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TECNOLOGIAS APLICADAS E INOVAÇÃO

PATRÍCIA GAVA RIBEIRO

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6670-4

59529 9 788538 766704


Tecnologias aplicadas
e inovação

Patricia Gava Ribeiro

IESDE BRASIL
2020
© 2020 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do
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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
R371t

Ribeiro, Patricia Gava


Tecnologias aplicadas e inovação / Patricia Gava Ribeiro. - 1. ed. -
Curitiba [PR] : IESDE, 2020.
140 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6670-4

1. Tecnologia - Administração. 2. Inovações tecnológicas - Administra-


ção. 3. Tecnologia da informação. I. Título.
CDD: 20-65033
20-65033
CDU: 005.94:004

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Patricia Gava Ribeiro Mestre em Planejamento e Governança Pública pela
Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Especialista em Marketing pela Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUCPR). Graduada em Ciências
Econômicas pela Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Atualmente cursa MBA em Gestão Estratégica
da Inovação e Propriedade Intelectual na Unopar. Atua
como servidora pública na UTFPR desde 2007. Além
disso, tem interesse nas áreas de inovação, tecnologia
e propriedade intelectual, com alguns trabalhos
publicados nessa temática.
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SUMÁRIO
1 Gestão da inovação tecnológica  9
1.1 Ciência e tecnologia   10
1.2 Invenção e inovação   13
1.3 Tipos de inovação   16
1.4 Natureza ou impacto da inovação   18
1.5 Gestão da inovação tecnológica   23
1.6 Práticas de gestão da inovação   30

2 Inovação e seus fundamentos tecnológicos  37


2.1 Schumpeter e inovação   37
2.2 Revoluções tecnológicas   43
2.3 Panorama da inovação no Brasil   53

3 Modelos de inovação tecnológica  62


3.1 Modelo linear   62
3.2 Modelo paralelo   65
3.3 Modelo Tidd, Bessant e Pavitt (modelo funil)   67
3.4 Modelo de inovação aberta (open innovation)   69

4 A inovação como fonte de competitividade  75


4.1 Noção de cadeia de valor   75
4.2 Inovação como fator de vantagem competitiva   79
4.3 Tecnologias portadoras de futuro   83

5 Gestão da propriedade intelectual  95


5.1 Propriedade industrial e propriedade intelectual   96
5.2 Classificação dos direitos de propriedade intelectual   98
5.3 Propriedade intelectual e desenvolvimento econômico   108
5.4 Propriedade intelectual e transferência de tecnologia   110
5.5 Cooperação entre universidade e empresa   112
6 Incentivos governamentais à inovação tecnológica  119
6.1 Sistema de CT&I   120
6.2 Legislação de incentivo à CT&I   128
6.3 Fontes de fomento à inovação   133
APRESENTAÇÃO
Vídeo O objetivo desta obra é apresentar ao leitor os diversos aspectos
relacionados a ciência, tecnologia e inovação, buscando contribuir para
o aprendizado nessas áreas. Não há, contudo, a pretensão de esgotar
tão vasto tema, mas sim de apontar caminhos para que o estudante
possa se aprofundar no assunto.
Assim, foram abordados tópicos considerados relevantes à
temática, sendo divididos em seis capítulos, de modo a contemplar
desde conceitos fundamentais, passando pela evolução histórica, que
resultou na sociedade do conhecimento, até ampliar o estudo sobre a
importância da inovação à competitividade das empresas bem como
em relação à proteção adequada dos bens intangíveis decorrentes da
atividade inovativa.
Dessa forma, o estudo tem início com a apresentação, no primeiro
capítulo, dos conceitos de ciência, tecnologia, invenção e inovação,
tão necessários ao aprofundamento do conhecimento na área. Na
sequência são vistos os tipos de inovação existentes – de produto,
de processo, organizacionais e de marketing –, abordando suas
características e apresentando alguns exemplos. Ainda nesse capítulo
é tratada a natureza ou o impacto da inovação, trazendo conceitos
como inovação disruptiva e incremental, entre outros. Ademais, são
apresentados o tema da gestão da inovação tecnológica e as práticas
de gestão da inovação mais aplicadas.
No Capítulo 2 busca-se realizar um resgate histórico dos
acontecimentos a partir da Revolução Industrial, período no qual o
capitalismo se estabeleceu como sistema econômico, dando início
aos estudos sobre a inovação e seus impactos. É dado certo destaque
à figura de Joseph Schumpeter, renomado economista que dedicou
grande parte de sua vida ao estudo dos impactos das inovações
tecnológicas na sociedade. Dando continuidade ao trabalho sobre
Schumpeter, são analisados também os estudos de seus seguidores,
denominados neoshumpeterianos, apresentando as cinco revoluções
tecnológicas ocorridas e, ainda, contemplando os pensadores mais
relevantes de cada período. Nesse capítulo é realizado, também, um
panorama da inovação no Brasil, destacando alguns dos indicadores
mais importantes da área.
No Capítulo 3 ressalta-se a importância da utilização de modelos de inovação
com o objetivo de tornar as empresas mais competitivas, sendo necessário
buscar aquele que mais corresponda às características e particularidades de
cada instituição. Sendo assim, apresenta-se, dentre os modelos de inovação
existentes, quatro utilizados em escala global: modelo linear; modelo paralelo;
modelo Tidd, Bessant e Pavitt; e modelo de inovação aberta (open innovation).
No quarto capítulo é abordado o importante conceito de cadeia de valor,
relacionado à geração de vantagem competitiva por parte das empresas. A sua
definição é fundamental para se compreender como as empresas podem
se destacar frente à concorrência cada vez mais acirrada, especialmente em
termos de sustentabilidade. Na sequência, analisa-se como a inovação pode ser
vista enquanto um fator de vantagem competitiva e, por fim, apresenta-se as
tecnologias portadoras de futuro, isto é, atividades que em um futuro não muito
distante possivelmente mudarão o mundo como é conhecido atualmente.
No Capítulo 5 são trazidas diversas questões relativas à propriedade
intelectual, iniciando por sua diferenciação em relação à propriedade industrial,
seguida pela classificação dos direitos de propriedade intelectual (direito
autoral, propriedade industrial e proteção sui generis), que são subdivididos em
diversas categorias, como marca, patente, desenho industrial, entre outros.
Salienta-se ainda a importância de compreender a relação entre propriedade
intelectual e desenvolvimento econômico. Mais além, é analisada a atividade-
-fim da propriedade intelectual, que consiste na transferência de tecnologia ao
setor produtivo. Por último, são verificados aspectos referentes à cooperação
entre universidade e empresa, atividade cada vez mais importante para ambos
os players e para a sociedade como um todo.
Para o sexto e último capítulo é reservada a abordagem do sistema
de inovação brasileiro, considerando que esse é composto por agentes
políticos, agências de fomento e operadores de ciência, tecnologia e inovação.
Apresenta-se também as legislações que se destacam no cenário nacional em
termos de incentivo à inovação, como a Lei de Inovação, a Lei do Bem e o
Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação. Finalmente, são enfatizadas as
atividades desempenhadas pelas agências públicas de fomento, bem como
indicadas duas fontes de financiamento privado à inovação.
Após a leitura, certamente o leitor concluirá que o caminho para o
desenvolvimento de uma nação necessariamente passa pelo fortalecimento
do trinômio ciência, tecnologia e inovação.
Sucesso em seus estudos!
1
Gestão da inovação
tecnológica
Você consegue imaginar um mundo sem energia elétrica,
computadores, smartphones, automóveis ou aviões? É quase im-
possível, não é mesmo? Pois bem, essa seria a realidade se não
existissem pessoas dispostas a questionar, experimentar e ir além.
Graças a esses indivíduos, há tudo isso hoje.
Para compreender um pouco mais sobre como novos produ-
tos e processos são criados, com muitos revolucionando o funcio-
namento das coisas até então, será necessário conhecer alguns
conceitos importantes e muito úteis para o aprofundamento do
conhecimento. Entre eles, destacam-se a ciência, a tecnologia, a
invenção e a inovação. Todos estão de certa forma interligados,
embora não de maneira linear, ou seja, não ocorrem de modo ne-
cessariamente sequencial, podem acontecer de maneiras distintas
e contar com a participação de atores diversos.
Neste capítulo, além da análise de conceitos ligados à inovação,
serão explanados os tipos de inovação existentes, quais sejam,
inovações de produto, inovações de processo, inovações organiza-
cionais e inovações de marketing, bem como suas principais carac-
terísticas e exemplos.
Posteriormente, será discutida a natureza ou o impacto da ino-
vação, abordando os termos inovação disruptiva, inovação incremen-
tal, novo sistema tecnológico e novo paradigma técnico-econômico.
Como continuidade aos estudos, será discutida a gestão da ino-
vação tecnológica e, por fim, serão apontadas as práticas de gestão
da inovação mais utilizadas.

Gestão da inovação tecnológica 9


1.1 Ciência e tecnologia
Vídeo Ao passo que a ciência possui uma ligação maior com a ob-
servação de fenômenos, comprovação de hipóteses e o avanço
do conhecimento, a tecnologia, por sua vez, está muito mais
relacionada com as consequências para a sociedade (impactos
econômicos e sociais), decorrentes da aplicação de novos pro-
dutos, processos e materiais (REIS, 2008).

No caso da ciência, esta pode ser dividida em ciência pura – ou


básica – e ciência aplicada (Figura 1). A primeira está atrelada à
investigação, à análise de fenômenos e à tentativa de explicá-los de
maneira científica. Um exemplo muito claro dessa modalidade de ciên-
cia é o estudo das características do novo coronavírus.

Já a ciência aplicada possui como característica a aplicação do


conhecimento para buscar a solução de determinado problema,
procurando criar produtos que atendam às necessidades da so-
Figura 1 ciedade. Como exemplo, pode-se citar a criação de uma vacina
Ciência pura e
ciência aplicada para prevenção da Covid-19 (infecção causada pelo novo
coronavírus).

Normalmente, as duas modalidades de ciência


andam de mãos dadas e não se pode afirmar que
uma tenha maior importância do que a outra, em-
bora a ciência aplicada seja a mais reconhecida pela
sociedade em geral.

Ao situar historicamente a dualidade entre ciência bá-


sica e aplicada, consta que o período pós-Segunda
Guerra foi o momento em que a ciência básica
passou a ser vista como precursora do progres-
so tecnológico somente se estivesse distanciada
do empirismo. Isso culminou no modelo linear de
Ciência pura envolve inovação, em que se acreditava que os avanços
estudos de fenômenos.
científicos eram transformados em soluções prá-
ticas por meio de um movimento dinâmico ligan-
Ciência aplicada é a do a ciência à tecnologia (STOKES, 2005). Nesse
ns.

utilização de estudos modelo, acreditava-se nesta sequência:


ommo

da ciência pura em
favor da sociedade.
edia C
Wikim

10 Tecnologias aplicadas e inovação


Pesquisa
Pesquisa Desenvolvi-
básica Produção
aplicada mento

ck
(pura)

tersto
hut
s/S
iku
v
sla
che
Vya

Contrariando tal modelo, Stokes (2005) e seus seguidores creem


na complementaridade entre pesquisa básica e aplicada. Surge, então,
uma nova proposta de classificação, relacionando conhecimento e apli-
cação prática, formada por quatro quadrantes que especificam a natu-
reza da pesquisa, intitulada quadrante de Pasteur.
Figura 2
Quadrante de Pasteur
Busca de novos conhecimentos?

PASTEUR
BOHR
Pesquisa básica ligada
Pesquisa básica pura
à aplicação

EDISON
Pesquisa aplicada
à aplicação

Busca de aplicações práticas?

Fonte: Elaborada pela autora com base em Stokes, 2005.

Na Figura 2, o quadrante superior à esquerda identifica a pesquisa


básica pura, que representa a busca por novos conhecimentos, contu-
do sem aplicações práticas. Esse quadrante recebeu o nome de Bohr,
físico dinamarquês, cujo estudo do modelo atômico é classificado como
ciência pura. O quadrante inferior esquerdo representa os estudos que
não buscam entendimentos nem aplicações práticas, mas apenas con-
templam fenômenos específicos. A célula no canto direito inferior re-
trata a pesquisa aplicada, que não busca novos conhecimentos, mas
sim aplicações práticas, denominada quadrante de Edison, cujas pes-
quisas buscavam rentabilidade por meio da comercialização de seus

Gestão da inovação tecnológica 11


inventos. O último quadrante, localizado no canto superior direito, é
Saiba mais caracterizado pela busca de novos conhecimentos aliada à procura por
Para conferir um exemplo aplicações práticas. Foi batizado de quadrante de Pasteur, justamente
da ligação entre ciência
pura e ciência aplicada,
pelo fato de seus estudos buscarem a solução de um impasse relativo à
leia o artigo Cientistas fermentação, fitando uma compreensão do papel dos microrganismos
brasileiros desenvolvem
aplicativo para diagnóstico
no fenômeno, o que culminou no processo industrial da pasteurização
da Covid-19, de Marcelo (elevação da temperatura seguida de súbito resfriamento, com o intui-
Canquerino, publicado no
Jornal da USP.
to de eliminar os micróbios).

Disponível em: https://jornal. De maneira empírica, pode-se relacionar a ciência com artigos cien-
usp.br/ciencias/pesquisadores-
tíficos, dissertações e teses, sendo um conhecimento de ordem públi-
da-usp-desenvolvem-aplicativo-
para-diagnostico-da-covid- ca. Já a tecnologia, está mais vinculada com as patentes, por exemplo,
19/?fbclid=IwAR0acKxi4CMrx54h-
tendo um caráter, portanto, privado (REIS, 2008).
dsDX9UwzgetKAZO4d_
OsdJfD3Znv1wEfcbIrSNQeYw. Vale destacar que tanto a ciência quanto a tecnologia não podem ser
Acesso em: 19 jun. 2020.
consideradas neutras, uma vez que retratam o contexto histórico, social e
político em que estão inseridas. Dessa forma, devem ser compreendidas à
luz desse contexto, e não de maneira isolada (CASTELLANOS, 2007).

Outro aspecto importante a ser considerado é o fato de que a ciên-


cia serve de base para a tecnologia. Contudo, nem sempre as inovações
têm como base conhecimentos científicos (MATTOS; GUIMARÃES, 2012),
podendo ocorrer de modo experimental ou até mesmo acidental.

Para um melhor entendimento dos conceitos, é possível afirmar que a


ciência, de acordo com Longo (2000, p. 1), pode ser caracterizada como “o
conjunto organizado dos conhecimentos relativos ao universo, envolven-
do seus fenômenos naturais, ambientais e comportamentais”. Já a tecno-
logia, por sua vez, pode ser compreendida como “o conjunto organizado
de todos os conhecimentos científicos, empíricos ou intuitivos emprega-
dos na produção e comercialização de bens e serviços” (LONGO, 2000,
p. 1). Pode, também, ser interpretada como o lado econômico da ciência,
considerando que a tecnologia, desde o século XIX, tem procurado en-
Atividade 1
contrar na ciência novos caminhos para a produção do conhecimento
Com base nos conhecimentos técnico. Essa busca resulta em uma reorientação dos rumos da ciência no
adquiridos sobre ciência pura
e aplicada, relacione cada um sentido dos interesses econômicos (MACEDO; BARBOSA, 2000).
dos seguintes exemplos com
Entre os aspectos positivos do emprego da tecnologia, podem ser
uma das seções do quadrante de
Pasteur: observação de pássaros; citados: aumento da produção de alimentos com a mecanização; eco-
estudo de Mendel sobre ervilhas; nomia de escala e maior possibilidade de aquisição de bens de con-
linha de montagem de Henry
sumo; facilidade de acesso a serviços e à locomoção; diagnósticos e
Ford e descoberta dos raios X.
tratamentos de saúde mais eficazes. Já como aspectos negativos, é

12 Tecnologias aplicadas e inovação


possível elencar: redução de recursos naturais; aumento da poluição;
impacto em relação às mudanças climáticas; elevação dos níveis de de-
semprego e aumento da produção de resíduos.

1.2 Invenção e inovação


Vídeo Uma das primeiras e mais importantes personalidades que bus-
cou entender o processo de invenções e inovações foi Joseph Alois
Schumpeter (1883-1950), economista e cientista político da Áustria.
Seu legado é tão importante que continua sendo estudado e desen-
volvido até hoje, especialmente por pesquisadores denominados
neoshumpeterianos, como Nathan Rosenberg, Giovanni Dosi, Richard
Nelson, Sidney Winter, Christopher Freeman e Carlota Perez.

Schumpeter buscou em seus estudos desvendar os mecanismos


de movimentação da economia no sistema capitalista, principalmente
aqueles ligados à inovação e à denominada destruição criadora.

Apesar de as invenções existirem desde tempos remotos, como a


descoberta da roda, por exemplo, a sua transformação em inovação é
algo bem mais recente. Até o início do século XVIII, anterior à Primeira
Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra, a principal atividade eco-
nômica existente era a agricultura, sendo que a ciência e a tecnologia
caminhavam de modo distante uma da outra até então.

A disseminação das inovações ocorreu gradualmente, iniciando na


indústria têxtil e na produção de ferro. Essas inovações eram realiza-
das por profissionais sem formação científica. A ciência e a tecnologia
passaram a se aproximar somente após a criação da Escola Politécnica
por Napoleão Bonaparte. Essa instituição buscava diplomar engenhei-
ros altamente capacitados direcionados ao atendimento de propósitos
militares (TIGRE, 2006).

A partir da Revolução Industrial, houve uma mudança no mundo


como existia até aquele momento. Ocorreu a substituição dos méto-
dos de produção artesanais pela produção exercida por máquinas em
fábricas. Outras mudanças foram: uso da energia a vapor; substituição
da madeira como combustível pelo carvão; além da transferência dos
negócios centrados na agricultura por negócios centrados na indústria
(Quadro 1). A Revolução Industrial, portanto, explicita a primeira ocor-
rência na história de transformação de uma economia essencialmen-

Gestão da inovação tecnológica 13


te agrária e com base na capacidade artesanal para outra economia
orientada pela indústria e pela manufatura fabril (LANDES, 1994).
Quadro 1
Características dos períodos: Pré-Revolução Industrial e Pós-Revolução Industrial

Pré-Revolução Industrial Pós-Revolução Industrial


Modo de produção Artesanato Manufatura Maquinofatura

Combustível Madeira Carvão

Principal atividade Agricultura Indústria


econômica
Relação de trabalho Trabalho individual Divisão do trabalho Divisão do trabalho dentro das fábricas

Local de trabalho Própria residência Oficinas Fábricas

Pertencentes ao mes-
Meios de produção Próprios
tre artesão
Máquinas

Forma de De acordo com a pro-


Trabalho assalariado
Redução de salários e aumento na jor-
remuneração dução nada de trabalho

Fonte: Elaborado pela autora.

A sinergia existente entre empresários e inventores, nesse


momento, representou relevante técnica organizacional da
Grã-Bretanha para a criação e implementação de novas empresas
inovativas (FREEMAN; SOETE, 2008). Dessa forma, as inovações dos
séculos XVIII e XIX geraram uma condição singular ao capitalismo,
fazendo com que esse sistema, por meio do investimento produtivo,
impulsionasse o desenvolvimento tecnológico.

Entretanto, somente a partir do início do século XIX, ocorreu o


uso comercial da ciência (TIGRE, 2006). Thomas Alva Edison, físico
Vídeo norte-americano mundialmente conhecido pela invenção da lâmpa-
Para aprofundar seu da incandescente, criou o primeiro departamento de pesquisa e de-
conhecimento sobre as
mudanças advindas da senvolvimento (P&D) em sua companhia, a General Electric (MACEDO;
Revolução Industrial, BARBOSA, 2000), apelidada por ele de fábrica de invenções.
assista ao vídeo Revolução
Industrial – resumo De acordo com Freeman e Soete (2008), apesar da existência de la-
desenhado, do canal
Historiar-te. boratórios ligados às universidades e aos governos anteriormente, foi
Disponível em: http://youtu.be/ apenas na década de 1870 que os primeiros laboratórios especializa-
qpxaj1XEPko. Acesso em: 22 jun. dos em P&D foram constituídos na indústria; segundo Castells (2005),
2020.
especificamente na indústria química alemã.

14 Tecnologias aplicadas e inovação


Após a breve contextualização histórica feita até aqui, é de funda-
mental importância diferenciar os termos invenção e inovação, consi-
Site
derando que, muitas vezes, são usados como se tivessem o mesmo
Para consultar o Manual
significado. A invenção (Figura 3) é uma solução nova para um pro-
de Oslo, com importantes
blema técnico específico, inserido em determinada área tecnológica diretrizes sobre inovação,
elaborado pela Organi-
(OMPI/INPI, 2018). Já o conceito de inovação pode ser descrito como a
zação para Cooperação
solução para uma dificuldade técnica de produção, que resulta de uma Econômica e Desenvolvi-
mento (OCDE), acesse o
atividade inventiva direcionada à comercialização (MACEDO; BARBOSA,
link a seguir.
2000). No caso da inovação, a solução não precisa necessariamente ser
Disponível em: https://www.
nova como na invenção, podendo ser decorrente de melhorias no pa- finep.gov.br/images/apoio-e-
drão existente. financiamento/manualoslo.pdf.
Acesso em: 19 jun. 2020.
Ainda, segundo o Manual de Oslo (OCDE, 2005, p. 55):
uma inovação é a implementação de um produto (bem ou ser-
viço) novo ou significativamente melhorado, ou um processo, ou
Atenção
um novo método de marketing, ou um novo método organizacio-
nal nas práticas de negócios, na organização do local de trabalho “Nem toda descoberta leva
ou nas relações externas. a uma invenção. E nem toda
invenção leva a um produto”
Figura 3 (CARVALHO; REIS; CAVALCANTE,
Invenções dos últimos séculos: motor a vapor em carro de bombeiros (século XVIII); telefone 2011, p. 23).
(século XIX); primeiro videogame (século XX); e turismo espacial, Virgin Galactic (século XXI).

Wikimedia Commons.
Vídeo
Thomas Edison e Nikola
Tesla foram responsáveis
por inúmeras invenções
e descobertas científicas
que até hoje se fazem
presentes em nosso
cotidiano. Para conhecer
um pouco mais sobre os
processos de criação da
corrente contínua e da
corrente alternada, uma
das criações de Edison e
Tesla, assista ao vídeo A
Batalha entre Gênios Niko-
la Tesla & Thomas Edison,
da National Geographic,
publicado no canal Bruno
Guida.
A invenção está relacionada à criação de algo que não produz um
Disponível em: http://youtu.be/
resultado econômico. Nesse sentido, uma descoberta que gera um TjB3t4TpsDo. Acesso em: 19 jun.
produto ou processo novo, ou melhorado, mas que não atinge o mer- 2020.
cado, será somente uma invenção, e não uma inovação.

Gestão da inovação tecnológica 15


Filme Em contrapartida, o processo de inovação vai além de um conceito.
O filme O menino que Ele se constitui no desenvolvimento de uma ideia, transformando-se,
descobriu o vento (original
consequentemente, em um produto ou processo inovador que atin-
em inglês: The boy who
harnessed the wind) conta ge o mercado por ser economicamente viável (JUNGMANN; BONETTI,
a história de um menino
2010). Observe o esquema a seguir.
que mora em um vilarejo
muito pobre no Malawi e
que, por meio de seu es-
forço, sua determinação
e criatividade, consegue

+
criar um moinho de

=
Resultado
vento tendo como base
um livro encontrado na
Inovação Invenção prático
biblioteca da escola local. (comercialização)

Direção: Chiwetel Ejiofor. Reino


Unido/Malawi. Netflix, 2019.

Nesse sentido, é interessante destacar que, entre outras caracterís-


ticas, a inovação “envolve a criação de novos projetos, conceitos, for-
mas de fazer as coisas, sua exploração comercial ou aplicação social
e a consequente difusão para o restante da economia ou sociedade”
(AUDY, 2017, p. 76).

Para países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, com com-

Glossário petência científica restrita para a geração de novas tecnologias e onde


a criação de inovações radicais por parte das empresas é incipiente, a
incipiente: que está no
começo, inicial. demanda se constitui no mais importante estímulo para que ocorra a
inovação (TIGRE, 2006).

1.3 Tipos de inovação


Vídeo Um simples olhar atento ao redor demonstra quantas inovações fa-
zem parte da nossa vida atualmente. Em geral, elas são denominadas
inovações de produto, mas não são o único tipo existente.

Na visão de Schumpeter (1997), a inovação pode ser classificada em


cinco tipos distintos:
1. Inserção de um produto novo ou melhorado.
2. Introdução de um método de produção ou comercialização
distinto dos já existentes.
3. Abertura de um novo mercado.

16 Tecnologias aplicadas e inovação


4. Obtenção de uma nova matriz de oferta de matérias-primas ou
de bens semimanufaturados.
5. Geração de estruturas de mercado diversas em uma indústria.

Com base nas definições criadas por Schumpeter, foram estabele-


cidas no Manual de Oslo (OCDE, 2005) quatro categorias de inovações
que compõem um grupo de transformações ocorridas nas atividades
empresariais: inovações de produto, inovações de processo, inovações
organizacionais e inovações de marketing. Essa classificação é a mais
amplamente adotada por estudiosos, sendo, portanto, pormenorizada
na sequência.
Site
•• Inovações de produto – referem-se a transformações subs-
Plant based é um concei-
tanciais nas possibilidades constantes em produtos e serviços, to de alimentação em que
podendo ser completamente novos ou conter avanços significa- há eliminação ou redução
de produtos de origem
tivos em relação a produtos existentes. Consequentemente, há a
animal, além de haver
possibilidade de obtenção de uma vantagem competitiva para a mínimo processamento
industrial dos alimentos.
empresa no mercado.
Para saber mais, acesse o
link a seguir.
Um caso bastante interessante é o da startup brasileira Fazenda
Futuro, considerada uma das empresas mais inovadoras do mun- Disponível em: https://boaforma.
abril.com.br/dieta/entenda-o-
do. Seu diferencial é produzir alimentos no segmento plant based que-e-a-dieta-plant-based-e-
que propiciem a sensação de estar degustando carne animal, uti- seus-beneficios/. Acesso em: 19
jun. 2020.
lizando apenas ingredientes de origem vegetal.

•• Inovações de processo – envolvem transformações expressivas


Site
em relação aos modos de produção e de distribuição. “Se a ino-
Para conhecer mais sobre
vação envolve métodos, equipamentos e/ou habilidades para o o equipamento VoluTech
desempenho do serviço novos ou substancialmente melhorados, e seus benefícios para
a indústria de laticínios,
então é uma inovação de processo” (OCDE, 2005, p. 64). Estão acesse o link a seguir.
incluídas nessa modalidade de inovação as transformações con-
Disponível em: https://
sideráveis em softwares e equipamentos. agroemdia.com.br/2020/05/19/
embrapa-inovacao-usa-sensores-
Um exemplo de inovação de processo é o equipamento VoluTech, para-medir-com-precisao-volume-
que se destina a realizar o controle de todos os padrões neces- de-leite-em-tanques/. Acesso em:
19 jun. 2020.
sários em tanques de leite, a fim de preservar a qualidade do
produto, bem como auxiliando a evitar desperdícios, por meio
de sensores.

•• Inovações organizacionais – estão relacionadas à implantação


de novos procedimentos organizacionais, tais quais mudanças
efetuadas na organização do local de trabalho.

Gestão da inovação tecnológica 17


Um exemplo é a plataforma Luizalabs, criada em 2012 pela
Filme
rede varejista Magazine Luiza para oferecer produtos e servi-
O filme Tucker: um
homem e seu sonho
ços diferenciados aos clientes, com foco na inovação. Um dos
(original em inglês: Tucker: projetos da plataforma, o Parceiro Magalu (anteriormente de-
the man and his dream)
nominado Magazine Você) oferece a possibilidade de criação de
relata a história real de
um homem visto como uma loja virtual por trabalhadores informais ou autônomos,
sonhador, mas que foi
em contrapartida ao recebimento de uma comissão pelas ven-
além do status quo,
podendo ser considerado das efetuadas.
um visionário. Tucker
projetou um veículo tido •• Inovações de marketing – abrangem a implantação de métodos
como estranho para os
padrões da época, mas
novos de marketing, buscando atender da melhor forma possível
que continha muitos às necessidades dos consumidores. Podem incluir ações como
itens utilizados até os dias
a abertura de novos mercados, ou ter como foco o aumento de
atuais.
vendas de um produto específico, determinando o seu reposi-
Direção: Francis Ford Coppola.
Estados Unidos. Paramount, 1988. cionamento no mercado. Mudanças em embalagens e na forma
de divulgação do produto também são consideradas inovações de
marketing. A inovação de marketing pode ocorrer tanto com pro-
dutos novos quanto com os que já existem. Além disso, não há
Curiosidade
a obrigatoriedade de desenvolvimento de um novo método de
Confira os recursos
inovadores introduzidos marketing pela empresa. O método escolhido pode ser reprodu-
por Tucker nos anos zido de outras instituições.
1940, e que até hoje são
referência no mercado Um exemplo é a campanha Share a Coke da Coca-Cola, em que
automobilístico.
eram impressos nomes próprios nas embalagens de refrigerante.
Disponível em: https://www.
uol.com.br/carros/noticias/
No Brasil, a frase impressa era: “bebendo uma Coca-Cola com...”,
redacao/2019/12/02/carro-do- completada com diversos nomes escolhidos com base em dados
futuro-da-tucker-feito-em-1948-
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), buscando
vai-a-leilao-nos-estados-unidos.
htm. Acesso em: 19 jun. 2020. despertar nos consumidores uma sensação de compartilhamen-
to de felicidade.

1.4 Natureza ou impacto da inovação


Vídeo A inovação tanto pode ser disruptiva quanto incremental. Segundo
o Manual de Oslo (OCDE, 2005), a inovação disruptiva (também cha-
mada de radical), pode ser definida como a que gera uma consequên-
cia considerável em determinado mercado e na atividade econômica
das empresas que fazem parte desse mercado.

Nesse sentido, a inovação disruptiva está relacionada com a quebra


dos padrões existentes, também denominados paradigmas. São trans-
formações profundas que permeiam toda a sociedade, alterando o pa-

18 Tecnologias aplicadas e inovação


drão existente até o momento, e que acabam por criar uma trajetória Atividade 2
tecnológica. De acordo com Tigre (2019), a inovação disruptiva normal-
Aponte as diferenças entre
mente decorre de atividades de P&D. inovação disruptiva e inovação
incremental.
Além disso, conforme Audy (2017, p. 77), as “inovações disruptivas
são dramáticas, criando novas demandas, indústrias, mercados, apli-
cações e processos, econômicos ou sociais”. Consequentemente, é
estabelecido novo nível tecnológico, propiciando terreno fértil para o
surgimento de inovações incrementais.

Em contrapartida, a inovação incremental pode ser definida como


a inserção de qualquer tipo de melhoria em um produto, processo ou
organização no interior de uma empresa, sem modificação da estru-
tura industrial (FREEMAN; SOETE, 2008). É responsável pela criação de
sucessivos aperfeiçoamentos, de menor impacto que aqueles relacio-
nados à inovação disruptiva. Essas pequenas melhorias (em um pro-
duto ou nos processos necessários para sua confecção) ocorrem no
mesmo nível tecnológico em que são empregadas (AUDY, 2017).

Embora as inovações incrementais estejam atreladas aos aspectos


socioculturais e às necessidades de demanda, elas costumam ocorrer
de maneira constante dentro das empresas, não sendo necessaria-
mente resultado de atividades de P&D. Muitas vezes, essas inovações
advêm da experiência acumulada (TIGRE, 2019). Dessa forma, pode-se
afirmar que muitas inovações incrementais derivam do learning by
doing, ou seja, do aprender fazendo dentro das atividades industriais.

Ao observar a Figura 4, é possível verificar algumas características


da inovação incremental, como a criação de melhorias contínuas e o su-
porte às diferentes fases pelas quais passam um produto ou processo.
Figura 4
Inovação disruptiva e inovação incremental

Incremental Disruptiva

Sustentação Radical

Melhoria contínua Ruptura

Fonte: Audy, 2017, p. 77.

Gestão da inovação tecnológica 19


Já em relação à inovação disruptiva, as mudanças ocorrem de
modo radical, promovendo uma ruptura dos paradigmas existentes,
criando perspectivas e possibilitando um processo de retroalimen-
tação por meio de inovações incrementais.

De acordo com Freeman e Soete (2008), além das denominadas


inovações disruptivas e incrementais, há ainda que se analisar outras
duas transformações de impacto na inovação: o novo sistema tecno-
lógico e o novo paradigma técnico-econômico.

Um novo sistema tecnológico pode surgir quando uma área ou


algumas áreas são impactadas pelo surgimento de um novo hori-
zonte tecnológico.

Com relação às transformações no paradigma técnico-econômico,


faz-se necessário, primeiramente, compreender de que se trata
esse paradigma (denominado por alguns autores de paradigma
tecnoeconômico). Este trata-se, segundo Lastres e Albagli (1999,
p. 32), do
resultado do processo de seleção de uma série de combina-
ções viáveis de inovações (técnicas, organizacionais e insti-
tucionais), provocando transformações que permeiam toda
a economia e exercendo importante influência no comporta-
mento da mesma.

Dessa forma, as mudanças no paradigma técnico-econômico são


responsáveis por alterações profundas no contexto social e econô-
mico, e não somente no aspecto tecnológico (TIGRE, 2019). Os cha-
mados ciclos longos de desenvolvimento são resultado de paradigmas
tecnológicos que impactam sobremaneira a sociedade, causando
transformações profundas.

De acordo com Tigre (2019), para que uma tecnologia desenca-


deie um novo paradigma, são necessários os seguintes requisitos:
custos reduzidos com predisposição a baixar ainda mais; oferta
abundante e contínua; capacidade de disseminação abrangente; e
perspectiva de incorporação de tecnologias diversas.

1.4.1 Difusão das inovações


Um aspecto muito importante que vai além da definição da natu-
reza ou do impacto das inovações é o processo de difusão de novos
produtos e processos na sociedade.

