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Campo Montenegro
São José dos Campos, SP – Brasil
2017
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
Divisão de Informação e Documentação
Balestra, Carlos Eduardo Tino
Análise de perfis de concentração de cloretos em estruturas de concreto reais expostas em ambiente
marinho / Carlos Eduardo Tino Balestra.
São José dos Campos, 2017.
243f.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
BALESTRA, Carlos Eduardo Tino. Análise de perfis de concentração de cloretos em
estruturas de concreto reais expostas em ambiente marinho. 2017. 243f. Tese de
Doutorado em Engenharia de Infraestrutura Aeroportuária – Instituto Tecnológico de
Aeronáutica, São José dos Campos.
CESSÃO DE DIREITOS
NOME DO AUTOR: Carlos Eduardo Tino Balestra
TÍTULO DO TRABALHO: Análise de perfis de concentração de cloretos em estruturas de
concreto reais expostas em ambiente marinho.
TIPO DO TRABALHO/ANO: Tese de Doutorado / 2017.
__________________________________
Nome Carlos Eduardo Tino Balestra
Rua Borges de Medeiros, 1453, apto 402
CEP: 85904-230, Toledo – PR.
iii
AMBIENTE MARINHO
ITA
iv
Agradecimentos
"We are what we repeatedly do. Excellence then, is not an act, but a habit”.
(Aristotle)
Resumo
Abstract
Lista de Figuras
Plataforma petrolífera (NICOLAU, 2002); (b) Píers (BASTOS, 2010); (c) Pontes (SANTOS,
Figura 5: Localização e vista geral da Ilha dos Arvoredos (CARLOS BALESTRA, 2015). .. 38
Figura 7: Hélice acima do farol da Ilha para geração de energia (SANTIN & MEDEIROS,
1990). ........................................................................................................................................ 40
Figura 8: Painéis solares instalados por Fernando Lee na Ilha dos Arvoredos (D’IEPOSTI,
2004). ........................................................................................................................................ 40
2014). ........................................................................................................................................ 42
Figura 10: Principais construções presentes na Ilha dos Arvoredos. Vista 1 (Adaptado de
Figura 11: Principais construções presentes na Ilha dos Arvoredos. Vista 2 (Adaptado de
Figura 13: Face externa do muro de concreto da piscina (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
.................................................................................................................................................. 44
Figura 14: (a) Vista interna do reservatório; (b) aproveitamento da topografia para a coleta de
Figura 15: (a) Residência na Ilha dos Arvoredos; (b) Detalhe da passarela de acesso a
Figura 16: Farol na Ilha dos Arvoredos (FUNDAÇÃO FERNANDO LEE, 2014). ................ 46
Figura 17: Oficina construída na Ilha dos Arvoredos (FUNDAÇÃO FERNANDO LEE,
2014). ........................................................................................................................................ 47
Figura 18: Umidade observada na formação rochosa onde a oficina se apoia devido aos
Figura 19: Embarque no cesto para acesso à Ilha dos Arvoredos (Foto: FUNDAÇÃO
Figura 20: Vista geral do guindaste com cesto para acesso de pessoas à Ilha (SOUZA, 2015).
.................................................................................................................................................. 49
Figura 21: Fênix executada em concreto armado (FUNDAÇÃO FERNANDO LEE, 2014). . 49
Figura 24: Patamar da plataforma parcialmente encoberto pela água do mar durante a subida
Figura 25: Vista geral da escadaria 1 (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015). .......................... 51
Figura 26: Vista geral da escadaria 2 (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015). .......................... 52
Figura 27: Manifestações patológicas verificadas na estrutura da piscina. (a) face interna com
eflorescências; (b) erosão em face externa (Fotos: CARLOS BALESTRA, 2014). ................ 53
Figura 28: Corrosão das armaduras nos pilares da passarela de acesso à residência e perda de
Figura 29: Corrosão das armaduras da viga da passarela de acesso à residência (Foto:
Figura 30: Corrosão das armaduras de vigas internas no farol (Foto: CARLOS BALESTRA,
2015). ........................................................................................................................................ 55
Figura 31: Manifestações patológicas verificadas na estrutura da oficina. (a) Colapso parcial
de um trecho da laje devido à severa corrosão das armaduras; (b) Fissuração e corrosão em
pilar e viga; (c) corrosão com seccionamento de armadura de pilar; (d) corrosão, fissuração e
Figura 34: Manifestações patológicas observadas na escadaria 1 (a) Corrosão das armaduras
Figura 35: Vista geral da escadaria 2 com colapsos dos degraus (Foto: CARLOS
Figura 37: Data dos projetos de construções presentes na Ilha dos Arvoredos (Adaptado de
Figura 38: Distribuição das principais espécies iônicas presentes na água do mar (Adaptado de
Figura 39: Exemplo de aplicação de isotermas de fixação (Adaptado de YUAN et al., 2009).
.................................................................................................................................................. 69
Figura 40: Representação esquemática do aparato de vela úmida (Adaptado de ASTM G140,
2008). ........................................................................................................................................ 70
Figura 41: Influência da umidade relativa no risco à corrosão (Adaptado de CEB-FIB 183,
1992). ........................................................................................................................................ 74
Figura 42: Influência da quantidade de C3A na fixação de cloretos (Adaptado de YUAN et al.,
2009). ........................................................................................................................................ 78
Figura 43: Micrografia da zona de transição na interface entre o agregado e a pasta de cimento
Figura 44: Representação esquemática das zonas de convecção e difusão no concreto com a
Figura 45: Concentração de perfis identificando a presença de duas zonas no concreto para
diferentes fatores a/c (Adaptado de CASTRO, DE RINCÓN & PAZINI, 2001). ................... 85
RILEM TC-178/2013 – (A) Método de perfuração com furadeira de impacto; (B) Método de
Figura 50: Alteração da posição do eixo das concentrações em perfis com pico (Adaptado de
Figura 51: Mapa geral de extração de corpos de prova (Adaptado de FURTADO, 2009). ..... 98
Figura 52: Corpos de prova envoltos por um filme após extração (Foto: CARLOS
Figura 53: Pacômetro modelo D-Tech 150 Bosch (BOSCH, 2015). ..................................... 102
Figura 57: Esclerômetro utilizado para ensaio (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015). .......... 106
Figura 58: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade na estrutura da Escadaria 2
Figura 59: Vista geral das áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria
Figura 60: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Pilar 1 da
Figura 61: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Pilar 1 da
Figura 62: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Pilar 2 da
Figura 63: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Pilar 2 da
Figura 64: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Pilar 2 da
Figura 65: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Patamar
Figura 66: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria na passarela
Figura 67: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade no Farol (faces internas)
Figura 68: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria na Escadaria
Figura 69: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria na Oficina
Figura 70: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria na Piscina
Figura 71: Localização dos corpos de prova extraídos da Escadaria 2 (Foto: CARLOS
Figura 72: Localização dos corpos de prova extraídos dos pilares da plataforma (Foto:
Figura 73: Localização dos corpos de prova extraídos da escadaria 1 (Foto: CARLOS
Figura 74: Localização dos corpos de prova extraídos da oficina (Foto: CARLOS
Figura 75: Localização dos corpos de prova extraídos da piscina (Foto: CARLOS
Figura 76: Localização dos corpos de prova extraídos do patamar e da laje da plataforma
Figura 77: Extratora de corpos de prova de concreto e broca de widea (KT SEG, 2016). .... 114
Figura 79: Envelopamento de corpos de prova após extração (Foto: CARLOS BALESTRA,
Figura 81: Representação da distribuição da moagem dos corpos de prova. ......................... 117
Figura 82: Representação tridimensional da distribuição da moagem dos corpos de prova. . 118
Figura 84: Partes que compõe o equipamento (Foto: CARLOS BALESTRA, 2016). .......... 119
Figura 86: Extração e segmentação com disco diamantado de corpo de prova de concreto
Figura 89: Ensaio de compressão em corpo de prova (Foto: CARLOS BALESTRA, 2016).
................................................................................................................................................ 125
Figura 90: Apresentação da análise de regressão não linear do software Minitab 16 (CARLOS
Figura 91: Comparativo entre segmentos de barras antes e após o procedimento de decapagem
prova 8, 10, 11, 12, 17, 18, 36, 37 e 38 - localização, Cmáx e profundidade (Foto: CARLOS
(a) e 24 (b) - localização, Cmáx e profundidade (Foto: CARLOS BALESTRA, 2017). ....... 132
Figura 95: Considerações sobre a zona de agressividade da Oficina: Corpos de prova 25, 27
(a) e 29 (b) - localização, Cmáx e profundidade (Foto: CARLOS BALESTRA, 2017). ....... 132
Figura 96: Considerações sobre a zona de agressividade da Piscina: Corpos de prova 30 e 31-
Figura 97: Coloração rosa carmim durante o ensaio de carbonatação: (a) Pilar da plataforma;
Figura 98: Índice esclerométrico efetivo médio nas diferentes zonas de agressividade marinha.
................................................................................................................................................ 140
Figura 99: Resistividade elétrica superficial média nas diferentes zonas de agressividade
Figura 103: Evolução da absorção de água por capilaridade de corpos de prova de diferentes
Figura 109: Representação das faces direita e esquerda dos pilares da Plataforma. .............. 158
Figura 110: Níveis de agressividade em zona de atmosfera marinha segundo perfis obtidos na
Figura 111: Perfis de concentração de cloretos dos corpos de prova da Plataforma.............. 160
Figura 113: Perfis de concentração de cloretos dos corpos de prova da Oficina. .................. 162
Figura 114: Exemplo de indicação de poros no corpo de prova 29. ...................................... 162
Figura 115: Posicionamento da estrutura da Oficina em relação aos ventos predominantes. 163
xviii
Figura 116: Perfis de concentração de cloretos dos corpos de prova da estrutura da Escadaria
1. ............................................................................................................................................. 164
Figura 118: Modelagem do corpo de prova 30 segundo a solução da Segunda Lei de Fick. 168
Figura 119: Extrapolação equívoca da solução da Segunda Lei de Fick para a superfície do
Figura 120: Exemplo de análise a partir da Equação de Holliday para o corpo de prova 30. 170
Figura 121: Modelagem do corpo de prova 30 conforme a solução da Segunda Lei de Fick e
segundo a Equação de Holliday para 50 e 100 anos utilizando T2 = (𝐾/√𝑡). ....................... 172
Figura 122: Modelagem do corpo de prova 30 conforme a solução da Segunda Lei de Fick e
segundo a Equação de Holliday para 50 e 100 anos utilizando T2 = (𝐾/√𝑡)². ..................... 173
Figura 124: Pites verificados por meio de microscopia eletrônica de varredura.................... 175
Lista de Tabelas
Tabela 1: Valores correspondentes aos limites prescritos para a concentração de cloretos por
Tabela 3: Relação entre a resistividade e grau de corrosão das armaduras segundo a norma da
Tabela 5: Espessura média de cobrimento das estruturas presentes na Ilha dos Arvoredos. . 137
Tabela 7: Relação proposta entre a resistividade e a taxa provável de corrosão das armaduras
Tabela 8: Características dos materiais segundo análise dos corpos de prova. ...................... 145
Tabela 10: Coeficientes de Correlação r-Pearson obtidos entre os dados de campo e os dados
Sumário
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 24
1.1 CONCEITOS PRELIMINARES ............................................................................................... 24
1.2 OBJETIVOS.......................................................................................................................... 34
1.2.1 Objetivo geral .............................................................................................................. 34
1.2.2 Objetivos específicos ................................................................................................... 34
1.3 JUSTIFICATIVA E ORIGINALIDADE ..................................................................................... 35
1.4 ESTRUTURAÇÃO FÍSICA DO TRABALHO ............................................................................. 37
1. INTRODUÇÃO
O material compósito denominado concreto armado surgiu, a partir da introdução do aço, para
suprir a lacuna deixada pela baixa resistência à tração apresentada pelo concreto. Entretanto,
tal ato trouxe consequências, inicialmente não mensuradas, devido a susceptibilidade do aço à
corrosão, resultando em problemas de degradação de estruturas executadas em concreto
armado que, em alguns casos, pode levar à inutilização parcial ou total das mesmas (ISAIAS,
2005).
É amplamente difundido na literatura que a corrosão das armaduras é um dos principais
problemas relacionados à degradação de estruturas de concreto armado, envolvendo aportes
financeiros significativos quanto à manutenção e reabilitação das mesmas (CAIRNS et al.,
2005; MEIRA et al., 2007a; PAPE & MELCHERS, 2012; APOSTOLOPOULOS, DEMIS &
PAPADAKIS, 2013; REHMAN & AL-HADHRAMI, 2013; MEDEIROS-JUNIOR, LIMA &
MEDEIROS, 2014). Sobre este assunto, Ueda e Takewaka (2007) exemplificam que os custos
de manutenção e reparo de estruturas, em alguns países europeus, pode representar até 50%
do que os países investem em construção civil. De fato, Mehta e Monteiro (2008) concordam
e afirmam que, sob uma perspectiva global, 40% dos investimentos da construção civil são
destinados à obras de manutenção e recuperação estrutural, por conta de sua degradação.
O pH alcalino da solução presente nos poros do concreto fornece um ambiente propício à
formação de um filme passivante, que reveste as armaduras no interior do concreto,
protegendo-as frente à corrosão. Este filme tem como uma de suas características, permanecer
estável no meio alcalino do concreto, entretanto, a ação de agentes externos, como os cloretos,
e a carbonatação do concreto, acabam por destruir este filme, dando condições para o início
do processo corrosivo das armaduras, com a consequente formação de produtos de corrosão
(MEHTA & MONTEIRO, 2008; APOSTOLOPOULOS, 2009; APOSTOLOPOULOS,
DEMIS & PAPADAKIS, 2013; HAN et al., 2014).
Estes produtos de corrosão são de caráter expansivo e, na medida em que são formados, estes
se depositam na periferia das armaduras, produzindo variações volumétricas de duas a seis
vezes em relação ao metal consumido no processo, gerando tensões na direção radial ao eixo
da armadura, que não são suportadas pela limitada capacidade de deformação plástica
apresentada pelo concreto. Consequentemente, há formação de fissuras com o posterior
25
energia nuclear, píeres, pontes e plataformas off-shore destinadas à extração de petróleo e gás
que podem ser construídas a quilômetros de distância da costa (OH & JANG, 2007; DA
COSTA et al., 2013; SAMARAKOON & RATNAYAKE, 2013; LI & SHAO, 2014).
Mehta & Monteiro (2008) ressaltam ainda a construção de plataformas marítimas ao longo
dos últimos anos, com a finalidade de alocar novos aeroportos, depósitos de lixo e usinas
elétricas, aumentando o contingente de estruturas expostas aos efeitos degradantes do
ambiente marinho. A Figura 1 apresenta alguns exemplos de estruturas executadas em
concreto armado passíveis de serem encontradas em ambiente marinho.
a b
a
c d
Figura 1: Exemplos de construções em concreto armado presentes em ambiente marinho: (a)
a
Plataforma petrolífera (NICOLAU, 2002); (b) Píers (BASTOS, 2010); (c) Pontes (SANTOS,
2013); (d) Edificações costeiras (SANTOS, 2013).
Sob uma perspectiva econômica a infraestrutura costeira exerce um papel fundamental nas
relações de comércio internacional e no crescimento econômico de varias nações, como no
caso do Brasil. Neste sentido, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas - IPEA (2010)
pontua que a atividade portuária nacional participa em aproximadamente 80% das relações
comerciais internacionais, perfazendo um montante anual de aproximadamente US$ 188
bilhões e, ainda assim, o potencial aquaviário é quase inexplorado no Brasil, tendo em vista os
27
Na zona de atmosfera marinha as estruturas de concreto não estão em contato direto com a
água do mar, entretanto, estão sujeitas aos efeitos do aerossol salino oriundo do mar, através
de depósitos salinos observados em suas superfícies (ANDRADE, 2001).
Neste contexto, a ação dos ventos ganha destaque, pois contribui para a agitação do mar e,
consequentemente, para a formação e quebra das ondas. Deste mecanismo são geradas
gotículas, de diferentes tamanhos, compostas por sais, sendo o principal, o cloreto de sódio.
Estas gotículas, dependendo das condições de umidade relativa e temperatura, se transformam
em soluções salinas compondo o aerossol salino. Após a formação do aerossol salino, este
acaba sendo carregado para o continente por meio da própria ação dos ventos direcionados
para a costa. Desta forma, estas soluções salinas acabam se depositando sobre a superfície das
estruturas de concreto presentes na costa, levando à sua degradação, mesmo não estando em
contato direto com a água do mar (ZEZZA & MACRI, 1995, MEIRA, 2004).
Estas soluções salinas, que constituem o aerossol marinho, se depositam sobre a superfície das
estruturas de concreto, a certa distância do mar, dependendo das características dos ventos,
como sua intensidade e duração, da presença de obstáculos, como árvores, da massa destas
partículas, por conta dos efeitos gravitacionais, e pela frequência com que eventos climáticos
extremos, como as tempestades, ocorrem, levando a grandes deposições de sais em curtos
períodos de tempo (ZEZZA & MACRI, 1995; MORCILLO et al., 2000; COLE et al., 2003;
MEIRA et al., 2010).
29
Andrade (2001), Lima (2005) e Valipour, Shekarchi & Ghods (2014) pontuam que a zona de
respingos localiza-se acima do nível da maré alta, estando às estruturas de concreto sujeitas à
ação direta da água do mar, através da molhagem do concreto pelos respingos das ondas,
sendo esta uma zona de grande agressividade às estruturas de concreto, sob a ótica da
corrosão das armaduras, devido a fatores como a umidade e disponibilidade de oxigênio
essenciais ao processo corrosivo das armaduras. Neste ponto, Guimarães (2000) determinou
por observação em estruturas localizadas ao sul do estuário da Laguna dos Patos que a
máxima altura de respingos para o ambiente pesquisado foi de 50 centímetros. Bretanha &
Guimarães (2008) observaram que a altura média de respingos acima da maré alta limita-se a
um valor inferior a 50 centímetros, independentemente da estação climática do ano.
A delimitação da zona de variação de maré está compreendida entre os níveis máximos e
mínimos alcançados pela mesma (LIMA, 2005).
Segundo Mehta & Monteiro (2008) e Safehian & Ramezanianpour (2014), a zona de variação
de maré caracteriza-se como a mais agressiva às estruturas de concreto armado, tendo em
vista não apenas os efeitos simultâneos e acoplados da ação física e química da água do mar,
mas também devido aos ciclos de molhagem e secagem que acabam contribuindo para
potencializar o ingresso de cloretos nas estruturas de concreto, através de mecanismos de
absorção capilar e difusão.
Na zona submersa, segundo Lima (2005), o concreto encontra-se permanentemente submerso
e sua degradação decorre da ação química de íons agressivos como o magnésio e os sulfatos,
presentes na água do mar, que reagem com os produtos de hidratação do cimento.
O ataque por íons magnésio pode acarretar em reações de troca catiônica, resultando na
formação de produtos não resistentes que impactam nas propriedades mecânicas do concreto,
ao passo que, o ataque por sulfatos pode gerar a formação de etringita e, consequentemente,
levar à fissuração do concreto, aumentando assim sua permeabilidade e facilitando a entrada
de íons agressivos (MEHTA & MONTEIRO, 2008; NEVILLE & BROOKS, 2013, MAES &
DE BELIE, 2014).
A problemática que trata da corrosão de armaduras de estruturas de concreto armado
presentes em ambiente marinho é apresentada na literatura, com destaque para Helene (1993),
Lima (1996 e 2005), Cascudo (1998 e 2005), Guimarães (2000), Andrade (2001), Meira
(2004), Mehta & Monteiro (2008), Medeiros (2008), Revie & Uhlig (2008), Medeiros-Junior
(2011 e 2014). Neste contexto, considerando a exposição de estruturas de concreto armado ao
ambiente marinho, a corrosão de suas armaduras induzida por cloretos apresenta-se como a
principal forma de degradação destas estruturas. A presença de cloretos, acima de
30
Tabela 1: Valores correspondentes aos limites prescritos para a concentração de cloretos por
diferentes instrumentos normativos para estruturas em concreto armado.
Descrição da norma Valor crítico Observação
BS 8500-1 (2006) 0,4% Em relação a massa de cimento
ACI 318 (2011) 0,15% Em relação a massa de cimento
EN 206-1 (2006) 0,4% Em relação a massa de cimento
EN 206-1 (2006) 0,2% Em relação a massa de cimento caso seja
utilizado cimento resistente a sulfatos
NBR 6118 (2014) - Não prescreve valores limite para a concentração
de cloretos, apresentando apenas em seu item
6.3.3.2 que a despassivação por cloretos ocorre
devido a uma ruptura local do filme de
passivação decorrente de um teor elevado de íon
cloro, ressaltando que medidas preventivas
devem ser tomadas a fim de dificultar o ingresso
deste agente agressivo ao interior do concreto.
JSCE SP-2 (2006) 0,60 kg/m³ Em relação a massa de concreto
CEB-FIB, Bulletin nº 0,05 a 0,1% Em relação a massa de concreto
183 (1992)
Além disso, o Comité Euro-Internacional du Béton em seu Bulletin nº 183 de 1992 (CEB-
FIB, Bulletin 183, 1992) apresenta ainda a concentração crítica de cloretos em função da
qualidade do concreto e da umidade relativa (U.R.), conforme apresentado na Figura 4. Neste
caso, o ponto referente à concentração igual a 0,4% em relação à massa de cimento, para uma
umidade relativa da ordem de 85%, merece destaque por ser um valor crítico médio
31
estruturais, como fraturas frágeis, devido a uma perda localizada de material na seção
resistente da armadura (SCHEWEITZER, 2010).
A Dissertação de Mestrado do autor desta Tese de Doutorado, a respeito da influência da
corrosão sobre as propriedades mecânicas de armaduras degradadas naturalmente por décadas
no solo, apresentada em 2013, mostrou que a corrosão por pites pode produzir pequenas
variações de massa nas armaduras, porém com reduções significativas de resistência mecânica
e, principalmente, de ductilidade das mesmas quando estas são submetidas à tração. Neste
caso, mesmo barras com grau de corrosão inferior a 5% apresentaram resistência e
alongamento final inferiores às barras com o dobro do grau de corrosão. Este fato está
relacionado aos danos produzidos pelos pites nas seções transversais das armaduras, uma vez
que estes levam a severas reduções pontuais de seção transversal das barras, mesmo com
pequenas variações de massa (BALESTRA, 2013; BALESTRA et al., 2016).
Um estudo recente a respeito dos danos produzidos pela corrosão por pites foi conduzido por
Zhu & François (2014), onde os autores mostraram que o dano causado por pites às seções
transversais das barras, acaba por produzir excentricidades de eixo entre seções corroídas e
não corroídas. Os resultados mostraram, por meio de ensaios de tração, que quanto maior esta
excentricidade, menores foram as propriedades mecânicas verificadas nas barras.
