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LODO ATIVADO

O tratamento biológico pode ser subdividido em dois grandes grupos, processos aeróbios e
anaeróbios. Observou-se uma tendência histórica em se comparar tais modalidades, enfatizando-se as
vantagens e as desvantagens de cada grupo. Entretanto, hoje é consenso o interesse na associação dos
processos, obtendo-se com isso importantes vantagens técnicas e econômicas.
Os processos biológicos podem ser classificados também em função do tipo de reator, que pode
ser de crescimento em suspensão na massa líquida ou de biomassa aderida. Nos reatores de
crescimento em suspensão, não há suporte inerte para a aderência dos microrganismos, que crescem
geralmente floculados e em suspensão na massa líquida. No caso dos reatores aeróbios, o próprio
sistema de aeração acumula a função complementar de manter os sólidos biológicos em suspensão.
Nos reatores de biomassa aderida, há introdução de material de enchimento como areia, pedras ou
plástico, dentre outros, que podem se manter fixos ou móveis no reator, garantindo a aderência da
biomassa que cresce sob a forma de biofilme aderido ao meio inerte.
Os processos biológicos podem ser classificados ainda em função da retenção ou não de
biomassa. Entendendo-se por biomassa os microrganismos responsáveis pela degradação de matéria
orgânica dos esgotos. Nos processos em que não se pratica retenção de biomassa, o tempo de detenção
hidráulica, que é o tempo de passagem do esgoto pelo sistema, é equivalente ao tempo médio de
residência celular, também conhecido por idade do lodo, que representa o tempo de permanência dos
microrganismos no sistema. Assim, se é desejado que os microrganismos permaneçam durante
determinado período no reator, os esgotos deverão ser retidos pelo mesmo período, o que torna as
dimensões do sistema relativamente elevadas. É o caso, por exemplo, das lagoas aeradas
mecanicamente de mistura completa. Nos sistemas com retenção de biomassa, este mecanismo deverá
ser produzido de alguma forma. Quando se empregam reatores de crescimento em suspensão na massa
líquida, como são os tanques de aeração dos processos de lodos ativados, a retenção de biomassa é
feita recirculando o lodo sedimentado nos decantadores posicionados à jusante do reator biológico. Já
nos reatores de biomassa aderida, sejam de leito fixo ou móvel, a retenção de biomassa é garantida
pela própria aderência dos microrganismos ao meio suporte formando os biofilmes. Os reatores com
retenção de biomassa compõem os chamados sistemas de tratamento compactos que, por permitirem
maior concentração de microrganismos ativos, possuem maior capacidade de recebimento de carga de
esgotos quando comparado ao mesmo volume de reator onde não se procede a retenção do lodo.

PROCESSO DE LODOS ATIVADOS

O processo de lodos ativados pode ser enquadrado como tratamento aeróbio, de crescimento
em suspensão na massa líquida e com retenção de biomassa. A introdução de oxigênio pode ser feita
através de diferentes formas, como por meio de aeradores superficiais, sistemas com difusores, até
mesmo oxigênio puro pode ser introduzido diretamente nos tanques. Os sólidos biológicos crescem na
forma de flocos e são mantidos em suspensão pelo equipamento de aeração, não há meio suporte de
biomassa. A retenção de biomassa é feita através de recirculação do lodo separado nos decantadores
secundários.
O resultado da interação entre microrganismos e matéria orgânica nos tanques de aeração é a
formação de flocos. Polímeros extracelulares produzidos pelos microrganismos são os principais
agentes.
Para a ocorrência de flocos densos é necessário que determinadas condições ambientais dentro
dos reatores estejam controladas. As principais condições são descritas a seguir:
• Neutralidade do meio: Fora da faixa neutra, o número de grupos de microrganismos
que se desenvolvem é menor, dando maio r oportunidade para desequilíbrios e
predominância de microrganismos maus formadores de flocos.
• Nutrientes: A presença dos principais nutrientes, sobretudo compostos de nitrogênio e
fósforo, deve ser bem administrada. A deficiência no meio dos principais nutrientes
proporciona a prevalência indesejável de certos grupos de microrganismos.
• Oxigênio: O oxigênio deve ser adicionado em quantidade suficiente para garantir o
processo metabólico dos microrganismos que se desenvolvem no tanque reator e
manter um pequeno saldo, que é a segurança contra a ocorrência de anaerobiose.
• Substâncias Tóxicas: É necessário o controle de substâncias tóxicas ou potencialmente
inibidoras, que podem ser descarregadas pelos efluentes industriais. Alguns problemas
em tratamentos biológicos são causados pela presença em quantidade excessiva de
compostos fenólicos ou de óleos e graxas, por exemplo.

Se os fatores ambientais externos estiverem sob controle, há que se planejar e manter


adequadamente condições de funcionamento tais como a relação alimento/microrganismos (F/M) e o
tempo médio de residência celular (θc). Uma boa floculação é necessária para que se tenha
recuperação de sólidos no decantador secundário e um efluente final com baixa concentração de
sólidos em suspensão. A perda de sólidos em suspensão junto com o esgoto tratado é inevitável. O
ajuste operacional do processo de lodos ativados consiste essencialmente em procurar encontrar as
condições ambientais que levem à melhor floculação possível, reduzindo-se a perda de sólidos com o
efluente final e obtendo-se maior eficiência na remoção de matéria orgânica biodegradável.
O excesso de lodo biológico descartado continuamente do sistema poderá ou não sofrer
digestão bioquímica complementar, dependendo das condições operacionais. Quando se mantêm
maiores tempos de residência celular, o excesso de lodo resultante é melhor digerido.
Microbiologia do processo de Lodo Ativado

