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Modelo Acoplado de Transporte por Arraste de Sedimentos

Heterogêneos Aplicado a Barragens de Rejeitos


Coupled Bed Load Model of Heterogeneous Sediments Applied
to Tailings Dams

Modelo Acoplado de Transporte por Arrastre de Sedimentos Heterogéneos


Aplicado a Presas de Residuos
André Luís Brasil Cavalcante, André Pacheco de Assis, Márcio Muniz de Farias

Resumo. Barragens de rejeitos construídas com a técnica aterro hidráulico, normalmente apresentam deficiências geotécnicas
relacionadas aos aspectos de construção e segurança. O material é depositado de forma aleatória e as grandezas físicas que afetam
a deposição hidráulica normalmente variam consideravelmente durante o processo construtivo. O problema de deposição hidráu-
lica deve satisfazer às equações de campo relativas às condições de equilíbrio, continuidade de água e continuidade de sólidos,
bem como uma equação constitutiva para a taxa de transporte. Neste artigo propõe-se um modelo de transporte de sedimentos
heterogêneos por arraste, considerando todas as condições anteriores, bem como as características do rejeito (granulometria e
teor de ferro) e do processo de bombeamento (vazão e concentração). O problema é transiente, acoplado e não-linear, sendo passí-
vel de solução analítica ou numérica, dependendo das condições de contorno. O modelo é aplicado para a previsão da distribuição
granulométrica e de densidade ao longo de uma pilha de rejeito e a solução é comparada a resultados experimentais, tanto de cam-
po como de laboratório, reproduzindo adequadamente o fenômeno observado.
Palavras-chave: rejeito de mineração de ferro, transporte por arraste, sedimentos heterogêneos, modelagem.

Abstract. Tailings dams built using hydraulic fill technique normally present geotechnical deficiencies related to construction
aspects and safety. The material is placed randomly and the physical variables which affect the hydraulic deposition process nor-
mally change considerably during construction. The hydraulic problem must satisfy field equations related to equilibrium, water
and solid mass continuity, as well as a constitutive relation for the rate of transport. This paper proposes a new bed load model
for heterogeneous sediments, considering all the conditions above. The model also incorporates the properties of the tailings
(mean diameter and percentage of iron) and of the pumping process (flow rate and slurry concentration).The problem is tran-
sient, coupled and non-linear, and it may be solved either analytically ou numerically depending on the boundary conditions. The
model was applied to predict the distribution of grain sizes and density of iron tailings dams. The solution was compared to ex-
perimental data obtained both from laboratory and in situ tests, and the model could adequately reproduce the actual deposition
phenomenon.
Key words: iron tailings, bed-load transport, heterogeneous sediments, modeling.

Resumen. Las presas de relaves construidas con la técnica de relleno hidráulico, normalmente presentan deficiencias geotécnicas
relacionadas a los aspectos de construcción y seguridad. El material es depositado en forma aleatoria y las cantidades físicas que
afectan la deposición hidráulica normalmente varían considerablemente durante el proceso constructivo. El problema de
deposición hidráulica debe satisfacer las ecuaciones de campo relativas a las condiciones de equilibrio, continuidad de agua y
continuidad de sólidos, así como una ecuación constitutiva para la taza de transporte. En este artículo se propone un modelo de
transporte de sedimentos heterogéneos por arrastre, considerando todas las condiciones anteriores. El modelo toma en cuenta las
características del residuo (granulometria y contenido de hierro) y del proceso de bombeo (caudal y concentración). El problema
es transiente, acoplado y no linear, siendo factible de solución analítica o numérica, dependiendo de las condiciones de contorno.
El modelo es aplicado para la previsión de la distribución granulométrica y de densidad a lo largo de una cancha de relave. La
solución es comparada a resultados experimentales, obtenidos en campo y laboratorio, reproduciendo adecuadamente el
fenómeno observado.
Palabras clave: relaves de hierro, transporte por arrastre, sedimentos heterogéneos, modelamiento.

André Luís Brasil Cavalcante, Professor Doutor, UPIS Faculdades Integradas, Brasília, DF, Brasil. e-mail: cavalcantealb@yahoo.com.br.
André Pacheco de Assis, Professor Doutor, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil. e-mail: aassis@unb.br.
Márcio Muniz de Farias, Professor Doutor, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil. e-mail: muniz@unb.br.
Recebido em 10/4/2006; Aceitação final em 28/8/2006; Discussões até 27/4/2007.

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Cavalcante et al.

