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CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.

Lembre-se:
Os apontamentos em sala de aula e os comentários nesse arquivo digital devem ser
complementados pela leitura dos livros preconizados e indicados no primeiro dia de
aula.
A consulta e crítica às diferentes referências, inclusive ao professor, é o que distingue o
futuro profissional bem-sucedido.

Em muitos momentos “abriremos parênteses” para


outros assuntos dentro do tema principal. Essa
tortuosidade não é para complicar. É para reforçarmos e
relacionarmos o tema principal com outros assuntos
vistos no Passado ou que veremos no Futuro.

Norman Rockwell (‘crítico caipira’)


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A eventual citação de empresas e instituições nesta apresentação não tem qualquer sentido de
marketing, patrocínio ou depreciação...
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Comentários de Aula, Exercícios e ‘Provocações’

Aspectos Básicos sobre Manejo da Irrigação

Antes de demonstrarmos os cálculos necessários e usuais em Manejo da Irrigação, façamos uma


discussão sobre a importância do Manejo...
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Lembrando: Modernização não é sinônimo de Desenvolvimento. E Irrigação não é


embelezamento de paisagem, por mais bonita que seja. O propósito original de um
sistema de irrigação e que se consolida na modernidade foi e é produzir riquezas...
Se a produção de trigo for alvo da irrigação, o incremento da produção irrigada deve gerar mais riquezas que o custo
extra do sistema de irrigação. Se o paisagismo for alvo da irrigação esse deve produzir riquezas (turismo, por
exemplo) para justificar o investimento...
Representação de Irrigação por
superfície na Antiguidade.

Moderno sistema de
automação em irrigação
por superfície.

http://www.icid.org/res_irrigation.html http://www.rubiconwater.com
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Irrigação x Equipamento de Aplicação de Água


Os sistemas de Irrigação nada mais são que equipamentos/benfeitorias voltados ao propósito da aplicação
artificial de água para agricultura, mas que podem ser usados em outras atividades, como o combate a
incêndios. O que não se deve recomendar/aceitar é o uso do Equipamento na agricultura para a Molhação.

Aspersão em pista de Aspersão para lavagem de Aspersão para controle de poeira e Aspersão para controle de poeira e
provas da Pirelli. úberes de vacas leiteiras. resfriamento na mineração/indústria. resfriamento/conforto térmico animal.
http://www.pirelli.com http://www.senninger.com http://www.kometirrigation.com http://www.nelsonirrigation.com

Evaporação controlada do excesso de Aspersão ou Gotejamento para


água contaminada (que não pode ser lixiviação/recuperação de metais
enviada a corpos hídricos). (cobre, ouro, zinco, etc.).
http://www.senninger.com http://www.ore-max.com/
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Dentre os usos menos óbvios dos


Sistemas de Irrigação, tem-se a
Proteção de Plantas Contra Geadas.

Caso da Microaspersão ou Aspersão

Curiosidade:
Qual o princípio dessa técnica?
A energia que seria gasta para
congelar os tecidos, é gasta para
congelar uma camada protetora de
água, o que preserva a planta de uma
dano mais intenso da geada.
http://nwdistrict.ifas.ufl.edu/phag/2014/01/11/satsuma-protection-in-cold-weather-extremes/
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Manejar é tão importante quanto Projetar


Por muito tempo, houve muita preocupação com o Dimensionamento do sistema (o
rigor sobre a perda de carga, os desníveis topográficos e as variações de vazões), sem
haver tanta ênfase no Manejo. Naquele contexto, muitos sistemas de irrigação foram
vendidos sem qualquer orientação sobre seu Manejo. E certamente por isso muitos
projetos de irrigação, públicos e privados, falharam no Brasil e em outros países.

https://www.irrigationnz.co.nz/PracticalResources/ToolsAndTips
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Um sistema mal manejado falha ao:

estar tecnologicamente incompatível com a aptidão do solo e a cultura;


aplicar lâminas deficientes;
aplicar lâminas excessivas;
deixar o lençol freático se elevar;
não promover a lixiviação de sais;
gerar condições de hipoxia, de lavagem de nutrientes e erosão hídrica;
permitir que o intervalo entre irrigações seja demasiadamente alto;
permitir intervalos de irrigação desnecessariamente curtos;
adotar tempos de irrigação incompatíveis com a lâmina bruta;
aplicar lâminas superiores à capacidade de retenção da água pelo solo;
reduzir os recursos hídricos;
causar erosão do solo;
aumentar a incidência de pragas e doenças para as culturas e para as pessoas do
entorno;
etc.
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Trecho da Tese: Avaliação dos perímetros de


irrigação na perspectiva da sustentabilidade da
agricultura familiar no semiárido pernambucano.

Renata Maria Caminha Mendes de Oliveira


Carvalho

http://www.repositorio.ufpe.br/handle/
123456789/5217
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A ausência de drenagem natural do


solo compromete a produtividade
das culturas, tanto em áreas de
sequeiro quanto naquelas irrigadas.

Nesse sentido, quando houver


drenagem deficiente no solo, deve-
se implantar sistemas de drenagem
artificial. Sem isso o manejo da
água e, portanto, a efetividade da
irrigação são comprometidas.

A negligência à Drenagem é uma


das causas mais frequentes de
insucesso da Irrigação.
Empoçamento de água de chuva na cultura do milho.
http://agcrops.osu.edu/newsletters/2011/18
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Proposta de Exercício
Faça uma pesquisa sobre problemas em Perímetros de Irrigação, buscando informações
sobre abandono e problemas que você entenda estarem atrelados à negligência ao
manejo da irrigação.
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Irrigação não é Tecnificação

A forma mais avançada da Irrigação Profissional é a Irrigação de Precisão, que depende


de avanços tecnológicos no equipamento de irrigação.

Por outro lado: É possível ter uma Irrigação muito correta (até uma irrigação de
precisão) com base numa ‘cuia’, numa garrafa ou num regador de plástico e uma
autêntica Molhação com base num moderno pivô-central.

http://www.ekshiksha.org.in/eContent-Show.do?documentId=196 John Moran


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Molhação é Artifício. Irrigação é Técnica.


A Molhação é um artifício usado para fornecimento de água para as plantas, mas sem
rigor técnico ou científico, sem garantia de uniformidade, sem segurança sobre a
necessidade de aplicação e sobre a lâmina aplicada. O eventual uso desse artifício pode
ou não ser produtivo, pode ou não ser inofensivo ao meio-ambiente e à saúde
financeira do projeto, mas, certamente, seu uso continuado, em detrimento da técnica
da Irrigação, tem sérios impactos ambientais. Irrigação é a evolução metodológica do
artifício intuitivo da Molhação.
Para fazer Molhação pode ser usado: regador,
trator com mangueira ou chuveiro, balde,
garrafa, mangueira de jardim, etc., além de
QUALQUER SISTEMA DE IRRIGAÇÃO.

Obviamente adquirir um sistema de irrigação


para fazer Molhação é Luxo e Ignorância.
http://www.patrocinioonline.com.br/noticias/detalhes/5927-per-odo-at-pico-obriga-
produtores-de-caf-a-buscar-medidas-alternativas.html
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https://www.flickr.com

... a Ignorância tanto como a falta de instrução quanto


pela rejeição ao conhecimento técnico já comprovado.

Obviamente, a primeira ignorância tem solução mais fácil


e é mais perdoável...
Já a segunda, quando envolve impactos coletivos, como o
ambiental e o sonho/renda de comunidades, deveria ser
passível de severa punição...

http://imgur.com/gallery/cY5CkRQ

Para converter-se à Irrigação o produtor deve


buscar sua capacitação e nessa transição a
humildade é importante.
http://www.signspecialist.com
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Irrigação x Molhação
O fato de se ter um sistema de irrigação, por mais moderno que seja, não é garantia
que será feita Irrigação. De fato, não é incomum se ter sistemas caros que fazem mais
‘molhação’ do que irrigação.

O que diferencia a técnica da irrigação da prática da molhação é o Manejo Racional da


Água. Irrigar é aplicar água sob constante monitoramento, de forma racional, na
quantidade adequada, no momento correto, sem excessos ou deficiências não
planejados.

Essa distinção é importante porque quando não há Manejo e a Irrigação falha em seus
objetivos, surge adicionalmente uma série de impactos negativos: concretizam-se
algumas das maiores desvantagens da Irrigação.

Isso é de extrema gravidade, pois a Irrigação é responsável por alguns dos maiores
impactos ambientais da Agricultura...
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O que seria Irrigação?


Irrigação é uma prática agrícola que visa a administração do espaço poroso do solo
mediante a aplicação artificial de água empregando-se técnicas de engenharia que
envolvam pressurização e/ou escoamento controlado por gravidade. Como todas as
outras práticas agrícolas, deve ser economicamente justificável e baseada em critérios
técnicos que visem a mitigação de seu impacto ambiental (que é certo) e social.

Ou seja:
Os benefícios da Irrigação devem superar os seus custos totais, num contexto de
comparação com a agricultura de sequeiro.

O fato de se buscar aumento de receita líquida com a Irrigação não a distancia da


responsabilidade ambiental.
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Impactos Ambientais da Irrigação


Salinização e/ou Sodificação do Solo
Desestruturação e Erosão do Solo
Contaminação e eutrofização de águas subterrâneas e superficiais
Alteração no Regime Hídrico (Esgotamento de Recursos Hídricos e Risco de
Enchentes)
Risco de doenças de veiculação hídrica e proliferação de agentes transmissores
Risco de poluição atmosférica (aspersão)
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Impactos Negativos da Irrigação


Salinização

Campo salinizado pela


irrigação no Peru.

http://ponce.sdsu.edu/the_salt_predicament.html
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Impactos Negativos da Irrigação


Salinização
Lavoura na Califórnia (San Joaquin Valley ) com sérios problemas de salinização.

