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UTILIZAÇÃO DE ESTACAS EM OBRAS GEOTÉCNICAS

Caso de estudo – Ampliação do estacionamento do Hospital da


Luz

Mafalda Filipa Venâncio Santos

Dissertação para a obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Civil

Orientadores
Professor Alexandre da Luz Pinto
Professor Márcio de Souza Soares de Almeida

Júri
Presidente: Professora Ana Paula Patrício Teixeira Ferreira Pinto França de
Santana

Orientador: Professor Alexandre da Luz Pinto

Vogal: Professor Pedro Manuel Gameiro Henriques

Maio de 2015
Agradecimentos
A realização deste trabalho não teria sido possível sem o apoio e colaboração imprescindíveis de
determinadas pessoas, às quais dedico esta secção:

 Em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao meu orientador, o Professor Alexandre Pinto,


pela orientação e disponibilidade que demonstrou, e também pela oportunidade de
acompanhamento de obra em Lisboa que me facultou, e que muito contribuiu para a minha
formação.
 Ao Professor Márcio Almeida, da COOPPE/UFRJ, pelo apoio ao longo dos meses em que
estive no Rio de Janeiro e pelos ensinamentos transmitidos na área da Geotecnia.
 Ao Professor Uberescilas Polido, da UFES, pelos esclarecimentos prestados e pela
autorização para as visitas à obra no Rio de Janeiro.
 Ao Professor Francisco Lopes, da COOPE/UFRJ, pelo fornecimento de dados relativos a
ensaios de carga, indispensáveis para a realização deste trabalho.
 À Professora Bárbara Melo pela bibliografia facultada respeitante à sua dissertação de
mestrado.
 Ao Engenheiro Pedro Trigo, da Teixeira Trigo, que me permitiu visitas frequentes à obra de
ampliação do estacionamento do Hospital da Luz, bem como a minha presença nas reuniões
de obra. Agradeço ainda a disponibilidade constante para o esclarecimento de questões
durante as visitas.
 À Engenheira Joana Sousa, da Teixeira Trigo, pela forma amiga com que sempre se mostrou
disponível para o esclarecimento de questões relativas à obra e pelo fornecimento de dados
imprescindíveis à realização deste trabalho.
 Ao Senhor Honorato Silveira, da Teixeira Trigo, pela dedicação e paciência nas explicações
detalhadas durante as visitas à obra.
 Ao colega João Aldeias pela introdução ao programa Plaxis e pela prontidão e preocupação
que demonstrou no esclarecimento de qualquer dúvida no desenrolar do trabalho.
 À minha família, pelo apoio incondicional em todas as decisões do meu percurso académico
e pela confiança que depositaram em mim.
 Aos meus estimados amigos pelo apoio, motivação e troca de conhecimentos ao longo deste
trabalho e também de todo o meu percurso académico.

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Resumo
As estacas são utilizadas como fundação profunda quando os solos superficiais não apresentam as
características mecânicas adequadas para suportar as elevadas cargas da construção. São
elementos cuja confirmação da integridade estrutural não é imediata, pelo facto de ficarem
inacessíveis após a sua construção. Assim sendo, foram desenvolvidas ferramentas que hoje em dia
se revelam indispensáveis no controlo da qualidade destes elementos. Nesta dissertação foca-se a
utilização de ensaios de carga estáticos neste contexto e a interpretação dos seus resultados à luz da
norma brasileira.

Numa outra perspectiva da utilização de estacas em obras geotécnicas, estas surgem como elemento
de contenção periférica. A crescente ocupação do solo em áreas densamente urbanizadas tem criado
a necessidade de um maior aproveitamento do espaço disponível ao nível do subsolo,
independentemente do cenário geológico e das condições de vizinhança existentes. As obras de
carácter geotécnico apresentam-se como um recurso que torna possível este crescimento da cidade
em profundidade.

Neste âmbito, foi acompanhada a obra de ampliação do estacionamento do Hospital da Luz, em


Lisboa, como caso de estudo, cuja estrutura de contenção periférica se materializou numa cortina de
estacas moldadas, ancorada em vários níveis e travada por bandas de laje num dos alçados. A
existência de um plano de instrumentação e observação revelou-se crucial na análise dos
deslocamentos ao longo das várias fases do processo construtivo tendo permitido, ainda, uma
posterior análise comparativa entre os deslocamentos reais e os obtidos a partir da modelação da
solução executada no programa de elementos finitos, Plaxis 2D.

PALAVRAS-CHAVE: prova de carga estática; cortina de estacas; bandas de laje; instrumentação;


modelação; retroanálise.

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Abstract
Piles are used as deep foundation when surface soils do not have the appropriate mechanical
properties to withstand the heavy loads of construction. The inaccessibility of these elements after
their construction does not allow the immediate confirmation of their structural integrity. For this
reason, certain tools which monitor the quality of these elements had been developed. This thesis
focuses on the use of static load tests in this context, and the interpretation of their results upon the
Brazilian standard.

In another perspective of the utilization of piles in geotechnical works, these ones appear as an
element of retaining walls. The growing occupation of urbanised areas has been leading to the need of
taking advantage of the available subsoil space, often regardless the existing geological scenario and
the boundary conditions. Therefore, the geotechnical interventions present themselves as a resource
that allows the underground city growth.

To this extent, this thesis is centered on the amplification of the Hospital da Luz’s underground parking
as a case study, whose retaining wall consisted of a bored pile curtain, anchored all along and shored
by concrete slab bands on one side. The existence of an instrumentation and observation plan had
been crucial on the analysis of the displacements during the different stages of the construction
process, and had also allowed a further comparison between the displacements monitored in situ and
the ones obtained by a numerical modeling of the solution using the finite element software, Plaxis 2D.

KEYWORDS: static load tests; bored pile curtain; concrete slab bands; instrumentation; modeling;
back analysis.

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Siglas e abreviaturas
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

CLT Cyclic Load Test

COPPE Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia

CRP Método da deformação controlada

EC7 Eurocódigo 7

EP Estaca piloto

ESS Espírito Santo Saúde

EUA Estados Unidos da América

IPT Instituto de Pesquisas Tecnológicas

NBR Norma Brasileira

NP EN Versão Portuguesa da Norma Europeia

QML Quick Maintained Load

SCT Swedish Cyclic Test

SML Slow Maintained Load

SPT Standard Penetration Test

UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

UFES Universidade Federal do Espírito Santo

Simbologia
A Área da secção transversal da estaca

B Diâmetro da estaca

Coesão efectiva do solo

D Diâmetro do círculo circunscrito à estaca

E Módulo de elasticidade

E50 Módulo secante

EA Rigidez axial

EI Rigidez de flexão

vii
Eoed Módulo edométrico

Eur Módulo de descarga-recarga

fyk Valor característica da tensão de cedência

Gref Módulo de distorção

h Altura da estaca

Ka Coeficiente de impulso activo

Ka Coeficiente de impulso em repouso

L Comprimento da estaca

m Potência que expressa a dependência da rigidez em relação ao nível de tensão

NSPT Resultado do ensaio SPT

P0 Carga admissível da ancoragem

Pr Carga de rotura convencional da NBR 6122/2010

Pútil Pré-esforço útil

Qult Carga de rotura

Rc;d Valor de cálculo da capacidade resistente de uma estaca

Rc;k Valor característico da capacidade resistente última à compressão de uma estaca

Rc;m Valor da capacidade resistente de uma estaca medida em ensaios de carga

Rinter Factor de redução de resistência da interface

Rf Coeficiente de rotura que relaciona a tensão deviatórica na rotura com a assímptota da


hipérbole que traduz a relação tensão-deformação

RL Resistência do fuste

RR Resistência de ponta

w Peso

Assentamento de rotura convencional

Letras gregas
Peso volúmico do solo saturado

Peso volúmico do solo não saturado

γ Peso volúmico específico

viii
ν Coeficiente de Poisson

nu
νur Coeficiente de Poisson na fase de descarga

σ1 Tensão principal vertical

σ3 Tensão principal horizontal

φ' Ângulo de resistência ao corte

Φ Diâmetro da estaca

ψ Ângulo de dilatância

Assentamento de rotura convencional

ix
x
Índice geral
1. Introdução ............................................................................................................................................ 1

1.1. Enquadramento geral ................................................................................................................... 1

1.2. Objectivos da dissertação ............................................................................................................ 2

1.3. Estrutura da dissertação............................................................................................................... 2

2. Estacas como elemento de fundação ................................................................................................. 5

2.1. Introdução ..................................................................................................................................... 5

2.2. Classificação das estacas ............................................................................................................ 5

2.3. Trado contínuo na execução de estacas ..................................................................................... 7

2.3.1. Processo construtivo de estacas hélice contínua ................................................................. 7

2.3.2. Controlo da execução.......................................................................................................... 10

2.3.3. Vantagens e desvantagens ................................................................................................. 11

3. Norma Brasileira na análise de provas de carga .............................................................................. 13

3.1. Provas de carga estática ............................................................................................................ 13

3.1.1. Procedimentos de carregamento ........................................................................................ 15

3.1.2. Aparelhos e instrumentação ................................................................................................ 17

3.1.3. Determinação da carga admissível ..................................................................................... 20

3.2. Interpretação da curva carga-assentamento à luz da Norma Brasileira .................................... 23

3.2.1. Obra de um condomínio na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro .............................................. 23

3.2.2. Obra de um complexo eólico no Rio Grande do Sul ........................................................... 26

4. Estacas como elemento de contenção periférica ............................................................................. 33

4.1. Introdução ................................................................................................................................... 33

4.2. Estruturas de suporte flexíveis e pressões de terras ................................................................. 33

4.3. Funcionamento de cortinas ancoradas ...................................................................................... 34

4.4. Dimensionamento estrutural ...................................................................................................... 36

4.5. Definição e classificação de cortinas de estacas ....................................................................... 36

4.6. Comparação com outras soluções de contenção ...................................................................... 41

5. Caso prático: Ampliação do estacionamento do Hospital da Luz ..................................................... 43

5.1. Enquadramento geral ................................................................................................................. 43

5.1.1. Localização e caracterização .............................................................................................. 43

5.1.2. Classificação da empreitada ............................................................................................... 44

xi
5.1.3. Condicionamentos ............................................................................................................... 45

5.1.4. Acompanhamento de obra .................................................................................................. 49

5.2. Soluções executadas ................................................................................................................. 49

5.2.1. Cortina de estacas ............................................................................................................... 51

5.2.2. Ancoragens ......................................................................................................................... 57

5.2.3. Cortina de estacas travada por bandas de laje ................................................................... 61

5.2.4. Contenção provisória tipo Berlim ........................................................................................ 65

5.3. Plano de instrumentação e observação ..................................................................................... 66

5.3.1. Aparelhos de medição e grandezas medidas ..................................................................... 66

5.3.2. Frequência das leituras ....................................................................................................... 70

5.3.3. Critérios de alerta e alarme ................................................................................................. 70

5.3.4. Medidas de reforço .............................................................................................................. 71

6. Modelação numérica ......................................................................................................................... 73

6.1. Geometria do modelo de cálculo ................................................................................................ 73

6.2. Caracterização dos materiais ..................................................................................................... 76

6.2.1. Caracterização do solo ........................................................................................................ 76

6.2.2. Caracterização da cortina de estacas ................................................................................. 77

6.2.3. Caracterização das ancoragens .......................................................................................... 78

6.2.4. Caracterização das bandas de laje ..................................................................................... 79

6.2.5. Caracterização do túnel....................................................................................................... 79

6.3. Malha de elementos finitos e cálculos ........................................................................................ 79

6.4. Resultados da modelação .......................................................................................................... 81

6.4.1. Corte Tipo 1 ......................................................................................................................... 81

6.4.2. Corte Tipo 2 ......................................................................................................................... 85

6.5. Comparação entre os resultados obtidos e os resultados reais ................................................ 90

6.5.1. Corte Tipo 1 ......................................................................................................................... 90

6.5.2. Corte Tipo 2 ......................................................................................................................... 92

6.6. Retroanálise ............................................................................................................................... 97

6.6.1. Análise paramétrica ............................................................................................................. 97

6.7. Proposta de optimização da solução ....................................................................................... 102

6.7.1.Optimização do travamento por ancoragens ..................................................................... 102

xii
6.7.2. Optimização do travamento por bandas de laje ................................................................ 104

6.8. Análise económica ................................................................................................................... 106

7. Conclusões ...................................................................................................................................... 109

7.1. Considerações finais ................................................................................................................ 109

7.2. Desenvolvimentos futuros ........................................................................................................ 111

Referências bibliográficas ................................................................................................................... 113

Anexos ..................................................................................................................................................... A

Anexo I – Localização das sondagens geotécnicas ........................................................................... C

Anexo II – Planta do recinto de escavação ......................................................................................... E

Anexo III – Registo da evolução da obra ............................................................................................G

xiii
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Índice de figuras
Figura 1 - Representação esquemática de uma fundação profunda segundo a NBR 6122. ................. 5
Figura 2 - Estaca de trado contínuo: a) Furação com trado; b) Extracção do trado enquanto o betão é
injectado no eixo oco do trado; c) Colocação das armaduras; d) Estaca executada (Santos (2008)) ... 6
Figura 3 - Equipamento de perfuração .................................................................................................... 8
Figura 4 - Estacas após saneamento da cabeça .................................................................................... 9
Figura 5 - Curvas carga - tempo e assentamento - tempo de diferentes procedimentos de
carregamento em provas e carga (Velloso et al., 2012) ....................................................................... 15
Figura 6 - Sistemas de reacção para provas de carga estática (Velloso, et al., 2012)......................... 18
Figura 7 - Sistemas de medição para provas de carga de compressão (Velloso, et al., 2012) ........... 18
Figura 8 - Modelo de funcionamento do sistema (à esquerda) e esquema da célula instalada no fuste
(à direita) (adaptado de Brito & Penteado (2009)) ................................................................................ 19
Figura 9 - Curva carga-assentamento (adaptado de Melo (2009)) ....................................................... 20
Figura 10 - Extrapolação da curva carga-assentamento segundo Van der Veen (Velloso, et al., 2012)
............................................................................................................................................................... 21
Figura 11 - Carga de rotura convencional (adaptado da NBR 6122/2010) .......................................... 22
Figura 12 - Esquema de montagem da reacção das estacas EP1 e EP2 ............................................ 24
Figura 13 – Sistema de reacção (Fugru in Situ, 2013) ......................................................................... 28
Figura 14 - Sistema de reacção segundo Corte A-A’ (Fugru in Situ, 2013) .......................................... 28
Figura 15 – Terzaghi e Peck: Impulsos de solos em cortinas flexíveis multi-apoiadas (Pires Lopes,
2012)...................................................................................................................................................... 34
Figura 16 - Representação esquemática da evolução de um estado de tensão num elemento de solo
suportado por uma cortina ancorada (Guerra, 2007) ............................................................................ 35
Figura 17 - Cortina de estacas moldadas na ampliação do estacionamento do Hospital da Luz ........ 37
Figura 18 - Cortina de estacas espaçadas (Meireles et al., 2006)........................................................ 38
Figura 19 - Cortina de estacas tangentes (Meireles et al., 2006) ......................................................... 38
Figura 20 - Cortina de estacas secantes (Meireles et al., 2006)........................................................... 39
Figura 21- Elementos constitutivos da cortina de estacas na obra em estudo ..................................... 40
Figura 22 - Pormenor de um escoramento de canto na obra em estudo ............................................. 40
Figura 23 - Fotografia aérea da área de implantação do novo parque subterrâneo (JetSJ, 2013) ...... 43
Figura 24 - Esquema representativo da ligação do novo estacionamento ao antigo (Risco, 2013)..... 44
Figura 25 - Perfil AA' elaborado a partir das sondagens S1A, S2A e S3A (Deltatau, 2013) ................ 46
Figura 26 - Principais fronteiras da área de intervenção ...................................................................... 48
Figura 27 - Planta da contenção e zonamento das soluções. Planta do pormenor da solução de
cortina de estacas (Pinto et al., 2014) ................................................................................................... 50
Figura 28 - Tubo prolongador telescópico (Rodio, 2006a) .................................................................... 53
Figura 29 - Trado contínuo .................................................................................................................... 54
Figura 30 - Perfuração e betonagem com trado contínuo .................................................................... 54
Figura 31- Equipamento e registo dos parâmetros de execução (Rodio, 2006a) ................................ 55
Figura 32 - Introdução da armadura pelo trado..................................................................................... 56

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Figura 33 - Penetração da armadura na massa de betão .................................................................... 56
Figura 34 - Saneamento da cabeça das estacas .................................................................................. 56
Figura 35- Furação com trado contínuo ................................................................................................ 58
Figura 36 - Negativo deixado na viga de distribuição após furação ..................................................... 58
Figura 37 - Constituição da armadura das ancoragens (Rodio, 2014b) ............................................... 59
Figura 38 - Tensionamento dos cabos com macaco hidráulico (Pinto, 2011) ...................................... 60
Figura 39 - Ancoragens do 1º e 2º níveis tencionadas e 3º nível de ancoragens por tencionar .......... 60
Figura 40 - Solução de bandas de laje com vigas treliçadas metálicas (Pinto, et al., 2008) ................ 61
Figura 41 - Quadro de travamento (Pinto, et al., 2008) ........................................................................ 61
Figura 42 - Perfil HEB 240 a introduzir no terreno ................................................................................ 63
Figura 43 - Perfil metálico introduzido no terreno ................................................................................. 63
Figura 44 - Armadura do primeiro nível de bandas de laje ................................................................... 64
Figura 45 – Armadura de espera do primeiro nível de bandas de laje ................................................. 64
Figura 46 - Escavação do primeiro nível e betonagem da segunda banda de laje .............................. 64
Figura 47 – Aspecto final dos dois níveis de bandas de laje e ligação à cortina de estacas ............... 65
Figura 48 – Aspecto dos dois níveis de bandas de laje apoiados provisoriamente em perfis metálicos
............................................................................................................................................................... 65
Figura 49 - Muro de Berlim executado em obra .................................................................................... 65
Figura 50 - Colocação dos inclinómetros no Alçado Nascente............................................................. 67
Figura 51 - Localização aproximada dos inclinómetros e eixos de observação (Rodio, 2014c) .......... 68
Figura 52 - Localização dos alvos topográficos .................................................................................... 68
Figura 53 - Colagem do alvo 29 no 2º troço de bandas de laje ............................................................ 69
Figura 54 - Esquema representativo da planta da obra e dos cortes a considerar na modelação ...... 73
Figura 55 - Corte Tipo 1: Ilustração da modelação numérica no Plaxis 2D .......................................... 74
Figura 56 - Corte Tipo 2: Ilustração da modelação numérica no Plaxis 2D .......................................... 75
Figura 57 - Distribuição das cargas no Corte Tipo 2 ............................................................................. 75
Figura 58 - Corte Tipo 1: Malha de elementos finitos ........................................................................... 80
Figura 59 - Corte Tipo 2: Malha de elementos finitos ........................................................................... 80
Figura 60 - Corte Tipo 1: Configuração deformada da cortina no final da escavação (ampliada 100
vezes) .................................................................................................................................................... 81
Figura 61 - Corte Tipo 1: Deslocamentos horizontais no final da escavação ....................................... 82
Figura 62 - Corte Tipo 1: Deslocamentos verticais no final da escavação ........................................... 83
Figura 63 - Corte Tipo 1: Deslocamentos da cortina na fase final de escavação: a) Deslocamento
total; b) Deslocamento horizontal; c) Deslocamento vertical ................................................................ 83
Figura 64 - Corte Tipo 2: Configuração deformada da cortina no final da escavação (ampliada 100
vezes) .................................................................................................................................................... 85
Figura 65 - Corte Tipo 2: Deslocamentos horizontais no final da escavação ....................................... 86
Figura 66 - Corte Tipo 2: Deslocamentos verticais no final da escavação ........................................... 86
Figura 67 - Corte Tipo 2: Deslocamentos da cortina na fase final da escavação: a) Deslocamento
total; b) Deslocamento horizontal; c) Deslocamento vertical ................................................................ 87

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Figura 68 - Localização esquemática dos alvos no Alçado ST. (Adaptado de JetSJ, 2013) ............... 94
Figura 69 - Corte Tipo 2: Configuração deformada da cortina optimizada no final da escavação
(ampliada 100 vezes) .......................................................................................................................... 103
Figura 70 - Corte Tipo 2: Deslocamentos da cortina travada por ancoragens na fase final da
escavação: a) Deslocamento total; b) Deslocamento horizontal; c) Deslocamento vertical .............. 104
Figura 71 - Corte Tipo 1: Configuração deformada da cortina sem o segundo travamento no final da
escavação (ampliada 100 vezes) ........................................................................................................ 105
Figura 72 - Corte Tipo 2: Deslocamentos da cortina travada por bandas de laje na fase final da
escavação: a) Deslocamento total; b) Deslocamento horizontal; c) Deslocamento vertical .............. 105

xvii
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Índice de tabelas
Tabela 1 - Classificação das estacas (adaptado de Santos (2008))....................................................... 6
Tabela 2 - Vantagens e desvantagens das estacas hélice contínua .................................................... 11
Tabela 3 - Quantidade de provas de carga (NBR, 6122/2010)............................................................. 14
Tabela 4 - Características da EP2 ........................................................................................................ 23
Tabela 5 - Constituição do terreno na obra do Rio de Janeiro ............................................................. 24
Tabela 6 - Estágios de carregamento ................................................................................................... 25
Tabela 7 - Estágios de descarregamento ............................................................................................. 25
Tabela 8 - Quadro resumo - Prova de carga estática (adaptado de Fugru in Situ (2013)) .................. 27
Tabela 9 - Constituição do terreno na obra do Rio Grande do Sul ....................................................... 27
Tabela 10 - Estágios de carregamento ................................................................................................. 29
Tabela 11 - Estágios de descarregamento ........................................................................................... 29
Tabela 12 – Fases construtivas exemplificativas do funcionamento de uma cortina ancorada ........... 35
Tabela 13 - Análise comparativa entre cortinas de estacas e outras soluções .................................... 41
Tabela 14 - Aspectos para a classificação da empreitada .................................................................... 44
Tabela 15 - Zonas geotécnicas e respectivas características (JetSJ, 2013) ........................................ 47
Tabela 16 - Vantagens e desvantagens do travamento de contenções periféricas com recurso a
elementos estruturas ............................................................................................................................. 62
Tabela 17 - Tempos mínimos de observação para cada escalão de carga aplicado (Rodio, 2014c) .. 70
Tabela 18 - Parâmetros do modelo constitutivo Hardening Soil (Plaxis, 2010). ................................... 76
Tabela 19 - Caracterização do solo ...................................................................................................... 77
Tabela 20 - Características da cortina de estacas ................................................................................ 78
Tabela 21 - Geometria das ancoragens ................................................................................................ 78
Tabela 22 - Características dos elementos das ancoragens ................................................................ 78
Tabela 23 - Características das bandas de laje .................................................................................... 79
Tabela 24 - Características do túnel ..................................................................................................... 79
Tabela 25 - Corte Tipo 1: Faseamento construtivo considerado na modelação .................................. 80
Tabela 26 - Corte Tipo 2: Faseamento construtivo considerado na modelação .................................. 81
Tabela 27 - Comparação entre os deslocamentos medidos no túnel pela instrumentação e na
modelação ............................................................................................................................................. 92
Tabela 28 - Deslocamentos horizontais no topo da cortina de estacas no final da escavação ........... 92
Tabela 29 - Deslocamentos horizontais medidos no topo da cortina durante o processo construtivo . 93
Tabela 30 - Caracterização inicial do solo ............................................................................................ 98
Tabela 31 - Caracterização do solo - Optimização da camada ZG3 .................................................... 98
Tabela 32 – Comparação dos deslocamentos máximos finais na cortina após optimização da ZG3.. 99
Tabela 33 - Caracterização do solo - Optimização da camada ZG2 .................................................... 99
Tabela 34 - Comparação dos deslocamentos máximos finais na cortina após optimização da ZG2 .. 99
Tabela 35 - Caracterização do solo - Optimização total ..................................................................... 100
Tabela 36 - Comparação dos deslocamentos máximos finais na cortina após optimização total ...... 100
Tabela 37 - Caracterização do solo - Optimização de ZG3 e ZG2 ..................................................... 101

xix
Tabela 38 - Comparação dos deslocamentos máximos finais na cortina após optimização de ZG3 e
ZG2 ...................................................................................................................................................... 101
Tabela 39 - Comparação dos deslocamentos máximos finais na cortina no Corte Tipo 1, após
optimização total .................................................................................................................................. 102
Tabela 40 - Deslocamentos medidos no túnel pela instrumentação, na modelação inicial e na
modelação após optimização total ...................................................................................................... 102
Tabela 41 - Alterações propostas para a solução de optimização da cortina de estacas .................. 103
Tabela 42 – Alterações das características dos elementos das ancoragens ..................................... 103
Tabela 43 - Deslocamentos horizontais máximos medidos no túnel na solução adoptada e na solução
proposta ............................................................................................................................................... 106
Tabela 44 - Estudo orçamental da cortina de contenção periférica inicial .......................................... 107
Tabela 45 - Estudo orçamental das ancoragens na solução alternativa ............................................ 107
Tabela 46 - Contribuição dos custos dos vários elementos para o custo total da contenção periférica
............................................................................................................................................................. 108
Tabela 47 – Análise dos custos dos elementos “bandas de laje” e “ancoragens” em ambas as
soluções............................................................................................................................................... 108

xx
Índice de gráficos
Gráfico 1 - Gráfico carga-assentamento obtido para a estaca EP2 ..................................................... 26
Gráfico 2 - Gráfico carga-assentamento obtido para a estaca E-22 ..................................................... 29
Gráfico 3 - Corte Tipo 1: Deslocamento horizontal da cortina ao longo das várias fases construtivas 84
Gráfico 4 - Corte Tipo 1: Momentos flectores na cortina no final da escavação .................................. 85
Gráfico 5 - Corte Tipo 2: Deslocamento horizontal da cortina ao longo das várias fases construtivas 88
Gráfico 6 - Corte Tipo 2: Esforços axiais instalados na cortina no final da escavação ........................ 89
Gráfico 7 - Corte Tipo 2: Momentos flectores na cortina no final da escavação .................................. 90
Gráfico 8 - Gráfico do inclinómetro 5 ..................................................................................................... 91
Gráfico 9 - Corte Tipo 1: Deslocamentos horizontais da parede no final da escavação obtidos no
Plaxis ..................................................................................................................................................... 91
Gráfico 10 - Deslocamentos horizontais medidos nos alvos 8, 9 e 10 ................................................. 94
Gráfico 11 - Deslocamentos horizontais da cortina no Alçado ST ........................................................ 96
Gráfico 12 - Gráfico do inclinómetro 4 ................................................................................................... 96

xxi
xxii
1. Introdução

1.1. Enquadramento geral

Esta dissertação aborda a utilização de estacas em obras geotécnicas em duas perspectivas: estacas
como elemento de fundação e estacas como elemento de contenção periférica. A temática referente
às estacas como elemento de fundação foi essencialmente desenvolvida no Rio de Janeiro, no Brasil,
no âmbito de um programa de intercâmbio IST - UFRJ. A utilização de estacas como elemento de
contenção periférica é abordada numa fase posterior deste trabalho e tem como base fundamental o
acompanhamento de uma obra em Lisboa.

As estacas como elemento de fundação surgem num contexto em que o terreno superficial não
apresenta as características mecânicas adequadas para suportar as cargas provenientes das
superestruturas. Tratando-se de elementos de fundação profunda, a confirmação da sua integridade
estrutural não é imediata, sendo que o recurso a ensaios disponíveis no mercado para esta avaliação
se torna indispensável no controlo de qualidade destes elementos.

De entre os ensaios de verificação dos critérios de cálculo, as provas de carga estática revelam-se
fundamentais quando o objectivo é aferir a capacidade de carga resistente última das estacas para
um dimensionamento mais racional. Estes ensaios complementam, de certa forma, os modelos
teóricos que suportam a interacção estaca-solo, e que não têm em conta factores que podem
influenciar a capacidade de carga de uma estaca, como o grau de controlo durante o processo de
instalação.

Tendo em conta que este trabalho começou a ser desenvolvido no Brasil, apresenta-se a
interpretação dos resultados de ensaios estáticos em dois casos concretos, à luz da norma brasileira.

Na outra perspectiva sobre a qual se debruça a dissertação, a utilização mais recente de estacas
como elemento de contenção periférica apresenta-se como uma solução à problemática da escassez
de espaço nos grandes centros urbanos. Num cenário onde a configuração densificada da malha
urbana impossibilita, em muitos casos, a construção das infra-estruturas exigidas pelos padrões
actuais de procura da sociedade, o recurso a estruturas subterrâneas torna-se imprescindível. Esta
limitação do espaço surge ainda como um entrave à execução propriamente dita destas estruturas,
implicando a projecção de soluções de contenção que permitam a escavação na vertical e reduzam
assim, ao mínimo, a ocupação do espaço circundante.

Consoante a geologia do local, as condições de vizinhança e a presença ou não de nível freático,


surgem vários tipos de soluções construtivas para aplicar em contenções periféricas, tais como as
cortinas de estacas moldadas, paredes moldadas, paredes tipo Berlim ou Munique, cortinas de
estacas-prancha, entre outras. A implementação destas estruturas pressupõe o controlo de aspectos
relacionados com a sua segurança e com a segurança das infra-estruturas vizinhas, pelo que a
previsão do seu comportamento em fase de projecto e a posterior confirmação do mesmo durante a
construção assumem especial importância.

1
Neste sentido, e reconhecendo o carácter não linear dos solos, a adopção de ferramentas avançadas
de análise, de que é exemplo a modelação por elementos finitos, na simulação da interacção solo-
estrutura pretende contribuir para uma previsão mais realista.

O caso de estudo que serve de base a esta segunda perspectiva da dissertação é a obra de
ampliação do estacionamento subterrâneo do Hospital da Luz, cujo acompanhamento possibilitou
seguir de perto os processos construtivos inseridos nos trabalhos de escavação e execução da
contenção periférica.

1.2. Objectivos da dissertação

Como objectivos principais desta dissertação destaca-se, em primeiro lugar, o acompanhamento de


duas obras, uma no Brasil e outra em Portugal, nomeadamente as soluções construtivas adoptadas,
os equipamentos e materiais utilizados para tal, e a compreensão da articulação entre todas as partes
intervenientes.

Dado o actual contexto macro económico em Portugal e também na Europa, com repercussões
bastante significativas no sector na construção, a possibilidade de uma experiência internacional num
país onde este sector teve um crescimento expressivo, revelou-se uma oportunidade exclusiva.

No seguimento da constatação anterior, considera-se de valor o conhecimento da norma brasileira


aplicada ao tema desta dissertação, mais concretamente, à interpretação de resultados de provas de
carga estática.

A par do acompanhamento da obra do estacionamento complementar do Hospital da Luz, e


reconhecendo os condicionamentos associados, essencialmente, às condições de vizinhança,
procede-se a uma análise dos deslocamentos significativos que se verificaram no decorrer dos
trabalhos. O objectivo daqui resultante é a constituição de um modelo num programa de cálculo
automático que represente da forma mais fidedigna possível a situação real.

O objectivo seguinte surge na sequência de um estudo paramétrico de caracterização dos solos de


contenção envolvidos, no qual se pretende optimizar o seu desempenho, aproximando os resultados
do programa com os da instrumentação. A partir destes resultados será proposta uma solução
alternativa, também suportada por cálculo numérico, e o impacto que a sua adopção teria no custo
total da cortina de contenção periférica.

1.3. Estrutura da dissertação

Focando duas perspectivas distintas da utilização de estacas em obras geotécnicas, este trabalho
está dividido em 7 grandes capítulos.

O capítulo 1 apresenta estrutura do trabalho, o âmbito no qual este se insere e os objectivos


propostos com a sua realização.

No capítulo 2 é feita uma breve introdução à utilização de fundações por estacas, seguindo-se a
apresentação de duas propostas de classificação das mesmas, segundo autores diferentes. No

2
subcapítulo seguinte aborda-se mais detalhadamente as estacas executadas por meio de trado
contínuo, cujo processo construtivo pôde ser observado no Brasil e é assim descrito neste trabalho. É
também referido como pode ser feito o controlo da execução destas estacas e, por fim, são
enumeradas algumas vantagens e desvantagens da sua utilização.

O capítulo 3 aborda a temática das provas de carga, mais concretamente, das provas de carga
estáticas. Inicialmente é feita uma breve referência histórica da sua introdução no Brasil, seguindo-se
para o estabelecimento de noções gerais sobre as mesmas e os resultados que facultam. Ainda no
mesmo capítulo são referidos os vários procedimentos de ensaio que constam na norma brasileira,
bem com os aparelhos e instrumentação requeridos e o modo como é determinada a carga
admissível.

Na parte final deste capítulo recorre-se a dois casos práticos no Brasil para exemplificar como se
pode determinar a carga admissível numa estaca sujeita a prova de carga estática, de acordo com a
norma brasileira.

O capítulo 4 apresenta a fundamentação teórica necessária ao desenvolvimento da perspectiva da


utilização da estaca como elemento de contenção periférica. No início deste capítulo consta, ainda,
uma breve introdução que elucida a importância das estruturas de contenção nos dias de hoje e, para
o concluir, é feita uma análise comparativa entre cortinas de estacas moldadas e outras soluções.

O capítulo 5 apresenta o caso de estudo da ampliação do estacionamento do Hospital da Luz, em


Lisboa. Numa primeira fase é feito um enquadramento geral da obra, onde consta a sua localização,
os condicionamentos e outros aspectos que se consideram relevantes. Segue-se uma descrição das
soluções executadas em obra, abrangendo os processos construtivos nelas envolvidos e uma
referência ao plano de instrumentação e observação utilizado.

No capítulo 6 é realizada a modelação da estrutura de contenção do caso de estudo, utilizando a


teoria dos elementos finitos, no programa de cálculo numérico Plaxis 2D. Segue-se um estudo
paramétrico de caracterização dos solos de contenção envolvidos com o objectivo de aproximar os
resultados do programa e da instrumentação e, desta forma, averiguar a possibilidade de uma
solução alternativa mais económica.

A solução alternativa é apresentada no final deste capítulo, com o respectivo suporte numérico, e
conjuntamente com uma análise económica dos custos envolvidos.

Por fim, no capítulo 7 são apresentadas as considerações finais ao tema abordado e propostos
desenvolvimentos futuros.

Refira-se que, por opção do autor, não foi adoptado o novo acordo ortográfico na elaboração do
presente documento e que alguns termos técnicos estão em brasileiro, dado o contexto em que esta
dissertação foi realizada.

3
4
2. Estacas como elemento de fundação

2.1. Introdução

As estruturas transmitem as cargas ao terreno subjacente através das suas fundações. Se o terreno
apresentar boa coesão e capacidade de carga, as fundações poderão ser superficiais ou directas,
mais concretamente sapatas assentes no terreno, em geral, a uma profundidade entre 1 e 2 m.

Quando os solos superficiais não apresentam as características mecânicas adequadas para suportar
as elevadas cargas da construção ou ainda, quando estão sujeitos a processos erosivos, recorre-se a
fundações profundas.

Segundo a ABNT NBR 6122, a norma brasileira referente ao projecto e execução de fundações,
define-se como fundação profunda aquela que transmite a carga ao solo pela base (resistência de
ponta), pela sua superfície lateral (resistência lateral) ou por uma combinação das duas, encontrando-
se fundada a uma profundidade superior ao dobro da sua menor dimensão em planta e, no mínimo, a
3 m (Figura 1). Neste tipo de fundação enquadram-se as estacas, os tubulões e os caixões.

A fundação por estacas remonta à pré-história com a utilização de palafitas na construção.


Actualmente, verifica-se um notório desenvolvimento neste tipo de fundação, principalmente com a
construção de estruturas offshore para exploração de petróleo (Velloso et al., 2012).

As estacas são elementos esbeltos, cuja relação entre o diâmetro e o comprimento é muito pequena.
Além disso, distinguem-se dos tubulões e dos caixões pela execução apenas por equipamentos ou
ferramentas, não havendo necessidade da descida do operário em nenhuma fase da sua construção.

Figura 1 - Representação esquemática de uma fundação profunda segundo a NBR 6122.

2.2. Classificação das estacas

As fundações por estacas podem ser classificadas de acordo com o material utilizado, de acordo com
o seu processo construtivo e mediante o efeito que provocam no solo ao serem executadas,
inserindo-se nas categorias ilustradas na Tabela 1.

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Tabela 1 - Classificação das estacas (adaptado de Santos (2008))

EFEITO NO SOLO ENVOLVENTE PROCESSO DE EXECUÇÃO MATERIAL


Peça sólida:
 Madeira
 Betão
Pré-fabricada e cravada
Peça tubular obturada na ponta:
Grande deslocamento (sem
 Tubos metálicos
extracção do solo)
 Tubos em betão
Peça tubular obturada na ponta:
Moldada  Aço
 Betão
Perfis metálicos:
 Secções H, I
Pequeno deslocamento (sem  Tubos metálicos
Pré-fabricada e cravada
extracção do solo) abertos na ponta
Estacas helicoidais com
elementos metálicos
Betão com molde perdido
Betão com:
Moldada com sustimento
 Molde recuperável
Sem deslocamento (com provisório
 Lamas bentoníticas
extracção do solo)
 Polímeros
Moldada sem sustimento
Betão
provisório

Na Figura 2 ilustra-se de forma esquemática a execução de uma estaca moldada sem deslocamento
e sem sustimento provisório, com recurso a trado contínuo. No capítulo seguinte este processo
construtivo será abordado mais detalhadamente.

a) b) c) d)

Figura 2 - Estaca de trado contínuo: a) Furação com trado; b) Extracção do trado enquanto o betão é
injectado no eixo oco do trado; c) Colocação das armaduras; d) Estaca executada (Santos (2008))

Apresenta-se também a classificação de Terzaghi e Peck (1967), através da qual as estacas podem
ser incluídas em três grupos:

 Estacas de atrito em solos granulares muito permeáveis: trabalham sobretudo por atrito
lateral. São também conhecidas por estacas de compressão uma vez que o seu processo de
cravação, próximas entre si e em grupos, reduz a porosidade e compressibilidade do solo
dentro e em torno do grupo.

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 Estacas de atrito em solos finos de baixa permeabilidade: transferem igualmente as cargas
que lhes são aplicadas por atrito lateral, no entanto, não produzem compactação considerável
no solo. A este tipo de estacas em que a resistência é garantida fundamentalmente pela
mobilização da resistência lateral dá-se também o nome de estacas flutuantes;
 Estacas de ponta: são estacas apoiadas num maciço “firme” situado a uma profundidade
considerável.

2.3. Trado contínuo na execução de estacas

Neste subcapítulo é feita uma descrição do processo construtivo de estacas através de trado
contínuo e de como pode ser feito o controlo da sua execução, na sequência de duas visitas a uma
obra de um condomínio na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, onde estas estacas são utilizadas
como elemento de fundação.

As estacas hélice contínua, nome dado no Brasil às estacas executadas por este processo, são
estacas moldadas in loco por meio de um trado contínuo e injecção de betão, sob pressão controlada,
através da haste central do trado, simultaneamente com a sua extracção do terreno.

Desenvolvidas nos EUA e difundidas na Europa e no Japão na década de 80, estas estacas foram
utilizadas pela primeira vez no Brasil em 1987 com equipamentos desenvolvidos no próprio país. A
partir da década de 90, a importação de máquinas europeias, construídas especialmente para a
execução deste tipo de estacas, contribuiu para a evolução da utilização destas estacas no Brasil.
Hoje em dia, conseguem-se estacas com diâmetros que variam entre os 25 cm e os 100 cm e com
um comprimento compatível com a extensão do trado, até cerca de 27 m (Hachich et al., 1998).

2.3.1. Processo construtivo de estacas hélice contínua

As fases de execução das estacas hélice contínua são descritas em seguida e passam pela
perfuração do terreno, betonagem e colocação da armadura.

Perfuração

Na fase de perfuração, a hélice é cravada no terreno por rotação, sendo que em momento nenhum
pode ser retirada do mesmo. A escavação é efectuada com recurso ao trado mecânico contínuo, o
qual serve de escoramento provisório do próprio furo. No topo da hélice existe uma mesa rotativa a
partir da qual é aplicado o torque apropriado para que a hélice vença a resistência do solo em
questão. A Figura 3 ilustra o equipamento de perfuração utilizado na obra no Rio de Janeiro.

A haste de perfuração é constituída por uma hélice espiral, a qual retira o solo, e por um tubo central
solidarizado a esta hélice. A penetração da hélice no solo é facilitada pela existência de uns dentes
na sua extremidade inferior. Além disso, a hélice possui ainda nesta extremidade uma tampa metálica
que é expulsa durante a betonagem e cuja função é impedir a entrada de solo na haste tubular
aquando da perfuração. Esta tampa é normalmente recuperável.

7
Durante este processo, a profundidade e o torque são registados e acompanhados por um
computador eléctrico instalado na cabine de controlo. O objectivo de controlar o avanço da hélice é
minimizar o desconfinamento do solo na interface solo-trado.

Figura 3 - Equipamento de perfuração

O facto de a perfuração ser uma operação contínua garante uma das principais características da
estaca hélice contínua, que é a de não permitir alívio significativo do solo. Assim, torna-se possível a
sua execução quer em solos com boa coesão, como em solos arenosos, na presença ou não de nível
freático (Hachich et al., 1998).

Betonagem

Ao atingir a profundidade de projecto é iniciada a betonagem da estaca pelo interior da haste tubular.
Simultaneamente, a hélice é retirada do terreno sem girar ou, no caso de terrenos arenosos, girando
muito lentamente no sentido da perfuração. O volume e a pressão do betão são controlados pelo
computador da cabine.

O betão é injectado sob pressão positiva da ordem dos 50 a 100 kPa. Com isto, procura-se garantir a
continuidade e integridade ao longo do fuste da estaca. Para tal, é necessário ter em atenção o
controlo da velocidade de subida do trado, para que haja sempre um sobre-consumo, isto é, a relação
“(Volume betonado)/(Volume teórico)” maior do que 1, de modo a evitar fugas.

O betão é bombeado através de uma bomba ligada ao equipamento de perfuração, por meio de uma
mangueira flexível.

A limpeza do solo contido entre as pás da hélice é feita durante a extracção da mesma do solo. Esta
limpeza é feita manualmente ou através de um limpador de accionamento hidráulico ou mecânico
acoplado ao equipamento. O material é posteriormente removido da zona de estaqueamento através
de uma pá carregadeira de pequeno porte.

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A forma como o trado é retirado assume alguma relevância, na medida em que a sua retirada gradual
evita a escorrência de solo na massa de betão.

Colocação da armadura

Após ser retirado o trado, limpa-se a superfície do betão e coloca-se a armadura. A introdução das
armaduras coloca algumas dificuldades, pelo que estas ficam restritas aos metros superiores das
estacas.

As armaduras são instaladas por gravidade, por compressão de um pilão ou por vibração.

Devido às dificuldades associadas à sua colocação, as armaduras devem ser constituídas por barras
grossas e estribo circular soldado na armadura longitudinal, o que aumenta a sua rigidez. Deste
modo, pretende-se evitar a sua deformação durante a introdução no fuste da estaca (Hachich et al.,
1998).

Posteriormente, a cabeça das estacas pode ser cortada, caso seja necessário, até que se atinja a
cota prevista.

Após a execução da estaca, a sua cabeça deve ser aparelhada (saneamento da cabeça da estaca)
de modo a permitir a adequada ligação ao bloco de coroamento ou às vigas. Para tal, devem ser
tomadas as seguintes medidas:

 O corte deve ser efectuado com ponteiros afiados, trabalhando horizontalmente com pequena
inclinação para cima;
 O corte deve ser feito em camadas de pequena espessura, iniciando-se pelo contorno da
estaca em direcção ao seu centro;
 As cabeças das estacas devem ficar normais aos seus próprios eixos.

Na Figura 4 apresenta-se o aspecto das estacas após o saneamento da sua cabeça e ligação ao
bloco de coroamento observado na mesma obra, no Rio de Janeiro.

Figura 4 - Estacas após saneamento da cabeça

9
2.3.2. Controlo da execução

No Brasil, o equipamento mais utilizado para monitorizar a execução das estacas hélice contínua é de
origem francesa e denomina-se Taracord CE. O Taracord CE é constituído por um computador, com
mostrador digital, instalado na cabine do operador e sensores colocados na máquina que informam
sobre os seguintes dados do processo executivo:

 Profundidade da ponta do trado em relação ao nível do terreno;


 Velocidade de rotação da mesa rotativa;
 Torque;
 Inclinação da torre;
 Pressão do betão;
 Volume acumulado desde o início da betonagem, sobre-consumo nos últimos 50 cm de
betonagem e sobre-consumo total.

A análise destes parâmetros durante a execução da estaca pretende contribuir para a correcta
execução da mesma. Ao controlar-se a pressão de injecção do betão em cada momento, procura-se
garantir a homogeneidade e integridade ao longo do fuste da estaca. Para tal contribui também a
verificação do sobre-consumo maior do que 1 para evitar fugas e o controlo da velocidade com que o
trado é extraído. A supervisão da inclinação da torre ajuda à verticalidade da estaca. Por sua vez, o
torque deve ser apropriado a cada tipo de terreno por forma a vencer eficazmente a sua resistência.

Estes parâmetros além de visíveis no mostrador digital, são registados numa memória e transferidos
para um outro computador, o qual imprime o relatório da estaca, onde consta também um desenho do
perfil provável da mesma.

Apesar de estas estacas apresentarem uma monitorização bastante completa da sua execução,
existem outros aspectos cujo acompanhamento pode comprometer a qualidade final das mesmas.
Almeida Neto (2002) destaca alguns deles:

 Equipamento – O equipamento para a execução da estaca deve possuir elevada capacidade


de torque e elevada força de extracção; é também importante o tipo e a forma do trado que
dependem do solo a ser perfurado, sendo as características mais importantes o tipo e
inclinação da lâmina de corte na ponta, o passo da hélice e a inclinação da hélice em relação
à vertical. Com o uso, principalmente em solos mais resistentes à perfuração, a ponta e as
pás da hélice sofrem um desgaste. Assim, a sua manutenção será importante para se
atingirem os resultados pretendidos.
 Procedimentos prévios à execução das estacas – Estes procedimentos incluem a
avaliação de itinerários de acesso à obra e de instalações adequadas, bem como dos
deslocamentos do equipamento de perfuração dentro da obra. A capacidade de carga do
terreno superficial revela-se também importante, na medida em que tem de suportar este
equipamento. Um bom planeamento da sequência de execução das estacas é, também
crucial, respeitando distâncias mínimas entre estacas consecutivas e garantindo que as
betonagens não são interrompidas.

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 Controlo da betonagem – Este aspecto será talvez o aspecto com maior impacto na
garantia da qualidade da estaca. O controlo de factores como a formulação do betão, o
sobre-consumo e a continuidade da operação influi significativamente na qualidade da estaca
executada.
 Pressão de injecção – Afecta a homogeneidade e a integridade da estaca. A pressão
utilizada normalmente é de 1 a 2 bar, devendo ser 0 em solos muito moles.
 Sistema de injecção de betão – O sistema deve estar em bom estado de conservação, mais
concretamente, as juntas que ligam a bomba ao trado devem ser estanques para que o betão
não perca água. Além disso, deve ser garantida a sua limpeza.
 Colocação da armadura – Em casos em que há necessidade de armadura em maiores
comprimentos, a plasticidade do betão adquire especial importância.
 Cota de arrasamento – É recomendado que a cota de arrasamento coincida com a cota do
terreno de modo a evitar um eventual desmoronamento da camada superficial, em terrenos
menos consistentes e, consequentemente, a contaminação do betão.

2.3.3. Vantagens e desvantagens

Segundo Alonso (1996), as estacas hélice contínua vêm-se juntar a outros tipos de fundações que já
cumpriam as mesmas funções, como por exemplo, as estacas moldadas com a utilização de lamas
bentoníticas ou as microestacas. No entanto, este tipo de estacas atinge uma gama de cargas mais
ampla do que as fundações referidas. Além desta vantagem básica, apresentam-se na Tabela 2 mais
algumas vantagens, bem como desvantagens da sua utilização.

Tabela 2 - Vantagens e desvantagens das estacas hélice contínua

Elevada produtividade
Não causam vibrações nem ruídos.
Execução monitorizada electronicamente.
Não causam grandes descompressões no terreno, minimizando assim danos em
fundações vizinhas.
VANTAGENS A perfuração não necessita de revestimento ou de fluido estabilizante (lamas
bentoníticas ou polímeros) para a contenção do furo.
A presença de água raramente restringe o seu uso.
Adaptabilidade a diferentes tipos de solos, excepto na presença de rochas ou de
materiais pedregosos.
O betão é injectado sob pressão, garantindo uma melhor aderência estaca-solo.
Limitações em termos da colocação das armaduras, o que também se reflecte em
comprimentos da estaca limitados.
A qualidade da execução depende muito da sensibilidade e experiência do operador do
equipamento de perfuração.
Dependência do fornecimento de betão da estação central, podendo ocorrer eventuais
interrupções da betonagem.
DESVANTAGENS
Necessita de equipamento para a remoção e limpeza do material escavado para fora
da área de trabalho.
Do ponto de vista comercial é necessário um número mínimo de estacas compatível
com os custos de mobilização dos equipamentos envolvidos.
Em função do porte do equipamento, as áreas de trabalho devem ser planas e de fácil
movimentação.

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3. Norma Brasileira na análise de provas de carga
Segundo Hachich et al., (1998), a fase das fundações de uma obra é a fase cuja confirmação dos
elementos executados com o definido em projecto é mais difícil, dada a impossibilidade da
visualização destes elementos. Assim, e apesar do controlo durante o processo executivo abordado
no subcapítulo 2.3.2., o recurso às provas de carga surge com o principal objectivo de verificar o
comportamento previsto em projecto (capacidade de carga e assentamentos).

De entre os vários métodos existentes para prever a capacidade de carga e o desenvolvimento de


assentamentos dos elementos de fundação (métodos estáticos, dinâmicos e provas de carga), os
estáticos semi-empíricos são os mais utilizados no Brasil pelos projectistas (Melo, 2009). Porém, a
melhor forma de analisar o comportamento de fundações profundas carregadas, segundo vários
autores como Alonso (1991) e Francisco et al. (2004), é o ensaio de prova de carga.

Por questões de custos e cumprimento de prazos, nem sempre se adoptam provas de carga como
critério de projecto. No entanto, reconhece-se que a complexidade dos mecanismos de transferência
de carga, as alterações das condições iniciais causadas pela execução do elemento de fundação e a
heterogeneidade dos solos justificam a sua utilização, principalmente em grandes obras de
engenharia.

No Brasil, a norma em vigor relativa ao projecto e execução de fundações é, como foi anteriormente
referido, a NBR 6122 (cuja ultima versão actualizada data de 2010). É também nesta norma que
estão definidas as condições para a obtenção da carga admissível de estacas a partir de provas de
cargas:

a) A(s) prova(s) de carga seja(m) estática(s);


b) A(s) prova(s) de carga seja(m) especificada(s) na fase de projecto e executadas no início da
obra, de modo a que o projecto possa ser adequado às demais estacas;
c) A(s) prova(s) de carga seja(m) levada(s) até uma carga de, no mínimo, duas vezes a carga
admissível prevista em projecto.

3.1. Provas de carga estática

De acordo com os registos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), a primeira prova de carga
documentada no Brasil foi realizada em Fevereiro de 1936 nas fundações da estação do caminho-de-
ferro Noroeste do Brasil, em Bauru. Porém, só mais tarde (1951) foi publicada a primeira norma sobre
o ensaio – NB20. Actualmente, a metodologia está normalizada pela NBR 12131 “Estacas – Prova de
Carga Estática – Método de ensaio” (cuja última versão data de 2006) e pode ser aplicada a todos os
tipos de estaca, independentemente do processo de execução e instalação no terreno.

Factores como a heterogeneidade do solo de fundação, o binómio solo de fundação – estaca e o grau
de controlo empregue durante a execução podem influenciar a capacidade de carga de uma estaca,
contribuindo assim para a incerteza do seu desempenho (Brito & Penteado, 2009).

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O resultado que se obtém a partir de uma prova de carga estática é uma curva carga-assentamento,
a qual fornece o assentamento da estaca em função das cargas aplicadas, tratando-se, portanto, de
um ensaio o tipo “tensão-deformação”.

A instrumentação em estacas permite uma melhor análise da interacção solo-estaca, tanto no


processo de cravação como na execução das provas de carga estáticas. Pode também ser avaliada a
distribuição do atrito ao longo do fuste da estaca e a sua resistência de ponta. Geralmente são
instalados pares de extensómetros de corda vibrante distribuídos segundo o eixo da estaca, sendo
medidos os deslocamentos e deformações nesses pontos (Brito & Penteado, 2009).

A NBR 6122/2010 prevê um número mínimo de ensaios para os diferentes tipos de estacas sempre
que o número de estacas seja superior ao valor especificado na coluna B da Tabela 3. Quando o
número total de estacas é superior ao valor indicado, deve ser executado um número de provas de
carga igual a no mínimo 1% do número total de estacas. Relativamente à coluna A da mesma tabela,
é necessária a execução de prova de carga, qualquer que seja o número de estacas da obra, se elas
forem empregues para tensões médias superiores aos valores indicados nesta columa. Esta norma
permite ainda uma redução do factor de segurança nas obras controladas por provas de carga feitas
a priori.

Tabela 3 - Quantidade de provas de carga (NBR, 6122/2010)

Dado o elevado custo de uma prova de carga estática (em geral, cerca de 10 dólares por kN de
carga) torna-se muito dispendioso o teste de um grande número de estacas. Assim, a norma permite
completar a verificação do comportamento com ensaios de carregamento dinâmico, que apresentam
um custo menor. Segundo a norma, três ensaios de carregamento dinâmico podem substituir uma
prova de carga estática. No entanto, de notar que os ensaios de carregamento dinâmico não
substituem as provas estáticas (Velloso et al., 2012).

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3.1.1. Procedimentos de carregamento

De um modo geral, a prova de carga estática consiste na aplicação de esforços estáticos em estágios
sucessivos, registando-se os deslocamentos obtidos para os respectivos estágios de carga.

A NBR 12131/2006 dispõe de todas as referências quanto aos dispositivos para a aplicação de carga
e medições, procedimentos para a execução do ensaio e preparação da prova de carga e ainda,
como os resultados devem ser apresentados.

Segundo Velloso et al. (2012), a aplicação da carga no ensaio pode ser dividida em três categorias:

 Carga controlada lenta (Figura 5.a) e rápida (Figura 5.b);


 Deformação controlada (Figura 5.c);
 Método do equilíbrio (Figura 5.d).

Figura 5 - Curvas carga - tempo e assentamento - tempo de diferentes procedimentos de carregamento


em provas e carga (Velloso et al., 2012)

Por sua vez, a NBR 12131/2006 aplica-se apenas às provas com carga controlada e divide-as nos
seguintes grupos:

 Ensaio com carregamento lento;


 Ensaio com carregamento rápido;
 Ensaio com carregamento misto;
 Ensaio com carregamento cíclico.

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Os ensaios de carga controlada mais comuns são os de carga incremental lentos e rápidos. Nos
ensaios lentos, conhecidos pelas siglas inglesas SML (slow maintained load), os incrementos de
carga são mantidos até se atingir a estabilização. Por sua vez, nos rápidos, conhecidos pela sigla
QML (quick maintained load), os incrementos de carga são mantidos por um tempo pré-estabelecido
(normalmente 15 minutos). Os ensaios de carga cíclica, também denominados CLT (cyclic load test)
e SCT (swedish cyclic test) são especiais na medida em que o projectista prevê um determinado
padrão de carregamento e especifica esse padrão para o ensaio.

Ensaio com carregamento lento (SML)

O ensaio de carga incremental lenta é o que melhor se aproxima do carregamento a que a estaca vai
estar sujeita sob a estrutura futura nos casos mais correntes. Neste ensaio os incrementos devem ser
iguais e sucessivos e não superiores a 20% da carga de trabalho prevista para a estaca ensaiada.
Cada incremento de carga deve ser mantido até à estabilização dos deslocamentos (e por um tempo
mínimo de 30 min). As leituras dos deslocamentos são feitas após cada aplicação de carga e nos
tempos: 2, 4, 8, 15, 30, 60 min etc., até à estabilização dos deslocamentos.

Como a estabilização completa só seria atingida após um longo período de tempo, a norma NBR
12131/2006 permite que se considere estabilizado o assentamento quando o incremento de
assentamento lido entre dois tempos consecutivos não é superior a 5% do assentamento medido
naquele estágio de carga.

Se a estaca não atingir a rotura, a carga máxima deve ser mantida durante um período mínimo de
12h entre a estabilização dos assentamentos e o início do descarregamento. O descarregamento
deve ser efectuado em quatro estágios, no mínimo, respeitando a estabilização dos deslocamentos
num tempo mínimo de 15 min. Após o descarregamento total, devem registar-se as leituras dos
deslocamentos até à sua estabilização.

Ensaio com carregamento rápido (QML)

Este ensaio baseia-se em incrementos iguais e sucessivos, não superiores a 10% da carga de
trabalho. Em cada estágio a carga deve ser mantida durante 10 min, independentemente da
estabilização dos deslocamentos (excepto em fundações de torres de linhas de transmissão em que
esse tempo pode ser reduzido para 5 min).

As leituras são realizadas no início e no fim de cada estágio. Quando é atingida a carga máxima do
ensaio, devem ser feitas leituras a 10, 30, 60, 90 e 120 min nesse estágio.

O descarregamento é realizado em cinco ou mais estágios, de 10 min cada, com as leituras dos
respectivos deslocamentos. Após 10 min do descarregamento total, devem ser efectuadas mais duas
leituras adicionais aos 30 e aos 60 min.

16
Ensaio misto (lento seguido de rápido)

Este ensaio foi proposto por Alonso (1997) para provas de carga em estacas e posteriormente
incorporado na NBR 12131/2006. É feito inicialmente com carregamentos lentos (estágios com
incrementos de 20% da carga admissível de projecto) e, posteriormente, com carregamentos rápidos
(estágios com incrementos de 10% da carga admissível). A transição do carregamento rápido para o
lento deve ocorrer após o estágio em que é aplicado 60% da carga máxima programada.

Ensaio com carregamento cíclico (CLT ou SCT)

O ensaio cíclico é constituído por sucessivos ciclos de carga-descarga, ou seja, cada estágio é
descarregado completamente antes do início do próximo. Em cada estágio, a carga é mantida
seguindo o padrão de carregamento lento ou rápido, seguindo-se o descarregamento total.

Método da deformação controlada (CRP)

Este procedimento de carregamento não está incluído na NBR 12131/2006, no entanto, é


mencionado em vários trabalhos. A velocidade de penetração da estaca é constante, medindo-se a
força necessária para tal. O ensaio é realizado até um nível de deslocamento entre os 5,0 cm e os 7,5
cm. O carregamento é aplicado até se atingir a capacidade limite da estaca, isto é, até ao momento
em que a carga não aumenta com a penetração.

Método do equilíbrio

Método proposto por Mohan et al. (1967) no qual, após ser atingida a carga do estágio e mantida
constante durante um intervalo de tempo (5, 10 ou 15 minutos), procede-se ao descarregamento até
não se verificar mais assentamentos ou variações de carga, sendo que, deste modo, não se procede
ao descarregamento total.

3.1.2. Aparelhos e instrumentação

Nas provas de carga de compressão, o carregamento é feito por um macaco hidráulico que reage
contra um sistema de reacção, que pode ser (Figura 6):

 Uma plataforma com peso (areia, água, blocos de betão, entre outros) à qual se dá o nome
de cargueira (Figura 6a);
 Vigas presas a estacas vizinhas à estaca de prova, as quais serão traccionadas (Figura 6b);
 Vigas ou capacete ancoradas no terreno (sendo que as ancoragens devem estar
suficientemente afastadas para não influenciarem os resultados do ensaio) (Figura 6c);

O sistema de reacção deve estar assente sobre o elemento de fundação, para que o dispositivo de
aplicação da carga fique convenientemente apoiado. O dispositivo de aplicação da carga actua contra
o sistema de reacção através de um ou mais macacos hidráulicos, accionados por bombas eléctricas
ou manuais.

17
Nas provas de carga de tracção o macaco hidráulico reage contra vigas ligadas a estacas vizinhas,
as quais acabam por ser comprimidas (Figura 6e).

Nas provas de carga horizontal o macaco hidráulico reage contra uma estaca vizinha ou um bloco de
reacção (Figura 6f).

Figura 6 - Sistemas de reacção para provas de carga estática (Velloso, et al., 2012)

Durante a prova de carga, realizam-se as leituras das cargas aplicadas, dos deslocamentos e dos
tempos correspondentes.

As cargas aplicadas podem ser medidas através do manómetro instalado no sistema de alimentação
do macaco hidráulico, ou por uma célula de carga. Na Figura 7 observa-se o sistema de medição
para provas de carga e compressão.

Figura 7 - Sistemas de medição para provas de carga de compressão (Velloso, et al., 2012)

18
Os deslocamentos verticais do topo da estaca são medidos por quatro extensómetros instalados em
dois eixos ortogonais e fixados em vigas de referência. Além de medirem os assentamentos, estes
aparelhos verificam se ocorre rotação do topo da estaca (decorrente do mau alinhamento do conjunto
estaca – macaco – sistema de reacção), caso em que a prova de estaca deve ser interrompida e o
alinhamento do conjunto corrigido.

A utilização de uma célula de carga, geralmente colocada entre o macaco e o sistema de reacção,
pretende garantir a calibração do macaco, na medida em que um pequeno deslocamento pode levar
a um aumento considerável do atrito no macaco. Assim, é recomendável adoptar-se uma rótula
esférica entre a célula de carga e o sistema de reacção.

As provas de carga podem também ser realizadas em obras já executadas, por exemplo, no reforço
de uma fundação. Nestes casos a própria estrutura constitui o sistema de reacção, desde que seja
constatada a compatibilidade das suas características e estado de conservação com as solicitações a
serem introduzidas.

Célula de Osterberg

Existe ainda um processo alternativo no qual é introduzida na base da estaca, ou ao longo do seu
fuste, uma célula expansora. Esta, ao ser accionada como um elemento traccionado, comprime a
parte inferior (ponta) e superior (fuste) da estaca (Figura 6d). Quando a célula está instalada na base
da estaca, a reacção é dada pelo solo de fundação (Figura 8, à esquerda). Este método é conhecido
por método bi-direccional, praticável através da célula de Osterberg.

Figura 8 - Modelo de funcionamento do sistema (à esquerda) e esquema da célula instalada no fuste (à


direita) (adaptado de Brito & Penteado (2009))

19
Devido à sua instalação no interior da unidade do elemento de fundação, o teste de carga através da
célula de Osterberg não está restringido aos limites do sistema de reacção. Podem, ainda, ser
utilizadas mais do que uma célula para testar diferentes secções da estaca.

Ao utilizar várias células em diferentes planos, é possível isolar diversos elementos dentro de uma
estaca para teste. No entanto, há que ter em atenção que existe resistência suficiente da secção da
estaca acima da célula de modo a que se desenvolva a reacção necessária que impeça a extracção
da estaca. A carga é quantificada pela medição da pressão hidráulica exercida na estaca. Podem,
também, ser instalados extensómetros na armadura para a medição dos deslocamentos.

3.1.3. Determinação da carga admissível

Como já foi mencionado, o resultado de uma prova de carga sobre uma estaca isolada é interpretado
através da curva carga-assentamento, a qual transmite o comportamento da interacção solo-
estrutura.

Hachich et al. (1998) divide a curva carga-assentamento obtida numa prova de carga em estacas
isoladas em três regiões distintas (I, II e III), representadas na Figura 9. Na região I existe quase uma
proporcionalidade entre as cargas e os assentamentos. A região II corresponde à região de
deformação viscoplástica, e aqui a velocidade de carregamento influi muito nos assentamentos,
sendo que, por essa razão não existe possibilidade de relacionamento teórico entre a carga e os
assentamentos. Por fim, a região III é corresponde à região de rotura, sendo a parte da curva que
define a carga de rotura (Qult). Nesta região o assentamento aumenta indefinidamente com pequenos,
ou nenhuns, acréscimos de carga.

Qult

Figura 9 - Curva carga-assentamento (adaptado de Melo (2009))

Para a avaliação da carga admissível de fundações profundas através de provas de carga realizadas
segundo a metodologia da NBR 12131/2010, a NBR 6122/2010 estabelece que a capacidade de
carga deve ser considerada definida quando ocorrer rotura nítida da mesma.

A rotura nítida, também conhecida por rotura física ou carga última caracteriza-se por deformações
continuadas sem novos acréscimos de carga e é geralmente associada ao “colapso”.

20
No entanto, nem sempre uma estaca quando submetida a uma prova de carga apresenta rotura
nítida. Frequentemente o ensaio é interrompido por motivos de custos e de prazos, porque a reacção
é insuficiente, ou ainda, porque não se pretende danificar o elemento ensaiado (Hachich et al., 1998).

A NBR 6122/2010 apresenta duas circunstâncias em que a rotura nítida não é atingida. São elas:

a) A capacidade de carga da estaca é superior à carga que se aplica na prova;


b) Na curva carga-assentamento não é possível identificar uma carga de rotura, mas verifica-se
um crescimento contínuo dos assentamentos com o aumento da carga.

Nos casos referidos efectua-se uma extrapolação da curva carga-assentamento através método
apresentado pela norma.

Segundo Velloso, et al. (2012), para a extrapolação mencionada pode também recorrer-se a outras
funções matemáticas, das quais se destacam:

 Função exponencial proposta por Van der Veen (1953);


 Função parabólica proposta por Hansen (1963);
 Função hiperbólica proposta por Chin (1970);
 Função polinomial proposta por Massad (1986).

As quatro funções apresentam uma assímptota que corresponde à carga de rotura (Qult), tal como se
observa na Figura 10.

Figura 10 - Extrapolação da curva carga-assentamento segundo Van der Veen (Velloso, et al., 2012)

Nesta dissertação dá-se ênfase ao método apresentado pela norma, segundo o qual, a carga de
rotura (Figura 11) pode ser convencionada como aquela que corresponde, na curva carga-
assentamento, ao assentamento obtido pela expressão:

21
Sendo:

- Assentamento de rotura convencional;


- Carga de rotura convencional;
- Comprimento da estaca;
- Área da secção transversal da estaca;
- Módulo de elasticidade do material da estaca;
- Diâmetro do círculo circunscrito à estaca.
Δr (assent.)

Figura 11 - Carga de rotura convencional (adaptado da NBR 6122/2010)

Este é um critério que considera as dimensões e a deformação elástica das fundações. A rotura
corresponde a um assentamento igual a 1/30 do diâmetro da estaca, a menos do encurtamento
elástico do seu fuste.

Ainda de referir que, durante o ensaio, deve observar-se que o atrito lateral durante a prova de carga
é sempre positivo, ainda que venha a ser negativo ao longo da vida útil da estaca.

A norma NBR 6122/2010 estabelece, ainda, certos requisitos para o bom desempenho das
fundações. Segundo a mesma norma, item 9.2.2.2. – Interpretação da prova de carga, o desempenho
das estacas é considerado adequado se satisfeitas as seguintes condições:

a) Factor de segurança no mínimo igual a 2,0 em relação à carga de rotura obtida na prova de
carga ou por sua extrapolação;
b) Assentamento na carga de trabalho admissível pela estrutura.

Nos casos em que as provas de carga apresentarem resultados insatisfatórios, deve ser elaborado
um programa de provas de carga adicionais.

De ressalvar que os coeficientes de segurança das estacas ensaiadas não representam


necessariamente o coeficiente de segurança global da obra.

22
3.2. Interpretação da curva carga-assentamento à luz da Norma
Brasileira

Após terem sido esclarecidas as condições de determinação da carga de rotura pelo método sugerido
pela norma NBR 6122/2006, procedeu-se à sua aplicação em casos concretos de ensaios estáticos
realizados em duas obras no Brasil.

A primeira obra consiste no mesmo condomínio realizado no âmbito do desenvolvimento da Vila


Olímpica para os Jogos Olímpicos de 2016, na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro, referido no capítulo
2.3. A segunda obra, a cujos resultados das provas de carga se teve acesso, foi um complexo eólico
realizado no Rio Grande do Sul. Por questões de sigilo profissional por parte das empresas que
forneceram os dados, a localização exacta das obras, bem como outros dados da sua execução, e
excluindo os dados divulgados neste trabalho, constitui informação que não pode ser revelada.

Nos subcapítulos seguintes é feita a interpretação dos resultados provenientes das provas de carga
estática realizadas à luz da norma brasileira NBR 6122/2010.

3.2.1. Obra de um condomínio na Barra da Tijuca, Rio de Janeiro

A obra que constitui o primeiro caso de estudo é o condomínio localizado na Barra da Tijuca, no Rio
de Janeiro. Nesta obra foram realizadas provas de carga estáticas em duas estacas piloto – EP1 e
EP2 – com o objectivo de avaliar o comportamento das estacas do tipo hélice contínua sob a
aplicação de um carregamento de compressão, especificado pelo projectista.

Uma das estacas, EP1, por ter sido executada por um processo construtivo ligeiramente alternativo à
hélice contínua corrente, não apresentou resultados satisfatórios na sua prova de carga, pelo que os
mesmos são desprezados na seguinte análise.

Na Tabela 4 encontram-se as características da estaca ensaiada.

Tabela 4 - Características da EP2

ESTACA EP2
Tipo Hélice contínua
Data do ensaio 04 e 05/01/2013
Diâmetro 500 mm
Carga de ensaio 3200 kN
Comprimento da estaca 20 m
Estacas de reacção E-6, E-5, E-4 e E-3

A execução de três sondagens na vizinhança da instalação da estaca permitiu identificar as camadas


indicadas na Tabela 5 e as respectivas profundidades.

23
Tabela 5 - Constituição do terreno na obra do Rio de Janeiro

PROFUNDIDADE (m) NSPT CONSTITUIÇÃO DO TERRENO


0 – 9,55 <20 Areia fina e média fofa a compacta cinza escura
9,55 – 10,65 4 Argila mole com areia fina e média cinza
10,65 – 14,85 <20 Areia média pouco argilosa medianamente compacta e pouco compacta cinza
14,85 – 15,95 11 a 15 Argila arenosa média cinza
15,95 – 22,05 12 a 16 Silte argiloso rijo e médio com areia fina e média cinzento amarelado
22,05 – 27,25 20 a 30 Silte areno argiloso compacto a muito compacto cinzento

3.2.1.1. Esquema de montagem da reacção


O carregamento foi aplicado através de um sistema constituído por quatro estacas de reacção, com
as mesmas características da estaca ensaiada e comprimento calculado em função da carga de
ensaio e dos parâmetros de resistência do terreno (Figura 12). Em cada estaca foi chumbado um
tirante INCOTEP INCO 60D, de diâmetro 53 mm e com limite elástico de 1216 kN.

Figura 12 - Esquema de montagem da reacção das estacas EP1 e EP2

3.2.1.2. Descrição do ensaio


A carga de reacção foi aplicada simetricamente com a utilização de um macaco hidráulico com
capacidade para 5000 kN de modo a que o centro de gravidade dos perfis metálicos utilizados
coincidisse com o eixo longitudinal do bloco de coroamento para a reacção ser estável.

O ensaio caracterizou-se por ser um ensaio lento, executado de acordo com as instruções
preconizadas na norma NBR 12131 da ABNT de 16/10/2006. O sistema de medição consistiu na
instalação de duas vigas metálicas de referência, com os apoios localizados a cerca de 2,5 m do eixo
da estaca ensaiada.

Nas vigas de referência foram fixados quatro deflectómetros analógicos com curso 100 mm e
sensibilidade 0,01 mm, diametralmente opostos, apoiados em pequenas lâminas de vidro, coladas na
superfície do maciço de encabeçamento da estaca.

24
A aplicação das cargas foi feita em estágios sucessivos, por intermédio do macaco hidráulico,
reagindo contra o sistema estável de reacção.

O ensaio apresentou 20 estágios de carregamento (Tabela 6) e 4 estágios de descarregamento


(Tabela 7), calculados em função da carga de trabalho da estaca.

Tabela 6 - Estágios de carregamento Tabela 7 - Estágios de descarregamento

ESTÁGIO CARGA (kN) ESTÁGIO CARGA (kN)


1 152 1 1920
2 304 2 1280
3 456 3 640
4 608 4 0
5 750
6 912
7 1064
8 1216
9 1368
10 1520
11 1672
12 1824
13 1976
14 2122
15 2280
16 2432
17 2584
18 2733
19 2891
20 3200

Durante o ensaio os deflectómetros registam os deslocamentos obtidos para cada estágio de carga.
Com base no relatório técnico do ensaio, os incrementos de carga foram iguais e sucessivos (152 kN)
e cada incremento de carga foi mantido por um período mínimo de 30 min até à estabilização dos
deslocamentos. Na maioria dos estágios de carregamento foram necessários apenas os 30 minutos
até à estabilização, no entanto, nos estágios 9, 11 e 16 o tempo de estabilização foi 2h para o estágio
9 e 1h para os restantes.

As medições foram feitas de acordo com a norma aos 2, 4, 8, 15, 30, 60 minutos, etc., até à
estabilização dos assentamentos.

O Gráfico 1 apresenta a curva carga-assentamento para a estaca EP2. Observa-se um assentamento


significativo na passagem do estágio número 17 para o 18, evidenciando que a estaca não está a
conseguir reagir mais ao carregamento imposto. Assim, foi então realizada a leitura da carga máxima
alcançada – 2891 kN, correspondente ao estágio 19. Após a estabilização de, aproximadamente, 2
horas, (ponto E do Gráfico 1) verificou-se o valor de deslocamento acumulado de 73,95 mm e uma
redução da carga máxima aplicada para 2607 kN. Esta ocorrência poderá estar associada a

25
fenómenos de fluência: a estaca vai assentando e o macaco hidráulico, em resposta a este
assentamento, diminui ligeiramente a carga.

O descarregamento foi feito em quatro estágios, D1, D2, D3 e D4, tendo-se obtido no final um
assentamento residual de 66,83 mm. Após o último estágio verificou-se em cada hora, durante um
período de 3 horas, a estabilização da estaca, a qual resultou num assentamento residual final de
66,80 mm.

Também o sistema de reacção foi monitorizado durante o ensaio, não se tendo observado qualquer
anomalia significativa do mesmo.

𝑃 𝐿 𝐷
𝐴 𝐸

Gráfico 1 - Gráfico carga-assentamento obtido para a estaca EP2

Observa-se que, de acordo com a NBR 6122/2010, a estaca não apresenta rotura nítida, uma vez
que na curva carga-assentamento não é possível identificar uma carga de rotura, mas verifica-se um
crescimento contínuo dos assentamentos com o aumento da carga. Perante isto, estão reunidas as
condições para se efectuar uma extrapolação da curva através do método apresentado pela norma.

A recta representa a aplicação da norma NBR 6122/2010 na determinação da carga de rotura.


Partindo de D/30, o ponto onde a recta intersecta a curva carga-assentamento, corresponde à carga
de rotura, a qual toma o valor de 2432 kN.

3.2.2. Obra de um complexo eólico no Rio Grande do Sul

Este segundo caso de estudo consistiu numa obra de um complexo eólico localizado no Rio Grande
do Sul. Foram realizadas três provas de carga estática verticais e em compressão em três estacas
moldadas “in loco” do tipo hélice contínua. As estacas ensaiadas foram as seguintes:

 E-22
 E-5
 ET

As provas de carga estática verticais foram executadas de acordo com a metodologia de


carregamento lento, conforme a norma NBR 12131. A carga máxima prevista para as fundações foi

26
de duas vezes a carga admissível ou de trabalho. Na Tabela 8 encontram-se reunidos os principais
resultados das três provas de carga. Note-se que a carga máxima dos ensaios PCC-03 e PCC-04
ficou aquém da prevista pelo facto de se ter dado a rotura do sistema estaca-solo.

A rotura do sistema estaca solo acontece quando a estaca não consegue suportar o dobro da carga
para a qual foi dimensionada (carga admissível). Na Tabela 8 pode verificar-se isso mesmo: as
estacas E-5 e ET, dimensionadas para a carga admissível de 1900 kN, deveriam suportar, no mínimo
um carregamento de 3800 kN (factor de segurança igual a 2), sendo que suportam apenas cerca de
2260 kN, cada uma.

Tabela 8 - Quadro resumo - Prova de carga estática (adaptado de Fugru in Situ (2013))

Prova Estaca Secção Comp. Carga Carregam. Desloc. Desloc.


de carga (mm) Ensaiado Admissível Máximo Máximo Residual (mm)
(m) (kN) (kN) (mm)
PCC-02 E-22 600 19 1900 3801 25,22 18,74
PCC-03 E-5 600 10 1900 2661 70,97 60,66
PCC-04 ET 600 11,55 1900 2665 72,31 65,33

A partir de três sondagens executadas na vizinhança da instalação das estacas ensaiadas, foi
possível identificar as camadas de terreno indicadas na Tabela 9 e as respectivas profundidades,
sendo que neste caso não se teve acesso aos resultados do ensaio N SPT.

Tabela 9 - Constituição do terreno na obra do Rio Grande do Sul

PROFUNDIDADE (m) CONSTITUIÇÃO DO TERRENO


0–2m Areia de granulação fina e média, pouco compacta

2 – 13,5 m Areia de granulação fina e média, medianamente compacta e pouco argilosa

13,5 – 17,5 m Argila arenosa de consistência mole a média

17,55 – 26 m Areia de granulação fina e média, pouco argilosa e muito compacta

3.2.2.1. Esquema de montagem da reacção


O carregamento foi aplicado por um sistema constituído por quatro estacas de reacção (R1, R2, R3 e
R4) com as mesmas características da estaca ensaiada. A cada estaca foi chumbado um tirante cujo
comprimento deve exceder em 30 cm o comprimento das estacas de reacção, tal como se observa
no corte esquemático ilustrado na Figura 14. Na Figura 13 pode observa-se um esquema em planta
do sistema de reacção utilizado.

27
A A’

Figura 13 – Sistema de reacção (Fugru in Situ, 2013)

Figura 14 - Sistema de reacção segundo Corte A-A’ (Fugru in Situ, 2013)

3.2.2.2. Descrição do ensaio


A aplicação das cargas foi feita por um conjunto cilíndrico hidráulico – bomba – manómetro – e com a
utilização de uma célula de carga aferida.

Os deslocamentos foram medidos por quatro extensómetros com leitura directa de 0,01 mm, os quais
foram posicionados em vigas de referência fixas.

Como já foi referido, a metodologia adoptada foi a do ensaio lento preconizado pela norma NBR
12131. Os carregamentos foram então aplicados em estágios de no máximo 20% da carga de
trabalho das fundações e o descarregamento foi feito em pelo menos três estágios de 15 min e um
último de 30 min.

Ainda de acordo com o preconizado na norma sobre este ensaio, cada estágio de carregamento ou
descarregamento foi mantido até à estabilização dos deslocamentos. O critério de estabilização é um
acréscimo de deslocamento entre leituras consecutivas de no máximo 5% do deslocamento verificado

28
entre dois estágios de carga. As leituras foram executadas logo após a aplicação da carga aos 2, 4,
8, 15, 30 min no mínimo.

O ensaio apresentou 10 estágios de carregamento e 4 estágios de descarregamento, calculados em


função da carga de trabalho da estaca. As cargas aplicadas em cada um dos estágios de
carregamento e descarregamento encontram-se indicadas nas Tabelas 10 e 11.

Tabela 10 - Estágios de carregamento Tabela 11 - Estágios de descarregamento

ESTÁGIO CARGA (kN) ESTÁGIO CARGA (kN)


1 379 1 2856
2 764 2 1903
3 1145 3 959
4 1519 4 0
5 1905
6 2287
7 2663
8 3044
9 3427
10 3801

O Gráfico 2 representa a curva carga-assentamento da estaca E-22. Os números indicados


correspondem aos estágios de carregamento no ensaio. Neste ensaio o carregamento máximo de
3801 kN preconizado foi atingido no estágio 10. O valor de assentamento final para este
carregamento foi de 25,22 mm. O descarregamento é iniciado de seguida em quatro estágios, D1,
D2, D3 e D4, tendo-se obtido o assentamento final de 18,74 mm.

𝑃 𝐿 𝐷
𝐴 𝐸

Gráfico 2 - Gráfico carga-assentamento obtido para a estaca E-22

Neste ensaio, a aplicação da norma NBR 6122/2010 não se materializou na obtenção de um valor
para a carga de rotura. Partindo de D/30, não se consegue intersectar a recta com a curva
correspondente ao carregamento da estaca, de modo a aferir a carga de rotura. Significa isto que,
segundo a norma referida, a carga de rotura estará longe de ser atingida.

29
Após a análise das duas situações, foi possível identificar uma limitação da aplicação da norma NBR
6122/2010. Observa-se que apenas no primeiro caso foi possível utilizar a extrapolação da curva
carga-assentamento para a determinação da carga de rotura.

Verifica-se assim que os assentamentos necessários para a definição da carga de rotura através
desta norma têm de ser apreciáveis, sendo que a norma define que a carga máxima de ensaio deve
ser o dobro da carga de trabalho e que, para este nível de carregamento, as deformações nem
sempre atingem valores na ordem de D/30. Tal situação pôde ser observada no segundo caso de
estudo, onde se verificou um assentamento máximo de cerca de 25 mm numa estaca de diâmetro
600 mm. Daqui se pode constatar que apenas fará sentido utilizar a norma em provas de carga que
apresentem assentamentos consideráveis, superiores a D/30.

Neste segundo caso em que o critério apresentado pela norma não conduz a um resultado concreto,
poderia ser aplicado outro método de determinação da carga de rotura, nomeadamente o Método de
Van der Veen, que é um método bastante utilizado no Brasil.

A aplicação do critério da norma brasileira nos dois casos de estudo acima descritos funcionou,
essencialmente, como exercício. No entanto, pode afirmar-se que, no seu conjunto, ambos os
ensaios constituem um bom exemplo da aplicação da norma e das suas limitações.

Finalmente, importante referir que a determinação da carga de rotura de revela bastante útil no
âmbito dos estados limites últimos, mas que a determinação dos assentamentos admissíveis,
focando os estados limites de utilização, assume cada vez mais um carácter imprescindível, pelo que
seria interessante um estudo neste sentido, tendo em conta o tipo de estrutura.

Em Portugal, não existe nenhum regulamento ou norma respeitante a provas de carga. É no


Eurocódigo 7 que são definidas as orientações a seguir.

Na determinação do valor característico da capacidade resistente última à compressão de uma


estaca, Rc;k, a partir de valores Rc;m medidos em ensaios de carga de uma ou várias estacas deve ser
tida em conta a variabilidade do terreno e os efeitos do método construtivo.

A expressão seguinte deve ser satisfeita, sendo ξ1 e ξ2 coeficientes de correlação cujo valor depende
do número de estacas ensaiadas e que são aplicados, respectivamente, ao valor médio (R c;m)mean e
ao valor mínimo (Rc;m)min de Rc;m. Os valores que estes coeficientes tomam estão definidos no EC7.

( ) ( )
{ }

O valor característico da capacidade resistente do terreno para estacas à compressão, R c;k, poderá
ser determinado a partir da soma das parcelas R b;k e Rs;k, sendo respectivamente os valores
característicos da capacidade resistente na ponta e da capacidade resistente lateral:

30
Estas parcelas são obtidas através dos resultados do ensaio de carga directamente, ou estimadas a
partir de resultados de ensaios do terreno ou de ensaios de carga dinâmicos.

Por fim, o valor de cálculo da capacidade resistente, R c;d, deve ser obtido através de uma das
seguintes expressões:

Os valores dos coeficientes parciais recomendados para situações persistentes ou transitórias estão
definidos no EC7.

31
32
4. Estacas como elemento de contenção periférica

4.1. Introdução

As estruturas de contenção, cuja função passa pelo suporte do terreno e parte da estrutura, têm vindo
a ser usadas fundamentalmente nos centos urbanos, onde a utilização exaustiva do espaço cria a
necessidade de um melhor aproveitamento do mesmo. Esta solução permite que sejam concebidas
estruturas subterrâneas em zonas onde a escavação na vertical se torna imperativa devido à
configuração densificada da malha urbana.

Existem várias soluções construtivas para aplicar em contenções periféricas, consoante as condições
do terreno e a sua envolvente: paredes moldadas, paredes tipo Berlim ou Munique, pregagens ou
cortinas de estacas-prancha, sendo que o foco desta parte do trabalho são as cortinas de estacas
moldadas.

A versátil aplicabilidade das cortinas de estacas permite a valorização dos terrenos dos grandes
centros urbanos. Através da sua implementação, torna-se possível criar espaços para
estacionamento automóvel, por exemplo, ou aumentar grandes superfícies comerciais. Noutro
campo, as cortinas de estacas podem ser aplicadas em construções enterradas contíguas a vias de
comunicação, servindo de apoio a estas, e até mesmo, no apoio à construção de túneis em zonas
urbanas. Verifica-se, ainda, a sua utilização como muros de suporte de taludes verticais ou em
estruturais especiais.

Ainda de referir que este método de contenção pode ser utilizado com dupla função: contenção
periférica de solos e fundação. A sua utilização simultânea é viabilizada em termos económicos,
comparativamente a outras alternativas. Nestas situações, a cortina de estacas é dimensionada para
suportar os impulsos de terra no seu tardoz e, também, para oferecer suporte vertical à
superestrutura.

4.2. Estruturas de suporte flexíveis e pressões de terras

As cortinas de estacas, quer sejam ancoradas ou escoradas enquadram-se nas estruturas de suporte
flexíveis. Segundo Peck (1972), estruturas de suporte flexíveis são estruturas cujas deformações,
induzidas pelas pressões do solo, produzem um efeito significativo na distribuição dessas pressões,
bem como na grandeza dos impulsos, momentos flectores e esforços cortantes.

Trabalhos realizados por Terzaghi (1943) permitiram chegar à conclusão de que em estruturas de
suporte flexíveis não é possível utilizar uma teoria para o cálculo de impulsos, tal como acontece no
caso de estruturas de suporte rígidas. Para tal, seriam necessários factores como as deformações
permitidas pelo sistema de suporte, a sua localização e a rigidez da cortina de contenção. A pressão
de contacto entre o solo e a estrutura não pode ser explicada por nenhuma teoria de impulsos, pelo
que se trata de um problema de interacção solo-estrutura (Guerra, 2007).

Devido à sua reduzida rigidez, as estruturas de suporte flexíveis experimentam em serviço


deformações distorcionais que condicionam as pressões exercidas pelo maciço envolvente quer em

33
distribuição, quer em grandeza. O estado de tensão-deformação resultante torna-se, por isso,
extremamente difícil de conhecer, constituindo um dos mais complexos problemas de interacção solo-
estrutura (Matos Fernandes, 1983).

Terzaghi e Peck realizaram um conjunto de medições de esforços em escoras para suporte de


cortinas que permitiu definir diagramas de pressões aparentes (Figura 15). Através destes diagramas
pode chegar-se a uma estimativa de carga nas escoras, valores estes que serão multiplicados por
factores da ordem de 1,2 e 2,0 para solos arenosos e argilosos, respectivamente (Guerra, 2007).

Figura 15 – Terzaghi e Peck: Impulsos de solos em cortinas flexíveis multi-apoiadas (Pires Lopes, 2012)

4.3. Funcionamento de cortinas ancoradas

Com base no subcapítulo anterior e em estudos feitos por Guerra, chega-se à conclusão de que o
problema da determinação das pressões no tardoz de uma estrutura de suporte é um problema muito
complexo devido à interacção solo-estrutura. Como já foi referido, no caso das cortinas escoradas, os
diagramas aparentes de Terzaghi e Peck fornecem envolventes de pressão definidas através da
observação de casos concretos. O funcionamento de uma cortina escorada assenta
fundamentalmente na rigidez axial das escoras que, sendo elevada, permite que os deslocamentos
sejam pequenos.

Nas soluções ancoradas, as escoras são substituídas por ancoragens, as quais apresentam rigidez
axial de uma ordem de grandeza inferior à das escoras.

Assim, no caso de cortinas ancoradas, a questão que se coloca é para que valor de pressões se
procede à escolha do pré-esforço das ancoragens, procurando que o pré-esforço adoptado
proporcione o comportamento desejado à estrutura.

Ainda com base em estudos feitos por Guerra, constata-se que os deslocamentos obtidos na cortina
e no solo num primeiro caso de estudo, onde não foram considerados os deslocamentos nas fases
correspondentes ao tensionamento das ancoragens, face a um segundo estudo, onde estes
deslocamentos foram considerados, tomam valores muito semelhantes.

34
Daqui se pode concluir que não é a imposição de deslocamentos no sentido contrário aos
deslocamentos provocados pela retirada, nas fases de pré-esforço, que justifica a utilização de
ancoragens.

De acordo com o mesmo autor, as ancoragens trabalham, essencialmente, pela alteração do estado
de tensão que causam no solo suportado. Os deslocamentos impostos pelas ancoragens, bem como
a rigidez das mesmas contribuem maioritariamente para o bom funcionamento da cortina.

Figura 16 - Representação esquemática da evolução de um estado de tensão num elemento de solo


suportado por uma cortina ancorada (Guerra, 2007)

A Figura 16 apresenta um gráfico onde se encontra representada a evolução do estado de tensão


num elemento de solo suportado por uma cortina ancorada. No eixo das ordenadas tem-se a tensão
deviatórica enquanto no das abcissas os deslocamentos. A tensão vertical é representada por σ 1 e a
tensão horizontal por σ3, no tardoz da cortina (tensões principais). Os números indicam as fases
construtivas descritas na Tabela 12.

Tabela 12 – Fases construtivas exemplificativas do funcionamento de uma cortina ancorada

FASE 1 Primeira escavação


FASE 2 Aplicação da carga de pré-esforço na ancoragem
FASE 3 Escavação após aplicação do pré-esforço em 2

Observa-se que a introdução do pré-esforço (2) resulta num decréscimo da tensão deviatórica
desenvolvida no tardoz da cortina. Esta redução é identificável na Figura 16 pelo recuo na curva de
tensão deformação de 1 para 2, sendo a deformação final representada por δ 3. Esta deformação δ3 é
então o resultado das três fases: escavação, pré-esforço e escavação.

Caso não se tivesse considerado a fase correspondente ao pré-esforço, a deformação final seria δ3A
em vez de δ3, ou seja, superior e mais próxima da rotura.

Serve esta análise para reforçar o anteriormente descrito sobre o modo de funcionamento de uma
cortina ancorada, a qual trabalha sobretudo pela alteração do estado de tensão causada pelas
ancoragens, preparando assim as fases seguintes de escavação.

35
4.4. Dimensionamento estrutural

Por se tratar de um problema de interacção solo-estrutura, o dimensionamento de cortinas ancoradas


revela-se bastante complexo, não existindo teorias suficientemente competentes para a determinação
dos esforços provocados pelas tensões do solo na cortina.

No sentido de contornar este problema surge o recurso ao método dos elementos finitos, bem como a
outros métodos que permitem considerar o comportamento de tensão-deformação do terreno,
tornando-se possível prever deslocamentos, conhecer os esforços instalados na cortina nas diversas
fases construtivas e proceder-se ao seu dimensionamento estrutural e, ainda, realizar análises de
sensibilidade a um custo relativamente reduzido (Guerra, 2007).

Segundo Carvalho (2013), a aplicação deste método é bastante versátil tanto pela fundamentação
teórica que apresenta, como pelas suas possibilidades, das quais se destacam:

 Construção de uma malha refinada da geometria da escavação e das condições naturais do


terreno (estratigrafia e posição do nível freático, por exemplo);
 Simulação de um faseamento construtivo que permite a determinação em todas as fases de
construção de pressões de terras, esforços instalados nos elementos constituintes da
estrutura de suporte e deslocamentos decorrentes da própria construção;
 Utilização de diversas leis constitutivas para simular o comportamento dos materiais
envolvidos;
 Possibilidade de considerar valores para a carga de pré-esforço, rigidez e condições de apoio
da cortina e inclinação e comprimento das ancoragens;
 Consideração da interacção solo-estrutura.

No capítulo seguinte é utilizado o programa de cálculo automático Plaxis 2D, versão 8.2 para a
modelação da cortina de estacas que serviu de caso de estudo nesta dissertação.

Este programa, ao combinar diferentes características da estrutura de suporte e dos materiais


envolvidos permite, no caso em estudo, fazer uma aproximação bastante realista do que foi
executado em obra. Noutros casos, pode ser usado para alcançar determinados valores de
deslocamentos pretendidos, alterando características da estrutura e/ou o faseamento construtivo,
tendo como objectivo a obtenção de soluções economicamente mais competitivas. Este último
aspecto será explorado na fase final do trabalho.

4.5. Definição e classificação de cortinas de estacas

As cortinas de estacas constituem uma solução de contenção periférica em que as estacas,


executadas no interior do solo, são os elementos principais da contenção, sendo executadas mesmo
antes de se realizar a escavação.

As estacas podem ser executadas sob a forma de vários métodos, sendo que as mais utilizadas
neste tipo de contenção periférica são as moldadas, muito devido ao desenvolvimento progressivo
dos equipamentos para a sua execução (Meireles et al., 2006).

36
Este tipo de estacas constitui ainda a vantagem das reduzidas vibrações que causam no terreno,
relativamente às estacas cravadas, requisito este indispensável na execução de uma cortina de
contenção periférica.

A solução de cortinas de estacas consiste, fundamentalmente, na construção de uma frente de


estacas moldadas no terreno e na posterior escavação de um dos lados, como ilustra a Figura 17.

Figura 17 - Cortina de estacas moldadas na ampliação do estacionamento do Hospital da Luz

Hoje em dia, os métodos mais utilizados para a execução de estacas moldadas na solução das
cortinas de estacas são o trado contínuo, o tubo moldador (geralmente recuperável) e as lamas
bentoníticas (Meireles et al., 2006). No capítulo referente à obra estudada, é descrito com mais
detalhe o método utilizado no processo executivo das estacas integrantes da cortina de contenção.

As estacas podem estar mais ou menos distanciadas entre si, podendo mesmo intersectar-se, sendo
o terreno entre elas estabilizado por um efeito de arco, teorizado por Terzagui (1943). Citando:

“Quando uma parte da estrutura que suporta uma dada massa de solo se afasta desta, mantendo-se
a restante na posição inicial, o solo adjacente à primeira tende a acompanhá-la. Ao movimento
relativo no interior do solo opõe-se a resistência ao corte na zona de contacto da massa, que tende a
deslocar-se da remanescente, tentando manter a primeira na posição inicial. Por esse motivo, as
pressões de terras diminuem na parte da estrutura de suporte que se afastou e aumentam nas que se
mantiveram imóveis (ou que se deslocam menos, ou, até, que se deslocam contra o solo). É esta
transferência de tensões que se designa por efeito de arco”.

O espaçamento entre estacas é um parâmetro escolhido em projecto consoante as


características/exigências da obra em questão, nomeadamente as condições geológico-geotécnicas
do local (tipo de terrenos a suportar e suas características), a presença ou não de nível freático
(necessidade de impermeabilização), as acções actuantes sobre a cortina (esforços de
dimensionamento) e, por fim, o nível de deformações admissível (relacionado com as condições de
vizinhança) (Velloso, et al., 2012). Serve este parâmetro também para diferenciar as cortinas de
estacadas, de acordo com o que se descreve em seguida.

37
Cortina de estacas espaçadas

Nesta solução, as estacas encontram-se alinhadas com um espaço livre entre elas até cerca de 1,5
m. O terreno existente entre duas estacas consecutivas é estabilizado pelo efeito de arco,
anteriormente referido, de solos relativamente estáveis. Posteriormente, na fase construtiva
estabiliza-se o solo entre as estacas com betão projectado sobre uma malha soldada ou com o
recurso a um betão com fibras de vidro incorporadas. Como seria de esperar, esta é uma solução que
não oferece impermeabilização à contenção, sendo também menos resistente por metro linear. Deste
modo, é exigida na grande maioria das vezes a colocação de ancoragens. Por outro lado, o facto de
as estacas estarem suficientemente afastadas entre si torna esta solução mais económica e mais
flexível, no que diz respeito ao tipo de estacas a utilizar, bem como ao diâmetro das mesmas (sendo
que um aumento do diâmetro resulta num aumento de rigidez, o que pode ser interessante em
algumas aplicações). Além disso, as estacas espaçadas são facilmente incorporáveis na estrutura
definitiva. A geometria em planta desta solução pode ser observada na Figura 18.

Figura 18 - Cortina de estacas espaçadas (Meireles et al., 2006)

Cortina de estacas tangentes

Neste tipo de cortina (Figura 19), as estacas encontram-se igualmente alinhadas como na solução
anterior, mas os espaços livres entre as estacas são muito menores, na ordem de 75 a 100 mm.
Sendo uma solução bastante idêntica à anterior, também aqui as estacas tangentes não constituem
uma barreira à percolação da água para a área de escavação. As cortinas de estacas tangentes
foram, deste modo, mais utilizadas em solos argilosos (como têm baixa permeabilidade, a afluência
de água não constitui um problema) ou na retenção de solos granulares. Hoje em dia, a sua aplicação
caiu em desuso, quer pelas dificuldades associadas ao seu processo executivo, quer pelo
desenvolvimento tecnológico noutros campos.

Figura 19 - Cortina de estacas tangentes (Meireles et al., 2006)

38
Cortina de estacas secantes

Nesta tipologia de cortina, as estacas são implementadas no terreno intersectando-se umas nas
outras, tal como se observa na Figura 20. A intersecção é feita através de dois tipos de estacas:
estacas-macho e estacas-fêmea. As estacas-macho são estacas idênticas às estacas tradicionais e
desempenham funções estruturais. As estacas-fêmea, realizadas em primeiro lugar, são constituídas
por betão plástico de baixa resistência e não são armadas, por forma a facilitar o seu corte durante a
furação para a execução das estacas-macho, e funcionando, assim, como elementos de selagem.
Este método apresenta, no entanto, a limitação de poder ser apenas realizado com estacas moldadas
sem tubo moldador. Por fim, à semelhança do método anterior, por razões associadas à sua difícil
execução em obra, pode constatar-se que este método não é utilizado nos dias de hoje.

Figura 20 - Cortina de estacas secantes (Meireles et al., 2006)

A opção por determinado tipo de cortina depende de vários factores, destacando-se a presença do
nível freático, que impõe restrições na concretização de cortinas de estacas espaçadas e tangentes;
uma boa coesão do solo permite a aplicação de estacas espaçadas e, por fim, do ponto de vista
económico e em situações em que os prazos a cumprir são estritos, também as estacas espaçadas
revelam ser a melhor alternativa, pela sua rapidez de execução e baixo custo a que estão
associadas. Como foi referido, as duas últimas formas de disposição das estacas em planta têm
caído em desuso, sendo substituídas por outras soluções mais recentes. Por exemplo, em situações
em que o nível freático é elevado pode recorrer-se a colunas de Jet Grouting, por forma a contribuir
para a impermeabilização.

Cortina de colunas de Jet Grouting

O Jet Grouting tem como objectivo a injecção de calda de cimento a elevadas pressões e a alta
velocidade, misturando o terreno com a calda e melhorando, assim, as suas características
geotécnicas. A execução de contenções através de cortinas de colunas de Jet Grouting, onde as
estacas são intercaladas com colunas de Jet, tem vindo a revelar-se uma técnica bastante
competitiva, quer pelas vantagens que apresenta em termos de estanqueidade da cortina, quer pelo
seu processo executivo. Nestas cortinas, ao contrário das cortinas de estacas secantes, não existe o
problema do betão das estacas que são feitas em primeiro lugar ganhar demasiada resistência. As
colunas de Jet Grouting podem ser executadas muito depois da execução das estacas.

Além das estacas como elemento constitutivo principal da cortina, existem outros elementos que a
complementam, contribuindo para a sua estabilidade quer numa fase provisória, quer na fase
definitiva. Estes elementos são a viga de coroamento, a qual permite a solidarização das estacas

39
(distribuição dos esforços ao longo das estacas), e as vigas de distribuição que podem ser
aplicadas em um ou mais níveis e onde podem ser integradas ancoragens e/ou escoramentos
(Figura 22) que ajudam a resistir aos impulsos do terreno. Geralmente, na fase definitiva, são as lajes
dos pisos enterrados que garantem a estabilidade da cortina. Na Figura 21 pode observar-se os
elementos constituintes da cortina de estacas da obra em estudo.

VIGA DE COROAMENTO

VIGAS DE
DISTRIBUIÇÃO

ESCORAMENTO
DE CANTO
ANCORAGEM

Figura 21- Elementos constitutivos da cortina de estacas na obra em estudo

Figura 22 - Pormenor de um escoramento de canto na obra em estudo

De um modo geral, estes elementos estruturais que constituem a parede de contenção são
dimensionados tendo em conta esforços de flexão e corte, momentos flectores e esforços
transversos, respectivamente. Na presença de cargas significativas segundo o eixo da peça, poderá
também ser considerado o esforço axial. Este esforço axial é de compressão e é favorável, dado que
a encurvadura não será um fenómeno condicionante pelo facto de as estacas estarem impedidas de
se deslocarem transversalmente, pelo terreno de um lado, e pelas ancoragens, por exemplo, do
outro. A compressão diminui as tensões de tracção induzidas pela flexão, reduzindo a armadura
necessária (Meireles et al., 2006).

40
4.6. Comparação com outras soluções de contenção

Na Tabela 13 é feita uma análise comparativa através de um conjunto de vantagens e desvantagens


entre as cortinas de estacas e outras soluções de contenção.

Tabela 13 - Análise comparativa entre cortinas de estacas e outras soluções

ANÁLISE COMPARATIVA
Baixo custo se as estacas forem executadas com trado contínuo ou trado curto e sem
tubo moldador.
Rapidez de execução de estruturas de suporte de terras temporárias ou permanentes.
À excepção do método aplicado com lamas bentoníticas, o processo de instalação do
equipamento é bastante limpo e pouco ruidoso.
Para profundidades de escavação pequenas consegue-se pequenas distâncias entre a
cortina e eventuais estruturas existentes.

VANTAGENS Solução aplicável numa vasta gama de solos: maioria dos solos incoerentes, coerentes
se não forem muito duros em profundidade e solos intermédios em geral
Solução que pode ser articulada com outras soluções de contenção periférica (por
exemplo, na obra em estudo, existe a compatibilização com um troço de parede
moldada já existente).
Se se tratar de uma cortina ancorada (contrariamente a uma escorada) cria um espaço
livre no interior da escavação, facilitando os trabalhos de escavação.
Relativamente a outras soluções de contenção, as cortinas de estacas necessitam, em
geral, de menos níveis de ancoragens.

A solução não é aplicável em certos tipos de terrenos como argilas moles ou solos
fracos de carácter orgânico e rochas duras.
A impermeabilidade da solução não é garantida, excepto se se tratar de cortinas
secantes bem executadas.
Apresentam limitações de altura devido à profundidade até à qual as estacas podem
ser executadas, pela dificuldade em manter a verticalidade e perfurar solos muito rijos
na base da cortina.
DESVANTAGENS
Baixa eficiência das secções circulares em termos de flexão e dificuldade em garantir o
valor de recobrimento necessário na fase construtiva, pelo que é previsto um valor
bastante elevado.
Pressupõe muitas vezes trabalhos adicionais (execução de parede de alvenaria interior
ou projecção de reboco).
Estacas de grande diâmetro obrigam a um espaço maior entre a cortina e eventuais
estruturas adjacentes.

41
42
5. Caso prático: Ampliação do estacionamento do Hospital
da Luz

5.1. Enquadramento geral

A obra que serviu de caso de estudo ao presente capítulo consistiu na ampliação do estacionamento
do Hospital da Luz, uma obra que se destacou pela sua importante componente de escavação e
contenção periférica na Avenida dos Condes de Carnide, em Lisboa.

A necessidade de aumentar a capacidade do estacionamento surgiu da crescente procura dos


serviços prestados pela Espírito Santo Saúde (ESS), que rapidamente fez esgotar a capacidade do
parque original. Como consequência desta situação, desenvolviam-se filas quase permanentes na
Avenida Lusíada para aceder ao interior do parque, bem como estacionamento indevido na Avenida
dos Condes de Carnide.

O lote foi atribuído na sequência da hasta pública para a constituição do direito de superfície, em
subsolo, da parcela municipal, promovida pela Câmara Municipal de Lisboa.

O projecto estava organizado nos dois processos seguintes: parque de estacionamento, no âmbito da
hasta pública referida, e alterações no interior do Hospital da Luz, sendo que foi o primeiro processo
que constituiu o elemento de estudo principal.

5.1.1. Localização e caracterização

Na Figura 23 observa-se uma fotografia aérea da área de implantação do novo parque de


estacionamento sob a Avenida dos Condes de Carnide, em Lisboa. No Anexo II encontra-se a planta
do recinto de escavação, para uma melhor compreensão deste espaço.

RECINTO DE
ESCAVAÇÃO

HOSPITAL DA
LUZ

Figura 23 - Fotografia aérea da área de implantação do novo parque subterrâneo (JetSJ, 2013)

43
Este novo estacionamento dispõe de 596 lugares em 4 pisos enterrados, o que praticamente duplicou
2
a capacidade do parque inicial, e apresenta uma área total de cerca de 5100 m . Foi concebido como
um edifício funcionalmente autónomo, mas funcionando completamente integrado com o
estacionamento inicial. O novo edifício divide-se, como foi referido, em 4 pisos, sendo os dois pisos
inferiores nivelados com os do Hospital da Luz e permitindo, assim, comunicação directa (incluindo
rodoviária) entre o estacionamento inicial e o novo.

Na Figura 24 está representado um esquema que procura demonstrar as ligações do novo parque de
estacionamento ao antigo.

Figura 24 - Esquema representativo da ligação do novo estacionamento ao antigo (Risco, 2013)

5.1.2. Classificação da empreitada

Os aspectos mais relevantes para a caracterização da obra em estudo encontram-se resumidos na


Tabela 14.

Tabela 14 - Aspectos para a classificação da empreitada

Tipo Construção nova


Entidade empregadora Obra particular
Forma de execução da obra Empreitada
Concurso Limitado (por convite)
Natureza da utilização Estacionamento
Prazo de execução 44 Semanas
Custo total previsto Cerca de 7 milhões de Euros
Projecto, concurso, apreciação de propostas, adjudicação,
Fases da obra
consignação, execução e recepções (provisórias e definitiva)
Tipo de contrato Empreitada por “preço global” fixo e não reversível
Dono de Obra Espírito Santo – Unidades de Saúde e de Apoio à Terceira Idade, SA
Escavação e contenção periférica JetSJ, Geotecnia, Lda
Estrutura e fundações DimStrut Estruturas
Empreitada geral Opway

44
5.1.3. Condicionamentos

5.1.3.1. Condicionamentos geológico-geotécnicos


A empresa responsável pela realização do Estudo Geotécnico dos terrenos no perímetro da
construção foi a DeltaTau – Sondagens e Estudos Geotécnicos, Lda. A caracterização geotécnica
das formações geológicas atravessadas, tendo em vista o zonamento geotécnico, surge por forma a
fundamentar as opções construtivas, nomeadamente para as fundações e para a escavação e
contenção periférica.

O Relatório Geotécnico foi elaborado com recurso a elementos bibliográficos (Carta Geotécnica de
Lisboa) e geotécnicos do próprio Dono de Obra, mais concretamente o Estudo Geotécnico realizado
em Outubro de 2002 a par da construção do Hospital da Luz, realizado pela empresa Geocontrole,
Lda.

O Relatório Geotécnico elaborado pela Geocontrole em 2002 revelou como ambiente geológico
dominante no perímetro investigado, o substrato miocénico “Argilas e Calcários dos Prazeres”, sendo
constituído por argilas mais ou menos siltosas, argilas margosas e zonas algo arenosas. Acima desta
formação, foram identificados aterros de 6 a 8 m de espessura, tratando-se de deposições
heterogéneas, muito descomprimidas e fundamentalmente argilosas, mais ou menos pedregosas e
que apresentaram valores do número de pancadas N do ensaio de penetração dinâmica SPT inferior
a 10.

Em Maio de 2013, a campanha de prospecção geotécnica da DeltaTau procedeu à realização dos


trabalhos de campo mencionados de seguida. Aproveitando os resultados de 9 das 34 sondagens
realizadas em 2002 foram criados 4 perfis geotécnicos do terreno alvo.

 3 Sondagens rotativas (18 m de profundidade) acompanhadas de ensaios SPT. A localização


das sondagens, a partir daí elaborados encontram-se no Anexo I (As sondagens S1A à S3A
foram elaboradas pela DeltaTau e as restantes pela Geocontrole) Na Figura 25 pode
observar-se o perfil A’ que revela a constituição do subsolo;
 Colocação de um tubo piezométrico com o objectivo de avaliar o comportamento evolutivo da
percolação subterrânea. O tubo piezométrico hidráulico de circuito aberto, constituído por
tubo flexível PEBD de 50 mm de diâmetro, crepinado na extremidade inferior (últimos 50 cm)
e com tampa de protecção à superfície foi instalado na sondagem S2A;
 Análise da agressividade da água subterrânea ao betão, através de análise química. A
recolha de água foi efectuada no furo da sondagem S1A utilizando um amostrador e varas
em inox. A análise da água obedeceu à Norma NP EN 206-1, tendo revelado que, de acordo
com esta norma, a água é muito pouco agressiva.

45
Figura 25 - Perfil AA' elaborado a partir das sondagens S1A, S2A e S3A (Deltatau, 2013)

De referir que a posição determinada para o nível freático (1,1 m de profundidade) se julga ter sido
influenciada pela água utilizada como fluído de lubrificação e arrefecimento da coroa de corte. Como
se tratam de formações muito argilosas com reduzida permeabilidade e pelo facto de terem sido
introduzidas grandes quantidades de água no maciço, o seu comportamento hidrogeológico a curto
prazo deverá ter sido alterado.

Com base no Estudos Geotécnico mencionado, bem como no reconhecimento geológico da


superfície, foram identificadas as seguintes unidades geológicas, as quais vão de encontro aos
resultados obtidos em 2002:

 Aterros e solos argilosos amarelados: correspondem a depósitos heterogéneos,


constituídos, essencialmente, por materiais argilo-arenosos. As suas propriedades
geotécnicas são fracas.
 Argilas e Calcários dos Prazeres (Miocénico): caracterizados por alternância monótona de
camadas sedimentares argilosas, mais ou menos siltosas, com carácter margoso,
incorporando ocasionalmente alguma fracção arenosa. Análises laboratoriais integram estes
solos no subgrupo AASHTO A-7-6 e argilas CH (argila gorda, de plasticidade elevada).

O zonamento do maciço surge com base nas unidades geológicas referidas, cuja individualização se
apoiou nos dados recolhidos no âmbito do relatório de reconhecimento geotécnico e, ainda, no
acompanhamento das anteriores escavações nestas mesmas formações (Hospital da Luz e Centro
Comercial Colombo). As características geológicas e geotécnicas foram agrupadas em três zonas
geotécnicas, ZG3, ZG2 e ZG1, cujas características são as seguintes:

 ZG3 – É a zona geotécnica superior e engloba os depósitos de aterros. Os valores


representativos do NSPT são, em regra, inferiores a 10 pancadas. A espessura desta camada
varia entre a superfície e cerca de 6,5 m.
 ZG2 – De acordo com as sondagens, esta zona insere-se nas “Argilas e Calcários dos
Prazeres”. No entanto, no horizonte superior de cerca de 4 m, os valores dos ensaios N SPT
são variáveis numa gama de 30 a 60 pancadas, pelo que nesta camada são consideradas
propriedades para o terreno mais fracas do que as detectadas no horizonte subjacente.

46
 ZG1 – Trata-se da camada com melhores condições geotécnicas e engloba essencialmente
uma parte da formação das “Argilas e Calcários dos Prazeres”. Os valores de NSPT para esta
camada são iguais ou superiores a 60 pancadas, sendo que a sua espessura ronda, em
média, os 16 m.

Tendo por base as considerações anteriores, assim como a experiência obtida no acompanhamento
de outras escavações realizadas nas mesmas formações, foram consideradas as propriedades
definidas na Tabela 15 para as três zonas geotécnicas.

Tabela 15 - Zonas geotécnicas e respectivas características (JetSJ, 2013)

Zona γunsat γsat


Formação 3 3 φ' (º) c’ (kPa) E (MPa) K (m/s)
Geotécnica (kN/m ) (kN/m )
Aterros e
-5
solos 1x10 a
ZG3 17 19 28 5 10 -7
argilosos 10
amarelados
Argilas e
-7
Calcários 1x10 a
ZG2 19 22 30 40 20 -9
dos 10
Prazeres
Argilas e
-7
Calcários 1x10 a
ZG1 19 22 35 75 60 -9
dos 10
Prazeres

5.1.3.2. Condicionamentos hidrogeológicos


No relatório geotécnico complementar elaborado pela empresa DeltaTau a informação disponível
sobre este tema é relativamente escassa, pelo que não foram feitas considerações acerca do nível
freático a encontrar durante a escavação.

As características a seguir apresentadas resultaram então do que seria expectável tendo em conta a
hidrogeologia subterrânea e o facto da área em estudo se encontrar numa zona com declive pouco
acentuado.

Nos aterros, por serem constituídos maioritariamente por materiais argilo-arenosos com
permeabilidade baixa a média, pode verificar-se a acumulação de alguma água. Admitiu-se, então,
para efeitos do projecto, que podia existir alguma circulação de água na zona de contacto entre o
aterro e a formação miocénica.

Relativamente ao substrato miocénico “Argilas e Calcários dos Prazeres”, este apresenta geralmente
reduzida permeabilidade. No entanto, teve de ser considerada a presença de intercalações arenosas
onde se podem gerar condições favoráveis à acumulação e formação de níveis de água confinados a
diferentes cotas.

De acordo com o cenário descrito, segundo o qual o nível freático se pode vir a instalar em materiais
de forte componente argilosa e/ou rochosa, teve-se em conta a afluência de caudais reduzidos ao
perímetro da escavação, passíveis de serem temporariamente bombeados através de dispositivos
convencionais. Tendo por base este enquadramento, considerou-se que a estabilidade das principais

47
estruturas vizinhas, nomeadamente o Hospital da Luz, não seria afectada pelos eventuais efeitos
secundários da escavação e pelo rebaixamento temporário do nível freático.

5.1.3.3. Condicionamentos de natureza construtiva


A área de intervenção inseriu-se na via principal de tráfego rodoviário Avenida dos Condes de
Carnide, pelo que alternativas de circulação tiveram de ser criadas.

Na zona Oeste da escavação estava localizado o túnel de acesso ao cais de descarga do


estacionamento do Hospital da Luz. É uma estrutura enterrada que se desenvolve paralelamente ao
alçado Poente da contenção periférica, a uma distância de 3,5 m e a uma profundidade de cerca de 3
m. Trata-se de um falso túnel, do ponto de vista estrutural, apresentando paredes periféricas
materializadas por cortinas de estacas, as quais atingem uma profundidade de aproximadamente 14
m, contados a partir do topo do túnel.

A Nordeste do recinto da obra encontra-se uma zona habitacional, afastada o suficiente para se ter
considerado que os trabalhos realizados teriam um efeito residual na mesma.

O alçado Sudeste corresponde ao alçado que confronta com a primeira estrutura de pisos enterrados
de estacionamento do Hospital da Luz. Esta estrutura é constituída por uma parede moldada, pelo
que não se julgou necessário proceder à realização de estruturas de contenção neste alçado.

As fronteiras mais importantes encontram-se esquematizadas na Figura 26.

ZONA
HABITACIONAL N

TÚNEL DE ACESSO
AO
ESTACIONAMENTO

HOSPITAL DA LUZ

Figura 26 - Principais fronteiras da área de intervenção

48
5.1.3.4. Condicionamentos relativos a serviços afectados
O levantamento das redes de serviços na área de intervenção foi realizado antes dos trabalhos de
furação e escavação, por forma a tomar acções de desvio das mesmas, quando necessário. Este
levantamento reveste-se de especial importância no contexto urbano em que é inserida a obra de
modo a não comprometer o bom funcionamento destas redes durante e após a realização da obra,
bem como a evitar potenciais acidentes.

5.1.3.5. Condicionamentos de natureza arquitectónica e estrutural


Pretende-se que as soluções construtivas propostas sejam totalmente compatíveis com a
Arquitectura, a Estabilidade e a Drenagem.

5.1.3.6. Condicionantes relacionados com o prazo de execução da obra


De ter em atenção que a área de intervenção se inseriu na via principal de tráfego Avenida Condes
de Carnide, pelo que o cumprimento dos prazos de execução previstos torna-se crucial.

5.1.4. Acompanhamento de obra

A obra teve início a 3 de Março de 2014, data na qual foi assinado o auto de consignação, com os
trabalhos de preparação do terreno, montagem do estaleiro e desvios de trânsito. Os trabalhos de
natureza geotécnica foram iniciados a 5 de Março com a escavação do talude Norte e posterior
execução da contenção de Berlim para o desvio do colector pluvial. A 20 de Março começaram os
trabalhos de escavação dos restantes alçados, tendo o Alçado Norte/Nascente sido o primeiro alvo
deste tipo de intervenção.

O acompanhamento de obra foi feito semanalmente, tendo existido também a possibilidade de


frequentar as reuniões de obra. Este acompanhamento permitiu o conhecimento das soluções de
contenção, dos processos construtivos utilizados e da aplicação prática das soluções e metodologias
definidas em projecto que, nem sempre, podem ser estritamente cumpridas. Além disso, a
oportunidade de assistir a estas reuniões contribuiu para o desenvolvimento da percepção do papel
de todas as partes intervenientes na obra, bem como para o despertar da existência de uma
necessidade de, em certas situações, alterar o projecto no sentido de uma melhor adaptação deste
às características reais do local.

No Anexo III encontra-se um registo com suporte fotográfico da evolução observada nas várias
visitas feitas.

5.2. Soluções executadas

As soluções propostas foram idealizadas procurando garantir a menor interferência possível nas
estruturas e infra-estruturas que constituem a sua vizinhança. Neste sentido, foram controladas as
deformações nos terrenos envolventes à escavação, permitindo a adaptação da solução preconizada
a eventuais singularidades de natureza geológica e geotécnica. Procurou-se, ainda, dada a
localização da obra, minimizar o impacto na circulação automóvel, prevendo-se a interrupção
provisória do tráfego no menor intervalo de tempo possível.

49
Tendo em conta os condicionamentos existentes, nomeadamente os geológico-geotécnicos e os de
natureza construtiva preconizou-se para a generalidade da área de intervenção uma solução de
contenção periférica em cortina de estacas moldadas.

A cortina de estacas apresenta a particularidade do seu faseamento construtivo ser distinto nos seus
alçados:

 Alçados Norte e Nascente: cortina de estacas em betão armado ancorada;


 Alçado Poente (confrontante com o túnel do primeiro estacionamento do Hospital da Luz):
cortina de estacas em betão armado travada com troços de laje.

O Alçado Sul confronta directamente com a parede moldada existente do primeiro estacionamento do
Hospital da Luz.

Na Figura 27 pode observa-se um esquema das soluções adoptadas nos diferentes alçados, sobre
planta do recinto de escavação.

Figura 27 - Planta da contenção e zonamento das soluções. Planta do pormenor da solução de cortina de
estacas (Pinto et al., 2014)

A cortina de estacas envolvente da área de trabalhos é constituída por estacas em betão armado, de
Φ600 mm, afastadas de 1,20 m e com comprimentos variáveis entre 16 e 20 m. O comprimento
preconizado para as estacas pretendeu assegurar um encastramento de pelo menos 3,5 m abaixo da
cota final da escavação (a escavação apresenta uma altura máxima de 13 m) e garantir a fundação
das paredes de contenção na fase definitiva.

Numa primeira versão do projecto, esta cortina seria executada com recurso à tecnologia de vara
kelly. No entanto, a Opway propôs que se optasse antes por uma tecnologia mais recente que tem
sido adoptada em algumas das suas obras, o sistema Rodiostar.

Durante a fase de escavação, o terreno exposto entre as estacas foi protegido por um revestimento
de 10 cm de espessura de duas camadas de betão projectado reforçado com fibras metálicas e
devidamente drenado através de geodrenos. Estes geodrenos sub-horizontais em PVC rígido,
2
canelado e crepinado e revestidos com um geotêxtil de 200 g/m são instalados entre as estacas da
cortina e apresentam um comprimento de 3,0 m e diâmetro de 50 mm. São responsáveis pela

50
drenagem interna do maciço, prevenindo a infiltração de águas pluviais e, consequentemente, a
geração de impulsos hidrostáticos.

O travamento da cortina durante a fase de escavação foi conseguido através de três níveis de
ancoragens e escoras que asseguraram o equilíbrio horizontal da mesma. Estas ancoragens e
escoramentos foram executados e aplicados sobre vigas de distribuição e vigas de coroamento a fim
de evitar fenómenos de concentração excessiva de cargas. Na fase definitiva a estabilização
horizontal da parede de contenção foi assegurada pelas lajes dos pisos do estacionamento, tendo-se
procedido à desactivação das ancoragens provisórias.

As ancoragens foram constituídas por 5 cordões de 0,6’’ de diâmetro nominal para acomodarem um
valor de pré-esforço útil de 700 kN e uma carga de blocagem máxima de 780 kN, e estavam
afastadas em planta cerca de 3,6 m. Tendo em vista evitar possíveis intersecções destes elementos
com instalações e estruturas existentes e permitir a realização do bolbo de selagem em terrenos
competentes, foram concebidas ancoragens com comprimentos e inclinações variáveis. O
cumprimento de selagem mínimo adoptado foi de 6,0 m.

No alçado Poente, por este confrontar com o túnel de saída do primeiro estacionamento do Hospital
da Luz, procurou-se minimizar as interferências com a cortina de estacas que envolve o túnel através
da adopção de um sistema de travamento constituído por troços de laje, ao invés do recurso a
ancoragens. Neste sistema os troços de laje que asseguram o travamento da cortina foram
incorporados, na fase definitiva, na estrutura dos pisos enterrados. Deste modo, no seu
dimensionamento, além da garantia das condições de segurança, teve-se também em consideração
o processo construtivo para que a geometria dos troços de laje interferisse o menos possível com a
execução dos pilares e dos outros elementos da estrutura dos pisos enterrados.

Os travamentos referidos foram realizados ao nível do piso de cobertura do estacionamento e do piso


-1, durante a fase de escavação e através de betonagem contra o terreno, conciliada com os
trabalhos de escavação. Em zona corrente foi adoptada uma espessura de 30 cm para a cobertura do
estacionamento e de 20 cm para o piso -1, sendo que ambos apresentavam 5,0 m de largura.

Na zona de alinhamento dos capitéis adoptou-se 60 cm de espessura para a cobertura e 40 cm para


o piso -1, por forma a facilitar o faseamento construtivo da banda de laje. Durante a fase de
escavação, os troços de laje ficaram apoiados na parede de contenção e em perfis HEB240,
afastados de 5,0 m e inseridos nos alinhamentos dos capitéis. A fundação destes perfis foi feita por
meio de troços de estaca com profundidade de 2,0 m e diâmetro de 600 mm, ao nível da cota do
terreno do último nível de escavação.

5.2.1. Cortina de estacas

5.2.1.1. Processo construtivo


O faseamento construtivo da cortina de estacas na obra em estudo pode ser descrito, de um modo
geral, pelas seguintes etapas:

51
 Realização de uma vistoria de todas as estruturas e infra-estruturas a preservar, vizinhas ao
recinto de escavação, nomeadamente o edifício do Hospital da Luz e a estrada da Rua Ana
Castro Osório, localizada no canto Sudeste do recinto de escavação;
 Preparação da plataforma de trabalho e dos acessos à mesma;
 Instalação e zeragem dos alvos topográficos e inclinómetros previstos no plano de
instrumentação e observação;
 A partir da cota da plataforma de trabalho, execução das estacas. Esta etapa inclui as
operações de furação, limpeza do fundo do furo, colocação da armadura e betonagem;
 Saneamento da cabeça das estacas;
 Primeira fase de escavação e execução da viga de coroamento;
 Execução do primeiro nível de ancoragens e colocação de escoramentos na viga de
coroamento;
 Escavação do primeiro nível de parede até à cota da base da viga de distribuição;
 Execução de drenos sub-horizontais (operações de furação, limpeza e colocação);
 Projecção de betão (espessura na ordem dos 10 cm e aplicação em duas camadas);
 Execução da viga de distribuição;
 Execução de ancoragens provisórias e instalação de escoramentos de canto;
 Realização de ensaios de recepção em todas as ancoragens, conforme a EN 1537 (ensaios
detalhados em ancoragens instrumentadas com células de carga e simplificados nas não
instrumentadas);
 Repetição da sequência para os restantes níveis de escavação até que seja atingida a cota
final de projecto;
 Execução da superestrutura e desactivação das ancoragens e dos escoramentos.

O sistema construtivo adoptado para as estacas da cortina da obra em estudo foi o anteriormente
mencionado, o sistema Rodiostar, patenteado pelo grupo Rodio.

Sistema Rodiostar

Este sistema foi desenvolvido a partir do equipamento de trado contínuo convencional, que foi
anteriormente descrito no subcapítulo 2.3. “Trado contínuo na execução de estacas”. De acordo com
a Rodio, as principais alterações em relação ao equipamento base são as seguintes:

1. Betonagem com utilização de um tubo prolongador telescópico (Figura 28) mergulhado na massa
de betão, com comprimento de cerca de 1,5 m. A posição deste relativamente à base do trado é
aferível em todas as fases de execução através da observação da posição dos êmbolos hidráulicos
posicionados na cabeça de rotação permitindo:

 Iniciar a betonagem do primeiro metro do furo utilizando duas aberturas laterais que
permanecem apoiadas na base do furo durante a duração desta fase;
 Durante a fase de betonagem, assegurar uma melhor difusão das pressões de bombagem e
uma segurança suplementar face a uma eventual subida excessiva da coluna de trados que
possa provocar a interrupção do sistema de betonagem submersa.

52
Figura 28 - Tubo prolongador telescópico (Rodio, 2006a)

2. Furação e betonagem com a utilização em tempo real de um sistema de aquisição e impressão de


dados automático, permitindo recomeçar a estaca em caso de anomalia;

3. A limpeza do trado é feita com meios mecânicos, permitindo assegurar a betonagem sem tempos
mortos;

4. Impressão em tempo real dos gráficos correspondentes aos parâmetros de furação e betonagem, o
que permite o estabelecimento de medidas de auto-controlo interno, assim como a observação
directa do trabalho em curso;

5. O betão utilizado apresenta uma formulação melhorada, nomeadamente no que respeita à sua
resistência e trabalhabilidade. Este aspecto em conjunto com o sistema de betonagem desenvolvido
permite, de acordo com as disposições normativas francesas, obter resistências de cálculo
convencionais de betão à compressão simples em estacas, superiores entre 14% e 20% às obtidas
com recurso a estacas furadas pelo método convencional;

6. Coluna de trados com sistema de uniões de rigidez superior e aumento da espessura dos
elementos de forma a garantir rigidez de flexão elevada;

7. Dispositivo de guiamento inferior rotativo utilizado de forma contínua de modo a manter o eixo da
coluna de trados na sua posição inicial durante o processo de furação.

Destacando as vantagens deste sistema comparativamente ao sistema de trado contínuo


convencional, a fluidez do betão utilizado no sistema Rodiostar permite que sejam executadas
estacas com maiores comprimentos, armadas no seu comprimento total. O controlo dos parâmetros
de perfuração permite aferir com precisão aspectos como a verticalidade da estaca, e a pressão e o
volume de betão durante a betonagem, garantindo a detecção atempada de eventuais anomalias na
execução, ou condições geotécnicas do maciço distintas das expectáveis.

As fases construtivas que este sistema compreende são descritas de seguida.

53
Furação

O processo é iniciado com a perfuração da coluna de trados por rotação até às profundidades
definidas no projecto. O trado, formado por uma hélice que se desenvolve ao longo de um tubo
central, é introduzido no terreno de uma só vez, com saída do material escavado à superfície do solo.

À medida que se vai extraindo o trado, o betão é bombeado à pressão pelo interior do eixo do trado.
O terreno do furo é então substituído imediatamente por betão, sem riscos de descompressão das
paredes do mesmo, e garantindo-se assim a sua estabilidade.

Na Figura 29 pode observar-se o desenvolvimento do trado na altura correspondente ao comprimento


da estaca. A Figura 30 ilustra o momento em que o trado é introduzido no terreno até praticamente ao
fundo do furo pretendido.

Figura 29 - Trado Figura 30 - Perfuração e betonagem com trado contínuo


contínuo

Durante os processos de perfuração e betonagem, os parâmetros de execução (Figura 31) são


monitorizados através dos registos do sistema de aquisição de dados automático. A verticalidade da
perfuração é controlada mediante a colocação de sensores na torre de perfuração e registo num
monitor na cabine do operador. Os outros registos a que se tem acesso no monitor referido são a
velocidade de descida da ferramenta de perfuração e o binário aplicado pela cabeça do equipamento,
ambos em função da profundidade.

Os registos da velocidade bem como do par de rotação aplicado podem revelar-se úteis, na medida
em que a relação entre os dois parâmetros pode fornecer informações acerca do solo atravessado.
Ao verificar-se o aumento da velocidade de rotação, deve diminuir o par de rotação, traduzindo a
presença de um solo mais brando do que o anterior. Pelo contrário, se a velocidade diminui, o par de
rotação aumenta, indicando o atravessamento de um substrato mais competente que o anterior. A
informação obtida nos registos pode ser posteriormente comparada com os gráficos elaborados no
âmbito do estudo geotécnico (Rodio, 2006a).

54
Figura 31- Equipamento e registo dos parâmetros de execução (Rodio, 2006a)

Betonagem

A betonagem inicia-se com a injecção do betão através de duas saídas laterais na base do tubo
prolongador telescópico, que é coaxial com o trado contínuo de perfuração, em simultâneo com a
subida do trado 1 m. Nesta fase o tubo prolongador encontra-se apoiado no fundo do furo. A limpeza
do fundo do furo é verificada, uma vez que a saída inicial do betão é realizada junto à base do furo e
na direcção horizontal, permitindo “raspar” a base do furo.

Estando o primeiro metro da estaca betonado e tendo-se cumprido o requisito de pressão na coluna
de betonagem, o conjunto trado-tubo telescópico sobe conjuntamente.

A subida do trado é controlada pelo accionamento de êmbolos hidráulicos existentes na cabeça de


rotação. É também pela observação do posicionamento destes êmbolos que se garante a
monoliticidade do sistema.

De modo a verificar se não há fugas, deve fazer-se o controle da relação “(Volume


betonado)/(Volume teórico)”, a qual deverá ser superior a 1 (questão do sobre-consumo já referida a
par do processo executivo de estacas hélice contínua).

Introdução da armadura

A introdução da armadura (Figura 32) é realizada imediatamente a seguir à retirada do trado e


enchimento completo do furo, recorrendo a um vibrador especialmente concebido para o efeito. Este
vibrador está disposto sobre uma virola metálica ajustada ao diâmetro da armadura e, quando
accionado hidraulicamente, transmite vibrações à mesma, possibilitando a sua penetração no betão.
A penetração da coluna de armadura na massa de betão é ilustrada na Figura 33

55
Figura 32 - Introdução da armadura pelo trado Figura 33 - Penetração da armadura na massa
de betão

Na coluna de armadura são colocados espaçadores com os quais se pretende garantir um


recobrimento adequado do betão da estaca. No caso em estudo foram utilizadas 3 linhas de
espaçadores plásticos ao longo da coluna de armadura, cada linha com 3 espaçadores.

Seguiu-se o saneamento da cabeça das estacas (Figura 34), etapa importante para garantir a
incorporação da armadura da estaca no maciço de encabeçamento, assegurar os recobrimentos
mínimos regulamentares e eliminar o betão contaminado.

Figura 34 - Saneamento da cabeça das estacas

Após a operação de saneamento foi executada a viga de coroamento, que solidariza as estacas
constituintes da cortina. Ainda antes de se proceder aos trabalhos de escavação foram instalados e
zerados os alvos topográficos.

O primeiro nível de escavação foi iniciado, numa extensão máxima horizontal de 12 m, até à cota da
base da viga de distribuição. Foram também, nesta fase, colocados os drenos sub-horizontais e

56
projectada a primeira camada de betão com 5 cm de espessura. A viga de distribuição foi efectuada
após a execução de ferrolhos que permitem a sua ligação à cortina.

De seguida procedeu-se à execução das ancoragens provisórias e à instalação de escoramentos de


canto.

O comprimento total das ancoragens deve ser compatível com a localização do bolbo de selagem em
terrenos competentes. Em cada ancoragem foi posteriormente realizado um ensaio de recepção, de
acordo com a EN1537, que será descrito mais detalhadamente no capítulo referente à
instrumentação utilizada em obra.

Depois de concluídas estas etapas, a sequência foi repetida para os restantes níveis de escavação
até à cota final de projecto, de onde se partiu para a execução da estrutura do parque de
estacionamento, de baixo para cima.

Estando as lajes apoiadas sobre as vigas de distribuição, foi possível realizar-se a desactivação das
ancoragens e dos escoramentos, incluindo a selagem das zonas das vigas de coroamento e
distribuição onde foram instaladas as ancoragens.

5.2.2. Ancoragens

As ancoragens são elementos estruturais que podem ser provisórios ou definitivos. A sua principal
função é o travamento das estruturas de contenção, contribuindo assim para a resistência aos
impulsos de terra. A norma que regula o seu dimensionamento e execução é a EN 1537 – “Execução
de trabalhos geotécnicos especiais: Ancoragens”.

Uma ancoragem é constituída, essencialmente, por três partes: cabeça, comprimento livre e
comprimento de selagem. Na zona da cabeça é traccionada a armadura (com recurso a macaco
hidráulico); o comprimento livre estabelece a ligação entre a cabeça e o bolbo de selagem e não
mobiliza qualquer força; por fim, o comprimento de selagem é a zona responsável pela transmissão
de cargas ao terreno.

Na zona do comprimento livre, a armadura é geralmente envolvida por uma bainha lisa que permite
que não se desenvolva atrito neste troço e, consequentemente, não seja transmitida tensão ao
terreno.

A força instalada na ancoragem é transmitida ao terreno através da mobilização do atrito lateral entre
o bolbo de selagem e o terreno envolvente. Daqui surge a importância do bolbo de selagem se situar
em terrenos competentes.

Relativamente ao tipo de elemento traccionado, tem-se ancoragens de cabos de pré-esforço com


cordões (os quais, ao serem associados em hélice em torno de um eixo longitudinal comum formam
cabos) e ancoragens de varões de aço. As primeiras são as mais utilizadas em obras do tipo
contenção periférica pelas vantagens que apresentam comparativamente às segundas, em termos de
transporte, montagem, armazenamento e colocação (Sampaio, 2008).

57
Para se assegurar um recobrimento mínimo nas armaduras instaladas de 10 mm, segundo a EN
1537, deve recorrer-se a espaçadores e centralizadores. A correcta disposição de centralizadores no
comprimento de selagem permite centralizar a ancoragem no furo, de modo a que a calda na zona
selada tenha uma distribuição uniforme, contribuindo assim eficazmente para a protecção contra a
corrosão.

Os espaçadores, por sua vez, possibilitam o correcto escoamento da calda, permitindo que esta
penetre nos vazios existentes entre a armadura e os restantes elementos.

5.2.2.1. Processo construtivo


O processo executivo das ancoragens pode variar em função do tipo de ancoragem adoptada, do tipo
de terreno, da estrutura de contenção e do sistema de injecção. Descreve-se, de seguida, o
procedimento construtivo adoptado na obra em estudo.

Furação

A furação tem o comprimento da ancoragem. De entre os métodos de furação existentes (trado, varas
e bit, varas e trialeta ou martelo), é escolhido o método que mais se adequa às características do
terreno a atravessar. No caso em estudo recorreu-se ao trado contínuo como método de furação, tal
como se pode observar nas Figuras 35 e 36, numa perfuração destrutiva de 150 mm de diâmetro.

Figura 36 - Negativo deixado na viga de


Figura 35- Furação com trado contínuo distribuição após furação

O trado contínuo apresenta a vantagem de permitir que os detritos do furo sejam recolhidos pelo
próprio trado, sendo trazidos até à boca do furo através do movimento de rotação. Esta
particularidade faz com que sejam minimizadas as perturbações introduzidas no terreno. Tal como
ilustram as figuras anteriores, o trado é composto por vários troços que vão sendo desacoplados à
medida que o trado recua.

Imediatamente após a furação foi realizada a selagem do furo, de acordo com o traço previsto
(A:C=1/1,25), com cimento tipo I-42,5 R. Esta foi assegurada pela introdução de um tubo rígido em
PVC até à profundidade máxima do furo.

58
Colocação dos cabos de pré-esforço

A introdução da armadura no furo previamente selado foi feita a um ritmo lento e constante, de modo
a evitar curvaturas excessivas que pudessem comprometer o bom funcionamento da ancoragem.

A armadura das ancoragens foi constituída por 5 cabos de alta resistência de 0,6’’ de diâmetro
nominal para acomodarem um valor de pré-esforço útil de 700 kN e uma carga de blocagem máxima
de 780 kN, e por um tubo central de injecção com manchetes espaçadas de 1 m na zona do bolbo de
selagem, como ilustra a Figura 37.

Figura 37 - Constituição da armadura das ancoragens (Rodio, 2014b)

Na zona correspondente ao comprimento livre da ancoragem, os cabos encontravam-se


embainhados em tubo polietileno. A extremidade interior do tubo isolada impossibilita a entrada de
calda de cimento e, desta forma, garante que os varões se deformem livremente. Na zona
correspondente ao bolbo de selagem os cabos não apresentam qualquer protecção para que possa
estabelecer-se a ligação dos varões à calda.

A armadura das ancoragens é ainda constituída por um sistema de reinjecção, constituído por um
tubo central de PVC de 45 mm de diâmetro, com válvulas de borracha exteriores ao tubo, espaçadas
em cerca de 1 m na zona do comprimento de selagem. A reinjecção é garantida pela reutilização do
tubo multiválvulas.

Processo de injecção

A injecção do bolbo de selagem foi realizada com calda de cimento injectada através do tubo
multiválvulas com calda de cimento e de acordo com o traço previsto A:C=1/2 com cimento tipo I-42,5
R. Durante a injecção foram observados os seguintes critérios:

 Volume máximo: consumo máximo de cerca de 20 litros de calda por manchete, no caso de
não se atingir a pressão de nega;
 Pressão máxima: injecção de calda de cimento a 30-35 bar de pressão estabilizada à boca do
furo durante 2 minutos;

59
 A operação foi repetida o número de vezes necessário até serem atingidas as pressões de
recusa previstas;
 O intervalo de tempo entre cada uma das operações de injecção deve situar-se entre 6 a 24
horas, no máximo.

Tensionamento

Pré-esforço pode definir-se como a imposição de uma deformação a uma estrutura com o objectivo
de contrariar a deformação da mesma, quando esta estiver sujeita às acções para as quais foi
concebida. Assim, a aplicação de pré-esforço numa ancoragem concretiza-se pela imposição de um
alongamento controlado aos seus cabos, ao qual se dá o nome de tensionamento.

Este tensionamento é conseguido através de um macaco alimentado por uma bomba hidráulica com
capacidade compatível com as cargas definidas em projecto (Figura 38). A aplicação deste
tensionamento foi feita, aproximadamente, 3 a 7 dias após a criação do bolbo de selagem, podendo
este prazo ser reduzido se se recorrer a caldas com aditivos. O aspecto final das ancoragens pode
observar-se na Figura 39.

Figura 38 - Tensionamento dos cabos com macaco hidráulico (Pinto, 2011)

1º NÍVEL

2º NÍVEL

3º NÍVEL

Figura 39 - Ancoragens do 1º e 2º níveis tencionadas e 3º nível de ancoragens por tencionar

60
Protecção eventual da cabeça das ancoragens

No caso em estudo este passo não foi concretizado, por se tratar de ancoragens provisórias. No
entanto, em obras definitivas, adoptam-se protecções tais como colocação de capas plásticas ou até
betonagem da cabeça das ancoragens.

5.2.3. Cortina de estacas travada por bandas de laje

O travamento rígido das escavações recorrendo a elementos estruturais constituídos por bandas de
laje dos pisos enterrados tem vindo a ser usado em detrimento das soluções tradicionais, ou até
mesmo, em conjunto com estas. Surge quando as soluções tradicionais não podem ser executadas
por questões de natureza técnica, legal ou económica influenciadas, fundamentalmente, por
condições de vizinhança e condições geológicas e geotécnicas (Pinto, et al., 2008).

Estes elementos de travamento consistem em troços de laje, betonados contra o terreno,


previamente à escavação de cada nível. São, assim, executados de forma compatibilizada com os
trabalhos de escavação e integrados nas soluções estruturais dos pisos enterrados. Além disso,
apresentam a vantagem da sua geometria ser a estritamente necessária para a função de travamento
que desempenham, gerando uma maior disponibilidade de espaço no interior do recinto,
comparativamente à solução de escoramentos com grande rigidez.

A solução de travamento por bandas de laje pode ser conciliada com outras soluções. Um exemplo
de compatibilização desta solução com outras é utilização de vigas treliçadas metálicas em
determinados troços, como elemento que garante a continuidade do sistema e a transmissão das
reacções laterais (Figura 40). A opção por esta solução é frequente em pisos enterrados para
estacionamento por razões de natureza arquitectónica, mais concretamente, pelo facto da parede
periférica na solução definitiva ser travada pelas rampas inclinadas de acesso. Neste sistema, todos
os elementos de travamento funcionam em conjunto, como um quadro fechado de travamento rígido
e simultâneo de todos os alçados, como se pode observar na Figura 41. Estes anéis de laje podem
ser compatibilizados com várias soluções de contenção periférica como cortinas e estacas, paredes
moldadas ou muros de Munique (Pinto, et al., 2008).

Figura 40 - Solução de bandas de laje com Figura 41 - Quadro de travamento (Pinto, et al.,
vigas treliçadas metálicas (Pinto, et al., 2008) 2008)

61
Na obra em estudo a solução de travamento com recurso a bandas de laje foi aplicada num único
alçado (Alçado Poente) devido à existência do túnel de saída do Hospital que inviabilizava a adopção
de ancoragens. Nestes casos, em que apenas um alçado é escorado por bandas de laje, há que
garantir que são criadas condições para acomodar as reacções laterais transmitidas pelas bandas de
laje às paredes perpendiculares e localizadas nas extremidades.

Em meio urbano, onde a densidade da malha condiciona as opções construtivas em larga escala, a
adopção desta solução contribui para a minimização dos impactos negativos nas construções
vizinhas, dado que não há uma utilização do subsolo vizinho. Acrescentado, esta solução não
representa uma diminuição das características de resistência da parede de contenção, uma vez que
não é necessária a sua furação (como no caso das ancoragens), além de que ainda oferece elevada
rigidez à contenção.

O facto de este travamento integrar a estrutura definitiva constitui uma vantagem, não só em termos
económicos, como também contribui para diminuição dos deslocamentos que ocorreriam caso se
tivesse de proceder a uma desactivação de ancoragens ou escoramentos. A transmissão dos
impulsos exercidos pelo terreno para os pisos enterrados ocorre logo na fase de escavação (Oliveira,
2012).

No Tabela 16 apresenta-se um quadro resumo com as vantagens e desvantagens deste tipo de


solução.

Tabela 16 - Vantagens e desvantagens do travamento de contenções periféricas com recurso a


elementos estruturas

TRAVAMENTO DE CONTENÇÃO PERIFÉRICA COM RECURSO A ELEMENTOS ESTRUTURAIS


Impacto reduzido nas estruturas vizinhas na medida em que o subsolo vizinho
não é utilizado, comparativamente com as ancoragens.
Solução alternativa nos casos em que a área de implementação não permite o
uso de escoras.
A parede de contenção não é furada, não se verificando, por isso, uma
diminuição da resistência da mesma.
Maior rigidez.
VANTAGENS Incorporação dos elementos de travamento na fase provisória na fase
definitiva.
Possibilidade de compatibilização com diferentes tipos de contenção e com
diferentes tipos de travamentos na mesma obra.
Economia de tempo pois a instalação e posterior desmantelamento de
sistemas provisórios são dispensados.
Ocupação da área estritamente necessária para a qual estes elementos foram
concebidos, comparativamente a escoramentos de grande rigidez.

Escavação mais condicionada sob os troços de laje.


Necessário adoptar elementos verticais provisórios de apoio.
Grande exigência na articulação com soluções arquitectónicas e estruturais.
DESVANTAGENS
A sua implementação definitiva está limitada à aplicação em paredes de
contenção, também elas com carácter definitivo.
Limitação ao nível das dimensões possíveis para escavação.

62
5.2.3.1. Processo construtivo
Na obra de ampliação do parque de estacionamento, a cortina de estacas travada por troços de laje
apresentou um faseamento construtivo idêntico à cortina ancorada até à escavação e execução da
viga de coroamento. Neste alçado é importante referir a posterior instalação e zeragem dos
dispositivos de instrumentação prevista para o interior do túnel de saída do estacionamento.

O passo seguinte foi a execução de furações com 600 mm de diâmetro necessárias para selar os
perfis HEB 240 que serviram de apoio aos troços de laje (Figuras 42 e 43). Depois da introdução dos
perfis nas furações, procedeu-se à sua selagem num comprimento total mínimo de 2,0 m abaixo do
nível do último piso de escavação.

Figura 42 - Perfil HEB 240 a introduzir no terreno Figura 43 - Perfil metálico


introduzido no terreno

A construção dos travamentos da contenção constituídos por troços de laje betonados propriamente
dita iniciou-se pela realização do travamento ao nível da cobertura. A cofragem foi colocada sobre o
terreno e, sobre ela, a armadura da laje, a qual foi posteriormente betonada (Figura 44).

Como já foi mencionado anteriormente, os travamentos em bandas de laje foram realizados ao nível
do piso de cobertura do estacionamento e do piso -1. Em zona corrente foi adoptada uma espessura
de 30 cm para a cobertura do estacionamento e de 20 cm para o piso -1, sendo que ambos
apresentavam 5,0 m de largura. Na zona de alinhamento dos capitéis adoptou-se 60 cm de
espessura para a cobertura e 40 cm para o piso -1.

Na Figura 45 é possível observar o prolongamento das armaduras no sentido do centro da escavação


para a posterior amarração dos varões de aço, completando a laje do piso.

63
Figura 44 - Armadura do primeiro nível de bandas de laje

Figura 45 – Armadura de espera do primeiro nível de bandas de laje

Seguiu-se a escavação do primeiro nível de parede (Figura 46), por patamares de altura não superior
a 3,0 m, até ao piso -1. De seguida foram colocados os drenos sub-horizontais e foram projectadas
as duas camadas de betão, com uma espessura total de 10 cm. O passo seguinte foi a execução do
travamento ao nível do piso -1 e escavação sucessiva até à cota final de escavação, acompanhando
o faseamento da escavação implementado nos outros alçados.

Figura 46 - Escavação do primeiro nível e betonagem da segunda banda de laje

64
As Figuras 47 e 48 apresentam o aspecto final dos dois níveis de bandas de laje, ainda suportados
pelos perfis metálicos HEB 240.

Figura 47 – Aspecto final dos dois níveis de bandas de Figura 48 – Aspecto dos dois níveis de
laje e ligação à cortina de estacas bandas de laje apoiados provisoriamente
em perfis metálicos

Estando este procedimento terminado, foi possível completar a construção da restante estrutura dos
pisos enterrados até ao piso de cobertura.

5.2.4. Contenção provisória tipo Berlim

No lado da escavação que tem como limite a rua Ana Castro Osório, foi realizado um muro de Berlim
ancorado (Figura 49). Este muro serviu para suportar a estrada da rua referida e permitiu ainda que
se fizesse um desvio do colector de esgotos que se situava no eixo da Avenida dos Condes de
Carnide. Trata-se, portanto, de uma solução com carácter provisório.

Figura 49 - Muro de Berlim executado em obra

65
Segundo Brito (2011), muros de Berlim são elementos de pequena rigidez perpendicularmente ao seu
plano, constituídos por perfis verticais, em geral, metálicos, entre os quais é colocada a entivação em
madeira.

5.2.4.1. Processo construtivo


De um modo geral, o processo construtivo desta parede de contenção provisória passou, numa fase
inicial, pela furação e colocação de perfis metálicos HEB 160 (S275), colocação das pranchas de
madeira de pinho bravo em camadas horizontais de 8 cm e, por fim, activação das ancoragens.
Foram ainda colocados perfis horizontais por forma a se aplicarem, posteriormente as ancoragens
com a inclinação pré-definida.

Também no muro de Berlim foram colocados alvos de modo a monitorizar os seus deslocamentos e,
consequentemente garantir a segurança da Rua Ana Castro Osório.

5.3. Plano de instrumentação e observação

Um plano de instrumentação e observação surge com base na componente aleatória, intrínseca da


informação geológica e na incerteza do levantamento e na caracterização das condições de
vizinhança. É uma ferramenta usada para confirmar em obra os pressupostos adoptados na fase de
projecto, contribuindo, assim, para a gestão do risco associado aos trabalhos.

Este plano permite a medição, durante os trabalhos de escavação e construção das estruturas de
contenção e dos pisos enterrados, das seguintes grandezas:

a) Deslocamentos horizontais e verticais da estrutura de contenção;


b) Deslocamentos horizontais e verticais das estruturas vizinhas;
c) Medição da carga/tensão instalada nas ancoragens.

Além destas medições, o plano deve incluir a descrição dos aparelhos de medição, a frequência das
leituras, os critérios de alerta e alarme e, ainda, as medidas de reforço a serem adoptadas caso os
referidos critérios venham a ser ultrapassados.

5.3.1. Aparelhos de medição e grandezas medidas

No caso em estudo os deslocamentos horizontais foram controlados através das leituras obtidas num
conjunto de 5 inclinómetros (4 situados a tardoz da cortina e 1 situado a tardoz do muro de Berlim na
Rua Ana de Castro Osório), 38 alvos topográficos distribuídos ao longo da parede de contenção da
obra e, também, no túnel de saída do Hospital e, por fim, 4 células de carga para a aferição da carga
instalada nas ancoragens.

5.3.1.1. Inclinómetros
Os inclinómetros são aparelhos que permitem medir deslocamentos horizontais em profundidade.
Através da sua instalação, pretende-se controlar as deformações que possam ocorrer na estrutura e
no maciço envolvente.

66
Este instrumento é constituído por uma sonda, à qual se dá o nome de torpedo, e uma calha
inclinométrica em PVC com diâmetro 85 mm onde é inserida a sonda. A sonda, controlada desde a
superfície do terreno para atingir determinadas profundidades, e deslizando na calha com o auxílio de
rodas guia, permite medir o ângulo que a calha faz com a vertical.

A profundidade do torpedo é controlada por uma escala graduada de 0.5 m e impressa no cabo
eléctrico que liga o torpedo à caixa de leituras à superfície. O sistema de leitura utilizado possui uma
sensibilidade de ±0.05 mm/m e uma precisão de +6 mm para 30 m de comprimento. Nas leituras
realizadas utilizou-se um conjunto inclinométrico constituído por torpedo 6000-M, caixa de leituras
GK-603 e cabo de ligação GEOKON (Rodio, 2014c).

Foi utilizado um torpedo inclinómetro biaxial, isto é, equipado com dois sensores do tipo servo-
acelerómetro, montados com desfasamento de 90˚ por forma a medir o desvio da vertical em cada
direcção, A e B. A direcção A corresponde à direcção perpendicular ao desenvolvimento da cortina de
estacas enquanto a direcção B corresponde à direcção do desenvolvimento da mesma (Rodio,
2014c).

Os resultados obtidos foram tratados informaticamente com o software específico para o efeito GTilt
Plus, o qual fornece gráficos de profundidade/deslocamento horizontal nas duas direcções ortogonais
observadas e, sempre que sejam encontrados deslocamentos anómalos, gráficos de deslocamento
horizontal/tempo (Rodio, 2014c).

Figura 50 - Colocação dos inclinómetros no Alçado Nascente

Na Figura 50 observa-se a colocação dos inclinómetros no Alçado Nascente. Na Figura 51 pode


observar-se a localização aproximada dos inclinómetros instalados em obra, bem como os eixos de
observação. De acordo com o convencionado, o sentido de derrubamento da estrutura de contenção
é na direcção e sentido A+, sendo portanto esta a direcção que requer maiores cuidados.

67
Figura 51 - Localização aproximada dos inclinómetros e eixos de observação (Rodio, 2014c)

5.3.1.2. Alvos topográficos


Na Figura 52 pode observar-se a localização dos 38 alvos topográficos instalados. Os deslocamentos
foram medidos segundo os eixos de coordenadas M e P, como indicado na figura e os
assentamentos segundo o eixo Z.

Figura 52 - Localização dos alvos topográficos

Alvos topográficos são instrumentos que permitiram avaliar os movimentos tridimensionais dos
pontos da obra onde estão instalados e da sua envolvente, nomeadamente o túnel de saída do
Hospital da Luz. Foram fixados na estrutura por meio de colagem, como se pode observar na Figura
53. Os alvos utilizados eram do tipo prisma de reflexão total por forma a compensar a distância a que
os mesmos se localizavam dos pontos de leitura.

68
Figura 53 - Colagem do alvo 29 no 2º troço de bandas de laje

Após terem sido colados, a sua orientação foi corrigida (da ordem de 1 mm na direcção horizontal e
0,5 mm na direcção vertical) de modo a facilitar as pontarias do equipamento topográfico e
minimizando, assim, os erros. As medições trigonométricas absolutas foram realizadas utilizando uma
estação total com hardware e software adequados. Nas campanhas foi feita a leitura de distâncias e
de ângulos para os alvos instalados nos elementos onde se pretendeu determinar os deslocamentos.

As observações topográficas dos prismas que definem e materializam os pontos objecto


instrumentados foram efectuadas com a maior redundância possível, quer angularmente, quer em
distância. Este procedimento permitiu que, posteriormente a cada campanha de observação, se
ajustassem as observações, através de um modelo de cálculo adequado.

As precisões finais do sistema de observação foram estimadas em, aproximadamente, ± 1 mm, tanto
planimetricamente, como em altimetria.

5.3.1.3. Células de carga


As células de carga permitem a monitorização da carga de pré-esforço instalada nas ancoragens, por
meio dos deslocamentos de uma mola, quando solicitada à compressão. A partir de um determinado
valor do deslocamento e conhecendo a rigidez da mola, pode determinar-se o esforço
correspondente.

As células de carga instaladas foram do tipo eléctrico, permitindo uma medição do pré-esforço até
1200 kN, com uma precisão associada ao equipamento de 0,5%. A leitura das células de carga foi
efectuada através de dispositivo eléctrico de corda vibrante e cada célula foi montada sobre placas
metálicas de uniformização de esforços.

Através do ensaio de carga em ancoragens torna-se possível verificar o valor da força de tracção
mobilizada na mesma, bem como aferir o valor dos comprimentos livre e de selagem e o calcular o
coeficiente de fluência, para diferentes patamares de carga.

Para cada ancoragem foi realizado um ensaio de recepção, de acordo com a EN 1537. Neste ensaio
são aplicados 5 escalões de carga e são registados os deslocamentos na direcção da força
relativamente a um referencial fixo. O tempo esperado após a aplicação de cada escalão de carga

69
está indicado na Tabela 17, sendo P0 a carga admissível calculada. Durante o ensaio foram medidos
e registados os alongamentos obtidos para cada escalão de carga, sendo decisão da Fiscalização a
aceitação ou rejeição da ancoragem (Rodio, 2014c).

Tabela 17 - Tempos mínimos de observação para cada escalão de carga aplicado (Rodio, 2014c)

Escalão Carga Tempo mínimo


de observação
(min)
1 0,20 P0 1
2 0,75 P0 1
3 1,00 P0 1
4 1,25 P0 1
5 1,50 P0 15

Estes ensaios de recepção são detalhados nas ancoragens instrumentadas com células de carga e
simplificados nas restantes.

O ensaio terminou com a colocação das cunhas na cabeça da ancoragem e cravação das mesmas à
carga definida no Projecto de Execução, considerando esta fase a conclusão da operação de
tensionamento.

5.3.2. Frequência das leituras

Tendo em conta as características da obra, propôs-se que o conjunto de aparelhos instalados fosse
lido durante a execução dos trabalhos de escavação e até à construção das lajes dos pisos e à
desactivação das ancoragens. A frequência de leituras observada foi, em média, não inferior a uma
vez por semana, sendo que em algumas situações se procedeu a leituras intermédias (por exemplo
em zonas onde se escavou mais rapidamente e/ou se reduziu o número no número de ancoragens).

Os resultados foram apresentados sob forma gráfica, não se tendo verificado grandes movimentos
que pudessem ter posto em causa o comportamento estável da contenção.

5.3.3. Critérios de alerta e alarme

As deformações que foram ocorrendo foram analisadas comparativamente a um conjunto de


deformações definido pelo Projectista, a partir das quais seriam emitidos alertas.

De acordo com JetSJ (2013), “Tendo por base o tipo de solução proposta para a solução a executar,
assim como a geologia do local de intervenção, é possível estimar os seguintes critérios para a
mesma contenção, a confirmar em fase de Projecto de Execução:

 Critério de alerta: deslocamentos máximos da ordem de 20 mm/10 m de desnível de terras,


no sentido horizontal, e de cerca de 15 mm/10 m de desnível de terras, no sentido vertical.
Variação de carga nas ancoragens de 15%;
 Critérios de alarme – deslocamentos máximos da ordem dos 30 mm/10 m de desnível de
terras, no sentido horizontal, e de cerca de 22,5 mm/10 m de desnível de terras, no sentido
vertical. Variação de carga nas ancoragens de 25%. A interpretação dos valores citados deve
ser realizada de forma comparativa com a dos valores obtidos nas leituras anteriores, pois,

70
além da informação dada pelos valores absolutos, é importante a análise das tendências e
respectiva evolução.

5.3.4. Medidas de reforço

Tendo a parede de contenção apresentado o comportamento previsto em projecto, não foi necessário
recorrer a medidas de reforço. No entanto, julgou-se pertinente referir as acções propostas no Plano
de Instrumentação e Observação sugerido pela JetSJ caso tivessem sido atingidos os critérios
citados no ponto anterior:

a) Reforço do travamento horizontal da cortina de estacas, através da instalação de


escoramentos e/ou ancoragens adicionais, eventualmente com maior comprimento livre e
maior inclinação;
b) Realização parcial da escavação ao abrigo do método invertido;
c) Reforço das condições de drenagem da parede de contenção;
d) Tratamento dos terrenos localizados a tardoz da parede de contenção.

71
72
6. Modelação numérica
Neste capítulo é feita uma análise do comportamento do solo e da estrutura, baseada numa
modelação numérica, através do método dos elementos finitos. O programa utilizado foi o Plaxis 2D
versão 8.2, que permitiu simular o comportamento fisicamente não linear dos solos, bem como do
faseamento construtivo.

Na modelação da solução do projecto foram analisados dois cortes do caso de estudo apresentado:
Corte Tipo 1 e Corte Tipo 2. Considerou-se que, de acordo com a planta da obra no Anexo II, são os
dois cortes mais representativos da totalidade da obra. A Figura 54 ilustra esquematicamente a
localização dos cortes em planta.

Figura 54 - Esquema representativo da planta da obra e dos cortes a considerar na modelação

O Corte Tipo 1 diz respeito ao Alçado Poente, onde o travamento é feito através de troços de laje,
enquanto o Corte Tipo 2 reproduz o desenvolvimento da cortina de estacas nos Alçados Norte e
Nascente, onde o travamento é feito por ancoragens provisórias.

6.1. Geometria do modelo de cálculo

A modelação dos cortes referidos pressupõe a criação de um modelo geométrico bidimensional,


assumindo uma secção tipo perpendicular ao plano da estrutura, cujas características mecânicas são
definidas por metro linear. Factores como a geometria da janela, o número de nós em cada elemento
finito, as propriedades dos materiais, o modelo do solo, entre outros, são definidos no Input do
programa.

Como ambas as secções objecto de modelação apresentam um desenvolvimento longitudinal


significativo, assumiu-se no modelo um estado plano de tensão. A utilização deste estado pressupõe
que os campos de tensões e deformações não variam longitudinalmente. Esta simplificação, no
entanto, afasta o modelo um pouco da realidade e, embora os erros sejam pequenos, é importante
reconhecer que estão presentes na análise (Raposo, 2007).

De acordo com Cunha (2014), a zona de influência de uma escavação estende-se lateralmente até
uma distância da cortina de 2 a 3 vezes a profundidade. Assim, foi considerada uma janela de 60 m

73
de largura e 30 m de altura e no posicionamento da estrutura procurou-se que distância da mesma às
fronteiras fosse grande o suficiente para reproduzir melhor as condições reais.

Relativamente à malha de elementos finitos, adoptou-se uma geometria de elementos triangulares de


15 nós.

Através do comando Standart fixities foram aplicadas as condições de fronteira, sendo comum em
escavações criar apoios fixos na base e apoios móveis lateralmente, que só permitem deslocamentos
verticais.

Estando definida a janela, a malha e as condições de fronteira do modelo, procedeu-se à reprodução


do cenário geológico presente no recinto de escavação. As três camadas de solo anteriormente
identificadas foram definidas recorrendo ao comando Geometry line.

Em ambos os cortes, a materialização e caracterização das estruturas de contenção no modelo foram


concebidas com recurso à ferramenta Plate, numa altura de 15,5 m. As fases de escavação foram
delimitadas respeitando as cotas de projecto através da Geometry line.

Relativamente às condições de apoio das cortinas, estas diferem do Corte Tipo 1 para o Corte Tipo 2.
No primeiro, o travamento é feito por dois níveis de troços de laje, materializados pela ferramenta
Fixed-end anchor, enquanto no segundo, existem três níveis de ancoragens. O comprimento livre das
ancoragens foi simulado pelo elemento do tipo barra Node-to-node anchor e bolbo de selagem pelo
elemento linear do tipo geossintético, Geogrid. A posição e a geometria destes elementos foram
determinadas com base nas peças desenhadas do projecto.

O nível freático foi considerado coincidente com a base da escavação, uma vez que a cortina
encontra-se drenada através dos drenos deixados entre as estacas. Deste modo, o nível freático não
influencia o cálculo do programa.

Os Input dos dois modelos criados encontram-se ilustrados nas Figuras 55 e 56.

ZG3

ZG2

ZG1

Figura 55 - Corte Tipo 1: Ilustração da modelação numérica no Plaxis 2D

74
ZG3

ZG2

ZG1

Figura 56 - Corte Tipo 2: Ilustração da modelação numérica no Plaxis 2D


2 2
No Corte Tipo 1 foram consideradas sobrecargas de 5 kN/m junto à cortina, no talude, e 10 kN/m no
restante tardoz da cortina, procurando simular a condição de vizinhança correspondente à localização
de alguns escritórios do estaleiro.

A distribuição das cargas no modelo do Corte Tipo 2 procura representar o que se observa na Figura
2
57. Junto ao tardoz da cortina foi considerada uma sobrecarga de 5 kN/m enquanto no topo do
2
talude a sobrecarga considerada foi 10 kN/m . As sobrecargas foram delineadas com recurso ao
comando Distributed load – load system A. De notar que o programa já tem em conta os impulsos
provocados pelo terreno.

TOPO DA CORTINA DE
ESTACAS

2
10 kN/m

2
5 kN/m

Figura 57 - Distribuição das cargas no Corte Tipo 2

75
6.2. Caracterização dos materiais

Após a definição da geometria do modelo, seguiu-se a caracterização dos materiais através da


informação presente nos relatórios geológico-geotécnicos, das peças desenhadas do projecto e de
algumas correlações, entre outros. Tratando-se de uma análise bidimensional, a resistência e rigidez
dos materiais são caracterizadas por metro linear.

6.2.1. Caracterização do solo

O primeiro passo na caracterização do terreno é a definição do modelo constitutivo do solo, tendo


sido adoptado o modelo Hardening Soil. É o modelo recomendado por Waterman (2011) para
caracterizar camadas de terreno em escavações deste tipo, visto ser um modelo avançado de
simulação razoavelmente realista de vários tipos de solos (areias, argilas e siltes). Segundo Raposo
(2007), é o modelo que melhor representa o comportamento do solo, em especial no que respeita à
simulação dos ciclos de descarga e recarga impostos pelas sucessivas fases de escavação e
aplicação de pré-esforço nas ancoragens.

O Hardening Soil utiliza três deformabilidades para o solo, o módulo secante E 50,o módulo de
descarga-recarga Eur e o módulo edométrico Eoed (Plaxis, 2010). Este modelo consegue simular o
aumento da rigidez dos estratos com o aumento da pressão, uma vez que na sua definição apresenta
uma relação tensão-deformação não linear, do tipo hiperbólica (Carvalho 2013).

Para a caracterização do modelo constitutivo referido é necessário definir parâmetros de resistência,


de rigidez e outros parâmetros avançados. Os valores admitidos por defeito pelo programa abrangem
a maioria dos casos, pelo que só se devem alterar os valores aconselhados quando se tratar de um
estudo específico (Plaxis, 2010).

Tabela 18 - Parâmetros do modelo constitutivo Hardening Soil (Plaxis, 2010).

Coesão efectiva do solo kPa


φ' Ângulo de resistência ao corte ⁰
ψ Ângulo de dilatância ⁰
Potência que expressa a dependência da rigidez em relação ao nível de tensão -
Módulo de deformabilidade secante em estado triaxial (correspondente a 50% da
kPa
tensão de rotura) para uma tensão de referência
Módulo de deformabilidade edométrico tangente para tensão vertical igual à tensão
kPa
de referência
Módulo de deformabilidade na descarga/recarga em estado triaxial, para uma tensão
de referência kPa
)
Coeficiente de Poisson na fase de descarga (0,2) -
3
Peso volúmico do solo não saturado kN/m
3
Peso volúmico do solo saturado kN/m
Coeficiente de rotura que relaciona a tensão deviatórica na rotura com a assímptota
-
da hipérbole que traduz a relação tensão-deformação (0,9)
Factor de redução de resistência da interface -
Módulo de distorção -
Coeficiente de impulso em repouso -

76
Os parâmetros utilizados na definição do modelo encontram-se na Tabela 18. Segundo o manual do
Plaxis é aconselhável utilizar os valores dos parâmetros entre parênteses na tabela referida.

No manual do programa são sugeridas as seguintes aproximações, uma vez que nem sempre se
conseguem determinar todos os parâmetros nos ensaios ou através de correlações. A modelação
efectuada assumiu os valores admitidos por defeito e as aproximações acima apresentadas.

Na Tabela 19 encontram-se os parâmetros geotécnicos estimados inicialmente para as diferentes


camadas de solo que caracterizam o terreno suportado pela cortina de contenção.

Tabela 19 - Caracterização do solo

ZONAS GEOTÉCNICAS

ZG3 ZG2 ZG1


PARÂMETROS
Aterros e solos Argilas e Argilas e
argilosos calcários dos calcários dos
prazeres prazeres
Tipo de material Drenado Não drenado Não drenado
3
γunsat [kN/m ] 17 19 19
3
γsat [kN/m ] 19 22 22
2
[kN/m ] 10 000 20 000 60 000
2
[kN/m ] 10 000 20 000 60 000
2
[kN/m ] 30 000 60 000 180 000
2
c’ [kN/m ] 5 40 75
φ' [˚] 28 30 37
Ψ [˚] 0 0 0
m [-] 0,5 0,5 0,5

O factor de redução de resistência da interface, Rinter, tem em consideração a interacção entre a


estrutura de contenção e o solo. Foi considerada uma interface rígida, tomando o valor unitário.

6.2.2. Caracterização da cortina de estacas

A caracterização da cortina de estacas baseia-se fundamentalmente na caracterização do elemento


estaca. A contribuição da viga de coroamento e das vigas de distribuição não é considerada, uma vez
que no plano da modelação a sua inércia não é significativa. No entanto, de referir que estes
elementos contribuem para a rigidez global da estrutura. Na Tabela 20 encontram-se as
características da cortina de estacas considerada na modelação.

77
Tabela 20 - Características da cortina de estacas

Diâmetro [mm] 600


Afastamento [m] 1,2
6
30x10
6
7,069x10
5
1,590x10
25
5,890
ν 0,2

6.2.3. Caracterização das ancoragens

No Corte Tipo 2, a simulação das ancoragens, tratando-se de elementos lineares que exercem uma
acção concentrada quer na cabeça, quer na selagem, envolvendo importantes efeitos tridimensionais,
pode ser algo complexa (Carvalho, 2013). Como foi mencionado anteriormente, os elementos
constituintes das ancoragens são o Node-to-node anchor e o Geogrid, simulando o comprimento livre
e o bolbo de selagem, respectivamente. Ambos os elementos apresentam apenas rigidez axial de
tracção.

Nas Tabelas 21 e 22 encontram-se, respectivamente, a geometria e a caracterização das ancoragens


consideradas na modelação.

Tabela 21 - Geometria das ancoragens

COMPRIMENTOS [m] INCLINAÇÃO [˚]

Selagem Livre
1º Nível 7 9 20
2º Nível 7 8 20
3º Nível 7 6 20

Tabela 22 - Características dos elementos das ancoragens

COMPRIMENTO LIVRE BOLBO DE SELAGEM


5 4
1,355x10 2,502x10
194
Lspacing [m] 3,6

O Púti, correspondente à carga de pré-esforço das ancoragens, foi determinado através da carga
definida em projecto (700 kN) dividida pela distância entre as mesmas (3,6 m), representada pelo
Lspacing.

Na caracterização do bolbo de selagem foi considerada uma calda de cimento de 25 GPa (módulo de
elasticidade correspondente a um betão de menor resistência), pretendendo-se, assim, simular a
sobreposição de betão com o solo envolvente. O diâmetro adoptado foi de 20% superior ao diâmetro
do cabo, que era de 30 cm (Beijinha, 2009).

78
6.2.4. Caracterização das bandas de laje

No Corte Tipo 1 os troços de laje foram simulados pelo elemento Fixed-end anchor. Para a
determinação da rigidez axial considerou-se um elemento de betão com 0,4 m de espessura e 1 m de
largura (por metro de desenvolvimento do troço de laje). A largura de cada banda de laje é 5,6 m e o
comprimento 27,6 m, inserido no programa no parâmetro Lspacing. Os parâmetros necessários à sua
definição encontram-se na Tabela 23.

Tabela 23 - Características das bandas de laje


6
30x10
7
1,2x10
Largura [m] 5,6
Lspacing [m] 27,6

6.2.5. Caracterização do túnel

O túnel de saída do primeiro estacionamento do Hospital da Luz teve também de ser considerado na
modelação. Tratando-se, do ponto de vista estrutural, de um falso túnel, apresenta as paredes
periféricas materializadas por cortinas de estacas de 800 mm de diâmetro, comprimento 14 m,
aproximadamente, e afastamento de 1 m e uma laje de cobertura com 400 mm de espessura (Tabela
24).

Tabela 24 - Características do túnel

LAJE DE COBERTURA CORTINA DE ESTACAS PERIFÉRICA

1 Diâmetro [m] 0,8


[m] 0,4 Afastamento [m] 1
ν 0,2 ν 0,2
25 25

6.3. Malha de elementos finitos e cálculos

Através do comando Generate mesh, é gerada a malha de elementos finitos, na qual a geometria
definida é dividida nos elementos do tipo seleccionado inicialmente, neste caso, triângulos. Esta
malha pode ser mais refinada, potenciando assim a obtenção de melhores resultados. Procurou-se,
assim, refinar mais a malha junto dos elementos que representam as ancoragens, a cortina e as
bandas de laje. A malha de elementos finitos utilizada para cada um dos cortes encontra-se
representada nas Figuras 58 e 59.

79
Figura 58 - Corte Tipo 1: Malha de elementos finitos

Figura 59 - Corte Tipo 2: Malha de elementos finitos

Após a criação da malha foram geradas as tensões inicias, que compreendem as condições iniciais
devido ao nível freático, a configuração da geometria e o estado inicial de tensões efectivas, através
da ferramenta K0 Procedure, por simplificação. O faseamento construtivo considerado na modelação
do Corte Tipo 1 e do Corte Tipo 2 encontra-se nas Tabelas 25 e 26, respectivamente.

Tabela 25 - Corte Tipo 1: Faseamento construtivo considerado na modelação

FASEAMENTO CONSTRUTIVO DO CORTE TIPO 1

Fase definida, por defeito, pelo programa onde se dão todos os


Fase 0 Repouso
deslocamentos devidos ao peso do solo, sobrecargas e condições iniciais.
Activação dos seguintes elementos: sobrecargas, cortina, 1º troço de laje.
Nesta fase é utilizado o comando Reset displacements to zero para “zerar” os
Fase 1 Fase inicial deslocamentos provocados pelas fases iniciais.
NOTA: O túnel é activado aquando da geração das pressões iniciais uma vez
que é um elemento que já estava no terreno no início da construção.
Fase 2 1ª Escavação Desactivação da primeira camada de solo definida na geometria.
Fase 3 2º Troço Activação do 2º troço de laje.
Fase 4 2ª Escavação Desactivação da segunda camada de solo definida na geometria.

80
Tabela 26 - Corte Tipo 2: Faseamento construtivo considerado na modelação

FASEAMENTO CONSTRUTIVO DO CORTE TIPO 2

Fase definida, por defeito, pelo programa onde se dão todos os


Fase 0 Repouso
deslocamentos devidos ao peso do solo, sobrecargas e condições iniciais.
Activação das sobrecargas. Nesta fase é utilizado o comando Reset
Fase 1 Sobrecargas displacements to zero para “zerar” os deslocamentos provocados pelas fases
iniciais.
Activação da cortina. Nesta fase é também utilizado o comando Reset
Fase 2 Cortina displacements to zero para “zerar” os deslocamentos provocados pelas fases
iniciais.
Fase 3 1ª Escavação Desactivação da primeira camada de solo definida na geometria.
Fase 4 1ª Ancoragem Tensionamento do primeiro nível de ancoragens.
Fase 5 2ª Escavação Desactivação da segunda camada de solo definida na geometria.
Fase 6 2ª Ancoragem Tensionamento do segundo nível de ancoragens.
Fase 7 3ª Escavação Desactivação da terceira camada de solo definida na geometria.
Fase 8 3ª Ancoragem Tensionamento do terceiro nível de ancoragens.
Fase 9 4ª Escavação Desactivação da segunda camada de solo definida na geometria.

6.4. Resultados da modelação

Os resultados da modelação, mais concretamente os deslocamentos e os esforços a que a parede de


contenção está sujeita, são apresentados neste subcapítulo para cada um dos cortes.

6.4.1. Corte Tipo 1

Estando concluída a fase de cálculo, o subprograma Output permite a visualização da configuração


deformada da malha de elementos finitos dos cortes objecto de modelação. Na Figura 60 encontra-se
a configuração deformada do Corte Tipo 1.

Figura 60 - Corte Tipo 1: Configuração deformada da cortina no final da escavação (ampliada 100 vezes)

81
Deslocamentos do solo

Na Figura 61 apresentam-se os deslocamentos horizontais no solo, no final da escavação.

Figura 61 - Corte Tipo 1: Deslocamentos horizontais no final da escavação

O deslocamento horizontal máximo verificado no solo ocorre no talude a tardoz da cortina, no sentido
do interior da escavação e toma o valor de cerca de 20 mm. Verifica-se que os deslocamentos
horizontais junto à estrutura a preservar, o túnel existente, são da ordem dos 12 mm, não
comprometendo, assim, a segurança da mesma.

A Figura 62 apresenta os deslocamentos verticais no Corte Tipo 1, no final da escavação. Verifica-se


que os maiores deslocamentos ocorrem no tardoz da cortina, a cerca de 20 m da mesma e tomam
valores na ordem dos 18 mm. Esta situação verifica-se pois a sobrecarga devido ao talude faz
aumentar os impulsos, comparativamente a um terreno plano a tardoz da cortina. Como se trata de
um arruamento, este valor não assume especial relevância. De notar, ainda, que estes
assentamentos não ocorrem junto ao túnel existente pelo que, mais uma vez, a sua segurança não
será comprometida.

82
Figura 62 - Corte Tipo 1: Deslocamentos verticais no final da escavação

Deslocamentos da cortina

Após se terem analisado os deslocamentos do solo, foi efectuada uma análise dos deslocamentos na
cortina de estacas no final da escavação (Figura 63). Estes deslocamentos têm também em conta os
deslocamentos do solo devidos às fases construtivas consideradas na modelação.

a) Deslocamento total b) Deslocamento horizontal c) Deslocamento vertical

(Máximo = 7,75 mm) (Máximo = 17,02 mm) (Máximo = -1,71mm)

Figura 63 - Corte Tipo 1: Deslocamentos da cortina na fase final de escavação: a) Deslocamento total; b)
Deslocamento horizontal; c) Deslocamento vertical

De acordo com a Figura 63 observa-se que, à semelhança do que acontece com o solo, o
deslocamento mais relevante é o horizontal, no valor cerca de 17 mm. Este deslocamento ocorre no
topo da cortina, ao nível do primeiro troço de laje.

O deslocamento vertical máximo apresenta um valor negativo, indicando que ocorreu um


assentamento da cortina. O assentamento verificado toma um valor bastante pequeno (2 mm),
podendo ser desprezado. Este assentamento é praticamente uniforme em todo o desenvolvimento da
cortina e deve-se, provavelmente, ao alívio da tensão vertical resultante da escavação.

83
Os gráficos anteriores ilustram o comportamento da cortina de contenção no final da escavação.
Julgou-se, então, pertinente fazer uma análise do comportamento desta estrutura no decorrer do
processo construtivo.

Gráfico 3 - Corte Tipo 1: Deslocamento horizontal da cortina ao longo das várias fases construtivas

No Gráfico 3 apresenta-se o desenvolvimento dos deslocamentos horizontais, pelo facto de serem os


mais significativos e condicionantes, nas duas fases de construção consideradas na modelação. A
linha mais grossa reproduz o deslocamento horizontal em profundidade da cortina no final da
escavação, enquanto a linha mais fina representa o mesmo para o primeiro nível escavado, após a
construção do primeiro troço de laje. As linhas horizontais a traço interrompido representam a
localização do 1º troço de laje, do 2º troço de laje e da base da escavação em profundidade.

Tal como verificado na Figura 63, observa-se no Gráfico 3 que os deslocamentos horizontais
máximos ocorrem no topo da cortina, em ambas as fases de escavação. Na primeira fase de
escavação, o deslocamento toma o valor de aproximadamente 13 mm, enquanto na segunda fase,
correspondente à escavação final, toma o valor referido anteriormente de cerca de 17 mm.

Na base da cortina, onde esta se encontra encastrada no terreno, os deslocamentos são


relativamente menores, na ordem dos 8 mm na escavação final.

Momento flector

Neste corte, julgou-se pertinente apresentar o desenvolvimento do diagrama de momentos flectores


ao longo da cortina no final da escavação, uma vez que os troços de laje funcionam como uma carga
aplicada transversalmente à cortina, que impede os seus deslocamentos. Observa-se que o diagrama

84
de momentos apresentado no Gráfico 4 é, como seria de esperar, concordante com a deformada da
estrutura apresentada no Gráfico 3.

Gráfico 4 - Corte Tipo 1: Momentos flectores na cortina no final da escavação

O momento máximo verificado toma o valor de 55,1 kNm/m e ocorre entre os dois troços de laje. Na
zona correspondente ao 2º troço de laje, o momento muda de sinal, o que reflecte bem a rigidez do
referido troço.

Na zona da ficha a mobilização de passivo provoca a dissipação do momento. O comprimento da


ficha está directamente relacionado com a rigidez do solo, na medida em que quanto mais rígido for o
solo, menor terá de ser o comprimento da ficha para que o momento seja dissipado.

6.4.2. Corte Tipo 2

A Figura 64 ilustra a configuração deformada da malha de elementos finitos do Corte Tipo 2.

Figura 64 - Corte Tipo 2: Configuração deformada da cortina no final da escavação (ampliada 100 vezes)

85
Deslocamentos do solo

Na Figura 65 apresentam-se os deslocamentos horizontais no solo no final da escavação. Observa-


se que os deslocamentos máximos ocorrem atrás da cortina de estacas na fase correspondente à
escavação do primeiro nível. Este deslocamento toma o valor de aproximadamente 25 mm no sentido
do interior da escavação.

Figura 65 - Corte Tipo 2: Deslocamentos horizontais no final da escavação

Figura 66 - Corte Tipo 2: Deslocamentos verticais no final da escavação

A Figura 66 apresenta os deslocamentos verticais no Corte Tipo 2, no final da escavação. Verifica-se


que os maiores deslocamentos ocorrem no tardoz da cortina, no topo do talude e tomam valores na

86
ordem dos 16 mm. Na base da escavação observa-se a ocorrência de um empolamento de cerca de
6 mm, resultante, por um lado, da descompressão do solo que ocorre nesta zona, devido à retirada
de todo o carregamento e, por outro, à pressão que o terreno remanescente exerce sobre o terreno
no fundo da escavação. No entanto, estudos actuais revelam que os empolamentos previstos pelo
programa são significativamente mais elevados do que os que ocorrem na realidade (Oliveira, 2012).

Deslocamentos da cortina

Seguidamente à análise dos deslocamentos do solo foi efectuada uma análise dos deslocamentos na
cortina de estacas no final da escavação (Figura 67). Estes deslocamentos têm também em conta os
deslocamentos do solo devidos às respectivas escavações e tensionamento das ancoragens.

De acordo com a Figura 67 b), as deformações horizontais máximas na cortina são cerca de 26 mm
no seu topo. Uma possível explicação para os maiores deslocamentos ocorrerem nesta zona reside
no tipo de solo em que esta parte da cortina está inserida. Tratando-se de aterros, apresentam baixas
deformabilidades relativamente a argilas duras e muito rijas e, consequentemente, maiores
deslocamentos da cortina.

a) Deslocamento total b) Deslocamento horizontal c) Deslocamento vertical

(Máximo = 25,53 mm) (Máximo = 25,11 mm) (Máximo = -4,58 mm)

Figura 67 - Corte Tipo 2: Deslocamentos da cortina na fase final da escavação: a) Deslocamento total; b)
Deslocamento horizontal; c) Deslocamento vertical

O facto do deslocamento vertical máximo apresentar um valor negativo indica que ocorreu um
assentamento da cortina. O assentamento verificado toma um valor relativamente pequeno, 5 mm,
sendo praticamente uniforme em todo o desenvolvimento da cortina e deve-se, provavelmente, ao
alívio da tensão vertical resultante da escavação.

NOTA: De referir que os gráficos dos deslocamentos apresentados pelo Plaxis pretendem apenas delinear a
deformada, não indicando o sentido correcto em que esta ocorre.

À semelhança do que foi feito para o Corte Tipo 1, apresenta-se também para este corte uma análise
do comportamento da estrutura no decorrer do processo construtivo Gráfico 5.

87
Gráfico 5 - Corte Tipo 2: Deslocamento horizontal da cortina ao longo das várias fases construtivas

No Gráfico 5 apresenta-se o desenvolvimento dos deslocamentos horizontais, pelo facto de serem os


mais significativos e condicionantes, nas várias fases de construção consideradas na modelação. As
linhas a cheio correspondem às fases de escavação e as linhas a traço interrompido ao
tensionamento das ancoragens. Finalmente, a linha mais grossa reproduz o deslocamento horizontal
em profundidade da cortina no final da escavação.

Após ter sido aplicado o pré-esforço no primeiro nível de ancoragens, correspondente à fase “1ª
Ancoragem”, a cortina tende a fazer o movimento no sentido inverso ao anteriormente observado.
Nas fases seguintes, o movimento da cortina segue a mesma tendência.

A recuperação pelas ancoragens de parte do deslocamento provocado pela escavação é mais


evidente ao nível da 1ª Escavação/1ª Ancoragem. Pode, então, constatar-se que a acção do pré-
esforço perde importância à medida que a escavação aumenta.

O estudo feito por Guerra (2007) suporta a análise anterior. Segundo este autor, apesar da rigidez e
dos deslocamentos impostos pelas ancoragens contribuírem para o bom funcionamento da cortina,
estas trabalham fundamentalmente por alteração do estado de tensão no solo suportado, preparando
o mesmo para as seguintes fases de escavação.

Por fim, ainda nesta análise aos deslocamentos obtidos na secção Corte 2, é importante referir que o
deslocamento máximo obtido na cortina toma um valor que não seria aceitável se as condições de
vizinhança fossem outras.

Esforço axial

A análise do comportamento da cortina de contenção ao longo do processo construtivo é


complementada através da evolução dos esforços ao longo das fases de escavação.

O Gráfico 6 mostra a evolução do esforço axial na cortina em profundidade. Os patamares no gráfico


representam a instalação de pré-esforço nos três níveis de ancoragens e o consequente aumento do

88
esforço axial. Tal deve-se ao facto de o tensionamento de cada nível de ancoragens representar uma
força concentrada com uma componente vertical considerável.

Gráfico 6 - Corte Tipo 2: Esforços axiais instalados na cortina no final da escavação

O esforço axial máximo é de compressão, com o valor de 497,5 kN/m, e verifica-se na base da
escavação. O decréscimo observado a partir deste valor corresponde à zona de encastramento da
cortina de estacas, onde se geram forças de atrito entre as estacas e o solo, responsáveis por esta
diminuição, que tende para o valor zero. Tal não é estritamente verificado devido a problemas
numéricos no Plaxis, que considera a existência de esforços de compressão residuais.

Momento flector

O Gráfico 7 ilustra o desenvolvimento dos momentos flectores ao longo da cortina no final da


escavação. Observa-se que o momento máximo ocorre no ponto da cortina correspondente à
localização do primeiro nível de ancoragens e toma o valor negativo de 124,4 kNm/m. Note-se que,
quando é escavado o primeiro troço, a cortina apresenta comportamento autoportante, funcionando
como uma consola, o que explica o andamento do gráfico.

À semelhança do que acontece no primeiro nível de ancoragens, também nos níveis seguintes se
verificam picos de valores de momentos.

Na zona da ficha a mobilização de passivo provoca a dissipação do momento. O comprimento da


ficha está directamente relacionado com a rigidez do solo, na medida em que quanto mais rígido for o
solo, menor terá de ser o comprimento da ficha para que o momento seja dissipado.

89
Gráfico 7 - Corte Tipo 2: Momentos flectores na cortina no final da escavação

6.5. Comparação entre os resultados obtidos e os resultados reais

Como foi anteriormente referido, os deslocamentos horizontais são os que assumem valores mais
significados, pelo que a comparação feita entre resultados obtidos na modelação e resultados reais
incide sobre esses mesmos deslocamentos.

6.5.1. Corte Tipo 1

Iniciando a análise pelo Corte Tipo 1, observa-se que deformada obtida na modelação (Gráfico 9) se
assemelha com a deformada fornecida pelo inclinómetro 5 (Gráfico 8), localizado nesta secção. A
diferença mais evidente reside no valor que os deslocamentos tomam.

Da análise da leitura feita pelo inclinómetro verifica-se que os deslocamentos da parede de contenção
vão aumentando com a evolução da construção, no sentido do interior da escavação (sentido A+). Os
deslocamentos tendem a estabilizar no valor de 12,5 mm desde o topo da cortina até cerca dos 5 m
em profundidade.

Também os deslocamentos obtidos no Plaxis seguem a mesma tendência, tomando valores máximos
igualmente no topo da cortina, mas apresentando valores superiores – cerca de 17 mm. Esta situação
era expectável, uma vez que o processo de modelação é mais conservativo.

90
Deslocamentos horizontais da cortina (mm)
0 -5 -10 -15 -20
0

Profundidade (m)
8

10

12

14

16

18

Gráfico 8 - Gráfico do inclinómetro 5 Gráfico 9 - Corte Tipo 1: Deslocamentos horizontais da


parede no final da escavação obtidos no Plaxis

Através destes gráficos pode, ainda, constatar-se que os deslocamentos da cortina junto à base de
escavação são muito pequenos, o que permite considerar o comprimento do encastramento de 4 m
adequado.

Deslocamentos no túnel vizinho

Outra análise que se julgou pertinente fazer foi a evolução dos deslocamentos no túnel vizinho ao
recinto da escavação. Nas paredes interiores do túnel foram instalados oito alvos topográficos, sendo
que quatro deles – Alvos 31, 32, 33 e 34 – estão localizados na direcção das bandas de laje,
podendo-se assim, comparar os deslocamentos. A disposição dos alvos em planta pode ser
observada na Figura 52, notando a posição destes alvos no túnel e a posição das bandas de laje.
Numa extrapolação para o modelo criado, os alvos 31 e 32 localizar-se-iam na parede mais próxima
das bandas de laje, e os alvos 33 e 34 na parede oposta.

Como foi anteriormente mencionado no capítulo referente à instrumentação, os deslocamentos nos


alvos foram medidos em coordenadas M e P. Desta forma, teve de se proceder a uma transformação

91
trigonométrica destas coordenadas em X e Y para se obterem os deslocamentos horizontais medidos
nestes alvos. No Alçado AD, onde foram executadas as bandas de laje, os deslocamentos
horizontais, passíveis de serem comparados com os resultados do Plaxis, encontram-se segundo o
eixo X.

Uma análise aos deslocamentos medidos nestes alvos desde a data da sua instalação (5 de Maio)
até à última leitura feita (2 de Setembro) revela que os maiores deslocamentos ocorreram nos alvos
31 e 33, tomando os valores de 5,0 mm e 5,9 mm, respectivamente. Estes deslocamentos foram
medidos no dia 8 de Julho no alvo 31 e no dia 15 do mesmo mês no alvo 33, altura em que a
escavação final já estava finalizada. Estes valores correspondem, portanto, aos deslocamentos
horizontais máximos verificados no túnel.

O cálculo numérico fornece, como seria de esperar, valores superiores para estes deslocamentos. A
comparação entre estes valores e os da instrumentação pode ser melhor observada na Tabela 27. De
notar que os valores em ambas as paredes são praticamente idênticos e pequenos o suficiente para
não comprometerem a segurança desta estrutura.

Tabela 27 - Comparação entre os deslocamentos medidos no túnel pela instrumentação e na modelação

DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS MÁXIMOS VERIFICADOS NO TÚNEL (mm)

Parede próxima das bandas de laje Parede oposta


Instrumentação Plaxis Instrumentação Plaxis
5,0 mm 12,6 5,9 mm 12,7

6.5.2. Corte Tipo 2

Da modelação deste corte apurou-se que o maior deslocamento horizontal na cortina se verificava no
topo da mesma, tomando um valor de cerca de 25 mm. Pensou-se, então, que numa primeira fase
seria interessante comparar os deslocamentos no topo da cortina.

Deslocamentos no topo da cortina

Procedeu-se à comparação do valor de 25,1 mm obtido no Plaxis com os valores lidos nos alvos
topográficos localizados no topo da cortina de estacas em secções correspondentes a este corte.

Tabela 28 - Deslocamentos horizontais no topo da cortina de estacas no final da escavação

CORTE TIPO 2

Maior
Alvo no topo da
Alçado deslocamento
cortina
(mm)
HI 20 24,5
JK 17 19,9
ALÇADO NORTE
LM 14 13,8
PQ 11 13,1
ALÇADO NORDESTE ST 8 15,6

92
Na Tabela 28 indica-se para cada alçado, o maior deslocamento observado no topo da cortina no
final da construção e o alvo correspondente.

NOTA: No Anexo II encontra-se a planta da obra com os alçados referidos devidamente assinalados. Na Figura
52, no subcapítulo 5.3.1.2. referente aos alvos topográficos encontra-se a localização exacta dos mesmos.

Da análise da Tabela 28 observa-se que o deslocamento que mais se assemelha ao obtido na


modelação é o lido no alvo 20, pelo que se julgou interessante fazer uma análise dos deslocamentos
lidos neste alvo ao longo do processo construtivo. Além disso, é o que apresenta um maior
deslocamento, tornando a próxima análise numa análise conservativa. De referir ainda, que o Alvo 20
está localizado no Alçado Norte da parede de contenção, onde vizinhança não apresenta estruturas
sensíveis cuja segurança possa ser comprometida, pelo que o valor de 24,5 mm é considerado
aceitável.

Tabela 29 - Deslocamentos horizontais medidos no topo da cortina durante o processo construtivo

DESLOCAMENTO HORIZONTAL NO TOPO DA CORTINA (mm)


Plaxis Alvo 20
1ª Escavação 21,3 6,6
1ª Ancoragem 15,5 0,8
2ª Escavação 19,2 17,5
2ª Ancoragem 18,8 15,9
3ª Escavação 20,7 23,6
3ª Ancoragem 21,0 23,2
Escavação final 25,1 24,5

Da análise da Tabela 29 verifica-se que os valores de deslocamentos vão-se aproximando à medida


que se avança com o processo construtivo, sendo que os valores obtidos na modelação são
ligeiramente superiores. Apesar de na escavação final os resultados serem semelhantes, observa-se
que ao nível da 1ª Escavação/1ª Ancoragem a diferença entre valores reais e valores obtidos é
bastante significativa.

De acordo com os resultados obtidos a partir do Alvo 20, o primeiro nível de ancoragens consegue
recuperar quase a totalidade do deslocamento devido à escavação do primeiro nível, sendo que é,
neste caso, o segundo nível de escavação o responsável pela evolução dos resultados no sentido
esperado. Observa-se assim que, neste caso, o segundo nível de ancoragens desempenha um papel
mais relevante na alteração do estado de tensão do solo, preparando as fases de escavação
seguintes. Não obstante os erros de leitura e, ainda, o facto desta análise se basear num único alvo,
tal situação poderá dever-se ao facto do bolbo de selagem do primeiro nível de ancoragens não estar
situado no terreno mais competente. Relativamente à diferença observada no Plaxis, não esquecer
que este é um programa conservativo.

93
Deslocamentos em profundidade

Após uma análise aos deslocamentos no topo da cortina, mais concretamente ao alvo 20, localizado
no Alçado Norte da obra, procede-se com uma análise em profundidade no Alçado Nascente da obra,
o Alçado ST.

No Alçado ST foram instalados alvos em profundidade com a disposição apresentada na Figura 68. O
alvo 8 foi colocado imediatamente abaixo da viga de coroamento, enquanto o 9 e 10 foram instalados
nas vigas de distribuição seguintes.

Cotas (m)
A8
74,65

A9
71,95

A10
69,25

66,53

Figura 68 - Localização esquemática dos alvos no Alçado ST. (Adaptado de JetSJ, 2013)

À semelhança do que foi feito para o Corte Tipo 1, também nesta análise se procedeu à
transformação das coordenadas M e P em X e Y para a obtenção dos deslocamentos horizontais
medidos nestes alvos e ilustrados no Gráfico 10. No Alçado ST os deslocamentos horizontais,
passíveis posteriormente de serem comparados com os resultados do Plaxis, encontram-se segundo
o eixo X.

LADO
Deslocamentos no Alçado ST medidos nos alvos TERRENO
2
LADO
0 ESCAVAÇÃO
1/mai

21/mai

9/ago
10/jun

29/ago
11/abr

20/jul
30/jun

-2
-4
Deslocamento (mm)

-6
-8
-10
-12
1ª Anc.

2ª Anc.

-14
-16
-18
Data
Alvo 8 Alvo 9 Alvo 10

Gráfico 10 - Deslocamentos horizontais medidos nos alvos 8, 9 e 10

94
No mesmo gráfico são indicados os momentos em que os dois níveis de ancoragens estão já
executados, não correspondendo obrigatoriamente estes momentos à data da sua execução. Isto
porque as medições são efectuadas com intervalos regulares e não necessariamente após cada fase
construtiva considerada.

De notar neste gráfico a recuperação dos deslocamentos após o tensionamento de cada nível de
ancoragens, o que resulta numa movimentação da cortina no sentido contrário ao interior da
escavação.

Por forma a fazer uma comparação dos deslocamentos fornecidos pela instrumentação com os
deslocamentos obtidos no Plaxis foi necessário simular nos resultados obtidos pelo programa as
datas em que cada fase construtiva ocorreu.

Para cada fase de construção no programa atribuiu-se a data correspondente à sua realização
concreta em obra. Além disso, como o programa fornece os deslocamentos ao longo de toda a
cortina, foi possível simular a posição dos alvos no mesmo. Fez-se corresponder ao alvo 8, 9 e 10 os
alvos a, b e c respectivamente. Construiu-se, assim, o Gráfico 11 onde são apresentados os
deslocamentos no programa em função do tempo (linhas a cheio) e os deslocamentos efectivamente
medidos nos alvos 8, 9 e 10 (linhas a traço interrompido), também em função do tempo.

No Gráfico 11 constata-se que o andamento dos alvos simulados no programa é semelhante aos
alvos colocados em obra, notando-se mais uma vez, que nas zonas correspondentes à instalação do
pré-esforço nas ancoragens, existe uma recuperação dos deslocamentos da cortina. À semelhança
do observado para o topo da cortina, também em profundidade os deslocamentos obtidos no Plaxis
são superiores aos reais, o que corrobora novamente a o princípio de que o programa faz um cálculo
conservativo (ver também resultados do inclinómetro 4 no Gráfico 12).

De notar que as leituras no alvo 10 (linha tracejada a verde) terminam mais cedo porque a construção
das lajes dos pisos começa, de baixo para cima, ao nível deste alvo.

Outra aproximação que foi feita para tornar possível esta comparação teve a ver com o facto de o
Plaxis dar unicamente os valores dos deslocamentos para cada fase construtiva ao longo da cortina.
Desta forma, os valores entre fases construtivas resultaram de aproximações, o que também contribui
para que os desníveis verificados aquando da aplicação das ancoragens sejam mais evidentes no
gráfico resultante da instrumentação.

Também os resultados do inclinómetro colocado nesta secção da obra se apresentam semelhantes,


como se pode observar no Gráfico 12: a cortina flecte para o interior da escavação (sentido A+),
apresentando maiores deslocamentos no topo (cerca de 21 mm). A última leitura que foi feita tem a
data de 11 de Julho, altura em que se procedeu à construção da laje do piso -3.

95
Deslocamentos horizontais no Alçado ST LADO
TERRENO
5
LADO
0 ESCAVAÇÃO

9/ago
1/mai

21/mai
11/abr

29/ago
10/jun

30/jun

20/jul
-5
Deslocamento (mm)

-10

-15

-20

-25

-30
Data
Alvo 8 Alvo 9 Alvo 10
Alvo a Alvo b Alvo c

Gráfico 11 - Deslocamentos horizontais da cortina no Alçado ST

Os resultados obtidos no inclinómetro apresentam-se em seguida no Gráfico 12.

LADO LADO
TERRENO ESCAVAÇÃO

Gráfico 12 - Gráfico do inclinómetro 4

96
Numa comparação aos dois tipos de solução de travamento, a diferença mais evidente a referir é o
valor do deslocamento máximo verificado na cortina de contenção. Observa-se que o travamento por
meio de bandas de laje assegura menores deslocamentos da cortina. Esta situação era expectável,
uma vez que a solução em bandas de laje apresenta uma rigidez bastante superior, o que se reflecte
num maior travamento da parede de contenção, minimizando os deslocamentos da mesma.

6.6. Retroanálise

A realização de uma retroanálise tem como principal objectivo a compreensão do comportamento do


terreno presente no caso de estudo, tendo em especial atenção que a sua extrapolação para outras
situações não deve ser directa, nem linear.

A retroanálise assume especial importância neste caso em que os deslocamentos previstos no Plaxis
foram razoavelmente superiores aos resultados da instrumentação. Deste modo, considera-se
apropriada a hipótese de que os solos apresentam uma resistência superior à considerada na
modelação.

O estudo consistiu, assim, numa análise paramétrica das camadas de solo intervenientes, definindo
novas caracterizações destas camadas consideradas na modelação no programa, e tendo em vista a
aproximação dos resultados daí provenientes com os resultados obtidos na instrumentação.

6.6.1. Análise paramétrica

O primeiro passo para a realização da análise paramétrica foi a decisão dos parâmetros que seriam
alterados. Esta baseou-se essencialmente em várias iterações que contemplaram, numa primeira
fase, a alteração de cada um dos parâmetros individualmente e, numa fase posterior, a consideração
simultânea de alguns deles. O módulo de elasticidade e o ângulo de resistência ao corte
revelaram ser os parâmetros cuja alteração teve maior impacto nos resultados, pelo que nas
iterações apresentadas de seguida, são esses os parâmetros alvo.

6.6.1.1. Corte Tipo 2


Para esta análise partiu-se do Corte Tipo 2, o qual corresponde à secção representativa dos maiores
deslocamentos na obra.

Como o principal objectivo deste estudo foi aproximar os resultados da instrumentação dos da
modelação, houve a necessidade de definir um valor de deslocamento de referência proveniente da
instrumentação, já que os deslocamentos observados variaram consoante o alçado.

Este valor será definido para o topo da cortina, que é a zona que apresenta maiores deslocamentos.
Será, no entanto, garantido que a sua deformada segue o mesmo andamento, para que a
extrapolação possa ser considerada válida em toda a altura da cortina.

Para a definição deste valor de referência foi consultada a Tabela 28. Nesta tabela são apresentados
os deslocamentos horizontais no topo da cortina após a última fase de escavação. Observa-se que é
nos alçados HI e JK que a cortina se desloca mais, sendo que, as condições de vizinhança destes
alçados permitem que tal aconteça. Assim, e tendo em conta os deslocamentos menores nos

97
restantes alçados, julgou-se pertinente adoptar o valor de referência de 15 mm para a
instrumentação.

A primeira análise é relativa à camada superficial e aterros (ZG3), a segunda à camada de argilas e
calcários dos prazeres (ZG2) e a terceira à camada de argilas e calcários dos prazeres com melhores
condições geotécnicas (ZG1). Considerou-se pertinente referir novamente os parâmetros
considerados para a caracterização inicial do terreno, apresentados na Tabela 30.

Tabela 30 - Caracterização inicial do solo

ZONAS GEOTÉCNICAS

ZG3 ZG2 ZG1


PARÂMETROS
Aterros e solos Argilas e Argilas e
argilosos calcários dos calcários dos
prazeres prazeres
Tipo de material Drenado Não drenado Não drenado
3
γunsat [kN/m ] 17 19 19
3
γsat [kN/m ] 19 22 22
2
[kN/m ] 10 000 20 000 60 000
2
[kN/m ] 10 000 20 000 60 000
2
[kN/m ] 30 000 60 000 180 000
2
c’ [kN/m ] 5 40 75
φ' [˚] 28 30 37
Ψ [˚] 0 0 0
m [-] 0,5 0,5 0,5

Apresentam-se, em seguida, os parâmetros alterados na camada de aterros. Considerou-se que a


camada de aterros se poderia encontrar mais compactada por acções exteriores ao longo dos anos,
neste caso, pela passagem de veículos.

Na Tabela 31 encontra-se a caracterização do terreno considerado na retroanálise. Os parâmetros


alterados encontram-se a sombreado na tabela.

Tabela 31 - Caracterização do solo - Optimização da camada ZG3

ZONAS GEOTÉCNICAS

ZG3 ZG2 ZG1


PARÂMETROS
Aterros e solos Argilas e Argilas e
argilosos calcários dos calcários dos
prazeres prazeres
Tipo de material Drenado Não drenado Não drenado
3
γunsat [kN/m ] 17 19 19
3
γsat [kN/m ] 19 22 22
2
[kN/m ] 20 000 20 000 60 000
2
[kN/m ] 20 000 20 000 60 000
2
[kN/m ] 60 000 60 000 180 000
2
c’ [kN/m ] 5 40 75
φ' [˚] 30 30 37
Ψ [˚] 0 0 0
m [-] 0,5 0,5 0,5

98
Na Tabela 32 encontram-se os deslocamentos horizontais na cortina obtidos no final da escavação
através da instrumentação, da modelação inicial e, finalmente da modelação considerando a
optimização da camada ZG3.

Tabela 32 – Comparação dos deslocamentos máximos finais na cortina após optimização da ZG3

DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS MÁXIMOS NA CORTINA (mm)


Instrumentação 15,0
Plaxis - Modelação inicial 25,1
Plaxis – Optimização da camada ZG3 20,5

Da análise da Tabela 32 constata-se que houve uma ligeira melhoria dos resultados face à solução
inicial, mas que, ainda assim, se afasta um pouco dos resultados obtidos através da instrumentação.

Procedeu-se, então, à alteração de algumas características da camada ZG2, mantendo os


parâmetros iniciais da camada ZG3, de modo a melhor apurar a influência que cada camada tem nos
deslocamentos. Os parâmetros alterados encontram-se na Tabela 33 a sombreado.

Tabela 33 - Caracterização do solo - Optimização da camada ZG2

ZONAS GEOTÉCNICAS

ZG3 ZG2 ZG1


PARÂMETROS
Aterros e solos Argilas e Argilas e
argilosos calcários dos calcários dos
prazeres prazeres
Tipo de material Drenado Não drenado Não drenado
3
γunsat [kN/m ] 17 19 19
3
γsat [kN/m ] 19 22 22
2
[kN/m ] 10 000 40 000 60 000
2
[kN/m ] 10 000 40 000 60 000
2
[kN/m ] 30 000 120 000 180 000
2
c’ [kN/m ] 5 40 75
φ' [˚] 28 35 37
Ψ [˚] 0 0 0
m [-] 0,5 0,5 0,5

Na Tabela 34 encontram-se os deslocamentos horizontais finais obtidos na cortina após a


optimização da camada ZG2, susceptíveis de serem comparados com os deslocamentos resultantes
da modelação inicial e da instrumentação.

Tabela 34 - Comparação dos deslocamentos máximos finais na cortina após optimização da ZG2

DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS MÁXIMOS NA CORTINA (mm)


Instrumentação 15,0
Plaxis - Modelação inicial 25,1
Plaxis – Optimização da camada ZG2 20,6

Numa comparação dos deslocamentos obtidos na primeira iteração desta retroanálise com os
deslocamentos resultantes da optimização da segunda camada, observa-se que estes são
praticamente coincidentes. Tal situação pode levar à conclusão de que a influência da melhoria dos

99
parâmetros da primeira e da segunda camada nos deslocamentos finais é idêntica. No entanto, não
se pode deixar de notar que os deslocamentos máximos que estão aqui a ser comparados ocorrem
no topo da cortina, na camada correspondente à ZG3, sendo que esta camada nesta segunda
iteração não foi alvo de optimização.

Face a esta observação, optou-se na iteração seguinte por melhorar as propriedades da camada
mais profunda, ZG1, em conjunto com a optimização das outras camadas, considerando, assim, a
sobreposição de efeitos. Na Tabela 35 encontram-se os parâmetros alterados em cada camada a
sombreado, sendo que na camada ZG1 se optou por inicialmente apenas alterar o seu módulo de
elasticidade.

Tabela 35 - Caracterização do solo - Optimização total

ZONAS GEOTÉCNICAS

ZG3 ZG2 ZG1


PARÂMETROS
Aterros e solos Argilas e Argilas e
argilosos calcários dos calcários dos
prazeres prazeres
Tipo de material Drenado Não drenado Não drenado
3
γunsat [kN/m ] 17 19 19
3
γsat [kN/m ] 19 22 22
2
[kN/m ] 20 000 40 000 80 000
2
[kN/m ] 20 000 40 000 80 000
2
[kN/m ] 60 000 120 000 240 000
2
c’ [kN/m ] 5 40 75
φ' [˚] 30 35 37
Ψ [˚] 0 0 0
m [-] 0,5 0,5 0,5

A esta análise paramétrica deu-se o nome optimização total cujos resultados se encontram na Tabela
36.

Tabela 36 - Comparação dos deslocamentos máximos finais na cortina após optimização total

DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS MÁXIMOS NA CORTINA (mm)


Instrumentação 15,0
Plaxis - Modelação inicial 25,1
Plaxis – Optimização total 15,3

Analisando os deslocamentos obtidos após a optimização total, conclui-se que os resultados desta
análise foram satisfatórios, uma vez que se aproximam bastante dos valores reais da instrumentação.

Não depreciando os resultados obtidos nesta última iteração, foi realizada uma outra optimização
considerando apenas o melhoramento dos parâmetros da camada superficial de aterros, ZG3, e da
camada seguinte, ZG2. A razão da opção por esta iteração tem dois motivos: o primeiro prende-se
com a optimização da segunda camada isolada, a qual não aparentou ter influência no deslocamento
final do topo da cortina; o segundo está relacionado com o facto de estas alterações serem
extrapolações, pelo que, caso não seja relevante a contribuição de algum parâmetro, é aconselhável
que este mantenha o valor inicial. Os parâmetros alterados encontram-se a sombreado na Tabela 37.

100
Tabela 37 - Caracterização do solo - Optimização de ZG3 e ZG2

ZONAS GEOTÉCNICAS

ZG3 ZG2 ZG1


PARÂMETROS
Aterros e solos Argilas e Argilas e
argilosos calcários dos calcários dos
prazeres prazeres
Tipo de material Drenado Não drenado Não drenado
3
γunsat [kN/m ] 17 19 19
3
γsat [kN/m ] 19 22 22
2
[kN/m ] 20 000 40 000 60 000
2
[kN/m ] 20 000 40 000 60 000
2
[kN/m ] 60 000 120 000 180 000
2
c’ [kN/m ] 5 40 75
φ' [˚] 30 35 37
Ψ [˚] 0 0 0
m [-] 0,5 0,5 0,5

Na Tabela 38 apresentam-se os deslocamentos finais obtidos para esta iteração que considera o
melhoramento das duas camadas superiores. Estes resultados, comparativamente à extrapolação
anterior, não são tão aproximados dos resultados reais. No entanto, evidenciam que apesar da
contribuição individual da segunda camada não ser muito significativa, justifica-se a sua contribuição
em conjunto com a primeira na aproximação aos parâmetros do solo.

