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E TECNOLOGIAS APLICADAS
AO DIREITO - IV
PROFESSSORES
JOSÉ EDUARDO CHAVES JÚNIOR
ANA CAROLINA REIS PAES LEME
LEONARDO VIEIRA WANDELLI
SKEMA BUSINESS SCHOOL
Belo Horizonte Cape Town-Stellenbosch Lille Paris Raleigh Sophia Antipolis Suzhou
Lille, France
Campus
Montreal, Canada
Sophia Antipolis, France
Global Lab in Al
Campus Suzhou, China
Raleigh, USA Campus
Campus
Paris, France
Campus
SKEMA Business School, Marketing & Communications department, non-contractual document – May 2020
SKEMA CAMPUSES
Coordenadores: Leonardo Vieira Wandelli, Ana Carolina Reis Paes Leme e José Eduardo
Chaves Júnior – Belo Horizonte: Skema Business School, 2020.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-5648-103-6
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: Desafios da adoção da inteligência artificial no campo jurídico.
1. Direito. 2. Inteligência Artificial. 3. Tecnologia. I. Congresso Internacional de Direito
e Inteligência Artificial (1:2020 : Belo Horizonte, MG).
CDU: 34
_____________________________________________________________________________
CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E TECNOLOGIAS APLICADAS AO
DIREITO IV
Apresentação
É com enorme alegria que a SKEMA Business School e o CONPEDI – Conselho Nacional
de Pesquisa e Pós-graduação em Direito apresentam à comunidade científica os 14 livros
produzidos a partir dos Grupos de Trabalho do I Congresso Internacional de Direito e
Inteligência Artificial. As discussões ocorreram em ambiente virtual ao longo dos dias 02 e
03 de julho de 2020, dentro da programação que contou com grandes nomes nacionais e
internacionais da área, além de 480 pesquisadoras e pesquisadores inscritos no total. Estes
livros compõem o produto final deste que já nasce como o maior evento científico de Direito
e da Tecnologia do Brasil.
Trata-se de coletânea composta pelos 236 trabalhos aprovados e que atingiram nota mínima
de aprovação, sendo que também foram submetidos ao processo denominado double blind
peer review (dupla avaliação cega por pares) dentro da plataforma PublicaDireito, que é
mantida pelo CONPEDI. Os quatro Grupos de Trabalho originais, diante da grande demanda,
se transformaram em 14 e contaram com a participação de pesquisadores de 17 Estados da
federação brasileira. São cerca de 1.500 páginas de produção científica relacionadas ao que
há de mais novo e relevante em termos de discussão acadêmica sobre os temas Direitos
Humanos na era tecnológica, inteligência artificial e tecnologias aplicadas ao Direito,
governança sustentável e formas tecnológicas de solução de conflitos.
Neste norte, a coletânea que ora torna-se pública é de inegável valor científico. Pretende-se,
com esta publicação, contribuir com a ciência jurídica e fomentar o aprofundamento da
relação entre a graduação e a pós-graduação, seguindo as diretrizes oficiais. Fomentou-se,
ainda, a formação de novos pesquisadores na seara interdisciplinar entre o Direito e os vários
campos da tecnologia, notadamente o da ciência da informação, haja vista o expressivo
número de graduandos que participaram efetivamente, com o devido protagonismo, das
atividades.
A SKEMA Business School é entidade francesa sem fins lucrativos, com estrutura
multicampi em cinco países de continentes diferentes (França, EUA, China, Brasil e África
do Sul) e com três importantes acreditações internacionais (AMBA, EQUIS e AACSB), que
demonstram sua vocação para ensino e pesquisa de excelência no universo da economia do
conhecimento. A SKEMA, cujo nome é um acrônimo significa School of Knowledge
Economy and Management, acredita, mais do que nunca, que um mundo digital necessita de
uma abordagem transdisciplinar.
Resumo
O tema da pesquisa é o estudo da Inteligência Artificial e seus reflexos na seara jurídica. O
problema da pesquisa é: em que medida a Inteligência Artificial pode auxiliar a ação
humana, na esfera jurídica? O objetivo do trabalho é: Analisar os processos de percepção da
Inteligência Artificial no campo do Direito. A pesquisa pertence à vertente metodológica
jurídico-sociológica. Compreende-se que o histórico de afeição à inovação tecnológica, do
Direito, demonstra um espaço para a implementação de técnicas de Inteligência Artificial. É
necessário o acompanhamento da evolução da Inteligência Artificial no campo do Direito.
Abstract/Resumen/Résumé
The theme of the proposed research is the study of Artificial Intelligence and its reflexes in
the legal field. The research problem is: to what extent can Artificial Intelligence assist
human action in the legal sphere? The objective of the work is: To analyze the processes of
perception of Artificial Intelligence in the field of Law. The research belongs to the juridical-
sociological methodological aspect. It is understood that the history of affection for
technological innovation, of Law, demonstrates a space for the implementation of Artificial
Intelligence techniques. The follow-up of the Artificial Intelligence evolution in the Law
field is necessary.
4
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
5
de Inteligência Artificial, em determinados aspectos, que visa otimizar o trabalho dos
profissionais do Direito (PJE, 2011). Nesse sentido, este é um sistema com o poder de
demonstrar que o Direito é uma área do conhecimento afeta à inovação tecnológica.
Posto isso, é importante destacar que esta percepção remonta às ondas renovatórias de
acesso à justiça1, mais precisamente, à terceira. Denominada o enfoque do acesso à justiça, esta
onda evidenciou, dentre outras questões, uma ampliação de mudanças nos sistemas judiciais,
concernentes à pessoas, mecanismos e noções procedimentais, que vão desde uma digitalização
de processos, à implementação de sistemas de gestão para os tribunais, com vistas a combater
a morosidade sistêmica e a promover a celeridade processual (CAPPELLETTI; GARTH,
1988), revelando o PJe como uma consequência do desdobramento desta onda no Brasil.
Por consequência, a abertura para a inovação tecnológica é um elemento, há muitos
anos, presente na realidade do ordenamento jurídico. Como consequência desta interpretação,
tem-se que o agir da Inteligência Artificial na seara jurídica é um fenômeno que prescinde da
devida análise.
Pode-se afirmar com fidúcia que o uso da Inteligência Artificial se tornou precípuo em
muitos ramos da sociedade, tal como a imprescindibilidade de regulamentação a respeito, via
ordenamento jurídico, o que, por si só, tem o condão de gerar discussões pertinentes, tanto na
Economia, quanto no Direito. Nesse sentido, o haste da discussão que aqui se provoca deve ser
pautado por uma análise interdisciplinar, entre os dois campos – e estes com a as novas
tecnologias –, uma vez que a confluência da Inteligência Artificial no ramo jurídico,
imperativamente, abrange o setor econômico, quando o que se busca é a promoção do
desenvolvimento e o aperfeiçoamento de normas jurídicas a serem aplicadas em sociedade.
A análise econômica do Direito se revela um meio adequado de estudo em torno da
influência da Inteligência Artificial no âmbito jurídico, em virtude das consequências que os
processos de normatização das leis engendram na economia de um país. Tais processos, de
acordo com Sztajin (2005), partindo do prisma de associação entre Direito e Economia, ocorre
no plano normativo-positivo ou no normativo-normativo (SZTAJIN, 2005).
1
Na classificação de Cappelletti e Garth (1988), levantada ao longo da realização do Projeto Florença, trabalho
científico executado na década de 1970 que envolveu um estudo comparado acerca do acesso à justiça em diversos
países, foram delimitados três contornos da problemática do acesso à justiça: as denominadas ondas renovatórias.
6
A relação normativo-normativo - plano que aqui se preconiza por um critério de maior
adequação - resulta na análise das consequências de alternativas na formulação de normas de
direito positivo, que, por sua vez, amplia as análises das regras jurídicas e estas, quando
aplicadas ao direito à propriedade, levada ao questionamento se, entre a tutela do direito sobre
a coisa, a responsabilidade civil ou o direito em face de uma pessoa, qual das aplicações seria
a mais eficiente (SZTAJIN, 2005).
Ante o exposto, as intersecções entre Inteligência Artificial e Direito, tendem a passar
pela Economia, o que leva à consideração do que esta área tem a oferecer, e não somente àquela.
Os meios organizacionais do Direito denotam um sistema aberto, com a capacidade de influir
e de ser influenciado pelas instituições sociais existentes, apontando que o conjunto de regras
aplicadas à sociedade serve à organização das relações intersubjetivas, trilhando o caminho até
ser consagrado como direito posto, o que é suficiente para afirmar que fatores econômicos
contribuem com o processo de criação de normas (SZTAJIN, 2005).
O Direito, enquanto uma ciência social aplicada, passou a ser percebido como uma seara
que não é autossustentável sozinha. Deste modo, a inserção de novas tecnologias, elementares
de áreas como a Ciência da Computação, tangenciadas pelo prisma da Economia, no meio
jurídico, elucidam esta afirmativa.
De acordo com Lara (2019), a
Dentre as temáticas tangentes à Inteligência Artificial, uma que pode ser fortemente
associada ao dia-a-dia dos profissionais do Direito é a aprendizagem de máquina. Esta é a área
do discutido ramo da Ciência da Computação que busca ensinar os computadores a atuarem de
maneira natural, sem demonstrar que estão executando algo que foram previamente
programados, por intermédio de uma combinação de tecnologias permissivas à tomada de
decisões via algoritmos (SHINOHARA, 2018), o que contribui para uma das facetas do
componente “inteligência” atribuído à Inteligência Artificial.
7
Esta técnica corrobora a percepção de que aplicativos, plataformas e sistemas digitais
possuem Inteligência Artificial e são capazes de aprender e aplicar dados tal qual os humanos,
influenciando diretamente na vida para além das barreiras do mundo virtual, e seu uso, a partir
de programas de computadores, serve como instrumento de contribuição para a produção de
pesquisas jurídicas, de petições e de promoção do próprio acesso à justiça pela via dos direitos,
efetivado por seu viés tecnológico. Um exemplo que corrobora esta afirmação é a adoção de
um sistema de algoritmos que tem sido utilizado no Brasil para prestar assessoria aos ministros
do Supremo Tribunal Federal, denominado VICTOR.
Em maio de 2018, o Supremo Tribunal Federal apresentou sua nova ferramenta de
Inteligência Artificial. Nomeado como uma homenagem ao ex-ministro Victor Nunes Leal, o
VICTOR é o mais complexo projeto do eixo tecnológico de todo o Poder Judiciário. O
mecanismo foi projetado com o intuito de fazer uma leitura de todos os recursos extraordinários
que chegam à suprema corte brasileira, sendo possível que evolua para uma ferramenta capaz
de realizar a triagem de instrumentos constitucionais vinculados a temas de repercussão geral
(BRASIL, 2018)
Para Lara (2019, p. 113), “a adoção do algoritmo VICTOR representa uma abordagem
interessante na busca da celeridade processual” (LARA, 2019, p. 113), ao argumento de que
logo poderá se tornar “um importante vetor para a prestação jurisdicional no país” (LARA,
2019, p. 113). Destarte, tem-se que a Inteligência Artificial passa a ser uma presença cada vez
mais constante dentre os locais de exercício dos profissionais que atuam diretamente com o
desempenho das funções essenciais à justiça, o que contempla o pensamento de Hafner (2001),
ao alegar que o Direito é um domínio excelente para se perceber o uso da Inteligência Artificial
(HAFNER, 2001). Esta certeza colabora com a percepção de que a instrumentalização
tecnológica dos sistemas judiciais, mapeada como próprias da terceira onda de acesso à justiça,
conforme exposto alhures, exemplifica as intersecções entre Direito e tecnologias como a
Inteligência Artificial.
Programas como o VICTOR e o próprio PJe demonstram como a Inteligência Artificial
vem ocupando espaço, dia após dia, no cenário jurídico, como um campo tecnológico com o
poder de auxiliar o trabalho intelectual dos profissionais do Direito, a partir de mecanismos que
podem potencializar os serviços de assessoria destes. Esta percepção, no entanto, apresenta-se
controversa, em certa medida, como Dworkin (1999, p. 490) afirma:
8
À vista disso, não há que se falar em atividade jurídica como se não fosse uma atividade
intelectual, que demanda a atenção do indivíduo para analisar o direito posto em contendo.
Porém, é inegável que dentre as benesses da Inteligência Artificial, está o auxílio nas tarefas de
cunho automatizado, necessárias para se alcançar a efetivação de direitos esperada pela
litigância no Judiciário, o que contribui com a celeridade processual.
Por conseguinte, o questionamento está ancorado na investigação ao redor da medida
em que a atuação de computadores pode substituir a ação humana, quando o cenário em questão
é o âmbito jurídico. Embora encantadora aos olhos dos profissionais do Direito, que terão seus
trabalhos cada vez mais otimizados pelo que a Inteligência Artificial tem de novo a ofertar, a
cada dia, há que se considerar os erros cometidos pelas máquinas.
Dentre muitos erros apresentados por computadores, Lara (2019) menciona um absurdo
episódio de etiquetagem humana pelo algoritmo2 do Google Photos. A inteligência artificial do
multifacetado serviço de internet mapeou pessoas negras como se fossem gorilas, porque o
algoritmo foi incapaz distinguir a pele retinta de um ser humano à de primatas, denotando um
viés racista na programação da máquina, que forçou a Google Inc. a se desculpar e a prometer
encontrar uma solução para o erro3. O ocorrido trouxe à luz um problema estrutural, por vezes
ignorado, tangente à Inteligência Artificial, qual seja, os mistérios ao redor da programação de
algoritmos complexos (LARA, 2019).
No crescente do perpassado, Shinohara (2018, p.42), sobre as falhas que a Inteligência
Artificial ainda apresenta, agrega que a “deficiência da tecnologia demonstra que as máquinas,
embora possam ser treinadas para categorizar uma imensa quantidade de imagens em alto nível
de precisão e rapidez, não conseguem ir além desse treinamento (SHINOHARA, 2018, p.42)”.
Logo, os computadores são desprovidos de senso crítico para interpretar o mundo, como os
seres humanos fazem (SHINOHARA, 2018).
Posto isso, o uso da Inteligência Artificial no campo do Direito, sobretudo, na
Advocacia, age como instrumento de complementação do trabalho do advogado. De acordo
com o exemplo de Minichiello e Carmo (2019, p. 52), “O uso da inteligência artificial quando
coadjuvante à atuação do advogado só pode soar de modo positivo, pois, é instrumento apto a
tornar mais eficaz a advocacia” (MINICHIELLO; CARMO, 2019, p. 53).
2
De acordo com Lara (2019), em ciência da computação, um algoritmo é uma sequência finita de ações executáveis
que visam obter uma solução para um determinado tipo de problema.
3
Conforme Lara (2019, p. 89) expõe: “A solução encontrada para o problema, descrito por um usuário pela
primeira vez em junho de 2015, foi simplória: o Google removeu os termos gorilas, chipanzés e macacos do
buscador na gestão de fotos pessoais” (LARA, 2019, p. 89).
9
Nesse diapasão, Minichiello e Carmo (2019, p. 53), sobre as inflexões entre a ação da
Inteligência Artificial e o exercício da advocacia preventiva, afirmam que
Desta forma, resta inegável afirmar que a Inteligência Artificial, quando associada ao
Direito, pode trazer, para a seara jurídica, facetas tanto positivas, quanto negativas. Contudo, o
diferencial para saber qual carácter será atribuído à interação destas áreas, dependerá de uma
minuciosa análise, e não de uma interpretação genérica, perpassando por sequenciados setores,
desde a análise econômica até o caso específico.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Levando-se em conta que o exercício das máquinas não substitui a ação humana, mas,
categoricamente, pode ajudar os indivíduos, tem-se que a Inteligência Artificial tem poder
suficiente para figurar como instrumento auxiliar no exercício da atividade jurisdicional, e nos
demais setores vinculados ao Poder Judiciário. Desta maneira, é uma tecnologia bem-vinda,
pois otimiza o tempo empreendido com certas atividades automatizadas praticadas pelos
advogados, procuradores e magistrados, que podem ser feitas, sem problemas maiores, pela
máquina.
Face ao longo histórico de afeição à inovação tecnológica, o Direito é um campo fértil
para a implementação de técnicas de Inteligência Artificial, porém, esta também prescinde da
devida análise pelo prisma da Economia, uma vez que os fatores econômicos agem de maneira
direta no processo de criação de normas, com vistas a garantir que direitos não sejam violados,
mas também visando que as técnicas de efetivação da tutela jurídica não se tornem obsoletas.
Por fim, reconhecendo que a Inteligência Artificial já está presente, de maneira
substancial, na prática jurídica, ela deve ser abraçada, devidamente regulamentada e
amplamente difundida pelos profissionais do Direito. Embora alguns advogados, magistrados
e outros operadores ainda relutem à temática, não há como negar que essas técnicas podem
facilitar enormemente os respectivos trabalhos, e o acompanhamento desses movimentos é
deveras imperioso.
10
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CAPPELLETTI, Mauro; GARTH, Bryant. Acesso à Justiça. Tradução por Ellen Gracie
Northfleet. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 1988.
DWORKIN, Ronald. O império do direito. Trad. Jefferson Luiz Camargo. Rev. Dr. Gildo Rios.
São Paulo: Martins Fontes, 1999.
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa
jurídica: teoria e prática. 4. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2015.
HAFNER, Carole. Legal reasoning models. International Encyclopedia of the Social and
Behavioral Scienses, 2001. Disponível em: www.ccs.neu.edu/home/hafner/hafnerlegal.doc.
Acesso em: 12 jun. 2020.
LARA, Caio Augusto Souza. O acesso tecnológico à justiça: por um uso contra-hegemônico
do big data e dos algoritmos. Tese (doutorado) – Orientação: Adriana Goulart de Sena Orsini.
Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Direito, 2019.
MINICHIELLO, André Luiz Ortiz; CARMO, Valter Moura do. Inteligência Artificial e
Advocacia: Desafios Regulatórios. In: Direito, governança e novas tecnologias I.
Coordenadores: Têmis Limberger; Valter Moura do Carmo; Aires Jose Rover. – Florianópolis:
CONPEDI, 2018. Disponível em: http://conpedi.danilolr.info/publicacoes/34q12098/
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SZTAJN, Rachel. Direito & Economia: Análise Econômica do Direito e das Organizações.
6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
WITKER, Jorge. Como elaborar una tesis en derecho: pautas metodológicas y técnicas para
el estudiante o investigador del derecho. Madrid: Civitas, 1985.
11
PERMISSIBILIDADE DO JUIZ-ROBÔ NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO
PERMISSIBILITY OF THE ROBOT JUDGE IN THE BRAZILIAN JURIDICAL
SYSTEM
Resumo
A evolução tecnológica propiciada pela Inteligência Artificial, traz-nos um personagem
novo, que visa resolver a atual crise do judiciário, o juiz-robô. Esse novo paradigma é real e
particularmente atrativo no contexto jurídico brasileiro, o que nos faz pensar
interpretativamente sobre a sua aplicação. O objetivo do trabalho é evidenciar a
permissibilidade do juiz-robô, dotado de inteligência artificial para decidir problemas
jurídicos no judiciário brasileiro, de acordo com o ordenamento jurídico vigente. Conclui-se
que embora não tenha a capacidade de ser juiz, a legislação vigente não o impede de ser um
conciliador judicial, embora não seja viável por suas limitações.