Mesmo em países desenvolvidos,


como os EUA, a salinização
provocada pela irrigação é um
problema atual e dos mais sérios.

http://www.ars.usda.gov/recovery/riverside.htm
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Impactos Negativos da Irrigação A salinidade é um tema tão importante


que nos EUA existe um Laboratório de
Salinidade no USDA.

https://www.ars.usda.gov/pacific-west-area/riverside-
ca/us-salinity-laboratory/

Donald Suarez, USDA Salinity Laboratory.


http://ucrtoday.ucr.edu/22974/salinityfield
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Impactos Negativos da Irrigação

Solo do deserto sendo irrigado com


água salobra.

Os sais migram para as partes mais


altas dos sulcos, onde se acumulam
como uma crosta branca.
Note que as plantas são cultivadas na
base do sulco e acima da água.
Eventualmente, o nível salino torna-
se muito alto para a cultura e a
remediação será necessária para a
continuidade da produção.
nrcs.usda.gov
http://photogallery.nrcs.usda.gov
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Impactos Negativos da Irrigação


http://photogallery.nrcs.usda.gov

Esgotamento ou
Depleção de
Recursos Hídricos

Vista aérea de uma extensa área semiárida irrigada por pivô central no Oeste dos EUA.

Essa visão é emblemática para demonstrar a pressão exercida pela agricultura irrigada
sobre a disponibilidade regional dos recursos hídricos.
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Confusão?
O pivô-central é um equipamento de irrigação que consome
muita água?
Isso é lenda ou verdade?

Imaginemos uma situação em que um produtor tem 3 áreas


https://www.sciencespo.fr/en/news/ irrigadas, as três muito bem manejadas, mas uma com pivô-
news/fact-checking-between-beliefs-
and-knowledge/4105
central, outra com aspersão convencional e outra com sulcos.

O pivô central tende a ter maior eficiência que os outros sistemas.


Então, o pivô central consome menos água.

Mas, imaginemos que nessa propriedade todos os sistemas têm a


mesma eficiência.

Então, qual sistema deriva mais água do rio, se a lâmina de


http://cerradoeditora.com.br/cerrado/ irrigação de irrigação é 10 mm?
invasao-acao-de-populares-em-fazendas-
no-oeste-da-bahia-foi-puro-vandalismo/ Todos derivarão o mesmo volume de água, em termos de lâmina
bruta. Então, por que a lenda?
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Resposta: Populariza-se que Pivô Central consome muita água porque se confunde
volume e lâmina.
Pivô central é um equipamento que tem a capacidade de irrigar extensas áreas mesmo
tendo uma única Linha Lateral móvel.
Quando se deseja implantar projetos pressurizados de grande extensão, o Pivô Central
tende a proporcionar uma redução de custo por unidade de área irrigada.
Assim, o equipamento é muito associado a esses grandes projetos.

Como Volume de Água derivada é o produto da Área pela Lâmina Bruta, um único
equipamento como o Pivô-Central pode derivar grande volume de água.

Mas, voltando ao nosso exemplo:


Para uma mesma área irrigada, e mesma eficiência de irrigação, o volume derivado de
água do rio seria o mesmo, independente do sistema.
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O que consome grandes volumes de água são grandes áreas irrigadas


Obviamente isso passa por pelo menos duas questões de Manejo da Água:

Manejo da Água na propriedade (objeto da Irrigação). Nesse caso, aplicar a lâmina


correta, com a maior eficiência possível.

Manejo da Água na Bacia Hidrográfica (objeto do Planejamento Governamental e dos


Gestores da Bacia). Nesse caso, incentivar sistemas eficientes, atividades mais eficientes
no uso da água, controlar o acesso à água.

É admissível que a governança de uma


Bacia Hidrográfica permita/outorgue
maior retirada de água que a própria
vazão mínima disponível?
http://agwaterstewards.org/practices/
groundwater_management/
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Curiosidade:

O maior pivô central do mundo encontra-se no Brasil, em Tocantins. Fabricado pela


Lindsay para irrigação de cana-de-açúcar pela empresa Bunge Alimentos.

 26 Torres
 Lateral com 1.300 m
 530 hectares
 Gasta 44h para o giro na
máxima velocidade
 Vazão 506 m3/h
 Consegue aplicar
lâminas inferiores a 4
mm

http://www.irrigaengenharia.com.br/
projeto/o-maior-piv-central-do-mundo/19 zimmatic.com/stuff/contentmgr/files/2/498bf40ae0f45168c0b7c659e4158bfc/pdf/sugar_cane.pdf
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http://news.nationalgeographic.com/news/2014/10/141001-aral-sea-shrinking-drought-water-environment/#/84282.ngsversion.1422286636038.jpg

Involução da disponibilidade de água no Mar de Aral devido à irrigação e à seca entre


2000 (esquerda) e 2014 (direita).
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Impactos Negativos da Irrigação


Obviamente, além do montante derivado das fontes hídricas para suprimento direto da
cultura, os vazamentos de água em sistemas de manutenção deficiente são um
agravante do impacto da irrigação sobre a depleção dos recursos hídricos.

http://greenlivingideas.com/2014/07/21/water-leaks-a-silent-menace/ http://pvwater.org/toolkits/agricultural-en/index.php
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Impactos Negativos da Irrigação


Contaminação de águas superficiais (rios, lagos, etc.) e de águas subterrâneas.
Obviamente, quanto menor a eficiência do sistema e quanto menos manejada é a
irrigação, maior o risco de contaminação.

Tanto o escoamento superficial (run off) quanto a percolação profunda têm capacidade
de lixiviar defensivos químicos, íons nutrientes e íons tóxicos para as reservas hídricas.

http://www.thebusinessjournal.com/news/
agriculture/21579-wet-winter-invites-flooding-
research-on-valley-farms
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Impactos Negativos da Irrigação


A eutrofização de corpos hídricos devido à agricultura irrigada é potencializada com
lâminas excessivas e uso descontrolado de fertilizantes. Isso leva à proliferação de
organismos como algas (que diminuem à qualidade da água) e plantas aquáticas (que são
um problema para trafegabilidade das águas).
Aguapés no Rio Tietê, SP: agosto de 2015
Mancha de algas no Rio São Francisco: abril de 2015

http://g1.globo.com/se/sergipe/noticia/2015/04/impacto-da-mancha- http://g1.globo.com/sp/bauru-marilia/noticia/2015/08/aguapes-
negra-no-rio-sao-francisco-e-avaliado-por-tecnicos.html chegam-pederneiras-depois-de-hidreletrica-abrir-comportas.html
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Impactos Negativos da Irrigação


Buracos com mais de 20 m de profundidade
são criados pelo recuo do Mar Morto. Os
espaços antes ocupados pelos depósitos de
sais e águas salinas passam a receber água
doce quando essas descem das montanhas...
Isso provoca a dissolução dos sais; os espaços
antes ocupados pelos depósitos deixam o
terreno sujeito à acomodação. Uma das
http://globotv.globo.com/rede-globo/bom-dia-brasil/v/buracos-no-mar-
principais causas do recuo do Mar Morto é a
morto-em-israel-preocupam-autoridades/4401381/ irrigação, que usa as águas (doces) que
chegariam ao mar.

Vídeo Portal G1: Buracos no Mar Morto, em Israel, preocupam autoridades

Você O Mar Morto na verdade é um lago no vale do Rio Jordão, mas cujas águas
Sabia? são cerca de 10 vezes mais salinas que as de um oceano.
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Impactos Negativos da Irrigação

Erosão do solo
e risco de contaminação de águas.

Produção de alface na Austrália


sujeita a problemas de inundação,
escoamento superficial e drenagem.

http://soer.justice.tas.gov.au/2009/image/1076/index.php
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Impactos Negativos da Irrigação

Erosão.

Sulco de erosão aberto em solo


irrigado na Austrália.

http://soer.justice.tas.gov.au/2009/image/1050/index.php
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Impactos Negativos da Irrigação

Erosão em sulco: implica


em perda de solo e
arraste de defensivos e
fertilizantes.

Erosão controlada com


uso de Poliacrilaminada
solúvel: observe como a
água do sulco é mais
transparente.
http://www.ars.usda.gov/Research/docs.htm?docid=18884
http://www.ars.usda.gov/Research/docs.htm?docid=18884
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Impactos Negativos da Irrigação

Observe o aspecto da água retirada de


sulco tratado com Poliacrilamida, em
comparação com a retirada do sulco
não tratado (controle).

http://www.ars.usda.gov/Research/docs.htm?docid=18884
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A irrigação é uma intervenção.


Toda intervenção humana gera um
impacto ao que seria Natural...

Às vezes o não uso da irrigação é uma


ferramenta de marketing em benefício de
produtos orgânicos.

 We do not use irrigation systems (just rainwater).

http://www.organiccottoncolours.com/en/
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Para quem quer ser mais que ordinário

Faça a leitura dos artigos sobre os impactos da irrigação:

Considerações sobre os Impactos Ambientais da Agricultura Irrigada


http://www.agencia.cnptia.embrapa.br/recursos/circular_7ID-cKH03Ez46o.pdf

Impacto ambiental da irrigação no Brasil


http://www.agr.feis.unesp.br/imagens/winotec_2008/winotec2008_palestras/Impacto_ambiental_da_irrigacao_no_Brasil_Salassier
_Bernardo_winotec2008.pdf
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Irrigação nunca é uma técnica inocente!

