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COMUNICADO
TÉCNICO Boas Práticas para a
Produção de Tambaqui
152 em Tanques-Rede:
da Implantação à Despesca
Marcos Tavares-Dias
Macapá, AP Carlos Alberto Silva
Outubro, 2018 Roselany de Oliveira Corrêa
Heitor Martins Júnior
Eliane Tie Oba Yoshioka
Jamile da Costa Araújo
Laurindo André Rodrigues
Fabiola Helena dos Santos Fogaça
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Disposição dos
tanques Figura 2. Estruturas de tanques-rede e
posicionamento no corpo de água.
Os tanques-rede devem ser distri-
buídos, preferencialmente, em linhas,
perpendicularmente à corrente de água
principal (Figura 2). Assim, a direção excessivas, comprometendo a fixação
predominante dos ventos é muito im- dos tanques.
portante nesse posicionamento, pois É importante que a disposição dos
sua ação direciona o fluxo de água que tanques-rede permita a livre circulação
passa pelos tanques-rede, favorecendo de água, devendo ser instalados de for-
a renovação de água e a manutenção da ma intercalar ou linear, de modo a per-
concentração adequada de oxigênio dis-
mitir que todos recebam água limpa.
solvido e remoção dos metabólitos dos
Para tal, os tanques-rede devem perma-
peixes (fezes) e restos de ração.
necer a uma distância mínima de uma
As correntes de água, entretanto, vez e meia a sua largura. Além disso,
não podem ser demasiadamente fortes, em águas da União, por exigência da
pois podem causar estresse nos peixes Marinha do Brasil, as áreas de criação
e gastos de energia desnecessários de peixes em tanques-rede devem ser
para manter a natação, comprometen- demarcadas com sinalizadores, de acor-
do o crescimento dos animais. Também, do com a necessidade do local, podendo
os ventos fortes podem causar ondas essa sinalização ser efetuada por meio
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Figura 4. Tanques-rede circular (à frente) e retangulares (ao fundo) instalados em Marabá, PA.
Temperatura
Foto. Marcos Tavares-Dias
Consumo de ração
da água (°C)
Abaixo de 21 Suspender a alimentação
21 a 23 Cortar metade do total
23 a 25 Cortar ¼ do total
26 a 30 Ração total
31 a 32 Cortar ¼ do total
Figura 6. Adaptação morfológica do lábio
Acima de 33 Suspender a alimentação inferior de tambaqui criado em ambiente com
Fonte: Silva (2015). baixos níveis de oxigênio dissolvido na água.
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Características
Densidade
Peso Peso do sistema
Fases Duração de
inicial final (volume do Referências
do ciclo (dias) estocagem
(g) (g) tanque e local de
(peixes/m3)
implantação)
(Silva;
Recria 98 35 47 300 Tanque-rede de 1 m3 Fujimoto,
2015)
Lago temporário
(Silva;
(0,55 ha) com
Engorda 270 74 1.028 20 Fujimoto,
1,4 m–2,5 m de
2015)
profundidade
Tanque-rede de 6 m3 (Souza et al.,
Recria 60 10 76 400
em represa de 5 ha 2014)
(Souza et al.,
Engorda 300 80 1.500 95 Represa de 5 ha
2014)
Tanque rede de 6 m3
em lago de várzea (Gomes et al.,
Engorda 240 55 945 50
com ± 8 m 2006)
de profundidade
Recria 90 4 34 – Tanque-rede de (Dados do
1.500– 18 m3 em reservatório projeto Tec
Engorda 215 35 35 de hidrelétrica Rede, 2017)
2.000
de 50 g) e não adaptados podem não dias (8 meses) até o peso de abate, cerca
responder da forma desejada ao mane- de 1 kg para o tambaqui (Tabela 4).
jo intensivo de criação em tanques-rede Também é possível determinar a den-
e, consequentemente, não apresentar o sidade de estocagem usando a relação
ganho de peso esperado. entre a biomassa por unidade de volume
Na fase de recria, é aceitável uma taxa (m3) e o peso desejável para a despesca.
de mortalidade de peixes de 20%, o que
corresponde a uma taxa de sobrevivência
Densidade de estocagem
de 80% (Tabela 4), portanto, a densidade
(peixes/m3) = Biomassa recomen-
inicial a ser considerada nessa fase, seria: dada / peso desejado na despesca
80% - 400 peixes/m3
100% - X peixes/m3 Os exemplos abaixo demonstram
= 500 peixes/m3 devem como é feita a estimativa de densidade
ser estocados inicialmente. de estocagem, para peso de abate de
1.000 g, sendo uma baixa densidade
(biomassa final de 35 kg/m3) e uma alta
densidade (biomassa final de 100 kg/m3)
Tabela 4. Parâmetros de produção para para a fase de engorda:
criação de tambaqui em tanques-rede.
