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An anlysis of the criminal unit and resocialization of minors in the light of Michel
Foucault and Nobert Elias – Captains of the Sand Project in Timon – MA)
Resumo em língua estrangeira: Resocialization is a relevant topic of legal and social interest
for Brazilian society, making debate and analysis necessary, considering that more and more
children and adolescents are involved in criminal offenses in Brazil. As a result, this work
seeks to bring a brief analysis of the penal unit and resocialization of minors in the light of
sociologists Michel Foucault and Nobert Elias, in addition to making a brief history about the
legislation related to the rights of children, conceptualizing the minor offender and the
procedures investigation of criminal offenses, socio-educational measures applied as a form
of pedagogical sanctions, and the executing bodies. In addition, this research presents the
Capitães de Areia Project carried out by the Court of Justice of Maranhão, through the
Childhood and Youth Court in Timon with the collaboration of the Military Police of
Maranhão, as an example of a resocialization program for minor offenders interested in living
together again in society.
Palavras-chave em língua estrangeira: Resocialization. Minor. Children's Rights.
Introdução
Todos os dias ao ligar a TV ou acompanhar as notícias nas redes sociais e na internet
em geral, percebe-se o envolvimento de crianças e adolescentes no emprego de infrações
penais e crimes em geral. Em diversas cidades do Brasil, percebeu-se o aumento do
envolvimento de menores em crimes praticados em 2022, como no Distrito Federal1 e Santa
Maria (RS), remetendo-nos à uma reflexão acerca dos procedimentos para a condução das
infrações cometidas por adolescentes e o processo de ressocialização dos mesmos.
Timon - MA, como as cidades supramencionadas, também possui crianças e
adolescentes envolvidas em infrações penais, como homicídios e roubos, além do
envolvimento com facções criminosas, verificando no relatório emitido pelo sistema judicial,
Jurisconsult, o total de 844 processos de atos infracionais do período de 10 de janeiro de 2022
até 27 de janeiro de 2023.
Diante disso, se faz necessário pensar em maneiras de ressocializar as crianças e
adolescentes que recebem a sanção do procedimento de apuração infracional. Logo, entende-
se por ressocialização como a prática de tornar a socializar, ou seja, aquele que perdeu as
condutas moralmente aceitas socialmente, as consegue de volta e torna a viver em sociedade
harmonicamente. A vantagem da ressocialização enquanto menor, no caso de cometimento de
infrações penais, é a ausência de reincidência e a ressocialização atingir seu objetivo principal
que é uma nova forma de viver considerada adequada na sociedade em que se está vinculado.
Seguindo esta linha de raciocínio, o Poder Judiciário maranhense com o propósito e
dever de incentivar a ressocialização dos menores infratores e da estabilização de famílias e
sociedades, aprovou a criação e manutenção do projeto originado da Vara da Infância e
Juventude de Timon, Capitães de Areia. O Capitães de Areia é um projeto que visa a
ressocialização de menores, em conjunto com a Polícia Militar do Maranhão e o
acompanhamento do Poder Judiciário, através da respectiva Vara.
Ressalta-se a importância da discussão acerca da ressocialização de menores,
principalmente quando se trata de uma cidade grande de um dos estados mais importantes do
Nordeste, no caso, Timon. A quarta maior cidade do Maranhão, tendo aproximadamente 170
mil habitantes e fazendo parte da Grande Região Metropolitana de Teresina-PI segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ademais, o futuro do país está nos jovens e
adolescentes do Brasil e, se existe possibilidades de ressocialização, estas devem ser debatidas
e apresentadas.
Portanto, esta pesquisa busca trazer a ressocialização na visão de sociólogos que
debatem a sociedade, os sistemas penitenciários e o os indivíduos pós sanções –
ressocialização –, especificadamente Michel Foucault, Émile Durkheim e Nobert Elias.
Ademais, este trabalho também trará em seu corpus noções e conceitos de forma sucinta
acerca de adolescente – menor – fundamentando-se em normativos legais, os procedimentos
adotados na condução de processos infracionais com menores no Brasil, as medidas
socioeducativas e realizar a apresentação e análise do projeto Capitães de Areia instituído pelo
Tribunal de Justiça do Maranhão, comarca de Timon, tencionada a solucionar o
questionamento: “quais as implicações relacionadas a ressocialização de menores infratores, e
como Timon, uma das quatro maiores cidades do Maranhão, lidam com o tema?”
