Você está na página 1de 86

CONSERVAÇÃO DO

SOLO E DA ÁGUA

Prof. Dr. Alberto Carvalho Filho

RIO PARANAÍBA/MG – 2021


Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Sumário
1. CLASSIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS ....................................................... 3
1.1. PRÁTICAS EDÁFICAS: .............................................................................................3
1.2. PRÁTICAS CULTURAIS:...........................................................................................9
1.3. PRÁTICAS VEGETATIVAS: ..................................................................................... 13
1.4. PRÁTICAS MECÂNICAS: ....................................................................................... 19
2. PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO SIMPLIFICADA DAS PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS .... 26
2.1. PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS VEGETATIVAS: ................................................... 26
2.2. PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS MECÂNICAS: ..................................................... 26
3. ESCOLHA DAS PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS COM BASE NA DECLIVIDADE DA ÁREA. 26
4. INSTALAÇÃO DAS PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS NA PROPRIEDADE RURAL ............... 30
4.1. DETERMINAÇÃO DA DECLIVIDADE DO TERRENO .................................................. 30
4.1.1. Aparelhos utilizados na determinação da declividade e locação de linhas
niveladas básicas ................................................................................................................ 31
5. TERRACEAMENTO AGRÍCOLA............................................................................................. 38
5.1. CLASSIFICAÇÃO DOS TERRAÇOS........................................................................... 39
5.2. CÁLCULO DE ESPAÇAMENTO ENTRE TERRAÇOS ................................................... 44
5.3. LOCAÇÃO DE TERRAÇOS EM NÍVEL ...................................................................... 49
5.4. LOCAÇÃO DE TERRAÇOS COM GRADIENTE ........................................................... 53
5.5. DIMENSIONAMENTO DE CANAIS DOS TERRAÇOS EM NÍVEL: ................................ 56
5.6. DIMENSIONAMENTO DE CANAIS DOS TERRAÇOS EM GRADIENTE ........................ 60
5.7. MANUTENÇÃO DOS TERRAÇOS: .......................................................................... 64
5.8. CANAIS ESCOADOUROS:...................................................................................... 65
6. CONTROLE DA EROSÃO EM ESTRADAS RURAIS ................................................................ 66
7. CAPACIDADE DE USO DA TERRA ........................................................................................ 73
7.1. MEIO FÍSICO ....................................................................................................... 74
7.2. CLASSES DE CAPACIDADE DE USO DO SOLO ......................................................... 79
7.2.1. Subclasses de Capacidade de Uso ...................................................................... 82
8. BIBLIOGRAFIAS COMPLEMENTARES SUGERIDAS .............................................................. 84

2
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

1. CLASSIFICAÇÃO DAS PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS


O solo é um dos componentes fundamentais do meio ambiente e constitui a
base natural para o desenvolvimento das plantas e, como recurso natural, deve ser
utilizado como patrimônio da humanidade, independentemente do seu uso ou posse.

Uma das principais funções do planejamento de uso e manejo dos solos é ter
maior aproveitamento das águas pluviais, evitando-se perdas excessivas por
escoamento superficial, criando-se condições para que a água da chuva se infiltre no
solo, garantindo o suprimento hídrico para as culturas, criações e comunidades,
prevenindo a erosão, evitando inundações e o assoreamento dos rios, assim como
abastecer os lençóis freáticos que alimentam os cursos de água. Em virtude disso, o
uso de práticas conservacionistas é de fundamental importância no controle de perdas
de solo e água em áreas agriculturáveis, propiciando a maximização do lucro sem
provocar redução da capacidade produtiva.

O principal atributo que condiciona a capacidade de uso do solo é a declividade


de um terreno e é de grande relevância em relação à exploração agrícola, o que pode
afetar o uso de equipamentos, a velocidade da enxurrada, a infiltração de água no solo,
a disponibilidade de água no solo e a energia da enxurrada, pois quanto maior o
comprimento da rampa e o volume da enxurrada, maior será o potencial de erosão.

A viabilidade da implantação de uma prática conservacionista é determinada


pela declividade do terreno e do comprimento da rampa, uma vez que a erosão é
proporcional à esses fatores, ou seja, quanto maior o declive em longas rampas, maior
a erosão. Por outro lado, os custos de implantação e manutenção das práticas de
controle da erosão hídrica aumentam em função do grau do declive do terreno,
podendo tornar a sua implantação desaconselhável (Bertoni e Lombardi Neto, 1999).

Utilizando-se da lógica e também do bom senso, pode-se considerar que à


medida que há aumento da declividade de uma área, e dos riscos de erosão, devem-se
empregar práticas conservacionistas que proporcionem maior segurança. Em muitos
casos, acrescenta-se uma nova prática mais segura àquelas que já estavam sendo
adotadas.

Tais práticas conservacionistas do solo podem ser classificadas de diferentes


formas. Aqui, inicialmente, serão classificadas em: 1. edáficas; 2. culturais; 3.
vegetativas e 4. mecânicas. Assim:

1.1. PRÁTICAS EDÁFICAS:

São tecnologias utilizadas para melhorar a fertilidade e as condições morfológicas do


solo na fase de semeadura/plantio e condução da lavoura, possibilitando um crescimento

3
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

rápido e sadio das plantas que promovem uma maior cobertura e proteção do solo contra a
chuva. Como exemplos, pode-se citar:

Calagem/Gessagem do solo: visam proporcionar as condições químicas adequadas


para o perfeito desenvolvimento das culturas. Na calagem sabe-se que a função
principal é de causar o aumento do pH, uma vez que a mesma consegue neutralizar os
hidrogênios (H+) da solução do solo que o torna ácido, aumenta sua atividade
microbiana e aumenta a capacidade do solo de trocar cátions com a solução, com isso
pode-se considerar como alguns dos efeitos gerais da calagem: Aumento da
Mineralização de matéria orgânica; Aumento da Nitrificação (N amoniacal → Nítrico);
Fornecimento de Ca e Mg; Neutralização de Al e Mn tóxicos; Menor Disponibilidade de
Cu, Fe, Mn e Zn (solos no Brasil são deficientes em Zn); Maior Disponibilidade de P e
Mo; formação de cargas negativas nas argilas de solos tropicais; elevação da CTC do
solo; elevação da atividade microbiológica do solo; outros. Nas propriedades físicas do
solo, a calagem aumenta a agregação, pois o cálcio é um cátion floculante e, com isso,
diminui a compactação. A calagem em excesso ou mal aplicada pode ter efeito
negativo na disponibilidade de micronutrientes. A aplicação de gesso agrícola é uma
opção econômica para propiciar o aprofundamento do sistema radicular, embora
pouco afete o pH do solo, pode diminuir a toxicidade do alumínio para as plantas,
reduzindo a atividade desse elemento na solução do solo, e também fornecendo cálcio
e enxofre em profundidade.

A B1 B2

Figura 1. Distribuição de calcário/gesso (A); Desenvolvimento da cultura sem calcário


(B1); Desenvolvimento da cultura com calcário (B2); Falha na sobreposição entre as
passadas durante a aplicação de calcário.

4
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Correção de Alumínio e Manganês tóxicos às plantas: O Al é o metal mais abundante


da crosta da terra, compreendendo aproximadamente 7,5% de seu peso. O alumínio,
em solos ácidos, é um dos principais responsáveis pela baixa produtividade das
culturas, constituindo um fator limitante ao crescimento das plantas. O sintoma mais
evidente do efeito nocivo dos níveis tóxicos de alumínio é a redução no crescimento
radicular de plantas sensíveis, o que impede a planta de obter água e nutrientes em
profundidade pelo seu enraizamento superficial. No solo o Al se hidrolisa em solução,
de tal modo que a espécie de Al trivalente, Al3+, predomina em condições ácidas
(pH<5,0), enquanto que as espécies Al(OH)2+ e Al(OH)2+ são formadas quando o pH
aumenta. O Al3+ é um dos componentes mais importantes da acidez potencial do solo
porque reage com a água, liberando íons H+. A acidez potencial devido ao Al trocável é
observada em pH ≤ 5,5. Em solos com pH acima de 5,5, o Al encontra-se em formas
precipitadas. Problemas de acidificação do solo podem ser corrigidos por calagem,
num processo que neutraliza os íons H+ e Al3+. Entretanto, a aplicação de calcário na
superfície do solo não soluciona os problemas de acidez nas camadas inferiores e a
calagem a grandes profundidades geralmente não é possível por apresentar problemas
técnicos e econômicos. Por estas razões, o uso de cultivares tolerantes ao Al torna-se a
estratégia mais efetiva para a produção de culturas economicamente importantes em
solos ácidos. O pH ácido do solo, ao redor de 5,0, favorece o acúmulo de
concentrações de manganês, que se tornam tóxico, assim, corrigindo-se o alumínio
tóxico, automaticamente o manganês também estará controlado.

A B1 B2

Figura 2. Relação da disponibilidade de elementos químicos x pH do solo (A);


Crescimento radicular da cana-de-açúcar em solos com profundidade efetiva química
favorável (B1) e desfavorável (B2).

Adequação da fertilidade do solo: correção e manutenção com fertilizantes minerais


e/ou orgânicos: Realizado periodicamente e baseado nas análises de solo e de plantas,
de acordo com a espécie vegetal e nível tecnológico adotado.

5
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 3. Adubação realizada em sulco para a cultura da cana-de-açúcar.

Preparo do solo e plantio: fazê-los em curvas de nível. Sempre que possível utilizar o
Sistema de Preparo Reduzido, ou o Sistema Plantio Direto, mas há situações em que o
preparo convencional e intensivo é indicado, como no caso de algumas olerícolas.

A B C

Figura 4. Sistema “Plantio Direto” (A); Sistema Preparo Reduzido/Cultivo Mínimo (B);
Preparo Convencional/Intensivo para o cultivo de cenoura (C).

Monitoramento e correção da compactação do solo: Os principais efeitos da


compactação do solo englobam o aumento da sua densidade e resistência mecânica,
juntamente com a diminuição do volume de poros, especialmente os de maior
tamanho (macroporos), o que pode afetar o desenvolvimento e produtividade das
culturas.

A B C

Figura 5. Sistema radicular da soja em solo compactado (A); Sistema radicular da soja
em solo não compactado (B); Camada compactada do solo (C).

6
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Adubação verde: consiste no cultivo de plantas das famílias poaceae (gramíneas),


fabaceae (leguminosas), ou outras espécies de plantas com o objetivo de proporcionar
melhoria das condições físicas, químicas e biológicas do solo. Os adubos verdes que
são gramíneas, a exemplo do sorgo forrageiro, milheto e braquiárias bem como
algumas dicotiledôneas, como o girassol, formam a palhada que cobrem e melhoram a
estrutura do solo, enquanto que as leguminosas, como a crotalária, mucuna, guandu,
feijão-de-porco, além de produzirem biomassa, fornecem maior aporte de nitrogênio à
cultura.

A B C

Figura 6. Lavouras de sorgo forrageiro gigante (A), girassol (B) e crotalária (C).

Rotação de culturas: técnica agrícola de conservação que visa a diminuir a exaustão do


solo. Isto é feito trocando as culturas a cada novo plantio de forma de que as
necessidades de adubação sejam diferentes a cada ciclo. Consiste em alternar famílias
de espécies vegetais numa mesma área agrícola.

Figura 7. Esquema representativo de alternância de espécies cultivadas, em uma


mesma área, em cultivos sucessivos (rotação de culturas).

Compostagem: processo de reciclagem de resíduos orgânicos de origem vegetal e/ou


animal, transformando o material orgânico em matéria orgânica (húmus, ou humo). O
húmus produzido pode ser usado na agricultura substituindo total, ou parcialmente o
emprego de produtos químicos. Fornece nutrientes para as plantas, regula as

7
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

populações de micro-organismos e torna os solos férteis. Ainda, é capaz de impedir a


penetração de substâncias tóxicas do solo nas plantas, favorecendo a estruturação do
solo, bem como a estabilidade de agregados, retendo a umidade e mantendo a
temperatura do solo equilibrada.

Figura 8. Produção do composto orgânico.

Controle de queimadas: A queimada ainda é muito utilizada pelos agricultores para


limpeza e preparo do solo antes do plantio. Muitas vezes, essa prática é feita de
maneira indiscriminada e sem acompanhamento, causando danos ao solo, como a
eliminação de nutrientes essenciais às plantas. As queimadas também trazem uma
série de prejuízos à biodiversidade, à dinâmica dos ecossistemas e à qualidade do ar
pela liberação de gases que contribuem para o aquecimento global. Em curto prazo, a
queima pode até favorecer a renovação da vegetação, apresentando-se como uma
ferramenta acessível e de baixo custo, mas, em longo prazo, as consequências não são
tão positivas, gerando a degradação do solo pela exposição direta a chuva, eliminação
da biodiversidade animal e vegetal, fatores importantes para o controle de pragas e
doenças, e perda de nutrientes essenciais ao crescimento das plantas. Como forma
alternativa ao uso do fogo na agricultura recomendam-se sistemas de produção
sustentáveis, que não necessitam do fogo para limpeza ou manutenção. Entre essas
tecnologias, destacam-se os sistemas agroflorestais, o sistema plantio direto, a
trituração da capoeira e a Integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF), dentre outras.
Se for realmente necessário realizar-se a queimada, é recomendado fazê-la de forma
“controlada”, manejando o fogo nas áreas previamente estabelecidas no sentido de
prevenir a ocorrência de incêndios. Para isso, o primeiro passo é ter a autorização
junto à Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, lembrando-se de
comunicar aos vizinhos o dia da queima; notificar os órgãos responsáveis sobre o dia e
horário da queima; fazer aceiros (devem medir no mínimo 3 m); verificar clima e
horário (força e direção do vento, temperatura) e instruir e preparar o pessoal que vai
fazer a queima.

8
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 9. Queimada controlada em áreas de pastagens.

1.2. PRÁTICAS CULTURAIS:

São práticas relacionadas com a instalação e manejo da cultura a ser explorada


economicamente. Destacam-se como alguns exemplos:

Seleção da espécie/variedade/cultivar de interesse em função de suas exigências


edafo-climáticas: Recomenda-se observar a adaptação da cultura à capacidade de uso
do solo (profundidade efetiva, fertilidade, pedregosidade, declividade, entre outros);
sistema radicular efetivo da cultura; período de chuvas e de veranicos; possibilidade de
geadas; temperatura máxima e mínima da região, etc.

Figura 10. NEOSSOLO LITÓLICO com árvores caducifólias em região de cerrado.

Optar por sementes/mudas de boa procedência e com bom vigor: As sementes


certificadas mantém as características originais da variedade e asseguram ao produtor
que irão originar plantas da variedade pretendida. Há a garantia de saber o local em
que ela foi produzida, segurança fitossanitária e maior potencial de produtividade. O
uso de semente certificada reduz o risco de plantas voluntárias de outras culturas; da
introdução de novas espécies de plantas daninhas; e da contaminação da área com
novos patógenos.

9
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

A B

Figura 11. Sacaria padrão para sementes fiscalizadas (A); Garantias das sementes (B).

Respeitar a época de semeadura e o estande recomendado para a região: a época de


semeadura é fator preponderante para o sucesso de inúmeras culturas, pois resulta
em alterações das relações hídricas, bem como, da temperatura, do fotoperíodo e da
radiação solar disponível às plantas. A semeadura tardia pode acarretar perdas da
ordem de 30 a 50% na produtividade de grãos, enquanto semeaduras na época de
safrinha podem causar perdas de até 70%, em relação à época recomendada. Já um
correto estande de plantas é alcançado através de uma boa qualidade de semeadura
associado ao manejo para preservação das plantas, evitando-se a perda de plantas e o
desenvolvimento de plantas irregulares (dominadas). O estande é considerado um dos
fatores de maior influência na produtividade.

Figura 12. Sugestões de densidade e época de semeadura para diferentes regiões.

10
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Realizar uma adequada distribuição de sementes na linha de semeadura para que


ocorra pequena porcentagem de espaçamentos duplos e de falhas: Estudos
realizados por TOURINO (1993) mostraram que a distribuição espacial das plantas
pode determinar perdas de 15% ou mais na cultura de milho, 35% ou mais na de
girassol e 10% ou mais na de soja.

Figura 13. Espaçamento entre plantas: normal, falho e duplo (A); Tabela com a
avaliação em campo de uma semeadora-adubadora para plantio de milho de alta
densidade (B).

