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Fundamentos da Moderna

AQüicultura

HedenLuizMaruucsMoreira
Lauro Vargas
Ricardo Pereira Ribeiro
Sergio Zimmermann (Organiador)
INDICE

1 - CLASSIFICACÃO SISTEMÁTICA DE PEIXES 11

1.1 - Classificacão Peixes 11-16

2 - ANATOMIA DOS PEIXES


2.| - Características Gerais
2.2 - Morfol ia Externa 18
2.3 - Sistema Muscular 18
2.4 - Sistema uelético 18
- Sistema Circulatório 10
2.6 - Sistema Respiratório 19
2.7 - Sistema Irinório
2.8 - Sistema Di estivo 20
2.8 - Glândnlas Anexas

- FISIOLOGIA DE PEIXES
- Sistema Nervoso
3.2 - Órgãos dos Sentidos 24
3.3-A rod aoeoCicloRe rodutivo 26
3.4 - Sistema Endócrino 28

4 - ESTRUTURA DAS COMUNIDADES AQUÁTICAS 33


4.1 - Organismos Aquáticos 33

- AMBIENTE E ÁGUA PARA A PISCICULTURA


5.1 - Propriedades Físico-químicas da Molécula de Água 37

6- CONSTRU Ao DETAN UES 45


6.1 To afia 45
6.2 - Estrutura Física do .C•nlo 46
antidade de Á a 46
6.4 - Tipos de Tanques 47
6.5 - Características Gerais dos Tanques de Piscicultura 48
6.6 - Planeiamento de uma Criação 50
6.7 - Projeto Padrão para a Piscicultura em Tanques de Terra 51

7 - CALAGEM E ADUBAÇÃO DE TANQUES PARA A PISCICULTURA 53


7.1 - Calagem dos Tanques 53
7.2 - Adub ao dos T ues 54

Materialcom autoras
8 - NUTRIÇÃO DE PEIXES 59
8.1 - Introd 59
8.2 - Nutrientes e Exigências Nutricionais 59
- Alimentos 63
8.4 - Alimen 65
85 - t Jnjformidade do L,ote 67
Ambiente 67

9- REPRODU O DE PEIXES 69
9.1 - Introdução 69
9.2 - Formacao dos Gametas 69
9.3 - Reprodução como um evento cíclico 70
9.4 - Mecanismos Endócrinos da Reprodução 70
95 - ReproduçãoInduzida 71
9.6 - Coleta e Preservacao de Glândulas Pituitárias 76

v
0.1 - Introd ao 83
10.2 - Pacu e Tambaqui 83
10.3 - Piapara e Piavuçu 85

10.8 - Tucunaré 89
10.9 - Trairão 89

- FSP$,CIFS EXÓTICAS 91

111-
. Cria ao de ias 91

11.2- Cria ao de Salmonídeos 101


113
. -Cri ao deC 105
114-
. Black-Bass 111
11.5- Criação do Catfish Americano 112
11.6- Catfish Africano (Clarias ou Bagre-Africano) 115

12 - PATOLOGIA DE PEIXES 123


2.1 - Intr 123
122- Ciliados
. Protozoários 123
123 - Monogenéticos 128
12.4 - Artrópodes 129
. - Bactérias
125 131
12.6 - Fungos 133
12.7 - Apêndice 133

Material com dirc•'tosautorais


13 - GENÉTICA E MELHORAMENTO DE PEIXES 135
13.1 - Introdução 135
13.2- Revisão de Genética 135
133 - Consangtumdade 137
13.4 - Manipulação Cromossomal 140
13.5- Biotecnologia 141
13.6- Identificação de Linhagens 142
13.7- Engenharia Genética

14 - INDUSTRIALIZAÇÃO, COMERCIALIZAÇÃO E PERSPECTIVAS 149


14.1 Pontos importantes a serem observados para a industrialização de peixe 149
14.2 Principais forrnas de processar inicialmente o pescado 154
143 - Técnicas e métodos para conservar e processar pescados 157
14.4—Aproveitarnento de resíduos do processamento 168
14.5 - Uso de fosfatos em pescados 174
146 - Embala ra do 175
14.7 - Def 176
14.8 - Transporte 176
14.9- Vias de deterioração do pescado 177
14.10- Características identificáveis no pescado ou de seus subprodutos 180
14.11 - Comercialização 180
14.12- Perspectivas da Piscicultura 181

15 - ESTADO ATUAL E TENDÊNCIAS DA MODERNA AQÜICULTURA 191


15.1 - Resumo 191
15.2- Introdução 191
153- Estado atual da Aqüicultura 192
15.4-Ásia 193
15.5- Europa 194
156-
. África e Oriente Médio 194
15.7-Oceania 194
15.8 - América do Norte 194
15.9- América Latina 194
15.10-Brasil 195
15.11- Tendências da Aqiiicultura 196
15.12 - Novas tecnologias: biomanipulaçüoe mesocosmosaquático controlado (MAC) 197

com autor ais


CLASSIFICAÇÃO
SISTEMÁTICA DE PEIXES
Dr. Ricardo Pereira Ribeiro
Dra. Carla SimonePavanelli

Ictiologia é a ciência que estuda os peixes. Esse SubfamíliaCheirodontinae:peixesmui-


termo é derivado do grego (ichthy•o = peixes + logos to pequetMF,com uma única série de dentes no
= estudo); já o termo piscicultura, ciência que trata pré-maxilar, engloba as chamadas "pequiras".
da criação (cultivo) de peixes, é originário do latim
Aphyvharax nasutus (Ah), 1936)- "pequira"
(Pisces = Peixes). - peixe de pequeno porte, com a nadadeira cau-
A sistemática de peixes de água doce
dal vermelha; apreciado por aquarofilistas,
neotropicaisencontra-se atualmente ainda incipiente,
tendoem vista o grande número de espéciesexisten- família Characidiinae: peixes de pe-
tes, a complexidadede nossas bacias de drenagem e a queno porte, com as nadadeiras peitorais muito
escassez de recursosfinanceiros e humanos empresa- desenvolvidas, o que 'Fes confere capacidade de
dos no conhecimento da ictiofauna. "escalar" superfícies íngremes do sedimento.
Characidiumaff. zebra Eigenmann, 1909 -
1-1: CIASSIFICAÇÃQ pos PEIXES "canivete" pequeno peixe, também
comercializado por aquaristas.
CX peixes sao um dos grupos com maior
número de espécies viventes. Têm morfologtas e SubfamíliaSalmininae:espéciesmuito
cores variadas, com inúmeras adaptações que fa- importantes economicamente, por serem explo-
vorecem quase todos os tip€F e estratégias de ali- radas na pescacomercial.
mentaçao e reprodução. Salminus maxillosus (Valenciennes, 1849)-
A seguir é apresentada uma classificação "dourado" - atinge porte grande e sua carne é
baseadaem Eschmeyer(1990)e Britskiet al muito apreciada,e considerada nobre, além de
( 1988),com breves caracterizações, alguns exem- agradar pescadoresamadores. Possui duas
PIOSe comentários. séries de dentes cónicosno dentário.Atualmen-
São listadas algumas ordens que englobam te iniciou-sea difus50 de sua criação, para aten-
espécies de interesse na piscicultura de água der à demanda dos pesque-pagues.
doce, exemplificando com alguma espécie mais
conhecida, principalmente as de nossa regiào, e Subfamília Bryconinae:tambémmuitoim-
alguns comentários pertinentes. portantes na pesca profissional e amadora. Hoje
sao consideradcs como uma das maiores promes-
• ORDEMCLUPEIFORMES sas para a piscicultura brasileira, pela qualidade
de sua carne e esportividade na pesca.
Família Engraulidae:s50as "sardinhasde Brycon orbignyanus (Valenciennes, 1849) -
água doce", que se apresentam, na forma, muito "piracanjuba"- espécie muito bem come
similares àquelas de água salgada. lizada, possuitrês séries de dentes cónicosno
Lyeengraulis Olidus(Günther. 1874) "sardi- dentário.
nha" - restritaàs regiõesabaixoda Usina Hidre- Brycon microlepis (Perugia, 1897) -
Iétricade Itaipu, não tem uma participaçãotão "matrinchà" muitosemelhanteà anterior,di-
importante na pesca comercial dessa região.
ferencia-se por apresentar escamas relativamen-
te
• ORDEMCHARACIFORMES Subfamília Cynopotaminae: caracterizam-
FamíliaCharacidae se por apresentarem um perfil dorsal atrás da ca-
beça muito elevado, formando uma gibosidade
Subfamília Tetragonopterinae: peixes de característica; atingem porte médio e são popu-
pequeno porte.com duas séries de dentes no pré- larnwnte conhecidos Como "peixes-cadela". CO•
maxilar, representada principalmente pelos mercialmentenão são muito explorados.
"lambaris". Galeocharaxk,.erii (Steindachner, 1879) -
Hyphessobrycon eques (Steindachner, 1900) "peixe-cade;a"- apresenta a região dorsal não
"mato-grosso"- espécie ornamental utilizada muito elevada quando comparada à de outras
por espécies do grupo.

autorais
Subfamília Characinae:peixes com den- forrageiros, ou em áreas de desova.
tes fora da cavidade bucai, além dos normais, co-
nhecidosvulgarmente como "dentudos". Família Curimatidae: apresentama boca
desprovida de dentes, se alimentamde lodo ou
Roeboidesparanensis (Pignalberi, 1975) — vasa, no sedimento, e são chamados de
"saicanga" - de pequeno porte, usado como pei- "saguirus".
xe ornamental. Em ambientes naturais, utiliza os Steindachnerina insculpta (Fernández-
dentes externos para arrancar escamas dos ou- Yépez, 1948)- "saguiru" - de porte pequeno,
tros peixes, das quais se alimenta. apresenta a boca sub-inferior e região pós-ven-
Subfamília Acestrorhynchinae: de porte tral arredondada.
dio, são carnívoros,habitam ambientescom Potamorhina squamoralevis (Braga &
correnteza e são "peixes-cachorro . Azpelicueta, 1983)- "sairu-liso" - porte médio,
Acestrorhvnchuslacustris (Reinhardt, 1874) tem a região pós-ventral quilhada, e é encontra-
"peixe-cachoiro" - de porte médio, apresenta o da no rio Paraná abaixo da UNE de Itaipu,
corpo alongado, boca ampla e corpo recoberto Família Cynodontidae: muito caracterís-
de pequenas escamas. ticos por terem o corpo em forma de faca, muito
Subfamília Myleinae: alcançam grande alongado e comprimido, além de fenda bucal
porte, possuem o corpo alto e comprimido AI- bem inclinada.comdentescaninosmuito desen-
gumas espécies sao muito apreciadas na pesca volvidos; sào conhecidos como "dourados-ca-
comercial e amadora. Sáo os chamados "pacus". chorro" ou "dourados-facào".
Piaractus mesopotamicus (Holmberg, 1891) Rhaphiodonvulpinus (Agassiz, 1829)• "dou-
- "pacu" ou "pacu-caranha" - alcança porte gran- rado•cachorro" - com escamas muito pequenas
de, mas é mais apreciado quando alcança cerca recobrindo o corpo; alimentam-se de outros pei-
de três quilos, devido ao acúmulo de gordura que xes e alcançam porte médio, rnas n50 sao muito
apresentam os indivíduos maiores. E considera- explorados comercialmente, no rio Paraná.
do nobre para o consumo humano. Tem dentes Família Parodontidae: representada pelos
molariformes.Em ambientes naturais alin•wnta- "canivetes", sáo peixes pequenoscom nadadei-
se de frutos duros. É a espécte nativa mais estu-
dada e cultivada, em termos de piscicultura. ras peitorais muito desenvolvidas e mandil'ula
com poucos ou nenhum dente lateral.
Colossomamacropmunt (Cuvier, 1816)- Apareiodonafinis (Steindachner, 1879)- "ca-
"tambaqui" - espécie amazónica que pode atin- nivete" - apresenta uma faixa lateral escura e sete
gir até 30 kg de peso vivo; é de alto valor, como verticaisacima da linha lateral, não possui den-
animal de pesca para a região, e de grande po- tes na mandíbula.
tencial para a piscicultura, mas apresenta pouca
resistência ao frio. Part%lontortuosus(Eigenmann & Norris,
Colossomabrachypomum (Cuvier, 1817) - 1900)- "canivete" .com dois ou três dentes Iate-
"pirapitinga" - espécie amazónica pouco culti- tais no dentário, faixa horizontal escura com pro-
vada no Sul/Sudeste do Brasil. jeçóes alternadas, para oma e para fora, forman-
do um zigue-zague.
Mglossoma orbisnganum (Valenciennes, Família Hemiodontidae: corpo alongado
1849)- "pacu prata" - um pouco menor. também e nadadeiras longas, dentário desprovido de den-
é muito consumido; nio apresenta espinho pré-
dorsal. tes; sao chamados de "bananas".
Hemiodus orthonops (Eigenmann &
Subfamília Serrasalminae: de corpo alto Kennedy, 1903)- "sardinha" - escamas pequenas,
e comprimido, apresentam dentes fortes e cor- porte médio, cada lobo caudal com um faixa es-
tantes em poderosas mandil»ulas; sao conheci- cura paralela à margem externa.
das popularmente como "piranhas" ou
"pirarnbebas" e, a despeito de não oferecerem Família Prochilodontidae-"curimbatás"
grande perigo à espécie humana e, sim, aos ani- ou "curimbas" • de hábitos migratório-
mais debi litados e a outros peixes, principalmen- reprodutivos, atingem grandes portes e sao mui-
te os emalhados, são rotulados como perigosas to importantes na pesca comercial.
ao homem. Prochiloduslineatus (Valenciennes, 1836)
Serrasalntus marginatus (Valenciennes, (=P. scrofa steindachner, 1881)- "curimbatá" - es-
1836)- "pirambeba" - nào cresce muito e normal- camas grandes, boca em forma de ventosa, com
mente não ataca o ser humano; apresenta a mar- muitos denticulos implantados sobre os lábios
gem da nadadeira caudal com uma faixa escura. grossos, que lhe ptNsibilitam alimentar-se do
lodo ou vasa, no fundo.
PygocentrttsItattereri(Kner,1858)- "pira-
nha" - embora alcance um porte maior, oferece Família Anostomidae: peixes de vários
perigo somente em ambientes com alta concen- portes, geralmente herbívoros,com dentes cor-
traçáo de espécimes e baixa concentraçãode
Fundamentos da
Moderna Aquicultura

M aterki Cireétc,sautorais
tantes; são os chamados "piaus". Ctenopharyngodonidella (Valenciennes,
Leporinus elongatus (Valenciennes, 1849) -
1844) - "carpa capim" , espécie herbívora, boa
"piapara" - de grande porte, é muito apreciada para consorciação.
na pesca profissional e amadora; apresenta boca Hypphthalmichthys molitrix(Vallenciennes,
sub-inferior,com três dentes incisiviformesde 1844)- "carpa prateada", espécie fitoplanctófaga.
cada lado do pré-maxilar e dentário. Hypophthalmichthys
nobilis(Richardson,
Leporinusfriderici (Bloch. 1794) - "piau" - 1845) - "carpa cabeça-grande", espécie
porte médio, utilizado pela população ribeirinha z.(K'planctófaga.
para subsistência, apresenta dentes incisi- Carassiusaurafus (Linnaeus, 1758)- "japo-
viformes cortantes, quatro de cada lado do pré-
maxilar e do dentário. nês", "peixe dourado" ou "kingio" - peixe colo-
rido, grandemente difundido na aquariofilia.
Inporinus striatus (Kner, 1859)- "canivete"
- de pequeno porte, apresenta listras longitudi-
nais nos flancos, uma mancha vermelha no can- • ORDEMSILURIFORMES
to da boca e, às vezes, pode ser encontrado em Família Hypophthalmidae: porte médio
lojas de aquariofilia. a grande. corpo nu, sào peixes pelágicos, com
Lepotinus obtusidens (Valencienes, 1836) boca e aberturas branquiais muito amplas e co-
"piau" - é encontrado na bacia do rio Paraná, nio nhecidos como "maparás".
havendo relatos de sua exploração comerc:alem
cativeiro.
Hgpophthalmus edentatus Spix, 1829 -
"mapará" - possui o trato digestivo adaptado
Leporinus macrocephalus (Garavello & para se alimentar de organismos planctônicos.
Britski, 1988)- "piauçu" ou "piavuçu" - espécie Em algumas regiões. como o reservatório de
já explorada comercialmente, atingindo em tor- Itaipu, esta espécie tornou-se muito abundante
no de um quilograma com aproximadamente um e tem uma participaçãoconsiderável na pesca
ano de idade. comercial.
Família Erythrinidae: peixes de porte rné- Família Ageneiosidae: de corpo nu e cha-
dio a grande, exímios predadores, de boca am- mados "manduvês", têm como característica
pla com muitos dentescaninose outros menores apresentaremos barbilhOesmuito reduzidos e
no palato e, às vezes, também sobre a língua; semiocultos, dando a impressão de serem estes
possuem fontanela e sao vulgarmente chamadas ausentes; apresentam fecundaçao interna e
de "traíras". dimorfismo sexual na época de reproduçáo.
Hoplias aff. malabaricus (Bloch, 1794) - "tra- Ageneiosus brevifilis (Valenciennes, 1840) -
ira" - porte médio, muito comum principalmen- "manduvê" - de porte médio, apresenta cabeça
te em ambientes Iénticos,é um predador muito larga e achatada; dorso escuro.
voraz de peixes menores e apresenta denticulos
sobre a língua. Família Pimelodidae: com muitas espéci-
es, são conhecidas no geral como "bagres"; têm
Hoplias lacerdae (Ribeiro, 1908) - "trairio" • corpo nu e barbilhõesbem desenvolvidos;alguns
por alcançar um tamanho relativamentemaior, podem apresentar o primeiro raio das nadadei-
é apreciada por pescadores profissionais e ama- ras transformado em esp:nho.
dores, sendo sua carne muito saborosa. Apresen-
ta lingua lisa e também é predadora. Na década Subfamília Pimelodinae
de 70 e início dos anos 80, foram difundidas, tanto Pimelodusmaculatus (Lacépêde, 1803) -
na piscicultura, para consorciaçãocom tilápias, "mandi" - de porte médio, é muito abundante,
quanto para serem usadas em reintroduções em apresenta espinhos fortes nas nadadeiras dorsal
alguns reservatórios de hidrelétricas. e peitorais. E comercializado pelos pescadores, a
Família Lebiasinidae: peixes pequenos, despctto de não ser consideradanobre.
sem fontanela, conhecidos como "charutinhos". Subfamília Luciopimelodinae
Pyrrhulina australis (Eigenmann & Pinirampus pirinampu (Spix, 1829) -
Kennedy, 1903)- "charutinhos" - de porte muito "barbado" - de grande porte, é muito apreciada
pequeno, apresenta a forma do corpo e o padrão e pescada, apresenta os barbilhões bem desen-
de colorido muito bonitos, sendo bem acena por volvidos, porém achatados, em forma de fita.
aquariofilistas. SubfamíliaSorubiminae
Família Cyprinidae: peixes de água doce Paulicea luetkeni (Steindachner, 1875) - "jaú"
muito cultivados em todo o mundo, como espé-
- espécie que atinge maior parte nos rios do cen-
cies para consumoou ornamentos. Iro/ sul do Brasil. Os espécimes mais velhos po-
Cyprinus carpio (Linnaeus, 1758)-"carpa co- dem ultrapassar os cem quilos. É muito aprecia-
mum"' ou "carpa húngara". da e comercializada, principalmente os exempla-

autorais
res não muito grandes. SubfamíliaAncistrinae
Pseudoplatystomacorruscans (Agassiz, 1829) Megalancistrus aculeatus (Perugia, 1891) -
"pintado" e P.fasciatum (Linnaeus, 1766) - "cascudo-abacaxi" - alcança grande porte, apre-
"cachara" - peixes considerados nobres, alcan- senta o corpo amarelado, com muitas manchas
çam altos preços quando comercializados. A pri- marronsarredondadas,e cobertocom muitos
meira apresenta manchas arredondadas e a se- odontóidesbem desenvolvidos,que conferem
gunda, faixas verticais sobre os flancos. Resulta- um aspecto muito áspero, mesmo aos indivídu-
dos obtidosem cultivo apontampreliminarmen- os jovens;sua carne é muito apreciada e é parte
te como uma boa perspectiva para a piscicultu- considerável da pesca comercial, principalmen-
ra, apesar da alta demanda protéicaexigida no te do reservatório de Itaipu,
seu arraçoamento. Subfamília Hypostominae
Família Auchenipteridae: de corpo nu, Rhinelepis aspera (Agassiz, 1829) - "cascudo-
apresentam aberturas branquiais reduzidas, fe- preto" - também é parte expressiva da pesca pro-
cundaçaointerna,dimorfismosexualno perío- fissionaldo reservatóriode Itaipu, principalmen-
do reprodutivo e são conhecidos como te na região de Guaíra, onde teve sua população
"canga tis".
drasticamente reduzida pela sobrepesca. Apre-
Auchenipterus nuchalis (Spix, 1829) — senta grande potencial para a piscicultura.
"surumanha" - com olhos laterais e boca superi- Família Ictaluridae: familia de bagres da
or, alimenta-se predominantemente de insetos. América do Norte, onde são muito difundidos
Família Doradidae: de corpo nu, com uma na aqúicultura.
fileira de placas ósseas na região da linha lateral Ictalurus punctalus (Rafinesque, 1818) -
e, às vezes, nas porçõessuperiorese inferiores "catfish" ou "bagre-de-canal"- espécie muito
do pedúnculo caudal; são os chamados "arma- cultivada no centro/sul dos EUA, responsável
dos".
por boa parte da produçao piscícola de água doce
Pterodoras granulosas (Valenciennes, 1821) daquele país.
- "armado" - apresenta boca anterior e é onivo- Família Clariidae: são os "bagres-africa•
ra. Possui placas da série lateral maiores na par-
nos" , ou "catfish-africano" , do género Clarias, que
te posterior do corpo e pedúnculo caudal nú. É foram introduzidos nos últimos anos no Brasil,
de grande potencial para piscicultura devido ao
seu hábito alimentar. É chamado de "porquinho- mas o interesse por seu cultivo está em declínio.
do-rio".
Família Callichthyidae: geralmente de pe- • ORDEM GYMNOTIFORMES
queno porte, caracterizam-se por apresentar duas Ordem Gymnotiformes: possuemcorpo
fileiras de placas ósseas recobrindoos flancos, muito alongado e comprimido, coberto de pe-
uma superior e outra inferior. São " tamboatás" uenasescamas,com attsénciade nadadeiras
e "coridoras". orsal e ventrais, sendo a anal muito longa e as
Corydoras aeneus (Gil, 1858) - "coridoras" aberturas branquiais muito reduzidas.
- peixe pequeno, de boca pequena, subinferior, Família Gymnotidae: podem alcançar
comercializado por aquariofiltstas. grande porte, possuem boca superior, com man-
Família Loricariidae: são popularmente dibula prognata e são predadores; também não
Chamadosde "cascudos".alcançando va- apresentam nadadeira caudal e são conhecidos
riados; apresentam os flancos cobertos por algu- como"morenitas".
mas fileiras de placas. C,ymnotus carapo (Linnaeus, 1758)
Subfamília Loricariinae "morenita" - é utilizado na pesca,em geral não
Farlowella oxyrhynchus (Kner. 1853) - como presa, mas como isca viva, principalmente
"cascudo-graveto" - pequenos, apresentam o fo-
para pescadoresque se utilizam de artefatosde
cinho prolongado num rostro longo e corpo pesca como espinhéis e anzóis de galho, para
muito fino e alongado. São apreciados por captura de grandes predadores.
aquariofilistas. Família Sternopygidae: são de porte mé-
Subfamflia Hypoptopomatinae dio, não possuem nadadeira caudal e são cha-
mados "ituís". Algumas espécies sào apreciadas
Otocinclus vittatus (Regan, 1904)- "limpa- por aquariofilistas devido a seu peculiar padrao
vidro" - muito pequenos. apresentam a boca in- de colorido e formas.
ferior,em forma de ventosae se alimentamdo Eisenmannia virescens (Valenciennes, 1842)
perifíton aderido aos substratos submersos, em
aquários e dos organismos aderidos nos vidros, - "ituí" - quando jovens são comercializados por
vindo daí seu nomepopular. aquariofilistas.
Família Apteronotidae: de porte médio,
Fundamentosda
Moderna Aqu•cuttura
possuemnadadeira caudalreduzida e também "apaiari" - é apreciada tanto por pescadores
são popularmente conhecidoscomo "ituís". quanto por aquaristas, sendo chamado nas lojas
Apteronotus albifrons (Linnaeus, 1766) -
de aquário de "oscar".Atualmenteexistemal-
"ituí-cavalo" - comercializado em lojas de aquá- gumas linhagens melhoradas geneticamente fora
rio, possui uma faixa branca estreitasobre a ca- do Brasil,para uso ornamental.
becae outra sobre o pedúnculocaudal;nadadei- Oreochromisniloticus (Linnaeus, 1757)-
ra caudal presente, embora reduzida. "tilápia nilótica" - uma das muitas espécies de
"tilápias" importadas da África e introduzida
nas nossas bacias com 0 intuito de colaborarcom
• ORDEM SALMONIFORMES a pesca profissional e amadora. MO obteve muito
Família Salmonidae: agrupa espécies es- sucesso nas bacias naturais, sendo bem captura-
tranhas aos nossos ambientes naturais, que são
da apenas em alguns reservatórios brasileiros.
muito apreciadas em seus paízes de origem, da Oreochromis hornorum (Trewavas, 1966)
Américado Norte e Europa.Difundiram-senas "tilápiahornorum"- espéciemuito utilizada
pisciculturasbrasileiras devido às facilidadesde como macho.no acasalamentocom a espécie
cultivo geradas a partir de anos de estudo sobre anterior, visando a obtenção de progénie estéril,
seus diversos aspectcrsbiológicosno mundo in- para cultivo de monossexo.Atualmente em de
teiro. São os chamados "salmões" e "trutas". suso.
Salmo trutta (Linnaeus, 1758) e Salmo Tilariarendalli (Boulenger, 1897) - "tilápia
cairdineri (Richardson, 1836) "truta-marrom" e ccn•num".introduzida no Brasil no início da dé-
truta arco-íris"- duas das muitas espéciesde cada dc 70, mas deixada de lado devido a sua
"truta" trazidas para o Brasil,mas que têm en- alta prolificidade e baixa produtividade. Atual-
contrado problemas de cultivo devido à sua pre- mente pode ser encontrada em alguns rios do
feréncia por águas frias, restringindo sua cria- Brasil.
são a essas áreas, ou a ambientescontrolados. Família Sciaenidae: apresentam a nada-
deira dorsal com um entalhe separando a parte
anterior,de raiosduros,da posterior,de raiosmo-
• ORDEM SYNBRANCHIFORMES les. sao conhecidascomo "corvinas".
Família Synbranchidae: conhecidos vul- Plasioscion squamosissimus (Heckel, 1840)-
garmente por "mussuns", apresentam o corpo "corvina -originária da região nordeste do Bra-
serpentiforme, muito fino e alongado e as aber- sil, foi introduzida na bacia do rio Paraná há
turas branquiais fundidas em uma só. muito tempo, obtendo sucesso em alguns, reser-
Synbranchus marmoratus (Bloch, 1795) - vatóriosde UHE,como o de Itaipu. E bem
"mussum" - de porte médio, resiste a condições comercializada pelos pescadores.
de seca, ficando enterrado na lama até a próxi- Família Centrarchidae: também apresen-
ma chuva. Causa transtornoaos piscicultores ta o entalhe na dorsal. Os espécimessao chama-
pela dificuldade em ser eliminado dos tanques e
é utilizado como isca viva para captura de gran- dos vulgarrnentede "black-bass".
des predadores. Micropterus salmoides (Lacépêde, 1802) -
"black-bass" - espécie trazida de outros países, é
pouco encontrada em águas naturais, sendo mais
• ORDEM PERCIFORMES difundida em pesque-pagues e estações de pis-
Família Cichlidae: são os chamados cicultura; tem preferência por regiões de climas
"carás". Apresentam padrões de coloração mui- temperados.
to variados, agradando muito aos aquariofilistas;
mas também englobam espécies importantes na •ORDEM PLEURONECTIFORMES
pesca comercial.
setequedas (Reis, Família Achiridae: engloba as espécies de
Gymnogeophagus "linguados", muito características por apresen-
Malabarba& Pavanelli,1W2)- "cará"- muito tarem os dois olhos do mesmo lado da cabeça. É
colorido, é bem explorado por aquaristas. uma familia com maior representatividadena
Cic•hlamonocultts (Spix, 1831) - "tucunaré" água salgada, poucas espécies habitando a água
espécieoriginária da baciaamazónica.há mui- doce. Sà0 todos peixes possuidores de carne de
to tempointroduzidana nossaregiãocom fins excelente qualidade e sabor.
comerciais, por alcançar grande porte e ser apre- Catathyridiumjenynsii (Giinther, 1862)-
Ciadapor pescadores amadores. Não obteve mui- "linguado" - carnívoro por excelência, fica en-
to sucesso em cultivo, mas pode ser encontrada terrado no sedimentoà espera de sua presa, a
em alguns reservatóriosde hidrelétricas. qual abocanha em um bote muito rápido. As es-
Astronotus ocellatus (Agassiz, 1831) - pécies de água salgada sho maiores e muito va-

com
lorizadas comercialmente,enquanto a de água que se desenvolveram a contento, nem os even-
doce é menor e ainda não Obtevemuito sucesso tuais danos causadosàs espéciesnaturais do
entre os pescadores. ambiente. Tampoucoconhecemosa endo e
ectofaunaassociadaa esses indivíduos e, menos
ainda, a sua atuaçào e quando em con-
• ORDEMATHERINIFORMES tato comespécies nativas. Seguramente, por corn-
FamíliaAtherinidae:a maioriadassuas petição ou predação, uma espécie introduzida
espécies povoam as águas salgadas e salobras e
com sucesso em um ambiente novo pode alterar
são conhecidascomo "peixes-rei". acentuadamente o equilmrio do ecossistema, le-
vando à extinçãoou a um possíveldecréscimoa
thesteslutariensis(Valenciennes,1835) população de alguma espécie de importância di-
"peixe-rei"- introduzidana regiãodo alto rio reta ou de espécies forrageiras importantes, o
Paraná originária do Rio Grande do Sul - tam- que, indiretamente,também desequilibrana o sis-
bém não foi multo bem sucedida. tema. Com relaçáoaos parasitas transportados
junto com os indivíduos, sabe-se que, pelo me-
Cabe abrir aqui um parêntese e esclarecer nos em pesque-pagues, atualmente eles causam
e muitas espécies de peixes neotropicais ain- surtcyscatastróficos, responsáveis muitas vezes
Iau não foram descritas e muitas das que lá pos- pela drástica diminuição na quantidade e quali-
suem nome foram descritas há muito tempo. por dade do pescadoconfinado,o que tem ocorrido
pesquisadores em sua maioria estrangeiros, os quando a introdução é feita sem controle ou sem
quais não faziamidéia da biodiversidadeexis- acompanhamentotécnico.Em ambientes natu-
tente aqui. Em vista disso, muitas revisões rais, mais uma vez não se tem certeza de nada,
taxonómicasse fazem necessárias para uma cor- mas acredita-se que a introduçaode um parasita
reta identificaçáo das espécies, principalmente nà0 muito específicoque possa se utilizar de di-
das que foram mal descritas, pois qualquer es- ferentes hospedeiros, pode ser mais prejudicial
pécie morfologicamente semelhante se encaixa ao sistema como um todo que a própria espécie
em tais descrições. Essas descriçóes poderáo ser de peixe introduzida, a qual normalmentenem
feitas com o auxílio de novas técnicas, por exem- é bem sucedida.Isso torna muitas vezes uma im-
PIO,as técnicasde biologta molecular.Estudos portaçáo uma verdadeira incógnita, sendo que,
relativos à biologia das nossas espécies também com certeza, estará havendo a introduçao de pro-
se fazem necessáriospara íundarnentar qualquer blemas (enfermidades, principalmente) e nem
direcionamento aplicado que se queira dar a elas. sempre de soluçOes.
O parco conhecimentoque temos sobre nossa Portanto,o estudo das nossas espécies
ictiofauna tem levado importaçées de espécies deve ser muito incentivado,tornando-seuma
exóticas, acompanhadas de "pacotes tec- condiçào "sine qua non" para ampliar nossos
nológicos"de cultivo. A despeito de termos na conhecimentosrelativosà ictiofauna.Talestudo
nossa fauna nativa muitas espécies nobrese bem visaria inclusivedesenvolvertécnicasadequadas
equilibradas no meio natural, são elas pouco ex- para o cultivo, de modo a auxiliar nas medidas
pioradas, principalmente no que diz respeito ao de manejo, bastante requeridas principalmente
cultivo,em vista de poucosestudosteremsido nas regióes mui to impactadas. As introduçoes de
efetuados.Com o manejo adequado e o conheci- espécies exóticasatualmente estôo sendo
mentodas suas característicasreprodutivase desestimuladas, mormente por segmentos do
nutricionais, estas espécies seriam opções tao Setor Elétrico. principal responsável pelo culti-
boas ou até melhores que as exóticas, urna vez vo dessasespécies,emborafossemas introdu-
que estão adaptadas às nossas condições ambi- çôes até pouco tempo atrás o tipo de peixamento
entais, aí incluídas interaçôes com outras espéci- mais recomendado. Porém, mesmo para este proe
es, parasitas, etc. Entretanto, as muitas importa- cedimento.é necessárioconhecera biologia da
Góesou introduçõesde espécies exóticas, espécie em ambiente natural e suas técnicasde
verificadasmormentea partir de meados do sé- cultivo. bem como monitorar seu sucesso na co-
culo XX- destinadas em geral ao povoamento munidadenatural.
de grandes reservatórios e hidrelétricas, de res- Entretanto,nio poderíamosdeixar de con-
ponsabilidade dos governos municipais, estadu- siderar aquelas espéciesexóticas que apresentam
ais e federal - foram acompanhadas de muita pu- um grande potencial de produção e São criadas
blicidade no ato e pouco ou nenhum em vários países do mundo. Apenas, devemos
monitoramento posterior que pudesse verificar cultivá-lasem confinamento,evitandoo escape
o sucesso ou o insucesso da espécie no ambiente e a hibridizaçãoindiscriminada.Dessemodo,
colonizado. acreditamos que a iscicultura caminha para a
Estudos que tenham precedido as introdu- exploração tanto espécie nativas como exó-
Góes, objetivando prever as alteraçOes ticas, que ofereçam alimento de qualidade e re-
provocadaspela espécie exótica no ambiente na- torno económico rápido.
tural, são ainda mais escassos,praticamente
inexistentes. Com isso, não se conhecem os cus-
tos ecológicos das poucas espécies introduzidas
Fundamentos da
16 MadernaAqúicuttura

Mateyia\ autô'a)s
ANATOMIA DE PEIXES
BernadeteRi:zo da Rocha Loures,M. sc.
Silvia Lima,M. sc.