O lodo do processo de Lodos Ativados é constituído por flocos. Estes flocos são formados por
fragmentos orgânicos não digeridos, por uma fração inorgânica (por exemplo grãos de areia), por
células mortas e, principalmente, uma grande variedade de bactérias dos gêneros: Pseudomonas,
Achromobacter, Flavobacterium, Citromonas, Zooglea, além de bactérias filamentosas.
Um verdadeiro ecossistema é formado no tanque de aeração de um sistema de lodos ativados.
As bactérias são os principais decompositores de matéria orgânica dos esgotos por assumirem grandes
massas em intervalos de tempo mais reduzidos do que os outros microrganismos heterotróficos.
Quando as condições ambientais são adequadas, surgem as zoogleas, flavobactérias, aerobacter,
pseudomonas e alcalígenes, responsáveis por boa biofloculação. Quando isto não ocorre, podem
predominar excessivamente bactérias filamentosas e outras bactérias responsáveis pelo
intumescimento filamentoso do lodo, que leva à sua flutuação nos decantadores.
Além das bactérias, protozoários são importantes organismos em sistemas de lodos ativados
pois, além de consumirem matéria orgânica, consomem bactérias mal floculadas, dando polimento ao
efluente tratado. Aparecem mais rapidamente protozoários fixos e, sucessivamente os ciliados cuja
presença indica boas condições do lodo biológico. De fato, a presença de protozoários é determinante
para o bom andamento do processo, que evolui em direção ao aparecimento de micrometazoários
como os rotíferos, cuja presença excessiva pode indicar lodo com idade demasiadamente elevada.

Características da microbiota presente

Bactérias:

Bactérias não filamentosas: os principais gêneros de bactérias não filamentosas são: Bacillus,
Aerobacter, Pseudomonas, Achromobacter, Flavobacterium, Alcaligenes, Arthrobacter, Citromonas e
Zooglea.
A Zooglea ramigera tem especial importância devido à formação de uma cápsula amorfa de
muco que envolve as sua células. O crescimento excessivo desta bactéria leva à formação de flocos
volumosos e de consistência gelatinosa que sedimentam mal. Esse fenômeno é conhecido como
intumescimento não filamentoso ou bulking zoogleal.
Bactérias filamentosas: as bactérias filamentosas estão presentes no processo de lodos
ativados no interior dos flocos formando a macroestrutura. Sua presença contribui para uma boa
eficiência do processo, já que possuem alta capacidade de consumir matéria orgânica e,
conseqüentemente produzem um efluente final de boa qualidade.
Enquanto o número de bactérias filamentosas permanecer constante sem prejudicar a
sedimentação do lodo, normalmente não haverá problema. O crescimento em abundância dos
organismos filamentosos, como efeito de algum desequilíbrio operacional do sistema, forma uma
macroestrutura semelhante a uma rede, que interfere na sedimentação e compactação do floco
bacteriano, além da competição com as demais espécies bacterianas pelo substrato orgânico.
Fungos: os fungos não são habitantes freqüentes em lodos ativados. Seu desenvolvimento
pode ser estimulado quando prevalecem condições, tais como: pH baixo (5,0), presença de grande
quantidade de carboidratos e deficiência de nutrientes. Os fungos são tão eficazes quanto às
bactérias na estabilização da matéria orgânica mas, por serem filamentosos, podem levar ao
sistema ao bulking quando presentes em grande número.
Algas: embora não seja o ambiente propício para o crescimento devido a ausência de luz
provocada pela turbidez do meio, algumas algas podem estar presentes.
Outro: Nos reatores biológicos aeróbios são também encontrados protozoários e
micrometazoários, indicados como clarificadores do meio. As bactérias constituem a base
nutricional dos protozoários, e estes, em conjunto com as próprias bactérias, são consumidos pelos
micrometazoários. Os protozoários podem ser subdivididos em grupos de acordo com o tipo de
organela utilizada para a locomoção e captura de alimentos: ciliados, flagelados, amebas,
micrometazoários.

Principais gêneros de bactérias encontradas no processo de lodo ativado e suas respectivas


funções:
Agrupamento de organismos de diversos gêneros presentes em processos de lodos ativados:

Microrganismos indicadores das condições de depuração em sistemas de lodo ativados:


PARTES QUE COMPÕEM O SISTEMA

De modo geral, o sistema de lodo ativado é composto de um tanque de aeração, com sistema
de aeração específico seguido de um decantador secundário, podendo apresentar alguma modificação
segundo a variação desejada.

Tanque de Aeração

Também chamado de reator biológico, o tanque de aeração é o local onde ocorrerá a depuração
“otimizada” do afluente. O reator biológico possui um volume reduzido e alta concentração de
microrganismos, chamados de “Lodos Ativados” que realizam a depuração.
O processo de degradação da matéria orgânica consome oxigênio. Portanto, o reator biológico
deverá ser integrado por um equipamento de aeração, que forneça o oxigênio necessário ao reator. Este
equipamento deverá ser capaz de transferir a quantidade de oxigênio necessário à sobrevivência e ao
crescimento da microbiota presente no reator.

Sistemas de Aeração de Lodos Ativados

A aeração deve fornecer o oxigênio necessário ao desenvolvimento das reações biológicas. A