Manter uniformidade na profundidade e localização das sementes, em relação ao


adubo: Incrementos no rendimento das culturas são obtidos com o aumento de
fertilizantes, além de outras práticas culturais. A posição do fertilizante, em relação à
semente, é importante do ponto de vista nutricional, pois a plântula, no início do seu
desenvolvimento, necessita com grande rapidez dos nutrientes e estes devem estar
próximos da raiz, diminuindo com isso perdas de nutrientes por lixiviação através do
perfil do solo. Entretanto, a posição inadequada dos fertilizantes em relação à semente,
em diversas espécies, tem sido relacionada a problemas na germinação devido ao
efeito salino a ela ocasionado. A resistência ou tolerância à salinidade varia com a
espécie e cultivar e com o estádio fenológico da planta. Para muitas culturas, a
presença de sais na germinação prejudica a absorção de água pela semente e
consequentemente, impede o início do processo germinativo. O dano que o

11
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

fertilizante acarretaria sobre a semente, traduz-se mais intensamente sobre o sistema


radicular das plântulas e o dano é dependente da dose e posição do fertilizante no solo.
Alguns trabalhos concluem que a posição do fertilizante que propicia maior
percentagem e velocidade de emergência e ainda, peso de matéria seca em milho,
está entre 4,5 e 6,0 cm ao lado e abaixo das sementes.

Figura 14. Localização da semente e do adubo para a cultura do milho.

Realizar o tratamento, ou inoculação das sementes, quando recomendado: O


tratamento de sementes previne a entrada de pragas e doenças em áreas de cultivo e
tem grande importância no desenvolvimento de plantas vigorosas e sadias. Essa
prática protege a semente desde o contato inicial com o solo até o início do
crescimento das plantas. Ou seja, a proteção ocorre antes, durante e depois da
germinação.

Figura 15. Tratamento se sementes utilizando tambor fora de centro.

12
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Preparo do solo e plantio/semeadura em contorno (em nível): São recomendados


para terrenos íngremes, sempre respeitando os declives da região. Acompanhando as
curvas de nível, cada linha de preparo e do plantio funciona como um empecilho que
diminui a velocidade da enxurrada, no caso de ela se formar sobre a superfície do
terreno. Com a redução na velocidade do escoamento, há mais tempo para a água se
infiltrar no solo. O plantio em nível, apesar de poder ser utilizado como prática
conservacionista isolada, em áreas menos íngremes, com boa cobertura vegetal sobre
a superfície do solo e sem indícios de erosão, normalmente é empregado como prática
complementar em áreas terraceadas.

A B C

Figura 16. Preparo do solo em nível (A); Sistema Plantio Direto sendo realizado em
contorno (B); Preparo do solo morro abaixo (C).

1.3. PRÁTICAS VEGETATIVAS:

Corresponde aos benefícios da vegetação que promovem uma proteção direta


do solo, amenizando o impacto das gotas de chuva pela interceptação, dispersão,
evaporação, aumento do atrito e diminuição da velocidade do escoamento superficial.
A vegetação atua ainda fornecendo matéria orgânica e nutrientes, incorporando
carbono e favorecendo a atividade biológica do solo. São alguns exemplos:

Adubação verde e cobertura morta: Como já apresentado na página 7, a adubação


verde é uma técnica agrícola que promove a reciclagem de nutrientes do solo por meio
do plantio de determinadas espécies de plantas, preferencialmente as espécies que
pertencem à família fabacea (leguminosas), e poaceae (gramíneas), além de outras
(crucíferas), a fim de tornar o solo mais fértil. Esta técnica visa recuperar solos
degradados, melhorar solos pobres e conservar os que já são altamente produtivos. Já
a cobertura morta (“mulch”), refere-se à deposição de materiais orgânicos de diversas
origens, na superfície do solo, com a principal finalidade de proteção do mesmo contra
os efeitos excessivos dos rigores climáticos (chuva, vento, insolação), propiciando às
plantas, microrganismos e fauna do solo, um ambiente adequado para o
desenvolvimento, principalmente, do sistema radicular e da planta como um todo.

13
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

A B

Figura 17. Crotalária como adubo verde (A); cobertura morta na cultura do milho (B).

Plantio em Faixas (Faixas de rotação): consiste em alternar, em uma dada área, o


plantio de espécies vegetais que possuem diferentes coberturas do solo. Desse modo,
parte do solo fica coberto por culturas que recobrem menos o mesmo e outras ficam
com culturas que o recobrem mais. Assim, haverá plantas desenvolvendo sistemas
radiculares pivotantes alternados com outras do tipo fasciculado, que explorarão
volumes diferentes de solo, extraindo e posteriormente reciclando, pela palhada
gerada, quantidades distintas de nutrientes.

Figura 18. Faixas de rotação.

Cordão vegetado (Faixas de retenção): consiste no plantio de culturas perenes que


apresentem sua parte aérea e sistema radicular bem desenvolvidos e adensados. São
plantadas em espaçamento menor que o convencional, em faixas com largura entre 2
e 3 metros, sendo essas faixas locadas conforme o espaçamento vertical calculado. As
espécies mais indicadas são a cana-de-açúcar, capim Napier e a erva-cidreira (capim
santo).

A B A

Figura 19. Faixas de retenção (cana-de-açúcar) (A); Capim Napier (B); Erva-Cidreira
(Capim Santo) (C).

14
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Consórcio de culturas: é caracterizado pela maximização de espaço mediante o cultivo


simultâneo, num mesmo local, de duas ou mais espécies com diferentes características
quanto à sua arquitetura vegetal, hábitos de crescimento e fisiologia. As plantas
podem ser semeadas ou plantadas ao mesmo tempo, ou terem época de implantação
levemente defasada, mas compartilham dos mesmos recursos ambientais durante
grande parte de seus ciclos de vida, fato que leva a forte interatividade entre as
espécies consorciadas e entre elas e o ambiente. Proporciona uma série de benefícios,
como o auxilio no controle de plantas daninhas, promove excelente cobertura viva e
morta do solo, durante o maior período de tempo possível.

A B C

Figura 20. Milho consorciado com feijão (A); Plantação consorciada de café e laranja
em Porto Rico (B); Consórcio de milho + braquiária (C).

Capina reduzida/Capina alternada: Consiste na prática de alternar as épocas de


capinas em ruas ou “leiras” adjacentes, durante o período de chuvas. Realiza-se a
capina rua sim, rua não (nas lavouras plantadas em nível), sempre pulando uma ou
duas ruas e somente após algum tempo deve-se capiná-las. Isto permite que sempre
uma ou duas ruas, imediatamente abaixo daquelas recentemente capinadas,
permaneçam com mato. Isso faz com que o solo transportado das ruas capinadas,
devido à erosão, seja retido pelas ruas com mato. Atualmente, muitos produtores têm
adotado como prática a capina sob a saia da cultura, mantendo-se a rua com
vegetação, que é controlada por meio de roçada.

A B

Figura 21. Ruas alternadamente capinadas em cultura perene (A); Capina realizada na
projeção da saia da cultura e, o controle do mato nas ruas, por meio de roçadas (B).

Florestamento/Reflorestamento: O florestamento é a implantação de florestas em


áreas que não eram florestadas naturalmente. O reflorestamento é a atividade ou
15
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

ação ambiental de plantar árvores e vegetações em zonas que foram desmatadas, seja
por força da natureza (incêndios e tempestades) ou por influência humana (queimadas,
construções de barragens, exploração mineral ou de madeireira e etc), objetivando a
proteção do solo contra a erosão. As florestas, através de suas espécies, são capazes
de conservar o solo, proteger as encostas contra os riscos de desmoronamentos, reter
gases nocivo como o CO2, tido como um dos grandes causadores do aquecimento
global e causador de problema à saúde humana. Ao depender de cada caso, pode ser
afirmado como sendo uma das principais técnicas para se controlar a desertificação,
aumentando a matéria orgânica presente no solo, retendo água das precipitações,
evitando a desagregação do solo causada pelo impacto das gotas de chuvas reduzindo
o efeito Splash, por consequência diminuindo a erosão e o arraste superficial do solo
que, por fim, acarreta no assoreamento dos corpos hídricos, causando problemas de
drenagens que podem afetar as populações.

A B C

Figura 22. Florestamento com árvores nativas (A); Reflorestamento com eucalipto (B);
Sistema de integração: Agro-Silvo-Pastoril (C).

Quebra vento: No planejamento deve-se considerar sua altura final, espessura e


distância entre os quebra ventos. Normalmente considera-se que a distância entre eles
deva ser 20 vezes a altura final, entretanto a posição topográfica em relação aos
ventos dominantes deve ser observada. A espessura deve permitir a passagem de 40%
do vento, formando um “colchão de ar” acima da superfície da cultura/solo e evitando
a formação de uma turbulência antes e após o quebra vento. Devem ser instalados
mediante a observação dos ventos dominantes. Para que tenha ação efetiva,
considera-se que possivelmente serão gastos de 5 a 10 anos para atingirem altura
adequada, conforme projetado. Podem agir também como barreiras sanitárias
protegendo as culturas do ataque de pragas e doenças; atuam também na proteção de
animais, com destaque na avicultura; ainda como “pasto apícola” e na atração de
insetos polinizadores; auxiliam na estabilização do microclima; como fonte de lenha;
protege o acamamento e a floração das culturas; e no embelezamento das paisagens.
Recomenda-se a utilização de eucalipto, grevílea, cipreste, entre outras. Para a nossa
região (Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro) sugere-se como plantas de grande porte o
eucalipto e como plantas de menor porte a aroeirinha.

16
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

A B

C D

Figura 23. Esquema: Projeto da redução média do vento quando se usa um Quebra
Vento de boa permeabilidade (A); Distância entre Quebra Ventos considerando sua
altura final, em função da declividade da área (B); Quebra Vento na cultura do café (C);
Granja avícola protegida por Quebra Ventos (D).

Pastagens: Devido ao bom desenvolvimento de seu sistema radicular (fasciculado) e


de sua parte aérea bem adensada, são consideradas as melhores coberturas vegetais
no controle da erosão. Como prática conservacionista do solo, são indicadas para áreas
onde as culturas não proporcionam produções compensadoras, ou onde o perigo de
erosão é muito grande. A maioria das pastagens degradadas tem como principal
motivo o uso do fogo e o pastejo excessivo.

A B

Figura 24. Pasto degradado/erosão acelerada (A); Pasto bem manejado/solo protegido
da erosão (B).

17
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Hidrossemeadura: Promove a revegetação do solo através da aplicação hidromecânica


de uma massa pastosa composta por fertilizantes, sementes, camada protetora,
adesivos e matéria orgânica, cujo traço característico é determinado pelas
necessidades de nutrição da vegetação a ser introduzida. A vegetação utilizada é
resultado de um consórcio de plantas (gramíneas e leguminosas) de porte herbáceo e
arbustivo dotados de alta rusticidade e fertilidade e com diversificado tempo de
germinação e características vegetativas que permitem, inicialmente, a cobertura do
solo e, em seguida, favoreçam a sua estabilização por um sistema radicular profundo e
consistente. Lançada por um jato de alta pressão, essa massa adere e cola na
superfície do terreno, formando uma camada protetora consistente que, além de fixar
as sementes, e demais componentes funciona como um escudo provisório contra a
ação das intempéries (sol, chuva, ventos, etc.) até a efetiva fixação da vegetação
indicada.

A1 A2

Figura 25. Realização da hidrossemeadura (A1 e A2); Talude estabilizado por


hidrossemeadura (B).

Uso de placas de grama ou pneus: Como já dito anteriormente, as gramíneas, por


apresentarem grande desenvolvimento de seu sistema radicular (raízes fasciculadas) e
vegetativo, são adequadas para o controle da erosão. As placas de grama, antes de
serem colocadas, deverão ter a superfície do solo erodido totalmente regularizadas e
ainda receber matéria orgânica. Devem ter dimensões uniformes, com formatos
retangulares ou quadrados, sendo colocadas de tal forma que fiquem perfeitamente
ajustadas umas as outras, sem deixar espaços entre as mesmas. As placas deverão ser
apiloadas (compactação suave) de tal maneira que pareçam estar perfeitamente
18
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

aderentes ao solo. Como espécies recomendadas, sugere-se primeiramente verificar a


sua adaptação na região. Entre as espécies utilizadas destaca-se: Andropogon gayanus
– andropogon; Cynodon dactylon – grama bermuda; Eragrostis curvula – capim chorão;
Hyparrenenia rufa - capim Jaraguá; Vetiveria zizanioides – vetiver; Paspalum notatum –
grama batatais. As barragens, ou o preenchimento de voçorocas com pneus também é
uma alternativa para a sua destinação final e, de acordo com trabalhos desenvolvidos
no Departamento de Solos da ESALQ, não causam impactos ambientais, como a
contaminação do lençol freático por metais, entretanto, deve-se ter atenção com a
proliferação de insetos nocivos, como o Aedes aegypti, por exemplo.

A B C

Figura 26. Estabilização de taludes erodidos com placas de grama (A); Estabilização de
taludes erodidos com pneus (B); Estabilização de voçorocas com a estratificação de
camadas de pneus com camadas de solo (C).

1.4. PRÁTICAS MECÂNICAS:

Têm como objetivo evitar o escorrimento da água da chuva pelo terreno


(enxurrada), conduzindo seu excesso por meio de terraços ou canais, para locais
protegidos com vegetação, ou bacias de retenção, onde será armazenada até sua
infiltração, evaporação ou, ainda, ser utilizada por animais. Inclui-se também o
planejamento de estradas e carreadores. Assim, destacam-se:

Terraceamento: É a prática constituída por canais coletores da água da chuva, que


permitem a sua infiltração no solo, e de diques para interceptação desta água que
escoa na superfície de áreas declivosas. O terraceamento visa dividir uma longa rampa
em rampas de menor comprimento, proporcionando assim um menor volume e
velocidade da água, reduzindo a sua capacidade erosiva. Existem diversos tipos e
modelos de terraços que serão abordados mais adiante, neste material.

19
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

A B C

Figura 27. Terraço comum (A); Terraço tipo Patamar contínuo (B); Terraço tipo
Patamar descontínuo/Banqueta individual (C).

Barraginhas: São pequenos reservatórios que possuem a forma de bacia, construídos


nos terrenos, ou seja, é uma área escavada que tem como principal função a
contenção das enxurradas, por meio da coleta da água que escoa em excesso em
propriedades rurais ou estradas vicinais e a recarga de água subterrânea.

Figura 28. Barraginhas.

Travesseiros e bacia de captação: São complementos dos terraços em nível.


Normalmente realiza-se a interrupção do canal do terraço em intervalos entre 100 a
200 metros, porém, por meio de análise técnica podem ser construídos em menores
distâncias. Dessa forma, em caso de rompimento de um terraço, o volume de água a
escorrer para o terraço abaixo será menor, o que poderá evitar o seu rompimento.
Como desvantagem, haverá maiores dificuldades nos trabalhos periódicos de
manutenção e reforma da área terraceada, pois os travesseiros serão desmanchados,
exigindo nova construção após o reparo dos terraços.

20
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

B
A

Figura 29. Terraços em nível, com “travesseiros”, em cafezal (A); Detalhe da bacia de
captação de água, construída para receber água dos carreadores e do possível
escoamento dos terraços (B).

Canais de divergência: São canais utilizados para assegurar a proteção de áreas


cultivadas, ou degradadas em processo de recuperação, situadas à jusante nas áreas.

Figura 30. Canal de divergência protegendo a área a jusante, escoando as águas


pluviais para a lateral onde deve haver um coletor.

21
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Canais escoadouros: São canais largos e rasos construídos artificialmente pelo homem,
ou depressões naturais estabilizadas por vegetação bem desenvolvida, que recebem as
águas conduzidas pelos canais dos terraços com gradiente, em solos de baixa
capacidade natural de infiltração das águas da chuva, como ocorre em Argissolos que
possuem horizonte B textural, principalmente naqueles que apresentam mudança
textural abrupta. Devem possuir dimensões suficientes para conduzir o fluxo coletado
até as partes baixas do terreno, sem perigo de erosão em seu leito. Normalmente
procura-se aproveitar as depressões naturais, áreas de pasto, bordas de matos,
bosques ou zonas arbustivas, desde que estejam bem vegetadas, sem indícios de
erosão.

A B

Figura 31. Terraços com gradiente e canal escoadouro natural (A); Canal escoadouro
artificial (B); Sentido do escoamento das águas dos canais dos terraços, representado
pelas setas amarelas e sentido do escoamento das águas no canal escoadouro,
representado pelas setas em azul (C).

22
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Paliçadas: Dentro das voçorocas e/ou das áreas desmoronadas, quando não for
possível desviar o fluxo de água à montante, ou quando as águas que caem
diretamente em sua parte interna forem excessivas, torna-se necessária a construção
de paliçadas para reduzir a velocidade de escoamento da água e reter parte dos
sedimentos por ela transportados, o que vai permitir a melhor estabilização do solo no
local e evitar que mudas, sementes e adubos, sejam arrastados durante as primeiras
chuvas na fase de implantação do projeto.

Figura 32. Paliçadas de bambu, com sacos de aniagem, instaladas no interior de


voçorocas.

Escadas de dissipação: Tem a função de dissipar a energia durante o escoamento da


água da chuva na descida de taludes.