Para que a criação ou exploraçáo racional simetriabilaterale se locomovemem sentidoion-


de peixes alcance sucesso são necessários conhe- gitudmal, sendo que a nadadeira caudal funcio-
cimentosdo funcionamentoe organizaçãode seu na como o principal apêndice Iocornotor.
organismo, pois só assim saberemos aplicar téc- Em relaçãoao tamanho, os maiores podem
nicas corretas de alimentação,reprodução,ins- atingir quase 20 metros, como o tubarào-baleia;
talaçôes, enfim, de manejo geral adequado. e os menores,mo mats que alguns centímetros.
Anatomia é um ramo da ciênciaque estu-
da a forma e a estrutura dos organismos.Seu • 2.1.1.Tegumento
estudo é importante para entendermosa biolo- A pele recobre todo o corpo dos peixes, e a
gia geral dos peixes em suas diversas fases de sua pnnc•pai função é proteger; mas, dependen-
desenvolvimento. do da espécie e fase de desenvolvimento, pode
O objetivo deste capítulo é dar uma noção ter tambéma funçào respiratória. Está subdwi-
dos aspectos gerais da morfologia e anatomia dida em epiderme, que é supeficiale fina, com
dos peixes ósseos (Osteichtyes), estudando a or- glândulas mucosas;e a derme, mais interna e
ganizaçaodos seus diversos sistemas,comênfa- espessa,onde se inseremvasos, nervos e órgaos
se aos sistemas digestivo e reprodutivo. sensonais. A derme possui estrutura mais fibro-
sa e nela ocorrea formaçàode escamas.
2.1. CARACTERÍSTICAS GERAIS São conhecidos cinco tipos de escamas:
Os peixes sáO vertebrados aquáticos e pos- ganóides, placóides (tubarão), ciclóides e
suem a capacidade de fazer variar a sua tempe- ctenóldes(trutas).As duas iltimas sao comuns
ratura corporal, de acordo com a do meio ambi- nos teleósteos e a sua origem é dermal.
ente (PECILOTERMOS).
Respiramatravés de A escalimetria(estudoda escama)é de
trocas gasosas com o meio, promovidas geral- importância fundamental para ao conhecimen-
mente pelas brânquias. to das estruturas populacionais dos peixes, para
Representam 500/0 das 42.000 espécies de a determinaçaoda idade, do crescimento,do es-
vertebradosexistentes(conhecidas),isso porque tado nutricionale de dados sobre migraçOes,re-
Seu habitat (oceano, lagos e rios) correspondem produçáo e doenças.
a quase 3/4 da área do nosso planeta Aderme apresenta ainda os cromatóforos
Suas formas variam de acordocom as con• (células pigmentadas), que se localizam nas ca-
dições ambientais em que vivem, sendo a mais madas mais externas,e que quando ativadas,
comum a fusiforme (sofrepouca resisténcia da migram para as camadas externasda pele,con-
água à locomoção).Quase sempre, apresentam ferindo coloraçào ao peixe. Eles possuem função
no mecanismode mimetismo (adaptaçàpda cor
do peixeao meio ambiente)e na reproduçáo,
comocaraterde dimorfismosexualtransitório
ou de atraçaosexual.
Os principais pigmentos encontrados nos
peixes sio as melaninas que produzem o mar-
rom, cinza, e preto, e os carotenóides,que pro-
duzem amarelo, laranja e vermelho.
As glândulas localizam-sena epiderme e
produzem um muco isolante que recobretodo O
corpo dos peixes, com o objetivo de facilitar sua
locomoçào e protegê-lo da entrada de agentes
patogénicos.
Existem glândulas de veneno que sio
adaptações defensivas dos peixes.

direÉ10s auto:ais
músculosSãoesqueléticos,estriadose
2.2. MORFOLOGIA EXTERNA voluntários possuindo inserção no esqueleto.
Para esse tópicoserá usadocomobase o O sistema axial apresenta fibras muscu-
Conaton nobilis.O corpo dos peixes pcsui três re- lares longitudinais, que se estendem desde a re-
giôes: a cabeça, o tronco e a cauda. A cabeça es- giàOmedianadorsal até a região medianaven-
tendese do focinho até a região branquial, o tron- tral e são unidas por uma faixa de tecido con-
co vai até o orifício anal, onde a cauda inicia-se. juntivo denominado linha alba, a qual percorre
A boca é terminal e rodeada pelos maxila- todo o ventre do peixe. Os feixesde músculos
res superior e inferior; no assoalho da boca fica do tronco e da cauda situam-se longitudinal-
presa a língua, que não é extensível para fora. mente, alternando as faces, e seu movimento
Os olhos não possuem pálpebras, portanto não dá aos peixes o sentido da locomoção longitu-
se fecham, porém são recobertos por uma dobra dinal por ondulação, atuando a nadadeira cau-
de pele transparente para protegê-los. dal comoleme.
De cada lado da cabeça,entre os olhcs e a O sistema muscular apendicular une os
boca, situam-se dois orifícios interligados às na- ossos das nadadeiras ao esqueleto. Esse sistema
rinas. Atrás dos olhosexisteuma placa em for- é composto por dois feixes musculares, que pos-
ma de meia-lua,o opérculo,que serve como suem funçãode estabilizaros movimentosdos
"tampa" para a cavidade branquial. Levantan- peixes. O feixe dorsal possui as nadadeiras
do-se o opérculo é possível observar-se as abdutoras, para cima e para trás. O feixe ventral
brânquias, em número de quatro pares. é composto de músculos adutores, que determi-
Cada brânquia é formada por um arco, O nam os movimentos das nadadeiras para baixo
arco branquial,onde se inseremfilamentos e para frente.
avermelhados. Entre as brânquias ficam as fen-
das branquiais, por onde passa a água. 2.4. SISTEMA ESQUELÉTICO
As nadadeiras sao em número de sete ou O esqueletoé basicamenteconstituídoda
oito, dividindo-se em pares e ímpares, sendo as notocordae de tecidosósseoe cartilaginoso.Fun-
primeiras, duas peitorais e duas pélvicas e as ciona cornoelemento de sustentaçaodos mús-
outras, a dorsal (que pode ser bifurcada, como é culos e das demais partes do corpo. Atua ainda
o caso do nosso exemplo - Figura 2.C.), a anal, a na proteçào dos órgãos e, juntamente com a mus-
caudal e a adiposa, quando presente. culatura, dá forma ao corpo do peixe. Divide-se
O orifício urogenital situa-se na frente da em exoesqueleto (ou esqueleto dérmico), que é
nadadeira anal (muitos peixes têm o orifício constituído pelas escamas e pelos apêndices de
genital e urinário separados). locomoção; e endoesqueleto, que por sua vez se
Em toda a extensao da face lateral, desde subdivide em esqueletos axial, apendicular e
o opérculoaté a cauda, observa-seuma linha es- visceral.
cura, a linha lateral,sob a qual situam-sebastões
sensoriais especializados em captar vibrações da • 24.1. Esqueleto Axial
água. A linha lateral dá ao peixe, o sentido de É formado pelos ossos do crânio e da co-
tato, de distância e de recepçao de sons de baixa luna vertebral. O crânio é composto por ossos
frequência. achatados, que formam uma cavidade para alo-
jar principalmente o encéfalo. Possui dois ossos
frontais, dois parietais, dois pré-frontais, dois
pós-frontais, dois supratemporais, um
suboccipital e um infra-occipital.
A região da boca está provida de maxila e
mandibula, que se movem verticalmente. No in-
terior da boca existem dois ossos, o vómer e o
palatino. Na face localiza-se a região apendicular,
formada de ossos móveis, que auxiliam na fun-
çào respiratória e estão situados em ambos os
lados da cabeça.
A coluna vertebralestá formada por vér-
FIGURA2.B.: Morfologiaexterna dc um te•ósteo tebras de número a forma variados. As vértebras
possuemem sua estrutura: arcos dorsais
(neurais), arcos ventrais (hemais), processos
23. SISTEMAMuscut AR transversais, e um corpo ósseo, que une a coste-
A musculatura dos peixes é simples e pode Ia espinhosa aos arcos neurais.
ser dividida em sistema axial e sistema
apendicular. • 2.42. Esqueleto Apendicular
O sistema axialcorrespondeaos músculos É formado pelas nadadeiras.
que formam a cabeça e o tronco (eixo longitudi- As nadadeiras são órgãos periféricosque
nal do corpo); e o sistema apendicular, aos apên- r«ssuem funçãopropulsora,estabilizadora ou de
dices locomotores. direçao, constituídas por uma prega dérmica
da
18 Moderna Aquicultura

Material direitos aut,?,' ais


sustentada por um conjunto de estruturas, de- A parede do seio venoso é fina e está sepa-
nominadas raios.Os raios podem ser simples e rada do átrio através de duas válvulas. O átrio
duros (espinhos)ou ramificadose moles. tem parede um pouco mais espessa e comunica-
Excepcionalmenteexistemnadadeirassem se com o ventrículo pelo orifício átrioventricular.
raios, denominadas adiposas, que se localizam Nos peixes dipnóicos o átrio é dividida
na parte superior, logo após a nadadeira dorsal. por septos e não possuem válvulas. O ventrículo
As nadadeiras apresentam-sede vários possui paredes masculosas e é a parte contráctil
tipos (Figura XC): do coração,sua parede está separada do cone
arterialpor um estrangulamentodotado de vál-
protocerca: é simétrica, ex: ciclostomatas; vulas.
heterocerca: é assimétrica, ex: seláquios; O cone arterial possui paredes com mus-
dificerca:é derivada da hetercxerca, culaturalisa e fibraselásticase liga-sediretamen-
ex: dipnóicos; te 'a aorta.
homocerca:é simétrica, ex: teleósteos; Nos peixes, a circulação do sangue dá-se
gefirocerca: sem nadadeira caudal típica. da seguinte forma: o sangue venoso chega ao
coraçao através de veias que desembocam no
canal de Cuvier, passando para o átrio e a seguir
para o ventrículo. Na seqiiéncia, o sangue enca-
minha-se para o cone arterial, lançando-se na
artéria aorta ventral, que se divide em quatro
pares de artérias, as artérias eferentes branquiais,
uma para cada par de brânquias, onde as artéri-
FIGURA2.C.: as ramificam-senuma rede capilar,onde o san-
Diferentes gue é oxigenado.
tipos de nada- O sangue arterial, após irrigar todos os
órgãos, é conduzido para o coraçao através de
quatro veias, duas vindas da cabeça as card inais
Fonte;O". anteriores ou jugulares - e duas provenientes da
parte posterior - as veias cardinais posteriores ou
• 2.4—3.Esqueleto Visceral veias cavas.
Está realacionadoaos tubos internos do As veias jugulares e as cavas do mesu.
corpo, principalmente à faringe e ao tubo diges- lado juntam-se no ducto de Cuvier, que se abre
tivo. E formado por uma série de arcos no seio venoso,no qual desembocama veia por-
cartilaginosos ou ósseos entre as aberturas ta renal e a hepática. Portanto, nos peixes, o cos
branquiais, dando sustentaç50 a estas últimas. raçào só recebesangue venoso, pois a transfor-
2.5. SISTEMA
Os peixes sio heterotérmicos (sangue frio),
possuem sangue vermelho adaptando a tempe-
ratura do seu corpoa do meio ambiente.O volu-
me sangüíneo representa dois por cento dos peso
do corpo, sem incluir a linfa.
Dos ciclóstomosaos teleósteos.comexce-
çao dos dipnóicos,o sistema circulatórioé sim-
ples, pois somente o sangue não oxigenado pas-
sa pelo coração, caracterizando um fluxo sanguí-
neo único. FIGURA2.E.: Esquema da circulaçao
O coraçao situa-se logo atrás das brânquias sanguinea em teleósteos
e estruturalmenteé constituído pelo seio veno-
sot átrio, ventrículo e cone arterial, de onde se mação em sangue arterial só se dá nas brânquias,
prolonga a artéria aorta ventral. ou seja, após a passagem pelo coração.
O sistema circulatório linfático, nos peixes,
é mais desenvolvido nos holósteose nos
FIGURA2. D.: Aspecto gora/ teleósteos,constituindo-sena formade tecido
coraçáo de um teleósteo. linfólde disperso e não na forma de gânglios.
Possui função de fagocitose, leucopóise e
hematopoiese. Os teleósteos podem eventual-
mente ter o coração linfático, responsável pela
propulsão da linfa pelo corpo.
2.6. SISTEMA RESPIRATÓRIQ
As necessidades respiratórias dos peixes
são variáveis e dependem de sua fase de desen-

com
volvimento da idade, da altitude, da temr quadO e elimina resíduos nitrogenados, resultan-
tura ambiente,e da naturezado meioque tes do metabolismo protélco. Está constituído de
tam (lagos e rios). rins e ureteres, respectivamente órgãos secretores
Para desenvolver-seem embrião,o ovo e excretores.
consome mais oxigénio do que na fase de larva; Os rins apresentam-secomoduas massas
e esta mais do que as formas adultas, que em sanguíneas, paralelas e dispostas longitudinal-
período de produção aumentam sua exigéncia. mente junto à coluna vertebral. Geralmente os
Os peixes de água doce são mais exigen- ductos excretores(ureteres),ao sair dos rins,
tes em oxigénio do que os do mar. unem-se, formando apenas um, que desembo-
De maneira geral, os peixes respiram pe- ca em uma bexiga urinária ou diretamente no
Ias brânquias, local onde ocorrem as trocas ga- orifício urogenital, ou na cloaca, dependendo
sosas e o sangue se arterializa. Mesmo em espé- do peixe.
cies que se adaptaram à respiração aérea, as A bexiga urinária que pode ser considera-
brânquias estão presentes de forma reduzida ou da a união dos ureteresexcretores)está situada
rudimentar. atrás dos ri:us.é relativamentecontráctile pos-
As brânquias são quatro estruturas lisas, sui formato bastante irregular. Ela abre-se para
lamelarese pares, localizadasdentro da cavida- para o exteriorpor um ducto denominadode
de branquial, ao lado da faringe. Nelas ramifica- uretra ou canal urinário, que desembocana
se urna extensa rede capilar sangüínea, protegi- cloaca ou no orifício urogenital.
da por uma delgada membrana de coloração Existem dois tipos básicos de rins: pronefro
vermelha. (cefálico)e mesonefro.
As brânquias estáo constituídas de O rim pronefro aparece nos primeiros es-
filamentos que se apóiam em arcos tágiCFda vida do peixe, podendo permanecer até
(arcos branquiais). Nesses arcos ainda se apói- a fase adulta. Caracteriza-se por nào possuir a
am os rastros branquiais,que são estruturas cápsula de Bowman e os glomérulos renais, apre-
especializadas na retençáo e seleçao dos alimen- sentando apenas túbulos simples (ducto
tos encontrados na água e comunicam-sedireta- pronéfricos). que drenam o conteúdo renal dire-
mente com a faringe. Os rastros branquiais vari- tamente na corrente sanguínea.
am conforme os hábitos alimentares dos peixes A irrigaçào dos rins é feita pelo sistema
e, além de reter alguns alimentos, orientam-os porta-renale pela artéria renal; e a drenagem,
para o esófago. pela veia pós-cardtnal.
O trânsito da água para a oxigenaçãodo Os peixes de água doce possuem rins mai-
sangue dá-se da seguinte maneira: a água entra ores,com maior número de glomérulos, pois vi-
pela boca, percorre a faringe, passa através dos vem em meto externomenos concentrado(água
arcos branquiais e sai pela abertura do opérculo; menos salgada). Nos peixes de água salgada
à medida que a água passa pelos filamentos ocorre o contrário. Vivemem meio externo mais
branquiais, o oxigénio (02)nela dissolvido pene- concentrado e, portanto, perdem água. Apresen-
tra nos capilares que irrigam o filamento. ao tam por isso glomérulos peq uenos e em número
mesmo tempo em que o gás carbOmco(C02) reduzido. Essespeixes tambémeliminam exces-
passa do sangue para a água. so de sais pelas brânquias.
A bexiga natatória (vesícula gasosa) é o
apêndice hidrostático dos peixes, pois ajuda a - SISTEMA DIGESTIVO
manter a posição na coluna de água. alterando Os peixes possuem hábitos alimentares
sua densidade corporal. Ela é um órgão alonga- distintos. Eles exploram diferentes niveis tróficos
do, cheio de gases, apresentando-se em diferen- do ecossitema aquático sendo, portanto, entre os
tes formatos. Possui, além da função hidrtFtática, grupos de vertebrados,os que possuem maior
as funçóes sensorial, acústica e às vezes a respi- número de especializações.De acordo com os
ratória (ex: pirarucu - Arapaima gigas). hábitos alimentares,os peixespodem ser:
Os peixes que possuem a vesicula gasosa
ligada ao esófago através de um ducto pneumá- a. Fitoplanctófagos - buscam os alimen-
tico são denominados de fisóstomos,e aqueles tos no nívei mais baixo da cadeiaalimentar- as
não possuem tais estruturas são chamados algas do fitoplâncton.Possuemcomocaracterís-
Itensóclitos. ticas principal numerosos rastros branquiais, que
Geralmente as espécies de água corrente filtram c selecionam as algas da água.
são desprovidas de bexiga natatória (vesícula
gasosa), ao mesmo tempo em que esta é bem b. Zooplanctófagos • alimentam-se de
desenvolvidanas espéciesmesopelágicas,que zooplâncton, situado no segundo grau da cadeia
dela necessitampara subida e descidaao nível alimentar. Possuem rastros desenvolvidos para
da coluna de água para a alimentação. selecionar e separar os organismos do
zooplâncton. Tanto os zooplanctófagos como os
227. SISTEMA URINÁRIO fitoplanctófagosnão apresentam dentes, ou se os
O sistema excretorregula o conteúdo da apresentam,estes são diminutos. Possuemboca
água no corpo, mantém o equiiibrio salino ade- pequena e são protráteis (capazes de projetar-se).
da
20 Moderna Aquicultura

M ateriai direitos autorais


c. Predadores - alimentam-sede organis- Podemser classificadosainda de acordocom
mos macroscópicos.Podem ser carnívoros(ali- sua forma:
mentam-se de qualquer tipo de animal), como •cardiformes: são curtos, numerosos e pontia-
as pi ranhas; e ictiófagos ou piscívoros, que inge- gudos;
rem geralmente outros peixes. Apresentam den- •viliformes: alongados e espessos;
tes fortes,especialmenteos caninos e os incisi- •caninos: pontiagudos, servindo para perfurar
vos, que estão dispostos até os arcos branquiais. e segurar presas;
• incisivos: possuem extremidades cortantes
d. Iliófagos - para buscar os alimentos, eles (crenulados);
revolvem o fundo dos ambientesaquáticos,in- • molariformes: apresentam a superfície achata-
gerindo lodo, moluscos pequenos, algas, insetos da, servindo para triturar e moer.
aquáticos,anelídeos etc. O curimbatá pode ser
citado como exemplo. Sua boca possui grande Os dentes bucais aparecemna mandibula
protrabilidade, e ele tem os sentidos de olfaçào e (às vezes sobre os lábios), no teto e no assoalho
gustação bastante apurados. da boca; os dentes farmgeais situam-se, geral-
mente, no sétimo arco branquial.
e. Herbívoros- alimentam-se de vegetais A língua corresponde a um espessamento
superiores, macrófitas aquáticas ou de frutos que do assoalhobucale apresentacélulasmucosase
caem na água. Apresentam boca desenvolvida botoes gustativcs, podendo às vezes apresentar-
com pequeno número de dentes incisivos; p€Fsu- se com dentes.
em tubo digestivo simples e longo. b. Intestino anterior: abrange o esófago
e o estômago.Adiferenciaçàoentreessesdois
f. Onívoros - ingerem todo tipo de mate- órgãos é dificil e pode ser feita através da obser-
rial orgânico disponível na água. Possuem boca vaçio das diferenças e de motilidade entre eles.
de tamanhomediano,com dentes molariformcs O esófago é normalmente curto, possui
(especializadosem triturar e roer). Comem grande capacidadede distensaoe apresenta o
moluscos,sementes, vegetais de qualquer espé- epitélio estratificado e isento de glândulas
cie, crustáceos etc. Na falta de alimentos sólidos, (aglandular).
podem filtrar e ingerir organismos planctónicos, Na separação entre esófago e estômago,
como, o tambaqui (Colossomamacropomum). ocorre um estrangulamento ou constriçào e po-
A estrutura do aparelho digestivo apresen- dem aparecer as glândulas gástricas, que produ-
ta-se geralmente similar ou próxima a dos verte- zem as primeiras enzimas a serem utilizadas no
brados, em relação aos aspectos gerais. Apresenta processo digestivo químico.
ainda grandes e numerosasvariaçõesadaptativas O tipo de estômago também depende dos
decorrentes dos distintos hábitos alimentares das hábitos alimentares dos peixes. Podem ter for-
diferentes espécies de peixes. ma alongada (pescívoros), de saco sifonóide (oní•
O tubo digestivo inicia-se na bcx•ae termi- voros); algumas espécies, como os iliófagos
na no orifícioanal. Dilataçõese estreitamentos posuem moela.
desse tubo determinamseus diferentescompar- Em espécies não vorazes, como a Tilápia,
timentos ou partes constituintes. Podemos Oestômago é pouco desenvolvido e apresenta a
dividi-lo em trés partes: a. intestino cefálico (ca- forma de saco, ao contrário do intestino, que é
vidadc buco-faringea),b. intestino anterior e c. longo e cheio de voltas. Em espécies vorazes, o
intestino posterior. órgão possui formato tubular bem distinto e o
a. Intestino cefálico:correspondeà boca, tubo digestivo é curto. Nos carnívoros, o estó-
que funciona como órgào preensor e seletor de mago é pronunciado, forte e bastante elástico,
alimentos.A bocaestá localizadana extremida- com grande secreção gástrica. Nos herbívoros e
de anterior da cabeça e possui formato de fenda fitoplanctófagos não é evidenciado, verifican-
horizontal, podendo apresentar dentes elou do-se uma mudança gradativa do esófago em
papilas gustativas, inclusive nos lábios. A boca intestino.
pode ser inferior como no cascudo (LoricariaSP), O estômago dos onívoros é parecido com
terminal como no mandi (PunelodellaSP)e supe- o dos mamíferos,posstundoformatosacular corn
rior como no aruanã (Osteoslossum SP). áreas aglandulares (função mecânica) e glandu-
Os dentes aparecem e
na boca na faringe, lares (secreçao gástrica).
possuindo como função a apreensão dos ali- A maioria das espécies carnívoras apresen-
mentos.Estio adaptadosaos hábitos alimen- tam apéndices pilóricos, nas imediações do es-
tares de cada espécie.São classificadosde acor- tómago. Esses apêndices possuem número vari-
do com sua localização na boca: avel e produzem sucos digestivos fortes.
•mandibulares- presentesno maxilare pré- O estômago limita-secom o intestino atra-
maxilar; vés da válvula pilórica, porém peixes de espéci-
• bucais - presentes no palatino, ectopterigóide es de regime alimentar nào voraz, nào possuem
e assoalhoda boca; piloro, o que lhes permite engolir alimento até
• faríngeais - encontra-se entre 0 30, 40 e 3' arcos que intestino estejacompletamentecheio.
branquiais superiores e inferiores. Internamenteo estômago é recobertopor

21

direitos autorais
uma túnica mucosa que, por sua vez, apresenta
duas regiões: glandular e aglandular.
A região gland ular compreende as porções
cárdica e fúndica, que produzem o suco gástrico
corvstituído principalmente de pepsina, ácido clo-
rídrico e muco, A região pilórico é isenta de glân-
dulas e possui musculatura forte.
c. Intestino posterior - inicia-se na válvu-
Ia pilórica ou região dos cecos pilóricos (quando
presentes), e corresponde ao intestino verdadei-
ro, onde ocorremos processosquímicosda di-
gestão e absorçãode alimentos. Possui forma e
comprimento variáveis de acordo com a espé-
cie, podendo ser curto, como carnívor(F, eno-
velado, comonos herbívorose intermediário,
como nos onívoros.
Nessa parte do intestino temos os cecos
pilóricos, que são evaginaçóes da parede intesti-
nal, com abertura junto à região duodenal. Esse
órgào auxilia no aumento da digestibilidade no
intestino,através da ativaçaoda hidrólise de
componentes protéicos.
Nos peixes sem estômago ou apenas com
moela, a perda da digestao gástrica é compensa-
da pela produçào de tripsina no intestino médio.
No final do intestino médio, encontramos
uma região mais delgada e esbranquiçada, que
corresponde ao reto, e na continuidade termina
no ânus ou cloaca, onde desembocam as abertu-
ras dos sistemas digestivo, reprodutor e urinário.
2.9. ANEXAS
Fígado: é uma glândula derivada
embrionariamente
do intestino.Situa-sedentro
da cavidade abdominal e é separada da cavida-
de pericárdica por um septo transversal. Pos-
sui formas diversas, com lobos pares e ímpares,
de coloração escura, tendo como anexo a
vesícula biliar, tambémde formatosdiversos.
Esteúltimo órgão possui
funções biliar, glicogénica
e adipogênica.
Pancreas: órgao
difuso, de localização
mais difícil que o fígado,
encontra-se espalhado no
mesentérioou dentrodo
fígado ou do baço. Possui
ductos comaberturasna
região intestinal,onde de-
sembocam as enzimas
produzidas. Aí encon-
tram-se também, além
das estruturas como os
ácidos pancreáticos (enzi-
mas), as ilhotas de Langerhans,responsáveispela FIGURA2.F.: órgãos internos
produção de insulina. A função básica do pân- um teleósteo.
Creasé digestiva e nele encontramos a produção Fonte: SA
de amílase, lipase, tripsina e erepsina.