Abstract/Resumen/Résumé
The technological evolution brought about by Artificial Intelligence, brings us a new
character, which aims to solve the current crisis of the judiciary, the robot judge. This new
paradigm is real and particularly attractive in the Brazilian legal context. The objective of the
work is to highlight the permissibility of the robot judge, endowed with artificial intelligence
to decide legal problems in the Brazilian judiciary, according to the current juridical system.
It is concluded that although he does not have the capacity to be a judge, the current
legislation does not prevent him from being a judicial conciliator.
1Mestrando em Direito e Ciência Jurídica pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL), é
membro do Centro de Estudos e Pesquisas em Direito & Internet (CEPEDI).
12
1. A problemática jurídica brasileira e a solução através do desenvolvimento
tecnológico
13
demandas judiciais e a demora na efetividade de uma prestação jurisdicional, aos quais
são fatores fundamentais para uma morosidade exacerbada.
1
Tal afirmação advém do diagnóstico dos resultados obtidos pelos carros autônomos, que nos
demonstram uma confiabilidade e uma segurança estatisticamente maior do que o condutor humano.
14
2. A figura do juiz-robô e o ordenamento jurídico brasileiro
A quem acha que a aplicação de sistemas com esse propósito é algo futurista e
inviável, não percebe a interconectividade mundial dessa tecnologia em seus mais
diversos campos, como é o caso da justiça, propiciando uma plena revolução jurídica.
No entanto, juiz é apenas um ser humano? Caso fosse, não haveria sequer
discussão. Porém, interpretativamente o juiz-robô era sequer imaginado, assim como
todas as circunstâncias que viabilizariam, pela alta demanda e evolução tecnológica, a
possibilidade de sua aplicação, de modo que é necessário uma análise interpretativa do
ordenamento jurídico vigente.
15
Magistratura Nacional. Para nossa pesquisa, é interessante demonstrar o que diz a lei
acerca das condições para o ingresso do magistrado no judiciário brasileiro:
A Constituição Federal de 1988 por sua vez, mesmo sendo posterior à lei, coaduna
e constitucionaliza o entendimento necessário das provas e incluí novos requisitos para o
cargo, estabelecendo uma rigidez e tempo necessário para o ingresso na carreira:
16
pessoa lesada, e do Juiz Natural, cujo reconhecimento é visível no Art. 5º, inciso XXXVII
da Constituição Federal, estabelecendo que ‘’não haverá juízo ou tribunal de exceção’’
(BRASIL, 1988), ao garantir um julgamento justo aos cidadãos por órgãos independentes
e parciais. Tal fundamento, com características evidentes de uma redemocratização,
determina que os juízes designados para julgar os processos devem ter a competência para
fazê-lo (COUTINHO, 2008), não sendo possível estabelecer a competência e investidura
do cargo à máquina, exigidos no ordenamento jurídico brasileiro vigente.
Desse modo, é visível que os requisitos para o julgamento das decisões jurídicas,
pressupõem condições essencialmente humanas e que a máquina, dada a legislação atual,
não é capaz de ter essa funcionalidade. No entanto, o juiz-robô como conhecemos não é
capaz de estar no âmbito jurisdicional? Para isso, deveremos realizar um esforço
interpretativo, ao analisar a inclusão dessa máquina de personalidade jurídica própria, em
regramentos que a permitem exercer algum tipo de funcionalidade para o exercício de
uma função autônoma.
Nesse contexto, evidenciam-se mais duas figuras judiciárias, além do juiz como
conhecemos, cujas funções são distintas, os juízes leigos e os conciliadores, sendo que o
Art. 7º da Lei estabelece a seguinte condições para ambos:
Retira-se daí, embora seja autoexplicativo, que ambos apesar de não serem juízes,
são auxiliares da justiça, sendo os conciliadores preferencialmente bacharéis em Direito,
e os juízes leigos advogados com mais de cinco anos de experiência, e por exercerem tais
funções, tem-se por requisito estar no quadro da OAB, não sendo possível até o presente
momento a inscrição da máquina. Em todo caso e recorrendo à interpretação, os
17
conciliadores da justiça, cujo papel é auxiliar a justiça, não tem por requisito ser bacharel
em Direito, mas a preferência de que o seja.
Tal função destina-se legalmente para o auxílio dessas matérias, com supervisão
do juiz togado ou leigo, ou seja, há uma inspeção essencialmente humana, longe de um
julgamento autônomo da máquina, por ser a natureza da conciliação o acordo de ambas
as partes, não sendo prejudicada diretamente pela máquina.
3. Considerações Finais
18
Ainda que isso fosse possível, a máquina não detém as condições necessárias para
a natureza da conciliação, dos quais a essência humana torna-se indispensável para o ser
levado a sério, ser ouvido, ou mesmo sentir o caso concreto, para da melhor forma
possível harmonizar as relações.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Diário Oficial da
República Federativa do Brasil, Brasília, 5 de out. 1988. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 15
mai. 2020.
BRASIL. Lei Complementar nº 35, de 14 de março de 1979. Dispõe sobre a Lei Orgânica
da Magistratura Nacional. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
15 jun. 1979. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp35.htm>. Acesso em: 13 mai. 2020.
BRASIL. Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995. Dispõe sobre os Juizados Especiais
Cíveis e Criminais e dá outras providências. Diário Oficial da República Federativa do
Brasil, Brasília, 30 nov. 1995. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9099.htm>. Acesso em: 10 mai. 2020.
CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). Justiça em números 2019. Brasília,
2019, Anual. Disponível em:<https://www.cnj.jus.br/wp-
content/uploads/conteudo/arquivo/2019/08/justica_em_numeros20190919.pdf>. Acesso
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COUTINHO, J. N. M. O princípio do juiz natural na CF/88: Ordem e desordem. Revista
de Informação Legislativa, Brasília, v. 45, n. 179, p. 1-14, jul./set. 2008. Disponível
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Acesso em: 10 mai. 2020.
GUADAMUZ, A. Artificial intelligence and copyright. Wipo Magazine, Genebra, 5º
edition, p. 14-20, October. Disponível em:
<https://www.wipo.int/export/sites/www/wipo_magazine/en/pdf/2017/wipo_pub_121_2
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ROCHA, M. L.; PEREIRA, R. S. Inteligência Artificial & Direito: coord. Manual
Lopes Rocha, Rui Soares Pereira. Lisboa: Editora Almedina, 2020. 266 p.
WEIZENBAUM, J. Computer power and human reason: From judgment to
calculation.1ª ed. New York: W. H. Freeman & Co, 1976, 300 p.
19
POLÍTICAS PÚBLICAS GLOBAIS PARA O COMBATE À PANDEMIA DA COVID-
19
GLOBAL PUBLIC POLITICS TO COMBAT THE COVID-19 PANDEMIC
Resumo
O exposto estudo tem como objetivo a análise das políticas jurídicas de países para o
confronto a COVID-19. Através de dados estatísticos e medidas de contenção, infere-se que
as realidades econômicas influenciam diretamente nas providências governamentais.
Entretanto, a crise atual é classificada com sanitária, assim, a saúde da população precisa ser
posta como prioridade. A pesquisa que se propõe pertence à vertente metodológica jurídico-
sociológica. No tocante ao tipo de investigação, foi escolhido, na classificação de Witker
(1985) e Gustin (2010), o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa será
predominantemente dialético.
Abstract/Resumen/Résumé
The presented study aims to analyze the legal policies of countries to confront the COVID-
19. Through statistical data and containment measures, it appears that economic realities
directly influence governmental measures. However, the current crisis is classified as health
one, so the health of the population needs to be made a priority. The proposed research
belongs to the juridical-sociological methodological aspect. Regarding the type of
investigation, the legal-projective type was chosen in the classification of Witker (1985) and
Gustin (2010). The reasoning developed in the research will be predominantly dialectical.
20
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
O presente estudo nasceu através da necessidade de compreensão das políticas
jurídicas tomadas pelos países ao redor do mundo, com o objetivo de combater a
pandemia causada pela COVID-19. Tamanhas análises esclarecem quais são as
prioridades governamentais de alguns países que se destacaram, tanto negativa, quanto
positivamente. Dessa forma, é possível a realização de uma maior crítica às regências que
lidam de maneira inadequada, ou de maneira correta, com a crise pandêmica. Dessa
maneira, as informações relatadas na pesquisa vigente buscam a disseminação de
conhecimentos fundamentados em dados estatísticos, artigos e ideais prestigiados,
substanciais para o entendimento da realidade contemporânea.
É indispensável apontar que por se tratar de uma crise sanitária, os meios de
saúde se tornam os responsáveis por guiar as gestões governamentais, através de
caminhos científicos, que solucionarão a problemática enfrentada. Dessa forma, devido à
realidade da pandemia atual, ou seja, uma enfermidade infecciosa que atinge várias
pessoas ao redor do mundo, simultaneamente, a agência encarregada por dar as corretas
instruções para o combate ao coronavírus é a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Dessarte, desconsiderar as orientações desta é uma irresponsabilidade com a vida social.
Certamente, existem divergências relevantes quanto a gestão governamental
entre os países. Tais administrações são diretamente ligadas ao desenvolvimento socio-
econômico de cada Estado. Dessa maneira, no decorrer da leitura do presente projeto,
ficará evidente a forma como algumas nações foram afetadas, não somente na área
sanitária, mas similarmente em esferas econômicas. Á vista disso, faz-se necessária a
análise das diferentes formas achadas para o enfrentamento das crises vistas.
A pesquisa que se propõe pertence à vertente metodológica jurídico-sociológica.
No tocante ao tipo de investigação, foi escolhido, na classificação de Witker (1985) e
Gustin (2010), o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa será
predominantemente dialético. Em vista disso, o principal objetivo deste estudo, é a
discussão de atitudes governamentais relacionadas ao enfrentamento de crises
inesperadas, assim, a conclusão de quais gestões são mais eficazes será concretizada.
21
A principal barreira encontrada pelos países do mundo atual, visando a temática
do combate à COVID-19, seria a falta de colaboração internacional e na confiança entre
governos, para a resolução da problemática.
Segundo Yuval Noah Harari
a história indica que a proteção real vem da troca de
informação científica confiável e da solidariedade global. Quando um
país é atacado por uma determinada epidemia, deve estar disposto a
compartilhar honestamente as informações sobre o surto, sem medo de
uma catástrofe econômica, ao passo que os outros países devem ser
capazes de confiar naquela informação, dispondo-se a entender uma
mão amiga em vez de deixar a vítima no ostracismo. Hoje, a China pode
ensinar uma porção de lições importante sobre o Coronavírus para o
mundo inteiro, mas isso demanda um alto nível de confiança e
cooperação internacionais (NOAH HARARI, 2020)
Conforme observado no ano de 2019, o vírus causador da COVID-19, conhecida
popularmente pelo nome Coronavírus, SARS-COV-2, infectou um mercado de frutos do
mar na província de Wuhan, na China. Após casos de pneumonia surgirem abruptamente
entre a população, a Organização Mundial da Saúde (OMS), através de análises
científicas, declarou no dia 31 de dezembro estado de alerta. Depois de três meses, a
agência sanitária mundial confirmou a epidemia do Coronavírs, o mais alto nível de alerta
da Organização, no dia 11 de março de 2020.
A OMS, é uma agência especializada nas questões da saúde mundial. Portanto,
tendo em vista que os países iriam enfrentar uma crise sanitária em breve, essa
organização estabeleceu quais seriam as medidas mais responsáveis, com base científica,
adequadas para lidar com a problemática que infectaria milhões de pessoas. Identifica-se
como previdência primordial o temido isolamento social, responsável por abalar as
estruturas administrativas dos governos.
O pioneiro na questão de contágio do Coronavírus foi a China. A cidade Wuhan,
foi isolada antes que os níveis de propagação da doença chegassem no seu nível máximo.
Outra medida tomada foi o controle do transporte em vias públicas. O número de
motoristas decresceu e aqueles que optaram por continuar a trabalhar, aumentaram o nível
de materiais de higiene pessoal para os passageiros. Quando se tratava da entrada de
cidadãos chineses no território, era realizado um cadastro com seus dados para que a
entrada e a saída de pessoas estivessem sob controle do Estado. Tais informações foram
retiradas da revista brasileira Época. No momento atual, conforme o site mundial “World
Meter”, a China possui 83.043 casos totais e 4.634 de mortes.
Através do seguimento das precauções, orientadas pela OMS, diferentemente da
realidade de outros países, o Estado Chinês conseguiu estabilizar a curva que determinava
22
o crescimento de contagiados e óbitos no país. Nota-se que o controle entre as cidades
está muito acentuado. De acordo com o site G1, um exemplo disso é a utilização de um
código da cor verde pelas pessoas que não estão infectadas, para que possam andar nas
ruas. Outro exemplo claro de contenção foi a utilização de um plástico entre o motorista
e o passageiro, para evitar possíveis contatos físicos.
Entretanto, a China não obteve somente índices positivos em suas medidas
pautadas nas orientações da OMS. Uma notícia da BBC News, publicada no dia 22 de
março, trouxe a informação, comunicada pelo Escritório Nacional de Estatística da China,
do decrescimento recorde dos níveis de produção industrial, varejo e investimentos em
ativos fixos, fatores que aceleram o colapso econômico. Houve um declínio de 13,5% da
produção industrial, no comparativo anual. Outrossim, os negócios envolvendo varejos,
caíram 20,5% em relação a 2019, sendo considerado a maior redução histórica.
Similarmente prejudicado, o setor de investimentos em ativos fixos caiu 24,5%. É
indiscutível os impactos negativos obtidos no Estado Chinês, causados pelas políticas de
combate ao Coronavírus.
Além da crise sanitária e econômica que a China enfrenta, houve o acirramento
entre as tensões políticas com os Estados Unidos da América. Uma reportagem, da BBC
News, afirma que os chineses sofreram ataques em redes sociais, praticados pelo
presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, que nomeia a COVID-19
como “vírus chinês”. De acordo com Elizabeth Economy, diretora de estudos asiáticos
do Centro dos EUA para o Conselho de Relações Internacionais "as pessoas não culpam
o governo chinês pelo fato de o Coronavírus ter aparecido na China, eles culpam o
governo por encobrir a epidemia e agora estar tentando disfarçar a responsabilidade pela
forma como lidou com ela desde o início". Tamanhos sigilos feitos pelo governo chinês
sobre a inicial conjuntura pandêmica, causou o desenvolvimento de várias teorias sobre
o surgimento da SARS-CoV-2, algo que deixa em xeque as relações entre o governo
americano e o chinês.
A França foi o primeiro país da Europa que apresentou vítimas da COVID-19.
De acordo com a página do Jornal Nacional, G1, no dia 24 de janeiro de 2020 foi relatado
o primeiro caso de Coronavírus em território francês. Entretanto, foi descoberto
recentemente a circunstância do homem, chamado Argelino, infectado pela COVID-19
no dia 27 de dezembro de 2019, ou seja, um mês antes da conjuntura que era de
conhecimento público. Através de uma declaração do presidente do país, Emmanuel
Macron, medidas mais restritivas foram expostas; como a permanência da população em
23
suas casas por 15 dias após o dia 17 de março. Caso ocorra o descumprimento dessa nova
regra os envolvidos estarão sujeitos a punições.
Faz-se necessário a citação da realidade econômica francesa. Conforme a revista
Valor Econômico, a França invocou, no dia 24 de março de 2020, auxílio através do
“patriotismo econômico”, fornecido por centros comerciais. Tamanha ajuda incluiria a
compra de produtos nacionais, como forma de apoio a produção francesa para o alívio
dos efeitos econômicos causados pelo Coronavírus. O ministro de Economia e Finanças,
Bruno Le Maire, alega que a atividade econômica atual passa por uma crise sem
precedentes desde a grande depressão no ano de 1929. Através de declarações do ministro
mencionado, o Estado apoiará algumas indústrias ligadas aos setores aeronáutico e
automotivo, áreas mais fragilizadas.
Além disso, existe uma apreensão quanto as barreiras comerciais globais.
Roberto Azevêdo, diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), solicitou
que os 164 países integrantes compartilhassem informações sobre previdências
comerciais que serviriam de soluções para a crise pandêmica. Exemplos disso seriam
restrições de exportação e programas de auxílio econômico.
O projeto Médicos Sem Fronteiras (MSF) iniciou o apoio ao sistema de saúde
francês, tendo em vista que tal sistema possui fraquezas relevantes que dificultam o
combate ao Coronavírus. Em concordância com tão intensa afirmativa, Emilie Fourrey,
coordenadora da resposta médica da região, afirmou “O surto de COVID-19 evidenciou
as fraquezas do sistema de saúde francês e o seu nível de capacidade para responder a
emergências sanitárias de grande escala... É por isso que decidimos focar nossas
atividades médicas em migrantes, pessoas em situação de rua e menores
desacompanhados que tiveram seus apelos judiciais para serem reconhecido como
menores de idade interrompidos.” Dessa forma, os atuantes médicos estão realizando
maior número de testes em território francês para o auxílio na descoberta de possíveis
infectados. Atualmente, conforme o site mundial World Meter, a França possui um total
de 154.188 casos confirmados, 29.209 óbitos e 1.384.633 de testes feitos.
Um país europeu de grande destaque na realidade pandêmica foi a Itália.
Segundo o médico Danilo Cereda, o vírus SARS-CoV-2 se propagou em diversos estados
italianos desde o dia 1 de janeiro, ao contrário do que é de crença pública, tendo em vista
que a população acredita que a doença apenas chegou no país no dia 20 de janeiro.
A Itália foi um dos países que mais se sobressaiu devido ao número de mortes
obtidas. Em conformidade com o afirmado, no dia 27 de março de 2020, a BBC News
24
trouxe dados afirmando que o país teve recorde de mortes, com 969 óbitos diários. No
total, até o dia 28 do mesmo mês, mais de 10 mil pessoas faleceram devido ao contágio
da COVID-19. A região mais abalada foi o norte da Lombardia, fato que causou um
pronunciamento de Vincenzo de Luca, presidente da área da Campânia. Disse ele "Nesse
momento, existe a perspectiva real de que a tragédia da Lombardia esteja prestes a se
tornar a tragédia do sul"
No dia 9 de março, o primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte estabeleceu a
restrição do deslocamento no país. Em concordância com tal previdência, as
universidades e escolas permanecerão fechadas até o dia 3 de abril. Conte diz que as
pessoas devem permanecer em suas residências e apenas sair em casos extremos. Em
conformidade com tal afirmativa ele declara “Nossos hábitos precisam mudar, precisam
mudar agora, todos nós precisamos desistir de alguma coisa pelo bem da Itália”.
Por fim, é necessário salientar as políticas públicas instauradas no Brasil.
Primeiramente, fica claro o descaso do presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, com relação
a emissão de alerta sobre a conjuntura, pronunciado pela OMS. O chefe de estado foi
muito criticado em seus discursos, devido a falta de compromisso com a população, tendo
em vista que menosprezou a real situação brasileira. Em um de seus pronunciamentos ele
afirma que devido a práticas de esportes não precisaria se preocupar pois, "Nada sentiria
ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho”. Bolsonaro tomou
atitudes irresponsáveis, como a demissão do ministro da saúde, Luiz Henrique Mandetta,
e seguidamente a demissão de Nelson Teich, outro ministro nomeado para tal cargo,
durante uma crise sanitária, pois estes não concordavam com as medidas propostas pelo
presidente. Entretanto, previdências tardias foram tomadas pelo governo federal.
O isolamento social foi formalmente adotado no dia 17 de março pelos estados
do Brasil, depois de os casos de infectados passarem de 200, de acordo com a BBC News.
Os funcionários foram obrigados a trabalhar em casa e o comércio e outras atividades
foram fechados. Atualmente, de acordo com o site WorldoMeter, o Brasil possui um total
de 747.561 casos confirmados e 38.701 de total de óbitos.
Conforme o Instituto Fiscal Independente, do Senado, afirmou no dia 13 de abril
que o congelamento da atividade econômica no Brasil terá consequências drásticas nos
próximos dez anos. Segundo a organização, após 22 semanas de paralização, o PIB
(Produto Interno Bruto) pode decrescer 7%. Apesar dos números apresentados serem
preocupantes, o cenário tende a piorar nos próximos anos. É calculado que o déficit do
governo central terá o valor de R$ 514,6 bilhões, para o setor público consolidado.
25
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através das análises, fica clara a necessidade de compartilhamento de
informações, defendida pelo autor citado inicialmente, Yuval Noah Harari entre os países
que sofreram com a realidade pandêmica. Dessa forma, a distribuição de conhecimentos
entre Estados desenvolvidos e subdesenvolvidos será de extrema importância para a
passagem dos processos necessários de combate ao Coronavírus.
Assim como o mundo já obteve antigas experiências com doenças contagiosas,
a COVID-19 também chegara no seu fim, porém, é necessária uma colaboração entre
territórios para que seja de conhecimento público quais são as medidas classificadas como
as mais coerentes, tendo em vista a realidade dos casos atuais. Dessa forma, também é
importante que por se tratar de uma crise sanitária, as medidas de saúde sejam priorizadas.
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
26
27
POSTULADOS INICIAIS PARA A PROBLEMATIZAÇÃO SOBRE A
CAPACIDADE DOS ALGORITMOS DE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL DE
ATINGIR OS OBJETIVOS REGULATÓRIOS DA CATEGORIA DOS FATOS
JURÍDICOS
INITIAL POSTULATES FOR THE PROBLEMATIZATION OF ARTIFICIAL
INTELLIGENCE ALGORITHMS' CAPACITY TO ACHIEVE THE REGULATORY
OBJECTIVES OF THE CATEGORY OF LEGAL FACTS
Resumo
O presente resumo faz a exploração da categoria tradicional da dogmática jurídica, a teoria
do fato jurídico, mostrando a valia desta categoria para a exploração de contribuições da
Inteligência Artificial ao mundo do direito. Também para mostrar problemas dependentes de
uma IA forte para o mundo do direito. A teoria do fato jurídico é usada como postulado de
partida e, a posteriori, há várias construções de hipóteses sobre a utilização do conceito para
a construção de uma IA abrangente e forte no mundo jurídico.
Abstract/Resumen/Résumé
The present draft explores the traditional category of legal dogmatics, the theory of legal fact,
showcasing the value of this category for the exploitation of Artificial Intelligence
contributions to the rule of law. Also to show problems dependent on strong AI for the rule
of law. The legal fact theory is used as a starting postulate and, a posteriori, there are several
hypothesis constructions about the use of the concept toward a comprehensive and strong AI
build in the legal system.
1 Doutor em Direito. Doutor em História. Pesquisador líder do LAECC. Professor Classe D, UFU. Professor dos
seguintes programas de pós-graduação em Direito: Direito, UFU; Biocombustíveis, UFU; Direito, UNESP
(visitante). walmott@gmail.com.
2Mestre em Direito pela Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Especialista em Direito Processual Civil,
Direito Civil e Empresarial, Direito Digital e Compliance. Advogado. juniorfaleiros@outlook.com. ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-0192-2336.
28
1 Introdução: fatos jurídicos e algoritmos de Inteligência Artificial
O presente resumo faz a exploração da categoria tradicional da dogmática jurídica, a
teoria do fato jurídico, mostrando a valia desta categoria para a exploração de contribuições da
Inteligência Artificial ao mundo do direito. Também para mostrar problemas dependentes de
uma IA forte para o mundo do direito. A teoria do fato jurídico é usada como postulado de
partida e, a posteriori, há várias construções de hipóteses sobre a utilização do conceito para a
construção de uma IA abrangente e forte no mundo jurídico.
29
2.3 Há os atos jurídicos propriamente ditos, ou atos em sentido estrito. Nesse
quadrante, como sói acontecer nos atos jurídicos, há a conduta ou comportamento (o 1º
momento da bipartição vista no parágrafo acima). Os efeitos regulatórios de tal conduta, ou
comportamento, não serão aqueles tencionados pelo sujeito da conduta, ou mesmo
independente do que intencionou, serão os efeitos da conduta ou comportamento aqueles
atribuídos pelo próprio sistema de normas.
2.4 O problema da vontade nos atos jurídicos em sentido estrito comporta outra
dicotomia: a avaliação que se faça da vontade: nos atos jurídicos propriamente ditos há a
exteriorização volitiva, e a avaliação da qualidade desta manifestação é fundamental para os
efeitos regulatórios e, depois os efeitos regulatórios propriamente ditos serão apreciados em
função dessa manifestação volitiva: há de ser vontade consciente. Por isso há a outra categoria
de atos-fatos, distintos dos atos em sentido estrito. Nos atos-fatos o 1° momento, o de
manifestação da vontade, não é o momento de manifestação de vontade consciente. Então há
participação humana, mas o elemento volitivo é neutro. Os efeitos, tal qual no ato jurídico em
sentido estrito, serão, nos atos-fatos, os efeitos regulatórios definidos pelo sistema de normas.
2.5 Há dentro dos atos jurídicos em sentido amplo os negócios jurídicos. À diferença
dos atos jurídicos em sentido estrito, nos quais os elementos da bipartição (1º e 2° momentos)
têm tratamento distinto com relação à vontade do agente, nos negócios jurídicos a vontade tem
efeitos definidores da regulação nos dois momentos. Nos atos jurídicos em sentido estrito a
conduta do agente é determinante da conformação nesta categoria, manifestação volitiva do 1º
momento, mas não nos efeitos regulatórios. Já nos negócios jurídicos o 1° momento,
manifestação da vontade, e o 2º momento, efeitos regulatórios dependem da manifestação
volitiva.
2.6 Toda a categoria dos atos jurídicos depende, à partida, de outra avaliação que
conduz à dicotomia: é ato ilícito ou é ato lícito? Nos ilícitos há a participação humana com os
efeitos regulatórios do direito definidos pelas normas, e não por esta participação humana
inicial. O ponto de partida dos ilícitos é a contrariedade à norma jurídica. Aqui há espaço para
várias subclassificações como, por exemplo, entre o antijurídico e o ilícito propriamente dito.
30
efetivos. Em suma, relações sociais alimentam e são essencialmente caracterizadas por alguns
conflitos.
3.1 No caso de conflitos potenciais tem-se a imaginar que os conflitos a receber o
tratamento jurídico são aqueles possíveis, latentes ou iminentes. Assim, a forma de
processamento do direito, nesses casos, é o de definição normativa e institucional de processos
e padrões de comportamentos, condutas, ou de efeitos de acontecimentos, antes da instalação
de disputa. O objetivo do direito é o de oferecer padrões prévios, de regulação. O direito como
estímulo e direção.
3.2 Imaginando-se dessa maneira, dispositivos ou máquinas de IA, de qualquer
natureza, devem ter a capacidade de processar as situações do mundo social como se
inteligência humana fossem. Deve a IA ter a capacidade de subsumir as situações ao regramento
de acordo, o regramento esperado para a situação padrão e lhe enformar num certo padrão
normativo (pode-se dizer decisório de opções regulatórias).
3.3 No caso de conflitos efetivos, não há o quadrante de opções regulatórias, antes do
conflito instalado, pois já se supõe que este não foi satisfatório. Há aqui o conflito já instalado.
Supõe-se, nesses casos, que o direito atua repressivamente. O direito atua como disciplina e
coerção.
3.4 Deve, nesse caso, a IA ter a capacidade de subsumir as situações ao regramento
solucionador de conflitos. Deve enformar o conflito no regramento punitivo-sancionatório
esperado para a situação padrão e lhe enformar num certo padrão normativo (pode-se dizer
decisório coercitivo e sancionatório).
31
IA cumprindo a esta desenvolver fórmulas aprimoradas de aplicação do direito;1o quarto item,
a capacidade da IA de leitura juridicamente adequada de quais os padrões de acontecimentos,
condutas e comportamentos podem ser enquadrados nesta, ou naquela categoria; quinto
apontamento, realizar a correta inferência uma vez informada dos dados necessários e realizar
a aplicação dos fatos jurídicos.
4.2 Há que se considerar que a categoria fato jurídico é elemento de utilidade para a
definição de como se dá – ou dará – a interação dos sistemas de IA com o ambiente. Como é
categoria classificatória que encerra várias tomadas que podem ser entradas de informações, as
classificações, subclassificações dos fatos jurídicos permitem o estabelecimento de melhor
relacionamento da IA com os humanos: captando as disputas potenciais ou efetivas (o problema
típico do direito); de como se dará o relacionamento entre os humanos (é uma forma
catalogadora das relações jurídicas); favorece o sistema de comunicação no campo específico
do direito (já que estabelece uma taxonomia aceita e assertiva); permite o estabelecimento de
relações de causa e efeito (compreensão de acontecimentos, ou condutas, e efeitos jurídicos).
1
O que envolve um duplo problema: aplicação ótima das normas e aplicação efetiva das normas aos fatos jurídicos.
32
5.1.2 Além da variação de entrada acima mencionada, fato jurídico ou não, há a
variação de entrada das informações, entre as diversas condutas, ações e acontecimentos.
Novamente a limitação decorre da dependência da escolha de partida, qual seja, qual será o
elemento de partida para o encapsulamento naquelas variedades do fato jurídico: é ato-fato? É
ato? É negócio?
5.2 O que as indicações acima sugerem ainda é a forte dependência do fator humano
para a escolha do ponto de partida. Para além desse ponto inicial, e tirante os acontecimentos
sem participação humana que parecem ser mais facilmente enquadrados numa programação
padrão de soluções jurídicas pela IA, podem ser visualizadas outras considerações capitais
sobre a participação da IA nas soluções jurídicas:
5.2.1 Os sistemas de IA conseguem captar a natureza volitiva da conduta humana
(capacidade sensorial)? Isso é fundamental para, por exemplo, construir raciocínios e soluções
sobre lícito x ilícito; sobre vontade consciente ou não (ato-fato ou fato em sentido estrito), e daí
derivarem as soluções casuísticas.
5.2.2 Os sistemas de IA tem o desafio de captar a natureza do sujeito envolvido? Há
aqui o problema de capacidade, ou não, do sujeito envolvido. Há alguma margem razoável de
enquadramento e padronização a partir de dados do sujeito (nascimento, histórico sanitário,
entre tantos), mas, sem os dados pré-determinados, é possível sensorialmente aferir a vontade
consciente?
5.2.3 A partir disso, há outro desafio de sistemas de IA: há a possibilidade de
enquadramento dos acontecimentos, das informações recebidas do meio que contemplem a
participação do próprio sistema como emissor de vontade? De maneira geral os sistemas que
envolvem manifestação volitiva dos sistemas de IA têm trabalhado com os padrões do ato
jurídico em sentido estrito, por exemplo para alguns atos administrativos.2 Na seara dos
negócios jurídicos isso mostra-se mais abrangente já que importaria que o sistema tivesse
aprendizagem e informações suficientes para dinâmicas patrimoniais e consequenciais
variadas. 3
5.3 Os elementos descritivos e analíticos do conceito de fato jurídico podem ser
suportes de entrada para as informações de sistemas de IA no direito. Como visto em 0, a
categoria é atrativa na solução de problemas de IA no mundo do direito. Oferece roteiros
2
Exemplos como a sinalização de trânsito e emissão de sanções administrativas decorrentes disso; formulários
administrativos e tributários.
3
Nos negócios jurídicos ainda há a padronização limitada servindo os sistemas como homologadores de transações
padronizadas, ou de adesão, sem interação profunda.
33
padronizados de informações para a formulação e criação de sistemas de IA de enquadramento
normativo e solução conflitual.
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34
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PAGALLO, Ugo. The laws of robots: Crimes, contracts, and torts. Cham: Springer, 2013.
35
PRÓXIMA CORRIDA: OS DESAFIOS DA UBERIZAÇÃO E AS SUAS
IMPLICAÇÕES JURÍDICAS E SOCIAIS
PROXIMA VIAJE: LOS DESAFÍOS DE LA UBERIZACIÓN Y SUS
IMPLICACIONES LEGALES Y SOCIALES
Resumo
Este projeto de pesquisa pretende analisar as novas formas de negócios estabelecidas pelo
avanço tecnológico, pautadas na flexibilidade e demanda, como a uberização. A esfera
jurídica apresenta um despreparo para lidar com essas novas relações, pois se observa uma
ausência de uniformidade nas decisões dos tribunais, quanto ao reconhecimento do vínculo
empregatício entre a empresa Uber e os motoristas. A pesquisa proposta pertence à vertente
metodológica jurídico-sociológica. Quanto à investigação, pertence à classificação de Witker
(1985) e Gustin (2010), o tipo jurídico-projetivo. Predominará o raciocínio dialético.
Abstract/Resumen/Résumé
Este proyecto de investigación busca analizar las nuevas formas de negocio estabelecidas por
los avances tecnológicos, basados em la flexibilidad y la demanda, como la uberización. La
esfera legal no está preparada para hacer frente a estas nuevas relaciones laborales, ya que se
observa la ausencia de uniformidad en las decisiones de los tribunales, en relación al
reconocimiento o no del vínculo laboral entre a empresa Uber y los conductores. La pesquisa
tiene aspectos metodológicos jurídicos y sociológicos. Con respecto a la investigación,
pertenece a la clasificación Witker (1985) y Gustin (2010), és legal e interpretativa.
Predomina el razonamiento dialéctico.
36
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
37
2. A UBERIZAÇÃO DO TRABALHO
Visto que, alguns juízes afirmam que não há o preenchimento efetivo de todos os requisitos
necessários, como anteriormente citado acima, contidos no art. 3º da CLT.
De acordo com o endereço eletrônico de notícias, Conjur, o Superior Tribunal de Justiça
39
afirma não haver relação hierárquica na relação jurídica estabelecida entre o aplicativo e os
motoristas e que os serviços prestados eventualmente, sem um salário fixo ou horários
preestabelecidos. Ademais, segundo o site de notícias G1, a 5ª Turma do Tribunal Superior do
Trabalho possui o entendimento de que os aplicativos de transporte de passageiros presta um
serviço de intermediação, ou seja, o aplicativo é responsável apenas por aproximar os
motoristas parceiros dos clientes. Portanto, não há o reconhecimento de relação trabalhista
(D’AGOSTINO, 2020).
Por outro lado, conforme o Conjur, existem aqueles, como o Juiz Bruno da Costa
Rodrigues, da 2ª Vara do Trabalho de Campinas, do Tribunal Regional do Trabalho, da 15ª
Região, que acreditam se tratar de uma relação de trabalho, pois a plataforma fixa um preço
pelo serviço prestado pelo trabalhador, não permitindo negociação entre o motorista e o
cliente, também controla a jornada de trabalho por algoritmos e impõe avaliações aos
motoristas, que estão submetidos a exclusão e punições por supostas falhas, como o
cancelamento de corridas, acelerações ou freadas bruscas detectadas pelo monitoramento por
satélite. (SANTOS, 2019)
O juiz Átila da Rold Roesler, da 28ª Vara do Trabalho de Porto Alegre, também, compartilha
dessa opinião, determinando que a empresa assine a carteira do trabalhador. Ele afirma que
a relação de trabalho evoluiu nas últimas décadas, se fazendo necessário uma
releitura dos requisitos para configuração de vínculo de emprego para que não
haja a exploração desenfreada da mão de obra sem qualquer proteção legal
(SANTOS, 20)
Portanto, a forma de analisar essas novas formas de trabalho humano devem ser reconstruidas
a partir de princípios próprios do direito laboral.
Por fim, é válido ressaltar algumas decisões internacionais – de países de Common Law
e Civil Law – sobre esse tema. Por exemplo, o Tribunal Superior da França reconheceu o
direito de um motorista do Uber de ser considerado como funcionário da empresa, já que esse
não possui sua própria clientela, tampouco define os seus próprios preços, sendo um
subordinado da empresa (REUTERS, 2020). Além disso, a Justiça do Reino Unido, também,
decidiu que os motoristas são empregados da empresa, que deve arcar, por exemplo, com
pagamento mínimo e folga remunerada. (JUSTIÇA..., 2016)
40
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS
42
REALIDADE AUMENTADA COMO INSTRUMENTO DE CONCRETIZAÇÃO DO
DIREITO DO CONSUMIDOR À INFORMAÇÃO
AUGMENTED REALITY AS AN INSTRUMENT FOR IMPLEMENTING THE
CONSUMER'S RIGHT TO INFORMATION
Resumo
A realidade aumentada pode constituir um importante instrumento para o cumprimento da
obrigação do fornecedor relativa ao direito à informação do consumidor. Essa inovação
tecnológica pode facilitar a transmissão de informações sobre preços, tributos incidentes ou
até mesmo os processos de fabricação dos produtos. Demonstrar-se-á como o
desenvolvimento dessa prática, por parte dos fornecedores, pode contribuir para a garantia
desse direito. Conclui-se que a realidade aumentada deveria ser fomentada no mercado
mediante inserção da tecnologia com o fito de informar o consumidor de maneira eficaz, nos
termos do artigo 6°, inciso III, do Código de Defesa do Consumidor.
Abstract/Resumen/Résumé
Augmented reality can be an important tool for fulfilling the supplier's obligation regarding
the consumer's right to information. This technological innovation can facilitate the
transmission of information about prices, taxes levied or even the manufacturing processes of
the products. It will be demonstrated how the development of this practice by the suppliers
can contribute to the guarantee of this right. It is concluded that augmented reality should be
promoted in the market through the insertion of technology with the aim of effectively
informing the consumer, under the terms of article 6, item III, of the Consumer Protection
Code.
43
1 INTRODUÇÃO
2 OBJETIVOS
44
parte dos fornecedores que atuam diretamente no mercado de consumo com o fito de auxiliar
no processo decisório do consumidor.
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Para essa identificação, utiliza-se de pesquisa de natureza objetiva descritiva, haja vista
que as características da problemática relativa à necessidade de investimento na tecnologia da
realidade aumentada são descritas juntamente com suas possibilidades de efetivação. Adequa-
se às técnicas de coleta padrão de pesquisas doutrinárias e de leituras documentais, por meio da
pesquisa informativa por seleção e da interpretativa. Por fim, apresenta abordagem hipotético-
dedutiva no sentido de confirmar a verdadeira contribuição da popularização da realidade
aumentada com o fito de concretizar o direito à informação.
4 DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
45
incidentes, características, qualidade, preços e os riscos apresentados acerca dos
produtos/serviços (BRASIL, 2012).
A tecnologia da realidade aumentada combina o ambiente real com elementos virtuais,
possibilitando que informações de cunho analógico sejam exibidas de maneira virtual
representadas por mecanismos 3D (três dimensões) interativos (SOUZA et al., 2016). Assim,
no âmbito consumerista, essa tecnologia funcionaria como uma ferramenta facilitadora para o
fornecedor veicular todas as informações necessárias ao consumidor de maneira mais célere,
completa e prática – v.g. preço/tributos, composição, processo de fabricação, entre outras
características pertinentes –, tornando o cumprimento da obrigação mais eficiente.
Em primeiro lugar, definir o preço de venda e informá-lo com exatidão ao consumidor
é uma tarefa necessária à sociedade empresarial (WERNKE, 2018). O aumento da
competividade influenciou os fornecedores a buscar alternativas distintas para sobressaírem
perante os demais (FERREIRA, 2016), mas baixar o preço de determinado produto nem sempre
é a melhor alternativa, por isso a tecnologia da realidade aumentada pode auxiliar o fornecedor
a se destacar no mercado de consumo. O aplicativo da loja/marca pode ser desenvolvido e
disponibilizado em qualquer smartphone ou tablet e, o consumidor poderá ver os preços dos
produtos desejados de uma maneira mais interativa e interessante, a depender das
potencialidades do software desenvolvido e da criatividade de seus criadores.
Em segundo, os consumidores estão, paulatinamente, mais preocupados com a
composição dos seus produtos consumidos, sejam eles duráveis ou não duráveis (GIUNTINI;
LAJOLO; MENEZES, 2006). Devido às falhas de informação sobre os componentes de
determinados bens por parte dos fornecedores, o consumidor pode ter ficado com receio de
adquirir produtos que não informam, com exatidão, algumas de características consideradas
essenciais. Entretanto, por meio da tecnologia da realidade aumentada, o fornecedor pode
conquistar credibilidade ao transmitir de maneira adequada e clara informações sobre a
composição dos produtos disponibilizados nas suas lojas físicas.
Por último, as sociedades empresariais do século XXI tem adotado causas específicas
para alavancar seus produtos, como a preservação ambiental. Por isso, o conhecimento acerca
de fatores ligados ao processo de fabricação por parte do consumidor desempenha um papel
determinante seu processo decisório. Assim, a tecnologia da realidade aumentada pode
disponibilizar ao consumidor as etapas do processo de fabricação (v.g. por meio de imagens),
desde o recolhimento da matéria prima até a distribuição para os revendedores.
Nesse aspecto, é de primordial importância que, paulatinamente, todos fornecedores
utilizem essa tecnologia inovadora, haja vista que concretizaria, de maneira eficaz, o direito à
46
informação do consumidor, auxiliando no seu processo de decisão acerca do produto ou serviço
de determinada marca.
5 CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
47
BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Código de Defesa do Consumidor. 1990.
Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078.htm. Acesso em: 9 jun. 2020.
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp. nº 493.181/SP. Rel. Min. Denise Arruda. DJ
15/12/2005. DP 01/02/2006. Acesso em: 1 abr. 2020.
FERREIRA, Ricardo Jose. Contabilidade de custos. 10. ed. Rio de Janeiro: Ferreira 2016.
GARCIA, Leonardo Medeiros de. Direito do consumidor: Lei nº 8.078/1990. 14. ed.
Salvador: Juspodivm, 2020.
MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 8. ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2019.
PAIVA, Clarissa Teixeira. O que caracteriza uma relação de consumo. Revista Jus
Navigandi, ISSN 1518-4862, Teresina, ano 20, n. 4401, 20 jul. 2015. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/34128. Acesso em: 10 jun. 2020.
48
SOUZA, Wendson de Oliveira et al. A realidade aumentada na apresentação de produtos
cartográficos. Boletim de Ciências Geodésicas – BCG. Curitiba, v. 22, n. 4, p.790 - 806, out
- dez, 2016.
49
REDES NEURAIS ARTIFICIAIS NA PREVISÃO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL
REORGANIZATION PREDICTION USING ARTIFICIAL NEURAL NETWORKS
Resumo
Os efeitos da insolvência das organizações levaram, desde os anos 1960, inúmeros
pesquisadores a investigarem as causas da falência, desenvolvendo modelos que buscassem
prever (e prevenir) a ocorrência desses eventos. Contudo, apesar das evidências de que
modelos mais modernos possuem melhor performance, a utilização de ferramentas de
inteligência artificial, que conjuguem outros indicadores que não meramente índices
financeiros, permanece subutilizada, mormente para dados brasileiros e mesmo as pesquisas
existem não se preocupam em distinguir as figuras da recuperação judicial, falência e
insolvência, apesar das significativas diferenças entre esses institutos.
Abstract/Resumen/Résumé
From the 1960s onwards, the effects of insolvency led researchers to investigate the causes of
bankruptcy and developing forecasting models to predict (and prevent) its occurrence.
Notwithstanding, although evidences shows that modern models perform better, using
artificial intelligence tools, which combine other indicators that are not merely financial
indexes, remains under represented, especially for Brazilian data and even the existing
researches are not concerned with distinguishing reorganization, bankruptcy and insolvency,
despite significant differences among such figures.
50
51
1. Introdução
2. Referencial Teórico
1
Insolvência técnica refere-se à falta de caixa para adimplemento de obrigações, que pode ou não ter natureza
temporária, enquanto insolvência baseada em fluxos diz respeito à situação na qual o valor presente dos fluxos de
caixa futuros da empresa não é suficiente para fazer frente ao total de obrigações (WRUCK, 1990).
53
3. Metodologia
2
São diversos os motivos que justificam a prevalência da RJ como evento de interesse, dentre os quais a
possibilidade de renegociação forçada dos créditos da organização, até mesmo à revelia de parte dos credores
(cram down), a suspensão dos processos de cobrança durante o stay period, o efeito negativo da RJ na precificação
dos créditos (non performing loans), a possibilidade de dedução imediata como perda para fins tributários (Lei nº.
9.430/96) e a própria interferência do Poder Judiciário nos negócios (GILSON, 1991), entre outros.
54
A escolha das RNA se justifica vez que a técnica é menos sensível a problemas quanto
à distribuição e ao tamanho da amostra, que não têm reflexo tão significante nos resultados
quanto nos modelos estatísticos tradicionais (TRIPPI; LEE, 1996), além de serem uma
ferramenta de IA que funciona bem com variáveis que se alteram no tempo, como é o caso dos
3
Em razão de restrições específicas para dados brasileiros, tais como: (i) o número reduzido de companhias abertas
em RJ; (ii) a instituição tardia da DFC, apenas a partir da edição da Lei nº. 11.638/07; e, (iii) as limitações legais
em torno da obrigatoriedade de publicação das demonstrações financeiras (art. 176, § 6º da Lei nº. 6.404/76 e art.
3º da Lei nº. 11.638/07) e da exigência de auditoria independente (art. 177, §3º da Lei nº. 6.404/76).
55
fluxos de caixa. Para implementação das RNA foram observadas as etapas de definição,
treinamento, utilização e manutenção da RNA. Optou-se por uma RNA feed forward, em que
os neurons são ordenados em fase ou camadas, com cada camada se conectando a próxima fase
da rede, sem conexões de retorno, isto é, sem referências circulares no raciocínio da rede. O
algoritmo de back propagation foi usado para treinamento da RNA; calculando o erro esperado,
o algoritmo corrige os pesos atribuídos em cada uma das camadas, partindo da camada de saída
até a camada de entrada, de forma a assegurar que o output seja o resultado dos inputs.
A utilização das redes baseou-se na função de classificação Multilayer Perceptron,
através do software Weka 3.8.3, obedecendo os seguintes parâmetros para treinamento: (i)
learning rate – variando entre 0,2 e 0,4, com alterações de 0,05; e, (ii) trainning test –
variando entre 500 e 50000, com alterações escalonadas de 500, 1000 e 5000. O tempo de
processamento e construção do modelo das RNA também variou entre 0.55 e 356,44 segundos
e, ao final, foram testadas 96 RNA diferentes para identificação do modelo mais eficaz.
5. Referências
DROBETZ, W., HALLER, R., MEIER, I.; TARHAN, V. The impact of liquidity crises on cash
flow sensitivities. The Quarterly Review of Economics and Finance, v. 66. 2017, p. 225-239.
57
GILSON, S. C. Managing default: some evidence on how firm choose between workouts and
Chapter 11. Journal of Applied Corporate Finance, v. 4, n. 2. 1991, p. 62-70.
TINOCO, M. H.; WILSON, N. Financial distress and bankruptcy prediction among listed
companies using accounting, market and macroeconomic variables. International Review of
Financial Analysis, v. 30. 2013, p. 394–419.
Resumo
A presente pesquisa tem por escopo propor uma discussão acerca da utilização dos
algoritmos e da inteligência artificial como um facilitador da ampliação do espaço de
construção participada das decisões no direito processual. Por meio das pesquisas
bibliográficas e documentais foi discutido criticamente como a adoção de referidos
mecanismos podem contribuir e facilitar na construção deste espaço de debate processual e
oportunizar a criação de um provimento jurisdicional legítimo e efetivo sob a ótica
democrática e que externe a participação e fiscalização de todos os seus destinatários.
Abstract/Resumen/Résumé
The present research aims to propose a discussion about the use of algorithms and artificial
intelligence as a facilitator of the expansion of the space of participatory construction of
decisions in procedural law. Through bibliographic and documentary research, it was
critically discussed how the adoption of these mechanisms can contribute and facilitate in the
construction of this procedural debate space and create the opportunity for the creation of a
legitimate and effective jurisdictional provision from a democratic perspective and that
externalize the participation and inspection of all its recipients.
58
INTRODUÇÃO
O presente resumo tem por objetivo propor uma análise científica acerca da
utilização dos algoritmos e da inteligência artificial, como um facilitador da ampliação do
espaço de construção participada das decisões no direito processual.
Para tanto, mostra-se relevante compreender que a utilização da inteligência artificial
e dos algoritmos não constituem por si um entrave a observância do devido processo legal.
Por outro lado, a sumarização da cognição e adoção de algoritmos não supervisionados a fim
de se atribuir efetividade processual o seriam. Assim, será demonstrado que a adoção da
inteligência artificial deve ser acompanhada da criação de um espaço de construção dialógica
das decisões pelas partes, pautada na utilização de algoritmos supervisionados.
Para se chegar ao escopo desta pesquisa será utilizada a técnica teórico conceitual,
tendo em vista a utilização de análise de conteúdo, por meio de levantamento bibliográfico, de
dados jurisprudenciais e documentais acerca do tema. De acordo com as técnicas de análise de
conteúdo, afirma-se que se trata de uma pesquisa teórica, de modo que o procedimento
adotado servirá para que se demonstre que a utilização da inteligência artificial e dos
algoritmos supervisionados pode contribuir e facilitar a construção do espaço de debate
processual e oportunizar a criação de um provimento jurisdicional legítimo e efetivo sob a
ótica democrática.
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
1
NUNES, Dierle. Virada tecnológica no direito processual (da automação à transformação): seria possível
adaptar o procedimento pela tecnologia. In: NUNES, Dierle; LUCON, Paulo Henrique Santos; WOLKART,
Erik Navarro. (org.) INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITO PROCESSUAL: OS IMPACTOS DA
VIRADA TECNOLÓGICA NO DIREITO PROCESSUAL. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 17.
59
RADAR do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a qual viabilizou o julgamento de
280 processos em menos de um segundo; d) a ferramenta “ELIS” do Tribunal de
Justiça do Estado de Pernambuco, cuja engrenagem operacional agilizou a análise de
milhares de execuções fiscais e e) O projeto Hércules do Tribunal de Justiça do
Estado de Alagoas, cujo escopo é promover o agrupamento de processos similares e,
assim, proporcionar a produção automatizada de atos processuais. 2
2
VALE, Luís Manoel Borges do. A tomada de decisão por máquinas: a proibição, no direito, de utilização de
algoritmos não supervisionados. In: NUNES, Dierle; LUCON, Paulo Henrique Santos; WOLKART, Erik
Navarro. (org.) INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITO PROCESSUAL: OS IMPACTOS DA VIRADA
TECNOLÓGICA NO DIREITO PROCESSUAL. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 633.
3
De acordo com José Luis Bolzan de Morais “inteligência artificial (IA) significa dotar computadores e
softwares de capacidade para processar imensos volumes de dados e – principalmente – para encontrar padrões e
fazer previsões sem ter sido programados para tanto, produzindo dados a partir de dados, ou metadados, aptos a
produzir conhecimentos específicos baseados em padrões e comportamentos, bem como realizar controles”.
(MORAIS, José Luis Bolzan. O ESTADO DE DIREITO “CONFRONTADO” PELA “REVOLUÇÃO DA
INTERNET”!. Revista Eletrônica do Curso de Direito da UFSM. v. 13, n. 3. 2018. p.884).
4
De acordo com Luís Manoel Borges Vale, o algoritmo “nada mais é do que uma sequência ordenada de
instruções que direciona comando para o computador desempenhar certas tarefas. Desse modo, o programador,
quando arquiteta o algoritmo, estabelece um “input” (dados iniciais que alimentam o sistema) e um “output”
(objetivo desejado com o processamento dos dados que alimentam o sistema) ”. (VALE, Luís Manoel Borges do.
A tomada de decisão por máquinas: a proibição, no direito, de utilização de algoritmos não
supervisionados. In: NUNES, Dierle; LUCON, Paulo Henrique Santos; WOLKART, Erik Navarro. (org.)
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITO PROCESSUAL: OS IMPACTOS DA VIRADA
TECNOLÓGICA NO DIREITO PROCESSUAL. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 631.
5
FERRARI, Isabela; BECKER, Daniel. Direito à explicação e decisões automatizadas: reflexões sobre o
princípio do contraditório. In: NUNES, Dierle; LUCON, Paulo Henrique Santos; WOLKART, Erik Navarro.
(org.) INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITO PROCESSUAL: OS IMPACTOS DA VIRADA
TECNOLÓGICA NO DIREITO PROCESSUAL. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 206.
6
VALE, Luís Manoel Borges do. A tomada de decisão por máquinas: a proibição, no direito, de utilização
de algoritmos não supervisionados. In: NUNES, Dierle; LUCON, Paulo Henrique Santos; WOLKART, Erik
Navarro. (org.) INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITO PROCESSUAL: OS IMPACTOS DA
VIRADA TECNOLÓGICA NO DIREITO PROCESSUAL. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 631.
7
VALE, Luís Manoel Borges do. A tomada de decisão por máquinas: a proibição, no direito, de utilização
de algoritmos não supervisionados. In: NUNES, Dierle; LUCON, Paulo Henrique Santos; WOLKART, Erik
Navarro. (org.) INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITO PROCESSUAL: OS IMPACTOS DA
VIRADA TECNOLÓGICA NO DIREITO PROCESSUAL. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 633.
60
fim de que se verifiquem eventuais equívocos cometidos, quando do processamento
das informações.
Por sua vez, os algoritmos não supervisionados são aqueles que não dependem de
uma categorização prévia de dados. Assim, a partir de dados não rotulados o próprio
sistema identifica padrões, aproximando situações correlatas, sem que exista uma
classe predefinida.8
8
VALE, Luís Manoel Borges do. A tomada de decisão por máquinas: a proibição, no direito, de utilização
de algoritmos não supervisionados. In: NUNES, Dierle; LUCON, Paulo Henrique Santos; WOLKART, Erik
Navarro. (org.) INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITO PROCESSUAL: OS IMPACTOS DA
VIRADA TECNOLÓGICA NO DIREITO PROCESSUAL. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 633.
9
VALE, Luís Manoel Borges do. A tomada de decisão por máquinas: a proibição, no direito, de utilização
de algoritmos não supervisionados. In: NUNES, Dierle; LUCON, Paulo Henrique Santos; WOLKART, Erik
Navarro. (org.) INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITO PROCESSUAL: OS IMPACTOS DA
VIRADA TECNOLÓGICA NO DIREITO PROCESSUAL. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 639.
61
Frise-se que o “princípio básico da democracia é o direito de simétrica participação
10
dos interessados nos processos de formação da vontade. ” Desta forma, o elemento
intrínseco de validade e legitimidade da decisão, é a garantia de participação simétrica de
todos os interessados difusos e coletivos na construção da decisão.
Por fim, vale destacar que a “incorporação da tecnologia ao procedimento como meio
de adequação procedimental para além das tradicionais abordagens pode representar um dos
capítulos virtuosos da virada tecnológica no direito processual”.11 Somado a isto, deve-se
destacar que
a tecnologia permite a superação de entendimentos solipsistas por meio da análise da
inteligência coletiva obtida por meio do exame da grande massa de dados
jurisprudenciais, permitindo a realização de uma autocrítica e constante
aperfeiçoamento da prestação jurisdicional.12
CONCLUSÕES
10
COSTA, Fabrício Veiga. Mérito Processual: a formação participada nas ações coletivas. Belo Horizonte:
Arraes Editores, 2012, p. 214.
11
NUNES, Dierle. Virada tecnológica no direito processual (da automação à transformação): seria possível
adaptar o procedimento pela tecnologia. In: NUNES, Dierle; LUCON, Paulo Henrique Santos; WOLKART,
Erik Navarro. (org.) INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITO PROCESSUAL: OS IMPACTOS DA
VIRADA TECNOLÓGICA NO DIREITO PROCESSUAL. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 35.
12
VALENTINI, Romulo Soares. Julgamento por computadores? As novas possibilidades da juscibernética
no século XXI e suas implicações para o futuro do direito e do trabalho dos juristas. Tese (Doutorado em
Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal de Minas Gerais. Belo Horizonte, 2018, p. 112.
62
partes interessadas dos elementos informadores dos algoritmos supervisionados. A presente
pesquisa pretendeu demonstrar que o uso da tecnologia é responsável pela ressignificação dos
conceitos de tempo e de espaço, ampliando-se o espectro de participação popular dos
destinatários na construção do provimento final de mérito. Embora seja uma técnica de
natureza procedimental, é importante esclarecer que se o acesso aos pontos controversos da
demanda for ampliado mediante a utilização da tecnologia, consequentemente teremos o
aumento da democraticidade do conteúdo decisório.
É importante ainda ressaltar que esse espaço digital de ampla discursividade das
questões que permeiam as peculiaridades da pretensão deduzida somente será democrático se
os critérios do debate forem baseados na racionalidade crítica decorrente das proposições
trazidas pelo texto da Constituição brasileira de 1988.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COSTA, Fabrício Veiga. Mérito Processual: a formação participada nas ações coletivas.
Belo Horizonte: Arraes Editores, 2012, p. 221.
ROSA, Alexandre Morais da; Guasque, Bárbara. Avanços da disrupção nos tribunais
brasileiros. In: NUNES, Dierle; LUCON, Paulo Henrique Santos; WOLKART, Erik
Navarro. (org.) INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E DIREITO PROCESSUAL: OS
IMPACTOS DA VIRADA TECNOLÓGICA NO DIREITO PROCESSUAL. Salvador:
Editora JusPodivm, 2020, p. 65-80.
