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ESTUDO DA VARIABILIDADE DA RESISTÊNCIA NÃO DRENADA DO REJEITO

PLÁSTICO DA BARRAGEM DE GERMANO POR MEIO DE ENSAIOS DE CAMPO

Ana Luiza Salgueiro de Aguiar

Dissertação de Mestrado apresentada ao


Programa de Pós-graduação em Engenharia
Civil, COPPE, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Mestre em
Engenharia Civil.

Orientadores: Willy Alvarenga Lacerda


Leonardo De Bona Becker

Rio de Janeiro
Setembro de 2022
ESTUDO DA VARIABILIDADE DA RESISTÊNCIA NÃO DRENADA DO REJEITO
PLÁSTICO DA BARRAGEM DE GERMANO POR MEIO DE ENSAIOS DE CAMPO

Ana Luiza Salgueiro de Aguiar

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ


COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM
ENGENHARIA CIVIL.

Examinada por:

________________________________________________
Prof. Willy Alvarenga Lacerda, Ph.D.

________________________________________________
Prof. Leonardo De Bona Becker, D.Sc.

________________________________________________
Prof. Fernando Schnaid, Ph.D.

________________________________________________
Prof. Leandro de Moura Costa Filho, Ph.D.

________________________________________________
Prof. Maria Claudia Barbosa, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

SETEMBRO DE 2022

ii
Aguiar, Ana Luiza Salgueiro

Estudo da variabilidade da resistência não drenada


do rejeito plástico da barragem de germano por meio de
ensaios de campo/ Ana Luiza Salgueiro de Aguiar – Rio de
Janeiro: UFRJ/COPPE, 2022.

XX, 90 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Willy Alvarenga Lacerda


Leonardo De Bona Becker

Dissertação (mestrado) – UFRJ/ COPPE/ Programa


de Engenharia Civil, 2022.

Referências Bibliográficas: p 52-55.

1. Rejeito de minério de ferro. 2. Resistência não


drenada. 3. Ensaios de campo. I. Lacerda, Willy
Alvarenga et al. II. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, COPPE, Programa de Engenharia Civil. III.
Título.

iii
Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

ESTUDO DA VARIABILIDADE DA RESISTÊNCIA NÃO DRENADA DO REJEITO


PLÁSTICO DA BARRAGEM DE GERMANO POR MEIO DE ENSAIOS DE CAMPO

Ana Luiza Salgueiro de Aguiar

Setembro/2022

Orientadores: Willy Alvarenga Lacerda


Leonardo De Bona Becker

Programa: Engenharia Civil

Os rejeitos da mineração podem ser separados em rejeitos não plásticos (rejeitos


arenosos) e plásticos (rejeitos finos, usualmente misturas de silte e partículas com
dimensão de argila). Entender o comportamento desses dois materiais é um importante
desafio geotécnico, devido à grande variabilidade em suas características físico-
químicas e mineralógicas. Os rejeitos arenosos vêm sendo largamente estudados nos
últimos anos, devido ao fenômeno da liquefação e por formarem a praia de rejeitos, que
muitas vezes servirá de fundação para os alteamentos das barragens de rejeitos. No
entanto, muitas vezes as camadas de rejeito plástico se encontram intercaladas com as
camadas de rejeitos arenosos, inclusive na praia de rejeitos.

No presente trabalho, é estudada a resistência não drenada normalizada (su/σ’v)


dos rejeitos plásticos existentes na Barragem de Germano, em Mariana – MG, Brasil.
Para isso, foram utilizados ensaios de piezocone e palheta realizados no local e definido
um critério para identificação dos rejeitos plásticos ao longo do perfil, assim como do
nível d’água. Foi verificada a presença de níveis d’água suspensos, fluxo vertical e
analisadas a resistência não drenada de 900 camadas de rejeito plástico. Concluiu-se
que a distribuição lognormal é representativa do histograma su/σ’v dos rejeitos plásticos,
e que essa resistência é influenciada pela espessura das suas camadas. Além disso,
foram encontrados valores de su/σ’v bem inferiores ao esperado (por exemplo, su/σ’v =
0,11 na média no caso de camadas com espessuras iguais ou superiores a 1,0 m).

iv
Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

STUDY OF THE VARIABILITY OF THE UNDRAINED STRENGTH OF THE


PLASTIC TAILINGS FROM THE GERMANO DAM BY FIELD TESTS

Ana Luiza Salgueiro de Aguiar

September/2022

Advisors: Willy Alvarenga Lacerda


Leonardo De Bona Becker

Department: Civil Engineering

Mining tailings may be divided in non-plastic (sand tailings) and plastic (fine
tailings, usually mixtures of silt and clay-sized particles). The understanding of the
behavior of these materials is a great geotechnical challenge because of their wide
variations in physical-chemical characteristics mineralogy. Sand tailings have been
widely studied in the last decades because they are often susceptible to liquefaction, and
they usually constitute the beach of the tailings dam which is the most important zone
for stability analysis in upstream dams. However, the study of the characteristics and the
strength of the plastic tailings is also important since layers of plastic tailings are
sometimes found in the midst of the sand tailings.

In this study, the normalized undrained strength ratio (su/σ’v) of plastic tailings
belonging to the Germano dam in Mariana, Brazil is studied. A criteria for their
identification was developed. Piezocone (CPTu) and Field Vane (FV) tests were
analyzed, and the water levels were scrutinized. Perched water tables and significant
vertical downward flows were found in some locations. A total of approximately 900
layers of plastic layers were analyzed. It was found that the su/σ’v histograms are well
fitted by lognormal distributions and the layer thickness influences the undrained
strength. Moreover, the strengths are relatively low (for example, su/σ’v = 0.11 on average
for plastic layers with thickness of 1.0 m or more).

v
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço ao meu marido, Yan, por todo amor e carinho, e por sempre
acreditar em mim e me incentivar ao longo desses 14 anos juntos.

Agradeço aos meus pais, Angela e Pedro, pelo apoio e dedicação para eu atingir
sempre todos os meus objetivos e por prezarem tanto pela minha felicidade.

Agradeço ao meu irmão, Guilherme, por todas as conversas e por ser um grande
companheiro e ouvinte para todas as ocasiões.

Agradeço a minha avó Clarice, que me incentivou e acompanhou a minha trajetória


no mestrado e infelizmente não pôde ver a finalização dessa dissertação.

Agradeço aos meus irmãos de coração, Adriane e Helder, pela nossa grande sintonia
e amizade e por sempre torcerem por mim. Nossa amizade é para sempre.

Agradeço a minha afilhada Julia, que não importa qual seja o momento, tem uma
gigante capacidade de me fazer sorrir e me trazer muita alegria.

Agradeço aos meus amigos da graduação, que mesmo não compartilhando as aulas
comigo no mestrado, me ajudaram sendo sempre presentes e tornando a minha vida
mais leve.

Agradeço aos meus amigos da COBA, que acompanharam e torceram por mim ao
longo da dissertação.

Por fim, agradeço aos meus orientadores Leonardo De Bona Becker e Willy
Alvarenga Lacerda, por serem tão atenciosos e presentes, e por compartilharem seus
conhecimentos comigo.

vi
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................. 11

1.1 MOTIVAÇÃO DA PESQUISA ..................................................................... 11

1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO..................................................................... 12

1.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .............................................................. 12

2 REJEITOS PLÁSTICOS DE MINÉRIO DE FERRO .......................................... 13

2.1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 13

2.2 PROPRIEDADES DOS REJEITOS PLÁSTICOS DE MINÉRIO DE FERRO


16

2.3 IDENTIFICAÇÃO DOS REJEITOS PLÁSTICOS ATRAVÉS DE CPTU ...... 20

2.4 DETERMINAÇÃO DE su ATRAVÉS DO CPTU .......................................... 22

2.5 DETERMINAÇÃO DE su ATRAVÉS DE PALHETA (VANE TEST) ............ 23

3 APRESENTAÇÃO DA ÁREA E MATERIAL DE ESTUDO ............................... 24

4 METODOLOGIA................................................................................................ 25

4.1 COLETA DE DADOS .................................................................................. 25

4.2 DEFINIÇÃO DOS CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO DOS REJEITOS


PLÁSTICOS NOS CPTUS ...................................................................................... 28

5 ANÁLISE DE RESULTADOS............................................................................ 32

5.1 INTERPRETAÇÃO DO NÍVEL D’ÁGUA ..................................................... 32

5.2 CÁLCULO DE Nkt ....................................................................................... 34

5.3 CÁLCULO DE su /σ'v .................................................................................. 41

6 CONCLUSÕES ................................................................................................. 51

7 REFERÊNCIAS ................................................................................................. 53

vii
LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 – Detalhamento de um hidrociclone (SOUZA JUNIOR et al. 2018) ........... 14

Figura 2.2 – Método de disposição de rejeitos utilizando espigotes em múltiplos pontos


(adaptado de VICK, 1990) .......................................................................................... 14

Figura 2.3 – Efeito das camadas de rejeito plástico gerando níveis d’água suspensos
(adaptado de ICOLD, 2001) ........................................................................................ 15

Figura 2.4 – Efeito da segregação na praia de rejeitos no nível d’água (adaptado de


ICOLD, 2001) ............................................................................................................. 15

Figura 2.5 – Gráfico de su x profundidade dos rejeitos plásticos em Garfield Utah


(adaptado de MC IVER, 1961) .................................................................................... 18

Figura 2.6 – Comparação dos resultados de SKEMPTON (1957), de campo e


laboratório (adaptado de PENNA, 2007) ..................................................................... 20

Figura 2.7 – Ábaco de ROBERTSON (1990) atualizado por ROBERTSON (2009)


(ROBERTSON, 2016) ................................................................................................. 22

Figura 2.8 – Fator de correção empírico da relação entre a resistência de ruptura


retroanalisada e o ensaio de palheta (SCHNAID, 2012) ............................................. 24

Figura 3.1 – Área de estudo....................................................................................... 24

Figura 3.2 – Amostras de rejeito plástico da Unidade de Germano (a) amostra de rejeito
plástico remoldada; (b) amostra de rejeito plástico intacta (MORGENSTERN et al.,2016)
................................................................................................................................... 25

Figura 4.1 – Campanha de investigação da Fugro realizada entre Setembro de 2014 e


Março de 2015 (MORGENSTERN et al., 2016) .......................................................... 26

Figura 4.2 – Campanha de investigação da Fugro realizada entre Março de 2015 e


Julho de 2015 (MORGENSTERN et al., 2016)............................................................ 26

Figura 4.3 – Campanha de investigação da ConeTec realizada entre Abril de 2016 e


Maio de 2016 (MORGENSTERN et al., 2016) ............................................................ 27

Figura 4.4 – Extração de dados pelo Web Plot Digitizer ............................................ 28

Figura 4.5 – Amostras coletadas em diferentes profundidades no amostrador


GSSAM16-02 na ilha de “pure slimes” da campanha da ConeTec de 2016................ 29

Figura 4.6 – CPTU GSCPT16-05 realizado na ilha de “pure slimes” pela ConeTec em

viii
2016 ........................................................................................................................... 30

Figura 4.7 – CPTu realizado no dique (LIMA, 2006) .................................................. 30

Figura 4.8 – Cálculo de Ic para o CPTu realizado no dique no trabalho LIMA (2006) . 31

Figura 5.1 – Interpretação do nível d’água no CPTu F40/98 ...................................... 33

Figura 5.2 – Interpretação do nível d’água no CPTu GSCPT16-05 ............................ 34

Figura 5.3 – Boxplot dos valores de Nkt...................................................................... 38

Figura 5.4 – Distribuição triangular dos valores de Nkt ............................................... 39

Figura 5.5 – Histograma e distribuição lognormal de todos os valores de su/σ'v (17900)


adotando a mediana de Nkt ......................................................................................... 43

Figura 5.6 – Histograma e distribuição lognormal dos valores de su/σ'v (13934)


descartando os 4 cm iniciais e finais de cada camada adotando a mediana de Nkt .... 43

Figura 5.7 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
de rejeito plástico (845), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a mediana de
Nkt ............................................................................................................................... 45

Figura 5.8 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
fina de rejeito plástico (693), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a mediana
de Nkt .......................................................................................................................... 46

Figura 5.9 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
intermediária de rejeito plástico (99), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a
mediana de Nkt............................................................................................................ 47

Figura 5.10 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
espessa de rejeito plástico (53), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a
mediana de Nkt............................................................................................................ 48

Figura 5.11 – Gráfico su/σ'v x espessura da camada de todas as camadas de rejeito


plástico adotando a mediana de Nkt: ........................................................................... 49

ix
LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Características geotécnicas dos rejeitos plásticos .................................. 17

Tabela 2.2 – su/σ'v calculado para os rejeitos plásticos de Garfield, Utah do trabalho de
MC IVER (1961) ......................................................................................................... 19

Tabela 4.1 – Ensaios de piezocone e palheta realizados nas campanhas da Fugro e


ConeTec ..................................................................................................................... 27