Sempre se deve ter a consciência de que se trata de


uma intervenção humana cujo impacto ambiental é
certo.

Que isso seja apreciado em exaustão para


planejamento de nossas decisões...

http://smurfs.wikia.com
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Objetivos do Manejo da Irrigação


Muitas vezes os livros textos e os extensionistas apresentam “os objetivos do
Manejo”. Na verdade, muitos objetivos colocados para o Manejo são na verdade
objetivos da Técnica da Irrigação. Por exemplo: aumentar a produtividade, melhorar a
qualidade dos produtos, aumentar o número de safras por ano, etc.
Isso parece confusão e sobreposição, mas na verdade não é:
O objetivo do Manejo da Irrigação é garantir os objetivos da Técnica da Irrigação de
forma que haja mais SEGURANÇA e EFICIÊNCIA no uso dos recursos (água, solo,
fertilizantes, defensivos, energia, capital, mão-de-obra, etc.), afastando-a
definitivamente da Molhação.
O que torna a técnica da Irrigação Eficaz é o Manejo. O que torna a
técnica da Irrigação mais Eficiente em si é a evolução do Manejo.
Evolução do Manejo enquanto conhecimento humano e evolução do
Manejo especificamente numa dada propriedade rural (refinamento
técnico além do livro).
Essa Eficiência está relacionada à Eficiência Hidráulica do Sistema, à
Eficiência Agronômica do Cultivo, à Eficiência Econômica do
Empreendimento, à Eficiência de Uso da Água e dos demais Insumos... https://economize.catracalivre.com.br
ar : CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.40
c
p lifi
e m
Ex
ra Atualidade:
Pa
Existe uma forte demanda por tecnologias mais evoluídas que permitam
maior eficiência nos sistemas de irrigação. A T-L Irrigation e a Netafim
desenvolveram um sistema móvel de Gotejamento associado à infraestrutura
do sistema de Pivô Central.

http://www.businesswire.com http://tlirr.com
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Observe que o número de emissores (ou o comprimento das laterais) aumenta à


medida que se afasta do ponto do pivô...
Por que isso é coerente?

http://irrigation.blog.ir/post/30
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Manejo: Eficiência x Eficácia

Uma das metas mais atuais da Irrigação é o aumento da Eficiência do Uso da Água
(EUA), ou seja, produzir mais alimentos usando menos água.

A EUA é tratada por alguns autores como Produtividade da Água, podendo ser
expressa, por exemplo, em termo de kg produzidos para cada 1 m3 de água consumida.

Pr odução
EUA 
Volume
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.43

Proposta de Exercício:

Numa mesma propriedade e na mesma safra, um irrigante cultivou feijão, sob clima
semiárido, em duas glebas: em uma usou pivô-central e na outra usou aspersão
convencional. Numa terceira gleba, onde fez agricultura de sequeiro as plantas
feneceram antes do estádio de florescimento.
Na área do pivô-central, que tem raio de 400 m, foram gastos 339.540 m3, obtendo-se
51 sacas de 60 kg. Na área da aspersão convencional (350 x 300 m) foram obtidas 48
sacas de 60 kg, sendo aplicada uma lâmina de 614 mm. O manejo da irrigação foi feito
com base em uma estação meteorológica, sendo definida uma demanda de 550 mm
para todo o ciclo.
Pergunta-se: em qual gleba o feijão irrigado foi produzido com maior eficiência do uso
da água? E qual sistema foi hidraulicamente mais eficiente? Ambos os sistemas foram
eficazes?
Em todas as três glebas houve eficácia na produção?
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Ainda no contexto da Eficiência x Eficácia no Manejo da


Irrigação, deve-se inicialmente entender que a Agricultura
Irrigada é diferente da Agricultura de Sequeiro não apenas no
http://www.fao.org/ag/save-and-
insumo água.
grow/cassava/en/3/index.html

Nesse sentido, o Manejo da Irrigação deve pressupor, como condição de contorno para
a Irrigação, a atualização de insumos (cultivares selecionadas, fertilizantes, defensivos),
de parâmetros de cultivo e de práticas culturais (calendário de plantio, programa de
podas, espaçamento, preparo do solo, incluindo plantio direto e mulching, adoção de
quebra-ventos, tipo de aplicação e doses de defensivos e fertilizantes, etc.). Dessa
forma, o irrigante pavimenta uma trilha mais sólida para a eficiência geral do sistema
de produção irrigado.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.45
Para sua reflexão:
Ao sair da Agricultura de Sequeiro para a Agricultura Irrigada, o produtor deverá
testemunhar maior ou menor consumo de fertilizantes?
Ainda sobre essa transição, ele deverá adotar maior espaçamento ou poderá trabalhar
com plantas mais adensadas?
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.46

A água pode implicar em perdas por lixiviação e escoamento superficial. E nesse sentido,
a transição do sequeiro conduz a um maior impacto.
Por outro lado, com a irrigação pode-se obter melhor eficiência do uso de fertilizantes, o
que conduziria a um menor impacto.

O espaçamento deve ser maior se for imaginado que


sob irrigação as plantas devem crescer mais...
Por outro lado, recebendo água via irrigação o sistema
radicular não precisa se expandir tanto... Poderia usar
menores espaçamentos...

Quais as respostas corretas?


Varia de cultura para cultura?
http://smurfs.wikia.com
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.47

Uma das distinções mais importantes ao iniciar a Agricultura Irrigada diz respeito às
cultivares. Obviamente, existem cultivares mais aptas à condição de sequeiro e outras
mais aptas ao cultivo irrigado. Se na transição para a agricultura irrigada, o agricultor
continuar usando as cultivares tradicionais, provavelmente estará renunciando parte
do aumento de produtividade: renunciará parte do lucro!!!

Nesse caso, mesmo que o irrigante produza de maneira eficaz ele não será eficiente.

Iniciar um cultivo irrigado com as sementes ou mudas “inadequadas” é literalmente


começar errando.

Isso é emblemático para demonstrar a necessidade de atualizar o sistema de produção


como um todo antes do manejo da irrigação propriamente dito...

Não basta ser Eficaz, tem de ser Eficiente.

https://origins.osu.edu
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.48

Com isso não se deseja propor o uso de uma ou poucas cultivares, até porque isso seria
mais perigoso que a monocultura em si.
Os aspectos agronômicos da responsabilidade técnica devem vir antes de tudo. Os
princípios da ecologia aplicados à agricultura irrigada não devem se restringir apenas
quando convenientes (certificação, por exemplo) ou quando é necessário remediar um
problema...
Antes de ser qualquer especialista, tem de ser agrônomo...

http://www.clipartof.com
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.49

Manejo da Irrigação x Melhoramento x Transgenia


Fortes empresas produtoras de sementes (Syngenta, Monsanto,
DuPont), para grandes culturas como o milho, estão atualmente
trabalhando com culturas tolerantes/resistentes à seca. Parte dos
projetos envolve organismos geneticamente modificados.
Variedades de milho: Artesian da Syngenta; Genuity da Monsanto; Optimum da
blogs.desmoinesregister.com Pionner.

Qual estratégia de irrigação a adotar para uma


lavoura geneticamente modificada?
Pode facilitar a Irrigação Deficitária (Otimização)?
Deve-se investir na compra dessas sementes apenas
quando a previsão climática indicar?
Qual a nova umidade/tensão crítica? Qual a nova
profundidade efetiva máxima?
O quanto é menor o Kc?
http://www.technologyreview.com
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.50

Situação para reflexão:


Um agricultor decide implantar uma nova gleba de laranjeira ‘Pêra’ em sua
propriedade, irrigada por aspersão convencional. Para isso, decide testar um novo
porta-enxerto do tipo ananicante. Entretanto, após os primeiros anos de produção
decide voltar à combinação da ‘Pêra’ com o limoeiro ‘Cravo’, que é a adotada nas
demais glebas. Independentemente de outras questões (incluindo a fitossanitária), o
sistema de irrigação dimensionado para a ‘Pêra’ sobre o porta-enxerto ananicante
estará bem dimensionado para o limoeiro ‘Cravo’?
O que acontece com a demanda hídrica da copa? A massa
fotossintetizante/transpirante reduz?
O sistema radicular do Cravo é quanto maior que o dos
ananicantes?
Qual a diferença de profundidade efetiva do sistema
radicular e da CTA?
Haverá impacto na CRA, na ETc e no Turno de Rega?
A tolerância ao estresse hídrico é maior no Cravo? A causa
é a profundidade das raízes ou outra característica
morfofisiológica? http://www.citrosuco.com.br
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.51

Situação para reflexão:

A cultura da mandioca sempre foi considerada adequada à Região Nordeste do Brasil e a


outras regiões do mundo em função de sua tolerância ao déficit hídrico. Obviamente,
cultivares exploradas em condição de sequeiro devem externar esse potencial. Por
outro lado, essa aptidão em condições de sequeiro se manifesta em detrimento de
outras potencialidades. Assim, é razoável esperar que essas mesmas cultivares tenham
baixos rendimentos, em relação a outros genótipos, quando exploradas em condições
onde não há déficit hídrico.