Fundamentos da
22 M"erna Aqüicultura

Material
FISIOLOGIA
DE PEIXES
Silvia Lima, M. sc.
BernadeteRizzo da Rocha Loures,M.SC.

vés das brânquias para oxigenação, a distribui-


3.1. SISTEMA NERVQSQ çáo de sangue para as diferentes partes do cor-
Como todos os vertebrados,os peixesós- po, as funções cardíacas, a motilidade gástrica,
seos apresentam um sistema nervoso composto as funçóesda bexiga natatória, alterações de cor
pelo sistema cérebro-espinhal (encéfato. med ula e liberação de catecolaminas(noradrenalina/
espinhal , gânglios, nervos craniais e raquidianos) adrenalina)do tecidocromaíínico(tecidocom-
e pelo sistema nervoso autónomo (vegetativo), posto de células nervosasdo sistema nervoso
gânglios, nervos simpáticos e parassimpáticos. simpático, que adquire coloração marron ao ser
corado com soluçào de bicromato), são exem-
• 3.1.1. Sistema Cérebro-espinhal PIOSde mecanismosinfluenciadospela ativida-
O encéfalo possui as mesmas divisões que de do SNA.
os vertebrados superiores, mas apresenta um de- O SNA compreendetodas as vias nervo-
senvolvimentorelativamentediferente: sas eferentes com sinapses nos gânglios nervo-
• o telencéfalo: reduz-seaos lóbulos sos fora do sistema nervoso central(SNC).
olfatórios anteriorese posteriores; O SNA é dividido em parassimpático, sim-
• o diencéfalo: é constituído pelo pático e uma parte entérica.
epitálamo, o tálamo, o hipotálamo e, em sua parte A via parassimpáticaou sistemaautóno-
anterior, pelo quiasma óptico; o tálamo serve, mo cranial inclui todas as vias autónomas com
principalmente, como centro de relés para im- fibras craniais emergentes do SNC. Tanto as fi-
pulsos olfativose visuais e está associadoàs vá- bras pré-ganglionares como as pós-ganglionares
rias estruturas glandulares e sensoriais; secretam a acetilcolina,neurotransmissor
• o mesencéfalo: é constituído pelos lóbu- colinérgico.
10s ópticos; A via simpática ou sistema autónomo es-
• o metencéfalo: dá origem ao cerebelo, pinhal incluitodas as vias autónomasque emer-
que é um centro de coordenaç50muscular; pei- gem da espinha. As fibras pré-ganglionares sao
xes de movimentos rápidos possuem cerebelo colinérgicas, porém as pós-ganglionares são
bem desenvolvido. adrenérgicas,liberando,como neurotrans-
• o miencéfalo:formao bulbo, que em missores, as catecolaminas noradrenalina/
muitos aspectos se assemelha à rnedula espinhal adrenalina.
à qual é contígua na parte posterior; o bulbo é o Os neurónios adrenérgios, em peixes
centrode muitas atividades vitais como respira- teleósteos, produzem e estocam os
çáo, açào cardíaca e nwtabolismo, serve também neurotransmissores catecolamínicos,
como centrode relés,centrodo sistema da linha noradrena-lina[adrenalina, com predominan-
lateral e do ouvidointerno. cia da adrenalina.
Os peixes possuem dez pares de nervos Os receptores g-adrenérgicos são subdivi-
cranianos. que são: didos em dois grupos, BI e g2, de acordo com
I. Olfatório; II. ótico; III. óculomotor;IV. critérios farmacológicos,e são sítios de ligação
patético ou troclear; V.trigémeo; VI. abdutor; VII. para as catecolaminas, presentes nas células fo-
facial; VIII. acústico; IX. glossofaríngeo e X. vago. rameatravés de Inúmeras pesquisas, encontra-
O nervo vago inerva o parelho digestivo e circu- dos no coraçáo, bexiga urinária, bexiga natatória
Iatório. e brânquias em diferentes espécies de peixes. A
A medula espinhal localiza-se na parte estimulação dos receptores g-adrenérgicos do
superior da coluna vertebral e dela emergem coraçãocausa um aumento na atividade do co-
nervos espinhais em número variável,segundo ração, enquanto, em outros tecidos, uma
as espécies. interaçao entre catecolaminas e os receptores g-
adrenérgicos causam inibição (relaxantento) dos
3.12 Sistema NervosoAutónomo (SNA) músculos lisos.
Os nervos autónomoscontrolamas fun- Os neurónios entéricossão intrínsecosao
çôes da maioria dos órgãos nos peixes. assim intestinoe envolvemo controleda motilidade
como nos vertebradossuperiores.A abertura da intestinal, fluxo sanguíneo e secreçãodas Célu-
íris, a pressão sanguínea, o fluxo sanguíneo atra- Ias mucosas do estômago e intestino.

23

com direitos autorais


além da acetilcolinae da
Recentemente,
noradrenalina/adrenalina,um grande núrnerode
outras substâncias Sãoapontadas como transmis-
sores "não-adrenérgicos" e "não-colinérgicos" nos
nervcr; autónomos em mamíferos. Entre essas es-
tão: ATP (adenosina trifosfato), a 5-
hidroxitriptamina,certos aminoácidose cerca de
vinte neuropeptídeos, como por exemplo, o
peptídeo vasointestinal (VIP),a substância p, a
neurotensina,a somatostatina.
A presença de algumas das últimas subs-
tâncias citadas, p. ex., o VIP,a substância P,as
encefalinase a 5-hidroxitriptamina,nas fibras
nervosas do peixe, parece apresentar evidência
FIGURA 3. A. : Parede do corpo de um peixe ósseo
histoquímica. (carpa) peão da hnha lateral. mostrandoas relaçóos
entre a escamas e músculos.
3-2. ÓRGÃOSpos SENTIDOS
O sistema sensorialconsistede células
receptoras periféricas especializadas que captam
as variaçõesdo meio e, através de neurónios
integradores no SNC, respondem adequadamen-
te aos estímulos captados.
Os receptoresvariam de células isoladas,
como os corpúsculos tácteis, a estruturas com-
plexas como os olhos. Os peixes possuem
quimiorreceptores altamente desenvolvidos para FIGURA3. B.: Parede do corpo da carpa em socçáo
detectar sabores e odores, devido ao meio em que mostrandoo sistema sensitivoda linha
vivem. Os estímulos acústicos sào recebidcrsatra- latera', convare a S.A.
vés do ouvido interno e da linha lateral.
Os neuromastes sào formados por um fei-
Os órgãos do sentido são: xe de células alongadas e ciliadas na extremida-
a. Cutâneo de. O processo ciliar inclui urna massa de mate-
Terminações nervosas existentes na rial gelatinoso denominado "cúpula", que é
epiderme detectam variaçóes na temperatura da secretado pelas células sensoriais. A cúpula mo-
água. Têm capacidade para perceber diferenças vimenta-se livremente pela água circundante
mínimas da temperatura da água, com variações (Figura 3.C).
de até 0,03 "C.
b. Gustativo
Células quimiorreceptorasexistentesnos
botões gustativos dos barbilhões e cabeça, que
identificamo gosto.Os corpúsculosgustativos
sio estimulados por produtos químicos em so-
luçào e, a localizaçaodestes órgãosgustativos
não é limitada,ou seja,estãodistribuídos,mais
frequentemente, nas regiões da cabeça e na boca.
Todavia, podem estar espalhados por outras par-
tes da superfície externa do corpo, incluindo as
nadadeiras. FIGURAS.C.:
c. Linhalateral Estruturade um
A linha lateral apresenta um sistema sen- neuromasto
sorial altamente desenvolvido, formado por cé- (Esquemático).
lulas sensoriais receptoras, denominadas de
Os neuromastes estão interligadas por d. Ampolas de Lorenzini
canais fechados e situados abaixo das escamas São células sensoriais espalhadas na cabe-
ao longo da lateral do corpo dos peixes, abrin- ça de peixes cartilaginosos, e assim como a linha
do-se para o meio exterior através de peque- lateral nos peixes ósseose larvas de anfit'ios, ser-
nos poros que detectam movimentos da pres- vem para sentir as variaçõeshidrostáticase de
são hidrostáticae suas variações (Figuras2.B., temperatura.
e. Visão
É importante para alguns peixes e menos
para outros. Em geral, os peixes encontrados em
águas quase paradas, escuras, com sedimentos
Fundamentos da
Moderna Aqüicuttura

Material áiroe,s ais


suspensos e florescimentode algas, dependem sonância, transmitindo suas vibrações direta-
menos da visão do que os encontrados em águas rnente à lagena através dos ossículos de Weber
claras. Os peixes possuem olhos pares, laterais, (Figura 3 E.).
com campos visuais e movimentos independen- Os peixes produzem sons de diversas ma-
tes. A estruturada visão assemelha-semuitoa neiras dependendo da espécie, podendo mover
de outros vertebrados, destacando-secomo ex- as nadadeiras contra partes do corpo, atritar os
ceçào,o cristalino esférico e transparenteque dentes faríngeos, liberar gás pelo ducto da bexi-
somado à alta densidade óptica da córnea (1,33), ga natatóriaou vibrar suas paredes com múscu-
confere aos peixes alto poder de resolução a cur- 10sespeciais.
ta distância. Os sons podem servir para reunir indiví-
A Córneaé transparente, sem pigmenta- duos para a reproduçãoou para a alimentação.
çáo, porém podem existir membranasamarelas Em algumas espécies, eles são emitidos durante
ou verdes.Aíris forma a pupila e controlaa quan- o comportamento agressivo ou defensivo e eles
tidade de luz que atinge a retina e, o cristalinoé podem ser importantes no comportamento
redondo, firme e transparente. territorial.
f. Audição
Os peixes não possuem ouvido externo
corno a maioria dos vertebrados superiores; uti-
lizam como receptores de som a bexiga natatória
e outros receptoresno corpo, como a linha Iate-
ral. Os ouvidos internos, responsáveis pela fun-
cão auditiva nos peixes, estio localizadosno crá-
nio, justamenteatrás dos olhosda maioriados
peixes (Figura 3.D). Sào constituídos por três ca-
nais semicirculares(utrículo, sáculo e lagena),
com células sensoriais ueenviam mensagensao
cérebro,e formam as utricular (Lapillus),
sacular (Saggita) e Iagenar (Asteriscus), (Figura
3.E). Esses canais controlam o equillrio do pei-
xe. Quando atacado pela "whirling disease", o FIGURAS.E.: Esquema om secçáo horizontalda ro•
peixe perde o senso de direçào. Os peixes não giá0 postoror da cabeça c antonordo corpo peixe
apresentam cóclea, o que os diferencia dos de- (teleósteos)mostrarx%)os ossicuhS de Weber (Seg.
mais vertebrados.As funçõesdo labirinto sao Chavanibv).
manter e regular o tónus muscular.atuar como
receptor de aceleraçáo angular, manter a gravi- Em muitas espécies os sons parecem ser
dade e atuar como receptor de som. transmitidosatravés do corpo para ouvido in-
Os peixes do grupo dos Ostariophysi terno. Emalguns teleósteos.entretanto.o ouvi-
possuem uma estrutura acessóriada audiçao,um do interno está ligado à bexiga natatória cujas
conjunto de ossos pares (tripus, scaphium e in- paredes vibram com os sons subaquáticos como
tercalar), que constitui o ouvido interno, e deno- em um hidrofone. A ligação pode ser direta, atra-
mina-se aparelho de M'ber, que liga o ouvido vés de uma conexao semelhante a um
internoà vesiculagasosaatravésde ossículos(de estetoscópio até a cápsula auditiva (bacalhaus de
Weber),transmitindo, através da perilinfa e da profundidade,arenques)ou indireta, atravésde
endolinfa,as vibraçõescaptadas pela vesícula diversos ossos pequenos,os ossículosde Weber.
gasosa. Atua como um receptor de sons por res- Resumidamente,a forma de comunica-
çao dos peixes é através de sons produzidos por
movimentosdas nadadeirase escamasou por
vibrações da bexiga natatória, (sinais de alarme,
r«onhecimento de sexo e espécies).
g. Olfato
Os órgãos olfativos são constituídos por
um par de fossasnasais na regiàodorso-anterior
da cabeça, e não possuem conexão direta com o
aparelho respiratório. As fossas nasais são
revestidas por pregas ou cristas de epitélio sen-
sitivo, ou seja, com células sensoriaisque se co-
municam com o cérebro, através dos nervos
Fonte: Morafcs-Nin,'99' olfatórios.Cada fossa nasal possui duas abertu-
FIGURA3.0. : Aspecto geral labirintoau$tivo.am: ras; na anterior, a água entra e na posterior, a
ampola, as: astenscus, cs: canais semicirculares.l: água sai, passandoantes por uma fina estrutura
lagena. IP:lapdlus,ml: mácula lagcnar. ms: mácula de células sensoriais olfatwas. A função básica
sacular. mu: macula utricular.no: nomooctavo.pi: par do sistemaolfativonos peixesé procuraralimen-
inferior,ps: par superior.s: sácub, sg: sagra, u: tos, mas tambématua comoorientaçãoe de alar-
utriculus.

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me. Em alguns peixes cxssentidos gustativo e ol- introduçãodireta dos espermatozóidesno orifí-
fativo são muito acurados (Figura 3.F). cio genital da fêmea).

• 332. Sexagem e Fecundação


a. Sexagem
O reconhecimentodos Sexosna maioria
dos peixes teleósteos é difícil. A sexagem, em
geral, é realizada no período que antecede a re-
produção, através de uma pressão ventral no
sentido céfalo-caudal.Nos machos flui o esper-
ma viscoso,de cor leitosa , nas fêmeas há libera-
çao de ovócitos ou nàO.
Cruas
Emborade difícil reconhecimento,ocor-
rem. no entanto, casos de dimorfismo sexual
muito marcantes.O normal é a ocorrência de
FIGURA3.F.: Detalhe do órgáo oratórb uma dimorfismo sexualsecundárioe de carátertran-
enguia.(Seg. vonFrish sitório, visiveldurante 0 período reprodutivo.
As características sexuais podem ser clas-
sificadas em:
aa.-UimÁriaszovários,testículos,ductos;
a.2,-secundárias;papila urogenital, modi-
ficaçóesdas nadadeiras pélvicas (Seláquios) e
• 33.1. O Sistema Reprodutor anal (Poeciiidae), talhe e proporção do corpo, se-
Os peixes apresentam um aparelho creçóes,asperezafrontal,dicromatismosexuale
reprodutivo simples, formado de ovários ou tes- modificaçõescomportamentais.
tículos. As características sexuais secundárias po-
a. Ovários dem ser transitórias ou permanentes, dependen-
São estruturas pares, com formas e dimen- do sobretudodos hormónios sexuaisgonadais e
soes diversas, localizam-se longitudinalmente no da integridade do eixo hipotálamo-hipófise.
corpo, sob a bexiga natatória, suspensos pelo
mesentério,paralelamenteaos rins. O tamanho I) Dimorfismo sexual transitório (formas
e o peso variam conforme o estágio de maturi- de atraçaosexual) - nos machos
dade sexual e a idade do peixe. Depois do ová- • Tucunaré(Cichlamonoculus Astronotus
rio, encontra-se o oviduto, que pode ter um alar- ocelaris.) - aparece uma protuberânciaescura
gamento para estoque. deposição de óvulos. in- ("cupim" ou "giba") entre a cabeça e a nadadei-
cubaçào, etc., que termina no poro urogenital ra dorsal;
(Figura 2.F.). • Pirarucu (Arapaimagigas) - a borda das
Os óvulosvariam, conformea esvécie,em escamasfica avermelhada;
número a 2.000.000),tamanho(0,8 a 21 • Curimbatá(Prochilodus
lineatus, P.
mm) e forma (esféricos,elípticos,cilíndricos, scrofa) - durante a piracema eles emitem sons,
fusiformese piriformes). Apresentammembra- como roncos.
nas coriónicae vitelínica, com um espaço
perivitelínico entre estas, o qual encerra o vitelo 2) Dimorfismosexualpermanente
e o núcleo. Na face externa apresenta a micrópila • Tilápiado Nilo (Oreochromis niloticus)- ca-
por onde penetra o espermatozóide. racteriza-sepela diferençade porte entremachoe
O tempo necessário para o machossão matores),bem como pelo
to dos ovários varia de acordo com a espécie e a formatoe núnvro de orifíciosna papila genital,
temperatura da água. sendo a do machoafilada e com um orifício,e a da
b. Testículos afilada e com dois orifícios.
Também são pares, longitudinais, compac- • Trutas e salmões - os machos desenvol-
tos e regulares, localizando-se da mesma forma vem um prognatismo característicoa partir da
que os ovários. O tamanho. forma e peso tam- maturidadesexual.
bém variam conforme o estágio de maturação.
Os espermatozóides possuem uma cabeça b. Fecundação
alongada ou curta, uma porção intermediáriae A fecundação dos ovócitos nos peixes dá-
a cauda, com tamanho de 2 a 130vt;são bastante se de duas maneiras: interna ou externa. De ma-
numerosos e podem ter sobrevivênciano meio neira geral, as espécies reproduzem-se por fecun-
externo de 23 segundos a 5 minutos. Algumas dação externa (teleósteos e ganóides). Raros são
espécies possuem mecanismos defensivos dos peixes nos quais se verifique a cópula e, con-
espermatozóides, como a secreção das glându- sequente. fecundaçào.
Ias anexas, a formação de espermatóforos, as na- Quanto ao tipo de fecundaçao, os peixes
dadeiras transformadas em órgãos protetores do classificam-seem:
orifíciogenital ou em gonopódio (estrutura para • ovulíparos: fecundação e desenvolvi-
Fundamentos da
26 Moderna Aquicultura

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mentoexternos(curimbatá,dourado.acará,etc.); carpas (prateada, capim e cabeça grande)
• ovíparos:fecundaçãointernae o tarnanho e a idade são os principais aspectos sen-
vimentoexterno(raias); do que elas alcançam a maturidade sexual depois
• ovovivíparos: fecundação e desenvolvi- de 2 a 3 ancx de idade, em regiões trwicais.
mento internos (lebistes);o ovo é como
embrião desenvolvido,aindadentroda 3.33 Ciclo reprodutivo
• vivíparos:fecundaçãoe desenvolvimen- Um fatores importantes na exploração
to internos, com participação materna através da económica de peixes é o controle da reprodução,
placenta (seláquios). que só será possívelse houver conhecimentos
adequados fatores que governam os ciclos
3.3.3 Incubação dos ovos reprodutivos.
O processo de incubação dos ovos, após a ciclos reprodutivos de quase todos os
fecundação, depende da espécie de peixe e está peixes são regulados pelos estímulos ambientais.
sujeita a diversos fatores, como: temperatura, luz, Receptores sensoriais apropriados captam os es-
salinidade, gases e processos endócrinos. Os pei- tímulos ambientais e os levam para o cérebro,na
xes de clima frio produzem ovoscom mais vitelo, forma de sinais neurais. Essessinais alcançamo
portanto maiores, menos numerosose de desen- hipotálamo e causam a liberaçao de peptídeos
volvimento mais lento. Em clima tropical,com hipotalámicos, os hormónios liberadores, que
temperaturas mais elevadas,o desenvolvimen- chegam à glândula hipófise e aí induzem a libe-
to é mais rápido. raçáo hormónios gonadotróficos,que irão
Alguns peixes, como o curimbatá atuar nas gónadas. Estas,em resposta, produzem
(Prochilodusscrofa) e 0 piauçu (Leporinas os hormónios esteróides sexuais (estrógenos e
macrocephalus),apresentam ovos pelágicos, ou andrógenos), responsáveis pela formaçào e de-
seja, mantém-osem incubaçáolivre na coluna senvolvimento dos gametas, pela regulaçáo das
d'água. Outras espécies apresentam ovos características sexuais secundárias, pela colora-
demersais, ou seja, depositam-os sobre algum çào nupcial e pelo comportamento reprodutivo.
substratoou no fundo do corpod'água. geral- Nas fêmeas ovíparas, os embriões são dependen-
mente em ninhos, sendo os ovos aderentes ou tes da gema do óvo (vitelo) para suprir seus re-
tibo. Já o tucunaré (Cichla SP.) e o apaiari querimentos nutricionais. A vitelogénese, ou pro-
(Astronotus trellaris) apresentam ovos demersais cesso de deposiçào da gema em ovócitos, é cíclica
e aderentes e os depositam sobre superfície dura; ou sazonal. Todos os estágios, desde a
a traíra (Hopliasmalabaricus)põe ovos no fundo mobilização de de seus depósitos, a sin-
e estes não são aderentes. As tilápias (Ormchromis tese no fígado de urna glicolipofosfoproteina es-
nilottcus),em geral, depositam os ovos (nio ade- pecíftca, a vitelogenina, sua deposiçao no ovócito,
rentes)em ninhosescavadosno fundo.As car- sio gonadotroftna-dependen tes.
pas (C. carpi") põem seus ovos, que sio aderen- A estaçao de reproduçao é, geralmente,
tes, em substratos flutuantes. relacionada às estações climáticas, com períodos
A aderência dos ovos ocorrede dois mo- estacionais,em mesesdefinidos, comdesova to-
dos: por cobertura mucilaginosa ou por tal ou parcelada; ou pode ser anual, ao longo do
filamentos. As carpas apresentam cobertura ano todo. As espécies tropicais e subtropicais de
mucilaginosa. água doce desovam no verão, enquanto as de
clima temperado desovam na primavera ou no
33.4 Maturidade sexual outono, como os salmonídeos.
A maturidade sexual em peixes pode ocor- A desova está relacionadaaos fatores
rer numa fase precoce ou tardia, dependendo da endócrinos e também aos de ordem ambiental,
espéciee do seu ciclo de vida. Normalmente,o cornotemperatura da água, nível fluviométrico,
peixe estará sexualmente maduro quando as oxigénio e sais dissolvidos na água, pH,
gónadas (ovários, testículos) passarem a produ- condutividadeelétricae pressão atmosférica.
zir gametas viáveis. Esses mecanismos proporcionam a base
Em geral, a maturidade sexual depende da para os métodos de reprodução induzida, que
idade, do tamanho, da fisiologia, da alimenta- envolvem agóes dc estímulos ambientais e a
Cão,do fotoperíodo, da temperatura, da corren- administraçàode hormônios para maturação e
teza e da presença do sexo oposto. Muitas vezes, liberação de gametas (ovulação e espermiaçño).
as fêmeas são mais tardias que os machos. O ciclo reprodutivo pode ser manipulado
A idade de maturidadesexual varia assim que haja gametas disponíveis. A liberação
grandemente entre as espécies. Algumas podem de gametas pode ser obtida pela suplementação
tornar-se maduras em poucos meses, enquanto hormonal, pela manipulação de fatores ambien-
outras podem levar anos. O mesmo peixepode tais ou através da exploração de raças
amadurecer mais cedo em climas quentes e, selecionadas para desovar em diferentes épocas
muitomais tarde, em climasfrios. do ano.
A maturaçãosexualde espéciescomoo A reprodução de peixes pode se processar
peixe-rei, o jundiá, a tiiápia e a carpa comum de duas formasdistintas:naturale artificial.
ocorre entre 0 70 e 0 120mês de vida. Para as • Reprodução natural - os peixes sexual-

27

autorais
mentemaduroslançamseus gametasno meio se a micrópila, e o espermatozóide não pode mais
em que vivem, sem a intromissão do homem. entrar; e este, por sua Vez,só tem sua motilidade
Pode-se também preparar tanques artificiais para ativada quando em contato com a água.
esse fim (uso de substratos para desova). b. uso de esteróides para reversão sexual
• Reproduçãoartificial - há a interferén- Em certas situaçõese com certas espécies
Ciado homem no processo natural, com ou sem de peixes, será vantajoso restringir a fertilidade.
tratamentohormonal,visandoa fertilizaçãocon- Um exemplo bem conhecidoocorrecom a tilápia,
trolada,incubaçãoe cultura de larvase alevinos, que atinge a maturidade sexual mais cedo e se
com os objetivos de melhorar a sobrevivência dos reproduz repetidamente, a intervalos curtos, cau-
peixes e obter maiores produções, em cultivo sando superpopulação nos tanques e outras con-
semi-intensivo,intensivo,associadoou não ao seqüéncias. Como o peixe dispende grande par-
sistema de policultivo (assunto a ser tratado com te de sua energia para a reprodução, o crescimen-
mais detalhes em capítulos posteriores). to fica paralisado, resultando em populações
Durante a desova natural,capturam-seos deficientes.
peixesreprodutores,utilizando-sede cuidados Assim, usa-se como método aplicar
adequados, e procede-seà extrusãode óvulos e hormônios para produção de populações
esperma, mediante união artificial,sendo eles a monossexo. Usam-se androgénios (17@—
seguir incubados (emincubadoras)e cultivados metiltestosterona)para masculinizar fêmeas
até o estágio de alevinos. genotípicas (tilápias), e estrogénios (estrona,
Quanto à desovainduzida por hormónios, etinilestradiol) para feminilizar machos
sujeita às técnicas de hipofisaçáo, tem-se demons- pictF (truta arcoíris). Normalmente, pre-
trado ser efetiva em uma grande variedade de re-se monossexomacho, uma vez que se de-
peixes, principalmente naqueles que não se re- senvolve mais rápido que a fémea.
produzemem condiçõesde confinamento,ou Como a reversaosexual MOocorreem
fazem-nosomentesob condiçõesambientaises- 100%dos peixes, é necessário proceder-se a um
pecíficas. manejo eficiente para finalizar o peixe para aba-
a. Hipofisaçüo te, antes que atuya a maturidade sexual e come-
Os hormóniosutilizados para induzir a ce a reproduçao descontrolada.
maturaçao e ovulação em peixes sào: LHRH
(hormônio liberadosdo hormônio luteinizante), 3.4. SISTEMA ENQÓCRLNQ
IICG (gonadotrofinacorióniahumana),ou O sistema endócrino é constituído pelo
hormôntos das glândulas pituitárias de peixes, eixo hipotálamo-hipófise, pelas glândulas
"in natura"ou nào. tireóide, supra-renal (sistemacardio-vasculare
Parase obter os hormônios das glândulas urinário), gónadas, pâncreas (fígado, que pos-
pituitárias de peixe, é necessário proceder-se à sui receptores para muit(F hormônios, p. ex., GH,
extraçáo da glândula hipófise de petxe doador, insulina, glucagon, onde desempenham impor-
com tamanhoadequado (acimade I kg), sexual- tantesaçóes).
mente maduro e com desenvolvimentogonadal O sistema endócrino se integra com o sis-
adequado. As glândulas colhidas devem ser tema nervoso,o qual sinaliza as mensagens para
imersas em acetona,ou álcoolabsoluto, ou con- o hipotálamo-hipófise,que funciona como cen-
geladas. Após processamento adequado das tral receptora-decodificadorade estímulos, libe-
glândulas, é possível utilizar a soluçáo obtida rando mensageiros químicos, os hormónios.
para aplicaçao em peixes reprodutores escolhi- As glând ulas endócrinas são compostas de
dos. células especializadas, as quais não possuem
Existemvários métodosde administração e secretam seus produtos diretamente na
dos hormónios, dependendo da espécie do pei- corrente sanguínea, por mecanismo específico
xe, das condiçôeslocaise dos métodos de traba- (exocitose).Suas principais funçõessio: estimu-
lho. Sabe-se que para as fêmeas são necessárias lar outras glândulas e tecidos, regular o cresci-
doses maiores de hormónios do que para os ma- mento,controlaras atividadesmetabólicas,man-
chos. Injegóesde homogeneizado ou extrato de ter a função celular e conservar o equilibrio quí-
pituitárias são feitas,geralmente, nos músculos mico do organismo.
dorsais acima da linha lateral,ou abaixoda par- Principais glândulas endócrinas,
te anterior da nadadeira dorsal. Injeçóesna cavi- sua localizaçãoe função:
dade do corpo sio consideradasmenos eficien- • Hipotálamo
tes. A quantidade requerida para o preparo das Uralizado no diencéfalo,formao assoalho
doses depende do tamanho do peixe. do terceiroventrículo.Possuidiversos núcleos
O processo de ovulação demora algum hipotalàmicos parvicelulares. Os núcleos rece-
tempo (horas), dependendo da espécie e das bem os sinais neurais geradosno rneiointerno
dições ambientais.Transcorridoo tempo corres- (orgânico)e externo (ambiente). Responde atra-
pondente à espécie, os óvulos sào colhidos e fer- vés da liberaçãodos hormôniosliberadorese de
tilizados com o sêmen do macho.A fertilização outras substâncias.
ocorre em alguns segundos; em seguida, após • Hipófise
contato com maior quantidade de água, fecha- Localizada na parte ventral do hipotálamo,
da
28 Moderna Aqüicultura

Mateyia/
está conectadaa este por uma haste. nos te, a síntese e liberação de insulina.
peixes ósseos a mesma posição central regula- • Tireóide
dora que nos mamíferos. Possui duas regiões: O tecidotireoidiano(folículos)na maioria
nervosa e glandular, ambas com embri- dos peixes ósseos, aparece disperso ao redor da
onárias diferentes. A parte glandular aorta ventral.Os hormôniossecretadostiroxina
(adenohipófise) é dividida em três partes: 1) par- (T4)e triiodotironina (T3) parecem ser idênticos
te tuberal,regiãoonde está localizadaa eminên- aos dos rnamíferos. Em alguns peixes, pode-se
cia mediana a qual recebe uma rede de capilares, encontrar folículostireoidianosnos rins, coração,
chamada sistema porta-hipofisário, que faz cone- olhos e outras partes, esrcial mente se privados
xao com as terminações nervosas provenientes do de iodo. Como os folícu os não são envoltos por
hipotálamo, dando passagem aos hormônios tecido conjuntivo, eles podem migrar da região
liberadores,que fluem para a hipófise;2) parte faríngea. O peixe concentra iodo no folículo
intermediária, produz os hormónios que disper- tireoidiano, que depende do nível de iodo na
sarn os melanóforos,pigmentos que dão colora- água. A baixa concentraçao de iodo na água pro-
çáo à pele; 3) parte distal, produtora dos duz hiperplasia e bócio, o que pode ser preveni-
hormônios que estimulam o crescimento do iodoà água.
(hormónio do crescimento - GH), as gónadas O iodo plasmático (forma iónica) de pei-
(hormónio folículo estimulantes - FSII, hormônio xes de água doce é muito variável,sendo de 0,5
luteínizante - LH), a tireóide (hormónio a 2.000 pg/IO() mg. A água doce possui em mé-
tireotrófico-TSH),O tecido adrenal (hormónio dia I - 2 pg/litro; a água do mar, 45 60 pg/litro.
adrenocorticotrófico-ACTH), e provavelrnente, As iodotironinasT4 e T3, circulam ligadas
o pâncreas (insulina, glucagon, somatostatina) e às proteínas plasmáticas específicas e são trans-
fígado. A parte nervosa, ou posterior, armazena portadas para os vários tecidos do corpo, onde a
e secretaos hormônios hipotalámicosocitocina tiroxinaé transformadaem triiodotironina,a for
(contracho dos músculos lisos) e vasopressina ou ma de maior atividadebiológica.A produçáode
hormónioantidiurético- ADH,envolvidona T4 e T3 pode ser afetada por vários fatores, po-
reciclagem da água (Figura 3.G.). dendoser mais aceleradaou mais lenta.Por
exemplo, o TSH aumenta todos os aspectos da
funçat)tireoidiana,enquantoo iodo da dieta, a
temperaturae ortros hormôniosafetama via
biossintética. A resp,CFtado T4 plasmático ao TSH
não é influeaciada pelo estado nutricional ou por
outros fatores r,ao específicoscomo o estresse.
Os níveis de tiroxinasho baixosem peixes
sob restriçao alimentar e em peixes alimentados
com dietas contendobaixa proteína/ baixaencr-
gia, comparados com peixes alimentados com
FIGURA3.G.: Diagramada secçãosagaal mediana dietas contendoalta proteína/alta energia. Res-
da hipófidede um Teleósteo.
triçào ou alimentaçào com dietas com baixa pro-
teína/baixa energia parecemdeprimir a função
O hormónio do crescimento:embora não tireoidiana e também a conversão de T4 a T3.
tenha uma glândula-alvo especifica, ele afeta inú- Os hormóniostireoidianossão conhecidos
meras células somáticas, estimula muitos por aumentar a calorigénese celular e estimular
hormônios e tem as células do fígado como sítio a liberaçào de GH (também em peixes, a ativi-
receptor,para formaro metabólitoativo,IGF- dade da enzima sódio-potássio adenosina
I (Fator de Crescimento tipo Insulina) ou trifosfato (Na»-K+-ATPase),associada com 0
SomatomedinasC, que vão exercer os efeitos do movirnentodo sódio na membranacelular,per-
C,H. mite à célula aumentar o seu consumo de oxigé-
O hormônio do crescimento de teleósteos nio). Além disso, desempenham importante pa-
é diferentedo de outros vertebrados,incluindo pel no crescimentodos ossos,cartilagense mús-
outros peixes, Esse hormônio nao promove o culos, participam dos metabolismos de
crescimentoem mamíferos,mas o GH de mamí- carboidratos. proteínas e lipidios, ativam os even-
feros e elasmobránquiosmostrou habilidade na tos do CICIOsexual (reproduçào), a maturação das
promoção do crescimento de teleósteos. gónadas. e outros processos metabólicos.
O hormóniodo crescimento aumentao Ainda em peixesósseos,os hormônios
crescimentolinear em peixese participa de inú- tireoidianosestão envolvidosna deposiçãode
meras funçõesfisiológicas,como aumentodo pigmentos, na atividade central nervosa, na
apetite,melhorada conversàoalimentar,aumen- osmorregulaçàoe movimentos de migraçào. Este
to da síntese de proteínas, diminuição da perda amplo espectro de atividades fisiológicas dos
de nitrogénio,estímulo à entrada de sulfato na hormóniostireoidianosé devido ao papel que
cartilagem de condroitina (que proporciona o eles desempenhamno metabolismobasal,ativan-
crescimentodos ossos), estímulo à mobilização do e modulando um grande número de diferen-
e oxidação das gorduras, e direta ou indiretamen- tes Vias bioquímicas (Figura 3.}1.).

Materól com direÉtosautorais


pela concentração elevada de metais pesados de
detergentes, pela a reprodução (desova), pelo
nível de salinidade e restrição alimentar (jejum)
resulta no aumento do tecido inter-renal,e na li-
beração de corticosteróides.
Os níveis de corticosteróidesencontrados
na circulaçãosanguínea inter-renalde teleósteos
variam consideravelmente com a espécie, a esta-
Veu çao do ano, dia e hora, e com o estado fisiológico
metroc do animal, uma vez que esses horrnóniosregu-
Obo
Iam o ciclo circadiano.
Os corticosteróides desempenham impor-
tantes funções fisiológicas na regulação da água
e balanço eletrolítico (através da liberação de
aid€Fterona,um mineralocorticóide),
no metabo-
• Distrib.kia de
lismo de carboidratos, lipídios e proteínas.
Fonte:
O cortisol e outros corticóidesaumentam
a retençaorenal de sódio (a movimentaçãodo
FIGURA3.H.; Distribuiçàonormal e anormal sódio pela Na»-K+-ATPase)e reduzem a taxa de
folicukystireoWianosem peixes. filtração glomerular, aumentando a
permeabilidade da bexiga urinária. Os ajustes
• Tecidosupra-renal osmóticos permitem aos peixes adaptarem-se às
Em mamíferos,as glândulas adrenais es- alteraçõesde salinidade na água. Alémdisso, os
tao localizadas junto aos rins e sio cornpcÑas por corticóidesestão envolvidos na estimulaçàoda
dois tecidos diferentes, que formam o córtex (te- via gliconeogênica, utilizando ácidos graxos e
cido glandular) e a medula (tecido nervoso, aminoácidos, através da depleçao dos tecidos
cromafínico), envoltos por urna cápsula. gorduroso e muscular (efeito catabólico nas re-
Em peixes, esses tecidos, embora associa- servas corporais),como substratos para alimen-
dos com os rins, estão anatomicamente separa- tar essa via e manter níveis adequados de glicose.
dos. Não há, portanto, glândula adrenal mas so-
mente tecidos cortical e cromafínico. • Tecido gonadal
O tecidocortical,em •xes,fica entre os As gónadas (óvariose testículos) são esti-
rins e chama-se inter-renal. R%stnbuisao do mulados pelos hormónios gonadotróficos (I•SH-
eido cromafínicoem teleósteosvaria com a es- LH), que mantêm a atividade fisiológica gonadal
pécie, mas sóo geralmente encontrados na região de machos e fêmeas, através da retroalimentaçao
de drenagem venosa pós-cardinal do rim. negativa exercida pelos esteróides sexuais
Os tecidos cromafínicos secretam (estradiol, testosterona e progesterona). Em ma-
adrenalina/noradrenalina.
Sobcondiçõesde míferos, a progesterona é secretada,principal-
estresse, aumentam a liberação de catecolaminas, mente, pelo corpo lúteo e pela placenta. Em pei-
podendo predominar uma ou outra, dependen- xes, embora a progesterona tenha sido
do da espécie de peixe. identificada, uma vez que ela faz parte, como
Em teleósteos, níveis elevados de intermediário importante, da via biossintética
catecolaminas resultam em depleçao do esteroidogênica, não ficou evidenciado o seu
glicogénio hepático e do músculo,levando à papel.
hiperglicemia.O aumento da glicose plasmática A testosterona e o estradiol sao responsá-
parece ser mediado, no fígado e músculos, pela veis pelos desenvolvimento das características
mesma via que ocorre nos rmrníferos, isto é, atra- SQxuaisprimárias e secundárias, e pelo compor-
vés da ativaçào da enzima fosforilase pelo AMPc tamentode acasalamentode machose fêmeas.
(Adenosina Monofosfato cíclica). Eles influenciam diretamente o desenvolvirnen-
As catecolaminas contribuem para manter to gonadal.
a homeostase metabólica e exercem efeitos so- No macho, a testosteronaé secreta pelas
bre o sistema cardiovascular, aumentando a pres- células de tcydig (tecidointersticial,localizado
são sanguínea e o débito cardíaco. A fora dos túbulos seminíferos),sob açao do LH, e
noradrenalina contrai as veias sanguíneas dos se mantém em contato com as células de Sertoli
músculos, vísceras e pele, aumentando a resis- (célulasde sustentaçãodos tribulosseminíferos,
tência periférica e a pressão sanguínea. onde ocorre a espermatogénese), a tra vés da pro-
Os tecidos corticais têm origem teína ligadora de andrógenos - ABP,para man-
mesonéfrica; formam os corpos inter-renais e são ter dentro dos túbulosníveis de testosterona ade-
produtores de hormónioscorticosteróides quados, necessários para a gametogénese (Figu-
(cortisol,cortisona e corticosterona),sob a açà0 ra 3.1.).
estimuladora do hormônio adrenocorticotrófico- Na fêmea, os ovários, sob açào de FSEI-LH
ACTH). (que são estimuladas pelos fatores ambientais e
O estresse causado pelo frio, por choques. orgânicos),desenvolvemos ovócitos imaturos,
Fundamentos da
30 ModernaAqüicuttgra

Materkj com direétc,sautorais


A calcitonina é um potente fator
hipocalcémico,inibindo a reabsorçãode cálcio
dos ossos, aumentando a deposição desse nos
ossos e acelerando a excreção de cálcio e fósforo,
FIGURA3.1* Célulasde quando há excesso.Parece,também, estar rela-
Leydighomólogas na cionada à migração e ao comportamento
parede do lóbulode ai-
gunspeixes reprodutivo. Está envolvida, durante o ciclo
reprodutivo, na conservaçãoe mobilização de
cálcio para a formação do ovo.

circundados pelas células foliculares(células da


teca e da granulosa), as quais produzem
estrogénios, que além de inúmeras funções fisi-
ológicas relacionadas ao comportamento
reprodutivo,participamde inúmeras vias meta-
bólicas, da maturação do ovócito e da
vitelogénese (deposiçào de gema no Ovo).

• Tecido pancreático
O pâncreas possui duas funções principais,
uma exócrina,relacionadacom a liberaçãode
hormônios e enzimas digestivas na luz do trato
gastrintestinal; e uma endócrina, relacionada
com a liberaç,iode hormónios glucagon, insuli-
na e somatostatinana corrente sanguínea,os
quais controlamo metabolismo de carboidratos.
A estrutura do pâncreas de teleósteos é si-
milar à dos mamíferos, contendo três tipos de
células L', g e Oque produzem glucagon, insuli-
na e somatostatina, respectivamente.
A insulina é responsável pela formaçao dos
depósitos de carboidratos (glicogénio. a partir de
glicose) no fígado e músculos, e depósitos de
gordura (trighcerídeos, a partir de glicose) no
tecido adiposo. A insulina aumenta a entrada de
glicose e aminoácidos nas células, os quais, por
sua vez, aumentam a proteinogênese,a
lipogênese e a glicogênese muscular e hepática.
O glucagon é um potente agente
glicogenolítico, depletando os depósitos de
glicogénio, aumentando o nível de glicose sanguí-
nea. O glucagon também molibiza aminoácidos e
ácidos graxos, para alimentar a via gliconeogênica,
como via alternativapara aumentara glicemia.
A somatostatinaé um inibidor tanto de
insulina como de glucagon, mantendo o equili-
brio. A insulina e o glucagon se integram de tal
forma, que um estimula o outro, para juntos
manterem a homeostase da glicose.
•G1andulas últimobranquiais
Tambémchamada de glândula de forma-
çÃopós-branquial, devido a sua localizaçào pró-
ximo ao arco branquial posterior e estão relacio-
nadas com o metabolismodo cálcio,ou seja,
secretam a calcitonina. Os peixes teleósteos não
possuem paratireóides, como os mamíferos, para
regular o metabolismodo cálcio,portanto,essa
função é exercida pelas células ultimobranqttiais.

31
ESTRUTURA DAS
COMUNIDADES AQUÁTICAS
Ricardo Pereira Ribeiro, Dr.

Um tanque de criação de peixes, apesar de detritos que são encontrados no meio aquático
ser um ambiente total ou parcialmente controla- aderidos a todo tipo de substrato submerso, tais
do, não deixa de constitutr um sistema ecológi- como, pedras, canos, troncos, raízes, partes
co, que deve ser estudado e conhecido todos submersas de macrófitas, pedras, sedimentos, etc.;
os aspectos de sua dinâmica, pois com exceçáo • Metafíton - encontram-se ao redor do
dos ambientes totalmentecontroladosem nivel •ton, porém náo apresentam estruturas com
de laboratório, todas as outras modalidades so- de aderência.
frem influência das condições físicas,químicas e • Macrófitas - vegetais superiores que per,
biológicas do meio. Desse modo, o tanque de manecemou mo enraizados, no fundo dos cora
peixes sendo um ecossistema, mesmo que artifi- pos de água (sedimentos).Podemestar totalou
cial, é importanteque se tenha a idéia real dos parcialmente submersas, algumas permanecem
organismos que o compõem,bem como um co- flutuantes com as raízes submersas, mas geral-
nhecimentobásicode cadeiaalimentar.para ve- mente estao relacionadas com a presença de ma-
rificarmos as perdas de energia na passagem de téria orgânica na água. Como macrófitas aquáti-
um nível trófico a outro (Figura 4.A.). cas com folha flutuante podemos citar os géne-
Os componentes do ambiente aquático fo- ros Nymphaea (Intus)e Vitoria (VitóriaRégia);e
ram didaticamente divididos em categorias ou entre macrófitas aquáticas submersas enraizadas,
classesque primeiramenteconceituaremos: citam-se a Elodea,a Valisneriae a Cabomba
Plâncton • são organismos micrCFcópicos, (comumente utilizadas em aquários de peixes
animais (zooplâncton) ou vegetais (fitoplâncton), ornamentais); como macrófita aquática submersa
com pequena capacidade Icx•omotorae pequena livre tem-sea Utriculariae, finalmente,como
resistência às correntezas, que por isso flutuam macróíltas aquáticas flutuantes podem-se citar
livremente nas águas abertas.O fitoplânctoné a Pistia (alface d'água) e a Eicchornia crassipes
constituído por organismtF autotróficos, tais como (aguapé),entre outras.
alguns tipcxsde bactériase algas de distintas clas-
ses - Bacilariofíceas,Clorofíceas, Cianofíceas, FIGURA 4.A: Cac%iaalimentar no meio aquático
Crisofíceas, Xantoficeas,Euglenofíceas,etc.; e o
zooplâncton é representado principalmente
(quando se trata de piscicultura) pelos
Protozoários, Rotíferos. Ciadóceros e Copépod(F.
• Nêuston - sio organismos microscópicos
que ocupam a interface água-ar, representados
por fungos, bactérias, alguns tipos de algas, or-
ganisrnos animais, etc..;
• Plêuston - constituído por representan-
tes das macrófitas flutuantes;
• Nécton - organismos vertebrados que Fonte:
apresentam grande poder de locomoção,sendo AMBIO 1979. &
capazes de vencer a correnteza, são representa-
dos principalmente pelos peixes, além de alguns O conhecimento do sistema aquático pas-
anfíbios, répteis e alguns mamíferos; sa obrigatoriarnente pelo estudo das comunida-
• Bentos - organismos que habitamo fun- des que o compõem. Deste modo, passaremos a
do (sedimento) dos tanques, representados seguir a tratar dos aspectos particulares de cada
parcialmente por oligoquetos, estágios larvais uma delas, procurando comentaras interaçoes
de insetos, algumas algas diatomáceas, que normalmenteocorrementreelas.
moluscos, algumas bactérias e fungos. De
modo geral esses organismos atuam direta ou 4.1. ORGANISMOS AUTOTROFICOS
indiretamente como decompositores na (X organisrncF autotróficos sao conhecidos
reciclagem dos nutrientes; como produtores primários, pois pela
• Perifíton - organismos microscópicos, fotossíntese,através da energia solar, produzem
formados por bactérias, fungos, algas, animais e seu próprio alimento, na presença de água e gás

33

Material direitos autorais


carbónico(6H20+6CO uz 60). colores. Este grupo congrega 930 espécies, dis-
Esses organismos são a base de sustentaçãode tribuidas em 45 géneros de água doce. Sua abun-
qualquer ecossistema; são constituídos principal- dáncia está relacionadaao excessode matéria
mente por organismos vegetais, algas e orgânica na água. Comumente ocupam os
macrófitas aquáticas, mas também por algumas tratos inferiorc•sdo tanque.
bactérias autotróficas. Eles podem ser utiliza- d. Chrysophytas - algas que apresentam
dos como indicadores da qualidade da água; são as clorofilas"a" e Seus plastídios sáo verde-
fundamentais na ciclagem de nutrientes e em am- amarelados, sua reserva energética é a
bientes naturais são essenciais para sua crisolanunarina e caracterizam-se pela grande
estruturação (principalmente macrófitas aquá- quantidade de xantofilas.Congrega essa ordem
ticas) servindo de refúgio e alimento para os pei- como principais classes a Chrysophycea (algas
xes e outros organismos animais. Essa situação douradas, geralmente flageladas, foto ou
muitas vezes pode tornar-se indesejável em tan- mixotróficas),a Bacillariophyceae(diatomáceas,
ques de piscicultura, pois poderá prejudicar o filamentosas e sem flagelo, caracterizam-se pela
manejo dos peixes, visto que as raízes desses grande quantidade de Silica)e a Xanthophyceae
vegetais impedem ou dificultam o manejode (mais raras que as anteriores).
criaçáo e despesca. As comunidades que com- e. Pyrrophytas - apresentam clorofilas "a"
poem este grupos são o Fitoplâncton. as e "c" e amido como reserva energética. Congre-
MacrófitasAquáticase as Bactériasautotróficas. gam as classes Dinophyceae ou dinoflagelados
e Cryptophyceae,as quais apresentam dois
• 4.1.1.Comunidade Fitoplanctônica flagelos. Em água doce, as da primeira classe
É formada principalmen te pel€F grup€F de têm quase sempre forma arredondada,sendo
algas a seguir. autotróficas a maioria das espécies; já a segunda
a. Chlorophytas - algas verdes que pcsu- classe apresenta indivíduos assimétricose ge-
em clorofila"a" e "b" e, como reservaenergética ralmenteocorreem grande quantidade, mais no
o amido. As classes mais comunsdesse grupo sào inverno e em zonas temperadas.
Chlorophycea e Zygnemaphycea. A prinwira é
constituída por mais de 8.000espécies. Essas al- • 4.12. Comunidade Zooplanctônica
gas podem ser indicadorasde excessode materi- modo geral existem 4 grupos de organis-
al orgânico no tanque, quando conferem à água que cornpóem a comunidade zooplanctónica
coloraçaoextremamenteesverdeada,com a pre- em ambientes de água doce. Sáo eles:
senca de grumos verdes (que geralmente indicam
a presença de Euglenophyceas). Esses grup€S nor- a. Protozoários;
malmenteestaotelacionadoscoma mortalidade b. Rotíferos;
de peixes, devido à falta de oxigénio elou pre- c.Microcrustáceos-
sença de altas concentraçck•sde amónia. que apre- divididos em Cladócerose Copépodos;
senta maior toxidez geralmente por causa do pH
alto, freqiientemente verificado nessas situaçOcs Os protozoáric:Fpodem ser divididos em
(esteefeitoé um indicadorde excessode matéria Ciliados, Hagelados e Tecamebas. Esses organis•
orgânica na água do tanque). mos nutrem-seprincipalmentede bactérias,de-
b. Cyanophytas - podem ser autotróficas tritos e pequenas algas, e, em geral, consomem
ou mixotróficas (assimilam compostos organi- organismos ou partículas alimentares de peque-
cos). Apresentam a clorofila "a" c como reserva no porte,os quais outros grupos nao consomem.
uma substanciasemelhanteao glicogénio;seu Especificamente as Tecamebasconsomem prin-
principal pigmento é chamado ficocianina, que cipalmente algas por fagocitose.
juntamentecom outros lhes conferea coloraçao Os protozoános, em certas situações, po-
azulada.Não possuemnúcleoindividualizado dem corresponder,em termos de biomassa de
e seus pigmentos encontram-se dispersos no zooplâncton, aos organismos mais representati-
citoplasma. São algas coloniais protegidas por vos em um ambiente aquático. Sua reprodução é
uma bainha mucilaginosabem diferenciada. geralmente assexuada, por simples divisão.
Essas colónias quando presentes em grande rotíferos apresentam-se como o grupo
quantidade na água dos tanques de piscicultu- que aparecemais comumenteem ambientes de
ra, conferema sua água um aspecto azulado. água doce e corusomempartículas em suspensao.
Esse fato indica ao produtor que poderá haver A maioria das espécies são sésseis (permanecem
mortalidade de peixes, por intoxicação, princi- fixos a algum substrato) e apresentamo "pé"
palmente de tilápias nilóticas (Oreochromis bem desenvolvido, assim como antenas e espi-
niloticus),pois na constituiçá0 química dessas nhos; entretanto,há várias espécies tipicamente
algas existem metais pesados, o que impossibili- planctónicas.Em termos de densidade e núme-
ta que o peixe seja utilizado para 0 consumo ro de espéces, corvstituemum dos principais gru-
humano. pos em água doce. Apresentam na estrutura bu-
c. Euglenophytas - são algas flageladas, cal um aparelho denominado mástax, cuja for-
clorofiladas e "b"), que possuem como re- ma define o tipo de alimento a ser ingerido. Es-
serva energéticao paramido; são na maioria in- ses mdivíduossãochamadosde rotatóriose apre-
Fundamentos da
ModernaAqüicuttura

autorais
sentamtambémuma estruturaciliada(chama- mentede ambientemarinho,congregandoo
da de corona ciliar) na região superior do corpo, maior número de espécies entre todos os outros
com a função na movimentação e alimentação. grupos animais. Sua reprodução é bissexuada,
Habitam os mais diferentes tipos de ambientes havendodimorfismo sexual,e fecundaçãointer-
aquáticos e de habita's em um mesmo corpo de na; o núrnero de ovos é variável e esses perma-
água. A partenogénese (reprodução sem a pre- necem por um certo tempo aderidos à fén•tea,
senga do macho)é a forma de reproduçãomais não sendo imediatamentedispersosno meio.
comum entre estes organismos. Com respeitoa Durante seu ciclo de vida, ocorrem cinco ou seis
seus hábitos alimentares. podem-se encontrar fases de náuplios, seguidas da fase de
representantes onívoros, carnívoros (podem ser copepoditos, que após maduros, originam as fê-
até canibais)e herbívoros.Os indivíduosdesse meas e machos adultos. De modo geral, o Ciclo
grupo apresentam as seguintes formas de alimen- de vida desse grupo é mais longo do que o dos
taçáo: outros. Com respeito à alimentação, as larvas
• Tipo Redemoinho: engloba a maioria (náuplios) e adultos apresentam dietas diferen-
das espécies. Os indivíduos são basicamente tes, diminuindo a competição intraespecífica. Há
algívoros ou detritivoros. uma correlação inversa entre a ocupação dos di-
• Tipo Fórceps: os indivíduos quais 0 ferentes estratos do ambiente aquático. AOlon-
mástax é eversível e adaptado a "pinçar" o ali- go de um período de 24 horas, dentre os náuplios
mento. São chamados de rotíferos predadores, e copepoditos (estes últimos em seus estágios
pois alimentam-se de pequenos rotíferos, iniciais) e os copepoditos (em seus estágios fi-
cladóceros, pequenos copépodos e/ou algas. nais) e os adultos, os primeiros permanecemna
•1ipo Sugador: os indivíduos possuem upcríície durante 0 dia, descendo às camadas
também a capacidade de eversáo do mástax, mas inferiores da coluna de água à noite, enquanto
são adaptados para sugar, alimentando-se essen- que no caso dos últimos ocorre o inverso. Esse
cialmente do protoplasma de algas. fenómeno só foi bem estudado em ambientes
naturais, podendo haver algumas variações em
A presença de rotíferos na água está geral- tanques de piscicultura.
mente associada às florações de algas; essa pre- Trés ordens compõem o grupo dos
sengaem grandes quantidades(alta biomassade copépodos: a Calanoyda, que apresenta antenas
rotíferos de pequeno porte) é bastante importante grandes e pernas com muitas cerdas, todos são
para a piscicultura, principalmente, nos primei- filtradores de algas e, esporadicamente de detri-
ros estágios de vida dos peixes cultivados (logo tos; e a Cyclopoida, com espécies princiçalmen-
após o início da alimentaçào externa) pois, devi- te bentónicas, mas também a gumas
do ao seu pequeno tamanho e conteúdo protéico, Planctônicas.Este grupo de copépodos não é
sio os prirneiros organismos zooplanctônicos a filtrador, ou seja,os indivíduos são essencialmen-
serem consumidos. Como observaçao prática, te predadores e, sempre vão em direçao à sua
pode-se recomendar que, para a induç,io de presa, podendo ser herbívoros ou carnívoros. Os
"blooms" de rotíferos em tanques destinados à náuplios de calanóides são todos filtradores (al-
alevinagem, faça-se uma adubaçao por volta de gas ou detritos) e os de ciclopóides são todos
três dias antes do povoamento, desde que os tan- filtradores herbívoros. A ordem Harpacticóida,
ques sejam de terra (para que a adubação seja cuias espécies apresentam antenas curtas, são um
efetiva), na base de 500g/m2 de estercofresco grupo basicamente bentónico e algumas espéci-
de bovinos, o que tern trazido melhores resul- es não realizam reproduçào sexuada.
tactos. Entre os copépodos, existem muitas espé-
os cladóceros(pulgas d'água) são um gru- cies que são parasitas de peixes e outros animais
po de organismos bem estudados Apresentam marinhos (género Laernea bem como espécies
um ciclo de vida muito semelhante ao dos rotíferos carnívoras (género Mesocyclops, por exemplo),
e a maior parte das espécies é de água doce. As que podem predar larvas de peixes, as quais ata-
estruturas responsáveispor seus movimentCFsio cam Isoladamente ou em grupo, aderindo-se às
suas antenas (segundo par), as quais são bem de- mesmas através de seu "aparelho bucal", provo-
senvolvidas. No entanto, há espécies que. por vi- cando-lhes ferimentos e comprometendo-lhes a
verem em habitats lénticos (habitats litorâneos, sobrevivência. Dependendo da densidade des-
regiões de pouca ou nenhuma correnteza), podem ses organismos em um tanque destinado à
apresentá-las menos desenvolvidas. Suas "per- 'arvicultura de peixes, a taxa de mortalidade das
nas" são providas de uma rede de cerdas, impor- larvas pode atingir índices altíssimos, chegando
tantosna filtragem dos alimentos.A maioriadas até 1000/0,o que inviabiliza a criação.
espécies alimenta-se de algas e detritos, através As larvas de dípteros, como as da famí-
do processode filtragem da água, mas alguns lia Chaoboridae, são chamadas de
poucos géneros são carnívoros. Sua locomoção meroplanctónicas.
ocorreem formade saltoserráticos,e apresentam Quando se fala em piscicultura profissio-
geralmente um olho compostoque é utilizado na ml, com taxas de produtividade aceitáveis, as
sua orientação de natação. comunidadesque ocupam baixo nivel trófico
Os copépodos são um grupo principal- (plâncton, bentos, perifíton, etc.), apresentam

Mate' ia' direÉ10s autoyais


FIGURA4.B.: Exemplos de alguns organis-
mos do fito e do zooplâncton.

importância apenas nas fases de desenvolvimen-


to larval e primeira alevinagemda maioria das
espécies de peixes de água doce cultivados. Para
esses peixes. já a partir da fase juvenil - que pode
variar de espécie para espécie - seu cresci:nento
e terminaçãodependem quase exclusivamente
de uma boa raçáo (dieta completa, fornecida pelo
piscicultor) aliada a um bom manejo,em tcxios
os sentidos. No caso de o produtor optar por um
cultivo de peixes total ou paroalrnente depen-
dente destes organismos, há que ter em r:wnte
ue haverá aumento do período de cultivo, re-
uçáo da produtividade, bem como aumento de
incidência de problemas sanitários, que constan-
temente estao relacionadoscom a presença de
matéria orgânica em excesso no meio, principal-
mente nas fases finais de crescimento e engorda
dos peixes. Nessas fases, a própria biomassa
iscícola já é um grande agente poluidor do am-
iente, seja através das fezes, seja através da res-
piraçáoou outras atividades nu•tabOlicas dos in-
divíduos estocados. Deve-se ainda, considerar
que a necessidadede aumentode melhoriana
qualidade da água ("A matéria-prima da pisci-
cultura não é o peixe e sim a água" ) é diretamen-
te proporcional ao aumento da biomassa de pei-
xe estocada.