1. Introducão ções mais variadas possíveis, dificultando desta forma a


caracterização paramétrica do material depositado e, con-
O estudo do comportamento de barragens alteadas seqüentemente, o estudo do comportamento das mesmas.
com rejeitos desperta interesse para mineradoras de todos O modelo matemático apresentado neste artigo é viá-
os portes, tendo em vista os possíveis danos que uma vel para mineradoras de pequeno, médio e grande porte,
ruptura nessas estruturas pode causar ao meio ambiente. No que processam rejeitos heterogêneos constituídos por grãos
entanto, estudar o mecanismo de deposição hidráulica, o de ferro e quartzo, de granulometria predominantemente
processo de segregação hidráulica e o alteamento destas granular (pequena porcentagem de finos), no qual o proces-
barragens, torna-se uma atividade muito complexa, pois so de transporte por arraste é observado, e, conseqüente-
envolve um grande número de variáveis. mente, o mecanismo de segregação hidráulica é distinto do
A técnica dos aterros hidráulicos pode ser utilizada tradicionalmente apresentado para rejeitos homogêneos
como uma possível aplicação aos processos de deposição (Vick, 1983; Küpper, 1991; Blight, 1994).
de rejeitos, com a vantagem de utilizar o material na forma
de polpa, coincidindo com a maneira que o rejeito é libera- 2. Modelo de Transporte por Arraste de
do do processo de beneficiamento e concentração do miné- Sedimentos Heterogêneos
rio. No entanto, estruturas de aterros hidráulicos tendem a
Nesta seção apresenta-se o modelo matemático do
ser construídas de forma descontrolada, resultando em ater-
transporte por arraste de sedimentos heterogêneos, no qual
ros de baixa qualidade.
fluido e sedimentos (partículas de quartzo e ferro) são
Rejeitos do minério de ferro são constituídos por acoplados em um único fenômeno físico. Este modelo foi
partículas de quartzo e de ferro, com teores variáveis. Estes desenvolvido para obtenção do perfil de segregação hidráu-
teores diferenciados estão relacionados com o destino final lica e das características geotécnicas do aterro (perfis de
do minério de ferro (metalurgia, siderurgia, farmacêutica, distribuição de densidade, de granulometria e de porosi-
entre outros) e, portanto, com o processo de beneficiamento dade), a partir das características do rejeito (granulometria
e concentração. e teor de ferro) e do processo de bombeamento (vazão de
No caso específico das barragens alteadas com rejei- descarga e concentração da polpa).
tos do minério de ferro, a maioria das mineradoras utiliza o Considere um talude de montante de uma barragem
método de montante, devido principalmente ao baixo custo de rejeitos de seção retangular e largura unitária. Assume-
de execução. Este método, por sua vez, pelas próprias se que o fluxo é unidirecional, as velocidades são uniformes
características construtivas, é considerado o mais sujeito a ao longo da seção transversal, a variação da pressão com a
ocorrências de instabilidade. Os principais problemas estão profundidade é hidrostática e a inclinação do talude é pe-
associados à alta variabilidade dos rejeitos depositados, quena. A Fig. 1 apresenta um elemento infinitesimal de
tendo em vista que os mesmos são produtos decorrentes das comprimento dx, deste talude de montante.
necessidades da mineradora em obter o minério com as
características comerciais desejadas. Associado a este fato, 2.1. Continuidade do fluido
ainda pode-se citar a falta de metodologias de controle.
A equação da continuidade, aplicada ao fluido que
Portanto, torna-se necessário o desenvolvimento de uma
percola através deste elemento infinitesimal, assegura que a
metodologia de controle do mecanismo de deposição hi-
vazão que entra na seção 1 menos a vazão que sai pela seção
dráulica que assegure a qualidade destas estruturas, tor-
2 é igual à taxa de variação de armazenamento do fluido no
nando-as mais seguras.
elemento e, portanto:
As barragens alteadas com rejeitos pela técnica de
aterro hidráulico e pelo método construtivo de montante dV
Qe (t) − Qs (t) = (1)
são influenciadas não apenas pelas variáveis internas carac- dt
terísticas do material de construção (granulometria e teor
onde Qe(t) é a vazão que entra no elemento, Qs(t) é a vazão
de ferro), mas também, pelas variáveis externas relaciona-
que sai do elemento, dV/dt é a taxa de variação de arma-
das à descarga do material na praia de deposição (distância
zenamento.
entre os canhões, altura de queda, concentração e vazão de
descarga da polpa). Todo esse mecanismo precisa ser estu- A vazão que entra no elemento (seção 1) é dada pelo
dado e associado de forma a estabelecer um controle geo- produto entre a velocidade de arraste na entrada do ele-
técnico dessas barragens, com a finalidade de diminuir o mento e a área da seção transversal correspondente ao fluxo
empirismo durante a construção destas estruturas. neste ponto. Da mesma forma, a vazão que sai do elemento
Este mecanismo de deposição hidráulica, produto das (seção 2) é dada pelo produto entre a velocidade de arraste
características do rejeito gerado e das variáveis que contro- na saída do elemento (velocidade da seção 1 mais o diferen-
lam o processo de deposição, gera uma estrutura interna cial total) e a respectiva área da seção transversal ao fluxo
totalmente aleatória onde sedimentos de diferentes pesos neste ponto. Considerando-se ainda o volume do elemento
(teor de ferro) e volumes (granulometria) ocupam as posi- infinitesimal correspondente a um paralelepípedo de base

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Figura 1 - Detalhe do elemento infinitesimal do talude de montante.