20 Tecnologias aplicadas e inovação


De acordo com Rogers (2010), autor do livro Diffusion of Atenção
Innovations, a difusão é compreendida como o processo pelo qual
Conforme o Manual de Oslo
uma inovação é comunicada por meio de certos canais entre os inte- (OCDE, 2005, p. 24), “sem
grantes de um sistema social. difusão, uma inovação não tem
impacto econômico”.
Ainda segundo Rogers (2010), a adoção de uma inovação traz
consigo um certo grau de incerteza. Para reduzir essa incerteza, as
empresas buscam convencer as pessoas de que a relação custo-
-benefício é positiva e a inovação será útil em suas vidas. No caso de
uma inovação tecnológica, são incorporadas informações que redu-
zem a incerteza a respeito das relações de causa e efeito na solução
de problemas. Como exemplo prático, pode-se citar que a adoção de
um sistema residencial de captação de água da chuva reduz a incer-
teza sobre futuros aumentos (estabelecidos pelo governo) na fatu-
ra da companhia de saneamento, uma vez que o consumidor ficará
menos dependente do abastecimento de água.
Figura 5
Curva de difusão da inovação

Curva S 100

Percentagem de mercado (%)

75

Abismo 50
34% 34%

13,5% 25
16%
2,5%

0
Inovadores

Adotantes
iniciais

Maioria
inicial

Maioria
tardia

Retardatários

Adotantes

Fonte: Elaborada pela autora com base em Rogers, 2010.

Gestão da inovação tecnológica 21


Conforme a teoria da difusão de inovações, há cinco grupos distin-
tos de pessoas, classificados de acordo com o tempo de adesão a uma
inovação (Figura 5). Os primeiros são os inovadores, que correspondem
a 2,5% da população, pioneiros a testar um novo produto, por serem
os mais propensos a assumir riscos. Tal grupo tende a compartilhar
suas experiências por meio das mídias sociais. O segmento seguinte,
dos adotantes iniciais, constitui um grupo um pouco mais volumoso de
pessoas em relação aos inovadores (mas ainda assim reduzido no que
se refere ao total da população – 13,5%). Esse segmento está disposto
a aderir às inovações adotadas pelos inovadores.
Atividade 3
Após esses dois grupos, existe um ponto chamado de abismo,
Considerando a teoria de difusão que corresponde a um hiato que divide os formadores de opinião do
de inovações, em qual dos cinco
grupos de pessoas organizadas restante da maioria da população. Transpor esse ponto é fundamen-
de acordo com o tempo de tal para que uma inovação seja de fato difundida.
adesão a uma inovação você
acredita estar inserido? Justifi- Ultrapassado o abismo, o próximo grupo é o intitulado maioria
que sua resposta. inicial (correspondente a 34% do total), que leva mais tempo para
aderir a uma inovação, uma vez que aguarda a opinião dos primei-
ros grupos sobre um produto e só após se assegurar dos benefícios
é que toma uma decisão favorável. Na sequência, existe o grupo
denominado maioria tardia (34% da população), representado pelos
indivíduos que só aderem a uma inovação depois de saberem que
Vídeo foi testada e aprovada pela maioria da população. Por último, há
Para conhecer um pouco o grupo dos retardatários (16% dos indivíduos), composto de uma
mais sobre o funciona-
parcela da população muito relutante às mudanças e com menor
mento da difusão das
inovações e os diferentes acesso aos canais de comunicação.
perfis de consumidores,
assista ao vídeo Difusão Para atingir os diferentes grupos, é necessário abordá-los de ma-
de inovações: a curva neira distinta, utilizando meios e formas de comunicação adequados
em “S”.
a cada perfil.
Disponível em: youtu.be/hL-
nO498FPY. Acesso em: 19 jun. 2020. Por meio da curva S é possível mensurar o tempo em que a ade-
(* Embora o vídeo seja bastante
explicativo, deve ser feita uma são a qualquer tipo de inovação passa de 0 a 100% da população.
ressalva em relação à informação O início é plano (inovadores e adotantes iniciais), o meio apresen-
incorreta de percentagem
representativa dos adotantes iniciais, ta uma curva bastante inclinada (maioria inicial e maioria tardia) e
apresentada como 12,5%, quando o o final da curva (retardatários) é plano novamente, formando uma
correto é 13,5%).
curva em formato de S.

22 Tecnologias aplicadas e inovação


1.5 Gestão da inovação tecnológica
Vídeo Nesta seção, anteriormente à apreciação do tema de gestão da
inovação tecnológica, é de fundamental importância compreender
preliminarmente que a tecnologia se divide em três áreas primá-
rias, que serão detalhadas na sequência: produto; processos; e in-
formação e comunicação.

1.5.1 Tecnologia e suas três áreas primárias


A tecnologia, como já citado anteriormente, é amplamente respon-
sável pelos efeitos sociais e econômicos causados pela aplicação de
seus resultados. Ademais, é considerada, também, um dos elemen-
tos primordiais de impacto na concorrência entre empresas (PORTER,
1998). Nesse contexto, é importante compreender que a tecnologia,
como mencionado no início da seção, divide-se em três áreas primá-
rias: tecnologia de produto; tecnologia de processos; e tecnologia da
informação e comunicação (MATTOS; GUIMARÃES, 2012).

Com relação à tecnologia de produto, pode-se afirmar que essa é


normalmente a mais evidente, sendo clara a aplicação de atividades de
P&D em sua obtenção. Muitas vezes, novos produtos são obtidos de acor-
do com a demanda imposta pela sociedade. Em outras, os responsá-
veis da área de P&D do setor produtivo procuram se antecipar, criando
necessidades que as pessoas nem ao menos sabiam que possuíam
(SEBRAE, 2015). Essa antecipação de desejos, frequentemente, aconte-
ce por meio de práticas de gestão da inovação que buscam prospectar
tecnologias futuras. Destaca-se, ainda, o fato de que muitos produtos
tecnológicos gerados instituem a necessidade de criação de produtos
complementares, que constituem as denominadas inovações incrementais.

A tecnologia de processos, por sua vez, engloba os procedimentos


utilizados nas empresas para desempenhar suas atividades, podendo
ser específicas para determinado segmento ou de uso geral.

A terceira área é a tecnologia de informação e comunicação (TIC),


cuja relevância tem sido cada vez maior, especialmente pelo fato de,
atualmente, ser a sociedade do conhecimento, em que a informação é

Gestão da inovação tecnológica 23


o elemento-chave para o desenvolvimento socioeconômico. Portanto,
essa terceira área será mais amplamente discutida.

Conforme Castells (2005), no final do século XX, houve o início de


um novo paradigma tecnológico, em que a tecnologia, tida como cultu-
ra material, abriu espaço para a tecnologia da informação. De acordo
com o autor, essa revolução tecnológica é tão significativa quanto a
Revolução Industrial ocorrida no século XVIII, considerando que, em
ambas as mudanças tecnológicas, o tecido social, econômico e cultural
da sociedade foi impactado como um todo. O uso do conhecimento e
da informação para a criação de novos conhecimentos, retroalimen-
tando o ciclo entre a inovação e sua aplicação, constitui o cerne da atual
revolução tecnológica. “Pela primeira vez na história, a mente humana
é uma força direta de produção, não apenas um elemento decisivo no
sistema produtivo” (CASTELLS, 2005, p. 69).

Para se ter uma ideia da importância das TICs no contexto atual,


a apresentação de alguns dados e informações é bastante oportuna.
No cenário mundial, a União Internacional de Telecomunicações (UIT),
agência oficial da Organização das Nações Unidas (ONU) para divulga-
Livro
ção de estatísticas nas áreas de telecomunicações e de tecnologias da
informação e comunicação, afirma que 53,6% da população mundial
no final do ano de 2019 (aproximadamente 4,1 bilhões de pessoas) fa-
zia uso da internet (ITU, 2019).

No contexto brasileiro, assim como nos demais países, as TICs têm


ganhado muito destaque e sido foco de diversos estudos. Ao consul-
tar o documento Estratégia Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação,
elaborado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comu-
Você pode aprofundar nicações (MCTIC) para o período de 2016 a 2022, é possível conferir a
seus conhecimentos a
respeito da atual era da
intenção dos países em desenvolvimento em reduzir a lacuna digital
informação (com foco referente aos países desenvolvidos. No caso brasileiro, os obstáculos
especialmente nas TICs),
lendo o prestigiado livro
que deverão ser superados são a conectividade a valores acessíveis e
A sociedade em rede: a era a disponibilidade tecnológica para áreas longínquas e com reduzida
da informação, do sociólogo
espanhol Manuel Castells.
quantidade de habitantes (BRASIL, 2016).

CASTELLS, M. 10. ed. São Paulo: Paz Entre as TICs existentes, destacam-se Internet das Coisas, Big Data,
e Terra, 2009.
computação em nuvem, streaming, realidade virtual, realidade aumen-
tada e inteligência artificial.

24 Tecnologias aplicadas e inovação


Internet das Coisas

Originalmente denominada Internet of Things (IoT), compreende a


possibilidade de conectar dispositivos diversos à internet, com base
em códigos de comunicação interligando pessoas, objetos, cidades,
veículos, entre outros. Estima-se que, em 2025, aproximadamente 75
bilhões de dispositivos conectados de IoT estejam instalados em todo o
mundo (CARRION; QUARESMA, 2019). Uma das mais importantes apli-
cações de IoT inclui as denominadas smart cities (cidades inteligentes),
compreendendo cidades que por meio de TICs utilizam seus recursos
de modo mais eficiente, gerando redução de custos. Como consequên-
cia, tornam-se mais sustentáveis, além de incrementar a qualidade de
vida de seus habitantes (JOÃO; SOUZA; SERRALVO, 2019).

Big Data Vídeo


Consiste na área de conhecimento que busca analisar grandes con- Para conhecer um pouco
mais sobre Big Data e
juntos de dados, a fim de extrair informações valiosas que possam suas potencialidades,
ser utilizadas na gestão de negócios (MACHADO, 2018). Algumas das assista ao vídeo O que é
Big Data?, publicado pelo
aplicações de Big Data incluem: I) smart grid (rede elétrica inteligente), canal Algar Tech.
em que a análise de Big Data auxilia na identificação de problemas em Disponível em: http://youtu.be/
transformadores bem como na identificação de comportamentos inco- VIjqX3RhOmc. Acesso em: 22
jun. 2020.
muns dos dispositivos conectados; II) saúde eletrônica, possibilitando o
monitoramento de sintomas dos pacientes on-line para ajustar a pres-
crição ou a adequação de planos de saúde pública conforme os sinto-
mas da população, por exemplo; III) IoT, em que há vários aplicativos
de Big Data compatíveis com empresas de logística, possibilitando, por
Curiosidade
exemplo, a otimização de rotas de entrega; IV) uso em serviços públi-
Conheça o curioso caso
cos, como o de abastecimento de água, com a utilização de sensores de utilização de Big Data
nos dutos para monitoramento do fluxo de água; V) transporte e logís- por parte da empresa
varejista de e-commerce
tica, com o uso de identificação por radiofrequência (RFID) e do sistema Target e saiba qual cone-
de posicionamento global (GPS) para otimização de rotas de ônibus, xão é possível fazer com
a Lei Geral de Proteção
por exemplo; VI) serviços políticos e monitoramento do governo, em de Dados (LGPD), em
que os dados levantados são utilizados para monitorar tendências polí- vigor no Brasil em agosto
de 2020.
ticas, com base em postagens em redes sociais (OUSSOUS et al., 2018).
Disponível em: https://
Computação em nuvem gazetaarcadas.com/2019/08/23/o-
case-de-marketing-da-target-e-a-
Também chamada de cloud computing, compreende a utilização de lgpd/. Acesso em: 22 jun. 2020.
recursos de computação bastante flexíveis, que podem ser consumi-
dos com base no pagamento sob demanda e que são controlados e

Gestão da inovação tecnológica 25


suportados por data centers (RASHID et al., 2020). A praticidade em seu
uso está relacionada ao fato de que os aplicativos podem ser acessa-
dos por meio de qualquer computador que possua acesso à internet.
Alguns exemplos de cloud computing são o Google Apps, Dropbox e
iCloud (Figura 6).

Figura 6
Aplicações de computação em nuvem e Internet das Coisas

Stmool/ shutterstock
Servidores

Portáteis
Aplicação Desktops Indústria 4.0 Veículo autônomo Rede inteligente

Monitorização Colaboração
Conteúdo Comunicação Finança

Plataforma

Agricultura 2.0
IoT Hospital 2.0
Identidade Filas
Armazenamento Motor de Base de
de objetos execução dados
Infraestrutura

Computação Rede
Armazenamento
Tablets
Telemóveis Cidade inteligente Logística inteligente Casa inteligente

Computação em nuvem

Fonte: Adaptada de Wikimedia Commons.

Streaming

É uma ferramenta de distribuição de conteúdo multimídia por meio


Vídeo da internet. Permite ao usuário acessar o material ao fazer o download
Para entender um pouco do aplicativo e criar um perfil para que os recursos sejam atualiza-
mais sobre o conceito e a
dos conforme a demanda (OYEDELE; SIMPSON, 2018). Os serviços de
aplicabilidade da compu-
tação na nuvem, assista streaming mais populares são: YouTube, Netflix e Amazon Prime Video
ao vídeo Você sabe o que
(streamings de vídeo); e iTunes Store e Spotify (streamings de música).
é Cloud Computing, ou
Computação na Nuvem?, Atualmente, o Brasil ocupa a sexta posição no mundo em visualização
publicado no Canaltech.
de streamings, atrás apenas da Índia, da Coreia do Sul, da Austrália, da
Disponível em: http://youtu.be/ Indonésia e da Tailândia (CUPONATION, 2019).
FDFejm-ovtI. Acesso em: 22 jun. 2020.
Realidade virtual e realidade aumentada

A imersão do usuário em um mundo virtual, desassociado do mun-


do real, possibilitado por diversos efeitos de som e imagens é chamada
de realidade virtual. Em outras palavras, trata-se de uma experiência

26 Tecnologias aplicadas e inovação


que inclui a interação e a imersão proporcionada em tempo real por
um dispositivo, resultando em imagens gráficas 3D (SILVA et al., 2017).
As áreas em que a realidade virtual pode ser aplicada incluem: científi-
cas, educacionais, de entretenimento, entre outras. Já a realidade au-
mentada, pode ser definida como a associação de objetos virtuais ao
ambiente físico do mundo real ampliado, utilizando um equipamento
como um smartphone, por exemplo. A realidade aumentada potencia-
liza a compreensão e a comunicação entre o usuário e o mundo real.
Entre as aplicações, há as ligadas ao entretenimento, caso do jogo ele-
trônico Pokémon GO, e as destinadas aos portadores de necessidades
especiais, como a utilização de recursos de áudio para usuários com
dificuldades visuais (CARMIGNIANI; FURHT, 2011).

Inteligência artificial (IA)

Pode ser compreendida como a produção de equipamentos que,


mediante programação prévia, estejam aptos a assimilar conhecimen- Filme

tos utilizando algoritmos bastante estruturados. Tal conhecimento Ambientado na África do


Sul, a força policial em
pode ser direcionado para a resolução de problemas e facilitar a co- Chappie é composta de
municação com base nos dados disponibilizados. A IA pode ser sub- robôs providos de inteli-
gência artificial. Quando
dividida em machine learning (aprendizado contínuo) e deep learning um deles é danificado,
(capacitação para a execução de tarefas mais difíceis) (DAMACENO; seu criador o reconstitui,
fazendo com que Cha-
VASCONCELOS, 2018). ppie tenha emoções e
pensamentos próprios.
O uso adequado das TICs permite às empresas incrementar sua
Direção: Neill Blomkamp. Estados
capacidade inovativa, obtendo em troca vantagem competitiva no Unidos, África do Sul, México. Sony
mercado em que atuam. Ademais, o novo paradigma tecnológico Pictures Entertainment, 2015.

das TICs revoluciona todas as áreas da sociedade, fazendo com que


a gestão da inovação tecnológica adquira importância fundamental
como ferramenta de gerenciamento das transformações decorren-
tes do novo paradigma. Vídeo
Para compreender as
características e as
1.5.2 Gestão da inovação tecnológica diferenças entre a reali-
dade virtual e a realidade
aumentada, assista ao
Na visão de Mattos e Guimarães (2012, p. 63), a “gestão da tecnolo-
vídeo Qual é a diferença
gia aborda todos os aspectos de planejamento, organização, execução entre Realidade Virtual
e Realidade Aumentada,
e controle de atividades empresariais desenvolvidas em ambientes in-
publicado pelo canal
tensivos em tecnologia”. GCFAprendeLivre.

A gestão da inovação tecnológica, igualmente, engloba o gerencia- Disponível em: http://youtu.be/


oJvFwen0ExI. Acesso em: 28 maio
mento dos recursos disponíveis por parte da empresa, com o intuito de 2020.
aperfeiçoar os produtos e processos já disponíveis ou, ainda, de aplicar

Gestão da inovação tecnológica 27


o conhecimento para criar outros, que possam vir a ser produzidos e
comercializados. Uma gestão tecnológica bem realizada é um dos as-
pectos mais relevantes para o sucesso de uma empresa (LOUREIRO,
2000). Ainda, nas palavras de Mattos e Guimarães (2012, p. 61), “a tec-
nologia é provavelmente o mais importante fator para o aumento da
competitividade global de uma empresa”.

E quais os fatores necessários para uma gestão da inovação tec-


nológica de qualidade? Além de proteger a tecnologia utilizando os
mecanismos de propriedade intelectual e realizar a transferência de
tecnologia, efetuar práticas de inovação como benchmarking, vigilân-
cia tecnológica e prospecção tecnológica (LOUREIRO, 2000).

Ressalta-se que a gestão da inovação tecnológica deve ser realizada


de acordo com as características de cada organização, pois não há um
modelo ideal que possa ser aplicado de maneira generalizada. Nesse
Glossário
sentido, além da escolha das práticas de inovação mais adequadas e
Transferência de tecnologia:
da proteção e transferência da tecnologia, as empresas devem selecio-
trata-se do processo de trans-
missão de conhecimento técnico nar os projetos que representem maiores oportunidades de sucesso.
de uma instituição para outra. Dessa forma, pode-se imaginar esse processo como um funil de inova-
No caso do Brasil, os contratos
de transferência de tecnologia ção, também denominado funil de oportunidades (Figura 7).
são averbados pelo Instituto Figura 7
Nacional da Propriedade Funil de inovação
Industrial (INPI).
Filtro 1 Filtro 2

Embarcar

Fase 1 Fase 2 Fase 3

Geração de ideias de Detalhamento das Desenvolvimento


produto/ processo e fronteiras do projeto rápido e focado
desenvolvimento do conceito. e do conhecimento de projetos de
requerido. diferentes tipos.

Fonte: Bagno, Melo e Cheng, 2018, p. 14.

Ao analisar a Figura 7, é possível perceber a imagem de um funil


com uma entrada bem ampla, que representa a captação das mais va-
riadas ideias, um corpo um pouco mais estreito em que há análise e de-
talhamento das tecnologias e, por último, uma saída bastante estreita,

28 Tecnologias aplicadas e inovação


o que evidencia que as organizações precisam investir seus escassos
recursos em tecnologias promissoras, a fim de que sejam comerciali-
záveis e lucrativas (BAGNO; MELO; CHENG, 2018). O funil de inovação
pode, então, ser considerado um “método visual para lidar com novas
ideias e inovações, e fornece uma base adequada para representar,
monitorar e gerir a inovação na empresa” (GAVIRA et al., 2007, p. 80).

De maneira bastante ilustrativa, é possível verificar na Figura 8 as


diversas etapas do funil de inovação, iniciando pelo levantamento (1);
na sequência, pelo processo de seleção (2); delimitação dos recursos
disponíveis (3); implementação (4); e, por último, culminando na apren-
dizagem (5).

Figura 8
Processo de gestão da inovação

Reconhecimento Criatividade
e recompensa
1
Inovação Levantamento Proposta
introduzida ou de ideias
implementada

4 5 2
Implementação Aprendizagem Seleção

Recursos para Oportunidade(s)


implementar e estratégia(s)
3
definida(s)
Definição de
recursos
Capacitação Comunicação
Saiba mais
Fonte: Carvalho, Reis e Cavalcante, 2011, p. 57. Para saber mais sobre o
funil de inovação, leia o
Vale ressaltar, igualmente, que a gestão tecnológica concerne artigo Gestão da inovação
tecnológica: uma análise
à competência da empresa de tornar produtivo o conhecimento e
da aplicação do funil de
a informação, além de ter também como meta sempre a melhoria inovação em uma organi-
zação de bens de consumo.
contínua. À vista disso, a empresa deve ser compreendida de modo
abrangente, tornando imperativa a necessidade de se adaptar a novos Disponível em: https://
www.redalyc.org/
cenários, operando em um ambiente dinâmico com base na troca de pdf/1954/195416699005.pdf.
informações, serviços e recursos. Acesso em: 22 jun. 2020.

Gestão da inovação tecnológica 29


1.6 Práticas de gestão da inovação
Vídeo O despertar de uma consciência quanto à importância da inovação
vem sendo comprovado pela ampla discussão do tema nos mais diver-
sos setores. Nos países em desenvolvimento, como é o caso do Brasil,
o debate sobre essa questão revela-se de suma importância para ala-
vancar o desenvolvimento econômico e social.

Importante Nesse sentido, diversas são as práticas de inovação desenvolvidas


com o objetivo de contribuir para o processo de gestão da inovação e,
O termo janelas de oportunida-
des decorre da descontinuação consequentemente, vir a gerar vantagens competitivas para o setor pro-
de um caminho tecnológico em dutivo. Entre elas, serão tratadas as práticas de: prospecção tecnológica,
que surgem novas oportunida-
roadmap, inteligência competitiva, vigilância tecnológica e benchmarking.
des. A ocorrência de inovações
disruptivas abre janelas de Prospecção tecnológica
oportunidades para que novas
empresas especializadas na Pode ser compreendida como o conjunto de atividades de sondagem
tecnologia inovadora possam das transformações tecnológicas com o objetivo de adicionar conheci-
despontar (TIGRE; NASCIMENTO;
COSTA, 2016). mento ao processo de gestão tecnológica. É uma busca de informações
que possam ajudar a prever possíveis futuros cenários tecnológicos
(AMPARO; RIBEIRO; GUARIEIRO, 2012). A prática de prospecção tecnoló-
gica permite a identificação de gargalos científicos e tecnológicos, possi-
bilitando a abertura de janelas de oportunidades para a implementação
da atividade de P&D com consequente impacto social.

Aliado ao conceito de janelas de oportunidades, há também o de


leapfrogging, que é o salto dado pelas empresas quando surge uma
tecnologia disruptiva, a fim de se inserir em áreas de alta densidade
tecnológica, sem a necessidade de transcorrer as fases intermediárias
Curiosidade (TIGRE; NASCIMENTO; COSTA, 2016).
Um exemplo bastante atual de Roadmap
leapfrogging é o Nubank, uma
das mais importantes fintechs Prática que teve início com a indústria automotiva dos Estados
(abreviação de tecnologia finan- Unidos, mas que foi alavancada especialmente pela empresa Motorola
ceira) do mundo. O Nubank é
uma startup brasileira que presta entre as décadas de 1970 a 1980 (PROBERT; RADNOR, 2003). Essa ferra-
serviços bancários por meio da menta busca prever as etapas indispensáveis para atingir os objetivos
utilização de smartphones, de tecnológicos almejados, podendo ser utilizadas em sua estruturação,
maneira bem menos burocrática
que os bancos tradicionais, dis- entre outras técnicas, como questionários, entrevistas e pesquisa de
ponibilizando acesso a serviços patentes (RIBEIRO et al., 2018). Os roadmaps “estruturam a planificação
como cartão de crédito a taxas
estratégica e o desenvolvimento, a exploração de caminhos de cresci-
reduzidas.
mento e o acompanhamento das ações que permitem chegar aos ob-
jetivos” (COELHO; BOTELHO JR.; TAHIM, 2012, p. 170).

30 Tecnologias aplicadas e inovação


Figura 9
Esquema de roadmap tecnológico

Tempo

Mercado M1 M2

P1 P2 P3
Produto
P4

T1 T2
Tecnologia
T3 T4

Programas PD1 PD2 PD4 PD6


de P&D PD3 PD5

Investimento de capital/finanças
Recursos Cadeia de suprimentos
Funcionários/
Habilidades

Fonte: Adaptada de Phaal, 2018, p. 133.

De acordo com Phaal (2018), o roadmap tecnológico é uma impor-


tante técnica de suporte ao planejamento e gerenciamento tecnológico
em uma empresa. Embora possa apresentar diversas configurações, a
mais aceita é a proposta pela European Industrial Research Management
Association (EIRMA), uma organização independente, sem fins lucrati-
vos, que busca a troca de experiências e melhores práticas em geren-
ciamento de P&D. Com base no tempo, são apresentadas as diversas
etapas sob as perspectivas comercial e tecnológica, demonstrando que
há ligações entre os diferentes segmentos (Figura 9).

Inteligência competitiva

É um procedimento de prospecção de curto prazo, que consiste


em uma avaliação do cenário produtivo, bem como do desempenho
da concorrência, possibilitando à organização manter sua posição de
mercado ou obter uma vantagem competitiva. No caso específico da
inteligência competitiva tecnológica, são levantados e considerados os
dados relativos à ciência e tecnologia, visando identificar as tendências
de mercado em um cenário de longo prazo (RIBEIRO et al., 2018).

Gestão da inovação tecnológica 31


Para que a inteligência competitiva produza resultados satis-
fatórios, há que se realizar o mapeamento e a prospecção de da-
Glossário dos, informações e conhecimento tanto internos quanto externos
(do inglês, stake = participação à organização. Além disso, requer o conhecimento de todos os
e holder = titular, detentor), stakeholders (VALENTIM, 2002). “A inteligência competitiva pressu-
representa a parte interessada
em uma instituição, empresa
põe o desenvolvimento da capacidade de identificar, sistematizar e
ou em um negócio específico, interpretar sinais do ambiente externo das organizações, para ali-
podendo ser um indivíduo ou mentar processos de decisão” (CANONGIA et al., 2004, p. 232).
um grupo.
Vigilância tecnológica

É uma ferramenta de baixo custo que possibilita a adequação das


tecnologias existentes àquelas que se destacam no segmento. Nesse
processo, não há criação de uma tecnologia, nem a possibilidade de
haver exclusividade sobre seu uso. O benchmarking é um caso de vigi-
lância tecnológica (REIS, 2008). É importante destacar que a vigilância
tecnológica está orientada à coleta e análise minuciosa de informa-
ções científicas no presente (CARVALHO; REIS; CAVALCANTE, 2011),
sendo importante a detecção de ameaças e oportunidades externas à
organização para auxiliar no processo de tomada de decisões.

Benchmarking

Consiste basicamente em uma “ferramenta de gestão utilizada


Site
para avaliar vários aspectos de uma organização em comparação
Conheça um exemplo
às melhores práticas do setor” (TOLEDO, 2009, p. 144). De acordo
de aplicação prática de
benchmarking disponível com o Tribunal de Contas da União (TCU, 2000), existem três tipos
por aplicativo ao usuário
de benchmarking: benchmarking organizacional, em que são com-
comum. Para isso, leia o
artigo Aplicativo permite paradas instituições entre si com foco no reconhecimento de boas
testar o desempenho
práticas; benchmarking de desempenho, em que a comparação se
do celular e a saúde da
bateria, do autor Filipe dá por meio de indicadores de desempenho; benchmarking de pro-
Garrett, publicado no site
cesso, que tem como base a confrontação de processos organiza-
TechTudo.
cionais, podendo ocorrer no nível interno (entre departamentos de
Disponível em: https://www.
techtudo.com.br/tudo-sobre/ uma mesma instituição) ou no nível externo (entre instituições).
antutu-benchmark.html. Acesso
em: 22 jun. 2020. No caso específico da prática de benchmarking tecnológico, tem-se
como consequência a exposição das lacunas (gaps) tecnológicas
existentes entre uma instituição e as demais organizações líderes
em determinado segmento, devendo, portanto, ser uma prática
constantemente utilizada.

32 Tecnologias aplicadas e inovação


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Investimentos em inovação geram impactos benéficos à sociedade.
Entre eles, podem ser citados o aumento do nível socioeconômico da
população, proporcionado pela elevação da taxa de emprego e o conse-
quente aumento do nível de renda. Em termos de nação, a inovação traz
como resultado a independência tecnológica em relação a outros países.
Tendo em mente tais efeitos positivos, este capítulo se propôs a auxiliar
na compreensão dos principais conceitos relacionados ao tema em ques-
tão, os tipos de inovação existentes, os impactos causados pela inovação
e de que forma ocorre seu processo de difusão. Por fim, o entendimento
de como transcorre a gestão da inovação tecnológica e as principais práti-
cas de inovação conclui essa primeira etapa de fundamental importância.
O campo de conhecimento relativo à inovação é extremamente vasto.
Portanto, não foi objetivo deste capítulo esgotar a análise dos tópicos es-
tudados, mas apontar, para você, caminhos e estimular o aprofundamen-
to de tais conhecimentos.
Boa sorte em seus estudos!

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GABARITO
1. A observação de pássaros está localizada no quadrante inferior esquerdo, onde cons-
tam os estudos que não estão voltados às aplicações práticas, mas que buscam exa-
minar fenômenos específicos (gerando pouco conhecimento). O exemplo do estudo
de Mendel sobre ervilhas localiza-se no quadrante superior à esquerda, que repre-
senta a pesquisa básica pura, em que há a busca por novos conhecimentos, sem uma
aplicação prática (pelo menos em um primeiro momento). A linha de montagem de
Henry Ford está posicionada no quadrante no canto inferior direito (pesquisa aplica-
da), que não tem como objetivo criar conhecimentos, mas focar em aplicações práti-
cas. A descoberta dos raios X pelo físico alemão Wilhelm Conrad Röntgen está situada
no quadrante do canto superior direito, em que há uma intensa procura por novos
conhecimentos com a busca por aplicações práticas.

Gestão da inovação tecnológica 35


2. A inovação disruptiva possui como característica o fato de representar uma ruptura
com o status quo, criando demandas e mercados, ao passo que a inovação incremental
se caracteriza por constituir a introdução de uma melhoria em um produto ou proces-
so existente, ocorrendo sempre no mesmo nível tecnológico da inovação disruptiva
correspondente.

3. (Reposta pessoal). Vale lembrar que os cinco grupos de indivíduos classificados con-
forme o tempo que aderem a uma inovação são: 1) inovadores (2,5% da população),
que constituem os primeiros a experimentar um produto, caracterizados como indiví-
duos dispostos a correr riscos; 2) adotantes iniciais (13,5% do total), tidos como for-
madores de opinião, sentem-se estimulados a experimentar as inovações já testadas
pelos inovadores; 3) maioria inicial (34% da população), tomam a decisão de testar
um novo produto após saber a opinião e conhecer os benefícios apontados pelos
dois primeiros grupos; 4) maioria tardia (34% dos indivíduos), aguardam uma ampla
disseminação da inovação para tomarem uma decisão de aquisição; e 5) retardatá-
rios (16% do total), grupo muito resistente às mudanças, que só adere a uma inovação
(algumas vezes nem a adota) quando a maioria da população já a utiliza, ressaltando
que são indivíduos com baixo acesso aos canais de comunicação.

36 Tecnologias aplicadas e inovação


2
Inovação e seus
fundamentos tecnológicos
A sociedade passou por muitas transformações ao longo de
toda sua história. Contudo, para o tema da inovação, destacam-se
os fatos ocorridos após a Revolução Industrial, com o surgimento
do capitalismo industrial, também denominado industrialismo.
Buscando conhecer um pouco mais sobre essa trajetória, este
capítulo tratará, inicialmente, do tema inovação e sua relação com
uma das principais personalidades ao se refletir sobre o assunto
– Joseph Schumpeter. Como não podia ser diferente, serão anali-
sados também os desdobramentos dos estudos de Schumpeter,
com os avanços de suas teorias realizados pelos denominados
neoschumpeterianos.
Na sequência, serão apresentadas as cinco revoluções tecno-
lógicas, contendo suas principais características e pensadores de
destaque de cada período. Por último, por meio de um panorama
da inovação no Brasil, serão contemplados alguns dos principais
indicadores relativos ao tema, como volume de artigos científicos,
bem como mestres e doutores titulados, entre outros.

2.1 Schumpeter e inovação


Vídeo Joseph Alois Schumpeter (1883-1950) foi um dos economistas mais
célebres da história. Seus esforços aconteceram especialmente no
campo das inovações tecnológicas. Foi autor de diversas obras muito
prestigiadas, como Teoria do desenvolvimento econômico (1912), Ciclos
econômicos (1939) e Capitalismo, Socialismo e Democracia (1942).

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 37


Uma das maiores contribuições de Schumpeter partiu dos estudos
Figura 1
Schumpeter realizados pelo economista russo Nikolai Kondratieff. Em 1922, no li-
vro A economia mundial e sua conjuntura durante e depois da guerra,
Kondratieff reconheceu pela primeira vez a existência do fenômeno
das ondas longas (ciclos econômicos), de aproximadamente 50 anos de
duração. Entretanto, apesar de seus estudos terem sido de extrema
relevância, o autor não foi capaz de atribuir fatores causais específicos
para tais ondas.

Schumpeter, então, debruçando-se sobre tal estudo, atribuiu as


ondas de Kondratieff às revoluções tecnológicas e ao processo de
disseminação de inovações na economia mundial. De acordo com o
Wi

m
ed
ki

ia
C omm
ons raciocínio de Schumpeter, o desenvolvimento econômico ocorre por
meio de um processo dinâmico alicerçado nas denominadas inova-
Biografia ções radicais, em que há descontinuidade no processo econômico.
Segundo ele, as novas tecnologias substituem as antigas, em um mo-
Wikimedia Commons

vimento chamado destruição criadora, o qual ele considera a essência


do capitalismo (SCHUMPETER, 1961), em que se destrói o velho para
se construir o novo.