Cabe ressaltar que estudos a respeito da resistência de armaduras corroídas, sob condições
naturais, são escassos, representando uma linha de pesquisa que necessita de maiores estudos,
visto que os resultados de resistência sob condições naturais não apresentam um
comportamento progressivo, diferindo dos resultados obtidos em condições aceleradas em
laboratório (BALESTRA, 2016). Neste caso, destaque deve ser dado aos estudos de Palssom
& Mirza (2002), Papadopoulos et al. (2011) e Zhang et al. (2012) que utilizaram corpos de
prova corroídos naturalmente para a determinação das propriedades mecânicas das armaduras
por meio de ensaios de tração.
Desta forma, sendo os cloretos os principais agentes responsáveis pela corrosão das
armaduras em estruturas de concreto armado presentes em ambiente marinho, os estudos
relacionados à penetração dos mesmos nestas estruturas são fundamentais na determinação da
vida útil das mesmas, por meio de modelos que visam estimar o início do processo corrosivo
das armaduras, e o consequente início dos danos à capacidade resistente de uma estrutura, em
função deste processo que leva a sua degradação progressiva.
Cabe ressaltar aqui que não são poucas as estruturas construídas em ambiente marinho que
ainda permanecem em serviço mesmo após décadas de sua construção. Neste sentido,
Andrade (1992) e Andrade, Sagrega & Sanjúan (2000) tratam de estudos na costa espanhola;
33
Mackechnie & Alexander (1997) tratam de estudos em estruturas costeiras da África do Sul;
Trocónis De Rincón et al. (2004) sobre pesquisas em estruturas de pontes e portos na
Venezuela e México; Gjorv (2010) ressalta pesquisas na Noruega com estruturas construídas
a décadas em ambiente marinho e Samarakoon & Ratnayake (2013) pontuam a existência de
estruturas Off-Shore construídas no Mar do Norte com mais de 30 anos, que permanecem em
serviço, sem que seja feito um monitoramento sistemático da penetração de cloretos. Os
autores alertam que embora a ação de cloretos seja reconhecida como a principal causa de
degradação das armaduras destas estruturas, seu monitoramento não é feito de forma
sistemática, admitindo desde a etapa de projeto que apenas o concreto da camada de
cobrimento é suficiente para prover resistência ao ingresso dos cloretos, o que não
corresponde à realidade, haja visto que a corrosão das armaduras é apontada como uma das
principais formas de degradação de estruturas de concreto armado presentes em ambiente
marinho.
Ademais, embora o tema da corrosão das armaduras, provocado pela ação de cloretos, seja um
tema apresentado na literatura, uma parcela representativa dos estudos desenvolvidos, nesta
linha de pesquisa, são realizados em corpos de prova de concreto submetidos a condições
aceleradas e controladas em laboratório, diferindo das condições sazonais e de carregamento à
que as estruturas reais estão condicionadas. Além disso, em se tratando de estruturas reais,
além das dificuldades de acesso muitas vezes observadas, de uma maneira geral, os estudos
são desenvolvidos em estruturas expostas às condições degradantes com tempos inferiores a
uma década, sendo os dados obtidos aplicados no desenvolvimento de modelos de previsão de
vida útil objetivando um horizonte de 50 anos ou até mesmo superior.
Outro ponto relevante trata que, de uma forma geral, uma parcela dos estudos relativos a
agressividade do ambiente marinho são apresentados em condições de inserção de estruturas
em zonas de agressividade marinha específicas, ou seja, tratam de estruturas de concreto
armado presentes na zona de atmosfera marinha ou em zona de respingo ou em zona de
variação de maré ou em zona submersa, sendo poucos os estudos que contemplam as quatro,
ou ao menos, três zonas de agressividade ao mesmo tempo em uma mesma localidade e, a
relação de agressividade entre estas diferentes zonas.
Em se tratando dos modelos de penetração de cloretos em estruturas de concreto armado
Castro, De Rincón & Pazini (2001) e Trocónis de Rincón et al. (2004) pontuam que modelos
confiáveis apenas podem ser desenvolvidos através do conhecimento obtido a partir de perfis
de concentração de cloretos tomados de estruturas reais, degradadas naturalmente levando em
conta os parâmetros ambientais envolvidos. Medeiros et al. (2013) ressaltam que embora
34
1.2 Objetivos
a relação de agressividade entre estas zonas representa uma parcela restrita neste contexto.
Assim, o conhecimento sobre a penetração de cloretos, em estruturas presentes em diferentes
zonas, auxilia na gestão e na tomada de decisão quanto às medidas preventivas a serem
empregadas, visando a extensão da vida de serviço de uma estrutura, ou elemento estrutural,
presente em alguma das zonas de agressividade marinha.
Outra via de pensamento trata dos instrumentos normativos. Neste caso, as normas mundiais
em vigência reconhecem que o ambiente marinho é um dos mais agressivos às estruturas de
concreto armado. Entretanto, estas normas ainda padecem de apresentar, de maneira
consistente, uma instrução pormenorizada quanto às diretrizes a serem empregadas para a
construção de uma determinada estrutura em cada uma das zonas de agressividade marinha.
Desta forma, os perfis de concentração de cloretos contribuem com informações relevantes
sobre o real nível de agressividade à que uma estrutura, ou elemento estrutural, está sujeita em
cada zona de agressividade marinha.
Sobre a modelagem destes perfis de concentração de cloreto diversos trabalhos apresentam
modelagens desenvolvidas a partir da solução da Segunda Lei de Fick da difusão, entretanto,
em perfis com pico, esta metodologia apresenta dificuldades em representar as concentrações
de cloreto nas camadas superficiais do concreto. Assim, neste trabalho é apresentada uma
nova modelagem, baseada na Equação de Holliday modificada com a inserção do tempo, para
perfis de concentração de cloreto, sendo possível levar em consideração as concentrações de
cloreto mais próximas à superfície do concreto.
Mediante a problemática exposta, o presente trabalho justifica-se com o objetivo de fornecer
informações acerca do ingresso de cloretos em estruturas reais, degradadas naturalmente em
mar aberto, em diferentes zonas de agressividade marinha, por meio de perfis de concentração
de cloretos totais e modelos de penetração de cloretos baseados nestes perfis e nas
características dos materiais empregados.
A originalidade do trabalho está relacionada à obtenção de informações quantitativas a
respeito do ingresso dos cloretos em estruturas reais de concreto armado presentes em
diferentes zonas de agressividade marinha por mais de 30 anos, sob condições naturais de
degradação, permitindo assim, a aquisição de dados realistas para o desenvolvimento de
modelos de previsão de penetração de cloretos em estruturas de concreto armado baseados em
perfis de concentração de cloretos totais reais. Além disso, a proposta de modelagem de perfis
de concentração de cloretos a partir da Equação de Holliday caracteriza-se como uma nova
contribuição ao estudo de perfis de concentração de cloretos, sendo possível, além de utilizar
37
a variável tempo para estimativas de vida útil, definir diretamente a partir dos parâmetros da
equação a concentração e profundidade do pico no perfil.
Esta Tese trata-se de um dos primeiros trabalhos desenvolvidos neste âmbito, baseado na
análise de estruturas reais presentes em diferentes zonas de agressividade marinha por mais de
30 anos, aplicando uma nova metodologia, baseada na Equação de Holliday, para a
representação de perfis de concentração de cloretos, levando em consideração a variável
tempo com vistas a estimar a vida útil de estruturas presentes em ambiente marinho
contemplando a zona de convecção e difusão.
Figura 5: Localização e vista geral da Ilha dos Arvoredos (CARLOS BALESTRA, 2015).
Fernando Lee estudou na escola americana de São Paulo e formou-se engenheiro mecânico na
Lafayette University, Easton, Pennsylvânia. Fernando Lee dirigiu ao longo de sua carreira
profissional diversas empresas de porte no Brasil como, por exemplo, a Bosch do Brasil,
Antártica, Pirelli, Volkswagen, Equipamentos Clark do Brasil entre outras. Além destas,
Fernando Lee atuou na direção do Hospital Samaritano, na cidade de São Paulo, e participou,
como membro, de diversas entidades como a Associação Brasileira do Cobre e a Câmara de
Comércio e Indústria Brasil-Alemanha.
Dentre as pesquisas científicas desenvolvidas por Fernando Lee na Ilha dos Arvoredos,
destacam-se aquelas relacionadas à busca pela autossuficiência quanto à água potável e
energia. Neste sentido, foram desenvolvidos na Ilha sistemas coletores de águas das chuvas,
onde estas águas, ao serem captadas, passavam por decantadores, sendo posteriormente,
conduzidas para filtros de vidro antes de seguirem para o armazenamento em cisternas
revestidas por ladrilhos de porcelana para fins potáveis (CALDAS, 2000).
Com relação à geração de energia na Ilha, duas formas eram empregadas. A primeira trata da
energia eólica, obtida a partir de uma hélice de madeira localizada acima do farol da Ilha,
conforme observado na Figura 7 (CALDAS, 2000).
40
Figura 7: Hélice acima do farol da Ilha para geração de energia (SANTIN & MEDEIROS,
1990).
Figura 8: Painéis solares instalados por Fernando Lee na Ilha dos Arvoredos (D’IEPOSTI,
2004).
41
Outro equipamento interessante da Ilha trata-se do sistema de para-raios. Este sistema era
dotado de diôdos que ionizavam o ar, evitando assim, a ocorrência de descargas elétricas na
ocorrência de tempestades (CALDAS, 2000).
Sob a perspectiva ambiental, destacou-se na Ilha o pioneirismo de Fernando Lee na plantação
de Tungue, uma semente utilizada pela indústria de tintas e vernizes como secante, e a
plantação de Neumárica Corúlea, uma vegetação utilizada na contenção de encostas, visando
prevenir a erosão dos solos (CALDAS, 2000).
Além disso, coqueiros da Malásia, grama da Coréia do Sul, orquídeas, maracujazeiros,
cajueiros, mamoeiros e espécies de flores diversas fazem parte do paisagismo da Ilha. Dentre
os animais, era possível observar beija-flores, pombas da Ásia, faisões dourados, codornas
americanas, urus, jacutingas, mutuns e macucos criados livremente na Ilha que se aninhavam
em 18 viveiros construídos no local (CALDAS, 2000).
No ano de 1984 foi criada por Fernando Lee uma fundação, que leva seu nome, visando dar
continuidade aos trabalhos desenvolvidos na Ilha (FUNDAÇÃO FERNANDO LEE, 2014).
O engenheiro faleceu no dia 14 de agosto de 1994 e para dar continuidade aos trabalhos
desenvolvidos na Ilha, a família Bonini assumiu a direção da Fundação Fernando Lee, em
1996, em parceria com a Universidade de Ribeirão Preto – UNAERP. (FUNDAÇÃO
FERNANDO LEE, 2014).
Nos dias atuais, alguns projetos vêm sendo desenvolvidos na Ilha dos Arvoredos, além da
pesquisa apresentada nesta Tese de Doutorado. A saber, são desenvolvidos projetos sob as
linhas de pesquisa de captação, armazenagem, filtragem e monitoramento da qualidade da
água das chuvas na Ilha dos Arvoredos, diagnóstico do meio biótico da Ilha e fontes de
energias alternativas por ondas marinhas (FUNDAÇÃO FERNANDO LEE, 2014).
Segundo Caldas (2000) as construções encontradas na Ilha dos Arvoredos totalizam 97 itens
catalogados, conforme observado na Figura 9. Destes registros, algumas construções devem
ser destacadas. As Figuras 10 e 11 apresentam as principais construções encontradas na Ilha
dos Arvoredos, sendo as mesmas descritas a seguir.
42
Figura 10: Principais construções presentes na Ilha dos Arvoredos. Vista 1 (Adaptado de
FURTADO, 2009).
43
Figura 11: Principais construções presentes na Ilha dos Arvoredos. Vista 2 (Adaptado de
FURTADO, 2009).
2.2.1 Piscina
Tratava-se de um ambiente composto por uma piscina de água salgada utilizada para a criação
e estudos com tartarugas marinhas. A estrutura de fechamento deste ambiente é constituída de
um muro, executado em concreto armado, com mais de 3 metros de altura e aproximadamente
1,5 metros de espessura. Este muro foi construído visando receber o impacto físico
proporcionado pelas ondas, sendo que foram empregadas armaduras em aço inoxidável em
sua estrutura. Além disso, válvulas e registros foram instalados na piscina para o controle da
entrada e saída de água do mar (CALDAS, 2000). A Figura 12 apresenta uma imagem a
respeito da construção da piscina, ao passo que, a Figura 13 apresenta uma vista atual da face
externa do muro da piscina.
44
Figura 13: Face externa do muro de concreto da piscina (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
45
2.2.2 Reservatório
O reservatório foi construído visando a coleta de águas superficiais (CALDAS, 2000). Neste
sentido, a topografia em declive da região, logo acima do reservatório, foi aproveitada para a
captação das águas superficiais oriundas das chuvas. Trata-se de uma estrutura dotada de um
muro de concreto revestido de pedra lavada em sua face voltada para o mar. A Figura 14a
apresenta uma imagem do reservatório e, a Figura 14b, uma imagem do aproveitamento da
topografia local para coleta da água das chuvas.
a b
Figura 14: (a) Vista interna do reservatório; (b) aproveitamento da topografia para a coleta de
águas superficiais decorrentes da chuva na Ilha dos Arvoredos (Fotos: CARLOS
BALESTRA, 2015).
2.2.3 Residência
A residência foi construída em alvenaria, com dois pavimentos, situada próximo ao ponto
mais alto da ilha, tratava-se da residência temporária de Fernando Lee, quando presente na
Ilha para o desenvolvimento de pesquisas (CALDAS, 2000). A fachada da residência é
completamente revestida por pedras, entretanto, a passarela de acesso à residência foi
construída em concreto armado. Trata-se de uma estrutura apoiada em três pontos, sendo que
o apoio intermediário apresenta um formato em “Y” sustentando as vigas principais e o
tabuleiro da passarela. A Figura 15a apresenta uma imagem da residência e, a Figura 15b,
apresenta a passarela de acesso à residência.
46
a b
Figura 15: (a) Residência na Ilha dos Arvoredos; (b) Detalhe da passarela de acesso a
residência (Fotos: CARLOS BALESTRA, 2014).
2.2.4 Farol
Localizado no ponto mais alto da Ilha, o farol foi construído em concreto armado e apresenta
sua face externa completamente revestida por pastilhas cerâmicas brancas (Figura 16). Os
experimentos para a geração de energia eólica foram iniciados em uma estrutura com uma
hélice de madeira posicionados na parte superior do farol (CALDAS, 2000).
Figura 16: Farol na Ilha dos Arvoredos (FUNDAÇÃO FERNANDO LEE, 2014).
2.2.5 Oficina
Figura 17: Oficina construída na Ilha dos Arvoredos (FUNDAÇÃO FERNANDO LEE,
2014).
Embora a oficina esteja a uma cota de aproximadamente 10 metros em relação ao mar, a face
posterior desta estrutura recebe uma grande contribuição dos respingos das ondas que colidem
fortemente com as formações rochosas sobre o qual a oficina está apoiada, principalmente
quando o mar está revolto. A Figura 18 mostra a presença de umidade tanto na formação
rochosa, onde a estrutura da oficina se apoia, quanto em sua face posterior.
Figura 18: Umidade observada na formação rochosa onde a oficina se apoia devido aos
respingos das ondas (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
48
Este viveiro se localiza próximo à região da piscina, sendo executado em alvenaria. Tratava-
se de um ambiente de cativeiro para o estudo de aves (CALDAS, 2000).
2.2.7 Guindaste
Esta é a estrutura que possibilita o acesso de pessoas à Ilha dos Arvoredos. Trata-se de um
guindaste metálico, articulado, acoplado a um cesto, onde as pessoas que desejam acessar a
Ilha são içadas das embarcações e levadas para desembarcar em uma base logo abaixo da
estrutura da plataforma. A Figura 19 apresenta o embarque de pessoas no cesto, ao passo que
a Figura 20 apresenta uma vista geral desta estrutura.
Esta estrutura merece destaque pela sua forma arquitetônica, onde uma Fênix, uma estrutura
em concreto armado, com 71 toneladas, em forma de pássaro está engastada nas formações
rochosas da Ilha, servindo de suporte para o guindaste em sua parte superior. A parte inferior
do guindaste é apoiada sobre uma base de concreto armado, revestida por pedras, construída
sobre as formações rochosas da Ilha (Figura 21) (FUNDAÇÃO FERNANDO LEE, 2014).
Figura 19: Embarque no cesto para acesso à Ilha dos Arvoredos (Foto: FUNDAÇÃO
FERNANDO LEE, 2015).
49
Figura 20: Vista geral do guindaste com cesto para acesso de pessoas à Ilha (SOUZA, 2015).
Figura 21: Fênix executada em concreto armado (FUNDAÇÃO FERNANDO LEE, 2014).
2.2.8 Plataforma
Esta estrutura de concreto armado está posicionada próximo ao guindaste. Tratava-se de uma
estrutura destinada a guardar as embarcações que chegam até a Ilha, no caso de eventos
climáticos que impossibilitassem o retorno dos visitantes para o continente (Figura 22)
(SANTIN & MEDEIROS, 1990).
50
A plataforma é uma estrutura voltada para o mar com três pilares apoiados sobre as formações
rochosas da Ilha, que sustentam o reservatório onde as embarcações eram guardadas até que
as condições climáticas fossem favoráveis à navegação.
A Figura 23 foi obtida em um período onde a maré estava baixa, permitindo assim, observar
os elementos estruturais da plataforma presentes em diferentes zonas de agressividade
marinha. A Figura 24 mostra um período onde a maré encontrava-se subindo, até o ponto em
que o patamar foi encoberto.
Laje
Pilares
Patamar
Figura 24: Patamar da plataforma parcialmente encoberto pela água do mar durante a subida
da maré (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
2.2.9 Escadaria 1
2.2.10 Escadaria 2
Esta estrutura foi executada em concreto armado, sendo composta por pilares que apoiavam
uma viga central e os degraus, analogamente a escadaria 1.
A escadaria 2 localiza-se entre a plataforma e a oficina, sendo uma estrutura utilizada para
acessar à parte inferior da formação rochosa nas quais está apoiada a oficina. A parte inferior
desta estrutura recebe uma grande contribuição dos respingos das ondas, que colidem contra
as formações rochosas à sua frente, apresentando severa degradação. A Figura 26 apresenta
uma vista da escadaria 2.
2.3.1 Piscina
A estrutura da piscina está voltada para a direção norte (N), sendo dotada de um muro de
concreto com 1,5 metros de espessura aproximadamente. Nesta estrutura foram verificadas
manchas de eflorescência em suas faces internas e erosão nas faces externas, devido ao
impacto das ondas e particulados sólidos presentes na água do mar contra sua superfície.
Todavia, cabe discutir que os danos devido à erosão não foram severos à superfície de
concreto, devido às formações rochosas existentes à frente desta estrutura, que acabam
atenuando o impacto das ondas contra sua superfície. A Figura 27 apresenta as manifestações
patológicas verificadas nesta estrutura.
a b
Figura 27: Manifestações patológicas verificadas na estrutura da piscina. (a) face interna com
eflorescências; (b) erosão em face externa (Fotos: CARLOS BALESTRA, 2014).
2.3.2 Residência
A residência da Ilha apresenta suas fachadas completamente revestidas por pedra e voltadas
para a direção leste (E), não sendo observadas manifestações patológicas na mesma. Por outro
lado, a passarela de acesso à residência, construída em concreto armado, apresenta sérios
danos em seus pilares e vigas, devido à severa corrosão de suas armaduras. O processo
corrosivo das armaduras dos pilares desta passarela levou a uma significativa redução de sua
seção transversal e a sua completa exposição, decorrente do lascamento total do concreto de
54
cobrimento que a revestia inicialmente. Além disso, é possível observar a perda da seção
resistente de concreto em uma das diagonais do pilar central. A Figura 28 apresenta a
corrosão evidenciada nos pilares da passarela, e indica a perda de seção transversal em um
dos pilares.
Figura 28: Corrosão das armaduras nos pilares da passarela de acesso à residência e perda de
seção transversal do concreto do pilar (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 29: Corrosão das armaduras da viga da passarela de acesso à residência (Foto:
CARLOS BALESTRA, 2015).
55
2.3.3 Farol
A estrutura do farol localiza-se no ponto mais alto da Ilha. Sua fachada externa é revestida
completamente por pastilhas cerâmicas que protegem a mesma, assim, não foram observadas
patologias em sua fachada externa; por outro lado, as vigas internas do farol, que suportam as
escadas de acesso ao topo, são executadas em concreto armado e apresentam intensa corrosão
de suas armaduras, conforme observado na Figura 30.
Figura 30: Corrosão das armaduras de vigas internas no farol (Foto: CARLOS BALESTRA,
2015).
Mais uma vez nota-se a severa agressividade do ambiente marinho ao concreto armado.
Apesar de se tratar de uma área interna, os cloretos presentes na atmosfera acabam se
depositando na superfície do concreto das estruturas internas levando a sua degradação.
Outro ponto que deve ser ressaltado trata que o farol encontra-se no ponto mais alto da Ilha,
em um local que recebe insolação durante todo o dia. Desta forma, a temperatura do ambiente
interno do farol acaba sendo elevada, contribuindo para acelerar o processo de penetração dos
cloretos nas estruturas de concreto internas (ANDRADE & GOÑI, 1990). Além disso, o farol
foi o local precursor dos estudos para geração de energia eólica na Ilha, havendo assim, uma
56
2.3.4 Oficina
A estrutura da oficina apresenta suas faces voltadas para a direção sudoeste (SW). Esta
estrutura apresenta severa corrosão das armaduras em diversos elementos estruturais como
pilares, vigas e na laje, com sérios danos a sua integridade, havendo inclusive o colapso
parcial de um trecho da laje, conforme observado na Figura 31.
a b
c d
Figura 31: Manifestações patológicas verificadas na estrutura da oficina. (a) Colapso parcial
de um trecho da laje devido à severa corrosão das armaduras; (b) Fissuração e corrosão em
pilar e viga; (c) corrosão com seccionamento de armadura de pilar; (d) corrosão, fissuração e
flecha excessiva de laje (Fotos: CARLOS BALESTRA, 2015).
laje de cobertura e o colapso parcial de um trecho da referida laje devido à intensa corrosão
que chegou a seccionar suas armaduras.
Embora a oficina tenha sido construída sobre uma formação rochosa a uma altura de
aproximadamente 10 metros, em relação ao nível do mar, sua estrutura recebe grande
contribuição dos respingos das ondas. Este fato está associado ao seu posicionamento
geográfico, que está localizado na região de maior incidência de ondas na Ilha. Neste caso, as
ondas formadas colidem com grande intensidade sobre a formação rochosa, produzindo os
respingos que atingem a mesma e contribuem para sua degradação. Os respingos das ondas,
aliados a grande disponibilidade de oxigênio, tornam esta região uma das mais agressivas às
estruturas de concreto armado, sob a óptica da corrosão das armaduras.
2.3.5 Guindaste
O guindaste é uma estrutura articulada que está voltada para a direção Oeste (W), sendo
apoiado em sua parte inferior por uma base de concreto armado, engastada sobre as formações
rochosas da Ilha, e por uma estrutura de concreto, semelhante a uma Fênix em sua parte
superior. As manifestações patológicas verificadas nesta estrutura são apenas na base inferior,
onde o guindaste se apoia, sendo registrado o aparecimento de manchas de corrosão e
manchas de eflorescência na face inferior da base, conforme apresentado na Figura 32.