quantidade de oxigênio requerida é em função da idade do lodo e da carga dependendo, portanto, da
velocidade de crescimento bacteriano e da respiração endógena. Muito oxigênio é consumido nas
reações de nitrificação, ou seja, a oxidação do nitrogênio amoniacal em nitritos e nitratos. Mas, um
ganho de oxigênio acontece ao contrário nas reações de desnitrificação, quando os nitritos e nitratos
são reduzidos para nitrogênio.
O oxigênio consumido nos reatores biológicos é na maioria dos casos fornecidos pelo ar
atmosférico. Existe, portanto um problema de transferência deste oxigênio da fase atmosférica gasosa
para a fase líquida. Esta transferência é realizada de forma artificial, mediante o uso de equipamentos
chamados aeradores ou difusores cuja função é introduzir ar ou oxigênio por aeração difusa; e para
isto causam um grande turbilhonamento, expondo o líquido, na forma de gotículas ao ar, e
ocasionando a entrada do ar atmosférico no meio líquido (aeração superficial ou mecânica).
Uma modalidade de aeração de pode ser feita com uso de Oxigênio puro. O oxigênio é
utilizado ao invés do ar. Uma porção do gás é utilizada para remoção de matéria orgânica, e o ajuste de
pH é necessário. A quantidade de oxigênio adicionada é aproximadamente 4 vezes maior que a
quantidade que pode ser adicionada em sistema convencional, podendo-se atingir uma capacidade de
transferência de oxigênio para a massa de cerca de 90%. O oxigênio dissolvido no tanque de aeração
pode atingir 8 mg L-1 . Desta forma a principal vantagem deste sistema está na economia de área e
volume, uma vez que se pode operar com tempo de aeração reduzido (1 hora) e com altas
concentrações de sólidos (SSTA de 6000 a 8000 mg L-1 ). Geralmente os tanques de aeração são
cobertos evitando-se perda de oxigênio para a atmosfera. A ETAR tem melhor aspecto estético, pois a
cobertura dos tanques elimina eventuais odores, espuma e aerossóis na área de tratamento. As
desvantagens do sistema estão no custo das obras civis, da cobertura dos tanques e da unidade de
produção e estocagem do oxigênio, que deve ser confrontado com os custos de uma maior área
requerida em outros tipos de sistemas. Neste sistema verifica-se menor produção de lodo em excesso e
o mesmo apresenta boa característica de decantabilidade e de desidratação.
Uma outra alternativa para a aeração está no uso de sistemas convencionais de introdução de
ar. Tais sistemas podem ser classificados segundo a forma pela qual o ar é introduzido nos tanques de
aeração, sendo normalmente:
a- por meio de agitadores mecânicos;
b- por meio de difusores e.
c- combinação dos dois sistemas

Agitadores Mecânicos
Neste sistema o oxigênio é introduzido no tanque de aeração graças à ação de agitadores
mecânicos que por forte agitação expõem à atmosfera pequenas partículas e filmes delgados do líquido
permitindo a transferência do oxigênio e a dispersão e incorporação do ar no meio líquido. Este
sistema apresenta as seguintes vantagens em relação aos difusores:
não existem partes submersas;
não apresenta risco de entupimento;
imprime maior turbulência ao meio líquido
são de fácil instalação.
Apresentam as seguintes desvantagens:
menor flexibilidade em relação ao controle de oxigênio dissolvido no tanque;
possibilidade de maior formação de aerossóis;
manutenção preventiva de grande número de unidades (estações de grande porte);
problemas de ruído.

Os agitadores mecânicos mais freqüentemente utilizados podem ser agrupados da seguinte


forma:
1) Com relação ao sistema de montagem:
Fixo –do tanque de aeração
Flutuante - montados sobre uma estrutura flutuante, com a vantagem de manter a
submersão em caso oscilação do nível.

2) Em função da velocidade de rotação:


Baixa rotação, de fluxo radial, < 150 rpm, são usados com redutor, podem ser fixos ou
flutuantes, sendo o impelidor em geral de maior diâmetro. Têm elevada capacidade de
bombeamento e mistura do líquido;
Alta rotação: ~1700 rpm, são usados sem redutor, sendo o impelidor em geral de menor
diâmetro geralmente sobre estrutura flutuante.

3) Com relação ao Eixo de Rotação:


vertical – os mais comuns,
horizontal – geralmente usados em valos de oxidação
inclinado.

Sistemas de Aeração por Ar difuso ou Difusores


A aeração por ar difuso deve ser utilizada sempre que os reatores tiverem uma profundidade
maior do que 3 metros. Somente assim se consegue uma mistura e oxigenação de todo o reator. O
sistema de aeração por ar difuso é feito por difusores submersos no líquido (tubulações distribuidoras
de ar, tubulações de transporte de ar, sopradores e outros meios onde passa o ar), sendo o ar
introduzido próximo ao fundo do reator biológico, para evitar a sedimentação do lodo. O oxigênio é
transferido ao meio líquido devido ao empuxo exercido na bolha de ar, fazendo com que a mesma se
eleve à superfície. Por outro lado, os difusores podem ser classificados de acordo com:
1) Com relação ao Sistema de Fixação:
Fixo – para sua limpeza requer o esvaziamento do tanque
montado sobre uma plataforma móvel – para limpeza basta emergir o braço sobre o
qual estão montados

Os sistemas de aeração por ar difuso podem ser classificados segundo a porosidade do difusor,
e, portanto, segundo o tamanho da bolha produzida:
• difusor poroso (bolhas finas e médias): prato, disco, domo e tubo;
• difusor não poroso (bolhas grossas): tubos perfurados ou com ranhuras;
• outros sistemas: aeração por jatos, aeração por aspiração, tubo em U.
Geralmente os difusores porosos são feitos de materiais cerâmicos, plásticos e membranas
flexíveis. O tipo cerâmico é mais antigo, sendo que, atualmente o material utilizado é à base de óxido
de alumínio ou grãos de sílica vitrificados ou resinados. Os difusores de plástico foram recentemente
desenvolvidos, tendo vantagens através da redução do peso e baixo custo, embora possam ser menos
resistentes. Já os difusores de membranas são bastante antigos, sendo representado por uma membrana
que, ao receber o ar, infla-se, permitindo o alargamento de minúsculas aberturas. Quando o ar é
desligado, a membrana encolhe-se, fechando os orifícios. Os aeradores por aspiração possuem uma
hélice na extremidade inferior (imersa no líquido), a qual, ao girar, cria uma subpressão, succionando
o ar atmosférico de uma ranhura situada na parte superior (fora do líquido). O ar é difundido no meio
líquido na forma de pequenas bolhas, responsáveis pela oxigenação e mistura da massa líquida.
Os aeradores por aspiração são apresentados em alguns textos como aeradores por ar difuso,
por gerarem bolhas de ar no meio líquido.
Segundo a ABNT,1989, os diâmetros das bolhas considerados na caracterização do tipo de
aeração por ar difuso são:
bolha fina: diâmetro inferior a 3 mm
bolha média: diâmetro entre 3 e 6 mm
bolha grossa: diâmetro superior a 6 mm.