Fundamentos da
Moderna Aquicultura

com direitos autorais


FIGURA5.C„•Esquemaexemplificandoa distri- inferior é geralmente assumido como sendo
bu4ãodosgases e sais no aquela profundidade onde a intensidade da ra-
diaçao corresponde a 1% da que atinge a
Radiação supefície.Este limite é chamadode "pontode
compensação",pois nesselocala produçãopri-
mária líquida é semelhante à respiraçãodas co-
munidades. Esse limite pode variar consideran-
do as regiões tropicais ou temperadas, sendo
geralmente maior nas primeiras
Epilimnio A medida da transparência d'água é feita
da maneira mais simplificada,com a utilização
de um discobrancocomfaixasnegrasalterna-
01 ca das, com 20 a 30cm de diâmetro, este aparelho
é chamado disco de Secchi (Figura 5. D.).
FIGURA5.D.:Discode Secchi
Este exemplo mostra que nesse tipo de
ambiente, o extrato superior é rico em 02, favcy
recendo a permanênciade peixes.Entretanto,
quantoa produtividadeprimária(fitoplâncton)
-l
nao favorável devido às baixas con-
de C02 e -3,trazendo conseqüên-
cias na produção de zo¿plâncton na coluna de
água,devidoa que seu substrato(fitoplâncton)
encontra rnelhorescondições no estrato inferior
do tanque, a qual não possui concentração
satisfatória de O, , vital para a sobrevivência.
maneira geral a distribuição e disponibilidade de
gases e sais na coluna d'água afeta diretarnente
a distribuição e a sobrevivência dos organismcF
aquátic•. Desta forma é valido pensar que a
estratificaçãotérmica em tanques de piscicul-
tura nào é uma característicadesejável,visto
que suas implicações biológicas, princi te
quantoao aspectoda distribuiçãode na co- O modo de operação é bastante simples,
luna d'água que em situações de alta demanda basta mergulhá-lo na água em uma região som-
biológica,pode tornar-selimitante para o bom breada do tanque, com o auxílio de um cordão
desenvolvimento, ou até para a sobrevivência graduado. A profundidade de seu desapareci-
dcs peixes. Daí a importância do uso, quando mento é conhecida popularmente por "profun-
necessário,de aeradores, que além de atuarem didade de Secchi" e, essa é inversamentepro-
como oxigenadores, ainda desempenham papel porcional à concentrataçao de partículas
importantena dos ambientes inorgânicase/ou orgânicas em suspensãona
aquáticCE água .A profundidade do Secchié aquela na qual
a radiação de 400a 740nm, portanto a faixa vi-
•5.1.2Transparênciada água sível, refletidado disco não é mais visívelao
A transparência é uma medida diretarnen- olhohumano.
te relacionadacom a produçãoprimária A faixa ideal para a profundidade de
(fitoplâncton) . Secchi em tanques de piscicultura, dependendo
De toda a luz que incide sobre umcorpo da profundidade do tanque e, desde que o fun-
aquático, uma parte é refletida e a outra é absor- do não esteja visível, está entre 25 a 70cm. Como
vida. Em termos de piscicultura o que nos inte- geralmentea turbidezda água é diretamente
ressa é a parte que é absorvida pelo corpo proporcional à quantidade de plâncton na água,
d 'água. Portanto é dessa que trataremos a seguir. através dessa medida é possíveldeterminar-se
A parte do corpod'água a qual recebea estimativamente a produtividade primária do
luz pode variar em termos de profundidade, de tanque. Para medidas inferiores a 20 cm, reco-
algunscentímetros a até algunsmetros,depen- menda-secessar a fertilizaçãodos tanques de
dendo do grau de turbidez, pode ser influenci- piscicultura.
ado tanto por fatores abióticos (partículas sóli- A profundidadede Secchipode também
das em suspensão ) quanto por bióticos nos dar idéia do temponecessáriopara que se
(plâncton). reduza uma determinada quantidade de oxigé-
A parte iluminada da coluna d'água é co- nio dissolvido em um tanque,como esta ilustra-
nhecidacomozona eufóticaou fótica,seu limite do na tabela 5.A.
Fundamentos da
38 ModernaAqüicultura

Malenai coin diteilos autoras


TABELA 5.A : Sinulaçáo númerodoúas necessá- Os fatores que afetam a solubilidade do
rós para que a concentraçào 02 dissolvido oxigénio na água sào a temperatura (Tabela 5.B),
no 2,0 mg" orntanquescornquantidadesvariáveis a pressio atmosféricae a salinidade,de forma
radaçao saar e visibd"ade Secchi (BOYD,
que apresenta-se inversamente relacionadocom
RADIAC Ao SOLAR
a temperatura e a salinidade e diretamente com
50 100 150 200 400 a pressão atmosférica.
30 o o o o o TABELA5.B: Solubilidade orn água pura de oxigénio
40 1 1 1 1 1 1 do ar saturadoa 760mmde pressao a umatempera-
50 1 1 1 1 1 3
60 1 1 1 2 4
70 1 1 1 2 5 TE:.MI'. ONI. OXI.
80 1 2 3 6 0 16 18 9,18
1 13,77 19 9,01
2 13,40 20 8,84
3 13,05 21 8,68
Cmvém lembrar que geralmente a coloração
4 12,70 22 8,53
pela a água é reflexodo tipo de partí- 5 12,37 23 8,38
cula que encontra-seem swspensaona mesrna,por- 6 12,06 24 8,25
tanto,o exceso de materialinorgânicoem 11,76 25 8,11
sao, conferea água uma coloraçàoa 8 11,47 26 7,99
tonalidadedependedo tipo e coloraçãodo no 9 11,19 27 7,86
local), nàoé deSável, pois pode prejudicarcs 10 10,92 28 7,75
peixes,entãoalémda medida, estaratento 11 10,67 29 7,64
para este detalhe para não incorrerem de in- 12 10,43 30 7.53
terpretaçào, rnodo que para 13 1020 31 7,42
14 9,98 32 7,32
do na atividadepiscícolaé vitala
vivênciae o conhecimentona atividade,para aí 15 9,76 33 7,22
entao corretas após a coleta 16 9,56 34 7,13
de qualquer tipo de informaçaoda criaçao. 17 9,37 35 7,04
Fonte: fruesdale et at. Citado por We•tzel( 1985).
• 5.1—3
Oxigénio Dissolvido
O oxigénioé o gás maisimportante para Outros fatores que atuam sobre a solubili-
os peixes,por isso,em termos de piscicultura é dade do oxigénio são a turbidez, a presença de
a ele que devemos dar maior importância. As amoníaco,nitritoe ácidocarbónico(HC03 que
fontes de 02 sao a atmosferae a fotossíntese. de forma geral também atuam no ambiente fa-
Em ecossistemas aquáticos, este gás é con- znndo com que haja aumento na demanda de 02
sumido de diversasformas,comose segue:de- dissolvido.
composiçãoda matéria orgânicae oxidaçãode Em ambientes aquáticoso maior respon-
íons metálicos,comoo de ferroe o manganês. sável pela variaçao nas concentrações de 02
A concentraçaode 02 dissolvidona água dissolvidoé o processode fotossíntese/respira-
variacontinuamente
duranteodia devido aos çao (durante a noite, o plâncton pode remover,
processos físicos, químicos e biológicos, como através da respiração, até 0,36 mg/ 1 de O, dis-
pode ser observado na Figura 5.E solvido da água. Num períodonoturnocie 12
horas, atinge-se um decréscimototal de 4,32 mg
Figura 5.E : Mudançasdiáriasnas concentra• de 02/1 /noite ) e/ou decomposição.A amplitu-
çóes de oxigéniodissolvidona superfície da de desta variaçàoé funçaoprincipalmente dc
água (0,0a m ) de tanquescom "blooms" densidade das populações de fitoplâncton,
de plâncton,leve,moderadoe forte. macrófitas aquáticas e de bactérias, que por sua
18
vez estãodiretamenterelacionadoscomo nú-
mero de horas de luz por dia, luminosidade, tern-
ratura e disponibilidade de nutrientes, e tam-
m pela profundidade, do tanque (Figura 5.E)
12

HOM 20
Boyd, 1982

39
FIGURA5.F.: Concentraçóosde oxigéniodis- FIGURA5.G.: Concentraçãode oxigéniodis•
solvidoem diferentes profundidadesem tan- solvidoá tarde e de manhã em um tanque de
ques com 'blooms-de plâncton,leve, modera- peixes com um problema crónicocom relação
do e forte a este gás. As setas indicam o efeito do uso
emergencialde aeração.

R.yd, 1982
3
Para o monitoramento do oxigénio, pode
10 20 ser utilizado o método químico de Winkler (mé-
todo colorimétrico,por titulação),ou através do
1982 uso de aparelhos eletrônicos te-
nham esta função. O uso deste aparelho é bas-
tante prático, pela rapidez com que faz-se as,
Em tanques de piscicultura, por serem de medidas,mas apresenta a desvantagemdo alto
forma geral ambientes rasos, a concentraoo de custo de aquisição,pode proporcionarimpreci-
02 apresentaseus menoresvaloresno período soes nas medidas devido ao uso inadequado ou
da madrugada ou da manha,o que torna a co- descalibragem dos mesmos.
luna d'água frequentementeanaeróbia,daí a É importante salientar que cada espécie
alta taxa de mortalidade apresentada,em alguns de peixe possui um limite de resistênciaquanto
casos, nesses horários principalmente.Outro à concentraçãode 02 dissolvidona água e isso
fator complicadordessa situaçaoé a formaçao varia com a idade e o estado fisiológico,por este
de gases nocivos,tais como : gás sulfídrico e o motivo é importante o acompanhamento visual
metano,formadosem condiçõesanaeróbiasno dos animais para que as providênciasnecessári-
ambienteaquático. as posam ser tomadas de imediato.Entretanto,
De modo geral, os valores entre zero e a partir do momentoque as concentraçóesdes-
um miligrama de oxigénio por litro de água é se elementoatinjamníveis inferioresa quatro
letal aos peixes,de dois a três, os peixes perma- miligramas por litro, é importante ao piscicultor
necem em estresse e, de quatro a seis miligramas ficar atento, principalmente no período noturno,
de oxigénio por litro de água. é a condição ideal em dias nubladose na fase finalde terminação,
para a maior parte das espécies de peixes culti- casos em que a demanda bioquímica de 02 é
vadosno Brasil. maior.
Sabendo-seda importanciado 02 dissol• Comonota prática, problemas com02
vido para a piscicultura, o produtor deve preo- dissolvido em qualquer tanque podem ser no-
cupar-se com esse fator, de forma que seu suces- tados a partir da observaçãoda aparência da
so na atividadeestá diretamenterelacionadoao água, como mudança rápida dacor da mesma,
esforço gasto no seu controle . Desta íorrna pre- verde para marrom ou cinza, por exemplo e, do
coniza-se que para a implantaçãode uma comportamento dos peixes com presença de um
piscigranja,há necessidadede água em quanti• grande númerodeles na superficie da água,
dade e de boa qualidade (10a 15 1/ ha/ segun- "boqueando" ou tentando "sugar" o oxigénio
do), ou se essa premissa básica não for possível existente no limite ar-água.
de ser atingida, resta ao produtor lançar mao de Alguns autores informamque pode-se
formasalternativasde controlede 02 comopor estimar o consumode oxigéniode um peixe,
exemplo,através da observaçaodo comportamen- conhecendo-seseu peso,a temperatura da água
to dos peixes, uso de aeradores, oxigenadores, fil- e de algumas constantes matemáticas
tros biológic• para a reciclagemde água,etc. A preestabelecidas,calculadasa partir da tempe-
Figura 5.G.nos dá idéia do comportamento das ratura da água e outrosfatores.Comoilustra-
concentra«ksde O, dissolvidoem um tanque «ao podemoscitar que em um tanque com
de peixes com problemascrónicos em relaçãoa 3.200Kg de peixe, assumindo-se 12 horas de noi-
este elemento e, efeito do uso de aeraçào,para a te , podem assumir de 02/ Kg de pei-
convivência com o problema. xc, por hora, multiplicado por 12horas, totaliza-
se um consumo de 10,75Kg de 02 /noite.

Fundamentos da
Moderna Aquicultura
• 5.1.4Potencial Hidrogeniônico (pH) FIGURA5.H.: Exemploilustrativodo compor-
O processode dissociaçãoda molécula de tamentodo pH e das de 02 e C02 livre, para
água liberando ao meio uma certa quantidade um ciclodiário de 24 horas em um ambiente
de íons semquebraro equilibrio(H20= aquático.
H+ *OH).
Quandoa quantidade de íons1-14é igual
a de íons OH- em uma solução, ela é dita como
neutra. Já quando há uma "vantagem" para os
íons a solução é dita ácida,quando o con- 1
trário é alcalina ou básica.
O pH, que é definido como logarítmo ne-
gativo da concentração molar de íons hidrogé-
nio é a medida que expressaa acidez ou
alcalinidade de urna soluçãoe, além de ser in-
fluenciado pela quantidade de íons e OH-.
ainda é afetado fortemente por sais, ácidos e ba-
ses que ocorram no meio. coa-gvr. OZO
Os valores de pH variam de a 14,0sen-
do que abaixo de 5,0 é fatal à maioria dos pei- • 5.13. Gás Carbónico
xes, entre 5,0 e 6,0 causa queda no desenvolvi- É um gás que apresentauma grande im-
mento, entre a 9,5 permite um desenvolvi- portáncia no :neio aquático, como visto anteri-
mento satisfatório,entre 7,0 a 8,5 é a faixa ideal ormente o (02 dissolvido em pH).Esse gás pode
ao desenvolvimento dos peixes e, acima de 11,0 causar problemas para a piscicultura, no entan-
é letal. to, seus efeitos patogénicos sao geralmente cau-
Em tanques de piscicultura o pH é influ- sados pela asfixia que pode provocar. Nem sem-
enciado pela concentração de íons origina- pre o C02 é tóxico para os peixes; a maior parte
dos da dissociaçãodo ácidocarbónico(H2C03 das espécies podem sobreviver por vários dias
H + C03'2) , pelas reaçóes de íons carbo- em água contendo mais que 60 mg/ , desde que
nato e bicarbonato (C03•2+H20< >HC03 esta água apresente um aporte substancial de 02
pelo processo de para o peixe e,comojá foi visto, normalmente
fotossínteseda respiração c/ luze as altas concentrações de C02 na água estão sem-
> s/ luz CH20 + causas do manejo pre acompanhadasde baixasconcentraçõesde
como adubaçaoe calagem,ou mesmo pela 02, por terem estes comportamentos inversamen-
poluição. Ainda é importante salientar que al- te proporcionais(Figura5.H,)
teraçóesno pH da água podemcausar mortali- Considerando-se os processos naturais no
dade em peixes. Essas alteraçóes em diferen- ambiente, particularrnente altas concentrações
tes proporções,dependendo da capacidade de de C02 ocorrem em tanques após grande morta-
adaptação da espécie ,através da maior ou me- lidade de fitoplâncton, após a desestratificação
nor dificuldade de estabelecer o equillbrio térmica c quando o clima apresenta-se nublado.
osmótico em nível de brânquias, podem deter- Éde difícilconstatação,tendo em vista que
minar grandes dificuldades respiratórias nas ele sc transforma em carbonatos e bicarbonatos,
espécie ou indivíduos menos versáteis ou re- mas é sabido que é capaz de acidificar a água
sistentes, levando-os à morte. quando esta apresenta baixa alcalinidade.Há
O comportamento do pH no período de estudos ue indicam que em águas com concen-
24 horas de um dia, segue de maneira direta- traçóes Ie C02 superioresa 20mg/litro, tem-se
mente proporcionalo do 02 dissolvidoe, in- constatado a existência de lesOescalcificadas, isto
versamente o do C02 (Figura 5.EI).Portanto pode se agravar em águas com baixas concen-
intensos "blooms"de algas.em tanques com traçôes de magnésio (águas moles),nesta con-
baixas taxas de renovação de água, dependen- dição, 30 mg de C02 na água pode levar o pH
do da densidade de estocagem, poderáo apre- da mesma a 4,8.
sentar altas taxas de mortalidadede peixes,
principalmentedurante a noite e na madruga- •5.1.6.Alcalinidade
da, devido às altas concentraçõesde C02 no É a capacidadeda água em neutralizar
meio, oriundo do processo de respiração. Este ácidos. Referese à concentraç,iototal de sais na
gás quandoesta livre no meioaquático,reage água, sendo expressaem miligrama por litro,em
coma água promovendoa liberaçãode íons equivalente de carbonato de cálcio (CaC03 bi-
(C02 +1120< > H2C03 < > HC034H+ < > carbonato (1-1C03), carbonato (C03 ) ,amónia
2+ ), consequentemente baixando o pH e, (NH3 hidroxila (OH), fosfato (POÍ2), sílica
devido ao conjunto destes processos,a concen- (Si04) e algunsácidos orgânicospodemreagir
traçao de 02 poderá chegar a zero. para neutralizar íons hidrógênio(H+). Para tan-
ques de piscicultura sao desejáveisvalores de
alcalinidade acima de 20mg/1, sendo que valo-
res entre 200-300mg/1 são os mais indicados.
Existem pelo menos três tipos de alcanilidade : FIGURA5.1.:O ciclo do fósforo em um tanque
• alcalinidade total- OH - , C03•2 e FICOS , de peixes.
• alcalinidade de fenolftaleína- OH- e C03 2;
•alcalinidade de carbonato - COS2 e 1-1C03*2 ;

IÀstes três a última é a que realmente in-


teressa à piscicultura, pois na presença de C03•2
dissolvido, ode haver a solubilizaçaode
bicabornato le cálcio (CaC03 + H20 + C02 < >
Ca+ + 21-1C03* ), então mudanças nas concen-
traçôes de C02 podem alterar as proporções de
carbonato e bicarbonato no meio, ao longo do dia.
• 5.1.7.Dureza da Água
Este termo indica o teor de íons de cálcio e
magnésio que estão combinados a carbona tos ou
bicarbonatos, ou mesmo sulfetos e cloretos.
A dureza total apresenta-segeralmentere- Perda permanente
lacicmadacom da alcalinidadee cátions para 0 "ndimento
da dureza são derivadCFde minerais
-Grosseirarnente definir a dureza da água Boyd, 1982
como sua capacidade em resistir às de
pH durante um ciclodiário de 24 horas. É também
importante salientar que apesar da correlaçàopo- O P-particuladoé originadoda matéria
sitiva existenteentre a dureza e a alcalinidade,nem orgânica (DNA ,RNA, fosfoproteínas,etc.)
sempre é verdade dizer que águas altarnente alca- adsorvido em matéria orgânica.
linas alta dureza. O P-dissolvido pode ser orgânico
(fosfotase,fosfolipídios,ATP,fosfoproteínas,etc.)
• 5.1.8CondutividadeElétrica ou inorgânico (ortofosfato ,monidrogem fosfato
É a medida direta da quantidade de íons na férrico, etc.)
água (teor de sais na água). Altos valoresde O fósforoé de grande importância para o
condutividade indicamaltastaxas de ambienteaquático,poisarmazena energia(ATP),
çáo, dessaformainformações re a faz parte da estrutura da membrana celular, é o
disponibilidade de nutrientes no meio aquático, fator limitante na produtividade primária e res-
bem corno ajuda a detectar a incidência de polui- ponsável pela eutrofização artificial. O fósforo,
çào na água. Quanto maior a concentração iónica, orgânicoou inorgânico,pode apresentar-sena
maior a capacidadeda água em conduzir ele- forma solúvel.
tricidade. (X valores de condutividade desejáveis
em piscicultura entre 20e 1(X)mS/cm. • 5.1.10.Enxofre
Em um ambiente estratificadoo apre- Em ambientes aquáticos o enxofre pode
senta altCFvalores de condutivid apresentar-se sob várias formas (íon, sulfato, íon
sulfito,íon sulfeto,gás sulfídrico,enxofre
• 5.1.9.Fósforo molecular, associados a rnetais, etc.).As formas
O fósforo é o elemento mais limitante aos mais comuns sào o íon sulfato e o gás sulfídrico,
organismos produtores primários, é o elemento sendo o primeiro a principal fonte de enxofre
que retarda a euforizaçào natural .Apresenta para os produtoresprimários,
rápido tempo de renovaçãoe a maior porcenta- A grande maioriado enxofrepresentena
gem encontra-sena matériaorgânica(aproxima- matériaorgânicafaz parte da constituiçáoda
damente 90%).O esquema básico do ciclodo fós- proteína . Os organismosdecompositoresde
foro está representado na Figura 5.1. matéria orgânica ,como as bactérias ,usam o en-
xofrecomo constituintede seu próprio tecido
A única forma disponível de fósforo para mineralizadocomo sulfato de hidrogénioem
os organismos produtores é como ortofosfato condiçõesanaeróbias.
(P03 As concentrações de fósforosão influ- Em condição de redução drástica nas quan-
enciadas pelo Fe *AI,hidróxido de cálcio, tidades de 02dissolvido o gás sulfídrico (forma-
argilas, areias, etc. Este elemento pode originar- do através de processosde redução,que ocor-
se do intemperismo de rochas, como apatita, por rem pela atuaçao dos microorganismos)acumu-
exemplo, de excretas humanas, detergentes, fer- Ia-se no hipolímnio,provocandomortalidade
tilizantes(mais recentemente).
Apresenta-sena nosorganismosaquáticosque ocupemesta por-
forma de P-total, P-particulado e P- dissovido. Sãodo ambiente,pois este gás atua em nívelde
enzimas, inibindo a cadeia res iratória e, em ní-
P-total = P-particulado+ P- dissovido vel de inativaçàoda hemoglotina do pontode
vistarespiratório.
Fundamentos da
M•derna
5.1.11.Nitrogénio O amónioé de assimilaçãovantajosapara
O nitrogénio apresenta-se presente no meio os produtores, em elevados valores de pH pode
aquático de diferentes formas:N2 (não utilizável), transformar-seem amónia(NH3) não ionizada,
como de compostosorgânicosdis- que é um gás tóxicopara os peixes em concen-
solvidos( purinas,aminas,aminoácidos,proteí- entre 0,20 e 3,00 mg/litro.
nas etc.), na forma de compostos particulados A exposiçãodos peixes à amónia não
( lánctone formade nitratosenitritcs ionizada , pode provocar-lhes a elevação do pH
( e NOS , respectivarnente)e na formade do sangue, afeta a permeabilidade interna de íotvs
nitrogénio amonical (NH3/NH4*). pela água, aumenta o consumo de 02, aumenta
De modogeral o ciclodo nitrogénioestá a susceptibilidade à doenças, afeta os rins e baço,
mais interligado ás açóes biológicas(Figura5.H). entre outras açóes.
O nitrogénio origina-se de aportes fluviais e len-
çóis freáticos,da decomposiçãoda matéria or-
gânica e da fixação biológica. Os nitratos e o
amónio são as principais formas assimiláveis
pelosprodutores,os nitritos ocorremem baixas
concentrações (predomina em um meio
anaeróbio),pode tambémser assimilávele é tó-
Xicoaos organismos aquáticos em elevadas con-
CentraçOes.
O nitrito após absorvidopelos peixes,rea-
ge com a hemoglobina para formar a
metamemaglobina , esta naoé efetiva no trans-
porte de 02. Portanto uma continuada absorção
do nitrito pode levar os peixes à morte por
hipoxia e cianose.

FIGURA5.H..•Resumo esquemátk;o
do nitrogénio.
HUMUS
Células
Microbianas

Animais
Plantas

A - Amonificaçao
B - Mineralização
C - Nitrificaçao
D • Reduçao a Nitrato
Imobilizaçao
Denitrificaçao
G -Fixaçao de N,
1982
CONSTRUÇÃO
DE TANQUES
RicardoPereiraRibeiro,Dr.

Para que a piscicultura torne-se uma ati- FIGURA6.A..•Diferentestiposde vales de se-


vidade rentável e viável, há necessidadede que çáo cruzada
sejam tomadas medidas para que se possa fazer
uma programação de produção e que esta cria-
çao proporcione uma renda MENSALAO PRO-
DUTOR.Essas medidas sao basicamenteo que
se segue:
• escolha de uma espéciede peixe que tenha ca- VakemV (a) V" Vn» trunc•O
pacidade de ser produzida o ano todo; (b)
construção de um número de tanques tal que
permita a periodicidadena produção(para
produção rnensal, bimensal,semestral,etc.); Vale V
curvado(c)
• utilizaçãode arraçoamentoadequado(raçao
de engorda, com pelo menos 26%de proteína
bruta na base de 3 a 5% da biomassa total do
tanque por dia);
• manejo adequado;
• quantidades adequadas de água (10 litros/ inclinado e
ha/s).
Na implantaçãode piscigranjas,basicamen-
te três fatores se destacam, como se segue:

• Topografia; Vale V
•Natureza do solo; trurx.do (e)
•Quantidade e qualidade da água.
6-1. TOPOGRAFIA
Quanto ao terreno, este deve possuir uma
declividade suficiente para que os tanques POS-
sam ser abastecidospor gravidade.O ideal é a V" emV
vale amplo e lar"
escolha de áreas com declividadesuave, para
baratear a corFtruçao,sendo que esta declividade
deve estar na faixa de 2 a 5%. Huri, 1994
O comprimento do tanque deve acompa-
nhar a declividade do terreno. profundos, significando, portanto, barragens ca-
Todaconstruçàodeve ser feita aproveitan- ras em relaçàoà área inundada.
do-se as condiçõesdo terreno, sendo que a terra Outro fator prejudicial desse tipo de terre-
deslocada deverá ser usada para a no é que a grande profundidade de seus tanques
complementaçãodos aterros,que por sua vez torna-os pouco produtivos, em virtude da pene-
devem ser bem compactados.Osvales constitu- traçao parcialde luz na coluna d'água,
em-se no perfil topográfico mais indicado, pois Valesmedianamente largos e vales amplos
muitas vezes dispensamou reduzemo trabalho e rasos - podem ser aproveitados para a constru-
com escavações.Porém o tipo de vale também çào de tanquespara piscicultura,uma vez que
deve ser considerado em seus aspectosde pro- necessitam de barragens de altura reduzida para
fundidade e largura (a Figura 6.A. mostra alguns proporcionaruma boaárea inundada,sem a ne-
exemplosde tiposde vales): cessidade do uso de tanques profundos, que
Vales estreitos e profundos - nio sao indi- comojá visto sao menosprodutivose também
cados, pois pelo seu perfil exige-se que as barra- dificultam o manejo. A Figura 6.B. nos dá idéia
gens a serem construídas sejammuito elevadas, de qual o tipo de tanque os diferentes contornos
as quais darão origema tanquespequenose topográficos podem fornecer.
po soto C ARACItRfSTICAS
GFRAIS
2,0 a 0,05mm Partículasde solo quando friccionadasentre os
dedos parecem pedregulho. Não apresenta
plasticidade nem é grudenta quando úmida
Silte mm Lisas e purulentas quando friccionadasentre
dedos. Não é plásticanem grudenta quando úmida
< 0,002mm Liso ao tato, grudenta e plásticaquando tími-
da. Partículaspodempermanecersuspensasna
água por um longo período de tempo.
TABELA Diâmetroe característicasdas diferentesfraçõesconstituintesdo solo

FIGURA6.
a ÃHra 6.3. QUANTIDADE DE ÁGUA
A condiçaoessencialpara a instalaçãode
uma pisciculturaé que o terreno tenha água em
quantidade suficiente e de boa qualidade. Sem-
pre que possível, o abastecimento da piscicultu-
ra deve ser feito por gravidade, a utilização de
bombasdeveser evitada,devidoao alto custoe
ao consumode energia,manutençãoe prejuízo
da qualidade da água, pois o processo de
centrifugação pode matar grande parte do
plânctonexistente.
A quantidade mínima de água que se deve
dispor dependede váriosfatorestendo,no mí-
nimo, de ser suficientepara repor as perdas por

I*II evaporação e por infiltraçáo e, satisfazer, em par-


te, as necessidades de oxigénio dos peixes.
Para um decréscimode dois e meiocentí-
metros por dia, de lâmina d'água, há uma ne-
6.2. ESTRUTURAFÍSICA po soro cessidadede uma entrada de água de três litros
Neste aspecto,os pontos básicosa serem por hectarede área inundada por segundo, para
observadossão:a estrutura físicado solo,ou seja a manutenção do nível de água do tanque.
sua textura(proporçãode areia/argila),sendo De um modo geral, 10a 15 litros por hec-
ideal a mista; terras com 15a 35 % de argila, pois tare de área inundada por segundo é considera-
este tipo de solo apresenta boas propriedades da uma boa vazào para a produçao de peixes,
coesivas,impedindoa infiltração,aumentando desde que esta vazão permaneçaconstantedu-
tambéma durabilidade dos taludes, além da rante todo o ano. Pode-setambémtomar por
grande área de superfície de contato que este tipo base, uma renovaçãodiária de cincoa 10 % de
de soloapresenta, suas partículas absorvem mais toda a água do tanque por dia, dependendoda
nutrientes,retendo-ose liberando-oscom mai- densidade de estocageme das condiçõeslocais.
or facilidade, o que vem a favorecer a produtivi- Apesar destas quantidades estipuladas,
dade primária, e a sua estrutura(arranjodas deve-seter-sesempreem mente que é necessá-
partículasno solo),sendo que terrenos arenosos rio canalizar para a piscicultura, o máximo POS-
elou turfosos,são poucorecomendáveisdevi- sível de água, pois em caso de emergência, so-
do à sua grande permeabilidade.A Tabela7.A. mente a água é que solucionaráo problemadefi-
dá detalhesdas característicasgerais de três ti- nitivamente.
pos de constituiçãode soloe, sua relaçãocoma
aqüicultura (vantagens e problemas de cada um). Comoexemplopodemoscitarum tanque
O outro ponto a ser observado quanto a nature- com 20metros de largura, por 50metros de com-
za do solo é com respeito à sua constituiçãoquí- primentoe profundidademédia de um metro:
mica. dando-se preferência a solos ricos em tós- • 20 x 50 x 1 = m3 de água
foro. Terras ácidas e terras vermelhas, que são • 8 % de renovaçãopor dia = 1.000x 0,08 80
muitoricasem alumínioe ferro, ruo devemser m3 por dia = 80.0001/dia
utilizadassem a devida correção.Embora tenha- • divididopor 24horas 3333331de águapor hora
mos que dar preferênciaa terrenosalcalinose • dividido por 3.600segundos = 0,92 litros de
ricos em fósforo, esses aspectos não são água por segundo,que seria a vazão necessá-
limitantes, uma vez que a calagem e a adubação ria para manter uma eficienterenovaçãode
podem solucionar tal problema. água no tanque do nosso exemplo.

Fundamentos da
• 63.1. Método para o cálculo da vazio Para o nosso exemplo, temos um canal de pa-
através do uso de flutuador em canais naturais redes lisas,então:
ou artificiais Vm 0,26x 0,9 Vrnc (corrigida) = 0,23m/s
flutuador Cálculo da área (S):
02-3m espaço de 8 a IO m S = Profundidade média do canal x largura
média do canal
Ml S 0,081rn2
espaçopara que o
flutuadorvença a inérciaMarcador A vazio (0) é dada por:
@ Área x Velocidademédia corrigida
S x Vrnc
As medidas de profundidade e largura do @ = 0,081m x 0,23m2 = 0,01863rn3
canal de abastecimentodevemser tomadasem @ 18,6litros/segundo
três pontos diferentes no espaço M2 e a medida
de tempo de percursodo flutuadordeve tam- Portanto para um canal Com estas
bém ser tomadas trés vezes, também nesse es- especificações,considerando-se as regras básicas
paço M2. anteriormente citadas, podemos calcular qual a
área que pode ser inundada para o estabeleci-
mentode uma piscicultura:
Entãoconsiderando-se a medida recomen-
• Profundidade dada de vazão igual a IO a 15 1/ha/s. Pergunta-
(tomada em três pontos diferente). se, qual a área que poderemos inundar com urna
- 26 cm vazão de 18,61/s.
- 27 cm média = 27 cm
-28 cm Resposta:
12,51/S 10.000
rn2
• Largura (tornada em três pontos diferentes) 18,61/S
- 30 cm x. 18,6x • x • 14.gsom20u1,488ha
- 29 cm média 30 cm
- 31 cm A partir destes dados, conhecendo-se o ci-
CIOde produçao e produtividade da espécie es-
• Tempo de percurso do flutuador co hida, pode-se estimar a rentabilidade da cria-
(tomadastrês medidas) çao a ser implantada, como veremos mais adi-
- 33 segundos ante neste capítulo.
- 31 segundos média 31 segundos
- 29 segundos 6.4. TIPOS PE TANQUES
Os tanq ues são classificadossegundo o sis-
•Cálculo da Velocidademédia (Vrn) = tema de alimentação, levando-se em considera-
Vm = Espaço/ tempo çáo sempre a topografia do terreno, aqui tratare-
8m / 31s mos especificamente dos tanques abastecidos por
Vrn 2581m/s cursos de água, deixando de lado os abastecidos
por poços artesianos, ou por bombeamento, por
Como normalmente os canais de abasteci- acreditarmos que para esse tipo de exploração
mento sao constituídosde diferentestipos de ainda nao caracterizaa nossa realidade atual.
materiais ou substratos, os quais apresentam di- Tanquesde barragem(sem derivaçãode
ferentesvaloresde resistência(atrito)sobre a curso de água) - esses tanquesproporcionam
água em movimento, há a necessidade de que se para uma igual área inundada, um custo menor
faça a correçào da Vm através do uso de um fa- de construção. Porém apresentam alguns incon-
tor de correçao, o qual tem a funçao de corrigir o venientes, como estarem sujeitos à transborda-
atrito que a água tem com a parede do canal e mentos, com perdas de peixes, e ruptura da bar-
com o ar. É importante destacar que quanto mais ragem,peloaumento do volumede água, na épo-
o valor deste fator de correçàoaproximar-se de ca das chuvas. Nem sempre um sangradouro
1,00, menor resistênciade atrito o canal exerce previne acidentes; se na área houver mais de um
sobre a movimentação da água. Portanto quanto tanque,a tomadade água será uma só para to-
mais próximode 1,00melhor. dos, o que é desaconselhável, pois além de difi-
cultar o manejo,faz-seo usode águas já utiliza-
I - Para canais com paredes lisas das nos tanquesanteriores,com menoresquan-
(cimento, azulejo, etc.) = 0,85 a 0,95 tidades de oxigénio dissolvido e rica em subs-
II - Para canais com paredes pouco tânciastóxicas,oriundasdos organismosaquá-
lisas ( terra) aO,S5 ticosque povoam os tanques anteriores.
III - Para canais com paredes irregulares Tanquesde derivação- são um tipo de
com vegetação no fundo 0,65a 0,75 construção mais cara, mas proporcionam uma
série de vantagens em relaçào ao tipo anterior, • g.l. • "Valois"ou Monge;
comoo controledo volumede entrada de água,
evitando-sedesse modo os perigosde danos cau- FIGURA6.C.: O monge,acima uma secção
sados por enchentes. cruzada do taludee abaixodetalhes de cons-
Apresenta como característica principal a truçào
possibilidadede abastecimentoe escoamento
individuais,atendendoassimexigênciastécni-
cas (ideais) de uma instalação piscícola.
É o sistema mais oneroso, porém pode ser
mais económico,uma vez que nà0 apresentane-
nhum dos inconvenientesdos demais tipos, nao
havendoo perigode transbordamentos,ou rup-
turas de barragens por efeito enchentes; a qua- 'Lia
lidadeda água é a mesmaem todCFos tanques;
permite um melhor manejo,pois pode-seesgotar
ualquer tanque da série sem que haja a necessi-
de de interferirnos demais,tornandoviável
assim a elaboração de um programa de produção
periódico, com despescas semanais, quinzenais,
mensais,bimensais,semestraisou anuais.

Qualquer que seja a espécie que se deseje • g.2. - Sifonagem;


criar, certascondiçõesdevemser obedecidas.
Estascondiçõessão: FIGURA6.D.:Sistema de escoamentotipo
Sifonagem
a—abastecimento e escoamento de água
individuais e, se possível por gravidade;
b- tanquescom fundonatural(proporci- Nível d'água
onam um maior desenvolvimento de plâncton e
deposição de material orgânico, para a
remineralizaçào)de preferência de chão batido, Tela de
pois terá menorestaxas de infiltração;
C—profundidade mínima de 0,8 m, para • g„3.- Cachimbo;
evitar-seo desenvolvimento de macrófitasaqu- FIGURA6.E.: Sistema de escoamentodo tipo
áticasque venham a "sujar" demasiadamente os cachimbo.
tanques, prejudicando o manejo,e a máxima de
2,0 m e em último caso até 3,0 m;
para melhor escoamentoda água, o Ni vel d •á gua

fundo deve ser inclinado da extremidade de en-


trada de água para a extremidadede escoamen-
to, geralmente essa inclinaçao deve ser de um a
dois porcento;
Tela de
e— Construção de caixas de despesca, que Cotovelo articulado
constituem-seem uma área rebaixada,junto à
comporta de escoamento,com o mesmo forma- • g.4.- Registrode fundo
to do • -"que, com área de dois a cinco porcento
da área total do tanque (esta estrutura não é obri- FIGURA6.F.:Sistema de escoamentodo tipo
gatória); registrode fundo,
utilizaçãode telas na entrada e saída %lude
de água do tanque,sendo que as malhasdevem Niveld'água
ser ajustadasde acordo com o tamanho dos pei-
xesestocados/criadosno tanque;
utilizaçãode comportas para o escoa-
mentoXotal do tanquee regulagemdo nívelda
água do mesmo. Estaspodem 2Qrcomo se segue: Telade
Registro de fundo
Fundamentos da
Moderna AqOicuttura
TABELA6.B. - Largurada crista em função
h - o canal de abastecimento deve ser fei- da altura do talude, em metros.
to a céu aberto, de terra ou alvenaria, dependen-
do da declividadedo terreno(canaisrevestidos Altura 6,0 10,0 12,0
serão necessáriossempre que a velocidadeda Largura 3,5 5,0
água no canal superar 15cm por segundo) e do
Observação: taludes p•quenos, a largura do talude pxleni ser
tamanho do criatório. tgual sua altura (nunca tnfrrtor a um metro'.

•6.5.1. Passos a serem seguidos na C.I.- inclinaçãointerna do talude (montan-


construçãode tanquesparapeixes te) - pode-se tomar como medida 1:2 a 1:3,ou
Para a implantaçãoda infra-estruturade seja,para cada um metro de altura, corresponde
uma piscicultura há a necessidade de que se ado- a dois a três metros de cumprimento da base;
te algurvsprocedimentos importantes, cujosquais c.2.- inclinação externa do talude (jusante)
trataremos a seguir: - pode-setomarcomomedida ou (altura
a—retiradada matériaorgânica- toda a largura);
matéria orgânica do fundo dos tanques deve ser c.3.- borda livre ou folga -é uma altura de
retirada (principalmente material de grande por- segurança acrescida à altura do talude e
te, como troncos e raízes), pois no futuro ela po- correspondeà diferençade nívelentrea crista
derá ser um ponto de infiltração do tanque; do talude e o nível máximo de água do tanque.
Para tanques pequenos (menores que 3.000rn2)
b— nivelamento do fundo do tanque evi- deve-se situar entre meio e um metro e, para tan-
tando-se que se formem depressões, pois estas ques grandes de dois a três metros. Esta folga é
no momentoda despescapoderaoservirde re- necessária, pois barragens, por acamamento,
fúgio aos peixes, devido ao acúmulo de água.; perdem cerca de 10%de sua altura;
CA.• plantio de grama - uma vez levanta-
construção taludes- prirneirarnente do o talude,deve-sesemear,do lado externoe
a retirada do húmus e da camada are- na crista,algumaespéciede gramínearasteira,
nosa do solo, levando a escavaçãoaté a camada com a finalidade de evitar-se a erosao (plantar
mais firrnee impermeável do solo,em wguida pro- em placas);
cede-se a compactaçao adequada da terra, evitan-
do-se pedaços de madeira, ou rest(F vegetais, d- Sistemade escoamento("Valois"ou
quais perman«erem no aterro, certamente cri- Monge) - consiste em uma caixa de secção qua-
arão pontcFvulneráveisà infiltração.Para maior drada, ou redonda, que pode ser de concreto ar-
solidez do talude, faz-se o uso de núcleosde argila mado ou madeira. Nas paredes laterais internas,
umedecida, cavando-se uma valeta de 0,5a m existemduas ou três ranhuras,ou canaletasde
dc profundidade e um a um e meio rnetrcFde lar- ferro verticais,distanciadas a cerca de 0,1 a 0,2
gura, com o nwsrno comprimento do talude. Em m uma da outra. Nestas ranhuras são sobrepos-
seguida enche-se o fosso com argila pura tas tábuas de dois três centímetrosde espessura
umedecida, em camadas de a 0,2 m, por 0,2 m de largura. As proporçõesdo monge
bem. Uma vez atingido o nível do variam com as proporções do tanque, a média é
solo, inicia-seo levantamento do talude, que é fei- de um metro de lado, podendo ser reduzida a
to, tambémem camadasde m. compactando- meio metro, em tanques de até 200m2. A altura
se cada camada, no centro continua-se com a " pa- deverá ser a mesma do talude.
rede" de argila compactada, com a mesma largura Observação: a retiradade água detrrá serfeita
inicialaté atingir-se0,2m acima da linha do maior por baixo (fundo), pois esta é a água de pior qualida-
nível de água do tanque. A Figura 6.G. mostra de. O diâmetm dos tubos de escoamento para tanques
detalhadamente as partes de um talude. com tamanho superior a 1.000m2, deveráser de 150
a 200 mm (tubos de PVC ou concreto, Os tulws de
mURA 6.G.: cerâmica não deverão ser utilizados, pois oferecemme-
nor durabilidade;

Tomada de água (canal de abastecimen-


to) - tanto nos tanques de abastecimentocoleti-
vo, como naqueles de abastecimentoindividu-
ali o canal geral deve, pelo menos no seu trecho
inicial, ser revestido de alvenaria. Devem ser fei-
tas ranhuras nesse canal, colocando-se telas de
protesao para impedir a entrada de peixes (pre-
dadores e competidores). Para canais de terra, a
A seguir na Tabela 7.B. sao dadas as pro- velocidade máxima da água que permita a ma-
porções adequadas de altura e largura, para mai- nutençao da integridade do mesmo não deverá
or solidez dos taludes de um tanque para a pis- ser superior a 15cm/s. Fazer a entrada de água
cicultura. pelo menos 0,3 a 0,5 m acima do nível mais alto
de água do tanque, para que a queda d'água pro- sentarem peso médio acima de kg e, se hou-
porcioneuma melhoraeraçao.No canal de ali- ver indíciosde reproduçào no tanque de engorda,
mentaçao adotar o uso de escadas, para aumen- 0 indicado é reiniciar-seum novo ciclode criação,
tar o teor de oxigéniona água. A inclinaçàodo pois algum erro de manejoocorreu,mas issoé as-
canal deve ser de um porcento. sunto que trataremosem outro capítulo.
Então para o nosso exemplo, optamos por
um ciclode produção de seis meses. Para saber-se
o número de tanques (ou grupo de tanques) neces-
Para o planejamento de uma criação de pei- para que se elabore o planejamento da cria-
xes, alguns pontos básicos devem ser levantados çáo, além de conhecer-se o ciclo de produção deve-
anteriormente à concepção do projeto, para aí sim se estabelecer-seo período de comercializaçãode
poder dimensionar adequadamente a criação cada lote, para então obter-se o número de tanques
comum aproveitarnentoracionaldas instalações necessários para que as instalação sejam utilizadas
a serem construídas para esse fim, os principais da melhor forma possível.Admitindo-se que o
itens a serem levantados são: nosso ciclo de vendas é de 30 dias, o número de
• vazão de água e área disponíveis; tanques (grupos) é calculado como se segue:
• período de crescirnento e engorda da espécie
escolhida (ciclode produção); Número de tanques =
• ciclo de vendas e período de limpeza; ciclode u ao (em dias) + um ciclode vendas
• intervalo de safra por tanque (período de CIC
o evenasem tas
comercializaçao);
• densidade de estocagem. Parao nossoexemplo:
Númerode tanques(grupos)
ApcS o cálculoda vazão de água disponível 180-±-3Q= 7 tanques
e sabendo-se da disponibilidade de área, pode-se 30
aí entao partir-se para o planejamento da criação.
O próximo passo é conhecer-se o ciclo de produ- A área de cada grupo de tanques é depen-
çao da a ser este irá depender do dente da área e vazio disponíveis, e do número
tipo manejo a ser utilizado na criação pelo produ- de tanques (grupos), então:
tor, pois para tilápiasnilóticas,no veráo com um
bom manejo é possível obter-se bons resultados de rea de cada grupo
desempenho com um ciclo de produçao (cresci- área disponível = 2.142.85rn2
e engorda) de quatro meses, portanto, hoje número de grupos 7
em dia pode-se dimr que um ciclode produção de
rnees para esta espécie é bastante aceitável, O número de peixes em cada tanque de-
rando-se um
um bomresultado(conside-
nédio final de 0370a 0,430kg),
períodosmaioresindicamdeficiênciasgenéticas
pende da densidade de estocagem,que por sua
vez é dependente do tipo de manejo a ser utili-
zado e, da área de cada grupo:
-l
dos peixes, deficiênciano manejoou persistência • sem aeradorescom esta vazão (IO a 15 litros/
de temperaturas baixas (inverncs long(F e ha/s), recomenda-seum a dois peixes por
Ciclos de produção acima de sete meses para metro quadrado de lâmina d'água;
tilápias nilóticas,nessa faixade peso não são resul- • com aeradores, com esta vazão é possível esto-
aceitáveis. Toma-se corno regra geral que, car-se de seis a oito peixespor metroquadra-
caso peixes apcÉ de cultivo não apre- do de lâmina d'água.
TABELAS.C.: entradae saída peixespara 180dias de cultivode tilápianilóticaem cada
tanque (gnoo).
MES[TANQUE
•O JAN/98 entra a
01/FEV/98 30 dias entrada
01/MAR/98 60 dias 30 dias entrada
01/ABR/98 90 dias dias 30 dias entrada
01/MA1/98 120dias 90 dias 60 dias 30 dias entrada
01/JUN/98 150dias 120dias 90 dias 60 dias 30 dias entrada
01/JUL/98 180dias 120dias 90 dias 60 dias 30 dias entrada
.01/AGO/98 entrada 180dias 150dias 120dias 90 dias 60 dias 30 dias
01/SET/98 30 dias entrada 180dias 150dias 120dias 90 dias 60 dias
01/0LJT/98 60 dias 30 dias entrada 180dias 150dias 120dias 90 dias
01/NOV /98 90 dias 60 dias 30 dias entrada 180dias 150dias 120dias
01/DEZ/98 120dias 90 dias 60 dias 30 dias entrada 180dias 150dias
01/JAN/99 150dias 120dias 90 dias 60 dias 30 dias entrada
01 ,'FEV /99 180dias 150dias 120dias 90 dias 60 dias 30 dias entrada
Fundamentos da
50 Moderna AqUicultura
Então, para o nosso exemplo:
6.7. PROJETO r,ADRÃOPARA
Número de peixes por grupo =
(área de cada grupo x derSdade de + 15.n„t2 -13a)
TERRA-(projetopara
IO % de mortalidade Para que a piscicultura torne-se uma ati-
vidade rentável e viável, há a necessidade de que
• sem aerador- Número de peixes = (2.142,85x sejamtomadasmedidaspara que se possafazer
15) + = 3.536peixes uma programação de produção e que esta cria-
• comaerador- Númerode peixes (2.142,85x çáoproporcioneumarendamensalao produtor.
6,0) = 14.143peixes
Essas medidassão
A produção esperada por grupo é calcula- basicamente o que se segue:
da por grupo por safra (no nosso exemplo, com • escolhade umaespéciede peixeque tenhaca-
ciclode seis meses, espera-se então duas safras pacidade de ser produzida o ano todo (tilápia
por grupo, por ano), ou seja: por exemplo);
• construção de um número de tanques tal que
Produçào/grupo/safra = permita a periodicidade na produção (para
núnrro de grup (-10%)
x produção mensal, pelo menos sete tanques)
médio rado de tilápias, por exemplo;
• utilizaçãode arraçoamento adequado (ração de
Então: engorda com 26 % de proteína bruta na base
•sem aeradores - Produçao/grupo/safra = de 5%da biomassa totaldo tanquepor dia
3.214x 0390 kg = 1253,07 kg (como média para todo o ciclode criação);
.com aeradores- Produção/grupo/safra = • manejo adequado;
12.857x 0,390kg- 5.014,27kg • quantidades adequadas de água (101/ha/seg.).
Aseguirapresenta-se
umprojetode mate-
Para calcularmoso consumo de ração uti- riais e custos para o exemplo dado no texto (1,5
lizando-seraçõescomerciaisde boaprocedência ha de área alagável), com ciclo de produção para
e com um manejo alimentar eficiente,espera-se tilápia nilótica de seis meses de engorda.
que para kg de peixe produzido, tenhamos gas- O presente projeto pode servir de
tado 1,5 a 2kg de ração. parâmetro básico para a implantaçãode uma
piscigranja,desde que se efetue os arranjosne-
• 66.1 Cronograma de produção cessários,em termos de proporção,de acordo
e utilizaçãodos tanques comas condiçõesde cadaprodutore da áreaa
Para o nossoexemplo mostraremosago- ser utilizada.
ra como se elabora um cronograma de produção.
Comojá foi dito optamospara uma criaçàode • 6.7.1. Engorda
tilápias nilóticas,com ciclo de produção de seis
com despescasmensais,ou seja,a cada • área do módulo =15.000m2
30 dias. Portanto para esta situação,como já foi • área útil individual de cada grupo de tanque =
visto, necessitaremos de sete grupos de tanques, 2.142,85rn2(lâminad'água)
corno ilustrado na Figura 6±1..A elaboraçãodo • númerode gruposde tanques= 7 tanques
cronogramade utilizaçãodos tanquesé uma fer- • vazao total (aproximada)—18,6 1/s
para a conferência cálculosdas insta- • vazão por tanque = 1/s ou 9.5661/h
laçõese para que o produtor possa fazer a progra- ou 9,57 m3/h
maçao de sua criação em todos aspectcs. Para o • profundidade média dos tanques m
exemplo, tomaremos por base 0 ano dc 2000, • espécie a ser criada =Tilápia-do-nilo (O.
iniciando-seuma criaçaode tilápiasnilóticasno dia niloticus)
OI de janeiro do (Tabela6.C.): • quantidade de peixes por tanque por Ciclo
- sem 'aerador = 3.536alevinos
FIGURA
6.H:tkstra#o un - comaerador 14.143alevinos
2.142,85m2, exi*t emnos- • período de engorda (aproximado) = 180dias
exerng%' os ssttnas • produção esperada (por mês)
tedrrw•toe - sem aerador 1.241kg de peixe
- com aerador = 4.964kg de peixe
horas máquina (emcondigüsnormais,
sujeitoa alterações,para maisou menos, depen-
dendo do operador e das condiçõesda área):
-retro-escavadeira = 40h
-pá-carregadejra = 200 h UMA
-esteira 150h
• 6.72 Estimativados materiaisa serem • 6.7.7.Balanço financeiro mensal da criação,
na construçãodos tanques de engorda: quandoesta estiver estabilizada (semconside-
rar o custo da ração,que poderá variar em fun-
• tijolos para os monges = 900 unidades çã0 da opção do produtor):
• areia lavada = 52 latas
• pedrabritada = 15 latas Comaerador
• cal hidratada = 17sacas •custo mensal fixo 483,70
• cimento = 20 sacas • rendarnensal(filé) R$ 6.949,60
• horasde pedreiro 80 horas RECEITALÍQUIDA R$ 6.465,90
• canode concreto(200mm) = 200 m
• cano de PVC (100mm) = 7 barras Semaerador
• terminaisPVC mm) = 35 unidades •customensalfixo RS 165,68
OBSERVAÇÃO: o Interesse.0 de pu•rá •renda mensal(filé) R$ 1.737,40
pelo Frém RECEITALÍQUIDA R$ 1.571,72

• 6.7.3.Construçãodo canal de abastecimento • 6.7.8.Receitabrutano primeiroanode cria-


ção, considerando-se que não haverá produção
• tijolos = 1.700unid. nos primeiros seis meses de criação
• areia lavada = 40 latas
• pedrabritada = 20 latas Produção mensal x 6 meses
• calhidratada = 30 sacas Comaerador = RS41.697,6()(filé)
• cimento = 30 sacas = RS29.784,00(peixe inteiro)
20dias Semaerador = RS 10.424,40(filé)
R$ 7.446,00(peixe inteiro)
• 6-7.4.Estimativas de custos totais com
a implantação da piscicultura • 6.7.9.Fertilizantes
• superfosfato simples = 200 kg
COM AERADORES = RS 16.500/)0 • calcário = 1.200kg
SEMAERADORES = R.s 2.500,00

6.75. Estimativasdos custosmensaisfixos • 6.7.10.Mão-de-obrafixa


(semarraçazmento) 4 horas por dia (para 1 ha) 120hs por mês.
Com aerador
• 14.140 alevinos por mês = RS 424,00
• 16,67kg de superfosfato simples = RS 2,48
100kg de calcário RSI,99
• 120 hs de mão-de-obra = RS 30,03
• manutençãodos tanques = RS 2500
TOTAL RS4S3,70
Semaerador
• 3536 alevinospor mês = RS 10608
• 16,67kg de superfosfato simples = RS 2,48
• 100kg de calcário = RSI,99
• 120horasde mão-de-obra = RS30Ã)3
• manutenção dos tanques = RS 25,00
TOTAL - RS 16558

•6.7.6.Receitamensalestimada
Com aerador
Estimativade = 4.964kg de peixes
•venda do peixe inteiro (RS 1,00/ kg) = RS4.964,00
•venda do filé (RS4,00 RS 6.949,60
Semaerador
Estimativade = 1.241kg de peixes
•venda do peixeinteiro(RS1,00/kg) = RS
•venda do filé (RS4,00/kg) = R$ 1.737,40

Fundamentos
da
Moderna Aqüicuttura
CALAGEM E ADUBAÇÃO DE
TANQUFS PARA PISCICULTURA
Ricardo Pereira Ribeiro, Dr.
Érico Sengik, Dr.

As práticas de calagem e adubaçaodos alcalinidade total é inferior a IO mg de CaC03/


tanquesdestinadosà criaçáode peixesSãode litro,nao há de maneirageralaproveitamento
vital importância,pois tanquesbemadubados dos nutrientes.
forneceráoum ambiente propíciopara a repro- A princípio a calagem deverá ser realiza-
duçao, engorda e produçao de larvas e alevinos, da toda vez que se proceder à despesca esvazi-
principalrnentepara estesdois últimos,pois pra- amento do tanque, 7 a IO dias antes da aduba-
ticamente todas as espéciesde peixes criados çao. O calcáriodeve ser distribuídoà lançode
em cativeirono mundo, são dependentes da pro- formauniformeem todoo fundodo tanque ou
dutividade primária dos tanques de piscicultu- na superfície da água, se for realizada com o tan-
ra nesta fase(Figura7A). que cheio. Para tanques grandes que dificilmen-
te sao esvaziados, o calcário deve ser diluído em
FIGURA 7.A Produtividade primária em tan- água e colocadoem um tamborde 200litros e,
ques fertilizadose não fertilizados(Adaptado deste ser sifonado com o auxilio de uma man-
de Boyd, 1982) gueira plástica de 1 polegada " de diâmetro, com
um barcomovimentado-seem ziguezaguepor
toda a superfície do tanque.
Entre outras, podemos citar algumas das
vantagens proporcionadaspor uma boa práti-
ca de calagemdos tanques:
• proporcionaum maior desenvolvimentode
plâncton, principalmente algas (produtores
primários), devido a manutenção de uma boa
reservaalcalinadentrodos tanques;
N'O fertilizado • estimula o ciclo de nutrientes, ou seja, aumen-
0
ta a capacidade de solubilizar substâncias mi-
ABR MAI ACA.)ser neraiscontidasnosfertilizantes(auxiliana de-
composição);
• provocao depósitode matériaorgânica,que
7.1. CALAGEM pos TANQUES se encontra em excesso e em suspensão;
A calagemé tao necessáriapara a pisci- • forneceo cálcionecessáriopara a estrutura dos
cultura corno para a agricultura. organismosaquáticose para o esqueletodos
O calcárioaplicado tanques tem fina- próprios peixes;
lidade semelhantea sua utilizaçaono solo , ou • auxilia na reprodução dos peixes ,pois ovos e
seja, correçao do pH, assim como o aumento da larvas sao mais sensíveis ao pH baixo do que
dureza da água e melhoria das condiçõesfísicas peixes adultos.
do fundodo tanque,proporcionando um apro-
veitamentomais eficientedos nutrientes solú- Os produtos utilizadospara a calagemdos
veis na água.As águas naturais,ligeiramente tanques ,sâo o calcário dolomítico e a cal virgem
alcalinas,sào as mais ricas em organismo aquá- ou hidratada, estasduas últimas ,principalmen-
ticos .poisgarantem a boa disponibilidadede te a cal virgem,devem ser utilizadas em tanques
C02 para a síntese orgânica pelo fitoplânctone vazios, 3 a 4 semanas antes do enchimento, com
favorecema rápida liberaçãodos nutrientes do triplo propósito: correçáo de pH, desinfeção dos
sedimento do fundo. A simples calagem com tanques para a eliminação de peixes (adultos,
calcáriodolomítico aumenta a produção primá- larvas e juvenis) e também larvas de insetos no-
ria dos tanques. civos.
A correçao da acidez eleva o pH e também A Tabela 7.A mostra as recomendaçóes de
a alcalinidade da água dos tanques. Tanques com dosagens do calcárioou da cal, em funçao do tipo
alcalinidade superior a 20 mg de CaC03 /litro de soloe pH do fundo,mas vale lembrar que a
respondemsatisfatoriamenteà adubação em maneira mais Corretaé realizar-se a análise do
termos de produçaode plôJictone, quando a Solodo fundo, mas vale lembrar que 'a maneira

53
mais correta é realizar-se a análise do solo do monitoriamento visual e, se possívelatravés de
fundo dos tanques e colocar a quantidade ideal equipamento, a qualidade da água, pois o exces-
recomendada pelo técnico o povoamento dos so de matéria orgânica quase sempre é prejudi-
tanques deve ser feito 15dias depois da calagem. ciai, pois diminui significativamente a qualida-
de de água, devido à decomposição, que conso-
7,2, pos IANOVES me oxigénio e libera ao meio substâncias tóxi-
A adubaçào dos tanques é de vital impor- cas, podendo provocar a mortalidade dos peixes
uncia na criaçao dos peixes , pois tanques bem .Especificamentepara tilápias,é muito impor-
adubados fornecerão um ambiente propício tante salientar que a partir de 180 a 200 g de
para a reproduçào, engorda e produção de peso vivo não há mais necessidade de se efetuar
alevinos, devido ao incremento da produçao pri- adubações, sendo neste caso, a ração balanceada
múria(algas). ( dieta completa), a forma mais correta de ofere-
O bom desenvolvimento dos peixes, é fun- cer alimento a esta espécie de peixe, a insistência
çao da proliferaçãodas algas que compõemo na adubação a partir desta fase poderá trazer
fitoplâncton, que é alimento do zooplâncton e, sérios danos à criação,principalmentequando
por sua vez, ambos são fundamentais para os as densidades de estocagem superarem a propor-
"iode peixes/m2 e quando a remoçao(troca)
A três tipos de adubação, a orgânica, a de água por dia for inferiora 15%do volume
química ou inorgânica e mista. A primeira é a total de água do tanque, correndo-seo risco de
mais rica e a mais barata, bastando que se provi- depressão no crescimento e mesmo mortalidade
dencie uma fonte de estercoorgânico (fezes de de peixes devido ao excesso de produçao de subs-
aves, de suínos, de bovinos, ou de outros ani- tânciasnitrogenadastóxicasem excesso,como
mais de criação) em quantidades adequadas amónia, nitrito e nitrato.
A segunda,em alguns casos,pode ser a A Tabela 7.B, apresenta uma proposta de
mais recomendada, quando há a dificuldade em adubação indicada pela SUDEPEem 1982,e a
se conseguir esterco animal, ou quando se de- Tabela 7.C. apresenta os resultados de alguns
seja uma rápida resposta da adubação.O ter- experimentos com adubação em tanques para
ceiro tipo é o uso de adubos orgânicos e peixes.
inorgânicosconjuntamente. Devido à grande variabilidade dos tipos
O adubo, ou seja qual for escolhido,deve de solos, para a determinaçáo da dose a ser apli-
ser aplicado 7 a IO dias após a calagem tan- cada de adubo e, sobre qual deve ser utilizada,
ques para os nutrientes, por ele fornecido, per- com vistas a seu mais efetivo aproveitamento, já
manegam disponíveis na água. As formas da foi obtida a indicação genérica de que o esterco
aplicação são. a lanço de maneira uniforme no de aves aplicado na proporção de 4 a 8 tonela-
fundo do tanque seco,ou na superfície da água, das por hectare por ano, em aplicaçóes quinze-
ou aplicado através de um balde ou saco plásti- nais e associado a pequenas dosagens de nitro-
co com várias mergulhando ou flu- génio e / ou fósforo,proporcionam significativos
tuandono tanque,para que os nutrientessejam aumentos na produção primária de (plâncton) e
liberados gradativarnente ao meio. secundária (peixes).Outra recomendaçao de uso
Nos solCFbrasileircF,os principais elemen- de fertilizantes orgânicos é que esta deve oscilar
tos recornendados a serem utilizados em aduba- entre 4,0 a 6,0 toneladas de esterco seco de aves
São sio o nitrogénio e o fósforo, principalmente ou suínos, em aplicações quinzenais (200 a
o segundodevido à sua escassezgeneralizada 250Kg/háem cada aplicaçao).propiciando0
em nossos solos. melhor aproveitamentoda matéria orgânica
Em solos com altos teores de ferro, por como fertilizante e/ ou alimento aos peixes.
exemploLatossolos,observaçõespráticasem Para a preparação de tanques para
pisciculturana regiao de Maringá-PR,permi- larvicultura e alevinagem,recomenda-seque
tem-nos informar a seguinte recomendaçáo de sete a dez dias após a calagem, deve-se aplicar
adubação: 500g de esterco frescode bovinos por metro qua-
Após IO dias da calagem, recomenda-se drado semanalmente, sendo que após a primei-
o uso de 200Kg/há de sulfatode amónia,apli- ra aplicação deverá espera-se em torno de 3 dias
cado a lanço no fundo do tanque, espera-se mais para realizar-se o povoamento•do tanque com o
7 dias e inicia-se a aplicaçào de 150 Kg/há de pico de produção de rotíferos, (o qual está rela-
superfosfato triplo (46%de P205) de forma par- cionadodiretamentecoma temperaturada água
celada, sendo utilizado 50% desta quantidade ou seja,quantomaiora temperaturamais rápi-
na primeira aplicação e 10%da quantidade to- do é o seu ciclo).
tal a cada 15 dias até que se complete a dosa- Atualmente,em funçãode exigências
gem recomendada.Quantoà adubaçãoorgâni- comerciais, principalmente quanto à
ca , caso se opte por ela , recomenda-se dosa- palatabilidade da carne de peixe não se reco-
gens entre 4,0 a toneladas de esterco seco de menda a utilização de resíduos frescos de suí-
aves por hectare por ano, dividido em aplica- nos em piscicultura, seja como alimento ou
çôesquinzenais. como adubo orgânico.
É importante salientar que é vital o Uma outra recomendaçãode adubaçao
Fundamentosda
Maderna Aquicultura
inorgânicas em tanques de piscicultura é a apli- há/dia de cama de frango (30 a 40%de esterco).
caçãode 50 Kg/ há de N:P:Kna seguinte propor- Com relaçãoa adubaçãomista, há indi-
çao: e 4%, respectivamente, ou mesmo caçao para o uso de 3.000Kg/há/ mês de ester-
16%de N e 20%de P,visto que a maior parte dos co seco de aves e 100Kg Kg/há/mês de fertili-
solos apresentam deficiênciade K, pois este zante inorgânico N•.P(16 : 20%respectivamen-
último, exigido em pequenas concentrações, te), para produção de alevinos de tilápias em
ocorre em quantidades suficientes tanques de terra.
nas águas comumente utilizadas para o abaste- É importante lembrar que para qualquer
cimento de piscigranjasAplicações com IOa 14 espécie de peixe, quando for observada a depres-
dias de intervalo, cessando-a sempre que a trans- sao no consumode raçà0ou a incidênciaacima
paréncia de Secchiatingir 30cm. Em temperatu- do normal de peixes "boqueando" na superfície
ras muito altas, esta adubação pode proporcio- da água, principalmente durante o dia, a aduba-
nar o aparecimento de algas filamentosas inde- çáo devera ser cessada imediatamente.
sejáveis.
Outra indicaçao de adubaçao para a cria- TABELAZA : Quantidade de calcário ou cal, de acor-
çao de tilápias áurea é o uso de 70 a 140Kglha/ do corno pH e de solo.
dia de estercosecode aves,sem a necessidade
do uso de ração,mas para tanquesde água com PHdo fundo Kg de Calcário/ha
baixa alcalinidade. Para alevinos de tilápia Argiloso roucoArgiloso Arenoso
nilótica 100Kg/há/dia de esterco seco de aves.
Bons resultados foram obtidos no crescimentoe 5,5-5/) 3.000 1.800 1.000
sobrevivênciacriando-seo catfish(Clarias 6,0-6,4 3.000 1.000
ishariensis)em tanquesfertilizadoscom90 Kg/ 6,5-6,9 1.000

TABELA em Kg. estrurne e adubo químico a ser empregado. em tanques de piscicultura.


