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CDU: 627.824
Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br
“O covarde nunca começa, o fracassado nunca termina e o vencedor nunca desiste.”
Norman Vicente Peale
iii
DEDICATÓRIA
Mãe, pai, Juninho, Marinês e Felipe a vocês que são a alegria da minha vida.
iv
AGRADECIMENTOS
Aos meus irmãos pelo amor e carinho, em especial a Marinês e Humberto pelo
acolhimento no novo lar.
v
RESUMO
vi
ABSTRACT
A maioria das obras de barragens tem sido bem instrumentada.In recent years, most of
the dam constructions for hydropower have been instrumented properly. The most
common installed instruments are: piezometers, inclinometers, settlements meters, flow
meters and total pressure cells. The interpretation of the readings of these instruments
provides information to assess the quality of the predictions of dam construction and
operational behavior. These predictions are acquired with software support by using
constitutive models. Well monitored dams provide great opportunities to evaluate the
constitutive models. This study was done considering the constructive period of the
Irapé dam, by taking into account the instrument reading results in comparison with
numerical studies. The numerical analysis was performed by GeoStudio 2007 software.
The Sigma module was used to model the highest cross section of the dam. The
numerical results of the study were then compared with the instrument reading installed
in the core and in the rockfill of the dam. The results showed good predictions for the
total stresses and higher values for the settlements in all models, linear-elastic, elastic-
plastic and hyperbolic.
vii
Lista de Figuras
viii
Figura 3.5 – Exemplo da função para o módulo de elasticidade.
Figura 3.6 - Curva tensão-deformação do modelo elasto-plástico perfeito.
Figura 3.7 - Critério de escoamento Mohr-Coulomb no plano (σ,τ).
Figura 3.8 - Círculo de Mohr para incrementos de deformação plástica e ângulo de
dilatância.
Figura 4.1 – Corpo de prova simulado no programa Sigma
Figura 4.2 - Curva Granulométrica da argila de alta compressibilidade.
Figura 4.3 - Curvas tensão desvio versus deformação axial do ensaio CU.
Figura 4.4 - Curvas pressão neutra versus deformação axial do ensaio CU.
Figura 4.5 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, sigma hiperbólico e sigma
elastoplástico para tensão confinante de 100kPa.
Figura 4.6 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, sigma hiperbólico e sigma
elastoplástico para tensão confinante de 200kPa.
Figura 4.7 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, sigma hiperbólico e sigma
elastoplástico, para tensão confinante de 400kPa.
Figura 4.8 - Curvas tensão-deformação do ensaio drenado.
Figura 4.9 - Curvas para o ensaio CD com confinante 100kPa.
Figura 4.10 - Curvas para o ensaio CD com confinante 200kPa.
Figura 4.11 - Curvas para o ensaio CD com confinante 400kPa.
Figura 4.12 - Análise de sensibilidade para a coesão: (a) Módulo Tangente
(b) Tensão Desvio.
Figura 4.13 - Análise de sensibilidade para o ângulo de atrito: (a) Módulo Tangente
(b) Tensão Desvio.
Figura 4.14 - Análise de sensibilidade para a Razão de ruptura (Rf): (a) Módulo
Tangente , (b) Tensão Desvio.
Figura 4.15 - Análise de sensibilidade para o coeficiente de empuxo no repouso (K0):
(a) Módulo Tangente, (b) Tensão Desvio.
Figura 4.16 - Análise de sensibilidade para a constante associada à rigidez do solo (K):
(a) Módulo Tangente, (b) Tensão Desvio.
Figura 4.17 - Análise de sensibilidade para a taxa de variação do solo (n): (a) Módulo
Tangente, (b) Tensão Desvio.
Figura 4.18 - Distribuição granulométrica para o material “cascalho”.
ix
Figura 4.19 – Curvas tensão deformação para o cascalho.
Figura 4.20 – Diagrama p’q do cascalho.
Figura 4.21 – Desenvolvimento da pressão neutra no decorrer da deformação.
Figura 4.22 – Curvas tensão deformação comparativas para tensão confinante 900kPa.
Figura 4.23 – Curvas tensão deformação comparativas para tensão confinante 1200kPa.
Figura 5.1 - Seção transversal da barragem de Irapé.
Figura 5.2 - Distribuição granulométrica para o material filtro.
Figura 5.3 - Distribuição granulométrica para o material “5”.
Figura 5.4 - Distribuição granulométrica para o material “5A”.
Figura 5.5 - Distribuição granulométrica para o material “6”.
Figura 5.6 - Seção transversal modelada numericamente.
Figura 5.7 – Malha de elementos finitos da seção transversal modelada.
Figura 5.8 - Função para o E50 do solo cascalho.
Figura 5.9a - Seção transversal da barragem de Irapé instrumentada.
Figura 5.9b - Seção transversal da barragem de Irapé instrumentada.
Figura 5.10 - Elevação do aterro versus recalque para o refinamento da malha de
elementos finitos no núcleo da barragem.
Figura 5.11 - Recalque para o modelo linear elástico com função E50 para o cascalho.
Figura 5.12 - Recalque para o modelo elastoplástico com função E50 para o cascalho.
Figura 5.13 - Recalque para o modelo hiperbólico para o cascalho.
Figura 5.14 - Tensões totais verticais para o modelo linear elástico E50.
Figura 5.15 - Modelo elasto-plástico: (a) - tensões totais verticais; (b) – zonas de
plastificação.
Figura 5.16 - Modelo hiperbólico: (a) - tensões totais verticais; ( b) – plastificação.
Figura 5.17 - Tensões totais horizontais para o modelo linear elástico E50.
Figura 5.18 - Tensões totais horizontais para o modelo elastoplástico E50.
Figura 5.19 - Tensões totais horizontais para o modelo hiperbólico.
Figura 5.20 - Tensões totais horizontais dos modelos e instrumento CP-309.
Figura 5.21 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-301.
Figura 5.22 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-302.
Figura 5.23 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-304.
Figura 5.24 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-306.
x
Figura 5.25 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-308.
Figura 5.26 - Comportamento do parâmetro K0 (σh/σv).
Figura 5.27 - Recalques dos modelos e instrumento RM-302.
Figura 5.28 - Recalques dos modelos e instrumento RM-304.
Figura 5.29 - Recalques dos modelos e instrumento RM-306.
Figura 5.30 - Recalques dos modelos e instrumento RM-307.
Figura 5.31 - Recalques dos modelos e instrumento RM-308.
Figura 5.32 - Recalques dos modelos e instrumento CS-301.
Figura 5.33 - Recalques dos modelos e instrumento CS-305.
xi
Lista de Tabelas
xii
Lista de Símbolos, Nomenclatura e Abreviações
xiii
BENA - Barragem de enrocamento com núcleo argiloso
BEVC - Barragem de enrocamento com vedação central
BEVM - Barragem de enrocamento com vedação a montante
c - Coesão total
c’ - Coesão efetiva
CD - Ensaio de compressão triaxial adensado e drenado
CH - Argila de alta compressibilidade
CIGB - Comissão Internacional de Grandes Barragens
CL - Argila de baixa compressibilidade
CNU - Coeficiente de não uniformidade
CP - Célula de pressão
CPT - Célula de pressão total
CR - Compacidade relativa
CS - Caixa sueca
CU - Ensaio de compressão triaxial adensado e não drenado
De - Matriz constitutiva elástica
E - Módulo de deformabilidade
E50 - Módulo de deformabilidade a 50% da resistência máxima
Ei - Módulo de deformabilidade inicial
EP - Modelo elastoplástico
Et Módulo de deformabilidade tangente
Eur - Módulo de deformabilidade descarregamento-recarregamento
F(σ) - Função de plastificação
G(σ) - Função potencial plástico
GC - Grau de compactação
GP - Pedregulho mal graduado
GW - Pedregulho bem graduado
hót - Umidade ótima
HP - Modelo hiperbólico
ICOLD - International Commission on Large Dams
IN - Inclinômetro
xiv
IP - Índice de plasticidade
K - Coeficiente de condutividade hidráulica ou permeabilidade a 20°C
K - Constante associada à rigidez inicial do solo
K0 - Coeficiente do empuxo em repouso
Kb - Constante adimensional relacionada com o coeficiente de deformação volumétrica
Kur - Constante associada ao descarregamento e recarregamento
LE - Modelo linear elástico
LL - Limite de liquidez
m - Constante adimensional relacionada com o coeficiente de deformação volumétrica
MEF - Método dos elementos finitos
MS - Marco superficial
MV - Medidor de vazão
n - Taxa de variação da rigidez do solo
NUGEO - Núcleo de Geotecnia
Pa - Pressão atmosférica
PC - Piezômetro Casagrande
PE -Piezômetro elétrico
pH - Potencial hidrogeniônico
RE - Medidor de recalque elétrico
Rf - Razão de ruptura
RM - Placa de recalque magnético
SC - Argila arenosa
SE - Simulação para o modelo elastoplástico
SH - Simulação para o modelo hiperbólico
SM - Silte arenoso
SP - Areia mal graduada
Su - Resistência não drenada
SW - Areia bem graduada
Tan - Tangente
UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto
UHE - Usina Hidrelétrica
xv
Lista de Anexos
xvi
ÍNDICE
CAPÍTULO 1 − INTRODUÇÃO
1.1 OBJETIVOS GERAIS.............................................................................................1
2.4.1 Enrocamento..................................................................................................7
2.4.2 Seções transversais típicas das barragens de enrocamento............................8
xvii
CAPÍTULO 3 − MODELAGEM NUMÉRICA
3.1 INTRODUÇÃO..............................................…………………………………...38
3.2 FINALIDADES DA MODELAGEM NUMÉRICA………......………………...39
3.3 ASPECTOS RELEVANTES PARA O MODELO CORRETO E A
MODELAGEM COM O PROGRAMA SIGMA.................................................40
3.4 MODELOS CONSTITUTIVOS............................................................................42
3.4.1 Introdução.....................................................................................................42
3.4.2 Trabalhos Desenvolvidos no NUGEO…………………………………..…44
3.5 MODELO CONSTITUTIVO HIPERBÓLICO………………………………….45
3.5.1 Descrição do Modelo....................................................................................46
3.6 IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO HIPERBÓLICO PELO PROGRAMA
SIGMA..................................................................................................................52
3.7 MODELO CONSTITUTIVO ELASTO-PLÁSTICO……..…………………….54
3.7.1 Descrição do Modelo Elasto-plástico perfeito..............................................55
3.7.2 Definições Básicas........................................................................................57
3.7.3 Critério de Ruptura Mohr-Coulomb ............................................................61
3.7.4 Dilatância......................................................................................................63
4.1 INTRODUÇÃO..........................................................……..…………………….66
4.2 SIMULAÇÕES DE ENSAIOS TRIAXIAIS.........................................................66
4.2.1 Simulação para um Ensaio Triaxial Adensado não Drenado (CU)..............68
4.2.2 Simulação para um Ensaio Triaxial Adensado Drenado (CD)......................74
4.3 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE.........................................................................79
4.4 CALIBRAÇÃO DA CURVA TENSÃO DEFORMAÇÃO PARA O CASCALHO
DA BARRAGEM DE IRAPÉ – NÚCLEO ARGILOSO......................................83
xviii
CAPÍTULO 5 − ESTUDO TENSÃO DEFORMAÇÃO DA BARRAGEM DE
IRAPÉ
5.1 INTRODUÇÃO..........................................................……..…………………….89
5.2 O EMPREENDIMENTO UHE IRAPÉ...........……..….........…………………..89
5.2.1 Principais materiais constituintes da barragem de Irapé..............................92
5.2.2 Seção modelada e estudada..........................................................................94
5.3 MODELAGEM POR ELEMENTOS FINITOS...................................................97
5.4 ESTUDOS DE REFINAMENTO DA MALHA DA BARRAGEM DE
IRAPÉ..................................................................................................................103
5.5 SIMULAÇÕES PARA O FINAL DA CONSTRUÇÃO....................................104
5.5.1 Recalques para o final da construção.........................................................105
5.5.2 Tensões totais verticais para o final da construção.....................................107
5.5.3 Tensões totais horizontais para o final da construção................................111
5.6 SIMULAÇÕES RELATIVAS AO PERÍODO CONSTRUTIVO……………..113
CAPÍTULO 6 − CONCLUSÕES
6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES.....................................126
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................131
ANEXOS.......................................................................................................................136
xix
Capítulo 1
Introdução
Para todos esses estudos é de suma importância conhecer as características dos materiais
que vão compor a barragem. Para se ter esse conhecimento deve-se realizar ensaios
geotécnicos de laboratório e ensaios “in situ” para determinar as propriedades
granulométricas, de resistência, de escoamento, de deformabilidade dentre outras
propriedades que são determinadas em laboratório e em campo.
Assim, esta dissertação tem por objetivo estudar o comportamento tensão versus
deformação de uma barragem, durante sua construção via métodos numéricos. O
sistema computacional adotado foi o GeoStudio 2007, módulo Sigma (Geo-Slope,
2007). Para utilizar esse programa, é necessária a escolha do modelo constitutivo que
represente as características do solo a ser estudado, os modelos utilizados foram o linear
1
elástico, o elasto-plástico e o hiperbólico, este, especificamente para o material
composto do núcleo denominado “cascalho”.
2
verticais desenvolvidas no maciço do núcleo da barragem e dos recalques sofridos
durante a execução dos alteamentos.
O Capítulo 2 apresenta uma revisão bibliográfica sobre história das barragens, barragens
de enrocamento, características dessas barragens e instrumentação. O capítulo também
relata estudos tensão deformação desenvolvidos por outros autores.
3
Capítulo 2
2.1 Introdução
Neste capítulo será exposto um pouco da história das barragens, o conceito de barragens
de terra e enrocamento com algumas características, estudos tensões-deformações
realizados anteriormente e os principais instrumentos de auscultação instalados nesses
tipos de barragens.
As barragens de terra são construções de longa data. Um dos registros mais antigos é o
de uma barragem construída no Egito de 12m de altura há aproximadamente 6800 anos
que rompeu por transbordamento.
4
seu primeiro enchimento. Estes recalques eram associados à quebra da rocha nos pontos
de contato devido à perda de resistência proporcionada pela saturação ou
umedecimento.
Com o advento de ensaios com amostras de grandes dimensões, já na década de 60, foi
possível estudar mais profundamente o comportamento mecânico dos enrocamentos.
Nesse período, foi introduzida a técnica de compactação com vibração e molhagem,
obtendo-se um entrosamento maior entre as rochas.
5
De acordo com o tipo de material utilizado no corpo da barragem, as barragens de aterro
podem ser subdivididas em:
A compactação dos enrocamentos foi sugerida por Terzaghi (1960), após o seu estudo
sobre a compressibilidade dos enrocamentos lançados. Nesse trabalho o autor relaciona
a alta compressibilidade dos enrocamentos lançados à segregação formada na pilha após
o lançamento. Atualmente, a técnica construtiva consiste na compactação dos
enrocamentos com rolos vibratórios pesados, de 9 a 15 toneladas de peso estático,
conforme mencionado por Bordeaux (1980). Cooke (1984) menciona que o
enrocamento compactado apresenta, em geral, compressibilidade dez vezes menor que o
enrocamento lançado.
Na primeira metade do Século XX, várias barragens foram construídas com
enrocamento, sendo que algumas apresentaram desempenho insatisfatório conforme
Massad (2003). Isto foi devido à ocorrência de vazões excessivas e de grandes
6
deformações após o período de construção. Suspeitava-se que os problemas eram
relacionados ao período de enchimento do reservatório, quando ocorria uma espécie de
lubrificação do contato entre blocos de rocha, e conseqüente redução de atrito. Terzaghi
(1960) provou que a molhagem não influenciava a redução do ângulo de atrito, mas
podia provocar perda de resistência dos blocos da rocha, ocasionando quebra dos grãos.
2.4.1 Enrocamento
De acordo com Marsal (1973), enrocamentos são materiais que, quando submetidos a
uma variação de tensões sofrem transformações estruturais devidas a deslocamentos,
rotações, e quebra das partículas. Para qualificar e quantificar estas variações e a sua
influência nas características de deformação e resistência é necessário estudar a
distribuição das forças de contato e os fundamentos da quebra de partículas.
7
É importante ressaltar que a permeabilidade de uma camada de enrocamento
compactado não deve ser inferior a 10-5m/s, de forma a garantir o não desenvolvimento
de excessos de poropressões (Albuquerque Junior, 1993).
A deformabilidade dos enrocamentos varia com o nível de tensões aplicadas, com o tipo
de rocha, distribuição granulométrica e forma dos blocos. Albuquerque Júnior (1993),
com base em Materon (1983), relaciona uma série de fatores que interferem direta ou
indiretamente na compressibilidade de enrocamentos, tais como:
• Granulometria: enrocamento com granulometria uniforme aumenta a
compressibilidade; enrocamento com diâmetros maiores sofrem maiores
fraturamentos;
• Índice de vazios: enrocamento com alta densidade diminui a compressibilidade;
• Forma: enrocamentos angulares sofrem maior fraturamento;
• Água: a molhagem do enrocamento, depois do enchimento do reservatório,causa
menor compressibilidade;
• Resistência: enrocamentos mais resistentes sofrem menor número de fraturas o
que resulta numa menor compressibilidade;
• Grau de alteração: enrocamentos intemperizados (alterados) sofrem maiores
fraturamentos;
• Mineralogia: o mineral que compõe o enrocamento afeta o coeficiente de atrito.
8
Barragens de enrocamento com vedação a montante (BEVM)
NA
Face
de Enrocamento
Montante
9
Barragem de enrocamento com vedação central (BEVC)
NA Vedação
Central
Enrocamento
10
Este tipo de barragem é a mais estável dentre as barragens de terra e terra-enrocamento,
não havendo registro de ruptura envolvendo seus taludes, afirmativa feita por Massad
(2003). O material do enrocamento apresenta elevado ângulo de atrito, garantindo a
estabilidade dos taludes de montante e jusante, mesmo quando são íngremes (inclinação
de 1:1,6 até 1:2,2). O núcleo argiloso imprime a estanqueidade à barragem, permitindo
o represamento de água (formação do lago).
O núcleo dessas barragens pode ser vertical ou inclinado para montante. Segundo
Massad (2003), quando a argila e o enrocamento apresentam compressibilidades
comparáveis entre si, o núcleo vertical tem a vantagem de exercer uma pressão maior
nas fundações, além de ser mais largo na sua base, o que é benéfico em termos de
controle de perdas d’água. No entanto, se a argila for mais compressível que o
enrocamento, pode ocorrer o fenômeno de arqueamento. Nessas condições, a argila
tende a recalcar mais, sendo impedida pelos espaldares, mais rígidos. Em outras
palavras, parte do peso da argila passa a ser suportado pelo enrocamento (arqueamento),
podendo surgir trincas no núcleo na direção do fluxo de água. A vantagem de se inclinar
o núcleo é que não há como se transferir parte de seu peso para os espaldares. Outra
vantagem é que se pode levantar grande parte do enrocamento de jusante, ganhando-se
tempo, enquanto se procede ao tratamento das fundações (injeções na base do núcleo).
Para determinação das dimensões do núcleo de uma BEVC, devem ser considerados os
seguintes fatores:
- Permeabilidade do material utilizado;
- Vazões de percolação admissíveis;
- Gradientes hidráulicos permissíveis, principalmente no contato do núcleo com a
fundação;
- Estabilidade contra a erosão interna (quando há risco de fissuramento);
- Disponibilidade de materiais para núcleo;
- Custo relativo de enrocamentos e solos argilosos;
- Importância e velocidade do rebaixamento rápido do reservatório.
11
Conforme Bordeaux (1980), a largura mínima do núcleo deve ser 3,0m junto à crista da
barragem, tendo em vista os aspectos construtivos de lançamento e compactação dos
materiais. Na base do maciço, a largura mínima do núcleo é, em geral, superior a 0,25
vezes a carga hidráulica.
2.5.1 Introdução
Uma vez, que estudos de estabilidade comprovem satisfatoriamente que um solo não
romperá, deve-se estimar o grau de deformação que se produzirá ao aplicar cargas e se
essa deformação é admissível. Por isso é importante obter a relação tensão-deformação
de um solo.
12
2.5.2 Módulos de Deformabilidade
σ 1
dσ
dε
Módulo
Tangente Δσ
Δε
1 Módulo
Secante
ε
Figura 2.3 – Determinação dos módulos tangente e secante.
13
Tabela 2.1 - Módulos de deformabilidade obtidos a partir de ensaios laboratoriais
Módulo de
Tipo de Ensaio Variação Volumétrica
Deformabilidade
σZ ΔV σ
Compressão Uniaxial E = = Z (1 − 2 μ )
εZ V E
σZ ΔV 3σ 0
Compressão Isotrópica E = = (1 − 2 μ )
3ε X V E
Compressão Confinada σZ ΔV
=
σ [(1 + μ )(1 − 2 μ )]
E = Z
Oedométrica εZ V E (1 − μ )
σ1 −σ
Compressão Triaxial E =
εZ
3 ΔV
V
=
1
E
[(1 − 2 μ )(σ x +σ y +σ z )]
14
Tabela 2.2 - Módulos de deformabilidade de aterros compactados.
Módulo de Grau de compactação
Tipo de solo Ensaio/referência deformabilidade (GC) ou Compacidade
(MPa) relativa (CR)
Solo arenoso Ensaio UU 70 a 90 99+-1,5%
Solo arenoso “in situ” 70 99+-1,5%
Solo argiloso Ensaio UU 50 a 60 100+-1,6%
Solo argiloso “in situ” 56 100+-1,6%
Solo argiloso “in situ” 20 100+-1,6%
Solo argiloso “in situ” 79 100+-1,6%
Solo argiloso “in situ” 52 100+-1,6%
Filtro - areia “in situ” 154 CR=75%
A tabela 2.3 reporta valores para módulos de deformabilidade para três diferentes
materiais, são eles:
1) quartzito compactado na Barragem de Akosombo (Nigéria);
2) solo residual de basalto compactado na Barragem de Itaúba (Brasil);
3) solo artificial estruturado (quartzo + caulinita) ensaiado por Maccarini (1987).
15
Tabela 2.3 - Valores para módulo de deformabilidade tangente (Adaptado de Cruz,
1996).
Δσv
1,5 2,5 3,5 4,5 5,5 6,5 7,5 8,5 9,5
(kg/cm²)
Et
Material
(kg/cm²)
Enrocamento
2000 1000 833 263 333 250 250 500 333
Akosombo
Solo
Compactado 1000 400 333 333 250 222 285 180 660
Itaúba
Solo Artificial
1000* 400 285 666 400 1000 660 - -
Estruturado
16
Esquema da localização
das CPT’s 6B
8B 4B
17
2.5.3 Recalques
18
Tabela 2.5 - Recalques observados e previstos em barragens (adaptado de Silveira,
1983).
Índices
Compactação Recalque (cm) Recalque
Tipo de Solo Físicos
durante a
Barragem (origem Previsto
LL IP γsmáx hót Obser- construção
geológica) (*)
(%) (%) (g/cm³) (%) vado (%)
ML BI
61 95 105 95
Coluvionar
Ilha 50 77 165 95
(basaltos e 44 17 1,68 21
Solteira 33 58 71 100
arenitos)
28 33 51 98
5,5 73
Água Coluvionar
42 13 1,76 18 6,6 - - 73
Vermelha (basaltos)
49,0 83
Coluvionar e
Volta
residuais 50 20 - - 26 - - 85
Grande
(basaltos)
Coluvionar 55 28 1,63 24 190 81
Itumbiara - -
(basaltos) 58 28 1,59 27 127 93
Coluvionar 26
Xavantes 53 1,61 24 42 - - 71
(basaltos)
Euclides Residuais 1,47-
39 8 11-28 93 - - 92
da Cunha (gnaisse) 1,91
Coluvionar
Jacareí 67 32 1,47 27,6 40 - 86 96
(gnaisse)
Coluvionar e 80 98
Paraibuna 47 NP 1,65 17,5 93
residual (biotita) 55 60
Coluvionar e 35 105
Paraitinga residual (biotita- 70 33 1,53 27,5 100 128 94
gnaisse) 132 75
19
(*) - Previsão realizada com amostras moldadas em laboratório (ML) e com amostras de
blocos indeformados (BI).
A partir da Tabela 2.5 podem-se fazer alguns comentários. Na maioria dos casos os
recalques previstos foram maiores que os observados e grande parte dos deslocamentos
verticais acontece durante a construção, assim mais de 80% (oitenta) dos recalques
acontecem antes do início da operação da barragem. Exceto as barragens de Água
Vermelha e Xavantes que apresentaram mínimo de 73% e 71% de recalque,
respectivamente.
De acordo com a literatura sabe-se que o máximo deslocamento ocorre próximo à meia
altura da barragem, devido a uma combinação favorável entre a camada subjacente e a
pressão devida ao aterro sobrejacente. As camadas inferiores são de menor espessura e
recalcam menos embora sujeitas a elevadas pressões verticais. Já no trecho superior as
pressões são pequenas, apesar da grande espessura acumulada, e os recalques são
também menores.
⎛ ΔH 1 ⎞ ⎛ cm / m ⎞
2- Recalque Específico ⎜ * ⎟ ⎜⎜ ⎟⎟ ;
⎝ H Δσ ⎠ ⎝ kg / cm
2
⎠
3- Módulo de deformabilidade - E (kg/cm²).
20
Tabela 2.6 - Dados de recalque e módulo de deformabilidade (Cruz 1996).
Pressão Vertical (kg/cm²)
Barragem Material Grandeza 1 2 4 6 10
Solo Residual de 1 0 0,08 0,40 0,80 2,00
Capivara
basalto compactado 2 0 0,04 0,10 0,13 0,20
H = 60m
Δh(*) < 0 “seco” 3 - 2500 1000 500 200
Solo Residual de 1 0 0,38 0,90 1,30 2,10
Capivara
basalto compactado 2 0 0,19 0,225 0,21 0,21
H = 60m
úmido Δh(*) > 0 3 - 526 444 461 461
Salto Solo Residual de 1 0 0,20 1,20 1,60
Osório basalto compactado 2 0 0,10 0,30 0,266 -
H = 65 m úmido Δh(*) > 0 3 - 1000 333 375
-
Solo Residual de 1 - 1,80 2,0-4,0
Paço Real
basalto compactado 2 - - 0,30 0,20-0,40
H = 58 m
úmido Δh(*) > 0 3 - 333 500-250
Esse acervo de dados “de campo” resumido na Tabela 2.6 permite uma previsão
preliminar dos recalques verticais esperados em barragens de terra, ou em núcleos de
barragens de enrocamento. E segundo Cruz (1996) os recalques de fundações de
barragens calculados pela clássica teoria do adensamento são muito superiores (de duas
a seis vezes maiores) aos recalques efetivamente observados nas barragens (por
exemplo, Ilha Solteira e Itumbiara). Dessa forma só devem ser considerados como
indicativos de tendências de deslocamento. Concluindo que cálculos por métodos
numéricos podem ser mais precisos, dependendo dos parâmetros de entrada e da
qualidade da informação disponível.
21
2.6 Instrumentações de barragens
2.6.1 Introdução
Então, sabendo da probabilidade de ruptura de uma barragem e do alto impacto que este
evento teria a jusante, a questão é como reduzir este risco. Considere-se que a segurança
das barragens está apoiada em três pilares principais: segurança estrutural,
monitoramento e manutenção.
O monitoramento das barragens é composto pela análise dos dados obtidos pela
instrumentação e por inspeções rotineiras das obras civis que compõem a barragem.
22
3) Verificar as condições de segurança das obras, de modo a serem adotadas
medidas corretivas em tempo hábil e preventivas.
Cooke (1984) enfatiza que os projetos de barragens de enrocamento devem ser sempre
fundamentados em experiências anteriores e na observação de obras já construídas e em
operação. Isto significa que um dos tópicos mais importantes, no que se refere a
barragens de enrocamento, diz respeito à instrumentação adequada da mesma.
23
material, uma vez que a simulação em laboratório das solicitações de campo em corpos
de prova de grandes dimensões é extremamente difícil de ser realizada.
Estações topográficas devem ser instaladas na região das ombreiras, de modo que se
disponha de pontos fixos, em locais considerados indeslocáveis para se obter a medida
dos deslocamentos. Podendo ser fixadas sobre afloramento rochoso, ou com sua base
em rocha, constituem referenciais ideais, não contribuindo com erros na medição do
recalque da barragem.
24
A instalação de marcos superficiais em barragens de enrocamento deve assegurar que o
marco fique devidamente imbricado no enrocamento, e não colocado sobre um bloco
superficial, onde os deslocamentos medidos refletiriam o deslocamento isolado desse
bloco de rocha, e não do enrocamento como um todo.
Medidores de vazão
São instrumentos utilizados para medir a vazão percolada através do maciço de terra-
enrocamento e suas fundações. Sendo a medição das vazões de drenagem um dos
parâmetros mais importantes a serem supervisionados no controle das condições de
segurança das barragens.
25
Sua instalação pode ser feita em drenos de fundação, em canaletas de galerias de
drenagem, e em barramentos construídos para esta finalidade. Cruz (1996) apresenta
três tipos de medidores de vazão: vertedores triangulares e retangulares e vertedores
Parshall. Tais medidores podem ser vistos nas Figuras 2.6 e 2.7.
26
A grande incidência de barragens de terra ou enrocamento rompidas por erosão interna
enfatiza a importância da medição das vazões de drenagem nessas barragens durante a
fase do primeiro enchimento do reservatório e durante todo o período operacional.
Desde que seja possível detectar este mecanismo de ruptura em uma fase ainda inicial, é
geralmente possível se proceder ao rebaixamento parcial do reservatório, assim como
realizar as investigações e implementar as medidas corretivas necessárias, relata Silveira
(2006).
Células de pressão
As células de pressão para solo, geralmente designadas de células de pressão total, são
inseridas no interior do aterro durante a construção da barragem para indicar o nível das
tensões atuantes no núcleo, conhecer-se a distribuição de tensões entre os diferentes
materiais e zonas da barragem, medir as tensões na interface do aterro com os muros de
concreto e as tensões na interface com as galerias enterradas, entre outras funções. A
Figura 2.8 apresenta um modelo de célula de pressão total da Geokon modelo 4800.
Nos aterros de barragens, as células de pressão total são particularmente úteis para a
medição das tensões em zonas da barragem onde tende a ocorrer certo alívio nas tensões
verticais, em decorrência do processo de arqueamento do solo argiloso no interior de
desfiladeiros (cânions) com taludes subverticais, de trincheiras impermeáveis (cut-offs)
profundas em rocha, no núcleo vertical de barragens de enrocamento, na interface do
aterro com as estruturas de concreto, nos braços de uma barragem.
27
Nestes, casos a tensão vertical efetiva no solo pode diminuir para valores baixos,
favorecendo a ocorrência da erosão interna pelo aterro, ameaçando a segurança da
barragem o que, por si só vem ressaltar a importância da medição das pressões totais e
efetivas no interior de certas zonas.
Visto que, as células de pressão medem a pressão total, ou seja, a somatória da pressão
resultante da atuação das partículas sólidas (pressão efetiva), com a pressão intersticial
da água (pressão neutra). Assim, é necessária a instalação de células de pressão e
piezômetros próximos uns dos outros, para que seja possível a determinação da pressão
efetiva no local instrumentado.
28
nível de subida do reservatório, conforme ilustrado pela Figura 2.9 que apresenta as
tensões durante a construção da barragem de Água Vermelha.
Altura do aterro (m)
Tensão lida
Tempo (meses)
Figura 2.9 – Pressões medidas no tempo, com a elevação do aterro no abraço esquerdo
da barragem de Água Vermelha (Silveira 2006).
A Figura 2.10 expõe uma comparação entre as tensões efetiva medidas e calculadas para
as células instaladas na base do núcleo da barragem de Svartevann, ao longo de um
período de oito anos. As tensões efetivas teóricas foram obtidas por meio de um modelo
matemático baseado no MEF. A barragem de Svartevann possui 129m de altura máxima
e foi construída na década de 70 na Noruega com sessenta células de pressão total para a
observação do nível de tensão no núcleo e nas transições.
29
Figura 2.10 – Tensões efetivas versus tempo na elevação 780m da barragem de
Svartevann (DiBiagio e Myrvoll, 1982).
30
Figura 2.11 – Curvas de isopressão vertical obtidas teoricamente para a barragem de
Emborcação (Parra, 1985).
Medidores de recalque
A Geokon desenvolveu uma ampla gama destes medidores, tais como o modelo 4600 e
o 4650, cujos princípios de funcionamento serão apresentados. O modelo de série 4600
consiste em um sensor de pressão de corda vibrante ancorado em uma tubulação
cimentada na rocha, ou outro referencial estável no fundo de um furo de sondagem. O
qual é conectado através de uma coluna líquida até um reservatório fixado a uma placa
de recalque na superfície do terreno. À medida que o aterro progride, o reservatório
recalca e a coluna líquida sobre o sensor diminui, sendo medida por um cabo elétrico
que conecta o sensor de corda vibrante à estação de leitura na superfície conforme
ilustrado pela Figura 2.12.
O modelo 4650 foi concebido para a medição remota de recalque em um ponto sob o
aterro possuindo o transdutor de pressão conectado a um prato localizado no aterro da
barragem como confirma a Figura 2.11b. Neste instrumento, o sensor mede a pressão da
31
coluna líquida que atua sobre ele, a partir de um reservatório mantido na cabine de
leitura, onde o nível é conhecido. O sensor é conectado, via sistema de tubulação duplo,
ao reservatório localizado em um referencial fixo ou em uma cabine sobre o talude de
jusante, cujo recalque pode ser medido topograficamente. A pressão do fluido na
tubulação é monitorada pelo transdutor de pressão, fornecendo a diferença de elevação
entre o sensor e o reservatório.
32
Figura 2.13 – Representação dos recalques medidos na estaca 68+10 da barragem de
Água Vermelha, da Cesp (Silveira, 1982).
33
Então o recalque é obtido através da diferença entre o nível do menisco inicial e o
menisco atual no tubo.
As placas de recalque magnético são constituídas por uma série de anéis magnéticos
instalados ao longo de uma mesma vertical, no interior do aterro compactado e de uma
tubulação de PVC rígido, que passa através dos vários anéis e serve de guia para uma
sonda de leitura. Esta ao deslocar-se verticalmente ao longo da tubulação, permite a
determinação das cotas dos vários anéis e, assim, a determinação dos recalques da
barargem. Os anéis são confeccionados em aço imantado, com o intuito de gerar
campos magnéticos, cuja localização é determinada por meio da sonda. Este medidor
apresenta como vantagem a simplicidade, confiabilidade e baixo custo.
34
A determinação da cota dos vários anéis magnéticos é realizada por intermédio de uma
trena metálica presa à sonda de leitura ou empregando-se uma escala gravada sobre o
cabo elétrico. A Figura 2.15 apresenta a sonda e trena da Geokon para leitura dos
medidores de recalque magnético e a Figura 2.16 ilustra a execução da leitura do
recalque em um medidor magnético.
35
Inclinômetros
Os inclinômetros são utilizados para a medida das deformações laterais do maciço, pois
permitem a obtenção de valores ao longo de várias cotas. Essas medidas juntamente
com as deformações verticais, são vitais para a determinação de zonas de potenciais
trincas e o comportamento geral do maciço da barragem.
O tubo guia deve ser instalado de preferência no topo rochoso, para garantir um
referencial fixo, subindo verticalmente até a superfície do aterro, onde são realizadas as
leituras. Um modelo de tubo guia é exibido pela Figura 2.17.
36
Figura 2.18 – Inclinômetro modelo 6000 da Geokon.
37
Capítulo 3
Modelagem Numérica
3.1 Introdução
38
3.2 Finalidades da modelagem numérica
Os três principais objetivos que devem ser almejados ao usar a modelagem numérica
são a realização de previsões dos valores de campo quantitativamente, a comparação de
alternativas e o entendimento do processo, entrevendo inclusive a percepção dos
parâmetros mais influentes isso de acordo com o manual Sigma 2007.
Segundo Parra (1985), “a análise pode ser dirigida no sentido de estudar, por exemplo, a
posição ideal do núcleo de uma barragem, a inclinação necessária do talude de corte
para conformação da topografia de fundação, local de instalação dos instrumentos,
critério de remoção dos materiais compressíveis,... etc.”.
39
escala, ao passo que maiores intensidades do arqueamento eram observadas na maioria
dos núcleos verticais.
De acordo com Aires (2006) existem duas qualidades a serem abordadas para se obter
uma modelagem correta, são elas:
1) Estimar os resultados finais, mesmo que qualitativamente,
2) Buscar a simplificação da geometria do problema, pois se deve ter em mente que
é um modelo, não as condições reais.
Musman (2002) ao representar a barragem UHE Nova Ponte fez algumas adaptações
considerando a barragem formada por apenas três diferentes tipos de material, dois tipos
de cascalho de jazidas diferentes e um enrocamento de basalto, e desconsiderou o filtro
vertical de areia.
40
Assim é desaconselhável o uso da modelagem para um determinado problema sem
qualquer domínio do mesmo. E também ser capaz de avaliar com competência até que
ponto um problema pode ser simplificado sem que comprometa os resultados.
De acordo com Cough e Woodward (1967), para uma boa precisão dos resultados a
simulação da construção de aterro de barragens deve ser feita com camadas sucessivas e
não com a adoção do critério de construção instantânea e para esse fim o número de
camadas não deve ser inferior a 10.
Aires (2006) utilizou trinta e oito camadas definidas de acordo com o cronograma da
obra para permitir uma simulação da construção mais próxima do real. Isso possibilitou
a obtenção de valores de tensão e de deformação durante as diversas fases de construção
do empreendimento, permitindo um grande número de comparações com os dados
fornecidos pela instrumentação.
41
Este programa é baseado na teoria das pequenas deformações, sendo aplicável para
análises bidimensionais, considerando a hipótese de estado plano de deformação, ou
para análise de problemas axissimétricos.
Em sua versão 7, GeoStudio 2007, o sistema está formulado para trabalhar com sete
tipos de modelos constitutivos do solo:
- Elástico linear;
- Elástico anisotrópico;
- Hiperbólico;
- Elástico perfeitamente plástico;
- Cam-Clay;
- Cam-Clay modificado;
- O sistema permite adicionar um novo modelo constitutivo pelo usuário por meio
de algoritmos.
3.4.1 Introdução
42
de ensaios simples) e deve ser capaz de interpretar fisicamente a resposta do material
(frente a qualquer mudança de tensões ou deformações).
Naylor (1991) explicitou o que uma lei constitutiva de material de aterro deve
incorporar:
1. Aumento da rigidez volumétrica, com o aumento da tensão média.
2. Redução da rigidez no cisalhamento devido ao aumento de tensão desviadora.
3. Adoção de um critério de ruptura tipo Mohr-Coulomb ou similar.
4. Adoção de uma maior rigidez no descarregamento.
5. Adoção de uma maior rigidez a baixos níveis de tensão e de recarga, seguida da
descarga.
6. Dilatância, ou seja, a tendência de um solo rígido, bem como um aterro
compactado, aumentar o seu volume durante o cisalhamento.
7. Recalque por colapso, ou seja, a redução do volume de um material não-
saturado, no processo de saturação”.
De acordo com Naylor (1991), sempre que esses aspectos do comportamento dos
materiais não forem considerados, podem-se atingir análises irreais.
Cruz (1996) menciona a existência de três métodos para estudos e análises de problemas
tensões-deformações em barragens:
- Métodos que adotam o modelo de elasticidade linear;
- Métodos que adotam o modelo de elasticidade variável;
- Métodos que adotam modelos elasto-plásticos.
43
Assim, para os resultados serem satisfatórios é fundamental que a modelagem e os
respectivos parâmetros sejam representativos do material e comportamento nas
condições de campo.
44
desenvolvido com suporte do programa Sigma, versão 4 usando o modelo constitutivo
hiperbólico.
O modelo hiperbólico é originalmente atribuído a Kondner (1963), mais tarde foi muito
estudado e modificado por Duncan e Chang (1970) através da publicação intitulada
“Nonlinear analysis of stress and strain in soil”. Devido a isso o modelo hiperbólico
também é conhecido como modelo Duncan e Chang.
O modelo foi desenvolvido para estudo de ensaios triaxiais não-drenados e era baseado
em apenas dois parâmetros e na hipótese do Coeficiente de Poisson ser igual a 0,5.
Atualmente, o modelo é aplicável a problemas drenados e não-drenados.
45
Este modelo simula a não-linearidade do comportamento tensão-deformação do solo e a
sua dependência do nível de tensões. Nas condições comportamentais do material de
campo em que o modelo hiperbólico se adéqua, pode-se dizer que é vantajoso usar este
modelo, seja por sua simplicidade, seja pelo fato da obtenção dos parâmetros serem por
meio de ensaio triaxial.
Kondner (1963) propôs que a curva “tensão desviadora versus a deformação axial”
deveria ser aproximada por uma hipérbole da forma da equação 3.1.
ε1
σ1 − σ 3 = (3.1)
a + bε 1
Sendo
σ1 e σ3: tensões principais maior e menor, respectivamente;
ε: deformação axial;
a e b: constantes determinadas experimentalmente com a tensão confinante (σ3). Para
cada confinante têm-se diferentes constantes a e b.
Duncan e Chang (1970) desenvolveram um modelo constitutivo a partir desta
formulação como mostra a curva tensão-deformação hiperbólica representada pela
figura 3.1.
46
Et
σ1− σ3 1
B
A
E ur
1
C
Ei
1
O
ε
Figura 3.1 - Curva tensão-deformação para o modelo hiperbólico.
A equação 3.1 de Kondner (1963) pode ser reescrita na forma da equação 3.2.
ε1
= a + bε 1 (3.2)
σ1 − σ 3
47
ε1/σ1− σ3
b
1
a
ε1
Figura 3.2 - Transformada da curva tensão-deformação.
n
⎛σ ⎞
Ei = KPa ⎜⎜ 3 ⎟⎟ (3.3)
⎝ Pa ⎠
Sendo:
Ei é o módulo de deformabilidade inicial;
K e n são constantes adimensionais;
σ3 é a tensão de confinamento;
Pa é a pressão atmosférica.
48
Traçando-se o gráfico log(Ei/Pa) versus log(σ3/Pa) como mostra a figura 3.3, pode-se
determinar os valores das constantes K e n.
log(E i/Pa)
n
log(k) 1
⎡ R f (σ 1 − σ 3 )(1 − senφ ) ⎤
2
Et = ⎢1 − ⎥ Ei (3.4)
⎣ 2c cos φ + 2σ 3 senφ ⎦
Sendo
Et é o módulo de deformabilidade tangente;
Ei é o módulo de deformabilidade inicial
φ é o ângulo de atrito do solo;
c é a coesão do solo;
σ1 é a tensão principal maior;
σ3 é a tensão principal menor;
49
Rf é a razão de ruptura, tipicamente entre 0,7 a 0,95.
Sendo
Rf é a razão entre a assíntota da curva hiperbólica e a máxima resistência cisalhante,
assim esse fator representa o quanto a curva tensão-deformação do solo se afasta da
hipérbole;
(σ1-σ3)ult. é o termo de resistência última, que representa a assíntota da curva hiperbólica
tensão-deformação;
(σ1-σ3)rup. é a tensão desvio na ruptura ou máxima resistência cisalhante.
Segundo Cruz (1996) é comum na prática adotar um valor único para Rf nos cálculos
numéricos, mesmo sabendo que seu valor cresce levemente com o valor da tensão
confinante.
( )
(σ 1 − σ 3 )rup. = 2 c cos φ + σ 3 sen φ (3.6)
(1 − sen φ )
50
No ensaio triaxial quando se executa um descarregamento seguido de um novo
carregamento observa-se uma pequena recuperação da deformação, ocasionando uma
deformação permanente, o que representa o comportamento plástico dos materiais. Esse
comportamento do solo é representado pela utilização de módulos diferentes no
carregamento e no descarregamento/recarregamento, cujo módulo está indicado na
Figura 3.4.
σ1− σ3
E ur
1
ε1
Figura 3.4 - Módulo de deformabilidade de descarga-recarga.
O valor Kur é uma constante adimensional da ordem de duas vezes e meia o valor de K e
o valor de n é considerado o mesmo para as duas fases.
51
3.6 Implementação do modelo hiperbólico pelo programa Sigma
O módulo de deformabilidade inicial pode ser representado por uma função que o
relaciona com a tensão, a qual o solo está submetido podendo ser total ou efetiva. Com
tal função definida o Sigma origina uma curva módulo de deformabilidade inicial
versus tensão do tipo da Figura 3.5.
Ei
σv
Figura 3.5 – Exemplo da função para o módulo de deformabilidade.
52
A função para o módulo pode ser definida de duas maneiras no programa, a primeira é
através de parâmetros informados ao programa e a segunda através do banco de dados
do programa.
Para definir a função pelo primeiro método é necessário informar ao programa tais
parâmetros:
1. Uma profundidade máxima, que é especificada para se criar um campo de
tensões para a função, ou o valor máximo para a tensão;
2. O coeficiente do empuxo em repouso (K0);
3. Constantes adimensionais k e n, obtidas pela aplicação do modelo hiperbólico
aos resultados dos ensaios triaxiais, como descrito anteriormente.
Com base nestes parâmetros o programa elabora uma curva tensão-deformação similiar
a apresentada na Figura 3.5.
O sistema também permite a elaboração desta curva comportamental com base num
banco de dados interno. O banco de dados foi baseado na Tabela 3.1, proposta por
Duncan e Chang (1980). Neste trabalho, os autores estudaram vários tipos de solos e
propuseram valores para os parâmetros hiperbólicos. Para usar o banco de dados é
necessário conhecer a classificação unificada do solo, seu peso específico e, então,
escolher qual dos solos propostos por Ducan e Chang se aproxima mais do solo a ser
modelado.
53
Tabela 3.1 – Propriedades de rigidez para solos apresentadas por Duncan e Chang et al.
(1980).
Classificação γ Δφ C
Rc φ (°) K n Rf Kb m
Unificada (kg/m³) (°) (kPa)
54
voltados para o comportamento de metais e posteriormente estendidos para materiais
com atrito interno, como o caso de materiais geológicos, mais especificamente, solos.
σ
σy B C F
εCP
A εB D εC ε
55
Para exemplificar o modelo elastoplástico considere uma barra constituída por certo
material elastoplástico com comportamento idealizado. Se for aplicado um
carregamento axial na barra através da imposição de uma deformação axial ε, a curva
tensão-deformação será representada pela Figura 3.6, em um primeiro trecho indicará
um comportamento linear elástico (trecho AB). A inclinação desta reta é dada pelo
módulo de Young (E).
Em outro estágio, se a barra for novamente carregada até o ponto B, com deformação εB
e após isso ela continuar sendo carregada até o ponto C, com deformação εC, a barra
atinge em B a tensão de plastificação e após esse ponto deixa de se comportar como
material elástico e passa a se comportar como material plástico. Não existe mais uma
relação única entre tensão e deformação e a tensão na barra permanece constante, com
valor igual à tensão de plastificação σy.
ε CP = ε C − ε B (3.8)
56
Essa equação é exatamente igual à deformação experimentada pela barra em regime
plástico ao longo do caminho “BC”. A barra não retorna mais à configuração original.
Componentes de Deformação
dε = dε e + dε p (3.9)
57
A parcela elástica das deformações relaciona-se à variação infinitesimal das tensões σ
através da relação seguinte.
dε e = De−1 dσ (3.10)
Critério de Plastificação
F (σ , h ) ≤ 0 (3.11)
em que
σ representa o estado de tensões;
h é um parâmetro de endurecimento definido em função de alguma medida de
deformação plástica a partir de dados ou observações experimentais.
F (σ ) ≤ 0 (3.12)
58
Função Potencial Plástico
∂G (σ )
dε p = dλ = dλb (3.13)
∂σ
Onde
dλ é uma constante de proporcionalidade denominada parâmetro plástico,
b é o vetor gradiente da função potencial plástico.
A equação 3.13 caracteriza a chamada lei de fluxo não associada. Quando a função
potencial plástico G (σ ) coincide com a função de plastificação F (σ ) a lei de fluxo é
dita associada.
dσ = De (dε − dε p ) (3.14a)
dσ = De dε − De dλb (3.14b)
59
Ao longo de uma trajetória de deformação, a magnitude do incremento de deformação
plástica deverá atender simultaneamente às seguintes restrições, que são conhecidas
como as condições de Khun-Trucker (1950) na programação matemática:
F (σ , h ) ≤ 0 (3.15a)
dλ ≥ 0 (3.15b)
Fdλ = 0 (3.15c)
A inequação 3.15a garante que as trajetórias de tensão fiquem dentro ou, no máximo,
sobre a superfície de plastificação. Durante o fluxo plástico, o multiplicador plástico é
não negativo (inequação 3.15b). O valor de dλ < 0 significa a ocorrência de
descarregamento elástico (Owen e Hilton, 1980). A equação 3.15c é a restrição de
complementaridade, ou seja, se F (σ , h ) < 0 então dλ = 0 e um comportamento elástico
é obtido. E se dλ > 0 ocorre fluxo plástico e o critério de plastificação, F (σ , h ) = 0 ,
deverá ser satisfeito.
⎛ ∂F (σ , h) ⎞ ⎛ ∂F (σ , h) ⎞
T T
dF (σ , h) = ⎜ ⎟ dσ + ⎜ ⎟ dh = a dσ + a h dh = 0
T T
(3.16a)
⎝ ∂ σ ⎠ ⎝ ∂h ⎠
Sendo
a é o gradiente da função de plastificação;
ah é uma parcela relacionada ao endurecimento.
dF (σ ) = a T dσ = 0 (3.16b)
60
Substituindo a equação 3.14b em 3.14b, obtém-se:
dF (σ ) = a T De dε − a T De bdλ = 0 (3.17)
a T De dε
dλ = (3.18)
a t De b
⎡ ba T D ⎤
dσ = ⎢ Dep − De T e ⎥ dε (3.19)
⎣ a De b ⎦
τ = c + σ tan φ (3.20)
Sendo,
c é a coesão,
φ é o ângulo de atrito.
61
A equação 3.20 pode ser representada por um diagrama como mostrado pela Figura 3.7.
τ
φ
σ3 σ1 σ
O conceito de círculo de Mohr pode ser utilizado para expressar a função de escoamento
F, representada pela equação 3.22 (ou de plastificação) em termos das tensões principais
σ1 e σ3, respectivamente, a tensão principal maior e a tensão principal menor.
σ1 − σ 3 σ1 + σ 3
= sen φ + c cos φ (3.21)
2 2
σ1 − σ 3 σ1 + σ 3
F= − sen φ − c cos φ = 0 (3.22)
2 2
62
Esta condição é evidenciada no cisalhamento de argilas normalmente adensadas na
condição não drenada, onde a função de escoamento F, sendo dependente do parâmetro
resistência não drenada (Su), pode ser escrita então como apresentado na equação 3.23.
F =σ 1−σ 3 − 2 S u = 0 (3.23)
3.7.4 Dilatância
⎛ dε vp ⎞
ψ = sen −1 ⎜⎜ ⎟ (3.24)
⎟
⎝ dγ máx
p
⎠
⎛ dε 1p + dε 3p ⎞
ψ = sen −1 ⎜⎜ ⎟ (3.25)
⎟
⎝ dε 3 − dε 1
p p
⎠
63
1 p
2dγ
dε3p− dε1p
ψ 2
dε
dε3p dε1p
dε1p+ dε3p
2
Figura 3.8 - Círculo de Mohr para incrementos de deformação plástica e ângulo de
dilatância.
plásticos que
1
dε 1p = dλ (1 − sen φ ) (3.26a)
2
1
dε 3p = − dλ (1 + sen φ ) (3.26b)
2
⎡1 ⎤
⎢ dλ (1 − sen φ − 1 − sen φ ) ⎥
ψ = sen −1 ⎢ 2 ⎥ (3.27)
⎢ 1 dλ (1 − sen φ + 1 + sen φ ) ⎥
⎣⎢ 2 ⎦⎥
64
Simplificando a equação 3.27, chega-se a equação 3.28.
A equação 3.28 comprova que no caso de lei de fluxo associada o ângulo de dilatância
coincide com o ângulo de atrito.
Este procedimento tem a limitação do valor de ψ ser utilizado como uma constante, o
que implica na suposição de que o solo em fluxo plástico vai experimentar
continuamente expansão volumétrica, independentemente do nível de cisalhamento a
que está submetido. Isto não se verifica no caso real dos solos, para os quais grandes
deformações plásticas ocorrem sob volume constante (teoria do estado crítico).
65
Capítulo 4
4.1 Introdução
O programa Sigma é uma ferramenta que pode ser usada para realizar simulações de
ensaios triaxiais. Assim, comparar os resultados de ensaios triaxiais com os resultados
das simulações do programa e proceder à calibração dos modelos constitutivos. Com o
modelo calibrado corretamente, ajustes nos parâmetros obtidos pelo processo tradicional
podem ser revistos com base nos resultados numéricos. E também, é possível
desenvolver estudos para diferentes níveis de tensão, como por exemplo, para níveis de
tensão não convencionais em laboratório.
66
Figura 4.1 - Corpo de prova simulado no programa Sigma.
Para tal simulação, usou-se o modelo constitutivo hiperbólico cujos parâmetros foram
obtidos através de ensaio triaxial consolidado não drenado (CU). A simulação pode ser
feita tanto para ensaios drenados quanto para ensaios não drenados. Lembrando-se que,
para usar o ensaio não drenado, deve-se utilizar a resistência em termos de tensões
totais.
67
4.2.1 Simulação para um Ensaio Triaxial Adensado não Drenado (CU)
100
90
80
Porcentagem Passante
70
60
50
40
30
20
10
0
0,001 0,01 0,1 1 10
68
300
250
Tensão Desvio (kPa)
200
100 kPa
150 200 kPa
400 kPa
100
50
0
0 5 10 15 20
Figura 4.3 - Curvas tensão desvio versus deformação axial do ensaio CU.
69
Tabela 4.1 - Parâmetros em termos de tensões totais para a argila de alta
compressibilidade.
Parâmetros para o modelo Parâmetros para o modelo
hiperbólico elasto-plástico
c = 20 kPa
φ = 19,5°
ν=0,33
K =143,5
n= 0,95
ψ = 19,5°
K0=0,5
Rf =1,00
Tensão Confinante
100kPa 200kPa 400kPa
Ei = 15MPa Ei = 28MPa Ei = 54MPa
70
300
250
Pressão Neutra (kPa)
200
100 kPa
150 200 kPa
400 kPa
100
50
0
0 5 10 15 20
Figura 4.4 - Curvas pressão neutra versus deformação axial do ensaio CU.
A Figura 4.5 é uma comparação entre curvas tensão deformação, uma das curvas é para
o ensaio CU da argila de alta compressibilidade com tensão confinante 100kPa,
juntamente uma curva para a teoria de Duncan e Chang (Modelo) e curvas do programa
Sigma provenientes de simulações para o modelo constitutivo hiperbólico (S. H.) e para
o modelo elasto-plástico (S. E.). As curvas do programa foram obtidas através das
simulações com os parâmetros apresentados na Tabela 4.1. Esse processo foi repetido
para as outras tensões confinantes do ensaio 200kPa e 400kPa, como mostrado nas
Figuras 4.6 e 4.7, respectivamente.
71
90
80
70
Tensão Desvio (kPa)
60
Ensaio
50
Modelo
S. H.
40
S. E.
30
20
10
0
0 5 10 15 20
Figura 4.5 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, Sigma hiperbólico e Sigma
elasto-plástico para tensão confinante de 100kPa.
72
150
120
Tensão Desvio (kPa)
90 Ensaio
Modelo
S. H.
60 S. E.
30
0
0 5 10 15 20
Figura 4.6 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, Sigma hiperbólico e Sigma
elasto-plástico para tensão confinante de 200kPa.
Esta breve simulação do ensaio triaxial sugere como é importante fazer uma avaliação
dos parâmetros e modelos a serem adotados em estudos tensão deformação. No caso
apresentado, estudos com baixa mobilização de resistência, como no caso de fundações,
ambos os modelos numéricos proporcionariam bons resultados. Nos casos de elevadas
taxas de mobilização em contextos com níveis de tensão inferiores a 200kPa, os
resultados de ambos os modelos também proporcionariam bons resultados. Como
exemplo típico pode-se citar escavações da ordem de 10 metros. No entanto, estudos
tensão deformação para taxas elevadas de mobilização e níveis de tensão superiores a
73
200kPa poder-se-ia esperar erros, principalmente na quantificação das deformações e
recalques, e naturalmente extensão das zonas de plastificação.
300
250
Tensão Desvio (kPa)
200
Ensaio
Modelo
150
S. H.
S. E.
100
50
0
0 5 10 15 20
Figura 4.7 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, Sigma hiperbólico e Sigma
elasto-plástico, para tensão confinante de 400kPa.
74
500
450
400
350
Tensão Desvio (kPa)
300
400
250 200
200 100
150
100
50
0
0 5 10 15 20
Comparando-se o comportamento drenado (Figura 4.8) com o não drenado (Figura 4.3)
é possível verificar que para o nível de tensão confinante igual a 100kPa a resistência ao
cisalhamento é relativamente bem superior, fato que poderia ser justificado por um pré-
adensamento superior, ou mesmo por outros motivos tais como qualidade da amostra ou
erros de ensaio. Optou-se por considerar que o comportamento diferencial para o nível
de tensão 100kPa se deve a um pré-adensamento superior. Neste sentido, o modelo
hiperbólico foi usado aplicando-se as três curvas indistintamente.
O modelo elstoplástico não foi usado para as simulações do ensaio triaxial CD pelo
programa Sigma. Isso foi devido às análises das simulações do ensaio CU, que não
contemplou o endurecimento do material.
75
Tabela 4.2 - Parâmetros hiperbólicos para o ensaio drenado.
Parâmetros Hiperbólicos
c’ = 27,3kPa
φ’= 30,5°
K =335
n = 0,72
Rf = 1,00
K0=0,5
ν=0,33
100kPa 200kPa 400kPa
Ei=37MPa Ei=45,5MPa Ei=100MPa
As Figuras 4.9 a 4.11 apresentam três curvas tensão deformação, uma para o ensaio
drenado, outra para o modelo de Duncan e Chang e uma terceira para a simulação no
programa Sigma por meio do modelo hiperbólico. Os níveis de tensões confinantes
adotados seguiram aqueles aplicados em laboratório, a saber: 100, 200 e 400kPa.
Para a tensão confinante igual a 100kPa os modelos mostram ótimo comportamento até
50% do pico de resistência, sendo a deformação axial da ordem de 2%. No entanto,
ambos os modelos não conseguiram modelar o trecho final da curva tensão deformação,
aplicando taxas de deformação mais elevadas que aquelas quantificadas em laboratório.
Uma possível justificativa para este comportamento dos modelos pode estar associada
ao fato deste ensaio ter apresentado resistência relativamente superior ao das demais
amostras.
76
180
150
Tensão Desvio (kPa)
120
Ensaio
90 Modelo
Sigma
60
30
0
0 5 10 15 20
77
250
150
Ensaio
Modelo
Sigma
100
50
0
0 5 10 15 20
500
400
Tensão Desvio (kPa)
300
Ensaio
Modelo
Sigma
200
100
0
0 5 10 15 20
78
Os resultados obtidos no sistema Sigma comparados aos resultados de laboratório
mostraram que o comportamento no trecho inicial foi bastante satisfatório. Para grandes
deformações a resistência de pico foi menor que a de laboratório para as tensões 100 e
400kPa e maior para 200kPa.
O modelo de Duncan e Chang apresentou resistência de pico sempre menor que aquelas
obtidas em laboratório.
O primeiro parâmetro estudado foi a coesão. Três valores diferentes para a coesão foram
adotados: 10kPa, 20kPa e 30kPa. Sua influência na resistência do solo está representada
pelas Figuras 4.12a e b, com base nessas figuras verifica-se que um aumento da coesão
é gera um aumento no módulo tangente e na tensão desvio de ruptura.
79
15000 200
c=10kPa
c=20kPa
Módulo tangente (kPa)
12000
9000
100
6000
50 c=10kPa
3000 c=20kPa
c=30kPa
0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)
15000 300
fi=10°
fi=20°
250
12000 fi=30°
Módulo tangente (kPa)
200
9000
150
6000
100
3000 fi=10°
50
fi=20°
fi=30°
0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)
80
A influência da razão de ruptura pode ser observada na Figura 4.14, ao maximizar a
razão de ruptura o módulo de deformabilidade tangente aumenta e a tensão desvio de
ruptura diminui. O estudo ainda mostra que ao se diminuir a razão de ruptura a curva
tensão deformação se afasta da hipérbole.
15000 250
Rf=0,90
Rf=0,95
12000 200
Módulo tangente (kPa)
Rf=1,00
6000 100
3000 50
Rf=0,90
Rf=0,95
Rf=1,00
0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)
81
15000
180
Ko=0,5
Ko=0,7
12000 150
Módulo tangente (kPa)
Ko=1,0
90
6000
60
3000 Ko=0,5
30 Ko=0,7
Ko=1,0
0
0
0 5 10 15 20
0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)
15000 180
k=100
k=145 150
12000
Módulo tangente (kPa)
k=200
Tensão Desvio (kPa)
120
9000
90
6000
60
3000 k=100
30
k=145
k=200
0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)
82
Para o estudo em questão, o expoente n mostrou ter pouca influência sobre o módulo de
deformabilidade tangente e a tensão desvio de ruptura. Este comportamento está
apresentado na Figura 4.17. Ao variar o valor de n em 21%, não se notou variações
consideráveis nem no módulo tangente e nem na tensão desvio.
15000 180
n=0,75
n=0,85 150
120
9000
90
6000
60
n=0,75
3000 30 n=0,85
n=0,95
0
0 0 5 10 15 20
0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)
A partir dos estudos de simulação das curvas tensão deformação de ensaios triaxiais por
meio do programa Sigma e da análise de sensibilidade procedeu-se à calibração da
curva tensão deformação para o material designado “cascalho” que compõe o núcleo da
barragem de Irapé.
83
permeabilidade. A Figura 4.18 apresenta a faixa de distribuição granulométrica do
material cascalho.
100
Material Passante (%)
80
60
40
20
0
0,01 0,1 1 10 100
A Figura 4.19 representa a curva tensão deformação do ensaio triaxial adensado não
drenado para o material cascalho da barragem de Irapé. As confinantes do ensaio são
100, 300, 600, 900 e 1200kPa. A Figura 4.20 mostra o digrama p’ versus q para o
ensaio mencionado. O p’ representa a média entre as tensões principais efetivas maior e
menor. O fator q representa a tensão cisalhante máxima, igual à diferença entre a tensão
principal maior e a tensão principal menor dividida por dois.
84
800
1200kPa
900kPa
700 600kPa
300kPa
600 100kPa
500
Tensão Desvio Média (kPa)
400
300
200
100
0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
Deformação Axial (%)
Figura 4.19 – Curvas tensão deformação para o cascalho.
800
700
600
500
q (kPa)
400
300
200
100
0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
p' (kPa)
85
O desenvolvimento de pressão neutra durante a deformação dos corpos de prova dos
ensaios triaxiais estão apresentados na Figura 4.21.
1000
100kPa
900 300kPa
600kPa
900kPa
800
1200kPa
700
Pressão Neutra (kPa)
600
500
400
300
200
100
0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
Deformação Axial (%)
86
Em função dos elevados níveis de tensão na zona inferior do núcleo argiloso, local onde
se localiza o cascalho, optou-se por utilizar os resultados dos ensaios triaxiais dos níveis
mais elevados de 900 e 1200kPa. Nesta região, os níveis das tensões verticais variam da
ordem de 1000 a 3000kPa, com tensões horizontais próximas de 500 a 1500kPa.
87
500
400
Tensão Desvio Média (kPa)
300
200
Ensaio
100 Modelo
Sigma
0
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0
800
700
Tensão Desvio Média (kPa)
600
500
400
300
200 Ensaio
Modelo
100
Sigma
0
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0
Figura 4.23 – Curvas tensão deformação comparativas para tensão confinante 1200kPa.
88
Capítulo 5
5.1 Introdução
Neste capítulo, um relato sobre o empreendimento UHE Irapé é apresentado, bem como
seus materiais constitutivos e sua instrumentação. Estudos tensão-deformação foram
desenvolvidos para o período de construção por meio do programa comercial Sigma
(GeoSlope, 2007). Os valores apresentados pelos instrumentos em campo foram
comparados com os valores obtidos por meio da modelagem numérica.
89
A Figura 5.1 apresenta a seção transversal real da barragem de Irapé. Como pode ser
observada, a barragem é formada por diversos materiais que estão descritos na Tabela
5.1.
90
Figura 5.1 - Seção transversal da barragem de Irapé.
91
5.2.1 Principais Materiais Constituintes da Barragem de Irapé
Filtro
O filtro é uma areia natural extraída do rio Araçuaí, com faixa granulométrica apresentada
na Figura 5.2. Esse material apresentou um coeficiente de permeabilidade (k) da ordem de
10-²cm/s em ensaios realizados “in situ”.
100
80
Material Passante (%)
60
40
20
0
0,01 0,1 1 10 100
Random
O material Random (5L) trata-se de um solo que vai desde residual jovem (saprolito) a
rocha muito alterada. Este material é originário de escavações obrigatórias e decape de
pedreira, sendo um material bem graduado com CNU (coeficiente de não uniformidade)
maior que 140.
92
Enrocamentos
A barragem de Irapé é constituída por seis tipos de enrocamento. Para as simulações tensão
deformação foram empregados apenas quatro dos seis enrocamentos com o propósito de
simplificar a modelagem de elementos finitos. Ressalta-se que alguns destes materiais
apresentam parâmetros de resistência bastante parecidos.
100
80
Material Passante (%)
60
40
20
0
0,01 0,1 1 10 100 1000
93
100
60
40
20
0
0,01 0,1 1 10 100 1000
100
80
Material Passante (%)
60
40
20
0
0,01 0,1 1 10 100 1000
94
representados por um único enrocamento (6). Finalizando, o núcleo central foi representado
por dois materiais o chamado “cascalho” e o solo argilo-arenoso (J1).
Assim, com essa simplificação, tem-se um novo zoneamento para a seção transversal de
maior altura da barragem de Irapé, que foi modelada por elementos finitos. Essa nova
divisão de materiais gerou a seção transversal, que é apresentada na Figura 5.6 e a Figura
5.7 mostra a malha de elementos finitos para a seção modelada.
95
Figura 5.7 - Malha de elementos finitos da seção transversal modelada.
96
Os parâmetros geotécnicos para os solos constituintes da modelagem numérica da barragem
de Irapé são apresentados na Tabela 5.3. Esses parâmetros estão aqui reproduzidos com
base em Aires (2004) e foram baseados em ensaios triaxiais e na bibliografia especializada.
Três estudos com diferentes modelos constitutivos foram desenvolvidos com o suporte do
programa Sigma. O primeiro estudo empregou o modelo elasto-plástico ao longo de toda a
barragem, o segundo o modelo linear-elástico em toda a barragem e no terceiro estudo
aplicou-se o modelo hiperbólico no núcleo da barragem para o material cascalho,
juntamente com o modelo linear-elástico para o restante dos materiais. Portanto os modelos
constitutivos hiperbólico, elasto-plástico e linear-elástico foram aplicados para o material
cascalho.
97
resistência. Estes valores foram determinados para cada nível de tensão confinante do
ensaio e encontram-se apresentados na Tabela 5.4.
98
140
100
80
60
40
20
0
0 200 400 600 800 1000 1200
A simulação para o período construtivo da barragem foi realizada em oito etapas e cada
etapa foi subdividida em dez sub-etapas. O sistema permite introduzir o efeito gravitacional
lentamente. Assim, dá-se ao peso específico dos solos um valor igual à razão entre o peso e
o número de sub-etapas. No caso em questão o peso específico utilizado foi dividido por
dez.
O programa Sigma permite que se organizem os cálculos pelo tempo, assim foi considerado
um período de vinte e três meses para o alteamento da barragem, dividido em dois meses e
meio para as seis primeiras etapas que vão até a cota 480m e as outras duas etapas
abrangem um tempo de quatro meses cada, totalizando 690 dias, tal como o tempo real da
construção da barragem.
99
5.9b, representam a seção transversal da barragem com os instrumentos. A Tabela 5.5
apresenta a relação dos instrumentos instalados e a quantidade dos mesmos, nota-se que a
barragem de Irapé foi muito bem instrumentada.
100
Figura 5.9a - Seção transversal da barragem de Irapé instrumentada.
101
Figura 5.9b - Seção transversal da barragem de Irapé instrumentada.
102
5.4 Estudos de refinamento da malha da barragem de Irapé
Para esse estudo, escolheu-se avaliar o recalque provocado pelo alteamento da barragem
à medida que se constrói o aterro, e o ponto de interesse foi locado no eixo da barragem
à meia altura, sendo bastante representativo dos recalques sofridos pelo núcleo, a síntese
desse estudo é apresentada na Figura 5.10.
103
Elevação do Aterro (m)
400 430 460 490 520
-0,1 Malha de 8 m
Malha de 4 m
Malha de 2 m
-0,3
Recalque (m)
-0,5
-0,7
-0,9
-1,1
Figura 5.10 - Elevação do aterro versus recalque para o refinamento da malha de elementos
finitos no núcleo da barragem.
Este subitem apresenta simulações para o final da construção da barragem com o emprego
dos modelos constitutivos linear-elástico, elasto-plástico e hiperbólico. Os resultados
analisados foram recalques, tensões totais verticais e tensões totais horizontais. Estes
modelos foram aplicados de acordo com as especificações seguintes:
1°) Todos solos e enrocamentos implementados com o modelo linear-elástico e o cascalho
foi modelado com função E50 para o módulo de deformabilidade;
2°) Todos solos e enrocamentos implementados com o modelo elasto-plástico e o cascalho
foi modelado com função E50 para o módulo de deformabilidade;
3°) Material cascalho implementado com o modelo hiperbólico e restante dos solos e
enrocamentos com o modelo linear-elástico.
104
5.5.1 Recalques para o final da construção
As Figuras 5.11 a 5.13 apresentam a distribuição dos recalques ao longo da barragem para
o final dos alteamentos. A forma não uniforme das linhas de isovalores se deve ao processo
numérico de simulação em etapas, realizado em 8 etapas discretas acrescidas de 10 etapas
gravitacionais (aumento gradativo do peso). Notifica-se que quanto maior o número de
etapas considerada na modelagem, menor será este efeito. No entanto, o uso do sistema fica
cada vez mais trabalhoso para se operar.
Ao observar as Figuras 5.11 a 5.13, uma variação é notada entre os recalques sofridos para
os diferentes modelos. O recalque máximo foi de 1,6m para o modelo linear-elástico; 1,8m
para o modelo elasto-plástico e 2,2m para o modelo hiperbólico. Os recalques máximos
ocorreram entre as cotas 400 e 420 metros, região central do núcleo. O comportamento dos
recalques modelados com relação aos recalques medidos pelos instrumentos será visto e
discutido no item adiante.
Figura 5.11 - Recalque para o modelo linear-elástico com função E50 para o cascalho.
105
Figura 5.12 - Recalque para o modelo elasto-plástico com função E50 para o cascalho.
106
5.5.2 Tensões totais verticais para o final da construção
As tensões totais verticais para o final da construção da barragem são exibidas pelas
Figuras 5.14 a 5.16. Ao analisar o conteúdo destas figuras verifica-se que as tensões se
concentram nas zonas de filtro e transição dos materiais, ou seja, ocorre o fenômeno
conhecido como arqueamento.
As Figuras 5.15b e 5.16b mostram que em ambos os modelos plásticos a região superior ao
cascalho até a cota 370m sofre plastificação no final da construção, as imagens em amarelo
representam esse comportamento. A plastificação para o modelo elasto-plástico se estende
às interfaces do núcleo com os filtros e transições, mais preponderantemente, de montante.
No modelo hiperbólico não foi detectado plastificação nas interfaces do núcleo com os
filtros e transições.
107
Os modelos linear-elástico e elasto-plástico consideraram a variação dos módulos de
deformabilidade com o aumento da tensão vertical total para o cascalho (Tabela 5.4). Como
observado nas Figuras 5.14 a 5.16, na região de interface no núcleo, entre os solos 1-J1 e
3B, a tensão vertical total situou-se em torno de 1200kPa e no contato com a fundação os
valores foram máximos e situaram-se entre 3400 a 3600kPa. Com esta faixa de valores, os
módulos de deformabilidade variaram de 70 a 160MPa, aproximando-se e até superando as
magnitudes das rigidezes do filtro e transições. Muito provavelmente por este motivo, os
modelos linear-elástico e elasto-plástico não evidenciaram arqueamento na região mais
profunda do núcleo, abaixo da cota 360m.
108
(a)
(b)
Figura 5.15 – Modelo elasto-plástico: a - tensões totais verticais; b - zonas de plastificação.
109
(a)
(b)
Figura 5.16 – Modelo hiperbólico: a - tensões totais verticais; b - plastificação.
110
5.5.3 Tensões totais horizontais para o final da construção
De forma similar às tensões verticais, como apresentado nas Figuras 5.17 a 5.19, o
comportamento das tensões horizontais mostra boa uniformidade das linhas de isovalores
na região inferior, até a cota 380m, com detecção de arqueamento na interface do núcleo
com o filtro e transição na porção superior da barragem, destaque para cota 460m.
Novamente, o modelo hiperbólico apresenta comportamento diferencial, com maior efeito
de arqueamento que os demais modelos. As possíveis justificativas para este
comportamento são semelhantes àquelas apresentadas para as tensões verticais.
111
Figura 5.18 - Tensões totais horizontais para o modelo elasto-plástico E50.
112
5.6 Simulações relativas ao período construtivo
Algumas avaliações das tensões e dos recalques foram desenvolvidas durante o período de
alteamento da barragem, considerando os mesmos arranjos dos modelos do Item 5.5. Essa
avaliação foi realizada ao organizar os resultados das simulações do programa empregando
os modelos linear-elástico (LE), elasto-plástico (EP) e o hiperbólico (HP) com os dados
fornecidos pela instrumentação em gráficos. O banco de dados da instrumentação
disponível é até a elevação 482m, correspondente ao final do sexto alteamento (etapa).
As leituras dos instrumentos CP-301, CP-302, CP-304, CP-306 e CP-308 foram usadas
para avaliar a tensão total vertical e as leituras da célula de pressão CP-309 foram usadas
para avaliar a tensão total horizontal. Os recalques foram avaliados pelas leituras dos
instrumentos RM-302, RM-304, RM-306, RM-307, RM-308, CS-301 e CS-305.
O instrumento CP-309 localiza-se na elevação 421m, a meia altura do núcleo, afastado 26m
do eixo da barragem e a aproximadamente 11m do filtro. Este instrumento foi escolhido por
estar no local de concentração de tensões, onde o arqueamento foi detectado.
113
partir de elevação 460m. Nestes modelos, o aumento da tensão horizontal mostrou-se
“inibido” a partir desta elevação.
700
CP-309
LE
Tensão Total Horizontal (kPa)
600
EP
HP
500
400
300
200
100
0
410 430 450 470 490 510
Elevação do Aterro (m)
114
Estudo das tensões totais verticais
O instrumento CP-301 está instalado no eixo da barragem na cota 329m, muito próximo da
fundação. A Figura 5.21 apresenta o estudo comparativo entre as tensões de campo e as da
simulação numérica para esse instrumento.
A partir desta figura, nota-se que, as tensões das simulações foram iguais às do instrumento
até a cota 415m do aterro. Essa cota coincide com o início da compactação do solo 1-J1.
Como já apresentado, este solo tem rigidez bem inferior a do filtro e transições, ou seja, a
partir desta elevação tem-se o início do arqueamento e em conseqüência, os incrementos de
tensão vertical não acompanham linearmente o aumento da altura do aterro compactado. Os
resultados numéricos mostraram comportamento bastante semelhante dentre os modelos
adotados. Em função de o instrumento estar localizado no eixo da barragem e na região de
maior extensão transversal, ou seja, longe das interfaces, este fato comportamental sugere
que o forte diferencial entre os modelos estaria associado aos efeitos da interação das
interfaces.
3500
CP-301
3000 LE
EP
Tensão Total Vertical (kPa)
HP
2500
2000
1500
1000
500
0
320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 520
Elevação do Aterro (m)
115
A Figura 5.22 mostra as tensões verticais do instrumento CP-302. Este instrumento está
instalado no eixo da barragem na cota 355m, 26 metros acima do instrumento CP-301. O
comportamento deste estudo é divergente daqueles observados nos instrumentos anteriores.
Neste caso, as tensões de campo mostram-se superiores àquelas quantificadas pelos
modelos. Notifica-se que pouco acima desta cota, cerca de 15 metros, tem-se o início da
plastificação do cascalho, como apresentado pelos modelos elato-plástico e hiperbólico.
3000
CP-302
LE
2500 EP
Tensão Total Vertical (kPa)
HP
2000
1500
1000
500
0
350 370 390 410 430 450 470 490 510
116
2500
CP-304
LE
EP
1500
1000
500
0
380 400 420 440 460 480 500 520
Elevação do Aterro (m)
117
1600
CP-306
1400 LE
EP
1000
800
600
400
200
0
410 430 450 470 490 510
118
1600
CP-308
1400 LE
EP
1000
800
600
400
200
0
410 430 450 470 490 510
119
490
480
470
450
440
430
420
0 0,5 1 1,5 2 2,5
K
120
resumo dos recalques calculados pelos modelos e os recalques aferidos pelos instrumentos
para a elevação do aterro na altura de 482 metros. Na Tabela 5.6, o termo “razão”
representa a relação entre o recalque calculado pelo modelo e o registrado em campo. Ao
analisar a razão o modelo que apresentou o melhor ajuste foi o elasto-plástico.
Na última linha da Tabela 5.6 tem-se a razão média quantificada por meio da média
aritmética das razões de cada modelo. Comparando-se então o comportamento médio dos
modelos com os valores quantificados em campo, como mencionado anteriormente, pode-
se verificar que os instrumentos localizados abaixo da meia altura da barragem apresentam
recalques de campo inferiores aos recalques calculados numericamente. Este
comportamento sugere que o módulo de deformabilidade de campo seja superior ao
aplicado nos modelos.
Tabela 5.6 - Recalques dos instrumentos e modelos para a cota 482 metros.
Instrumento Campo (m) LE (m) Razão EP (m) Razão HP (m) Razão
RM-302 0,59 0,79 1,34 0,76 1,29 0,91 1,54
RM-304 0,86 1,07 1,24 1,05 1,22 1,34 1,56
RM-306 1,29 1,25 0,97 1,20 0,93 1,45 1,12
RM-307 1,45 0,97 0,67 1,00 0,69 1,21 0,83
RM-308 1,10 0,64 0,58 0,64 0,58 0,91 0,83
CS-301 0,77 0,98 1,27 0,96 1,25 1,04 1,35
CS-305 0,75 1,22 1,63 1,19 1,59 1,31 1,75
Razão Média LE 1,10 EP 1,08 HP 1,28
121
O instrumento RM-302 está localizado no eixo e próximo à fundação da barragem. O
comportamento apresentado na Figura 5.27 ilustra bem a discussão anterior. Os modelos
poderiam ser calibrados por meio do aumento da rigidez do cascalho. No entanto, um
aumento da contribuição dos arqueamentos poderia proporcionar o mesmo efeito de
minimização de recalques no núcleo. Comportamento bastante similar é ilustrado na Figura
5.28, para o instrumento RM-304.
-0,2
Recalque (m)
-0,4
-0,6
RM-302
-0,8 LE
EP
HP
-1,0
122
Elevação do Aterro (m)
380 400 420 440 460 480 500 520
0,0
-0,2
-0,6
-0,8
-1,0
-1,2 RM-304
LE
-1,4 EP
HP
-1,6
-0,8
-1,0
-1,2
-1,4 RM-306
-1,6 LE
EP
-1,8
HP
-2,0
123
Elevação do Aterro (m)
440 460 480 500 520
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
Recalque (m)
-0,8
-1,0
-1,2
-1,4 RM-307
-1,6 LE
EP
-1,8
HP
-2,0
-0,2
-0,4
Recalque (m)
-0,6
-0,8
-1,0
-1,2 RM-308
LE
-1,4 EP
HP
-1,6
124
Elevação do Aterro (m)
360 380 400 420 440 460 480 500 520
0,0
-0,2
-0,4
Recalque (m)
-0,6
-0,8
-1,0 CS-301
LE
-1,2 EP
HP
-1,4
-0,5
-1,0
Recalque (m)
-1,5
-2,0
CS-305
LE
-2,5
EP
HP
-3,0
125
Capítulo 6
Conclusões
126
No Capítulo 4 desenvolveu-se uma metodologia para obter curvas tensão deformação de
ensaios triaxiais drenados ou não drenados. Isso foi possível pela obtenção dos parâmetros
hiperbólicos por meio de ensaio triaxial ao empregar a metodologia de Duncan e Chang
(1970) e, então, usar esses parâmetros no programa Sigma.
A conclusão deste estudo foi positiva para a simulação das curvas tensão deformação para o
ensaio não drenado (CU) utilizando o modelo hiperbólico. Por outro lado, o modelo
elastoplástico não forneceu resultados bons. E para a simulação das curvas tensão
deformação do ensaio drenado (CD) por meio do modelo hiperbólico os resultados foram
ruins, bem inferiores aos do ensaio.
Os resultados das simulações das curvas tensão deformação do programa Sigma para o
material cascalho por meio do modelo hiperbólico não foram satisfatórios, apresentando
valores bem menores que os valores do ensaio. Mas ao se calibrar as curvas tensão
deformação pela variação das constantes “K” e “n” obtiveram-se resultados válidos. Assim,
podem-se ter curvas tensão deformação de ensaios triaxiais por meio de calibração e então
se obtém curvas tensão deformação para qualquer tensão de confinamento
O tamanho dos elementos finitos que compõem a malha numérica é um fator importante de
ser analisado. De uma maneira geral, quanto menor o elemento mais refinado (melhor) será
o resultado da simulação numérica. Em contrapartida a malha fica com maior número de
nós, o que acarreta um maior tempo para resolução do problema. Portanto, é bastante
127
importante encontrar um equilíbrio entre o tamanho do elemento e a qualidade dos
resultados. Ressalta-se que em alguns estudos, o excesso de refinamento da malha pode
induzir resultados de pior qualidade. No caso da barragem de Irapé a malha com elementos
de tamanho igual a 4 metros proporcionou bons resultados sem comprometer o tempo de
resolução do problema.
Nesta dissertação foi avaliado o desempenho dos modelos linear elástico, elasto-plástico e
hiperbólico, para o material cascalho utilizado no núcleo da barragem de Irapé. Os
resultados dos recalques ao final da construção dos modelos pelo programa foram recalques
máximos em torno de 1,6m a 2,2m nas cotas entre 400m e 420m. De acordo com o
Capítulo 2 e dados da literatura, os recalques máximos se desenvolvem à meia altura da
barragem. Isso foi comprovado para o estudo da barragem de Irapé desenvolvido para os
modelos linear elástico, elasto-plástico e hiperbólico.
O estudo das tensões totais verticais para o final dos alteamentos da barragem apresentou o
fenômeno do arqueamento. Essa concentração de tensões foi mais acentuada para o
resultado do modelo hiperbólico e menos acentuada para o modelo linear elástico. Esse
arqueamento era esperado, pois o filtro e os enrocamentos são materiais com maior rigidez
que os materiais que compõem o núcleo. No caso particular, o filtro possui módulo de
deformabilidade três vezes maior que o módulo do solo argilo–arenoso (J1), que é um dos
materiais do núcleo da barragem.
O módulo de deformabilidade (E50) foi estipulado como função da tensão para os modelos
linear elástico e elasto-plástico considerando os módulos de deformabilidade calculados
para cada confinante do ensaio triaxial. A avaliação desse módulo (E50) pode ser feita
através dos resultados apresentados no Capítulo 5 e constata-se que foi uma maneira válida,
por se aproximar mais fielmente das condições de campo e representar os resultados do
ensaio triaxial.
128
No final do Capítulo 5, os estudos apresentaram um confronto entre os resultados das
simulações computacionais com as leituras dos instrumentos da barragem que indicam os
recalques e as tensões. Algumas considerações devem ser ressaltadas:
- o ensaio triaxial mais indicado para estudos tensão deformação deve ser do tipo drenado
por melhor representar as condições de campo, como a dissipação das poropressões ao
longo do alteamento da barragem;
- o ideal seria a representação do módulo de deformabilidade em função das tensões de
confinamento para todos os materiais que compõem a barragem.
Como um todo, os resultados dos recalques e tensões horizontais e verticais para o final da
construção os modelos linear elástico e elasto-plástico foram os que forneceram melhores
resultados.
A primeira análise é para a comparação das tensões totais horizontais entre os resultados da
célula de pressão 309 com as simulações dos modelos pelo programa Sigma. As curvas das
simulações não foram muito satisfatórias, embora a curva do modelo elasto-plástico se
aproxima da curva do instrumento.
A segunda análise é para a comparação das tensões totais verticais em cinco instrumentos
posicionados no eixo da barragem e em cotas diferentes. As curvas apresentaram uma
adequação entre os valores das simulações para todos os três modelos usados com os
valores dos instrumentos. Isso é comprovado para as cinco células de pressão. Assim, os
parâmetros que definem as tensões verticais foram bem definidos para a barragem como
um todo pelos três modelos adotados.
129
Em geral, o estudo comparativo para os recalques não foi muito bom. As simulações
computacionais apresentaram recalques maiores que os observados em campo. O que
comprova que o material cascalho possui uma rigidez maior que a obtida pelo ensaio
triaxial. Mas, pode-se destacar o modelo elasto-plástico que apresentou uma razão média de
8% maior que os recalques de campo.
O método para calibrar a curva do ensaio triaxial por meio do programa Sigma foi válida.
Assim, os resultados para o modelo hiperbólico foram bons. O modelo hiperbólico não é o
mais indicado para aplicação do solo cascalho. Pois ao realizar o ensaio triaxial o material é
peneirado e assim a faixa granulométrica graúda do cascalho é excluída e com isso a
resistência apresentada não é a resistência verdadeira do material e sim a resistência de uma
porção mais fina do material.
Finalmente, pode-se indicar o modelo elasto-plástico com o uso da função E50 como o mais
indicado para os estudos tensão deformação de uma barragem. Isso por ser o modelo que
mais aproximou-se dos resultados de campo.
130
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135
Anexo I
Figura I.1 - Deslocamento horizontal para o modelo linear elástico com função E50 para o
cascalho.
Figura I.2 - Deslocamento horizontal para o modelo elastoplástico com função E50 para o
cascalho.
136
Figura I.1 - Deslocamento horizontal para o modelo hiperbólico para o cascalho.
137
Anexo II
-0,3
-0,4
-0,5
-0,6
RM-301
-0,7 LE
EP
-0,8
HP
-0,9
-0,8
-1,0
-1,2
-1,4 RM-305
-1,6 LE
EP
-1,8
HP
-2,0
138
Elevação do Aterro (m)
380 400 420 440 460 480 500 520
0,0
-0,2
-0,6
-0,8
-1,0
-1,2 RE-307
LE
-1,4 EP
HP
-1,6
-0,2
Recalque (m)
-0,4
-0,6
CS-306
-0,8 LE
EP
HP
-1,0
139