a corrosão e são os aços mais
utilizados na fabricação de carcaças, principalmente os aços AISI 304L e 316L (API RP 17B,
2002).
Para as armaduras de pressão e de tração usa-se aço carbono com diferentes teores de
carbono para cada especificação. Quanto maior for a necessidade de alta dureza do material
maior deverá ser o teor de carbono. Materiais com baixo ou médio teor de carbono são
utilizados em ambientes ácidos. O fabricante deve especificar o limite para a presença de
compostos como carbono, manganês, fosforo, enxofre, silício e cobre, além de especificar a
aplicação de cada material, sejam para ambientes marítimos com influência do pH (API RP
17B, 2002).
54
Para os end fittings usa-se normalmente aços AISI 4130 ou ligas de aços inoxidáveis,
além de revestimentos anticorrosivos. Para a escolha do material a ser utilizado é necessária
uma análise do ambiente interno e externo a que o duto estará submetido (API RP 17B, 2002).
Todos os materiais utilizados na construção das tubulações passam por uma série de
testes, afim de comprovar a qualidade e adequação desses. Nesses testes são analisadas as
características físicas, mecânicas e químicas de cada material, além da sua performance. Para
os materiais metálicos, é necessário a realização de testes referentes a composição química,
limite de elasticidade, máximo de força, dureza, fratura induzida por hidrogênio (HIC) e por
tensão pelo sulfeto (SSCC), resistência à corrosão, resistência à erosão, resistência à fadiga e
resistência à químicos (API RP 17B, 2002).
Para os materiais poliméricos não são determinados testes específicos, entretanto é
obrigatório a realização de testes quanto a compatibilidade do fluido transportado e de
envelhecimento sob as condições de operação, que provocam alterações em sua propriedade e
consequentemente em sua resistência (API RP 17B, 2002).
Entre as etapas descritas acima e na mesma linha de produção, podem ser adicionadas
também fitas adesivas e não adesivas.
Para passagem por cada uma das etapas descritas acima o duto é desenrolado da
bobina emissora e enrolado na bobina receptora posicionadas nas extremidades das máquinas.
Dessa forma permite-se produzir longos comprimentos de duto em um espaço otimizado de
fábrica (DOLINSKI, 2009).
A instalação dos dutos flexíveis pode ser realizada de duas maneiras distintas, pode
começar no poço ou no manifold e terminar na unidade flutuante de produção ou a instalação
pode começar na unidade flutuante e terminar no poço ou no manifold. Fatores como o projeto
e componentes do duto, características do campo e capacidade do guincho de içamento
interferem diretamente na escolha do método de instalação (DOLINSKI, 2009).
Para uma instalação que se inicia no poço ou no manifold, é montado na extremidade
do duto um módulo de conexão para acoplamento no conector do poço ou manifold. Assim
que o módulo de conexão esteja acoplado, travado ao conector e tenha sido aprovado no teste
de selo, inicia-se o lançamento do duto. O navio desloca-se então em direção a unidade
flutuante seguindo a rota pré definida para o flowline. Perto da unidade flutuante, essa deverá
iniciar uma operação de transferência e içamento do riser de modo que conecte a extremidade
do riser ao sistema de suspensão dessa unidade flutuante (DOLINSKI, 2009).
Para uma instalação que se inicia na unidade flutuante, é transferido do navio de
lançamento para essa unidade um cabo mensageiro. A partir deste cabo é iniciada a
transferência do riser para a unidade flutuante. Essa transferência é realizada conectando o
cabo mensageiro ao guincho de içamento do riser. Após essa transferência e conexão do riser,
o navio de lançamento lança o duto e se move de maneira a atingir a configuração desejada
para o riser. O navio desloca-se então em direção ao poço ou manifold seguindo a rota
definida para o flowline (DOLINSKI, 2009).
Ao se aproximar do final do flowline, um peso morto é montado. Esse peso morto
pode ser fabricado a partir de um bloco de aço ou pedaços de corrente e é usado para garantir
o posicionamento correto do flowline. São colocados então colares no duto após o peso morto
com o objetivo de formar a lombada de instalação do módulo de conexão. Para facilitar a
montagem no duto e evitar o efeito de torção do duto flexível durante o acoplamento, os
colares são bipartidos e possuem olhais giratórios. Esses colares em série formam um restritor
de curvatura, que limita a curvatura do duto durante a instalação e operação. É realizada então
o acoplamento do módulo de conexão no conector do poço ou do manifold (DOLINSKI,
2009).
Após a instalação e antes do processo de produção, os dutos passam por uma etapa de
pré-condicionamento do campo. Nessa etapa, são realizados testes em cada comprimento
individual da tubulação de modo que comprovem a segurança e bom funcionamento desses
dutos. São feitos testes como de alagamento, pigagem, hidrostático e vazamento (DOLINSKI,
2009).
Os testes de alagamento e pigagem são realizados de modo que pelo menos dois pigs
60
3.2.9 Testes
Assim como os materiais utilizados, os dutos como um todo passam por uma série de
testes antes de serem levados para a operação, de modo que comprovem sua qualidade,
eficiência e segurança. De acordo com a norma API 17J de 2008, testes essenciais na
fabricação dos dutos são os FAT, factory acceptance tests. São eles:
Teste de calibre: Deve ser realizado antes do teste hidrostático e apenas em estruturas
de parede interna rugosa (RoughBore) a fim de garantir que o diâmetro interno obtido
atende ao projeto.
