Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Recebido: RESUMO
1 de setembro de 2018 O desempenho da camada de lastro ferroviário é dependente das caracterís7cas 8sicas,
Aceito para publicação: mecânicas e hidráulicas, bem como das caracterís7cas de outros componentes, como
30 de janeiro de 2020 veículo e velocidade da via. Este estudo obje7va avaliar materiais de lastro, em diversas
Publicado: fases de aplicação, quanto ao comportamento mecânico e hidráulico. Para tanto, foram
31 de agosto de 2020 realizados ensaios tradicionais de forma de agregados, ensaios avançados de proprieda-
Editor de área: des de forma de agregados com o uso do processamento digital de imagens, módulo de
Kamilla Vasconcelos resiliência, deformação permanente e condu7vidade hidráulica. Os resultados mostra-
ram que uma maior deformação axial permanente não, necessariamente, implica em
Palavras-chaves: menor condu7vidade hidráulica, para os materiais avaliados nesse estudo. O comporta-
Lastro ferroviário. mento mecânico foi alterado a par7r das modificações nas propriedades de forma dos
Propriedades de forma. agregados (forma 2D e textura), bem como da granulometria. A condu7vidade hidráu-
Comportamento mecânico. lica permaneceu a mesma para os três materiais avaliados, mesmo após a realização dos
Comportamento hidráulico. ensaios mecânicos. No geral, os três materiais foram considerados propícios a sofrerem
quebras, mas, embora tenham passado por etapas de construção e operação, todos fo-
Keywords: ram classificados como limpos.
Railway ballast.
Shape proper7es. ABSTRACT
Mechanical behavior. The performance of the rail ballast layer is dependent on the physical, mechanical and
Hydraulic behavior. hydraulic characteris7cs as well as the characteris7cs of other components such as ve-
hicle and track speed. This study aims to evaluate ballast materials, in various applica-
DOI:10.14295/transportes.v28i3.1829
7on phases, regarding mechanical and hydraulic behavior. For this purpose, tradi7onal
aggregate shape tests, advanced aggregate shape proper7es tests were performed us-
ing digital image processing, resilience modulus, permanent deforma7on and hydraulic
conduc7vity. The results showed that greater permanent axial deforma7on does not
necessarily imply lower hydraulic conduc7vity for the materials evaluated in this study.
The mechanical behavior was changed from the changes in the shape proper7es of the
aggregates (2D shape and texture), as well as the par7cle size. The hydraulic conduc7vity
remained the same for the three materials evaluated, even aMer the mechanical tests.
Overall, the three materials were considered prone to breakage, but although they went
through construc7on and opera7on, they were all classified as clean.
1. INTRODUÇÃO
A via permanente lastrada (tradicional) é caracterizada pela elasticidade transmitida à estru-
tura na recepçã o dos esforços e pela capacidade de absorver os ruı́dos referentes a locomoçã o
dos trens. Em comparaçã o à via permanente rı́gida, é uma estrutura que tem sua geometria de
via alterada em ciclos curtos de uso, tem limitaçã o com relaçã o à resistê ncia lateral e pode ter
2. REVISÃO DA LITERATURA
O lastro é uma camada granular responsá vel por suportar a grade ferroviá ria, sendo composto,
no geral, por agregados cú bicos (entre 12,0 e 63,5 mm) e vazios. A distribuiçã o granulomé trica
dessa camada se enquadra em faixas estabelecidas por diferentes paı́ses, empresas, ó rgã os fer-
roviá rios ou associaçõ es, como no Brasil (ABNT NBR 5564, 2011), nos EUA (American Railway
Engineering and Maintenance of Way Association - AREMA, 2013) e na Austrá lia (Rail Infras-
tructure Corporation - RIC e Queensland Rail). Para Indraratna et al. (2011), lastros com granu-
lometria uniforme apresentam maiores deslocamentos, sendo mais susceptı́veis à quebra
quando comparados a lastros melhor graduados. Vizcarra et al. (2014) avaliaram deformaçã o e
degradaçã o de lastros em escala real, a partir do uso de duas normas: australiana AS 2758.7
(1996) – Curva A (bem graduada de diâ metro má ximo e mı́nimo de 63 e 13,2 mm) e brasileira
ABNT NBR 5564 (2011) – Curva B (uniforme de diâ metro má ximo e mı́nimo de 63 e 19 mm).
