Você está na página 1de 5

A Era Vargas

A Era Vargas mudou para sempre a história do Brasil. Foi nessa época que
as mulheres conquistaram o direito ao voto e as leis trabalhistas foram
criadas, por exemplo. Vamos voltar lá para o início disso tudo. Na República
Oligárquica, em 1926, o Brasil funcionava de acordo com a política do café
com leite, ela é um revezamento de presidentes entre São Paulo e Minas
Gerais. Esse esquema funcionou perfeitamente por 36 anos, até que o
presidente paulista, Washington Luiz, decidiu estragar tudo. Ele indicou como
seu sucessor o outro paulista, Júlio Prestes. Desse jeito, ele estava rompendo
com a política do café com leite, já que, segundo a lógica, era hora de
nomear o sucessor mineiro. Assim, o governador de Minas ficou bolado, ele
chamou toda a galera que estava insatisfeita para criar a Aliança Liberal, esse
partido novo. Contavam com o tenente, estes empresários industriais, a
classe média, mas principalmente os militares. Eles tinham como objetivo
reformar a política economia do país, declarando o voto secreto e
implementando reformas trabalhistas. Dessa forma, eles lançaram nas
eleições Getúlio Vargas concorrendo como presidente e João Pessoa como
seu vice. As eleições aconteceram em março de 1930 e a chapa do paulista
Júlio Prestes saiu vencedora. Tudo bem. Até que, em julho, João Pessoa, o
vice do Getúlio Vargas, foi assassinado. O responsável pelo seu crime foi
Duarte Dantas, seu adversário político, que era um advogado e jornalista
apoiado pelos coronéis.
O governo federal acabou como culpado por esse tentado. E a partir
daí, é claro que a galera da Aliança Liberal ficou em poder, adiciona, criando
uma rede de contatos militares para depor Washington Luiz. Dessa forma, em
1930, eles ajudaram Getúlio Vargas a realizar um golpe de Estado e, assim,
se tornar o próximo presidente. Esse acontecimento ficou conhecido como
Revolução de 1930 e deu início à Era Vargas. A partir daí se iniciou o
Governo Provisório, onde Vargas tinha o objetivo de centralizar o poder em si,
com o apoio dos seus amigos tenentes e reformar o modelo político brasileiro
para que nenhuma oligarquia encostasse no poder novamente. Para isso, ele
anulou a Constituição de 1888 e simplesmente expulsou os governadores de
Estado, colocando no lugar a galera de sua confiança. Os interventores.
Beleza e economia. Lembra que a principal atividade econômica do Brasil era
o café. A crise de 29. As vendas foram para o fundo do poço. Para evitar
queda no grão. Vargas ordenou que queimasse o que fosse produzido em
excesso. Foram 78 milhões de sacas. Quantidade suficiente para garantir o
consumo mundial do produto durante três anos. Acontece que ele não era tão
bobo e sabia que o café já estava em decadência. Por isso, começou a
investir pesado na industrialização, com o objetivo de substituir as
importações. Ou seja, para você parar de importar dos gringos e comprar um
produto industrializado, alimentando o mercado brasileiro ao invés de tirar o
dinheiro do país. E onde está a oligarquia paulista no meio disso tudo? Ele
estava uma boladão com Getúlio Vargas.

Os paulistas tinham perdido todo o poder com a entrada do interventor,


que era um militar e não estava nem aí para os interesses da elite cafeeira.
Assim, essa galera organizou vários comícios, exigindo a nomeação de um
interventor paulista e civil, alguém que fosse parceiro deles para abafar toda
essa confusão. Getúlio concede o desejo deles, criando ainda por cima, um
código eleitoral inovador. A partir de agora, o voto seria secreto, obrigatório,
permitido a mulheres. Mas nem assim os paulistas ficaram de boa. Eles
exigiram uma Constituição, já que no momento não tinham nenhuma e novas
eleições de imediato. A onda de manifestações se transformou em uma
guerra civil que durou dois meses, chamada de Revolução Constitucionalista
de 1932. Eles falharam, mas pelo menos pressionaram um pouco Vargas,
que a partir disso, convocou uma nova eleição em 1933, para que formassem
uma assembleia e uma Constituição. Assim, em 1934, nasce a nova
Constituição, estabelecendo o mandato presidencial de quatro anos, o
alistamento obrigatório, o ensino primário gratuito e a proibição do trabalho
infantil, entre várias outras medidas. Dessa forma, são realizadas eleições
indiretas e Vargas é eleito legitimamente presidente do Brasil, o que dá início
ao governo constitucional. Essa época foi um reflexo do que estava
acontecendo na Europa, o crescimento de movimentos extremistas que
eclodiram na Segunda Guerra Mundial. No caso brasileiro, esse cenário
favoreceu a radicalização da política. Na extrema direita foi criada a Ação
Integralista Brasileira AIB, inspirada no fascismo italiano.