Teste hidrostático: É exigido na construção de todos os tubos flexíveis a fim de
verificar a estanqueidade e resistência a pressão.
Teste de resistência e continuidade elétrica: Deve ser realizado após o teste
hidrostático. Esse teste deve ser realizado entre os end fittings e a carcaça, com o
objetivo de medir a resistência elétrica entre esses pontos. A resistência elétrica entre
os end fittings e a carcaça deve ser maior que 1kΩ, enquanto a resistência entre os end
fittings deve ser menor que 10Ω/km de duto.
Teste do sistema de ventilação de gás: Esse teste deve ser realizado após o teste
hidrostático e tem como objetivo avaliar se o sistema de alívio de gás usado para
controlar a pressão no espaço anelar do duto funciona corretamente. Nesse teste, ar ou
gás nitrogênio são introduzidos no sistema a partir de um end fitting até alcançarem a
pressão do sistema de alívio de gás, deve ser então conferido a saída de gás no outro
end fitting. Todos os end fittings e válvulas devem ser checados.
Além desses testes, devem ser realizados testes como teste de protótipo, de
terminação, à vácuo, de integridade estrutural a bordo, de integridade estrutural offshore, de
materiais, de vedação e teste de resistência à corrosão. Esses testes tem como objetivo
verificar e garantir a integridade e o bom funcionamento do duto (FERGESTAD; LØTVEIT,
61
2014).
3.3 COMPARATIVO
É importante destacar que, apesar das diversas classificações dos tipos de corrosão,
esses tipos comumente agem em sinergia, pois um tipo influencia a ocorrência do outro e vice
e versa (ROBERGE, 2008).
A aparência da área corroída varia muito de um tipo de processo corrosivo para outro.
A identificação pela aparência é de suma importância para o entendimento do mecanismo e
aplicação dos métodos de reparo apropriados. A corrosão se apresenta de maneira uniforme na
superfície do metal ou de forma localizada, esse último grupo inclui corrosão macroscópica
(pite, placas, entre outras) e microscópica (intergranular, intragranular, empolamento, entre
outras) (PANNONI, 2015).
Esse processo pode promover a perda das propriedades mecânicas do material devido
a corrosão sob tensão fraturante (CTF) e, com isso, pode consequentemente ocasionar uma
fratura no equipamento (GENTIL, 2011).
ferro forma uma fina camada sobre a superfície e promove a entrada de hidrogênio atômico
no metal pelas impurezas nos contornos de grão da estrutura metálica (BRONDEL et al.,
1994). Além disso, os sulfetos atuam como inibidores a formação de gás H2 (FERGESTAD;
LØTVEIT, 2014), ao contrário do que ocorre na corrosão por CO2 onde há a formação
característica de hidrogênio gasoso, como será descrito também no item 4.2.2.1.
Fe →Fe2+ + 2e−
Catodo:
i) Redução do oxigênio em uma solução ácida:
O2 + 4 H+ + 4e− →2H2O
ii) Redução do oxigênio em uma solução neutra ou básica
O2 +H2O+ 2e− →2OH—
iii) Produção de hidrogênio em uma solução ácida
2H+ + 2e− → H2
iv) Produção de hidrogênio em uma solução neutra ou básica
2H2O +2e−→H2 + 2OH−
Alguns metais apresentam a característica de passivação. Basicamente, esses materiais
tornam-se inertes, ou altamente resistentes à corrosão, se comportam como metais nobres, em
meios de poder oxidante de médio a alto. Isso ocorre devido a deposição de produtos do
processo corrosivo com boa aderência a suas superfícies (FERREIRA et al., 2002).
representam um ambiente de volume reduzido e meio estagnado onde ocorre o contato entre o
metal e o eletrólito (PANNONI, 2015).
No início do processo corrosivo, o metal reage com o oxigênio presente na fresta
sofrendo oxidação no polo anódico, enquanto o oxigênio é reduzido a íons de hidroxila no
polo catódico, a corrosão ocorre de forma uniforme na fenda (BRONDEL et al., 1994).
Entretanto, a medida que a corrosão é mantida, a região torna-se pobre em oxigênio e
cria-se uma cela de aeração diferencial onde o microambiente da fresta atua como anodo e o
ambiente externo a fresta atua como catodo. A elevada razão entre as áreas catódica e anódica
nesse cenário agrava o processo corrosivo (PANNONI, 2015).
Na fresta, anodo, os íons metálicos são hidrolisados provocando uma redução
acentuada do pH. Essa acidificação resulta num agravante a corrosão para maioria dos metais
(PANNONI, 2015).
Além disso, o excesso de cargas positivas na solução provoca a migração de íons
negativos à região da fresta, como por exemplo de cloreto, para manter a neutralidade.
Todavia, a presença de cloreto intensifica o processo corrosivo pois esses íons atuam como
catalisadores à oxidação do metal (BRONDEL et al., 1994).