Este questionamento não se limita ao número de quantos menores saem da
criminalidade, mas também, na maneira em como o projeto de ressocialização de Timon -
MA atua e é utilizado como exemplo no Poder Judiciário Maranhense como via de
ressocialização de crianças e adolescentes.
Além disso, esta pesquisa é de cunho bibliográfico qualitativo, fazendo-se uso de
legislações, códigos e contribuições científicas acerca do tema. (GODOY, 1995) Ademais, o
tipo de procedimento acima, é citado também por outros autores da metodologia científica,
como Severino (1982) e Galliano (1979), que envolve o estudo amplo de uma obra, como
parte da mesma, indicando as correlações presentes entre as ideias expostas.
Em face disso, esta pesquisa busca a provocação de uma reflexão sobre atitudes e
padrões de conduta, através de categorias analíticas previamente estabelecidas, além da busca
por informações no banco de dados do Tribunal de Justiça do Maranhão da comarca de
Timon.
1. Adolescentes e os conflitos com a lei
Em 1989, a Convenção aprovada pelas Nações Unidas, adotou um pensamento
semelhante ao de outros instrumentos internacionais, acolhendo a visão da integral proteção
ao público infanto-juvenil, e reconhece a esse segmento os direitos de todos os cidadãos.
Concordando com esses princípios elencados, a doutrina da proteção integral foi acolhida na
Constituição Federal de 1988 (no artigo 227).
A criança e o adolescente finalmente tiveram seu reconhecimento como detentores
de direitos próprios do exercício da cidadania, reservando a condição de pessoa em processo
de desenvolvimento. (FARINELLI; PIERINI, 2016)
Ao debruçar-se acerca da história dos menores em conflito com a lei, encontra-se
relatos marcantes na América Latina e no Brasil, sendo em 1923 a criação do Juizado de
Menores no Brasil, sendo o primeiro juiz de menores da América Latina. Em meados de
1927, o Código de Menores (Mello Mattos), foi promulgado como Decreto de nº 17.943 – A
em 12 de outubro do referido ano, voltado para a população menor de 18 anos, tendo como
objetivo regularizar crianças em “situação irregular”.
Getúlio Vargas em 1942, criou um projeto de esfera nacional chamado de Serviço de
Atendimento ao Menor (SAM), já destinado ao menor carente, com necessidades especiais ou
em situações de abandono. (VERONESE, 2013)
Em 1964, já no governo de Castello Branco, nasce a Fundação Nacional do Bem-
Estar do Menor (Funabem), fazendo a substituição do Serviço de Atendimento ao Menor
(SAM). A Funabem tinha como propósito estabelecer a Política Nacional do Bem-Estar do
Menor – PNBM, ainda herdada do SAM, tanto em sua infraestrutura quanto em sua cultura
organizacional.
A finalidade política para a juventude que vivia no regime militar, era a internação
dos carentes, infratores e abandonados, além da integração familiar e comunitária.
(VERONESE, 2013).
Em 1979, para atualizar o Código de Menores de 1927, surge o Código de Menores
de 1979, voltado para os profissionais que atuavam na área e na comunidade de uma
maneira geral. A atualização não obteve avanços relevantes, mantendo à repressão à
criança e ao adolescente. (PRIORE, 2009)
Anos depois, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069/90), foi
promulgado em 13 de julho de 1990, sendo um grande feito social brasileiro, como um
documento em interligado aos direitos humanos promovidos em pactos e normativos
respeitando os direitos da população do futuro, a infanto-juvenil. O ECA alterou de forma
efetiva a viabilidade da intervenção do Estado no cotidiano de crianças, adolescentes e jovens.
As políticas públicas que possuem como público-alvo as crianças e adolescentes são de
competência inicial do Estado, sendo dividido entre todas as esferas governamentais que são:
União, Estados, Distrito Federal e Municípios.
A responsabilidade do Estado no que diz respeito a ressocialização de menores está
disposta no Art. 86 da Lei nº 8.069/1990 (ECA), que dispõe o seguinte: “Art. 86. A política de
atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto
articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos estados, do Distrito
Federal e dos municípios.”