Figura 33. Dissipadores de energia da água em degraus.

23
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Caixa seca: Consiste na instalação de um reservatório na margem de estradas rurais


para captação das águas de chuva, favorecendo sua lenta infiltração no solo. Essa
técnica evita enxurradas, erosão, assoreamento e degradação de estradas pela chuva e
aumenta o armazenamento de água, o abastecimento do lençol freático, favorecendo
as nascentes e a vazão dos rios. Embora a técnica seja relativamente simples, a
construção das “caixas” e a sua manutenção anual são feitos com uma
retroescavadora. A dimensão das caixas deve ser calculada por um engenheiro, com
base em critérios como declividade e largura da estrada, textura do solo e quantidade
de chuva que se quer captar. É importante deixar a parte frontal da caixa seca
rampada, para possibilitar a saída de animais e até mesmo de pessoas que possam cair
dentro dela, por acidente. Em média, são construídas 60 caixas por quilômetro de
estrada e gasta-se entre US$ 550 e US$ 1.600 por quilômetro.

A B

Figura 34. Caixa seca (A); Reforma de estrada rural com pequenos murunduns
direcionando a enxurrada para caixas secas (B).

Locação/Distribuição de carreadores e estradas rurais (de terra): Carreadores são os


caminhos rurais internos à propriedade e estradas rurais são as externas. Tanto os
carreadores quanto as estradas devem permanecer livres do acúmulo de água o
máximo possível, e para tanto, precisam ser construídas de modo a permitir o
escoamento para as suas margens, desviando a enxurrada para bolsões, ou canais de
escoamento estabilizados. Os carreadores em nível devem ser locados imediatamente
abaixo dos terraços por ser este o local mais protegido do acúmulo de água. Ligando
terraços em nível, os pendentes, devem ser locados e construídos de forma alternada,
evitando a formação de longas rampas, como se recomenda normalmente para a
cultura do café.

24
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

B1 B2

C D

D
C

E F

Figura 35. Perfil transversal de uma estrada rural e de carreadores com superfície
abaulada (A); Carreador construído em nível, logo abaixo do dique do terraço (B1 e B2);
Distribuição racional de carreadores no cafezal (C); Distribuição adequada de caminhos
em uma estrada rural estabilizada (D); Estrada rural erodida (E); Estrada rural com
diversas barraginhas à margem, ao longo de sua extensão (F).

25
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

2. PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO SIMPLIFICADA DAS PRÁTICAS


CONSERVACIONISTAS
Sempre que possível as práticas apresentadas devem ser utilizadas em
conjunto atendendo aos sistemas de produção agropecuário e florestal, que visam a
sustentabilidade agrícola e ambiental.

Em função de algumas destas práticas citadas poderem, por alguns autores,


serem enquadradas de forma diferente, Amaral (1984) e Bertoni e Lombardi Neto
(1999) propuseram e simplificaram a classificação das práticas conservacionistas em
apenas dois grupos assim conceituados:

2.1. PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS VEGETATIVAS:

Práticas recomendadas para áreas com declividade de até 6%, não envolvendo
movimentação de terra, ou obras de engenharia na instalação do sistema. Portanto,
nesse grupo ficam incluídas as práticas edáficas, culturais e vegetativas, citadas
anteriormente.

2.2. PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS MECÂNICAS:

Práticas recomendadas para áreas com declividades maiores que 6% e que


envolvam a movimentação de terra, ou obras de engenharia na instalação do sistema.

3. ESCOLHA DAS PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS COM BASE NA


DECLIVIDADE DA ÁREA
Amaral (1984) sugere as seguintes práticas conservacionistas, em função da
declividade da área (Tabela 1).

Tabela 1. Escolha da prática conservacionista, com base na declividade de uma área.

DECLIVIDADE PRÁTICA RECOMENDADA


(%)
0–3 Arar, gradear, sulcar e plantar em nível; plantio direto; e/ou em faixas de
rotação.
3–6 Arar, gradear, sulcar e plantar em faixas de retenção.
6 – 12 Terraceamento em nível, ou com gradiente (dependendo da natureza do
solo); para culturas perenes plantadas em esquadro, utilizam-se cordões
em contorno.
12– 18 Terraceamento em nível, ou com gradiente (dependendo da natureza do
solo), associados às faixas de retenção; para culturas perenes plantadas
em esquadro, utilizam-se cordões em contorno.
>18 Áreas destinadas à preservação da fauna e flora. Pode-se também indicar
a utilização de terraços tipo patamar (contínuo ou descontínuo).

26
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Assim, detalhando melhor:

Para declividades inferiores a 3%, em áreas sem indícios de erosão (presença de sulcos
de erosão), recomenda-se o preparo do solo e o plantio em nível. Dessa forma, é
aconselhado marcar-se com estacas as linhas niveladas básicas para servirem de
orientação para o preparo primário do solo (aração). Pode-se adotar 50 metros como
distância horizontal entre uma linha nivelada e outra, sem a necessidade do emprego
de tabelas , ou cálculos, e adotar-se a distância entre 10 e 30 metros entre uma estaca
e outra, conforme a uniformidade da área, na linha nivelada, ou seja, para relevo mais
movimentado, adota-se menor distância (10 metros) entre as estacas, enquanto que
para áreas mais uniformes, as maiores distâncias (30 metros). Como a superfície do
solo se torna muito irregular após a aração, o que dificultaria a locação de novas linhas
niveladas para a realização do preparo secundário (destorroamento e nivelamento do
solo), com a ajuda de uma pessoa, é indicado a retirada da estaca que fica logo à
frente do trator, no momento da aração, voltando-a para a mesma posição logo após a
passada do conjunto trator-arado. O mesmo procedimento pode ser adotado após o
preparo secundário, para a orientação da semeadura/plantio em contorno (plantio em
nível).

A B C D

Figura 36. Aração realizada em contorno. Observa-se que a leiva tombada serve de
orientação para a recolocação das estacas das linhas niveladas básicas (A); Gradagem
em contorno (B); Plantio direto na palha (C); Culturas em faixas de rotação (D).

Em áreas com declividade entre 3 a 6%, é recomendado adotar-se o descrito no


parágrafo anterior, incluindo ainda a prática do plantio em faixas de retenção. Essas
faixas, apresentadas na página 14, são locadas distantes umas das outras conforme
cálculos de espaçamento vertical utilizando a fórmula de Bentley; fórmula de Bertoni e
Lombardi Neto (1999); ou outra, que serão apresentadas mais a frente neste material,
quando for discutida a locação de terraços.

27
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 37. Faixas de retenção.

Nas áreas com declividade entre 6 e 12%, são recomendadas práticas mecânicas,
tendo como exemplo o terraceamento em nível, para solos com boa capacidade de
infiltração de água, ou terraços com gradiente, para solos com limitações na
velocidade de drenagem interna da água. Algumas culturas perenes são plantadas em
esquadro, ou seja, a linha de plantio acompanha o disposição de carreadores, ou de
cercas e, portanto, não estão em nível. Neste caso, indica-se a construção dos
“cordões em contorno”, que nada mais são do que uma modalidade de terraços de
base estreita, adaptada para culturas perenes já plantadas em esquadro. Desta forma,
consegue-se reduzir a eliminação de algumas plantas já instaladas e possivelmente já
em produção, ajustando o alinhamento do “cordão em contorno”, em relação às
plantas.

A B C

Figura 38. Cordão em contorno (A); Cultura perene (cafezal) plantada em nível, em
área terraceada (B); Cultura perene (citros) plantada em esquadro (C).

Para áreas com declividade entre 12 e 18% recomendam-se os terraços construídos


em nível, para solos com boa capacidade de infiltração das águas da chuva, ou os
terraços com gradiente, para solos de má drenagem interna, ocasionada por condição
natural e, em ambos os casos, associar-se as faixas de retenção. Ainda, para culturas
perenes já plantadas em esquadro, construir os “cordões em contorno”.

28
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

A B

Figura 39. Terraceamento associado às faixas de retenção (A); Associação de preparo


do solo e plantio em nível, com rotação de culturas, faixas de rotação, faixas de
retenção e terraceamento (B).

As áreas com declividade superior a 18% devem ser destinadas, prioritariamente, à


preservação da fauna e da flora.

A B C D

E F G H

Figura 40. Proteção da fauna (A); Proteção da flora (B); Ecoturismo (C e D); Construção
de terraço tipo patamar contínuo em lavoura de café plantada em nível (E); Terraço
tipo patamar contínuo já finalizado, em lavoura de café (F); Colhedora de café
desenvolvida para áreas com terraços tipo patamar contínuo (G); Terraço tipo patamar
descontínuo, também denominado de banqueta individual (H).

Porém algumas dessas áreas podem ser destinadas para o ecoturismo, esporte e lazer,
sempre respeitando-se a preservação ambiental. Entretanto, em alguns casos, essas
áreas podem ser destinadas para a produção agrícola. Contudo, é necessária uma
análise mais detalhada do ambiente de produção, visto que, além do elevado custo na
construção e manutenção do sistema conservacionista, o solo precisa apresentar
profundidade efetiva adequada ao desenvolvimento da cultura, e a espécie a ser
explorada possuir adaptação às condições climática em que ficará exposta, tendo, por
exemplo, tolerância à geadas. Neste caso é possível a construção de terraços tipo
patamar contínuo ou os patamares descontínuos, que são também denominados de
banquetas individuais.

29
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

4. INSTALAÇÃO DAS PRÁTICAS CONSERVACIONISTAS NA PROPRIEDADE


RURAL

4.1. DETERMINAÇÃO DA DECLIVIDADE DO TERRENO

Como a superfície do solo é naturalmente irregular, quer seja por causa natural,
quanto pela ação antrópica, o formato tomado pelo relevo exerce influência no
escoamento das águas de chuva em diferentes trajetórias sobre o terreno.

A erosão hídrica se destaca como um dos principais responsáveis pelas perdas


de água e solo. Ela é sim função da declividade do terreno, mas é influenciada
diretamente pelo comprimento da rampa e pela velocidade atingida pela água que
escoa na superfície do solo; assim, uma área com 10% de declividade, mas com uma
rampa de pequena extensão, pode proporcionar menor erosão que outra área com 2%
de declividade e uma rampa muito extensa. Sendo assim, antes da adoção de qualquer
prática para controle da erosão, é importante conhecer a inclinação do terreno e os
atributos da área problema.

A Declividade (Figura 41) é a inclinação que a superfície do terreno possui em


relação ao plano horizontal (H).

Considerando:

EH como sendo um caminhamento, ou distância horizontal no terreno;

EV como caminhamento vertical, ou desnível do terreno e,

α o ângulo de inclinação do terreno.

A inclinação do terreno pode ser expressa em graus ou porcentagem, como se segue:

A declividade é a inclinação da superfície do terreno em relação à horizontal, ou seja, é


a relação entre a diferença de altura entre dois pontos e a distância horizontal entre
esses pontos. É calculada por “regra de três” simples:

EV → EH
D% → 100
D% = 100 (EV/EH)
30
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 41. Representação esquemática da declividade do terreno.

Para a determinação da declividade é necessário a obtenção do EV e EH, ou


diretamente o ângulo. Quando o ângulo é conhecido, a transformação de graus para
porcentagem é feita pela relação de catetos do triângulo retângulo formado entre o
plano horizontal e o plano vertical, em que EV representa o cateto oposto ao ângulo e
EH o cateto adjacente ao mesmo ângulo. Dividindo-se EV por EH (cateto oposto por
cateto adjacente), tem-se a tangente do ângulo. Dessa forma, a declividade em
porcentagem será:

D% = 100 tan α

4.1.1. Aparelhos utilizados na determinação da declividade e locação de


linhas niveladas básicas

Alguns aparelhos são específicos para determinações altimétricas sendo


utilizados na obtenção da declividade, como é o caso do clinômetro de Abney, do nível
de precisão, do nível de mangueira e do nível de trapézio (“Pé de Galinha”).

Lembre-se que, independente do aparelho que venha a utilizar, a declividade


deverá ser sempre determinada nos pontos mais críticos da área, ou seja, nas linhas de
maior depressão, onde se concentram as enxurradas. Assim, se a erosão for controlada
nesses locais, automaticamente onde a declividade for menor, a erosão hídrica
também estará contida.

Clinômetro de Abney

Esse aparelho possibilita a obtenção da declividade tanto em graus como em


porcentagem (Figura 42), diretamente e sem a necessidade de medição de EV e EH.

Para a utilização do Clinômetro de Abney, marca-se a altura do olho do observador


(denominado “ponto de vista” – Figura 43C) utilizando uma mira, ou haste de madeira.

31
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Uma segunda pessoa desloca-se no sentido do maior declive até uma distância de
cerca de 10 metros e o observador faz coincidir a marca na luneta do aparelho
(indicado pela seta vermelha, na figura abaixo) com a altura do olho na mira, e desloca
o nível de bolha para a posição horizontal.

Nível de bolha

Espelho interno

Figura 42. Clinômetro tipo Abney para determinação da declividade do terreno.

Apesar de ser possível a observação de uma marca feita nas hastes de madeira em
distâncias muito superiores aos 10 metros sugeridos (marca riscada com um canivete,
ou por uma fita colorida amarrada na haste), isto não é indicado por gerar grandes
erros em relação aos valores reais, principalmente quando se trata da locação de
“curvas em nível”, em que esses erros serão acumulados.

A seta vermelha, na Figura 43A, indica a referência do centro da bolha do nivel do


clinômetro para a leitura na mira. A Figura 43B apresenta o técnico ajustando a bolha
do nivel para a determinação da declividade da área. Na Figura 43C é apresentada a
postura errada do técnico ao fazer a leitura do seu “ponto de vista” na mira, visto que
o correto seria ele estar em posição mais ereta, ou seja, em uma postura normal para
leitura. A Figura 43D mostra os valores de declividade expressos em graus e também
em porcentagem.

É possível se observar ao mesmo tempo a marca na mira e a bolha de nível, através de


um pequeno espelho localizado no interior da luneta. Depois de acertar as marcas, faz-
se a leitura na escala. A escala interna representa a declividade expressa em
porcentagem, enquanto que a escala externa permite a leitura da declividade em
graus. A leitura de porcentagem é feita na extremidade esquerda da parte móvel e a
leitura em graus é feita no centro da mesma (Figura 43D), onde coincidir o zero da
parte móvel com a escala fixa em graus.

32
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

A B

C
POSTURA ERRADA DO TÉCNICO

Figura 43. Referência do centro da bolha do nivel do clinômetro para a leitura na mira
(A); Técnico ajustando a bolha do nivel para a determinação da declividade da área (B);
Postura errada do técnico ao fazer a leitura do seu “ponto de vista” na mira (C);
Valores de declividade expressos em graus e também em porcentagem (D).

Nível de precisão

É também denominado de nível ótico, nível de luneta, ou nível de engenheiro.


Também utiliza o EV e EH para determinação da declividade da área.

São empregados para grandes áreas e exigem conhecimento e cuidados para sua
instalação e manuseio, o que não é diferente para os demais aparelhos, mesmo para
aqueles de mais baixo custo e simplicidade, utilizados para a agricultura familiar.

Necessita de uma mira (régua graduada) que geralmente tem altura de 4 metros.
Trata-se de uma luneta de aumento com centro focal e um retículo gravado na outra
extremidade com três fios na horizontal (superior, médio e inferior), e um fio na
vertical (para alinhamento da mira). O centro focal da luneta e o fio superior e inferior
formam um triângulo “abc”. A relação entre “b-c” e a distância “h” (distância do
retículo ao centro focal) é constante, uma vez que a luneta do aparelho tem tamanho

33
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

fixo. A diferença de leitura entre esses fios na mira “s-i” estabelece a base de um
triângulo proporcional àquele na luneta e que, dada a essa proporcionalidade, permite
calcular a distância “d” entre o aparelho e a mira (Figura 44). A relação entre a
distância “d” e a diferença de fios superior e inferior no retículo representa a
constante do aparelho, normalmente igual a 100. Portanto, a diferença de leitura do
fio superior e inferior na mira, multiplicada pela constante do aparelho fornece a
distância entre o aparelho e a mira.

Figura 44. Esquema do nível ótico para cálculo de distância.

A determinação da declividade empregando o nível de engenheiro é feita também no


ponto de maior declive dentro da área, montando-se o aparelho sobre o tripé,
nivelando-o, por meio do nível de bolha. Depois de nivelado, o aparelho está pronto
para uso. Faz-se uma leitura dos fios superior, médio e inferior na mira localizada
abaixo, no sentido do maior declive, e outra acima (Figura 45). Por meio das diferenças
entre as leituras de fio superior e inferior das duas posições, calcula-se a distância
entre os dois pontos, empregando-se a fórmula apresentada anteriormente. Essa
distância corresponde ao espaçamento horizontal (EH), isso no caso do aparelho estar
posicionado na linha de maior depressão. Caso o nível esteja afastado da linha da
depressão, pode-se tomar o EH com o emprego de uma trena, ou realizar o cálculo por
relação trigonométrica, conforme já discutido. A diferença entre os fios médios das
duas posições corresponde ao espaçamento vertical (EV) entre ambos. A declividade,
dada em porcentagem, é então calculada conforme apresentado anteriormente.