Qual a produtividade (t/ha) esperada da


mandioca de sequeiro no Semiárido, no
Recôncavo Baiano e no Sul/Sudeste? E qual
a potencialidade da cultura?

http://www.thehindu.com/news/cities/Tiruchirapalli/drip-irrigation-
gaining-ground-among-farmers/article7148745.ece
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.52

Para quem quer ser mais que ordinário

Leitura do artigo:

Jesus et al. Avaliação agronômica de cultivares e clones de mandioca em área irrigada no Norte
de Minas Gerais. Scientia Agraria Paranaensis, v. 12, n. 3, p.205-210, 2013.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.53

Água como Insumo de Desenvolvimento


Já foi comentado que a água é um dos principais insumos de Desenvolvimento, pois dá
suporte à agricultura, ao crescimento populacional, à expansão industrial, etc.
Mas, ter água só não é o suficiente. É preciso dominar o seu uso racional...
Se isso não fosse real, o Maranhão não seria um dos Estados mais pobres e de menor
IDH do Nordeste/Brasil. E todo Perímetro Irrigado seria um sucesso no Brasil.
A TECNOLOGIA empregada no uso do recurso passa a ser tão ou mais importante que a
própria abundância do recurso. Isso pode ser verificado no caso exitoso da irrigação em
Israel.

... e tão importante quanto o domínio da Tecnologia é a


sua ‘Popularização’. Daí o papel nobre do técnico que
atuará na agricultura irrigada...

Tão ruim quanto a baixa renda per capita para o avanço


da Irrigação é o baixo nível tecnológico por cabeça...
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.54

Ciclo Vicioso da Molhação nos Perímetro Irrigados

A falta de Manejo da Irrigação tem impactos negativos que rapidamente afloram para a
sociedade quando se trata de Perímetros Irrigados, devido à grandeza dos números
envolvidos: volume de água, número de pessoas, área cultivada...
A falta de recursos (financeiros e intelectuais) que impede a adoção de técnicas de
Manejo resulta em Cultivos “Irrigados ou Molhados” que não produzem dinheiro, o que
implica em falta de recursos para investimento em tecnologia de Manejo e
Capacitação, fechando-se um ciclo vicioso.
Esse ciclo vicioso da Ignorância em prol da Pobreza fez muitos Perímetros Irrigados
falharem no passado. E ainda hoje tornam novos investimentos fadados ao insucesso.
Não podemos comprar a idéia de Desenvolvimento Regional a partir da Irrigação se não
houver uma política séria de Capacitação Tecnológica e Intelectual para o Manejo da
Água. Todo o resto é mais do que ‘tentativa e erro’: é fraude, corrupção e maldade
humana.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.55

 Infraestrutura depredada, sem Perímetro Irrigados


manutenção ou obsoleta

 Demanda maior que a disponibilidade


de Recurso Hídrico

 Vulnerabilidade às estiagens

 Falta de capacitação dos irrigantes


https://diariodocariri.com/noticias/ceara/154846/perimetros-
irrigados-sofrem-com-falta-de-agua-e-infraestrutura.html
 Desânimo e Descrédito

 Desvalorização da terra
“... ‘Perímetro Irrigado’ perdeu o sentido,
 Abandono dos lotes já que não há irrigação nos lotes”.
Honório Barbosa
 Descontinuidade dos investimentos
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.56

Perímetro Irrigados
Notícia de 2017 (Lucas Spínola) sobre Perímetro
Irrigado de Brumado

“O perímetro é obra inacabada desde a sua


inauguração e clama pela regularização fundiária,
pelo sistema de pressurização, pela aquisição de
válvulas de controle de pressão e vazão dos
hidrômetros e pela revitalização de sua
infraestrutura.
As condições desfavoráveis em Livramento
provocou a migração do investimento de muitos
produtores para outras cidades. http://www.livramentohoje.com.br/noticias/5693-2017/11/28/
perimetro-irrigado-do-brumado-o-oasis-pode-virar-sertao

Se o Perímetro Irrigado do Brumado já foi oásis,


agora caminha para tornar-se sertão”.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.57

Perímetro Irrigados
Perímetro Irrigado Jaguaribe,
Chapada do Apodi – CE.

Equipamentos de Pivô Central


abandonados e
enferrujados...

Notícia de 2018:
Mais da metade desses
equipamentos e dos lotes
estavam abandonados.

Agravante: crise hídrica

https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/regiao/sem-agua-perimetros-irrigados-agonizam-no-interior-do-estado-1.2003433
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.58

Perímetro Irrigados
Canal de condução de água tomado pelo mato e
em abandono.
Canal de condução de água assoreados e com
vazamentos.
Esses vazamentos geram problemas de
drenagem!!!
https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2019/08/14/canais-de-
irrigacao-estao-abandonados-em-areas-do-nordeste.ghtml

Descontinuidade de investimento
governamental: Goiás; R$ 40 milhões.
Nunca funcionou.
https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2013/03/04/interna_politica,354436/governo-
goiano-gastou-r-40-milhoes-em-sistema-de-irrigacao-que-nunca-funcionou.shtml
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.59

Perímetro Irrigados: Conversão de Sistemas


“Trata-se de uma metodologia implantada há 02 anos e com resultados PRÁTICOS,
visando a conversão de sistemas de irrigação por sulcos, muito perdulários (perdas de
80%), para localizados (perdas de apenas 5%). O trabalho já foi apresentado na Europa e é
referência no assunto em alguns países.” Fundação BB
Superfície (Sulco) Localizada (Gotejamento)
Responsáveis pela tecnologia

Frederico Orlando Calazans


Machado (CODEVASF)

Rodrigo Ribeiro
Franco Vieira (CODEVSAF)

http://tecnologiasocial.fbb.org.br/tecnologiasocial/banco-de-tecnologias-sociais/pesquisar-tecnologias/detalhar-tecnologia-56.htm
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.60

A Eficiência de Israel
Em relação ao Brasil, Israel é um país pequeno: 20.770 km2 (3,7 % da área da Bahia)
O Mar da Galiléia (principal recurso hídrico) é um como um açude no Brasil: pouco maior que a
barragem de Pedra do Cavalo
O bíblico Rio Jordão é como um riachão discreto no Brasil: profundidade de 5,2 m e largura de
18,3 m
Mas, Israel é um exemplo de agricultura irrigada para exportação de produtos de alta
rentabilidade. Faz irrigação em um deserto (Arava) onde chove cerca de 20 – 30 mm/ano. Faz
uso racional de águas residuárias. Faz dessalinização. Sabe explorar águas subterrâneas sob
dunas áridas. Irriga no solo e em cultivos sem solo.

Vejam o vídeo:
http://www.youtube.com/watch?v=JW0sVATocQ8

https://portalbiossistemas.wordpress.com/2012/12/11/irrigacao-israelense/irrigacao2/
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.61

Exercício Proposto: Voltando ao assunto “atualização de parâmetros” necessária à


transição para uma agricultura irrigada e eficiente:
Como é levantada a profundidade efetiva do sistema radicular, a ser empregada no
dimensionamento de sistemas de irrigação: em plantios irrigados (onde as raízes
tendem a ser mais superficiais), o que seria coerente, ou em plantios de sequeiro?
As “Tabelas” encontradas nos livros trazem dados oriundos de sistemas irrigados, de
sequeiro, ou de ambos? O quanto elas são atualizadas?
Qual o impacto no dimensionamento de um sistema de irrigação quando adotamos
uma profundidade efetiva levantada em condição de sequeiro?
Faça uma pesquisa sobre uma cultura de interesse, expondo o valor tabelado para
profundidade efetiva (citar referência) e os valores indicados por pesquisas científicas
conduzidas no Brasil (citar referência, cultivar, tipo de solo, sistema de irrigação, etc.).

https://apps1.cdfa.ca.gov/FertilizerResearch/docs/Corn.html
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.62

Abordagem econômica da Irrigação x Molhação


Enquanto prática agrícola, que gera custos extras ao sistema de produção, a técnica da
Irrigação precisa ser economicamente justificável. O problema é que muitas vezes o
agricultor (e/ou o consultor) não emprega metodologias corretas para prever a viabilidade
do projeto. Por exemplo: Até recentemente existia uma dúvida persistente sobre a viabilidade da
irrigação nas culturas da cana-de-açúcar e dos citros em São Paulo, onde se pratica a irrigação
suplementar.
Sistema de irrigação não é objeto de embelezamento de paisagem. O objetivo agronômico
do sistema é produzir dinheiro! Mas, não a qualquer custo...
É preciso produzir dinheiro de forma sustentável para que a produção de dinheiro seja
contínua no tempo e responsável no meio...

Nesse contexto, agronomicamente, a ‘economia’ e a


‘conservação ambiental’ têm o mesmo propósito:
preservar o sistema de produção e sua vida útil, de
forma que a intervenção no meio (agricultura irrigada)
gere o menor nível possível de impactos sobre os
recursos naturais... http://blogs.telegraph.co.uk
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.63

A adoção de técnicas de manejo da irrigação tem forte impacto econômico, por:

Aumentar a produtividade e a qualidade do produto, incrementando a receita líquida


e a lucratividade do empreendimento;
Aumentar a eficiência do uso da água e permitir a economia de água (que deve ter
valor) e a ampliação da área cultivada;
Elevar a eficiência do uso de defensivos, de fertilizantes e do conjunto motobomba,
reduzindo assim os custos variáveis e também a poluição e sua remediação futura (que
envolve custos);
Reduzir os custos de mão-de-obra ao evitar operações desnecessárias, excesso de
reparação e retrabalho;
Permitir o controle da água aplicada, evoluindo o objetivo da produção não para a
produtividade máxima, mas sim para a otimização do lucro;
Majorar a previsibilidade da produtividade da cultura.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.64

Infelizmente, muitos sistemas de irrigação são adquiridos sem a avaliação econômica


de sua viabilidade. E nesse caso, o produtor terá tanto mais prejuízo quanto menos
afastado estiver do Manejo racional da água.
Mesmo grandes projetos, de grandes empresas, passam por esse tipo de problema.

