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O CENTRO-OESTE

PAULISTA
COMO LABORATÓRIO DE PRÁTICAS
DIDÁTICAS E DE PESQUISA APLICADA

ADALBERTO DA SILVA RETTO JÚNIOR


KELLY CRISTINA MAGALHÃES
Organizadores
O CENTRO-OESTE
PAULISTA
COMO LABORATÓRIO DE PRÁTICAS
DIDÁTICAS E DE PESQUISA APLICADA

ADALBERTO DA SILVA RETTO JÚNIOR


KELLY CRISTINA MAGALHÃES
Organizadores
Profa. Dra. Denise Antonucci - UPM Prof. Dr. Marcelo Campos - FCE/UNESP
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Comissão editorial R439o O centro-oeste paulista como Prof. Dr. Edvaldo Cesar Moretti - UFGD Prof. Dr. Márcio Rogério Pontes - EQUOIA Engenharia Ambiental LTDA
laboratório de práticas didáticas Profa. Dra. Eliana Corrêa Aguirre de Mattos - UNICAMP Profa. Dra. Margareth de Castro Afeche Pimenta - UFSC
e de pesquisa aplicada [recurso Profa. Dra. Eloisa Carvalho de Araujo - UFF Profa. Dra. Maria Ângela Dias - UFRJ
Organizadores eletrônico] / Adalberto da Silva Profa. Dra. Eneida de Almeida - USJT Profa. Dra. Maria Ângela Pereira de Castro e Silva Bortolucci - IAU
Adalberto da Silva Retto Júnior Retto Júnior, Kelly Cristina Prof. Dr. Erich Kellner - UFSCar Profa. Dra. Maria Augusta Justi Pisani - UPM
Magalhães (orgs) . 1 ed. - Bauru: Profa. Dra. Fátima Aparecida da SIlva Iocca - UNEMAT Profa. Dra. María Gloria Fabregat Rodríguez - UNESP
Kelly Cristina Magalhães ANAP, 2020. Prof. Dr. Felippe Pessoa de Melo - Centro Universitário AGES Profa. Dra. Maria Helena Pereira Mirante – UNOESTE
184 p; il.
Prof. Dr. Fernanda Silva Graciani - UFGD Profa. Dra. Maria José Neto - UFMS
Produção Prof. Dr. Fernando Sérgio Okimoto – UNESP Profa. Dra. Maristela Gonçalves Giassi - UNESC
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Projeto gráfico Profa. Dra. Flávia Maria de Moura Santos - UFMT Profa. Dra. Martha Priscila Bezerra Pereira - UFCG
Lucas Tioda ISBN Profa. Dra. Flávia Rebelo Mochel - UFMA Prof. Dr. Maurício Lamano Ferreira - UNINOVE
978-65-86753-10-3 Prof. Dr. Flavio Rodrigues do Nascimento - UFC Profa. Dra. Nádia Vicência do Nascimento Martins - UEPA
Thiago Conti Prof. Dr. Francisco Marques Cardozo Júnior - UESPI Profa. Dra. Natacha Cíntia Regina Aleixo - UEA
1. Didática 2. Projeto Prof. Dr. Frederico Braida Rodrigues de Paula - UFJF Profa. Dra. Natália Cristina Alves
3. Arquitetura 4. Urbanismo
Capa 5. Paisagismo Prof. Dr. Frederico Canuto - UFMG Prof. Dr. Natalino Perovano Filho - UESB
Prof. Dr. Frederico Yuri Hanai - UFSCar Prof. Dr. Nilton Ricoy Torres - FAU/USP
Lucas Tioda Prof. Dr. Gabriel Luis Bonora Vidrih Ferreira - UEMS Profa. Dra. Olivia de Campos Maia Pereira - EESC - USP
I. Título.
Profa. Dra. Gelze Serrat de Souza Campos Rodrigues - UFU Profa. Dra. Onilda Gomes Bezerra - UFPE
CDD: 710 Prof. Dr. Generoso De Angelis Neto - UEM Prof. Dr. Paulo Alves de Melo – UFPA
CDU: 710/49
Prof. Dr. Geraldino Carneiro de Araújo - UFMS Prof. Dr. Paulo Cesar Rocha - FCT/UNESP
Profa. Dra. Gianna Melo Barbirato - UFAL Prof. Dr. Paulo Cesar Vieira Archanjo
Índice para catálogo sistemático Prof. Dr. Glauco de Paula Cocozza - UFU Profa. Dra. Priscila Varges da Silva - UFMS
Brasil: Planejamento Urbano e Paisagismo Profa. Dra. Irani Lauer Lellis - UFOPA Profa. Dra. Regina Célia de Castro Fereira - UEMA
Profa. Dra. Isabel Crisitna Moroz Caccia Gouveia - FCT/UNESP Prof. Dr. Raul Reis Amorim - UNICAMP
Profa. Dra. Jakeline Aparecida Semechechem - UENP Prof. Dr. Renan Antônio da Silva - UNESP - IBRC
Profa. Dra. Jakeline Santos Cochev da Cruz Profa. Dra. Renata Ribeiro de Araújo - - FCT/UNESP
Prof. Dr. João Adalberto Campato Jr. - Universidade BRASIL Prof. Dr. Ricardo de Sampaio Dagnino - UNICAMP
Conselho Editorial Profa. Dra. Ana Klaudia de Almeida Viana Perdigão - UFPA Prof. Dr. João Cândido André da Silva Neto - UEA Prof. Dr. Ricardo Toshio Fujihara - UFSCar
Profa. Dra. Ana Lúcia de Jesus Almeida - UNESP Prof. Dr. João Carlos Nucci - UFPR Profa. Dra. Risete Maria Queiroz Leao Braga - UFPA
Parecerista Internacional Profa. Dra. Ana Lúcia Reis Melo Fernandes da Costa - IFAC Prof. Dr. João Paulo Peres Bezerra - UFFS Prof. Dr. Rodrigo Barchi - UNISO
Profa. Dra. Ana Paula Branco do Nascimento – UNINOVE Prof. Dr. João Roberto Gomes de Faria - FAAC/UNESP Prof. Dr. Rodrigo Cezar Criado - TOLEDO / Prudente Centro Universitário
Prof. Dr. Carlos Andrés Hernández Arriagada Profa. Dra. Ana Paula Fracalanza – USP Prof. Dr. José Aparecido dos Santos - FAI Prof. Dr. Rodrigo Gonçalves dos Santos - UFSC
Prof. Dr. Eduardo Salinas Chávez - Universidade de La Habana, PPGG, UFGD-MS Profa. Dra. Ana Paula Novais Pires Prof. Dr. José Mariano Caccia Gouveia - FCT/UNESP Prof. Dr. Rodrigo José Pisani - UNIFAL-MG
Prof. Dr. Eros Salinas Chàvez - UFMS /Aquidauana Post doctorado Profa. Dra. Ana Paula Santos de Melo Fiori - IFAL Prof. Dr. José Queiroz de Miranda Neto – UFPA Prof. Dr. Rodrigo Santiago Barbosa Rocha - UEPA
Prof. Dr. Josep Muntañola Thornberg - UPC -Barcelona, Espanha Prof. Dr. André de Souza Silva - UNISINOS Prof. Dr. Josinês Barbosa Rabelo - UFPE Prof. Dr. Rodrigo Simão Camacho - UFGD
Prof. Dr. José Seguinot - Universidad de Puerto Rico Profa. Dra. Andrea Aparecida Zacharias – UNESP Profa. Dra. Jovanka Baracuhy Cavalcanti Scocuglia - UFPB Prof. Dr. Ronaldo Rodrigues Araujo - UFMA
Prof. Dr. Miguel Ernesto González Castañeda - Universidad de Guadalajara - México Profa. Dra. Andrea Holz Pfutzenreuter - UFSC Profa. Dra. Juliana de Oliveira Vicentini Profa. Dra. Roselene Maria Schneider - UFMT
Prof. Dr. Oscar Buitrago - Universidad Del Valle - Cali, Colombia Prof. Dr. Antonio Cezar Leal - FCT/UNESP Profa. Dra. Juliana Heloisa Pinê Américo-Pinheiro - Universidade BRASIL Prof. Dr. Salvador Carpi Junior - UNICAMP
Prof. Dr. Paulo Nuno Maia de Sousa Nossa - Universidade de Coimbra Prof. Dr. Antonio Fábio Sabbá Guimarães Vieira - UFAM Prof. Dr. Junior Ruiz Garcia - UFPR Profa. Dra. Sandra Mara Alves da Silva Neves - UNEMAT
Prof. Dr. Antonio Marcos dos Santos - UPE Profa. Dra. Karin Schwabe Meneguetti – UEM Prof. Dr. Sérgio Augusto Mello da Silva - FEIS/UNESP
Parecerista Nacional Prof. Dr. Antônio Pasqualetto -PUC Goiás e IFG Profa. Dra. Katia Sakihama Ventura - UFSCar Prof. Dr. Sergio Luis de Carvalho - FEIS/UNES
Prof. Dr. Antonio Soukef Júnior - UNIVAG Prof. Dr. Leandro Gaffo - UFSB Profa. Dra. Sílvia Carla da Silva André - UFSCar
Prof. Dr. Adeir Archanjo da Mota - UFGD Profa. Dra. Arlete Maria Francisco - FCT/UNP Prof. Dr. Leandro Teixeira Paranhos Lopes -Universidade BRASIL Profa. Dra. Silvia Mikami G. Pina - Unicamp
Prof. Dr. Adriano Amaro de Sousa - Fatec de Itaquaquecetuba-SP Profa. Dra. Beatriz Ribeiro Soares - UFU Profa. Dra. Leda Correia Pedro Miyazaki - UFU Profa. Dra. Simone Valaski - UFPR
Profa. Dra. Alba Regina Azevedo Arana - UNOESTE Profa. Dra. Carla Rodrigues Santos - Faculdade FASIPE Profa. Dra. Leonice Domingos dos Santos Cintra Lima - Universidade BRASIL Profa. Dra. Sueli Angelo Furlan - USP
Prof. Dr. Alessandro dos Santos Pin -Centro Universitário de Goiatuba Profa. Dra. Carmem Silvia Maluf - Uniube Profa. Dra. Leonice Seolin Dias - ANAP Profa. Dra. Tânia Fernandes Veri Araujo - IF Goiano
Prof. Dr. Alexandre Carneiro da Silva Profa. Dra. Célia Regina Moretti Meirelles - UPM Profa. Dra. Lidia Maria de Almeida Plicas - IBILCE/UNESP Profa. Dra. Tânia Paula da Silva – UNEMAT
Prof. Dr. Alexandre França Tetto - UFPR Prof. Dr. Cesar Fabiano Fioriti - FCT/UNESP Profa. Dra.Lilian Keila Barazetti - UNOESTE Profa. Dra. Tatiane Bonametti Veiga - UNICENTRO
Prof. Dr. Alexandre Gonçalves - Faculdade IMEPAC Itumbiara Prof. Dr. Cledimar Rogério Lourenzi - UFSC Profa. Dra. Lisiane Ilha Librelotto - UFS Prof. Dr. Thiago Ferreira Dias Kanthack
Prof. Dr. Alexandre Sylvio Vieira da Costa - UFVJM Profa. Dra. Cristiane Miranda Martins - IFTO Profa. Dra. Lucy Ribeiro Ayach - UFMS Profa. Dra. Vera Lucia Freitas Marinho – UEMS
Prof. Dr. Alfredo Zenen Dominguez González - UNEMAT Prof. Dr. Christiano Peres Coelho - UFJ Profa. Dra. Luciana Ferreira Leal - FACCAT Prof. Dr. Vilmar Alves Pereira - FURG
Profa. Dra. Alina Gonçalves Santiago - UFSC Prof. Dr. Daniel Sant’Ana - UnB Profa. Dra. Luciane Lobato Sobral - UEPA Prof. Dr. Vitor Corrêa de Mattos Barretto - FCAE/UNESP
Profa. Dra. Aline Werneck Barbosa de Carvalho - UFV Profa. Dra. Daniela de Souza Onça - FAED/UESP Profa. Dra. Luciana Márcia Gonçalves – UFSCar Prof. Dr. Xisto Serafim de Santana de Souza Júnior - UFCG
Prof. Dr. Alyson Bueno Francisco - CEETEPS Prof. Dr. Darllan Collins da Cunha e Silva - UNESP Prof. Dr. Luiz Fernando Gouvêa e Silva - UFG Prof. Dr. Wagner de Souza Rezende - UFG
-SU
MÁ-
RIO

INTRODUÇÃO

PARTE 1
O CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO DO DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA, URBANISMO E PAISAGISMO


1.1. Um departamento, um curso de Arquitetura e Urbanismo e um fio condutor. Prof. Dr. Nilson Ghirardello 13
1.2. Da unidade do atelier integrado à sintese do laboratório de projeto:
o projeto político pedagógico de 2012 (equipe de coordenadores de curso) 25

PARTE 2
A CIDADE E O TERRITÓRIO COMO LABORATÓRIO: ENTRE DIDÁTICA E PESQUISA APLICADA

2.1. Didática: Laboratórios de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo


LAUP 4 - Equipe Laup IV 34
LAUP 6 - Equipe Laup VI 44
LAUP 8 - Equipe Laup VIII 120

PARTE 3
LABORATÓRIOS DE PESQUISA

3.1. Projeto para Implantação de Um Laboratório de Desenho Urbano. Claudio Gomes 147
ArqHab (Núcleo de pesquisa em Arquitetura e Habitação de Interesse Social) 158
GA (Grupo Arquitetura) 163
Nucam (Núcleo de Conforto Ambiental) 168
NUPAC (Núcleo de pesquisa do Ambiente Construído) 173
SITU (Sistemas Integrados Territoriais e Urbanos) 176
Introdução
ADALBERTO DA SILVA RETTO JÚNIOR Na sociedade atual, as universidades desempenham um papel cada vez
KELLY CRISTINA MAGALHÃES mais importante, porque parte significativa da produção de conhecimento
Organizadores está traduzido no desenvolvimento da cidade e do território. Se é verdade
que é necessário defender a autonomia das universidades, também é
necessário iluminar como a pesquisa, didática, e extensão universitária, têm
respondido explicitamente às necessidades da sociedade. O denominado
tripé universitário organiza-se de forma a atender à crescente demanda por
educação científica e técnica, habilidades transversais e aprendizagem, e
absorver as questões levantadas pelos grandes problemas da sociedade
contemporânea, tais como o desenvolvimento sustentável.
A história e a dinâmica da implementação dos vários campi da Unesp refle-
tem o início de uma nova relação entre Universidade e Cidade muitas vezes
oculto, pouco explícito, senão timidamente abordado. É fato, portanto, que al-
guns desses campi possuem uma história de atuação territorial ímpar, que
cria um elo de mão dupla entre o mundo acadêmico e a formação e consoli-
dação da estrutura urbana-territorial, a partir da formação de entroncamen-
tos cruciais de uma complexa rede cultural, educacional e de pesquisa.
Nas últimas décadas, o tema do conhecimento e da cultura tornou-se um
aspecto fundamental e prioritário para o desenvolvimento dos territórios, e
existem numerosos estudos sobre as relações entre cidades e cultura, entre
cidades e inovação, e sobre o papel que cultura, pesquisa e conhecimento
têm no desenvolvimento ou transformação de um território.
Embora a universidade seja um ator frequentemente presente nas análises
dos diferentes trabalhos e estudos realizados, não há uma avaliação clara
quanto às diferentes contribuições que a universidade pode trazer à cidade
que a abriga e que dizem respeito a aspectos como: cultura; inovação;
tecnologia; planejamento urbano; demografia e muito mais.
Com este propósito, decidiu-se destacar a contribuição das universidades
para o crescimento do setor cultural na cidade contemporânea, a partir da
retrospectiva histórica da atuação do Departamento de Arquitetura, Urbanismo
e paisagismo da Unesp – Campus de Bauru, sob duas angulações: no âmbito
das práticas didáticas levadas a cabo nos Laboratórios de Arquitetura,
Urbanismo e Paisagismo – LAUPs; e no âmbito da pesquisa aplicada, a partir
da produção dos Laboratórios.
Em primeiro lugar, será descrita o processo de encampação da Unesp de
Bauru, com particular referência ao papel desempenhado no desenvolvimento
do Centro-Oeste paulista. No segundo momento, será explorado o impacto da
nova relação entre universidade e cidade, cidade e território.
O CURSO DE ARQUITETURA
E URBANISMO DO
DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA,

1
URBANISMO E PAISAGISMO
PARTE
O curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento
de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

Um Departamento, um Curso Abstract


de Arquitetura e Urbanismo This article aims to history the creation of the Archi-
e um fio condutor. tecture and Urbanism Course of the School of Architec-
ture, Arts and Communication of UNESP, Bauru campus
Prof. Nilson Ghirardello¹ and how the Department of Architecture, Urbanism and
Landscaping took place. The idea is to show the peda-
“Nos mesmos rios entramos e não entramos, gogical proposals of the course and its reformulations,
somos e não somos.” Heráclito de Efeso starting even as a private institution within the former
University of Bauru, until the present day. However, the
focus of the work is on the moment of UB expropriation
by UNESP in 1988 and the transformations that occur-
red in this process that included an “informal” pedago-
gical project where all the project disciplines called “In-
Resumo tegrated” played a significant role. Subsequently such
disciplines were replaced by the TPI’s, readjusted a few
Este artigo busca historiar a criação do Curso de years later and finally the LAUP’s at the present time.
Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura, It is necessary to emphasize that this work is guided
Artes e Comunicação da UNESP, campus de Bauru by the eyes of those who participated in all phases and
e como se deu a constituição do Departamento overlapping individual observation and affective expe-
de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo. A idéia e rience, supported by documents of the time, without
mostrar as propostas pedagógicas do curso e suas pretensions to study pedagogy, a subject unrelated to
reformulações, iniciando-se ainda enquanto instituição our research as a teacher.
privada dentro da antiga Universidade de Bauru, até
os dias atuais. Contudo, o foco do trabalho fica com o Introdução
momento da encampação da UB pela UNESP no ano
de 1988 e as transformações ocorridas nesse processo Com esse trabalho que, em parte, pode ser
que contou com um projeto pedagógico “informal” considerado um depoimento pessoal, pretendemos
onde todas as disciplinas projetuais denominadas apontar como se deu a criação da Fundação Educacional
“Integradas” cumpriram um significativo papel. De de Bauru, seguida pela Universidade de Bauru e sua
forma subsequente tais disciplinas foram substituídas encampação pela UNESP no ano de 1988, bem como
pelos TPI’s, readequados alguns anos depois e por fim a relação com a cidade. Contudo, o foco principal é o
os LAUP’s no momento atual. Necessário frisar que Curso de Arquitetura e Urbanismo e o Departamento
esse trabalho é guiado pelo olhar de quem participou de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo da FAAC.
de todas as fases e onde se sobrepõe a observação Tentaremos através de documentos antigos, processos
individual e a vivencia afetiva, apoiada em documentos e com a ajuda da memória traçar um histórico da sua
da época, sem pretensões de estudo da pedagogia, formação desde quando era uma universidade privada
assunto alheio as nossas pesquisas como docente. até a encampação pela UNESP. Para desvendarmos

1
O mais antigo professor do DAUP em atuação.

13
13
O Centro Oeste Paulista Como Laboratório O curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento
de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

esse processo há que se contextualizar as condições Uma das particularidades da “Fundação”, como dade técnica para Bauru e região. Era momento de forte formação enquanto uma grande universidade pública.
do país e do estado, bem como a relação com a cidade era carinhosamente tratada é o fato de ter sido uma expansão econômica, o chamado “milagre econômico” A origem da UNESP se dá a partir da somatória de
e região. Também não foram poucas as mudanças na entidade sem fins lucrativos, criada pelo Município do regime militar e a consequente promoção de gran- uma serie de institutos isolados localizados no interior
universidade, que 3 cresceu e se firmou nesse período, e de Bauru um ano antes do decreto do governador do des obras civis no interior paulista, como as hidrelétri- do estado de São Paulo. De fato tais institutos através
claro, ha que se buscar o papel dos atores da empreitada estado, sua base portanto, estava intimamente ligada cas da CESP e as novas autoestradas, entre outras. do Conselho de Educação do Estado, desde o final dos
docentes e discentes. A proposta é trazer a narrativa, a comunidade da cidade. Sentia-se a necessidade da Durante a década de 1970, em função do aumento dos anos 1960, discutiam a melhor forma de organização
que enfatizamos, se baseia menos na analise técnica criação de cursos ligados as áreas técnicas, pois, em cursos, ocorre a doação de área para o novo campus da evitando sua excessiva segregação, sob forma de uma
das disciplinas aprovadas e seu tramite burocrático Bauru já funcionavam a Faculdade de Odontologia da FEB, uma imensa fazenda com mata nativa de cerrado, Federação ou Universidade8 . Em resposta a questão
e mais na busca de um sentido geral para todo esse USP (FOB), a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras em área distante do centro urbano, modelo dos campus em 1976 urge a UNESP, resultado da encampação de di-
processo em permanente transformação, baseado na do Sagrado Coração de Jesus (FAFIL) e a Faculdade de universitários formados no Brasil a partir dos anos 1940, versos institutos isolados existentes no estado de São
vivencia individual, chegando até o momento atual Direito (ITE), todas voltadas as áreas biológicas e das que se isolam do tecido urbano e estabelecem uma Paulo desde os anos 1950. O campus de Bauru, embora
quando o curso completa seus 35 anos. Contudo, o foco humanidades. A vinda das exatas completaria o rol vida própria. O Instituto de Pesquisas Metereológicas, um pouco mais tardiamente e devido a decisões políti-
estará principalmente no inicio, até o Projeto Político de cursos que tornariam Bauru, um pólo educacional, (IPMet) é o primeiro setor que para lá se transfere no cas locais onde se destaca a figura do ex-aluno da FEB,
Pedagógico que concebeu as disciplinas de Trabalho acompanhando seu relevo econômico regional e ano de 1975 devido a necessidade de instalação do ra- Deputado Federal e engenheiro Antonio Tidei de Lima
Projetual Integrado (TPI) nos meados dos anos 1990. privilegiada posição geográfica central ao estado, dar metereológico em zona afastada, sendo tal equipa- e estaduais através do Governador Orestes Quércia, se
Apontaremos, ainda, nesse início de transição entre a acessada facilmente por um nó ferroviário e rodoviário. mento considerado o primeiro do Brasil e do Hemisfério incorpora em 1988 a UNESP, sendo o reitor à época o
universidade publica e privada uma experiência breve Em seu início a FEB contava com um curso de Sul6 . A gleba doada pela prefeitura com 456,68 hecta- professor Paulo Milton Landin, seguindo um processo
mas que marcou sobremaneira o curso, as chamadas Engenharia Mecânica, sendo logo após criados os de res é dividida pela rodovia Comandante João Ribeiro de histórico que faz parte da identidade formadora dessa
“Integradas”, que mesmo passado tantos anos, Engenharia Civil e Elétrica. Suas instalações ficavam Barros, algo que a principio era considerado um proble- universidade estadual. No ano anterior havia ocorrido a
deixaram seu legado em nosso currículo. em uma ampla área de três quadras doada por ma devido seu isolamento, mas que acabou por resul- absorção do IFT e em 1989 foi a vez do IMESPP. Deve-
Daniel Pacifico, no bairro loteado pelo próprio, e onde tar na preservação da mata original da porção “além -se lembrar que é um momento de redemocratização
Um curso e seus 35 anos havia sido construído um prédio para abrigar outro da rodovia”, somando mais de 2/3 do campus. Hoje se do país, da criação de uma nova Carta Constitucional,
velho sonho local, o Colégio Técnico Industrial3 . Sua transformou, junto com as matas contiguas do Jardim onde a educação publica é tema constante e importan-
Se formos buscar o ponto inicial da Faculdade de finalidade era fornecer mão de obra especializada Botânico e do Hospital Lauro de Souza Lima, em uma te. É um período de grandes expectativas sobre o futuro
Arquitetura, Artes e Comunicação, que possui cursos às ferrovias aportadas na cidade, mas embora imensa floresta urbana de cerrado. do Brasil e onde a educação de qualidade deveria ter
na grande área das Ciências Sociais Aplicadas, tanto praticamente pronto, ainda estava sem funcionamento. No ano de 1985 a FEB contando com grande quan- um papel de relevo e nesse contexto a UNESP cumpriu
aqueles voltados ás áreas de desenho, como aqueles A condição para a FEB utilizar a gleba era que o colégio tidade de cursos se torna Universidade de Bauru. Fi- seu papel, mesmo que a um alto custo.
guiados pela escrita, mas todos das humanidades, fosse aberto e agregado ao complexo da mesma, fato nalmente a cidade teria sua tão sonhada universidade, A encampação da UB se dá em um cenário onde já
teremos que recuar até o ano de 1969, quando foi que ocorreu em 19674 . Nesse momento a Vila Falcão após a malograda tentativa de criação da “Universidade funcionam três faculdades: Faculdade de Engenharia
criado o curso de Desenho e Plástica da Faculdade torna-se uma espécie de “vila universitária” da cidade, das Américas” que possuiu, inclusive projeto arquitetô- e Tecnologia; Faculdade de Ciências e Faculdade de
de Ciências na Fundação Educacional de Bauru (FEB). devido a Faculdade de Direito, atual, Instituição Toledo nico, jamais construído, do importante arquiteto Ícaro Artes e Comunicação, que posteriormente seriam
A FEB, por sua vez, começou seu funcionamento a de Ensino (ITE), também situada em área doada por de Castro Mello, para uma área localizada as margens denominadas Faculdade de Engenharia de Bauru (FEB),
partir de um decreto do governo datado de 12/04/1967, Daniel Pacifico5 e pela Fundação, ambas praticamente da Rodovia Comandante João Ribeiro de Barros 7 . Essa Faculdade de Ciências (FC) e Faculdade de Arquitetura,
após a apresentação de projeto de Lei no ano de 1959, vizinhas e no mesmo bairro. transformação de FEB em UB resultou em maior faci- Artes e Comunicação (FAAC).
pelo deputado bauruense Nicola Avalone Junior que Tanto o Colégio Técnico Industrial quanto a FEB pros- lidade e autonomia para criação de cursos. Contudo, Na década de 1970 o Curso de Desenho e Plástica
indicava a criação de uma Faculdade de Engenharia seguem sua expansão durante a década de 1970, tor- a jovem universidade isolada teria uma história breve, já havia sido transformado em Educação Artística e
na cidade, bem como a partir de demandas posteriores nando-se referencia no ensino superior no centro oeste pois, em 1988 a UNESP incorpora a Universidade de migrado para a FAAC, e também junto a essa unidade
das lideranças políticas locais2. paulista e fornecendo profissionais de grande capaci- Bauru, dentro de um processo que explica sua própria universitária foram criados, nessa década, os Cursos

2
https://www.vivendobauru.com.br/mais-sobre-a-comemoracao-dos- 4
http://www.vivendobauru.com.br/f-e-b-hoje-unesp-completa-50-anos/. 7
AMARAL, C. Et al. 2009, p.5.
-50-anos-da-faculdade-deengenharia-da-unesp-bauru/. 5
BASTOS, 2002, p.20. 8
(https://www2.unesp.br/portal#!/sobre-a-unesp/historico/.
3
BASTOS, 2002, p.20. 6
https://www.ipmetradar.com.br/2historico.php.
14 15
15
O Centro Oeste Paulista Como Laboratório O curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento
de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

de Comunicação Social e Artes Plásticas Habilitação realizadas para dar o mínimo de funcionalidade ao deveriam ser trilhados dentro de outras perspectivas. provisório para definitivo, acompanhando de perto as
em Artes Industriais, esses com as alterações subse- campus, assim como a expansão do seu sistema viário Havia um currículo fragmentado, sem objetivos claros contratações docentes.
quentes, se transformarão nas décadas seguintes nos interno. As salas 50, ou os blocos dos ateliers como e sem articulação entre disciplinas. O lucro como regra Em relação aos discentes também houve mudanças,
atuais cursos de Design, Artes Visuais, Jornalismo, Ra- também são chamadas essas modestas construções fora substituído pelo conhecido tripé da universidade se o perfil inicial era de estudantes de Bauru e micro
dialismo e Relações Publicas. O curso de Arquitetura e pré-fabricadas, acima de tudo representarão a FAAC, ao publica: Ensino, Pesquisa e Extensão. região, aos poucos ano a ano, esses vão perdendo
Urbanismo foi concebido no ano de 1983, sendo seu pri- menos para os cursos ligados ao desenho como os de A encampação ainda, possibilitou a contratação de espaço a favor de jovens moradores de todo estado, por
meiro vestibular em 1984. A idéia inicial, ainda dentro do Arquitetura e Urbanismo, Artes Visuais e Design. Mesmo novos e jovens professores ensejando um quadro mais vezes de estados vizinhos e muitos da capital. Grosso
contexto de uma universidade privada, era aproveitar- com sua enorme precariedade, em meio os resquícios especializado na área de arquitetura e urbanismo, modo, até nossos dias pode-se dizer que metade dos
-se estrutura e pessoal pré-existentes, tanto das áreas da mata original, fazem parte da memória afetiva de mas ainda pouco titulado. Muitos docentes contavam estudantes do curso são do interior e a outra metade da
das engenharias, particularmente da civil, como das várias gerações de arquitetos que ali estudaram. A apenas com sua experiência profissional, seja de capital. A cada vez mais acirrada relação candidatos/
artes, seria um curso de montagem simples e barata falta de infraestrutura adequada será uma questão escritório, seja no setor publico, contudo, uma vagas, chegando a mais de 50 por vaga, certamente
e com grandes perspectivas de crescimento. Durante importante a perseguir as Unidades locais da UNESP universidade de qualidade e de pesquisa deveria exigir explica tal situação. Ponto positivo é o fato dos mesmos
a encampação esse será o único curso de arquitetura até nossos dias, bem como o isolamento do campus do além da “praxis” a produção cientifica e a titulação de chegarem ao curso com maior bagagem e preparo
e urbanismo da UNESP, e o terceiro publico do estado, restante da cidade, mesmo que ao redor tenham sido seus docentes. A UNESP concedeu prazo para que todos devido a alta concorrência.
sendo aberto um segundo na Faculdade de Ciências e implantados bairros e obras publicas, devido a esperada os professores advindos da antiga UB que optassem Logo após a encampação iniciou-se uma experiência
Tecnologia de Presidente Prudente anos depois. valorização imobiliária. por permanecer como docentes em tempo integral “heróica” para aqueles que passaram pelo curso, quer
Junto com a encampação, em 1988, foi criado o No ano seguinte a aprovação da Constituição na docência e pesquisa chegassem ao titulo mínimo seja como docentes ou discentes, que foi a criação
Departamento Provisório de Arquitetura, Urbanismo Federal de 1988, que indica em seu Artigo 207, que “As de doutor. Os novos professores seriam contratados das disciplinas Integradas, ou apenas Integradas como
e Paisagismo, como forma de dar uma estrutura universidades gozam de autonomia didático-científica, com a qualificação mínima de mestre e também com eram mais conhecidas. Partiam da idéia de criar-se um
administrativa mínima ao curso. Inicialmente o administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e exigência de termino do doutorado de forma breve. Em laboratório em cada ano do curso, contando com seis
Departamento, situado em um espaço extremamente obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre que pese a pressão das novas exigências acadêmicas docentes da área de arquitetura e urbanismo. Seria um
precário, acumulava as atividades administrativas ensino, pesquisa e extensão”9 é aprovado o decreto era um momento bastante feliz e promissor para todos grande atelier onde as diversas interfaces dos projetos
e didático-pedagógicas. Fato curioso é o termo que torna autônomas as três universidades ligadas do jovem corpo docente e do novo curso, sentia-se uma se desenvolveriam conjuntamente, arquitetura,
“Paisagismo” acrescentado ao clássico “Arquitetura ao governo do estado: USP, UNICAMP e UNESP, fato grande empolgação no sentido de se criar um Curso de urbanismo e paisagismo, pratica inovadora encontrada
e Urbanismo”, devido ao consenso entre os docentes que entre tantas mudanças trouxe liberdade para a Arquitetura e Urbanismo com características próprias em outras universidades publicas como a FAU/USP.
sobre a necessidade de se olhar com mais atenção criação de cursos e proposição de currículos. No ano dentro de uma universidade publica. Fundamental Visava-se também, as escalas de projeto do menor
para essa área de projeto, via de regra considerada de seguinte foi estabelecido o Conselho de Curso de apontar a presença e liderança dos professores para o maior e uma aproximação das cidades da região,
menor importância, embora, também sob atribuição e Graduação em Arquitetura e Urbanismo e em 1992 o arquitetos José Claudio Gomes e Luiz Gastão de tendo-as como objeto de estudo nos últimos anos da
domínio do arquiteto e urbanista. Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo Castro Lima, já falecidos, o primeiro vindo da FAU/USP graduação quando os estudantes se deparavam com os
Nesse momento as antigas e acanhadas instalações é constituído formalmente, e deixa a nomenclatura de e o segundo da Escola de Engenharia de São Carlos problemas regionais. Certamente José Claudio Gomes
da Vila Falcão, onde se formou a “Fundação” tinham “provisório”. Com a criação do Conselho de Curso logo (EESC), que a partir de suas experiências profissionais foi presença significativa nesse processo, momento
sido deixadas para uso do Colégio Técnico e toda após a encampação foi possível vislumbrar um novo e de vida ajudaram o curso e o departamento em seus em que elabora um “Projeto para implantação de um
universidade, agora UNESP, passa a operar no campus Projeto Político Pedagógico para o curso onde deveria primeiros passos junto a UNESP. Gomes de perfil mais laboratório de desenho urbano”, entendido como “uma
novo de Bauru. A UB já havia erguido uma serie de se tentar transpor uma estrutura didático-pedagógica acadêmico colaborou vivamente para a construção área de conhecimento que investiga os processos
prédios no local e a UNESP investe algum recurso para de uma universidade de classe local e privada, para das Integradas que serão explicadas a seguir e de configuração da forma da cidade ou de partes da
construção de obras “provisórias” para abrigar salas uma universidade publica com grandes aspirações de Castro Lima, além de grande projetista, possuía larga cidade”10. No documento ficam explicitas as três linhas
de aula, sucessivamente reformadas e ainda hoje em expansão. Ou seja, o objetivo inicial da Universidade experiência administrativa auxiliou na organização do de pesquisa a saber:
funcionamento. Outras poucas obras também são fora alterado com a encampação e novos caminhos departamento e na sua passagem de departamento • Morfologia Urbana da cidade média paulista: espaço

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In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 10
GOMES,J.C. Projeto para implantação de um laboratório de desenho
urbano”. Documento datilografado, Arquivo pessoal Nilson Ghirardello, 1988.

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de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

publico, morfologia da pobreza, movimentos e a forma de vivencia e permanência continua para os estudantes das três faculdades da antiga Universidade de Bauru da capital, tornando-se a rede de cidades mais rica e
da cidade; de arquitetura e urbanismo poderem desenvolver seus e também da ausência no quadro do departamento promissora do pais.
• História da cidade e da arquitetura da cidade: cidade trabalhos em atelier assim como era na FAU/USP. de mais arquitetos e urbanistas. No diagnóstico O novo currículo também, assim como as Integradas,
e memória, cidade e história e registro e inventário do Desse período de transição das Integradas ha pouco efetuado antes da reforma curricular de 1994 foram insistia no fazer básico do arquiteto e urbanista: o
patrimônio ambiental urbano; registro escrito, praticamente nenhum, sobretudo nos apresentados, ainda, os seguintes problemas: projeto. Ele deveria ser profissional “da prancheta” por
• Procedimentos metodológicos do desenho urbano: documentos da universidade, devido sua informalidade. Ausência de disciplinas básicas para a formação excelência, por mais que o termo nos pareça quase
analise históricocrítica das metodologias do desenho Não chegou sequer a aparecer no histórico escolar de profissionais de arquitetura, e a inadequação das histórico nos dias de hoje. Dessa forma a proposta
urbano, novas metodologias do desenho urbano; o dos estudantes com tal denominação, em favor oferecidas; apontava um currículo onde a “coluna vertebral” de
desenho urbano, a arquitetura urbana e o planejamento das várias disciplinas “oficiais” individualizadas de Ausência de infra estrutura acadêmica como biblio- daria a partir de disciplinas projetuais que seriam o
urbano11. projeto de arquitetura, projeto de urbanismo e projeto teca, oficinas, ateliers, equipamentos de apoio, etc.; cerne do curso, Projeto de Edificações, de Urbanismo
• Desenho urbano nesse momento era assunto de paisagismo. Mas, certamente, a experiência com Carga excessiva para os docentes que tinham dificul- e Paisagismo; essas comporiam um escopo a ser
relativamente novo nas escolas brasileiras e seu seus prós e contras ficou na memória daqueles que dade em continuar seu aperfeiçoamento acadêmico; denominado Trabalho Projetual Integrado (TPI). Como
pequeno trabalho, que pretendia dar bases a um passaram por ela, docentes e discentes. Carga horária extensa para os discentes12. “coluna vertebral” as demais disciplinas como as de
laboratório ligado ao departamento, influenciou No início dos anos 1990 foram realizados Fóruns O grupo de professores do DAUP, desde a encampa- Meios de Representação, Fundamentos Teóricos e
bastante a proposta das Integradas e inspirou muitos com os estudantes no sentido de ser estabelecido um ção, entendia que o curso deveria ser anual deixando o Tecnologia deveriam “gravitar” ao seu redor e contribuir
docentes locais em suas pesquisas subsequentes. novo Projeto Pedagógico para o curso de arquitetura e modelo de créditos, considerado típico de uma escola para os TPI. Todas as três Unidades Universitárias
Contudo, nesse momento de implantação das urbanismo. Ponto a se destacar foi sempre a presença privada, com alta carga desagregadora e “americaniza- do campus atuariam com disciplinas no curso de
Integradas não havia sido realizada reforma curricular marcante dos estudantes a ajudar no direcionamento do” em excesso. O curso seriado ensejaria turmas coe- arquitetura e urbanismo, como aquelas ligadas a Física,
no curso prevista para um futuro breve, mas mesmo dos Projetos Políticos Pedagógicos, como usuários do sas do início ao fim da graduação criando-se um espí- Matemática, Botânica, todas da Faculdade de Ciências
assim, e de maneira “informal” adaptou-se uma grade sistema sentiam como nenhum outro grupo a estrutura rito de corpo nunca antes existente, as turmas também e as muitas relacionadas as Engenharias como calculo,
curricular já existente formada por disciplinas isoladas do curso e a relação entre suas partes, assim como seriam reduzidas de 60 candidatos ano para 45. resistência dos materiais, etc; Da FAAC entrariam
e semestrais a essa nova filosofia de trabalho. Manteve- os problemas operacionais do dia-a-dia nem sempre Pensava-se em continuar a ter como base de disciplinas como Desenho Industrial, no sentido de
se a grade alterando-se o foco e os objetivos das sentidos pelos docentes. A presença diária e constante estudo as cidades médias e pequenas da região, o dar conta de todos os elementos que envolvem a
disciplinas apoiado no fato que havíamos conquistado em um curso diurno e integral os tornou bastante que comungava perfeitamente com o perfil da UNESP, arquitetura, da escala dos objetos a região.
a autonomia universitária, enquanto se discutia um participativos em toda história das reformulações muito mais voltada ao interior paulista, bem como Em todos os TPI atuariam 5 docentes: dois de Projeto
novo Projeto Político Pedagógico. Tal pratica passou curriculares e no departamento, atuando em em relação as experiências nos anos anteriores das de Edificações, dois de Urbanismo e um de Paisagismo,
por complexos problemas práticos entre os quais a momentos decisivos e pode-se dizer, nem sempre com Integradas. Também se entendia que a metrópole era o que demandaria o aumento expressivo de docentes
dificuldade em se equalizar os horários dos docentes a polidez que os docentes esperariam, mas que deve motivo de estudos das escolas da capital e as da região arquitetos e urbanistas no DAUP. Propunha-se, também,
e a grande ampliação da carga horária destinada a ser entendido, não como arrogância, mas, fruto de justo metropolitana, sendo a FAU/USP o melhor exemplo. a reafirmação das escalas de projeto já advindas das
cada um deles. Tais questões eram resolvidas não sem entusiasmo juvenil. Manter o olhar, nesse momento, para o interior foi Integradas, que também partiriam do menor para o
pressões internas no âmbito do DAUP, entretanto o Certamente, as experiências vividas nos poucos atitude inovadora que possibilitou um reconhecimento maior, ou seja, do que era considerado o projeto menos
mesmo não de dava em relação as outras faculdades anos das Integradas foram fundamentais para balizar desse território parcamente estudado, até nossos complexo para o mais complexo. Iniciava-se o primeiro
envolvidas no curso, sequer nos demais departamentos a proposta em que pese os reveses da experiência de dias. Por outro lado, reconhecia uma rede de cidades ano com a escala do lote/rua, no segundo com o bairro,
da FAAC, que nem sempre estavam dispostos a uma prática inovadora sobre a estrutura arcaica. O novo com características próprias e em muitos casos no terceiro a cidade de pequeno porte e no quarto a
participar da tal “experiência pedagógica”. Faltava Projeto deveria ter como base a criação de disciplinas semelhantes que poderiam ser objeto de inúmeros rede regional de cidades.
ainda o espaço físico necessário, pois as salas eram que fugissem da atomização e do isolamento trabalhos científicos. Também se valia de uma realidade Dentro do possível os docentes, mesmo aqueles que
destinadas a aulas fragmentadas da faculdade e do pedagógico existente na grade oficial até então, econômica que apontava o crescimento do PIB do não fizessem parte da área de projeto, deveriam estar
campus como um todo e a proposta pedia um espaço resultado da pulverização de disciplinas aproveitadas interior paulista que em poucos anos ultrapassaria o em sala junto dos TPI que seria um grande laboratório,

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GOMES,J.C. Projeto para implantação de um laboratório de desenho 12
Curso de Arquitetura e Urbanismo - Relatório de Atividades, 2001. 13
DAUP/CONS. CURSO- 0023/96.
urbano”. Documento datilografado, Arquivo pessoal Nilson Ghirardello, 1988.

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haveria com isso uma integração horizontal e vertical seguir. Possuía uma grade horária encerrada em si, para a arquitetura, com foco em seus cursos de poderiam ser cursadas de forma independente pelos
do curso. Tal conjunto de disciplinas estariam nos sem possibilidades eletivas para o estudante, restando origem, somando-se um conhecimento nem sempre estudantes interessados nas mesmas, conforme seu
quatro anos da graduação sendo que no ultimo haveria apenas seu cumprimento. Mesmo que algumas útil. Desnecessário dizer que a reprovação tornou-se desejo. Também é um momento de reavaliação das
o Trabalho Final de Graduação, TFG, onde deveria disciplinas fossem chamadas de optativas, a rigor eram expressiva e justamente naquelas pouco relevantes. atividades do profissional da arquitetura no sentido
ser apresentado, obrigatoriamente, um projeto que “optatórias”, como os estudantes as tratavam á época. Diante da alta carga horária que incidia sobre os de um maior foco em sua área de atuação especifica
fechasse o ciclo de cinco anos. A excessiva carga horária, criada com a melhor das alunos e aproveitando-se da falta de especificação deixando-se de lado a proposta generalista de se
Com tais medidas a carga horária do curso passou intenções, também não significou melhoria do nível do que representava um crédito (15 horas aula) na projetar da “dobradiça ao território”.
a ser imensa, mais de 5 mil horas/aula o que obrigava do curso, além de tornar impossível qualquer tipo de Portaria Didática número 10/1998 da UNESP, alargou-se Avaliava-se que seria necessário olhar mais realista
os estudantes a trabalharem em sala de aula fazendo trabalho por parte dos estudantes Um simples estágio o sentido do mesmo de forma que pudesse conter não frente as possibilidades do departamento e da
da universidade uma “segunda casa”, desejo expresso era algo impraticável, sendo que muitos docentes apenas aulas teóricas em sala mas também atividades universidade na contratação de docentes, em particular
pelos proponentes do Projeto Pedagógico, mesmo também o achavam desnecessário por considerarem diversas como aulas teórico-praticas, seminários, para os TPI, chegando-se a conclusão, nesse momento,
que a infra estrutura de salas, laboratórios e atelier’s “pura exploração de mão de obra barata”. Tais trabalhos de campo, leituras programadas, pesquisas que deveria ser reduzido o número de professores,
oferecida pela FAAC não fosse adequada, o que ocorre características reforçavam o caráter elitista do curso e execução de trabalhos de forma a minorar a fadiga pois, jamais se chegaria a quantidade imaginada à
até nossos dias. destinado aos filhos das classes médias ou superiores física dos estudantes e sua presença diuturna no principio. No ano de 2002 o DAUP chega ao seu número
O currículo aprovado no ano de 1994, considerado devido ser diurno e integral. campus13 . Nos anos seguintes novas discussões são máximo de professores até os dias de hoje, contando
inovador, representava muito de como se entendia a Ainda em relação aos TPI’s, a presença de professores travadas pelos Fóruns criados pelo Conselho de Curso com 21 docentes. Nesse mesmo ano atuavam junto
arquitetura na época, parecia ser aberto e libertador num das disciplinas teóricas, técnicas ou desenho se e de forma independente pelos estudantes, no sentido ao curso como um todo, além dos apontados acima
momento de saída de uma longa ditadura. A autonomia tornou muito difícil devido ao choque de horários da de se avaliar a proposta em vigor. pertencentes ao DAUP, mais 13 docentes, sendo 07 da
das universidades paulistas facilitou sobremaneira a carga de cada docente. E mesmo em um momento No ano de 1998 uma adequação curricular é FAAC e 06 da FEB16. Em 2011, no mesmo momento em
nova proposta de renovação completa de um projeto onde a universidade contratava com mais frequencia implantada14 com ajustamentos cirúrgicos, onde que se inauguram as obras do novo Departamento de
pedagógico dentro de uma universidade publica jovem o número de docentes/arquitetos previstos para os excessos são cortados incluindo-se ai a carga horária Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo, projetado pelo
e em fase de crescimento. O fato da UNESP ainda não TPI’s nunca se confirmou, pois a disciplina continuava do curso, particularmente a dos TPI. Outro aspecto Grupo GA - Arquitetura: Teoria e Projeto, formado por
possuir outro curso similar deixou o caminho mais a ser considerada pela administração da UNESP como básico que deveria ser atendido de forma obrigatória professores do curso, uma nova reforma curricular é
livre ainda para se propor novas experiências, entre as uma experiência “exótica” dispondo de uma quantidade eram as diretrizes curriculares que apontavam que o proposta. Tem a finalidade de se adequar o curso as
quais uma “estranha” disciplina que contava com cinco de docentes acima das necessidades didáticas. Tais conteúdo mínimo do curso de arquitetura e urbanismo novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de
docentes em sala de aula. demandas do DAUP ocorreram seguidamente, mas deveria ser dividido em Matérias de Fundamentação, Arquitetura e Urbanismo, onde passam a ser incluídas
Contudo, o que parece ter sido pouco considerado para foram sempre aprovadas de forma pontual e a conta- Matérias Profissionais e Trabalho Final de Graduação15. disciplinas como Estágio Curricular Supervisionado
a criação do novo projeto pedagógico era o momento gotas pelos órgãos superiores da universidade. Foi incluída a disciplina de Técnicas Retrospectivas novos conteúdos de História da Arte e Estudos
de transição da arquitetura, o ocaso do modernismo e Em relação as escalas projetuais propostas do menor e canceladas disciplinas como Ergonomia aplicada a Ambientais, Canteiro Experimental, etc. Propunha-
as discussões sobre a pós-modernidade. A rigor havia ao maior, conforme a progressão da grade, verificou-se arquitetura, Matemática, Filosofia, Projeto de Desenho se, ainda, inserir o Programa de Intercambio dos
um grupo de docentes ainda ensinando sob as luzes que muitas vezes o projeto mais complexo nem sempre Industrial, Projeto de Programação Visual, e outras estudantes de graduação reconhecendo as atividades
do movimento moderno e repassando em sala de aula era o de escala maior, podendo ser o de dimensões tantas. Foram cortadas especialmente disciplinas do acadêmicas desenvolvidas em países estrangeiros.
parte dos conhecimentos recebidos de seus mestres, diminutas, o que contrariava a noção estabelecida a Departamento de Desenho Industrial, que se tornaria Internamente na UNESP ocorre a elaboração do PDI
em um processo de transmissão do conhecimento pela priori, muito embora didaticamente funcionasse em Design devido ao fortalecimento do curso e da Plano de Desenvolvimento Institucional e a Resolução
prática. boa parte das vezes. profissão especifica de designer com funções próprias UNESP número 03, de 2001, que exige bases iguais
Embora com um certo discurso libertador no fundo Percebeu-se, também, que diante da grande e separadas das atividades do arquiteto. Não haveria a cursos comuns dentro da Universidade e nesse
era um currículo de viés autoritário que tentava quantidade de disciplinas, muitas contavam com sentido uma mesma faculdade como a FAAC contar momento já havia um segundo Curso de Arquitetura e
formatar o estudante conforme pressupostos pessoais duplicidade de conteúdo tornando as aulas repetitivas. dois cursos com muitas disciplinas equivalentes que Urbanismo no Campus de Presidente Prudente e era
e conceitos fechados de um grupo, dando poucas As disciplinas oferecidas pelas outras faculdades, com
chances para que o aluno escolhesse o caminho a raras exceções, eram ministradas sem especificidade
14
Projeto Político Pedagógico Curso de Arquitetura e Urbanismo, FAAC/ 16
Exame Nacional de Cursos - ENC 2002, Corpo Docente
UNESP, 2011, p. 9.
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Portaria número 1.770, de 21 de Dezembro de 1994.
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necessário equalizar, mesmo que em alguns pontos curso em particular, possam retomar o processo de para enfrentar os novos tempos e desafios, contudo, lo, 2009.
apenas, as duas propostas bastante diversas. entusiasmo quase juvenil com que se iniciou. diversos elementos da proposta inicial das Integradas, BASTOS, I.A. Falcão/Independência. Nossa Gente e Nossa
Nesse processo os TPI passam novamente por Nesse período a boa noticia foi a criação no ano criadas após a encampação pela UNESP, ainda História. Bauru, USC, 2002.
transformação. Sua denominação é alterada mais uma de 2013 do Mestrado Acadêmico em Arquitetura e possuem força no atual Projeto Político Pedagógico. Curso de Arquitetura e Urbanismo - Relatório de Ativida-
vez tornando-se Laboratório de Arquitetura, Urbanismo Urbanismo, certamente resultado do trabalho dos De certa forma pode-se dizer que são um fio condutor des, 2001.
e Paisagismo (LAUP). Na nova proposta é verificado docentes do curso. Foi estabelecido a partir de duas que perpassou por todas as propostas subsequentes, Documento interno avulso DAUP/CONS.CURSO - 0023/96.
que os TPI haviam se tornado “um grupo de disciplinas linhas de pesquisa, sendo o único da área na UNESP e embora desidratadas devido a realidade imposta pela Documento interno avulso - Exame Nacional de Cursos -
isolada das demais e hierarquicamente superior a o terceiro entre as universidades publicas do estado. estrutuwra da universidade e as mudanças ocorridas ENC 2002, Corpo Docente, 2002.
elas.” Propunha-se que os LAUP não mais liderassem Também nele, ha foco nas cidades do interior paulista nos conceitos, na arquitetura, no ensino e na cultura GOMES, J.C. Projeto para implantação de um “laboratório
o processo de integração de forma isolada, se abrindo buscando estudá-las tanto em relação ao Planejamento acadêmica com o passar dos anos. Como primeiro de desenho urbano”. Documento datilografado, Arquivo Nil-
“para dar unidade aos conhecimentos ministrados e Avaliação do Ambiente Construído, como no eixo da aspecto ressaltamos a valorização das disciplinas son Ghirardello, 1988.
e produzidos pelo Curso numa dinâmica de síntese Teoria, História e Projeto. projetuais, que na época eram tidas como “de https://www2.unesp.br/portal#!/sobre-a-unesp/histo-
dialética” (idem, p. 9), embora ainda figurassem como Outro dado positivo do período foi o estabelecimento prancheta”, que permanecem muito fortes e base do rico/. Acessado em 17/10/2019. http://www.vivendobauru.
as disciplinas de maior carga horária. Com a finalidade de cotas, sendo a UNESP a primeira universidade publi- curso, em que pese não haver mais a absoluta e rígida com.br/f-e-b-hoje-unesp-completa-50-anos/. Acessado em
de se adequar as exigências da UNESP ha o retorno ca do estado a fazê-lo em 2012. O método é denomina- hierarquia de importância como em seu início. Outra 15/10/2019.
do outrora abominado regime de créditos e nova do Sistema de Reserva de Vagas para Educação Básica definição que ainda possui força em nosso curso, e https://www.vivendobauru.com.br/mais-sobre-a-come-
redução da carga horária no sentido, principalmente, Pública (SRVEBP), sendo 50% das vagas destinadas essa talvez seja uma de suas particularidades, foi que moracao-dos-50-anos-dafaculdade-de-engenharia-da-u-
de se inserir na grade o Estágio Supervisionado. A carga para os que cursaram ensino médio em escola publica, o projeto de paisagismo deveria ter um papel relevante nesp-bauru/. Acessado em 15/10/2019.
horária geral do curso é reduzida e as viagens didáticas ou tenham feito a Educação de Jovens e Adultos (EJA) a partir do primeiro ano. Ponto que também permanece https://www.ipmetradar.com.br/2historico.php. Acessado
e atividades extra classe passam a ser consideradas e 35% aos candidatos Pretos, Pardos ou Indígenas. Tal é a lógica da integração tanto horizontal como em 17/10/2019.
mais relevantes no aprendizado do estudante. fato tem transformado os cursos, em particular aque- vertical e a organicidade pedagógica que vem de seus http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/consti-
A partir de 2014 uma grave crise financeira se abate les mais concorridos e inacessíveis até então, como é o primórdios, aspecto bastante valorizado nos cursos tuicao.htm. Acessado em 17/10/2019.
sobre o país e a universidade publica paulista dependente caso da Arquitetura e Urbanismo e sua influencia posi- atualmente. Significativo, ainda, o olhar direcionado as Portaria número 1.770, de 21 de Dezembro de 1994, que
dos recursos do ICMS, e particularmente a UNESP que tiva tem sido sentida com reflexos que devem resultar cidades médias e pequenas que possuem grande papel versa sobre as Diretrizes Curriculares.
dispõe de parcos recursos próprios, vê sua estrutura em novas mudanças em seu Projeto Político Pedagó- no curso de graduação e também na pós-graduação
encolher velozmente. Fato agravante foi o processo de gico, afinal, como já dizia Cazuza...”o tempo não para”... em Arquitetura e Urbanismo e se constituem como
expansão da universidade no estado, elevando o número sua marca. Dessa forma, por maior que tenham sido os
de unidades para 34 em 24 municípios o que encareceu Conclusão desacertos daquele jovem grupo de arquitetos recém
sobremaneira a sua administração. Um pouco mais formados, liderados por dois experientes professores,
adiante, devido a gravidade da situação, a contratação Nesses 35 anos do Curso de Arquitetura e Urbanismo a gênese de nosso Projeto Pedagógico atual ali pode
de servidores técnico administrativos é suspensa da FAAC, completados em 2019, verifica-se que as ser encontrada. Só nos resta torcer para que ainda
assim como a de docentes. Somado as aposentadorias mudanças foram constantes, assim como as que possa permanecer como fio condutor avançado, com
em curso, principalmente devido as reformas da ocorreram na vida das pessoas e na do país, embora as correções obrigatórias que o tempo e o futuro assim
previdência, reduz-se o número de professores em sala não seja um período de tempo que tão longo as exigirem.
de aula gerando crise sem precedentes. Professores transformações tecnológicas foram brutais. Iniciamos
substitutos e bolsistas são contratados no sentido de um curso onde se desenhava com graphus, caneta Referências bibliográficas
cobrir os buracos do currículo, mas devido ao tipo de nankim, régua paralela e esquadros sobre uma
contratação a dedicação acaba por ser menor. Todos prancheta inclinada e atualmente usa-se o Revit, até AMARAL,C.S.; MASSERAN, P.R.; SALCEDO, R.F.B.; MAGAG-
esperam que essa seja uma situação de passagem que outro mais moderno surja em breve. O Projeto NIN, R.C.; FARIA, J.R.G. Projeto como investigação: Ensino,
breve para que a universidade como um todo e o Pedagógico inicial também foi se transformando Pesquisa e Prática. In: IV PROJETAR 2009, FAU-UPM, São Pau-