trapezoidal e um intervalo de tempo finito dt, a continui- onde τ1 é a tensão cisalhante na seção 1, τ2 é a tensão cisa-
dade do fluido, após algumas simplificações, pode ser lhante na seção 2, C é o coeficiente de atrito de Chèzy, g é a
escrita como a seguinte equação diferencial: aceleração gravitacional, ρw é a massa específica do fluido.
∂a ∂u ∂a A Eq. (4) garante que as tensões cisalhantes são
+ a +u = 0 (2)
∂t ∂x ∂x diretamente proporcionais ao quadrado da velocidade de
arraste e à massa específica do fluido e, inversamente
onde u é a velocidade de arraste dos sedimentos, a é a lâmi- proporcionais ao quadrado do coeficiente de atrito de
na d’água no corpo da barragem, x é a distância horizontal, Chèzy. Assumindo uma variação linear da tensão cisalhan-
conforme indicados na Fig. 1, e t é o tempo. te entre as seções 1 e 2, a componente de força cisalhante é
dada pelo produto entre a tensão cisalhante média e a área
2.2. Equilíbrio molhada média, correspondente a estas seções.
De posse dos empuxos hidrostáticos nas seções 1 e 2,
A taxa de variação do momento do fluido entre as
da componente de força gravitacional, da componente de
seções 1 e 2 é igual à força resultante neste elemento infini-
força cisalhante e negligenciando os termos de segunda
tesimal na direção da variação do momento. Pela Fig. 1, a
ordem, chega-se à seguinte equação diferencial que rege a
taxa de variação do momento se dá na direção paralela ao
condição de equilíbrio de um elemento infinitesimal do
leito da barragem, e a força resultante nesta direção é dada
fluido em movimento:
por:
∂u ∂u ∂a ∂z b gu 2
F = FH 1 + FW − FS − FH 2 (3) +u + g + g =− 2 (5)
∂t ∂x ∂x ∂x C a
onde F é a força resultante que atua no elemento infinitesi- onde zb é a altura de sedimento depositado e as demais
mal, FH1 é o empuxo hidrostático na seção 1, FH2 é o empu- variáveis já foram definidas previamente.
xo hidrostático na seção 2, FW é a componente de força
gravitacional, FS é a componente de força cisalhante. 2.3. Balanço de sedimentos

As forças FH1 e FH2 são calculadas a partir da distribui- Considere, ainda, um elemento infinitesimal, de lar-
ção de pressões de água nas seções 1 e 2. A componente de gura unitária, situado no interior de uma massa de sedimen-
força gravitacional FW é obtida decompondo-se o peso de tos, ilustrado à direita da Fig. 1. A acumulação de massa de
água entre as seções na direção do movimento. Finalmente, sedimentos no elemento, em função do tempo é dada por:
a componente de força cisalhante FS pode ser obtida calcu- ⎛ ∂z b ⎞
lando as tensões cisalhantes nas seções 1 e 2, utilizando a M a = ρs ⎜ dt ⎟ dx (6)
⎝ ∂t ⎠
fórmula de Chèzy, que fornece (Streeter & Wylie, 1958):
onde Ma é a acumulação de massa de sedimentos no ele-
ρw g ρ w g ⎛ ∂u ⎞ 2 mentos infinitesimal, ρs é a massa específica dos sedi-
τ1 = u 2
e τ 2 = 2 ⎜u dx ⎟ (4)
C2 C ⎝ ∂x ⎠ mentos depositados, zb é a altura de sedimento depositado, x

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é a distância horizontal, t é o tempo. Vale ressaltar que pensão seja geralmente feita e aceita, a definição de ambos
Cavalcante (2004) considerou que neste elemento infinites- os modos de transporte não é completamente clara.
imal tem-se a ocorrência de sedimentos de quartzo e ferro e, Algumas vezes é vantajoso expressar a taxa de sedi-
portanto, a massa específica da polpa, ρs, é dada pela com- mentos transportados por fórmulas empíricas de potência
posição proporcional da massa específica dos grãos de relacionadas à velocidade de arraste, tais como a proposta
quartzo e dos grãos de ferro, segundo a razão do teor de por Jansen et al. (1979). Cavalcante (2004) adaptou esta
ferro presente na polpa. formulação para o caso de sedimentos heterogêneos, esti-
mando a taxa de cada tipo de sedimento transportado por
A quantidade de massa de sedimentos que entra no
uma equação básica de transporte de sedimento por arraste
elemento infinitesimal é dada por:
e superpondo os efeitos, segundo:
M e = ρ s sdt (7)
s = ∑ f k (u) =∑ m k u n k (9)
onde Me é a quantidade de massa de sedimentos que entra k k

no elemento, s é a taxa de sedimento transportado. A quan-


onde fk é a taxa de sedimento transportado, formado por
tidade que sai Ms é calculada de forma semelhante consi-
partículas tipo k (quartzo, Qz ou ferro, Fe), mk e nk são
derando-se a variação total de massa de sedimentos entre
constantes empíricas e função das propriedades dos sedi-
duas seções. Efetuando o balanço dos sedimentos, a dife-
mentos, u é a velocidade de arraste. Cavalcante (2004) fez
rença entre a massa que entra e a massa que sai do elemento
testes com várias equações de taxa de sedimentos transpor-
infinitesimal é igual à acumulação de massa. Portanto,
tados e constatou que a equação proposta por Meyer-Peter
chega-se à seguinte equação diferencial que expressa a
& Müller (1948) se apresentou como uma boa alternativa:
continuidade dos sedimentos:
∂z b ∂s 0, 05u 5
+ =0 (8) f k (u, D50 , G s ) = (10)
∂t ∂x (G s −1) 2 g 0 , 5 D50 C 3

2.4. Taxa de sedimento transportado onde D50 é o diâmetro médio dos sedimentos (mm), Gs é a
densidade relativa dos sedimentos, g é a aceleração da
A taxa de sedimento transportado é um elemento 2
gravidade (m/s ) e C é o coeficiente de atrito de Chèzy.
importante nos estudos de morfologia de aterros hidráu-
Comparando as Eqs. (9) e (10), observa-se que nk assume o
licos. A mais antiga fórmula para transporte de sedimentos
valor 5 e mk é função do diâmetro médio e da densidade
por arraste, basicamente empírica, foi desenvolvida poucas
relativa dos sedimentos tipo k, da aceleração gravitacional e
décadas atrás para fluxos uniformes e estacionários
do coeficiente de atrito de Chèzy.
(Meyer-Peter & Müller, 1948; Einstein, 1950 e Engelund &
Hansen, 1972). Estas fórmulas, que ainda são utilizadas, se Observa-se que o coeficiente de atrito de Chèzy é
fundamentam no conceito de que a taxa de sedimento função do tipo de sedimento em questão, já que o mesmo se
transportado se relaciona com a tensão cisalhante exercida fundamenta no atrito oferecido pelo leito do talude de
no leito pelo fluido. montante. Usando uma formulação que leva em conta a
Alguns modelos foram desenvolvidos nas últimas lâmina d’água no corpo da barragem e a altura de rugosi-
décadas para descrever o processo de transporte por sus- dade do sedimento, Ribberink (1998) propõe:
pensão, levando em conta a camada de onda acima do leito ⎛12a ⎞
(Bakker, 1974; Smith, 1977; Fredsoe et al., 1985). Este C = 18 log⎜ ⎟ (11)
⎝ ks ⎠
conceito levou ao desenvolvimento de modelos de trans-
porte por suspensão com turbulência (Davies, 1990 e Da-
onde ks é a altura de rugosidade dos sedimentos. A altura de
vies et al., 1997); modelos de fluxo bifásico (Asano, 1990)
rugosidade do grão é baseada no tamanho característico do
e modelos de vórtices (Hansen et al., 1994). No entanto,
grão. Com base na análise de vários experimentos, Van
todos estes modelos só poderiam ser aplicados no caso em
Rijn (1982) concluiu que a rugosidade dos sedimentos é
que a deposição fosse feita de forma subaquática, com
principalmente relacionada às maiores partículas da cama-
rejeitos de granulometria fina, no qual o processo de trans-
da de topo do leito e propôs a seguinte equação para baixos
porte por suspensão se dá ao longo do tempo e através do
valores do número de Shields:
nível d’água no corpo da barragem, que neste caso é bem
maior do que os observados nas barragens em estudo neste ks = 3D90, para θ’ ≤ 1 (12)
artigo (Cavalcante, 2004).
O estado da arte da dinâmica do transporte de sedi- onde D90 é o diâmetro para o qual passam 90% das partí-
mentos ainda tem uma forte característica empírica e se culas em peso, θ’ é o número de Shields, dado por:
fundamenta fortemente em conceitos físicos e dados obti-
u2
dos em laboratório e em estudos de campo. Embora a θ' = (13)
distinção entre transporte por arraste e transporte em sus- (G s −1) D50 C 2