Neste caso, a corrosão observada pode ser atribuída à deposição de sais sobre a superfície da
base, que adentram o concreto por meio da água das chuvas que se acumula e penetra no
concreto a partir de sua face superior. As manchas de eflorescência também são decorrentes
da água de chuva, que penetra no concreto a partir de sua face superior, e lixivia os compostos
hidratados da pasta de cimento.
2.3.6 Plataforma
2.3.7 Escadaria 1
A escadaria 1, voltada para a direção nordeste (NE), faz a ligação da piscina com a residência,
porém completamente voltada para o mar, sem obstáculos a sua frente.
A principal patologia desta estrutura é a corrosão das armaduras, na viga principal e em um
dos pilares, com o consequente lascamento da camada de cobrimento, conforme apresentado
na Figura 34.
a b
Figura 34: Manifestações patológicas observadas na escadaria 1 (a) Corrosão das armaduras
da viga principal; (b) corrosão e lascamento da camada de cobrimento em pilar (Foto:
CARLOS BALESTRA, 2015).
2.3.8 Escadaria 2
A estrutura da escadaria 2, voltada para a direção oeste (W), apresenta a mesma forma
arquitetônica da escadaria 1, entretanto, esta estrutura apresenta severo estado de degradação,
por conta principal da corrosão das armaduras tanto da viga principal, quanto dos degraus da
mesma, chegando ao colapso completo de todos os degraus. A Figura 35 mostra uma vista
geral do estado de degradação desta estrutura, onde é possível observar, através da seta
indicativa, o colapso de vários degraus da escada.
60
Figura 35: Vista geral da escadaria 2 com colapsos dos degraus (Foto: CARLOS
BALESTRA, 2015).
Uma quantidade de respingos significativa acaba por atingir a parte inferior desta estrutura
devido à quebra das ondas sobre as formações rochosas localizadas à sua frente. Todavia, é
possível observar que mesmo os degraus localizados a uma cota mais acima da base desta
escadaria chegaram ao colapso, fato este relacionado ao forte aerossol marinho que acaba
atingindo esta estrutura.
Após a concessão da Ilha dos Arvoredos para fins científicos, o engenheiro Fernando Lee
iniciou os projetos das construções a serem executadas na Ilha. Desta forma, além dos
projetos de autoria de Fernando Lee, foram contratados escritórios de arquitetura e de
engenharia para a elaboração de projetos desde a década de 50, que atualmente fazem parte do
acervo da Fundação Fernando Lee. A Figura 36 apresenta, como exemplo, um dos projetos da
oficina pertencente ao acervo da Fundação Fernando Lee.
61
Cabe ressaltar que, embora o acervo da Fundação Fernando Lee seja amplo e preserve os
documentos originais, muitos projetos das estruturas não foram encontrados em pesquisa
realizada neste acervo. Desta forma, a Figura 37 apresenta a data dos projetos originais de
obras executadas na Ilha dos Arvoredos, pertencentes à fundação Fernando Lee, onde é
possível observar a existência de projetos que datam a década de 50. A respeito da data de
execução das obras, Caldas (2000) pontua apenas que as obras tiveram início em maio de
1950, entretanto, o autor não determina quais as obras foram iniciadas nesta data.
Figura 37: Data dos projetos de construções presentes na Ilha dos Arvoredos (Adaptado de
FURTADO, 2009).
62
Roberge (1999) afirma que uma grande parcela das espécies químicas, presentes na Terra,
podem ser encontradas na água do mar, sendo os cloretos a espécie química predominante. De
fato, Silva (2011) concorda com Roberge (1999) e ressalta ainda que, apesar da grande
quantidade de espécies químicas presentes na água do mar, apenas seis já representam mais de
90% das espécies iônicas encontradas, sendo elas: o Cloreto, o Sódio, os Sulfatos, o
Magnésio, o Cálcio e o Potássio. A Figura 38 apresenta a distribuição das principais espécies
iônicas presentes no mar, onde se observa que os cloretos são de fato a espécie química
predominante na água do mar, correspondendo a mais de 50% da distribuição.
4%
8%
Cloreto
Sódio
Sulfatos
55% Magnésio
31%
Cálcio
Potássio
Figura 38: Distribuição das principais espécies iônicas presentes na água do mar (Adaptado de
SILVA, 2011).
63
Sendo os cloretos a espécie química predominante na água do mar e, sabendo que este é o
principal agente responsável pela corrosão das armaduras, em estruturas presentes em
ambiente marinho, é possível inferir, de fato, que o ambiente marinho é um dos meios mais
hostis às estruturas de concreto armado, sob a ótica da corrosão das armaduras, dada sua
grande disponibilidade.
Para o conhecimento dos mecanismos que levam à degradação das estruturas de concreto, é
de suma importância conhecer as propriedades de transferência de massa nos materiais
cimentícios. Desta forma, excluindo os processos de degradação decorrentes da ação de
solicitações mecânicas, a quase totalidade dos processos de degradação de estruturas de
concreto tem a permeabilidade do concreto como ponto principal de susceptibilidade à ação
de agentes agressivos (ANDRADE, 2001). Cabe ressaltar que várias são as revisões que
tratam dos mecanismos de penetração de cloretos em estruturas de concreto como, por
exemplo, Helene (1993), Nilson & Tang (1996), Andrade (2001), Guimarães (2000), Meira
(2004) e Nepomucemo (2005), sendo estas referências no meio acadêmico. Desta forma, não
buscando repetir os conceitos enfatizados pelos autores supracitados, serão apresentados
conceitos gerais sobre os mecanismos relativos à penetração de cloretos em estruturas de
concreto.
Segundo Castro, De Rincón & Pazini (2001); Song, Lee & Ann (2008) e Backus et al. (2013),
o ingresso de cloretos nas estruturas de concreto está relacionado a três mecanismos
principais:
Permeabilidade;
Absorção capilar e;
Difusão iônica.
Wang & Li (2014) e Arya, Vassie & Bioubakhsh (2014) pontuam que a permeabilidade
ocorre nas estruturas de concreto presentes na zona submersa, atuando em conjunto com a
difusão, ao passo que, a absorção capilar e a difusão ocorrem nas demais zonas de
agressividade. Além disso, os autores ressaltam que a absorção é um processo rápido, sendo
mais rápido até que a permeabilidade, enquanto a difusão é um processo lento em relação a
absorção, porém contínuo.
Segundo Nepomucemo (2005) o transporte de fluidos, no concreto, depende de uma extensa
gama de fatores como, por exemplo, a distribuição e interconectividade dos poros. Desta
forma, a maioria dos mecanismos de transporte, em um material poroso, é regida como sendo
dependente de um potencial gerador de um fluxo de massa. Para Nilsson &Tang (1996), o
fluxo de massa (qm) pode ser expresso pela Equação 1:
𝜕𝜓 𝑘𝑔
𝑞𝑚 = −𝑘𝜓 [𝑚2.𝑠] Equação 1
𝜕𝑥
Onde:
qm = Fluxo de massa;
kψ = Coeficiente representativo das propriedades do material;
∂ψ = Gradiente de potencial;
x = Profundidade.
𝑘𝑝 𝜕𝑝
𝑞𝑚 = − Equação 2
𝜂 𝜕𝑥
Onde:
65
qm = Fluxo de água;
kp = Coeficiente que leva em consideração a permeabilidade do material;
η = Viscosidade do fluído;
p = Pressão do fluído;
x = Profundidade.
A absorção capilar é decorrente das forças capilares que atuam nos poros do material,
controlando o ingresso de líquidos. Neste caso, a equação que melhor se enquadra ao
fenômeno de fluxo, em materiais de construção de estrutura porosa, é a Teoria do Fluxo em
Solos Não Saturados, expressa pela Lei de Darcy ampliada, onde a condutividade hidráulica e
o potencial capilar dependem do teor de água (Equação 3) (NILSSON & TANG, 1996;
NEPOMUCEMO, 2005).
𝑑𝜓 𝑑𝜃
𝑞 = − [𝑘(𝜃) 𝑑𝜃 ] 𝑑𝑥 Equação 3
Onde:
q = Fluxo capilar;
kθ = Condutividade hidráulica;
ψ = Potencial capilar;
x = Profundidade.
O fenômeno da difusão é expresso, de maneira geral, pela Primeira Lei de Fick da Difusão,
(Equação 4), para fluxo unidirecional que depende, entre vários fatores, das características
microestruturais do material e das substâncias presentes no fluído que preenche seus poros
(CRANK, 1975; GUIMARÃES, 2000; ANDRADE, 2001; MEIRA, 2004).
𝜕𝐶
𝑞𝑚 = −𝐷 Equação 4
𝜕𝑥
Sendo:
D = Coeficiente de difusão;
C = Concentração de da espécie iônica em análise, aqui, neste caso, os cloretos;
x = Posição no interior do material.
66
𝜕𝐶 𝜕𝑞𝑚
= − Equação 5
𝜕𝑡 𝜕𝑥
Sendo:
𝜕𝐶
= Variação de concentração no tempo;
𝜕𝑡
𝜕𝑞𝑚
= Variação de fluxo de massa em função da profundidade;
𝜕𝑥
Aplicando a Equação 4 na Equação 5 obtemos a Segunda Lei de Fick da Difusão (Equação 6).
𝜕𝐶 𝜕2 𝐶
= −𝐷 Equação 6
𝜕𝑡 𝜕𝑥 2
Sendo:
𝜕𝐶
= Variação de concentração no tempo;
𝜕𝑡
𝜕2 𝐶
= Variação de concentração de acordo com a posição x;
𝜕𝑥 2
D = Coeficiente de difusão.
A solução para a Segunda Lei de Fick da Difusão (Equação 7) é apresentada por Liang et al.
(1999), onde emprega-se a transformada de Laplace, admitindo como condições de contorno:
𝑥
𝐶 (𝑥, 𝑡) = 𝐶𝑠 + (𝐶𝑖 − 𝐶𝑠 ) 𝑒𝑟𝑓𝑐 ( ) Equação 7
√4𝑡𝐷
67
Yuan et al. (2009) afirmam que ao adentrarem no concreto, uma parte dos cloretos, advindos
do ambiente, é capturada formando sais, a isto chamamos fixação de cloretos, conforme
descrito nos parágrafos sequentes. Esta fixação implica em uma redução na quantidade de
cloretos passíveis de se movimentar na solução dos poros do concreto, chamados cloretos
livres. Dada sua mobilidade, os cloretos livres são os principais responsáveis por atingir as
armaduras e dar início ao processo de corrosão das mesmas.
De fato, Saillio, Baroghel-Bouny & Barberon (2014) ressaltam que em ambiente marinho, os
cloretos penetram através dos poros do concreto até chegar à armadura, entretanto, as
interações químicas dos cloretos com a matriz cimentícia acabam por fixar uma parte dos
cloretos, retardando o avanço de sua frente até as armaduras.
Backus et al. (2013) pontuam que os cloretos podem estar fixos quimicamente com as fases
aluminato do cimento, ou ainda, fisicamente adsorvidos sobre a superfície dos Silicatos de
Cálcio Hidratado (C-S-H). Segundo Ramezanianpour, Ghahari & Esmaeili (2014) e De
Weerdt, Justnes & Geiker (2014), em geral, a fixação se dá principalmente entre o Aluminato
Tricálcico (3CaO.Al2O3 => C3A), formando sal de Friedel (C3A.CaCl2.10H2O), e com o Ferro
Aluminato Tetracálcico (4CaO.Al2O3.Fe2O3 => C4AF), formando o sal de Kuzel
(3CaO.FenOn+1.CaCl2.10H2O), sendo que a fixação com o C3A corresponde a maior parcela
da fixação química de cloretos, em um processo que ocorre a taxas rápidas. As Equações 8 e 9
apresentam, em linhas gerais, as reações químicas para a formação do sal de Friedel, onde é
possível observar que a Portlandita (Ca(OH)2) reage com o cloreto associado a um cátion (em
68
Yuan et al. (2009) e Maes & De Belie (2014) afirmam que a fixação de cloretos apresenta
dois aspectos importantes:
Segundo Yuan et al. (2009); Li & Shao (2014) e Camacho et al. (2014), a relação entre
cloretos livres e fixos é expressa por isotermas de fixação ou equações de adsorção, sendo as
principais: a Linear, a de Langmuir e a de Freundlich, conforme apresentadas nas Equações
10 a 12 respectivamente, onde Cb corresponde a concentração de cloretos fixos e Cf a
concentração de cloretos livres.
Linear: 𝐶𝑏 = 𝛼 𝐶𝑓 Equação 10
𝛼𝐶𝑓
Langmuir: 𝐶𝑏 = Equação 11
(1+𝛽𝐶𝑓 )
𝛽
Freundlich: 𝐶𝑏 = 𝛼𝐶𝑓 Equação 12
Yuan et al. (2009) cita que os parâmetros α e β das Equações 10-12 não apresentam
significado físico, sendo apenas coeficientes de ajuste de curvas. A Figura 39 apresenta um
exemplo de construção das isotermas de fixação.
69
Figura 39: Exemplo de aplicação de isotermas de fixação (Adaptado de YUAN et al., 2009).
A salinidade atmosférica é, de longa data, objeto de pesquisas no mundo, onde podem ser
citados, como exemplos, os trabalhos de Mustafa & Yusof (1994); Corvo, Betancourt &
Mendoza (1995); Morcillo et al. (2000); Lee & Moon (2006) e Meira et al. (2007b).
Nesta vertente de estudos, os ventos ganham destaque por dois motivos principais. Em
primeiro lugar, como responsáveis por contribuir na geração das ondas do mar, propiciando a
formação do aerossol marinho carregado de gotículas salinas. Em segundo lugar, os ventos
atuam como agente transportador deste aerossol para o continente, possibilitando a deposição
de sais sobre a superfície das estruturas de concreto, presentes em zona de atmosfera marinha,
de modo que estes sais depositados acabam penetrando as estruturas de concreto armado
através da camada de cobrimento, degradando-as.
Segundo Morcillo et al. (2000), as gotículas salinas presentes no aerossol marinho, com
diâmetro superior à 10µm, permanecem em suspensão na atmosfera por curtos períodos de
tempo, sendo depositadas a curtas distâncias, a partir da costa, pelo efeito gravitacional.
70
Gotículas menores, com diâmetro inferior à 10µm, podem ser carregadas pelo vento a maiores
distâncias, atingindo estruturas mais afastadas da costa. Além disso, os autores pontuam ainda
a ocorrência de eventos climáticos extremos de curta duração, como as tempestades, onde
grandes quantidades de sais podem ser depositadas sobre as superfícies de concreto em curtos
períodos de tempo.
De uma forma geral, a salinidade atmosférica pode ser determinada através da utilização de
aparatos de vela úmida, normatizados pela ASTM G140. O aparato de vela úmida é
representado na Figura 40. Neste caso, um tubo de ensaio é envolto por uma camada de
algodão umedecido com uma solução de água, glicerina e ácido octanóico, sendo este último,
necessário para evitar o congelamento da água, se for o caso. Além disso, o algodão deve se
comunicar com esta mesma solução presente no frasco que suporta o conjunto. Este aparato
permanece em repouso no interior de um suporte, com cobertura, sendo exposto em campo
nos locais onde se deseja determinar a deposição de sais neste aparato. Após intervalos de
tempo determinados, o algodão da vela úmida é recolhido e levado para laboratório para
análise quanto à deposição de cloretos.
Tubo de Ensaio
Algodão
Rolha
Frasco
Solução
Figura 40: Representação esquemática do aparato de vela úmida (Adaptado de ASTM G140,
2008).
No estudo de Morcillo et al. (2000), um aparato de vela úmida foi utilizado em conjunto com
uma estação meteorológica, visando a coleta de informações a respeito da taxa de deposição
de sais, e sobre o vento da região de estudo. Os resultados obtidos apontaram que a salinidade
cresce de forma notável à medida que a velocidade dos ventos supera os 3m/s.
71
De fato, o estudo apresentado por Meira et al. (2006), desenvolvido na cidade de João Pessoa
no Estado da Paraíba, concorda que um aumento significativo da taxa de deposição, em
aparatos de vela úmida, é observado a medida que a velocidade dos ventos supera 3m/s, onde
um incremento de 3 para 3,6 m/s na velocidade dos ventos pode aumentar a taxa de deposição
de cloretos de 400 para 750 mg/m².dia para uma distância de 10 metros em relação ao mar.
Além da velocidade do vento, Cole et al. (2003), Meira et al. (2006 e 2007b) e Morcillo et al.
(2000) pontuam outro aspecto relevante: o tempo de duração de uma determinada velocidade
de vento. Neste sentido, os autores pontuam que as melhores correlações são obtidas a partir
da taxa de deposição de cloretos em aparatos de vela úmida com o chamado “Wind Power”,
definido como sendo o produto escalar entre o tempo de duração e a velocidade dos ventos.
Neste caso, Meira et al. (2007b) demonstram a relação obtida entre a taxa de deposição e o
Wind Power para velocidades de vento acima de 3m/s.
Outro aspecto importante trata da distância em relação ao mar. Neste caso, o trabalho de
Meira et al. (2006) contempla uma análise da taxa de deposição de sais em aparatos de vela
úmida, posicionadas a 10, 100, 200, 500, 1100 metros de distância em relação ao mar. Os
resultados mostraram que a taxa de deposição diminui, expressivamente, a medida que a
distância do mar aumenta, sendo que a partir de 200 metros de distância, a taxa de deposição é
muito menor comparada à uma distância de apenas 10 metros. Nunes (2006) apresenta em seu
estudo os efeitos da distância de estruturas de concreto, com idade superior a 15 anos, em
relação ao mar localizadas no extremo sul do Brasil. As conclusões do autor remetem que a
medida que se aumenta a distancia em relação à água do mar, há uma redução significativa da
presença de cloretos na névoa salina.
Outro estudo interessante, nesta linha de pensamento, foi conduzido por Lee & Moon (2006),
tratando da distribuição da salinidade atmosférica ao longo da costa da Coréia do Sul. Neste
trabalho, a influência dos ventos e da topografia sul coreana foram avaliados, levando em
conta a presença de cadeias de montanhas. Os maiores índices médios de salinidade foram
observados na região leste da costa coreana, região esta, onde há a maior incidência de ondas.
Além disso, assim como Meira et al. (2006), os autores também ressaltam que a salinidade
decresce à medida que a distância em relação ao mar aumenta, propondo uma função
exponencial decrescente, para relacionar a taxa de deposição com a distância a partir do mar,
levando em conta as características locais como, por exemplo, a topografia e a presença de
obstáculos.
A respeito dos efeitos altimétricos em relação ao nível do mar, os trabalhos de Castro, De
Rincón & Pazini (2001), Guimarães, Castagno Jr & Helene (2003) e Medeiros et al. (2013)
72
podem ser citados. Em todos estes estudos não foram utilizadas velas úmidas, foram
analisados perfis de concentração de cloretos obtidos a partir de amostras de concreto,
tomadas de edificações com diferentes altimetrias em relação ao mar. De uma forma geral, os
resultados apontaram que quanto maior a altura em relação ao mar, menor a concentração de
cloretos obtidas nos perfis analisados.
De fato, uma análise prévia e piloto na estrutura da plataforma na Ilha dos Arvoredos acerca
dos efeitos altimétricos mostrou, por espectroscopia de fluorescência de Raios-X, que a
medida que a distância altimétrica em relação a água do mar aumenta, menor a concentração
de cloretos (BALESTRA et al., 2017).
A salinidade é definida como a concentração de sais dissolvidos nos oceanos, sendo admitida,
de forma geral, como constante, embora efeitos de diluição possam ser evidenciados em
alguns casos, por exemplo, mediante contribuição fluvial (Mehta & Monteiro, 2008; De
Weerdt, Justnes & Geiker, 2014). A titulo de exemplo, Da Costa et al. (2013) ressaltam que a
salinidade da água marinha na região nordeste do Brasil varia de 3,0 a 3,5% e Otieno,
Beushausen & Alexander (2016) pontuam que a salinidade da água na África do Sul é de
aproximadamente 2,0%.
A respeito da influência da salinidade da água marinha na penetração de cloretos em amostras
de concreto, poucos são os estudos sobre o tema, entretanto, o estudo de Lindvall (2007)
merece destaque.
Lindvall (2007) conduziu um estudo mundial para a determinação do ingresso de cloretos em
corpos de prova de concretos submersos em 12 diferentes locais do globo terrestre. O objetivo
do trabalho foi verificar não somente a influência da salinidade, mas também se a temperatura
média da água exercia algum tipo de influência na penetração de cloretos nos corpos de prova
ensaiados. A salinidade da água, nas diferentes regiões estudadas, apresentou grandes
variações com valores entre 4 a 23 mg/l.
Após um ano de exposição, os corpos de prova foram coletados e encaminhados para o
laboratório, onde amostras de concreto em pó foram obtidas, a diferentes profundidades, e
analisadas por titulação potenciométrica. Os resultados apontaram que a concentração de
cloretos nos primeiros 5 mm, dos corpos de prova expostos em locais cuja temperatura média
da água era inferior a 14ºC, apresentaram maiores concentrações de cloretos. Além disso,
outra constatação da pesquisa trata que, comparando um local com a mesma temperatura
73
média da água, quanto maior a salinidade da água, maior o ingresso de cloretos nos corpos de
prova, demonstrando que a salinidade e a temperatura da água exercem influência na
penetração de cloretos em estruturas presentes em ambiente marinho.
Figura 41: Influência da umidade relativa no risco à corrosão (Adaptado de CEB-FIB 183,
1992).
Além disso, Castro, De Rincón & Pazini (2001) ressaltam que a umidade relativa acaba
influindo na penetração de cloretos, devido aos ciclos de molhagem e secagem, nas camadas
mais próximas à superfície do concreto.
Neste caso, em linhas gerais, durante os períodos de secagem, a água evapora
progressivamente dos poros capilares do concreto deixando sais cristalizados em seu interior,
havendo uma redistribuição da umidade no interior do concreto, onde o fluxo da água passa a
ser do interior do concreto para a região mais próxima à superfície. No período de molhagem,
por sua vez, a água ingressa a partir da superfície por forças capilares através dos poros do
concreto, trazendo consigo íons agressivos às estruturas de concreto armado como, por
exemplo, os íons cloreto, contribuindo assim para um aumento na concentração dos mesmos
nas camadas de concreto (CINCOTTO & PEREIRA, 2001; ARYA, BIOUBAKHSH &
VASSIE, 2013).
Além disso, Arya, Vassie & Bioubaksk (2014) afirmam ainda que com o aumento no número
de ciclos de molhagem e secagem, a concentração de cloretos aumenta progressivamente nas
diferentes profundidades do concreto a partir da superfície, com o passar do tempo.
3.4.4 Temperatura
A respeito da temperatura, o CEB FIB 183 (1992) ressalta que a análise isolada deste fator já
fornece um indicativo acerca da diferença de agressividade existente entre regiões tropicais e
75
regiões frias. Desta forma, seus efeitos, embora sejam considerados como secundários muitas
vezes, são importantes no estudo da durabilidade de estruturas de concreto armado.
Os efeitos da temperatura podem ser notados no grau de saturação dos poros do concreto.
Neste caso, Andrade & Castillo (2003), Poyet (2009) e Jiang & Yuan (2013) concluíram em
seus estudos, conduzidos em laboratórios, que quanto maior a temperatura a que o concreto
está exposto, menor será a presença de água em seus poros.
Goñi & Andrade (1990), Song, Lee & Ann (2008) e Yuan et al. (2009) pontuam que os
efeitos da temperatura acabam por acelerar o movimento iônico dos cloretos através da rede
de poros do concreto, potencializando assim sua mobilidade. De fato, Oh & Jang (2007)
concluíram que o aumento da temperatura acaba por aumentar a mobilidade iônica dos
cloretos no concreto. Além disso, Xu et al. (2016) pontuam, em seu estudo, que um aumento
na temperatura pode levar à liberação dos cloretos fixos junto às fases aluminato, entretanto,
os autores afirmam que maiores estudos são necessários a respeito deste tema.
3.4.5 Chuva
Sobre a chuva dois efeitos são descritos na literatura. O primeiro trata da conversão de
partículas salinas, depositadas sobre a superfície das estruturas de concreto, em soluções
salinas que, por mecanismos de absorção capilar, acabam transportando os íons agressivos
para o interior do concreto, ao passo que o segundo trata dos efeitos de lavagem das
superfícies de concreto, geralmente relacionadas às chuvas de maior intensidade, que acabam
carregando as soluções salinas a partir da superfície das estruturas de concreto (MUSTAFA &
YUSOF, 1993; ANDRADE, DÍEZ & ALONSO, 1997; MEIRA et al., 2006; MEDEIROS-
JUNIOR, LIMA & MEDEIROS, 2014).
A carbonatação é citada na literatura por conta dos seus efeitos na liberação de cloretos fixos.
Neste sentido, a carbonatação acaba promovendo a liberação de cloretos fixos quimicamente
com as fases aluminato do cimento e, consequentemente, aumenta a quantidade de cloretos
livres em solução, que são passíveis de se movimentar e chegar à região das armaduras,
potencializando assim, a disponibilidade de cloretos para desencadear o processo de corrosão
das mesmas em estruturas de concreto armado (YUAN et al., 2009; BACKUS et al., 2013;
KUOSA et al., 2014; MEIRA et al., 2014; LIU et al., 2014).
76
Ramezanianpour, Ghahari & Esmaeili (2014) afirmam que a interação dos cloretos com as
fases aluminato do cimento, resulta na formação de sais, como o sal de Friedel e o sal de
Kuzel, ocorrendo assim, a fixação química dos cloretos. Entretanto, após a carbonatação, os
sais formados podem se dissolver e os cloretos, inicialmente fixos, acabam se tornando livres
na solução dos poros do concreto, sendo potenciais para a corrosão das armaduras. De fato,
Suryavanshi & Swamy (1996) já haviam notado que a solubilidade do sal de Friedel aumenta
com o grau de carbonatação do concreto.
A ocorrência da liberação de cloretos inicialmente fixos às fases aluminato do cimento,
mediante a carbonatação, têm motivado diversos estudos tanto em pastas de cimento, quanto
argamassas e concretos. Neste caso, podemos citar os estudos de Backus et al. (2013), Kuosa
et al. (2014) e Saillio, Baroghel-Bouny & Barberon (2014). De forma geral, é consensual
entre as pesquisas que amostras carbonatadas de pastas, argamassas ou concretos, perdem sua
capacidade de fixação química de cloretos, entretanto, a justificativa definitiva para tal
fenômeno permanece sendo pesquisada. De qualquer forma, os resultados já apresentados na
literatura propõem algumas linhas de pensamento como, por exemplo:
Com relação aos sulfatos, Maes & De Belie (2014) pontuam primeiro que na água do mar,
além da presença de cloretos, há presença de sulfatos, sendo ambos agressivos às estruturas de
concreto armado. De uma forma geral, o ataque por sulfatos resulta em reações expansivas,
pela formação de etringita, que levam a variações volumétricas e fissuração do concreto.
Além disso, Yuan et al. (2009) e Wang et al. (2014) ressaltam que, no caso de alta
disponibilidade de sulfatos, estes acabam por reagir com as fases aluminato, reduzindo assim,
a quantidade disponível destas fases para a fixação de cloretos.
Maes & De Belie (2014) e De Weerdt, Justnes & Geiker (2014) ressaltam outro aspecto
importante em relação aos ataques às estruturas de concreto em ambiente marinho tratando da
77
Poucos são os estudos que tratam dos efeitos das mudanças climáticas sobre a durabilidade
das estruturas de concreto. De uma forma geral, os estudos encontrados na literatura tratam da
aplicação de modelos de previsão de desempenho de estruturas de concreto sob diferentes
cenários. Neste sentido, destaque é dados aos trabalhos de Bastigas-Arteaga et al. (2010) e
Medeiros-Junior, Lima & Medeiros (2014).
O primeiro conduziu um estudo a respeito da influência do aquecimento global sobre o
ingresso de cloretos no concreto. Os resultados obtidos a partir de simulações conduzidas em
modelos que contemplam efeitos de convecção, combinação, idade do concreto, temperatura e
umidade sob três diferentes cenários, mostram que as mudanças climáticas podem levar a uma
considerável redução da vida útil de estruturas de concreto objetivando uma análise com
horizonte de 100 anos. De fato, o trabalho de Medeiros-Junior, Lima & Medeiros (2014)
concorda que os efeitos das mudanças climáticas têm um impacto considerável sobre a vida
útil de serviço das estruturas de concreto. Seus resultados indicaram que as mudanças de
temperatura e umidade relativa previstas para o ano de 2100 podem levar a uma redução da
ordem de 10 anos na vida útil de serviço de estruturas de concreto, no caso do cenário mais
crítico.
Diversos são os estudos na literatura que pontuam os efeitos das fases aluminato do cimento
(C3A e C4AF) sobre a fixação de cloretos. Desta forma, uma maior quantidade de fases
aluminato na composição do cimento, reflete maior fixação química de cloretos, reduzindo,
78
Figura 42: Influência da quantidade de C3A na fixação de cloretos (Adaptado de YUAN et al.,
2009).
Com relação ao fator água/cimento (fator a/c), este parâmetro está diretamente relacionado à
porosidade do concreto, onde quanto maior o valor expresso por esta relação, mais poroso
será o concreto, desde que mantidas todas as outras relações entre materiais, e,
consequentemente, mais fácil será o ingresso de cloretos através da rede de poros até a região
das armaduras (MEIRA et al., 2007a; MEHTA & MONTEIRO, 2008; ANGST et al., 2009;
NEVILLE & BROOKS, 2013).
Os estudos de Meira et al. (2010) e Cheewaket, Jaturapitakkul & Chalee (2012) mostram que
para concretos que diferem apenas em seu fator a/c, quanto maior este valor, de fato, maior foi
a concentração de cloretos determinada a uma dada profundidade no concreto. Fato este
creditado à maior porosidade do mesmo.
Além disso, Castro, De Rincón & Pazini (2001) pontuam que mais profunda será a zona de
convecção quanto maior for o fator a/c, consequentemente, o pico máximo de penetração de
cloretos pode atingir maiores profundidades na camada do concreto. Este tema é abordado
com maiores detalhes no Capítulo 4 desta Tese.
Segundo Mehta & Monteiro (2008) o termo cura do concreto envolve uma combinação de
condições, consideradas imediatamente após o lançamento de uma mistura de concreto na
fôrma, que visam promover a hidratação do cimento tais como: o tempo, a temperatura e a
umidade. Neste sentido, Neville & Brooks (2013) pontua que o objetivo da cura, à
temperatura normal (23 + 2ºC), é manter o concreto sob condições tais de saturação, até que
os espaços na pasta de cimento, preenchidos inicialmente com água, sejam ocupados por
produtos de hidratação.
Neste tocante, portanto, além do fator a/c, o regime de cura também está relacionado à
porosidade do concreto, onde um aumento no período de cura remete a benefícios à
microestrutura do concreto por meio de uma redução em sua porosidade efetiva (MEHTA &
80
MONTEIRO, 2008; NEVILLE & BROOKS, 2013; ARYA, BIOUBAKHSH & VASSIE,
2014). A titulo de exemplo, Neville & Brooks (2013) apresenta que a resistência à
compressão, aos 28 dias, de corpos de prova de concreto, curados em condições saturadas,
pode atingir o dobro da resistência em comparação à corpos de prova curados ao ar,
demonstrando que um maior o período de cura úmida remete à benefícios quanto à resistência
do concreto.
Pereira, Monteiro & Almeida (2013) pontuam os benefícios micro estruturais decorrentes de
um maior período de cura, medidos através de ensaios de absorção de água, onde amostras
curadas úmidas por maiores períodos apresentaram menor absorção de água. Desta forma, os
autores apresentam que quanto menor a absorção de água, mais difícil será o ingresso de
cloretos para o interior do concreto.
3.5.4 Agregados
Mehta & Monteiro (2008), Song, Lee & Ann (2008) e Neville & Brooks (2013) pontuam o
efeito dos agregados no concreto. Neste caso, a interface entre a superfície do agregado e a
pasta de cimento hidratada, denominada como zona de transição na interface entre agregados
e a matriz da pasta de cimento, ganha destaque.
Mehta & Monteiro (2008) ressaltam que inicialmente, no concreto em estado fresco, filmes de
água se formam em torno de partículas de agregados graúdos, contribuindo para um aumento
na relação água/cimento nesta zona. Na sequência, íons cálcio, sulfatos, hidroxilas e
aluminato se combinam para formar produtos cristalinos, entretanto, devido à elevada relação
água/cimento, esses produtos acabam apresentando cristais maiores nas proximidades dos
agregados graúdos, contribuindo para uma estrutura mais porosa do que a matriz da pasta de
cimento.
Mediante este contexto, Song, Lee & Ann (2008) concluem que, concomitantemente a grande
porosidade observada nesta zona, está provém um caminho mais fácil à mobilidade dos
cloretos no concreto, passíveis de atingir a região das armaduras e desencadear seu processo
corrosivo. Neste ponto, a Figura 43 apresenta uma micrografia da zona de transição, onde é
possível observar a presença de etringita ao longo de toda a sua extensão.
81
Figura 43: Micrografia da zona de transição na interface entre o agregado e a pasta de cimento
(Adaptado de MEHTA & MONTEIRO, 2008).
3.5.5 Adições
Cinza volante;
Sílica ativa;
Metacaulim e;
Escória de alto forno.
Estas adições, com suas características próprias, aumentam a fixação de cloretos, através de
uma maior quantidade de fases aluminato presentes em sua composição, e/ou decrescem a
permeabilidade do concreto, através de um refinamento da microestrutura do concreto
(PAPADAKIS, 2000; ANGST et al., 2009; SHI et al., 2012; CAMACHO et al., 2014). Desta
forma, os principais efeitos das adições supracitadas são descritos nos parágrafos sequentes.
Sobre a cinza volante, Cheewaket, Jaturapitakkul & Chalee (2010), Shi et al. (2012) e
Camacho et al. (2014) pontuam que esta é um material que pode ser obtido, por exemplo, a
partir da combustão de carvão para a produção de energia elétrica, sendo seu uso no concreto
recorrente em varias partes do mundo. Segundo os autores, os efeitos positivos da adição de
82
cinza volante decorrem da maior capacidade de fixação química de cloretos, devido a grande
quantidade de C3A em sua composição.
Neste ponto, Cheewaket, Jaturapitakkul & Chalee (2010) apresentaram um estudo conduzido
no Golfo da Tailândia, onde foram expostos por 3, 4 e 7 anos, em zona de variação de maré,
corpos de prova de concreto com diferentes substituições percentuais de cimento por cinza
volante. Posteriormente, a concentração de cloretos foi analisada em laboratório. Os autores
concluíram que, de fato, um aumento na quantidade de cinza volante remeteu a uma maior
fixação química de cloretos.
Com relação à sílica ativa, está é um produto passível de ser obtido a partir da manufatura de
ligas ferro-silício. A sílica, por sua vez, tem como propriedade um refinamento de poros do
concreto, reduzindo a penetração dos cloretos (ANGST et al., 2009; SHI et al., 2012;
CAMACHO et al., 2014). Sob esta vertente, Camacho et al. (2014) analisou os efeitos de
diferentes tipos de adições, incluindo a sílica ativa, na penetração de cloretos em corpos de
prova expostos à soluções de cloreto por até 546 dias. Os resultados demonstraram que a alta
atividade pozolânica da sílica ativa, principalmente nas primeiras idades, promoveu um
refinamento na estrutura dos poros do concreto, consequentemente, menores foram as
concentrações de cloreto verificadas nos perfis amostrados, demonstrando os efeitos positivos
do uso da sílica ativa em relação à penetração de cloretos.
O metacaulim, por sua vez, é um produto obtido a partir da calcinação de argilas cauliníticas,
sendo que sua atividade, além de consumir a Portlandita (Ca(OH)2) e refinar a microestrutura
de poros do concreto, aumenta a resistência na zona de interface agregado-matriz, reduzindo,
consequentemente, a penetração de cloretos (SHI et al., 2012, WANG et al., 2014).
Badogiannis & Tsivilis (2009) ressaltam que a substituição parcial do cimento por
metacaulim acaba por reduzir não apenas a permeabilidade de cloretos, mas também a
permeabilidade ao gás e a absorção de água do concreto, através de uma redução no diâmetro
dos poros e um aumento da uniformidade de tamanho dos mesmos.
A escória de alto forno é proveniente do processo de produção do ferro gusa. Os efeitos da
escória de alto forno se manifestam, tanto através de um refinamento da dimensão dos poros,
como do aumento na capacidade de fixação química de cloretos, devido a presença de C3A
em sua composição (ANGST et al., 2009; SHI et al., 2012, MAES & DE BELIE, 2014;
CAMACHO et al., 2014). Sob esta perspectiva Thomas et al. (2008) conduziram um estudo
com a finalidade de determinar a profundidade de penetração de cloretos em blocos de
concreto, com diferentes quantidades percentuais de escória de alto forno, expostos por 25
anos em zona de variação de maré. Os autores concluíram que a penetração de cloretos
83
Pico
Figura 44: Representação esquemática das zonas de convecção e difusão no concreto com a
representação do comportamento de um perfil de concentração de cloretos (Adaptado de
ARYA, VASIE & BIOUBAKHSH, 2014).
Observando a Figura 44, é possível notar a existência de duas zonas: A zona de convecção e a
zona de difusão. Nestas zonas atuam diferentes mecanismos de penetração de cloretos, onde
85
Figura 45: Concentração de perfis identificando a presença de duas zonas no concreto para
diferentes fatores a/c (Adaptado de CASTRO, DE RINCÓN & PAZINI, 2001).
86
Cabe ressaltar que a ação continua dos parâmetros ambientais, principalmente no que diz
respeito à temperatura e ciclos de molhagem e secagem, contribui para a ocorrência do pico
máximo observado ao final da zona de convecção, uma vez que estas ações influem na
capacidade de absorção de cloretos nas camadas superficiais do concreto (ANDRADE, 2001).
Em se tratando de perfis de concentração de cloretos, são apresentados nos parágrafos que
seguem, trabalhos relevantes encontrados na literatura sobre este tema.
Meira et al. (2010) apresentaram os resultados a respeito dos perfis de concentração de cloreto
obtidos em corpos de prova cilíndricos, tomados de corpos de prova prismáticos de concreto,
presentes em zona de atmosfera marinha, a diferentes distâncias do mar, após períodos de
exposição de 6 a 48 meses. Os corpos de prova cilíndricos foram segmentados em partes com
espessura de milímetros, sendo, posteriormente, analisados por titulação potenciométrica. Os
principais resultados da pesquisa mostraram que, quanto maior o tempo de exposição aos
efeitos do aerossol marinho; quanto mais próximo do mar e; quanto maior o fator a/c; maior a
concentração de cloretos evidenciada nos perfis obtidos.
Um dos estudos presentes na literatura que contempla a exposição de estruturas de concreto
em diferentes zonas de agressividade marinha é apresentado por Costa & Appleton (1999).
Neste caso, painéis de concreto foram expostos por períodos de 3 a 5 anos em diferentes
zonas de agressividade marinha, sendo os cloretos totais avaliados a cada 5 mm de
profundidade, por meio de amostras em pó, coletadas por furos executados com uma
furadeira, e analisadas utilizando um eletrodo seletivo de íons cloreto. Os resultados
apontaram que, quanto maior o período de exposição, maior a concentração de íons cloreto ao
longo do perfil amostrado (Figura 46). Além disso, as maiores concentrações de cloretos
foram observadas, nessa ordem, na zona de variação de maré (B), zona de respingo (A) e zona
de variação de nível de água (D) em um estaleiro respectivamente, (Figura 47), confirmando
que as zonas de variação de maré e de respingos são as zonas mais agressivas às estruturas de
concreto armado. Neste estudo, a zona de atmosfera marinha (C) se apresentou como a menos
agressiva aos painéis.
87
Sob a perspectiva de estruturas de concreto presentes em ambiente marinho por décadas, pode
ser citado o estudo de Trocónis de Rincón et al. (2004), onde foram avaliados perfis de
concentração de cloretos, obtidos a partir da ponte sobre o rio Maracaibo, na Venezuela, e
perfis obtidos no Píer de Progresso, no México. Foram analisadas duas datas distintas em cada
uma das estruturas. Na primeira estrutura, os perfis foram obtidos quando a mesma apresentou
idades correspondentes a 33 e 38 anos de construção, ao passo que, a segunda 60 e 64 anos.
88
Segundo Glass & Buenfield (1997), Angst et al. (2009) e Meira et al. (2014) os cloretos são
expressos em relação a massa de cimento, por se tratar de uma metodologia simples e bem
documentada em normas. Além disso, dada a possibilidade de liberação de cloretos fixos, em
função de fatores como a carbonatação, a concentração de cloretos é expressa, em geral, em
termos dos cloretos totais.
Em relação às técnicas de determinação de cloretos, Torres-Luque et al. (2014) elencam a
existência de 11 técnicas disponíveis para determinação de cloretos em laboratório e em
campo, conforme apresentadas na Figura 48. Os processos mais comuns para análise de
cloretos, obtidos a partir de estruturas em campo, lançam mão de técnicas destrutivas, ou seja,
tratam da coleta de amostras a partir de estruturas reais, com a posterior análise em
laboratório e, consequente, digestão química da amostra.
Com relação às técnicas empregadas para a tomada de amostras de estruturas existentes. para
análise quanto à concentrações de cloretos, a RILEM TC 178-TCM (2013) prescreve três
métodos de tomada de amostra:
O método da furadeira;
90
determinação de ambos. Cabe ressaltar que as soluções são preparadas com água destilada
segundo as referidas normas.
Segundo a ASTM C1218 (2008) amostras de 10 gramas em pó de concreto, passantes na
peneira 20, são adicionadas à água, fervidas por 5 minutos e deixadas descansar por 24 horas.
Decorrido este período, a solução é filtrada e 3 + 0,1ml de uma solução de Ácido Nítrico (1:1)
são adicionados. O conjunto é aquecido rapidamente sem, no entanto, permitir a ebulição.
Após, a solução é filtrada e analisada com um eletrodo de íon seletivo de íons cloreto,
segundo preconiza a norma ASTM C114.
A recomendação da RILEM TC 178-TCM (2002) traz um procedimento semelhante ao
procedimento descrito pela ASTM C1218, porém, neste caso, a amostra pulverizada de
concreto tem massa de 5 gramas, sendo colocada na água destilada e agitada mecanicamente.
Posteriormente, 2 ml de Ácido Nítrico P.A. são adicionados. Após, é realizada a titulação
potênciométrica, com uso de uma solução de Nitrato de Prata, para a determinação dos
cloretos livres na solução obtida.
Com relação à determinação dos cloretos totais, a ASTM C1152 (2012) prescreve que
amostras em pó de concreto, de 10 gramas, sejam adicionadas a 75 ml de água destilada e a
25 ml de uma solução de Ácido Nítrico (1:1), até que uma coloração rosa ou vermelha seja
observada. Após, a solução é aquecida rapidamente, evitando a ebulição, e filtrada, sendo
posteriormente titulada com uma solução de Nitrato de Prata.
A recomendação da RILEM TC 178-TCM (2002) traz um procedimento análogo, onde é
utilizado 1 grama de amostra de concreto em pó. São adicionados a esta amostra 50 ml de
uma solução de Ácido Nítrico (1:2), sendo a solução aquecida por um minuto. Após, 5 ml de
Nitrato de Prata 0,05M são adicionados e a solução é aquecida por mais um minuto, sendo
filtrada, posteriormente, em um béquer de 500 ml previamente lavado com uma solução de
Ácido Nítrico (1:100). Vinte gotas de um indicador de Sulfato Férrico Amoniacal
(NH4Fe(SO4)2.12H20) são adicionadas, e a titulação é feita com uma solução de Tiocianato de
Amônia (0,05M NH4SCN), até que uma coloração marrom intenso seja evidenciada e não
desapareça mediante agitação.
Climent et al. (1999) apresenta um trabalho com o objetivo de eliminar a etapa de filtragem da
solução, otimizando assim, as etapas de laboratório para a determinação da concentração de
cloretos através de titulação potenciométrica com uso de Nitrato de Prata. Os resultados
obtidos pelos autores mostraram que a precisão do método proposto é similar aos
procedimentos utilizados em laboratório pelo método Volhard.
92
Face aos modelos de previsão de vida útil presentes na literatura, cabe ressaltar que não é
objetivo deste trabalho apresentar as especificidades de cada modelo, uma vez que estes são
passíveis de serem consultadas na literatura sobre o tema. Desta forma, pretende-se apenas
apresentar uma breve revisão da literatura com as bases para modelos mais refinados, visando
prover informações que fomentem o desenvolvimento de modelos para os dados obtidos neste
trabalho.
Segundo Andrade (2001) face à problemática que a corrosão das armaduras em estruturas de
concreto armado representa, uma ampla gama de pesquisas vem sendo desenvolvida pela
comunidade científica visando modelar o seu comportamento.
Helene (1993) pontua que a Teoria de TUUTTI (1982) estabelece o fundamento dos modelos
de degradação para estruturas de concreto através de um modelo qualitativo que trata da
degradação ocasionada pela corrosão das armaduras, onde o mesmo é subdividido em um
período de iniciação (anterior à despassivação das armaduras), e um período de propagação
(logo após a despassivação das armaduras). Neste sentido, Andrade (2001) apresenta uma
extensa revisão da literatura, contemplando modelos para as etapas de iniciação e de
propagação.
Helene (1997) descreve a evolução dos métodos de análise de durabilidade para estruturas de
concreto como sendo:
Laplace e das Leis de Fick. Os métodos probabilísticos estão pautados na aplicação de teorias
e métodos de probabilidade para lidar com a aleatoriedade de processos naturais envolvidos
na Engenharia como, por exemplo, aqueles que se referem à durabilidade das estruturas de
concreto armado.