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de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

Da unidade do atelier nismo, e o núcleo de disciplinas projetuais definido por


eixos independentes de Arquitetura, de Urbanismo e de
a resolução e criação de espaços, em todas as escalas,
através da atividade projetual, baseada na instrumental
ignorar que estas três áreas – Urbanismo, Paisagismo
e Projeto de Edificações – guardam um conjunto de
integrado à síntese do Paisagismo. O núcleo de projeto tinha início a partir do teórico/prático propiciado pelas demais áreas, variáveis relacionadas especificamente a seus objetos

laboratório de projeto: o segundo ano e aumentava sua carga horária de forma


gradual até atingir os 90% no último semestre do curso.
possibilitando deste modo a análise crítica de produção
do espaço, situado no contexto histórico, bem como
de intervenção que devem ser respeitadas. De onde
vem o primeiro desafio proposto para esta disciplina,
projeto político pedagógico Após vigorar por quase dez anos, em 1994 o currículo no processo de produção social, viabilizado técnica e respeitar as especificidades de cada uma das áreas,

de 2012 original do curso já passava por um processo de


contestação por parte de alunos e professores e
economicamente” (FAAC-UNESP, 1994, p. 6). valorizando e abrindo os espaços necessários ao
aprofundamento dos conceitos inerentes tanto do
Claudio Silveira Amaral, João Roberto Gomes de consequente reformulação, experimentada entre os Tal centralidade estruturante do eixo projetual Projeto de Edificações quanto do de Urbanismo ou ao de
Faria, Paulo Roberto Masseran, Renata Cardoso anos de 1989 e 1992 por meio das disciplinas integradas unificado foi viabilizada na reforma curricular de 1994, Paisagismo. O TPI incorpora as experiências realizadas
Magagnin, Rosio Fernández Baca Salcedo de projeto, quando os eixos independentes de projeto e corroborada na reforma sequente de 1998, com a no sentido da integração horizontal de disciplinas
– Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo – fundiram-se implementação de um conjunto disciplinar denominado projetuais nos Cursos de Arquitetura, sobretudo após os
num único esteio, constituindo a ideia de uma linha “Trabalho Projetual Integrado (TPI)” que dividia-se entre “Fóruns” de 1962 e 1978 na FAUUSP, e nas experiências
mestra e condutora do desencadeamento do processo o atelier integrado de projeto e as áreas específicas de já desenvolvidas no Curso de Arquitetura da UNESP nos
de ensino. A presença de dois importantes professores Arquitetura (chamada por “edificações”), Urbanismo anos de 1989, 1990, 1991 e 1992. Inova, no entanto, quando,
O curso de Arquitetura e Urbanismo começou de larga experiência didática e profissional, os e Paisagismo. Desse modo, os TPI’s unificaram o para vencer o desafio do respeito às particularidades
a funcionar em 1984 junto à Faculdade de Artes e arquitetos José Claudio Gomes, oriundo da Faculdade de entendimento das atividades projetuais definidas por inerentes a cada área envolvida no processo, evita
Comunicação, mantida pela Fundação Educacional Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, seus campos disciplinares e escala de intervenção utilizar a soma, qual seja, a sobreposição de disciplinas
de Bauru. Em 1986, este instituto agregado ainda à e Luiz Gastão de Castro Lima¹, professor aposentado da numa ação integrada de projeto, que permeia múltiplas na composição de uma única disciplina. Isto porque esta
Faculdade de Ciências e à Faculdade de Engenharia Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade escalas. O Projeto Pedagógico de 1994, assim define sobreposição normalmente termina por provocar uma
constituiu a Universidade de Bauru, e em 1988 foram de São Paulo, seria decisiva para a formulação dessa este grupamento disciplinar: maior fragmentação das informações transmitidas ao
incorporadas à Universidade Estadual Paulista “Júlio nova matriz curricular unificada. Assim estruturava- aluno ou, o que é mais grave, a supressão de parcelas
de Mesquita Filho”, UNESP. Em 1989 o curso formou se e propunha-se pedagogicamente a centralidade da “O Trabalho Projetual Integrado reúne os conhecimentos significativas do programa previsto para cada uma das
sua primeira turma oriunda de um projeto pedagógico atividade projetual: projetuais de Projeto de Edificações, Urbanismo e disciplinas. Abandonada a simples soma de disciplinas
adaptado de um projeto de ensino maior formulado Paisagismo. Três áreas de especificidade da Arquitetura, tradicionalmente existentes nos currículos de
pelo arquiteto João Batista Vilanova Artigas para uma “A proposta curricular está estruturada em quatro tratadas tradicionalmente de maneira distinta e Arquitetura, optou-se pela criação de uma sequência de
nova Faculdade de Arquitetura e Urbanismo destinada áreas básicas, a saber: Projeto, Meios de Expressão e fragmentadas, nas várias instituições Universitárias disciplinas reunindo de forma orgânica o conhecimento
a se implantar no interior do Estado de São Paulo. Representação, Fundamentos Teóricos e Tecnologia. com curso da área, mas que apresentam, porém, forte projetual nas três áreas anteriormente referidas,
O projeto pedagógico original integralizava-se num Entendemos a área de Projeto como eixo principal do identificação nos seus procedimentos metodológicos introduzindo também questões contemporâneas como
total de 5900 horas e possuía uma grade curricular Curso, devido a seu caráter propositivo, “convergindo” básicos em projeto. Pelos motivos expostos acima o Desenho Urbano e Regional e o tratamento dispensado
bastante extensa que aproveitava os conhecimentos para esta os conhecimentos das demais áreas e no sentido de romper com a natural tendência à ao Meio Ambiente. Propõe-se deste modo, o estudo de
especializados já consolidados no Campus de Bauru, relacionadas. O Curso se estrutura a partir de um eixo particularização e à especialização na organização do um conjunto de elementos, diretamente relacionados às
principalmente dos cursos das Engenharias Civil, Elé- constituído pelas disciplinas de Projeto. Essa área, conhecimento adquirido, o TPI pretende introduzir o áreas de Edificações, do Urbano, da paisagem e do Meio
trica e Mecânica, e dos cursos de Desenho Industrial e eixo fundamental da proposta é responsável pela aluno no universo da Arquitetura de maneira global e Ambiente, denominadas conceituação metodológica e
Comunicação Visual, e Artes Plásticas. Os núcleos es- capacitação do aluno à investigação e proposição do “sem rodeios”. Minimizando as intermediações entre exercício projetual, e por outro o desenvolvimento de
pecíficos do campo arquitetural eram compostos pelo espaço, considerando toda problemática nos diversos seu conhecimento empírico e o reconhecimento uma proposta de intervenção que contemple as três
núcleo de Teoria e História da Arquitetura e do Urba- níveis pertinentes à Arquitetura. Seu objetivo central é sistematizado do espaço habitado, agilizando-se áreas indistintamente. Assim, será possível abordar
assim a introdução das variáveis que agem no fazer o objeto de estudo, a Arquitetura pelas três áreas
1
Luiz Gastão de Castro Lima foi arquiteto formado pela FAUUSP, em 1954, onde foi colega de José Claudio Gomes. Manteve uma extensa carreira profissional,
da Arquitetura. No entanto, mesmo diante de tal simultaneamente” (FAAC-UNESP, 1994, p.7).
sempre conjugada à carreira acadêmica. Atuou como professor na FAUUSP, na Escola de Engenharia de São Carlos, da USP, na Universidade de Brasília, na compreensão e destes objetivos didáticos, não se pode
Universidade Estadual de Londrina, na Universidade Federal de São Carlos, na Escola de Engenharia de Bauru, da então Fundação Educacional de Bauru, e final-
mente, foi Professor Assistente Doutor na Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, entre 1988 e 1996. Cf. BERNARDI, Cristiane Kröhling Pinheiro Borges.
Luiz Gastão de Castro Lima: trajetória e obra de um arquiteto. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo), Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade
de São Paulo, São Carlos/SP, 2008.
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de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

O curso era integralmente anual, apresentava aprimoramento dos projetos anteriores, sempre exaus- disciplinas relegando-as a um papel secundário no en- pliando-a para todas as disciplinas do Curso. Ao invés
disciplinas obrigatórias e optativas e o conjunto tivamente estudados e revistos criticamente, seja em tendimento da formação do arquiteto. Estabeleceu-se de um Curso composto por disciplinas isoladas, uma
disciplinar do eixo projetual (Trabalho Projetual constantes reuniões entre a comunidade acadêmica, uma relação hierárquica entre os TPI’s e o conjunto do ao lado da outra, ou mesmo um Curso cujas disciplinas
Integrado) distribuía-se entre as áreas específicas de seja nos fóruns de debates, e mesmo para a realização curso que dificultava a necessária interdisciplinaridade sejam dependentes de Projetos, ou uma interdisciplina-
edificações, urbanismo e paisagismo, que constituíam das adequações necessárias às novas bases legais³. para a compreensão ampla do sentido do projeto de ar- ridade apenas para Projetos, imaginou-se uma estrutura
o corpus de conceitos e métodos de cada especialidade, O conjunto disciplinar formado pelas bases teóricas quitetura, de urbanismo e de paisagismo: curricular cujo centro é o Laboratório de Arquitetura, Ur-
e o atelier de projeto, que realizava a prática da e conceituais de edificações, urbanismo e paisagismo, banismo e Paisagismo (LAUP, que assume o lugar do TPI
intervenção projetual. No início de sua implantação aplicadas no exercício projetual desenvolvido em “Os TPIs acumularam ao longo de sua existência, uma como ateliê de Projetos, integrando Projetos de Edifi-
eram necessários dois professores por área o que atelier, num corpus processual unificado e centralizado série de críticas, basicamente decorrentes da inabili- cação, de Urbanismo e de Paisagismo), resultado da in-
totalizava seis professores atuantes em cada atelier. enquanto eixo didático estrutural, representou um dade desse grupo de disciplinas em se relacionar com terdisciplinaridade entre todas as disciplinas do Curso.
Esta relação foi alterada após uma nova reforma para avanço significativo no ensino da Arquitetura e do as demais disciplinas do Curso. Seria necessária uma Em outras palavras, ao invés do Ateliê (LAUP) ser mais
ajustes pedagógicos, realizada em 1998, para quatro Urbanismo, que passou a caracterizar e distinguir interdisciplinaridade para que a centralidade almejada uma disciplina, isolada das demais, ela se abre para dar
professores no atelier, sendo um professor para a pedagogicamente o curso da UNESP. De 1994 a 2011, gerasse uma nova lógica, isto é, que os temas comuns unidade aos conhecimentos ministrados e produzidos
área de paisagismo, e um ou dois professores para as durante o período em que vigorou, foram realizadas às disciplinas da mesma série (interdisciplinaridade ho- pelo Curso numa dinâmica de síntese dialética” (FAAC-
áreas de edificações e urbanismo, alternadamente. inúmeras experimentações bem sucedidas na prática rizontal) e a progressão de escalas de intervenção para -UNESP, 2012, p. 9).
Mantinha-se, dessa forma, uma relação de doze a treze do ensino do ofício do arquiteto, principalmente após os TPIs ao longo das séries (denominada interdisciplina-
alunos por professor para o ensino da cadeira projetual a estabilização do número de quatro professores em ridade vertical) não distanciasse o TPI, mas ao contrário, Almejava-se uma realização interdisciplinar do
para turmas ingressantes de quarenta e cinco alunos, sala de aula, e da agregação entre si, por afinidades o aproximasse das demais disciplinas. A centralidade processo de criação do projeto de arquitetura, de
como ocorre até hoje. conceituais e metodológicas. O ensino conjugado, pretendida pela interdisciplinaridade na proposta an- urbanismo e de paisagismo, cuja interseção dos
A reforma curricular realizada em 1998 teve por fina- entrelaçado, e confluente do projeto realizado em suas terior não ocorreu, resultando em seu lugar uma grade conhecimentos axiais se tornaria evidente e fundamento
lidade prover um ajustamento às recentes alterações escalas e especificidades nos campos da arquitetura, curricular composta por um amontoado de disciplinas da construção da complexidade projetual. Baseava-
legais, à reorganização das disciplinas e conteúdos do urbanismo e do paisagismo mostrou-se, ao longo isoladas umas das outras. Os TPIs se tornaram um gru- se dessa forma, a nova proposta, na centralidade da
minimizando as sobreposições, criando ou fundindo dos anos, uma possibilidade real e efetiva do exercício po de disciplinas isolado dos demais e hierarquicamen- prática projetual realizada na confluência dialética
conhecimentos, e à redução da carga horária geral do reflexivo da ação projetual, cujos frutos sobressaiam te superior a elas” (FAAC-UNESP, 2012, p. 8-9). entre os conhecimentos disciplinares – centralidade
curso. Contudo, no início, a implantação e a operacio- na visão integral da prática arquitetural que os alunos e interdisciplinaridade. A centralidade, nesse caso,
nalização do conjunto disciplinar integrado de projeto, ingressados no quinto ano apresentavam. Assim, no processo de revisão crítica do projeto da ação prática e reflexiva do projeto, se efetivaria no
TPI’s, nem sempre foi harmônica e tranquila, seja pela Contudo, houve um desgaste gradual dessa fórmula. pedagógico de 1998, sobressaiu a necessidade de processo de experimentação, uma lógica de construção
quantidade de professores em sala de aula, ou por dis- O curso era formado por disciplinas anuais, sendo es- viabilizar a inter-relação entre as disciplinas de forma empírica do conhecimento fundamentada nos
tintas concepções de ensino que permeavam o corpo truturado sobre o conjunto disciplinar de projeto, con- horizontal, garantir a construção das complexidades diversificados métodos da produção do conhecimento,
docente. Os conflitos inevitáveis e fundamentais para figurando os TPI’s de I a IV, correspondentes aos quatro de forma vertical e minimizar a supremacia do eixo sejam eles, cartesiano, determinista, dialético,
a compreensão da complexidade do modus operandi primeiros anos do curso e o Trabalho Final de Graduação projetual. Era preciso quebrar esta relação hierárquica hermenêutico, fenomenológico, etc., possibilitados e
da arquitetura apresentavam difícil trato em sala de no último ano. Havia uma definição de conteúdo temá- da superioridade do eixo projetual sobre as demais corroborados pelas trocas disciplinares. A esse espaço
aula e, quase sempre, desavenças. Assim, em 2002, tico para cada ano que seguia uma ordem crescente de disciplinas, tratadas então de modo assessório, de confluências, câmbios e síntese deu-se o nome de
realizou-se o 2° Fórum de Debates² sobre o ensino da escalas de intervenção a partir do lote, no primeiro ano, como único mote possível para promover a equidade laboratório de projeto, ou Laboratório de Arquitetura,
arquitetura e, nos anos seguintes, desencadeou-se ou- a rua, no segundo, a cidade, no terceiro, e a região, no de conhecimentos disciplinares na construção da Urbanismo e Paisagismo – LAUP.
tro processo de questionamentos pedagógicos, entre quarto ano. Uma divisão didática que implicava numa complexidade do projeto, ou melhor, do processo A grade curricular proposta, então, baseava-se na
alunos e professores, até a formação de uma Comissão restrição conceitual e metodológica, e gerou conflitos projetual. Assim se justificou esta revisão: interseção entre eixos de conhecimentos específicos
de Reformulação Curricular, em 2008, constituída por em sua aplicabilidade. Ao mesmo tempo em que o Tra- como forma de se promover a interdisciplinaridade do
docentes e discentes. A proposta para o novo Projeto balho Projetual Integrado (TPI) fechava-se enquanto “O propósito deste projeto de Reformulação Curricular é projeto. Os eixos disciplinares estão presentes em todos
Político e Pedagógico do curso representava assim, um “espinha dorsal” do curso e isolava-se frente às demais aprimorar o entendimento de interdisciplinaridade, am- os períodos de estruturação do curso, agora definido

2
O 1° Fórum de Debates sobre o ensino da arquitetura havia se realizado 3
Resolução CES/CNE/ME Nº 6, de 2 de fevereiro de 2006, e Resolução CON-
em 1997. FEA Nº 1010, de 22 de agosto de 2005.
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de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

por semestres enquanto antes eram anuais, compon- analítico das especificidades, e o laboratório de Desse modo, o laboratório enquanto prática de ensino importância na configuração de uma ação criativa
do cada semestre um plano de corte cuja interseção projeto, local de experimentação, embates reflexivos do projeto torna possível a confluência da análise propositiva, fundamentada na síntese da totalidade
se realiza no laboratório de projeto que representa o e de construção de sínteses, pelos alunos, na práxis científica especializada e a vivência do cotidiano social, possível, possui um amplo espectro ideológico que vem
intercâmbio entre eixos, disciplinas e conhecimentos, projetual. Desse modo, quem se torna o responsável quando a universidade lança-se à comunidade, não como desde Giambattista Vico (1668–1744), no século XVIII, a
conforme o seguinte esquema: pela articulação das sínteses propositivas é o aluno e poderosa detentora do saber formal, mas encarnando Gaston Bachelard (1884-1962), no século XX, e Edgard
não os professores. Ao professor cabe, neste caso, o o espaço dialético e dialógico por excelência, de Morin (1921), até os princípios do nosso século.
papel indutor da construção da problemática complexa confluências e embates, de conhecimentos concretos e Entretanto, decorridos quase nove anos do início
do projeto, pelo aluno. sensíveis, científicos e práticos, ordenados e dispersos da implantação desse atual projeto pedagógico4, é
Contudo, o meio acadêmico é diverso, em suas – o laboratório como lugar metafórico da realização possível afirmar que este processo interdisciplinar
práticas e concepções, e assim, tal formulação do das sínteses propositivas do projeto. De algum modo, ainda não se realizou em sua plenitude. Previa-se uma
ensino do projeto permite o intercurso de diversificadas essa proposta aposta na ideia da contradição como articulação entre as disciplinas, não somente sobre
fontes epistemológicas, por mais dialética que seja sua elemento indutivo do processo criativo, pois realiza- a racionalização de trabalhos e exercícios cobrados
fundamentação. Há, inevitavelmente, o embate entre se em dois níveis distintos: o da separação analítica do para as avaliações, mas notadamente, uma associação
as interpretações do cotidiano social e as formulações conhecimento, e o da síntese agregadora de distintos temática entre todas as disciplinas componentes do
científicas dessas representações. Ou como diz o pontos de vista, sobre o objeto e sobre a realidade. A semestre nos quatro eixos de conhecimento, na qual
educador francês, Edgard Morin, a complexidade da essa multiplicidade interpretativa da realidade é o que todas elas tivessem participação efetiva no laboratório
“vida cultural comum”: se entende pela construção das complexidades do de projeto, que ainda não se implementou. Diz o projeto
objeto, que define a graduação temática entre os níveis pedagógico:
“Penso que, em todas as culturas, o conhecimento coti- de formação do arquiteto.
diano é uma mistura singular de percepções sensoriais “A Unidade a ser conquistada pelo LAUP, expressa
e de construções ideo-culturais, de racionalidades e de “Para compreender na sua fecundidade genérica o pelo exercício projetual do aluno, dependerá,
racionalizações, de intuições verdadeiras e falsas, de in- paradigma da complexidade na sua matriz cultural como mencionado anteriormente, dos conteúdos
duções justificadas e errôneas, de silogismos e de para- contemporânea, importa, creio, restituir-lhe as raízes programáticos das disciplinas das áreas de Teoria e
Figura 1: esquema de interseção dos eixos disciplinares propostos
logismos, de ideias recebidas e de ideias inventadas, de nas nossas culturas e enriquecer-nos com a espantosa História, Tecnologia e Meios de Expressão. O objetivo
saberes profundos, de sabedorias ancestrais de fontes experiência cognitiva que se forma e se transforma no é integrar todas essas disciplinas em torno deste eixo
Os quatro eixos consubstanciam os conhecimentos misteriosas e de superstições infundadas, de crenças cadinho da aventura humana que é também aventura do central, o LAUP. O Conselho de Curso (CC) deverá, a
das áreas de Tecnologia, de Linguagem, de Fundamentos inculcadas e de opiniões pessoais. Ele é, com frequên- conhecimento humano” (LE MOIGNE, 2007, p. 118). todo final ou início do semestre, realizar reuniões com
Sociais e Teóricos, e de Teorias da Arquitetura, do cia, bastante limitado em relação aos conhecimentos todas as disciplinas da série juntamente com o LAUP
Urbanismo e do Paisagismo, sendo o laboratório (LAUP) científicos, mas estes são, com frequência, muito limi- Os laboratórios, nessa concepção, apresentam-se do próximo período para planejar a relação “LAUP –
o espaço da experimentação projetual entendida tados em relação a esse conhecimento vulgar ingênuo. distintamente temáticos conforme os variados níveis disciplinas”. O LAUP proporciona a síntese dialética
enquanto a construção da complexidade problemática e De qualquer maneira, o leitor verá, não estou do lado dos de construção da complexidade do objeto, ou seja, da das disciplinas da série, portanto, uma sintonia entre
da síntese propositiva. Organizou-se a grade horizontal escribas e dos fariseus, do lado dos preciosistas e Dia- complexidade epistemológica do objeto de estudo, todos precisará ser acordada politicamente. Deve
a cada semestre incorporando-se disciplinas de todos foirus, do lado dos que, por função e profissão, creem ser não somente o seu teor programático, ou sua escala ser verificada a consonância dos conteúdos de cada
os quatro eixos, responsáveis pelo desenvolvimento detentores das Luzes” (MORIN, 2001, p. 12). de interveniência, mas principalmente o grau de disciplina em relação aos temas e escalas dos LAUPs,
conhecimentos agregados ao processo de formulação sendo programada a participação de docentes que
4
Além da revisão conceitual e pedagógica, o atual Projeto Político Pedagógico promoveu ajustes à legislação vigente à época como: o acréscimo do Estágio
do problema objetual – a construção da complexidade não façam parte da equipe de professores do LAUP
Curricular Supervisionado e dos conteúdos de História da Arte e Estudos Ambientais (presentes na Resolução ME/CNE/CES Nº 6, de 2 de fevereiro de 2006 que da pergunta que se faz à realidade, à qual se pretende nos ateliês para assessorias quando for necessário.
Institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de graduação em Arquitetura e Urbanismo, Resolução N° 2, de 17 de junho de 2010 da Câmara de Edu-
cação Superior e do Conselho Nacional de Educação - ME/CNE/CES, Lei Federal 11.788 de 2008 de Estágio), da disciplina de Arquitetura de Interiores (cujo con-
intervir criativamente. O entendimento fecundo da Caberá ao Conselho de Curso administrar esta nova
teúdo é exigido pela Resolução CONFEA Nº 1.010, de 22 de agosto de 2005, que regulamenta as atribuições profissionais do Arquiteto e Urbanista), dos conteúdos definição de complexidade no ambiente projetual da lógica, caso contrário, a conversa interdisciplinar
curriculares de Planejamento Urbano e Regional e Canteiro Experimental; a inclusão da disciplina de Metodologia Científica; e das Atividades Complementares
(constantes na Resolução N° 2, de 17 de junho de 2010 da Câmara de Educação Superior e do Conselho Nacional de Educação - ME/CNE/CES), a articulação dos
arquitetura, do urbanismo e do paisagismo e de sua horizontal da série por si não ocorrerá. Apesar do
cursos de Arquitetura e Urbanismo da UNESP e o programa de intercâmbio de alunos de graduação (Resolução UNESP N° 18, de 30 de março de 2010), adequação
do regulamento do Trabalho Final de Graduação às exigências da Resolução N° 2, de 17 de junho de 2010 da Câmara de Educação Superior e do Conselho Nacional
de Educação - ME/CNE/CES e o regulamento do Conselho de Curso conforme Resolução da UNESP N° 21 de 5 de maio de 2011.
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Laboratório de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo BACHELARD, Gaston. A formação do espírito científico.


ser a síntese das disciplinas das áreas que compõem Contribuição para uma psicanálise do conhecimento. Rio de
o Curso, ele possui uma dinâmica interna própria, Janeiro: Contraponto Editora Ltda., 1996.
expressa pelas tendências ideológicas e teóricas dos VICO, Giambattista. Princípios de uma Ciência Nova.
docentes responsáveis pelos Laboratórios, por exemplo, Coleção os Pensadores. São Paulo: Abril Cultural Editora,
a tendência a dar maior ênfase a aspectos de Conforto 1979.
Ambiental, ou de Sustentabilidade, ou de Políticas BERNARDI, Cristiane Kröhling Pinheiro Borges. Luiz
Públicas, ou de Poéticas, ou de Técnicas de Urbanismo Gastão de Castro Lima: trajetória e obra de um arquiteto.
ou de Paisagismo, utilizando assim, diferentes métodos Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo), Escola de
para os processos de criação no Ateliê” (FAAC-UNESP, Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São
2012, p.49). Carlos/SP, 2008.
FAAC-UNESP. Projeto Político Pedagógico do Curso de Ar-
O tempo de experimentação deste novo currículo já quitetura e Urbanismo da FAAC-UNESP, 1994.
permitiu o início de novo processo de revisão crítica. FAAC-UNESP. Projeto Político Pedagógico do Curso de Ar-
Em 2018 realizou-se o 3º Fórum de Debates sobre quitetura e Urbanismo da FAAC-UNESP, 2012.
o ensino da arquitetura e do urbanismo, da FAAC-
UNESP, onde evidenciou-se a necessidade e urgência
de envidar esforços para garantir e realização da
interdisciplinaridade idealizada e, porventura, galgar Anexo
mais alguns degraus no aprimoramento de uma
proposta pedagógica que se iniciou em 1994, enquanto Diagramas de apresentação da grade curricular do
revisão de um processo anterior de entendimento do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de
ensino da arquitetura derivado dos modernistas da Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo da Universidade
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual Paulista, em vigor desde 2012:
de São Paulo e que assumiu contornos distintos e
característicos no curso de Arquitetura e Urbanismo
da Universidade Estadual Paulista, de Bauru. Não é
possível concluir este texto revisionista sem recordar
e homenagear à educadora Adriana Josefa Ferreira
Chaves (1935-2010), nossa colega unespiana, que
conferiu a estrutura e o apoio técnico necessários à
realização do Projeto Político Pedagógico de 2012.

Referências bibliográficas
MORIN, Edgard. O Método. 4. As ideias: habitat, vida, costu-
mes, organização. Porto Alegre: Editora Sulina, 2001.
LE MOIGNE, Jean-Louis. Inteligência da Complexidade.
Sísifo / Revista de Ciências da Educação, nº 4, out/dez 2007,
pp.117-128.

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A CIDADE E O TERRITÓRIO
COMO LABORATÓRIO:

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ENTRE DIDÁTICA E PESQUISA APLICADA
PARTE
LABORATÓRIO DE ARQUITETURA
URBANISMO E PAISAGISMO - IV
EQUIPAMENTOS COLETIVOS
DE MÉDIA COMPLEXIDADE
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A Escola, a Rua e a Paisagem pensando-a como equipamento de uso da comunidade,


que dialoga com a comunidade em que está inserida,
paisagem e de seu desenvolvimento para melhoria da
qualidade de vida da população. Portanto, pesquisa
urbana e territorial novas categorias de análise e pro-
jeto. Aprofundando nas relações entre o espaço “natu-
Como Lugares da Prática interpretando a cultura local e as diferenças de identi- e projeto desenvolvem-se no sentido propositivo da ral” e o “construído” se transformam no fundamento do
do Projeto e Exercício de dades de seus alunos. cidade, priorizando o equilíbrio entre espaço livre e
espaço construído.
projeto da paisagem, de maneira mais ampla.
Como ponto de partida, colocamos como questão
Cidadania 1. Introdução Para entender o papel do projeto na concepção do indutara as seguinte orientações: Quais são as
espaço é importante identificar uma tendência deste relações funcionais e estruturais entre os elementos
Kelly Cristina Magalhães 1. A análise da paisagem como exercício de projeto como determinação histórica, para isto é preciso que compõem a paisagem? Sendo assim, busca-se
partir do papel da transformação empregada sobre os identificar as inter-relações entre os elementos que
Apreender, interpretar e intervir são categorias de objetos (naturais e artificiais), bem como nos sentido compõem a paisagem optando por interpretá-los à luz
ação do projeto da paisagem. Por paisagem entendemos da compreensão dos produtos intelectuais que eles da Ecologia da Paisagem para compreender a relação
como sendo o conjunto de objetos que fazem parte do geram (plano e projeto). Assim compreendemos a entre os processos naturais e antrópicos prevendo os
Resumo repertório do observador, portanto uma história que formalização da paisagem na cidade tal como se impactos nos futuros projetos. Nesta etapa, opta-se
deixa marcas dessa cultura é também uma história da transforma submetida à ação de quem a dirige de fato pelo reconhecimento e mapeamento dos atributos
Apresentamos o escopo teórico de exercício projetu- paisagem, quer seja pelo conhecimento de sua história e da ação da cultura oficial que ali pode ser observada. da paisagem. São identificados os componentes
al, no âmbito da disciplina Laboratório de arquitetura, ambiental somando-se o tempo natural (ou geológico), Como primeira aproximação com a análise da que formam a paisagem, suas definições e relações,
urbanismo, paisagismo - LAUP IV, que solicita “o projeto como também pelo seu tempo social ou cultural. paisagem, toma-se os termos projeto e paisagem. Por possibilitando assim o conhecimento dos processos
de equipamentos coletivos de média complexidade”, A análise da paisagem nos permite então entender o projeto, em Heidegger (1995), está combinado ao projeto urbanos e naturais.
incluindo concepções do projeto a partir da abordagem contínuo movimento do homem sobre a terra. Em opo- uma intenção mais fortemente, na medida em que são Todos os estudos estão baseados no inventário de
crítica das inter-relações entre arquitetura, urbanismo sição, encontra-se a consagração da cidade como for- as duas manifestações preferenciais da consciência elementos físicos (naturais: geomorfologia, formação
e paisagismo, na perspectiva do novo ordenamento ma de manifestação do controle e domínio da natureza do que se quer atingir. Para Heidegger, o projeto é a geológica, etc., e aqueles resultantes da intervenção
da paisagem. O principal desafio do projeto é criar um e ícone da ânsia moderna de renovação das técnicas revelação de estar no mundo, ele reflete a capacidade humana) como primeira aproximação aos problemas
programa complexo para a rua, em escala local, para de modificação do espaço. Apoiar-se no estudo da pai- do destino do homem que se sente ameaçado pelo que serão enfrentados pelo projeto e, não menos im-
dotá-la de novos significados, sendo assim, ela deixa sagem implica considerar que os objetos sobre o meio anonimato, pelas condições que lhe foram impostas. portantes, mas sobretudo o destaque dado aos ele-
ser o lugar exclusivo do carro e passa a acumular duas físico também estão em constante transformação. As- A “preocupação” reflete essa inquietação contínua mentos biológicos da paisagem pode ser considerada a
ou três funções. Propõe-se como desenho alternativo sim, a partir de um novo olhar sobre o par cidade-natu- para não se sujeitar ao descontrole e optar pela grande contribuição de McHarg (1969, p. 88).
elementos que garantam maior conforto no tráfego de reza poderá render às ciências urbanas uma nova ética manutenção do projeto. O projeto permite que o Os levantamentos começam pela formação geológica,
pedestres e obviamente o dos carros. Ela então será e uma nova maneira de se pensar a paisagem. homem passe a revelar e compreender a existência, como base das transformações do pleistoceno,
concebida a partir da compreensão de sua inserção na O procedimento analítico-projetual permite a assim “entendimento significa projetar visando uma estudando depois as condições meteorológicas, o
paisagem, e deve funcionar como corredor ecológico interpretação da relação paisagem natural e paisagem possibilidade” (MAGALHÃES, 2016, p. 46). que permitia uma reinterpretação das condições
ligando a sua estrutura funcional aos fragmentos de construída, para que se verifique no contexto da Em segundo momento, os termos paisagem e o pai- hidrológicas subterrâneas, assim como a descrição
floresta circunvizinhos à área de projeto, mas é tam- cidade, quais os elementos mais marcantes de sua sagismo também são colocados lado a lado. Entenden- física de sua geografia; estudava-se depois a hidrologia
bém espaço de lazer, circulação de carros e pedestre paisagem urbana e territorial para a constatação do que o paisagismo, como prática, é o instrumentos de superfície, os solos, a vegetação e a vida” (MCHARG,
e espaço para técnica compensatórias de drenagem. das descontinuidades de tecido e formas urbanas pelo qual o projeto da paisagem deverá se efetivar. Na op. cit.).
Assim também é a porta de acesso à escola, edifício de resistentes que definem características morfológicas prática recente, o paisagismo vem ampliando o seu Todas essas informações são organizadas em cartas
médio porte que deve se articular as escalas do espa- importantes da cidade, a ocupação de suas áreas campo de ação, tradicionalmente ligado ao desenho de que vão contribuir para a fase denominada diagnóstico
ço público, a cidade e o território, inserindo-se na pai- de bordas da cidade. Assim também, avaliar a jardins (públicos e privados). Deixando de ser conside- ou de interpretação dos dados. O diagnóstico é a fase
sagem. Quanto ao projeto da escola, prima-se por um potencialidade e definir valores aos espaços livres rado como mera ação que visa a complementar a ar- onde os dados obtidos serão analisados e relacionados
exercício de projeto abordando possibilidades de in- (vazios urbanos) através da indicação de projetos quitetura, passando a envolver um universo de campos com uma série de usos possíveis, quando então, na
terpretar a proposta Freireana de uma “Escola cidadã”, de paisagismo para o adequado planejamento da disciplinares mais complexo e atribuindo à dimensão próxima etapa, define-se qual é a aptidão do ambiente a

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esses usos. Esses usos são selecionados isoladamente encontrando em categorias aparentemente obsoletas, exatamente viver no espaço físico da cidade. Pode-se bordas. Assim também, avaliar a potencialidade e defi-
assim como se considera a possibilidade que certas como organicismo, o holismo, culturalismo, novas dizer que a inserção no espaço virtual e a informatização nir valores aos espaços livres (vazios urbanos) através
zonas apresentem usos múltiplos coexistentes. Nos formas de legitimidade da ação. A força da paisagem das relações coincidem com a proliferação dos da indicação de projetos de paisagismo para o adequa-
exemplos mostrados por McHarg, na escala regional os é a capacidade de gerenciar esses elementos. Dentro chamados não-lugares, ou seja, espaços que levam de do planejamento da paisagem e de seu desenvolvimen-
usos definidos são: agricultura, recreação, silvicultura e da paisagem cada um encontra o seu lugar” (SAMPIERI, um lugar a outro, relacionados com o transporte rápido, to para melhoria da qualidade de vida da população.
urbanização; e na escala urbana os usos selecionados 2008, p. 58). o consumo e o lazer. Portanto, pesquisa e projeto desenvolvem-se no senti-
são: recreação, urbanização e conservação, onde, nas Descrever é reconhecer as particularidades do A produção de conhecimento a partir da paisagem do propositivo da cidade, priorizando o equilíbrio entre
palavras de McHarg “o caráter integrador é o traço território; é proceder à análise do sítio, da situação, urbana é individual; mas sugerida pelos sentimentos, espaço livre e espaço construído.
primordial da metodologia do planejamento proposto visando observar sua constante mutação provocada memórias, experiências e informações que são, em ge- Parte-se da confecção e da posterior análise das
por ele”. pelos grupos humanos, como se deslocam e se fixam, ral, coletivas. Não somente a imagem, mas também os Cartas Temáticas, para que de sua sobreposição
Atualmente, os trabalhos desenvolvidos por McHarg considerando esta como base e orientação fundante da usos e as possíveis interpretações é que fazem a histó- tenha-se como resultado a destinação do potencial
apresentam um avanço pelo aparecimento de recur- Geografia. ria, devemos levar em consideração que ao apreender de ocupação do uso do solo urbano. Considerando
sos que se utilizam sistemas de dados georreferencia- Descrever consiste em reconstruir o objeto ex-novo com o olhar a paisagem, o homem encontra na cidade que as áreas sujeitas a erosão, compreendem grande
dos, bem como a possibilidade de aproximação com as (desde o começo) depois de tê-lo desconstruído por a paisagem; assim a forma como ele sente e percebe extensão da área urbana da bacia do rio Bauru, estas
transformações da paisagem pelo aporte de análise de meio de análises descritivas. A descrição é o lugar de esses ambientes, e como a vida urbana se configura a características tem causado em toda a sua extensão
fotos de satélite. Os SIGs (Sistema de informação Geor- conversão entre o real bruto – lá, dentro da natureza - e partir disso é também história. a obstrução cursos d’água, redução da capacidade de
referenciados) deram lugar às estabilidade das cartas o projeto, que resta por longo tempo um ser puramente O principal desafio do projeto é criar um programa armazenamento, qualidade da água, alteração ecológica
temáticas desenvolvida por McHarg e permitiram o ar- mental. (CORBOZ, 2001, p. 56). complexo para a rua, em escala local, para dotá-la de do meio aquático, modificações estrutura do solo.
mazenamento, atualização e análise de dados, assim Surgem aí as diversas iniciativas da busca de uma novos significados, sendo assim, ela deixa ser o lugar Assim, o levantamento topográfico, para classificação
como a geração de novas informações pelo cruzamen- adequada gestão da paisagem, mais especificamente, exclusivo do carro e passa a acumular duas ou três fun- das diversas áreas em função da declividade, bem
to entre dados espaciais e não espaciais ou entre da- porque nos últimos anos, frente às rápidas transforma- ções. Propõe-se como desenho alternativo elementos como o seu potencial de uso foi finalizado definindo-se
dos espaciais e espaciais (sobreposição de polígonos). ções urbanas a paisagem ficou à mercê dos interesses que garantam maior conforto no tráfego de pedestres a capacidade de suporte do solo para que se garanta
Além disto, esta forma de armazenar dados também do capital. Considerando a urgência de que a gestão da e obviamente o dos carros. Ela então será concebida a a diminuição, em todo a extensão territorial, o do
cria a possibilidade de rápida visualização tridimen- paisagem possa integrar as políticas públicas urbanas, partir da compreensão de sua inserção na paisagem, e volume de escoamento superficial de água pluvial, o
sional do território e a tomada de decisão mais efetiva um importante desafio e contribuição que pretende deve funcionar como corredor ecológico ligando a sua incremento da cobertura vegetal protetora do solo, já
(MAGALHÃES, 2016, p. 54). esta discussão, é o de propor uma possibilidade me- estrutura funcional aos fragmentos de floresta circun- exposto; a menor exposição do subsolo e de formações
todológica para seu estudo, interpretação e avaliação vizinhos à área de projeto, mas é também espaço de geológicas menos permeáveis, o aumento da absorção
2. Reconhecer e mapear atributos da como projeto na paisagem. lazer, circulação de carros e pedestre e espaço para da água, aumento das áreas de drenagem devido as
paisagem. Como é possível descrever a técnica compensatórias de drenagem. Assim também áreas construídas, utilizando-se como parâmetro os
paisagem? análise das cartas 3. O projeto: A rua como é a porta de acesso à escola, edifício de médio porte quintas, hortas e outras manifestações culturais do
corredor ecológico que deve se articular as escalas do espaço público, a verde nesta área, e assim, garante-se o equilíbrio do
Embora a paisagem seja sempre difícil de descrever, cidade e o território, inserindo-se na paisagem. regime de água subterrânea, o que afeta o sistema
é ela uma entidade que desafia uma definição única, de Atualmente, as grandes cidades são cada vez mais O procedimento analítico-projetual permite a in- de drenagem, e portanto a alteração do sistema de
força polissêmica, inúmeros profissionais, acadêmicos habitadas por uma população chamada “flutuante”, terpretação da relação paisagem natural e paisagem drenagem e macro drenagem como um todo.
ou não, tem reunido esforços para apreender, que inclui turistas, homens de negócio, pedestres, construída, para que se verifique no contexto da cida- Para a análise da Carta da Componentes da
interpretá-la e orientar o vigora para um projeto da etc, transformando assim a paisagem urbana em um de em questão, quais os elementos mais marcantes de topografia, objetivou-se na identificação dos sistemas
paisagem que prese pelo equilíbrio ambiental, muitas espaço de passagem e fazendo entrar em crise a ideia sua paisagem urbana e territorial para a constatação de drenagem observando os caminhos naturais de
vezes produzindo híbrido transdisciplinar. A paisagem de “cidade como forma específica de relação entre das descontinuidades de tecido e formas urbanas re- escoamento e o efeito das áreas adjacentes sobre a
torna-se o instrumento através do qual podemos território e sociedade”. A população e as atividades se sistentes que definem características morfológicas região de estudo, a determinação das características
abordar a complexidade da cidade contemporânea, articulam de forma que ser urbano não significa mais importantes da cidade, a ocupação de suas áreas de de solo identificando áreas críticas e a identificação

