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SÃO MATEUS - ES
2016
FRANCO ZOTELLE BATISTA
SÃO MATEUS - ES
2016
Dados internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Aos exemplos que meus pais sempre foram em minha vida, influenciando na
formação do meu caráter e personalidade. Vocês foram, são e sempre serão meus
melhores referenciais de conduta e comprometimento. Agradeço por não terem
poupado esforços e acreditarem em mim.
Agradeço a oportunidade e confiança que a mim foi depositada pelo meu Orientador,
Prof. Me. Filipe Arthur Firmino Monhol e pelo meu Coorientador Prof. Me. Carlos
Eduardo Silva Abreu.
RESUMO
In Brazil, most of sanitation waste is still intended incorrectly, or not treated properly.
Water resources, for example, are directly affected by untreated sewage, which is
dumped to the environment. A process capable of treating sewage is through
anaerobic digestion of organic matter reactors, which has as products: the treated
effluent, biogas and biofertilizer. Biogas emissions into the atmosphere presents
major environmental threat due to the methane present in the same and their
respective negative contribution to the greenhouse effect. However, burn this gas
can generate energy, and reduces environmental damage caused by the emission of
methane. Thus, this study analyzes the energy potential of biogas produced in UASB
of the Sewage Treatment Plant of residential Jacuí. The management company this
STP, SOMA Urbanismo, provided all the necessary data for qualitative and
quantitative characterization of the generated gas. A comparative analysis of different
studies showed the effectiveness of the data. Thus, the feasibility was evaluated in
three different scenarios for power generation in order to meet the energy demand of
the STP. The scenarios include using a motor generator of 25 kW and another of 3.6
kW and a 30 kW microturbine. However, none of these scenarios are made possible
mainly due to the low flow of gas generated by the STP. The study pointed out then,
two different scenarios that did not involve the generation of electricity, but still held
the energy use of gas by direct burning. The burning of biogas for drying and
cleaning the sludge generated, presented itself as a low cost alternative. The last
scenario proposed burning biogas in a heat exchanger, providing heating a sufficient
water volume to 1,000 hot baths a day. This scenario would achieve the demand of
daily hot baths and can heat water to temperatures of 46.5 ° C, and still generate
savings of R$ 4.645,20 due to non-use of electric showers. Despite the scenarios do
not enable a fully self-sustaining plant, the last two energy recovery alternatives
proved interesting because of the unfavorable conditions of system gas flow.
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................... 15
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................ 18
O BIOGÁS ........................................................................................................ 18
2.1 O BIODIGESTOR ................................................................................. 20
2.1.1 Classificação dos Biodigestores ....................................................... 21
2.1.1.1 Biodigestores Contínuos ..................................................................... 21
2.1.1.2 Biodigestores Descontínuos ................................................................ 26
2.2 FORMAÇÃO DE BIOGÁS ..................................................................... 27
2.3 FATORES QUE INFLUENCIAM NA FORMAÇÃO DE BIOGÁS ............ 29
2.3.1 Composição Química do Biogás ....................................................... 29
2.3.2 Impermeabilidade do Ar ..................................................................... 30
2.3.3 Temperatura ........................................................................................ 30
2.3.4 Teor de Água ....................................................................................... 30
2.3.5 Potencial Hidrogeniônico (pH) .......................................................... 30
2.3.6 Nutrientes ............................................................................................ 30
2.3.7 Tempo de Detenção Hidráulica (TDH) ............................................... 31
2.4 COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO BIOGÁS ................................................ 31
2.5 PURIFICAÇÃO DO BIOGÁS ................................................................ 32
2.5.1 Remoção de Umidade ........................................................................ 33
2.5.2 Remoção de Gás Sulfídrico por Óxido de Ferro .............................. 33
2.5.3 Remoção de Gás Carbônico através de água .................................. 33
