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INFLUÊNCIA DA RIGIDEZ À FLEXÃO DE DUTO FLEXÍVEL NA INSTALAÇÃO

DE MÓDULOS DE CONEXÃO VERTICAL EM ÁGUAS PROFUNDAS

Volney Soares Lopes

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS


PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS
NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM
ENGENHARIA OCEÂNICA.

Aprovada por:

___________________________________________
Prof. Murilo Augusto Vaz, Ph.D.

___________________________________________
Prof. Antonio Carlos Fernandes, Ph.D.

___________________________________________
Eng. Ivan Carlos Pimentel da Cruz, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL


MAIO DE 2005
LOPES, VOLNEY SOARES
Influência da Rigidez à Flexão de
Duto Flexível Na Instalação de Módulos
de Conexão Vertical em Águas
Profundas [Rio de Janeiro] 2005
X, 107p., 29,7 cm (COPPE/UFRJ,
M.Sc., Engenharia Oceânica, 2005)
Tese – Universidade Federal do
Rio de Janeiro, COPPE
1. Flexão em Dutos Flexíveis
2. Instalação de Dutos Flexíveis
I. COPPE/UFRJ II. Título (série)

ii
Este trabalho é dedicado a todos que
contribuem com a pesquisa no Brasil. Pois,
só através da pesquisa atingiremos o pleno
desenvolvimento tecnológico e nos
tornaremos uma grande nação.

iii
AGRADECIMENTOS

Ao professor Murilo Augusto Vaz, pela orientação, compreensão e apoio,


fundamentais na elaboração deste trabalho.

Ao engenheiro Cezar Augusto Silva Paulo, gerente de Tecnologia Submarina do


CENPES/PDP/TS, pela oportunidade e apoio à conclusão deste curso de mestrado.

Aos engenheiros Luis Antonio Lobianco, Eduardo Vardaro, Maxwell Brandão,


Anderson Barata Custódio, e Carlos Alberto Duarte de Lemos, pelo apoio e
conhecimento que me foi compartilhado.

Ao Dr. Ivan Cruz, pela fundamental contribuição para o enriquecimento deste


trabalho.

A todos os demais colegas da Tecnologia Submarina do CENPES, pelo apoio e


amizade.

A todos os demais professores do PEnO, pela dedicação no desempenho de suas


atividades.

Às secretárias da Oceânica e Naval, e Glacê, Suely Klajman e Nilda pela atenção


e dedicação que dispensam aos alunos.

A Larissa pelo apoio e compreensão nesses dias difíceis ao meu lado.

Em especial, a Deus e a minha mãe Conceição, simplesmente por tudo.

iv
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

INFLUÊNCIA DA RIGIDEZ À FLEXÃO DE DUTO FLEXÍVEL NA INSTALAÇÃO


DE MÓDULOS DE CONEXÃO VERTICAL EM ÁGUAS PROFUNDAS

Volney Soares Lopes

Maio / 2005

Orientador: Murilo Augusto Vaz

Programa: Engenharia Oceânica

Este trabalho apresenta um estudo sobre a influência da baixa temperatura e da


elevada pressão hidrostática no comportamento de um duto flexível durante sua
instalação em um equipamento submarino através de módulo de conexão vertical
(MCV). Esta combinação de temperatura e pressão é encontrada em grandes lâminas
d’água, na bacia de Campos. Estes dois fatores contribuem para o aumento considerável
da rigidez à flexão do duto flexível, e podendo assim, dificultar sua conexão em
equipamentos submarinos. Dessa forma, um estudo preliminar sobre o comportamento
do duto e, possivelmente pequenas adaptações no projeto, pode reduzir os problemas
durante a instalação.

v
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

THE INFLUENCE OF THE BENDING STIFFNESS OF FLEXIBLE PIPES DURING


INSTALLATION OF VERTICAL CONNECTION MODULES IN DEEP WATER

Volney Soares Lopes

May / 2005

Advisor: Murilo Augusto Vaz

Department: Ocean Engineering

This work presents a study about the influence of low temperature and high
hydrostatic pressure on the behavior of flexible pipes during installation on submarine
equipments with Vertical Connection Module. This combination of temperature and
pressure are commonly found in deep water, in Campos basin. These factors lead to an
increase of the bend stiffness in flexible pipes, and consequently these connections to
submarine equipments may become more difficult. So, a preliminary study about the
behavior of the pipe may reduce problems during installation.

vi
ÍNDICE

I. INTRODUÇÃO 01
I.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS 01
I.2 REVISÃO DA LITERATURA 02
I.2.1 HISTÓRICO DA EXPLORAÇÃO OFFSHORE 2
I.2.2 UNIDADES ESTACIONÁRIAS DE PRODUÇÃO (UEP) 4
I.2.3 ÁRVORES DE NATAL 12
I.2.4 MANIFOLD 18
I.2.5 PIPELINE END TERNIMAL (PLET) 20
I.2.6 DUTOS FLEXÍVEIS 20
I.2.7 SISTEMAS DE CONEXÃO 31
II. COMPORTAMENTO DO DUTO SUJEITO A CARGAS DE FLEXÃO 42
II.1 CAMADAS CILÍNDRICAS POLIMÉRICAS 43
II.2 CAMADAS HELICOIDAIS OU ARMADURAS METÁLICAS 44
II.2.1 COMPORTAMENTO ANTES DO ESCORREGAMENTO 44
II.2.2 COMPORTAMENTO ANTES DO ESCORREGAMENTO 48
II.2.3 MECANISMO DE PROPAGAÇÃO DO ESCORREGAMENTO 51
II.2.4 CASOS EXTREMOS DE CAMADAS HELICOIDAIS 55
III. ANÁLISE DE INSTALAÇÃO DE DUTO FLEXÍVEL COM MCV 57
III.1 DUTO FLEXÍVEL 57
III.1.1 CÁLCULO DA RIGIDEZ DO DUTO E CURVTURA 60
III.2 RESTRITOR DE CURVATURA 67
III.3 CONECTOR 70
III.4 MÓDULO DE CONEXÃO VERTICAL (MCV) 71
III.5 CABO DE AÇO 72
III.6 SIMULAÇÕES REALIZADAS 72
III.6.1 CONEXÃO DE PRIMEIRA EXTREMIDADE 73
III.6.2 CONEXÃO DE PRIMEIRA EXTREMIDADE 84
IV. CONCLUSÃO 95
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 98
ANEXO A - MODELO MATEMÁTICO 100

vii
GLOSSÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS UTILIZADOS

Nesta seção são listados, em ordem alfabética, os termos técnicos específicos que
foram utilizados ao longo deste estudo.

• ANM – Árvore de Natal Molhada.

• Árvore de natal - Equipamento instalado na cabeça-de-poço (“wellhead”), que tem


a finalidade de interligar as tubulações internas e externas ao poço, e de permitir o
controle do fluxo de fluidos através dele.

• BAP – Base Adaptadora de Produção. Base que se assenta sobre a cabeça do poço e
onde a árvore de natal se encaixa.

• BAT – Base de Abandono Temporária. Base para suporte do MCV, quando há


necessidade deste permanecer repousado no solo marinho.

• Bundle - Conjunto de mangueiras hidráulicas unidas de forma a formar um umbilical


“empacotado” e configurável.

• Chokes – Válvula de controle de vazão utilizada em equipamentos submarinos.

• DP – Sistema de Posicionamento Dinâmico. Permite a uma embarcação permanecer


em uma coordenada sem utilização de ancoragem.

• Flowline – Trecho estático de duto que fica em repouso no solo marinho.

• FPSO - Floating, Production, Storage and Offloading vessel. Navio de produção e


estocagem de petróleo.

• FRAES – Programa de análise local dutos flexíveis de uso interno PETROBRAS.

• FSO - Floating, Storage and Offloading Vessel. Navio de estocagem de petróleo.

• Gas-lift - Método de elevação artificial de petróleo em poços sem condições de


surgência natural.

• Heave – Movimento na direção vertical de uma embarcação devido à ação das


ondas. Em português, embora pouco utilizado, se denomina movimento de
afundamento.

viii
• Jumper – Trecho relativamente curto de duto que serve como elemento de
interligação entre equipamentos ou outros dutos.

• LDA – Lâmina D’Água. Profundidade medida da superfície até o fundo do mar.

• Linha – Denominação dada ao duto com seus acessórios, como conectores,


restritores de curvatura, flutuadores etc.

• Manifold – Coletor. Conjunto de tubos interligando diversas linhas de chegada com


uma ou mais saídas, contendo válvulas e instrumentos para o controle do fluxo de
fluidos.

• MBR – Raio Mínimo de Curvatura que um duto flexível pode ser curvado sem sofrer
danos estruturais.

• MCV – Módulo de Conexão Vertical. Utilizado para conexão de dutos flexíveis a


equipamentos submarinos.

• Offshore – Do inglês, fora da costa, ou seja, afastado da terra ou continente.


Comumente refere-se ao que está no mar.

• ORCAFLEX – Programa de análise global para dutos.

• PLET – Pipeline End Termination. Equipamento utilizado para interligação de dutos


flexíveis a dutos rígidos.

• Riser – Trecho dinâmico de duto. É o trecho que fica suspenso entre o solo marinho
e a unidade de produção.

• ROV – Veículo de Operação Remota, dotado de câmeras, manipuladores capazes de


acionar manoplas para acionamento de equipamentos submarinos.

• TDP – Touchdown Point. Ponto onde o riser inicia o contato com o solo.

• TLP – Tension Leg Platform.

• Turret – Torre giratória encontrada em alguns FPSO e FSO, por onde a ancoragem é
feita e os risers chegam à plataforma, que permite que a embarcação capacidade de
girar em torno de si, de acordo com as condições de correntes, vento e ondas.

• UEP – Unidade Estacionária de Produção. Normalmente plataformas de produção.

ix
• Umbilical – São linhas eletro-hidráulicas que ligam equipamentos às plataformas,
para transmissão de potência, sinais de controle e fluido hidráulico para acionamento
de algum mecanismo, normalmente abertura ou fechamento de válvulas.

• VIV – Vibração Induzida por Vórtices, ou em inglês, Vortex Induced Vibration.

• Well – Do inglês, Poço.

x
CAPÍTULO I

INTRODUÇÃO

I.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

Devido a descobertas de óleo e gás em lâminas d’água cada vez mais profundas,
as unidades de produção que até então eram fixas no solo marinho, passaram a ser
flutuantes. A partir desse momento, os dutos flexíveis ganharam espaço rapidamente
devido sua maior capacidade de absorver grandes curvaturas, mantendo sua rigidez
axial e integridade. Dutos flexíveis são muito utilizados como flowlines e outros
sistemas auxiliares, mas a conexão entre o solo marinho e a plataforma de produção,
conhecido como riser é o trecho que merece maior estudo, devido sua criticidade. O
transporte e instalação de dutos flexíveis são facilitados por sua flexibilidade, podendo
ser facilmente enrolados e transportados. Hoje, no Brasil, cerca de 3000 km de dutos
flexíveis estão instalados. Cerca de 25 % do custo de desenvolvimento de um campo se
deve aos dutos.

A instalação de dutos flexíveis, se comparada a dutos rígidos, é bastante


simplificada devido sua flexibilidade e menor peso linear. Mas alguns problemas
durante a instalação em águas profundas são facilmente encontrados, devido ao não
total conhecimento das propriedades do duto nas condições reais no momento de seu
lançamento. Em águas muito profundas tem-se uma coluna hidrostática que age sobre a
estrutura do duto, causando interação entre suas camadas, possivelmente aumentando o
contato entre elas, e assim o atrito. A baixa temperatura normalmente encontrada em
regiões próximas ao leito marinho também é um fator complicador que altera a rigidez a
flexão do duto, podendo causar situação inesperada para a equipe de instalação. Esse
tipo de problema não é muito incomum que não mereça um estudo como este, pois
como será demonstrado ao longo deste trabalho, uma rigidez maior que a esperada pode
tornar muito difícil a instalação e comprometer a integridade do duto.

Através de modelo analítico e análise com programas de análise global de dutos


flexíveis, foi simulado a instalação de dutos em equipamentos submarinos através de
módulo de conexão vertical que foi tomado com o exemplo de aplicação nesse estudo.

1
Para que possa haver certo nivelamento de conhecimentos, será apresentada uma
revisão sobre alguns temas que serão abordados neste estudo, como unidades de
produção, sistemas e arranjos submarinos, equipamentos e dutos flexíveis submarinos.

I.2 REVISÃO DA LITERATURA

Neste capítulo serão apresentadas algumas informações sobre equipamentos


utilizados na indústria de produção de petróleo. Conceitos básicos serão abordados sem
muito aprofundamento para não se fugir do escopo do trabalho.

I.2.1 HISTÓRICO DA EXPLORAÇÃO OFFSHORE

Segundo Thomas, em ref. [1], com o avanço da exploração de petróleo para o


mar, houve uma necessidade de se transportar os equipamentos de exploração e
produção para atividade offshore. O início se deu com a utilização de plataformas fixas
(figura 1.1) nas quais os equipamentos de completação eram localizados na própria
plataforma, na superfície, denominada “completação seca”.

Fig.1.1 – Início da exploração offshore.

Com a necessidade de expansão para regiões mais profundas, começaram a


surgir conceitos de unidades de produção flutuantes, que utilizavam equipamentos de
completação submarinos. Com a constante evolução que poucas indústrias conseguem,

2
hoje existem conceitos de plataformas flutuantes que utilizam completação seca, que
serão abordadas mais adiante.

Um conceito de completação que surgiu no Brasil na década de 70, no início da


produção offshore na Bacia de Campos, foi o de manifold atmosférico, que consta na
figuras 1.2 e 1.3. Instalado no Campo de Garoupa, este manifold era montado dentro de
uma câmara atmosférica. Para realizar o acionamento das válvulas era necessária a
descida de um mergulhador em um sino atmosférico de intervenção, que era acoplado a
uma porta superior da câmara do manifold. O mergulhador tinha acesso ao interior da
câmara que dessa forma era mantida seca e com pressão atmosférica.

Fig. 1.2 – Manifold atmosférico.

Fig. 1.3 – Sino atmosférico de intervenção.

3
Um conceito semelhante foi utilizado para proteger a árvore de natal e mantê-la
à pressão atmosférica, denominado de well cellar, ou compartimento de proteção de
poço (fig.1.4). O acionamento da árvore de natal era feito de forma semelhante ao
manifold atmosférico, através de mergulhadores em sino atmosférico.

Fig.1.4 – Foto e desenho esquemático do well cellar ou câmara de proteção da


árvore de natal.

Pouco tempo depois surgiram os equipamentos submarinos denominados de


“molhados”. Os primeiros foram do tipo diver operated (operados por mergulhadores),
comumente chamados apenas de DO. Com a evolução e o aumento da profundidade,
surgiram os equipamentos diverless, ou DL (sem mergulhadores). O limite para
mergulho é de 300 metros, respirando misturas artificiais como heliox, oxigênio diluído
em gás hélio. Mesmo sendo possível alcançar tal profundidade, hoje no Brasil se dá
preferência a equipamentos do tipo diverless mesmo em profundidades menores, por
questão de segurança dos mergulhadores.

A seguir será feita uma abordagem mais detalhada sobre sistemas de produção,
equipamentos e arranjos submarinos.

I.2.2 UNIDADES ESTACIONÁRIAS DE PRODUÇÃO (UEP)

Neste item, serão destacadas algumas peculiaridades sobre cada tipo de unidade
estacionária de produção (UEP), popularmente chamadas de plataformas, suas restrições

4
e vantagens. As UEPs normalmente possuem planta para tratamento primário do
petróleo. Este tratamento primário tem como objetivo a separação de óleo, água e gás.
Alguns tipos de plataforma não possuem capacidade de armazenamento, podendo
trabalhar associada à outra plataforma para estocagem, normalmente um FSO, que será
comentado adiante.

Uma vez separados, o óleo pode seguir para exportação através de oleoduto ou
para armazenamento em um FSO para posterior transferência para navio de transporte,
comumente chamado de navio aliviador. Essa operação de transferência de óleo para
um navio aliviador é denominada offloading, ou seja, descarga. A água separada deve
passar por um tratamento mínimo para ser descartada no mar em condições que não
prejudiquem o meio ambiente. Quanto ao gás separado, este pode ser exportado através
de gasoduto ou descartado através de queima na plataforma. Parte dele pode ser
utilizada na geração de energia para a própria plataforma.

PLATAFORMA TIPO JAQUETA (fig.1.5)

Possuem estruturas treliçadas, normalmente tubulares com proteção catódica,


fixas ao solo através de estacas. Normalmente são utilizadas em laminas d’água de até
200 metros, mas em casos especiais podem chegar a 400 metros. Por ser fixa no solo
marinho pode ter completação seca, ou seja, árvore de natal localizada na plataforma,
acima da superfície do mar. Normalmente não possuem capacidade de armazenamento,
sendo sua produção escoada diretamente por oleoduto. Possui baixa flexibilidade de
explotação e deve haver inspeção rígida na jaqueta.

Fig. 1.5 – Montagem da Plataforma de


Vermelho 1, na Bacia de Campos.

5
FPSO E FSO
A unidade de produção do tipo Floating, Production, Storage and Offloading
vessel, como na figuras 1.6 e 1.7, é um sistema flutuante monocasco (navio) com planta
de processo, tanques de armazenamento e sistema de transferência (alívio) de óleo para
outra embarcação ou para um oleoduto.

Fig. 1.6 – FPSO com turret e ancoragem


em ponto único.

O FPSO tem se mostrado como uma boa alternativa para antecipação de


produção devido à necessidade de menor infraestrutura, pois além de dispensar o uso de
FSO, também dispensa a necessidade de oleoduto para escoamento da produção, que
pode ser realizada por navio aliviador. No mercado são encontradas embarcações
viáveis à transformação em FPSO.

Fig. 1.7 – FPSO sem turret, ancoragem


em pontos múltiplos.

Seu sistema de ancoragem pode ser em ponto único (single point mooring),
quando possuir turret (fig.1.6), ou pontos múltiplos, denominado spread mooring

6
(fig.1.7). O turret permite que a embarcação gire em torno do sistema de ancoragem e
dos risers, que permanecem estacionários em relação ao solo marinho.

O FSO é semelhante ao FPSO, com exceção da planta de processo que este não
possui. A utilização de FSO sempre ocorre associada a uma unidade de produção que
não possui capacidade de armazenamento, sendo esta sua principal função.

PLATAFORMA SEMI-SUBMERSÍVEL

Como o aumento da lâmina d’água o apoio de plataformas no fundo do mar se


tornou proibitivo. O conceito de plataforma semi-submersível, como da figura 1.8, foi
originalmente utilizado em plataformas de perfuração, pois havia a necessidade de que
houvesse certa mobilidade da sonda. Ao se converter uma semi-submersível para ser
utilizada para produção, normalmente o número de flutuadores é aumentado para que a
plataforma possa abrigar plantas de processo e um elevado número de risers pendurados
a ela.

Normalmente as plataformas de produção semi-submersíveis são mantidas fixas


por meio de ancoras cravadas no solo, mesmo em águas ultraprofundas. Embora haja
plataformas dotadas de sistema de posicionamento dinâmico (DP), estas são utilizadas
em sua grande maioria como unidade de perfuração e intervenção em poço, pois este
sistema possibilita maior mobilidade da plataforma. O posicionamento dinâmico é feito
através de propulsores localizados nos flutuadores da plataforma, coordenados por um
sistema de computação que recebe sinais externos (satélites e sistemas hidroacústicos)
que indicam e mantêm suas coordenadas através da variação da velocidade ou
angulação das hélices dos propulsores.

O sistema de posicionamento dinâmico é um sistema de propulsão gerenciado


por um programa de coordenadas, permitindo assim, que a embarcação compense as
forças de deslocamento que agem sobre ela.