Meira (2004) pontua que a maior parte dos estudos em literatura dedica-se ao estudo do
transporte de cloretos por mecanismos de difusão, sendo os modelos de raiz quadrada do
tempo e, aqueles baseados nas Leis de Fick os mais conhecidos. Neste sentido, o modelo de
raiz quadrada do tempo tem suas origens a partir da solução da 2º Lei de Fick, assumindo o
coeficiente de difusão como constante e, independente da concentração de íons cloreto. Desta
forma, partindo da solução da 2º Lei de Fick, apresentada na Equação 7, Guimarães (2000) e
Meira (2004) apresentam o desenvolvimento do modelo baseado na raiz quadrada do tempo
como segue.
Seja:
𝑥
𝐶 (𝑥, 𝑡) = 𝐶𝑠 + (𝐶𝑖 − 𝐶𝑠 ) 𝑒𝑟𝑓𝑐 ( ) (Equação 7)
√4𝑡𝐷
𝐶 (𝑥, 𝑡) = 𝐶𝑥 Equação 13
e;
(𝐶𝑥 − 𝐶𝑠)
) = 𝑒𝑟𝑓 Equação 14
(𝐶𝑖 − 𝐶𝑠
𝐶𝑥 − 𝐶𝑠 𝑥
( ) = 𝑒𝑟𝑓𝑐 ( ) Equação 15
𝐶𝑖 − 𝐶𝑠 √4𝐷𝑡
94
𝐶 −𝐶 𝑥
Como ( 𝐶𝑥− 𝐶𝑠) assume um valor constante para um dado C(x,t), o termo 𝑒𝑟𝑓𝑐 ( )
𝑖 𝑠 √4𝐷𝑡
𝑥
( ) = 𝐾 → x = K 2√𝐷 √𝑡
√4𝐷𝑡
𝑥 = 𝑘𝑐𝑙 √𝑡 Equação 16
Onde:
Guimarães (2000) e Meira (2004) ressaltam que o coeficiente kcl leva em consideração todas
as características do ambiente e do concreto. Assim, tal modelo apresenta-se abrangente,
sendo referência para modelos refinados. Neste ponto, quanto à aplicabilidade do modelo da
raiz quadrada do tempo, podemos citar Guimarães (2000) que utilizou este modelo em
estruturas reais de concreto armado, presentes em diferentes zonas de agressividade marinha.
Ainda tratando da aplicação da solução da Segunda Lei de Fick, Andrade, Sagrera & Sanjuán
(2000) pontuam, em perfis com pico, a necessidade de reposicionar o eixo das concentrações
na profundidade de ocorrência do pico, devido a um efeito pele observado nas camadas mais
externas do concreto, sendo equívoca a extrapolação da concentração superficial para a
superfície do concreto. Desta forma, a Figura 50 apresenta o reposicionamento do eixo das
concentrações.
95
Figura 50: Alteração da posição do eixo das concentrações em perfis com pico (Adaptado de
Andrade, Sagrera & Sanjuán, 2000).
Além destes, outras vertentes de estudo podem ser citadas, como a aplicação de métodos
probabilísticos, onde se destacam Saassouh & Lounis (2012) e Samindi, Samarakoon &
Saelensminde (2015) como exemplos; ou ainda, a aplicação de MEF e MDF para resolver
equações que governam a penetração de cloretos no concreto e, posterior, desenvolvimento de
modelos probabilísticos, onde podem ser citados, como exemplos, Conciatori, Sadouki &
Brühwiler (2008) e Bastigas-Arteaga et al. (2011).
97
5. MATERIAIS E MÉTODOS
5.1 MATERIAIS
Os materiais utilizados neste estudo são corpos de prova extraídos das estruturas de concreto
presentes em diferentes zonas de agressividade marinha, localizadas na Ilha dos Arvoredos –
Guarujá-SP. A saber, foram extraídos 38 corpos de prova cilíndricos, com diâmetro nominal
de 75 mm e comprimentos variáveis, para a determinação dos perfis de concentração de
cloretos e, para a determinação das características dos concretos utilizados na execução destas
estruturas. A Tabela 2 apresenta as estruturas nas quais foram extraídos os corpos de prova,
sua posição em relação à zona de agressividade marinha e a quantidade. A Figura 51
apresenta um mapa geral com os pontos de extração dos corpos de prova.
Figura 51: Mapa geral de extração de corpos de prova (Adaptado de FURTADO, 2009).
Logo após a extração, os corpos de prova foram envoltos por um filme protetor com o
objetivo de protegê-los até a realização de sua moagem. A Figura 52 mostra o conjunto de
corpos de prova após a extração, identificação e envelopamento.
Figura 52: Corpos de prova envoltos por um filme após extração (Foto: CARLOS
BALESTRA, 2015).
O método de extração de corpos de prova foi utilizado tendo em vista que algumas estruturas
apresentavam agregados graúdos de grandes dimensões como, por exemplo, no caso da
estrutura da piscina. Caso o método da furadeira ou da moagem direta da superfície fossem
empregados, haveria o risco de coleta, em uma dada profundidade, de amostras compostas
efetivamente por agregados sem a significativa presença de pasta, o que impossibilitaria a
99
determinação de cloretos nestas amostras. Além disso, algumas estruturas não apresentam
faces planas, o que dificultaria a moagem direta da superfície.
A justificativa para a tomada de corpos de prova a partir das estruturas descritas está
relacionada a três fatores preponderantes. Primeiro, por se tratarem de estruturas executadas a
décadas em concreto, e/ou concreto armado, que são totalmente acessíveis com os
equipamentos de extração de corpos de prova. Em segundo lugar, por estarem isentas de
revestimentos em pedra lavada ou cerâmicos em suas faces voltadas para o mar e, em terceiro
lugar, devido ao posicionamento destas estruturas em diferentes zonas de agressividade
marinha, sem a interferência de obstáculos aos agentes de degradação como, por exemplo, a
presença de árvores, estruturas diversas ou formações rochosas que acabam sendo uma
barreira física ao aerossol marinho ou aos respingos das ondas.
As dimensões geométricas dos corpos de prova extraídos foram determinadas com base em
ensaios de pacometria nas estruturas de concreto armado existentes, onde foram definidas as
posições e o diâmetro das armaduras dos elementos estruturais, permitindo assim, avaliar o
espaçamento entre as mesmas para a tomada de corpos de prova. Desta forma, visando não
causar danos estruturais às armaduras e, consequentemente, preservar a integridade das
estruturas, o diâmetro nominal de 75 milímetros foi adotado para esta pesquisa.
5.2 MÉTODOS
Carbonatação;
Pacometria;
Resistividade elétrica superficial do concreto;
Esclerometria.
Estes ensaios serão descritos e justificados com maior rigor nos itens que seguem.
100
5.2.1.1 Carbonatação
5.2.1.2 Pacometria
Tabela 3: Relação entre a resistividade e grau de corrosão das armaduras segundo a norma da
RILEM TC 154-EMC (2010).
Resistividade do concreto (KΩ.cm) Taxa provável de corrosão
> 100 Desprezível
50 a 100 Baixa
10 a 50 Moderada
< 10 Alta
Neste trabalho foi empregado um equipamento Resipod dotado de quatro pontos de contato,
sendo realizadas medições nas estruturas que são objeto de análise. Na Figura 55 é
apresentada uma imagem ilustrativa do equipamento descrito.
104
Para a realização deste ensaio, a superfície de concreto exposta foi previamente umedecida
para melhorar o fluxo de corrente entre o equipamento e a superfície e, após, as ponteiras do
equipamento foram colocadas sobre a superfície da estrutura de concreto sendo determinada e
registrada a medida de resistividade em planilhas de campo.
5.2.1.4 Esclerometria
Logo após o ensaio de resistividade foram realizadas nas mesmas áreas, sempre que possível,
os ensaios de esclerometria regido pela norma NBR 7584 (2012). Este ensaio tem como
objetivo determinar a resistência superficial do concreto para fornecer um indicativo a
respeito da homogeneidade do concreto empregado nas estruturas em questão.
Neste caso, segundo a NBR 7584 (2012), são determinados dezesseis pontos distribuídos em
uma malha 4x4, sobre a superfície do concreto, espaçados entre centros a no mínimo 30 mm.
A ponteira do esclerômetro é impulsionada sobre a superfície de concreto, onde um sistema
massa mola é acionado e indica o valor correspondente à resistência superficial do concreto,
sendo registrados os dezesseis valores para posterior cálculo do índice esclerométrico. Neste
caso, conforme preconiza a NBR 7584 (2012), foi calculada a média aritmética dos dezesseis
valores obtidos. A partir desta média foram desprezados os valores que diferiam mais de 10%
do valor médio calculado. Com os valores restantes foi calculada uma nova média e uma nova
análise foi realizada até que todos os valores não diferissem mais de 10% do valor médio.
Cabe ressaltar que a norma NBR 7584 (2012) ressalta que este valor médio calculado deve ser
obtido com no mínimo cinco pontos, caso contrário, a área de análise deve ser abandonada.
Este valor médio obtido é denominado como Índice Esclerométrico Médio da Área de Ensaio
(IE), sendo este multiplicado pelo Coeficiente de Correção do Índice Esclerométrico (K =
0,87), obtido a partir da aferição do esclerômetro, resultando no Índice Esclerométrico Efetivo
da área de Ensaio (IEe), sendo este o resultado a ser analisado em cada área.
Para execução deste ensaio nas estruturas de concreto presentes na Ilha dos Arvoredos foi
empregado um esclerômetro modelo Schmidt (Figura 57) previamente aferido, sendo os
resultados registrados em planilhas para posterior cálculo dos índices esclerométricos.
106
Figura 57: Esclerômetro utilizado para ensaio (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 58: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade na estrutura da Escadaria 2
(Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
107
Figura 59: Vista geral das áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria
na Plataforma (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 60: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Pilar 1 da
Plataforma (face direita) (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 61: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Pilar 1 da
Plataforma (face esquerda) (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
108
Figura 62: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Pilar 2 da
Plataforma (face direita) (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 63: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Pilar 2 da
Plataforma (face esquerda) (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 64: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Pilar 2 da
Plataforma (face esquerda) (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
109
Figura 65: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria no Patamar
da Plataforma (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 66: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria na passarela
da Residência (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 67: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade no Farol (faces internas)
(Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
110
Figura 68: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria na Escadaria
1 (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 69: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria na Oficina
(Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 70: Áreas onde foram realizados ensaios de resistividade e esclerometria na Piscina
(Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
111
Figura 71: Localização dos corpos de prova extraídos da Escadaria 2 (Foto: CARLOS
BALESTRA, 2015).
112
Figura 72: Localização dos corpos de prova extraídos dos pilares da plataforma (Foto:
CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 73: Localização dos corpos de prova extraídos da escadaria 1 (Foto: CARLOS
BALESTRA, 2015).
Figura 74: Localização dos corpos de prova extraídos da oficina (Foto: CARLOS
BALESTRA, 2015).
113
Figura 75: Localização dos corpos de prova extraídos da piscina (Foto: CARLOS
BALESTRA, 2015).
Figura 76: Localização dos corpos de prova extraídos do patamar e da laje da plataforma
(Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
Figura 77: Extratora de corpos de prova de concreto e broca de widea (KT SEG, 2016).
Por meio de fixadores metálicos previamente colocados nas estruturas, a base de alumínio da
extratora foi fixada na superfície da estrutura de concreto seguida da colocação do motor com
a broca acoplada.
Para a extração de corpos de prova ser realizada, o resfriamento da broca durante as operações
se fez necessário por meio de água. Desta forma, as águas das chuvas armazenadas em
diferentes pontos da Ilha foram utilizadas. Todavia, cabe salientar que o escoamento da água
através dos tubos se dá por forças gravitacionais e longas distâncias, assim, a pressão da água
disponível nos pontos de saída era baixa. Esta baixa disponibilidade de água levou a um
desgaste acentuado por parte da broca, pois houve um atrito significativo entre a broca e o
concreto durante as operações de extração. A energia para acionamento da extratora foi obtida
a partir de geradores mecânicos de energia presentes na Ilha. A Figura 78 apresenta o
procedimento de operação com a extratora de corpos de prova na escadaria 2.
115
Após a extração dos corpos de prova, os mesmos receberam uma identificação numérica e
foram envoltos por um filme, para evitar o seu contato com o meio externo, conforme
apresentado na Figura 79. Após a extração, todos os pontos de extração foram preenchidos
completamente com concreto conforme indicado na Figura 80.
Figura 79: Envelopamento de corpos de prova após extração (Foto: CARLOS BALESTRA,
2015).
116
eram inferiores a 150 mm, portanto, insuficientes para a tomada de corpos de prova para o
ensaio de compressão uniaxial, por exemplo. Assim, estes corpos de prova foram utilizados
para a análise quanto à concentração de cloretos. Em terceiro lugar, os corpos de prova 6, 7,
14, 34 e 35 foram descartados para análises, pois apresentavam severas falhas de
concretagem, onde foi possível observar uma grande quantidade de vazios ao longo de seu
comprimento.
Para a análise quanto aos perfis de concentração de cloreto, foram obtidas amostras em pó
com profundidades de 2 mm a partir da superfície dos corpos de prova selecionados até a
profundidade de 10 mm. Posteriormente, a moagem prosseguiu aumentando a profundidade
de coleta de amostras em pó para 4 mm até atingir a profundidade de 50 mm no corpo de
prova, conforme apresentado nas Figuras 81 e 82. Esta metodologia de moagem justifica-se
tendo em vista determinar, com maior rigor, as concentrações de cloretos no primeiro
centímetro dos corpos de prova selecionados, região esta sujeita aos ciclos de molhagem e
secagem.
Para a obtenção das amostras em pó, foi desenvolvido um equipamento para fazer a moagem
a seco, a partir da superfície dos corpos de prova, a profundidades de até 50 mm. Neste caso,
foi empregada uma furadeira de bancada acoplada a uma serra copo diamantada com diâmetro
de 75 mm. A saber, a escolha de uma furadeira de bancada acoplada a uma serra copo se deu
em função:
Da baixa rotação do equipamento, o que não leva a uma possível perda de material por
conta da rotação do equipamento (480 rpm);
Da possibilidade de regulagem da profundidade de penetração da serra copo nos
corpos de prova por meio de parafusos, assegurando assim, a precisa moagem das
amostras e;
Pela baixa temperatura decorrente do atrito seco entre a superfície do corpo de prova
com a serra copo no ato da moagem, evitando assim possíveis movimentações dos
cloretos em função de um aumento de temperatura.
Além disso, foi desenvolvido um dispositivo para a coleta do pó, proveniente do processo de
moagem da superfície dos corpos de prova, e um dispositivo para fixação dos mesmos na
furadeira de bancada. Neste caso, foi utilizado um recipiente plástico dotado de um furo com
o diâmetro igual ao diâmetro dos corpos de prova, para a coleta do material após a moagem, e
outro dispositivo em nylon acoplado a uma morsa (para furadeiras de bancada) destinado a
fixação do corpo de prova. Todo este conjunto foi fixado na base móvel da furadeira de
bancada por meio de parafusos, sendo as amostras em pó coletadas a partir do recipiente
119
plástico com uso de pincéis, sendo o recipiente e os pincéis limpos com jatos de ar à cada
coleta de amostras. A Figura 83 apresenta a furadeira utilizada para a obtenção de amostras de
concreto em pó e a Figura 84 apresenta as partes que compõe o equipamento.
Serra copo de 75 mm
Corpo de prova
Recipiente plástico
Figura 84: Partes que compõe o equipamento (Foto: CARLOS BALESTRA, 2016).
120
O corpo de prova é fixado pelo suporte de nylon e travado junto a morsa para
furadeiras de bancada. Após, o corpo de prova fixado recebe o recipiente plástico para
a coleta do material oriundo da moagem;
O conjunto é elevado até que a superfície do corpo de prova ultrapasse 2 mm da
extremidade diamantada da serra copo;
Após, a furadeira é acionada e o corpo de prova é manualmente movimentado contra a
superfície diamantada da serra copo. Desta forma, a medida que ocorre o contato entre
o corpo de prova e a extremidade diamantada da serra copo em movimento, há a
moagem do concreto, onde as partículas em pó, resultantes desta moagem, caem na
parte interna do recipiente plástico;
Após a completa varredura da superfície do corpo de prova, o recipiente contendo o
material moído é retirado, sendo este material coletado, com uso de pincéis,
armazenado, identificado e lacrado em sacos plásticos.
Cabe ressaltar que embora a literatura descreva o seccionamento de corpos de prova com a
utilização de discos diamantados e, posteriormente, a moagem dos trechos segmentados para
análises, conforme mostrado na Figura 86, a espessura e velocidade de rotação do disco de
corte pode representar uma perda de material quando tratam-se de camadas da ordem de
milímetros. Por conta deste fato, foi desenvolvido o equipamento descrito para a realização da
moagem dos corpos de prova nesta pesquisa.
Figura 86: Extração e segmentação com disco diamantado de corpo de prova de concreto
(CHEEWAKET, JATURAPITAKKUL & CHALLE, 2010).
De posse das amostras obtidas a partir dos corpos de prova, estas foram destinadas à ensaios
para a determinação da concentração de cloretos totais em relação a massa de concreto. Para
tanto, os ensaios foram realizados através da técnica de espectroscopia de fluorescência de
Raios-X, tendo em vista ser uma técnica rápida para a determinação da concentração de
cloretos que não envolve a digestão da amostra através da utilização de ácidos e que, além
disso, apresenta uma precisão da ordem de centésimos na expressão de seus resultados. Os
ensaios foram realizados pela Empresa T-Cota Engenharia e Minerais Industriais, localizada
na cidade de Tijucas/SC no mês de setembro de 2016.
A técnica de fluorescência de Raios-X se baseia na medição das intensidades dos raios-X
emitidos pelos elementos que constituem uma amostra quando excitada por elétrons, prótons
ou íons produzidos em aceleradores de partículas ou tubos de Raios-X (MELO JÚNIOR,
2007). A radiação eletromagnética incidente sobre a amostra interage com a mesma podendo
ocorrer absorção, emissão e espalhamento de radiação eletromagnética. Quando os elétrons,
122
das camadas de menor energia do átomo, interagem com fótons com energia na região dos
Raios-X, pode ocorrer a foto ejeção desses elétrons criando-se uma vacância. Para promover a
estabilidade, ocorre imediatamente o preenchimento das vagas eletrônicas por elétrons das
camadas de maior energia. Como resultado, há um excesso de energia no processo, que é
manifestado na forma de emissão de Raios-X característicos de cada átomo presente na
amostra (SANTOS et al., 2013).
Para este ensaio as amostras em pó de concreto foram passadas na peneira com abertura de
malha igual a 0,075mm, para uniformizar o tamanho das partículas a serem analisadas. Após,
cinco gramas deste material passante foi coletado para análise, sendo esta a capacidade
máxima de análise no equipamento em cada porta amostra. Posteriormente, as amostras foram
analisadas através do equipamento de fluorescência de Raios-X da marca PANalytical modelo
Episilon 3, expressando as concentrações de cloretos totais em relação a massa de concreto da
amostra. A Figura 87 mostra uma visão geral do equipamento de fluorescência de Raios-X.
Cabe ressaltar que é possível realizar a análise de até dez amostras simultaneamente neste
equipamento.
Fluorescência de Raios-X. Após o material passante e retido foi coletado e analisado pelas
técnicas de titulação potenciométrica e pelo eletrodo seletivo de íons cloreto respectivamente,
sendo a curva de calibração/correlação obtida apresentada na Figura 88.
Resultado de titulação potenciometrica /
0,45
y = 0,2721x
0,40
R² = 0,9478
0,35
Fluorescência
0,30 (passante) x
0,25 potenciometria/ISE
ISE
(passante + retido)
0,20
0,15 Linear (Fluorescência
(passante) x
0,10 potenciometria/ISE
0,05 (passante + retido))
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00
Resultado de Espectroscopia de Fluorescência de Raios-X (material passante)
De posse das concentrações de cloretos totais em cada amostras dos corpos de prova
selecionados, estas foram corrigidas através da equação apresentada na Figura 89, sendo
portanto, possível construir os perfis de concentração de cloretos totais para as estruturas
localizadas em diferentes zonas de agressividade marinha utilizando o Software Microsoft MS
Excel. Cabe ressaltar que é recomendado realizar uma calibração prévia do equipamento
utilizando amostras de concreto com concentrações de cloreto conhecidas.
Após, construídos os perfis, múltiplas análises foram realizadas. Neste contexto, estes perfis
foram analisados não apenas quanto ao seu posicionamento segundo a zona de agressividade
marinha, no qual as respectivas estruturas se encontram, mas também foram realizadas
análises pormenorizadas de cada estrutura e análises segundo as características do concreto
utilizado na construção das mesmas; modelagens com o objetivo de representar o perfil
amostrado levando em consideração, tanto a zona de convecção, quanto a zona de difusão.
Estas análises serão descritas com maior rigor nos subcapítulos sequentes.
124
Foram realizados ensaios físicos, químicos e mecânicos nos corpos de prova visando
caracterizar as propriedades do concreto das diferentes estruturas presentes na Ilha dos
Arvoredos. Foram realizados ensaios de:
Compressão uniaxial;
Absorção de água por capilaridade;
Porosimetria por intrusão de mercúrio;
Reconstituição de traço.
Figura 89: Ensaio de compressão em corpo de prova (Foto: CARLOS BALESTRA, 2016).
𝑀𝑠𝑎𝑡 − 𝑀𝑠𝑒𝑐𝑎
𝐶= Equação 17
𝑆
Onde:
C = Absorção de água por capilaridade (g/cm²);
Msat = Massa saturada do corpo de prova que permanece com uma das faces em contato com a
água durante o período de tempo especificado (g);
Mseca = Massa do corpo de prova seco (g);
S = Área de seção transversal do corpo de prova (cm²).
Por se tratar de um ensaio não destrutivo, porém um ensaio onde a presença de água poderia
remover os cloretos a partir dos corpos de prova, foram ensaiados corpos de prova diferentes
daqueles encaminhados à determinação dos perfis de concentração de cloretos. Neste caso
foram ensaiados os corpos de prova 2, 3, 9, 15, 22, 28, 32 e 33, sendo que estes pertencem a
estruturas distintas presentes em diferentes zonas de agressividade marinha.
O ensaio de reconstituição de traço tem por objetivo caracterizar o concreto empregado nas
estruturas construídas na Ilha dos Arvoredos. Para tanto, foram enviadas amostras tomadas
dos corpos de prova 8, 21 e 31 para análise nos laboratórios da Empresa Qualify Concretos
localizada no município de Cocal do Sul/SC.
O ensaio de reconstituição de traço se faz necessário, tendo em vista que não foram
encontrados registros acerca do traço utilizado para o concreto executado nas estruturas
pertencentes à Ilha dos Arvoredos. Para tanto, foi empregado o método apresentado no
Boletim nº 25 (1940) do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), a qual consiste de uma
análise quantitativa através do emprego de técnicas analíticas. Neste caso, em termos gerais, a
amostra é atacada por ácido clorídrico (HCl), havendo uma fração insolúvel, constituída pelos
agregados, e uma fração solúvel, constituída pelo aglomerante.