Tabela 5.1 – Cálculo de Nkt dos ensaios de palheta realizados em rejeito plástico ..... 35

Tabela 5.2 – Impacto do uso de diferentes Nkts no cálculo da resistência não drenada
(su) no caso estudado ................................................................................................. 39

Tabela 5.3 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação


considerando todos os valores de su/σ'v adotando a mediana de Nkt .......................... 43

Tabela 5.4 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação


considerando os valores de su/σ'v descartando os 4 cm iniciais e finais de cada camada
adotando a mediana de Nkt ......................................................................................... 44

Tabela 5.5 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da média
de su/σ'v para todas as camadas de rejeito plástico, descartando os 4 cm iniciais e finais
e adotando a mediana de Nkt ...................................................................................... 45

Tabela 5.6 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da média
de su/σ'v para cada camada fina de rejeito plástico (até 0,5 m de espessura), descartando
os 4 cm iniciais e finais e adotando a mediana de Nkt ................................................. 46

Tabela 5.7 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da média
de su/σ'v para cada camada intermediária de rejeito plástico (entre 0,5 m e 1,0 m de
espessura), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a mediana de Nkt ......... 47

Tabela 5.8 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da média
de su/σ'v para cada camada espessa de rejeito plástico (superior a 1,0 m de espessura),
descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a mediana de Nkt............................. 48

Tabela 5.9 – Valores médios de su/σ'v encontrados nas análises adotando valores
diferentes de Nkt.......................................................................................................... 50

x
1 INTRODUÇÃO

As atividades industriais de mineração representam um dos segmentos mais


importantes para o desenvolvimento econômico do Brasil. Em 2020, o setor mineral foi
decisivo para manter positivo o saldo da balança comercial brasileira. O saldo do setor
foi de US$ 32,5 bilhões, o equivalente a 63,8% do saldo da balança comercial brasileira.
Em 2019, essa equivalência foi de 51,6%. O faturamento do setor registrou alta de
36,2% em relação a 2019, totalizando R$208,9 bilhões, excluindo-se petróleo e gás
(IBRAM, 2020).

Juntamente com essa grande quantidade de mineral extraído, são gerados também
os rejeitos da mineração, que resultam da última etapa do processo de beneficiamento
do minério bruto. Para a disposição dos rejeitos, as mineradoras do Brasil têm adotado
frequentemente a disposição hidráulica em lagos de rejeitos, que são dispostos em
forma de polpa, que consiste em uma mistura de água e sólidos transportada por meio
de tubulações, por gravidade ou bombeamento. Essa polpa é armazenada em
barragens que muitas vezes são construídas com vários alteamentos sobre os próprios
rejeitos já depositados. Observa-se, portanto, a importância de se conhecer o
comportamento desses materiais para prever o comportamento da barragem a curto e
longo prazo. (TELLES, 2017).

Entender o comportamento dos rejeitos é um importante desafio geotécnico, devido


à grande variabilidade em suas características físico-químicas e mineralógicas. A
retirada de amostras indeformadas para caracterização de comportamento geotécnico
em laboratório é difícil, em especial nos resíduos dispostos em barragens com
sucessivos alteamentos. MILONAS (2006) relata dificuldades na utilização de amostras
indeformadas de rejeitos devido a problemas relativos à representatividade, dificuldade
de cravação, retirada de material e transporte.

Com isso, os ensaios de campo, em especial os ensaios de piezocone, estão sendo


cada vez mais utilizados na interpretação dos materiais de rejeito e na estimativa das
suas propriedades geotécnicas através das medidas de penetração contínuas.

1.1 MOTIVAÇÃO DA PESQUISA


Entre as premissas para a construção de barragens de rejeitos alteadas para
montante se destaca o lançamento de uma ampla praia de rejeitos arenosos próximo à
crista da barragem para evitar que camadas de rejeito plástico se depositem abaixo do
talude da barragem, garantindo uma drenagem adequada (VICK, 1992; MARTIN &
MCROBERTS, 1999).

No entanto, casos de drenagem insuficiente da barragem ou a falta de um plano de


disposição de rejeitos podem levar a níveis d’água elevados no reservatório e camadas
de rejeito plástico intercaladas com as camadas arenosas na praia de rejeitos. Em
consequência, pode ocorrer comportamento não drenado no rejeito. As camadas de

11
rejeito plástico, além de dificultar a drenagem do rejeito arenoso, também tem
coeficientes de adensamento mais baixos, podendo gerar excessos de poropressão que
demoram a dissipar, mesmo em velocidades de carregamento consideradas lentas para
o rejeito arenoso. Nessas situações, os parâmetros de resistência não drenada das
camadas de rejeito plástico são importantes para uma adequada análise de
estabilidade.

Durante a pesquisa, foi observado que existem muitos trabalhos abordando a


liquefação dos rejeitos arenosos e seus parâmetros de resistência, como por exemplo
OLSON (2001), IDRISS & BOULANGER (2007), SADREKARIMI (2014), e pouca
bibliografia sobre os parâmetros de resistência dos rejeitos plásticos. Embora a
liquefação dos rejeitos arenosos muitas vezes leve a consequências catastróficas, as
camadas de rejeito plástico poderiam ser gatilhos para que acontecesse a liquefação
dos rejeitos arenosos. Conforme descrito por MORGENSTERN et al. (2016), camadas
de rejeito plástico que invadem a praia de rejeitos são zonas de potencial fraqueza que
poderiam afetar a estabilidade de uma barragem.

Além da reduzida bibliografia sobre os parâmetros de resistência do rejeito plástico,


também é comum tratar o rejeito plástico e o rejeito arenoso com os mesmos parâmetros
nas análises de estabilidade (CARRIER, 1991; MORGENSTERN et al., 2016;
ROBERTSON et al. 2019). Essa consideração não parece adequada, tendo em vista
que seus comportamentos são distintos, tanto que existe a preocupação em separar
esses dois materiais nos projetos de alteamento das barragens de rejeitos.

Com isso, percebe-se a importância de se identificar camadas de rejeito plástico nas


barragens de rejeitos e de se determinar os seus parâmetros de resistência não
drenada.

1.2 OBJETIVOS DO TRABALHO


O objetivo principal buscado nesse trabalho é estudar a resistência não drenada (su)
do rejeito plástico na Barragem de Germano, em Mariana – MG, assim como a
metodologia para identificação dos rejeitos plásticos nos ensaios de piezocone.

1.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO


Esta dissertação foi organizada em 6 capítulos, estruturados da seguinte forma:

O capítulo 1 é a introdução do trabalho, onde são apresentados a motivação e os


objetivos.

O capítulo 2 apresenta a revisão bibliográfica dos rejeitos plásticos de minério de


ferro, contendo as suas propriedades, a metodologia de identificação dos rejeitos
plásticos nos ensaios de piezocone e a determinação da resistência não drenada (su)
através dos ensaios de piezocone e palheta.

12
O capítulo 3 apresenta a área e o material utilizado na pesquisa.

O capítulo 4 apresenta a metodologia utilizada, incluindo como foi realizada a coleta


de dados e a definição dos critérios para identificação dos rejeitos plásticos nos ensaios
de piezocone.

O capítulo 5 apresenta a análise dos resultados, que incluem a definição do nível


d’água e interpretação das poropressão iniciais nos ensaios de piezocone, cálculo de
Nkt e cálculo de su/σ’v nos ensaios de piezocone.

E, por último, no capítulo 6, encontram-se as conclusões do trabalho.

2 REJEITOS PLÁSTICOS DE MINÉRIO DE FERRO

2.1 INTRODUÇÃO
No processo da exploração do minério de ferro, o beneficiamento é a separação do
material extraído da mina entre minério, que seguirá para comercialização, e rejeitos.
Os rejeitos são materiais fabricados cujas propriedades dependem das características
de beneficiamento, do tipo de mineral lavrado e do modo de disposição final.
Normalmente, os rejeitos são transportados em tubulações na condição de uma polpa
fluida, utilizando técnicas de aterro hidráulico, até as barragens. O transporte do rejeito
pode ser feito por bombeamento ou por gravidade, quando a topografia do local de
disposição é favorável (RUSSO, 2007).

Na disposição de rejeitos, existe uma preocupação em separar os rejeitos em duas


parcelas, fina e grossa, que possuem características geotécnicas completamente
distintas. Para a separação dos rejeitos podem ser utilizados diferentes métodos, entre
eles se destacam a utilização de hidrociclones e espigotes.

Os hidrociclones utilizam a centrifugação para separar o rejeito em fino e grosseiro,


de acordo com a sua massa. As partículas de maior massa (“underflow”) realizam
movimento descendente e as partículas de menor massa (“overflow”) realizam
movimento ascendente, como apresentado na Figura 2.1. Para solos convencionais,
essa separação por massa costuma equivaler a uma separação granulométrica, onde
as partículas maiores correspondem ao “underflow” e as partículas menores
correspondem ao “overflow”. No entanto, quando se trata de rejeitos de minério de ferro,
se torna mais difícil essa separação granulométrica, tendo em vista que as partículas de
ferro são finas, mas pesadas, e podem ter massa equivalente à de partículas mais
grosseiras (RUSSO, 2007).

13
Figura 2.1 – Detalhamento de um hidrociclone (SOUZA JUNIOR et al. 2018)

A utilização dos espigotes pode ser feita posicionando-os com espaçamento


constante na crista da barragem, ligados a tubulação que transporta a polpa, como
mostra a Figura 2.2. Esse método tem como objetivo afastar as partículas finas do talude
da barragem, formando uma praia de areia próximo a crista. No entanto, como
destacado anteriormente, existem partículas de ferro que são finas, mas apresentam
peso específico elevado, o que torna comum a ocorrência de acúmulo de partículas de
menor granulometria próximo a crista da barragem (ARAUJO, 2020).

Figura 2.2 – Método de disposição de rejeitos utilizando espigotes em múltiplos pontos


(adaptado de VICK, 1990)

As barragens de rejeito são iniciadas com a execução de um dique de partida,


usualmente com solo de empréstimo, com uma geometria que comporte rejeitos para
um período de lavra de dois ou três anos (VICK, 1990). À medida que há necessidade,
são projetados alteamentos das barragens, visando aumentar a sua capacidade.

Como apresentado por MARTIN & MCROBERTS (1999), o método de alteamento a


montante é o mais empregado, por ser o mais rápido e econômico em relação aos
métodos de alteamento a jusante e linha de centro.

No método de alteamento a montante, existe uma preocupação maior quanto a

14
disposição de rejeitos, tendo em vista que os alteamentos são realizados em cima dos
rejeitos depositados. Nesse método é fundamental que a fração mais grosseira do
rejeito seja depositada próxima à crista da barragem. Já a fração fina (rejeito plástico) é
lançada no reservatório formando, posteriormente, o lago (LIMA, 2006).

Segundo CARRIER (1991), procura-se evitar que os alteamentos sejam realizados


sobre camadas de rejeito plástico, pois elas poderiam elevar o nível freático no maciço
e manter os rejeitos saturados, o que pode ser prejudicial à estabilidade do aterro
(RUSSO, 2007). A Figura 2.3 e a Figura 2.4 apresentam dois exemplos do efeito das
camadas de rejeito plástico próximas ao talude da barragem, a primeira criando níveis
d’água suspensos, e a segunda gerando um nível d’água elevado pela má segregação
dos materiais na praia de rejeitos.

Figura 2.3 – Efeito das camadas de rejeito plástico gerando níveis d’água suspensos
(adaptado de ICOLD, 2001)

Figura 2.4 – Efeito da segregação na praia de rejeitos no nível d’água (adaptado de


ICOLD, 2001)

Além da questão de elevação do nível freático, a presença de rejeitos plásticos


próximos ao talude de montante, pode levar a carregamentos não drenados durante o
alteamento sobre o rejeito. Conforme apresentado por VICK (1990), mesmo alteando a
barragem em velocidades normalmente consideradas lentas, os rejeitos plásticos
apresentam coeficientes de adensamento mais baixos em relação aos rejeitos
arenosos, o que leva a excessos de poropressão que demoram mais a se dissipar.
MITTAL & MORGENSTERN (1976) indicam que taxas de alteamento entre 4,5 m e 9 m
por ano seriam o bastante para gerar excessos de poropressão nos rejeitos plásticos.
Além disso, a presença dos rejeitos plásticos dificulta e retarda a saída de água dos
rejeitos arenosos.

15
Com o exposto acima, percebe-se a importância de se identificar as camadas de
rejeito plástico e a definição da sua resistência não drenada para uma adequada análise
de estabilidade.

2.2 PROPRIEDADES DOS REJEITOS PLÁSTICOS DE MINÉRIO DE FERRO


Os rejeitos plásticos de minério de ferro costumam ter cor descrita como avermelhada
ou castanha. De forma geral, são compostos principalmente de silte e partículas do
tamanho de argila, e contém somente uma pequena parcela de minerais argilosos. A
concentração de minerais derivados de ferro nos rejeitos plásticos confere a elas uma
alta densidade real dos grãos (Gs), que pode passar de 4,0. Apesar da quase ausência
de minerais de argila, os rejeitos plásticos são classificados como argila de baixa
plasticidade de acordo com os limites de Atterberg, e com baixa permeabilidade.

