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Dissertação de Mestrado

ESTUDO TENSÃO DEFORMAÇÃO DE


BARRAGEM DE TERRA E ENROCAMENTO

AUTORA: MARÍNIS MARIA DE ALMEIDA

ORIENTADOR: Prof. Dr. Saulo Gutemberg Silva Ribeiro


(UFOP)

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOTECNIA DA UFOP

OURO PRETO - ABRIL DE 2010


ii
A447e Almeida, Marínis Maria de.
Estudo tensão deformação de barragem de terra e enrocamento [manuscrito] /
Marínis Maria de Almeida - 2010.
xix, 139 f.: il., color.; grafs.; tabs.

Orientador: Prof. Dr. Saulo Gutemberg Silva Ribeiro.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Ouro Preto.


Escola de Minas. NUGEO.
Área de concentração: Geotecnia de barragens.

1. Barragens de terra - Teses. 2. Enrocamentos - Teses. I. Universidade


Federal de Ouro Preto. II. Título.

CDU: 627.824

Catalogação: sisbin@sisbin.ufop.br
“O covarde nunca começa, o fracassado nunca termina e o vencedor nunca desiste.”
Norman Vicente Peale

iii
DEDICATÓRIA

Mãe, pai, Juninho, Marinês e Felipe a vocês que são a alegria da minha vida.

iv
AGRADECIMENTOS

A Deus pela vida e por todas as oportunidades concedidas.

A meus pais pelos ensinamentos que não se encontram nos livros.

Aos meus irmãos pelo amor e carinho, em especial a Marinês e Humberto pelo
acolhimento no novo lar.

Ao Felipe, meu grande amor, pela paciência e incentivo.

Ao professor Saulo pelas horas de dedicação e orientação durante o desenvolvimento


desse trabalho.

Aos professores pelos conhecimentos compartilhados.

Aos colegas do curso, Karippe, Shirley, Rodolfo e Fernando pelo companheirismo e a


Johanna pela amizade.

A Geolabor Engenharia, Naim e Riad pela oportunidade e compreensão.

v
RESUMO

A maioria das obras de barragens tem sido instrumentada adequadamente. Os


instrumentos mais comuns instalados são: piezômetros, inclinômetros, medidores de
recalques, medidores de vazão e placas de tensão. A interpretação das leituras destes
instrumentos traz informações para avaliar as predições comportamentais da obra em
sua fase de construção e de operação. Essas predições são desenvolvidas com auxílio de
sistemas computacionais que utilizam modelos constitutivos clássicos e modernos.
Barragens reais e bem instrumentadas traduzem-se em grandes oportunidades para que
os modelos constitutivos possam ser avaliados tanto em sua proposta comportamental
quanto em relação aos parâmetros e as condições de contorno. O estudo em questão foi
desenvolvido para o período construtivo da barragem de terra e enrocamento de Irapé –
Cemig com base nos dados quantificados pelos instrumentos e pelos estudos numéricos.
A análise numérica foi realizada por meio do sistema computacional GeoStudio 2007,
módulo Sigma, para a seção transversal de maior altura. Os dados de entrada para o
programa foram os parâmetros obtidos do ensaio triaxial realizado para o material
cascalho, que compõe o núcleo da barragem. Os resultados do estudo numérico foram
então comparados com os dados coletados pelos instrumentos instalados no núcleo e
enrocamentos da barragem. Os resultados mostraram bons prognósticos para as tensões
totais e valores superiores para os recalques em todas as modelagens, linear elástica,
elastoplástica e hiperbólica. No entanto, a modelagem adotada, assim como os ensaios
triaxiais, não contemplam os efeitos do elevado confinamento longitudinal da barragem
(tensão principal intermediária) que pode ter condicionado aumento global de rigidez e
restrições ao movimento vertical.

vi
ABSTRACT

A maioria das obras de barragens tem sido bem instrumentada.In recent years, most of
the dam constructions for hydropower have been instrumented properly. The most
common installed instruments are: piezometers, inclinometers, settlements meters, flow
meters and total pressure cells. The interpretation of the readings of these instruments
provides information to assess the quality of the predictions of dam construction and
operational behavior. These predictions are acquired with software support by using
constitutive models. Well monitored dams provide great opportunities to evaluate the
constitutive models. This study was done considering the constructive period of the
Irapé dam, by taking into account the instrument reading results in comparison with
numerical studies. The numerical analysis was performed by GeoStudio 2007 software.
The Sigma module was used to model the highest cross section of the dam. The
numerical results of the study were then compared with the instrument reading installed
in the core and in the rockfill of the dam. The results showed good predictions for the
total stresses and higher values for the settlements in all models, linear-elastic, elastic-
plastic and hyperbolic.

vii
Lista de Figuras

Figura 2.1 - Seção transversal esquemática de BEVM.


Figura 2.2 - Seção transversal esquemática de BEVC.
Figura 2.3 - Determinação dos módulos tangente e secante.
Figura 2.4 – Tensão vertical medida versus σ = γH. (Parra, 1985).
Figura 2.5 – Marco de deslocamento superficial instalado na crista da barragem.
Figura 2.6 - Calha Parshal.
Figura 2.7 - Vertedor triangular.
Figura 2.8 – Célula de pressão total.
Figura 2.9 – Pressões medidas no tempo, com a elevação do aterro no abraço esquerdo
da barragem de Água Vermelha (Silveira 2006).
Figura 2.10 – Tensões efetivas versus tempo na elevação 780m da barragem de
Svartevann (DiBiagio e Myrvoll, 1982).
Figura 2.11 – Curvas de isopressão vertical obtidas teoricamente para a barragem de
Emborcação (Parra, 1985).
Figura 2.12 – Medidores de recalque de corda vibrante da Geokon: a) Modelo 4600
b) Modelo 4650.
Figura 2.13 – Representação dos recalques medidos na estaca 68+10 da barragem de
Água Vermelha, da Cesp (Silveira, 1982).
Figura 2.14 – Painel de leitura das células hidráulicas de recalque.
Figura 2.15 – Sonda e trena para leitura do medidor de recalque magnético.
Figura 2.16 – Leitura do medidor de recalque magnético.
Figura 2.17 - Tubo guia para inclinômetro.
Figura 2.18 – Inclinômetro modelo 6000 da Geokon.
Figura 3.1 - Curva tensão-deformação para o modelo hiperbólico.
Figura 3.2 - Transformada da curva tensão-deformação.
Figura 3.3 - Variação do módulo de elasticidade inicial com a tensão de confinamento.
Figura 3.4 - Módulo de elasticidade de descarga-recarga.

viii
Figura 3.5 – Exemplo da função para o módulo de elasticidade.
Figura 3.6 - Curva tensão-deformação do modelo elasto-plástico perfeito.
Figura 3.7 - Critério de escoamento Mohr-Coulomb no plano (σ,τ).
Figura 3.8 - Círculo de Mohr para incrementos de deformação plástica e ângulo de
dilatância.
Figura 4.1 – Corpo de prova simulado no programa Sigma
Figura 4.2 - Curva Granulométrica da argila de alta compressibilidade.
Figura 4.3 - Curvas tensão desvio versus deformação axial do ensaio CU.
Figura 4.4 - Curvas pressão neutra versus deformação axial do ensaio CU.
Figura 4.5 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, sigma hiperbólico e sigma
elastoplástico para tensão confinante de 100kPa.
Figura 4.6 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, sigma hiperbólico e sigma
elastoplástico para tensão confinante de 200kPa.
Figura 4.7 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, sigma hiperbólico e sigma
elastoplástico, para tensão confinante de 400kPa.
Figura 4.8 - Curvas tensão-deformação do ensaio drenado.
Figura 4.9 - Curvas para o ensaio CD com confinante 100kPa.
Figura 4.10 - Curvas para o ensaio CD com confinante 200kPa.
Figura 4.11 - Curvas para o ensaio CD com confinante 400kPa.
Figura 4.12 - Análise de sensibilidade para a coesão: (a) Módulo Tangente
(b) Tensão Desvio.
Figura 4.13 - Análise de sensibilidade para o ângulo de atrito: (a) Módulo Tangente
(b) Tensão Desvio.
Figura 4.14 - Análise de sensibilidade para a Razão de ruptura (Rf): (a) Módulo
Tangente , (b) Tensão Desvio.
Figura 4.15 - Análise de sensibilidade para o coeficiente de empuxo no repouso (K0):
(a) Módulo Tangente, (b) Tensão Desvio.
Figura 4.16 - Análise de sensibilidade para a constante associada à rigidez do solo (K):
(a) Módulo Tangente, (b) Tensão Desvio.
Figura 4.17 - Análise de sensibilidade para a taxa de variação do solo (n): (a) Módulo
Tangente, (b) Tensão Desvio.
Figura 4.18 - Distribuição granulométrica para o material “cascalho”.

ix
Figura 4.19 – Curvas tensão deformação para o cascalho.
Figura 4.20 – Diagrama p’q do cascalho.
Figura 4.21 – Desenvolvimento da pressão neutra no decorrer da deformação.
Figura 4.22 – Curvas tensão deformação comparativas para tensão confinante 900kPa.
Figura 4.23 – Curvas tensão deformação comparativas para tensão confinante 1200kPa.
Figura 5.1 - Seção transversal da barragem de Irapé.
Figura 5.2 - Distribuição granulométrica para o material filtro.
Figura 5.3 - Distribuição granulométrica para o material “5”.
Figura 5.4 - Distribuição granulométrica para o material “5A”.
Figura 5.5 - Distribuição granulométrica para o material “6”.
Figura 5.6 - Seção transversal modelada numericamente.
Figura 5.7 – Malha de elementos finitos da seção transversal modelada.
Figura 5.8 - Função para o E50 do solo cascalho.
Figura 5.9a - Seção transversal da barragem de Irapé instrumentada.
Figura 5.9b - Seção transversal da barragem de Irapé instrumentada.
Figura 5.10 - Elevação do aterro versus recalque para o refinamento da malha de
elementos finitos no núcleo da barragem.
Figura 5.11 - Recalque para o modelo linear elástico com função E50 para o cascalho.
Figura 5.12 - Recalque para o modelo elastoplástico com função E50 para o cascalho.
Figura 5.13 - Recalque para o modelo hiperbólico para o cascalho.
Figura 5.14 - Tensões totais verticais para o modelo linear elástico E50.
Figura 5.15 - Modelo elasto-plástico: (a) - tensões totais verticais; (b) – zonas de
plastificação.
Figura 5.16 - Modelo hiperbólico: (a) - tensões totais verticais; ( b) – plastificação.
Figura 5.17 - Tensões totais horizontais para o modelo linear elástico E50.
Figura 5.18 - Tensões totais horizontais para o modelo elastoplástico E50.
Figura 5.19 - Tensões totais horizontais para o modelo hiperbólico.
Figura 5.20 - Tensões totais horizontais dos modelos e instrumento CP-309.
Figura 5.21 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-301.
Figura 5.22 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-302.
Figura 5.23 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-304.
Figura 5.24 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-306.

x
Figura 5.25 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-308.
Figura 5.26 - Comportamento do parâmetro K0 (σh/σv).
Figura 5.27 - Recalques dos modelos e instrumento RM-302.
Figura 5.28 - Recalques dos modelos e instrumento RM-304.
Figura 5.29 - Recalques dos modelos e instrumento RM-306.
Figura 5.30 - Recalques dos modelos e instrumento RM-307.
Figura 5.31 - Recalques dos modelos e instrumento RM-308.
Figura 5.32 - Recalques dos modelos e instrumento CS-301.
Figura 5.33 - Recalques dos modelos e instrumento CS-305.

xi
Lista de Tabelas

Tabela 2.1 - Módulos de deformabilidade obtidos a partir de ensaios laboratoriais.


Tabela 2.2 - Módulos de deformabilidade de aterros compactados.
Tabela 2.3 - Valores para módulo de deformabilidade tangente (Adaptado de Cruz,
1996).
Tabela 2.4 – Módulos de deformabilidade dos materiais da barragem de Emborcação.
Tabela 2.5 - Recalques observados e previstos em barragens (adaptado de Silveira,
1983).
Tabela 2.6 - Dados de recalque e módulo de deformabilidade (Cruz 1996).
Tabela 4.1 - Parâmetros em termos de tensões totais para a argila de alta
compressibilidade.
Tabela 4.2 - Parâmetros hiperbólicos para o ensaio drenado.
Tabela 4.3 - Parâmetros hiperbólicos para o Cascalho.
Tabela 5.1: Materiais constituintes da barragem de Irapé.
Tabela 5.2 - Materiais constituintes da modelagem numérica.
Tabela 5.3 - Parâmetros Geotécnicos para os materiais da modelagem.
Tabela 5.4 - Módulos de deformabilidade para o cascalho material do núcleo de Irapé.
Tabela 5.5 - Quantitativo dos instrumentos de Irapé.
Tabela 5.6 - Recalques dos instrumentos e modelos para a cota 482 metros.

xii
Lista de Símbolos, Nomenclatura e Abreviações

φ - Ângulo de atrito total


ψ - Ângulo de dilatância
ν - Coeficiente de Poisson
λ - Parâmetro plástico
γ - Peso específico úmido do solo
τ - Resistência ao cisalhamento
(σ1- σ3) - Tensão desvio
(σ1- σ3)rup - Tensão desvio na ruptura
(σ1- σ3)ult - Tensão desvio última
Δσv - Variação da tensão vertical
φ’ - Ângulo de atrito efetivo
σ1 - Tensão principal maior
σ3 - Tensão principal menor
εcp - Deformação plástica ou permanente
εe - Deformação elástica
Δh - Variação de umidade
εp - Deformação plástica
εp - Deformação plástica
γsmáx - Densidade seca máxima
εvp - Deformação plástica volumétrica
εx - Deformação na direção x
εz - Deformação na direção z
σz - Tensão vertical na direção z
AHE - Aproveitamento hidroenergético
BEFC - Barragem de enrocamento com face de concreto

xiii
BENA - Barragem de enrocamento com núcleo argiloso
BEVC - Barragem de enrocamento com vedação central
BEVM - Barragem de enrocamento com vedação a montante
c - Coesão total
c’ - Coesão efetiva
CD - Ensaio de compressão triaxial adensado e drenado
CH - Argila de alta compressibilidade
CIGB - Comissão Internacional de Grandes Barragens
CL - Argila de baixa compressibilidade
CNU - Coeficiente de não uniformidade
CP - Célula de pressão
CPT - Célula de pressão total
CR - Compacidade relativa
CS - Caixa sueca
CU - Ensaio de compressão triaxial adensado e não drenado
De - Matriz constitutiva elástica
E - Módulo de deformabilidade
E50 - Módulo de deformabilidade a 50% da resistência máxima
Ei - Módulo de deformabilidade inicial
EP - Modelo elastoplástico
Et Módulo de deformabilidade tangente
Eur - Módulo de deformabilidade descarregamento-recarregamento
F(σ) - Função de plastificação
G(σ) - Função potencial plástico
GC - Grau de compactação
GP - Pedregulho mal graduado
GW - Pedregulho bem graduado
hót - Umidade ótima
HP - Modelo hiperbólico
ICOLD - International Commission on Large Dams
IN - Inclinômetro

xiv
IP - Índice de plasticidade
K - Coeficiente de condutividade hidráulica ou permeabilidade a 20°C
K - Constante associada à rigidez inicial do solo
K0 - Coeficiente do empuxo em repouso
Kb - Constante adimensional relacionada com o coeficiente de deformação volumétrica
Kur - Constante associada ao descarregamento e recarregamento
LE - Modelo linear elástico
LL - Limite de liquidez
m - Constante adimensional relacionada com o coeficiente de deformação volumétrica
MEF - Método dos elementos finitos
MS - Marco superficial
MV - Medidor de vazão
n - Taxa de variação da rigidez do solo
NUGEO - Núcleo de Geotecnia
Pa - Pressão atmosférica
PC - Piezômetro Casagrande
PE -Piezômetro elétrico
pH - Potencial hidrogeniônico
RE - Medidor de recalque elétrico
Rf - Razão de ruptura
RM - Placa de recalque magnético
SC - Argila arenosa
SE - Simulação para o modelo elastoplástico
SH - Simulação para o modelo hiperbólico
SM - Silte arenoso
SP - Areia mal graduada
Su - Resistência não drenada
SW - Areia bem graduada
Tan - Tangente
UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto
UHE - Usina Hidrelétrica

xv
Lista de Anexos

Anexo I − Deslocamentos horizontais determinados pelo programa Sigma para o final


da construção da barragem de Irapé com emprego dos modelos linear elástico,
elastoplástico e hiperbólico
Anexo II − Recalques dos modelos comparados aos recalques do instrumentos.

xvi
ÍNDICE

CAPÍTULO 1 − INTRODUÇÃO
1.1 OBJETIVOS GERAIS.............................................................................................1

1.2 ESTRUTURAÇÃO DA DISSERTAÇÃO.............................................................3

CAPÍTULO 2 − BARRAGENS DE TERRA E ENROCAMENTO


2.1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................4

2.2 HISTÓRIA E EVOLUÇÃO DAS BARRAGENS..................................................4

2.3 BARRAGENS DE ATERRO..................................................................................5

2.4 BARRAGENS ZONADAS DE ENROCAMENTO E TERRA...............................6

2.4.1 Enrocamento..................................................................................................7
2.4.2 Seções transversais típicas das barragens de enrocamento............................8

2.5 ESTUDOS TENSÕES DEFORMAÇÕES EM BARRAGENS DE


ENROCAMENTO COM NÚCLEO ARGILOSO..................................................12
2.5.1 Introdução......................................................................................................12
2.5.2 Módulos de Elasticidade...............................................................................13
2.5.3 Recalques……………....................……………………………………..…18

2.6 INSTRUMENTAÇÃO DE BARRAGENS…………………………………….22


2.6.1 Introdução…………………………………………………………………22
2.6.2 Objetivos da instrumentação de barragens..................................................22
2.6.3 Instrumentação de barragens de enrocamento……………………..……...23
2.6.4 Principais instrumentos para monitoramento de barragens.........................24

xvii
CAPÍTULO 3 − MODELAGEM NUMÉRICA

3.1 INTRODUÇÃO..............................................…………………………………...38
3.2 FINALIDADES DA MODELAGEM NUMÉRICA………......………………...39
3.3 ASPECTOS RELEVANTES PARA O MODELO CORRETO E A
MODELAGEM COM O PROGRAMA SIGMA.................................................40
3.4 MODELOS CONSTITUTIVOS............................................................................42
3.4.1 Introdução.....................................................................................................42
3.4.2 Trabalhos Desenvolvidos no NUGEO…………………………………..…44
3.5 MODELO CONSTITUTIVO HIPERBÓLICO………………………………….45
3.5.1 Descrição do Modelo....................................................................................46
3.6 IMPLEMENTAÇÃO DO MODELO HIPERBÓLICO PELO PROGRAMA
SIGMA..................................................................................................................52
3.7 MODELO CONSTITUTIVO ELASTO-PLÁSTICO……..…………………….54
3.7.1 Descrição do Modelo Elasto-plástico perfeito..............................................55
3.7.2 Definições Básicas........................................................................................57
3.7.3 Critério de Ruptura Mohr-Coulomb ............................................................61
3.7.4 Dilatância......................................................................................................63

CAPÍTULO 4 − SIMULAÇÕES DE ENSAIOS TRIAXIAIS NO PROGRAMA


SIGMA

4.1 INTRODUÇÃO..........................................................……..…………………….66
4.2 SIMULAÇÕES DE ENSAIOS TRIAXIAIS.........................................................66
4.2.1 Simulação para um Ensaio Triaxial Adensado não Drenado (CU)..............68
4.2.2 Simulação para um Ensaio Triaxial Adensado Drenado (CD)......................74
4.3 ANÁLISE DE SENSIBILIDADE.........................................................................79
4.4 CALIBRAÇÃO DA CURVA TENSÃO DEFORMAÇÃO PARA O CASCALHO
DA BARRAGEM DE IRAPÉ – NÚCLEO ARGILOSO......................................83

xviii
CAPÍTULO 5 − ESTUDO TENSÃO DEFORMAÇÃO DA BARRAGEM DE
IRAPÉ

5.1 INTRODUÇÃO..........................................................……..…………………….89
5.2 O EMPREENDIMENTO UHE IRAPÉ...........……..….........…………………..89
5.2.1 Principais materiais constituintes da barragem de Irapé..............................92
5.2.2 Seção modelada e estudada..........................................................................94
5.3 MODELAGEM POR ELEMENTOS FINITOS...................................................97
5.4 ESTUDOS DE REFINAMENTO DA MALHA DA BARRAGEM DE
IRAPÉ..................................................................................................................103
5.5 SIMULAÇÕES PARA O FINAL DA CONSTRUÇÃO....................................104
5.5.1 Recalques para o final da construção.........................................................105
5.5.2 Tensões totais verticais para o final da construção.....................................107
5.5.3 Tensões totais horizontais para o final da construção................................111
5.6 SIMULAÇÕES RELATIVAS AO PERÍODO CONSTRUTIVO……………..113

CAPÍTULO 6 − CONCLUSÕES
6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES.....................................126

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................131

ANEXOS.......................................................................................................................136

xix
Capítulo 1

Introdução

1.1 Objetivos Gerais

Para a elaboração de um projeto de barragem é importante estudar a estabilidade, a


percolação de água pelo maciço e também as tensões e deformações que ocorrerão na
barragem durante a construção. Acrescenta-se o estudo do enchimento do reservatório,
o regime permanente e até um possível estado transiente devido ao esvaziamento rápido
do reservatório.