34
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 45. Esquema de determinação da declividade do terreno.

Nível de mangueira

É também denominado de “nível de borracha”. Utiliza EV e EH para determinação da


declividade do terreno.

Trata-se de duas barras de madeira aparelhadas e com as mesmas medidas, onde é


fixada uma mangueira de diâmetro fino com aproximadamente 10 a 15 metros de
comprimento unindo as duas barras. Em cada barra é presa uma fita graduada (fita
métrica de costura, por exemplo) de forma que as leituras nas duas barras sejam
coincidentes. A mangueira é presa na parte superior das barras (Figura 46) utilizando-
se fita adesiva transparente, ou pequenos pregos. A seguir coloca-se água na
mangueira até a metade da escala graduada, nas duas barras. Retirar possíveis bolhas
de ar encontradas na mangueira.

Figura 46. Esquema de um nível de mangueira.

35
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

A declividade é determinada, partindo-se do ponto de maior declive, onde é colocada


uma das barras na posição vertical e deslocando-se a outra barra no sentido do declive
(Figura 47). A diferença de leitura entre as fitas graduadas das barras corresponde ao
espaçamento vertical (EV) entre os dois pontos. O espaçamento horizontal (EH) é
medido com uma trena. A seguir procede-se o cálculo da declividade, conforme já
explicado anteriormente. Na verdade a distância entre os “pés” da régua de madeira
não representam o EH real, mas na prática a diferença, para áreas com até 12% de
declividade é desprezível. Caso queira obter o EH real, basta aplicar o Teorema de
Pitágoras, em que:

a2 = b2 + c2 sendo:
a = comprimento da rampa medido com a trena
b = Espaçamento vertical (diferença de leitura entre as duas réguas)
c = Espaçamento horizontal (EH real)

Figura 47. Esquema de determinação da declividade do terreno com nível de


mangueira.

Nível de trapézio

O nível de trapézio, também conhecido como “Pé de Galinha”, é um aparelho muito


simples e que pode ser feito no próprio sítio, ou fazenda. Pode ser construído com o
formato da letra A, do nosso alfabeto (Figura 48A), ou no formato de uma “trave de
futebol”, ou “cavalete” (Figura 48B). O modelo mais utilizado é o do formato de “trave
de futebol”, que consta de uma régua de madeira de 3 metros de comprimento e 5
centímetros de largura e 2 centímetros de espessura, tendo pregados, em cada uma
de suas extremidades, e em ângulo reto, um sarrafo igual ao outro, mas medindo 1
metro de comprimento, servindo de pernas. Como reforço coloca-se um sarrafo preso
a cada uma das pernas e à haste principal. Sobre esta, coloca-se um nível de pedreiro,

36
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

podendo também ter a fixação de um prumo, ambos instalados no centro. Assim o


aparelho estará pronto para o uso.

Prumo

A Nivel tipo “A” B Nivel tipo “trave de futebol”, ou “cavalete”

Figura 48. Modelos de “Pé-de-galinha”

Para a determinação da declividade de uma área (Figura 49), uma perna do cavalete
deverá ser colocado em um ponto mais elevado e a outra perna em um ponto mais
baixo, sempre considerando-se a linha de maior declividade da gleba.

Figura 49. “Pé-de-galinha”: determinação da declividade de uma área.

37
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Coloque o pé-de-galinha em nível. Levante a perna da frente até que a bolha do nível
de pedreiro fique entre os dois traços do nível, e o prumo alinhado. Determine a
diferença de nível por meio de uma régua graduada, medindo a distância que vai da
ponta da perna do pé-de-galinha até o terreno (este será o EV). O EH será o
comprimento do pé-de-galinha, no caso, 3 metros. Assim, para obter-se a declividade
desse pequeno trecho é só aplicar a fórmula da declividade, já apresentada
anteriormente. Repita a operação tantas vezes quantas forem necessárias, ao longo de
cada linha de maior depressão selecionada, adotando como declividade média a média
das declividades obtidas neste trecho de rampa. Desta forma, será obtida a declividade
de cada um dos segmentos mais críticos, onde se concentram as enxurradas.

Para efeito de segurança, na escolha e instalação de práticas conservacionistas, deve-


se adotar a linha com maior declividade, pois como já dito, se a erosão for controlada
neste local crítico, onde a declividade for menor, a erosão também estará controlada.

Caso a gleba apresente padrões diferentes de declividade (Figura 50), esta gleba
deverá ser dividida em sub-glebas, adotando o procedimento descrito acima para cada
uma delas em separado, o que permitirá ao técnico a realização de ajustes quanto à
escolha da prática conservacionista recomendada, bem como a variação na distância
entre as linhas niveladas básicas que servirão de referência para o distanciamento
entre terraços, faixas de retenção, ou outra prática conservacionista recomendada.

Figura 50. Padrões de declividade diferentes em uma área.

5. TERRACEAMENTO AGRÍCOLA
O terraço é uma prática mecânica de controle da erosão em que se utilizam
estruturas artificiais, geralmente formadas por porções de solo dispostas
adequadamente em relação ao declive do terreno, com a finalidade de parcelar a
rampa, possibilitando a redução da velocidade da água e sua infiltração no solo, ou
38
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

disciplinar o seu escoamento até o leito estável de drenagem natural, ou artificial. É


formado por um canal e um camalhão.

5.1. CLASSIFICAÇÃO DOS TERRAÇOS

Quanto à função

Terraços em nível (de absorção, de infiltração, ou de retenção): são construídos sobre


as niveladas básicas demarcadas com um nível ou teodolito e com as bordas
bloqueadas, ou ligadas a um bolsão. Sua função é interceptar a enxurrada e permitir
que a água seja retida e infiltre no solo (Figura 51).

Figura 51. Terraceamento em nível

Terraços com gradiente (em desnível, com declive, ou de escoamento): são


construídos com um pequeno gradiente ou desnível transversalmente ao maior declive
da rampa. Eles acumulam o excedente de água e permitem seu escoamento
lentamente para fora da área protegida, por uma ou duas extremidades abertas, até
canais escoadouros vegetados. Portanto, diferentemente do anterior, este tipo de
terraço exige a construção de canais escoadouros para retirar a água excedente da
propriedade. São as “bacias de captação de enxurrada”, e indicados para solos com
permeabilidade lenta (Figura 52).

39
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 52. Terraços com gradiente e respectivo canal escoadouro.

Quanto à largura da base, ou faixa de terra movimentada: Refere-se à largura da


faixa de movimentação de terra para a construção do terraço, incluindo o canal e o
camalhão.

Terraço de base estreita, ou cordão em contorno: Apresenta faixa de movimentação


de terra de até 3 metros, indicado para locais onde não pode ser implantados terraços
de base média ou larga, não devendo ser implantado em áreas de usos extensivos e
com declividade inferior a 15%. Seu uso, portanto fica restrito a pequenas
propriedades com terrenos muito íngremes e culturas perenes. Normalmente são do
tipo Nichol’s, que será discutido logo na sequência. (Figura 53C).

Terraço de base média: A faixa de movimentação de terra deste tipo de terraço é de 3


a 6m de largura. Recomendado para pequenas ou médias propriedades. Sua utilização
deve ser em declividades de 10 a 12%, possibilita o uso de trator e equipamentos
agrícolas no preparo do solo, plantio e colheita (Figura 53B).

Terraço de base larga: Nos terraços de base larga a movimentação de terra ocorre ao
longo de uma faixa de 6 a 12m, sendo este tipo de terraço adequado para declividades
não superiores a 12%, preferencialmente até 6 a 8% (Figura 53A).

Figura 53. Terraço de base larga (A); Terraço de base média (B); Terraço de base
estreita (C).
40
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Quanto ao processo de construção:

Tipo Nichol’s ou Canal: Para construção desse tipo de terraço deve-se movimentar o
solo sempre de cima para baixo, de modo que a massa de solo que forma o camalhão
é retirada da faixa imediatamente superior, o que resulta no canal com formato
triangular. Na faixa de construção do canal não e possível a utilização para o plantio.
Esse tipo de canal pode ser construído em rampas com declive de até 15% e,
excepcionalmente, se o solo apresentar boa cobertura de palhada, a 18%(Figura 54).

Figura 54. Perfil esquemático do terraço tipo Nichol’s ou Canal.

Tipo Mangum ou Camalhão: Na sua construção, movimenta-se uma faixa mais larga de
solo que a do terraço tipo Nichol’s. A massa de solo é deslocada tanto da faixa
imediatamente superior como da inferior ao camalhão, ora num sentido da aração, ora
noutro, em passadas de ida e volta com o trator. Podem ser construídos tanto com
arados (fixo ou reversível), como com terraceadores em terrenos de menor declividade.
E mais indicado para terrenos de menor declividade. (Figura 55).

Figura 55. Perfil esquemático do terraço tipo Mangum ou Camalhão.

Quanto ao perfil do terraço:

Terraço comum: Deve ser utilizado em terrenos com declividade inferior a 18%, como
ocorre na maioria das áreas cultivadas do Brasil (Figura 56).

41
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 56. Terraço comum.

Terraço tipo Murundum, Murundu, ou Leirão: Geralmente e construído com a


utilização de um trator de lâmina frontal, sendo realizada grande movimentação de
terra. Possui um camalhão bastante alto (podendo ser de mais de 2m) e um canal
triangular. Em razão da altura do camalhão, não pode ser cultivado e ainda apresenta
sério entrave a movimentação de máquinas e implementos. Deve ser utilizado apenas
em condições em que seja necessário reter um grande volume de agua. Devido a
grande movimentação de terra, possui um custo mais elevado em relação aos demais
tipos de terraços (Figura 57).

Figura 57. Terraço tipo Murundum.

Terraço tipo Patamar Contínuo: Utilizado em terrenos com declividade maior que 18%,
sendo constituído de plataforma, onde é feito o plantio da cultura, e de um talude, que
deve ser estabilizado por meio de uma cobertura vegetativa. Este terraço controla a
erosão e facilita as operações agrícolas (Figura 58).

42
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 58. Terraço tipo Patamar Contínuo em lavoura de café.

Terraço tipo Patamar Descontínuo, ou Banqueta Individual: Geralmente é utilizado na


agricultura familiar e em áreas íngremes. Realiza-se um corte no solo com diâmetro de
aproximadamente 2 metros, local em que será plantada uma muda de ciclo perene.
Sua utilização é econômica somente quando as terras são exploradas com culturas
perenes, como frutíferas e café. O plantio, a colheita e demais tratos culturais são
realizados manualmente. As banquetas são construídas cortando a linha de maior
declive, ficando sua superfície interna inclinada em direção à base ou pé. A inclinação
do talude varia de 1:4 a 1:2, podendo ser modificada conforme o tipo de solo e da
vegetação de revestimento (Figura 59).

Figura 59. Terraço tipo Patamar Descontínuo.

Terraço Embutido: O terraço embutido caracteriza-se por ser construído de modo que
o canal tenha a forma triangular, ficando o talude que separa o canal do camalhão
praticamente na vertical. Este tipo de terraço tem boa aceitação entre os agricultores,
tendo em vista a sua estabilidade e a pequena área inutilizada no plantio.
Normalmente é construído com motoniveladora ou trator com lâmina (Figura 60).

43
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 60. Terraço embutido.

5.2. CÁLCULO DE ESPAÇAMENTO ENTRE TERRAÇOS

A distância vertical (EV) entre as linhas niveladas, ou com gradiente que servirão como
referência para a instalação da prática conservacionista a ser instalada pode ser
definida por diversas fórmulas, ou por tabelas e devem ser definidas por um técnico
qualificado.

Na sequência são apresentadas algumas delas.

Tabelas:

44
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

45
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Todos os exemplos de cálculo apresentados foram extraídos de Lima et al., 2010:

Fórmula de Bentley:

EV = ( ). 0,305 em que:

EV = Espaçamento Vertical, dado em metros

D = Declividade da área em seu ponto mais crítico, dado em %

X = Valor extraído de tabela, considerando a prática conservacionista selecionada,


cultura explorada e natureza do solo (permeabilidade, textura, resistência à erosão,
etc)

46
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

𝑫
EV = ( 𝟐 ). 0,305
𝑿

Calcular o espaçamento entre terraços em uma área onde se pretende implantar a


cultura do milho. O solo é um Latossolo Vermelho, profundo, de textura média (25%
de argila no horizonte A e 28% de argila no horizonte B); de permeabilidade rápida nos
horizontes A e B. A declividade máxima do terreno é 8%.

Aplicando-se a fórmula de Bentley:

Terraço em nível, por se tratar de solo com permeabilidade rápida (Latossolos).

Ev= (2+D/x) 0,305 .......... EV == 1,10 m

EH = (EV/D) 100 .........EH = 13,75 m

Pela Fórmula do Instituto Agronômico de Campinas (IAC) - Bertoni e Lombardi Neto,


1999.

EV = 0,4518 . K .D0,58 . [(u + m)/2] ............. em que:

47
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

EV = Espaçamento vertical entre os sistemas de contenção, em metros;

K = Índice variável para cada tipo de solo;

D = Declividade do terreno;

u = Fator de Uso do Solo;

m = Fator de Manejo do Solo (preparo do solo e manejo de restos culturais)

Índices K de acordo com os atributos e resistência à erosão de diferentes


agrupamentos de solos para uso na Equação de Bertoni e Lombardi Neto (1999).
G Principais Atributos do Solo Índice
R K
U Grupo de Profund. Permeabilidade Textura Razão Grupo de Solos
P Resist. à Textural
O Erosão
A Alto Profundo (1 a 2 m) a Moderad/rápida a Média/média <1,2 Latossolos da Região 1,25
Muito Profundo (> 2 m) Rápida/rápida MArgil./MArgil. Sudeste e Centro
Argilosa/Argil. Oeste e Neossolos
Quartzarênicos
B Moderado Profundo (1 a 2 m) Moderada/rápida Arenosa/Aren. 1,2 a 1,5 Alguns Latossolos 1,10
Rápida/rápida Arenosa/||Méd. Alguns Argissolos
Arenosa/Argil. Alguns Nitossolos
Média/Argilosa
Argilosa/MArgil.
C Baixo Moderadamente Lenta/moderada >1,5 Alguns Argissolos 0,90
profundo (0,5 a 1,0 m) rápida/moderada Alguns Nitossolos
a Profundo (1 a 2 m) lenta/rápida
D Muito baixo Raso (0,25 a 0,5 m) Rápid/moderad Muito variável Muito Maioria dos 0,75
Moderadamente Lenta/lenta variável Cambissolos e
Profundo (0,5 a 1,0 m) Neossolos Litólicos

Grupos de culturas e seus respectivos índices.

Grupo Culturas Índice

1 Feijão, mandioca e mamona 0,50

2 Amendoim, arroz, algodão, alho, cebola, girassol e fumo 0,75

3 Soja, batatinha, melancia, abóbora, melão e leguminosas 1,00

4 Milho, sorgo, cana-de-açúcar, trigo, aveia, cevada, outras culturas de 1,25


inverno e frutíferas de ciclo curto, como o abacaxi

5 Banana, Café, Citrus e frutíferas perenes 1,50

6 Pastagens e/ou Capineiras 1,75

7 Reflorestamento, Cacau e Seringueira 2,00

48
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Grupo de preparo do solo e manejo de restos culturais com seus respectivos índices.
Grupo Preparo primário Preparo Índice
secundário
1 Grade aradora (ou pesada), ou Enxada rotativa Grade 0,50
Niveladora
2 Arado de discos, ou aivecas Grade 0,75
niveladora
3 Grade leve Grade 1,00
niveladora
4 Escarificador Grade 1,50
niveladora
5 “Plantio” sem revolvimento do solo, roçadora, rolo- Não tem 2,00
faca, herbicidas (“Plantio Direto”)

Outras considerações para o cálculo de espaçamento entre terraços (Lima et al., 2010)

Por questões de segurança, o primeiro terraço deve ser locado com a metade
do espaçamento calculado.

O espaçamento horizontal mínimo entre terraços, para que os mesmos sejam


viáveis de implantação e permitam um trabalho mais eficiente dos equipamentos
agrícolas deve ser de aproximadamente 12 metros. Espaçamentos menores tornam-se
antieconômicos pois dificultam a construção e manutenção dos terraços, assim como
as operações mecanizadas.

5.3. LOCAÇÃO DE TERRAÇOS EM NÍVEL

Considere que pelos cálculos do espaçamento entre terraços em um


determinado terreno chegou-se ao valor de 13,56 m, para o espaçamento horizontal e
1,22 m para o espaçamento vertical. Sugere-se a marcação no campo.