Tabela 38 - Comparação dos deslocamentos máximos finais na cortina após optimização de ZG3 e ZG2

DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS MÁXIMOS NA CORTINA (mm)


Instrumentação 15,0
Plaxis - Modelação inicial 25,1
Plaxis – Optimização das camadas ZG1 e ZG2 17,1

No capítulo seguinte é concebida uma optimização da solução construtiva adoptada em obra. Para
tal, será considerada a sobreposição de efeitos das três camadas, uma vez que foi a extrapolação
que mais se aproximou dos resultados reais. Assim, o solo na modelação desta nova solução terá os
parâmetros indicados na Tabela 35.

6.6.1.2. Corte Tipo 1


Uma vez aplicadas as novas condições geotécnicas na secção representativa Corte Tipo 2 e tendo
obtido deslocamentos mais próximos dos da instrumentação, procedeu-se ao apuramento dos
deslocamentos secção Corte Tipo 1, nestas mesmas condições. Os resultados obtidos na cortina de
contenção encontram-se na Tabela 39. Apesar dos deslocamentos medidos a par da optimização
total serem ligeiramente inferiores ao da instrumentação, considera-se que esta diferença de 2 mm
pode ser desprezável.

101
Tabela 39 - Comparação dos deslocamentos máximos finais na cortina no Corte Tipo 1, após optimização
total

DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS MÁXIMOS NA CORTINA (mm)


Instrumentação 12,5
Plaxis - Modelação inicial 17,0
Plaxis – Optimização total 10,5

Foi também importante verificar os deslocamentos a que ficou sujeito o túnel nas novas condições.
Como se pode observar na Tabela 40, neste cenário geotécnico os valores medidos já se aproximam
bastante dos valores aferidos em obra, pelo que também se poderá prever a segurança deste
elemento estrutural neste contexto.

Tabela 40 - Deslocamentos medidos no túnel pela instrumentação, na modelação inicial e na modelação


após optimização total

DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS MÁXIMOS VERIFICADOS NO TÚNEL (mm)

Parede próxima das bandas de laje Parede oposta


Instrumentação Plaxis Plaxis Instrumentação Plaxis Plaxis
Modelação Optimização Modelação Optimização
inicial total inicial total
5,0 mm 12,6 7,2 5,9 mm 12,7 7,2

A retroanálise efectuada permitiu apurar valores de deslocamentos bastante mais próximos da


realidade do que a modelação inicial, pressupondo a existência de um terreno em obra com
propriedades médias melhores às consideradas inicialmente. De referir ainda que os deslocamentos
obtidos são pequenos o suficiente para que se possa pensar numa solução alternativa mais favorável
do ponto de vista económico, e que continue a responder bem em termos estruturais. Tendo por base
estes pressupostos, apresenta-se no capítulo seguinte uma proposta de optimização da solução
adoptada em obra, com o respectivo suporte numérico.

6.7. Proposta de optimização da solução

A proposta de optimização apresentada neste capítulo incide, essencialmente, no modo como a


parede de contenção é travada. Deste modo é apresentado um estudo dos deslocamentos
horizontais máximos nas duas situações que serão de seguida descritas.

De mencionar, ainda, que neste capítulo quando há uma referência à solução inicial, se trata da
solução que se obteve mais próxima dos resultados da modelação, após o estudo paramétrico.

6.7.1.Optimização do travamento por ancoragens

Nesta solução que pretende optimizar a parede de contenção periférica propõe-se um aumento da
distância entre as ancoragens, mantendo o diâmetro e o afastamento entre as estacas (Tabela 41). A
manutenção deste último parâmetro prende-se com a estabilização do terreno entre as estacas
através do efeito de arco.

102
Tabela 41 - Alterações propostas para a solução de optimização da cortina de estacas

SOLUÇÃO EXECUTADA SOLUÇÃO PROPOSTA


Afastamento entre estacas [m] 1,2 1,2
Afastamento entre ancoragens [m] 3,8 5,0
Diâmetro das estacas [m] 0,6 0,6

A alteração do afastamento entre as ancoragens pressupõe a alteração do valor da força de


tensionamento, por metro linear, para os três níveis de ancoragens, indicada na Tabela 42.

Tabela 42 – Alterações das características dos elementos das ancoragens

SOLUÇÃO EXECUTADA SOLUÇÃO PROPOSTA


Pútil (kN) 700 700
Lspacing 3,8 5,0
Pútil (kN/m) 194 140

O procedimento adoptado no cálculo numérico da nova solução é idêntico ao realizado no capítulo da


modelação numérica (Capítulo 6). Manteve-se a geometria do modelo, alterando apenas as
características dos elementos que simulam as ancoragens, de acordo com a Tabela 42.

Relativamente ao cenário geotécnico, foram considerados os parâmetros resultantes do estudo


paramétrico realizado anteriormente, como já foi referido.

A Figura 69 ilustra a deformada da cortina de contenção nas novas condições, no final da escavação,
que se revela semelhante à da solução inicial, com os deslocamentos máximos a ocorrerem no topo
da cortina.

Figura 69 - Corte Tipo 2: Configuração deformada da cortina optimizada no final da escavação (ampliada
100 vezes)

Na Figura 70 são apresentados os deslocamentos da parede de contenção da solução proposta, bem


como os deslocamentos iniciais, por forma a facilitar a sua comparação.

103
a) Deslocamento total b) Deslocamento horizontal c) Deslocamento vertical

SOLUÇÃO PROPOSTA Máximo = 17,39 mm Máximo = 17,39 mm Máximo = -3,56 mm

SOLUÇÃO INICIAL Máximo = 15,72 mm Máximo = 15,33 mm Máximo = -3,47 mm

Figura 70 - Corte Tipo 2: Deslocamentos da cortina travada por ancoragens na fase final da escavação: a)
Deslocamento total; b) Deslocamento horizontal; c) Deslocamento vertical

NOTA: Considera-se como solução inicial a modelação da solução adoptada em obra, após se ter executado a
análise paramétrica.

Verifica-se, como seria de esperar, que os valores da solução proposta são ligeiramente superiores
aos da solução inicial. Tal ocorre devido ao aumento do afastamento entre as ancoragens, que tem
como consequência uma diminuição da distribuição do pré-esforço na cortina. Deste modo, após o
tensionamento, a recuperação dos deslocamentos na direcção do maciço não escavado é menos
significativa, pelo que a contribuição, essencialmente do primeiro nível de ancoragens, é menor.

Ainda assim, os deslocamentos revelam ser reduzidos o suficiente, tendo em conta das condições de
vizinhança, para que se considere a adequabilidade desta nova solução neste contexto. Esta solução
requereria, igualmente, um plano de monitorização para o controlo do comportamento da estrutura e
do seu efeito na envolvente.

6.7.2. Optimização do travamento por bandas de laje

No alçado travado por bandas de laje os deslocamentos revelaram-se bastante pequenos quando
comparados com os restantes deslocamentos em obra. Não obstante as condições de vizinhança
neste alçado, as quais limitam bastante a gama de resultados aceitáveis para que a segurança do
túnel não seja comprometida, considera-se que se dispõe ainda de alguma folga que justifica uma
intervenção a este nível.

No seguimento do parecer anterior, foi-se apurar o papel do segundo nível de bandas de laje no
travamento da cortina. Para isso, alterou-se a geometria do modelo adoptado em obra, eliminando o
elemento que simulava este nível de travamento. A configuração deformada da cortina nestas
condições é apresentada na Figura 71.

104
Figura 71 - Corte Tipo 1: Configuração deformada da cortina sem o segundo travamento no final da
escavação (ampliada 100 vezes)

A configuração deformada mantém-se idêntica à da solução inicial, sendo que a diferença mais
evidente é o expectável aumento dos deslocamentos, uma vez que está a ser eliminado um elemento
de travamento. Na Figura 72 é possível comparar os deslocamentos máximos verificados na cortina
na solução inicial com esta nova solução. De facto, o aumento dos deslocamentos na parede de
contenção não é muito significativo, faltando, no entanto, verificar também as movimentações no
túnel vizinho para confirmar a adequabilidade desta solução.

a) Deslocamento total b) Deslocamento horizontal c) Deslocamento vertical

SOLUÇÃO PROPOSTA Máximo = 11,23 mm Máximo = 11,14 mm Máximo = -1,40 mm

SOLUÇÃO INICIAL Máximo = 10,65 mm Máximo = 10,51 mm Máximo = -1,21 mm

Figura 72 - Corte Tipo 2: Deslocamentos da cortina travada por bandas de laje na fase final da escavação:
a) Deslocamento total; b) Deslocamento horizontal; c) Deslocamento vertical

A análise da Tabela 43 vem confirmar a possibilidade de execução desta solução em termos de


deslocamentos máximos. Observa-se que da solução inicial para a solução onde a cortina é
unicamente travada por um troço de laje, os deslocamentos horizontais críticos no túnel aumentam
apenas 1 mm.

105
Tabela 43 - Deslocamentos horizontais máximos medidos no túnel na solução adoptada e na solução
proposta

DESLOCAMENTOS HORIZONTAIS MÁXIMOS VERIFICADOS NO TÚNEL (mm)

Parede próxima das bandas de laje Parede oposta


Plaxis Plaxis
Plaxis Plaxis
Solução proposta Solução proposta
Solução adoptada Solução adoptada
7,2 8,2 7,2 8,2

Caso se optasse por esta solução em que o segundo troço de bandas de laje é suprimido, teriam, no
entanto, de ser previstas algumas condições acrescidas que garantissem a segurança deste conjunto
estrutural formado pelo primeiro nível de laje e pelos perfis metálicos que lhe servem de apoio.

Na solução executada e numa fase provisória, os perfis metálicos com altura equivalente aos 4 pisos
enterrados são contraventados pelo segundo troço de laje. Na situação proposta estes perfis estariam
sujeitos a esforços que poderiam comprometer a sua segurança à encurvadura, pelo que novos
elementos de travamento teriam de ser considerados. Além disso, as estacas que acomodam as
reacções horizontais transmitidas pela banda de laje do primeiro nível às paredes perpendiculares
teriam de ser reforçadas, uma vez que estariam sujeitas a esforços muito maiores.

6.8. Análise económica

Com este subcapítulo pretende-se apurar o impacto da solução alternativa idealizada no custo da
cortina contenção periférica, incluindo os travamentos por troços de laje. O primeiro passo foi então
determinar, através da consulta do mapa de quantidades da obra, o custo total da contenção
periférica executada. Para isso foram contabilizados os elementos apresentados na Tabela 44,
originando um custo total de 543 876, 09€.

De referir que o custo da parede de contenção periférica considerado nesta análise não inclui
elementos que no mapa de quantidades são contabilizados no custo total da mesma. Exemplos
destes elementos são os dispositivos de drenagem, a instrumentação e, neste caso, o Muro de
Berlim, entre outros. A opção por desprezar os custos destes elementos nesta análise prendeu-se
com questões de simplificação da leitura, uma vez que estes elementos seriam comuns a ambas as
soluções.

Relembrando as alterações praticadas na solução inicial, optou-se por reduzir o número de


ancoragens através do aumento do afastamento entre as mesmas e, ao nível dos travamentos da
cortina, prescindiu-se do segundo troço de laje.

De forma a entrar com estas alterações nos custos expostos na Tabela 44, considerou-se, de forma
aproximada, que o custo da execução de apenas um troço de laje seria metade do custo total da
secção “bandas de laje” na mesma tabela, isto é, 8 853,51€.

106
Tabela 44 - Estudo orçamental da cortina de contenção periférica inicial

Unidade Quantidade Custo Unitário [€] Custo total [€]


Furação m 3 175,2 33,14 105 226,13
3
Betão m 897,3 67,47 60 541,61
CORTINA DE ESTACAS
Armadura kg 190 230,0 0,79 150 281,73
Saneamento das
estacas un 184 38,11 7 012,24
TOTAL 323 061,71
2
Cofragem m 1 128,0 8,64 9 745,92
VIGAS DE
COROAMENTO Aço kg 67 680,0 0,79 53 467,20
3
Betão m 338,4 55,98 18 943,63
TOTAL 82 156,75
2
Cofragem m 987,0 11,6 11 449,20
VIGAS DE
DISTRIBUIÇÃO Aço kg 63 732,0 0,79 50 348,28
3
Betão m 282,0 55,98 15 786,36
TOTAL 77 583,84
2
Cofragem m 30,1 11,35 341,64
Aço kg 10 889,6 0,79 8 602,78
BANDAS DE LAJE
3
Betão m 136,1 55,98 7 620,00
2
Betão de regularização m 38,4 3,71 142,61
TOTAL 16 707,03
1º Nível (22 unidades) m 360 45,18 16 264,8
ANCORAGENS 2º Nível (22 unidades) m 334 45,18 15 090,12
3º Nível (22 unidades) m 288 45,18 13 011,84
TOTAL 44 366,76

TOTAL CONTENÇÃO [€] 543 876,09

Reconhece-se que esta aproximação é bastante generalista uma vez que, em primeiro lugar, a
supressão de um dos troços levaria principalmente a uma economia de tempo, que não é aqui
contabilizada e, por outro lado, teriam de ser previstos os travamentos extra mencionados no capítulo
anterior, os quais iriam também iriam ter algum impacto neste valor.

Relativamente às ancoragens, a Tabela 45 apresenta as alterações efectuadas, resultantes em 17


unidades por nível, em vez das 22 unidades iniciais. Esta variação implicaria um custo total de
34 283,41€ na execução das ancoragens, por substituição ao custo inicial de 44 366,76€.

Tabela 45 - Estudo orçamental das ancoragens na solução alternativa

ANCORAGENS Unidade Quantidade Custo Unitário [€] Custo total [€]


1º Nível (17 unidades) m 278 45,18 12 568,25
2º Nível (17 unidades) m 258 45,18 11 660,55
3º Nível (17 unidades) m 223 45,18 10 054,60
TOTAL 34 283,41

107
Na Tabela 46 apresenta-se a contribuição de cada secção dos elementos considerados para o custo
total de execução da contenção periférica, observando-se que os elementos “bandas de laje” e as
“ancoragens” representam apenas 11,3% do custo total da contenção periférica.

Tabela 46 - Contribuição dos custos dos vários elementos para o custo total da contenção periférica

Representatividade no custo total da parede de contenção [%]


Cortina de estacas 59,4
Vigas de coroamento 15,1
Vigas de distribuição 14,3
Bandas de laje 3,1
Ancoragens 8,2

Da análise da tabela anterior constata-se que se se intercedesse ao nível da cortina de estacas, por
exemplo, aumentando o espaçamento entre estas, o impacto no custo seria bem mais significativo.
No entanto, neste caso, tal não seria aconselhável uma vez que, como referido anteriormente, um
espaçamento entre estacas superior a duas vezes o seu diâmetro poderia resultar numa perda do
efeito de arco.

De seguida, foi-se avaliar o impacto que esta redução teria no custo conjunto dos elementos alvo de
alterações: “bandas de laje” e “ancoragens” (Tabela 47).

Tabela 47 – Análise dos custos dos elementos “bandas de laje” e “ancoragens” em ambas as soluções

TOTAL [€]
Custo bandas de laje [€] 16 707,03
SOLUÇÃO INICIAL 61 073,79
Custo ancoragens [€] 44 366,76
Custo bandas de laje [€] 8 853,51
SOLUÇÃO ALTERNATIVA 43 136,92
Custo ancoragens [€] 34 283,41

Na Tabela 47 apresentam-se os custos referidos respeitantes à solução inicial e à solução alternativa.


Observa-se, assim, que a opção pela solução alternativa representaria um decréscimo de cerca de
30% deste custo, o que constitui uma percentagem bastante significativa.

108
7. Conclusões

7.1. Considerações finais

Este último capítulo constitui uma apreciação global do trabalho, considerando os objectivos
propostos inicialmente e o modo como foram cumpridos, e salientando os seus pontos cruciais.

Em primeiro lugar, e tendo em consideração o actual cenário económico, é de ressalvar a importância


da experiência internacional, realizada num país como o Brasil onde o sector da construção teve um
crescimento expressivo, como um complemento precioso à formação académica.

Em conjunto com esta experiência, e constituindo um excelente ponto de partida para a vida
profissional, destaca-se também o acompanhamento de uma obra geotécnica tão completa como a
ampliação do estacionamento do Hospital da Luz, em Lisboa. Além das visitas regulares terem
permitido seguir de perto os processos construtivos envolvidos e os materiais e equipamentos
utilizados, a frequência das reuniões de obra contribuiu, por um lado, para uma melhor compreensão
do papel de todas as partes intervenientes em obra, as suas funções e responsabilidades e, por
outro, para a necessidade de, em muitas situações, se ter que proceder a alterações ao projecto,
adaptando-o às características reais do local.

Relativamente à primeira parte desta dissertação, incidente em estacas como elemento de fundação,
evidencia-se a importância do controlo pós-execução das mesmas através de ensaios, ainda que o
controlo do processo de execução tenha sido rigoroso. Do ponto de vista económico, a detecção
atempada de anomalias durante a construção das fundações, bem como as consecutivas medidas de
correcção a tomar, não serão tão dispendiosas como rectificações a que se tenha de recorrer após a
construção da totalidade da estrutura.

Além desta conclusão, a realização de ensaios em estacas piloto em obras, antes da concretização
da fundação e em cuja dimensão da própria obra o justifique, pode significar a optimização do
projecto, reduzindo o número de estacas, a sua secção ou o seu comprimento. De referir ainda, o
interesse da realização de um programa de reconhecimento geotécnico, como contributo para um
projecto que compatibilize a segurança com a economia.

Na perspectiva da utilização de estacas em contenções periféricas, de ressalvar a utilização do


programa de cálculo numérico Plaxis 2D na concretização deste trabalho. Além de constituir mais
uma competência adquirida, permitiu a modelação da solução executada em obra, a modelação da
análise paramétrica do solo e, ainda, a modelação das alterações sugeridas à solução inicial. A
utilização dos resultados dos deslocamentos obtidos no programa permitiu a comparação dos
movimentos previstos com os reais, medidos pela instrumentação instalada em obra. Através desta
análise comparativa constatou-se que, apesar da deformada prevista para a estrutura de contenção
ser idêntica à real, os valores dos movimentos previstos na modelação foram significativamente
superiores aos movimentos reais.

109
O plano de instrumentação e observação implementado revelou tratar-se de uma ferramenta
indispensável em obras geotécnicas como esta, às quais está associado um elevado grau de
incerteza. Ao dar a conhecer os movimentos da estrutura de contenção e das estruturas vizinhas,
permitiu apurar e controlar os efeitos provocados nelas pela escavação e, desta forma, contribuir para
uma gestão de risco mais eficaz. No caso concreto desta obra, a presença do túnel de saída do
hospital nas imediações do recinto de escavação pressupôs um maior cuidado na interpretação dos
resultados do plano de instrumentação e observação neste alçado e no próprio túnel.

Atentando nos valores de deslocamentos medidos pela instrumentação, pode afirmar-se que a
solução executada foi muito competente na contenção das deformações dos solos. De facto, os
pequenos valores registados, especialmente no alçado travado por bandas de laje, desafiam a
idealização de uma solução menos conservativa, que naturalmente se revelará mais atractiva do
ponto de vista económico.

Em termos da realização deste trabalho, a implementação deste plano possibilitou toda a validação
da modelação numérica e a retroanálise. Esta última surgiu com base na análise comparativa
mencionada entre os deslocamentos medidos pelo programa e os obtidos através da instrumentação,
a partir da qual se verificou que os parâmetros do solo adoptados inicialmente eram bastante
conservativos. Assim, após várias iterações da influência que determinados parâmetros teriam nos
movimentos da estrutura de contenção, verificou-se que a variação do módulo de elasticidade e do
ângulo de resistência ao corte tinha maior impacto nos resultados. Com esta análise foi possível obter
resultados muito próximos dos reais, essencialmente, no que diz respeito aos deslocamentos
máximos ocorridos.

Neste contexto, e com base nos resultados referidos, propuseram-se então alterações à solução
executada, fazendo variar o número de ancoragens e suprimindo a banda de laje do segundo nível. A
partir destas alterações, foram concebidos dois novos modelos geométricos para testar a
exequibilidade desta solução alternativa em termos de deslocamentos admissíveis. De referir que as
condições de terreno consideradas neste estudo foram as obtidas através da retroanálise, com a qual
se pretendeu reproduzir mais condignamente as propriedades dos solos intervenientes.

Após uma breve análise económica do impacto que estas alterações teriam no custo da contenção
periférica, constatou-se que uma intervenção ao nível da cortina de estacas teria um impacto mais
significativo na redução de custos devido à sua representatividade no custo total da contenção. Por
intervenção a este nível entenda-se a diminuição do diâmetro das estacas, por exemplo, ou o
aumento do espaçamento entre elas. Contudo, observa-se que um espaçamento entre estacas
superior a duas vezes o seu diâmetro poderia resultar numa perda do efeito de arco, pelo que tal não
seria aconselhável neste caso.

Neste sentido, a solução alternativa pressupõe uma diminuição do número de ancoragens e a


supressão de um nível das bandas de laje. Tal alternativa, apesar de não contemplar os elementos
cuja diminuição do custo teria mais impacto no custo total da contenção periférica, representa ainda

110
uma diminuição considerável nos custos dos elementos alvos de alteração e, sobretudo, no prazo da
obra.

Por fim, de referir a visão da multiplicidade de funções que as estacas apresentam adquirida com
este trabalho. Em Portugal, onde a geologia é muito heterogénea, as soluções de fundações
adoptadas têm de se adaptar às singularidades geológicas/geotécnicas de cada cenário. Neste
contexto as estacas, que foram introduzidas como elemento de fundação, apresentam-se hoje em dia
como elemento fundamental das cortinas de contenção. Tal só foi possível devido ao grande avanço
tecnológico que se verificou nesta área, em conjunto com a necessidade de se criarem infra-
estruturas subterrâneas.

7.2. Desenvolvimentos futuros

Finalizando, reconhece-se a importância de destacar neste subcapítulo alguns aspectos que poderão
ser desenvolvidos futuramente, como contributo a vários níveis para a realização de projecto e
execução de obras de escavação e contenção periférica em meio urbano.

Em primeiro lugar, propõe-se a simulação das provas de carga estática analisadas nesta dissertação
no programa de cálculo de elementos finitos Plaxis, fazendo variar alguns parâmetros do solo, de
forma a interpretar a influência que estes têm na resistência última de uma estaca isolada.

Ainda neste âmbito, ambas as interpretações da curva carga-assentamento efectuadas aplicadas aos
casos práticos têm o intuito de determinar a carga de colapso da estrutura, dizendo portanto respeito
aos estados limite últimos. Deste modo, seria interessante uma análise relativamente aos estados
limites de utilização, onde seriam analisados os assentamentos admissíveis tendo em conta o tipo de
estrutura.

Relativamente ao assunto tratado no capítulo 6 deste trabalho, sugere-se a modelação deste caso de
estudo num programa de cálculo de elementos finitos em 3D, com o intuito de simular com maior rigor
o comportamento real da parede de contenção. Tal procedimento permitiria considerar todo o recinto
de escavação e não apenas os dois cortes tipo analisados neste trabalho em estado plano de
deformação, possibilitando a reprodução do efeito de arco entre as estacas da cortina.

A realização de uma retroanálise mais detalhada, alterando mais parâmetros geotécnicos, bem como
a utilização de outros modelos constitutivos para o solo permitiria testar outras hipóteses de cálculo,
sempre com o intuito de aproximar a simulação ao comportamento real do solo em questão. Ainda
neste âmbito, salienta-se o investimento num plano de prospecção geológico-geotécnica que inclua
um maior número de sondagens e, também, ensaios laboratoriais.

Dada a localização da obra em Lisboa, que se revela ser uma área de grande risco sísmico, propõe-
se uma análise de risco sísmico das soluções na fase definitiva.

Por fim, tendo em conta a expressividade do valor da cortina de estacas no valor total da contenção
periférica realizada, propõe-se um estudo relativamente ao aumento do espaçamento entre as
estacas superior a dois diâmetros, por forma a verificar a sua viabilidade.

111
112
Referências bibliográficas
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115
Anexos

Anexo I – Localização das sondagens geotécnicas

Anexo II – Planta do recinto de escavação

Anexo III – Registo da evolução da obra

A
B
Anexo I
Localização das sondagens geotécnicas

C
D
Anexo II

Planta do recinto de escavação

T
S
Q
P
M
K

L
I
J
H

E
F
Anexo III

Registo da evolução da obra


1 DE ABRIL DE 2014

Trabalhos de remoção da laje de betão


existente do pavimento rodoviário da
Avenida dos Condes de Carnide.

Execução das estacas do Alçado Nascente


através do sistema Rodiostar. Nesta
fotografia observa-se a introdução da
armadura no furo. A armadura é constituída
por uma peça única onde são colocados 3
níveis de espaçadores plásticos, e é
transportada até à obra em transporte
especial.

8 DE ABRIL DE 2014

Início da escavação do alçado confrontante


com o Hospital, o que começa a permitir
visualizar a parede moldada existente do
mesmo.

Saneamento da cabeça das estacas do


Alçado Norte. O saneamento é feito
inicialmente e na sua grande maioria pela
máquina mini robot observada na fotografia.

G
Execução do muro de Berlim provisório para
o desvio do colector. À medida que a
madeira vai sendo colocada em camadas
horizontais vai sendo introduzido solo atrás
das mesmas. Normalmente é utilizada areia
para este trabalho, contudo, neste caso, foi
utilizado o solo resultante dos trabalhos de
escavação no recinto. Como não se trata de
areia, este solo é colocado por camadas, e
não só no final da construção do muro.

15 DE ABRIL DE 2014

Saneamento da cabeça das estacas do


Alçado Nascente.

Instalação das ancoragens e colocação dos


alvos topográficos na Parede de Berlim.

H
Início da execução da viga de coroamento
no Alçado Norte.

16 DE ABRIL DE 2014

Início da betonagem da viga de


coroamento do Alçado Nascente, no canto
junto à parede do Hospital.

Colocação dos inclinómetros no Alçado


Nascente.

Colocação de perfis horizontais na Parede


de Berlim para posterior instalação das
ancoragens.

I
Início do primeiro nível de escavação no
Alçado Norte, deixando à vista um primeiro
troço das estacas moldadas executadas.

22 DE ABRIL DE 2014

Escavação do primeiro nível do Alçado


Nascente.

Visualização do muro de Berlim ancorado e


das estacas da cortina antes de se
proceder ao seu saneamento.

Avanço da escavação junto à parede


moldada do hospital. Neste momento
verificava-se um ligeiro atraso na obra.
Decidiu-se, então, iniciar uma plataforma
de trabalho junto ao alçado em contacto
com o hospital por ser uma zona de ligação
que, devido à sua complexidade,
demoraria mais tempo a ser executada.

J
29 DE ABRIL DE 2014

Continuação dos trabalhos de saneamento, execução da viga de coroamento e escavação nos


diferentes alçados.

Por esta altura, fizeram-se várias tentativas de pré-esforço nas ancoragens da Berlinesa, mas as
chapas dobraram em todas elas.

30 DE ABRIL DE 2014

Colocação de escoramentos de canto nas


vigas de coroamento entre os Alçados
Norte e Nascente.

Armação da primeira viga de distribuição


do Alçado Nascente.

K
Na execução das ancoragens na Berlinesa
deviam ter sido executadas umas mesas
onde assentariam os perfis metálicos com
a inclinação adequada para a correcta
instalação das ancoragens. A colocação
das madeiras, que se pode observar na
fotografia, foi uma forma de contornar o
facto de estas mesas não terem sido
executadas.

Furação para a introdução dos perfis


metálicos no Alçado Poente (travamento
através das bandas de laje)

Perfis metálicos a serem introduzidos nos


furos referidos.

L
6 DE MAIO DE 2014

Colocação de escoramentos de canto na


viga de distribuição do Alçado Nascente.

Execução de furos na viga de distribuição


do Alçado Nascente para a posterior
instalação das ancoragens.

Introdução dos perfis metálicos nos furos


realizados no Alçado Poente.

Por esta altura foram também instalados os alvos dentro do túnel.

13 DE MAIO DE 2014

Nova tentativa de colocação das madeiras


por forma a dar a inclinação adequada para
a correcção execução das ancoragens.

M
20 DE MAIO DE 2014

Colocação da cofragem e da armadura no


primeiro troço de laje a executar no Alçado
Poente.

Escavação do terceiro nível no Alçado


Nascente.

Execução das aberturas na parede moldada


do Hospital que estabelecem a ligação entre
o estacionamento original e o novo.

Iniciaram-se também, neste momento, as


obras no interior do parque de
estacionamento original.

Início da execução das sapatas de


fundação.

Execução também da sapata da grua que


vai ser instalada na obra.

N
27 DE MAIO DE 2014

Betonagem do primeiro troço de laje.

Colocação das armaduras dos pilares nas


sapatas.

20 DE JUNHO DE 2014

O primeiro troço de laje encontra-se


concluído, bem como o primeiro nível
de escavação correspondente.
Encontra-se também concluída a
betonagem do segundo nível de
bandas de laje, podendo, de seguida,
prosseguir-se com o segundo nível
de escavação.

Visualização do avanço da frente de


trabalho correspondente à estrutura
junto ao Alçado Sul, confrontante
com a parede moldada existente do
hospital.

O
Nesta fotografia é visível a execução
dos dois pisos inferiores, junto ao
Alçado Sul da obra, referente à frente
de trabalho mencionada na fotografia
anterior.

7 DE JULHO DE 2014

Execução do segundo nível de


bandas de laje e correspondente
escavação encontram-se concluídos.

Estando o observador situado no


primeiro nível de bandas de laje,
visualização da evolução da frente de
trabalho junto ao Alçado Sul. A frente
de trabalho junto ao Alçado Norte foi
iniciada posteriormente.

P
21 DE JULHO DE 2014

Início das obras no interior do


Hospital – execução de um furo para
uma mudança na disposição das
escadas rolantes.

Nesta fotografia observa-se a parede


de contenção do Alçado Norte em
toda a sua profundidade. A estrutura
junto a este alçado foi iniciada
posteriormente, sendo que, por esta
altura, prosseguiam os trabalhos de
execução das sapatas de fundação e
dos pilares.

23 DE AGOSTO DE 2014

Cofragem da laje de cobertura onde


é visível a aplicação do óleo
descofrante.

Visualização, a partir da laje de


cobertura, dos trabalhos de
concretização da ligação entre o
estacionamento novo e o existente.

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