Para todos esses estudos é de suma importância conhecer as características dos materiais
que vão compor a barragem. Para se ter esse conhecimento deve-se realizar ensaios
geotécnicos de laboratório e ensaios “in situ” para determinar as propriedades
granulométricas, de resistência, de escoamento, de deformabilidade dentre outras
propriedades que são determinadas em laboratório e em campo.

Aliando o conhecimento das características dos materiais às ferramentas


computacionais desenvolvidas e disponíveis para tais estudos, pode-se projetar uma
barragem por completo e prever resultados que se aproximam bem das condições reais
de campo.

Assim, esta dissertação tem por objetivo estudar o comportamento tensão versus
deformação de uma barragem, durante sua construção via métodos numéricos. O
sistema computacional adotado foi o GeoStudio 2007, módulo Sigma (Geo-Slope,
2007). Para utilizar esse programa, é necessária a escolha do modelo constitutivo que
represente as características do solo a ser estudado, os modelos utilizados foram o linear

1
elástico, o elasto-plástico e o hiperbólico, este, especificamente para o material
composto do núcleo denominado “cascalho”.

Os parâmetros do modelo hiperbólico utilizados no programa Sigma foram


determinados através de ensaios de laboratório de compressão triaxial drenados e não
drenados, pela aplicação da metodologia desenvolvida por Duncan e Chang.

A partir dos parâmetros hiperbólicos calculados, usou-se o programa Sigma para


simular as curvas tensão-deformação com o intuito de se comparar as curvas geradas
pelo programa com as curvas do ensaio, que originou os próprios parâmetros
hiperbólicos. O estudo também contemplou análises da proximidade entre o programa e
as curvas reais do solo e processos de calibração e otimização dos parâmetros deste
modelo.

Como o modelo hiperbólico é formado por diversos parâmetros, desenvolveu-se um


estudo de sensibilidade, tendo por finalidade verificar a influência dos parâmetros na
resistência do material através da análise da tensão desvio de ruptura e do módulo de
deformabilidade tangente.

Um estudo de caso foi desenvolvido, dando seqüência ao trabalho de Aires (2006),


dissertação de mestrado do Núcleo de Geotecnia da UFOP. Aires realizou um estudo
tensão deformação da Barragem de Irapé por meio do modelo linear-elástico, seguindo
rigorosamente o processo construtivo da barragem.

Os modelos linear-elástico e elasto-plástico também foram usados no estudo da


barragem de Irapé, no entanto, foi adotada uma rotina especial, que possibilitou criar
uma função para a variação do módulo de deformabilidade com a tensão vertical.

Alguns instrumentos de auscultação da barragem de Irapé foram selecionados para


avaliar os resultados da simulação numérica desenvolvida pelo programa Sigma. Assim,
foi possível avaliar o comportamento da modelagem das tensões totais horizontais e

2
verticais desenvolvidas no maciço do núcleo da barragem e dos recalques sofridos
durante a execução dos alteamentos.

1.2 Estruturação da Dissertação

O Capítulo 2 apresenta uma revisão bibliográfica sobre história das barragens, barragens
de enrocamento, características dessas barragens e instrumentação. O capítulo também
relata estudos tensão deformação desenvolvidos por outros autores.

No Capítulo 3 faz-se a descrição da metodologia de Duncan e Chang para o modelo


hiperbólico e a metodologia do modelo elasto-plástico. Adicionalmente, são
introduzidos preceitos básicos da modelagem numérica e do programa a ser usado com
exemplos de trabalhos desenvolvidos.

No Capítulo 4 uma série de simulações de curvas tensões-deformações foram realizadas


com o apoio do programa Sigma. As simulações do programa comparadas com as
curvas dos ensaios triaxiais. Neste capítulo tem-se ainda uma análise de sensibilidade
dos parâmetros que definem o modelo hiperbólico.

No Capítulo 5 apresenta-se um estudo de caso relacionado ao período construtivo da


barragem de Irapé. Com base nas leituras de instrumentos estratégicos, foi possível
avaliar o desempenho da modelagem em relação às condições observadas em campo.

Finalmente, no Capítulo 6, encontram-se as conclusões retiradas do trabalho.

3
Capítulo 2

Barragens de Terra e Enrocamento

2.1 Introdução

Neste capítulo será exposto um pouco da história das barragens, o conceito de barragens
de terra e enrocamento com algumas características, estudos tensões-deformações
realizados anteriormente e os principais instrumentos de auscultação instalados nesses
tipos de barragens.

2.2 História e evolução das barragens

As barragens de terra são construções de longa data. Um dos registros mais antigos é o
de uma barragem construída no Egito de 12m de altura há aproximadamente 6800 anos
que rompeu por transbordamento.

Conforme Massad (2003) relata as barragens de terra eram “homogêneas”, com o


material transportado manualmente e compactado por pisoteamento, por animais ou
homens. Em 1820, consta que Telford introduziu o uso de núcleos de argila para
garantir a estanqueidade das barragens. Já o uso de enrocamento na construção de
barragens iniciou-se, provavelmente, com os mineiros da Califórnia, numa barragem em
Serra Nevada construída no Século XIX, na década de 50. Era o período de mineração
do ouro. Naquela região havia rocha em abundância, carência de material terroso e os
mineradores estavam habituados ao uso de explosivos. A associação destes e de outros
fatores viabilizou a construção da primeira barragem de enrocamento.

Os blocos de rocha eram simplesmente empilhados, sem nenhuma compactação. Em


conseqüência deste procedimento, muitas barragens sofreram recalques bruscos, após o

4
seu primeiro enchimento. Estes recalques eram associados à quebra da rocha nos pontos
de contato devido à perda de resistência proporcionada pela saturação ou
umedecimento.

Com o advento de ensaios com amostras de grandes dimensões, já na década de 60, foi
possível estudar mais profundamente o comportamento mecânico dos enrocamentos.
Nesse período, foi introduzida a técnica de compactação com vibração e molhagem,
obtendo-se um entrosamento maior entre as rochas.

Segundo Vargas (1977), as primeiras barragens de terra brasileiras foram construídas no


Nordeste, no início do Século XX, dentro do plano de obras de combate à seca, e foram
projetadas tendo como base o empirismo. A barragem de Curema, erguida na Paraíba
em 1938, contava com os novos conhecimentos da Mecânica dos Solos. Mas somente
em 1947, com a barragem do Vigário, atual Barragem Terzaghi, localizada no estado do
Rio de Janeiro é que se inaugurou o uso da moderna técnica de projeto e construção de
barragens de terra no Brasil. Foi também um marco, pois pela primeira vez Terzaghi
empregou o filtro vertical ou chaminé como elemento de drenagem interna de barragens
de terra.

2.3 Barragens de aterro

Conforme a Comissão Internacional de Grandes Barragens (CIGB), uma barragem de


aterro é qualquer barragem construída de materiais escavados colocados sem mistura de
outros materiais artificiais, usualmente, obtidos no local da barragem ou nas suas
proximidades. O sistema de construção destas barragens consiste na compactação dos
materiais dispostos em camadas de espessura variável com equipamentos específicos.
As barragens de aterro comportam-se de maneira razoável em praticamente todos os
tipos de fundação, uma vez que os esforços transmitidos à fundação por unidade de área
são menores que nas barragens de betão, e os assentamentos verificados durante e após
a construção não são significativos para comprometer a estabilidade da barragem,
devido à fácil adaptabilidade do material do aterro.

5
De acordo com o tipo de material utilizado no corpo da barragem, as barragens de aterro
podem ser subdivididas em:

1- Barragens de terra (homogêneas ou zonadas),


2- Barragens de enrocamento,
3- Barragens mistas de aterro (terra e enrocamento).

2.4 Barragens zonadas de enrocamento e terra

Construir barragens de enrocamento torna-se uma iniciativa atrativa em locais onde a


quantidade de solos finos, apropriados para maciços impermeáveis, é insuficiente. E a
existência de grandes volumes de escavações obrigatórias em rocha, juntamente com a
necessidade de se garantir a conclusão da obra dentro de um cronograma que independa
das condições de clima e precipitação também são motivos para a escolha deste tipo de
barragem.

As barragens de enrocamento são constituídas por enrocamentos lançados ou


compactados em camadas e dotadas de um elemento de vedação interno ou externo.

A compactação dos enrocamentos foi sugerida por Terzaghi (1960), após o seu estudo
sobre a compressibilidade dos enrocamentos lançados. Nesse trabalho o autor relaciona
a alta compressibilidade dos enrocamentos lançados à segregação formada na pilha após
o lançamento. Atualmente, a técnica construtiva consiste na compactação dos
enrocamentos com rolos vibratórios pesados, de 9 a 15 toneladas de peso estático,
conforme mencionado por Bordeaux (1980). Cooke (1984) menciona que o
enrocamento compactado apresenta, em geral, compressibilidade dez vezes menor que o
enrocamento lançado.
Na primeira metade do Século XX, várias barragens foram construídas com
enrocamento, sendo que algumas apresentaram desempenho insatisfatório conforme
Massad (2003). Isto foi devido à ocorrência de vazões excessivas e de grandes

6
deformações após o período de construção. Suspeitava-se que os problemas eram
relacionados ao período de enchimento do reservatório, quando ocorria uma espécie de
lubrificação do contato entre blocos de rocha, e conseqüente redução de atrito. Terzaghi
(1960) provou que a molhagem não influenciava a redução do ângulo de atrito, mas
podia provocar perda de resistência dos blocos da rocha, ocasionando quebra dos grãos.

A partir desta descoberta, Terzaghi sugeriu a molhagem inicial dos maciços de


enrocamento. Este procedimento acentuou o esmagamento dos grãos, devido ao
enfraquecimento dos contatos dos blocos, diminuindo os recalques subseqüentes. O
efeito da água depende, sobretudo, da mineralogia e do estado de alteração do material.
Assim, com esses estudos ficou comprovado que a molhagem aumenta a compressão do
maciço de enrocamento.

Segundo Cruz (1996), outra característica a ser observada é o comportamento das


barragens de enrocamento durante o enchimento. No decorrer desta fase, verifica-se um
aumento da compressibilidade do enrocamento, principalmente quando o mesmo é
constituído por rochas que perdem uma parcela de sua resistência com a saturação.
Assim, observam-se recalques importantes durante o enchimento, principalmente no
caso de barragens muito altas, onde o estado de tensões é bastante elevado. Cruz (1996)
aconselha molhar o enrocamento durante a construção para antecipar recalques por
colapso por ocasião do enchimento do reservatório.

2.4.1 Enrocamento

De acordo com Marsal (1973), enrocamentos são materiais que, quando submetidos a
uma variação de tensões sofrem transformações estruturais devidas a deslocamentos,
rotações, e quebra das partículas. Para qualificar e quantificar estas variações e a sua
influência nas características de deformação e resistência é necessário estudar a
distribuição das forças de contato e os fundamentos da quebra de partículas.

7
É importante ressaltar que a permeabilidade de uma camada de enrocamento
compactado não deve ser inferior a 10-5m/s, de forma a garantir o não desenvolvimento
de excessos de poropressões (Albuquerque Junior, 1993).

A deformabilidade dos enrocamentos varia com o nível de tensões aplicadas, com o tipo
de rocha, distribuição granulométrica e forma dos blocos. Albuquerque Júnior (1993),
com base em Materon (1983), relaciona uma série de fatores que interferem direta ou
indiretamente na compressibilidade de enrocamentos, tais como:
• Granulometria: enrocamento com granulometria uniforme aumenta a
compressibilidade; enrocamento com diâmetros maiores sofrem maiores
fraturamentos;
• Índice de vazios: enrocamento com alta densidade diminui a compressibilidade;
• Forma: enrocamentos angulares sofrem maior fraturamento;
• Água: a molhagem do enrocamento, depois do enchimento do reservatório,causa
menor compressibilidade;
• Resistência: enrocamentos mais resistentes sofrem menor número de fraturas o
que resulta numa menor compressibilidade;
• Grau de alteração: enrocamentos intemperizados (alterados) sofrem maiores
fraturamentos;
• Mineralogia: o mineral que compõe o enrocamento afeta o coeficiente de atrito.

2.4.2 Seções transversais típicas das barragens de enrocamento

As barragens de enrocamento precisam de um elemento de vedação, pois a


permeabilidade do enrocamento é muita elevada. O elemento de vedação define o tipo
de barragem, conforme a classificação a seguir:
• Barragens de enrocamento com vedação a montante (BEVM);
• Barragem de enrocamento com vedação central (BEVC).

8
Barragens de enrocamento com vedação a montante (BEVM)

Caracterizada por um aterro constituído exclusivamente de enrocamento, onde o


elemento impermeável situa-se na superfície do paramento de montante, conforme
Figura 2.1. O elemento vedante pode ser constituído de concreto, aço, material sintético,
madeira ou betume.

NA

Face
de Enrocamento
Montante

Figura 2.1 - Seção transversal esquemática de BEVM.

Dentre as BEVM, a seção típica mais conhecida desta classificação é a barragem de


enrocamento com face de concreto (BEFC). Segundo Cruz (1996), a solução mais
promissora para as BEFC é a que apresenta enrocamento compactado com uma face
“delgada” de placas de concreto armado, com juntas somente no sentido longitudinal (as
juntas horizontais são apenas de caráter construtivo quando existem), apoiadas sobre
uma face compactada de material granular “fino” (cascalho), por vezes tratado com
emulsão asfáltica. Para as BEFC, em geral, o enrocamento é compactado em camadas
de menor espessura no lado de montante do que no lado de jusante.

9
Barragem de enrocamento com vedação central (BEVC)

O elemento de vedação das barragens de enrocamento com vedação central é interno.


Este elemento, geralmente, é de solo argiloso compactado. Também, podendo ser de
aço, concreto ou betume, conforme ilustrado na Figura 2.2.

NA Vedação
Central

Enrocamento

Figura 2.2 - Seção transversal esquemática de BEVC.

Então a seção clássica que caracteriza esta técnica construtiva é a barragem de


enrocamento com núcleo argiloso (BENA). Barragens deste tipo são construídas em
locais onde as escavações fornecem grandes volumes de rocha e apresentam áreas de
empréstimo de solo com presença de material argiloso, com volume suficiente para a
construção de um núcleo impermeável, geralmente delgado.

Segundo Bordeaux (1980), os materiais utilizados no núcleo de uma BEVC devem


apresentar as seguintes características:
- Baixa permeabilidade, para garantir pequenas vazões;
- Boa resistência contra a erosão, para evitar o carreamento de finos;
- Alta deformabilidade, para aceitar as deformações previstas sem fissurar;
- Boa resistência ao cisalhamento.

10
Este tipo de barragem é a mais estável dentre as barragens de terra e terra-enrocamento,
não havendo registro de ruptura envolvendo seus taludes, afirmativa feita por Massad
(2003). O material do enrocamento apresenta elevado ângulo de atrito, garantindo a
estabilidade dos taludes de montante e jusante, mesmo quando são íngremes (inclinação
de 1:1,6 até 1:2,2). O núcleo argiloso imprime a estanqueidade à barragem, permitindo
o represamento de água (formação do lago).

O núcleo dessas barragens pode ser vertical ou inclinado para montante. Segundo
Massad (2003), quando a argila e o enrocamento apresentam compressibilidades
comparáveis entre si, o núcleo vertical tem a vantagem de exercer uma pressão maior
nas fundações, além de ser mais largo na sua base, o que é benéfico em termos de
controle de perdas d’água. No entanto, se a argila for mais compressível que o
enrocamento, pode ocorrer o fenômeno de arqueamento. Nessas condições, a argila
tende a recalcar mais, sendo impedida pelos espaldares, mais rígidos. Em outras
palavras, parte do peso da argila passa a ser suportado pelo enrocamento (arqueamento),
podendo surgir trincas no núcleo na direção do fluxo de água. A vantagem de se inclinar
o núcleo é que não há como se transferir parte de seu peso para os espaldares. Outra
vantagem é que se pode levantar grande parte do enrocamento de jusante, ganhando-se
tempo, enquanto se procede ao tratamento das fundações (injeções na base do núcleo).

Para determinação das dimensões do núcleo de uma BEVC, devem ser considerados os
seguintes fatores:
- Permeabilidade do material utilizado;
- Vazões de percolação admissíveis;
- Gradientes hidráulicos permissíveis, principalmente no contato do núcleo com a
fundação;
- Estabilidade contra a erosão interna (quando há risco de fissuramento);
- Disponibilidade de materiais para núcleo;
- Custo relativo de enrocamentos e solos argilosos;
- Importância e velocidade do rebaixamento rápido do reservatório.

11
Conforme Bordeaux (1980), a largura mínima do núcleo deve ser 3,0m junto à crista da
barragem, tendo em vista os aspectos construtivos de lançamento e compactação dos
materiais. Na base do maciço, a largura mínima do núcleo é, em geral, superior a 0,25
vezes a carga hidráulica.

2.5 Estudos tensões deformações em barragens de enrocamento com


núcleo argiloso

2.5.1 Introdução

Uma vez, que estudos de estabilidade comprovem satisfatoriamente que um solo não
romperá, deve-se estimar o grau de deformação que se produzirá ao aplicar cargas e se
essa deformação é admissível. Por isso é importante obter a relação tensão-deformação
de um solo.

Os solos que compõem o maciço compactado de uma barragem, os enrocamentos e os


materiais de fundação sofrem deformações em função das tensões aplicadas seguindo
leis próprias e particulares. E para explicar esse comportamento faz-se uso aproximado
das teorias da elasticidade e plasticidade e aos modelos reológicos. Mas por se tratarem
de aproximações nem sempre conduzem a previsões muito próximas das deformações
que ocorrem no modelo real.

A mobilização da resistência, a possível geração de pressões neutras, a ocorrência de


trincas e a potencialidade à formação de planos causadores de ruptura hidráulica
dependem fundamentalmente das variações volumétricas que ocorrem e, portanto, o
interesse de definir deslocamentos admissíveis é muito mais abrangente do que os
convencionais cálculos de estabilidade por equilíbrio limite. Assim, os estudos de
tensões e deformações são importantes.

12
2.5.2 Módulos de Deformabilidade

Segundo Lambe e Whitman (1970) o módulo de deformabilidade não é uma constante


de um solo, pois descreve aproximadamente o comportamento de um solo para uma
combinação particular de tensões. Para outra série de tensões se aplica valor diferente de
tal grandeza.

Ao falar de módulo de deformabilidade deve-se definir o que se entende por tal. Os


termos módulo tangente e módulo secante são usados freqüentemente. O módulo
tangente é a inclinação de uma reta traçada tangente a curva tensão-deformação em um
ponto particular (ver Figura 2.3), que varia de acordo com o ponto escolhido. O módulo
tangente na origem da curva é chamado de módulo tangente inicial. O módulo secante é
a inclinação de uma reta que une dois pontos diferentes da curva. O módulo secante
varia de acordo com a localização dos pontos escolhidos. Quando ambos os pontos
coincidem o módulo secante será igual ao módulo tangente.

σ 1


Módulo
Tangente Δσ
Δε
1 Módulo
Secante

ε
Figura 2.3 – Determinação dos módulos tangente e secante.

Os parâmetros de compressibilidade dos solos são obtidos a partir de ensaios de


laboratório, a Tabela 2.1 mostra os principais ensaios e os módulos de deformabilidade
obtidos em cada ensaio, segundo Cruz (1996).

13
Tabela 2.1 - Módulos de deformabilidade obtidos a partir de ensaios laboratoriais
Módulo de
Tipo de Ensaio Variação Volumétrica
Deformabilidade
σZ ΔV σ
Compressão Uniaxial E = = Z (1 − 2 μ )
εZ V E

σZ ΔV 3σ 0
Compressão Isotrópica E = = (1 − 2 μ )
3ε X V E

Compressão Confinada σZ ΔV
=
σ [(1 + μ )(1 − 2 μ )]
E = Z

Oedométrica εZ V E (1 − μ )

σ1 −σ
Compressão Triaxial E =
εZ
3 ΔV
V
=
1
E
[(1 − 2 μ )(σ x +σ y +σ z )]

Uma das primeiras e bem sucedidas medições de tensões, diretamente no interior do


filtro vertical de uma barragem de terra, foi realizada pela Cesp na barragem de
Taquaruçu, conforme reportado por Nakao e Abreu (1986). A barragem foi
instrumentada com células de pressão total instaladas no filtro vertical e no aterro
compactado. A Tabela 2.2 apresenta um resumo dos módulos de deformabilidade
obtidos de ensaios de compressão triaxial do tipo não adensado e não drenado e ensaios
“in situ” conforme reportado por Pires et al (1990) para o maciço da barragem de
Taquaruçu.