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A Eq. (13) garante que o número de Shields é direta- correção os resultados obtidos analiticamente e numerica-
mente proporcional ao quadrado da velocidade de arraste e mente se aproximavam mais dos resultados experimentais,
inversamente proporcional à densidade relativa e ao diâme- constatando a necessidade do mesmo.
tro médio dos sedimentos e ao quadrado do coeficiente de A Eq. (18) relaciona a taxa de sedimentos transpor-
atrito de Chèzy. Ribberink (1998) sugere uma nova relação tados com a velocidade de arraste, constituindo-se numa
para o cálculo da altura de rugosidade dos sedimentos, para relação constitutiva para o problema.
o caso em que se têm maiores valores do número de
Shields: 3. Solução do Problema
k s = D50 [1+ 6(θ'−1)] para θ’ > 1 (14) As equações diferenciais relativas a continuidade de
fluido (Eq. 2), equilíbrio (Eq. 5) e balanço de sedimento
Para o cálculo da tensão cisalhante máxima atuante (Eq. 8) constituem as chamadas equações de campo que
no leito, Ribberink (1998) sugere, também, que se utilize o regem o problema de transporte por arraste de sedimentos.
valor máximo entre as duas formulações anteriores, isto é: Neste caso têm-se três equações diferenciais para quatro
k s = max{3D90 , D50 [1+ 6(θ'−1)]} (15) variáveis dependentes: a velocidade de arraste (u), a lâmina
d’água (a), a altura de sedimento depositado (zb) e a taxa de
Observa-se que desta forma a altura de rugosidade sedimento transportado (s). A lei constitutiva da Eq. (18),
dos sedimentos é calculada de forma não-linear, utilizando com s = s(u), fornece a equação adicional que torna pos-
modelos de recorrência, uma vez que ks é função da veloci- sível a solução do problema.
dade de arraste u, a qual é uma das incógnitas básicas do O problema é altamente acoplado e não-linear, tendo
problema. como variáveis independentes o espaço (x) e o tempo (t).
No caso de sedimentos heterogêneos formados por Trata-se, portanto, de um problema transiente e de fato
partículas de quartzo e ferro, a velocidade de arraste da bidimensional no espaço, uma vez que inclui a distância
polpa é calculada em função do teor de cada tipo de partí- horizontal (x) como variável independente e as elevações
cula presente e das propriedades específicas. Para o caso do (alturas da lâmina de água e de sedimento depositado)
rejeito de minério de ferro, escopo deste artigo, a veloci- como variáveis dependentes. O problema pode ser estendi-
dade de arraste da polpa foi estimada adotando a hipótese do facilmente para uma condição tridimensional no espaço.
de superposição de efeitos (Cavalcante, 2004): A solução do problema pode ser obtida de forma analítica
u = Fe. u Fe + (1− Fe). u Qz (16) ou numérica, dependendo das condições de contorno im-
postas.
onde uk é a velocidade de arraste do sedimento formado por Cavalcante (2004) mostra uma solução analítica para
partículas do tipo k (ferro ou quartzo), Fe é o teor de ferro uma série de hipóteses simplificadoras e condições de con-
presente na polpa. Streeter & Wylie (1958) asseguram que torno simples. Supondo um regime de fluxo quase-estacio-
a velocidade de arraste de um determinado sedimento, em nário, fluxo unidirecional, velocidades uniformes ao longo
canais, pode ser estimada por: da seção transversal, variação da pressão com a profun-
u k = C ai (17) didade hidrostática, inclinação do talude pequena, número
de Froude unitário, e aplicando-se transformada de Lapla-
onde i é a inclinação do talude de deposição. Neste ce, Cavalcante (2004) chegou à seguinte expressão fechada
artigo, utiliza-se a equação de Streeter & Wylie (1958), para a altura de sedimento depositado:
tendo em vista a hipótese de que tudo gira em torno de um
Δs ⎡ t − 4 k 0 t ⎧ x ⎫⎤
x2
talude de montante de uma barragem de rejeitos de seção x
retangular e largura unitária. Sugere-se, também, que a z b ( x, t ) = ⎢2 e − erfc⎨ ⎬⎥ (19)
k0 ⎣ π k0 ⎩ 2 k 0 t ⎭⎦
taxa de sedimento transportado seja avaliada conside-
rando os teores de ferro e quartzo presentes na concen-
onde k0 é uma constante, a qual é função dos tipos diferen-
tração da polpa que é depositada hidraulicamente, assu-
ciados de sedimentos e das condições iniciais do processo
mindo que:
de deposição hidráulica e erfc é a função erro comple-
{
s = (1− C w ) Fe. f fe (u, D50 , G s ) + mentar, dada por:

(1− Fe). f Qz (u, D 50 , G s )} (18) erfc( x) = 1−


2 ⎛
⎜x −
x3
+
x5

x7 ⎞
+...⎟ (20)
π ⎝ 3 ×1! 5 × 2! 7 × 3! ⎠
onde Cw é a concentração da polpa, fk é a taxa de sedimento
transportado (Eq. 10). O fator de correção (1 - Cw), proposto Soluções numéricas para condições de contorno mais
por Cavalcante (2004), assegura que os sedimentos se des- complexas e prescindindo de qualquer outra hipótese sim-
locam, durante o arraste, pela região fluida do elemento in- plificadora podem ser obtidas por meio, por exemplo, do
finitesimal de controle. Observou-se que com este fator de Método das Diferenças Finitas - MDF, ou pelo Método dos

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Cavalcante et al.

Elementos Finitos - MEF (Zienkiewicz, 1971; Zienkiewicz


& Taylor, 1991).
Com base no MDF, Cavalcante (2004) também dedu-
ziu algoritmos explícitos para as quatro equações que re-
gem o problema. Estes algoritmos podem ser facilmente
codificados numa planilha eletrônica ou em um programa
específico. Soluções baseadas no MEF também podem ser
obtidas, utilizando-se uma técnica de discretização qual-
quer, como por exemplo, o método de Galerkin (Zienkie-
wicz, 1971; Zienkiewicz & Taylor, 1991). Neste trabalho
esta solução foi obtida utilizando o programa FlexPDE
(PDE Solutions Inc, 2001). Este programa é um simulador,
no qual as equações diferenciais básicas que regem o pro-
blema, bem como as leis constitutivas e condições de con- Figura 2 - Comparação entre soluções analítica, experimental e
torno são fornecidas diretamente pelo usuário por meio de numérica para perfis de deposição hidráulica.
um arquivo específico escrito em linguagem tipo script. O
programa usa linguagem simbólica para fazer a integração hidráulica em função das variáveis externas e internas que
por partes das equações diferenciais que regem o problema, controlam o processo, ao longo do tempo. Também é possí-
discretiza o domínio em elementos finitos com malha vel a realização de análises que avaliam as melhores alter-
auto-adaptativa e impõe as cargas e condições de contorno. nativas de projeto levando-se em conta benefícios econô-
A solução é mostrada em um pós-processador específico do micos e ambientais.
programa.
Com o objetivo de validar a formulação proposta, 4. Aplicações do Modelo em Previsões do
mostra-se na Fig. 2 uma comparação entre as soluções Comportamento de Barragens de Rejeitos
analítica, numérica e experimental para perfis de deposição
Heterogêneos
hidráulica. A solução analítica foi obtida com o modelo
simplificado da Eq. (19). A solução numérica foi obtida por Vick (1983), Küpper (1991) e Blight (1994) afirmam
diferenças finitas. O problema em foco tenta reproduzir que para materiais homogêneos, partículas de maiores diâ-
resultados de laboratório obtidos com um equipamento metros depositam-se nos pontos próximos à descarga;
para simulação de deposição hidráulica (ESDH), desenvol- enquanto que as partículas de menor granulometria deposi-
vido na Universidade de Brasília (Ribeiro, 2000). A Fig. 2 tam-se nos pontos mais afastados, assegurando que a depo-
reproduz o comportamento de dois ensaios realizados por sição se dá por volume. O presente artigo contribui com
Ribeiro (2000) e os parâmetros utilizados nas simulações uma nova abordagem para a interpretação do fenômeno
(análises analíticas e numéricas) encontram-se na Tabela 1. físico no caso de sedimentos heterogêneos, formados por
O eixo das ordenadas apresenta a altura normalizada do partículas de quartzo e de ferro.
perfil de deposição hidráulica e o eixo das abscissas a Nesta análise, avaliou-se o comportamento de uma
distância ao ponto de descarga. pilha de rejeitos heterogêneos, durante e após a deposição
Observa-se que as soluções analíticas e numéricas hidráulica, utilizando-se a abordagem proposta nas seções
satisfazem as condições obtidas em laboratório, sendo coe- anteriores. As soluções dos problemas apresentados nesta
rentes com o fenômeno físico observado. O fato de as seção foram obtidas, implementando-se as equações pro-
soluções serem bem similares garante a validação do mode- postas no simulador de elementos finitos FlexPDE. Além
lo de transporte por arraste de sedimentos heterogêneos, disso, são apresentados resultados experimentais, de labo-
aqui proposto. ratório e de campo, para validação qualitativa da análise
Com o modelo é possível realizar análises paramé- numérica.
tricas para melhor entender o comportamento dos aterros Os resultados de laboratório foram obtidos por Ri-
hidráulicos, além de avaliar a forma do perfil de deposição beiro (2000), utilizando o Equipamento de Simulação de
Deposição Hidráulica (ESDH, ver Fig. 3), também chama-
Tabela 1 - Parâmetros utilizados na simulação. do de flume. Nesta pesquisa avaliou-se a influência das
variáveis hidráulicas externas (vazão de descarga e concen-
Sim 01 Sim 02 tração da polpa), bem como das características granulo-
Concentração da polpa (%) 8,9 19,7 métricas do rejeito depositado, na formação do perfil de
Vazão de descarga (L/min) 4,8 9,4
deposição hidráulica.
Resultados experimentais de campo e de laboratório
Teor de ferro (%) 23,0 23,0
foram obtidos para o rejeito da pilha de Monjolo da Com-
Inclinação global (%) 7,7 8,7 panhia Vale do Rio Doce (CVRD), localizada na Região

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Modelo Acoplado de Transporte por Arraste de Sedimentos Heterogêneos Aplicado a Barragens de Rejeitos

Figura 3 - Vista geral do equipamento ESDH desenvolvido na


Universidade de Brasília.

do Quadrilátero Ferrífero em Minas Gerais, na Mina de


Morro Agudo, por vários autores dentro da linha de pes-
quisa sobre rejeitos de mineração da Universidade de
Brasília (Espósito, 1995; Lopes, 2000; Espósito, 2000;
Hernandez, 2002). Muitos destes resultados foram utili-
zados para a geração de modelos estatísticos e proba-
bilísticos de correlação entre parâmetros geomecânicos
(ângulo de atrito, p. ex.) e variáveis tais como, a porosi-
dade do depósito e o teor de ferro.

4.1. Distribuição granulométrica ao longo do perfil de Figura 4 - Evidências experimentais para a distribuição granu-
deposição lométrica. (a) Resultados de campo na pilha de Monjolo (Espó-
sito, 2000). (b) Resultados de laboratório no ESDH (Ribeiro,
Os diâmetros das partículas com percentagens pas- 2000).
santes de 10% (D10) e 90% (D90), bem como a relação
D90/D10, são usados para avaliar a distribuição granulomé-
trica ao longo do perfil deposição. nor diâmetro serem formadas basicamente por grãos de
Na Fig. 4 apresenta-se evidências experimentais da ferro, os quais possuem densidade bem maior que os grãos
distribuição granulométrica de rejeitos heterogêneos. Na de quartzo. Após uma certa distância, o diâmetro das
Fig. 4(a) mostra-se a relação D90/D10 ao longo da distância partículas passa a predominar como em depósitos homo-
ao ponto de descarga medida em campo para os rejeitos da gêneos.
Pilha do Monjolo (CVRD) (Espósito, 2000). Foram Na Fig. 5 mostra-se o resultado da simulação nu-
avaliados seis pontos ao longo dos primeiros 40 m de mérica usando a metodologia proposta e solução obtida
distância da crista, e a partir dos mesmos foi possível com o MEF (FlexPDE). O eixo das ordenadas retrata o
encontrar uma curva de tendência para representação do diâmetro D 10 e o eixo das abscissas fornece a distância
fenômeno físico. A Fig. 4(b) retrata a distribuição do ao ponto de descarga. Na simulação foram utilizados os
diâmetro D10 vs. a distância ao ponto de descarga, para os mesmos parâmetros de um ensaio realizado por Ribeiro
mesmos rejeitos da Pilha do Monjolo (CVRD), porém (2000), com rejeitos da pilha de Monjolo (CVRD),
medidos no ESDH (Ribeiro, 2000). Foram avaliados onze cujos dados encontram-se apresentados na Tabela 2. O
pontos ao longo dos 2,5 m de praia de deposição hidráulica modelo numérico resolve, de forma acoplada, as equa-
no interior do flume. Também foi possível encontrar uma ções que regem o fenômeno de deposição hidráulica.
curva de tendência descrevendo o mesmo fenômeno físico Nota-se que a solução numérica reproduz a mesma ten-
esperado. dência de distribuição granulométrica observada expe-
Os gráficos da Fig. 4 demonstram claramente que as
partículas de maiores diâmetros são depositadas na região Tabela 2 - Variáveis externas e internas adotadas na modelagem.
central da barragem e que nas extremidades encontram-se
as de menores diâmetros. Esta tendência difere qualita- Variáveis externas Variáveis internas
tivamente daquela observada para depósitos homogêneos, Q (L/min) Cw (%) Fe (%) D50,Fe (mm) D50,Qz (mm)
apenas com partículas quartzosas. Isto se deve ao fato de,
no rejeito heterogêneo aqui utilizado, as partículas de me- 8,0 60,0 40,0 0,240 0,265

Solos e Rochas, São Paulo, 29, (3): 371-380, Setembro-Dezembro, 2006. 377
Cavalcante et al.

Figura 5 - Distribuição do diâmetro D10 ao longo do perfil de


deposição hidráulica obtida numericamente.

rimentalmente, tanto em campo como em laboratório


(Fig. 4).

4.2. Densidade da pilha ao longo do perfil de deposição


Figura 6 - Evidências experimentais para a variação de densidade
O perfil de densidade foi estudado a partir da relação relativa. (a) Resultados de campo na pilha de Monjolo (Espósito,
entre a peso específico aparente seco do arranjo de partícu- 2000). (b) Resultados de laboratório no ESDH (Ribeiro, 2000).
las e o peso específico da água, o que aqui está sendo
chamada de densidade relativa. Os valores experimentais Na Fig. 7 mostra-se a variação de densidade relativa
foram obtidos diretamente no campo ou em laboratório. ao longo do perfil, obtida numericamente com a implemen-
Para as análises numéricas este valor é calculado como uma tação da abordagem proposta no programa FlexPDE. No-
média ponderada, tomando-se as densidades dos grãos de vamente foram utilizados os mesmos parâmetros para os
Ferro (GsFe = 5,5) e de Quartzo (GsQz = 2,65) e a percen- rejeitos da Pilha do Monjolo (CVRD), cujos dados se en-
tagem relativa de cada um destes componentes no rejeito contram apresentados na Tabela 2. A simulação numérica
heterogêneo. apresenta a mesma tendência que os resultados experimen-
A Fig. 6 mostra evidências experimentais da distri- tais apresentados na Fig. 6. Observa-se pela Fig. 7 que a
buição de densidade relativa ao longo de uma pilha de de-
posição de rejeitos heterogêneos. Na Fig. 6(a) mostra-se a
variação de densidade relativa ao longo da distância ao
ponto de descarga medida em campo para os rejeitos da
Pilha do Monjolo (CVRD) (Espósito, 2000). Os valores de
densidade relativa foram medidos ao longo dos primeiros
60 m de distância do ponto de descarga. Foram avaliados
sete pontos ao longo dos primeiros 60 m da crista, e a partir
dos mesmos foi possível encontrar uma curva de tendência
para representação do fenômeno físico. A Fig. 6 (b) retrata
a distribuição da densidade relativa vs. a distância ao ponto
de descarga, para os mesmos rejeitos da Pilha do Monjolo
(CVRD), porém medidos no ESDH (Ribeiro, 2000). Os
valores foram medidos ao longo de toda extensão do perfil
obtido experimentalmente (2,5 m). Foram avaliados onze
pontos ao longo dos 2,5 m de praia de deposição hidráulica
no interior do flume. Também foi possível encontrar uma
curva de tendência descrevendo o mesmo fenômeno físico Figura 7 - Distribuição da densidade relativa ao longo do perfil de
esperado. deposição hidráulica obtida numericamente.

378 Solos e Rochas, São Paulo, 29, (3): 371-380, Setembro-Dezembro, 2006.
Modelo Acoplado de Transporte por Arraste de Sedimentos Heterogêneos Aplicado a Barragens de Rejeitos