Uma grande vantagem de uma plataforma semi-submersível é o fato de poder


mudar de locação. Mas em compensação possuem irrelevante capacidade de
armazenamento, pois é muito sensível à variação de peso no convés, dessa forma é
comum a utilização de um FSO para receber a produção de óleo. Apesar de possuir
menores movimentos se comparado a um FPSO, ainda é necessário a utilização de
árvore de natal submarina, ou seja, completação molhada.

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Fig. 1.8 – Transporte “a seco” de uma
plataforma semi-submersível.

PLATAFORMA AUTO-ELEVATÓRIA

As plataformas auto-elevatórias (fig.1.9) são basicamente constituídas de uma


balsa equipada com estruturas de apoio ou pernas, que ao serem acionadas mecânica ou
hidraulicamente movimentam-se para baixo até atingirem o solo marinho. A partir daí,
se inicia sua elevação acima do nível da água fora da ação das ondas.

Fig. 1.9 – Plataforma auto-elevatória.

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Normalmente são utilizadas para perfuração de poços em águas rasas (até 100
metros), mas nada impede que seja utilizada para produção. Possuem baixo custo de
operação, boa mobilidade e por trabalharem fixas no solo marinho, não necessita
compensador de movimentos, ou seja, não possuem movimento de heave ou
afundamento, provocado pelas ondas. São transportadas até a locação por rebocadores
ou possuem propulsão própria.

PLATAFORMA TENSION LEG (TLP)

Sua estrutura é bastante similar de uma semi-submersível, sendo que sua


ancoragem é feita por tendões verticais tracionados. Uma vez fixados os tendões, a
plataforma tem seu lastro reduzido, aumentando seu empuxo, causando assim, o
aumento da tensão nos tendões e mantendo a plataforma com reduzidos níveis de
movimentos.

Os tendões são estruturas tubulares estaqueadas no solo marinho e por sua


configuração, as TLP, como da figura 1.10, possuem raio de ancoragem nulo, o que
pode ser bastante interessante em locais com excesso de obstáculos no fundo do mar.
No Brasil ainda não há nenhuma TLP em operação, pois até então este tipo de
plataforma havia sido preterida em estudos de viabilidade técnica e econômica (EVTE).

Fig. 1.10 – Plataforma TLP.

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PLATAFORMA SPAR BUOY

Este tipo de plataforma é derivado do conceito de semi-submersível, com um


sistema de flutuação modificado para uma única coluna. Devido à sua geometria possui
reduzido movimento de heave, podendo dessa forma utilizar completação seca. Em
compensação deve haver um estudo de vibrações induzidas por vórtices (VIV).

O sistema de ancoragem da plataforma spar (fig. 1.11) é semelhante ao de uma


semi-submersível. A instalação se dá de forma semelhante à de uma plataforma jaqueta,
sendo primeiramente instalada a coluna e posteriormente por meio de guindaste, o
convés. No Brasil, ainda não há plataforma deste tipo em operação por razões
econômicas, para nossos cenários.

Fig. 1.11 – Plataforma do tipo spar buoy.

TORRE COMPLACENTE (fig. 1.12)

Plataformas deste tipo são muito semelhantes às jaquetas, porém são mais
esbeltas e capazes de operar em lâminas d’água de até 400 metros. Possuem
movimentos um pouco maiores que às jaquetas.

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Fig. 1.12 – Plataforma tipo
torre complacente.

PLATAFORMAS DE CONCRETO

As plataformas de concreto, como os exemplos da figura 1.13, são muito


utilizadas no mar do Norte, onde as profundidades não são grandes e as condições
ambientais são severas. No Brasil, há algumas plataformas deste tipo instaladas na bacia
Potiguar.

Fig. 1.13 – Plataformas de concreto.

11
NAVIOS COM DP (fig. 1.14)

Eventualmente, um navio com sistema de posicionamento dinâmico (DP, do


inglês dynamic position) pode trabalhar produzindo petróleo, embora seja mais utilizado
para perfuração e completação. Isso pode ocorrer quando se deseja antecipar a produção
para começar a ter retorno do investimento ou para cumprir prazos legais. Pode ser
utilizado também para períodos de produção curtos. Mas, somente se justifica em algum
caso especial, devido a seu alto custo.

Fig. 1.14 – Navio com DP.

I.2.3 ÁRVORES DE NATAL

Árvore de natal é um equipamento composto por conjunto de válvulas do tipo


gaveta com acionamento hidráulico ou pneumático e manual, com a finalidade de fazer
a conexão entre as tubulações internas e externas ao poço, permitindo, de forma
controlada, o fluxo de óleo no poço.

Normalmente, as árvores de natal possuem uma função de segurança do poço do


tipo fail close, ou seja, é preciso atuar permanentemente a válvula para mantê-la aberta,
e no caso de falha no controle, ela fecha por ação de mola.

Como as válvulas que compõem uma árvore de natal são do tipo gaveta, que
operam totalmente abertas ou totalmente fechadas, um restritor de fluxo (choke) é
utilizado externamente à árvore de natal.

12
A) ÁRVORE DE NATAL CONVENCIONAL (ANC)

Ainda segundo Thomas, em ref. [1], as ANCs, também chamadas de árvores de


natal secas (dry christmas trees), normalmente são equipadas com duas válvulas
mestras, duas laterais e uma de pistoneio. As válvulas mestras têm função principal de
fechamento do poço. As válvulas laterais têm função de controlar o fluxo do poço,
direcionando a produção para a linha de produção. A jusante de uma das válvulas
laterais é instalada uma válvula com abertura regulável, que permite controlar a vazão
de produção do poço. A função da válvula de pistoneio, que fica localizada na parte
superior da ANC, conforme figura 1.15, é permitir, quando aberta, a descida de
ferramentas dentro da coluna de produção.

Fig. 1.15 – Árvore de natal convencional

B) ÁRVORE DE NATAL MOLHADA (ANM)

São denominadas assim as árvores de natal instaladas no fundo do mar, na


cabeça de poço (wellhead). Têm as mesmas funções das convencionais, porém possuem
algumas particularidades de projeto. Este equipamento é ligado à unidade de produção
na superfície através de linhas flexíveis ou rígidas, e umbilicais eletro-hidráulicos, para
atuação das válvulas e obtenção de sinais de controle. As funções elétricas dos
umbilicais são utilizadas na aquisição de dados referentes às condições de operação do
poço, como temperatura e pressão atuantes. As ANMs possuem um painel de controle
para permitir operação das suas funções através de ROV.

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Com o passar dos anos, vários conceitos de ANMs foram sendo desenvolvidos.
Hoje, as árvores de natal podem ser classificadas quanto ao modo de instalação e
conexão das linhas de produção e controle. A seguir será feito um breve resumo sobre
os tipos de ANMs. Abaixo pode ser visto um desenho esquemático (fig.1.16) de uma
ANM, BAP e cabeça de poço (wellhead).

Árvore
de natal

BAP

Cabeça
de poço

Fig. 1.16 – Desenho esquemático de


uma ANM.

ANM tipo DO

As árvores de natal do tipo DO (diver operated), ou operadas por mergulhador


como da figura 1.17, são utilizadas até 150m de profundidade. As conexões das linhas
de fluxo e atuação das válvulas executadas por mergulhadores. São ANM de baixo
custo e são utilizadas, normalmente, em poços marginais.

14
Fig. 1.17 – AMN tipo DO.

ANM tipo DA

As árvores do tipo DA (diver assisted), ou assistida por mergulhador (fig. 1.18),


são utilizadas para LDA de até 350 metros. A operação das válvulas é feita por meio de
comando hidráulico na plataforma, através do umbilical. Então há necessidade de
mergulhador sempre que houver intervenção (workover) na árvore.

Fig. 1.18 – AMN tipo DA.

ANM tipo DLL

O tipo DLL (diverless lay-away), sem auxílio de mergulhador e instalação pelo


método lay-away, surgiu para superar uma tentativa frustrada de projeto de árvore
diverless (DL) que tiveram problemas durante as conexões das linhas de fluxo e
controle após a instalação da árvore. Como são instaladas pelo método lay-away, as
linhas de fluxo e de controle descem conectadas à ANM ou conectadas a uma base
adaptadora de produção (BAP), como em alguns modelos. Este método de instalação

15
será abordado mais detalhadamente quando forem apresentados os métodos de
instalação de dutos flexíveis.

Estes tipos de ANMs são utilizadas até 650 metros de LDA e são instaladas por
meio de cabos-guia, tanto a BAP quanto a ANM. A figura 1.19 representa uma ANM
tipo DLL.

Fig. 1.19 – AMN tipo DLL.

ANM tipo GLL (fig.1.20)

As ANMs do tipo GLL (guidelineless), ou seja, sem a utilização de cabos-guia e


sem auxílio de mergulhador, são utilizadas para LDA acima de 500 metros. Assim
como no modelo anterior, as GLL também utilizam BAP. Devido a não utilização de
cabos-guia, a orientação nos acoplamentos é realizada por grandes funis, e utilizando
sistemas de rasgos e chavetas para alinhamento azimutal.

A partir deste modelo de ANM se desenvolveu o conceito de conexão,


utilizando módulos de conexão vertical (MCV), em substituição ao sistema em que as
linhas descem conectadas a ANM. Neste conceito, que é apresentado detalhadamente na
seção de métodos de lançamento de linhas, as linhas de fluxo e controle são descidas
após a instalação da ANM, desvinculando-as das embarcações de lançamento.

Hoje, nas novas ANMs, está se utilizando a conexão das linhas diretamente na
BAP, de forma a eliminar a necessidade de retirada das linhas junto com a ANM,
quando for necessária a intervenção nas linhas ou na ANM.

16
Fig. 1.20 – AMN tipo GLL sendo
lançada.

ANM HORIZONTAL (ANMH)

As árvores de natal horizontais são utilizadas em águas ultraprofundas e têm


como principal diferencial a disposição de suas válvulas, que permitem a retirada da
coluna de produção sem sua retirada, ou seja, a coluna da produção é retirada através da
ANMH, passando por seu interior. Fisicamente, a ANMH se assemelha às anteriores.
Um desenho esquemático é apresentado na figura 1.21.

Árvore de
natal
horizontal

Cabeça
de poço

Fig. 1.21 – Desenho esquemático


de uma ANMH.

17
I.2.4 MANIFOLDS

Manifolds são equipamentos compostos de tubulações, válvulas e sistemas de


controle instalados em uma estrutura metálica. Essa estrutura metálica tem como função
a proteção e base de apoio do conjunto. Os manifolds possuem sistemas de conexão
para linhas de produção ou injeção.

Os manifolds podem ser utilizados para produção, coletando a produção de


vários poços e direcionando em uma única linha de produção para a unidade de
produção (fig.1.22); para injeção de água ou gas-lift, recebendo a água ou o gás para
injeção por uma única linha e distribuindo para os diversos poços. Também podem ser
utilizados manifolds do tipo misto, que são encarregados da produção e da injeção
simultaneamente. Normalmente, um manifold pode estar conectado a linhas
provenientes de 6 a 10 poços. No caso de falha do sistema, as válvulas do manifold se
abrem, ao contrário das árvores de natal, sendo o fluxo controlado por sistemas de
controle no poço ou na plataforma.

Uma das principais funções dos manifolds é o controle de vazão dos fluidos que
entram e saem, através de válvulas de controles, denominadas chokes.

Fig. 1.22 – Arranjo submarino com utilizaçao de manifolds.

18
Algumas vantagens na utilização do manifold e os problemas gerados devem ser
considerados no momento de definição do arranjo submarino. Desconsiderando os
custos envolvidos, que nem sempre é um ponto a favor, visto o custo de construção e
instalação de um manifold, há uma redução do número de risers que chegam à
plataforma, reduzindo as cargas e espaço físico. Há também um descongestionamento
do solo submarino na região próxima a plataforma. Em contrapartida, há uma
introdução de novos modos de falhas no arranjo, com a utilização do manifold, além de
requerer mobilização de recursos complexos e de alto custo para manutenção.

Quanto ao método de instalação, os manifolds podem ser classificados como


sendo do tipo diver assisted (DA) ou do tipo diverless (DL). Os manifolds do tipo DA,
são utilizados em LDA de até 300 metros, instalados por navio com sistema de
posicionamento dinâmico (DP) e suas linhas de fluxo e controle são interligadas por
mergulhadores. Os manifolds do tipo DL são utilizados em LDA maiores e
normalmente são lançados por sondas, devido a suas dimensões avantajadas. As
interligações das linhas de fluxo e controle são realizadas sem auxilio de
mergulhadores, e atualmente tem sido utilizado módulo de conexão vertical (MCV) para
conexão, que será abordado mais adiante. Ambos os tipos de manifolds são,
normalmente, operados remotamente. A figura 1.23 mostra um manifold dotado de
sistema de conexa vertical de linhas de fluxo e controle. A instalação das linhas será
através de MCV.

Fig. 1.23 – Instalação de manifold com


sistema de conexão vertical.

19
I.2.5 PIPELINE END TERMINATION (PLET)

Este tipo de equipamento é utilizado em extremidades de dutos rígidos como


elemento de conexão para um duto flexível. Normalmente, é lançado flangeado na
extremidade do duto rígido e é dotado de sistema de conexão vertical para conexão de
duto flexível com um módulo de conexão vertical (MCV). A figura 1.24 representa um
desenho esquemático de um PLET.

Fig. 1.24 – PLET.

I.2.6 DUTOS FLEXÍVEIS

De acordo com Kebadze, em ref.[6], os dutos flexíveis possuem uma elevada


gama de utilização na indústria offshore de produção de óleo e gás. Aplicações estáticas
(fig.1.25), como em flowlines ou risers em plataformas fixas. Nesse caso, a escolha de
dutos flexíveis pode ser motivada pelo procedimento de instalação mais simplificado ou
pela suas propriedades de isolamento térmico ou resistência à corrosão, além de redução
dos carregamentos nos conectores. Normalmente, os dutos flexíveis utilizados como
flowlines têm sua estrutura preparada para resistir principalmente aos esforços sofridos
durante a instalação.

As aplicações dinâmicas, como na figura 1.26, são aquelas que possuem


movimento relativo entre a conexão com a unidade estacionária de produção (UEP) e a
conexão na outra extremidade, ou seja, movimento relativo entre as extremidades do
duto. Normalmente, os risers possuem aplicação dinâmica e são projetados para resistir
aos esforços de seu lançamento e aos impostos pelos movimentos resultantes das
condições ambientais durante sua vida útil.

20
Fig. 1.25 – Dutos flexíveis em aplicações estáticas.

Os jumpers flexíveis (fig.1.27), que são trechos relativamente curtos de dutos,


utilizados para interligar equipamentos ou dutos, podem ter aplicação tanto estática
como dinâmica.

Fig. 1.26 – Dutos flexíveis em aplicações dinâmicas.

21
Fig. 1.27 – Dutos flexíveis em aplicações como jumpers.

Os dutos flexíveis possuem algumas premissas básicas, que são supridas por
suas camadas sobrepostas e concêntricas de diversos materiais. Dentre tais premissas
pode-se destacar a elevada resistência à tração, a reduzida rigidez à flexão, menor
coeficiente de troca térmica em relação ao duto rígido.

Muitos trabalhos já foram desenvolvidos sobre dutos flexíveis nas últimas três
décadas. Várias aproximações têm sido utilizadas na modelagem da estrutura. A
presença de elementos helicoidais em uma estrutura multicamadas aumenta o número
de incertezas associadas com seu comportamento durante sua utilização. Uma das
grandes preocupações é a tendência que as camadas possuem de se separar sob certas
condições de carregamento. Os dutos flexíveis não possuem características lineares sob
flexão, principalmente devido ao escorregamento das camadas helicoidais e o atrito
entre elas.

CONFIGURAÇÃO DOS RISERS

O trecho suspenso de um duto - normalmente uma de suas extremidades se


encontra em uma UEP e a outra sobre o leito marinho - sujeito a cargas dinâmicas
causada pelas condições ambientais é denominado riser. Hoje, o riser é um dos fatores
limitantes para produção de petróleo em LDA maiores de 2000 metros.

Dentre as configurações para risers, no Brasil a mais utilizada e simples de


instalar, é a configuração em catenária livre. Há também alguns métodos para quando o

22
peso do riser se torna crítico em LDA maiores, ou há alguma restrição no solo marinho,
como corais que podem causar danos quando em contato com o duto. Para casos como
estes, podem ser utilizadas bóias fixadas ao duto para redução da carga na extremidade
superior do riser. Há casos em que uma estrutura flutuante localizada em algum ponto
entre o solo marinho e a superfície serve de suporte para o riser.

Um riser é considerado como estático quando instalado em plataforma fixa, no


interior de tubo “I” ou “J”. Ele é considerado como semi-estático quando instalado em
configuração de catenária em plataformas fixa ou auto-elevatória.

Um riser dinâmico pode ser utilizado em unidades flutuantes nas configurações


de catenária, lazy S, steep S, lazy wave, steep wave e pliant wave, mostradas nas figuras
1.28 a 1.33.

Fig. 1.28 – Configuração de Fig. 1.29 – Configuração em


catenária livre (free hanging). lazy S.

Fig. 1.30 – Configuração em Fig. 1.31 – Configuração em


steep S. lazy wave.

23
Fig. 1.32 – Configuração em Fig. 1.33 – Configuração em
steep wave. pliant wave.

Uma comparação entre as diversas configurações e características é apresentada


na figura 1.34.

Fig. 1.34 – Comparação entre as configurações de risers.

ESTRUTURA DO DUTO FLEXÍVEL

Os dutos flexíveis, com sua estrutura multicamadas, conseguem atingir grandes


curvaturas sem sofrer danos devido ao movimento relativo que ocorre entre elas. Com

24
esta propriedade os dutos flexíveis se sobrepõem aos rígidos em aplicações dinâmicas.
Sua estrutura consiste em tubos plásticos e camadas helicoidais metálicas.

Fig. 1.35 – Dutos flexíveis dos tipos rough bore e smooth bore.

Os dutos flexíveis podem ser do tipo rough bore ou smooth bore, apresentados
na figura 1.35. Os dutos do tipo smooth bore (interior liso) são os que possuem camadas
de barreira de pressão, poliméricas, como primeira camada mais interna, ou seja, a
camada que entra em contato com o fluido. Este tipo de construção é adotado em poços
injetores de água e aquedutos. Os do tipo rough bore (interior rugoso) são os que
possuem uma camada metálica de carcaça interna como primeira camada mais interna.
Este tipo de construção é adotado em poços injetores de água, produtores de óleo,
injetores de gás, oleodutos, gasodutos e aquedutos.

Há dois tipos de dutos flexíveis: os do tipo bonded (colados ou vulcanizados),


como da figura 1.36 e os do tipo unbonded (não colados ou não vulcanizados). Os do
tipo bonded possuem suas camadas coladas uma nas outras por meio de aplicação de
adesivo ou pela aplicação de calor e/ou pressão, como em um processo de vulcanização.
Isso faz com que suas camadas se comportem como se fossem uma única. Esse tipo de
estrutura é muito pouco utilizado nos dias de hoje, na indústria offshore, e limitado a
trechos curtos, devido à limitação no processo fabril.

25
Fig. 1.36 – Duto flexível bonded.

Os dutos do tipo unbonded ou não colados, objeto deste estudo, possuem suas
camadas em contato com as adjacentes, mas livres para se movimentarem relativamente
entre si. Essa característica confere ao duto uma capacidade de flexão muito superior
aos dutos rígidos de mesmas dimensões. A seguir será feita uma descrição de cada uma
das camadas que compõem um duto flexível.

CARCAÇA INTERNA

É a camada mais interna do duto flexível, em dutos do tipo rough bore, e tem
como principal função resistir ao colapso provocado pela pressão externa. É fabricada
em material metálico de aço inoxidável, e enrolada em ângulo próximo de 90º (passo
curto). É fabricada por meio de dobramento de fitas finas enroladas helicoidalmente,
que resulta em uma carcaça intertravada.

O intertravamento entre passos adjacentes aumenta o poder de resistir ao colapso


por pressão externa devido à distribuição das forças ao longo da estrutura. Mas ao
mesmo tempo, o intertravamento aumenta a rigidez axial, pela restrição de movimento,
e também contribui para o aumento da rigidez à flexão, mas permanece bastante
complacente para pequenas deformações.

A carcaça interna (fig. 1.37) não é uma camada estanque, o fluido do interior do
duto atravessa facilmente esta camada e entra em contato com a seguinte, normalmente
uma barreira de pressão.

26
Embora tenha como principal função à resistência ao colapso provocado por
pressão hidrostática, no projeto deve ser previsto as cargas de compressão radial
impostas pelo sistema de tracionamento para o lançamento do duto, comumente
chamados de lagartas, que inclusive podem gerar uma deformação inicial.

Fig. 1.37 – Carcaça interna de duto flexível.

BARREIRA DE PRESSÃO

A camada cilíndrica polimérica denominada barreira de pressão (fig.1.38) tem


como principal função formar uma região de contorno para o fluido, ou seja, o fluido
deve ser impedido de penetrar no interior do duto por esta camada estanque. Sua
fabricação é através da extrusão do polímero sobre a carcaça interna.

O polímero, normalmente poliamida, deve possuir estabilidade química quando


em contato com os fluidos internos, que podem ser óleo, gás, água ou uma mistura
destas substâncias, além de sedimentos e contaminantes, como H2S, CO2 etc. Também
deve resistir termicamente, pois é normal o fluido transportado possuir temperatura
elevada. Deve haver uma preocupação constante com os produtos químicos injetados na
linha, como álcoois, inibidores de corrosão etc, para não comprometer a integridade do
polímero.

27
Polímero

Fig. 1.38 – Barreira de pressão de duto flexível.

ARMADURA DE PRESSÃO

Esta é uma camada helicoidal de aço com perfil Z, C ou T, dependendo do


fabricante, e por isso é normalmente denominada de camada zeta ou teta, conforme
figura 1.39. O perfil dos arames causa o intertravamento entre passos adjacentes. O
ângulo de assentamento é próximo a 90º (passo curto), e suas funções são resistir à
pressão interna, contribuir na resistência ao colapso hidrostático (principalmente nos
dutos smooth bore) e resistir às compressões mecânicas radiais durante seu lançamento.

Fig. 1.39 – Armadura de pressão com perfis zeta e teta de duto flexível.

ARMADURA DE TRAÇÃO

A principal função dessa camada helicoidal da figura 1.40 é resistir à tração no


topo do riser, durante a vida útil da estrutura. Sua construção consiste em arames (no

28
caso da armadura de tração, são denominados tendões), normalmente metálicos e de
perfil retangular, enrolados helicoidalmente. Normalmente são utilizadas pares de
armaduras de tração, enroladas em ângulos opostos (ou bem próximo disso), para se
evitar que a estrutura tenda a girar ao sofrer cargas tracionais.

As armaduras de seção transversal cilíndrica são normalmente empregadas em


umbilicais submarinos, pois a conformação é mais simples e o peso da estrutura é
menor. As armaduras que possuem seção retangular, normalmente utilizadas em dutos,
permitem uma melhor compactação da camada, otimizando a relação de espessura da
camada com área resistente. Durante a fabricação, são impostas deformações plásticas
aos arames, criando uma pré-conformação que deve ser precisa para evitar tensões
residuais no interior do duto. Essa pré-deformação faz com que os arames tenham um
raio espontâneo de enrolamento menor do que ele será enrolado. Isso causa uma leve
pressão de contato sobre as camadas interiores.

Fig. 1.40 – Armadura de tração de duto flexível.

CAPA EXTERNA

É uma camada polimérica utilizada para proteger o duto contra penetração de


agentes externos (principalmente água do mar) e proteção mecânica contra abrasão,
danos mecânicos etc. Outra função importante é servir de envoltória para manter a
armadura de tração montada (fig. 1.41).

O polímero normalmente é poliamida ou polietileno de alta densidade (HDPE).


Além das características descritas acima, a capa externa também deve possuir
resistência à exposição solar. A ruptura da capa externa favorece criação de outros

29
modos de falha nos dutos como corrosão das armaduras. Sua espessura contribui para a
rigidez à flexão de toda a estrutura.

Polímero

Fig. 1.41 – Capa externa de duto flexível.

OUTRAS CAMADAS

Além das camadas estudadas até este ponto, há algumas que merecem alguns
comentários. Como uma camada antifricção ou antidesgaste, utilizada entre camadas
com a função de reduzir o atrito em elas, e assim evitar desgaste de material.
Normalmente, consiste em uma fina fita polimérica aplicada entre camadas metálicas
adjacentes, que devido a movimento relativo entre elas, tenderiam a sofrer desgaste.

Uma outra camada muito utilizada é a fita antiflambagem, utilizada sobre a


camada de armadura de tração. São constituídas de fitas de alta resistência à tração, com
a finalidade de resistir a uma possível expansão da armadura de tração, pelo efeito de
compressão súbita do duto. Uma compressão súbita no duto tenderia a causar um
fenômeno de abertura da armadura conhecido como “gaiola de passarinho” (ou
birdcaging) , devido ao formato que a armadura fica. Uma função paralela que essa
camada exerce é a redução do atrito entre a capa externa e a armadura de tração, visto
que se localiza entre as duas.

Quando há necessidade de se reduzir perdas térmicas do fluido através da parede


do duto flexível para o ambiente se utiliza camada isolante. Normalmente, esta camada
fica localizada entre a capa externa e a armadura de tração.

30
I.1.7 SISTEMAS DE CONEXÃO

Segundo as referências [9], [10], [11] e [12], Com o aumento da lâmina d’água
dos campos petrolíferos brasileiros a utilização de dutos flexíveis como risers e
flowlines tem sido adotada como solução padrão. Um dos motivos é viabilizar a
antecipação da produção, através de um sistema provisório de produção que permite
posterior recuperação de duto para reutilização. Um segundo motivo é que, com a
adoção de FPSO como unidade estacionária de produção (UEP), risers flexíveis são
adotados por serem mais complacentes aos movimentos relativos desse tipo de
embarcação.

Com esse aumento de lâmina d’água, surgiu a necessidade de se desenvolver um


sistema de conexão de dutos em equipamentos submarinos como árvores de natal,
manifolds e outros como PLEM (Pipeline End Manifold) e PLET (Pipeline End
Termination). Uma alternativa atraente aos flowlines flexíveis é a utilização de dutos
rígidos, principalmente para campos gigantes em águas profundas ou campos marginais,
onde a distância da UEP é geralmente de alguns quilômetros. Com a utilização de
flowlines rígidos pode-se conseguir uma considerável redução de custos em comparação
aos flexíveis.

O sistema de conexão vertical pode ser utilizado em conexões de primeira e


segunda extremidade, ou seja, a conexão do duto nos equipamentos pode ser realizada
antes ou após seu lançamento sobre o leito marinho, para conectar dutos flexíveis ou
trechos de dutos rígidos (spool) a equipamentos submarinos, como árvore de natal e
manifold ou a dutos rígidos, através de PLET ou PLEM.

As primeiras árvores de natal projetadas para serem instaladas sem a necessidade


de mergulhadores (diverless) obtiveram pouco êxito. O resultado se mostrou um nítido
insucesso, visto que apenas uma das 29 árvores foi instalada sem a intervenção dos
mergulhadores. Felizmente, na época, os poços eram localizados em profundidades ao
alcance de mergulhadores (300m), o que permitiu a conclusão das instalações. Mas
ficou comprovado que essas instalações foram mais demoradas do que as que
originalmente utilizavam mergulhadores. Mas com sucessivas descobertas de campos a
profundidades maiores de 300 metros, foi necessário o desenvolvimento de sistemas de
conexão sem auxílio de mergulhadores (diverless) com confiabilidade comprovada.

31
SISTEMA DE CONEXÃO LAY-AWAY

Uma decisão por não se aprimorar técnicas de conexão foi adotada durante um
período. Foi utilizada a opção de se instalar as árvores de natal com os flowlines já
conectados a ela, para evitar conexões não confiáveis. Cinqüenta e sete operações lay-
away foram realizadas inicialmente, sendo 36 sem auxílio de cabos-guia (guidelineless).

O barco de lançamento de linhas flexíveis (lay-vessel) se posiciona a 30 metros


da unidade de completação, conforme figura 1.42, que geralmente é uma sonda semi-
submersível, localizada sobre o poço. Um cabo de aço é transferido do barco de
lançamento para a unidade de completação e a outra extremidade é fixa no duto flexível.
À medida que o cabo é tracionado para a unidade de completação, o duto é baixado,
pagando-se até atingir uma pré-determinada catenária. Então a extremidade do duto
flexível alcança o convés inferior (moonpool) da sonda e é conectada à árvore de natal.
Após a conexão, a montagem é pressurizada e testada para que qualquer ocorrência de
vazamento possa ser resolvida em superfície. O próximo passo é baixar a árvore de
natal simultaneamente com o duto flexível até a instalação no poço. Depois de realizado
outro teste de estanqueidade das conexões, a embarcação de lançamento começa a
lançar linha flexível na direção da UEP, que receberá a segunda extremidade.

Barco

ANM
Duto

BAP

Fig. 1.42 – Sistema de conexão lay-away.

Uma grande desvantagem desse sistema é a necessidade de utilização de duas


embarcações, uma de completação e outra de lançamento de linha, para realizar a
instalação. Além do custo de utilização das duas embarcações ser elevado, esse método
pode causar sérios problemas de logística. Possíveis problemas em umas das
embarcações irão acarretar em tempo de espera da outra, elevando mais ainda o custo da

32
instalação. O problema pode se tornar mais grave se for levado em consideração os
poços seguintes que também sofreriam atraso, e assim atraso no início de produção,
devido ao reduzido número de embarcações de completação de lançamento de linhas
disponíveis.

Além disso, há uma impossibilidade de se realizar conexão de segunda


extremidade com esse método. Por um longo período essa restrição não se tornou em
problema, pois quase todos os poços eram conectados diretamente às UEPs, até que no
campo de Albacora, na bacia de Campos, houve a necessidade de arranjo com manifold
submarino, que requeria uma conexão de segunda extremidade preferencialmente na
árvore de natal.

SISTEMA DE CONEXÃO VERTICAL INDIRETA

Introduzida em 1994, no poço MRL-20, o sistema de conexão vertical indireta


ou convencional, foi projetado para suprir as necessidades e limitações que o sistema
lay-away impunha às operações de instalações de equipamentos. Esse sistema
convencional tinha como princípios básicos: ser uma opção confiável e simples para
conexões de segunda extremidade em equipamentos submarinos; e eliminar a
necessidade de utilização simultânea de duas embarcações (unidade de completação
com sistema de posicionamento dinâmico e de lançamento de linhas), flexibilizando a
logística.

Com essas premissas surgiu o sistema de conexão vertical convencional que é


descrito como sendo uma operação com duas fases. A primeira fase consiste em baixar
o duto flexível com um dispositivo para conexão das linhas, denominado módulo de
conexão vertical (MCV), em sua extremidade conectada a uma base de abandono
temporária (BAT). A BAT com o duto conectado é apoiada no fundo do mar próximo
ao equipamento submarino. Após instalar a BAT, a embarcação de lançamento de linhas
se afasta do local. Numa segunda fase, conforme figuras 1.43 e 1.44 a unidade de
completação se posiciona sobre a locação e retira o MCV da BAT, com a mesma
ferramenta utilizada para instalar a base adaptadora de produção (BAP), e encaixa o
MCV no receptáculo em forma de funil, localizado na BAP, ou no manifold. No caso
das árvores de natal, o próximo passo é descer a árvore de natal, que vai
simultaneamente se encaixar na BAP e travar o MCV.

33
Fig. 1.43 – Sistema de conexão vertical convencional ou indireta.

1.

Fig. 1.44 – Trenó de abandono.

O MCV possui uma junta com um sistema tipo swivel, que funciona semelhante
a braços articulados, eliminando a incidência de momento que poderia dificultar a
instalação. Também pode-se ter MCVs com forma de funil invertido (funnel-down),
como figura 1.45, ou em forma de mandril (fig. 1.46), tendo o receptáculo do
equipamento submarino o formato de funil (funnel-up).

Fig.1.45 - MCV com articulações


e formato funil invertido.

34
Fig. 1.46 – Conexão de dutos flexíveis a um manifold
utilizando MCV.

Devido ao sucesso do sistema de conexão vertical convencional, cerca de 25


conexões foram realizadas nos campos de Marlim e Albacora, na bacia de Campos.
Mas, apesar do sucesso alcançado com esse sistema, algumas importantes modificações
foram estudadas para torná-lo operacionalmente mais eficiente. A experiência mostrou
que a utilização da base abandono temporária (BAT) causa aumento de custo do
equipamento e alguns contratempos, como:

• Tempo necessário para manuseio da BAT a bordo da embarcação e para sua


posterior recuperação do fundo do mar.
• Dependendo do tipo e condição do leio do mar, há necessidade de se fazer
nivelamento da BAT, o que às vezes é difícil.

• O manuseio a bordo da embarcação de lançamento de linha é complicado, pois


alguns barcos não possuem acomodação para a segunda BAT.
• E o motivo talvez mais importante: uma unidade de completação ainda era
necessária.

SISTEMA DE CONEXÃO VERTICAL DIRETA COM MLF

Nessa técnica introduzida em 1996/97, a idéia básica quando se procurou


desenvolver esse sistema foi abolir a necessidade de utilização de base de abandono
temporária (BAT), permitindo que ambas as extremidades pudessem ser conectadas

35
dispensando o uso de unidade de completação com posicionamento dinâmico, que tem
custo operacional elevado, além de ser escassa no mundo inteiro.

O conceito denominado de sistema de conexão vertical direta (fig.1.47) não foi


uma idéia originalmente brasileira, pois esse conceito já havia sido desenvolvido e
construído pela Hughes, para conexão de árvore de natal no campo de Montanazzo, mas
nunca foi instalada devido ao campo ter se tornado não comercial. Um sistema similar
foi utilizado no campo de Popeye, no Golfo do México, em setembro de 1995.

Na conexão vertical direta, um dispositivo de conexão, denominado mandril de


linha de fluxo (MLF) e também conhecido com “torpedo”, como o da figura 1.48,
conectado na extremidade do flowline é diretamente inserido no receptáculo da base
adaptadora de produção (BAT), como o da figura 1.49. Um cabo de aço é utilizado para
descer o duto com o MLF em sua extremidade, e diferentemente do método anterior que
necessitava de riser de perfuração para concluir a conexão, tentou-se descer o MLF com
o duto fazendo papel de cabo, ou seja, sendo descido através do pagamento da própria
linha, mas não se conseguia verticalização suficiente do MLF para realizar o encaixe.
Uma embarcação de lançamento de linhas flexíveis, com o poder de se manter em uma
determinada posição devido ao sistema de posicionamento dinâmico, pode
perfeitamente cumprir o papel da unidade de completação. Isso representa considerável
redução de custo operacional, bem como maior flexibilização para fazer a programação
das embarcações. O MLF também possui articulações em sua conexão com o duto.

Fig. 1.47 – Sistema de conexão direta com MLF.

36
Fig. 1.48 - Mandril de linha de fluxo (MLF) de poço produtor.

Fig. 1.49 – Funil da BAP.

Uma particularidade desse sistema é que, diferentemente de seus antecessores, é


mais adequado para a instalação de várias linhas (bundles), ao invés das linhas
individualmente. Também possui outra vantagem importante: a possibilidade de se
realizar conexões tanto em primeira como em segunda extremidade nos equipamentos
submarinos, principalmente árvores de natal.

SISTEMAS DE CONEXÃO UTILIZANDO MCV

Nos sistemas de conexão vertical utilizados até então (direto e indireto), as


linhas flexíveis eram encaixadas entre a base adaptadora de produção (BAP) e a árvore
de natal, que era descida em seguida, completando a conexão da(s) linha(s). Com essa
configuração, há uma necessidade de se retirar a árvore de natal caso se queira

37
desconectar as linhas de fluxo. Essa condição exige a uma intervenção mais complexa,
com o deslocamento de uma unidade de completação para a locação para erguer a
árvore de natal.

Pensando nesse cenário foi desenvolvido um aprimoramento dos sistemas


anteriores que passou a ser denominado de sistema de conexão utilizando módulos de
conexão vertical (MCV). O MCV é o principal componente do sistema de conexão
vertical, fixado na extremidade do duto submarino. Esse Sistema se assemelha ao já
existente para conexão das linhas em manifolds submarinos. Sua principal vantagem é a
possibilidade de se realizar as conexões das linhas antes ou depois da instalação da
árvore de natal. As conexões da árvore com a BAP passaram a ter independência em
relação à conexão da linha. Para que isso fosse possível, o ponto de conexão da linha
com o equipamento submarino passou a ser localizado na parte inferior da BAP (fig.
1.50), e não mais na parte superior onde era conectada também a árvore de natal.

Fig. 1.50 – Árvore de natal com sistema de conexão


vertical localizado na parte inferior da BAP.

O MCV normalmente tem formato de funil invertido (funnel-down) e o


receptáculo da BAP tem forma de mandril. Vale ressaltar que não há impedimentos para
que o funil esteja localizado no equipamento submarino e o MCV funcione como
mandril.

38
O MCV é o principal elemento do sistema de conexão vertical. O MCV é
composto de pescoço de ganso, conector, sistema de soft landing, painel de ROV e
partes do sistema de guia, conforme pode ser visto na figura 1.51.

O pescoço de ganso, conforme já explicado é um duto de aço curvado, onde é


fixado o duto flexível submarino. Quando não for especificado, este deve ter ângulo de
45º. A altura mínima do flange do pescoço de ganso, quando o MCV estiver travado no
mandril, deve ser de 3 metros, embora se conectado a uma base de abandono temporária
(BAP), normalmente não alcance essa distância.

Conector é o componente responsável pelo travamento entre o MCV e o mandril


e energização dos selos de vedação. O sistema de soft landing possibilita que o
assentamento final do MCV seja suavizado, evitando danos nos elementos de vedação
da interface entre o conector do MCV e o mandril.

Painel de ROV é um painel de controle localizado no MCV para que o ROV


comande as operações. Sistema de guia tem por finalidade aproximar o eixo vertical do
MCV com o eixo vertical do mandril, possibilitando o completo encaixe entre ambas as
partes. Swivel é um componente de ligação entre outros dois componentes que permite o
movimento relativo de rotação entre eles.

Pescoço de
Ganso
Swivel
Painel de
Pescoço de ROV
Ganso
Painel Swivel Conector
de ROV
Soft
Conector Landing

Soft
Landing
Mandril

Figura 1.51 – MCV com formato funnel-up e funnel-down.

39
Como abordado anteriormente, o MVC era dotado de articulação em sua
conexão com o duto flexível, assim conseguia-se redução do momento em sua estrutura
durante a instalação das linhas, favorecendo o alinhamento vertical do MCV para
conexão no mandril. Também havia a possibilidade de duas linhas, de produção e do
anular fossem conectadas simultaneamente no mesmo MCV. Por questão de redução de
custos de fabricação e confiabilidade do sistema de conexão, o MCV passou a ter
conexão com as linhas através de um trecho de duto rígido com geometria curvilínea e
sem articulação - pescoço de ganso ou goose neck. As linhas voltaram a ser instaladas
individualmente, e não mais em bundles como no sistema com mandril de linha de fluxo
(MLF). Como a articulação foi abolida, as linhas geram momento fletor no MCV
fazendo variar sua verticalidade. Hoje, o MCV possui um swivel na extremidade do
flange e permite a livre rotação da extremidade do duto, eliminando o efeito de torque.
Pois, testes em protótipos revelaram a presença constante de torque residual que
dificultava o alinhamento para conexão.

Como explanado anteriormente, o MCV pode ser descido por cabos de aço a
partir de uma embarcação de lançamento de linhas dotada de sistema de posicionamento
dinâmico (DP), conforme indicado na figura 1.52. Contudo, no caso de conexões de
segunda extremidade, ou seja, após o duto estar sobre o leito marinho, há necessidade
de um cabo adicional para suspender o duto próximo a sua extremidade para reduzir as
cargas no conector.

Cabo de Cabo para formar


lançamento corcova
Cabo de lançamento
Para barco
Para barco de
de lançamento
lançamento
MCV MCV

Mandril Duto flexível Mandril Duto


Equipamento Equipamento flexível Para primeira
submarino submarino extremidade

Fig. 1.52 - Conexões de primeira e segunda extremidade.

40
Segundo premissas de projeto, o MCV deve ser capaz de se acoplar no mandril
quando este estiver com um desalinhamento de até 6º com o eixo vertical do mandril.

Para grandes distâncias e grandes diâmetros, os dutos rígidos se sobrepõem aos


flexíveis em relação a custos. Dessa forma é possível utilizar flowlines rígidos
conectados a dutos flexíveis por meio de PLETs dotados de sistemas de conexão
vertical utilizando MCV, como o da figura 1.53.

Fig. 1.53 – PLET com MCV.

41
CAPÍTULO II
COMPORTAMENTO DO DUTO FLEXÍVEL SOB CARGAS DE
FLEXÃO

Segundo Witz e Tan, em ref. [2] e [3], os dutos flexíveis são estruturas
constituídas de certo número de camadas, normalmente cilíndricas poliméricas e
camadas metálicas dispostas em helicóides. Cada uma das camadas possui uma
característica específica, conforme já abordado anteriormente. As camadas poliméricas
têm função de vedação, ou seja, manter o fluido em seu interior, e as camadas
helicoidais metálicas, também denominadas de armaduras, representam as principais
características estruturais. As armaduras helicoidais consistem em certo número de
arames ou tiras metálicas enroladas helicoidalmente sobre um núcleo polimérico. O
principal objetivo dessas camadas é prover resistência mecânica para a estrutura
flexível.

A principal característica de um duto flexível é que, embora possua elevada


rigidez axial e torcional, esta estrutura é altamente complacente em flexão. Seu
comportamento axial-torcional é complexo e depende do grau de interação entre as
camadas que compõem o duto.

A principal vantagem desse tipo de estrutura é sua capacidade de acomodar


elevadas taxas de deformação flexional sem falhar. Para pequenas deformações, o atrito
interno restringe os movimentos relativos entre as camadas e, dessa forma, a estrutura
apresenta elevada rigidez à flexão. Para grandes deformações, o atrito interno entre as
camadas é superado, e assim, as camadas começam a sofrer movimento relativo entre si.
Nessa condição a estrutura apresenta redução em sua rigidez à flexão. O único
mecanismo que oferece resistência ao escorregamento é a fricção entre as camadas
adjacentes. Por sua vez, esse atrito é altamente dependente das pressões entre as
camadas. As pressões entre as camadas também respondem pelo escorregamento
relativo, que por sua vez é uma forma de quantificar a dissipação de energia devido à
fricção.

Em águas profundas e ultraprofundas é normal se encontrar temperatura próxima


de 5ºC. Essa temperatura baixa age diretamente no módulo de elasticidade de polímeros
tornando-os mais rígidos. O efeito desse incremento de rigidez nas camadas poliméricas
será abordado durante a modelagem e a simulação de instalação de MCV, mais adiante.

42
O efeito do aumento de pressão hidrostática no duto flexível, devido a maiores
profundidades de trabalho se dá com o aumento da pressão de contato entre as suas
camadas. A princípio, o efeito prático de uma maior pressão de contato se dá com a
redução do raio crítico de escorregamento entre as camadas.

Durante o estudo da flexão, serão feitas algumas suposições para tornar a análise
um pouco menos complexa:

• Pressão constante ao longo da interface.


• Pressão imposta pela própria flexão é negligenciada.
• Só serão considerados casos em que a flexão ocorre distante de conexões ou
terminações do duto flexível.
• Atritos dinâmicos e estáticos serão considerados como sendo iguais.
• Os arames ou tiras metálicas que compõem a estrutura possuem comportamentos
idênticos, portanto ao ser analisado um único elemento será possível predizer
como se comporta toda a camada a que ele pertence.
• A variação de espessura dos arames ou tiras metálicas, bem como das camadas
cilíndricas poliméricas, não são consideradas neste estudo.

II.1 CAMADAS CILÍNDRICAS POLIMÉRICAS

As camadas cilíndricas são consideradas como sendo tubos isotrópicos. Seu


comportamento é baseado em seções planas que continuam planas após a flexão. Ou
seja, as camadas cilíndricas poliméricas contribuem com relação linear de momento
fletor. Para uma curvatura “k”, o momento fletor “Mc“ de uma camada cilíndrica
polimérica é dado por ref. [2]:

Mc Ec ⋅Ic ⋅k (Witz e Tan, 1992) (2.1)

Onde:

Ec é o módulo de elasticidade do material da camada cilíndrica


Ic é o momento de inércia da camada cilíndrica

43
Assim, o momento fletor de todas as camadas cilíndricas será a resultante do
somatório do momento em cada uma das camadas e esses valores independem se no
momento da análise houve ou não escorregamento das camadas helicoidais.

II.2 CAMADAS HELICOIDAIS OU ARMADURAS METÁLICAS

Ainda segundo Witz e Tan, em [2] e [3], a análise das contribuições das camadas
helicoidais no comportamento do duto flexível é realizada considerando duas
aproximações: primeiro, os arames que compõem as camadas helicoidais são
considerados como tendo apenas cargas axiais, ou seja, tração, sendo ignoradas a
rigidez torcional e também a flexional. Na segunda aproximação, os elementos
helicoidais são tratados como tridimensionais sofrendo combinação de cargas de torção
e flexão. Ambos os casos são tratados separadamente a seguir.

II.2.1 COMPORTAMENTO ANTES DO ESCORREGAMENTO

Em caso de dutos flexíveis sujeitos a pequenas curvaturas, o atrito é suficiente


para evitar o escorregamento entre as camadas. As camadas atuam como se estivessem
coladas umas nas outras. Não há movimentos relativos entre as camadas e, dessa forma,
também não há dissipação de energia, e a relação momento fletor vs. curvatura é linear.

a) Elementos helicoidais sob tração apenas

Os esforços axiais, devido às cargas axissimétricas são constantes e iguais em


todos os arames das camadas helicoidais, salvo na região próxima ao conector, que pode
ter seus arames com cargas desbalanceadas, caso o procedimento de sua montagem
tenha sido inapropriado, o que pode levar a comprimentos de arames irregulares. Na
flexão do duto, ao contrário, as tensões não são constantes e variam em função da
posição angular do ponto analisado no duto (Fig. 2.1). Como estão sendo analisados em
uma situação antes do escorregamento, os arames são analisados como se estivessem
colados ao cilindro interno à sua camada. Como já dito, a tensão em um arame não é
constante, por depender de sua posição angular na seção transversal. A deformação em
um arame devido à curvatura “k” é dada por ref. [2]:

44
εj R⋅cos ( α ) ⋅sin( θ j) ⋅k (2.2)

Onde:

R é o raio de “enrolamento” da camada,


α é o ângulo de assentamento do arame (ângulo entre o eixo do duto e o
arame),
k é a curvatura imposta ao duto flexível,
j é a posição angular do arame “j”, que corresponde a:

2 ⋅π ⋅ j tan( α )
θj + z⋅
n R
Complementando:

n é o número de armes na camada helicoidal,


z é a posição ao longo do eixo do duto onde está a seção transversal
analisada.

Fig. 2.1 – Representação de uma camada helicoidal e sua posição angular


na seção transversal z = 0.

45
A relação momento fletor em função da curvatura, para uma camada helicoidal é
dada por ref. [2]:

⋅E⋅A⋅R ⋅cos ( α ) ⋅n⋅k


1 2 4
M (2.3)
2

Onde:

M é o momento fletor,
E é o módulo de elasticidade do material do arame, e,
A é a seção transversal do arame,
EA é rigidez axial do arame helicoidal

Assim, tem-se que a rigidez à flexão de uma camada helicoidal, sem


escorregamento ou movimento relativo entre as camadas e sujeito a carga axial, é:

⋅E⋅A⋅R ⋅cos ( α ) ⋅n(Witz & Tan, 1992)


1 2 4
E⋅I (2.4)
2

b) Elementos helicoidais sob flexão e torção

Quando um duto flexível está sujeito a um momento fletor, e assim, sofre uma
curvatura, os arames que compõem as camadas helicoidais sofrem alterações em sua
geometria. Essas mudanças de geometria causam flexão e torção localizada nos arames.

Pelo fato dos raios de “enrolamento” das camadas serem normalmente muito
menores do que o raio de curvatura do duto permite negligenciar as diferentes distâncias
entre o eixo neutro e o ponto analisado (fig.2.2). Ou seja, é considerado que em
qualquer posição angular da camada helicoidal sofrerá a mesma curvatura aplicada ao
eixo neutro do duto flexível. As curvaturas devido à flexão, nas direções normal e
binormal, e a torção, são dadas por ref. [2]:

Kn k ⋅cos( θ) Kb k ⋅cos( α ) ⋅sin( θ) sin( α1992)


(Witzτ& Tan, ) ⋅cos ( θ ) (2.5)

46
Fig. 2.2 – Flexão e torção locais de elementos helicoidais.

A relação de momento fletor em função da curvatura para uma camada


helicoidal, considerando apenas sob flexão e torção é dada, por Witz e Tan em ref. [2],
como sendo:

n
⋅ E⋅Ib ⋅cos ( α ) + E⋅In + G ⋅J ⋅sin ( α ) ⋅k
bt 2 2 (2.6)
M
2

E assim, a rigidez à flexão quando considerado o arame sofrendo flexão e


torção, é:

n
⋅ E⋅Ib ⋅cos ( α ) + E⋅In + G ⋅J ⋅sin ( α )
bt 2 2 (2.7)
( E⋅I)
2

Onde:

EA representa a rigidez axial do arame helicoidal,


EIn representa a rigidez à flexão do arame helicoidal na direção normal,
EIb representa a rigidez à flexão do arame na direção binormal,
GJ representa a rigidez torcional,
n é o número de arames da camada helicoidal,
Ib é o momento de inércia na direção binormal,
In é o momento de inércia na direção normal,
G é módulo de elasticidade transversal do material do arame,
J é momento de inércia torcional.

47
Dessa forma, a relação momento fletor em função da curvatura e a equação que
representa a rigidez à flexão para camadas helicoidais composta por “n” arames (no
caso de armadura de tração, denominados tendões), sofrendo a combinação de esforços
de tração, torção e flexão, é dada pela soma das equações que representam as análises
separadas (2.3) e (2.4) com (2.6) e (2.7). A armadura de pressão e a carcaça interna são
consideradas como irrelevantes no cálculo da rigidez à flexão, devido a seus curtos
passos (ângulo de assentamento próximo de 90º, segundo ref. 2 e 9.

n n
⋅ E⋅A⋅R ⋅cos ⋅( α ) ⋅k + ⋅ E⋅In + E⋅Ib ⋅cos ⋅( α ) + G ⋅J ⋅sin ⋅( α ) ⋅k
2 4 2 2
M1 (2.8)
2 2

n n
⋅ E⋅A⋅R ⋅cos ⋅( α ) + ⋅ E⋅In + E⋅Ib ⋅cos ⋅( α ) +(Witz ( α ) 1992)
2 4 2 2
(E⋅I)1 G ⋅J ⋅sin
& ⋅Tan, (2.9)
2 2

Pode ser percebido que se o ângulo de hélice “α” não for muito elevado, o
primeiro termo será responsável pela maior parcela de contribuição na rigidez à flexão
da camada helicoidal.

II.2.2 COMPORTAMENTO DEPOIS DO ESCORREGAMENTO

Cabe enfatizar que a equação (2.9) só é válida enquanto não houver


escorregamento entre as camadas helicoidais metálicas e camadas poliméricas. Duas
restrições são assumidas: restrição estrutural e friccional. A restrição estrutural
normalmente não pode ser ultrapassada sem que haja destruição da estrutura. A
restrição de atrito pode ser ultrapassada com o aumento da deflexão, e isso leva ao
escorregamento entre os componentes individuais. Tomando como exemplo uma
camada helicoidal enrolada em um cilindro, fica nítido que a flexão localizada dos
arames (tendões), tanto na direção normal quanto na binormal, está subordinada à
restrição estrutural. Contudo, as tensões axiais não-uniformes são mantidas apenas pelas
forças de atrito internas distribuídas ao longo dos arames. A restrição associada com
torção local é dependente da seção transversal do arame. Se o arame tiver seção
transversal retangular, que é o caso da maioria dos dutos flexíveis do tipo unbonded
(não vulcanizado ou não colado), este sofrerá restrição estrutural. A torção está sujeita a

48
restrição friccional apenas em caso de estruturas com arames de seção transversal
circular, que é o caso da maioria dos cabos e umbilicais. Então, escorregamento
torcional e axial são relacionados apenas para arames helicoidais de seção transversal
circular.

Para arames de seção transversal retangular, a energia de deformação da


camada helicoidal por unidade de comprimento, depois do escorregamento, apenas
possui contribuição de flexão e torção, que é representada por (ref. [2]):

π
2
2 1 2 1 2 1
⋅E⋅In ⋅( kn) + ⋅E⋅Ib ⋅( kb) +Witz⋅Gand
2
U2 ⋅ ⋅J ⋅kTan,
dθ1992) (2.10)
π 2 2 2
0

A resultante correspondente ao momento fletor após o escorregamento, é obtida


pela diferenciação da energia de deformação “U2“ com sua respectiva curvatura. Se a
armadura tiver “n” arames, M2 será dada por:

1
⋅n⋅ E⋅In + E⋅Ib ⋅cos ( α ) + G ⋅J ⋅sin ( α ) ⋅k
2 2 and Tan, 1992)
Witz (2.11)
M2
2

Ainda segundo Witz e Tan (ref. [2] e [3]), de acordo com a distribuição da
tensão axial, regiões de escorregamentos podem ocorrer na parte superior e na região do
eixo neutro do cilindro fletido, em que está enrolado o arame, que corresponde a um
quarto de volta do arame. Acredita-se que o escorregamento se inicia na região do eixo
neutro do cilindro. Antes do escorregamento ocorrer, as forças axiais são balanceadas
pelo atrito distribuído ao longo do arame. Essas forças resultantes são proporcionais à
curvatura, e por esse motivo, esse balanceamento será superado com o aumento da
curvatura. Assim que o equilíbrio é desfeito, o escorregamento se iniciará e propagará
até que volte a ocorrer o balanceamento de forças. Escorregamentos maiores podem
ocorrer na região de topo do cilindro devido à excessiva tensão axial que os arames
(tendões) sofrem antes de escorregar. Então, quando o estado de tensão axial é
suficientemente elevado, as forças de atrito não conseguem manter o estado de tensões.
A certa curvatura, o escorregamento vai começar a ocorrer na região de topo do cilindro

49
e a tensão vai se distribuir em um estado de tensão constante. Com maior flexão, as
regiões de escorregamento do eixo neutro e do topo do cilindro irão se propagar em
direção uma da outra e se encontrar. Nesse momento, o escorregamento vai ocorrer em
toda a região superior do cilindro e a tensão axial nos arames vai desaparecer por causa
da acomodação dos arames em volta do cilindro.

A mesma região de escorregamento vai existir para torção localizada dos arames
de seção transversal circular devido à distribuição similar de tensões. Nesse caso, é
possível que ambas as formas de escorregamento possam ocorrer simultaneamente. A
razão para isso é que uma vez que um dos tipos de escorregamento se inicie, favorecerá
ao segundo, devido ao atrito dinâmico ser menor que o estático, e assim, a capacidade
de se evitar o escorregamento seria significantemente reduzida. Para simplificação,
generaliza-se que o escorregamento axial e o torcional ocorrem simultaneamente se o
arame tiver seção transversal circular.

O mecanismo de escorregamento dominante é o axial na altura do eixo neutro. A


curvatura crítica para uma camada helicoidal é considerada como sendo a curvatura na
qual o escorregamento axial se inicia no eixo neutro. Esta curvatura crítica “kcr” pode
ser obtida considerando o equilíbrio do elemento no eixo neutro. Assim, a curvatura
critica é dada por (ref.[2]):

Pc1 ⋅Fr1 + Pc2 ⋅Fr2


kcr (2.12)
2 ⋅π ⋅ j tan( α )
E⋅t ⋅sin( α ) ⋅cos ( α ) ⋅cos ⋅
2
+ z⋅
n R

Onde:

E é o módulo de elasticidade do material do arame,


t é a espessura do arame,
Fr é o coeficiente interno de fricção ou atrito,
Pc é a pressão de contato,
α é o ângulo de hélice.

2 ⋅π ⋅ j tan( α )
A parcela + z⋅ corresponde à coordenada angular do arame.
n R

50
Pode-se observar que a menor curvatura para que ocorra escorregamento
corresponde a valores de [cos( )=±1], ou seja, =[0, , 2 , ...], que são pontos
localizados sobre o eixo neutro do duto. Assim, a curvatura crítica mínima seria:

Pc1 ⋅Fr1 + Pc2 ⋅Fr2


( kcr ) min (2.13)
E⋅t ⋅sin( α ) ⋅cos α )
2(

Com o aumento da lâmina d’água, dentre outros fatores, há um aumento das


pressões de contato entre as camadas adjacentes que compõem o duto flexível. Dessa
forma, um aumento na curvatura crítica “kcr” é esperado, pois uma maior força de atrito
estaria atuando no contato entre as camadas.

II.2.3 MECANISMO DE PROPAGAÇÃO DO ESCORREGAMENTO

Segundo Kebadze, em ref. [6], após o escorregamento iniciar no eixo neutro, a


força que atua tentando causar o escorregamento sofre mudança. Devido à simetria,
toma-se como modelo um quarto de passo de um arame helicoidal de perfil retangular,
como na figura 2.3. Este segmento de arame é dividido em duas partes por uma seção
transversal a uma distância “s” do eixo neutro.

Fig. 2.3 – Seção transversal de


arame helicoidal.

51
A parte mais próxima do eixo neutro está escorregando, mas a parte superior do
arame não está. A força agindo na parte que não está escorregando é dada por (ref. [6]):

2
N
0
E⋅ A ⋅ R⋅ cos (α )⋅ sin ⋅ ( θ )⋅ k (2.14)

Por outro lado, a força que age na parte que está escorregando não é mais uma
função da curvatura. Ela se iguala à força de atrito que age ao longo da parte que
escorrega.

Ffr ( P1 ⋅Fr1 + P2 ⋅Fr2) ⋅b ⋅s (Elizbar Kebadze, 2000) (2.15)

Onde:

Ffr é a força de atrito que está agindo na parte que sofre escorregamento,
P1 e P2 são as pressões de contato nas superfícies interna e externa do arame,
Fr1 e Fr2 são os coeficientes de atrito das superfícies interna e externa do
arame,
b é a largura do arame,
s é a distância da seção transversal ao eixo neutro (ver figura 2.3), e é dada
por:
R
s ⋅θ
sin⋅( α )

A camada helicoidal está em equilíbrio e também cada uma de suas seções


transversais. Dessa forma, as forças que agem nas seções transversais que escorregaram
e nas que não escorregaram devem sem iguais. Assim:

R
E⋅A⋅R⋅cos ( α ) ⋅k ( P1 ⋅Fr1 + P2 ⋅Fr2)(Elizbar
2
⋅b ⋅ ⋅θ
Kebadze, 2000) (2.16)
( ) sin α

A equação (2.14) permite determinar a curvatura crítica na qual a seção


transversal com coordenada angular “ ” escorrega. Esta curvatura crítica, após

52
substituição da expressão para a curvatura mínima “kcrmin”, dada pela equação (2.11),
resulta em:

θ
( kcr ) min⋅ ( ) kcr (2.17)
sin θ

Quando uma curvatura aplicada “k” é menor que a curvatura mínima, não há
escorregamento em ponto algum dos arames, e as camadas cilíndricas e as helicoidais
agem com sendo uma única estrutura elástica. Assim que a curvatura atinge um valor
mínimo, os arames da armadura de tração (tendões) começam a sofrer escorregamento.
Curvatura Crítica (m-1)

0 1 90 2 180 3 270 4 360


Coordenada Angular “ ” (graus)

Fig. 2.4 – Curvatura crítica em função da coordenada angular .

Conforme já explicado anteriormente, as primeiras a escorregar são as seções


transversais localizadas no eixo neutro, que são as seções com coordenadas angulares
“ ” iguais a [0, , 2 , ...], conforme figura 2.4. Com o crescimento da curvatura, as
partes do tendão para qual a curvatura crítica é menor do que foi aplicada curvatura “k”
começa a escorregar. Na figura 2.4, corresponde na abscissa aos trechos [0, 1], [ 2, 3]

e [ 4, 360]. Enquanto isso, as demais partes, correspondentes aos trechos [ 1, 2] e[ 3 e


4] são mantidas em suas posições devido às forças de atrito e permanecem como se
estivessem coladas ao cilindro polimérico. Quando a curvatura se torna igual a /2 kcr
que é o limite da equação (2.15), quando se aproxima de /2, a seção transversal na
posição angular /2 supostamente inicia o escorregamento. Contudo, pelo efeito de

53
simetria, o arame na faixa de [ /2, ] atua como um contrapeso, e dessa forma a seção
transversal em [ = /2] nunca sofre escorregamento.

A deformação na parte do arame que sofre escorregamento é mantida pela força


de atrito e na posição angular “ ”. A equação que representa essa deformação é uma
combinação das equações (2.2) e (2.15), e válida apenas para a parte do arame que sofre
escorregamento, é:

R⋅cos ⋅( α ) ⋅( kcr )
2 min
ε ⋅θ (2.18)

Para que sejam definidas as deformações ao longo do arame (tendão), a posição


angular da seção transversal que serve como divisor entre a parte que escorrega e a parte
que não escorrega deve ser determinada. A equação (2.17), não se permite ser resolvida
para “ ”.

Desde que apenas um quarto de passo é o objeto de interesse, a função


[y(x)=x/sin(x)] pode ser reescrita como [y(x)=1/cos(x/ )], onde “ ” é determinada pela
condição de contorno [y( /2)= /2]. A condição de contorno [y(0)=1] é satisfeita
automaticamente.

π
ξ 1 , 7836 (2.19)
2
2 ⋅a ⋅sin
π

Assim, a posição angular crítica que define a seção transversal que separa a parte
que escorrega da que não escorrega, no arame, para uma curvatura aplicada “k”, é
determinada por:

θ cr ξ ⋅a cos
( kcr ) min (2.20)
k

Conseqüentemente, há três estágios distintos na flexão de uma camada


helicoidal. O primeiro, quando [k (kcr)min], onde não há escorregamento das hélices e a
rigidez da camada do duto é dada pela equação (2.4), é uma relação de linearidade entre
o momento à flexão e a curvatura (trecho AO da figura 2.5). A segunda,
54
[kcrmin<k< /2.kcrmin], representado pela curva AB, corresponde ao caso quando uma
parte do arame escorrega e a outra parte não. O escorregamento ocorre gradualmente e a
posição da seção transversal que é o divisor entre a parte do arame que escorrega e a
que não escorrega é dada pela posição angular crítica, conforme equação (2.18). A
rigidez se reduz progressivamente e quando a curvatura alcança o terceiro estágio,
[k ( /2).kcrmin], representado pelo trecho BC, todas as seções transversais do arame
escorregam. Momento

kcrmin /2.kcrmin Curvatura

Fig. 2.5 – Gráfico com a relação momento fletor


vs. curvatura.

II.2.4 CASOS EXTREMOS DE CAMADAS HELICOIDAIS

Segundo Witz e Tan, em ref. [2], é importante ilustrar que o momento fletor de
camadas helicoidais considerando os casos extremos de ângulos de hélice [α=0º ou
90º]. No caso onde esse ângulo for 0º, os arames se comportam como sendo tiras
metálicas ao longo de um cilindro, paralelas ao eixo longitudinal do duto. No caso de
ângulo de hélice de 90º, os arames serão quase como anéis em torno de um cilindro,
situação encontrada nas camadas de armadura de pressão.

Se o ângulo for 0º, e os arames tiverem seção transversal retangular, a equação


do momento fletor se reduz a:

M1
n
2
( 2
⋅ E⋅A ⋅R ⋅k + ) n
2
⋅( E⋅In + E⋅Ib) ⋅k (2.21)

55
Onde o primeiro termo indica que o centro da seção transversal dos arames
permanece no mesmo plano de seção transversal do cilindro fletido. O segundo termo
pode ser considerado como a média da rigidez à flexão normal e binormal dos arames.
Pode ser observado que os arames do topo e do fundo do cilindro [ =90º e =270º]
experimentam apenas flexão binormal, enquanto que os localizados no eixo neutro
[ =0º e =180º] sofrem apenas flexão normal. Para um arame localizado em qualquer
outra posição ao redor do cilindro é esperado que flexão tanto na direção normal quanto
na direção binormal ocorra.

Fig. 2.6 – Ângulo • de uma camada


helicoidal.

No segundo caso extremo, com ângulo de hélice “α” próximo de 90º, ou seja,
com os arames enrolados quase circunferencialmente sobre o cilindro, a equação se
reduz a:

n
M1 ⋅( E⋅In + G ⋅J) ⋅k (2.22)
2

Os termos remanescentes demonstram que a rigidez a flexão é igual à média da


rigidez à flexão na direção normal e da rigidez à torção, nos arames.

56
CAPÍTULO III

ANÁLISE DE INSTALAÇÃO DE DUTO FLEXÍVEL COM MCV

Através de uma análise estática dos carregamentos que atuam no MCV, serão
estudadas as condições de equilíbrio no instante anterior ao seu encaixe no equipamento
submarino.

Com ajuda dos engenheiros Eduardo Vardaro, do CENPES, e Dr. Ivan Cruz, da
Subsea 7, as conexões de primeira e segunda extremidades foram modeladas no
programa de análises globais Orcaflex. As propriedades dos equipamentos envolvidos
na simulação de instalação de MCV com programa de análise global serão descritas nos
subitens deste capítulo.

Alguns esforços agem sobre o MCV: seu peso próprio, momento e tração na
extremidade do pescoço de ganso, devido à ação do peso do duto flexível conectado.
Será feita uma análise estática onde não serão consideradas as cargas geradas por
condições ambientais de correntes e ondas.

Os parâmetros que irão influenciar no equilíbrio do MCV são:

• A distância “d” do cabo de aço do guincho ao topo da linha,


• o comprimento da linha,
• o peso linear da linha (se estiver cheia ou vazia),
• ângulo do pescoço de ganso e,
• a variação da rigidez à flexão da linha devido à baixa temperatura e alta
pressão hidrostática.

As características e descrição dos componentes estão apresentadas a seguir. As


informações sobre o duto flexível e sobre os equipamentos foram fornecidas pelos
respectivos fabricantes.

III.1 DUTO FLEXÍVEL

O duto flexível utilizado no modelo foi escolhido aleatoriamente. Possui


diâmetro interno de 6 polegadas e foi projetado para trabalhar como flowline, em uma

57
lâmina d’água de 1200 metros. As características do duto flexível utilizadas na análise
foram fornecidas pelo fabricante. Na tabela 3.1 constam as informações gerais, entre
elas, as condições de trabalho para quais o duto foi projetado, e as tabelas 3.2 e 3.3
trazem informações específicas sobre as camadas que compõem a estrutura do duto.

Tabela 3.1 – Informações gerais sobre o duto flexível

Tabela 3.2 – Informações sobre as camadas do duto flexível

Tabela 3.3 – Informações adicionais sobre as camadas helicoidais do duto flexível

Seguindo as informações fornecidas pelo fabricante, foi feita uma análise do


duto com essas propriedades utilizando as equações fornecidas pela literatura e que
constam no capítulo II.

Esse duto flexível foi projetado para trabalhar como flowline a 1200 metros de
lâmina d’água (LDA). Conforme comentado anteriormente, com o aumento da

58
profundidade ocorre uma redução na temperatura da água do mar. Na região de maior
produção offshore do Brasil, bacia de Campos, é comum se encontrar temperatura da
ordem de 5ºC próximo ao solo marinho. Por esse motivo, deve-se redobrar a atenção no
cálculo dos dutos flexíveis, pois devido à baixa temperatura este pode ter sua rigidez à
flexão aumentada de forma significativa. Neste estudo foi verificado que o duto teve a
rigidez à flexão duplicada. Um gráfico disponibilizado por um grande fornecedor de
matéria-prima para os fabricantes de dutos flexíveis e representado na figura 3.1, mostra
que há uma variação considerável do módulo de elasticidade da poliamida 11 (PA-11)
em relação à temperatura. Cabe enfatizar que a PA-11 é o polímero de maior utilização
para fabricação das camadas cilíndricas dos dutos flexíveis, e é a utilizada no duto em
análise neste trabalho.

Com o aumento da pressão hidrostática com a LDA, pode-se observar uma


redução no raio crítico do duto flexível, ou seja, as camadas tendem a escorregar entre si
a uma maior curvatura do duto.

PA-11
HDPE

Fig. 3.1 – Variação do módulo de elasticidade em função da temperatura.

59
III.1.1 CÁLCULO DA RIGIDEZ DO DUTO E CURVATURA

Utilizando a teoria constante no capítulo II, serão calculadas algumas


propriedades para serem utilizadas na simulação com MCV. No cálculo da rigidez de
um duto flexível serão consideradas duas fases: antes e depois de ocorrer
escorregamento entre as camadas.

O comportamento das armaduras cilíndricas permanece constante em ambas as


fases, e se dá pelo somatório da rigidez à flexão de todas as camadas cilíndricas que
compõem a estrutura do duto flexível.

A rigidez à flexão resultante das camadas helicoidais sofre uma significativa


redução após a ocorrência do escorregamento, e também é resultado do somatório das
rigidezes das armaduras de tração. O fato de não serem consideradas as demais camadas
helicoidais, como armadura de pressão e carcaça interna, se dá pela pouca contribuição
que estas representam na rigidez à flexão do duto, devido a seus ângulos de
assentamento serem próximos a 90º (ou seja, passo curto).

As camadas helicoidais foram analisadas em duas fases: antes e depois do


escorregamento entre as camadas que compõem o duto flexível. Os valores da rigidez
das camadas helicoidais metálicas são considerados constantes com a variação de
temperatura, pois o módulo de elasticidade do aço, que compõem essas camadas, sofre
variação desprezível na faixa de temperatura de 5 a 20ºC.

A seguir é feita uma análise para determinação da rigidez do duto em função da


temperatura e pressão hidrostática.

a) Rigidez à flexão das camadas cilíndricas:

A partir da equação (2.1), foi calculada a rigidez à flexão (E.I) das


camadas poliméricas, que nesse caso se resume as contribuições de rigidez da barreira
de pressão e a capa externa.

2
π
EIc E⋅Ii Ii
64
⋅ ( Di) 4 − ( di) 4
i= 1

60
Os índices [1] e [2] referem-se à barreira de pressão e a capa externa,
respectivamente, e:

EIc é a rigidez à flexão das camadas cilíndricas,


I é o momento de inércia da camada cilíndrica,
D é o diâmetro externo da camada cilíndrica,
d é o diâmetro interno da camada cilíndrica,
E é o módulo de elasticidade, obtidos do gráfico para os polímeros, e seus
índices referem-se à temperatura correspondente.

Os resultados obtidos de rigidez à flexão se encontram na tabela 3.4, assim como


a contribuição de cada camada polimérica, em porcentagem, para a rigidez total das
camadas poliméricas. A partir desses valores foi montado o gráfico da figura 3.2.

Tabela 3.4 – Rigidez das camadas poliméricas

Rigidez à Flexão
Módulo de
Temperatura
Elasticidade (kN.m2)
(ºC)
(MPa) Barreira de Capa Camadas
Pressão Externa Poliméricas

20 400 4,03 31% 9,00 69% 13,03

15 480 4,83 31% 10,17 69% 15,63

10 570 5,74 31% 12,82 69% 18,56

5 680 6,85 31% 15,30 69% 22,15

61
25

20

15

EI (kN.m2)
10

0
5 10 15 20
Temperatura (ºC)

Fig. 3.2 – Variação da rigidez à flexão em função da temperatura das


camadas cilíndricas poliméricas.

Devido aos diâmetros interno e externo maiores, como era esperado, pode-se
observar que a contribuição da capa externa à rigidez total das camadas cilíndricas é
maior do que a barreira de pressão.

b) Rigidez das camadas helicoidais antes do escorregamento entre as camadas:

A equação (2.9) rege o comportamento de uma camada helicoidal antes do


ocorrer escorregamento. Foi calculada a rigidez à flexão das duas camadas de armadura
de tração e somadas as contribuições de ambas. Relembrando a equação (2.9):

n n
⋅E⋅A⋅R ⋅cos ( α ) + ⋅ E⋅In + E⋅Ib ⋅cos ( α ) + G ⋅J ⋅sin ( α )
2 4 2 2
EIae
2 2

Onde:

EIae é a rigidez à flexão do arame helicoidal antes do escorregamento,


n é o número de arames da camada helicoidal,
Ib é o momento de inércia na direção binormal,
In é o momento de inércia na direção normal,
E é o módulo de elasticidade, que corresponde a 207x109 Pa para o aço.

62
G é módulo de elasticidade transversal do material do arame, corresponde a
80x109 Pa.
J é momento de inércia torcional,
R é o raio de assentamento da camada.

Além disso:

EA é a rigidez axial do arame helicoidal,


EIb é a rigidez à flexão do arame na direção binormal,
EIn é a rigidez à flexão do arame na direção normal,
GJ é a rigidez torcional.

Com os resultados dessa análise foi montada a tabela 3.5, que representa a
rigidez à flexão das camadas helicoidais que contribuem para a rigidez do duto flexível.

Tabela 3.5 – Rigidez das camadas helicoidais antes do escorregamento.

Rigidez à Flexão (kN.m2)

Armadura de Armadura de
Camadas Helicoidais
Tração Interna Tração Externa

662,7 48% 712,3 52% 1375,00

c) Rigidez das camadas helicoidais depois do escorregamento entre as camadas:

Após o escorregamento, a rigidez das camadas helicoidais sofre uma brusca


redução, conforme pode ser verificado na tabela 3.4. A equação (2.11) rege a
contribuição das camadas helicoidais. O valor resultante da rigidez à flexão das
camadas helicoidais é dado pelo somatório das contribuições das armaduras de tração
interna e externa. Relembrando a equação (2.11):

n
⋅ E⋅In + E⋅Ib ⋅cos ( α ) + G ⋅J ⋅sin ( α )
2 2
EIde
2

63
Com os valores obtidos foi montada a tabela 3.6, correspondente à rigidez total
das camadas helicoidais.

Tabela 3.6 – Rigidez das camadas helicoidais depois do escorregamento.

Rigidez à Flexão (kN.m2)

Armadura de Armadura de
Camadas Helicoidais
Tração Interna Tração Externa

0,63 48% 0,65 52% 1,28

d) Rigidez total do duto flexível antes e depois do escorregamento:

A rigidez total do duto flexível antes e depois escorregamento é dada pelo


somatório das contribuições das respectivas camadas cilíndricas e helicoidais. Os
valores de rigidez à flexão encontrados foram utilizados na montagem da tabela 3.7. As
contribuições das camadas helicoidais para a rigidez total do duto, em percentual,
podem ser encontradas na tabela. Foi considerada também a variação de temperatura
que influenciou os valores da rigidez à flexão das camadas cilíndricas. O gráfico da
figura 3.3 representa a relação de rigidez à flexão total do duto com a variação de
temperatura, antes e depois do escorregamento entre as camadas.

Tabela 3.7 – Rigidez à flexão do duto flexível e das camadas.


Rigidez das camadas Rigidez do Duto Flexível
Tempe- Rigidez das helicoidais (kN.m2) (kN.m2)
ratura camadas
cilíndricas Antes de Depois de Antes de Depois de
(ºC)
(kN.m2) escorregar escorregar escorregar escorregar

20 13,03 99% 0,1% 1388,00 14,30

15 15,63 99% 0,07% 1390,00 16,91


1375,00 1,276
10 18,56 98% 0,06% 1393,00 19,84

5 22,15 98% 0,05% 1397,00 23,42

64
Antes de escorregar Depois de escorregar

1600
1400
1200
EI (kN.m2)

1000
800
600
400
200
0
5 7,5 10 12,5 15 17,5 20
Temperatura (ºC)

Fig. 3.3 – Variação da rigidez à flexão do duto flexível em função da


temperatura.

Pode ser observado que a rigidez das camadas helicoidais sofre uma redução na
rigidez à flexão da ordem de 1000 vezes. A rigidez das camadas poliméricas pouco
contribui para a rigidez total do duto antes do escorregamento, mas após o
escorregamento passa a ser a responsável por quase toda a rigidez do duto. Isso ocorre
devido à queda brusca de rigidez das armaduras helicoidais.

A pequena contribuição das camadas helicoidais após o escorregamento se


acentua devido a não consideração das contribuições da armadura de pressão e da
carcaça interna, que segundo Witz e Tan, correspondem a cerca de 5% do valor final da
rigidez do duto. Normalmente estas armaduras helicoidais não são consideradas na
análise de rigidez à flexão do duto devido a pouca contribuição (passo curto) que
representa e elevado grau de incerteza que estas produzem no cálculo, devido à
dificuldade de se prever como ocorre o mecanismo de intertravamento durante a flexão.

e) Curvatura crítica do duto flexível:

A curvatura crítica mínima, dada pela equação (2.13), e como já foi dito, é a
menor curvatura na qual o escorregamento entre as camadas se inicia. Assim, é
considerada a menor curvatura crítica entre as calculadas para cada armadura de tração.
Isso ocorre inicialmente em uma das interfaces das armaduras de tração.

Pc1 ⋅Fr1 + Pc2 ⋅Fr2


( kcr ) min
E⋅t ⋅sin( α ) ⋅cos ( α )
2

65
Onde os índices [1] e [2] se referem às superfícies de contato entre os arames das
armaduras tração interna e externa, respectivamente, e:

E é o módulo de elasticidade do material do arame,


t é a espessura do arame,
Fr é o coeficiente interno de fricção ou atrito,
Pc é a pressão de contato, obtido do programa de análise local FRAES.
é o ângulo de hélice.

Para o duto analisado, a curvatura crítica de escorregamento entre as armaduras


de tração resulta em:

1
( kcr ) min 0 , 016 ⋅
m

Isso corresponde a um raio de curvatura crítico de:

( Rcr ) min 59 , 4 ⋅m

Conforme discutido no capítulo II, a curvatura crítica se inicia em (kcr)min, na


altura do eixo neutro, e se propaga por toda a hélice, completando essa fase de
escorregamento em:

π 1
⋅( kcr)
min
kcr 0 , 026 ⋅ Rcr 39 , 0 ⋅m
2 m

O gráfico da figura 3.4 foi traçado com os valores encontrados para este duto, a
temperatura de 5ºC. Os valores de rigidez e, conseqüentemente, de momento fletor
foram tomados com base na temperatura de 5ºC, que será a temperatura considerada nas
análises numéricas, correspondente à temperatura na região próxima ao solo marinho.
Nota-se que quando a curvatura atinge [kcr=0,016.m-1], que representa a curvatura

66
crítica inicial, a rigidez do duto sofre drástica redução até atingir uma curvatura na qual
ocorre o travamento das armaduras devido ao contato entre hélices adjacentes.

Na modelagem deste duto no programa ORCAFLEX, foram utilizados dados


com este mesmo perfil do gráfico da figura 3.4 para fornecer as informações sobre a
rigidez à flexão do duto. Neste caso, deve ser observado se em algum trecho do duto o
raio de curvatura resultante ficou abaixo do raio mínimo de curvatura de 1,42 metro,
valor que garante a integridade estrutural do duto. Cabe lembrar que a um determinado
raio de curvatura menor ainda do que MBR, o duto sofre uma brusca elevação de
rigidez à flexão devido ao travamento de suas camadas helicoidais, mas este fenômeno
não está representado no gráfico da figura 3.4 por não ter definido o valor de raio de
curvatura para este exemplar de duto flexível. Dessa forma, após cada simulação deve
ser analisados se em algum trecho experimentou um raio de curvatura menor do que o
MBR do duto.

Fig. 3.4 – Curva bilinear de momento fletor vs. Curvatura.

III.2 RESTRITOR DE CURVATURA

O restritor de curvatura está presente na montagem do duto como um elemento


para limitar o raio de curvatura do duto flexível em um valor predeterminado na região
próxima ao conector. Valor este que deve ser maior ou igual ao raio mínimo de

67
curvatura (MBR) do duto flexível, de forma a evitar danos ao duto. A figura 3.5
representa as principais dimensões do restritor.

Fig. 3.5 – Detalhe do restritor de curvatura.

Como neste modelo o raio de curvatura mínimo que se permite é de 3,285


metros, a partir deste raio de curvatura, a rigidez à flexão se torna muito alta, podendo
ser considerada como infinita se comparada a valores comumente obtidos em dutos
flexíveis. Para raios de curvatura maiores que 3,285 metros (curvatura equivalente a
0,304 m-1), a rigidez à flexão do restritor é muito baixa, sendo considerada como nula, e
assim sendo, apenas o valor da rigidez do duto flexível é considerado no trecho em que
se localiza o restritor. Este trecho com restritor, para efeito de modelagem, possui
alguns parâmetros que são somados aos do duto flexível, como se fosse uma estrutura
única com características de ambos. Na tabela 3.8 se encontram as propriedades do
restritor que foram utilizadas na modelagem. Pode ser observado que algumas
propriedades do restritor de curvatura foram somadas com as propriedades do duto
flexível, pois o trecho de duto em que se localiza o restritor foi modelado como sendo
uma única estrutura homogênea. Também pode ser observado que os valores de rigidez

68
à flexão do trecho com restritor vai variar de acordo com a rigidez do duto em cada
análise realizadas.

Tabela 3.8 – Informações sobre o restritor de curvatura.


Peso no ar vazio (duto + restritor) 3,85 + 0,964 = 4,814 kN/m
Peso na água vazio (duto + restritor) 3,85 + 0,544 = 4,394 kN/m
Diâmetro externo (restritor) 535 mm = 0,535 m (restritor)
Diâmetro interno (duto) 152,4 mm = 0,152 m (duto)
Rigidez axial (duto) 0,13 . 106 kN (duto)
Rigidez de flexão (duto) rigidez do duto na análise
Rigidez torcional (duto) 0,5 . 105 kN . m2 (duto)
Diâmetro hidrodinâmico 0,535 m
Comprimento 2,5 m
Raio mínimo permitido (restritor) 3,285 metros

O gráfico momento vs. raio de curvatura do trecho de duto flexível à


temperatura de 5ºC com restritor de curvatura é representado na figura 3.6. Pode ser
observada que na curvatura de 0,304 rad/m, que corresponde ao raio de travamento da
estrutura de 3,285 metros, a rigidez à flexão sofre uma brusca elevação. Lembrando que
no gráfico momento fletor versus curvatura, a rigidez é dada pela inclinação da reta.

Fig. 3.6 – Gráfico de momento fletor vs. curvatura do restritor de curvatura.

69
III.3 CONECTOR
O conector adotado é um de utilização freqüente nos dutos flexíveis no Brasil.
Sua modelagem foi feita como um elemento rígido e solidário ao MCV em uma das
extremidades e ao duto com restritor de curvatura na outra. A figura 3.7 representa o
desenho esquemático do conector e suas propriedades se encontram na tabela 3.9.

Fig. 3.7 – Conector.

Tabela 3.9 – Informações sobre o conector.


Peso do conector 830 kgf.
Comprimento 1500 mm.
Peso linear 5,42 kN/m
Peso no ar (vazio) 5,42 kN/m
Diâmetro externo 475 mm = 0,475 m
Diâmetro interno 152,4 mm = 0,1524 m
Módulo de elasticidade 2,1e8 kN.m2
Pressão máxima 27000 psi = 1,86e+05 kN/m2
Diâmetro hidrodinâmico 0,4750m

70
III.4 MÓDULO DE CONEXÃO VERTICAL (MCV)

O MCV utilizado na análise possui peso de 4000 kgf, distribuídos pela estrutura
esquematizada na figura 3.8. Foram consideradas as dimensões apresentadas e o MCV
foi modelado a partir de um elemento de bóia 6D (“6D buoy”), no ORCAFLEX.

Fig. 3.8 – Módulo de conexão vertical (MCV).

Seguindo o critério de especificação, caso não seja mencionado na requisição de


materiais, o pescoço de ganso deve ser fornecido pelo fabricante com ângulo de 45º. A
altura mínima do flange do pescoço de ganso, quando o MCV estiver travado no
mandril do equipamento submarino, e o solo marinho deverá ser igual ou maior do que
3 metros. Esse número é um número considerado como razoável para englobar todas as
configurações de conexão submarina. Acrescenta-se a esse valor a base do equipamento
e se terá um número que parece ser adequado. Foi adotado como valor extremo essa
altura de 2 metros, pois embora improvável nos modelos de MVC atuais, pode-se ter
uma situação em que se tenha que repousar o MCV em uma base de abandono

71
temporária (BAT). O MCV deverá ser capaz de acoplar e travar no mandril quando
estiver com um desalinhamento de até 6º em relação ao eixo vertical do mandril, no
momento de iniciar a ação dos sistemas de guia. O Sistema de Guia, conforme dito
anteriormente, pode ser funnel-up ou funnel-down e possuir um sistema de auto-
alinhamento azimutal do MCV, em relação ao eixo longitudinal do mandril, de 30
graus.

III.5 CABO DE AÇO

O cabo de aço utilizado na simulação foi selecionado no catálogo de cabos de


aço de uma empresa atuante no mercado. Adotou-se um cabo com alma de aço de uso
geral. Suas propriedades estão relacionadas na tabela 3.10.

Tabela 3.10 – Informações sobre o cabo de aço.


Diâmetro externo 0,0381 m
Peso específico 53,244 KN/m3
Módulo de elasticidade 98,067 KN/m2

III.6 SIMULAÇÕES REALIZADAS

Algumas simulações foram realizadas para representar a instalação de dutos


flexíveis utilizando módulo de conexão vertical (MCV). Duas possibilidades de
conexão no equipamento submarino foram representadas nas simulações: conexões de
primeira e de segunda extremidade. As conexões de primeira extremidade são aquelas
em que a primeira extremidade do duto a ser lançada no mar, será conectada ao
equipamento submarino (manifold, árvore de natal, PLET etc.). A partir da conexão no
equipamento submarino, a embarcação de lançamento de duto se afasta do local em
direção ao local onde será instalada a segunda extremidade do duto, o que normalmente
é uma unidade estacionária de produção (UEP). Nas conexões denominadas de segunda
extremidade, após a primeira extremidade do duto ser conectada, normalmente a uma
UEP, a embarcação de lançamento de duto segue em direção ao equipamento submarino
para que seja realizada a conexão. Um estudo prévio pode determinar qual o método
que melhor se enquadra a cada situação.

72
III.6.1 CONEXÃO DE PRIMEIRA EXTREMIDADE

Em uma conexão de primeira extremidade, o MCV conectado na extremidade do


duto flexível é descido suportado por um cabo de aço através de um guindaste na
própria embarcação de lançamento de linhas. Simultaneamente, se controla o
pagamento de duto flexível, de acordo com a velocidade de descida do MCV. Quando o
MCV se aproxima do equipamento submarino a ser conectado, deve-se ajustar o
comprimento de duto flexível e a distância horizontal entre o cabo de aço e o duto
flexível na superfície do mar, de modo que se consiga que o MCV permaneça com sua
verticalidade e a conexão possa ser concretizada, conforme figura 3.9.

Embarcação de
lançamento de dutos
d = 30m
flexíveis
guindaste

Superfície do mar

cabo
de aço duto
flexível

LDA=1200m
MCV

Equipamento
submarino

leito marinho

Fig.3.9 – Representação de conexão de primeira


extremidade.

A simulação foi feita a uma lâmina d’água de 1200 metros, para qual o duto foi
projetado. Como dito anteriormente, esta análise não leva em consideração as condições

73
ambientais, além de não representar o movimento de descida do MCV acoplado na
extremidade do duto. Esta análise estática tem como objetivo é estudar as forças que o
duto flexível, em função de suas propriedades e de seu comprimento, aplica no pescoço
de ganso do MCV e se a forma como este responde é satisfatória para que a conexão
seja realizada.

A modelagem da instalação de dutos utilizando MCV foi realizada conforme


figuras 3.10 e 3.11. A distância “d” na superfície corresponde à distância entre a posição
de lançamento do cabo de aço, por um guindaste, e a posição de lançamento do duto
flexível. Neste estudo, o valor de “d” foi fixado em 30 metros, o que representa um
valor próximo do que normalmente é utilizado em campo. Ambas a operações foram
realizadas por uma embarcação de lançamento de dutos flexíveis. Vale lembrar que o
desalinhamento máximo permitido ao MCV em relação ao eixo vertical do mandril é de
6º. A altura mínima entre o flange do MCV e o solo marinho, depois do acoplamento no
mandril, deve ser de 3 metros, segundo prática recomendada pela indústria nacional.
Porém, quando o MCV é acoplado a uma BAT repousada no solo marinho, esta altura
pode ser reduzida para cerca de 2 metros. Assim valores maiores que 2 metros serão
considerados como críticos.

Não pode ser ignorado que o trecho que possui restritor de curvatura sofre
aumento acentuado de rigidez a flexão quando atinge raio de curvatura de 3,285m,
sendo inferido no ORCAFLEX sob a forma de relação momento fletor versus curvatura.
Assim, sua curva de rigidez à flexão é semelhante à curva do duto em análise até que
atinja a curvatura de 0,304 rad/m (3,285 metros), quando sofre aumento acentuado em
sua rigidez à flexão.

As análises foram realizadas com o MCV posicionado próximo ao solo marinho,


representando como se estivesse pouco acima do equipamento submarino, pronto para
ser conectado. Foram realizadas algumas análises com diferentes valores de rigidez à
flexão do duto e observado o comportamento do MCV.

74
d =d30m

Superfície do mar

Duto flexível

Cabo de aço

Detalhe

Fig. 3.10 – Modelagem no programa ORCAFLEX para conexão de primeira


extremidade.

Cabo de aço

MCV

Conector

Restritor de
curvatura Duto
flexível
Solo marinho

Fig. 3.11 – Detalhe: MCV, conector, restritor de curvatura, duto flexível e cabo.

75
a) Condição 1: duto a 20ºC e rigidez à flexão após o escorregamento.

Primeiramente, foram realizadas simulações com a rigidez à flexão do duto a


uma temperatura ambiente de 20ºC, que normalmente é fornecido pelo fabricante do
duto flexível com sendo o valor de rigidez à flexão. Este valor fornecido corresponde à
rigidez à flexão do duto após a curvatura crítica, ou seja, é descartada a rigidez inicial
que possui valor muito superior. Os fabricantes normalmente desprezam essa elevada
rigidez inicial sob alegação de que as curvaturas críticas dos dutos flexíveis possuem
valores muito baixos e, dessa forma, pequenas deformações no duto seriam suficientes
para que essa fase de transição seja transposta, e a partir daí a rigidez à flexão do duto se
comporte como sendo constante.

O duto flexível possui rigidez a flexão de 14,3 kN m2 à temperatura de 20ºC e o


gráfico que corresponde à relação momento fletor versus curvatura está representado na
figura 3.12. Pôde ser observado que no programa ORCAFLEX, utilizado para as
análises globais do duto flexível, no campo onde são inferidos os valores de rigidez à
flexão, permite que seja um valor de rigidez único ou que seja inserido uma relação
momento fletor versus curvatura.

Fig. 3.12 – Curva de momento fletor vs. curvatura para rigidez considerada
apenas após o escorregamento.

76
Outro detalhe que dever ser considerado, é que ao ser adotada apenas a rigidez
após a curvatura crítica do duto (após o escorregamento entre as camadas), a curva que
corresponde a essa rigidez passa a ter início na origem (0,0) do gráfico momento fletor
versus curvatura, e não mais a um elevado valor de momento fletor onde ocorreria o
escorregamento.

O pescoço de ganso possui um ângulo de 45º, que é o valor padrão para quando
não for especificado outro diferente. Foram realizadas algumas simulações variando o
comprimento total do duto. Os resultados obtidos compõem a tabela 3.11.

Tabela 3.11 – Valores obtidos para a condição 1.

Raio mínimo
Ângulo Altura do
Comprimento de curvatura Pontos
final do flange ao
Caso total do duto resultante
MCV fundo do duto críticos
(L)
( ) (kmin) (h)

1.1 1205 m -12,1º 1,8 m 1,4 m > 6º

1.2 1206 m -4,9º 1,9 m 1,7 m Ok

1.3 1207 m +1,0º 2,2 m 2,1 m “h” elevado

1.4 1208 m +4,8º 2,5 m 2,3 m “h” elevado

1.5 1209 m +6,9º 2,8 m 2,7 m > 6º


“h” elevado

1.6 1210 m +8,3º 3,1 m 3,1 m > 6º


“h” elevado

O sinal positivo no ângulo “ ” indica rotação no sentido horário. Pode ser


observado que na condição 1, com valor de rigidez à flexão correspondente à
temperatura ambiente (20ºC), que o caso 1.1 não atingiu a verticalidade necessária para
a conexão do MCV. O caso 1.2, embora a inclinação do MCV e a altura do flange ao
fundo do duto “h” não sejam desprezíveis, estão dentro de uma faixa que possibilita o
acoplamento ao mandril do equipamento submarino. Nos casos de 1.3 a 1.6, resultariam

77
em elevada altura “h” e seria necessário um maior conhecimento da altura do mandril
do equipamento submarino para ser avaliado se o duto tocaria o solo marinho antes do
MCV conseguir ser acoplado, pois neste estudo estamos limitando a altura máxima em
2 metros. Além desse problema, os casos 1.5 e 1.6, ainda teriam o problema de
verticalidade do MCV, com seus ângulos acima de 6º. Apenas o caso 1.2 teria uma
aprovação inicial, pelos resultados obtidos nesta simulação.

b) Condição 2: duto a 20ºC, curva de rigidez à flexão bilinear (antes e após o


escorregamento).

Em uma segunda etapa, mas ainda com a temperatura do duto a 20ºC, foi
acrescentada a informação de rigidez à flexão antes do escorregamento. A curva da
rigidez à flexão utilizada como entrada na simulação foi a curva bilinear correspondente
à figura 3.13, com valores de rigidez distintos para curvaturas anteriores e posteriores à
curvatura crítica. Essa condição permite que possa ser analisado quão desprezível seria
a rigidez inicial do duto flexível (antes do escorregamento). Os resultados obtidos para
essa análise se encontram na tabela 3.12.

Fig. 3.13 – Curva bilinear momento fletor vs. curvatura para rigidez
considerada apenas antes e após o escorregamento.

78
Tabela 3.12 – Valores obtidos para a condição 2.

Raio mínimo
Ângulo Altura do
Comprimento de curvatura Pontos
final do flange ao
Caso total do duto resultante
MCV fundo do duto críticos
(L)
( ) (kmin) (h)

2.1 1205 m -19,7º 2,6 m 1,0 m > 6º

2.2 1210 m -6,9º 3,8 m 2,5 m > 6º


“h” elevado

2.3 1211 m -5,6º 4,0 m 2,8 m “h” elevado

2.4 1213 m -3,3º 4,3 m 3,6 m “h” elevado

2.5 1216 m -0,5º 4,3 m 4,7 m “h” elevado

2.6 1217 m +0,4º 4,32 m 5,2 m “h” elevado

Foi observado que os valores encontrados nesta análise foram bastante distintos
dos obtidos na condição 1, quando não se é considerada a rigidez antes do
escorregamento entre as camadas do duto. No caso 2.1, com comprimento de duto de
1205 metros, resultou em um valor de inclinação do MCV ainda pior se comparado ao
mesmo comprimento na condição anterior, sendo inadequado para realizar a conexão.
No caso 2.2, conseguido com uma variação bem maior no comprimento do duto, ainda
não foi alcançada a inclinação mínima necessária do MCV para possibilitar a conexão e
mesmo assim já ultrapassou o limite adotado de 2 metros para altura do flange ao fundo
do duto. Pôde ser observado que na condição 2, a variação de inclinação do MCV
esteve menos sensível à variação de comprimento do duto, ou seja, foi necessário
“pagar” mais duto para que a inclinação do MCV sofresse uma variação satisfatória.
Nos casos subseqüentes, 2.3 a 2.6, houve uma gradativa redução de inclinação do MCV,
alcançando a faixa satisfatória para conexão, mas em contrapartida houve um gradual
aumento no valor de “h”, que a princípio impossibilitaria a conexão.

c) Condição 3: Duto a 5ºC e curva de rigidez à flexão bilinear.

79
Realizada com valores de rigidez à flexão para temperatura de 5ºC, que
corresponde à temperatura na região próxima ao solo marinho. A curva bilinear dos
valores da rigidez antes e após a curvatura crítica está representada na figura 3.4. Essa
análise permite que seja avaliado o comportamento do duto em condições que
normalmente são encontradas em LDAs profundas durante a operação de instalação de
dutos flexíveis. Os resultados estão relacionados na tabela 3.13.

Tabela 3.13 - Valores obtidos para a condição 3.

Ângulo Raio mínimo


Altura do
Comprimento final do de curvatura Pontos
flange ao
Caso total do duto MCV resultante
fundo do duto críticos
(L)
( ) (kmin) (h)

3.1 1205 m -21,6º 3,3m 0,9 m > 6º

3.2 1209 m -10,0º 3,9 m 2,0 m >6

3.3 1211 m -7,0º 4,5 m 2,6 m > 6º


“h” elevado

3.4 1212 m -5,7º 4,7 m 3,0 m “h” elevado

3.5 1217 m -0,3º 4,9 m 5,0 m “h” elevado

3.6 1218 m +0,6º 4,9 m 5,4 m “h” elevado

Pode ser observado que pelos critérios de criticidade, todos os casos


apresentariam alguma dificuldade no acoplamento do MCV ao mandril. O caso 3.1,
com comprimento de duto de 1205m, pode ser analisado de forma comparativa com as
simulações anteriores de mesmo comprimento (casos 1.1 e 2.1). Não diferente dos casos
anteriores, em que a verticalização do MCV não foi satisfeita, neste caso 3.1 houve
ainda uma sensível piora dos resultados. Nos casos 3.2 e 3.3 foi atingido o limite de 2
metros adotado para a altura “h” do flange ao fundo do duto, e mesmo assim a
inclinação do MCV esteve muito acima do permitido. Nos casos 3.4 a 3.6, a inclinação
do MCV esteve dentro do permitido para a conexão, mas a altura “h” ultrapassou o
limite nestes três casos.

80
d) Condição 4: idem à condição 3, mas com a curvatura crítica do duto flexível o dobro
da original (kcr=0,032 rad/m).

Uma análise adotando um maior valor de curvatura crítica foi realizada para que
se possa fazer uma análise paramétrica da influência desta curvatura no comportamento
do duto. Diversos fatores influenciam na curvatura crítica de um duto flexível, como
coeficiente de atrito e pressão de contato entre as camadas. O coeficiente de atrito é
adotado comumente com valor de 0,1 e a pressão de contato pode variar em função de
diversos fatores, como lâmina d’água, fluido interno, além de cargas de tração no duto
durante seu lançamento etc. Assim, admitindo que posso haver algum erro no cálculo da
curvatura crítica, foi realizada uma simulação com o dobro do valor da curvatura crítica
original, para possibilitar uma análise de sensibilidade que um erro no cálculo pode
causar. Esse aumento na curvatura crítica provocou uma mudança na curva de momento
fletor versus curvatura, conforme figura 3.13, embora os valores de rigidez à flexão se
mantenham o mesmo. Lembrando que a curva que representa a rigidez à flexão do
restritor de curvatura é semelhante à curva do duto, porém com o travamento da
estrutura quando o raio de curvatura atinge o valor de 3,285 metros, ocorre um
acentuada elevação da rigidez. O resultado desta simulação está representado na tabela
3.14.

Fig. 3.14 – Momento fletor vs. curvatura. Curvatura crítica o dobro da


original.

81
Tabela 3.14 - Valores obtidos para a condição 4.

Raio mínimo
Ângulo Altura do
Comprimento de curvatura Pontos
final do flange ao
Caso total do duto resultante
MCV fundo do duto críticos
(L)
( ) (kmin) (h)

4.1 1205 m -38,3º 4,0 m 0,2 m > 6º

4.2 > 6º
1215 m -16,3º 5,8 m 2,9 m
“h” elevado

4.3 > 6º
1222 m -6,8º 5,4 m 5,8 m
“h” elevado

4.4 1223 m -4,9º 5,41 m 6,3 m “h” elevado

4.5 1226 m -1,2º 5,2 m 7,7 m “h” elevado

4.6 1210 m +0,1 5,3 m 8,2 m “h” elevado

Mais uma vez o caso em que foi mantido o comprimento de duto em 1205
metros, caso 4.1, o resultado obtido foi uma inclinação do MCV muito elevada. Mais
ainda do que nos casos anteriores. No caso 4.2, após o comprimento do duto ser
aumentado em 10 metros (maior variação), e ainda não ter sido conseguida a
verticalidade necessária à conexão do MCV, a altura “h” do flange ao fundo do duto já
havia ultrapassado 2 metros. No caso 4.3, ocorreu fato semelhante ao caso 4.2, com
inclinação elevada e “h” maior que 2 metros. Nos casos seguintes, 4.4 a 4.6, a
inclinação foi reduzida gradualmente, mas os valores de “h” ficaram se tornaram
proibitivos para a conexão. Deve ser observado que a variação no comprimento do duto
teve que ser maior para que fosse conseguida uma variação de inclinação desejada.

d) Condição 5: Duto a 5ºC, rigidez à flexão bilinear (antes e após o escorregamento) e


ângulo do pescoço de ganso igual a 60º.

Uma possibilidade de solução para os problemas surgidos nos casos das


condições anteriores, seria uma alteração no ângulo do pescoço de ganso para 60º em

82
relação ao eixo vertical do MCV. As mesmas propriedades da condição 3, mas com
ângulo do pescoço de ganso igual a 60º, foram analisadas. Os resultados são
apresentados na tabela 3.15.

Tabela 3.15 - Valores obtidos para a condição 5.

Raio mínimo
Comprimento Ângulo de curvatura Altura do flange
Caso total do duto final do resultante ao fundo do duto Pontos críticos
(L) MCV ( ) (h)
(kmin)

5.1 1205 m -14,8º 3,4 m 0,5 m > 6º

5.2 1208 m -7,0º 4,3 m 1,2 m > 6º

5.3 1209 m -5,1º 4,7 m 1,5 m Ok

5.4 1210 m -3,4º 5,0 m 1,8 m Ok


“h” pouco
5.5 1211 m -1,8º 5,2 m 2,1 m
elevado

5.6 1212 m -0,4º 5,3 m 2,3 m “h” pouco


elevado

Os resultados comprovam que para este duto estudado o pescoço de ganso do


MCV fabricado a 60º oferece melhores condições para realização da conexão.
Comparando o caso 5.1 com os demais de mesmo comprimento de duto (1205 metros),
este foi o que mais se aproximou de uma condição satisfatória de conexão, embora a
inclinação do MCV ainda estivesse muito elevada. No caso 5.2, a inclinação ainda se
mostrou acima do permitido. Nos casos 5.3 até 5.6, a inclinação do MCV se tornou
satisfatória, embora nos casos 5.5 e 5.6 a altura do flange ao fundo do duto esteja um
pouco acima do limite adotado neste estudo. Deve ser observado que não foi necessário
uma grande variação do comprimento do duto para se alterar significativamente a
inclinação do MCV. Nos dois últimos casos, a altura “h” pouco excedeu o limite de 2
metros, e uma análise criteriosa das dimensões dos equipamentos pode confirmar a
possibilidade de conexão com esses valores.

83
III.6.2 CONEXÃO DE SEGUNDA EXTREMIDADE

A simulação de conexão de segunda extremidade foi realizada, assim como em


primeira extremidade, a uma lâmina d’água de 1200 metros, utilizando o mesmo duto
flexível. A modelagem da instalação de dutos utilizando MCV foi realizada conforme
figuras 3.15 e 3.16.

Superfície
do mar

Cabos
de aço

Detalhe
Solo marinho

Fig. 3.15 – Modelagem da conexão de segunda extremidade em no


programa ORCAFLEX.

84
Cabos de
aço
Estropos

Conector

MCV Restritor de
curvatura

Duto
flexível
Mandril do
equipamento submarino

Fig. 3.16 – Detalhe da modelagem de conexão em segunda extremidade.

Uma conexão é denominada de segunda extremidade no equipamento


submarino, quando primeiramente o duto é conectado a uma UEP e a partir daí a
embarcação de lançamento se afasta seguindo em direção ao equipamento submarino
onde será conectada a extremidade final do duto. O MCV conectado à extremidade é o
último componente a ser descido na água, quando o restante do duto flexível já se
encontra repousado no leito marinho. O duto é lançado com alguns metros de
comprimento maior do que a distância entre os pontos de conexão. Esse comprimento
excedente, normalmente cerca de 15 metros, permite a formação da corcova, que após a
conexão é repousada no leito marinho. Caso esse excedente seja maior do que o
necessário, o duto é lançado em forma de “S” no leito marinho, para uma melhor
aproximação do MCV ao ponto de conexão.

Na conexão de primeira extremidade a variação do comprimento do duto faz


com que o momento aplicado no flange do pescoço de ganso altere o equilíbrio do
MCV, e conseqüentemente sua inclinação. Da mesma forma, na conexão de segunda
extremidade, é necessário que se tenha o controle sobre o momento aplicado no flange
do pescoço de ganso para que se possa variar a inclinação do MCV de forma
controlada. Dessa forma, como o duto está repousado sobre o leito marinho, se faz
necessário que se crie uma corcova no trecho final do duto para que, através de um
guincho na embarcação, se consiga controlar o momento aplicado no flange do pescoço

85
de ganso. Em torno do duto são fixadas de braçadeiras (clamps) com olhal, apropriadas
para envolver o duto sem danificar a capa externa. Dois tirantes ou estropos fazem a
ligação da extremidade do cabo do guindaste com os olhais das braçadeiras que se
encontram no duto. Tanto a descida do MCV na extremidade do duto, quanto a
operação de formação da corcova, são realizadas pela embarcação de lançamento do
duto.

A distância na superfície entre os cabos de aço é de aproximadamente 30 metros,


que é um valor próximo do comumente utilizado em campo. A inclinação máxima
permitida ao MCV foi mantida em 6º, que corresponde ao valor adotado nas premissas
de projeto. Foi mantida a altura do flange ao fundo do duto como sendo 2 metros o valor
máximo permitido. Lembrando que o raio mínimo de curvatura do duto é 1,42 metro. A
geometria da corcova deve ser observada, pois corcovas muito altas podem gerar
curvaturas excessivas e tensões indesejadas no duto, além de gerar um deslocamento
horizontal elevado do MCV, conforme mostra a figura 3.17.

Fig. 3.17 – Modelagem da conexão de segunda extremidade em no programa


ORCAFLEX.

86
As análises foram realizadas sem a considerar os aspectos ambientais e
movimento de descida do MCV, ou seja, a análise foi realizada de forma estática. O
duto flexível, conector, restritor de curvatura e MCV possuem as mesmas características
dos utilizados em conexão de primeira extremidade. Também foi representado o que
seria um equipamento submarino (podendo ser uma árvore de natal, manifold, PLET
etc) dotado de mandril para a conexão do MCV. Essa estrutura foi modelada como
elemento de forma (shape) e permanece estática no local, não influenciando no
comportamento do duto dom MCV, mas servindo como um referencia visual. O duto foi
modelado com comprimento suficientemente longo e a primeira extremidade ancorada
no solo marinho. Isso é feito para que uma região mais afastada do MCV permaneça
estática sobre o solo marinho, não sofrendo qualquer tipo de deslocamento.

Um dos problemas encontrados na conexão de segunda extremidade é o


posicionamento mais adequado dos estropos que dão forma à corcova. Assim, nas
simulações de conexão de segunda extremidade os parâmetros analisados serão as
posições dos estropos, que variam de acordo com a rigidez do duto. Assim, não mais o
comprimento do duto será o parâmetro de estudo, mas as localizações dos tirantes que
formam a corcova.

a) Condição 1: duto a 20ºC e rigidez à flexão após o escorregamento.

As análises de conexão de segunda extremidade foram realizadas utilizando os


mesmos valores de rigidez à flexão da conexão de primeira extremidade. Assim, a
primeira condição de instalação de MCV foi realizada utilizando a rigidez à flexão
somente após o escorregamento das camadas do duto. Assim, a curva de momento fletor
versus curvatura utilizada foi a mesma da figura 3.12.

Para cada combinação de estropos foram realizados vários ensaios com diversos
valores de comprimento para o cabo de aço que sustenta a corcova. Os resultados
representados na tabela 3.16 representam os melhores valores de verticalização do MCV
obtidos para cada caso, variando o comprimento do cabo de aço que sustente a corcova.

87
Tabela 3.16 - Valores obtidos para a condição 1.

Raio mínimo Altura do flange


Localização Ângulo final de curvatura ao fundo inicial Pontos
Caso dos do MCV
resultante da corcova críticos
estropos ( )
(kmin) (H)

1.1 10 e 15 m -0,4º 2,3 m 2,0 m Ok

1.2 15 e 20 m +0,1º 2,4 m 2,0 m Ok

1.3 20 e 25 m +1,5º 2,7 m 2,1 m Ok

Corcova
muito alta e
1.4 25 e 30 m -0,3º 2,8 m 2,1 m elevado
deslocamento
horizontal

Corcova
muito alta e
1.5 30 e 35 m -0,8º 3,12 m 2,1 m elevado
deslocamento
horizontal

Pode ser observado que os casos 1.1 a 1.3, os parâmetros se encontram dentro
das condições exigidas para que seja possível a conexão. Nos casos 1.4 e 1.5 a corcova
formada possui uma altura muito elevada. Isso causa um grande deslocamento
horizontal. Os valores de “H” estiveram muito próximo do limite de 2 metros e não
devem causar problemas durante a instalação.

b) Condição 2: duto a 20ºC e rigidez à flexão bilinear (antes e após o escorregamento).

Nessa condição, a rigidez do duto também foi tomada à temperatura de 20º, ou


seja, temperatura de superfície. A diferença é que foi utilizada a curva bilinear de
rigidez à flexão do duto (figura 3.13), ou seja, antes e após o escorregamento entre as
camadas. Os resultados estão na tabela 3.17, e foram representados apenas os resultados
em que foram obtidas a verticalização necessária para o MCV, que é uma premissa
básica de aceitação para conexão.

88
Tabela 3.17 - Valores obtidos para a condição 2.

Raio mínimo Altura do flange


Localização Ângulo final
de curvatura ao fundo inicial Pontos
Caso dos do MCV
resultante da corcova críticos
estropos ( )
(kmin) (H)

2.1 10 e 15 m --- --- --- >6º

2.2 15 e 20 m --- --- --- >6º

2.3 20 e 25 m --- --- --- >6º

2.4 25 e 30 m -1,8º 5,5 m 3,3 m “H” elevado

2.5 30 e 35 m 0,9º 6,7 m 5,8 m “H” elevado

Nos casos 2.1 a 2.3, não foi possível alcançar uma inclinação mínima do MCV
que permitisse a conexão no mandril. A curta distância, combinada com a rigidez a
flexão do duto, não permitiu a formação de uma corcova que resultasse em uma
verticalização satisfatória do MCV. O caso 2.4 merece uma análise da altura do mandril
do equipamento submarino onde será instalado o MCV para verificar se há altura
disponível para a conexão. No caso 2.5, a altura “H” é muito elevada e dificultaria a
instalação do MCV.

c) Condição 3: duto a 5ºC e rigidez à flexão bilinear (antes e após o escorregamento).

Os valores de rigidez à flexão foram tomados com base no gráfico da figura 3.5,
que corresponde à curva bilinear a uma temperatura de 5ºC. Essa condição tem como
principal objetivo avaliar a influência da temperatura no comportamento do duto
durante sua instalação. Na tabela 3.18 se encontram os resultados obtidos para essa
condição. Foram representados apenas os casos em que foi possível alcançar a
verticalização mínima exigida para o MCV.

89
Tabela 3.18 - Valores obtidos para a condição 3.

Raio mínimo Altura do flange


Localização Ângulo final
de curvatura ao fundo inicial Pontos
Caso dos do MCV
resultante da corcova críticos
estropos ( )
(kmin) (H)

3.1 10 e 15 m --- --- --- >6º

3.2 15 e 20 m --- --- --- >6º

3.3 20 e 25 m --- --- --- >6º

3.4 25 e 30 m -3,0º 6,4 m 4,0 m “H” elevado

3.5 30 e 35 m -1,9º 5,6 m 4,4 m “H” elevado

Nessa condição, os casos em que os estropos estiveram mais próximos do


conector não foram obtidas as condições satisfatórias de verticalização do MCV. Nos
casos 3.4 e 3.5, a altura “H”, que define se o duto toca o solo marinho antes da conexão
do MCV, tiveram valores elevados, e possivelmente a conexão estaria comprometida.

d) Condição 4: idem à condição 3, mas com a curvatura crítica do duto flexível o dobro
da original (kcr=0,032 rad/m).

Assim como realizado no estudo de conexão de primeira extremidade, nesta


condição é simulada uma situação em que os valores de rigidez, antes e após o
escorregamento, são os mesmos da condição 3 (temperatura de 5ºC e curva bilinear),
mas com a curvatura crítica do duto sendo o dobro da original. Como já foi explanado,
isto pode representar alguma variação no valor da curvatura crítica devido a incertezas
que envolvem a obtenção desse valor. Como os valores de rigidez à flexão são os
mesmo, o que muda nesta condição é que o escorregamento ocorre em maiores
curvaturas, aumentando assim a faixa de curvatura inicial em que a rigidez é mais
elevada. Os resultados obtidos forma a tabela 3.19.

90
Tabela 3.19 - Valores obtidos para a condição 4.

Raio mínimo Altura do flange


Localização Ângulo final
de curvatura ao fundo inicial Pontos
Caso dos do MCV
resultante da corcova críticos
estropos ( )
(kmin) (H)

4.1 10 e 15 m --- --- --- >6º

4.2 15 e 20 m --- --- --- >6º

4.3 20 e 25 m --- --- --- >6º

4.4 25 e 30 m --- --- --- >6º

4.5 30 e 35 m --- --- --- >6º

Os resultados dessa condição demonstram que em nenhum dos casos seria


possível obter a verticalização necessária à conexão.

E) Condição 5: Duto a 5ºC, rigidez à flexão bilinear (antes e após o escorregamento) e


ângulo do pescoço de ganso igual a 60º.

Foi observado que em algumas condições não tiveram resultados muito


favoráveis à conexão do MCV ao mandril do equipamento submarino. Uma
possibilidade que pode ser avaliada para melhorar os resultados, seria a mudança no
ângulo do pescoço de ganso do MCV, que normalmente é adotado como 45º até
segunda ordem.

Essa análise foi realizada com os valores de rigidez à flexão a temperatura de 5º,
idem à condição 3, sendo que o pescoço de ganso possui ângulo de 60º em relação a seu
eixo longitudinal. Os resultados estão na tabela 3.20.

91
Tabela 3.20 - Valores obtidos para a condição 5.

Raio mínimo Altura do flange


Localização Ângulo final
de curvatura ao fundo inicial Pontos
Caso dos do MCV
resultante da corcova críticos
estropos ( )
(kmin) (H)

5.1 10 e 15 m --- --- --- >6º

5.2 15 e 20 m --- --- --- >6º

5.3 20 e 25 m -5,5º 6,8 m 1,7 m >6º

5.4 25 e 30 m 0,7º 6,8 m 2,5 m “H” elevado

5.5 30 e 35 m 0,1º 6,2 m 2,7 m “H” elevado

Os resultados, se comparados à condição 3 (que só difere o ângulo do pescoço


de ganso), pode ser observado que os valores resultantes melhoraram bastante. O caso
5.3 passou a ter valores de verticalização de MCV que se enquadra na faixa satisfatória.
Os casos 5.4 e 5.5 tiveram os valores de “H” mais adequados e próximos do limite
adotado.

F) Condição 6: Duto a 5ºC, rigidez à flexão bilinear (antes e após o escorregamento),


pescoço de ganso a 45º e olhal de içamento do MCV deslocado 200mm.

Na condição 5, foi adotado como possível solução para melhorar a verticalização


do MCV uma mudança no ângulo do pescoço de ganso. Nesta condição, uma outra
alteração é sugerida para se tentar resolver o problema. O olhal por onde o MCV é
suportado através de um guindaste foi deslocado horizontalmente 200 milímetros em
direção ao seu centro de massa (nesta simulação corresponde a um deslocamento para a
esquerda). A posição inicial do olhal de içamento utilizada foi a fornecida pelo
fabricante do MCV. Com essa mudança foi alterado o equilíbrio de forças que atua no
MCV, favorecendo sua verticalização o duto possuir maior rigidez à flexão. Essa
mudança na posição no olhal de içamento está representada na figura 3.18.

92
Nova posição
do olhal

Fig. 3.18 – Detalhe do MCV com olhal de içamento em outra posição.

Os valores de rigidez foram os mesmos utilizados nas condições 3 e 5, com a


temperatura de 5ºC atuando no duto e sendo considerada a curva bilinear (antes e após o
escorregamento das camadas internas). Os resultados se encontram na tabela 3.21.

Tabela 3.21 - Valores obtidos para a condição 6.

Raio mínimo Altura do flange


Localização Ângulo final
de curvatura ao fundo inicial Pontos
Caso dos do MCV
resultante da corcova críticos
estropos ( )
(kmin) (H)

6.1 10 e 15 m --- --- --- >6º

6.2 15 e 20 m --- --- --- >6º

6.3 20 e 25 m -1,7º 4,5 m 2,7 m “H” elevado

6.4 25 e 30 m -0,7º 4,3 m 2,9 m “H” elevado

6.5 30 e 35 m 0,1º 4,8 m 3,2 m “H” elevado

Os resultados apresentados demonstram que houve um sensível melhoramento


nas condições de conexão. Com os estropos a 20 e 30 metros de distância do conector

93
não era possível na condição 3. Os casos 5.4 e 5.5 tiveram suas alturas “H” do fundo da
corcova reduzidas e assim talvez seja possível a conexão, embora esse valor ainda esteja
acima do limite adotado.

F) Resumo

Para facilitar a observação dos resultados obtidos em cada condição de


simulação a tabela 3.22 traz uma coletânea com os resultados dos casos em que o MCV
obteve verticalização necessária para a conexão. Os resultados nos quais a inclinação do
MCV foi superior a 6º, foram descartados.

Tabela 3.22 – Resumo dos resultados em que a verticalização do MCV foi obtida.

Condições Características principais Localização dos estropos

10 e 15 m
15 e 20 m
T=20ºC
1 20 e 25 m
EI=14,3kN.m2
25 e 30 m
30 e 35 m
T=20ºC 25 e 30 m
2
EI bilinear 30 e 35 m

T=5ºC 25 e 30 m
3
EI bilinear 30 e 35 m

T=5ºC
4 EI bilinear Nenhuma
kcr=dobro

T=5ºC 20 e 25 m
5 EI bilinear 25 e 30 m
Pescoço de ganso a 60º 30 e 35 m
T=5ºC
20 e 25 m
EI bilinear
6 25 e 30 m
Pescoço de ganso a 45º
30 e 35 m
Olhal de içamento deslocado 200mm

94
CAPÍTULO IV

CONCLUSÃO

Este trabalho apresentou a influência das elevadas pressões hidrostáticas e


baixas temperaturas sobre dutos flexíveis. Tal combinação de pressão e temperatura é
normalmente encontrada em lâminas d’águas profundas e ultraprofundas, na bacia de
Campos, no litoral do sudeste brasileiro. Alguns problemas podem ser causados por essa
combinação de fatores, principalmente quando as mudanças nas propriedades do duto
flexível não são previstas. Para ilustrar isso, um exemplo prático foi abordado neste
trabalho. Foram estudados os problemas que podem ocorrer durante a instalação de
dutos em equipamentos submarinos com a utilização de MCV.

Foi realizado um estudo literário sobre toda a teoria que envolve um projeto de
duto flexível e comparado com um modelo matemático, elaborado para representar os
carregamentos e as deformações sofridas por um duto flexível sujeito a cargas de flexão.
A teoria também foi confrontada com programas de análise local e de análise global.

A elevada pressão hidrostática, além de requerer do duto uma estrutura mais


robusta para resistir ao colapso, causa um significativo aumento em sua curvatura
crítica. Isso significa dizer que será necessária aplicação de uma maior curvatura, para
que as camadas que compõem o duto flexível escorreguem entre si, sofrendo uma
redução significativa em sua rigidez à flexão.

A temperatura age de forma diferente no duto flexível. Em temperaturas mais


baixas, o módulo de elasticidade dos polímeros aumenta significativamente. Como o
módulo de elasticidade é diretamente proporcional à rigidez à flexão das camadas
poliméricas, estas sofrem um aumento, que resultará no aumento da rigidez de todo o
duto flexível. Pode se dizer que, de um modo geral, a variação da rigidez à flexão de um
duto, quando submetido a temperaturas da ordem de 5ºC é de duas vezes o valor para
temperatura ambiente de 20ºC. A rigidez das camadas cilíndricas poliméricas
permanece inalterada tanto antes quanto depois de ocorrer o escorregamento entre as
camadas. Como, após o escorregamento, há uma redução acentuada na rigidez à flexão
das camadas helicoidais, as camadas cilíndricas poliméricas passam a representar a
maior parcela na rigidez do duto flexível.

95
Com esses fatores agindo sobre o duto flexível, uma operação relativamente
simples pode sofrer complicações caso não tenha sido previsto mudanças nas
propriedades dos dutos. Um caso típico é a instalação de dutos flexíveis em
equipamentos submarinos utilizando MCV. Uma análise prévia pode levar a pequenas
alterações no projeto do MCV para acomodar um novo comportamento do duto quando
estiver sendo instalado em águas profundas e ultraprofundas.

Na análise de conexão de primeira extremidade apresentada neste trabalho, um


aumento no ângulo do pescoço de ganso melhorou os parâmetros de instalação do
MCV. Mas isso não dá subsídios para uma afirmação de que sempre o aumento do
ângulo do pescoço de ganso corresponderá a melhores parâmetros para o MCV. Uma
análise deste tipo deve ser realizada para se observar um melhor valor de ângulo, que
pode ser maior ou menor ao ângulo original. Na conexão de segunda extremidade, além
da mudança no ângulo do pescoço de ganso, foi simulada uma situação em que o olhal
de içamento do MCV teve suas coordenadas modificadas. Ambas as tentativas de
melhora dos resultados surtiram efeitos positivos. Em ambas as formas de conexão, não
foram consideradas as cargas resultantes que atuam no duto. O objetivo deste trabalho
foi um estudo geométrico em função da variação de rigidez a flexão do duto.

Nas conexões de primeira extremidade, a verticalização do MCV no momento


da conexão não costuma ser problema, pois a variação de comprimento no duto é
suficiente para alterar a inclinação do MCV, exceto em casos extremos, esse tipo de
conexão não apresenta problemas de verticalização durante a instalação.

Quando a conexão é de segunda extremidade, algumas variáveis surgem. A


formação da corcova passa a ser influenciada pelo comprimento do cabo de aço que a
sustenta, pela rigidez a flexão do duto, pelo posicionamento dos estropos, dentre outras.
Não é incomum que o MCV seja fabricado com mais de um olhal de içamento, para
casos em o fabricante não tenha total conhecimento das cargas geradas durante a
instalação.

Nos casos de conexão de segunda extremidade em que o conjunto esteja pronto


para ser instalado e não se tenha total conhecimento do comportamento do duto em
relação a sua rigidez à flexão durante a instalação, pode dificultar a decisão sobre a
localização dos estropos. Em situações como essa, um estudo com uma faixa de
possíveis valores de rigidez pode resolver o problema. De posse das possíveis
localizações dos estropos, pode ser adotado três posições para a instalação das
96
braçadeiras para fixação dos estropos. Dessa forma, se fosse percebido que o par de
estropos não estivesse em posições favoráveis, estas posições poderiam ser trocadas sem
a necessidade de elevar todo o conjunto até a superfície. Como exemplo, podemos
analisar o estudo realizado neste trabalho. Caso o valor de rigidez durante a instalação
não fosse plenamente conhecido, podendo variar desde os valores da condição 1 até os
valores da condição 3, a sugestão seria de que fossem escolhidas as posições de 25, 30 e
35 metros de distância do conector. Assim, poderiam ser adotadas posições mais
adequadas de acordo com o comportamento do duto. Como observado, distâncias
menores favorecem a formação das corcovas de dutos com valores de rigidez mais
baixos.

No modelo matemático desenvolvido neste estudo, foi proposta uma abordagem


diferente sobre a fase intermediária entre a rigidez à flexão inicial e final. Neste estudo
foi considerado que o duto possa sofrer escorregamento progressivo ao longo de seu
comprimento. Ou seja, foi considerado que parte do duto pode sofrer uma curvatura
suficiente para experimentar o escorregamento, e assim, sofrer redução na rigidez à
flexão. Simultaneamente, parte dele que não tenha atingido a curvatura crítica se
comporte com rigidez inicial. Não foi considerado neste modelo, o escorregamento
progressivo circunferencial, como normalmente são abordados pelos autores sobre este
assunto.

Um estudo mais aprofundado, com a realização de ensaios, sobre o


comportamento dos polímeros a baixas temperaturas merece ser realizado em trabalhos
futuros. Isso contribuirá para que se sejam obtidos conhecimentos mais precisos sobre
os dutos flexíveis em condições reais de trabalho.

97
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

[1] THOMAS, J.E. (ed.), Fundamentos de Engenharia de Petróleo, 1a.Ed., Rio de


Janeiro, Ed. Interciência, 2001.

[2] WITZ, J.A.; TAN, Z., “On the Flexural Structure Behaviour of Flexible Pipes,
Umbilicals and Marine Cables”, Marine Structures, no 5, pag. 229-249, 1992.

[3] WITZ, J.A.; TAN, Z., “Rotary Bending of Marine Cables and Umbilicals”,
Engineering Structures, Vol.17, no 4, pag. 267-275, 1995.

[4] FÉRET, J.; BOURNAZEL, C.L., “Calculation Of Stresses and Slip in Structural
layers of Unbonded Flexible Pipes”, Journal of Offshore Mechanics and Artic
Engineering, OMAE, Vol. 109, pag. 263-269, 1987.

[5] McIVER, D.B., “Behaviour of Helically Wound Wires Sliding Under Friction on a
Bent Cilynder”, OMAE 0613, 17th Offshore Mechanics and Artic Engineering,
Lisboa, Portugal, 1998.

[6] KEBADZE, E., Theoretical Modelling of Unbonded Flexible Pipe Cross-


Sections, Ph.D. Thesis, South bank University, London, England, 2000.

[7] FÉRET, J.; LEROY, J.; ESTRIER, P., “Calculation Of Stresses and Slips in Flexible
Armours Layers with Layers Interaction”, Journal of Offshore Mechanics and Artic
Engineering, OMAE, Vol. 5, 1995.

[8] CERQUEIRA, M.B., Sistema de conexão Vertical Direta com , Especificação


Técnica ET-3000.00-1514-270-PAZ, E&P - PETROBRAS, Rio de Janeiro, 2003.

[9] MOREIRA, J.R.; CERQUEIRA; M.B.; ROSA, G.J.; et al. , “Further Advances in
Deepwater Flowline Connection Technology”, OTC 8239, 28th Offshore Technology
Conference, Houston, Texas, USA, May, 1996.

[10] BRANDÃO, M.; COUTO; P., “A Vertical Connection System to Attach Flexible
Pipeline to a Subsea Manifold”, OTC 6980, 24th Offshore Technology Conference,
Houston, Texas, USA, May, 1992.

[11] MOREIRA, C.C.; PUPPIN, L.A.; BRAGA, V.R.; et al., “Vertical Connection
Used as Tie-in System for Rigid Pipeline”, OTC 8477, 29th Offshore Technology
Conference, Houston, Texas, USA, May, 1997.

98
[12] NAGLE, F.J.M.; SILVA, J.E.M..; COSTA, L.A.G.; et al., “Vertical Connection
System for Flexible Pipes: Offshore Tests and Pioneer Installation”, OTC 7260, 25th
Offshore Technology Conference, Houston, Texas, USA, May, 1993.

99
ANEXO A

MODELO MATEMÁTICO

Um modelo matemático a partir de conceitos de viga engastada foi montado,


para representar a queda de rigidez da estrutura após o escorregamento entre as camadas
do duto flexível.

A.1 MODELO DE VIDA ENGASTADA

O modelo proposto se baseia em uma viga engastada submetida a uma carga


distribuída “q”. A rigidez à flexão da viga sofre uma redução a partir de determinada
curvatura, como acontece com os dutos flexíveis após o escorregamento entre suas
camadas estruturais. Para simplificar a modelagem, a rigidez à flexão e o comprimento
da viga serão adimensionalizados. Na figura A.1 está representada a viga engastada
estudada.

Fig. A.1 – Viga engastada com carregamento uniformemente


distribuído.

As equações que regem a viga engastada resultaram da integração da equação de


carregamento que atua na viga. Como o estudo se baseia na condição de que a partir de

100
uma determinada curvatura a rigidez da viga sofrerá redução, então a viga será estudada
em duas etapas que correspondem a um trecho linear e um trecho não-linear, onde a
curvatura crítica é alcançada e tem sua rigidez à flexão alterada.

A.2 VIGA COM COMPORTAMENTO NÃO-LINEAR

Neste estudo, a viga tem comportamento não-linear a partir de uma certa


curvatura crítica. Assim, a partir dessa curvatura, a viga experimentará uma redução no
valor de sua rigidez à flexão. Ao longo do comprimento da viga, um trecho pode sofrer
escoamento ao alcançar a curvatura crítica, ao mesmo tempo em que outra região da
viga permaneça no regime elástico e mantenha suas propriedades iniciais. Isso pode
ocorrer com os dutos flexíveis, uma vez que devido aos grandes comprimentos apenas
alguns trechos sofram uma curvatura excessiva que ultrapasse a curvatura crítica.

Nas seções em que a viga experimentou uma curvatura maior do que a curvatura
crítica houve o escoamento e a rigidez à flexão foi reduzida. Dessa forma, a região a
localizada de um lado da curvatura crítica permanece no estado linear de deformação e
o outro lado, que já experimentou a curvatura crítica (que ocorre progressivamente),
passa a ter comportamento não-linear.

A figura A.2 representa uma situação em que apenas parte da viga sofreu
escoamento. A dimensão “β L”, onde o β é um valor entre 0 e 1, representa a posição
(fração de L) da seção limite entre a parte linear e a não-linear. As equações da linha
elástica das partes não-linear e linear são representadas por “y1”e “y2”.

101
y

y1 y2
βL

Fig. A.2 – Comportamento não-linear da viga.

As equações para uma viga com comportamento não-linear são as


seguintes:

Equação do carregamento:
4
d
α ⋅E ⋅I ⋅ Y −q (A.8)
4
dX

Equação do esforço cortante:

3
d
α ⋅E ⋅I ⋅ Y − q ⋅x + F (A.9)
3
dX

Equação do momento fletor:


2 2
d x
α ⋅E ⋅I ⋅ Y −q ⋅ + F ⋅x + G (A.10)
2 4
dX

Equação da declividade ou rotação:

102
3 2
d x x
α ⋅E ⋅I ⋅ Y −q ⋅ + F⋅ + G ⋅x + H (A.11)
dX 6 2

Equação da flecha ou deslocamento:


4 3 2
x x x
α ⋅E⋅I ⋅Y −q ⋅ + F ⋅ − G ⋅ + H⋅x + J (A.12)
24 6 2

As condições de contorno aplicadas foram:

O deslocamento no engaste (x = 0) é nulo, então: y1(0) = 0.

A declividade no engaste (x = 0) é nula, então: y’1(0) = 0

O momento fletor na extremidade (x = L) é nulo, então: E I y’’2 (L)= 0.

O esforço cortante na extremidade (x = L) é nulo, então: E I y’’’2(L)= 0.

O deslocamento no local da curvatura crítica (x = β L) é o mesmo, então:


y1(β L).= y2(β L).

O esforço cortante no local da curvatura crítica (x = β L) é o mesmo, então:


α E I y’’’1(β L) = E I y’’’2(β L).

A curvatura imposta a viga no local da curvatura crítica (x = β L) é a mesma,


então: y’’1(β L) = y’’2(β L).

A declividade no local da curvatura crítica (x = β L) é a mesma, então: y’1(β L) =


y’2(β L).

Foram calculados os valores das constantes, resultando nos seguintes valores:

A q ⋅L C 0 D 0 F q ⋅L

( )
2 2
−q ⋅ L 2 2 −q ⋅ L
B ⋅ −β ⋅ 2 ⋅ β + α ⋅ β − 2 ⋅ α ⋅ β + α G
2 2

103
4 3
3 2 −q ⋅L ⋅β
H
−q⋅L ⋅β
⋅( −2⋅β + 2⋅α ⋅β − 3⋅α + 3) J ⋅( −3 ⋅β + 3 ⋅α ⋅β − 4 ⋅α − 3 ⋅β + 4)
6 ⋅α 24⋅α

A partir dos valores das constantes, as equações das linhas elásticas dos trechos
de comportamento linear e não-linear foram simplificadas.

2
−q ⋅ x 2 2 2 2 2 2 2
y ⋅ x − 4⋅ L⋅ x − 6⋅ L ⋅ β + 12⋅ L ⋅ β + 6⋅ L ⋅ α ⋅ β ⋅ −12⋅ L ⋅ α ⋅ β + 6⋅ L⋅ α
1 24⋅ E⋅ I
(A.13)

2 3 2 2 3 3 3 2 3 3 3 2 4 4 4 3 4 4
−q x ⋅α − 4⋅L⋅x ⋅α + 6⋅L ⋅x ⋅α − 8L ⋅β ⋅x + 12⋅L ⋅β ⋅x + 8⋅L ⋅β ⋅x⋅α − 12⋅L ⋅β ⋅x⋅α + 3⋅L ⋅β − 4⋅L ⋅β − 3⋅L ⋅β ⋅α
y2 = ⋅
24⋅α⋅E⋅I 2 4
24⋅α⋅E⋅I + 6⋅β ⋅L ⋅α

(A.14)

É sabido que no engaste (x = 0) a carga distribuída gera maior momento fletor.


Então o escoamento se inicia no engaste, sendo propagado para o restante da viga
gradativamente e reduzindo a rigidez à flexão da vida para o valor de α E I . A partir
dos valores das constantes encontrados, o momento fletor é representado por:

2 2 2
d 1 x L
M E ⋅I ⋅ y −q ⋅ + q ⋅L ⋅x − q ⋅ (A.15)
2 α 2 2
dx

Como no engaste (x = 0) se inicia o escoamento, então o momento fletor crítico,


quando o escoamento está na iminência de acontecer (ainda não sofreu redução na
rigidez à flexão), é dado por:

104
2
L (A.16)
Mcr −q ⋅
2

Mas, momento fletor é dado pelo produto da rigidez à flexão pela curvatura,
então a curvatura crítica, onde se inicia o escoamento é dada por:

2
1 L
kcr ⋅ −q ⋅ (A.17)
E⋅I 2

Tomando a equação (A.15) e multiplicando por 1/k, temos:

−q 2 q q
⋅β + 2 ⋅ ⋅β − − 2 ⋅α 0 (A.21)
k k k

Foram calculados os possíveis valores de β, sendo destacado o único resultado


possível (compreendido entre 0 e 1) e representado no gráfico da figura A.3. O valor de
α é unitário, pois o valor de β representa a posição da seção transversal que está na
iminência do escoamento:

q q
+ 2⋅ ⋅α
k k
β (A.22)
q
k

105
β

q/k

Fig. A.3 – Gráfico da propagação da curvatura crítica em função de


q/k.

Pode ser observado que à medida que ocorre um aumento na relação da carga
aplicada pela curvatura na viga, a posição da curvatura crítica “β” se propaga em
direção às seções transversais que ainda não escoaram.

O gráfico A.4 representa uma relação dos deslocamentos (flechas) máximos em


função da queda de rigidez à flexão “α”. Para plotagem do gráfico foram utilizadas as
equações da flecha para viga com comportamentos linear e não-linear.

106
α=1
α = 0,9
ymax α = 0,7
α = 0,5
α = 0,3

Fig. A.4 – Deslocamento (flecha) máximo em função do carregamento, para vigas


com diversos valores de α.

Pode ser observado que há maiores deslocamentos quando há maior redução na


rigidez, como era esperado. Também, pode ser observado que, independente da queda
de rigidez que a viga possua, esta começa a se comportar como não-linear a partir de
atingir a curvatura crítica ainda em estado linear. Esse é o mesmo mecanismo que
ocorre em um duto flexível.

107

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