Em muitas oportunidades, ao degradarem sua área irrigada, os agricultores ou grupo de


investidores passam para novas áreas, deixando para trás um rastro negativo atribuído
à agricultura irrigada. Isso acontece em diferentes escalas de investimento.

Mesmo quando o ramo da agricultura é mais avançado


ocorre esse tipo de problema: na Região Sudeste há
relatos de produtores que salinizaram o solo sob
ambiente protegido e adotaram esse tipo de fuga.

http://www.sharepick.com
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.65

Você arrendaria suas terras para agricultores que não têm capacidade para manejar
seus sistemas de irrigação? Para esse mesmo grupo, as taxas de seguro rural devem ser
as mesmas?
Os riscos de salinização, de sodificação, de levantamento e rebaixamento excessivo do
lençol freático com risco de intrusão marinha, por exemplo, de erosão hídrica, de
contaminação de águas receptoras, etc., deveriam fazer parte de um estudo prévio
antes da concessão de terras para irrigação...

A Embrapa tem uma excelente iniciativa, de


aplicação geral, que pode ser o primeiro passo
para orientação dos novos projetos. Trata-se do
SiBCTI: Sistema Brasileiro de Classificação de
Terras para Irrigação.

Endereço do software:
http://aplic1.uep.cnps.embrapa.br/sibcti/
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.66

Cada cultura exige uma abordagem customizada quanto ao viés econômico do manejo
da irrigação.

Talvez seja fácil entender a questão com a seguinte discussão:


Culturas anuais como o milho geralmente são manejadas na irrigação visando a
máxima produtividade em termos de número de espigas ou maior forragem. Nesse
caso, a lâmina de irrigação é aquela que maximiza a produção.

Já a cultura do fumo tipo exportação tem como produto comercial a folhagem. Se


direcionarmos seu manejo de forma tradicional apenas focando na quantidade de
folhas, podemos perder a qualidade das folhas (queima, aroma, etc.), o que implica em
menor preço. Então, a lâmina desejada para esse tipo de fumo é aquela que otimiza o
conjunto quantidade-qualidade e não necessariamente aquela que maximiza a
produção quantitativa. Essa lâmina ótima provavelmente é menor que a lâmina
equivalente à máxima produtividade...
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.67

Conclusão para o exemplo: A Lâmina Ótima para o Fumo é menor que a Lâmina que
maximiza a Produção.

A empresa DANCO, em nossa região, teve sensibilidade para compreender essa


questão. Obviamente, o refinamento no manejo da irrigação para o fumo produzido
pela empresa é questão de ‘segredo industrial’.

Visita técnica UFRB/DANCO em 2012


CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.68

Para quem quer ser mais que ordinário

Uma referência muito didática para estudos de análise de viabilidade econômica e


planejamento econômico de sistemas de irrigação é o livro:

FRIZZONE, J. A.; ANDRADE JÚNIOR, A. S.; SOUZA, J. L. M.;


ZOCOLER, J. L. Planejamento de irrigação: análise de decisão
de investimento. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica,
2005. 626p.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.69

Para quem quer ser mais que ordinário

A Lâmina que Maximiza o Lucro (Otimização Econômica) para qualquer cultura


(incluindo milho ou feijão) normalmente é inferior à Lâmina que Maximiza a
Produtividade.

Essa é a base da chamada Irrigação Deficitária: nesse caso, aplicar menos água
representará menores produtividade e Receita Bruta, mas, ao mesmo tempo, deve
resultar em menor Custo de Produção. Portanto, existe uma Lâmina Ótima reduzida
que maximiza o Lucro (Receita Bruta – Custo Total).
Infelizmente, esse tema que parece tão atrativo à gestão empresarial é pouco adotado
na prática. A razão para isso é a visão tradicional do agricultor e seu receio ao risco
decorrente do uso de Lâminas Inferiores.

Sugestão de Leitura: FRIZZONE, J. A.; ANDRADE JÚNIOR, A. S.; SOUZA, J. L. M.; ZOCOLER, J. L.
Planejamento de irrigação: análise de decisão de investimento. Brasília: Embrapa Informação
Tecnológica, 2005. 626p.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.70

Proposta de Exercício:

Demonstre graficamente, usando o Microsoft Excel, que a Lâmina Ótima Econômica


(W*, que gera a maior Receita Líquida) é inferior à Lâmina que Maximiza a
Produtividade (Wm).

Considere a função de produção esperada para a cultura do feijoeiro, Frizzone et al.


(2005).
Y = –624,123 + 10,187W – 0,00849W2
E que a Lâmina Ótima Econômica seja 544 mm, conforme os autores.

Faça um gráfico apresentando a resposta de produção (para lâminas entre 0 e 700 mm)
e indique com linhas verticais Wm e W*.

Lembre-se: o valor máximo ou mínimo da função é obtido derivando a equação e


igualando a zero...
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.71

Para quem quer ser mais que ordinário

No caso de funções de produção (água aplicada x produtividade) que sigam modelos


polinomiais de segundo grau (quadráticos), a lâmina ótima W* pode ser obtida
fazendo:

Y = aW2 + bW + c >>>>>>>>> Y’ = 2aW + b


Nesse sentido verifique se a lâmina ótima indicada no exercício anterior está coerente.

Proposta de Exercício:

Em relação ao exercício anterior com a cultura do feijoeiro, qual o volume economizado


caso o irrigante deixe de aplicar a lâmina que maximiza a produtividade e passe a usar
a lâmina ótima?
Considere que a área irrigada seja de 17 ha.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.72

Manejo x Impacto Macroeconômico

Muitas vezes a negligência ao Manejo racional da Irrigação parece remeter a prejuízos


apenas ao agricultor e à saúde financeira de sua propriedade. Esse tipo de percepção
deve ser reformada, sobretudo pelos construtores de políticas públicas e técnicos
responsáveis/responsabilizáveis. A falta de manejo de uma propriedade pode ter
impactos negativos para além da porteira. Deve-se entender que as ‘desgraças’ da
molhação não respeitam as cercas da propriedade.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.73

Manejo x Impacto Macroeconômico


Alguns impactos são muito perceptíveis e pode-se apontar para o vizinho que
realmente o causa: por exemplo, a deriva eólica de água residuária com forte odor e
contaminantes que prejudicam a vizinhança.

Mas, o que falar de um vizinho que, por exemplo, pratica molhação duas vezes por dia
na produção de hortaliças, sem qualquer controle de lâmina, baseando-se apenas no
encerramento da irrigação quando “sente” que o solo está molhado? As lâminas
excessivas podem carrear os defensivos e fertilizantes para as águas receptoras. Podem
também levar ao esgotamento das reservas hídricas locais, dificultando as demais
atividades (turismo, indústria, geração hidroelétrica, etc.) e o abastecimento
doméstico.

Muitas vezes o impacto é parcimonioso, porco perceptível e silencioso, especialmente


sobre as reservas subterrâneas...
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.74

Exemplo de aplicação de estrume líquido aplicado via autopropelido e pivô central em


Wisconsin – USA. O mau cheiro (amônia) e a disseminação de patógenos (risco
associado desde simples doenças respiratórias até doenças resistentes a antibióticos)
são problemas enfrentados pela vizinhança.

http://wisconsinwatch.org/2014/04/manure-spraying-under-scrutiny/
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.75

A depender do “tamanho do vizinho/sistema”, o impacto pode não ser apenas na


comunidade local. Pode ser regional. E, obviamente, quando se tem aglutinações de
produtores que operam sem técnica o impacto negativo toma proporções significativas
contra o desenvolvimento econômico regional.
O impacto pode ser inclusive transnacional. Por exemplo: a irrigação excessiva pode ser
uma das causas de arrastamento de sais fertilizantes para os oceanos, levando à
eutrofização das águas, com impactos na oxigenação, na vida marinha e na economia
dos pescadores. É o que ocorre na chamada Zona Morta do Golfo do México entre os
Estados Unidos e o México.

Para quem quer ser mais que ordinário

Leitura:
http://education.nationalgeographic.com/education/encyclopedia/dead-zone/?ar_a=1
http://news.stanford.edu/news/2005/march16/gulf-030905.html

http://education.nationalgeographic.com/education/
encyclopedia/dead-zone/?ar_a=1
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.76

Manejo x Águas Transfronteiriças: impacto local e política global

Talvez hoje os conflitos (políticos e eventualmente armados) entre nações pelo uso de
águas que compartilham possa ser um tema distante dos brasileiros.
Exemplo: o aqüífero Guarani, um dos maiores do mundo, é um aqüífero transnacional,
sendo compartilhado por Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Esses países possuem
uma convivência pacífica e o elevado volume de água do Guarani são pontos que
pacificam a exploração conjunta. Estados Unidos, Canadá e México também são
exemplos que seguem na mesma linha.
Mas, em outras partes do mundo, como entre Israel e a Jordânia, a água é elemento
fundamental no centro de conflitos em potencial, mesmo quando há tratados/acordos
já selados...
Esse risco à paz é tão sério que a ONU tem vasto trabalho na área:
http://www.un.org/waterforlifedecade/transboundary_waters.shtml
http://www.isarm.org/publications/324

Mas, como isso tudo passa pelo Manejo da Irrigação?


CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.77

CURIOSIDADE: “Em 1964, o governo da Síria tentou construir um "Plano de Desvio" que teria
bloqueado o fluxo de água para o mar da Galileia, reduzindo drasticamente o volume do lago. Este
projeto e a tentativa de Israel de bloquear esses esforços em 1965 foram fatores que aumentaram as
tensões regionais e que culminaram na Guerra dos Seis Dias, em 1967. Durante a guerra, Israel
capturou as colinas de Golã, que contêm algumas das fontes de água do mar da Galileia. Cerca de
400 milhões de metros cúbicos de água é bombeada no Sistema Nacional de Águas anualmente. Nos
termos do tratado de paz entre Israel e Jordânia, o governo israelense também fornece 50 milhões de
metros cúbicos (1,8 × 109 pés cúbicos) de água por ano aos jordanianos. O aumento da procura de
água e invernos secos resultaram em uma pressão extra sobre o lago, o que diminuiu para níveis
perigosamente baixos o nível da água. O mar da Galileia está em risco de se tornar irreversivelmente
salinizado pelas nascentes de água salgada sob o lago, que são contidas apenas pelo peso da água
doce em cima delas. O governo israelense monitora os níveis de água e publica os resultados
diariamente na internet. O registro do nível ao longo dos últimos oito anos pode ser acompanhado.
No início de 2013, o nível da água do lago estava no ponto mais alto em oito anos. A Autoridade da
Água, em parte, atribuiu o resultado à melhoria da expansão da tecnologia de dessalinização como
uma fonte de água para a população.” https://pt.wikipedia.org/wiki/Mar_da_Galileia

O Mar da Galiléia na verdade é um lago de água doce...


CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.78

Imagine quatro países quaisquer que compartilham águas da mesma bacia hidrográfica.
O curso natural da água na bacia é abastecer, por uma rede de rios, o país A e depois o
B, onde as águas se concentram num lago. Do lago, fronteira natural para os quatro
países, o excesso de água segue para o oceano, mas a maior parte infiltra para
abastecer um aqüífero subterrâneo que abastece concomitantemente os países C e D.

Imagine ainda que todos esses países têm forte vocação agrícola e adotam amplamente
a irrigação. Mas, de todos os países apenas o C tem propriedades capacitadas e
outorgadas a operarem sistemas de irrigação, o que foi possível graças à intervenção
do governo que criou um órgão exclusivo para esse fim. Nos demais países não há
ações de cobrança/incentivo ao manejo.

Até que ponto o país C atuaria apenas diplomaticamente ao ver os recursos hídricos
contaminados e esgotados, com impacto decisivo sobre sua capacidade de produção de
alimentos para abastecimento interno e para exportações agrícolas, sua principal fonte
de renda? O que esperar dos seres humanos nesse tipo de cenário, cada vez mais atual?
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.79

Em qualquer esfera, local, regional, nacional ou transnacional, o comprometimento da


quantidade e/ou da qualidade da água conduz ao comprometimento da capacidade de
Desenvolvimento. A água é um dos principais insumos de Desenvolvimento Humano.
Sua escassez diminui a atratividade para o empreendedor, reduz a capacidade de
geração de capital pela agricultura, prejudica a industrialização e a criação ou
manutenção de empregos, tende a diminuir a dignidade humana, etc.

Exercício Proposto:
Cite 3 artigos, teses ou reportagens que apresentem problemas de conflitos:
a) Entre irrigantes e outras atividades
b) Em relação às águas transnacionais
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.80

Manejo da Irrigação x Competência Profissional


Enquanto agrônomos, e se não escolhermos a engenharia de irrigação para atuar,
dificilmente teremos muitas atividades de dimensionamento hidráulico de sistemas,
mas, muito provavelmente, seremos desafiados e cobrados na nossa vida profissional a
manejarmos sistemas de irrigação e a orientarmos/ensinarmos outros técnicos e
operários nesse tema.
Não dá para acreditar que ao ser contratado para uma determinada atividade
(caprinocultura, por exemplo), a empresa contratante designará outro profissional, que
não você, para manejar o sistema de irrigação que está disponível (para produção de
forragem irrigada, por exemplo).
Você pode até não gostar de Irrigação, mas isso faz parte das competências do
agrônomo e você precisa estar capacitado, pois certamente, será desafiado e cobrado.
http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rces01_06.pdf
http://normativos.confea.org.br/ementas/visualiza.asp?idEmenta=266
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.81

Manejo x Pesquisa-Ensino-Extensão-Serviço

Atualmente, o Manejo da Irrigação vem superando a Engenharia da Irrigação no


número de pesquisas e na formação direcionada dos técnicos e estudantes de
Graduação e Pós-Graduação. Talvez porque no enfoque da Engenharia as ferramentas
de dimensionamento ficaram mais acessíveis e boa parte do desenvolvimento
tecnológico de produtos foi assumida pelas empresas do setor.

Mas, ainda assim, com toda ênfase ao enfoque do Manejo, testemunha-se graves
problemas de falta de manejo em projetos públicos e privados, de grande ou pequeno
porte. Falta uma política de extensão de apoio aos irrigantes. Por outro lado, a área de
atuação está aberta para a atuação e remuneração de profissionais capacitados.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.82

Exemplo da Espanha na capacitação e assistência aos irrigantes

Ortega et al. Improving water management: The irrigation advisory


service of Castilla-La Mancha (Spain). Agricultural Water
Management, V.77, n.1–3, p.37-58. 2005.

Lorite et al. Assessment of the Irrigation Advisory Services’


Recommendations and Farmers’ Irrigation Management: A Case
Study in Southern Spain. Water Resources Management, v.26, n.8,
p.2397-2419. 2012

Exemplo dos EUA:


Soil Conservation Service dos USDA
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.83

Sempre é possível Melhorar o que parece Bom


Relato pessoal sobre uma empresa modelo de produção de mudas certificadas de citros:
A empresa tem elevado padrão de qualidade e é reconhecida por ter rígido controle de
qualidade das mudas. A certificação passa por uma série de itens, uso de ambiente
protegido, uso de água de boa qualidade, isolamento da propriedade, etc.
A empresa atende a todos os itens solicitados para certificação, mas tinha um ponto
potencial de vulnerabilidade: o manejo da aplicação de água. Esse item atualmente não é
claramente exigido para certificação, mas seu impacto traria mais reforço à imagem da
empresa e evitaria perdas/processos futuros.
Na empresa, a aplicação de água para as mudas era feita com Foto ilustrativa
chuveiros inseridos em mangueiras (como na foto meramente
ilustrativa ao lado). Um operário passava pelas bancadas
direcionando o chuveiro para as plantas, conforme o critério:
se o dia estava quente ou as mudas precisam de mais água, o
operário caminhava devagar; se não, andava mais depressa.
Ou seja, apesar de inteligível, o procedimento não era
adequado: testemunhava-se uma grande perda de água e
nutrientes. http://www.seagri.ba.gov.br
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Manejo da Irrigação x Boas Práticas Agrícolas x Certificação


O uso irracional da Irrigação definitivamente afasta o irrigante dos benefícios de
programas de certificação, como a Produção Integrada de Frutas.
Esse tipo de programa pressupõe as chamadas Boas Práticas Agrícolas, que, em síntese
visam a obtenção de produtos mais saudáveis e o uso mais eficiente de recursos
naturais e o controle do impacto poluidor/degradador da agricultura. São uma forma
do cliente exigir que os produtores sejam mais responsáveis em sua atividade. Nesse
caso, o produtor é auditado com certa frequência. São exigências comuns: Assegurar o
uso de água de irrigação mediante outorga; Controlar a quantidade de água aplicada;
Administrar a quantidade em função do balanço hídrico, capacidade de retenção do
solo e da demanda da cultura; Monitorar o teor de sais e a presença de substâncias
poluentes na água de irrigação.

Para relembrar:
Elementos de Apoio para as Boas Práticas Agrícolas e o Sistema APPCC / PAS Campo. – 2.ed. rev.,
atual. – Brasília, DF : Embrapa, 2006. 204 p. (Série Qualidade e segurança dos alimentos)

http://www.infoteca.cnptia.embrapa.br/bitstream/doc/118534/1/BOASPRATICASAGRICElementosdeapoioparaasBPAeosistemaAPPCC.pdf
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.85

Exercício Proposto: Se você recebesse do Ministério da Agricultura, Pecuária e


Abastecimento a incumbência técnica de revisar as exigências para Produção Integrada
de Frutas, apenas no que diz respeito à Irrigação, o que você recomendaria?