14
Tabela 2.2 - Módulos de deformabilidade de aterros compactados.
Módulo de Grau de compactação
Tipo de solo Ensaio/referência deformabilidade (GC) ou Compacidade
(MPa) relativa (CR)
Solo arenoso Ensaio UU 70 a 90 99+-1,5%
Solo arenoso “in situ” 70 99+-1,5%
Solo argiloso Ensaio UU 50 a 60 100+-1,6%
Solo argiloso “in situ” 56 100+-1,6%
Solo argiloso “in situ” 20 100+-1,6%
Solo argiloso “in situ” 79 100+-1,6%
Solo argiloso “in situ” 52 100+-1,6%
Filtro - areia “in situ” 154 CR=75%

A tabela 2.3 reporta valores para módulos de deformabilidade para três diferentes
materiais, são eles:
1) quartzito compactado na Barragem de Akosombo (Nigéria);
2) solo residual de basalto compactado na Barragem de Itaúba (Brasil);
3) solo artificial estruturado (quartzo + caulinita) ensaiado por Maccarini (1987).

15
Tabela 2.3 - Valores para módulo de deformabilidade tangente (Adaptado de Cruz,
1996).
Δσv
1,5 2,5 3,5 4,5 5,5 6,5 7,5 8,5 9,5
(kg/cm²)
Et
Material
(kg/cm²)
Enrocamento
2000 1000 833 263 333 250 250 500 333
Akosombo
Solo
Compactado 1000 400 333 333 250 222 285 180 660
Itaúba
Solo Artificial
1000* 400 285 666 400 1000 660 - -
Estruturado

Geralmente, no núcleo da barragem as tensões verticais estão aliviadas e a concentração


de tensões nas zonas de transição é marcante (Maranha das Neves, 1991).

Parra (1985) relata sobre o comportamento da barragem de Emborcação que os


recalques diferenciais entre o núcleo e os materiais de transição e espaldares implicaram
a ruptura das tubulações dos medidores de recalque pneumáticos e piezômetros.

As células de pressão total instaladas na transição de jusante da barragem de


Emborcação apresentaram um desenvolvimento de pressão vertical superior ao valor
fornecido de γH, ao passo que as células instaladas no núcleo apresentaram valores da
tensão vertical inferiores a γH, conforme se pode observar na Figura 2.4. Esses valores
mostram a transferência de carga do núcleo para as transições, como conseqüência da
maior deformabilidade do núcleo, conforme se pode depreender dos módulos
apresentados na Tabela 2.4, calculados a partir das deformações medidas com as células
de recalque.

16
Esquema da localização
das CPT’s 6B

8B 4B

Figura 2.4 – Tensão vertical medida versus σ = γH, (Parra, 1985).

Tabela 2.4 – Módulos de deformabilidade dos materiais da barragem de Emborcação.


Material Módulo de deformabilidade (MPa)
Enrocamento em camadas de 0,6m 50
Enrocamento em camadas de 0,9m 40
Enrocamento em camadas de 1,2m 22
Núcleo 40
Transições e filtro 80-120

17
2.5.3 Recalques

À medida que se constrói uma barragem de terra e enrocamento os recalques vão se


desenvolvendo, recalque da fundação, recalque do maciço e recalques diferenciais entre
as seções transversais da barragem. Tais recalques podem ocasionar problemas, assim
devem ser previstos na fase de projeto e minimizados de acordo com a característica do
aterro e dos procedimentos construtivos para que seus efeitos não comprometam o
comportamento da barragem e nem sua segurança.

Os recalques da fundação e do aterro compactado terão seu reflexo na sobreelevação da


crista da barragem, enquanto que os recalques diferenciais poderão implicar trincas pelo
corpo da barragem. Em vales estreitos trincas poderão se desenvolver devido à
tendência do núcleo arquear entre as duas paredes do cânion de acordo com Silveira
(2006).

Assim, as medições de recalque em barragens de terra e enrocamento devem ser


incluídas no plano de instrumentação, com enfoque no período construtivo para
supervisionar as condições de segurança. Nesse intuito é reportado na Tabela 2.5 dados
de Silveira (1983) de recalques medidos e previstos nas fundações de barragens de terra
e enrocamento em solos tropicais e saprolíticos durante a construção.

18
Tabela 2.5 - Recalques observados e previstos em barragens (adaptado de Silveira,
1983).
Índices
Compactação Recalque (cm) Recalque
Tipo de Solo Físicos
durante a
Barragem (origem Previsto
LL IP γsmáx hót Obser- construção
geológica) (*)
(%) (%) (g/cm³) (%) vado (%)
ML BI
61 95 105 95
Coluvionar
Ilha 50 77 165 95
(basaltos e 44 17 1,68 21
Solteira 33 58 71 100
arenitos)
28 33 51 98
5,5 73
Água Coluvionar
42 13 1,76 18 6,6 - - 73
Vermelha (basaltos)
49,0 83
Coluvionar e
Volta
residuais 50 20 - - 26 - - 85
Grande
(basaltos)
Coluvionar 55 28 1,63 24 190 81
Itumbiara - -
(basaltos) 58 28 1,59 27 127 93
Coluvionar 26
Xavantes 53 1,61 24 42 - - 71
(basaltos)
Euclides Residuais 1,47-
39 8 11-28 93 - - 92
da Cunha (gnaisse) 1,91
Coluvionar
Jacareí 67 32 1,47 27,6 40 - 86 96
(gnaisse)
Coluvionar e 80 98
Paraibuna 47 NP 1,65 17,5 93
residual (biotita) 55 60
Coluvionar e 35 105
Paraitinga residual (biotita- 70 33 1,53 27,5 100 128 94
gnaisse) 132 75

19
(*) - Previsão realizada com amostras moldadas em laboratório (ML) e com amostras de
blocos indeformados (BI).

A partir da Tabela 2.5 podem-se fazer alguns comentários. Na maioria dos casos os
recalques previstos foram maiores que os observados e grande parte dos deslocamentos
verticais acontece durante a construção, assim mais de 80% (oitenta) dos recalques
acontecem antes do início da operação da barragem. Exceto as barragens de Água
Vermelha e Xavantes que apresentaram mínimo de 73% e 71% de recalque,
respectivamente.

De acordo com a literatura sabe-se que o máximo deslocamento ocorre próximo à meia
altura da barragem, devido a uma combinação favorável entre a camada subjacente e a
pressão devida ao aterro sobrejacente. As camadas inferiores são de menor espessura e
recalcam menos embora sujeitas a elevadas pressões verticais. Já no trecho superior as
pressões são pequenas, apesar da grande espessura acumulada, e os recalques são
também menores.

A Tabela 2.6 apresenta dados de recalque e de módulo de deformabilidade de solos,


obtidos de medidas de diversas barragens. Para cada caso e para várias pressões são
apresentadas três grandezas*:
ΔH
1- Recalque percentual relativo a altura de camada %;
H

⎛ ΔH 1 ⎞ ⎛ cm / m ⎞
2- Recalque Específico ⎜ * ⎟ ⎜⎜ ⎟⎟ ;
⎝ H Δσ ⎠ ⎝ kg / cm
2

3- Módulo de deformabilidade - E (kg/cm²).

20
Tabela 2.6 - Dados de recalque e módulo de deformabilidade (Cruz 1996).
Pressão Vertical (kg/cm²)
Barragem Material Grandeza 1 2 4 6 10
Solo Residual de 1 0 0,08 0,40 0,80 2,00
Capivara
basalto compactado 2 0 0,04 0,10 0,13 0,20
H = 60m
Δh(*) < 0 “seco” 3 - 2500 1000 500 200
Solo Residual de 1 0 0,38 0,90 1,30 2,10
Capivara
basalto compactado 2 0 0,19 0,225 0,21 0,21
H = 60m
úmido Δh(*) > 0 3 - 526 444 461 461
Salto Solo Residual de 1 0 0,20 1,20 1,60
Osório basalto compactado 2 0 0,10 0,30 0,266 -
H = 65 m úmido Δh(*) > 0 3 - 1000 333 375
-
Solo Residual de 1 - 1,80 2,0-4,0
Paço Real
basalto compactado 2 - - 0,30 0,20-0,40
H = 58 m
úmido Δh(*) > 0 3 - 333 500-250

Pedra do 1 0,05 0,20 0,70 1,60 -


Cavalo Solo compactado 2 0,05 0,10 0,175 0,266 -
H = 140 m 3 2000 1000 571 375 -
(*) – Δh: variação de umidade

Esse acervo de dados “de campo” resumido na Tabela 2.6 permite uma previsão
preliminar dos recalques verticais esperados em barragens de terra, ou em núcleos de
barragens de enrocamento. E segundo Cruz (1996) os recalques de fundações de
barragens calculados pela clássica teoria do adensamento são muito superiores (de duas
a seis vezes maiores) aos recalques efetivamente observados nas barragens (por
exemplo, Ilha Solteira e Itumbiara). Dessa forma só devem ser considerados como
indicativos de tendências de deslocamento. Concluindo que cálculos por métodos
numéricos podem ser mais precisos, dependendo dos parâmetros de entrada e da
qualidade da informação disponível.

21
2.6 Instrumentações de barragens

2.6.1 Introdução

De acordo com o boletim 99 ICOLD (1995) a porcentagem de ruptura de grandes


barragens é de 2,2% para barragens construídas antes de 1950 e de cerca de 0,5% para
as construídas após esta data. A maior parte das rupturas, cerca de 70%, ocorreu com
barragens nos seus primeiros dez anos de operação e, mais especialmente, no primeiro
ano após o comissionamento.

Em barragens de terra e de enrocamento a causa mais comum de ruptura é o galgamento


(overtopping), 31% como causa principal e 18% como causa secundária, seguida por
erosão interna do corpo da barragem (piping), 15%, e erosão interna da fundação
(piping), 12%.

Então, sabendo da probabilidade de ruptura de uma barragem e do alto impacto que este
evento teria a jusante, a questão é como reduzir este risco. Considere-se que a segurança
das barragens está apoiada em três pilares principais: segurança estrutural,
monitoramento e manutenção.

O monitoramento das barragens é composto pela análise dos dados obtidos pela
instrumentação e por inspeções rotineiras das obras civis que compõem a barragem.

2.6.2 Objetivos da instrumentação de barragens

Cruz (1996) descreve os principais objetivos da instrumentação de barragens:


1) Verificar as hipóteses, os critérios e os parâmetros adotados em projeto de modo
a permitir o aprimoramento do projeto da própria obra em estudo, ou de futuras
barragens, visando às condições mais econômicas e/ou mais seguras;
2) Verificar a adequação de métodos construtivos;

22
3) Verificar as condições de segurança das obras, de modo a serem adotadas
medidas corretivas em tempo hábil e preventivas.

Os dados da instrumentação são acompanhados e analisados para verificar se o


comportamento real da obra está consistente com o modelo teórico concebido em
projeto. As instrumentações monitoram medições de deslocamento, pressão, percolação
e drenagem junto com fatores ambientais que afetam o comportamento da obra como
temperatura, nível do reservatório e precipitação.

Previsões do desempenho futuro são as diferentes formas de tratamento dos dados de


instrumentação, executando-se previsões que podem confirmar condições normais de
operação ou indicar riscos potenciais para a barragem.

Os dados gerados durante o período de construção são geralmente analisados através de


métodos determinísticos (valores específicos e únicos para os parâmetros), analíticos ou
numéricos. Um modelo matemático da barragem é escolhido para análise. Este modelo
deve considerar relações constitutivas dos diferentes materiais, geometria do problema,
condições iniciais, condições de contorno, etc. O grau de precisão das estimativas
dependerá da qualidade dos dados disponíveis e da complexidade do modelo utilizado,
variando desde simples formulações empíricas a sofisticadas simulações numéricas.

2.6.3 Instrumentação de barragens de enrocamento

Cooke (1984) enfatiza que os projetos de barragens de enrocamento devem ser sempre
fundamentados em experiências anteriores e na observação de obras já construídas e em
operação. Isto significa que um dos tópicos mais importantes, no que se refere a
barragens de enrocamento, diz respeito à instrumentação adequada da mesma.

A análise do comportamento de barragens de enrocamento em operação, com base na


instrumentação, torna-se fundamental para um conhecimento mais abrangente deste

23
material, uma vez que a simulação em laboratório das solicitações de campo em corpos
de prova de grandes dimensões é extremamente difícil de ser realizada.

Nas Barragens de Enrocamento com Núcleo Argiloso (BENA) é recomendável a


instalação de medidores de deslocamento, tanto no núcleo quanto nas abas de
enrocamento e de medidores de poropressão (piezômetros) em pontos do núcleo e da
fundação. Além destes, deve-se também instalar as células de tensão total e os
medidores de vazão (Oliveira e Sayão, 2004).

2.6.4 Principais instrumentos para monitoramento de barragens

Nesta seção serão descritos os principais instrumentos utilizados para o monitoramento


de barragens de terra e enrocamento.

Marco de deslocamento superficial

É o instrumento utilizado para medir os deslocamentos tanto horizontais como verticais


superficiais do maciço de terra, Figura 2.5. As medições neste instrumento devem ser
iniciadas durante o período construtivo e prosseguir durante os períodos de enchimento
do reservatório e também de operação.

Estações topográficas devem ser instaladas na região das ombreiras, de modo que se
disponha de pontos fixos, em locais considerados indeslocáveis para se obter a medida
dos deslocamentos. Podendo ser fixadas sobre afloramento rochoso, ou com sua base
em rocha, constituem referenciais ideais, não contribuindo com erros na medição do
recalque da barragem.

Sendo as estações constituídas, essencialmente, por pilares de concreto armado. Assim,


a obtenção das medidas dos deslocamentos se dá por meio dos métodos das colimações
topográficas e triangulações topográficas.

24
A instalação de marcos superficiais em barragens de enrocamento deve assegurar que o
marco fique devidamente imbricado no enrocamento, e não colocado sobre um bloco
superficial, onde os deslocamentos medidos refletiriam o deslocamento isolado desse
bloco de rocha, e não do enrocamento como um todo.

De acordo com Silveira (2006), o marco de deslocamento superficial é importante não


apenas para o acompanhamento dos recalques da barragem, mas também, para a
constatação de indícios de instabilidade do talude de jusante. O marco superficial
apresenta como desvantagem o fato de não permitir a observação dos recalques do
talude de montante, após a fase de enchimento do reservatório.

Figura 2.5 – Marco de deslocamento superficial instalado na crista da barragem.

Medidores de vazão

São instrumentos utilizados para medir a vazão percolada através do maciço de terra-
enrocamento e suas fundações. Sendo a medição das vazões de drenagem um dos
parâmetros mais importantes a serem supervisionados no controle das condições de
segurança das barragens.

25
Sua instalação pode ser feita em drenos de fundação, em canaletas de galerias de
drenagem, e em barramentos construídos para esta finalidade. Cruz (1996) apresenta
três tipos de medidores de vazão: vertedores triangulares e retangulares e vertedores
Parshall. Tais medidores podem ser vistos nas Figuras 2.6 e 2.7.

Figura 2.6 - Calha Parshal.

Figura 2.7 - Vertedor triangular.

De acordo com o boletim 109 do ICOLD, publicado em 1998, e intitulado “Barragens


com menos de 30m de altura” analisam-se as causas e conseqüências da ruptura de
barragens de terra e enrocamento, destacando-se que 90% das rupturas são causadas por
erosão interna (piping) e por cheias excepcionais, às quais são condicionadas às
características da barragem, ao período e ao local de construção.

26
A grande incidência de barragens de terra ou enrocamento rompidas por erosão interna
enfatiza a importância da medição das vazões de drenagem nessas barragens durante a
fase do primeiro enchimento do reservatório e durante todo o período operacional.
Desde que seja possível detectar este mecanismo de ruptura em uma fase ainda inicial, é
geralmente possível se proceder ao rebaixamento parcial do reservatório, assim como
realizar as investigações e implementar as medidas corretivas necessárias, relata Silveira
(2006).

Células de pressão

As células de pressão para solo, geralmente designadas de células de pressão total, são
inseridas no interior do aterro durante a construção da barragem para indicar o nível das
tensões atuantes no núcleo, conhecer-se a distribuição de tensões entre os diferentes
materiais e zonas da barragem, medir as tensões na interface do aterro com os muros de
concreto e as tensões na interface com as galerias enterradas, entre outras funções. A
Figura 2.8 apresenta um modelo de célula de pressão total da Geokon modelo 4800.

Figura 2.8 – Célula de pressão total.

Nos aterros de barragens, as células de pressão total são particularmente úteis para a
medição das tensões em zonas da barragem onde tende a ocorrer certo alívio nas tensões
verticais, em decorrência do processo de arqueamento do solo argiloso no interior de
desfiladeiros (cânions) com taludes subverticais, de trincheiras impermeáveis (cut-offs)
profundas em rocha, no núcleo vertical de barragens de enrocamento, na interface do
aterro com as estruturas de concreto, nos braços de uma barragem.

27
Nestes, casos a tensão vertical efetiva no solo pode diminuir para valores baixos,
favorecendo a ocorrência da erosão interna pelo aterro, ameaçando a segurança da
barragem o que, por si só vem ressaltar a importância da medição das pressões totais e
efetivas no interior de certas zonas.

A medição apenas da pressão total no aterro de uma barragem corresponde a uma


informação incompleta, visto que, se a pressão neutra não for também conhecida, nada
poderá ser concluído sobre as reais condições de segurança da barragem em termos da
possibilidade de ocorrência de um eventual processo de erosão interna.

A ocorrência da erosão interna está inversamente ligada à intensidade da pressão


efetiva, ou seja, quanto menor a pressão efetiva, maior será a possibilidade de sua
ocorrência.

Usualmente as células de pressão total são instaladas na posição horizontal para


medição das tensões verticais nas bases das barragens de terra ou enrocamento, onde as
tensões verticais atingem seus valores máximos. É recomendável para regiões da
barragem susceptíveis ao processo do arqueamento, como nos núcleos das barragens de
enrocamento.

Visto que, as células de pressão medem a pressão total, ou seja, a somatória da pressão
resultante da atuação das partículas sólidas (pressão efetiva), com a pressão intersticial
da água (pressão neutra). Assim, é necessária a instalação de células de pressão e
piezômetros próximos uns dos outros, para que seja possível a determinação da pressão
efetiva no local instrumentado.

A instalação das células de pressão total no interior de um aterro acarreta interferência


no campo das tensões aplicadas, o que exige cuidados especiais ao se proceder à
seleção, calibração e instalação desses instrumentos. As leituras das células de pressão
devem ser transformadas em unidades de tensão, por meio das curvas de calibração
realizadas em laboratório. E podem ser representadas em gráficos que indiquem as
tensões medidas em função do tempo, com o nível de subida do aterro sobre a célula e o

28
nível de subida do reservatório, conforme ilustrado pela Figura 2.9 que apresenta as
tensões durante a construção da barragem de Água Vermelha.
Altura do aterro (m)

Tensão lida

Tempo (meses)

Figura 2.9 – Pressões medidas no tempo, com a elevação do aterro no abraço esquerdo
da barragem de Água Vermelha (Silveira 2006).

A Figura 2.10 expõe uma comparação entre as tensões efetiva medidas e calculadas para
as células instaladas na base do núcleo da barragem de Svartevann, ao longo de um
período de oito anos. As tensões efetivas teóricas foram obtidas por meio de um modelo
matemático baseado no MEF. A barragem de Svartevann possui 129m de altura máxima
e foi construída na década de 70 na Noruega com sessenta células de pressão total para a
observação do nível de tensão no núcleo e nas transições.

29
Figura 2.10 – Tensões efetivas versus tempo na elevação 780m da barragem de
Svartevann (DiBiagio e Myrvoll, 1982).

As curvas de isopressão são outra forma de se representar a distribuição das tensões


verticais sofridas por uma barragem. A figura 2.11 é um exemplo disso, pois mostra as
curvas de isopressão para a barragem de emborcação, sendo os resultados de uma
análise elástica linear de tensão deformação baseada no MEF a partir dos módulos
médios de deformabilidade.

30
Figura 2.11 – Curvas de isopressão vertical obtidas teoricamente para a barragem de
Emborcação (Parra, 1985).

Medidores de recalque

a) Medidor de recalque elétrico

Os medidores de recalque elétricos utilizam a alta sensibilidade e precisão dos sensores


de corda vibrante na medição dos recalques na base de um aterro ou no interior de uma
barragem.

A Geokon desenvolveu uma ampla gama destes medidores, tais como o modelo 4600 e
o 4650, cujos princípios de funcionamento serão apresentados. O modelo de série 4600
consiste em um sensor de pressão de corda vibrante ancorado em uma tubulação
cimentada na rocha, ou outro referencial estável no fundo de um furo de sondagem. O
qual é conectado através de uma coluna líquida até um reservatório fixado a uma placa
de recalque na superfície do terreno. À medida que o aterro progride, o reservatório
recalca e a coluna líquida sobre o sensor diminui, sendo medida por um cabo elétrico
que conecta o sensor de corda vibrante à estação de leitura na superfície conforme
ilustrado pela Figura 2.12.

