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INSTITUTO FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CAMPUS SÃO MATEUS


CURSO DE ENGENHARIA MECÂNICA

THIAGO MATHEUS GOMES FURINI

EFEITOS DA ROTAÇÃO DA COLUNA DE PERFURAÇÃO NO DESEMPENHO DO


PROCESSO DE LIMPEZA DE POÇOS HORIZONTAIS

SÃO MATEUS – ES
2016
THIAGO MATHEUS GOMES FURINI

EFEITOS DA ROTAÇÃO DA COLUNA DE PERFURAÇÃO NO DESEMPENHO DO


PROCESSO DE LIMPEZA DE POÇOS HORIZONTAIS

Monografia apresentada ao Colegiado do Curso de


Graduação em Engenharia Mecânica do Instituto Fe-
deral do Espírito Santo, Campus São Mateus, como
requisito parcial para a obtenção do título de bacha-
rel em Engenharia Mecânica.

Orientador: Prof. Dr. Renato do Nascimento Siqueira

SÃO MATEUS – ES
2016
F984e Furini, Thiago Matheus Gomes, 1992–
2016
Efeitos da rotação da coluna de perfuração no desempenho do
processo de limpeza de poços horizontais / Thiago Matheus Gomes
Furini.-- São Mateus, 2016.
45 f. : il; 30 cm.

Orientador: Prof. Dr. Renato do Nascimento Siqueira.

Monografia (graduação) - Instituto Federal do Espírito Santo,


Coordenadoria de Curso Superior de Engenharia Mecânica, 2016.

1. Dinâmica – mecânica aplicada 2. Perfuração de poços. 3.


Petróleo. I. Siqueira, Renato do Nascimento. II. Instituto Federal do
Espírito Santo. III. Título.

CDD 620.104
Bibliotecária responsável Sheila Guimarães Martins CRB6/ES 671
Dedico este trabalho aos meus familiares, noiva e amigos, que sempre
estiveram ao meu lado em toda a minha história.
AGRADECIMENTOS

Agradeço sempre a Deus, pois sua misericórdia nos permite viver e ter esperanças em
um futuro maior.

Agradeço à toda minha família, irmãos, cunhados, tios e primos, em especial aos meus
pais, Dena e Eustáquio, que com amor me formaram e me educaram, além de todo o
incentivo e auxílio em todos os momentos.

Agradeço à Thamires, que me suporta e está sempre ao meu lado desde 2009, me
dando forças e motivos para sempre continuar em meus planos e sonhos.

Agradeço aos meus amigos irmãos, aos quais destaco Bahêa (Marcelo), André, Hó-
liver, Lucas, Davi, Eduardo, Arthur, Hiago, Dielyson e outros tantos, que sempre me
forneceram momentos de alegrias, boas risadas e parcerias.

Aos meus professores, que me ensinaram e auxiliaram no caminho da minha conquista.


Em especial ao Renato, que desde 2010 se tornou mais que professor orientador, se
tornou um amigo, sempre auxiliando e apoiando.

Agradeço ao IFES, pela educação de qualidade que me possibilitou ter, desde o ensino
técnico até o superior, fornecendo os componentes necessários para minha formação.
"A única segurança verdadeira consiste numa reserva de sabedoria,
de experiência e de competência."
Henry Ford
RESUMO

O presente trabalho utiliza a ferramenta de Dinâmica dos Fluidos Computacional (CFD)


Ansys CFX 16.0 para obtenção de respostas em relação ao aumento da rotação da
coluna interna e suas consequências sobre o comportamento de um escoamento
laminar de fluido Herschel-Bulkley em um espaço anular formado entre a parede do
poço e a coluna de perfuração. O escoamento possui características de um fluido de
perfuração geralmente utilizado por uma grande empresa do ramo petrolífero brasileiro.
Muitas são as análises de situações práticas encontradas em operações de perfuração
de poços de petróleo e gás. Nos últimos anos, muitos são os estudos que buscam uma
melhor compreensão a respeito da relação entre os diversos parâmetros operacionais
e o escoamento presente no interior de um poço de perfuração. Os poços horizontais
tomaram grande fatia deste mercado de pesquisa, tendo em vista o aumento de sua
utilização devido ao aumento de produtividade gerado pelos mesmos. Os processos
operacionais podem prejudicar ou ajudar no processo de remoção de cascalhos do
interior do poço e consequentemente no processo de limpeza do mesmo. A rotação da
coluna de perfuração é um dos processos operacionais que tem apresentado bastante
influência no comportamento dos escoamentos de poços de perfuração de acordo
com a literatura. Foram avaliados cinco valores de rotação da coluna interna (ω = 0
até ω = 400 rpm), aliados a outros parâmetros operacionais, tais como excentricidade
ε, variando de 0 a 0,8, número de Reynolds Re, variando de 200 a 1000 e razões de
diâmetro κ, variando de 0,5 a 0,9. Através de perfis de velocidades adimensionais
(axial e tangencial) e de curvas de perda de carga ao longo do poço, chegou-se a
conclusão de que, para o fluido e as condições geométricas e operacionais utilizadas, a
rotação da coluna interna não gera alterações tão marcantes quanto outros parâmetros
operacionais, tais como a excentricidade e a razão de diâmetros. Sua influência se
limita à alterações nas magnitudes de velocidades totais, mas seu efeito foi mais intenso
sempre quando outro parâmetro operacional estava atrelado à análise.

Palavras-chave: Rotação. Coluna de perfuração. CFD. Herschel-Bulkley. Poços hori-


zontais.
ABSTRACT

The present paper uses the Computational Fluid Dynamics (CFD) software Ansys
CFX 16.0 to obtain answers to the increased rotation of the inner cylinder and its
consequences on the behavior of a laminar flow of a Herschel-Bulkley fluid in an annular
space, formed between the wellbore wall and the drill string. The flow has characteristics
of a drilling fluid usually used by a large oil and gas Brazilian company. Many are the
analyzes of practical situations found in oil and gas well drilling operations. In recent
years, there are many studies that seek a better understanding of the relationship
between the various operating parameters and the flow present in a perforation wellbore.
Horizontal wells took large share of this research segment, in view of increase its use,
due to productivity gains generated by them. The operational procedures may impair
or help in the gravel removal process and consequently in the cleaning process. The
drillpipe rotation is an operational process which has shown considerable influence
on the behavior of the flow of drilling wells, according to the recent literature. Five
values of rotation of the inner cylinder (ω = 0 to ω = 400 rpm) were evaluated were
evaluated, with other operating parameters, such as eccentricity ε, varying from 0 to
0.8, the Reynolds number Re, varying from 200 to 1000 and diameter ratios κ, varying
between 0.5 and 0.9. Through profiles of dimensionless velocities (axial and tangential)
and pressure drop curves along the well, it was observed that, for the analysed fluid
and the geometric and operational conditions used, the rotation of the inner column
did not produce significant changes in the flow as other operating parameters, such as
eccentricity and diameter ratio. Its influence is limited to alterations in magnitudes of
total speeds, but its effect was more intense whenever other operating parameter was
linked to same analysis.