Pode-se concluir que a Curva A apresentou menor deformaçã o e que a Curva B foi mais suscep-
tı́vel a quebra das partı́culas. Embora curvas bem graduadas proporcionem melhor intertrava-
mento dos agregados (matriz granular mais densa), consequentemente menor deformaçã o,
quase todas as especi#icaçõ es de lastro exigem graduaçõ es uniformes, a #im de permitir drena-
gem livre. Com isso, Indraratna et al. (2011) propuseram uma graduaçã o de lastro que garante
adequada estabilidade e nã o compromete uma das principais funçõ es da camada de lastro: a
drenagem.
escala reduzida compatı́veis com aqueles obtidos em escala real. Todos os trabalhos citados
anteriormente avaliaram o comportamento mecâ nico de lastro na condiçã o real e/ou reduzida,
de modo a concluir como vá lida a caracterizaçã o reduzida, mesmo que esta apresente
diferenças em termos de valores absolutos com relaçã o aqueles obtidos em escala real.
3. MATERIAIS E MÉTODOS
A #im de avaliar um lastro ferroviá rio em diferentes condiçõ es, trê s diferentes cená rios foram
analisados no presente trabalho. No primeiro foi realizada a avaliaçã o das propriedades fı́sicas
das partı́culas para identi#icar a qualidade dos materiais utilizados. No segundo foi executada a
caracterizaçã o dos agregados (forma 2D, esfericidade, angularidade e textura super#icial) e do
comportamento mecâ nico do lastro inicial e dos lastros apó s os processos de lançamento na via
e da aplicaçã o dos ciclos de carregamento e manutençã o. Por #im, o comportamento hidrá ulico
dos materiais foi investigado a #im de avaliar as modi#icaçõ es no #luxo de á gua e identi#icar as
relaçõ es entre os comportamentos mecâ nico e hidrá ulico.
TRANSPORTES | ISSN: 2237-1346 64
Diógenes, D.F.; Branco, V. T. F. C.; Motta, L. M. G. Volume 28 | Número 3 | 2020
As amostras retidas em cada peneira foram inseridas em um molde cilı́ndrico tripartido, di-
vididas em quatro camadas (Figura 2a). O molde foi revestido com uma membrana de lá tex
convencional utilizada na realizaçã o de ensaios triaxiais em solos (uma membrana convencio-
nal de sacrifı́cio é colocada apó s a membrana de lá tex em estado inicial de uso) e por ú ltimo
uma membrana confeccionada de material de câ mara de pneu (Figura 2b), com o intuito de
evitar furos na membrana convencional em estado inicial de uso. Cada camada foi submetida a
vinte vibraçõ es no total de 40s (Merheb, 2014), com o uso do vibrador de concreto com man-
gote (Figura 2c). A vibraçã o visa atingir um estado de compactaçã o e um rearranjo dos agrega-
dos (Selig e Waters, 1994; Indraratna et al., 2011). Apó s a vibraçã o da ú ltima camada,
TRANSPORTES | ISSN: 2237-1346 66
Diógenes, D.F.; Branco, V. T. F. C.; Motta, L. M. G. Volume 28 | Número 3 | 2020
realizou-se o nivelamento manual dos agregados. Vale lembrar que na fase de vibraçã o da nova
camada de material no molde, a altura de material inserido foi mantida, de modo a nã o alterar
a densi#icaçã o da camada inferior. Todos os procedimentos foram igualmente replicados para
todos os materiais. A Figura 2d mostra o CP apó s a moldagem #inal.