O modelo 4650 foi concebido para a medição remota de recalque em um ponto sob o
aterro possuindo o transdutor de pressão conectado a um prato localizado no aterro da
barragem como confirma a Figura 2.11b. Neste instrumento, o sensor mede a pressão da

31
coluna líquida que atua sobre ele, a partir de um reservatório mantido na cabine de
leitura, onde o nível é conhecido. O sensor é conectado, via sistema de tubulação duplo,
ao reservatório localizado em um referencial fixo ou em uma cabine sobre o talude de
jusante, cujo recalque pode ser medido topograficamente. A pressão do fluido na
tubulação é monitorada pelo transdutor de pressão, fornecendo a diferença de elevação
entre o sensor e o reservatório.

a) Modelo 4600 b) Modelo 4650


Figura 2.12 – Medidores de recalque de corda vibrante da Geokon.

A forma apropriada para se acompanhar os recalques medidos em uma barragem é a


ilustrada na Figura 2.13. O tempo é representado em escala normal versus os recalques
medidos.

32
Figura 2.13 – Representação dos recalques medidos na estaca 68+10 da barragem de
Água Vermelha, da Cesp (Silveira, 1982).

b) Medidor de recalque tipo caixa sueca

Os medidores de recalque tipo caixa sueca, conhecidos como célula hidráulica de


recalque, são instalados geralmente dentro do maciço de terra da barragem para a
medição dos recalques em relação à cabine de leitura, localizada sobre o talude de
jusante.

Seu funcionamento é baseado no princípio dos vasos comunicantes conforme ilustrado


pela Figura 2.14. E constituído por uma caixa de PVC ligada pela base a três tubos. A
tubulação número um tem a função de medir o recalque entre a célula e a cabine; o
segundo tubo permite a drenagem do excesso de água na célula (ladrão) e a terceira
tubulação é para manter a pressão no interior da célula igual à pressão atmosférica.

33
Então o recalque é obtido através da diferença entre o nível do menisco inicial e o
menisco atual no tubo.

Figura 2.14 – Painel de leitura das células hidráulicas de recalque.

c) Medidor de recalque magnético

As placas de recalque magnético são constituídas por uma série de anéis magnéticos
instalados ao longo de uma mesma vertical, no interior do aterro compactado e de uma
tubulação de PVC rígido, que passa através dos vários anéis e serve de guia para uma
sonda de leitura. Esta ao deslocar-se verticalmente ao longo da tubulação, permite a
determinação das cotas dos vários anéis e, assim, a determinação dos recalques da
barargem. Os anéis são confeccionados em aço imantado, com o intuito de gerar
campos magnéticos, cuja localização é determinada por meio da sonda. Este medidor
apresenta como vantagem a simplicidade, confiabilidade e baixo custo.

34
A determinação da cota dos vários anéis magnéticos é realizada por intermédio de uma
trena metálica presa à sonda de leitura ou empregando-se uma escala gravada sobre o
cabo elétrico. A Figura 2.15 apresenta a sonda e trena da Geokon para leitura dos
medidores de recalque magnético e a Figura 2.16 ilustra a execução da leitura do
recalque em um medidor magnético.

Figura 2.15 – Sonda e trena para leitura do medidor de recalque magnético.

Figura 2.16 – Leitura do medidor de recalque magnético.

35
Inclinômetros

Os inclinômetros são utilizados para a medida das deformações laterais do maciço, pois
permitem a obtenção de valores ao longo de várias cotas. Essas medidas juntamente
com as deformações verticais, são vitais para a determinação de zonas de potenciais
trincas e o comportamento geral do maciço da barragem.

Estes instrumentos consistem de um torpedo à prova d’água composto por um pêndulo


interno, o qual é baixado dentro de um tubo guia aproximadamente vertical, medindo os
deslocamentos angulares a intervalos igualmente espaçados e segundo direções
preestabelecidas. A Figura 2.18 mostra um exemplo de inclinômetro com unidade de
leitura e bobina com o cabo elétrico modelo 6000 da Geokon.

O tubo guia deve ser instalado de preferência no topo rochoso, para garantir um
referencial fixo, subindo verticalmente até a superfície do aterro, onde são realizadas as
leituras. Um modelo de tubo guia é exibido pela Figura 2.17.

Comparando-se as leituras com a leitura inicial, obtém-se a variação da inclinação em


cada intervalo de medida. Essas inclinações são convertidas em deslocamentos laterais
através de constantes intrínsecas do aparelho.

Figura 2.17 - Tubo guia para inclinômetro.

36
Figura 2.18 – Inclinômetro modelo 6000 da Geokon.

37
Capítulo 3

Modelagem Numérica

3.1 Introdução

Um modelo numérico é uma representação matemática de um processo físico real. Os


modelos matemáticos ao representar os processos físicos ajudam na compreensão dos
próprios fenômenos físicos e ainda possibilitam a descoberta de novos processos.

Assim, os modelos numéricos têm por objetivo permitir aproximar o comportamento de


um solo real a partir da análise de um meio ideal, simplificado por hipóteses nas
relações constitutivas necessárias para viabilizar o desenvolvimento matemático de sua
formulação segundo o manual do programa Sigma (2007).

Segundo Cooke (1984), o método dos elementos finitos é um método de análise de


modelos matemáticos de problemas físicos em meios contínuos. Essa modelagem
normalmente é feita através de equações diferenciais ou equações integrais com suas
respectivas condições de contorno. Esse método consiste na divisão do domínio de
integração em um número finito de pequenas regiões denominadas de elementos finitos,
transformando o contínuo em discreto. A essa divisão do domínio se dá o nome de
“malha”. Assim, ao invés de se buscar uma função admissível que satisfaça as
condições de contorno para todo o domínio, essas funções devem ser definidas em cada
elemento.

A discretização ou malha é um dos três aspectos fundamentais da modelagem numérica


por elementos finitos. Os outros dois aspectos são as propriedades do material e as
condições de contorno. Então, discretizar envolve definir geometria, distância, área e
volume.

38
3.2 Finalidades da modelagem numérica

Os três principais objetivos que devem ser almejados ao usar a modelagem numérica
são a realização de previsões dos valores de campo quantitativamente, a comparação de
alternativas e o entendimento do processo, entrevendo inclusive a percepção dos
parâmetros mais influentes isso de acordo com o manual Sigma 2007.

A previsão quantitativa é um objetivo primário da maioria dos engenheiros ao usar a


modelagem. Entretanto, é importante observar que a qualidade destas previsões está
intimamente ligada à boa aferição dos parâmetros do modelo, os quais representam as
propriedades dos materiais.

A comparação de alternativas é outro importante objetivo das modelagens numéricas,


pois a facilidade de se programar diferentes configurações de um problema propicia um
entendimento global, bem como das diversas variáveis envolvidas, permitindo inclusive
a adoção de novas soluções.

Segundo Parra (1985), “a análise pode ser dirigida no sentido de estudar, por exemplo, a
posição ideal do núcleo de uma barragem, a inclinação necessária do talude de corte
para conformação da topografia de fundação, local de instalação dos instrumentos,
critério de remoção dos materiais compressíveis,... etc.”.

Outro exemplo deste objetivo é a influência do posicionamento do núcleo de uma


barragem de terra e ou enrocamento no efeito do arqueamento. Como já mencionado, o
arqueamento é um fenômeno originário da mudança entre os módulos de
deformabilidade de materiais adjacentes, geralmente entre o filtro e o núcleo. Ocorrem
deformações diferenciais que causam transferência de cargas, o núcleo tende a inclinar-
se nas interfaces e como conseqüência as pressões são reduzidas no núcleo e
concentradas nas interfaces e espaldares. No estudo de Orgler (1983) foi “quantificado”
o arqueamento, de forma que, para núcleos inclinados, esse fenômeno ocorria em menor

39
escala, ao passo que maiores intensidades do arqueamento eram observadas na maioria
dos núcleos verticais.

O terceiro objetivo é o conhecimento do problema como um processo e


conseqüentemente determinação dos parâmetros governantes do mesmo. Uma vez que
os pontos principais de um processo estão identificados, a possibilidade de refino, ou
melhor, adequação às necessidades reais se torna mais fácil e segura.

3.3 Aspectos relevantes para o modelo correto e a modelagem com o


programa Sigma

De acordo com Aires (2006) existem duas qualidades a serem abordadas para se obter
uma modelagem correta, são elas:
1) Estimar os resultados finais, mesmo que qualitativamente,
2) Buscar a simplificação da geometria do problema, pois se deve ter em mente que
é um modelo, não as condições reais.

Desta forma, Aires (2006) ao estudar o comportamento tensão deformação para


Barragem de Irapé através de modelagem numérica adotou algumas simplificações, a
saber: o sistema de drenagem interna englobou o filtro e as camadas de transição sendo
considerado um mesmo material; incorporou a ensecadeira de montante ao modelo por
ser uma estrutura de porte considerável com aproximadamente sessenta metros de
altura.

Musman (2002) ao representar a barragem UHE Nova Ponte fez algumas adaptações
considerando a barragem formada por apenas três diferentes tipos de material, dois tipos
de cascalho de jazidas diferentes e um enrocamento de basalto, e desconsiderou o filtro
vertical de areia.

Assim, é importante que o usuário tenha o conhecimento e o entendimento prévio da


natureza do problema para conseqüentemente saber o que esperar como resultados.

40
Assim é desaconselhável o uso da modelagem para um determinado problema sem
qualquer domínio do mesmo. E também ser capaz de avaliar com competência até que
ponto um problema pode ser simplificado sem que comprometa os resultados.

Como conclusão, transcreve-se Krahn (2003) “o processo de modelagem é uma jornada


de descoberta, um modo de aprender algo novo sobre um comportamento complexo do
nosso mundo físico. É um processo que pode ajudar no nosso entendimento de
processos físicos altamente complexos, de forma que exerçamos o nosso julgamento de
engenharia com confiança crescente”.

De acordo com Cough e Woodward (1967), para uma boa precisão dos resultados a
simulação da construção de aterro de barragens deve ser feita com camadas sucessivas e
não com a adoção do critério de construção instantânea e para esse fim o número de
camadas não deve ser inferior a 10.

Aires (2006) utilizou trinta e oito camadas definidas de acordo com o cronograma da
obra para permitir uma simulação da construção mais próxima do real. Isso possibilitou
a obtenção de valores de tensão e de deformação durante as diversas fases de construção
do empreendimento, permitindo um grande número de comparações com os dados
fornecidos pela instrumentação.

O Sigma é um programa computacional de elementos finitos produzido para ser usado


em análises tensões-deformações, principalmente em estruturas de solo. Com esse
programa é possível fazer análises simples e bastante complexas, ou seja, desde uma
análise elástica linear a análises elasto-plásticas não lineares em termos de tensões
efetivas e, também, análises com variação da poropressão (adensamento acoplado).
Pode-se, também, realizar análises drenadas ou não drenadas, simular escavações ou
construção de aterros, com a remoção ou lançamento de camadas de material em etapas
sucessivas, simétricas ou não. É possível simular diferentes condições de contorno,
incluindo a prescrição de deslocamentos, cargas concentradas, pressões e reações de
mola nos pontos nodais.

41
Este programa é baseado na teoria das pequenas deformações, sendo aplicável para
análises bidimensionais, considerando a hipótese de estado plano de deformação, ou
para análise de problemas axissimétricos.

Em sua versão 7, GeoStudio 2007, o sistema está formulado para trabalhar com sete
tipos de modelos constitutivos do solo:
- Elástico linear;
- Elástico anisotrópico;
- Hiperbólico;
- Elástico perfeitamente plástico;
- Cam-Clay;
- Cam-Clay modificado;
- O sistema permite adicionar um novo modelo constitutivo pelo usuário por meio
de algoritmos.

3.4 Modelos constitutivos

3.4.1 Introdução

Modelos constitutivos são formulações matemáticas que objetivam modelar o


comportamento reológico dos materiais. A precisão com que determinado modelo
constitutivo se assemelha ao comportamento do material depende do número de
parâmetros que se introduz na sua equação constitutiva, buscando-se um equilíbrio entre
o número de parâmetros e a precisão desejada.

Um modelo constitutivo permite relacionar as tensões com as deformações unitárias


produzidas no interior do material em função de um número determinado de parâmetros
que dependem das propriedades mecânicas do solo. Para que o modelo seja realmente
útil, deve ser completo (determinar o comportamento do material para todo tipo de
carregamento), deve possuir parâmetros identificáveis (mediante um número reduzido

42
de ensaios simples) e deve ser capaz de interpretar fisicamente a resposta do material
(frente a qualquer mudança de tensões ou deformações).

Naylor (1991) explicitou o que uma lei constitutiva de material de aterro deve
incorporar:
1. Aumento da rigidez volumétrica, com o aumento da tensão média.
2. Redução da rigidez no cisalhamento devido ao aumento de tensão desviadora.
3. Adoção de um critério de ruptura tipo Mohr-Coulomb ou similar.
4. Adoção de uma maior rigidez no descarregamento.
5. Adoção de uma maior rigidez a baixos níveis de tensão e de recarga, seguida da
descarga.
6. Dilatância, ou seja, a tendência de um solo rígido, bem como um aterro
compactado, aumentar o seu volume durante o cisalhamento.
7. Recalque por colapso, ou seja, a redução do volume de um material não-
saturado, no processo de saturação”.

De acordo com Naylor (1991), sempre que esses aspectos do comportamento dos
materiais não forem considerados, podem-se atingir análises irreais.

Cruz (1996) menciona a existência de três métodos para estudos e análises de problemas
tensões-deformações em barragens:
- Métodos que adotam o modelo de elasticidade linear;
- Métodos que adotam o modelo de elasticidade variável;
- Métodos que adotam modelos elasto-plásticos.

De acordo com Cruz (1996), qualquer um desses métodos conduz a resultados


satisfatórios, no caso de tensões crescentes (carregamento), mas perdem precisão
quando as solicitações envolvem carregamentos e descarregamentos de tensões. No
entanto problemas do tipo colapso, expansão e liquefação requerem uma modelagem
especial para a simulação desses fenômenos.

43
Assim, para os resultados serem satisfatórios é fundamental que a modelagem e os
respectivos parâmetros sejam representativos do material e comportamento nas
condições de campo.

3.4.2 Trabalhos desenvolvidos no NUGEO

Estudos tensão-deformação para barragens, com a utilização de modelagem numérica já


foram desenvolvidos no NUGEO – Núcleo de Geotecnia da UFOP, dos quais destacam-
se os trabalhos de Aires (2006) e Musman (2002).

Aires (2006) desenvolveu um estudo tensão deformação da Barragem de Irapé através


do modelo constitutivo linear elástico, com apoio do sistema Sigma, versão 5. Com os
resultados da modelagem numérica comparou-os com dados da instrumentação da
barragem. Para justificar a utilização do modelo linear elástico uma avaliação da
estabilidade da Barragem Irapé foi realizada e observou coeficientes de segurança
bastante adequados. Então, foi concluído que o material estava sendo solicitado em
níveis de tensões consideravelmente inferiores a sua resistência.

Este fato constituiu um importante argumento a favor da adoção de um modelo linear


elástico, pois de acordo com Aires (2006) os recalques esperados deverão ser pequenos
em relação aos valores de deslocamento que o material poderia vir a sofrer,
caracterizando dessa forma, pequenas deformações relativas. O trecho da curva tensão
versus deformação, onde estarão situados estes esforços pode ser considerado
praticamente como retilíneo, havendo, portanto pequeno ganho ao se utilizar um modelo
não linear. Com os resultados da comparação entre o modelo adotado e a
instrumentação Aires concluiu que a adoção do modelo linear elástico foi adequada.

Musman (2002) analisou o comportamento tensão deformação da Barragem da UHE


Nova Ponte durante o período construtivo e também comparou os resultados da
instrumentação de campo com previsões de análises numéricas. O estudo foi

44
desenvolvido com suporte do programa Sigma, versão 4 usando o modelo constitutivo
hiperbólico.

Musman (2002) concluiu que os recalques previstos numericamente para o material


cascalho e para o enrocamento foram superiores aos medidos pela instrumentação para
todos os equipamentos do tipo caixa sueca. Os deslocamentos horizontais medidos
foram superiores aos calculados numericamente para cotas mais baixas e inferiores para
cotas mais altas e os deslocamentos horizontais calculados e medidos apresentaram uma
divergência significativa. A instrumentação apontou deslocamentos para montante em
contrapartida as análises numéricas indicaram que os movimentos deveriam ser para
jusante. Esse fato foi justificado pela subida do nível d’água após o desvio do rio, o que
provocou o umedecimento e enfraquecimento do enrocamento de montante da
ensecadeira incorporada e, conseqüente, o deslocamento do maciço no sentido de
montante.

A seguir serão enunciados os modelos hiperbólico e elastoplástico, os quais serão


usados na modelagem numérica deste trabalho.

3.5 Modelo constitutivo hiperbólico

O modelo hiperbólico é originalmente atribuído a Kondner (1963), mais tarde foi muito
estudado e modificado por Duncan e Chang (1970) através da publicação intitulada
“Nonlinear analysis of stress and strain in soil”. Devido a isso o modelo hiperbólico
também é conhecido como modelo Duncan e Chang.
O modelo foi desenvolvido para estudo de ensaios triaxiais não-drenados e era baseado
em apenas dois parâmetros e na hipótese do Coeficiente de Poisson ser igual a 0,5.
Atualmente, o modelo é aplicável a problemas drenados e não-drenados.

45
Este modelo simula a não-linearidade do comportamento tensão-deformação do solo e a
sua dependência do nível de tensões. Nas condições comportamentais do material de
campo em que o modelo hiperbólico se adéqua, pode-se dizer que é vantajoso usar este
modelo, seja por sua simplicidade, seja pelo fato da obtenção dos parâmetros serem por
meio de ensaio triaxial.

3.5.1 Descrição do Modelo

Kondner (1963) propôs que a curva “tensão desviadora versus a deformação axial”
deveria ser aproximada por uma hipérbole da forma da equação 3.1.

ε1
σ1 − σ 3 = (3.1)
a + bε 1

Sendo
σ1 e σ3: tensões principais maior e menor, respectivamente;
ε: deformação axial;
a e b: constantes determinadas experimentalmente com a tensão confinante (σ3). Para
cada confinante têm-se diferentes constantes a e b.
Duncan e Chang (1970) desenvolveram um modelo constitutivo a partir desta
formulação como mostra a curva tensão-deformação hiperbólica representada pela
figura 3.1.

46
Et
σ1− σ3 1
B

A
E ur
1
C
Ei
1
O
ε
Figura 3.1 - Curva tensão-deformação para o modelo hiperbólico.

A equação 3.1 de Kondner (1963) pode ser reescrita na forma da equação 3.2.

ε1
= a + bε 1 (3.2)
σ1 − σ 3

Com a elaboração de curvas transformadas do tipo ε/(σ1-σ3) versus ε, pode-se obter os


valores dos parâmetros a e b. O resultado deste gráfico é uma reta, como se vê na Figura
3.2, cujo intercepto e inclinação representam os parâmetros a e b, respectivamente.

Com isso, a = 1/Ei e b = 1/(σ1-σ3)ult


e (σ1-σ3)ult é a tensão desviadora última.

Dependente do estado de tensões e do histórico de tensões três módulos de


deformabilidade podem ser obtidos a partir da Figura 3.1, módulo de deformabilidade
inicial (Ei), módulo de deformabilidade tangente (Et) e módulo de deformabilidade
durante descarregamento-recarregamento (Eur).

47
ε1/σ1− σ3

b
1
a

ε1
Figura 3.2 - Transformada da curva tensão-deformação.

O módulo de deformabilidade inicial é uma função da tensão de confinamento ou


tensões devido a sobrecarga. Duncan e Chang (1970) propuseram a seguinte equação
para representar o módulo de deformabilidade inicial.

n
⎛σ ⎞
Ei = KPa ⎜⎜ 3 ⎟⎟ (3.3)
⎝ Pa ⎠

Sendo:
Ei é o módulo de deformabilidade inicial;
K e n são constantes adimensionais;
σ3 é a tensão de confinamento;
Pa é a pressão atmosférica.

48
Traçando-se o gráfico log(Ei/Pa) versus log(σ3/Pa) como mostra a figura 3.3, pode-se
determinar os valores das constantes K e n.

log(E i/Pa)

n
log(k) 1

0,1 1 10 log( σ3/Pa)

Figura 3.3 - Variação do módulo de deformabilidade inicial com a tensão de


confinamento.