Keywords: Rotation. Drillpipe. CFD. Herschel-Bulkley. Horizontal wells.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Tensão de cisalhamento versus taxa de deformação aplicada a fluidos. 17


Figura 2 – Esquematização do escoamento dos fluidos de perfuração através
da coluna de perfuração e broca durante operação. . . . . . . . . . 19
Figura 3 – Representação esquemática das geometrias analisadas. . . . . . . 29
Figura 4 – Representação esquemática da configuração de malha estruturada
utilizada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
Figura 5 – Relação entre as malhas analisadas durante teste. . . . . . . . . . . 33
Figura 6 – Comparação entre modelo numérico e análise experimental de Nouar,
Desaubry e Zenaidi (1998) para o perfil de velocidade axial adimensi-
onal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
Figura 7 – Comparação entre modelo numérico e análise experimental de Nouar,
Desaubry e Zenaidi (1998) para o perfil de velocidade tangencial
adimensional. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
Figura 8 – Contornos de velocidade axial adimensional para os casos com ε = 0,8. 36
Figura 9 – Perfis de velocidade axial adimensional para alguns casos sem e
com excentricidade e com baixa e elevada razão de diâmetros. . . . 37
Figura 10 – Perfis de velocidade tangencial adimensional para casos sem e com
excentricidade e com baixa e elevada razão de diâmetros. . . . . . . 38
Figura 11 – Perdas de carga encontradas no escoamento anular para situações
analisadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
LISTA DE SÍMBOLOS

τ – Tensão de cisalhamento [Pa].

τ0 – Tensão limite de escoamento [Pa].

µb – Viscosidade dinâmica [Pa.s].

K – Índice de consistência [Pa.sn ].

γ̇ – Taxa de deformação [s−1 ].

n – Índice de comportamento [-].

u – Velocidade axial [m/s].

ū – Velocidade média [m/s].

v – Velocidade tangencial [m/s].

vθ , vr e vz – Componentes angular, radial e axial da velocidade [m/s].

ω – Rotação da coluna [rpm].

gθ , gr e gz – Componentes angular, radial e axial da gravidade [m/s2 ].

e – Distância entre centros [m].

ε – Excentricidade [-].

S – Largura do espaço anular [m].

ρ – Massa específica do fluido [kg/m3 ].

Dh – Diâmetro hidráulico [m].

De – Diâmetro externo [m].

Di – Diâmetro interno [m].

re – Raio externo [m].

ri – Raio interno [m].

Re – Número de Reynolds [-].

Reg – Número de Reynolds generalizado [-].


Rec – Número de Reynolds crítico [-].

κ – Razão de diâmetros [-].

Vt – Velocidade tangencial adimensional [-].

Ua – Velocidade axial adimensional [-].

∆P – Queda de pressão [Pa].


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.1 FLUIDOS E MODELOS REOLÓGICOS . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
2.1.1 Modelo Ostwald de Waele (power-law) . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1.2 Modelo plástico de Bingham . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1.3 Modelo de Herschel-Bulkley . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.1.4 Fluidos de perfuração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.2 EQUACIONAMENTO BÁSICO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
2.3 DINÂMICA DOS FLUIDOS COMPUTACIONAL (CFD) . . . . . . . . . 22

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

4 METODOLOGIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29

5 RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5.1 TESTE DE MALHAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
5.2 VALIDAÇÃO DA ANÁLISE NUMÉRICA . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
5.3 EFEITOS DA ROTAÇÃO DA COLUNA INTERNA SOBRE O ESCOA-
MENTO AXIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
5.4 EFEITOS DA ROTAÇÃO DA COLUNA INTERNA SOBRE O PERFIL
DE VELOCIDADE TANGENCIAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
5.5 EFEITOS DA ROTAÇÃO DA COLUNA INTERNA SOBRE A PERDA
DE CARGA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

REFERÊNCIAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
14

1 INTRODUÇÃO

A indústria de extração e beneficiamento de petróleo e gás é um ramo forte da economia


mundial. Sua importância abrange uma boa parte dos grupos industriais da sociedade
moderna, desde a fabricação de plásticos à produção de combustíveis. O estudo da
Engenharia de Petróleo e todas as áreas que a compõem, direta e indiretamente, é
sempre crescente. Muitos são os esforços para se buscar maior conhecimento sobre
suas variáveis e relações.

Dentre as áreas relacionadas a este tipo de indústria, pode-se destacar o estudo de


componentes e situações relacionadas à perfuração de poços de extração de petróleo e
gás. Existem basicamente dois tipos de métodos de perfuração de poços, a perfuração
vertical e a perfuração direcional. No caso de um poço vertical, quando o objetivo
desejado está mais próximo da locação na superfície, sua verticalidade é mantida e
controlada durante o processo de perfuração. Um poço direcional é perfurado com um
desvio intencional a partir da vertical, buscando, dentre outras finalidades, alcançar
formações distantes da locação na superfície e perfurar várias regiões de uma formação
a partir de um mesmo ponto inicial de perfuração. Dentre os tipos de poços direcionais,
os poços horizontais têm ganhado destaque, já que ampliam a superfície de contato
poço-reservatório, ampliando a produção. (THOMAS, 2004).

Em um poço para extração de óleo ou gás, a broca responsável por perfurar as ro-
chas é posicionada na extremidade de um cilindro muito longo, chamado de coluna
de perfuração. A responsabilidade pelo carreamento de cascalhos para fora do tubo,
manutenção da geometria da formação do poço, arrefecimento do conjunto de equipa-
mentos, entre outros é do fluido de perfuração. O mesmo geralmente é escoado de fora
para dentro do poço, entrando pelo interior do cilindro interno e retornando à superfície
pelo espaço anular formado entre a parede interna do poço perfurado e a coluna de
perfuração (THOMAS, 2004). Espaços anulares são geometrias comumente encontra-
das em diversas aplicações industriais. Este tipo de geometria é largamente estudado,
principalmente quando se trata de estudos relacionados à extração de petróleo.

Os comportamentos físicos de todas as variáveis envolvidas no processo de perfuração,


tais como o comportamento da coluna interna de perfuração, escoamento do fluido de
perfuração utilizado no processo, inclinação do poço de extração, dentre muitos outros
fatores, têm sido amplamente estudados ao longo dos anos (OOMS; BURGERCEN-
TRUM, 1999; OGUGBUE; SHAH, 2012; ERGE et al., 2014; FANG; MANGLIK; JOG,
1999; BABA HAMED; BELHADRI, 2009; MINGZHONG et al., 2013). Conhecer essas
variáveis se torna um importante foco de pesquisa, tendo em vista o grande benefício
que é o melhor conhecimento sobre os possíveis problemas e soluções disponíveis
15

para as empresas envolvidas nestes processos.

Um tipo de avaliação que tem sido constantemente realizado é a verificação da influên-


cia de fatores de operação na limpeza de poços de perfuração horizontais. A operação
de limpeza de um poço de perfuração de óleo ou gás consiste na remoção de cascalhos
gerados pela broca de perfuração de dentro do poço. Isso ocorre utilizando-se um
fluido de perfuração para carreamento dos cascalhos (COSTA; FONTOURA, 2005).

Os estudos de variáveis de processo que podem impactar na limpeza do poço perfurado,


como a rotação da coluna, a excentricidade, a geometria do poço e outros, podem ser
realizados experimentalmente e numericamente. As análises experimentais desses
processos, apesar de apresentarem de maneira mais real o que ocorre dentro dos
poços de perfuração, exigem espaços físicos laboratoriais controlados, amplos e muitas
vezes caros. O estudo numérico de processos de limpeza de poços de perfuração de
óleo e gás é frequentemente realizado com o auxílio de aplicativos computacionais
especializados nos estudos de escoamentos, o que ganha credibilidade de resultados
cada dia mais, devido aos avanços tecnológicos das máquinas utilizadas nas análises.

