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E TECNOLOGIAS APLICADAS
AO DIREITO - III
PROFESSSORES
YURI NATHAN DA COSTA LANNES
RÔMULO SOARES VALENTINI
RAQUEL BETTY DE CASTRO PIMENTA
SKEMA BUSINESS SCHOOL
Belo Horizonte Cape Town-Stellenbosch Lille Paris Raleigh Sophia Antipolis Suzhou
Lille, France
Campus
Montreal, Canada
Sophia Antipolis, France
Global Lab in Al
Campus Suzhou, China
Raleigh, USA Campus
Campus
Paris, France
Campus
SKEMA Business School, Marketing & Communications department, non-contractual document – May 2020
SKEMA CAMPUSES
Coordenadores: Yuri Nathan da Costa Lannes, Rômulo Soares Valentini e Raquel Betty
de Castro Pimenta – Belo Horizonte: Skema Business School, 2020.
Inclui bibliografia
ISBN: 978-65-5648-098-5
Modo de acesso: www.conpedi.org.br em publicações
Tema: Desafios da adoção da inteligência artificial no campo jurídico.
1. Direito. 2. Inteligência Artificial. 3. Tecnologia. I. Congresso Internacional de Direito
e Inteligência Artificial (1:2020 : Belo Horizonte, MG).
CDU: 34
_____________________________________________________________________________
CONGRESSO INTERNACIONAL DE DIREITO E
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E TECNOLOGIAS APLICADAS AO
DIREITO III
Apresentação
É com enorme alegria que a SKEMA Business School e o CONPEDI – Conselho Nacional
de Pesquisa e Pós-graduação em Direito apresentam à comunidade científica os 14 livros
produzidos a partir dos Grupos de Trabalho do I Congresso Internacional de Direito e
Inteligência Artificial. As discussões ocorreram em ambiente virtual ao longo dos dias 02 e
03 de julho de 2020, dentro da programação que contou com grandes nomes nacionais e
internacionais da área, além de 480 pesquisadoras e pesquisadores inscritos no total. Estes
livros compõem o produto final deste que já nasce como o maior evento científico de Direito
e da Tecnologia do Brasil.
Trata-se de coletânea composta pelos 236 trabalhos aprovados e que atingiram nota mínima
de aprovação, sendo que também foram submetidos ao processo denominado double blind
peer review (dupla avaliação cega por pares) dentro da plataforma PublicaDireito, que é
mantida pelo CONPEDI. Os quatro Grupos de Trabalho originais, diante da grande demanda,
se transformaram em 14 e contaram com a participação de pesquisadores de 17 Estados da
federação brasileira. São cerca de 1.500 páginas de produção científica relacionadas ao que
há de mais novo e relevante em termos de discussão acadêmica sobre os temas Direitos
Humanos na era tecnológica, inteligência artificial e tecnologias aplicadas ao Direito,
governança sustentável e formas tecnológicas de solução de conflitos.
Neste norte, a coletânea que ora torna-se pública é de inegável valor científico. Pretende-se,
com esta publicação, contribuir com a ciência jurídica e fomentar o aprofundamento da
relação entre a graduação e a pós-graduação, seguindo as diretrizes oficiais. Fomentou-se,
ainda, a formação de novos pesquisadores na seara interdisciplinar entre o Direito e os vários
campos da tecnologia, notadamente o da ciência da informação, haja vista o expressivo
número de graduandos que participaram efetivamente, com o devido protagonismo, das
atividades.
A SKEMA Business School é entidade francesa sem fins lucrativos, com estrutura
multicampi em cinco países de continentes diferentes (França, EUA, China, Brasil e África
do Sul) e com três importantes acreditações internacionais (AMBA, EQUIS e AACSB), que
demonstram sua vocação para ensino e pesquisa de excelência no universo da economia do
conhecimento. A SKEMA, cujo nome é um acrônimo significa School of Knowledge
Economy and Management, acredita, mais do que nunca, que um mundo digital necessita de
uma abordagem transdisciplinar.
Resumo
O conceito de e-Justiça é mais amplo do que a Era Digitalização de documentos e o uso de
links da Internet para realizar atos procedimentais à distância. Representa uma nova forma de
conhecimento e o exercício da racionalidade humana, através do qual a interação entre
Estado e Cidadãos ocorre para defender direitos fundamentais. Nesse cenário, é crucial
analisar a importância das ontologias nas comunicações digitais e o papel dos profissionais
da informação técnica, bem como dos juristas, no que se refere à preocupação com a
manipulação de vocabulários controlados aplicados em juízo.
Abstract/Resumen/Résumé
The concept of e-Justice is broader than the mere digitization of documents and the use of
internet links to perform procedural acts at a distance. It represents a new form of knowledge
and the exercise of human rationality through which the interaction between the State and
Citizens happens in order to defend fundamental rights. In this scenario, it is crucial to
analyze the importance of ontologies in digital communications and the role of technical
information professionals, as well as jurists, regarding the concern with the manipulation of
controlled vocabularies applied in courts.
4
e-JUSTIÇA: DESAFIOS DA INTEROPERABILIDADE DIGITAL NO PROCESSO
JUDICIAL
RESUMO
O conceito de e-Justiça é mais amplo do que a mera Digitalização de documentos e o uso de links
da Internet para realizar atos procedimentais à distância. Representa uma nova forma de
conhecimento e o exercício da racionalidade humana, através do qual a interação entre Estado e
Cidadãos ocorre para defender direitos fundamentais. Nesse cenário, é crucial analisar a
importância das ontologias nas comunicações digitais e o papel dos profissionais da informação
técnica, bem como dos juristas, no que se refere à preocupação com a manipulação de vocabulários
controlados aplicados em juízo.
Palavras-chave: Acesso à justiça, Interoperabilidade. Processo. Tecnologia. Tesauro.
ABSTRACT
The concept of e-Justice is broader than the mere digitization of documents and the use of internet
links to perform procedural acts at a distance. It represents a new form of knowledge and the
exercise of human rationality through which the interaction between the State and Citizens
happens in order to defend fundamental rights. In this scenario, it is crucial to analyze the
importance of ontologies in digital communications and the role of technical information
professionals, as well as jurists, regarding the concern with the manipulation of controlled
vocabularies applied in courts.
Keywords: Access to justice. Interoperability. Process. Technology. Thesaurus.
1 INTRODUÇÃO
5
desafios dependem, primeiro, do estabelecimento de um vocabulário controlado1 compartilhado
que contém os descritores que serão aplicados aos procedimentos legais; segundo, dos padrões de
interoperabilidade entre os sistemas em uso pelo Poder Judiciário para desempenhar sua função
constitucionalmente prevista.
Para a realização da pesquisa descritiva que resultou neste texto, foi utilizado o método
dedutivo, através do qual foi utilizada a metodologia de análise documental dos instrumentos
normativos relacionados ao vocabulário controlado e à interoperabilidade, no caso, como é uma
pesquisa de estudo de caso do Brasil. Para a realização da pesquisa descritiva que resultou neste
texto, foi utilizado o método dedutivo, através do qual foi utilizada a metodologia de análise
documental dos instrumentos normativos relacionados ao vocabulário controlado e à
interoperabilidade, no caso, como é uma pesquisa de estudo de caso do Brasil. O texto explica o
que é um vocabulário controlado e quais são os padrões de interoperabilidade.
Dessa percepção da interação digital como uma via de mão dupla surge um novo perfil
de cidadão, o qual, em razão do processo de redemocratização das últimas décadas
intensificou sua pressão por mais espaços deliberativos junto ao Estado, agora, com a
1
KOBASHI, Nair Yumiko. Vocabulário controlado: estrutura e utilização. Escola Nacional de Administração
Pública (ENAP), Rede de Escolas de Governo, 2008. Disponível em:
https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/1289/41/Vocabul%C3%A1rio%20controlado%20-
%20estrutura%20e%20utiliza%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em 12 de março de 2020.
2
HABERMAS, Jürgen. Pensamento pós-metafísico: estudos filosóficos. Tradução de Flávio Beno Siebeneichler. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990.
3
CORTINA, Adela. Cidadãos do Mundo: para uma teoria da cidadania. Tradução de Silvana Cobucci Leite. São
Paulo: Ed. Loyola, 2005.
6
criação de agências virtuais devido ao uso das novas tecnologias pelo governo, apresenta
em sua conduta junto a estas o mesmo perfil proativo que neles é percebido quando
trocam experiências e buscam informações na internet.4
Para que isso seja alcançado, cada discurso deve ter as reivindicações de: validade,
inteligibilidade, verdade e sinceridade6. Os sujeitos devem poder confiar um no outro para que a
democracia aconteça e que os direitos fundamentais sejam protegidos. O desenvolvimento de
padrões de interoperabilidade para os sistemas utilizados pelo Judiciário deve seguir essas
premissas Habermasianas e, como tal, ampara-se nas condições de comunicação pelas quais o
processo político busca desenvolver resultados racionais decorrentes de um debate deliberativo7.
A evolução tecnológica contribuiu muito para o desenvolvimento, promovendo novas
iniciativas que ajudaram a transformar a relação entre Estado e Cidadãos. Por isso, principalmente
nos processos judiciais digitais, a ética de reconhecer o outro como sujeito é essencial para a
criação de sistemas interoperáveis e, como resultado, dos vocabulários controlados de cada Área
de Conhecimento, em casos legais, para refletir sobre No seu conteúdo padronizado, a diversidade
de tópicos e direitos ali presentes. Se não forem adequadamente representados como informações
4
SOUZA, L. C. Contribuição das práticas de e-cidadania para a formulação, implantação e monitoramento das
políticas públicas. Revista Direito Público, 13(74), p. 187-202, 2017. p. 189
5
ESPANHA. Código de Administración Electrónica. Disponível em:
https://www.boe.es/legislacion/codigos/abrir_pdf.php?fich=029_Codigo_de_Administracion_Electronica.pdf.
Acesso em 05 de março de 2020. p. 608
6
HABERMAS, Jürgen. Pensamento pós-metafísico: estudos filosóficos. Tradução de Flávio Beno Siebeneichler. Rio
de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1990; HABERMAS, Jürgen. Três modelos normativos de democracia. Lua Nova, São
Paulo, 36, p. 39-53, 1995. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
64451995000200003&lng=en&nrm=iso. Acesso em 01 de março de 2020.
7
HABERMAS, Jürgen. Três modelos normativos de democracia. Lua Nova, São Paulo, 36, p. 39-53, 1995. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-64451995000200003&lng=en&nrm=iso. Acesso
em 01 de março de 2020. p. 45
7
no sistema por meio do uso de descritores, eles poderão se tornar sub-cidadãos no ambiente digital
de e-Justiça.
Para compreender a dinâmica entre Estado e cidadãos na Era Digital é preciso assegurar
espaço democrátivco e acesso à informação, o que é assegurado por meio de alguns requisitos de
regulação do governo eletrônico. Um deles é a adoção de padrões de interoperabilidade. Para que
se possa proseguir a análise desse artigo, seguem algumas definições sobre o termo:
8
ESPANHA. Portal Administración Electrónica, Estratégias, 2020. Disponível em:
https://administracionelectronica.gob.es/pae_Home/pae_Estrategias/pae_Interoperabilidad_Inicio.html. Acesso em
05 de março de 2020.
9
ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Introdução à interoperabilidade – Módulo 1. Brasília:
ENAP, 2015. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/2399/1/M%C3%B3dulo_1_EPING.pdf.
Acesso em 12 de março de 2020.
10
PROGRAMA DE GOVERNO ELETRÔNICO BRASILEIRO. Padrões de Interoperabilidade de Governo
Eletrônico – ePING. 2018. Dimensão Semântica. Diponible en: http://eping.governoeletronico.gov.br/#p1s2.1.2.
Acesso em 01 de março de 2020.
11
ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Introdução à interoperabilidade – Módulo 1. Brasília:
ENAP, 2015. Disponível em: https://repositorio.enap.gov.br/bitstream/1/2399/1/M%C3%B3dulo_1_EPING.pdf.
Acesso em 12 de março de 2020. p. 6-8; FUNDACIÓN TELEFÓNICA. Las TIC en la justicia del futuro. Madrid:
Editora Ariel, 2009. Colección Fundación Telefónica, Cuaderno 21. p. 205
8
criação de estruturas organizacionais para gerenciamento tecnológico; o aspecto semântico garante
o significado do conteúdo e dos dados compartilhados pelos sistemas. Este último é o foco central
do debate deste artigo, pois representa o espaço público em que o Estado, a Tecnologia da
Informação e os Cidadãos se encontram como partes importantes da definição de conteúdo para a
identificação do vocabulário controlado por cada Área de Conhecimento, in casu, o processo
judicial.
Todas essas reflexões são cruciais para a democratização dos sistemas digitais e
determinar o modelo de governança do governo eletrônico e da e-Justiça. De acordo com o Plano
Estratégico Europeu12 para a interoperabilidade da e-justiça devem ser aplicados os princípios
fundamentais da governança eletrônica são: igualdade, acessibilidade, legalidade, privacidade,
responsabilidade, adaptação tecnológica, reutilização, entre outros. Nesse cenário, espera-se que
cada agente envolvido se comprometa com a ação ética e, em relação ao Poder Público, estabeleça
limitações ao excesso de poder que alguns grupos podem querer exercer para sobrepor o princípio
da igualdade. Isso é crucial para estabelecer as bases para o padrão de interoperabilidade,
especialmente para a e-Justiça, em que vocabulários controlados que trocam informações podem
servir tanto para inclusão quanto para exclusão, neste último caso, se forem mal administrados.
Em suma, a semântica da interoperabilidade visa criar uma base dialética e acessível, facilitando
a comunicação entre sistemas para tirar proveito de seu conteúdo por diferentes setores, além de
reduzir o impacto do uso de diferentes idiomas ou meios de tradução on-line, que podem adotar
diferentes semânticas e causar desinformação ou perda de dados. Isso pode ser conseguido através
do uso de vocabulários controlados, que serão descritos no próximo subtópico.
12
EUROPEAN UNION. 2019-2023 Action Plan European e-Justice. Official Journal of the European Union,
13/03/2019. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-
content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:52019XG0313(02)&rid=6. Acesso em 05 de março de 2020.
13
FINANCIADORA DE ESTUDOS E PROJETOS - FINEP. Vocabulário controlado. Disponível em:
http://www.finep.gov.br/biblioteca-2/biblioteca/produtos-e-servicos/biblioteca-vocabulario
9
O Comitê Europeu, em seu Plano Estratégico de e-Justiça, define o seguinte:
A controlled vocabulary consists of a list of terms used to index content and make it easier
to retrieve of information. The processing of data and discoverability of information can
be further enhanced and rendered more efficient by using controlled vocabularies,
identifiers such as ELI or ECLI, Artificial Intelligence and analysis of legal Open Data
and Big Data.14
14
EUROPEAN UNION. 2019-2023 Action Plan European e-Justice. Official Journal of the European Union,
13/03/2019. Disponível em: https://eur-lex.europa.eu/legal-
content/EN/TXT/PDF/?uri=CELEX:52019XG0313(02)&rid=6. Acesso em 05 de março de 2020.
15
SOUZA, Luciana C. A (des)proteção normativa da cidadania. Direitos Culturais, Santo Ângelo, v. 5, n. 9, p. 119-
134, jul./dez. 2010.
16
SOUZA, Luciana C. A (des)proteção normativa da cidadania. Direitos Culturais, Santo Ângelo, v. 5, n. 9, p. 119-
134, jul./dez. 2010. p. 21
10
administração da Internet que determinam muitos descritores e formas de comunicação entre
sistemas sem advogados, juízes ou mesmo cidadãos que conhecem quem são e como trabalham.
No Brasil, os responsáveis pela coordenação das comunicações por meios digitais, principalmente
na área pública, são o Comitê Gestor da Internet (CGI.br) e o Programa de Padrões de
Interoperabilidade do Governo Eletrônico. E, infelizmente, atualmente não há representantes do
Judiciário participando desses órgãos. Portanto, algumas decisões cruciais sobre
interoperabilidade são tomadas sem pensar no impacto sobre o conteúdo da comunicação no caso
de procedimentos legais, nos quais a transmissão de dados e a segurança digital, embora
tecnicamente adequada, não são suficientes para garantir o devido processo legal.
Portanto, ao aplicar as diretrizes de Habermas, afirma-se que a implantação de um conjunto
de descritores deve representar o conhecimento da área e, da mesma forma, deve reconhecer os
sujeitos que fazem parte dela para estabelecer uma comunicação eficaz. Quando as pessoas não
podem ser representadas, os vocabulários podem ser parciais, como eu disse antes.
4 CONCLUSÃO
11
GAMEFICAÇÃO: A METODOLOGIA QUE VAI REVOLUCIONAR O ENSINO DO
DIREITO
GAMIFICATION: THE METHODOLOGY THAT WILL REVOLUTIONIZE THE
TEACHING OF LAW
Resumo
Esse estudo busca trazer a luz da ciência a gameficação, como alternativa para as
metodologias tradicionais para o ensino jurídico. Embasando em livros, artigos e filmes,
apresenta-se a conceituação da metodologia e a análise sobre se a implementação de
elementos de jogos no ensino superior é beneficial para o individuo e para sua carreira
profissional, ou se esse método é prejudicial. Além de averiguar as regulamentações legais
atuais sobre as novas metodologias que vem transformando o espaço de sala de aula. A
pesquisa conta com o posicionamento de Karl M Kapp e diversos outros pesquisadores do
assunto.
Abstract/Resumen/Résumé
This study seeks to bring the light of science to gamification, as an alternative to traditional
methodologies for Legal Education. Based on books, articles, and documentaries, it presents
the concept of the methodology and the analysis of whether the implementation of game
elements in college education is beneficial for the individual and for his professional career,
or if this method is harmful. In addition to investigating the current legal regulations on the
new methodologies that have been transforming the classroom environment. This research
was done based on the position of Karl M Kapp and several other researchers on the subject.
12
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A presente pesquisa apresenta seu nascedouro na busca pela análise sobre o que
diz a literatura cientifica sobre o uso da metodologia da gameficação para o ensino
jurídico. Atualmente, as universidades e faculdades tem ficado para atrás em relação a
crescente tecnológica do mundo, sendo um grande prejudicial para seus alunos. A
pesquisa procura responder questões, como os benefícios da gameficação, e definir
parâmetros para possível aplicação das metodologias inovadoras para todos.
Além dos problemas de desigualdade, um dos grandes responsáveis para evasão
escolar e pela a desistência do ensino superior são as metodologias de ensino atrasadas, que não
incentivam e intrigam o aluno a persuadir o conhecimento. Por isso, ao longo dos últimos ano,
várias pesquisas e métodos foram desenvolvidos para aumentar a participação dos alunos no
próprio ensino e, também, para desenvolver outras habilidades no estudante que o vão preparar
para a vida adulta e para o futuro emprego. Uma das mais intrigantes metodologias criadas é a
gamificação da educação, que busca provocar o aluno a buscar pelo conhecimento e desenvolver
habilidades cognitivas que não são estimuladas pela metodologia tradicional.
Nesse sentido, o Direito, por ser uma ciência muito antiga, na maioria das
faculdades e universidades, é ensinado de uma forma tradicional, ou seja, conteudista e
teórica. Contudo, devido a globalização e o crescimento da tecnologia, os profissionais
do Direito se tornaram obsoleto em algumas das suas áreas de atuação, sendo essa uma
tendência crescente. Agora, burocracias de contratos e até defesas em tribunais podem
ser feitas por robôs e computadores e por isso é preciso que o direito, assim como seu
ensino, se reinvente.
A pesquisa que se propõe pertence à vertente metodológica jurídico-sociológica.
No tocante ao tipo de investigação, foi escolhido, na classificação de Witker (1985) e
Gustin (2010), o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa será
predominantemente dialético. Dessa maneira, a pesquisa se propõe a analisar a
viabilidade da aplicação dessa metodologia perante a questão orçamentaria e judiciaria,
além de estudar os benefícios e desvantagens da gameficação.
2. A FALÊNCIA DO MODELO ATUAL DE ENSINO E COMO A
GAMEFICAÇÃO PODE AJUDAR
No Brasil, o ensino fundamental, médio e superior sofre com metodologias
ultrapassadas, conteudistas e maçantes das salas de aula. Uma notícia do G1, publicada
em 19/06/2019, traz dados do IBGE que afirmam que que 52,6% dos brasileiros até 25 anos
não concluíram o ensino básico, sendo o abandona da educação um dos grandes problemas da
13
educação no Brasil, o percentual da população que terminou o ensino superior é ainda menor
(OLIVEIRA, 2019) . É evidente que grande parte desse problema tem como responsável a
desigualdade social que obriga jovens a ingressarem no mercado de trabalho mais rapidamente
para aumentar a renda familiar. Entre as duas jornadas, estudo e trabalho, os jovens optam por
deixar de lado a faculdade e se dedicarem exclusivamente ao trabalho. Diante dessa realidade, o
problema se intensifica pelo fato de que os currículos das universidades e escolas são muito
engessados e pouco integrados. A coordenadora do Todos pela educação, organização não
governamental, Thaiane Pereira afirma que a Base Nacional Curricular Comum (BNCC) aponta
que uma das formas mais positivas de superar a questão da evasão escolar é deixando o ensino
mais interessante, dando ao jovem mais protagonismo no seu estudo e trazendo mais
flexibilidade para os cursos, esse posicionamento valendo, também, para o ensino superior
(PERREIRA,2019).
Dessa forma, as novas metodologias aparecem como possíveis caminhos para
estimular tal protagonismo. De acordo com o portal do FNDE, metodologias inovadoras
na educação, por definição, são aquelas compostas por novos produtos e sistemas
construtivos, ou seja, métodos inovadores são aqueles capazes de construir e modificar o
ensino com ideias novas, trazendo diversos benefícios para a educação no geral (FNDE,
2018). Uma dessas técnicas é a “gameficação”. Apesar de ser um termo recente,
aparecendo em artigos pela primeira vez em 2010, o conceito que ele abarca já é bem
antigo. Esse método de ensino busca aplicar elementos de jogos no ensino, com o objetivo
de tornar o conhecimento mais dinâmico e atrativo para os estudantes de todas as idades.