A Tabela 2.1 abaixo apresenta as características geotécnicas dos rejeitos plásticos


dos rejeitos de minério de ferro obtidas por diversos autores.

16
Tabela 2.1 – Características geotécnicas dos rejeitos plásticos
MC IVER ALMEIDA PENNA PENNA MORGENSTERN FERREIRA ROBERTSON et
Caracterização geotécnica LIMA (2006)
(1961) (2004) (2007) (2008) et al. (2016) (2016) al. (2019)
-
Argila (%) 27 24 30 27,8 43 22
-
Silte (%) 69 72 66 67,6 52 76,7 Aproximadamente
Granulometria 100% passante
-
Areia (%) 4 4 4 4,7 5 1,3 na #200
Pedregulho -
0 0 0 0 0 0
(%)
-
LL (%) 28 25 25 - - 24,1 -
Limites de
consistência -
LP (%) 22 17 16 - - 11,2 -
- 4 a 26 (média de
Índice de plasticidade (%) 6 9 9 - 7 - 11 12,9
18)
-
Densidade real dos grãos (Gs) 3,89 - 3,91 3,46 3,9 - 4,0 3,83 3,91 (3,61 - 4,32)
Mariana, Mariana, Mariana, Mariana, Brumadinho,
Localização Utah, EUA Mariana, Brasil Mariana, Brasil
Brasil Brasil Brasil Brasil Brasil
0,08 – 0,13
0,14 (UU e
su/σ’v (tipo de ensaio) (UU e 0,09 (palheta) 0,11 – 0,22
mini-palheta)
palheta)

17
Conforme relatado por VICK (1992), MC IVER (1961) foi um dos primeiros autores a
considerar a resistência não drenada (su) dos rejeitos plásticos. MC IVER (1961)
estudou a resistência não drenada dos rejeitos plásticos de cobre baseado em ensaios
triaxiais UU e ensaios de palheta realizados em Garfield, Utah, EUA. A Figura 2.5
apresenta o gráfico de su x profundidade dos rejeitos plásticos obtido por MC IVER
(1961).

su (kPa)
0 5 10 15 20 25
0

2
Envoltória de resistência

4
Nível d'água

6
Profundidade abaixo do lago (m)

10

12 Resistência não drenada definida


como a metade da resistência do
ensaio UU

14

16

Figura 2.5 – Gráfico de su x profundidade dos rejeitos plásticos em Garfield Utah


(adaptado de MC IVER, 1961)

Como no trabalho de MC IVER (1961) não é apresentado o peso específico dos


rejeitos plásticos de minério de cobre de Garfield, foi feita uma análise da razão de
resistência não drenada (su/σ'v) considerando diferentes pesos específicos como
apresentado na Tabela 2.2. Foram utilizados pesos específicos variando de 18 kN/m³
até 26 kN/m³.

18
Tabela 2.2 – su/σ'v calculado para os rejeitos plásticos de Garfield, Utah do trabalho de
MC IVER (1961)

γ (kN/m³) Prof. (m) su (kPa) σ'v (kPa) su/σ'v

18 14,5 21,2 158,0 0,134

22 14,5 21,2 216,0 0,098

24 14,5 21,2 245,0 0,086

26 14,5 21,2 274,0 0,077

A partir da Tabela 2.2 é possível perceber que mesmo adotando o peso específico
mais baixo de 18 kN/m³, foi encontrada uma razão de resistência não drenada su/σ'v de
0,134, valor significativamente reduzido. Alguns autores (PENNA, 2007; VICK, 1992)
indicam que os rejeitos plásticos dos rejeitos poderiam ser considerados com
comportamento semelhante às argilas moles normalmente adensadas de depósitos
naturais. Em relação a resistência não drenada utilizando o trabalho de MC IVER (1961),
foram encontrados valores de su/σ'v menores do que os considerados para argilas moles
normalmente adensadas por certas correlações, por exemplo MESRI (1975) que indica
su/σ'v de 0,22. Entretanto, de acordo com PINTO (1992), esta correlação tende a
superestimar a resistência das argilas de baixa plasticidade, como apresentado por
SKEMPTON (1957) através da expressão su = 0,11 + 0,0037.IP(%).

PENNA (2007) realizou análises do rejeito coletado na descarga do espessador de


rejeito plástico da planta de concentração da Unidade de Germano da Samarco
Mineração S.A., em Mariana - MG. O objetivo do seu trabalho era encontrar uma relação
entre o índice de vazios do rejeito plástico e a sua resistência não drenada. Sendo
assim, amostras com diferentes índices de vazios foram formadas utilizando um
consolidômetro, e em seguida foram obtidas as resistências não drenadas utilizando
mini-palhetas e ensaios UU (não adensado, não drenado). Também foram realizados
ensaios de campo em um tanque em que o rejeito plástico foi lançado e posteriormente
submetido ao processo de ressecamento. No tanque foram realizados ensaios de
palheta e coleta de amostras indeformadas para determinação em laboratório do teor
de umidade, peso específico e índice de vazios do rejeito plástico.

A variação da resistência não drenada das amostras obtidas no consolidômetro em


função da tensão aplicada (su/σ'vm) foi linear e igual a 0,140. Já para o rejeito plástico do
tanque, foi encontrado um valor de su/σ'v0 de 0,225. Esse valor é bastante superior ao
encontrado em laboratório, sendo que para o mesmo nível de tensão o rejeito plástico
do tanque (que foi submetida ao ressecamento) apresentou resistência 60% maior do
que as amostras de laboratório. PENNA (2007) explicou que essa resistência mais
elevada do rejeito plástico no tanque é por conta da sucção gerada em virtude do
ressecamento.

A Figura 2.6 apresenta os resultados encontrados por PENNA (2007). Na Figura 2.6

19
também é apresentado o valor de su/σ'v de 0,143, encontrado utilizando a expressão de
SKEMPTON (1957). Essa expressão relaciona o índice de plasticidade (IP) das argilas
com a relação de su/σ'v. No caso do rejeito plástico de Germano, o índice de plasticidade
era de 9%.

Figura 2.6 – Comparação dos resultados de SKEMPTON (1957), de campo e laboratório


(adaptado de PENNA, 2007)

2.3 IDENTIFICAÇÃO DOS REJEITOS PLÁSTICOS ATRAVÉS DE CPTU


Como abordado por MILONAS (2006), a coleta de amostras indeformadas de rejeitos
da mineração, seja por amostradores do tipo Shelby, Denison etc., apresentam algumas
limitações. Existem dificuldades na utilização de amostras indeformadas de rejeitos
devido a problemas relativos à representatividade, dificuldade de cravação, retirada de
material e transporte.

Com isso, os ensaios de campo, em especial os ensaios de piezocone, estão sendo


cada vez mais utilizados na interpretação dos materiais de rejeito e na estimativa das
suas propriedades geotécnicas através das medidas de penetração contínuas.

Embora no ensaio de piezocone não sejam realizadas coletas de amostras para a


classificação das distintas camadas do solo, são realizadas de forma contínua as
medidas de resistência de ponta (qc), resistência lateral (fs) e poropressão durante a
cravação, que pode ser feita na ponta (u1), base (u2) ou luva (u3) do cone. Através da
avaliação dessas medidas, é possível verificar o comportamento do solo e até mesmo
identificar lentes de materiais.

20
Como apresentado no item 2.2, existem semelhanças entre o comportamento dos
rejeitos plásticos de rejeitos de minério e as argilas moles normalmente adensadas.
Ambas apresentam compressibilidade, plasticidade e coeficientes de adensamento na
mesma ordem de grandeza. Para identificação de camadas de argilas moles,
usualmente são observados baixos valores de qc e excessos de poropressão altos
durante a cravação do cone.

CAMPANELLA et al. (1984) comenta como o excesso de poropressão medido


durante a cravação do cone é útil na indicação do tipo de solo e é um meio excelente
de detectar detalhes na estratigrafia. Para areias limpas o excesso de poropressão
tende a se dissipar tão rápido quanto é gerado. Já para solos siltosos e argilosos, por
conta da sua baixa permeabilidade, altos excessos de poropressão são gerados. Siltes
e argilas normalmente adensadas geram grandes excessos de poropressão positivos
enquanto siltes e argilas sobreadensados geram pequenos excessos de poropressão
positivos e até mesmo excessos de poropressão negativos.

O trabalho de LIMA (2006) analisou a formação de um depósito de rejeitos finos de


mineração na barragem de Germano da Samarco Mineração S.A., em Mariana – MG.
LIMA (2006) realizou coleta de amostras nos rejeitos e comparou com os ensaios de
piezocone próximos, e percebeu comportamentos distintos para cada tipo de material.
Em uma camada identificada como rejeito plástico nas coletas de material, foi percebido
o mesmo comportamento que é observado em argilas moles normalmente adensadas,
com valores baixos de qc e valores elevados de excesso de poropressão. Em seu
trabalho, foi concluído que o piezocone é uma ferramenta eficaz na identificação do
perfil estratigráfico dos rejeitos da mineração.

De acordo com ROBERTSON (2009, 2016), um critério para identificação de


materiais com comportamento argiloso (“clay-like materials”) é a obtenção do índice de
classificação do material (Ic) maior do que 2,60. Os materiais com Ic maior do que 2,60
se encontram nas regiões 1, 2 e 3 e 4 apresentadas no ábaco SBTn (“Soil Behavior
Type”) da Figura 2.7.

Existem alguns questionamentos sobre a confiabilidade do ábaco SBTn apresentado


na Figura 2.7, por ele ser baseado na resistência lateral (fs). ROBERTSON (2009) afirma
que o índice Ic não seria muito sensível à falta de precisão da resistência lateral (fs) do
cone, e que esse índice seria controlado principalmente pela resistência de ponta
corrigida (qt), que seria muito mais precisa. Uma variação de fs de ± 50%, resultaria em
variações de Ic, em geral, menores do que ± 10%. Para solos moles, que caem na parte
inferior do ábaco Qtn - Fr, Ic seria indiferente a fs.

21
Figura 2.7 – Ábaco de ROBERTSON (1990) atualizado por ROBERTSON (2009)
(ROBERTSON, 2016)

2.4 DETERMINAÇÃO DE su ATRAVÉS DO CPTU


O ensaio de piezocone mede a resistência à penetração no solo, e os resultados
podem ser usados na estimativa da resistência ao cisalhamento dos solos. Em solos
argilosos, a resistência medida em condições não drenadas (su) é determinada de forma
indireta através da equação 2.1 abaixo:

𝑠 = [Equação 2.1]

Para obtenção de Nkt, comumente relaciona-se a medida da resistência de ponta


corrigida qt com su, medida por meio de ensaios de palheta. Dessa forma, podem ser
obtidos diretamente os fatores de capacidade de carga do cone.

Tipicamente, os valores de Nkt variam de 10 a 18 para solos naturais (ROBERTSON


E CABAL, 2014). BEDIN (2006) encontrou valores de Nkt que variaram de 12 a 19 para
rejeitos de bauxita. FERREIRA (2016) obteve um valor médio de Nkt de 18 para os
rejeitos plásticos da Barragem de Germano, que são objeto de análise do presente
trabalho.

Para solos muito moles, quando se tem incerteza na acurácia dos valores de qt, pode
ser feita a estimativa da resistência não drenada su a partir do excesso de poropressão
(∆𝑢) utilizando a expressão abaixo, onde 𝑢 é a poropressão inicial e 𝑢 é a poropressão
medida na base do cone:

𝑠 = [Equação 2.2]

∆𝑢 = 𝑢 − 𝑢 [Equação 2.3]

22
Segundo ROBERTSON E CABAL (2015), 𝑁∆ varia entre 4 e 10, sendo que a sua
expressão está associada a Nkt pela fórmula abaixo:

𝑁∆ = 𝐵 𝑁 [Equação 2.4]

MAYNE E PEUCHEN (2018) estudaram os valores de Nkt para a estimativa da


resistência não drenada das argilas. Nesse estudo, foram utilizados resultados de 407
ensaios triaxiais realizados em 62 argilas e foi obtida a relação apresentada a seguir
entre Nkt e Bq.

𝑁 = 10,5 − 4,6 . ln (𝐵 + 0,1) [Equação 2.5]


𝐵 = [Equação 2.6]

É de grande importância que sejam realizados ensaios de dissipação durante a


execução do ensaio de piezocone, para se determinar corretamente o valor de ∆𝑢.

2.5 DETERMINAÇÃO DE su ATRAVÉS DE PALHETA (VANE TEST)


O ensaio de palheta (“vane test”) é tradicionalmente utilizado na determinação direta
da resistência não drenada (su) de depósitos de argilas moles. A palheta é introduzida
no interior do solo em profundidades pré-estabelecidas e é provocado um toque que
seja suficiente para induzir o cisalhamento do solo por rotação em condições não
drenadas.

O valor da resistência não drenada obtida é afetado por diversos fatores, que incluem
a velocidade de carregamento, anisotropia, efeito da inserção da palheta no solo e efeito
do tempo. A combinação desses fatores pode levar à necessidade de correção do valor
de resistência obtida, conforme proposto por BJERRUM (1973):

𝑠 (𝑐𝑜𝑟𝑟𝑖𝑔𝑖𝑑𝑜) = 𝜇 𝑠 (𝑝𝑎𝑙ℎ𝑒𝑡𝑎) [Equação 2.7]

AZZOUZ et al (1983) propôs uma alteração na proposta de BJERRUM (1973), a fim


de levar em consideração efeitos tridimensionais.

A Figura 2.8 apresenta o fator de correção com base na experiência internacional e


nacional e no índice de plasticidade dos materiais. O fator de correção empírico µ é
determinado com base na retroanálise de rupturas em aterros e escavações em
depósitos argilosos.

23
Figura 2.8 – Fator de correção empírico da relação entre a resistência de ruptura
retroanalisada e o ensaio de palheta (SCHNAID, 2012)

3 APRESENTAÇÃO DA ÁREA E MATERIAL DE ESTUDO

Os rejeitos provenientes do beneficiamento de minério de ferro analisados na


pesquisa fazem parte do reservatório da Barragem de Germano da Samarco Mineração
S.A., na região do Quadrilátero Ferrífero, em Mariana, Minas Gerais. A Figura 3.1
apresenta em vermelho a área onde estão localizados os ensaios analisados.

Figura 3.1 – Área de estudo

Como apresentado por MORGENSTERN et al. (2016), a disposição de rejeitos na


Barragem de Germano seguiu o procedimento usual de barragens alteadas a montante.
Os rejeitos arenosos eram depositados próximos a crista da barragem, enquanto os
rejeitos plásticos se encontravam mais afastados da barragem.

Em 2003, com o aumento da produção mineral e dos rejeitos, foi implantado um


24
processo de ressecamento dos rejeitos finos (rejeito plástico), com o objetivo de otimizar
os volumes de reservação e reabilitação da área (LIMA, 2006 e FERREIRA, 2016), mas
esse procedimento foi descontinuado.

MORGENSTERN et al. (2016) apresenta algumas propriedades do rejeito plástico da


Unidade de Germano, resumidas na Tabela 2.1. O rejeito plástico é formado
inteiramente por silte e partículas com tamanho de argila, apresenta baixa plasticidade
(IP entre 7 e 11) e baixa permeabilidade (k < 10-8 m/s). A Figura 3.2 apresenta fotos de
amostras do rejeito plástico de Germano remoldada e intacta, onde se pode observar a
plasticidade do material e a cor avermelhada.

Figura 3.2 – Amostras de rejeito plástico da Unidade de Germano (a) amostra de rejeito
plástico remoldada; (b) amostra de rejeito plástico intacta (MORGENSTERN et al.,2016)

Mais detalhes sobre os resultados disponíveis em MORGENSTERN et al. (2016)


serão apresentados nos capítulos 4 e 5.

4 METODOLOGIA

4.1 COLETA DE DADOS


Para o estudo da resistência não drenada do rejeito plástico, foram utilizados um total
de 59 ensaios de piezocone e 405 ensaios de palheta das campanhas realizadas em
2014, 2015 e 2016, apresentadas no trabalho de MORGENSTERN et al. (2016) e da
Figura 4.1 a Figura 4.3.

25
Figura 4.1 – Campanha de investigação da Fugro realizada entre Setembro de 2014 e
Março de 2015 (MORGENSTERN et al., 2016)

Figura 4.2 – Campanha de investigação da Fugro realizada entre Março de 2015 e Julho
de 2015 (MORGENSTERN et al., 2016)

26
Figura 4.3 – Campanha de investigação da ConeTec realizada entre Abril de 2016 e Maio
de 2016 (MORGENSTERN et al., 2016)

A Tabela 4.1 apresenta a quantidade de ensaios de piezocone e palheta em cada


campanha. Vale ressaltar que a campanha de 2016 realizada pela ConeTec no
reservatório da Barragem de Germano ocorreu após a ruptura da Barragem do Fundão.

Tabela 4.1 – Ensaios de piezocone e palheta realizados nas campanhas da Fugro e


ConeTec

Quantidade de ensaios
Campanhas
Piezocone Palheta
Fugro Set/2014 a
23 217
Mar/2015
Fugro Mar/2015 a
25 167
Jul/2015
ConeTec Abr/2016
11 21
a Maio/2016
Total 59 405

Além dessas campanhas, também são apresentadas no trabalho de


MORGENSTERN et al. (2016) outras 4 campanhas de ensaios de campo. Essas
campanhas não foram consideradas no presente trabalho pois foram realizadas
essencialmente em rejeitos arenosos.

Os dados desses ensaios não foram fornecidos em forma de planilha eletrônica,

27
somente em gráficos em PDF. Dessa forma, a primeira etapa necessária foi a coleta
dos dados a partir dos gráficos de resistência de ponta (qt), razão de atrito (Rf) e
poropressão (u) dos ensaios de piezocone. A resistência não drenada (su) obtida nos
ensaios de palheta foram coletados no gráfico de su vs. elevação apresentados pelo
painel.

A coleta desses dados foi realizada pelo programa Web Plot Digitizer em intervalos
de 2 cm. A Figura 4.4 apresenta um exemplo da coleta dos dados de qt realizada pelo
programa, em que os pontos em vermelho são os pontos do gráfico identificados a cada
2 cm.

Figura 4.4 – Extração de dados pelo Web Plot Digitizer

4.2 DEFINIÇÃO DOS CRITÉRIOS PARA IDENTIFICAÇÃO DOS REJEITOS


PLÁSTICOS NOS CPTUS
A definição dos critérios para identificação dos rejeitos plásticos nos CPTus
realizados nos rejeitos da Barragem de Germano foi feita, primeiramente, analisando a
região de “pure slimes” identificada pelo MORGENSTERN et al. (2016) na campanha
da ConeTec de 2016 (Figura 4.3).

Nessa ilha de investigação, além de terem sido realizados os ensaios de piezocone


(GSCPT16-05) e palheta (GSVST16-02), foram coletadas amostras para ensaios de
laboratório (GSSAM16-02 e GSSAM16-02B). O Anexo C5 do trabalho de
MORGENSTERN apresenta as fotos das amostras coletadas nessa ilha entre as
profundidades de 2,25 m e 28,90 m. A Figura 4.5 apresenta algumas dessas fotos em
diferentes profundidades do amostrador GSSAM16-02. É possível identificar que essas
amostras são do rejeito plástico com as características descritas no item 2.2, ou seja,
um material plástico, com grande presença de partículas finas e cor avermelhada ou
castanha. Com exceção da amostra coletada entre a profundidade de 2,25m a 2,90m,
que corresponde a um rejeito com forte presença de areia cinza, as amostras tiveram
28
características semelhantes.

Figura 4.5 – Amostras coletadas em diferentes profundidades no amostrador GSSAM16-


02 na ilha de “pure slimes” da campanha da ConeTec de 2016

A Figura 4.6 apresenta o ensaio de piezocone GSCPT16-05 realizado na ilha de


“pure slimes”, próxima a amostragem GSSAM16-02. Esse ensaio de piezocone
apresentou um perfil com valores baixos de resistência de ponta e crescentes, de forma
aproximadamente linear com a profundidade. A razão de atrito permaneceu com valores
baixos, entre 0% e 2%. No perfil de poropressão, é possível perceber um grande
excesso de poropressão positivo sendo gerado ao longo de toda a profundidade. Os
valores de Ic (ROBERTSON, 2016) permaneceram entre 3 e 4.

No início do ensaio existe um comportamento diferente do restante do perfil,


coincidente com o rejeito arenoso de cor cinza, identificado na profundidade de 2,25m
a 2,90m da amostragem. Na cota 898,2 m também foi identificada uma mudança pontual
no perfil, com valor de Ic de 2,60. A resistência de ponta e a razão de atrito tiveram um
aumento brusco e foi gerado um excesso de poropressão pequeno. Possivelmente,
existe uma camada localizada de rejeito arenoso nessa cota.

29
Figura 4.6 – CPTU GSCPT16-05 realizado na ilha de “pure slimes” pela ConeTec em 2016

Esse comportamento do piezocone GSCPT16-05 é compatível com o esperado nos


rejeitos plásticos, conforme descrito no item 2.3 deste trabalho.

Nesse CPTu foi observado que o valor de qt na cota 913,5 m apresenta valores muito
baixos de resistência, que levariam a um valor de su próximo a 0. É possível que todo o
gráfico de resistência não drenada vs. profundidade esteja deslocado para a esquerda.
No entanto, mesmo que haja esse deslocamento, as taxas de crescimento da
resistência de ponta e da resistência não drenada não sofreriam alterações
significativas.

LIMA (2006) também identificou esse comportamento do rejeito plástico ao analisar


a formação de um depósito de rejeitos finos de mineração na Barragem de Germano,
com a coleta de amostras nos rejeitos e execução de ensaios de piezocone. A Figura
4.7 apresenta o resultado do ensaio de piezocone realizado no dique estudado por LIMA
(2006).

Figura 4.7 – CPTu realizado no dique (LIMA, 2006)

30
Nesse ensaio, entre as cotas 893 m e 895 m, é possível perceber que a resistência
de ponta do CPTu cai bruscamente e a poropressão, que antes estava coincidente com
a hidrostática, se mostrou com um excesso positivo. A razão de atrito não apresentou
nenhuma tendência diferente nessas cotas quando comparado com o restante do perfil.
Entre essas cotas, LIMA (2006) identificou nas coletas de material uma camada de
rejeito plástico puro (“chocolate”).

Com o resultado do ensaio de piezocone apresentado no trabalho de LIMA (2006)


(Figura 4.7), foi feito o cálculo de Ic utilizando o método de ROBERTSON (2009, 2016).
A Figura 4.8 apresenta os valores de Ic encontrados ao longo do perfil ensaiado. Como
pode ser observado, entre as cotas 893 m e 895 m foram encontrados valores de Ic
superiores a 2,95.

Figura 4.8 – Cálculo de Ic para o CPTu realizado no dique no trabalho LIMA (2006)

A partir do exposto acima, pode-se concluir que o piezocone é uma ferramenta eficaz
na identificação do perfil estratigráfico dos rejeitos da mineração.

Para a identificação das camadas de rejeito plástico, tem-se como critério observar
valores de Ic superiores a 2,95, valores baixos de resistência de ponta (nos casos
apresentados menores que 1 MPa) e excessos de poropressão positivos.

Quanto ao cálculo de Ic, vale ressaltar que a poropressão de equilíbrio tem uma
influência importante nos resultados. No item 5.2 serão discutidos os critérios
desenvolvidos para obtenção da poropressão de equilíbrio.

31
5 ANÁLISE DE RESULTADOS

Os resultados dos ensaios utilizados são apresentados em MORGENSTERN et al.


(2016). No Apêndice A são apresentados os gráficos de poropressão para aqueles
CPTus em que foi necessária fazer uma reinterpretação do nível d’água.

5.1 INTERPRETAÇÃO DO NÍVEL D’ÁGUA


Neste trabalho foi considerado para o cálculo da poropressão inicial o nível d’água
identificado nos ensaios de piezocone, os ensaios de dissipação disponíveis e a
metodologia apresentada abaixo.

À medida que os ensaios de piezocone foram sendo analisados, percebeu-se a


necessidade de reinterpretar as poropressões iniciais (u0) apresentadas em
MORGENSTERN et al. (2016). As poropressões iniciais tem grande influência nos
resultados, tendo em vista que influenciam na definição de rejeito plástico, através do
cálculo de Ic, e na razão su/σ’v.

É comum em barragens de rejeitos haver camadas intercaladas de materiais com


diferentes permeabilidades (rejeito plástico e rejeito arenoso). Com isso, podem ocorrer
níveis d’água suspensos no reservatório (ver Figura 2.3), o que pode levar a cálculos
equivocados de u0. Além disso, fluxos de água no reservatório também podem alterar o
valor de u0, afastando-o da hidrostática. Os ensaios de dissipação levados até o
equilíbrio durante a realização dos ensaios de piezocone são de grande importância
para uma melhor estimativa da poropressão inicial.

No entanto, muitas vezes não são realizados ensaios de dissipação, e acaba sendo
utilizado ao longo de todo o perfil a poropressão hidrostática. No presente trabalho, para
grande parte dos ensaios CPTu estudados não havia ensaios de dissipação nem
instrumentação próxima que pudesse auxiliar na verificação do nível d’água. Com essa
limitação, se tornou necessária uma avaliação do nível d’água através do gráfico de
poropressão durante o ensaio.