VALE, Luís Manoel Borges do. A tomada de decisão por máquinas: a proibição, no
direito, de utilização de algoritmos não supervisionados. In: NUNES, Dierle; LUCON,
Paulo Henrique Santos; WOLKART, Erik Navarro. (org.) INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
63
E DIREITO PROCESSUAL: OS IMPACTOS DA VIRADA TECNOLÓGICA NO
DIREITO PROCESSUAL. Salvador: Editora JusPodivm, 2020, p. 629-640.
64
SANDBOX COMO MEIO DE REGULAMENTAÇÃO PARA STARTUPS DE
SERVIÇOS FINANCEIROS
SANDBOX AS A REGULATORY FORM FOR FINANCIAL SERVICES STARTUPS
Resumo
A evolução tecnológica trouxe inúmeras inovações, dentre as tantas, a inovação atingiu as
startups que atuam no segmento do mercado financeiro, denominadas de fintechs. Ocorre
que, é latente a dificuldade de da legislação alcançar a celeridade da inovação social e do
próprio mercado financeiro. Neste sentido, como meio de dirimir esta controvérsia o sandbox
tem se demonstrado como meio hábil para tanto, visto consistir em ambiente temporário de
teste regulado com o fim de acompanhar os riscos atrelados a nova tecnologia e, deste modo,
posteriormente dispor de legislação competente.
Abstract/Resumen/Résumé
Technological evolution has brought innumerable innovations, among so many, innovation
has reached startups that operate in the financial market segment, called fintechs. It happens
that the difficulty of legislation to achieve the speed of social innovation and the financial
market itself is latent. In this sense, as a means of settling this controversy, the sandbox has
been shown to be a capable means of doing so, since it consists of a temporary regulated test
environment in order to monitor the risks linked to the new technology and, thus,
subsequently have competent legislation.
65
INTRODUÇÃO
Foi com esse intuito que foi criada o sandbox, que na tradução literal
consiste em “caixas de areia” regulatórias e possibilita o teste do serviço ou produto
ofertado pela empresa de inovação sob a supervisão do órgão de regulação por período
determinado.
OBJETIVOS
METODOLOGIAS
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
66
O desenvolvimento econômico e tecnológico tem refletido no
crescimento das empresas de modo célere. Foi assim que surgiram as fintechs, startups
voltadas a propor soluções por meio de serviços e produtos financeiros aos consumidores.
1
SILVA, J., 2006, p. 133
67
Após a consideração realizada a respeito dos princípios acima,
demonstra-se como grande desafio para o mundo jurídico vislumbrar implementação de
sandbox, por ser este ramo extremamente atrelado a normatização prévia. Neste diapasão,
se deparar com a necessidade de aplicar teste ao consumidor de serviço ou produto não
regulado com o fim de chegar na melhor forma é quebrar paradigmas históricos.
CONCLUSÕES
68
Portanto, o tradicional modelo financeiro esta em transformação em
decorrência das novas tecnologias que as empresas fintechs estão implementando em
diversos países. No entanto, ratifica-se, a legislação não consegue acompanhar a
velocidade do desenvolvimento de novas tecnologias, sendo atualmente um desafio para
os legisladores.
REFERENCIAIS
69
SANDBOX’ REGULATÓRIO E O DIREITO A FAVOR DAS FINTECHS. Disponível
em: <https://www.ab2l.org.br/sandbox-regulatorio-e-o-direito-a-favor-das-fintechs/>.
Acesso em: 29/05/2020.
70
SOFTWARE TRADE DRESS: SOLUÇÕES PARA UM MERCADO EMERGENTE
SOFTWARE TRADE DRESS: SOLUTIONS POUR UN MARCHÉ EMERGENT
Resumo
Esta pesquisa pretende desenvolver a proteção do trade dress como instrumento de tutela às
interfaces de softwares no Brasil e nos Estados Unidos. Considerando artigos científicos, o
ordenamento brasileiro e americano, nota-se que a disposição visual do software como
elemento inerente a identidade da marca, devendo ser protegida contra cópias atentatórios ao
princípio da livre concorrência, isto é, livre e leal. Portanto, pesquisa que se propõe pertence
à vertente metodológica jurídico-sociológica. No tocante ao tipo de investigação, foi
escolhido, na classificação de Witker (1985) e Gustin (2010), o tipo jurídico comparativo. O
raciocínio desenvolvido na pesquisa será predominantemente dialético.
Abstract/Resumen/Résumé
Ce recherche souhaite pour développer la protection du trade dress comme moyens de
sauvegarder les interfaces de softwares au Brésil et aux Etas-Unis. D’abord, avec des articles
cientifique, le droit brésilien et le droit américain, se remarque la disposition visuelle de
software comme element inhérent à l’identité de la marque se doit proteger contre copies
ofensive au príncipe de concurrence libre concurrence, c’est à dire, libre et fidéle. Sur la
investigation, il appartenant à la classification de Witker (1985) et Gustin (2010), le type
juridique comparatif. Il predominera le raisonnement dialectique.
71
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
72
preenchem a concepção geral adquirida pelo instituto do trade dress. Apesar disso, para
entender o conceito deve-se entender as origens do instituto (MARTINS; IBAÑEZ, 2018).
Evidentemente, como o próprio nome já pode sugerir, o instituto foi criado nos Estados Unidos
da América. Assim, com o sancionamento do Lanham Act em 1946, o congresso americano em
concomitância com os anseios progressistas da elite nacional, promoveu a proteção expressa
para a proteção de marcas não registradas, bem como o trade dress (MONTENEGRO, 2008).
Não obstante a sua presença desde 1946, o instituto somente seria efetivamente
apreciado pelas cortes americanas em 1992, no caso Taco Cabana Int'l, Inc. v. Two Pesos, Inc.
No caso, é narrado que Taco Cabana abrira o primeiro restaurante em setembro de 1978 em San
Antonio. Enquanto isso, em dezembro de 1985, Two Pesos abriu um restaurante de fachada
semelhante em Houston, mas nunca abrira nenhuma franquia em San Antonio. Sendo assim,
Taco Cabana decidiu processar seu concorrente na Section 43(a) do Lanham Act, a norma
reguladora do trade dress. Por fim, a Court of Appeals for the Fifth Circuit acabou por condenar
o réu pelas provas substanciais de violação do trade dress (UNITED STATES, 1991).
No Brasil, a primeira citação de Propriedade Industrial data da constituição de imperial
(BRASIL, 1824), ainda como propriedade intelectual da marca, sendo o registro mais antigo do
Supremo Tribunal Federal, em setembro de 1950 (BRASIL, 1950). Nesse sentido, pode-se
presumir que as bases de proteção ao trade dress, da mesma maneira que a origem americana,
começou com a ideia de proteção às marcas, embora, diferente do Laham Act dos Estados
Unidos, o ordenamento brasileiro atual, com a Constituição da República de 1988 (BRASIL,
1988), especificamente em seu artigo 5°, inciso XXIX, garantiu a proteção ao que pode ser
sintetizado como propriedade industrial, mas àquelas registradas, sendo mais limitada que a lei
americana. Mais tarde, em 1996, foi editada a Lei de Propriedade Industrial. Assim, pode-se
conceituar o direito como a proteção de todos os bens de atividade criadora e intelectual do
homem de interesse dos agentes econômicos (MARTINS; IBAÑEZ, 2018).
Quanto ao instituto do trade dress, até o momento, não há qualquer menção na legislação
brasileira. Entretanto, a presença do direito já foi invocada em 2006, em Medida Cautelar n°
11.364/SP do Superior Tribunal de Justiça (BRASIL, 2006). Mais tarde, em 2012, isso seria
tema de discussão no Superior Tribunal Federal (BRASIL, 2012). No passado recente, os
Tribunais de Justiça dos estados da União constantemente resolvem méritos de discussão sobre
trade dress. No Tribunal de Justiça de Minas Gerais, a última decisão foi de um Agravo
Regimental em fevereiro de 2020 (MINAS GERAIS, 2020). Enquanto no Tribunal de Justiça
de São Paulo, a última decisão é de uma apelação cível, em maio de 2020 (SÃO PAULO, 2020).
73
Com isso, percebe-se uma alteração inegável nos conflitos e decisões judiciais do país
nos últimos anos, a qual não pode ser explicada pelo mero ato volitivo dos juízes. Nota-se,
como destaca Dworkin, uma alteração no peso do princípio da livre concorrência, dando origem
aos inúmeros conflitos supracitados na forma da discussão sobre o trade dress. Nesse sentido,
as alterações na moral concorrente, demonstram que a proteção da atividade intelectual de
interesse econômico não mais é justificável apenas pelo registro, mas deve ser abrangida para
aquelas notoriamente ligadas a uma marca. Portanto, o juízo normativo que considera mais
importante o princípio da concorrência livre e leal é respaldado pela reiteração de atuação dos
juízes brasileiros (DWORKIN, p. 91, 2002).
As inovações das tecnologias digitais são amostra das grandes inovações propiciadas
pelos séculos XX e XXI. Assim sendo, os Estados Unidos, como precursores das tecnologias
digitais do século XX, logo se depararam com conflitos sobre a proteção da nova propriedade
intelectual diversas àquelas naturalmente percebidas pelas cortes americanas, como é o
exemplo de Taco Cabana v. Two Pesos, nas discussão sobre o conjunto imagem da fachada de
um restaurante (UNITED STATES, 1992).
Antes de tratar dos aspectos jurídicos do assunto, é necessário entender a complexidade
dos elementos que se deseja proteger. Primeiro, a interação entre os consumidores e os
programas de computador estão principalmente em dois aspectos: a user experience e a user
interface. A primeira regula a efetividade da plataforma, isto é, abrange elementos não visuais,
enquanto a segunda é a organização da informação para o consumidor, abrangendo os
elementos visuais do sistema (HUSSAIN et al., 2014).
Nesse contexto, Kellner (1994) salienta que houve uma reflexão entre a proteção dada
pelo Copyright Act e o Lanham Act. Dessa forma, ele diferencia que a proteção assegurada pelo
sistema de Copyright seria voltada para uma tangibilidade média de expressão, isto é, protegeria
o código, ao sistema e ao design da tela do software.
Não obstante, a proteção do copyright somente seria alcançada se provasse a
originalidade da roupagem do display daquele software, isto é, daquilo que o usuário vê quando
abre o programa, além de provar que é o autor daquele trabalho. Nesse contexto, há alguns
problemas para os programas de computadores. Primeiro, os programas são construídos a partir
de processos e estruturas anteriores, sendo difícil satisfazer os requisitos de originalidade do
copyright. Além disso, o sistema operacional e o programa da aplicação interagem para criar o
74
user interface, portanto, nem o autor do sistema operacional, nem o autor do programa do
aplicativo podem reivindicar a autoria. Por fim, a transitoriedade dos menus pode impedir que
o programa alcance uma expressão tangível média, requisito básico para o copyright
(KELLNER, 1994).
A confusão discutida já foi feita em alguns casos americanos, por exemplo, Apple
Computer, Inc. v. Microsoft Corp. Na lide, Apple argumentou que a interface gráfica do
Windows, produzido pela Microsoft, feria o “look and feel” de sua linha de computadores
pessoais. Contudo, embora utilizasse as expressões do trade dress previsto no Lanham Act,
optou pela proteção do Copyright Act. O resultado foi que a proteção dada pelo copyright era
individual, logo, ao avaliar separadamente os elementos do sistema, a corte concluiu que,
individualmente, eles não seriam tuteláveis pelo instituto. Enquanto isso, no caso Lotus
Development Corp. v. Paper Software Int’l, o juiz protegeu a user interface, mas com a
linguagem dos institutos do Trademark. Consequentemente, conclui-se que, se utilizado o trade
dress, o resultado poderia ser diferente para a Apple (KELLNER, 1994).
Além disso, grande problema para a proteção da user interface é o aprendizado do
usuário, ou seja, se a proteção for demasiada, pode sufocar a criação de novos dispositivos, vez
que todas as interfaces seriam diferentes, tornando quase impossível para o consumidor se
adaptar àquela variedade. Apesar disso, os requisitos do trade dress podem trazer o equilíbrio
necessário para a tutela apropriada dos programas (HUSSAIN et al., 2014).
Considerados tais obstáculos, concebe-se, no ordenamento americano, três requisitos
para o trade dress: conjunto inerentemente distinto, não-funcional e passível de confusão entre
os consumidores. No primeiro caso, não basta simplesmente provar a disparidade do conjunto
imagem, mas que aquela roupagem criou um significado junto a marca para os consumidores.
No segundo caso, é analisado a não funcionalidade de um conjunto imagem nos seguintes
critérios: a essencialidade do elemento ao produto, o efeito na qualidade e custo do produto, se
há alternativas para o elemento protegido, se a concessão de exclusividade do elemento
protegido poderá impedir qualquer forma de competição. Por fim, no último caso, é considerado
a principal elemento abordado no Brasil: a confusão dos clientes. Nesse caso, percebe-se o uso
da má-fé de competidores para ferir a lealdade da livre concorrência em detrimento dos
consumidores (KELLNER, 1994).
Dessa forma, percebe-se a importância de dois requisitos para o balanceamento do trade
dress. Primeiro, quando se fala de conjunto inerentemente distintivo, não se pode fazer
reivindicação quando o mercado já padronizou o formato. Nesse sentido, um exemplo seria o
sinal “X” em vermelho para fechar um menu, já há uma expectativa entre os consumidores que
75
seja feito dessa forma na maioria dos softwares. Para mais, o elemento da não-funcionalidade
serve de igual maneira para a preservação da livre concorrência, pois impede a exclusividade
de conjuntos que poderia impossibilitar a competição. Por tais razões, a proteção de softwares
aparenta ser extremamente saudável nos Estados Unidos da América (KELLNER, 1994).
76
com base na reparação pelo ilícito civil, do artigo 927 do Código Civil, e com atenção ao abuso
de direito, 187 do código civil, propõe-se uma mudança nas sanções. Primeiro, nas decisões o
comum é a condenação a abster-se do uso da marca e pagamento de danos morais. Apesar disso,
caberia, da mesma forma, o pagamento por danos emergentes e lucros cessantes, certificados
pela violação de trade dress, pois, além de ferir os direitos da personalidade, há também uma
repercussão patrimonial da ilicitude, pela confusão dos consumidores (SÃO PAULO, 2020).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. REFERÊNCIAS
77
BRASIL. Lei n° 9.279 de 14 de maio de 1996. Regula direitos e obrigações relativos à
propriedade industrial. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9279.htm.
Acesso em: 24 maio 2020.
BRASIL. Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm. Acesso em: 24 maio 2020.
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Orosimbo Nonato, 29 ago. 1950. Rio de Janeiro: STF, 1950. Disponível em:
shorturl.at/uvz03. Acesso em: 24 maio 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal (1. Turma). Agravo de Instrumento n° 824.627/PR.
Relator: Min. Luiz Fux, 22 maio 2012. Paraná: STF, 2012. Disponível em:
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24 de maio 2020.
BRASIL. Supremo Tribunal de Justiça. Medida Cautelar n° 11.364. Relator: Min. Jorge
Scartezzini, 28 abr. 2006. Brasília: STJ, 2006. Disponível em: shorturl.at/esBSU. Acesso em:
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Relator: Min. Maria Isabel Gallotti, 06 dez. 2018. São Paulo: STJ, 2018. Disponível em:
shorturl.at/fhlNQ. Acesso em: 24 maio 2020.
DWORKIN, Ronald. Levando os Direitos a Sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
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for Recommendation Systems. Ubiquitous Computing and Ambient Intelligence, p. 136-142,
2014. Disponível em: shorturl.at/dlBU9. Acesso em: 24 maio 2020.
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa
jurídica: teoria e prática. 3ª. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.
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Interface '"Look and Feel". The University of Chicago Law Review, Chicago, p. 1011-1036,
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2008. Monografia (Graduação em Direito) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de
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n° 1119316-54.2018.8.26.0100. Relator: CESAR CIAMPOLINI, 22 maio 2020. São Paulo:
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2015. Disponível em: https://bit.ly/3dfgEWU. Acesso em: maio 29 maio 2020.
WITKER, Jorge. Como elaborar uma tesis en derecho: pautas metodológicas y técnicas para
el estudiante o investigador del derecho. Madrid: Civitas, 1985.
78
TELETRABALHO: A SOLUÇÃO EM MEIO À PANDEMIA.
TELETRAVEL: THE PANDEMIC SOLUTION
Resumo
O presente artigo busca demonstrar que com o avanço da tecnologia surgiram inúmeras
formas de obter renda usando tecnologias de informação e comunicação e, não havia até a
edição da Lei 13.647/17, nenhuma norma que tratasse sobre os trabalhadores desse meio.
Apesar de regulamentar a situação do teletrabalhador, a Lei é omissa quanto os aspectos
relacionados à forma de emprego em questão. Considera-se então necessário ressaltar a
relevância do instituto do teletrabalho como forma de proteção das relações de emprego no
atual momento em que o mundo se encontra em decorrência do COVID-19.
Abstract/Resumen/Résumé
This article seeks to demonstrate that with the advancement of technology, numerous ways of
obtaining income using information and communication technologies have emerged and,
until the enactment of Law 13.647 / 17, there was no norm that dealt with workers in this
environment. Despite regulating the situation of teleworkers, the Law is silent on aspects
related to the form of employment in question. It is then considered necessary to emphasize
the relevance of the teleworking institute as a way of protecting employment relations at the
present moment in which the world is experiencing as a result of COVID-19.
79
INTRODUÇÃO
Desde o surgimento da internet esta foi utilizada pelo ser humano de diversas formas e
visando variadas finalidades e, aos poucos, percebeu-se que além de veicular informação em um
curto período de tempo, conhecer pessoas que moravam em lugares distantes e entretenimento e
lazer, a internet também podia ser usada como recurso importante para a obtenção de renda sem a
necessidade de sair de casa.
O presente artigo tratará de tema abordado de forma breve na Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT), sendo assim tal tema merece atenção considerando o momento atual vivido
não só pelo país, mas por todo o mundo. Assim, procurará demonstrar que com a orientação de
isolamento social como medida de contenção do COVID-19 dada pela Organização Mundial de
Saúde (OMS), se faz necessário o estudo do que viria a ser o instituto do teletrabalho como forma
de proteção das relações de emprego no atual cenário.
PROBLEMA DE PESQUISA
OBJETIVOS
MÉTODO
Para a obtenção dos resultados almejados no presente artigo, será utilizado o método
dedutivo que parte das teorias e leis consideradas gerais e universais buscando explicar a
80
ocorrência de fenômenos particulares, de forma a alcançar os objetivos propostos na problemática
em tela e posteriormente, uma conclusão do que se consignou na pesquisa.
DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
81
Ainda se torna relevante mencionar que somente o fato de o empregado exercer a atividade
fora das dependências do empregador não configura a exclusão do mesmo do controle de jornada
de trabalho, para tanto se faz necessário que a atividade seja completamente incompatível com a
fixação de horários (devendo tal condição ser anotada na Carteira de Trabalho e Previdência
Social) e ainda que não haja qualquer outra forma de controle de tal jornada, se não presentes esses
requisitos não se aplicará o disposto no artigo 62, III da CLT.
A crítica principal se faz pelo fato de que ao se excluir esses trabalhadores do capítulo que
trata sobre a jornada de trabalho, a Lei os torna inaptos a receber os direitos referentes à duração de
trabalho, quais sejam: jornada máxima de trabalho, horas extras, intervalos intra e interjornadas,
descanso semanal remunerado, hora noturna reduzida, adicional noturno, entre outros.
Sob tal perspectiva cria-se, portanto o questionamento se tal norma seria
inconstitucional:
Por isso, é possível questionar a constitucionalidade da referida exclusão, uma vez que
a Constituição Federal de 1988 assegura não só o direito à duração do trabalho limitada
a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais (art.7º, incisso XIII), mas também à
remuneração do trabalho noturno superior à do diurno (art.7º, inciso IX) e à
remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à
do normal (art.7º, inciso XVI), sem estabelecer quaisquer exceções. (GARCIA, 2018,
p.797)
Tal dispositivo ainda se contraria com o próprio artigo 6º, §único da CLT por impedir que
o empregado desfrute dos direitos referentes à duração de trabalho com a justificativa de que não
há o efetivo controle das horas trabalhadas pelo empregado, quando na verdade os meios
telemáticos se assemelham aos meios pessoais e diretos para controle e fiscalização do trabalho
e subordinação, e sobre tal assunto a MP 297/20 traz ressalva ao fato de que o tempo fora da
jornada normal de trabalho do empregado não constitui tempo à disposição do empregador,
regime de prontidão ou sobreaviso, a menos que haja previsão em acordo individual ou coletivo.
82
De acordo com a Reforma Trabalhista o empregado tem duas possibilidades: o
trabalhador presencial (exerce atividade na própria empresa) pode passar a ser teletrabalhador e
o teletrabalhador poderá se tornar trabalhador presencial, porém as regras não se aplicam de
forma semelhante nos dois casos. Para o trabalhador presencial que queira alterar seu regime de
trabalho para home office, será aplicado o disposto no artigo 75-C, §1º da CLT sendo permitida
tal alteração desde que haja previsão contratual escrita e mútuo consentimento.
É perceptível, no entanto, que tal dispositivo poderá se tornar letra morta pelo fato de
muito provavelmente, em virtude das vantagens relacionadas ao não pagamento dos direitos
referentes à duração de trabalho, o empregador poderá coagir o empregado a concordar com a
alteração, caso contrário será dispensado.
Na alteração contratual do teletrabalho para trabalho presencial, o §2º do artigo 75-C da
CLT preceitua que deverá haver não somente a vontade do empregado, mas também a
determinação do empregador, ou seja: “A norma legal, como se pode notar, não autoriza que a
modificação para o regime presencial ocorra em razão apenas da vontade do empregado, mas por
determinação do empregador, no exercício do seu poder de direção e de organização”.
(GARCIA, 2018, p. 211)
Nota-se, portanto obscuridade na norma, pelo fato de a lei não dispor com clareza a quem
essa responsabilidade será aferida, uma vez que diz que esta será prevista em contrato escrito. No
entanto o entendimento que defende é o de que tal responsabilidade cairá sobre o empregador, pois
a “empresa corre os riscos do empreendimento e da atividade desenvolvida” (GARCIA, 2018,
p.211).
No entanto, a MP 297/20 trouxe a previsão em seu art.3º esclarece que no que se refere ao
art.75-D da CLT, tal contrato escrito deve ser firmado previamente ou no prazo de 30 dias, a contar
83
da data de alteração no regime do trabalho e, ainda, no art.4º, §4º e incisos, esclarece que caso o
empregado não possua os meios para executar o serviço de casa o empregador poderá fornecer os
equipamentos por meio de comodato e pagar por serviços de infraestrutura, desvinculados da verba
salarial ou ainda, caso o comodato não seja possível, o período da jornada normal de trabalho será
computado como tempo a disposição do empregador.
Porém, a MP em questão leva em consideração a calamidade pública atual, após esse
período vale questionar até que ponto a responsabilidade seria do empregador e se esta se daria de
forma limitada ou não, visto que por permitir o exercício da atividade na própria residência do
empregado; o gasto referente ao consumo de energia, internet e equipamento para o trabalho
(computador/notebook, por exemplo), muito provavelmente já existia antes mesmo do início do
teletrabalho.
Ipso facto, muita atenção deve ser dada na confecção do contrato para que os direitos do
trabalhador não sejam “atropelados” por a lei permitir dupla interpretação:
Um empreendimento, para ter sucesso, depende de muitos fatores além de sorte, e quem
corre o risco do negócio é sempre o empregador. Este é um critério diferenciador, já que
todos os outros requisitos podem estar presentes, muitas vezes em maior ou menor
intensidade, mas se o trabalhador correr o risco do empreendimento, empregado não será.
O caput do art. 2º da CLT é claro nesse sentido. [...]
b) o teletrabalhador, dependendo do ajuste, pode arcar com os custos da aquisição,
manutenção dos equipamentos tecnológicos e infraestrutura do trabalho (art. 75-D da
CLT). (CASSAR, 2018, p.34)
É de extrema importância que tal norma seja aplicada (inclusive na confecção do contrato)
sempre observando o in dubio pro operario, para resguardar o empregado de exercer atividade que
não corresponda à sua função, ficando ele incumbido de arcar com os riscos referentes à sua
própria saúde e com o material utilizado no trabalho, trazendo prejuízos para o mesmo. Ainda é
relevante mencionar que tais equipamentos serão unicamente usados para o exercício do trabalho,
conforme disposto na parte final do §único do art.75-D; não sendo utilizados como
contraprestação/remuneração do trabalho feito pelo empregado.
A Reforma agiu de modo demasiadamente perfunctório em relação às medidas de saúde e
segurança do teletrabalhador, ao ponto em que no art.75 – E da CLT é preceituado, de forma
sucinta, que o empregador só terá como ônus orientar sobre medidas preventivas das doenças e
acidentes do trabalho e que o trabalhador deve assinar um termo de responsabilidade, se
comprometendo em seguir as orientações dadas pelo empregador.
84
Ocorre que alguns doutrinadores se opõem a essa norma por entender que mesmo que o
risco seja pouco, o empregador deveria ser responsabilizado pelos riscos da atividade exercida
em razão da previsão contida no art.7º, XXII, CF/88 que garante o direito social do trabalhador a
efetiva redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e
segurança, sob o tema em questão “se o empregado adquirir uma doença profissional
(tenossinovite, por exemplo), o empregador estará isento de qualquer responsabilidade subjetiva
pelo acidente de trabalho” (CASSAR, 2018, p.121).
Em consequência disso, se faz necessário questionar a possibilidade de mesmo se
respeitadas às orientações dadas pelo empregador, o empregado vier a ter sua saúde debilitada em
virtude do uso excessivo do computador, por exemplo, como se dará a proteção a este trabalhador
no caso concreto. Dado o exposto, a interpretação de tal norma no caso concreto não deverá se
limitar somente à mera orientação do empregador como também providenciar meios que
possibilitem a real proteção à saúde do empregador, novamente, devendo se observar o in dubio
pro operario.
CONCLUSÃO
Como restou demonstrado, o momento em que a CLT entrou em vigor era diferente do
momento atual vivido pelo país, não havia isolamento social e o serviço poderia ser realizado em
qualquer lugar que fosse necessário. Neste cenário atual, é necessário dar mais atenção aos
trabalhadores do que antes, pois agora se trata de uma questão mundial e que caso não seja tratada
com a devida atenção causará mais impacto econômico no país do que se é o esperado por conta do
COVID-19, sendo esta a preocupação demonstrada pelo Poder Executivo ao editar a MP 297/20.
Em síntese, tal instituto se encontra em perfeita consonância para proteger as relações de
trabalho cujo serviço possa se realizar fora das dependências da empresa e com uso das tecnologias,
tais como serviço de escritório e serviço da área judicial em grande escala com o uso do sistema do
Processo Judicial Eletrônico, por exemplo, garantindo a mantença de parcela da população que se
encontra nessas funções, bem como respeitando o isolamento social necessário para o bem da
sociedade como um todo.
Desta forma, o teletrabalho se utiliza de meios tecnológicos para que o serviço possa ser
realizado pelo empregado do conforto e segurança de sua casa, contribuindo para que haja o
85
respeito ao isolamento social e ainda que o empregado/empregador não seja prejudicado em
virtude da necessidade de ter de interromper o serviço prestado e suspender o contrato de trabalho
para evitar aglomerações e disseminação do COVID-19, sendo a forma mais adequada para a
proteção das relações de trabalho no momento.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943. Consolidação das Leis Trabalhistas. Diário
Oficial da União, Rio de Janeiro, RJ, 1º maio. 1943.
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/Del5452.htm.
Acesso em: 14 jun.20.
BRASIL. Medida provisória nº 927, de 22 de março de 2020. Diário Oficial da União, Brasília,
DF, 22 mar.2020. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/Mpv/mpv927.htm#:~:text=MPV%209
27&text=Disp%C3%B5e%20sobre%20as%20medidas%20trabalhistas,)%2C%20e%20d%C3%A
1%20outras%20provid%C3%AAncias. Acesso em: 14 jun.20.
CASSAR, Vólia Bomfim. Resumo de Direito do Trabalho. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: Método, 2018.
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Manual de Direito do Trabalho. 11. ed. Salvador:
JusPodivm, 2018.
86
STARTUP E SUA PROPRIEDADE INTELECTUAL: DEFINIÇÃO E ASPECTOS
JURÍDICOS
STARTUP AND ITS INTELLECTUAL PROPERTY: DEFINITION AND LEGAL
ASPECTS
Resumo
A pesquisa exposta pretende analisar o conceito e fundamentações das startups, buscando
compreender o seu funcionamento e desdobramentos no campo do direito. O estudo também
considera uma interpretação comparativa entre as startups e os aspectos legais, assim como
possui como um dos principais objetivos o fomento de uma discussão sobre a propriedade
intelectual referente aos empreendimentos realizados por meio das startups. A necessidade da
produção científica acerca do tema, pode ser considerada devido a sua relevância no plano
jurídico, dada a atualidade das discussões envolvendo o assunto.
Abstract/Resumen/Résumé
The exposed research intends to analyze the concept and foundations of startups, seeking to
understand their functioning and developments in the field of law. The study also considers a
comparative interpretation between the startups and the legal aspects, as well as having as
one of the main objectives the promotion of a discussion about the intellectual property
regarding the ventures carried out through the startups. The need for scientific production on
the topic can be considered due to its relevance from the legal plane, given the currentness of
discussions involving the subject.
87
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
As startups, principalmente nas últimas décadas, vêm se tornando cada vez mais
comuns no mercado nacional e internacional, tornando necessária uma intervenção
jurídica com o objetivo de regulamentar e definir, em aspectos legais, o seu
funcionamento. Dessa forma, a pesquisa exposta possui como cerne o desempenho dessas
empresas no que diz respeito a sua atuação e efeitos no plano jurídico, assim como se
propõe a discutir acerca da definição de startup. Por conseguinte, de maneira mais
específica, o trabalho busca a produção de um estudo sobre a contribuição do direito para
com a proteção da propriedade intelectual destas empresas.
O objetivo principal da presente pesquisa é promover um debate sobre estes
empreendimentos, principalmente no que diz respeito à propriedade intelectual e à sua
regulamentação no campo jurídico. Para tanto, o estudo baseia-se nas perspectivas social,
histórica e científica com o intento de ampliar o conhecimento e divulgação da temática.
A presente pesquisa pertence à vertente metodológica jurídico-sociológica.
Relativamente ao tipo de investigação, foi escolhido, conforme a classificação de Witker
(1985) e Gustin (2010), o tipo jurídico-projetivo e a técnica escolhida foi a pesquisa
teórica. No que se refere ao tipo de raciocínio, utilizou-se principalmente o dialético. Em
frente a amplitude e complexidade do tema, o trabalho se propõe a refletir sobre a atuação
das startups e acerca dos aspectos jurídicos referentes a estes empreendimentos,
precipuamente no tocante à propriedade intelectual.
88
Na obra “Direito das Startups”, com a finalidade de apresentar um estudo mais
didático e a formação de um conceito mais nítido, são elencadas várias características
relacionadas com a identificação de uma startup. Uma das particularidades se trata do fato
de que as startups são empresas que estão em estágio inicial, isto é, tendo como principal
propósito o desenvolvimento de um pensamento transformador, não possui uma
organização interna, nem mesmo a definição de um tipo de negócio em específico, “sendo
notadamente carente de processos internos e organização” (FEIGELSON; FONSECA;
NYBO, 2018).
Outra qualidade desse modelo de empresa, abordada na mesma obra já
mencionada, é o controle de gastos e de custos realizado pelos idealizadores destas ideias
inovadoras. Dessa forma, são utilizadas, de maneira preponderante, as capacidades
particulares destes idealizadores, com o principal objetivo de destinar o dinheiro que seria
gasto, por exemplo, com a contratação de mais funcionários, em investimento no próprio
serviço ou produto que deu início à formação da startup. A prática apresentada é
conhecida como “bootstrapping” e é explicada por Yuri Gitahy, especialista em startup,
em uma matéria da Revista Exame:
O termo é difícil de traduzir, mas é fácil de entender e muito importante para
empreendedores de startups. Bootstrap significa criar sua startup usando
somente recursos próprios, apertando os cintos do time e não recorrendo a
investidores externos. Se há alguma entrada de capital, ela vem dos primeiros
clientes. A tradução literal de “bootstrap” é alça de bota – aquele pedaço de
couro ou tecido que fica atrás da bota e acima do calcanhar, facilitando puxá-
la com as mãos na hora de calçar. O termo “levantar a si próprio pelas alças da
bota” era usado desde o século XIX para ilustrar tarefas impossíveis, como
pular uma cerca alta puxando suas próprias botas com as mãos. A metáfora de
fazer o boostrapping da sua startup indica justamente esse processo auto-
sustentável de alavancar a si próprio (GITAHY, 2011).
Assim sendo, a característica apresentada acima é uma das mais importantes para
que haja o estabelecimento de uma startup, já que, diferentemente da maioria dos
negócios, já comuns no mercado, que dependem intimamente de alguma forma de
investimento externo, a startup tenta atuar de forma mais independente, valorizando
recursos internos e serviços prestados pelos seus próprios fundadores e,
consequentemente, controlando muito mais os gastos relacionados aos seus produtos.
Também relacionada com o “bootstrapping”, outra técnica utilizada é a elaboração do
produto ou serviço da empresa da maneira mais simples possível, com o propósito de
“verificar se realmente existe demanda e para manter os custos iniciais da startup baixos”,
sendo este produto chamado de Produto Mínimo Viável (FEIGELSON; FONSECA;
NYBO, 2018).
89
Por fim, dentre outras essenciais particularidades, uma que basicamente define o
conceito de startup é a inovação, ou seja, o desenvolvimento da empresa está, na maior
parte das vezes, senão em todas, acompanhado por algum tipo de tecnologia, sem contar,
ainda, com o quesito incerteza que permeia essa inovação oferecida pelas startups. Essa
característica é bem explicada por Eric Ries, em seu livro “A Startup Enxuta”:
Também é importante que a palavra inovação seja compreendida amplamente.
As startups utilizam muitos tipos de inovação: descobertas científicas
originais, um novo uso para uma tecnologia existente, criação de um novo
modelo de negócios que libera um valor que estava oculto, ou a simples
disponibilização do produto ou serviço num novo local ou para um conjunto
de clientes anteriormente mal atendidos. Em todos esses casos, a inovação é o
cerne do sucesso da empresa. Há mais uma parte importante dessa definição:
o contexto no qual a inovação acontece. A maiorias das empresas – grandes e
pequenas – estão excluídas desses contextos. As startups são projetadas para
enfrentar situações de extrema incerteza. Abrir uma nova empresa, que seja
um clone exato de um negócio existente, copiando modelo de negócios,
precificação, cliente-alvo e produto, pode até ser um investimento econômico
atraente, mas não é uma startup, pois seu sucesso depende somente da
execução – tanto que esse sucesso pode ser modelado com grande exatidão
(RIES, 2012).
Portanto, as startups são caracterizadas por uma série de atributos específicos que
definem o exercício da sua atividade e o seu funcionamento. Devido a isso, há a
necessidade de que o direito atue no que se refere a este tipo de empreendimento, não
somente devido a sua atualidade e fixação no mercado, mas também por causa das
especificidades que definem estas empresas no mercado de consumo.
90
“composta exclusivamente por figuras ou desenhos de forma gráfica”; marca mista,
“composta pela junção de elementos nominativos linguísticos”; e marca tridimensional,
“constituída de forma plástica em três dimensões” (DRUMOND; NEUMAYR, 2011). A
marca é regulamentada pela Lei de Propriedade Industrial (Lei 9.279/96) e, de acordo
com o art. 122 da lei, “são suscetíveis de registro como marca os sinais distintivos
visualmente perceptíveis, não compreendidos nas proibições legais” (BRASIL, 1996).
Isto é, a marca distingue determinado produto ou serviço de outros, sendo extremamente
necessária para identificar determinado negócio, e, ainda, seu registro também é essencial
para que outras pessoas não possam se utilizar da marca no mercado de consumo, como
afirmado por Amanda Novaes Godinho, na obra “Legal Talks: Startups à Luz do Direito
Brasileiro”:
Podemos afirmar que será a marca, em muitos casos, o que determinará o
sucesso da sua empresa num primeiro momento. Ou seja, é ela quem irá, em
primeiro lugar, te diferenciar dos demais dentro desse imenso mercado
competitivo. É por essa razão, que os empreendedores devem estar atentos
na hora de escolher sua marca e, após defini-la, de registrá-la a fim de
minimizar os riscos em perdê-la para algum concorrente (GODINHO, 2017).
A proteção da marca é adquirida por meio do INPI (Instituto Nacional de
Propriedade Industrial), em que, pela internet, realiza-se uma busca sobre a
disponibilidade da marca escolhida. O processo de registro da marca pode ser iniciado de
forma eletrônica ou de maneira física, podendo ocorrer, durante esse processo, oposições,
manifestações acerca dessas oposições e outros recursos administrativos, o que torna
primordial a presença de um profissional da área jurídica (GODINHO, 2017). Quando
efetuado o registro da marca, há uma proteção jurídica de 10 anos, sendo depois desse
prazo necessária a renovação, ou então haverá a perda da utilização da marca de forma
exclusiva.
Quanto a compra de domínio, o artigo 129 da Lei 9.279 deixa bem claro que “a
propriedade da marca adquire-se pelo registro validamente expedido, conforme as
disposições desta Lei, sendo assegurado ao titular seu uso exclusivo em todo o território
nacional” (BRASIL, 1996). Assim sendo, comprar o domínio não é garantia de proteção
da sua marca, sendo que, de acordo com o artigo mencionado, a proteção legal está
intimamente relacionada com o registro da marca da empresa no INPI, que é o Instituto
competente em realizar o registro e proporcionar a proteção da marca.
Outro aspecto que deve ser considerado em relação à proteção jurídica das startups
se trata do “software”, ou seja, o sistema operacional que está relacionado com a criação
91
do empreendimento ou com o produto ou serviço oferecido pela empresa. No tocante a
isso, a Lei 9.609, que “dispõe sobre a proteção da propriedade intelectual de programa de
computador, sua comercialização no País, e dá outras providências”, estabelece em um
dos seus dispositivos:
Art. 3º Os programas de computador poderão, a critério do titular, ser
registrados em órgão ou entidade a ser designado por ato do Poder Executivo,
por iniciativa do Ministério responsável pela política de ciência e tecnologia.
(Regulamento) § 1º O pedido de registro estabelecido neste artigo deverá
conter, pelo menos, as seguintes informações: I - os dados referentes ao autor
do programa de computador e ao titular, se distinto do autor, sejam pessoas
físicas ou jurídicas; II - a identificação e descrição funcional do programa de
computador; e III - os trechos do programa e outros dados que se considerar
suficientes para identificá-lo e caracterizar sua originalidade, ressalvando-se
os direitos de terceiros e a responsabilidade do Governo. § 2º As informações
referidas no inciso III do parágrafo anterior são de caráter sigiloso, não
podendo ser reveladas, salvo por ordem judicial ou a requerimento do próprio
titular (BRASIL, 1998).
Á vista disso, existem protocolos legislativos para garantir a proteção jurídica das
startups criadas e desenvolvidas no Brasil, sendo que, no artigo apresentado acima, há a
proteção dos direitos do autor da propriedade intelectual desenvolvida em determinada
empresa. Com isso afirmado, é explícita a relevância do registro e do acompanhamento
de profissionais do direito para garantir que a propriedade intelectual destas empresas
que, muitas vezes, são iniciadas por seus próprios fundadores de forma exclusiva, seja
devidamente assegurada no âmbito legal.
Ademais, a Lei do Marco Civil e suas respectivas definições também são aplicadas
às startups, já que estão diretamente relacionadas com a internet. Portanto, os
administradores das startups devem garantir a proteção dos seus usuários, isso é, a
empresa deve atuar para com a garantia de que os dados e informações dos seus clientes
não serão compartilhados de maneira indevida, assegurando a privacidade e o contrato
firmado entre a startup e seu cliente. Por fim, de acordo com Rayssa de Castro Alves, é
importante ressaltar que “A startup deve ficar atenta também se está enquadrada na
categoria de provedor de conexão ou de aplicação, pois pode haver obrigação de
armazenar dados de seus usuários por algum tempo”, assim como é primordial a
existência de “Contratos, Termos de Uso ou Política de Privacidade” (ALVES, 2017).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
92
Conclui-se, portanto, que o estudo referente às startups é extremamente atual e
necessário no âmbito do direito, não somente devido ao que foi apresentado durante o
desenvolvimento da pesquisa, mas também devido ao fato de que regulamentações mais
atuais, como a Lei Complementar 167 de 2019, que criou um regime especial simplificado
de tributação para startups, devem ser discutidas. Dessa maneira, é importante que seja
feita uma análise comparativa entre as leis que atualmente são aplicadas em relação às
startups para uma atuação mais completa por parte dos pesquisadores e operadores do
direito.
Para mais, com a atualidade da temática e as especificidades que as startups
possuem, é necessária uma análise acerca da consideração ou não de se criar uma
regulamentação que atue de uma forma mais integral quanto a formação e funcionamento
de startups no Brasil. Outro ponto que deve ser considerado é que, para uma atuação
eficiente por parte dos profissionais do direito em relação às startups, definições mais
específicas são fundamentais para que estes profissionais trabalhem de maneira mais
apropriada, a depender do caso concreto.
Por consequência, o presente trabalho afirma a importância acerca da temática
abordada, tendo em vista, ainda, que as startups são cada vez mais comuns no mercado
de consumo. Com isso, declara-se a necessidade de que o direito atue de maneira eficaz
para com a proteção e garantia tanto das startups, quanto de seus clientes e de sua própria
propriedade intelectual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. Lei de Propriedade Industrial (1996). Lei nº 9.279, de 14 de maio de 1996. Lei
de Propriedade Industrial. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9279.htm>. Acesso em: 01 jun. 2020.
93
BRASIL. Lei de software (1998). Lei nº 9.609, de 19 de fevereiro de 1998. Lei de
software. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9609.htm>.
Acesso em: 02 jun. 2020.
BRASIL. Marco Civil (2014). Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014. Marco Civil.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-
2014/2014/Lei/L12965.htm>. Acesso em: 02 jun. 2020.
FEIGELSON, Bruno; FONSECA, Victor Cabral; NYBO, Erik Fontenele. Direito das
Startups. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
94
UMA REFLEXÃO HISTÓRICA DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E DA
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO JUDICIÁRIO
A HISTORICAL REFLECTION OF THE INDUSTRIAL REVOLUTION AND
ARTIFICIAL INTELLIGENCE IN THE JUDICIARY
Resumo
A Revolução Industrial impactou e ainda impacta a sociedade em várias esferas. Setores que
num primeiro momento não se pensava ser alvo de tais impactos, talvez por sua natureza e
forma que é prestada à sociedade. O Judiciário se vê cada vez mais impactados pelos efeitos
do processo tecnológico impulsionado pelas transformações desde o século XVIII. A
presente reflexão se dá justamente sobre a perspectiva histórica dessas transformações que
acabaram se dando no judiciário, especialmente com o advento da denominada Inteligência
Artificial, que pode ser um importante aliado inclusive para a celeridade da prestação
jurisdicional.
Abstract/Resumen/Résumé
The Industrial Revolution impacted and still impacts society in several spheres. Sectors that
at first were not thought to be the target of such impacts, perhaps due to their nature and the
way they are rendered to society. The Judiciary is increasingly impacted by the effects of the
technological process driven by changes since the 18th century. The present reflection takes
place precisely on the historical perspective of these transformations that ended up taking
place in the judiciary, especially with the advent of the so-called Artificial Intelligence,
which can be important ally even for the speed of the judicial provision.
95
UMA REFLEXÃO HISTÓRICA DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E DA
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO JUDICIÁRIO
INTRODUÇÃO
96
denominada Inteligência Artificial, que pode ser um importante aliado inclusive para a
celeridade da prestação jurisdicional.
97
que é a racionalização e a mecanização, deu margem para que o Fordismo se
apropriasse dessa ideia, criando linhas de produção móvel e equipamentos que
realizavam a produção em massa a ritmos excessivo, como motores elétricos que
poderiam ser acoplados a qualquer aparelho e manuseado por algum operário. De
maneira geral, no Fordismo o trabalhador é colocado em seu posto de trabalho e o
objeto de trabalho é conduzido até ele com objetivo de minguar o tempo gasto na
produção.
Havendo assim como consequência negativa da Segunda Revolução
Industrial a: substituição completa do homem pela máquina, desemprego, acidente de
trabalhos nos ambientes fabris por excesso de movimentos repetitivo e exaustivos que
tiravam a atenção do funcionário que levava ao acidente, crescimento urbano em
capitais com bairros operários em forma de cortiços, a queda de pequenas empresas, e
degradação do meio ambiente.
Neste contexto de Revolução que surgiram as atuais teorias de esquerda,
como movimentos operários, sindicalismo, comunismo, socialismo, anarquismo.
Criando conflito de classes entre burguesia e proletariado e deste modo espalhou-se
pelo mundo. Por outro lado segundo (XAVIER, 2018) temos as criações positivas,
como as invenções de ferrovias e trens velozes, do avião, lâmpadas incandescente,
telegrafo, telefone, o advento da química saindo da sala de aula e indo para o campo
da indústria, surgimento do o plástico, no campo da medicina criação de antibióticos e
criação de vacinas em massa.
A terceira revolução industrial também conhecida como Revolução
Informacional, e é marcada pelo avanço tecnológico em todas as áreas, como genética,
robótica, biotecnologia, informática, entre outros. Tendo seu início no século XX, ano
de 1960, e de acordo com (SOUZA, 2013) ela permanece até o momento atual,
informação essa que causa conflito entre os pensadores e estudiosos da área, sobre o
fato de estarmos ou não vivendo a terceira ou a quarta revolução industrial. Esta
terceira fase da revolução Industrial é marcada pela ligação do avanço tecnológico.
Desse modo vivemos de uma maneira tecnológica incluindo o Direito que
precisou se adaptar a nova forma em que a sociedade se habituou, a tecnologia na área
jurídica passou a ser adotada tanto por advogados, como pelos Tribunais, o que trouxe
inovação e redução de tempo. Uma dessas inovações tecnológicas que trazem
agilidade na rotina dos advogados e no Judiciário de acordo com (KURIER, 2019) é o
processo judicial eletrônico (PJe) .Tal sistema foi desenvolvido ainda no ano de 2011
98
pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o
departamento de informática dos Tribunais, onde atos processuais e andamentos
podem ser praticados e acompanhados desde que estejam tramitando na Justiça
Federal, Justiça dos Estados, e Justiça Militar dos Estados ou na Justiça do Trabalho.
Cardoso (2001, p. 135) afirma que:
CONCLUSÃO
É notório que a Revolução Industrial proporcionou inúmeras mudanças na
humanidade. No Brasil, em especial o Judiciário, passados tantos séculos ainda
percebe essas influências, sobretudo como uma de suas facetas, no caso com o
advento da Inteligência Artificial, que atua no sentido de contribuir para reduzir entre
outros, a certa morosidade que pode contribuir para a demora na entrega da prestação
jurisdicional.
99
REFERÊNCIAS
BARR, A; FEIGENBAUM. E.A. (Ed.) The Handbook of Artificial Intelligence.
California: William Kaufmann, 1981. volume l-ll.
100
STARTUPS: A IMPORTÂNCIA DO ASSESSORAMENTO JURÍDICO
STARTUPS: THE IMPORTANCE OF LEGAL ADVICE
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo constatar a importância do assessoramento jurídico
dentro das startups, bem como, analisar como um profissional do Direito pode atuar dentro
desse ecossistema para mitigar seus problemas. Tal projeto buscou trazer evidências de
características cruciais dessas pequenas empresas e, sendo assim, possibilitando uma análise
crítica e construtiva de como esses profissionais devem agir nesse ambiente de extrema
incerteza. A pesquisa proposta pertence à vertente metodológica jurídico-sociológica. Quanto
à investigação, pertence à classificação de Witker (1985) e Gustin (2010), o tipo jurídico-
projetivo. Predominará o raciocínio dialético.
Abstract/Resumen/Résumé
The present paper aims to verify the importance of legal advice within startups, as well as to
analyze how a Law professional can act within this ecosystem to mitigate their problems.
This project tried to bring evidence of the crucial characteristics of these small companies,
enabling critical and constructive analysis of how these professionals should act in this
environment of extreme uncertainty. The proposed research belongs to the socio-legal
methodological aspect. As for the investigation, it belongs to the classification of Witker
(1985) and Gustin (2010), the juridic-projective type. Dialectical reasoning will predominate.
1 Graduando em Direito, modalidade Integral, pela Escola Superior Dom Helder Câmara.
101
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A presente pesquisa expõe os riscos que as startups correm no dia-a-dia. Por ser uma
empresa jovem com um modelo de negócios repetível e escalável, ela vive em um cenário de
incertezas e soluções a serem desenvolvidas, e necessita de inovação, principalmente no setor
jurídico. Dessa maneira, o presente artigo apresenta a forma que o profissional do direito pode
agir para reduzir os riscos inerentes das startups, como também, mostrar a maneira que esse
profissional pode auxiliar na segurança do serviço ou produto que ela dispõe.
Uma empresa que visa o crescimento necessita de uma boa gestão, e para tanto, é
necessário um auxílio jurídico. É importante salientar que o profissional do Direito é um
diferencial dentro da empresa, em virtude de seu conhecimento na área. Ele pode, por
exemplo, atuar em demandas extrajudiciais para otimizar os riscos inerentes destas empresas e
evitar demandas judiciais. O assessoramento jurídico é importante não só para evitar possíveis
problemas, mas também para dar ao empreendimento a atenção necessária, pois enquanto o
profissional evita falhas em quaisquer formalidades, o empreendedor foca em sua ideia e em
seu negócio.
Erros comuns como a não proteção da marca e um contrato mal feito, costumam
causar a “morte” de uma startup. Equívocos como esses, mostram que um profissional nesse
ecossistema é de primordial importância. Além do mais, as startups trabalham com uma
insegurança muito maior, visto que visam solucionar um problema de forma diferente do que
já é feito, além de trazer novidades para os consumidores, aumentando a competitividade nos
mercados, e por isso, muitas vezes, passam a ser foco de grandes empresas.
A pesquisa que se propõe pertence à vertente metodológica jurídico-sociológica. No
tocante ao tipo de investigação, foi escolhido, na classificação de Witker (1985) e Gustin
(2010), o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa será
predominantemente dialético. Dessarte, a pesquisa se propõe a constatar a importância do
assessoramento jurídico dentro das startups, evidenciando assim, a maneira que um
profissional do Direito pode agir para evitar possíveis problemas.
102
2. O AUXÍLIO JURÍDICO DENTRO DAS STARTUPS
1
No original: “A startup is a company designed to grow fast. Being newly founded does not in itself make a
company a startup. Nor is it necessary for a startup to work on technology, or take venture funding, ir have some
sort of ‘exit’. The only essential thing is growth. Everything else we associate with startup follows from growth”.
103
Destarte, é interessante salientar que a consultoria e assessoria jurídica empresarial
podem contribuir, por exemplo, em uma atuação de demandas extrajudiciais para otimizar os
riscos inerentes destas empresas e evitar demandas judiciais. Além disso, existem várias
outras coisas que o profissional da área do Direito pode e deve fazer, como analisar o setor
comercial, os contratos empresariais, o tipo societário da empresa, a propriedade intelectual,
como também, fornecer orientações sobre questões cotidianas da atividade empresarial da
startup. Dentre elas pode-se destacar: Revisão e elaboração dos termos de uso da startup,
revisão e elaboração de contratos e distratos empresariais, reestruturação societária, analise
jurídica de operações empresariais, entrada de investimento, operações de desinvestimento,
políticas de privacidade de registro e proteção da marca, pareces técnicos, esclarecimentos
legislativos, consultas de jurisprudência, elaboração de notificações e auxilio jurídico em
negociações complexas.
Startups como o Secret, Theranos, Color, Grooveshark, pereceram devido o não
cuidado dos termos legais necessários. Ou seja, sem o assessoramento jurídico, a empresa
pode falecer antes mesmo de sair do Early Stage:
Estudo realizado pela aceleradora Startup Farm aponta que 74% das startups
brasileiras fecham após cinco anos de existência e 18% delas antes mesmo de
completar dois anos. E o motivo não é majoritariamente falta de aporte ou de
investimento. ‘As principais causas são os conflitos entre os sócios e o
desalinhamento entre a proposta de valor e o interesse do mercado’, diz Igor
Mascarenhas, diretor de investimentos da Farm. VC, área da Startup Farm
responsável pelo acompanhamento da evolução das startups. (BIGARELLI, 2014).
104
Por isso, é de suma importância que haja um auxílio jurídico, seja ele no período das
incubadoras ou no estágio de aceleração, pois, o memorando não substitui o Contrato Social,
ele apenas cria uma garantia quanto aos direitos e obrigações estabelecidas. Em outras
palavras, o “contrato preliminar pressupõe a posterior elaboração de um Contrato Social
definitivo” (FEIGELSON; NYBO; FONSECA, 2018).
Com a chegada da Quarta Revolução Industrial, muitas empresas têm aderido novas
formas de trabalho, uma delas é o Home Office. Segundo (BRITO, 2017), os trabalhadores
são afetados com os novos modelos da “indústria 4.0”. No momento, as principais áreas de
atuação com o regime do teletrabalho estão no setor de vendas, tecnologia da informação,
marketing e recursos humanos. Diante disso, observa-se que o Brasil vem passando por uma
série de avanços, inclusive no terceiro setor, especificadamente, no teletrabalho.
O grande problema é que essa forma de trabalho não condiz com o que
atualmente está previsto em nosso ordenamento jurídico trabalhista, sendo
necessária uma ampla análise do caso concreto para adequar a Startup aos caminhos
já previstos e, o mais importante, para uma possível modificação de paradigmas.
(CASTRO; LAGE, 2019).
Desse modo, para que essa modalidade evolua com segurança, é necessário que haja
também uma inovação no ordenamento jurídico, exigindo, assim, que o profissional da área
do direito esteja ciente das novas modalidades de trabalho e a maneira na qual elas se
modificam.
A exploração da mão de obra era um dos elementos essenciais do funcionamento da
economia durante a era industrial. A era da informação, no entanto, quebra essa
lógica, destruindo o conceito marxista da mais-valia. O trabalho braçal cada vez
mais será feito por máquinas, sendo reduzido ao custo de equipamento, manutenção
e energia. Dessa maneira, o ser humano passa a ser cada vez mais valorizado por sua
capacidade cognitiva, o que impossibilita uma exploração econômica nos moldes
dos padrões estabelecidos desde a Revolução Industrial. Portanto, um código que
consolida as leis do trabalho dotado de 1943 não parece ser adequado à nova ordem
econômica mundial. Apesar de a lei n. 13.467/2017 trazer conceitos importantes de
inovação a este conjunto de regras como é o caso regime de teletrabalho, bastante
comum no caso das Startups, a alteração pontual de artigos referido Código não é
suficiente para lidar com a dinâmica atual do mercado de trabalho e, tampouco,
revela-se preparada a lidar com as mudanças no porvir. (FEIGELSON; NYBO;
FONSECA, 2018).
105
Ou seja, a modernidade vive grandes transformações, e, com isso, o Direito também
deve acompanhar. Por esse motivo, cabe ao advogado responsável por uma startup, se
atualizar sempre, para que seus clientes não fiquem expostos a eventuais problemas jurídicos.
Hodiernamente, devido a Quarta Revolução Industrial, os negócios estão cada vez
mais evoluindo, e assim, desenvolvendo novas formas de vender um produto ou um serviço.
“A internet é o grande palco do marketing na atualidade, e a audiência nesse mundo digital é
como o sangue que corre em nossas veias, ou seja, indispensável para o sucesso de qualquer
produto na internet – seja um infoproduto, um e-commerce ou mesmo um blog” (PAKES; et
al, 2015). Por isso, é necessário que o dirigente jurídico de uma empresa se atenha aos
detalhes, principalmente quando se trata do meio digital.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos fatos supracitados, verifica-se que, para um bom desempenho de uma
startup, é necessário que haja um assessoramento jurídico eficiente tanto no período das
incubadoras quanto no estágio de aceleração. Sem esse assessoramento, a morte precoce do
negócio é uma das inúmeras consequências. Esse auxílio jurídico pode ser feito por meio da
contratação de profissionais formados em Direito, os quais devem ser um canal facilitador
entre a administração do projeto e os termos legais.
Dessa maneira, é possível observar que o impacto do assessoramento jurídico
aumenta as chances de sucesso para os empreendedores que aderiram esse modelo de
negócios. Sendo assim, o projeto terá um bom desenvolvimento, pois, cada um estará
encarregado de um setor, direcionando assim, o profissional incumbido a tomar as devidas
atitudes relacionadas ao âmbito jurídico, e os outros profissionais para o desenvolvendo de
suas ideias.
106
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BIGARELLI, Barbara. 74% das startups brasileiras fecham após cinco anos, diz estudo.