A competência principal é do Estado para assegurar que todos os Direitos devidos as
crianças e adolescentes, trazidos no corpus Constitucional, tenham prioridade pela
razão de que além de terem garantidos todos os direitos fundamentais inerentes a
pessoa humana, os menores ainda dispõem de outros direitos, sendo os tais:
desenvolvimento mental; espiritual; moral; social; físico; garantindo-lhes a
preservação de sua liberdade e dignidade. (ISHIDA, 2011)
Encontra-se o conceito de adolescentes no artigo 2º do Estatuto da Criança e do
Adolescente de 1990 como: “Considera-se criança, para os efeitos desta lei, a pessoa até doze
anos de idade incompletos e, adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.” (ECA,
1990). Em relação aos adolescentes infratores, a definição é encontrada no artigo 103 do
ECA: “Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal”
(ECA, 1990).
O ECA traz detalhadamente os direitos assegurados constitucionalmente, deixando
em explícito as ferramentas de participação e fiscalização popular das políticas
públicas de atendimento à população infanto-juvenil. Nesse diapasão, Família-
Sociedade-Estado como tríade, não detém de atuação isolada, mas deve atuar
coletivamente e de forma complementar. (FARINELLI; PIERINI, 2016)
O artigo 104 do ECA enfatiza que os menores de 18 anos são penalmente
inimputáveis, estando estes, sujeitos a disciplina do ECA, que em consonância com o Código
Penal Brasileiro (CPB), o Decreto-Lei de 1940, houve a fixação do limite da inimputabilidade
aos 18 anos que, abaixo da referida idade, não haverá submissão ao processo criminal comum,
mas a procedimento e normas previstas em legislação especial, que emprega a presunção
absoluta da falta de discernimento, quando um menor comete um fato descrito como crime ou
contravenção penal.
A inimputabilidade penal pode ter como base alguns requisitos, sendo eles: doença
mental, menoridade, embriaguez completa decorrente de caso fortuito ou força maior e
dependência de substância entorpecente. Portanto, verifica-se que basta ser menor de 18
(dezoito) anos para ser penalmente inimputável, não sendo considerado o ato infracional
cometido pelo menor, mesmo que sua ação ou omissão se enquadre no conceito de crime ou
contravenção penal, ficando o mesmo sujeito às normas estabelecidas na legislação especial.
(CÓDIGO PENAL BRASILEIRO, 1940)
Em virtude disso, houve a normatização e a aplicação de medidas socioeducativas ao
menor infrator, da faixa etária dos doze aos dezoito anos, no decurso de atos infracionais
cometidos. Portanto, as medidas socioeducativas são aplicadas de acordo com a idade do
menor e a infração cometida, sendo elas as dispostas no artigo 112 do Estatuto da Criança e
do Adolescente:
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá
aplicar ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semiliberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI (BRASIL. Lei nº 8.069, 2020)
Gomide (1990) dispõe que se faz necessário analisar o que faz com que um jovem
passe a cometer atos infracionais, condições que estão desencadeadas como: saúde, família,
nível econômico, profissionalização, educação, comunidade, sendo estas prováveis variáveis e
fatores relevantes na ocorrência da marginalização.
Apesar dos atos infracionais serem equiparados e semelhantes aos crimes, é
fundamental ressaltar que medidas aplicadas ao menor infrator não detém caráter de
pena, porém, de medidas educativas. Logo, as conhecidas medidas socioeducativas
referem-se a “instrumentos de prevenção pedagógicas e reintegração social”,
trazendo a interdisciplinaridade nos fundamentos. (MIRANDA; LEMOS, 2015)
Diante ao exposto, se faz necessário tomar conhecimento de que a Lei nº 8.069/1990
em seu Art. 103 diz: “considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou
contravenção penal”, nesse sentido verifica-se que menor infrator pode ser conceituado como
uma criança ou adolescente menor de 18 (dezoito) anos que venha a cometer alguma conduta
típica que seja um crime ou contravenção penal”.
Desse modo, deve salientar que uma das medidas socioeducativas indispensáveis é a
ressocialização do adolescente e, como educativas, é necessário aplicá-las de maneira que não
seja efetivada uma punição simples, no entanto, uma espécie distinta de responsabilização.
(COSTA, 2018)
Seguindo esta linha de raciocínio, Cezar Roberto Bittencourt afirma que: “o
propósito da ressocialização é aguardar do infrator a aceitação e o respeito de tais normais
com o objetivo de evitar o cometimento de novos delitos”. (BITTENCOURT, 2001, p. 139)
Ao contrário do encontrado nas sanções criminais, as medidas não são fixadas de
forma quantitativa, porém, o judiciário deve-se fundamentar nos requisitos
estabelecidos no estatuto, sem se descuidar das recomendações pedagógicas e
preferencialmente por medidas de cunho aberto e de cumprimento de todas as
medidas com o propósito de manter os vínculos familiares e comunitários.
(MENDES, 2020)
Como já supramencionado, além dos procedimentos pedagógicos, as medidas
socioeducativas possuem natureza punitiva. Quando empreendida ao adolescente, os meios
que limitam o direito de ir e vir do infrator são mais sentidas nas medidas de internação.
(MARINHO, 2013)
As medidas socioeducativas e protetivas possuem uma aplicabilidade distintas, em
virtude de a aplicação de medidas protetivas não ser disciplinada de maneira específica pelo
ECA. A aplicação e execução das medidas socioeducativas segue os parâmetros processuais
da Lei de Execução Penal (Lei nº 7.210/84).
A medida mais grave aplicável ao menor infrator, é a internação, sendo medida
privativa de liberdade, a qual só deve ser aceita em casos extraordinários, já quando
não eficaz todas as medidas de reeducação do menor em conflito com a lei.
Diferentemente das medidas de segurança, não existe a estipulação de prazo na
internação, devendo ser realizada uma avaliação prévia acerca do adolescente.
(MARINHO, 2013)
A internação é considerada uma das medidas socioeducativas mais complexas
aplicadas ao menor infrator. Conforme disposto no ECA, a medida de internação é empregada
em razão de descumprimento reiterado e sem justificativa da medida antes imposta ao menor
infrator. (MARINHO, 2013) Destaca-se que a medida de internação deve ser aplicada quando
já esgotadas outras medidas previstas em lei.
Um contraponto acerca da natureza das medidas socioeducativas é, que
primordialmente o emprego da pena tem relação direta com o castigo, logo, será
maior punição conforme o grau do delito, o que já não é aplicado às medidas
socioeducativas, as quais devem ser guiadas individualmente e observada a história
do menor em conflito com a lei, sendo assim, a medida não tem adequação com o
ato ilícito e sim com o agente infrator, tendo em vista que o objeto da medida
socioeducativa é pedagógico. (FRANCISCHINI; CAMPOS, 2005)
(…) o controle mais complexo e estável da conduta passou a ser cada vez mais
instilado no indivíduo desde os seus primeiros anos, como uma espécie de
automatismo, uma auto compulsão à qual ele não poderia resistir, mesmo que
desejasse. A teia de ações tornou-se tão complexa e extensa, o esforço necessário
para comportar-se “corretamente” dentro dela ficou tão grande que, além do
autocontrole consciente do indivíduo, um cego aparelho automático de autocontrole
foi firmemente estabelecido. (ELIAS, 1993, p. 196)
Elias apresenta em suas obras de como a mudança nos hábitos e comportamento dos
indivíduos, incidirá nas várias áreas e instituições da vida social, logo, o sociólogo aponta
uma reconstrução histórica para uma mudança comportamental do indivíduo e uma mudança
social sabendo que os planos - individual e social - transcorrem paralelamente, influenciando-
se mutuamente: “processos naturais e históricos trabalham indissoluvelmente juntos”.
(ELIAS, 1990, p. 162) Elias denominou como “sociogêneses”, o estudo dos processos de
desenvolvimento e transformação sociais, “psicogêneses” o estudo de desenvolvimento e a
transformação psicológica (as mudanças de personalidade ou hábito) que acompanham as
mudanças sociais supramencionadas.
Portanto, na interpretação de Elias o surgimento da prisão vem de um processo
sócio-histórico causal e que o Estado moderno “impõem restrições e controle aos impulsos e
emoções dos indivíduos” (ELIAS, 1990, p. 155). Elias segue dizendo que a prisão surge como
consequência dessa repressão dos instintos primitivos do indivíduo, tendo em vista que retira
do espaço público cenas de violência e nojo, poupando os indivíduos de lidarem com a
demonstração seus instintos mais primitivos.