PERIODO TAMANHODO VIVEIRO
AduboOrgânico 0,5 0,05 0,01
• 7 dias após a calagem
e antes do povoamento 2.000 1.000 100 20
• 2a semana antes do
oamento 2.000 1.000 200 100 20
• semana men a
O oamento 1.000 100 50 10
pe ato mp es
Inicial 150 75 15 75 2
utenç o
Superfosfato Triplo
Inicial 60 30 6 3
utenç o

TABELA7.C : e de experirnento com adubação.


AUTORIANO Tipo de Adubo Quantidade Produtividade Espécie Densidade
(kg/há/mésj (kg/há/ano) (peixes/há)
S'bue et al (1972) Esterco de a ves 1.000 1.280 carpa 5.000
Sobueet al (1972) S•rn adubo 1.105 5.000
S»bueeta (1972) Ifato l. e40 1.296
ano
S•bue et al (1972) Sulfato de amónia 140,50e 1000 1.975 carpa
S.S.S.4 esterco
de aves
vassori et a (1976) S.S. + su ato amónia 1.000,20e 3.253 . ni ótica 10.000
alvassorieta (1976) . sulfato amónia 40 e 100 3.706 . ni ótica 10.000
Palma (1978) esterco coel .4
sulfato de amónia
Ba ieri r e Estercode 375a 750 11.
(1986) T. nilótica e
T. hibrida
Tabela 7: Normasde qual"ade águas doces recomendáveispara garantira vidaaquática
(MaptadodeROBERTS,'98', e KINKEUNetar.'99').

COMPONENTES DA QUALIDADE VALORES COMENTÁRIOS

Temperatura Varia segundo as espécies e as condições


Material em suspensão (mg/l) < 75
- nível alto de proteçao < 25 O nível de segurança depende em grande parte
- nível médio de proteçáo 25 —80 do tipo de sólidos
- nívelbaixode proteção 80-400
Ácido carbónico(nível alto de proteçào) > 5
PH (unidade) 6-9 6,5 - 8,5 é o ótimo - superados por algumas
Dureza (mg/l Ca ++ + Mg.++) > 20 expressosem CaC03
Alcalinidadetotal (mg/I HNaC03) > 25 expressos em CaC03
% de saturação gasosa < 103 quando a saturação não procede de 02
Oxigénio(%de saturação) > 70 as saturações limites mínimas variam
Gás Carbónico (mg/ l)
Amoníaco(mg'l) nos amoníacos,revelaa poluiçãoou a baixa
Nitritos(mg/l) < 0,01 0,02se a dueza é de 70mg de CaC03/l
Fosfatos(mg/l)
Demanda Biológicade 02 (mg/l) deve estar associadoà oxidabilidade
Micropoluentes (mg/l)
Biofenidorados < 1,0
Cianuros
Detergentes < 300 expressos em tetra-propylbenzeno-sulfonato
Herbicidas
- Diquat < 05
- 2.4-D
- Silvex
Súlfuro hidrógeno < 2,0
Inseticidas Organoclorados
- Aldrin < 0,003
- Clordano < 0,01
- DDT < 0,001
- Endrin < 0,004
< 0,01
- Toxapheno < 0,005
Inseticidas Organofosforados

< 0,001
- Malathion
- Parathion < 0,04
< 0,02
Metais
- Cádmio 3,0 em águas duras
- Cobre 0,1+ estreitamente dependente do pH e dureza
< l.cm
- Mercúrio < 0,05 0,1 no mar
- Níquel < 0,02+
- Chumbo(mg/l) < 0,03
0,05+ estreitamente dependente do pH e dureza
Fenóis

%/0r que deverá ser multiplicado pela LC.Wda espéciemais sensível,colocadaem água com
fisico-quimicasidênticasà situaçãoconsiderada,para obter-sea concentraçãodesejada.
propriedades

56 Fundamentos
Moderna
da
NUTRIÇÃO
DE PEIXES
WilsonMassamitu Furuya, Dr.

alimentos é expresso esmquilojoule (kJ = 103 J)


8-1. INTRODUÇÃO ou megajoule(MJ= IO J).
O aumentona roduçàoe produtividade Na Figura 8.1 encontra-seo esquema de
têmsido limitado faltade informaçõesso- partição da energia consumida pelos peixes, des-
bre a nutrição dos peixes utilizados nas criações. crito pelo NRC (1993).
A nutrição tem por base o conhecimentodas exi-
génciasnutricionais,sendonecessárioconhecer Figura 8.1. Esquema da partiçáoda energia
a composição química e o valor nutritivo dos ali- consumidapelospeixes
mentosque podemcomporuma dieta e utilizar
manejo alimentar adequado para cada sistema de ENERGIA BRUTA
criaçào, adaptado de acordo com a espécie e fase
de produção. Energiafecal ( ED
Com a intensificaçãoda criaçãode peixes,
tornou-senecessáriaa utilizaçãode dietas com- ENERGIA DIGESTÍVEL
pletas para permitir o adequado desempenho, (ED)
uma vezque o alimentonaturalnão atendeas
exigências dos peixes.A alimentaçaorepresenta Energia das brânquias
50 a 60 % do custo de produção, sendo que os (Eb), urina (Eu)e
nutricionistastêmdirecionadoseusestudospara superfície corporal (ESC)
viabilizar economicamente a criaçàode forma a
obter um produtofinal de alta qualidadee de ENERGIA
baixo custo para o consumidor. METABOLIZÁVEL
A adequada nutrição possui estreita rela- (EM)
çao com a preservaçaodo meio ambiente,uma Produção de calor
vez que a fraçàonio digerida ou que não é Digestão e absorção
consumida,no meioambiente,podelevarà ex- Formação de produtos
cessivaeutrofização,que afeta de formadireta e Formaçioe dasfrzes
indireta o desempenho produtivo e reprodutivo
dos peixes. ENERGIA LÍQUIDA
(EL)

Comooutros animais, os peixesexigem EL produçao


dietas Comteores adequados de energia, proteí- EL mantença
Metabolismo basal Crescimento
na (aminoácidcs),minerais,vitaminase lipidios Reproduçao
(ácidos graxos essenciais) para a manutenção e Atividadevoluntária
produção. As exigências variam entre e dentre Regulaçáo térmica
espécies e sio influenciadas por diversos fatores.
A energia bruta (EB)é toda a energia
8.2.1.Energia consumida e que está presente na forma de
A energianão é um nutriente,é liberada carboidratos, lipídios e proteína. A energia fecal
durante os processos de oxidaçao metabólica dos é a energiadas fezes(dietanao-digerida)e de
carboidratos,lipídios e aminoácidos.Normal- origem endógena (células epiteliais), enzimas
mente é expressaem caloria (cal),que é definida digestivase produtosde excreçao).A energia
Comoa quantidade de calor que é necessária para digeridado alimentoé denominadade energia
elevar a temperaturade 1 g de água em 1 grau digestível(ED)aparente,sendo determinada
Celsius(1 Outraunidadeutilizadaé o joule como a energia ingerida (E ) menos a energia das
(J),sendoque 1 jouleé a energia requeridapara fezes descrita através ua equaçào:
acelerara massa de 1 kg a lm/s a uma distância
de 1 m. Comojoule e caloria sao unidades pe- ED = E •E
quenas, na prática, o conteúdo de energia dos
Assume-se que toda a ED é absorvida pelo respectivamente. Nos peixes, a amónia é o pro-
peixe. A energia urinária (E ) é a energia bruta duto final do catabolismo da proteína, sendo fa-
encontradana urina e inclura energiados com- cilmenteliberadona água, não necessitandodo
postos que foram absorvidos dos alimentos e não custo energéticocom a formaçaode uréiae áci-
foramutilizados,e a energiados produtosdos do úrico. Para a truta arco-íris,cerca de 5 a 15%
processos metabólicos, como a amónia. A ener- da energia bruta consumida é perdida na forma
gia excretada das brânquias (E ) é originada dos de IC, enquanto que para os demais terrestres
compostos excretados através das brânquias, que esse valor varia de 20 a 30%.Pelo baixo IC, nos
equivale a dieta energética excretada pelos pul- peixes, a ELé alta, em relaçãoaos valores obti-
móes. Nos mamíferos, esta energia é baixa e ge- dos com animais homeotermos;
ralmente, não é considerada. Nos peixes, a ener- Os peixesgastammenos energiapara man-
gia excretada pelas brânquias é alta e constitui o ter sua posição no meio aquático e para manter a
maior componente para o balanço de energia. A temperatura corporal;
energia da superfície corporal (E ) é aquela per- A equação que expressa a exigênciade ener-
dida na forrna de muco e de esc,ñnasda pele. de mantença para a truta arco-íris(EL = 8,85.PV
A energia metabolizável(EM)é a energia , em que PV = peso vivo em kg), demonstra que,
do alimentomenosa energiaperdidanas fezes, proporcionalmente,a EL,«é baixa em relação
urina e brânquias. É utilizada para os processos valoresobtidoscom mamíferos(EL = 70.PV
metabólicos,sendodescritapela equaçao: que PV = peso vivo em kg) e aves (EL = 83.PV
em que PV = peso vivo em kg).
EM-E -(E O valor energético dos alimentos depende
da sua composiçao química, sendo que a combus-
O incrementocalórico (IC) representa a tão da proteína, lipídios e carboidratos resultam
energia perdida pelos peixes na forma de calor e em valores de 5640;9440e 4110kcal de EB/kg de
pode ser dividido em: produto, respectivamente. O valor de energia bru-
Digestão e absorção:é o calor resultante ta dos ingredientesnão forneceidéiado verda-
dos processosde digestão e absorção; deiro valor energético,principalmente quando são
• transformaçãoe interconversaodos utilizadosalimentosalternativos,sendo necessá-
substratos e sua retenção nos tecidos; rio determinar o coeficientede digestibilidade da
• formaçãoe excreçãodas fezes. Nos energiapara obterdietas maisprecisas.
teleósteos,a conversãode amónia para uréia é Ainda que a EMseja a unidade mais reco-
desprezível e negligenciada. mendada para a formulaçãode dietas,é difícila co-
A energia liquida (EL) é a energia contida leta simultânea de fezes, urina e dcs produtcr das
no alimentoque é retida,sendo utilizadapara brânquias. Assim, utiliza-se os valoresexpressos na
mantença (EL.) ou para produção (EU). A EL. forma de ED,que considera somente a energia das
pode ser dividida em: fezcs.A exigênciade energia está estreitamentere-
Metabolismo basal: que é a energia produ- lacionadacom a de proteína,pois seu exwssoou
Zida pelas atividades que são necessáriaspara deficiêncianão são desejáveis.Na Tabela8.1encon-
manter a vida do animal(atividadecelular,cir- tram-se os valoresda relação proteína:energia reco-
culaçáosanguínea,etc.); mendada para algumas espécies de peixes.
Atividade: é a energia produzida pela ati-
vidade muscular associadacom locomoçãoe rabela g. 1. Relaçáoproteína'energiapara algumas
manutençaoda posiçãona colunad'água; espécies de peixes.
Regulação térmica: é o calor produzido
como resul lado do esforço animal para manter a aVkgi
temperatura corporal quando a temperatura
ambienteestá forada zona de neutralidade. Bagredo canal', 34,00 28,80 3070,00 84,00
Considerações: Tilápia do Nil? 40,00 26,71 2840,00 94/)5
• A base bioquímicapara o IC em aves e carpa comumt 20,00 3150 2900,00 10860
mamíferosé a energia requeridapara que o ni- Truta arco-íris 3.3.00 42,00 3600,00 92.00
trogênio ingerido seja deaminado e excretado. No PD r ED energia
entanto,nos peixes,essa fraçàoé pequena,pois NRC (1993)e (1996'
liberam o produto final do metabolismo como
amónia,sem necessidadede formaçãode uréia A razão para a relação proteína/energia ser
ou ácido úrico; elevadaem dieta para peixes,em relaçãoaos
A energiaassociadacoma ingestãoe di- animais nào-ruminantes, não ocorre pelo eleva-
gestaoé pequena,em comparaçãocomo gasto do conteúdo de proteína, mas pela baixa exigên-
associado com os processos metabólicos; cia de energia para mantença.
O IC é maior para dietas com teor mais ele-
vado de proteína (peixes), o que não é tao • 8.2.2. Proteína e Aminoácidos
marcante para aves e suínos; Cercade 65 a 75%do peso total do animal
O custo energéticopara a formaçaode (base na matéria seca)é constituído pela proteí-
uréia e ácido úrico é de 3,1 e 2,4 kcal/g de N, na. O adequadosuprimentoé necessáriopara
Fundamentos da
Moderna Aquicuttura
obter bom desempenho sem comprometer a qua- Trabalhos recentes têm demonstrado a di-
lidade da água. ficuldadepara determinaras exigênciasde
A exigência de proteína está estreitamente aminoácidosessenciaispara todas as espéciese
relacionada com o balanço de energia da dieta e fases de produção, uma vez que diversos fatores
a comp(Fiçào e digestibilidade dos anfinoácidos influenciamos tadosobtidosem experimen-
dos ingredientes. As dietas de peixes, em rela- tos de dose-resposta. A utilização do conceito de
çao as de aves e suínos,possuemelevadocon- proteína ideal,que preconiza o balançoexato de
teúdo de proteína bruta, sendo os valores mais aminoácidos, têm proporcionado melhora no
elevados para espécies carnívoras (Tabela 8.2). desempenhoe reduçaona excreçaode nitrogé-
nio para o meio ambiente. O nitrogénio é um dos
rabela 8.2. Exigência proteína bruta para aves. nutrientes mais poluentes e seus teores devem
suínose algumasespécies peixes ser controlados para evitar a eutrofização,que
Item pode levar ao colapso do sistema.
A deficiência ou a utilização de dietas com
Aves proporções inadequadas de aminoácidos acarre-
Suínos' tam em reduçaono consumo e ganho de peso.A
'lilápia do Nilo4 32,0 deficiência de metionina ou triptofano pode re-
Bagre do canal 25.0i35J sultar em catarata após dois a três meses de defi-
Truta arco-íris 40,0 ciência.Peixesalimentados com dietas deficien-
Salmao do Atlântico' tes em triptofano podem apresentar escoliose.
É necessário cuidado para evitar o antago-
Frang€s de corte e suincs em crescimento de médio
2 nismoentre aminoácidos,principalmentequan-
senéttco (Rostagno et aU2000); Furuy1 et OI. (1996, 2001);
do os alimentos convencionaissão substituídos
Tacon ( 1987'; 'NRC (1993); •BaR• matéria natural e na
por fontes alternativas de proteína. Um exemplo
matem s•ca clássicoé a substituiçãoda proteínado farelode
soja ou da farinha de peixe pela proteína do glúten
Para as espécies carnívoras, o teor de pro- de milho, uma fonte rica em leucina e isoleucinae
teína da dieta pode variar de acordo com o teor que apresentabaixosteoresde lisina.
fonte de energia, pelas diferença utilizaçãoda pro- A eficiência de utilizaçào dos aminoácidos
teína, lipídios e carboidratos como fonte de ener- sintéticos ainda é controversa,sendo que sua
gia. Os lipídi(F e a proteína são fontes primárias menor utilizaçao é associada ao rápido "pool"
de energia,em relaçàoaos carboidratos,que dos aminoácidos sintéticos,que não é compatí-
suem baixo valor energéticopara essespeixes. vel com o dos aminoácidos ligados à proteína dos
CXtrabalhos têm demorvstradograndes va- ingredientes da dieta. Trabalhos recentes têm
riaçôesnas exigênciasde proteínapara uma rnes- mostrado que a estabilidadedo grânulo e o ma-
ma espécie, que ocorre pela falta de padronização nejo no arraçoamento podem melhorar a utili-
nas condições experimentais. CXpeixes exigem IO zaçào dos aminoácidos,principalmente para es-
aminoácidosessenciais:arginina,histidina, pécies herbívoras e onívoras, em que a digesta
isoleucina,leucina, lisina, metionina, fenilalanina, permanece por maior período no trato digestório.
trecmina,triptofano e valina. Entreos aminoácidcs
mais limitantesem dietas formuladascom base em • 8.23. Lipídios
proteína de origem vegetal, a lisina, São compostos insolúveis em água e solú-
os aminoácidos sulfurad(F, a treonina e o triptofano veis em solventes orgânicos como éter,
(Tabela83), que devem estar em propor- clorofórmioe u.. .¿eno.Alémde ser importante
çôesadequadxspara evitar deficiênciasou exces- fonte dc energia, fornecem os ácidos graxos es-
pois podem prejudicar o desempenho e a qua- senciais,que sóoparticularmenteimportantesem
lidadeda carcaça peixes. dietas para peixescarnívoros.
Para peixes marinhos de águas tempera-
Tabela8.3. Exigênciasde aminoácidosessenciais das, os lipídios desempenhamimportantepa-
para alguns petxes ( % da matéria seca da d'Ota)
pel como fonte de energia, pois esses peixes pos-
Aminoácido Lys Met cys Thr Trp suem capacidade limitada para extrair a ener-
Tilápiado Nilo: 1,43 0,95 1,05 0,28 gia dos carboidratos. Diversos trabalhos
do Nilo, 1,45 0,78 036 0,29 monstrama possibilidadeda reduçàodo con-
Bagre do canal 150 0,60' 050 0,12 teúdo de proteína quando se elevam os níveis
Truta arco-íris 1,90 1,30 nd 0,36 de lipídios da dieta.
Assimcomooutrosvertebrados,os peixes
Lys "sina; c" nao podem•intetizar ao ácidosgraxos
triptofano ou 18:3(n-3)"de novo". Então, um ou ambos de-
,Ausénc'a cistitu vem ser suplementadosna dieta. Em geral, os
NRC 1993)2 (XX)
1a) tutores ttlápu
peixesde água doce requeremácidolinoleico
da tailandesa em
drsrstrxis, qúcando-« o concoto Ideal ou linolênico 18:3(n-3),ou ambos, en-
quanto peixes marinhosexigemo ácido
eicosapentaenoico(AEP),20:5(n-3) e/ou o áci-
do decosahexoenoico(ADH)22:6 (11-3).A Os sintomas de deficiência de fósforo em
de ácidos graxosjá foi determi- tilápias incluemreduçãono crescimento,piora
nada para algumas espécies criadas em águas na conversãoalimentar,retençãode macromi-
mornas e temperadas (NRC, 1993)(Tabela 8.4). nerais nos ossos e aumento da deposição de gor-
dura visceral. Além disso, é comum a ocorrência
Tabela8.4.Exigênciasdo graxosessendais de escoliose,assim como de deformidades ex-
para algwnas espécies de peixes de água doce e ternas, principalmente na região anterior .
Dietas elaboradas com base em proteína
Espécie Ácido graxo Exigência('Yol da farinhade peixegeralmentenão necessitam
da suplementação de fonte inorgânica de cálcio.
Bagre do canal Linolénico 1a 2 e fósforo.Por outro lado,a disponibilidadede
Carpa comum Linoleico 1,00 fósforodos alimentos de origem vegetal é baixa,
Tilápiado Nilo Linoleico 0.50 sendo importante a suplementaçào com fonte
Truta arco-íris Linolénico 1 inorgânicaquando os ingredientesde origem
"Red sea bream" AEP eADH3 050 vegetal constituem a maior parte da proteína da
"Turbot" AEPe ADH 030 dieta, pois a maior parte do fósforoencontra-se
Yellowtail AEPeADH 2.00 numa forma de fósforofítico,mo disponível. A
Figura 8.2apresenta os valores de fósforona for-
da matéria A•ca da dieta; AEP z ácido eicoslpentacnoico;
'ADH ácido decosahexxnoico
ma de fósforo fítico de alguns ingredientes
(Izeson,1999).
A porcentagem de lipídios na dieta varia Figura 8.2. Porcentagom de fósforo titico em alguns
em funçãoda relaçãoproteína:energiae do tipo ingredientes de origem vegetal
de lipídio utilizado, uma vez que a deficiência
não permite adequada retençãode proteína,en-
uanto o excesso pode elevar o conteúdo de gor- 8 -80
ura visceral e corporal dos peixes.
• 8.2.4.Minerais e Vitaminas -60
Os peixes, diferentemente de outros ani-
mais, podem utilizar os minerais dissolvidos na
água. O cálcio (Ca), magnésio (Mg), sódio (Na),
potássio (K), ferro (Fe), zinco (Zn), cobre (Cu) e
selénio (Se) da água geralmente atendem boa
parte das exigênciasdos peixes.Poroutro lado,
os fosfatos devem ser suplementados na dieta.
pois além da pequena quantidade presente na
água, a eficiência de sua utilização é baixa. A exi- Existe preocupação mundial com o fósfo-
géncia de minerais foi estabelecidapara poucas ro consumido e que não é utilizado pelos ani-
espécies (Tabela 8.5). mais, pois é o mineral mais poluente. A utiliza-
çào de enzimas exógenas (fitase) em dietas para
Tabela8.5. Exigênciasde mineraispara algumas peixes têm reduzido a excreção de fósforo,além
péaes peixes de aumentara digestibilidadeda proteína
TilápiasCarpa Bagre Truta (Furuyaet al., (Figura83).
Comumdo canalarco-íris
Figura 8.3 - Influênciada fitase sobro a
digestibilidadeda proteína e do fósforo,Orndietas
Cálcio 0.70 nd nd nd formuladascombaso em proteínade Origemvegetat
Fósforo oro 0.45 para a tilápiado Nilo.
Sdio nd nd nd
Potássio nd 0.70 -100
Cloro
Magnésio
(mg/kg)0,00 50000 40000 50000 -80
(nv/kg) 1300 2.40
Zinco (mg/ kg) 20,00 3000 20.00 30D0 -60
Ferro(mg/kg) nd 15000 30m
Cobre(mg/kg) nd A PB
S•lénio(mg/ kg) nd 0,25 030
lodo(mg/kg) nd 1.10
-20
PV pesoritu PD proteínadigestível e ED energú
digestívelmi nãodeterminado
'NRC(1993); 500 1000 2500
Níveis de fitase (FTU/kg)
Fundamentos da
Moderna
A suplementação de vitaminas é necessá- tato com a água, sua suplementação exige cui-
ria em sistemas intensivos, pois ainda que pos- dados para minimizar essas perdas;
suam pequena participaçãono custo da dieta, a As vitaminas, de forma geral, são sensíveis
deficiência resulta em queda no desempenho em ao tratamento térmico e armazenamento prolon-
qualquer fase de criação, uma vez que desempe- gado (oxidação).A taxa de lixiviaçãono meio aqu-
nhamfunçõesimportantesno organismo.As ático é bastante elevada para algumas fontes;
exigências foram determinadas para poucases- As exigências de vitamina C variam e acor-
e somente para algumas vitaminas (Tabe- do com a espécie e sistema de criação. O ácido
8.6). ascórbicoatua como cofator na hidroxilaçao da
prolina e lisina para hidroxiprolina e
Tabela8.6. de vitaminaspara algumas hidroxilisina em procolágeno, que é o precursor
espécies peixes do colágeno,sendonecessáriopara a formação
de tecidoconectivo,cicatrizaçãoe matriz óssea.
lilápias Carpa Bagre Truta O ácido ascórbicofacilitaa absorção de ferro e,
Comum do canal arco-íris
juntamentecom a vitamina E, minimiza a
peroxidação de lipídios no tecido. A deficiência
Vit. A (Ui/kg) 2500,00 4000,00nd de vitamina C está associada a deformidades
Vit. D (Ui/kg) 500D0 2400,00 ósseas (lordose,escoliose)anormalidadesnas
Vit. E (Ui/kg) 10000 5000 regiões dos olhos, brânquias, nadadeiras e he-
Vit. K (mg/kg) nd nd nd morragias, entre outras.
Recentementeestudos têm apresentado
Riboflavina 00 6,00 uma exigência de 50 mg de ácido ascórbico/kg
(mg/ kg) de dieta para o pacu. Para as demais espécies,
Ác. pantoténico 15,00 2000 30/)0 10,00 têm-se utilizado dietas com 50 a 500mg/kg.
(mg/ kg)
Niacina(mg/kg) 100 1000 28.00 8.3. ALIMENTOS
m2 (mg/kg) nd
Colina (mg/ kg) 400D0 1000,00 500,00 Diversos alimentos podem ser utilizados
Biotina (mg/ kg)
para compor uma dieta para peixes. É necessá-
0,15 1,00 nd
rio conhecer a composição química e o valor nu-
Tiamina (mg/ kg) IDO 1,00 0,50 nd
tritivo dos ingredientes para permitir a elabora-
Vit. (mg/kg) 3A)0 3D0 6,00 nd çao de dietas completas e de mínimo custo.
Incsitol (mg/ kg) 30000 440,00 nd Os ingredientes de origem vegetal, de
VitaminaC 2500 50.(X) forma geral, possuem menores valores de ener-
(mg/ kg) -50,00 gia digestível, principalmente para peixes carní-
voros, que não utilizam eficientementeos
PV PD proteína digestia•l e ED = energia carboidratos como fonte de energia. Além disso,
digestível,
nd nãodeterminado podem apresentar diversos antinutrientes e de-
NRC(1993) ficiênciade alguns nutrientes que podem limi-
tar sua utilização.Durantemuitos anos,a fari-
Segundo alguns estudos, a tilápia do Nilo nha de peixe foi considerada como fonte indis-
e a carpa comum sao capazes de sintetizar quan- pensável em dietas para peixes. Pela baixa dis-
tidades adequadas de vitamina B , não sendo ponibilidadeno mercado,sua substituiçàopor
necessária a suplementação. No ent'ànto, existem fontes alternativas têm sido estudada por
dúvidas se essa produção é suficiente para aten- nutricionistas de diversospaíses.
der as exigências quando sio utilizadas altas
densidades de peixes. • 8.3.1.Milho
É a principal fonte energética de dietas
Consideraçõessobrealgumasvitaminas: para peixes onívoros e herbívoros, mas seu
A tiamina é importante para o metabolis- carboidrato possui pequeno valor na contribui-
mo carboidratos, atuando como coezima para a ao energética em dietas para peixes carnívoros.
descarboxilação oxidativa de a -cetoácidoscomo necessária a fina moagem do grão para utiliza-
piruvato e a - cetoglutarato.O farelode arroz çào em dietas farelada, peletizada ou extrusada.
(desengordurado e integral), o farelo de trigo, a Apresenta grão com cerca de 8 % de proteína
levedura desidratada e a farinha de peixe sao bruta, 2 a 3 % de fibra e baixos teores de cálcio e
boas fontes de tiamina; fósforo. Na prática, é utilizado de acordo com a
O ácido pantoténicoatua como parte da disponibilidadedo produto(custo).Quantomai-
coenzima A (COA),para transferência do grupo or o conteúdo de proteína da dieta, menor será o
acil. A coenzima é re•querida nas reaçóes na qual valor de inclusao desse ingrediente. Atualrnen-
o esqueletode carbono da glicose,ácidosgraxos te, pelo elevado custo da farinha de peixe, têm-
e aminoácidos entram no ciclo do ácido se preconizado a utilizaçao do glúten de milho,
tricarboxílico.Como o pantotenato de cálcio so- principalmentepara peixescarnívoros,sendo
fre elevada taxa de lixiviação ao entrar em con- necessária a suplementação dê lisina e cuidados
com teores elevados de leucina e isoleucina, para centestêm demonstradoque o farelode algo-
evitar antagonismos entre aminoácidos. dão pode ser incluído em até 25 % sem afetar o
desempenho produtivo e reprodutivo.
• 83.2. Trigoe farelode trigo
A utilização depende da disponibilidade roreto de canora
e custo do produto no mercado.O farelo de tri- A introduçãoda canola no Brasilocorreu
go é mais empregadona formulaçãode dietas no ano de 1992,pela OCEPAR(Organização das
para peixes e apresenta cerca de 14% de proteí- Cooperativas do Paraná), sendo que sua área de
na bruta e 8 a 10% de fibrabruta.Sua inclusão plantio expandida rapidamente, aumentando a
geralmente não excede a 15 % em dietas para disponibilidadedo farelopara ser utilizado na
peixes, pois o elevado teor de fibra, associadoà alimentaçaoanimal. A canola é uma seleç,ioge-
presença de polissacarídeosnão amiláceos,po- neticamente modificada da colza (Brassicanapas
dem reduzir a digestibilidadeda energiae dos ou Brassicacampestris),cujo óleo apresenta bai-
demaisnutrientesda dieta. xos níveis de ácidos graxos insaturados (menos
que 7 %), ácido erúcico e de glicosinolatos. Apre-
• 8-3.3.Sorgo senta cerca de 36 % de proteína e 7 % de fibra
Possui composição química e valor nutri- bruta, possuindo teor de aminoácidos sulfurados
tivo próxima àquela do milho. É necessário co- superior ao encontrado no farelo de soja. O nível
nhecer a quantidade de tanino presente em cada máximo de inclusão de farelo de canola é de 20
variedade,pois essecompostopodeaumentara % em dietas para peixes.
uantidade de nutriente não digerido nas fezes.
taninotambémpode reduziro consumo,pois
confere sabor amargo às dietas. a fonte protéica mais adequada em die-
tas para organismosaquáticos.Possuiproteína
de arroz de elevada qualidade e constitui-se em boa fon-
contém cerca de 12 % de proteína bruta e te de energia, ácidosgraxos essenciais,minerais
teor de gordura variável em função do e vitaminas. Seu valor nutritivo depende da qua-
processarnento utilizado para sua obtenção. Pos- lidade da matéria prima e tipo de processamento
sui cerca de 12% de fibra bruta. Constitui-se em empregado para sua obtenção. O valor de inclu-
fonte de custo relativamente baixo e sua inclu- são desse ingrediente varia de com a espécie e fase
são proporciona ótima aglutinaçào do grânulo, de produção. Para peixesonívoros,nas fasesde
permitindomaior estabilidadee, conse- crescimentoe terminação,há possibilidade de ela-
quentemente, menor lixiviaçào.Possui teor ele- boraçáode dietascom menos de IO% de farinha
vado de fósforo (1 %), mas esse mineral possui de peixe, desde que seja realizada a adequada
baixa disponibilidade, necessitando da utiliza- suplementaçáo de energia e nutrientes.
çào de fonteinorgânicaou da utilizaçãode
enzimaexógena.
A quantidade de cinzas presente nesse in-
grediente faz com que os níveis protéicossejam
o subproduto obtido da extraçãodo óleo bastantes variados, sendo necessário análise
que é amplamente empregado na formulação de laboratorialparasua utilização,principalmente
dietas comerciaispara peixes,sendodisponível pelasdiferençasna qualidadeda matériaprima
em muitas regiõesdo país. Possuiproteínade que é utilizada para sua obtenção. Constitui-se
elevada digestibilidadee com bom balançode em boa fonte de proteína(aminoácidos)e de
aminoácidos,excetuando-sea deficiênciade minerais. Para sua utilização é necessário consi-
aminoácidossulfurados.Para sua utilização,é derar a composiçàoquímica, nutricionale
necessárioo adequadoprocessamentopara re- microbiológica.
duzir os teores de antinutrientes a um valor que
não afete o desempenho. Esse ingrediente tam- pr-i"lta-dcs.azwuc
bém pcssui baixos valoresde energia digestível obtidaapós a desidrataçãodo sangue
e de fósforo disponível.A soja integral têm sido fresco,sendo que o seu valor nutricional depen-
utilizada em dietas extrusadaspara peixespara dc do tipo de processamentoque foi utilizado
melhoraro valor nutricionale a aparência do para sua obtenção.A farinha de sangue obtida
grânulo, além do seu menor custo. pelo método"spray-dried",possuiproteínade
elevada digestibilidade e pode ser utilizada em
dietas para melhorar o balanceamentode
O nível de proteína varia conforme o pro- aminoácidose para aumentar a retençãode pro-
cesso utilizado na extraçáo do óleo. A semente teína na carcaça.
possui cercade 0,03a 0,2%de um pigmento
amarelo denominado de gossipol, um
antinutriente que pode levar a uma reduçao no A levedura é o subprodutoda indústria
consumo, redução na taxa de crescimentoe de alcooleira,sendo que a sua disponibilidade no
generaçao do fígado e rins. Trabalhos mais re- mercadotem aumentado nos últimos anos. Pos-
Fundamentos da
Moderna Aqüicuttura
Tabela g. 7. Taxa de arraçoamento para o bagre do canal em função do peso vivo o temperaturada água.