ÉPOCA NEGÓCIOS, 07 julho 2014. Disponível em:
https://epocanegocios.globo.com/Empreendedorismo/noticia/2016/07/74-das-startups-
brasileiras-fecham-apos-cinco-anos-diz-
estudo.html#:~:text=Estudo%20realizado%20pela%20aceleradora%20Startup,mesmo%20de
%20completar%20dois%20anos.&text=O%20estudo%20abrange%20cerca%20de,aceleradas
%20no%20Brasil%20desde%202011. Acesso em 09 jun 2020.
CASTRO, Emerson Luiz de; LAGE, Lorena Muniz e Castro. A INFLUÊNCIA DAS
STARTUPS NO DIREITO: importância de repensar a atuação dos profissionais do Direito.
Revista Novo Milênio, Belo Horizonte, Vol. 1, Nº 1, 2019.
FEIGELSON, Bruno; NYBø, Erik Fontenele; FONSECA, Victor Cabral. Direito das
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GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa
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PATI, Camila. As áreas que mais contratam em esquema de home office. EXAME -
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https://exame.abril.com.br/carreira/as-areas-que-mais-contratam-em-esquema-de-home-
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PINHEIRO, Patrícia Peck. Direito Digital. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
RIES, Eric. A startup enxuta: como os empreendedores atuais utilizam a inovação contínua
para criar empresas extremamente bem-sucedidas. Rio de Janeiro: LeYa, 2012.
WITKER, Jorge. Como elaborar una tesis en derecho: pautas metodológicas y técnicas para
el estudiante o investigador del derecho. Madrid: Civitas, 1985.
107
TECNOLOGIAS E RELAÇÕES DE CONSUMO: ALGORITMIZAÇÃO E
VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR 4.0
TECHNOLOGIES AND CONSUMER RELATIONS: ALGORITHMIZATION AND
CONSUMER VULNERABILITY 4.0
Resumo
As mudanças mundiais afetam diretamente as relações sociais e comerciais. Novos tipos de
produtos e serviços surgem no mercado para atender as expectativas de consumidores cada
vez mais exigentes no mercado de consumo. Esta pesquisa visa analisar a vulnerabilidade
digital em razão da algoritmização do consumidor, a proteção da confiança nas relações de
consumo, bem como a proteção dos dados dos consumidores na era digital.
Abstract/Resumen/Résumé
Global changes directly affect social and commercial relations. New types of products and
services appear on the market to meet the expectations of increasingly demanding consumers
in the consumer market. This research aims to analyze the digital vulnerability due to the
algorithmization of the consumer, the protection of trust in consumer relations, as well as the
protection of consumer data in the digital age.
108
INTRODUÇÃO:
DESENVOLVIMENTO:
109
Para o filósofo coreano Byung-Chul Han, na era do ‘dataísmo’ (da big data), “o
homem não é mais soberano de si mesmo, mas resultado de uma operação algorítmica
que o domina sem que ele perceba” (EL PAÍS, 2018).
As grandes corporações vêm adotando um equilíbrio, disponibilizando opções
de publicidade “não indexada” ou ainda permitindo aos seus usuários escolher qual tipo
de publicidade deverá ser exibida, uma tendência a ser amplamente adotada nos próximos
anos.
O consumidor médio percebe que compras a distância podem oferecer riscos.
Ponderar entre os riscos e benefícios existentes na relação contratual obriga o consumidor
4.0 a pesquisar sobre a reputação do fornecedor previamente.
A confiança, do ponto de vista jurídico, corresponde a um estado em que
determinada pessoa adere a certas representações que crê serem efetivas (MIRANDA,
2002, p. 147). Confiança é o elemento que se integra ao contrato, corolário do princípio
da boa-fé.
Schwab, assinala que, no mundo digital, “a confiança é tudo”, observando os
aspectos da regulação desse ambiente: “Em cada canto deste mundo, precisamos de um
ambiente regulatório revitalizado que promova o uso confiável e inovador da tecnologia.
O maior problema reside na legislação antiquada, a qual se mostra inadequada para lidar
com os problemas contemporâneos” (2018, p. 19).
Segundo a OECD, é fundamental que a confiança do consumidor seja protegida
e adequada à era digital. Os consumidores digitais enfrentam desafios relacionados à
divulgação de informações enganosas e práticas comerciais injustas, confirmação e
pagamento, roubo de identidade e fraude, segurança do produto, e resolução/reparação de
conflitos. Relegar a confiança significa que a empresas e governos passarão a não utilizar
tecnologias digitais, refreando o potencial crescimento e progresso social.
Por exemplo, a violação de dados em larga escala tornou-se comum, tanto
causando danos financeiros e à reputação das organizações, como deixando os indivíduos
vulneráveis ao uso indevido dos dados pessoais e roubo de identidade, o que criou a
sensação de que o espaço privado está diminuindo e estabeleceu a incerteza do
consumidor em relação à integridade dos dados e informações fornecidas.
Para a OECD, a confiança é um conceito multifacetado que envolve segurança
digital, privacidade, proteção do consumidor, infraestruturas críticas, serviços essenciais,
seguros e pequenas e médias empresas (OECD, 2019).
110
No Brasil, o Decreto n. 9.573, de 22 de novembro de 2018 define como
infraestruturas críticas as instalações, serviços, bens e sistemas cuja interrupção ou
destruição, total ou parcial, provoque sério impacto social, ambiental, econômico,
político, internacional ou à segurança do Estado e da sociedade (Anexo, artigo 1º,
Parágrafo Único, I).
Segundo Fisciletti (2020), nesse grande laboratório de questões jurídicas do
futuro, um cenário que arrola a técnica da adesão, os princípios da confiança e da
transparência e a vulnerabilidade digital do consumidor é a utilização de assistente virtual
na tecnologia IoT (Internet das Coisas). “O consumidor 4.0, notadamente marcado pelas
características do imediatismo, da cultura do nanossegundo e da aceitação incondicional
de novas tecnologias, pode estar exposto à violação da sua privacidade, o que pode
interferir nos seus processos de escolha”.
Como noticiado em abril de 2019, a Amazon, responsável desde 2014 pela
fabricação e pelo suporte à assistente virtual Alexa (dispositivo que conecta e gerencia
lares inteligentes por comando de voz), ganhou o noticiário internacional por manter
funcionários ouvindo parte das conversas registradas pela assistente virtual, o que
consiste em monitoramento. Segundo matéria publicada pela Bloomberg, os funcionários
da Amazon trabalham em período integral e estão localizados em todo o mundo, de
Boston à Índia, com a tarefa de anotar informações dos usuários e alimentar o software
da Amazon, para melhorar a compreensão da fala humana na Alexa.
Há vulnerabilidade digital porque os consumidores estão expostos,
especialmente quando não há transparência das empresas de tecnologia sobre como os
dados pessoais serão usados. A denúncia publicada relata que a Amazon não informa aos
consumidores que seus funcionários estão ouvindo suas conversas com Alexa. A empresa
explicou que, nos termos de uso (aceito contratualmente pelos consumidores, pela via da
adesão), utiliza as solicitações dos usuários à Alexa para treinar os sistemas de
reconhecimento de fala e compreensão de linguagem natural e, em defesa, informou que
possui “rígidas salvaguardas técnicas e operacionais e uma política de tolerância zero para
o abuso de nosso sistema”, além de que “os funcionários não têm acesso direto às
informações que possam identificar a pessoa ou a conta como parte desse fluxo de
trabalho” (BLOOMBERG, 2019). O problema está em saber até que ponto o usuário deve
confiar seus dados, sua intimidade a terceiros.
Do ponto de vista do consumidor, a assistente virtual é capaz de reconhecer as
preferências dos moradores, como hobbies, lazer, comidas, bebidas, mas também dados
111
mais sensíveis, como situação econômica, posições políticas e religiosas e questões de
gênero. Esses dados coletados possibilitam a oferta de produtos e serviços aos usuários,
influenciando ainda mais suas escolhas.
O ordenamento jurídico brasileiro conta com marcos legislativos que protegem os
dados dos consumidores, como a Lei 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor), o
Decreto nº 7.962, de 15 de março de 2013, que regulamenta o comércio eletrônico (e-
commerce); o Marco Civil da Internet (Lei n. 12.965/2014) que busca regular o acesso à
informação e o uso da internet no Brasil, assim como alguns aspectos importantes
relativos à proteção de dados e informações pessoais, buscando um nível de segurança
elevado para o usuário e estipulando a inviolabilidade das comunicações (DAHLMANN,
2015).
Apesar das citadas leis informarem a importância da proteção dos dados dos
consumidores, para uma aplicação mais assertiva e condizente com os ditames da
Indústria 4.0, verificou-se a necessidade de diretrizes mais específicas para regulamentar
a proteção e a privacidade dos dados pessoais. Para estabelecer as garantias e deveres no
uso da internet no Brasil, assim como o tratamento dos dados pessoais, foi publicada a
Lei Geral de Proteção de Dados (Lei n. 13.709/18 - LGPD) com o objetivo de proteger
os direitos fundamentais de liberdade e privacidade. Através dela, a forma como os dados
são coletados, utilizados, repassados e comercializados será drasticamente modificada,
transformando a maneira como empresas e órgãos públicos tratam a privacidade e a
segurança das informações de usuários e clientes.
A LGPD protege os dados sensíveis e os define como aqueles que revelam
origem racial ou étnica, convicções religiosas ou filosóficas, opiniões políticas, filiação
sindical, questões genéticas, biométricas e sobre a saúde ou a vida sexual de uma pessoa.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:
112
A vulnerabilidade digital está na forma como os dados podem ser coletados:
através da violação da privacidade e da intimidade dos consumidores e, neste sentido, a
utilização dos algoritmos pode influenciar significativamente no processo de escolha dos
consumidores.
Neste cenário, a Lei Geral de Proteção de Dados entra no ordenamento jurídico
com a missão de prevenir que os consumidores tenham suas informações divulgadas,
comercializadas e sejam alvo de práticas comerciais abusivas.
REFERÊNCIAS:
113
BRASIL. Presidência da República. Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código
Civil. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm.
Acesso em: 30 abr. 2020.
114
PRÁTICA DE WEBSCRAPING EM BASES DE DADOS PÚBLICAS
PRACTICE OF WEBSCRAPING IN PUBLIC DATABASES
Resumo
Este trabalho tem por objetivo analisar tecnologias como o Big Data e a utilização de Web
Scraping para tratamento de dados em bases de dados públicas, utilizando uma pesquisa
empírica e com métodos qualitativos indutivos. Serão abordados a evolução da sociedade até
a Quarta Revolução Industrial, a economia do conhecimento e a sociedade da informação.
Ademais, o presente trabalho abordará as tendências de dados abertos mundiais que
influenciaram o Brasil em matéria de disponibilização de dados de bases públicas visando a
transparência da gestão pública e a prática da raspagem de dados pessoais nessas bases de
dados.
Abstract/Resumen/Résumé
This work aims to analyze technologies such as Big Data and the use of Web Scraping to
collect and process data in public databases, using empirical research and with inductive
qualitative methods. The evolution of society until the Fourth Industrial Revolution will be
addressed, when we will enter into the concepts of knowledge economy and information
society. In addition, this paper will address trends in open world data that have also
influenced Brazil in terms of making public data available with a view to transparency in
public management and the practice of scraping personal data in these databases.
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1. INTRODUÇÃO
Até chegarmos a uma sociedade pautada em dados e informações, diversas foram as
mudanças nas formas de organização e estruturação social e econômica. Há mais de 10.000 anos,
viveu-se a primeira revolução, conhecida por revolução agrícola, em que a atividade e o produto
agrícola eram os elementos centrais que movimentavam a economia; em seguida, ocorreram a
Primeira e Segunda Revoluções Industriais, em que, a partir da invenção de máquinas e da
descoberta e utilização de fontes de energia, como a elétrica, o ponto central da economia migrou-se
para a indústria e para a produção fabril; posteriormente, passamos por outra Revolução Industrial,
que incluiu a Computação, Automação e outras fontes de energia à indústria; e, por fim, antes
mesmo de ter início a Quarta Revolução Industrial, na sociedade pós-industrial, a prestação de
serviços assumiu o protagonismo enquanto atividade de impulso à economia (SCHWAB, 2016).
Na era pós-industrial, a informação se tornou o principal elemento de desenvolvimento da
economia, de modo que recursos que outrora foram protagonistas nas sociedades agrícola e
industrial migraram para um segundo plano (BIONI, 2018). Como consequência, a informação se
tornou o capital, de modo que deixamos de ter o capital direcionado para ativos tangíveis e
migramos para ativos intangíveis, o que tornou possível exponenciar retornos em escala, criando
riquezas com muito menos força de trabalho, estrutura industrial e custos do que anteriormente.
Para efeito de comparação, consideremos a cidade de Detroit, na década de 90, polo
industrial dos EUA. As três maiores empresas instaladas na região possuíam uma capitalização de
US$36 bilhões, faturamento de US$250 milhões, e 1.2 milhão de empregados. Em 2014, as três
maiores empresas instaladas no Vale do Silício tinham capitalização de mercado de cerca de US$1
trilhão, obtinham receitas na mesma casa daquelas em Detroit, mas contavam com 10 vezes menos
empregados que a região industrial da década de 90. (SCHWAB, 2016)
Há muito tempo informação e poder são conhecidos por andar juntos. Trazendo essa
perspectiva para a realidade atual, podemos dizer que a ampla disseminação da informação reflete
um poder desconcentrado, que resulta em elevados níveis de transparência. São óbvias, portanto, as
razões pelas quais a transparência tem se mostrado tão presente na atualidade. O poder
(informação) não está mais nas mãos de alguns; ele está disponível para acesso de todos. A
informação é atualmente o elemento que estrutura toda a nossa sociedade, logo, não pode ser
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surpresa que a transparência tenha tomado uma posição de destaque neste cenário, inclusive em
relação às bases de dados públicas, que serão tratadas em sequência.
O objetivo do presente texto é demonstrar como as políticas de dados abertos têm sido
implementadas no Brasil; analisar o que dispõe o ordenamento jurídico brasileiro no que diz
respeito ao tratamento de dados disponibilizados em bases de dados públicas; e, por fim, examinar
os impactos e a possibilidade de conciliação das novas tecnologias com as atividades de tratamento
de dados, ou, mais do que isso, a possibilidade de haver raspagem de dados em bases de dados
públicas.
dados restritos e como eles podem ser utilizados, inclusive sem a necessidade do consentimento do
titular.
Com a evolução e o desenvolvimento de tecnologias como o Big Data e o Data Scraping,
surgem questionamento como: quais são os limites da utilização de tecnologias como o Big Data
neste cenário? Será legalmente possível a raspagem de dados em bases de dados públicas?
Nesse sentido, a problemática envolvendo a coleta e tratamento de dados por Data Scraping
não circunda a própria atividade, mas os motivos e justificativas para que determinadas tecnologias
serão utilizadas possibilitando a coleta de dados pessoais.
Até aqui, por inúmeras vezes foi abordado o fato de que o consentimento sempre foi tido
como o elemento central para o tratamento de dados pessoais. No entanto, esta tradição normativa
tornou-se incompatível com a sociedade contemporânea, que apresenta-se dinâmica em todos os
seus aspectos, inclusive no que se refere ao elevado fluxo de dados pessoais. A produção de dados
no mundo digital sofreu um aumento exponencial, como já evidenciado inúmeras vezes até aqui, e
exigir dos controladores e operadores de dados que obtenham o consentimento dos titulares a todo
momento poderá os levar a um estado de exaustão, inviabilizando as atividades de tratamento de
dados e o desenvolvimento de novas tecnologias (BIONI, 2020).
Conforme dispõe o artigo 7º, §3º, para que seja lícito o tratamento de dados públicos ou
tornados públicos pelo titular, deve-se considerar a finalidade, a boa fé e o interesse público que
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justificaram a disponibilização daquele dado, sendo ainda possível o tratamento para novas
finalidades, nos termos do §7º, desde que "observados os propósitos legítimos e específicos para o
novo tratamento e a preservação dos direitos do titular" (LGPD, 2018).
Não há, na LGPD, uma definição expressa do que seriam propósitos legítimos. Entretanto,
pela experiência que têm sido vivenciada em outros países, especialmente da Europa, onde vigora o
Regulamento Geral de Proteção de Dados (GDPR), este propósito legítimo é identificado a partir de
uma análise contextual em cada caso concreto.
Existem interpretações contemporâneas de que, por trás dos propósitos legítimos, haverá
uma flexibilidade maior ao tratamento de dados. Estas interpretações residem nas razões da emenda
parlamentar que levou à criação do referido §7º, por meio das quais o relator reconheceu que,
quando publicamente acessíveis, os dados pessoais passam a ser, também, um importante elemento
para a realização de análises e estudos, "promovendo competitividade, inovação, empregabilidade e
prosperidade". (BASTOS; et.al, 2019)
Além das definições trazidas com a LGPD no que tange ao tratamento de dados de bases
públicas para finalidades diversas daquelas às quais os dados foram disponibilizados, é importante
ressaltar que a legislação traz, ainda, outras nove bases legais, além do consentimento do titular,
para o tratamento de dados pessoais. O cumprimento de uma relação contratual, por exemplo,
poderia tornar legal o acesso a dados pessoais; o exercício regular de direitos; ou a proteção ao
crédito.
Sob essa perspectiva, portanto, o tratamento de dados de bases públicas, por exemplo, por
pessoas jurídicas, que tenha por finalidade a proteção ao crédito deve ser admitido, mesmo que por
meio da utilização de Web Scraping já que encontra-se em consonância com uma das bases legais
da nova Lei.
4. CONCLUSÃO
A evolução e o desenvolvimento das novas tecnologias que possibilitam o tratamento de
dados de forma automatizada, como o Big Data e o Data Scraping, t êm ocupado cada vez mais
espaço na sociedade contemporânea. Neste contexto, surge uma preocupação atinente à privacidade
dos titulares dos dados, direito fundamental garantido pelo ordenamento jurídico brasileiro, e aos
reflexos desta nas atividades de tratamento de dados.
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É certo que o tratamento de dados deve sempre ser feito com muita cautela, mas o direito à
privacidade dos titulares, por si só, não o proíbe. Com a vigência da LGPD, o esperado é que seja
aceita a possibilidade de tratamento de dados, inclusive por meio da utilização deste tipo de
técnicas, desde que os controladores e operadores de dados estejam sob o amparo de uma das bases
legais que a nova Lei nos traz, e que já foram mencionadas nesta pesquisa; ou desde que realizem o
tratamento dos dados para finalidade compatível àquela que ensejou a disponibilização dos
mesmos.
BIBLIOGRAFIA
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dos Novos Mercados Digitais?. RDU: Porto Alegre, Volume 16, n. 90, 2019, 155-178, nov-dez
2019.
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implicações éticas do seu uso na análise das redes sociais. In: WORKSHOP DE
PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DO CENTRO PAULA SOUZA, 9., Estratégias Globais e
Sistemas Produtivos Brasileiros, 2014
BASTOS, Rodrigo Albero Caldeira; SCHVARTZMAN, Felipe; PIERI, José Eduardo de V. Dados
pessoais ‘públicos’ são, de fato, públicos?. [2019] Disponível em:
<https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/dados-pessoais-publicos-sao-de-fato-publicos-300
62019> Acesso em: 18 de junho de 2020.
DONEDA, Danilo. Da privacidade à proteção de dados pessoais. Rio de Janeiro: Renovar, 2006.