densidade relativa é maior próximo ao ponto de descarga da diâmetros menores novamente, indo de acordo com o que
polpa, sendo da ordem de 4,15, alcançando o valor de 2,65 os outros autores haviam demonstrado.
ao final da praia. Isto caracteriza a presença de partículas de
maior densidade relativa (Ferro) e de menor diâmetro pró- Agradecimentos
ximas ao ponto de descarga e uma maior ocorrência de Os autores agradecem ao Conselho Nacional de De-
partículas de menor densidade relativa (Quartzo) nos pon- senvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), à Univer-
tos mais afastados, sendo depositadas primeiro as de maio- sidade de Brasília (UnB) e à UPIS Faculdades Integradas
res diâmetros. pelo apoio financeiro as pesquisas.
5. Conclusões Referências
Basicamente o mecanismo de transporte por arraste Asano, T. (1990) Two-phase model on oscillatory sheet
nd
dos sedimentos heterogêneos e conseqüente formação dos flow. Proc. 22 Int. Conf. on Coast. Eng., Delft,
aterros hidráulicos está associado às variáveis externas, p. 2372-2384.
relativas às características do processo de deposição, como Bakker, W.T. (1974) Sand concentration in oscillatory
th
a vazão de descarga e a concentração da polpa, e às variá- flow. Proc. 14 Int. Conf. on Coast. Eng. and Copenha-
veis internas, relativas ao rejeito, relacionadas pelas carac- gen, p. 1129-1148.
terísticas dos sedimentos, tais como, granulometria, densi- Blight, G.E. (1994) The master profile for hydraulic fill
dade relativa, teor de ferro. tailings beaches. ICE Geotechnical Engineering, 107:1,
O modelo matemático apresentado neste artigo con- p. 27-40.
tribui para o estabelecimento do comportamento físico das Cavalcante, A.L.B. (2004) Modelagem e Simulação do
variáveis externas e internas submetidas a diferentes condi- Transporte por Arraste de Sedimentos Heterogêneos
ções de contorno, possíveis de ocorrência na prática da Acoplado ao Mecanismo de Tensão-Deformação-Poro-
mineração. Contribui ainda para estabelecer uma interpre- pressão Aplicado a Barragens de Rejeitos. Tese de Dou-
tação física do processo de deposição em aterros hidráu- torado, Publicação G.TD-019/04, Departamento de
licos formados por rejeitos provenientes da mineração do Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasí-
ferro. lia, 313 p.
O problema é transiente, altamente acoplado e não- Davies, A.G. (1990) Modelling of the vertical distribution
linear. Embora tenha sido aqui formulado no espaço bidi- of suspended sediment in combined wave-current flow.
th
mensional, pode ser estendido facilmente para uma condi- Proc. 5 Int. Conf. on the Physics of Estuaries and
ção tridimensional. A solução do problema pode ser obtida Coastal Seas, Gregynog, Univ. of Wales, UK.
de forma analítica ou numérica, dependendo das condições Davies, A.G.; Ribberink, J.S.; Temperville, A. & Zyser-
de contorno impostas. man, J.A. (1996) Comparisons between sediment trans-
Uma solução analítica fechada foi apresentada para port models and observations made in wave and
condições simplificadas. Noutros casos, deve-se recorrer a currente flows above plane beds. Coastal Engineering
métodos numéricos (MDF ou MEF) para a solução do v. 31:1-4, p. 163-198
problema. O simulador de elementos finitos FlexPDE mos- Einstein, H.A. (1950) The bed-load function for sediment
trou-se uma ferramenta altamente eficiente e poderosa para transportation in open-channel flows. US Soil Conser-
resolver este tipo de problema em condições genéricas. As vation Service, Tech. Bulletin n. 1025 Soil Conserv.
soluções apresentadas conseguiram reproduzir adequada- Serv.,Washington, D.C., 73 p.
mente as tendências de distribuição granulométrica e den- Engelund, F. & Hansen, E. (1967) A Monograph on Sedi-
sidade relativa obtidas experimentalmente, tanto em campo ment Transport. Teknisk Forlag, Copenhagen, 62 p.
quanto em laboratório. Espósito, T.J. (1995) Controle Geotécnico da Construção
Os resultados experimentais e numéricos levam à de Barragens de Rejeitos - Análise da Estabilidade de
conclusão de que, em um rejeito heterogêneo como o de Taludes e Estudos de Percolação. Dissertação de Mes-
mineração de ferro, as partículas que se depositam primeiro trado, Publicação G.DM-012A/95, Departamento de
são as mais pesadas, sejam elas de menor granulometria e Engenharia Civil, Universidade de Brasília, 159 p.
maior densidade relativa ou, ainda, as de maior granulo- Espósito, T.J. (2000) Metodologia Probabilística e Obser-
metria e de densidade relativa um pouco menor. Portanto, o vacional Aplicada à Barragens de Rejeito Construídas
fenômeno físico de deposição hidráulica não ocorre apenas por Aterro Hidráulico. Tese de Doutorado, Publicação
por volume como concluíram Vick (1983), Küpper (1991) G.TD-004A/00, Departamento de Engenharia Civil e
e Blight (1994), mas também, por peso. Observa-se, ainda, Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, 363 p.
que ao final da praia, quando as partículas já possuem Fredsoe, J.; Andersen, O.H. & Silberg, S. (1985) Dstri-
densidade relativa próximas a 2,65, caracterizando a pre- bution of suspended sediment in large waves. J. Water-
sença de um maior teor de partículas de quartzo, têm-se way Port Coastal Ocean Eng. 111:6, p. 1041-1059.

Solos e Rochas, São Paulo, 29, (3): 371-380, Setembro-Dezembro, 2006. 379
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380 Solos e Rochas, São Paulo, 29, (3): 371-380, Setembro-Dezembro, 2006.

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