A trajetória de tensões do ponto O ao A da Figura 3.1 é governada pelo módulo


tangente, definido por Duncan e Chang (1970) como função das propriedades do solo,
da tensão desviadora (σ1-σ3) e da tensão de confinamento (σ3), usando a seguinte
equação:

⎡ R f (σ 1 − σ 3 )(1 − senφ ) ⎤
2

Et = ⎢1 − ⎥ Ei (3.4)
⎣ 2c cos φ + 2σ 3 senφ ⎦

Sendo
Et é o módulo de deformabilidade tangente;
Ei é o módulo de deformabilidade inicial
φ é o ângulo de atrito do solo;
c é a coesão do solo;
σ1 é a tensão principal maior;
σ3 é a tensão principal menor;

49
Rf é a razão de ruptura, tipicamente entre 0,7 a 0,95.

O valor de Rf é calculado pela Equação 3.5.


(σ 1 − σ 3 )rup.
Rf = (3.5)
(σ 1 − σ 3 )ult .

Sendo
Rf é a razão entre a assíntota da curva hiperbólica e a máxima resistência cisalhante,
assim esse fator representa o quanto a curva tensão-deformação do solo se afasta da
hipérbole;
(σ1-σ3)ult. é o termo de resistência última, que representa a assíntota da curva hiperbólica
tensão-deformação;
(σ1-σ3)rup. é a tensão desvio na ruptura ou máxima resistência cisalhante.

Segundo Cruz (1996) é comum na prática adotar um valor único para Rf nos cálculos
numéricos, mesmo sabendo que seu valor cresce levemente com o valor da tensão
confinante.

Pelo critério de ruptura de Mhor-Coulomb e admitindo que a coesão e o ângulo de atrito


são valores constantes o valor de (σ1-σ3)rup., é dado pela Equação 3.6.

( )
(σ 1 − σ 3 )rup. = 2 c cos φ + σ 3 sen φ (3.6)
(1 − sen φ )

Duncan e Chang (1970) indicam que o valor da razão de ruptura é independente do


valor da tensão confinante σ3 para um determinado tipo de solo, mas Castro (1996)
observou um pequeno acréscimo no valor do fator de ruptura com o aumento da tensão
confinante σ3.

50
No ensaio triaxial quando se executa um descarregamento seguido de um novo
carregamento observa-se uma pequena recuperação da deformação, ocasionando uma
deformação permanente, o que representa o comportamento plástico dos materiais. Esse
comportamento do solo é representado pela utilização de módulos diferentes no
carregamento e no descarregamento/recarregamento, cujo módulo está indicado na
Figura 3.4.

σ1− σ3

E ur

1
ε1
Figura 3.4 - Módulo de deformabilidade de descarga-recarga.

O módulo de deformabilidade durante o descarregamento/recarregamento é calculado


pela Expressão 3.7.
n
⎛σ ⎞
Eur = K ur Pa ⎜⎜ 3 ⎟⎟ (3.7)
⎝ Pa ⎠

O valor Kur é uma constante adimensional da ordem de duas vezes e meia o valor de K e
o valor de n é considerado o mesmo para as duas fases.

51
3.6 Implementação do modelo hiperbólico pelo programa Sigma

Para a implementação com o modelo constitutivo hiperbólico através do programa


Sigma são necessários os seguintes parâmetros:
a) c: Coesão;
b) φ: Ângulo de atrito;
c) γ: Peso específico;
d) ν: Coeficiente de Poisson;
e) Rf: Razão de ruptura;
f) Ei: Módulo de deformabilidade inicial.

O módulo de deformabilidade inicial pode ser representado por uma função que o
relaciona com a tensão, a qual o solo está submetido podendo ser total ou efetiva. Com
tal função definida o Sigma origina uma curva módulo de deformabilidade inicial
versus tensão do tipo da Figura 3.5.

Ei

σv
Figura 3.5 – Exemplo da função para o módulo de deformabilidade.

52
A função para o módulo pode ser definida de duas maneiras no programa, a primeira é
através de parâmetros informados ao programa e a segunda através do banco de dados
do programa.

Para definir a função pelo primeiro método é necessário informar ao programa tais
parâmetros:
1. Uma profundidade máxima, que é especificada para se criar um campo de
tensões para a função, ou o valor máximo para a tensão;
2. O coeficiente do empuxo em repouso (K0);
3. Constantes adimensionais k e n, obtidas pela aplicação do modelo hiperbólico
aos resultados dos ensaios triaxiais, como descrito anteriormente.
Com base nestes parâmetros o programa elabora uma curva tensão-deformação similiar
a apresentada na Figura 3.5.

O sistema também permite a elaboração desta curva comportamental com base num
banco de dados interno. O banco de dados foi baseado na Tabela 3.1, proposta por
Duncan e Chang (1980). Neste trabalho, os autores estudaram vários tipos de solos e
propuseram valores para os parâmetros hiperbólicos. Para usar o banco de dados é
necessário conhecer a classificação unificada do solo, seu peso específico e, então,
escolher qual dos solos propostos por Ducan e Chang se aproxima mais do solo a ser
modelado.

53
Tabela 3.1 – Propriedades de rigidez para solos apresentadas por Duncan e Chang et al.
(1980).

Classificação γ Δφ C
Rc φ (°) K n Rf Kb m
Unificada (kg/m³) (°) (kPa)

105 15,0 32 9 600 175


GW, GP 100 13,5 39 7 350 125
0 0,3 0,7 0,2
SW, SP 95 13 36 5 300 75
90 13,5 33 3 200 50

100 13,5 36 8 600 750


95 13 33 6 350 350
SM 0 0,25 0,7 0,0
90 12,5 32 3 300 250
85 12 30 2 150 150
100 13,5 50 300 200
95 13,0 30 200 100
SM, SC 33 0 0,6 0,7 0,5
90 12,5 30 150 75
85 12,0 20 100 50
100 13,5 30 150 130
95 13,0 30 30 120 110
CL 0 0,35 0,7 0,2
90 12,5 20 90 80
85 12,0 10 60 50

3.7 Modelo constitutivo elasto-plástico

As limitações dos modelos elásticos, hiperelásticos e hipoelásticos em relação à sua


capacidade para representar consistentemente os processos de escoamento e os estados
de descarregamento/recarregamento, contribuíram no interesse pela pesquisa e
formulação de modelos constitutivos mais versáteis, realistas e abrangentes. A teoria da
plasticidade foi o alicerce para o desenvolvimento destes modelos, inicialmente

54
voltados para o comportamento de metais e posteriormente estendidos para materiais
com atrito interno, como o caso de materiais geológicos, mais especificamente, solos.

A principal diferença entre os modelos de elasticidade variável e elasto-plásticos é que


neste se sabe, a cada instante de aplicação de cargas quais as deformações plásticas, ao
contrário daqueles, em que as deformações não recuperáveis somente serão conhecidas
quando do alívio de cargas. Além disso, os modelos elasto-plásticos simulam bem o
aumento de rigidez durante o descarregamento, reproduzem diferentes trajetórias de
tensões, e absorvem as deformações plásticas a que o material foi submetido.

3.7.1 Descrição do modelo elasto-plástico perfeito

Neste modelo, as tensões são diretamente proporcionais às deformações até o ponto de


ruptura. Após esse ponto, a curva tensão-deformação é perfeitamente horizontal. Este
modelo é representado pela Figura 3.5. Com base no modelo apresentado nesta figura,
nota-se que só o aumento da deformação elástica causa variação na tensão. Neste
modelo a ruptura só depende do estado de tensão.

σ
σy B C F

εCP

A εB D εC ε

Figura 3.6 - Curva tensão-deformação do modelo elasto-plástico perfeito.

55
Para exemplificar o modelo elastoplástico considere uma barra constituída por certo
material elastoplástico com comportamento idealizado. Se for aplicado um
carregamento axial na barra através da imposição de uma deformação axial ε, a curva
tensão-deformação será representada pela Figura 3.6, em um primeiro trecho indicará
um comportamento linear elástico (trecho AB). A inclinação desta reta é dada pelo
módulo de Young (E).

Se o processo de carregamento for interrompido sem que a tensão de plastificação σy


seja alcançada, e na barra for imposta uma deformação contrária à inicial, de modo que
a barra seja descarregada, o caminho percorrido na curva tensão-deformação será ainda
no trecho “AB”, só que em sentido contrário. Se, nesse instante, a barra for
completamente descarregada, ela voltará para sua posição original, sem que
deformações permanentes tenham ocorrido.

Em outro estágio, se a barra for novamente carregada até o ponto B, com deformação εB

e após isso ela continuar sendo carregada até o ponto C, com deformação εC, a barra
atinge em B a tensão de plastificação e após esse ponto deixa de se comportar como
material elástico e passa a se comportar como material plástico. Não existe mais uma
relação única entre tensão e deformação e a tensão na barra permanece constante, com
valor igual à tensão de plastificação σy.

Se a barra for descarregada no ponto C, ela volta a apresentar comportamento elástico e


o caminho a ser percorrido na curva tensão-deformação é representado pelo trecho
“CD”, que é paralelo ao trecho “AB”. Se ela for completamente descarregada até o
ponto D, continuam existindo deformações, chamadas de deformações plásticas ou
deformações permanentes, com valor igual à Equação (3.8).

ε CP = ε C − ε B (3.8)

56
Essa equação é exatamente igual à deformação experimentada pela barra em regime
plástico ao longo do caminho “BC”. A barra não retorna mais à configuração original.

Se a barra for novamente carregada, o comportamento na curva tensão-deformação se


dará novamente sobre o trecho “DC” até que o ponto C seja atingido e, a partir daí, a
barra volta a apresentar comportamento plástico, com tensão igual à tensão de
plastificação σy. O comportamento é reversível e, portanto, elástico, nos trechos “AB” e
“DC”. Então, um material com esse comportamento é chamado de elástico linear
plástico perfeito

As equações constitutivas são utilizadas para representar, de forma ideal, o


comportamento tensão-deformação dos materiais. A descrição das leis constitutivas que
relacionem as tensões às deformações para os materiais que exibem comportamento
elastoplástico é o objetivo da modelagem matemática da plasticidade que define três
pontos relevantes, conforme Owen e Hinton (1980):
• Leis constitutivas para o material antes da ocorrência de deformações plásticas,
ou seja, durante o comportamento elástico do material;
• Um critério de plastificação que define o nível de tensões a partir do qual as
deformações plásticas iniciam;
• Leis constitutivas para o material durante a ocorrência de deformações
plásticas, ou seja, durante o fluxo plástico.

3.7.2 Definições básicas

Componentes de Deformação

Na teoria da plasticidade infinitesimal as deformações dos materiais são consideradas


compostas por deformações elásticas (reversíveis) εe e deformações plásticas
(irreversíveis) εp,

dε = dε e + dε p (3.9)

57
A parcela elástica das deformações relaciona-se à variação infinitesimal das tensões σ
através da relação seguinte.

dε e = De−1 dσ (3.10)

em que De é matriz constitutiva elástica.

Critério de Plastificação

O critério de plastificação determina o nível de tensões no qual as deformações plásticas


irreversíveis se iniciam e pode ser dado pela Inequação 3.11:

F (σ , h ) ≤ 0 (3.11)

em que
σ representa o estado de tensões;
h é um parâmetro de endurecimento definido em função de alguma medida de
deformação plástica a partir de dados ou observações experimentais.

Para um material elastoplástico perfeito, que será considerado no programa Sigma, o


critério de plastificação torna-se:

F (σ ) ≤ 0 (3.12)

Já a equação F (σ ) = 0 define a superfície de plastificação. No interior desta superfície,


o material se comporta elasticamente ( F < 0 ). Quando o estado de tensões determina
um ponto sobre a superfície ( F = 0 ), o material começa a plastificar. A região exterior à
função de plastificação ( F > 0 ) é um espaço inadmissível de tensões.

58
Função Potencial Plástico

A lei de fluxo plástico determina que o incremento de deformação plástica seja


proporcional ao gradiente de uma função potencial plástico G (σ ) . Essa relação pode ser
escrita como indicado na equação 3.13.

∂G (σ )
dε p = dλ = dλb (3.13)
∂σ

Onde
dλ é uma constante de proporcionalidade denominada parâmetro plástico,
b é o vetor gradiente da função potencial plástico.

A equação 3.13 caracteriza a chamada lei de fluxo não associada. Quando a função
potencial plástico G (σ ) coincide com a função de plastificação F (σ ) a lei de fluxo é
dita associada.

Equação Constitutiva Elastoplástica – Material elastoplástico perfeito

Considerando-se o princípio da aditividade a equação 3.10 pode ser reescrita como


apresentado na equação 3.14a ou ainda como na equação 3.14b:

dσ = De (dε − dε p ) (3.14a)

dσ = De dε − De dλb (3.14b)

59
Ao longo de uma trajetória de deformação, a magnitude do incremento de deformação
plástica deverá atender simultaneamente às seguintes restrições, que são conhecidas
como as condições de Khun-Trucker (1950) na programação matemática:

F (σ , h ) ≤ 0 (3.15a)

dλ ≥ 0 (3.15b)

Fdλ = 0 (3.15c)

A inequação 3.15a garante que as trajetórias de tensão fiquem dentro ou, no máximo,
sobre a superfície de plastificação. Durante o fluxo plástico, o multiplicador plástico é
não negativo (inequação 3.15b). O valor de dλ < 0 significa a ocorrência de
descarregamento elástico (Owen e Hilton, 1980). A equação 3.15c é a restrição de
complementaridade, ou seja, se F (σ , h ) < 0 então dλ = 0 e um comportamento elástico
é obtido. E se dλ > 0 ocorre fluxo plástico e o critério de plastificação, F (σ , h ) = 0 ,
deverá ser satisfeito.

Assim sendo, de acordo com as condições de Khun-Trucker (1950), durante o fluxo


plástico tem-se que:

⎛ ∂F (σ , h) ⎞ ⎛ ∂F (σ , h) ⎞
T T

dF (σ , h) = ⎜ ⎟ dσ + ⎜ ⎟ dh = a dσ + a h dh = 0
T T
(3.16a)
⎝ ∂ σ ⎠ ⎝ ∂h ⎠

Sendo
a é o gradiente da função de plastificação;
ah é uma parcela relacionada ao endurecimento.

No caso de materiais com plasticidade perfeita, tem-se:

dF (σ ) = a T dσ = 0 (3.16b)

60
Substituindo a equação 3.14b em 3.14b, obtém-se:

dF (σ ) = a T De dε − a T De bdλ = 0 (3.17)

A partir da equação 3.17 chega-se ao valor de dλ , representado pela equação 3.18.

a T De dε
dλ = (3.18)
a t De b

Com o valor de dλ , substituiu-se na equação 3.14b e chega-se a:

⎡ ba T D ⎤
dσ = ⎢ Dep − De T e ⎥ dε (3.19)
⎣ a De b ⎦

Em que Dep é a matriz constitutiva elastoplástica, que é função do estado de tensão


corrente.

3.7.3 Critério de Ruptura Mohr-Coulomb

De acordo com o critério de ruptura de Mohr-Coulomb, a resistência ao cisalhamento


τ na iminência da ruptura é determinada pela equação 3.20.

τ = c + σ tan φ (3.20)
Sendo,
c é a coesão,
φ é o ângulo de atrito.

61
A equação 3.20 pode ser representada por um diagrama como mostrado pela Figura 3.7.

τ
φ

σ3 σ1 σ

Figura 3.7 - Critério de escoamento Mohr-Coulomb no plano (σ,τ).

O conceito de círculo de Mohr pode ser utilizado para expressar a função de escoamento
F, representada pela equação 3.22 (ou de plastificação) em termos das tensões principais
σ1 e σ3, respectivamente, a tensão principal maior e a tensão principal menor.

σ1 − σ 3 σ1 + σ 3
= sen φ + c cos φ (3.21)
2 2

σ1 − σ 3 σ1 + σ 3
F= − sen φ − c cos φ = 0 (3.22)
2 2

Cabe ressaltar que o critério de Mohr-Coulomb não considera os efeitos da tensão


intermediária σ2.

No caso particular de análise φ = 0 , o critério de Mohr-Coulomb coincide com o


critério de Tresca, resultando em um vetor do incremento das deformações plásticas
d ε p normal tanto à superfície de escoamento quanto ao eixo das deformações plásticas

volumétricas, indicando que essas são nulas ( dε νp = 0 ) durante o fluxo plástico.

62
Esta condição é evidenciada no cisalhamento de argilas normalmente adensadas na
condição não drenada, onde a função de escoamento F, sendo dependente do parâmetro
resistência não drenada (Su), pode ser escrita então como apresentado na equação 3.23.

F =σ 1−σ 3 − 2 S u = 0 (3.23)

O modelo de Mohr-Coulomb φ ≠ 0 , caso geral, o vetor d ε p apresenta um inclinação φ

em relação à vertical, indicando a ocorrência de deformações plásticas negativas que


resultam num comportamento dilatante do material. Tal comportamento é típico para
areias densas e argilas pré-adensadas cisalhadas na condição drenada.

3.7.4 Dilatância

A Figura 3.8 mostra o círculo de Mohr correspondente ao estado dos incrementos de


deformação plástica em um ponto do solo sob escoamento plástico, o ângulo de
dilatância ψ expressa a relação existente entre os incrementos de deformação plástica
volumétrica dε νp e de deformação plástica cisalhante dγ p , ou seja,

⎛ dε vp ⎞
ψ = sen −1 ⎜⎜ ⎟ (3.24)

⎝ dγ máx
p

⎛ dε 1p + dε 3p ⎞
ψ = sen −1 ⎜⎜ ⎟ (3.25)

⎝ dε 3 − dε 1
p p

63
1 p
2dγ

dε3p− dε1p
ψ 2

dε3p dε1p

dε1p+ dε3p
2
Figura 3.8 - Círculo de Mohr para incrementos de deformação plástica e ângulo de
dilatância.

No caso do critério de Mohr-Coulomb com fluxo associado, determina-se facilmente


pela lei de fluxo generalizada dε ijp = dλ (∂F / ∂σ ij ) para materiais perfeitamente

plásticos que

1
dε 1p = dλ (1 − sen φ ) (3.26a)
2
1
dε 3p = − dλ (1 + sen φ ) (3.26b)
2

Resultando na expressão 3.27 para o ângulo de dilatância ψ,

⎡1 ⎤
⎢ dλ (1 − sen φ − 1 − sen φ ) ⎥
ψ = sen −1 ⎢ 2 ⎥ (3.27)
⎢ 1 dλ (1 − sen φ + 1 + sen φ ) ⎥
⎣⎢ 2 ⎦⎥

64
Simplificando a equação 3.27, chega-se a equação 3.28.

ψ = sen −1 (sen φ ) = φ (3.28)

A equação 3.28 comprova que no caso de lei de fluxo associada o ângulo de dilatância
coincide com o ângulo de atrito.

A dilatância prevista pelo modelo de Mohr-Coulomb associado é geralmente maior que


a observada experimentalmente em ensaios de laboratório.

O ângulo de dilatância pode ajustar o modelo ao comportamento do solo:


• ψ = φ, para lei de fluxo associada;
• ψ < φ, para fluxo não associado com dilatância reduzida;
• ψ = 0, para material perfeitamente plástico, não dilatante ( dε υp = 0 ).

Este procedimento tem a limitação do valor de ψ ser utilizado como uma constante, o
que implica na suposição de que o solo em fluxo plástico vai experimentar
continuamente expansão volumétrica, independentemente do nível de cisalhamento a
que está submetido. Isto não se verifica no caso real dos solos, para os quais grandes
deformações plásticas ocorrem sob volume constante (teoria do estado crítico).

Para implementação do modelo constitutivo elastoplástico através do programa Sigma


são necessários os seguintes parâmetros:
a) c: Coesão do solo;
b) φ: Ângulo de atrito;
c) γ: Peso específico submerso do solo;
d) ν: Coeficiente de Poisson;
e) ψ: Ângulo de dilatância;
f) Ei: Módulo de deformabilidade inicial.

65
Capítulo 4

Simulações de Ensaios Triaxiais no Programa Sigma

4.1 Introdução

O programa Sigma é uma ferramenta que pode ser usada para realizar simulações de
ensaios triaxiais. Assim, comparar os resultados de ensaios triaxiais com os resultados
das simulações do programa e proceder à calibração dos modelos constitutivos. Com o
modelo calibrado corretamente, ajustes nos parâmetros obtidos pelo processo tradicional
podem ser revistos com base nos resultados numéricos. E também, é possível
desenvolver estudos para diferentes níveis de tensão, como por exemplo, para níveis de
tensão não convencionais em laboratório.

4.2 Simulações de Ensaios Triaxiais

A modelagem numérica do ensaio triaxial consistiu em criar o modelo em verdadeira


grandeza. Assim, foram utilizadas dimensões normalmente usadas em laboratório: 11cm
de altura e 5cm de diâmetro. Os estudos foram desenvolvidos em modelagem
axissimétrica, com as condições de contorno e carregamento similares àquelas
observadas em laboratório: tensão confinante constante durante o cisalhamento e
deformação controlada. Quanto às condições de contorno, tem-se: base fixa e eixo da
amostra com deformações horizontais nulas, respeitando a condição simulada de
axissimetria.

A figura 4.1 apresenta o desenho do corpo de prova no programa Sigma com as


condições de contorno, a deformação controlada e a malha de elementos finitos com
220 elementos.