Pode escolher pelo menos duas culturas no site no INMETRO e fazer uma avaliação
crítica das exigências atuais. Conclua sua análise determinando se as exigências são
suficientes ou “tímidas”.

http://www.inmetro.gov.br/credenciamento/organismos/pif.asp
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.86

Para quem quer ser mais que ordinário

Good Agricultural Practices – a


working concept. Background paper
for the FAO Internal Workshop on
Good Agricultural Practices
http://www.fao.org/prods/gap/docs/pdf/5-
gapworkingconceptpaperexternal.pdf

GLOBAL GAP
Guidelines for implementing INTEGRATED FARM ASSURANCE
EUREPGAP for Australian fresh ALL FARM BASE | CROPS BASE |
fruit and vegetable producers FRUIT AND VEGETABLES
http://www.daff.gov.au/ http://www.globalgap.org/export/sites/
SiteCollectionDocuments/ag-food/ default/.content/.galleries/documents/
publications/rpi-pubs/rdc-outcomes/ 130315_gg_ifa_cpcc_af_cb_fv_v4_0-
eurepgap_guidelines.pdf 2_en.pdf
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.87

Curiosidade:
Para melhorar a qualidade fitossanitária da água de irrigação, ao invés de captar
diretamente do rio contaminado, poderia abrir um poço às margens do rio (pouca
profundidade), o que melhoraria a qualidade da água, pois a água infiltrada passa por
depuração... Obviamente o custo do bombeamento subterrâneo deveria ser inferior ao
do tratamento da água superficial.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.88

Exercício Proposto: Faça um contraponto das recomendações/proibições da EUREP-GAP


com a Irrigação/Molhação praticada na propriedade que você mais tem proximidade.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.89

Exercício Proposto:
Atualmente muito se tem valorizado os princípios da Agroecologia.
Em recentes concursos de diferentes instituições nacionais se tem
testemunhado como ‘ponto de avaliação’ o tema: Recursos Hídricos
em Sistemas Agroecológicos.
Se você estivesse em um desses concursos como abordaria as
“eventuais diferenças” do Manejo da Irrigação voltado à agricultura
www.diariodanoticia.com
convencional em relação ao voltado à agroecologia?

http://www.agroecologia.usach.cl/especialidad-en-agroecologia-y-agricultura-organica
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.90

Manejo x Certificação da Irrigação

Antes falamos de Irrigação no contexto da certificação de produtos. Agora trataremos


da Certificação de Projetos de Irrigação...

A Lei Nº 12.787, de 11 de janeiro de 2013, pressupõe como instrumento da Política Nacional de
Irrigação, a Certificação dos Projetos de Irrigação. Sobre essa certificação, o texto traz:

Art. 19.  Os projetos públicos e privados de irrigação e as unidades parcelares de Projetos Públicos de
Irrigação poderão obter certificação quanto ao uso racional dos recursos hídricos disponíveis, incluindo os
aspectos quantitativos e qualitativos associados à água e à tecnologia de irrigação. 
§ 1o  O Poder Executivo federal definirá o órgão público responsável pela certificação e disporá sobre
normas, procedimentos e requisitos a serem observados na certificação e no credenciamento de entidades e
profissionais certificadores, além da forma e periodicidade mínima de monitoramento e fiscalização dos
projetos de irrigação. 
§ 2o  As unidades parcelares e projetos de irrigação certificados poderão obter benefícios, nos termos da lei. 

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12787.htm
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.91

Proposta de Exercício

a) Faça uma pesquisa sobre a Política Nacional de Irrigação, prevista na Lei 12.787, e
discuta o papel do Manejo da Irrigação para que os objetivos da lei sejam alcançados.
b) Considerando que no Brasil existe a cultura medonha das leis que pegam e não
pegam, faça uma análise crítica dessa lei no que diz respeito à Certificação que deve
haver em benefício dos projetos de irrigação. Discutir se isso foi implementado.
c) Quais os benefícios da certificação de projetos de irrigação para o agricultor?

Sugestão inicial de busca:

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12787.htm

http://www.integracao.gov.br/c/document_library/get_file?uuid=5516ad79-3f9e-41a4-9cee-
7572e3b07e9b&groupId=10157
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.92

Lamentável: Algumas vezes ao participarmos de eventos da área de agricultura irrigada


somos conduzidos às visitas técnicas em ‘propriedades modelos’, que a rigor não têm
qualquer proposta de manejo, ou seja, não são exemplo. Trata-se de um equívoco dos
organizadores, mas também é uma constatação do quanto precisamos avançar.

Por outro lado, temos no Brasil um exemplo bastante positivo de auxílio à


popularização da Irrigação. Trata-se do trabalho conduzido pelo Prof. Tangerino Braz
Tangerino Hernandez, da UNESP de Ilha Solteira-SP. Essa liderança aborda o tema em
vários canais de mídia: Blog, Facebook, Youtube, Podcast, Lista de Discussão, etc.

Para quem quer ser mais que ordinário

Visite a página: http://www.agr.feis.unesp.br/irrigacao.php


CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.93

Proposta de Exercício:

Você foi contratado por uma empresa que trabalha com uma dada cultura, que, no
estádio atual, tem um custo total relacionado à água (custo de bombeamento da água
e custo da água) de R$ 0,60/m3. A empresa tem um único pivô central de 567m de raio.
Nesse estádio a cultura tem uma demanda média de 5 mm/dia, numa região semiárida
onde não se pode contar com as chuvas.
Sem adotar uma técnica de manejo a empresa “acredita” que a necessidade da cultura
é 7mm/dia (valor que tirou do projeto agronômico do projetista do sistema). Também
do projeto agronômico do projetista a empresa vem adotando, sistematicamente, uma
eficiência de 90%, mas, você determinou, em seu primeiro dia de trabalho, que a
eficiência real é 81%.

Pergunta-se: em apenas um ciclo, qual a economia de água e de capital para a empresa,


após sua consultoria? Se você cobrar 10% dessa economia, quanto você embolsaria
apenas nessa empresa?
heleniswriting.wordpress.com CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.94

Atenção:

Apesar da maior dificuldade relatada pelos estudantes, sobretudo por aqueles que não
têm afinidade pelas disciplinas da área de engenharia, a Fase de Dimensionamento
Hidráulico é mais lógica, exata e, por isso, mais inteligível e fácil do que o
Dimensionamento Agronômico...
Isso porque no Dimensionamento Agronômico várias variáveis de natureza biológica
trazem mais subjetividade ao estudo; além disso, existe maior dificuldade em levantar
dados atualizados compatíveis com as novas cultivares, novas técnicas e sistemas de
produção. A variabilidade espacial do solo e a falta de séries climáticas confiáveis são
outros importantes fatores complicadores.

Já na Fase do Manejo da Irrigação, a dificuldade torna-se ainda maior, pois além de ser
o momento de checagem do que foi planejado no Dimensionamento, agrega a
responsabilidade de ajustar seus equívocos e as demais eventualidades que são
próprias da agricultura.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.95

Exemplos de problemas no relacionamento


Dimensionamento x Manejo:
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.96

Exemplos de problemas no relacionamento


Dimensionamento x Manejo:
- O uso de uma metodologia errada para levantamento da ET0 histórica pode subestimar
ou superestimar a ET0. “Usar uma equação de ET0 não apropriada para o tipo de clima”.
- O uso de valores de Kc que não são adequados para a cultivar/solo/sistema de
produção também pode subestimar ou superestimar a ET0.
- A caracterização incorreta da retenção da água no solo (CC, PMP, Umidade Crítica)
pode subestimar ou superestimar a CRA.
- A profundidade efetiva do sistema radicular (Z) quando limitada por uma camada
adensada de solo (não prevista no projeto) diminui o volume de solo explorado (menor
CRA).
Obviamente as subestimativas de ET0 e CRA na Fase de Dimensionamento são piores
que as superestimativas, pois ‘gerarão’ sistemas incapazes de fornecer a Lâmina Líquida
Máxima. Já as superestimativas ‘gerarão’ sistemas mais caros...
Caberá ao Manejo da Irrigação mitigar esses erros... Uma forma de compensação é fazer
irrigações mais frequentes... Obviamente, isso tem limitações em sistemas com número
de unidades operacionais limitado por turno de rega fixado previamente.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.97

Proposta de Exercício: Questões Judiciais x Evapotranspiração

No Semiárido Baiano, você é um dos especialistas mais respeitados em recursos


hídricos/irrigação. Em função disso, o juiz de sua cidade faz sua convocação para que
seu parecer técnico seja balizador do seguinte processo judicial: Uma empresa vendeu
um sistema de irrigação de última geração, de 100 ha, todo dimensionado
considerando uma evapotranspiração de referência de 5,4 mm/dia. O cliente já pagou
todo o sistema, mas, após contratar um agrônomo para cuidar do empreendimento,
incluindo manejo da irrigação, tomou conhecimento que no futuro o sistema poderá
não atender à demanda máxima projetada para a cultura, recalculada com base numa
evapotranspiração de referência de 7,1 mm/dia. Enquanto o agrônomo usou a equação
de Hargreaves-Samani, a empresa projetista empregou a equação de Thornthwaite.
Por se sentir lesado, o cliente pede indenização. Por outro lado, a
empresa também pede retratação e reparo indenizatório, por danos
morais, pois o agrônomo expôs o problema para outros clientes,
prejudicando a imagem da empresa recém-chegada ao mercado
local... Justifique tecnicamente em seu parecer quem deve ter razão.
http://www.telegraph.co.uk
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.98

Ainda em relação ao solo:


Como já discutido as umidades na CC e no PMP estão sujeitas a erros de levantamento,
sobretudo a CC, já que o PMP parametrizado deve sofrer menos com o dinamismo
natural do sistema agrícola. A zona das altas tensões é menos sensível aos erros: é
possível, inclusive, avaliar o PMP a partir de amostras deformadas.
Então, pensemos: Foi feito um levantamento da CC na fase de dimensionamento
agronômico. Isso foi conduzido com rigor, adotando-se várias repetições na medida.
Teoricamente, o valor de CC foi bem levantado.
Portanto, levar esse valor de CC para o Manejo é correto. Entretanto, à medida que o
solo é arado, gradeado, umedecido e reumedecido pelas chuvas e irrigações,
compactado e descompactado pelo tráfego de máquinas, sua estrutura se altera,
modificando-se sua proporção de macro e microporos, o que tem impacto direto na CC.
O crescimento e morte de raízes, a incorporação ou perda de matéria orgânica,
também alteram a agregação das partículas do solo.
Por essa razão, o Manejo da Irrigação deve ser conduzido com levantamento periódico
das características físico-hídricas do solo.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.99

Capacidade de Campo
Muitos livros relacionam a umidade na CC às tensões de 10 a 30 kPa, em função da
textura variando de arenosa a argilosa.
Por outro lado, quando se analisam as condições reais e os valores de CC obtidos na
maioria dos solos do Brasil, observa-se que:
A CC varia de 2 a 8 kPa.

Vejamos a publicação sobre uva irrigada:

https://www.embrapa.br/busca-de-publicacoes/-/publicacao/1048522/
limites-de-tensao-da-agua-no-solo-para-a-producao-de-uvas-de-mesa
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.100

Curva de Retenção x Dimensionamento e Manejo


É preciso fazer a curva de retenção completa, para fins de Dimensionamento? E para
fins de Manejo?
A rigor, para fins de irrigação a CTA é menos importante que a CRA ou a CAA...

Na fase de Dimensionamento usamos a Na fase de Manejo, a umidade atual deve


CTA para chegar na CRA. Mas, sempre estar acima da umidade crítica,
alternativamente, podemos encontrar a portanto, a Capacidade Atual de Água
CRA a partir da umidade crítica. (CAA) deve sempre estar nas
Eq. Baseada no fator de depleção proximidades da CRA e nunca tendendo à
Eq. Baseada na umidade crítica CTA.

Uma questão extra seria a CRA em plantas cultivadas em substrato e/ou em vasos:
nesse caso, a CRA tem como paralelo a AFD parametrizada em limites mais rigorosos...
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.101

Então, por que fazer a curva de retenção completa?

Para se ter uma equação que permita transformar qualquer tensão em umidade,
dentro da faixa de tensão entre a Capacidade de Campo e as proximidades da
Umidade Crítica. Essa é a base do Manejo via tensiometria.

Como obter esse tipo de equação?


Quais os modelos usuais para essas
equações?
Entre esses dois pontos existe linearidade?

Não há linearidade entre esses pontos.


Portanto, usar ‘regra de três’ não é
correto.
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.102

Manejo x Depleção da Eficiência do Sistema de Irrigação


Na Fase do Planejamento (Dimensionamentos Agronômico e Hidráulico), assume-se
(adota-se) um dado nível de Eficiência do Sistema desejada, em função da nossa
expectativa para um dado tipo de emissor, topografia, textura de solo, etc...
Essa Eficiência arbitrada não necessariamente será a Eficiência real do Sistema no
momento em que esse chega no campo... E mesmo que no início a Eficiência real do
Sistema seja igual à Eficiência projetada, com o tempo, com o ‘envelhecimento’ do
sistema, torna-se normalmente menor...
A eficiência do sistema de irrigação é como um carro. O valor é depreciado no momento que sai da
concessionária (projeto) para a casa do proprietário (campo). Por si só, dificilmente valoriza, quase
sempre deprecia. Mas, o zelo do dono (Manejo do equipamento e dos insumos) faz toda diferença
para a velocidade de depreciação física.

Como a Lâmina Bruta é calculada em cima da Eficiência, ao longo da vida útil do


sistema sua Eficiência real deve ser periodicamente levantada/atualizada para o
Manejo da Irrigação...
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.103

Proposta de Exercício:

Para o cálculo das Lâminas Brutas na fase de Manejo da Irrigação, por que é incorreto
adotar a mesma Eficiência do Sistema usada na fase de Dimensionamento? Justifique
tecnicamente sua resposta.

Proposta de Exercício:

Com que frequência a Eficiência real do


sistema de irrigação deve ser avaliada?
Responda com base numa revisão de https://extension.uga.edu/publications/detail.html?
number=C911&title=Evaluating%20and%20Interpreting
literatura. %20Application%20Uniformity%20of%20Center
%20Pivot%20Irrigation%20Systems
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.104

Manejo x Eficiência do Sistema de Irrigação


Pensemos agora em outra situação:
O projetista adotou uma Eficiência do Sistema de 90% (desejado).
Mas, no teste de campo a Eficiência do Sistema é de 95% (realidade).

Se o irrigante usar o dado de projeto, que é mais conservador, estaria cometendo erro?

Ao abdicar de usar o valor correto da Eficiência, o irrigante vai calcular uma Lâmina
Bruta superior à necessidade real. Assim, suas Lâminas geraram mais perdas de água,
justamente porque seu Sistema é Mais Eficiente.

Parece contraditório? Faça a conta...

Outra coisa: A Lâmina Bruta maior demanda maior Tempo de Irrigação e maior
Consumo de Energia ($$$).
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.105

Qualidade da Água e Salinidade do Solo x Ajustes do Manejo


É outro exemplo de erro a ser ajustado no Manejo...

Não avaliar a qualidade da água e/ou não determinar o grau de salinidade do solo é um
erro primário, que nunca deveria ser cometido ao se gastar dinheiro para implantar
sistemas de irrigação.

Quando isso acontece, algumas das medidas preconizadas para controlar a salinização
são:
uso de fração de lixiviação
aumento da frequência de irrigação

Ambas passam por alterações na Hidráulica do sistema e/ou no Manejo.

Caberá ao Manejo ajustar o turno de rega, definir a lâmina excessiva, a frequência de


emprego dessa lâmina, além de monitorar e controlar o impacto ambiental da elevação
e contaminação do lençol freático...
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.106

Qualidade da Água e Salinidade do Solo x Ajustes do Manejo

Lâmina Bruta Sem impor Fração de Lixiviação

Lâmina Bruta com Fração de Lixiviação

Equação usada para Sistemas


Convencionais

Equação usada para Sistemas de


Alta Frequência de Irrigação
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.107

Qualidade da Água e Salinidade do Solo x Ajustes do Manejo

O que representa em termos de lâmina extra e potência


demandada extra a descoberta de que a água de
irrigação tem 1,3 dS/m, sabendo-se que a cultura
(amendoimzeiro) será irrigada por gotejamento e
tolerância no máximo 3,2 dS/m de salinidade medida no
extrato de saturação do solo?

https://www.ufrb.edu.br/pgea/images/documentos/Didatico/Livro_Salinidade_2016_COMPLETO.pdf
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.108

Modificações na hidráulica do sistema x Manejo


Por exemplo: pivô-central que era usado convencionalmente, irrigando toda a área,
passou por modificação para aplicar água de maneira localizada.

Nesse caso, a CRA e ETc devem ser corrigidas, da mesma forma que fazemos para
Irrigação Localizada: considerando a fração de área molhada (fW).

Proposta de Exercício:
E se mudarmos a altura de descida dos pendurais do pivô-central, precisaremos
redefinir CRA e ETc? Qual o impacto na fração de área molhada (fW)?

Veja catálogo KOLMET: TABELLE-PIVOT-EN-SP-A4-Rif069-1


CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.109

Sistema de pivô central com emissores


Sistema de pivô central com emissores derivando água em sulcos: PW < 100%
aproximados e rentes ao chão: PW é 100%

http://www.senninger.com/pivots-linear-systems/ http://www.senninger.com/pivots-linear-systems/
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.110

O sistema LEPA reduz o PW, mas exige que a


cultura esteja em plantio circular.

http://www.cafepoint.com.br/radares-tecnicos/irrigacao/irrigacao-do-cafeeiro-sob-pivo-central-com-lepa-em-plantio-circular-32212n.aspx
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.111

LEPA usado na linha de cultivo usando ‘meias de arrasto’ para reduzir a erosão nos diques de
sulco que limitam o movimento da água nos sulcos.

https://www.hayandforage.com/article-1226-Lower-sprinkler-drops--save-water-and-energy.html
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.112

O mesmo ocorre em Irrigação por superfície?


Se temos sulcos a cada linha de cultivo e a 0,8 m e depois, no mesmo solo, passamos a
ter um novo sistema de produção com sulcos e linhas de cultivo a cada 1,2 m...
A CRA muda? A ETc muda? Devem ser corrigidas?

Só muda se houver mudança na fração de área molhada (PW). Geralmente é assumido


que as frentes de molhamento dos sulcos se juntam nas camadas subsuperficiais... O
que dá uma sobreposição das subáreas irrigadas, resultando em PW de 100%.
Assim, mesmo que o espaçamento aumente, só haverá diminuição da CRA se passar a
haver falta de sobreposição das frentes de molhamento...

http://www.fao.org/3/s8684e/s8684e04.htm
CCA039 - Irrigação e Drenagem. Tales Miler Soares - UFRB/CCAAB/NEAS p.113

E se o agricultor migrar para a Técnica do Secamento Parcial das Raízes?

Nessa técnica, em um evento de irrigação, o sulco à direita da linha de cultivo é


irrigado, enquanto o sulco à esquerda só será irrigado na próxima irrigação.

A alternância dos sulcos irrigados é uma


técnica que pode levar à economia
significativa de água.

https://ucanr.edu/sites/Jackson_Lab/Roots_and_Mycorrhizae_857/Alternate_Furrow_Irrigation_in_Tomatoes_388/

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