Um dos tipos de corrosão por frestas é a corrosão filiforme e puntiforme citadas
anteriormente.
aquosas forma ácido carbônico e é capaz de provocar uma reação eletroquímica entre o aço e
essa solução (POPOOLA et al., 2013). Waard et al. (apud POPOOLA et al., 2013)
desenvolveu o seguinte mecanismo para corrosão por CO2:
H2CO3 + e- →H + HCO3-
2H →H2
Fe →Fe2+ + 2e−
CO2 +H2O + Fe→FeCO3+ H2
O produto de corrosão é o carbonato de ferro que pode formar uma película na
superfície do metal atuando como proteção a corrosão sob certas condições, como alta
temperatura, aumento do pH e ausência de turbulência, sendo esse último fator o mais crítico
à formação e retenção dessa barreira (BRONDEL et al., 1994). A formação de gás hidrogênio
é utilizada como fator de identificação a esse tipo de corrosão (FERGESTAD; LØTVEIT,
2014).
Como o carbonato de ferro não é condutor, não ocorre corrosão galvânica. Entretanto,
pode ocorrer corrosão na ausência do filme protetor ou quando ele se apresenta de forma
irregular, expondo o metal. Outro fator presente nesse cenário é a corrosão por fendas ou por
pite devido a formação de ácido carbônico e, além disso, a fragilização do metal pelo dióxido
de carbono provocando corrosão sob tensão (BRONDEL et al., 1994).
fraturas pode formar H2 elevando a pressão interna do material que pode provocar fraturas
internas, fenômeno conhecido como fratura induzida por hidrogênio (HIC) e bolhas,
fenômeno conhecido como empolamento por hidrogênio (HAAHR et al., 2016).
Para que ocorra o SSCC é necessário que haja um local de alta tensão, como por
exemplo superfícies irregulares. O HIC se comporta de maneira contrária, de modo que não
necessita estar sob altas tensões para que ocorra a fratura ou fragilização do material
(FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
Em baixas temperaturas, o sulfeto de ferro forma uma película sobre o metal que pode
atuar como barreira à corrosão branda, porém para esse cenário é essencial a ausência de
cloreto e de oxigênio na região. A presença de cloreto provoca formação de cloreto de ferro
que impede a formação de sulfeto de ferro na superfície do metal e, consequentemente,
mantém a reação anódica. Já em altas temperaturas, a película de sulfeto de ferro atua como
catodo em relação ao metal provocando corrosão galvânica (BRONDEL et al., 1994).
A presença de ácido sulfídrico em concentrações significativas ocorre apenas em
alguns poços de petróleo. Entretanto, muitas vezes, a quantidade de H2S é elevada ao longo do
tempo devido à bactérias redutoras de sulfeto inseridas pela injeção de água no poço, tornando
a presença de enxofre um problema não previsto (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
Além disso, a presença de H2S vem, em geral, acompanhada de CO2. Essa combinação
altera o mecanismo e os produtos corrosivos formados e pode tornar a taxa de degradação
maior ou menor dependendo das condições (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
8
Ductilidade é a propriedade que representa o grau de deformação que o material suporta até o momento de sua
fratura.
78
5.1 OPERAÇÃO
Os fatores que podem provocar corrosão das estruturas metálicas dos flexíveis em
operação são funções das características do ambiente submarino e do fluido transportado,
podendo ser iniciadas pela falha de uma de suas camadas.
presença de alta concentração de cloreto, fadiga e fricção entre os fios de aço que compõem a
carcaça (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
A falha devido fadiga do metal da carcaça associada a um ambiente corrosivo pode
acometer dutos dinâmicos, como os risers, e pode estar associada aos ciclos de carga
provenientes da barreira de pressão ou às vibrações em alta frequência devido ao fluxo de
gases em dutos que transportam gases. Fatores que influenciam para a ocorrência da fadiga
durante operação incluem a presença de areia no fluido transportado, que reduz a flexibilidade
da camada elevando a tensão devido à curvaturas. Além disso, fatores como intensa
movimentação do ambiente externo e altas flutuações de temperatura e pressão interna
contribuem fortemente com a fadiga da tubulação (Figura 5.1) (FERGESTAD; LØTVEIT,
2014).
Fonte: Adaptada de Handbook on Design and Operation of Flexible Pipes - FERGESTAD; LØTVEIT, 2014
Outro efeito causado pela presença de areia no óleo produzido é a erosão do aço da
carcaça, sendo este o principal motivo de corrosão por erosão dessa camada dos dutos
flexíveis (BRONDEL et al., 1994). Com a perda da superfície metálica, outros processos
corrosivos são favorecidos, além da diminuição da resistência aos esforços mecânicos.
Quando comparado aos dutos rígidos, é esperado que haja uma diminuição da
eficiência do inibidor de corrosão na carcaça, visto que essa camada apresenta fendas entre
seus encaixes fazendo com que esses espaços estejam menos protegidos. Essas fendas são
81
1997).
extremamente benigno para o duto. Foi observado que o ambiente supersaturado com íons de
ferro é o fator principal para ambientes com baixa taxa de corrosão, sendo responsável por
aumentar o pH e por aumentar a precipitação da camada de ferro protetora.