66
Figura 4.1 - Corpo de prova simulado no programa Sigma.

Como mencionado, o carregamento na amostra é representado por uma deformação


axial constante de até 20% da altura do corpo de prova da amostra com velocidade
definida. Essa velocidade de deformação é calculada através da quantidade de passos
que se deseja ter e da porcentagem de deformação axial da amostra.

Para tal simulação, usou-se o modelo constitutivo hiperbólico cujos parâmetros foram
obtidos através de ensaio triaxial consolidado não drenado (CU). A simulação pode ser
feita tanto para ensaios drenados quanto para ensaios não drenados. Lembrando-se que,
para usar o ensaio não drenado, deve-se utilizar a resistência em termos de tensões
totais.

67
4.2.1 Simulação para um Ensaio Triaxial Adensado não Drenado (CU)

Seguindo a metodologia de Duncan e Chang (1970), exposta no Capítulo 3, para a


determinação dos parâmetros hiperbólicos do solo usou-se um ensaio triaxial adensado
e não drenado (CU) com três níveis de tensões confinantes, comuns para estudos de
engenharia 100kPa, 200kPa e 400kPa. O solo estudado é uma argila de alta
compressibilidade (CH) de acordo com a classificação unificada, com limite de liquidez
igual a 53% e índice de plasticidade de 25%. A curva granulométrica desse material está
mostrada na Figura 4.2; as curvas tensão-desvio (σ1-σ3) versus deformações axial
específica estão apresentadas na Figura 4.3; na Figura 4.4 têm-se as curvas de pressão
neutra versus a deformação axial específica.

100

90

80
Porcentagem Passante

70

60

50

40

30

20

10

0
0,001 0,01 0,1 1 10

Diâmetro dos Grãos (mm)

Figura 4.2 - Curva granulométrica da argila de alta compressibilidade.

68
300

250
Tensão Desvio (kPa)

200
100 kPa
150 200 kPa
400 kPa
100

50

0
0 5 10 15 20

Deformação Axial (%)

Figura 4.3 - Curvas tensão desvio versus deformação axial do ensaio CU.

Com base nos resultados do ensaio triaxial, os parâmetros do modelo hiperbólico


proposto por Duncan e Chang foram determinados, assim como os parâmetros do
modelo elasto-plástico. Estes parâmetros, apresentados na Tabela 4.1, foram então
utilizados na modelagem numérica do programa Sigma.

69
Tabela 4.1 - Parâmetros em termos de tensões totais para a argila de alta
compressibilidade.
Parâmetros para o modelo Parâmetros para o modelo
hiperbólico elasto-plástico
c = 20 kPa
φ = 19,5°
ν=0,33
K =143,5
n= 0,95
ψ = 19,5°
K0=0,5
Rf =1,00
Tensão Confinante
100kPa 200kPa 400kPa
Ei = 15MPa Ei = 28MPa Ei = 54MPa

O comportamento da poropressão observado durante o cisalhamento, apresentado na


Figura 4.4, mostra geração de poropressão positiva até a deformação axial igual de 2 a
2,5%, próximo ao ponto de inflexão da curva tensão deformação (Figura 4.3). Observa-
se, no entanto, que após este nível de deformação o solo apresenta diminuição
progressiva de poropressão, porém não alcançando valores negativos. Este
comportamento sugere que o solo apresentou uma tendência de retração no início do
cisalhamento seguida de uma tendência de expansão, comportamento típico de solos
levemente pré-adensados.

70
300

250
Pressão Neutra (kPa)

200
100 kPa
150 200 kPa
400 kPa
100

50

0
0 5 10 15 20

Deformação Axial (%)

Figura 4.4 - Curvas pressão neutra versus deformação axial do ensaio CU.

A Figura 4.5 é uma comparação entre curvas tensão deformação, uma das curvas é para
o ensaio CU da argila de alta compressibilidade com tensão confinante 100kPa,
juntamente uma curva para a teoria de Duncan e Chang (Modelo) e curvas do programa
Sigma provenientes de simulações para o modelo constitutivo hiperbólico (S. H.) e para
o modelo elasto-plástico (S. E.). As curvas do programa foram obtidas através das
simulações com os parâmetros apresentados na Tabela 4.1. Esse processo foi repetido
para as outras tensões confinantes do ensaio 200kPa e 400kPa, como mostrado nas
Figuras 4.6 e 4.7, respectivamente.

71
90

80

70
Tensão Desvio (kPa)

60
Ensaio
50
Modelo
S. H.
40
S. E.
30

20

10

0
0 5 10 15 20

Deformação Axial (%)

Figura 4.5 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, Sigma hiperbólico e Sigma
elasto-plástico para tensão confinante de 100kPa.

Os resultados apresentados na Figura 4.5 mostram o ótimo desempenho do sistema


Sigma com o modelo hiperbólico na simulação do ensaio. No trecho inicial, até 50% do
pico, o modelo elasto-plástico apresentou ótimo comportamento, com valores bem
próximos aos do ensaio. O modelo se destaca por apresentar um estado rígido perfeito,
com tensão de ruptura muito bem definida, ocorrida para deformação da ordem de 1%.

O modelo hiperbólico apresentou novamente um bom ajuste para o comportamento


apresentado pelo solo no ensaio para o nível de tensão 200kPa. O comportamento
inicial para o modelo elasto-plástico também foi muito bom.

72
150

120
Tensão Desvio (kPa)

90 Ensaio
Modelo
S. H.
60 S. E.

30

0
0 5 10 15 20

Deformação Axial (%)

Figura 4.6 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, Sigma hiperbólico e Sigma
elasto-plástico para tensão confinante de 200kPa.

O comportamento do modelo hiperbólico para o nível de tensão 400kPa não


correspondeu ao bom ajuste observado para os níveis de tensão 100 e 200kPa. Neste
caso, o ponto de inflexão da curva ocorreu antes daquele observado em laboratório. No
entanto, para os níveis de tensão desvio iniciais, o comportamento mostra-se adequado
para ambos os modelos, elasto-plástico e hiperbólico.

Esta breve simulação do ensaio triaxial sugere como é importante fazer uma avaliação
dos parâmetros e modelos a serem adotados em estudos tensão deformação. No caso
apresentado, estudos com baixa mobilização de resistência, como no caso de fundações,
ambos os modelos numéricos proporcionariam bons resultados. Nos casos de elevadas
taxas de mobilização em contextos com níveis de tensão inferiores a 200kPa, os
resultados de ambos os modelos também proporcionariam bons resultados. Como
exemplo típico pode-se citar escavações da ordem de 10 metros. No entanto, estudos
tensão deformação para taxas elevadas de mobilização e níveis de tensão superiores a

73
200kPa poder-se-ia esperar erros, principalmente na quantificação das deformações e
recalques, e naturalmente extensão das zonas de plastificação.

300

250
Tensão Desvio (kPa)

200
Ensaio
Modelo
150
S. H.
S. E.
100

50

0
0 5 10 15 20

Deformação Axial (%)

Figura 4.7 - Comparação entre as curvas do ensaio, modelo, Sigma hiperbólico e Sigma
elasto-plástico, para tensão confinante de 400kPa.

4.2.2 Simulação para um Ensaio Triaxial Adensado Drenado (CD)

Um ensaio triaxial do tipo adensado drenado (CD) para a argila de alta


compressibilidade foi empregado na tentativa de simulá-lo no programa Sigma, com os
procedimentos iguais à simulação do ensaio não drenado. As curvas tensão deformação
do ensaio CD para o solo em estudo estão representadas na Figura 4.8.

74
500

450

400

350
Tensão Desvio (kPa)

300
400
250 200
200 100

150

100

50

0
0 5 10 15 20

Deformação Axial (%)

Figura 4.8 - Curvas tensão-deformação do ensaio drenado.

Comparando-se o comportamento drenado (Figura 4.8) com o não drenado (Figura 4.3)
é possível verificar que para o nível de tensão confinante igual a 100kPa a resistência ao
cisalhamento é relativamente bem superior, fato que poderia ser justificado por um pré-
adensamento superior, ou mesmo por outros motivos tais como qualidade da amostra ou
erros de ensaio. Optou-se por considerar que o comportamento diferencial para o nível
de tensão 100kPa se deve a um pré-adensamento superior. Neste sentido, o modelo
hiperbólico foi usado aplicando-se as três curvas indistintamente.

O modelo elstoplástico não foi usado para as simulações do ensaio triaxial CD pelo
programa Sigma. Isso foi devido às análises das simulações do ensaio CU, que não
contemplou o endurecimento do material.

Na Tabela 4.2, encontram-se os parâmetros hiperbólicos obtidos a partir do ensaio


drenado pela metodologia de Duncan e Chang.

75
Tabela 4.2 - Parâmetros hiperbólicos para o ensaio drenado.
Parâmetros Hiperbólicos
c’ = 27,3kPa
φ’= 30,5°
K =335
n = 0,72
Rf = 1,00
K0=0,5
ν=0,33
100kPa 200kPa 400kPa
Ei=37MPa Ei=45,5MPa Ei=100MPa

As Figuras 4.9 a 4.11 apresentam três curvas tensão deformação, uma para o ensaio
drenado, outra para o modelo de Duncan e Chang e uma terceira para a simulação no
programa Sigma por meio do modelo hiperbólico. Os níveis de tensões confinantes
adotados seguiram aqueles aplicados em laboratório, a saber: 100, 200 e 400kPa.

Para a tensão confinante igual a 100kPa os modelos mostram ótimo comportamento até
50% do pico de resistência, sendo a deformação axial da ordem de 2%. No entanto,
ambos os modelos não conseguiram modelar o trecho final da curva tensão deformação,
aplicando taxas de deformação mais elevadas que aquelas quantificadas em laboratório.
Uma possível justificativa para este comportamento dos modelos pode estar associada
ao fato deste ensaio ter apresentado resistência relativamente superior ao das demais
amostras.

76
180

150
Tensão Desvio (kPa)

120

Ensaio
90 Modelo
Sigma

60

30

0
0 5 10 15 20

Deformação Axial (%)

Figura 4.9 - Curvas para o ensaio CD com confinante 100kPa.

Para o nível de tensão confinante igual a 200kPa os modelos tiveram comportamentos


distintos entre si, sendo que o modelo de Duncan e Chang representou melhor o trecho
inicial até próximo do ponto de inflexão. Por outro lado, o sistema Sigma apresentou
melhor o comportamento da resistência final.

Finalmente, para o nível de tensão igual a 400kPa, os modelos forneceram excelentes


resultados para o trecho inicial da curva, para até 2/3 do pico, região de inflexão.

77
250

Tensão Desvio (kPa) 200

150
Ensaio
Modelo
Sigma
100

50

0
0 5 10 15 20

Deformação Axial (%)

Figura 4.10 - Curvas para o ensaio CD com confinante 200kPa.

500

400
Tensão Desvio (kPa)

300
Ensaio
Modelo
Sigma
200

100

0
0 5 10 15 20

Deformação Axial (%)

Figura 4.11 - Curvas para o ensaio CD com confinante 400kPa.

78
Os resultados obtidos no sistema Sigma comparados aos resultados de laboratório
mostraram que o comportamento no trecho inicial foi bastante satisfatório. Para grandes
deformações a resistência de pico foi menor que a de laboratório para as tensões 100 e
400kPa e maior para 200kPa.

O modelo de Duncan e Chang apresentou resistência de pico sempre menor que aquelas
obtidas em laboratório.

4.3 Análise de Sensibilidade

O estudo de sensibilidade foi desenvolvido no sentido de se poder avaliar a influência


relativa de alguns parâmetros no comportamento tensão deformação do solo. Esse
estudo foi desenvolvido com o suporte do sistema Sigma com o emprego do modelo
constitutivo hiperbólico. Com base nos resultados deste estudo, torna-se possível
estabelecer alguns procedimentos de otimização para calibração de parâmetros do
modelo hiperbólico.

Os dados de saída do programa Sigma avaliados na análise de sensibilidade foram o


módulo de deformabilidade tangente (Et) e a tensão desvio (σ1-σ3). Os parâmetros
analisados foram: coesão (c), ângulo de atrito do solo (φ), coeficiente do empuxo em
repouso (k0), coeficiente de Poisson (ν), razão de ruptura (Rf), taxa de variação da
rigidez do solo (n) e constante associada à rigidez inicial do solo (K). A tensão
confinante adotada nesse estudo foi de 100kPa.

O primeiro parâmetro estudado foi a coesão. Três valores diferentes para a coesão foram
adotados: 10kPa, 20kPa e 30kPa. Sua influência na resistência do solo está representada
pelas Figuras 4.12a e b, com base nessas figuras verifica-se que um aumento da coesão
é gera um aumento no módulo tangente e na tensão desvio de ruptura.

79
15000 200
c=10kPa
c=20kPa
Módulo tangente (kPa)
12000

Tensão Desvio (kPa)


c=30kPa 150

9000
100
6000

50 c=10kPa
3000 c=20kPa
c=30kPa
0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)

(a) Módulo Tangente (b) Tensão Desvio


Figura 4.12 - Análise de sensibilidade para a coesão.

A Figura 4.13 reproduz a influência do ângulo de atrito na resistência do solo. O estudo


mostra que com o aumento do ângulo de atrito, tem-se o aumento do módulo tangente e
da tensão desvio de ruptura. Similarmente ao caso anterior, o comportamento da curva
tensão deformação apresenta-se com inflexão mais suave com aumento do ângulo de
atrito.

15000 300
fi=10°
fi=20°
250
12000 fi=30°
Módulo tangente (kPa)

Tensão Desvio (kPa)

200
9000

150

6000
100

3000 fi=10°
50
fi=20°
fi=30°
0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)

(a) Módulo Tangente (b) Tensão Desvio


Figura 4.13 - Análise de sensibilidade para o ângulo de atrito.

80
A influência da razão de ruptura pode ser observada na Figura 4.14, ao maximizar a
razão de ruptura o módulo de deformabilidade tangente aumenta e a tensão desvio de
ruptura diminui. O estudo ainda mostra que ao se diminuir a razão de ruptura a curva
tensão deformação se afasta da hipérbole.

15000 250
Rf=0,90
Rf=0,95
12000 200
Módulo tangente (kPa)

Rf=1,00

Tensão Desvio (kPa)


9000 150

6000 100

3000 50
Rf=0,90
Rf=0,95
Rf=1,00
0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)

(a) Módulo Tangente (b) Tensão Desvio


Figura 4.14 - Análise de sensibilidade para a Razão de ruptura (Rf).

Como ilustrado na Figura 4.15, com o aumento do coeficiente do empuxo em repouso,


que representa o aumento do pré-adensamento, tem-se uma diminuição no valor do
módulo tangente e um aumento no valor da tensão desvio de ruptura.

81
15000
180
Ko=0,5
Ko=0,7
12000 150
Módulo tangente (kPa)
Ko=1,0

Tensão Desvio (kPa)


120
9000

90
6000
60

3000 Ko=0,5
30 Ko=0,7
Ko=1,0
0
0
0 5 10 15 20
0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)

(a) Módulo Tangente (b) Tensão Desvio


Figura 4.15 - Análise de sensibilidade para o coeficiente de empuxo no repouso (K0).

Os estudos mostram que a constante K apresenta-se inversamente proporcional ao


módulo de deformabilidade tangente e diretamente proporcional à tensão desvio. Este
comportamento está ilustrado na Figura 4.16.

15000 180
k=100
k=145 150
12000
Módulo tangente (kPa)

k=200
Tensão Desvio (kPa)

120
9000

90
6000
60

3000 k=100
30
k=145
k=200
0 0
0 5 10 15 20 0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)

(a) Módulo Tangente (b) Tensão Desvio


Figura 4.16 - Análise de sensibilidade para a constante associada à rigidez do solo (K).

82
Para o estudo em questão, o expoente n mostrou ter pouca influência sobre o módulo de
deformabilidade tangente e a tensão desvio de ruptura. Este comportamento está
apresentado na Figura 4.17. Ao variar o valor de n em 21%, não se notou variações
consideráveis nem no módulo tangente e nem na tensão desvio.

15000 180
n=0,75
n=0,85 150

Tensão Desvio (kPa)


12000 n=0,95
Módulo tangente (kPa)

120
9000
90

6000
60
n=0,75
3000 30 n=0,85
n=0,95
0
0 0 5 10 15 20
0 5 10 15 20
Deformação (%) Deformação (%)

(a) Módulo Tangente (b) Tensão Desvio


Figura 4.17 - Análise de sensibilidade para a taxa de variação do solo (n).

4.4 Calibração da curva tensão deformação para o cascalho da


barragem de Irapé – Núcleo Argiloso

A partir dos estudos de simulação das curvas tensão deformação de ensaios triaxiais por
meio do programa Sigma e da análise de sensibilidade procedeu-se à calibração da
curva tensão deformação para o material designado “cascalho” que compõe o núcleo da
barragem de Irapé.

O material denominado “cascalho” juntamente com duas outras argilas, constituem o


núcleo da barragem de Irapé. Segundo Furnas (2004), o cascalho é uma mistura entre
um solo areno-argiloso (J2) com um cascalho.
O principal objetivo de se utilizar a mistura de argila e cascalho no núcleo é empregar
um material mais rígido nas porções mais inferiores do núcleo, de forma a gerar
menores recalques e ao mesmo tempo apresentar características de baixa

83
permeabilidade. A Figura 4.18 apresenta a faixa de distribuição granulométrica do
material cascalho.

100
Material Passante (%)
80

60

40

20

0
0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos Grãos (mm)

Figura 4.18 - Distribuição granulométrica para o material “cascalho”.

A Figura 4.19 representa a curva tensão deformação do ensaio triaxial adensado não
drenado para o material cascalho da barragem de Irapé. As confinantes do ensaio são
100, 300, 600, 900 e 1200kPa. A Figura 4.20 mostra o digrama p’ versus q para o
ensaio mencionado. O p’ representa a média entre as tensões principais efetivas maior e
menor. O fator q representa a tensão cisalhante máxima, igual à diferença entre a tensão
principal maior e a tensão principal menor dividida por dois.

84
800
1200kPa
900kPa
700 600kPa
300kPa
600 100kPa

500
Tensão Desvio Média (kPa)

400

300

200

100

0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
Deformação Axial (%)
Figura 4.19 – Curvas tensão deformação para o cascalho.

800

700

600

500
q (kPa)

400

300

200

100

0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
p' (kPa)

Figura 4.20 – Diagrama p’q do cascalho.

85
O desenvolvimento de pressão neutra durante a deformação dos corpos de prova dos
ensaios triaxiais estão apresentados na Figura 4.21.

1000
100kPa
900 300kPa
600kPa
900kPa
800
1200kPa
700
Pressão Neutra (kPa)

600

500

400

300

200

100

0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0
Deformação Axial (%)

Figura 4.21 – Desenvolvimento da pressão neutra no decorrer da deformação.

Os parâmetros hiperbólicos do cascalho foram obtidos seguindo a metodologia de


Duncan e Chang (1970), apresentada no Capítulo 3, por meio do ensaio de compressão
triaxial adensado não drenado, representado pelas Figuras 4.19 a 4.21. Os valores dos
parâmetros hiperbólicos obtidos estão apresentados na Tabela 4.3.

Tabela 4.3 - Parâmetros hiperbólicos para o “cascalho”.


c’ (kPa) φ’ (°) γ (kN/m³) k n Rf(*) K0
10 35 21,5 163 0,87 1,0 0,5

86
Em função dos elevados níveis de tensão na zona inferior do núcleo argiloso, local onde
se localiza o cascalho, optou-se por utilizar os resultados dos ensaios triaxiais dos níveis
mais elevados de 900 e 1200kPa. Nesta região, os níveis das tensões verticais variam da
ordem de 1000 a 3000kPa, com tensões horizontais próximas de 500 a 1500kPa.

O valor de K0 igual a 0,5 foi obtido ao se considerar o coeficiente de Poisson igual a


0,33, valor usual aplicado em muitos trabalhos geotécnicos. Esse valor foi confirmado
por leituras de células de pressão vertical e horizontal inseridas no núcleo da barragem
de Irapé.

As simulações das curvas tensão deformação do cascalho para as confinantes de 900 e


1200kPa no programa Sigma, a partir dos parâmetros da Tabela 4.3, não apresentaram
um bom resultado, as curvas ficaram abaixo das curvas do ensaio.

A partir desses resultados insatisfatórios e com base nos comportamentos observados


nos estudos de sensibilidade dos parâmetros hiperbólicos, uma calibração da curva
tensão deformação foi elaborada. Os parâmetros selecinados para a calibração foram as
constantes k e n. Os valores das constantes k e n foram alterados sensivelmente até que
as curvas elaboradas pelo programa ficassem próximas às curvas do ensaio. Uma
melhor calibração foi obtida para os valores de k igual a 600 e n igual a 0,45.

As Figuras 4.22 e 4.23 mostram os resultados da calibração das curvas tensão


deformação para o material cascalho. Essas figuras apresentam três curvas tensão
deformação: uma das curvas é a curva do ensaio triaxial apresentada anteriormente pela
Figura 4.19, a outra curva denominada Sigma representa os resultados da calibração das
curvas tensão deformação pelo programa com os novos valores das constantes “k” e “n”
e a terceira curva, modelo, foi obtida por meio da metodologia de Duncan e Chang
(1970).

87
500

400
Tensão Desvio Média (kPa)

300

200

Ensaio
100 Modelo
Sigma
0
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0

Deformação Axial (%)

Figura 4.22 – Curvas tensão deformação para tensão confinante 900kPa.

800

700
Tensão Desvio Média (kPa)

600

500

400

300

200 Ensaio
Modelo
100
Sigma
0
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0 20,0

Deformação Axial (%)

Figura 4.23 – Curvas tensão deformação comparativas para tensão confinante 1200kPa.

88
Capítulo 5

Estudo Tensão Deformação da Barragem de Irapé

5.1 Introdução

Neste capítulo, um relato sobre o empreendimento UHE Irapé é apresentado, bem como
seus materiais constitutivos e sua instrumentação. Estudos tensão-deformação foram
desenvolvidos para o período de construção por meio do programa comercial Sigma
(GeoSlope, 2007). Os valores apresentados pelos instrumentos em campo foram
comparados com os valores obtidos por meio da modelagem numérica.

5.2 O empreendimento UHE Irapé

O aproveitamento hidrelétrico de Irapé (UHE Irapé) encontra-se situado no norte de


Minas Gerais, na região do Rio Jequitinhonha. O reservatório abrange as áreas dos
municípios de Berilo, Grão Mogol, José Gonçalves de Minas, Leme do Prato, Cristália,
Botumirim e Turmalina.

A construção da Barragem de Irapé começou no ano de 2002. O enchimento do


reservatório foi iniciado em 2005. Irapé é a maior barragem em altura do Brasil e a
segunda da América do Sul, com 208 metros de altura e 551 metros de comprimento
total. Irapé é uma barragem zonada com perfil tipo enrocamento com núcleo argiloso.

O reservatório apresenta o nível de água mínimo normal na elevação 470,8m; o nível de


água máximo normal na elevação 510,0m; e o nível de água máximo maximorum na
cota 512,20m. A jusante, o nível de água máximo normal está na elevação 328,2m.

89
A Figura 5.1 apresenta a seção transversal real da barragem de Irapé. Como pode ser
observada, a barragem é formada por diversos materiais que estão descritos na Tabela
5.1.

Tabela 5.1 - Materiais constituintes da barragem de Irapé.


Sigla do Material Descrição
1-J1 Solo argilo - arenoso proveniente da jazida 1
1-J2 Solo argilo - arenoso proveniente da jazida 2
2 Filtro de Areia natural
2A Areia Artificial
3 Transição Fina
3A Transição Média
3B “Cascalho”
4 Transição Grossa
4A Transição Grossa Lançada
5 Enrocamento de Rocha pouco a medianamente decomposta
5A Enrocamento de Rocha medianamente a muito decomposta
5L “Random”
6 Enrocamento de Rocha pouco decomposta a sã
6A Enrocamento lançado
6B Enrocamento de Rocha sã a pouco decomposta
7 Enrocamento de Proteção
9 Enrocamento de revestimento
10 Concreto de Enchimento - Bloco de Fundação

90
Figura 5.1 - Seção transversal da barragem de Irapé.

91
5.2.1 Principais Materiais Constituintes da Barragem de Irapé

Filtro

O filtro é uma areia natural extraída do rio Araçuaí, com faixa granulométrica apresentada
na Figura 5.2. Esse material apresentou um coeficiente de permeabilidade (k) da ordem de
10-²cm/s em ensaios realizados “in situ”.

100

80
Material Passante (%)

60

40

20

0
0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos Grãos (mm)

Figura 5.2 - Distribuição granulométrica para o material filtro.

Random

O material Random (5L) trata-se de um solo que vai desde residual jovem (saprolito) a
rocha muito alterada. Este material é originário de escavações obrigatórias e decape de
pedreira, sendo um material bem graduado com CNU (coeficiente de não uniformidade)
maior que 140.

92
Enrocamentos

A barragem de Irapé é constituída por seis tipos de enrocamento. Para as simulações tensão
deformação foram empregados apenas quatro dos seis enrocamentos com o propósito de
simplificar a modelagem de elementos finitos. Ressalta-se que alguns destes materiais
apresentam parâmetros de resistência bastante parecidos.

Os enrocamentos usados no modelo são denominados 5, 5A, 5L e 6. O material 5 é


composto de rocha pouco a medianamente decomposta com diâmetro máximo de 40cm. O
material denominado de 5A possui o mesmo diâmetro máximo do material 5, sendo de
rocha medianamente a muito decomposta. O material 6 é constituído de rocha pouco
decomposta a sã, com diâmetro máximo de 80cm. Nas Figuras 5.3 a 5.5, estão
representados os limites granulométricos para os enrocamentos constituintes da barragem.

100

80
Material Passante (%)

60

40

20

0
0,01 0,1 1 10 100 1000

Diâmetro dos Grãos (mm)

Figura 5.3 - Distribuição granulométrica para o material “5”.

93
100

Material Passante (%)


80

60

40

20

0
0,01 0,1 1 10 100 1000

Diâmetro dos Grãos (mm)

Figura 5.4 - Distribuição granulométrica para o material “5A”.

100

80
Material Passante (%)

60

40

20

0
0,01 0,1 1 10 100 1000

Diâmetro dos Grãos (mm)

Figura 5.5 - Distribuição granulométrica para o material “6”.

5.2.2 Seção Modelada e Estudada

A seção modelada é uma simplificação da seção real da barragem sem perder a


representatividade de cada material, pois muitos materiais apresentam características
geotécnicas semelhantes. Os sete materiais constituintes do modelo numérico estão
indicados na Tabela 5.2. Os filtros e as transições foram representados apenas por um
material; os enrocamentos de proteção, de revestimento e lançado foram excluídos e

94
representados por um único enrocamento (6). Finalizando, o núcleo central foi representado
por dois materiais o chamado “cascalho” e o solo argilo-arenoso (J1).

Tabela 5.2 - Materiais constituintes da modelagem numérica.


Sigla do Material Descrição
1-J1 Solo argilo - arenoso proveniente da jazida 1
2 Filtros e Transições
3B “Cascalho”
5 Enrocamento de Rocha pouco a medianamente decomposta
5A Enrocamento de Rocha medianamente a muito decomposta
5L “Random”
6 Enrocamento de Rocha pouco decomposta a sã

Assim, com essa simplificação, tem-se um novo zoneamento para a seção transversal de
maior altura da barragem de Irapé, que foi modelada por elementos finitos. Essa nova
divisão de materiais gerou a seção transversal, que é apresentada na Figura 5.6 e a Figura
5.7 mostra a malha de elementos finitos para a seção modelada.

Figura 5.6 - Seção transversal modelada numericamente.

95
Figura 5.7 - Malha de elementos finitos da seção transversal modelada.

96
Os parâmetros geotécnicos para os solos constituintes da modelagem numérica da barragem
de Irapé são apresentados na Tabela 5.3. Esses parâmetros estão aqui reproduzidos com
base em Aires (2004) e foram baseados em ensaios triaxiais e na bibliografia especializada.

Tabela 5.3 - Parâmetros geotécnicos para os materiais da modelagem.


Material E (MPa) Poisson γ (kN/m³) c’ (kPa) φ’ (°)
1-J1 35 0,3 20,0 10 34
Cascalho Variável 0,33 21,5 10 35
Filtros 110 0,3 19,0 0 45
5 75 0,25 21,5 0 40
5A 90 0,25 22,5 0 39
5L 90 0,25 21,0 0 35
6 75 0,25 22,0 0 45

5.3 Modelagem por Elementos Finitos

Três estudos com diferentes modelos constitutivos foram desenvolvidos com o suporte do
programa Sigma. O primeiro estudo empregou o modelo elasto-plástico ao longo de toda a
barragem, o segundo o modelo linear-elástico em toda a barragem e no terceiro estudo
aplicou-se o modelo hiperbólico no núcleo da barragem para o material cascalho,
juntamente com o modelo linear-elástico para o restante dos materiais. Portanto os modelos
constitutivos hiperbólico, elasto-plástico e linear-elástico foram aplicados para o material
cascalho.

Os módulos de deformabilidade do material cascalho foram considerados variáveis com a


tensão vertical, obtidos através do ensaio triaxial não drenado apresentado no Capítulo 4.
Para os casos que foram empregados os modelos linear-elástico e elasto-plástico a
metodologia utilizada considerou o módulo de deformabilidade a 50% (E50) do pico de

97
resistência. Estes valores foram determinados para cada nível de tensão confinante do
ensaio e encontram-se apresentados na Tabela 5.4.

A partir dos módulos de deformabilidade apresentados na Tabela 5.4, criou-se um gráfico


tensão confinante versus módulo de deformabilidade. Uma função foi aproximada a esses
pontos, com o intuito de se obter os módulos E50 para qualquer valor de tensão confinante,
a curva e a função são apresentadas na Figura 5.8.

Tabela 5.4 - Módulos de deformabilidade para o cascalho material do núcleo de Irapé.


Tensão confinante Módulo de
(kPa) deformabilidade (MPa)
100 15,0
300 23,7
600 77,8
900 97,3
1200 128,8

98
140

y = -2E-05x2 + 0,1288x - 2,5924


120
Módulo de deformabilidade (MPa)

100

80

60

40

20

0
0 200 400 600 800 1000 1200

Tensão Confinante (kPa)

Figura 5.8 - Função para o E50 do solo cascalho.

A simulação para o período construtivo da barragem foi realizada em oito etapas e cada
etapa foi subdividida em dez sub-etapas. O sistema permite introduzir o efeito gravitacional
lentamente. Assim, dá-se ao peso específico dos solos um valor igual à razão entre o peso e
o número de sub-etapas. No caso em questão o peso específico utilizado foi dividido por
dez.

O programa Sigma permite que se organizem os cálculos pelo tempo, assim foi considerado
um período de vinte e três meses para o alteamento da barragem, dividido em dois meses e
meio para as seis primeiras etapas que vão até a cota 480m e as outras duas etapas
abrangem um tempo de quatro meses cada, totalizando 690 dias, tal como o tempo real da
construção da barragem.

A região de maior interesse no estudo das tensões e deformações é o núcleo da barragem e


é onde está instalada a grande maioria dos instrumentos de auscultação. As Figuras 5.9a e

99
5.9b, representam a seção transversal da barragem com os instrumentos. A Tabela 5.5
apresenta a relação dos instrumentos instalados e a quantidade dos mesmos, nota-se que a
barragem de Irapé foi muito bem instrumentada.

Tabela 5.5 - Quantitativo dos instrumentos de Irapé.


Instrumento Quantidade
Marcos Superficiais (MS) 51
Medidores de Vazão (MV) 5
Células de Pressão (CP) 33
Medidores de Recalque Elétrico (RE) 38
Piezômetros: Elétricos (PE) e Casagrande (PC) 50/4
Caixa Sueca (CS) 21
Inclinômetro (IN) 2
Placa de Recalque Magnético (RM) 17
Medidor de pH (pH) 2

100
Figura 5.9a - Seção transversal da barragem de Irapé instrumentada.

101
Figura 5.9b - Seção transversal da barragem de Irapé instrumentada.

102
5.4 Estudos de refinamento da malha da barragem de Irapé

A partir do supracitado, buscou-se o refinamento da malha de elementos finitos, tendo


em vista averiguar a influência do tamanho dos elementos da malha nos estudos de
deformações. O estudo iniciou-se com uma malha igual para toda barragem com
elementos de 8 metros, depois os elementos foram refinados para 4 metros e
posteriormente para 2 metros. O modelo empregado neste estudo de refinamento, para
todos os materiais da barragem, foi o linear-elástico.

Para esse estudo, escolheu-se avaliar o recalque provocado pelo alteamento da barragem
à medida que se constrói o aterro, e o ponto de interesse foi locado no eixo da barragem
à meia altura, sendo bastante representativo dos recalques sofridos pelo núcleo, a síntese
desse estudo é apresentada na Figura 5.10.

Ao se analisar a Figura 5.10 percebeu-se que o refinamento da malha não acarretou


variação no recalque, as três curvas são coincidentes. A malha mais refinada acarreta
um maior tempo de resolução do problema pelo programa. Então, optou-se pela malha
de 4m com 3936 elementos, pois com esse tamanho de malha tem-se um refinamento
nos resultados, mas não compromete o tempo de resolução do problema pelo programa.

103
Elevação do Aterro (m)
400 430 460 490 520

-0,1 Malha de 8 m
Malha de 4 m
Malha de 2 m
-0,3
Recalque (m)

-0,5

-0,7

-0,9

-1,1

Figura 5.10 - Elevação do aterro versus recalque para o refinamento da malha de elementos
finitos no núcleo da barragem.

5.5 Simulações para o final da construção

Este subitem apresenta simulações para o final da construção da barragem com o emprego
dos modelos constitutivos linear-elástico, elasto-plástico e hiperbólico. Os resultados
analisados foram recalques, tensões totais verticais e tensões totais horizontais. Estes
modelos foram aplicados de acordo com as especificações seguintes:
1°) Todos solos e enrocamentos implementados com o modelo linear-elástico e o cascalho
foi modelado com função E50 para o módulo de deformabilidade;
2°) Todos solos e enrocamentos implementados com o modelo elasto-plástico e o cascalho
foi modelado com função E50 para o módulo de deformabilidade;
3°) Material cascalho implementado com o modelo hiperbólico e restante dos solos e
enrocamentos com o modelo linear-elástico.

104
5.5.1 Recalques para o final da construção

As Figuras 5.11 a 5.13 apresentam a distribuição dos recalques ao longo da barragem para
o final dos alteamentos. A forma não uniforme das linhas de isovalores se deve ao processo
numérico de simulação em etapas, realizado em 8 etapas discretas acrescidas de 10 etapas
gravitacionais (aumento gradativo do peso). Notifica-se que quanto maior o número de
etapas considerada na modelagem, menor será este efeito. No entanto, o uso do sistema fica
cada vez mais trabalhoso para se operar.

Ao observar as Figuras 5.11 a 5.13, uma variação é notada entre os recalques sofridos para
os diferentes modelos. O recalque máximo foi de 1,6m para o modelo linear-elástico; 1,8m
para o modelo elasto-plástico e 2,2m para o modelo hiperbólico. Os recalques máximos
ocorreram entre as cotas 400 e 420 metros, região central do núcleo. O comportamento dos
recalques modelados com relação aos recalques medidos pelos instrumentos será visto e
discutido no item adiante.

Figura 5.11 - Recalque para o modelo linear-elástico com função E50 para o cascalho.

105
Figura 5.12 - Recalque para o modelo elasto-plástico com função E50 para o cascalho.

Figura 5.13 - Recalque para o modelo hiperbólico para o cascalho.

106
5.5.2 Tensões totais verticais para o final da construção

As tensões totais verticais para o final da construção da barragem são exibidas pelas
Figuras 5.14 a 5.16. Ao analisar o conteúdo destas figuras verifica-se que as tensões se
concentram nas zonas de filtro e transição dos materiais, ou seja, ocorre o fenômeno
conhecido como arqueamento.

Este comportamento era previsto, pois o filtro e o enrocamento 5L apresentam maior


rigidez que o núcleo da barragem. O módulo de deformabilidade do material 1-J1 (material
superior do núcleo) é igual a 35MPa, contra 110MPa para o filtro e próximo de 80MPa para
as transições. Naturalmente, com base nesses valores, era esperado o forte arqueamento que
foi quantificado. Na região do cascalho, os arqueamentos foram bem menores ou
inexistentes para os modelos linear-elástico e elasto-plástico, principalmente a montante.
No entanto, o mesmo não foi observado para o modelo hiperbólico.

As Figuras 5.15b e 5.16b mostram que em ambos os modelos plásticos a região superior ao
cascalho até a cota 370m sofre plastificação no final da construção, as imagens em amarelo
representam esse comportamento. A plastificação para o modelo elasto-plástico se estende
às interfaces do núcleo com os filtros e transições, mais preponderantemente, de montante.
No modelo hiperbólico não foi detectado plastificação nas interfaces do núcleo com os
filtros e transições.

Esse comportamento é bastante importante, pois fortalece o conceito de que os


arqueamentos elevados em campo estariam associados a interfaces mais resistentes em sua
interação. E arqueamentos mais suaves em materiais com distinção de rigidez poderiam
estar associados a processos de ruptura entre as interfaces, com a subseqüente
redistribuição de tensões.

107
Os modelos linear-elástico e elasto-plástico consideraram a variação dos módulos de
deformabilidade com o aumento da tensão vertical total para o cascalho (Tabela 5.4). Como
observado nas Figuras 5.14 a 5.16, na região de interface no núcleo, entre os solos 1-J1 e
3B, a tensão vertical total situou-se em torno de 1200kPa e no contato com a fundação os
valores foram máximos e situaram-se entre 3400 a 3600kPa. Com esta faixa de valores, os
módulos de deformabilidade variaram de 70 a 160MPa, aproximando-se e até superando as
magnitudes das rigidezes do filtro e transições. Muito provavelmente por este motivo, os
modelos linear-elástico e elasto-plástico não evidenciaram arqueamento na região mais
profunda do núcleo, abaixo da cota 360m.

Figura 5.14 - Tensões totais verticais para o modelo linear-elástico E50.

108
(a)

(b)
Figura 5.15 – Modelo elasto-plástico: a - tensões totais verticais; b - zonas de plastificação.

Nitidamente, o comportamento diferencial do modelo hiperbólico, pode estar associado a


dois fatores: a não ocorrência de plastificação nas interfaces núcleo com o filtro e transições
e uma baixa taxa de aumento da rigidez do cascalho com o nível de tensão.

109
(a)

(b)
Figura 5.16 – Modelo hiperbólico: a - tensões totais verticais; b - plastificação.

110
5.5.3 Tensões totais horizontais para o final da construção

De forma similar às tensões verticais, como apresentado nas Figuras 5.17 a 5.19, o
comportamento das tensões horizontais mostra boa uniformidade das linhas de isovalores
na região inferior, até a cota 380m, com detecção de arqueamento na interface do núcleo
com o filtro e transição na porção superior da barragem, destaque para cota 460m.
Novamente, o modelo hiperbólico apresenta comportamento diferencial, com maior efeito
de arqueamento que os demais modelos. As possíveis justificativas para este
comportamento são semelhantes àquelas apresentadas para as tensões verticais.

Figura 5.17 - Tensões totais horizontais para o modelo linear-elástico E50.

111
Figura 5.18 - Tensões totais horizontais para o modelo elasto-plástico E50.

Figura 5.19 - Tensões totais horizontais para o modelo hiperbólico.

112
5.6 Simulações relativas ao período construtivo

Algumas avaliações das tensões e dos recalques foram desenvolvidas durante o período de
alteamento da barragem, considerando os mesmos arranjos dos modelos do Item 5.5. Essa
avaliação foi realizada ao organizar os resultados das simulações do programa empregando
os modelos linear-elástico (LE), elasto-plástico (EP) e o hiperbólico (HP) com os dados
fornecidos pela instrumentação em gráficos. O banco de dados da instrumentação
disponível é até a elevação 482m, correspondente ao final do sexto alteamento (etapa).

Para este estudo as leituras de treze instrumentos foram usadas:


• Células de Pressão CP-301, CP-302, CP-304, CP-306, CP-308 e CP-309;
• Placas de Recalque Magnético RM-302, RM-304, RM-306, RM-307 e RM-308;
• Caixa Sueca CS-301 e CS-305.

As leituras dos instrumentos CP-301, CP-302, CP-304, CP-306 e CP-308 foram usadas
para avaliar a tensão total vertical e as leituras da célula de pressão CP-309 foram usadas
para avaliar a tensão total horizontal. Os recalques foram avaliados pelas leituras dos
instrumentos RM-302, RM-304, RM-306, RM-307, RM-308, CS-301 e CS-305.

Estudo das tensões totais horizontais

O instrumento CP-309 localiza-se na elevação 421m, a meia altura do núcleo, afastado 26m
do eixo da barragem e a aproximadamente 11m do filtro. Este instrumento foi escolhido por
estar no local de concentração de tensões, onde o arqueamento foi detectado.

De acordo com o comportamento observado na Figura 5.20, o modelo elasto-plástico


apresentou, até a leitura da elevação do aterro na cota 480m, um comportamento mais
próximo daquele verificado para as leituras do instrumento. Os outros modelos
apresentaram comportamento semelhante, porém diferencial em relação ao instrumento a

113
partir de elevação 460m. Nestes modelos, o aumento da tensão horizontal mostrou-se
“inibido” a partir desta elevação.

As Figuras 5.17, 5.18 e 5.19 destacam o efeito do arqueamento. No final de construção os


resultados mostram que a tensão horizontal igual a 400kPa, no eixo da barragem, ocorre na
elevação 380, 410, e 420m, para os modelos linear-elástico, hiperbólico e elasto-plástico,
respectivamente. Este comportamento sugere maior alívio de tensão horizontal no núcleo,
em função do maior arqueamento nos filtros e transições, para o modelo elasto-plástico,
seguido do modelo hiperbólico e linear-elástico.

O comportamento registrado pelo instrumento CP-309 sugere que o modelo elasto-plástico


melhor representou esta condição de campo, ou seja, os modelos linear-elástico e
hiperbólico simularam um arqueamento mais moderado em relação ao registrado em
campo, Figura 5.20. Com base nos comportamentos observados, é sugerido que em campo
ocorreu plastificação nas interfaces.

700
CP-309
LE
Tensão Total Horizontal (kPa)

600
EP
HP
500

400

300

200

100

0
410 430 450 470 490 510
Elevação do Aterro (m)

Figura 5.20 - Tensões totais horizontais dos modelos e instrumento CP-309.

114
Estudo das tensões totais verticais

O instrumento CP-301 está instalado no eixo da barragem na cota 329m, muito próximo da
fundação. A Figura 5.21 apresenta o estudo comparativo entre as tensões de campo e as da
simulação numérica para esse instrumento.

A partir desta figura, nota-se que, as tensões das simulações foram iguais às do instrumento
até a cota 415m do aterro. Essa cota coincide com o início da compactação do solo 1-J1.
Como já apresentado, este solo tem rigidez bem inferior a do filtro e transições, ou seja, a
partir desta elevação tem-se o início do arqueamento e em conseqüência, os incrementos de
tensão vertical não acompanham linearmente o aumento da altura do aterro compactado. Os
resultados numéricos mostraram comportamento bastante semelhante dentre os modelos
adotados. Em função de o instrumento estar localizado no eixo da barragem e na região de
maior extensão transversal, ou seja, longe das interfaces, este fato comportamental sugere
que o forte diferencial entre os modelos estaria associado aos efeitos da interação das
interfaces.

3500
CP-301
3000 LE
EP
Tensão Total Vertical (kPa)

HP
2500

2000

1500

1000

500

0
320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 520
Elevação do Aterro (m)

Figura 5.21 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-301.

115
A Figura 5.22 mostra as tensões verticais do instrumento CP-302. Este instrumento está
instalado no eixo da barragem na cota 355m, 26 metros acima do instrumento CP-301. O
comportamento deste estudo é divergente daqueles observados nos instrumentos anteriores.
Neste caso, as tensões de campo mostram-se superiores àquelas quantificadas pelos
modelos. Notifica-se que pouco acima desta cota, cerca de 15 metros, tem-se o início da
plastificação do cascalho, como apresentado pelos modelos elato-plástico e hiperbólico.

3000
CP-302
LE
2500 EP
Tensão Total Vertical (kPa)

HP
2000

1500

1000

500

0
350 370 390 410 430 450 470 490 510

Elevação do Aterro (m)

Figura 5.22 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-302.

O estudo para o instrumento CP-304, instalado no eixo da barragem na cota 385m, a 60


metros da fundação, é apresentado pela Figura 5.23. Os resultados mostram-se bastante
ajustados, ratificando dois comportamentos predominantes: os modelos EP e HP
apresentam resultados mais próximos daqueles quantificados em campo e o arqueamento
do núcleo sobre os filtros e transições foi maior em campo que aquele quantificado pelos
modelos.

116
2500
CP-304
LE
EP

Tensão Total Vertical (kPa)


2000
HP

1500

1000

500

0
380 400 420 440 460 480 500 520
Elevação do Aterro (m)

Figura 5.23 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-304.

A célula de pressão CP-306 encontra-se instalada no eixo da barragem e na elevação 421m,


bem no centro do núcleo. A Figura 5.24 apresenta os resultados para esse instrumento. O
modelo elasto-plástico apresentou tensões bem próximas das de campo. De certa forma,
pode-se sugerir que nesta elevação do instrumento, os efeitos de arqueamento quantificados
pelos modelos mostram-se semelhantes aos de campo.

117
1600
CP-306
1400 LE
EP

Tensão Total Vertical (kPa)


1200 HP

1000

800

600

400

200

0
410 430 450 470 490 510

Elevação do Aterro (m)

Figura 5.24 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-306.

As leituras do instrumento CP-308, instalado juntamente com o CP-309 (carga horizontal),


a 11 metros do filtro, são apresentadas pela Figura 5.25. Novamente, o comportamento dos
modelos EP e HP apresentou melhor ajuste às condições de campo. O comportamento
observado neste estudo é bastante importante.

Este instrumento encontra-se numa região de forte arqueamento e neste caso o


comportamento predominante observado é o oposto daquele observado para região central
do núcleo, quando as leituras dos instrumentos apresentaram-se abaixo daquelas
quantificadas com os modelos. Assim, uma vez que os modelos foram moderados na
representatividade do efeito de arqueamento, era de se esperar que as tensões modeladas
para região central do núcleo fossem superiores àquelas registradas pelos instrumentos.

118
1600
CP-308
1400 LE
EP

Tensão Total Vertical (kPa)


1200 HP

1000

800

600

400

200

0
410 430 450 470 490 510

Elevação do Aterro (m)

Figura 5.25 - Tensões totais verticais dos modelos e instrumento CP-308.

Atenção especial dá-se ao par de instrumentos CP-308 (tensões verticais) e CP-309


(tensões horizontais). Com base nos resultados registrados, foi possível quantificar o
parâmetro K0 de trajetória de tensões (razão entre a tensão horizontal e vertical). Como
apresentado na Figura 5.26, esta razão estabiliza-se em torno de 0,5 quando a altura de
aterro sobre os instrumentos alcança 36m. Esse resultado sugere que a tensão de pré-
adensamento induzida pela compactação esteja em torno de 648kPa, quantificada pelo peso
de terra que estabilizou a relação K0.

119
490

480

470

Elevação (m) 460

450

440

430

420
0 0,5 1 1,5 2 2,5
K

Figura 5.26 – Comportamento do parâmetro K0 ( σ h / σ v ).

Estudo dos recalques

Para o estudo dos recalques, foram selecionados sete instrumentos, os instrumentos RM


estão instalados no eixo da barragem e as cotas dos instrumentos são: RM-302 cota 355m,
RM-304 cota 385m, RM-306 cota 421m, RM-307 cota 440m e RM-308 cota 460m. Assim,
este estudo se estendeu a quase todo o eixo da barragem. As caixas suecas estão instaladas
no enrocamento. O instrumento CS-301 está a 67m do eixo da barragem, na cota 367m e o
CS-305 está a 57m do eixo da barragem, na cota 400m. Ambos os instrumentos estão
próximos da transição.

Nesse estudo, os instrumentos localizados abaixo da cota 400m apresentaram recalques


menores que aqueles quantificados pelos modelos numéricas. O instrumento localizado na
cota 400m, RM-306 (Figura 5.29), apresentou o melhor ajuste numérico dentre todos os
instrumentos analisados. Os instrumentos localizados acima da cota 400m apresentaram
recalques maiores que os quantificados pelos modelos numéricos. A Tabela 5.6 mostra um

120
resumo dos recalques calculados pelos modelos e os recalques aferidos pelos instrumentos
para a elevação do aterro na altura de 482 metros. Na Tabela 5.6, o termo “razão”
representa a relação entre o recalque calculado pelo modelo e o registrado em campo. Ao
analisar a razão o modelo que apresentou o melhor ajuste foi o elasto-plástico.

Na última linha da Tabela 5.6 tem-se a razão média quantificada por meio da média
aritmética das razões de cada modelo. Comparando-se então o comportamento médio dos
modelos com os valores quantificados em campo, como mencionado anteriormente, pode-
se verificar que os instrumentos localizados abaixo da meia altura da barragem apresentam
recalques de campo inferiores aos recalques calculados numericamente. Este
comportamento sugere que o módulo de deformabilidade de campo seja superior ao
aplicado nos modelos.

Oportunamente, notifica-se que, exceto para o cascalho, os demais materiais foram


modelados com módulos de deformabilidade constantes. Como se sabe, os módulos tendem
a aumentar com o aumento do nível de tensão. Assim, uma modelagem mais adequada
deveria contemplar este efeito em todos os materiais da barragem. No caso em questão, o
aumento do módulo de deformabilidade em função do nível de tensão levaria os modelos a
apresentarem recalques menores na região inferior e maiores na superior da barragem,
ajustando-se melhor às condições verificadas em campo.

Tabela 5.6 - Recalques dos instrumentos e modelos para a cota 482 metros.
Instrumento Campo (m) LE (m) Razão EP (m) Razão HP (m) Razão
RM-302 0,59 0,79 1,34 0,76 1,29 0,91 1,54
RM-304 0,86 1,07 1,24 1,05 1,22 1,34 1,56
RM-306 1,29 1,25 0,97 1,20 0,93 1,45 1,12
RM-307 1,45 0,97 0,67 1,00 0,69 1,21 0,83
RM-308 1,10 0,64 0,58 0,64 0,58 0,91 0,83
CS-301 0,77 0,98 1,27 0,96 1,25 1,04 1,35
CS-305 0,75 1,22 1,63 1,19 1,59 1,31 1,75
Razão Média LE 1,10 EP 1,08 HP 1,28

121
O instrumento RM-302 está localizado no eixo e próximo à fundação da barragem. O
comportamento apresentado na Figura 5.27 ilustra bem a discussão anterior. Os modelos
poderiam ser calibrados por meio do aumento da rigidez do cascalho. No entanto, um
aumento da contribuição dos arqueamentos poderia proporcionar o mesmo efeito de
minimização de recalques no núcleo. Comportamento bastante similar é ilustrado na Figura
5.28, para o instrumento RM-304.

Elevação do Aterro (m)


350 370 390 410 430 450 470 490 510
0,0

-0,2
Recalque (m)

-0,4

-0,6

RM-302
-0,8 LE
EP
HP
-1,0

Figura 5.27 - Recalques dos modelos e instrumento RM-302.

122
Elevação do Aterro (m)
380 400 420 440 460 480 500 520
0,0

-0,2

Recalque (m) -0,4

-0,6

-0,8

-1,0

-1,2 RM-304
LE
-1,4 EP
HP
-1,6

Figura 5.28 - Recalques dos modelos e instrumento RM-304.

Como previamente comentado e ilustrado nas Figuras 5.29 e 5.30, o comportamento na


região central do núcleo, próximo à interface entre os solos cascalho e J1, mostra-se muito
bem ajustado, com diferenças relativas entre os modelos.

Elevação do Aterro (m)


410 430 450 470 490 510
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
Recalque (m)

-0,8
-1,0
-1,2
-1,4 RM-306
-1,6 LE
EP
-1,8
HP
-2,0

Figura 5.29 - Recalques dos modelos e instrumento RM-306.

123
Elevação do Aterro (m)
440 460 480 500 520
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
Recalque (m)

-0,8
-1,0
-1,2
-1,4 RM-307
-1,6 LE
EP
-1,8
HP
-2,0

Figura 5.30 - Recalques dos modelos e instrumento RM-307.

Elevação do Aterro (m)


460 470 480 490 500 510 520
0,0

-0,2

-0,4
Recalque (m)

-0,6

-0,8

-1,0

-1,2 RM-308
LE
-1,4 EP
HP
-1,6

Figura 5.31 - Recalques dos modelos e instrumento RM-308.

124
Elevação do Aterro (m)
360 380 400 420 440 460 480 500 520
0,0

-0,2

-0,4
Recalque (m)

-0,6

-0,8

-1,0 CS-301
LE
-1,2 EP
HP
-1,4

Figura 5.32 - Recalques dos modelos e instrumento CS-301.

Elevação do Aterro (m)


390 410 430 450 470 490 510
0,0

-0,5

-1,0
Recalque (m)

-1,5

-2,0
CS-305
LE
-2,5
EP
HP
-3,0

Figura 5.33 - Recalques dos modelos e instrumento CS-305.

125
Capítulo 6

Conclusões

6.1 Considerações Finais e Recomendações

O monitoramento de barragens por meio da interpretação dos dados dos instrumentos de


auscultação é muito importante para se avaliar a segurança do empreendimento. Esse
monitoramento deve iniciar durante a construção da barragem e continuar por todo o
período de operação. O Capítulo 2 apresentou os principais instrumentos que devem ser
instalados em barragens de terra e enrocamento, e algumas leituras desses instrumentos
realizadas para algumas barragens.

Os estudos para obras de barragens na fase de projeto devem contemplar ensaios de


laboratório e “in situ”, que serão à base das análises de estabilidade, percolação de água e
tensão deformação do empreendimento. Essas análises, atualmente, são realizadas por
programas computacionais de última geração, normalmente com solução por elementos
finitos. No caso particular, de estudo tensão e deformação, o principal fator foi a escolha do
modelo constitutivo que representasse as características dos materiais envolvidos. No
Capítulo 3 destacou-se a modelagem do problema via programa Sigma, e as metodologias
dos modelos elasto-plástico e hiperbólico.

O uso de modelos numéricos possibilitou avaliar o comportamento do material não


convencional, “cascalho”, utilizado na barragem de Irapé. Esse material mostrou-se
extremamente rígido, com pequenas deformações durante a construção. O maior recalque
apresentado pelos instrumentos foi 1,45m. Esse valor máximo de recalque representa 0,2%
da altura máxima da barragem.

126
No Capítulo 4 desenvolveu-se uma metodologia para obter curvas tensão deformação de
ensaios triaxiais drenados ou não drenados. Isso foi possível pela obtenção dos parâmetros
hiperbólicos por meio de ensaio triaxial ao empregar a metodologia de Duncan e Chang
(1970) e, então, usar esses parâmetros no programa Sigma.

A conclusão deste estudo foi positiva para a simulação das curvas tensão deformação para o
ensaio não drenado (CU) utilizando o modelo hiperbólico. Por outro lado, o modelo
elastoplástico não forneceu resultados bons. E para a simulação das curvas tensão
deformação do ensaio drenado (CD) por meio do modelo hiperbólico os resultados foram
ruins, bem inferiores aos do ensaio.

Os resultados das simulações das curvas tensão deformação do programa Sigma para o
material cascalho por meio do modelo hiperbólico não foram satisfatórios, apresentando
valores bem menores que os valores do ensaio. Mas ao se calibrar as curvas tensão
deformação pela variação das constantes “K” e “n” obtiveram-se resultados válidos. Assim,
podem-se ter curvas tensão deformação de ensaios triaxiais por meio de calibração e então
se obtém curvas tensão deformação para qualquer tensão de confinamento

O Capítulo 5 inicia com as simplificações realizadas para a seção transversal modelada


numericamente. A exclusão de alguns materiais constituintes da barragem é um
procedimento comum neste tipo de estudo e muito provavelmente não apresentou nenhum
inconveniente para o modelo e nem para os resultados. Assim, validando as simplificações,
que devem ser feitas.

O tamanho dos elementos finitos que compõem a malha numérica é um fator importante de
ser analisado. De uma maneira geral, quanto menor o elemento mais refinado (melhor) será
o resultado da simulação numérica. Em contrapartida a malha fica com maior número de
nós, o que acarreta um maior tempo para resolução do problema. Portanto, é bastante

127
importante encontrar um equilíbrio entre o tamanho do elemento e a qualidade dos
resultados. Ressalta-se que em alguns estudos, o excesso de refinamento da malha pode
induzir resultados de pior qualidade. No caso da barragem de Irapé a malha com elementos
de tamanho igual a 4 metros proporcionou bons resultados sem comprometer o tempo de
resolução do problema.

Nesta dissertação foi avaliado o desempenho dos modelos linear elástico, elasto-plástico e
hiperbólico, para o material cascalho utilizado no núcleo da barragem de Irapé. Os
resultados dos recalques ao final da construção dos modelos pelo programa foram recalques
máximos em torno de 1,6m a 2,2m nas cotas entre 400m e 420m. De acordo com o
Capítulo 2 e dados da literatura, os recalques máximos se desenvolvem à meia altura da
barragem. Isso foi comprovado para o estudo da barragem de Irapé desenvolvido para os
modelos linear elástico, elasto-plástico e hiperbólico.

O estudo das tensões totais verticais para o final dos alteamentos da barragem apresentou o
fenômeno do arqueamento. Essa concentração de tensões foi mais acentuada para o
resultado do modelo hiperbólico e menos acentuada para o modelo linear elástico. Esse
arqueamento era esperado, pois o filtro e os enrocamentos são materiais com maior rigidez
que os materiais que compõem o núcleo. No caso particular, o filtro possui módulo de
deformabilidade três vezes maior que o módulo do solo argilo–arenoso (J1), que é um dos
materiais do núcleo da barragem.

O módulo de deformabilidade (E50) foi estipulado como função da tensão para os modelos
linear elástico e elasto-plástico considerando os módulos de deformabilidade calculados
para cada confinante do ensaio triaxial. A avaliação desse módulo (E50) pode ser feita
através dos resultados apresentados no Capítulo 5 e constata-se que foi uma maneira válida,
por se aproximar mais fielmente das condições de campo e representar os resultados do
ensaio triaxial.

128
No final do Capítulo 5, os estudos apresentaram um confronto entre os resultados das
simulações computacionais com as leituras dos instrumentos da barragem que indicam os
recalques e as tensões. Algumas considerações devem ser ressaltadas:
- o ensaio triaxial mais indicado para estudos tensão deformação deve ser do tipo drenado
por melhor representar as condições de campo, como a dissipação das poropressões ao
longo do alteamento da barragem;
- o ideal seria a representação do módulo de deformabilidade em função das tensões de
confinamento para todos os materiais que compõem a barragem.

A partir destas considerações e dos resultados apresentados no Capítulo 5 pode-se fazer


análises dos resultados e chegar a algumas conclusões.

Como um todo, os resultados dos recalques e tensões horizontais e verticais para o final da
construção os modelos linear elástico e elasto-plástico foram os que forneceram melhores
resultados.

A primeira análise é para a comparação das tensões totais horizontais entre os resultados da
célula de pressão 309 com as simulações dos modelos pelo programa Sigma. As curvas das
simulações não foram muito satisfatórias, embora a curva do modelo elasto-plástico se
aproxima da curva do instrumento.

A segunda análise é para a comparação das tensões totais verticais em cinco instrumentos
posicionados no eixo da barragem e em cotas diferentes. As curvas apresentaram uma
adequação entre os valores das simulações para todos os três modelos usados com os
valores dos instrumentos. Isso é comprovado para as cinco células de pressão. Assim, os
parâmetros que definem as tensões verticais foram bem definidos para a barragem como
um todo pelos três modelos adotados.

129
Em geral, o estudo comparativo para os recalques não foi muito bom. As simulações
computacionais apresentaram recalques maiores que os observados em campo. O que
comprova que o material cascalho possui uma rigidez maior que a obtida pelo ensaio
triaxial. Mas, pode-se destacar o modelo elasto-plástico que apresentou uma razão média de
8% maior que os recalques de campo.

O método para calibrar a curva do ensaio triaxial por meio do programa Sigma foi válida.
Assim, os resultados para o modelo hiperbólico foram bons. O modelo hiperbólico não é o
mais indicado para aplicação do solo cascalho. Pois ao realizar o ensaio triaxial o material é
peneirado e assim a faixa granulométrica graúda do cascalho é excluída e com isso a
resistência apresentada não é a resistência verdadeira do material e sim a resistência de uma
porção mais fina do material.

Finalmente, pode-se indicar o modelo elasto-plástico com o uso da função E50 como o mais
indicado para os estudos tensão deformação de uma barragem. Isso por ser o modelo que
mais aproximou-se dos resultados de campo.

130
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135
Anexo I

Figura I.1 - Deslocamento horizontal para o modelo linear elástico com função E50 para o
cascalho.

Figura I.2 - Deslocamento horizontal para o modelo elastoplástico com função E50 para o
cascalho.

136
Figura I.1 - Deslocamento horizontal para o modelo hiperbólico para o cascalho.

137
Anexo II

Elevação do Aterro (m)


320 340 360 380 400 420 440 460 480 500 520
0,0
-0,1
-0,2
Recalque (m)

-0,3
-0,4
-0,5
-0,6
RM-301
-0,7 LE
EP
-0,8
HP
-0,9

Figura II.1 – Recalques dos modelos e do instrumento RM-301.

Elevação do Aterro (m)


390 410 430 450 470 490 510
0,0
-0,2
-0,4
-0,6
Recalque (m)

-0,8
-1,0
-1,2
-1,4 RM-305
-1,6 LE
EP
-1,8
HP
-2,0

Figura II.2 – Recalques dos modelos e do instrumento RM-305.

138
Elevação do Aterro (m)
380 400 420 440 460 480 500 520
0,0

-0,2

Recalque (m) -0,4

-0,6

-0,8

-1,0

-1,2 RE-307
LE
-1,4 EP
HP
-1,6

Figura II.3 – Recalques dos modelos e do instrumento RE-307.

Elevação do Aterro (m)


360 380 400 420 440 460 480 500 520
0,0

-0,2
Recalque (m)

-0,4

-0,6

CS-306
-0,8 LE
EP
HP
-1,0

Figura II.4 – Recalques dos modelos e do instrumento CS-306.

139

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