Decantadores Secundários

Os decantadores secundários exercem um papel fundamental no processo de lodos ativados,


sendo responsáveis pelos seguintes fenômenos:
separação dos sólidos em suspensão presentes no reator, permitindo a saída de um
efluente clarificado;
adensamento dos sólidos em suspensão no fundo do decantador, permitindo o retorno
do lodo com concentração mais elevada;
armazenamento dos sólidos em suspensão no decantador, complementando o
armazenamento realizado no reator. Este aspecto tem menor importância em países tropicais, nos
quais a elevada permanência dos sólidos no decantador é prejudicial, por permitir a desnitrificação
no decantador, ocorrendo a liberação do gás nitrogênio, arrastando os flocos filamentosos do lodo,
os quais, poderão originar o bulking filamentoso, atrapalhando sua sedimentação, e interferindo na
qualidade do efluente final fazendo com que o lodo vá para a superfície, deteriorando assim a
qualidade do efluente final.
A sedimentação é uma etapa fundamental para o processo de lodos ativados, ou seja, sua
adequada operação depende o sucesso da estação como um todo. Os decantadores secundários são
geralmente a última unidade do sistema, determinando a qualidade final do efluente, em relação a
sólidos em suspensão, DBO e de nutrientes.
Variantes de Operação do Processo de Lodos Ativados
Os sistemas de lodos ativados apresentam as seguintes divisões:
a) Quanto ao fluxo
1. contínuo - líquido entrando e saindo continuamente do reator
a- convencional;
b- aeração prolongada.
2. intermitente (batelada) - entrada do líquido descontínuo em cada reator

Tempo de detenção hidráulica (TDH ou th )


O tempo de detenção hidráulica (TDH ou th ) representa o tempo médio de permanência das
moléculas de água em uma unidade de tratamento, alimentado continuamente.

Onde:
th = tempo de detenção hidráulica (h)
V = volume do reator (m3 )
Q = vazão (m3 h-1 );
th= V/Q
Valores usuais de tempo de detenção hidráulica (TDH
ou Th )

Sistema TDH
Conve ncional 1,8 – 8,0
Mistura completa 3,0 – 5,0
Estabilização por contato 1,5 – 3,0
Lodos Ativados
Aeração Prolongada 18 – 36
Aeração escalonada 3,0 – 5,0
Oxigênio Puro 1,0 – 3,0

b) Quanto à idade do lodo (θ c)


A classificação segundo a idade do lodo se aplica, tanto para os sistemas de fluxo contínuo,
quanto para os sistemas de fluxo intermitente ou batelada. No entanto, a aeração prolongada é mais
freqüente para os sistemas de fluxo intermitente. Já com relação ao sistema de lodos ativados como
pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios, a opção mais conveniente é a da idade do lodo
convencional.

1.a - Lodos ativados convencionais (fluxo Contínuo)

No sistema convencional, a idade do lodo é usualmente da ordem de 4 a 10 dias, a relação F/M


na faixa de 0,25 a 0,50 kg DBO/kg SSVTA.dia, e o tempo de detenção hidráulica no reator, da ordem
de 6 a 8 horas. Com esta idade do lodo, a biomassa retirada do sistema no lodo excedente requer ainda
uma etapa de estabilização no tratamento do lodo, por conter ainda um elevado teor de matéria
orgânica armazenada nas suas células. Esta estabilização ocorre nos digestores (primário e
secundário). De forma a reduzir o volume dos digestores, o lodo é previamente submetido a uma etapa
de adensamento, na qual é retirada parte da umidade, diminuindo, em conseqüência, o volume de lodo
a ser tratado. No sistema convencional, para se economizar energia para a aeração e reduzir o volume
do reator biológico, parte da matéria orgânica (em suspensão, sedimentável) dos esgotos é retirada
antes do tanque de aeração, através do decantador primário. Assim, os sistemas de lodos ativados
convenciona is têm, como parte integrante, também o tratamento primário.

1.b - Lodos ativados, aeração prolongada

Caso a biomassa permaneça no sistema por um período mais longo, da ordem de 18 a 30 dias
(daí o nome aeração prolongada), recebendo a mesma carga de DBO do esgoto bruto que o sistema
convencional, haverá menor disponibilidade de alimento para as bactérias (relação F/M de apenas 0,07
a 0,15 kg DBO/kg SSVTA.dia). A quantidade de biomassa (kg SSVTA) é maior que no sistema de
lodos ativados convencionais, o volume do reator aeróbio também maior, e o tempo de detenção do
líquido é em torno de 16 a 24 horas. Portanto, há menos matéria orgânica por unidade de volume do
tanque de aeração e também por unidade de biomassa do reator. Em decorrência, as bactérias, para
sobreviver, passam a utilizar nos seus processos metabólicos a própria matéria orgânica biodegradável
componente das suas células. Esta matéria orgânica celular é convertida em gás carbônico e água, por
meio da respiração. Isto corresponde a uma estabilização da biomassa, ocorrendo no próprio tanque de
aeração.
Enquanto no sistema convencional a estabilização do lodo é feita em separado (na etapa de
tratamento de lodo), usualmente em ambiente anaeróbio, na aeração prolongada ela é feita
conjuntamente, no próprio reator. O consumo adicional de oxigênio para a estabilização de lodo
(respiração endógena) é significativo e inclusive pode ser maior que o consumo para metabolizar o
material orgânico do afluente (respiração exógena).
Já que não há necessidade de se estabilizar o lodo biológico excedente, procura-se evitar
também, no sistema de aeração prolongada, a geração de alguma outra forma de lodo, que venha a
requerer posterior estabilização. Deste modo, os sistemas de aeração prolongada usualmente não
possuem decantadores primários, para evitar a necessidade de se estabilizar o lodo primário. Com isto,
obtém-se uma grande simplificação no fluxograma do processo: não há decantadores primários nem
unidades de digestão de lodo (ver figura abaixo).
A conseqüência desta simplificação do sistema é o gasto com energia para aeração, já que o
lodo é estabilizado aerobiamente no tanque de aeração. Por outro lado, a reduzida disponibilidade de
alimento e a sua praticamente total assimilação fazem com que a aeração prolongada seja a variante do
processo de lodos ativados mais eficiente na remoção de DBO.
Deve-se destacar, no entanto, que a eficiência de qualquer variante do processo de lodos
ativados está intimamente associada ao desempenho do decantador secundário. Caso haja perda de
sólidos no efluente final, haverá uma grande deterioração na qualidade do efluente,
independentemente do bom desempenho do tanque de aeração na remoção da DBO.