O CP moldado (Figura 3a) foi levado ao equipamento triaxial e a pedra porosa e o top cap
foram inseridos, ainda no molde tripartido, sendo aplicada a #ita adesiva do tipo silver tape, na
base e no topo, na membrana de borracha de pneu (Figura 3b). Com o auxı́lio de uma bomba de
vá cuo (pressã o de aproximadamente 0,75 kgf/cm²), pode-se retirar o molde tripartido e reves-
tir as extremidades do CP com as membranas de lá tex, sem que houvesse tombamento do ma-
terial. Por #im, colocaram-se dois ané is de vedaçã o de borracha, tanto na base como no topo,
para evitar a entrada de ar entre a membrana e o CP (Figura 3c), e ajustaram-se os monitores
de deslocamento do tipo Linear Variable Differential Transformer (LVDT) (Figura 3d) para o fe-
chamento da câ mara do equipamento e execuçã o do ensaio.
Para avaliar o comportamento hidrá ulico dos materiais passantes pelos ensaios de carga re-
petida foram realizados os ensaios de condutividade hidrá ulica baseados na determinaçã o do
coe#iciente de permeabilidade de solos granulares à carga constante (NBR 13292, 1995). Os
materiais foram preparados e ensaiados no permeâ metro com 15,2 cm de diâ metro e 18,0 cm
de altura, respeitando o fato de o diâ metro interno mı́nimo ser 8 vezes a dimensã o má xima dos
grã os maiores (19,1 mm). Assim, mantiveram-se as mesmas fraçõ es utilizadas no ensaio mecâ -
nico, alé m das fraçõ es de materiais #inos (colmatantes) gerados devido aos ciclos de carrega-
mentos. Para a execuçã o do ensaio de permeabilidade foram moldados CPs com aproximada-
mente 4 kg de material (Ferreira et al., 2015; Paiva et al., 2015), de forma proporcional à curva
granulomé trica gerada apó s o ensaio mecâ nico. Para calcular o coe#iciente de condutividade (k)
foi utilizada a Equaçã o 1, em que: V é o volume (ml) estabilizado medido no ensaio a carga cons-
tante; L é a altura (cm) do material no permeâ metro; A é a á rea da seçã o transversal (cm²) do
permeâ metro; h é a carga hidrá ulica (#ixada em 96 cm) e t é o tempo (s) de duraçã o da leitura
de volume obtido. Vale ressaltar que quatro medidas de altura do material e volume foram ob-
tidas e, assim, a mé dia foi utilizada para o cá lculo de k (cm/s).
k= (1)
Os ensaios de permeabilidade foram realizados, inicialmente, com a parte inferior do per-
meâ metro envolvido por vaselina industrial para evitar o vazamento de á gua. Posteriormente,
o material colmatante representante de cada material analisado foi inserido. Como terceiro
passo, o material de lastro ferroviá rio em aná lise foi lançado. Por #im, realizou-se a vedaçã o da
tampa do permeâ metro com vaselina industrial. Os resultados de condutividade hidrá ulica fo-
ram veri#icados apó s se evidenciar a saturaçã o das amostras diante da estabilizaçã o da leitura
do volume d’á gua percolada na amostra em um determinado tempo (3 a 5 min).
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1. Caracterização Lsica
A Figura 4 mostra as curvas granulomé tricas dos materiais de lastro ferroviá rio, assim como a
faixa granulomé trica utilizada (Australiana N° 60) para enquadramento do material de origem
(Lastro). Observa-se que o material Lastro se enquadra na faixa com CNU de 1,9. Para o material
LAD, parte da curva se encontra fora da faixa com CNU de 2,1. O mesmo apresenta curva mais
#ina em relaçã o ao material Lastro, sendo esta diferença explicada pela quebra de partı́culas em
decorrê ncia das fases de lançamento do material da esteira da pedreira aos vagõ es, dos vagõ es
à via e pelo processo inicial de socaria. Com relaçã o ao material DTU, a curva apresenta CNU de
1,9 com caracterı́stica mais grossa em relaçã o aos demais materiais. Justi#ica-se a caracterı́stica
mais grossa em relaçã o ao material de Lastro pela renovaçã o do material trazido do ombro da
via permanente (regiã o nã o solicitada de carregamento) para as regiõ es dos trilhos diante das
fases de manutençã o. No geral, diante do crité rio estabelecido por Indraratna et al. (2011), os
trê s materiais sã o propı́cios à quebra e insatisfató rios com relaçã o à drenagem, visto que nã o
apresentam CNU entre 2,2 e 2,6.
