Você está na página 1de 20

RELATÓRIO DE FAUNA

Empreendimento de construção de
galpão industrial na Rua Antônio
Mathias
Ribeirão Pires - SP
À serviço da empresa ACD CHAPAS LTDA
CNPJ: 55.637.920/0001-07

POR:
Maurício Nogueira Martins
CrBio 074815-01/D

1
Ribeirão Pires,
Abril de 2014

SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO..........................................................................................................................3

1.1. AVIFAUNA DE MATA ATLÂNTICA..................................................................................3

1.2. A AVIFAUNA COMO INDICADOR DE QUALIDADE AMBIENTAL.............................4

1.3. ÁREA DE ESTUDO...............................................................................................................5

2. METODOLOGIA ......................................................................................................................8

2.1. COLETA DE DADOS.............................................................................................................8

2.2. CARACTERIZAÇÃO DA FAUNA LOCAL.........................................................................8

2.3. ANÁLISE DE BIOINDICADORES.......................................................................................8

2.4. LEVANTAMENTO DA FAUNA (METODOLOGIA)..........................................................9

3. RESULTADOS.........................................................................................................................10

3.1. TABELA DE ESPÉCIES......................................................................................................10

4. COMENTÁRIOS SOBRE A AVIFAUNA REGISTRADA...................................................11

4.1. IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE A FAUNA DECORRENTES DA SUPRESSÃO DE


VEGETAÇÃO..............................................................................................................................13

5. CONCLUSÃO..........................................................................................................................13

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.....................................................................................16

7. RELATÓRIO FOTOGRÁFICO..............................................................................................17

8. INFORMAÇÕES DO RESPONSÁVEL TÉCNICO...............................................................20

2
CARACTERIZAÇÃO DA FAUNA

1- INTRODUÇÃO

Originalmente a vegetação de Mata Atlântica, estendia-se por todo litoral do território


brasileiro, desde o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. Possuía cerca de 1,1
milhões de Km² de vegetação, restando nos dias de hoje, pouco menos de 8% da área
original.

Os principais remanescentes florestais encontram-se nas encostas atlânticas da Serra


Geral, Serra do Mar, (Serra de Paranapiacaba, Graciosa, Bocaina e dos Órgãos), Serra
da Mantiqueira, Hiléia Baiana (sul da Bahia e norte do Espírito Santo) e porções litorâneas
das regiões Sul e Sudeste.

Sua degradação iniciou-se com a colonização e a exploração do Pau-Brasil, seguida


da agricultura, industrialização e a expansão imobiliária. Por estes motivos, a vegetação
da Mata Atlântica encontra-se atualmente de forma fragmentada em áreas reduzidas e
conseqüentemente ameaçadas. Contudo, comporta ainda um elevado número de
espécies e um alto índice de diversidade e endemismo, sendo, desta maneira,
considerada área prioritária (Hot Spot) para a conservação da Biodiversidade e declarada
Reserva da Biosfera pela UNESCO.

1.1. AVIFAUNA DE MATA ATLÂNTICA

Existe um número impressionante de endemismo de espécies animais no ecossistema


de Mata Atlântica. Das 1.711 espécies de vertebrados, 700 são endêmicas, sendo 55
espécies de mamíferos, 282 espécies de aves, 60 de répteis, 90 de anfíbios e 133 de
peixes. A Mata Atlântica é indicada como o Bioma de maior biodiversidade no mundo.

Este ecossistema abriga, aproximadamente, cerca de 282 espécies de aves, dentre as


quais, cerca de 200 espécies enquadram-se na categoria de endêmicas.

Por ser um dos grupos mais conhecidos e diversos entre os vertebrados, além da
maioria das espécies possuir hábitos diurnos e vocalizar com frequência, as aves são,
relativamente, um grupo de fácil detecção em campo. Por esse motivo, o trabalho dará
ênfase a este grupo, por serem animais de fácil visualização, audição e identificação.

3
A avifauna da Floresta Atlântica é extremamente diversificada e corre grande
ameaça de extinção, devido ao desmatamento e à expansão imobiliária. Várias espécies
endêmicas, raras e sensíveis, habitam este bioma, que é considerado um dos mais
ameaçados do planeta.