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de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

da vegetação natural do lugar e da paisagem cultural. componentes da topografia e da declividade). Também 4. Considerações finais: A escola cidadã da comunidade, formalizando assim uma formação
Como forma de abordagem para intervenção na conta-se com a Carta de vegetação e a de Conflitos como acesso ao projeto da paisagem cidadã, “coerente com a liberdade, coerente com o
paisagem, foi escolhida a metodologia de Carl Steinitz, de escoamento de água pluvial. Posteriormente, são seu discurso libertador”. Sendo então a escola de
“por ter uma base ecológica e de sintetizar os problemas identificadas as características dos sistemas que A proposta projetual consiste em aproximar os termos comunidade. A escola deve apropriar-se da estética,
para posteriormente aplicar o conhecimento recolhido compõe a paisagem e os elementos com potencial paisagem e participação, tendo como foco principal da cultura e das infraestruturas presentes no seu
nas mudanças efetuadas”. de descrição da paisagem estudada. Considerando os grupos sociais que estão em constantes deslocamentos entorno. De preferência possibilitar o uso do espaço
processos naturais e antrópicos (dinâmicos e estáticos), na cidade. Criar condições para a construção junto das até mesmo fora do horário de funcionamento. A escola
Para Vieira (2012, p. 16) acentua-se a caracterização da área tomando os comunidades de um Laboratório da Paisagem e que a como um lugar que possibilita a experimentação, tanto
recursos metodológico, a fim de reconhecer e mapear escola se coloque como equipamento que identifica o nos aspectos táteis, quanto na união do lúdico com o
De uma forma geral a abordagem de Carl Steinitz é, para os elementos da paisagem; organizar e coletar lugar em que a comunidade está. científico.
mim, a mais completa e equilibrada. Comparando com informações especiais da área de estudos. Entre Como princípio, deve-se identificar as formas física
as metodologias de Ian McHarg, Patrick Geddes e John outros aspectos, a elevação da topografia, tipos de de sua estrutura e como a comunidade as observa, para 5. Referências bibliográficas
Tillman Lyle, já abordadas no anterior capitulo, a sua solo, vegetação, hidrologia, sistema viário, uso da terra então entender seu processo de transformação, assim
metodologia vem de algum modo simplificar o méto- privada e pública possibilitam o estudo baseando no como, alçar um profundo conhecimento sobre aspectos ANDRADE, Carlos Roberto Monteiro de. Pensamentos
do. Carl Steinitz foi mais à frente que os outros, tendo conhecimento dos processos sociais e ecológicos. fundantes dos elementos de composição da paisagem, Nômades. Artigo publicado em janeiro/2007, revista
também como base a teoria ecológica, não ficou apenas Como a paisagem funciona? Quais são as relações analisado dentro do mosaico, para que se estabeleçam eletrônica Linguagens 04. Disponível em: www.linguagens.
pela teoria, defendendo que só através dela é possível funcionais e estruturais entre estes elementos? A novas formas de intervir na paisagem. Posteriormente ato.br. Acesso em: Abril de 2007.
partir para o Design. identificação dos pontos de erosão será fundamental. encontrar suas potencialidades e conflitos para então ANDREATTA, M. D. Engenho São Jorge dos Erasmos:
Nesta etapa são identificados os componentes que gerar hipóteses de projeto criando oportunidades de prospecção arqueológica, histórica e industrial. Revista USP,
Em essência a metodologia de Steintiz é composta formam a paisagem, suas definições e relações, construir ferramentas de um novo projeto, o projeto de n. 41, p. 28-47, março/maio 1999.
de perguntas para a pasiagem que são respondidas possibilitando assim o conhecimento dos processos paisagem junto da comunidade. ANELLI, Renato. Centros Educacionais Unificados:
ao utilizar as cartas. Entre elas estão o roteiro de naturais e humanos em conflitos. O reconhecimento da paisagem vivida por arquitetura e educação em São Paulo. Portal Vitruvius, n.
perguntas abaixo apresentado: A paisagem está funcionando bem? Qual a potencial comunidades que estão em constantes deslocamentos 55.02, Dez. 2004. Disponível em Acesso em: fev. 2009.
paisagístico da área? Surge neste questionamento a na cidade é o que se pretende confrontar com as BASTOS, Maria Alice Junqueira. Escola-parque: ou o sonho
1. REPRESENTAÇÃO - Como deve ser a paisagem ser necessidade do estabelecimento de instrumentos de formas de relato da paisagem por esses grupos. Como de uma educação completa (em edifícios modernos). Rev.
descrita em termos de conteúdo, limites, espaço e avaliação: beleza, diversidade do habitat, custo, fluxo resultados ideais da atividade do pesquisador, almeja- AU Arquitetura e Urbanismo, ed. 178, Jan. 2009, p. 42-45.
tempo? e qualidade dos nutrientes e saúde . Outro aspecto é se que ao se afastar restará a possibilidade da presença BIDEGAIN, Paulo (2003). O Futuro da ANA. Disponível em:
2. PROCESSOS - Quais os mais importantes processos analisar quais os projetos já foram realizados nesta de uma “uma linguagem física decodificável no seu www.mailarchive.
naturais em causa? Como estão ligados entre si? área que dão qualidade ao espaço. dia-a-dia” (PEREIRA, 2006, p. 88). BOUCINHAS, Caio; LIMA, Catharina Pinheiro C. S. Parque
3. AVALIAÇÃO - A área é vista como atractiva? Porquê, A perda de referenciais geográficos e históricos Quanto ao projeto da Escola ao invés de pátios pensar Pinheirinho d’Água: a luta por reconhecimento e visibilidade.
ou porque não? Os processos estão a funcionar bem? tornou-se uma constante nas cidades e em especial em praças coletivas e praças individuais, em variadas In: Pós. Revista do Programa de Pós Graduação em
4. MUDANÇA - Que mudanças ocorrerão na paisagem nos assentamentos de baixa qualidade e desprovidos escalas. Sendo assim, o pátio escolar deve funcionar Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, v. 20, número 33. São
actual? E como é que isso pode ser alterado se for de políticas públicas que qualificam esses ambientes. por seu caráter pedagógico e funcionar estabelecendo Paulo, 2013. p. 11-34.
implementado o novo design? Acredita-se, assim, que somente quando os valores novos níveis de interação entre a prática pedagógica, BOUCINHAS, Caio. Projeto Participativo na Produção do
5. IMPACTO - Quais as diferenças que o novo design sociais e culturais bem como os processos naturais seguida pela instituição, e a comunidade. Portanto, o Espaço Público. São Paulo, Tese de Doutoramento, Faculdade
trará? são reconhecidos, é possível estabelecer as prioridades projeto da escola deverá partir das necessidades da de Arquitetura e Urbanismo da USP, 2005. com/ambiental@
6. DECISÃO - O novo design corresponde ao programa? e resolver ou conciliar os conflitos. Acreditamos que o comunidade em que a área está inserida. grupos.com.br/msg00479.html. Acesso em: Junho de 2007.
projeto da paisagem se torna a medida de reequilíbrio Propõe-se uma aproximação com a Pedagogia BUFFA, Ester, PINTO, Gelson de Almeida. Arquitetura e
Como a paisagem pode ser descrita no contexto? da paisagem através de uma nova articulação desta Freireana que considera que a escola de assumir o Educação: organização do Espaço e Propostas Pedagógicas
A Carta de de relevo dada pela representação das com a comunidade. papel de ser o um centro de direitos e de deveres junto dos Grupos Escolares Paulistas (1893 – 1917). São Carlos:

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de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

Brasília: EdUFSCar, INEP, 2002. 85-7983-990-0. 08 a 10 de novembro de 2004


CORBUCCI, Eliana - Artigo elaborado a partir da dissertação MAGALHÃES, Manuela. Arquitectura Paisagística. Morfolo- SOUZA, C. R. de G., A Importância da Geomorfologia no Es-
de mestrado da autora: Em busca da construção do espaço gia e Complexidade. Lisboa: Editorial Estampa, 2001. tudo da Gênese de processos erosivos. In: Simpósio Nacional
público na gestão ambiental de unidades de conservação: o MANTZIARAS, Panos. Ville-Paysage. Rudolf Schwarz e de Controle de Erosão, edição, Bauru/SP, 1995. Anais.
caso do Parque Nacional do Jaú. Textos selecionados “Gestão la dissolution des villes. Metis pressis., 2008. McHARG, Ian. THIOLLENT, Michel. Pesquisa-ação nas organizações. São
Participativa em Áreas Protegidas”, 2005. Poyetar Con la Naturaleza. Barcelona: Gustavo Gilli, 2002. Paulo: Atlas,1997.
DA SILVA, M. J. D.; BARBIERI, A. C. A urbanização desordenada McHARG, Ian. Poyetar Con la Naturaleza. Barcelona: Gus- VIEIRA, Teresa Maria de Mendia. A Ecologia como Funda-
de Bauru e os problemas decorrentes dos processos tavo Gilli, 2002. mento para o Desenho da Paisagem Caso de Estudo – Parque
erosivos. In: SIMPÓSIO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO, MEYER, Regina Maria Prosperi; GROSTEIN, Marta Dora; BI- Urbano da Ribeira dos Mochos. Dissertação para obtenção
Unesp, 11, 2004, Bauru. Anais eletrônicos…Disponível em: DERMAN, Ciro. São Paulo Metrópole. São Paulo: Editora da do Grau de Mestre em Arquitectura Paisagista, https://www.
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Seminário da História da Cidade e do Urbanismo, Natal, RN, cepções da paisagem e processos participativos. São Paulo,
outubro/2000. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Arquitetura e Urba-
MAGALHÃES, K.C. Altinópolis: Por um projeto da paisagem. nismo da USP, 2005.
Tese de doutorado apresentada ao PPGEU- Programa de Pós RETTO, Adalberto. DAIBEM, Ana Maria Lombardi. Reeducar
graduação em Engenharia Urbana, UFSCar- Universidade a esperança: Aproximações entre o legado de Paulo Freire
Federal de São Carlos. 26 de agosto de 2016. e o processo de construção da cidade contemporânea.
MAGALHÃES, K.C., CASTRO, C.M. P. Arquitetura, Urbanismo 236.00 urbanismo e educação ano 20, jan. 2020 https://www.
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cas Públicas. Novos Usos na Cidade Contemporânea: Inven- SILVA, Manuel Joaquim Duarte. BARBIERI, Antônio Carlos.
tário da Terra Pública e a destinação dos Remanescentes do A urbanização desordenada de Bauru e os problemas decor-
Patrimônio Ferroviário no Estado de São Paulo. ISBN: 978- rentes dos processos erosivos. XI SIMPEP – Bauru, SP, Brasil,

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LABORATÓRIO DE ARQUITETURA
URBANISMO E PAISAGISMO - VI
REQUALIFICAÇÃO
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Laboratório de Arquitetura, industrial. Dessa forma são propostas reflexões


sobre diferentes perspectivas de consolidação desse
lo de desenvolvimento, identificando potenciais e voca-
ções para sustentar o crescimento com um adequado
Após a investigação de cada equipe, os primeiros
resultados demonstraram que a geografia ativa do
Urbanismo, Paisagismo conceito, segundo as diversas formas de se conservar e plano de ação. (RETTO JR, 2019). fundo de vale, onde está inserido o complexo ferroviário
LAUP VI Requalificação preservar: reutilização, reconversão e recuperação. Tais
conceitos embasam o debate explorando a construção Entre os elementos de crise no espaço público está
tombado, não estabelecia correlação imediata com
as áreas tangentes da cidade em uma relação de
Adalberto da Silva Retto Junior de relações de identidade e resgate de valores que o uso instrumental do conceito do termo “público” complementaridade. Ao contrário, evidenciava um total
Norma Regina Truppel Constantino permeiam o patrimônio histórico e ambiental, no para apoiar programas políticos e projetos urbanos, isolamento entre as escalas urbana e territorial que
Samir Hernandes Tenório Gomes sentido de entender a diversidade e a complexidade da defender mudanças sociais e legitimar transformações colocava no mesmo patamar analítico e funcional todos
vida cotidiana, permitindo ainda uma visão integrada espaciais. Por isso, é necessário restituir o valor os setores envolvidos inclusive o Centro da cidade. Tal
das relações entre cultura e sociedade, entre memória, ético ao projeto do espaço público, no sentido de que ocupação apresenta características morfológicas e
história e patrimônio. quaisquer gestos e ações de desenho, em todas as funcionais semelhantes, pois a noção de barreira e
escalas, devem ter consciência do papel que exercem de isolamento permeia igualmente todos os setores
1. Na área em questão, no destino pessoal e coletivo. articulados. A ação do homem, ao longo do processo de
2. Nos últimos anos e em muitos países, o território ocupação do território, vai alterando a paisagem, mas o
Resumo [...] do ponto de vista do patrimônio, o ‘abandonado’ é foi adquirindo importância crescente nas políticas rio permanece.
emblema de uma desertificação produtiva que teve de desenvolvimento sob a égide da sustentabilidade.
A disciplina “Laboratório de Arquitetura, Urbanismo, como resultado lacerações profundas no tecido social Dessa forma, o território aparece como chave de A cidade de Bauru é marcada pela presença do Rio
Paisagismo - LAUP VI: Requalificação”, ministrada e econômico - basta pensar no impacto do encerra- retorno indispensável para decifrar a condição em Bauru e de seus afluentes. Entretanto, o quadriculado
para o 3 o . ano do curso de Arquitetura da Faculdade mento do sistema ferroviário sobre o emprego e a renda que se desenvolvem as sociedades locais, assumindo contínuo da malha urbana se detém ao encontrar os
de Arquitetura, Artes e Comunicação - FAAC/ Unesp de determinadas famílias -, quando se analisa o pátio protagonismo crescente frente aos processos fundos de vale dos córregos que cortam a cidade, os
de Bauru, tem como ponto de partida a investigação ferroviário de Bauru: ao mesmo tempo, um processo de de globalização econômica, cultural e política da trilhos da ferrovia ou as rodovias, independentemente
em múltiplas escalas do Pátio Ferroviário da Cidade degradação urbana e territorial, deixando sinais de uma contemporaneidade. da topografia existente. (CONSTANTINO, 2008, p.21).
de Bauru e sua relação com a cidade. A estrutura do paisagem que se deteriora e ‘consome’ a identidade do A perspectiva delineada pela investigação, no caso
trabalho explorou três dimensões fundamentais no território. (RETTO JR, 2019). específico do LAUP VI, acolheu a ocasião para repensar Entretanto, o fato de privilegiar a investigação da
processo projetual de reinserção da área do complexo a relação entre os inúmeros bairros ou fragmentos cidade a partir dos setores, e não a partir do Pátio
ferroviário na cidade: 1- a relação entre o pátio E, o autor ainda completa, dizendo que da cidade ao longo do Pátio Ferroviário, eliminando Ferroviário, fez com que diversos questionamentos
ferroviário, tombado pelo CONDEPHAAT, e a cidade; 2- a desde o início o pensamento analítico que pensa o permitissem repensar o papel do complexo territorial
solução policêntrica para a cidade, no qual cada setor [...] sobretudo, e quase paradoxalmente, isso se verifi- planejamento da cidade de Bauru a partir do binômio em tela, em uma relação territorialmente mais ativa. Os
foi pensado de forma individualizada e em relação com ca quando a área em abandono se coloca no projeto da Centro-periferia. Esse debruçar-se sobre o sistema aspectos negativos das áreas limítrofes de urbanização
as outras áreas envolvidas; 3- a possibilidade de gerar cidade contemporânea, como recurso para o sistema urbano baseado nessa rede de relações levou a uma incompleta são acentuados por características distintas
projetos inovadores e de valor estético que acionem, econômico regional e pode, de fato, tornar-se um es- particular atenção aos eixos de ligação entre os bairros das expansões urbanas mais ou menos recentes, onde
nos novos espaços e ambientes criados, a relação paço redesenhado para novas atividades produtivas em da cidade e suas transformações. Nesse sentido, não surgiram bairros sem relação funcional e morfológica
espaço-tempo, ao explorar para cada setor modos torno das quais o território pode apostar em um futu- se tratou de analisar para planejar a expansão urbana, com a cidade existente e, portanto, privados do tecido
particularizados de regulação. ro diferente. Vista a partir dessa perspectiva proativa, a mas de conceber as áreas periféricas dentro da articulado organicamente.
área em desuso é, em certo sentido, símbolo de trans- lógica territorial. Os fatos urbanos localizados nesses Outros fatores também determinam esses aspectos
Introdução formação e regeneração do espaço urbano incentivan- nove setores deveriam evidenciar uma reconstrução negativos, por exemplo, a extensão contemporânea
do o enxerto de outras atividades, com maior conteúdo geral de valores, a partir do momento em que seus das cidades com a consequente perda da qualidade
O escopo mais amplo da disciplina Laup VI é propor de inovação e qualidade de produção. Essa perspectiva potenciais individualizados fossem reconhecidos, não arquitetônica e urbana que influencia diretamente a
a ampliação do conceito de patrimônio cultural a pressupõe que, em torno do trabalho de recuperação da como “novas centralidades”, mas como policentros qualidade da vida civil e, ainda, a questão da mobilidade
partir das ideias de arqueologia industrial e patrimônio área desocupada, o território repense seu próprio mode- formadores do sistema multifuncional territorial. urbana que, apesar de estabelecer relações (mesmo

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que precárias) entre Centro e periferia, não estabeleceu te de propostas assumidas por especialistas que en- e territoriais. A implantação de políticas que visem do a relação com os bairros lindeiros e estabelecendo
em proporções semelhantes uma relação entre essas xergam o triunfo do espaço de fluxo, em detrimento da alcançar tais objetivos pressupõe a aplicação seja uma hipótese programática para o núcleo policêntri-
áreas. Isso tudo retira do Centro seu valor histórico ressignificação estética dos lugares. de conceitos, técnicas e instrumentos novos e co a ser desenvolvido por cada equipe. Na Etapa 2 os
de cuore da cidade e cria “fragmentos urbanos”, sem O ponto culminante dessa reflexão esbarra na com- harmonizados, seja de uma análise sistêmica que grupos apresentaram a proposta projetual de inserção
identidade específica. paração entre o bairro e o urbano, entre competitivida- possibilite visualizar a complexidade das inter-relações paisagística dos referidos setores com os bairros lin-
O termo policentrismo, que se tornou o mote a em- de e coesão, que atrelou laboriosamente o esforço de entre a cidade, suas estruturas e seu território. deiros e com o complexo ferroviário, sua articulação e
basar a reflexão de todas as equipes, possui significado construção da escala local do polinúcleo à revitaliza- a decisão sobre requalificação-reutilização, recupera-
ambíguo ao longo da história urbana, pois presta-se a ção patrimonial da paisagem e à construção de equi- Objetivos e Metodologia ção-renovação ou modificação-reconversão dos equi-
usos variados e a diversas escalas geográficas, aludin- pamentos culturais e sociais na periferia deficitária. A pamentos e espaços livres.
do reequilíbrio territorial atrelado à geração de várias estratégia de aquisição de potencial construtivo, a par- A turma foi dividida em nove grupos, mesmo número A primeira categoria Requalificação–Reutilização
iniciativas. Do ponto de vista prático, esse conceito tir da noção das interdependências - presente no cerne de setores a serem trabalhados, conforme Figura 1. originou-se a partir de uma síntese coerente entre in-
possui mais nuances do que significados. A primeira do próprio conceito de policentrismo -, teria destinação tervenções pontuais e nova urbanidade, que tratou a re-
interpretação possível é o modelo espacial de equilí- direta para o fundo de patrimônio e de equipamentos elaboração cuidadosa da requalificação urbana a partir
brio entre a concentração urbana e a organização dos culturais e sociais. do redimensionamentos e retificações viárias, da recu-
bairros e partes da cidade. No segundo momento, o po- Em última análise, a forma do espaço e os efeitos peração identitária de bairros, de programas esportivos
licentrismo parece ser uma noção adaptada para sus- territoriais das iniciativas econômicas do policentrismo e culturais, recuperando a escala da vizinhança, e da-
tentar iniciativas que visam contrabalançar a estrutura dependem da resolução multiescalar ligada à ação queles que ativaram os espaços públicos, com base no
da cidade, a relação entre os bairros e o Centro, e outras local. Tal dinâmica, que trabalha o projeto como jogo conceito de cidade construída por adição e inclusão.
áreas territoriais suscetíveis de desenvolvimento signi- de escalas, exige acionar os métodos e ferramentas do A requalificação urbana é, sobretudo, um
ficativo, limítrofe ou periférico. planejamento urbanístico, da arquitetura e da paisagem instrumento para a melhoria da qualidade de vida da
Depois de analisar a relevância do modelo policêntri- como saberes constituídos. Destes, o Plano Diretor e o população, promovendo a construção e a recuperação
co em comparação à organização clássica, vale indagar Tombamento da área em questão colocam-se como de equipamentos e infraestruturas, bem como a
sobre sua adequação para a área estudada. Algumas principais dispositivos para assegurar o direito à cidade, valorização do espaço público, com medidas de
problemáticas só seriam evidenciadas à luz da ten- protegendo-a do livre jogo das forças de mercado. Figura 1: área de estudo compreendendo os nove setores analisados dinamização social e econômica, através de melhorias
são derivada da exploração projetual. Seria inútil par- 3. Porém, a entrada do projeto urbanístico consubs- urbanas, acessibilidade ou centralidade (MOURA et al.,
tir para a investigação e traçar linhas genealógicas do tanciado à escala de cada polinúcleo permite apresen- Os principais temas dos projetos de cada equipe/ 2006). Nesse sentido, ela engloba processos de alteração
conceito de policentrismo baseadas em formulações tar, à lógica quantitativa da acumulação das coisas, a setor surgiram a partir da análise e coleta in loco em uma área urbana com a ideia de dar-lhe uma nova
meramente práticas. Em princípio, ele seria pertinente coerência qualitativa de sua “disposição” (localização), dos materiais urbanos que compõem a relação entre função, diferente da pré-existente. Nesse sentido, a
justamente por ser um conceito ambíguo, por conotar que consiste em dar ao projeto o valor exploratório da ferrovia e cidade. O mote dos projetos foi o de “construir intenção de revalorização da paisagem natural é um
interdependência onde o jogo entre as diversas escalas especificidade e potencialidade dos lugares, e também la ville sur la ville” (construir a cidade sobre a cidade), tema presente nas discussões atuais sobre as cidades,
de ação tornou-se a grande indagação da pesquisa. apontar a viabilidade das escolhas. Portanto, trata-se trabalhando o território com um sentimento de onde se busca incorporar os elementos naturais,
Vale ressaltar que a representação multiescalar das de partir dos grandes projetos de regulação, pensados continuidade espacial, mas também histórica. A ideia principalmente os cursos d´água e suas margens, a
relações do território emergiu como questão crucial a não como empecilhos ou limites, mas como base para da nova relação entre a área e os bairros lindeiros foi fim de imprimir uma dimensão qualitativa, entendendo
ser abordada na intersecção das relações e lugares, uma reflexão no sentido de inovar com instrumentos e interpretada por meio de diferentes ferramentas a a paisagem como um sistema e como forma construída
possibilitando melhores ajustes para diferentes pro- espaços que produzam ambientes qualificados. partir de uma intenção reconstrutiva em termos de pelas ações da sociedade.
blemas: da sustentabilidade urbana ao crescimento, Planificar hoje é uma atividade multidisciplinar requalificação, recuperação ou modificação. A segunda categoria Recuperação–Renovação foi
à coesão territorial e à configuração de partes da ci- (mesmo em cidades de pequeno porte) e congrega Metodologicamente, o trabalho foi desenvolvido em trabalhada a partir de programas político-culturais no
dade com identidade urbana. O grande desafio teórico entendimentos para promover a obtenção, a duas etapas. Na Etapa 1, após as visitas e reuniões de sentido de reinserir projetos existentes, dando-lhes
e projetual foi pensar o lugar de modo não-separado e compreensão e a capacidade de desenvolvimento assessoria, os grupos apresentaram o levantamento e valor estruturante mais amplo, gerando parâmetros
desarticulado, mas sim de forma coesa, diferentemen- como decorrência da abordagem de políticas urbanas a análise da área e de suas multipolaridades, observan- para formalizar e reinterpretar a própria ideia do

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perímetro do tombamento da área. A recuperação dada lugar de coexistência de funções. da cidade, para entender o papel do projeto de arquite- do com a necessidade de utilização do instrumento
pela renovação urbana está ligada à ideia de demolição Tratando-se da reversão de edificações do patrimônio, tura urbana na micro e na macro escala da paisagem maior de planejamento urbano, ou seja, o Plano Diretor
do edificado para substituí-lo por construções novas, questões de identidade, escala e experiência urbana urbana, e ainda para definir o relacionamento paulatino municipal.
geralmente com características diferentes, adaptadas ganham, principalmente, importância vital na estabelecido entre as diferentes partes interessadas e O argumento central é que no Brasil, dificilmente,
a mudanças de atividade e de morfologia dos espaços. preservação da memória coletiva e identidade de o projeto da cidade como um todo. projetos urbanos estão previstos no Plano Diretor,
A renovação é uma intervenção em grande escala um lugar. Esta experiência de identidade começa no Quanto às intervenções de recuperação do ponto havendo uma clara cisão entre este e aqueles. Talvez,
(MOURA et al., 2006). espaço físico e se desenvolve nos sistemas espaciais, de vista da trama viária, todos os setores (equipes) nesse sentido, esses projetos urbanos marginais aos
A revitalização, palavra que hoje parece ter caído em permeados principalmente pelos elementos da apresentaram duas situações típicas: o projeto ativo, Planos diretores possam assumir papel significativo e
desuso, pode ser pensada em termos de Regeneração, paisagem, pessoas e acontecimentos. Visto sob que define uma regra de urbanização em si, e o projeto não apenas residual na construção e na consolidação
que é um processo de planejamento estratégico capaz esta ótica, a memória e os lugares ajudam a definir passivo, que ocorre quando as condições préexistentes da cidade pública. A ação sobre a cidade existente,
de reconhecer, manter e introduzir valores de forma a identidade dos espaços que se relacionam à determinam amplamente o arranjo projetual. Em portanto, individualizada como cerne do projeto
cumulativa. Dessa maneira, ela intervém em médio e reutilização e reconversão. Sendo assim, Pereira (2007) ambas, foi relevante a ressignificação morfológica urbanístico contemporâneo, está articulada com uma
longo prazos, de forma relacional, assumindo e promo- destaca que, as questões relacionadas à identidade e da área e das composições físicas e culturais, como ampla gama de modificações em cada setor na fração
vendo vínculos entre territórios, atividades e pessoas reutilização de um edifício e sobre os valores atribuídos a refuncionalização de pontos-chave em termos de lindeira à área em foco: o leito do complexo ferroviário
e, por conseguinte, influencia a melhoria da qualidade a ele são a base necessária para uma intervenção num distribuição primária e de circulação secundária, como de Bauru. Hoje, a linha férrea apresenta uma paisagem
do ambiente urbano e as condições socioeconômicas patrimônio edificado. Esses elementos característicos observado na Figura 2. degradada, quase os fundos da cidade, um espaço onde
(MOURA et al., 2006). têm grande importância na atribuição, principalmente evita-se pousar o olhar. Os trilhos da ferrovia, apesar de
A terceira categoria Modificação–Reconversão, dos valores de identidade sobre os quais se baseiam ainda serem utilizados para o transporte de carga, não
emergiu a partir não só da fisicalidade de alguns dos as diretrizes e critérios a serem adotados no projeto têm uma ligação direta com a área urbana – um espaço
setores, mas também pela afirmação do caráter misto de reutilização. Portanto, a adequação de uso implica utilitário, uma lembrança de outros tempos e de outros
e complexo de uso, funções e modos, temporais e em um trabalho de reintegração à identidade espacial valores. Assim como o Rio Bauru, onde a intervenção
espaciais. por meio da adaptação desses edifícios, considerados humana modificou a paisagem, levando à perda dos
O primeiro caso, aquele que utiliza o projeto para re- patrimônio arquitetônico, às necessidades do novo uso. valores ambientais.
cuperar o existente, pertence às intervenções no espa- Intervenções deste tipo, seja ela qual for, implicam As hipóteses de transformação apresentam intensi-
ço público que reinterpretam os elementos pontuais e uma mudança no contexto de projeto, na dimensão dades diversas e, aparentemente, parecem pontuais e
lineares do espaço urbano (ruas, praças, margens inter- cultural/social e também na relação física com o en- difusas, mas ao longo do laboratório LAUP VI assumi-
nas e externas, áreas verdes) para reivindicar o papel de torno. Nesse sentido, a reversão de usos surge como ram readaptações e contaminações de várias moda-
matriz geradora da cidade, além de ressignificar áreas um grande vetor de mudanças que vão desde aumento lidades de intervenção e técnicas urbanísticas para a
degradadas e dar sentido a áreas não estruturadas, em do período de vida de um edifício, até ao encontro às expansão das cidades, de um lado, e para intervenção
uma visão que coloca a construção do espaço coletivo necessidades reais do contexto e usuários. Essa abor- sobre a cidade histórica, de outro. Nesse cenário, foi
como base para a reconstrução urbana. dagem passa necessariamente pelo reaproveitamento amadurecendo uma nova forma do plano que destacou
Essa construção visa determinar a reversão da de acervo arquitetônico protegido, recuperando-o e a cidade policêntrica como nova dimensão física a ser
relação entre edificado e não edificado, confiando a este trazendo-o para uma nova utilização espacial, além de enfrentada, ao mesmo tempo que a noção de periferia
último o papel de elemento propulsor no planejamento contribuir para a preservação de bens culturais e en- Figura 2: Exemplos de intervenção na trama viária: setores 3 e 9, grupo 9.
foi pensada, de forma renovada.
urbano, gerando uma arquitetura do vazio capaz quadramento sustentável. Não se trata de equipar a cidade com melhoramentos
de se impor nas margens e, portanto, também nos pontuais, mas juntar e analisar as porções não resolvidas
edifícios, tornando-os instrumentos que determinam Análise dos Resultados O Laboratório VI, porém, permitiu uma reflexão sobre da cidade; entender por que esses sítios(bairros) se
a unidade e o reconhecimento do local. A rua assume a hipótese de um plano urbanístico no qual os aspec- revestem de importância estratégica; entender por
papel fundamental nessa operação, retomando sua Rever alguns desses eventos de desenho em termos tos mencionados possam convergir de maneira flexível, que e quão prioritário é resolvê-los; entender por que a
concepção como elemento gerador de morfologia e ilustrativos pode ser útil, no processo de reconstrução partindo da condição de reconhecimento compartilha- instrumentação geral (ou de programas) introduziu as

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O Centro Oeste Paulista Como Laboratório O curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento
de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

transformações desses sítios por meio de modalidades as várias escalas na cidade, a partir da análise do qualidade do desenho, possibilitou tornar a atração
inovadoras de ação. Nesse sentido, o complexo da A primeira estrutura desvelada foi a fisicalidade fragmento. De um lado, as propostas analisaram a central disponível para uma rede mais ampla de
Estação Ferroviária de Bauru coloca-se não como da paisagem cultural, englobando a estrutura periferia monofuncional e desqualificada e, de outro, um “sistema de cidade”, como novas polaridades de
algo a ser apenas preservado, mas sim como lugar econômica do patrimônio industrial e a arqueologia a busca de mote para repensar o papel do projeto agregação da cidade contemporânea, mas não em
estrutural onde as relações do viver humano adquirem da paisagem, como um todo: o Grupo 1 e o Grupo urbano e territorial na escala mais ampla, objetivando contraste com a centralidade “histórica” e, sim, como
significado e se organizam. Visto sob essa perspectiva, 6 estenderam o polígono estabelecido na carta de trabalhar a complexidade dos recursos da paisagem, sistema territorial viável.
não é tanto o objeto a ser preservado que interessa, mas tombamento, demonstrando que o perímetro proposto suas relações formais, aprofundando o debate sobre As hipóteses projetuais, que hoje poderiam ser ado-
a relação estrutural deste com a vida da cidade. Em é questionável, pois não absorve, na sua totalidade, o o papel do espaço aberto na estruturação ambiental e tadas e que seguem esse direcionamento, são aquelas
outras palavras, o projeto de cada setor buscou colher completo funcionamento da estrutura produtiva e o social no território. que buscam rever a “visão tradicional” dos bairros e das
essas relações, desvelando o que estava escondido, contexto humano que o sustentou. Isto não significa Ao longo do tempo, o próprio conceito de espaço pú- “periferias”, considerando-os como centros consoli-
conforme Figura 3. que o perímetro do tombamento deva ser dilatado, blico passou por alterações que implicaram uma nova dados, como partes da cidade, na qual a compreensão
mas que o complexo inteiro pode ser conservado com compreensão dos fenômenos de agregação. Nesse da forma permite revelar a complexidade e o papel de
níveis diferenciados de tombamento. Dessa forma, sentido, os “polinúcleos” foram desenvolvidos como um projeto inerte, que não se desenvolve ao longo do
nos dois grupos, o sítio e o contexto são recompostos novos “polos” de socialização. Ao considerar a periferia tempo. Tal posição traz a consciência do papel funda-
geograficamente, a partir do quadro de conjunto mais não mais como lugar de ausência, mas como lugar de mental do desenho urbano, pensado como projeto inte-
amplo e mais complexo. presença, o fato urbano é tratado na sua complexidade, grado e que trabalha as bases metodológicas ligadas
As características das áreas periféricas, situadas sendo propostos vários tipos de habitações “projeta- a conceitos mundialmente reconhecidos, ainda que a
ao longo do vale, demonstram clara ruptura e falta de das” no tecido urbano, como forma de consubstanciar especificidade de cada caso, por meio da identificação
coesão com a estrutura da cidade consolidada, em uma nova morfologia – uma paisagem híbrida, como no projeto, seja fator decisivo na concepção final.
grande parte devido à má qualidade do desenho, das tratada pelo grupo 7, conforme Figura 4. Embora reconhecendo a importância do Centro como
ocupações monofuncionais e da ausência de lugares referência territorial, o projeto dos bairros e da periferia
de agregação sociocultural. procurou “descobrir” seu próprio potencial no contex-
As hipóteses desenvolvidas por todos os grupos (do 1 to cultural local. Dessa forma, atrelou-se ao sistema
ao 9) exploraram as diversas potencialidades e riquezas de polinúcleos um anel de mobilidade que permitisse
de cada sítio, levando em conta a história do lugar e a o fácil deslocamento entre essas áreas. Do ponto de
paisagem existente, com a finalidade de transformá-lo vista local, a proposta previa a requalificação de espa-
em signo contemporâneo de ambiente de qualidade, a ços públicos como locais de relação/conexão entre as
partir do redimensionamento de elementos da mobi- partes da cidade e a reabilitação física implementada
lidade urbana. As propostas envolveram melhoria nas e direcionando os equipamentos de serviço e comércio
vias, alargamento das calçadas dando mais conforto já existentes, mas repensados como conjuntos urbanos
e segurança ao pedestre, faixas de pedestre elevadas, coesos, com imagem de máxima permeabilidade.
Figura 4: Tipos de habitação propostos pelo grupo 7.
equipamentos ao longo das calçadas e plantio de árvo- O estudo começou com algumas reflexões sobre o
res para um melhor sombreamento. conceito de lugar que integrasse aspectos ambientais
O objetivo central absorvido por todos os grupos foi Nesse sentido, o projeto urbano e territorial ocupou- e ecológicos, percursos de pedestres e superfícies
o de dar sugestões qualitativas para inserção de cada se prioritariamente da “reabertura” das relações e do para ciclovias, calçadas 100% acessíveis e locais
preexistência na paisagem, tanto do ponto de vista conceito de limite, não assumindo de forma passiva de encontro, todos dimensionados para a escala do
estrutural como funcional, e propor redesenhos que o pátio ferroviário como um “tipo de barreira” para a urbano. Para tanto, trabalhou-se o tema da “reabertura”
visassem a rearticulações, criação de tramas físicas, cidade consolidada, ou como margem líquida e pouco das relações e o conceito de limites, redesenhando um
culturais e sociais, potencialização dos sistemas, delineada. Partiu para a integração com as áreas projeto unificado em que a paisagem aberta absorvesse
Figura 3: Exemplos de intervenções além do limite do perímetro de tombamento -
Grupos 1 e 6 tendo como pano de fundo a nova forma de se pensar periféricas e, tanto do ponto de vista legal como da os lugares individualizados, vistos como conexões,

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O Centro Oeste Paulista Como Laboratório
de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada

como parte da mobilidade, como fragmentos da rede de equipamentos e a integração com o fundo do vale,
urbana onde as diferentes escalas se interceptam destacando-se aí uma paisagem “híbrida” que pudesse
reforçando sua individualidade. capturar e combinar diferenças a partir dos elementos
água e vegetação, usando-os para fortalecer as cone-
Considerações Finais xões do sistema ambiental – green lines e blue lines.
Assim, a partir da criação de uma nova identidade
O desafio da proposta do LAUP VI - Requalificação, urbana caracterizada pela qualidade da vida
amplamente aceita como método de discussão e contemporânea, as hipóteses projetuais estabeleceram
consulta, foi o de trabalhar no projeto as nuances dos várias formas de diálogo com as partes consolidadas.
limites e o entrelaçamento de componentes entre Nessa perspectiva, o projeto arquitetônico da cidade
as áreas de transição e o grande fundo de vale, que é ou do território age reportando-se ao espaço e seu
resultado de um processo histórico. Do ponto de vista significado, não só com o contexto imediato espacial,
da escala, seria trabalhar três delas de forma conjunta mas também com a noção temporal de seu passado
- a territorial, a do urbano e a da paisagem - onde as e seu futuro. Ou seja, o projeto é entendido como
áreas marginais poderiam encontrar oportunidade de processo de integração entre aquilo que vem antes,
redenção para novos conceitos dentro do desenho do com as permanências e de adequação com o que se
território. espera que venha a ser depois.
A partir das considerações surgidas durante as
diversas reuniões de assessoria, o desenvolvimento
dos projetos foi sendo construído em duas direções: na
escala territorial e na escala do urbano. Inicialmente,
objetivou-se identificar e reconhecer as emergências
existentes nos bairros investigados in loco, a fim de
criar uma malha relacional de conexões urbanas e
territoriais, incluindo a discussão e o conceito de
“reconexão ambiental” e “reconexão urbana”. Os
conceitos identificados e inter-relacionados apontavam
para um sistema de novas relações na grande escala
da paisagem e do território, e na escala urbana onde
as formas alternativas de agregação territorial foram
exemplificadas pelos assentamentos já consolidados.
As ações, paulatinamente consolidadas em cada
assessoria, visaram resolver projetualmente a situação
dessas áreas e a reconstrução geral da identidade
da cidade no território, de forma a reconhecer o valor
potencial dos “novos núcleos” para repensar a noção
de periferia como parte de um sistema funcional,
referindo-se à especificidade dos lugares.
No segundo momento, o projeto explorou a rela-
ção entre as necessidades de cada área, a carência

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ÁREA 1
Bruno Silva, Cássio Romeiro, Gustavo
Bodenmuller e João Pedro Lima Sobreira

A requalificação da região Sina – Córrego da Água ciclovias, etc) e ainda, a valorização do espaço público,
da Ressaca, como parte do complexo histórico da área criação de espaços de permanência com deques de
central de Bauru, também está ligada diretamente à madeira elevado ao longo do córrego, conectando-se
ferrovia, em especial à Estrada de Ferro Noroeste do ao outro lado, no espaço da Sina por meio de passarelas
Brasil - NOB. funcionais e dotados de mobiliário de permanência
como parklets, etc. As diretrizes projetuais procuraram
Localização
trazer para o contexto urbano contemporâneo a
valorização da ligação histórica de Bauru com a ferrovia
e com os rios urbanos, negligenciados durante muito
tempo pelo urbanismo brasileiro.
Implantação Geral

Após diversas visitas técnicas na área foram


realizados levantamentos bibliográficos sobre projeto,
requalificação, legislação urbana, plano diretor. De
posse desses dados e da análise fotográfica da área,
juntamente com os professores, foram definidas
algumas diretrizes projetuais: eixo ambiental
(recuperação do córrego com controle dos processos
erosivos, reflorestamento da vegetação ciliar e
readequação gradual das espécies nativas do Cerrado),
habitação de interesse social (inserção de habitações
multifamiliares na região do complexo industrial da
Sina reaproveitando a infraestrutura e a arquitetura
do local, por meio de ferramentas legislativas como
Plano Diretor, Lei de Zoneamento e Estatuto da Cidade),
eixo de mobilidade urbana (por meio do Plano Diretor
e do Estatuto do Trânsito, inserir alças de acessos
aos bairros próximos ao Parque do Córrego Água da
Ressaca e infraestrutura para pedestres, ligando os
dois lados do fundo do vale com passarelas funcionais,

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ÁREA 2
Amanda Albino, Camila Tognon, Daniela
Zanella, Isabela Ravagnani e Julia Rodrigues

A área 2, que tem como marco a rotatória Chujiro vado movimento de veículos, funciona também como
Otake, abrange principalmente a região do bairro um jardim filtrante, que ajuda na contenção da água em
Vila Independência, o qual é percorrido por duas dias de chuva intensa, prevenindo pontos de alagamen-
vias importantes - a Avenida Castelo Branco e a Rua to e consequente congestionamento. Para a renaturali-
Bernardino de Campos. zação do Córrego, projetou-se um parque linear com o
objetivo de oferecer aos moradores uma área de lazer e
Localização
contemplação, respeitando a faixa preservada de mata
ciliar. No parque, foram propostos três equipamentos
principais: o Jardim Contemplativo, o Mirante e a Feiri-
nha, todos eles interligados por um percurso que aten-
de tanto a pedestres quanto a ciclistas, em um trajeto
que contorna a extensão do Córrego. Em todo o parque
foram adicionadas lanternas, cercas de madeira, por-
tais e outros elementos tradicionais da arquitetura e
do paisagismo do Japão. Outros itens característicos da
cultura japonesa foram inseridos no percurso temático
criado no bairro, como luminárias e postes de ilumi-
nação, no sentido de resgatar a identidade japonesa e
É uma área residencial fortemente consolidada,
valorizar sua presença na região. O percurso passa por
apresentando focos de comércio na extensão da Ave-
pontos importantes do bairro como as Igrejas Tenrikyo,
nida Castelo Branco. Além disso, a Vila Independência é
o Cemitério São Benedito, a rotatória Chujiro Otake e o
representada pela comunidade japonesa, formada por
parque linear proposto.
imigrantes em meados dos anos de 1930. O projeto de
requalificação proposto contemplou a mobilidade ur- Implantação Geral
bana, a renaturalização do Córrego Água do Sobrado e
a valorização da cultura japonesa do bairro. Com rela-
ção à mobilidade urbana, foram propostos novos dese-
nhos para os cruzamentos na Avenida Castelo Branco,
de forma a organizar o fluxo de automóveis, conferindo
maior segurança aos pedestres durante a travessia. Na
Rua Bernardino de Campos, as vias foram alargadas e
divididas por um canteiro central, que funciona como
refúgio para a travessia do pedestre. Outros cruzamen-
tos também foram redesenhados em forma de novas
rotatórias para melhorar a distribuição dos veículos e
assim evitar congestionamentos. A principal rotatória,
Chujiro Otake, redimensionada para comportar o ele-

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ÁREA 3
Antônio Resende, Elisângela Shiomi, Letícia Leão,
Letícia Freitas e Vivian Ferraro

A nossa área de atuação se encontra no entorno da do deque, vários contêineres, remetendo a vagões de
Avenida Pedro de Toledo, que é uma via-chave dentro do trem, são usados como “food trucks”, formando uma
plano de mobilidade. Além disso, numa linha paralela praça de alimentação aberta.
à avenida e numa cota mais baixa, encontram-se
também a estação Sorocabana e as antigas habitações Dentro do parque, encontram-se a antiga habitação
dos funcionários, contempladas a partir da avenida. dos funcionários e a Estação da Sorocabana, a serem
restaurados. Após o devido restauro, as antigas
Localização
habitações são traduzidas como elementos de memória
dentro de uma área contemplativa, preservando os
frontões apenas, já que o restante se encontrava
descaracterizado devido à intensa ocupação irregular.
Um espelho d’agua contíguo remete ao córrego,
permeando os vários elementos e termina em uma
fonte interativa. A antiga estação funciona como
um café dentro do prédio que ainda tem a estrutura
preservada; as fundações, localizadas ao lado, servem
como base para uma área livre multifuncional, com
pórticos de estrutura metálica que, além de elemento
de alusão aos frontões da habitação, podem receber
Dessa maneira, decidiu-se por três linhas que
outras estruturas como telão, coberturas, iluminação,
guiariam o projeto: Permanência, Paisagem Histórica
além de uma pequena arquibancada e um palco
e Mobilidade. Para atingir a meta, propôs-se o
adjacente. Ainda no fundo do vale, situam-se uma
alargamento da Avenida Pedro de Toledo para suportar
pista de skate, uma horta urbana, os trilhos do trem,
uma linha de bonde, um canteiro central, aumento das
parcialmente retirados, e o rio, cuja mata ciliar será
calçadas e uma ciclovia. No entanto, isso demandou
recuperada, substituindo a atual mata de leucenas.
a desapropriação dos lotes em frente à via, em sua
maioria ocupados por revendedoras de veículos. A Implantação Geral
desapropriação também permitiu o surgimento de
novas atividades na área, como restaurantes, cafés,
boates, trazendo assim a vida noturna para o local.

Para complementar o novo tipo de uso e potencializar


a visão e o acesso aos imóveis que constituem nosso
patrimônio cultural foi criado um deque suspenso,
que funciona como mirante e extensão da calçada e,
através de patamares em diferentes níveis, dá acesso a
um parque no fundo do vale. Entre os patamares, abaixo

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ÁREA 4
Camila Yumi Nagabe, Imirá Lis Fonseca, Maria Clara
Mestriner, Raquel Ostasiuk e Renzo Trombini

O projeto tem como objetivo criar espaços de de dança, auditório, biblioteca e salas para exposições
convivência e caminhos que possibilitem a relação itinerantes. Contudo, os usos podem ser variados e
entre os edifícios do pátio ferroviário, bem como entre sujeitos a mudanças, já que as paredes que criam
o próprio pátio e os bairros do entorno imediato, como o as salas, em seu interior, são corrediças e permitem
bairro Vila Falcão. Propôs-se um novo uso ao fundo do adequar o espaço ao futuro uso. Dessa maneira,
vale preservando ao máximo seu relevo. conseguiu-se integrar tanto o bairro com o pátio, quanto
o restante do fundo do vale que o circunda, sem perder
Localização
o valor do patrimônio tombado. Vale ressaltar que todas
as propostas para a rotunda consideraram e respeitam
seu valor histórico e tombamento. A respeito do impacto
no entorno a partir da requalificação da área, tudo isso
visa levar uma nova função àquilo que já existe, para
que o local deixe de ser uma barreira entre o Centro e
os bairros da cidade, tornando-se um ponto de atração
para quem usufrui da região. Foram usadas árvores do
Cerrado para compor o projeto paisagístico, além de
pisos metálicos perfurados em alguns patamares do
calçadão para não interferir na capacidade de absorção
de água do solo, evitando alagamentos.
Para isso projetou-se um calçadão na parte mais alta
O projeto também está de acordo com a NBR 9050
acompanhando a “borda” do bairro. Nesse calçadão,
que estabelece critérios básicos de acessibilidade,
propõe-se uma série de patamares com ambientes de
garantindo inclusão no complexo proposto.
estar e rampas que descem suavemente até o pátio
ferroviário, além de uma ciclofaixa. Cada patamar Implantação Geral
permite um uso variado a partir dos equipamentos
propostos como bancos, quadras de esporte, academias
ao ar livre, pista de skate, áreas de alimentação e
arquibancadas para contemplação. Para compor o
parque linear desenvolvido por toda a turma, a proposta
incluiu uma ciclofaixa que circunda os antigos edifícios
do pátio e que segue um percurso próximo ao dos trilhos
presentes no local, criando um trajeto que evidencia e
dialoga com a história da ferrovia. Entre os edifícios
tombados e praças, os próprios prédios compõem um
centro cultural e esportivo aberto a toda população. A
antiga rotunda, usada originalmente para rotacionar
os vagões, deverá abrigar diferentes usos como salas

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ÁREA 5
Carolina Gomi, Enrico Gutierrez, Isabela Iotti, João de
Lucca, Lucca Arashiro e Thiago Conti

A área 5 se situa na região da Vila Falcão, na qual sinuosidade de seu desenho, porém mantendo o relevo
se localizam a Instituição Toledo de Ensino - ITE, a que o cerca isento de modificações. Além disso, propõe-
Companhia Paulista de Força e Luz - CPFL e a Diretoria se a ocupação dos lotes vazios próximos para a criação
de Ensino, tendo a rua Campos Salles como sua principal de uma praça, cujo uso noturno pretende-se estimular
via articuladora. A área é, hoje, bem consolidada pela através de restaurantes, espaços para food-trucks e
presença de uso comercial, de serviços e habitações. feiras. Há também a requalificação dos espaços livres
já consolidados, tais como as praças Nove de Julho e na
Localização
Rua São Vicente, e dos não consolidados, como os lotes
vazios e espaços decorrentes de desapropriações.

Como outra proposta pretende-se solucionar um


problema recorrente da região: a drenagem. Utilizando
estratégias combinadas de microdrenagem, como
valetas de infiltração na Avenida Comendador Daniel
Pacífico e jardins de chuva na praça Nove de Julho,
além do próprio aumento de solo permeável ao longo
de toda a área, pretende-se aumentar o tempo que as
águas pluviais levam para chegar na região do córrego
e, consequentemente, possibilitar maior tempo para
Por sua localização e características, essa região
escoamento da água.
acaba atuando como um nó, uma conexão entre o
Centro e o lado leste da cidade, também interligando as
áreas das intervenções propostas pelos outros grupos. Implantação Geral
Para o projeto, o grupo traz algumas propostas que
incluem a requalificação dos espaços urbanos livres e
a reintegração entre a parte alta do bairro, adjacente à
rua Campos Salles, e a parte baixa, próxima ao Córrego
da Grama. A primeira proposta envolve, portanto, a
reintegração de todo o bairro, tentando conectar a área
da ITE com a região do córrego, por meio de melhorias nas
vias, tornando-as mais confortáveis ao pedestre com
alargamento das calçadas, faixas de pedestre elevadas,
equipamentos ao longo das calçadas e um melhor
sombreamento, garantido pelo plantio de árvores. A
segunda proposta implica recuperar e destacar o leito
natural do córrego, propondo um parque linear ao longo
de seu percurso, com deques de madeira que sigam a

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ÁREA 6
Ana Carolina Costa, Anelisa Garcia, Caroline Bonfim,
Fernanda Chastel e Luis Carlos Cavalcante

A área 6 em questão está inserida no entorno área fresca e arborizada que se torne um refúgio para
imediato do Córrego da Grama, localizada na porção a população.
oeste do cidade, tendo como limites físicos o estádio
do Panela de Pressão na Vila Pacífico, indo até os silos O parque adiciona um elemento novo e importante
da Ceagesp, no Jardim Marilu. para a ideia de identidade, mesmo na escala do bairro e
do município, especificamente com o alargamento do
Localização
Córrego da Grama por meio de represamentos.

Implantação Geral

O projeto em si é dividido em três partes que se


conectam para criar uma grande área de diferentes
usos para a população. São eles um Complexo Olímpico,
um Parque Linear no fundo do vale e o Silos Hotel
Bauru que, unido a um grande equipamento comercial,
Extensão da área
funciona como atração para o percurso completo do
parque.

As principais diretrizes projetuais consideradas para


o desenvolvimento do programa foram a recuperação
e a revitalização do espaço degradado, a proteção do
córrego e a integração entre os bairros lindeiros que o
margeiam e, por fim, a consolidação da identidade da
cidade. O objetivo foi reviver a identidade histórica de
Bauru por meio de seu âmbito esportivo, que também
tem suas marcas naquela região, criando uma cidade
olímpica atrelada ao parque, de forma a revitalizar esse
fundo de vale. Propõe-se, assim, a mudança da atual
paisagem, árida e de desagradável caminhada, por uma

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ÁREA 7
Francisco Janzantti, Julia Carrer, Pedro Munhoz,
Murilo Oliveira e Nicolas Matiazzo

O projeto para a área do Jardim Gerson França dá instrumentos do Estatuto da Cidade (como o PEUC,
destaque para a questão da conexão e integração entre IPTU Progressivo no Tempo, Direito de Preempção e
os dois lados do vale, através da conceituação de um Outorga Onerosa) no bairro contribuiria para arrecadar
elemento de ligação que visa suprir as necessidades fundos para a consolidação do projeto.
apresentadas pelos próprios moradores da área Localização
(cultura e lazer). Assim, com uma estrutura que “flutua”
e se sobrepõe sem agressividade pelo vale, o projeto
procura sanar essas faltas e promover a integração
com as regiões do Panelão e da ITE, além da retomada
do contato da população com a paisagem do vale que
acaba por criar uma hibridização estruturada pelo
próprio equipamento.
Além disso, foi destinada uma área para habitação
social, que receberia os moradores da ocupação
irregular próxima à EE. Para viabilizar os custos da
obra, a verticalização e a aplicação adequada dos

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ÁREA 8
Bruna Santana, Carolina Rosato, Giovanna de
Aro, Maísa Neves e Paulo Dezane

O Bela Vista se configura como um dos bairros mais passagem para aqueles que buscam acessar o bairro,
antigos de Bauru, sendo um espaço de importância já que se previu que o prédio ocuparia um terreno entre
histórica no contexto geral da cidade. Atualmente o o fórum e a Nuno de Assis. O projeto busca valorizar
bairro se encontra separado do Centro, pois a avenida o Bela Vista ao pontuar a história presente em seus
Nuno de Assis e o pátio ferroviário funcionam como elementos arquitetônicos e integrá-lo ao Centro
barreiras limítrofes. através de componentes culturais, buscando sempre
pensar no bem-estar do pedestre.
Localização
Implantação Geral

Entre os pontos históricos do bairro, o grupo propõe


um percurso com alargamento das calçadas, instalação
de bancos, lixeiras e postes de iluminação no nível do
pedestre, além de três ligações com o Centro, todas
exclusivas para pedestres. A primeira delas acompanha
o Viaduto JK, a segunda e terceira se dão no nível da
ferrovia, conectando o bairro à rotunda e aos galpões Contexto Urbano
da Estação Paulista.