Os perfis de concentração de cloretos, obtidos a partir da análise dos corpos de prova tomados
das estruturas presentes na Ilha dos Arvoredos, foram analisados utilizando a solução da
Segunda Lei de Fick para a difusão apresentada na Equação 7, sendo os dados apresentados
no Apêndice A desta Tese. Para tanto foram analisados os perfis de modo que o eixo das
concentrações foi alterado para a posição do pico, sendo determinados a concentração
128
superficial, para o eixo deslocado, e o coeficiente de difusão que melhor se ajustavam aos
dados obtidos em campo utilizando o Software Microsoft Excel, sendo, portanto, a
concentração superficial igual a concentração no pico do perfil para o eixo deslocado. Além
disso, cabe resslatar que para esta análise a idade das estruturas foi admitida como sendo igual
a 50 anos, uma vez que não foram encontradas informações sobre o exato ano de construção
de cada estrutura em pesquisa realizada junto ao acervo da Fundação Fernando Lee. Após
definidas as concentrações superficiais e o coeficiente de difusão, os modelos também foram
analisados para 100 anos, com vistas a verificar o comportamento dos perfis para as
respectivas idades.
Sabendo que em perfis que apresentam pico há um aumento da concentração de cloretos
desde a superficie até o pico, e sendo a difusão iônica o mecanismo predominante após o pico,
conforme tratado no Capítulo 4. O modelo baseado na solução da Segunda Lei de Fick é
passível de ser aplicado aos dados após o pico. Assim, uma busca por uma nova métrica capaz
de representar as concentrações de cloreto observadas nas camadas mais próximas à
superficie foi realizada utilizando o software de estatística Minitab 16.
Desta forma, buscando modelagens capazes de ajustar os perfis de concentração de cloretos
obtidos a partir dos corpos de prova analisados neste trabalho, contemplando tanto a zona de
convecção, quanto a zona de difusão, foi realizada uma análise através de modelos de
regressão não linear disponíveis no software de estatistica Minitab 16. Assim, os dados
obtidos em campo, para a construção dos perfis de concentração de cloretos, foram aplicados
em diversos modelos de regressão não linear, no referido software de análise estatística, onde
observou-se que o modelo que melhor se ajustava aos dados foi dado através da Equação de
Holliday (“Holliday”) cuja função geral é dada segundo a Equação 18, onde T1, T2, T3 são
coeficientes do modelo e X corresponde, neste caso, à profundidade a partir da superfície do
concreto, em centímetros. A Figura 90 apresenta a janela de onde foi obtida a respectiva
equação no software Minitab 16.
1
C(x,50) = Equação 18
[𝑇1+𝑇2∗(𝑋−𝑇3)2 ]
129
Figura 90: Apresentação da análise de regressão não linear do software Minitab 16 (CARLOS
BALESTRA, 2017).
5.2.7 Armaduras
Foram coletados dois segmentos de armaduras corroídas de um dos pilares da oficina para
fins de caracterização. Tratam-se de armaduras com diâmetro original de 7/8” (11,2 mm)
designadas pelos projetos originais como 50-CA, ou seja, armaduras que apresentam limite de
resistência mínimo igual a 50 MPa (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS – Especificação Brasileira EB-3, 1939). Desta forma, inicialmente as armaduras
foram submetidas a um processo de decapagem química, segundo a norma ASTM G1 (2003),
sendo posteriormente obtidas micrografias por meio de Microscopia Eletrônica de Varredura
(MEV) para constatar a presença de pites de corrosão nestas armaduras. Na sequência, foram
realizados ensaios de tração em dois corpos de prova, segundo a norma NBR 6892 (2013),
admitindo o diâmetro original (11,2 mm) e o diâmetro médio real das armaduras como sendo
7,15 mm, de acordo com 30 medidas executadas com um micrômetro dotado de ponteiras
cônicas, em cada uma das amostras ao longo de seu comprimento. Ensaios de Espectroscopia
de Energia Dispersiva (EDS) a fim de analisar a composição química das armaduras também
foram realizados. A Figura 91 apresenta uma imagem comparativa dos corpos de prova, sendo
um mostrado anterior ao processo de decapagem química e outro após o referido
procedimento. Balestra (2013 e 2016) apresentam uma revisão pormenorizada do processo de
decapagem química e dos efeitos da corrosão por pites nas propriedades mecânicas das
armaduras degradadas naturalmente.
Antes
Após
Figura 91: Comparativo entre segmentos de barras antes e após o procedimento de decapagem
química (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
131
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Em primeiro lugar, deve ser ressaltado que os perfis de concentração de cloretos, obtidos para
cada corpo de prova, são apresentados no Apêndice A desta Tese. Além disso, o Apêndice A
apresenta ainda as modelagens executadas através da solução da Segunda Lei de Fick e
através da Equação de Holliday modificada para levar em consideração a variável tempo. Tal
apresentação inicial se faz necessária, uma vez que os resultados discutidos a partir das
características do concreto foram correlacionados aos perfis apresentados no Apêndice A.
a b
Figura 94: Considerações sobre a zona de agressividade da Escadaria 1: Corpos de prova 20
(a) e 24 (b) - localização, Cmáx e profundidade (Foto: CARLOS BALESTRA, 2017).
a b
Figura 95: Considerações sobre a zona de agressividade da Oficina: Corpos de prova 25, 27
(a) e 29 (b) - localização, Cmáx e profundidade (Foto: CARLOS BALESTRA, 2017).
133
Figura 96: Considerações sobre a zona de agressividade da Piscina: Corpos de prova 30 e 31-
localização, Cmáx e profundidade (Foto: CARLOS BALESTRA, 2017).
X = Zona predominante;
x = Zona atuante dependente da agitação do mar e nível da maré.
136
6.2.1 Carbonatação
Não foram constatadas frentes de carbonatação nas estruturas presentes na Ilha dos
Arvoredos. Em todos os casos, a coloração rosa carmim foi evidenciada logo após a
pulverização da solução de fenolftaleína desde a superfície, conforme exemplificado na
Figura 97, demonstrando que o ataque às armaduras se deu exclusivamente pela ação dos
cloretos presentes no ambiente marinho. Além disso, a hipótese de liberação química de
cloretos, por conta dos efeitos da carbonatação, pode ser descartada, dada a constatação da
alcalinidade do meio.
a b
Figura 97: Coloração rosa carmim durante o ensaio de carbonatação: (a) Pilar da plataforma;
(b) Escadaria 1 (Foto: CARLOS BALESTRA, 2015).
6.2.2 Pacometria
O ensaio de pacometria visa determinar a posição das armaduras nas estruturas de concreto.
Todavia, também é possível determinar a espessura da camada de cobrimento nas estruturas
presentes na Ilha dos Arvoredos, visando verificar se as mesmas atendem à requisitos
normativos de construção quanto ao respeito à espessura desta camada. Neste sentido, os
valores de cobrimento médio encontrados nas diferentes estruturas analisadas são
apresentados na Tabela 5.
137
Tabela 5: Espessura média de cobrimento das estruturas presentes na Ilha dos Arvoredos.
Estrutura Espessura média de cobrimento (mm)
Plataforma (laje e pilares) 27,00
Piscina *
Oficina 31,00
Plataforma (patamar) *
Escadaria 1 28,00
Escadaria 2 **
* Não foram observadas armaduras em aço carbono até a profundidade de 150 mm nos
pontos analisados (Limite de detecção do aparelho).
** Não foi possível a realização do ensaio de pacometria por conta da grande
irregularidade observada na superfície da estrutura degradada.
A norma NBR 6118 (1978) ressalta em seu texto que a espessura da camada de cobrimento
para concretos presentes em meios fortemente agressivos deve ser, no mínimo, igual a 40 mm,
ao passo que, de forma mais recente, a NBR 6118 (2014) pontua que estruturas presentes em
ambiente marinho pertencem às classes III e IV de agressividade. Neste caso, a norma
prescreve que vigas e pilares executados em concreto armado devem apresentar cobrimento
nominal mínimo igual a 40 e 50 mm para as classes III e IV respectivamente.
Comparando os valores médios obtidos no ensaio de pacometria, com os valores prescritos
por ambas as normas supracitadas, é possível inferir que, em média, os valores de cobrimento
nominal não atendem às especificações normativas, sendo insuficientes para proteção física
das armaduras sob uma perspectiva da corrosão em ambiente marinho.
40,00
Indice Esclerométrico Efetivo
35,00
30,00
25,00
Médio
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
Figura 98: Índice esclerométrico efetivo médio nas diferentes zonas de agressividade marinha.
141
60,00
Resistividade Elétrica Superfícial Média (KΩ.cm)
55,00
50,00
45,00
40,00
35,00
30,00
25,00
20,00
15,00
10,00
5,00
0,00
Zona de Variação de Maré Zona de Respingos Zona de Atmosfera Marinha
Figura 99: Resistividade elétrica superficial média nas diferentes zonas de agressividade
marinha.
Para as estruturas presentes na zona de respingos pode ser aplicada a mesma recomendação
descrita para as estruturas presentes em zona de variação de maré, tendo em vista a baixa
resistividade média também encontrada nas estruturas presentes nesta zona. Para ambos os
casos é possível pontuar a contribuição da água presentes nos poros do concreto. Neste caso,
as estruturas presentes em zona de variação de maré e em zona de respingos estão, com
frequência, com água presente em seus poros. Isto contribui para aumentar o fluxo iônico e,
consequentemente, abaixar a resistividade elétrica superficial do concreto.
Observando a resistividade elétrica superficial média das estruturas presentes em zona de
atmosfera marinha, é possível notar uma grande diferença em relação aos valores encontrados
para as estruturas presentes em outras zonas. Neste caso, vale ressaltar que analisando os
valores absolutos de resistividade elétrica superficial, apresentados em estruturas presentes em
zona de atmosfera marinha, é possível notar que, em linhas gerais, os valores obtidos são
superiores aos valores obtidos para as estruturas presentes nas demais zonas.
A partir do estado de degradação das estruturas de concreto e dos valores de resistividade
elétrica superficial, obtidos em cada área objeto de estudo, é possível realizar uma análise
com o objetivo de propor valores de resistividade elétrica superficial do concreto, para
estruturas presentes a mais de 30 anos em ambiente marinho, que se correlacionem com a
provável taxa de corrosão das armaduras, onde é possível propor mais uma categoria de
agressividade segundo a provável taxa de corrosão.
Observando as áreas 1, 2, 3 e 4, pertencentes à Escadaria 2, é possível observar que a estrutura
apresentou valores de resistividade entre 15,40 e 2,30 KΩ.cm, sendo esta uma estrutura
comprometida estruturalmente pela severa corrosão de suas armaduras. As áreas identificadas
como 9, 10, 16 e 35, pertencentes aos pilares da Plataforma, apresentaram valores de
resistividade entre 10,50 e 18,10 KΩ.cm, sendo que pontos de corrosão de armaduras foram
evidenciados na superfície destes pilares, mostrando o severo estado de corrosão das
armaduras destas estruturas. As áreas 56 e 57, pertencente à Escadaria 1, apresentaram valores
de resistividade elétrica superficial iguais a 13,60 e 6,70 KΩ.cm respectivamente, sendo
observada intensa corrosão de suas armaduras com lascamento da camada de cobrimento. As
áreas 65 a 67, pertencentes à Oficina, apresentaram valores de resistividade entre 14,50 e
18,30 KΩ.cm, sendo que esta estrutura apresenta riscos iminentes de colapso estrutural por
conta da corrosão de suas armaduras, conforme abordado no Capítulo 2. A partir destes dados,
é possível inferir que para estruturas presentes em ambiente marinho a mais de 30 anos,
valores de resistividade elétrica superficial inferiores a 20 KΩ.cm apresentam uma alta taxa
de probabilidade de corrosão de suas armaduras. Além disso, as estruturas cujo valor de
143
resistividade elétrica superficial obtido foi inferior a 15 KΩ.cm apresentaram severos danos
decorrentes da corrosão, incluindo estruturas com riscos de colapsos iminentes.
No caso de estruturas que apresentaram valores de resistividade entre 20 e 55 KΩ.cm, a
corrosão foi observada em algumas estruturas como, por exemplo, nas áreas 38 e 39,
pertencentes à Plataforma; áreas 45, 46 e 47 pertencentes a Passarela da Residência; áreas 59
a 62 pertencentes à Escadaria 1; e as áreas 69 a 71 pertencentes à Oficina. Em contrapartida, a
corrosão não foi observada, em inspeção visual a partir da superfície, por exemplo, nas áreas
11 a 15 e 17 a 20 do pilar 1 da Plataforma; áreas 22 a 26 e 29 a 34 do pilar 2 da Plataforma;
áreas 36 a 40 do pilar 3 da Plataforma; e áreas 52, 59, 61 e 62 da escadaria 1. Desta forma, é
possível concluir que para valores de resistividade elétrica superficial contidos entre 20 a 55
KΩ.cm, há uma probabilidade mediana de ocorrer a corrosão das armaduras.
Para valores entre 55 e 80 KΩ.cm temos apenas as áreas 44, 60 e 63, sendo o primeiro
pertencente à Passarela da Residência e os dois últimos pertencentes à Escadaria 1. Neste
caso, embora sejam poucos os pontos de análise, a corrosão foi observada apenas na área 44,
indicando assim uma baixa probabilidade de corrosão. Ao passo que, as estruturas que
apresentaram valores de resistividade elétrica superficial superiores a 80 KΩ.cm não
apresentaram corrosão de suas armaduras, como nos pontos 55 e 58 pertencentes à Escadaria
1 e os pontos 48 a 51 pertencentes à estrutura do Farol da Ilha, indicando um risco desprezível
quanto à corrosão das armaduras.
Em suma, é possível, a partir de uma análise do estado de degradação das estruturas de
concreto presentes na Ilha dos Arvoredos, propor valores que tratem da probabilidade de risco
de corrosão em estruturas presentes em ambiente marinho a mais de 30 anos segundo as
medidas de resistividade elétrica superficial. Neste ponto, a Tabela 7 apresenta uma proposta
de valores de resistividade, baseado no estado de degradação das estruturas encontradas na
Ilha dos Arvoredos, em conjunto com os parâmetros descritos pela RILEM TC 154-EMC
(2010), onde é possível observar que, de maneira geral, os valores propostos neste trabalho se
aproximam dos valores prescritos pela RILEM TC 154-EMC (2010), sendo inserida mais uma
categoria de agressividade.
Cabe salientar que são necessários maiores estudos em campo e, sob diferentes condições,
para validar/ajustar os valores propostos.
144
Tabela 7: Relação proposta entre a resistividade e a taxa provável de corrosão das armaduras
em estruturas presentes em ambiente marinho.
Proposta de valores de RILEM TC Taxa provável de
Resistividade do 154-EMC corrosão
concreto (KΩ.cm) (2010) (KΩ.cm)
> 80 >100 Desprezível
55 a 80 50 a 100 Baixa
20 a 55 10 a 50 Moderada
15 a 20 < 10 Alta
< 15 - Muito Alta
Resistência à compressão;
Absorção de água por capilaridade;
Porosidade;
Consumo de cimento e;
Reconstituição de traço.
Além disso, a Tabela 8 apresenta ainda informações complementares de cada corpo de prova
como:
Escada Escada Escada Escada Escada Escada Escada platafo platafo platafo platafo platafo platafo platafo platafo platafo platafo platafo platafo platafo platafo platafo Escada Escada Escada Escada Escada Escada Oficin Oficin Oficin Oficin Oficin Piscin Piscin Piscin Patam Patam Patam Patam Patam Platafo
Estrutura
ria 2 ria 2 ria 2 ria 2 ria 2 ria 2 ria 2 rma rma rma rma rma rma rma rma rma rma rma rma rma rma rma ria 1 ria 1 ria 1 ria 1 ria 1 ria 1 a a a a a a a a ar ar ar ar ar rma
ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZR/ZA ZVM/ ZVM/ ZVM/ ZVM/ ZVM/ ZVM/ ZVM/ ZVM/
Zona de agressividade ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM ZATM
TM TM TM TM TM TM TM TM TM TM TM TM TM TM TM TM ZR ZR ZR ZR ZR ZR ZR ZR
Pintura N N N N N N N S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S S N N N N N N N N N N N N N S
Frente de carbonatação (mm) 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
Camada de cobrimento (mm) * * * * * * * 27,00 27,00 27,00 27,00 27,00 27,00 27,00 27,00 27,00 27,00 27,00 27,00 27,00 27,00 27,00 28,00 28,00 28,00 28,00 28,00 28,00 31,00 31,00 31,00 31,00 31,00 * * * * * * * * 27,00
Resistividade (KΩ.cm) 2,30 2,30 2,30 2,30 2,30 2,30 2,30 10,50 18,10 14,10 47,80 20,50 19,80 21,90 30,80 30,80 30,80 30,80 * 15,00 * 27,30 * 36,20 13,60 30,20 27,00 27,00 15,40 14,50 14,50 20,20 20,20 6,30 1,30 1,30 2,50 2,50 2,50 2,50 2,50 12,60
Indice esclerométrico efetivo * * * * * * * 43,80 46,80 47,70 47,10 49,00 43,40 43,90 37,20 37,20 37,20 37,20 * 39,30 * 40,60 * 26,60 27,60 35,30 32,00 32,00 41,30 40,40 40,40 38,70 38,70 34,00 29,80 29,80 43,80 43,80 43,80 43,80 43,80 39,80
Resist. à compressão (MPa) * * * 31,95 25,30 * * * * * 45,70 45,70 9,56 * * * * * 33,08 33,08 * * 16,31 * * * 11,71 * * 9,87 * * * * * 21,58 10,67 * * * * *
Porosidade
Poros interligados
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * 8,06 8,06 * * 12,50 * * * * * * * * * 5,55 * * * * * * *
(%)
Reconst. de traço
Relação aglomerante 1- 1- 1- 1-
* * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * * *
- agregado 2.69 2.69 4,69 1.91
C pico (%) 1,03 * * * * * * 0,29 0,29 * 0,68 0,33 0,38 0,12 * * * * 0,16 0,16 0,48 0,22 * 0,47 * * * 1,05 0,8 * 0,72 * 1,41 1,03 * * * * * 1,87 1,66 0,21
Perfis de concent. de
cloretos
Profundidade pico 7 * * * * * * 12 16 * 24 24 5 16 * * * * 20 12 24 16 * 12 * * * 7 12 * 9 * 12 12 * * * * * 7 7 24
(mm)
Legenda: dir. = Direito; esq. = Esquerdo; ZATM = Zona de atmosfera marinha; ZR = Zona de respingos; ZVM = Zona de variação de maré;
N = não; S = sim.
146
A resistência à compressão uniaxial foi determinada nos corpos de prova 4, 5, 10, 11, 17, 19,
23, 26, 32 e 33 conforme apresentado na Tabela 8. As Figuras 100 a 102 apresentam os
valores de resistência máxima obtida para cada corpo de prova, assim como a estrutura nas
quais estes foram obtidos.
Escadaria 1
Piscina
Escadaria 2 Oficina
Plataforma
Patamar
CP10 → fc = 45,70 MPa
A partir dos dados apresentados na Tabela 8 e das Figuras 101 a 103 é possível observar uma
grande variação na resistência apresentada pelos corpos de prova ensaiados à compressão
uniaxial. De maneira geral, a partir dos resultados obtidos, é possível pontuar que as estruturas
da Escadaria 2, Piscina e Plataforma tiveram um melhor controle tecnológico do concreto,
atingindo valores de resistência superiores comparados à outras estruturas como, por exemplo,
a Escadaria 1 e a Oficina. Cabe ressaltar aqui que o corpo de prova CP 11 apresentava um
nicho de concretagem, por esta razão, observa-se sua resistência em descompasso com a
resistência dos corpos de prova 10 e 17. Neste ponto observa-se, a partir da Tabela 8, que a
análise de porosidade e de reconstituição de traço executados na Escadaria 1, através dos
corpos de prova 20 e 21, levam a concluir que um baixo consumo de cimento leva a maior
porosidade capilar, corroborando para o baixo valor de resistência à compressão dos corpos
de prova desta estrutura.
Ainda tratando sobre o controle tecnológico, destaca-se o desempenho do corpo de prova CP
32 que é proveniente de uma estrutura presente em zona de variação de maré. Neste caso,
mesmo sendo um local de difícil acesso para execução de serviços de concretagem, sua
resistência atingiu valores superiores aos obtidos para estruturas de melhor acessibilidade para
a execução de serviços de concretagem, como por exemplo, a Escadaria 1 e a Oficina. Aqui,
em contrapartida ao que foi observado na Escadaria 1, o maior consumo de cimento, através
da análise do corpo de prova 31, remetem a uma menor porosidade capilar e,
consequentemente, a uma maior resistência à compressão em comparação às resistências
obtidas dos corpos de prova provenientes da Escadaria 1.
148
Para o ensaio de absorção de água por capilaridade foram ensaiados os corpos de prova 2, 3,
9, 15, 22, 28, 32, 33 conforme prescreve a norma NBR 9779 (2012), onde, neste caso, a massa
dos corpos de prova foi determinada a intervalos de tempo estabelecidos pela referida norma.
A Tabela 8 apresenta os resultados obtidos quanto à absorção de água por capilaridade, em
gramas por centímetro quadrado, calculada a partir destes corpos de prova, assim como, a
Figura 103 apresenta os dados referentes à evolução da absorção de água por capilaridade.
Cabe ressaltar que os corpos de prova ensaiados foram escolhidos tendo em vista buscar
analisar todas as estruturas que são objeto de estudo nesta Tese.
1,60
Absorção de água por capilaridade
1,40 CP 33
y = 0,1981ln(x) + 0,1053
R² = 0,9929 CP 28
1,20 y = 0,3224ln(x) + 0,0638
R² = 0,9913 CP 22
1,00
CP 32
(g/cm²)
0,80 CP 2
0,60 CP 9
CP 3
0,40 y = 0,1042ln(x) + 0,0479 CP 15
R² = 0,9939
0,20 Logaritmo (CP 28)
Logaritmo (CP 3)
0,00
0 10 20 30 40 50 60 70 80 Logaritmo (CP 15)
Horário (h)
Figura 103: Evolução da absorção de água por capilaridade de corpos de prova de diferentes
estruturas presentes na Ilha dos Arvoredos.
149
Observa-se uma diferença significativa entre os valores de absorção de água por capilaridade
obtidos para os corpos de prova 9 e 15, pertencentes à mesma estrutura, onde o segundo
apresentou valores de absorção de água por capilaridade superiores em relação ao primeiro
para todos os horários de ensaio. Tal fato, leva a considerar que durante os ciclos de
molhagem, como o corpo de prova 15 absorve maior quantidade de água a partir de sua
superfície, maior será a quantidade de cloretos que penetra o concreto e, consequentemente,
maiores serão as concentrações de cloretos observadas em seu perfil em comparação ao corpo
de prova 9, mesmo ambos estando presentes na mesma zona de agressividade marinha e,
sendo pertencentes à mesma estrutura.