De posse do valor do espaçamento horizontal, na linha de maior declive do


terreno (Figura 61) deve-se a partir do ponto mais alto (divisor de águas do terreno),
marcar a metade do espaçamento horizontal. Por questões de segurança a primeira
marcação deve ser feita com a metade do valor calculado, pois se ocorrer o
rompimento do primeiro terraço todos os demais se romperão. Os demais terraços
serão determinados medindo o espaçamento horizontal, no sentido do declive, até o
final do comprimento da rampa.

Usando o Nível de Mangueira

Inicialmente mede-se a metade do EH (por segurança), calculado a partir do


ponto mais elevado do terreno, em direção à linha de maior declive (6,78 m). Fixar

49
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

uma estaca (Figura 61). Esta será a primeira estaca da primeira linha nivelada básica.
Ainda seguindo o alinhamento da maior declividade, medir o EH calculado (13,56 m) e
bater outra estaca que será a referência para a segunda curva de nível. Seguir esse
procedimento ao longo da linha de maior declividade, medindo mais 13,56 m de
distância entre a estaca referência da segunda curva e a terceira curva. Depois, medir
mais 13,56 m entre a estaca da terceira para a quarta curva e assim por diante. Dessa
forma, você terá uma linha de estacas morro a baixo, em que cada estaca será a
referência para cada uma das curvas de nível a serem locadas.

Agora, para locar-se cada curva de nível, coloca-se uma das “réguas” na estaca
referência da primeira curva (estaca 1). Com a outra “régua” procura-se outro ponto
(ponto 2), deslocando para cima ou para baixo, de tal modo que a leitura no nível
d’água nas duas hastes seja a mesma (Figura 62). Este ponto deve ser marcado com
uma estaca. A seguir desloca-se a “régua” do ponto 1 para o ponto 2, e a do ponto 2,
procurando a mesma cota anterior, onde será fixada uma estaca como sendo o ponto
3, e assim por diante. Terminada a primeira linha em nível, procede-se de maneira
semelhante para as outras linhas.

Figura 61. Corte longitudinal da linha de maior declive.

50
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 62. Locação das “curvas de nível” usando nível de borracha.

Usando o Nível de Engenheiro

Assenta-se o aparelho em um ponto onde se é permitido fazer o maior número


de visadas possíveis, além de enxergar também o ponto mais alto da área. A seguir
nivela-se o aparelho e visa o ponto 1, referente à metade do espaçamento vertical
calculado, tomado a partir do ponto mais alto da área. Fazer a leitura sempre no fio
médio.

A seguir, a mira deve ser deslocada aproximadamente de 20 a 30 metros (10


metros para áreas com relevo muito movimentado), perpendicularmente ao sentido
do declive, para a colocação da próxima estaca, mantendo a mesma leitura obtida no
ponto anterior. O operador sinaliza para que a mira seja deslocada para cima, ou para
baixo no terreno. Esta operação deve ser repetida até o final da linha em nível.

Ponto mais alto do terreno

Figura 63. Esquema da locação da primeira linha nivelada básica.

51
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Para locar-se a segunda linha nivelada, soma-se o valor do EV calculado com a


leitura da primeira linha nivelada. O valor obtido será o da leitura da segunda linha
nivelada, ou seja: sempre, para se achar o valor da linha seguinte, deve-se somar o EV
calculado com o valor da curva anterior.

Exemplo de locação de Terraços utilizando o Nível de Engenheiro

Após assentar e nivelar o aparelho em um ponto 1, colocar a mira no ponto


mais elevado da área, realizando a leitura (exemplo de leitura no fio médio igual a 1,0
m). Somar a esta leitura a metade do EV calculado. Tomando como exemplo um EV
calculado igual a 1,22 m, e que o primeiro terraço será instalado com a metade do
espaçamento, tem-se:

(1,0 + = 1,61)

O valor de 1,61 (Figura 64) será a leitura de todas as estacas da primeira linha
em nível. As leituras da segunda linha em nível serão obtidas somando a leitura da
curva anterior (1,61 m) com o EV (1,22 m), obtendo-se assim a leitura 2,83 m (1,61 +
1,22 = 2,83 m). Este valor será adotado para todas as estacas desta segunda linha.

As leituras da terceira linha nivelada básica serão obtidas somando a leitura da


curva anterior (2,83 m) com o EV 1,22 m. Assim tem-se: 2,83 + 1,22 = 4,05 m, que não
poderá ser lido na mira, pois esta tem apenas 4,0 m de comprimento. Desta forma se
faz necessário mudar o aparelho de posição (posição 2), assentando-o e nivelando-o
novamente. Na sequência, deve-se visar uma estaca qualquer da curva anterior, pois
todas estando em nível terão a mesma leitura. Esta leitura é conhecida como visada de
ré. Considerando que esta visada de ré teve a leitura de 0,50 m, deve-se somar este
valor ao EV (1,22 m). Assim, 0,50 + 1,22 = 1,72 m, que será a leitura de todas as estacas
da terceira curva em nível.

Se ainda considerar-se que com o aparelho na posição 2 não seja possível visar
a terceira estaca, da terceira linha nivelada básica, deve-se proceder nova mudança do
aparelho (posição 3), instalando-o e nivelando-o novamente. Fazer nova leitura de ré,
mas agora na mesma curva (na estaca dois, que já está locada). Suponhamos que nesta
visada de ré obteve-se a leitura de 0,70 m. Como se pretende continuar na mesma
curva e esta está locada em nível, deve-se manter a mesma leitura obtida na visada de
ré (0,70 m) em todas as próximas estacas a serem locadas.

Caso seja necessário locar mais linhas niveladas, deve-se proceder da mesma
forma já descrita acima.

52
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Primeira posição do nível

Segunda Terceira posição do nível


posição do
nível

Primeira posição do nível

Segunda posição do nível

Figura 64. Esquema de locação de terraço em nível usando o nível de engenheiro.

5.4. LOCAÇÃO DE TERRAÇOS COM GRADIENTE

O gradiente dos terraços refere-se à inclinação do canal, responsável pelo


escoamento lento e seguro no mesmo. O volume de água que não infiltrar no solo será
conduzido até o canal escoadouro.

O gradiente pode ser constante, ou progressivo:

Gradiente constante: Neste caso, o caimento é o mesmo ao longo de todo o canal, ou


seja, não sofre variação ao longo do terraço. Esse gradiente não deverá ser muito
elevado, a ponto de permitir velocidade de escoamento acima da velocidade crítica de
arraste de partículas do solo (Tabela 9). Velocidades acima da crítica podem causar
erosão no fundo do canal do terraço. O gradiente de 0,3% (= 3 por mil), como
gradiente constante, é razoável para a maioria das situações de solos. Gradientes
menores que 0,3% podem não possibilitar bom escoamento do excedente de água,
podendo favorecer o rompimento dos terraços.

Gradiente progressivo: a inclinação do terraço aumenta ao longo do mesmo. O


desnível do canal inicia-se em 0% (canal em nível) e aumenta gradualmente, a
intervalos regulares, com o aumento do comprimento do terraço (Tabela 6).

O comprimento dos terraços com gradiente não devem exceder a 600 m. Terraços
muito longos podem apresentar erosão no fundo do canal, dado ao volume e energia
da enxurrada ao longo do mesmo. Os sistemas de terraços com gradiente exigem
como complemento os canais escoadouros, para o escoamento do excesso de água,

53
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

não infiltrada no solo, de forma lenta e segura, até a parte mais baixa do terreno. Estes
canais escoadouros podem ser naturais, ou artificiais.

Tabela 6. Gradiente progressivo para terraços de drenagem superficial

Comprimento do terraço (m) Gradiente


0 – 100 Nível
100 – 200 0,1 %
200 – 300 0,2 %
300 – 400 0,3 %
400 – 500 0,4 %
500 – 600 0,5 %
> 600 Divisor de águas

Exemplo de locação de terraços com gradiente (terraço de drenagem superficial):

Fórmula utilizada Fórmula de Bentley


Solo Argissolo Vermelho-Amarelo, transição abrupta
Textura do horizonte A Média (16% de argila)
Textura do horizonte B Média (34% de argila)
Cultura Cafezal, já instalado
Declividade da área 18%, no ponto mais crítico
Aparelho utilizado na locação Nível de engenheiro
Distância entre estacas De 10 em 10 m
Tipo de gradiente Constante (0,3%)
Valor de X 2,0

Cálculos:

EV = (2 + ) . 0,305 EV = (2 + ) . 0,305 EV = 3,35 m

Instala-se e nivela-se o aparelho em um local que permita fazer o maior


número de leituras, de forma que também se consiga visar o ponto mais elevado do
terreno. Visar o ponto mais alto da área, no fio médio (Ex: 0,15 m). Somar a essa
leitura a metade do EV calculado (0,15 + 3,35/2 = 1,82 m), que será a leitura da
primeira estaca, do primeiro terraço e nas demais estacas no intervalo entre 0 e 100
metros. Considerando o gradiente constante de 0,3%, e a distância entre estacas igual
a 10m, tem-se:

54
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

100 m ............... 0,3 m

10 m ............... x x = 0,03 m (3 cm/visada)

Assim, as leituras das estacas seguintes, serão acrescidas de 0,03 m no sentido


do canal escoadouro (1,82 m; 1,85 m; 1,88 m; etc).

A leitura da primeira estaca do segundo terraço será obtida somando-se o valor


de EV (Ex: 3,34 m) com a leitura da primeira estaca do terraço anterior (1,82 m +3,34
m = 5,16 m). Percebe-se que não é possível a realização da leitura devido à mira ter
apenas 4,0 m de comprimento, portanto o nível deverá ser mudado de posição,
nivelado novamente, visando-se a primeira estaca da primeira curva (que será a visada
de ré, com leitura de 0,20 m, por exemplo). Ao valor da visada de ré soma-se o EV
(3,34 m). Assim, 0,20 + 3,34 = 3,54 m, que será a primeira leitura do segundo terraço e
nas demais estacas locadas no intervalo de 0 até os 100 metros.

Para as demais estacas do segundo terraço será acrescido o valor de 0,03 m


para cada nova leitura (3,57; 3,60; 3,63; etc). Caso o aparelho seja mudado para uma
terceira posição, se necessário, e depois de nivelado, fazer uma nova leitura de ré em
uma estaca anteriormente conhecida (Ex: 0,10 m). Para a locação das demais estacas
deste terraço, adiciona-se 0,03 m a cada nova leitura realizada (0,13; 0,16; 0,19; 0,22;
etc). Se for necessário locar mais terraços, proceder de modo semelhante.

Locação de terraços com gradiente progressivo

Com o nível de engenheiro: Instalar e nivelar o aparelho em uma posição que


possibilite realizar o maior número de leituras. Visar a leitura do fio médio no ponto
mais elevado da área (Ex: 0,25 m), somando-se a essa leitura a metade do EV calculado
(0,25 + 3,34/2 = 1,92 m), obtendo-se assim o valor que será lido na primeira estaca do
primeiro terraço. Como os terraços terão gradiente progressivo, sabe-se que para
estacas espaçadas a cada 10m:

De 0 a 100 m Leitura em nível (1,92 m)


De 100 a 200 m 0,1% (soma-se 0,01m/estaca
De 200 a 300 m 0,2% (soma-se 0,02m/estaca
De 300 a 400 m 0,3% (soma-se 0,03m/estaca
De 400 a 500 m 0,4% (soma-se 0,04m/estaca
De 500 a 600 m 0,5% (soma-se 0,05m/estaca

55
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

No caso de necessidade de mudança de local do aparelho, usar o mesmo


raciocinio adotado para os terraços com gradiente constante, lembrando-se que neste
caso, o gradiente é progressivo. Lembre-se também que ao final dos terraços com
gradiente, quer seja ele constante, ou progressivo, tem-se os Canais Escoadouros.

5.5. DIMENSIONAMENTO DE CANAIS DOS TERRAÇOS EM NÍVEL:

É necessário ter-se uma estimativa da provável chuva máxima para a região,


para que se faça o dimensionamento dos canais dos terraços. Esses dados podem ser
obtidos nas estações meteorológicas, porém na falta de informações locais, pode-se
lançar mão de equações que possibilitam estimar a chuva máxima provável em função
do período de retorno e tempo de chuva. Para o dimensionamento de terraços em
nível, tem-se empregado o tempo de duração de 24 horas (chuva máxima diária) e o
período de retorno de 10 anos. A equação é aplicada para tempos entre 6 e 24 horas.
Dessa forma empregando-se a equação proposta por Silva (1998), tem-se:

I = 43,95 TR0,14 / t0,77

Em que:

I = Intensidade máxima provável, em mm/h, no tempo de 24 horas;

TR = Período de Retorno desejado para a estimativa (período de probabilidade de


ocorrência da chuva, com a intensidade estimada);

t = tempo de duração da chuva (no caso, 24 horas).

Calculando-se a intensidade máxima provável para TR = 10 anos e t – 24 horas,


tem-se:

I = 43,95 100,14 / 240,77

I = 5,25 mm/h (Precipitação máxima diária estimada: 126 mm/24 horas)

Dados de chuva para a região central do Brasil podem ser encontrados em Assad
(1994).

Equações semelhantes à anterior podem ser encontradas para diversas localidades, no


programa Pluvio, desenvolvido pelo DEA/UFV, cujo acesso é livre (www.dea.ufv.br).

O volume de enxurrada que o terraço deverá reter depende também de quanto


da chuva poderá escorrer. O coeficiente de enxurrada (Tabela 7) permite estimar a
fração da chuva que se transforma e enxurrada. Esse coeficiente depende do tipo de
solo (capacidade de infiltração da água), tipo de cobertura vegetal e topografia
(declividade do terreno).

56
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Tabela 7. Coeficientes de enxurrada em função da topografia, grupo de solos e uso da


terra. Bertolini et al. 1993.

GRUPO DE SOLOS
TOPOGRAFIA USO E MANEJO A B C D
RELEVO PLANO Alto 0,2 0,3 0,4 0,5
(0-5%) Médio 0,3 0,4 0,5 0,6
Baixo 0,4 0,5 0,6 0,7
RELEVO ONDULADO Alto 0,3 0,4 0,5 0,6
(5 -10%) Médio 0,4 0,5 0,6 0,7
Baixo 0,5 0,6 0,7 0,8
RELEVO ACIDENTADO Alto 0,4 0,5 0,6 0,7
(10-30%) Médio 0,5 0,6 0,7 0,8
Baixo 0,6 0,7 0,8 0,9

Na figura 65 é apresentado um esquema de terraceamento de uma área,


mostrando a retenção do volume de enxurrada pelo canal do terraço.

Figura 65. Esquema representativo do volume de enxurrada gerado em gleba


terraceada e a ação dos canais dos terraços.

Na Figura 66 observa-se a largura total de terra movimentada formando um


canal para a absorção de água e o dique (aterro) para retenção da enxurrada.

57
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 66. Esquema representativo de terraço mostrando: A – volume de terra


movimentada; B – Camalhão, ou Dique; C – Canal do terraço.

O próximo passo para o dimensionamento do terraço será definir a seção do


mesmo, o que é feito em função do equipamento disponível para a construção. A
seção é o formato do canal, em corte transversal.

São três as formas mais comuns de seções de terraços: trapezoidal, triangular e


paraboloide (Figura 67). Geralmente, a construção de terraços empregando o arado de
discos, resulta em seção parabolóide, ou triangular. Os terraços de base estreita (2 a 3
metros de largura total) são normalmente construídos com seção trapezoidal, para
permitir maior capacidade de retenção da enxurrada com menor largura e
profundidade do canal do terraço.

Figura 67. Formas das seções de canais de terraços e respectivas fórmulas para cálculo
de área de seção de canal.

58
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Em que:

I = largura do canal em condições normais de canal cheio de água;

L = largura do canal, em condições extremas;

p = profundidade do canal, em condições normais;

P = profundidade do canal, em condições extremas;

Z = inclinação de talude do canal.

Por comodidade, considera-se que aproximadamente 2/3 da largura total do


terraço corresponde à largura útil do canal do terraço (largura I, Figura 66). Desta
forma, faz-se necessário no dimensionamento da largura total do canal do terraço
(largura L, Figura 67) uma margem de segurança, que normalmente é de 10%.

Exemplificando: Se um terraço for de base média, com 4,5 metros de movimentação


de terra (A – Figura 66), o canal terá uma largura l correspondente a 3 metros. Neste
caso a largura total do canal (L) será de 3,3 metros.

Para o cálculo da profundidade útil (p) e profundidade total (P) do canal é


preciso conhecer o valor da área seccional (A) do canal, o que é função do volume de
enxurrada que chega ao canal. Salienta-se que os terraços são construídos com seção
única, do início ao final do canal.