A fim de trazer um espaço de lazer para o bairro,


projetou-se um prédio que abriga uma sala de cinema
e um auditório, remetendo a uma época em que o
Bela Vista possuía um cinema de rua, provavelmente
localizado em frente à Praça dos Expedicionários.
Pensado para servir a comunidade local, o complexo de
cinema e teatro conta com uma área verde que deve
funcionar como espaço de permanência e também de

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ÁREA 9
Beatriz Ozawa, Mário André Aguiar, Mellina
Borges, Pedro Lemos e Sofia Agustinho

A proposta é a reestruturação do transporte urbano visa ligar melhor a Estação da NOB com o calçadão,
em Bauru, substituindo o trajeto das linhas em diâmetro o qual também será alterado, trocando as atuais
para o sistema de raio (axial). As linhas dos bairros coberturas por arborização eficaz na área. Na quadra
levariam até os terminais, onde será possível escolher onde estão os hotéis tombados de Bauru propõe-se o
entre os ônibus que percorrem o perímetro do laço para uso misto, com comércios noturnos (principalmente
realizar outras baldeações. restaurantes) no pavimento térreo e moradia estudantil
no pavimento superior. A área da praça é expandida
Localização
para as vias adjacentes, além de avançar no miolo da
quadra dos hotéis que, atualmente, é usado apenas
como estacionamento.

Para a área além da estação ferroviária, foi projetado


um parque linear com o propósito de dar continuidade à
região final da rua Batista de Carvalho/Praça Machado
de Mello, enfraquecendo o papel de barreira que o
prédio da NOB exercia, e complementando a proposta
de revitalização e fomento do uso do espaço público.

Implantação Geral

Uma linha de micro-ônibus e uma de bonde foram


propostas para complementar a mobilidade dentro
do bairro. Os percursos foram feitos com base na
preexistência de infraestrutura urbana e pontos de
interesse. A proposta de estender o calçadão da rua
Batista de Carvalho, que hoje vai até a praça Rui Barbosa,
ao eixo cultural e viário da Avenida Nações Unidas, cria
uma melhor integração do centro consolidado da cidade
de Bauru e seus novos equipamentos. Na Avenida
Nações Unidas foram propostas mudanças visando
principalmente à integração entre o Teatro Municipal,
o SENAC e o Poupatempo, pontos movimentados ao
longo de todo o dia.

Já na praça Machado de Mello, há a criação de uma


área comercial e residencial com mais destaque no
cenário urbano da cidade de Bauru. O desenho da praça

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PARECER perímetro de proteção e a listagem dos edifícios, não


constitui impeditivo, a priori, para a realização dos
de homens, produtos, de formas, de ideias, relevantes
para examinar o caso em uma escala mais ampla
À luz desse processo o autor de Raízes do Brasil
(1936)3, começou a delinear um contraponto entre a
PROCESSO CONDEPHAAT projetos mencionados pela prefeitura, ressaltando que daquela inicialmente prevista. urbanização do sertão e a do litoral, aventando outras
30367 ANO 2009 a “proteção prévia das áreas livres do entroncamento
deve ser prevista como imprescindível para a
Vale ressaltar que, a ocupação de aproximadamente
65 % do solo do Estado de São Paulo, deu-se a partir
possibilidades interpretativas a partir da noção de
fronteira. Nos livros Monções (1945) e Caminhos e
Adalberto da Silva Retto Júnior compreensão desse incomparável conjunto ferroviário”. das “Les franges pionnières”, como denominado pelo Fronteiras (1957), o autor efetivamente trata o tema
Reforça também, que “a proteção das áreas livres não geógrafo francês Pierre Monbeig (1908-1987), que in da conquista do Oeste Paulista, dando-lhe um caráter
Levantamentos: deve ser automaticamente traduzida em ‘intocáveis’ ou primis estudou a rede de cidades fundadas com o particular, vinculando-o à história da urbanização
Paulo Roberto Vieira non edificandi [...] basta que os projetos estabeleçam advento da ferrovia, as quais até então, eram “zonas brasileira.
Stella Vieira relações valorizadoras e condizentes com os espaços e desconhecidas habitadas por indígenas”, a Oeste do Logo, em uma tentativa de narrar o processo de con-
Carolina Zanotto edifícios protegidos, e respeitem – ou potencializem – a Estado de São Paulo. figuração e reconfiguração das zonas pioneiras do Es-
memória e os significados ao Complexo de Bauru”. Nas palavras de Prado Júnior, “aos poucos as estradas tado de São Paulo, não seria somente o complexo de
Interessado: Os historiadores Carlos Camilo Mourão Júnior de ferro vão abrindo novas zonas, estendendo seus Bauru a ser pensado como objeto de patrimonializa-
Data do Protocolo: e Elisabete Mitiko Watanabe, colocam dois filões tentáculos para longe, a fim de englobar no sistema ção, mas também, o das outras cidades denominadas
Assunto: Contestação do tombamento do Complexo reflexivos relevantes: o primeiro refere-se à pertinência econômico Paulista um território cada vez maior”1. “bocas do sertão”, que por volta dos anos de 1980 e de
Ferroviário de Bauru. de eventual tombamento estadual incidir sobre bens E assim, o sistema ferroviário, apesar da dificuldade forma muito semelhante, colocam-se como peças re-
já preservados pelo município; o segundo concentra- de transposição pela serra, amoldou-se aos antigos levantes e repletas de valor patrimoniais internalizadas
se na ‘tensão, por vezes falsa’, entre tombamento e caminhos de penetração, fluviais e terrestres da à malha urbana.
I - Apresentação desenvolvimento urbano. Por fim, denotam que “não Capitania, fundando cidades em um arco temporal Dessa forma, não se trata de um tombamento
houve nenhum elemento novo na peça contestatória dilatado, até os anos de 19542 (Fig. 01). incidir sobre o outro, mas sim, de estabelecer análises
“De forma objetiva, a contestação da Prefeitura de protocolada pela Prefeitura de Bauru”. comparativas como forma de inserir o objeto – ferrovia
Bauru propõe a supressão do perímetro de tombamen- Sobre o primeiro aspecto: Por que do estado tombar e a formação do Oeste Paulista, em sua natureza
to do Complexo Ferroviário, constante da minuta da algo já reconhecido pela prefeitura? histórica, geográfica e arquitetônica. Dentro dessa
Resolução aprovada, com apenas o tombamento indi- Dentre as muitas e diversas contribuições dos estudos perspectiva, a ferrovia se afirma como modalidade de
vidual das edificações que o compõem, um polígono de sobre o tema da implantação do Complexo Ferroviário transporte, que propiciou, não só o reequacionamento
proteção para os espaços intersticiais e constitutivos”. de Bauru, poucas enfrentaram tal problemática da ocupação das cidades do Estado de São Paulo, como
Os argumentos da Prefeitura de Bauru estão explici- numa perspectiva comparativa e em uma amplitude também, o “aparelhamento técnico do país” a partir da
tados na f.779, assim como toda tramitação legal por transoceânica que o objeto permite. construção de várias obras de engenharia que, segundo
qual passa a área. Na f.780 a prefeitura defende o “tom- O cruzamento de dados coletados em arquivos Xavier4, causou uma integração parcial do território
bamento pontual” de diversas edificações localizadas locais e de instituições de ensino internacionais que, brasileiro, polarizado por São Paulo5. Neste cenário, o
no espaço [...] e não do perímetro em tela, elencando os recentemente, vem sendo estudados por diversos café figura como suporte econômico para a construção
prejuízos ao processo de desenvolvimento e revitaliza- grupos de pesquisa, descortinou um elenco de de um projeto que previra a ligação, não somente
ção sustentável da região central [onde] o antigo não profissionais brasileiros e estrangeiros que trabalharam Figura 01
entre os dois oceanos: Atlântico e Pacífico, mas de
inviabilize os novos usos e que atenda as demandas do na implantação das ferrovias, em empresas ferroviárias
presente, elencando hipóteses de alterações na área. e companhias colonizadoras, como também, em
O parecer técnico UPPH conclui que o tombamento projetos e levantamentos para conhecimento do
3
A primeira edição da obra data de 1936, sendo reeditada e revisada por uma entre o final da Grande Guerra e o início da década de 1960; e o terceiro
segunda e terceira vez, em 1947 e 1955, respectivamente. É prefaciada, na período, formado pelas modernizações realizadas após 1964, que integram
do Complexo Ferroviário de Bauru, estabelecendo o território nacional, ratificando uma efetiva circulação primeira e segunda edição, por Antônio Candido e na terceira pelo próprio o país ao movimento de internacionalização, levando-o à criação de um
autor. Possui também, um Post-Scriptum confeccionado por Evaldo Cabral espaço nacional da economia internacional.
de Mello. 5
Ianni ressalta que somente na metade da década de 1960, o Programa de
4
XAVIER, Marcos. Os sistemas de engenharia e a tecnicização do território. Ação Econômica do Governo (1964-1966) procurou reintegrar o subsistema
O exemplo da rede rodoviária brasileira. In: SANTOS, Milton & SILVEIRA, Maria econômico brasileiro ao sistema capitalista mundial. IANNI, Octávio. Estado
1
PRADO JUNIOR, Caio. O fator geográfico na formação e no desenvolvimento Laura. O Brasil: Território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro: e planejamento econômico no Brasil (1930-1970). Série Coleção Retratos do
da cidade de S. Paulo. Em: Geografia, n º 03, ano 1, 1935 Record, 2001. Xavier periodiza tal processo: o primeiro momento, entre a Brasil, v. 83, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. Ver também SINGER,
2
A respeito do processo de colonização do norte do Estado do Paraná ver: segunda metade do século XIX e os anos 30, quando se dá uma integração Paul. Desenvolvimento econômico e evolução urbana. São Paulo: Edusp,
REGO, R. Leão. As cidades plantadas: os britânicos e a construção da paisa- parcial do território; o segundo período, marcado pela mecanização e 1968.
gem do norte do Paraná. Londrina: Humanidades, 2009. integração do território e pela formação de um mercado nacional unificado
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um programa mundial, tendo como suporte o sistema tem de específico - incorporou efetivamente no seu tombamento (1992) e a data atual (2015), como funcional e urbano (Fig. 08 a 22);
ferroviário (Fig. 02). corpo disciplinar a questão das áreas abandonadas forma de desvelar as relações recíprocas entre a área 3 - Alguns edifícios elencados no processo passaram
e internalizadas à malha urbana como paisagem: e a cidade, tanto nas transformações do uso do solo por restauro e estão sendo ocupados por secretaria,
reconfigurações de partes das cidades como paisagem, como naquelas morfológicas. museu, etc. Apesar da ação deliberada de reconversão
a partir dos projetos de reestruturações de áreas urbana a partir de mudança de uso, em nenhuma
ferroviárias, tramas urbanas, centros históricos, que Pontos relevantes: área do entorno - na qual foi efetivada a restauração
começaram a delinear um percurso gradual, que - obteve valorização do local. Ao contrário, a cada ano
coloca o projeto de espaços abertos como conectores 1 - O perímetro de proteção, que em 1992 dissolvia- que passa atinge índices preocupantes de degradação
das estruturas urbanas e territoriais. se na paisagem da cidade, materializou-se em um social, econômica e física.
Assim, o urbanismo delineia o programa a partir de muro, que não somente segregou a mesma do tecido
um conjunto de técnicas, objetivando colocar cada circundante, como também, culminou na perda parcial 4 - O confronto entre o uso do solo de 1992 e o atual
edifício no tempo e no lugar justo, criando condições da dimensão paisagística na cidade (Fig. 04 a 07); demonstra: na lateral do denominado centro antigo,
preliminares para a reinserção arquitetônica na uma predominância de serviços que anteriormente
paisagem, ou ainda, a recolocação de área abandonadas 2 - Onde o muro inexiste concretamente, há era comercial; na lateral esquerda e direita ao longo
na cidade, como cabe exemplificar o caso de Bauru. uma relação pouco clara entre as áreas lindeiras da margem, a concentração de uma urbanização
Logo, “a cidade contemporânea feita de tempos e a urbanização consolidada, criando uma área de desqualificada e com pluralização mínima para usos
sobrepostos, é também aquela apta a ser reescrita, em transição relativamente ambígua do ponto de vista de comércio local, com poucos serviços (Fig. 03).
virtude dos sinais progressivamente inscritos, lidos e
reinterpretados. Nessa cidade, ‘como lugar revestido
de sentido’ e de valor simbólico, político, social e
econômico, cada tentativa de projeto do fragmento
internalizado na paisagem estabelece um diálogo
franco com as camadas de tempos, mesmo que estes
sejam fluídos e mutantes, em grau de viver, de se
regenerar e de absorver novos significados”6.
Terceiro ponto: o parecer técnico UPPH conclui que “a
proteção das áreas livres não deve ser automaticamente
traduzida em ‘intocáveis’ ou non edificandi [...] basta
que os projetos estabeleçam relações valorizadoras
e condizentes com os espaços e edifícios protegidos,
e respeitem – ou potencializem – a memória e os
significados ao Complexo de Bauru”.

Figura 02
II - Parecer
Sobre o segundo ponto: relativo à relação entre
tombamento e desenvolvimento urbano: Diante do cenário exposto procedeu-se uma
A partir dos anos de 1980, pouco antes da proposta investigação criteriosa, levando-se em consideração
de tombamento da área, o urbanismo - naquilo que o arco temporal entre a data da proposta do

6
RETTO JUNIOR, A. S. Ler o tempo no espaço - O projeto e as estratificações Figura 03
nascida de contemporânea. Revista Vitruvius: São Paulo, 01 fev. 2015.

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Figura 4 Figura 5

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Figura 6 Figura 7

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Figura 8 Figura 9

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Figura 10
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Figura 12 Figura 13

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Figura 14 Figura 15

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Figura 16 Figura 17

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Figura 18 Figura 19

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Figura 20 Figura 21

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Essas constatações in loco fornecem um quadro ambiental técnica das bordas, das margens e das
crítico que explicita a tensa relação entre patrimônio e intervenções singulares. A perspectiva temporal, nesse
o projeto da cidade contemporânea. Diante do exposto, caso, deve permitir identificar os pontos fixos, o lugar
coloca-se como indispensável para um procedimento ideal das regras, ao invés de um novo projeto urbano
correto de avaliação, quanto à solicitação da Prefeitura unitário.
de Bauru, agregar como ponto fundamental: a Portanto, ao inserirmos a importância da “dimensão
valorização do patrimônio do território a partir do seu paisagística” da área dentro do processo de
tombamento efetivo. tombamento, certamente viria consubstanciar o vazio
Talvez o centro de interesse, que pode levar-nos a como elemento fundamental de memória da cidade,
considerar a solicitação da prefeitura, não abrange pois no passado, a mesma área possuía pontos de
tanto a discussão do que tombar, como explicitado no compenetração e interrelação com o tecido urbano
parecer, mas como o projeto do plano de tombamento e aquele produtivo. Hoje as bordas da área coincidem
pode concretizar-se na valorização do patrimônio com situações residuais de um sistema territorial
cultural a partir de uma nova imagem de cidade pública: antropizado, constelado por episódios discretos e por
uma estrutura entre as perspectivas dos cenários ocasiões que são possíveis de transformar o existente.
futuros e as necessidades da comunidade, de um lado, Um projeto deste gênero rejeita a fácil dicotomia
e as ações ditadas pelas exigências do cotidiano e dos de pró ou contra a conservação ou tombamento; da
sujeitos singulares, do outro. continuidade das regras edificatorias históricas e a área
Logo, não existem peças novas acrescidas ao processo envoltória; pró ou contra o perímetro, pois o equilíbrio
que possam levar a uma reconsideração da proposta a ser restabelecido, não é unicamente o da área
de tombamento em questão. Porém, no meu entender, específica do patrimônio e consequentemente do seu
a novidade que se coloca, de um lado, está ligada ao entorno imediato, nem mesmo um problema que pode
processo de tombamento do pátio ferroviário da cidade ser exaurido na reutilização de edifícios isolados com
de Bauru, de outro, de como o processo de conservação programas museológicos e atividades administrativas.
pode tornar-se um processo efetivo de valorização e de O tema projetual central é a possibilidade dessa área
consolidação de programas a serem partilhados com os se constituir na nova imagem de uma cidade pública,
atores envolvidos, baseados em escolhas estratégicas, onde a representação dos espaços e dos lugares
como forma de consolidar ações e normativas, em emblemáticos estaria pautada em novos modelos de
estreita coordenação com as intervenções dos diversos utilização do espaço público.
órgãos institucionais competentes, com a finalidade de
obter melhor integração entre política de valorização III - Conclusão
e de bens culturais, e políticas governamentais de
desenvolvimento sustentável do território. Após reunião com a equipe técnica do Condephaat,
O projeto de tombamento confronta-se com mais fiquei convencido que uma das formas mais ajustadas
níveis de relações: aquele da área vasta, a escala para deliberar sobre essa questão seria sugerir
Figura 22 da paisagem, cujos confins e limites permanecem audiência(s) pública(s) na cidade de Bauru, objetivando
disformes na dimensão aberta dos cenários de propiciar à população a oportunidade de discutir a área
referência, e aqueles das especificidades de cada na cidade, como também, construir um futuro possível
lugar em sua relação direta com os bairros lindeiros, para tal espaço.
escala urbana, os quais possuem exigências de
desenvolvimento e de crescimento endógeno que
impõem confrontos aproximativos da dimensão Prof. Dr. Adalberto da Silva Retto Júnior
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A Construção da Paisagem a topografia natural resultando na forma urbana atual.


A legislação consultada reforça a quadrícula urbana,
Estado de São Paulo, no final do século XIX e início do
século XX, buscando o melhor conhecimento do sertão,
em sua jurisdição todas as cidades da Noroeste. O
traçado desprezava a topografia original, chegando até
de Fundos de Vale em Bauru¹ tornando-a formal e legalmente instituída. Ao longo confiou à Comissão Geográfica e Geológica o encargo às margens dos córregos existentes, onde ficavam os
do século, a cidade vai se estendendo para além dos de explorar os rios, uma lembrança das antigas vias de terrenos menos valorizados.
Prof.ª Dr.ª Norma Regina Truppel Constantino fundos de vale, que permanecem como um vazio entre penetração. Entretanto, os rios do planalto ocidental Como uma segunda forma de constituição das cidades
lugares. paulista apresentavam muitos trechos com cachoeiras, no Oeste Paulista, considera-se as cidades surgidas
saltos e quedas, com passagens impossíveis para a a partir da chegada da ferrovia, sobre solos laicos,
Introdução navegação, ou então, trechos com pouca correnteza e desenhadas, pelo arruador, a partir da implantação
Resumo margens pantanosas. da estação ferroviária, como é o caso das cidades
A cidade de Bauru é marcada pela presença do Rio A conquista do Oeste Paulista e do Norte do Paraná, formadas ao longo da Estrada de Ferro Noroeste do
O presente artigo é baseado na tese de doutoramento Bauru e de seus afluentes. Entretanto, o quadriculado visando novas terras para o plantio do café, fez com que Brasil, que teve seu ponto de partida em Bauru. Os
apresentada à FAUUSP em 2005, em que se buscou contínuo da malha urbana se detém ao encontrar os surgissem muitas povoações, que mais tarde vieram a trilhos da Noroeste seguiam o divisor de águas do Tietê
responder às seguintes questões: Como era a fundos de vale dos córregos que cortam a cidade, os tornar-se importantes cidades. A cultura cafeeira e a e Aguapeí/Feio. O engenheiro Sylvio Saint-Martin, em
paisagem original? Como a legislação veio a influenciar trilhos da ferrovia ou as rodovias, independentemen- implantação das ferrovias estimularam o povoamento seu relatório de 1906, diz que o caminhamento geral da
na construção da paisagem? Quais os impactos te da topografia existente. Ao longo deste trabalho da região, possibilitando que se consolidassem as ati- linha seria “naturalmente conduzido pela disposição
provocados pela urbanização na paisagem? É possível procura-se analisar a questão da paisagem natural e vidades produtivas essenciais a uma economia de base dos cursos d´água, aproveitando os afluentes do Rio
planejar com a paisagem? A intenção da revalorização sua relação com a forma da cidade. A pesquisa sobre agrárioexportadora. Uma série de cidades, umas após Tietê, bordeando-os à meia encosta, como forma de
da paisagem natural é um tema presente nas discussões as origens do parcelamento urbano em Bauru, e o re- as outras, foram fundadas ao longo das ferrovias. Três buscar rampas suaves”.
atuais sobre as cidades, onde se busca incorporar conhecimento dos limites e da extensão das grandes companhias ferroviárias dividiram a região em áreas de Os povoados da zona Noroeste formaram-se
os elementos naturais com o fim de imprimir uma fazendas dos pioneiros da região foi fundamental para sua influência: a Noroeste, a Sorocabana e a Alta Pau- juntamente com a implantação da ferrovia, visando a
dimensão qualitativa, entendendo a paisagem como a compreensão da paisagem urbana atual como totali- lista, que se estabeleceram ao longo dos espigões. viabilização do parcelamento rural e da conseqüente
um sistema e como forma construída pelas ações da dade, buscando apontar e discutir a dicotomia entre o Primeiramente, pode-se considerar que muitas produção agrícola. A comercialização de terras urbanas
sociedade. A região de Bauru, até o final do século XIX natural e o construído. cidades cafeeiras, particularmente as paulistas, veio a tornar-se uma estratégia de venda de terras
era o “sertão desconhecido”, com limites imprecisos e Para esta compreensão, é necessário analisar que foram constituídas a partir de um patrimônio religioso agrícolas, o que também irá ocorrer no Norte do Paraná
intensa ocupação por posseiros. A matriz da paisagem Bauru faz parte de uma rede de cidades surgidas no - o caso de Bauru - formado por terras doadas pelos no final dos anos 20. Portanto, a origem destes povoados
original era formada por uma vasta área florestada Oeste paulista no final do século XIX e início do século proprietários das grandes fazendas da região. Os não esteve atrelada apenas à produção cafeeira, como
com vegetação de cerrado e os corredores verdes XX. A relação com a paisagem é fundamental para patrimônios constituíam porções de terras cedidas os demais núcleos criados no século XIX, mas também
– as matas de galeria ao longo dos córregos. Através Pierre Deffontaines que, ao analisar, em 1938, “como se por um senhor, ou por vários vizinhos, para servir de em decorrência da implantação de uma ferrovia de
de levantamentos, constatou-se que os espigões que constituiu no Brasil a rede de cidades”, observou que no moradia e de meio de subsistência a quem desejasse penetração, a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.
conformavam as bacias hidrográficas dos córregos Estado de São Paulo as estradas de ferro seguiam em morar de forma gregária, conforme Murilo Marx. De Para Pierre Monbeig, aqui, como na maior parte
que cortam o atual perímetro urbano coincidiam geral as cristas entre as bacias fluviais - os espigões maneira geral, era escolhido o sítio de melhor situação das regiões tropicais, o cultivo do solo ocasionou
com os limites das primeiras fazendas formadas. Os - e se afastavam dos fundos de vale.2 Para Pierre topográfica para edificar a capela, sendo deixado um rapidamente o seu esgotamento. A marcha para o
proprietários das fazendas foram os responsáveis pela Monbeig, as mesmas características geográficas são espaço à frente, para o largo. “À geografia, ao quadro Oeste, considerada nas suas relações com os solos,
doação da área para o patrimônio religioso – núcleo encontradas no Oeste do Estado de São Paulo e no Norte natural encontrado, superpôs-se uma outra realidade não aparece como uma conquista valiosa, mas como
inicial da cidade. O parcelamento das fazendas em do Paraná, ao longo do Trópico de Capricórnio, onde humana, precisamente fundiária.”4 A formação de uma devastação sem freio. O trópico paulista não
glebas - onde o processo de delimitação adotado era os espigões são propícios à instalação de estradas de Bauru irá influenciar também as cidades constituídas foge à regra, pois “os solos frágeis são um capital
o da “aguada” - e seu posterior loteamento, seguindo rodagem e ferrovias.3 Para o autor, “os vales revelaram- ao longo das linhas da Estrada de Ferro Noroeste do rapidamente dissipado pelos pioneiros. Eles estavam
um traçado em quadriculado contínuo, desconsiderou se impraticáveis à penetração moderna.” O Governo do Brasil. Bauru, elevada a Comarca em 1910, irá abranger mais apressados em fazer fortuna do que desejosos
1
O presente artigo foi originalmente publicado como capítulo do livro 2
DEFFONTAINES, 1944, p. 147. 4
MARX, 1991, p. 47. 6
Para Heráclito de Éfeso, na natureza tudo fluía, nada persistia, nem perma-
organizado pelo DAUP-FAAC-UNESP. FONTES, M.S.G.C.; GHIRARDELLO, N. 3
MONBEIG, 1984, p. 33 e p. 44. Segundo Pierre Monbeig, a palavra “espigão” 5
MONBEIG, 1984, p. 75 necia o mesmo, tornando impossível entrar duas vezes na mesma corrente
Olhares sobre Bauru. Bauru: Canal 6, 2008. p. 21-32. entrou na linguagem corrente. “Diz-se espigão da Paulista para designar as de um rio, pois aquela água já não seria a mesma; a história jamais se repeti-
elevações em que correm os trilhos da Companhia Paulista de Estradas de ria. Ver mais em REALE, G.; ANTISERI, D. História da Filosofia, vol.1. São Paulo:
Ferro, espigão da Sorocabana, etc.” Paullus, 1990, p 35-38.
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de se fixarem e menos satisfeitos com a posse de uma como paisagem”.7 Da paisagem original às grandes fa- ocupavam a região conformada pelo atual perímetro aconteceu a partir do interesse da iniciativa privada em
terra sua, do que fascinados pelos vastos espaços zendas, cujos limites coincidiam com àqueles que con- urbano. lotear as glebas das antigas fazendas principalmente
verdes”.5 formavam as microbacias hidrográficas, encontramos Os fazendeiros mais ricos encontraram na forma das para fins residenciais, na proximidade de caminhos,
Ao reconstruir a paisagem de Bauru anterior à urba- uma paisagem modificada pelo homem – uma segunda fazendas, uma possibilidade para associar a cultura acessos importantes para o núcleo urbano original.
nização, observa-se que os fundos de vale podem ser natureza.8 cafeeira, localizada junto ao espigão, com a criação de Os loteamentos deveriam obedecer às exigências da
considerados um fator de permanência, pois coinci- gado, esta nas pastagens que se formam nos fundos legislação quanto ao traçado em malha regular de 88
diam com os limites das antigas fazendas dos pionei- de vale e nas partes inferiores das encostas.9 Outros por 88 metros, inclusive as praças, presente desde o
ros da região. O próprio nome da cidade está relaciona- desembaraçavam-se das partes impróprias para o Código de Posturas de 189711 e confirmado pelas leis
do à presença do rio Bauru. A ação do homem, ao longo café, vendendo-as a sitiantes e conservando somente municipais número 1 de 1906, número 56 de 1913,12 pelo
do processo de ocupação do território, vai alterando a as partes altas das fazendas. No traçado dos sítios Código de Posturas de 192913 e pelo Decreto Municipal
paisagem, mas o rio permanece.6 Entretanto na pesqui- continuava-se aplicando o sistema utilizado com o 25 de 1947.14 O Código de Posturas de Bauru - o de 1906 e,
sa realizada em jornais veiculados na cidade, verifica- fim de assegurar o acesso, ao mesmo tempo, à água posteriormente, o de 1913 - se tornou a base legal para
-se que os rios somente estão relacionados aos fatores e ao espigão, utilizados como fronteiras naturais. o arruamento dos povoados que foram sendo implanta-
de degradação do ambiente, como enchentes, erosões, Cortavam-se as vertentes dos pequenos vales em faixas dos ao longo da Noroeste, seguindo o modelo de traça-
dificuldades de acesso ou poluição, sendo raramente perpendiculares aos córregos. Estas marcas continuam do reticulado e as quadras regulares.
utilizados para a recreação. presentes, assim como os antigos caminhos. O caminho A vinda para Bauru das três estradas de ferro, entre
A intenção de revalorização da paisagem natural é para Iacanga permanece marcado no tecido urbano os anos de 1905 e 1910, ao mesmo tempo que acelerou o
um tema presente nas discussões atuais sobre as cida- - a atual Rua Floresta - destacando-se na malha em crescimento da cidade, também valorizou rapidamente
des, onde se busca incorporar os elementos naturais a xadrez contínuo. Também observa-se o caminho para os terrenos urbanos, estes sob o aforamento da Fábrica
fim de imprimir uma dimensão qualitativa, entendendo Figura 1: Sobrepondo-se ao mapa atual de Bauru, o desenho das antigas fazendas do
Duartina, atual Rua Salvador Fillardi, onde foi respeitado da Matriz do Divino Espírito Santo. A valorização impe-
a paisagem como um sistema e como forma construí- século XIX: (1) Fazenda Barreirinho, (2) Fazenda Grande, (3) Fazenda das Flores, (4)
Fazenda São João, (5) Fazenda Vargem Limpa, (6) Fazenda Campo Redondo.
o traçado, sem interromper sua continuidade. Ou ainda, dia a ocupação dos terrenos por parte daqueles que não
da pelas ações da sociedade. Fonte: CONSTANTINO, 2005. o caminho para a Fazenda Val de Palmas, interrompido dispunham de posses. Como reflexo imediato, surgiram
pela malha urbana, mas que continua na extremidade os bairros operários, além das linhas férreas, loteados
Como era a paisagem original? Na Figura 1 observa-se os limites das fazendas de- do perímetro urbano, a Avenida Elias Miguel Maluf, uma por antigos proprietários rurais. A ocupação territorial
marcados sobre o mapa atual do perímetro urbano de permanência na paisagem urbana. foi ocorrendo através de sucessivos fracionamentos da
Para a compreensão da construção da paisagem ur- Bauru, conformados pelos espigões: os lados alonga- No processo de construção da paisagem, uma crítica terra e pela forma de transmissão de suas parcelas. “A
bana de Bauru, marcada pela presença do rio Bauru e dos são geralmente as linhas do divisor de águas entre sempre presente é a de que o poder público apoia-se paisagem urbana como que se desenha e redesenha
de seus afluentes, foi necessário realizar inicialmente as duas bacias hidrográficas secundárias. Este traçado frequentemente numa visão de planejamento urbano continuamente a partir do chão; espelha primeiro a for-
um levantamento de dados nos Cartórios de Registro permitiu atender às necessidades de todos os fazen- baseada em uma operação padrão, comandável a par- ma de ocupação do solo”.15
Imobiliário. Desta maneira foi possível resgatar o dese- deiros de ter acesso à água e aos altos dos espigões: tir de coordenadas espaciais externas ao lugar, tratan- A gleba a ser transformada em solo urbano,
nho das grandes glebas – as fazendas – que circunda- os espigões da bacia do Córrego Barreirinho confor- do o espaço como um vazio no qual se pode estender geralmente tinha como um de seus limites, um curso
vam a área do patrimônio religioso e que interferiram mam a Fazenda Barreirinho; os espigões da bacia do uma retícula infinita, indiferenciada e monofuncional.10 d´água, e os demais confrontavam-se com uma ou
no traçado da cidade. Conforme Vittorio Gregotti, “nós Córrego das Flores conformam a Fazenda das Flores, No caso de Bauru, o processo de parcelamento do solo mais propriedades rurais. O agrimensor, agora arruador,
sabemos perfeitamente que a paisagem, não só a an- confrontando com a Fazenda Grande ou Água Parada e
tropogeográfica, é sempre construída historicamente Bauru – Batalha; os espigões da bacia do Córrego Água e as avenidas 25 metros, menos se a topographia local não o permitir”. Artigo avenidas terão 20 metros de largura. As ruas atuais conservarão em seus
n. 2: “Os quarteirões que forem demarcados serão em quadro com 88 metros prolongamentos a mesma largura que têem. As praças e largos deverão ser,
enquanto decisão de destinação ou de resíduo, porque Comprida conformam a Fazenda Campo Redondo; e os em cada face, salvo algum obstáculo invencível na topographia local”. Arti- sempre que o terreno o permittir, quadrados retangulares perfeitos, ou ou-
a história da atividade humana sobre aquele supor- espigões da bacia do Córrego Vargem Limpa delimitam go n. 3: “As praças ou largos terão o tamanho igual a um ou dois quarteirões”. tras figuras regulares e symetricas”.
12
BAURU, Leis e Decretos. Lei n.56 de 24 de janeiro de 1913. Código de Pos- 14
BAURU, Leis e Decretos. Decreto n.25 de 3 de junho de 1947. Regulamen-
te geográfico a construiu paciente e coerentemente a Fazenda Vargem Limpa. As fazendas acima citadas turas. “Capítulo 1: Do alinhamento, nivelamento e calçamento das ruas e ta os artigos 1, 2, 3, e 4 do Código de Posturas Municipais – Arruamentos e
praças. Art. 1: As avenidas, ruas e travessas que forem abertas na cidade e Loteamentos. “Artigo 3: Os proprietários de terrenos urbanos, suburbanos
povoações do município, sempre que o permittir a topographia local, serão ou rurais que pretenderem arruá-los ou dividí-los em lotes para a formação
7
GREGOTTI, 1975, p. 67 9
MONBEIG: 1984, pp.216-221. rectas e terão 20 metros de largura as primeiras e 17,60 as segundas, medin- ou ampliação de núcleos ou centros urbanos, deverão requerer ao prefeito
8
Em “De Natura deorum”, Cícero descreve como a segunda natureza, aquilo 10
LEITE: 1998, pp 65-75 do os quarteirões 88 metros em quadro”. satisfazendo as seguintes condições…”
que o geógrafo moderno chamaria de paisagem cultural: estradas, canais, 11
BAURU, Leis e Decretos. Lei n.8 de 20 de dezembro de 1897. Código de Pos- 13
BAURU, Leis e Decretos. Código de Posturas de 21 de janeiro de 1928.”Artigo 15
MARX, 1991, p.31
arvoredos, plantações, etc. Ver mais sobre as três naturezas em HUNT, J.D. In turas. “Capítulo I, Das ruas, praças e construções. Artigo n.1: As ruas que fo- 1: Todas as ruas que forem abertas na cidade serão rectas e terão, no mínimo 16
BRASIL. Leis e Decretos. Decreto Lei 58 de 10 de dezembro de 1937. Dispõe
the concept of the 3 Nature. In: Casabella: 1993, p. 98-101. rem abertas nesta villa e povoações do município, terão 16 metros de largura 17,60 metros de largura, medindo os quarteirões 88 metros em quadro; as sobre o loteamento e a venda de terrenos para pagamento em prestações.
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submetendo-se ao Código de Posturas do município, um acerto entre ângulos e traçados, tendo engenheiros entre as margens do córrego, para o acesso de seus onde hoje se localizam as Vilas Falcão e Independên-
tomava por base um dos limites rurais retilíneos, dando ou agrimensores como responsáveis técnicos. moradores aos equipamentos de serviços, comércio, cia. Felicíssimo construiu nas imediações da atual vila
preferência àquele que acompanhasse os pontos educação e saúde. Independência, um grande sobrado de madeira.17 A Fa-
cardeais. A retícula era lançada preliminarmente no A Fazenda Grande, “também conhecida pela zenda Grande compreende, dentro do atual perímetro
papel e depois era transportada para o terreno, com as denominação de Fazenda Bauru-Batalha e Água urbano, a Bacia do Córrego da Grama, a Bacia do Córre-
adaptações necessárias. Parada”, segundo seu Memorial Descritivo, foi go Água do Sobrado e parte da Bacia do Córrego Água
registrada em 17 de dezembro de 1898 no Cartório de da Forquilha. Fora do perímetro urbano, a Fazenda se
A reconstituição dos limites das fazendas Lençóis, de cuja jurisdição Bauru fazia parte. A mesma estende até encontrar o Rio Batalha, limite entre os
abrangia uma área de “vinte e quatro mil, seiscentos municípios de Bauru e Piratininga.
A reconstituição dos limites das fazendas foi possí- e quarenta e sete hectares, 7 ares e 62 centiares ou O primeiro parcelamento de terras na área da Bacia
vel através da pesquisa em processos de registro dos dez mil, cento e oitenta e quatro alqueires e meio”. do Água do Sobrado foi a Vila Falcão, sob a responsa-
loteamentos que apresentavam na relação cronológica No Histórico apresentado nesse Memorial consta que bilidade do agrimensor Ismael Maria Falcão. Nas Atas
de seus títulos como sendo glebas originárias de cada “pelos annos de 1854-55 o mineiro Felicissimo de Souza da Câmara de 18 de julho de 1918 é registrada a apro-
uma das Fazendas. A principal dificuldade encontrada Pereira comprou de Antonio Teixeira do Espírito Santo, vação do projeto anexando “o Bauru da Villa Falcão” ao
na pesquisa dos primeiros loteamentos foi a de que es- Philippe Antonio Moreira e Marianno José Costa suas perímetro urbano, o primeiro bairro de Bauru. O jornal
tes passaram a ser inscritos nos Cartórios de Registro posses no Rio Batalha e Ribeirão do Bauru, fazendo Diário da Noroeste, de 12 de agosto de 1925 noticiava a
Imobiliário somente a partir do Decreto Lei Federal 58 registrá-las em maio de 1856”. Na leitura do Memorial venda de “Terrenos a prestações em Villa Bella, próxima
de 1937.16 No memorial destes loteamentos consta a re- observa-se que todos os pontos de referência são às oficinas da Noroeste”. E no jornal Diário da Noroeste
lação dos lotes já compromissados, comprovando sua os acidentes geográficos, principalmente os rios e de 14 de junho de 1936 foi publicado o anúncio da “Villa
ocupação anterior, fato confirmado na pesquisa em jor- ribeirões, suas vertentes e espigões divisores de águas, Souto, a melhor de Bauru”. Somente a partir de 1937 é
nais da época. Figura 2: Reconstituição dos limites da Fazenda Barreirinho. como no trecho seguinte: “... segue pelo espigão entre que haverá a obrigatoriedade de registrar os loteamen-
Fonte: CONSTANTINO, 2005.
A Fazenda das Flores, lindeira à área do patrimônio estas duas correntes até o espigão mestre e daí desce tos em Cartório. No jornal Diário de Bauru de 01 de outu-
religioso, tinha como principal limite o espigão da ba- A Fazenda Barreirinho teve como principal limite o ao ribeirão da Água Parada na barra de um lacrimal do bro de 1947 é anunciado o lançamento da Vila Bechelli
cia hidrográfica secundária do Córrego das Flores. O espigão da bacia do Córrego Barreirinho. Historicamen- Cap. Simplício. Daí desce pelo ribeirão da Água Parada “no prolongamento do Jardim Bela Vista ... alta, plana,
primeiro parcelamento da fazenda em glebas ocorreu te a Fazenda consta pertencer a João Batista Oliveira até frontear o espigão de um lacrimal abaixo do córrego próxima à Estação Central” e da “Villa Industrial, o Bra-
entre 1906 e 1908, aparecendo linhas divisórias marcan- Gomes. O primeiro parcelamento ocorreu entre 1920 e da Cachoeirinha, sobe por este espigão até encontrar sil-fabril de amanhã”. Os novos bairros eram abertos e
tes: os caminhos radiais que ligavam o núcleo urbano 1930, aparecendo linhas divisórias marcantes. As gle- o córrego das Flores, confrontando com a Foz do Água comercializados sem infraestrutura básica.18
de Bauru a outras vilas e sedes de grandes fazendas. bas resultantes apresentam formas e dimensões regu- Parada do José Fangino. Daí segue pelo espigão à direita A área da Fazenda Campo Redondo coincide com os
Uma segunda etapa de parcelamento ocorreu na déca- lares, pois, na sua maioria, são resultantes de formal até frontear o ponto de partida e daí até este ponto, limites da bacia hidrográfica do córrego Água Compri-
da de 40, com maior intensidade. As glebas resultantes de partilha entre herdeiros. O parcelamento do solo em confrontando com o córrego das Flores”. da e parte da bacia do córrego Água da Ressaca. Suas
apresentavam formas e dimensões regulares pois, na lotes urbanos, comercializados pelos próprios proprie- Os acidentes geográficos são utilizados para demar- glebas começaram a serem loteadas a partir da década
sua maioria, eram resultantes de formal de partilha en- tários, por empresas imobiliárias ou pela Companhia car divisas e confrontações, bastante vagos e impreci- de 50. Nos jornais de março de 1957 são anunciadas as
tre herdeiros. Na terceira etapa procedeu-se o parce- Habitacional de Bauru – COHAB, que se dá à partir de sos quando comparamos com as coordenadas geográ- vendas de terrenos no Jardim Cruzeiro do Sul e no Jar-
lamento do solo em loteamentos urbanos, comercia- 1938. Os bairros do entorno, predominantemente resi- ficas utilizadas atualmente. Ao descrever a qualidade dim Marambá. Na época, esta região era considerada o
lizados pelos próprios proprietários ou por empresas denciais, têm lotes de 250 metros quadrados em média, das terras, salienta que “são extremamente férteis par- “final da cidade”, não havendo comércio ou serviços na
imobiliárias. A principal característica observada é a de reforçando a idéia de horizontalidade do conjunto. Na te das terras da fazenda ... e parte das terras é árida proximidade. O Jardim Marambá, “situado na área do as-
que cada fragmento da gleba maior, teve seu desenho década de 80, a implantação de um núcleo habitacional coberta por especial vegetação: cerrado ou faxinal.” falto, a quatro quarteirões da futura Rodovia São Pau-
em malha de xadrez justaposto ao existente, havendo de interesse social trouxe a necessidade da travessia As terras abrangiam grande área do perímetro urbano, lo - Mato Grosso, em execução”, seria “dotado de água,
17
PAIVA, 1977, p.20. “Dada a existência do luxuoso sobrado, os caminhantes 18
O jornal “Diário de Bauru”, de 5 de julho de 1954 comenta sobre a neces- um serviço de arruamento perfeito está reclamando...
e moradores da época denominavam Água do Sobrado ao riacho e às terras sidade de benfeitorias na Vila Nova Quaggio. “Conta este bairro com 120
vizinhas ao casarão”. O jornal “O Bauru”, de 4 de maio de 1913, traz o Edital de prédios habitados na sua totalidade por operários e suas famílias... A Nova as ruas estão tomadas pela vegetação. O problema de acesso é outra preo-
Divisão da Fazenda Água Parada, Bauru e Batalha ou Fazenda Grande. Quaggio reclama em primeiro plano, luz domiciliar e pública, cuja caracte- cupação bem como o serviço de esgoto”.
rização depende de entendimento entre a Prefeitura e a CPFL... Também de 19
Diário de Bauru, 03 de março de 1957.
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luz, iluminação pública e arborização de avenidas”.19 O dôminos do mesmo imóvel, a requerimento de João Sil- Quais os impactos da urbanização rio, levando em conta as condições topográficas e do
projeto, de autoria do engenheiro Olavo Alves Oliveira vério Mathias”. O início da ocupação urbana nas glebas na paisagem? solo suscetível à erosão, com as necessidades cultu-
Filho, com área total de 358.581 metros quadrados, era originárias da Fazenda Vargem Limpa se dá à partir da rais e recreacionais da população.
bastante inovador comparado a outros loteamentos década de 50. Algumas áreas apresentam manchas de No relevo suave da paisagem original, os espigões di- Propostas essencialmente técnicas não são mais
de Bauru. As ruas, acompanhando a declividade natu- vegetação remanescente de cerrado. A maior mancha visores de água serviam para delimitar as fazendas. Das aceitáveis, apesar de serem importantes para se con-
ral, com desenho em “pata de ganso”, encontravam-se de cerrado em área urbana compreende a área do Par- antigas fazendas de café pouco restou gravado no solo, seguir a aprovação nos poderes legislativos e execu-
em rotatórias com 30 metros de diâmetro. O acesso ao que Ecológico, com 321,71 ha e a área vizinha, convenia- mesmo porque sua presença foi relativamente menor tivo municipais, possibilitando obter financiamentos
Marambá era perigoso, pois cruzava a rodovia em nível. da, pertencente ao Instituto Lauro de Souza Lima, com do que em outras regiões do Estado de São Paulo e nos órgãos federais. A questão é: até que ponto esses
Somente na década de 80 será implantado o rebaixa- 217,42 hectares. pouco significado teve para a urbanização. Entretan- instrumentos afetam a compreensão da paisagem da
mento da rodovia e a construção do viaduto. to, as conseqüentes subdivisões em glebas e posterior cidade como totalidade?
No final da década de 80, a construção do Parque Re- parcelamento, como peças justapostas de um quebra- A partir dessa compreensão, ao valorizar as
sidencial Camélias, com 720 apartamentos e do Parque -cabeças, são permanências quase imperceptíveis. O características próprias e as suas potencialidades,
Flamboyants, com 640 apartamentos, vai incremen- parcelamento das glebas das fazendas originais – terra é que as intervenções urbanísticas e paisagísticas
tar o bairro, com a implantação de serviços e comér- mercadoria – tornou-se a característica básica da in- poderão superar a dicotomia entre o natural e o
cio. Próximo ao córrego Água Comprida, são lançados Tabela 01: Fazendas originais – área parcelada por décadas (hectares) tervenção humana sobre a paisagem. Por outro lado, construído. Como diz Maria Angela Faggin Pereira
novos condomínios verticais no final da década de 90: a ferrovia apresentou um papel considerável na urba- Leite, os projetos que acompanham o ritmo natural e
Campo Belo, Campo Limpo, Villa Verde e Villa Grená. A nização, tanto como atrativo de pessoas e atividades cultural de um lugar contribuem para o enraizamento
proximidade do córrego, a importância da preservação Na Tabela 01 e na Figura 4 abaixo, analisa-se com- terciárias, quanto como elemento que veio a reforçar social no tempo e no espaço, marcando a diferença
de seu fundo de vale e da mata ciliar para o microcli- parativamente os resultados dos levantamentos efe- a segmentação da cidade, ao acompanhar o fundo de entre a paisagem socialmente produzida e a paisagem
ma urbano e as possibilidades recreacionais e de lazer tuados nos Registros dos loteamentos nos Cartórios, vale do Rio Bauru, cortando o perímetro urbano. tecnicamente produzida.20 Mais do que o sistema viário
contemplativo desta área não são citadas nas propa- e verifica-se a porcentagem de área parcelada dentro Inicialmente símbolo da modernidade, um ponto de e a legislação de uso e ocupação do solo, é o sistema
gandas de lançamento dos condomínios. O loteamento do perímetro urbano atual, referente às áreas das fa- referência importante, a estação era a porta da cida- de espaços públicos que deve ser considerado como
fechado “Chácaras Odete”, lançado em 2003, situa-se zendas originais. Na área originalmente pertencente de. Hoje, a linha férrea apresenta uma paisagem de- elemento estruturador da cidade, pois apresenta
em área da nascente do córrego Água Comprida. A à Fazenda das Flores, 75,5 % se encontra parcelada e gradada, quase os fundos da cidade, um espaço onde funções sociais e ecológicas. O que não acontece
partir da década de 90, algumas glebas originárias da é onde acontecem os maiores problemas ambientais evita-se pousar o olhar. Os trilhos da ferrovia, apesar de quando são realizados apenas projetos pontuais.21
Fazenda Campo Redondo são muradas e os loteamen- decorrentes do processo de urbanização que não levou ainda serem utilizados para o transporte de carga, não
tos fechados constituem uma presença dominante na em conta as características naturais da paisagem. têm uma ligação direta com a área urbana – um espaço Considerações Finais
paisagem urbana da região “nobre” da cidade, como os utilitário, uma lembrança de outros tempos e de outros
Residenciais Paineiras, Samambaia, Tívoli e Villaggio, valores. Assim como o Rio Bauru, por onde correm as Os planos para ocupação e uso dos fundos de vale
apresentando grande sucesso comercial, mas com as águas servidas, um canal de esgoto a céu aberto, onde como áreas de parques lineares, ou mesmo grandes
costas voltadas ao restante da cidade. a intervenção humana modificou a paisagem, levando à áreas de conservação e proteção dos rios e córregos, as
A fazenda Vargem Limpa compreendia as áreas da perda dos valores ambientais. APAs (Áreas de Proteção Ambiental) ou os SECs (Setores
bacia do córrego Vargem Limpa. O jornal “O Bauru” em Os processos naturais que agem na cidade impõem Especiais de Conservação), não têm força suficiente
10 de abril de 1913, traz um anúncio sobre a Ação de um limite para a ocupação do solo devendo, portanto, para serem viabilizados. Entretanto, são tentativas
Divisão da Fazenda Vargem Limpa, em que conclama estarem inseridos nas propostas urbanísticas. Quando para garantir as paisagens que, conforme Emmanuel
“todos os interessados da divisão da fazenda Vargem não são observados, as conseqüências são conhecidas: Santos, são paisagens que apesar de possíveis, habitam
Limpa em obediência ao artigo 16 do Regulamento enchentes, erosão, poluição. Os estudos das formas de outro plano, “o plano do desejado e não realizado.” 22
n.720 de 5/set/1890, que já foi recolhido em cartório o Figura 3: Fazendas originais – Porcentagem de área parcelada por décadas. ocupação necessitam compatibilizar tanto os aspectos Apesar da obrigatoriedade de manutenção das matas
mandato para a citação de Carlos Rosa e outros con- Fonte: CONSTANTINO, 2005.
técnicos, como os de drenagem urbana e sistema viá- ciliares e da fixação de faixas de proteção ao longo

20
LEITE, 1994, p.10. 22
SANTOS, 2002, p.120
21
Ver mais sobre o tema em CONSTANTINO, 1995.

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dos rios, presentes nas legislações federais, estaduais


e municipais, está historicamente comprovado
Perspectiva, 1975.
LEITE, Maria Angela Faggin P. Projeto e uso dos espaços Metodologias de Análises contexto de bens ferroviários paulistas relacionados à
reabilitação e reuso, considerando várias compreen-
que a manutenção e fiscalização dessas áreas não públicos, o código e a interpretação. In: OLIVEIRA,A.C.; Interdisciplinares no sões disciplinares para enfrentar diferentes propósitos
acontecem de maneira satisfatória, principalmente em
função da escassez de recursos humanos, materiais e
FETRINE,Y. Visualidades, Urbanidade, Intertextualidade. São
Paulo: Hacker, 1998. pp. 65-75. Contexto do Patrimônio em relação aos bens e locais ferroviários paulistas.

financeiros. A ausência de vontade política contribui MARX, Murilo. Cidade brasileira. São Paulo: Melhoramentos/ Ferroviário Paulista A Questão do Patrimônio Industrial
para o descaso. Todos os fatores convergem para a falta EDUSP, 1980. no Estado de São Paulo
de uso desses espaços, o que faz com que os fundos de MARX, Murilo. Cidades no Brasil: terra de quem? São Paulo: Prof. Dr. Samir Hernandes Tenório Gomes
vale se tornem vazios entre lugares. Nobel, 1991. No Brasil, o esforço massivo de identificação de um
As tentativas ocorridas como o intuito de organizar, MONBEIG, Pierre. Pioneiros e Fazendeiros de São Paulo. patrimônio nacional e da sua proteção pelo Estado é
zonear, circular, acessar, não consideraram que o São Paulo: Hucitec/Polis, 1984. marcado pela fundação do SPHAN, em 1937. Um esforço
contato com a natureza, é motivo de bem estar e PAIVA, Carlos Fernandes de. Narrativas Sintéticas dos centrando primeiro nas ideias de civilização e tradição,
satisfação dos moradores, qualificando o espaço da Fatos que Motivaram a Fundação de Bauru. Bauru: Conselho
Introdução conforme mostra José Gonçalves, e depois nas ideias de
cidade. Para a paisagem urbana não existem receitas, Municipal de Educação de Bauru, 1975.
Apesar dos esforços e pesquisas aplicadas em “bens culturais” e diversidade cultural como indicadores
fórmulas ou modelos a serem importados. Está para SANTOS, Emmanuel Antonio dos. A Paisagem do Plano e no processo de identificação de um “caráter” nacional
análises espaciais de edifícios reabilitados do
ser construída através da experiência das pessoas os Planos da Paisagem: da paisagem no planejamento ao brasileiro (GONÇALVES, 2003). Neste contexto, a ideia
patrimônio ferroviário, poucos exemplos têm se
que trabalham, conhecem e vivem a cidade, mas com planejamento com a paisagem. Tese (Doutorado) - Faculdade de patrimônio industrial, como vestígio do nosso
produzido na área da arquitetura que, efetivamente,
respeito aos processos naturais e à história do lugar, de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São
do ponto de vista metodológico, contribuam com “desenvolvimento”, materializou-se no tombamento
valorizando os elementos lineares dos fundos de vale e Paulo, 2002.
recomendações sobre seus problemas funcionais e as das estruturas físicas remanescentes da Real Fábrica
das linhas férreas e principalmente, levando em conta SILVA, Alcides. Roteiro Histórico de uma Cidade e uma
anomalias construtivas, ambientais e funcionais. No de Ferro São João de Ipanema (Iperó, SP) pelo SPHAN,
as necessidades estéticas, culturais e ambientais. Instituição. Bauru: Tipografia Comercial, 1957.
contexto paulista, inexiste avaliações que explorem a em 1964. A questão do patrimônio industrial foi depois
potencialidade de reabilitação de edifícios paulistas do colocada num trabalho de Waren Dean sobre a fábrica
Referências bibliográficas patrimônio ferroviário, a fim de identificar parâmetros de tecidos São Luiz (1868), dentro da perspectiva de
de melhoria de qualidade no processo projetual e compreensão da industrialização no Brasil induzida
CONSTANTINO, Norma R.T. Sistema de áreas Verdes para
elaboração de diretrizes para futuros projetos de pelas exportações de café (DEAN, 1971). A discussão
a cidade de Bauru. 1995. Dissertação (Mestrado em Projeto,
reabilitação. Tais iniciativas poderiam estar canalizando tomou corpo apenas em 1986, no Seminário Nacional
Arte e Sociedade) – Faculdade de Arquitetura, Artes e
esforços, principalmente analisando fatores de de História e Energia, promovido pelo Departamento
Comunicação, UNESP, Bauru, 1995.
adaptabilidade, compatibilidade/incompatibilidade, de Patrimônio Histórico, em São Paulo. Na ocasião,
CONSTANTINO, Norma R.T. A Construção da Paisagem
reformas e alterações, convertibilidade, reutilização Ruy Gama admitiu que os engenhos eram estruturas
de Fundos de Vale: o caso de Bauru. São Paulo: 2005. Tese
espacial, versatilidade e satisfação do usuário. A adoção representativas de instalações manufatureiras do
(Doutorado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
constante das técnicas metodológicas relacionadas período colonial, dentro de uma história da técnica,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2005.
à avaliação pós-ocupação, por meio da aplicação e seriam também importantes enquanto patrimônio
CONSTANTINO, Norma R.T.; RIGITANO, Maria Helena C.
comparativa em diversas pesquisas e estudos de industrial. Em outra conferência do mesmo evento,
Contribuição ao estudo da paisagem urbana de Bauru. Texto
casos semelhantes ou em um dado estudo de caso, de Ulpiano Bezzera de Menezes destacou algumas
apresentado no V Seminário de História da Cidade e do
forma sequencial e constante no tempo, parece ser o dificuldades particulares ao campo do patrimônio
Urbanismo. Campinas: PUCCAMP, 1998.
procedimento mais eficiente na busca para o melhor industrial e fez uma consideração sobre exemplos do
DEFFONTAINES, Pierre. Como se constituiu no Brasil a
desenvolvimento de projetos futuros de reabilitação patrimônio industrial no caso do Brasil e sua relação
rede de cidades. In: Boletim Geográfico (São Paulo), v.14,
desses espaços edificados. com a dinâmica socioeconômica – particularmente
p.141-8, 1944; v.15, p.229-308, 1944.
Este texto tem o objetivo de refletir a respeito da im- sobre a ocupação portuguesa e o cultivo agrícola
GREGOTTI, Vittorio. O Território da Arquitetura. São Paulo:
portância de modelos de análises interdisciplinares no (GAMA, 1988). Dentro destas diretrizes discorre, por

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exemplo, Margarida Andreatta ao apresentar o trabalho ambiente construído, para que possa somar a utilidade do seu uso. Intervenções deste tipo, seja ela qual for, não respeito a maioria dos valores materiais, técnicos
de resgate arqueológico do Engenho dos Erasmos, e o seu verdadeiro papel na sociedade. Incluso nesse implicam uma mudança no contexto de projeto, na e culturais do edificado. Não há um consenso quanto
por ela coordenado, em Santos (SP), ocorrido entre processo, a reconversão dos edifícios do patrimônio dimensão cultural/social e também na relação física à real adaptabilidade desses edifícios históricos para
1997 e 1999 (ANDREATTA, 1999). De modo semelhante, industrial buscam proteger e preservar, adaptando- com o entorno. Nesse sentido, a reconversão de usos outros fins. Tais intervenções renegam os estudos
Beatriz Kühl tem um estudo notório sobre a arquitetura os às novas necessidades, além de assumir o seu surge como um grande vetor de mudanças que vão de identidade cultural, bem como a permanência
ferroviária em São Paulo. O patrimônio industrial é significado histórico original ao integrá-lo num novo desde aumento do período de vida de um edifício, dos valores atribuídos aos edifícios inseridos nos
apreendido aqui enquanto realização arquitetônica, da estrato da cidade. Fora isso, a questão está atrelada ao até ao encontro às necessidades reais do contexto e novos programas. Se por um lado, a instalação
tecnologia e da construção com ferro (KÜHL, 1998). conceito de valor local e identidade, tendo em conta as usuários. Essa abordagem passa necessariamente pelo de novos usos em edifícios históricos constitui
Relacionada à temática do patrimônio industrial necessidades funcionais atuais e futuras, adaptando- reaproveitamento de acervo arquitetônico protegido, uma situação adequada para a requalificação do
no Estado de São Paulo, consideramos a importância se um edifício antigo, em desuso, a uma nova função, recuperando-o e trazendo-o para uma nova utilização patrimônio arquitetônico, resgatando-o de um eventual
da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, Companhia dando-lhe assim uma nova vida sem renunciar ao seu espacial, além de contribuir para a preservação de bens abandono e conferindo-lhe novos usos, por outro, esta
Paulista e Estrada de Ferro Sorocabana. Em São valor intrínseco. culturais e enquadramento sustentável. requalificação tende a ser controversa, pois se trata
Paulo, a primeira empresa ferroviária foi a São Paulo Procurando elucidar questões relacionadas ao Tratando-se da reutilização de edificações do patri- de um programa complexo que, em muitos casos, não
Railway, fundada em 1860 em Londres. Neste caso, a tema, Fragner (2012, p. 113) pondera que, a atuação mônio industrial, questões de identidade, escala e ex- pode ser completamente concretizado nos espaços
empresa tinha comprado a concessão de construção e da reconversão do patrimônio industrial não deve periência urbana ganham, principalmente, importância existentes. Em muitos casos, inexiste a preocupação do
exploração de transporte a partir do porto de Santos, ser executada de forma radical, de maneira que o vital na preservação da memória coletiva e identidade correto uso da adaptabilidade, do estudo de requisitos
ligando à área agrícola da época. No começo do século valor histórico e a atração do lugar se mantenham e de um lugar. Esta experiência de identidade começa e do real entendimento das necessidades funcionais da
XX, o Brasil tinha uma rede ferroviária de 17.605 km, cresçam ao longo dos anos. O autor relata que, quando no espaço físico e se desenvolve nos sistemas espa- nova utilização. Nestas situações, a falta de indicadores
sendo que São Paulo, com 4.041km, era o estado com a um lugar se submete a uma transformação estrutural ciais, permeados principalmente pelos elementos da das capacidades construtivas de tais edificações, tem
maior malha ferroviária, seguido de Minas Gerais (3,932 radical, a memória do mesmo torna-se um lembrete paisagem, pessoas e acontecimentos. Visto sob esta retirado o verdadeiro significado cultural, cujo potencial
km) e Rio de Janeiro (2,422 km). Vale destacar ainda isolado ou mesmo fragmentado da extinta atividade ótica, a memória e os lugares ajudam a definir a iden- poderia permitir ganhos socioculturais e econômicos
que, o estado de São Paulo era o que mais transportava humana. Nessa possibilidade, o patrimônio industrial tidade dos espaços que se relacionam à reutilização e previsíveis; a começar pela ação de impedir o avanço
carga, com 1,9 milhões de toneladas (5 vezes mais reconvertido continua, assim, a existir como um reconversão. Sendo assim, Pereira (2007) destaca que, da condição degradante.
que outras empresas do mesmo período). Finalmente, símbolo ou uma referência, apesar da informação que as questões relacionadas à identidade e reutilização
o estado concentrava as empresas mais rentáveis no transmitem já estar desligada do seu contexto histórico. de um edifício e sobre os valores atribuídos a ele são a A Problemática do Reuso do Patrimônio
Brasil no setor de transporte, sendo a São Paulo Railway A maioria dos projetos de regeneração do patrimônio base necessária para uma intervenção num patrimônio Industrial Ferroviário no Contexto Paulista
Company, Sorocabana Railway Company, Companhia industrial está relacionada tanto com elementos edificado. Esses elementos característicos têm grande
Paulista de Estradas de Ferro e Companhia Mogiana de funcionais como sociais. Pelo forte impacto que a importância na atribuição, principalmente dos valores Com a finalização dos serviços das principais
Estradas de Ferro. indústria e o seu declínio tiveram numa comunidade, de identidade sobre os quais se baseiam as diretrizes empresas ferroviárias do Estado de São Paulo na década
é tão importante uma forte consciência social, que e critérios a serem adotados no projeto de reutilização. de 1990, todos os complexos ferroviários localizados
A Reutilização do Patrimônio Industrial sustente a regeneração do patrimônio. Portanto, a adequação de uso implica em um traba- nas principais cidades do interior perderam sua função
Mateus (2011) relembra que, a adaptação ou lho de reintegração à identidade espacial por meio da original, transformando-se gradualmente em áreas
A evolução dos modos de usos do ambiente construído readaptação no ambiente construído do patrimônio adaptação desses edifícios, considerados patrimônio abandonadas e marginalizadas. Extensas áreas estão
leva constantemente à necessidade de adaptação industrial apresenta como uma questão de suma arquitetônico, às necessidades do novo uso. encravadas em regiões centrais das cidades, permitindo
e requalificação de muitos dos espaços existentes importância em termos da necessidade de se projetar Entretanto, Pereira (2007) pondera que, em muitos ao longo dos anos, profundos desajustes nas dinâmicas
em nossas cidades. Visto por esse lado, o elemento para o futuro de uma sociedade em constante mudança. casos, os projetos de intervenções do patrimônio e conformações dos tecidos urbanos. No Estado de
fundamental para a sobrevivência dos espaços, passa A autora destaca que, as intervenções de reutilização industrial atuais têm apresentado interpretações São Paulo, com o processo de liquidação das empresas
invariavelmente pela sua capacidade de adaptação ou deste gênero, mais especificamente, de reconversão errôneas em suas diversas formas de atuação, como públicas férreas e de energia, projeto do governo
readaptação. Ou seja, a reconversão de usos mostra- de uso, surgem como uma solução para dar utilidade por exemplo, dicotomia projetual entre forma/função, federal e do governo estadual, durante a década de 1990,
se, portanto, como a maneira de intervir e reutilizar o a edifícios obsoletos e muitas vezes desadequados desqualificação da relação do edifício com o lugar e todo o patrimônio da FEPASA foi incorporado à Rede

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Ferroviária Federal S/A (RFFSA), mais precisamente da arquitetura industrial, derivada da Revolução reafirmam uma série de desconexões nos processos A partir da verificação de erros e acertos do ambiente
em 1998. Através de concessão, em dezembro de 1998, Industrial. No estudo, Kuhl (2010) traz importante de intervenções projetuais ocorridas no caso paulista em uso, permite conhecer, diagnosticar e formular
foi transferida a malha férrea para grupos privados reflexão a respeito das transformações dos edifícios como, impactos negativos no espaço urbano existente, diretrizes para produção (projeto e construção) e
de transporte. Os bens entendidos como “ativos ferroviários, principalmente, dos processos de erros nas transferências de posse de edifícios e linhas, consumo (uso, operação e manutenção). Sua aplicação
operacionais” (infraestrutura, locomotivas, vagões e intervenções projetuais nesses bens culturais ao longo projetos arquitetônicos inadequados, dentre outros. e importância encontram-se essencialmente baseados
outros bens vinculados à operação ferroviária) foram dos últimos anos. Dentre as principais constatações Observam-se neste contexto, desarticulações no nos relatos daqueles que usam os espaços edificados
arrendados à concessionária Ferrovia Bandeirantes e problemas, a autora destaca: (a) – Na maioria dos processo político/cultural que envolve os diversos (PREISER, 1988; BECKER, 1989; REIS & LAY, 1994). Para
(FERROBAN), depois adquirido pela América Latina casos, as intervenções, protegidas ou não por lei, agentes sociais, em diferentes formas de ocupação isso, a tomada de decisões quanto a alternativas de
Logística (ALL). ignoram a ideia do conjunto construído e operam desses espaços. Fora isso, importante mencionar projeto, bem como a aplicação de procedimentos
ações isoladas; (b) – Mesmo sabendo a importância a instabilidade política existente na maioria das metodológicos rigorosos, aferindo ambientes
dos critérios econômicos e financeiros nos projetos prefeituras que gerenciam projetos de intervenções, construídos, trabalhando não só com teorias projetuais,
de intervenções, esses elementos têm dominado as desencadeando problemas não só na gestão de mas efetivamente atuando junto às populações
operações de preservação; (c) – Com frequência, pelo reutilização dos edifícios, mas também na falta usuárias, integram pesquisas cujos resultados se
desconhecimento relacionado às informações que de ações duradouras e consistentes. Para muitas voltam à melhoria do ambiente construído (SANOFF,
caracterizam os edifícios, as propostas arquitetônicas prefeituras, o atual estado de endividamento, as 1991; PREISER, 2001).
operam sistemas fragmentados, usos indevidos restrições legislativas sobre os gastos e a falta de Nessa vertente, destaca-se o trabalho de Hillier
em espaços abertos, descontinuidade espacial e técnicos para desenvolver os estudos, são fortes (2002), na qual tem desenvolvido estudos de
obstruções nas configurações das edificações; (d) – empecilhos no desenvolvimento coerente de projetos casos baseados em seleções amostrais rigorosas,
Com o foco primordial no interesse cultural, objetivando de intervenções. análise comparativa de dados, além de atitudes e
a valorização da imagem das instituições envolvidas no comportamento humanos relativamente fáceis de
resgate patrimonial, as intervenções têm deixado de Metodologias de Análises em Edifícios serem mensurados em edifícios reconvertidos. Em
lado os aspectos simbólicos, formais, documentais e do Patrimônio Industrial estudos de adaptabilidade em edifícios industriais, o
Figura 1. Complexo Ferroviário FEPASA em Jundiaí. Fonte: Gomes, 2019. testemunhais. autor destaca a correspondência entre a configuração
Nos últimos anos, pesquisas tem procurado aplicar espacial da edificação e um dado padrão de atividade
Kuhl (2010), em seu estudo a respeito do legado da metodologias de análises espacial-funcional em edi- social. Nessa visão, determinado edifício é entendido
expansão ferroviária no interior de São Paulo destaca fícios do patrimônio industrial, avaliando alterações como um conjunto de sistemas técnicos inserido em
uma importante coleção arquitetônica de edifícios espaciais e funcionais ocorridas após a sua ocupação, um contexto de sistemas sociais, quando ativado o
ferroviários originados não só das estações, mas principalmente analisando fatores de adaptabilidade, processo de reabilitação, sustenta a possibilidade de
também de plataformas, rotundas, oficinas, escritórios compatibilidade/incompatibilidade, reformas e altera- sobrevivência desse sistema porque a adaptabilidade
e casas de máquinas, ou seja, elementos presentes ções, convertibilidade, reutilização espacial, versatili- não depende, exclusivamente, da espacialidade
na configuração do sistema ferroviário paulista. Além dade e satisfação do usuário. A adoção constante de edificada. É uma propriedade determinada pela relação
de formar o conjunto de linhas, pátios ferroviários e técnicas metodológicas relacionadas à avaliação de entre o usuário e o edificado. Dessa forma, o processo
redes, algumas dessas construções podem se colocar edifícios do patrimônio industrial, por meio da aplica- evolutivo de um edifício, depende não só da sua estrutura
entre as principais do país em suas categorias, seja ção comparativa em diversas pesquisas e estudos de construtiva, espacial, funcional, social, mas também,
devido à dimensão, seja em termos de linguagem e Figura 2. Oficinas Complexo Ferroviário em Bauru. Fonte: Gomes, 2019. casos semelhantes ou em um dado estudo de caso, de de relações estabelecidas entre um determinado
tecnologias avançadas para sua época. Dessa maneira, forma sequencial e constante no tempo, parece ser o contexto geográfico, histórico, econômico, de extensão
todo complexo arquitetônico ferroviário paulista é A problemática da preservação e reutilização do procedimento mais eficiente na busca para o melhor dos laços comunitários, etc. A adaptabilidade é um
parte integrante da paisagem urbana das cidades do patrimônio ferroviário paulista também é apontada desenvolvimento de projetos futuros ou utilizados processo contínuo enquanto que a flexibilidade é um
interior, exemplares aos quais repercutem no próprio por Santos et al. (2014), destacando as dificuldades como instrumento de interesse na avaliação desses processo pontual, um particular momento no processo
território e são entendidos como importante legado associadas a sua conservação e uso. Os autores espaços edificados. de adaptabilidade.

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Estudos de Hillier (2002) contribuíram para históricas há alguns anos. Iniciativas que se utilizam do trabalho desenvolvido pelo IAPH – Instituto Andaluz tecnologia digital em passeios históricos no projeto
a avaliação de edifícios utilizando modelos de Sistema de Informações Geográficas (SIG) para além del Patrimonio Histórico, na cidade de Sevilha. “Sistema de Informação Ativa dos Espaços Públicos de
análise, relatando a correlação entre a estrutura da aplicação direta da estatística ou cartografia. De um Particularmente o caso espanhol nos interessa Andaluzia – Laboratório de Paisagem Transversal em
configuracional dos sistemas espaciais (arquitetônicos lado, o SIG tem sido um recurso que permite ampliar a pelas discussões em torno da produção científica Andaluzia”. O uso das metodologias de identificação
e urbanos) e o processo social da adaptabilidade. Na quantidade de informação a ser analisada. Neste sentido, teóricometodológica do patrimônio espanhol e suas relacionadas a conjuntos industriais, tendo como
análise, a linguagem formal das dinâmicas urbanas de destaque, citamos os trabalhos desenvolvidos possíveis aplicações no Estado de São Paulo utilizando foco o inventário, através da demarcação geográfica
e arquitetônicas mantem relação direta com as pelos prof.s J. B. Owens (Idaho State University) com o o patrimônio ferroviário paulista como um dos estudos dos edifícios e a avaliação de infraestrutura presente,
estruturas sociais. Nessa ótica, o espaço adquire projeto Geographically-Integred History and Dynamics de caso. A instituição tem executado mapeamentos a partir de Sistema de Informação Geográfica (SIG),
uma determinada ordem e expressão formal (tipos GIS [SOCNET], e Ian Gregory (University of Lancaster) patrimoniais digitais através da ferramenta de Sistema permite aplicar práticas de localização e identificação
morfológicos) a partir de um processo social. Segundo com o “Spatial History Project” (University of Stanford). de Informação Geográfica (SIG), na qual conta com a de bens culturais nos processos de reativação
Hillier (2002) o entendimento entre organização A perspectiva de pesquisa de uso do SIG nos estudos classificação de paisagens a partir de características espacial e funcional decorrentes, contribuindo para a
espacial e organização social de um edifício deve históricos tem se alargado nas ultimas décadas na comuns contidas em cada espaço e tipologia gerais, compreensão da condição de adaptabilidade destes
ser compreendido em um quadro de categorias de Europa e Estados Unidos. O que pode ser notado nas que passam a ser subdivididas em grupos mais edifícios e conhecimento da capacidade de resposta do
organizações sociais possíveis e de categorias de iniciativas do Economic and Social Research. Council específicos, como por exemplo, no grupo “sistema de espaço arquitetônico às solicitações decorrentes das
formas espaciais possíveis. Ora, dentro de um olhar (ESRC), do Reino Unido, que inclusive mantém uma rede infraestruturas territoriais”, classificando, identificando atividades implementadas.
de análise ocupacional, o processo evolutivo de um internacional de pesquisa em SIG histórico. Há várias e descrevendo os elementos do espaço urbano. Os Tais iniciativas já tem tido desdobramento de traba-
edifício, depende da sua estrutura - construtiva, outras instituições que trabalham nesta linha (Social recursos implementados pelo georreferenciamento, a lhos no Brasil. Dentro do projeto Spatial History Pro-
espacial, funcional, social – mas também depende Science History Association, Eletronic Cultural Atlas partir do SIG, tem ajudado na identificação e na análise ject tem se desenvolvido na linha de história urbana
das relações específicas com um contexto envolvente Iniciative, The Association of Americam Geographers), de edifícios isolados e conjuntos a partir de um banco em três projetos colaborativos entre pesquisadores
(significado histórico, valor de memória, extensão dos projetos internacionais realizados (Digital Atlas of The de dados constituídos por amplas informações. Além norte-americanos e brasileiros. O primeiro projeto, co-
laços comunitários, funcionalidade económica, etc.). History of Europe since 1500, European Communications disso, a tecnologia tem sido capaz de instrumentalizar ordenado por Zephyr Frank, é de um mapa digitalizado
and Transport Infrastructures 1825-2000, The Valley of levantamentos e inventários de edifícios do patrimônio do Rio de Janeiro de 1866 com detalhamento de ruas e
Inventários Digitais e a Reabilitação the Shadow Project USA1860-70), eventos ocorridos industrial ferroviário, demostrando a importância de propriedades para fins de analises históricas. Proposta
do Patrimônio (Spatial Digital History 2014, GIS in the Humanities an análise dos diversos programas de usos, organização que foi realizada em colaboração com o Centro de Pes-
Social Sciences 2009) e publicações que tem o SIG espacial e os sistemas de inserção em cidades quisa em História Social da Cultura (CECULT), da Uni-
Observamos na bibliografia consultada que, nas como instrumento de levantamento de dados e análise espanholas. Na mesma direção encontramos outro camp, sob coordenação de Sidney Chalhoub, dedicado
últimas décadas, o experimento de novas tecnologias em diversas linhas de pesquisa histórica (demográfica, importante grupo de pesquisa na cidade de Sevilha: a história espacial do Rio de Janeiro no século XIX e XX.
disponíveis de inventários digitais (uso de cartografia urbana, transporte, econômica, militar e religião). o SEVLAB, laboratório vinculado à Faculdade de Temos ainda o Laboratório de Estudos de Cartografia
de dados e criação de infraestrutura de dados Um segundo aspecto, são estudos que demandam Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de Sevilha. Histórica, coordenador pela profa. Iris Kantor (USP),
espaciais) a fim de constituir uma rede de investigação análises espaciais na perspectiva social ou mesmo Esse laboratório é coordenado pelos professores Dr. que desde sua criação em 2006 promoveu na FFLCH/
sobre patrimônio cultural, capaz de produzir culturais. O que se aplica a alguns dos projetos acima, Julián Sobrino Simal e Dr. Enrique Larive López que USP a pesquisa em documentação cartográfica - parti-
informação sistematizada e georreferenciada, tem mas também na perspectiva cultural que permite, atuam nas frentes de proteção, difusão e ativação cularmente aquela referente aos séculos XVI a XVIII. O
possibilitado o aumento considerável de informações por exemplo, a análise da representação da paisagem do patrimônio industrial. Inúmeros projetos são terceiro projeto é coordenado por James Green (Brown
disponíveis. Essas novas possibilidades e interações, na literatura em Mapping John Glassco`s Memoirs of desenvolvidos no local, dentre eles destacamos a University), sobre moradores e negociantes da antiga
proporcionadas principalmente pelo uso destas novas Montparnasse (Anouk Lang, University of Birminghan), proposta de inventariar a história dos bens tombados Praça de Tiradentes, na mesma cidade. Outros grupos
tecnologias digitais, tem referendado na identificação ou levantamento da produção teatral local e o seu por meio de tecnologia móvel dos celulares através de pesquisa estão utilizando SIG ou Tecnologia de In-
de patrimônio cultural, um novo panorama de público, como em Mapping Perfomance Cultural: do código de barras bidimensional, uso de drones no formações nos estudos de levantamento patrimonial,
potencialidades e aplicações. Nottingham 1857- 1867, realizado pela University of mapeamento digital de sítios urbanos patrimoniais, inclusive com financiamento da FAPESP. Citamos a
No âmbito internacional, há grupos de pesquisa que Nottingham. informação histórica sobre o Patrimônio Cultural pesquisa coordenada pela profa. Dra. Luzia Sigoli Fer-
já fazem uso deste tipo de tecnologia nas pesquisas Ainda no contexto internacional, destacamos o Material de Sevilha com consulta digital e uso da nandes Costa (UFSCar) com um trabalho sobre meto-

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dologias sobre inventário do patrimônio cultural rural realizar análises espaço-temporais sobre o bem na ausência delas), um maior entendimento sobre a real mínimos, arranjo espacial, sinalização interna e
paulista; e mais recentemente, o grupo de pesquisa cultural e o monitoramento dos processos de importância de vários aspectos tratados do tema do acessibilidade podem ser utilizados como suporte
coordenado pelo prof. Luis Ferla (UNIFESP), que utiliza intervenções no bem cultural protegido. A grande patrimônio ferroviário. Nesse sentido, os procedimentos de desenvolvimento à formulação de diretrizes no
projeto sobre tecnologia de SIG na investigação histó- capacidade de processamento eletrônico de dados metodológicos, utilizados durante a APO mostram-se processo projetual e elaboração de futuros projetos de
ricas, em colaboração com o Arquivo Público do Estado georreferenciados permite simular cenários futuros adequados aos objetivos da pesquisa. Contudo, como reabilitação;
de São Paulo, num projeto-piloto sobre enchentes na para uma ação, manusear e analisar várias camadas uma das intenções é fornecer uma visão estruturada de
cidade de São Paulo. de informações, gerar propostas de controle. O uso do conhecimentos e estudos referentes ao aprimoramento 4. Quanto à utilização do mapa de descobertas:
No Brasil, esta tecnologia já tem sido utilizada georeferenciamento é particularmente indicado para dos métodos e das ferramentas aplicados ao tema, são os procedimentos associados aos levantamentos
pelo IPHAN no registro do patrimônio ferroviário de o manejo de dados em sítios históricos ou elementos relacionadas, a seguir, observações referentes a cada fotográficos, às informações colhidas no local, as
Pernambuco. Recentemente, com a criação do banco urbanos complexos. Permite otimizar as análises e etapa da pesquisa nos estudos: plantas gráficas dos edifícios escolhidos e à percepção
de dados pelo órgão nacional (o Sistema Integrado intervenções urbanas, ao considerar a complexidade dos usuários, agrupados numa sequência de tópicos e
de Conhecimento e Gestão – SICG) vinculado ao de variáveis espaciais na cidade. Deste modo, o 1. Quanto à aplicação dos questionários: na redução de observações, servem como um importante insumo
“Sistema Nacional de Patrimônio Cultural”: o SIG- geoprocessamento é considerado um instrumento da quantidade total das questões, restringindo-a para a compreensão dos resultados da avaliação.
IPHAN, que contém dados históricos e espaciais para particularmente relevante no monitoramento das somente aos elementos estritamente relacionados ao Além disso, a aplicação deste instrumento mostra-se
planejamento e monitoramento de obras em bens intervenções no patrimônio histórico em área urbana. objeto do trabalho – aspectos funcionais relacionados bastante positiva pela busca da síntese e da construção
tombados. Conforme o IPHAN, o “SICG possibilita o às transformações ocorridas no edifício estudado de uma comunicação mais fluida entre os agentes
cadastro unificado dos bens culturais, constituindo a Por uma Metodologia de Análise para – consegue-se diminuir o tempo de preenchimento envolvidos no processo de análise e encaminhamento
base de uma cartografia do Patrimônio, uma vez que Reabilitação de Edifícios do Patrimônio numa ordem bastante considerável; algumas das propostas da pesquisa. Ressalta-se a visualização
todos os bens serão georreferenciados e classificados Ferroviário Paulista perguntas relacionadas aos aspectos técnicos, as quais e a apreensão de códigos, imagens e textos, de forma
conforme sua categoria e recortes temático e territorial poderiam trazer respostas dúbias ou dificuldades no sintetizada, utilizadas no contexto de uma APO, podem
dos estudos.” É o esforço de criação de um sistema A sistematização de métodos utilizados no entendimento das informações, podem ser eliminadas ser fundamentais na síntese dos levantamentos e
unificado como base de dados e com metodologia entendimento do processo de produção de edificações, ou substituídas; o aproveitamento das respostas pode dos diagnósticos parciais ou completos, auxiliando na
única de documentação e inventário de bens culturais. mais precisamente, os métodos da APO aplicados ficar mais produtivas, pelo fato dos pesquisadores determinação dos principais itens a serem priorizados
O SICG será a primeira experiência em escala brasileira ao ambiente construído, vem sendo utilizados já há estabelecerem um vínculo muito estreito; nas recomendações.
relacionada ao uso algumas ferramentas espaciais vários anos por importantes pesquisadores (ORNSTEIN, Na fase da aplicação dos Instrumentos de Avaliação
na gestão do patrimônio cultural. Alguns órgãos 1997; PREISER, 1998; SANOFF, 2001). A aplicação 2. Quanto à ocupação física, dos procedimentos das podemos considerar os seguintes fatores funcionais:
de preservação em estados brasileiros tem feito continuada de metodologias de projeto como forma vistorias e das medições: todos esses procedimentos
esforço de incorporar as informações geográficas de se conceber instrumentos confiáveis na geração se mostram eficientes, na medida em que fornecem
para a gestão do patrimônio cultural. O Sistema de e no gerenciamento de equipes multidisciplinares de subsídios importantes para o entendimento das
Informações do Patrimônio Cultural da Bahia (SIPAC) projeto tem se mostrado o caminho mais adequado avaliações efetuadas após os resultados de cada caso;
também foi concebido como instrumento de gestão para minimizar e reduzir falhas nas etapas de criação,
de informações para uma política de patrimônio execução e operação do ambiente construído (PREISER 3. Quanto à utilização dos parâmetros técnicos: os
cultural estadual, e que também inclui informações & VISCHER, 2005). parâmetros utilizados como referência nos ambientes
georreferenciadas. O domínio de software e O entendimento da problemática da reabilitação dos estudos de caso, abrangendo os aspectos funcionais
equipamentos de georreferenciamento não é familiar arquitetônica em edifícios ferroviários no âmbito – sistema construtivo, configuração espacial interior,
aos estudos históricos e o potencial de aplicação nesta paulista e a formulação de diretrizes para os futuros patrimônio integrado e depois, dimensionamentos
área está em aberto no Brasil. projetos destes ambientes, pode envolver a aplicação
Enfim, em relação às geotecnologias aplicadas dos métodos da APO do ambiente construído, para 1
O projeto Memória Ferroviária é financiado pela FAPESP e trabalha nas experimentação de novas metodologias de registro (de cultura material ou documental),
ao inventário e a preservação do patrimônio aferir as necessidades dos usuários relacionados reavaliar diretrizes de preservação e diferentes instrumentos de ativação (funcional, potencial e sensorial) sobre o patrimônio industrial, a partir de perspectivas
ferroviário, há igualmente um campo extenso de aos fatores funcionais. O processo metodológico de teórico-metodológicas multi e interdisciplinares. Parte-se de várias compreensões disciplinares (história, arqueológica, urbanística, arquitetônica, antropoló-
gica, turística) para enfrentar diferentes propósitos em relação aos bens e locais ferroviários: identificação, correlação, aplicação de novas tecnologias, instru-
possibilidades. Em termos objetivos, elas permitem análise, busca compreender dentro das respostas (ou mentos de proteção e políticas públicas. A equipe é formada por pesquisadores da UNESP, USP, UNICAMP, PUCCAMP, Fundación de los Ferrocarriles Españoles,
Universidad de Sevilha, Universidade de Tucumán, Argentina, Universidade de Málaga, Espanha, Universidade de Birmingham, Inglaterra, University of Science
and Technology Beijing – ICHHST/USTB, China.
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administração, empregados, chefes de setores, entre do ambiente; (e) “Site” – O envolvente, o contexto onde que permite a criar, gerenciar, armazenar e acessar os
outros. Essas informações são relevantes na medida o edifício está inserido; (f) “Structure” – Equivalente a objetos digitais. Todas as funções do sistema, tanto no
em que fornecem subsídios nas análises técnicas e camada “Shell; (g) “Skin” – Fachadas e coberturas; (h) nível de administração do repositório como no nível do
funcionais quanto à satisfação a partir da confirmação “Services” – O mesmo já definido por Duffy; (i) “Space acesso aos objetos digitais são disponibilizados por
ou não das expectativas em relação ao desempenho plan” – Equivalente ao “Scenery”; (j) “Stuff” – Equivalen- este repositório de serviços.
percebido. Utiliza-se também o “Mapa de Descobertas” te ao “Set”. Esta metodologia se apresenta como uma
no processo de diagnóstico dos fatores levantados, já ferramenta útil, orientando um novo projeto ou mesmo
que o método identifica questões de inadequações e analisando a situação atual de uma edificação existen-
adequações às situações existentes e outras variáveis, te, fornecendo referências para definir e analisar a sua
por meio de comentários e esquemas figurativos adaptabilidade e funcionalidade, que influenciam dire-
anotados na planta dos estudos de caso. No final, os tamente as decisões de projeto de reabilitação.
elementos levantados pelo “Mapa de Descobertas” Com relação ao processo de Diagnóstico e às reco-
servem de base para as futuras análises e observações mendações dos estudos de caso, todos estão centra-
dos diagnósticos finais. Segundo Sanoff (apud VOORDT; dos nos resultados provindos dos índices de desem-
WEGEN, 2005) a programação de um ambiente penho satisfatório (conceitos mais elevados) e dos
construído é um sistema de coleta e de processamento quesitos de desempenho insuficiente (conceitos mais Figura 3: Imagem da Página Inicial do Sistema Memória Ferroviária. Fonte: Gomes, 2018.
de informações que irá mostrar caminhos para o baixos). É possível compor uma visão geral de todos os
projeto, com intuito de agregar as necessidades dos itens significativos, tantos positivos como negativos O sistema fornece uma interface Web para a pesquisa
usuários, dos contratantes e dos projetistas. Neste dos elementos componentes dos ambientes constru- e o cadastro no repositório de objetos, trabalhando em
contexto, a compreensão clara das diversas propostas ídos escolhidos, objetivando assim, propor um plano de três núcleos centrais: Pessoas, Cadastros e Dados. Esta
do ambiente construído, no âmbito dos diagnósticos intervenções, ou seja, de curto, médio e longo prazo. interface Web permite ao usuário buscar objetos, obter a
realizados, necessariamente deve colaborar, tanto Finalmente, recomendam-se como proposta visão do perfil deste objeto, listar e acessar diretamente
para projetistas quanto para usuários, alternativas metodológica, o uso de Georreferenciamento SIG, todas as características de todos os seus descritores.
concretas de possibilidades ou impossibilidades no por meio do Google Earth, que permite a demarcação No núcleo Pessoas é possível visualizar toda a equipe
processo projetual. geográfica de conjuntos ferroviários, e auxilia na de pesquisadores, local de origem da instituição,
Para a realização do diagnóstico dos edifícios fer- identificação de infraestrutura presente no entorno além da possibilidade de efetuar novos cadastros. O
roviários, conta-se com a metodologia denominada desses edifícios. No caso desta proposta, considera-se núcleo Cadastros traz todas as funcionalidades de
“Shearing Layers”, conceito de Francis Duffy que tem a classificação de paisagens a partir de características administração do repositório quanto aos cadastros
Outra etapa relevante refere-se aos resultados como princípio estruturador, a percepção do edifício comuns contidas em cada espaço, inicialmente com dos acervos documentais, dos bens edificados e das
do Diagnóstico, onde serão consolidados por meio através de distintas camadas sobrepostas com dife- uma tipologia geral que passa a ser subdividida em empresas ferroviárias estudadas na pesquisa, que pode
da análise e da avaliação do conjunto de dados e rentes ciclos de vida e de interdependência. Steward grupos mais específicos, classificando, identificando e ser acessado utilizando interfaces disponibilizadas
informações coletados fruto do levantamento dos Brand (1995) expande esse conceito com mais quatro descrevendo os elementos do espaço urbano e quesitos por meio de web services. Vale destacar que no item
elementos funcionais e pelos usuários, ou seja, a fase do camadas de Duffy para seis mais abrangentes, que se estudados. No caso, a partir do SIG, é possível identificar que trata do Acervo é possível listar a localização,
diagnóstico procede-se no cruzamento, de cada item, apresentam de acordo com a sequência construtiva do e analisar os locais estudados complementados por um identificação, constituição, bens associados, gestão,
dos resultados das informações técnicas dos estudos edifício (BRAND, 1995): (a) “Shell” – Correspondente ao banco de dados constituído por amplas informações. descritores e proteção. Último núcleo, denominado
de caso e da opinião dos usuários. Na análise, considera- sistema construtivo e suas soluções; (b) “Sevices” – In- O núcleo central do Sistema Memória Ferroviária1 Dados, permite a definição de representações virtuais
se também todo e qualquer dado coletado desde o fraestruturas e sistemas hidráulicos/elétricos, aqueci- , desenvolvido na UNESP – Universidade Estadual dos objetos virtuais cadastrados no núcleo Cadastro.
início da pesquisa, como as entrevistas efetuadas mento e Ar-condicionado; (c) “Scenary” – Configuração Paulista e auxiliada pela FAPESP- um repositório de Neste caso, a representação virtual é a visualização
com pessoas-chave dos edifícios escolhidos, mapa de espacial interna do prédio, e como se dá a distribuição serviços na área do patrimônio ferroviário paulista que das informações produzidas, permitindo a entrega do
descobertas e pessoas envolvidas diretamente com a de divisões; (d) “Set” – Relativo ao layout de mobiliários pode ser acessado utilizando interfaces via web service, conteúdo dinâmico ou computável do objeto digital,

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como por exemplo, a localização, identificação, (SIG), contribuindo para a compreensão da condição Referências bibliográficas MATEUS, I. V. Arquitetura de Integração: Adaptabilidade
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modelo de objetos digitais, capaz de expressar O trabalho demostrou que dar respostas às novas n. 41, p. 28-47, março/maio 1999. MENEGUELLO, C. The Industrial Heritage in Brazil and
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relacionamentos, promovendo um grande avanço para a ferroviário engloba diretrizes não só no campo da Paulo: DIFEL/Edusp, 1971. of Industrial Heritage. In: XIII TICCIH International
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ao estudo do patrimônio cultural, o sistema permite incluindo informações valiosas quanto ao entorno Recife, 2016Disponível em: https://repositorio.ufpe.br/ PEREIRA, S.G. A Cultura da Transformação: o Paço e o
unir, em um mesmo ambiente informatizado, todas imediato, tecido da cidade e trama urbana. Assim, pensar handle/123456789/17273. Acesso em: 16 mar. 2019. Tribunal. Rio de Janeiro: FAU UFRJ, Dissertação (Ciências em
as informações pertinentes à indexação digital de a produção arquitetônica de reabilitação de edifícios GAMA, R. Aspectos da arqueologia industrial no Brasil. In: Arquitetura). Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2007.
base de dados documental e cartográfico. A intenção do património ferroviário exige outros olhares sobre as Seminário Nacional de História e Energia, 1988, São Paulo. PREISER, W.F. E. Post-occupancy evaluation, New York, Van
é aprofundar o uso dos modelos digitais no contexto questões que envolvem o espaço contemporâneo. São Paulo: Eletropaulo, Departamento de Patrimônio Histó- Nostrand Reinhold, 1988.
do patrimônio ferroviário, aplicando interfaces Este processo de mudança, porém, não exime a rico, 1988. vol. 2. p. 253. _______________. Towards a performance-based
computacionais rebatidas no espaço físico destinadas participação direta tanto de alunos, pesquisadores e GONÇALVES, J. R. A retórica da perda. Rio de Janeiro: UFRJ/ conceptual framework for systematic POES. In: Building
a organizar e disponibilizar conteúdos informacionais projetistas quanto de profissionais ligados às áreas IPHAN,1996. GONTIJO, R. Identidade nacional e ensino da Evaluation, New York: Plenum Press, 1989, p. 1-8.
referentes aos bens culturais estudados. Nesse correlatas evidenciando as ideias e os objetivos que se história: a diversidade como “patrimônio sociocultural”. In: _______________. Evaluating Universal Design Performance.
sentido, a proposta pretende oferecer um modelo desejam alcançar. Além disso, a realização de futuros ABREU, M. SOIHET, R. (org.). Ensino da história – conceitos, te- In: PREISER, Wolfgang F.E.; VISCHER, Jacqueline C. (eds).
piloto relacionada à formatação de um sistema em estudos, a partir do conhecimento produzido desses máticas e metodologia. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003. Assessing Building Performance. Oxford, Inglaterra. Elsevier
rede digital de informação do patrimônio ferroviário, ambientes e com a participação direta dos usuários HILLIER, B. In: Advanced Architectural Studies – ButterworthHeinemann, 2001, p.178.]
sendo um protótipo que sirva prioritariamente às áreas nas decisões, pode ser um instrumento, ainda que Introductory course – Seminar 4: Introduction to thestudy of .ROMÉRO, M. de A; ORNSTEIN, S.W.(Coords.) Avaliação pós-
de interesses cultural do Estado de São Paulo. preliminar, de mudança de paradigma. Fomentar a complex buildings”. Londres, Bartlett School, 2002. -ocupação. Métodos e técnicas aplicados à habitação social
discussão entre as diversas instituições paulistas e IPHAN. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Coleção Habitare). Porto Alegre, RS: Associação Nacional
Conclusões brasileiras, tanto em âmbito estadual, nas áreas de Nacional. Patrimônio cultural. Brasília: Ministério da cultura, de Tecnologia do Ambiente Construído (ANTAC). Disponível
interesses do patrimônio cultural do Estado de São 1994. em: http://habitare.infohab.org.br/projetos/publicacoes.asp,
O texto aborda a forma com que a arquitetura tem se Paulo, quanto contexto federal do IPHAN/MinC, parece KÜHL, B. M. Arquitetura de ferro e arquitetura ferroviária 2003. Acesso em: 28 fev. 2016.
relacionado com a questão da reabilitação de edifícios ser a estratégia mais adequada para que instituições em São Paulo reflexões sobre a sua preservação. São Paulo: SANTOS, P.K.; ROGATO, R; OLIVEIRA, E. Estações Ferroviárias
património ferroviário paulista, utilizando os processos cumpram sua missão de preservação, conservação e Ateliê editorial/FAPESP, 1998. de São Paulo: análise da Preservação e Reutilização
de avaliação pós-ocupação, a fim de identificar acesso ao público. Nesse processo de mudança, porém, _____________. O legado da expansão ferroviária no interior do Patrimônio Industrial e Ferroviário. In: XII Congresso
parâmetros de melhoria de qualidade no processo não exime a participação direta de profissionais, para de São Paulo e questões de preservação. In: II Seminário de Internacional de Reabilitação do Patrimônio Arquitetônico e
projetual e elaboração de diretrizes para futuros que as ideias e os objetivos que se desejam alcançar Patrimônio Agroindustrial – Lugares de Memória, São Carlos, Edificado, Anais, CICOP, Bauru, 2014.
projetos de reabilitação. Ao mesmo tempo, buscou uma e quais as noções que devem embasar o projeto do 2010. USP. Instituto de Arquitetura e Urbanismo. Disponível SANOFF, H. Integrating Programming, Evaluation and
melhor compreensão da aplicação de metodologias espaço, equipamentos e serviços adequados desses em: http://www.http://www.iau.usp.br/. Acesso em 1 set.2017. Partcipation in Design – A Theory Z. Approach. Raleigh: Henry
de identificação do patrimônio ferroviário, a partir edifícios sejam claros. ______________. Preservação do Patrimônio Arquitetônico Sanoff, 1991.
do uso do Sistema de Informações Geoespaciais da Industrialização. Cotia, SP: Ateliê Editorial, 2008.

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LABORATÓRIO DE ARQUITETURA
URBANISMO E PAISAGISMO VIII
PROJETO FÍSICO TERRITORIAL
O Centro Oeste Paulista Como Laboratório O curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento
de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

Cidade e Floresta: Novo território, premissa que possibilitou uma investigação


sobre as condições de acesso à moradia a partir da
definição de parâmetros projetuais.
Ante a esse debate, tomamos o termo paisagem como
para um projeto da paisagem.
A paisagem torna-se o instrumento através do qual
desenho do território em aproximação com assentamentos dos movimentos base teórica para delimitação dos temas de projeto podemos abordar a complexidade da cidade contem-
assentamentos do MSLT, sociais.
2. A aproximação dos entes cidade e floresta para
considerando que paisagem é o termo polissêmico
que congrega as ferramentas necessárias para uma
porânea, encontrando em categorias aparentemente
obsoletas, novas formas de legitimidade da ação. Para
Bauru- SP. compreensão dos problemas em torno da imersão da nova práxis urbana no âmbito do caráter planificador Sampieri (2008), “a força da paisagem é a capacidade
cidade na mata de cerrado e a relação das populações do pensar a cidade. Apoiar-se no estudo da paisagem de gerenciar a heterogeneidade através uma espécie
Kelly Cristina Magalhães com os fragmentos remanescentes da vegetação implica considerar que os objetos sobre o meio físico de nebulosa envolvente, capaz de tornar inofensiva a
predominante no sítio onde se instalou a cidade de também estão em constante transformação. Assim, a pluralidade, para expurgar o conflito. “Dentro da paisa-
Bauru. partir de um novo olhar sobre o par cidade-natureza gem cada um encontra o seu lugar” (SAMPIERI, 2008,
3. Apresentar a cidade como laboratório a partir de um poderá render às ciências urbanas uma nova ética e uma p. 58).
Roteiro de Análise de sua paisagem com o propósito de nova maneira de se pensar a paisagem (MAGALHÃES, Como obra coletiva, a cidade envolvida por sua
Resumo dar contornos a um projeto da paisagem. 2016, p. 34). paisagem, consolidam um par para compreensão de
Conceber um projeto da paisagem implica em novos atores sociais. A abordagem participativa na
Apresentamos, neste artigo, o estudo de caso Palavras chave: 1. Terra pública, 2. Movimentos sociais, considerar que está em transformação a postura do elaboração de projetos de arquitetura, urbanismo
discutido no âmbito da disciplina LAUP VIII- Laboratório 3. Déficit habitacional, 4. Prática pedagógica. principal mediador, portanto a revisão das formas de e paisagismo, de acordo com Boucinhas (2005,
de Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo VIII, conceber esse projeto também devem ser alterados. p. 10), pode fortalecer as novas formas de gestão
realizada no ano de 2018, que parte de uma investida Introdução No primeiro momento, o mediador é o Observador, democrática dos espaços públicos, aumentando as
teórica da gestão da terra pública no Brasil, em um considerado como um expectador, mas imprescindível possibilidades da comunidade contribuir na definições
laboratório transdisciplinar, que uniu as turmas de A cidade contemporânea brasileira, na perspectiva do para ser detectada a paisagem como objeto de de parâmetros de qualificação dos espaços de suas
quarto e segundo ano, tendo como objetivo desenvolver novo ordenamento democrático colocado pelo Estatuto estudos. Posteriormente, o mediador assume a ações cotidianas. Assim, delimitamos a população
uma proposta projetual para a comunidade do da Cidade (Lei 10.257, de 21 de dezembro de 2001), passa postura do transformador, porque passa a dotar-se como eminentemente ativa, representadas através de
assentamento Nova Canãa. pela necessidade da discussão da destinação de terras de meios e modos de transformá-la constantemente. quatro grupos diferentes: a comunidade de habitantes
Como uma das questões indutoras da investigação, urbanas até o momento sem uso. Como se sabe, o Com a emergência das inovações das técnicas de do assentamento, que será objeto da experiência, as
para delimitar o projeto da paisagem, a discussão sobre Estatuto incide diretamente sobre terras particulares transformação, exige-se uma espécie de Jardineiro, lideranças, a comunidade em geral e uma equipe de
a polêmica da ausência de políticas públicas inclusivas fazendo com que estas exerçam a sua função social, apto à transformação dessa paisagem, é aquele que proponentes, alunos e professores. Todos devem ter
de acesso à moradia se coloca como peça fundamental preconizada pelo movimento de Reforma Urbana detém conhecimento para modificar de maneira, cada relação com a área, direta ou indiretamente, através de
para uma aproximação com o debate em todo Brasil. dos anos 1970 e 1980. As terras públicas formam um vez mais veloz, esse jardim. A cidade moderna, sua uma agenda de atividades, esclarecendo as frequentes
Efeito deste afastamento do Estado, o fortalecimento acervo de áreas que estão sob a tutela da Secretaria forma e seu conteúdo, é resultante deste estágio de necessidades de atuação na área do projeto.
de movimentos sociais de luta por moradia transforma de Patrimônio da União- SPU e outros órgãos federais, concepção da paisagem. A velocidade de transformação A esfera da participação ainda possibilita a aproximação
o cenário de pequenas no interior do país, como o sendo estes órgãos responsáveis pela administração de é requisito fundamental para entendermos como esse com temas, tais como, democracia, representação,
caso de Bauru-SP. Temos como exemplo o Movimento terrenos e bens imóveis, sem, contudo responsabilizar conhecimento acelera e oferece elementos para o organização, conscientização, cidadania, solidariedade,
Social de Luta dos Trabalhadores (MSLT), que defende o se pelo destino dessas áreas. Por ser pública, a Gestor da paisagem tomar medidas fundamentais para inclusão. Para além da utilização de práticas sociais,
direito à moradia para famílias de baixa renda e busca propriedade tem na sua essência a função social e o projeto da cidade na contemporaneidade determinar ações de qualificação do bairro ainda
promover o direito ao acesso à terra para a população assim, a função social não precisa ser reafirmada. Deste Neste sentido, a emergência de uma nova concepção permite a compreensão da concretude das ações
mais vulnerável no município em questão, bem como ponto, coloca-se como objetivo deste artigo apresentar da cidade, a cidade não mais apta a constantes engendradas nas lutas, movimentos e organizações,
em localidades vizinhas. elementos para dar complexidade ao projeto da renovações, mais espalhada no território, e inerte pelas de modo a alcançar algum objetivo. Deste nível de
Analisam-se, fundamentalmente, três aspectos, paisagem, no âmbito do exercício de disciplina do Curso aporias aos modelos ecológicos, tem a paisagem como interpretação das intervenções operacionais, na escala
quando possível: de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo, articulando a a novidade, e torná-la como ferramenta no modo novo do bairro, colocando o como lugar de projetos urbanos,
1. O acesso à terra como dimensão da noção de urgência da destinação de terras públicas, a partir da de pensar/organizar/gerir a cidade é objeto de interesse como também a possibilidade de interpretações da vida

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social, trata-se de estabelecer conteúdos de análise espaço social construído e edificado. Assim entende- baixíssima renda e em lugares muito distantes da Universidade Estadual Paulista (UNESP) –se envolveu
da relação do grupo social em questão a partir da se que ela pode ser pensada e organizada para que área central da cidade, bem como da oferta de bens e de diversas formas através dos cursos de Jornalismo,
relação terra e território, da dimensão de apropriação tais forças se equilibrem no sentido de melhor extrair serviços. Os lotes têm facilidade de acesso pelo baixo Educação física e a Arquitetura.
do grupo com os valores da paisagem destacando-se a do espaço natural formas de vida. E para isto deve ser custo e ficam à espera das benfeitorias. No caso do curso de Arquitetura, urbanismo e Paisa-
proximidade da floresta remanescente nessas áreas e projetada. No caso da ocupação do assentamento Nova Canaã, gismo que tinha como objetivo desenvolver uma pro-
o valores da cidade como paisagem. Que projeto da paisagem queremos? que teve seu início no ano de 2013 com a chegada de posta projetual, em nível de extensão universitária para
O conceito de paisagem privilegia a coexistência de cerca de 300 famílias, em sua maioria desempregados prestar atendimento à uma comunidade em situação
objetos e ações sociais na sua face econômica e cultu- 1. Terra e Território: Movimentos sociais ou trabalhadores do mercado informal e permaneceu de risco. Coloca-se assim, uma alternativa do projeto
ral manifesta. Quanto ao território, entende-se pelo es- de luta por moradia no interior do Estado nas terras até janeiro de 2019. aos processos convencionais da lógica de produção
paço geográfico impregnado da ação político ou a do- de São Paulo A ocupação foi paulatina e, ao final de 2018, do espaço urbano e da moradia, que historicamente se
minação e que se define a partir das relações de poder. o acampamento contava com 670 famílias. O fundamenta na especulação imobiliária, na degradação
Para Claude Raffestin (1974) esse poder é exercido 1.1. Lutas por terra e lutas por território número de acampados e as condições precárias do ambiental e exclusão sócio territorial, presente nas ci-
pelos agentes que emergem do grupo social que ocupa acampamento forçaram o Ministério Público a elaborar dades brasileiras (Increase, 2019).
e molda determinado território. Na atualidade, em resposta ao processo de consoli- um Termo de ajuste de conduta (TAC), que permitiria Com o intuito de garantir uma devolutiva, mediante
O território, segundo o autor, “se forma a partir do dação de políticas públicas que exclui as classes mais a permanência destas famílias por até três anos. O a entrega dos projetos ao líder do movimento, pois
espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um baixas do acesso à políticas de habitação, os movimen- período do acordo refere-se ao tempo necessário, entendemos que o projeto assume o status de
ator sintagmático (ator que realiza um programa) em tos sociais de luta por moradia se espalharam pelo Bra- que o município considerou suficiente, para produzir instrumento de politização, para que através dele a
qualquer nível” (RAFFESTIN, 1974, p.2). O espaço é terri- sil, em consonância com os movimentos de luta pela programas de moradia e finalmente atender às comunidade possa exigir melhorias no seu ambiente,
tório do projeto, sobre ele são justapostas, sobrepostas terra. Dentre esses movimentos, podemos0 citar o MST demandas da população de baixa renda, contados da isto acarreta a maior proximidade com os atores que
e combinadas as formas que o grupo social estrutura (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra) que enfrenta data de assinatura do documento. Nele constavam se quer alcançar: a comunidade de habitantes do
esse território. um embate para o acesso à terra pela Reforma Agrária, as obrigações da prefeitura para com as famílias, tais assentamento, as lideranças, a comunidade em a
ao mesmo tempo que movimentos sociais propagados como fornecimento de caminhões pipa com 5000 comunidade de habitantes do assentamento geral e
O território, nessa perspectiva, um espaço onde se em meados do século XX, assumiram a pauta nas cida- litros de água, transporte das crianças até as escolas, uma equipe de proponentes, alunos e professores.
projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, des. Atuando no interior do Estado de São Paulo, mais transporte público até o acampamento. Antes de uma A junção das pautas terra e moradia uniram desde
por consequência, revela relações marcadas pelo poder. especificamente na cidade de Bauru, o MSLT (Movi- decisão judicial, as famílias não poderiam construir o ano de 2017 lideranças e famílias pertencentes
O espaço é a “prisão original’’, o território é a prisão que mento Social de Luta dos trabalhadores Campo e Ci- casas de alvenaria, pois a permanência não estava aos movimentos sociais e o poder público, àquela
os homens constroem para si. dade) tornou-se elo entre os excluídos dos sistemas de certa. época disposto a estabelecer níveis de negociação de
(...) habitação de interesse social e a vida urbana. regularização fundiária de inúmeras famílias em busca
O projeto é sustentado por um conhecimento e uma O modus operandi do MSLT tem sido através de de moradia
prática, isto é, por ações e/ou comportamentos que, é ocupações de terras públicas, a fim de possibilitar A terra pública, aquela que não foi incorporada a esse
claro, supõem a posse de códigos, de sistemas sêmicos. a imediata regularização de uso e ocupação dessas processo de urbanização, pode ser entendida como
É por esses sistemas sêmicos que se realizam as áreas. Nestes casos, a viabilidade de sua Regularização o acervo de patrimônio público que facilmente dará
objetivações do espaço, que são processos sociais. É Fundiária, bem como a permanência dessas famílias condições de famílias, que hoje não tem onde morar,
preciso, pois, compreender que o espaço representado é nas áreas ocupadas, é facilitada e se torna um estímulo se instalarem. Assim como seu destino, em razão da
uma relação e que suas propriedades são reveladas por à ocupação. ineficiência gerada pelo mau uso, por suas dimensões e
meio de códigos e de sistemas sêmicos (RAFFESTIN, A implantação se deu em área já parcelada pelas oportunidades que oferecem para a consecução
1974, p. 2-3). aproximadamente nos anos 1980. O parcelamento Figura 1. Casas cronstruídas em madeira para abrigar famílias no Nova Canaã.
Fonte: os autores, julho de 2018.
de objetivos específicos, podem ser aferidos e melhor
feito nesta época era feito com o desbaste excessivo geridos. Sendo assim, é fundamental para garantir o
A paisagem é em última instância a forma que melhor de áreas vegetadas. A lógica de oferta desses lotes Deste momento, iniciou-se uma luta para dar visi- acesso à terra e o desenvolvimento de grandes projetos
responde a interpretação das constantes mudanças do é a disponibilidade dessas terras para famílias de bilidade à situação enfrentada por essas famílias e a de urbanização, apreender os seguintes aspectos: Onde

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está? Qual sua dimensão? A quem pertence de fato? sobre a salvaguarda da Comissão de Inventariança da A cidade de Bauru está localizada na franja de O poder da concessão de terras devolutas sempre
Quais políticas públicas incidem sobre a terra, já estão RFFSA, sob a tutela do Departamento Nacional de In- conquista do oeste do Estado de São Paulo, ocupação esteve nas mãos dos Estados, sendo assim as
previstas em Plano Diretor? Porque existe? fraestrutura de Transportes (DNIT). Grande parte deste que se deu tardiamente em meados do século XIX. Por oligarquias locais, que passaram a ter competência
patrimônio já havia sido alienada pela empresa ferrovi- um longo período, a região ficou conhecida como Sertão legislativa, assumiram o “incontrolado direito de
1.2. Novo desenho das lutas sociais e a questão da dis- ária pública, no entanto, o estoque restante, segundo os de Bauru, onde pioneiros mineiros, desinteressados de distribuição de terras devolutas, inclusive podendo
ponibilidade de terras membros da Comissão de Inventariança da RFFSA e da participar da Guerra do Paraguai, se embrenhavam na alterar as regras contidas na Lei 601/1850 (Lei de
SPU, é muito significativo (MAGALHÃES, 2017). conquista de terras, porém os habitantes indígenas Terras)”, consolidando em meio ao ambiente urbano
De ordem das diretivas de entidades que regulam a A possibilidade de realizar a transferência deste pa- da região eram temidos e isto dificultou o acesso de e ampliando o “injusto sistema do latifúndio, com as
profissão do Arquiteto Urbanista, cria-se assim uma trimônio à Secretaria de Patrimônio da União (SPU) é exploradores. correspondências que até hoje assistimos de violência
plataforma de interlocução da população com os téc- assegurada pela Lei nº 11483/2007. Assim também a O Mapa da Província do Estado de São Paulo data no campo e miséria na cidade’. (MARÈS, 2003, p. 73 e 77,
nicos, no âmbito da formação do curso de arquitetura e transferência destes imóveis para a municipalidade de 1886 e foi elaborado pela Sociedade Promotora de COSTA NETO, 2007, p. 105).
urbanismo, ao tomarmos a terra pública como impor- garante certa autonomia municipal e alinha novas for- Immigração de São Paulo, apresenta a extensão das
tante meio de debate urbano e de acesso à moradia. mas de gestão da terra urbana no território nacional. terras possivelmente devolutas no final do século Na primeira metade do século XX, na direção do Vale do
Tais discussões são alicerçadas pelas ações em ATHIS- Assim também, vale a pena mencionar o acervo imo- XIX, considerando terras que até esse período terras/ Rio Ribeira do Iguape e do Centro e Extremo-Oeste do
Assistência Técnica em habitação de Interesse Social, biliário do Instituto Nacional de Colonização e Refor- terrenos permaneciam despovoados toda a porção Estado, particularmente no Pontal do Rio Paranapane-
previstas na Lei 11.888 de 24 de novembro de 2008, que ma Agrária (INCRA), que detém inúmeros imóveis em oeste do estado, onde a rede ferroviária ainda não havia ma, áreas públicas, quer fossem reservadas por lei ou
em seu artigo 1° “assegura o direito das famílias de bai- meio ao ambiente urbano em várias regiões do país, avançado. não, foram invadidas e negociadas, derrubando-se ma-
xa renda à assistência técnica pública e gratuita para o concentra terras oriundas dos terrenos. Como afirma Não se pode afirmar que todas essas terras eram pú- tas para a instalação de latifúndios (MORETTI, 2005: 29).
projeto e a construção de habitação de interesse social, Maricato (2008) Essa concentração fundiária é catali- blicas, pois parte delas pode ter sido objeto de títulos
como parte integrante do direito social à moradia pre- sadora de processos que desencadeiam o verdadeiro de domínio válidos, embora não tenha sido ocupada. Isto Até a República, a paisagem que se formou na região
visto n°6 da Constituição Federal”. abismo, de renda e desigualdade, existente entre ricos mostra que a concepção liberal de propriedade baseada do município de Bauru era composta de um emara-
Quanto à orientações de abordagem da Lei de Regu- e pobres; é também um dos obstáculos para a reforma em títulos abstratos e não na relação do homem com a nhado de terras parceladas para o plantio e criação de
larização fundiária, toma-se os ditames da Lei 13.465, urbana e para a implementação de uma política inclu- terra levou à sua sub-utilização e à desigualdade na sua gado, assim como também a formação de capelas, em
de 11 de julho de 2017 que “dispõe sobre a regularização siva de acesso à terra “seja no campo ou na cidade, a distribuição (MORETTI, 2005. p. 34). virtude da doação de terras a santos Católicos para a
fundiária rural e urbana” e “sobre a liquidação de cré- propriedade da terra continua a ser um nó na sociedade formação de cidades (TIDEI, 2006; GHIRARDELO, 1998,
ditos concedidos aos assentados da reforma agrária e brasileira”. Vale ressaltar que a concentração da pro- CONSTANTINO, 2004).
sobre a regularização fundiária no âmbito da Amazônia priedade privada da terra no Brasil se situa no centro
Legal” bem como “institui mecanismos para aprimorar do conflito social, alimenta processos de desigualdade Logo, a questão do crescimento urbano poderá ser
a eficiência dos procedimentos de alienação de imó- entre ricos e pobres e a tradicional relação entre pro- compreendida pelo crescimento do interesse em
veis da União; e dá outras providências”. priedade, poder político e poder econômico. parcelar terras e inseri-las no mercado imobiliário, bem
Pode-se citar como exemplo, o patrimônio ferroviário A notícia é alarmante e dá destaque à região de como o meio legal estabelecido por bases políticas
que perfaz um acervo imobiliário enorme e disponível Bauru como “o novo Pontal do Paranapanema” em 2017, para implementação de instrumentos e técnicas de
em várias cidades. Os imóveis, em sua maioria, encon- “denominação que foi dada por conta da dimensão controle do uso do solo urbano. Tais formas de controle,
tram-se sob a gestão, em parte, do Estado e em parte, de áreas improdutivas e devolutas e pelo fato de a em geral, tratavam-se ditames estaduais ou federais,
da iniciativa privada. Conhecidamente, está destacado região ser considerada o principal foco de conflitos de que pouco compreendem características locais e
em dois grandes grupos: os imóveis operacionais (OP), posses em todo o Estado” (JCNET, acesso 15/10/2019), possíveis parâmetros para o desenho urbano. Assim,
que totalizam grandes extensões de trilhos e equipa- e que possibilitou inserção destas terras na agenda as formas tradicionais de incorporação de novas áreas
mentos sob concessão de uso por companhias privadas de debates sobre a disponibilidade de terras para o às áreas urbanizadas foram sempre acompanhadas
de transporte de mercadorias, e os não operacionais assentamento de populações e fortalecimento dos por um conjunto de regras sem qualquer indicativo
Figura 2. Mapa da Província do Estado de São Paulo data de 1886, elaborado pela
(NOP), um conjunto muito diverso de tipos de imóveis movimentos de luta por moradia. Sociedade Promotora de Immigração de São Paulo. https://br.pinterest.com/ de se discutir qualidade espacial e estética, questões
arquivonacional/

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ambientais, melhora adequação das áreas livres de A leitura da paisagem exibe categorias analíticas, por solos de textura arenosa e relativamente profundos Bauru sob os seguintes aspectos.
edificação, entre outros aspectos. sem prejuízos, ou seja, a experimentação da paisagem. apresenta problemas de degradação em áreas urba-
Embora não haja, entre os milhares de municípios No segundo momento, já se pressupõe compreender nas por processos de erosão, promovendo situações de Sobre um terreno arenoso, vestido por uma vegetação,
brasileiros, um cenário único quanto à gestão das as relações entre os processos que constituem a risco á comunidade, ameaçando habitações e equipa- geralmente conhecido como cerrado de campo acha-
terras públicas municipais, destacam-se algumas paisagem, aqueles de formação sócio espacial. Se no mentos públicos, transformando-se no condicionante se situada, no fim da linha férrea Sorocabana, a Vila de
características comuns. As terras públicas municipais segundo nível se consideramos processos, no terceiro, mais destacado na limitação para a expansão urbana e Baurú (CAVASSAN 1998, p. 25).
foram originadas, principalmente, por terras devolutas por sua vez, enfatiza-se o “produto” (não estático) desses assentamento de obras de infraestrutura (SOUZA, 1995).
existentes nas áreas urbanas e pela doação de áreas processos na materialidade. Assim, o terceiro nível Em área de tensão ecológica, onde fragmentos de
públicas por ocasião do parcelamento do solo para fins analítico se abre ao enfoque morfológico, ao estudo da Dentre os principais atributos da paisagem, denota-se cerrado, cerradão e mata atlântica se amontoam
urbanos. fisionomia da paisagem, entendendo os impactos das a presença de remanescente de vegetação do ecótono a cidade ainda está envolvida por muitas manchas
ações dos homens, empresas e instituições no meio, Cerrado, graças à ocorrência de formações florestais de vegetação nativas, hoje protegidas por lei. O
1.3. Elementos do território para o Projeto da Paisagem reconhecendo relações entre formas, usos, impactos pelo caráter de transição entre biomas diferentes acampamento Canaã está localizado na parte a sudeste
e valorações, como, por exemplo, a valoração estético- (Mata Atlântica e Cerrado). O exercício de identificação do mapa acima em meio à remanescente de cerrado.
O debate urbano de acesso à terra, em primeira ins- cultural das paisagens. da vegetação em sala de aula e em campo se deu pela A tarefa é colocar o objeto dentro da paisagem, na
tância, demarca os conflitos socioambientais partindo O quarto momento é o de interpretação da paisagem, criação de Guia visual da lista de espécies registrada perspectiva de que se encontrem referências no am-
da análise intensiva de casos históricos de ocupação momento de descobrir os significados simbólicos das pelo documento Plano de Manejo de Mata Atlântica biente e para que haja uma identificação do objeto com
no município estudado, observando esses casos na diversas apropriações dos grupos sociais, das empresas e Cerrado, disponível no site da Prefeitura Municipal sua geografia. Assim, passamos à produção de cartas
perspectiva da tensão de deslocamentos desses gru- e instituições. É dirigir o olhar para além da aparência, de Bauru. O mapa abaixo mostra os fragmentos de temáticas para que se consiga descrever a paisagem
pos e de um processo de territorialização em uso dos buscando uma visão qualitativa, a “visibilidade” da vegetação nativa nas imediações da área urbana de local. São identificadas as características dos sistemas
recursos naturais, bem como viabiliza o entendimento paisagem. Esse processo metodológico direciona Bauru. que compõe a paisagem, seus componentes mais rele-
do projeto urbano na tomada de decisão para práticas a uma compreensão crítica, melhor embasando as vantes, conforme os processos dinâmicos e estáticos.
ecológicas de ações no espaço da cidade. proposições. A questão fundamental é reconhecer e mapear os atri-
Tomando como premissa a condição de fragmentação A percepção de que o desenho da paisagem emite butos da paisagem, elevação, tipos de solo, vegetação,
do tecido urbano, o que para o professor Ignacy de a passividade das instâncias municipais diante das hidrologia, sistema viário, uso da terra privada e pública.
Solá-Morales, é condição imanente ao tecido urbano regras de parcelamento e desmembramento do
contemporâneo, tomamos como possibilidade solo, fato que implica em condições precárias e 2. O par cidade e floresta como
de intervenção o que se apresenta na contexto esvaziamento da qualidade urbana. se imperasse em condicionante do Projeto da Paisagem.
sócio espacial. Se não houve ainda disposição em todo o país. Isto somado ao fato de que a região, onde se
compreender a possibilidade projetual do tecido urbano implantou a cidade de Bauru, convive com altos índices O contexto da urbanização em escala mundial tem
separado e em constante conflito. de erodibilidade do solo. agravado as preocupações com o processo de uma
Assim, parte-se da concepção do fragmento A ocupação do território, iniciada pelo desmatamento urbanização estendida. Nas últimas décadas esse tem
para que a cidade seja observada como única, sem e seguida pelo cultivo das terras, implantação de sido o tema central do debate entre todas as disciplinas
hierarquização de suas “partes” ou “fragmentos”, a estradas, criação e expansão das vilas e cidades, que atendem ao estudo da cidade e do urbano e por
priori. Pressupor a fragmentação do tecido urbano e sobretudo quando efetuada de modo inadequado, extensão, do território. Finalmente se tem aceitado como
territorial deixa mais claro a diversidade de ocupações constituem o fator decisivo da aceleração dos uma ordem urbana distinta e regulada por dinâmicas
atualmente admitidas na realidade da cidade e no caso processos erosivos (CARVALHO, 1995). Figura 3. Atributos da paisagem: localização do Acampamento Nova Canaã. de expansão e de descompactação, separando-a das
específico deste objeto de estudos. Assim também seu Segundo Souza (1995), Fonte: Plano de Manejo da Mata Atlantica e e Cerrado de Bauru, Prefeitura Municipal,
Bauru - SP, 1998. lógicas do suburbano e do espalhamento.
território; permitindo assim, a incorporação de novos Sem dúvida, há uma extensa literatura referente à
fragmentos e de novos elementos componentes de sua A maior parte das cidades do Estado de São Paulo, como Segundo Cavassan (1998), nos Anos 1950 o botânico definição da urbanização difusa. Ou àquela que pos-
paisagem em grande transformação. o caso de Bauru, instaladas em terrenos constituídos Gustavo Edwall descreveu a vegetação da região de teriormente foi denominada cidade difusa. Cabe então

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analisar um grande número de territórios que, ainda que poderia ser artificialmente limitado ou expandido conquista, frente aos sucessivos desenvolvimentos, cidade contemporânea, o que permite aproximações
que apresentem denominadores comuns, sobretudo os e sobre aquela (natureza), novos elementos poderiam um duplo significado ideológico” (CHOAY, 2013, p. 1-56). e uma análise que prescinde de uma abordagem
associados ao recente processo e fenômeno de expan- ser inseridos, mas não como uma totalidade capaz de Analisa a relação entre cidade e floresta a partir apenas quantitativa. Isto permite a compreensão
são urbana, são cada vez mais óbvias as diferenças que reorganização e regulamentação. de conhecimentos teóricos e práticos para a gestão da complexidade de sua estrutura em constante
cada um deles apresenta dentro da terminologia cida- Segundo Salgado (2015), Pierre Patte apresenta urbano ambiental dos recursos naturais nas áreas de modificação. A intensidade e a concentração dessas
de difusa ou de outras como cidade de baixa densidade, ainda por ocasião dos sucessivos projetos a noção abrangência de multi-escalas de análise. inter-relações estão relacionadas com a presença
metrópole expandida ou conurbação etc. (MATZIARA, de monumentalização da intervenção arquitetônica de certas atividades ou ainda formas específicas de
2008, p. 152 ). e possivelmente a ideia de um projeto de paisagem. 3. Conclusões fluxos, tipos de ocupação e possibilidade de novas
Em grande escala, a questão original embutida na Patte, diretamente inspirado na obra de Marc Antoine combinações nesta cena.
noção de espalhamento é a mais constante, resulta de Laugier exemplifica ainda a intervenção na cidade a Aqui propõem se uma intensa reflexão sobre o uso
uma expansão acelerada e caracterizada pela urbani- partir das formulações teóricas sobre a cidade-floresta, da terra pública para fins de habitação e melhoria 4. Referências bibliográficas
zação monofuncional ou, como em outros casos, de um pois alerta sobre o excesso de regulação das ruas e dos na qualidade de vida em acampamentos de uma
crescimento lento fundado por uma matriz rural e dis- jardins, o que representaria oposição ao natural, além população a margem das políticas de acesso a moradia. AB´SABER, Aziz Nacib. In: RETTO JUNIOR, Adalberto et al.
persa, onde se sobrepõe uma urbanização descontínua. de considerações sobre atualização da água na cidade Nesta atividade, a proposta dedica-se a pensar Workshop Internacional. Conhecimento Histórico-Ambiental
Este último caso inclui uma total heterogeneidade e (SALGADO, 2015, p. 15). ecologicamente o desenho do bairro, de maneira que - 2004, São Paulo: Editora Unesp, 2006.
mescla de atividades, espaços e tipologias, bem como Os séculos seguintes demarcaram a cidade como possibilite um entrelaçamento da estrutura construída AB´SABER, Aziz Nacib. O Relevo Brasileiro e seus
uma maior multiplicidade e variedade de situações de o espaço da civilização e aglutinação de forças com os elementos da natureza. A aproximação Problemas, em Brasil, a terra e o homem, v. 1, cap. III, p. 135-
superposições e justaposições. produtivas. A exploração da terra e a constituição dos entes cidade e floresta para compreensão dos 251. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1964.
A compreensão dos fenômenos pela perspectiva dos meios técnicos para obtenção de maior lucro problemas em torno da imersão da cidade na mata de AB´SABER, Aziz Nacib. Os domínios de natureza no Brasil:
da urbanização difusa ainda permite uma abordagem ganham dimensão mundial e de maneira assustadora cerrado e a relação das populações com os fragmentos Potencialidades paisagísticas. São Paulo: Atelier Editorial,
das características básicas, correndo o risco nela os avanços tecnológicos encontram novos mercados. remanescentes da vegetação predominante no sítio 2003.
contida, por predominar uma matriz rural. Entende-se Para Françoise Choay (2013), o processo de urbanização onde se instalou a cidade de Bauru. ACSELRAD, H. (2009) A duração das Cidades.
que persiste um processo contínuo de urbanização, acelerado “é próprio do mundo ocidental”, o espaço O exercício didático apresentou a proposta do Sustentabilidade e risco nas políticas urbanas. RJ: Lamparino.
atualmente destinado majoritariamente à implantação urbano é locus das atividades ligadas à produção e Bairro Ecológico, através de um programa mínimo BERTRAND, G. Paisage y Geografia Física Global. In
de conjuntos habitacionais e à localização de atividades ao mercado. Lembra a autora que Marx acredita que composto de Unidade habitacional utilizando técnica MENDOZA, J.G.; JIMINES, J.M. y CANTERO, N. O. (Orgs) El
econômicas caracterizadas pelo uso industrial, de o modo de urbanização ocidental se difundiu por todo de bioconstrução; a Rua como corredor ecológico, pensamiento geográfico. Estudio interpretativo y antologia
logística e comercial. E por vezes vê-se uma exploração o mundo, “radicado na práxis que o força a violentar a integrando a habitação à Área de Preservação de textos (de Humboldt a las tendências radicales). Madrid:
agrícola dispersa de autoconsumo, além de muitas terra e transformá-la em mundo construído” (CHOAY, Ambiental Vargem Limpo-Campo Novo (Cerrado Alianza Editorial, 1982
dessas áreas estarem em completo abandono ou 2013, p. 15). Brasileiro), e uma escola rural. Ao final da atividade o BERTRAND, G. Paisagem e geografia física global: esboço
relegadas às atividades de produção industrial agrícola Com esta afirmação de Choay (2013), aponta-se a resultado dos projetos foi apresentado à comunidade. metodológico. Caderno de Ciências da Terra, n. 13, p. 1-27, 1971.
ou florestal. A imagem resultante mostra uma mescla de compreensão da urbanização como fato concreto que Assim, a análise dos percursos de grupos ativos BESSE, Jean-Marc. As cinco portas da paisagem. Congresso
elementos morfotipológicos que convivem com área de supera a ideia limitada da cidade tradicional. Fato que possibilita uma nova forma de entender a cidade Paisagem e Planeamento, Barcelona, 2006.
cultivo, e será a primeira evidência da desconstrução da estaria inspirando os pensamentos de Marx e Engels, contemporânea. Os grupos sociais, identificados BESSE, Jean-Marc. Ver a Terra: Seis ensaios sobre a
paisagem, incluindo-se a característica das atividades quando afirmaram ser a cidade “o lugar da história”. a partir de suas práticas de ocupação em terras paisagem e a geografia. São Paulo: Editora Perspectiva, 2004.
de uso dos solos, a desarticulação do processo de Os sistemas viários são característicos dos anos ociosas, pois circunscrevem formas de resistência BOUCINHAS, Caio; LIMA, Catharina Pinheiro C. S. Parque
urbanização e o abandono a uma heterogeneidade de oitocentos, análogos àqueles observados até aqui. da comunidade em meio a escassez de políticas de Pinheirinho d’Água: a luta por reconhecimento e visibilidade.
espaços e processos que se alastram em sua extensão É claro que o seu sentido será agora muito diferente. atendimento ao provimento de habitação. A população In: Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em
e que podem ser evidenciados caso a caso. Dentre a nova forma da cidade, noção de cidade- ativa, em constante atuação política de resistência, Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP, v. 20, número 33. São
Sabe-se que o início do século XVIII uma cidade era floresta, pode ser considerada, sob o ponto de vista da e em condições de errância, em busca de terras Paulo, 2013. p. 11-34.
encarada como um fato irredutível da natureza, algo transição da cidade mercantil à cidade burguesa, uma para ocupar, desenvolvem certos deslocamentos na CAMPOS, Gonzaga de. Mappa Florestal do Brasil. Minis-

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de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

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Novos Usos na Cidade Teórica para estabelecer variáveis de qualificação


dos imóveis Não Operacionais (NOP) pertencentes à
and its classification as to the typology, such as terrain,
station, guardhouse, area bordering railroad, sheds,
estão previstas em Plano Diretor? Por que existe?
O artigo enfatiza que os efeitos da constituição da
Contemporânea: Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Extraímos desse etc. can make possible new projects and the exercise propriedade no período ferroviário podem ser colocados
Inventário da Terra conteúdo dados cadastrais desse patrimônio para que
o seu reconhecimento seja facilitado. Assim, a simples
of the social function of urban land. Criteria will be
presented for the inventory of the assets of the defunct
como celeiro para oferta de áreas localizadas em
regiões centrais, áreas de conjunto arquitetônico de
Pública e a Destinação localização e sua classificação quanto à tipologia, Federal Railway Network, with the objective of a better grande valor histórico, e das possibilidades de novos
dos Remanescentes do tal como terreno, estação, guarita, área lindeira a
trechos de ferrovia, galpões, etc., podem viabilizar
destination of these properties. usos nesses espaços. Coloca-se inicialmente como
paradoxal tanto a questão da propriedade pelo viés do
Patrimônio Ferroviário no novos projetos e o exercício da função social da terra KEY WORDS: 1. Railway Heritage, 2. Public lands, 3. patrimônio imobiliário, como do contingente de imóveis
Estado de São Paulo urbana. Serão apresentados critérios para o inventário
do patrimônio da extinta Rede Ferroviária Federal, com
Destination of proprieties e bens que conservam a história da cidade no período
de consolidação de uma economia essencialmente
Kelly Cristina Magalhães (Daup-FAAC-Unesp); o objetivo de uma melhor destinação desses imóveis. 1. Introdução urbana, constituído em meados do século XIX e início
Carolina Maria Pozzi de Castro (BPT-UFABC) do XX.
Palavras chave: 1. Patrimônio Ferroviário, 2. Terras A cidade contemporânea brasileira, na perspectiva do O objetivo, aqui, é apresentar critérios para o
públicas, 3. Destinação de imóveis novo ordenamento democrático colocado pelo Estatuto inventário do patrimônio da extinta Rede Ferroviária
da Cidade, passa pela necessidade da discussão da Federal a partir da identificação já feita por instituições
Abstract destinação de terras urbanas até o momento sem uso. ligadas ao Governo Federal. Usando os registro desses
Como se sabe, o estatuto incide diretamente sobre imóveis feitos pela Comissão de Inventariança,
Resumo The issue of Railway Heritage in Brazil raises an old terras particulares, fazendo com que estas exerçam órgão pertencente ao Departamento Nacional
concern in facing the policies of public land, especially a função social preconizada pelo movimento de de Infraestrutura de Transportes (DENIT), e pela
O problema do Patrimônio Ferroviário no Brasil those in urban areas. In many of these cities, in the Reforma Urbana. As terras públicas que fazem parte do Secretaria do Patrimônio da União (SPU), responsável
destaca uma velha preocupação no enfrentamento Brazilian case and especially in the state of São acervo de áreas que estão sob a tutela da Secretaria pela administração e posterior intermediação
das políticas de destinação de terras públicas, Paulo, there are many properties that are part of the de Patrimônio da União – SPU, sendo esse órgão de transferência dos imóveis para prefeituras,
sobretudo as que estão em meio a áreas urbanas. Em remaining historical legacy of the merger of railway responsável pela administração de terrenos e bens principais interessados e destinatários, em todo o
várias dessas cidades, e em especial no estado de companies, usually located in central areas, and more imóveis, sem, contudo, responsabilizar-se pelo destino país. O patrimônio, quer seja o imobiliário (terrenos e
São Paulo, existem muitos imóveis que são parte do valued in the real estate market. As opposition, they are dessas áreas. Por ser pública, a propriedade tem, na edificações), de valor arquitetônico ou não, está sob a
legado histórico remanescente da fusão das empresas in the stage of abandonment and devoid of forecasts sua essência, a função social e, assim, a função social vigência de leis federais que, via de regra, determinam
ferroviárias, geralmente localizados em áreas centrais of public policies for better destination of use that não precisa ser reafirmada. A lei deve estabelecer os a sua destinação para habitação de interesse
e mais valorizadas no mercado imobiliário. Como reflect then new conditions of urban project. In this processos decisórios do que vem a ser função social e social, mediante ação da Lei 11.481/2007. Cabe aqui
contrassenso, encontram-se em estágio de abandono sense, this article presents part of the research entitled ambiental. Há necessidade de pautar, junto à sociedade, estabelecer novos parâmetros e mais eficientes para
e desprovidos de previsões de políticas públicas para “Inventory and diagnosis of non-operational assets of a importância do patrimônio público. que, articulados à políticas públicas desse municípios,
melhor destinação de uso, que reflitam, então, novas the RFFSA-SPU in the network of São Paulo cities and A terra pública tem grande importância, assim como para assegurar a melhor destinação para seu uso em
condições de projeto urbano. Nesse sentido, este artigo patrimonial management guidelines”, object of Fapesp seu destino, em razão da ineficiência gerada pelo mau função de suas características.
apresenta parte da pesquisa intitulada “Inventário e Public Policies 2007, Process No. 07/55262 -09, which uso, por suas dimensões e pelas oportunidades que Até os dias de hoje, a Secretaria de Patrimônio da
diagnóstico dos bens não operacionais da RFFSA-SPU in its first phase (2007-2011) was aimed at developing oferecem para a consecução de objetivos específicos. União (SPU) recebeu pouquíssimos imóveis, cerca de
na rede de cidades paulistas e diretrizes de gestão a theoretical Matrix to establish non-operational Sendo assim, é fundamental, para garantir o acesso 2% deles, e desconhece singularidades do patrimônio
patrimonial”, objeto do Edital 2007 de Políticas Públicas property qualification variables (NOP) belonging to the à terra e o desenvolvimento de grandes projetos de ferroviário. Isso se justifica pelo volume de imóveis sob
da Fapesp, Processo No. 07/55262-09, coordenada Federal Railroad Network (RFFSA). We extract from urbanização, apreender os seguintes aspectos: Onde sua responsabilidade, bem como pelo desconhecimento
por Luiz Antônio Nigro Falcoski, que, na sua primeira this content cadastral data of this patrimony so that está? Qual sua dimensão? A quem pertence de fato? desse patrimônio por outros órgãos. O Instituto do
fase (2007-2011), objetivou elaborar uma Matriz its recognition is facilitated. Thus, the simple location Quais as políticas públicas que incidem sobre a terra, já Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN – se

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incumbiu de realizar um catálogo das estações, pois se Com vistas à organização de um inventário como à região do Triângulo Mineiro e Sudoeste de Paulo-Minas, Sorocabana, Araraquarense e Mogiana ao
trata de um patrimônio construído, mas não se deteve imobiliário, foi, então, elaborado um conjunto de Minas, além de abranger regiões do oeste do Estado de Patrimônio da Companhia Paulista. A tabela 1 apresenta
ao inventário do montante de terras e demais bens variáveis propícias à análise qualitativa desses imóveis, São Paulo e ainda o Porto de Santos. O conjunto dos como se deu a fusão das Companhias e a formação do
pertencentes ao patrimônio ferroviário. que consta do desenvolvimento da matriz conceitual ativos operacionais, então incorporados pela RFFSA, remanescente de imóveis.
As incongruências no reconhecimento do valor do da referida pesquisa. Dentre os resultados, destaca- passou a ser designado como Malha Paulista.
patrimônio ferroviário, sobretudo os imóveis que não se a proposição de critérios e recomendações, bem O papel das ferrovias para a estruturação da economia
estão sob concessão de empresas privadas, os Não como a obtenção de informações técnicas aplicadas à e da rede urbana do interior paulista remonta a meados
Operacionais, são a motivação da elaboração de um gestão patrimonial. A utilização de base de dados de um do século XIX, quando se amplia a fronteira agrícola
inventário imobiliário, segundo os fundamentos legais acervo de documentação histórica desse patrimônio da cultura do café do Estado de São Paulo. Com a
da gestão patrimonial. possibilitará a qualificação dos imóveis pertencentes à inauguração da linha da São Paulo Railway, de Santos
Vale lembrar que os imóveis operacionais – OP – estão extinta RFFSA, além de sua quantificação para posterior a Jundiaí, o prolongamento até Campinas tornava-se
sob regime de concessão e não fazem parte desta disponibilização para o interesse público e social. necessário, por constituir-se uma fronteira agrícola na
pesquisa. Uma mudança na ordem das políticas ocorreu rede urbana do interior.
com a concessão de uso das terras de propriedade 2. Reconhecimento do Patrimônio Na segunda metade do século XX, com o crescimento
Tabela 1: Formação do Patrimônio Ferroviário. Fonte: os autores.
pública da malha ferroviária, hoje conhecida como da RFFSA: A “Malha Paulista” e a de cidades médias e aglomerações urbanas no
“Malha Paulista”, e dos bens para empresas privadas. Estruturação do Patrimônio Ferroviário interior do Estado de São Paulo, constatou-se que os No início da década de 1970, a criação da Fepasa
Nesse processo, a elaboração dos contratos de no Estado de São Paulo problemas antes exclusivos das áreas metropolitanas reuniu essas terras e, com a privatização em 1998,
cessão exigiu a distinção dos imóveis do patrimônio estavam presentes nessa nova realidade, implicando cconhecidamente, formaram-se os dois grandes grupos:
necessários à operação dos transportes ferroviários A principal componente do patrimônio ferroviário em a necessidade de novos instrumentos de ordenação e os imóveis operacionais (OP), que totalizam grandes
daqueles que permaneciam com a RFFSA. São Paulo é a antiga FEPASA, que é denominada “Malha gestão, no qual a viabilização do planejamento urbano extensões de trilhos e equipamentos sob concessão
No conjunto de ações políticas de gestão dessas Paulista”. passava por estratégias de gestão urbano-regional. de uso por companhias privadas de transporte de
terras públicas, nota-se que o patrimônio pertencente à Criada em 10 de novembro de 1971, teve por objetivo Nos aglomerados urbanos de cidades de porte médio, mercadorias, e os não operacionais (NOP), um conjunto
Rede Ferroviária Federal SA (RFFSA) sofreu alterações unificar, em uma só, cinco empresas de estrada de muitas vezes, a cidade com função de pólo regional muito diverso de tipos de imóveis sob a salvaguarda
nos destinos e definições de seus bens imóveis, glebas ferro de propriedade do Governo do Estado de São desenvolveu um determinado grau de centralidade da Comissão de Inventariança da RFFSA, sob a tutela
e lotes urbanos, como também as construções de Paulo. Em 29 de março de 1996, foi feita a cisão da que extrapolava os limites de sua própria aglomeração, do Departamento Nacional de Infraestrutura de
funções variadas e trechos de domínio das linhas FEPASA, originando a Companhia Paulista de Trens influenciando também outros municípios periféricos, Transportes (DNIT). Grande parte desse patrimônio já
férreas ao longo de grandes extensões de solo do Metropolitanos, que absorveu a operação dos trens de como ocorreu com a aglomeração de São Carlos havia sido alienado pela empresa ferroviária pública, no
Estado de São Paulo e Minas Gerais. subúrbio da FEPASA, bem como a operação do Trem e Araraquara, cujo desenvolvimento econômico e entanto o estoque restante, segundo os membros da
As transferências desse patrimônio à Secretaria Intrametropolitano de Santos. Em 23 de fevereiro de estruturação urbana foram decorrentes, no início Comissão de Inventariança da RFFSA e da SPU, é muito
de Patrimônio da União (SPU), possibilitadas pela 1997, a FEPASA foi transferida para a União, como parte do século XX, dos negócios da cafeicultura e da significativo.
Lei nº 11483/2007, representam a grande mudança no do acerto financeiro entre esta e o Estado de São Paulo, expansão das linhas férreas. Atualmente, a presença da Com a extinção da Rede Ferroviária Federal pela Lei
tramite desses processos e além de constituírem uma no âmbito do equacionamento da dívida do Banco do ferrovia na região é notada, em parte, por seus ramais nº 11.483, de 31 de maio de 2007, em seu inciso II, de
preocupação, como o é também a destinação desses Estado de São Paulo – BANESPA. Em 18 de fevereiro, desativados e vasto estoque imobiliário localizado nas seu artigo primeiro, “os bens imóveis da extinta RFFSA
imóveis para as políticas públicas dos municípios pelo Decreto nº. 2.502 da Presidência da República, áreas urbanas centrais. Completam a aglomeração os ficam transferidos para a União, ressalvando o disposto
em que se encontram.Assim, a produção de dados foi autorizada a incorporação da FEPASA à RFFSA, municípios de Ibaté e Américo Brasiliense. no inciso I do art. 8º desta lei”. No entanto, houve a
técnicos sobre esses imóveis, a partir de informações, o que se efetivou em 29 de maio, com consequente O patrimônio ferroviário encontra-se sob a gestão, exclusão dos imóveis operacionais dessa transferência,
tais como: onde estão localizados, em quais setores extinção da FEPASA. É formada por um conjunto de em parte, do Estado e, em parte, da iniciativa privada. pois fazem parte dos contratos das concessões
são pertinentes e básicas para compreensão da linhas tronco e de ramais que interligam a Região A tabela abaixo apresenta como se deu a fusão do públicas. Nesse processo, todo o patrimônio ferroviário
importância desse patrimônio. Metropolitana de São Paulo ao interior paulista, bem patrimônio das Companhias das Estradas de Ferro São NOP vem sendo transferido à SPU e, posteriormente,

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às suas Gerências Regionais do Patrimônio da União do Manual de incorporação da SPU/2008, totalizam, ços para a regularização fundiária em imóveis da União.
por intermédio da Comissão. A tramitação documental em 2008, 4.557 terrenos e 6.153 edificações, conside- A necessidade de inventariar esse patrimônio, que
e processual é realizada conforme as orientações e rando companhias que não fizeram parte da fusão das se encontra na iminência de ser alienado, tem sua
procedimentos contidos no Manual de Incorporação empresas supracitadas. Para esse patrimônio, confor- relevância na medida em que o procedimento visa
e Destinação dos Imóveis Oriundos da Extinta Rede me fundamento legal da extinção da RFFSA, a Lei nº ao conhecimento prévio desses bens para que se
Ferroviária Federal S.A. – RFFSA, de 2008, elaborado 11.483/2007, de um lado haverá as alienações de parte produzam informações técnicas sobre esse patrimônio
pela SPU. desses bens para compor um Fundo de Contingência, para sua posterior transferência, incorporação e
Cabe à SPU a incorporação e destinação desse no montante de um bilhão de reais, e, de outro, a defi- destinação, considerando os princípios que norteiam
patrimônio imobiliário, que utiliza vários instrumentos nição de um conjunto de bens que efetivamente per- este trabalho. Como inventário, propõe-se conhecer
de outorga de uso dos imóveis públicos dominicais. Em manecerão sob o domínio do Patrimônio da União. Um o patrimônio imobiliário a partir dos procedimentos
relação à orla ferroviária, aplica-se a alienação, como total de 28.094.422,13 m2 (vinte e oito milhões, noventa usuais e arquivos existentes nas duas instituições, a
venda direta, que pode ser precedida pela cessão ou e quatro mil quatrocentos e vinte e dois e treze centé- SPU e a extinta RFFSA, e promover a articulação das
entrega provisória aos beneficiários de programas de simos de metro quadrado), que perfaz o patrimônio, na duas plataformas de dados para melhor subsidiar a Figura 1: Dados extraídos do Levantamento Aerofotogramétrico.
regularização fundiária, e, ainda, realiza-se a cessão extensão da Malha Paulista, terá significativa parte ob- destinação de imóveis. Fonte: Arquivo RFFSA, Comissão de Inventariança, 2007/2008.

de uso para fins de preservação e difusão da Memória jeto do inventário e das análises sócio-econômica e po- O acesso ao arquivo da RFFSA se fez através
Ferroviária daqueles imóveis declarados como de valor lítica expostas na matriz conceitual do projeto, a serem delevantamento das fontes de dados sobre a “Malha Os três grandes grupos de documentos são
histórico, artístico e cultural. realizadas na segunda fase da pesquisa (SPU, 2007). Paulista”. Após a análise exploratória dos dados igualmente importantes, no entanto é pertinente frisar
Apesar da extensa lista de bens imóveis ferroviários encontrados em documentos cartorários, arrolamentos que, nos desenhos que compõem o aerofotogramétrico,
NOP, que, por força da lei, passaram a integrar o Patri- de edificações, arquivos com plantas cadastrais, a exemplo das figuras 1 e 2, encontram-se demarcados
mônio da União, o percentual de destinação é muitís- pressupôs-se que o desenvolvimento de uma base de nos imóveis os respectivos NP (Números Patrimoniais).
simo exíguo. A importância desse estoque imobiliário dados também deveria ser adequado aos cadastros da O segundo grupo em importância detalha elementos
ocioso tem aumentado com a crescente necessidade SPU. Assim, também, concluiu-se que dados oferecidos das edificações que ainda existem, e um terceiro grupo
de promover programas de inclusão social integrados pelas Prefeituras, por meio de seus Planos Diretores e (figura 4) apresenta uma planilha em Excel com dados
a projetos estratégicos para a requalificação urbana de Lei de Diretrizes Orçamentárias, eram fundamentais por município.
Tabela 2: estimativa do Patrimônio ferroviário quanto a Tipologia do bem imóvel.
Fonte: Comissão de Inventariança. áreas centrais com elevados indicadores de carência para uma política de destinação e suas diretrizes, que Na figura 1, podemos observar dados dos imóveis
habitacional e significativos níveis de deterioração. A visam a uma compatibilização no tratamento de dados NOP, tais como a demarcação do perímetro e área total
A Tabela de número dois aponta dados relevantes Lei 11.483/2007 definiu aspectos da destinação desse e gerenciamento do território. do imóvel a partir de documentação cartorial presente
desse patrimônio a que se deve dedicar atenção, haja estoque para além da alienação de bens imóveis NOP, no acervo da Rede. Através das coordenadas UTM
vista a demanda por utilização do solo público para os desde que destinados necessariamente a: 3. Cadastro de Imóveis Junto ao Arquivo (Universal Transversa Mercator), é possível localizar
mais diversos fins com o objetivo de dar suporte a pro- da Comissão de Inventariança e os a área por consulta a imagem de satélite. Consta
gramas sociais municipais, observando-se, porém, que “I. programas de regularização fundiária e provisão habi- Critérios para o Inventário também o número patrimonial, o que permite saber se
demandas provenientes da iniciativa privada somente tacional de interesse social; há alguma edificação ou bem construído, e referência
serão contempladas se atenderem ao interesse públi- II. programas de reabilitação de áreas urbanas; O processo de pesquisa se deu ao longo de seis a informações de serviços urbanos – águas residuais
co e beneficiarem a coletividade. O conjunto desses III. sistemas de circulação e transporte; ou meses e, conforme o Plano de Trabalho, as visitas passagem sobre a linha –, com descrição do trecho no
imóveis representa, então, o contingente de reserva IV. funcionamento de órgãos públicos.” técnicas foram distribuídas no período. Quanto à quilômetro a que se refere.
que compõe o patrimônio em análise. natureza da documentação disponível à consulta: O acervo é compreendido por encadernações em es-
No Estado de São Paulo, dada a quantidade de bens Além disso, nas áreas ocupadas por assentamentos A) Planta em Escala 1:1000, cópias heliográficas que piral de fichas catalográficas das edificações das mais
disponíveis, denota-se um grande interesse da Secre- precários, incidirão os instrumentos previstos no novo apresentam todo o patrimônio imobiliário da RFFSA, variadas tipologias pertencentes ao patrimônio da ex-
taria de Patrimônio da União em reconhecer e destinar marco legal da gestão patrimonial que também englo- resultado de um levantamento aerofotogramétrico tinta RFFSA. Faz referência ao município em que está
esse patrimônio. Segundo a SPU, dados que constam ba a Lei 11.481/2007, que introduziu significativos avan- executado pela Empresa TERRAFOTO, na sua divisão de localizada a edificação, aspectos técnicos do sistema
aerolevantamentos em 05 de maio de 1982.

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O Centro Oeste Paulista Como Laboratório O curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento
de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

construtivo e condições das edificações, definição de Ferroviária Federal S.A. – RFFSA, identificou-se que há Balanço Patrimonial da União, conforme Portaria
parâmetros numéricos que estimam um valor desses a necessidade da estruturação de uma base de dados Interministerial SPU/STN nº 322, de 23/08/2001.
bens e ainda uma imagem, fotografia tirada na ocasião cadastrais aos moldes da existente no gerenciamento Ao deter essa função, o Sistema deve apresentar
do levantamento. Importante observar que a base de patrimonial da SPU para os imóveis de uso especial. o valor financeiro dos imóveis a ser contabilizado
dados tem registro do NP (Número Patrimonial) que Pela fundamentação legal da incorporação e desti- para o Balanço Patrimonial da União, o que exige a
consta do Levantamento Aerofotogramétrico. Na sequ- nação dos imóveis não operacionais da extinta RFFSA realização de avaliações, atualizadas periodicamente,
ência, pode ser observada uma imagem desse catálogo pela União, regulamentada pelo Decreto nº 6.018, de 22 da destinação dada aos ativos.
e como podem ser extraídos dados desse registro. de janeiro de 2007, haverá uma tramitação documental Os imóveis de uso especial são aqueles destinados
conforme o artigo 5º : ao uso no serviço público federal para instalação de ór-
gãos da Administração direta e indireta vinculados aos
“ Durante o processo de inventariança serão transferi- Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário; instalação
dos (...): das Forças Armadas; instalação de autarquias, funda-
V- Ao Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: ções, agências executivas e organizações sociais; re-
Figura 4: Planilha Excel, base de dados para o catálogo. Fonte: Arquivo da RFFSA.
Fonte: Comissão de Inventariança, 2007. a) a documentação e as informações sobre os bens servas ecológicas e ambientais; e reservas indígenas.
imóveis não-operacionais oriundos da extinta RFFSA No SPUnet, constam dados muito significativos
Nota-se um grande cuidado com toda a documentação transferidos à União; dos imóveis, tais como a identificação do imóvel, seu
e o bom acondicionamento dos documentos de quase b) a base de dados cadastrais dos imóveis não- endereço, dimensões do terreno, dados da benfeitoria,
um século de existência. Na figura 4, observamos operacionais oriundos da extinta RFFSA transferidos à seu registro cartorial, dados complementares,
Figura 2: Carimbo: Informações técnicas referências para a Base de Dados.
Fonte: Arquivo RFFSA, Comissão de Inventariança, 2007/2008. alguns exemplos dos dados para serem futuramente União, para fins de inclusão no sistema informatizado proprietário oficial, identificação da utilização, dados
catalogados e alimentar a base de dados que fizeram do Patrimônio da União.” do terreno da utilização, dados da benfeitoria da
Na figura 2, podem ser observados mais dados parte da segunda fase da pesquisa a que se refere utilização, dados da avaliação, dados do regime. O
referentes aos imóveis. Referência ao município, escala aqui neste artigo e que poderá ser disponibilizada em Essa organização cadastral possibilitará ao órgão sistema está voltado para a Web e contém, além das
de representação da planta, referência da planta da outra oportunidade. Foram disponibilizados arquivos gestor, além de conhecer o patrimônio ferroviário, informações textuais, fotos e documentos digitalizados
edificação, caso exista no local. em Excel que contêm informações como: NP (Número planejar sobre sua destinação. Considerando essa ainda disponíveis na página da instituição.
patrimonial), Número de Ordem dos imóveis, Nome disposição legal, em visitas técnicas a GRPU-SP, a Na segunda etapa da pesquisa FAPESP, consolidou-
do município como referência, endereço do imóvel e equipe de pesquisadores observou a existência de se a arquitetura de um programa de computador para
finalmente a área quadrada desses imóveis. uma plataforma de dados informatizada, que, segundo montagem do Banco de dados que foi denominado
a instituição parceira, deveria ser tomada como SIGPATRIS. Embora ainda não esteja em funcionamento,
4. A Base de Dados Cadastrais da referência para o desenvolvimento do projeto. esse acervo subsidiou outras pesquisas de Mestrado e
Secretaria do Patrimônio da União Essa plataforma, o Sistema de Gerenciamento de Doutorado, sendo útil também na elaboração de artigos
Dados de Imóveis de Usos Especial da União – SPUnet, de vários congressos em várias partes do mundo.
Os imóveis não operacionais da extinta RFFSA reúne os dados que compõem o cadastro informatizado
são classificados como dominiais, ou como bens do de imóveis da União, pertencente à categoria de uso 5. Considerações Finais
domínio privado de Estado, não são afetados com o uso especial, bem como as atualizações periódicas de
público específico e, portanto, são sujeitos a um regime dados, previstas em normas para a gestão patrimonial Durante a coleta das informações, na primeira fase
de direito privado parcialmente derrogado pelo direito pública. do projeto, foi testada a funcionalidade do conjunto de
público. No entanto, nas diretrizes e procedimentos O SPUnet está interligado, online, ao Sistema variáveis proposto, tendo em vista a complexidade de
para incorporação do patrimônio ferroviário transferido Integrado de Administração Financeira do Governo tipos e situações que caracterizam o patrimônio em
à União, formulados em 2008, pela Secretaria do Federal – SIAFI, e, por meio dele, realiza-se o registro tela. Entende-se que não há padrões definidos e que o
Patrimônio da União, para o Manual de Incorporação do valor de avaliação da utilização do imóvel, sendo acervo de imóveis é heterogêneo. As variações tipológi-
Figura 3: Avaliação dos edifícios e dependências. Fonte: Arquivo RFFSA
Fonte: Comissão de Inventariança, 2007/2008. e Destinação dos Imóveis Oriundos da Extinta Rede a única fonte de atualização de tal registro para o cas de edificações são muito marcantes. Essas tipolo-

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O Centro Oeste Paulista Como Laboratório
de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada

gias podem variar entre estações, moradias, pequenas Processo No. 07/55262-09, FASE 2 – Período 2010/2012, Re-
construções de serviços, galpões, ou armazéns. latório Científico Projeto De Pesquisa Fapesp, Programa De
Há diferenças nas formas de articulações do imóvel Políticas Públicas Edital 2007
com o entorno, podendo ele estar na zona rural ou Atas das Reuniões de preparação da metodologia. 19 de
urbana, em áreas centrais ou periféricas, ou mesmo em novembro de 2008. Evangelina Pinho e Luiz Marcondes e de-
sedes de município ou em distritos e, ainda, estar em mais membros da equipe principal de pesquisadores.
ambiência com predominância de diferentes usos, ou Entrevista Ao Senhor Luiz Carlos Marcondes, 17 de Setem-
áreas homogêneas. bro de 2008.
Ocorrem ocupações irregulares por meio de http://www.pjf.mg.gov.br/contas/c02/portarias
assentamentos precários ou por famílias em situação http://www.planejamento.gov.br/secretarias/upload/ar-
de vulnerabilidade, caracterizando um conjunto de quivo/spu/publicacoes/081203_pub_manual_incorporacao.
casas unifamiliares ou mesmo uma favela, como é o pdf/view.
caso da cidade de Bauru. http://www.planejamento.gov.br/assuntos/gestao/patri-
Inúmeros imóveis possuem relevante valor histórico, monio-da-uniao/spunet
artístico e cultural, como podemos observar no Lei 11841/ 2007 http://www.planalto.gov.br
município de Araraquara, e essa é uma das principais Lei 11843/ 2007 http://www.planalto.gov.br
características do patrimônio ferroviário no Estado de
São Paulo, e encontram-se sob diferentes formas de
preservação e estágios de conservação. Sua avaliação
e destinação se faz muito relevante.
A coleta deve ser feita especialmente nos levanta-
mentos aerofotogramétricos do acervo apresentado.
O acesso é possível para qualquer pesquisador. Vale
lembrar que está localizado à rua José Paulino, nº 07, na
cidade de São Paulo, capital.

6. Bibliografia
MARICATO, E. ARANTES, O. F., VAINER, C. A cidade do
pensamento único: desorganizando consensos. Petrópolis,
RJ: editora Vozes, 2000.
ROCHA, Sílvio Luis Ferreira da. A função Social da Proprie-
dade Pública. São Paulo: Malheiros, 2005.

Outros Documentos:

Decreto nº 6.018, de 22 de janeiro de 2007.


Relatório Científico INVENTÁRIO E DIAGNÓSTICO DOS
BENS NÃO OPERACIONAIS DA RFFSA-SPU NA REDE DE CI-
DADES PAULISTAS E DIRETRIZES DE GESTÃO PATRIMONIAL,

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3
LABORATÓRIOS DE PESQUISA
PARTE
O curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento
de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

Projeto Para Implantação de Um


Laboratório de Desenho Urbano
J. Claudio Gomes - Arquiteto
São Paulo - Outubro, 1988.

1. Apresentação
A montagem do projeto de um laboratório de desenho
urbano exige, preliminarmente, que se deixem explícitos
quais os pressupostos sobre os quais se fundamentará
o projeto.
Em primeiro lugar a explicitação do objeto a ser
investigado pelo laboratório. O que é o tal “desenho
urbano”? qual o seu específico campo de investigação?
Qual o contorno do seu campo de conhecimento?
Enfim, o que é que se entende por desenho urbano?
Esclarecida esta preliminar se poderá passar a
delinear os objetivos que se deseja alcançar com o
laboratório: as suas metas, onde se deseja chegar, pois
objetivos diferentes também implicam em diferentes
modos de organizar o laboratório.
Somente, então, se poderá definir os conteúdos
programáticos a serem investigados pelo laboratório,
isto é, os temas e assuntos substantivos que o
laboratório irá pesquisar, as linhas de investigação a
serem perseguidas, enfim, o “quê” será investigado?
Uma vez estabelecidos os programas e sub-
programas de investigação, somente então se poderá
esboçar a organização operacional e funcional do
laboratório, estabelecendo as suas ligações internas e
externas com os demais orgaos e unidades curriculares
e extra-curriculares.
A seguir é o momento de se indicar as principais
medidas para viabilização pratica do laboratório:
como implantar? A que custo? Com quais recursos?
Conseguidos onde? Qual o “timing” de implantação,
com os cronogramas e etapas das operações?
Estas são, em linhas gerais, as perguntas que

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O Centro Oeste Paulista Como Laboratório O curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento
de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

demandam resposta na montagem do laboratório: qual


o objeto? Quais seus objetivos? Os seus conteúdos 3. Objetivos do Laboratório
programáticos? Como viabilizar o laboratório? Quais
etapas de implantação? O laboratório de desenho urbano é o território onde
Este é, em síntese, o roteiro desenvolvido e que se serão elaborados trabalhos de pesquisa e investigação
apresenta a seguir. de projetos de organização espacial na área de
interação edifício/cidade.
2. Objeto de Investigação Tais trabalhos terão por objetivo fundamental a busca
e a produção de conhecimento novo sobre os mecanis-
Entende-se por desenho urbano a área do mos de constituição da forma da cidade, investigando
conhecimento que investiga os processos de os instrumentos e processos de construção da arqui-
configuração e forma da cidade ou de partes da cidade. tetura da cidade, lançando luz sobre aspectos ainda
Sem entrar em maiores polêmicas doutrinarias, a pouco conhecidos, esclarecendo os instrumentos para
área de abrangência do desenho urbano, em termos o desenho da cidade.
quantitativos, engloba desde o projeto do grupo de Assim, a produção específica do conhecimento novo
edifícios até o desenho de partes ou fragmentos da deverá ser o objetivo fundamental e o traço distintivo do
cidade. Entretanto, é sobretudo em termos qualitativos, trabalho do laboratório. E este trabalho não pode, nem
ou em termos de atitude frente aos problemas do deve, se confundir com o trabalho didático em sala de
arranjo físico do espaço da cidade, que o objeto do aula (cujo objetivo é a transmissão de conhecimentos
desenho urbano assume um perfil característico que o já elaborados) nem com a atividade de prestação de
distingue tanto do desenho do edifício isolado quanto serviços à comunicade (cujo objetivo é a aplicação
do planejamento urbano. prática do conhecimento já elaborado).
Pois o objeto específico do desenho urbano, e O laboratório será o lugar da experimentação e da
portanto do laboratório de desenho urbano, passa aproximação às leis ainda ocultas, ou veladas, da orga-
a ser a investigação dos mecanismos, processos e tório que vae do edifício à cidade, reconhecendo como nização espacial da cidade. O seu papel e os seus ob- • investigar novos modelos de organização da
instrumentos que concorrem para a conformação do o processo histórico e social deixou as suas marcas no jetivos também não se confundem com o papel e com arquitetura da cidade em função de contextos sociais
espaço construído na cidade, isto é, daquela parcela espaço construído da cidade e como, deste reconheci- os objetivos do escritório ou da empresa: no laboratório específicos;
do conjunto da problematica urbana suscetível de ser mento, se pode construir a nova cidade do amanhã. se busca investigar, experimentalmente, ou simulada-
formalizada em termos de espaço real e concreto. Em Isto significa que as relações sociais, econômicas, mente, problemas desconhecidos ligados ao projeto do • aprofundar os nexos na área de interação história-
termos quantitativos retem, portanto, o desenho urbano, demográficas, istoricas, geográficas, semiológicas, espaço urbano; na empresa se busca formular respos- desenho;
a escala dos grupos de edifícios, ou de partes da cidade, antropológicas, etc., por mais importantes que sejam, tas imediatas a solicitações do mercado.
e em termos qualitativos, o seu objeto é a “urbanidade”, comparecerão no laboratório, que é de “desenho urba- Assim, é indispensável que se tenha clareza quanto à • esclarecer e pesquisar os problemas da passagem
isto é, a qualidade da vida social na cidade. Este é o no”, na medida que venham esclarecer, iluminar ou am- distinção entre os objetivos do laboratório de desenho do edifício construído para o espaço da cidade;
objeto da disciplina a ser investigada no laboratório pliar a compreensão e o conhecimento dos processos urbano e os objetivos das demais atividades acadêmi-
de desenho urbano, e que a torna específica e distinta, de projetação e desenho do espaço urbano. cas (didáticas, escritórios, etc.), pois somente esta cla- • investigar e aprofundar o conhecimento das
mas ao mesmo tempo estranhamente familiar, da Portanto, o objeto de investigação no laboratório reza nos objetivos à que conferirá identidade e especi- dicotomias publico-privado, interno-externo, individual-
arquitetura e do planejamento urbano “tout-court”. de desenho urbano será o processo de projetação da ficidade aos trabalhos do laboratório. coletivo, que permeiam a problematica do desenho
Além disto, o objeto de investigação no laboratório forma urbana, enquanto síntese unitária que funde A partir destes objetivos gerais podem ser identifica- urbano.
deverá ter como diretriz dominante a investigação das num mesmo ato criativo todos aqueles conhecimentos dos alguns objetivos mais específicos e localizados:
relações especificamente especiais e formais do terri- fragmentados e dispersos pelos diversos saberes.

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4. Justificativas 5. Conteúdos Programáticos


Porque implantar um laboratório de desenho urbano? As linhas de pesquisa e investigação que constitui-
Quais as razões e justificativas? Certamente não se rão os conteúdos efetivos dos programas de trabalho
trata de decisão obvia nem evidente por si mesma. A do laboratório podem ser tão amplas e diversificadas
sua instalação deve ser justificada. quanto se queira, dependendo da conceituação que se
tenha da disciplina. Entretanto, a partir da conceitua-
• as intervenções do desenhos urbano na escala de ção que se estabeleceu no item 2, é possível se definir
partes, ou fragmentos , da cidade permite identificar algumas áreas de pesquisa capazes de constituir um
uma estratégia mais eficiente e oportuna do que a conjunto programático coerente de investigação.
intervenção pontual e localizada do edifício isolado As áreas indicadas foram definidas a partir do tríplice
no seu lote, ou do que a intervenção abstrata e aspecto: do interesse social do problema investigado;
generalizada em toda a cidade. Na medida que o da pertinência da pesquisa com o campo de atuação
desenho urbano opera nas escalas intermediárias, específica do arquiteto; e das possibilidades de rápida
entre o edifício isolado e a cidade no seu conjunto, ele operacionalização executiva da pesquisa.
permite elaborar e definir instrumentos e políticas de A consideração simultânea destes três critérios ge-
ação mais eficientes, oportunas e eficazes. rais permite selecionar algumas unidades temáticas a
investigar: a morfologia urbana, onde se investigaria ,
• por se tratar de área de investigação ainda prioritariamente, os problemas relativos à forma da ci-
relativamente nova e pouco conhecida, o trabalho dade, seus mecanismos de constituição e os compo-
de experimentação e pesquisa em desenho urbano nentes de um possível vocabulário da forma da cidade
pode contribuir para o esclarecimento de problemas paulista; uma segunda unidade temática onde se in-
até agora obscuros ou pouco conhecidos sobre a vestigariam os problemas ligados à história da cidade,
constituição morfológica das nossas cidades, sobre os à recuperação criativa da memória urbana; e o terceiro • O espaço público da cidade
mecanismos da sua formação, no sentido de permitir a conjunto temático que investigaria os problemas mais - a constituição do espaço público e do espaço
construção de ambientes urbanos mais equilibrados e ligados aos procedimentos metodológicos de projeta- privado na cidade
humanos. ção do espaço urbano. média paulista; evolução histórica do espaço público
Especificamente cada um destes eixos temáticos na cidade paulista; estudos de casos específicos.
• a produção de conhecimento novo e a abertura de pode ser desdobrar em linhas específicas de pesquisa.
novas linhas de investigação e pesquisa na área do Na linha das pesquisas de morfologia urbana se- • Morfologia da pobreza
desenho urbano dificilmente poderia ser feita o quadro ria possível, e desejável, a investigação de temas tais - analise histórico-estrutural do espaço construído
de empresa comercial ou do escritório profissional. como: pela população pobre: a favela, o cortiço, o bairro
O laboratório se justifica como o lugar apropriado periférico; os componentes básicos do espaço da
para a elaboração da pesquisa e da investigação dos • Morfologia da cidade paulista pobreza; o uso do espaço da pobreza; os possíveis
problemas da arquitetura da cidade. - investigação sobre a forma da cidade média no projetos a partir da leitura do espaço da pobreza.
Estado de São Paulo; componentes constitutivos da
forma urbana da cidade media; um possível vocabulário • Os movimentos e a forma da cidade
da forma urbana; investigações sobre as relações - a analise e o projeto do espaço urbano a partir das
parte-todo na forma urbana da cidade média. redes de movimentos no espaço; a movimentação de

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O Centro Oeste Paulista Como Laboratório O curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento
de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

veículos, de pedestres, de bens e mercadorias, de ser- para as atividades do futuro laboratório de desenho
viços utilidades; as redes de movimentos no espaço urbano. Alguns destes temas, como é fácil verificar, pela
como geradores da forma da cidade. própria natureza, são mais fáceis de operacionalizar,
outros são mais oportunos, alguns outros requerem
Na linha das pesquisas sobre a história da cidade e maior tempo de amadurecimento. Em qualquer caso a
da arquitetura da cidade seria possível, e desejável, relação dos conteúdos programáticos acima expostos
investigar temas tais como: significam antes uma visão panorâmica de conjunto do
que propriamente proposta de investigação imediata.
• Cidade e Memória
- a cidade como lugar da memoria coletiva; 6. Organização interna do Laboratório
procedimentos de leitura da cidade enquanto registro
da memória inscrita no espaço construído; as tipologias Para que se possa atingir os objetivos previamente
construídas; investigação dos arquétipos construídos fixados, e entrar rapidamente em operação, propõe-
da cidade média paulista. se a organização interna do laboratório de acordo
com as seguintes diretrizes. Em termos de estrutura
• Cidade e história funcional propõe-se a organizaçãoo do laboratório
- a história da cidade como hipótese ao desenho- em três núcleos: a área dos contatos externos para
redesenho da cidade nova; investigação da dialética obtenção de recursos; a área das atividades de apoio
preservação/inovação através do estudo de casos reais; administrativo; e a área das atividades propriamente
a intervenção espacial em áreas de interesse histórico. técnicas de desenvolvimento das pesquisas. Estas três
áreas, subordinadas à coordenação geral, perfazem o
• Registro e inventário do patrimônio ambiental conjunto das atividades necessárias ao funcionamento
urbano - constituição de um banco de dados sobre operacional do laboratório e implicam numa estrutura do laboratório. Este núcleo, dada a natureza específica
o patrimônio ambiental urbano e rural das cidades bastante simples e flexível, o mínimo exigível para do seu trabalho, poderia eventualmente siturar-se
médias paulistas; registro iconográfico, métrico, - investigação e pesquisa exploratória sobre novos desempenho das tarefas previstas. fora do organograma do laboratório, mas deverá,
gráfico, fotográfico do patrimônio ambiental urbano; prodecimentos metodológicos de desenho urbano; O núcleo central, é, obviamente, constituído pelo obrigatoriamente, trabalhar em íntima e estreita
elaboração de atlas cartográfico temático registrando aplicações a casos reais; exploração das possibilidades corpo técnico de pesquisadores responsáveis pelo colaboração com a coordenação e com o núcleo de
a constituição e evolução espacial da cidade. e identificação dos limites do método em desenho desenvolvimento das pesquisas e investigações, elaboração de propostas. A representação gráfica do
urbano. reunindo os pesquisadores, técnicos, estagiários organograma funcional é a seguinte:
Finalmente, na linha de investigação dos procedi- e auxiliares ligados especificamente à produção
mentos metodológicos do desenho urbano, seria pos- • O desenho urbano, a arquitetura urbana e o das pesquisas. Ligada a este núcleo básico, mas
sível definir alguns temas mais específicos tais como: planejamento urbano relativamente independente dele, situa-se uma area COORDENAÇÃO
- investigação das fronteiras e interfaces entre o que deverá se encarregar, especificamente, pela
• Análise histórico-crítica das metodologias do desenho urbano, a arquitetura e o planejamento urbano; elaboração de propostas técnicas de futuras pesquisas
desenho urbano convergências e divergências metodológicas entre as a serem apresentadas aos órgãos financiadores. A área CONTATOS C/ AGENTES FINANCEIROS APOIO
- inventariamento e análise crítica das correntes três áreas; de apoio administrativo (datilografia, xerox, heliografia, ADMINISTRATIVO DESENVOLVIMENTO DAS PESQUISAS
metodológicas sobre desenho urbano; analise e etc.) completa o quadro funcional proposto. Finalmente,
investigação de casos específicos. Este conjunto de temas de investigação abrange, o núcleo encarregado da tarefa de estabelecimento de
assim, com suficiente amplitude, o que poderia ser, num contatos externos, de relações com órgãos públicos ou ELABORAÇÃO DE PROPOSTAS SETOR DE ANÁLISE
• Novas metodologias de desenho urbano primeiro momento, um programa global, de longo prazo, privados eventualmente interessados nos trabalhos DESENHOS PROJETOS

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de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

7. Relacionamento externo do Laboratório 8. Fluxograma das Operações


No desenvolvimento das tarefas normais de pesquisa O último aspecto que compõe a organização funcional
o laboratório deverá, forçosamente, se articular com do laboratório diz respeito à dinâmica operacional
entidades e parceiros externos ao laboratório. De das diversas unidades entre si em termos de fluxo de
maneira geral estas entidades seriam de dois tipos: atividades.
as entidades internas à Faculdade, compreendendo Tratando-se de estrutura relativamente simples o
as unidades curriculares (sequencias ou grupos de fluxo das operações reduz-se ao mínimo indispensável
disciplinas) e as unidades extra-curriculares (outros ao bom funcionamento das atividades de pesquisa. Para
laboratórios, oficinas de modelos, bancos de dados, o caso de uma pesquisa hipotética, que envolva número
bibliotecas, etc.) e as unidades externas à Faculdade, relativamente limitado de operações, o fluxograma
compreendendo os órgãos financiadores de qualquer adquire o seguinte aspecto, a título apenas de exemplo.
tipo, as comunidades eventualmente objeto de
pesquisa, e finalmente técnicos, especialistas e CONTATOS PRELIMINARES COM AGENTES FINANCEIROS
consultores externos ao quadro docente eventualmente OBTENÇÃO DE NORMAS PARA SOLICITAÇÃO DE AUXÍLIO

necessários à pesquisa.
ELABORAR CARTA DE INTENÇÃO
De maneira resumida as relações do laboratório com ELABORAR O “BRIEFING” E TERMOS DE REFERÊNCIAS
este conjunto de unidades poder ser visualizada, es- ↓

quematicamente, no seguinte diagrama. CONTATOS PARA APROVAÇÃO DA CARTA DE INTENÇÃO



ELABORAÇÃO DA PROPOSTA TÉCNICA PARA OBTENÇÃO DO
AUXÍLIO E PESQUISA
LABORATÓRIO ↓
APRESENTAÇÃO AO AGENTE FINANCEIRO DA PROPOSTA TÉCNICA
UNIDADES EXTRACURRICULARES PARA A PESQUISA

LABORATÓRIOS A,B, ... N APROVAÇÃO DA PROPOSTA PELO AGENTE FINANCEIRO NA
TOTALIDADE DA SOLICITAÇÃO APRESENTADA
BIBLIOTECAS ↓

CENTROS DOCUMENTAÇÃO ASISNATURA DO CONTRATO PARA AUXÍLIO À PESQUISA



OFICINAS MODELOS MONTAGEM DA EQUIPE TÉCNICA OU COMPLEMENTAÇÃO DA
ETC. EQUIPE PERMANENTE; ELABORAÇÃO DOS CRONOGRAMAS
EXECUTIVOS; TABELAS DE GANT. SEMINÁRIOS PERIIÓDICOS COM O CORPO DOCENTE-DISCENTE


INÍCIO E DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS DE PESQUISA ELABORAÇÃO DE RELATÓRIOS PERIÓDICOS DO ANDAMENTO DOS
ÓRGÃOS FINANCIADORES ESTADUAIS, FEDERAIS, SECRETARIAS, AUTARQUIAS, ETC. TRABALHOS PARA O AGENTE FINANCEIRO

UNIDADES CURRICULARES
CONCLUSÃO E ENTREGA DOS TRABALHOS FINAIS PARA APROVA-
SEQUENCIAS A,B,...N ÇÃO DO AGENTE FINANCEIRO

ETC.
PRESTAÇÃO DE CONTAS AO AGENTE FNANCEIRO E APROVAÇÃO
FINAL

COMUNIDADES INTERVENIENTES PREFEITURAS, SECRETARIAS, COMUNIDADE CIVIL, ETC.
PUBLICAÇÃO DA PESQUISA

CONSULTORES EXTERNOS, COMPUTAÇÃO, ORÇAMENTAÇÃO E CUSTOS TRANSPORTE, ETC.

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9. Viabilização operacional da proposta do 10. Etapas de Implantação


Laboratório
Tratando-se de área do conhecimento ainda pouco
No sentido de viabilizar operacionalmente a explorada e sem tradição de pesquisa, como é o caso
implantação do laboratório indicam-se, a seguir os do desenho urbano, recomenda a prudência que o
recursos necessários, materiais e humanos bem como laboratório comece pequeno. Uma equipe mínima
as possíveis fontes de financiamento às pesquisas. de pesquisadores, equipados o suficiente para
Recursos materiais necessários: desenvolver os trabalhos, e dimensionamento das
primeiras pesquisas sem grandes vôos nem grandes
• Materiais permanentes pretensões. Entendemos os primeiros momentos de
- espaço adequado 7mx7m um laboratório deste tipo como uma espécie de ensaio
- painéis eucatex acústico para fixação de geral, um teste preliminar, para se aferir, na prática, as
desenhos propostas contidas neste documento.
- 8 pranchetas, fixas, 0,80 x 2,10m (portas lisas) Desta forma sugerimos as seguintes etapas de
- 8 banquetas giratórias, móveis, com encosto, implantação:
p/desenho
- 2 mapotecas, metálicas • Primeira Etapa
- 4 arquivos, metálicos, para pastas suspensas
- 2 armários, metálicos, para guarda de material - instalação do espaço físico e equipamentação
de consumo de material e mobiliário mínimo;
- 4 cadeiras giratórias, com rodízios e braço - elaboração de projeto de pesquisa para
- 8 luminárias, com braço flexível, fluorescente, As suas disponibilidades e propensões a investir em duraçãoo de doze meses, renováveis para mais doze
p/ prancheta pesquisa dependem muita da confiabilidade dos meses;
pesquisadores e da instituição solicitante do auxílio, - contatos e gestões junto aos possíveis órgãos
• Material de consumo além da qualidade e interesse da pesquisa solicitada. financiadores; Finalmente, em termos de custo financeiro dos
- papel vegetal de várias gramaturas De maneira geral as Secretarias do Estado podem - desenvolvimento da pesquisa e elaboração de investimentos iniciais para a instalação do laboratório,
- papel sulfite, a granel, branco e cores dispor de dotações para financiar pesquisas dos seus propostas para novas pesquisas; acreditamos que serão perfeitamente toleráveis pela
- material, de desenho(lapiseiras, jogos de interesses. Além dos organismos específicos como - ampliação dos contatos juntos a outras instituição, particularmente tendo em vista futuros
canetas para nankin; jogos de borrachas, réguas FAPESP (no Estado de São Paulo), CNPq, FINEP, do entidades financiadores benefícios e vantagens que advirão para o ensino e a
paralelas; etc. etc.) governo Federal; empresas publicas como CNDU, pesquisa.
Caixa Econômica Federal, EBTU, cada uma nas suas • Segunda Etapa
• Material humano áreas de abrangência; FEPASA, RFFSA, DER/SA, na área
- 1 pesquisador chefe; arquiteto-urbanista de transpostes; as Prefeituras municipais e empresas - ampliação das atividades com novas
sênior públicas municipais, além de fundações públicas como pesquisas;
- 2 pesquisadores seniores; arquitetos seniores CEPAM, FUNARTE, etc. - ajustamento e redimensionamento da equipe
- 2 desenhistas projetistas Finalmente, a viabilização operacional da proposta do técnica e das instalações físicas e equipamentos
- 3 estagiários; estudantes de arquitetura 9o. – laboratório de desenho urbano está, sempre, mais na conforme a evolução das tarefas do laboratório.
10 . sem.
o dependência da credibilidade dos seus pesquisadores
e da instituição proponente da pesquisa do que
As fontes de financiamento para pesquisa são muito propriamente da existência de linhas de financiamento São Paulo, outubro 1988
variados, tanto no setor público como no setor privado. e de auxílio financeiro. J. Claudio Gomes - arquiteto

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Núcleo de Pesquisa em de extensão. A finalidade do ArqHab é contribuir para


a produção científica nos temas relacionados as linhas
que pode ser de ordem político-social, econômica ou
cultural para os participantes.
Graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo.

Arquitetura e Habitação de pesquisa do grupo e demonstrar sua interface No caso do ArqHab as atividades de extensão Na linha de pesquisa: Acessibilidade no Ambiente
Social (ArqHab) com os projetos de extensão e ensino. Tendo esse
propósito como a matriz para as atividades realizadas,
realizadas, são efetivamente melhorias no ambiente
construído, por tratar-se do desenvolvimento de
Construído¹ foram realizadas pesquisas em espaços
urbanos para detectar as barreiras arquitetônicas
Profa. Dra. Silvana Aparecida Alves a metodologia adotada para a condução dos projetos projetos de Arquitetura e Urbanismo. O caráter prático e elaborar propostas e ações para promover a
de extensão foi fundamentada em pesquisa-ação. das atividades desempenhadas em todas as fases dos acessibilidade, a inclusão social e o desenho universal.
Segundo o sociólogo Boaventura de Souza Santos projetos de extensão, proporciona aos estudantes a Nesta linha foram desenvolvidos Projetos de Extensão
Introdução (2010, p. 55) “a pesquisa-acção e a ecologia de oportunidade de experienciar a realidade em que irão e pesquisas de Iniciação Científica.
saberes são áreas de legitimação da universidade que se deparar na atuação profissional, praticando ainda na
O Núcleo de Pesquisa em Arquitetura e Habitação transcendem a extensão uma vez que tanto actuam ao academia as abordagens de comunicação, integração A linha de pesquisa: Projeto e Tecnologia do
Social - ArqHab, criado em 2001, vinculado ao Depar- nível desta como ao nível da pesquisa e da formação”. interdisciplinar e contato com a diversidade cultural e Ambiente Construído estuda novas tecnologias e
tamento de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo, da Assim, a pesquisa-ação incide no propósito de executar social. técnicas de componentes do ambiente construído.
FAAC/UNESP/ Campus de Bauru, trabalha com a indis- pesquisas que advenham de projetos realizados de Desde os elementos arquitetônicos aos elementos dos
sociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, porém, forma participativa “envolvendo as comunidades e Linhas de Pesquisa do ArqHab mobiliários urbanos. Engloba o estudo da ergonomia,
neste texto de apresentação das atividades do grupo de organizações sociais populares” (SANTOS, 2010, p. 55). antropometria e conforto ambiental. Nesta linha de
pesquisa priorizou-se destacar as atividades realizadas Neste sentido, o resultado suplanta a coleta e análise O ArqHab possui a linha de pesquisa: Habitação de pesquisa também são desenvolvidos Projetos de
em Projetos de Extensão. de dados, e avança para soluções de problemas que Interesse Social (HIS), na qual desenvolve estudos Extensão e Pesquisas.
Ao abordar o conceito de indissociabilidade entre en- possam beneficiar um grupo de pessoas (grupo social), sobre a política habitacional, e políticas públicas
sino, pesquisa e extensão, Cunha (2010, p. 4) comenta articulando a supressão de demandas ou necessidades, voltadas para as questões da reforma urbana, o direito Atividades Interdisciplinares e
que na América Latina, já nas primeiras décadas do sé- com a produção de conhecimento científico e aplicação à moradia e à cidade, e o acesso às infraestruturas Mobilizadoras
culo XX, houveram universidades que buscaram “uma de um trabalho prático – projeto de extensão -, para a urbanas. Conduzida por métodos de Pesquisa
aproximação da Instituição com as demandas da socie- comunidade participante (Boaventura, 2010, p. 55). Documental, Descritiva e de Avaliação Qualitativa Uma das metas do ArqHab é promover atividades
dade”, essas ações, denominadas de Extensão, foram A partir desse ponto apresentado cabe expor que é realizada a investigação e análise dos aspetos da interdisciplinares, assim, é importante destacar que a
definidas “como uma das funções básicas da educação segundo Thiollent (1986) a pesquisa-ação é uma habitação, sua inserção urbana e relação com a cidade. interdisciplinaridade norteou os projetos de extensão,
superior” (CUNHA, 2010, p. 4). metodologia que pode cumprir um papel importante Nesta linha de pesquisa são desenvolvidos Projetos que integrou estudantes dos cursos de Arquitetura e
No entanto, as universidades brasileiras, por um lon- na relação entre pesquisa e ensino-aprendizagem, de Extensão, pesquisas de Iniciação Científica, assim Urbanismo e de Engenharia Civil, oferecendo aos mes-
go tempo, investiram no fortalecimento da pesquisa e dando protagonismo aos estudantes pesquisadores como Trabalhos Finais de Graduação do curso de mos a oportunidade de realizar trabalhos em parceria,
somente com a valorização da atividade de extensão e as pessoas da comunidade envolvida, pois, Thiollent Arquitetura e Urbanismo. complementando e compartilhando conhecimentos
para a formação dos estudantes e para o aprimoramen- (1986, p. 14) define que “a pesquisa-ação é um tipo de específicos de cada uma das áreas de atuação e aproxi-
to do conhecimento científico, a indissociabilidade tor- pesquisa social com base empírica que é concebida A outra linha de pesquisa: Percepção Ambiental mando-os ainda mais da realidade profissional. Os do-
na-se um tema pujante de discussão. Segundo Moita e e realizada em estreita associação com uma ação ou no ambiente construído estuda a inter-relação centes envolvidos nos projetos, também das áreas de
Andrade (2009, p. 273) “enquadradas pelo princípio da com a resolução de um problema coletivo e no qual entre homem-ambiente e a interação ambiente- Arquitetura e Urbanismo e de Engenharia Civil, exercem
indissociabilidade, a extensão e a pesquisa tornam-se os pesquisadores e participantes representativos da comportamento. Trabalha-se com conceitos e papeis de mediadores no processo de ensino-aprendi-
consequências naturais da docência, referências para situação ou do problema estão envolvidos de modo multimétodos desenvolvidos na Psicologia Social, zagem, trabalhando com conteúdo teórico-científico e
que o ensino não se torne abstrato nem desligado das cooperativo ou participativo.” Antropologia, entre outros. Nesta linha de pesquisa técnico, assessorando cada etapa de desenvolvimento
realidades locais...”. Outro motivo para adotar a pesquisa-ação em também são desenvolvidos Projetos de Extensão, dos projetos de extensão, porém, instigando a autono-
Nesse contexto, cabe mencionar que o ArqHab é por projetos de extensão do ArqHab, se deve ao fato de que, pesquisas de Iniciação Científica, e Trabalhos Finais de mia e ações proativas dos estudantes.
essência um grupo de pesquisa criado para trabalhar conforme aponta Thiollent (1986), essa metodologia
de forma integrada com pesquisa, ensino e projetos apresenta uma ação prática que resulta em avanços
1
Esta linha de pesquisa não aparece mais em destaque no ArqHab, no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq, pelo fato de ser entendido como conceitos,
critérios e normas que devem ser aplicados em todo e qualquer projeto de Arquitetura e Urbanismo, inerente em suas concepções e abarcadas pelas outras
linhas em destaque.
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Projetos de Extensão Universitária deles Arquitetura Escolar, realizado de 2014 a 2015, a


partir da demanda de uma escola estadual, com verba
Os projetos de extensão começaram a ser do Governo Estadual para realizar a reforma da escola.
desenvolvidos desde a formação do grupo de pesquisa, Além do projeto de extensão ARQUITETURA POLICIAL:
assim, o primeiro projeto, intitulado “Habitação Social e Polícia Científica do Estado de São Paulo, realizado em
Arquitetura: Em busca de uma qualidade projetual nas 2014 e 2015, por solicitação da Polícia Científica, cujo
moradias”, teve início em 2002 e duração de sete anos desenvolvimento envolveu uma ampla pesquisa sobre
(2002 – 2008), aprovado pela Pró-Reitoria de Extensão a temática, visitas técnicas em vários prédios da Supe-
(PROEX), da UNESP, contou com recursos financeiros e rintendência da Polícia Técnico-Científica2, e Institutos
bolsas para estudantes. Médico Legal (IML) de várias cidades do Estado de São
O segundo projeto de extensão, ligado a linha de pes- Paulo.
quisa Acessibilidade no Ambiente Construído, intitu- Ainda na linha de pesquisa Percepção Ambiental
lado “Projeto para Garantir a Acessibilidade no Horto foram realizados projetos no âmbito da própria
Florestal de Bauru”, foi desenvolvido no ano de 2002. universidade, atendendo demandas da comunidade
O terceiro projeto de extensão, também ligado a linha acadêmica, como o Projeto de Reforma do Espaço
de pesquisa Acessibilidade no Ambiente Construído, AUIN, da Reitoria, período de 2018 a 2019, e o Projeto de
intitulado “Eliminação das Barreiras Arquitetônicas na Reforma do Edifício da Biblioteca da UNESP/Campus
APAE/Bauru - Planejamento dos espaços educacio- de Bauru, período de 2018 a 2019.
nais e de uso múltiplo”, foi desenvolvido no período de
2003 a 2008. Aprovado pela PROEX recebeu recursos Extensão, Pesquisa e Prêmios
financeiros e bolsas para estudantes.
O quarto projeto de extensão, ligado a linha Alguns dos Projetos de Extensão e de Iniciação
de pesquisa: Habitação de Interesse Social (HIS), Científica foram premiados, todos em primeiro lugar
Reunião na Prefeitura de Bauru, com os secretários da Seplam, Sebes e Obras e membros do Rotary Parque das Nações. Fonte: autor, 2020. em suas respectivas exposições.
intitulado: Assistência Técnica a Habitação de Interesse
Social, foi executado de 2010 a 2014. Esse projeto foi No 3º Congresso de Extensão Universitária da UNESP
desenvolvido em três fases, a primeira ocorreu de 2010 “Extensão Universitária: fator de inclusão social”,
à 2011, em pareceria com a ONG Ambienta e a Prefeitura realizado em 2005, o projeto: “HABITAÇÃO POPULAR E
Municipal de Bauru, contou com recurso de um Projeto ARQUITETURA: Em Busca de uma Qualidade Projetual
do Governo Federal. Na segunda fase do projeto, em nas Moradias” foi premiado em 1° lugar no eixo temático
2012, as atividades de extensão foram direcionadas tecnologia. E o projeto: “ELIMINAÇÃO DE BARREIRAS
para intervenções em espaços públicos urbanos em RQUITETÔNICAS NA APAE-BAURU: Planejamento dos
assentamentos precários, realizado em parceria com espaços educacionais e de uso múltiplo”, foi premiado
a Prefeitura Municipal de Bauru e Rotary Parque das em 1° lugar no eixo temático espaços construídos.
Nações. A terceira fase, de 2013 a 2014, consistiu em No XVI CIC - Congresso de Iniciação Científica,
trabalhos relacionados ao Programa Minha Casa Minha realizado na Unesp em 2005, a Iniciação Científica,
Vida (PMCMV). título: “Avaliação pós-ocupação do Núcleo Habitacional
Outros projetos de extensão foram desenvol- “Nobuji Nagasawa”, da linha de pesquisa: Habitação de
vidos na linha de pesquisa Percepção Ambiental, um Interesse Social, foi premiada em 1° lugar na área de

ATHIS reunião com a comunidade Vila Celina. ATHIS reunião com a comunidade Santa Cândida.
Fonte: autor, 2020. Fonte: autor, 2020. 2
Superintendência da Polícia Técnico-Científica, também chamada de Polícia Científica de São Paulo, é um órgão do sistema de segurança pública, ao qual
compete a realização das perícias médico-legais e criminalísticas do Estado de São Paulo, bem como desenvolver estudos e pesquisas em sua área de atuação.

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humanas.
É uma premissa e uma metodologia do ArqHab
XXI: Para uma reforma democrática e emancipatória da
Universidade. São Paulo, Cortez Editora, 3ª ed., 2010. Grupo Arquitetura: Kelly Magalhães, Prof. Dr. Claudio Silveira Amaral e
Prof. Dr. Eduardo Romero de Oliveira.
trabalhar a pesquisa e a extensão simultaneamente, THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Teorias e Projetos (GA) No rol de atividades realizadas pelo GA – pesquisa,
fato comprovado com as publicações científicas que Paulo: Cortez: Autores Associados, 2ª ed., 1986. Principais atividades e sua interveniência territorial extensão e ensino – destacam-se a Pesquisa EFNOB/
resultaram dos trabalhos realizados em projetos de e urbana. Bauru, Km 0, além de diversos projetos de extensão
extensão e de pesquisa. Todas as experiências são como: a Central de Departamentos da FAAC-UNESP e a
apresentadas e discutidas nas atividades de ensino, Igreja Sagrada Família em Bauru.
nas disciplinas: “Arquitetura V - Aspectos Sociais da
Habitação” e “Percepção Ambiental no Ambiente 1. Introdução 2. Projeto de pesquisa: Estrada de Ferro
Construído”, por estarem diretamente relacionadas Noroeste do Brasil/Bauru, Km 0
as linhas de pesquisa Habitação de Interesse Social e O Grupo Arquitetura: Teorias e Projeto (GA), certifi-
Percepção Ambiental, respectivamente. cado em 2003 pelo CNPq, constitui-se num Grupo de A pesquisa desenvolvida com o apoio da FAPESP e do
Estudos formado por docentes do Departamento de órgão estadual de preservação, Conselho de Defesa do
Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo da Faculdade de Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico
Informações complementares Arquitetura, Artes e Comunicação e do Departamento do Estado, CONDEPHAAT, trata da antiga Estrada de
de Turismo da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Ferro Noroeste do Brasil, EFNOB, com sede em Bauru/
A fundadora e líder do ArqHab foi atuante na Mesquita Filho”, com atuação predominante nas Subá- SP e cujo complexo arquitetônico é de grande relevância
elaboração de propostas de uma política habitacional reas de Projeto de Arquitetura e Urbanismo, e Teoria e histórica para o Estado de São Paulo e Mato Grosso do
para o município de Bauru ao integrar a equipe do História da Arquitetura e Urbanismo. Constitui objetivo Sul, bem como para o crescimento urbano da cidade.
Grupo Habitação, formado para formular diretrizes específico do GA, o desenvolvimento de atividades de Nosso trabalho de pesquisa, denominado EFNOB-
e propostas para a habitação de interesse social, no ensino, pesquisa científica e extensão universitária nas Bauru KM 0, durou dois anos e envolveu, principalmente,
período de maio/2004 a abril/2008. Posteriormente Áreas de Concentração correlatas ao Grupo. docentes da UNESP, Universidade Estadual Paulista
foi instituído o Conselho Municipal de Habitação As linhas de pesquisa do GA são: Filho e compreendeu um Tema Principal: Patrimônio
- Prefeitura do Município de Bauru - Decreto n° Arquitetônico Industrial e mais três núcleos temáticos:
10.646/2008, permanecendo como membro titular no a) Arquitetura e Urbanismo Moderno, Organização Administrativa do Trabalho; Recreação e
período de maio de 2008 a agosto 2012, atuou como b) Metodologias de Projeto em Arquitetura e Cultura; e Inventário e Documentação.
representante da FAAC/UNESP/Bauru. Urbanismo, A EFNOB foi criada em 1905, com seu quilometro zero
c) Ensino do projeto de Arquitetura e Urbanismo, situado em Bauru; a escolha do local se deu em virtu-
d) Teoria e História da Arquitetura e do Urbanismo, de de ser a última cidade do centro oeste paulista que
Referências bibliográficas e) Patrimônio Arquitetônico e Urbano, contava com uma estação ferroviária, a da recém-che-
f) Patrimônio Cultural e Industrial. gada Companhia Sorocabana (MATOS, 1974). Como sede
CUNHA, Maria Isabel da. Indicadores de qualidade a EFNOB teve seu complexo arquitetônico expandido
e a relação do ensino com a pesquisa e a extensão na O Laboratório de Projeto (LaP) está vinculado ao de forma constante até a década de 1970, criando um
universidade brasileira. In: X Coloquio Internacional sobre Grupo Arquitetura: Teorias e Projeto, sendo destinado conjunto de edifícios da mais extrema relevância no
Gestión Universitaria em América del Sur. Mar del Plata, 2010. às atividades de pesquisa e extensão. São seus espaço urbano (GHIRARDELLO, 1992). Algumas dessas
MOITA, Filomena M. G. da S. C.; ANDRADE Fernando pesquisadores: Profª Drª Rosio Fernández Baca construções se colocam entre as principais do Brasil
C. B. de. Ensino-pesquisa-extensão: um exercício de Salcedo (Líder do Grupo de Pesquisa), Prof. Dr. Vladimir em suas categorias, devido à dimensão, ou pela lingua-
indissociabilidade na pós-graduação. In: Revista Brasileira Benincasa (Vice-líder do Grupo de Pesquisa), Prof. Dr. gem e tecnologias avançadas para sua época. A EFNOB
de Educação. v. 14 n. 41 maio/ago. 2009. p. 269 – 393. Nilson Ghirardello, Prof. Dr. Paulo Roberto Masseran, mais que ser uma companhia ferroviária que propi-
SANTOS, Boaventura de S. A Universidade no Século Prof. Dr. Samir Hernandes Tenório Gomes, Profª. Drª. ciava o transporte de bens e pessoas, foi a partir dos

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anos 1920, após a construção das Oficinas Gerais, uma identificar, selecionar, analisar e propor diretrizes para registros coletados e eventual redesenho dos projetos; O local para implantação dos edifícios foi determinado
montadora de vagões de grande porte, com expressivo a salvaguarda do patrimônio cultural representativo da análise dos resultados; em algumas situações, em função do Plano Diretor do Campus adequado às
impacto econômico e empregatício na cidade (Figura 1). EFNOB, em Bauru, evidenciando sua importância para diretrizes para a salvaguarda do patrimônio cultural e infraestruturas existentes. Para a concepção do projeto
A relevância histórica da EFNOB para São Paulo e o país; bem como para que pudessem ocorrer parcerias digitalização de documentos no Centro de Memória e foram delineadas algumas diretrizes: topografia,
o Mato Grosso do Sul, são incontestes, atestada pelo no uso, manutenção e preservação dos mesmos, pelo Informação Virtual do Patrimônio Industrial Ferroviário acessos, vegetação nativa, orientação em relação ao
Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico município. da EFNOB. Os resultados da pesquisa estão sendo sol, eficiência energética, acessibilidade, modulação
e Arqueológico do Estado de São Paulo (CONDEPHAAT) O projeto EFNOB-Bauru KM 0, visou também, a divulgados em eventos científicos nacionais e estrutural, programa de necessidades, integração
que tombou o conjunto arquitetônico. Sua importância articulação com pesquisadores estrangeiros liderados internacionais. entre os Departamentos e a Administração, integração
se dá tanto no aspecto do transporte do café paulista, da pelo Prof. Dr. Julián Sobrino Simal, da Universidade de Criamos uma base de dados documental e interna em cada departamento. O projeto objetivou que
erva mate mato-grossense (AZEVEDO,1950), do grande Sevilha e outros projetos de pesquisa Fapesp que tinham cartográfica com mecanismo de busca, disponível deveria possuir características próprias, visando um
número de cidades formadas a partir de suas estações, como foco a ferrovia, como aqueles coordenados pelo em site http://www.faac.unesp.br/#1408,1408, onde conjunto harmonioso (AMARAL et al., 2003).
na ocupação de uma extensa região do estado de São Prof. Dr. Eduardo Romero de Oliveira. foram e ainda estão sendo divulgados os trabalhos O projeto do bloco Administrativo da FAAC, idealizado
Paulo e também do Mato Grosso do Sul, antes isolado A proposta foi dividida em um núcleo temático elaborados pelo grupo. Também foram realizados dois como espaço de articulação com os departamentos
do país. principal, denominado Patrimônio Arquitetônico e importantes eventos pelos membros do grupo. Dessa de ensino, foi projetado em dois pavimentos, no
outros três complementares. Cada um dos núcleos forma consideramos que o projeto atingiu os objetivos, cruzamento de dois eixos de principais: o eixo leste-
contou com trabalhos elaborados por bolsistas de IC indo além em alguns de seus indicadores. oeste, prolongamento da circulação do bloco das salas
FAPESP, alunos da pós-graduação, visando avançar O Projeto EFNOB/BAURU, KM 0 teve como objetivo de aula e o eixo norte-sul, conformado por uma rua de
no conhecimento da ferrovia, da sua preservação e principal, inventariar, identificar, selecionar, localizar, pedestres como elo entre os departamentos e o bloco
formando quadros acadêmicos e técnicos. analisar e propor diretrizes para a salvaguarda do administrativo. Este bloco não foi construído.
Os Núcleos foram os seguintes: patrimônio cultural representativo da EFNOB, em Foram projetados cinco departamentos: Design,
Bauru. Conseguiu envolver bom número de docentes Representação Gráfica, Arquitetura, Urbanismo
A. Patrimônio Arquitetônico: Estação Central, Gare, do DAUP/FAAC, voltando-os a um tema relevante e e Paisagismo, Ciências Humanas e Ciências da
Plataformas, Escritórios, Conjunto das Oficinas e comum de pesquisa. Da mesma forma, gravitando Comunicação. O programa de necessidades foi definido
Conjunto da Vila dos Funcionários da EFNOB. Coord.: ao redor do grupo contamos com grande número de pelos Chefes de Departamentos da FAAC e incluiu: salas
Prof. Dr. Nilson Ghirardello e Prof. Dra. Rosio Fernandez estudantes que desenvolveram trabalhos de Iniciação administrativas, secretaria, sala de reuniões, sala para
Baca Salcedo. Científica, via FAPESP, PIBIC/CNPq, TFG e mesmo por a chefia do departamento e sala para a coordenação de
Figura 1: Vista a partir do Google Earth, onde se vê o complexo da antiga EFNOB, na ma- voluntariado, bem como estudantes do programa de cursos, salas de computação, copa, cozinha e banheiro.
lha urbana de Bauru: Estação Central, escritórios, vila dos funcionários e conjunto das
oficinas, tendo o pátio ferroviário ao centro. Acessado em 13/08/2013. B. Pesquisa Organização Administrativa do Trabalho. Mestrado em Arquitetura e Urbanismo. O projeto arquitetônico foi desenvolvido no ano de 2003
Coord.: Prof. Dr. Cláudio Silveira Amaral. e em 2010 as obras tiveram o início, com a construção
O projeto de pesquisa Estrada de Ferro Noroeste do 3. Projetos de Extensão dos edifícios.
Brasil/Bauru, Km O, coordenado pelo Prof. Dr. Nilson C. Pesquisa EFNOB – Recreação e Cultura: Coord.: Para definir os requisitos do programa foi necessário
Ghirardello, foi financiado com Auxílio à Pesquisa Prof. Dr. Paulo Roberto Masseran. 3.1. Central de Departamentos da FAAC - UNESP conhecer as necessidades e atividades de cada
Regular, Processo Fundação de Amparo à Pesquisa do departamento. O programa foi definido a partir das
Estado de São Paulo (FAPESP) 11/51014-6, vigência 01 de D. Pesquisa Centro de Memória e Informação Virtual O projeto da Central de Departamentos da FAAC - necessidades de reuniões, recepção, secretaria, sala
março de 2012 a 28 de fevereiro de 2014. Nesta pesquisa do Patrimônio Industrial e Ferroviário da EFNOB. Coord.: UNESP foi realizado pelos professores, arquitetos, Dr. de reuniões, salão e sala de Chefe do Departamento
participaram os professores Drª. Rosio Fenández Prof. Dr. Samir Hernandes Tenório Gomes. Claudio Silveira Amaral, Dr. Nilson Ghirardello, Dr. Paulo Coordenador do Curso de Graduação, a comunhão
Baca Salcedo, Dr. Claudio Silveira Amaral, Dr. Paulo Roberto Masseran, Drª. Rosio Fenández Baca Salcedo, social (café), sala de professores e serviços (banheiros).
Roberto Masseran, Dr. Samir Hernandes Tenório Gomes, A metodologia constou de sete etapas: abordagem Dr. Samir Hernandes Tenório Gomes, membros do GA, e Atividades administrativas, como solicitação de
membros do GA. teórica, pesquisa documental a partir de fontes com a participação da Profª. Drª. M. Solange Gurgel de informações, procedimentos e documentos são
A pesquisa teve como objetivo principal, inventariar, primárias; pesquisa de campo; processamento dos Castro Fontes. feitas pelo secretário. Nesta área são acessíveis a

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professores, estudantes, funcionários, público visitante, o projeto. O terreno da igreja de 2.229,00 m² e com dos princípios de desenho na intervenção de um
dentre outros. As reuniões ordinárias e extraordinárias declividade em 10%, está localizado entre as ruas Luiz complexo histórico. TFG, FAAC/UNESP, 2014.
do Conselho do Departamento, o Conselho de Bassoto e Dr. José Ranieri, no Bairro Cruzeiro do Sul, GHIRARDELLO, Nilson. Aspectos do Direcionamento
curso, professores e, eventualmente, reuniões com da cidade de Bauru-SP. Numa primeira reunião com Urbano da Cidade de Bauru. São Carlos, 1992, 187p.
profissionais de outras instituições, reuniões do corpo o pároco da igreja e os representantes da Paróquia Dissertação de Mestrado (Curso de Arquitetura e
docente com os alunos são feitos na sala de reuniões. O Sagrada Família foi solicitada a elaboração de um Urbanismo), Escola de Engenharia de São Carlos,
refeitório é um ambiente de convívio entre professores projeto que abrigasse o altar, a nave, o batistério, o Universidade de São Paulo, 1992.
e funcionários, está restrito ao uso. A área dos confessionário, a Capela do Santíssimo, a sacristia, o ___ . À Beira da Linha, Formações urbanas da Noroeste
docentes é uma zona calma, com circulação restrita coro, o salão para a catequese e outros usos múltiplos paulista. São Paulo: Edunesp, 2002. SALCEDO, Rosio
aos estudantes, funcionários e outros. Os banheiros e banheiros (SALCEDO et al., 2005). Fernández Baca; FONTES, Maria Solange G. de Castro;
de uso restrito aos professores e funcionários, foi um Os desníveis da igreja foram projetados em função GHIRARDELLO, Nilson; OLIVEIRA, Jardiel Sampaio
consenso de que este ambiente foi localizado fora do da declividade acentuada do terreno, foram criados de. Conceito e projeto na arquitetura religiosa: Igreja
departamento. três níveis: subsolo, pavimento térreo e mezanino. O Católica Sagrada Família em Bauru-SP. In: Revista
Cada departamento foi projetado em três níveis e o pavimento térreo abriga a nave principal, batistério, Educação Gráfica, nº 9, novembro de 2005. Bauru:
primeiro de entrada, com cota zero, contém a recepção, confessionário, capela do santíssimo, o altar e em Universidade Estadual Paulista, 2005, p. 89-98.
secretaria, sala de reuniões, sala da Chefia, sala do parte a sacristia. O acesso principal da nave, projetada
Coordenador. Como ambiente de transição um pátio em cota superior à calçada, é acessado através de
fechado por duas rampas que atingem respectivamente uma ampla escadaria destacada por uma marquise.
as cotas + 1,5metros e - 1,5 metros. Tais rampas O subsolo contém a sacristia, o salão de uso múltiplo
delimitam um jardim, que dispõem ao centro de uma ou catequese, os banheiros e um depósito, tem acesso
copa aberta e coberta e um almoxarifado. As salas dos independente pela Rua Luiz Bassoto, através de
docentes estabelecidas nos dois níveis servem, cada uma rampa. No mezanino estão o coro e o ambiente
uma delas a dois professores, as salas estão ligadas para o som. O volume da igreja é de forma radial e
a uma circulação central que é dotada de iluminação corresponde a um quarto de circunferência. Nele são
natural. As fachadas ficam nas fases Sul e Norte (Figura destaques os brises e a torre que abriga a cruz, símbolo
2). da igreja católica (Figura 3). A Igreja Sagrada Família foi
O projeto demonstrou que é possível projetar e inaugurada em 27 de dezembro de 2011.
construir arquiteturas adequadas à topografia, ao clima
e à preservação da vegetação natural para atender 4. Referências
às necessidades atuais e futuras dos utilizadores. Figura 3: Igreja Sagrada Familia, Bauru. Fonte: Salcedo, 2020.
O projeto aprimora a arquitetura como um meio de AMARAL, Claudio; FONTES, Maria Solange G. de Castro;
expressão de um momento histórico, mostrando que 3.2. Projeto Igreja Sagrada Família em Bauru GHIRARDELLO, Nilson; SALCEDO, Rosio Fernández
vai além da construção de um abrigo simples e mais Baca; MASSERAN, Paulo Roberto. Anteprojeto para
do que uma arquitetura dialógica, contemporânea e O anteprojeto arquitetônico da Igreja Sagrada os novos edifícios da FAAC-UNESP-Bauru. In: Revista
harmoniosa. Família foi realizado pelos professores, arquitetos: Drª. Educação Gráfica, nº 7, novembro de 2003. Bauru:
Rosio Fernández Baca Salcedo, Dr. Nilson Ghirardello, Universidade Estadual Paulista, 2003, p. 9-18.
membros do GA, com a participação da Profª. Drª. M. AZEVEDO, Fernando de. Um Trem Corre para o Oeste.
Solange Gurgel de Castro Fontes. São Paulo: Martins Editora, 1950.
A partir da solicitação do Padre Lonildo Minutti Junior, D’ALMEIDA, Matheus de Paula. Grid como instrumento
Pároco da Igreja, em agosto de 2004, foi elaborado estruturador do projeto arquitetônico, Uma aplicação
Figura 2: Fachadas do Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo.
Fonte: Gomes, 2016.

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Núcleo de Conforto conforto ambiental vinculada à área de pesquisa em


Tecnologia do Ambiente Construído do DAUP. Parte
Ambiental (NUCAM) integrante dessa estrutura estava a criação de um
laboratório de apoio didático e às pesquisas, conforme
previsto nas diretrizes curriculares de Arquitetura e
Urbanismo de 1994.
Introdução Dessa forma, ao longo de 1999 concretizou-se
a instalação do Laboratório Didático de Conforto
O Núcleo de Conforto Ambiental (NUCAM), cadastrado Ambiental (LADICA), que passou de um armário com
no Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil do CNPq poucos instrumentos de medição a uma sala de aulas
(http://dgp.cnpq.br/dgp/espelhogrupo/20152) tem por com um espaço reservado às atividades do grupo.
objetivo geral a construção de uma atuação efetiva Nessa época, o LADICA ocupou uma sala de apoio do
nas atividades de ensino, pesquisa e extensão na área anfiteatro “Guilherme Ferraz”, o que possibilitou uma
de conforto ambiental (térmico, luminoso e acústico). nova dinâmica do NUCAM em relação às atividades
Tem como membros permanentes os docentes Prof. Dr. didáticas. O espaço era, no entanto, muito precário para
João Roberto Gomes de Faria (FAAC), Profa. Dra. Maria as condições mínimas necessárias a um laboratório de
Solange Gurgel de Castro Fontes (FAAC) e a Profa. Dra. conforto ambiental.
Léa Cristina Lucas de Souza (UFSCar – aposentada), Aos poucos outras solicitações de equipamentos
sob coordenação dos dois primeiros, e a participação foram atendidas pela Pró-reitoria de Graduação e em
transitória de alunos da Graduação em Arquitetura 2001, com a finalização da construção da Central de
Imagem hemisférica do céu a partir de dois locais no Zoo de Bauru com as trajetórias do sol. Fonte: autor, 2020.
e Urbanismo e dos Programas de Pós-graduação Laboratórios da FAAC, o LADICA pôde ser instalado em
em Arquitetura e Urbanismo (PPGARQ) e em Design uma de suas salas, e foi equipado com mobiliário novo e
(PPGDES) , que desenvolvem pesquisas de iniciação computadores. Posteriormente, o espaço do laboratório
científica, mestrado orientados por aqueles docentes. foi subdividido para a criação de uma sala de apoio à
Esses trabalhos são vinculados às linhas de pesquisa instrumentação e pesquisa, e abrigou tanto os docentes
“Espaços urbanos e microclimas”, “Parâmetros de como os alunos participantes de pesquisas conduzidas
desempenho ambiental da edificação” e “Fatores pelos docentes do NUCAM. Atualmente, portanto, o
ambientais da ergonomia”. LADICA conta com instrumentos, equipamentos e
programas computacionais específicos da área de
Histórico conforto térmico, iluminação e acústica, além de
um espaço para pesquisas mais adequado para os
A criação do NUCAM ocorreu em 1999 como um propósitos do NUCAM.
processo resultante do desenvolvimento de estudos,
pesquisas e atividades de interesse comum aos Atuação em ensino
docentes do Departamento de Arquitetura, Urbanismo
e Paisagismo (DAUP), da Faculdade de Arquitetura, O NUCAM é responsável pela área de conforto
Artes e Comunicação (FAAC) da UNESP – Campus de ambiental do curso de Arquitetura e Urbanismo da
Bauru, atuantes na área de conforto ambiental, no FAAC. Os docentes, atualmente os Profs. João Roberto e
decorrer de muitos anos. Sua origem está fortemente Maria Solange, ministram as disciplinas relacionadas a
relacionada à estruturação da linha de pesquisa em conforto térmico, acústica arquitetônica e iluminação Instalação para comparação de dados de dois tipos de radiômetros. Fonte: autor, 2020.

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arquitetônica, e são responsáveis pelo LADICA. Além atendimento aos Programas de Pós-Graduação em
disso, esses mesmos docentes são responsáveis por Arquitetura e Urbanismo e em Design, através da
duas disciplinas da linha de pesquisa de Planejamento orientação de alunos em projetos vinculados às linhas
e Avaliação do Ambiente Construído do Programa de de pesquisas do grupo, em consonância com as linhas
Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo (PPGARQ) de pesquisa dos respectivos programas.
da UNESP. O NUCAM participa, sempre que possível, de convênios
Além da coordenação e execução das atividades e editais, entre os quais destacam-se:
acadêmicas, os docentes do NUCAM desenvolveram
ou construíram, ao longo dos anos, componentes de • Edital Universal CNPq 2013, com o projeto
infraestrutura para a melhoria do ensino de conforto de pesquisa Estratos do Ambiente Térmico Urbano
ambiental, dos quais merecem destaque: (Projeto ESTRATU), o qual envolveu, além do NUCAM,
integrantes do Grupo de Estudos em Sustentabilidade e
• A construção de uma mesa d’água (2013) para a Eco-eficência em Construção Civil e Urbana (GESEC) da
simulação do movimento do ar em modelos reduzidos UFSCar e do Grupo de Estudos de Conforto Ambiental
de prédios ou partes deles; (Geca) da UFAL;
• A construção de um heliodon de régua (2002) para • Edital Universal CNPq 2008, com o projeto de
estudos de sombreamento em modelos reduzidos de pesquisa Ambiente Térmico Urbano. O projeto envolveu,
prédios ou parte deles; além de docentes e alunos vinculados ao NUCAM,
• Maquetes didáticas para estudos de ventilação e integrantes do Laboratório de Conforto Ambiental
geometria da insolação; (LABCON) da Escola de Arquitetura da UFMG e do
• O desenvolvimento de programas computacionais Laboratório de Conforto Ambiental e Física Aplicada
voltados ao ensino: (LACAF) da Faculdade de Engenharia Civil da UNICAMP;
• Convênio entre a Universidade do Minho
- Reverb-NR (1998-2020), para o cálculo e (UMINHO - Portugal), a UNESP e a USP, através do qual
apresentação gráfica de resultados de tempos de foi desenvolvido o projeto de pesquisa “Planejamento
reverberação e de verificação da isolação acústica; integrado: em busca de Desenvolvimento sustentável
- SimulaLuz (2013), interface para o programa para cidades de pequeno e médio portes”. Além da
de simulação da iluminação Radiance; produção científica e da realização de estágios de pós-
- ARCTECH (2007), jogo para simulação de doutorado dos participantes, do convênio resultou o
conforto térmico em edificações, desenvolvido em congresso bianual luso brasileiro para o Planejamento
conjunto com alunos do Colégio Técnico Industrial Urbano Regional, Integrado e Sustentável (PLURIS),
“Prof. Isaac Portal Roldán” (CTI), vinculado à UNESP. sempre promovido ou co-organizado pelo NUCAM, que
realizará sua 9ª edição em 2021;
Atuação em Pesquisa • Projeto FAPESP 2007-2009, através da
colaboração com a pesquisa “Conforto térmico
Simulação da iluminação natural de uma sala do DAUP. Fonte: autor, 2020. Desde a sua criação, a atuação predominante do em espaços públicos abertos: aplicação de uma
NUCAM em pesquisa foi a orientação de alunos da metodologia em cidades do interior paulista”,
Graduação em Arquitetura e Urbanismo, especialmente coordenado pela professora Dra Lucila Chebel Labaki,
em projetos de Iniciação Científica e Trabalho Final no período de 2007-2009, uma parceria entre UNICAMP
de Graduação. Recentemente tem enfatizado o e UNESP, Câmpus de Bauru e Presidente Prudente;

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Outros projetos foram desenvolvidos com recursos


de Auxílios Pesquisa FAPESP e FUNDUNESP e com
Conclusão Núcleo de Pesquisa no Planejamento Urbano e Regional.
Em 2008 os coordenadores do NUPAC eram as
bolsas de Iniciação Científica FAPESP, PIBIC/CNPq e Desde a sua criação, o NUCAM busca disseminar, Ambiente Construído docentes Profa. Dra. Renata Cardoso Magagnin (a atual)
PIBIC/Reitoria.
A participação nesses projetos possibilitou, além
através das atividades de ensino, a importância de
considerar o conforto térmico, luminoso e acústico
(NUPAC) e Profa. Dra. Emília Falcão Pires (que permaneceu na
vice coordenação até sua aposentadoria). Outros quatro
de resultados das pesquisas, o intercâmbio dos no processo projetual, com o objetivo de otimizar a docentes estão cadastrados nesse núcleo de pesquisa,
pesquisadores, a realização de estágios de pós- qualidade do ambiente construído em relação ao bem para o desenvolvimento de pesquisas compartilhadas.
doutorado dos envolvidos na Universidade UMINHO, em estar dos ocupantes, maior eficiência energética e, Introdução Inicialmente o NUPAC estava sediado na sala da Pro-
Portugal, e na Universidade de Bath, Inglaterra, além da consequentemente, contribuir com a sustentabilidade fa. Renata, mas a partir de 2015 o DAUP disponibilizou
aquisição de instrumentação para o LADICA. urbana. As atividades de pesquisa visam colaborar O Núcleo de Pesquisa no Ambiente Construído uma sala da Central de Laboratórios da FAAC para o
Os trabalhos científicos desenvolvidos pelos com maior entendimento da relação dos aspectos que (NUPAC) está cadastrado no Diretório dos Grupos de desenvolvimento das atividades de pesquisa do inte-
membros do NUCAM ou por ele orientados recebem influenciam o conforto ambiental e seus impactos nos Pesquisa no Brasil do CNPq (http://dgp.cnpq.br/dgp/ grantes do NUPAC.
o reconhecimento da comunidade científica através usuários e na qualidade do ambiente construído. Quanto espelhogrupo/2536394292504679) tem como objetivo
de premiações em congressos de iniciação científica, às atividades de extensão, elas são mais variáveis e estudar os atuais problemas contemporâneo que Atuação no Ensino
na Bienal de Arquitetura Bioclimática “José Miguel dependem das demandas internas e externamente a envolvem a questão da mobilidade urbana que estão
Aroztegui” e nos eventos científicos da área de conforto UNESP. diretamente relacionados ao planejamento urbano O NUPAC é responsável por duas disciplinas da
ambiental, especialmente nos Encontros Nacionais e de transportes das cidades contemporâneas. Sob a linha de pesquisa de Planejamento e Avaliação do
e Latinos Americanos de Conforto no Ambiente coordenação da Profa. Dra. Renata Cardoso Magagnin, Ambiente Construído do Programa de Pós-Graduação
Construído (ENCACs e ELACACs) e Encontros Nacionais inclui a participação de docentes permanentes e em Arquitetura e Urbanismo (PPGARQ) da UNESP, a
de Tecnologia do Ambiente Construído (ENTACS), discentes de Graduação e Pós-graduação da UNESP, saber: Planejamento e avaliação da mobilidade urbana
promovidos pela Associação Nacional de Tecnologia do como membros não permanentes. e Métodos e Técnicas de Avaliação do Ambiente
Ambiente Construído (ANTAC). Constituído em 2008, serve de apoio às atividades Construído. Na área de mobilidade urbana a Profa.
de didáticas e de pesquisas do Curso de Graduação Renata é a única docente que atua nesta área tanto na
em Arquitetura e Urbanismo (Iniciação Científica graduação quanto na pós-graduação.
Extensão Universitária e de Trabalho de Conclusão) e de Pós-graduação
em Arquitetura e Urbanismo – PPGARQ (Mestrado Atuação em Pesquisa
Além de colaborar com a organização do evento Acadêmico e Pós-doutorado). Essas pesquisas,
PLURIS, anteriormente citado, o NUCAM organizou coordenadas pela Profa. Dra. Renata Cardoso O NUPAC iniciou as atividades de pesquisa com
anualmente, na sua fase de consolidação, três Ciclos Magagnin, integram as linhas de pesquisa “mobilidade o desenvolvimento de orientação de alunos de
de Palestras Sobre Arquitetura Bioclimática; organizou e acessibilidade urbana” e “planejamento integrado no graduação em Arquitetura e Urbanismo, Iniciação
Curso de Extensão em Arquitetura bioclimática; ambiente construído”. Científica e Trabalhos de Conclusão de Curso. Muitas
coordenou Projeto de Extensão Universitária Bairro destas pesquisas obtiveram financiamento de órgãos
Verde, através de projetos de requalificação de ruas Histórico de fomento como a FAPESP e PIBIC/CNPq. E, a partir
e praças, com objetivo de incrementar a arborização de 2013, as pesquisas do NUPAC envolveram os alunos
urbana e melhoria de espaços de convívio; orientou A partir de uma reorganização das linhas de do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e
alunos da empresa Pro Júnior em projetos e consultoria pesquisa do Departamento de Arquitetura, Urbanismo Urbanismo em nível de Mestrado e Pós-doutorado,
em engenharia e arquitetura; desenvolveu Avaliações e Paisagismo, no ano de 2008 foi criado o Núcleo sendo algumas pesquisas com financiamento da
Pós Ocupação e projetos de intervenção projetual em de Pesquisa no Ambiente Construído (NUPAC). Esta CAPES.
Centros de Convivência infantil (CCI) da UNESP, entre cadastrado no CNPq na área de Planejamento Urbano As áreas de atuação das pesquisas do NUPAC
outros. e Regional e na subárea Métodos e Técnicas de relacionam-se ao Planejamento e Organização do

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Sistema de Transporte, Planejamento e Projeto do organização do 9º Congresso Luso Brasileiro para Considerações Sobre as Áreas
Espaço Urbano, Planejamento Urbano e Regional, o Planejamento Urbano, Integrado e Sustentável - de Atuação do NUPAC
Sistemas de Suporte à Decisão Espacial, Técnicas PLURIS – 2021.
de Planejamento e Projeto Urbanos e Regionais, A criação do Núcleo de Pesquisa no Ambiente Cons-
Tecnologia de Arquitetura e Urbanismo. E os temas Atuação em Extensão Universitária truído (NUPAC) tem como premissa divulgar por meio
estão relacionados a avaliação da acessibilidade atividades de pesquisa, ensino e extensão a importância
especial interna e externa de edifícios, avaliação de No período de 2009 a 2013, a Profa. Renata coordenou dos temas relacionados a mobilidade urbana e espaço
infraestrutura voltada a modos de transportes mais em conjunto com o Prof. Titular Antônio Nélson público nas discussões sobre a cidade contemporânea.
sustentáveis (a pé e bicicleta), mobilidade urbana Rodrigues da Silva (Depto. Transportes/EESC/USP), As pesquisas realizadas pelos membros do NUPAC
em cidades de pequeno e médio portes, plano diretor da Profa. Dra. Kátia Livia Zambon (CTI/UNESP) e Prof. centradas no desenvolvimento de métodos e técnicas
municipal. plano diretor de mobilidade urbana e Dr. Gustavo Garcia Manzato (DEC/FEB) o projeto de para avaliação da mobilidade urbana (em suas diversas
avaliação do espaço público. extensão universitária “PLANUTS - Planejamento abordagens) e do espaço público podem auxiliar os
Dentre as pesquisas desenvolvidas pela Profa. Urbano e de Transportes Integrado e Sustentável”, cujo gestores públicos na proposição de diretrizes e ações
Renata destacam-se “Os Planos Diretores Municipais objetivo é continuar e aperfeiçoar uma ferramenta para a melhoria da qualidade de vida nas cidades. O
do Estado de São Paulo e a questão da Mobilidade computacional desenvolvida inicialmente na pesquisa resultados destas pesquisas podem ser aplicadas
Urbana: Estudo de caso sobre algumas cidades de doutorado da Profa Renata, destinada a promover em projetos de extensão, cuja demanda depende da
de médio porte paulistas”, com financiamento um processo integrado e sustentável para elaboração comunidade externa à UNESP.
FAPESP com envolvimento de alunos da graduação e monitoramento de Planos Diretores de Mobilidade No ensino, a reflexão sobre como as cidades foram e
e a pesquisa “Os desafios da mobilidade urbana na Urbana e auxiliar no planejamento e monitoramento estão sendo planejadas, e como o planejamento urbano
cidade contemporânea”, com financiamento CAPES e da mobilidade urbana, principalmente, em cidades e de transportes interferem na qualidade de vida da
envolvimento de alunos de graduação e pós-graduação. brasileiras de pequeno e médio porte, através de um cidadão, busca conscientizar sobre a importância de
Os resultados destas pesquisas foram publicados em sistema que contêm modelos e ferramentas que se ter edifícios e espaços de uso público (calçadas,
periódicos nacionais e internacionais, em capítulos de podem auxiliar em um processo de tomada de decisão ciclovias, ruas, praças, parques, dentre outros locais)
livros e importantes congressos científicos nacionais integrado e participativo. Integraram esse projeto que proporcionem conforto e segurança a todos.
e internacionais (ANPET, ENCAC/ELACAC, ENEAC, alunos do curso técnico de computação do colégio
ELECS, ENTAC, ENSUS, ERGODESIGN, Fórum Ambiental técnico (CTI UNESP) e alunos dos cursos de graduação
da Alta Paulista, IEA, PANAM, PLEA, PLURIS, REHABEND, em Design, Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil
SIBOGU, SINGEURB, Simpósio de Transportes do da UNESP. Este projeto obteve auxílio financeiro da
Paraná, TRANSED). UNESP-PROEX.
O grupo de pesquisa participou da comissão Outro projeto de extensão universitária desenvolvido
organizadora do 3o Congresso Luso Brasileiro para o pelo NUPAC, sob a coordenação da Profa. Renata foi
Planejamento Urbano, Integrado e Sustentável - PLURIS o projeto intitulado “Requalificação de espaço para
- 2008. Em 2016 foi membro da comissão organizadora idosos no município de Piratininga (SP)”. Desenvolvido
do VI Congresso de Arquitetura e Construção com no período de 2012 a 2013, tinha por objetivo identificar
Terra no Brasil - TerraBrasil 2016, juntamente com os os problemas de acessibilidade espacial presentes
docentes Prof. Dr. Obede Borges Faria, Prof. Dr. João em uma instituição de longa permanência de idosos e
Roberto Gomes de Faria e Profa. Dra Maria Solange propor algumas melhorias para aumentar a qualidade
Gurgel de Castro Fontes. E, atualmente junto com a espacial do local. Participaram deste projeto 04 alunos
Profa. Dra Maria Solange Gurgel de Castro Fontes e do Escritório Modelo (E54) do Curso de Arquitetura e
Prof. Dr. Gustavo Garcia Manzato é responsável pela Urbanismo da FAAC.

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Sistemas Integrados métodos diversos para o design, a arquitetura, para o


town design e para o urbanismo: por escala operacional,
Territoriais e Urbanos tipo de abordagem (projetual, analítica, histórico-
(SITU) crítica, gestão) e por categorização ou conceituação
dos fenômenos que se referem ao espaço territorial
e urbano (da forma da cidade, dos processos de
Introdução articulação e difusão, da paisagem, da história, do
ambiente e/ou da ecologia, etc.)
O Grupo SITU - Sistemas Integrados Territoriais e Com o intuito de delinear e consolidar um itinerário
Urbanos, formado em setembro de 2003, é composto de pesquisa, no seu primeiro ano de existência o
por docentes e alunos pesquisadores (Iniciação Grupo SITU realizou dois eventos internacionais, em
Científica e estagiários de prefeituras) do curso de parceria com o Programa de Doutorado em Urbanismo
Arquitetura e Urbanismo, de outros cursos da Unesp do Istituto Universitário di Architettura di Venezia,
e de outras universidades nacionais e internacionais, coordenado pelo prof. Dr. Bernardo Secchi, e com o
além de consultores externos, para o desenvolvimento Programa de Doutorado de Excelência da Scuola di
de pesquisas comuns. O Grupo está cadastrado no Studi Avanzati – IUAV di Venezia, coordenada pela Prof.ª
Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil e tem Donatella Calabi.
sede no Departamento de Arquitetura, Urbanismo e
Paisagismo da FAAP- Unesp, campus de Bauru. O primeiro, denominado Workshop Internacional
São membros permanentes: “Conhecimento Histórico-Ambiental Integrado na
Planificação Territorial e Urbana: um contributo de
Prof. Dr. Adalberto da Silva Retto Jr – Coordenador Bernardo Secchi”, contou com a colaboração especial
Profª. Dra. Marta Enokibara – Vice-Coordenadora dos professores Prof. Dr. José Cláudio Gomes (Unesp –
Profª. Dra. Norma Regina Trüppel Constantino Bauru/ FAU USP), Prof. Dr. Jurgen Richard Langenbuch
Profª. Ms. Kelly Magalhães Faria (2004 – 2018) (Unesp- Rio Claro), Prof. Dr. Sylvio Barros Sawaya (FAU
USP), Prof. Dr. Witold Zmitrowicz (FAU USP). Durante o
Para o Grupo SITU, convergem contribuições de workshop, seguiu-se um percurso pré-estabelecido em
docentes, pesquisadores e alunos da Unesp e de algumas cidades do Estado de São Paulo, como forma
outras universidades, que se ocupam dos processos de construir um itinerário de pesquisa. Isso significou,
de formação e transformação do espaço urbano, também, construir um arquivo de planos urbanísticos
territorial e da paisagem, bem como das suas causas, e de intervenções realizados nas cidades, como
privilegiando as referências teóricas e histórico- forma de tornar visível um longo percurso no âmbito
críticas, as dimensões técnica e projetual e suas da construção do território: projetos que produziram
especificidades. novidades e algumas inovações contrapostas aos
Apesar desses trabalhos abordarem as escalas da modelos funcionais propostos pelo projeto da cidade
cidade, do território e da paisagem, o Grupo propõe-se moderna. Esses projetos mostram o novo papel do
a evidenciar uma extensa articulação de referências espaço aberto na construção da cidade contemporânea.
disciplinares como forma de abandonar a ideia típica O objetivo específico dessas atividades foi a
do “método racionalista” de um único método para concepção de um plano urbanístico para a cidade
várias escalas estanques. Ao contrário, parte-se de de Agudos (Laboratório Agudos), com base em

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parâmetros determinados a partir da pesquisa do no Brasil. Nascida de uma solicitação do Ministère de


território e considerados como premissas inevitáveis l’Equipement Francese, a exposição foi coordenada por
para a intervenção. Dessa forma, o conhecimento do Bernardo Secchi e Paola Viganò com colaboração de
território anteciparia os temas e os lugares do projeto, Fabrizio Paone, Paola Pellegrini e Marco Giliberti. A base
ratificando a ideia de que qualquer área será tratada de da mostra é uma pesquisa em curso sobre projetos cuja
modo a evidenciar os efeitos das diversas atividades e temática era a dispersão. As áreas temáticas definidas
características físicas na formação do inteiro sistema. eram oito: os diversos graus da dispersão; repensar a
Assim, a intervenção se desenvolve baseando-se na densidade; a isotropia; os vazios; a qualidade do habitat
análise da área dedicada à agricultura, da morfologia e o habitat rural; a hibridização; as infraestruturas; o
do construído, dos deslocamentos da população, da direito à cidade.
atividade construtiva, dos princípios de assentamentos
da indústria e do terciário, do comércio, do turismo, da Arquivos de Planos Urbanísticos
infraestrutura e da mobilidade.
O Arquivo Digital de Planos Urbanísticos Prof. José
O segundo evento foi o I Congresso Internacional de Claudio Gomes é uma estrutura de suporte à docência e
História Urbana “Camillo Sitte e a circulação da idéias à pesquisa do Departamento de Arquitetura, Urbanismo
em estética urbana. Europa e América Latina: 1880- e Paisagismo da Unesp-Bauru, idealizada a partir da
1930”. O congresso foi realizado em outubro de 2004, exigência do conhecimento, análise e comparação
no Seminário Seráfico Santo Antônio, em Agudos – SP. das experiências mais significativas (tanto a brasileira
Nasceu da colaboração de três instituições de pesquisa, como a de outros países) da planificação territorial e
a saber, a Unesp, o Istituto Universitario di Architettura da projetação urbanística. Objetiva fornecer suporte
di Venezia e Universidade do Sagrado Coração - USC documental ao conhecimento, dando adequada
de Bauru, como parte das celebrações do centenário complexidade ao ato da planificação urbana. É, portanto,
de morte do urbanista austríaco Camillo Sitte. Os um arquivo não só útil mas também necessário para
interesses e esforços dessa rede têm como objetivo embasar diretrizes de políticas para o território. Assim,
central um intercâmbio que permita uma produção a forma do plano e a forma da cidade não mais irão
comum, dentro de pesquisas de âmbito internacional se sobrepor, mas serão identificadas separadamente.
e de cunho comparativo sobre a circulação de ideias, Nesse contexto, o plano iria interagir, cada vez mais,
modelos e saberes. sobre o ambiente mais vasto da sua área de ação e
O Congresso Internacional de História Urbana foi tanto o plano quanto a forma da cidade refletem uma
realizado com a reunião de três eventos: o primeiro em nova consciência planificadora, ao mesmo tempo
Viena, o segundo em Veneza e o terceiro em Agudos. teórica e prática.
Parte-se do princípio que o arquivo é uma entidade viva
Mostra New Territories e dinâmica, e não puramente um lugar de conservação,
que está em sintonia com o desenvolvimento teórico
New territories, situations, projects, scenarios for the da idéia dos planos do nosso tempo.
European city and territory foi uma exposição itinerante Isso também tem como tarefa individualizar, recolher
que, depois de passar por Veneza, foi montada em outras e catalogar, em base informatizada, documentos de
cidades europeias e em Agudos (SP), especificamente planificação e projetação urbanística com a intenção
durante o período da permanência de Bernardo Secchi de oferecer um serviço útil à comunidade científica. Ao

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mesmo tempo propõe-se a ser um centro de referência Como complementação programática ao evento no com Donatella Calabi e Heleni Porfyriou o I Congresso Mobilidade da Estância Turística de Holambra, a revisão
para estudos e pesquisas cuja finalidade seja analisar Brasil, foi organizado um Roteiro de Viagens, objetivando de História Urbana (2004) “Camillo Sitte e a circulação do Plano Diretor de Itápolis, de Pederneiras e o Plano de
as várias orientações teóricas e práticas da planificação abrir espaço para o conhecimento e debate das cidades dos saberes em estética urbana: Europa e América Zoneamento de Agudos. Foi o coordenador científico da
e da projetação urbanística. e problemáticas do Oeste Paulista. Latina 1880-1930; Idealizador do ‘Ano de Estudos revisão do Plano Diretor de Jaú - 2019.
Tafurianos” no Brasil e foi um dos organizadores do
Mostra Regional Membros Seminário Internacional “ Manfredo Tafuri: seus leitores Profª. Drª. Marta Enokibara - Vice-coordenadora
Mostra de Arquitetura “Trajetórias” e suas leituras”. Idealizador e coordenador geral da
Prof. Dr. Adalberto da Silva Retto Júnior - coordenador Série Primeiras Aulas em parceria com TV Unesp. Linha de pesquisa: Teoria, história e projeto
A mostra intitulada “Trajetórias” é o início de uma Coordenador da pesquisa e do Curso Internacional Pesquisa: Repertório vegetal e paisagístico na
reflexão sobre a discussão do componente arquitetônico Linha de pesquisa: História da Cidade e do Território; de Extensão Universitária “A dimensão Paisagística construção do território paulista.
na formação e no desenvolvimento das cidades do Conhecimento Histórico-Ambiental Integrado na no projeto da cidade contemporânea: itinerários nas Sua pesquisa dá continuidade às desenvolvidas a
Oeste Paulista. Para tal, foi necessário concentrar a Planificação Territorial e Urbana. cidades Rio de Janeiro (Percurso 1); Paris, Veneza partir do subtema 3 “Saberes técnicos e teóricos na
atenção sobre alguns personagens que participaram Atua como Professor na Universidade Estadual e Roma (percurso 2); Berlim, Barcelona e Atenas configuração e reconfiguração das cidades formadas
ativamente desse processo. Entretanto, se a sequência Paulista - Unesp. Coordenador do Curso Internacional (percurso 3); Londres, Amsterdã, Roterdã, Copenhague com a abertura de zonas pioneiras no Oeste do estado
das obras de Fernando Pinho, Francisco Cacciola e de Especialização Lato Sensu em Planejamento Urbano e Estocolmo (Percurso 4); Praga, Viena, Budapeste de São Paulo, vinculado ao Projeto Temático FAPESP
Jurandir Bueno delineia uma cidade nos cânones do e Políticas Públicas: Urbanismo, Paisagem, Território. e Istambul (percurso 5); Veneza, Hamburgo, São (2006-2011) e intitulado “Saberes eruditos e técnicos
estilo internacional, afirmada pela abstração técnica, Foi Professor-pesquisador Visitante no Master Erasmus Petersburgo e Moscou (percurso 6); Rio de Janeiro Pós- na configuração e reconfiguração do espaço urbano.
ao remontarmos o momento histórico em que as Mundus TPTI (Techniques, Patrimoine, Territoire de Olimpíada (percurso 7). Todos os itinerários objetivaram Estado de São Paulo, séculos XIX e XX” (Processo
obras desses profissionais florescem, afirma-se uma l’ Industrie: Histoire, Valorisation, Didactique) da analisar os projetos que assumiram um valor estrutural FAPESP 05/55338-0). Nas pesquisas pregressas,
nova estrutura urbana na cidade de Bauru, respaldada Universitè Panthéon Sorbonne Paris I (2011-2013). nas transformações urbanas no campo do urbanismo identificamos alguns botânicos que iniciaram o
pelas condições políticas e organizacionais, que viriam Representante da Unesp no Conselho de Defesa do e do paisagismo, durante as três últimas décadas do inventário da vegetação do estado de São Paulo a partir
consubstanciar uma nova lógica social, econômica e Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Turístico século XX. Nesse período, a reconfiguração de partes do final do século XIX (Alberto Löfgren) e da primeira
territorial para o país, priorizando as redes de transporte do Estado de SP- Condephaat (2015 e 2016), período em das cidades assume a escala da paisagem, a partir década do século XX (Frederico Carlos Hoehne).
necessárias à articulação inter-regional, numa espécie que trabalhou na Revisão do Tombamento do Plano de de projetos de reestruturação de áreas ferroviárias, Posteriormente, estes fundaram hortos botânicos para
de re-fundação rediscutindo os postulados fixados Conjunto da Cidade de Amparo, introduzindo o conceito tramas urbanas, centros históricos e partes de cidades. pesquisa (Hoehne) e pesquisa/reprodução de espécies
pela Carta de Atenas. de Morfotipo Urbano. Tais intervenções começaram a delinear um percurso (Löfgren) que foram distribuídas, entre outros, pelo
As cidades apresentadas na Mostra Regional (Bauru, Possui Pós-doutorado pelo Istituto Universitario gradual que coloca os espaços abertos (e seu projeto) “Serviço de Distribuição de Mudas e Sementes” do
São Manuel, Botucatu, Jaú, Agudos e Avaí), estão unidas de Arquitetura de Veneza Itália (2007); Doutor pela como conectores das estruturas urbanas e territoriais. governo do Estado de São Paulo. As chamadas “plantas
pelo viés da configuração de um Brasil urbano pautado Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Na linha de pesquisa Conhecimento Histórico- úteis”, aquelas que poderiam ter utilidade ou interesse
no avanço dos transportes ferroviário e rodoviário. de São Paulo e pelo Departamento de História da Ambiental Integrado na Planificação Territorial e na medicina, nas indústrias, na lavoura, na horticultura,
Arquitetura e Urbanismo do Instituto Universitário de Urbana: Coordenou o I e II Workshop Internacional na arborização urbana e nos jardins, incluíam não só a
TEMA 1 – Evolução da arquitetura rural do ciclo Arquitetura de Veneza (2003). “Conhecimento histórico - ambiental integrado na aclimatação de espécies exóticas, mas muitas nativas
cafeeiro em São Paulo Pesquisador nas seguintes linhas de pesquisa: Planificação territorial e Urbana: uma contribuição ainda desconhecidas. O estudo desses personagens
História da Cidade e Conhecimento Histórico Ambiental de Bernardo Secchi” (2004 e 2006); Coordenou a e sua produção científica nos permite, portanto,
TEMA 2 – Cidades Paulistas no Ciclo do Café, séculos Integrado na Planificação Territorial e Urbana. Na elaboração do Plano Diretor Participativo do Município pesquisas em diferentes áreas e, no caso do paisagismo,
XIX e XX: a região central linha de pesquisa de História da Cidade e do Território: de Agudos SP (2004-2006), a revisão do Plano Diretor possibilita desvendar um repertório vegetal que foi
Coordenou o Grupo de pesquisa da Unesp (Bauru) do Município de Jaú (2010-2011), o Plano Estrutural de incorporado ou não nos espaços livres urbanos e rurais.
TEMA 3 – Cidades do Oeste: a Estação de Avaí no Projeto Temático Fapesp (2006-2011) “Saberes Pirajuí (2013), o Plano Diretor, o de Mobilidade e o de As pesquisas pregressas também nos permitiram
Eruditos e Técnicos na Configuração e reconfiguração Turismo do Município de São Manuel SP (2014-2015), identificar firmas especializadas na reprodução e
TEMA 4 – Arquitetura Moderna: Bauru e Jaú do Espaço Urbano: Século XIX e XX”; Coordenou junto o Plano Diretor do Municipio de Bariri e o Plano de comercialização de plantas ornamentais e execução

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O Centro Oeste Paulista Como Laboratório O curso de Arquitetura e Urbanismo do Departamento
de Práticas Didáticas e de Pesquisa Aplicada de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo

de jardins, como o Estabelecimento Floricultura, vezes no sentido de dominar o rio, procura contê-lo em lugar, eles não são valorizados pela população e não
posteriormente denominado Dierberger & Cia, fundado espaços estreitos, suprimindo-o da superfície urbana, fazem parte do seu cotidiano e poucas são as pontes
em 1893, pelo alemão João Dierberger na capital paulista pois alguns córregos são considerados um fator de que possibilitam a visão dos rios. Os cursos d´água
e com projetos em várias cidades do interior e outros distúrbio, um limite a superar, um obstáculo a esconder. apresentam-se degradados, assoreados e, muitas
estados. O estudo dos vários catálogos da firma do No entanto, quando a abordagem integra as dinâmicas vezes, poluídos por esgoto domiciliar clandestino,
início do século XX nos permitirá comparar o repertório urbanas e ambientais, acontece a naturalização dos rios apesar de os planos diretores municipais conterem
vegetal comercializado pela firma e aquele distribuído urbanos, tornando-os legíveis. Para atingir os objetivos diretrizes importantes para a preservação das áreas
pelo Estado. Permitirá verificar, também, se os projetos serão utilizados os seguintes meios e métodos, que ao longo dos cursos d´água. Existe uma inadequação
elaborados pelo paisagista Reynaldo Dierberger, filho chamamos de chaves de leitura: analisar as paisagens dos modelos de gestão urbana acarretando uma falta
de João Dierberger, incorporaram o repertório vegetal de fundos de vale enquanto representação cultural, de integração entre os dispositivos da legislação
utilizado na capital nos vários projetos desenvolvidos através de mapas, fotos aéreas, fotografias e pinturas; ambiental e da urbanística. Para que passem a
no interior do estado. Esperamos, portanto, que os analisar as paisagens de fundos de vales enquanto ser valorizados pela população é necessário um
resultados dessa pesquisa possam auxiliar a desvendar território fabricado e habitado, reconhecendo a trabalho de conscientização e elaboração de projetos
o repertório vegetal e paisagístico que configurou a complexidade de relações entre os rios e as cidades, participativos que qualifiquem o lugar, mais do que a
formação do território paulista e fornecer subsídios para seus conflitos e contradições, ao longo da história simples aprovação de leis e regulamentos.
a valorização e preservação dos jardins remanescentes. das cidades, sendo moldados segundo os valores
culturais; analisar as paisagens de fundos de vale Palavras-chave: Oeste Paulista; rios urbanos;
Palavras-chave: Repertório vegetal, Jardins históricos, enquanto sistema, levando em conta a complexidade paisagem urbana; história da cidade.
História do paisagismo, Reynaldo Dierberger e Oeste da paisagem; analisar as paisagens de fundos de vale
paulista. enquanto projeto, verificando a existência de projetos
urbanísticos e paisagísticos envolvendo as áreas de
Profª. Drª. Norma Truppel Constantino fundos de vale e sua inserção nos planos diretores
(participativos ou não) nas cidades pesquisadas no
Linha de pesquisa: Teoria, história e projeto Oeste Paulista. A pesquisa foi iniciada em 2006, como
Pesquisa: A construção da paisagem urbana parte do subtema 3 “Saberes técnicos e teóricos na
A pesquisa visa desvendar o estado atual das configuração e reconfiguração das cidades formadas
paisagens dos rios urbanos em algumas cidades do com a abertura de zonas pioneiras no Oeste do
Oeste Paulista - levantadas historicamente - buscando Estado de São Paulo”, e vinculada ao Projeto Temático
compreender como a comunidade vem organizando FAPESP intitulado “Saberes eruditos e técnicos na
esses espaços, com sua diversidade e descontinuidades, configuração e reconfiguração do espaço urbano.
verificando as características e os elementos Estado de São Paulo, séculos XIX e XX” (Processo
estruturantes, além de como se dão as circulações e FAPESP 05/55338-0), coordenado pela Profª. Drª. Maria
cruzamentos. Enfim, lendo a paisagem dos fundos de Stella Bresciani, em conjunto com pesquisadores da
vale urbanos, a partir dos modos de organização do Unesp, Unicamp e PUC-Campinas, período 2006-2011.
espaço e da história do lugar. Ao longo do tempo, se Inicialmente foi estudada a permanência da estrutura
as intervenções são realizadas sem qualquer critério, agrária na formação do tecido urbano das cidades do
acabam por esconder e cancelar a identidade dos rios Oeste Paulista, com a colaboração de oito bolsistas
urbanos, a memória e os traços deixados pelo passado. de Iniciação Científica da FAAC-Unesp. Nas cidades
Quando a abordagem é estritamente urbanística, pesquisadas no Oeste Paulista, verificou-se que, apesar
acontece a artificialização: a ação humana, muitas dos rios constituírem parte importante da história do

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Professores e servidores técnico-administrativos do
Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo | FAAC Unesp-Bauru

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