No Estado de São Paulo ainda se observam fragmentos florestais significativos,


alguns deles inseridos em Unidades de Conservação. Entretanto, apesar da importância
destes fragmentos para a avifauna, são poucos os estudos de longa duração que têm sido
realizados na Mata Atlântica de São Paulo. Cabe ressaltar os estudos de Willis e Oniki
(1981) que realizaram levantamentos preliminares da avifauna de 13 áreas florestais no
Estado de São Paulo, sendo cinco delas localizadas na Floresta Atlântica. Esse trabalho
verificou que algumas espécies, devido à fragmentação das florestas, se extinguiram
localmente, evidenciando sua alta sensibilidade e o alto grau de ameaça as quais estão
submetidas.

1.2. A AVIFAUNA COMO INDICADOR DE QUALIDADE AMBIENTAL

As aves são o mais conspícuo e bem conhecido grupo de vertebrados terrestres.


Constituem um grupo zoológico cuja observação e identificação é facilitada,
principalmente pela vocalização e coloração, que tornam estes animais bastante
conspícuos na natureza. Um considerável número de espécies ocorre na maioria dos
ambientes presentes em determinada área, permitindo a obtenção de dados consistentes,
mesmo em curtos períodos de trabalho de campo.

Devido a essas características das aves, é possível encontrar muitos trabalhos que
relatem sua distribuição, taxonomia, grau de ameaça e biologia, trabalhos estes, que
acumulam e aprimoram estes conhecimentos ao longo dos anos.

As aves apresentam-se como ótimos indicadores de degradação do ambiente, pois


certas espécies apresentam grande fidelidade a determinados habitats. Essas espécies
desaparecem quando seus ambientes são perturbados, sendo consideradas, portanto,
sensíveis. Outras espécies, menos sensíveis ecologicamente, são favorecidas por
perturbações ambientais, tornando-se mais comuns nestes ambientes alterados podem
até mesmo chegar a colonizar ambientes onde antes não ocorriam, devido a mudanças de
habitat criadas por um quadro de perturbações antrópicas, como o desmatamento e a

4
ocupação urbana desordenada. Assim, determinadas espécies, características de
fisionomias vegetais abertas, estão expandido suas distribuições, acompanhando a
supressão da Floresta Atlântica. Por outro lado, espécies florestais seletistas tornam-se
cada vez mais isoladas e consequentemente ameaçadas de extinção.

Dessa forma, as aves apresentam-se como o melhor grupo zoológico para análises de
bioindicação de degradação ambiental em ambientes terrestres, e consequentemente, o
presente laudo se baseia, principalmente, nas informações oriundas da avifauna.

1.3. ÁREA DE ESTUDO

Figura 1 – Localização aproximada do imóvel a sofrer intervenção e evidência da vegetação


do entorno.. Pode-se notar a continuidade entre os fragmentos florestais e mata em estágio
médio nas propriedades vizinhas. Vale ressaltar que a marcação do lote em vermelho é apenas
uma aproximação, tendo por objetivo principal a visualização do contexto vegetacional e
corredores ecológicos, não respeitando com exatidão nem medidas, nem escala. A demarcação
em amarelo é uma representação esquemática do trecho da propriedade onde pretende-se
efetuar movimentação de terra e consequente supressão de vegetação, ao lado de espaço já
descampado.

A área de estudo encontra-se no município de Ribeirão Pires, localizado próximo à


região metropolitana de São Paulo, a aproximadamente 35 Km da capital. Na rua em que
5
o imóvel se encontra o espaço é dividido entre Indústrias, lotes residenciais e lotes vazios
cobertos por vegetação em estágio médio de regeneração. O lote todo possui 26.600,00
m2, no entanto, a área da porção florestada a sofrer intervenção de fato é de apenas
2.079,76 m2. De um modo geral, a vegetação da rua se encontra bastante preservada por
conta de grandes propriedades sem uso e área florestada de composição obrigatória nos
lotes.