Com base nos estudos de Karl Marx, Schumpeter estabeleceu sua


teoria do desenvolvimento amparada na concepção de monopólio
Nikolai Dimitrievich Kondratieff temporário do inovador. Nessa concepção, a duração de uma novida-
(1892-1938), economista russo, de está relacionada ao tempo necessário para o concorrente realizar a
célebre pelo pioneirismo na
busca por demonstrar estatisti- reprodução, e algumas vezes, à proteção legal gerada pelas patentes
camente o fenômeno das ondas (TIGRE, 2006).
longas, ciclos econômicos de
aproximadamente 50 anos, co- De acordo com a linha de raciocínio de Schumpeter, o lucro é resul-
nhecidos posteriormente como tado de um processo de inovação, tendo destaque a figura do empreen-
ciclos de Kondratieff. Como suas
dedor (KISHTAINY et al., 2013), o qual representa o indivíduo que assume
ideias eram contrárias às de
Stalin, acabou por ser executado. riscos e que pode ser considerado um herói do desenvolvimento. Essa
figura retrata aquele que está disposto a sair da zona de conforto e ir
Vídeo além do status quo.
Para conhecer um pouco
Os estudos de Schumpeter produziram, ainda, terreno fértil para
mais sobre Schumpeter
e suas ideias, assista que outros pensadores pudessem desenvolver novos trabalhos. Tais
ao vídeo A Evolução de
estudiosos são denominados neoschumpeterianos, destacando-se entre
Schumpeter, produzido
pelo Grupo Design e eles nomes como Christopher Freeman, Carlota Perez, Richard Nelson,
Inovação.
Nathan Rosenberg, Sidney Winter e Giovanni Dosi. Essa corrente de
Disponível em: https://youtu.be/ pensamento vem contribuindo para o entendimento das revoluções
YNhO5wHib98. Acesso em: 18
jun. 2020. tecnológicas, desde o início dos anos 1980, analisando o papel funda-
mental das inovações (LASTRES; FERRAZ, 1999).

38 Tecnologias aplicadas e inovação


Partindo das definições de destruição criadora e inovação disrupti-
va, surge o conceito de paradigmas científicos, estabelecido pelo filósofo
Thomas Kuhn (1922-1996) em sua análise do progresso da ciência. Con-
forme Kuhn, a ciência progride por meio da conquista de novos para-
digmas (LASTRES; FERRAZ, 1999), recebendo nomenclaturas diversas,
especificamente paradigma tecnológico (DOSI, 1982) e paradigma tec-
noeconômico (PEREZ, 1983). Ambos significam a natureza descontínua
decorrente do crescimento econômico ao longo da história, resultado
das inovações tecnológicas.

De acordo com Giovanni Dosi (1982), o paradigma tecnológico en-


globa um conjunto de trade-offs técnicos e econômicos realizados pe- Glossário
las empresas em determinadas circunstâncias. Essas escolhas, contidas trade off: termo em inglês
em uma estrutura técnico-produtiva, moldam as trajetórias tecnológi- que significa troca, consistindo
na escolha de uma opção em
cas. Posteriormente, Cristopher Freeman e Carlota Perez, de acordo
prejuízo de outra.
com Fuck (2007), expandiram esse conceito de paradigma tecnológico,
passando a analisar outros fatores além do progresso técnico no es-
tudo do processo competitivo. Esses autores buscaram compreender
os motivos pelos quais certas indústrias funcionam como motores do
crescimento em determinados períodos e quais as razões das mudan-
ças de estratégias competitivas das empresas mediante transforma-
ções no ambiente de inovação.

Três características configuram um grupo de inovações ou elemen-


tos essenciais encontrados em cada paradigma: 1) extensas possibi-
lidades de uso; 2) redução contínua do custo unitário; e 3) demanda
crescente. O novo paradigma propicia ganhos de produtividade, pois
novas possibilidades econômicas irrompem. Comumente é nos países
desenvolvidos que surgem elevados investimentos nas indústrias que
integram o centro desse novo paradigma. “Cada novo paradigma tecno-
-econômico traz novas combinações de vantagens políticas, sociais, eco-
nômicas e técnicas, tornando-se o estilo dominante durante uma longa
fase de crescimento e desenvolvimento econômico” (LASTRES; FERRAZ,
1999, p. 32, grifo do original).

Muitos autores neoschumpeterianos dividem a evolução do capi-


talismo em cinco revoluções tecnológicas, em que novas formas de
crescimento e novos ajustes produtivos ocorrem em cada uma delas.
Carlota Perez, por sua vez, autora venezuelana neoshumpeteriana, é
estudiosa do processo de disseminação ocorrido em cada revolução
tecnológica bem como de seus efeitos transformadores em todos os

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 39


aspectos da economia e da sociedade; entre eles, a influência nos rit-
mos do crescimento econômico. Seus estudos têm como base as análi-
ses de Kondratieff a respeito dos longos ciclos econômicos na trajetória
capitalista, buscando compreender as mudanças decorrentes do surgi-
mento de novos paradigmas tecnoeconômicos.

No Quadro 1 são apresentadas as cinco revoluções tecnológicas


desde a Revolução Industrial, contemplando as principais indústrias e
infraestruturas de cada período, conforme o modelo de Perez (2009).
Ainda, são expostas as datas aproximadas de ocorrência das ondas
de Kondratieff, de acordo com o modelo estabelecido por Freeman
e Soete (2008). Desse modo, no momento em que as oportunidades
de investimentos relativas ao novo paradigma passam a se tornar
reduzidas, há uma elevação do nível de investimento nos países em
desenvolvimento.

Quadro 1
Cinco revoluções tecnológicas: principais indústrias e infraestruturas.

Revolução Ondas de Novas tecnologias e Infraestruturas novas ou


tecnológica Kondratieff indústrias ou redefinidas redefinidas

Primeira: Revolução Indus- • Indústria mecanizada de al- • Canais e vias navegáveis.


Revolução trial: produção godão. • Estradas pedagiadas.
Industrial em fábricas de • Ferro forjado. • Água potável (rodas de água
(1780-1840) têxteis • Maquinário. altamente melhoradas).

• Motores a vapor e maquiná-


• Estradas de ferro (uso de
rio (fabricados em ferro, ali-
motor a vapor).
mentados a carvão).
• Serviço postal universal.
• Mineração de ferro e carvão
Segunda: • Telégrafo (principalmente a
Era da energia (que agora desempenha um
Idade do vapor e papel central no crescimen- nível nacional ao longo das
a vapor e das
das ferrovias to).* linhas ferroviárias).
ferrovias
(1840-1890) • Construção de vias férreas. • Grandes portos, grandes
depósitos e navios à vela em
• Produção de frota de trens.
todo o mundo.
• Energia a vapor para muitas
• Gás da cidade.
indústrias (incluindo têxteis).
(Continua)

40 Tecnologias aplicadas e inovação


Revolução Ondas de Novas tecnologias e novas Infraestruturas novas ou
tecnológica Kondratieff indústrias ou redefinidas redefinidas

• Aço barato (especialmente


• Transporte mundial em na-
aquele advindo do processo
vios a vapor rápidos (uso do
Bessemer).
Canal de Suez).
• Pleno desenvolvimento da
• Ferrovias transcontinentais
máquina a vapor para navios
Terceira: (uso de trilhos e parafusos
de aço.
Era da de aço baratos em tama-
Idade do aço, da • Química pesada e engenharia
eletricidade nhos padrão).
eletricidade e da civil.
e da siderurgia
engenharia pesada • Grandes pontes e túneis.
• Indústria de equipamentos
(1890-1940) • Telégrafo mundial.
elétricos.
• Telefone (principalmente na-
• Cobre e cabos.
cionalmente).
• Alimentos enlatados e engarra-
• Redes elétricas (para ilumi-
fados.
nação e uso industrial).
• Papel e embalagens.

• Automóveis produzidos em
massa.
• Redes de estradas, rodovias,
• Óleo e combustíveis baratos.
Quarta: portos e aeroportos.
Era da produ-
• Petroquímicos (sintéticos).
Idade do petróleo, ção em massa • Redes de dutos de óleo.
• Motor de combustão interna
do automóvel e (“fordismo”) de • Eletricidade universal (indús-
para automóveis, transporte,
da produção em automóveis e de tria e residências).
tratores, aviões, tanques de
massa materiais sinté-
guerra e eletricidade. • Telecomunicações analógi-
(1940-1990) ticos
cas mundiais (telefone, telex
• Eletrodomésticos.
e cabograma) com e sem fio.
• Alimentos refrigerados e con-
gelados.

• Telecomunicações digitais
• A revolução da informação. mundiais (cabo, fibra ótica,
rádio e satélite).
Quinta: • Microeletrônica barata.
Era da mi- • Internet/correio eletrônico e
Idade da informa- • Computadores, software.
croeletrônica outros serviços eletrônicos.
ção e das teleco- • Telecomunicações.
e das redes de • Fonte múltipla, uso flexível,
municações
computadores • Instrumentos de controle. redes de eletricidade.
(1990-?)
• Biotecnologia auxiliada por • Ligações de transporte físico
computador e novos materiais. multimodal de alta velocida-
de (por terra, ar e água).

* Essas indústrias tradicionais adquiriram um novo papel e um novo dinamismo ao servirem como material e combustível do
mundo das ferrovias e maquinaria.

Fonte: Adaptado de Perez, 2009; Freeman e Soete, 2008, p. 47.

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 41


Na Figura 2, podemos verificar que os aproximados 50 anos de uma
onda longa de desenvolvimento são divididos em três períodos, con-
forme Arend e Fonseca (2012): instalação, equivalente aos 20-30 anos
iniciais do paradigma tecnoeconômico; intervalo de reacomodação,
duração de poucos anos até aproximadamente uma década; e des-
prendimento, duas ou três décadas seguintes, em que há a dissemi-
nação total da revolução tecnológica.

Figura 2
Sequência recorrente na relação entre o capital financeiro e o capital produtivo em uma onda
longa de desenvolvimento.

Grau de difusão
da revolução Período de Intervalo de Período de
tecnológica instalação reacomodação desprendimento

Onda MATURIDADE
anterior

Difusão forçada e liderada Oportunidades de


pelo capital financeiro SINERGIA investimento decrescentes
“Dinheiro ocioso” movendo-se
FRENESI para outras áreas, setores e
Bolha tecnológica Crescimento coerente regiões
Inflação no valor dos ativos Dominância do capital
produtivo
Dominância financeira
Plena expansão do
Intenso crescimento dos setores-
potencial inovativo e do
núcleo da revolução e da
mercado
infraestrutura
IRRUPÇÃO
Revolução tecnológica
Financiamento intensivo de novas ÉPOCA DE BONANÇA
tecnologias
Desprezo por ativos tradicionais Próxima
onda
Capital financeiro “casado com a
revolução”

Big-bang Próximo TEMPO


Colapso Recomposição big-bang
institucional

Fonte: Arend e Fonseca, 2012, p. 37.

O período de instalação se subdivide em: irrupção e frenesi. O pri-


meiro consiste no período que o capital financeiro se une ao capital
produtivo, pois a perspectiva de geração de riqueza é muito alta. No
segundo, o capital financeiro fica tão interessado pelo lucro que vislum-
bra, que acaba gerando uma bolha tecnológico-financeira. Isso faz com
que haja uma elevação acentuada dos preços dos ativos financeiros,
ocasionando um colapso financeiro. Nessa fase, predominam as ideias
do liberalismo.

42 Tecnologias aplicadas e inovação


No período denominado intervalo de reacomodação, o Estado
passa a intervir, estabelecendo critérios de longo prazo do capital pro-
dutivo, em substituição aos critérios financeiros de curto prazo para o
investimento. Cada política adotada é única, pois se adequa às particu-
laridades de cada paradigma.

O período de desprendimento se subdivide em sinergia, em que Atividade 1


há dominância do capital produtivo, com plena expansão do potencial Para fixar o conteúdo acerca das
de inovação e maturidade, na qual há decréscimo das oportunidades ondas longas de desenvolvi-
mento, enumere e explique
de investimento, gerando um volume de “dinheiro ocioso” em busca de os períodos em que elas se
novas oportunidades. subdividem.

Apesar de haver ainda uma parcela de descrença sobre a existên-


cia de um princípio de ondas longas de desenvolvimento, a economia
mundial se comporta de maneira muito diversa à apregoada pela eco-
nomia neoclássica – de maneira equilibrada e contínua. A análise de
ciclos longos de desenvolvimento permite compreender a influência
das inovações e os aspectos da infraestrutura presentes em cada para-
digma (TIGRE, 2006).

2.2 Revoluções tecnológicas


Vídeo A sociedade passou por muitas transformações e avanços ao longo
de sua trajetória. Entre as razões que impeliram as transformações da
sociedade industrial para a sociedade do conheci-
mento estão o progresso tecnológico, a educação, o Vídeo
Para saber mais sobre os
conhecimento, a mudança no papel do Estado e a
200 anos da economia
globalização da economia (FONTANELA, 2017). global, desde a Revolução
Industrial, assista ao
No intuito de contextualizar a tecnologia com re- vídeo A imaginação
lação à evolução histórica humana, bem como sob o econômica, publicado
pelo canal Companhia
prisma dos mais renomados pensadores, optou-se das Letras.
por utilizar a classificação adotada por Perez (2009) – Disponível em: https://youtu.
conforme o Quadro 1 –, que divide a história, a partir be/RaggxZrWfSY. Acesso em: 17
jul. 2020.
da Revolução Industrial, em cinco revoluções tecno-
lógicas, cada uma apresentando novos paradigmas
tecnoeconômicos.

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 43


2.2.1 Primeira Revolução Tecnológica – Revolução
Industrial (1780-1840)
Figura 3
Representação da Primeira Revolução Tecnológica - Revolução Industrial

Wikimedia Commons
No século XV, diante de uma crise do feudalismo, surgiu um conjun-
to de práticas econômicas denominadas mercantilismo, que estimulava
a acumulação de reservas de metais preciosos sob a intervenção do
Estado. Esse movimento representava a passagem do período feudal
para o capitalismo.

Até o início do século XVIII, a atividade econômica predominante era


a agricultura, com os fisiocratas franceses considerando que a riqueza
era medida pelo excedente econômico dessa atividade. Eram adeptos
do conceito de laissez-faire, ou seja, do liberalismo econômico, em que o
Estado só interviria para a proteção dos direitos de propriedade. Embo-
ra existissem corporações de ofício voltadas ao trabalho cooperativo,
ainda não havia o conceito de fábrica, e os trabalhos eram realizados
de modo artesanal (TIGRE, 2006).

À vista disso, é importante ressaltar que, embora a França possuísse


maior desenvolvimento científico-tecnológico, as estruturas sociais da
época eram estáticas; não permitindo mobilidade social. Esse cenário
se reproduzia nas instituições, o que impossibilitava considerável pro-
gresso. Por outro lado, a Inglaterra conquistou posição de destaque
e, como bem disse Hobsbawm (2007), foi a predisposição institucional

44 Tecnologias aplicadas e inovação


para o desenvolvimento que possibilitou o êxito inglês. Assim, um as-
pecto fundamental dessa dinâmica foi a união Estado-empresariado,
fator escasso no território francês durante a Era das Revoluções.

Dessa forma, a Inglaterra possuía, nesse momento, um conjunto


de características sociais, políticas e econômicas propícias às transfor-
mações criadas pela Revolução Industrial. Entre os atributos essenciais
para ser uma nação com elevado potencial de geração de crescimento
econômico estavam a acumulação de capital; localização geográfica;
relativa mobilidade social; princípios favoráveis à inovação e aos ne-
gócios; conjunto de técnicas industriais; possibilidade de obtenção de
financiamentos e acesso a relevantes mercados, por seu sistema pre-
ponderantemente comercial; além de sua tradição científica (FREEMAN;
SOETE, 2008).

Ademais, a Inglaterra, por possuir um sistema jurídico autônomo,


que assegurava tanto a propriedade física quanto intelectual (por inter-
médio das patentes), garantiu aos capitalistas a segurança necessária
quanto a seus bens. Vale ainda destacar que o principal fator para uma
mudança tão profunda da ordem era a aceitação de que os resulta-
dos advindos do processo de mecanização superariam os custos de
implantação e a relutância dos trabalhadores (TIGRE, 2006)

Nesse sentido, o conceito de progresso tecnológico, que ocorre Biografia


por meio da inovação e da geração de conhecimento como motor
para o crescimento econômico, começa a fazer parte do pensamento

Natata/Shutterstock
econômico a partir do final do século XVIII (SOETE; WEEL, 1999). Os
progressos materiais que mais chamam atenção nesse período são:
1) a alteração da fonte de energia humana e animal pelo vapor; 2)
recursos mecânicos substituindo aptidões humanas; e 3) aperfeiçoa-
mento das técnicas de extração e transformação das matérias-primas
(LANDES, 1994).
Max Weber (1864-1920) foi
Essa conjunção de fatores acabou por criar um cenário propício à um dos mais conceituados so-
racionalização e especialização do trabalho, muito bem apontadas por ciólogos da história. Nascido na
Alemanha, suas ideias tiveram
Weber (1972) como um novo modelo de administração. Em seu livro, repercussão ainda nas áreas de
A ética protestante e o espírito do capitalismo, Weber identifica o surgi- filosofia, ciência política, eco-
mento das burocracias em paralelo ao início do capitalismo, conside- nomia, direito e administração.
Uma de suas mais importantes
rando a economia monetária, o princípio do Estado-nação centralizado contribuições foi estabelecer
e a propagação da ética protestante, a qual justificava o trabalho como a racionalização da sociedade
capitalista moderna.
um dom divino e incentivava a formação de poupança em detrimen-

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 45


to do consumismo exacerbado (CHIAVENATO, 2003). Além da reforma
protestante, a redução do poder da nobreza e do clero e a subsequente
redistribuição de terras e bens da Igreja contribuíram para a reestrutu-
ração da Inglaterra.

Nesse período, destacaram-se pensadores como Adam Smith


e David Ricardo, que consideravam a tecnologia peça central para o
crescimento econômico, até mesmo por presenciarem as transforma-
ções ocorridas na Revolução Industrial. Adam Smith previu, inclusive, o
surgimento do que hoje denomina-se pesquisa, desenvolvimento e ino-
vação; Ricardo foi capaz de vislumbrar um sistema de produção com-
pletamente automatizado. Foram, portanto, visionários ao analisar e
esmiuçar as atividades econômica e tecnológica intrínsecas à proprie-
dade privada dos meios de produção (KURZ, 2013).

Biografia

Adam Smith (1723-1790), economista escocês, é tido como o precursor da


Wikimedia Commons

economia moderna, tendo estabelecido os preceitos do liberalismo econô-


mico. Sua obra mais ilustre é Uma investigação sobre a natureza e a causa
da riqueza das nações (1776), na qual tencionou postular que a riqueza das
nações era resultado da ação de indivíduos que, mesmo pensando apenas
em proveito próprio, impactavam no crescimento econômico e na evolução
tecnológica.

Biografia

David Ricardo (1772-1823), nascido no Reino Unido, foi o economista funda-


Wikimedia Commons

dor da escola clássica inglesa de economia política ao lado de teóricos como


Adam Smith e Thomas Malthus. Criador da teoria da vantagem comparativa,
baseada nos preceitos do valor-trabalho, a qual presta suporte à teoria do
comércio internacional.

Nesse sentido, a tecnologia propiciou a formação de vantagens


comparativas, introduzindo novos processos e produtos que poupa-
vam recursos escassos e estimulavam o emprego de fontes de energia
e material diferenciados (TIGRE, 2006).

46 Tecnologias aplicadas e inovação


2.2.2 Segunda Revolução Tecnológica – Idade do Vídeo
vapor e das ferrovias (1840-1890) Para compreender o
fundamento da teoria da
Figura 4 vantagem comparativa,
Segunda Revolução Tecnológica - Idade do vapor e das ferrovias assista ao vídeo Vantagem
comparativa – David
Ricardo, publicado pelo

Wikimedia Commons

Wikimedia Commons
canal Mr. Libertário.

Disponível em: https://youtu.


be/tHifBMcozR0. Acesso em: 17
jul. 2020.

Como a Inglaterra continuava a ser a principal economia da época,


tanto em termos institucionais quanto tecnológicos, servia como refe-
rencial na formulação de teorias. Nesse período, ocorreram diversas
inovações incrementais decorrentes da disseminação da máquina a
vapor. Estas se deram com relação aos transportes marítimos e ferro-
viários, bem como ao uso do ferro e do aço.

Entretanto, o surgimento das ferrovias e de outras tecnologias


no fim do século XIX possibilitou grandes avanços na economia nor-
te-americana, fazendo com que os Estados Unidos alcançassem uma
posição de liderança tecnológica mundial. Embora no início o país ne-
cessitasse importar tecnologias da Europa, logo os pesquisadores fo-
ram desenvolvendo suas próprias tecnologias. Inclusive, em diversos
setores industriais, as empresas norte-americanas passaram a ser bem
mais produtivas que as britânicas. Se no início da Revolução Industrial,
o ferro, o algodão e a energia hidráulica foram os setores de destaque
na Inglaterra; a eletricidade e o aço passaram a ser os segmentos líde-
res no período de grande crescimento dos Estados Unidos, entre 1880
e 1913 (FREEMAN; SOETE, 2008).

Nesse período, tiveram destaque as ideias de Karl Marx. Em seus


estudos, o progresso tecnológico era visto como um processo perma-
nente (MARX; ENGELS, 1848), ligado à dinâmica do sistema capitalista.
Na obra O capital, destacava que o capitalista com condições técnicas
de produção mais favoráveis é o que obterá um lucro extra (PAULA;
CERQUEIRA; ALBUQUERQUE, 2002). Para Marx, o progresso tecnoló-

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 47


Biografia gico estava diretamente vinculado ao capitalismo, considerando esse
sistema como responsável pelo aumento da produtividade, ao criar
mecanismos capazes de dinamizar as transformações tecnológicas,

Wikimedia Commons
bem como a acumulação do capital (ROSENBERG, 2006).

Marx percebia que o conhecimento científico, na sociedade capi-


talista, servia como uma alavanca para se obter ganhos de produção
(TIGRE, 2006). Por outro lado, na área social, o impacto das inovações
acabava por gerar uma condição de aceitação de redução de salários
Karl Marx (1818-1883) foi
filósofo, sociólogo e historiador. e de situações de trabalho inapropriadas. A melhoria contínua e acele-
Dedicou sua vida ao estudo da rada das máquinas tornava a realidade do operário progressivamente
sociedade capitalista e deixou
instável (MARX; ENGELS, 1848).
uma extensa obra, entre as
quais o livro O capital (primeiro
volume publicado em 1867), no
qual analisa profundamente os
2.2.3 Terceira Revolução Tecnológica – Idade do aço, da
pressupostos e o funciona-
mento do modo de produção
eletricidade e da engenharia pesada (1890-1940)
capitalista. Figura 5
Terceira Revolução Tecnológica – Idade do aço, da eletricidade e da engenharia pesada
(1890-1940)

Wikimedia Commons
No início do século XX, houve uma disseminação da inovação tecno-
lógica. Nessa fase, o motor à combustão, a eletricidade e a administra-
ção científica do trabalho (fordismo/taylorismo) exerceram significativo
impacto sobre a sociedade. Outros acontecimentos marcantes do pe-
ríodo foram a Revolução Russa de 1917, a Primeira Guerra Mundial
(1914-1918) e o início da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). É im-
portante destacar que os investimentos realizados em pesquisa militar
durante o período de guerra propiciaram o surgimento de novos seto-
res, como o eletroeletrônico (GASPAR, 2015).

É possível assegurar que a década de 1920 representou a porta de


entrada ao progresso tecnológico norte-americano. Entretanto, somen-
te após o fim da década de 1930, sucederam-se inúmeras inovações,
especialmente nas áreas química e elétrica, às quais foram adiciona-

48 Tecnologias aplicadas e inovação


dos os progressos alcançados na geração e fornecimento de energia Biografia
(LANDES, 1994).

Wikimedia Commons
Gaspar (2015, p. 269), considerando as mudanças ocorridas nesse
período, afirma que “[o] novo padrão produtivo, com base na produção
e no consumo de massa, elevada capacidade de geração de emprego e
uso intensivo de energia, encontra assim as condições propícias para
se generalizar”. Esse período intercalou, então, o surgimento da teo-
ria da administração científica defendida por Frederick Winslow Taylor
Frederick Winslow Taylor (1856-
(1856-1915). 1915), engenheiro mecânico
nascido nos Estados Unidos. É
As ideias de Taylor rapidamente se disseminaram pelo mundo in- considerado o pai da adminis-
dustrializado, sendo que o foco estava no chamado chão de fábrica, tração científica, sendo que suas
ideias fundamentaram o modelo
buscando observar a forma como cada operário trabalhava. Um dos de administração doravante
principais adeptos da teoria de Taylor foi Henry Ford (1863-1947), denominado taylorismo, em
que se buscava obter máximo
utilizando sistemas de produção em massa (linha de produção) em
rendimento evitando esforços
sua empresa. desnecessários. Entre suas obras,
destaca-se o livro Os princípios
No fim da década de 1880 e início dos anos 1890, a eletricidade da administração científica (1911).
demonstrava uma elevada capacidade de geração de novos investi-
mentos. De acordo com Tigre (2006), o setor elétrico foi oligopolizado
Glossário
desde sua origem, uma vez que estava ancorado na utilização de “mo-
oligopólio: situação de mer-
nopólios temporários”, com base em produtos inovadores que dificul-
cado em que poucas empresas
tavam sua reprodução. A possibilidade de competir em um mercado possuem controle da maior parte
com tal característica requeria alto investimento em pesquisa e desen- do mercado.
volvimento (P&D), marketing, serviços aos clientes e relações públicas.
Para tanto, era necessário competência institucional bem mais elevada Curiosidade
do que com relação ao modelo de empresa familiar próprio da Revolu- A linha de montagem
ção Industrial. inaugurada por Henry Ford em
1913 é vista como uma das
O estabelecimento de grandes empresas veio acompanhado então mais importantes inovações em
processos de todos os tempos.
do aumento dos laboratórios de P&D bem como de sua formalização.
As pequenas empresas também ganharam importância, em função de
suas atividades de P&D desenvolvidas em conjunto com as universida-
des e com as inovações ligadas à área militar (TIGRE, 2006).

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 49


2.2.4 Quarta Revolução Tecnológica – Idade do
petróleo, do automóvel e da produção em
massa (1940-1990)
Figura 6
Quarta Revolução Tecnológica – Idade do petróleo, do automóvel e da produção em massa

Wikimedia Commons
O período referente à Quarta Revolução Tecnológica é marcado pelo
fim da Segunda Guerra Mundial e pela decisão de 44 nações de se reu-
nirem e firmarem o Acordo de Bretton Woods, em 1944. O acordo criou
novas instituições, como o Banco Internacional para a Reconstrução e
o Desenvolvimento (BIRD), atualmente denominado Banco Mundial, e o
Fundo Monetário Internacional (FMI). Outro destaque do período foi a
criação, em 1945, da Organização das Nações Unidas (ONU), além do
início de um longo período de Guerra Fria (GASPAR, 2015), que consis-
tia em uma tensão político-ideológica entre os Estados Unidos (capita-
lismo) e a União Soviética (comunismo), momento esse caracterizado
Filme
por não haver nem paz, nem guerra declarada.
Tempos Modernos (original em
inglês: Modern Times) faz uma O período ainda compreende a criação, em 1960, da Organização
crítica sobre o sistema vigente na dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), bem como, na década de
época, em que os trabalhadores das
linhas de montagem sofriam com 1970, de uma crise de proporções mundiais, centrada especialmente
os abusos e a negligência impostos nos Estados Unidos, país que ocupava a liderança econômica global
a eles.
Direção: Charlie Chaplin. Estados (GASPAR, 2015). Tal crise foi motivada pelo apoio norte-americano a
Unidos. Charlie Chaplin Film Israel em um conflito militar entre países árabes, fazendo com que a OPEP
Corporation, 1936.
declarasse um embargo petrolífero, aumentando vertiginosamente o
preço do barril de petróleo.

50 Tecnologias aplicadas e inovação


Nesse período, prevaleceram inicialmente as ideias elaboradas por
Schumpeter e, posteriormente, as desenvolvidas por seus seguidores,
os neoschumpeterianos. Esses estudos foram discutidos na Seção 2.1
deste capítulo.

2.2.5 Quinta Revolução Tecnológica – Idade


da informação e das telecomunicações
(1990-atualmente)
Figura 7
Quinta Revolução Tecnológica – Idade da informação e das telecomunicações

Wikimedia Commons

O paradigma da informação está ancorado em um grupo de inova-


ções com base em computação eletrônica, circuitos integrados, enge-
Importante
nharia de software e telecomunicações, que diminuíram radicalmente
“Em termos ideais, a Revolução
os custos referentes à guarda, ao tratamento, à comunicação e à trans-
da Informação repetirá os êxitos
missão de informações (FREEMAN, 1994), entre outras tantas inova- da Revolução Industrial. Só que,
ções vistas no capítulo anterior. desta vez, parte do trabalho do
cérebro, e não dos músculos,
O novo paradigma emerge como resultado do enfraquecimento do será transferido para as máqui-
modelo de produção fordista (economia de escala) e do excessivo uso nas” (DERTOUZOS, 1997, p. 46).

de matéria e energia, inclusive ameaçando patamares de sustentabi-


lidade. A elevação do preço do petróleo e de outros insumos e as su-
cessivas crises econômicas com impactos globais da década de 1970
são considerados os principais elementos de esgotamento do paradig-
ma tecnoeconômico daquele período (LASTRES; FERRAZ, 1999).

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 51


Nesse contexto, haja vista a diversidade de instituições e conhe-
Curiosidade
cimentos existentes e as múltiplas relações entre eles, considera-se
Um bom exemplo prático da que há inúmeros caminhos diferentes para atingir o desenvolvimen-
glocalização no desenvolvi-
mento de produto é o caso do to. Dessa forma, cada nação deve encontrar as formas mais adequa-
McDonald’s, no qual se buscou das de desenvolver suas próprias estratégias para atingi-lo (JOHNSON;
desenvolver hambúrgueres
LUNDVALL, 2000). Um conceito que está relacionado a essa ideia de
“glocalizados”, com o escopo de
atrair consumidores com costu- diversidade de estratégias para o desenvolvimento tecnológico é o de
mes distintos dos estaduniden- glocalização (fusão dos termos global e local), onde determinado pa-
ses (como o Chicken Maharaja
Mac, na Índia, produzido com drão é transformado com base na cultura e nos costumes locais.
frango, uma vez que os hindus Assim, por exemplo, um produto pode ser adaptado para condizer aos
não consomem carne bovina)
anseios dos consumidores.
(THORPE et al., 2015).
Segundo Johnson e Lundvall (2000), o cerne do desenvolvimento
econômico é o conhecimento. Indo ao encontro dessa linha de pen-
Atividade 2 samento, há instituições que se referem ao termo economia baseada
Reflita um pouco sobre o tema no conhecimento, como a Organização para a Cooperação e Desenvol-
glocalização e aponte um
vimento Econômico (OCDE). Na visão de Petit (2005), o conceito está
exemplo de aplicação desse
conceito. relacionado a uma condição em que os agentes econômicos dispõem
de uma grande quantidade de informação e conhecimento, sendo
possível a eles o armazenamento, o processamento e a comunicação,
ocasionando, com isso, a expansão de suas estratégias.

Assim, as tecnologias de informação e comunicação (TICs), atreladas


ao consenso da importância do conhecimento, resultam em queda no
preço do processamento da informação. Uma característica ímpar do
conhecimento é a capacidade ilimitada de expansão, ou seja, quanto
mais se aprende, mais há a ser assimilado.

Na denominada Quinta Revolução Tecnológica, alguns autores têm


tido destaque na análise da sociedade da informação, como Castells
(2005), que julga a atual revolução tecnológica como similar à Revolu-
ção Industrial, em termos de relevância, considerando o impacto de
ambas em todo o contexto da sociedade (cultural, econômico e social).
Outro nome de destaque é Alvin Toffler, que em seu livro A Terceira
Onda, já antevia a Era da Informação, em que o conhecimento seria a
principal fonte de produção de riqueza (TOFFLER, 2007).

52 Tecnologias aplicadas e inovação


2.3 Panorama da inovação no Brasil
A inovação, como visto até agora, é um importante elemento capaz
Vídeo
de alavancar o desenvolvimento econômico de uma nação. No caso
de países em desenvolvimento, como o Brasil, estratégias e políticas
públicas que estimulem a inovação são primordiais.
Nesse sentido, nos últimos 20 anos foram promulgadas diver-
sas legislações com o intuito de estimular a inovação no país. São
elas: Lei n. 10.973/2004, mais conhecida como Lei da Inovação; Lei n.
11.196/2005, intitulada Lei do Bem; e Lei n. 13.243/2016, denominada
Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação, regulamentada pelo De-
creto Federal n. 9.283/2018. A análise de tais legislações será aprofun-
dada no decorrer da obra.
A fim de traçar um panorama da inovação no Brasil, serão expostos
dados sobre alguns dos principais indicadores da área, tais como a por-
centagem de empresas que implementaram inovações de produto e/ou
processo; os dispêndios em P&D quanto ao produto interno bruto (PIB);
a posição brasileira no ranking do Índice Global de Inovação; o número
de artigos brasileiros publicados em periódicos científicos; a quantidade
de mestres e doutores titulados no país e o volume de patentes.
No Brasil, desde 2000 é realizada uma pesquisa de inovação pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cada três anos,
com os setores de serviços, indústria, gás e eletricidade. É a Pesqui-
sa de Inovação Tecnológica, conhecida como PINTEC. Entre os levan-
tamentos efetuados, há o cálculo da percentagem de empresas que
implementaram inovações de produto e/ou processo.

Gráfico 1
Porcentagem de empresas que implementaram inovações de produto e/ou processo no Brasil,
de 2000 a 2017.
50,0%

40,0%

30,0%
Porcentagem

20,0%

10,0%

0,0%
2000 2003 2005 2008 2011 2014 2017

Ano

Fonte: Elaborado pela autora com base em IBGE, 2014; 2017.

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 53


Com relação aos dados de 2000 a 2017 (Gráfico 1), é possível ve-
rificar variações discretas na série histórica, demonstrando que não
houve um aumento expressivo de investimento em P&D por parte dos
empresários, o que ressalta a importância do incentivo para que isso
ocorra, especialmente por meio de políticas públicas de alavancagem à
ciência, tecnologia e inovação (CT&I).