A partir desses experimentos foi confirmado que para razões V/S baixas, as taxas de
corrosão também são pequenas e foi verificado um valor de pH acima do esperado pelos
cálculos para as condições de corrosão em ambientes doces. Apesar de já ter sido proposto
antes, esses experimentos não confirmaram a influência da espessura da camada de eletrólito
acima da superfície do aço como fator expressivo no processo corrosivo do duto (RUBIN et.
al., 2012).
Figura 5.3 – Corrosão causada pelo dano na capa externa do duto flexível
A presença de oxigênio, por si só, já representa uma ameaça à integridade dos aços
presentes no anular. Além disso, interfere na corrosão causada pelo CO2 e H2S conforme
descrito no item 4.2.2.5. Segundo Fergestad e Løtveit (2014), em combinação com a água do
mar, a taxa de corrosão do oxigênio será limitada pela presença de carbonato de cálcio
(CaCO3) que se deposita na superfície do metal inibindo a corrosão pelo oxigênio. Outro fator
de alta influência é a movimentação da água, quanto maior o fluxo maior a renovação da água
e, portanto, maior a corrosão devido ao fornecimento de oxigênio dissolvido.
A entrada de água do mar oxigenada pode ocorrer de uma só vez, carregando
85
Por esses motivos, um dano no duto na zona de transição pode resultar em um rápido processo
corrosivo por oxigênio e consequentemente em uma perda do tamanho da seção transversal
que pode resultar na falha no duto em menos de um ano (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
A medida que ocorre corrosão no anular, a composição de gases desse ambiente é
alterada, por exemplo com a corrosão por CO2 há a liberação de H2 modificando as pressões
parciais dos demais gases presentes. Essas variações alteram a intensidade e mecanismos de
corrosão submetidos às armaduras (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
De acordo com a norma API RP 17B (2002) de maneira alguma pode ocorrer um
processo corrosivo por pite que afete o tempo de vida do duto ou que exceda os critérios de
design sob as condições normais de operação.
A Figura 5.4 mostra um dano na capa externa de um riser utilizado na Noruega.
Quaisquer fraturas nas armaduras criam espaços no suporte da barreira de pressão que,
eventualmente, ocupa esse espaço abrindo falhas nessa camada polimérica que promove a
entrada do fluido transportado pela tubulação causando, por fim, a ruptura da capa externa.
87
A má aplicação do epóxi ou qualquer outra falha desse artificio poderá tornar o interior
do end fitting e as camadas metálicas da tubulação suscetíveis a umidade ou, até mesmo, a
água do mar.
5.3 INSTALAÇÃO
armaduras de tração, pressão e ao duto como um todo, como explicitado no item 5.1.3.
A etapa de instalação dos dutos apresenta diversas complicações que podem acarretar
em danos nas tubulações. Por exemplo antes da instalação os dutos são armazenados em
bobinas ou cestas e, para evitar que ocorra um destravamento da armadura de pressão, essas
bobinas devem apresentar um raio interno maior ou igual ao raio mínimo admissível para
armazenamento. Os dutos também devem ser instalados cheios de água ou abertos para alagar
para evitar que haja colapso desses. Apesar de todos esses cuidados, caso haja um choque do
duto com outro equipamento ou com a própria plataforma, pode ocorrer um dano na capa
externa do duto, o que pode gerar um processo corrosivo (DOLINSKI, 2009).
91
Seguindo as especificações da norma API RP 17B (2002), para que seja evitada a
corrosão e a fim de garantir a integridade dos dutos, é necessário que algumas medidas sejam
tomadas. São elas:
Boa escolha do material.
Proteção catódica.
Aumentar a espessura da camada.
Adicionar lubrificantes ou revestimentos
A escolha do método de prevenção e controle da corrosão é uma etapa complexa do
projeto. Diversas estratégias podem ser empregadas para proteção do metal quando submetido
a ambientes agressivos, entre elas estão os revestimentos, os tratamentos de superfícies, a
alteração do meio pela adição de inibidores e os métodos que modificam o mecanismo
eletroquímico como proteção catódica, anodos de sacrifício ou corrente impressa
(ROBERGE, 2008).
ou apresentem tolerância a corrosão suficiente (API 17J, 2008). Caso o contato entre eles seja
inevitável, deve-se isolar eletricamente um material do outro, posicionar o metal anódico de
forma que seja fácil a sua troca e utilizar espessuras maiores (ROBERGE, 2008).
O monitoramento do duto flexível se faz necessário durante toda sua vida em serviço.
Os métodos de inspeção devem ser considerados na fase de projeto como parte do
gerenciamento de integridade da tubulação. Uma inspeção completa e rotineira se faz
necessária para garantir uma operação eficiente, pois a substituição do duto é onerosa e falhas
podem causar impacto ambiental grave juntamente com altos prejuízos financeiros
(FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
Técnicas de inspeção convencionais, em serviço, usadas em dutos rígidos não são
indicadas para os dutos flexíveis, visto que não funcionam bem para os materiais presentes
nesses dutos. As várias camadas presentes nos dutos flexíveis impedem por exemplo a
inspeção pelo uso de alguns pigs instrumentais ou teste ultrassônico (PALMER; KING,
2006).