2.5.4 Remoção do Gás Sulfídrico e do Dióxido de Carbono por
Hidróxido de Sódio, Potássio e Cálcio .............................................. 34
2.6 PODER CALORÍFICO .......................................................................... 34
2.7 TECNOLOGIAS PARA APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DO BIOGÁS
............................................................................................................... 36
2.7.1 Aplicação do Biogás na Produção de vapor ou água quente ......... 37
2.7.2 Aplicação do Biogás como combustível veicular ............................ 37
2.7.3 Aplicação do Biogás para a secagem do lodo ................................. 37
2.7.4 Aplicação do Biogás para a geração de Energia Elétrica ............... 38
2.8 LODO BIOFERTILIZANTE ................................................................... 44
3 TRABALHOS CORRELATOS ............................................................. 47
4 METODOLOGIA ................................................................................... 49
4.1 CARACTERIZAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA DO BIOGÁS . 49
4.2 IDENTIFICAÇÃO DO POTENCIAL ENERGÉTICO DO BIOGÁS ......... 50
4.3 ANÁLISE DO APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DO BIOGÁS ........ 51
4.4 ANÁLISE DO CUSTO DE GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA ........ 51
4.5 ANÁLISE DA PRODUÇÃO DE LODO RESIDUAL ............................... 52
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ......................................................... 54
5.1 CARACTERIZAÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA DO BIOGÁS . 54
5.2 ANÁLISE COMPARATIVA DA TAXA DE GERAÇÃO DE BIOGÁS ...... 55
5.3 ANÁLISE DO APROVEITAMENTO ENERGÉTICO ............................. 56
5.3.1 Demanda Energética da ETE ............................................................. 56
5.3.2 Identificação do Potencial Energético do Biogás ............................ 56
5.3.3 Alternativas para aproveitamento energético do Biogás ................ 57
5.3.3.1 Armazenagem do Biogás .................................................................... 57
5.3.3.2 Conversão em energia elétrica ............................................................ 59
5.3.3.3 Utilização do Biogás para secagem do lodo residual .......................... 62
5.3.3.4 Análise Comparativa dos Cenários ..................................................... 68
5.4 ANÁLISE QUANTITATIVA DO LODO RESIDUAL ............................... 72
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 73
REFERÊNCIAS .................................................................................... 76
ANEXO A – ESPECIFICAÇÕES DE EQUIPAMENTOS SIMULADOS
NOS CENÁRIOS .................................................................................. 82
ANEXO B – IMAGENS DA ETE JACUÍ ............................................... 90
15
1 INTRODUÇÃO
Vale lembrar que o biogás gerado em esgotos e vazadouros a céu aberto possui em
sua composição o gás metano (CH4) como principal constituinte. Segundo estudos
do Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC (1996), o metano tem um
potencial de aquecimento global 21 vezes maior do que o gás carbônico. Torna-se
então, viável o aproveitamento energético do biogás, conciliando a produção de
energia com a redução de emissão de gases estufa.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O BIOGÁS
O primeiro biodigestor que obteve biogás a partir de resíduos orgânicos foi criado na
Grã-Bretanha em 1911. A segunda Guerra Mundial gerou necessidades de novas
fontes de energia para atender a demanda no aquecimento de casas e cozinhas ou
até mesmo para uso em motores a combustão. Dessa forma foram criadas inúmeras
instalações de biodigestores para suprir tais necessidades (AQUINO et al., 2014).
19
Mesmo com tais iniciativas, com o passar dos anos esse combustível acabou sendo
deixado como segundo plano, servindo apenas de complemento às fontes
tradicionais de petróleo e carvão (SOARES et al., 2010). A crise do petróleo em
1970 fez com que o preço internacional da energia elevasse significativamente. O
que levou a diversos países adotarem estratégias de racionamento e a
desenvolverem fontes alternativas de energia (CETESB, 2006).
Segundo Villela e Silveira (2005), até pouco tempo, o biogás era somente um
subproduto obtido através da decomposição anaeróbica de resíduos urbanos,
resíduos animais e resíduos obtidos de estações de tratamento de esgoto
doméstico. No entanto, a alta do preço dos combustíveis e o desenvolvimento
econômico acelerado, criaram um ambiente favorável para a produção de energia a
partir do uso de fontes renováveis. O que faz com que o biogás se torne um
combustível economicamente e ambientalmente atrativo.
20
2.1 O BIODIGESTOR
Prado et al. (2012) ressaltam a importância que, com exceção dos tubos de entrada
e saída, o biodigestor é completamente vedado, criando um ambiente sem a
presença de oxigênio (anaeróbico) onde os micro-organismos degradam o material
orgânico, transformando-o em biogás e biofertilizante.
Este modelo é caracterizado por possuir uma campânula, que se trata de uma
espécie de tampa conhecida como gasômetro, a qual pode estar mergulhada sobre
a biomassa em fermentação ou pode estar em um selo d’água externo (FRIGO et
al., 2015). O gasômetro pode ser construído em chapas de ferro ou em fibra de
vidro. A vantagem do gasômetro em fibra de vidro é a resistência à corrosão
causada pelo gás sulfídrico. Contudo, deve-se adicionar peso sobre o gasômetro de
fibra a fim de aumentar a pressão do biogás (OLIVEIRA, 2009).
De acordo com Frigo et al. 2015, o modelo indiano é caracterizado por possuir
pressão de operação constante, isso significa que o volume de gás produzido não é
consumido de imediato e faz com que o gasômetro se desloque verticalmente,
aumentando assim, o volume do mesmo e mantendo a pressão no interior
constante. Para evitar entupimentos dos tubos de entrada e saída do material deve-
se evitar alimentação de resíduos com concentrações superiores a 8% de sólidos, e
esse abastecimento deve ser feito de forma contínua (PRATI, 2010). Esse modelo
está representado nas Figuras 2 e 3.
22
Para Prati (2010), por este modelo ser constituído quase todo em alvenaria, é
dispensado o uso de gasômetro em chapa de aço, o que promove redução de
custos. Contudo, como esse modelo opera em altas pressões, podem ocorrer
problemas como vazamento de biogás caso a estrutura não seja bem vedada e
impermeabilizada.
Frigo et al. (2015) ressaltam que tal como o Modelo Indiano, o substrato também
deve conter uma concentração de sólidos totais em torno de 8 % para evitar
entupimentos no sistema. Além disso, esse modelo apresenta a desvantagem de
liberar uma parcela de gás formado para a atmosfera quando a pressão interna
aumenta muito. Isso acaba limitando sua aplicação para instalações de pequeno e
médio porte. As Figuras 4 e 5 representam esse modelo de biodigestor.
Esse modelo também pode ser construído em alvenaria, concreto ou aço. A matéria
orgânica a ser decomposta é colocada na câmara de digestão e então é selada
hermeticamente, só havendo uma saída para o gás. O gás que é produzido pode ser
utilizado ou pode ser armazenado em tanque separado para uma utilização
posterior. Dependendo da quantidade e qualidade dos materiais utilizados na
biodigestão, a produção de gás pode durar de três a seis meses (OLIVEIRA, 2009).
A Figura 9 representa esse modelo e suas dimensões.
27
Onde:
2.3.2 Impermeabilidade do Ar
2.3.3 Temperatura
O teor de água dentro do biodigestor deve variar entre 60 e 90% do peso total do
conteúdo. Muita ou pouca água irão prejudicar o processo de fermentação, logo,
deve-se buscar o volume de carga hidráulica ideal (PECORA, 2006).
Dessa forma, as bactérias que produzem o metano têm um crescimento ótimo numa
faixa de pH entre 6,6 e 7,4. Contudo, a estabilidade da produção de metano pode ser
mantida com um pH entre 6,0 e 8,0. A faixa de pH ótima é o resultado das diversas
reações que ocorrem. Caso o processo se mantenha dentro das condições de
31
2.3.6 Nutrientes
De acordo com Prati (2010) pelo fato de o metano ser o principal componente da
mistura, é a sua concentração que define, por exemplo, o poder calorífico do biogás,
além de dar características como a de ser inodoro e incolor.
Gases Porcentagem
Metano (CH4) 55 – 66
Gás Carbônico (CO2) 35 – 45
Nitrogênio (N2) 0–3
Hidrogênio (H2) 0–1
Oxigênio (O2) 0–1
Gás Sulfídrico (H2S) 0–1
Fonte: Adaptado de MAGALHÃES (1986).
De acordo com Beck (2007), logo após a remoção do dióxido de carbono do biogás,
o mesmo deve passar por um resfriamento e filtragem no objetivo de também retirar
o gás sulfídrico da mistura.
Dependendo de qual for a aplicação do gás produzido, o mesmo deverá passar por
um processo de filtragem para elevar seu poder calorífico e rendimento térmico com
a retirada da água e do gás carbônico presentes na mistura (OLIVEIRA, 2005). Além
destes, o gás sulfídrico também pode estar presente na mistura como apresentado
previamente, o que gera a necessidade de sua remoção uma vez que o mesmo
afeta tanto o rendimento quanto a vida útil do motor e componentes utilizados devido
às suas características corrosivas (OLIVEIRA, 2009). As etapas do processo de
filtragem estão apresentadas a seguir.
33
De acordo com Oliveira (2009), o grau de umidade aceitável será definido de acordo
com aplicação do biogás, podendo ser associado ao ponto de orvalho, e assim será
realizada a secagem do mesmo. Esse processo pode ser executado com a
utilização de glicóis, com sílica gel ou outro produto que retenha umidade.
Consiste em passar a mistura gasosa por uma torre com preenchimento de óxido de
ferro III (Fe2O3) e aparas de madeira. O gás é então injetado pela base da torre e
conforme vai circulando pela mesma o gás sulfídrico reage com o óxido de ferro e é
removido do gás (CRAVEIRO, 1982). É um processo relativamente barato e simples,
e a reação química é apresentada em (1) (OLIVEIRA, 2009):
(1)
(2)
Segundo Craveiro (1982), o uso de óxido de zinco (ZnO) poderia substituir o óxido
de ferro, porém seria uma opção mais cara.
De acordo com Craveiro (1982), existem diversas maneiras para ser efetuada a
remoção de gás carbônico. Um processo simples seria a lavagem do gás com água,
onde removeria as impurezas apesar de consumir uma quantidade elevada de água
e depender diretamente da temperatura e pressão. Quando se opera em pressões
elevadas, grandes quantidades de gás carbônico são absorvidas pela água o que a
34
torna muito ácida e corrosiva, causando problemas no que diz respeito ao seu
descarte.
Segundo Craveiro (1982), quando o gás carbônico entra em contato com a solução
de sódio, potássio ou cálcio ocorre à formação de bicarbonato, sendo essa formação
irreversível conforme as equações (3) e (4). Caso haja tempo suficiente o gás
sulfídrico também será absorvido conforme a equação (5):
(3)
(4)
(5)
De acordo com Fernandes (2012), o Poder Calorífico é uma das características mais
importantes de um combustível, utilizado para determinar o potencial teórico de
liberação de energia na combustão completa de uma unidade de massa do mesmo
(kJ/kg).
poder calorífico inferior (PCI), fazendo com que o biogás possua uma faixa de poder
calorífico entre o superior e inferior (COSTA, 2006).
Fernandes (2012) mostra que um biogás com 60% de metano e 40% de dióxido de
carbono, possui um PCI equivalente a 5.500 kcal/m³. Com a Tabela 3 é possível
comparar o PCI do biogás com outros combustíveis gasosos.
36
A conversão energética do biogás pode ser realizada de diversas formas devido aos
avanços tecnológicos. No caso do biogás, a energia química contida em suas
moléculas é convertida em energia mecânica em um processo de combustão da
mistura ar/combustível. Essa energia mecânica ativa um gerador que é responsável
por convertê-la em energia elétrica (COSTA, 2006).
No entanto, o biogás também pode ser usado na geração de energia térmica ou até
mesmo para cogeração, no qual pode ser utilizado no aquecimento de caldeiras
37
para diversos tipos de processos industriais que utilize de água a altas temperaturas
ou vapor d’água. Além disso, o biogás também possui aplicação como combustível
veicular, mesmo que pouco utilizado.
Segundo o estudo apresentado por Oliveira (2009), o biogás gera uma economia
com combustíveis utilizados em caldeiras, como óleo combustível, carvão mineral,
carvão vegetal ou lenha. Isso ocorre, pois o biogás é gerado pela digestão
anaeróbica dos resíduos gerados pela própria indústria, ou seja, é economicamente
e ambientalmente viável.
torna esse método muito dependente de fatores climáticos para atingir sua eficiência
(ANDREOLI, 2002).
Segundo Costa (2006) a energia elétrica a partir do biogás pode ser considerada
como alternativa por significativas vantagens estratégicas, econômicas e ambientais:
É um ciclo ainda muito utilizado no Brasil, sobretudo nas Usinas de Açúcar e Álcool
que utilizam o bagaço da cana-de-açúcar como combustível. Nesse ciclo a energia
térmica resultante da queima do combustível na caldeira é transferida para água que
vaporiza e superaquece. Esse vapor se expande na turbina a vapor que por sua vez
aciona o gerador elétrico. O vapor, por sua vez, pode ser extraído na saída da
turbina e encaminhado a um determinado processo que utiliza esse calor útil,
caracterizando assim uma cogeração. Por fim o fluido retorna para à caldeira já
condensado, para que o processo se reinicie (LEAL, 2012; COSTA, 2006). A Figura
11 ilustra o ciclo apresentado acima.
As principais vantagens de uma turbina a gás são o seu volume e peso reduzidos,
quando comparado a outros tipos de máquinas térmicas, minimizando o espaço em
que ocupam. Há também um baixo consumo de óleo lubrificante e uma alta
confiabilidade, na qual vem fazendo com que turbina a gás seja utilizada em
diversos setores, tal como o aeroespacial (MENESES, 2011).
De acordo com Meneses (2011), as turbinas a gás são constituidas por elementos
como o compressor, câmara de combustão e a turbina de expansão conforme o
Ciclo Brayton. A Figura 12 mostra os componentes da turbina a gás de forma
esquemática.
De acordo com Dias (2009) a característica fundamental dos motores que seguem o
ciclo Otto é que na admissão (1º tempo) aspiraram uma mistura gasosa de ar e
combustível (biogás, nesse caso).
Depois que o cilindro é cheio pela mistura, a válvula de admissão que estava aberta
durante o 1º tempo é fechada. Então a mistura de ar/combustível sofre a
compressão (2º tempo). A seguir uma centelha elétrica fornecida pela vela de
ignição promove uma explosão, e consequentemente gera a expansão (3° tempo)
dos gases. Por fim a válvula de escape se abre, ocorrendo a descarga da mistura
gasosa para a atmosfera e a exaustão (4° tempo) dos gases queimados (DIAS,
2009).
Geralmente esses motores não são produzidos para utilização de biogás, o que faz
com que sejam necessárias modificações nos sistemas de alimentação, ignição e
taxas de compressão. Porém esse modelo é o mais utilizado para queima de biogás
para geração de energia elétrica, pois resulta em uma maior capacidade de
conversão energética e possui um custo reduzido em comparação às microturbinas.
A Figura 15 apresenta um exemplo de motor a gás para geração de energia elétrica.
43
2.7.4.4 Geradores
Tecnologias
Característica
Grupo Motor Microturbina a
Turbina a Gás
Gerador Gás
O estudo apontado por Oliveira (2009) indica que o biofertilizante apresenta maior
concentração de nutrientes do que o material orgânico original devido à perda
significativa de carbono, hidrogênio e oxigênio. A composição química média é de
1,5 – 4,0% de Nitrogênio; 1,0 – 5,0% de Fósforo; 0,5 – 3,0% de Potássio, além de
apresentar baixos teores de cálcio, magnésio, enxofre, boro, cobre, ferro, manganês,
molibdênio e zinco. O pH do afluente é em torno de 7,5, o que é propício para o
crescimento de micro-organismos úteis ao solo. O pH do biofertilizante também
indica se a digestão foi incompleta, para caso o mesmo apresente um pH ácido
(menor que 7,0). Porém, caso o pH seja maior que 8,0, a operação deve ser
avaliada, pois um biofertilizante alcalino indica um tempo muito alto de detenção
hidráulica.
3 TRABALHOS CORRELATOS
Zilotti (2012), avaliou por sua vez, o potencial energético do biogás gerado em um
reator RALF da Estação de Tratamento de Esgoto Norte (ETE Rio das Antas) em
Cascavel. O mesmo apresentou resultados com volumes superiores aos demais,
48
com uma vazão diária de biogás de 624 m³, com potencial de produzir cerca de
35.459 kWh/mês.
Por outro lado, Oliveira (2009), Leal (2012) e Prati (2010), avaliaram a geração de
energia elétrica a partir do biogás, porém com o uso de biodigestores para o
fornecimento do mesmo. Adotando o modelo de biodigestor da Marinha Brasileira,
os autores expõem a viabilidade de usar da decomposição anaeróbica da matéria
orgânica proveniente de resíduos sólidos, para gerar gás como combustível de
tecnologias de conversão elétrica. Por fim, ainda apresentam os benefícios do uso
do biofertilizante, que é um subproduto da decomposição que ocorre nos
biodigestores.
4 METODOLOGIA
O estudo foi feito com base na Estação de Tratamento de Esgoto que se encontra
no condomínio residencial Jacuí, localizado no município de São Mateus, no Espírito
Santo. O condomínio é gerido pela empresa Soma Urbanismo, a qual realizou toda a
coleta de dados, fornecendo-os para a realização do projeto através do
preenchimento de um questionário que lhes foi fornecido.
Dessa forma, uma análise comparativa com trabalhos correlatos será feita, no intuito
de identificar a veracidade dos dados obtidos.
Essa análise comparativa será feita avaliando os valores de taxa de geração média
de biogás por esgoto tratado, ou ‘ ’. Caso o valor de utilizando os dados
fornecidos pela Soma Urbanismo esteja muito distinto dos outros trabalhos já
existentes, apenas o valor da vazão de esgoto será adotado, utilizando o valor da
taxa de geração de biogás médio dos trabalhos correlatos. E a partir desses dois
valores, uma nova vazão de biogás será encontrada e utilizada neste trabalho.
Segundo França Junior (2008), essa taxa pode ser calculada segundo a Equação 6
abaixo.
(6)
Onde:
(7)
Tal que:
Calculado o potencial energético do biogás produzido, uma análise será feita para
identificar se o mesmo consegue suprir a demanda energética dos equipamentos da
própria ETE, tornando-a autossustentável, através do uso de tecnologias de geração
de energia listadas previamente.
(8)
Onde:
(9)
Tal que:
(10)
Onde:
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para essa concentração de metano, olhando na Tabela 2, tem-se que essa mistura
em particular, possui um PCI de 6.253,01 kcal/kg, e um Peso Específico de 1,0268
kg/m³. Convertendo os valores, tem-se que o PCI do biogás é 6.420,59 kcal/m³.
55
França Lima e
Costa SOMA
Junior Zilotti (2012) Pecora (2006) Passamani
(2006) Urbanismo
(2008) (2012)
ETE do
ETE
ETE Rio das Conjunto ETE da
Local - SABESP - ETE Jacuí
Antas Residencial da UFES
Barueri
USP
Vazão de
160.000 11.664 976.320 75,168
Esgoto 72 m³/dia 380 m³/dia
m³/dia m³/dia m³/dia m³/dia
tratado
Vazão de
27.200 37.100
biogás 624 m³/dia 5,27 m³/dia 5,48 m³/dia 40,1 m³/dia
m³/dia m³/dia
gerado
Taxa de
geração de 0,17 0,053 0,073 0,038 0,0729 0,105
biogás
A média dos valores de taxa de geração de biogás é 0,081, resultado que é bem
próximo ao encontrado com os dados fornecidos pela Soma Urbanismo. Dessa
forma, os dados obtidos são satisfatórios.
56
O potencial energético do gás foi calculado com base nos dados fornecidos para a
vazão de esgoto biogás no condomínio de 40,1 m³/dia. Dessa forma, tem-se que a
vazão ‘ ’, corresponde a 4,6412 m³/segundo.
Resolvendo a Equação 7:
57
Visto que o volume produzido de biogás é insuficiente para sua conversão elétrica,
opta-se pelo armazenamento do gás para que seja possível utiliza-lo nesse
processo. Segundo Lima e Passamani (2012), o equipamento responsável pelo
armazenamento do gás é o gasômetro. O mesmo ainda permite a manutenção de
uma pressão de saída constante, de tal forma que, a vazão de saída de gás é
controlada por uma válvula simples.
Dessa forma, o gasômetro é uma alternativa para acumular gás, e permitir uma
vazão de saída controlada do mesmo, respeitando as especificações de algum
58
Observa-se que o biogás pode ser armazenado em diversos tipos de câmaras, que
se diferenciam por material e dimensões, de acordo com às características da
composição e vazão do gás. Isso pois, o metano presente no biogás não pode ser
facilmente armazenado à temperatura ambiente, o que leva a cada sistema requerer
um gasômetro específico (SALOMON, 2007). De acordo com Lima e Passamani
(2012), não há forma ou material exato para fabricação de um gasômetro, mas
existe a necessidade de que o reservatório tenha a capacidade de suprir a demanda
de biogás produzido e consumido, e que seja inerte e hermeticamente fechado.
Modelo GGMB
Potência 25 kW
Rendimento -
Microturbina a Gás
Fabricante CAPSTONE
Modelo C30 HP
Potência 30 kW
Rendimento 26%
esse cenário é visto como uma alternativa para reduzir os gastos relacionados à
demanda energética da estação, não necessitando de suprir toda ela.
Potência 3,6 kW
Rendimento -
Mesmo a vazão de biogás não sendo suficiente para conversão em energia elétrica,
tal como apresentado no tópico 2.7.3, o calor gerado a partir da queima do biogás
pode ser utilizado na secagem e higienização do Lodo Residual.
A ETE Jacuí possui dois leitos de secagem, com um volume total de armazenagem
de 19,6 m³, onde ocorre a desidratação do lodo gerado pela ETE de forma natural,
utilizando apenas o calor fornecido pelo sol. E como apresentado no tópico 2.8, esse
lodo após desidratação, vira um biofertilizante com diversas aplicações na
agronomia.
63
Acompanhou-se dois estudos onde utilizaram o biogás gerado em uma mesma ETE,
como fonte de energia térmica para promover a secagem e higienização do lodo. O
Quadro 2 mostra dois modelos distintos de queima e distribuição de calor nos leitos
de secagem.
(a) (b)
Fonte: FERREIRA (2001).
64
Figura 19 – Método de secagem do lodo adotado por Andreoli (2002). (a) Caldeiras
em série para queima de biogás; (b) Tubos de cobre sobre o leito de secagem.
(a) (b)
Fonte: ANDREOLI (2002).
Dada a baixa vazão de gás, optou-se pela queima direta do mesmo assim como no
estudo proposto por Ferreira (2001). Esse estudo apresentou bons resultados no
que diz respeito a eliminação de ovos de parasitas do lodo, além de necessitar de
aparatos com menor custo em relação ao de Andreoli (2002).
Como o leito de secagem possui duas células de dimensões 3,5m x 3,5m x 0,8,
optou-se pela utilização de uma Estufa Plástica em túnel semelhante a utilizada por
Ferreira (2001). A estufa escolhida foi a do fabricante DANCOVER, com dimensões
4m x 10m x 2,4m, capaz de cobrir ambas as células.
R$ 5.674,50
(*) Os preços descritos acima estão baseados no Euro comercial de venda no dia 10/07/2016 (1 € =
R$ 3,6422)
Para garantir que todos os habitantes recebam a vazão de água desejada mesmo
em períodos de pico de consumo de água, optou-se pelo uso de um Reservatório
Térmico de capacidade de 5.000 litros, do fabricante Energy Web. A Figura 20
esquematiza o uso do reservatório.
66
Fonte: Autor.
O sistema possuirá uma bomba que eleva a água até o reservatório em um ponto
alto no condomínio, e que em seguida distribui-a apenas por gravidade. Sabendo o
consumo de água por hora e a capacidade de armazenagem, calcula-se através da
Equação 11, a vazão mínima que a bomba deve ter para elevar a água até o
reservatório, considerando um regime de operação de 24 horas/dia.
(11)
O cenário irá se tornar viável, caso o calor gerado pela queima do gás seja capaz de
elevar a temperatura do volume de água que é bombeado e passa por dentro de um
trocador de calor. Após pesquisa de mercado, encontrou-se uma bomba centrífuga
para aplicações residenciais do fabricante Schneider Motobombas, da qual atende a
vazão mínima necessária para encher o tanque, conforme detalhes da Tabela 13
abaixo.
Bomba Centrífuga
Fabricante Schneider Motobombas
Modelo BCR - 2000
Potência 1/3 CV
Vazão 0,5 m³/h
Temperatura Máxima 80 °C
Pressão Máxima 19 m c.a. (1,9 bar)
Fonte: SCHNEIDER MOTOBOMBAS (2010).
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Para esse valor de entalpia, tem-se que a temperatura da água da saída da bomba é
de 46,5 °C (Tabela A-2 – MORAN & SHAPIRO, 2009). De acordo com Belinazo et
al. (2004), uma temperatura de água quente “confortável” alcançada pelos chuveiros
elétricos convencionais, é em torno de 40 °C. Dessa forma, a temperatura alcançada
com a queima do biogás é menor do que a temperatura máxima suportada pela
bomba, mas ainda consegue ser suficientemente quente para uso em banhos.
Schneider
Bomba Centrífuga 1/3 CV 1 R$ 435,00 R$ 435,00
Motobombas
Dessa forma, o Cenário 5 poderia estar economizando 416,67 kWh/dia ao evitar que
o chuveiro elétrico seja ligado durante mil banhos quentes por dia.
Potência 25 kW 30 kW 3,6 kW - -
Demanda de energia elétrica diária da ETE Jacuí 535,872 kWh/dia 535,872 kWh/dia 535,872 kWh/dia 535,872 kWh/dia 535,872 kWh/dia
Sistema de Purificação Ausente(*) Remoção de Umidade e H2S(*) Remoção de H2S Ausente Ausente
Nota: Os valores acima foram baseados nos estudos feitos por (*) COSTA (2006); (**) PECORA (2006); (***) PEREIRA (2014);
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Cenário 5 Capaz de gerar água quente; Necessita de reservatório para garantir vazão de água mesmo em horários
Apresenta uma economia mensal boa em comparação aos demais cenários; de pico.
Regime de operação sem restrições.
72
0,1 KgSST/KgDQOapl
236,39 KgDQOapl/d
(14)
(15)
(16)
Ou seja, a ETE Jacuí tem capacidade de produzir 17,21 m³ de lodo líquido por mês,
que quando desidratado, pode chegar ao volume de 4,30 m³.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise comparativa mostrou que os dados fornecidos pela Soma Urbanismo eram
admissíveis. A caracterização quantitativa do biogás, verificou uma vazão de 40,1 m³
de biogás por dia, onde 75% da composição deste gás, era formado por metano. Foi
possível então, calcular o potencial energético do biogás gerado pela ETE em
análise, onde foi encontrado um potencial de 89,79 kWh/dia. Valor este, que é
incapaz de suprir a demanda energética da estação de 535,87 kWh/dia.
Percebe-se então o importante trabalho que a Soma Urbanismo vem realizando para
o meio ambiente e para a sociedade. Além de tratarem o esgoto gerado no
condomínio do qual fazem a gestão, os mesmos têm a preocupação de destinar
corretamente os produtos desse tratamento, e buscam alternativas para que os
mesmos não sejam desperdiçados.
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REFERÊNCIAS
<http://www.cumminspower.com.br/pdf/gas/natural/60hz-gensetnatural/ggmb.pdf>
Acesso em: 05 mai. 2016.
SABESP. Uso Racional da Água. São Paulo: SABESP, 2016. 2 p. Disponível em:
<http://site.sabesp.com.br/site/interna/Default.aspx?secaoId=247> Acesso em: 01
jun. 2016.