A região ao entorno da área de estudo, apresenta fragmentos florestais de Mata


Atlântica significativos, servindo como corredor ecológico para avifauna local e migratória.
O entorno e a área propriamente dita a sofrer intervenção encontram-se próximos à
vegetação em estágio médio e avançado, de acordo com a Resolução CONAMA 01/94,
às margens da Rodovia Índio Tibiriçá (Rodovia SP 31) e próximo ao Parque Milton
Marinho de Moraes que, embora não constitua uma Unidade de Conservação oficial,
possui vegetação bastante conservada, sofrendo certo efeito de borda por conta da
inserção do Parque em área urbana consolidada. Encontrou-se no referido parque
algumas das mesmas espécies da avifauna presentes na área a sofrer intervenção, sendo
o Parque um possível ponto para fuga ao menos da avifauna.

É necessário mencionar dois fatores benéficos ao deslocamento da fauna para


ambientes não perturbados. Exatamente adjacente à área a sofrer intervenção, encontra-
se vegetação em estágio médio pertencente a outros lotes e a própria vegetação do lote
será preservada em quase 75,89% de sua extensão de vegetação em estágio médio, de
maneira a que praticamente todo entorno imediato do trecho onde exatamente ocorrerá o
impacto esteja florestado e caracterizado pela mesma vegetação a sofrer intervenção

Estes fragmentos vegetais possuem importante papel na conservação da


biodiversidade local, uma vez que desempenham a função de corredores ecológicos,
proporcionando a circulação da fauna entre os fragmentos existentes e a manutenção e
perpetuação das espécies, promovendo a manutenção do banco genético da fauna e
flora, através dos processos de cruzamento intra e interespecífico, além do processo da
restauração florestal decorrente do processo de dispersão de sementes pelos animais
(zoocoria).

O imóvel a sofrer intervenção está inserido nos limites da Área de Proteção do


Reservatório de Manancial Billings (APRM-Billings). Quanto ao ZOneamento especificado

6
pela Lei da Billings 13579/09 e ao Plano Diretor Municipal – Lei 5555/2011, esta
classificado como SUC (Sub-área de ocupação urbana consolidada) sendo permitidos o
uso residencial, comercial e industrial.

É possível verificar por foto de satélite que há continuidade florestal da cobertura do


imóvel com a cobertura de imóveis vizinhos e que, devido à expansão urbana, esta
vegetação tem perdido espaço para residências e com isso a fauna tem perdido seu
habitat.

Com o processo de construção das residências e construção das vias nas


dependências do loteamento, grande parte da vegetação existente foi e continua sendo
suprimida. Como consequência, a fauna vem perdendo seu espaço, onde podemos
observar o desaparecimento ou diminuição drástica da população de animais já avistados
por moradores, como é o caso do tatu galinha (Dasypus novemcinctus) e de outros. Estes
animais por serem muito sensíveis a perturbações antrópicas, acabam tendo sua
população entrando em colapso e declive, devido a redução brusca de vegetação;
diminuição da oferta de alimento, uma vez que a cobertura vegetal passa a ser reduzida e,
por fim, interferência no processo de acasalamento e reprodução, tanto pela ação direta e
indireta do homem quanto pela interferência de animais domésticos.

Determinadas espécies, como os animais seletistas e territorialistas, considerados


topo da cadeia alimentar necessitam de áreas com fragmentos vegetais extensos, para
que possam caçar e reproduzir-se. Estas espécies tendem a desaparecerem em
ambientes onde ocorre demasiada fragmentação.

Um dos problemas encontrados em campo foi a presença de animais domésticos


soltos nas imediações, como gatos, cavalos e cachorros, os quais perseguem e caçam a
fauna nativa ou consomem o sub-bosque da vegetação.

Este laudo objetiva inventariar as espécies de fauna existentes na área do imóvel


objeto de licenciamento ambiental, a fim de preservar os recursos naturais existentes,
minimizar impactos e evitar danos ambientais desnecessários.

7
2. METODOLOGIA

2.1. COLETA DE DADOS

As visitas em campo ocorreram ao longo de 9 dias, tendo sido divididos em 5 e 4 com


intervalo de aproximadamente 30 dias, a fim de serem avistáveis possíveis animais
migratórios e aproveitar-se as modificações que ocorrem na fauna em diferentes estações
do ano. Primeiramente, as visitas ocorreram no dias 9, 10, 11, 12 e 13 de março de 2014.
O primeiro dia serviu apenas para reconhecimento da área de estudo e seu perímetro,
não tendo sido o objetivo iniciar o levantamento, além da realização de entrevistas e
contato inicial com moradores nas proximidades.