O fascismo foi uma ideologia autocrática que prevaleceu a Segunda


Guerra Mundial. Assim como na Europa, os integralistas defendiam a
consolidação de governo centralizado, o anticomunismo, o nacionalismo
exagerado, o tradicionalismo religioso e eram contra o liberalismo. Já no outro
extremo, temos Aliança Nacional Libertadora, a ANL, grupo que tinha como
inspiração o comunismo. O líder deles era o famoso Luís Carlos Prestes. Sim,
o formador da Coluna Prestes, Movimento Tenentismo e que tentou derrubar
as oligarquias lá em 1920. Os principais ideais da ANL eram o combate ao
fascismo, a reforma agrária, a luta contra o imperialismo e a revolução por
meio da luta de classes. Vale se ressaltar que ambos os partidos usaram da
violência para propagar seus ideais e que todos os regimes extremistas na
história, seja de direita ou de esquerda, foram responsáveis por milhares de
mortes e repressões. Por isso, devemos buscar sempre o meio termo,
respeitando ideias opostas e desenvolvendo o diálogo. Acontece que Vargas
era chegado dos integralistas e ao perceber o crescimento da ANL, se sentiu
ameaçado e criou a Lei de Segurança Nacional. Meses depois, fechando de
vez o partido depois de ter seu partido fechado, Luiz Carlos Prestes se
revoltou e decidiu organizar um golpe de Estado que ficou conhecido como
Intentona Comunista. Foi mais ou menos assim alguns comunistas brasileiros
iniciaram revoltas dentro de instituições militares no Rio, Natal e Recife, mas
pela falta de comunicação e interesse dos outros estados, eles fracassaram
miseravelmente.

Vargas conteve facilmente esse movimento, reprimiu muito seus


integrantes e então usou desse acontecimento para dar outro golpe de
Estado. Peraí, como assim? Lembra que a nova Constituição dizia que
Vargas teria um mandato de quatro anos sem poder ser reeleito? Acontece
que Getúlio não estava muito a fim de deixar o poder. Assim, começou a
planejar o golpe de Estado Novo. Mas você sabe como ele fez isso? Em
1937, já no último ano de seu mandato, ele transmitiu na Rádio Hora do Brasil
um anúncio que assustou o país inteiro. “Foi descoberto um documento
comunista com planos de assassinar e sequestrar autoridades políticas”,
gerando o caos no Brasil. A União Soviética está por trás de tudo. A partir do
medo que esse documento gerou na população, Getúlio declarou estado de
guerra contra a ameaça vermelha. A partir disso, ele fechou o Congresso
Nacional e passou a ter controle total sobre os poderes. Getúlio ainda fez
uma nova Constituição, totalmente autoritário, que ficou conhecido como
Constituição Polaca. Agora olha só que safadeza! Na verdade, não existia
nenhuma ameaça comunista. Isso foi todo um plano da Ação Integralista
Brasileira AIB para que Getúlio pudesse dar o golpe e continuar mais oito
anos no poder. Esse documento falso ficou conhecido como Plano Corre e foi
o maior Fake News que o Brasil já viveu. Assim se inicia o Estado Novo ou
ditadura varguista, já que a nova Constituição era super centralizadora, dando
a si mesmo muito poder para mandar na coisa toda.

A partir do golpe, Getúlio acabou com as eleições e com os partidos


políticos nomeando de novo interventores para cada Estado. Só a galera da
confiança dele. Dessa forma diminuindo a autonomia federativa. Getúlio
também concedeu vários direitos trabalhistas. O movimento conhecido como
populismo, que aconteceu de forma parecida na Argentina. Entre as medidas
populistas estava a criação do salário-mínimo da carteira de Trabalho e da
Justiça Trabalhista. Com essa estratégia, ele evitava que o povo fizesse
greves e se juntasse aos comunistas. Ao mesmo tempo que Getúlio tinha um
vínculo forte com as classes baixas, ele garantia apoio benéfico aos
empresários e banqueiros que enriqueciam muito no seu governo. Por isso,
Vargas é chamado de pai dos pobres e mãe dos ricos. Na verdade, essa
imagem de bonzinho que ele gerava era só fachada para conseguir manter
seu controle. Tinha até um departamento do seu governo dedicado a cuidar
disso. O Departamento de Imprensa e Propaganda DIP. Lá, eles controlavam
toda a rede de informações, como os jornais e rádios, para que retratassem
Vargas como líder lindo, perfeito, amigo da nação, porque cá entre nós, já era
algo muito praticado na Europa para alienar a população. Hitler, Mussolini,
Stalin, por exemplo, eram os mestres do marketing. A DIP também censurava
as ideias opostas ao governo e perseguia os responsáveis. O Estado Novo
também ficou famoso pela intervenção do Estado na economia. Vargas
estava incentivando mais ainda a descentralização pela substituição de
importações com dinheiro acumulado pelo café.

Na República oligárquica, a burguesia passou a investir mais ainda nas


indústrias de base, como siderúrgicas e hidrelétricas, que dariam muito
suporte para as demais indústrias que surgissem. Era muito importante que o
Brasil já tivesse seus próprios produtos industrializados, porque com a
Segunda Guerra chegando, eles não teriam como importar dos gringos, já
que as indústrias europeias estavam voltadas para produção de armas e
equipamentos. E esse não foi o único impacto que a Segunda Guerra teve no
Brasil? Não. Getúlio mantinha relações comerciais com a Alemanha nazista
até o comecinho da guerra, quando teve que se posicionar e se declarou
neutro, mesmo tendo aquela quedinha pelo fascismo em 1942. Vargas viu
que estava dando ruim. Rompeu as relações com os países do eixo, o que
resultou em seis navios brasileiros atacados pelos alemães. Os Estados
Unidos nos ofereceram apoio financeiro e ajuda para reequipar as Forças
Armadas, caso a gente fosse lutar na guerra ao lado dos aliados. Vale
ressaltar que nós já éramos parceiros de Estados Unidos por causa da
política da boa vizinhança com os países da América Latina, uma forma deles
exercer uma dominação política e econômica sobre nós. Eles faziam várias
coisas legais para pagar de nosso amigo, como financiar o parque industrial e
fazer filmes e personagens brasileiros valorizando nosso país no exterior. Em
troca, nós BR fornecemos nossa matéria prima, principalmente a borracha, e
garantimos comprar os produtos americanos. Voltando à Segunda Guerra
Mundial, o povo achava que o Brasil não tinha capacidade de ir à guerra, nem
que a cobra fumasse, diziam eles.

Esse acabou sendo o símbolo da Força Expedicionária Brasileira, que


reunia 25.000 soldados de todas as partes do Brasil. Os pracinhas foram
muito importantes para Vitória na Batalha de Monte Castelo, onde lutaram
pela democracia na Itália, o que era meio contraditório, já que o nosso próprio
país vivia uma ditadura. A partir dessa contradição, o Estado Novo foi muito
pressionado a acabar em uma tentativa de juntar as pontas. Vargas retomou
a democracia por meio de uma emenda constitucional que permitia a criação
dos partidos políticos e as novas eleições de 1945. Mesmo com o anúncio de
novas eleições, tinha um pessoal que ainda queria que Vargas continuasse
presidente porque tinham medo de perder seus direitos trabalhistas. Assim,
criaram o movimento gremista com o lema Queremos Getúlio. Mas não
adiantou em nada. Em setembro de 1945, Getúlio Vargas foi deposto, o que
ele acabou aceitando bem de boa. Assim se finaliza o Estado Novo e se inicia
o governo do general Eurico Gaspar Dutra. Dessa forma, Getúlio pretendeu
conservar uma imagem política positiva, passando a ideia de que era a favor
da democracia. Essa estratégia, o amplo apoio popular, ainda rendeu um
segundo governo presidencial, dessa vez democrática, em 1951, no qual ele
se suicidou.

Você também pode gostar