Observa-se ainda, a partir dos dados obtidos e apresentados na Tabela 8 e na Figura 103, que
a absorção capilar dos corpos de prova aumenta, progressivamente para todos os casos, a
medida que o tempo em que os corpos de prova permanecem parcialmente submersos no
ensaio aumenta, seguindo uma função logarítmica, conforme exemplificado nos corpos de
prova 3, 15 e 28. Embora esta tendência de equação se mantenha para todos os casos, não é
possível observar uma tendência de comportamento segundo a zona de agressividade nas
quais as estruturas se encontram, uma vez que os concretos utilizados na execução das
estruturas apresentam diferenças quanto às suas características como, por exemplo, em
relação a sua porosidade e consumo de cimento. Tal fato pode ser observado a partir, por
exemplo, dos corpos de prova 32 e 15, pertencentes à estrutura da Piscina
(predominantemente em zona de variação de maré) e da Plataforma (predominantemente em
zona de atmosfera marinha), e 2 e 22, pertencentes à estrutura da Escadaria 2
(predominantemente em zona de respingos) e Escadaria 1 (predominantemente em zona de
atmosfera marinha), onde tratam-se de estruturas presentes em distintas zonas de
agressividade marinha, porém que apresentaram valores de absorção de água por capilaridade
próximos, ou até coincidentes, entre si.
Em outras palavras, sob esta perspectiva, é possível pontuar que a capacidade de absorver
água por capilaridade, durante ciclos de molhagem, é dependente das propriedades do
concreto e independente da zona de agressividade marinha, uma vez que, mesmo estando em
diferentes zonas de agressividade marinha, os valores de absorção de água por capilaridade
foram semelhantes/coincidentes entre os pares de corpos de prova supracitados.
150
Para a análise de porosimetria por intrusão de mercúrio foram selecionadas partes dos corpos
de prova 18, 21 e 31. O resumo das propriedades analisadas é apresentado na Tabela 9, ao
passo que as Figuras 104 a 106 apresentam a determinação do Diâmetro Critico dos Poros
(Dcrit.), apresentado na Tabela 8, de cada corpo de prova e a ocorrência de diâmetros dos
poros, segundo a intrusão de mercúrio, é apresentada e comparada na Figura 108.
Em uma análise, a partir da Tabela 8 e das Figuras 104 a 107, é possível observar que a
amostra tomada do corpo de prova 31 apresentou a maior porosidade total em comparação aos
demais corpos de prova e, a partir dos gráficos apresentados, observa-se que a maior parte dos
poros deste corpo de prova encontra-se na faixa de 0,1 a 0,01 μm, sendo que a maior parcela
apresenta diâmetro menor em relação ao Diâmetro Critico de Poros deste corpo de prova. O
corpo de prova 21, por sua vez, apresenta poros com maior diâmetro, entre 10 e 1 μm, e o
corpo de prova 18 apresenta uma distribuição de poros sem que haja uma faixa de diâmetro de
152
grande destaque em comparação com os demais, entretanto, em ambos, a maior parcela dos
poros observados apresenta diâmetro maior em relação ao Diâmetro Critico de Poros
determinado em cada um. Desta forma, fazendo uma análise a partir do percentual de volume
acumulado de poros mais interligados em relação ao volume total de poros é possível concluir
que o corpo de prova 31 apresenta uma estrutura de poros mais refinada em relação aos
corpos de prova 18 e 21, dificultando assim, a mobilidade de cloretos no interior do concreto.
Segundo Meng (1994) poros com diâmetros superiores a 0,1 μm contribuem para o transporte
de massa através de mecanismos de permeabilidade, capilaridade e difusão, ao passo que,
poros menores influem apenas no processo de difusão iônica. Assim, segundo os dados
obtidos, o corpo de prova 31 apresenta a maior porosidade percentual com uma grande
ocorrência de poros com diâmetros inferiores a 0,1 μm contribuindo, portanto, para o ingresso
de cloretos através do mecanismo de difusão. Tal fato, aliado a evidencia de uma estrutura de
poros com o menor valor percentual de volume acumulado de poros mais interligados em
relação ao volume total de poros, auxiliam a explicar a forma do perfil de concentração de
cloretos obtido, com pouca variação de concentração à medida que a profundidade no
concreto aumenta, não sendo bem definidas as zonas de convecção e difusão e o pico no
perfil.
Em análise do corpo de prova 21, que advém de uma estrutura presente em zona de atmosfera
marinha, observa-se uma maior ocorrência de poros com diâmetro superior a 1µm. Neste
ponto, embora este corpo de prova apresente o menor Diâmetro Critico de Poros, sua relação
entre o volume acumulado de poros mais interligados em relação ao volume total de poros,
conduz a maior relação percentual entre os corpos de prova analisados, indicando que não há
um refinamento da estrutura de poros em comparação com os demais. Tais fatos vêm de
encontro ao baixo consumo de cimento evidenciado nesta estrutura e as baixas resistências
observadas no ensaio de compressão. Além disso, observando a concentração de cloretos no
pico dos corpos de prova 20 e 24 provenientes da mesma estrutura, é possível observar um
elevado valor com uma grande evolução desde a superfície até o final da zona de convecção,
mesmo estando em uma zona de atmosfera marinha.
Outro ponto que deve ser ressaltado trata que o corpo de 21 apresenta poros com diâmetro
superior a 0,1 μm, favorecendo a existência dos mecanismos de absorção capilar e difusão em
concordância com Meng (1994) e, por conta disso, observa-se um comportamento bem
delimitado entre a zona de convecção e de difusão nos perfis evidenciados dos corpos de
prova da mesma estrutura.
153
O corpo de prova 18 apresentou a menor porosidade total não sendo observada a ocorrência
de poros dentro de uma faixa de diâmetros notável conforme foi observado para os corpos de
prova 21 e 31. Neste ponto, a menor concentração de cloretos analisada nos picos dos perfis,
tanto à sua esquerda quanto à sua direita, foi verificada, evidenciando a influência da
porosidade neste contexto e concordando com a literatura pesquisada como, por exemplo,
Castro, De Rincón e Pazini (2001) e Meira et al. (2008 e 2010).
perfil de concentração de cloretos que apresente pouca variação nas concentrações de cloreto
à medida que a profundidade em relação à superfície aumente.
Cabe ressaltar que em pesquisa ao acervo de projetos da Fundação Fernando Lee, não foram
encontrados documentos ou informações a respeito dos possíveis tipos de cimento e adições
que foram utilizados na época de execução das estruturas. Desta forma, uma análise
pormenorizada acerca dos efeitos das fases aluminato do cimento e de adições utilizadas não
pode ser realizada nesta Tese.
Nos subcapítulos que seguem são apresentadas as análises pertinentes aos perfis de
concentração de cloretos, obtidos a partir de corpos de prova tomados de estruturas presentes
predominantemente em diferentes zonas de agressividade marinha, pertencentes à Ilha dos
Arvoredos – Guarujá/SP. Neste sentido, o Apêndice A deste trabalho apresenta as fichas
cadastrais para cada corpo de prova analisado contendo:
Sua identificação;
A estrutura de origem;
A zona de agressividade onde a estrutura se encontra;
Uma imagem com a localização do ponto de tomada do corpo de prova;
Uma tabela com os valores obtidos acerca da concentração de cloretos, em relação à
massa de concreto, para cada profundidade analisada e;
Um gráfico apresentando o perfil de concentração de cloretos para cada respectivo
corpo de prova.
Foram analisados os corpos de prova 1, 8, 10, 11, 12, 17, 18, 20, 24, 25, 27, 29, 30, 31, 36, 37
e 38. Neste sentido, conforme apresentado anteriormente, os corpos de prova 30 e 31, são
provenientes de uma estrutura presente predominantemente em zona de variação de maré, ao
passo que os corpos de prova 1, 36 e 37 pertencem à estruturas localizadas
predominantemente em zona de respingos e os demais corpos de prova pertencem à estruturas
predominantemente em zona de atmosfera marinha.
O Apêndice A apresenta ainda os modelos ajustados aos dados, considerando a idade de 50 e
100 anos, obtidos a partir da solução da Segunda Lei de Fick e através da Equação de
Holliday, utilizando o software de tratamento estatístico Minitab 16. No caso das análises a
155
partir da Solução da Segunda Lei de Fick, o eixo das concentrações foi deslocado para a
posição do pico, sendo ajustados os valores da concentração superficial e do coeficiente de
difusão a partir do eixo deslocado.
Cabe ainda uma consideração acerca da técnica de Espectroscopia de Fluorescência de Raios-
X na determinação da concentração de cloretos em amostras de concreto. Esta trata-se de uma
técnica que não envolve a digestão química da amostra em pó e que permite a análise
simultânea de até 10 amostras, em um tempo estimado de 15 minutos com o equipamento
utilizado nesta Tese. Todavia, a calibração do equipamento se faz uma etapa importante antes
do início dos ensaios para a determinação da concentração de cloretos em amostras de
concreto.
Tomando como base o limite normativo prescrito para desencadear o processo corrosivo das
armaduras igual a 0,05% em relação à massa de concreto, segundo o Comité Euro-
Internacional du Béton em seu Bulletin nº 183 (1992), apresentado na Tabela 1, é possível
inferir que todas as estruturas, independentemente da zona de agressividade no qual se
encontram, apresentaram concentrações com valor superior ao limite descrito para
profundidades de análise (5 centímetros). Tal fato vem de encontro ao severo estado de
degradação das estruturas construídas na Ilha dos Arvoredos por conta da corrosão das
armaduras, demonstrando assim a agressividade do ambiente marinho nas diferentes zonas
nas quais as estruturas podem estar presentes.
Através de uma análise dos perfis de concentração de cloretos, apresentados no Apêndice A, é
possível observar que as maiores concentrações foram observadas em corpos de prova
presentes predominantemente em zonas de variação de maré e respingo. Neste aspecto, os
corpos de prova 36 e 37, provenientes do Patamar, ganham destaque, uma vez que
concentrações de cloreto superiores a 1,5% em relação à massa de concreto foram observadas
em ambos. Neste ponto, deve ser feita uma ressalva quanto as estruturas do Patamar e da
Escadaria 2, uma vez que as fissuras e vazios observadas no concreto destas estruturas
contribui para que sejam observadas elevadas concentrações em seus perfis. Neste ponto, o
corpo de prova 1 (Escadaria 2) apresenta concentrações de cloretos, entre 2 e 3 centímetros de
profundidade, superiores ao que era esperado, possivelmente por conta de fissuras verticais,
fazendo com que cloretos depositados na face superior da estrutura penetrem o concreto e
acabem por interferir no comportamento do perfil.
156
2,00
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,80
1,60
1,40 CP 30
1,20
CP 31
1,00
Cp 36
0,80
CP 37
0,60
0,40 CP 1
Profundidade (cm)
uma vez que esta estrutura terá maior período de secagem em relação à estrutura da Piscina.
Assim, como a absorção de água é um fenômeno que ocorre a taxas rápidas e a secagem é um
processo mais lento em comparação à absorção (Arya, Vassie & Bioubakhsh, 2014), justifica-
se que os ciclos de molhagem e secagem sejam mais acentuados para estruturas próximas ao
limite alcançado pela maré alta, como no caso do Patamar e, por conta disso, altas
concentrações de cloretos, principalmente nas camadas mais próximas à superfície, sejam
verificadas. Desta forma, é possível concluir que estruturas mais próximas ao nível máximo
alcançado pela maré estão sujeitas a um maior ingresso de cloretos frente às estruturas
presentes em uma cota inferior.
Em se tratando de estruturas presentes predominantemente em zona de atmosfera marinha
temos a Plataforma, a Escadaria 1 e a Oficina, sendo que foram observadas diferentes
concentrações de cloretos a partir dos perfis obtidos para os corpos de prova tomados de cada
uma destas estruturas. Neste caso, em primeiro lugar, cabe ressaltar que a estrutura da
Plataforma apresenta camadas de revestimento em sua superfície (pintura). Estas camadas de
revestimento acabam restringindo a deposição de cloretos diretamente sobre a superfície do
concreto da mesma e afetam os ciclos de molhagem e secagem, razão pela qual observa-se, de
maneira geral, uma menor concentração de cloretos em seus perfis em relação à outros perfis
de estruturas presentes predominantemente em zona de atmosfera marinha. Desta forma, é
possível concluir que a adoção de camadas de pintura, sobre a superfície de estruturas de
concreto, contribui para restringir a penetração de cloretos para o interior do concreto.
Medeiros (2008) apresenta, em sua Tese de Doutorado, os efeitos de diferentes proteções
superficiais na penetração de cloretos em estruturas de concreto, onde a adoção de camadas de
revestimento, de fato, reduz o ingresso de cloretos no concreto, porém não evitam
completamente sua entrada.
Além disso, segundo os perfis obtidos na estrutura da Plataforma é possível identificar a
presença de zonas de atmosfera marinha com níveis distintos de agressividade devido ao
aerossol marinho. Neste ponto, o corpo de prova 38 tomado da parte superior desta estrutura
apresentou as menores concentrações de cloretos em relação à corpos de prova provenientes
dos pilares da Plataforma. Tal fato indica que seu ponto recebe uma menor deposição de
cloretos do aerossol marinho, em concordância com a literatura sobre os efeitos altimétricos.
Continuando nesta análise, as concentrações observadas em corpos de prova presentes nos
pilares da Plataforma mostram, segundo os corpos de prova 10 e 18 (face direita dos pilares 1
e 3), que há maior deposição de cloretos nas faces à direita dos pilares, demonstrando que a
158
maior contribuição do aerossol marinho é direcionado às faces à direita desta estrutura. Neste
ponto, cabe ressaltar que as análises, em alguns corpos de prova da Plataforma, foram feita a
partir de suas faces direita e esquerda. Neste sentido, as referências “direita” e “esquerda” nos
corpos de prova estão relacionadas a quem olha a plataforma a partir do mar (Figura 109).
Cabe ressaltar que no pilar 2 as análises foram feitas à direita, pois a estrutura não foi
transpassada no ato de extração de corpos de prova.
Figura 109: Representação das faces direita e esquerda dos pilares da Plataforma.
Em análise a partir dos corpos de prova 8 e 17, tomados dos pilares 1 e 3 respectivamente,
foram observados perfis de concentração de cloretos menores em relação aos corpos de prova
10 e 18 tomados respectivamente dos mesmos pilares porém a uma cota superior,
demonstrando haver dois distintos níveis de agressividade. Neste ponto, é possível inferir que
devido às formações rochosas e elementos estruturais presentes nas proximidades do ponto de
coleta dos corpos de prova 8 e 17, estes se encontram em zona de atmosfera marinha, porém
protegida por estes obstáculos ao aerossol marinho e, por esta razão, as concentrações
evidenciadas em seus perfis são menores em relação à corpos de prova obtidos em uma cota
superior.
Ainda neste tocante, o corpo de prova 12 foi tomado em uma cota superior ao corpo de prova
10 e 18, uma vez que a formação rochosa onde o pilar 2 foi construído permitiu acesso para
extração deste corpo de prova. Neste caso, observa-se que seu perfil apresenta concentrações
um pouco menores em relações em relação aos corpos de prova 10 e 18 (face esquerda),
demonstrando que a partir de sua cota a deposição de cloretos proveniente do aerossol
159
Figura 110: Níveis de agressividade em zona de atmosfera marinha segundo perfis obtidos na
estrutura da Plataforma.
A Figura 111 apresenta uma consolidação dos perfis de concentração de cloretos obtidos para
a estrutura da Plataforma com vistas a suportar as análises supracitadas, onde observamos que
acima de uma concentração de 0,3%, têm-se o predomínio dos corpos de prova presentes em
zona de atmosfera marinha de maior agressividade. Além disso, observa-se que a
concentração critica de cloretos (Ccl Critica) supera o valor descrito pelo CEB-FIB nº 183
(1992) mesmo para profundidades de até 5 centímetros.
160
0,80
0,60 CP 8 dir
CP 10 esq
0,50 CP 10 dir
CP 11
0,40
CP 12
0,30 CP 17 esq
CP 17 dir
0,20 CP 18 esq
CP 18 dir
0,10
CP 38
0,00 Ccl Critica
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Fazendo uma análise a partir dos perfis apresentados por ambos os lados dos corpos de prova
8 e 17, é possível observar que os valores encontrados para as concentrações de cloretos
foram próximos em todos os pontos até a profundidade de análise (50 mm), sendo que estes
corpos de prova estão localizados em zona predominantemente de atmosfera marinha, porém
protegidos por conta das formações rochosas e elementos estruturais localizadas ao redor
destes.
Tal comportamento mostra a existência de uma tendência do perfil de concentração de
cloretos apresentar, para uma determinada profundidade a partir da superfície do concreto,
seja à esquerda ou à direita, um valor igual ou muito próximo quanto à concentração de
cloretos, conforme representado na Figura 112, ou seja, se a presença de obstáculos acaba por
atenuar a deposição de cloretos, presentes no aerossol marinho, sobre as estruturas de
concreto de espessura finita, há uma tendência do perfil de concentração de cloretos
apresentar valores próximos, independentemente se a análise é feita à direita ou esquerda da
estrutura.
161
A Oficina está localizada sobre uma formação rochosa onde há uma forte colisão de ondas no
caso de fortes agitações do mar, assim, embora esteja em zona predominantemente de
atmosfera marinha, os respingos das ondas provenientes desta colisão acabam por atingir
diretamente a superfície. Desta forma, a grande disponibilidade de oxigênio aliada aos
cloretos depositados na superfície do concreto seja pelo aerossol marinho, seja pelos
respingos das ondas, torna esta uma região de elevada agressividade às estruturas de concreto,
onde um severo estado de degradação e colapsos parciais de estruturas foi observado,
conforme apresentado no Capítulo 2.
A Figura 113 apresenta os perfis de concentração de cloretos dos corpos de prova 25, 27 e 29,
onde novamente observam-se concentrações superiores à concentração crítica (Ccl critica)
prescrita pelo CEB-FIB nº 183 (1992). Cabe ressaltar que em análise visual do corpo de prova
29, antes da realização da moagem, uma grande quantidade de poros foi observada conforme
indicado na Figura 114, o que acaba auxiliando a explicar as elevadas concentrações
observadas em seu perfil. Além disso, embora não tenham sido feitos ensaios no mesmo,
observou-se também um leve esfarelamento do corpo de prova ao manuseá-lo, possivelmente
indicando um baixo consumo de cimento.
162
1,60
1,20
1,00
CP 25
0,80
CP 27
0,60
CP 29
0,40 Ccl critica
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Em análise a partir dos perfis dos corpos de prova 25, 27 e 29, observa-se que como o corpo
de prova 25 foi obtido a uma cota inferior ao corpo de prova 27, da ordem de 0,5 metro, as
concentrações observadas em seu perfil são superiores, principalmente na zona de difusão.
Tal fato indica que no caso do corpo de prova 25, possivelmente, os respingos das ondas
atingem a região de coleta deste corpo de prova com maior frequência e por conta disso,
maiores são as concentrações evidenciadas. Além disso, é possível observar ainda que na zona
de convecção o comportamento entre estes corpos de prova se mostrou semelhante, sendo que
a profundidade e a concentração no pico apresentaram valores próximos.
Com relação ao corpo de prova 29, embora este esteja a uma cota superior em relação aos
corpos de prova 25 e 27, observa-se que o mesmo apresentou uma concentração de cloretos e
uma profundidade no pico superior em relação aos corpos de prova 25 e 27. Esta maior
profundidade observada no corpo de prova 29 indica tratar-se, de fato, de um concreto com
maior porosidade, em consonância com a literatura apresentada em Castro, De Rincón &
Pazini (2001).
No caso da Escadaria 1, estrutura presente em zona de atmosfera marinha, foram tomados os
corpos de prova 20 e 24. A Figura 116 apresenta os perfis de concentração de cloretos destes
164
1,20
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,00
0,80
CP 20
0,60
CP 24
0,40 Ccl critica
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Figura 116: Perfis de concentração de cloretos dos corpos de prova da estrutura da Escadaria
1.
Para a análise dos perfis de concentração de cloretos dos corpos de prova 20 e 24, deve-se
levar em consideração as propriedades materiais determinadas por ensaios porosimetria por
intrusão de mercúrio e reconstituição de traço apresentados na Tabela 8. Neste ponto, o baixo
consumo de cimento, aliado a uma maior ocorrência de poros com diâmetro superior ao
Diâmetro Critico e sua elevada relação entre o volume acumulado de poros mais interligados
em relação ao volume total de poros, conduz às elevadas concentrações de cloretos
observadas nos perfis com uma significativa profundidade no pico de concentração de
cloretos.
A primeira questão que trata da análise dos corpos de prova 20 e 24 tange o consumo de
cimento do concreto utilizado nestas estruturas. Neste caso, um consumo de cimento médio da
ordem de 130 kg/m³ foi verificado, mostrando que trata-se de um concreto com baixo
consumo de cimento que, consequentemente, permite a movimentação de cloretos livres de
forma mais fácil através da rede de poros, uma vez que há pouca fixação química dos
mesmos. Além disso, o baixo consumo de cimento remete a uma maior porosidade capilar,
em concordância com os resultados de porosimetria por intrusão de mercúrio e resistência à
compressão de corpos de prova desta estrutura apresentados na Tabela 8. Tal fato contribui
para explicar, por exemplo, o motivo pelo qual a zona de convecção do corpo de prova 20 se
165
estende até uma profundidade da ordem de 20 mm. Além disso, em se tratando dos resultados
de porosimetria por intrusão de mercúrio, o maior volume acumulado de poros mais
interligados em relação ao volume total de poros, corrobora com a fácil mobilidade dos
cloretos no concreto desta estrutura.
No caso da Escadaria 1, embora esta estrutura não esteja presente na região de maior
incidência de ondas e nem alinhada com a direção predominante dos ventos, as características
do concreto utilizado em sua para sua execução oferecem pouca resistência ao movimento de
cloretos em seu interior. Além disso, os degraus da Escadaria 1 protegem os pontos de
extração dos corpos de prova 20 e 24 dos efeitos de lavagem da superfície por conta das
chuvas, fazendo com que os cloretos presentes no aerossol marinho depositados sobre a
superfície de concreto participem do processo de ingresso através da rede de poros. Este
fatores acabam por justificar, o estado de degradação observado na mesma e abordado no
Capítulo 2.
2,00
Concentração de cloretos no pico (%,
1,80
1,60
1,40
concreto)
1,20
Pintura na estrutura
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50
Profundidade dos picos (cm)
Atmosfera respingos variação de maré
Para a análise utilizando a solução da Segunda Lei de Fick é necessário deslocar o eixo das
concentrações para o pico dos perfis. Após, o coeficiente de difusão e a concentração
superficial, com eixo deslocado, são ajustados de modo a minimizar o erro atraves do métdo
dos mínimos quadrados. Neste ponto cabe ressaltar que estas análises foram conduzidas
admitindo a idade das estruturas como sendo igual a 50 anos. A Tabela 9 apresenta os valores
dos coeficientes de difusão aparentes (Dapp) e a concentração superficial com eixo deslocado
(Cs) obtidos para cada corpo de prova e, o Apêndice A, traz os gráficos comparativos entre os
dados obtidos em campo e os dados modelados a partir do ajuste pela solução da Segunda Lei
de Fick. Cabe ressaltar que o corpo de prova 31 não apresentou perfil com pico. Desta forma,
a modelagem foi conduzida sem deslocar o eixo das concentrações.