Como exemplo será dimensionado um canal de terraço de base média, em nível,


empregando-se o espaçamento vertical de 1,84 m. A largura do terraço será de 5
metros, portanto, a largura do canal será de 3,5 metros, assumindo-se que o terreno
tenha declividade de 10%.

A distância horizontal entre terraços será:

EH = 100EV/D EH = 100 1,84/10 = 18,4 metros

Sabendo-se que a seção do canal do terraço é independente do comprimento


do mesmo, pode-se empregar o comprimento unitário (1 m) para efeito de cálculo.
Dessa forma, a área para captação de enxurrada será:

A = EH * 1 A = 18,4 m x 1 m = 18,4 m2

Conhecendo-se a área de captação de água (área a montante do terraço) e a


quantidade de chuva diária, pode-se calcular o volume de enxurrada a ser retido pelo
terraço (para um metro linear de terraço). Com relação à chuva, parte infiltrará no
terreno e parte poderá escorrer. O coeficiente de enxurrada (Tabela 7) permite

59
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

estimar essa fração de chuva que eventualmente poderá escorrer até o canal do
terraço. Para efeito de exemplo, serão considerados o solo de permeabilidade rápida
no solo e subsolo (pertencente ao grupo A), uso e manejo médio e o relevo ondulado
(5 a 10%). O coeficiente de enxurrada (Tabela 7) é 0,4. Conforme cálculo anterior, a
quantidade de chuva máxima diária para a região é de 126 mm (0,126 m).

O volume de enxurrada por metro linear será:

V = 18,4 m2 x 0,126 m x 0,4 = 0,93 m3

A seção do canal será:

S = V (m3) / C (1m) = 0,93 m2 ....... no caso, considerou-se o comprimento do canal


como sendo 1 metro.

Considerando que o canal do terraço terá seção triangular com largura útil igual
a 3,5 metros, pode-se calcular a profundidade necessária para o volume de enxurrada.
Como se trata de um triângulo, a área da seção é:

S = l x p/2

p = 2 x S/l p = 2 x 0,93/3,5 = 0,53 m

Portanto, o canal do terraço deverá ter 0,53 m de profundidade, e 3,5 m de


largura (l), para suportar a enxurrada máxima provável. A título de segurança, pode-se
elevar em 10 % a profundidade do canal, passando para cerca de 0,60 m (P).

5.6. DIMENSIONAMENTO DE CANAIS DOS TERRAÇOS EM GRADIENTE

O dimensionamento de terraços com gradiente requer cálculos tão mais


complexos quanto o rigor na locação e construção. Como se trata de uma estrutura
que permitirá vazão de água será necessário o entendimento de movimento de água
em canais abertos. Para efeito de ilustração, será usada a Figura 68. A vazão máxima
de água na extremidade do canal depende do caminho percorrido pela água
(comprimento e desnível). No exemplo da Figura 68, também considerados o
espaçamento vertical de 1,84 m entre terraços, a declividade do terreno de 10%, o
gradiente do canal do terraço igual a 0,3% e o comprimento do canal do terraço igual a
500 metros. A vazão no canal aumenta com o tempo e a distância até atingir o máximo
no ponto c. O tempo para que a vazão chegue ao máximo é chamado tempo de
concentração, que representa o tempo necessário para que toda a área de captação
contribua com água para a vazão do terraço. A relação entre a vazão e o tempo é
representada na Figura 69. A chuva deverá durar no mínimo o tempo de concentração
para que a vazão estimada represente a vazão máxima provável da área.

60
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 68. Ilustração de terraços com gradiente.

Figura 69. Relação entre vazão de enxurrada e tempo de concentração da água da


chuva para a área terraceada.

Para a estimativa da intensidade de chuva máxima provável nesse tempo, será


empregada outra fórmula, também proposta por Silva (1998), como segue:

I = 250 TR0,14 / t0,44

Em que:

I = estimativa de chuva máxima para TR;

TR = período de retorno (tempo de recorrência adotado para a probabilidade da chuva


máxima);

t = tempo mínimo de duração da chuva (esta equação é aplicada para t < 120 min).

61
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

O tempo mínimo da chuva e igual ao tempo que a agua fica concentrada no canal até
ser descarregada no canal escoadouro.

O tempo de concentração de água no ponto de descarga pode ser estimado


pela fórmula proposta por Kirpch (1940), conforme segue:

Tc = 0,0195 L0,77 S-0,355

Em que:

Tc = tempo de concentração (min.)

L = maior caminho que a água percorre até o ponto de descarga (m)

S = desnível do maior caminho (m/m)

Como exemplo, para estimativa do tempo de concentração, tendo como


referência a Figura 67, o maior caminho que a água deverá percorrer até ponto de
descarga, é do ponto a para o ponto b (que representa o espaçamento horizontal
entre terraços = 18,4 m) e do ponto b até o ponto c (que representa o comprimento do
terraço = 500 m). Dessa forma, o comprimento L da equação será igual a 518,4 m. O
desnível desse caminho da água (S) pode ser obtido de forma semelhante, ou seja, a
diferença de nível do ponto a ao ponto b é igual ao espaçamento vertical entre os
terraços (no caso do exemplo = 1,84 m) e a diferença do ponto b ao ponto c
representa o gradiente total do terraço em toda a sua extensão (0,3%) que será 1,5 m.
Dessa forma, o valor de S para o cálculo do tempo de concentração será
[(1,84+1,5)/518,4] = 0,00644 m/m. O tempo de concentração da área será:

Tc = 0,0195 x 518,40,77 x 0,00644-0,385 = 16,75 min

O tempo de concentração é empregado para estimativa da chuva máxima


provável, uma vez que este representa o tempo mínimo que a chuva deverá durar para
que ocorra a vazão máxima de enxurrada da área. A estimativa dessa intensidade
máxima provável é obtida, assumindo o tempo de retorno de 10 anos, como no
exemplo do terraço em nível.

I = 250 TR0,14 / t0,44

I = 250 100,14 / 16,750,44 = 99,8 mm/h (0,0998 m/h)

A área de captação de enxurrada é aquela entre dois terraços, ou seja, o


comprimento do terraço multiplicado pelo espaçamento horizontal entre os mesmos.
O volume (vazão) da enxurrada depende também de quanto da chuva será

62
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

efetivamente transformada em enxurrada, que depende de atributos do solo e


cobertura vegetal. O coeficiente de enxurrada (Tabela 7) será então empregado para
expressar a fração da chuva que se eventualmente se transformará em enxurrada.
Assim, a vazão de enxurrada na área poderá ser estimada por:

A = 500m x 18,4m = 9200m2

Q=CxIxA

Em que:

Q = vazão da área (m3/h ou m3/s);

C = coeficiente de enxurrada (adimensional);

A = área de captação (m2).

Q = 0,4 x 0,0988 m/h x 9200 m2 = 363,6 m3/h (0,101 m3/s)

O dimensionamento do canal do terraço em gradiente é realizado para a vazão


máxima estimada para a área. A vazão em canais abertos é função da seção dos
mesmos e da velocidade da água no seu interior, que é conhecida como equação da
continuidade.

Q=SxV

No caso de canas de terra (terraços), é necessário observar que a velocidade da


água não deve ultrapassar a excessiva. Velocidades acima do limite podem causar
erosão no canal do terraço. Na tabela 8 são sugeridos valores de velocidade máxima a
ser admitida nestes canais, em função do tipo de solo e declividade.

Tabela 8. Valores máximos para velocidade média em canais abertos (m/s). Adaptado
de Neves (1986) e Bertoni e Lombardi Neto (1999).

Textura Solos mais erodíveis Solos menos erodíveis


Declividade (%)
0 a 5 5,1 a 10 >10 0a5 5,1 a 10 >10
Ricos em silte e/ou areia muito fina 0,20 NR NR 0,30 NR NR
Arenosa 0,45 NR NR 0,75 NR NR
Média 0,70 NR NR 0,80 NR NR
Argilosa 0,80 NR NR 1,20 NR NR

Como ponto de partida para o dimensionamento do canal do terraço para escoamento


do excesso de enxurrada, considera-se inicialmente a velocidade máxima (Tabela 7).

63
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

No caso do exemplo, o solo tem textura média e resistente à erosão (velocidade


máxima permitida = 0,80 m/s). A vazão calculada anteriormente foi de 0,101 m 3/s,
portanto, sendo a vazão uma função da seção e velocidade (Q = S x V), tem-se que a
seção do canal será:

S = Q/V

S = 0,101/0,8 = 0,126 m2

Assim, a vazão calculada foi de 0,101 m3/s. Portanto, sendo a vazão uma função
de seção e velocidade (Q = S x V), considerando a velocidade como sendo 0,6 m/s,
tem-se que a seção do canal será:

S = Q/V

S = 0,101/06 = 0,168 m2

No caso de terraços com gradiente, a largura poderá ser menor do que aquela
empregada para terraços em nível. Para efeito de exemplo, será empregado o terraço
de base igual a 3 metros, onde a largura do canal (l) será de 2 metros, com seção
triangular. A profundidade necessária para a vazão de 0,101 m3/s será:

p = S x 2/l

Em que:

p = profundidade do canal (m);

S = área (m2) da seção do canal (S = l x p/2);

l = largura do canal (m).

p = 0,168 x 2/2 = 0,168 m (0,17 m). A título de segurança, pode-se elevar 10% a
profundidade do canal, passando para 0,20 m (P).

5.7. MANUTENÇÃO DOS TERRAÇOS:

Anualmente, antecipando ao período das chuvas, deve-se realizar uma


manutenção preventiva nos terraços. No caso dos terraços em nível, a prevenção é
feita removendo-se os sedimentos acumulados no interior do canal para sobre o
camalhão. Os terraços em gradiente são verificados também quanto ao acúmulo de
sedimentos no canal, principalmente, quanto a possível erosão no mesmo. No caso de
se verificar erosão no interior do canal do terraço com gradiente, trata-se de
velocidade acima daquela que o solo é capaz de resistir. Corrige-se esse problema

64
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

vegetando-se o canal do terraço, ou colocando-se pequenos dissipadores de


velocidade no interior dos mesmos, tais como uma pequena valeta com pedras,
pedaços de madeira, etc. O mesmo se aplica aos canais escoadouros. Sedimentos
acumulados no interior das mesmas devem ser retirados e colocados sobre o
camalhão. Eventuais falhas nos camalhões dos terraços devem ser corrigidas.

5.8. CANAIS ESCOADOUROS:

Os terraços em gradiente desaguam em canais escoadouros que podem ser


depressões naturais do terreno, desde que estejam estabilizados, ou canais
construídos com essa finalidade. Em ambos os casos, o canal escoadouro deverá ser
vegetado e contar com dissipadores de energia da água para que não ocorra erosão no
interior do mesmo. Nesse caso, há necessidade de que esses canais sejam projetados e
construídos antecipadamente aos terraços, para a sua estabilização. Recomenda-se
que estes sejam construídos pelo menos um ano antes dos terraços para que a
vegetação tenha tempo para se estabelecer. Esse tipo de canal não deve ser profundo,
pois haverá risco de remoção de toda a camada superficial do solo durante a
construção do mesmo, dificultando o estabelecimento da vegetação. Portanto, trata-
se de canais rasos e largos (alguns autores recomendam a relação entre profundidade
(P)e largura (L) de cerca de 1:40). Em se tratando de seção triangular, a área da seção
do canal será:

S = L x P/2 (sendo L = 40P)

S = 20 P2

O risco de erosão no interior desses canais é maior do que em canais de


terraços, em função da declividade dos mesmos ser maior, uma vez que estes canais
são construídos no sentido do declive do terreno. Em função da cobertura vegetal e
declividade do terreno, as velocidades admissíveis no interior destes canais são
apresentadas na tabela 9.

Tabela 9. Valores máximos para velocidade média em canais escoadouros cobertos


com gramíneas de densidade média (m/s). Adaptado de Bertoni e Lombardi Neto
(1999), Neves (1986).

Cobertura Declividade (%)


0,0 a 5,0 5,1 a 10,0 >10,0
Regular 0,90 0,75
Boa 1,20 1,05 0,90
Ótima 1,50 1,35 1,20

65
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

O dimensionamento desses canais segue aquele empregado para canais de


terraços. A vazão de água nesse caso aumenta à medida que o canal avança encosta
abaixo, sendo uma somatória de vazões dos terraços. Assim, a vazão final dos mesmos
depende do número de terraços, iniciando pela vazão do primeiro terraço e
terminando com a vazão do último, acrescida da vazão dos demais.

Como mencionado anteriormente, o canal escoadouro deverá ser construído


pelo menos um ano antes da locação e construção dos terraços para que haja tempo
suficiente para o estabelecimento da vegetação no mesmo. A Tabela 10 indica algumas
sugestões de vegetação para canais escoadouros.

Tabela 10. Gramíneas recomendadas para revestimento de canais escoadouros e


bacias de contenção de enxurradas, para regiões com estação chuvosa no verão e
inverno moderadamente seco (Bertoni e Lombardi Neto, 1999).

Nome científico Nome comum


Brachiaria arrecta Tanner-grass
Brachiaria decumbens Braquiária decumbens
Brachiaria humidicula Braquiária humidícula
Brachiaria mutica Capim Angola, ou Capim fino
Panicum repens Canarana rasteira, ou Escalracho
Paspalum dilatatum Grama gorda, Capim-comprido, ou Capim-melador
Paspalum notatum Grama batatais

6. CONTROLE DA EROSÃO EM ESTRADAS RURAIS

O escoamento da produção agropecuária é feito, principalmente, em estradas


sem pavimentação que ligam praticamente a totalidade das propriedades rurais no
país. A precariedade desse sistema viário contribui para perdas, aumento no custo do
transporte e, evidentemente, elevação no preço dos produtos. A preservação contra a
erosão no interior e margens dessas estradas pode, em muitos casos, ser feita pelos
proprietários, com ou sem ajuda do poder governamental.

Uma forma eficiente de controle da erosão nas estradas é o emprego de bacias


de contenção (ou retenção) da enxurrada gerada nas estradas. Essas estruturas, além
de diminuir a ação da enxurrada na destruição das estradas, aumenta o
aproveitamento das chuvas, por permitir maior infiltração de água no solo. A Figura 70
mostra uma bacia de captação de água em estrada.

66
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 70. Bacia de contenção de enxurrada em estrada (Foto: José Maria Lima).

As bacias de captação, ou contenção de enxurrada são construídas nas margens


da estrada, a espaçamentos definidos em função da declividade da estrada e do tipo
de solo. Acra (1988) emprega a largura da estrada, a declividade e o volume da
enxurrada para a determinação da distância entre bacias. Bertolini et al. (1992)
empregam o volume de enxurrada, o raio da bacia, a largura da estrada e a
precipitação máxima diária para a definição da distância entre bacias. Neste texto, será
empregada a fórmula para espaçamento entre terraços proposta por Bertoni (1959),
para o cálculo da distância entre bacias, conforme a equação:

EV = 0,4518* K * D0,58

Em que:

K = fator de resistência do solo à erosão;

D = declividade (%)

Baseado na fórmula de Declividade tem-se:

D = (EV/EH)*100 EV = (D*EH)/100

Substituindo-se EV na primeira fórmula, tem-se:

(D*EH)/100 = 0,4518*K*D0,58 EH = 45,18 * K * D-0,42

Dessa forma, pode-se calcular o espaçamento (distância) horizontal entre as


bacias de captação que servirá também para cálculo do volume de enxurrada gerado
no trecho da estrada entre duas bacias consecutivas e que deverá ser retida pela bacia
a jusante.

As bacias locadas seguindo os esquemas apresentados nas figuras 71 e 72,


respectivamente, locação e cortes esquemáticos.

67
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 71. Esquema da locação das bacias de contenção de enxurrada em estradas.

Figura 72. Corte esquemático de bacia de captação de enxurrada.

O volume da enxurrada a ser retido pela bacia é calculado em função do


espaçamento entre bacias, da largura da estrada e da precipitação diária da região em
questão. Para estimativa da chuva máxima em 24 horas para a região de Lavras (MG),
de acordo com Silva (1998), tem-se:

68
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

I = 43,95*TR0,14/t0,77

Em que:

I = intensidade da chuva máxima diária;

TR = período de retorno, em anos;

t = tempo (24h).

O período de retorno, ou tempo de recorrência da chuva indica a probabilidade


de que uma chuva da intensidade prevista possa ocorrer, ou seja, a probabilidade é de
que uma chuva a cada TR terá a intensidade prevista. Considerando-se um período de
retorno de 10 anos, a intensidade máxima diária será: I = 126mm/24h (0,126m/24h). O
volume de enxurrada a ser retido na bacia será:

V = I * EH * L

Sendo: I = intensidade da chuva em 24 h (m); EH = espaçamento horizontal (distância)


entre bacias de captação (m); L = largura da estrada (m).