A Dinâmica de Fluidos Computacional (do inglês Computational Fluid Dynamics – CFD)


é um método de análise que pode ser utilizado no estudo numérico de escoamentos
como os relacionados à perfuração de poços de petróleo e gás. O uso do CFD deve
ser feito com cautela, tomando-se em conta as condições de contorno, as propriedades
corretas do escoamento e da geometria analisada, dentre outros fatores (VERSTEEG;
MALALASEKERA, 2007).

Com a aplicação da Dinâmica de Fluidos Computacional e conhecimentos a respeito


da limpeza de poços de perfuração e de variáveis operacionais de uma operação de
perfuração, o presente trabalho visa avaliar a influência de parâmetros operacionais
e de processo de uma perfuração de poço sobre o escoamento anular de um fluido
não newtoniano, modelado como Herschel-Bulkley. Desta forma, pode-se verificar os
efeitos da rotação da coluna interna no desempenho do processo de limpeza de um
poço horizontal, avaliando perfis de velocidades adimensionais e curvas de perda de
carga.
16

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 FLUIDOS E MODELOS REOLÓGICOS

Sabe-se que um fluido difere de um sólido de acordo com a habilidade da substância de


resistir às tensões aplicadas sobre ela, as quais tendem a mudar a forma da substância.
Um fluido tende a escoar continuamente com a aplicação de uma força, enquanto o
sólido consegue suportar a uma força aplicada por meio da deformação em um ponto
específico até atingir seu limite de resistência (ÇENGEL; CIMBALA, 2007).

Os escoamentos de fluidos podem ser classificados de diversas maneiras (ÇENGEL;


CIMBALA, 2007). Dentre as classificações conhecidas, a classificação do escoamento
como laminar ou turbulento é uma das que mais interferem no modo de análise do
escoamento, pois a determinação se um escoamento é laminar ou turbulento interfere
diretamente na maneira como as perdas de carga são calculadas.

Fox, McDonald e Pritchard (2010) definem um escoamento laminar como sendo aquele
em que as partículas do fluido realizam movimento ordenado em camadas. Um esco-
amento turbulento é aquele em que essa ordenação não existe, onde as partículas,
devido à flutuações aleatórias no campo tridimensional de velocidades, se misturam.
Há ainda o escoamento transitório, que possui características de ambos os tipos de
escoamentos.

A determinação do comportamento de um escoamento é determinado pelo número de


Reynolds. Este termo numérico adimensional determina se o escoamento é laminar ou
turbulento. A determinação deste valor leva em conta a velocidade do escoamento, a
característica do fluido e a geometria relacionada. Os valores limites que determinam
o início do comportamento turbulento muda de situação para situação. Será possível
verificar na seção de equacionamento básico como foi realizada a determinação do
número de Reynolds e Reynolds crítico para a aplicação do presente trabalho.

Devido às alterações causadas pela turbulência nos fluidos, como o grande aumento
na perda de carga gerada no escoamento, a aplicação de fluidos de perfuração tende a
buscar a manutenção do escoamento no regime laminar dentro do poço de perfuração.

Basicamente, os fluidos podem possuir dois tipos de comportamento. Quando o fluido


apresenta taxa de deformação proporcional à tensão aplicada sobre ele, o mesmo
recebe a classificação de fluido Newtoniano. Como exemplos de fluidos newtonianos,
pode-se apresentar a água, a gasolina e alguns óleos. A Eq. (1) descreve o compor-
tamento dos fluidos newtonianos, onde a constante de proporcionalidade recebe o
nome de coeficiente de viscosidade ou viscosidade dinâmica do fluido, que depende da
17

composição do fluido e de sua temperatura e não depende da tensão aplicada sobre o


mesmo.
du
τ =µ (1)
dy

Quando a relação entre deformação e tensão de cisalhamento não é linear, o fluido


recebe a classificação de fluido não newtoniano. Como exemplo, temos o sangue e
plásticos líquidos. Os fluidos não newtonianos podem ser classificados em três grandes
grupos: os dilatantes, onde a viscosidade aparente aumenta com o aumento da tensão
aplicada; os pseudoplásticos, onde a viscosidade aparente tende a reduzir com o
aumento da tensão cisalhante; e os viscoplásticos, onde pode-se notar a presença de
uma tensão limite de cisalhamento, que interfere no início do escoamento do fluido,
fazendo-o se comportar como um fluido apenas após esta tensão limite ser alcançada
(ÇENGEL; CIMBALA, 2007; CHHABRA; RICHARDSON, 2008). A Figura 1 apresenta
uma esquematização gráfica dos comportamentos dos tipos de fluidos. Nota-se através
da figura os comportamentos descritos nas definições de fluidos newtonianos e não
newtonianos.

Figura 1 – Tensão de cisalhamento versus taxa de deformação aplicada a fluidos.

Fonte: Adaptado de Chhabra e Richardson (2008).

Com o objetivo de se obter uma melhor compreensão a respeito dos comportamentos


dos fluidos, modelos reológicos são equacionados relacionando a tensão de cisa-
lhamento e a taxa de deformação. Os três modelos mais analisados na literatura –
power-law, Bingham e Herschel-Bulkley – serão apresentados em subseções a seguir.
18

2.1.1 Modelo Ostwald de Waele (power-law)

O modelo reológico Power-law possui uma das representações mais simples do com-
portamento de fluidos pseudoplásticos. Os fluidos pseudoplásticos se caracterizam por
uma viscosidade aparente que diminui com um aumento na taxa de deformação. Para
uma faixa limitada de taxas de deformação, a relação tensão de cisalhamento versus
taxa de deformação se aproxima de uma relação linear. A Eq. (2) é aplicada aos fluidos
Power-law, onde τ é a tensão de cisalhamento, K é a constante de consistência, n é
índice de potência e γ̇ é a taxa de deformação.

τ = K γ̇ n (2)

2.1.2 Modelo plástico de Bingham

Chhabra e Richardson (2008) descrevem o modelo Plástico de Bingham como a


maneira mais simples descrevendo um comportamento de um fluido viscoplástico com
tensão mínima de cisalhamento. A Eq. (3) descreve o comportamento deste modelo
reológico.

τ = τ0 + µb γ̇ (3)

2.1.3 Modelo de Herschel-Bulkley

O modelo reológico de Herschel-Bulkley é considerado uma simples generalização


do modelo plástico de Bingham que abrange a região não linear do escoamento. Sua
metodologia característica é descrita pela Eq. (4).

τ = τ0 + K γ̇ n (4)

2.1.4 Fluidos de perfuração

O fluido de perfuração que escoa através da coluna de perfuração durante o processo


de abertura de um poço não é utilizado apenas para a remoção de cascalho de dentro
da formação. Este escoamento ainda arrefece e lubrifica a broca e limpa a região de
corte, evitando o aumento do torque necessário à rotação da coluna de perfuração
causado pelo acúmulo de cascalhos na região (PEREIRA, 2006). A Figura 2 apresenta
uma esquematização do movimento do fluido em um poço de perfuração.
19

Figura 2 – Esquematização do escoamento dos fluidos de perfuração através da coluna


de perfuração e broca durante operação.

Fonte: Pereira (2006).

Thomas (2004) descreve os fluidos de perfuração como “misturas complexas de sólidos,


líquidos, produtos químicos e, por vezes, até gases”. Esses fluidos podem assumir
diversos aspectos dependendo do estado físico das substâncias que os compõem.
Dentre uma variedade de características desejáveis para um fluido de perfuração,
pode-se destacar que o mesmo deve facilitar a separação do cascalho, manter os
sólidos em suspensão, ser bombeável, dentre outras.