Conforme apresentado por SCHNAID (2012), em camadas arenosas o excesso de


poropressão (Δu) gerado durante o ensaio de piezocone é igual a 0. Partindo desse
princípio, poderíamos estimar o nível d’água com base no gráfico de poropressão do
piezocone em camadas com comportamento arenoso nas quais não houve ensaios de
dissipação em diferentes profundidades.

LENÇOIS EMPOLEIRADOS:

No exemplo mostrado na Figura 5.1, vemos uma camada de rejeito plástico entre as
cotas 896,0 m e 897,5 m, com Ic ≥ 2,95, baixo valor de qt e excesso de poropressão
positivo. Após essa camada, os valores de Ic diminuem até a classificação de misturas
de areia e o valor de qt sobe, o que indica a presença de uma camada com
comportamento arenoso abaixo da cota 896,0 m.

32
Nesse piezocone foi identificado um nível d’água suspenso na camada de rejeito
plástico existente entre as cotas 896,0 m e 897,5 m e outro nível d’água começando na
cota 896,0 m. A linha em azul no gráfico de poropressão da Figura 5.1 apresenta a
poropressão inicial dessa configuração com lençol suspenso e possui gradiente de 9,81
kPa/m. A linha tracejada em preto apresenta o equívoco que seria cometido no cálculo
das poropressões abaixo da cota 896 m, caso o nível d’água suspenso acima desta cota
fosse confundido com uma hidrostática de validade geral.

Se não fosse observada a presença do nível d’água suspenso, haveria a impressão


de um excesso de poropressão negativo no trecho arenoso após a camada de rejeito
plástico (896 m a 893 m). Uma explicação (equivocada) para este problema seria
assumir que essa camada arenosa, por conter silte de permeabilidade intermediária,
estaria submetida a um excesso de poropressão durante a cravação. No entanto, essa
interpretação seria errada, já que somente camadas compactas geram excesso de
poropressão negativo. Em barragens de rejeitos, normalmente ocorre o método de
lançamento por aterro hidráulico, o que leva a um material muito fofo, e não compacto.

917 917 917


Areias c/ Pedregulhos

Misturas de Areias

Misturas de Siltes

Argilas Orgânicas
Argilas
Areias

912 912 912

907 907 907


Cota (m)

Cota (m)
Cota (m)

902 902 902

897 897 897

892 892 892

887 887 887


1 2 3 4 0 5 10 15 20 0,0 0,2 0,4 0,6
ROBERTSON (2009, 2016) Resistencia de Ponta (MPa) Poro Pressão (MPa)

Figura 5.1 – Interpretação do nível d’água no CPTu F40/98

FLUXO VERTICAL:

Outro caso observado no presente trabalho se refere a uma situação de fluxo vertical.
O ensaio de piezocone GSCPT16-05 realizado na região de “pure slimes” é apresentado
na Figura 5.2.

Nesse ensaio foram realizados os ensaios de dissipação em diferentes


profundidades do piezocone. No entanto, a maior parte deles não atingiu o equilíbrio,

33
sendo interrompido antes de dissipar todo o excesso de poropressão gerado. Os três
ensaios de dissipação envolvidos em vermelho foram os únicos que atingiram o
equilíbrio. Os ensaios de dissipação nas cotas 886,75 m e 891,75 m não atingiram o
equilíbrio, mas visivelmente chegaram mais perto de estabilizar, pois tiveram maior
tempo de duração (5100 s e 1300 s, respectivamente). Os demais ensaios tiveram em
média 300 s de duração.

A linha em azul no gráfico de poropressão apresenta a interpretação feita com base


nos ensaios de dissipação que estabilizaram. Com essa interpretação foi concluído que
existe uma situação de fluxo vertical, que leva a valores reduzidos de poropressão de
equilíbrio. É possível observar que existe uma camada com classificação limítrofe na
cota 898,0 m (misturas de siltes e mistura de areias). No final do ensaio, cota 886,0 m,
existe uma camada classificada como mistura de areias. Estas duas camadas são muito
mais permeáveis que o rejeito plástico e justificam a consideração de fluxo vertical.

Com isso, chega-se à conclusão que utilizar a hidrostática representada pela linha
tracejada seria um erro e levaria a superestimar tanto a poropressão quanto a razão
su/σ’v.

Figura 5.2 – Interpretação do nível d’água no CPTu GSCPT16-05

5.2 CÁLCULO DE Nkt


Nas campanhas analisadas foram realizados 405 ensaios de palheta. No entanto,
uma boa parte desses ensaios foram realizados em camadas identificadas como rejeito
arenoso ou em camadas de rejeito plástico que tiveram a influência de camadas de
rejeitos arenosos sobrejacentes e subjacentes.

34
A fim de chegar em valores de Nkt representativos das camadas de rejeito plástico,
foram desconsiderados os ensaios de palheta nas seguintes situações:

- Ensaios de palheta realizados em camadas arenosas, segundo critério apresentado


no item 4.2;

- Ensaios de palheta realizados em camadas de rejeito plástico menores que 13 cm de


espessura;

- Ensaios de palheta realizados em rejeito plástico à distância das fronteiras (superior


ou inferior) menor do que 13 cm.

Os dois últimos critérios levam em consideração a altura usual da palheta, que


corresponde a 13 cm. Sendo assim, ensaios de palheta realizados em camadas de
rejeito plástico com espessura menor que 13 cm, ou com distâncias menores que 13 cm
da base da camada ou do topo da camada de rejeito plástico foram desconsiderados
pois provavelmente teriam sido afetadas pela areia adjacente.

Após a adoção desse critério, 70 ensaios de palhetas foram considerados no cálculo


de Nkt. Para o cálculo de Nkt foi adotada a média dos valores de qt e σv do piezocone
nos 13 cm correspondentes de palheta. O peso específico dos rejeitos plásticos da
Barragem de Germano, obtido nos ensaios de laboratório realizados pela empresa
Pattrol e apresentados por MORGENSTERN et al. (2016), variou entre 21,3 kN/m³ e
22,9 kN/m³, tendo sido adotado nos cálculos o valor de 22 kN/m³.

Para esse trabalho foi considerado diretamente o valor de su obtido na palheta, pois
o índice de plasticidade (IP) do rejeito plástico da Barragem de Germano se encontra
entre 7% e 11%. Para este IP, o fator de correção µ do su obtido na palheta seria de
aproximadamente 1,1 segundo BJERRUM (1973) ou 0,98 segundo AZZOUZ et al.
(1983).

A Tabela 5.1 apresenta os valores encontrados de Nkt para cada palheta considerada.

Tabela 5.1 – Cálculo de Nkt dos ensaios de palheta realizados em rejeito plástico

Piezocone Palheta
Piezocone Cota (m) qt - σv0 Nkt
qt (kPa) σ v0 (kPa) su (kPa)
(kPa)
909,96 255,9 150,5 105,4 10,74 9,81
908,98 312,9 172,0 140,8 8,21 17,15
907,99 334,0 193,8 140,2 8,84 15,85
CPTU-GSCPT16-
905,97 436,7 238,3 198,4 13,26 14,96
05
891,00 1258,1 567,6 690,5 49,47 13,96
889,98 1090,3 590,0 500,2 48,00 10,42
889,00 1001,9 611,6 390,3 30,53 12,78

35
Piezocone Palheta
Piezocone Cota (m) qt - σv0 Nkt
qt (kPa) σ v0 (kPa) su (kPa)
(kPa)
CPTU-GSCPT16- 910,19 572,5 230,8 341,7 25,38 13,46
02B 881,96 1702,9 851,8 851,1 43,81 19,43
914,99 435,5 182,4 253,1 11,18 22,63
914,09 454,5 202,2 252,3 11,18 22,56
913,31 692,8 219,3 473,4 21,71 21,81
912,28 571,3 242,0 329,3 46,71 7,05
909,16 739,9 310,6 547,1 17,11 25,10 - 31,99*
CPTu-F40/89
908,30 819,5 329,6 489,9 28,29 17,32
907,29 725,2 351,8 373,4 53,95 6,92
906,07 1876,8 378,6 1498,1 14,47 103,51
905,17 1124,9 398,4 726,5 37,50 19,37
904,19 867,1 420,0 447,1 26,97 16,58
CPTu-F40/98 897,14 662,1 373,1 289,0 7,64 37,84
CPTu-F42/86 908,56 888,4 262,2 626,2 32,81 19,09
918,13 293,3 43,8 249,5 18,72 13,33
CPTu-F42/86A 909,12 711,8 242,0 469,8 14,29 32,89
900,15 835,6 439,3 396,2 16,26 24,37
902,49 583,9 262,9 321,0 13,64 23,54
901,47 551,1 285,3 323,5 10,74 24,74 - 30,11*
900,47 585,7 307,3 278,3 25,21 11,04
899,46 695,9 329,6 366,3 18,60 19,70
CPTu-F42/98 898,49 704,7 350,9 353,7 22,73 15,56
897,48 779,2 373,1 406,1 26,86 15,12
896,49 1000,6 394,9 605,7 38,02 15,93
895,49 909,0 416,9 492,1 23,55 20,89
894,47 810,2 439,3 441,2 12,81 28,95 - 34,44*
CPTu-F43/85A 918,65 359,8 43,3 316,5 19,26 16,43
912,12 366,7 43,1 323,5 8,30 38,99
909,11 208,8 109,3 99,5 6,22 15,98
905,13 443,7 196,9 246,8 17,43 14,16
CPTu-F43/97 904,12 469,7 219,1 250,6 12,45 20,13
902,12 532,0 263,1 268,9 12,45 21,60
900,11 607,7 307,3 300,4 19,92 15,08
895,14 815,1 416,7 398,4 15,35 25,95
905,48 665,5 219,1 556,2 13,51 33,03 - 41,16*
CPTu-F46/92 902,47 613,4 285,3 328,1 13,85 23,69
899,47 856,4 351,3 505,0 19,59 25,77

36
Piezocone Palheta
Piezocone Cota (m) qt - σv0 Nkt
qt (kPa) σ v0 (kPa) su (kPa)
(kPa)
CPTu-F48/90 906,82 487,9 175,1 312,8 11,11 28,15
CPTu-F03 911,40 419,9 220,0 199,9 23,79 8,40
918,51 119,2 20,9 98,3 4,12 23,88
CPTu-F05
913,52 297,3 130,7 277,3 7,26 22,93 - 38,18*
915,66 277,9 85,4 192,5 1,08 178,54
907,67 542,0 261,1 280,9 12,40 22,65
905,66 629,2 305,4 323,9 5,93 54,62
904,67 689,1 327,1 362,0 9,70 37,31
903,65 752,6 349,6 403,1 21,02 19,17
CPTu-F07
902,68 711,0 370,9 340,1 18,33 18,56
901,66 804,1 393,4 410,8 22,64 18,14
900,67 783,1 415,1 367,9 21,56 17,06
899,66 715,8 437,4 278,4 18,33 15,19
898,64 741,7 459,8 281,9 18,33 15,38
916,04 90,4 65,1 25,2 1,19 21,19
915,04 147,7 87,1 60,6 3,16 19,19
CPTu-F14
914,04 468,3 109,1 359,2 27,44 13,09
909,04 659,2 219,1 440,1 22,19 19,84
910,69 91,8 64,9 26,9 4,61 5,84
909,70 358,9 86,7 272,2 10,53 25,86
907,67 436,1 131,3 304,7 10,53 28,95
900,68 469,0 285,1 375,8 8,55 21,5 - 43,94*
CPTu-F21
898,70 579,5 328,7 250,8 8,55 29,33
897,71 952,9 350,5 602,5 40,13 15,01
896,69 1851,2 372,9 1478,3 22,37 66,09
895,68 2316,9 395,1 1921,8 69,08 27,82
* Os valores de qt são a média desses valores na cota dos ensaios de palheta ± 6,5 cm. Em
alguns casos percebeu-se que alterações de até 6 cm no valor da cota, provocavam grande
variação do Nkt. Acredita-se que isso se deve a imprecisões no registro das cotas dos ensaios.
Tendo em vista que as camadas de rejeito plástico possuem qt muito inferior à areia, e que o Nkt
é proporcional ao qt, foram adotados os valores mais baixos de qt nessa faixa de variação.

Tipicamente, os valores de Nkt variam de 10 a 18 para solos naturais (ROBERTSON


E CABAL, 2014). BEDIN (2006) encontrou valores de Nkt que variaram de 12 a 19 para
rejeitos de bauxita. FERREIRA (2016) obteve um valor médio de Nkt de 18 para os
rejeitos plásticos da Barragem de Germano, que são objeto de análise do presente
trabalho.

Como é possível observar na Tabela 5.1, existem valores bem destoantes dos
indicados na bibliografia mencionada, que podem levar a valores de média
superestimados ou subestimados. Com o objetivo de identificar os valores destoantes e

37
excluir valores que possam ser provenientes de erros de ensaios, foi feito também um
estudo dos “outliers” a partir da construção do “boxplot” dos 70 valores de Nkt obtidos.

O “boxplot” informa, entre outras coisas, a posição, a variabilidade e a simetria dos


dados. A posição central é dada pela mediana (Q2) e a dispersão pela distância
interquartil (dq = Q3 – Q1). Com as posições relativas entre os interquartis, temos ideia
da assimetria da distribuição.

A Figura 5.3 apresenta o “boxplot” dos valores encontrados de Nkt. São indicados os
“outliers”, o limite superior (LS), limite inferior (LI), primeiro quartil (Q1), segundo quartil
ou mediana (Q2) e o terceiro quartil (Q3). As definições desses parâmetros são
apresentadas abaixo:

 Primeiro quartil (Q1): 25% dos dados são menores que ou iguais a este valor;
 Segundo quartil (Q2): A mediana. 50% dos dados são menores que ou iguais a este
valor;
 Terceiro quartil (Q3): 75% dos dados são menores que ou iguais a este valor;
 Limite inferior (LI): LI = Q1 – 1,5dq;
 Limite superior (LS): LS = Q1 + 1,5dq.

Figura 5.3 – Boxplot dos valores de Nkt

38
Desconsiderando os valores identificados como “outliers”, foram considerados 67
valores de Nkt, ou seja, foram descartados 3 valores de Nkt (54,6, 66,1 e 153,2). Com os
67 valores de Nkt foi feito o histograma, que é uma distribuição de frequências desses
valores. A partir desse histograma foi observado que os valores de Nkt poderiam ser
melhor representados por uma distribuição triangular ou log-normal. A Figura 5.4
apresenta a distribuição triangular ajustada aos valores de Nkt.

Figura 5.4 – Distribuição triangular dos valores de Nkt

Com esse resultado, foi feito um estudo de qual o melhor Nkt a ser adotado no cálculo
da resistência não drenada do rejeito plástico para cada piezocone e qual o impacto que
teria nesses valores.

Entre os 59 piezocones estudados, foram identificadas camadas de rejeito plástico


em 31 desses. Nesses 31 ensaios de piezocone foram considerados 67 ensaios de
palheta. Existem piezocones sem ensaios de palheta para serem utilizados e
piezocones com vários ensaios de palheta em diferentes profundidades.

No cálculo da resistência não drenada (su), utilizar a média, mediana ou moda bruta
do Nkt leva a diferentes probabilidades de estar subestimando ou superestimando o valor
de su. No caso estudado, ocorreria o apresentado na Tabela 5.2:

Tabela 5.2 – Impacto do uso de diferentes Nkts no cálculo da resistência não


drenada (su) no caso estudado

Total de medidas de Nkt 67

Média 20,06
Nkt menores que a média 37
% Nkt menores que a média 55% de chance de subestimar su usando a média
% Nkt maiores que a média 45% de chance de superestimar su usando a média

39
Mediana 19,37
Nkt menores que a mediana 33
% Nkt menores que a mediana 50% de chance de subestimar su usando a mediana
% Nkt maiores que a mediana 50% de chance de superestimar su usando a mediana

Moda bruta 16,20


Nkt menores que a moda 23
% Nkt menores que a moda 34% de chance de subestimar su usando a moda
% Nkt maiores que a moda 66% de chance de superestimar su usando a moda

Como é possível visualizar, quando se tem uma distribuição triangular, temos a


relação moda < mediana < média. Isso também valeria para uma distribuição log-
normal. A moda é o valor mais provável, mas usá-la acarreta uma maior probabilidade
de estar contra a segurança, já que existe 66% de chance de estar subestimando o valor
de Nkt e, assim, superestimando o valor de su.

Como apresentado no item 2.4, existem faixas usuais em que se espera obter os
valores de Nkt, que se encontra normalmente entre 10 e 18. MORGENSTERN et al.
(2016) utilizou um valor de Nkt de 20 para a obtenção da resistência não drenada dos
rejeitos da Barragem de Germano. Como no presente trabalho existiam valores de Nkt
elevados, foi feito um cálculo considerando o descarte dos valores de Nkt acima de 24.
O Apêndice B apresenta a distribuição, os valores de média, mediana e moda e a
influência de utilizar esses valores considerando esse descarte. A média e a mediana
sofreram grande redução e ficaram aproximadamente iguais, com valores de 16,81 e
16,82, respectivamente. Já o valor de moda permaneceu praticamente o mesmo, igual
a 15,99. Percebe-se que com esse descarte os valores de média, mediana e moda se
tornaram mais próximos, o que leva a menores diferenças de influência de utilização de
cada um deles. Entretanto, a distribuição adquiriu um formato irregular e com cauda
para a esquerda, indicando que esse descarte arbitrário afetou os resultados.

Outro ponto que vale a pena destacar é que, no caso estudado, utilizar a expressão
para obter Nkt em função de Bq levaria a valores muito inferiores em relação aos
encontrados a partir dos ensaios de palheta. Os excessos de poropressão obtidos são
sempre positivos, o que leva a valores de Bq maiores que 0 e baixos valores de Nkt. Por
exemplo, valores de Bq entre 0,5 e 1,0 levam a valores de Nkt entre 12,8 e 10, o que não
encontra respaldo nos ensaios de palheta.

Como dito anteriormente, existem ensaios de piezocone junto aos quais foram
realizados diversos ensaios de palheta e outros em que nenhuma palheta foi executada.
No próximo item deste trabalho, serão realizadas as abordagens apresentadas abaixo
para o cálculo de su:

40
a) será considerada a moda de todos os valores de Nkt apresentados na Tabela 5.2
(Nkt = 16,20) em todos os ensaios CPTu.
b) será considerada a mediana de todos os valores de Nkt apresentados na Tabela
5.2 (Nkt = 19,37) em todos os ensaios CPTu.
c) será considerada a média de todos os valores de Nkt apresentados na Tabela 5.2
(Nkt = 20,06) em todos os ensaios CPTu.
d) será utilizada a média geral (Nkt = 20,06) para os CPTu que não tiveram ensaios
de palheta próximos. Para os CPTu junto aos quais foram realizados pelo menos
3 ensaios de palheta, será considerada a média dos valores de Nkt próximos.

5.3 CÁLCULO DE su /σ'v


Seguindo as abordagens apresentadas no item 5.2, foram obtidos os valores de su/σ'v
de todas as camadas de rejeito plástico dos 31 piezocones. Neste item, serão
apresentados os valores de su/σ'v encontrados, através da análise do histograma, moda,
mediana, média, desvio padrão e coeficiente de variação.

Durante a execução do cálculo de su, foi verificado um comportamento similar das


camadas de rejeito plástico, com valores de resistência nas fronteiras (início e fim da
camada) superior aos valores obtidos no meio da camada.

AHMADI E ROBERTSON (2011) realizaram análises numéricas a fim de simular o


ensaio CPT em solos com camadas intercaladas de areia e argila mole com diferentes
espessuras. Assim como LUNNE (1997), AHMADI E ROBERTSON (2011) observaram
que os materiais acima e abaixo de uma determinada camada de solo influenciam no
valor de qt obtido.

No trabalho de AHMADI E ROBERTSON (2011), foi verificado que o valor de qt obtido


em areias é mais influenciado pela presença de argila mole do que o contrário. Nas
camadas de argila mole, a influência de camadas de areia sobrejacentes e subjacentes
só acontece em uma pequena zona, cerca de 2 diâmetros do cone a partir das fronteiras,
que corresponde a 5 cm. Com isso, o qt obtido em camadas finas de argila mole de até
10 cm não é confiável, e o qt nos primeiros e últimos 5 cm de cada camada devem ser
desconsiderados.

No presente trabalho, optou-se por fazer o cálculo de su utilizando as camadas de


rejeito plástico como um todo e descartando os dois primeiros e os dois últimos valores
de qt de cada camada, já que estes foram coletados com intervalos de 2 cm.

Além disso, serão analisados os valores de su separadamente para camadas finas


(espessuras até 0,5 m), intermediárias (espessuras entre 0,5 m e 1,0 m) e espessas
(espessuras superiores a 1,0 m).

41
Os cenários analisados estão listados a seguir:

a) serão considerados todos os valores de su calculados nas camadas de rejeito


plástico.
b) serão considerados os valores de su das camadas de rejeito plástico descartando
os valores das fronteiras da camada (duas primeiras medidas e duas últimas
medidas).
c) serão considerados os valores de su de camadas finas com espessuras de até
0,5 m, descartando as duas primeiras e duas últimas medidas, correspondentes
às fronteiras.
d) serão considerados os valores de su de camadas intermediárias, com espessuras
entre 0,5 m e 1,0 m, descartando as duas primeiras e duas últimas medidas,
correspondentes às fronteiras.
e) serão considerados os valores de su de camadas espessas, superiores a 1,0 m
de espessura, descartando as duas primeiras e duas últimas medidas,
correspondentes às fronteiras.

Nessas análises será adotada a mediana de todos os valores de Nkt apresentados


na Tabela 5.2 (Nkt = 19,37) para a determinação do valor de su. No Apêndice C serão
apresentados estudos equivalentes baseados na média e na moda. A mediana foi
preferida por não provocar viés na determinação de su, ao contrário da moda que tende
a superestimá-lo, e da média que tende a subestimá-lo.

A Figura 5.5 apresenta o histograma com a distribuição de probabilidade lognormal


e a Tabela 5.3 apresenta a média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de
variação de todos os valores de su/σ'v encontrados ao longo de todas as camadas de
rejeito plástico.

A Tabela 5.7 apresenta o histograma com a distribuição de probabilidade lognormal


e a Tabela 5.4 apresenta a média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de
variação dos valores de su/σ'v descartando os 4 cm iniciais e finais de todas as camadas
de rejeito plástico.

42
Figura 5.5 – Histograma e distribuição lognormal de todos os valores de su/σ'v (17900)
adotando a mediana de Nkt

Tabela 5.3 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação


considerando todos os valores de su/σ'v adotando a mediana de Nkt

n 17.900
Média 0,199
Mediana 0,147
Moda 0,076
Desvio padrão 0,150
Coeficiente de variação 76%

Figura 5.6 – Histograma e distribuição lognormal dos valores de su/σ'v (13934)


descartando os 4 cm iniciais e finais de cada camada adotando a mediana de Nkt

43
Tabela 5.4 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação
considerando os valores de su/σ'v descartando os 4 cm iniciais e finais de cada
camada adotando a mediana de Nkt

n 13.934
Média 0,149
Mediana 0,108
Moda 0,068
Desvio padrão 0,111
Coeficiente de variação 75%

Como é possível perceber, descartando os valores de su/σ'v das fronteiras das


camadas de rejeito plástico, se observa uma queda significativa nos valores de média e
mediana. Pode-se concluir que os valores eliminados nas fronteiras eram superiores
aos valores do meio das camadas, provavelmente pela influência das camadas
arenosas adjacentes. A moda bruta não sofreu influência, já que os valores que mais
aparecem na análise continuaram sendo os mesmos, ou seja, não sofreram influência
do descarte feito. Em relação ao desvio padrão e coeficiente de variação, também foi
observada uma queda, mas de menor grandeza.

É importante destacar que no gráfico apresentado na Figura 5.6 aconteceu um desvio


em relação à função de probabilidade lognormal, causado por uma sobrerrepresentação
das camadas espessas na amostra, tendo em vista que elas têm grande quantidade de
medidas, enquanto as camadas mais finas têm menos medidas.

Por exemplo, o piezocone GSCPT16-05, apresenta uma camada de rejeito plástico


com o topo na cota 913,28 m e 15,18 m de espessura, o que corresponde a 759
medidas, ou seja, 5,4% do total de medidas. O su/σ'v desta camada vale 0,074 em média
(considerando o seu Nkt específico igual a 13,56). Adotando a mediana de todos os
valores de Nkt, o su/σ'v diminui para 0,050.

Representando-se cada camada de rejeito plástico pelo valor médio de suas medidas
de su/σ'v essa distorção é eliminada, como pode ser observado na Figura 5.7. Essa figura
apresenta o histograma com a distribuição de probabilidade lognormal e a Tabela 5.5
apresenta a média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação dos valores
médios de su/σ'v encontrados para cada camada de rejeito plástico, descartando os 4
cm iniciais e finais.

44
Figura 5.7 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
de rejeito plástico (845), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a mediana de
Nkt

Tabela 5.5 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da


média de su/σ'v para todas as camadas de rejeito plástico, descartando os 4 cm iniciais
e finais e adotando a mediana de Nkt

n 845
Média 0,223
Mediana 0,207
Moda 0,159
Desvio padrão 0,099
Coeficiente de variação 45%

Com o objetivo de avaliar a influência da espessura da camada de rejeito plástico


nos valores de su/σ'v encontrados, foi feita uma nova análise considerando camadas
com espessuras até 0,5 m, entre 0,5 m e 1,0 m e superiores a 1,0 m. Para isso, foi
encontrada a média de su/σ'v para cada camada, descartando os valores de su/σ'v das
fronteiras.

Ao longo dos CPTus analisados foram encontradas 693 camadas de rejeito plástico
com espessura até 0,5 m (camadas finas). Como os valores das fronteiras foram
descartados, camadas com espessuras de 8 cm foram descartadas por inteiro. Nessa
avaliação dos valores de su/σ'v por espessura de camada foi considerada a média obtida
em cada camada.

A Figura 5.8 apresenta o histograma com a distribuição de probabilidade lognormal


e a Tabela 5.6 apresenta a média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de
variação valores médios de su/σ'v encontrados para cada camada fina de rejeito plástico,
descartando os 4 cm iniciais e finais.

45
Figura 5.8 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
fina de rejeito plástico (693), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a mediana
de Nkt

Tabela 5.6 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da


média de su/σ'v para cada camada fina de rejeito plástico (até 0,5 m de espessura),
descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a mediana de Nkt

n 693
Média 0,240
Mediana 0,233
Moda 0,182
Desvio padrão 0,097
Coeficiente de variação 40%

Para as camadas finas analisadas, a média, mediana e moda bruta encontradas


foram bem superiores às encontradas quando avaliadas todas as espessuras de
camada em conjunto. Isso demonstra que camadas de rejeito plástico com pequena
espessura apresentam valores de su/σ'v superiores às de maior espessura. A explicação
para tal fato poderia ser que as camadas arenosas adjacentes têm influência em uma
zona maior do que a considerada de 4 cm iniciais e finais. Outra possível explicação
seria a influência da granulometria das camadas finas quando comparadas a camadas
mais espessas. O desvio padrão diminui um pouco assim como o coeficiente de
variação, que diminuiu de 45% para 40%, o que demonstra uma maior homogeneidade
dos valores. Vale ressaltar que o coeficiente de variação ainda é considerado alto.

Ao longo dos CPTus analisados foram encontradas 99 camadas de rejeito plástico


com espessura entre 0,5 m e 1,0 m (camadas intermediárias). A Figura apresenta o
histograma com a distribuição de probabilidade lognormal e a Tabela apresenta a
média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação dos valores médios de
su/σ'v encontrados para cada camada de rejeito plástico com espessura intermediária,
46
descartando os 4 cm iniciais e finais.

Figura 5.9 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
intermediária de rejeito plástico (99), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a
mediana de Nkt

Tabela 5.7 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da


média de su/σ'v para cada camada intermediária de rejeito plástico (entre 0,5 m e 1,0 m
de espessura), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a mediana de Nkt

n 99
Média 0,166
Mediana 0,148
Moda 0,129
Desvio padrão 0,078
Coeficiente de variação 47%

Para as camadas intermediárias analisadas, a média, mediana e moda bruta


encontradas ainda foram bem superiores às encontradas quando avaliadas todas as
espessuras de camada em conjunto. Foi constatado que, em relação ao obtido nas
camadas finas, os valores encontrados foram inferiores, ou seja, as camadas com
espessuras entre 0,5 m e 1,0 m apresentaram valores mais baixos de su/σ'v em relação
às camadas com espessura inferior a 0,5 m. O desvio padrão diminuiu um pouco e o
coeficiente de variação se encontrou próximo do obtido nas camadas finas (40% e 47%).

Ao longo dos CPTus analisados foram encontradas 53 camadas de rejeito plástico


com espessura superior a 1,0 m (camadas espessas). A Figura 5.10 apresenta o
histograma com a distribuição de probabilidade lognormal e a Tabela 5.8 apresenta a
média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação dos valores médios de
su/σ'v encontrados para cada camada de rejeito plástico espessa, descartando os 4 cm
iniciais e finais.
47
Figura 5.10 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
espessa de rejeito plástico (53), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a
mediana de Nkt

Tabela 5.8 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da


média de su/σ'v para cada camada espessa de rejeito plástico (superior a 1,0 m de
espessura), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a mediana de Nkt

n 53
Média 0,110
Mediana 0,107
Moda 0,097
Desvio padrão 0,032
Coeficiente de variação 29%

Para as camadas espessas analisadas, a média, mediana e moda bruta encontradas


foram bem inferiores às encontradas para as camadas finas e intermediárias e muito
parecidas entre si. Esse comportamento está de acordo com o que foi observado nas
análises anteriores, e mostra que à medida que as espessuras das camadas aumentam,
o valor de su/σ'v diminui. A explicação poderia ser a influência das camadas arenosas
adjacentes terem influência em uma zona maior do que a considerada de 4 cm iniciais
e finais, e que em camadas de maiores espessuras essa situação fica diluída nos
demais valores. Outra possível explicação seria a influência da granulometria das
camadas finas quando comparadas a camadas mais espessas. Embora todas as
camadas sejam caracterizadas como rejeito plástico, elas podem apresentar
granulometrias distintas que levam a uma diferença de resistência. De forma geral, na
disposição de rejeitos, as camadas de pouca espessura de rejeito plástico ficam mais
próximas dos pontos de lançamento e as camadas mais espessas ficam mais distantes.
O desvio padrão e o coeficiente de variação diminuíram consideravelmente, o que
demonstra uma maior homogeneidade dos valores. Seguindo uma classificação usual

48
na estatística, o coeficiente de variação de 29% se enquadraria em uma dispersão
relativa média, pois se encontra entre 15% e 30% (WITTE e WITTE, 2017).

A Figura 5.11 apresenta o gráfico de su/σ’v x espessura da camada de todas as 845


camadas de rejeito plástico consideradas. Como já tinha sido apresentado
anteriormente, à medida que a camada de rejeito plástico se torna mais espessa, os
valores de su/σ’v diminuem.

Figura 5.11 – Gráfico su/σ'v x espessura da camada de todas as camadas de rejeito


plástico adotando a mediana de Nkt

O Apêndice C apresenta os resultados de su/σ'v considerando o Nkt médio geral, o Nkt


médio geral e específico e a moda de Nkt. Foram encontrados resultados similares, com
as camadas finas de rejeito plástico com valores superiores às encontradas nas
camadas mais espessas.

A Tabela 5.9 apresenta um resumo dos valores médios encontrados de su/σ'v


adotando os diferentes valores de Nkt. Foi percebido que adotando a média geral, a
média geral e específica e a mediana de Nkt, os valores de su/σ'v se encontraram
razoavelmente próximos. As diferenças encontradas nesses três casos se situaram
entre 2,72% e 3,75%, sendo a menor diferença encontrada na análise das camadas
espessas, em que foram obtidos valores de su/σ'v de 0,110, 0,107 e 0,108, que

49
corresponde a uma diferença máxima de 2,72%. Essa constatação está de acordo com
o que já vinha sendo observado a respeito das camadas espessas serem mais
homogêneas em relação às mais finas.

Tabela 5.9 – Valores médios de su/σ'v encontrados nas análises adotando valores
diferentes de Nkt

Valores médios de su/σ'v encontrados nas análises


Medida média Medida Medida média Medida média
Todas as
Todas as por camada média por por camada por camada
Nkt medidas sem
medidas para todas as camada para para camadas para camadas
fronteiras
camadas camadas finas intermediárias espessas
Nkt mediana 0,199 0,149 0,223 0,240 0,166 0,110
Nkt média geral 0,193 0,144 0,217 0,232 0,161 0,107
Nkt média geral
0,195 0,146 0,215 0,231 0,160 0,108
e específica
Nkt moda 0,238 0,178 0,267 0,288 0,199 0,132

É importante destacar que esses valores baixos encontrados para su/σ’v não estão
de acordo com a expressão teórica deduzida para ensaios triaxiais, relacionando su/σ’v
com K0, Af e ϕ’ (FERNANDES, 2016).

( )
= [Equação 5.1]

𝐾 = 1 − 𝑠𝑒𝑛 𝜙′ [Equação 5.2]

Os ensaios triaxiais realizados em amostras indeformadas obtidas nos rejeitos


plásticos indicaram ϕ’ = 33° e Af na faixa entre 0,365 e 0,830, conforme
MORGENSTERN et al. (2016). Utilizando a expressão apresentada e considerando que
o rejeito plástico é normalmente adensado, seriam obtidos valores de su/σ’v entre 0,36 e
0,42.

Tendo em vista que estes valores de resistência estão abaixo do esperado, foram
avaliadas possíveis explicações. Por exemplo, a possibilidade desses valores
corresponderem a resistência liquefeita do material. No entanto, os rejeitos plásticos
avaliados possuem aproximadamente 100% passante na peneira 200, coeficiente de
adensamento em torno de 10-6 m²/s e, no ensaio de piezocone, exibem classificação de
“clay-behavior”, segundo classificação de ROBERTSON (2010;2016), com Ic superior a
2,95, não sendo de esperar que sejam suscetíveis à liquefação.

BOULANGER & IDRISS (2004) apresentam em seu trabalho a análise do


comportamento de solos “intermediários” e indicam considerar solos com IP ≥ 7 com
comportamento argiloso e solos com IP < 7 com comportamento arenoso. Os rejeitos
plásticos analisados possuem IP entre 7 e 11, o que levaria a considerar o seu
comportamento como argiloso, também descartando a hipótese de liquefação.
50
Por último, os ensaios triaxiais não drenados realizados nas amostras retiradas da
ilha de “pure slimes” da campanha de 2016 não apresentaram comportamento liquefeito,
distanciando mais uma vez da hipótese das resistências encontradas serem referentes
a liquefação.

Outra possível explicação para valores reduzidos de su/σ’v seria uma eventual
superestimativa de σ’v, que poderia acontecer por superestimativa do valor do peso
específico ou na subestimativa dos valores de poropressão inicial.

O peso específico dos rejeitos plásticos apresenta um intervalo de variação pequeno,


que se encontra entre 21,3 kN/m³ e 22,9 kN/m³. Como foi adotado um peso específico
intermediário de 22 kN/m³, reduzir o peso específico adotado para o intervalo inferior
alteraria muito pouco os valores encontrados. Cabe ressaltar que MORGENSTERN et
al. (2016) adotaram o mesmo peso específico para os rejeitos arenosos e plásticos, com
base em resultados de campo e laboratório.

A poropressão inicial adotada nos ensaios de piezocone foi avaliada caso a caso,
com a devida consideração em casos de lençóis suspensos e fluxo vertical. Com essa
reinterpretação, foram encontrados valores mais baixos de poropressão inicial em
relação aos apresentados no trabalho de MORGENSTERN et al. (2016), que levaram a
valores mais baixos de su/σ’v. No entanto, como mostrado em detalhes no item 5.1, as
poropressões iniciais calculadas são mais coerentes com o que está sendo observado
no ensaio em conjunto (gráficos de qt, Rf e Ic). Além disso, mesmo se fosse adotada a
hidrostática apresentada por MORGENSTERN et al. (2016), os valores de su/σ’v
continuariam fora da faixa esperada. Por exemplo, o ensaio GSCPT16-05 realizado na
ilha de “pure slimes” apresentou um valor de su/σ’v médio de 0,076 considerando o fluxo
vertical verificado pelos ensaios de dissipação e 0,111 considerando a hidrostática a
partir da cota 914 (ver Figura 5.2).

Para as camadas de pouca espessura, os valores de su/σ’v encontrados foram os


mais elevados, da ordem de 0,24, chegando mais próximo do obtido pela expressão de
su = f (φ’, K0, Af). No entanto, acredita-se que nessas camadas existe uma maior chance
de ter acontecido uma superestimativa do valor de su. As camadas de pouca espessura
possuem uma menor distância em relação a fronteira drenante, o que poderia levar a
ocorrência de drenagem parcial durante os ensaios de piezocone e palheta.

6 CONCLUSÕES

No presente trabalho foi estudada a resistência não drenada (su) dos rejeitos
plásticos presentes nos rejeitos de minério de ferro da Barragem de Germano, em
Mariana – MG, utilizando como base os ensaios de piezocone e palheta apresentados
no relatório de MORGENSTERN et al. (2016). Para a identificação das camadas de
rejeito plástico, foi utilizado como critério materiais com valores de Ic (ROBERTSON,
2009; 2016) superiores a 2,95, valores baixos de resistência de ponta e excessos de
poropressão positivos.
51
Durante a pesquisa, foi observado que, além de existir pouca bibliografia sobre os
parâmetros de resistência dos rejeitos plásticos, é comum considerar os mesmos
parâmetros de resistência para o rejeito plástico e o rejeito arenoso nas análises de
estabilidade (CARRIER, 1991; MORGENSTERN et al., 2016; ROBERTSON et al. 2019).
Essa consideração não parece adequada neste caso, tendo em vista que seus
comportamentos e valores são distintos.

Na primeira etapa do trabalho, foi percebida a necessidade de reinterpretar as


poropressões iniciais de alguns ensaios de piezocone apresentados em
MORGENSTERN et al. (2016). Foram encontrados casos de níveis d’água suspensos
e de fluxo vertical em direção às camadas arenosas. Esses casos influenciam
significativamente no valor de poropressão do ensaio e consequentemente no cálculo
de Ic e na razão su/σ’v.

Foram analisados os ensaios de palheta para estimativa de Nkt, sendo descartados


aqueles que sofreram influência de camadas arenosas adjacentes. No total foram
consideradas 67 estimativas de Nkt. Foi obtida uma distribuição triangular para esses
valores, com média de 20,06, mediana de 19,37 e moda de 16,20.