Visto que muitos métodos convencionais não se aplicavam corretamente nesses dutos,
foram necessárias adaptações e criação de um sistema de inspeção específico. Esse sistema é
instalado nos dutos em diversos pontos críticos identificados durante o projeto de modo que
forneça dados indiretos que incluem: quedas de pressão ou monitoramento do fluxo, células
de carga (load cells), sensores de pressão, inclinômetros e exames não destrutivos dos end
fittings (PALMER; KING, 2006).
No monitoramento da integridade dos dutos flexíveis são utilizadas técnicas como a
inspeção visual das superfícies internas e externas, inspeção da proteção catódica, testes de
volume, ventilação e composição dos gases do anular, testes para medida das características
do fluido transportado e testes de pressão hidrostática. Além disso, monitora-se a temperatura,
pressão e vazão de operação (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014). Podem ser aplicados pigs
mais suaves a fim de verificar se há alguma obstrução no espaço interno na tubulação
(PALMER; KING, 2006).
Os testes visuais são realizados por ROVs com o objetivo de avaliar o aspecto das
superfícies do duto e seus acessórios, a configuração dos risers, posicionamento e número das
boias submarinas e demais acessórios e possíveis reparos já existentes (FERGESTAD;
LØTVEIT, 2014). A frequência em que esses testes são realizados varia de acordo com a sua
utilização. Para a Petrobras a frequência entre esses testes são (CARNEVAL et al., 2006):
Risers: de 3 a 5 anos.
Flowlines para transporte de óleo e gás em alta pressão: de 3 a 5 anos.
Flowlines para outras utilidades: de 10 a 15 anos.
95
Figura 6.2 – Dano causado pelo contato do Enrijecedor de Curvatura com o duto
Inspeções visuais internas são mais raras sendo realizadas apenas quando já há
suspeita de danos da carcaça ou liner, quando o duto está sendo avaliado para reutilização ou
após algum incidente. Isso porque esse tipo de inspeção requer uma parada de operação e
limpeza do interior do duto (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014), o que representa grandes
perdas financeiras a operadora.
Com relação a inspeção da proteção catódica, o objetivo resume-se em verificar sua
funcionalidade, com sondas que medem a continuidade elétrica, e o consumo do anodo
visualmente. Caso seja detectado forte consumo do anodo indica-se a existência de processo
corrosivo (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
Um teste muito importante no processo de inspeção do duto flexível é o teste
hidrostático, ou teste de pressão hidrostática. Esse teste tem como objetivo assegurar a
integridade do duto e dos conectores e sua estanqueidade, deve ser realizado após a
construção do duto e depois de sua instalação. Entretanto, esse teste só deve ser realizado caso
o relatório de instalação, o teste visual e a análise de vida de serviço não tenham encontrado
nenhuma falha significativa na estrutura do duto, visto que qualquer problema mais sério pode
acarretar em uma falha durante esse teste (CARNEVAL et al., 2006).
Os testes com monitoramento da superfície por gás percolado9 tem como objetivo
monitorar os ciclos de abertura das válvulas de alívio de gás do espaço anular instaladas nos
conectores. Durante a operação do duto, o gás percolado se desloca para o topo da seção do
9
Percolação, no duto flexível, é a migração do gás da barreira interna para dentro do espaço anular.
97
riser, onde se acumula. Esse fluxo de gás provoca um aumento da pressão interna no espaço
anular e ao atingir a uma pressão limite há a abertura das válvulas de alívio de pressão. O
monitoramento desses ciclos de abertura e fechamento faz parte de um sistema automatizado
e integrado ao controle central da plataforma, de modo que fornece informações contínuas
sobre a pressão do gás no espaço anular e permite a antecipação de falhas nos dutos
(CARNEVAL et al., 2006).
Outro método relacionado ao monitoramento do espaço anular é o teste de injeção de
nitrogênio. Esse teste é realizado em risers flexíveis, conectados a plataforma até 30m abaixo
d’água, com o objetivo de avaliar a integridade de capa externa do duto e dos acessórios e a
presença de líquido no anular. Nesse teste ocorre a injeção de nitrogênio no espaço anular, de
modo que a pressão não exceda o valor definido no setup do projeto. Durante o teste são
registados dados como pressão, tempo e volume de injeção, pressão e tempo de estabilização
e existência ou não de um vazamento ou alívio de pressão por meio de abertura de válvula. A
partir desses dados é possível identificar e localizar falhas que atingiram a armadura de tração
(CARNEVAL et al., 2006).
De acordo com a norma API RP 17B (2002), caso haja a entrada de água no espaço
anular do duto devido a algum dano na capa externa é necessário que ocorra uma inspeção do
duto para verificação do grau de corrosão presente. Para verificar a extensão do dano, são
realizadas análises locais na região dos danos na capa externa e são realizados testes de
aceitação. Outros danos na capa externa também requerem que sejam realizados testes para
confirmar que os dutos ainda atendem as especificações mínimas para operação.
A integridade dos dutos é algo essencial para a manutenção da operação de exploração
do petróleo. Por esse motivo, a pesquisa e o desenvolvimento de novas técnicas de inspeção
dos dutos devem ser sempre realizadas. Um bom exemplo foi o projeto desenvolvido pela
Petrobras em parceria com a Pontifícia Universidade Católica (PUC/Rio), onde foram usadas
fibras óticas para monitoramento em tempo real de risers flexíveis (MORAIS, 2013).
Nesse projeto, denominado Monitoração Óptica Direto dos Arames (MODA), os
sensores de fibra ótica foram instalados ao lado dos arames da armadura de tração mais
externa em seções próximas dos conectores. Através de emissões de luz pelo sensor, essa
técnica de inspeção constata deformações nos arames da armadura de tração. Essa técnica
auxilia na prevenção de maiores problemas no duto, como por exemplo identifica possíveis
pontos de ruptura (MORAIS, 2013).
Além dos métodos de inspeção citados acima, podem ser utilizados também os
seguintes métodos: sonar de varredura lateral, calibração interna, radiografia, teste de laser
98
6.3 REPARO
Em caso de reparo nos dutos flexíveis, a norma API 17J (2008) especifica que devem
ser realizados testes adicionais e cálculos para confirmar que esses reparos não
comprometerão a estrutura e os requisitos de longo prazo desse duto. A norma também
especifica quais são os reparos permitidos e não permitidos para os dutos.
Não é permitido o reparo de um defeito inaceitável na barreira de pressão interna,
sendo necessária a remoção completa dessa camada. Contudo, para as barreiras intermediárias
e a capa externa é permitido reparo de falhas pequenas. Nesses casos, são utilizadas muitas
vezes a soldagem da camada polimérica (API 17J, 2008).
Um dano na capa externa do duto flexível pode ser responsável por um rápido
processo corrosivo caso seja esse exposto ao ar atmosférico ou a água do mar. Por esse
motivo é necessário que o reparo seja realizado rapidamente e, para isso, são utilizados
produtos inibidores de corrosão e fitas adesivas ou bandagens enquanto o duto não é
completamente reparado (API RP 17B, 2002).
São utilizados nessa situação fluidos inibidores líquidos no espaço anular. Esses
inibidores tem o objetivo de encher o duto e com isso, expulsar a água do mar que já havia
entrado e limitar o seu ingresso futuro. Dessa maneira, é evitado que a água do mar oxigenada
circule pelas armaduras e que se desenvolva processos corrosivos mais graves. Além dos
fluidos inibidores, existem alguns métodos para reparação final da capa externa. São eles:
braçadeira de reparação macia (Figura 6.3), braçadeira rígida, braçadeira de reparação
estrutural, reparação de fundição, soldagem do polímero (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
99
Os defeitos nas soldas das armaduras metálicas do duto devem ser reparados pela
remoção dessas soldas e das zonas afetadas pelo calor e substituição dessas por novas soldas
que atendam as especificações exigidas. No caso da carcaça, o reparo da solda só pode ser
realizado antes da formação do duto, de modo que uma inspeção visual confirme que o reparo
é aceitável (API 17J, 2008).
Caso haja um bloqueio no sistema de ventilação do espaço anular que não possa ser
reparado pelos orifícios já existentes de ventilação, é possível repará-lo utilizando uma
braçadeira de ventilação e perfurando a capa externa do duto, Figuras 6.4 e 6.5. Outros
métodos possíveis, mas não tão usuais são: perfurar um novo orifício de ventilação em um
tubo localizado dentro de um tubo guia, gerar um vácuo cíclico e pressão de nitrogênio,
pressurização hidráulica do orifício de ventilação, perfuração do novo orifício de ventilação
através do end fitting (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
100
Para o reparo de danos críticos localizados em certa área do duto pode ser realizado o
corte dessa seção e a instalação de end fittings nessas extremidades de modo que não seja
necessária a troca de toda a tubulação. Já em casos de danos na capa externa do duto, essa
camada pode vir a ser retirada e substituída por uma nova capa (API RP 17B, 2002).
Os reparos citados acima só são possíveis em caso de danificações pequenas, sendo a
grande maioria dos danos nos dutos irreparável. Danos como colapso, fadiga, erosão são
101
exemplos de danos que não podem ser reparados, assim como corrosão e fadiga nas
armaduras de tração (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
Diversos processos corrosivos sofridos pelos dutos não podem ser evitados durante a
fabricação e a escolha do material. Para que sejam evitados e controlados é necessária a
implementação de procedimentos de trabalho, de sistemas de monitoramento e de inspeção,
de modo que haja em primeiro lugar uma prevenção para impedir danos e acidentes e em
segundo lugar uma rápida detecção em caso de danos que possam gerar corrosão
(FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
Grande parte dos danos causados nas capas externas dos dutos ocorre durante a
instalação. Por esse motivo, é necessário que haja a implementação de procedimentos e
práticas de trabalho para que esses danos sejam evitados e que haja um bom sistema de
monitoramento para que esse dano seja identificado o mais rápido possível (FERGESTAD;
LØTVEIT, 2014).
Durante a operação do duto flexível é essencial a prática de algumas ações com o
objetivo de evitar um dano do duto. São elas (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014):
Evitar o bloqueio do sistema de ventilação do dutos: Esse bloqueio pode provocar a
ruptura da capa externa. Para que isso não ocorra, o sistema deve ser monitorado
continuamente e devem ser realizados testes para medição da vazão.
Diminuir as chances de impactos e colisões do duto com outros equipamentos: O uso
de procedimentos mais rígidos irão evitar danos nas capas externas dos dutos.
Identificar se a fissura da capa externa sob o reforço de dobra é o potencial problema:
esse problema pode ser identificado pela análise da temperatura de operação e do
gradiente térmico entre a parede do duto e o reforço de dobra.
Implementar um sistema do monitoramento e inspeção para a rápida identificação de
dano na capa externa do duto.
Avaliar as chances de haver HIC ou SSCC, devido ao material escolhido para ser
usado nas armaduras do duto e a um possível aumento na concentração de H2S no
ambiente.
102
Algumas das falhas mais graves de risers flexíveis já ocorridas foram causadas pela
corrosão da armadura de tração, muitas delas iniciadas pela violação da capa externa do duto.
Dentre os registros de acidentes gerados por esse fator estão quatro risers (um na África e três
no mar do Norte, próximo a Noruega). Com relação a quase acidentes há o registro de dois
risers (um na África e um na Noruega). Além disso, pelo menos sete flowlines com aços de
alta resistência falharam devido à corrosão nas regiões da África Ocidental, Golfo Pérsico e
mar do Norte (FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
Todas essas falhas surpreenderam os operadores pois são difíceis de detectar pelo
monitoramento da capa externa ou pelo interior do duto. Apesar de ter-se o conhecimento que
foram relacionadas a presença de H2S, não foi possível esclarecer a sequência de eventos e
mecanismo detalhado para a ocorrência da falha. Portanto, ainda há muitas lacunas a serem
preenchidas pelo estudo dos processos corrosivos dos dutos flexíveis (FERGESTAD;
LØTVEIT, 2014).
7.1 CASO 1
O estudo do caso 1 foi realizado através dos dados apresentados no trabalho Flexible
risers at Kristin da empresa StatoilHydro e desenvolvido por Nils Terje Nordsve em 2007.
Em junho de 2005 foram instalados diversos risers no campo de Kristin na Noruega,
sendo realizados testes que comprovaram a integridade desses dutos após a instalação.
Entretanto, em novembro de 2006 foi detectado por meio do sistema de monitoramento da
ventilação no espaço anular um vazamento em um riser.
Uma série de ações foram realizadas com o objetivo de identificar o dano e determinar
a sua localização. A partir dessas ações foi identificado que o vazamento ocorria devido a um
defeito na capa externa (Figura 7.1). Em dezembro de 2006 foram confirmados danos em
quatro risers e em maio de 2007 foi confirmado o dano em mais um riser.
Devido a esses danos nas capas externas nos dutos, as armaduras de tração se
encontravam expostas causando um possível desgaste do duto e uma corrosão por fadiga
(Figura 7.2).
103
Foram realizados também extensos estudos para se descobrir a causa dos danos, onde
foi concluído que os danos ocorreram devido ao desgaste do material utilizado na fabricação
da capa externa. O material utilizado, TP-FlexTM era um material novo e não apresentou uma
boa resistência ao desgaste.
Para evitar novos incidentes, os dutos foram reparados removendo a capa externa
danificada e a substituindo por meio da soldagem de uma nova capa (figura 7.3) ou por meio
104
Figura 7.4 – Reparo da capa externa do duto por meio de aplicação de um envoltório
termoretráctil
7.2 CASO 2
O Caso 2 foi discutido a partir dos dados fornecidos por Al-Maslamani (1996) sobre
uma série de experimentos realizados pela Qatar General Petroleum Corp. que visavam
analisar o comportamento do duto flexível em um ambiente ácido. Até o dado momento havia
pouca ou nenhuma informação quanto ao comportamento dos dutos nessas condições.
O duto flexível foi testado quanto ao seu uso para transporte offshore de gás-lift em
um ambiente ácido, com uma porcentagem de 2,5% de H2S e 6% de CO2 no gás transportado.
Foi utilizada também uma pressão de operação de 150 bar e uma temperatura de operação de
70°C.
Foram utilizados nesse trabalho aço inoxidável tipo AISI 316L para a carcaça,
polietileno de alta densidade (HDPE) para a capa externa e polímero Rilsan para a barreira
interna. Acreditava-se naquele momento que, se as camadas poliméricas permanecessem
intactas, as armaduras do duto não sofreriam com a presença de água e de gases como CH4,
CO2 e H2S.
Já foi discutido nesse trabalho que todo material polimérico é suscetível a permeação
de gases, sendo que o tipo do gás e as características do polímero que irão definir a quantidade
permeada. Essa permeação dos gases nos dutos flexíveis é responsável por tornar o espaço
anular do duto em um ambiente corrosivo.
Durante os testes foram verificados vazamentos de gás em quatro locais ao longo do
106
duto. Foi detectado que a taxa de vazamento oscilava de acordo com a variação da pressão
interna do duto, implicando assim que haviam furos da capa externa. Foi realizado então um
corte de uma seção de um metro do duto flexível para que um estudo mais detalhado fosse
feito.