167
Em uma análise acerca dos coeficientes de difusão é possível notar alguns pontos importantes.
Tomando, a título de exemplo, os corpos de prova 8, 10, 17 e 18, em suas faces direita e
esquerda, é possível ressaltar que quando a ordem de grandeza do coeficiente de difusão
aparente apresentado é semelhante. Além disso, no caso dos corpos de prova 8 e 17, é
possível observar, a partir dos perfis apresentados no Apêndice A, que os perfis de suas faces
direitas com as faces esquerdas são semelhantes, incluindo a concentração máxima no pico.
Tais fatos, reforçam a afirmativa sobre a uma tendência do perfil de concentração de cloretos
168
1,40
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos Eixo deslocado
Figura 118: Modelagem do corpo de prova 30 segundo a solução da Segunda Lei de Fick.
Conforme é possível observar na Figura 118, a curva obtida a partir da modelagem segundo a
solução da Segunda Lei de Fick, admitindo a idade das estruturas como sendo igual a 50 anos,
se ajusta aos dados reais, demonstrando que o procedimento de deslocamento do eixo das
concentrações para o pico permite que seja realizada a modelagem nos perfis na zona de
difusão. Neste ponto, a análise realizada admitindo um tempo igual a 100 anos sendo a
169
1,40
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos Eixo deslocado
Figura 119: Extrapolação equívoca da solução da Segunda Lei de Fick para a superfície do
concreto do corpo de prova 30.
A partir da interpretação dos coeficientes T1, T2 e T3, observa-se uma clara definição para
estes parâmetros. Um exemplo de análise, utilizando os dados do corpo de prova 30, através
da Equação de Holliday, com um intervalo de confiança de 95%, é apresentada na Figura 120,
onde observa-se o enquadramento dos dados ao modelo proposto, onde “y” corresponde à
concentração de cloretos (%, concreto) e “x” à profundidade (cm).
0,8
0,6
y
0,4
0,2
0,0
0 1 2 3 4 5
x
Figura 120: Exemplo de análise a partir da Equação de Holliday para o corpo de prova 30.
171
Para verificar a correlação existente entre os dados reais, obtidos em campo, e os dados
modelados através da Equação de Holliday, foi realizada a determinação do Coeficiente de
Correlação r-Pearson conforme apresentado na Tabela 10. Neste sentido, é possível notar, a
partir dos coeficientes obtidos, que o valor dos coeficientes é superior, em sua grande maioria
a 0,75, indicando a existência de uma forte correlação entre os dados obtidos em campo e os
dados modelados pela Equação Holliday para todos os corpos de prova analisados.
Tabela 10: Coeficientes de Correlação r-Pearson obtidos entre os dados de campo e os dados
modelados através da Equação de Holliday.
Identificação do corpo de prova Coeficiente r-Pearson
1 0,763
8 (face direita) 0,784
8 (face esquerda) 0,791
10 (face direita) 0,575
10 (face esquerda) 0,807
11 0,875
12 0,761
17 (face direita) 0,847
17 (face esquerda) 0,956
18 (face direita) 0,775
18 (face esquerda) 0,926
20 0,929
24 0,921
25 0,824
27 0,899
29 0,962
30 0,985
31 0,441
36 0,959
37 0,950
38 0,600
172
de Fick e da Equação de Holliday para 100 anos, foi observada uma diferença entre os dados
obtidos, conforme apresentado na Figura 121 para o corpo de prova 30 (comparando as linhas
azul e amarela (100 anos) na Figura 121). Desta forma, uma nova equação para a variável T2
foi proposta conforme apresentado na Equação 19.
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Fick - 50 anos Fick - 100 anos Holliday - 50 anos
Holliday - 100 anos Dados reais eixo deslocado
Figura 121: Modelagem do corpo de prova 30 conforme a solução da Segunda Lei de Fick e
𝐾
segundo a Equação de Holliday para 50 e 100 anos utilizando T2 = ( 𝑡).
√
𝐾
𝑇2 = ( 𝑡)2 Equação 19
√
Onde:
K = coeficiente relacionado à penetração de cloretos;
t = tempo (s).
173
1
𝐶𝑐𝑙 (𝑥, 𝑡) = 𝑘2
Equação 20
𝑇1+( 𝑡 )∗(𝑥−𝑇3)2
Neste caso, o valor de K foi calculado de modo que o valor de T2 não fosse alterado na
análise original pelo Software Minitab 16 considerando para análise um tempo igual a 50
anos. Assim, a modelagem a partir da Equação de Holliday foi realizada nos dados, conforme
exemplificado na Figura 122 para o corpo de prova 30, onde é possível observar que a
modelagem a partir da Equação de Holliday se aproxima dos dados modelados a partir da
Solução da Segunda Lei de Fick, tanto considerando uma análise para 50, quanto para 100
anos na zona de difusão (comparando as linhas verde e vermelha (50 anos) e azul e amarela
(100 anos) na Figura 122). Esta mesma metodologia foi aplicada aos corpos de prova,
conforme apresentados no Apêndice A desta Tese, demonstrando ser possível a aplicação da
Equação de Holliday levando em consideração o tempo.
1,40
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos Eixo deslocado
Figura 122: Modelagem do corpo de prova 30 conforme a solução da Segunda Lei de Fick e
𝐾
segundo a Equação de Holliday para 50 e 100 anos utilizando T2 = ( 𝑡)2 .
√
174
Além disso, observa-se a partir da Figura 122 que os dados modelados a partir da zona de
convecção são passíveis de serem levados em consideração na análise a partir da Equação de
Holliday modificada para levar em consideração a variável tempo. Observa-se que a
extrapolação para a superfície do modelo baseado na solução da Segunda Lei de Fick não
representa os dados obtidos para o perfil, ao passo que o modelo proposto a partir da Equação
de Holliday é capaz de levar estes dados em consideração no modelo e ainda, na zona de
difusão, se aproximar do modelo proposto a partir da solução da Segunda Lei de Fick com
vistas a estimativas em tempos futuros. Todavia, deve ser ressaltado que as concentrações de
cloreto apresentam variação sazonal entre a superficie e o pico. Desta forma, a representação
a partir da Equação de Holliday entre a superfície e o pico não apresenta sentido prático.
Não obstante, uma análise simulando a utilização de um número menor de pontos foi
realizada no corpo de prova 30, sendo o resultado da modelagem apresentado na Figura 123,
onde observa-se, com base na equação obtida, que a mesma se aproxima da equação
apresentada na modelagem original, conforme mostrado na Figura 120. Tal constatação
remete que, mesmo utilizando um número menor de pontos é possível realizar a modelagem a
partir da Equação de Holliday. Isso tem uma aplicação prática, uma vez que diferentes
métodos de extração e coleta de amostras em campo é passível de ser aplicado a esta
metodologia.
1,2 Regression
95% CI
95% PI
1,0
0,8
y
0,6
0,4
0,2
0 1 2 3 4
x
Deve ser ressaltado que este trata-se de um dos primeiros trabalhos que visam abordar a
Equação de Holliday na modelagem de perfis de concentração de cloretos, assim, maiores
estudos devem ser conduzidos nesta vertente, entretanto, os resultados obtidos e apresentados
aqui nesta Tese já demonstram a aplicabilidade desta modelagem para tal finalidade de forma
promissora.
6.5 Armaduras
A análise das armaduras por meio de micrografias constatou a presença de pites nas amostras
distribuídos ao longo de todo o seu comprimento, conforme observado na Figura 124, onde é
possível notar que os pites se caracterizam por pontos definidos na superfície metálica que
vão se aprofundando, a medida que o processo de corrosão avança, levando a uma redução
das propriedades mecânicas das armaduras. Além disso, pites de diferentes geometrias e
profundidades podem ser observados, contribuindo para a redução quanto à resistência das
armaduras à tração, dadas as mudanças geométricas das seções resistentes ao longo do
comprimento das barras.
Com relação ao ensaio de tração, os corpos de prova não apresentaram deformações plásticas
antes de seu rompimento, ou seja, não apresentavam patamar de escoamento, rompendo assim
176
que esgotavam sua capacidade. A máxima carga suportada pelos corpos de prova foi
registrada e apresentada na Tabela 11 em conjunto com o valor da tensão de tração utilizando
o diâmetro previsto em projeto original (11,2 mm) e o diâmetro médio medido nas amostras
(7,15 mm).
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
7.1 Conclusões
Neste Capítulo são apresentadas as principais conclusões obtidas a partir da análise de perfis
de concentração de cloretos totais, observadas em estruturas reais, presentes a mais de 30 anos
em diferentes zonas de agressividade marinha, pertencentes à Ilha dos Arvoredos, localizada
na cidade do Guarujá/SP. As principais conclusões são:
o ano, não sendo possível uma modelagem destes dados no tempo. De qualquer forma,
a possibilidade de levar em conta os dados na zona de convecção, a semelhança com o
modelo de Fick no tempo, e a possibilidade de interpretação de suas variáveis, acaba
demonstrando o potencial de aplicação da Equação de Holliday em modelagens de
perfis de concentração de cloretos baseado em estruturas reais com mais de 30 anos
presentes em diferentes zonas de agressividade marinha. Desta forma, como esta Tese
é um dos primeiros trabalhos a utilizar esta metodologia para representar perfis de
concentração de cloretos, maiores estudos nesta vertente são recomendados.
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Apêndice A
Fichas Cadastrais de Perfis de Concentração
de Cloretos dos Corpos de Prova
202
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,697
0,3 0,755
0,5 0,932
0,7 1,025
0,9 0,973
1,2 0,886
1,6 0,884
2 1,244
2,4 1,418
2,8 1,451
3,2 0,150
3,6 0,223
4 0,280
Figura: Ponto de extração do corpo de prova 01.
4,4 0,245
4,8 0,288
1,60
Concentração de cloretos (%,
1,40
1,20
concreto)
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00
Profundidade (cm)
1,60
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday 100 anos Eixo deslocado
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
520765005,6
1,0705 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 0,70)2
𝑡
204
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,420
0,3 0,289
0,5 0,275
0,7 0,275
0,9 0,281
1,2 0,286
1,6 0,278
2 0,273
2,4 0,253
2,8 0,228
3,2 0,223
3,6 0,225
4 0,220
Figura: Ponto de extração do corpo de prova 08.
4,4 0,201
4,8 0,189
0,45
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,45
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Concentrações reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos Eixo deslocado
Figura: Perfil de concentração de cloretos no corpo de prova 08 (face direita) modelado segundo
a solução da Segunda Lei de Fick e a Equação de Holliday.
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
230882940
3,58846 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 1,20)2
𝑡
206
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,408
0,3 0,275
0,5 0,265
0,7 0,284
0,9 0,291
1,2 0,286
1,6 0,291
2 0,295
2,4 0,278
2,8 0,255
3,2 0,232
3,6 0,243
4 0,211
Figura: Ponto de extração do corpo de prova 08.
4,4 0,206
4,8 0,186
0,450
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,400
0,350
0,300
0,250
0,200
0,150
0 1 2 3 4 5 6
Profundidade (cm)
0,45
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
316094788,8
3,44294 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 1,60)2
𝑡
208
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,541
0,3 0,632
0,5 0,662
0,7 0,633
0,9 0,580
1,2 0,509
1,6 0,602
2 0,651
2,4 0,678
2,8 0,684
3,2 0,660
3,6 0,579
4 0,568
Figura: Ponto de extração do corpo de prova 10.
4,4 0,563
4,8 0,528
0,80
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,80
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos Eixo deslocado
Figura: Perfil de concentração de cloretos no corpo de prova 10 (face direita) modelado segundo
a solução da Segunda Lei de Fick e a Equação de Holliday.
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
80590878,72
1,53954 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 2,40)2
𝑡
210
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,420
0,3 0,414
0,5 0,414
0,7 0,363
0,9 0,346
1,2 0,328
1,6 0,318
2 0,320
2,4 0,333
2,8 0,324
3,2 0,328
3,6 0,302
4 0,300
Figura: Ponto de extração do corpo de prova 10.
4,4 0,296
4,8 0,267
0,45
Concentração de cloretos (%,concreto)
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,45
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos Eixo deslocado
𝑥
𝐶(𝑥, 𝑡) = 0,35 ∗ [1 − 𝑒𝑟𝑓𝑐 ( )]
2 ∗ √3,5𝐸 − 08 ∗ 𝑡
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
126103949,3
2,98271 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 2,40)2
𝑡
212
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (%, Concreto)
0,1 0,340
0,3 0,384
0,5 0,378
0,7 0,348
0,9 0,305
1,2 0,267
1,6 0,229
2 0,204
2,4 0,196
2,8 0,152
3,2 0,150
3,6 0,141
4 0,136
Figura: Ponto de extração do corpo de prova 11.
4,4 0,122
4,8 0,109
0,45
Concentração de cloretos (%,concreto)
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,45
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,40
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos Eixo deslocado
𝑥
𝐶(𝑥, 𝑡) = 0,34 ∗ [1 − 𝑒𝑟𝑓𝑐 ( )]
2 ∗ √4,5𝐸 − 09 ∗ 𝑡
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
750424348,8
3,00343 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 0,50)2
𝑡
214
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,171
0,3 0,196
0,5 0,139
0,7 0,115
0,9 0,112
1,2 0,113
1,6 0,122
2 0,116
2,4 0,108
2,8 0,116
3,2 0,097
3,6 0,083
4 0,082
Figura: Ponto de extração do corpo de prova 12.
4,4 0,080
4,8 0,087
0,25
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,25
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos Eixo deslocado
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
770539586,4
8,38211 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 1,60)2
𝑡
216
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,148
0,3 0,111
0,5 0,127
0,7 0,133
0,9 0,142
1,2 0,141
1,6 0,150
2 0,160
2,4 0,156
2,8 0,153
3,2 0,148
3,6 0,136
4 0,124
4,4 0,115 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 17.
4,8 0,110
0,20
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,20
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Figura: Perfil de concentração de cloretos no corpo de prova 17 (face direita) modelado segundo
a solução da Segunda Lei de Fick e a Equação de Holliday.
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
582976072,8
6,51992 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 2,00)2
𝑡
218
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,199
0,3 0,171
0,5 0,193
0,7 0,185
0,9 0,178
1,2 0,160
1,6 0,159
2 0,155
2,4 0,140
2,8 0,133
3,2 0,116
3,6 0,114
4 0,106
4,4 0,106 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 17.
4,8 0,105
0,25
Concentração de cloretos (%,concreto)
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,25
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos Eixo deslocado
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
699605661,6
5,87418 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 1,20)2
𝑡
220
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,462
0,3 0,463
0,5 0,527
0,7 0,499
0,9 0,432
1,2 0,398
1,6 0,371
2 0,441
2,4 0,478
2,8 0,451
3,2 0,424
3,6 0,359
4 0,304
Figura: Ponto de extração do corpo de prova 18.
4,4 0,302
4,8 0,251
0,60
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,60
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Figura: Perfil de concentração de cloretos no corpo de prova 18 (face direita) modelado segundo
a solução da Segunda Lei de Fick e a Equação de Holliday.
𝑥
𝐶(𝑥, 𝑡) = 0,49 ∗ [1 − 𝑒𝑟𝑓𝑐 ( )]
2 ∗ √5,8𝐸 − 09 ∗ 𝑡
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
339849280,8
2,26763 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 2,40)2
𝑡
222
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,259
0,3 0,365
0,5 0,354
0,7 0,341
0,9 0,285
1,2 0,275
1,6 0,216
2 0,200
2,4 0,189
2,8 0,158
3,2 0,156
3,6 0,145
4 0,133
Figura: Ponto de extração do corpo de prova 18.
4,4 0,116
4,8 0,118
0,40
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,40
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,35
0,30
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
𝑥
𝐶(𝑥, 𝑡) = 0,24 ∗ [1 − 𝑒𝑟𝑓𝑐 ( )]
2 ∗ √5,0𝐸 − 09 ∗ 𝑡
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
814540190,4
4,19503 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 1,60)2
𝑡
224
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,307
0,3 0,299
0,5 0,351
0,7 0,384
0,9 0,384
1,2 0,468
1,6 0,569
2 0,370
2,4 0,147
2,8 0,027
3,2 0,008
3,6 0,022
4 0,054 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 20.
4,4 0,084
4,8 0,000
0,60
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,600
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,500
0,400
0,300
0,200
0,100
0,000
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
3497957352
1,9015 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 1,24839)2
𝑡
226
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,684
0,3 0,356
0,5 1,088
0,7 1,049
0,9 1,023
1,2 0,654
1,6 0,586
2 0,460
2,4 0,281
2,8 0,228
3,2 0,219
3,6 0,170
4 0,152
4,4 0,127 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 24.
4,8 0,115
1,20
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
1,20
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
1313047087,20
0,983074 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 0,669659)2
𝑡
228
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,215
0,3 0,474
0,5 0,765
0,7 0,820
0,9 0,743
1,2 0,805
1,6 0,747
2 0,661
2,4 0,567
2,8 0,424
3,2 0,416
3,6 0,429
4 0,348
4,4 0,316
4,8 0,322 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 25.
0,90
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,90
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,80
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos Eixo deslocado
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
358504401,6
1,32639 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 1,20031)2
𝑡
230
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,241
0,3 0,657
0,5 0,680
0,7 0,719
0,9 0,720
1,2 0,656
1,6 0,534
2 0,490
2,4 0,417
2,8 0,376
3,2 0,319
3,6 0,249
4 0,220
4,4 0,218
4,8 0,161 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 27.
0,80
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,80
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,70
0,60
0,50
0,40
0,30
0,20
0,10
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
551339157,6
1,45569 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 0,90)2
𝑡
232
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 1,172
0,3 1,303
0,5 1,041
0,7 1,112
0,9 1,399
1,2 1,407
1,6 1,408
2 1,309
2,4 1,151
2,8 1,118
3,2 0,884
3,6 0,778 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 29.
4 0,573
4,4 0,463
4,8 0,327
1,60
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
1,600
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,400
1,200
1,000
0,800
0,600
0,400
0,200
0,000
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
215190626,40
0,71208 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 1,40281)2
𝑡
234
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,713
0,3 0,962
0,5 1,019
0,7 1,006
0,9 1,043
1,2 1,030
1,6 0,966
2 0,902
2,4 0,729
2,8 0,665
3,2 0,524
3,6 0,450
4 0,399 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 30.
4,4 0,338
4,8 0,320
1,20
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos Eixo deslocado
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
339270595,20
0,958799 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 1,20)2
𝑡
236
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 1,002
0,3 0,961
0,5 0,712
0,7 0,715
0,9 0,713
1,2 0,744
1,6 0,706
2 0,721
2,4 0,703
2,8 0,752
3,2 0,760
3,6 0,730
4 0,721 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 31.
4,4 0,692
4,8 0,661
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
1,20
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos
𝑥
𝐶(𝑥, 𝑡) = 0,74 ∗ [1 − 𝑒𝑟𝑓𝑐 ( )]
2 ∗ √7,5𝐸 − 07 ∗ 𝑡
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
8145843,41
1,38093 ∗ ( ) ∗ (𝑥)2
𝑡
238
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 1,485
0,3 1,689
0,5 1,862
0,7 1,867
0,9 1,790
1,2 1,427
1,6 0,997
2 0,811
2,4 0,662
2,8 0,610
3,2 0,572
3,6 0,494
4 0,344 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 36.
4,4 0,319
4,8 0,267
2,00
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,80
1,60
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
2,00
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,80
1,60
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
388359532,80
0,575125 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 0,770361)2
𝑡
240
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 1,458
0,3 1,621
0,5 1,642
0,7 1,655
0,9 1,637
1,2 1,473
1,6 1,319
2 1,057
2,4 1,064
2,8 0,714
3,2 0,655
3,6 0,605
4 0,602 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 37.
4,4 0,549
4,8 0,423
1,80
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,60
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
1,80
Concentração de cloretos (%, concreto)
1,60
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos Eixo deslocado
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
239823396
0,617045 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 0,818547)2
𝑡
242
Profundidade Concentração de
(cm) Cloretos (% Concreto)
0,1 0,225
0,3 0,284
0,5 0,239
0,7 0,210
0,9 0,176
1,2 0,162
1,6 0,158
2 0,170
2,4 0,209
2,8 0,203
3,2 0,184
3,6 0,166
4 0,161 Figura: Ponto de extração do corpo de prova 38.
4,4 0,133
4,8 0,119
0,30
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
0,30
Concentração de cloretos (%, concreto)
0,25
0,20
0,15
0,10
0,05
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00
Profundidade (cm)
Dados reais Fick - 50 anos Fick - 100 anos
Holliday - 50 anos Holliday - 100 anos eixo deslocado
1
𝐶(𝑥, 𝑡) =
802856102,40
4,83415 ∗ ( ) ∗ (𝑥 − 2,40)2
𝑡
244
A corrosão das armaduras, em estruturas de concreto armado, é apontada como a principal causa de
degradação destas estruturas, reduzindo sua capacidade portante e impondo riscos à segurança estrutural.
Sob esta perspectiva, o ambiente marinho apresenta-se como um dos mais agressivos às estruturas de
concreto armado sob a óptica da corrosão, onde os íons cloreto presentes neste ambiente atuam como os
principais agentes responsáveis por desencadear o processo corrosivo das barras, levando a danos
significativos quanto às suas propriedades mecânicas, mesmo mediante pequenos graus de corrosão.
Neste ponto, o conhecimento dos perfis de concentração de cloretos, baseados em estruturas reais, é uma
importante ferramenta capaz de fornecer informações quantitativas a respeito do ingresso dos íons cloreto
no interior do concreto, com vistas ao desenvolvimento de modelos que objetivam estimar a vida útil de
estruturas de concreto armado presentes em ambiente marinho. Portanto, neste trabalho pretende-se
analisar os perfis de concentração de cloretos totais obtidos a partir de estruturas reais, presentes a mais
de 30 anos em diferentes zonas de agressividade marinha, levando em conta as características dos
materiais por ensaios destrutivos, não destrutivos, químicos e físicos em amostras obtidas a partir das
estruturas analisadas. Com os resultados obtidos a partir dos perfis, uma modelagem através de uma nova
metodologia, baseada na Equação de Holliday, capaz de representar as concentrações de cloreto tanto na
zona de convecção, quanto na zona de difusão é apresentada, sendo as modelagens obtidas comparadas
com as modelagens a partir da solução da Segunda Lei de Fick para até 100 anos. Os resultados das
análises realizadas mostraram os efeitos das propriedades materiais na penetração de cloretos, com
relevância para os parâmetros relativos à porosidade do concreto. Além disso, em uma análise das
modelagens foi possível observar que os resultados obtidos em ambas se mostraram muito próximos,
entretanto, a nova métrica proposta se mostrou capaz de representar as concentrações de cloretos nas
camadas mais próximas à superfície. Assim, esta nova metodologia caracteriza-se como uma contribuição
inovadora na representação de perfis de concentração de cloretos, baseados em estruturas reais presentes
a mais de 30 anos em diferentes zonas de agressividade marinha.
12.
GRAU DE SIGILO: