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ISSN 1517-4077

COMUNICADO
TÉCNICO Boas Práticas para a
Produção de Tambaqui
152 em Tanques-Rede:
da Implantação à Despesca
Marcos Tavares-Dias
Macapá, AP Carlos Alberto Silva
Outubro, 2018 Roselany de Oliveira Corrêa
Heitor Martins Júnior
Eliane Tie Oba Yoshioka
Jamile da Costa Araújo
Laurindo André Rodrigues
Fabiola Helena dos Santos Fogaça
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Boas Práticas para a Produção


de Tambaqui em Tanques-Rede:
da Implantação à Despesca1
1
Marcos Tavares-Dias, Biólogo, doutor em Aquicultura, pesquisador da Embrapa Amapá, Macapá,
AP. Carlos Alberto Silva, Oceanógrafo, doutor em Geociências, pesquisador da Embrapa Tabuleiros
Costeiros, Aracaju, SE. Roselany de Oliveira Corrêa, Bióloga, doutora em Ciência Animal e Pastagens,
pesquisadora da Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA. Heitor Martins Júnior, Biólogo, doutor em
Biologia Aquática e Pesca Interior, pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental, Belém, PA. Eliane Tie
Oba Yoshioka, Bióloga, doutora em Ciências Fisiológicas, pesquisadora da Embrapa Amapá, Macapá,
AP. Jamile da Costa Araújo, Médica Veterinária, doutora em Zootecnia, pesquisadora da Embrapa
Amapá, Macapá, AP. Laurindo André Rodrigues, Zootecnista, doutor em Aquicultura, pesquisador
da Embrapa Meio-Norte, Panaíba, PI. Fabiola Helena dos Santos Fogaça, Zootecnista, doutora em
Aquicultura, pesquisadora da Embrapa Agroindústria de Alimentos, Rio de Janeiro, RJ.

ser instalada em diferentes corpos de


Implantação da água disponíveis, como: reservatórios
piscicultura de de hidrelétrica, rios, açudes, lagos per-
manentes e represas. É uma alternati-
tanque-rede va viável para locais onde a piscicultu-
ra convencional não é possível de ser
A crescente demanda por alimentos
praticada (Salaro; Lambertucci, 2011).
tem estimulado a necessidade de au-
mentar a produção por unidade de área. Boas Práticas de Manejo (BPM) são
Na criação de peixes, a intensificação da recomendadas para reduzir eventuais
produção pode ser feita em gaiolas flu- impactos ambientais negativos que pos-
tuantes ou tanques-rede, uma alternati- sam ser causados pelos sistemas de
va interessante quando há água de boa produção de peixes, camarões e outros
qualidade disponível, pois nesse sistema, organismos aquáticos. Sua finalidade é
a água circula de forma livre e constan- contribuir para a melhoria da qualidade
te, sendo este um requisito básico para a da água e dos índices de desempenho
instalação dessa modalidade de criação zootécnico, de forma a aumentar a pro-
intensiva. dutividade e a rentabilidade da produção
Do ponto de vista econômico, o cus- em viveiros escavados e em tanques-re-
to de implantação de uma piscicultura de, e também atender às demandas da
de tanque-rede é relativamente menor Lei no 12.651, de 25 de maio de 2012,
em comparação com outros sistemas conhecida como novo Código Florestal
(tanque escavado, por exemplo) e pode (Queiroz; Rota, 2016).
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Local de instalação a) tipo de produto e preço de comercia-


lização (atacado e/ou varejo);
Na piscicultura de tambaqui em tan- b) quantidade demandada pelo
que-rede, dentre os fatores que interfe- mercado;
rem diretamente na produção está a área
c) ciclo de cultivo e escala de produção;
de instalação dos tanques. A escolha do
local (reservatório, lago, açude de gran- d) proximidade com o mercado consu-
de profundidade, rio, represa, etc.) de midor (logística de escoamento da
implantação da piscicultura de tanque-re- produção);
de deve ser feita com muito critério, pois e) capital de investimento e operacional
muitos fatores externos podem compro- (fonte de recursos);
meter o bom desempenho da criação.
f) mão de obra qualificada (treinada).
Áreas com conflitos de interesse ou com
outras atividades, como pesca, turismo e A facilidade de acesso aos tan-
navegação, devem ser criteriosamente ques-rede é essencial para diminuir os
analisadas ou até mesmo evitadas. custos e facilitar as atividades de mane-
jo como o arraçoamento, as biometrias,
A segurança do local de criação con-
a despesca e o acompanhamento geral
tra furtos é um fator que deve ser anali-
da produção. Para tanto, recomenda-se
sado com muita cautela. A proximidade
áreas próximas a estradas em bom es-
entre o local de criação e a casa do pro-
tado de conservação e com fácil acesso
dutor, na maioria das vezes, fornece mais
à criação dos peixes.
segurança para a produção. Entretanto,
deve-se analisar se a área é impactada A piscicultura de tanque-rede exige
por insumos agrícolas como fertilizantes água de boa qualidade que depende de
e agrotóxicos, os quais podem causar características físicas, químicas e bioló-
contaminação da água e dos peixes pro- gicas do ambiente, como: temperatura,
duzidos. Além disso, dependendo do re- concentração de oxigênio dissolvido,
levo da área, o escoamento de contami- pH, turbidez, grau de eutrofização, entre
nantes pode ser potencializado devido à outros fatores. Assim, é recomendado
evitar locais com ambientes eutrofiza-
facilidade de transporte de fertilizantes e
dos, que provocam grande variação diá-
agrotóxicos durante o período de chuvas
ria na qualidade da água. O ideal é que
fortes.
sejam locais de baixa atividade primária
Também deve-se levar em conside- (planctônica), alta transparência da água
ração na escolha do local, o estudo da (acima de 2 m) e com menores variações
viabilidade técnica e econômica da ati- diárias nos parâmetros físicos e químicos
vidade, bem como o planejamento es- da água, principalmente na temperatura
tratégico de produção, considerando os da água (Moro et al., 2013). Também é
seguintes requisitos: imprescindível uma análise prévia das
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características da água para verificar se prejudicando a produção e aumentando


o local é adequado para a implantação os custos de produção. É preferível que o
da piscicultura de tanques-rede, pois os local de instalação seja de água calma e
parâmetros de qualidade da água devem não possua ondas ou marolas. Por isso,
estar dentro do aceitável para a produção locais próximos a rotas de navegação
de Colossoma macropomum (tambaqui) também devem ser evitados.
ou qualquer outra espécie.
Deve-se evitar ainda locais que apre-
Corpos de água como reservatório, sentam materiais flutuantes como plan-
lago, açude de grande profundidade e tas aquáticas (Figura 1) e galhos de
rio podem estar livres de poluição, mas árvores, pois esses podem ficar presos
esse aspecto é muito importante de se aos tanques-rede impedindo a adequa-
considerar, pois o entorno da piscicul- da troca de água ou até mesmo causar o
tura de tanques-rede pode apresentar rompimento da malha, liberando os pei-
aglomerados urbanos, indústrias ou xes no ambiente.
áreas de agricultura que podem ser res- Além dos fatores supramencionados,
ponsáveis por carregar contaminantes. as condições de infraestrutura do local
Assim, corpos de água que possam re- de instalação da piscicultura também
ceber efluentes industriais ou domésti- estão diretamente associadas ao de-
cos devem ser evitados. sempenho econômico da propriedade.
Alguns aspectos climáticos também O local pode afetar diretamente no custo
são importantes para o bom desem- de escoamento da produção, podendo
penho dos peixes. Locais sombreados ser um fator crucial para o sucesso fi-
ou com pouca incidência de sol, onde nanceiro do empreendimento. Deve-se
ocorra muita chuva durante o ano todo considerar o acesso à área por terra.
e ocorrência de fortes ventos, devem As estradas são as principais vias de
ser evitados, pois alterações bruscas do
ambiente podem ocasionar estresse nos
peixes e redução de produção. Assim,
selecionar áreas protegidas de corredo-
res de ventos e de correntes fortes de
Foto: Jamile da Costa Araújo

água, bem como locais com ambientes


estáveis, que são os mais indicados
para instalação de uma piscicultura de
tanques-rede.
Portanto, deve-se optar por locais que
tenham uma boa dinâmica de água, mas
sem grandes movimentações da água, Figura 1. Área do Rio Araguari, município de
pois pode causar um alto gasto energético Cutias do Araguari, AP, apresentando muitas
nos tambaquis para vencer as correntes, plantas aquáticas em sua margem.
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escoamento da produção, bem como


do transporte de peixes e insumos, os
quais têm impacto direto nos custos de
produção. As condições das estruturas
de apoio em terra podem também inter-
ferir nas condições de trabalho, como
estruturas elétricas e de comunicações.
A questão de segurança da proprieda-
de precisa ser levada em consideração,
para evitar perdas devido aos furtos de
peixes. Outros fatores que podem one-
rar a produção são grandes distâncias

Foto: Marcos Tavares-Dias


do mercado consumidor, inexistência
de linhas de crédito e, principalmente, o
manejo alimentar dos peixes.

Disposição dos
tanques Figura 2. Estruturas de tanques-rede e
posicionamento no corpo de água.
Os tanques-rede devem ser distri-
buídos, preferencialmente, em linhas,
perpendicularmente à corrente de água
principal (Figura 2). Assim, a direção excessivas, comprometendo a fixação
predominante dos ventos é muito im- dos tanques.
portante nesse posicionamento, pois É importante que a disposição dos
sua ação direciona o fluxo de água que tanques-rede permita a livre circulação
passa pelos tanques-rede, favorecendo de água, devendo ser instalados de for-
a renovação de água e a manutenção da ma intercalar ou linear, de modo a per-
concentração adequada de oxigênio dis-
mitir que todos recebam água limpa.
solvido e remoção dos metabólitos dos
Para tal, os tanques-rede devem perma-
peixes (fezes) e restos de ração.
necer a uma distância mínima de uma
As correntes de água, entretanto, vez e meia a sua largura. Além disso,
não podem ser demasiadamente fortes, em águas da União, por exigência da
pois podem causar estresse nos peixes Marinha do Brasil, as áreas de criação
e gastos de energia desnecessários de peixes em tanques-rede devem ser
para manter a natação, comprometen- demarcadas com sinalizadores, de acor-
do o crescimento dos animais. Também, do com a necessidade do local, podendo
os ventos fortes podem causar ondas essa sinalização ser efetuada por meio
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de flutuadores coloridos (por exemplo: durante vários anos, pois estiagens


cor amarela). prolongadas podem causar grandes
perdas na produção dos peixes.
Os tanques-rede (Figura 2) são
estruturas flutuantes que devem ser Para fixação dos tanques-rede
colocadas em locais com profundida- (Figura 2) é necessário um sistema de
de suficiente para isolar o tanque do ancoragem, onde as linhas de tanques
sedimento. Recomenda-se que a pro- ficarão amarradas a poitas/âncoras. As
fundidade do local onde vão ser fixa- âncoras, peças fabricadas de materiais
dos os tanques-rede deve ser igual ou densos e pesados, são lançadas ao fun-
superior ao dobro da altura destes. Por do do corpo de água (reservatório, lago,
exemplo, se o tanque-rede tiver 1,2 m represa ou rio) e, com auxílio de cordas
de altura, a profundidade mínima no e/ou cabos especiais, os tanques-rede
local de instalação deverá ser igual ou são fixados, evitando seu deslocamento
superior a 2,4 m acima do sedimento horizontal pelo corpo de água, mesmo
(Rezende; Bergamin, 2013). Para a em condições de chuvas e ventos for-
instalação da piscicultura deve-se co- tes. Os tanques devem ficar equidistan-
nhecer previamente a flutuação dos tes, de maneira a formarem linhas. Cada
níveis de água, considerando-se o cor- linha de tanques deve ter um sistema de
po de água a ser usado nos meses de fixação independente, para que mante-
chuva e nos meses de estiagem. Essa nham um espaçamento mínimo de 5 m
estimativa é importante para se ter entre elas e 1,6 m entre os tanques da
uma avaliação precisa da profundida-
mesma linha.
de mínima do ambiente durante o ano
todo (Figura 3). Também é recomendá- A colocação e o posicionamento dos
vel conhecer o histórico do ambiente tanques devem ser feitos de maneira a
facilitar o manejo diário e permitir a ma-
nutenção da qualidade da água dentro
de cada tanque. A distribuição dos tan-
ques-rede deve facilitar atividades de
Foto: Jamile da Costa Araújo

rotina como alimentação e limpeza das


telas; além da troca do volume total de
água. Para facilitar a observação, os
tanques-rede devem ser posicionados
com 20 cm–30 cm acima do nível da
água. Em relação ao espelho de água,
os tanques devem ser posicionados per-
pendicularmente à corrente para facilitar
Figura 3. Rio Araguari, estado do Amapá,
apresentando margem rasa na época da a máxima renovação da água e evitar a
estiagem amazônica, com formação de entrada de resíduos provenientes dos
pequena praia. tanques adjacentes.
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Infraestrutura nos tanques não deve provocar lesão ou


estresse nos tambaquis cultivados.
da criação em Produtores de tambaqui em tan-
tanques-rede ques-rede têm utilizado diferentes mate-
riais de confecção da estrutura: redes de
A criação de peixes em tanques-rede nylon de multifilamento de alta resistên-
tem mostrado ser uma tecnologia que cia; telas de PVC de alta densidade; te-
las metálicas plastificadas; chapas per-
pode ser aplicada de diferentes formas
furadas; e até mesmo, ripas de madeira,
em função dos diversos ambientes. A
bambus, fibras vegetais e materiais de
estrutura dos tanques-rede pode ser
reciclagem. Entretanto, recomenda-se,
instalada pelo produtor para criação de
por segurança e pela garantia dos fabri-
tambaqui nas diferentes fases (alevina-
cantes, o uso de telas metálicas galva-
gem, recria e engorda), de acordo com
nizadas com proteção plástica em PVC
as condições de logística da região onde resistente à radiação solar. Esse tipo de
está situada a piscicultura, e também material, segundo os fabricantes, pode
das condições financeiras do produtor ter vida útil de 5 a 10 anos e apresenta
que deseja adotar esse sistema para grande resistência, dependendo da re-
criação de tambaqui. Esses fatores fa- gião da criação.
zem com que as tecnologias de criação
Outro material que se recomenda na
de tambaqui em tanques-rede sejam
montagem dos tanques-rede é a tela
adaptadas às diferentes realidades lo-
de aço inoxidável. As vantagens desse
cais e condições financeiras do produtor.
material em relação às telas metálicas
Assim, podem variar o material utiliza-
galvanizadas, são: tempo de vida su-
do para confeccionar os tanques-rede, perior; e maior facilidade de limpeza do
sua dimensão/volume e o formato, bem perifiton que cresce na tela e tem menor
como o tipo e o material da estrutura flu- aderência nesse material, uma vez que
tuante de sua sustentação e as estrutu- telas plastificadas apresentam super-
ras de apoio, como balsa de despesca fícies rugosas que permitem uma forte
e equipamentos. Diferentes materiais aderência do perifiton, ao contrário da
têm sido utilizados para confecção de tela de aço inoxidável que tem superfí-
tanques-rede. Entretanto, o primeiro cui- cie lisa. No entanto, um tanque-rede de
dado que o produtor deve ter na escolha telas de aço inoxidável possui um custo
do material do tanque é a resistência. entre três a quatro vezes maior do que o
O material utilizado deve ser resistente, tanque-rede com tela metalizada prote-
principalmente se no local existem pre- gida por PVC.
dadores como jacarés, piranhas, quelô- A maioria dos tanques-rede ad-
nios (tartarugas e tracajás), ariranhas e quiridos no comércio são de formato
lontras. Além disso, o material utilizado quadrado e chegam aos produtores
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desmontados. Para “costurar” as telas As dimensões dos tanques-rede po-


(prender o fundo às laterais) é usado fio dem variar, pois o produtor pode utilizar
(flexível ou rígido) do mesmo material desde tanques-rede de pequeno volume
da tela do tanque-rede que foi adquirido. (1 m3) a grandes volumes (100 m3). Os
Mas, quando o fio é rígido, exige esforço tanques de pequeno volume, por apre-
e cuidado para não machucar as mãos sentarem baixa capacidade de produ-
do montador. Por esse motivo, pode ser ção, normalmente são utilizados nas
substituído por outro fio flexível ou rígi- fases iniciais da criação de tambaqui,
do, ou cabo flexível de 4 mm, o que fa- como alevinagem e recria, quando os
cilita o trabalho do montador. Entretanto, peixes ainda são pequenos. Tanques-
em tanques-rede de grande dimensão rede de médio a grande volume são re-
(volume) devem ser utilizados fios pró- comendados para as fases de engorda
prios, indicados pelo fabricante. de tambaquis.
As telas empregadas para confeccio- O formato dos tanques-rede pode
nar o tanque-rede devem ter abertura su- ser quadrado (Figura 2), retangular ou
ficiente de forma que possa haver troca circular (Figura 4). Tradicionalmente, os
constante de água em seu interior para tanques-rede quadrados e retangulares
promover a oxigenação dentro do tan- são os mais indicados, pois apresentam
que e a remoção dos dejetos dos tam- maior taxa de renovação da água em re-
baquis. Via de regra, o tamanho do tam- lação aos tanques-rede circulares. Isso
baqui é quem determinará o tamanho deve-se ao fato de que os tanques-rede
da abertura de malha dos tanques-rede. quadrados ou retangulares apresentam
Peixes pequenos podem escapar ou fi- maior área lateral. Além disso, o produ-
carem presos no telado do tanque, po- tor poderá posicionar os tanques-rede
dendo morrer ou serem predados pelos de forma que a correnteza ou movimento
peixes existentes no ambiente externo da água favoreça a renovação de água.
aos tanques-rede. Em função disso, é Portanto, para o produtor tirar vantagem
recomendada a seguinte orientação: em relação ao formato dos tanques-re-
de, estes deverão ser posicionados, no
a) telas com abertura de 1 mm, para
momento da instalação, de maneira que
pós-larvas;
o lado que apresenta maior área fique
b) telas com abertura de 5 mm, para perpendicular à correnteza ou movimen-
alevinos de 1 g a 15 g; to da água do local.
c) telas com abertura de 10 mm, para O uso de comedouros é muito impor-
peixes acima de 15 g; tante para a criação de tambaqui em tan-
d) telas com abertura de 15 mm, para ques-rede. Durante o manejo alimentar,
peixes acima de 50 g; o ideal é que o alimento permanecesse
dentro dos tanques-rede até ser total-
e) telas com abertura de 25 mm, para mente consumido, e essa é a função
peixes acima de 100 g. dos comedouros. Sem a proteção do
Foto: Roselany de Oliveira Corrêa 9

Figura 4. Tanques-rede circular (à frente) e retangulares (ao fundo) instalados em Marabá, PA.

comedouro, a ração sai do tanque-rede ração, dificultando a circulação de água,


rapidamente, seja pela movimentação por isso a limpeza dos comedouros deve
dos peixes e/ou pela ação dos ventos ser constante.
e correnteza do local. Um modelo de O tanque-rede sempre deve ter uma
comedouro que previne a perda de ali- tampa feita do mesmo material de sua
mentos flutuantes constitui-se de uma confecção e de preferência que fique
estrutura retangular, quadrada ou cir- lacrada com cadeado para inibir furtos.
cular, posicionada até 40 cm abaixo e 20 A tampa do tanque-rede também tem a
cm acima do nível da água. Um detalhe função de impedir a entrada de preda-
importante é que esse tipo de comedou- dores. Sobre a tampa deve ser instalada
ro deverá ser instalado dentro e junto às uma proteção para reduzir a incidência
laterais do tanque-rede para aumentar de raios ultravioletas (UV). O material
sua eficácia. O diâmetro da malha do mais indicado para essa função é a tela
comedouro varia, dependendo do tipo sombrite com 40% de redução solar.
de ração, de 2 mm a 5 mm (Rezende; Essa proteção também reduz a visão
Bergamin, 2013). É comum a colmata- dos tambaquis da superfície, diminuindo
ção, devido ao acúmulo de restos de o estresse.
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Os tipos de tanques-rede usados Durante a criação, algumas estru-


para produção de tambaqui são ber- turas de apoio são necessárias. Em
çários, tanques de recria e engorda. grandes empreendimentos, com gran-
O berçário é um tipo de tanque-rede de número de tanques-rede instalados,
usado nas fases iniciais como a alevi- uma balsa de despesca é uma estrutu-
nagem e recria. São tanques-rede fei- ra de apoio fundamental, pois facilita e
tos com redes em nylon multifilamento acelera o trabalho, diminuindo o custo
sem nó, tipo bolsão, que são instalados com a mão de obra. Essa consiste em
dentro de outro tanque-rede com tela uma balsa adaptada onde o tanque-rede
metálica plastificada ou aço inoxidável. será encaixado, fixado e elevado no mo-
Na fase de alevinagem, os peixes de 1 mento da despesca. Usualmente, essa
cm são criados até chegar a cerca de balsa tem o formato de U, e a abertura
3 cm de comprimento. Recomenda-se do U servirá para o tanque-rede entrar
utilizar tanques-rede tipo berçário feitos na posição correta. Por meio de cabos
em tela de nylon (tipo mosquiteiro, en- ou cordas o tanque será fixado, e atra-
contrada no comércio nas cores verde vés de um sistema de roldanas/cordas
e azul e corriqueiramente usada em e catracas o tanque será elevado. Após
portas e janelas de residências), com a elevação, o produtor pode fazer a des-
1 mm de abertura. Na fase de recria, pesca com auxílio de puçá ou rede.
onde os peixes com cerca de 3 cm são Estruturas como balsas ou plata-
criados até chegar a 10 cm–15 cm, re- formas flutuantes (Figura 5) também
comenda-se usar tanque-rede tipo ber- são usadas para fixação de mais de
çário feito em nylon multifilamento sem um tanque-rede, normalmente de qua-
nó, com abertura variando de 1 mm a tro a oito unidades. Nesse caso, são
5 mm de abertura. Usualmente, no co- utilizadas grandes toras de madeiras
mércio especializado são encontrados ou armação montada em madeira com
tanques-rede para recria com volumes tambores metálicos de 200 L que lhe
de 1 m³ a 4 m³. conferem estabilidade. Nessas balsas/
Tanques-rede de engorda são tan- plataformas flutuantes, sobre a arma-
ques em tela metálica ou aço inoxidável ção de madeira e entre os tanques-re-
com volume de 8 m3 (2 m x 2 m x 2 m) a de, são instaladas passarelas por onde
18 m3 (3 m x 3 m x 2 m) e são facilmente se faz o manejo diário (alimentação dos
encontrados no comércio especializado. peixes, retirada de peixes, pesagens
Tanques-rede fora dessas especifica- dos peixes, etc.). Entretanto, essa si-
ções de tamanho geralmente são feitos tuação não é recomendada pela proxi-
por encomenda diretamente com o fa- midade em que ficam os tanques-rede
bricante. O tamanho da abertura na tela entre si, pois isso pode diminuir a reno-
varia de 10 mm a 25 mm, dependendo vação de água e ainda comprometer a
do tamanho inicial do peixe na fase da dispersão dos dejetos dos tambaquis. A
engorda. recomendação é que o produtor utilize
Fotos: Heitor Martins Júnior 11

Figura 5. Estrutura de uma balsa usada para apoio à piscicultura de tanques-rede.

estruturas individualizadas para fixação tanques-rede dispostos em agrupamen-


dos tanques-rede. Essa estrutura indivi- tos, e servem para dar apoio às pes-
dualizada deve ser montada com tubos soas que realizam as atividades diárias.
metálicos de uma polegada de diâme- Podem ser feitas de madeira, metal com
tro, preferencialmente galvanizados e chapas de ferro e alumínio. Uma canoa
pintados com tinta antiferrugem. Cada é fundamental para o transporte das
estrutura deve ser sustentada por quatro pessoas, bem como na logística para
boias de PVC rígido, ou galões em PVC levar ração, peixes, equipamentos e ou-
com tampas (Figura 2). A estrutura flu- tros utensílios necessários até o local
tuante também pode ser feita em madei- onde estão instalados os tanques-rede.
ra, mas deve ser utilizada madeira ade-
Em pisciculturas de tanques-rede,
quada para ficar em contato com a água,
baldes e caixas de água são usados
como: capiúba, jacareúba, maçarandu-
para manutenção e transporte de pei-
ba e itaúba. Não é recomendado montar
xes vivos, além de banhos terapêuticos,
a estrutura individualizada em tubos e
em caso de doenças. Também podem
conexões de PVC ou outro material frá-
ser utilizados para armazenar a ração
gil (como hastes finas de alumínio), pois
próxima à estrutura dos tanques-rede.
a ação de movimento da água, ventos
Balança é usada no momento das pe-
e ondas, e mesmo algumas operações
sagens dos peixes (biometrias), despes-
como o erguimento do tanque-rede, em
ca, e também para pesar a quantidade
caso de despesca, poderá comprometer
correta de ração a ser fornecida aos
a estrutura flutuante.
tambaquis, diariamente. Puçás, também
Passarelas também são estruturas chamados de redinhas ou rapichés, são
de apoio utilizadas na piscicultura de utilizados para captura dos peixes no
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tanque-rede. Caixa de isopor é usada é ocasionada por lontras, ariranhas e