A capa externa de HDPE foi analisada e nela identificada pequenos sinais de abrasão
superficial. Essa capa foi então retirada com o intuito de estudar as condições das armaduras
do duto. Na primeira armadura foi encontrado uma fratura do arame (Figura 7.6), enquanto na
segunda foi encontrado um severo processo corrosivo (Figura 7.7).
Amostras dos materiais utilizados nos dutos foram recolhidas com o objetivo de
realização de um estudo detalhado. Foram realizados testes de tração com os materiais das
108
7.3 ATUALIDADE
São conhecidas hoje diversas falhas que ocorreram durante a operação nas armaduras
de dutos causadas por corrosão ou fragilização. A maior suspeita é de que esses processos
corrosivos foram ocasionados pela alta concentração de H2S no meio, o que levou a
fragilização por tensão de sulfeto (SSCC). Apesar do problema ter sido identificado nesses
casos, ainda sabe-se muito pouco sobre como eles ocorreram e porquê. Os estudos dos
mecanismos de corrosão que ocorrem dentro do espaço anular dos dutos flexíveis representam
atualmente uma grande parcela das pesquisas destinadas a esses equipamentos
(FERGESTAD; LØTVEIT, 2014).
109
8 DESAFIOS
é esperado que na água do mar haja uma menor taxa de corrosão do que na água deionizada
(BARNES; MCLAUGHLIN, 2015).
Foi observado também que a saturação por íons de ferro também auxiliou na
manutenção do pH do ambiente. Para ambientes sem a saturação de íons de ferro, ocorreu
uma diminuição do pH, deixando assim o ambiente mais ácido (BARNES; MCLAUGHLIN,
2015).
Nesse estudo, Haahr e seus colaboradores (2016) avaliaram a relação entre o fluxo de
gases através da barreira de pressão, a razão entre o volume de água e a área superficial de
metal (V/S), o pH do anular e os produtos corrosivos formados. Foi testado em laboratório e
em escala real, um novo modelo para o consumo de H2S no espaço anular durante a operação
do duto flexível conduzindo óleo azedo.
A presença de H2S coloca em risco a integridade das armaduras principalmente através
de processos de SCC e HIC conforme descrito nos itens 4.2.3.4 e 4.2.2.2, respectivamente.
112
Em geral, a tendência para essas fraturas aumenta à medida que eleva-se a concentração de
H2S, reduz-se o pH e utilizam-se aços de alta resistência (HAAHR et. al, 2016). A norma API
17J (2008) exige que as armaduras sejam fabricadas de forma a resistir serviços em óleos
ácidos durante o tempo de operação especificados, para isso são utilizados modelos de cálculo
da composição do espaço anular.
O modelo tradicional utilizado para especificação dos aços considera no balanço do
H2S apenas a vazão de entrada, pela barreira polimérica, e de saída, pela capa externa e
válvulas. O modelo proposto e testado por Haahr e colaboradores (2016) adiciona um fator de
consumo do H2S no espaço anular, portanto parâmetros como a constante da taxa de consumo
e a área superficial de aço são incluídos.
A presença de gases corrosivos e a baixa razão V/S no anular leva a rápida saturação
do ambiente por íons de ferro provenientes da corrosão do aço das armaduras pelo CO2. O
produto formado, FeCO3, é de lenta precipitação colaborando com essa a saturação do
eletrólito pelos íons de ferro. Quando presente, o H2S dissocia-se em S2- que reage com os
íons de ferro formando FeS, sal pouco solúvel, o que pode levar ao esgotamento do H2S no
anular caso a taxa de entrada desse ácido seja baixa (HAAHR et. al, 2016).
Os resultados do teste em laboratório em aços de alta resistência mostraram que a
medida que a taxa de entrada de H2S reduz, sua concentração no anular também reduz e o pH
do ambiente é elevado podendo eliminar o risco de empolamento por hidrogênio e fratura por
tensão de enxofre (HAAHR et. al, 2016).
Os resultados em escala real mostraram que a concentração de H2S no anular é muito
inferior a prevista pelo modelo tradicional, chegando a ser mais de 5000 vezes menor, o que
comprova que a maior parte do H2S nesse ambiente é consumida. Após um ano de teste, a
tubulação foi dissecada e analisada, não foi encontrada nenhuma fratura relacionada a
presença de enxofre (HAAHR et. al, 2016).
Segundo Haahr e seus colaboradores (2016), essa descoberta é vantajosa às operações
em águas profundas, pois a possibilidade de aplicar aços de alta resistência reduz o peso do
flexível e aumenta sua resistência mecânica tornando-o mais adequado para longos
comprimentos.
Entretanto, o modelo tradicional ainda é o considerado para o projeto e especificação
das armaduras. Isso ocorre porque deve-se levar em conta que o consumo de H2S no anular
eleva, em contra partida, a taxa de entrada desse ácido no ambiente devido ao gradiente de
concentração gerado e, essa taxa como dito acima, é um dos fatores principais à ocorrência de
SCC e HIC. Portanto, estudos mais extensos ainda são requeridos a fim de que a indústria
113
possa elaborar um modelo de cálculo que considere o consumo do ácido sulfídrico no anular a
fim de que o range de materiais aplicáveis aumente e operações em águas cada vez mais
profundas se tornem viáveis.
8.6 Conclusões
9 CONCLUSÃO
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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