A seguir, foram determinados valores de su obtidos em todos os pontos das camadas


de rejeito plástico, resultando em valores de coeficiente de variação da ordem de 75%.
LUNNE (1997) e AHMADI E ROBERTSON (2011) mostraram que os materiais acima e
abaixo de uma determinada camada de solo influenciam no valor de qt obtido. Dessa
forma, foram descartados os valores de su/σ’v obtidos nas fronteiras de cada camada de
rejeito plástico, reduzindo o coeficiente de variação consideravelmente, para
aproximadamente 40%. Além disso, os valores de média, mediana e moda de su/σ’v
também diminuíram consideravelmente.

Posteriormente, as camadas de rejeito plástico foram divididas em camadas finas


(até 0,5 m de espessura), intermediárias (entre 0,5 m e 1,0 m de espessura) e espessas
(espessuras maiores que 1,0 m). Foi observado que, à medida que a espessura das
camadas aumenta, o valor de su/σ'v diminui. É possível que a explicação seja que as
camadas de menor espessura tem mais partículas com tamanho de areia do que as
camadas mais espessas. Na disposição de rejeitos, é comum que as de pouca
espessura de rejeito plástico fiquem mais próximas dos pontos de lançamento e as
camadas mais espessas fiquem mais distantes.

Tendo em vista a forma da FDP de Nkt, a estimativa de su/σ’v baseou-se na mediana


de Nkt para evitar introduzir viés no cálculo de su. Ao utilizar a mediana de Nkt, metade
dos resultados de su estará superestimada e a outra metade subestimada.

Utilizando-se a mediana de Nkt, obteve-se um valor médio de su/σ’v igual a 0,149.


Separando os dados por espessura de camada, as camadas espessas de rejeito
plástico apresentam maior homogeneidade, com coeficientes de variação menores que
30%, e su/σ’v = 0,110, em média. As camadas finas apresentaram valores médios de

52
su/σ’v = 0,240 e as camadas intermediárias 0,166. As camadas de rejeito plástico finas
e intermediárias apresentaram coeficientes de variação similares, da ordem de 40%.

Os histogramas de su/σ’v adaptam-se bastante bem a distribuições do tipo lognormal


com cauda para a direita, independente da espessura da camada.

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56
APÊNDICE A – GRÁFICOS DE POROPRESSÃO DOS ENSAIOS DE
PIEZOCONE QUE TIVERAM O NÍVEL D’ÁGUA REINTERPRETADO

Figura A.1 – Gráfico de poropressão do CPTu F40/98

57
Figura A.2 – Gráfico de poropressão do CPTu F42/86

58
Figura A.3 – Gráfico de poropressão do CPTu F42/86A

59
Figura A.4 – Gráfico de poropressão do CPTu F42/98

60
Figura A.5 – Gráfico de poropressão do CPTu F43/97

61
Figura A.6 – Gráfico de poropressão do CPTu F46/92

62
Figura A.7 – Gráfico de poropressão do CPTu F10

63
Figura A.8 – Gráfico de poropressão do CPTu F14

64
Figura A.9 – Gráfico de poropressão do CPTu F16

65
Figura A.10 – Gráfico de poropressão do CPTu F17

66
Figura A.11 – Gráfico de poropressão do CPTu F19

67
Figura A.12 – Gráfico de poropressão do CPTu F20

68
Figura A.13 – Gráfico de poropressão do CPTu F21

69
Figura A.14 – Gráfico de poropressão do CPTu F23

70
Figura A.15 – Gráfico de poropressão do CPTu F24

71
Figura A.16 – Gráfico de poropressão do CPTu F25

72
Figura A.17 – Gráfico de poropressão do CPTu F27

73
Figura A.18 – Gráfico de poropressão do CPTu F30

74
APÊNDICE B – CÁLCULO DE Nkt DESCARTANDO OS VALORES
SUPERIORES A 24

Figura B.1– Distribuição triangular dos valores de Nkt

Tabela B.1 – Impacto do uso de diferentes Nkt no cálculo da resistência não


drenada (su)

Nkt total 50

Média 16,81
Nkt menores que a média 25
% Nkt menores que a média 50% de chance de subestimar su usando a média
% Nkt maiores que a média 50% de chance de superestimar su usando a média

Mediana 16,82
Nkt menores que a mediana 25
% Nkt menores que a mediana 50% de chance de subestimar su usando a mediana
de chance de superestimar su usando a
% Nkt maiores que a mediana 50% mediana

Moda 15,99
Nkt menores que a moda 23
% Nkt menores que a moda 46% de chance de subestimar su usando a moda
% Nkt maiores que a moda 54% de chance de superestimar su usando a moda

75
APÊNDICE C – CÁLCULO DE su /σ'v ADOTANDO A MÉDIA GERAL DE Nkt,
MÉDIA GERAL E ESPECÍFICA DE Nkt E MODA DE Nkt

- Resultados de su/σ'v encontrados adotando a média de todos os valores de


Nkt apresentados na Tabela 5.2 (Nkt = 20,06) em todos os ensaios CPTu:

Figura C.1 – Histograma e distribuição lognormal de todos os valores de su/σ'v (17900)


adotando a média geral de Nkt

Tabela C.1 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação


considerando todos os valores de su/σ'v (17900) adotando a média geral de Nkt

n 17.900
Média 0,193
Mediana 0,142
Moda 0,074
Desvio padrão 0,146
Coeficiente de variação 76%

76
Figura C.2 – Histograma e distribuição lognormal dos valores de su/σ'v descartando os 4
cm iniciais e finais de cada camada (13934) adotando a média geral de Nkt

Tabela C.2 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação


considerando os valores de su/σ'v descartando os 4 cm iniciais e finais de cada
camada (13934) adotando a média geral de Nkt

n 13.934
Média 0,144
Mediana 0,105
Moda 0,066
Desvio padrão 0,108
Coeficiente de variação 75%

Figura C.3 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
de rejeito plástico (845), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a média geral
de Nkt

77
Tabela C.3 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da
média de su/σ'v para todas as camadas de rejeito plástico, descartando os 4 cm iniciais
e finais (845) e adotando a média geral de Nkt

n 845
Média 0,217
Mediana 0,201
Moda 0,179
Desvio padrão 0,103
Coeficiente de variação 47%

Figura C.4 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
fina de rejeito plástico (693), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a média
geral de Nkt

Tabela C.4 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da


média de su/σ'v para cada camada fina de rejeito plástico (693), descartando os 4 cm
iniciais e finais (693) e adotando a média geral de Nkt

n 693
Média 0,232
Mediana 0,225
Moda 0,183
Desvio padrão 0,094
Coeficiente de variação 40%

78
Figura C.5 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
intermediária de rejeito plástico (99), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a
média geral de Nkt

Tabela C.5 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da


média de su/σ'v para cada camada intermediária de rejeito plástico (99), descartando
os 4 cm iniciais e finais (99) e adotando a média geral de Nkt

n 99
Média 0,161
Mediana 0,143
Moda 0,125
Desvio padrão 0,075
Coeficiente de variação 47%

79
Figura C.6 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
espessa de rejeito plástico (53), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a média
geral de Nkt

Tabela C.6 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da


média de su/σ'v para cada camada espessa de rejeito plástico (53), descartando os 4
cm iniciais e finais e adotando a média geral de Nkt

n 53
Média 0,107
Mediana 0,104
Moda 0,095
Desvio padrão 0,031
Coeficiente de variação 29%

80
- Resultados de su/σ'v adotando a média geral de todos os valores de Nkt
apresentados na Tabela 5.2 (Nkt = 20,06) para os CPTus com menos de 3 ensaios
de palheta e o Nkt médio específico para CPTus com 3 ensaios de palheta ou mais:

Figura C.7 – Histograma e distribuição lognormal de todos os valores de su/σ'v (17900)


adotando a média geral e específica de Nkt

Tabela C.7 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação


considerando todos os valores de su/σ'v (17900) adotando a média geral e específica
de Nkt

n 17.900
Média 0,195
Mediana 0,142
Moda 0,089
Desvio padrão 0,145
Coeficiente de variação 75%

81
Figura C.8 – Histograma e distribuição lognormal dos valores de su/σ'v descartando os 4
cm iniciais e finais de cada camada (13934) adotando a média geral e específica de Nkt

Tabela C.8 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação


considerando os valores de su/σ'v descartando os 4 cm iniciais e finais de cada
camada (13934) adotando a média geral e específica de Nkt

n 13.934
Média 0,146
Mediana 0,106
Moda 0,079
Desvio padrão 0,104
Coeficiente de variação 71%

Figura C.9 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
de rejeito plástico (845), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a média geral e
específica de Nkt

82
Tabela C.9 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da
média de su/σ'v para todas as camadas de rejeito plástico (845), descartando os 4 cm
iniciais e finais e adotando a média geral e específica de Nkt

n 845
Média 0,215
Mediana 0,199
Moda 0,177
Desvio padrão 0,097
Coeficiente de variação 45%

Figura C.10 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
fina de rejeito plástico (693), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a média
geral e específica de Nkt

Tabela C.10 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da


média de su/σ'v para cada camada fina de rejeito plástico (693), descartando os 4 cm
iniciais e finais e adotando a média geral e específica de Nkt

n 693
Média 0,231
Mediana 0,222
Moda 0,177
Desvio padrão 0,095
Coeficiente de variação 41%

83
Figura C.11 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
intermediária de rejeito plástico (99), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a
média geral e específica de Nkt

Tabela C.11 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da


média de su/σ'v para cada camada intermediária de rejeito plástico (99), descartando
os 4 cm iniciais e finais e adotando a média geral e específica de Nkt

n 99
Média 0,160
Mediana 0,143
Moda 0,130
Desvio padrão 0,079
Coeficiente de variação 49%

Figura C.12 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
espessa de rejeito plástico (53), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a média
geral e específica de Nkt

84
Tabela C.12 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da
média de su/σ'v para cada camada espessa de rejeito plástico (53), descartando os 4
cm iniciais e finais e adotando a média geral e específica de Nkt

n 53
Média 0,108
Mediana 0,106
Moda 0,097
Desvio padrão 0,029
Coeficiente de variação 27%

85
- Resultados de su/σ'v adotando a moda de todos os valores de Nkt apresentados
na Tabela 5.2 (Nkt = 16,20) em todos os ensaios CPTu:

Figura C.13 – Histograma e distribuição lognormal de todos os valores de su/σ'v (17900)


adotando a moda de Nkt

Tabela C.13 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação


considerando todos os valores de su/σ'v (17900) adotando a moda de Nkt

n 17.900
Média 0,238
Mediana 0,176
Moda 0,091
Desvio padrão 0,180
Coeficiente de variação 76%

86
Figura C.14 – Histograma e distribuição lognormal dos valores de su/σ'v descartando os
4 cm iniciais e finais de cada camada (13934) adotando a moda de Nkt

Tabela C.14 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação


considerando os valores de su/σ'v descartando os 4 cm iniciais e finais de cada
camada (13934) adotando a moda de Nkt

n 13.934
Média 0,178
Mediana 0,129
Moda 0,081
Desvio padrão 0,130
Coeficiente de variação 73%

Figura C.15 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
de rejeito plástico (845), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a moda de Nkt

87
Tabela C.15 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da
média de su/σ'v para todas as camadas de rejeito plástico (845), descartando os 4 cm
iniciais e finais e adotando a moda de Nkt

n 845
Média 0,267
Mediana 0,248
Moda bruta 0,217
Desvio padrão 0,119
Coeficiente de variação 44%

Figura C.16 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
fina de rejeito plástico (693), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a moda de
Nkt

Tabela C.16 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da


média de su/σ'v para cada camada fina de rejeito plástico (693), descartando os 4 cm
iniciais e finais e adotando a moda de Nkt

n 693
Média 0,288
Mediana 0,278
Moda 0,222
Desvio padrão 0,126
Coeficiente de variação 44%

88
Figura C.17 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
intermediária de rejeito plástico (99), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a
moda de Nkt

Tabela C.17 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da


média de su/σ'v para cada camada intermediária de rejeito plástico (99), descartando
os 4 cm iniciais e finais e adotando a moda de Nkt

n 99
Média 0,199
Mediana 0,177
Moda 0,154
Desvio padrão 0,093
Coeficiente de variação 47%

Figura C.18 – Histograma e distribuição lognormal da média de su/σ'v para cada camada
espessa de rejeito plástico (53), descartando os 4 cm iniciais e finais e adotando a moda
de Nkt
89
Tabela C.18 – Média, mediana, moda, desvio padrão e coeficiente de variação da
média de su/σ'v para cada camada espessa de rejeito plástico (53), descartando os 4
cm iniciais e finais e adotando a moda de Nkt

n 53
Média 0,132
Mediana 0,127
Moda 0,116
Desvio padrão 0,038
Coeficiente de variação 29%

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