Como exemplo, será calculado o espaçamento entre bacias e o volume de


enxurrada para uma estrada de 4 metros de largura, com 7,5% de declividade, em solo
resistente à erosão (K=1,25), e a precipitação máxima diária igual a 126mm/24h
(0,126m/24h), em um período de retorno de 10 anos.

EH = 45,18 * 1,25 * 7,5-0,,42 = 24,20m

Vol = 0,126m * 24,2m * 4m = 12,2m3

Esse será, portanto, o volume de enxurrada que a bacia deverá reter.


Dependendo do formato da bacia, esta terá raio e profundidade definidos para reter o
volume máximo previsto de enxurrada. Antes de se apresentar os cálculos de volume
das bacias é necessário definir-se a inclinação do aterro da bacia, ou talude. Para efeito
de cálculo, será apresentado o talude de 1:1, ou seja, z=1, ou seja, um ângulo de
inclinação máximo de 45°.

As bacias de formato circulares têm o volume definido pela equação:

Vol = π p2 (r – p/3)

Quando se adota uma máxima inclinação de talude igual a 45°, a relação entre
raio e profundidade fica definida, conforme ilustrado na Figura 73.

69
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 73. Relação entre raio e profundidade, com o volume da bacia de contenção,
para inclinação máxima de aterro igual a 45°.

Voltando ao exemplo no qual a bacia terá de comportar 12,2 m 3 de enxurrada,


a profundidade e o raio de uma bacia circular serão:

p – (12,2/6,25)1/3 = 1,23 m

r = 2,41 * 1,23m = 2,96 m

A Figura 74 possibilita a resolução gráfica para o espaçamento horizontal entre


as bacias, em função da declividade e tipo de solo; do volume de enxurrada a ser
retido pela bacia, em função do espaçamento horizontal e largura da estrada; e do raio
e profundidade da bacia, em função dos parâmetros anteriores. A entrada da figura é
feita pela declividade da estrada, traçando uma reta horizontal até a curva
correspondente ao tipo de solo, a partir do ponto na curva de resistência do solo,
direciona-se verticalmente até a reta correspondente a largura da estrada e
novamente na horizontal até a curva de raio e profundidade da bacia.

70
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 74. Método monográfico para determinação de distância entre bacias de


captação, volume de enxurrada a ser retido pela bacia, raio e profundidade da bacia,
para bacias circulares com inclinação de aterro de 45° (talude 1:1).

Caso a bacia a ser construída seja em formato de semicírculo, os cálculos para


profundidade podem ser feitos em função do volume e do raio da bacia. As fórmulas,
bem como a maneira gráfica para determinação da profundidade, em função de
volume e raio da bacia são apresentadas na Figura 75.

71
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Figura 75. Relação entre volume e profundidade de bacias semicirculares, para


diferentes raios de bacia.

Seguindo o exemplo anterior, onde o volume de contenção da bacia será 12,2


3
m , a profundidade para o mesmo raio de 3 metros, com talude igual a 1, será:

p = Vol/(0,74 r2) p = 12,2/(0,74 * 32) = 1,83 m

A construção da bacia poderá ser feita com lâminas, ou pá carregadora, no caso


das semicirculares, e com retro escavadoras, no caso de bacias circulares. Em ambos
os casos, a terra do corte será empregada para formação do aterro. É recomendável
adicionar-se a altura do aterro, cerca de 20%, para compensar o abatimento do
mesmo. O canal de acesso à bacia deve apresentar cerca de 1 metro de largura, com
declive máximo de 1% no seu leito, e com dissipadores de energia para a enxurrada.

A cobertura vegetal é também importante, pois dará maior estabilidade,


principalmente ao aterro da bacia e no canal de acesso à mesma.

Na Tabela 10 foram apresentadas algumas sugestões de cobertura vegetal para


revestimento das bacias de contenção.

Para melhor desenvolvimento da vegetação em bacias de contenção e canais


escoadouros, são recomendadas a calagem e adubação da área de acordo com
resultados de análise de solo.

72
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Anualmente, antecipando ao período das chuvas, deve-se realizar uma


manutenção preventiva nas bacias. Sedimentos acumulados no interior das mesmas
devem ser retirados e colocados sobre o aterro. Eventuais falhas no aterro devem ser
corrigidas e obstruções nos canais de acesso às bacias também devem ser vistas e
corrigidas.

7. CAPACIDADE DE USO DA TERRA

A classificação da capacidade de uso da terra utilizada no Brasil (Lepsch et al.


1991) visa estabelecer bases para o seu melhor aproveitamento e envolve a avaliação
das necessidades para os vários usos que possam ser dados a determinada gleba. As
classes de capacidade de uso da terra deverão ser utilizadas como base sobre a qual os
fatores econômicos e sociais de determinada área possam ser considerados ao se
planejar modificações no uso do solo.

Para se determinar a capacidade de uso de cada gleba de terra de uma


microbacia hidrográfica, ou propriedade agrícola, inicialmente faz-se necessário um
levantamento do meio físico, mesmo que de forma simplificada, analisando aqueles de
maior relevância para o uso racional da terra, sendo os principais: a textura, a
permeabilidade e a profundidade do solo, além de alguns fatores limitantes,
particularmente, aqueles relacionados com a fertilidade; a declividade do terreno, a
erosão existente e o uso atual. Estes fatores deverão ser devidamente interpretados e
analisados em conjunto, objetivando o conhecimento das potencialidades e limitações
da terra.

De acordo com Bertoni e Lombardi Neto (1999), para se proceder a essa


classificação do potencial de uso da terra, os critérios adotados são principalmente os
seguintes:

Conhecimento da vulnerabilidade do solo, em função, especialmente, de sua


declividade e erodibilidade;

Da produtividade do solo, em função de sua fertilidade, da sua falta, ou excesso de


umidade, acidez, alcalinidade, etc.;

Das obstruções ao emprego de máquinas, em função de sua pedregosidade e


profundidade efetiva; dos sulcos de erosão existentes, do encharcamento, etc.;

Do ambiente ecológico, em função especialmente das condições climáticas,


notadamente o regime pluviométrico.

73
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Segundo os autores, além de tais critérios, é necessário que sejam


considerados os dados e informações obtidos mediante a experimentação agronômica.
Associando-se devidamente todos os fatores levantados, organizando uma
classificação das glebas de cada propriedade, ou bacia hidrográfica, ou determinada
região, em função de sua capacidade de uso.

7.1. MEIO FÍSICO

Profundidade Efetiva do Solo: é a profundidade máxima do solo favorável ao


desenvolvimento do sistema radicular, armazenamento de água e absorção de
nutrientes pelas plantas.

Tabela 11. Classificação da profundidade efetiva do solo

Profundidade (m) Classificação


>2,00 Muito profundo
1,00 - 2,00 Profundo
0,50 - 1,00 Moderadamente profundo
0,25-0,50 Raso
<0,25 Muito raso

Em função do tipo de sistema radicular as plantas cultivadas apresentam


diferentes exigências no que se refere à profundidade efetiva do solo. Como exemplo,
a profundidade efetiva do solo para o cafeeiro está em torno de 1,20m, isto para
regiões cujo clima apresenta boa distribuição de chuvas durante o ano, como ocorre
em anos normais no centro-sul do Brasil; maiores períodos de seca exigem maior
profundidade do solo (Guimarães e Lopes, 1986). AS pastagens podem ser bem
manejadas mesmo em solos rasos a moderadamente profundos, desde que não haja
limitações de água e nutrientes.

Fertilidade do solo: refere-se à capacidade do solo em suprir as plantas em nutrientes,


representando a capacidade do solo em sustentar a produção agrícola.

Lepsch et al. (1991) classificam o solo quanto à fertilidade em muito alta; alta; média;
baixa e muito baixa, levando em consideração a capacidade do solo em manter a
produtividade durante algum tempo; esta classificação é utilizada em países de clima
frio onde é comum a ocorrência de solos férteis em condições naturais. Para as
condições brasileiras, os autores alertam para a necessidade de análise de resultados

74
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

analíticos de amostras de solos, salientando que estes são difíceis de interpretar se


não estiverem correlacionados com dados de produção de culturas em condições de
campo.

Os solos podem apresentar grandes diferenças em seus atributos morfológicos,


químicos, físicos e mineralógicos, tornando difícil o julgamento seguro sobre os dados
isolados de análises químicas como indicadoras da capacidade do solo suprir as plantas
com nutrientes. Particularmente, na região dos cerrados, na maioria dos solos só se
observa produtividades elevadas de plantas quando a fertilidade dos mesmos é
construída pelo uso de corretivos e fertilizantes.

Na região dos cerrados o caráter eutrófico e distrófico dos solos, a principio,


poderiam ser utilizados no julgamento da fertilidade do solo, entretanto, existem
limitações da aplicação do conceito de eutrofia em conotação com a fertilidade
principalmente dos Neossolos Quartzarênicos e Latossolos altamente intemperizados.
Nestes solos devido aos baixos de CTC, e pequenos valores de soma de bases, podem
resultar em saturação por bases > 50% e indicar solos eutróficos de baixa fertilidade
natural. O conceito de eutrofia também não permite inferências a respeito de
disponibilidade de nutrientes essenciais como o nitrogênio, fósforo, enxofre e alguns
micronutrientes.

Ramalho Filho e Beek (1995) apresentam uma classificação que leva em


consideração a soma de bases e a saturação por bases ao longo do perfil, e o teor de
alumínio trocável, a condutividade elétrica do estrato de saturação e a saturação de
sódio na camada arável. O potencial nutricional do solo pode ser determinado com
base no relacionamento entre saturação por bases (V%) e a capacidade de troca de
cátions (CTC). O solo para ser considerado fértil deve apresentar saturação por bases
acima de 50% (solo eutrófico); capacidade de troca de cátions acima de 8 cmol c dm-3
(CTC elevada); o teor de fósforo considerado adequado no solo depende da textura,
sendo: > 8 mg dm-3 para solos muito argilosos; > 12 mg dm-3 para solos argilosos; > 20
mg dm-3 para solos de textura média e > 30 mg dm-3 para solos arenosos.
Naturalmente é fundamental um perfeito balanço entre nutrientes no solo, o que varia
de cultura para cultura.

Como neste material a ênfase vem sendo dado aos solos dos Cerrados onde a
condutividade elétrica e a saturação por sódio normalmente é muito baixa, como
sugestão na Tabela 12 é apresentada uma proposta de classificação simplificada de
fertilidade dos solos dos Cerrados tendo por base a saturação por bases; a saturação
por alumínio, e a CTC efetiva e potencial dos solos.

75
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Tabela 12. Classificação dos solos dos Cerrados, quanto à limitação da Fertilidade
(adaptado de COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS,
1999).

Al% T T V% na camada de 20-60 cm Limitação da fertilidade


-3 -3
(camada de 20-60 cm) cmolc dm cmolc dm
>75 <1 <2 <20 Muito forte
50-75 1-2 2-4 20-40 Forte
30-50 2-4 4-8 40-60 Moderada
15-30 4-8 8-15 60-80 Ligeira
<15 >8 >15 >80 Nula

Os parâmetros t e T serão considerados críticos nesta classificação tendo em vista a


dificuldade de correção. Al%, saturação por alumínio; t, CTC efetiva; T, CTC potencial;
V%, saturação por bases.

Pedregosidade: Diz respeito ao percentual de cascalhos, calhaus, matacões ou


rochosidade que interfere no uso do solo, particularmente na mecanização.

Tabela 13. Classificação do solo quanto à pedregosidade.

Percentual de partículas grosseiras na massa de solo Classificação


<15% ou 0,01% da superfície Sem pedras
15-30% (limitando infiltração e mecanização) Cascalhentos
>50% Extremamente cascalhentos
0,01 -1% da superfície com matacões Com matacões
1-10% da superfície om matacões Abundância de matacões
10-90% da superfície com matacões Excessivamente com matacões
2-15% da superfície com rochas Solo rochoso
15-50% da superfície com rochas Solo muito rochoso
50-90% da superfície com rochas Solo extremamente rochoso
Cascalhos: partículas com Ø entre 2 e 20 mm; calhaus: partículas com Ø entre 20 e 200
mm; matacões: partículas com Ø > 200 mm.

Permeabilidade e drenagem interna: é a propriedade que representa uma maior, ou


menor dificuldade com que a percolação da água ocorre através dos poros do solo.
Nos materiais granulares não coesivos como as areias, por exemplo, há uma grande
porosidade o que facilita o fluxo de água através dos solos, enquanto que os materiais
finos e coesivos como as argilas, ocorre o inverso.

76
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Tabela 14. Limites aproximados de permeabilidade para definição das classes de


permeabilidade e drenagem interna dos solos (Adaptado de USDA, 1951).

Classificação
-1
Valor de permeabilidade (mm h ) Permeabilidade Drenagem interna
<1,25 Muito lenta Deficiente
1,25 – 5 Lenta Pobre
5 – 75 Moderada Moderada
75 – 250 Rápida Adequada
>250 Muito rápida Excessiva

Declividade do terreno: O relevo influencia o escoamento das águas de chuva em


diferentes trajetórias sobre o terreno, desta forma a declividade se destaca como um
dos principais responsáveis pelas perdas de solo. Com base na declividade do terreno
classifica-se o relevo (Tabela 15). As distinções são empregadas para prover
informações sobre praticabilidade de emprego de equipamentos agrícolas, e facilidade
de inferências sobre susceptibilidade dos solos à erosão.

Tabela 15. Classificação do relevo de acordo com Embrapa (1999).

Declividade (%) Classificação Comentários


do relevo
0-3 Plano Terreno com topografia horizontal, onde desnivelamentos são
muito pequenos
3-8 Suave- Terrenos pouco movimentados constituídos por conjunto de
ondulado colinas, ou outeiros, com declive suave
8-20 Ondulado Terrenos pouco movimentados constituídos por conjunto de
colinas, ou outeiros, com declives moderados
20-45 Forte Terrenos movimentados constituídos por conjunto de outeiros, ou
ondulado morros, e raramente colinas, com declives fortes
45-75 Montanhoso Terrenos muito movimentados com predomínio de formas
acidentadas, usualmente constituídos por morros, montanhas,
maciços montanhosos e alinhamentos montanhosos apresentando
desnivelamentos relativamente grandes e declives fortes, ou muito
fortes
>75 Escarpado Terrenos com predomínio de formas abruptas compreendendo
superfícies muito íngremes
Erosão: desgaste provocado pelas águas da chuva. Considera-se nesta classificação a
erosão laminar; a erosão em sulcos e as voçorocas.

Área com Erosão Laminar Ligeira: quando menos de 25% do horizonte A já foi
removido, ou quando o solo ainda apresentar mais de 15 cm de horizonte A;

77
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Área com Erosão Laminar moderada: quando entre 25-75% do horizonte A já foi
removido, ou quando o horizonte A apresentar entre 5-15 cm de profundidade;

Área com Erosão Laminar severa: quando mais de 75% do horizonte A já foi removido,
ou quando o horizonte A apresentar menos de 5 cm de profundidade;

Área dom Erosão Laminar muito severa: quando todo o horizonte A já foi removido e
o horizonte B já foi afetado;

Área com Erosão Laminar extremamente severa: Quando a maior parte do horizonte
B já foi removida e o horizonte C já foi afetado;

Área com Erosão em Sulcos Ocasionais: quando a área apresenta sulcos distanciados
em mais de 30 metros;

Área com Erosão em Sulcos Frequentes: quando a área apresenta sulcos distanciados
em menos de 30metros, porém afetando menos de 75% da área;

Área com Erosão em Sulcos Muito Frequentes: quando a área apresenta sulcos
distanciados em menos de 30 metros, e mais de 75% da área já foi afetada.

Área com Erosão em Sulcos Superficiais: quando os sulcos podem ser desfeitos com o
preparo do solo;

Área com Erosão em Sulcos Rasos: quando os sulcos não podem ser desfeitos com o
preparo do solo, mas ainda podem ser cruzados por equipamentos agrícolas;

Área com Erosão em Sulcos Profundos: quando os sulcos não podem ser cruzados por
equipamentos agrícolas, mas ainda não atingiu o horizonte C;

Área com Voçorocamentos: as voçorocas são sulcos muito profundos e normalmente


muito largos, já atingindo o horizonte C.

Os principais atributos ligados a solo, relevo, erosão e cobertura vegetal são


condicionadores da capacidade de uso do solo, uma vez que a utilização racional terá
que levar em conta a potencialidade de exploração de cada gleba.

Sem dúvida, quanto mais bem estudado for o solo e quanto maior o número de
detalhes e indicações recolhidas no seu levantamento, tanto mais corretas serão as
bases para um planejamento de seu uso racional.

Todas as terras produtivas podem ser divididas em duas categorias: (a) as que
garantem uma colheita satisfatória por determinado período de cultivo sem danos
ambientais, e, (b) as que precisam estar cobertas com vegetação permanente para
produzir lucro satisfatório sem degradação ambiental. Deve-se, portanto, em uma

78
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

classificação de terras, determinar em qual categoria uma gleba se enquadra. A essas


duas, pode-se acrescentar uma terceira categoria: a das terras que são tão pobres, ou
tão limitantes, o que exclui qualquer possibilidade de uma exploração racional.

Basicamente as terras podem ser agrupadas nas seguintes categorias: (a) cultiváveis;
(b) cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas permanentes e
adaptadas em geral para pastagens, ou florestas; e; (c) terras que não se prestam para
vegetação produtiva. As classes de capacidade de uso são baseadas nessas três
categorias.

A classificação convencional, aceita universalmente, abrange oito classes de


capacidades de uso do solo, sendo quatro de terras de cultura (Grupo A), três de terras
de pastagens e reflorestamento (Grupo B), e uma de terras impróprias para uso
produtivo (grupo C).

As classes de capacidade de uso são caracterizadas, em termos gerais, apenas do


ponto de vista das condições físicas da terra, ou seja, das condições inerentes do solo e
ecológicas locais. Não são consideradas as condições econômicas e sociais do
proprietário para o condicionamento da potencialidade de exploração do solo, embora
o sejam na elaboração dos planejamentos especiais de áreas, ou de propriedades
agrícolas.

7.2. CLASSES DE CAPACIDADE DE USO DO SOLO

As características das oito Classes de Capacidade de Uso do Solo são as seguintes:

Classe I: Terras cultiváveis permanentemente e seguramente, com produção de


colheitas entre médias e elevadas, das culturas anuais, sem práticas, ou medidas
especiais. O solo é profundo e fácil de trabalhar, conserva bem a água, é
medianamente suprido de elementos nutritivos, o terreno tem declividade suave, e
podem ser cultivadas sem práticas especiais de controle da erosão.

Classe II: Terras cultiváveis que requerem uma ou mais práticas especiais para serem
cultivadas segura e permanentemente, com a produção de colheitas entre médias e
elevadas das culturas anuais. A declividade pode ser suficiente para correr enxurrada e
provocar erosão. O solo pode ter alguma deficiência que possa limitar a sua
capacidade de uso: algumas naturalmente encharcadas podem requerer drenagem;
podem não ter boa capacidade de retenção de umidade; algumas práticas
conservacionistas são necessárias, tais como plantio em contorno, plantas de
cobertura, culturas em faixa, até mesmo terraços. Em alguns casos, pode necessitar a
remoção de pedras e utilização de adubos e corretivos.

79
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Classe III: Terras cultiváveis que requerem medidas intensivas, ou complexas, a


fim de poder ser cultivadas, segura e permanentemente, com produção de colheitas
entre médias e elevadas das culturas anuais. A topografia moderadamente inclinada
exige cuidados intensivos para controle de erosão; a drenagem deficiente exige
controle da água; a baixa produtividade requer práticas especiais de melhoramento do
solo. São enquadradas nessa classe as melhores terras, não irrigadas, de algumas
regiões semi-áridas.

Classe IV: Terras que não se prestam para cultivos contínuos, ou regulares, com
produção de colheitas médias ou elevadas das culturas anuais, mas que se tornam
apropriadas, em períodos curtos, quando adequadamente protegidas. São de declive
íngreme, erosão severa, drenagem muito deficiente, baixa produtividade, ou qualquer
outra condição que a torna imprópria para o cultivo regular. Em algumas regiões, onde
há escassez de chuva, as culturas sem irrigação não são seguras.

Classe V: Terras que não são cultiváveis com culturas anuais, sendo
especialmente adaptadas para algumas culturas perenes, para pastagens, ou para
reflorestamento. São terras praticamente planas com problemas de encharcamento,
ou alguma obstrução permanente, como afloramento de rochas. O solo é profundo e
as terras têm poucas limitações para uso em pastagens, ou silvicultura, podendo ser
usadas permanentemente sem práticas especiais de controle de erosão, ou de
proteção do solo.

Classe VI: Terras que não são cultiváveis com culturas anuais, sendo
especialmente adaptadas para algumas culturas perenes, para pastagens, ou
reflorestamento. São terras que apresentam problemas de pequena profundidade do
solo, ou declividade excessiva. Em regiões áridas e semi-áridas, a escassez de umidade
é a principal causa para o enquadramento na classe.

Classe VII: Terras que, além de não serem cultiváveis com culturas anuais,
apresentam severas limitações, mesmo para pastagens, ou para reflorestamento,
exigindo grandes restrições de uso, com ou sem práticas especiais. Requerem cuidados
extremos para controle da erosão.

Classe VIII: Terras não cultiváveis com qualquer tipo de cultura e não se
prestando para o uso com florestas, ou para produção de qualquer outra forma de
vegetação permanente de valor econômico. Prestam-se apenas para proteção e abrigo
da fauna silvestre, para fins de recreação, ou de armazenamento de água em açudes.
São áreas extremamente áridas, declivosas, pedregosas, arenosas, encharcadas, ou
severamente erodidas. São, por exemplo, encostas rochosas, terrenos íngremes
montanhosos, ou de afloramento rochoso, dunas arenosas da costa, terrenos de
mangue e de pântano.
80
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Para facilitar na determinação de capacidade de uso de cada gleba, deve-se, em


cada levantamento, organizar uma tabela indicadora das combinações de fatores
condicionadores da capacidade de uso do solo que podem ser encontrados em cada
classe. Para orientação dos técnicos planejadores, e de ajuda a organização de listas de
recomendações para as principais práticas conservacionistas a adotar em cada classe
de capacidade de uso do solo e em cada modalidade de exploração.

Com base na análise dos cinco parâmetros (profundidade efetiva,


pedregosidade, fertilidade, drenagem interna do perfil do solo, declividade do terreno
e erosão), na Tabela 16 é apresentada uma simplificação de classificação das terras no
Sistema de Capacidade de Uso.

As classes de Capacidade de Uso das Terras podem não ter um caráter permanente,
pois as modificações naturais sofridas pelo solo, ou a introdução de novas práticas de
manejo podem deslocar uma gleba de uma para outra classe de capacidade de uso,
porém a avaliação da capacidade de uso se baseará nas condições existentes por
ocasião do levantamento.

Tabela 16. Simplificação da Classificação das Terras no Sistema de Capacidade de Uso


utilizada no Brasil.

Parâmetro Grau Classe Parâmetro Grau Classe


Nulo I Excessiva II
Ligeira I Adequada I
Limitação da Moderada II Drenagem Moderada II
fertilidade do Forte III interna do perfil Pobre III
solo Muito forte VI Deficiente V
>1m I Ausência I
0,50-0,99m II <1% II
Profundidade 0,25-0,49m IV 1-10% III
efetiva <0,25m VI Pedregosidade 11-30% IV
31-50% VI
>50% VII
0-2% I Não aparente I
2,1-5% II Ligeira II
5,1-10% III Moderada III
Classe de 10,1-15% IV Erosão laminar Severa VI
declividade 15,1-45% VI Muito severa VII
>45% VII Extremamente VIII
severa
Ocasionais II Ocasionais III
Sulcos Frequentes III Sulcos rasos Frequentes IV
superficiais Muito IV Muito frequentes VI
frequentes
Ocasionais IV
Sulcos Frequentes VI Voçorocas
profundos Muito VII VIII
frequentes

81
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Como referência, considera-se como solo ideal, aquele que apresenta


profundidade efetiva suficiente para expansão do sistema radicular das plantas, ou
seja, apresenta profundidade sem limitações químicas e físicas de mais ou menos 150
cm, assim, este solo deve fertilidade relativamente alta, com atributos que facilitem a
correção de eventuais deficiências.

O solo ideal deve apresentar ainda boa capacidade de retenção e


armazenamento de água em forma disponível às plantas, sem problemas de excesso.
Desta forma, este solo deve apresentar boa drenagem interna, não apresentando,
portanto deficiência de oxigênio, além de outras condições ambientais a exemplo de
condições térmicas adequadas para o crescimento e desenvolvimento das culturas.
Deve apresentar baixa erodibilidade, deve estar situado em relevo favorável à
mecanização e que não o predisponha à erosão. Este solo deve apresentar ausência de
outros impedimentos, a exemplo, de pedregosidade.

A maioria das estradas deverá ser protegida com bacias de contenção. As


propriedades deverão ser planejadas globalmente de modo a ficarem protegidas
desde as cabeceiras dos morros, até o leito dos córregos.

Juntamente com os tipos de exploração serão recomendadas as práticas


conservacionistas. Assim, pomar e cafezal, com o plantio em contorno, ou com
terraços de base estreita: a cultura anual, cultivada em contorno e protegida com os
cordões de vegetação permanente, ou terraceamento; a pastagem, com sulcos de
retenção de umidade e etc.

A definição de classes de capacidade de uso das terras por si só, reflete o


quadro de fatores do meio físico, constituindo-se em importante documento para o
planejamento da atividade rural. Sua confrontação com a ocupação atual das terras
define as áreas de uso em conflito.

O Sistema de Classificação de Capacidade de Uso das Terras estabelece classes


homogêneas de terrenos com base no grau de limitação de uso, e subclasses que
representam as classes qualificadas quanto à natureza da limitação. Na caracterização
das classes, leva-se em consideração a maior, ou menor complexidade das práticas
conservacionistas, no caso, as de controle de erosão e as de melhoramento do solo.

7.2.1. Subclasses de Capacidade de Uso

Dentro de cada Classe de Capacidade de Uso, as terras que apresentam


limitações de natureza diferentes são enquadradas em subclasses diferentes.

As subclasses explicitam mais detalhadamente as práticas de conservação e/ou de


melhoramentos. A natureza da limitação é indicada por letras minúsculas após o

82
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

algarismo romano das classes. Quando existem duas limitações com intensidades
semelhantes, ambas são indicadas separadas por vírgula, com a primeira delas
designando a limitação predominante. São quatro as naturezas de limitações expressas
pelas subclasses: e, quando existe erosão, ou há risco de que ocorra; a, quando há
problemas de encharcamento; s, quando há limitação do solo e c, quando a limitação
diz respeito ao clima (Lepsch et al., 1991).

Como provável causa da degradação dos solos, propensão destes solos ao processo
erosivo, ou tipos de processos erosivos existentes, cita-se:

Declive acentuado do terreno;

Rampa longa;

Mudança textural abrupta no perfil do solo;

Presença de erosão laminar;

Presença de erosão em sulcos;

Presença de voçorocas;

Permeabilidade do solo baixa;

Horizonte A arenoso.

No que diz respeito às limitações diretamente relacionadas aos solos de cerrado, cita-
se como os mais críticos:

Pequena profundidade efetiva;

Textura arenosa ao longo do perfil;

Baixa saturação por bases;

Toxidade de alumínio;

Baixa capacidade de troca de cátions;

Alta saturação por alumínio.

As limitações relacionadas com excesso de água e/ou deficiência de oxigênio são


comuns em solos de várzeas; em solos localizados ao longo de cursos de água, ou com
problemas estruturais, o que está relacionado dom compactação e/ou adensamento,
sendo elas:

Lençol freático elevado;

83
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Risco de inundação;

Porosidade de aeração muito baixa, ou pequeno percentual de macroporos.

O clima predominante no domínio do Cerrado é o Tropical sazonal, de inverno seco,


com temperatura média anual em torno de 22-23°C; máximas absolutas mensais que
podem chegar a mais de 40°C e mínimas absolutas mensais que podem atingir valores
próximos, ou até abaixo de zero, nos meses de maio, junho e julho, em algumas
regiões; com potendialidade, portanto, de ocorrência de geadas. Como salientado, a
precipitação se concentra de outubro a março, com média anual de 1200 a 1800 mm,
com curtos períodos de seca, chamados de verancos, que podem ocorrer em meio a
esta estação; os problemas criados para a agricultura ocorrem particularmente nos
solos dotados de baixa retenção de água e com restrições ao aprofundamento do
sistema radicular devido à limitações químicas e/ou físicas. No período de maio a
setembro, os índices pluviométricos mensais reduzem-se bastante, podendo chegar a
zero (http://www.portalbrasil.net/cerrado_climaerelevo.htm). Desta forma, citam-se
como prindipais limitações relacionadas ao clima:

Seca prolongada;

Geada;

Ventos frios.

Sendo assim, uma área de LATOSSOLO Eutrófico, com declive de 9%, que recebeu a
classificação IIIe-1, tem capacidade para ser explorada com culturas anuais, com
práticas complexas de conservação, porque o principal problema desta terra diz
respeito à susceptibilidade à erosão, devido à declividade acentuada do terreno. Sendo
este LATOSSOLO Distrófico e recebendo a classificação IIIe-1,s-3, significa que o
manejo da área deve envolver controle da erosão e correção das deficiências de
fertilidade do solo.

Sendo a área recoberta por CAMBISSOLO Álico, raso e cascalhento, localizado


em declive de 25%, com sintomas de erosão laminar severa, apesar das limitações
relativas a solo (fertilidade, profundidade efetiva e cascalho) serem consideráveis, o
que mais restringe o uso desta terra é o declive acentuado do terreno e a erosão do
solo já existente; com isto a classificação desta terra é VIe-1,e-4.

8. BIBLIOGRAFIAS COMPLEMENTARES SUGERIDAS

ACRA. A.M. Captação e Aproveitamento de Águas Pluviais das Estradas. Boletim


Técnico. Secretaria de Agricultura do Estado de São Paulo. Campinas, SP. 1988. 12p.

84
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

Amaral, N. D. Noções de conservação de solos. 2ª. Ed. São Paulo: Nobel. 1984. 120p.

ASSAD, E.D. Chuva nos cerrados: análise e espacialização. EMBRAPA-CPAC/SPI,


Brasília, DF. 1994. 423p.

BERTOLINI, D.; DRUGOWICH, M.I.; LOMBARDI NETO, F.; BELLINAZZI JÚNIOR, R.


Controle de erosão em estradas rurais. Campinas: CATI, 1992, 37p. (Boletim Técnico
207).

BERTOLINI, D.; LOMBARDI NETO,F.; LEPSCH, I.F.; OLIVEIRA, J.B.; DRUGOWICH, M.E.;
ANDRADE, N.O.; GALETI, P.A.; BELLINAZZI JÚNIOR, R.; DECHEN, S.C.F. Manual técnico
de manejo e conservação do solo e água: tecnologias disponíveis para controlar o
escorrimento superficial do solo. Campinas: CATI, 1993. v. 4. p. 1-65. (CATI. Manual n°
41).

BERTONI, J. O espaçamento dos terraços em culturas anuais, determinado em função


das perdas por erosão. Bragantia. IAC, Campinas. v. 18(1). P.113-140. 1959.

BERTONI, J.; LOMBARDI NETO, F. Conservação do solo. São Paulo: Ícone. 4º Ed. 1999.
355p.

COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Recomendações


para o uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais; 5ª aproximação, Viçosa,
1999. 359 p.

GUIMARÃES, P.T.G.; LOPES, A.S. Solos para cafeeiro: característica, propriedades e


manejo. In: RENA A. B., MALAVOLTA E.; ROCHA M.; YAMADA T. Cultura do cafeeiro:
fatores que afetam a produtividade. Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e
do Fosfato. Piracicaba, SP, 1986. p. 115-156.

KIRPCH, P.Z. Time of concentration of small agricultural watersheds. Civil Eng. 10. 362.
1940.

LEPSCH, I. F.; BELLINAZZI JR., R.; BERTOLINI, D.; ESPÍNDOLA,C. R. Manual para
levantamento utilitário do meio físico e classificação de terras no sistema de
capacidade de uso. 4ª aproximação. Campinas: SBCS, 1991, 175p.

LIMA, J.M.; OLIVEIRA, G.C.; MELO, C.R. Conservação do solo e da água. Lavras. 2010.
Notas de aula prática. Universidade Federal de Lavras. 62p.

NEVES, E.T. Curso de hidráulica. 8ª ed. Porto Alegre. Ed. Globo. 1986. 577p.

RAMALHO FILHO, A., BEEK, K.K. Sistema de avaliação da aptidão agrícola da terras. (3
ed. revisada). Rio de Janeiro. MAARA/EMBRAPA – CNPS, 1995. 65p.

85
Universidade Federal de Viçosa/Campus de Rio Paranaíba
Disciplina AGR 366 – Levantamento, Aptidão, Manejo e Conservação do Solo
Professor Doutor Alberto Carvalho Filho
Email: acarvalhofilho@ufv.br Celular: (34)9-9992-5320

SILVA, A.M. Hidráulica de terraços. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 19, n.


191. p. 35-38, 1998.

TOURINO,M.C.C. Influência da velocidade tangencial dos discos de distribuição e dos


condutores de sementes de soja, na precisão de semeadoras. Campinas: UNICAMP,
1993. 114p. Dissertação Mestrado.

USDA-Agricultural Research Administration. Soil Survey Mannual. Washington. 1951.

86

Você também pode gostar