Lodos Ativados de Aeração Prolongada (Fluxo Contínuo)

Na Tabela 1 constam as principais diferenças entre estes dois métodos de lodo ativados e na
Tabela 2 as principais características dos sistemas com idade do lodo convencional e aeração
prolongada.

Tabela 1. Variantes dos processos de tratame nto biológico por lodos ativados.

Idade do lodo Idade do lodo (θ c) Relação F/M Denominação usual


Reduzida 4 a 10 0,25 a 0,50 Lodos ativados convencionais
Elevada 18 a 30 0,07 a 0,15 Aeração prolongada

Tabela 2. Valores de comparação em termos de eficiência, requisitos e custos nas duas principais
variáveis de sistema de lodos ativados (convencional e aeração prolongada).
Item Geral Item específico Idade do Lodo
Convencional Aeração Prolongada
Eficiência DBO (%) 85 – 93 93 – 98
Nitrogênio (%) 30 – 40 15 – 30
Fósforo (%) 30 – 45 10 – 20
Coliformes (%) 60 – 90 65 – 90
Requisitos Área (m2 /hab) 0,2 – 0,3 0,25 – 0,35
Potência (W/hab) 1,5 – 2,8 2,5 – 4,0
Quantidade de lodo a tratar Volume (m3 /hab.a) 1,1 – 1,5 0,7 – 1,2
Custos Implantação (US$/hab) 60 – 120 40 – 80
Fonte: VON SPERLING, 1996

2 - Lodos ativados - fluxo intermitente (batelada)

O princípio do processo de lodos ativados com operação intermitente consiste na incorporação


de todas as unidades, processos e operações normalmente associados ao tratamento tradicional de
lodos ativados, quais sejam, decantação primária, oxidação biológica e decantação secundária, em um
único tanque. Utilizando um tanque único, esses processos e operações passam a ser simplesmente
seqüências no tempo, e não unidades separadas, como ocorre nos processos convencionais de fluxo
contínuo. O processo de lodos ativados com fluxo intermitente pode ser utilizado tanto na modalidade
convencional quanto na de aeração prolongada. Na modalidade de aeração prolongada (a mais comum
devido à sua maior simplicidade operacional) o tanque único passa a incorporar também a unidade de
digestão (aeróbia) do lodo (Figura abaixo). Os ciclos normais de tratamento neste processo são:
enchimento: entrada de esgoto bruto, decantado ou anaeróbio no reator;
reação: aeração e/ou mistura da massa líquida contida no reator;
sedimentação: sedimentação e separação dos sólidos em suspensão do esgoto tratado;
esvaziamento: retirada do esgoto tratado do reator;
repouso: ajuste de ciclos e remoção do lodo excedente.

A duração de cada ciclo pode ser alterada em função das variações da vazão afluente,
necessidades de tratamento e características do efluente e da biomassa do sistema.
Há algumas modificações nos sistemas de fluxo intermitente, relacionadas, tanto à forma de
operação, quanto à seqüência e duração dos ciclos associados a cada fase do processo. Estas variações
permitem simplificações no processo ou remoção biológica dos nutrientes.
Esquema de sistema de lodos ativados com operação intermitente
Ø Lodos ativados como pós-tratamento de reatores anaeróbios
Uma alternativa, que vem sendo adotada recentemente, é a utilização de um sistema de lodos
ativados convencionais, como pós-tratamento de efluentes de Reatores Anaeróbios tipo UASB. Neste
caso ao invés do decantador primário tem-se o reator UASB.

Fluxograma de um sistema composto por reator UASB seguido por lodos ativados.
As principais vantagens desta configuração são:
redução na produção de lodo (≤ 50%);
redução do consumo de energia (~ 70% da DBO 5 é retirada no reator UASB);
redução no consumo de produtos químicos para desidratação;
menor número de unidades diferentes a serem implementadas;
menor necessidade de equipamentos;
maior simplicidade operacional.

A principal desvantagem relaciona-se à menor capacidade para remoção biológica de


nutrientes, uma vez que o reator UASB retira grande parte do carbono necessário para desnitrificação
e desfosfatação.

Existem diversas variantes do processo de lodos ativados. Cabe inicialmente caracterizar e


estabelecer as diferenças entre os sistemas convencionais e os com aeração prolongada. A idéia
fundamental é a de que nos sistemas convencionais, as condições no tanque de aeração são planejadas
para que ocorra a floculação biológica sob maior fator de carga e menor idade do lodo. Com isso, os
volumes necessários de tanques reatores são menores porém, o grau de digestão do excesso de lodo
descartado é baixo e é necessária uma estabilização bioquímica complementar antes da secagem, ou
seja, a digestão do lodo.
Nos sistemas com aeração prolongada, contrariamente, permite-se maior incidência de
metabolismo endógeno mantendo-se no tanque baixa relação alimento/microrganismos e idade do lodo
alta. Desta forma, o volume necessário de tanque de aeração é maior, mas o lodo descartado apresenta
grau de mineralização (SSV/SST) mais elevado, dispensando a digestão complementar. Em geral, nos
sistemas com aeração prolongada não se utiliza decantador primário, evitando-se completamente a
necessidade de digestão de lodos em troca da exigência de um volume de tanque de aeração cerca de
30% maior. A substituição dos decantadores primários por reatores anaeróbios como o UASB, tem
demonstrado as vantagens de maior alívio de carga orgânica afluente ao tratamento aeróbio, bem como
proporcionar um digestor de lodo na própria linha de tratamento dos esgotos. Com isso, pode-se operar
o processo de lodos ativados na faixa dos sistemas convencionais, enviando o excesso de lodo desta
etapa de volta aos reatores UASB para aumentar a mineralização. Os volumes de tanques de aeração
são substancialmente menores nesses arranjos.

OUTRAS VARIANTES DO PROCESSO DE LODOS ATIVADOS


O processo de lodos ativados é bastante flexível e pode ser adaptado para quase todos os
problemas de efluentes biológicos. Pressionada pela necessidade de fugir das patentes inglesas,
pesquisadores americanos desenvolveram variantes do processo clássico de lodo ativado, buscando ao
mesmo tempo maio r economia com a aeração, melhores condições de lodo recirculado. Algumas das
variações surgidas são descritas a seguir juntamente com o processo convencional de fluxo a pistão e a
sua principal variação, o processo de mistura completa.

(A) Processo convencional, com fluxo em pistão


oo oo o oo oo o oo
afluente oo oo o oo oo o oo decantador
decantado oo oo o oo oo o oo secundário
oo oo o oo oo o oo
lodo
retornado

O efluente a ser tratado e o lodo recirculado entra na cabeça do tanque de aeração e é misturado por ar
difuso ou aeração mecânica. A aplicação do ar geralmente é uniforme por todo o comprimento do
tanque. Durante o período de aeração ocorre adsorção, floculação e oxidação da MO. Os sólidos são
separados no decantador secundário.

O processo de mistura completa, a vazão do efluente alimenta o tanque, vindo de decantadores


primários, diretamente sob os rotores de aeração. É uma aplicação do regime de fluxo de um reator
contínuo com agitação. O efluente e o lodo recirculado são introduzidos em diversos pontos no reator.
A carga de MO e a demanda de oxigênio é uniforme por toda a extensão do tanque.

(C) Aeração decrescente


oo o o
afluente oo o o o oo o decantador
oo o o o oo o o oo o secundário
decantado
oo o o o oo o
oo o o
lodo
retornado
É uma modificação do processo de fluxo em pistão. Taxas variadas de aeração são aplicadas por toda a
extensão do tanque, dependendo da demanda de oxigênio. Quantidades maiores são aplicadas na
entrada do tanque e as quantidades diminuem ao longo do mesmo. A aeração escalonada é conseguida
pelo uso diferenciado dos difusores de ar ao longo do tanque. O esgoto é introduzido gradualmente ao
longo do tanque de aeração, da mesma forma que o lodo retornado.

(D) Aeração escalonada


lodo
retornado
oooo oooooooo
oooo oooooooo decantador
oooo oooooooo secundário
oooo oooooooo

afluente
decantado

Modificação do processo de fluxo em pistão no qual o efluente é introduzido em diversos pontos do


reator para equalizar a razão F/M, reduzindo assim o pico de demanda de oxigênio. Geralmente são
usados três ou mais canais paralelos. A flexibilidade de operação é uma das características mais
importantes deste processo.
(E) Aeração prolongada
oo oo oo oo oo oo oo
oo oo oo oo oo oo oo decantador
afluente
oo oo oo oo oo oo oo
bruto oo oo oo oo oo oo oo
final
oo oo oo oo oo oo oo
lodo
retornado
Similar ao sistema de fluxo em pistão exceto que opera na fase de respiração endógena da curva de
crescimento, o que requer uma carga menor de matéria orgânica e um tempo de aeração longo. O
processo é muito utilizado para estações pré- fabricadas para pequenas comunidades. A vazão do
afluente alimenta diretamente o tanque de aeração, sem a passagem do mesmo pelo decantador
primário.

CONTROLE DE PROCESSO

O controle de processos de lodos ativados é importante para manter os níveis de tratamento sob
uma faixa variável de condições de operação. Os principais fatores usados em controle de processo
são:
manutenção dos níveis de Oxigênio Dissolvido (OD) nos tanques de aeração;
regulagem da quantidade do retorno de lodo (RAS – return activated sludge);
controle da quantidade de lodo descartado (WAS – waste activated sludge).

Os parâmetros mais comuns para controlar o processo de lodo ativado são: a razão F/M
(relação alimento:microrganismo) e a θ c (idade de lodo). A concentração do SSV, no reator, também é
usada como um parâmetro de controle. O retorno de lodo é utilizado para manter esta concentração, e
o WAS é importante para controlar o θc. O uso da taxa de aplicação de oxigênio ou taxa de oxigenação
(OUR – Oxigen uptake rates) também tem sido reconhecida como meio de monitoramento e controle
do processo de lodo ativado.

CONSIDERAÇÕES DE PROJETO

No projeto de processos de lodos ativados devem ser considerados:


seleção do tipo de reator;
critérios de carga ( Relação A/M, idade do lodo e fator de carga);
produção de lodo;
requisito e transferência de oxigênio;
necessidade de nutrientes;
controle de organismos filamentosos;
característica dos efluentes

1 - Seleção do tipo de reator


Um dos passos principais no projeto de lodos ativados é a escolha do reator. Os fatores
operacionais envolvidos são: cinética da reação, requisitos de oxigênio, natureza do efluente,
condições climáticas locais e construção.

2 - Critérios de carga

a) Razão F/M (alimento/microorganismo)


Uma relação amplamente utilizada é F/M. Constitui um parâmetro importante que mede a
razão entre o alimento presente no esgoto afluente e os microrganismos no tanque de aeração. A
Norma Brasileira recomenda a faixa de 0,07 a 1,1 Kg DBO/ Kg SSVTA d. Assim:

F Q.S0 S0
= F =
M V. X v ou M th X v
onde,
S0 = concentração de DBO ou DQO afluente, mg L-1 ;
th = tempo de detenção hidráulica no tanque de aeração h-1 ;
V = volume do tanque de aeração (m3 );
Q = vazão afluente, m3 d-1 ;
Xv = concentração de SS voláteis no tanque de aeração, mg L-1 .

b) idade do lodo (θ c) ou Tempo de detenção celular médio


Pode ser definido por duas relações gerais, dependendo do volume usado:
volume do tanque de aeração (reator):
V. X v
θc =
Qr X r + Qe X e
onde:
V = volume do tanque de aeração, m3
X = concentração de SS voláteis no reator, mg L-1
Qr = vazão de lodo retornado, m3 d-1
Xr = concentração de SS voláteis no lodo de retorno, mg L-1
Qe = Vazão de efluente final (após o decantador), m3 d-1
Xe = concentração de SS voláteis no efluente final, mg L-1

volume total do sistema:


Xt
θ ct =
Qr X r + Qe X e
onde:
θct = tempo de detenção celular baseado no volume total do sistema
Xt = massa total de SS voláteis no sistema, incluindo os sólidos no reator, decantador e nas instalações
de retorno
Qe = (Q – Qr)

No caso do cálculo, baseando-se no volume do reator, assume-se que toda conversão ocorre
no reator.

c) Fator de carga (f)


A única diferença em relação a razão F/M é que esta é determinada com base na concentração
de sólidos em suspensão voláteis no tanque de aeração (Xv ), enquanto que na composição do fator de
carga se usa a concentração de sólidos em suspensão totais (Xt ):

f = Q.S o
V.Xt
d) Relação entre o tempo de detenção celular e F/M
1 F E
=Y − Kd
θc M 100
onde:
E = eficiência do processo, %
Y = coeficiente de produção celular, mg de microorganismos produzidos por mg de matéria orgânica
removida, mg SSV/mg DBO 5
Kd = coeficiente de decaimento de microorganismos, d-1

3) Produção de lodo
Vantagens do tratamento por lodos ativados:
maior eficiência de tratamento;
maior flexibilidade de operação;
menor área ocupada em relação ã filtração biológica.
Desvantagem
operação mais delicada;
necessidade de completo controle de laboratório;
custo maior de operação em relação ã filtração biológica.

a) Descarte de lodo (WAS)


O excesso de lodo ativado produzido por dia deve ser descartado para manter um dado F/M ou
θc. A prática mais comum é descartar o lodo da linha de retorno devido à alta concentração de sólidos
e assim necessitar de unidades menores de tratamento e manuseio. Um método alternativo é o descarte
direto do reator ou da linha de efluente do reator, onde a concentração de sólidos é uniforme.
A quantidade real de líquido a ser descartada depende do método de controle (F/M ou θc) e do
local de descarte.

b) Recirculação do lodo ativado


O propósito do retorno de lodo, ou seja (RAS), é manter a concentração de sólidos no reator,
tal que o grau de tratamento desejado possa ser atingido em determinado intervalo de tempo. O RAS é
a característica essencial do processo. Muitas técnicas podem ser utilizadas para calcular a vazão
desejável de lodo de retorno. A estratégia de controle é ma nter a concentração de SSV no reator ou
manter uma profundidade determinada da manta de lodo no decantador secundário. As técnicas mais
comuns são:
sedimentabilidade;
controle do nível da manta de lodo;
balanço de massa do decantador secundário;
balanço de massa do reator
qualidade de lodo
Qr Xv
Razão de recirculação: R = =
Q X r − Xv
Valores médios típicos de SS no lodo de retorno variam de 8000 a 12000 mg L-1 .
Valores médios típicos adotados de R = 0,7 a 1,2.

c) Índice volumétrico de lodo

O teor de lodo é o volume de lodo que sedimenta num cone ou cilindro de 1 litro após meia
hora.
Qr
TL = x1000
Q + Qr

O teor de lodo é muitas vezes referido como resíduo seco em peso. O lodo de boa qualidade
contém da ordem de 98,5% de água e 1,5% de sólidos.
Alguns índices são considerados como controladores do processo de formação e
sedimentabilidade do lodo. O mais empregado é o índice volumétrico de lodo (IVL), que por
definição representa o volume em mililitros ocupado por um grama de lodo, após sua sedimentação de
30 minutos.
TL
IVL = x1000
conc.lodo sec o

Os valores de IVL entre 40 e 150 indicam uma boa qualidade do lodo formado; valores acima
de 200 são normalmente indicativos de um lodo de qualidade inferior.

4) Consumo de oxigênio

a) Condições relativas ao oxigênio:


Os sistemas de aeração têm tripla finalidade. A primeira é a de disponibilizar oxigênio
suficiente para as necessidades dos microrganismos aeróbios, e a segunda é de provocar uma agitação
e uma homogeneidade suficiente para que ocorra uma mistura completa em reatores tipo lodos
ativados. A terceira e não menos importante função é a de retirar vários produtos voláteis do
metabolismo. Os reatores de mistura completa, não devem possuir curto circuito, sendo assim,
necessita-se de uma correta aeração para ocorrer uma completa mistura e homogeneização dos
reatores.
Quando se deseja que o sistema opere em mistura completa, os seguintes parâmetros devem ser
definidos:
Necessidade de Oxigênio em Sistemas de Lodos Ativados e Lagoas Aeradas.
Teoricamente, a quantidade de oxigênio a ser suprida ao sistema deve ser equivalente à
quantidade consumida na oxidação da matéria orgânica. Se a concentração de matéria orgânica é
expressa em DBO, calcula-se inicialmente, a quantidade de oxigênio necessária para suprir a demanda,
a partir do cálculo da carga orgânica (CO) removida por dia. Devem ser considerados nestes cálculos
a eficiência desejada da DBO, a forma e dimensão do tanque de aeração e a modadlidade que se está
adotando no processo. Em geral, adota-se a necessidade de O2 como sendo 1,5 a 2,0 x CO.

CO = Q (So -S) em kg DBO (DQO).d-1


onde:
Q é a vazão de projeto
So é a concentração de DBO afluente
S é a concentração de DBO efluente

a) Requisitos e transferência de oxigênio

O requisito teórico de oxigênio pode ser determinado a partir da DBO 5 do efluente e a


quantidade de microorganismos descartados por dia. Se todo DBO é convertido aos produtos finais, a
demanda total de oxigênio deve ser calculada pela conversão de DBO 5 em DBO u usando um fator de
conversão apropriado. É sabido que uma porção do efluente a ser tratado é convertido em novas
células que são descartadas do sistema, assim, se a DBO u das células descartadas é subtraída do total, a
quantidade restante representa a quantidade de oxigênio que deve ser fornecida ao sistema. Na
equação abaixo é observado que a DBO u de um mol de células é igual a 1,42 vezes a concentração de
células.
C5 H7NO2 + 5 O2 → 5 CO 2 + 2 H2O + NH3 + energia
(5x32) (1,42 células)

Então, os requisitos teóricos de oxigênio para a remoção de matéria orgânica carbonácea no


efluente, para um sistema de lodos ativados pode ser calculada por:

 massa.total   massa.M .O 
kgO2 / d =   kg / d − 1,42 kg / d
 DBOu utilizada   descartada 

Q (S 0 − S )
Matematicamente: kgO2 / d = − 1, 42P( x )
f . 103

onde: f = fator de conversão de DBO 5 em DBO u

Quando a nitrificação deve ser considerada, os requisitos totais de oxigênio podem ser
calculados como se segue:
Q( S0 − S ) 4,57 Q(N 0 − N )
kgO2 / d = − 1,42 P(x ) +
f .10 3 10 3

onde: N0 = nitrogênio total Kjehldal (NTK) inicial, mg L-1


N = nitrogênio total Kjehldal final, mg L-1
4,57 = fator de conversão para oxidação total do NTK

Assim, se a eficiência na transferência de oxigênio do sistema de aeração é conhecido ou pode


ser estimado, os requisitos de ar podem ser determinados. O suprimento de ar pode ser adequado para:
satisfazer a DBO efluente
satisfazer a respiração endógena dos organismos do lodo
prover mistura adequada, e
manter uma concentração de oxigênio de 1 a 2 mg L-1 no reator.

b) Controle de OD
A quantidade de O2 transferida aos tanques de aeração é teoricamente igual à quantidade de
oxigênio requerida pelos microorganismos no sistema de lodos ativados para oxidar o material
orgânico e para manter o nível desejado de OD residual. Quando o oxigênio é fator limitante para
crescimento de microorganismos, há a predominância de organismos filamentosos. Na prática, a
concentração de OD deve ser mantida de 1,5 a 4,0 mg L-1 no reator; 2 mg L-1 é um valor usual.
Valores acima de 4 mg L-1 não melhora o sistema significativamente, mas aumenta consideravelmente
os custos de aeração.

CONTROLE E PERTURBAÇÕES

Idade do lodo
Idade do Faixa da idade Carga de Denominação
lodo do lodo DBO usual
Reduzidíssima < 3 dias Altíssima Aeração modificada
Reduzida 4 a 10 dias Alta Lodos ativados convencional
Intermediária 11 a 17 dias Intermediária -
Elevada 18 a 30 dias Baixa Aeração prolongada

A operação de lodos ativados requer um acompanhamento de laboratório a fim de verificar os


parâmetros cinéticos e as características biológicas e de sedimentabilidade.
Aeração inadequada
A aeração insuficiente, tanto em termos de fornecimento de oxigênio como de agitação do
meio líquido pode ser verificada com as seguintes observações:
1) Ocorrência de focos ou áreas sem agitação na superfície do líquido –
Causa: entupimento em alguns domos porosos; distribuição do ar a partir das colunas de
alimentação das grades dos difusores não está uniforme;
Solução: ajuste da distribuição do ar nas válvulas de controle das colunas, verificar os
domos.
2) Ocorrência de bolhas grossas na superfície -
Causa: desprendimento de domos com o ar sendo liberado na forma de uma colunas
ascendente localizada;
Solução: acessar o domo e fazer a correção.
3) Agitação excessiva e desigual na superfície -
Causa: descontrole nas aberturas das válvulas;
Solução: ajustar as aberturas de válvulas e corrigir a vazão distribuída nos compressores.
4) Distribuição não homogênea de oxigênio dissolvido no meio líquido
Recomenda-se realizar um desenho do perfil de distribuição de OD no tanque de aeração.

2) Problemas com formação de escuma : A presença de escuma dentro do tanque é normal dentro de
condições padrão, o normal é ter de 10 a 25% de cobertura da área superficial com espessura reduzida,
em torno de 5 a 8 cm..
§ Escuma branca: é usual no início de operação do tanque de aeração,
Causa: indica SSV baixo ou alta relação F/M.
Solução: Deve-se aumentar a concentração de SSV, aumentar o retorno ou a idade do lodo.
Reduzir ou suspender o descarte de lodo em excesso;
§ Escuma marrom-castanho:
Causa: de forma excessiva tanto em quantidade quanto em espessura indica lodo com
elevada idade ou presença de organismos filamentosos.
Solução: Como correção deve-se diminuir a idade do lodo, corrigir os descartes, diminuir
SSV;
§ Escuma marrom-escura ou negra
Causa: indício de má distribuição ou insuficiência de OD
Solução: fazer as devidas correções.

3) Perda de sólidos no decantador secundário:


A superfície líquida do decantador deve ter aspecto claro e transparente, com baixa turbidez,
devendo ser possível visualizar a camada superior do lençol de lodo.
Lodo próximo da superfície: aumentar o retorno ou descarte de lodo;
Blocos de flocos flutuando: É necessário verificar as condições do sistema de
arraste e aspiração do lodo e eventual condição de anaerobiose por deficiência do
sistema de remoção ou deficiência de OD no sistema. Deve-se verificar a massa de SSV
no tanque de aeração ou mesmo, pode vir a ser necessário verificar as dimensões do
decantador secundário.
Presença de organismos filamentosos – o crescimento excessivo de microrganismos
filamentosos gera o fenômeno de “bulking” ou intumescimento do lodo que dá origem
a um lodo leve de difícil sedimentabilidade. Deve-se atentar para as causas do
desequilíbrio no tanque que estejam levando ao crescimento destes microrganismos.

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