Os fluidos podem ainda ser classificados segundo suas composições. Esta classificação
baseia-se no componente principal da fase contínua do fluido, dividindo os mesmos em
fluidos à base de água, fluidos à base de óleo e fluidos à base de gás (THOMAS, 2004).
A escolha do tipo de fluido escolhido para cada aplicação depende das características e
propriedades de cada fluido e quais são as desejadas para a operação a ser realizada.

As funções desejáveis para um fluido de perfuração, segundo Caenn e Chillingar


(1996), Darley e Gray (1988), são a de carrear os cascalhos, transportá-los através
do anular e permitir sua separação na superfície, resfriar e limpar a broca, reduzir o
atrito entre a coluna de perfuração e o poço, manter a estabilidade do poço, prevenir a
entrada de fluidos advindos das rochas permeáveis, formar um reboco fino de baixa
permeabilidade e auxiliar na obtenção de dados a partir dos cascalhos retirados do
poço.

Darley e Gray (1988) ainda apresentam características importantes desejadas para os


fluidos de perfuração, tais como não danificar os equipamentos de perfuração ou ser
danoso ao meio ambiente, não tornar o processo caro ou complexo, não interferir na
20

produtividade e não corroer ou desgastar os equipamentos de perfuração.

Pereira (2006) destaca que dentre as diversas funções e características dos fluidos
de perfuração, dependendo do momento de operação, algumas prevalecem sobre
as outras. Por exemplo, para casos onde as pressões da formação são elevadas, a
característica de manutenção da estabilidade das paredes do poço se torna a mais
desejada entre as funções e para casos onde a formação é arenosa ou porosa, a
característica de resistir aos fluidos externos ao poço é fundamental.

Hemphill, Campos e Pilehvari (1993) e Pereira (2006) comentam que os fluidos de


perfuração usualmente se comportam como fluidos não newtonianos, do tipo pseu-
doplástico ou viscoplástico. Tendo como base esta informação, somada ao destaque
de Baba Hamed e Belhadri (2009) para a carência de estudos utilizando o modelo
reológico de Herschel-Bulkley, faz-se necessária uma maior utilização deste modelo
reológico nas análises experimentais e numéricas de escoamentos ligados à aplicação
na indústria petrolífera.

Tomando em consideração os estudos encontrados na literatura e citados até aqui, o


fluido de perfuração utilizado em operações de abertura de poços horizontais deve
possuir características semelhantes às dos fluidos Herschel-Bulkley, para uma melhor
eficiência do processo de limpeza do poço.

2.2 EQUACIONAMENTO BÁSICO

Duas são as equações principais que governam as análises relacionadas aos fenô-
menos de mecânica dos fluidos (FOX; MCDONALD; PRITCHARD, 2010). A Eq. 5
apresenta a lei da conservação de massa.
∂ρ 1 ∂ 1 ∂ ∂
+ (ρrvr ) + (ρvθ ) + (ρvz ) = 0 (5)
∂t r ∂r r ∂θ ∂z

As Equações 6 a 8 representam as componentes da equação da quantidade de


movimento para o sistema de coordenadas cilíndricas.
 
∂vz ∂vz vθ ∂vz ∂vz ∂P
ρ + vr + + vz =−
∂t ∂r r ∂θ ∂vz ∂z
 2 2
 (6)
1 ∂ ∂vz 1 ∂ vz ∂ vz
+µ (r )+ 2 2 + + ρgz
r ∂r ∂r r ∂θ ∂z 2

 
∂vr ∂vr vθ ∂vr ∂vr vr vθ ∂P
ρ + vr + + vz + =−
∂t ∂r r ∂θ ∂vz r ∂r
   2 2
 (7)
∂ 1 ∂ 1 ∂ vr ∂ vr 2 ∂vr
+µ rvr + 2 2 + 2
+ 2 + ρgr
∂r r ∂r r ∂θ ∂z r ∂θ
21

∂vθ vθ2
 
∂vθ ∂vθ vθ ∂vθ 1 ∂P
ρ + vr + + vz + =−
∂t ∂r r ∂θ ∂vz r r ∂θ
   2 2
 (8)
∂ 1 ∂ 1 ∂ vθ ∂ vθ 2 ∂vθ
+µ rvθ + 2 2 + 2
+ 2 + ρgθ
∂r r ∂r r ∂θ ∂z r ∂θ

Para se conhecer o comportamento do escoamento em um anular, deve-se conhecer


o número de Reynolds do mesmo. O cálculo do número de Reynolds generalizado
para um escoamento de um fluido Herschel-Bulkley foi determinado por Madlener, Frey
e Ciezki (2009) e é apresentado na Eq. 9. Nela, m é o gradiente local de tensão de
cisalhamento, definido pela Eq. 10, e Dh é o diâmetro hidráulico, definido pela Eq.11,
onde De é o diâmetro do cilindro externo e Di é o diâmetro do cilindro interno.
ρū2−n Dh n
Reg = (9)
(τ0 /8)(Dh /ū)n + K[(3m + 1)/(4m)]n 8n−1

nK(8ū/Dh )n
m= (10)
τ0 + K(8ū/Dh )n

Dh = De − Di (11)

O número de Reynolds crítico, que determina o início do escoamento turbulento, foi


calculado através da Eq. 12, cuja Khataniar, Chukwu e Xu (1994) define como sendo o
número de Reynolds crítico para fluidos Herschel-Bulkley.

Rec = 3470 − 1370n (12)

A excentricidade (ε) do espaço anular indica o nível de deslocamento da linha de centro


do cilindro interno, representando a coluna de perfuração, em relação ao centro do
cilindro externo, que representa o poço. Sua amplitude varia de 0 a 1, onde 0 representa
o caso concêntrico e 1 representa o caso mais excêntrico, onde as superfícies do cilindro
interno e externo se tocam. Esta excentricidade é representada pela Equação 13, onde
e representa a distância vertical entre as linhas de centro dos cilindros, re e ri são os
raios dos cilindros externo e interno, respectivamente.
e
ε= (13)
re − ri

A razão de diâmetros (κ) é a relação entre o diâmetro do cilindro interno e o diâmetro


do cilindro externo. A Eq. 14 representa esta relação.
Di
κ= (14)
De
22

Com objetivo de se padronizar os resultados apresentados em figuras e comparação


com os dados já disponíveis na literatura, valores como os de velocidades adimensio-
nais axial e tangencial são importantes.

A Eq. 15 apresenta a representação da velocidade tangencial adimensional (Vt ). Nela,


v representa a componente tangencial da velocidade e ω representa a rotação a qual é
submetido o cilindro interno.
v
Vt = (15)
ωri

A Eq. 16 apresenta a determinação da velocidade axial adimensional (Ua ), onde u


representa a componente axial da velocidade e ū a velocidade média do escoamento.
u
Ua = (16)

Outro termo importante na representação de resultados é o termo σ, que representa a


posição adimensional do fluido no espaço anular. Com este termo, é possível determinar
a posição radial de determinado dado. A Eq. 17 apresenta como é determinado este
termo, onde S representa a distância entre a superfície da coluna interna e a superfície
da coluna externa.
r − ri
σ= (17)
S

2.3 DINÂMICA DOS FLUIDOS COMPUTACIONAL (CFD)

A solução das equações básicas citadas na seção anterior descreve completamente


um campo de escoamento. Contudo, por se tratarem de equações diferenciais parciais
não-lineares, a solução completa nem sempre é possível de maneira analítica. Para
solucionar este problema, diversas ferramentas computacionais têm sido desenvolvidas.
A dinâmica de fluidos computacional, ou CFD (Computational Fluid Dynamics), é uma
destas técnicas.

Versteeg e Malalasekera (2007) definem CFD como uma análise via simulação compu-
tacional de um sistema envolvendo escoamento de um fluido, transferência de calor
e/ou fenômenos associados, tais como reações químicas.

Esta técnica pode ser utilizada para estudo de diversas aplicações em vários tipos de
indústrias, tais como para estudos a respeito da aerodinâmica de veículos e aerona-
ves (arrasto e sustentação), da hidrodinâmica de navios, de processos químicos, da
hidrologia e oceanografia, da meteorologia e de mecânica dos Fluidos e Hidráulica
(VERSTEEG; MALALASEKERA, 2007).
23

Versteeg e Malalasekera (2007) citam ainda algumas vantagens para o uso da CFD
como substituição à experimentos práticos e laboratoriais, tais como a redução de
prazos de entrega e custos de novos protótipos, a capacidade de análises onde se
torna difícil a realização de experimentos controlados, como sistemas muito grandes, a
capacidade de análises de situações perigosas além dos limites normais de desempe-
nho, como cenários de acidentes e estudos de segurança e o nível de detalhamento de
resultados praticamente ilimitado.

Tannehill, Anderson e Pletcher (1997) apresentam uma comparação entre as técnicas


de solução para problemas envolvendo mecânica dos fluidos. A técnica experimental é
a mais realista, mas exige equipamentos (muitas vezes demasiadamente custosos),
possui problemas de escala e medição e possui elevado custo operacional. A técnica
teórica é mais geral e possui fórmula fechada, contudo é restrita a geometrias e
processos físicos simples e a problemas lineares. A análise numérica não possui
restrição à linearidade dos problemas, pode trabalhar com geometrias e processos
complicados e há evolução temporal do processo.

Os limites de uma análise CFD são determinados pela capacidade computacional


da máquina que realizará as resoluções numéricas do problema a ser analisado.
Comparando-se os investimentos necessários para a geração da mesma quantidade
de dados de análise em casos experimentais, a técnica CFD ganha em tempo de
análise e custos operacionais (FORTUNA, 2012).

A técnica CFD realiza, em três etapas, a resolução dos algoritmos numéricos relaciona-
dos a problemas sobre escoamentos de fluidos. Estas etapas são o pré-processamento,
o processamento e o pós-processamento (VERSTEEG; MALALASEKERA, 2007).

O pré-processamento consiste na inserção de dados do problema a ser solucionado


pela técnica CFD. Esta etapa do processo envolve desde a definição da geometria
até a especificação das condições de controle do problema, dos processos físicos e
químicos a que estará submetido o domínio (geometria) a ser analisado (VERSTEEG;
MALALASEKERA, 2007; FORTUNA, 2012).

O processamento, ou etapa de solução do problema, consiste na realização dos cálcu-


los numéricos propriamente ditos. Durante esta etapa, a máquina realizará a integração
das equações governantes do escoamento do fluido em cada um dos volumes de
controle definidos no domínio. Estes volumes finitos de controle são definidos por uma
malha de divisões, durante a etapa de pré-processamento. Além da integração das
equações, o programa ainda realiza a discretização dos resultados das equações e
organiza os resultados através de métodos iterativos (VERSTEEG; MALALASEKERA,
2007).
24

A última etapa, chamada de etapa de pós-processamento, consiste na geração de ferra-


mentas gráficas e dados numéricos obtidos através das análises numéricas realizadas
durante a etapa de processamento. Nesta etapa é possível a elaboração de gráficos, ta-
belas e figuras representativas do problema proposto (VERSTEEG; MALALASEKERA,
2007; FORTUNA, 2012).

Com a ferramenta CFD, o presente trabalho foi capaz de realizar a análise proposta
sem a necessidade de se implantar uma unidade experimental de um espaço anular de
dimensões consideráveis para caracterização de um poço de perfuração de petróleo. A
utilização de um meio virtual para geração desta geometria para análise reduz custos e
tempo de análise e ainda possibilita a geração de diversos dados para a criação de um
banco de dados completo a respeito do conteúdo de estudo.
25

3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O estudo de escoamentos anulares atrelado à situações encontradas na perfuração de


poços de petróleo é algo comum e antigo. Estudos como o de Hussaini e Azar (1983),
Okrajni e Azar (1986), Tomren, Iyoho e Azar (1986) e Haciislamoglu e Langlinais (1990)
são alguns que mostram análises a respeito deste assunto desde a década de 80.

Haciislamoglu e Langlinais (1990), por exemplo desenvolveram um modelo para analisar


o comportamento de um fluido Herschel-Bulkley em anulares concêntricos e excêntricos.
Eles constataram também que para taxas de escoamento constantes, as perdas de
carga devido ao atrito decresceram com o aumento da excentricidade.

Através de um estudo numérico e experimental, Fordham, Bittleston e Tehrani (1991)


apresentaram um algoritmo para cálculo do comportamento de fluidos viscoplásticos
em espaços anulares concêntricos. O método sugerido pelos autores apresentaram
bons resultados de perfis de velocidade e queda de pressão quando comparados com
os resultados experimentais, utilizando-se um fluido Herschel-Bulkley.

Ooms e Kampman-Reinhartz (1996) observaram os efeitos da rotação e da excentrici-


dade na queda de pressão em anulares estreitos. As forças inerciais causadas pelos
parâmetros avaliados aumentaram a perda de carga no interior do espaço anular. Os
autores chegaram a conclusão de que estes efeitos são diretamente dependentes entre
si, são dependentes da geometria do anular e do número de Taylor do escoamento.

Nouri e Whitelaw (1997) analisaram de maneira experimental o escoamento anular,


concêntrico e excêntrico, de fluidos newtonianos e não newtonianos. Eles avaliaram
que a rotação do cilindro interno teve efeitos similares para os dois tipos de fluidos.
O incremento desta rotação também teve fortes efeitos sobre as componentes de
velocidade na região mais estreita do anular.

Escudier et al. (2000), através de um estudo numérico e experimental, avaliaram os


efeitos da rotação da coluna interna, de um anular excêntrico, sobre o padrão de
um escoamento laminar de um fluido Newtoniano. Eles notaram que os efeitos da
velocidade tangencial foram bastante influentes na distribuição da velocidade axial e
que para casos com elevada excentricidade e número de Reynolds fixo, a velocidade
tangencial provocou aumento no coeficiente de atrito quando era aumentada.

Análises experimentais e numéricas, realizadas por Escudier, Oliveira e Pinho (2002),


mostraram que com o aumento da rotação da coluna interna provocou uma queda no
gradiente de pressão no anular. Os autores justificaram os efeitos devido às caracterís-
ticas reológicas do fluido e ao escoamento axial predominante. Para os escoamentos
26

analisados, foram utilizados fluidos não newtonianos.

A rotação da coluna interna de um poço de perfuração de petróleo foi considerada


como um fator que teve grande influência no processo de limpeza do poço por Hemphill
e Ravi (2006). Ainda foi ressaltado pelos autores que este efeito é maior quando existe
excentricidade do anular e quando o escoamento axial não consegue realizar a limpeza
por si só. Os autores utilizaram um fluido Herschel-Bulkley, com análise de anulares
concêntricos e excêntricos.

Em sua tese, Pereira (2006) apresentou que a concentração polimérica do fluido não
newtoniano utilizado nas análises apresentou maior influência sobre a perda de carga
no anular. Em seguida, a vazão do escoamento e a rotação foram consideradas o
segundo e terceiro fatores que mais influenciaram a queda de pressão. Foi constatado
que em geral a rotação da coluna gerou uma tendência de reduzir a perda de carga,
apresentando efeito inverso para o caso de baixa concentração polimérica. A rotação
ainda foi citada como uma das possíveis causas das divergências de resultados que são
encontradas na literatura em geral. Isto seria causado por uma possível instabilidade
causada pela rotação no escoamento, o que alteraria a condição laminar do mesmo.

Em uma análise geral dos efeitos de parâmetros operacionais, Pereira, Ataíde e Barrozo
(2007) concluíram que a taxa de escoamento axial foi o parâmetro que mais influenciou
na perda de carga. Foi constatado que a rotação da coluna interna não teve influência
significante sobre a queda de pressão para o caso concêntrico, mas que quando a
coluna estava excêntrica no anular, as perdas de carga foram mais influenciadas pela
rotação do cilindro interno.

Kelessidis, Dalamarinis e Maglione (2011) apresentaram que quando fluidos não new-
tonianos escoam em anulares excêntricos, a redução da queda de pressão comparada
com o caso concêntrico é maior que quando são utilizados fluidos newtonianos.

Em um trabalho de análise CFD, Costa, Rigatto e Siqueira (2013) observaram a


formação de vórtices de Taylor quando a coluna interna possuia rotação maior que 400
rpm. Esta formação influenciou o aumento das tensões cisalhantes sobre a parede da
coluna de perfuração, aumentando o torque exigido pela mesma.

Furini, Gabriel e Siqueira (2013) avaliaram a influência que uma obstrução na região
inferior do anular causava em uma coluna de perfuração com rotação. Os perfis de
velocidade tangencial foram alterados e houve a formação de uma zona de recirculação.
Aliada à rotação, esta obstrução trouxe efeitos de ampliar o torque exigido pela coluna
interna para manter sua rotação.

Vieira Neto et al. (2014) examinaram, numericamente e experimentalmente, o escoa-


27

mento de fluidos não newtonianos em espaços anulares com a existência da rotação do


cilindro interno. De acordo com eles, para o caso concêntrico, o aumento da velocidade
de rotação resulta em uma redução na perda de carga. No entanto, para o caso de
excêntrico, o efeito oposto foi observado. Observou-se também que quanto maior o
valor da excentricidade, menor a perda de carga.

Ofei, Irawan e Pao (2014) variaram a rotação do cilindro interno de 80 a 120 rpm, mas
concluíram que a alteração não provocou mudanças significantes na perda de carga
sofrida no escoamento.

Erge et al. (2014) concluíram que o efeito da rotação do cilindro interno no escoamento
é mais presente na transição entre o regime laminar e turbulento do que no regime
laminar.

Um estudo numérico combinando a técnica CFD com a de método do elemento


discreto (DEM), realizado por Akhshik, Behzad e Rajabi (2015), foi realizado para
análise dos efeitos da coluna interna do anular sobre o transporte dos cascalhos. Foi
observado que a rotação influenciou significativamente na redução da concentração de
cascalho no interior do poço. Com este efeito, a rotação da coluna de perfuração foi
considerada pelos autores um importante parâmetro para limpeza de poços de petróleo,
principalmente quando o escoamento axial é com baixas vazões.

Erge et al. (2015) avaliaram a interferência da razão de raios em um escoamento em


anular excêntrico e verificou que os efeitos da variação dessa razão são significantes
no início da zona de transição entre o regime laminar e turbulento. Também chegou-se
à conclusão que, para o caso analisado, quanto maior a excentricidade do anular, mais
rápido o escoamento se torna turbulento. Para índices de comportamento de fluido
abaixo de 0,3, o comportamento tem forte tendência de ser turbulento.

Com a utilização de um método chamado planejamento composto central (PCC),


Bicalho et al. (2016) avaliaram a influência que alguns parâmetros operacionais tinham
sobre a perda de carga em um escoamento anular. Com os dados das análises
realizadas, os autores chegaram a uma correlação para a queda de pressão. Foi
observado que o aumento na rotação da coluna interna provocou redução nas perdas
de carga, enquanto a excentricidade do anular não apresentou grandes influências
sobre a queda de pressão. A vazão e o índice de comportamento do fluido apresentaram
influência positiva sobre os valores de perda de carga.

GhasemiKafrudi e Hashemabadi (2016), concluíram que parâmetros de operação como


a velocidade axial, a viscosidade e a densidade do fluido, aliados à rotação da coluna de
perfuração, melhoram no processo de limpeza do poço. A excentricidade e o tamanho
28

das partículas geradas no processo de perfuração são indicados como prejudiciais ao


mesmo processo.
29

4 METODOLOGIA

Para realização da análise da influência da rotação do cilindro interno no escoamento


anular, foi utilizado o software de análise CFD Ansys CFX 16.0.

A geometria consiste em um espaço anular de 2,5 m de comprimento, com cilindro


interno de diâmetro igual a Di = 5,08·10−2 m (2 pol) e diâmetro externo (De ) variável
de acordo com a razão de diâmetro analisada (variação de κ). Esta representação
geométrica é observada na Figura 3, que apresenta os dois casos de razão de diâmetros
analisados (κ = 0,5 e κ = 0,9), com excentricidade.

As letras em caixa alta A, B, C e D foram utilizadas para determinação dos quatro setores
principais da região anular para desenvolvimento de resultados. Para os resultados, a
letra A representa a parte superior do anular, a B e a D representam as laterais direita
e esquerda, respectivamente e a C representa a inferior.

Figura 3 – Representação esquemática das geometrias analisadas.

Fonte: Elaborado pelo autor

A definição da malha utilizada para as simulações numéricas foi realizada pela verifica-
ção da quantidade de elementos que tornou os resultados independentes da malha.
Foi utilizada uma malha estruturada, apresentada na Figura 4, com 90 divisões na
direção radial, 108 divisões na direção axial e 220 divisões na divisão azimutal. O caso
30

utilizado para obtenção da independência da malha foi o caso considerado mais crítico
entre os casos possíveis analisados (ε = 0, 8, ω = 400rpm e Re = 1000).

Figura 4 – Representação esquemática da configuração de malha estruturada utilizada.

Fonte: Elaborado pelo autor

Foram analisados cinco valores de rotação da coluna interna, variando de 0 a 400 rpm,
dois valores de razão de diâmetros, 0,5 e 0,9, três valores de excentricidade, 0, 0,4
e 0,8 e três valores de número de Reynolds, 200, 600 e 1000. Para a obtenção dos
resultados da influência da rotação da coluna interna no escoamento anular, foram
realizadas 90 simulações.

A escolha do fluido de aplicação foi realizada tendo como base o trabalho de Pereira
(2013), que utiliza um fluido modelado como Herschel-Bulkley, com características de
um fluido de perfuração utilizado por uma grande empresa petrolífera do Brasil. Os
parâmetros reológicos do fluido são ρ = 1000 kg/m3 , τ0 = 17,81 Pa.s, K = 0,26 Pa.sn e
n = 0,74.

O Grupo de Pesquisa em Mecânica dos Fluidos (GPMF), do Instituto Federal do Espírito


Santo, utilizou como método de análise a simulação numérica de 625 casos de estudo,
variando os valores dos parâmetros de operação de poços de petróleo. Os dados dos
efeitos da rotação da coluna interna do anular foram obtidos através destas simulações
e tomados para análise.
31

Para efeitos de simulação numérica, a gravidade foi desprezada, o escoamento foi


simulado em regime permanente, com velocidade axial na entrada definida pelos
números de Reynolds em análise, condição de não deslizamento nas paredes do
domínio, rotação do cilindro interno e condição de saída aberta com pressão relativa
fixada em 0 Pa. O critério de convergência adotado foi o valor quadrático médio (RMS)
dos resíduos em 10−4 . Os dados foram apresentados através de perfis de velocidades
adimensionais e curvas de perda de carga.
32

5 RESULTADOS

O objetivo principal do presente trabalho é apresentar a influência da rotação da coluna


interna de um espaço anular sobre um escoamento laminar de um fluido de perfuração
modelado pelo modelo reológico de Herschel-Bulkley, com características reológicas e
parâmetros operacionais definidos.

Ao longo das seções subsequentes, serão apresentados os resultados obtidos através


das 625 simulações numéricas dos casos analisados pelo GPMF. Esses resultados
foram organizados com o objetivo principal de selecionar apenas os resultados referen-
tes às alterações geradas pela rotação da coluna interna de um poço de perfuração no
escoamento anular.

5.1 TESTE DE MALHAS

Ao se realizar uma análise computacional, determina-se o domínio ao qual serão


impostas as condições de contorno do problema, a fim de se obter os resultados inde-
pendentes do refinamento da malha para a resposta do escoamento e suas condições
de contorno.

Com o objetivo de se encontrar a malha mais refinada e com menos custo computa-
cional utilizada no estudo, foram geradas oito diferentes malhas, mas foram descon-
sideradas as duas menores, pois ambas apresentaram muitas divergências entre os
valores obtidos comparando com as demais analisadas. variando-se parâmetros de
construção de elementos e consequentemente o número de células de cada uma. A
Tabela 1 apresenta a quantidade de elementos que cada uma das malhas utilizadas no
teste tiveram.

Tabela 1 – Número de elementos finitos de cada malha analisada.

Malha Elementos

1 847.000
2 1.122.000
3 1.416.800
4 1.760.000
5 2.138.400
6 2.530.000

Fonte: Elaborado pelo autor

Com as malhas definidas, foram inseridas as condições de contorno das simulações a


33

serem feitas. Foi selecionado o caso considerado crítico, com razão de diâmetros κ =
0,5, excentricidade do anular ε = 0,8, rotação da coluna interna ω = 400 e número de
Reynolds Re = 1000.

A Figura 5 apresenta a comparação realizada entre os resultados obtidos por cada


malha. O parâmetro Xm representa uma relação entre a diferença de valor da velocidade
máxima encontrada pela malha em análise e a velocidade máxima encontrada com a
malha anterior sobre a diferença entre o número de elementos de cada malha entre si. A
medida que esta relação se estabiliza em relação a anterior, com o valor próximo a zero,
é possível afirmar que a alteração na quantidade de elementos não terá muita influência
nos valores dos resultados obtidos. É possível observar que o ponto e (relação entre
malhas 5 e 6) do gráfico representado já apresenta baixa variação de resultados em
relação ao ponto d (relação entre malhas 4 e 5). Admite-se então que a malha 5 já se
faz suficiente para obtenção de resultados confiáveis. Como observado anteriormente,
a malha possui 2.138.400 elementos.

Figura 5 – Relação entre as malhas analisadas durante teste.

Fonte: Elaborado pelo autor

5.2 VALIDAÇÃO DA ANÁLISE NUMÉRICA

Para validação do método numérico para solução dos casos a serem analisados, foi
realizada uma comparação da análise realizada pelo grupo de pesquisa via simulação
34

numérica e a análise experimental realizada por Nouar, Desaubry e Zenaidi (1998).


Os dados divulgados pelos autores da análise experimental foram introduzidos como
condições de contorno no software CFD, a fim de se obter dados de comparação entre
os dois métodos. Os dados de entrada foram velocidade axial de entrada U = 0,0728
m/s com rotação ω = 268,2 rpm para análise da velocidade axial e U = 0,0728 m/s e ω
= 26,5 rpm para análise de velocidade tangencial.

A Figura 6 apresenta a comparação entre os valores de velocidade axial adimensional


para ambas as análises. É possível observar pouca variação entre os resultados
obtidos por ambas análises. O erro relativo entre o modelo numérico em relação ao
experimental foi de 1 % para a velocidade máxima e 0,63 % para a velocidade média.

Figura 6 – Comparação entre modelo numérico e análise experimental de Nouar, De-


saubry e Zenaidi (1998) para o perfil de velocidade axial adimensional.

Fonte: Elaborado pelo autor

A Figura 7 apresenta a comparação entre as análises para o perfil de velocidade


tangencial adimensional. Apesar de apresentar um pouco mais de discordância entre
os perfis obtidos, ainda é possível notar boa concordância entre os resultados, validando
o modelo numérico para análise final do presente estudo.
35

Figura 7 – Comparação entre modelo numérico e análise experimental de Nouar, De-


saubry e Zenaidi (1998) para o perfil de velocidade tangencial adimensional.

Fonte: Elaborado pelo autor

5.3 EFEITOS DA ROTAÇÃO DA COLUNA INTERNA SOBRE O ESCOAMENTO AXIAL

A Figura 8 apresenta a alteração do contorno de velocidade axial no anular com a


rotação da coluna interna para os casos mais excêntricos analisados. Através dos itens
(a), (b) e (c) da Figura 8 é possível perceber que a rotação do cilindro interno provocou
leves alterações no contorno de velocidade axial na região mais inferior do anular.
Percebe-se um leve deslocamento da região com menor velocidade axial no sentido da
rotação e também um leve aumento da velocidade nesta região de menor intensidade
do escoamento axial. Os itens (d), (e) e (f) da Figura 8 demonstram que quando a
razão de diâmetros é maior, no caso uma excentricidade elevada (κ = 0,9), a rotação
da coluna de perfuração causa uma maior alteração na intensidade da velocidade
axial em uma região central da parte superior do anular. Este ligeiro aumento nesta
intensidade pode gerar uma maior facilidade de carreamento de cascalhos nesta região,
dependendo das condições de operação.

Apesar de poder se observar pequenas alterações geradas pela rotação da coluna


interna, nota-se que a excentricidade do cilindro interno e a razão de diâmetros do
anular possuem influências muito superiores à da rotação da coluna interna sobre o
escoamento. Para isto, basta notar as diferenças de intensidade na velocidade axial
36

adimensional encontrada nos casos (a), (b), (c), (d), (e) e (f) da Figura 8. Visualmente,
é possível observar que a velocidade axial adimensional máxima encontrada nos casos
com menor razão de diâmetro estão em torno de 1,4 enquanto os casos com razão de
diâmetros igual a 0,9 geram resultados de velocidade adimensional em torno de 1,6 e
1,7.

Figura 8 – Contornos de velocidade axial adimensional para os casos com ε = 0,8.

Fonte: Elaborado pelo autor

A Figura 9 apresenta o resultado da influência da rotação da coluna interna sobre o


perfil de velocidade axial na região inferior do espaço anular. Esta região, dependendo
da intensidade da excentricidade e da razão de diâmetros, pode ser bastante influ-
enciada pela modificação da rotação da coluna de perfuração. Contudo, percebe-se
que a rotação da coluna interna não representa uma influência relevante para o fluido
analisado. A alteração causada por este parâmetro sobre o perfil de velocidade axial
não possui tanta influência como a alteração que pode ser observada quando se altera
a excentricidade (Figura 9 (a) e (b) para Figura 9 (c) e (d)) ou a razão de diâmetros
(Figura 9 (a) e (c) para Figura 9 (b) e (d)).

A alteração mais significante da rotação da coluna interna no escoamento axial no


cilindro interno é possível ser notada na Figura 9 (c), onde a excentricidade é elevada
e a razão de diâmetros igual a 0,5. É possível notar que o aumento na rotação da
37

coluna de perfuração gera uma pequena elevação da velocidade axial na região mais
estreita do anular. Este efeito pode ser positivo quando não se deseja possuir regiões
de estagnação no escoamento. Apesar desta velocidade axial ser relativamente baixa,
esta pequena alteração pode ser relevante em casos mais extremos de aplicação,
quando há muita deposição de cascalhos na região inferior do anular.

Figura 9 – Perfis de velocidade axial adimensional para alguns casos sem e com
excentricidade e com baixa e elevada razão de diâmetros.

Fonte: Elaborado pelo autor

5.4 EFEITOS DA ROTAÇÃO DA COLUNA INTERNA SOBRE O PERFIL DE VELOCI-


DADE TANGENCIAL

A Figura 10 apresenta a relação entre a rotação da coluna de perfuração e a velocidade


tangencial adimensional presente no escoamento. É possível notar que o aumento
da rotação da coluna interna também não possui influência significante no perfil de
velocidade tangencial do escoamento. Percebe-se uma grande alteração em relação
aos perfis apresentados nos itens (a) e (b) em relação aos itens (c) e (d) da Figura 10.
38

Os dois primeiros são casos sem excentricidade, enquanto os dois últimos são casos
com excentricidade elevada, igual a ε = 0,8. Nota-se que o aumento da excentricidade
e da razão de diâmetros mais uma vez se sobressai em relação à rotação da coluna
interna quando se trata de alterações nos perfis de velocidade.

Figura 10 – Perfis de velocidade tangencial adimensional para casos sem e com ex-
centricidade e com baixa e elevada razão de diâmetros.

Fonte: Elaborado pelo autor

Em todos os casos analisados os resultados obtiveram o mesmo comportamento que


os apresentados nas Figuras 9 e 10, onde a rotação da coluna interna possuiu maior
influência na magnitude das velocidades tangenciais, mas sem influência marcante
sobre o perfil de velocidades axial ou tangencial. Mesmo onde se fizeram presentes
situações de recirculação no escoamento nas regiões laterais do anular, o perfil de
velocidade tangencial adimensional não sofreu alteração.
39

5.5 EFEITOS DA ROTAÇÃO DA COLUNA INTERNA SOBRE A PERDA DE CARGA

Através da Figura 11 é possível observar que a queda de pressão no interior do anular


é bastante influenciada pela razão de diâmetros entre os cilindros interno e externo.
Pode-se observar que quando esta razão de diâmetros é igual a 0,5 (Figura 11 (a), (b)
e (c)), caso de menor razão analisado, a perda de carga ao longo do anular é até 14
kPa, dependendo da velocidade axial inserida ao escoamento. Para os casos onde
a razão de diâmetros foi maior, igual a 0,9 (Figura 11 (d), (e) e (f)), a perda de carga
encontrada nos dados é de 1600 kPa.

Figura 11 – Perdas de carga encontradas no escoamento anular para situações anali-


sadas.

Fonte: Elaborado pelo autor

O aumento da rotação da coluna interna não provocou grandes alterações nos valores
de queda de pressão no anular. As maiores alterações nos valores de perda de carga
foram encontradas apenas para casos com menor excentricidade e maior razão de
diâmetros, o que é possível observar através da Figura 11 (d). Para casos concêntricos
e com grandes razões de diâmetro, o aumento na rotação da coluna interna provocou
uma queda de até 15%, do caso sem rotação para o caso com maior rotação (400 rpm).
Quando o caso possui alta razão de diâmetro e começa-se a aumentar a excentricidade,
a queda de pressão volta a ser pouco influenciada pela rotação do cilindro interno,
como é possível observar com o desenvolvimento da Figura 11 nos itens (e) e (f).
40

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O conhecimento a respeito dos efeitos de parâmetros operacionais no desempenho da


limpeza de poços horizontais de perfuração de petróleo e gás é algo extremamente
buscado pelos estudiosos da área. A limpeza de um poço de perfuração tem relação
direta com os custos envolvidos, caso a deficiência de limpeza gere, por exemplo,
um travamento de broca e até perda do poço. As simulações numéricas realizadas
para desenvolvimento deste trabalho se fizeram eficazes para o desenvolvimento de
conhecimentos a respeito da influência da rotação da coluna de perfuração sobre os
perfis de velocidade axial, tangencial e sobre a queda de pressão ao longo de um poço.

Os perfis de velocidade axial apresentados neste trabalho mostram que a rotação


da coluna interna em um escoamento anular não provoca mudanças drásticas no
comportamento do fluido Herschel-Bulkley utilizado, quando este é o único parâmetro
modificado. Quando aliada à outros parâmetros operacionais, a rotação da coluna
interna pode ser fator determinante, por exemplo, para o carreamento de cascalhos
para fora do poço, pois a mesma ajuda na existência de um aumento da velocidade
axial no setor inferior do anular, principalmente quando a excentricidade do anular é
alta.

Através da análise específica da influência da rotação da coluna interna sobre os perfis


de velocidade tangencial do escoamento, foi possível notar que, neste estudo, este
parâmetro não apresentou relação direta com a alteração dos perfis de velocidade. A
rotação da coluna de perfuração possui relação direta com as zonas de recirculação
de fluido no espaço anular e na intensidade da velocidade tangencial presente no
anular. Para efeitos de limpeza de poços de perfuração, esta rotação possui efeito
positivo, pois ajuda a gerar escoamentos secundários no interior do poço. Contudo, o
aumento da rotação da coluna interna não provocou alteração dos perfis adimensionais
de velocidade tangencial, o que sugere um comportamento semelhante do escoamento
para quaisquer que forem as rotações atribuídas à coluna interna entre os casos
avaliados neste trabalho.

Em relação à queda de pressão ao longo do poço, o aumento da rotação da coluna de


perfuração não apresentou grandes aumentos ou diminuições na perda de carga. Os
resultados obtidos apresentaram comportamentos praticamente estáveis de perda de
carga como resposta da alteração da rotação da coluna interna.

A análise CFD cumpriu com seu objetivo, de apresentar resultados confiáveis para
averiguação das relações dos parâmetros operacionais e o escoamento no interior do
poço de perfuração. O modelo adotado apresentou boa concordância com estudos
encontrados na literatura disponível, trazendo confiabilidade para as respostas obtidas
41

a partir dos problemas.

Chega-se à compreensão de que para o fluido Herschel-Bulkley estudado, sob as condi-


ções geométricas estabelecidas, a rotação da coluna interna de um poço de perfuração
não possui interferências significativas no comportamento do escoamento. É notório
através de estudos prévios que a rotação da coluna possui relações com o processo de
limpeza de poços de petróleo, contudo, sua relação individual é limitada pelos outros
parâmetros operacionais, que possuem maior influência sobre os comportamentos
obtidos do escoamento. Parâmetros como a razão de diâmetro e a excentricidade da
coluna interna apresentam maiores variações de comportamento quando comparados
com a rotação do cilindro interno de perfuração.

O conhecimento a respeito dos processos relacionados à operação de perfuração de


um poço de petróleo ou gás é algo em constante crescimento. A busca por melhor
compreensão a respeito de cada parâmetro com o comportamento do escoamento é de
extrema importância. Estudos mais aprofundados a respeito das relações específicas
da rotação da coluna de perfuração sobre o comportamento do escoamento, aliado
à outros parâmetros de operação, como uma obstrução parcial do espaço anular,
escoamentos multifásicos, uso de outros fluidos de perfuração Herschel-Bulkley e
outros, pode gerar um bom banco de dados para comparação com os resultados já
obtidos por este e outros trabalhos da literatura.
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