Temperatura da água dC)


Peso vivo (g) 15 18 21 24 27 30
Taxa de arraçoamento (% em relação ao peso vivo)
2,5 3,1 35 4,0
35,4 1,8 2,1 2,5 2,8 3,1
163,9 0,9 1,2 1,7 1,9 2,1
283,2 1,2 1,4 1,5 1,7
553,1 0,9 1,0 1,1 1,3
Adaptadode Tuckere Robins»t (19%))
sui 30 a 38 % de proteína bruta, e constitui-se Durante a fase inicial os peixes requerem
em importantefontealternativade proteínae mais energia e proteínapor unidade de peso e
vitaminas do complexo B.Ainda que seja possí- possuemmaiorcapacidadede consumoque
vel a sua inclusão em até 20 é recomendada ad ultos. Para esses peixes, a taxa de arraçoamento
sua utilizaçãoem valoresabaixode 5 como pode ser influenciada pela presença de organis-
fonte de vitaminas do complexo Bem dietas que mos-alimento,que variamgrandementeemsua
não vão ser submetidasa temperaturaseleva- composiçãoquímicae valornutricional.
das durante o processamento (extrusão). A determinaçãoda taxa de arraçoamento
necessitada adequada estimativa do peso e nú-
'Organismos-glimcnto" merode peixes.O ganhode peso não ocorrede
Constituem-seem importantefonte de forma linear, mas de forma exponencial, poden-
energia e nutrientes, principalmenteo do ser influenciadopor diversosoutrosfatores,
zooplâncton, que possui teores mais elevados de destacando-se a temperatura, que afeta direta-
lipídios e proteína. É produzido para ser utiliza- mente o consumo e, dessa forma, as tabelasde
do principalmente na larvicultura e alevinagem. arraçoamento consideram,além do peso vivo, a
O melhore desempenho obtido com essa fonte, temperatura da água (Tabelas 8.7).
em relaçãoao alimentoartificial,é atribuídoao
fatode estaremdisponíveispor toda a coluna Para a tilápia do Nilo, a taxa e frequência
d'água, pelo tamanho adequado para consumo de arraçoamento são influenciadas pelo peso do
e peloelevadovalor nutritivo.O fatorlimitante peixee pela temperaturada água (Tabelas8.8e
para utilizaçãona alimentaçãode peixesé a di- 8.9). Durante o período de reversão de sexo, ge-
ficuldadeda produçãocontínuaem grandees- ralmentesão utilizadasdietas fareladascomteo-
cala, poisa produtividadedessesorganismosé res mais elevadosde energiae nutrientespara
influenciada por diversos fatores. compensar as perdas, que ocorrem por lixiviação.
Assim,para maximizara utilizaçãoda dieta e
reduzir a quantidadede resíduosnão consumi-
$.42AIIMENTACÃO dos ou não digeridos,é importantea maior
O manejo alimentar adequado requer co- frequência de arraçoamento.
nhecimentosbásicossobrea espéciea ser cria-
da, sendo influenciado por diversos fatores. Pelo Tabela 8.8. Taxa e frequência arraçoamento de
alto custodas dietas de peixes,a alimentação tilápias do Nilo om funçao do peso (temperatura de
representa item importante, principalmentenos 28 C).

sistemasmais intensivos,sendonecessáriocon-
sideraro desempenhodos peixese tambéma Idade (dias) TA -c FA
influência do manejo alimentar sobre a qualida- Ipeso(g) (% peso (númerode
de da água. A alimentação de peixes deve consi- vivo/dia) vezes por dia)
derar o tipo de dieta a taxa, a frequência e forma
de arraçoamento. Até o,5g 20-10
1-5g 10-5
• 8.4.1. Taxade Arraçoamento 5-15g 4-3
A taxa de arraçoamento representa a quan- 15-40/50g 6-3 4-3
tidade de dieta que será fornecida aos peixes.A > 100g 4-2 3-2
determinaçãoda taxa de arraçoamentodeveas-
sociar o ganho de peso, a conversao alimentar, o TA = taxa de arraçoamento
retorno económicoe a qualidade da água. A e FA = frequência de arraçoamento
subalimentaçào piora o desempenho sem corn- Luquet(1991).
prometer a qualidade da água e, por outro lado,
o excessode dieta poderá comprometer o desem-
penho de forma direta, pela piora na conversão
alimentar e, indiretamente, pela redução na qua-
lidadeda água.
Tabela 8.9. Taxa e frequênciade arraçoamentopara é muito utilizado por não proporcionar adequa-
tilápias do Nilo em funçao da temperaturada água. do acessode todos os peixes até as dietas, po-
dendo resultar em lotes desuniformes. A utiliza-
Temperatura Taxade Frequênciade çao de comedouros automáticos é recomendada
água (oc) arraçoamento arraçoamento nas criações intensivas, sendo necessário consi-
(vezes/dia) derar a relaçãocusto/benefício.
T>24 100 4 • 8.4.4.Fase Inicial
50 2 Logo após o inicioda alimentaçao exógena,
40 2 no seu habitat natural, a maioria dos peixes con-
25 2 somem o plâncton (fitoplâncton e zooplâncton).
10 1 Essesorganismospossuemelevadovalorbioló-
16>T Não alimentar - gico, constituindo-seem excelentefonte de pro-
teína (aminoácidos),energia,ácidosgraxos,vi-
em relaçãoa taxa normal de arraçoamento taminas e minerais e, além disso, sua disponibi-
Luquet(1991) lidade no meio aquáticopossibilitamaior uni-
formidadedo lote.
O ideal seria a correçaoda taxa de Para espécies como as carpas prateada e
arraçoarnento diariamente, mas essa prática não cabeça-grande, esses organismos sao importantes
é aplicada, pelo excessivo manejo que pode afe- durante a fase adulta. As tilápias tambémutili-
tar o consumo e a qualidade da água de criaçao. zam eficientementeesses componentes, principal-
Assim, os peixes geralmente são pesados a cada mente nas criações extensivas, auxiliando para a
sete, quinze ou trinta dias, o que irá depender reduçãono custocom alimentação,atravésda re-
da fase de criação.A estimativado crescirnento duçao na taxa de arraçoamento ou pela utilizaçao
da tilápia do Nilo pode ser obtida corrigindo-se de dietas com níveis mais baixos de proteína.
a variável temperatura (Soderberg, 1990): É importante que a dieta seja distribuída
uniformementeem toda a extensãodo tanque,
uma vez que os peixes de menorporte percor-
DL = 0048T-OS53 rem pequenas distâncias para a captura do ali-
em que: mento. De forma geral, têm-se fornecido de 10a
DL = crescimento diário em comprimento
0
(mm); 5 % de dieta em função do peso vivo, parcelada
T = temperatura da água ( 0. em 4 a 6 vezes/dia,
Durante a reversão sexual de tilápias a di-
O peso individual pode ser estimado eta deve ser parceladaem 4 a 8 vezes/dia du-
através da equaçao: rante 28 a 30 dias, para evitar perdas na . A dieta
não consumida deve ser retirada para evitar pro-
PV = 0.02.e (Preechromis niloticus) blemas com a qualidade da água. Durante essa
PV = (2—33.10- (Oreochromisaureus) fase, os níveis de energia e nutrientes são mais
em que: elevados,pela exigênciae perdas por lixiviação
PV = pesovivo individual (g); e, ainda que as perdas sejam altas, é possível
C comprimentototalindividual (cm). obter conversao alimentar entre 1,5a 2:1, ou seja,
de 600 a 800 g de dieta para produzir 1000
alevinosrevertidoscom peso vivo individual
• 8.42. Frequênciade arraçoamento médio de 0,4 g.
A frequência de arraçoarnento é importan- Após reversão sexual, geralmente há ne-
te para melhorara conversaoalimentar.Cerca cessidadede transferênciados alevinos,que ain-
de 90 % do alimento fornecidoé consumido du- da utilizam eficientemente o plâncton como ali-
rante um período máximo de 15 minutos após mento, mas deve ser complementada com dieta
fornecimento, sendo que o aumento na balanceada com 30 a 32 % de proteína bruta, na
frequênciade arraçoamentoestá associadoao proporçao de 8 a 5 % do peso vivo, numa
aumento na uniformidade do lote e melhora na frequência de 4 a 6 vezes/dia. A adubação deve
conversao alimentar. A frequência de ser realizada anteriormente ao abastecimento do
arraçoarnento é mais elevada na fase inicial,em tanquee periodicamente,realiza-sea adubação
que é utilizada dieta na forma farelada de mantença, de acordo com a produtividade de
(lixiviaçào),podendo ser alterada de acordo com organismos-alimento.
a temperatura da água e fase de criação
• 8.4.5.Crescimento
• 8.43. Formasde Arraçoamento Nessa fase deve ser utilizada dieta desin-
O arraçoamentopodeser manualou atra- tegrada (peletizada) ou extrusada. Além disso, a
vés de comedouros.O arraçoamento manual adubação química e /ou orgânica pode ser utili-
pcssuia vantagemde permitirmaiorcontroledas z.ada,dependendoda espéciee sistema de cria-
ocorrências,tendocomodesvantagenso custo çáo. A dieta extrusada facilita o manejo e permi-
com mao-de-obra. O cornedouro tipo cocho nio te melhorvisualizaçaodo consumo.
Fundamentos da
Moderna
A dieta é fornecida em torno de duas a três das para permitir a produçãoracionalde pei-
vezes ao dia, na proporçao de 4 a 2 % do peso xes, considerando-se a necessidade de manter a
vivo, parcelada em duas a três vezes/dia. O teor qualidade da água para a criaçao e evitar a po-
de proteína varia de 32a 30 %, mantendo-se uma luiçaoambiental.
relação energia:proteína próxima de 100:1.O No Brasil,na décadade 80 Castagnolli
plâncton ainda contribui com boa parte da dieta (1981),já ressaltava sua preocupação com o meio
até o nível de biomassade aproximadamente ambiente.Segundoesse autor "O fornecimento
4000kg/ha. de dietas adequadas aos peixes pressupõe o co-
No caso de criações com elevada densida- nhecimento de várias informaçõessobre a espé-
des (tanques-redee "raceways"). para evitar cieconsiderada, bem como sobreo valor nutriti-
deficiênciasnutricionais, é necessário o empre- vo dos diferentes ingredientes que poderão ser
go de dietas completas com 32 a 36 % de proteí- utilizadosna formulaçãoda dieta. Essesconhe-
na bruta, que devemapresentarrutrientes de cimentosdevemainda ser acrescidosde noções
elevada digestibilidade para permitir adequado básicas sobre balanceamentode dietas,
crescimentoe não comprometera lualidade da processamentoe preservaçãodos alimentos"
água. A taxa de arraçoamento dev variar entre Mais pesquisas devem ser desenvolvidas
5 e 3% do peso vivo, sendo a dieta diária parce- para permitir a substituiçao da proteína da fari-
lada em duas a três vezes/dia. nha de peixe,ou de outro ingrediente de origem
animal, pela proteína de origem vegetal. Esses
• 8.4.6.Terminação estudos devemenvolvera suplementaçãode
Ainda que o custo do kg de dieta seja me- aminoácidos, minerais e vitaminas, o
nor, a demanda de dieta é elevoda nessa fase, processamento, a suplementaçáo de pró-nutrien-
necessitando de adequado manejo alimentar tes e o manejo alimentar para permitir a criaçao
para aumentar ainda mais a carga de nutrientes sustentável de peixes.
não digeridos e o comprometimento da qualida-
de da carcaçano período que antecede o abate.
Nos sistemastradicionaisutiliza-sedieta com
teor de proteína bruta variando de 28a 25% (2800
a 2600 kcal de energia digestível/ kg), com taxa
de arraçoamentovariandode 2 a 1 % do peso
vivo, distribuído em duas vezes/dia. Nesse pe-
ríodo a conversãopiora e a :ontribuiçaodo
plâncton é pequena. CAIN, GARLING,DL 1995.Pretreatmentof soybean
Nas criações em tanques-rede e "raceways: meal with phytase for salmonid diets to reduce
é recomendadaa utilizaçãode dietas com 35 a hos horusconcentrations in hatchery effluents.
32 % de proteína bruta (3000a 2800kcal de ED/ rogressireFish Culturist,
kg) e adequada suplementação de aminoácidos, CASTAGNOLLI,N. 1981.Nutriçao de peixes. In:
vitaminas e minerais.A taxa de arraçoamento SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AQUICULTURA, 2,
varia de 3 a 1 % da biomassa, distribuída em duas 1981,Florianópolis.Anais...Florianópolis:
SUDEPE,p. 31-52.
a três vezes ao dia. A utilizaçáo de dietas flutu- COWEY,C.B. 1994.Amino acid requirements of fish: a
antes é fundarnentalpara permitiracompanhar criticalappraisalof presentsvalues.Aquaculture.
o consumo. 124:1-11.
ENELL.M. 1995.Environmental impact Offish nutrients
8.5. VNJFORMJPAPE PO LOTE from Nordic fish farming. Wat. Sci. Tech.,31:61-
71.
Após O término da criação, a FLORETO, E.A.T.. BAYER. R.c., BROWN, P.B. 20(X).The
cornercializaçàodos peixes para recreaçãoou effects Ofsoybean-based diets, with and without
industrializaçao requer peixes uniformes. Para amino acid supplementation,on growth and
tal, são necessárioscuidados que vão desde a biochemicalcompositionof juvenileAmerican
seleçàodos animais destinados à criaçãoduran- lobster, Homarusamericanus.Aquacutlure.
te as fases de crescimentoe terminação,assim
como durante o adequado manejo alimentar, que FURUYA, W.M. Digestibihdade aparente de aminoácidos e
substituiçào da proteína da farinha de peixe pela pro•
deve permitir acesso dos peixes até a ração, que teína dofarelo de sop com base no conceito de protei-
deve apresentar grânulos com características na idealem Pira a tilápta do Nilo
adequadas para cada espéciee fase.Ê importan- niloticus).Botucatu, FMVZ/UENSP. 2000. 69
te considerar a palatabilidade,o tamanho e for- Tese (Doutorado em Zootecnia) - Faculdade
mato do grânulo, a forma, a taxa e a frequência Medicina Wterinária e Zootecnia, 2000.
de arraçoamento. FURUYA,w.M.. GONÇALVES,GS. FURUYA,V.R.B.,
HAYASHI,C. 2001b. Fitase na alimentaçáo da
8.6. Nu-rmçÃQ E MEIO AMBIENTE tilápiado Nilo(Oreochromis
niloticus desem-
penho e digestibilidade. Revista da Sociedade Bra•
Os dados obtidosno passadocom a cria- sileira de Zwtecnia (no prelo).
çao intensiva de peixesem diversos paísesasiá- FURUYA.w.M., HAYASHI. FURUYA,v.R.B. 1996.
ticos e europeusdemonstramque a criaçaoin- Exigênciade proteínaparamachosrevertidosde
tensiva de peixesdeve considerarvárias medi- tilápiado Nilo(Oreochromis
niloticus na fase
REPRODUÇÃO
DE PEIXES
Wilson Massamitu Furuya, Dr.
Valéria Rossetto Barriviera Furuya, M. sc.

pressão do abdómen no sentido encéfalocaudal


liberamsémen.
O sucesso na piscicultura está estreitamen- O cuidado parental, ou seja, o cuidado que
te relacionado com a capacidade de perpetuação os pais dispensam a prole, é uma característica
das espécies,produzindolarvasque serio utili- importante de adaptação para garantir a sobre-
zadas para criaçãovisando a sua terminaçãoou vivência da espécie. Asgécies que não dispen-
formaçáodo plantelde reprodutores.
O processo reprodutivo nos peixes é bas- pelágica (ovosnão aderentes),como forma de
tante diversificado, apresentando vários meca- assegurar a dispersão dos ovos e larvas através
nismos reprodutivoscomoa partenogénese,a das corredeiras,corno é o caso do curimba e da
bissexualidade e o hermafroditismo. O rnecanis- piapara (Leporinuselongatus).Outras espécies,
mo reprodutivo mais comum nos peixes é a como a carpa comum (Cyprinuscarpio),possuem
bissexualidade,em que os indivíduosapresen- ovos.aderentes,os quais sao depositados em
tam sexo separado, ou seja, ou sao do sexo femi- substratcw No cuidado parental, os peixes cuidam
nino ou do masculino, podendoocorrer a dos ovos e embriõesaté o momento da eclosãoe
ovuliparidade.com fecundaçaoe desenvolvi- também em muitos casos na fase larval, como é o
mento externos (dourado, pacu, pintado, casoda tilapia do Nilo que em uma situaçãode
curimba, etc.), a oviparidade, onde ocorre fecun- perigo recolhe as larvas na cavidade bucal.
dação interna e desenvolvimentoexterno (beta), Os estudos básicossobre a reprodução de
a ovoviparidade,onde ocorrea fecundaçãoe peixes sao de grande importância para o desen-
desenvolvimentointernos, sem participaçào volvimento da piscicultura, que no seu meio na-
materna (lebiste)e a viviparidade,com fecunda- tural está sujeitoa uma variedade de fatoresque
çao e desenvolvimento Internos com participas são responsáveispelo desencadeamentodo pro-
çáo materna. através da placenta (tubarão). cesso reprodutivo de cada espécie.
uma formageral a diferenciaçaose-
xual nos peixes é bastante difícil, sendo que al- 9.2. FORMAÇÃQ pos GAMETAS
gurnasespéciesnio apresentamdimorfismose- Vários estudos têm demonstradoque a
xual tão evidente fora do período reprodutivo, gametogénese é influenciada pelos fatores rela-
enquan to que em outras essas características são cionados com a água, principalmente fotoperí-
bastante evidenciadas. Essas características mais odo e a temperatura, que associados com outros
evidenciadaspodem ser observadasdurante o fatores ambientais, controlam o ritmo endógeno,
período reprodutivo no tucunaré (Cicltla permitindo ao homem uma exploraçao do pon-
occelaris),onde o macho apresenta uma to de vista reprodutivo para obtenção de grande
protuberânciaentre a cabeçae a nadadeira número de animais em cativeiro.
dorsal, no curimba (Pmchilodusscrofa),através da
emissão de sons. durante a piracema, no pirarucu • 92.1. Espermatogénese
(Arapaimagigas)pela coloraçãoavermelhada da Os espermatozóidessão formadosa par-
borda das escamasdos machose no dourado tir de células germinativas, sendo o conjunto de
(Salminusmaxillosus),pela presença de espículas transformaçóes por que passam essas células até
na nadadeira anal. a formação dos espermatozóides denominada de
No caso do dimorfismosexual perma- espermatogénese.
nente, têm-se o exemplo da tilapia do Nilo A espermatogénese compreende a prolife-
(Oreochromisniloticus),em que os machossão ração inicialdas espermatogóniasatravés de vá-
maiores que as fêmeas, e das trutas e salmões, rias divisões mitóticas e crescimento para formar
em que as fêmeas são maiores que os machos. os espermatócitosprimários, os quais através de
Durante o período reprodutivo a divisõesirão formar os espermatócitossecundá-
sexagem pode ser realimda através da observa- rios.A divisãodos espermatócitossecundários
çáo de algumas características, sendo que de uma irá resultar na formaçaodas espermátidesque
forma geral as fêmeas apresentam o ventre abau- sofrerá diferenciaçõesformandoas células
lado e macio,a abertura urogenital intumescida, espermáticas ou espermatozóides (Figura 9.1).
saliente e avermelhada c, os machos, que sob leve

69
Figura 9.t. - Diagramadas alteraçõesdurantea O crescimentodo ovócitovaria de espécie
espermatogénesenos peixes. JOBLING(1995) para espécie,sendo a ampliaçãodo mesmo cau-
sada em grande parte pela acumulação de vitelo.
Células O acúmulode vitelo ocorreduranteo período
de desenvolvimentoque é denominadode
vitelogénese.
O folículoovariano,envolveos ovócitos
Per%N'o
de em desenvolvimento, e é constituído de uma ca-
mada interna de célulasdenominadade
anulosa,e uma camada externa de célulasque
o envoltóriofolicular,denominada de teca.
Periodo& As camadasgranulosae teca são separadasen-
tre si por uma membranabasal,colvstituídade
células especiais que sintetizam e armazenam
hormôniosesteróides.
( maturaçiO 9-3. REPRQPUÇ&OCOMO
UM EVENTO CÍCLICO
Os utilizadCFna piscicultura
tam uma periodicidadeno seu proceso reprodutivo,
geralmente ocorrendo a a cada ano, poden-
do cx-orrermais de uma vez ao ano , como por exem-
plo para as tilápias. No meio natural a época da re-
prcx{uçáoé sincronizada com ambientais que
9.22.Ovulogênese garantirão a sobrevivênciada prole.
CXprimeirosestágiosde desenvolvimen-
to das célulasgerminativasdas fêmeassão se- O ciclo anual pde ser
melhantes ao estágio inicialda espermatogénese dividido em três fases:
(Figura92.). •Fase 1 - pós-desova - onde as gónadas se en-
contramde tamanhoreduzido,estando em
Figura 9.2. - Diagrama das alterações que ocor-
uma fasede repouso;
rem durante a ovulcgénese. JOBLING(1995) • Fase 2 - pré-desova - em que as gónadas inici-
am a produçãode gametas (gametogénese)e
ocorre a produção e incorporação de vitelo nos
ovócitos (vitelogénese), e é acompanhado por
uma aumento gradual no tamanho das
gónadas;
•Fase 3 - ovulação- que envolvea maturação
final dos gametas, esta faseculmina com a de-
Periodo de sova,com a liberaçãodos gametas e fertiliza-
multiplicaçao çao dos ovos.

.4.
Periodode Os fatoresambientaissão os principais
crescimento responsáveis pelo desenvolvimento dos gametas.
Em espécies q ue desovam no verão como as car-
pas e outros peixes, a maturação gonadal come-
ça no finaldo invernoou inicioda primavera.O
Periodode iniciodo processode maturaçãoé desencadea-
do pelo aumentodo fotoperíodoe elevaçãoda
O óvulos temperatura da água. Então, ambos temperatu-
ra e fotoperíodo sao os principais fatores respon-
sáveis pela mediação do ciclo reprodutivo em
As primeiras células germinativas sofrem várias es ies de peixes.
proliferaçõesatravés de urna série de divisões eventos reprodutivosnos teleósteos
mitóticase entao desenvolve-seos ovócitospri- são comandadospelohipotálamoque possuium
mários.O final da divisão reducionalcomexpul- centro controlador de liberaçào de
são do segundo corpúsculo polar não ocorre até gonadotrofinas pela hipófise. Há uma cadeia de
que ocorraa fertilizaçao,quandoo ovoé ativa- eventosdesde a percepçaodos estímulosexter-
do pelo espermatozóide. nos até a liberação dos gametas. (Figura 9.3).

Fundamentos da
70 Moderna Aqaicultura
Figura 9.3 - Eixohipotálamo-pituitária-gónada ura 9.4 - Relação do eixo hipotálamo-pituitária-
indicanc%os principais 'atores endócrinos envol- da no controleendócrinoda e
vidos no controle do ciclo reprodutivo.Adaptada çáo do vitelono desenvolvimentodo
de JOBLING(1995) ovócitoAdaptado de JOBLING(1995).

HIPOTALAMO

CLANDULA

Ovariano

FIGAOO

Incorporaçao
do vitelo

Os estímulos ambientais chegam ao


hipotálamo alterando as taxas de produçaoe se ros problemas, dentre os quais, a obtenção de
creçaodos hormônioshipotalámicos,os quais alevinos, haja vista a impossibilidadeda repro-
incluem o hormónio liberador de gonadotrofinas duçao naturaldas várias espéciesde peixesem
(GnRH) e os inibidores de gonadotrofinas (GnIB, cativeiro
que tem açao antagónica sobre a síntese e libera- No Brasil os cursos d'água de diversos es-
çao de gonadotrofinas pelas células tados sofrerammodificaçõespela construçãode
gonadotróficas da glândula pituitária. barragens visando principalmente a produção de
A estimulação das células gonadotróficas energia elétrica, a navegação, irrigação, etc., le-
da glândula pituitária pelo GnRH resulta na se- vando a profundas modificaçOesno meio, inter-
creçao de gonadotrofinas para a corrente ferindo sobre a reprodução natural de algumas
sanguinea,as quais chegamaos tecidosdas espéciespreconizadaspara a piscicultura.
gónadas estimulando-os a aumentar a produçao Embora o Brasil tenha uma rica fauna
e secreçãode hormôniosesteróidessexuaisque ictiológica, somente algumas espécies vêm sen-
sio os andrógenose estrógenos. do pesquisadasobjetivando a sua utilização na
Geralmenteocorreuma alteraçãono nível piscicultura. Dentre estas, existe um grupo que
de gonadotrofinas, com dois picosdistintos. No reproduznaturalmenteem água lêntica(lagoas
primeiro, há um aumento do nível de ou represas),como por exemploas traíras
gonadotrofinas antes da maturação, quando co- (Hopliasmalabaricuse Hopliaslacerdae),o tucunaré
meça a vitelogénese, que é a formaçáo e acumu- (Cichlaocellaris),e os lambaris (Astyanax spp),
laçáo de vitelo no ovócito. que esse entre outros.Um outro grupo, que abrange a mai-
aumento induz a produçãode estradiol pelas or parte de nossas espécies nativas, necessitam
células especiais da teca. Este estradiol, por sua realizar migrações (piracema) rumo as cabecei-
vez irá estimular a síntesee liberaçãoda ras dos rios para a reproduçao, os denominados
vitelogenina pelo fígado (Figura 9.4). peixesreofílicos,comopor exemploo pacú,o
O segundo pico está associado com a tambaqui,o curimba,o dourado,o pintado,o
maturação final do ovócitoe ovulação.Destafor- piavuçú e a piracanjuba, de maior interesse para
ma, conclui-seque as alteraçõesdos níveis de a piscicultura.
gonadotrofinas circulantes estão envolvidos com Para essasespécies,que nas condiçõesde
o inicioda vitelogénese,crescimentoovariano, cativeiro não reproduzem naturalmente, pressu-
maturação e ovulação põe-se o processo de reproduçao induzida a fim
de que seja pcssívela obtençãode larvaspara
posteriorcultivo.A reproduçãoinduzida consis-
9.5 REPROPWÇÁOINPUZ'PA te da utilizaçãode hormônios naturais elou sin-
Em 1929Rodolphovon lheringiniciouos téticosa fim de que seja possível induzir à ovula-
de reprodução induzida no Brasil.Ao çao e espermiaçáo de algumas espécies de peixes
iniciar os trabalhos sobre o cultivo de peixes na com potencial para ser utilizado na piscicultura.
região Nordeste brasileira no ano de 1932,lhering Assim sendo, justifica-sea reprodução
e seus colaboradores se defrontaram com inúme- induzida, para a obtenção de uma produção em

71

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