Nos dias 10, 11, 12, 13 de março teve início o levantamento propriamente dito, tendo
os dias sido divididos em turnos de observação e busca ativa das 06:30 às 11:00 da
manhã e no período da tarde das 13:00 às 17:30. Passados aproximadamente 30 dias,
foram realizadas novas visitas, nos dias 07, 08, 09 e 10 de abril de 2014, respeitando-se
os mesmos turnos nos mesmos horários. Dessa forma o espaço amostral foi de
aproximadamente 72 horas.

2.2. CARACTERIZAÇÃO DA FAUNA LOCAL

O diagnóstico da fauna se baseou principalmente no levantamento de aves, através


da visualização e audição. Os mamíferos foram levantados por meio de relatos feitos por
moradores, entrevistas, revisão bibliográfica e procura ativa de espécimes e seus
vestígios, principalmente no que diz respeito às pegadas, fezes e tocas. Foram realizadas
entrevistas com moradores e porteiros de indústrias localizadas no entorno da área num
raio de 500m a partir dos limites da propriedade. Os dados das entrevistas foram
incluídos neste trabalho por serem fidedignos e apresentarem compatibilidade com a
literatura científica e com lista de espécies pertencente à Secretaria do Meio Ambiente
Municipal, ainda em formação, sobre a fauna ocorrente no município.

2.3. ANÁLISE DE BIOINDICADORES

As espécies (aves, répteis, anfíbios e mamíferos) utilizadas na análise de bioindicação


referem-se, principalmente, àquelas elencadas nas listas de animais ameaçadas de
extinção (Decreto Estadual 60133/2014). Também serão consideradas as espécies raras

8
ou migratórias. No entanto, devido ao contexto ambiental local, a ausência de algumas
espécies extremamente sensíveis a perturbações antrópicas será considerada.

2.4. LEVANTAMENTO DA FAUNA (METODOLOGIA)

O inventário da avifauna foi realizado através de contato visual (binóculo


8X40122m at 1000m JIEHE cobra), contato auditivo, busca ativa de ninhos e ovos e
entrevista com moradores locais. Algumas vocalizações foram registradas em gravador
Panasonic RR-US551 IC Recorder com microfone interno direcional. A combinação
destes dois métodos (contato visual e auditivo) procurou amostrar todos os ambientes da
área de estudo que pudessem apresentar aves associadas e, desta maneira, produzir
uma lista fiel da avifauna da área em questão.

Sobretudo com a avifauna, os contatos visuais, como geralmente acontece,


respondem pela maioria dos registros. A busca pela área ocorreu pelo método de
transecto "ad libitum", com caminhadas e paradas tanto nas bordas quanto no interior da
área, havendo a permanência de 15 minutos em cada ponto fixo, sendo a distância entre
eles de 20 metros. Os contatos auditivos, quando devidamente gravados, servem como
material testemunho da presença de determinada espécie na área.

Quanto à mastofauna, o método utilizado também foi o de transectos com base nas
curvas de nível e os aspectos levados em conta para o levantamento foram a contagem
de pegadas para a estimativa da frequência relativa de espécies de mamíferos terrestres,
regurgito, fezes, tufos de pelo e depoimentos de moradores. Para herpetofauna, optou-se
principalmente pela busca ativa "ad libitum" nos mais prováveis microhabitats:
serrapilheira mais densa, próximo ou embaixo de pedras e troncos caídos, cavidades na
base de árvores, bromélias, pequenos acúmulos de água pluvial e outros ambientes
úmidos.

A identificação das espécies observadas se baseou, principalmente, nas obras


Guia de Campo Avis Brasilis – Avifauna Brasileira Vol I e II de Tomas Sigrist, Aves no
Campus – Elizabeth Hofling, Guia de Aves do Parque do Ibirapuera – Guia de Mamíferos
da Grande São Paulo – Instituto Pau Brasil e Mamíferos Silvestres – Fundação
Zoobotânica do Rio Grande do Sul - Fauna Silvestre – Prefeitura do Município de São
Paulo – Secretaria Municipal do Verde e Meio Ambiente, Serpentes da Mata Atlântica –
Holos Editora., Guia de Pagadas – Oswaldo Carvalho Jr., Manual de Rastro de Fauna –
9
Instituto Ambiental do Paraná, Rastros de Mamíferos Silvestres - Becker, M. & Dalponte,
J.