De acordo com o livro “Gameficaçao na educação”, essa metodologia é a construção, de
sistemas, módulos ou modos de produção, tendo em foco as pessoas, usando premissa de
a lógica dos games, por meio do estabelecimento de metas e premiações, esse modelo
leva em consideração a motivação do aluno, o trabalho em equipe e a noção de liderança.
Além disso, a gameficação incentiva o pensamento lógico e melhora a habilidade de
resolução de problemas e a tomada de decisão dos estudantes (FADEL, 2014). No meio
jurídico, essa metodologia é de grande ajuda, uma vez que busca integrar a teoria com a
prática. Dessa forma, os estudantes de direito seriam capazes de desenvolver capacidades
cognitivas que os permitiriam, por exemplo, interpretar leis e aplicá-las de forma mais
natural e eficaz, podendo facilitar o trabalho de um advogado.
No ensino jurídico os métodos tradicionais e conteudistas estão sendo usados faz
séculos, o que vem desmotivando os alunos a seguir com o curso. Além disso, há um
fosso abissal entre as metodologias usadas no ensino jurídico e o exercício concreto das
14
propostas (FACHIN, 2014). É necessário que os futuros graduandos de direito tenham
conhecimentos teóricos e habilidades práticas para estarem preparados para suas carreiras
profissionais. No artigo publicado na Revista de pesquisa e educação jurídica em 2018,
os autores Paulo Santos e Luiza Benedito, trazem a toda a ideia de que os futuro
profissionais do direito precisam de elevado padrão e desenvolvimento no conhecimento
técnico mas, é uma demanda, também, que esses conhecimentos sejam aplicados de forma
transdisciplinar e humana (BENEDITO; SANTOS, 2018) . Uma vez que com a crescente
tecnológica os trabalhos que antes eram de advogados e juízes estão sendo delegado a
robôs que são capazes de fazer o pedido, como retratado na notícia publicada no dia 18
de novembro de 2018 no site da Folha (OLIVEIRA,2018). Sendo assim, as metodologias
inovadoras são a mudança necessária para adequar o ensino ao momento histórico atual.
Por meio da gameficação, será possível integrar os conteúdos teóricos, como a
constituição e leis, à prática, por meio de simulações, jogos online ou até gincanas que
estimulem a busca do conhecimento pelo aluno.
Muito embora a gamificação no ensino jurídico ainda seja uma promessa a se
cumprir, já existem algumas instituições que já investem e incentivam o uso de tais
metodologias nas suas aulas. Um exemplo é o “Juri game”, plataforma digital em que
reúne alunos e permite que eles participem em uma serie de casos fictícios. Os estudantes
podem se dividir em acusação e defesa e simular um júri online, no qual eles poderão
aprender sobre o conteúdo jurídico da causa, compartilhar informações relativas à
disciplina, interagir e se sentirem desafiados a vencê-la. Essa plataforma é uma das muitas
que podem estimular o interesse do aluno no estudo e ainda agregar a educação a prática.
É importante ressaltar que essa metodologia, além de poder ser aplicada por meios
tecnológicos, como jogos online e dinâmicas promovidas pela internet pode, também, ser
feita sem o auxílio da internet, como por exemplo em um jogo de tabuleiro ou gincanas
na sala de aula que estimulem o estudo ativo.
3. A LEGISLAÇÃO SOBRE AS NOVAS METODOLOGIAS E O QUE É
NECESSÁRIO PARA COLOCA-LAS EM PRÁTICA
Atualmente, no Brasil, não existem legislações que regulem o uso de
metodologias inovadoras nas instituições de ensino. Contudo, de acordo com a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 é obrigatório que cada
instituição de ensino tenha o seu Projeto Político Pedagógico. Esse documento tem a
função de criar um guia para a comunidade das instituições – alunos, pais, gestores,
professores, funcionários – estipulando os objetivos e modo de funcionamento. Nesse
15
projeto devem constar diretrizes sobre a formação dos professores, diretrizes para a gestão
administrativa e a proposta curricular (BRASIL,1996).
Dentro desse último tópico é especificado o método de aprendizagem, ou seja,
metodologias inovadoras. Para preencher essas partes do projeto é necessário que seja
especificada qual metodologia será usada, as técnicas de avaliação, benefícios e práticas
que ocorrerão durante o curso. Sob uma visão do ensino jurídico, a gameficação seria
uma boa metodologia para ser especificada no Projeto Político Pedagógico das universais
de Direito . Isso se deve, pois, a flexibilidade curricular é um dos grandes facilitadores
para que as metodologias ativas possam ser implantadas.
Outro ponto a ser pensado e que deve ser explicitado no projeto é a formação dos
professores em relação a gameficaçao, já que eles precisam ser capazes de aplicar essa
técnica em sala de aula. Como discutido na pesquisa, há necessidade de mudanças no
processo de ensino e aprendizagem no ensino superior. No entanto, os professores
reproduzem, geralmente, as mesmas estratégias de ensino às quais foram submetidos,
reforçando o ensino tradicional. Sendo assim, com o objetivo de estudar as práticas em
sala de aula, relacionando-as com a aprendizagem do estudante e as estratégias de ensino
dos professores, foi constituído um campo de estudo denominado Scholarship of
Teaching and Learning (SoTL) (BOYER, 1990). Esse projeto busca estudar como o
ensino dos professores pode ajudar o profissional a introduzir as metodologias inovadoras
na sua forma de ensinar. Além disso, deseja que a formação de um professor não seja
apenas da formação de um pesquisador já que, um lecionador deve ser capaz de ensinar
e estimular quatro capacidades nos alunos: o descobrimento do conhecimento , a
integração do novo, a aplicação do conhecimento e a habilidade de ensinar o estudado,
como dito por Ernest Boyer em um dos seu seminários sobre o método. Dessa forma, é
evidente que para que a gameficaçao do ensino jurídico deixe de ser uma proposta no
papel é necessário que se repense, também, as pós-graduações que devem adotar um
método que vise introduzir as metodologias inovadoras, como o SoTL.
Sendo assim, não existem legislações que regulem especificamente o uso de
metodologias inovadoras na educação superior, em especial no ensino jurídico. Porém,
existem leis em que devem ser seguidas e exigem que as instituições de ensino
especifiquem seu modo de operação, a fim de analisar e verificar que eles estão de acordo
com o previsto na Lei N°9.394, de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996).
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do exposto, conclui-se que, as metodologias inovadoras, em especial a
16
gameficaçao da educação, são essenciais para suprir um distanciamento entre o ensino
jurídico e a prática do Direito. Tal incongruência se deve a crescente globalização, que
modificou diversos aspectos do trabalho e da vida dos indivíduos, que por sua vez,
continuam tendo aulas tradicionais e conteudistas que são se adaptam ao novo mundo
tecnológico.
A gameficação, é uma metodologia pensada para desenvolver habilidades cognitivas
nos alunos. Essa metodologia, que utiliza elementos de jogos para estimular diversas
capacidades nos estudantes, possibilita que os alunos, por meio de um ensino mais ativo
relacionar, consigam relacionar com mais facilidade a matéria e as situações do dia a dia,
se tornando profissionais melhores e mais prestativos. Esse método é capaz também de
formar indivíduos mais preparados para as dificuldades que eles encontrarão nessa nova
era tecnológica,
Esse tipo de metodologia pode ser facilmente aplicado nas universidades e
faculdades, visto que não existem regulamentações sobre o assunto. Contudo, são
necessárias algumas mudanças, até na formação dos professores de universidade, que
precisam ser menos tradicionais e mais voltadas para a gameficação. Tudo isso deve ser
incluso, obrigatoriamente, no Projeto Político Pedagógico, e aí sim poderá funcionar
facilmente nas universidades e faculdades de Direito.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
17
pesquisa jurídica: teoria e prática. 3ª. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.
METODOLOGIAS INOVADORAS (MI). Fundo nacional de desenvolvimento a
educação. Disponível em:
https://www.fnde.gov.br/index.php/programas/proinfancia/eixos-de-atuacao/mobiliario-
e-equipamentos-2. Acesso em: 01/05/2020
OLIVEIRA, Elida. Mais da metade dos brasileiros de 25 anos ou mais ainda não
concluiu a educação básica, aponta IBGE. G1, 19/06/2019. Disponível em:
https://g1.globo.com/educacao/noticia/2019/06/19/mais-da-metade-dos-brasileiros-de-
25-anos-ou-mais-ainda-nao-concluiu-a-educacao-basica-aponta-ibge.ghtml. Acesso em:
01/05/2020.
OLIVEIRA, Felipe. Robôs advogados analisam processos, fazem petições e
aceleram contratos. G1, 10 de novembro de 2018. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/11/robos-advogados-analisam-processos-
fazem-peticoes-e-aceleram-contratos.shtml. Acesso em: 01/06/2020
WITKER, Jorge. Como elaborar una tesis en derechoPautas metodológicas y
técnicas para el estudiante o investigador del derecho. Madrid: Civitas, 1985.
18
IMPRESSÃO 3D: UMA ANÁLISE JURÍDICA
3D PRINTING: A JURIDICAL ANALYSIS
Resumo
O presente trabalho, pertencente a vertente metodológica jurídico-sociológica, tem como
tema principal o impacto das impressoras 3D no mundo jurídico, no que diz respeito à
criminalidade, seja em um aspecto positivo ou negativo para o Direito, ou seja, diz respeito
explicitamente ao Direito Penal. O principal objetivo desta pesquisa é constatar de que
maneira as impressoras 3D seriam capazes de contribuir com a aplicabilidade da lei, e
examinar como essa tecnologia auxilia o mundo do crime, requerendo uma atualização no
Direito, para que se englobe esse novo aspecto do crime na sociedade.
Abstract/Resumen/Résumé
The presente work, belonging to the juridical-sociological methodological aspect, has as it’s
main theme the impacto f 3D printers in the legal word, with regard to crime, whether in
positive or negative aspect for the Law, that is, it explicitly concerns the criminal law. The
main objective of this research is to find out how 3D printers would be able to contrinute to
the applicability of the Law, and to examine how technology helps the world of crime,
requiring na update in the law, to include this new aspect of crime in the society.
1 Graduanda em Direito, modalidade integral, pela Escola Superior Dom Helder Câmara.
19
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
20
semelhantes à face humana. É uma espécie de retrato falado, mas basta apenas um vestígio com
o material genético do indivíduo para ajudar a procura do criminoso, sem expor a vítima ao
constrangimento de se recordar do rosto da pessoa que a lesou (HAGBORG, 2013).
Ademais, essa reconstrução facial 3D pode auxiliar o trabalho policial de outra maneira.
Através do DNA de alguma vítima, extraído, por exemplo, de fragmentos de ossos encontrados,
seria possível fazer uma reconstrução facial que ajude a reconhecer pessoas dadas como
desaparecidas. Segundo Moraes e Miamoto (2015, p.317-318): “Para o auxílio à identificação
humana através da estimativa da aparência antemortem do indivíduo [...] e o reconhecimento
desencadeado pelo reavivamento da memória de pessoas que possam conhecer a suposta
vítima”.
É válido ressaltar que, no final do ano de 2019, o Instituto Técnico-Científico de Perícia
do Rio Grande do Norte (Itep-RN) decidiu começar a utilizar a tecnologia 3D para reconstruir a
face de cadáveres não identificados. Com isso, será possibilitada a reconstrução a partir de
crânios encontrados em cenas de crimes, até mesmo quando o cadáver for encontrado em
decomposição (O INSTITUTO..., 2019).
Além dessa questão, é importante salientar quando o Departamento de Polícia de
Michigan procurou o professor Anil Jain, da Universidade Estadual de Michigan, para solicitar
sua ajuda na investigação de um crime. Foi pedido ao professor para que ele recriasse, na
impressora 3D, o dedo de um homem assassinado. A polícia já havia as digitais da vítima, e
acreditava que seu celular continha informações importantes para a investigação. Dessa forma,
com o material impresso, eles teriam acesso a seu dispositivo eletrônico. Para tanto, os cientistas
cobriram as próteses com uma fina camada de partículas metálicas que podem carregar energia e
“enganar” a tela, imitando um dedo de alguém vivo (EVELETH, 2016).
O professor Anil Jain também estudou, junto a sua equipe de biometria, a construção de
mãos através das impressoras 3D, para auxiliar, e melhorar, a segurança de scanners de
impressões digitais comumente usados em todo o mundo. Segundo Jain, em um artigo da “MSU
Today”:
Agora, outra aplicação dessa tecnologia será avaliar a resistência à falsificação
de scanners de impressões digitais comerciais. Destacamos uma brecha na
segurança e as limitações da tecnologia existente de digitalização de impressões
digitais, agora cabe aos fabricantes do scanner projetar um scanner resistente à
falsificação. O ônus deles é saber se o dedo que está sendo colocado no scanner
é uma pele humana real ou um material impresso (JAIN, 2016, tradução
nossa)1.
1
No original: Now, another application of this technology will be to evaluate the spoof-resistance of commercial
fingerprint scanners. We have highlighted a security loophole and the limitations of existing fingerprint scanning
technology, now it’s up to the scanner manufacturers to design a scanner that is spoof-resistant. The burden is on
them to tell whether the finger being placed on the scanner is real human skin or a printed material.
21
A partir da afirmação do professor, pode-se concluir que as impressoras 3D são capazes
de contribuir com o desenvolvimento de scanners mais seguros, questão essencial quando se
trata de cofres (principalmente públicos), departamentos de polícia, entre outros. Com modelos
em 3D, a tecnologia desses equipamentos de segurança poderá ser aperfeiçoada, de modo que se
tornem inacessíveis à falsidade ideológica.
Com base no supracitado, nota-se que essas impressoras são capazes de fornecer
benefícios à aplicação do Direito em diferentes âmbitos, na identificação de criminosos, na
reprodução de casos criminais, no reconhecimento de pessoas desaparecidas, e até mesmo no
aprimoramento da segurança.
Hod Lipson, doutor pela Technion - Israel Institute of Technology e pós-doutor pela
Brandeis University e pelo MIT, junto a Melba Kurman, formada na Universidade de Cornell, na
I-School da Universidade de Illinois e na U.S. Peace Corps, produziram o livro “Fabricated: The
New World of 3D Printing”. Segundo os autores:
2
No original: Like the magic wand of childhood fairy tales, 3D printing offers us the promise of control over the
physical world. 3D printing gives regular people powerful new tools of design and production. [...] In a 3D printed
future world, people will make what they need, when and where they need it. Yet, technologies are only as good as
the people using them. People might fabricate weapons and unregulated or even toxic new drugs.
22
isso gera o risco de que, caso essas bases de dados sejam hackeadas, fossem criadas réplicas de
dedos ou mãos em larga escala. Com isso, os sistemas de segurança que operam com a
impressão digital ficam sujeitos a esse crime.
Uma realidade extremamente preocupante é a fabricação de armas de fogo em casa,
mais conhecidas como “armas fantasma”, que variam desde pistolas Glock 17 até AR-15. Essas
armas são um problema enorme para os aplicadores do Direito, tendo em vista o total anonimato
da existência delas. Elas não têm número de série, ou seja, não tem registro. Como seria possível
rastreá-las? Como a maioria de suas partes é feita de plástico, elas podem facilmente passar
despercebidas por equipamentos de detecção, como os de aeroportos. Além disso, indivíduos
proibidos pela lei de possuírem armas de fogo, poderiam produzi-las em casa sem que o
Governo e a polícia façam a menor ideia (GOMES, 2019).
Um exemplo real de tal acontecimento foi quando jornalistas do Channel 10 TV
testaram a segurança do Governo de Israel ao conseguirem ter feito uma arma 3D passar
despercebida pelo detector do Parlamento Israelense. Arma esta produzida com base em projetos
da Defense Distributed, organização sem fins lucrativos dos EUA, que fornece esquemas digitais
de armas de fogo que podem ser baixadas pela internet e utilizadas em aplicativos de impressão
3D (CAPTAIN, 2013).
Esse tipo de arma já foi banido da Austrália e do Reino Unido, e no Brasil a lei também
proíbe a produção de armas sem licença adequada. Contudo, sem uma legislação mais específica
a cerca deste tema, não haverá controle sobre a produção. Para se ter uma maior noção do
problema, ressalta-se que o primeiro modelo de arma criado em computador e impresso em três
dimensões teve seu projeto, em dois dias, baixado mais de 100 mil vezes (CORDEIRO, 2015).
Em outro contexto, destaca-se um crime denominado skimmer, que consiste em
produzir uma abertura de caixa automático semelhante a original, para os criminosos consigam
uma cópia dos dados bancários dos indivíduos durante as transações. Para tanto, eles,
denominados skimmers, conectam uma pequena câmera à placa de identificação do caixa
eletrônico. O alarmante sobre o uso das impressoras 3D na execução deste crime é o fato de que,
apenas com fotos do caixa eletrônico, elas conseguem imprimir cópias quase idênticas,
dificultando a identificação dessas fraudes pela polícia (FINANCIALLY..., 2014).
Outro fator agravante do uso das impressoras 3D é o roubo de propriedade intelectual.
Isso se deve pelo fato de ser possível a produção de réplicas de bolsas, relógios, obras, entre
outros, tão visualmente perfeitas quanto as originais. Basta apenas uma foto para que os
criminosos já consigam imprimir seu conteúdo nessas impressoras. Além disso, as invasões de
domicílio e de outros locais pode se tornar realidade, pois é possível a criação de chaves nessa
inteligência, até mesmo, como foi dito, a partir de uma foto das chaves originais (SOUZA,
23
2016).
Com base no exposto, é evidente a necessidade de estudos sobre o tema, para que haja
uma legislação extensa e completamente dedicada ao combate a esses novos tipos de delitos, em
que a tendência é aumentar cada vez mais. O Direito deverá determinar o que poderá e o que não
poderá ser feito por criadores e usuários de impressoras, de modo a conciliar o melhor
aproveitamento desta tecnologia com o combate aos crimes expostos e que ainda não são
conhecidos pela sociedade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no apresentado, conclui-se que as impressoras 3D, de fato, são uma
alternativa interessante aos aplicadores de Direito, sendo conveniente seu uso em todas as
esferas desta área, não só às grandes agências de investigação. Percebe-se que, se os
benefícios dessa tecnologia fossem mais discutidos, ela seria extremamente eficiente na
identificação de criminosos procurados, na solução de crimes, na identificação de
desaparecidos e até mesmo no desenvolvimento de dispositivos de segurança mais eficazes.
Outrossim, observa-se sua utilização pelo mundo do crime, sobre perspectivas ainda
inimagináveis. A produção de armas de fogo, uso indevido da impressão digital alheia, roubo
de propriedade intelectual, skimming, entre outros, são transgressões a partir das impressoras
3D já existentes e de gravidade ainda pouco discutida. Além disso, há a possibilidade de
crimes ainda nem conhecidos pela sociedade.
Portanto, essa tecnologia deve ser utilizada pelo Direito tanto em sua aplicação,
quanto em seu conteúdo normativo. O Direito deve acompanhar as inovações tecnológicas do
século XXI e abandonar técnicas muitas vezes rudimentares. Ademais, é necessário que os
legisladores se atentem acerca desta novidade, para que o combate ao crime oriundo das
impressoras 3D seja efetivo.
5. REFERÊNCIAS
CAPTAIN, S. Journalists smuggle 3-D printed gun into Israeli parliament. NBC News, 8 jul.
2013. Disponível em: https://www.nbcnews.com/technology/journalists-smuggle-3-d-printed-
gun-israeli-parliament-6C10570532. Acesso em: 15 maio. 2020.
CORDEIRO, T. A violência vai mudar: como os crimes irão partir do ambiente virtual para o
real. Revista Galileu, 24 jun. 2015. Disponível em:
https://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2015/06/violencia-vai-mudar-como-os-crimes-
irao-partir-do-ambiente-virtual-para-o-real.html. Acesso em: 14 maio. 2020.
CREATING 3-D hands to keep us safe and increase security. MSU Today, 18 out. 2016. Seção
24
Science & Technology. Disponível em: https://msutoday.msu.edu/news/2016/creating-3-d-
hands-to-keep-us-safe-and-increase-security/. Acesso em: 18 maio. 2020.
EVELETH, R. Police asked this 3D printing lab to recreate a dead man's fingers to unlock his
phone. Splinter News, 21 jul. 2016. Seção Real Future. Disponível em:
https://splinternews.com/police-asked-this-3d-printing-lab-to-recreate-a-dead-ma-1793860413.
Acesso em: 17 maio. 2020.
GOMES, L. S. Impressora 3D e drones: Por que armas feitas em casa preocupam os EUA.
Portal UOL, São Paulo, 17 jan. 2019. Disponível em:
https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2019/01/17/impressora-3d-e-drones-por-que-armas-
feitas-em-casa-preocupam-os-eua.htm. Acesso em: 14 maio. 2020.
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa
jurídica: teoria e prática. 3ª. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.
ITEP vai usar tecnologia 3D para reconstrução facial de cadáveres não identificados no RN. G1,
19 ago. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-
norte/noticia/2019/08/19/itep-vai-usar-tecnologia-3d-para-reconstrucao-facial-de-cadaveres-nao-
identificados-no-rn.ghtml. Acesso em: 07 jun. 2020.
LIPSON, Hod; KURMAN, Melba. Fabricated: The New World Of 3D Printing. 1ª. ed. 2012.
WITKER, Jorge. Como elaborar una tesis en derecho: pautas metodológicas y técnicas para el
estudiante o investigador del derecho. Madrid: Civitas, 1985.
25
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL E ADVOCACIA: ALGUMAS APLICAÇÕES
PRÁTICAS
ARTIFICIAL INTELLIGENCE AND ADVOCACY: SOME PRACTICAL
APPLICATIONS
Resumo
A inteligência artificial (IA) está rapidamente ganhando força no setor jurídico. Na
advocacia, novos softwares têm possibilitado a automatização no gerenciamento de processos
jurídicos, aperfeiçoando a qualidade dos serviços legais e tornando-os mais ágeis. Esse
estudo irá demonstrar alguns dos principais softwares de IA disponíveis na advocacia, bem
como as possíveis consequências da massificação dessas ferramentas nos próximos anos.
Abstract/Resumen/Résumé
Artificial intelligence (AI) is rapidly gaining traction in the legal sector. In advocacy, new
software has enabled automation in the management of legal processes, improving the quality
of legal services and making them more agile. This study will demonstrate some of the main
AI software available in law, as well as the possible consequences of the widespread use of
these tools in the coming years.
1 Advogado. Possui graduação em Direito pela UFMG e pós-graduação em Direito Civil pela PUC-MG.
26
1. INTRODUÇÃO
A automação informática já é uma realidade no mundo e o universo jurídico vem se
beneficiando há anos desses avanços tecnológicos. No Brasil, o processo eletrônico foi
difundido massivamente e se aprimora cada vez mais, ao passo que a consulta jurisprudencial
está largamente disponível nos meios digitais. Para além da automação, as inovações recentes
da computação vêm permitindo o desenvolvimento de ferramentas que utilizam uma tecnologia
instigante e desafiadora: a inteligência artificial (IA). A IA está dando origem a softwares de
arquitetura sofisticada, dotados de algoritmos capazes de desenvolver raciocínios e tomar
decisões que emulam o pensamento humano.
Mais do que automatizar tarefas repetitivas, os sistemas baseados em IA possuem
aptidão para analisar documentos e executar ações com altos índices de acerto, substituindo
trabalhadores humanos em diversas tarefas. No âmbito do Direito, essas novas plataformas têm
se mostrado capazes de aprimorar pesquisas jurisprudenciais, revisar contratos e elaborar peças
jurídicas simples. Tudo isso de forma autônoma, com pouca ou nenhuma interferência humana.
Este estudo tem o objetivo de examinar o funcionamento alguns dos principais
softwares de inteligência artificial existentes atualmente, bem como as contribuições que essas
ferramentas podem proporcionar à advocacia.
27
machine learning, o computador é desenvolvido para “se autoprogramar” com base em sua
própria experiência. Ele reúne dados, interpreta essas informações e toma decisões
diferenciadas, trabalhando com padrões cognitivos similares aos usados por humanos (ARENS,
2017). Além das adaptações realizadas pelo próprio sistema com base em sua experiência
prévia, o machine learning pode se dar através da intervenção humana. Neste sentido, os
desenvolvedores podem reeditar o código do software, fazendo ajustes e correções até que o
computador passe a executar a tarefa com grau aceitável de acuidade.
A partir de 2010, os consequentes avanços científicos possibilitaram a introdução da
inteligência artificial em softwares jurídicos como o ROSS e o LawGeex, sistemas que, como
veremos adiante, são capazes de analisar contratos e emitir pareceres jurídicos com enorme
velocidade e precisão. Luiz Fux (2019, p. 3) relata que a IBM definiu seis categorias de
potenciais aplicações da inteligência artificial ao Direito, a saber: previsão de resultados de
conflitos judiciais, elaboração de peças jurídicas; revisão de contratos; identificação de padrões
em decisões judiciais; rastreamento de propriedade intelectual e mecanização do faturamento
de honorários.
O uso da IA na advocacia tem atraído muita atenção nos últimos anos. Atualmente, a
Associação Brasileira de Lawtechs e Legaltechs (AB2L) registra mais de cinquenta startups no
mercado legal no país. Há dois anos atrás existiam apenas vinte empresas do gênero. A AB2L
divide as Lawtechs brasileiras em onze categorias, a saber: i) analytics e jurimetria; ii)
automação e gestão de documentos; iii) compliance; iv) conteúdo jurídico, educação e
consultoria, v) extração e monitoramento de dados públicos; vi) gestão jurídica; vii) inteligência
artificial; viii) redes de profissionais; ix) regtechs; x) resolução de conflitos online e xi) taxtech.
Dentre essa extensa gama de aplicações, nos interessa, em especial, o uso da
inteligência artificial no cotidiano da advocacia. Nos tópicos a seguir, demonstraremos
exemplos de softwares que utilizam alta tecnologia para solucionar problemas jurídicos.
Embora também executem tarefas tradicionais de automação, todos estes sistemas possuem um
diferencial importante: eles são equipados com algoritmos de inteligência artificial, que
permitem o processamento de informações, a interação fluida com o usuário e o
aperfeiçoamento constante do software através do aprendizado de máquina.
28
artificial da IBM1, e tem por objetivo oferecer pesquisas detalhadas e confiáveis aos advogados
na busca de argumentos para suas ações, através da comparação de jurisprudência, doutrina e
normas legais. O ROSS pode processar, em apenas um segundo, quinhentos gigabytes de dados,
o equivalente a um milhão de livros. Isso permite que ele arquive toda a legislação do país,
jurisprudências, precedentes, citações e qualquer outra fonte de informação jurídica. Além
disso, pode atualizar seu conteúdo vinte e quatro horas por dia, todos os dias, e alertar o
advogado sobre informações recentes que afetem um caso em que está trabalhando.
De acordo com Michal Addady (2016), a plataforma também é capaz de extrair
conclusões ao analisar a literatura jurídica, selecionar informações relevantes para um caso
específico, formular hipóteses, gerar respostas sustentadas por referências e interagir com o
usuário. A interface do sistema é simples e intuitiva: o advogado faz uma pergunta e o robô
soluciona a questão, citando precedentes jurídicos, leis relacionadas e até um percentual de
confiabilidade da resposta fornecida. O sistema também é capaz de pesquisar em outros idiomas
e alertar o advogado para novas mudanças de entendimento e tendências jurisprudenciais.
Em 2016, a Baker & Hostetler, uma das maiores bancas de advocacia dos EUA,
“contratou” o ROSS para a automatização de tarefas jurídicas na área de falências. O software
foi instalado nos computadores dos escritórios da firma, e já está operando como fonte de
pesquisas para cinquenta advogados da divisão de falências. Segundo Luiz Fux (2019, p. 3), o
ROSS possui um subsistema ainda mais automatizado, chamado EVA, que funciona
especificamente para a análise de peças processuais. No EVA, o usuário pode inserir a petição
inicial ou contestação apresentada pelo advogado da outra parte, deixando que a máquina
pesquise a jurisprudência citada, identifique as partes do texto mais relevantes, busque
jurisprudência atualizada sobre essas informações e apresente-as de forma concisa.
1
O Ross utiliza como base o sistema de inteligência artificial Watson, desenvolvido pela IBM. Pode-se dizer,
portanto, que o Ross é uma variante jurídica do Watson (SILLS, 2016)
29
uma contradição jurídica ou um dispositivo contratual que possa prejudicar os interesses do
usuário, o sistema envia um alerta ao advogado para que ele revise a cláusula defeituosa ou
indesejada.
Em um estudo divulgado pela LawGeex (Comparing the Performance of Artificial
Intelligence to Human Lawyers in the Review of Standard Business Contracts), advogados
americanos com décadas de experiência em direito societário e revisão de contratos foram
confrontados com um computador para detectar problemas em cinco contratos NDA (Non-
Disclosure Agreement)2. Os profissionais humanos competiram contra um sistema LawGeex,
que foi desenvolvido por três anos e treinado através de machine learning com base em dezenas
de milhares de contratos.
Após extensos testes, o sistema alcançou uma média de 94% de acertos na
identificação de cláusulas problemáticas, enquanto os advogados atingiram um índice de 85%.
Em média, foram necessários 92 minutos para que os profissionais humanos analisassem todos
os cinco NDA’s propostos. O advogado que consumiu mais tempo gastou 156 minutos na
análise, enquanto o profissional mais rápido fez a revisão em 51 minutos. Por sua vez, o
computador concluiu a tarefa em apenas 26 segundos.
2
Um acordo de não-divulgação (NDA, Non-Disclosure Agreement) é um contrato legal de confidencialidade,
através do qual as partes concordam em não divulgar determinadas informações.
30
acompanhem tendências processuais de tribunais específicos, históricos de advogados e das
partes adversárias, além de estimar prováveis custos e desdobramentos do litígio.
3. CONCLUSÃO
A crescente indústria de tecnologia jurídica está colocando um conjunto cada vez
maior de ferramentas de IA à disposição dos escritórios de advocacia. Atualmente, a maioria
31
desses recursos está direcionada para a revisão de contratos, análise jurisprudencial e pesquisa
de documentos. Neste contexto, o uso de robôs pode transformar a vida jurídica e o cotidiano
dos escritórios, suscitando novas perspectivas para a advocacia, como por exemplo: 1)
eliminação de algumas tarefas do advogado, sobretudo as que envolvem organização de
documentos e pesquisas jurisprudenciais; 2) criação de empregos relacionados à concepção e
gerenciamento de ferramentas automatizadas; 3) aumento da eficiência dos escritórios, com
economia de tempo e recursos financeiros, que poderão ser reinvestidos pelo advogado de
várias formas; 4) redução da morosidade na Justiça, ensejando maior eficácia na prestação
jurisdicional e melhoria no atendimento dos advogados pela estrutura dos órgãos judiciários.
Todavia, os softwares de IA dificilmente substituirão, com plenitude, o trabalho de um
bom advogado na redação de peças jurídicas sofisticadas e no raciocínio estratégico em casos
mais complexos, uma vez que a IA ainda está longe de adquirir capacidade de dimensionamento
ético e ponderação de valores para mensurar as especificidades de cada caso em concreto.
REFERÊNCIAS
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15/06/2019] Disponível: http://fortune.com/2016/05/12/robot-lawyer/
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democratizar o acesso ao judiciário. STJ. Brasília, 2019.
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06/06/2019]. Disponível em https://blogs.thomsonreuters.com/answerson/cognitive-computing-hood/
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MARTINS, Kamila Mendes. Brasil chega a 1 milhão de advogados. [acesso em 15/06/2019] Disponível:
https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/justica-e-direito/brasil-chega-a-1-milhao-de-
advogados-636e8p084e82q2vq2du4excr1/
RUSSEL, Stuart. & NORVIG, Peter. 1995 by Prentice-Hall, Inc. A Simon & Schuster Company
Englewood Cliffs, New Jersey
SIMONS, John. Tomorrow’s Business Leaders Learn How to Work with A.I. The Wall Street Journal.
Nov. 2016.
The Guardian. Chatbot lawyer overturns 160,000 parking tickets in London and New York. Jun 2016.
[acesso em 15/06/2019] Disponível: https://www.theguardian.com/technology/2016/jun/28/chatbot-ai-
lawyer-donotpay-parking-tickets-london-new-york.
32
FERRAZ, Fred. Jurimetria é ferramenta importante nas mãos de um bom advogado. Rev Conjur. Out
2018. [acesso em 14/06/2019] Disponível: https://www.conjur.com.br/2018-out-12/fred-ferraz-
jurimetria-ferramenta-importante-direito
SILLS, Anthony. ROSS and Watson tackle the law. AI for Enterprise. IBM. Jan 2016. [acesso em
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SURDEN, Harry. Artificial Intelligence and Law: An Overview. Georgia State University Law Review,
Vol. 35, 2019 University of Colorado Law Legal Studies Research Paper No. 19-22.
ZIMMERMANN, Gustavo. Empresas Analitcs e Jurimetria. Lexnet. Jun 2018. [acesso em 15/06/2019]
Disponível: http://www.lex-net.com/new/empresas-analitcs-e-jurimetria/
33
INTERNET DAS COISAS E DIREITO DA PERSONALIDADE: LIMITES ÉTICOS E
JURÍDICOS DA INTIMIDADE E DA VIDA PRIVADA
IOT AND PERSONALITY RIGHTS: ETHICAL AND LEGAL LIMITS OF THE
INTIMACY AND PRIVATE LIFE
Resumo
Por meio do método dedutivo, baseado em análise e revisão bibliográficas, o estudo objetiva
apresentar a importância das normas éticas e jurídicas para garantir os direitos da
personalidade dos indivíduos, como a intimidade e vida privada, diante dos avanços da
tecnologia, em especial da internet das coisas (IoT).
Abstract/Resumen/Résumé
Through the deductive method, based on bibliographic analysis and review, the study aims to
present the importance of ethical and legal rules to garantee the individual personality rights,
such as intimacy and private life, in face of advances in tecnology, especially the internet of
things (IoT).
1Pós-Doutor pela Universidade Nove de Julho e USP. Professor do PPGCJ - UNICESUMAR. Professor
visitante na Universidade de Coventry, Inglaterra (Programa de Doutorado em Direito e Negócios).
2Pós-doutoranda e bolsista da CAPES - artigo vinculado do PPGCJ do Centro Universitário de Maringá –
UNICESUMAR, através da linha de pesquisa de instrumentos de efetivação dos direitos da personalidade.
34
1
INTRODUÇÃO
Inovações disruptivas são, geralmente, desenvolvidas para garantir um avanço para seus
destinatários. É natural pensar que se Thomas Edison não tivesse descoberto a lâmpada,
Graham Bell, o telefone, dentre outras tantas inovações, certamente esta sociedade não estaria
no estágio de desenvolvimento tecnológico que vive hoje.
Entretanto, é evidente que muitas destas descobertas, podem e devem ser temidas pela
sociedade atual, em virtude do grau de ofensividade que podem trazer ao ser humano, o que
deve ser objeto de análise e tutela pelo direito.
Há muito se ouve a história de que os inventores da bomba atômica, os físicos Szilard e
Oppenheimer, consubstanciados nos estudos iniciais desenvolvidas por Einstein,
arrependeram-se da grande descoberta que fizeram, considerando os efeitos devastadores que
causaram na humanidade durante a 2ª Grande Guerra.1
Ao adentrar no século XXI, é perceptível que a automação é um caminho sem volta.
Vive-se em uma sociedade formada essencialmente por pessoas jovens pertencentes à chamada
‘geração Y’ ou ‘millennial’, ou seja, os nativos digitais, considerados aqueles nascidos entre os
anos de 1977 a 1997, do século XX. Não se pode, entretanto, afastar a existência dos super
jovens, integrantes da ‘geração Z’ ou ‘centenial’, considerados aqueles nascidos entre os anos
de 1998 a 2010, cuja inovação tecnológica já pode ser considerada parte de seus DNA’s e a ora
denominada ‘geração ALPHA’, que ainda crianças e/ou adolescentes na data de hoje, também
pertencem ao ambiente tecnológico por essência. Por fim, não se pode descartar a sobrevivência
de alguns integrantes da ‘Geração X’, os nascidos entre 1965 e 1976, que foram obrigados a se
adaptar aos ditames das novas tecnologias modernas. (TAPSCOTT, 2010)
Neste contexto de globalização tecnológica, tornou-se imprescincível uma mudança de
paradigmas axiológicos, culturais, sociais e até mesmo educacionais e comunicativos. Dentre
as tecnologias disruptivas que integram a sociedade pós-moderna, ora denominada de quarta
revolução industrial2, está a IoT - internet of things, sigla em inglês que significa ‘internet das
1
Disponível em: https://super.abril.com.br/historia/a-historia-da-bomba-atomica-e-seu-genocidio-instantaneo/
Acesso em 10.06.2020.
2
Denominação dada à atual revolução tecnológica do planeta; a primeira ocorreu aproximadamente entre 1760 e
1840, provocada pela construção das ferrovias e pela invenção da máquina a vapor, dando início à produção
mecânica; a segunda revolução industrial, foi iniciada no final do século XIX, entrou no século XX e, pelo advento
da eletricidade e da linha de montagem, possibilitou a produção em massa; a terceira revolução industrial começou
na década de 1960 e costuma ser chamada de revolução digital ou do computador, pois foi impulsionada pelo
desenvolvimento dos semicondutores, da computação em mainframe (década de 1960), da computação pessoal
(décadas de 1970 e 1980) e da internet (década de 1990); já a quarta revolução industrial teve início na virada do
século e baseia-se na revolução digital, mas é bem mais avançada, eis que caracterizada por uma internet mais
35
2
coisas’, o qual impõe uma interconexão entre pessoas e coisas através da internet, objetivando
uma facilitação da vida humana em sociedade. (SOARES, KAUFFMAN, CHAO, SAAD,
2020)
Diante destas premissas, serão analisados, a partir do método hipotético-dedutivo de
pesquisa, o que, de fato, é a internet das coisas (IoT) e como ela se apresenta perante a sociedade
atual, assim como quais seus efeitos no que tange à possíveis violações de direitos da
personalidade do indivíduo. Por fim, será objeto de análise fatores éticos de seu uso e como as
regras jurídicas devem servir como instrumento de proteção contra possíveis abusos.
1. A INTERNET DAS COISAS COMO UMA INOVAÇÃO DISRUPTIVA À
DISPOSIÇÃO DA SOCIEDADE
ubíqua e móvel, por sensores menores e mais poderosos que se tornaram mais baratos e pela inteligência artificial
e aprendizagem automática (ou aprendizado de máquina). SCHWAB, 2016, p. 19-20
3
A etiqueta na Internet (netiquette) era um elemento importante nas relações entre usuários de redes acadêmicas.
Uma preocupação permanente da comunidade foi a de estabelecer regras de educação e de convivência entre pares,
que começaram nos dias das listas de discussões e persistiram por algum tempo na Internet. Algumas regras básicas
referiam-se à postagem: use assinaturas simples, evite a postagem de mensagens repetidas e as listas de distribuição
indiscriminada, use de modo apropriado os campos de destinatário e de cópia. Outras diziam respeito ao conteúdo:
mantenha-se aderente aos temas da lista de discussões ou do fórum, seja sucinto na mensagem, evite abreviações
e gíria, evite críticas ou agressões pessoais, não procure encerrar um thread com a postagem de mensagens
desqualificadoras. E, muito ofensivo, não use letras maiúsculas, pois equivale a dizer que você está gritando.
(LINS, 2013, p.21)
36
3
sem lei”, até que legislações específicas fossem aprovadas com a finalidade de estabelecer os
limites de uso e as respectivas responsabilizações.
A evolução das relações interpessoais no ambiente virtual é um fato notório. É
perceptível que a evolução tecnológica, com o auxílio da internet, trouxe uma ruptura
significativa com a realidade social experimentada antes de sua ascensão, no qual se encontra
a internet das coisas (IoT).
Em que pese as divergências conceituais, internet das coisas (IoT) pode ser entendido
como um ambiente de objetos físicos interconectados com a internet por meio de sensores
pequenos e embutidos, criando um ecossistema de computação onipresente (ubíqua), voltado
para a facilitação do cotidiano das pessoas, introduzindo soluções funcionais nos processos do
dia a dia. O que todas as definições de IoT têm em comum é que elas se concentram em como
computadores, sensores e objetos interagem uns com os outros e processam informações/dados
em um contexto de hiperconectividade. (MAGRANI, 2018, p. 20)
Na prática, a IoT já engloba bilhões dos chamados dispositivos “inteligentes” que
podem ser identificados de maneira exclusiva e são capazes de coletar, armazenar, processar e
compartilhar uma ampla gama de dados sobre o funcionamento das próprias coisas e sobre
ambiente – e, portanto, também sobre os indivíduos – em torno delas. De fato, o objetivo da
IoT é facilitar a conexão de todos os objetos e dispositivos do dia a dia a redes eletrônicas, que
podem compor a internet, mas também redes fechadas, como intranets privadas, para melhorar
a coleta de dados e melhorar a eficiência por meio do processamento de dados. (BELLI, 2019)
Segundo McKinsey Global Institute, o impacto econômico da internet das coisas será
de US$ 3,9 a 11,1 trilhões por ano, em 2025, significando 11% da economia mundial. Neste
contexto, conclui a pesquisa que os usuários serão o maior potencial econômico, rendendo cerca
de US$ 7,5 trilhões, diante da oferta de maior comodidade, melhores produtos e serviços,
através do uso de IoT, mas deixa claro que essa tecnologia digital deve impactar a estratégia
empresarial, impondo novos modelos de gestão. (MANYIKA; et al., 2015)
Devido a estimativas como essas, a IoT vem recebendo fortes investimentos do setor
privado e surge como possível solução diante dos novos desafios de gestão pública,
prometendo, a partir do uso de tecnologias integradas e do processamento massivo de dados,
soluções mais eficazes para problemas como poluição, congestionamentos, criminalidade,
eficiência produtiva, entre outros. Com o aumento exponencial de utilização desses dispositivos
que já existem ou que entrarão em breve no mercado, devemos estar atentos aos riscos que isso
pode acarretar para a privacidade e a segurança dos usuários. (MAGRANI, 2018, p. 24)
37
4
38
5
A “alienação do eu” é objeto de críticas desde o século XIX, através das ideias de Marx
que afirmava que os humanos haviam se tornado alienados de sua própria essência como
resultado sistêmico do capitalismo. Já no século XX, o sociólogo e psicanalista alemão Erich
Fromm afirmou que o problema havia mudado, pois as pessoas alienadas do senso do eu,
haviam perdido a habilidade de amar e raciocinar por si mesmas e corriam o risco de se tornar
robôs. (FROMM, 2015, p. 188)
A integração entre os mundos físico e digital fomentada pela IoT e a capacidade de
coleta de dados que ela facilita, provavelmente afetará não apenas o desempenho dos serviços
e dispositivos conectados, mas também poderá ter implicações diretas sobre os indivíduos.
Notavelmente, o fato de objetos estarem permanentemente conectados a outros objetos,
aplicações e redes de comunicação, e que tais objetos podem ser controlados remotamente,
impacta diretamente os indivíduos. Esse impacto não se refere apenas à forma como os
indivíduos interagem com os objetos, mas também, e crucialmente, às relações entre pessoas,
entre pessoas e empresas, bem como entre pessoas, empresas e órgãos públicos. (BELLI, 2019)
Assim, compete ao ordenamento jurídico, a partir desta complexidade envolvendo o
direito da personalidade, atuar como instrumento de defesa da pessoa humana, estabelecendo
regras e limites para sua proteção, bem como os meios de responsabilização contra estes abusos.
39
6
sendo violadas sem que as pessoas tenham o devido conhecimento do fato, é que se torna
fundamental o acionamento das ferramentas jurídicas aptas à salvaguarda deste direito.
Sem prejuízo das respectivas tutelas processuais existentes, seja inibitória ou de
remoção do ilícito, previstas na legislação processual civil vigente (lei 13.105/2015), há a
possibilidade de formular pretensão de tutela ressarcitória objetivando indenização pelo dano
causado, independentemente da verificação da ocorrência de crime, mediante violação da lei
penal vigente. É mister registrar, ainda, a existência de regulamentos próprios para a utilização
de ambientes virtuais no sistema jurídico nacional, a saber: a Lei nº 12.968/2014 (Marco Civil
da Internet) e a Lei 13.709/2018 (Lei Geral de Proteção de dados).
É relevante registrar que a Lei nº 12.968/2014 disciplina do uso da internet no Brasil e
tem como fundamento o respeito à liberdade de expressão, garantindo os direitos humanos, o
do desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania em meios digitais, objetivando
o amplo acesso à rede com vistas à promoção do bem da coletividade, incitando a cultura,
educação, cidadania e todos os direitos sociais constitucionais. Já a Lei nº 13.709/2018 dispõe
sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por
pessoa jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos
fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da
pessoa natural, consoante o disposto no art. 1º.
É mister destacar que as legislações trazem à baila a devida responsabilização pelos
danos causados no ambiente virtual, às vítimas, como o disposto no art. 7º, I daquela e arts. 42
a 45 desta, ratificando o disposto na regra constitucional. Não é demasiado registrar que o
causador do dano ainda pode sofrer multas administrativas e/ou sanções penais, previstas no
próprio ordenamento jurídico, ou em Tratados Internacionais, a exemplo da Convenção de
Budapeste sobre o Cibercrime (do ano de 2001), primeiro instrumento internacional assinado
sobre o assunto.
CONCLUSÃO
40
7
da intimidade e vida privada do cidadão que, na grande maioria das vezes, sequer possui ciência
desta invasão.
É fato que a problemática das ameaças no mundo digital parece ser objeto de ficção
científica, ou literatura distópica como a obra 1984, de George Orwell, em que os cidadãos são
controlados sem limites por um governo autoritário, sofrendo maciva invasão da privacidade e
da intimidade por meio de uma tecnologia chamada teletela, na qual constava um letreiro
escrito: “o grande irmão está de olho em você!”.
Por esta razão, é que impõe ao ordenamento jurídico a proteção dos direitos da
personalidade de seus membros, sem prejuízo na adoção de medidas que visem a promoção de
transparência na captação e armazenamento dos dados das pessoas, evitando a dissipação das
mazelas que o ambiente virtual pode desenvolver nas pessoas.
Obstar a propagação da ditadura tecnológica não é perder a crença na humanidade,
apenas despertar nesta valores éticos e morais diante do uso da internet, de modo a evitar que
esta se torne a nova bomba atômica!
REFERÊNCIAS
BELLI, Luca. Uma perspectiva de Direitos Humanos para decriptar a ascensão da internet
das coisas (IOT). Revista de Direitos Fundamentais & Justiça. Belo Horizonte, ano 13, nº 41,
2019.
FROMM, Erich. In O livro da Sociologia. São Paulo: Globo Livros, 2015.
LINS, Bernardo Felipe Estellita. A evolução da internet: uma perspectiva histórica. Revista
Cadernos ASLEGIS, nº 48, 2013.
MAGRANI, Eduardo. A internet das coisas. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2018.
MANYIKA, James; et al. The internet of things: mapping the value beyond the hype.
Technical report, Mckinsey Gobal Institute, 2015.
ORWEL, George. 1984. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.
RODOTÀ, Stefano. A vida na sociedade de vigilância: a privacidade hoje. Rio de Janeiro:
Renovar, 2008.
SCHAW, Klaus. A quarta revolução industrial. São Paulo: Edipro, 2016.
SOARES, Marcelo Negri; Kauffman, Marcos Eduardo; CHAO, Kuo Ming; SAAD, Maktoba
Omar. New Technologies and the Impact on Personality Rights in Brazil. Pensar-Revista
de Ciências Jurídicas, v. 25.1, 2020.
SOARES, Marcelo Negri; KAUFFMAN, Marcos Eduardo; SALES, Gabriel Mendes de
Catunda. Avanços da comunidade europeia no direito de propriedade intelectual e
indústria 4.0: extraterritorialidade e aplicabilidade do direito comparado no Brasil.
Revista do Direito, 2019, 1.57: 117-137.
TAPSCOTT, Don. A hora da Geração Digital. Rio de Janeiro: Agir Negócios, 2010.
41
INTERNET DAS COISAS E OS REFLEXOS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
ALIADA AO BIG DATA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO
INTERNET OF THINGS AND THE REFLECTIONS OF ARTIFICIAL
INTELLIGENCE ALLIED TO BIG DATA IN CONSUMER RELATIONS
Resumo
A Inteligência artificial (IA) aliada ao Big Data e a Internet das Coisas têm alterado
profundamente todas as estruturas econômicas e sociais, em especial, as relações de
consumo. A implementação dessas tecnologias, de forma conjunta e coordenada, permite que
grandes volumes de dados sejam analisados, verificados e transformados em informações
organizadas para as empresas, o que afeta em diversos aspectos as relações de consumo,
especialmente no tocante às preferencias do consumidor e a proteção dos seus dados
pessoais. Portanto, se faz necessário a analise desse conjunto tecnológico frente às relações
de consumo.
Abstract/Resumen/Résumé
Artificial Intelligence (AI) combined with Big Data and the Internet of Things have
profoundly altered all economic and social structures, especially consumer relations. The
implementation of these technologies, in a joint and coordinated manner, allows large
volumes of data to be analyzed, verified and transformed into organized information for
companies, which affects consumer relations in several aspects, especially with regard to
consumer preferences and the protection of your personal data. Therefore, it is necessary to
analyze this technological set in view of consumer relations.
42
INTERNET DAS COISAS E OS REFLEXOS DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
ALIADA AO BIG DATA NAS RELAÇÕES DE CONSUMO
1. INTRODUÇÃO
A Inteligência artificial (IA) é um ramo da ciência que tem como objetivo a criação
de dispositivos que simulem a capacidade humana de racionar. Um exemplo de sua aplicação
no dia a dia está nas redes sociais, algumas ferramentas, conhecidas como pixel ou até mesmo
algoritmos, avaliam os padrões de busca, e assim, selecionam os conteúdos que aparecem linha
do tempo do consumidor.
Já a Big data, em expressão literal, grandes dados, diz respeito a quantidade de dados
que a internet possui por segundo, constitui instrumento da Inteligência Artificial, a qual se
utiliza dos dados e informações existentes na nuvem para que máquina aprenda
comportamentos e realize atividades.
É possível citar como exemplo empresas que atuam no esportivo e de vestimentas,
como Nike ou Adidas que se utilizamdo big data para monitorar os hábitos e comportamentos
esportivos do seu público por meio dos aplicativos e dispositivos vestíveis, conhecidos como
wearables, que são capazes de gerar informações relacionadas com a distância percorrida,
velocidades, locais preferidos para treino etc.
Nesse sentido, a Internet das coisas, conhecido como IoT, do inglês, Internet of Things,
tem relação com os objetos cotidianos que estão conectados a internet, compartilhando
informações e banco de dados.
Dentre os exemplos, esta a maçaneta das portas com acesso biométrico e que passa a
entrar para o rol de produtos tecnológicos. A tendência é que cada vez mais objetos que antes
eram usados apenas para uma utilidade, estejam conectados e sejam capazes de se comunicar
com usuários através da internet.
Portanto, este conjunto: Inteligência Artificial, Big data, e Internet das coisas,
ocasionam impactos nas relações de consumo, vez que, os itens estão interconectados por meio
da rede mundial de computadores.
Como consequência é necessário estudar sobre os impactos dessa inter-relação frente
às relações de consumo. Portanto o presente trabalho, por meio do método dedutivo e da
pesquisa bibliográfica, tem como objetivo estudar a influencia do conjunto entre Inteligência
Artificial (IA), Big data e Internet das Coisas, nas relações de consumo.
2. DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA
43
A Internet das coisas apresenta como conceito principal a tecnologia dos itens
interconectados utilizados diariamente e que estarão submergidos na rede mundial de
computadores.
O pesquisador britânico Kevin Ashton do Massachusetts Institute of Technology
(MIT) utilizou pela primeira vez o termo Internet das Coisas em 1999, ele relata que desejava
expressar algo que considerava válido para os dias atuais, que seria o encontro de duas redes, a
de comunicação humana (a internet) e a outra seria o mundo real das coisas (a IoT) (FINEP,
2014).
Contudo o termo internet das coisas só se tornou efetivamente popular por volta de
2010 e atualmente, já é uma realidade, acrescidas dos recursos de Inteligência Artificial e Big
Data.
Segundo Hieaux (2015) em entrevista ao site Computerword, o conjunto de IoT e Big
Data dará base para uma economia de produtos e serviços personalizados, em que os
consumidores terão o perfil mapeado, com possibilidade de se obter produtos e serviços.
É valido usar como exemplo, a MapLinkque, uma empresa brasileira especializada em
digitalização de mapas. De acordo com Dalmazo (2012, p.1), alguns anos atrás a empresa pôs
em xeque a credibilidade da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) da cidade de São
Paulo.
Outra empresa que utiliza esses recursos é a Walmart, que é a maior varejista do
mundo. A empresa é considerada referência por colher dados on-line para impulsionar as
vendas de suas lojas físicas. Em 2012 a Walmart possuía mais de 12 sistemas diferentes que
processam, diariamente, cerca de 300 milhões de atualizações de internautas em redes sociais,
como o Facebook e o Twitter (DALMAZO 2012, pg. 2).
Segundo Cruz (2016) os riscos envolvendo esses sistemas (IA, IoT e Big Data) são
seguranças e privacidades, Cruz divide a IoT em duas funções: Dispositivos que coletam
informações por intermédio de sensores do ambiente para transmitir informação de forma
constante; e, dispositivos desenvolvidos para receberem instruções por meio da Internet e
realizarem alguma atividade no local onde estão instalados.
Ainda segundo Cruz (2016), os fabricantes de tais dispositivos podem não estar cientes
de tais riscos e de toda a vulnerabilidade que estão expondo os usuários e os dados trafegados,
sendo assim, não aplicam nenhum tipo de prevenção.
Por essa razão, a regulamentação sobre a proteção de dados pessoais é um tema
extremamente importante, pois necessário regular a atividade de tratamento de dados pessoais,
44
que acabam se tornando verdadeira “moeda” na internet, chegando a compor avaliação do ativo
de empresas digitais (PINHEIRO, 2016).
Para Ragazzo (2012), o Big Data não modificará somente os negócios, mas também
haverá a necessidade de adequação de leis, juízes e reguladores para garantir a confiabilidade e
a segurança nas informações.
No Brasil ainda não esta definido de forma eficaz um órgão que fiscalize os
mecanismos da internet, haja vista que a Lei Geral de Proteção de Dados ainda não se encontra
vigente, bem como ainda não há sinais claros de definidos para a criação de uma Autoridade
Nacional de Proteção de Dados, de modo que assegure com que finalidade os dados trafegados
poderão ser tratados.
Destarte, a legislação brasileira passou a dispor sobre normas reais da proteção de
dados, através da criação da Lei 13.709/2018, de 14.08.2018, alterando a Lei 12.065/2014, mas
conhecida como Marco Civil da Internet. Além dessa norma regulamentadora, no Brasil esta
em tramite projeto de Lei que dispõe sobre a proteção de dados.
É verdade que o Marco Civil da Internet, Lei 12.965/2014 já trazia dentre os princípios
para o uso da internet, a proteção da privacidade e a proteção dos dados pessoais, conforme art.
3, incisos II e III.
Contudo, ante a prorrogação da LGPD, a atual legislação brasileira ainda é escassa
quando se pretende medidas efetivas para a proteção dos dados pessoais no ambiente virtual.
Neste cenário, não há dúvidas que a inteligência artificial aliada ao big data e ainda
implementada pela internet das coisas, torna praticamente todos os objetos interconectados, de
modo que os dados pessoais do titular são tratados sem o seu consentimento ou ainda fora das
finalidades previstas.
Nesse sentido, para Wimmer (2014) é necessário ainda examinar os casos em que os
dados são usados de maneira transnacional, causando o uso indevido de larga escala de
informações, uma vez que invisibilidade é um fator agravante e difícil de ser controlado no uso
da IoT. Outrossim, a regulamentação da utilização da big data aliada à inteligência artificial em
um cenário transnacional merece ser refletida, vez que não somente o Estado Nacional deverá
implementar uma proteção adequada, mas também a comunidade internacional.
Aliado a isso, a internet das coisas, como uma tecnologia em que torna tudo
interconectado, proporciona que grandes empresas, como por exemplo que como a Amazon,
por intermédio do aparelho Alexa, tenha acesso a todos os sons que são captados em um
determinado ambiente, ainda que o dispositivo esteja desligado, podendo tais dados pessoais
45
serem transferidos ou compartilhados para outros países em que a empresa possua sede ou
armazenamento de seus dados (MAGRANI, 2019).
Nesse enlace, a problemática da segurança nos dispositivos de internet é recorrente,
em especial porque muitos dos consumidores não querem se envolver, enquanto que não é de
interesse das empresas informar os consumidores o suficiente sobre o tratamento de dados que
é feito, se é comercializado ou utilizado para outros fins.
3. CONCLUSÃO
Com base em todo exposto, a Inteligência Artificial, Big Data e Internet das Coisas,
poderão trazer grandes benefícios para a empresa e para o consumidor, com a utilização de
sensores para monitorar ambientes e pessoas, cruzando informações proporcionando uma
gestão otimizada da informação.
Por outro lado, é necessário que haja uma regulamentação legal eficaz para solucionar
de forma adequada os novos impasses causados pela tecnologia entre o consumidor e a empresa
fornecedora.
Além disso, é necessário um posicionamento melhor das empresas buscando
melhorias, reduzindo problemas e aumentando a segurança dos dispositivos.
Por sua vez, é função do consumidor se informar sobre como seus dados estão sendo
tratados e até que ponto está disposto a abrir mão de sua privacidade em prol da utilização de
serviços tecnológicos.
4. REFERÊNCIAS
DALMAZO, Luiza. Um fenômeno chamado Big Data. Exame.com, São Paulo, out. 2012.
Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1025/noticias/para-nao-se-
afogar-em-numeros?page=1>. Acesso em: 12 jun. 2020.
46
HIEAUX E. Big Data e Internet das coisas serão motores de uma nova economia,
jun.2015. Disponível em: http://computerworld.com.br/big-data-e-internet-das-coisas-serao-
motores-deuma-nova-economia>. Acesso em: 12 jun. 2020.
MAGRANI, Eduardo. Professor da Direito Rio analisa impacto da 'Internet das Coisas'
na sociedade. Disponível em: <https://portal.fgv.br/noticias/professor-direito-rio-analisa-
impacto-internet-coisas-sociedade>. Acesso em: 12 jun. 2020.
PINHEIRO, Patricia Peck. Direito Digital. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. Não paginado.
Arquivo E-Books.
47
LAW TECHS: AS NOVAS FERRAMENTAS JURÍDICAS ANTE A DISRUPÇÃO
DIGITAL NO DIREITO E OS IMPACTOS NAS RELAÇÕES DE TRABALHO
LAW TECHS: THE NEW LEGAL TOOLS FACED WITH THE DIGITAL
DISRUPTION IN LAW AND THE IMPACTS ON WORK RELATIONSHIPS
Resumo
A revolução 4.0 intensificou o processo de disrupção digital, proporcionando a instauração
de novas tecnologias que passaram a permear novas relações de trabalho. Neste sentido, as
law techs passaram a desempenhar papel fundamental no desenvolvimento de ferramentas
tecnológicas que permitiram a otimização do ofício jurídico através de softwares e sistemas
que automatizam procedimentos no Direito. Este trabalho tem o objetivo de analisar a
inserção destas ferramentas no Direito, bem como as respectivas implicações nas relações de
trabalho. A pesquisa utiliza a vertente metodológica jurídico-sociológica e pertence ao tipo
jurídico-projetivo, de acordo com a classificação de Witker (1985) e Gustin (2010).
Palavras-chave: Revolução 4.0, Disrupção digital, Law techs, Relações de trabalho, Direito
Abstract/Resumen/Résumé
The revolution 4.0 intensified the digital disruption process, providing the introduction of
new technologies that started to permeate new work relationships. In this sense, law techs
started to play a fundamental role in the development of legal technological tools that
allowed the optimization of the legal profession through software’s and systems that
automate procedures in law. This work aims to analyze the insertion of these tools for the
Law, as well as their respective implications for work relationships. The research uses the
legal-sociological methodological approach and belongs to the legal-projective type,
according the classification of Witker (1985) and Gustin (2010).
1Técnico em automação industrial pelo Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) e graduando em Direito,
modalidade integral, pela Escola Superior Dom Helder Câmara (ESDHC).
48
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
49
2. AS TRANSFORMAÇÕES DAS RELAÇÕES DE TRABALHO NO DIREITO
A próxima geração de advogados não ficará mais isolada uns dos outros e da
tecnologia. Eles precisam aprender não apenas a fazer parte de equipes, mas
também, na minha opinião, devem ser treinados para serem capazes de desenvolver
os sistemas que substituirão os velhos métodos de trabalho dos advogados. Para esse
fim, precisaremos ensinar nossos advogados a serem tecnólogos jurídicos, analistas
de processos, finalistas de conhecimento, projetistas de sistemas, gerentes de risco e
cientistas de dados. Estes são os advogados de amanhã. São pessoas que
desenvolverão os sistemas que resolverão problemas legais para os quais atualmente
os advogados são a única solução. O problema aqui é que pouquíssimos professores
de direito reconhecem ou aceitam o movimento em direção a soluções baseadas em
tecnologia para os clientes. Nem eles são experientes ou especializados o suficiente
para treinar seus alunos (SUSSKIND apud FEIGELSON, 2019, p. 8, tradução
nossa).
50
O reflexo deste estigma que envolve tecnologia, Direito e trabalho se dá no atraso do
mundo jurídico em inserir ferramentas que quebrem com o modelo tradicional de trabalho.
Pesquisas da Global Access to justice sobre o comportamento do poder judiciário em 51
países durante a pandemia do corona vírus revelaram que 65% dos Estados não adotaram
medidas especiais que otimizassem o atendimento de novas demandas processuais (GLOBAL
ACCESS TO JUSTICE, 2020). Estes dados evidenciam que a maioria dos países não adotam
soluções inovadoras ou tecnológicas para otimizar a prestação de serviços jurídicos, o que
implica na perpetuação de vícios que afetam o mundo jurídico. Para este caso, é possível
inferir que a não adoção de novas medidas para suprir as demandas processuais durante a
pandemia, resulta em um aumento no número de processos, já que de acordo com essa mesma
pesquisa, 49% dos sistemas jurídicos pesquisados suspenderam a tramitação de processos
(GLOBAL ACCESS TO JUSTICE, 2020).
No entanto, apesar do atraso da inserção de tecnologias disruptivas no Direito, é
importante ressaltar que atualmente há uma maior preocupação em inserir tecnologias no
Direito que otimizem as relações de trabalho. As LawTechs e LegalTechs por exemplo, são
startups que oferecem soluções jurídicas inovadoras para a advocacia através do
desenvolvimento e aplicação de softwares.
Neste sentido, cabe citar a criação da Associação Brasileira de LawTechs e
LegalTechs (AB2L) que instituiu programas de fomento à tecnologia jurídica. No que diz
respeito à advocacia, uma pesquisa feita pela AB2L em parceria com o Centro de Estudos das
Sociedades de Advogados (CESA) revelou que os escritórios que contam com o apoio de
startups de LegalTechs tiveram impacto negativo menor durante a pandemia ou até mesmo
impulsionaram suas demandas (SANTOS, 2020). No tocante à inserção de tecnologias no
poder judiciário, Daniel Marques, diretor-executivo da AB2L aponta que a pandemia também
ajudou a acelerar a inserção de ferramentas tecnológicas para o poder judiciário (SANTOS,
2020). Um exemplo que evidencia a adoção de tecnologias no judiciário é o julgamento
eletrônico e sustentação oral em processos do STF, possibilitados pela emenda regimental 53
de 20 de março de 2020 (MEDINA, 2020). Além disso, a adoção do processo eletrônico
também é uma evidência de disrupção digital e transformação das relações de trabalho no
judiciário.
Desta forma, é possível observar que a pandemia do corona vírus e também o
advento da globalização exigem uma transformação nas relações de trabalho para que o
Direito supra as necessidades de demanda jurídica. A implementação de tecnologias jurídicas
é vital no processo de disrupção digital do Direito, já que flexibiliza o atendimento das
51
demandas jurídicas permitindo maior alcance, efetividade e otimização para o exercício do
ofício jurídico.
52
algoritmos e BigData capazes de auxiliar nas decisões relacionadas à atividade-fim jurídica
em que é implementado (INTELIGÊNCIA, 2019).
No tocante aos exemplos de IA’s aplicadas ao Direito, é possível citar os algoritmos
da plataforma “Digesto”, que consulta dados jurídicos de todo o Brasil e a partir disso cria
uma base centralizada e precisa, proporcionando um rápido levantamento de dados pelo
operador do Direito (INTELIGÊNCIA, 2019). Outro software de inteligência artificial é o
“LegAut” que possui um algoritmo capaz de analisar processos e até proferir sentenças
através da IA, de forma automatizada e eficaz, por meio do sistema de machine learning que
aprimora o sistema de acordo com a experiência de semelhança entre os processos
(INTELIGÊNCIA, 2019).
Estes são os principais sistemas atuais de ferramentas jurídicas desenvolvidas com o
objetivo de integrar Direito e tecnologia. É importante reiterar que apesar do baixo
investimento nessa área, a revolução 4.0 e a crise pandêmica causada pelo corona vírus
aumentaram o interesse pelo fomento às tecnologias jurídicas. Estima-se inclusive, em estudo
feito pelo McKinsey Global Institute, que a adoção de novas ferramentas tecnológicas devem
acrescer US$ 13 trilhões à economia global até o ano de 2030 (TAVARES, 2020).
Sendo assim, é vital o investimento do setor jurídico em tecnologias de pontas para
otimização das relações jurídicas. Atualmente, o cenário de tecnologias jurídicas ainda é
embrionário, com poucas empresas e Estados investindo neste tipo de tecnologia. Cabe citar
então, a empresa International Business Machines Corporation (IBM), líder mundial em
desenvolvimento de softwares e IA’s no Direito. Nacionalmente, é possível citar a Joint
Venture, maior lawtech do Brasil que atua na criação de sistemas de otimização jurídica.
Por fim, reitera-se que a tecnologia jurídica é o futuro da advocacia e do Direito
como um todo e, portanto, é de suma relevância o investimento e o fomento às tecnologias
jurídicas, às startups e aos softwares. Juntas, estas tecnologias possuem grande potencial na
resolução de problemas jurídicos hodiernos. Através de softwares e IA’s, por exemplo, é
possível desinchar o montante de processos no Brasil que passa dos 80 milhões (POMPEU,
2018). Além disso, os processos eletrônicos poupam dinheiro e tempo e oferecem maior
precisão na consulta de processos. Por fim as IA’s são capazes de resolver impasses e analisar
processos de maneira mais rápida e mais eficiente através do BigData e do machine learning.
Desta forma, através da utilização da tecnologia como aliada e não vilã será possível construir
os advogados do amanhã, assim como projetado por Richard Susskind em seu livro
“Tomorrow Lawyers: An Introduction to Your Future”.
53
4. COSNIDERAÇÕES FINAIS
A partir das reflexões expostas sobre o tema, verifica-se que a adaptação do Direito
às novas tecnologias provenientes do advento da revolução 4.0, que transformou as
tradicionais relações de trabalho por meio do uso de tecnologia de ponta, o encaminha para
uma otimização e maior eficiência no que diz respeito a atividade jurídica diante ao aumento
expressivo da demanda legal e da necessidade de agilização de processos jurídicos.
No entanto, a realidade revela que mesmo com os adventos da globalização, da
revolução 4.0 e do corona vírus, que intensificaram a necessidade de transformação nas
relações de trabalho, o Direito ainda é uma área que carece de fomento e investimento à
tecnologia.
Neste sentido, é imprescindível a inserção de IA’s e softwares jurídicos de alto nível
de processamento de informação no ofício jurídico. Estas tecnologias conferem alto grau de
precisão e segurança no ofício jurídico e proporcionam maior eficiência e otimização do
tempo da atividade jurídica. Portanto, verifica-se que a disrupção digital no Direito é de suma
vitalidade para o futuro e o sucesso da prática do ofício jurídico.
5. REFERÊNCIAS
WITKER, Jorge. Como elaborar una tesis en derecho: pautas metodológicas y técnicas para
el estudiante o investigador del derecho. Madrid: Civitas, 1985.
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa
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necessaria/. Acesso em: 11 jun 2020.
54
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quarentena. ConJur, 2020. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jun-13/lawtechs-
despertam-interesse-mercado-juridico-epidemia. Acesso em: 11 jun 2020.
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lawtech do Brasil. AB2L, 2020.Disponível em: https://www.ab2l.org.br/joint-venture-
formada-pela-elaw-e-impacta-cria-a-maior-lawtech-do-brasil/. Acesso em: 12 jun 2020.
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2018. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2018-ago-27/judiciario-brasileiro-801-
milhoes-processos-tramitacao. Acesso em: 13 jun 2020.
55
LEGAL DESIGN E VISUAL LAW: NOVAS TECNOLOGIAS E O CONTEXTO
ATUAL
LEGAL DESIGN THINKING AND VISUAL LAW -NEW TECHNOLOGIES AND
THE CURRENT CONTEXT
Resumo
Em um mundo hiperconectado, que vive a “4ª revolução industrial”, é imperioso o estudo das
novas tecnologias disruptivas e seus impactos no Direito. Com o cenário global pandêmico
acelerou-se o processo da necessidade-adequação às inovações de modo que os juristas
buscam atender de forma mais simples, ágil e eficaz às demandas dos clientes. O Legal
Design e a subárea Visual Law vieram para auxiliar nas soluções jurídicas e descomplicar o
Direito complexo, inacessível e estático.
Abstract/Resumen/Résumé
In a hyperconnected world, which is experiencing the “4th industrial revolution”, it is
imperative to study new disruptive technologies and their impact on law. With the global
pandemic scenario, the process of necessity-adaptation to innovations was accelerated so that
lawyers seek to meet the demands of clients in a simpler, more agile and effective way. Legal
Design and the Visual Law sub-area have come to assist in legal solutions and to simplify
complex, inaccessible and static law.
56
57
1 INTRODUÇÃO
É sabido que as ações ingressadas em juízo devem observar critérios como o binômio
necessidade-adequação, que nada mais é que a imprescindibilidade de se acionar o judiciário
para que o direito do Autor seja assegurado e a adequação do meio utilizado para que se
chegue ao resultado pretendido.
A partir dessa reflexão, é possível que tenhamos uma nova perspectiva do disposto
pelo artigo 3º do Código de Processo Civil de 2015, já que a prestação dos serviços da
advocacia não mais são considerados eficientes somente por ingressar em juízo atrás de uma
sentença favorável, mas inclusive por fazer com que o postulante se torne parte do trâmite e
da solução que será desenvolvida para ele.
Durante anos essas e outras tantas perguntas foram ignoradas pelos juristas que,
entendiam e ainda entendem que o Direito é uma ciência isolada das demais e que a
multidisciplinaridade se aplica a todas as áreas menos a área jurídica.
abordagens estão o Legal Design Thinking e o Visual Law (Direito Visual), metodologias e
ferramentas extraídas de outras áreas e aplicadas ao Direito.
2 OBJETIVOS
3 METODOLOGIA
Dessa forma, será feito um estudo dos problemas que ainda acometem o mundo
jurídico e a necessidade de adequação às novas tecnologias, de forma a dirimir a resistência
dos juristas para o novo.
Repetir padrões é algo habitual no Direito, desde as salas de aulas das Universidades
de Direito do Brasil até as decisões judiciais, o que vemos é uma constante repetição de
padrões. A título de exemplo, qualquer advogado formado há mais de 40 anos, exerce a
advocacia sem maiores problemas nos tempos atuais, ressalvadas é claro as dificuldades
tecnológicas que são reduzidas apenas ao uso de computadores, internet, processo judicial
eletrônico (PJE), impressoras e armazenamento em nuvem.
A resposta para essas perguntas talvez esteja relacionada a eterna aversão ao risco que
precisamos sempre mitigar, conforme ensinado durante anos. Tudo que é padronizado não
apresenta risco constante, uma vez que já foi experimentado, testado e seus resultados são
conhecidos e esperados. Uma outra possibilidade talvez seja o apreço ao Princípio
Constitucional da Segurança Jurídica.
Trazer o Direito e a advocacia para a era da informação deixou de ser uma opção e
passou a ser uma necessidade, haja vista que já não é possível exercer o Direito de forma
arcaica e tradicional em um mundo imerso na revolução tecnológica. A multidisciplinariedade
tornou indispensável aprender conteúdos, ensinamentos e ferramentas de outras áreas. Nesse
sentido surge o Legal Design Thinking.
A expressão Design Thinking foi primeiro utilizada no livro The Science of the
Artificial de Herbert A. Simon, onde o autor trouxe o entendimento de que o design é na
verdade um pensamento, ou seja, o pensamento do design. Tempos depois Tim Brown passou
a divulgar com mais notoriedade o termo Design Thinking que:
Ver é observar o que a sociedade não diz e não faz, pois aí está a real necessidade, para
então criar experiências de forma interativa e testando-as no mundo real em busca de
feedbacks constantes. Esse trabalho deve ser realizado sob o prisma da empatia que é “a
tentativa de ver o mundo através dos olhos dos outros, de compreender o mundo por meio das
experiências alheias e de sentir o mundo por suas emoções”(BROWN, 2017).
Essa abordagem é conhecida e utilizada por várias áreas como design, administração,
marketing e quando trazida para o universo jurídico ficou denominada como Legal Design
Thinking. Margaret Hagan, diretora do Legal Design Lab da Stanford Law School, professora
do Stanford Institute of Design, e uma das precursoras do tema afirma que o Legal Design
61
Simples, funcional, atrativo e com boa usabilidade não são características atribuídas
aos documentos jurídicos tradicionais, o que vemos são documentos complexos, inacessíveis
e estáticos que não permitem qualquer interação entre quem o está elaborando e o seu
destinatário final, seja ele o cliente ou o magistrado. Consequentemente, as informações
inseridas nesse tipo de documento não são compreendidas e interpretadas em sua totalidade,
comprometendo a finalidade desses documentos.
Para conseguir objetividade, clareza e foco nas informações relevantes, além observar
e escutar de forma empática as necessidades dos clientes junto com o Legal Design Thinking
existe uma subárea denominada Visual Law (Direito Visual).
É imperioso que haja uma nova forma de fazer o Direito e de interpretar o cerne do
problema trazido pelo cliente. A pandemia afetou e afeta a saúde, a economia, negócios,
relações internacionais e observando esse cenário macro que teremos uma visão
multidisciplinar para obter pistas em busca de soluções. É preciso uma visão sistêmica.
Os seres humanos são naturalmente atraídos por conteúdos visuais e também possuem
a capacidade de armazenar na memória imagens por até 3 dias, conforme nos mostra a
pesquisa publicada na revista Psychonomic Science, conduzida por Lionel Standing, Jerry
Conezio e Ralph Norman Haber, em 1970.
consegue ter uma visão ampla daquilo que está sendo explanado pelo advogado, fazendo com
que o pedido seja melhor analisado.
Tendo em vista esses dados e considerando a urgente necessidade de fazer com que o
Direito seja entendido não apenas por advogados e magistrados, mas por toda sociedade que
utiliza dos serviços jurídicos surge o Visual Law (Direito Visual) que transforma a escrita em
imagem, as informações complexas em imagens simples, claras e inteligíveis.
5 CONCLUSÃO
A quarta revolução industrial está em curso e com ela inúmeras tecnologias estão
surgindo nas mais variadas áreas de conhecimento, em especial no Direito. Expressões antes
desconhecidas no universo jurídico como Big Data, Inteligência Artificial, Design Thinking,
Machine Learning, hoje permeiam as discussões sobre o futuro do Direito e também da
advocacia.
Ignorar a existência desse “novo Direito” é como ignorar o futuro que se apresenta a
cada dia. É ignorar que as relações de trabalho, consumo, pessoais e profissionais estão
mudando e aceitar ser pego de surpresa e arrastado por essa onda tecnológica.
Os profissionais jurídicos que entenderem que o Direito não pode se desassociar dessa
nova realidade, com certeza estarão na frente daqueles profissionais que insistirem em olhar o
Direito como uma ciência única e isolada das demais. É o momento da multidisciplinaridade e
de aprender conhecimentos diversificados, pois, saber apenas Direito já não é suficiente.
6 REFERÊNCIAS
BROWN, Tim; Design Thinking: Uma metodologia poderosa para decretar o fim das
velhas ideias. 1. ed. Rio de Janeiro. 2017;
63
Resumo
RESUMO: O uso da Inteligência Artificial no Direito Processual do Trabalho é um
instrumento eficaz para assegurar o acesso à justiça, o que pode ser verificado através do
sistema PJE-JT, plataforma digital desenvolvido pelo Conselho Nacional de Justiça. Este
artigo traz a discussão quais seriam os limites ao uso da Inteligência Artificial no Direito
Processual do Trabalho. Nesta delimitação, evidencia-se que não há espaço para robotização
das decisões judiciais por vulnerar o princípio constitucional da independência funcional do
juiz do trabalho. Emprega-se o método dedutivo com análise bibliográfica de artigos
científicos, doutrinas e legislações aplicáveis à matéria.
Abstract/Resumen/Résumé
ABSTRACT: The use of Artificial Intelligence in Labor Procedural Law is an effective
instrument to ensure access to justice, which can be verified through the PJE-JT system, a
digital platform developed by the National Council of Justice. This article discusses the limits
of the use of Artificial Intelligence in Labor Procedural Law. It turns out that the robotization
of judicial decisions cannot be made because it violates the constitutional principle of the
functional independence of the labor judge. The deductive method is used in conjunction
with the bibliographic analysis of scientific articles, doctrines and legislation.
64
1. INTRODUÇÃO
A aproximação entre o Poder Judiciário e os jurisdicionados, advogados, membros do
Ministério Público se torna possível através do processo eletrônico, viabilizado pelo sistema
PJE da Justiça do Trabalho.
A atividade jurisdicional é essencial no Estado Constitucional de Direito, assim como
a Inteligência Artificial que faz com que ela se concretize, já que todos os processos trabalhistas
são eletrônicos e permite serem alimentados por algoritmos.
Na primeira parte deste estudo procura se demonstrar como a tecnologia tem sido
adotada na Justiça do Trabalho para prática de atos processuais, impondo celeridade, qualidade
e eficiência na entrega da prestação jurisdicional. Em seguida traz a discussão sobre quais
seriam os limites ao uso da inteligência artificial nas decisões judiciais trabalhistas, ainda
pendente de regulamentação pelo Congresso Nacional.
A Inteligência artificial vincula à observância dos princípios constitucionais e aos
princípios específicos do Processo Eletrônico.
A imposição de limites ao uso da Inteligência Artificial nas decisões judiciais da
Justiça do trabalho é importante para evitar a estagnação da jurisprudência e solipsismo
algorítmico, pois a padronização das decisões judiciais pode obstar o acesso à justiça
assegurado no artigo 5º, XXXV da CF/88.
Espera-se, por meio deste estudo contribuir para o entendimento de quais seriam os
limites para o uso da inteligência artificial no Direito Processual do Trabalho.
1
O sistema Bem-te-vi, Inteligência Artificial traz melhorias inovadoras na tramitação de processos no TST,
Disponível em:< http://www.tst.jus.br/noticias/-/asset_publisher/89Dk/content/inteligencia-artificial-traz-
melhorias-inovadoras-para-tramitacao-de-processos-no-tst.> Acesso em 11.04.2020.
2
TRT5 realiza projeto-piloto que utiliza inteligência artificial. Disponível em:< https://www.cnj.jus.br/trt5-
realiza-projeto-piloto-que-utiliza-inteligencia-artificial, >Acesso em 11.04.2020.
65
todos os atos processuais, inclusive decisões judiciais, sem que isso possa gerar nulidade
processual ou violação de princípios? Ela deve submeter aos princípios constitucionais? Esses
questionamentos demonstram a importância de estabelecer alguns limites para o uso da
Inteligência Artificial no Processo do Trabalho.
3
Desembargador José Eduardo Resende Júnior expõe princípios do direito processual eletrônico. Disponível em:<
https://portal.trt3.jus.br/internet/conheca-o-trt/comunicacao/noticias-juridicas/des-jose-eduardo-expoeprincipios-
do-direito-processual-eletronico,>Acesso em 04.05.2020.
66
Há ainda outros princípios, no caso da inteligência Artificial no Direito Processual do
Trabalho, esta está vinculada aos princípios específicos do Processo Eletrônico: 1) Lealdade
Processual, Ética e Boa-fé (artigos 5º, 80 e 489, 3º do CPC); 2) Imaterialidade (CHAVES,
2015) ; 3) Conexão (artigos 1º, 8º, 13 e 14 da Lei n. 11.419/06 e 422, § 1º do CPC/ 2015); 4)
Intermidialidade (art. 1º, e 2º, I da Lei 11419/2006); 5) Hiper-realidade (CHAVES, 2015); 6)
Instantaneidade (CHAVES, 2015); 7) Desterritorialização (art. 144 da CF).
Os limites abordados no presente artigo envolvem 1) poder decisório ser uma função
constitucional indelegável; 2) o uso de algoritmos poderiam ocasionar a estagnação da
jurisprudência; 3) vedação ao solipsismo algorítmico; 4) necessidade de supervisão
humana na aplicação da IA e 5) independência funcional do juiz do trabalho.
Em relação ao primeiro limite, segundo Alexandre Zavaglia (2017): “O limite da
tecnologia deve ser o limite das prerrogativas dos profissionais. No caso do médico, o software
pode dar informações e até sugerir o diagnóstico, mas a decisão quem toma é o ser humano”.
Atualmente na Justiça do Trabalho é possível automatizar a maior parte dos atos processuais,
mas a decisão judicial continua sendo um trabalho intelectual humano exclusivo dos juízes do
trabalho, únicos detentores da jurisdição estatal, segundo o disposto nos artigos 5º, XXXV, LIII,
114 da CF/88. Este entendimento é corroborado por autores como Luiz Fernando Féola (2015,
p. 45-48), Dierle Nunes e Viana (2018), Viana (2019) e Alexandre Pereira (2017).
A Inteligência Artificial por não ter racionalidade interpretativa de ponderação
característica afeta ao homem, não estaria apta a julgar os seres humanos com justiça,
respeitando os valores e princípios inerentes ao Estado Constitucional de Direito.
Quanto ao segundo limite, Jordi Fenoll (2018, p. 32-33) justifica a necessidade de impor
limites à inteligência artificial pois não pode conferir a decisão final em um julgamento para
que não venha ensejar a estagnação da jurisprudência.
A Inteligência Artificial através de seus algoritmos, pode incorrer na padronização das
decisões judiciais, acarretando uma imutabilidade na jurisprudência dos Tribunais trabalhista e
obstando o acesso à justiça, assegurado no artigo 5º, XXXV da CF/88.
Quanto ao terceiro limite, Almeida Filho (2015, p. 17) menciona que “não podemos
permitir que o Processo Eletrônico encontre modificações a ponto de termos sentenças
cartesianas, emitidas por um computador.”. Não se coaduna com Estado Constitucional de
Direito decisões trabalhistas padronizadas por algoritmos, por afrontar o princípio da jurisdição
de o Estado juiz dizer o direito em cada caso concreto, de acordo com os princípios e valores
estabelecidos na Constituição Federal. Este entendimento é corroborado por autores como
Viana (2019), Medeiros (2019, p. 68) e Wandelli (2015, p.83).
No Estado Constitucional de Direito é necessário utilizar a inteligência artificial e tirar
proveito de seus benefícios, mas o seu uso deve ser sempre direcionado por juiz do Trabalho
numa interpretação racional humana com ponderação de valores, e respeito aos direitos e
garantias que fundam o processo jurisdicional democrático, refutando dessa forma “solipsismo
algoritmo”.
Em relação ao quarto limite, a matéria ainda pende de regulamentação, mas o artigo
2º, V do Projeto de Lei 5051/2019, estabelece a necessidade de supervisão humana no uso da
inteligência artificial. A inteligência artificial caso seja adotado nas decisões da Justiça do
Trabalho deve ser feita com autorização e supervisão do juiz do trabalho, responsável pela
condução do processo no Estado Constitucional de Direito, sob pena de nulidade processual.
Por fim, com relação ao quinto limite, o pensar humano sobre a concretização da
Justiça, fica destacado no pensamento de Hanna Arendt (SCHIO, 2011): “o julgamento é aquele
que prepara os dados pensados para serem decididos, para receber o impulso da vontade e
adentrarem no mundo externo por meio da ação. O julgar, então, não existe sem o pensar. ”
Resende Chaves Jr (XXXX): “Automatizar mecanicamente decisões é uma via rápida
para alcançar a completa falta de legitimação social do judiciário brasileiro". Ainda mais a
67
Justiça do Trabalho, que tem a função social de proteger e tutelar os direitos sociais
fundamentais dos trabalhadores hipossuficientes na relação entre capital e trabalho.
Daí porque não pode se admitir no Estado Constitucional de Direito a robotização das
decisões judiciais, porque o ato de julgar depende de interação entre os seres humanos, o bom
juiz precisa saber ouvir, e o jurisdicionados precisa sentir que está sendo ouvido e que seu
processo vai ser examinado e julgado de forma singular, está interação entre o juiz, as partes,
advogados e participantes do processo trabalhista é fundamental para concretização da justiça.
A Inteligência Artificial pode ser adotada na Justiça do Trabalho nos easy cases,
decisões que envolvem simples cálculos matemáticos, demandas repetitivas, matérias
exclusivamente de direitoe supervisionadas e validadas por um juiz do trabalho.
Nos “hard cases”, em que o intérprete algumas vezes atua com discricionariedade,
exerce o papel criativo do direito, considera valores éticos, morais e faz sopesamento de
normas no momento de julgar, não seria possível o uso da Inteligência Artificial nas decisões
na Justiça do Trabalho por encontrar óbice no princípio do juiz natural artigos 5º, incisos
XXXVII, LIII e 114 da CF/88, que estabelece um juiz constitucionalmente competente, humano,
independente e imparcial para julgar os conflitos trabalhistas.
A inteligência artificial ainda não tem programação para substituir o juiz do trabalho
em seus julgamentos mais complexos que exige um critério de racionalidade argumentativa nas
decisões judiciais, por força do artigo 93, IX da CF, 832 da CLT, 489 CPC, que estabelece o
princípio do dever de fundamentação estrutural das decisões judiciais.
4. CONCLUSÃO
A inteligência Artificial pode ser adotada na Justiça do Trabalho para prática de atos
processuais desde que cientificada as partes de sua utilização em observância ao princípio da
transparência algorítmica para evitar nulidade processual.
Os limites ao seu uso se concretiza na observância dos princípios constitucionais e
específicos do processo eletrônico previstos no ordenamento jurídico nacional e internacional.
Não tem respaldo no Estado Constitucional de Direito decisões trabalhistas
padronizadas por algoritmos, por afrontar o princípio da jurisdição de o Estado juiz dizer o
direito em cada caso concreto, de acordo com os princípios e valores estabelecidos na
Constituição Federal.
Estabelecer limites ao uso da inteligência artificial se faz necessário para evitar a
estagnação da jurisprudência, solipsismo jurídico e a robotização das decisões judiciais.
Delimitado, o uso da inteligência artificial, evidencia-se que pode ser adotada, na
Justiça do Trabalho, nos easy cases, decisões que envolvam simples cálculos matemáticos,
matérias exclusivamente de direito, com limitação ao valor da causa, demandas repetitivas,
mediante autorização e supervisão de um juiz do trabalho, dependendo de regulamentação pelo
Poder Legislativo. Já nos “hard cases”, não seria possível o uso da Inteligência Artificial por
violar princípio do juiz natural, artigos 5º, incisos XXXVII, LIII da CF/88 e dever de
fundamentação estrutural previsto nos artigos 93, IX da CF/88, 489 do CPC/2015, 832 da CLT.
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71
MAQUINAS INTELIGENTES – A PROPRIEDADE INTELECTUAL E A
INTELIGENCIA ARTIFICIAL
MAQUINAS INTELIGENTES - PROPIEDAD INTELECTUAL E INTELIGENCIA
ARTIFICIAL
Resumo
O presente artigo tem como objetivo analisar como a propriedade intelectual é aplicada as
inovações tecnológicas e as consequências das lacunas legislativas. Buscou-se analisar qual a
necessidade de criação de uma Lei que regulamente de quem é o direito autoral quando a obra
/criação é fruto exclusivo de uma máquina. A inteligência artificial é de extrema importância
para que o país se desenvolva como um todo de forma rápida e eficaz. O método utilizado foi
o indutivo, analisando leis e doutrinas que abrangem o tema, tendo como marco teórico a
propriedade intelectual e as inovações tecnológicas.
Abstract/Resumen/Résumé
Este artículo tiene como objetivo analizar cómo se aplica la propiedad intelectual a las leyes
y doctrinas que innovaciones tecnológicas y las consecuencias de las brechas legislativas.
Intentamos analizar la necesidad de crear una Ley que regule quién posee los derechos de
autor cuando el trabajo / creación es el resultado exclusivo de una máquina. La inteligencia
artificial es extremadamente importante para que el país se desarrolle en su conjunto de
manera rápida y efectiva. El método utilizado fue el inductivo, analizando cubren el tema,
tomando la propiedad intelectual y las innovaciones tecnológicas como marco teórico.
72
INTRODUÇÃO:
A evolução tecnológica, a expansão das ferramentas de comunicação,
quantidades incalculáveis de dados sendo transmitidos dia após dia ( IT² - Indicador de
Transformação da TI - IDC), bem como a demanda crescente por desenvolvimento,
inovação, sustentabilidade, economia, celeridade, desdobram na urgente necessidade de
criação de sistemas, de aplicações, de softwares, com o fim de acompanhar os desafios
impostos pelo contexto social contemporâneo.
O marco teórico parte das Leis presentes no ordenamento jurídico pátrio, leis
genéricas que abordam a criação intelectual ou comercial, como a Convenção de Berna
(Lei 75.699/75), Lei da Propriedade Industrial (Lei 9.279/96) e Lei de Direitos Autorais
(Lei 9.610/98) abrangendo doutrinas.
73
proposito deste artigo, uma vez que a propriedade intelectual e as inovações tecnológicas
partem de premissas, onde observamos os fatos, reais e sistemáticas, além disso, é
passível que os fatos sejam alterados, sendo a conclusão ampla, pois não é infalível nem
unanime, tendo em vista que a realidade pode vir a ser alterada a partir de uma construção
argumentativa. A técnica adotada é a bibliográfica.
74
Outra modalidade de propriedade intelectual é a Sui generis, a qual inclui
Topografia de Circuito Integrado, Conhecimentos Tradicionais (Lei 11.484, de 31 de
Maio de 2007) e Cultivares, (Lei 9.456, de 25 de Abril de 1997).
75
Certo é que, atualmente, tramitam na Câmara dos Deputados, alguns Projetos
de Lei voltados à regulamentação da Inteligência Artificial e consubstanciados nas
proposições da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico), entidade que anunciou princípios para o desenvolvimento de inteligência
artificial, sendo o Brasil um dos signatários do documento. Duas PL’s merecem destaque
neste cenário, quais sejam, PL 21/2020 (Dep. Eduardo Bismark) e PL 240/2020 (Dep.
Léo Moraes).
A Lei de propriedade intelectual por muitos anos foi suficiente para proteger o
direito de autores, no entanto, devido ao desenvolvimento, não é mais. A tecnologia hoje
está presente em tudo, desde o alimento ate o software mais sofisticado, não sendo
possível ignorar sua presença.
CONCLUSÃO:
A lei de direitos autorais e industriais regulam muito bem as relações que tem
presente o ser humano como autor, no entanto, nada falam sobre o que se deve fazer
quando a é a inteligência artificial quem cria a obra, quer que seja, cientifica, artística,
76
literária, industrial ou comercial. Daí vem á necessidade de criar uma legislação acerca
da inteligência artificial no âmbito da propriedade intelectual, regulando que o direito
moral e patrimonial oriundos do direito a propriedade intelectual é das maquinas e todo
o dinheiro recebido em função da obra/criação deve ser reinvestido no mesmo setor.
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Elza Fernandes; BARBOSA, Cynthia Mendonça. QUEIROGA, Elaine dos
Santos; ALVES, Flávia Ferreira. Propriedade Intelectual: proteção e gestão
estratégica do conhecimento. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 39, Julho
2010. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-35982010001300001
HYPERLINK "https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-
35982010001300001&script=sci_arttext.%20Acesso"& HYPERLINK
"https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-
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77
BRASIL. [Constituição]. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada
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NAPOL, Igor. Uma rede neural está escrevendo o próximo livro de Game of Thrones.
30/08/2017. Telecmundo. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/cultura-
geek/121523-rede-neural-escrevendo-proximo-livro-game-of-thrones.htm. Acesso em:
04/02/2020.
78
DINO - Deep Learning - O cérebro por trás da inteligência artificial. Disponível em:
https://exame.com/negocios/dino_old/deep-learning-o-cerebro-por-tras-da-inteligencia-
artificial/
TECNOLOGIA, Portal da. Inteligência artificial pode criar jogos sozinha. Disponível
em: https://www.inteligenciaartificial.me/inteligencia-artificial-pode-criar-jogos-
sozinha/
79
NOVAS TECNOLOGIAS, SANDBOX REGULARÓTIO E AS CONSEQUÊNCIAS
PARA AS RELAÇÕES DE CONSUMO
NEW TECHNOLOGIES, REGULAROTIC SANDBOX AND THE CONSEQUENCES
FOR CONSUMER RELATIONS
Resumo
O presente trabalho versa sobre as novas tecnologias, que têm impactado os mercados, os
Estados e os consumidores, além do sandbox regulatório aplicado àquelas, a fim de
compreender as consequências nas relações de consumo. Através do método de abordagem
hipotético-dedutivo, de procedimental exploratório e da técnica de pesquisa bibliográfica-
documental, objetiva-se: primeiramente, fazer um panorama das novas tecnologias. Em
seguida, apresentar o sandbox regulatório e como este pode ser aplicado às novas
tecnologias. Posteriormente, abordar as possíveis consequências da implementação daquele
às inovações e os efeitos no âmbito consumerista. Por fim, trazer as considerações finais
sobre a temática.
Abstract/Resumen/Résumé
The present work deals with the new technologies, which have impacted the markets, the
States, and the consumers, in addition to the regulatory sandbox applied to those, in order to
understand the consequences in the consumer relations. Through the hypothetical-deductive
approach method, exploratory procedural and bibliographic-documentary research technique,
the objectives are: first, to provide an overview of new technologies. Then, introduce the
regulatory sandbox and how it can be applied to new technologies. Subsequently, address the
possible consequences of implementing that to innovations and the effects in the consumer
sphere. Finally, bring the final considerations on the theme.
80
81
1 INTRODUÇÃO
A partir da criação do World Wide Web, na década de 1990, o Mundo tem vivenciado
uma revolução tecnológica sem tamanho, a qual atinge os mais diversos setores econômicos e
sociais, bem como não possui fronteira dado o atual estágio de globalização. Por conseguinte,
o surgimento de novos produtos, serviços, plataformas, fornecidos através de meios digitais,
trazem consigo incertezas, que acabam repercutindo diretamente nos mercados, nos Estados e,
especialmente, nas relações de consumo.
Nesse contexto tecnológico e disruptivo, o conhecimento prévio, ainda que mínimo,
das novas tecnologias pode proteger as relações de consumo de eventuais problemas, sobretudo,
pelo fato de, em regra, os consumidores serem a parte hipossuficiente da relação contratual,
uma vez que não dominam as características, as funcionalidades, os perigos, entre outras
questões, principalmente, frente às inovações.
Entrementes, como viabilizar a revolução tecnológica e, ao mesmo tempo, proteger às
relações de consumo frente às incertezas por aquelas trazidas?
Dentro deste quadrante, novas ferramentas têm surgido, como o sandbox, a fim de
conjugar o desenvolvimento tecnológico com os direitos básicos do consumidor, de modo que,
antes da entrada do produto e/ou do serviço no mercado, já seja possível antever algumas
questões que repercutirão no âmbito jurídico e, portanto, regulá-las se preciso o for.
Assim, em síntese, com o presente trabalho objetiva-se, inicialmente, fazer um
panorama das novas tecnologias. Em seguida, apresentar o sandbox regulatório e como este
pode ser aplicado àquelas. Posteriormente, abordar as possíveis consequências da
implementação daquele às inovações e os efeitos no âmbito consumerista. Por fim, trazer as
considerações finais sobre a presente temática.
Destaca-se que o debate sobre as novas tecnologias e suas consequências têm recebido
a atenção de diversos âmbitos do saber jurídico, não só no Brasil como em todo o Mundo, já
que aquelas impactam, máxime, as relações de consumo. Desse modo, almeja-se contribuir com
as discussões sobre novas tecnologias, sandbox regulatório e as relações consumeristas.
2 METODOLOGIA
do problema das inseguranças nas relações de consumo devido às novas tecnologias. Desse
modelo hipotético geral, busca-se deduzir se pode ser aplicado aos demais casos.
No âmbito procedimental, a pesquisa tem caráter exploratório, uma vez que não se
pretende esgotar a temática, mas descortiná-la, já que o tema é novo e, por isso, não possui
entendimentos consolidados.
Por fim, no tocante à técnica de pesquisa, a adotada foi a bibliográfica-documental,
posto que se valerá de alguns escritos, de legislação, de doutrinas, para construir o raciocínio.
possibilidade de enquadrá-las nas normas já postas. Ademais, não raro, a elaboração de medidas
emergenciais, como fito de atender alguma urgência social, muitas vezes acaba por prejudicar
bastante o mercado, recrudescendo os investimentos, ao tempo em que para o consumidor não
passa de um direito meramente simbólico, sem qualquer eficácia prática.
Nesse mote, veio à tona a aplicação do sandbox regulatório às inovações, a fim de
contribuir para a segurança jurídica das relações e conferir outros benefícios a mais
(FEIGELSON, 2019). Entretanto, que é o sandbox regulatório?
Inicialmente, aponta-se que o sandbox diz respeito à “caixa de areia para brincar”
(SOARES, 2019), como as existentes nas praças, nos colégios, onde os pais e os professores
deixam as crianças brincando e desenvolvendo atividades livremente, enquanto ficam apenas
as observando de fora e, eventualmente, fornecem alguma orientação e/ou repressão.
Pode-se dizer que foi partindo desta ideia, isto é, da diversão das crianças em um
ambiente controlado, cujos efeitos e consequências se restringe a estes, que, em 2015, a
Autoridade de Controle Financeiro da Inglaterra, a Financial Conduct Authority (FCA), atentou
para o potencial do uso do sandbox com fins regulatórios. Na oportunidade, observou-se que
em um ambiente delimitado (número limitado de consumidores, tempo e espaço pré-fixados),
ficava mais propício para o atingimento de maior eficácia, de economicidade e de segurança
para os produtos e os serviços, especialmente, no que diz respeito aos financeiros.
Isto porque, com os resultados obtidos da experiência dos produtos e dos serviços pelos
consumidores, acompanhados pelas autoridades e pelas próprias empresas, é possível fomentar
o desenvolvimento de inovações sem que estas incorram em infrações legais ou regulatórias,
além de possibilitar o compartilhamento de informações e a construção conjunta de soluções
para o aprimoramento dos produtos e dos serviços (BARBOSA, 2019).
O sistema de assistido de regulação traz algumas vantagens, como a diminuição do
tempo de mercado, o estímulo aos investimentos, ao desenvolvimento de novas tecnologias
(FEIGELSON, 2019; RODRIGUES, TEIXEIRA, 2019). Ademais, muito embora no ambiente
de testas não seja garantido o resultado, as empresas participantes do sandbox devem arcar com
eventuais prejuízos aos consumidores que se dispuseram à experiência (SOARES, 2019).
Noutro giro, quanto às desvantagens, estas dizem respeito ao fato de em muitos países
ter várias autoridades reguladoras e, por sua vez, fazer com que as empresas tenham de
participar de vários sandboxes, inviabilizando os projetos. Ainda, se não houver regras claras,
pode pecar na transparência, também conferir privilégios as grandes empresas (BARBOSA,
2019). Todavia, estas questões podem ser superadas, na medida em que os Estados e os
mercados forem adotando o referido modelo de viabilidade das inovações.
85
Destarte, com o sandbox regulatório aplicado às novas tecnologias, estas são postas à
prova e, uma vez aprovadas, vão para o mercado com mais segurança para todos, já que as
intervenções regulamentares e jurídicas necessárias são conjuntamente formuladas.
de Valores Mobiliários (CVM) do Brasil, que, desde 2017, vem sinalizando para a utilização
do sandbox regulatório, com a realização de inúmeros debates ao ponto de, em maio de 2020,
ter sido elaborada e aprovada a Instrução Normativa nº 626 (CVM, 2020).
Com a normativa, foi institucionalizando a utilização do sandbox regulatório para o
mercado financeiro brasileiro. Entre as finalidades da ferramenta estão: o incentivo à inovação,
conferir celeridade ao mercado, diminuir os custos, fomentar a competição, aprimorar as
normas, entre outras. Ademais, assentou-se que todo o processo de seleção das novas
tecnologias, a forma de monitoramento dos participantes e as demais questões, têm como foco
conferir benefícios e proteger os consumidores, em ultima ratio, as relações de consumo.
4 CONCLUSÕES
5 REFERÊNCIAS
BARROS, Thiago. Internet completa 44 anos; relembre a história da web. In: Portal
TechTudo. Publicado em: 07.04.2013. Disponível em: https://www.techtudo.com.br/
artigos/noticia/2013/04/internet-completa-44-anos-relembre-historia-da-web.html. Acesso
em: 08 jun. 2020.
FEIGELSON, Bruno. Sandbox: primeiras reflexões a respeito do instituto. In: Revista dos
Tribunais Online. Revista de Direito e as Novas Tecnologias. Vol. 1, 2018. Out-Dez.
NAKAMOTO, Satoshi. Bitcoin: a peer-to-peer electronic cash system. 2008. Disponível em:
https://bitcoin.org/bitcoin.pdf. Acesso em: 08 jun. 2020.
SOARES, Luciana de Paula. Sandbox, um modelo regulatório atraente para incentivar a oferta
de serviços financeiros inovadores e que contribui para uma legislação mais assertiva. In:
Direito, governança e novas tecnologias. Organização CONPEDI/CESUPA Coordenadores:
Danielle Jacon Ayres Pinto; Elísio Augusto Velloso Bastos; Aires Jose Rover – Florianópolis:
CONPEDI, 2019.
O AVANÇO TECNOLÓGICO E AS RELAÇÕES DE TRABALHO: O DIREITO À
DESCONEXÃO
TECHNOLOGICAL ADVANCEMENT AND LABOR RELATIONS: THE RIGHT
TO DISCONNECT
Resumo
O uso constante de tecnologias afetou a forma como os indivíduos organizam suas vidas e
interagem entre si. Essas transformações alcançam as relações de trabalho, uma vez que o
excesso de conectividade por parte do empregado dificulta o respeito aos limites da sua
jornada de trabalho. Nesse sentido, a presente pesquisa tem como objetivo expor o Direito à
Desconexão como fundamental à manutenção da dignidade do trabalhador, analisando de que
maneira a legislação e a jurisprudência brasileira abordam a temática.
Abstract/Resumen/Résumé
The constant use of technologies has affected the way individuals organize their lives and
interact with each other. These changes affect employment relationships, since the excessive
connectivity of the employee makes it difficult to respect the limits of their workday. Thus,
the present research aims to expose the Right to Disconnect as fundamental to preserve the
worker's dignity, analyzing how Brazilian's legislation and jurisprudence deals with the
theme.
88
1 Introdução
O progresso tecnológico promete alterar cada vez mais a maneira tradicional como a
sociedade de organiza. A partir deste, os direitos à privacidade e à intimidade, sobretudo nas
relações e no ambiente de trabalho, ganham maior atenção, haja vista que o empregador, ao
exercer seu poder diretivo da atividade econômica, acaba, por muitas vezes, cometer excessos
e submeter o trabalhador a jornadas de trabalho extenuantes.
89
(2010), o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa será
predominantemente dialético.
Quanto à natureza dos dados, serão fontes primárias: dados extraídos de documentos
oficiais ou não oficiais, legislação, jurisprudência, dados estatísticos e informações de
arquivos. Serão dados secundários: livros, artigos e artigos de revistas especializadas sobre o
tema.
A Constituição Federal de 1988 consolidou, em seu artigo 6º, que qualquer cidadão
possui o direito ao lazer e à saúde. Portanto, para garantir estes direitos fundamentais, é
90
imprescindível o direito a desconectar-se do labor e de qualquer atividade profissional quando
fora de seu horário de ofício.
E, sem que haja uma efetiva limitação da jornada, não há como o trabalhador exercer
suas funções de maneira salubre e segura e, se não há respeito à segurança e à saúde no
trabalho, o mesmo perde sua função social, não gerando qualquer benefício à dignidade do
empregado.
91
arterial, perda de memória, ganho de peso e depressão entre outros
problemas.” (DARCHANCHY, 2006)
Não obstante sua influência, o Direito Brasileiro ainda é omisso quando se trata de
uma legislação que trate pormenorizadamente acerca do direito à desconexão. Com a recente
92
Reforma Trabalhista, promovida pela Lei 13. 467/2017, o legislador perdeu a oportunidade de
abordar a temática, não fazendo menção ao assunto.
A realidade brasileira, contudo, pode vir a ser modificada ao longo dos anos. Nesse
sentido, já é possível identificar uma abordagem ao direito à desconexão no Judiciário, a
partir de decisões em que os tribunais brasileiros enfrentaram a questão, como neste julgado
do Tribunal Superior do Trabalho:
Além disso, em 2011 a CLT sofreu alterações em seu artigo 6o, que passou a
equiparar o trabalho realizado pelo empregado em sua residência com aquele realizado no
estabelecimento do empregador.
4 Considerações finais
93
gera uma grande preocupação em preservar os limites estabelecidos entre a jornada de
trabalho e o repouso.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DARCANCHY, Mara Vidigal. Assédio moral no meio ambiente do trabalho. Jus Navigandi.
Disponível em: <https://jus.com.br/artigos/7765/assedio-moral-no-meio-ambiente-do-
trabalho>. Acesso em: 10 jun.2020.
94
Pós-Graduação em Direito do Trabalho, Processo do Trabalho e Previdenciário da UNIJUÍ,
Rio Grande do Sul, 20 maio 2019. Disponível em:
https://bibliodigital.unijui.edu.br:8443/xmlui/handle/123456789/5923. Acesso em: 10 jun.
2020.
GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa
jurídica: teoria e prática. 3ª. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2010.
LEAL, Carla Reita Faria; ROCHA, Solange de Holanda. Riscos ambientais laborais na
sociedade global e sua proteção jurídica. Revista Veredas do Direito, Belo Horizonte, v. 15,
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http://www.domhelder.edu.br/revista/index.php/veredas/article/view/1351. Acesso em: 10 de
junho de 2020.
WITKER, Jorge. Como elaborar uma tesis en derecho: pautas metodológicas y técnicas para
el estudiante o investigador del derecho. Madrid: Civitas, 1985.
95
O DESAFIO DA UNIFICAÇÃO DA INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL NO
JUDICIÁRIO BRASILEIRO
THE CHALLENGE OF UNICATION OF ARTIFICIAL INTELLIGENCE IN
BRAZILIAN JUDICIARY
Resumo
O presente estudo tem por objetivo analisar a problemática do grande desafio de conseguir
reunir em apenas um único software de inteligência artificial os sistemas já utilizados em
vários Tribunais de Justiça do país. Visa-se que esse software possa ser utilizado no
judiciário brasileiro inteiro, para auxiliar nas diversas etapas do processo. Assim, o estudo
examinará as inteligências que estão sendo testadas e aplicadas, os impactos que essas
inovações trazem para a economia e produtividade processual, bem como observar quais
cuidados devem ser tomados para que se evite que vieses humanos sejam empregados e
comprometam a acuidade da máquina.
Abstract/Resumen/Résumé
The present study aims to analyze the challenge of being able to gather in just one single
artificial intelligence software the systems already used in several Courts of Justice in the
country. It is intended that this software can be used in the entire Brazilian judiciary, to assist
in the various stages of the process. Thus, the study will examine the intelligences that are
being applied, the impacts they bring to the economy and procedural productivity, as well as
observe what precautions must be taken to avoid that human biases are employed and
compromise the accuracy of the machine.
96
1 INTRODUÇÃO
97
testados e aplicados pelos Tribunais brasileiros, tendo como problemática central a ser debatida
o desafio da unificação desses softwares que desempenham diferentes funções, em algo uno
que execute todas as funções já desenvolvidas, e que seja utilizado em todo território nacional.
Por último, a metodologia de abordagem utilizada neste trabalho foi a dedutiva,
envolvendo análise de textos e obras correlatas para alcançar os objetivos pretendidos, enquanto
a metodologia de procedimento foi o resumo expandido. Já a técnica utilizada é a pesquisa
bibliográfica que consiste na consulta a doutrina, artigos, legislação, notícias e pesquisa
audiovisual, pautada em filmes e documentários, relacionados com a temática.
2 DESENVOLVIMENTO
1
Adota-se neste artigo como controlador, em regra, o Técnico de Tecnologia da Informação, o qual dependendo
da área em que a IA será aplicada demandará de auxilio técnico de profissionais das demais áreas da ciência.
98
Assim, por mais que muitas vezes se utiliza a palavra máquina para referir-se à
inteligência artificial, esta, não necessariamente encontra-se tendo um corpo físico, sendo na
verdade um software2, que pode ser constituída da parte física, o chamado hardware3.
Isto posto, é necessário ressaltar, portanto, o importante papel do controlador no
processo de aprendizado da máquina, pois é este que irá inserir as informações na máquina e
depois monitorará os resultados ou padrões encontrados/aplicados pela IA.
Por isso é imprescindível que esse criador seja prudente e cauteloso, para não inserir
vieses4 na máquina, tendo em vista que a IA é programada por seres humanos e que estes,
mesmos sem perceber podem cometer discriminações e preconceitos, o que levaria a máquina
a repetir esses padrões, levando-a a cometer possíveis erros ou até mesmo injustiças.
Essa ponderação, torna-se ainda mais relevante quando se adentra ao campo da
aplicação da IA no judiciário, tendo em vista que os processos judiciais lidam com casos que
impactará significativamente a vida dos envolvidos na lide.
Em vista disso, é primordial analisar como vem sendo utilizada a inteligência artificial
pelo poder judiciário, no qual, os próprios tribunais desenvolveram sistemas de IA, o que diga-
se de passagem se faz muito positivo, tendo em vista que a terceirização da criação de IA por
alguém de fora, seria algo muito delicado, pois estes poderiam se aproveitar para recolher dados
com interesses pessoais e econômicos.
Assim, primeiramente cabe destacar o projeto VICTOR “que é uma parceira do
Supremo Tribunal Federal (STF) com a Universidade de Brasília (UnB), em homenagem a
Victor Nunes Leal, Ministro do STF de 1960 a 1969, principal responsável pela sistematização
da jurisprudência do STF em Súmula, o que facilitou a aplicação dos precedentes judiciais aos
recursos, basicamente o que será feito por VICTOR” (STF, 2018).
Conforme aponta Jeferson Melo (2019) o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
(TJRN) em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), criou
“POTI, CLARA E JERIMUM. O primeiro está em plena atividade e executa tarefas de
bloqueio, desbloqueio de contas e emissão de certidões relacionadas ao BACENJUD. Em fase
de conclusão, JERIMUM foi criado para classificar e rotular processos, enquanto CLARA lê
documentos, sugere tarefas e recomenda decisões”.
2
Software é o conjunto de programas ou aplicativos, instruções e regras que permitem ao equipamento
funcionar.
3
Hardware são as partes físicas do equipamento.
4
Dicionário Online de Português: Vieses: é um termo usado em estatística para expressar o erro sistemático ou
tendenciosidade.
99
Já no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) o sistema de IA recebeu o nome de
RADAR no qual “é capaz de ler processos e separar os que são similares, dessa forma, ao juntar
processos parecidos, o sistema sugere um padrão de voto, que então é revisado por um relator.
O Radar também pode ser aplicado aos processos administrativos do Sistema Eletrônico de
Informações (SEI) do TJMG. O sistema conta também com taquigrafia digital, em que capta
áudio e vídeo dos participantes das audiências e converte voz em texto, assim arquivo gerado
vai para a Central de Taquigrafia que gerência os documentos e os encaminha para anexação
ao processo” (JURISBLOG, 2019).
Cabe ressaltar que o “tribunal mineiro reduziu em R$ 800 mil o gasto com capas de
processos, folhas de papel e grampos” (CNJ, 2019), o que é muito positivo economicamente
para a justiça e para o meio ambiente.
No Tribunal de Justiça de Rondônia (TJRO) desenvolveu o sistema chamado SINAPSE
o qual “auxilia na elaboração de sentenças” (JURISBLOG, 2019).
Por último, discorre-se sobre a ELIS, sistema de IA criada no Tribunal de Justiça de
Pernambuco (TJPE), no qual sua função é “realizar a triagem de processos ajuizados (execuções
fiscais) eletronicamente e confere os dados, classificando-os e verificando a existência de
prescrição e competência (IBID, 2019). Assim conforme elucidação do CNJ:
Dessa forma, verificou-se alguns dos softwares de inteligência artificial que estão
espalhados pelos tribunais brasileiros, suas funções e os impactos positivos dessas inovações,
seja no fato otimizar a gerencia do tempo, vez que a máquina trabalha 24 hora por dia, todos os
dias, em tarefas repetitivas, liberando os servidores a dedicarem maior tempo a tarefas
cognitivas.
Bem como, ser benéfico: ao meio ambiente, já que os meios materiais estão entrando
em desuso; ao judiciário, sociedade e Estado, tendo em vista a redução de custos; e finalmente
caminhar para efetivar o Princípio da Celeridade Processual e da Razoável Duração do
100
Processo, elencado na Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, inciso LXXVIII5,
diminuindo a morosidade no poder judicial.
Entretanto, há um grande desafio a ser superado, que é poder unificar esses sistemas
para que todo o judiciário brasileiro possa se beneficiar das inovações já alcançadas, tendo em
vista que, os sistemas acimas supracitados exerce funções distintas, seria ainda mais proveitoso
e útil poder juntá-las em apenas um único software.
3 CONCLUSÃO
5
Art.5º, inciso LXXVIII, CF/88: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável
duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação. (Incluído pela Emenda
Constitucional nº 45, de 2004).
6
São empresas especializadas em automação de serviços jurídicos.
101
humana e capacidade de explicação dos processos automáticos de decisão, de modo a legitimar
o emprego das ferramentas, sem gerar questionamento e desconfiança por parte dos
destinatários e seus operadores, advogados e procuradores.
Ainda, essa uniformização ajudaria na melhor destinação dos recursos públicos pois
sabendo-se que vários tribunais estão investindo em IA, sem comunicação com os demais
tribunais, tais poderiam estar gastando tempo e dinheiro criando sistemas praticamente iguais,
quanto o melhor seria compartilhar as ideias, ajusta-las e implementar um sistema que seja
compatível com todos. Não se quer desestimular a criação de IA, e sim, que esses
desenvolvimentos sejam organizados, planejados, discutidos, coordenados, para maximizar
seus benefícios e eliminar pontos negativos, discriminatórios, preconceituosos e divergentes
Desse modo, é necessário buscar entender as necessidades do poder judiciário para que
estas sejam atendidas de forma inteligente e satisfatória, criando uma base de dados segura,
para isso é necessário avaliar as ferramentas já desenvolvidas de modo isolado, para ajudar a
resolver o desafio da unificação do software de IA de forma harmônica respeitando os
princípios constitucionais, éticos e legais no qual a inovação seja transparente e cautelosa, pois
seus impactos e consequências são ainda incertos.
Por fim, cabe ressaltar que a IA aplicada com todas essas observâncias não irá substituir
o trabalho humano, mas sim dar efetividade a devida duração do processo.
4 REFERÊNCIAS
MELO, Jairo. Tribunal de Justiça do Distrito Federal. 2020. Inteligência artificial: uma
realidade no Poder Judiciário. Disponível
102
em:https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/artigos-discursos-e-
entrevistas/artigos/2020/inteligencia-artificialAcesso em: 05jun. 2020.
MELO, Jeferson. Conselho Nacional de Justiça (CNJ). 2019. Judiciário ganha agilidade
com uso da inteligência artificial. Disponível em: https://www.cnj.jus.br/judiciario-ganha-
agilidade-com-uso-de-inteligencia-artificial/ Acesso em: 07jun. 2020.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Notícias STF. 2018. Inteligência artificial vai agilizar
a tramitação de processos no STF. Disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=380038 Acesso em:
05jun. 2020.
103
O DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES AUTOMATIZADAS
THE DUTY OF RATIONALE FOR AUTOMATED DECISIONS
Resumo
O trabalho trata da utilização da Inteligência Artificial como suporte das decisões judiciais e
a necessidade de fundamentação. Assim, o problema de pesquisa do trabalho é se as decisões
de casos repetitivos por programa de IA atendem ao dever de fundamentação previsto no
artigo 489 do CPC? A hipótese de trabalho que as decisões proferidas em casos repetitivos
por programa de IA atendem o dever de fundamentação quando realizado o explanation. O
objetivo é investigar de que forma a IA vem sendo aplicada pelo Poder Judiciário e utilizar a
teoria de Manuel Atienza para um modelo de fundamentação dessas decisões.
Abstract/Resumen/Résumé
The work deals with the use of Artificial Intelligence to support judicial decisions and the
need for justification. So, the problem of job research is whether the decisions of repetitive
cases by AI program meet the duty of reasoning provided for in article 489 of the CPC? The
working hypothesis that decisions made in repetitive cases by AI program meet the duty of
reasoning when the explanation is carried out. The objective is to investigate how AI has
been applied by the Judiciary and to use Manuel Atienza's theory for a model to support these
decisions.
104
INTRODUÇÃO
O crescente desenvolvimento de novas tecnologias impactou a todos no momento em
que se fez presente e acessível na vida cotidiana de grande parte da população mundial e
brasileira. Também no Sistema do Direito e no Judiciário brasileiro, as tecnologias se fizerem
presentes nos últimos anos, principalmente desde o início do uso da internet, com o
desenvolvimento de softwares de comunicação interna dos Tribunais e, dentre outros, a
utilização do processo eletrônico. Para além do uso da tecnologia, no âmbito do Poder
Judiciário brasileiro, também há iniciativas nesse mesmo sentido de utilização da inteligência
artificial.
No âmbito do Poder Judiciário brasileiro há iniciativas nesse mesmo sentido,
tendo-se como exemplo o sistema RADAR do TJMG, que consiste em um sistema para
indexação automática de processos, a fim de identificar com maior facilidade a existência de
demandas repetitivas, já o Supremo Tribunal Federal criou seu próprio programa de IA,
chamado VICTOR com o objetivo inicial de ler os recursos extraordinários interpostos,
identificando vinculações aos temas de repercussão geral, com o objetivo de aumentar a
velocidade de tramitação.
A presença desses sistemas de inteligência artificial no âmbito do Poder Judiciário
levanta questões que fazem com que se passe a refletir sobre os reflexos do emprego dessas
tecnologias no direito, especialmente no Brasil, onde os elevados números de processos que
aguardam uma solução lotam os Tribunais. Com vistas a isso, sistemas como o VICTOR e
RADAR foram desenvolvidos com o escopo de agilizar os trâmites dos processos, proferindo-
se decisões judiciais em menos tempo.
Apesar disso, não se deve esquecer o dever de fundamentação das decisões judiciais
posto no art. 93, IX da Constituição e como um dos marcos norteadores do CPC/2015, assim
como exigência constitucional a fundamentação das decisões é um modo de garantir a
proteção dos direitos fundamentais presentes no processo.
Ainda tem-se a consideração do Direito como argumentação, isso porque, com as
mudanças que tem se produzido nos sistemas jurídicos contemporâneos levam a um
crescimento em termos quantitativos e qualitativos da exigência de fundamentação e de
argumentação das decisões provenientes dos órgãos públicos e essa exigência se torna ainda
maior com a utilização de tecnologias pelo Judiciário.
Por isso, a presente pesquisa pretende investigar se as decisões proferidas em casos
repetitivos por programa de IA atendem ao dever de fundamentação previsto no artigo 489 do
Código de Processo Civil. Tendo como hipótese de trabalho que as decisões proferidas em
105
casos repetitivos por programa de IA atendem o dever de fundamentação quando são
utilizados algoritmos dotados de explanation. Sendo assim, os objetivos do trabalho são:
Investigar de que forma a IA vem sendo aplicada no Direito e pelo Poder Judiciário,
especialmente no brasileiro com o programa RADAR e utilizar a teoria da argumentação de
Manuel Atienza como suporte teórico a um modelo de fundamentação das decisões
automatizadas.
O ponto chave que relaciona a utilização de IA no Judiciário, especialmente quanto a
busca pela eficiência, com a aplicação da ideia de precedentes, adaptada ao contexto dado
pelo CPC, é o desenvolvimento de um modelo de argumentação baseado nas teorias já
existentes, como de Manuel Atienza, mas que utilize os recursos da IA, como as decision
trees. Para isso, inicialmente é preciso ter uma noção sobre o que representa a argumentação
jurídica e a teoria de Manuel Atienza, e entender os conceitos de decision trees e explaination.
DESENVOLVIMENTO
Conforme já apontado por Karl Branting (1998, p. 106), é difícil crer na elaboração de
um robô que assuma plenamente as funções do juiz, resolvendo todas as dificuldades que
envolvem a jurisdição como ela funciona hoje. Contudo, a aplicação da inteligência artificial à
prática judicial pretende fornecer instrumentos para auxiliar a atividade jurisdicional e
garantir o aprimoramento de novas técnicas de modelização da racionalidade legal e construir
um novo modelo de decisões judiciais que não pretenda ser igual aos juízes humanos, e sim
comparável em diversos critérios com eles.
Para exemplificar a ajuda que uma inteligência artificial pode proporcionar a
atividade jurisdicional tem-se o sistema RADAR desenvolvimento pelo TJ/MG, onde o
Núcleo de Gerenciamento de Precedentes – Nugep utiliza a ferramenta para pesquisar
processos em tramitação nos quais o ponto controvertido demonstra potencial repetitividade,
sendo útil para identificar eventual existência de decisões divergentes. Nesse caso, após a
verificação dos requisitos de instauração de incidentes de resolução de demandas repetitivas
(IRDR), elencados no artigo 976 do CPC, o Nugep encaminha essas informações ao
desembargador que é relator do processo em que se discutem essas questões de direito, o que
pode ensejar a admissão do IRDR. Desse modo, a ferramenta permite a identificação de
processos ainda não julgados e que podem ser paradigmas para instauração do incidente.
Como o RADAR também está alimentado com dados relativos aos temas repetitivos
do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ) (como questão
submetida a julgamento, número do processo-paradigma, tese firmada), os servidores do
106
Nugep utilizam-no para realizar pesquisas quando há distribuição de novos IRDR/IAC, a fim
de verificar se há temas semelhantes nos tribunais superiores – em sede de recurso
extraordinário com repercussão geral no âmbito do STF ou em sede de recurso especial
repetitivo no STJ. Essa modalidade de pesquisa é também feita de forma reversa: quando se
criam novos temas nesses tribunais, verifica-se se há algum IRDR em trâmite no TJMG. Por
fim, por meio de termos e palavras-chave, é possível identificar recursos que tratam do
mesmo objeto e que estejam em trâmite nesta Corte para os quais já existem precedentes no
STJ, no STF ou mesmo no TJMG, procedimento que possibilita a aplicação de uma solução
uniforme ao julgamento dos processos em curso. Nessa perspectiva, o RADAR traz
celeridade e segurança jurídica à prestação jurisdicional oferecida pelo Tribunal mineiro.
A aplicação da IA ao processo judicial agiliza a leitura, compreensão e aponta possí-
veis soluções ao processo, aproveitando a capacidade de processamento dos processadores
dos hardwares e as chamadas redes neurais, onde os computadores, dispostos e interligados
em redes conectadas à internet, possibilitam que os algoritmos busquem informações e as
apresentem aos usuários de maneira rápida e segura. Nesta senda, novas tecnologias surgem
como uma promessa de facilitar a vida dos servidores públicos, sendo capazes de executar
ações repetitivas para que os funcionários possam se dedicar a tarefas mais sofisticadas. Vale
lembrar que a utilização da inteligência artificial se conecta aos princípios da eficiência (arts.
37 da CF e 8º do CPC/15) e da duração razoável do processo (art. 5º, LXXVIII e 4º, 6º e 139,
II, do CPC/15), na medida em que o novo diploma processual delegou ao Conselho Nacional
de Justiça a regulamentação dos avanços tecnológicos (art. 196 do CPC/15).
Uma das formas de atender com maior eficiência a grande quantia de demandas no
judiciário brasileiro foi a sistematização dos precedentes no CPC/15, bem como os institutos
de demandas repetitivas. O cerne da ideia de precedente judicial, que o Direito brasileiro cada
vez mais procura incorporar, consiste, portanto, na atribuição de eficácia vinculante às
decisões sucessivas àquelas proferidas em casos idênticos ou análogos. (TARUFFO, 2014, p.
465) o caráter vinculante dos precedentes decorre da necessidade de tratamento isonômico
entre os jurisdicionados, a qual é atingida por intermédio da seleção de aspectos relevantes de
um caso submetido a julgamento (ratio decidendi), com a posterior aplicação deste
entendimento a casos semelhantes.(WAMBIER, 2009, p. 129). Importante compreender de
que é imprescindível justificar-se sempre a aplicação de um precedente, identificando-se os
fundamentos determinantes do precedente que se deseja aplicar, bem como os fatos
subjacentes no precedente, a fim de verificar-se a correlação fática e jurídica entre o
paradigma e o caso concreto. (MARINONI, 2015, p. 2077)
107
Aqui cabe compreender que o dever de fundamentação está relacionado à necessidade
de controle político e social da função jurisdicional, é exigência constitucional que a sentença
e demais atos jurisdicionais sejam motivados, sob pena de nulidade (art. 93, IX). No mesmo
sentido é o novo CPC, ao determinar que todas as decisões do Poder Judiciário sejam
fundamentadas (art. 11, 2ª parte). A motivação é considerada a parte mais importante da
decisão. Nela, o juiz subsumirá os fatos em apreço às normas, fixando as bases sobre as quais
se assentará o julgamento.
Esse exercício de fundamentação pressupõe uma lógica jurídica da argumentação, de
modo que a decisão judicial é um ato em que ocorre a argumentação jurídica, pois, se o juiz é
obrigado por lei a fundamentar de sua decisão judicial, o caminho para alcançar esse fim
passa, necessariamente, pela argumentação. Segundo aduz Humberto Theodoro Júnior (2015,
p. 344), a decisão judicial não pode ser produto de pura decisão (escolha), mas deve reclamar
para si a pretensão de correção, vale dizer, não é suficiente que exista a decisão judicial, sendo
imperioso que ela seja íntegra, coerente, conforme o Direito Positivo (justificação interna) e
racionalmente aceitável, isto é, fundamentada (justificação externa).
O ponto chave que relaciona a utilização de IA no Judiciário, especialmente quanto a busca
pela eficiência, com a aplicação da ideia de precedentes, adaptada ao contexto dado pelo CPC,
é o desenvolvimento de um modelo de argumentação baseado nas teorias já existentes, como
de Manuel Atienza, mas que utilize os recursos da IA, como as decision trees. Para isso,
inicialmente é preciso ter uma noção sobre o que representa a argumentação jurídica e a teoria
de Manuel Atienza.
Proposto por Atienza, um modelo que incorpora a perspectiva pragmática da
argumentação, pois essa perspectiva permite dar conta dos elementos formais e materiais da
argumentação. O método assinalado por Atienza (2009), se baseia na utilização de diagramas
e setas e nele se encontra tanto o aspecto inferencial, ou seja, a passagem de uns argumentos a
outros, quanto os tipos de enunciados, a natureza das premissas e seu conteúdo proposicional,
e os diversos atos de linguagem que são levadas a cabo em cada um dos passos. Ainda, esse
método permite captar a diferença entre as argumentações, as linhas argumentativas e os
argumentos.
Nesse ponto, é possível, então, relacionar a teoria da argumentação jurídica de Manuel
Atienza apresentada no item anterior com o conceito de decision trees, eis que se assemelham
e podem ser complementares. Uma árvore de decisão é uma ferramenta de suporte à tomada
de decisão que usa um gráfico no formato de árvore e demonstra visualmente as condições e
as probabilidades para se chegar a resultados. O algoritmo utilizado para chegar na
108
representação visual da árvore pertence ao grupo de aprendizado de máquina supervisionado,
e funciona tanto para regressão quanto para classificação.
O processo de construção do modelo da árvore se chama de indução, e pode exigir
bastante poder computacional. O propósito da árvore de decisão é fazer diversas divisões dos
dados em subconjuntos, de tal forma que os subconjuntos vão ficando cada vez mais puros.
Um subconjunto dos dados será mais puro na medida em que contém menos classes (ou
apenas uma) da variável target.
Decision Tree são técnicas de machine learning que aprendem as três perguntas mais
comuns ou solicitadas determinam se uma instância é uma instância positiva de um
classificador. Cada pergunta é um teste: por exemplo, se o peso de um recurso específico for
menor que um valor limite, ramifique para um lado, caso contrário, para o outro. (ASHLEY,
2017, p. 396) Para aprender uma árvore de decisão a partir das unidades de texto em um
conjunto de treinamento, o algoritmo primeiro escolhe um recurso na base do que será
apresentado aos dados. Onde os recursos são binários, um algoritmo pode incluir o banco de
dados como uma qualidade da avaliação da característica e das condições do teste. O
algoritmo adiciona um nó de decisão à árvore que testa o valor do recurso: se "sim", pegue o
ramo direito e se "não" vá para a esquerda. (ASHLEY, 2017, p. 279)
Esse modelo como auxílio para a tomada de decisões pode se relacionar com a
argumentação já conhecidas, pois um sistema de machine learning baseado em árvores de
decisão ou redes bayesianas é muito mais transparente para programadores inspeção, que
pode permitir que um auditor descubra quais informações o algoritmo de IA usa na construção
de sua decisão. (BOSTROM; YUDKOWSKY, 2013, p. 3) Dessa forma, as decision trees se
abrem em uma rede de argumentos que geram informações que permitem a justificação e a
fundamentação da decisão tomada e, por isso, podem ser consideradas transparentes e
semelhantes a decisão humana.
A presença de IA nos sistemas judiciários se tornou uma preocupação grande o
suficiente para a União Europeia promulgar um regulamento sobre o tema, relativo à proteção
das pessoas no que diz respeito ao tratamento de dados pessoais e à livre circulação desses
dados. Em seu artigo 22º o documento normativo firma que “O titular dos dados tem o direito
de não ficar sujeito a nenhuma decisão tomada exclusivamente com base no tratamento
automatizado(...)” Os princípios desse documento da União Europeia articulam requisitos
para que os sistemas de IA sejam projetados e implementados para permitir a supervisão,
inclusive através da tradução de suas operações em saídas inteligíveis e no fornecimento de
informações sobre onde, quando e como eles estão sendo usados.
109
Os princípios da transparência e explainbility são os meios de respostas a essa
preocupação, sendo que a transparência refere-se as informações necessárias para justificar ou
explicar uma decisão, bem como detalhes sobre quem pode ser responsabilizado por essa
decisão. E a “explicabilidade” implica que o público receba uma explicação ou justificativa
para a decisão tomada, uma descrição do processo que a antecedeu e uma descrição de quem é
responsável por ela. (Floridi, 2018, p. 699) Dito de outra forma, uma explicação satisfatória
deve ter a mesma forma que a justificativa que exigiríamos que um ser humano tomasse o
mesmo tipo de decisão.
A explicabilidade é particularmente importante para sistemas que podem causar danos,
têm um efeito significativo sobre os indivíduos, ou impacto na vida da pessoa. (Fjeld, 2018, p.
42) Assim, o princípio da explicabilidade está intimamente relacionado ao tema da
Responsabilidade, bem como ao princípio do “direito à revisão humana da decisão
automatizada”. A Declaração de Toronto (2018) menciona a explicabilidade como um
requisito necessário para examinar efetivamente o impacto dos sistemas de IA nos indivíduos
e grupos afetados, estabelecer responsabilidades e responsabilizar os atores.
CONCLUSÃO
Recursos de inteligência artificial já são uma realidade no Direito, sendo
implementado nos seus mais diversos âmbitos, uma atenção especial deve ser dada para a
utilização desses recursos pelo Poder Judiciário como suporte para a tomada de decisões pois
num processo judicial, atentando-se ao dever de fundamentação e explicabilidade da decisão.
Diante disso, percebe-se que as novas tecnologias, como a Inteligência Artificial, se juntaram
ao Direito como um modo de avanço e de adaptação às novas realidades. Essas tecnologias
vêm para auxiliar nas tarefas do Judiciário, fazendo com que os processos tenham andamento
mais rápido, enquanto as partes recebem tratamento isonômico. Por isso, é muito importante
que se tenha a devida diligência no momento em que os recursos de inteligência artificial são
construídos, pois no design dessas tecnologias devem constar a garantia de proteção dos
direitos das partes.
Exemplo disso, pode ser a utilização de um modelo baseado nas decision trees como
auxílio para a tomada de decisões que pode se relacionar com a argumentação já conhecidas,
como a teoria de Atienza, pois um sistema de machine learning baseado em árvores de
decisão ou redes bayesianas é muito mais transparente para programadores inspeção, que
pode permitir que um auditor descubra quais informações o algoritmo de IA usa na construção
de sua decisão. Dessa forma, as decision trees se abrem em uma rede de argumentos que
110
geram informações que permitem a justificação e a fundamentação da decisão tomada e, por
isso, podem ser consideradas transparentes e semelhantes a decisão humana.
Assim, a automação da justiça deve ser implementada e desenvolvida com o devido
cuidado ao dever de proteção aos direitos dos jurisdicionados para que combata a opacidade e
a irrefutabilidade dos resultados algorítmicos, de sua programação e aprendizado, para assim
se ter um maior controle sobre a utilização de IA. Para tanto, deve ser franquiado o
conhecimento sobre os dados e os algoritmos que formaram tal decisão para que seja atendido
o dever de correta fundamentação exigido pelo ordenamento jurídico brasileiro tanto na
Constituição Federal quanto pelo Código de Processo Civil.
REFERÊNCIAS
ASHLEY, Kevin. Artificial Inteligence and Legal Analytics: New tools for Law Practice in
digital age. New York: Cambridge University Press, 2017.
BOSTROM, Nick, and Eliezer Yudkowsky. Forthcoming. The Ethics of Artificial Intelligence.
In Cambridge Handbook of Artificial Intelligence, edited by Keith Frankish and William
Ramsey. New York: Cambridge University Press.
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de direito processual civil: teoria geral do direito
processual civil, processo de conhecimento e procedimento comum. 56. ed. Rio de Janeiro:
Forense, 2015. v. 1.
111
O FENÔMENO DA UBERIZAÇÃO E A PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO DOS
ENTREGADORES
THE PHENOMENON OF UBERIZATION AND THE PREPARATION OF THE
WORK OF EMPLOYERS
Resumo
Este projeto de pesquisa objetiva analisar como que as empresas aplicativos de “uberização”
estão se comportando de forma errônea com os entregadores, não atendendo aos direitos dos
trabalhadores. Com isso, procurou-se entender o porquê das empresas de delivery ainda não
consolidarem a relação de trabalho que opera como trabalho mas não confere a identidade
profissional. Pela análise da pesquisa, conclui-se que constitui um novo modelo de trabalho,
onde os trabalhadores tornam-se microempreendedores, mas com a caracterização de um
trabalho precário e explorativo. Por tanto, a metodologia adotada no projeto de pesquisa foi a
jurídico-sociológica, a técnica usada foi à teórica.
Abstract/Resumen/Résumé
This research project aims to analyze how the “uberization” application companies are
behaving in an erroneous way with the delivery personnel, not attending to the workers'
rights. With this, we tried to understand why delivery companies still do not consolidate the
working relationship that operates as work but does not confer professional identity. By
analyzing the research, it is concluded that it constitutes a new model of work, where workers
become microentrepreneurs, but with the characterization of precarious and exploratory
work. Therefore, the methodology adopted in the research project was legal-sociological, the
technique used was theoretical.
1 Graduanda em Direito, modalidade integral, pela Escola Superior Dom Helder Câmara (ESDHC).
112
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
A presente pesquisa tem-se seu começo no tema que aborda a questão do novo
modelo de trabalho informal, a “uberização”, na qual tem a precariedade e o modo
explorativo como principais características. No Brasil as startups de delivery interpõem a
oferta de serviços de quatro milhões de trabalhadores mal remunerados. Esse vínculo
trabalhista transformou mais dinâmica a força de geração de empregos debilitados no país, na
qual esse modelo de trabalho está associado à inconsistência por causa das empresas estarem
tentando burlar o Direito Trabalhista. É bastante normal ver hoje em dia trabalhadores na
profissão de motoboys, na forma de delivery, não tendo reconhecimento de seu vínculo
empregatício com a empresa para qual presta serviços.
É preciso considerar que a taxa de desemprego em nosso país aumentou muito
durante os anos, atingindo 11,2% no trimestre encerrado em janeiro de 2020 (BRASIL,
2020), o que consequentemente houve um aumento no número de pessoas que trabalham
informalmente, principalmente na área de delivery. Contudo, nota-se que não há uma
configuração laboral entre a empresa e o entregador, o que gera uma falta de
regulamentação mais efetiva dos direitos dos motofretistas, na qual nos mostra que “o
trabalhador “uberizado” encontra-se inteiramente desprovido de garantias, direitos ou
segurança associados ao trabalho; arca com riscos e custos de sua atividade; está disponível
ao trabalho e é recrutado e remunerado sob novas lógicas” (ABILIO, 2019).
Contudo, a uma necessidade de olharmos para a “precariedade dessa relação” de
trabalho, que já se submete os trabalhadores, onde tem-se a necessidade de revisar o vínculo
trabalhista entre as startups de delivery e os entregadores e fazer-se cumprirem os diretos
fundamentais, colocando os trabalhadores em condições mais dignas de trabalho, visto que a
Constituição Federal de 1988 assegura em seu Art.7 inciso XXXIV “igualdade de direitos
entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso” (BRASIL,
1988).
A pesquisa que se propõe pertence à vertente metodológica jurídico-sociológica. No
tocante ao tipo de investigação, foi escolhido, na classificação de Witker (1985) e Gustin
(2010), o tipo jurídico-projetivo. O raciocínio desenvolvido na pesquisa será
predominantemente teórico. Dessa maneira, a pesquisa se propõe a esclarecer se o Direito
Trabalhista, no que diz respeito se as regulamentações estão se cumprido e se está sendo
eficaz no novo modelo de trabalho informal e encobrindo os direitos dos motofretistas.
113
2. A INCONSISTÊNCIA DO TRABALHO DOS ENTREGADORES DE
DELIVERY
A teoria conceitual proposta pela autora procura demonstrar que o fato é que a
“uberização” deixa evidente uma relação obscurecida, entre desenvolvimento tecnológico e a
precarização do novo modelo de trabalho, visto que, para a compreensão da “uberização”,
temos que tirar um olho da inovação tecnológica para olhar o que há de mais precário e
socialmente invisível no mundo do trabalho. Abilio sustenta que “o trabalhador “uberizado”
encontra-se inteiramente desprovido de garantias, direitos ou segurança associados ao
trabalho” (ABILIO, 2019), que por sua vez nos mostra como a precarização desse trabalho
informal se da de forma alarmante no mundo contemporâneo.
Mesmo com a nossa Constituição Federal de 1998 assegurando os direitos desses
trabalhadores, as empresas preferem ignora-los para não terem que proporcionar certos
benefícios que lhes são garantidos, na qual a empresa se ausenta de qualquer tipo de
responsabilidade ou obrigação em relação aos seus “parceiros”, como são denominados os
cadastrados nesses aplicativos.
Contudo, vale ressaltar que além dos trabalhadores desse modelo estarem isentos a
qualquer tipo de benefícios, estão expostos a um trabalho explorativo, na qual a carga horário
de trabalho pode chegar a 18h para mais, sem pausa para o almoço e não tendo recompensa
por “hora extra”, além de terem que arcar com todas as despesas, como o celular, internet,
114
combustível, reparos no veículo tributos, seguros além de assumir a responsabilidade por
danos causados a terceiros. Isso nos mostra que a “uberização” do trabalho está cada vez mais
desumana, visto que as empresas aplicativos de delivery não atende a um dos principais
artigos dos Direitos Humanos, o Art. 23 estabelece:
1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a condições
justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.
2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneração por
igual trabalho.
3. Todo ser humano que trabalhe tem direito a uma remuneração justa e satisfatória,
que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatível com a
dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outros meios de proteção
social.
4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para
proteção de seus interesses. (ONU, 1948).
115
3. A FALTA DE RECONHECIMENTO DO VÍNCULO EMPREGATÍCIO DOS
MOTOFRETISTAS COM AS EMPRESAS APLICATIVOS DE DELIVERY
116
individualmente selecionados. O cadastro no aplicativo já habilita qualquer indivíduo
entregador, em condição regular de condução do veículo, a operar por meio das plataformas.
À vista disso, é impossível identificar o requisito da não eventualidade, o qual se consiste na
habitualidade do serviço, em casos nos quais não se tem carga horária, nem jornada de
trabalho previamente fixadas e nem obrigatoriedade de aceite dos pedidos de serviço
recebidos por meio da plataforma. O que nos prova isso é o fato de que os entregadores
possuem autonomia para ativar o aplicativo apenas quando for de seu interesse ou solicitar o
cancelamento de seu cadastro por sua mera liberalidade. Em se tratando da necessidade de
subordinação intrínseca às relações de emprego, é de se observar que não há poder de controle
das empresas sobre o trabalho executado pelos prestadores.
Contudo, nota-se que não é possível se estabelecer uma configuração laboral por
causa da falta de cumprimento dos requisitos legais previstos, principalmente por não se ter
pessoalidade, habitualidade e subordinação. Porém, muitos juristas dizem não ter esse vínculo
laboral entre o aplicativo e o entregador, mas ocorrem muitas ações que mostram que as
startups de entrega tem o controle e o domínio dos prestadores de serviços, onde as empresas
aplicativos de delivery ditam as remunerações, orientam as metas de trabalho, criam um
sistema de avaliação, que é baseado nas notas dadas pelos clientes, e dizem como o
trabalhador deve se portar, o que nos mostra que essas empresas não são simples
intermediadoras de transações de serviços, mas sim empregadoras que burlam o Direito
Trabalhista para não ter que cumprir o seu dever com o trabalhador.
Mesmo com a Associação Brasileira de Online to Offline (ABO2O) afirmando que a
falta de vínculo empregatício não quer dizer a falta de garantias. “A autonomia garantida aos
usuários cadastrados nestas plataformas da economia compartilhada não implica em ausência
de direitos sociais, garantidos pela legislação para todo e qualquer trabalhador autônomo”.
Contudo, mesmo com a confirmação da Associação, a falta do de uma legislação mais efetiva
ocorre por causa da ausência do reconhecimento empregatício.
Com isso, a necessidade de buscar mecanismos para a regulamentação dessa relação
de emprego, que vem se mostrando cada vez mais latente, uma vez que, tendo esse vínculo
laboral reconhecido, os entregadores poderão gozar de melhores benefícios e condições mais
favoráveis de serviço.
117
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
5. REFERÊNCIAS:
118
BRASIL. Lei n.13.467, de 13 de julho de 2017. Altera a Consolidação das Leis do Trabalho
(CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e as Leis n º 6.019, de 3
de janeiro de 1974, 8.036, de 11 de maio de 1990, e 8.212, de 24 de julho de 1991, a fim de
adequar a legislação às novas relações de trabalho. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm. Acesso em: 14
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GUSTIN, Miracy Barbosa de Sousa; DIAS, Maria Tereza Fonseca. (Re)pensando a pesquisa
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Brasil, Rio de Janeiro, 23 mar. 2020. Disponível em:
https://theintercept.com/2020/03/23/coronavirus-aplicativos-entrega-comida-ifood-uber-
loggi/. Acesso em: 30 mar. 2020.
OLIVEIRA , Tatiana Moreira Rossini de. A uberização das relações de trabalho. [S. l.], 9
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http://www.cadernosdedereitoactual.es/ojs/index.php/cadernos/article/view/227. Acesso em:
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VILHENA , Paulo Emílio Ribeiro de. Relação de emprego: estrutura legal e supostos. 3.
ed. São Paulo: LTr, 2005.
WITKER, Jorge. Como elaborar una tesis en derecho: pautas metodológicas y técnicas
para el estudiante o investigador del derecho. Madrid: Civitas, 1985.
119
O NOVO BÁSICO: HABILIDADES E COMPETÊNCIAS NECESSÁRIAS À
FORMAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA ÁREA JURÍDICA NA QUARTA
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E O ENFRENTAMENTO DO TEMA NAS NOVAS
DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS
THE NEW BASIC: SKILLS AND COMPETENCES NECESSARY FOR THE
EDUCATION OF LEGAL PROFESSIONALS IN THE FOURTH INDUSTRIAL
REVOLUTION AND THE FACING OF THE THEME IN THE NEW NATIONAL
CURRICULUM GUIDELINES
Resumo
A presente pesquisa analisa, a partir do método dedutivo, como as características
tecnológicas da Quarta Revolução Industrial impactam as habilidades e competências
necessárias aos profissionais jurídicos, com ênfase na necessidade de adaptação da educação
jurídica aos impactos causados por essa Revolução nas profissões jurídicas. Dentre as novas
habilidades básicas destaca-se a de leitura e interpretação de dados. Analisa-se também de
que forma as Diretrizes Nacionais Curriculares para os cursos de Direito enfrentam o tema,
notando-se a inclusão, na última versão das DCNS, de uma competência específica e a
previsão na formação básica a ser conferida aos novos bacharéis.
Abstract/Resumen/Résumé
This research examines, from the deductive method, how the technological characteristics of
the Fourth Industrial Revolution impact the skills and competencies needed by legal
professionals, with an emphasis to the adaptation of legal education to the impacts caused by
this Revolution in the legal professions. Among the new basic skills, reading and interpreting
data stands out. It also analyzes how the National Curriculum Guidelines for Law courses
address the theme, noting the inclusion, in the latest version of the DCNS, of a specific
competence and the provision in the basic training to be given to new bachelors.
1Mestrando em História Social da Amazônia pela Universidade Federal do Pará. Bacharel em Direito pela
Universidade Federal do Pará.
2 Mestra em Direito pela Universidade Federal do Pará.
120
1. INTRODUÇÃO
Nesse sentido, este artigo tem como objetivo analisar como as características
tecnológicas da Quarta Revolução Industrial impactam as habilidades e competências
necessárias aos profissionais jurídicos e de que forma as Diretrizes Curriculares Nacionais para
os cursos de graduação em Direito enfrentam o tema.
121
década de 1960), sucessivas foram as modificações nas estruturas sociais e nos sistemas
econômicos causadas pela interação entre homem e tecnologia.
Apesar de o julgamento que leva à percepção de uma ruptura ser sempre sedimentado
após certo distanciamento histórico, isso não impede que analistas tentem predizer rupturas no
exato momento em que elas se desenrolam, principalmente quando preocupados com a
adaptação prévia às mudanças, numa tentativa de liderá-las. É nesse espírito que Klaus Schwab,
economista alemão, fundador do Fórum Econômico Mundial, é um desses agentes preocupados
com a liderança das transformações tecnológicas e seus impactos nos mercados, razão pela qual,
representando o referido Fórum, tem se debruçado sobre o que nomeia de Quarta Revolução
Industrial, a partir de um viés mais pragmático.
Essa nova revolução, iniciada na virada do século, é caracterizada por “uma internet
mais ubíqua e móvel, por sensores menores e mais poderosos que se tornaram mais baratos e
pela inteligência artificial e aprendizagem automática (ou aprendizado de máquina)”
(SCHWAB, 2016, p. 19). Mas, as mudanças drásticas já percebidas por Schwab, não dizem
respeito somente a sistemas e máquinas inteligentes e conectadas. Na verdade, isso já vinha
acontecendo antes, sendo que a Quarta Revolução Industrial se distingue pela fusão dos mundos
físico, digital e biológico, numa velocidade, amplitude e profundidade, e impacto sistêmico
nunca visto.
122
digitalização e da tecnologia da informação, não sendo possíveis sem os avanços ocorridos na
análise de dados e na capacidade de processamento.
Diante de todo esse contexto, pode-se concluir juntamente com Schwab (2016, p. 44-
45) que “Tendo em conta esses fatores impulsionadores, há uma certeza: as novas tecnologias
mudarão drasticamente a natureza do trabalho em todos os setores e ocupações”. Portanto, não
se pode deixar de considerar que o universo das profissões jurídicas não está de fora dessa
mudança estrutural, ao contrário, sofre e sofrerá mais ainda os seus efeitos de forma intensa. É
o já percebem algumas pesquisas específicas para o cenário jurídico.
Ao lado dessa dimensão está uma segunda, que seria a “transformação da atividade
realizada por profissionais do direito (e.g. advogado(a)s, juíze(a)s, promotore(a)s, etc.) e por
suas organizações (e.g. escritórios, departamentos jurídicos, etc.)” - fenômeno que promete
trazer consequências mais profundas para o campo jurídico (INOVAÇÃO, 2018, p. 7).
Observando essa dimensão, a pesquisa resultou em quatro principais conclusões qualitativas
(INOVAÇÃO, p. 18), que envolvem (i) a progressiva adoção de soluções tecnológicas; (ii) a
existência de um processo de substituição de tarefas realizadas por profissionais da área
jurídica, concentradas em cargos mais baixos da hierarquia organizacional; (iii) a contratação
de profissionais com formação na área de exatas e sem formação jurídica para compor equipes
em escritórios de advocacia e, em alguns casos, gerindo-as; (iv) e a adoção de arranjos
organizacionais peculiares com o objetivo de obter maior integração tecnológica aos serviços
jurídicos.
Diante disso, uma consequência coligada à mudança nas atividades das profissões
jurídicas, além da criação de novos conhecimentos estritamente jurídicos (Direito Digital, etc),
é a necessidade do desenvolvimento de novas habilidades e competências para que os
profissionais possam lidar com essas mudanças, exigindo readequações fundamentais. As
competências e habilidades jurídicas tradicionais terão que se remodelar e somar-se a outras
123
antes não previstas. Sintetizando os resultados da pesquisa da FGV, tem-se diversas
necessidades de adaptação, entre elas o desenvolvimento de competências para o uso de
ferramentas tecnológicas, a gestão de processos internos, o trabalho colaborativo em equipe
multidisciplinar, a interpretação de dados e capacidade de tradução de linguagens (jurídica e
técnica), e, ainda, uma capacitação específica para aprimorar o tratamento interpessoal que o(a)
advogado(a) deve oferecer aos demais parceiros e clientes, aprendizagem sobre noções gerais
de programação, estatística e matemática e de formação em administração de negócios e
processos, dentre outras mais específicas (INOVAÇÃO, 2018).
Visto esse impacto nas profissões jurídicas e as suas consequências para a preparação
dos profissionais, seja a readequação dos que já estão no mercado ou a necessidade de
preparação dos estudantes de direito para esse novo paradigma, passa-se a verificar de que
forma as Diretrizes Curriculares Nacionais, reformuladas no ano de 2018, encaram essa
necessidade de enfrentar as mudanças tecnológicas para as profissões jurídicas.
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na percepção de que as normas aplicáveis à educação jurídica deveriam acompanhar as
mudanças sociais e mercadológicas que afetam as profissões jurídicas (BRASIL, 2018a, p. 1).
Percebe-se que a Resolução n. 09/2004 já trazia a competência referida pelo inciso XII
– foi mantida – portanto, a novidade está na inclusão do inciso XI, que deu-se somente na
redação da última versão do texto das DCNs, não estando presente em nenhuma outra redação
intermediária discutida. Em verdade, a abordagem dessa competência foi incluída a partir de
proposta do professor de Direito e pesquisador do ensino jurídico, Horácio Wanderlei
Rodrigues, que no ano de 2018 incluiu a referida competência específica em artigo em que
analisou a minuta de Resolução apresentada pelo Conselho Nacional de Educação como texto
referencial para a audiência pública de julho de 2018 (RODRIGUES, 2018a).
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geral, no Direito e nas suas atividades profissionais; e que possua domínio das
novas ferramentas tecnológicas. Nesse sentido, parece ser recomendável a
inserção, no artigo 4º, de um inciso que trate especificamente dessa questão.
(RODRIGUES, 2018b, p. 5)
Apesar de não ter sido integralmente adotada, a sugestão do pesquisador foi um avanço
na previsão e tratamento do tema nas DCNs, não ficando restrito à inteligência artificial.
Motivado por esse movimento, “a possibilidade de mudança do cenário profissional decorrente
da inserção de novas tecnologias” (BRASIL, 2018a, p. 14) passou a ser prevista como elemento
justificador da necessidade de reformulação das DCNs, preocupando o Conselho Nacional de
Educação o impacto das novas tecnologias na redução da demanda por recursos humanos nas
profissões jurídicas, reconhecendo a necessidade de novas competências e conhecimentos para
o profissional da área.
4. CONCLUSÃO
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pesquisa desenvolvida pela Fundação Getúlio Vargas – FGV Direito/SP, levaram
especificamente ao destaque da habilidade de leitura e interpretação de dados, como um novo
elemento básico na formação jurídica. Por fim, percebe-se que as novas Diretrizes Curriculares
Nacionais enfrentaram o tema das necessárias adaptações à tecnologia de forma tímida, mas
presente, a partir da previsão de uma competência específica, da inclusão desse tipo de
conhecimento na formação básica e na possibilidade expressa dentro dos conteúdos opcionais
que poderão ser livremente criados.
Diante disso, os cursos jurídicos devem estar atentos a essas novas necessidade para
que seus alunos possam se inserir de forma adequada num mercado jurídico em intensa
transformação. Temos um novo básico a ser aprendido, o que poderá ser feito de diversas
formas, fugindo do conservadorismo normalmente impregnado na formação jurídica.
5. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SCHWAB, Klaus. A quarta revolução industrial. Tradução de Daniel Moreira Miranda. São
Paulo: Edipro, 2016.
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