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AGRADECIMENTOS
Quero agradecer aos meus pais pela educação e amor recebido, pela vivência e por tudo
que sou hoje.
À minha esposa Valéria, pela paciência e dedicação ao meu lado, nas muitas e muitas
horas gastas no estudo.
Aos meus colegas de mestrado que me apoiaram muito para conseguir completar esta
nova fase da vida: Fernando Gomes, José Carlos Filho, Paulo Cesar Silva e Maurício de
Souza Carneiro.
Ao meu Gerente José Pamplona, pela paciência de ensinar e pelo conhecimento sobre
gerenciamento e obra neste período de Jirau.
Ao meu grande amigo Daniel Seabra e sua família pela acolhida em sua casa que recebi
em Belo Horizonte, para conseguir me dedicar ao estudo e concluir este trabalho.
Ao diretor Técnico da ESBR Maciel Paiva, por confiar e autorizar o estudo sobre o
Barramento de núcleo asfáltico.
Aos meus novos colegas da Neoenergia pelo apoio no dia a dia para a conclusão deste
trabalho.
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RESUMO
Rockfill dams with asphalt concrete center core are very attractive design alternatives
for implementation of large hydroelectric power plants in the northern Brazil since this
type of dam can make it possible to keep the construction activities even during raining
seasons; As the asphalt cores are thin, it is always possible to adopt in the design steep
embankments slopes that lead to economies in the rock material for the dams. The
geotechnical performance of the asphalt core is a basic characteristic in the design of
rockfill dams where this sealing technology is applied. So, strict control procedures are
necessary as long as the technologic properties of the asphalt cement derived from oil,
the properties of the aggregates, the properties of the thin transition and even the rockfill
properties are concerned. The control of the construction methods such as the placing
and the compaction is also important. The aim of this paper is to show in a logic form,
the main geotechnical aspects that are important in the construction of asphalt cores in
rockfill dams. This is based in the experience of the author who was the owner engineer
responsible for the geotechnical aspects of the construction of the rockfill dam with
impervious asphalt core of the Jirau hydroelectric power plant. It is also mentioned how
the construction control shall be done in dams with asphalt core such as the Jirau
embankment dam, as well as the general criteria and standards to be applied in the
design and construction of asphalt center cores as impervious elements of large rockfill
dams. One of the main aspects is the temperature control of the bituminous materials in
the field since it is extremely important as long as the workability and the performance
of the core in its effectiveness as a sealing element of the dam is concerned.
Lista de Figuras
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Figura 4.3 – Amostra indeformada obtida do aterro experimental
Figura 4.4 – Resultados dos ensaios triaxiais com amostras do aterro experimental
Figura 4.5 – Equipamento rotativo para extração (a) e amostra coletada do núcleo (b).
Figura 4.6 – Preparação dos corpos de prova a partir da amostra coletada do núcleo
Figura 4.7 – Ensaio de membrana plástica: gabarito de madeira (a) e enchimento (b)
Figura 5.1 - Usina de Concreto Asfáltico da UHE Jirau (Ramalho et al., 2013)
Figura 5.2 – Etapas de construção da metodologia DACC (Ramalho et al., 2013)
Figura 5.3 – Preparação das fundações para a construção da Barragem Principal
Figura 5.4 – Fundação local em solo residual de granito (ombreira direita)
Figura 5.5 – Tratamento das fundações locais por cortinas de injeções
Figura 5.6 – Preparação da superfície da laje de concreto (plinto)
Figura 5.7 – (a) Mastique asfáltico; (b) lançamento do mastique sobre a laje de concreto
Figura 5.8 – (a) posicionamento das formas metálicas; (b) lançamento da massa
asfáltica
Figura 5.9 – Distribuição conjunta do concreto asfáltico e transição fina
Figura 5.10 – Controle de alinhamento do eixo do núcleo asfáltico
Figura 5.11 – Compactação integrada do núcleo asfáltico e das transições finas
Figura 5.12 – Estreitamento do núcleo: (a) campo (autor); (b) esquema (Guimarães,
2012)
Figura 5.13 – Controle de temperaturas no campo (antes da compactação)
Figura 5.14 – Camada com desvio do eixo e limpeza da transição
Figura 5.15 – Complementação da camada apresentando desvio do eixo
Figura 5.16 – Remoção de camada com teores inadequados de CAP
Figura 5.17 – Surgências de água na superfície do núcleo asfáltico
Figura 5.18 – Detalhe da pressão na junta de dilatação com a expulsão do mastique
Figura 5.19 – (a) calda sem consolidação de furo de injeção; (b) contato entre material
consolidado e não consolidado de furo de injeção
Figura 5.20 – (a) furo inicial sem consolidação da injeção; (b) reconstrução do furo
Figura 5.21 – Ensaio de perda d’água para aferição do novo tratamento de fundação
Figura 5.22 – Limpeza e preparação do núcleo escavado
Figura 5.23 – Limpeza da transição fixada ao núcleo antigo
Figura 5.24 – Reconstrução do núcleo: (a) fôrma colocada; (b) aplicação do mastique
Figura 6.1 – Camada compactada e não compactada do aterro (temperatura de 110 °C)
Figura 6.2 – Extração (a) e obtenção (b) de amostras indeformadas dos aterros
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Figura 6.3 – Corpos de prova para ensaios de controle de qualidade dos aterros
Figura 6.4 – Resultados dos ensaios de controle - Variações da temperatura das misturas
Figura 6.5 – Perda da estabilidade estrutural da mistura asfáltica
Figura 6.6 – Resultados dos ensaios de caracterização do material da última camada do
núcleo asfáltico da barragem
Figura 6.7 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 30ºC
Figura 6.8 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 50ºC
Figura 6.9 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 70ºC
Figura 6.10 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 90ºC
Figura 6.11 – Curvas tensão - deformação médias das amostras ensaiadas
Figura 6.12 – Resultados em termos das resistências à compressão não confinada
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Lista de Tabelas
Tabela 2.1 - Barragens com núcleo de concreto asfáltico (Höeg, 1993; Veidekke, 2011)
Tabela 4.1 – Propriedades Básicas do CAP 85 - 100
Tabela 4.2 – Resultados do ensaio de índice de forma dos agregados
Tabela 4.3 – Traço final da argamassa asfáltica (% em peso)
Tabela 4.4 – Ensaios de recebimento do CAP na obra
Tabela 4.5 – Valores médios dos parâmetros de controle de campo
Tabela 4.6 – Parâmetros de controle para os testemunhos coletados do núcleo
Tabela 4.7 – Valores médios das densidades dos enrocamentos e transições
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Lista de Símbolos, Nomenclatura e Abreviações
cm – centímetros
Gb – densidade do asfalto.
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Gmb - densidade relativa aparente do corpo de prova compactado
H – Horizontal
kN – Quilo Nilton
m – Metros
mm – milimetros
MW – MegaWatts
NM – Norma Mercosul
TR – Tempo de Recorrência.
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UU – Ensaio Triaxial não consolidado não drenado;
Vv – Volume de vazio de ar
Wd – peso seco
− constante
% - Percentual
°C – Graus Centrigrados
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 − INTRODUÇÃO
xiv
4.2 CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA EM LABORATÓRIO ........................... 38
xv
7.2 SUGESTÕES PARA TRABALHOS COMPLEMENTARES ............................... 84
xvi
CAPITULO 1
INTRODUÇÃO
O Brasil é um país cuja matriz energética é baseada, em larga escala na hidroenergia, por
possuir um território de dimensões continentais com grande potencial para a exploração de
energias renováveis, visando o atendimento de uma demanda sempre crescente de energia
de um mercado em franca expansão. A necessidade de novas e crescentes demandas de
energia na Região Norte e Centro Oeste do Brasil motivaram, amparada pelas novas
regulações de parcerias com o setor privado, a construção e a implantação de grandes usinas
hidrelétricas como fomento ao desenvolvimento regional em grande escala.
Por outro lado, a Região Norte do Brasil é tipificada por períodos bem definidos das
estações chuvosas, fato que tem uma repercussão direta na construção dos grandes maciços
compactados das barragens de terra de grande porte. Neste sentido, torna-se imperativo
estabelecer procedimentos alternativos nas metodologias construtivas dos barramentos que
incorporem esta realidade da condição natural da região, viabilizando empreendimentos de
geração de energia a curto prazo e em condições econômicas satisfatórias.
1 1
1.2 – OBJETIVOS DA DISSERTAÇÃO
Uma vez que as temperaturas das misturas asfálticas constituem fator determinante no
comportamento geotécnico do núcleo da barragem, durante o lançamento e durante toda a
vida útil do empreendimento, estudos específicos foram implementados de forma a se
avaliar diretamente a influência da temperatura sobre a trabalhabilidade e o desempenho
final das misturas e na resposta do núcleo como elemento estrutural e de estanqueidade da
barragem. Neste propósito, ênfase maior foi dada em tentativas de campo visando
estabelecer correlações entre a temperatura de lançamento do material do núcleo asfáltico e
a eficiência do processo de compactação dos materiais, bem como da viabilidade
operacional dos procedimentos propostos, por meio da construção e ensaios feitos em
amostras indeformadas extraídas de aterros experimentais.
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1.3 – ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
Este trabalho é dividido em sete capítulos, de acordo com a seguinte estruturação dos temas
analisados:
• Capítulo 6: apresenta a síntese dos estudos realizados, com amostras extraídas de aterros
experimentais e da última camada lançada do núcleo asfáltico da barragem da UHE Jirau,
para se avaliar, especificamente, a influência da temperatura sobre a trabalhabilidade e o
desempenho final das misturas asfálticas, bem como sobre a estabilidade estrutural do
núcleo da barragem;
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CAPÍTULO 2
BARRAGENS DE CONCRETO COM NÚCLEO ASFÁLTICO
2.1 – INTRODUÇÃO
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Desde 1960, a metodologia DACC permite o lançamento simultâneo do concreto asfáltico e
da transição fina com a utilização de equipamentos específicos para isso, sendo, assim, a
mais empregada para a construção de barragens de enrocamento com núcleo asfaltico.
(ICOLD, 1992). Por outro lado, entretanto, foram construídas em 1988, na antiga União
Soviética, três barragens, utilizando-se núcleo de concreto asfáltico fluído (FACC -
Flowable Asphaltic Concrete Core), técnica envolvendo o lançamento do concreto asfáltico
manualmente sem vibração, conhecido como ‘método russo’.
No Brasil, barragens de enrocamento com núcleo asfáltico ainda constituem uma novidade,
tendo a primeira barragem sido construída apenas no ano de 2010. Trata-se da UHE Foz do
Chapecó localizada no Rio Uruguai, na fronteira entre os Estados de Santa Catarina e o Rio
Grande do Sul. A UHE Foz do Chapecó possui potência instalada de 855 MW e altura
média de 48,0 m.
A segunda barragem deste tipo construída no Brasil foi a UHE Jirau, localizada no Rio
Madeira, no Estado de Rondônia, escopo deste trabalho e cuja construção será abordada
com detalhes no texto desta dissertação.
Barragens de núcleo asfáltico exigem um estudo inicial de estabilidade dos traços e dos
CAP’s que deverão ser utilizados, pois estes devem atender aos esforços solicitantes da
estrutura, além dos efeitos devidos às intempéries e às reações químicas que podem ser
induzidas no contato com a água. Após escolhido o traço, são realizados ensaios triaxiais
para se avaliar o comportamento tensão-deformação do material.
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Estas barragens podem ser basicamente de dois tipos: as que possuem face asfáltica como
elemento de vedação no talude de montante da barragem (Figura 2.1) ou aquelas que um
núcleo asfáltico, esbelto e praticamente impermeável, inserido na porção central da
estrutura. Em ambos os casos, o concreto asfáltico deve atender aos princípios de
segurança requeridos, em termos de sua flexibilidade, resistência à erosão e estanqueidade
(Höeg, 1993).
Um dos princípios para a execução de uma barragem com face asfáltica é que a mesma
deva ser constituída por material francamente permeável (barragens de enrocamento) para
que que sejam controlados e minimizados os efeitos das subpressões geradas ao longo do
corpo do barramento (Figura 2.2)
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Nas barragens com núcleos de concreto asfáltico, o núcleo fica posicionado na porção
central da barragem (Figura 2.3), como elemento vertical ou inclinado (sendo esta
opção menos utilizada pois dificulta os procedimentos construtivos, diminuindo a
produtividade). Esta estrutura de vedação caracteriza-se por ser esbelta e flexível
permitindo, assim, deformações das fundações, bem como dos espaldares, sem
comprometimento da estrutura vedante.
Figura 2.3 - Barragem de enrocamento com núcleo de concreto asfáltico (UHE Foz do
Chapecó)
O barramento mais usual é construído por meio de sequências de materiais com adequadas
granulometrias, das bordas para o centro da estrutura. Assim, os espaldares são executados
com enrocamento e rip rap, seguidos por transições grossas e finas, ao longo do eixo ou
deslocadas para montante/jusante em relação ao núcleo central de vedação asfáltica (Figura
2.4). Este arranjo favorece a diluição das deformações e permite o maciço absorver com
maior eficiência as elevadas tensões atuantes.
Figura 2.4 – Execução do núcleo asfáltico e das transições (UHE Foz do Chapecó)
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A espessura do núcleo de concreto asfáltico deve ser tal de forma a manter inalterada a
integridade original do mesmo em face às deformações do enrocamento e aos recalques
diferenciais induzidos na fundação da barragem. O núcleo deve ser ainda capaz de suportar
possíveis erros construtivos do núcleo (por exemplo, desalinhamento vertical), efeitos do
enchimento do reservatório e possíveis ações dinâmicas e deslocamentos das fundações
(Höeg, 1993).
Dentro da barragem, o asfalto se mantém sob condições quase ideais, sob temperaturas
constantes e sem interferências solares. O material preserva a característica por ser muito
denso dificultando a oxidação ou endurecimento, ao contrário do que ocorre quando
exposto em rodovias, de forma que as suas propriedades tecnológicas permanecem
inalteradas ao longo da vida útil da barragem.
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O núcleo fino e flexível tende a se ajustar às deformações e aos recalques que ocorrem
durante a construção, devido ao enchimento, recalques diferenciais e à presença de
fundações compressíveis. A aplicação do núcleo de asfalto é feita, em geral,
independentemente das condições climáticas. Em regiões com chuvas intensas, a
construção é simplificada e reduzida no prazo quando comparada com as obras que utilizam
núcleos em solo compactado. Embora o trabalho com o asfalto necessite ser interrompido
durante as chuvas intensas, ele pode ser retomado assim que a chuva cessa ou passa a ser de
leve intensidade.
Tabela 2.1 - Barragens com núcleo de concreto asfáltico (Höeg, 1993; Veidekke, 2011)
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2.3 – MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO
Para a execução de um barramento com núcleo asfáltico, tanto pelo método convencional
como pelo método russo, o material básico de construção é o cimento asfáltico de petróleo
(CAP); entre os métodos, distinguem-se a natureza e dimensões dos agregados e a
porcentagem de CAP em relação à mistura.
O método russo (concreto ciclópico) é menos utilizado atualmente em função do alto teor
de ligante da mistura CAP (matéria nobre) e é pouco recomendado para barragens de
grande altura por apresentar possíveis caminhos preferenciais de percolação (ICOLD,
1992). O CBUQ é o mais utilizado na construção das barragens com núcleo de concreto
asfáltico/ face asfáltica e que fazem uso da metodologia DACC por via mecanizada.
2.3.1 – Agregados
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O critério de aceitação dos agregados para uso em concretos asfálticos é o mesmo adotado
para os agregados para pavimentação, prescritos pelas normas ABNT e DNIT. Höeg
(1993) afirma que os critérios da NBR são muito rigorosos no caso do núcleo de concreto
asfáltico, pois o mesmo não está sujeito a esforços de abrasão e a variações significativas
de temperatura, desgastes por fadiga ou mesmo trincas. Por outro lado, o núcleo de
concreto asfáltico, no caso de barragens de grande altura, pode estar sujeito a elevadas
tensões estáticas.
A norma define areia ou agregado miúdo como areia de origem natural ou resultante da
britagem de rochas estáveis, ou a mistura de ambas, cujos grãos passam pela peneira ABNT
de 4,8 mm e ficam retidos na peneira ABNT de 0,075 mm. Define adicionalmente
agregado graúdo como pedregulho ou brita proveniente de rochas estáveis, ou a mistura de
ambos, cujos grãos passam por uma peneira de malha quadrada com abertura nominal de
152 mm e ficam retidos na peneira ABNT de 4,8 mm. O rachão beneficiado é definido
como o material obtido diretamente do britador primário e que é retido na peneira de 76
mm. A areia de brita ou areia artificial, segundo Cuchierato (2000), é o material passível de
ser obtido em pedreiras a partir de instalações de beneficiamento a úmido, apresentando
uma granulometria entre 4,8 mm e 0,074 mm (DNPM, 2009).
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Na construção de barragens com núcleo de concreto asfáltico, a composição de agregados
deve seguir a chamada curva de graduação de Füller, com diâmetro máximo variando entre
16 e 18 mm, expressa pela seguinte relação:
di
Pi = .100 (2.1)
D max
sendo: Pi − porcentagem em peso das partículas menores que o tamanho equivalente dos
grãos de dimensão di e Dmax − tamanho nominal máximo dos grãos.
Os agregados devem possuir um índice de forma menor que 1,45, tal como aplicado
também para o concreto convencional, indicando grãos de agregados com forma menos
alongada e mais próxima de um cubo. De acordo com norma específica DNER ME035
(DNIT, 1998), o índice de forma é calculado dividindo o comprimento pela largura, sendo
que valores próximos de 1 tornam a mistura mais resistente (formatos mais cúbicos).
Rochas básicas tendem a ser melhores que as rochas ácidas em termos de uma melhor
adesividade ao ligante; assim, agregados alcalinos como o calcário são geralmente
requeridos (Wang e Höeg, 2009). A maioria dos agregados silicosos tende a mobilizar
cargas elétricas superficiais negativas em presença de água, enquanto materiais calcários
tendem a mobilizar cargas positivas (a dolomita é um exemplo de caso extremo de
agregado eletropositivo). De forma geral, agregados carregados com cargas negativas
(ácidos) apresentam baixa adesividade e, em muitos casos, requerem o uso de aditivos
para serem utilizados em obras de pavimentação rodoviária.
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Trata-se de material de largo emprego em trabalhos de pavimentação, pois, além de suas
propriedades potencialmente aglutinantes e impermeabilizantes, possui características de
flexibilidade e alta resistência à ação da maioria dos ácidos inorgânicos, sais e álcalis.
Essas características permitem que esse material seja utilizado também como produto da
mistura asfáltica, aplicada ao núcleo de barragens.
Os cimentos asfálticos de petróleo são classificados pelo seu ‘grau de dureza’ expresso no
chamado ensaio de penetração ou pela sua viscosidade, determinada a partir do ensaio de
viscosidade Saybolt-Furol. A propriedade de penetração é definida como a distância, em
décimos de milímetros, que uma agulha padronizada penetra verticalmente em uma
amostra de cimento asfáltico, sob condições especificadas de carga, tempo e temperatura.
Quanto menor a penetração, ‘mais duro’ é o cimento asfáltico. Em função da penetração, a
Agência Nacional de Petróleo (ANP) especifica quatro tipos de CAP: CAP 30 - 45, CAP
50 -70, CAP 85 -100 e CAP 150 - 200, com temperaturas de amolecimento iguais a 52°C,
46°C, 43°C e 37°C, respectivamente.
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2.3.3 – Enrocamentos e Transições
As camadas de transição adjacentes ao núcleo devem ser constituídas de rocha britada com
tamanho máximo dos grãos de 60 mm e atender ao seguinte critério de granulometria em
projeto:
d100 (núcleo) > d10 (transição); d100 (transição) > 1/4d100 (maciço) (2.2)
Por outro lado, a chamada transição fina, parte da transição imediatamente em contato com
o núcleo de concreto asfáltico, deve ser bem graduada e atender ao seguinte critério de
granulometria em projeto (Höeg, 1993):
A transição age não somente como elemento de suporte e uniformização de tensões, mas
também como elemento auxiliar no processo de autocicatrização, no caso de abertura de
trincas no núcleo asfáltico.
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2.4 – CONCRETO ASFÁLTICO
As propriedades do concreto asfáltico variam de acordo com o tipo e teor de CAP, tipo de
agregado, temperatura e energia de compactação (Brenth e Arslan 1990; Höeg, 1993;
Roberts et al., 2002; Falcão, 2007; Ramos, 2009; Guimarães, 2012). A característica
essencial do núcleo de concreto asfáltico é garantir a estanqueidade da barragem e,
portanto, a permeabilidade é a propriedade mais relevante a ser estabelecida para o
concreto asfáltico, a qual, por sua vez, é função direta dos parâmetros volumétricos das
misturas compactadas.
G mm − G mb
Vv = .100 (2.4)
G mm
DMT - d
Vv = .100 (2.5)
DMT
sendo: Gmm − densidade máxima da mistura solta; Gmb − densidade relativa aparente do
corpo de prova compactado; DMT − densidade máxima teórica da mistura (ponderação da
densidade dos constituintes); d − densidade aparente do corpo de prova compactado.
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Assim, as normas distinguem-se em relação aos procedimentos para a determinação dos
parâmetros de densidades utilizados. O parâmetro Gmm expressa o valor da densidade
efetiva da mistura, ou seja, considera a parcela de asfalto que é absorvida efetivamente pelo
agregado durante a mistura entre os dois.
Neste contexto, Gmm é função da densidade efetiva da mistura (Gse), definida como a
relação entre o peso seco da amostra solta e seu volume efetivo constituído pelo volume de
agregado sólido e dos poros permeáveis à água que não foram preenchidos com asfalto
(Figura 2.5), sendo dado pela seguinte relação:
100
G mm = (2.6)
PS P
+ b
G se G b
Assim, a densidade efetiva da mistura asfáltica (Gse) depende da medida prévia do volume
efetivo, que é determinado pelo chamado ‘método Rice’ (ASTM D 2041). Por outro lado, a
densidade máxima teórica (DMT) é numericamente igual à razão entre a massa do agregado
mais ligante e a soma dos volumes dos agregados, vazios impermeáveis, vazios permeáveis
não preenchidos com asfalto e total de asfalto (Bernucci et al., 2008), sendo expressa em
termos da ponderação das densidades reais dos materiais componentes da mistura:
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Pcap + P1 + P2 + ... + Pn
DMT = (2.7)
Pcap P P P
+ 1 + 2 + ... + n
G cap G1 G 2 Gn
A determinação distinta das densidades aparentes pelas normas se deve aos procedimentos
para a estimativa dos volumes aparentes. Na norma americana D 2726 (ASTM, 2000b), os
vazios superficiais são considerados através da utilização do peso úmido após a imersão em
água, ao passo que, nas normas brasileiras (mencionadas anteriormente), o volume é obtido
sem considerar os vazios superficiais. As relações 2.8 e 2.9 permitem a determinação das
densidades aparentes pelas normas americana e brasileiras, respectivamente:
Wd
G mb = (2.8)
Wssd − Wsub
Wd
d= (2.9)
Wd − Wsub
sendo: Wd – peso seco; Wssd – peso saturado em superfície seca; Wsub – peso submerso do
material.
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A Figura 2.6 apresenta uma correlação entre permeabilidades e volumes de vazios de
concretos asfálticos (Falcão, 2007), com comportamento de variação tipicamente
exponencial. Para volumes de vazios de 3%, as permeabilidades do concreto asfáltico
tendem a ser essencialmente inferiores a 10-8 cm/s.
DMT - d Pb .d
VAM = Vv + VCB = + .100 (2.10)
DMT Gb
Este parâmetro é distinto do seu similar VMA (voids in the mineral aggregate) pela norma
americana D2041 (ASTM, 2000a), que considera, na mistura compactada, o volume de
vazios com ar e o teor de asfalto efetivo.
VAM − Vv
RBV = .100 (2.11)
VAM
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Nas aplicações em núcleos de barragens, o teor de ligante no concreto asfáltico é utilizado
comumente com teor um pouco superior ao necessário para preencher quase totalmente os
vazios entre os agregados, tipicamente em torno de 5,5 a 6% em peso, para atender a
prescrição de volumes de vazios inferiores a 3%. Nestas condições, a densidade obtida
durante a compactação é quase da ordem da densidade máxima da mistura.
A Figura 2.7 (Brenth e Arslan, 1990 apud Guimarães, 2012) apresenta resultados típicos de
ensaios triaxiais relativos ao comportamento à ductilidade do concreto asfáltico em função
dos teores de CAP presentes (no caso CAP B80), para diferentes tensões confinantes (0,25
e 0,75 MPa). Os resultados indicam incremento das deformações axiais e uma significativa
redução das deformações volumétricas com o aumento do teor de ligante da mistura.
O teor ótimo do ligante presente em uma dada mistura asfáltica depende essencialmente da
técnica de dosagem empregada relativamente à distribuição granulométrica dos agregados
presentes. O processo comumente utilizado em aplicações práticas é a chamada Dosagem
Marshall, desenvolvida nos Estados Unidos no início da década de 30 do século passado e
posteriormente difundida em todo o mundo.
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O método é caracterizado pela seleção do ligante asfáltico e do agregado de modo a atender
determinadas especificações de projeto. A compactação é realizada por impacto de um
soquete padrão para obtenção de corpos de prova cilíndricos e que devem atender a certos
limites quanto aos valores dos parâmetros Va e VMA e, em alguns casos, também aos
valores dos volumes de vazios preenchidos com ligante VFA (ALS, 2014). Além disso,
algumas agências estabelecem limites também quanto aos valores de estabilidade e de
fluência do material (NCHRP, 2011).
Os procedimentos de dosagem são feitos com base nas normas ME 43 (DNIT, 1994) e ES-
031 (DNIT, 2006). Com base na definição da faixa granulométrica, são moldados cinco
grupos de três corpos de prova com diferentes teores de asfalto mediante aplicação de 75
golpes por face, obtendo-se amostras com 100 mm de diâmetro e 63,5 mm de altura. Após a
moldagem, determinam-se os seguintes parâmetros volumétricos: (i) densidade aparente
(Gmb); (ii) volume de vazios (Vv); (iii) vazios no agregado mineral (VAM); (iv) vazios
preenchidos com ligante (RBV). A partir destas moldagens traçam-se relações dos teores de
ligante com volumes de vazios ou relações betume-vazios por exemplo, para se obter os
teores de ligante que satisfazem as especificações técnicas de projeto (Bernucci et al., 2008;
Souza Neto, 2013; ALS, 2014).
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2.5 – USINAS ASFÁLTICAS
Para se estabelecer uma adequada mistura de agregados e CAP, dosagem da massa asfáltica
e aquecimento do produto para posterior aplicação, nas grandes demandas exigidas por uma
barragem com núcleo asfáltico, são utilizadas as chamadas usinas asfálticas de CBUQ, que
podem ser centrais gravimétricas ou centrais volumétricas, dependendo da grandeza de
controle adotada para a aferição das respectivas dosagens da mistura, sendo as primeiras de
aplicação mais generalizada.
As centrais gravimétricas são compostas por silos de alimentação, que armazenam e fazem
a dosagem adequada dos agregados, de forma contínua e automática na proporção indicada
no sistema de controle. Os agregados são introduzidos em um secador, tipo de cilindro
rotativo dotado de um queimador, pela extremidade oposta ao queimador, onde passam por
um processo de secagem e aquecimento até ser atingida a temperatura prevista para a
mistura. O processo é denominado de contra-fluxo de mistura externa, pois o fluxo de
agregados ocorre em sentido contrário ao fluxo de gases quentes oriundos da chama do
queimador. Uma vez secos e devidamente aquecidos, os agregados são levados a um
misturador externo.
Por outro lado, a fração de finos oriundos do processo de secagem é retida inicialmente por
um separador estático (que retém os finos de maior granulometria) e depois por um filtro de
mangas, que atua como elemento de retenção dos finos de menor granulometria, ambas as
parcelas sendo posteriormente encaminhadas ao misturador.
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CAPÍTULO 3
CARACTERISTICAS DO EMPREENDIMENTO
3.1 – INTRODUÇÃO
A Usina Hidrelétrica Jirau (UHE Jirau) está localizada no Rio Madeira, afluente da margem
direita do rio Amazonas, no Estado de Rondônia, cerca de 120 km da capital Porto Velho e
em plena selva amazônica e forma, com a UHE Santo Antônio, localizada mais próxima à
capital, um empreendimento hidrelétrico chamado Complexo do Madeira (Figura 3.1). O
consórcio Energia Sustentável do Brasil, formado pelas empresas GDF Suez, Eletrosul,
Chesf e Camargo Corrêa, coordenou e viabilizou a implantação do empreendimento.
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A usina de Jirau é do tipo fio-d’água – sistema em que não há um reservatório propriamente
dito e a geração de energia está baseada nos ciclos de cheias do rio, modelo que tem como
vantagens a redução das áreas inundadas e um menor impacto ambiental. No caso da UHE
Jirau, o projeto tirou partido da existência de duas ilhas localizadas em meio ao trecho do
rio onde a usina seria implantada para atuaram como bases naturais para a locação do eixo
geral do empreendimento (Figura 3.2).
Figura 3.2 – Arranjo geral das estruturas da UHE Jirau (Braga, 2013)
Em função destas ilhas, o projeto contemplou duas casas de força distintas, ambas com
unidades geradoras do tipo bulbo, com potência instalada de 3.750 MW. Na margem
esquerda, localizam-se as 22 unidades geradoras, tendo como vértice a extremidade sul da
Ilha do Padre (Figura 3.3). O vertedouro de superfície, com 18 vãos, está localizado ao lado
da casa de força da margem direita, que conta, por sua vez, com 28 unidades geradoras que
se encontram acopladas à região da tomada d’água (Figura 3.4).
23
Figura 3.3 – Vista da UHE Jirau: Ilha do Padre/barragem principal (Braga, 2013)
A área do reservatório é variável, tendo 302,6 km² em seu nível d’água máximo normal,
com área inundada variando entre 31 km² e 108 km². Para a implantação do barramento,
foram construídas duas ensecadeiras, primeiro na margem direita da barragem, permitindo a
operação do vertedouro inicial, e depois na margem esquerda. Estas ensecadeiras foram
posteriormente incorporadas à barragem principal.
24
3.2 – GEOLOGIA REGIONAL E LOCAL
Geologicamente, a bacia do rio Madeira possui diversas unidades litológicas, sendo que seis
foram mapeadas na área da UHE Jirau e entorno (Silva et al., 2010): Formação Jaci-Paraná,
Formação Palmeiral, Formação Rio Madeira, cobertura detrito-laterítica, granitoides
anorogênicos e sedimentos aluvionares (Figura 3.5).
A Formação Palmeiral foi caracterizada também como uma unidade sedimentar indicadora
de depósitos fluviais, com estratificação cruzada, sendo constituída por ortoconglomerados,
com clastos (seixos) arredondados de quartzo e de quartzo- arenito, além de arenitos
maciços. Os seixos, de tamanhos variados, de origem fluvial, encontram-se dispersos em
uma matriz arenosa fina, com cimento ferruginoso e sem frações de areia média e grossa
(Figura 3.6).
25
(a) (b)
Figura 3.6 – Feições típicas da Formação Palmeiral: (a) cascalho em conglomerados
cimentados; (b) cascalho com matriz argilosa superficial
A Formação Rio Madeira, ocupando uma área menor no entorno da UHE Jirau, é composta
por argilas maciças de coloração acinzentada na camada inferior; cascalhos angulosos de
quartzo-arenito, quartzito e quartzo disseminados em matriz arenosa na camada interna e
areias grossas inconsolidadas com estratificação cruzada na camada superior.
26
3.3 – OUTROS ASPECTOS DO MEIO FÍSICO LOCAL
O clima da região é considerado como tropical úmido (Ferraz et al., 2005). As precipitações
anuais na bacia do rio Madeira, a montante de Porto Velho, mostram uma grande
variabilidade espacial, variando desde 500 a 5.000 mm, com o período chuvoso (novembro-
abril) apresentando totais mensais acima de 200 mm/mês. A Figura 3.8 apresenta a
distribuição anual média das precipitações na região entre os municípios de Abunã e Porto
Velho, evidenciando um grande padrão de similaridade regional.
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27
A estação menos chuvosa estende-se de maio a agosto, com um pequeno período de chuvas
entre junho-julho. A temperatura do ar, para o mesmo período, mostra também uma
variação similar de sazonalidade, sendo outubro o mês mais quente, com temperatura média
de 25,6 °C, e julho, o mês mais frio, com temperatura média próxima a 22,7°C (Culf et al.,
1996).
A UHE Jirau foi implantada em uma região com boa cobertura de dados fluviométricos e
hidrológicos, permitindo, assim, a obtenção de uma longa série histórica de dados e
registros. O regime fluvial do rio Madeira caracteriza-se por apresentar períodos de cheia e
de recessão muito bem definidos. De maneira geral, o início da subida do hidrograma
ocorre durante os meses de outubro e novembro, atingindo seu pico durante os meses de
março e abril, quando tem início a fase de recessão, que se estende até setembro e outubro
(PCE, 2006).
O período de menores vazões ocorre nos meses de agosto a outubro, com as mínimas
vazões ocorrendo predominantemente no mês de setembro. A vazão média no período
histórico (1967 a 2001) foi cerca de 19.000 m³/s, enquanto que a vazão máxima diária
registrada atingiu 48.570 m³/s em 14 de abril de 1984. A vazão mínima registrada ocorreu
em setembro de 1995, atingindo cerca de 3.145m³/s.
Figura 3.9 – Cotagrama das vazões do Rio Madeira, entre 2008 a 2013 (LEME, 2013)
28
3.4 – BARRAGEM PRINCIPAL COM NÚCLEO DE CONCRETO ASFÁLTICO
A obra foi planejada para ser executada, em um período de 5 anos (contrato de concessão
junto a ANEEL), como uma barragem de solo compactado. Com as demandas crescentes
por energia, o cronograma de sua implantação foi reduzido para apenas 3 anos, o que
implicou movimentações e trabalhos de compactação de solos mesmo durante os períodos
chuvosos, o que foi determinante para inviabilizar o empreendimento na sua concepção
original.
Por outro lado, a velocidade de execução também foi primordial para a escolha deste tipo
de barramento, uma vez que sua velocidade de alteamento era expressiva em comparação
aos prazos de lançamento e compactação de uma barragem de terra. Outro fator
comparativo que deve ser observado é a agilidade da limpeza de fundação quando se trata
da fundação para aterro em enrocamento, comparada à limpeza desta para aterro em solo.
Enquanto que para uma barragem em solo compactado, os procedimentos de tratamento da
fundação são muito mais elaborados e específicos, no caso de barragens de enrocamento, o
tratamento da fundação tende a ser mais simplificado.
29
Em relação a núcleos de argila compactada, os núcleos asfálticos oferecem ainda as
seguintes vantagens: os sistemas de filtro e de transição a jusante são simplificados, o que
significa uma redução na quantidade dos materiais utilizados; núcleos de concreto asfáltico
são muito mais resistentes à erosão e, sendo mais dúctil, reduz-se o risco de fissuração.
Como desvantagens potenciais, barragens de enrocamento com núcleos asfálticos exigem a
implantação na obra de uma usina própria de CBUQ e a adoção de equipamentos
especializados e específicos no lançamento da mistura que não são usuais nem têm outra
finalidade após esta utilização, o que pode impactar os custos do empreendimento.
A barragem principal da UHE Jirau está localizada na zona do leito do Rio Madeira (Figura
3.10) e é constituída por um maciço de enrocamento compactado com núcleo de concreto
asfáltico, possuindo um comprimento de crista de 1.050 m e altura máxima de 60,0 m. A
implantação do barramento foi viabilizado mediante a execução prévia de ensecadeiras
laterais, posteriormente incorporadas à barragem principal.
Observa-se que a barragem apresenta uma seção bastante esbelta com taludes íngremes,
com inclinação 1,4H:1V, tanto a montante como a jusante, que são proporcionados pelo
fato do núcleo asfáltico possuir uma espessura de apenas 0,60 cm. A planta baixa e a seção
transversal típica da barragem com núcleo em concreto asfáltico da UHE Jirau, incluindo as
ensecadeiras laterais, estão apresentadas na Figura 3.11.
30
Figura 3.11 – Planta e seção transversal típica da Barragem Principal da UHE Jirau (Themag, 2012)
31
A base do núcleo de concreto asfáltico é alargada, apresentando uma largura igual a duas
vezes a largura adotada para o corpo da barragem, de forma a restringir severamente os
elevados gradientes hidráulicos atuantes nessa região. O núcleo está apoiado sobre uma laje
de concreto (plinto), com uma camada superior de mastique asfáltico e outra camada,
inferior, de concreto de regularização, que atua como uma base nivelada de apoio (Figura
3.12). Chumbadores promovem a ancoragem do plinto com a fundação rochosa, que foi
tratada por meio de injeções de calda de cimento sobre pressão (o tratamento das fundações
da barragem é mais detalhado no Capítulo 5 desta dissertação).
32
Figura 3.13 – Materiais de construção utilizados na barragem (Themag, 2012)
O material utilizado no corpo da barragem foi oriundo das escavações obrigatórias para a
implantação das estruturas do barramento. O material foi compactado utilizando-se rolos
compactadores de grande impacto. Os volumes dos materiais empregados na construção da
barragem foram os seguintes (Souza Neto, 2013):
33
Figura 3.13 – Medidores de recalques instalados na BENA (Themag, 2012)
34
CAPÍTULO 4
CONTROLE TECNOLÓGICO DOS MATERIAIS EM
LABORATÓRIO E DAS MISTURAS EM CAMPO
4.1 – INTRODUÇÃO
35
4.2 – CARACTERIZAÇÃO TECNOLÓGICA EM LABORATÓRIO
O CAP utilizado para a construção do núcleo de concreto asfáltico da barragem de Jirau foi
do tipo 85-100, comercialmente disponível pela distribuidora Betunel - Tecnologia em
Asfaltos. Para uma aferição e comprovação de suas características tecnológicas, foram
realizados ensaios de penetração pela norma NBR 6576 (ABNT, 2007), viscosidade Saybolt
Furol pela norma NBR 14950 (ABNT, 2003), densidade pela norma NBR 6296 (ABNT,
2004) e ponto de fulgor pela norma NBR 11341(ABNT, 2008), durante o período de
construção do núcleo, pela empresa TechDam (2013), contratada pelo consórcio da UHE
Jirau, com acompanhamento direto dos resultados pelo autor deste trabalho.
A Tabela 4.1 apresenta a síntese destes resultados, obtidos a partir de amostras de CAP
coletadas diretamente dos tanques de armazenamento da usina da obra, confrontados aos
valores de referência do fabricante. Os resultados foram equivalentes, com exceção aos
valores obtidos para a viscosidade do produto.
36
4.2.2 – Agregados do Concreto Asfáltico
A Tabela 4.2 apresenta os resultados obtidos em termos da aferição dos índices de forma
dos agregados. O valor de referência – índice de forma igual a 0,76 – implica um agregado
de forma mais próxima ao arranjo cúbico (valor ideal igual a 1,0), o que foi compatibilizado
com a natureza do processo de britagem implantado na central de processamento (escolha e
seleção do britador).
Em relação à adesividade agregado - betume, os resultados dos ensaios indicaram uma boa
adesividade entre os dois produtos, sem quaisquer deslocamentos de película betuminosa
entre eles num período de 72h, sob uma temperatura de ensaio de 40°C (conforme
procedimentos da norma ME 078 do DNIT, 1994).
37
Para atender à granulometria do traço inicial, tornou-se necessária a implantação de um
novo britador separado do britador principal destinado à produção de agregados para
transições e concreto. Para este novo britador, foram definidas faixas de produção de
agregados de forma a se obter a densidade máxima da mistura conhecida como ‘curva de
Fuller’. Assim, para se estabelecer os padrões granulométricos exigidos, foram produzidos
cinco tipos de agregados, divididos em diferentes faixas, definidas pelos seguintes
intervalos de tamanhos: 0-4mm, 4-8mm, 8-11mm e 11-16mm e pó dolomítico (‘filler
dolomítico’), definidos pelas linhas tracejadas indicadas na Figura 4.1. As linhas contínuas
representam os resultados das curvas granulométricas médias, relativos a todo o período de
produção, para os cinco diferentes agregados testados.
38
Figura 4.2 – Curva granulométrica média do CBUQ em obra
A composição inicial foi testada com 11% de material tipo fíler (passante na peneira 200)
com três diferentes teores de betume, quais sejam, 6,5%, 7% e 7,5%. Entretanto, os testes
não foram satisfatórios pois não atenderam as especificações técnicas pré-estabelecidas de
um índice de vazios mínimo de 3%.
Assim sucessivamente foram realizados novos testes com novas concentrações de fíler e
CAP. Quando foi feita a mistura de 13% de fíler, com teores de 7,2%, 7,5% e 7,8% de
CAP, foram obtidos valores de índices de vazios, respectivamente, de 1,2%%, 1,0% e
0,8%, todos atendendo ao limite inferior previsto. Assim, adotou-se para a composição do
traço inicial uma mistura de agregados, com 13% de fíler e 7,2% de CAP, pois isto
implicava também em uma significativa redução dos custos envolvidos. Utilizando o traço
base, foram realizados inúmeros ensaios para tentar viabilizar o mesmo com índices
menores de CAP, sem comprometimento da trabalhabilidade do material e sem garantia de
um recobrimento integral dos agregados pelo material betuminoso.
39
Os resultados destes experimentos resultaram na obtenção de um traço melhorado, com a
composição final indicada na Tabela 4.3 (porcentagens em peso).
MATERIAL REVISÃO 19
CAP 6,8
BRITA 16 mm 16
BRITA 11 mm 13
BRITA 8 mm 23
AREIA 3 mm 28
FILLER DOS AGREGADOS 2
FILLER DOLOMITA 11,2
SOMA DAS % 100
40
Figura 4.3 – Amostra indeformada obtida do aterro experimental
Figura 4.4 – Resultados dos ensaios triaxiais com amostras do aterro experimental
41
As curvas tensão-deformação obtidas para ambos os corpos de prova indicam uma boa
concordância entre os resultados. A tensão desviadora média foi da ordem de 1,57 MPa,
correspondente a uma tensão axial de ruptura de 2,07 MPa. O módulo secante da mistura
correspondente à deformação de 1% foi de 25 MPa. Os dois corpos de prova mostram
ductilidade significativa sem nenhuma tensão-amolecimento até 20% de deformação, com
pequena variação de volume (expansão) durante o carregamento. Para uma deformação
axial de 20%, a expansão foi da ordem de apenas 0,8%.
Estes resultados foram correlacionados com outros obtidos a partir de ensaios triaxiais
similares realizados sobre uma amostra moldada no traço originalmente estabelecido. Os
resultados da amostra do aterro foram ligeiramente inferiores aos da amostra original
(tensão desviadora reduziu de 2,20 MPa para 2,07 MPa, o módulo secante a 1% reduziu de
30 MPa para 25 MPa e a expansão a 20% caiu de 1,3% para 0,8%). Com base nestas
avaliações, o traço final da argamassa asfáltica foi validado para se constituir o material de
construção do núcleo asfáltico da UHE Jirau.
Os materiais passam por um controle para conferência das características descritas na nota
fiscal, pois uma variação nos parâmetros pode prejudicar a fabricação do CBUQ, podendo
mudar as características do material e causar problemas na sua aplicação. Após esta
certificação preliminar, eram realizados comumente ensaios de penetração (normas NBR
6576 – ABNT, 2007 e ME 155 – DNIT, 2010), viscosidade (norma NBR 14950 – ABNT,
2003) e ponto de fulgor (norma NBR 13.341 – ABNT, 1990).
42
A Tabela 4.4 apresenta as médias obtidas para estes parâmetros (incluindo densidades) para
todos os ensaios de recepção de materiais betuminosos realizados na obra, correlacionados
aos valores de referência prescritos. Uma vez atendidas as características especificadas, o
betume era liberado para armazenamento nos silos, para posterior utilização na usina como
material ligante.
Densidade
Ensaio Penetração (0,1 mm) Viscosidade (135ºC) - sSF Ponto de fulgor
(g/cm³)
Os ensaios de controle tecnológico são atividades para verificar o processo executivo, tanto
em termos dos serviços de campo propriamente ditos como em relação ao produto final
(camada lançada do núcleo). Esses ensaios são ferramentas primordiais de controle
tecnológico para detecção de qualquer erro ou falha no processo executivo e servem
também como ferramenta de liberação entre um lançamento e outro, tornando não subjetivo
a liberação de camadas, tomando-se como parâmetros básicos como trabalhabilidade do
material e temperatura de lançamento como aspectos passíveis de inspeções visuais da
mistura como efeitos de exsudação ou segregação, por exemplo.
Assim, em cada etapa do processo executivo, são feitas avaliações para adequação e
caracterização dos materiais de construção, começando pelo transporte e lançamento da
argamassa que deve chegar em campo com temperatura igual ou superior a 135°C, de forma
a garantir uma boa trabalhabilidade do material, sua característica auto-adensável, bem
como garantir uma adequada compactação e interação com a camada anterior, sem a
presença de quaisquer feições deletérias ou atípicas de lançamento. Nessa fase, pelo fato do
CBUQ estar ainda quente, ele é de fácil remoção, caso seja necessário para correção.
43
Após o lançamento de uma dada camada, uma amostra deformada do material era coletada
ainda quente e levada, então, ao laboratório para a execução dos ensaios de controle de
qualidade. Os procedimentos utilizados para a moldagem dos corpos de prova seguiram as
recomendações da NBR 12891 (ABNT, 1993) para moldagem Marshall (compactação por
impacto), mas com aplicação de 30 golpes em vez dos 50 ou 75 especificados pela norma
brasileira, redução adotada no sentido de melhor reproduzir a energia efetivamente aplicada
na compactação do núcleo de barragens (que utilizam rolos de 7 a 10 kN).
A Tabela 4.5 apresenta os valores médios obtidos para os teores de ligante, volumes de
vazios, densidade aparente e densidade real das amostras coletadas do núcleo asfáltico da
barragem principal da UHE Jirau. O valor médio dos volumes de vazios foi da ordem de
0,96% e constatou-se uma quase equivalência entre os valores médios das densidades real e
aparente das amostras ensaiadas.
Densidade
Densidade real
Teor de CAP (% ) Volume vazios % aparente
(g/cm³)
(g/cm³)
44
Após o lançamento de quatro camadas de 0,20m de espessura, a atividade era paralisada até
o completo resfriamento do núcleo, quando, então, era retomado o lançamento de outras
quatro camadas. Com o resfriamento da camada, o CBUQ ganha consistência adequada
para se proceder à extração de testemunhos (amostras indeformadas), utilizando-se um
equipamento extrator rotativo (Figura 4.5a), o que era feito após a execução de 25 a 30
camadas do núcleo asfáltico. As amostras coletadas têm cerca de 30 cm de comprimento
por 10cm de diâmetro (Figura 4.5b).
(a) (b)
Figura 4.5 – Equipamento rotativo para extração (a) e amostra coletada do núcleo (b).
Após extração, as amostras eram levadas ao laboratório para preparação de corpos de prova
com 5 cm de espessuras (Figura 4.6, assim designadas: amostra A (0 A 5cm a partir do
topo); amostra B (5cm a 10cm), amostra ‘C’ (de 10cm a 15cm), amostra ‘D’ (de 15cm a
20cm) e amostra ‘E’ (de 20cm a 25cm da extensão da amostra coletada, correspondente ao
trecho de 0 a 5cm do topo da camada anterior).
Figura 4.6 – Preparação dos corpos de prova a partir da amostra coletada do núcleo
45
O objetivo do seccionamento dos corpos e prova é verificar a efetividade da compactação
ao longo de uma mesma camada, bem como as condições do contato entre uma camada e
outra, além de aferir os resultados dos ensaios realizados nas amostras deformadas retiradas
previamente, ratificando ou não os volumes de vazios pré-determinados. Os resultados
demonstram, mais uma vez, a eficiência e a adequabilidade da metodologia construtiva do
núcleo asfáltico, uma vez que todas as subcamadas avaliadas apresentaram volumes de
vazios inferiores a 3% (variação entre 0,89% na camada ‘E’ a 1,16% na camada ‘B’).
Por outro lado, é importante ressaltar que o valor médio do volume de vazios obtido para o
núcleo asfáltico da barragem principal da UHE Jirau foi de apenas 1,05%, o que resultaria
em uma permeabilidade ainda menor, consolidando as análises precedentes e a grande
característica de estanqueidade desta solução de vedação para barragens.
46
Além do controle de qualidade da execução do núcleo, eram realizados também ensaios de
controle dos enrocamentos e transições, demais materiais de construção de uma barragem
de enrocamento com núcleo asfáltico (BENA). Em ambos os casos, o parâmetro principal
de controle de qualidade em campo é a densidade, uma vez que a granulometria dos
materiais já havia sido submetida a rígidos controles na central de britagem.
O ensaio básico de campo era o chamado ‘ensaio de membrana plástica’. Esse ensaio
consiste em se utilizar três tipos de gabarito que dependiam do material a ser ensaiado: um
gabarito de 4m x 4m para o enrocamento, um gabarito cilíndrico, de 1,5m de diâmetro, para
a transição grossa e enrocamentos finos e um gabarito cilíndrico, de 0,60m de diâmetro,
para as transições finas. O processo consistia em escavar uma vez e meia a altura da camada
lançada e compactada, que era de 0,80m para o enrocamento, 0,40m para o enrocamento
fino e transição grossa e de 0,20m para transição fina (a transição fina tinha esta altura de
lançamento final pois a mesma era lançada conjuntamente com o núcleo asfáltico pela
mesma acabadora, sendo, então, limitada a sua altura pela altura da camada do núcleo.
(a) (b)
Figura 4.7 – Ensaio de membrana plástica: gabarito de madeira (a) e enchimento (b)
47
O ensaio era realizado periodicamente, em função dos volumes pré-estabelecidos do
lançamento de cada material. A densidade era obtida diretamente pela relação entre a massa
e a volume do material escavado (Tabela 4.7).
48
CAPÍTULO 5
CONCEPÇÃO GERAL, METODOLOGIAS CONSTRUTIVAS
E SOLUÇÕES DE PROBLEMAS EM CAMPO
5.1 – INTRODUÇÃO
No caso da UHE Jirau, as obras civis ficaram a cargo da empresa Construções e Comércio
Camargo Corrêa S.A. (designada no texto a seguir pela sigla CCCC), com a construção da
barragem principal (Leito do Rio) prevista para ser realizada entre abril a novembro de
2012. Em fevereiro de 2012, a empresa norueguesa VEIDEKKE (terceira contratada),
parceira no projeto como responsável pela execução do núcleo asfáltico da barragem, deu
início aos trabalhos de mobilização e de implantação da usina de concreto asfáltico na obra,
exigência básica frente aos grandes volumes demandados.
49
Figura 5.1 - Usina de Concreto Asfáltico da UHE Jirau (Ramalho et al., 2013)
50
(i) a implantação do concreto asfáltico e dos materiais das transições deve ser feita
de forma acurada e contínua, seguindo-se as determinações de projeto relativas a
cada camada;
(ii) os diferentes materiais utilizados devem ficar nivelados nas etapas de
lançamento e de compactação;
(iii) as taxas de disposição dos materiais do núcleo e das zonas de transição devem
ser compatíveis com a sequência construtiva da barragem como um todo.
Após a conclusão da fase do desvio do rio através do vertedouro com soleiras rebaixadas e
a conclusão das ensecadeiras limítrofes à barragem principal, procedeu-se ao esgotamento
das águas acumuladas no recinto central, seguido pelos trabalhos de escavação até à cota
final de projeto e regularização final das fundações (Figura 5.3).
51
Figura 5.3 – Preparação das fundações para a construção da Barragem Principal
52
A partir do plinto, procedeu-se ao tratamento geral da fundação, por meio de três linhas de
injeções de calda de cimento sobre pressão, visando reduzir a permeabilidade e o fluxo de
água pela fundação da barragem. As linhas de furos de injeção foram executadas segundo o
eixo da linha de centro e paralelas a esta, adotando-se espaçamentos de 1,50 m entre elas
(Figura 5.5).
Após a construção do plinto, projetado com uma largura mínima igual ao dobro da largura
do núcleo, teve início uma fase de preparação extremamente detalhada da superfície da
laje de concreto para a obtenção de condições ótimas de aderência da mesma com o
concreto asfáltico (Figura 4.6).
53
O procedimento é iniciado com jatos de ar e água desferidos sobre a superfície do concreto
para remoção da película de argamassa aderida à mesma, de forma a deixar os agregados
expostos e isentos de poeiras e partículas soltas. Em seguida, um maçarico é utilizado para
aquecimento do concreto e para a eliminação de toda a umidade residual, tornando a
superfície rugosa e seca adequadamente preparada para receber a aplicação de uma camada
de base de mastique asfáltico.
O mastique asfáltico é constituído por 32% de areia artificial produzida por britagem, 33%
de areia natural, 20% de pó de pedra e 15% de betume. Para a sua aplicação, o CAP
(cimento asfáltico de petróleo) é aquecido na usina e colocado em um misturador portátil,
onde são acrescentados areia e fíler para a obtenção de uma consistência mais pastosa
(Figura 5.7a). A temperatura deve ser da ordem de 150ºC, para garantir a fluidez da
mistura. A aplicação é feita manualmente e de forma homogênea, com a ajuda de balde
metálico e rodo de madeira (Figura 5.7b), de forma a se obter uma camada de cerca de 2,0
mm de espessura, que é, então, deixada resfriar por 24h.
(a) (b)
Figura 5.7 – (a) Mastique asfáltico; (b) lançamento do mastique sobre a laje de concreto
54
lançadas manualmente, em função da geometria da base e pela impossibilidade, nestas
condições iniciais, de posicionamento da máquina pavimentadora na praça de trabalho, em
função do desnível da laje de concreto conformada ao relevo da fundação. Este processo
também foi adotado nas zonas de mudança de direção da laje de concreto.
O lançamento do concreto asfáltico foi feito no espaço confinado por formas metálicas,
travadas por barras transversais (Figura 5.8a), de forma a se garantir uma largura mínima
para o núcleo (da ordem de 1,20 m nestas primeiras camadas). As formas foram
preenchidas por meio de uma carregadeira adaptada, com silo frontal e abertura de fundo
(Figura 5.8b). O lançamento da transição fina foi feito por retroescavadeira, em larguras de
1,45 m em ambos os lados da forma. Todos os trabalhos previstos (posicionamento das
formas, lançamento das transições, nivelamento, remoção das formas e compactação) foram
monitorados para execução com rapidez e sequência uniforme, de modo a garantir a
homogeneidade das características técnicas dos materiais dispostos in situ.
Neste sentido, foram utilizadas ainda bombas de sucção (chupão) para esgotamento de
possíveis acumulações de água em depressões, que poderiam limitar as condições de
uniformidade do lançamento do material, seja pela ação de resfriamento acelerado da
massa, seja pelo comprometimento do adensamento e da compactação da mistura. Todas as
etapas do processo de lançamento de cada camada, antes e após a conformação da mesma,
eram aferidas pela equipe técnica de topografia de campo.
(a) (b)
Figura 5.8 – (a) posicionamento das formas metálicas; (b) lançamento da massa asfáltica
55
Superadas as limitações práticas que impõem o lançamento manual (o que significa
estabelecer uma extensão mínima de cerca de 30m de base nivelada), o concreto asfáltico
passou a ser lançado por processos mecânicos, utilizando-se uma máquina vibro-acabadora
de terceira geração. O núcleo asfáltico e as transições finas foram lançadas simultaneamente
no campo. Neste processo, a disposição dos materiais é feita pelo sistema de aratacas,
formas móveis que confinam e lançam, por silos separados, os materiais em campo. O
abastecimento dos silos de transição fina e de concreto asfáltico foi realizado
conjuntamente, utilizando-se, respectivamente, uma retroescavadeira e uma carregadeira
adaptada (Figura 5.9).
56
Figura 5.10 – Controle de alinhamento do eixo do núcleo asfáltico
Após o lançamento de uma camada, a compactação era realizada por três rolos vibratórios,
da seguinte forma: dois rolos, com capacidade de 27 kN, compactavam paralelamente as
transições; e um rolo, com capacidade de 7 kN e posicionado alguns metros mais atrás,
promovia a compactação do núcleo (Figura 5.11). Os parâmetros de compactação adotados
em campo foram estabelecidos a partir de estudos prévios executados por meio de aterros
experimentais realizados no local, para as condições reais dos equipamentos disponíveis na
própria obra.
57
(a) (b)
Figura 5.12 – Estreitamento do núcleo: (a) campo; (b) esquema (Guimarães, 2012)
58
5.3 – PROBLEMAS DETECTADOS E SOLUÇÕES PROPOSTAS
59
Figura 5.15 – Complementação da camada apresentando desvio do eixo
Várias podem ser as causas da variação dos teores de CAP, sendo que as principais são:
• Permanência por tempo excessivo no silo térmico, segregando o material;
• Problema na balança de pesagem do CAP;
• Contaminação por óleo de aquecimento dos reservatórios de CAP.
60
Figura 5.16 – Remoção de camada com teores inadequados de CAP
A situação é constatada na prática de campo de duas formas: a primeira pela medição direta
da temperatura, com valor abaixo de 150ºC, do material encaminhado ás frentes de serviço;
a segunda, pela constatação e temperaturas inadequadas pela medição da temperatura da
camada lançada e antes da compactação. Em ambos os casos, esta detecção é rápida
mediante o uso de termômetros digitais.
61
4.3.4 – Infiltrações de Água no Núcleo Asfáltico
Em certas situações de campo, particularmente na região das cotas mais baixas da fundação
da barragem, foram observadas surgências de água na superfície da camada lançada e
compactada de núcleo asfáltico (Figura 5.17). Este problema é bastante atípico e expressa
uma situação incomum, pois o núcleo deveria ser impermeável e, nesta região, a fundação
consistia num dique de diabásio, que tinha sido objeto de um rigoroso tratamento por
injeções.
62
A junta de dilatação consistia em um furo circular de 4 polegadas de diâmetro, preenchido
com mastique asfáltico. Embora as vazões fossem mínimas e sem possibilidades práticas de
quantificação, as pressões locais eram elevadas. Ao longo da junta de dilatação, o mastique
asfáltico estava sendo localmente expulso a uma velocidade da ordem de 10 cm por dia
(Figura 5.18).
63
(a) (b)
Figura 5.19 – (a) calda sem consolidação de furo de injeção; (b) contato entre material
consolidado e não consolidado de furo de injeção
(a) (b)
Figura 5.20 – (a) furo inicial sem consolidação da injeção; (b) reconstrução do furo
Após este novo tratamento, não foram registradas quaisquer outras infiltrações ao longo do
plinto e na região do núcleo, condição favorável que foi ratificada por meio dos resultados
de ensaios de perda d’água executados no local (Figura 5.21).
64
Figura 5.21 – Ensaio de perda d’água para aferição do novo tratamento de fundação
Após a remoção do núcleo original de concreto asfáltico na região das infiltrações e das
intervenções corretivas adotadas (Figura 5.22), tornou-se necessária a aplicação de um
tratamento específico da área para a recomposição do novo núcleo. O processo incluiu um
programa de limpeza detalhada e manual do espaço escavado, devido às condições de
acesso difícil (Figura 5.22). A limpeza das transições no contato do maciço antigo e da
fundação envolveu toda a região do núcleo antigo, com transpasse de 1,20m e largura, em
cada lateral, de no mínimo 0,60m para cada lado (Figura 5.23).
65
Figura 5.23 – Limpeza da transição fixada ao núcleo antigo
Uma fôrma foi colocada para garantir a largura mínima de projeto (Figura 5.24a) e a
escavação da transição foi feita de modo a permitir uma área efetiva de trabalho para o rolo
compactador. Visando proporcionar uma boa aderência do contato entre o concreto novo e
o antigo do núcleo, o material já lançado e o próprio mastique do plinto foram reaquecidos
para uma remoção complementar das impurezas e da água residual presentes no mesmo
(Figura 5.24b).
(a) (b)
Figura 5.24 – Reconstrução do núcleo: (a) fôrma colocada; (b) aplicação do mastique
66
CAPÍTULO 6
INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA NA EXECUÇÃO DO
NÚCLEO ASFÁLTICO
6.1 – INTRODUÇÃO
Por esses motivos as temperaturas de fabricação e de lançamento são importantes tanto para
aumentar a produtividade como para garantir um núcleo com maior homogeneidade e
estabilidade estrutural, além de influenciar diretamente no custo do material betuminoso,
uma vez que, quanto maior a temperatura de trabalho, maior é o gasto com combustível
para se obter o aquecimento da mistura.
67
6.2 – CONSTRUÇÃO DOS ATERROS EXPERIMENTAIS
Na construção dos aterros, utilizou-se uma carregadeira acoplada com uma caixa de
distribuição de CAP, uma escavadeira de 30t para distribuição da mistura, formas para
lançamento manual, além de um rolo compactador de 7 KN para compactação das camadas
lançadas. Três camadas, de 1,50m de extensão e 0,20m de espessura (análogas às adotadas
na construção do núcleo asfáltico) foram lançadas para compor o trecho inicial das camadas
do aterro experimental, que foram submetidas à compactação padrão de campo (quatro
passadas de rolo Modelo CC800), imediatamente após o lançamento para não se ter perdas
de temperatura no processo.
Num segundo trecho (também de 1,50m de extensão), o material foi apenas lançado sem
compactação (também em camadas de 0,20m de espessura). Em cada um dos aterros,
adotou-se uma temperatura final para o lançamento das camadas, que variaram entre 140ºC
(temperatura de referência na obra), 130ºC, 110ºC e 100ºC. A figura 6.1 apresenta as
diferenças de consistência dos materiais compactado e não compactado sob uma
temperatura de 110ºC.
Figura 6.1 – Camada compactada e não compactada do aterro (temperatura de 110 °C)
68
O processo de lançamento obedeceu a seguinte sistemática de campo: atingida a
temperatura final de lançamento do material betuminoso (controlada por meio de um
termômetro digital), a carregadeira lançava o material na forma com a transição fina já
confinada e o espalhamento era feito por meio de equipamentos manuais, como enxadas e
pás.
69
No terceiro aterro, buscou-se adotar uma variação bastante significativa da temperatura da
massa, impondo-se uma redução da temperatura de referência de 30ºC. Nestas condições de
maior fluidez, observou-se que o material asfáltico começou a aderir fortemente nas
paredes do compartimento de carga doo silo-carregadeira, dificultando sobremaneira a
disposição do material, o que exigiu a atuação dos operários no sentido de promover a
liberação das porções remanescentes no equipamento de lançamento.
Um quarto e último aterro experimental foi executado sob temperaturas de 100ºC, para
simular uma condição limite de operação de campo. Neste caso, mesmo com a utilização de
substâncias desmoldantes nas paredes do silo-carregadeira, as dificuldades de lançamento e,
principalmente, de espalhamento do material foram impeditivas, pois a mistura não
apresentou trabalhabilidade suficiente para garantir um mínimo de consistência em relação
a uma intervenção estritamente manual para estas operações. Assim, tornou-se necessária a
utilização de uma escavadeira/retroescavadeira de porte médio para se fazer o espalhamento
da camada antes da compactação, sendo que o material já não apresentava as características
de autoadensamento e apresentava-se visivelmente poroso.
70
Após execução, os aterros permaneceram intactos por um período de 10 dias, até o
completo resfriamento da mistura. Após este período, foram extraídas amostras utilizando
um equipamento rotativo (Figura 6.2a), das zonas compactada e não compactada de cada
aterro experimental. As amostras coletadas (Figura 6.2b), com cerca de 0,40m de altura
(correspondentes, portanto, às duas camadas superiores do aterro), foram encaminhadas ao
laboratório para a execução dos correspondentes ensaios de controle de qualidade das
misturas provenientes dos aterros experimentais.
(a) (b)
Figura 6.2 – Extração (a) e obtenção (b) de amostras indeformadas dos aterros
Durante o lançamento do material dos aterros em campo, para cada uma das condições
mencionadas, uma amostra deformada foi coletada e encaminhada ao laboratório. Os
procedimentos utilizados para a moldagem dos respectivos corpos de prova seguiram as
recomendações da NBR 12891 (ABNT, 1993) para moldagem Marshall, com aplicação de
30 golpes em vez dos 50 ou 75 especificados pela norma brasileira, no sentido de melhor
reproduzir a energia transferida pelo rolo de 7kN. Para a estimativa dos volumes de vazios
da mistura, foi determinada a sua massa específica máxima (ou massa específica real) pelo
‘método Rice’ (ASTM, 2000). O valor máximo deste parâmetro, obtido para todas as
amostras coletadas dos quatro aterros experimentais, foi da ordem de 0,89%, ligeiramente
inferior à média obtida para o núcleo da barragem (0,96%).
71
Similarmente aos ensaios de controle de qualidade relativos às misturas do núcleo asfáltico
da barragem, as amostras foram seccionadas em corpos de prova com 5 cm de espessura
(Figura 6.3), para a realização dos ensaios para a determinação dos volumes de vazios e
análises da eficiência dos processos de compactação em campo.
(a) (b)
Figura 6.3 – Corpos de prova para ensaios de controle de qualidade dos aterros
130
Temperatura (˚C)
Figura 6.4 – Resultados dos ensaios de controle - Variações da temperatura das misturas
72
A principal conclusão dos resultados, porém, é que, mesmo sob baixas temperaturas,
significativamente menores que a especificada em projeto, os volumes de vazios das
misturas mantiveram-se sempre acima do limite inferior prescrito de 3%, ou seja, baixas
temperaturas (até 100ºC) não comprometem e não constituem parâmetros inibidores para o
bom desempenho do núcleo asfáltico vedante da barragem principal da UHE Jirau.
Por outro lado, o material lançado em temperaturas elevadas (até 130ºC) mantém as suas
características de autoadensamento e, com a diminuição da temperatura, sua porosidade
aumenta e sua trabalhabilidade diminui. Porém, não é imperativa a remoção de camadas
com temperaturas inferiores à especificada, pois o processo de compactação ajuda a
melhorar suas propriedades e rearranjos dos materiais, diminuindo a quantidade de vazios
do núcleo.
Outro fator que influencia sobremaneira a trabalhabilidade das misturas são os elevados
volumes de vazios que são preenchidos pelo material betuminoso, por se tratar de uma
mistura rica em teor de CAP (em torno de 6,5%). Adicionalmente, há que se considerar a
melhoria do comportamento geotécnico de uma camada lançada eventualmente com uma
temperatura inferior à de referência: o lançamento de uma nova camada da mistura, com
temperatura elevada e elevado teor de CAP, perpassa para a camada inferior, reduzindo o
volume de vazios da mesma e melhorando a sua estabilidade estrutural.
Além da questão relativa à imposição de uma temperatura fixada em 140ºC para a mistura
asfáltica como referência de projeto, as especificações técnicas das obras da barragem
principal da UHE Jirau determinavam um limite diário de lançamento de 4 camadas de
0,20m de espessura (80cm diários na construção do núcleo) e a necessidade de um período
de repouso subsequente de 24h para a plena consolidação da mistura. Tal premissa visa
garantir a estabilidade estrutural do aterro, uma vez que, no caso de uma altura excessiva do
material betuminoso ‘plástico’, podem ocorrer problemas como o afundamento do rolo por
perda de capacidade de suporte da mistura (Figura 6.5) ou a indução de excentricidades do
núcleo, em função de deslocamentos de material e distorções do conjunto final.
73
Figura 6.5 – Perda da estabilidade estrutural da mistura asfáltica
74
Figura 6.6 – Resultados dos ensaios de caracterização do material da última camada do
núcleo asfáltico da barragem
Resultados típicos destes ensaios são mostrados nas Figuras 6.7 a 6.10, para amostras
ensaiadas sob temperaturas de ensaio de 30ºC, 500C, 700C e 900C, respectivamente.
75
Tensão x Deformação - 30 C
700,0
600,0
500,0
Tensão (KPa)
400,0
AM01 30 C
300,0
AM02 30 C
200,0
AM03 30 C
100,0
0,0
10,2
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,1
3,6
4,1
5,1
6,1
7,1
8,2
9,2
Deforma çã o (%)
Figura 6.7 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 30ºC
Tensão x Deformação - 50
450,0
400,0
350,0
Tensão (KPa)
300,0
250,0
200,0 AM01 50 C
150,0 AM02 50 C
100,0 AM03 50 C
50,0
0,0
10,2
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,1
3,6
4,1
5,1
6,1
7,1
8,2
9,2
Deformação (%)
Figura 6.8 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 50ºC
Tensão x Deformação - 70 C
300,0
250,0
Tensão (KPa)
200,0
150,0 AM01 70 C
100,0 AM02 70 C
AM03 70 C
50,0
0,0
10,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
Deforma çã o (%)
Figura 6.9 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 70ºC
76
Tensão x Deformação - 90 C
140,0
120,0
100,0
Tensão (KPa)
80,0
AM01 90 C
60,0
AM02 90 C
40,0
AM03 90 C
20,0
0,0
10,1
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
5,1
6,1
7,1
8,1
9,1
Deforma çã o (%)
Figura 6.10 – Curvas tensão - deformação para amostras sob temperaturas de 90ºC
600
500
Tensão (KPa)
400 Temperatura 90 C
300 Temperatura 70 C
200 Temperatura 50 C
Temperatura 30 C
100
0
0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5
Deformação (%)
77
Resistencia à Compressão Não Confinada (qu)
700
500
400 Temperatura 90 C
300 Temperatura 70 C
200 Temperatura 50 C
Temperatura 30 C
100
0
1 2 3
Amostra
78
CAPÍTULO 7
CONCLUSÕES E SUGESTÕES DE OUTROS ESTUDOS
No âmbito da barragem principal da UHE Jirau, estes controles foram aplicados com
bastante critério, e nortearam a adoção de estudos específicos por meio de ensaios e da
implantação de aterros experimentais, particularmente em relação às temperaturas de
lançamento e compactação da mistura asfáltica. Com base numa aferição prévia das
propriedades tecnológicas dos componentes da mistura (CAP e agregados), procedeu-se
à determinação do traço inicial da argamassa asfáltica, compatibilizando aspectos tais
como trabalhabilidade, compactação, impermeabilidade e redução de custos.
79
Diversos procedimentos foram adotados para avaliar a consistência das especificações
técnicas e dos parâmetros de projeto adotados para a avaliação da estabilidade estrutural
da barragem, que incluíram o controle de qualidade da execução do núcleo asfáltico,
dos enrocamentos e das transições.
80
Pela sua influência decisiva em relação às características de fluidez e no processo de
autoadensamento da mistura, a temperatura foi analisada no âmbito da construção do
núcleo asfáltico da barragem da UHE Jirau sob dois diferentes enfoques. No primeiro
caso, buscou-se avaliar a influência da temperatura sobre a trabalhabilidade e densidade
final da mistura por meio da construção de quatro aterros experimentais, utilizando
diferentes temperaturas de lançamento da mistura (140ºC, 130ºC, 110ºC e 100ºC),
considerando ou não a compactação das camadas lançadas.
O máximo valor obtido para o volume de vazios, para todas as amostras coletadas dos
quatro aterros experimentais, foi da ordem de 0,89%, ligeiramente inferior à média
obtida para o núcleo da barragem (0,96%), constatando-se uma tendência geral de
elevação da porosidade da mistura com a redução das temperaturas de lançamento, mais
pronunciada no caso das misturas não compactadas.
A principal conclusão destes resultados, porém, é que, nesta mistura mesmo sob baixas
temperaturas, menores que a especificada em projeto, os volumes de vazios das
misturas mantiveram-se sempre acima do limite inferior prescrito de 3%, ou seja, baixas
temperaturas (até 100ºC) não comprometeram e não constituíram parâmetros inibidores
para o bom desempenho do núcleo asfáltico vedante da barragem principal da UHE
Jirau.
81
Os resultados demonstraram uma forte influência das variações de temperatura na
estabilidade estrutural de núcleos asfálticos de barragens do tipo BENA, uma vez que
foram verificadas perdas substanciais do comportamento tensão - deformação das
misturas com o incremento das temperaturas. Assim, há que se ter muito cuidado em
relação à metodologia construtiva deste núcleo em estágios, de forma a garantir
realmente uma efetiva dissipação de temperaturas no processo de consolidação das
camadas lançadas.
Problemas mais graves foram detectados na região das cotas mais baixas da fundação da
barragem, devido a surgências de água na superfície da camada lançada e compactada
de núcleo asfáltico. A intervenção adotada consistiu na remoção completa do núcleo
lançado nesta área, até a locação do plinto, complementada por um amplo programa de
injeções profundas (inclusive aditivadas) em toda a extensão do trecho, complementada
por vistorias detalhadas e aplicação de tratamentos específicos locais para a completa
recomposição do novo núcleo nesta região.
82
• estudo de traços da mistura asfáltica e da utilização de baixas temperaturas na
implantação de núcleos asfálticos, com ênfase nas características de
autoadensamento para misturas ricas em CAP e na eficiência da compactação
das misturas em campo;
83
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