3. RESULTADO

3.1. TABELA DE ESPÉCIES

A tabela a seguir mostra as espécies de fauna registradas na área estudada e no


seu entorno imediato, onde há a presença de importantes fragmentos vegetais,
classificados em estágio estágio médio e médio avançado de regeneração de Floresta
Ombrófila Densa, num raio de aproximadamente 500m de distância a partir dos limites da
propriedade.

Na lista constam os nomes científico e popular da espécie, família zoológica a que


a espécie pertence e a maneira como o registro foi feito. Como nenhuma das espécies
encontradas está listada no Decreto Estadual 66.133 de 2014, senão apenas a espécie
Dryocopus galeatus, não priorizou-se na tabela nenhuma informação sobre grau de
ameaça ou vulnerabilidade.

AVIFAUNA
FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME MODO DE
POPULAR REGISTRO
Cathartidae Coragyps atratus Urubu-comum Entrevista com
(Bechstein, 1793) moradores
Charadriidae Vanellus chilensis (Molina, Quero-quero Visual e
1782) vocalização
Columbidae Columba livia (Gmelin, Pombo-comum Visual e
1789) vocalização
Columbidae Columbina talpacoti Rolinha Visual
(Temminck, 1811)
Cracidae Penelope obscura Jacuaçu Visual
(Temmink, 1815)
Cuculidae Crotophaga ani (Linnaeus, Anu-preto Visual
1758)
Embezeridae Zonotrichia capensis Tico-tico Visual e
vocalização
Falconidae Caracara plancus (Miller, Carcará Visual
1777)
Furnariidae Furnarius rufus João-de-barro Visual
Parulidae Basileuterus culicivorus Pula-pula Visual e
(Deppe, 1830) vocalização
Passeridae Passer domesticus Pardal Visual
(Linnaeus, 1758)
Picidae Dryocopus galeatus Pica-pau-de- Visual
10
(Temminck, 1822) cara-canela
Picidae Veniliornis spilogaster Pica-pau-verde- Visual
carijó
Psittacidae Brotogeris ririca (Gmelin, Periquito-rico Visual e
1788) vocalização
Ramphastidae Ramphastos dicolorus Tucano-de-bico- Entrevista com
(Linnaeus, 1766) verde moradores
Rhynchocyclidae Mionectes rufiventris Abre-asa-de- Visual e
(Cabanis, 1846) cabeça-cinza vocalização
Tyrannidae Pitangus sulphuratus Bem-te-vi Visual e
(Linnaeus, 1766) vocalização
Turdidae Turdus rufiventris (Vieillot, Sabiá-laranjeira Entrevista com
1818) moradores
Trochilidae não identificado Beija-flor Visual

MASTOFAUNA
FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME MODO DE
POPULAR REGISTRO
Caviidae Cavia aperea Preá Entrevista com
moradores
Didelphidae Didelphis albiventris Gambá-de- Visual
orelha-branca
Sciuridae Sciurus aestuans Esquilo- Visual
(Linnaeus, 1766) Caxinguelê

HERPETOFAUNA
FAMÍLIA NOME CIENTÍFICO NOME MODO DE
POPULAR REGISTRO
Hylidae Hypsiboas faber Sapo-martelo Vocalização
Teiidae Ameiva sp. Calango Entrevista com
moradores
Teiidae Tupinambis merianae Lagarto-de- Entrevista com
papo-amarelo moradores
Tabela 1: Espécies da fauna registradas na área estudada.
Registro: auditivo/observação/entrevista com moradores

4. COMENTÁRIOS SOBRE A FAUNA REGISTRADA

A avifauna da área em estudo apresentou características mista, tendo sido possível


encontrar tanto espécies de floresta quanto espécies de áreas abertas e áreas
antropizadas.

A maioria das espécies são comuns ou relativamente comuns em fragmentos de


mata deste tamanho e inseridos em paisagem de área urbanizada. Algumas espécies não
costumam habitar fragmentos de mata pequenos, o que parece ter influenciado na
ausência de um elenco de espécies indicadoras de boa qualidade ambiental.
11
Muitas das espécies registradas são comuns em florestas secundárias e bordas de
mata. No perímetro da área foram registradas espécies típicas de formações abertas,
como a asa branca (Columba livia) e o quero-quero (Vanellus chilensis), entre outros. Ou
seja, muitas das espécies encontradas são espécies generalistas (presentes tanto em
ambientes perturbados quanto preservados) e periantrópicas (presentes em ambientes
perturbados pela ação humana).

Numa análise a respeito do grau de preservação da área, a presença ou ausência de


bioindicadores é importante indício. Deve-se levar em conta a presença de aves
ameaçadas de extinção, raras e sensíveis a perturbações antrópicas e/ou migratórias. Na
área em questão, o jacuguaçu (Penelope obscura), embora não considerado em nenhum
grau de ameaça no Decreto 60133/2014, constava na lista de vertebrados quase
ameaçados no Estado de São Paulo, pelo Decreto 53494/2008. Ou seja, a espécie recém
saída da lista de espécies ameaçadas pode ter sua população ainda em estado de
fragilidade, sendo sua preservação de bom-senso. Houve também por registro visual, sem
que tenha sido possível localizar com exatidão se dentro ou para além das divisas do
imóvel em questão por conta da continuidade florestal, a presença da espécie Dryocopus
galeatus (Pica-pau-de-cara-canela), listado no Decreto 60133/2014 como ameaçado.
Logo, a mata em questão mostra-se um importante abrigo para a avifauna., sendo
essencial o cuidado com a vegetação remanescente.

A respeito dos mamíferos, todos foram registrados por meio de visualização direta e
levou-se em conta na entrevista com os moradores somente a presença da espécie Cavia
aperea (Preá), que, embora não tenha sido avistada em campo, pôde ser considerado
também por conta de sua comum frequência na região. Nas entrevistas com moradores
locais fora relatada a presença de outras espécies no passado, mas que as mesmas não
ocorriam mais nos arredores, indício que leva a crer que algumas espécies da fauna vem
perdendo seus nichos por conta da degradação causada pela urbanização. Foram
registradas pegadas no interior da área, mas as mesmas não foram suficientes para
fornecer uma identificação segura.
A área de estudo deve suportar uma mastofauna mais rica do que foi revelada pela
metodologia utilizada, sobretudo porque em sua maioria são animais de hábito noturno,
vivem em áreas muitos extensas e em hábitats de difícil acesso (ex. tocas) e camuflam-se
na mata. Contudo, com base na experiência pessoal, outras espécies de mamíferos

12
podem ocasionalmente visitar a área, sem, no entanto, alcançar a borda da mata e serem
comumente visualizáveis pela população local.
Pela vagueza das pegadas, optou-se por não serem mencionadas as espécies de
mamíferos não avistadas em campo, no entanto, serão tomados todos os cuidados
necessários durante a supressão de vegetação para auxílio e deslocamento para
mata de igual característica de qualquer espécie encontrada e dotada de menor
capacidade de locomoção, feita por equipe técnica capacitada a devidamente
acompanhar os trabalhos de supressão.

4.1. IMPACTOS AMBIENTAIS SOBRE A FAUNA DECORRENTES DA SUPRESSÃO


DE VEGETAÇÃO

Num ponto de vista de pontual, a supressão de vegetação acarreta apenas a perda de


habitat e de fontes de alimentação e dessedentação para diversas espécies, no entanto,
os impactos ambientais não se resumem a isso. Com a supressão da vegetação, diversas
espécies se deslocam a outras áreas ou deixam de existir naquele espaço, visto não mais
existirem as condições de reprodução ou nidificação necessárias, causando sérias
perturbações na cadeia alimentar e desequilíbrios nas populações. O resultado é a
ausência completa de algumas espécies anteriormente existentes e o aumento
descontrolado na população de espécies oportunistas.

Importante ressaltar que devido à recente obra realizada defronte à propriedade


objeto de licenciamento ambiental, ocorreu um aterro com a finalidade de construção de
residência e parte da cobertura florestal local fora suprimida, diminuindo um dos pontos de
fuga da fauna.

Este trabalho alerta sobre a necessidade de se preservar a vegetação existente,


para que a fauna possua abrigo para sua manutenção e perpetuação das espécies, uma
vez que seus direitos também são segurados no art. 225 da Constituição Brasileira, bem
como na Lei 6938/81 da Política Nacional do Meio Ambiente.

5. CONCLUSÃO

Há forte correlação de impacto negativo entre ações antrópicas e a diminuição da


diversidade de espécies nos ecossistemas tropicais. A área de interesse do proposto

13
laudo apresenta evidentes fatores de impacto ambiental negativos de natureza antrópica,
sendo os principais:
1) Presença de vias de alto tráfego de automóveis e caminhões tanto nos limites do
lote em questão, quanto na sua proximidade direta, sendo a Rodovia Índio Tibiriçá
a mais importante, gerando alta perturbação sonora e interferindo no fluxo de
animais entre fragmentos florestais.
2) Presença de pátios industriais locais, gerando perturbação sonora e possível
mudança na qualidade local do ar e microclima.
3) Ocupação urbana residencial consolidada, o que diminui a quantidade de habitats e
a conectividade entre fragmentos.
4) Criação de animais domésticos por parte dos moradores locais, a exemplo de
cachorros e gatos, que afugentam e caçam a fauna silvestre

O local de estudo apresenta um fragmento vegetal de relevância à fauna estudada,


uma vez que apresenta certa variedade de espécies da avifauna, uma espécie ameaçada
e algumas espécies de mamíferos que, embora não apresentem nenhum grau de ameaça
de extinção, demonstram equilíbrio nas relações ecológicas locais e constituem
indicadores do grau de preservação da mata. A análise de bioindicadores baseou-se
principalmente na avifauna e apontou para a presença de espécies comuns em florestas
secundárias e em bordas de mata e para a presença de espécies com ampla valência
ecológica e adaptadas a ambientes antropizados. Houve também a presença de um
exemplar da avifauna ameaçado de extinção. Neste quesito, o imóvel apresentou-se
bastante contrastante, demonstrando traços tanto de ambiente perturbado quanto
preservado, visto haver tanto a presença de espécies características de ambiente
degradado quanto uma espécie em risco de extinção.

Importante ressaltar o artigo 11º da Lei 11.428/2006 (Lei da Mata Atlântica), que
propõe a preservação da vegetação que abriga espécie de flora e fauna silvestre
ameaçadas de extinção, em território nacional ou em âmbito estadual, assim declaradas
pela União ou pelos Estados, e o cuidado quanto à intervenção ou o parcelamento de solo
que coloquem em risco a sobrevivência dessas espécies.

Por este motivo, o impacto ambiental que será causado pelo empreendimento fora
todo pensado visando não danificar as porções de mata mais preservadas. Priorizou-se,
então, impactar apenas a porção de vegetação exatamente adjacente ao trecho já
14
descampado e provido apenas por árvores isoladas, onde, por consequência é
provavelmente o ponto menos rico em termos de fauna.

O registro das espécies comprovam a necessidade de se manter estes


fragmentos, uma vez que possuem um importante papel na manutenção da variabilidade
genética, bem como alimentação, abrigo e reprodução à avifauna local e migratória.

Os animais estudados utilizam o fragmento vegetal para forrageamento,


acasalamento e abrigo, garantindo assim a perpetuação das espécies, a variabilidade
genética e a manutenção da floresta. Outrossim, são estes mesmos animais, dispersores
de sementes e de propágulos vegetais, que promovem a manutenção e regeneração da
vegetação, garantindo a manutenção dos recursos naturais para as presente e futuras
gerações, conforme o artigo 225 da Constituição Federal de 1998.

É diante de todos estes motivos que deverá, e o empreendedor está cônscio de tal,
ser preservada a vegetação remanescente, a fim de ser assegurada e com condições de
perpetuação a fauna, a flora e os recursos hídricos e edáficos da região. Para fins de
licenciamento, além deste laudo, será apresentado projeto de construção considerando a
preservação de ao menos 75,89% da vegetação do imóvel, a ser futuramente averbada
junto à matrícula imobiliária. Vale ressaltar que a proporção de área florestada em questão
excede a proporção exigida pela Lei Federal 11.428/2006 (Lei da Mata Atlântica) e
Resolução SMA 31/2009.

15
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

- Becker, M. & Dalponte, J. C., 1991. Rastros de Mamíferos Silvestres Brasileiros.

- Decreto Estadual Nº 53.494/08. Diário Oficial do Estado de São Paulo de 2 de fevereiro


de 2008. Espécies de fauna silvestre ameaçadas de extinção e provavelmente
ameaçadas de extinção no Estado de São Paulo.

- Decreto Estadual Nº 60.133/2014. Diário Oficial da União do Estado de São Paulo. Lista
da Fauna Silvestre Ameaçada de Extinção e Provavelmente Ameaçada de Extinção, as
Quase Ameaçadas e as deficientes em dados para avaliação no Estado de São Paulo, 07
de fevereiro de 2014

- Hofling Elizabeth & Camargo, H. F. A, 1999. Aves no Campus. Ed. Edusp.

- Instituto Pau Brasil. Guia para Mamíferos da Grande São Paulo, 2006

- Junior Carvalho O. & Luz Cavalcante. N., 2008 . Guia de Pegadas. Ed. UFPA

- Jr. Cullen L. & Rudran R. & Padua C.V, 2009. Biologia da Conservação – Manejo de
Vida Silvestre . 2º Ed. Editora UFPR

- Lei 11.428/06 – Lei da Mata Atlântica

- Marques, Eterovic e Sazima, 2001. Guia de serpentes da Mata Atlântica. Ed. Holos

- Portaria Nº 37-N, de 3 de abril de 1.992, o IBAMA torna pública a Lista Oficial de


Espécies da Flora Brasileira Ameaçada de Extinção:

- Reis N., Peracchi A. Rossaneis & Fregonezi, 2010. Técnicas de Estudos Aplicadas aos
mamíferos Silvestres Brasileiros – Editora Techinical Books

- Silva Flavio. 1994. Mamíferos Silvestres. Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul.

- Tomas. Sigrist. 2009. Guia de Campo Avis Brasilis - Vol I e II. Ed. Avisbrasilis Sick, H.
1997. Ornitologia Brasileira. Ed. Nova Fronteira.

16
7. RELATÓRIO FOTOGRÁFICO

Figura 2 –
Basileuterus culcivorus
(Pula-pula).

Figura 3 – Mionectes
rufiventris (Abre-asa-
de-cabeça-cinza).
Visto por baixo

Figura 4 – Penelope
obscura (Jacuguaçu)
visto por baixo.

17
Figura 5 – Penelope
obscura) (Jacuguaçu)
em melhor ângulo.

Figura 6 – Vanellus
chilensis (Quero-
quero). Espécie
adaptada a campo
aberto

Figura 7 – Veniliornis
spilogaster
(Picapauzinho-verde-
carijó) visto por baixo.

18
Figura 8 –
Representante da
mastofauna, Scirus
aestuans (esquilo
caxinguelê).

Figura 9 – Indivíduo
de Scirus aestuans
visto por outro ângulo.
Infelizmente no
momento de bater a
foto fora possível
destacar apenas a
cauda.

Figura 10 – Duas
imagens a respeito de
possíveis locais para
encontro de
herpetofauna, sem
sucesso no entanto.

19
Figura 11 – Abelha-
mamangava
(Hymenoptera:
Apidae). Foram
observados outros
invertebrados, mas o
maior enfoque fora
dado à avifauna,
herpetofauna e
mastofauna.

8. INFORMAÇÕES GERAIS DO RESPONSÁVEL TÉCNICO

NOME: Maurício Nogueira Martins


CrBio: 074815/01 - D
Tel: (011) 94197-6885
E-mail: rationaturalis@gmail.com
ART:

Assinatura:

Declaro que me responsabilizo pelas informações fornecidas neste documento, e


não me responsabilizo em nenhum momento pela execução e impacto ambiental
causado na área.

20

Você também pode gostar