Para o IC, todos os materiais foram considerados limpos (<1) (Selig e Waters, 1994). O espe-
rado era um material DTU com maior percentual de #inos, em decorrê ncias dos processos cons-
trutivos e de manutençã o da via e devido ao trá fego. No entanto, observou-se o contrá rio, sendo
o material DTU com menor IC (0,2% em comparaçã o a 0,8% para os materiais Lastro e LAD). A
Tabela 2 apresenta os resultados de propriedades fı́sicas dos trê s materiais em estudo. Com
relaçã o aos aspectos fı́sicos avaliados atravé s de ensaios tradicionais, os resultados mostraram
que os materiais sã o aceitá veis quanto à s especi#icaçõ es ABNT NBR 5564 (2011), no entanto,
para a especi#icaçã o AREMA (2013), os trê s materiais apresentaram percentual de partı́culas
lamelares e/ ou alongadas superiores a 5%.
100
Lastro
90
LAD
80
70 DTU
Passante (%)
60 AS 2758.7 N°60
50 Limites
40
30
20
10
0
1 10 100
Abertura da peneira (mm)
Figura 4. Curvas granulométricas dos materiais
Tabela 2 – Propriedades físicas dos agregados que compõem o lastro ferroviário deste estudo
AREMA
Ensaio ABNT Lastro LAD DTU
(granito)
Forma média das partículas Cúbica Cúbica Cúbica Cúbica Cúbica
Partículas não cúbicas (máximo) (%) 15,0 - [14,6; 18,8]* [8,8; 14,4]* [11,6; 14,4]*
Partículas lamelares e/ ou alongadas (máximo) (%) - 5,0 [15,4; 22,4]* [9,9; 14,9]* [5,7; 10,3]*
Porcentagem passante na peneira nº 200 (máxima) (%) - 1,0 0,30 0,16 0,06
triaxial com 290.000 ciclos de carregamento. Ressalta-se que os resultados mecâ nicos estã o
condicionados à densi#icaçã o inicial das amostras ensaiadas, já que a mesma nã o pode ser
veri#icada.
Para aná lise do comportamento dos materiais, o modelo composto foi aplicado relacionando
as tensõ es desvio (σd) e con#inante (σ3) (Merheb, 2014). Os materiais Lastro e LAD apresenta-
ram valores de MR, para a maior parte dos pares de tensã o, entre 100 e 200 MPa com coe#iciente
de correlaçã o (R²), respectivamente, de 80% e 90%. Para o material DTU, a variaçã o encontrada
para o MR foi de 250 a 800 MPa, sendo o R² de 80%.
Seguindo Indraratna et al. (2010) quanto à s combinaçõ es de tensõ es (Tabela 1), a mudança
do MR (Figuras 5a e 5c) e a evoluçã o da deformaçã o axial (Figuras 5b e 5d), ao longo do carre-
gamento, podem ser vistas na Figura 5. Nos primeiros ciclos de carregamento, a rigidez dos
materiais é baixa devido à reacomodaçã o dos agregados, que, consequentemente, remete a mai-
ores deformaçõ es axiais. Apó s a ocorrê ncia do rearranjo das partı́culas, a rigidez aumenta e
atinge a estabilizaçã o (SEVI, 2008; MERHEB, 2014). Observa-se, també m, que apó s a aplicaçã o
dos ciclos iniciais, todos os materiais apresentam estabilizaçã o da deformaçã o plá stica. AU me-
dida que o nı́vel de tensã o (nova combinaçã o) aumenta, a deformaçã o plá stica continua sendo
acumulada até alcançar um ponto de equilı́brio ou atingir a ruptura (shakedown).