Parâmetros
Recria Engorda Exemplo 1
(fase 1) (fase 2)
Densidade Cálculo feito utilizando a biomassa
300–400 50 recomendada de 35 kg/m3
(peixe/m3)
Ciclo (meses) 2–3 8 Planeja despescar tambaquis de 1 kg
Densidade de estocagem =
Sobrevivência (%) 80 95–100
35 kg/m3/1,0 kg
Peso final (g) 40–45 1.000
Densidade de estocagem =
Produção 35 peixes/m3
- 65–75
(kg/m3/ano)
Conversão
0,8–1,1 1,8
alimentar Exemplo 2
d) os alevinos devem estar ativos den- Após cada fase de criação de tam-
tro da sacola ou caixa de transporte; baqui, geralmente os peixes são repica-
dos (separados em diferentes classes
e) na recepção, realizar a contagem de
de tamanho e densidade de estocagem)
alevinos de pelo menos duas bolsas;
em outros tanques-rede, para proceder
f) realizar a aclimatação na soltura dos a fase seguinte. As contagens, biome-
peixes. trias e transferência dos peixes devem
Para a aclimatação dos alevinos de ser feitas com muito critério e, preferen-
tambaqui no momento da soltura, reco- cialmente, nas primeiras horas do dia,
menda-se os seguintes procedimentos: quando as temperaturas são mais bai-
a) colocar os sacos plásticos, ainda fe- xas, para evitar estresse aos peixes e,
chados, dentro dos tanques-rede e dei- posteriormente, mortalidade.
xá-los flutuar durante 10 a 20 minutos, Durante cada biometria é importan-
para que a temperatura da água da bol- te observar alguns aspectos dos tam-
sa fique próxima a do local de criação; e baquis, como: presença excessiva de
b) abrir os sacos plásticos e colocar pe- muco; coloração anormal; aparência dos
quenas porções de água do tanque-rede olhos, nadadeiras e brânquias; presença
dentro dos sacos para igualar lentamen- de ferimentos e parasitos; entre outros
te as características das águas (como aspectos. Todas as características que
o pH, a temperatura e a dureza), de- estejam fora do padrão devem ser ano-
vendo prosseguir até completar o saco tadas e informadas a um técnico, para
plástico. Em seguida, mergulhar o saco que esse possa recomendar exames
plástico aberto no interior do tanque-re- complementares e providências neces-
de para que os alevinos possam sair de sárias. O estresse causado por altera-
forma lenta. ções ambientais, manejo, transporte,
Em caso de transporte em caixas es- aclimatação, manuseio, densidade de
pecíficas, a aclimatação deve ser reali- estocagem e confinamento, é sem dúvi-
zada nas próprias caixas, esgotando-se da uma porta de entrada para doenças
de 50% a 60% da água do transporte e oportunistas. Deve-se realizar preven-
completando lentamente, durante 15 a ção contra doenças, pois geralmente os
20 minutos, com a água dos tanques-re- tratamentos são onerosos, nem sempre
de. Portanto, deve-se preparar todo o eficazes e difíceis de realizar em tan-
material de apoio com antecedência, ques-rede. É recomendada a utilização
tais como: tanque-rede, puçás, ração, de sal comum (NaCl) e anestésicos (por
redes e outros equipamentos necessá- exemplo: benzocaína, eugenol) para
rios. Além disso, deve-se verificar o bom realizar as biometrias, pois auxilia na
funcionamento e a limpeza dos equipa- prevenção de doenças e diminui o es-
mentos que envolvem o transporte (cai- tresse. O uso de substâncias com ca-
xas, manômetros, difusores, carga de racterísticas imunoestimulantes também
oxigênio, entre outros). é recomendado na nutrição e saúde de
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A B
Fotos: Fabiola Helena dos Santos Fogaça.
C D
Figura 8. Despesca tanque-rede: aproximação do tanque na balsa de manejo (A); tanque-rede
sendo levantado com auxílio das roldanas (B); despesca com puçá (C); Caixa de transporte (D).
A despesca ou retirada dos peixes dos maior estresse dos tambaquis. Assim que
tanques-rede pode ser parcial ou total e os peixes são retirados dos tanques-rede,
com mínimo possível de estresse. O ideal devem ser transferidos com o auxílio de
é pesar e anotar toda e qualquer quantida- um puçá para uma caixa de transporte
de de tambaqui retirado (kg). O manejo de com oxigenação para serem levados para
despesca começa com a suspensão da abate e processamento (Figura 8). É im-
alimentação dos peixes por um período portante transferir os peixes cuidadosa-
de pelo menos 24 horas. Após o jejum, o mente, mas de maneira rápida e eficien-
tanque-rede é transportado para balsa de te, pois o volume de água disponível fica
manejo, amarrado e levantado. É impor- reduzido, o que ocasiona maior lotação e
tante garantir que a despesca seja realiza- estresse aos peixes.
da no período da manhã, quando as tem- O transporte é um momento críti-
peraturas são mais baixas, evitando-se co na produção de peixes. A captura,
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deve ter uma área de depuração com GOMES, C.; CHAGAS, E. C.; MARTINS-JUNIOR,
tanques em alvenaria e renovação H.; ONO, E. A.; LORENÇO, J. N. P. Cage culture
constante de água para mantê-los em of tambaqui (Colossoma macropomum) in a
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JÚNIOR, H.; ROUBACH, R.; LOURENÇO, J. N. P.
PEDRAZZANI, A. S.; FERNANDES-DE-
Desempenho de tambaqui cultivado em tanques-
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rede, em lago de várzea, sob diferentes taxas de
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