para acondicionar os alevinos durante botos, que são mamíferos de hábitos
o transporte até a propriedade, e tam- piscívoros.
bém na despesca e comercialização dos Ao longo do período da criação de
tambaquis. tambaqui em tanques-rede, a presença
Além disso, equipamentos de prote- de diversas espécies de peixes ao re-
ção individual (EPI) devem ser utilizados dor dos tanques é intensa, em função
por todas as pessoas envolvidas nas ro- do acúmulo de restos de ração não con-
tinas do dia-a-dia da criação dos peixes. sumida e dejetos dos peixes. Com isso,
São eles: colete salva-vidas, protetor so- é co­mum peixes de menor porte entra-
lar, chapéu e luvas. rem nos tanques-rede e provocarem
aumento indesejável na densidade no
O uso de cadernos e/ou planilhas de interior dos tanques, o que repre­senta
anotações são fundamentais para o con- um fator de estresse e competição por
trole da produção de peixes. Devem ser ração. Algumas espécies de peixes,
anotados e registrados dados sobre a roti- em função de seu comportamento ali­
na da criação, tais como: início do ciclo de mentar, podem ainda causar lesões nos
produção; quantidade de tambaquis esto- peixes dentro dos tanques-rede (por
cados, despescados e mortos; quantidade exemplo, piranhas). Portanto, todos es-
de ração fornecida diariamente aos peixes ses fatores podem implicar em gastos
e eventuais sobras; dados de biometrias excessivos com ração e baixas taxas
(peso mensal); e dados do monitoramento de desenvolvimento dos peixes, au-
da qualidade de água. mentando o tempo de criação e custo
Após o povoamento de alevinos de de produção. Assim, antes da implanta-
tambaqui nos tanques-rede deve-se ter ção do empreendimento de tanques-re-
cuidado com a predação por animais de, é recomendado o levantamento dos
silvestres, incluindo outros peixes, possíveis preda­ dores e competidores
aves e mamíferos que podem causar existentes no local.
perdas significativas, dependendo da Adicionalmente, os peixes confina-
fase de vida dos peixes em criação. dos em tanques-rede são alvos fáceis
Peixes predadores como traíra, jeju, para furtos; até mesmo as estruturas de
piranhas, entre outros, podem também cultivo ficam sujeitas a essa ação, que
atacar os peixes dos tanques-rede. A ocorre principalmente à noite. Para evi-
presença constante de aves e mamí- tar esse problema é aconselhável ter vi-
feros aquáticos pode interferir direta- gilância no empreendimento, bem como
mente nas taxas de sobrevivência, em manter as imediações iluminadas por
virtude da predação. Os ataques mais meio de holofotes. Também é recomen-
comuns são de aves aquáticas como dável utilizar trancas e/ou cadeados nas
garças, biguás e mergulhões, entre ou- tampas dos tanques-rede para inibir a
tros. Outra forma de ataque aos peixes prática de furto.
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Qualidade de água viveiros escavados, a manutenção e cor-


reção de parâmetros físicos e químicos
na piscicultura de na faixa recomendada para o tambaqui,
como por exemplo o uso da calagem
tanques-rede para neutralizar a acidez da água ou a
adubação para aumentar a produção
A água é o recurso mais importante primária e regularizar a intensidade de
nos sistemas de produção de tambaquis luz, são manejos viáveis. Entretanto, de-
em tanques-rede. Sua qualidade está vido à dimensão e ao volume dos corpos
relacionada a diversos fatores, como: hídricos como reservatórios, represas,
procedência, práticas de manejo duran- açudes e lagos; e até mesmo a calha de
te a criação, quantidade e composição rios, onde os tanques-rede podem ser
da ração ofertada aos peixes. A água instalados, esses processos de correção
deverá ter uma composição física e quí- da qualidade da água são impraticáveis
mica adequada para a criação de tam- por razões econômicas.
baquis, particularmente a temperatura,
pH, transferência, compostos nitroge- Os projetos deverão ser instala-
nados e gases dissolvidos, como oxi- dos em ambientes aquáticos onde os
gênio e gás carbônico. Cada ambiente parâmetros ambientais apresentem va-
(reservatório, represa, açude, lago e rio) lores dentro da faixa de variação reco-
para instalação dos tanques-rede é um mendada para a criação de tambaqui
ecossistema diferenciado, e seu indi- (Tabela 1). A princípio, o parâmetro pri-
mordial é o nível de oxigênio dissolvido
cador de produtividade é regulado pela
que deve ser geralmente alto (> 70% do
interação entre as características físicas
nível de saturação) em todas as épocas
e químicas da água. As características
do ano, devendo ser priorizado o seu
dos ecossistemas de água doce variam
monitoramento em dois períodos do dia,
de acordo com sua localização espacial,
inicialmente pela manhã, antes do “nas-
composição química dos solos, ocupa-
cer do sol”, e à tarde, entre 15h e 16h.
ção urbana ou industrial do entorno, la-
Parâmetros tais como temperatura da
titude no globo, e, no tempo, devido às
água, turbidez, pH, amônia e sólidos to-
variações sazonais.
tais dissolvidos, que atualmente são me-
A existência ou não de problemas didos com sondas multiparâmetros dis-
de qualidade de água para a criação de poníveis no mercado, ou kits comerciais
tambaquis, em geral, está condicionada de qualidade de água, podem ser moni-
em primeiro lugar a escolha de ambien- torados com menor frequência. No caso
tes com boa qualidade de água e livres dos contaminantes, realizar as análises
de contaminantes (pesticidas, herbici- da água do entorno do tanque de cria-
das, fertilizantes e metais pesados) para ção no início do projeto. Nos casos em
a instalação do projeto da piscicultura que há suspeita de despejos de efluen-
de tanques-rede. Em pisciculturas de tes de áreas de agricultura intensiva e/
14

Tabela 1. Parâmetros físicos e químicos da metabolismo (excreção) dos peixes e da


água recomendados para a criação de tam- degradação natural da matéria orgânica.
baqui e periodicidade do monitoramento.
Outro fenômeno de fundamental
Parâmetros Valores Periodicidade
importância na qualidade de água no
26 °C sistema de produção de tambaqui em
Temperatura1 Semanal
a 30 °C
tanques-rede é denominado eutrofiza-
Oxigênio ção (aumento da concentração dos nu-
> 4 mg/L Diária
dissolvido
trientes nitrogênio e fósforo na água).
pH2 4a6 Quinzenal No ambiente, as águas eutrofizadas
Amônia (NH3) < 0,2 mg/L Quinzenal apresentam geralmente colorações es-
Nitrito < 0,1 mg/L Quinzenal verdeadas ou amarronzadas e os danos
1
Observações de temperatura da água podem ser aos peixes podem ser a obstrução das
realizadas diariamente, geralmente nos horários que
antecedem a alimentação dos peixes, para avaliar a
brânquias pelos filamentos de certas es-
quantidade de ração a ser fornecida aos peixes (Sala- pécies de algas, além do aparecimento
ro; Lambertucci, 2011).
de produtos do metabolismo secundário
2
Para um melhor desempenho dos peixes tropicais a
faixa ideal de pH é entre 6,5 a 8,5 (Aride et al., 2007). de cianobactérias (geosmina e 2-metil-i-
soborneal), que causam sabor desagra-
dável no peixe, como gosto de lama ou
barro (off-flavor) quando consumidos.
A medição da transparência da água é
ou industriais no corpo hídrico, essas
um método indireto de se estimar o ní-
análises também devem ser feitas na vel de eutrofização da água de reser-
carne dos peixes cultivados. vatórios, represas ou açudes (Salaro;
Juntamente com a qualidade da Lambertucci, 2011). Utiliza-se o disco
água, um critério importante para a de Secchi para avaliar a transparência
criação de tambaqui é a existência de da água e valores entre 60 cm a 200 cm
uma boa renovação de água no am- são considerados bons para o cultivo de
peixes em tanques-rede. Entretanto, es-
biente de instalação da piscicultura de
ses valores estão relacionados com ou-
tanque-rede; para que as correntes e
tros fatores, como a profundidade do lo-
o fluxo de água sejam suficientes para
cal. O horário de leitura da transparência
evitar o acúmulo de fezes e restos de
da água deverá ser realizado em dias
ração nas proximidades e embaixo dos
ensolarados, das 10h às 14h, devido à
tanques, ocasionando redução nos ní- forte incidência dos raios solares sobre
veis de oxigênio dissolvido pela degra- a água, resultando numa leitura mais
dação da matéria orgânica acumulada. acurada (Sandoval-Júnior et al., 2013).
As correntes de água devem favorecer A seguir são apresentadas as reco-
a dispersão e difusão desses resíduos, mendações sobre o monitoramento e a
evitando a concentração de resíduos manutenção da qualidade da água em
tóxicos como a amônia, resultante do tanques-rede:
15

a) realizar análises dos parâmetros e diminuindo o ritmo de alimentação.


físicos e químicos da água do local Nessas condições, o crescimento
onde os tanques-rede estão insta- poderá ser afetado negativamente.
lados, antes de iniciar a criação de Valores abaixo de 1 mg/L podem
tambaqui; causar mortalidade em virtude do
período prolongado de exposição a
b) realizar o monitoramento periódico da
essa baixa concentração de oxigênio;
qualidade da água (Tabela 1);
e) verificar se a densidade de tambaqui
c) reduzir a oferta de alimento na
nos tanques-rede não está acima
medida em que ocorre o resfriamento
do recomendado, evitando níveis
do ambiente (queda de temperatura)
críticos de oxigênio dissolvido na água
e até mesmo a suspensão da ração
durante a alimentação e nos horários
nos dias mais frios. Em temperatura
próximos ao amanhecer. Tambaquis
da água abaixo de 25 °C ocorre em ambientes com pouco oxigênio
diminuição do consumo de ração e dissolvido apresentam uma adaptação
redução do crescimento dos peixes. morfológica no lábio inferior (expansão
A correção da quantidade de ração labial) para melhorar a captura desse
em função da temperatura da água elemento nos ambientes onde haja
pode ser orientada a partir dos dados sua escassez (Figura 6). O monitora-
da Tabela 2; mento do oxigênio dissolvido durante a
d) verificar se os níveis de oxigênio noite pode prever problemas no início
dissolvido na água estão menores
que 3 mg/L, pois valores abaixo
desse nível causam estresse aos
peixes, prejudicando o metabolismo

Tabela 2. Correção do consumo de ração em


função da temperatura da água.

Temperatura
Foto. Marcos Tavares-Dias

Consumo de ração
da água (°C)
Abaixo de 21 Suspender a alimentação
21 a 23 Cortar metade do total
23 a 25 Cortar ¼ do total
26 a 30 Ração total
31 a 32 Cortar ¼ do total
Figura 6. Adaptação morfológica do lábio
Acima de 33 Suspender a alimentação inferior de tambaqui criado em ambiente com
Fonte: Silva (2015). baixos níveis de oxigênio dissolvido na água.
16

da manhã do dia seguinte; o uso de deve-se utilizar equipamentos emer-


aeradores mecânicos nessa situação genciais automáticos com alarmes
pode prevenir a queda do oxigênio sonoros ou luminosos dos níveis
dissolvido em pequenos lagos ou críticos de oxigênio.
açudes;
f) verificar o comportamento dos peixes Cultivo, manejo
e reconhecer os sinais visuais do
baixo nível de oxigênio dissolvido, ou alimentar e nutricional
seja, peixes boquejando na superfície
d’água, por exemplo, estão relaciona-
na piscicultura de
dos à má qualidade da água; tanque-rede
g) em caso de alteração dos valores
associados aos parâmetros da qua- Qualidade dos alevinos
lidade da água, identificar a causa o
O ciclo de criação de tambaqui em
mais rápido possível e corrigir o pro-
sistema de tanques-rede dura de 9 a 10
blema imediatamente. Até a solução
meses, sendo dividido em duas fases:
do problema, ter cuidado redobrado
recria e engorda. Geralmente, a recria é
na alimentação dos peixes;
feita em, aproximadamente, 90 dias, até
h) nas épocas do ano em que ocorre que as formas jovens alcancem cerca de
aumento acentuado da temperatura 50 g, mas pode variar (Tabela 3). A par-
da água e diminuição da circulação tir daí é iniciada a fase de engorda, que
e força de ventos, realizar o monito- se estende até a despesca, quando os
ramento do oxigênio dissolvido com peixes atingem peso comercial (> 1 kg),
maior frequência (diariamente) até a no caso do tambaqui. Em cada fase do
sua normalização; ciclo são utilizadas telas de contenção
i) controlar o consumo de ração dos adequadas ao tamanho dos peixes. Na
peixes após cada alimentação para recria, o uso de berçários é uma estraté-
evitar sobras de alimentos que irão gia para impedir a fuga de alevinos para
degradar se não forem consumidos o ambiente. Porém, alguns piscicultores
e que podem aumentar os níveis de preferem fazer a recria em viveiros esca-
amônia e nitrito por manejo alimentar vados fertilizados, principalmente quan-
inadequado; do recebem formas muito jovens (< 1 g),
para reduzir o risco de mortalidade e
j) em criação intensiva de tambaqui em
potencializar o crescimento, uma estra-
tanque-rede, onde o bem-estar dos
tégia que pode melhorar o crescimento
peixes é dependente do suprimento
dos alevinos.
de aeração suplementar, o monito-
ramento do oxigênio dissolvido deve Existem vários fatores que podem
ser rígido e criterioso e, se possível, influenciar no potencial de crescimento
17

Tabela 3. Informações zootécnicas de manejo na recria e engorda de tambaquis em tanques-rede.

Características
Densidade
Peso Peso do sistema
Fases Duração de
inicial final (volume do Referências
do ciclo (dias) estocagem
(g) (g) tanque e local de
(peixes/m3)
implantação)
(Silva;
Recria 98 35 47 300 Tanque-rede de 1 m3 Fujimoto,
2015)
Lago temporário
(Silva;
(0,55 ha) com
Engorda 270 74 1.028 20 Fujimoto,
1,4 m–2,5 m de
2015)
profundidade
Tanque-rede de 6 m3 (Souza et al.,
Recria 60 10 76 400
em represa de 5 ha 2014)
(Souza et al.,
Engorda 300 80 1.500 95 Represa de 5 ha
2014)
Tanque rede de 6 m3
em lago de várzea (Gomes et al.,
Engorda 240 55 945 50
com ± 8 m 2006)
de profundidade
Recria 90 4 34 – Tanque-rede de (Dados do
1.500– 18 m3 em reservatório projeto Tec
Engorda 215 35 35 de hidrelétrica Rede, 2017)
2.000

de tambaquis em uma piscicultura de Na recria (fase 1), os peixes (ale-


tanque-rede durante o ciclo de produ- vinos) são estocados com peso de
ção, entre esses, a elevada densidade 2 g–5 g e permanecem no tanque-rede
de estocagem, a alimentação inade- berçário com tela, revestido interna-
quada e a baixa qualidade da água. mente com malha de multifilamento de
5 mm até atingirem peso de 40 g–50 g,
A densidade de estocagem consiste
em 60 a 90 dias. Nessa fase, para o
na quantidade máxima de peixes que
tambaqui, recomenda-se densidade de
podem ser eficientemente produzidos,
estocagem de 300 a 400 peixes/m3
por unidade de volume, até o peso de
(Brandão et al., 2004; Gomes et al.,
despesca. A quantidade em biomassa
2004; Silva, 2015).
(kg) de peixes, varia de acordo com o
tamanho do tanque-rede a ser povoa- Recomenda-se iniciar a fase de en-
do, a fase de crescimento do peixe e gorda com os peixes já adaptados ao
seu peso estimado para a despesca fi- sistema e com peso médio de 50 gra-
nal (Salaro; Lambertucci, 2011). mas. Peixes grandes (com peso acima
18

de 50 g) e não adaptados podem não dias (8 meses) até o peso de abate, cerca
responder da forma desejada ao mane- de 1 kg para o tambaqui (Tabela 4).
jo intensivo de criação em tanques-rede Também é possível determinar a den-
e, consequentemente, não apresentar o sidade de estocagem usando a relação
ganho de peso esperado. entre a biomassa por unidade de volume
Na fase de recria, é aceitável uma taxa (m3) e o peso desejável para a despesca.
de mortalidade de peixes de 20%, o que
corresponde a uma taxa de sobrevivência
Densidade de estocagem
de 80% (Tabela 4), portanto, a densidade
(peixes/m3) = Biomassa recomen-
inicial a ser considerada nessa fase, seria: dada / peso desejado na despesca
80% - 400 peixes/m3
100% - X peixes/m3 Os exemplos abaixo demonstram
= 500 peixes/m3 devem como é feita a estimativa de densidade
ser estocados inicialmente. de estocagem, para peso de abate de
1.000 g, sendo uma baixa densidade
(biomassa final de 35 kg/m3) e uma alta
densidade (biomassa final de 100 kg/m3)
Tabela 4. Parâmetros de produção para para a fase de engorda:
criação de tambaqui em tanques-rede.

Parâmetros
Recria Engorda Exemplo 1
(fase 1) (fase 2)
Densidade Cálculo feito utilizando a biomassa
300–400 50 recomendada de 35 kg/m3
(peixe/m3)
Ciclo (meses) 2–3 8 Planeja despescar tambaquis de 1 kg
Densidade de estocagem =
Sobrevivência (%) 80 95–100
35 kg/m3/1,0 kg
Peso final (g) 40–45 1.000
Densidade de estocagem =
Produção 35 peixes/m3
- 65–75
(kg/m3/ano)
Conversão
0,8–1,1 1,8
alimentar Exemplo 2

Ao final da fase de recria, os peixes Cálculo feito utilizando a biomassa


deverão ser classificados e distribuídos recomendada de 100 kg/m3
Planeja despescar tambaquis de 1 kg
nos tanques-rede para a engorda (fase 2),
Densidade de estocagem =
usando densidade de estocagem de cerca
100 kg/m3/1,0 kg
de 50 peixes/m3, com peso médio inicial de
Densidade de estocagem =
50 g cada, permanecendo no tanque-rede
100 peixes/m3
(malha 25 mm) aproximadamente por 240
19

Os valores estimados nos exem- Em geral, rações utilizadas para ali-


plos acima são referências que podem mentar formas jovens de tambaqui têm
ser utilizadas no planejamento da ati- elevado teor de proteína bruta (PB) em
vidade de piscicultura de tanque-rede sua composição (40% a 50% PB), ne-
de tambaqui. Entretanto, as caracte- cessário para sustentar a elevada taxa
rísticas do tanque-rede (dimensão, de crescimento, característica dessa
formato e volume) e as condições am- fase de criação. Ao longo do ciclo de
bientais (qualidade da água) do local produção, no entanto, o ritmo de cres-
onde está implantado podem permitir cimento dos tambaquis vai diminuindo,
trabalhar com densidades maiores ou assim como a exigência de proteína,
menores em função da biomassa final justificando o uso de rações com níveis
a ser alcançada. Porém, a criação de mais baixos (36% a 28% PB).
tambaquis em tanques-rede com bai-
Definir a quantidade de ração neces-
xa densidade de estocagem previne
problemas com níveis de oxigênio dis- sária para a criação de tambaqui é uma
solvido na água, sendo considerada, parte importante do planejamento des-
assim, mais segura para piscicultores sa atividade produtiva. A quantidade de
pouco experientes. ração que deve ser fornecida varia com
a densidade de estocagem utilizada, a
Os peixes em tanques-rede são de- fase de desenvolvimento dos peixes e
pendentes exclusivamente de alimen- as condições ambientais. A alimentação
tação externa, portanto, cuidados de- pode ser fornecida em quantidades fixas
vem ser tomados quanto à quantidade ou à vontade. Para fixar a alimentação,
e qualidade da ração na alimentação o tratador deve adotar uma tabela de ali-
dos peixes (Salaro; Lambertucci, 2011). mentação, em geral fornecida pelo pró-
Nessa modalidade de criação de tam- prio fabricante. Na Tabela 5, constam re-
baqui, o uso de rações balanceadas é comendações do manejo alimentar por
fundamental para o desenvolvimento da
fase do ciclo de criação e para diferentes
produção. A ração usada na alimentação
faixas de peso.
do tambaqui, durante o ciclo de criação,
deve ser a extrusada, que passa por um A taxa de alimentação diária na fase
processo de cozimento em altas tempe- de recria é de 6% a 15% do peso vivo dos
ratura e pressão, com umidade contro- peixes (biomassa). Entretanto, na etapa
lada. Esse processo permite que o ali- de terminação essa taxa de alimenta-
mento permaneça boiando na superfície ção passará para 1% a 3% do peso vivo
da água, devido ao aumento de estabili- dos peixes, com base nas indicações de
dade desse tipo de ração. Há também a fornecimento/uso da ração descritas na
ração farelada ou em pó. O uso de ração embalagem do fabricante (Silva, 2015).
farelada é recomendado para alevinos Na fase de recria, o tambaqui (1 g–3 g
muito pequenos, mas pode causar po- até 20 g–40 g) se beneficia de taxas e
luição da água. frequências alimentares maiores: oferta
20

de 10% do peso vivo ao dia (PV/dia) e possui uma biomassa de 8 kg


três refeições diárias, consumindo ração (400 alevinos/m3 x 20 g cada) e conside-
contento 34% de proteína bruta (Silva rando-se uma taxa de alimentação de
et al., 2007). A cada faixa de peso são 10%, para determinar a quantidade diária
relacionadas taxas de alimentação, re- de ração a ser administrada no tanque-re-
presentando o percentual da biomassa de, pode ser realizado o seguinte
que deve ser considerado para calcular cálculo:
a quantidade diária de ração, que deve
ser fracionada de acordo com a frequên- Quantidade de ração:
cia alimentar recomendada (Tabela 5). Fase de recria = 8 kg x 0,10 =
Para calcular a quantidade de ração a 0,8 kg = 800 g/dia
ser fornecida aos tambaquis, deve-se reali-
zar o cálculo da biomassa de peixes esto-
Diariamente, devem ser fornecidos
cados. A biomassa pode ser obtida multipli-
800 g de ração, divididos em 4 tratos, ou
cando-se o peso médio dos peixes pelo
seja, 200 g/trato.
número de peixes. Assim, para se conhe-
cer a quantidade de alimento a ser forneci- Outro exemplo: um tanque de 6 m3
do por dia, deve-se multiplicar a biomassa possui uma biomassa total de 60 kg (50
pela taxa de alimentação, que varia de peixes/m3 x 200 g x 6 m3) de tambaqui
acordo com o tamanho dos tambaquis. em fase de engorda, a taxa de alimenta-
ção de 3%, a quantidade diária de ração
Quantidade de ração = biomassa segue o cálculo abaixo:
(número de peixes x peso médio dos
peixes) x taxa de alimentação
Quantidade de ração:
Fase de engorda = 60 kg x 0,03 =
Para exemplificar, na fase de recria,
se o tanque-rede de 1 m3 (berçário) 1,8 kg = 1.800 g/dia

Tabela 5. Manejo alimentar do tambaqui criado em tanque-rede, de acordo com a taxa de


alimentação utilizada e a frequência alimentar para cada fase de cultivo.
Fases do Frequência alimentar
Peso médio (g) Taxa de alimentação (%)
cultivo (vezes/ dia)
Recria 1–3 a 20–401 10 3–4
55–200 2
5 2
200–7003 3 2
Engorda 75–1.000 4
3–1 2
>1.000 1 1–2
Fontes: Silva et al. (2007); Chagas et al. (2005); Chagas et al. (2007); Silva e Fujimoto (2015).
1 2 3 4
21

Diariamente, devem ser fornecidos tambaquis. Geralmente, essa alimenta-


1.800 g de ração, divididos em 2 tratos, ção deve acontecer, principalmente, nas
ou seja, 900 g/trato. primeiras horas do dia e ao entardecer.
Entretanto, recomenda-se alimentar os
O fracionamento da ração em vários
tratos (frequência alimentar) viabiliza o tambaquis mais jovens (alevinos) mais
melhor aproveitamento da ração, con- vezes (8–10) ao dia. Assim, deve ser
tribuindo para melhorar o crescimento calculada a quantidade de ração a ser
dos tambaquis, evitando o desperdício fornecida de acordo com a biomassa
e resultando em melhor conversão ali- de cada tanque-rede, e de acordo com
mentar. Em geral, as taxas mais eleva- a taxa de alimentação definida, oferecer
das são utilizadas nas fases iniciais da essa quantidade dividida pela frequên-
criação, quando os peixes apresentam cia alimentar, isto é, pelo número de tra-
um crescimento acelerado. tos. O tratador deve sempre observar se
os peixes estão buscando o alimento na
Os tambaquis podem também ser superfície da água.
alimentados à vontade, mas esse tipo
de manejo exige maior sensibilidade do Uma forma de se verificar a neces-
tratador, que deve observar o consumo sidade de aumento da quantidade de
de ração pelos tambaquis e identificar alimentação fornecida aos tambaquis
a saciedade aparente, que sinaliza o é realizar a pesagem dos peixes, para
momento de encerrar o arraçoamento. obter o peso médio. A pesagem periódi-
Os peixes devem consumir a ração for- ca de uma amostra representativa dos
necida em menos de 15 minutos. Caso peixes (3% a 5%) do tanque-rede deve
haja sobra, deve-se diminuir a quantida- ser realizada durante todas as fases de
de de ração fornecida no trato seguin- criação, a cada 15 dias durante a recria
te e, para isso, é recomendável que o de alevinos e a cada 30 dias durante a
tratador seja a mesma pessoa. A ração fase de engorda. Assim, deve-se realizar
deve ser distribuída no tanque-rede ou ajustes periódicos na quantidade de ra-
no comedouro possibilitando que todos ção a ser fornecida aos peixes de acor-
os peixes apanhem o alimento, evitando do com seu desenvolvimento.
dessa forma uma diferença muito gran- A aquisição de rações completas re-
de de tamanho entre os tambaquis. A presenta cerca de 70% dos custos de
quantidade de vezes ao dia que se deve produção na piscicultura, e seu uso é
alimentar os peixes pode variar de acor- obrigatório em criação intensiva de pei-
do com o tamanho dos animais e a qua-
xes em tanques-rede. Um insumo tão
lidade da água dos viveiros, o que inclui
caro exige que o piscicultor adote prá-
a temperatura da água (Tabela 2).
ticas de manejo adequadas, para evitar
Recomenda-se o fornecimento da desperdício e prejuízos econômicos. A
ração sempre nos mesmos horários, to- ração é um insumo perecível, com vali-
dos os dias, de forma a condicionar os dade aproximada de seis meses, sendo
22

importante no ato da compra considerar fazer, principalmente quando são esto-


a data de fabricação do produto adqui- cadas quantidades muito grandes de ra-
rido. O transporte e condições de con- ção. Contudo, deve ser feito um esforço
servação adequados das rações devem para evitar mudanças extremas de tem-
garantir a qualidade do produto. A ração peratura em curtos períodos de tempo. A
deve ser adequadamente embalada e o estocagem ao ar livre, sob lonas ou em
veículo de transporte previamente limpo caixas escuras e mal aeradas não é re-
e seco para minimizar o risco de conta- comendável, pois nesse tipo de depósito
minação. O ideal é fazer o transporte em a umidade do alimento volatiliza duran-
um veículo fechado, mas não havendo te o dia, quando as temperaturas estão
essa possibilidade, os sacos de ração mais elevadas, e condensa na superfície
podem ser envolvidos em uma lona pre- do depósito à noite, proporcionando a
viamente higienizada. distribuição heterogênea da umidade no
produto armazenado. Nas áreas onde
Na piscicultura, o local de armazena-
a umidade é maior, a proliferação de
mento das rações deve estar em boas
fungos ocorre rapidamente. Esse mes-
condições de conservação, devendo
mo efeito pode ser observado em um
ser seco e arejado. O armazenamento
galpão de armazenamento, e é por isso
das rações deve ser organizado para
que as pilhas de ração não podem ficar
permitir o fácil acesso ao produto. Os
em contato direto com o chão ou com as
sacos de ração devem ser empilhados,
paredes do local. Rações contaminadas
distribuídos sobre pallets ou estrados
por fungos não podem ser utilizadas na
de madeira ou plásticos. A organização
alimentação dos peixes, pois seus meta-
das pilhas de ração deve permitir a fácil
bólitos secundários são tóxicos, termor-
identificação dos lotes, que devem ser
resistentes e bioacumulativos, prejudi-
organizados por ordem de recebimen-
cando a saúde desses animais.
to, considerando sua validade. A higie-
nização e a sanitização do local devem Variações de temperatura também
ser feitas com frequência para prevenir comprometem a estabilidade dos nu-
a proliferação de pragas (insetos e ra- trientes da ração, sobretudo das vitami-
tos, por exemplo). Pallets ou estrados nas, facilmente desnaturadas por ação
de plástico podem ser lavados com de- de calor, oxigênio, umidade ou mesmo
tergente neutro e secos. Pallets de ma- luz ultravioleta (UV). O múltiplo uso do
deira devem ser limpos com vassouras, local de armazenagem deve ser evitado,
escovas ou aspiradores, pois uma vez principalmente se envolver a estocagem
molhados, retêm umidade, favorecendo de produtos químicos, como: herbicidas,
contaminações por fungos. inseticidas, combustíveis e outros possí-
veis contaminantes.
Controlar a umidade do ambiente de
estocagem das rações é um detalhe im- Insetos e roedores (gorgulhos, pe-
portante, mas na prática, muito difícil de quenos besouros e ratos, por exemplo)
23

podem representar um problema sério (quarentenário), e outro para manter os


no armazenamento de rações em uma animais separados de 10 a 30 dias para
piscicultura. A infestação de insetos em observação e comprovação de que os
sacos de ração deteriora a qualidade peixes estão livres de doenças, antes de
física desse alimento e também propi- colocá-los nos tanques-rede.
cia a proliferação de fungos. Roedores
O primeiro fator que deve ser con-
são extremamente nocivos, pois podem
siderado na criação de tambaqui é o
transmitir doença (leptospirose) ao ho-
cuidado no povoamento de alevinos
mem e a outros animais, por meio do
nos tanques-rede. Esse manejo, se ina-
contato com sua urina. O controle des-
dequado, pode levar ao surgimento de
sas pragas deve ser feito com cautela,
doenças e causar mortalidade de peixes.
pois o uso inadequado de venenos tam-
Os alevinos devem ser transportados de
bém pode ser uma fonte perigosa de
duas formas: em sacos plásticos ou bol-
contaminação para as rações.
sas plásticas, ou em caixas de transpor-
Rações vencidas não têm garantia te específicas para essa finalidade. Em
de qualidade e podem representar um ambos os casos, recomenda-se que o
risco à produção em qualquer piscicul- transporte e povoamento de alevinos de
tura. Por isso, é importante que o produ- tambaqui sejam realizados preferencial-
tor tenha controle de seu estoque para mente no início da manhã, quando as
conseguir gerenciar suas compras ao temperaturas são mais baixas. A mortali-
longo do ciclo, com segurança. Existem dade aceitável no transporte correspon-
várias ferramentas que podem ser uti- de a até 5% do total adquirido. Destaca-
lizadas, desde uma simples planilha se os seguintes cuidados na compra e
de Excel até softwares específicos de recepção dos alevinos de tambaqui:
gerenciamento.
a) uniformidade no tamanho dos peixes;

Manejo sanitário b) verificar a aparência geral dos


peixes. Os peixes devem estar
na piscicultura de com coloração típica e sem lesões
externas;
tanque-rede
c) os sacos plásticos devem chegar
O sucesso na produção de tambaqui estufados, ou seja, cheios de
em tanque-rede depende também do oxigênio. Os peixes devem ser
fornecimento de alevinos de boa qua- transportados em sacos plásticos,
lidade. Mesmo sendo criação em tan- transparentes e resistentes, contendo
ques-rede, é recomendável que o pro- água e oxigênio puro. Em cada saco
dutor possua dois viveiros (± 1.300 m3) de 30 L podem ser colocados de 500
com água corrente em abundância; um a 1.000 alevinos na proporção de 1/3
para o tratamento de peixes doentes de água para 2/3 de oxigênio;
24

d) os alevinos devem estar ativos den- Após cada fase de criação de tam-
tro da sacola ou caixa de transporte; baqui, geralmente os peixes são repica-
dos (separados em diferentes classes
e) na recepção, realizar a contagem de
de tamanho e densidade de estocagem)
alevinos de pelo menos duas bolsas;
em outros tanques-rede, para proceder
f) realizar a aclimatação na soltura dos a fase seguinte. As contagens, biome-
peixes. trias e transferência dos peixes devem
Para a aclimatação dos alevinos de ser feitas com muito critério e, preferen-
tambaqui no momento da soltura, reco- cialmente, nas primeiras horas do dia,
menda-se os seguintes procedimentos: quando as temperaturas são mais bai-
a) colocar os sacos plásticos, ainda fe- xas, para evitar estresse aos peixes e,
chados, dentro dos tanques-rede e dei- posteriormente, mortalidade.
xá-los flutuar durante 10 a 20 minutos, Durante cada biometria é importan-
para que a temperatura da água da bol- te observar alguns aspectos dos tam-
sa fique próxima a do local de criação; e baquis, como: presença excessiva de
b) abrir os sacos plásticos e colocar pe- muco; coloração anormal; aparência dos
quenas porções de água do tanque-rede olhos, nadadeiras e brânquias; presença
dentro dos sacos para igualar lentamen- de ferimentos e parasitos; entre outros
te as características das águas (como aspectos. Todas as características que
o pH, a temperatura e a dureza), de- estejam fora do padrão devem ser ano-
vendo prosseguir até completar o saco tadas e informadas a um técnico, para
plástico. Em seguida, mergulhar o saco que esse possa recomendar exames
plástico aberto no interior do tanque-re- complementares e providências neces-
de para que os alevinos possam sair de sárias. O estresse causado por altera-
forma lenta. ções ambientais, manejo, transporte,
Em caso de transporte em caixas es- aclimatação, manuseio, densidade de
pecíficas, a aclimatação deve ser reali- estocagem e confinamento, é sem dúvi-
zada nas próprias caixas, esgotando-se da uma porta de entrada para doenças
de 50% a 60% da água do transporte e oportunistas. Deve-se realizar preven-
completando lentamente, durante 15 a ção contra doenças, pois geralmente os
20 minutos, com a água dos tanques-re- tratamentos são onerosos, nem sempre
de. Portanto, deve-se preparar todo o eficazes e difíceis de realizar em tan-
material de apoio com antecedência, ques-rede. É recomendada a utilização
tais como: tanque-rede, puçás, ração, de sal comum (NaCl) e anestésicos (por
redes e outros equipamentos necessá- exemplo: benzocaína, eugenol) para
rios. Além disso, deve-se verificar o bom realizar as biometrias, pois auxilia na
funcionamento e a limpeza dos equipa- prevenção de doenças e diminui o es-
mentos que envolvem o transporte (cai- tresse. O uso de substâncias com ca-
xas, manômetros, difusores, carga de racterísticas imunoestimulantes também
oxigênio, entre outros). é recomendado na nutrição e saúde de
25

tambaquis cultivados. O uso de suple- manni, Mymarotheciun boegeri, Noto-


mentos alimentares originados de mi- zothecium janauachensis (mono-
crorganismos (substâncias derivadas de geneas), Ichthyophthirius multifiliis,
bactérias, polissacarídeos, entre outros Piscinoodinium pillulare (protozoá-
metabólitos), plantas e animais pode in- rios), Henneguya sp., Myxobolus sp.,
fluenciar positivamente a resistência dos (mixosporídeos), Gamidactylus jara-
peixes quando desafiados por condi- quensis, Ergasilus sp. (crustáceos) e
ções de estresse e infecções por agen- sanguessugas (hirudíneos). Além dis-
tes patogênicos. so, no intestino, pode ocorrer infecção
por Neoechinorhynchus buttnerae, um
As condições sanitárias da piscicul-
acantocéfalo que causa mortalidade de
tura de tambaqui em tanques-rede são
alevinos quando em abundância para-
extremamente relevantes para o desen-
sitária. O uso de quarentena é sempre
volvimento da produção. Assim, técnicas
recomendável antes de distribuir os
profiláticas e manejo sanitário adequa-
novos peixes nos tanques-rede. Nesse
do devem ser usados para melhorias
sistema, as enfermidades encontradas,
na produção nesse sistema intensivo.
na maioria das vezes, devem-se aos se-
Investigações devem ser conduzidas
guintes fatores: a) pelo manejo incorreto
frequentemente no sentido de verificar
no transporte, durante o povoamento,
a possível entrada de patógenos nos
nas biometrias, nas repicagens e eleva-
tanques-rede. As duas principais formas
da densidade de estocagem; e b) devido
dessa entrada de patógenos são pela
às condições ambientais desfavoráveis,
introdução de peixes doentes e/ou via
como por exemplo, temperatura e/ou
hídrica.
oxigênio dissolvido fora do intervalo óti-
Deve-se retirar imediatamente os mo para o tambaqui.
peixes que, eventualmente, aparecerem
Os tanques-rede devem passar por
mortos dentro dos tanques-rede, pois
limpezas periódicas das telas para evi-
podem tornar-se fonte de contaminação
tar o acúmulo de algas e resíduos (col-
para outros peixes. Em geral, a taxa de
matação) (Figura 7) que prejudica a cir-
mortalidade em uma criação de peixes
culação e renovação adequada da água,
em tanque-rede na fase de engorda é de
podendo dificultar o desenvolvimento
5% a 10% até o final do ciclo. Os pei-
dos tambaquis em criação. As telas de
xes mortos devem ser anotados, pois o
1 mm usadas em berçário colmatam
número restante é um dos fatores que
com muita rapidez, sendo necessário
determinam a quantidade de ração a ser
maior controle da renovação da água
oferecida.
(níveis de oxigênio dissolvido) e menor
Em tambaqui cultivado em tanques- tempo de permanência dos peixes nos
rede os principais parasitos que ocor- tanques-rede feitos com esse tipo de
rem estão nas brânquias: Anacanthorus tela. Com essa prática, o produtor as-
spathulatus, Linguadactyloides brink- segura uma boa qualidade de água no
Foto: Marcos Tavares-Dias 26

Figura 7. Acúmulos de sujeiras nas telas de tanque-rede.

interior dos tanques, evitando prejuízos de prevenção e manejo correto na pro-


na criação. Os comedouros também de- dução, para garantir a saúde dos peixes.
vem ser limpos periodicamente devido
à colmatação, que pode servir de subs-
trato para agentes patogênicos. Após
Cuidados na
cada despesca, os tanques-rede devem despesca
ser retirados da água e expostos ao sol,
durante cinco dias, para serem visto- É essencial o menor estresse dos
riados (malhas, estrutura, flutuadores peixes durante a despesca, transporte e
e comedouros) e devidamente limpos, abate. Peixes produzidos com uma boa
antes de novo povoamento de tamba- alimentação são mais saudáveis e mais
qui. Portanto, os métodos de controle resistentes para enfrentar as situações
de doenças em tambaqui cultivado em estressantes relacionadas ao manejo de
tanques-rede consistem em programa pré-despesca.
27

A B
Fotos: Fabiola Helena dos Santos Fogaça.

C D
Figura 8. Despesca tanque-rede: aproximação do tanque na balsa de manejo (A); tanque-rede
sendo levantado com auxílio das roldanas (B); despesca com puçá (C); Caixa de transporte (D).

A despesca ou retirada dos peixes dos maior estresse dos tambaquis. Assim que
tanques-rede pode ser parcial ou total e os peixes são retirados dos tanques-rede,
com mínimo possível de estresse. O ideal devem ser transferidos com o auxílio de
é pesar e anotar toda e qualquer quantida- um puçá para uma caixa de transporte
de de tambaqui retirado (kg). O manejo de com oxigenação para serem levados para
despesca começa com a suspensão da abate e processamento (Figura 8). É im-
alimentação dos peixes por um período portante transferir os peixes cuidadosa-
de pelo menos 24 horas. Após o jejum, o mente, mas de maneira rápida e eficien-
tanque-rede é transportado para balsa de te, pois o volume de água disponível fica
manejo, amarrado e levantado. É impor- reduzido, o que ocasiona maior lotação e
tante garantir que a despesca seja realiza- estresse aos peixes.
da no período da manhã, quando as tem- O transporte é um momento críti-
peraturas são mais baixas, evitando-se co na produção de peixes. A captura,
28

a espera pelo transporte, o controle da salientar que o abate de peixes só pode


qualidade da água durante o transporte ser realizado em unidade registrada e
e a elevada densidade de estocagem fiscalizada para esse fim, que siga todos
(Pedrazzani et al., 2007), são fatores al- os preceitos de bem-estar animal para
tamente estressantes que podem levar que os tambaquis não sofram durante
à mortalidade, caso sejam negligencia- essa etapa, e para que o estabelecimen-
dos. No transporte de peixes deve-se to garanta a qualidade higiênico-sanitá-
observar os seguintes fatores: ria do produto. Qualquer morte causada
a) dispor de oxigênio suficiente; fora de uma unidade de abate é consi-
derada ilegal.
b) evitar a exposição prolongada dos
peixes ao ar durante o carregamento; É importante evitar o estresse dos
peixes durante o transporte, pois quan-
c) evitar ao máximo o contato com os
do agitados, os animais consomem mais
animais;
oxigênio da água (o que pode causar
d) monitorar a qualidade de água e o mortalidade no transporte) e gastam
comportamento dos peixes. suas reservas de energia muscular (gli-
A qualidade da água utilizada para cogênio), o que pode levar a problemas
encher as caixas de transporte deve ser na qualidade da carne após o abate.
próxima à da água da produção, previa- Essa reserva de energia é importante,
mente aerada. As caixas de transporte pois se o peixe não possui reservas, o
devem ser totalmente enchidas com músculo se tornará rígido rapidamente
água, pois caixas com água pela meta- após o abate, reduzindo o rendimento
de tendem a balançar demasiadamente do filé. O rigor mortis (rigidez do corpo
e machucar os peixes que estão sendo do peixe) é importante para garantir a
transportados, levando-os, na maio- transformação do músculo em carne.
ria das vezes, à morte. Também deve Se ele for muito curto, o filé do tambaqui
ser respeitada a densidade de lotação tornar-se-á seco e quebradiço devido à
para o tambaqui, que deve ser de até perda de líquidos.
150 kg/m3 (Gomes et al., 2003). Na prática, quanto mais tarde ocor-
O transporte dos peixes até uma uni- rer e maior for a duração do rigor mor-
dade de beneficiamento deve ser reali- tis, menores serão as alterações nas
zado segundo a legislação do Ministério características da carne e maior a lon-
da Agricultura e Pecuária (MAPA). O gevidade do pescado. Assim, recomen-
produtor ou comerciante deve obter da-se um intervalo de descanso entre
uma Guia de Transporte Animal (GTA) o transporte e o abate de até 24 horas,
emitida pela Agência de Fiscalização para garantir um rigor mortis mais du-
Sanitária do estado onde o produtor está radouro e uma maior vida útil para o
localizado, além de possuir a nota fiscal tambaqui fresco (Mendes et al., 2015).
da carga para fins de fiscalização. Vale Para isso, a unidade de beneficiamento
29

deve ter uma área de depuração com GOMES, C.; CHAGAS, E. C.; MARTINS-JUNIOR,
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Supervisão editorial e Normalização
bibliográfica
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Revisão textual
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(CGPE)
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CGPE 14692

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