Embora o volume de dispêndios em P&D com relação ao PIB brasi-


leiro tenha aumentado, se comparado o ano de 2017 relativamente ao
ano de 2000, ele é ainda pouco expressivo, denotando a condição in-
cipiente do país nesse quesito (Gráfico 2). Essa limitação se torna mais
evidente ao comparar os dados do Brasil em 2017 (1,26%), com países
como Israel (4,81%), Coreia do Sul (4,29%) e Suíça (3,39%) (OECD, 2019).

Gráfico 2
Brasil: comparação dos dispêndios em P&D com o produto interno bruto (PIB), por setor, 2000-2017.

1,50 1,34
1,27 1,26 1,26
1,16 1,20
1,08 1,13 1,12 1,14 1,13
1,05 1,06 1,01 1,00 0,96 1,00 0,99
1,00
0,62 0,69 0,67 0,70 0,66
0,59 0,60 0,63
0,57 0,56 0,57 0,58
Percentual

0,54 0,52 0,51 0,49


0,48 0,48
0,50
0,56 0,64 0,64
0,52 0,53 0,57 0,54 0,60 0,60
0,51 0,50 0,49 0,49 0,49 0,49 0,52 0,51 0,51

0,00
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Ano

Total Dispêndios públicos Dispêndios empresariiais

Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2019a.

Conforme Arbix e Miranda (2017, p. 55), “[p]ara um país das dimen-


sões do Brasil, seria necessário que os investimentos em P&D atingissem
no mínimo 2% como proporção do PIB no final desta década (anos
Glossário 2010), o que dificilmente ocorrerá”.

Índice Global de Inovação: De acordo com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual


ranking das capacidades e (OMPI), o Brasil ocupou em 2019, a 66ª posição no Índice Global de
resultados de inovação das eco-
nomias mundiais. Atualmente é Inovação, sendo que as áreas de destaque compreendem a qualidade
publicado pela Universidade de das universidades e das publicações científicas, bem como os investi-
Cornell (EUA), Instituto Europeu
mentos em P&D. Além disso, o Brasil se destaca por ser o único país da
de Administração de Empresas
(INSEAD – França) e pela OMPI região que comporta clusters de ciência e tecnologia (C&T) que estão
(WIPO, 2019b). entre os 100 melhores do mundo (WIPO, 2019a).

54 Tecnologias aplicadas e inovação


Ao observar o Gráfico 3, é possível verificar a posição do Brasil no
Índice Global de Inovação, entre os anos de 2011 a 2019. Visualiza-se
uma queda no ranking, se comparados os anos de 2019 (66º lugar) e
2011 (47º lugar) (WIPO, 2019b). Isso demonstra que apesar dos esfor-
ços em termos de legislação na área de inovação, muito ainda há que
se realizar para que o Brasil atinja melhores posições.

Gráfico 3
Posição do Brasil no ranking do Índice Global de Inovação (2011-2019)

80
70 69 69 66
64 61 64
60 58
Posição no ranking

47
40

20

0
2011 2012 2013 2013 2015 2016 2017 2018 2019

Ano Curiosidade
Fonte: Elaborado pela autora com base em WIPO, 2019c.
A Suíça ocupa o primeiro lugar
Com relação a outro importante indicador de inovação, o de artigos no Índice Global de Inovação
pelo nono ano consecutivo
publicados em periódicos científicos indexados em bases de dados sig-
(2011-2019). De acordo com
nificativas, foi utilizada a pesquisa de publicações de artigos brasileiros a OMPI, tal resultado ocasiona
publicados em periódicos científicos indexados pela Scopus, uma das um volume expressivo de
pedidos de patentes e de
bases de dados bibliográficos mais prestigiada do mundo. pedidos concedidos, bem como
bens manufaturados de alta
Gráfico 4
tecnologia (WIPO, 2019a).
Número de artigos brasileiros publicados em periódicos científicos indexados pela Scopus,
2000-2018.

80000 69927 73821 77885


70000 64418 65993
57757 60689
60000 52379
Número de artigos

48443
45057
50000 40797
35552
40000 32918
32953
30000 18829 20894 26247
15242 16295
20000
10000
0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
Ano
Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2018.

Observando o Gráfico 4, é possível perceber um aumento expressi-


vo no volume de artigos ao longo do período, sendo de 15.242 no ano
de 2000 e 77.885 em 2018. Esse é um dos indicadores de inovação em
que o Brasil melhor se classifica.

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 55


Gráfico 5
Alunos titulados nos cursos de mestrado e doutorado, ao final do ano, 2000-2018.

90000

80000

70000

60000

50000
Quantidade

40000

56667

59614

61147

64432
30000

47138

51535

53243
30634

32890

36014

38788

39590

43233
20000
27649

26658

32261
24444
17821

20013

10000
10711

11638

11314

12321

13912

15650

17286

18996

20603

21591

22894
5318

6040

6894

8094

8093

8989

9366

9915

0
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018

Ano

Doutores Mestres

Fonte: Elaborado pela autora com base em Brasil, 2019b.

Outro indicador muito importante é o de número de mestres e dou-


tores titulados por ano, bem como o número de bolsas concedidas.
Ao analisar o Gráfico 5, verifica-se a ampliação no volume de mestres
titulados, de 17.821 em 2000 para 64.432 em 2018, e de doutores titula-
dos, passando de 5.318 em 2000 para 22.894 em 2018. A ampliação foi
de, portanto, 362% no caso dos mestres titulados (2018 relativamente
à 2000) e ainda mais significativa em relação à quantidade de doutores
titulados: 430% (2018 em comparação com o ano de 2000).

Finalmente, serão expostos dados relativos ao volume de patentes,


outro importante indicador de inovação, o qual, segundo Lotufo (2009),
representa a capacidade de um país em converter conhecimento cien-
tífico em inovação. No Brasil, foram depositados 28.667 pedidos de pa-
tente no ano de 2017.

No período de 2008 a 2017, é possível verificar que houve um aumen-


to no volume de pedidos até o ano de 2013, sendo que a partir desse
ano a quantidade de depósitos vem diminuindo a cada ano (Gráfico 6).
Vale destacar que a maior parcela desses pedidos é depositada por não

56 Tecnologias aplicadas e inovação


residentes, ou seja, são patentes criadas em outros países que buscam
proteção no Brasil. É possível afirmar que o volume de pedidos de pa-
tente é bastante reduzido, especialmente se comparado com o país que
detém a liderança mundial no número de pedidos de patente no mesmo
ano – a China – com 1,38 milhão de requerimentos (CNI, 2020).

Gráfico 6
Pedidos de patente depositados, 2008-2017.

33569 34046 33181 33042


31881 31020
Número de depositos

26641 28099 28667


25885

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Ano do depósito
Fonte: Elaborado pela autora com base em INPI, 2018.

Embora tenha havido um expressivo aumento no volume da pesqui-


sa realizada no país e consequentemente da produção científica, o vo-
lume pouco significativo de patentes indica que o Brasil desaponta na
conversão de conhecimentos em inovações tecnológicas (ORTIZ, 2018).
Atividade 3
Visando reverter essa situação, o INPI estabeleceu como objetivo
Enumere os indicadores de
triplicar em dois anos os pedidos de patentes efetuados por empresas inovação vistos neste capítulo
brasileiras. Para atingir essa meta, o órgão propõe uma maior intera- e aponte um que não foi citado
e você julga importante ser
ção da entidade com o mercado, firmando acordos com órgãos repre-
considerado.
sentativos do setor produtivo, além de uma diminuição no tempo de
análise dos pedidos de patentes (CNI, 2019).

Saiba mais
Para conhecer um pouco mais sobre a inovação na China e o que o Brasil pode apren-
der com a experiência chinesa, leia a reportagem A China passou da imitação para a
inovação – e o que o Brasil pode aprender com isso, de Mariana Fonseca, publicado no site
Pequenas Empresas & Grandes Negócios.

Disponível em: https://revistapegn.globo.com/Tecnologia/noticia/2020/05/china-passou-da-imitacao-para-inovacao-e-


brasil-pode-aprender-com-isso.html. Acesso em: 17 jul. 2020.

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 57


CONSIDERAÇÕES FINAIS
Buscamos, neste capítulo, compreender o processo histórico e os
principais pensadores ligados à inovação, com destaque à figura de
Schumpeter, que dedicou grande parte de sua vida ao estudo dos impac-
tos da inovação no desenvolvimento econômico.
Conhecer o contexto histórico e o pensamento predominante em cada
período auxilia no entendimento da realidade atual e dos impactos futu-
ros de decisões tomadas tanto no passado quanto no presente. Nesse
sentido, foram analisadas as cinco revoluções tecnológicas, destacando
os principais acontecimentos de cada período bem como o pensamento
vigente à época.
Finalmente, buscando traçar um panorama da inovação no Brasil, fo-
ram apresentados dados sobre alguns dos principais indicadores da área,
tais como a posição brasileira no ranking do Índice Global de Inovação e o
volume de patentes, dentre outros.
Diante do cenário apresentado, a implementação de políticas públicas
na área de inovação e a conscientização da importância de que a pesquisa
científica deve gerar frutos à sociedade mostram-se cada vez mais urgen-
tes e necessárias.

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58 Tecnologias aplicadas e inovação


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Inovação e seus fundamentos tecnológicos 59


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60 Tecnologias aplicadas e inovação


GABARITO
1. Uma onda longa de desenvolvimento dura aproximadamente 50 anos, sendo subdivi-
da em três períodos: de instalação; de reacomodação; e de desprendimento. O período
de instalação inicia-se com um subperíodo denominado irrupção, em que há alta
expectativa de geração de riqueza, fazendo com que o capital financeiro se una ao
capital produtivo. O segundo subperíodo, chamado de frenesi, acaba gerando uma
bolha tecnológico-financeira, em função do capital financeiro vislumbrar lucros ele-
vados, acarretando inflação e decorrente colapso financeiro. É uma fase em que o
liberalismo prevalece. No período seguinte, intitulado intervalo de reacomodação,
há uma maior interferência do Estado, com a fixação de critérios de longo prazo do
capital produtivo. O último estágio, período de desprendimento, é subdividido em
sinergia, em que predomina o capital produtivo e onde ocorre disseminação total do
potencial de inovação, e um segundo subperíodo, chamado de maturidade, com redu-
ção das oportunidades de investimento, fazendo com que haja um acúmulo de capital
à procura de novas oportunidades de investimento.

2. (Resposta pessoal). A glocalização é uma tendência mundial e, portanto, deve ser con-
siderada sob vários aspectos, especialmente os relacionados ao marketing, pois a pro-
dução de bens em massa, como anteriormente, cede lugar agora à customização no
sentido de atender aos anseios dos consumidores. Um bom exemplo de glocalização
é a ação da Coca-Cola, no Festival Folclórico de Parintins, no Amazonas, desde 2007.
As duas agremiações, Garantido e Caprichoso, tradicionais rivais na região, possuem
como cores o vermelho e o azul, respectivamente. Para não perder consumidores
fãs do boi Caprichoso, pelo fato da lata ser da cor vermelha, foi lançada uma edição
especial na cor azul.

3. (Resposta pessoal). Os indicadores apresentados neste capítulo foram: 1) porcenta-


gem de empresas que implementaram inovações de produto e/ou processo; 2) dis-
pêndios em P&D quanto ao produto interno bruto (PIB); 3) posição brasileira no ran-
king do Índice Global de Inovação; 4) número de artigos brasileiros publicados em
periódicos científicos; 5) quantidade de mestres e doutores titulados no país; e 6) vo-
lume de patentes. Outro importante indicador a ser considerado é o volume de bolsas
concedidas, por modalidade (mestrado, doutorado e pós-doutorado).

Inovação e seus fundamentos tecnológicos 61


3
Modelos de inovação tecnológica
As organizações necessitam constantemente se atualizar, ainda
mais considerando uma realidade em que há a substituição dos
produtos a uma velocidade cada vez maior e a escassez dos recur-
sos disponíveis. Para tanto, as empresas devem ser criativas, sem-
pre buscando modos de inovar a fim de se manter competitivas
e atender às exigências de um mercado cada dia mais disputado.
Dessa forma, é imprescindível realizar as melhores escolhas
dentro de um leque de opções disponíveis relacionadas aos pro-
cessos inovativos. Dentre as possibilidades, e considerando a exis-
tência de diversos modelos de inovação, cabe a cada instituição
avaliar aquele que melhor se adapte às suas peculiaridades, tendo
em mente que não há apenas um modelo ideal a ser seguido.
Assim, este capítulo apresenta quatro modelos de inovação
utilizados em escala global, com base no livro Gestão da Inovação,
dos autores Hélio Gomes de Carvalho, Dálcio Roberto dos Reis e
Márcia Beatriz Cavalcante (2011). Esses modelos são: o linear, o
paralelo, o modelo Tidd, Bessant e Pavitt e, por fim, o modelo de
inovação aberta ou open innovation.

3.1 Modelo linear


Vídeo O período pós-Segunda Guerra Mundial foi um momento de instau-
ração dos fundamentos da ciência e da tecnologia. O relatório intitula-
do Science, the endless frontier – formulado por Vannevar Bush (1945),
engenheiro e político estadunidense, dirigido ao Presidente Truman –
representava a consolidação de uma estrutura científica e tecnológica
que foi adotada pela maior parte dos países industrializados. Esse do-
cumento serviu de base, ainda, para o estabelecimento das diretrizes
que viriam a formar o modelo linear de inovação (BUSH, 1945; CONDE;
ARAÚJO-JORGE, 2003).

62 Tecnologias aplicadas e inovação


De acordo com Bush (1945), a pesquisa básica é realizada sem pen-
sar em fins práticos; entretanto, o conhecimento resultante do pro-
cesso acaba por fornecer subsídios para a resolução de problemas
práticos importantes. Portanto, mesmo que o cientista envolvido com Vídeo
a pesquisa básica não esteja interessado nas aplicações práticas de seu Para conhecer um pouco
mais sobre a história de
trabalho, os frutos desse esforço convertem-se em avanço produtivo.
Vannevar Bush e seus
Destacamos a seguir um trecho do relatório Science, the endless feitos, assista ao vídeo
Vannevar Bush, publicado
frontier, em que a ciência básica é apontada como fundamental ao pelo canal CT&I.
desenvolvimento de uma nação – concepção longínqua e, ao mesmo Disponível em: https://youtu.
tempo, tão atual. be/w56AjFQlywI. Acesso em: 31
jul. 2020.
Uma nação que depende de outras para o seu novo conheci-
mento científico básico será lenta em seu progresso industrial
e fraca em sua posição competitiva no comércio mundial, inde- 1
pendentemente de sua habilidade mecânica. (BUSH, 1945, p. 17,
1 Texto original: “A nation which
tradução nossa)
depends upon others for its new
basic scientific knowledge will be
O modelo linear é considerado o mais simples dos modelos de ino-
slow in its industrial progress and
vação. Ele é constituído pelas seguintes etapas: pesquisa básica; pes- weak in its competitive position
quisa aplicada; surgimento de uma ideia; desenvolvimento do produto in world trade, regardless of its
mechanical skill”.
ou processo; e lançamento no mercado (MATTOS; GUIMARÃES, 2012),
conforme demonstra a Figura 1.

Figura 1
Modelo de inovação linear

2
Science push (também denominado
Desenvolvimento Lançamento technology push) é um movimento
Pesquisa Pesquisa Surgimento
no mercado predominante na década de 1940,
aplicada de uma do produto ou
básica que pode ser compreendido como
ideia processo
o processo ocorrido por meio do
impulso pela ciência (CAMPANÁRIO,
2002).

Fonte: Elaborada pela autora com base em Mattos e Guimarães, 2012.


3
Nesse modelo, supõe-se que a inovação acontece numa sucessão
Demand pull (também conhecido
linear de atividades. Assim, o processo pode ocorrer quando as inova- como market pull) é o movimento
ções decorrentes de procedimentos de pesquisa alcançam o mercado “puxado” pelo mercado, proposto na
2 década de 1960; nele considera-se
(science push ) bem como quando surgem por intermédio de deman- que a força motora da tecnologia
das do mercado ou enquanto uma solução para um problema existen- estaria ligada às necessidades da
3 demanda (CAMPANÁRIO, 2002).
te (demand pull ) (TIDD; BESSANT, 2015).

Modelos de inovação tecnológica 63


No modelo linear de inovação denominado science push, a iniciativa
de criação de um novo produto ou processo parte dos pesquisadores,
ou seja, os investimentos são realizados na pesquisa básica. Esse mo-
delo inclui, basicamente, as etapas apresentadas na Figura 2.

Figura 2
Modelo linear de inovação science push

Pesquisa Desenvolvimento Inovação


Pesquisa básica
aplicada experimental tecnológica
orientada pela
curiosidade

Fonte: Elaborada pela autora com base em Reis, 2008.

Já no modelo linear de inovação denominado demand pull, a de-


cisão sobre a geração de um novo produto ou processo advém dos
consumidores. A representação das etapas desse modelo pode ser vi-
sualizada na Figura 3.

Figura 3
Modelo linear de inovação demand pull

Pesquisa Desenvolvimento Inovação


Procura pelo
aplicada experimental tecnológica
mercado

Fonte: Elaborada pela autora com base em Reis, 2008.

Na visão de Freeman (1982), inicialmente as invenções e inovações


Atividade 1
são decorrentes dos avanços da ciência, sendo então, posteriormente,
Qual a diferença fundamental
entre o modelo de inovação oriundas do mercado consumidor e das necessidades de aperfeiçoa-
linear science push e o mento dos processos produtivos.
demand pull?
O modelo de inovação linear “parte do princípio de que a pesqui-
sa científica pode ser a fonte mais adequada para a geração de novas
tecnologias” (CARVALHO; REIS; CAVALCANTE, 2011, p. 41). Entretan-
to, esse modelo é criticado por não retratar a relação entre as eta-
pas, que muitas vezes não são bem definidas. As falhas fazem parte
do processo de aprendizado, que cria inovações de todos os tipos,

64 Tecnologias aplicadas e inovação


sendo que essas inovações exigem um retorno rápido e preciso com
ações de acompanhamento apropriadas, denominadas feedbacks Saiba mais
(KLINE; ROSENBERG, 1986). Para compreender a
importância da pesquisa
Ademais, nem todas as invenções se tornam inovações e, frequen- básica para a geração
de inovações e conhecer
temente, o tempo percorrido entre o surgimento da ideia e a comercia-
um pouco sobre a
lização do produto é demasiado longo (MATTOS; GUIMARÃES, 2012). companhia Bell Labs,
leia o texto O domínio da
Além disso, há a “constatação de que os investimentos em P&D não
eletrônica, publicado por
levariam automaticamente ao desenvolvimento tecnológico, nem ao Neldson Marcolin no site
da Revista Pesquisa, da
sucesso econômico do uso da tecnologia” (FERREIRA, 2009, p. 37).
FAPESP.
A despeito das limitações existentes no modelo linear de inovação, Disponível em: https://
ele é amplamente aplicado como suporte para o detalhamento do pro- revistapesquisa.fapesp.br/o-
dominio-da-eletronica/. Acesso em:
cesso de inovação (IACONO; ALMEIDA; NAGANO, 2011; MATTOS; GUI- 30 jul. 2020.
MARÃES, 2012), sendo ainda utilizado, atualmente, como base para as
políticas científicas de diversos países (REIS, 2008).

3.2 Modelo paralelo


Vídeo Diante da constatação de que o modelo de inovação linear não
contempla todas as interações possíveis entre suas diversas etapas,
emergiu um novo padrão, chamado de modelo paralelo, como resul-
tado da observação de processos inovativos de empresas japonesas
líderes de mercado, entre o início da década de 1980 e o final dos anos
1990 (DIEHL; RUFFONI, 2012). Nesse modelo são considerados os diver-
sos caminhos possíveis a ser percorridos entre a ciência, a tecnologia e
a inovação (CARVALHO; REIS; CAVALCANTE, 2011).

No modelo de inovação paralelo (Figura 4), proposto pelos pesqui-


sadores Stephen J. Kline e Nathan Rosenberg (1986), da Universidade
de Stanford (EUA), supõe-se que a empresa mantém suas atividades
produtivas de rotina, mas que, ao mesmo tempo, possui uma área
voltada à pesquisa de oportunidades de mercado. Essa área deve
operar tanto em atendimento às demandas da sociedade quanto
na prospecção de possibilidades futuras de investimento produtivo
(ANDRADE; CHARVET, 2017).

Modelos de inovação tecnológica 65


Figura 4
Modelo de inovação paralelo

Economia e sociedade
Adoção
Demandas utilidade

+ Market pull
Processo de inovação industrial
+ Science push

Pesquisa POSICIONAMENTO
Novos produtos
Oportunidades INVENÇÃO IMPLEMENTAÇÃO
pública NO MERCADO e serviços

Capacidades Tecnologia
tecnológicas absorvida
Conhecimentos científicos e tecnológicos

Fonte: Kline e Rosenberg, 1986 apud Carvalho, Reis e Cavalcante, 2011, p. 44.

Com base no modelo paralelo, surge o modelo chain-linked. Nele


Saiba mais são apresentados os caminhos possíveis para o fluxo de informação e
Para conhecer uma apli- cooperação, com ênfase às retroalimentações entre as diferentes eta-
cação prática do modelo pas do processo, conforme é possível observar na Figura 5.
de inovação paralelo, leia
o texto “Estações-tubo de Figura 5
Curitiba: uso do modelo
Modelo de inovação chain-linked
paralelo”, parte do livro
Gestão da Inovação, de
R R Pesquisa R
Hélio Gomes de Carvalho,
Dálcio Roberto dos Reis e
D
Márcia Beatriz Cavalcante 3 3 3
(p. 45-46). K K Conhecimento I S
1 2 4 1 2 4 1 2 4
Disponível em: https://repositorio.
utfpr.edu.br/jspui/handle/1/2057.
C C C C
Acesso em: 20 jul. 2020.
Criação Projeto Reformulação Distribuição e
Mercado detalhado
potencial do projeto do design comercialização
analítico e teste e produção

f f f f

f
f
F

Onde: C = cadeia central da inovação; f = feedback curto; F = feedback longo; K = conhecimento;


R = pesquisa; D = link direto entre o conhecimento e a pesquisa; S = suporte ao processo de
inovação; I = apoio à pesquisa científica por instrumentos, máquinas, ferramentas e procedimentos
de tecnologia.
Fonte: Adaptada de Kline; Rosenberg, 1986.

A seguir são detalhadas as etapas que compõem o modelo de ino-


vação chain-linked (KLINE; ROSENBERG, 1986).

66 Tecnologias aplicadas e inovação


•• O processo de inovação inicia o trajeto na denominada cadeia
central de inovação (representada pela letra C), perpassando as
seguintes etapas: identificação do mercado potencial; criação
do projeto analítico, projeto detalhado e teste; reformulação do
design e produção; distribuição e comercialização.
•• O caminho subsequente é composto pelos links de feedback
(letras f e F), sendo vários retornos rápidos (f) e um feedback lon-
go (F), o qual retroalimenta todo o processo, propiciando os ajus-
tes necessários. Além de repetir as etapas, há uma conexão com
as necessidades dos usuários, buscando a melhoria dos produtos
e serviços.
•• É importante destacar que a ligação entre a ciência e a inovação
se estende por todo o processo, em que é possível visualizar um
terceiro caminho, representado pelas setas numeradas (1-2-3-4),
no qual há uma conexão entre conhecimento e pesquisa (K e R,
respectivamente). O processo normalmente ocorre com o uso da
ciência, sendo dividido em duas etapas. A primeira refere-se ao
conhecimento armazenado e utilizado para a resolução de pro-
blemas (K) e a segunda está ligada ao emprego da pesquisa bási- Atividade 2
ca, quando a primeira não é suficiente (R). Tanto o modelo de inova-
•• Há ainda o caminho designado pela letra D, que é o do processo de ção paralelo quanto seu
desdobramento, o modelo
inovação linear, com a pesquisa básica levando à pesquisa aplicada. chain-linked, apresentam uma
•• O último caminho é o relativo ao suporte (representado pelas propriedade muito importante
que os distingue do modelo de
letras S e I), fornecido por meio de instrumentos, máquinas, inovação linear. Aponte qual é
ferramentas e procedimentos que representam a aplicação da essa característica.
tecnologia na ciência básica com o objetivo de aprimorar o pro-
cesso de inovação.

3.3 Modelo Tidd, Bessant e Pavitt (modelo funil)


Vídeo O modelo intitulado Tidd, Bessant e Pavitt foi proposto pe-
los renomados professores da Universidade de Sussex (Reino
Unido), Joseph Tidd, John Bessant e Keith Pavitt (2005), no início do sé-
culo XXI. Também conhecido como modelo funil, por seu formato ca-
racterístico, é um sistema bastante simples, que busca compreender as
transformações ocorridas no processo de inovação e os seus respecti-
vos impactos (ANDRADE; CHARVET, 2017).

Modelos de inovação tecnológica 67


Figura 6
Modelo de inovação Tidd, Bessant e Pavitt

Buscar
Como podem
ser encontradas
oportunidades
para inovação?

Selecionar
O que fazer – e
por quê?

Implementar
Como fazer isso
acontecer?

Aprender
Como obter os
benefícios do
processo?

Fonte: Adaptada de Tidd, Bessant e Pavitt, 2005; Carvalho, Reis e Cavalcante, 2011.

Observando a Figura 6, é possível perceber que o modelo Tidd,


Bessant e Pavitt é composto pelas seguintes etapas: buscar, selecio-
nar, implementar e aprender. Essas fases estão descritas a seguir
(CARVALHO; REIS; CAVALCANTE, 2011).
•• Buscar: realização de uma pesquisa de novas oportunidades,
tendo em mente as transformações determinadas pelo mercado,
por influências políticas ou pela ameaça da concorrência.
•• Selecionar: escolha das melhores oportunidades, de acordo com
as características organizacionais da empresa.
•• Implementar: realização das fases fundamentais para o desen-
volvimento e apresentação de um novo produto ou processo que
atenda aos anseios do mercado consumidor.
•• Aprender: análise do processo de inovação, considerando os
erros e acertos cometidos e os ajustes necessários para aprimo-
rar o sistema, além da construção de uma base de conhecimento
que permita um melhor gerenciamento do processo.

68 Tecnologias aplicadas e inovação


No modelo funil, a inovação atravessa os processos na empresa, sen-
do escolhida conforme o mercado, considerando que todas as etapas
são julgadas como essenciais para inovar (ANDRADE; CHARVET, 2017).
Normalmente, a etapa de implementação é a mais formal dentro das
empresas, enquanto as fases de busca e seleção costumam ser mais in-
formais, estando mais alinhadas com o perfil dos gestores das organi-
zações. A fase de aprendizado usualmente é a mais informal de todas,
ocorrendo por meio de relatos dos gestores aos colaboradores sobre os
erros e acertos do processo (CARVALHO; REIS; CAVALCANTE, 2011).

O modelo Tidd, Bessant e Pavitt é considerado bastante interati-


vo, com etapas bem definidas (CARVALHO; REIS; CAVALCANTE, 2011).
Entretanto, os autores do modelo não o indicam como sendo um padrão
perfeito, pois sabem que o sucesso está atrelado ao ambiente organiza-
cional do entorno. Desse modo, eles creem que o mais importante é o
aprendizado resultante do processo (PACHECO; GOMES, 2016).

Artigo

http://www.cc.faccamp.br/ojs-2.4.8-2/index.php/RMPE/article/view/827/pdf

Para obter outras informações complementares a respeito do modelo Tidd,


Bessant e Pavitt, leia o artigo Modelos de gestão da inovação em uma perspec-
tiva comparada: contribuição para aplicação em pequenas e médias empresas,
de Larissa Marchiori Pacheco e Erasmo José Gomes, publicado na Revista da
Micro e Pequena Empresa.

Acesso em: 31 jul. 2020.

3.4 Modelo de inovação aberta (open innovation)


Vídeo O modelo de inovação aberta (open innovation) foi Saiba mais
criado por Henry Chesbrough (professor da Universi-
Para ampliar seus
dade de Berkeley, nos Estados Unidos), no início do conhecimentos sobre
o modelo de inovação
século XXI. A premissa principal desse modelo é a de
aberta, confira a matéria
que as instituições devem estar abertas não somente O que é esta tal de Inova-
ção Aberta?, de Ronald
às ideias internas, mas também às externas, ou seja,
Dauscha, publicado no
não devem se fechar em si mesmas. site da Endeavor.

O modelo open innovation compreende o uso Disponível em: https://endeavor.


org.br/inovacao/o-que-e-esta-
de entradas e saídas intencionais de conhecimento tal-de-inovacao-aberta/. Acesso
para dinamizar a inovação interna e ampliar os mer- em: 23 jul. 2020.

cados para uso externo da inovação (OPEN..., 2020).

Modelos de inovação tecnológica 69


Figura 7
Modelo de inovação aberta (open innovation)

Licenciamento
Mercado de
outra empresa
Spin-offs de tecnologia
Novo mercado

Base tecnológica
interna
Mercado atual

Base tecnológica
externa

Fornecimento de tecnologia
P D

Fonte: Adaptada de Chesbrough, 2006.

De acordo com a Figura 7, é possível verificar que na entrada do


Glossário funil se encontram tanto a base tecnológica interna quanto a exter-
na. Esse processo também engloba as atividades de licenciamento de
crowdsourcing: compreende
o esforço coletivo de indivíduos patentes (mercado de outra empresa) e o surgimento de empresas
objetivando solucionar um spin-off (novo mercado). Além disso, a organização pode comercializar
problema em comum –
por exemplo, o aplicativo produtos ou processos originários de laboratórios de pesquisa e de-
móvel Waze. Criado em Israel e senvolvimento (P&D) de outras instituições (mercado atual).
posteriormente adquirido pela
Google, sua navegação por O modelo de inovação aberta apresenta três processos principais.
satélite é combinada com inte- O primeiro é o de fora para dentro, que ocorre por meio da integração
rações realizadas pelos usuários,
de clientes, fornecedores e colaboradores, enriquecendo a base de co-
beneficiando a todos.
spin-off: consiste numa nhecimento da própria empresa. Assim, há a busca de uma conscientiza-
empresa derivada de um ção crescente da importância das redes de inovação e novas formas de
grupo de estudo oriundo de integração do cliente, como o crowdsourcing, por exemplo. O segundo
uma instituição de pesquisa, de
uma universidade, ou de uma processo é o de dentro para fora, em que o lucro é obtido por inter-
empresa já existente, tendo médio do licenciamento de propriedade intelectual, transferência de
como foco a comercialização de
conhecimento, geração de spin-offs, dentre outros. O terceiro e último
produtos ou serviços frutos das
pesquisas realizadas. processo consiste numa combinação dos dois processos anteriores,
joint venture: representa em que há a cocriação com parceiros complementares, como no caso
um acordo estabelecido entre de uma joint venture, por exemplo (ENKEL; GASSMANN; CHESBROUGH,
duas ou mais instituições para a
realização de uma atividade es- 2009).
pecífica por tempo determinado. Dentre os benefícios da inovação aberta, podem ser citados
(DOCHERTY, 2006; PERES et al., 2016):

70 Tecnologias aplicadas e inovação


1. capacidade de impulsionar P&D desenvolvido com o
orçamento de outra empresa;
2. alcance e capacidade estendidos para novas ideias e
tecnologias, considerando um contato maior com especialistas
externos;
3. oportunidade de realocar recursos internos para encontrar,
rastrear e gerenciar a implementação;
4. retorno do investimento realizado em P&D interno, por meio
de venda ou licenciamento da propriedade intelectual não
utilizada;
5. surgimento de uma noção maior de urgência para os grupos
internos atuarem sobre ideias ou tecnologia, reduzindo os
ciclos de inovação;
6. habilidade para efetuar experimentos estratégicos com
utilização de menos recursos e com menores riscos,
possibilitando a ampliação do foco bem como a geração de
novas fontes de crescimento;
7. oportunidade de estabelecer uma cultura mais inovadora, do
ambiente externo para o interno, fortalecendo a sinergia com
os agentes inovadores;
8. geração de spin-offs. Curiosidade
Algumas desvantagens da utilização do modelo de inovação aberta Dentre os casos de sucesso
foram citadas em um estudo realizado com 107 empresas europeias, na aplicação do modelo de
inovação aberta, podem ser
em 2008 (ENKEL; GASSMANN; CHESBROUGH, 2009). São elas: citadas as empresas TIM – com
1. custos de gestão mais elevados; o lançamento da tecnologia 5G
em 2020, fruto da parceria da
2. menor controle e maior complexidade; companhia com sete espaços de
inovação (dentre eles, startups e
3. dificuldade de encontrar o parceiro ideal;
ambientes acadêmicos) (BUCCO,
4. desequilíbrio entre as atividades rotineiras e as de inovação 2020) – e a Natura. Esta já
aberta; firmou parceria com 19 startups,
desde 2014, por meio de seu
5. tempo e recursos financeiros escassos para as atividades de projeto Natura Startups, estimu-
inovação. lando o empreendedorismo ao
mesmo tempo que auxilia no
Chesbrough (2003) elenca, em seus estudos, as principais dife- crescimento da própria empresa
(INOVAÇÃO..., 2020).
renças entre o modelo de inovação fechada (modelos anteriores ao
open innovation) e o modelo de inovação aberta (Quadro 1).

Modelos de inovação tecnológica 71


Quadro 1
Diferenças entre modelo de inovação fechada e modelo de inovação aberta

Inovação fechada Inovação aberta


Os especialistas de cada área podem traba-
Os especialistas de cada área lhar em outras instituições, sendo importante
trabalham dentro da empresa. manter contato e uma boa relação com os
profissionais.
A empresa busca, por meio das in-
Acredita-se ser possível obter lucros mesmo
venções criadas, ser a pioneira no
não sendo a pioneira na geração da ideia.
mercado.
É possível obter lucro por meio de licencia-
Há um controle rígido da proprieda- mento da propriedade intelectual de uma
de intelectual da empresa. empresa, tanto na condição de licenciante
quanto na de licenciatário.
O sucesso está atrelado ao pionei-
A elaboração de um modelo de negócio é
rismo da comercialização de uma
Atividade 3 mais benéfica do que o pioneirismo.
inovação.
Considerando o conhecimento Objetivando o lucro por meio de ati-
P&D externo pode gerar valor expressivo, ao
adquirido, indique a principal vidades de P&D, é necessário a gera-
passo que o P&D interno é importante para
diferença entre o modelo Tidd, ção, o desenvolvimento e a comercia-
pleitear uma percentagem desse valor.
Bessant e Pavitt (modelo funil) lização de um produto ou processo.
e o modelo de inovação aberta
O sucesso advém mais da quantida-
(open innovation). O sucesso está vinculado ao uso adequado
de e qualidade de ideias do que da
de ideias, tanto internas quanto externas.
concorrência.
Fonte: Adaptado de Chesbrough, 2003; Peres et al., 2016.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capítulo vimos os principais modelos de inovação reconhecidos
mundialmente: o linear, o paralelo, o Tidd, Bessant e Pavitt e o de inovação
aberta ou open innovation.
O primeiro deles, modelo linear, é o mais antigo e simples de todos.
Nele considera-se que o processo de inovação ocorre de maneira sequen-
cial, com as atividades sendo desenvolvidas uma após a outra. Apesar de
suas limitações, é ainda bastante utilizado.
Como o modelo linear não abrange todas as interações possíveis entre
as etapas, acaba por abrir caminho para outros sistemas. Tanto o modelo
de inovação paralelo quanto seu desdobramento, denominado chain-linked,
foram desenvolvidos considerando a retroalimentação entre as fases, por
meio de feedbacks que possibilitam o aperfeiçoamento do processo.
Já o modelo denominado Tidd, Bessant e Pavitt caracteriza-se por possuir
etapas bem delimitadas e ser muito interativo. Ele é composto de quatro

72 Tecnologias aplicadas e inovação


fases: busca, seleção, implementação e aprendizado – sendo esta última
fundamental para promover as adaptações necessárias e para acumu-
lar conhecimento a ser utilizado em processos subsequentes. Por fim, foi
abordado o modelo de inovação aberta, que apresenta como principal
diferencial, em relação aos anteriores, o fato de considerar que as organi-
zações interagem e cooperam umas com as outras. Esse modelo possui
três processos principais: o de fora para dentro, o de dentro para fora e
uma combinação dos dois anteriores.
Vale destacar que esses são apenas alguns dos modelos existentes, uma
vez que os pesquisadores da área de inovação estão constantemente em
busca da criação de novos modelos ou do aperfeiçoamento dos já existentes.
Assim sendo, cada empresa deve analisar e optar por aquele que mais
se aproxima de sua realidade. É importante ressaltar que os modelos não
são excludentes entre si, ou seja, podem perfeitamente ser utilizados de
maneira complementar.

REFERÊNCIAS
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Negócios, 2017. p. 104-131.
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Disponível em: https://www.oei.es/historico/salactsi/milton.htm. Acesso em: 21 jul. 2020.
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Modelos de inovação tecnológica 73


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GABARITO
1. O modelo de inovação linear science push é impulsionado pela pesquisa básica, en-
quanto o modelo de inovação linear demand pull é impelido pela demanda do mer-
cado consumidor.

2. A característica distintiva dos modelos de inovação paralelo e chain-linked em relação


ao modelo de inovação linear é a retroalimentação do processo. No modelo de inova-
ção linear, há uma sequência rígida de atividades que devem ser desempenhadas no
processo de inovação. Já os outros dois modelos contemplam uma retroalimentação do
processo, ou seja, por meio dos feedbacks eles podem realizar os ajustes necessários.

3. Muito embora os dois modelos tenham um formato semelhante (de funil), de acordo
com Chesbrough (2003), os modelos anteriores ao open innovation (como é o caso
do modelo Tidd, Bessant e Pavitt) são considerados modelos de inovação fechada.
Sendo assim, a principal diferença entre os dois modelos é o fato de um realizar ati-
vidades de P&D apenas internamente (Tidd, Bessant e Pavitt), enquanto o outro está
aberto para a realização de atividades de P&D de maneira colaborativa com outras
empresas (open innovation). Dessa forma, o primeiro modelo não prevê, por exem-
plo, a geração de spin-offs decorrentes do processo inovativo, nem o licenciamento
da propriedade intelectual não utilizada para outras organizações, como ocorre no
modelo de inovação aberta.

74 Tecnologias aplicadas e inovação


4
A inovação como fonte
de competitividade
A inovação e os demais conceitos relacionados compõem um
campo muito vasto de estudo. Quanto mais se pesquisa nessa
área, mais há para ser descoberto.
Nesse sentido, há alguns elementos relacionados ao conceito
de inovação que valem a pena serem mais bem compreendidos
e, por isso, serão trabalhados neste capítulo. Dentre eles, temos o
conceito de cadeia de valor, pelo qual são analisadas as atividades
realizadas pelas empresas para gerar vantagem competitiva.
Grande parte dos estudos voltados à investigação dos fatores
que levam uma empresa a se destacar em seu segmento de mer-
cado demonstram que a inovação é um elemento primordial para
assegurar uma vantagem competitiva frente à concorrência.
Ademais, a prospecção das tecnologias portadoras de futuro
tem recebido destaque nos debates sobre inovação, tanto por
buscar prever as transformações futuras quanto por possibilitar a
abertura de janelas de oportunidades.

4.1 Noção de cadeia de valor


Vídeo Antes de analisar a noção de cadeia de valor, é importante entender
claramente o significado de valor.

Em termos de mercado, valor representa o quanto os compradores


estão dispostos a pagar pelo que é fornecido por uma empresa. Para
esta, o valor, considerado como a margem de lucro que se obterá com
a comercialização de determinado produto, é representado pela recei-
ta total menos o custo de produção.

A inovação como fonte de competitividade 75


Valor
Receita Custo de
(margem = total - produção
de lucro)
Biografia Já o conceito de cadeia de valor foi estabelecido por Michael Porter na
década de 1980. Tal definição pode ser compreendida como o encadea-
mento de atividades executadas por uma empresa para planejar; pro-
duzir; comercializar; realizar a entrega e oferecer suporte a seus bens,
conforme é possível verificar na Figura 1 (PORTER, 1998; MAGRETTA,
2018), incluindo desde os fornecedores até o consumidor final.
Porter
hael

Figura 1
ic
/M

Cadeia de valor
ns
mo

om
ia C
Wikimed
Atividades de apoio

Infraestrutura da empresa
Michael Eugene Porter (1947)
é um economista e professor da Gestão de Recursos Humanos

Mar
Universidade de Harvard (EUA). Desenvolvimento tecnológico

gem
Autor de diversos livros nas áreas
de administração e economia, Aquisição/Compras
possui bastante influência no
campo da competitividade

Ma
empresarial. Logística de Logística de Marketing

rge
Operações Serviços
entrada saída e vendas

m
Atividades primárias
Fonte: Adaptada de Porter, 1998, p. 37.

Ao realizar a análise da cadeia de valor de uma empresa é possível


compreender de que forma esta estabelece sua estratégia a fim de
obter vantagem competitiva em seu segmento de mercado. Na Figura 1,
nota-se que a cadeia de valor é formada pelas atividades primárias,
subdivididas em logística de entrada e saída; operações; marketing
e vendas; serviços e pelas atividades de apoio, estas compostas
pela infraestrutura da empresa; pela gestão dos Recursos Humanos;
pelo desenvolvimento tecnológico e pelas compras realizadas por
uma empresa, bem como pela margem de valor acrescida a essas
atividades, além dos elos existentes entre elas.

O Quadro 1 apresenta as principais características das atividades


primárias e de apoio pertencentes à cadeia de valor elencadas por
Porter (1998):

76 Tecnologias aplicadas e inovação


Quadro 1
Atividades da cadeia de valor

Atividades associadas ao recebimento e armazenamento de insumos.


Logística de
Ex.: manuseio de materiais; armazenamento; controle de estoque; programação
entrada
de veículos e devoluções aos fornecedores.

Atividades ligadas à transformação de insumos na forma de produto final.


Operações Ex.: usinagem; embalagem; montagem; manutenção de equipamentos; testes;
Atividades primárias

impressão e operações de instalação.


Atividades associadas à coleta, ao armazenamento e à distribuição física do pro-
Logística de duto aos compradores.
saída Ex.: armazenamento de produtos acabados; manuseio de materiais; operação do
veículo de entrega; processamento de pedidos e programação.
Atividades com foco no fornecimento de um meio pelo qual os compradores
Marketing podem comprar o produto, bem como o convencimento a fazê-lo.
e vendas
Ex.: publicidade; promoção; força de vendas; cotação; seleção de canal e preço.
Atividades relacionadas à prestação de serviços para aumentar ou manter o valor
Serviços do produto.
Ex.: instalação; reparo; treinamento; fornecimento de peças e ajuste do produto.

Atividades de aquisição relacionadas à função de compra de insumos usados​​


na cadeia de valor da empresa. Vale destacar que melhores práticas de compra
podem afetar fortemente o custo e a qualidade dos insumos adquiridos, bem
Aquisição/ como de outras atividades associadas ao recebimento e uso dos insumos e à
Compras interação com fornecedores.
Ex.: matérias-primas; suprimentos e outros itens consumíveis, bem como ativos
como máquinas; equipamentos de laboratório e equipamentos de escritório.

O desenvolvimento de tecnologia consiste em uma gama de atividades que po-


dem ser amplamente agrupadas em esforços para melhorar o produto e o pro-
cesso. É uma atividade importante para obter vantagem competitiva em todas
Desenvol-
Atividades de apoio

as indústrias, sendo a chave em algumas, não se aplicando apenas a tecnologias


vimento diretamente ligadas ao produto final.
tecnológico
Ex.: o desenvolvimento de tecnologia pode ocorrer desde a pesquisa básica
e o design de produto até a pesquisa de mídia; o design de equipamento de
processo e os procedimentos de manutenção.

A gestão de recursos humanos afeta a vantagem competitiva de qualquer em-


presa por meio de seu papel na determinação das habilidades e da motivação
Gestão de dos funcionários e do custo de contratação e treinamento. Em alguns setores, é
recursos a chave para a vantagem competitiva.
humanos
Ex.: atividades de recrutamento; contratação; treinamento; desenvolvimento e
remuneração de todos os tipos de pessoal.

A infraestrutura, ao contrário de outras atividades de suporte, geralmente dá


Infraes- suporte a toda a cadeia e não às atividades individuais, podendo ser uma fonte
trutura da poderosa de vantagem competitiva.
empresa Ex.: administração geral; planejamento; finanças; contabilidade; assuntos jurídi-
cos; governamentais e gestão da qualidade.

Fonte: Elaborado pelo autor com base em Porter, 1998.

A inovação como fonte de competitividade 77


Importante De acordo com Porter (1998), tanto a cadeia de valor quanto a for-
A competitividade pode ma de execução das atividades possuem uma ligação com a trajetória
ser compreendida como “a
e as estratégias adotadas pela própria empresa ao longo do tempo.
capacidade da empresa em criar
estratégias que a façam crescer. É importante ressaltar que a cadeia de valor deve ser desmembrada
Esse crescimento pode se dar em em unidades de negócio para ser melhor compreendida e não vista de
termos de participação no mer-
maneira global – para toda a indústria ou setor (PORTER, 1998).
cado ou de aumento de lucros”
(SILVA et al., 2012, p. 14). Além disso, é essencial que a empresa tenha pleno conhecimento
de todas as etapas que compõem suas cadeias de valor, possibilitando,
dessa forma, sua comparação com as empresas concorrentes,
identificando pontos fortes e quais aspectos necessitam de melhoria.
A comparação com as cadeias de valor dos concorrentes é importante
porque expõe diferenças que determinam a vantagem competitiva
(PORTER, 1998). É necessário ainda considerar que “o modelo da cadeia
de valor permite a divisão da empresa nas suas atividades de relevância
estratégica, para a compreensão dos custos e das fontes existentes ou
potenciais de diferenciação” (SCHNEIDER et al., 2006, p. 303).

De acordo com Silva (2004), para cada elo da cadeia de valor existem
aspectos estruturais, internos e sistêmicos a serem considerados:
1. Estruturais: relacionados ao mercado em que a empresa está
inserida, e podem ou não ser monitorados por ela. Por exemplo,
o controle exercido por agências reguladoras (não tem domínio)
ou a demanda por um produto afetada por uma campanha de
marketing realizada pela empresa (tem controle).
2. Internos: formados pelos fatores dos quais a empresa possui
controle (como o estabelecimento de preços), ressaltando
que uma alteração em qualquer um dos elos da cadeia exerce
influência sobre os demais. Dessa forma, é pertinente que a
empresa, de posse das informações a respeito das mudanças,
possa estabelecer seus objetivos estratégicos para obter o lucro
almejado.
3. Sistêmicos: elementos não controláveis pela empresa, mas que
exercem influência sobre o negócio, tais como o aumento de um
imposto existente ou a criação de um novo.

Além de todas as etapas pertencentes à cadeia de valor, há um


aspecto de suma importância a ser considerado: a sustentabilidade.
Dessa forma, incorporar um cuidado especial com os resíduos
resultantes do processo produtivo e seu correto descarte ou reutilização
é primordial para preservar as futuras gerações.

78 Tecnologias aplicadas e inovação


Há que se apontar aqui a importância da logística reversa, segmen- Curiosidade
to que investiga o fluxo de resíduos gerados pelo consumo de volta à Em relação à obsolescência
indústria, com o objetivo de prover o reaproveitamento ou descarte de produtos, são consideradas
três estratégias distintas. A
mais adequado e ambientalmente correto a esses materiais. De acordo
primeira é a obsolescência
com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, logística reversa é: programada, que consiste
na programação de um ciclo
Art. 3º [...]
de vida curto propositalmente,
XII – [...] instrumento de desenvolvimento econômico e social ca- estimulando o consumidor
racterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios a adquirir novos produtos. A
destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sóli- segunda estratégia é a chamada
dos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo obsolescência perceptiva,
ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final am- que ocorre quando se passa a
considerar um produto obsoleto,
bientalmente adequada. (BRASIL, 2010)
mesmo que esteja em perfeitas
condições de uso, em função de
O fato de os produtos apresentarem ciclos de vida útil cada vez mais
outro com características mais
reduzidos, causando sua obsolescência precipitadamente, exige que se atraentes (consumo emocional).
planeje o fluxo logístico desses bens, tanto em função do aspecto am- Finalmente, a terceira é intitula-
da obsolescência tecnológi-
biental quanto em relação à sustentabilidade empresarial. No ambien-
ca, em que ocorre a substituição
te competitivo atual, as empresas precisam estar atentas aos aspectos de um produto (mesmo que em
sociais, legais e ambientais, com vistas a garantir uma vantagem com- pleno funcionamento) por outro
com tecnologia mais avançada,
petitiva frente à concorrência. Tal preocupação deve buscar satisfazer com desempenho mais condi-
todos os stakeholders envolvidos no processo, indo muito além do foco zente com as necessidades do
no lucro dos negócios (LEITE, 2017). consumidor (ENTENDA..., 2020).

De acordo com Silva et al. (2012), a cadeia de valor pode ser


modificada do formato linear para o cíclico, sendo que nesse segundo
Atividade 1
modelo há o reaproveitamento de resíduos, limitando o uso de matéria-
Explique quais são os aspectos
-prima original. A despeito do acréscimo de custos que uma alteração de cada elo da cadeia de valor,
na cadeia de valor pode apresentar, deve-se refletir sobre as vantagens identificando suas caracterís-
dessa transformação a longo prazo. Segundo os autores, uma empresa ticas. Cite um exemplo para
cada aspecto.
que define a sustentabilidade como um diferencial de seus produtos
pode atrair consumidores atentos às questões ambientais.

4.2 Inovação como fator de


vantagem competitiva
Vídeo A competição faz parte da rotina do ambiente de negócios. Sendo
assim, pode ser vista de modo positivo, uma vez que impulsiona as
empresas a gerarem cada vez mais produtos e processos inovadores, o
que pode ser considerado um benefício para a sociedade.

A inovação como fonte de competitividade 79


Importante Os fatores que influenciam a dinâmica de mercado são diversos,
“O acesso ao conhecimento como o perfil socioeconômico dos consumidores e o potencial da
tecnológico, o desenvolvimento empresa de gerar produtos inovadores. “Nesse sentido, a inovação
do capital humano, a inovação
está se tornando o principal fator de competitividade das firmas
contínua e a adoção de padrões
mundiais de qualidade e produ- para ampliar e manter a sua atuação” (CONTO; ANTUNES JR.; VACCARO,
tividade são fatores essenciais 2016, p. 397).
para sustentar a competitivida-
de” (QUANDT, 2004). Assim, a inovação propicia à empresa a capacidade de alcançar e
ultrapassar a concorrência pela criação de novos produtos e processos,
bem como pela utilização de novas estratégias organizacionais e de
marketing. Dessa forma, é possível afirmar que a “sustentabilidade de
uma organização está relacionada a sua capacidade de gerar vantagem
Curiosidade competitiva [...]” (TORRES; PAGNUSSATT; SEVERO, 2016, p. 1).
Em 2019, o Brasil ocupou a 71ª Ademais, é possível afirmar que a vantagem competitiva está muito
colocação de um total de 141
mais relacionada ao controle exercido pela empresa sobre seus con-
economias avaliadas, em um
dos mais importantes índices correntes do que somente a um diferencial obtido com base na lucra-
mundiais de avaliação da tividade (MATTOS; GUIMARÃES, 2012). Ainda de acordo com Mattos e
competitividade, denominado
Global Competitiveness Index
Guimarães (2012), o sucesso de uma empresa está atrelado ao uso do
(GCI), publicado pelo Fórum pensamento crítico para tomada de decisões, que faz parte dos recur-
Econômico Mundial. Os três sos intangíveis de uma organização.
primeiros classificados no GCI
foram: Singapura, Estados De acordo com Quandt (2004), a inovação responde por 80% a 90%
Unidos e Hong Kong. Os
do crescimento da produtividade em países mais desenvolvidos, o que
melhores resultados alcançados
pelo país foram em relação aos demonstra a importância fundamental de tal atividade. Mas quais são
pilares de mercado de trabalho, os fenômenos característicos do cenário atual de concorrência acirrada?
dinamismo de negócios e
infraestrutura, sendo que a meta A resposta a essa pergunta compreende três eventos principais:
do governo é atingir em 2022 a a globalização, a customização de produtos e o desejo pelo novo
50ª colocação (BRASIL, 2019a).
(MATTOS; GUIMARÃES, 2012), melhor detalhados na sequência.

Globalização

Consiste em um processo de integração em quatro níveis: cultu-


ral, social, político e econômico. Compreende a internacionalização da
produção, o fortalecimento do comércio internacional e a integração
dos sistemas financeiros nacionais (BAUMANN, 1996). Tal processo foi
intensificado principalmente pelo aperfeiçoamento das tecnologias da
informação e comunicação (TICs).

Em um cenário de globalização, a inovação é bastante impulsiona-


da, tanto pelo fato de haver uma troca maior de conhecimento quan-
to pela maior concorrência resultar em produtos melhores. Como as

80 Tecnologias aplicadas e inovação


empresas líderes são capazes de desenvolver produtos de qualidade
a baixo custo, as pequenas e médias empresas são pressionadas a
inovar (MATTOS; GUIMARÃES, 2012), fazendo uso especialmente da
criatividade.

Customização de produtos

Ao longo do tempo foram observadas diversas transformações na


forma de produção e aquisição de bens, ou seja, ocorreram mudanças
profundas para a indústria e os consumidores.

A Revolução Industrial ocasionou uma transição do modo de pro-


dução artesanal para a maquinofatura, levando posteriormente à pro-
dução em massa, tão bem exemplificada pela linha de montagem de
automóveis de Henry Ford. Entretanto, a concepção ultrapassada, tão
bem destacada pela famosa frase proferida por Ford, de que “o cliente
pode ter o carro da cor que quiser, contanto que seja preto”, cede es-
paço à atual maior customização dos produtos, uma vez que os consu-
midores se tornaram mais exigentes e mais conscientes da importância
de se adquirir produtos mais sustentáveis.

Esse processo de segmentação de mercado e redução da produção


em massa teve início no fim da década de 1980 (KOTLER, 1989). O impasse,
contudo, reside no fato de que o mercado consumidor exige produtos
cada vez mais customizados, mas com valores comparados aos pagos
por produtos decorrentes da produção em massa. Nesse cenário, em
que a satisfação do cliente é o principal objetivo, há a necessidade
premente de que as empresas introduzam inovações de todo tipo –
de produto, de processo, organizacional e de marketing – para se
destacarem em seu segmento de mercado.

Desejo pelo novo

Considerando que o mercado consumidor está cada vez mais exigente,


é natural que o setor produtivo se adeque às condições impostas. Dessa
forma, as empresas competem entre si pela preferência dos clientes, o que
viabiliza produtos melhores a um custo menor. Nesse contexto, aumenta
a expectativa do consumidor por produtos novos e de maior qualidade,
fazendo com que seu ciclo de vida seja progressivamente reduzido – é o
desejo pelo novo. “Essa constatação fortalece o princípio de que inovação
gera inovação, pois além de criar subsídios para novos desenvolvimentos,
cada inovação provoca um acréscimo nas expectativas dos consumidores
pelo novo” (MATTOS; GUIMARÃES, 2012, p. 44).

A inovação como fonte de competitividade 81


Atividade 2 Um dos mecanismos utilizados pelas empresas para inovar e,
Discorra sobre os fenômenos consequentemente, obter vantagem competitiva em seu segmento
inerentes ao atual cenário de in-
de mercado é a engenharia reversa. Essa atividade consiste na com-
tensa concorrência de mercado.
preensão do modo de funcionamento de um produto existente bem
como dos recursos tecnológicos incorporados a ele. Na prática, con-
siste no ato de desmontar um objeto para ver como ele funciona.
A Figura 2 traz um exemplo de aplicação da engenharia reversa no
mercado automobilístico.

Figura 2
Exemplo de engenharia reversa

Wikimedia Commons/Georg Wiora.


Réplica Veículo Silberpfeil (construído em 1954)

Modelo-CAD Medição

Medição Nuvem

Processo de engenharia reversa usando o exemplo de um veículo Silberpfeil, construído em 1954.


Uma nuvem de pontos (2) com 98 milhões de pontos de medição foi gerada com base no original
(1) dentro de 14 horas de medição. Os pontos foram reduzidos a cortes axialmente paralelos a
uma distância de dois centímetros (3), sobre os quais foi construído um modelo CAD (4) em cerca
de 80 horas de trabalho. Com base no modelo CAD, foi feita uma réplica (5) na escala de 1: 1.

De acordo com Tigre (2019), a engenharia reversa não pode ser con-
siderada uma simples cópia, uma vez que muitas das peças e o próprio
processo de produção podem estar protegidos por patentes ou segre-
do industrial. Nesse sentido, não basta compreender o funcionamento,
mas é necessário possuir capacidade tecnológica para alterar o objeto

82 Tecnologias aplicadas e inovação


original de modo que não descumpra a legislação de proteção à pro-
priedade intelectual.

Aliás, muitas das fabricantes de produtos originais acabam falindo, Saiba mais
e várias empresas, para não deixar seu parque industrial subutilizado, Para ampliar seu conhe-
cimento a respeito da
implementam setores de engenharia reversa com o propósito de desen- engenharia reversa, leia o
volver réplicas próprias de peças utilizadas na produção, por exemplo. texto O que é engenharia
reversa?, publicado por
Assim, nem sempre a engenharia reversa pode ser vista como uma Oliver Hautsch no site
vantagem competitiva, pois é muito mais custoso instalar um depar- TecMundo.

tamento responsável por isso em uma empresa do que seria adquirir Disponível em: https://www.
tecmundo.com.br/pirataria/2808-
a peça do fabricante original, caso ele não tivesse falido. No caso de o-que-e-engenharia-reversa-.htm.
empresas de base tecnológica, normalmente o investimento em en- Acesso em: 20 out. 2020.

genharia reversa é mais justificável do que em organizações de outros


ramos, uma vez que há a formação de um novo paradigma tecnológico
que abre novas janelas de oportunidades.

4.3 Tecnologias portadoras de futuro


Vídeo Na atual sociedade do conhecimento, tem sido reservado um espa-
ço de destaque às denominadas tecnologias portadoras de futuro pelo
significativo potencial que possuem de estimular profundas transfor-
mações sociais (MATTOS; GUIMARÃES, 2012).

De acordo com diversos autores, além das TICs, algumas das


tecnologias consideradas portadoras de futuro são: a biotecnologia,
a nanotecnologia e as energias renováveis. Tais categorias serão
pormenorizadas na sequência.

Biotecnologia

Muito embora a biotecnologia não seja um ramo de estudo novo,


haja vista que existe há mais de 5000 mil anos, se for considerado o uso
da técnica de fermentação do pão e do vinho, ela faz uso de modernas
ferramentas tecnológicas (BRASIL, 2020a). Mas em que consiste exata-
mente a biotecnologia?

Ela tanto pode ser concebida em seu sentido mais amplo, conside-
rando o manuseio de animais, plantas e microrganismos, com foco em
resultados econômicos, quanto no sentido mais restrito em que está
relacionada ao uso de avançadas técnicas de biologia molecular e celu-
lar (BRASIL, 2020b). A Figura 3 apresenta algumas das aplicações possí-
veis da biotecnologia.

A inovação como fonte de competitividade 83


Figura 3
Algumas aplicações da biotecnologia

Sequenciamento Tratamentos, Produção de Marcadores


de DNA suplementos e vacinas moleculares
(melhoramento novos kits de (DNA (testes de
genético) diagnóstico recombinante) paternidade)

Biotecnologia

Engenharia Cultura de
Clonagem Células Biocombus-
Genética tecidos e
de animais tronco tíveis
(transgênicos) células

Fonte: Brasil, 2020a e SEBRAE, 2020.

A primeira vez que o termo biotecnologia foi citado data do ano de


Vídeo 1919, sendo proferido pelo engenheiro agrícola húngaro Károly Ereky,
Para conhecer algumas intitulado como “pai” da biotecnologia (BRASIL, 2020c). Já a biotecnolo-
aplicações da biotecno-
logia, assista ao vídeo
gia moderna surgiu com a descoberta da estrutura do DNA, em 1953,
O que é Biotecnologia?, sendo que tal código genético foi decifrado em 1967. Com tais achados,
produzido pelo Instante
Biotec.
foi possível uma transformação profunda nas áreas da genética e biolo-

Disponível em: https://youtu.be/


gia molecular (FALEIRO; ANDRADE; REIS JUNIOR, 2011).
bDKOreHgQP4. Acesso em: 20
Dentre as diversas aplicações possíveis para a biotecnologia, pode-
out. 2020.
-se citar a engenharia genética, que consiste num conjunto de técnicas
de genética molecular e biologia, resultando na criação de moléculas
Atividade 3 de DNA recombinantes. Por DNA recombinante, compreende-se o re-
Considerando que a biotecno- sultado da união de diversas partes de DNA provenientes de células,
logia é uma área muito vasta, espécies ou organismos diversos (FALEIRO; ANDRADE; REIS JUNIOR,
você consegue lembrar de outro
2011). Tais aplicações podem ser utilizadas na agricultura, para a ma-
ramo e/ou aplicação diverso dos
que foram citados neste livro? nipulação genética de alimentos (transgênicos), ou na área de saúde,
Comente. para a produção de vacinas, por exemplo.

84 Tecnologias aplicadas e inovação


Nanotecnologia

Representa a capacidade de trabalhar com fenômenos e processos


que ocorrem em uma escala de 1 a 100 nanômetros (OECD, 2018).
Um nanômetro (nm) equivale a um bilionésimo do metro (1nm = 10-9m).
Para se ter uma ideia dessa dimensão, pode-se citar o cabelo, que
possui cerca de 40.000 nm (CONDE, 2005). A figura a seguir ilustra a
comparação com outros elementos.

Figura 4
Escala nanométrica

Wikimedia Commons
Microscópio eletrônico
Olhos

Microscópio ótico
Molécula
Vírus pequena
Orbital
Maçã Célula eletrônico
Formiga

Átomo
Humano Abelha Pelo Bactéria DNA

Glossário

Nanomateriais avançados têm sido progressivamente utilizados na lab-on-a-chip (LOC):


dispositivo que integra várias
fabricação de produtos de alta tecnologia, como o polimento de com- funções de laboratório em um
ponentes ópticos. Outras inovações mais recentes incluem diagnósti- nanochip. Por possibilitar o uso
cos lab-on-a-chip e células solares biomiméticas (OECD, 2018). de pequenos volumes de fluido,
o que reduz custos e o tempo
As aplicações possíveis para a nanotecnologia são várias, sendo de resposta, possui grande
potencial de utilização na área
complexo seu exato dimensionamento. Entretanto, alguns dos possí-
de saúde (CHERIYEDATH, 2020).
veis usos são listados no Quadro 2.
células solares biomimé-
ticas: são nanoestruturas que
buscam replicar o mecanismo de
armazenamento solar efetuado
por animais, como borboletas
e vespas.

A inovação como fonte de competitividade 85


Quadro 2
Aplicações de nanotecnologia

Área Aplicações

Biotecnologia Biochips, biosensores, diagnóstico e nanocirurgia.

Computadores moleculares, computadores quânticos e compu-


Computação
tadores ópticos.

Bens inteligentes, nanoeletrônica, nanolitografia, eletrônica per-


Eletrônica
vasiva e sistemas de imagiologia.

Baterias avançadas, células de combustível, células fotovoltaicas e


Energia
microfontes de energia.

Poços quânticos, nanopartículas, nanotubos, nanocristais e auto-


Materiais
montagem em monocamadas.

Fonte: Adaptado de Roughley (2004), apud Eugenio e Fatal (2010, p. 2-3).

Saiba mais O uso da nanotecnologia gera expectativa de ganhos de eficiência

Para conhecer um pouco mais bem como de aplicações customizadas (MATTOS; GUIMARÃES, 2012),
sobre a aplicação da nanotecno- resultando em impactos positivos ao meio ambiente e melhoria na
logia na agricultura, leia o texto qualidade de vida (FERREIRA; RANGEL, 2009). O investimento global
Nanotecnologia a favor de uma
agricultura mais sustentável, de em nanopartículas é de aproximadamente US$ 40 bilhões por ano,
Guilherme Profeta, no site do sendo que os países que mais destinam recursos para programas e
Jornal Cruzeiro do Sul. Disponível
patentes na área são a China, a Coreia do Sul, os Estados Unidos e o
em: https://www.jornalcruzeiro.
com.br/uniso-ciencia/nano- Japão (FERREIRA; RANGEL, 2009).
tecnologia-a-favor-de-uma-a-
Energias renováveis
gricultura-mais-sustentavel/.
Acesso em: 20 out. 2020. Compreendem aquelas energias provenientes de recursos naturais
inesgotáveis, como luz, água, vento, entre outros. Dentre algumas das
energias renováveis existentes podem ser citadas a eólica (energia do
vento), hídrica (energia da água), solar (luz e calor do sol), biomassa
(matéria orgânica, de origem animal ou vegetal), geotérmica (calor
originário do interior da Terra) e energia oceânica (aproveitamento
das ondas do mar). Por outro lado, as energias não renováveis são
aquelas baseadas na utilização de combustíveis fósseis que não têm
disponibilidade contínua pela natureza, compreendendo petróleo e
derivados, gás natural, carvão e combustíveis nucleares.

Em relação à matriz energética brasileira, é possível verificar na Fi-


gura 5 que o uso de energias não renováveis vem diminuindo ao longo
do tempo, com a projeção para o ano de 2024 de 54,8% do total, en-
quanto a energia renovável deve responder pelos outros 45,2%.

86 Tecnologias aplicadas e inovação


Figura 5
Matriz energética brasileira: energia renovável e não renovável

2015 42,5 57,5

2019 45,0 55,0 Vídeo


Assista ao vídeo Energias
Renováveis, produzido
2024 45,2 54,8 pela National Geographic
Portugal para conhecer
um pouco mais sobre o
assunto.
Energia renovável Energia não renovável Disponível em: https://youtu.
be/n-eIM6Ds1jQ. Acesso em: 20
Fonte: Adaptada de Brasil, 2015, p. 437. out. 2020.

Muitas vezes as fontes de energia são mencionadas especificamen-


te em relação à produção de eletricidade, que consiste em um ele- Curiosidade
mento essencial para a vida humana e o desenvolvimento econômico Apesar de a eletricidade ser
(MENDONÇA et al., 2020). algo tão presente na vida das
pessoas em geral, dados de 2016
Considerando a matriz elétrica mundial referente ao ano de 2018 demonstram que cerca de 13%
(Gráfico 1), verifica-se que ela é composta por 26% de uso de energias da população mundial ainda
vive sem acesso a esse recurso
renováveis e por 74% de utilização de fontes de energia não renová- energético, especialmente na
veis, de acordo com a International Energy Agency (IEA). África Subsaariana e em comu-
nidades rurais no sul da Ásia
Gráfico 1 (MENDONÇA et al., 2020).
Produção mundial bruta de eletricidade, por fonte (2018).

0,5%
Geotérmico
2,1%
Solar
4,8%
Eólica
2,4%
Biocombustível e resíduos
10,1%
Nuclear
38,0%
Carvão
2,9%
Petróleo e derivados
23,0%
Gás natural
16,2%
Hídrica

0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0%

Fonte: IEA, 2020.

A inovação como fonte de competitividade 87


Ressalta-se que os três países com consumo mais elevado de ener-
gia elétrica no mundo, no ano de 2017, são a China (26,59% do total),
os Estados Unidos (17,31%) e a Índia (5,27%), o que é justificável por
serem exatamente os três maiores países em termos de popula-
ção. O Brasil ocupa, no mesmo ano, a sétima posição em consumo de
energia elétrica no mundo (BRASIL, 2019b).

Já em relação à matriz elétrica brasileira (Gráfico 2), é possível veri-


ficar que ocorre o inverso em relação à mundial, ou seja, maior uso de
energias renováveis (especialmente de origem hídrica), corresponden-
do a 81,8% do total. Por outro lado, há 15,9% de utilização de fontes
de energia não renováveis. Ressalta-se que 2,3% da energia utilizada
provém de fontes renováveis e não renováveis (outras). Vale destacar
que o país possui riquezas naturais abundantes e pessoal capacitado,
o que favorece a utilização desses recursos.

Gráfico 2
Geração elétrica no Brasil, por fonte (2019).

Outras
2,3%
Solar
1,1%
Eólica
8,9% Biomassa

8,3% Nuclear

2,6% Carvão

Petróleo e derivados
2,4%
1,3% Gás natural

9,6% Hídrica

63,5%

Vídeo
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%
Conheça a Usina de
Ondas de Pecém, a pri- Fonte: Brasil, 2019b.
meira da América Latina a
utilizar o movimento das Após a exposição de alguns dados importantes acerca da matriz
ondas do mar para a pro-
dução de energia elétrica.
energética brasileira (energia renovável e não renovável); da produção
Assista ao vídeo Usina de mundial bruta de eletricidade – por fonte –; dos países com maior con-
Ondas, produzido pela
Coppe UFRJ.
sumo de energia elétrica no mundo e da geração elétrica no Brasil – por
fonte –, serão abordados alguns aspectos adicionais acerca das princi-
Disponível em: https://youtu.be/
EEmM6Qxnd_w. Acesso em: 20 pais fontes de energias renováveis no Brasil. A Figura 6 apresenta fotos
out. 2020.
que ilustram tais fontes: eólica, solar, hídrica e biomassa.

88 Tecnologias aplicadas e inovação


Figura 6
Usina de energia eólica na Serra do Rio do Rastro em Bom Jardim da Serra – São Joaquim (SC)
(foto 1); Painéis solares (foto 2); Usina Hidrelétrica Itaipu Binacional (foto 3); Usina de biogás
(foto 4).

1 2

Wikimedia Commons
4
3

Energia hídrica

A produção de energia hídrica advém especialmente das hidrelétri-


cas, sendo considerado um dos processos menos poluidores de produ-
ção de energia elétrica e um dos mais eficientes (REIS, 2020). No Brasil,
tal fonte é responsável por 63,5% de geração de energia elétrica.

No fim do século XIX foi construída a primeira hidrelétrica do mundo,


junto às quedas d’água das Cataratas do Niágara (ANEEL, 2008), na fron-
teira entre os Estados Unidos e o Canadá. Em nosso país, destaca-se a
Usina Hidrelétrica de Itaipu, construída pelo Brasil e pelo Paraguai, sendo
atualmente a maior hidrelétrica em operação no mundo (ANEEL, 2008).

Energia eólica

Consiste em uma fonte de energia resultante do movimento de


turbinas pela ação do vento, gerando energia elétrica para as redes e
apresentando um funcionamento similar a moinhos de vento (VIEIRA;
FRANCISCO; BITTENCOURT, 2016).

É responsável por 4,8% da produção mundial bruta de eletricidade


e por 8,9% no Brasil. É interessante destacar que em 1976 foi instalada
na Dinamarca a primeira turbina eólica comercial conectada à rede elé-
trica pública, sendo que hoje somam-se mais de 30 mil turbinas eólicas
operando no mundo (ANEEL, 2002). No Brasil, o primeiro aerogerador

A inovação como fonte de competitividade 89


a entrar em operação comercial no país foi implantado em Fernando
de Noronha (PE), em 1992 (DINIZ, 2018). Destaca-se que em 2022 está
prevista a inauguração do maior parque eólico terrestre da América
Latina, localizado no nordeste do Brasil, entre os estados do Piauí e da
Bahia (REIS, 2019a).

Energia solar

É obtida por meio da luz e do calor do sol, respondendo por 2,1% da


produção mundial bruta de eletricidade e no caso do Brasil, por 1,1%.
Embora a participação da energia solar seja ainda pouco significativa
na matriz mundial (ANEEL, 2008), ela tem apresentado uma expansão
rápida em termos de matriz elétrica (BRASIL, 2015), sendo uma das
opções energéticas mais promissoras (PEREIRA et al., 2017).

No caso do Brasil, assim como em relação aos ventos, o país é fa-


vorecido em termos de radiação solar, podendo a Região Nordeste ser
comparada às melhores regiões do mundo nesse quesito (ANEEL, 2008).

Biomassa

É um resíduo sólido composto por dejetos e esgoto que se constitui


na fonte principal para a produção de biogás. O processo de produção
de biogás se dá pela ação de microrganismos que decompõem a ma-
téria sólida inserida em um ambiente sem ar, transformando-a em gás
(ANEEL, 2008), sendo considerado um bom substituto ao gás natural.

No Brasil, a biomassa é responsável por 8,3% da geração de ele-


tricidade, sendo que o país tem mostrado perspectivas positivas em
relação ao biogás, por apresentar condições favoráveis de produção,
consumo e distribuição (VIEIRA; FRANCISCO; BITTENCOURT, 2016).

O quadro a seguir apresenta as principais vantagens e desvanta-


gens em relação às fontes de energia renovável apresentadas.

Quadro 3
Vantagens e desvantagens de algumas energias renováveis

Tipo de energia
Vantagens Desvantagens
renovável

• Erosão dos solos;


• Inesgotável;
• Retirada de populações ribeirinhas;
• Não poluente;
Energia hídrica • Alterações no ecossistema decorrentes da
• Estimula o desenvolvimento local;
construção dos reservatórios;
• Baixo custo de produção.
• Alto custo de instalação e desativação.

(Continua)

90 Tecnologias aplicadas e inovação


Tipo de energia
Vantagens Desvantagens
renovável
• Durável;
• Renovável; • Custo, mesmo reduzindo ao
• Segura; longo do tempo, ainda é alto se
• Ampla disponibilidade; comparado com outras fontes;
Energia eólica
• Não poluente; • Ruído constante;
• Não gera resíduos; • Impacto das aves contra as pás;
• Independe de importações; • Intermitência.
• Não tem custo de aquisição de suprimento.
• Renovável;
• Gratuita;
• Alto custo de aquisição;
• Não poluente;
• Dependência de clima favorável;
Energia solar • Não emite som;
• Preocupação em relação ao des-
• Muito embora haja um investimento inicial
carte dos painéis solares.
elevado em relação aos equipamentos solares,
há recuperação posterior do investimento.
• Utilização estimula um uso menor de gases que
causam o efeito estufa;
• Elevado custo do sistema de
• Favorece o enfrentamento da poluição tanto de
produção;
lençóis freáticos quanto do solo;
• Sistema de depósito é comple-
Biomassa • Fonte de energia limpa;
xo e caro;
• Reduz o volume de lixo orgânico, podendo dar
• Um dos resíduos do Biogás é o
um destino útil aos aterros sanitários;
dióxido de carbono (CO2).
• Pode gerar biofertilizantes;
• Capaz de substituir o gás de cozinha (GLP).
Fonte: Agência Câmara, 2008; ANEEL, 2008; Scherer et al., 2015; Vieira; Francisco; Bittencourt, 2016; Descarte..., 2018; Buono et al., 2019; Reis, 2019b.

A observação atenta do Quadro 3 demonstra que muito embora as Vídeo


energias renováveis sejam preferíveis às energias não renováveis, ne- Para conhecer tecnolo-
gias que farão parte do
nhuma apresenta vantagem absoluta sobre as demais, tampouco des-
cotidiano num futuro
vantagem zero. Dessa forma, é necessário considerar que as escolhas próximo, assista ao vídeo
O que acontecerá aos
devem ser realizadas de acordo com cada cenário e condição específica.
humanos até 2025, produ-
zido pelo canal Incrível.

Disponível em: https://youtu.be/

CONSIDERAÇÕES FINAIS MZgbZLl2VaI. Acesso em: 20 out. 2020.

Conhecer conceitos como os de valor e de cadeia global de valor, bem


como potencializar seu desempenho, é essencial para que as empresas
obtenham vantagem competitiva diante da concorrência em seus respec-
tivos segmentos de mercado.
Diante disso, é de suma importância que se compreenda a magnitu-
de da inovação como aspecto principal na dinâmica de mercado. Uma
empresa inovadora é aquela que aceita correr riscos para agregar valor
aos seus produtos. Ademais, em um ambiente extremamente competiti-

A inovação como fonte de competitividade 91


vo como o atual, é necessário que a empresa esteja atenta a fenômenos
como a customização de produtos, a globalização e o desejo do consumi-
dor pelo novo, a fim de que possa obter vantagem competitiva diante dos
concorrentes.
Além disso, a discussão acerca das atividades portadoras de futuro
tem sido pauta em todo o mundo. Diversos órgãos de todas as áreas liga-
das à inovação têm debatido sobre as oportunidades que essas ativida-
des descortinam no horizonte. Dentre tais ações, encontram-se, além das
TICs, áreas como a biotecnologia, a nanotecnologia e as energias renová-
veis, que foram apresentadas no capítulo tanto em termos globais quanto
especificamente em relação ao Brasil.

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GABARITO
1. Segundo Silva (2004), os aspectos relacionados a cada elo da cadeia de valor são os
internos, os sistêmicos e os estruturais. Os internos são aqueles em que a empresa
pode intervir. Por serem controlados pela empresa, devem ser bem planejados para
contribuir com a vantagem competitiva frente à concorrência. Como exemplo, pode
ser citada a criação de um produto novo que amplie o segmento de mercado atual da
empresa. Já os aspectos sistêmicos compreendem os elementos que não estão sob
o controle da empresa, mas que acabam por afetar sua capacidade competitiva. Para
exemplificar, pode-se imaginar um cenário em que a queda do nível de emprego afete
o rendimento da população e consequentemente o nível de consumo. Por último,
estão os aspectos estruturais, que consistem naqueles que estão relacionados com
o mercado no qual a empresa atua, podendo ser ou não monitorados por ela, como a
relação com os fornecedores.

2. O cenário atual compreende três importantes fenômenos: a globalização, a customi-


zação de produtos e o desejo pelo novo. Com relação à globalização, pode-se afir-
mar que é um processo de fortalecimento do comércio internacional, de associação
dos sistemas financeiros nacionais e de mundialização da produção. Em um cenário
de globalização, os consumidores são favorecidos com produtos melhores, frutos do
maior nível de concorrência. Quanto à customização de produtos, trata-se de um
processo em que os consumidores são mais exigentes, desejando produtos customi-
zados com preço equivalente aos dos produtos resultantes da fabricação em massa.
Ademais, há uma preocupação com a sustentabilidade do processo produtivo. Final-
mente, há o fenômeno do desejo pelo novo, em que há uma redução do ciclo de vida
dos produtos em decorrência das exigências do mercado consumidor, que almeja
produtos melhores e mais baratos. Dessa forma, o processo inovativo é retroalimen-
tado para atender aos anseios do mercado consumidor.

3. (Resposta de opinião). Um dos ramos da biotecnologia é a denominada biologia sintética,


que toma como base os fundamentos da engenharia genética para manipular o DNA de
organismos, podendo criar organismos artificiais. Embora seja um campo de estudos
muito promissor e capaz de gerar inovações disruptivas, é também um ramo muito
controverso, principalmente em relação às questões éticas e ambientais envolvidas.

94 Tecnologias aplicadas e inovação


5
Gestão da propriedade
intelectual
A gestão da propriedade intelectual é uma ferramenta estraté-
gica de grande importância para promover o processo inovador.
Esse instrumento propicia retorno às instituições que realizam a
administração dos bens intangíveis de maneira adequada, trazen-
do benefícios à sociedade.
Diante disso, mostra-se necessário compreender primeiramente
a diferença entre a propriedade industrial e a propriedade intelectual,
que por vezes são tomadas como se tivessem o mesmo significado.
Após a definição de ambos os conceitos, partimos para a classifi-
cações dos direitos de propriedade intelectual, que são divididos em
três categorias: direito autoral, propriedade industrial e proteção sui
generis, incorporando ainda diversas subcategorias.
Além da classificação da propriedade intelectual, entender seus
impactos no desenvolvimento econômico nacional também é fun-
damental para uma compreensão mais ampla de sua importância.
Ademais, considerando que a propriedade intelectual e, mais es-
pecificamente, a propriedade industrial são um meio para se atin-
gir a atividade-fim, que consiste na transferência de tecnologia, são
analisados tanto os aspectos que envolvem essa atividade quanto
a cooperação entre universidade e empresa.
É importante ressaltar que o papel da universidade não é mais
tão somente de formadora de profissionais capacitados (primeira
missão) e nem de incluir, além das atividades de ensino, também as
atividades de pesquisa (segunda missão). Atualmente, essa institui-
ção ultrapassa os limites de seus muros para buscar uma sinergia
maior com a comunidade, sendo a atividade de transferência de
tecnologia essencial para uma maior aproximação com o setor pro-
dutivo, o que resulta em benefícios à sociedade como um todo.

Gestão da propriedade intelectual 95


5.1 Propriedade industrial e
propriedade intelectual
Vídeo Na maior parte das vezes, quando se fala sobre propriedade industrial
e propriedade intelectual, as pessoas têm alguma noção sobre o assunto.
Mas você sabe diferenciar uma modalidade da outra?

Observando a Figura 1, é possível perceber que a propriedade in-


dustrial constitui uma das subdivisões da propriedade intelectual, que
também é composta pelo direito autoral e pela proteção sui generis.

Figura 1
Categorias que envolvem os direitos de propriedade intelectual

Propriedade intelectual

Direito autoral Propriedade industrial Proteção sui generis

Fonte: Adaptada de Jungmann e Bonetti, 2010a.

A categoria da propriedade industrial inclui os direitos sobre as pa-


tentes de invenção e de modelo de utilidade, o registro de marcas, o de
desenho industrial e o de indicação geográfica, bem como a proteção
ao segredo industrial e a repressão à concorrência desleal.

No Brasil, o órgão responsável pela proteção aos direitos de proprie-


dade industrial é o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI),
Glossário uma  autarquia  federal brasileira criada em 1950 e vinculada atual-
mente ao Ministério da Economia. Ela é responsável por: concessão de
autarquia: entidade de direito
público, com autonomia econô- patentes e registro de marcas; desenhos industriais; indicações geográ-
mica, técnica e administrativa, ficas; programas de computador; topografias de circuitos integrados; e
embora fiscalizada e tutelada
registro e/ou averbação de contratos de tecnologia e de franquia.
pelo Estado, o qual eventual-
mente lhe fornece recursos e Por ser uma instituição encarregada de um volume muito grande de
constitui o órgão auxiliar de seus
serviços. pedidos de registro e, em especial, de patentes – mais especificamente
backlog: consiste no estoque de a de invenção –, o INPI implementou há pouco o denominado Plano de
pedidos de patente pendentes Combate ao Backlog. Essa ação visa analisar o volume de aproximada-
de exame técnico.
mente 150.000 pedidos de patente pendentes de análise (BRASIL, 2019).

96 Tecnologias aplicadas e inovação


Para tanto, o INPI pretende aperfeiçoar os processos internos bem
como se valer da busca referente aos pedidos já examinados no exte-
rior (BRASIL, 2020). Essa ação é fundamental para alavancar a atividade
econômica no país, uma vez que a demora na análise dos pedidos é um
desestímulo à atividade inovadora por parte do setor produtivo.

Vale salientar que, em relação especificamente às patentes, há di-


versas situações em que o requerente recebe tratamento prioritário
na análise de seu processo, além de descontos no valor dos serviços,
como é o caso de: idosos; pessoas com deficiências; instituições cien-
tíficas, tecnológicas e de inovação (ICTs); start-ups e micro e pequenas
empresas. Ademais, depósitos que estimulem o emprego de tecnologias
no uso de recursos naturais de maneira sustentável, como é o caso do
Programa Patentes Verdes, também recebem prioridade de tratamento.

Já no cenário mundial, destaca-se a Organização Mundial da Pro-


priedade Intelectual (OMPI), em inglês World Intellectual Property
Organization (WIPO), que consiste em um órgão das Nações Unidas
cujo objetivo é estimular a proteção à propriedade intelectual ao re-
dor do mundo (OMPI/INPI, 2018). Fundada em 1967, possui sede em
Genebra (Suíça) e conta com 193 Estados-membros (WIPO, 2020).

Dentre as atividades desempenhadas pela OMPI para estimular


mundialmente os direitos de propriedade intelectual, encontra-se o
controle de tratados e convenções específicas. Importante ressaltar
que o Brasil não é signatário de todos os acordos, mas participa dos
mais significativos na intenção de promover a participação dos in-
teressados no sistema internacional de propriedade intelectual, obje-
tivando a apropriação do conhecimento e a expectativa de retornos Saiba mais
financeiros com a propriedade intelectual (OMPI/INPI, 2018). Para conhecer os dados
mais importantes sobre
No que diz respeito à legislação referente à propriedade industrial, a propriedade industrial e
mais importante é a de n. 9.279, de 1996, conhecida como Lei de Proprie- propriedade intelectual
no Brasil e no mundo,
dade Industrial, a qual regula direitos e obrigações relativos à proprieda- acesse a página da Confe-
de industrial. Essa legislação abrange diversas modalidades de proteção, deração Nacional da
Indústria.
como invenção, modelo de utilidade, marca, desenho industrial, indica-
Disponível em: http://www.
ção geográfica, segredo industrial e repressão à concorrência desleal. portaldaindustria.com.br/cni/
canais/propriedade-intelectual-cni/
Para as demais modalidades de propriedade intelectual – como di- propriedade-intelectual/dados-e-
reitos de autor e conexos, programa de computador, topografia de cir- -numeros/#anchor-intro. Acesso
em: 29 out. 2020.
cuito integrado e cultivar – há leis específicas.

Gestão da propriedade intelectual 97


5.2 Classificação dos direitos de
propriedade intelectual
Vídeo
Com relação à divisão dos direitos de propriedade intelectual, são
classificados em: 1) direito autoral: direito de autor, direitos conexos
e programa de computador; 2) propriedade industrial: marca, pa-
tente, desenho industrial, indicação geográfica, segredo industrial e
repressão à concorrência desleal; e 3) proteção sui generis: topografia
de circuito integrado, cultivar e conhecimento tradicional (JUNGMANN;
BONETTI, 2010a; OMPI/INPI, 2018).

Na sequência serão abordados mais detalhadamente cada um dos


direitos de propriedade intelectual apresentados na figura a seguir.

Figura 2
Modalidades de direitos de propriedade intelectual

Propriedade intelectual

Proteção Propriedade Direito


sui generis industrial autoral
Topografia de circuito integrado

Segredo industrial e repressão à


Conhecimento tradicional

Programa de computador
concorrência desleal

Indicação geográfica

Desenho industrial

Direitos conexos

Direito de autor
Cultivar

Patente

Marca

Fonte: Adaptada de Jungmann e Bonetti, 2010a.

1 Direito autoral

•• Direitos de autor

São decorrentes da autoria de obras intelectuais nos campos artísti-


co, literário e científico (JUNGMANN; BONETTI, 2010a).

98 Tecnologias aplicadas e inovação


Historicamente, a Inglaterra criou no século XVIII o denominado di-
reito de cópia (copyright) e a França o direito de autor (droit d’auteur), os
quais são mecanismos de proteção semelhantes que outorgam aos au-
tores de obras artísticas, científicas e literárias a propriedade sobre as
formas de suas criações. Por meio dessa proteção, os autores são reco-
nhecidos socialmente por seus trabalhos, além de receberem retorno
financeiro no caso de comercialização (MACEDO; BARBOSA, 2000).

É importante destacar, com relação ao direito do autor, que:


diferentemente da autoria do conhecimento tecnológico, os au-
tores são sempre os proprietários de suas obras. Assim, quando
o resultado gerado por uma pesquisa no mundo acadêmico tra-
ta-se de uma informação científica, ainda que os pesquisadores
hajam sido contratados para essa finalidade, a universidade ou
outro empregador não tem sobre esta qualquer direito de pro-
priedade. (MACEDO; BARBOSA, 2000, p. 89)

•• Direitos conexos

São similares aos direitos de autor, tendo como objetivo proteger os


interesses jurídicos de certas pessoas, físicas ou jurídicas, que colabo-
ram no processo de tornar as obras acessíveis à população e/ou agre-
gam criatividade e habilidade técnica ou organizacional ao processo de
fazer com que uma obra seja conhecida do público (OMPI/INPI, 2018).

Na visão de Jungmann e Bonetti (2010a, p. 64), direitos conexos


“referem-se à proteção para artistas intérpretes ou executantes, pro-
dutores fonográficos e empresas de radiodifusão, em decorrência de
interpretação, execução, gravação ou veiculação das suas interpreta-
ções e execuções”.
•• Programa de computador

O programa protegido pela Lei de Direito Autoral é o complexo


estruturado de instruções indispensáveis para o funcionamento de
máquinas automáticas de tratamento da informação, instrumentos,
dispositivos ou equipamentos periféricos, ou seja, o software capaz de
fazer com que o computador e os periféricos operem da forma esta-
belecida – por exemplo, um sistema operacional. Não há necessidade
de registro de programa de computador, uma vez que está sob a pro-
teção do direito autoral. Entretanto, como se constitui em um bem
com grande possibilidade de atividade comercial por meio de licencia-
mento, normalmente acaba sendo registrado nos órgãos competentes

Gestão da propriedade intelectual 99


(JUNGMANN; BONETTI, 2010a). Além disso, como é difícil confirmar a
autoria dos programas que não possuem registro no INPI, julga-se que
o registro é a forma mais adequada de comprovação de autoria, tanto
em situações de disputa legal como nos pedidos de alguma diligência
de busca e apreensão (RIBEIRO et al., 2014).

2 Propriedade industrial

•• Marca

Caracteriza-se como todo sinal distintivo que seja visualmente re-


conhecível e que diferencie produtos e serviços de outros semelhantes
de origens diversas (JUNGMANN; BONETTI, 2010a). É possível verificar
mundialmente como algumas marcas possuem grande projeção, sen-
do importantes para seu público e gerando elevado retorno para as
empresas que as detêm (BRANCO et al., 2011).

As marcas estão presentes desde a Antiguidade (OMPI/INPI, 2018).


As marcas registradas e, portanto, legalmente protegidas são iden-
tificadas com o símbolo ® e vêm se tornando, gradativamente, um
significativo bem econômico para empresas e instituições (JUNGMANN;
BONETTI, 2010a).

Uma marca tem de apresentar caráter distintivo e não deve ser en-
ganosa. Em alguns países, o registro, por exemplo, de marcas olfati-
vas, sonoras e gustativas é permitido. Entretanto, no Brasil, o registro
dessas espécies de sinais não é permitido por não serem visualmente
perceptíveis (OMPI/INPI, 2018); além disso, em nosso país também não
são incluídas marcas tácteis (JUNGMANN; BONETTI, 2010a).

Um exemplo de marca olfativa é a fragrância de chiclete da marca


de calçados Melissa. Muito embora esse registro não seja possível de
Vídeo ser adquirido no Brasil, a empresa Grendene (detentora da marca) con-
Para compreender um seguiu obter o registro da fragrância característica nos Estados Unidos.
pouco mais sobre como
funciona o registro de Já com relação à marca sonora pode ser citado o rugido do leão da em-
uma marca, assista ao ví- presa americana de cinema Metro-Goldwyn-Mayer. Não são conheci-
deo Como criar e registrar
uma marca, do Sebrae. dos registros de marcas tácteis e gustativas, embora um bom exemplo
Disponível em: https://youtu.be/ para essa primeira pudesse ser a garrafa de vidro da Coca-Cola, com
injmWVI1Z1w. Acesso em: 29 seu formato singular, e para a segunda o tradicional sanduíche da rede
out. 2020.
de fast-food McDonald’s.

100 Tecnologias aplicadas e inovação


•• Patente

No cenário mundial, segundo Souza (2006), a primeira expressão


do direito de propriedade intelectual resultou na patente de invenção,
concedida a um engenheiro no ano de 1421, em Florença, a qual se
tratava de um dispositivo para transporte de mármore.

Ademais, no mesmo período em que era inventada a imprensa por


Gutemberg, em 1474, surgia na República de Veneza o monopólio de in-
venção denominado patente, propiciando aos inventores a exclusividade
de uso do conhecimento técnico gerado por seu invento na produção
de mercadorias (MACEDO; BARBOSA, 2000). Nessa época, o senado da
República de Veneza decretou as primeiras leis de patentes, que geravam
cartas patentes aos produtores de vidro de Murano. O Estado assegura-
va, então, o monopólio temporário a esses fabricantes pelos seus inven-
tos. Por outro lado, a legislação exigia que os produtores disseminassem
o conhecimento relativo aos métodos de produção, o que anteriormente
era uma prática mantida em segredo (BRANCO et al., 2011).

No Brasil, a Constituição de 1824 inseriu alguns dispositivos no in-


tuito de assegurar ao inventor brasileiro a propriedade de suas inven-
ções (CAMPELLO; CENDÓN; KREMER, 2000). Lembrando que, até o final
do século XIX, as leis nacionais apenas conferiam proteção aos inven-
tores do próprio país, não existindo a possibilidade de proteção aos
inventores estrangeiros (MACEDO; BARBOSA, 2000).

Mas o que exatamente é uma patente? Trata-se de um título de pro-


priedade que assegura ao seu titular os direitos exclusivos de utiliza-
ção de seu invento por um certo período, em um determinado país
(OMPI/INPI, 2018). A patente tanto pode ser concedida para uma in-
venção, que é uma solução nova para um problema técnico existen-
te, quanto ser conferida a um modelo de utilidade, que consiste nos
“aperfeiçoamentos em produtos preexistentes, que melhoram sua uti-
lização ou facilitam o seu processo produtivo” (JUNGMANN; BONETTI,
2010a, p. 29). Segundo Bocchino et al. (2010, p. 23), “poderá ser paten-
teado como modelo de utilidade o objeto de uso prático, suscetível de
aplicação industrial que apresente nova forma ou disposição”.

Após apresentar os tipos de patentes existentes, é importante des-


tacar os requisitos necessários ao patenteamento: novidade, atividade
inventiva e aplicação industrial.

Gestão da propriedade intelectual 101


a. Novidade: dentro desse requisito, considera-se novidade o
conhecimento técnico, relacionado à criação, não disponibilizado
ao público em geral até a data de depósito da patente, conhecido
como estado da técnica ou estado da arte (MACEDO; BARBOSA,
2000). Vale destacar que, em geral, nas universidades e nos
institutos de pesquisa, há um interesse na divulgação científica.
Contudo, é preciso tomar cuidado para que essa divulgação
não elimine o requisito de novidade. Para tanto, pode-se contar
com dois mecanismos (válido em alguns países): a garantia
de prioridade, que se dá por meio do depósito de uma breve
descrição do pedido de patente junto à autoridade competente;
e o período de graça, que corresponde ao intervalo de 12 meses
antes do depósito do pedido de patente, no qual é possível
que o próprio inventor faça a divulgação da pesquisa científica
Atividade 1 realizada (ou por terceiros, com base em informações concedidas
Para que uma invenção seja pelo inventor) .
patenteada junto ao órgão
responsável, é necessário que ela b. Atividade inventiva: esse critério estabelece que o invento não
atenda aos critérios de patentea- deve ser óbvio para um profissional técnico da área, precisando
bilidade. Quais são eles? envolver criatividade em sua elaboração.
c. Aplicação industrial: esse requisito impõe a necessidade de que
Curiosidade a criação seja projetada para ser produzida em escala industrial,

Conheça um pedido
podendo ser um produto ou um processo.
de patente deposita-
do pela Apple com o
•• Desenho industrial
intuito de aumentar a
privacidade do usuário de
É o aspecto ornamental de objetos ou estilos gráficos compostos por
smartphone. linhas e cores que possam ser empregadas objetivando a fabricação in-
Disponível em: https://olhardigital. dustrial. Essa modalidade de propriedade industrial protege o aspecto
com.br/noticia/apple-registra-
patente-de-tecnologia-anti-
externo do objeto e não sua utilidade prática (OMPI/INPI, 2018).
curiosos/98184. Acesso em: 29
Para que se realize o registro de um desenho industrial, um objeto
out. 2020.
deve ser considerado novo e original em seu aspecto externo. Porém,
objetos de caráter estritamente artístico não são passíveis de registro.
Há que observar ainda que o aspecto do objeto deve estar desasso-
ciado da função técnica, sendo nesse caso protegido como modelo de
utilidade (BOCCHINO; CONCEIÇÃO, 2008).

O registro de desenho industrial proporciona benefícios para: o


titular, pois recebe retorno merecido por seu investimento em pes-
quisa de mercado para a criação de um produto novo; o consumidor,
pelo acesso a produtos com estética mais atraente e diferenciados; e a

102 Tecnologias aplicadas e inovação


economia nacional, uma vez que há expansão da atividade comercial,
possibilitando a exportação de produtos fabricados no país.
•• Indicação geográfica

É a denominação dada à proteção referente a produtos provenien-


tes de uma determinada área geográfica, pelo fato de disporem de
qualidades relativas à sua forma de extração ou produção, ou ainda
decorrentes de fatores naturais e humanos, que traduzem a identidade
e a cultura desse determinado espaço geográfico, passando a ser reco-
nhecidos pelo público em geral (JUNGMANN; BONETTI, 2010a; OMPI/
INPI, 2018).

Embora o conceito de indicação geográfica tenha sido construído ao


longo da história da humanidade, algumas fontes citam, como primei-
ra indicação geográfica reconhecida oficialmente, o ato do português
Marquês de Pombal, no final do século XVIII, ao ter instituído a Indica-
ção Geográfica “Porto”, uma vez que estava sendo utilizada de maneira
indevida por ingleses (OMPI/INPI, 2018).

As indicações geográficas podem ser classificadas em (BOCCHINO;


CONCEIÇÃO, 2008; BRANCO et al., 2011; OMPI/INPI, 2018):
a. Indicação de procedência: refere-se ao nome geográfico de
uma localidade territorial que se tornou conhecida como centro Atividade 2
de extração, produção ou fabricação de determinado produto ou
Com base nos conhecimentos
como prestadora de um serviço específico. adquiridos sobre indicação geo-
b. Denominação de origem: o nome geográfico de uma localidade gráfica e sua classificação, cite
um exemplo identificado como
territorial, em que as características e/ou qualidades de seus indicação de procedência e outro
produtos ou serviços se devam exclusivamente ou essencialmente como denominação de origem,
ao ambiente geográfico de onde se originam, incluindo fatores explicando cada um deles.

naturais ou humanos.

O reconhecimento de indicações geográficas proporciona os se-


guintes impactos positivos (OMPI/INPI, 2018): 1) conservação das par-
ticularidades dos produtos ou serviços; 2) elevação do valor agregado
dos produtos ou serviços; 3) aumento da autoestima da população lo-
cal; 4) incentivo a investimentos com impactos tecnológicos, como no
turismo e na geração de empregos; 5) maior competitividade de mer-
cado; 6) desenvolvimento da comercialização de produtos e serviços,
permitindo a aproximação aos mercados por meio da propriedade co-
letiva; 7) sinergia entre agentes da cadeia produtiva e universidades,

Gestão da propriedade intelectual 103


Saiba mais centros de pesquisa e instituições de fomento; 8) geração de um elo de
confiança com o consumidor; e 9) redução do êxodo rural.
Para conhecer as
indicações geográficas
•• Segredo industrial e repressão à concorrência desleal
brasileiras registradas
junto ao INPI, consulte
De acordo com a OMPI/INPI (2018), uma forma possível de proteger
o catálogo Indicações
Geográficas Brasileiras, uma invenção é por meio do segredo industrial, que ocorre quando as
publicado pelo INPI e
pessoas detentoras de informações específicas, consideradas a “alma
pelo Sebrae.
do negócio”, não revelam essas informações. Entretanto, esse método
Disponível em: https://bibliotecas.
sebrae.com.br/chronus/ARQUI- mostra-se ser, muitas vezes, um frágil mecanismo de proteção, con-
VOS_CHRONUS/bds/bds.nsf/ siderando que após a inserção do produto no mercado está sujeito à
efd536dd061f2a77843198d35a-
69265d/$File/5186.pdf. Acesso engenharia reversa ou a ter seu segredo revelado pela simples obser-
em: 28 out. 2020. vação do produto.

Corroborando esse ponto de vista, Barbosa (2014, p. 1100) afirma


que “a outra forma usual de proteção da tecnologia é a manutenção do
segredo – o que é sempre socialmente desaconselhável, eis que dificulta
o desenvolvimento tecnológico da sociedade”. Apesar disso, o segredo
industrial é largamente utilizado em áreas que requerem altos investi-
mentos em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), como a biotecnologia,
tecnologias da informação e comunicação (TICs), bebidas, alimentos,
petroquímica, dentre outras (JUNGMANN; BONETTI, 2010b).

Uma das vantagens do segredo industrial consiste na duração, que


pode ser muito maior do que se tivesse uma patente. Além disso, “a
divulgação ou exploração não autorizada é considerada crime de con-
corrência desleal” (JUNGMANN; BONETTI, 2010b, p. 46). Por concorrên-
cia desleal, entende-se “qualquer ato contrário às práticas honestas,
na indústria ou no comércio, que deturpe o livre funcionamento da
Saiba mais propriedade intelectual e a compensação econômica que ela oferece”
Conheça alguns dos (JUNGMANN; BONETTI, 2010b, p. 69). É importante frisar que a Lei de
segredos industriais mais Propriedade Industrial não considera crime a exploração, a divulgação
bem guardados e valiosos
do mundo acessando o ou o uso de conhecimentos, dados ou informações públicas ou que
texto 5 segredos indus- resultem obviedade para um técnico no assunto (CNI, 2017).
triais guardados a sete
chaves, publicado pelo
site Tecmundo. 3 Proteção sui generis
Disponível em: https://
www.tecmundo.com.br/ •• Topografia de circuito integrado
curiosidade/18707-5-segredos-
industriais-guardados-a-sete- A topografia de circuitos integrados, também conhecidos como
chaves.htm. Acesso em: 29 out.
2020. chips, engloba um complexo ordenado de interconexões, resistências e
transistores, organizados em camadas de configuração tridimensional

104 Tecnologias aplicadas e inovação


acima de uma peça de material semicondutor, com o intuito de exe-
cutar funções eletrônicas em equipamentos (JUNGMANN; BONETTI,
2010a; BRANCO et al., 2011).

Para o registro de topografia, é necessário que se resulte de ato in-


ventivo, tenha originalidade e não decorra de maneira explícita e incon-
testável do estado da técnica (tudo que o público já tem conhecimento
a respeito do que já existe sobre o objeto em questão, antes da data do
depósito) (BOCCHINO; CONCEIÇÃO, 2008).
•• Cultivar

Denominação conferida a uma variedade nova de planta, com ca-


racterísticas únicas, que seja resultado de pesquisas nas áreas de agro-
nomia e biociências e que ainda não exista na natureza. A fim de que
possa receber proteção, é preciso que ocorra interferência humana na
modificação das características de uma planta (JUNGMANN; BONETTI,
2010a).
A Lei de Proteção de Cultivares é fruto da União Internacional para a
Proteção das Obtenções Vegetais (UPOV), uma organização internacio-
nal dirigida pela OMPI que regulamenta a proteção de cultivares junto
a 74 membros (sendo 72 países e 2 organizações: Organização Africana
de Propriedade Intelectual e União Europeia) (OMPI/INPI, 2018). O es-
tabelecimento de um sistema efetivo de proteção de cultivares busca
incentivar o desenvolvimento de novas variedades de plantas para o
benefício da sociedade (JUNGMANN; BONETTI, 2010a).
A referida Lei de Proteção de Cultivares apresenta benefícios Saiba mais
(OMPI/INPI, 2018): 1) ao agricultor, pois as inovações resultam em Para realizar pesquisa
sobre cultivares, acesse
maior produtividade e qualidade, além de possibilitar alternativas va-
o sistema CultivarWeb do
riadas de cultivo; 2) ao obtentor, ao recompensá-lo por seus investi- Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abasteci-
mentos em pesquisa; e 3) ao governo, ao obter investimentos para o
mento.
setor agrícola e elevar investimentos da área privada em pesquisa e,
Disponível em: http://sistemas.
ainda, como tática de estímulo a uma maior competitividade interna- agricultura.gov.br/snpc/
cional na área do agronegócio. cultivarweb/index.php. Acesso em:
29 out. 2020.
•• Conhecimento tradicional

Relaciona-se às atividades individuais ou coletivas, desenvolvidas de


maneira isolada ou comunitária, que podem ou não estar formalizadas
pela ciência (OMPI/INPI, 2018).

Gestão da propriedade intelectual 105


De acordo com Verzola (2015, p. 186),
Curiosidade o conhecimento tradicional é elemento e informação baseada
Para conhecer um caso em patrimônio genético, vinculado a alguma propriedade ou atri-
emblemático de biopi- buto que pode trazer benefícios à sociedade por meio de me-
rataria, praticado pelo
dicamentos, cosméticos e alimentos, baseado na vivência e na
botânico inglês Henry
Wickham no final do cultura das comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas.
século XIX, leia a matéria
intitulada As sementes Nesse sentido, o Estado possui função primordial na proteção do
da discórdia, publicada conhecimento tradicional, garantindo que as comunidades locais re-
por Carlos Haag no site
da Revista Pesquisa - cebam a retribuição dos saberes repassados ao setor produtivo na
Fapesp. fabricação de produtos farmacêuticos, por exemplo (MOREIRA, 2007;
Disponível em: https:// COSTA, 2016).
revistapesquisa.fapesp.br/as-
sementes-da-discordia/. Acesso em: O Quadro 1 apresenta os diversos direitos de propriedade in-
29 out. 2020.
telectual, apontando o título concedido, a legislação aplicável, o prazo
de validade e em que local realizar a requisição no Brasil.

Quadro 1
Propriedade Intelectual

Propriedade intelectual

Bens Título Prazo de


Legislação Onde requerer no Brasil
imateriais concedido validade
Da criação da • Obras literárias, musicais e
obra até 70 artísticas: Fundação Biblio-
Registro
Direito de Lei n. anos após o ano teca Nacional.
de Direito
autor 9.610/1998 subsequente ao • Plantas/projetos: Conselho
Autoral
falecimento do Federal de Engenharia e
autor. Arquitetura.
Direito autoral

• Obras literárias, musicais e


artísticas: Fundação Biblio-
teca Nacional.
Até 70 anos
Registro • Obras artísticas: Escola de
Direitos Lei n. após sua fixação,
de Direitos Belas Artes.
conexos 9.610/1998 transmissão ou
Conexos • Filmes: Agência Nacional do
execução pública.
Cinema.
• Partituras de músicas: Fun-
dação Biblioteca Nacional.
(Continua)

106 Tecnologias aplicadas e inovação


Propriedade intelectual

Onde
Bens Título Prazo de
Legislação requerer
imateriais concedido validade
no Brasil
Direito autoral

Lei do Software, 50 anos a partir do ano


Registro de
Programa de n. 9.609/1998 subsequente à data da
Programa de INPI
computador Lei do Direito Autoral, criação ou publicação do
Computador
n. 9.610/1998 software.

10 anos, a partir da data


Certificado
de expedição do certifica-
de
Marca Lei n. 9.279/1996 do de registro, podendo INPI
Registro de
ser prorrogado por iguais
Marca
períodos indefinidamente.

Carta 20 anos, contados da data


Invenção Lei n. 9.279/1996 INPI
Patente do pedido de depósito.

Modelo de Carta 15 anos, contados da data


Lei n. 9.279/1996 INPI
utilidade Patente do pedido de depósito.
Propriedade industrial

10 anos, a partir da data


Certificado
do pedido de registro,
Desenho de Registro
Lei n. 9.279/1996 prorrogável por três perío- INPI
industrial de Desenho
dos sucessivos de 5 anos
Industrial
(máximo: 25 anos).

Certificado
Indicação de Registro Indefinido. Não se extingue
Lei n. 9.279/1996 INPI
geográfica de Indicação pelo uso.
Geográfica

Lei n. 9.279/1996
Segredo
(art. 195) e
industrial e
Lei n. 12.529/2011,
repressão à _ _ _
(Estrutura o Sistema
concorrência
Brasileiro de Defesa da
desleal
Concorrência)

(Continua)

Gestão da propriedade intelectual 107


Propriedade intelectual

Bens Título Prazo de Onde requerer


Legislação
imateriais concedido validade no Brasil

Certificado • 10 anos contados da data


Topografia de Registro do depósito do pedido de
Lei n.
de circuito de Proteção registro ou da primeira INPI
11.484/2007
integrado de Circuito exploração (o que tiver
Integrado ocorrido primeiro).

• 15 anos a partir da
Proteção sui generis

data de concessão do
• Serviço Nacional
certificado de proteção de
de Proteção de
cultivar.
Certificado Cultivares - SNPC
Lei n. • 18 anos a partir da data
Cultivar de Proteção (Ministério da
9.456/1997 de concessão do certifica-
de Cultivar Agricultura, Pe-
do de proteção de cultivar
cuária e Abasteci-
- para as videiras, árvores
mento - MAPA) .
frutíferas, florestais e
ornamentais.

Conhecimen-
to tradicional
Lei n.
(associado ao _ _ _
13.123/2015
patrimônio
genético)

Fonte: Adaptado de Ribeiro, 2019, com base em Jungmann e Bonetti, 2010a.

Analisando o Quadro 1, é possível confirmar que o INPI é o órgão


responsável pela maior parte da proteção aos direitos de propriedade
intelectual, o que justifica a sobrecarga apontada anteriormente.

5.3 Propriedade intelectual e


desenvolvimento econômico
Vídeo A relação entre o progresso tecnológico e o consequente desen-
volvimento econômico faz parte do pensamento econômico des-
de os estudos de Joseph Schumpeter, em que ganha destaque a
figura do empreendedor. Com base em seus estudos, muitos autores
neoshumpeterianos se debruçaram sobre a análise dos impactos dos
avanços tecnológicos no desenvolvimento econômico.

Atualmente, tanto o conhecimento quanto a tecnologia têm se de-


monstrado instrumentos essenciais no fomento ao desenvolvimento

108 Tecnologias aplicadas e inovação


econômico, estimulando a geração de riqueza e consequentemente
elevando a qualidade de vida das pessoas. Diante disso, verifica-se a
importância da proteção à propriedade intelectual como motor de de-
senvolvimento econômico de uma nação.

Para se compreender a relação entre a propriedade intelectual e o


desenvolvimento econômico, é preciso entender a dinâmica do ciclo
virtuoso de propriedade intelectual. Nesse ciclo, iniciado por um pro-
cesso criativo em que são gerados produtos e processos inovadores,
é necessário haver proteção à propriedade intelectual. Essa proteção
permite que o conhecimento envolvido na produção de novos produ-
tos ou processos seja disseminado e que novas empresas tenham in-
Glossário
teresse em desenvolver produtos ainda melhores e mais inovadores,
spillovers: também conhecido
gerando spillovers de inovação.
como externalidade, significa
Isso causa impacto nos aspectos culturais e tecnológicos da socie- transbordamento, ou seja, os
efeitos positivos ou negativos
dade, como transformações na forma de comunicação. Se antes esta que uma determinada atividade
se dava por meio de simples celulares, atualmente esses dispositi- exerce sobre outra.
vos se tornaram verdadeiros computadores móveis que não só geram
uma ampliação nas possibilidades de comunicação (chamadas de voz,
chamadas de vídeo etc.), mas que também podem ser utilizados para Livro
realizar compras, fazer transações bancárias, solicitar delivery de comi-
da, dentre tantas outras funções.

Figura 3
Ciclo virtuoso do sistema de propriedade intelectual

Geração de riqueza
Retorno econômico
Disseminação de
Reconhecimento
reconhecimento

A fim de aprofundar o
conhecimento sobre
as relações entre a
propriedade intelectual e
o desenvolvimento eco-
Criatividade Cultura e tecnologia
nômico, recomenda-se a
Inovação Qualidade de vida
leitura do livro Proprieda-
de intelectual e desenvolvi-
Fonte: Adaptada de Jungmann e Bonetti, 2010b. mento econômico.

Essas mudanças impactam o cotidiano das pessoas, ocasionando SHERWOOD, R. M. 1. ed. São Paulo:
EDUSP, 1992.
um aumento na qualidade de vida. Assim, há geração de riqueza pela
comercialização de produtos inovadores e disseminação de reconhe-
cimento da importância dos inventos e seus respectivos inventores.

Gestão da propriedade intelectual 109


Dessa forma, os inventores (individuais ou empresas) recebem retorno
econômico do investimento realizado em P&D, bem como reconheci-
mento de sua importância na sociedade. Esses aspectos estimulam a
retroalimentação desse processo, em um fluxo contínuo (Figura 3).

É necessário dar destaque ao fato de que um dos mais importantes


indicadores de desenvolvimento tecnológico de um país (e decorrente
desenvolvimento econômico) é o volume de patentes registradas. Esse
indicador sinaliza a capacidade de uma nação para converter conheci-
mento científico em inovação (LOTUFO, 2009).

De acordo com Sherwood (1992, p. 187), a proteção à proprieda-


de intelectual, quando considerada parte integrante da infraestrutura
de um país, favorece a “mudança técnica, difusão do conhecimento,
expansão dos recursos humanos, financiamento da tecnologia, cresci-
mento industrial e desenvolvimento econômico”.

5.4 Propriedade intelectual e


transferência de tecnologia
Vídeo
No Brasil, cerca de 95% da produção científica é realizada por uni-
versidades públicas (MOURA, 2019). Dessa forma, é importante conhe-
cer alguns dos possíveis mecanismos de transferência de tecnologia
entre a academia e o setor produtivo.

Mas o que é a transferência de tecnologia acadêmica? Ela consiste


na troca de ideias, ferramentas e pessoas entre as instituições de en-
sino superior, o setor comercial e o público (STEVENS; TONEGUZZO;
BOSTROM, 2004). Em geral, essa transferência se dá em relação aos
direitos de propriedade industrial, especialmente invenção e modelo
de utilidade, bem como no que concerne ao direito autoral, no que se
refere aos programas de computador.

O processo de transferência de tecnologia (Figura 4) envolve di-


versas etapas, desde o investimento em P&D até a ocorrência de re-
torno de licenciamentos, geração de empresas (spin-offs) e criação de
start-ups.

110 Tecnologias aplicadas e inovação


Figura 4
Etapas de um processo de transferência de tecnologia

Licenças de
Despesas de Pedidos de Prospecção Execução de tecnologia Receita de
Negociação que geram
pesquisa patente de empresas transferência licença
renda

Empresas Geração de
start-up empregos
Fonte: Elaborada pela autora com base em Rogers, Yin e Hoffmann, 2000; Deitos, 2002.

É muito importante salientar que, de acordo com Deitos (2002,


p. 40), “a transferência de tecnologia nunca ocorre de forma total, por-
que o conhecimento tácito, incorporado nas pessoas ou processos que
participaram da geração da tecnologia não podem ser explicitados”.
Ademais, a autora destaca a importância de se considerar o histórico e
o ambiente em que cada empresa se insere, o que resulta em dinâmi-
cas próprias.

O Quadro 2 explicita algumas das formas de transferência de


tecnologia:

Quadro 2
Formas de transferência de tecnologia

Forma de transfe-
Características
rência de tecnologia
Refere-se à contratação efetuada por terceiros de atividades de pesquisa vol-
Pesquisa contratada tadas a um assunto específico, bem como projetos tecnológicos oriundos de
universidades.
Ocorre quando empresas demandam serviços técnicos especializados junto às
Prestação de serviços
universidades.
A consultoria diz respeito a um trabalho mais específico e de menor envolvi-
Consultorias/assessorias mento. Já na assessoria ocorre um envolvimento contínuo em todas as fases
de um trabalho específico.
As spin-offs acadêmicas consistem em empresas que emergem do meio acadê-
Criação de novas
mico, com o objetivo de comercializar um novo produto ou processo oriundo
empresas (spin-offs)
de pesquisa acadêmica.
Não está dentro do escopo de atividades das universidades a comercialização
de seus inventos. Dessa forma, uma possibilidade de transferir a tecnologia
Licenciamento de
gerada é por meio do licenciamento. Nesse caso, a universidade cede ao setor
patentes
produtivo o direito à propriedade intelectual sob sua proteção em troca do
recebimento de royalties.
Relaciona-se à transferência de titularidade sobre a propriedade intelectual a
Cessão de direitos
outro, que, a partir de então, pode usufruir dela da maneira que lhe convier.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Garnica e Torkomian, 2005.

Gestão da propriedade intelectual 111


De acordo com Waissbluth e Solleiro (1989 apud Santos, 2009),
Atividade 3 o sucesso da atividade de transferência de tecnologia deriva de três
Explique a diferença entre as elementos:
duas formas de transferência de
tecnologia: o licenciamento de •• alto comprometimento dos colaboradores da universidade no
patentes e a cessão de direitos. desenvolvimento da interação;
•• estabelecimento de redes entre gestores e pesquisadores;
•• escolha e capacitação dos gestores tecnológicos no desenvolvi-
mento de habilidades de negociação e interação entre as partes.

Artigo

https://periodicos.ufsc.br/index.php/eb/article/view/1518-2924.2018v23n51p95

Para conhecer boas práticas em gestão da propriedade intelectual e transfe-


rência de tecnologia, realizadas em sete universidades estrangeiras, leia o ar-
tigo Índices de licenciamento e de comercialização de tecnologias para núcleos de
inovação tecnológica baseados em boas práticas internacionais, de Alexandre
Bueno e Ana Lúcia Vitale Torkomian, publicado em Encontros Bibli: revista
eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, em 2018.
Acesso em: 29 out. 2020.

Torna-se importante destacar que, de acordo com Sherwood (1992),


é essencial que a universidade realize a transferência de tecnologia ao
setor produtivo, tanto para que haja a valorização da própria institui-
ção quanto para que o saber acadêmico possa atingir o objetivo de ser
convertido em produtos e processos úteis à sociedade.

5.5 Cooperação entre universidade e empresa


Vídeo Historicamente, é possível destacar alguns modelos que buscam
compreender a interação entre os principais players existentes em rela-
ção aos processos de inovação.

O primeiro deles é conhecido como triângulo de Sábato, conce-


bido pelos pesquisadores argentinos Sabato e Botana (1968), em que
cada um dos vértices é composto por empresa, universidade e gover-
no, sendo este último o agente de destaque (Figura 5).

112 Tecnologias aplicadas e inovação


Figura 5
Triângulo de Sábato GOVERNO

Triângulo
de
Sábato

UNIVERSIDADE EMPRESA

Fonte: Adaptado de Sabato e Botana, 1968, p. 149.

Outro modelo internacionalmente conhecido é o denominado


sistema nacional de inovação, elaborado por Lundvall et al. (2002) e
Nelson (1993), em que a ênfase recai sobre a empresa (Figura 6).

Figura 6
Sistema nacional de inovação
Contexto
macroeconômico e
regulatório

Sistema de
Infraestruturas de
educação e
comunicação
treinamento
Redes globais de inovação
Geração, difusão e uso do conhecimento

Capacidades
regionais de

Clusters de

e redes da
indústrias
Sistemas

inovação

empresa
Outros
Sistema de
grupos de
ciência
pesquisa
Instituições de
apoio

Condições de Sistema nacional de inovação Fator de condições


mercado do de mercado
produto
Capacidade nacional de inovação

Desempenho do país
Crescimento, criação de emprego, competitividade

Fonte: Adaptada de OECD, 1999.

Gestão da propriedade intelectual 113


O terceiro modelo de interação governo-universidade-empresa
é reconhecido como tríplice hélice, desenvolvido por Etzkowitz
e Leydesdorff (1995), em que a liderança é exercida pela univer-
sidade (Figura 7).

Figura 7
Tríplice hélice

Governo

Organizações híbridas

Universidade Indústria

Fonte: Etzkowitz e Zhou, 2017, p. 41.

O modelo de tríplice hélice é a principal referência para explicar a


dinâmica entre os players (universidade, governo e empresa), apontan-
do para a importância primordial da transferência de conhecimento
existente no ambiente acadêmico ao setor produtivo. Essa transferên-
cia acarreta desenvolvimento econômico e social à sociedade, uma vez
que o conhecimento pode ser transformado em bens úteis e inovado-
res (GARNICA; TORKOMIAN, 2009).
Saiba mais
Consoante Reis (2008, p. 110), a cooperação universidade-empresa
Para compreender como
significa “um modelo de arranjo interinstitucional entre organizações
se dá o processo de
transferência de tecno- de naturezas fundamentalmente distintas, que podem ter finalidades
logia universidade-setor
diferentes e adotar formatos bastante diversos”.
produtivo por intermédio
dos NITs, leia o artigo Considerando que a produção e a comercialização de produtos ou
Processo de transferência
de tecnologia em universi- processos não se encontram dentre as atividades-fim das universida-
dades públicas brasileiras des, essas instituições buscam parceiros no setor produtivo para trans-
por intermédio dos núcleos
de inovação tecnológica, ferência de tecnologia. Dessa forma, a atividade é de “ganha-ganha”,
de Luan Carlos Santos uma vez que enquanto a universidade recebe recursos oriundos dessa
Silva et al., publicado na
Revista Interciencia, em transferência, os quais podem ser reaplicados em atividades de P&D,
2015. o setor produtivo é beneficiado por receber o direito de produzir e co-
Disponível em: https://www. mercializar produtos com maior valor tecnológico agregado e mitigar
interciencia.net/wp-content/
uploads/2017/10/664-A-SANTOS- os riscos e custos de desenvolvimento próprio.
SILVA6.pdf. Acesso em: 29 out.
2020. De acordo com Benedetti e Torkomian (2011), muitas empresas pe-
quenas e médias de países em desenvolvimento, como é o caso do

114 Tecnologias aplicadas e inovação


Brasil, não possuem infraestrutura de P&D internamente, sendo ne-
cessário, então, recorrer ao conhecimento oriundo das universidades.
Nesse sentido, a colaboração entre a academia e indústria é cada vez
mais percebida como um veículo para aumentar a inovação por meio
da troca de conhecimento (ANKRAH; AL-TABBAA, 2015).

No Brasil, com o objetivo de incentivar a cooperação entre univer-


sidade e empresa, o governo tem promulgado algumas legislações na
área da inovação. Dentre elas há a Lei n. 10.973/2004, denominada Lei
de Inovação (BRASIL, 2004), que institui a obrigatoriedade de criação,
por parte das ICTs, de Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs). De acor-
do com o inciso VI do parágrafo 2º, esses consistem em:
estrutura instituída por uma ou mais ICTs, com ou sem perso-
nalidade jurídica própria, que tenha por finalidade a gestão de
política institucional de inovação e por competências mínimas as
atribuições previstas nesta Lei. (BRASIL, 2004)

Assim, os NITs são responsáveis pela gestão da propriedade inte-


lectual nas ICTs, bem como pelo estímulo à transferência de tecnologia
entre as instituições e o setor produtivo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
A propriedade intelectual é uma importante ferramenta de proteção
ao conhecimento humano, pois assegura reconhecimento e retorno eco-
nômico aos criadores (ao favorecer o reinvestimento em P&D) e ainda
propicia ganhos à sociedade, como elevação de renda, geração de empre-
gos e incremento na qualidade de vida da população.
Dentre as subdivisões existentes na propriedade intelectual, há o di-
reito autoral, a propriedade industrial e a proteção sui generis, que, neste
capítulo, foram explorados em suas diversas subdivisões.
Em adição a esses aspectos, a relação entre a propriedade intelectual
e o desenvolvimento econômico também se revelou muito importante,
devendo ser estimulada tanto em países desenvolvidos quanto naqueles
em desenvolvimento.
Além da atividade-meio de gestão da propriedade intelectual desen-
volvida especialmente nos NITs das ICTs, abordamos os aspectos da ati-
vidade-fim de transferência de tecnologia da esfera acadêmica ao setor
produtivo, bem como a significativa cooperação entre universidades e
empresas.

Gestão da propriedade intelectual 115


Essas dinâmicas têm se demonstrado bastante vantajosas, tanto ao
ambiente acadêmico, pela possibilidade de retorno dos investimentos rea-
lizados, quanto ao setor produtivo, que se vale de produtos e processos
com maior qualidade técnica e riscos mitigados. Por fim, é possível afirmar
que o estreitamento da relação universidade-indústria favorece, acima de
tudo, a sociedade.

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GABARITO
1. Os três requisitos de patenteabilidade são: novidade; aplicação industrial e atividade
inventiva. O primeiro critério, de novidade, é considerado quando não há conheci-
mento técnico contido no estado da arte, abrangendo como tal a informação à dis-
posição do público antes do depósito da patente. O segundo requisito, da aplicação
industrial, pressupõe que a invenção tenha por finalidade a produção em escala. Por
último, o terceiro critério, de atividade inventiva, exige que um perito da área avalie
se a invenção não decorre de modo óbvio do estado da arte, necessitando envolver
criatividade na criação.

2. (Resposta pessoal). O conhaque, bebida mundialmente conhecida, é um importante


exemplo de indicação geográfica classificada como indicação de procedência. Muito
embora seja um destilado alcoólico bastante famoso, a maioria das pessoas não asso-
cia o produto com a sua região de origem, no caso Cognac, na França. Já uma famosa
indicação geográfica classificada como denominação de origem é o champagne, que
se trata de um tipo específico de vinho espumante oriundo da reunião de Champagne,
localizada no nordeste da França. Sua característica marcante está relacionada à con-
dição climática local, com baixas temperaturas, o que interrompe o processo de fer-
mentação; no reinício do processo de fermentação (em temperaturas mais elevadas),
há a formação das bolhas características da famosa bebida.

3. Na forma de transferência de tecnologia denominada licenciamento de patentes,


comumente, as universidades ofertam em seus sites eletrônicos as patentes origina-
das e registradas por essas instituições em links nomeados como portfólio ou vitrine
tecnológica. As empresas, ao tomarem conhecimento desses produtos ou processos
protegidos, podem se interessar e iniciar um processo de negociação. Na maioria das
vezes são celebrados contratos de transferência de tecnologia em que a empresa
passa a ser a detentora da titularidade da patente, mas em contrapartida fica respon-
sável por pagar royalties à universidade por essa utilização. Por outro lado, algumas
vezes, os inventores cedem a titularidade de suas invenções a outro, de maneira de-
finitiva, caracterizando a forma de transferência de tecnologia denominada cessão
de direito; esta se dá por meio de contrato, em que é estabelecido um valor fixo
acordado entre as partes.

118 Tecnologias aplicadas e inovação


6
Incentivos governamentais
à inovação tecnológica
Um sistema de inovação robusto e eficiente é estruturado com
base no empenho de atores políticos na definição de políticas pú-
blicas, na existência de fontes de financiamento adequadas, bem
como na articulação de interesses dos mais variados agentes liga-
dos à temática.
Para a elaboração de qualquer sistema, um bom início é a rea-
lização de benchmarking de estruturas bem-sucedidas, especial-
mente aquelas oriundas de países desenvolvidos. Entretanto, seja
qual for o modelo escolhido como referência, há que se realizar
adaptações ao contexto nacional, considerando a variedade de
agentes e elementos próprios a cada contexto.
Neste capítulo são apresentados os principais atores que com-
põem o nosso Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação
(SNCTI), o qual é formado por agentes políticos, agências de fo-
mento e operadores de ciência, tecnologia e inovação (CT&I).
Na sequência são abordadas as principais legislações de in-
centivo à CT&I no país, com destaque à Lei de Inovação, à Lei do
Bem e ao Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação. De modo
complementar, são apontadas duas iniciativas governamentais vol-
tadas a setores específicos da economia nacional.
Por último são apresentadas, de maneira detalhada, as agên-
cias públicas de fomento que compõem o SNCTI e, ainda, são indi-
cadas duas possibilidades de utilização de recursos privados para
estimular a inovação.

Incentivos governamentais à inovação tecnológica 119


6.1 Sistema de CT&I
Vídeo Assim como em outras áreas em que dificilmente seria possível
elencar sistemas de inovação bons versus sistemas de inovação ruins,
seria igualmente improvável que algum modelo apontado como ideal
por sua excelência pudesse ser utilizado por outro país apresentando
desempenho semelhante.

Dessa forma, cabe a cada nação estabelecer um sistema de inova-


ção próprio, de acordo com suas particularidades, tendo em mente
que “[o] desenvolvimento econômico dos países está assentado, cada
vez mais, na inovação baseada no desenvolvimento científico e tecno-
lógico” (BRASIL, 2017, p. 7).

Para ilustrar, serão apresentadas aqui algumas peculiaridades de


dois sistemas de inovação internacionais: o da Alemanha e o de Israel.
No caso alemão, o sistema de inovação é composto pelo Governo Fe-
deral, importante investidor em pesquisa e desenvolvimento (P&D), e
por mais 16 estados. Destacam-se as sociedades privadas sem fins lu-
crativos que atuam dentro do sistema. Dentre essas, sobressai a Frau-
nhofer, especializada em pesquisa aplicada e que serviu, inclusive, de
inspiração para a concepção da Empresa Brasileira de Pesquisa e Ino-
vação Industrial (EMBRAPII). Vale dizer que mais de 99% das empresas
alemãs são classificadas como de pequeno e médio porte, e em 2017
existiam cerca de 60 mil startups no país (SEBRAE, 2020).

Já Israel desponta como o país com maior investimento em P&D em


relação ao Produto Interno Bruto (PIB) do mundo, com percentual de
4,94% em 2018 (OECD, 2020). Os investimentos em inovação impactam
a economia do país e consequentemente o índice de desenvolvimento
humano (IDH) da população. Dentre os fatores que possibilitam essa
condição diferenciada ao país estão os pesados investimentos no en-
sino primário e secundário e a presença de escolas de engenharia e
universidades de classe mundial. Ademais, essa nação possui a maior
densidade de engenheiros do mundo, bem como o maior volume po-
pulacional com nível universitário entre as nações da OCDE. O principal
ator de inovação no país é a Agência de Inovação de Israel, consistindo
em uma organização pública independente que é responsável pelas
políticas na área de inovação (SEBRAE, 2020).

120 Tecnologias aplicadas e inovação


No Brasil, o SNCTI é formado por diversos atores, conforme é possí-
vel visualizar na Figura 1.

Figura 1
Principais atores do SNCTI
Poder Executivo Poder Legislativo Sociedade
Políticos

Outros Agências Congresso Assembleias


MCTIC Ministérios Reguladoras ABC SBPC CNI
Nacional Estaduais

Secretarias Estaduais Confap e Centrais


MEI
e Municipais Concecti Sindicais
Agências de
Fomento

CNPq CAPES FINEP BNDES EMBRAPII FAP

Institutos Federais e
Universidades Instituições de C&T (ICT) Parques Tecnológicos
Operadores

Estaduais de CT&I
de CT&I

Institutos de Institutos Nacionais de


Incubadoras de Empresas Empresas Inovadoras
Pesquisa do MCTIC C&T (INCT)

Fonte: Brasil, 2016a, p. 14.

Dentre os atores políticos, as três áreas que compõem o SNCTI são:


o Poder Executivo, o Poder Legislativo e a Sociedade. Cada uma delas
será vista de maneira pormenorizada a seguir.

1 Poder Executivo

•• Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações


(MCTIC)

O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações


(MCTIC), atualmente denominado Ministério da Ciência, Tecnologia e Ino-
vações (MCTI), desempenha o papel de coordenador do SNCTI, sendo
também responsável pela governança do Fundo Nacional de Desenvol-
vimento Científico e Tecnológico (FNDCT). É o principal órgão de formu-
lação de políticas para a área, sendo encarregado pela Financiadora de
Estudos e Projetos (Finep) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimen-
to Científico e Tecnológico (CNPq) (BRASIL, 2017).

Incentivos governamentais à inovação tecnológica 121


•• Outros ministérios e agências reguladoras

Outros ministérios do Governo Federal também apresentam de-


sempenho importante no SNCTI, alguns possuindo órgãos específicos
para gestão na área, como é o caso dos Ministérios da Educação e da
Economia (BRASIL, 2017).

Já as agências reguladoras, muito embora sejam atores mais atuais


no SNCTI, têm apresentado contribuição relevante para sua consoli-
dação. Destaque há que ser dado à atuação da Agência Nacional de
Energia Elétrica (Aneel), bem como à da Agência Nacional do Petróleo,
Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) (BRASIL, 2017).
•• Secretarias estaduais e municipais

Ainda na esfera do Poder Executivo, merece ênfase a atividade


desempenhada pelas secretarias estaduais de CT&I, operando como
coordenadoras dos Sistemas Regionais de Inovação (BRASIL, 2017).

Assim como as secretarias estaduais, as municipais também atuam


como importantes agentes políticos de inovação no SNCTI.
•• Confap e Consecti

O Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesqui-


sa (Confap) é uma organização sem fins lucrativos, criada em 2006, com
o intuito de estimular a interação entre agências estaduais de estímulo
à pesquisa científica, tecnológica e de inovação no Brasil. Reúne 26 Fun-
dações de Amparo à Pesquisa (FAPs) (CONFAP, 2020).

O Confap, juntamente com o Conselho Nacional de Secretários Es-


taduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti), for-
talece a interação entre as políticas dos governos estaduais na área
de Ciência e Tecnologia (C&T), favorecendo o desempenho do SNCTI
(BRASIL, 2017).

2 Poder Legislativo

•• Congresso Nacional e Assembleias Legislativas

No âmbito do Poder Legislativo se destacam o Congresso Nacional


(esfera federal) e as Assembleias Estaduais (esfera estadual). Esses ór-
gãos têm a incumbência de legislar sobre as áreas de ciência, tecno-
logia e inovação, fortalecendo, dessa forma, o SNCTI. Para tanto, há

122 Tecnologias aplicadas e inovação


diversos dispositivos que podem ser utilizados, como leis orçamentá-
rias e incentivos fiscais (BRASIL, 2017).

Vale frisar ainda que a Câmara dos Deputados e o Senado possuem


comissões permanentes voltadas à área de CT&I: a Comissão Perma-
nente de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática (CCTCI) e a
Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática
(CCTICI), respectivamente (BRASIL, 2017).

3 Sociedade

•• Academia Brasileira de Ciências (ABC)

Consiste em uma organização sem fins lucrativos, não governamen-


tal e independente, criada em 1916, com o objetivo de contribuir para
a implementação de políticas públicas na área científica. Ademais, visa
à interação entre os próprios cientistas brasileiros, bem como entre
esses e pesquisadores de outros países (ABC, 2020).
•• Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)

Atua, assim como a ABC, na esfera acadêmica. É uma organização


sem fins lucrativos, civil e apartidária, criada em 1948, tendo como Atenção
objetivo o estímulo ao desenvolvimento científico e tecnológico no É importante não confundir
MEI de Mobilização Empresarial
país. Exerce papel importante na consolidação e no fortalecimento do
pela Inovação com MEI de
SNCTI, buscando disseminar e popularizar a ciência no Brasil. Impor- Microempreendedor Individual.
tante destacar que a SBPC representa 144 sociedades científicas asso- Este compreende o profissional
autônomo que é portador de
ciadas (SBPC, 2020).
Cadastro Nacional da Pessoa
•• Confederação Nacional da Indústria (CNI) Jurídica (CNPJ) e que usufrui de
uma menor carga tributária.
É o órgão brasileiro mais importante na elaboração de políticas pú-
blicas na área industrial. Fundada em 1938, comanda atualmente as
Vídeo
federações de indústria das 27 unidades federativas, reunindo cerca
Para ampliar o conhe-
de 1,3 milhão de estabelecimentos no país (CNI, 2020). É responsável, cimento sobre a Mobili-
ainda, pelo Instituto Euvaldo Lodi (IEL), pelo Serviço Nacional de Apren- zação Empresarial pela
Inovação, assista ao vídeo
dizagem Industrial (SENAI) e pelo Serviço Social da Indústria (SESI). Conheça a Mobilização
Empresarial pela Inovação
•• Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI)
(MEI), publicado pelo
canal da Confederação
Trata-se de um órgão criado em 2008, incorporando cerca de 300 Nacional da Indústria.
lideranças empresariais, e comandado pela CNI. Objetiva o estímulo
Disponível em: https://youtu.be/
à inovação como alavanca para o desenvolvimento do país, buscando eA74Zrinr1w. Acesso em: 19 nov.
2020.
o incentivo à implementação de políticas públicas na área (MEI, 2020).

Incentivos governamentais à inovação tecnológica 123


•• Centrais sindicais

São importantes entidades de direito privado sem fins lucrativos


que, no âmbito político, representam os anseios dos trabalhadores em
relação às transformações produtivas advindas dos processos inova-
tivos. No Brasil ganharam força após a criação da Central Única dos
Trabalhadores (CUT), em 1983, depois do período de ditadura militar,
reunindo diversas entidades e organizando a classe trabalhadora.

Quanto às agências de fomento, as que fazem parte do SNCTI e que


mais se destacam no cenário nacional são vistas de maneira detalhada
na Seção 6.3. Já em relação aos operadores de CT&I são apresentados
os principais agentes elencados na Figura 1.
•• Universidades

São instituições caracterizadas pela oferta de atividades de ensino,


pesquisa e extensão (BRASIL, 2018c). Atualmente estão em sua tercei-
ra missão, que consiste na interface entre a universidade e a socieda-
de, aproximando-as de maneira sinérgica (além das já consolidadas
missões de capacitar profissionais e de realizar atividades de pesquisa).

Essas instituições acadêmicas são de extrema relevância dentro do


SNCTI, especialmente pelas atividades realizadas nos programas de
pós-graduação, bem como pela possibilidade de executar transferên-
cia de tecnologia ao setor produtivo.
•• Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IFEs) e
Institutos Estaduais de CT&I

Os IFEs são instituições criadas em 2008 com a premissa de ofertar


ensino profissional e tecnológico de qualidade no país, estando distri-
buídos em todos os estados da nação (BRASIL, 2016).

Juntamente com os IFEs, os Institutos Estaduais de CT&I podem ser


considerados importantes agentes dentro do SNCTI (BRASIL, 2017).
Alguns estados, inclusive, possuem Redes de Institutos Estaduais de
Ciência, Tecnologia e Inovação (RedeIECT), como é o caso da RedeIECT
Amazônia Legal e da RedeIECT do Estado do Maranhão.

124 Tecnologias aplicadas e inovação


•• Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs)

De acordo com o artigo 2º, inciso V, da Lei de Inovação, uma ICT


consiste em um:
órgão ou entidade da administração pública direta ou indireta ou
pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos legalmente
constituída sob as leis brasileiras, com sede e foro no País, que
inclua em sua missão institucional ou em seu objetivo social ou
estatutário a pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou
tecnológico ou o desenvolvimento de novos produtos, serviços
ou processos. (BRASIL, 2004)

De modo mais claro, é possível afirmar que as universidades e as


instituições públicas de pesquisa são denominadas no Brasil ICTs.
Assim, são peças-chave no SNCTI, atuando na formação de profissionais
capacitados e liderando pesquisas que favorecem o desenvolvimento
tecnológico (ANDRADE, 2016).
•• Parques tecnológicos

Segundo a Lei de Inovação, em seu artigo 2º, inciso X, parque tecno- Atenção
lógico se refere a um:
As Organizações da Sociedade
complexo planejado de desenvolvimento empresarial e tecnoló- Civil – OSCs (anteriormente
gico, promotor da cultura de inovação, da competitividade indus- denominadas organizações
trial, da capacitação empresarial e da promoção de sinergias em não governamentais – ONGs),
“são entidades nascidas da livre
atividades de pesquisa científica, de desenvolvimento tecnológi-
organização e da participação
co e de inovação, entre empresas e uma ou mais ICTs, com ou social da população que
sem vínculo entre si. (BRASIL, 2004) desenvolvem ações de interesse
público sem visarem ao lucro.
No cenário brasileiro há atualmente 47 parques tecnológicos distri- Essas organizações constituem
buídos da seguinte forma: 2 na Região Norte; 4 na Região Centro-Oeste; atores sociais e políticos cada vez
7 na Região Nordeste; 15 na Região Sul; e 19 na Região Sudeste. Desta- mais presentes nas democracias
contemporâneas” (IPEA, 2020).
que ao Estado de São Paulo, que sozinho reúne 11 dessas instituições
Assim, “Organização Social (OS)
(BRASIL, 2018d). é outra qualificação outorgada
pela administração pública para
•• Institutos de Pesquisa do MCTIC (atual MCTI) entidades sem fins lucrativos,
para que possam receber de-
O MCTI compreende 20 Institutos de Pesquisa (Figura 2), divididos
terminados benefícios do poder
em Unidades de Pesquisa (UPs) e Organizações Sociais (OS). Essas en- público (dotações orçamentárias,
tidades são responsáveis pela disseminação de conhecimento e, tam- isenções fiscais, etc.) com vistas
à realização dos seus fins”
bém, pelo estímulo à inovação dentro de suas respectivas áreas de
(IPEA, 2020).
atuação (BRASIL, 2017; BRASIL, 2020b).

Incentivos governamentais à inovação tecnológica 125


Figura 2
Institutos de Pesquisa do MCTI

Pedro Vilas Boas/Shutterstock


Boa Vista Caxiuanã
INPA MPEG
São Gabriel Macapá
INPE
da Cachoeira Santarém MPEG
Alcântara
MPEG Belém Fortaleza
INPA
INPE
MPEG CTI
Manaus Teresina
INPE Natal
INPA CETEM
INPE
Tefé INPE
Campina Grande
IDSM*
INSA Recife

Rio Branco CETENE


Goiânia CRCN
INPA
Porto Velho CRCN

INPA Belo Horizonte


Cuiabá CDTN Itajubá
INPP LNA
Santa Teresa
INPE Brasília Cachoeiro do Itapemirim
INMA
CGEE*
IBICT Petrópolis CETEM
EMBRAPII*
LNCC
Foz do Iguaçu Rio de Janeiro
Cachoeira Paulista
INA CBPF*
INPE CETEM
Criciúma IMPA*
São José dos Campos
CETEM INT
INPE ON
Santa Maria
CEMADEN MAST
INPE Campinas RNP*
São Paulo CNPEM* IEN
IPEN CTI IRD
Institutos de pesquisa
Núcleos Regionais Previstos
Núcleos Regionais Implantados
Unidades de Pesquisa da CNEN

*Organizações Sociais
Fonte: Brasil, 2017, p. 31.
•• Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs)

Os INCTs são centros de pesquisa criados em 2008, totalizando hoje


125 unidades (conforme Figura 3), atuando em parceria com outras
agências de fomento, como a Capes, o CNPq, a Finep e o BNDES. Dentre
seus objetivos estão a geração de redes de pesquisa e a capacitação de
recursos humanos altamente qualificados (INCT, 2020).

126 Tecnologias aplicadas e inovação


Figura 3
Distribuição Nacional dos INCTs

Reservoir Dots/Shutterstock
5 4 4 2
1
1 5
5 1
1
3

13

44
2 21

4
9
Fonte: Brasil, 2017, p. 37.

Vale destacar que por meio dos INCTs já foram firmadas cerca de
1.800 parcerias nacionais e 1.300 internacionais, além da formação de
muitos em mestrado, doutorado e pós-doutorado (INCT, 2020).
•• Incubadoras de empresas

“Incubadoras são instituições que auxiliam as empresas que te-


nham como principal característica a oferta de produtos e serviços no
mercado com significativo grau de inovação” (CRUZ, 2019). Também
fornecem infraestrutura e apoio aos empreendedores para que desen-
volvam suas atividades de maneira adequada.

Importante salientar que há cerca de 363 incubadoras no país, sen-


do que mais de 60% estão ligadas às universidades, gerando receita e
Atividade 1
empregos (CRUZ, 2019).
O SNCTI é composto por agentes
•• Empresas inovadoras políticos, agências de fomento
e operadores de CT&I. Cite dois
Por fim, essas, como a própria expressão já diz, são todas aquelas atores pertencentes a cada um
empresas com foco na inovação para garantir vantagem competitiva desses grupos.
dentro de seu segmento de mercado.

Incentivos governamentais à inovação tecnológica 127


6.2 Legislação de incentivo à CT&I
Vídeo A fim de que determinada área seja regulamentada, apoiada e in-
centivada, é fundamental que haja auxílio governamental. Dentre as
diversas formas pelas quais esse suporte pode ocorrer, uma das mais
importantes é a implementação de políticas públicas.

Na área de inovação isso não é diferente. Sendo assim, foram pro-


mulgadas algumas legislações federais a partir dos anos 2000 que
têm contribuído muito para o incentivo à atividade. Primeiramente é
necessário destacar a inclusão do SNCTI na Constituição Federal, por
meio da Emenda Constitucional n. 85, de 26 de fevereiro de 2015, que
altera e adiciona dispositivos à Constituição Federal a fim de atualizar o
tratamento das atividades de CT&I (BRASIL, 2015).

Além da inclusão do SNCTI em nossa Carta Magna, outras legisla-


ções na área de inovação foram publicadas. São elas: Lei de Inovação,
Lei do Bem e Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação.

•• Lei de Inovação

A Lei n. 10.973, de 2 de dezembro de 2004, mais conhecida como Lei


de Inovação, tem como foco o estímulo à pesquisa científica e tecnoló-
gica orientada para o ambiente produtivo, objetivando a capacitação,
a independência tecnológica e o fortalecimento da indústria brasileira
(BOCCHINO et al., 2010).

Ainda de acordo com Bocchino et al. (2010), considerando a legis-


lação citada e buscando cumprir o disposto nos artigos 218 e 219 da
Constituição Federal de 1988, as instituições com o encargo normali-
zado de produção de pesquisa básica ou aplicada, relativas à ciência e
tecnologia, têm obrigação legal de constituir núcleos de inovação tecno-
lógica, com o intuito de proteger a propriedade intelectual, administrar
suas políticas de apoio à inovação e estimular a atividade de transfe-
rência de tecnologia.

Entretanto, há uma necessidade de maior detalhamento da lei,


com vistas a preservar a identidade de empresas, indústrias e univer-
sidades, com vistas a torná-la uma ferramenta de destaque no incen-
tivo às políticas industrial e tecnológica brasileiras (MATIAS-PEREIRA;
KRUGLIANSKAS, 2005).

128 Tecnologias aplicadas e inovação


Uma das características da Lei de Inovação é o regime especial de
transferência de tecnologia, que reduz as barreiras de licenciamento
do conhecimento para indústrias e estimula a inter-relação entre uni-
versidades e empresas. Além disso, estão previstos nessa legislação o
aluguel e a cessão de laboratórios para P&D por parte das ICTs.

Ademais, por meio da Lei de Inovação, é possível às empresas


adquirir os seguintes benefícios (LABIAK JUNIOR; MATOS; LIMA, 2011):
•• deduzir despesas na apuração do Lucro Líquido do Imposto de
Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e apurar a base de cálculo da Contri-
buição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) – sendo que a dedução
também pode ser aplicada aos gastos contratados no país com
universidades, institutos de pesquisa ou inventor independente;
•• reduzir, na apuração do IRPJ, 50% do Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI) sobre máquinas, aparelhos, ferramentas,
instrumentos, equipamentos, acessórios e sobressalentes que
acompanhem o bem e sobre depreciação acelerada de máqui-
nas, equipamentos e aparelhos novos, contanto que sejam desti-
nados a P&D tecnológicos;
•• utilizar amortização acelerada em caso de aquisição de bens in-
tangíveis exclusivamente usados em atividades de pesquisa, de-
senvolvimento e inovação (PD&I) tecnológica;
•• receber crédito do Imposto de Renda (IR) sobre valores pagos,
creditados ou remetidos a beneficiários residentes/domiciliados
no exterior, a título de royalties de assistência técnica/científica
e de serviços especializados previstos em contratos de transfe-
rência de tecnologia. Para fruir dessa redução, a empresa deve
despender internamente o montante mínimo de uma vez e meia
o valor do benefício, se localizada nas regiões Norte e Nordeste,
e de pelo menos duas vezes, quando localizada em outra região.

•• Lei do Bem

A Lei n. 11.196, de 21 de novembro de 2005, intitulada Lei do Bem,


cria incentivos fiscais às empresas que exercem PD&I, estreitando o vín-
culo entre universidade, institutos de pesquisa e empresas (Quadro 1).

Incentivos governamentais à inovação tecnológica 129


Quadro 1
Benefícios da Lei do Bem
Saiba mais
Para fazer download • Dedução de 20,4% a 34% no IRPJ e CSLL dos gastos com P&D;
do Guia da Lei do Bem,
• Dedução de 50% no IPI na aquisição de equipamentos e máquinas destinados à P&D;
acesse a reportagem O
que é a Lei do Bem e como • Depreciação e amortização rápida desses bens;
ela ajuda sua empresa a • Melhoria constante dos produtos, processos e serviços;
inovar, publicada pela
Associação Nacional de
• Possibilidade de reinvestir os valores deduzidos na área de P&D;
Pesquisa e Desenvol- • Maior competitividade no mercado;
vimento das Empresas
• Criação de inovação como alavanca de expansão das instituições;
Inovadoras (ANPEI).
• Ser vista como uma empresa inovadora pelo MCTIC.
Disponível em: https://anpei.org.
br/o-que-e-lei-do-bem-empresa-
inovar/. Acesso em: 19 nov. 2020. Fonte: ANPEI, 2019.
Interessante verificar que o destaque da Lei do Bem encontra-se
Vídeo nos incentivos fiscais, os quais possibilitam que as empresas maxi-

Para conhecer mais um


mizem sua capacidade interna de gerar inovações tecnológicas para
pouco a respeito da Lei produtos e processos, resultando em mais produtividade e qualidade
do Bem, assista ao vídeo
Conheça a Lei do Bem que
e, consequentemente, em mais competitividade no mercado (LABIAK
incentiva a inovação tecno- JUNIOR; MATOS; LIMA, 2011).
lógica, da Empresa Brasil
de Comunicação (EBC). A despeito dos incentivos decorrentes da Lei do Bem, menos de 1%
Disponível em: https://tvbrasil.ebc. das 135 mil empresas industriais fazem uso dos incentivos fiscais para
com.br/brasil-em-dia/2019/12/
inovação e somente 200 participam da MEI (MOREIRA; DAVIDOVICH,
conheca-lei-do-bem-que-
incentiva-inovacao-tecnologica. 2018). Diante desses números, fica clara a necessidade de maior divul-
Acesso em: 19 nov. 2020.
gação por parte do governo sobre os benefícios dessa lei.

Por outro lado, algumas limitações da Lei do Bem devem ser consi-
Saiba mais deradas, como a exigência de tributação pelo Lucro Real, sendo que no
A fim de saber quantas país a maioria das empresas usa o Simples Nacional, bem como a ne-
empresas se beneficiam
da Lei do Bem atualmen- cessidade de estimativa de lucros no exercício. Para a pequena parcela
te, bem como conhecer de empresas que utiliza a tributação pelo Lucro Real – em sua maioria
melhorias propostas
para essa legislação, leia empresas de grande porte –, segundo Matias-Pereira (2013), a imposi-
o texto Senado discute ção de aferimento de lucros no exercício representa um contratempo,
modernização da lei que
incentiva pesquisa e inova- uma vez que os altos custos dos investimentos em tecnologia acabam
ção, publicado pelo site por gerar lucro apenas no período seguinte, o que interfere em sua
UOL/Agência Brasil.
utilização no período de implantação do projeto (ZITTEI et al., 2016).
Disponível em: https://noticias.
uol.com.br/ultimas-noticias/ De acordo com estudo desenvolvido por Matias-Pereira (2013,
agencia-brasil/2020/06/12/
senado-discute-modernizacao- p. 240), “a Lei do Bem, em que pesem as dificuldades e deficiências na
de-lei-que-incentiva-pesquisa- sua implantação, apresenta-se como um instrumento relevante para
e-inovacao.htm. Acesso em: 19
nov. 2020. estimular as empresas nacionais, por meio da concessão de incentivos
fiscais, à inovação no Brasil”.

130 Tecnologias aplicadas e inovação


•• Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação 1
A Lei n. 13.243, de 11 de janeiro de 2016, intitulada Marco Legal da Subvenção econômica é a
aplicação de recursos públicos
Ciência, Tecnologia e Inovação, foi regulamentada pelo Decreto Federal não reembolsáveis (sem
n. 9.283, publicado no Diário Oficial da União (D.O.U.) em 8 de feverei- restituição) em empresas, uma
ro de 2018, estabelecendo ações de estímulo à inovação e à pesquisa modalidade de investimento
muito usada em países desen-
científica e tecnológica no setor produtivo, regulando as relações entre volvidos. No Brasil foi lançada
governo, universidades e empresas e também regulamentando a Lei em 2006, seguindo normas da
Organização Mundial do Comér-
de Inovação, que é a Lei n. 10.973 de 2004.
cio (OMC) (FINEP, 2020a).
De acordo com o referido Decreto, a Administração Pública torna-se
capaz de incentivar o desenvolvimento de projetos de colaboração entre
empresas, ICTs e instituições privadas sem fins lucrativos, com o objeti- 2
vo de criar produtos, processos e serviços inovadores, bem como pro- Bônus tecnológico represen-
ta a “subvenção a microempresas
porcionar transferência e disseminação de tecnologia (BRASIL, 2018b).
e a empresas de pequeno e
Uma novidade a ser destacada em relação à legislação é que ela médio porte, com base em do-
tações orçamentárias de órgãos
viabiliza a possibilidade de pesquisadores de instituições públicas se
e entidades da administração
ausentarem por um período para atuar na indústria ou constituir em- pública, destinada ao pagamen-
presas de base tecnológica, o que é uma iniciativa que vai de encon- to de compartilhamento e uso
de infraestrutura de pesquisa e
tro à vanguarda acadêmica internacional. Nos Estados Unidos mais de desenvolvimento tecnológicos,
80% dos doutores provenientes das universidades estão no ambiente de contratação de serviços
empresarial. Entretanto, na América Latina e Caribe essa realidade é tecnológicos especializados,
ou transferência de tecnologia,
inversamente proporcional (PEREIRA et al., 2009). quando esta for meramente
complementar àqueles serviços,
De acordo com Ariente e Babinski (2018), os principais avanços da
nos termos de regulamento”
legislação são: (BRASIL, 2018a).
•• inserção de regras e procedimentos novos para a formalização
de instrumentos jurídicos de parcerias, investimentos e transfe- 3
rências de tecnologia entre os atores públicos e privados; Encomendas tecnológicas
•• regras novas para a concessão de recursos de subvenções eco- são “tipos especiais de compras
1 públicas destinadas a solucionar
nômicas ;
desafios específicos através do
2
•• regulamentação do bônus tecnológico ; desenvolvimento de produtos,
3 serviços ou sistemas que ainda
•• normatização das encomendas tecnológicas ; não estão disponíveis no merca-
•• constituição de procedimentos específicos e simplificados de do ou, simplesmente, que ainda
não existem. Na medida em
prestação de contas, com prioridade aos resultados alcançados;
que pouco se sabe sobre o real
•• simplificação do remanejamento de recursos inseridos em pro- desempenho da solução frente
ao problema enfrentado, trata-se
jetos de CT&I;
de uma compra pública com
•• prioridade no despacho aduaneiro de bens, matérias-primas, in- elevado nível de incerteza tecno-
sumos, máquinas, aparelhos, equipamentos, instrumentos, pe- lógica” (RAUEN, 2018, p. 1).

ças de reposição e acessórios;

Incentivos governamentais à inovação tecnológica 131


•• incentivos à internacionalização das ICTs públicas;
•• isenção do IPI e do Imposto de Importação, que ocasionalmente
incidem sobre a realização de projetos de CT&I desenvolvidos por
empresas.
Glossário Outro aspecto bastante relevante foi o atendimento à antiga de-
norma infralegal: é uma manda das ICTs públicas, no que se refere à dispensa de licitação para
norma secundária que se
transferência de tecnologia com cláusulas de exclusividade. Nesses ca-
encontra abaixo das leis, como é
o caso das portarias e instruções sos, a norma infralegal condiciona o acordo à divulgação de extrato
normativas. da oferta tecnológica no site oficial da ICT (ARIENTE; BABINSKI, 2018).

Não obstante os avanços legislativos, Rauen (2016, p. 33-34) salienta


Saiba mais que seria interessante haver mudanças no marco legal da inovação, as
Para compreender um quais visassem, além da redução da insegurança jurídica e da consoli-
pouco mais sobre a dação das possibilidades vigentes, ao “fortalecimento de ferramentas
importante ferramenta
denominada encomenda de estímulo ao aumento da participação empresarial no processo ino-
tecnológica, leia o texto In- vativo – que permanece em patamares ainda muito baixos”.
vestimento no setor público
em inovação: as encomen- Em seguida, vale citar brevemente uma legislação específica para a
das tecnológicas (ETECs),
publicado por Arby Rech, área de informática, automação e telecomunicações, bem como uma
no site JOTA. iniciativa governamental de alavancagem do setor automobilístico.
Disponível em: https://
•• Lei de Informática
www.jota.info/coberturas-
especiais/inova-e-acao/
investimento-do-setor-publico-
A Lei n. 8.248, de 23 de outubro de 1991, surgiu para estimular a
em-inovacao-as-encomendas- competitividade e impulsionar a inovação de empresas da área de
tecnologicas-etecs-21072020.
Acesso em: 19 nov. 2020.
informática, telecomunicações e automação. Os incentivos às empre-
sas envolvem a redução e suspensão do IPI e do ICMS em condições
predeterminadas e a preferência pela aquisição de produtos fabricados
no país e destinados a órgãos da Administração Pública. As empresas
beneficiadas com os incentivos devem se comprometer a destinar 5%
do faturamento bruto em P&D, bem como produzir peças localmente
atendendo a um Processo Produtivo Básico (PPB) (BRASIL, 2020c), que
consiste no “conjunto mínimo de operações, no estabelecimento fa-

Atividade 2 bril, que caracteriza a efetiva industrialização de determinado produto”


(BRASIL, 1991).
Aponte um benefício às empre-
sas trazido por cada uma das três •• Rota 2030
importantes legislações de fo-
mento à inovação apresentadas Programa do Governo Federal lançado no final de 2018 com pra-
neste capítulo: a Lei de Inovação, zo de duração de 15 anos, contemplando três períodos de cinco anos
Lei do Bem e o Marco Legal da
Ciência Tecnologia e Inovação. cada. O foco é estimular a indústria automotiva nacional, potencializan-
do sua inserção no mercado internacional com a produção de veículos

132 Tecnologias aplicadas e inovação


menos poluentes e mais seguros. Dentre os objetivos do projeto estão:
o aumento dos investimentos em PD&I e em eficiência energética; in-
cremento da produtividade das indústrias; estímulo ao uso de biocom-
bustíveis; entre outros (ANPEI, 2020).

6.3 Fontes de fomento à inovação


Vídeo Dentre as principais agências públicas de fomento à inovação po-
dem ser citadas: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq); Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (Capes); Financiadora de Estudos e Projetos (Finep); Ban-
co Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES); Empresa
Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII); e Fundações
de Amparo à Pesquisa (FAPs).

Na Figura 4 é possível visualizar a qual ministério do Governo Federal


cada agência de fomento pertence; ressalva às FAPs, que por serem es-
taduais estão diretamente ligadas aos respectivos governos estaduais.

Figura 4
Ministérios do Governo Federal e suas respectivas agências de fomento

Ministério da
Ciência, Tecnologia
e Inovações (MCTI)

Ministério da
Educação (MEC)

Ministério da
Economia

Fonte: Elaborada pela autora.

Incentivos governamentais à inovação tecnológica 133


Atividade 3 •• CNPq

Quais são as principais agências Organização pública criada em 1951, que “tem como principais atri-
públicas de fomento à inovação
buições fomentar a pesquisa científica, tecnológica e de inovação e pro-
no Brasil?
mover a formação de recursos humanos qualificados para a pesquisa,
em todas as áreas do conhecimento” (BRASIL, 2020a).

Muito embora as universidades sejam consideradas o principal


lócus de pesquisa no país, há que se ponderar que muitas delas não
possuem recursos próprios para realizar essa atividade. Sendo assim,
o CNPq atua como a maior agência pública de financiamento de pes-
Vídeo
quisas no Brasil (RIBEIRO, 2017).
A fim de compreender
mais amplamente a •• Capes
atuação do CNPq, assista
ao vídeo CNPq Institucio- Entidade criada em 1952 com o objetivo de prestar suporte à pós-
nal 2016, publicado pelo
-graduação stricto sensu (mestrado e doutorado) no país. Executa a ava-
canal CNPqOficial.
liação de cursos, divulga a produção científica e realiza o investimento
Disponível em: https://youtu.be/
CC5j37l8jNg. Acesso em: 19 nov. na formação de profissionais altamente capacitados, além de estimular
2020.
a cooperação científica entre os países (BRASIL, 2020d).

A partir de 2007 ampliou sua área de atuação, passando a colabo-


rar também para a formação de professores da educação básica, esti-
mulando o aperfeiçoamento contínuo dos docentes da área, tanto no
formato presencial quanto no ensino a distância (EaD) (BRASIL, 2020d).

Figura 5
Concessão de bolsas de pós-graduação da Capes no Brasil em 2019

Reservoir Dots/Shutterstock
RR
AP

AM PA MA
CE
RN
PB
PI
PE
AC AL
RO TO
SE
MT BA

DF
GO

MG
MS ES
SP
De 1 até 765 RJ
PR
De 766 até 1,976

De 1,977 até 3,321 SC

De 3,322 até 22,828 RS

Fonte: Capes, 2020.

134 Tecnologias aplicadas e inovação


Na Figura 5 é possível verificar uma maior concentração de
concessão de bolsas de pós-graduação por parte da Capes nas regiões
Sul e Sudeste. Em contrapartida, os estados com menor volume de bol-
sas estão presentes no Norte e Nordeste.
•• Finep

Criada em 1967, é uma empresa pública brasileira que visa fomentar


Vídeo
a ciência, tecnologia e inovação, oportunizando o desenvolvimento eco-
Conheça um dos projetos
nômico e social do Brasil (FINEP, 2020b). Disponibiliza financiamentos
mais inovadores apoiado
reembolsáveis e não reembolsáveis, estimulando tanto a pesquisa bási- pela Finep, o LabOceano,
da COPPE/UFRJ, assistin-
ca quanto a aplicada, apoiando inovações em produtos e serviços e au-
do ao vídeo Tanque Oceâ-
xiliando, ainda, a implantação de incubadoras e parques tecnológicos. nico da Coppe: 10 anos
desenvolvendo tecnologias
Dentre os mais de 30 mil projetos apoiados pela Finep estão: o Mu- de ponta, publicado pelo
canal Coppe UFRJ.
seu do Amanhã (RJ); o Avião Tucano da Embraer; e o Tanque Oceâni-
co do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Disponível em: https://youtu.be/
qGQYTzLE11A. Acesso em: 19
Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) nov. 2020.
(FINEP, 2020c).
•• BNDES
Vídeo
Instituição criada em 1952 e considerada um dos maiores bancos de Para entender como o
desenvolvimento do mundo. Atua na concessão de financiamentos de BNDES está presente
na vida da população
longo prazo (recursos reembolsáveis) a diversos setores da economia brasileira, assista ao
brasileira, prestando suporte que abrange desde pessoas físicas até vídeo O BNDES na sua
vida, publicado pelo canal
grandes empreendimentos, com vistas a alavancar a renda e o empre- BNDES.
go e favorecer a inclusão social (BNDES, 2020). Disponível em: https://youtu.
be/teMf3B05g78. Acesso em: 19
•• EMBRAPII
nov. 2020.
Criada em 2013, é uma OS que atua nas seguintes áreas: tecnolo-
gias aplicadas; mecânica e manufatura; biotecnologia; materiais e quí-
mica; e tecnologia da informação e comunicação (TIC). Vídeo
Para conhecer um pouco
A organização almeja uma maior sinergia entre instituições de pes-
mais sobre a atuação
quisa e o setor produtivo, buscando mitigar os riscos que uma inovação da EMBRAPII, assista ao
vídeo EMBRAPII – Como
envolve, ao mesmo tempo que eleva o valor tecnológico agregado dos
funciona?, publicado pelo
produtos e processos gerados (EMBRAPII, 2020). canal EMBRAPII.

•• FAPs Disponível em: https://youtu.


be/4l0wF_L7kR8. Acesso em: 19
São organizações públicas ligadas ao Poder Executivo estadual. To- nov. 2020.

talizam no país 26 unidades (presentes em quase todos os estados, in-


cluindo o Distrito Federal, com exceção de Roraima), tendo como foco a
promoção de atividades de pesquisa e estimulando o desenvolvimento

Incentivos governamentais à inovação tecnológica 135


Saiba mais científico e tecnológico por meio da concessão de bolsas e subsídios
a projetos. A FAP mais antiga do país e que serve de modelo a todas
Para conhecer com mais
detalhes as opções de as outras é a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
suporte à inovação para
(FAPESP), criada em 1962 (ALVES, 2018).
as empresas, leia o Guia
Prático de Apoio à Inova-
Muito embora este capítulo trate dos incentivos governamentais à
ção, da ANPEI.
inovação tecnológica, é importante reservar um espaço para descrever
Disponível em: http://www.
ipdmaq.org.br/Portal/Principal/ três importantes formas de fomento à inovação realizadas por agentes
Arquivos/Downloads/Documentos/ da esfera privada que muito têm se destacado, são elas: o investidor
DETI/Guia%20Pr%C3%A1tico%20
de%20Apoio%20a%20 anjo, o capital de risco e o crowdfunding.
Inova%C3%A7%C3%A3o%20
-%20ANPEI.pdf. Acesso em: 19 •• Investidor anjo
nov. 2020.
O investidor anjo (angel investor) é caracterizado como o investidor
individual que subsidia empreendimentos que estejam em iniciação ou
Saiba mais na fase de implantação, sendo que os valores de financiamento não ul-
A fim de ampliar o conhe- trapassam o limite de 1 milhão de reais (LABIAK JUNIOR; MATOS; LIMA,
cimento sobre fontes de
2011). O valor investido é denominado capital semente (seed capital).
fomento à inovação, leia
o texto Fontes de fomento •• Capital de risco
à inovação: Conheça os
mecanismos de apoio, no Há ainda um fundo de investimento voltado a projetos de alto risco,
site do Sistema Regional
de Inovação (SRI). chamado de capital de risco (venture capital). Nessa categoria, os valores
Disponível em: https:// ultrapassam 1 milhão de reais e o investidor, intitulado capitalista de
plataformasri.pti.org.br/noticias/ risco (venture capitalist), passa a ser um acionista temporário do em-
fontes-de-fomento-a-inovacao-
conheca-os-mecanismos-de- preendimento (LABIAK JUNIOR; MATOS; LIMA, 2011).
apoio/. Acesso em: 19 nov. 2020.
Figura 6
Representação do ciclo de investimento privado

Fonte: Labiak Junior, Matos e Lima, 2011, p. 73, adaptada de McGee, 2000.
136 Tecnologias aplicadas e inovação
Conforme é possível verificar na Figura 6, o empreendimento inicia
com uma ideia, sendo então financiado por um investidor anjo (ou vá-
rios). Assim, com a expansão dos negócios, há a entrada do capitalista
de risco, responsável não somente pelo aporte financeiro, mas tam-
bém por compartilhar a gestão empresarial. Com a consolidação do
empreendimento ocorre a saída das figuras do investidor anjo e do ca-
pitalista de risco, abrindo novas possibilidades à empresa recém-criada.
•• Crowdfunding

Consiste no financiamento coletivo de um projeto, por meio da in-


ternet, sendo também conhecido como vaquinha on-line. Pode ocorrer
em duas modalidades – a primeira na forma de doação e a segunda
Saiba mais
como investimento –, sendo que em ambas, na maioria das vezes, as
A fim de conhecer diver-
pessoas físicas que acreditam no potencial do empreendimento resol- sos sites de crowdfunding
vem investir recursos nele. A diferença é que na primeira modalidade e suas principais caracte-
rísticas, acesse o site do
não há qualquer retribuição e na segunda a expectativa é de retorno na crowdfunding no Brasil.
forma de rendimento do valor aplicado. Ambas as modalidades podem Disponível em: https://www.
ser de caráter pessoal, social, cultural ou para estruturação de uma em- crowdfundingnobrasil.com.br/.
Acesso em: 19 nov. 2020.
presa, por exemplo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diversos são os atores que compõem um sistema de inovação. No
caso do Brasil, o SNCTI é formado por agentes políticos, agências de fo-
mento e operadores de CT&I.
De acordo com as informações apresentadas neste capítulo foi
possível perceber que aos atores políticos cabe a responsabilidade de
criar normas de funcionamento do sistema. Já as agências de fomento
são incumbidas de prover as condições de cumprimento das resoluções
advindas dos atores políticos. Enfim, aos operadores de CT&I pertence a
função de operacionalização das ações de inovação programadas.
Cabe destaque ao coordenador do SNCTI, o MCTI, que possui a res-
ponsabilidade de estabelecer as políticas nacionais de inovação, bem
como a condução de duas importantes agências de fomento, a Finep e o
CNPq. Além do MCTI, os Ministérios da Economia e da Educação também
exercem papel importante ao comandarem outras duas agências funda-
mentais no estímulo à inovação: o BNDES e a Capes, respectivamente.

Incentivos governamentais à inovação tecnológica 137


Além das instituições citadas, muitas outras que fazem parte do SNCTI
foram abordadas neste capítulo, buscando apresentar ao leitor um pano-
rama amplo do sistema de inovação brasileiro.
Ademais, foram apresentadas as principais iniciativas em termos de le-
gislação para fomentar a CT&I no país, tendo destaque as Leis de Inovação
e do Bem, além do Marco Legal da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Por fim, é possível afirmar que a estruturação de um sistema de ino-
vação forte é fator fundamental na busca pelo desenvolvimento. No caso
brasileiro não é diferente; para deixarmos de ser uma nação com estrutu-
ra produtiva centrada em commodities e buscarmos reduzir a lacuna que
nos separa de nações desenvolvidas não há outro caminho que não seja
o do estímulo à inovação.

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138 Tecnologias aplicadas e inovação


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Incentivos governamentais à inovação tecnológica 139


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GABARITO
1. Dentre os agentes políticos podem ser citados o Congresso Nacional e as agências re-
guladoras. Quanto às agências de fomento, o BNDES e a Finep. Por último, em relação
aos operadores de CT&I, as universidades e os parques tecnológicos.

2. Um dos benefícios trazidos pela Lei de Inovação foi a possibilidade de as ICTs compar-
tilharem seus laboratórios de P&D com empresas inovadoras. Já a Lei do Bem possi-
bilita a dedução de 50% no IPI na aquisição de equipamentos e máquinas destinados
à P&D. Por fim, o Marco Legal da CT&I permite que pesquisadores de instituições
públicas possam se afastar de suas funções por um período determinado para traba-
lhar na indústria.

3. As principais agências públicas de fomento à inovação no Brasil são: o CNPq; a Capes;


a Finep; o BNDES; a EMBRAPII; e as FAPs.

140 Tecnologias aplicadas e inovação


TECNOLOGIAS APLICADAS E INOVAÇÃO
PATRÍCIA GAVA RIBEIRO

Código Logístico Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-6670-4

59529 9 788538 766704

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