(a) (b)
(c) (d)
Figura 5. Resultados dos ensaios cíclicos para: a) Lastro-LAD: MR; b) Lastro-LAD: deformação axial permanente;
c) Lastro-DTU: MR e d) Lastro-DTU: deformação axial permanente
Os valores dos ensaios triaxiais para o material Lastro sã o similares aos valores encontrados
no estudo de Merheb (2014), baseado no estudo de Indraratna et al. (2010). No tocante, princi-
palmente, à deformaçã o axial permanente #inal o valor é igual a 1,8%. Vale ressaltar que,
assim como nesta pesquisa, o material estudado pelo citado autor era granı́tico, ensaiado em
CP 15 × 30 cm (escala reduzida), com curva granulomé trica enquadrada na faixa AREMA N° 3
que pode ser enquadrada dentro da faixa Australiana N° 60 e, por #im, este foi solicitado com os
mesmos ciclos de carregamentos. Ressalta-se, poré m, a diferença de frequê ncia: enquanto Me-
rheb (2014) aplicou 9 Hz de ciclos de carregamentos, a presente pesquisa aplicou 1 Hz. Deste
modo, é possı́vel observar que a frequê ncia nã o trouxe impacto no valor dos resultados mecâ -
nicos quanto à deformaçã o permanente.
Comparando os materiais Lastro e LAD, nota-se que as propriedades de forma, bem como a
granulometria, podem ser um fator que proporcionou menor deformaçã o axial permanente #i-
nal (1,4) no LAD. Tal comportamento remete ao fato de que, no campo, os agregados do material
Lastro (forma 2D semialongada) passam por quebra se tornando agregados semicirculares e
com textura super#icial macia, ou seja, contribuindo para um melhor empacotamento da matriz
granular.
Comparando os materiais Lastro e DTU, as propriedades de forma e granulometria també m
podem ser o fator explicativo para a menor deformaçã o do DTU em relaçã o ao material Lastro.
A deformaçã o axial permanente #inal no DTU (1,0) comparada à deformaçã o axial permanente
#inal ocorrida no material Lastro (1,7) pode ser explicada a partir das fases de uso da via que
ocorreram nos cinco anos de construçã o na via permanente (impactos de construçã o e opera-
çã o), causando modi#icaçõ es nas propriedades de forma dos agregados (forma 2D de semialon-
gada para semicircular e textura super#icial de baixa rugosidade para macia). Por outro lado, a
granulometria no DTU se mostrou mais grossa em relaçã o ao Lastro, o que contribui para o
intertravamento entre agregados e proporciona mais rigidez a matriz granular da camada.
Figura 6. Curvas granulométricas escalonadas dos materiais antes e após o ensaio mecânico
O material LAD comparado ao Lastro apresenta k inferior (3,8%). Este valor pode ser justi#i-
cado pelo preenchimento dos vazios por material #ino colmatante (IC = 4,2). Acredita-se que o
material colmatante (diferença de 2,6%) foi gerado pela modi#icaçã o das propriedades de forma
das partı́culas/granulometria devido aos ciclos de carregamento do ensaio mecâ nico (quebra,
atrito, contato partı́cula-partı́cula).
O material DTU comparado ao Lastro també m apresenta k inferior (3,6%), embora exponha
valor de IC igual a 1,0, enquanto o Lastro exibe IC igual a 1,6. A reduçã o de permeabilidade no
material DTU é justi#icada pelo intertravamento da matriz granular de modo a reduzir os espa-
ços vazios, fato este, já evidenciado, anteriormente, na aná lise de deformaçã o axial permanente
(granulometria e propriedades de forma). Os processos de construçã o da via permanente e exe-
cuçã o, mesmo em baixo trá fego, proporcionaram modi#icaçõ es nas propriedades de forma das
partı́culas, tornando-as mais pró ximas a esferas e assim, gerando uma matriz granular mais
densa.
Para melhor aná lise dos resultados, usaram-se ferramentas estatı́sticas para investigar a
igualdade ou diferença entre os resultados de k e entre as curvas granulomé tricas. Com o intuito
de veri#icar a existê ncia de igualdade entre os valores mé dios de k, foi realizado o teste paramé -
trico de aná lise de variâ ncias ANOVA. Os resultados mostraram que, com 95% de con#iança, os
valores mé dios de k sã o signi#icativamente iguais considerando a nã o rejeiçã o da hipó tese nula.
Para as curvas granulomé tricas do ensaio hidrá ulico, o teste estatı́stico Qui-Quadrado foi reali-
zado para identi#icar a existê ncia ou nã o de igualdade entre as distribuiçõ es das curvas. Com
isso, pode-se concluir, com 95% de con#iança, que as distribuiçõ es das curvas sã o signi#icativa-
mente diferentes diante da rejeiçã o da hipó tese nula (igualdade entre as distribuiçõ es das cur-
vas), quando comparados Lastro com LAD e Lastro com DTU.
Ressalta-se que a correlaçã o entre os valores de permeabilidade é aná loga ao que é obser-
vado para o estudo do comportamento mecâ nico em escala reduzida. A caracterizaçã o em es-
cala real impacta em termos de valor absoluto de k, pois ocorre mudança no volume de vazios
diante da alteraçã o do tamanho das partı́culas (tamanho real versus tamanho escalonado) e mo-
di#icaçã o na altura e seçã o transversal do permeâ metro. Para Indraratna et al. (2010), um lastro
limpo, avaliado em tamanho real, apresenta k de aproximadamente 3,0 × 101 cm/s.
5. CONCLUSÕES
Quanto aos crité rios laboratoriais, a té cnica de decalagem pode ser considerada e#iciente para
compreender o comportamento mecâ nico da camada lastrada, mesmo reportando valores infe-
riores em relaçã o à queles gerados por materiais ensaiados em escala real. Com isso, minimi-
zam-se os entraves laboratoriais, conforme exposto por Merheb (2014).
No geral, relacionando deformaçã o axial permanente e k, observou-se que o material que
apresentou maior deformaçã o axial permanente #inal (Lastro), nã o gerou uma matriz granular
compactada a ponto de provocar uma reduçã o na condutividade hidrá ulica. Com relaçã o ao
CNU, conforme mencionado por Indraratna et al. (2011), o material Lastro apresentou aspectos
indesejá veis para uso em camada ferroviá ria, bem como os materiais LAD e DTU. No tocante à s
propriedades de forma, ressaltam-se propriedades inferiores para uso inicial na via, sendo as
partı́culas rugosas e angulares mais desejá veis para aplicaçã o na via conforme citado por Huang
(2010). Em suma, os resultados revelaram que os materiais apresentaram caracterı́sticas
estatisticamente semelhantes em relaçã o à permeabilidade e relativamente diferentes quanto
à deformaçã o. Fato este, que pode ser justi#icado pela nã o solicitaçã o de carregamentos inten-
sos, está gio de serviço efetivo (transporte efetivo de carga de 32,5 ton/eixo), e sim, apenas para
a construçã o da via totalizando aproximadamente 3 MTBT nos cinco anos de execuçã o avaliados
no presente estudo.
O material DTU (IC igual a 1,0) apresentou granulometria diferente do esperado. Acredita-se
que os carregamentos e as fases corretivas da via causaram degradaçõ es nos agregados, o que
alterou as propriedades de forma dos mesmos. Por outro lado, parte dos materiais localizados
no ombro da via foram trazidos a grade, diante da realizaçã o das manutençõ es, o que proporci-
onou a renovaçã o das partı́culas. Assim, a curva granulomé trica apresentou caracterı́stica mais
grossa em relaçã o ao Lastro, bem como melhor intertravamento da matriz granular.
Ao comparar os trê s materiais, veri#ica-se melhor comportamento mecâ nico, maior rigidez e
menor deformaçã o, para o material DTU. Assim, as caracterı́sticas do material DTU seriam as
mais desejá veis para aplicaçã o na via permanente em fase inicial (granulometria mais grossa e
partı́culas com forma 2D mais cú bica). Dessa forma, a via apresentaria melhor empacotamento
da matriz granular de lastro e proporcionaria reduçã o de desgastes e falhas dos elementos cons-
tituintes, bem como, no nú mero de intervençõ es de manutençã o. Destaca-se, poré m, que, o trá -
fego existente até o momento da realizaçã o desse estudo foi referente somente aquele ocorrido
devido ao pró prio processo construtivo da via.
Este estudo avaliou agregados granı́ticos em diferentes está gios de aplicaçã o na via perma-
nente, portanto as tendê ncias e os resultados apresentados aqui nã o podem ser generalizados
para outros tipos de agregados. Recomenda-se reproduzir o estudo para outros tipos de agre-
gados, e també m realizar a aná lise em escala real para melhor simular as condiçõ es de campo.
Alé m disso, a aplicaçã o adequada do nú mero de ciclos e da quantidade de carga transportada,
em uma dada ferrovia, deve ser melhor observada, a #im de colaborar para a previsã o de ciclos
de manutençã o da via.
AGRADECIMENTOS
À empresa Transnordestina Logística S/A e à equipe da via permanente Nova Transnordestina pelo fornecimento dos materiais
investigados na pesquisa.
REFERÊNCIAS
AASHTO T 292 (1991) Interim method of test for resilient modulus of subgrade soils and untreated base/subbase materials,
American Association of State Highway and Transportation Of#icials, Washington, D.C.
AASHTO (2016) Standard method of test for determining aggregate shape properties by means of digital image analysis,
Washington, DC, TP81-10.
ABNT NBR 13292 (1995) Solo – Determinaçã o do coe#iciente de permeabilidade de solos granulares à carga constante, Asso-
ciaçã o Brasileira de Normas Té cnicas, Rio de Janeiro, RJ.
ABNT NBR 5564 (2011) Via Fé rrea – Lastro-Padrã o, Associaçã o Brasileira de Normas Té cnicas, Rio de Janeiro, RJ.
Al-Rousan, T. M. (2004) Characterization of aggregate shape properties using a computer automated system, Tese de Dou-
torado, Texas A&M University, College Station, Texas, EUA.
AREMA (2013) Manual for railway engineering, Lanham: American Railway Engineering and Maintenance of Way Association,
AREMA.
AS 2758.7 (1996) Aggregates and rock for engineering purposes, Part 7: Railway ballast, Australian Standard, Sydney, Austrá -
lia.
Bessa, I. S.; V. T. F. Castelo Branco; J. B. Soares (2013) Aná lise da in#luê ncia do tamanho nas propriedades de forma de agrega-
dos analisados atravé s do processamento digital de imagens, In: 8º Congresso Brasileiro de Rodovias e Concessõ es, San-
tos, SP.
Dió genes, D. F. (2016) Avaliaçã o das propriedades de forma de agregados utilizados em lastro ferroviá rio a partir do uso do
Processamento Digital de Imagens, Dissertaçã o de Mestrado, Universidade Federal do Ceará , Fortaleza, CE.
Dió genes, D. F.; R. S. Maia; V. T. F. Castelo Branco (2017) Evaluation of the ballast aggregates shape properties using digital im-
age processing techniques. Bearing Capacity of Roads, Railways and Airfelds –Loizos et al. (Eds). Taylor & Francis Group,
London. ISBN 978-1-138-29595-7
Feldman, F.; D. Nissen (2002) Alternative Testing Method for the Measurement of Ballast Fouling: Percentage Void Contamina-
tion. In: Conference on Railway Engineering, RTSA, Wollongong, p. 101-109.
Ferreira, W. L. G.; S. L. Costa; V. T. F. Castelo Branco; R. S. Motta (2015) Aná lise experimental e numé rica da capacidade dre-
nante de diferentes lastros ferroviá rios, In: XXIX Congresso de Pesquisa e Ensino em Transportes, ANPET, Ouro Preto, MG.
Huang, H. (2010) Discrete element modeling of railroad ballast using imaging based aggregate morphology characterization,
Tese de Doutorado, University of Illinois at Urbana-Champaign, Urbana, IL, EUA.
Indraratna, B.; D. Ionescu; H. D. Christie (1998) Shear behavior of railway ballast based on large-scale triaxial tests, Journal of
Geotechnical and Geoenvironmental Engineering, v. 124, n. 5, p. 439-449. DOI: 10.1061/(ASCE)1090-
0241(1998)124:5(439)
Indraratna, B.; P. K. Thakur; J. S. Vinod (2010) Experimental and numerical study of railway ballast behavior under cyclic load-
ing, International Journal of Geomechanics, v. 10, n. 4, p. 136-144. DOI: 10.1061/(ASCE)GM.1943-5622.0000055
Indraratna, B.; W. Salim; C. Rujikiatkamjorn (2011) Advanced rail geotechnology ballasted track, Taylor & Francis Group, Lon-
don, UK.
Johnson, K. L. (1986) Plastic #low, residual stresses, and shakedown in rolling contact, In: 2nd International Conference on Con-
tact Mechanics and Wear of Rail/Wheel Systems, University of Rhode Island, Kingston, University of Waterloo Press, On-
tario, Canadá .
Klincevicius, M. G. Y. (2011) Estudo de propriedades, de tensõ es e do comportamento mecâ nico de lastros ferroviá rios, Disser-
taçã o de Mestrado, Escola Polité cnica da Universidade de Sã o Paulo, Sã o Paulo, SP.
Lowe, J. (1964) Shear strength of course embankment dam materials. In: Huitieme Congresso des Grands Barrages, EU dim-
bourg, p. 745-761.
Merheb, A. H. M. (2014) Aná lise mecâ nica do lastro ferroviá rio por meio de ensaios triaxiais cı́clicos, Dissertaçã o de Mestrado,
Escola Polité cnica da Universidade de Sã o Paulo, Sã o Paulo, SP.
Merheb, A.; R. Motta; L. B. Bernucci; E. Moura; R. Costa; T. Vieira; F. Sgavioli (2013) Equipamento triaxial cı́clico de grande es-
cala para aná lise mecâ nica de lastro ferroviá rio. In: Transportes, v. 22, n. 3, p. 53-63. DOI: 10.14295/transportes.v22i3.804
Paim da Silva, F. H. (2018) Estudo do comportamento de um lastro ferroviá rio sob carga repetida em modelo fı́sico de verda-
deira grandeza, Dissertaçã o de Mestrado, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ.
Paiva, C.; M. Ferreira; A. Ferreira (2014) Ballast drainage in brazilian railway infrastructures, Construction and Building Mate-
rials, v. 92, p. 58-63. DOI: 10.1016/j.conbuildmat.2014.06.006
Selig. E. T.; J. M. Waters (1994) Track geotechnology and substructure management, Thomas Telford Publications.
Sevi, A. S. (2008) Physical modelling of railroad ballast using parallel gradation scalling technique within the cyclical triaxial
framework, Tese de Doutorado, Missouri University of Science and Technology, p.137.
Schmidt, S.; S. Shah; M. Moaveni; B. J. Landry; E. Tutumluer; C. Basye; D. Li (2017) Railway ballast permeability and cleaning
considerations, Transportation Research Record: Journal of the Transportation Research Board, n. 2607, p. 24-32. DOI:
10.3141/2607-05
Tennakoon, N.; B. Indraratna; C. Rujikiatkamjorn; S. Nimbalkar; T. Neville (2012) The role of ballast fouling characteristics on
the drainage capacity of rail substructure, Geotechnical Testing Journal, v. 35, n. 4, p. 629-640. DOI: 10.1520/GTJ104107
Vizcarra, G. O. C.; S. Nimbalkar; B. Indraratna; M. D. T. Casagrande (2014) Efeito da granulometria na deformaçã o e quebra de
lastro ferroviá rio, In: COBRASEG, XVII Brazilian Congress of Soil Mechanics and Geotechnical Engineering, p. 1-6.
Vizcarra, G. O. C. (2015) Efeito da granulometria no comportamento mecâ nico de lastro ferroviá rio, Tese de Doutorado, Ponti-
fı́cia Universidade Cató lica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ.